cidades na china antiga

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As C As C As C As C No presente artigo estuda cidades na China antiga. P compreensão da cultura ch envolve o desenvolvimento Em primeiro lugar, aplicada (1): ela está ligada adaptação ao ambiente, e a fixada sob forma ritualística eram atribuídos. Daí se inc necessidade de “sobrevivên sua significação. Devido a essa conc estrutura de longa duração domínio do território, os ch líderes eram filhos de deu muitos dos rituais são sacra práticas para também gan fossem igualmente absorvi compreenderiam da mesm de atrito estrutural onde o Cidades na China Antiga Cidades na China Antiga Cidades na China Antiga Cidades na China Antiga Revista Gaia, LHIA-UFRJ, 2000 aremos de forma introdutória o processo d Para tal, devemos apontar para dois fatores f hinesa: a questão do ritual e da estrutura de lo o das formas de pensar nesta sociedade. devemos conceituar de forma razoável a noç a a constituição de uma série de modelos ( a operacionalização e eficácia do mesmo, se c a, absorvendo posteriormente os elementos m corre que a prática de fixação desses modelos ncia”, e sua reprodução transformava-se qua cepção do ritual, articulamos o segundo pon o do pensamento chinês (3). Em virtude d hineses criaram uma idéia de passado mítico, uses que ensinaram aos homens como vive alizados, deixando de possuir tão somente sua nharem um caráter religioso (embora nem idos pelas diversas religiões da China, e nem ma forma). O que importa, porém, é que se cr modelo (ritual) - construído para manter e e de formação das fundamentais na onga duração que ção de ritual aqui (2) sucessivos de comprovada, era místicos que lhes s constituía uma ase em lei, dada nto de análise: a da apreciação do , onde os antigos er. Neste ponto, as características todos os rituais m as mesmas os riou aí um ponto expandir a vida -

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Cidades Na China Antiga

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Page 1: Cidades Na China Antiga

As Cidades na China AntigaAs Cidades na China AntigaAs Cidades na China AntigaAs Cidades na China Antiga

No presente artigo estudaremos de forma introdutória o processo de formação das

cidades na China antiga. Para tal, devemos apontar para dois fatores fundamentais na

compreensão da cultura chinesa:

envolve o desenvolvimento das formas de pensar nesta sociedade.

Em primeiro lugar, devemos conceituar de forma razoável a noção de ritual aqui

aplicada (1): ela está ligada a constituição de uma sér

adaptação ao ambiente, e a operacionalização e eficácia do mesmo, se comprovada, er

fixada sob forma ritualística

eram atribuídos. Daí se incorre que a prática de fi

necessidade de “sobrevivência”, e sua reprodução transformava

sua significação.

Devido a essa concepção do ritual, articulamos o segundo ponto de análise: a

estrutura de longa duração do pensamento

domínio do território, os chineses criaram uma idéia de passado mítico, onde os antigos

líderes eram filhos de deuses que ensinaram aos homens como viver. Neste ponto,

muitos dos rituais são sacralizados, deixando d

práticas para também ganharem um caráter religioso (embora nem todos os rituais

fossem igualmente absorvidos pelas diversas religiões da China, e nem as mesmas os

compreenderiam da mesma forma). O que importa, por

de atrito estrutural onde o modelo (ritual)

As Cidades na China AntigaAs Cidades na China AntigaAs Cidades na China AntigaAs Cidades na China Antiga

Revista Gaia, LHIA-UFRJ, 2000

No presente artigo estudaremos de forma introdutória o processo de formação das

cidades na China antiga. Para tal, devemos apontar para dois fatores fundamentais na

compreensão da cultura chinesa: a questão do ritual e da estrutura de longa duração que

envolve o desenvolvimento das formas de pensar nesta sociedade.

Em primeiro lugar, devemos conceituar de forma razoável a noção de ritual aqui

aplicada (1): ela está ligada a constituição de uma série de modelos (2) sucessivos de

adaptação ao ambiente, e a operacionalização e eficácia do mesmo, se comprovada, er

fixada sob forma ritualística, absorvendo posteriormente os elementos místicos que lhes

eram atribuídos. Daí se incorre que a prática de fixação desses modelos constituía uma

necessidade de “sobrevivência”, e sua reprodução transformava-se quase em lei, dada

Devido a essa concepção do ritual, articulamos o segundo ponto de análise: a

estrutura de longa duração do pensamento chinês (3). Em virtude da apreciação do

domínio do território, os chineses criaram uma idéia de passado mítico, onde os antigos

líderes eram filhos de deuses que ensinaram aos homens como viver. Neste ponto,

muitos dos rituais são sacralizados, deixando de possuir tão somente suas características

práticas para também ganharem um caráter religioso (embora nem todos os rituais

fossem igualmente absorvidos pelas diversas religiões da China, e nem as mesmas os

compreenderiam da mesma forma). O que importa, porém, é que se criou aí um ponto

de atrito estrutural onde o modelo (ritual) - construído para manter e expandir a vida

No presente artigo estudaremos de forma introdutória o processo de formação das

cidades na China antiga. Para tal, devemos apontar para dois fatores fundamentais na

a questão do ritual e da estrutura de longa duração que

Em primeiro lugar, devemos conceituar de forma razoável a noção de ritual aqui

ie de modelos (2) sucessivos de

adaptação ao ambiente, e a operacionalização e eficácia do mesmo, se comprovada, era

, absorvendo posteriormente os elementos místicos que lhes

xação desses modelos constituía uma

se quase em lei, dada

Devido a essa concepção do ritual, articulamos o segundo ponto de análise: a

chinês (3). Em virtude da apreciação do

domínio do território, os chineses criaram uma idéia de passado mítico, onde os antigos

líderes eram filhos de deuses que ensinaram aos homens como viver. Neste ponto,

e possuir tão somente suas características

práticas para também ganharem um caráter religioso (embora nem todos os rituais

fossem igualmente absorvidos pelas diversas religiões da China, e nem as mesmas os

ém, é que se criou aí um ponto

construído para manter e expandir a vida -

Page 2: Cidades Na China Antiga

começava a se chocar com as novas necessidades advindas da própria expansão

possibilitada pelo modelo. Entenderemos isso observando melh

desses modelos (4) de complexo urbano criados na China antiga.

Inicialmente, tivemos a criação de comunidades rurais, cujo território era

coletivamente trabalhado por duas (no máximo três) famílias de poder patriarcal (mas

em menor número também matriarcais), onde a liderança era exercida por conselhos de

anciãos. Posteriormente, com a agregação de novos trabalhadores vindos de outros

territórios, essas famílias iniciaram uma fase de liderança, exercendo poder servil através

de obrigações de trabalho em troca de habitação, comida e defesa aos estrangeiros que

vinham habitar suas terras.

Na organização desta primeira comunidade, é de fundamental importância a

análise do "Lugar-santo" (que podia ser um campo

mesmo um cemitério). Esse espaço era um centro de importância comunitária, pois se

acreditava que nele estava depositado um grande poder, uma fabulosa energia

acumulada pela terra e pela natureza resultante das orgias, da prática dos ritos e que, por

conseguinte, atraía a presença dos antepassados e dos espíritos.

Próximo, ou em torno deste lugar

cidades eram construídas em círculos, tais como aldeias muradas, com uma função

protetora que dispensava a privacid

dos mortos (5) era o único que ficava fora do restritíssimo perímetro urbano, além dos

campos, claro.

É no "Lugar-santo" que os chineses jovens fogem com suas amadas e deixam cair

no chão seu esperma fecundo; lá, encontram

florescem; é onde se realiza a orgia, onde se bebe, onde se deixa parte da vida pelo vinho,

pois o esquecimento da bebedeira é um momento roubado da mesma. Quem detém o

começava a se chocar com as novas necessidades advindas da própria expansão

possibilitada pelo modelo. Entenderemos isso observando melhor o desenvolvimento

desses modelos (4) de complexo urbano criados na China antiga.

Inicialmente, tivemos a criação de comunidades rurais, cujo território era

coletivamente trabalhado por duas (no máximo três) famílias de poder patriarcal (mas

ero também matriarcais), onde a liderança era exercida por conselhos de

anciãos. Posteriormente, com a agregação de novos trabalhadores vindos de outros

territórios, essas famílias iniciaram uma fase de liderança, exercendo poder servil através

es de trabalho em troca de habitação, comida e defesa aos estrangeiros que

Na organização desta primeira comunidade, é de fundamental importância a

santo" (que podia ser um campo-santo, um ponto de culto ou at

mesmo um cemitério). Esse espaço era um centro de importância comunitária, pois se

acreditava que nele estava depositado um grande poder, uma fabulosa energia

acumulada pela terra e pela natureza resultante das orgias, da prática dos ritos e que, por

seguinte, atraía a presença dos antepassados e dos espíritos.

Próximo, ou em torno deste lugar-santo, se formava a comunidade. As primeiras

cidades eram construídas em círculos, tais como aldeias muradas, com uma função

protetora que dispensava a privacidade entre seus habitantes. Assim, o lugar dos ritos,

dos mortos (5) era o único que ficava fora do restritíssimo perímetro urbano, além dos

santo" que os chineses jovens fogem com suas amadas e deixam cair

cundo; lá, encontram-se os antepassados quando as árvores

florescem; é onde se realiza a orgia, onde se bebe, onde se deixa parte da vida pelo vinho,

pois o esquecimento da bebedeira é um momento roubado da mesma. Quem detém o

começava a se chocar com as novas necessidades advindas da própria expansão

or o desenvolvimento

Inicialmente, tivemos a criação de comunidades rurais, cujo território era

coletivamente trabalhado por duas (no máximo três) famílias de poder patriarcal (mas

ero também matriarcais), onde a liderança era exercida por conselhos de

anciãos. Posteriormente, com a agregação de novos trabalhadores vindos de outros

territórios, essas famílias iniciaram uma fase de liderança, exercendo poder servil através

es de trabalho em troca de habitação, comida e defesa aos estrangeiros que

Na organização desta primeira comunidade, é de fundamental importância a

santo, um ponto de culto ou até

mesmo um cemitério). Esse espaço era um centro de importância comunitária, pois se

acreditava que nele estava depositado um grande poder, uma fabulosa energia

acumulada pela terra e pela natureza resultante das orgias, da prática dos ritos e que, por

santo, se formava a comunidade. As primeiras

cidades eram construídas em círculos, tais como aldeias muradas, com uma função

ade entre seus habitantes. Assim, o lugar dos ritos,

dos mortos (5) era o único que ficava fora do restritíssimo perímetro urbano, além dos

santo" que os chineses jovens fogem com suas amadas e deixam cair

se os antepassados quando as árvores

florescem; é onde se realiza a orgia, onde se bebe, onde se deixa parte da vida pelo vinho,

pois o esquecimento da bebedeira é um momento roubado da mesma. Quem detém o

Page 3: Cidades Na China Antiga

poder sobre o "lugar-santo" é

para os membros de sua comunidade: é ele quem observa os ritos, quem controla as leis,

que lida com as áreas consagradas aos espíritos. De lá, ele retira parte do fundamento de

seu poder Esse simples, porém complexo modelo, surge como o embrião das vilas

chinesas, que depois seriam como “ilhas produtivas” (cf. GRANET, 1979, v.1, 1o cap.)

Nessas vilas, o trabalho é dividido, mas todos alternam

Com a re-distribução de te

século XII A.C.) temos o desenvolvimento de centros urbanos comerciais e econômicos,

que aperfeiçoam o sistema de trocas e especializam diversas funções técnicas. Como,

então, conciliar essa pequena

por um novo tipo de comunidade mais dinâmica e integrada?

Temos aí duas respostas: gradativamente, essa evolução veio pelo próprio poder

do "campo-santo", que gerava um pequeno mercado a sua volta,

novas terras advindas do crescimento das comunidades em virtude do sucesso de seu

modelo produtivo e da ritualização dos relacionamentos matrimoniais, através da

sacralização das orgias. Esse crescimento força a expansão da comunidade,

atividades produtivas. Por outro lado, aperfeiçoou

habitação e do controle das forças naturais, que dariam origem ao feng shui (arte da

água e do vento) (7), cujo domínio possibilitava a escolha dos melhores locais pa

moradia, produção, etc. Essa técnica possuía, originalmente, um sentido prático, e não

apenas os caracteres estéticos que hoje lhe são atribuídos.

Por conseguinte, temos o surgimento de um novo modelo de cidade: um lugar

escolhido, que possui um campo

aumenta, surgindo então as grandes cidadelas ou muralhas. Neste período feudalizado, a

delimitação das cidades pelas muralhas também muda, ganhando novas características:

santo" é o líder da aldeia, pois seu poder é igual ao do campo santo

para os membros de sua comunidade: é ele quem observa os ritos, quem controla as leis,

que lida com as áreas consagradas aos espíritos. De lá, ele retira parte do fundamento de

ples, porém complexo modelo, surge como o embrião das vilas

chinesas, que depois seriam como “ilhas produtivas” (cf. GRANET, 1979, v.1, 1o cap.)

Nessas vilas, o trabalho é dividido, mas todos alternam-se nos serviços existentes.

distribução de territórios no período de feudalização (6) (aproximadamente

século XII A.C.) temos o desenvolvimento de centros urbanos comerciais e econômicos,

que aperfeiçoam o sistema de trocas e especializam diversas funções técnicas. Como,

então, conciliar essa pequena comunidade agrária - cujo modelo ritual é "abençoado"

por um novo tipo de comunidade mais dinâmica e integrada?

Temos aí duas respostas: gradativamente, essa evolução veio pelo próprio poder

santo", que gerava um pequeno mercado a sua volta, e pela conquista de

novas terras advindas do crescimento das comunidades em virtude do sucesso de seu

modelo produtivo e da ritualização dos relacionamentos matrimoniais, através da

sacralização das orgias. Esse crescimento força a expansão da comunidade,

atividades produtivas. Por outro lado, aperfeiçoou-se o domínio das técnicas de

habitação e do controle das forças naturais, que dariam origem ao feng shui (arte da

água e do vento) (7), cujo domínio possibilitava a escolha dos melhores locais pa

moradia, produção, etc. Essa técnica possuía, originalmente, um sentido prático, e não

apenas os caracteres estéticos que hoje lhe são atribuídos.

Por conseguinte, temos o surgimento de um novo modelo de cidade: um lugar

escolhido, que possui um campo santo, um mercado e uma guarda. O perímetro

aumenta, surgindo então as grandes cidadelas ou muralhas. Neste período feudalizado, a

delimitação das cidades pelas muralhas também muda, ganhando novas características:

o líder da aldeia, pois seu poder é igual ao do campo santo

para os membros de sua comunidade: é ele quem observa os ritos, quem controla as leis,

que lida com as áreas consagradas aos espíritos. De lá, ele retira parte do fundamento de

ples, porém complexo modelo, surge como o embrião das vilas

chinesas, que depois seriam como “ilhas produtivas” (cf. GRANET, 1979, v.1, 1o cap.)

s serviços existentes.

rritórios no período de feudalização (6) (aproximadamente

século XII A.C.) temos o desenvolvimento de centros urbanos comerciais e econômicos,

que aperfeiçoam o sistema de trocas e especializam diversas funções técnicas. Como,

cujo modelo ritual é "abençoado" -

Temos aí duas respostas: gradativamente, essa evolução veio pelo próprio poder

e pela conquista de

novas terras advindas do crescimento das comunidades em virtude do sucesso de seu

modelo produtivo e da ritualização dos relacionamentos matrimoniais, através da

sacralização das orgias. Esse crescimento força a expansão da comunidade, e de suas

se o domínio das técnicas de

habitação e do controle das forças naturais, que dariam origem ao feng shui (arte da

água e do vento) (7), cujo domínio possibilitava a escolha dos melhores locais para

moradia, produção, etc. Essa técnica possuía, originalmente, um sentido prático, e não

Por conseguinte, temos o surgimento de um novo modelo de cidade: um lugar

santo, um mercado e uma guarda. O perímetro

aumenta, surgindo então as grandes cidadelas ou muralhas. Neste período feudalizado, a

delimitação das cidades pelas muralhas também muda, ganhando novas características:

Page 4: Cidades Na China Antiga

sua forma de ser construída e o perímetro

definidos pelos senhores locais. Este processo ocorre, obviamente, em decorrência do

pragmatismo desses líderes: afinal, só se investiria tempo e dinheiro em muralhas fortes

para cidades mais importantes. Existiam trê

templo, ou com templo não consagrado, havia uma muralha de barro; para as cidades

com templo consagrado, uma de tijolos; e por fim, para as cidades sagradas, dos líderes

ou com mais de um templo, muralhas de pedra.

A consagração de um templo está ligada a importância da cidade na região: é

preciso um alto funcionário para fazê

santo e um grande mercado. A muralha é feita pelos súditos em regime de convocação:

eles tiram alguns dias de seu trabalho para construí

armados com bastões, recebendo comida e tendo direito de amaldiçoar a muralha e

cantar.(cf. GRANET, 1979, v.2, p.91)

Neste contexto, a sacralização de alguns rituais, principalmente

construção das cidades, leva à algumas diferenciações antes não existentes ou

identificáveis: os nobres começam a morar no lado esquerdo, virados para o sul, a

direção sagrada; os camponeses e mercadores do lado direito, virados para o nor

detalhes apontam para o início do convívio entre eles, mas ao mesmo tempo da

separação mais distinta de grupos dentro da sociedade chinesa.

O que se concebe, dessa forma, é o surgimento de um novo modelo de cidade

adequado ao novo contexto, cujo

inovadoras singularidades.

Foram identificadas três formas de surgimento de uma cidade na China antiga: o

espontâneo, baseado na antiga comunidade rural; a escolhida, onde uma nova cidade

era formada, segundo o interesse de algum senhor de terras em aglutinar trabalhadores,

sua forma de ser construída e o perímetro que as mesmas vão cobrir passam a ser

definidos pelos senhores locais. Este processo ocorre, obviamente, em decorrência do

pragmatismo desses líderes: afinal, só se investiria tempo e dinheiro em muralhas fortes

para cidades mais importantes. Existiam três tipos de amuradas: para as cidades sem

templo, ou com templo não consagrado, havia uma muralha de barro; para as cidades

com templo consagrado, uma de tijolos; e por fim, para as cidades sagradas, dos líderes

ou com mais de um templo, muralhas de pedra.

A consagração de um templo está ligada a importância da cidade na região: é

preciso um alto funcionário para fazê-la, ela também precisa ter um afamado campo

santo e um grande mercado. A muralha é feita pelos súditos em regime de convocação:

guns dias de seu trabalho para construí-la. São estimulados por guardas

armados com bastões, recebendo comida e tendo direito de amaldiçoar a muralha e

cantar.(cf. GRANET, 1979, v.2, p.91)

Neste contexto, a sacralização de alguns rituais, principalmente no tocante ao da

construção das cidades, leva à algumas diferenciações antes não existentes ou

identificáveis: os nobres começam a morar no lado esquerdo, virados para o sul, a

direção sagrada; os camponeses e mercadores do lado direito, virados para o nor

detalhes apontam para o início do convívio entre eles, mas ao mesmo tempo da

separação mais distinta de grupos dentro da sociedade chinesa.

O que se concebe, dessa forma, é o surgimento de um novo modelo de cidade

adequado ao novo contexto, cujo processo de fundação deve ser identificado por suas

Foram identificadas três formas de surgimento de uma cidade na China antiga: o

espontâneo, baseado na antiga comunidade rural; a escolhida, onde uma nova cidade

egundo o interesse de algum senhor de terras em aglutinar trabalhadores,

que as mesmas vão cobrir passam a ser

definidos pelos senhores locais. Este processo ocorre, obviamente, em decorrência do

pragmatismo desses líderes: afinal, só se investiria tempo e dinheiro em muralhas fortes

s tipos de amuradas: para as cidades sem

templo, ou com templo não consagrado, havia uma muralha de barro; para as cidades

com templo consagrado, uma de tijolos; e por fim, para as cidades sagradas, dos líderes

A consagração de um templo está ligada a importância da cidade na região: é

la, ela também precisa ter um afamado campo

santo e um grande mercado. A muralha é feita pelos súditos em regime de convocação:

la. São estimulados por guardas

armados com bastões, recebendo comida e tendo direito de amaldiçoar a muralha e

no tocante ao da

construção das cidades, leva à algumas diferenciações antes não existentes ou

identificáveis: os nobres começam a morar no lado esquerdo, virados para o sul, a

direção sagrada; os camponeses e mercadores do lado direito, virados para o norte. Estes

detalhes apontam para o início do convívio entre eles, mas ao mesmo tempo da

O que se concebe, dessa forma, é o surgimento de um novo modelo de cidade

processo de fundação deve ser identificado por suas

Foram identificadas três formas de surgimento de uma cidade na China antiga: o

espontâneo, baseado na antiga comunidade rural; a escolhida, onde uma nova cidade

egundo o interesse de algum senhor de terras em aglutinar trabalhadores,

Page 5: Cidades Na China Antiga

arrotear terras novas, conquistar território, etc, forma essa que se aperfeiçoou com a

evolução do feng shui, utilizado também para remodelar as cidades existentes. E uma

terceira forma, surgida principalmente durante o período imperial, a partir do Século III

a.C. Esta era uma cidade para fins comerciais, surgida do interesse de mercadores em

estabelecerem-se em uma região. Estes procuravam o senhor das terras, ou o governo

local, e acordavam a construção de uma cidade fundamentada no mercado, e não no

campo ou no "campo-santo". Fruto do modo de pensar mascate, esse novo modelo de

cidade estava de acordo com os padrões e modelos de construção, sendo a diferença sua

função e origem. Esse tipo de cidade recebeu grande impulso imperial porque favorecia

o domínio de rotas comercias e de novos territórios. A cidade comercial era singular:

seus mercadores pagavam a proteção do senhor local (ou de uma guarda) e uma taxa

pela entrada e saída de produtos estrangeiros de seus perímetros: podiam vender o que

quisessem (concessão especial, já que outros tipos de perímetros urbanos sofriam

restrições nesse sentido, não podendo negociar mercadorias sem autorização dos

protetores locais), construíam a

o senhor das terras ou o governo local a comprar seus produtos. Da mesma forma, esses

líderes locais não podiam exigir, sob forma alguma, qualquer espécie de tributação em

mercadorias dos comerciantes

anteriormente citadas.

Este novo modelo de cidade aparece em um momento de transformação da

China: antes, um reino que vivia da essencialmente do campo, administrado por seus

rituais antigos, e depois, uma

mesmo tempo, manter uma estrutura que respondesse a todos os seus questionamentos

anteriores...como dar o próximo passo? Como ir contra a razão de sua própria

grandeza?

arrotear terras novas, conquistar território, etc, forma essa que se aperfeiçoou com a

evolução do feng shui, utilizado também para remodelar as cidades existentes. E uma

ma, surgida principalmente durante o período imperial, a partir do Século III

a.C. Esta era uma cidade para fins comerciais, surgida do interesse de mercadores em

se em uma região. Estes procuravam o senhor das terras, ou o governo

cordavam a construção de uma cidade fundamentada no mercado, e não no

santo". Fruto do modo de pensar mascate, esse novo modelo de

cidade estava de acordo com os padrões e modelos de construção, sendo a diferença sua

e tipo de cidade recebeu grande impulso imperial porque favorecia

o domínio de rotas comercias e de novos territórios. A cidade comercial era singular:

seus mercadores pagavam a proteção do senhor local (ou de uma guarda) e uma taxa

produtos estrangeiros de seus perímetros: podiam vender o que

quisessem (concessão especial, já que outros tipos de perímetros urbanos sofriam

restrições nesse sentido, não podendo negociar mercadorias sem autorização dos

protetores locais), construíam a cidade segundo seus interesses, mas não podiam obrigar

o senhor das terras ou o governo local a comprar seus produtos. Da mesma forma, esses

líderes locais não podiam exigir, sob forma alguma, qualquer espécie de tributação em

iantes instalados em suas cidades-feiras, além das taxas

Este novo modelo de cidade aparece em um momento de transformação da

China: antes, um reino que vivia da essencialmente do campo, administrado por seus

rituais antigos, e depois, uma civilização em expansão que lutava para crescer e, ao

mesmo tempo, manter uma estrutura que respondesse a todos os seus questionamentos

anteriores...como dar o próximo passo? Como ir contra a razão de sua própria

arrotear terras novas, conquistar território, etc, forma essa que se aperfeiçoou com a

evolução do feng shui, utilizado também para remodelar as cidades existentes. E uma

ma, surgida principalmente durante o período imperial, a partir do Século III

a.C. Esta era uma cidade para fins comerciais, surgida do interesse de mercadores em

se em uma região. Estes procuravam o senhor das terras, ou o governo

cordavam a construção de uma cidade fundamentada no mercado, e não no

santo". Fruto do modo de pensar mascate, esse novo modelo de

cidade estava de acordo com os padrões e modelos de construção, sendo a diferença sua

e tipo de cidade recebeu grande impulso imperial porque favorecia

o domínio de rotas comercias e de novos territórios. A cidade comercial era singular:

seus mercadores pagavam a proteção do senhor local (ou de uma guarda) e uma taxa

produtos estrangeiros de seus perímetros: podiam vender o que

quisessem (concessão especial, já que outros tipos de perímetros urbanos sofriam

restrições nesse sentido, não podendo negociar mercadorias sem autorização dos

cidade segundo seus interesses, mas não podiam obrigar

o senhor das terras ou o governo local a comprar seus produtos. Da mesma forma, esses

líderes locais não podiam exigir, sob forma alguma, qualquer espécie de tributação em

, além das taxas

Este novo modelo de cidade aparece em um momento de transformação da

China: antes, um reino que vivia da essencialmente do campo, administrado por seus

civilização em expansão que lutava para crescer e, ao

mesmo tempo, manter uma estrutura que respondesse a todos os seus questionamentos

anteriores...como dar o próximo passo? Como ir contra a razão de sua própria

Page 6: Cidades Na China Antiga

Nestas condições, a idéia de re

pensamento chinês em todos os sentidos. Nenhuma resposta era encontrada fora do

ritual, e se este mudava, era por que assim os deuses queriam. Logo, sacralizar este tipo

de cidade também era importante, já que no mo

construção, e que este se encontra abençoado pelo céu, os homens passam a

operacionalizar sua existência, controlando

Desta forma, podemos concluir que a ritualização da pratica de

na China Antiga manifesta

chinesas, onde o conhecimento, quando funcional, e demonstrando respostas

satisfatórias as questões materiais, é logo associado (ou ainda, interpretad

ascendência mítica que a vontade celeste e o culto as tradições antigas impunham ao

sistema representativo e simbólico do pensamento chinês.

Apesar do aparente imobilismo que se insere na cultura chinesa justamente pela

formação dessa estrutura de pensamento, completamente voltada para um passado

mítico glorioso, devemos notar que a materialização de algumas respostas no campo

material, mesmo que pautadas nesse pensamento, representam avanços respeitáveis;

afinal, em Chang An, capital da dinast

domínio da natureza permitiu as técnicos de feng shui construírem um porão de pedra

onde era guardado gelo para servir uma espécie de "so

Esse é apenas um detalhe no complexo siste

das cidades nada mais é do que uma manifestação em grande escala de uma estrutura

cultural onde a questão ritual domina todos os sentidos e áreas produtivas da civilização.

Nestas condições, a idéia de recorrer à tradição terminou por permear o

pensamento chinês em todos os sentidos. Nenhuma resposta era encontrada fora do

ritual, e se este mudava, era por que assim os deuses queriam. Logo, sacralizar este tipo

de cidade também era importante, já que no momento em que se domina o seu modo de

construção, e que este se encontra abençoado pelo céu, os homens passam a

operacionalizar sua existência, controlando-o e o expandindo segundo sua vontade.

Desta forma, podemos concluir que a ritualização da pratica de construção das cidades

na China Antiga manifesta-se como parte integrante do desenvolvimento das ciências

chinesas, onde o conhecimento, quando funcional, e demonstrando respostas

satisfatórias as questões materiais, é logo associado (ou ainda, interpretad

ascendência mítica que a vontade celeste e o culto as tradições antigas impunham ao

sistema representativo e simbólico do pensamento chinês.

Apesar do aparente imobilismo que se insere na cultura chinesa justamente pela

a de pensamento, completamente voltada para um passado

mítico glorioso, devemos notar que a materialização de algumas respostas no campo

material, mesmo que pautadas nesse pensamento, representam avanços respeitáveis;

afinal, em Chang An, capital da dinastia Han (século III a.C a III d.C) o nível de

domínio da natureza permitiu as técnicos de feng shui construírem um porão de pedra

onde era guardado gelo para servir uma espécie de "sorvete" ao imperador no verão...

Esse é apenas um detalhe no complexo sistema de pensamento chinês onde a construção

das cidades nada mais é do que uma manifestação em grande escala de uma estrutura

cultural onde a questão ritual domina todos os sentidos e áreas produtivas da civilização.

correr à tradição terminou por permear o

pensamento chinês em todos os sentidos. Nenhuma resposta era encontrada fora do

ritual, e se este mudava, era por que assim os deuses queriam. Logo, sacralizar este tipo

mento em que se domina o seu modo de

construção, e que este se encontra abençoado pelo céu, os homens passam a

o e o expandindo segundo sua vontade.

construção das cidades

se como parte integrante do desenvolvimento das ciências

chinesas, onde o conhecimento, quando funcional, e demonstrando respostas

satisfatórias as questões materiais, é logo associado (ou ainda, interpretado) á luz da

ascendência mítica que a vontade celeste e o culto as tradições antigas impunham ao

Apesar do aparente imobilismo que se insere na cultura chinesa justamente pela

a de pensamento, completamente voltada para um passado

mítico glorioso, devemos notar que a materialização de algumas respostas no campo

material, mesmo que pautadas nesse pensamento, representam avanços respeitáveis;

ia Han (século III a.C a III d.C) o nível de

domínio da natureza permitiu as técnicos de feng shui construírem um porão de pedra

rvete" ao imperador no verão...

ma de pensamento chinês onde a construção

das cidades nada mais é do que uma manifestação em grande escala de uma estrutura

cultural onde a questão ritual domina todos os sentidos e áreas produtivas da civilização.

Page 7: Cidades Na China Antiga

Notas

1 - Entendemos aqui o conceito de

Robertson Smith (1889), que afirmava que os rituais não surgiam para “satisfazer uma

necessidade teórica ou técnica, mas por uma necessidade “prática” (V.V. Rito

Enciclopédia Einaudi. Lisboa, Imprensa Nacional,

determinada problemática material, a civilização chinesa desenvolvia uma série de

respostas que, se comprovadas em eficácia, eram fixadas sob forma mecanizada e

posteriormente ritualística, quando sua função original se p

elementos místicos a integrava no contexto geral dos conhecimentos culturais. Embora

antiga, este conceito de ritual parece servir aos períodos iniciais da civilização chinesa.

2 - A Noção de modelo aqui apresentada refere

Vocabulário da História, Lisboa, Plátano, 1996. P.184

três interpretações dos quais duas nos são pertinentes; 1. “Instrumento de trabalho

mental que consiste em reproduzir qualquer realidade complexa

simbólica e simplificada, em ordem a permitir verificar seu comportamento no caso de

uma modificação de qualquer uma de suas variáveis” e 2. “padrão que se destina a ser

copiado ou reproduzido”. Embora seja necessário avaliar, ao longo do text

modificações que surgem do desenvolvimento dos modelos de cidades chinesas,

empregamos o termo aqui em sua segunda significação.

3 - No livro O Pensamento Chinês, Granet nos dá uma elucidação abrangente sobre o

desenvolvimento da maneira de pensar da

caracteriza pelo aparente “imobilismo”, causado pela fixação das práticas operacionais

sob forma ritual, o que dificultava o desenvolvimento de novas respostas técnicas às

crescentes demandas materiais em virt

modo de pensar chinês tendia a não diferenciar sob qualquer forma aos avanços

Entendemos aqui o conceito de ritual dentro da perspectiva Funcionalista de

Robertson Smith (1889), que afirmava que os rituais não surgiam para “satisfazer uma

necessidade teórica ou técnica, mas por uma necessidade “prática” (V.V. Rito

Enciclopédia Einaudi. Lisboa, Imprensa Nacional, 1994 v.30 p.328.) A partir de uma

determinada problemática material, a civilização chinesa desenvolvia uma série de

respostas que, se comprovadas em eficácia, eram fixadas sob forma mecanizada e

posteriormente ritualística, quando sua função original se perdia e a atribuição de

elementos místicos a integrava no contexto geral dos conhecimentos culturais. Embora

antiga, este conceito de ritual parece servir aos períodos iniciais da civilização chinesa.

A Noção de modelo aqui apresentada refere-se à conceituação de FREITAS, G.

a, Lisboa, Plátano, 1996. P.184. Ao definir Modelo, ele emprega

três interpretações dos quais duas nos são pertinentes; 1. “Instrumento de trabalho

mental que consiste em reproduzir qualquer realidade complexa

simbólica e simplificada, em ordem a permitir verificar seu comportamento no caso de

uma modificação de qualquer uma de suas variáveis” e 2. “padrão que se destina a ser

copiado ou reproduzido”. Embora seja necessário avaliar, ao longo do text

modificações que surgem do desenvolvimento dos modelos de cidades chinesas,

empregamos o termo aqui em sua segunda significação.

No livro O Pensamento Chinês, Granet nos dá uma elucidação abrangente sobre o

desenvolvimento da maneira de pensar da civilização chinesa. Em linhas gerais, ela se

caracteriza pelo aparente “imobilismo”, causado pela fixação das práticas operacionais

sob forma ritual, o que dificultava o desenvolvimento de novas respostas técnicas às

crescentes demandas materiais em virtudes das mesmas “confrontarem” o sagrado. O

modo de pensar chinês tendia a não diferenciar sob qualquer forma aos avanços

ritual dentro da perspectiva Funcionalista de

Robertson Smith (1889), que afirmava que os rituais não surgiam para “satisfazer uma

necessidade teórica ou técnica, mas por uma necessidade “prática” (V.V. Rito

1994 v.30 p.328.) A partir de uma

determinada problemática material, a civilização chinesa desenvolvia uma série de

respostas que, se comprovadas em eficácia, eram fixadas sob forma mecanizada e

erdia e a atribuição de

elementos místicos a integrava no contexto geral dos conhecimentos culturais. Embora

antiga, este conceito de ritual parece servir aos períodos iniciais da civilização chinesa.

eituação de FREITAS, G.

definir Modelo, ele emprega

três interpretações dos quais duas nos são pertinentes; 1. “Instrumento de trabalho

mental que consiste em reproduzir qualquer realidade complexa duma maneira

simbólica e simplificada, em ordem a permitir verificar seu comportamento no caso de

uma modificação de qualquer uma de suas variáveis” e 2. “padrão que se destina a ser

copiado ou reproduzido”. Embora seja necessário avaliar, ao longo do texto, as

modificações que surgem do desenvolvimento dos modelos de cidades chinesas,

No livro O Pensamento Chinês, Granet nos dá uma elucidação abrangente sobre o

civilização chinesa. Em linhas gerais, ela se

caracteriza pelo aparente “imobilismo”, causado pela fixação das práticas operacionais

sob forma ritual, o que dificultava o desenvolvimento de novas respostas técnicas às

udes das mesmas “confrontarem” o sagrado. O

modo de pensar chinês tendia a não diferenciar sob qualquer forma aos avanços

Page 8: Cidades Na China Antiga

técnicos do estudo da natureza, da religiosidade e do misticismo. Assim, o

desenvolvimento técnico, muito vezes embasados no próprio a

era visto sob a ótica de uma “ciência

como “abençoadas” ou derivadas do divino. Um exemplo bem claro está na produção

dos cereais, citado na p.245 (v.1) do livro Civilização Chinesa

descoberta do cultivo do painço é conscientemente entendida como prática humana,

mas atribuída, por sua eficácia, ao Deus Houzi, ou “príncipe painço”. Para compreender

mais sobre os avanços técnicos, recomendamos também a consulta

Needham, Joseph; Science and civilization in China. Cambridge, Cambridge Univer.

Press, 1976.

4 - Nos remetemos novamente à idéia de modelo aqui apresentada, como um padrão à

ser copiado. Ela resulta do conjunto de práticas pelo qual o esquema

uma cidade, em todas as suas características, atinge potencialidade, reconhecimento,

sendo por fim sacralizado.

5 - M. Granet (1979) conceitua de forma singular a questão do “lugar

visão, a origem do termo é mais a

(vol.1) do seu livro Civilização Chinesa, os “lugares santos” seriam tidos inicialmente

como lugares de orgias sagradas ou cultos anímicos que conquistaram gradativamente,

dentro das comunidades, sua importância r

religiosas. Cemitérios foram construídos próximos desses locais, objetivando a

aproximação dos mortos com um centro de energia ou “poder”. No enta

afirmação do autor, não devemos restringir o “lugar s

ele pode ser um lugar na natureza, ou mesmo um rio. Mas em todos os casos, sem

exceção, a presença desses espaços fora dos perímetros urbanos está fundamentada

justamente em seu processo de formação espontânea além dos lim

técnicos do estudo da natureza, da religiosidade e do misticismo. Assim, o

desenvolvimento técnico, muito vezes embasados no próprio arcabouço cultural chinês,

era visto sob a ótica de uma “ciência-ritual”, ao qual as respostas obtidas eram tidas

como “abençoadas” ou derivadas do divino. Um exemplo bem claro está na produção

dos cereais, citado na p.245 (v.1) do livro Civilização Chinesa, do mesmo autor, onde a

descoberta do cultivo do painço é conscientemente entendida como prática humana,

mas atribuída, por sua eficácia, ao Deus Houzi, ou “príncipe painço”. Para compreender

mais sobre os avanços técnicos, recomendamos também a consulta

Needham, Joseph; Science and civilization in China. Cambridge, Cambridge Univer.

Nos remetemos novamente à idéia de modelo aqui apresentada, como um padrão à

ser copiado. Ela resulta do conjunto de práticas pelo qual o esquema de construção de

uma cidade, em todas as suas características, atinge potencialidade, reconhecimento,

M. Granet (1979) conceitua de forma singular a questão do “lugar

visão, a origem do termo é mais antiga, praticamente não datável: nas páginas 293

(vol.1) do seu livro Civilização Chinesa, os “lugares santos” seriam tidos inicialmente

como lugares de orgias sagradas ou cultos anímicos que conquistaram gradativamente,

dentro das comunidades, sua importância ritual, atraindo então a prática das crenças

religiosas. Cemitérios foram construídos próximos desses locais, objetivando a

aproximação dos mortos com um centro de energia ou “poder”. No enta

, não devemos restringir o “lugar santo” a um local pré

ele pode ser um lugar na natureza, ou mesmo um rio. Mas em todos os casos, sem

exceção, a presença desses espaços fora dos perímetros urbanos está fundamentada

justamente em seu processo de formação espontânea além dos limites da cidade, onde

técnicos do estudo da natureza, da religiosidade e do misticismo. Assim, o

rcabouço cultural chinês,

ritual”, ao qual as respostas obtidas eram tidas

como “abençoadas” ou derivadas do divino. Um exemplo bem claro está na produção

, do mesmo autor, onde a

descoberta do cultivo do painço é conscientemente entendida como prática humana,

mas atribuída, por sua eficácia, ao Deus Houzi, ou “príncipe painço”. Para compreender

mais sobre os avanços técnicos, recomendamos também a consulta trabalho de

Needham, Joseph; Science and civilization in China. Cambridge, Cambridge Univer.

Nos remetemos novamente à idéia de modelo aqui apresentada, como um padrão à

de construção de

uma cidade, em todas as suas características, atinge potencialidade, reconhecimento,

M. Granet (1979) conceitua de forma singular a questão do “lugar-santo”. Em sua

: nas páginas 293-294

(vol.1) do seu livro Civilização Chinesa, os “lugares santos” seriam tidos inicialmente

como lugares de orgias sagradas ou cultos anímicos que conquistaram gradativamente,

itual, atraindo então a prática das crenças

religiosas. Cemitérios foram construídos próximos desses locais, objetivando a

aproximação dos mortos com um centro de energia ou “poder”. No entanto, segundo

anto” a um local pré-determinado:

ele pode ser um lugar na natureza, ou mesmo um rio. Mas em todos os casos, sem

exceção, a presença desses espaços fora dos perímetros urbanos está fundamentada

ites da cidade, onde

Page 9: Cidades Na China Antiga

seus aspectos práticos (fosse a prática do sexo longe dos olhares da comunidade, fosse a

execução de um ato religioso em particular de contato com a natureza, etc.) exigiam

certa distância do cotidiano.

6 - O termo feudalização, aqui,

embora temporalmente distante. O processo ao qual aludimos se refere, na China, a

concentração das terras por senhores e barões locais, em troca de proteção contra

estrangeiros e invasores, economicamente vi

politicamente organizados segundo práticas de servidão e vassalidade, estabelecidos por

meio de juramentos de fidelidade ao senhor. No livro

GRANET utiliza o termo por compreendê

7 - Feng Shui, (pronuncia

empregada na estética e na arquitetura chinesa. Sua descoberta foi atribuída ao místico

Duque Zhou, ou por vezes ao lendário primeiro imperador, Shi Huang

à parte, sua efetividade foi provada diversas vezes ao longo do desenvolvimento da

arquitetura chinesa e sua inserção nas práticas culturais chinesas foi plena. Para saber

um pouco mais sobre o assunto, ver o livro de Eitel, E. Fengshui.

Ground, 2001 (o texto nada tem de esotérico, apesar de ser apresentado como tal).

Alguns dos textos básicos utilizados em fengs

aumenta a especulação em torno de sua antiguidade.

Bibliografia

Bedin, F. Como reconhecer a arte chinesa. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Granet, M. A Civilização Chinesa. Rio de Janeiro: Ferni, 1979.

Granet, M. O Pensamento Chinês. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

Pinschel, G. Arte Chinesa. Lisboa: BNA, 1961.

seus aspectos práticos (fosse a prática do sexo longe dos olhares da comunidade, fosse a

execução de um ato religioso em particular de contato com a natureza, etc.) exigiam

certa distância do cotidiano.

O termo feudalização, aqui, é empregado em sentido bem próximo ao ocidental,

embora temporalmente distante. O processo ao qual aludimos se refere, na China, a

concentração das terras por senhores e barões locais, em troca de proteção contra

estrangeiros e invasores, economicamente vinculados em contratos de arrendamento e

politicamente organizados segundo práticas de servidão e vassalidade, estabelecidos por

meio de juramentos de fidelidade ao senhor. No livro ‘Civilização Chinesa

GRANET utiliza o termo por compreendê-lo como conveniente.

Feng Shui, (pronuncia-se Fon shue) é a arte ou técnica de domínio do espaço,

empregada na estética e na arquitetura chinesa. Sua descoberta foi atribuída ao místico

Duque Zhou, ou por vezes ao lendário primeiro imperador, Shi Huangdi. Controvérsias

à parte, sua efetividade foi provada diversas vezes ao longo do desenvolvimento da

arquitetura chinesa e sua inserção nas práticas culturais chinesas foi plena. Para saber

um pouco mais sobre o assunto, ver o livro de Eitel, E. Fengshui.

Ground, 2001 (o texto nada tem de esotérico, apesar de ser apresentado como tal).

Alguns dos textos básicos utilizados em fengshui aparecem no Shujing e no Lij

aumenta a especulação em torno de sua antiguidade.

F. Como reconhecer a arte chinesa. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

hinesa. Rio de Janeiro: Ferni, 1979.

Granet, M. O Pensamento Chinês. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

Pinschel, G. Arte Chinesa. Lisboa: BNA, 1961.

seus aspectos práticos (fosse a prática do sexo longe dos olhares da comunidade, fosse a

execução de um ato religioso em particular de contato com a natureza, etc.) exigiam

é empregado em sentido bem próximo ao ocidental,

embora temporalmente distante. O processo ao qual aludimos se refere, na China, a

concentração das terras por senhores e barões locais, em troca de proteção contra

nculados em contratos de arrendamento e

politicamente organizados segundo práticas de servidão e vassalidade, estabelecidos por

Civilização Chinesa’ vol. 1, p.121,

se Fon shue) é a arte ou técnica de domínio do espaço,

empregada na estética e na arquitetura chinesa. Sua descoberta foi atribuída ao místico

di. Controvérsias

à parte, sua efetividade foi provada diversas vezes ao longo do desenvolvimento da

arquitetura chinesa e sua inserção nas práticas culturais chinesas foi plena. Para saber

um pouco mais sobre o assunto, ver o livro de Eitel, E. Fengshui. Rio de Janeiro:

Ground, 2001 (o texto nada tem de esotérico, apesar de ser apresentado como tal).

hui aparecem no Shujing e no Liji, o que

F. Como reconhecer a arte chinesa. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Page 10: Cidades Na China Antiga

Speiser, W. Arte do Extremo Oriente. Lisboa: Verbo, 1969.

Watson, W. China Antiga. Lisboa: Verbo, 1969.

Arte do Extremo Oriente. Lisboa: Verbo, 1969.

Watson, W. China Antiga. Lisboa: Verbo, 1969.