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Revisão de Literatura

FOLICULOGÊNESE EM OVELHAS: FATORES DE ESTÍMULO E INIBIÇÃODO CRESCIMENTO FOLICULAR

Márcio Gianordoli Teixeira GOMES1*, Fernando Andrade SOUZA2, Deborah Alves FERREIRA1, Marc Roger Jean Marie HENRY3, Iran BORGES3,

Leonardo Costa Tavares COELHO4, Karina Almeida MACIEL1

RESUMO - Os mecanismos de regulação da reprodução de fêmeas são de impor-tância fundamental para o sucesso da reprodução convencional ou assistida. O folículo é a unidade funcional do ovário de fêmeas das espécies mamíferas, tendo como principais funções o crescimento e a maturação dos oócitos, bem como a produção de hormônios esteróides. Vários fatores agem de forma conjunta na regulação destas atividades por meio de mecanismos endócrinos, autócrinos e parácrinos, estimulando a atividade mitogênica de oócitos quiescentes e, ativi-dade esteroidogênica de células da teca e da granulosa. Entre os fatores regu-latórios existem alguns que agem de forma estimulante, tais como o receptor da proteína ligante (c-KITL), o sistema de fatores de crescimento ligados à insulina (IGF’s), o complexo ativina e folistatina e a superfamília do fator transformador de crescimento-β (TGF-β). Outros fatores agem de forma inibitória, tais como a inibi-na, a proteína retinoblastoma, expressa em oócitos, igualmente ao gene de Wilms (WTI). No presente trabalho, objetivou-se abordar os mecanismos regulatórios da foliculogênese e sua importância na fisiologia reprodutiva de ovelhas. Termos para indexação: c-KITL, endocrinologia, fisiologia, IGF, TGF

FOLLICULOGENESIS IN EWES: ESTIMULATION AND INHIBITION FACTORS OF FOLLICULAR GROWTH

ABSTRACT - The regulatory mechanisms of females´ reproduction are crucial to the success of conventional or assisted breeding. The follicle is the functional unit of the ovary of the female mammal species, being its major functions the growth and maturation of oocytes, as well as the production of steroid hormones. Several factors act jointly on the regulation of these activities through endocrine, autocrine and pa-racrine mechanisms stimulating the mitogenic activity of quiescent oocytes and also steroidogenic activity of the theca cells and of the granulosa. Among the regulatory factors, there are some that act in a stimulant way, such as the receptor of the binding protein (c-KITL), the system of growth factors related to insulin (IGF’s), the activin and follistatin complex, and the super family of growth-β transforming factor (TGF-β). Other agents are inhibitory, such as inhibin, the retinoblastoma protein, expressed in oocytes, as the Wilms’ gene (WTI). This paper aims to review the regulatory mecha-nisms of folliculogenesis and its importance in the reproductive physiology of ewes.

Index terms: c-KITL, endocrinology, physiology, IGF, TGF

1 Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Tocantins, Araguaína – TO. Centro de Ciência Animal (EMVZ), BR-153, Km 112, s/n. Caixa Postal 132 – CEP: 77-804-970 - E-mail: [email protected] * Autor para correspondência

2 Escola de Veterinária da Universidade Estadual do Maranhão, São Luis-MA3 Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG.4 Universidade Presidente Antônio Carlos – Campus Bom Despacho, Bom Despacho-MG

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2 M.G.T. GOMES. et al.

INTRODUÇÃO

A ovinocultura apresenta um expressivo crescimento mundial, que tem demonstrado maior intensificação nas últimas décadas, ocorrendo, principalmente, nos países em desenvolvimento, detentores dos maiores rebanhos (FONSECA, 2005). O Brasil ocu-pa o oitavo lugar em contingente ovino no mundo e um desenvolvimento significativo em sua produção (ANUALPEC, 2008).

A compreensão dos mecanismos que regulam a foliculogênese é o pré-requisito básico da eficiência reprodutiva e do melho-ramento genético de animais de interesse zootécnico (FORTUNE, 2003), e, dessa forma, avanços nas técnicas de reprodu-ção assistida requerem melhor entendi-mento da fisiologia ovariana. A regulação do desenvolvimento folicular é complexa, envolvendo fatores endócrinos, parácri-nos e autócrinos, direcionados de maneira estágio-dependente a fim de controlar vários processos, tais como, a proliferação e diferenciação de células foliculares, a esteroidogênese, angiogênese/vasculari-zação, e atresia/apoptose (WEBB et al., 2003; FORTUNE et al., 2004).

Neste contexto, de posse das infor-mações reveladas acerca da expressão diferencial para fatores de crescimento e/ou hormonais, relacionados direta ou indi-retamente com a foliculogênese podem-se elaborar estratégias de intervenção para o desenvolvimento de oócitos, visando me-lhorar as taxas de viabilidade, crescimento e maturação dos mesmos (ALMEIDA et al., 2010). Diante do exposto, esta revisão almeja apresentar conceitos sobre a foli-culogênese que possam auxiliar técnicos na elucidação da fisiologia reprodutiva de ovelhas, proporcionando uma melhor elaboração de biotécnicas da reprodução nesta espécie.

CLASSIFICAÇÃO DOS FOLÍCULOS OVARIANOS

Aos processos de formação, cresci-mento e maturação folicular dá-se o nome de foliculogênese, que tem início com a formação do folículo primordial, culminando com a formação do folículo pré-ovulatório (VAN DEN HURK e ZHAO, 2005).

A população folicular ovariana é bas-tante heterogênea. Segundo o estádio de desenvolvimento, os folículos podem ser divididos em: a) folículos pré-antrais ou não cavitários, abrangendo os folículos primordiais, primários e secundários e b) folículos antrais ou cavitários, compreen-dendo os folículos terciários e de Graaf ou pré-ovulatórios (HULSHOF et al., 1994).

Dentro deste contexto, a foliculogênese pode então ser dividida em duas fases: 1) Fase pré-antral, subdividida em ativação dos folículos primordiais e crescimento dos folículos primários e secundários; 2) Fase antral, subdividida nas fases de crescimen-to inicial e terminal dos folículos terciários (FIGUEIREDO et al., 2008).

Os folículos primordiais in vivo são rodeados por um ambiente extra-folicular complexo, incluindo o estroma ovariano, células da teca em várias fases de dife-renciação, ramos do sistema circulatório, sistema nervoso e outros tipos celulares (e.g., macrófagos). A influência que estes diferentes tipos celulares exercem nos eventos intrafoliculares ao longo da folicu-logênese vem sendo estudada, porém os mecanismos envolvidos ainda permanecem obscuros (McNATTY et al., 1999).

Os folículos em crescimento se en-contram na porção córtico-medular, que é ricamente vascularizada, sugerindo que a ativação e o crescimento dos folículos primordiais dependem de nutrientes, hor-mônios e fatores de crescimento. Porém, nem todos os folículos primordiais iniciam seu crescimento ao mesmo tempo, devido a alguns fatores que podem estar retendo

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alguns desses folículos na fase de quies-cência, para serem ativados posteriormente ao longo dos anos (VAN WEZEL e ROD-GERS, 1996).

CRESCIMENTO FOLICULAR

O hipotálamo produz o hormônio libera-dor de gonadotropinas (GnRH) no sistema porta hipotalâmico-hipofisário, a fim de esti-mular a síntese e a liberação de gonadotro-pinas: hormônio folículo estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH), responsáveis pela maturação folicular, produção de es-trógeno, ovulação e luteinização do corpo lúteo (CL) (ALJARRAH, 2004).

As gonadotrofinas aumentam a ativida-de esteroidogênica nas células da granu-losa e células da teca, resultando em au-mento na síntese e acúmulo de esteróides, especialmente o estradiol, na circulação geral e no fluído folicular onde o estradiol é elemento essencial à foliculogênese e aos eventos fisiológicos necessários à re-produção. Neste período do crescimento folicular, mudanças funcionais podem ser observadas, como por exemplo: a) aumento de sensibilidade nas células da granulosa ao FSH; b) aparecimento dos receptores de LH nas células da granulosa em folículos acima de 3mm e c) aumento da atividade da aromatase nas células da granulosa (MONNIAUX et al., 1997).

Os folículos, ao atingirem o diâmetro no qual são considerados pré-antrais, tornam--se responsivos a hormônios endócrinos. Esta fase tem início quando o folículo atinge um diâmetro de 0,216mm a 0,220mm e termina quando apresenta diâmetro acima de 2mm. O crescimento dos folículos, nesta fase, pode ser atribuído a um aumento no tamanho do ovócito, ao número de células da granulosa e, consequentemente, a um aumento no número de camadas de cé-lulas e a um pequeno aumento do antro (DUFOUR et al., 1979).

O crescimento dos folículos ovarianos

ao atingirem até 2mm de diâmetro é pouco sensível às variações de gonadotrofinas cíclicas. Suas necessidades em FSH e LH são baixas (DRIANCOURT et al., 1991), significando que os hormônios gonadotró-ficos não são absolutamente necessários à proliferação das células da granulosa e da teca (HIRSHFIELD, 1991).

Nos folículos apresentando diâmetro superior a 2mm, designados antrais, o crescimento folicular parece resultar do desenvolvimento do antro (LUSSIER et al., 1987), essencialmente dependente de gonadotrofinas hipofisárias (MONNIAUX et al., 1997), sendo esta fase de crescimen-to conhecida como foliculogênese tônica (DRIANCOURT et al., 1991).

Os avanços no estudo da endocrinolo-gia reprodutiva demonstraram que o FSH tem relação temporal com os eventos re-produtivos e está associado ao padrão de crescimento folicular em ondas. Estima-se que, na ovelha, após formação de um pool de reserva, o folículo levaria aproxima-damente 180 dias para atingir o estádio pré-ovulatório, sendo 135 dias até o apare-cimento do antro, e, mais de 45 dias até a ovulação (CAHILL et al., 1979). A secreção pulsátil de FSH ocorre a cada 5-6 dias, o que resulta em três pulsos de gonadotro-fina durante o ciclo estral de 17 dias, que de acordo com Bister e Paquay (1983), resultam em três ondas de crescimento na maioria das ovelhas e estão relacionados à emergência folicular.

INIBIDORES DO CRESCIMENTO FOLI-CULAR

A inibina ou foliculostatina é composta por dímeros α-β, levando a formação da inibina-A (α-βA) e inibina B (α-βB) (PAN-GAS e WOODRUFF, 2000). O folículo do-minante produz a inibina na granulosa, que interrompe o crescimento folicular devido a progressiva inibição da síntese e liberação do FSH provocando feedback negativo

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na hipófise, juntamente com estradiol no hipotálamo impedindo o desenvolvimento de novos folículos. Todavia, o folículo domi-nante só se tornará ovulatório, se os níveis de progesterona (P4) estiverem baixos, pois a progesterona bloqueia a liberação de LH e a ovulação (STABENFELDT e EDQVIST, 1996).

Apesar dos efeitos de estimulação no início do crescimento folicular primordial, a presença de pulsos de inibidores de cresci-mento pode ajudar a manter a quiescência do pool de folículos primordiais. Após a ati-vação do crescimento do folículo primordial, ocorre um aumento da proteína retinoblas-toma (pRb) pela proliferação das células da granulosa. Por outro lado, o aumento no tamanho do oócito provoca uma depleção dessa proteína (BUKOVSKY et al., 1995).

A expressão da pRb no nucléolo do oó-cito pode estar associada com a produção de um inibidor autócrino de proliferação, que pode prevenir a proliferação das células da granulosa. Como a pRb, o gene supres-sor de tumor de Wilms (WTl) pode ser um inibidor genético envolvido na diferenciação folicular agindo em células da granulosa de folículos primordiais, primários e se-cundários, como por exemplo, a supressão do receptor para o fator de crescimento semelhante à insulina do tipo I, IGF-I-R (WERNER et al., 1993). Foi demonstrado que a expressão do WTl no ovário pode ser controlada da mesma forma que a pRb (HSU et al., 1995).

ESTIMULADORES DO CRESCIMENTO FOLICULAR

O início do desenvolvimento folicular, incluindo a transição dos folículos primor-diais para primários, é independente de gonadotropinas e é regulado principalmente por fatores intraovarianos (VAN DEN HURK e ZHAO, 2005).

A zona pelúcida (ZP) é uma matriz ex-tracelular que cerca o oócito e promove um

tipo de junção especializada para dentro da camada interna das células da granulosa (células do cumulus). Embora nos folículos primordiais ainda não exista a ZP, o início do crescimento dos folículos primordiais está associado à expressão genética co-ordenada da ZP-1 oócito-específico, ZP-2 e ZP-3, formando a ZP em folículos jovens. Durante este crescimento inicial, as célu-las da granulosa se dividem e tornam-se metabolicamente unidas entre si, além de formarem junções gap heterólogas com o oócito chegando até eles através da ZP (GREEN, 1997).

As projeções transzonais da zona pelúcida (TZPs) são extensões de células foliculares que atravessam a zona pelúcida e terminam na superfície celular do oócito e estão presentes em maior número durante o desenvolvimento folicular. As TZPs estão ligadas à captura e ao transporte transci-tótico de fatores, assim como a secreção entre os oócitos, a granulosa e as células da teca (ALBERTINI et al., 2001).

A ativação dos folículos primordiais é regulada pelo balanço entre os fatores inibitórios e estimulatórios de origem lo-cal. Alguns estudos, especialmente com roedores, demonstraram que dentre os fatores estimulatórios para ativação dos folículos está o sistema KIT ligante (KIT-L) ou fator de crescimento de células tronco (PARROTT e SKINNER, 1999).

O fator de crescimento mastocitário (MGF), codifica a proteína ligante (KL) que possui duas formas presentes nas membra-nas (KL-1 e KL-2), as quais podem estar dissociadas, produzindo uma forma solúvel do KIT-L (DRIANCOURT et al., 2000). O gene KIT codifica o receptor de tirosina kinase (c-KIT,) pertencente à família de receptores transmembrana tirosina quinase do tipo III, família que inclui o receptor para o fator estimulante de colônia tipo 1 e os fatores de crescimento a e b derivados das plaquetas, e sua transcrição codifica uma proteína de 975 aminoácidos, que pode ser

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glicosilada (FLEISCHMAN, 1993). Culturas in vitro de folículos e de oócitos

retirados de gônadas fetais têm identificado objetivos específicos para interação c-KIT/KL. Na gônada fetal, tem-se demonstrado um efeito anti-apoptótico da interação entre esse receptor e sua proteína ligadora sobre as células germinativas, oogônias e oócitos. Em ovários, na vida pós-natal, a iniciação do crescimento folicular do grupo primordial e sua progressão além do estádio de folí-culo primário parecem envolver a interação do c-KIT/KL. Durante o início da foliculo-gênese o c-KIT junto com o KL controlam o crescimento do oócito e a diferenciação das células da teca, além de proteger os folículos pré-antrais da apoptose. A forma-ção da cavidade antral requer um sistema c-KIT/KL funcional. Em grandes folículos antrais, a interação do c-KIT/KL modula a habilidade do oócito em sofrer maturação citoplasmática e ajuda a maximizar a pro-dução de andrógeno. Consequentemente, muitos passos da oogênese e da foliculo-gênese parecem ser, em parte, controlados pela interação parácrina entre essas duas proteínas (DRIANCOURT et al., 2000).

Em ovelhas, Tisdall et al. (1999) relata-ram a expressão do gene KIT no início dos estádios da oogênese e mostraram que seu mensageiro é expresso no embrião de 24 dias. A expressão apresenta-se alta no em-brião até o dia 55, e para, quando a meiose se inicia. Esses resultados estão de acordo com relatos de Clark et al. (1996) que usa-ram hibridização in situ para demonstrar que as células meióticas não expressam KIT, enquanto oócitos que tem alcançado o estádio de diplóteno da meiose e estão inclusos nos folículos primordiais reiniciam a expressão do mesmo.

Em embriões de 90 dias, a KL é expres-sa nas células mesenquimais do córtex ova-riano e, em embriões de 100 dias, áreas de expressão são vistas em grupos de células isoladas em volta dos oócitos e nos folículos primordiais. Desta forma, pode-se concluir

que, em ovário fetal ovino, tão cedo quanto 90-100 dias de vida embrionária, as células germinativas e somáticas expressam KIT e MGF, respectivamente. Contudo, a expres-são no oócito parece acontecer através da oogênese e foliculogênese (DRIANCOURT et al., 2000).

Os mecanismos que envolvem a ação dessas proteínas ainda não foram escla-recidos, permanecendo a pergunta: por que a expressão do KIT cessa quando as células germinativas entram em meiose, e recomeçam após o bloqueio diplóteno? Uma hipótese é a de que a cessação de sua expressão pode envolver a produção de proteínas da família ativina-inibina pelas gônadas fetais nesta fase, já que há evi-dências de que outras linhagens celulares (mastócitos, células hematopoiéticas) pos-sam reduzir a expressão do KIT (JOYCE et al., 1999).

A expressão de KIT nas células da teca parece ser iniciada quando as formas da teca e sua regulação envolverem o LH, visto que, a gonadotrofina coriônica huma-na (hCG) ou o pico de LH ovulatório têm a capacidade de diminuir a expressão de KIT nestas células. Além disso, o FSH também tem a capacidade de estimular a expressão de KL-1 e KL-2 de forma dose-dependente. Nos folículos antrais finais, um efeito inibi-tório parácrino dos oócitos completamente crescidos, provavelmente, explica por que nenhuma expressão da KL é detectada nas células do cumulus (JOYCE et al.,1999).

Um possível mediador desse efeito é o fator de crescimento e diferenciação recom-binante-9 (GDF-9), presente em grandes quantidades em oócitos grandes e que são inversamente proporcionais à quantidade de KL (ELVIN et al., 1999).

A observação de que a expressão da KL é restrita às células murais da granulo-sa nesses folículos, pode ser atribuída à testosterona, que estimula a expressão do KL-1 e KL-2 (JOYCE et al., 1999), produzi-da por células circunvizinhas da teca. Alter-

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nativamente, o FSH pode estar envolvido, uma vez que as células próximas à lâmina basal expressam mais receptores para FSH do que as células mais interiores, podendo este hormônio regular a expressão da KL-1 e KL-2 (MONNIAUX e De REVIERS, 1989).

Vários estudos têm contribuído para a elucidação do padrão de sinalização do c-KIT/KL, destacando-se a via da fosfati-dilinositol 3-quinase (PI3K)-Akt-FKHRL1, sendo esta via um caminho de sinalização fundamental para a regulação da prolife-ração celular, sobrevivência, migração e metabolismo, e desempenhar papel impor-tante na regulação da ativação de folículos primordiais (CELESTINO et al., 2009).

Estudos de Reddy et al. (2005), utili-zando ovários de camundongos e ratos na vida pós-natal, revelaram que a via da PI3K no oócito é regulada pela KL das células da granulosa, sendo de grande importância para o início do desenvolvimento folicular. Este estudo sugeriu que a ação do KL sobre a transição de folículos primordiais para pri-mários, e o subsequente desenvolvimento folicular, pode envolver a fosforilação Akt quinase serina/treonina.

A Akt é uma molécula sinalizadora, que aumenta a proliferação celular, sobrevivên-cia e síntese de glicogênio, de proteína (BLUME-JENSEN e HUNTER, 2001) e a transcrição do fator FKHRL1, sendo esta última, membro da subfamília de fatores de transcrição FOXO forkhead, que consiste em Foxo3a, Foxo1 e Foxo4, todos, efetores da via PTEN/PI3K/Akt (TRAN et al ., 2003), responsáveis por ações que provavelmente provocam o gatilho da Akt e inibe as ativida-des do FKHRL1 nos oócitos. O FKHRL1 é um substrato da proteína Akt, assim como um fator de transcrição que leva a apoptose e parada do ciclo celular. Portanto, sugere--se que Akt estimule o desenvolvimento do oócito, enquanto FKHRL1 inibe (CELESTI-NO et al., 2009), esclarecendo, em parte, a via de sinalização do c-KIT/KL.

Silva et al. (2009) citaram que a família

desses fatores de crescimento é compos-ta por mais de 40 membros, agrupados de acordo com sua homologia estrutural, sendo que diversos estudos demonstraram que várias proteínas pertencentes à família TGF-β são expressas em oócitos, células da granulosa e da teca e funcionam como reguladores intraovarianos dos processos de ativação de folículos primordiais, prolife-ração de células da granulosa e da teca, es-teroidogênese e maturação oocitária, bem como no processo de atresia. Os principais fatores desta família, que exercem funções no controle dos processos reprodutivos, são as proteínas morfogenéticas ósseas dos tipos 2 (BMP-2), 4 (BMP-4), 6 (BMP-6), 7 (BMP-7), 15 (BMP-15), o fator de diferen-ciação do crescimento-9 (GDF-9), a ativina--A, a inibina, o hormônio anti-Mulleriano (AMH) e o própiro fator transformandor-β de crescimento (TGF-β).

Deve-se ainda lembrar, que o processo de seleção do folículo, também é depen-dente de sinais endócrinos, devidamente sincronizados, oriundos das gonadotrofinas hipofisárias e dos hormônios metabólicos. Contudo, estes hormônios agem sobre os receptores dos dois tipos de células so-máticas e interagem com uma miríade de fatores produzidos localmente, operando de forma parácrina/autócrina para coordenar e controlar a função celular, demonstrando que os membros da superfamília TGF-β destacam-se entre os fatores produzidos localmente (KNIGHT e GLISTER, 2003).

A multiplicidade de fatores de cresci-mento pertencentes à superfamília TGF-β é expressa pelas células somáticas ovarianas e oócitos em desenvolvimento, de forma estágio-relacionada, funcionando como regulador intraovariano da foliculogênese (GILCHRIST et al., 2004).

Fatores como as proteínas ósseas morfogenéticas, bone morphogenetic pro-tein 4 e 7 (BMP-4 e BMP-7) são expressas pelas células do estroma ovariano e/ou pelas células da teca e foram recentemen-

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te implicadas como reguladoras positivas da transição de folículos primordiais para folículos primários (GLISTER et al., 2005). Em contraste, evidências indicam um papel negativo para o hormônio anti-mülleriano (AMH), também conhecido como substân-cia inibidora Mülleriana, com origem nas células pré-granulosa/granulosa neste evento-chave e posterior progressão para a fase antral (DURLINGER et al., 2002).

Dois outros membros da superfamília TGF-β, fator de crescimento e diferencia-ção-9 e BMP-15 (também conhecida como GDF-9B) que são expressos de uma forma específica em oócitos a partir de uma fase muito precoce e desempenham um papel fundamental na promoção do crescimento do folículo, além do estádio primário. Ratos com mutações nulas no gene GDF-9 ou ovelhas com mutações inativadoras nos genes GDF-9 e BMP-15 são inférteis, com desenvolvimento folicular estacionado no estágio primário (HAYASHI et al., 1999).

Estudos sobre as fases posteriores do desenvolvimento folicular indicam papéis positivos para a ativina derivada das células da granulosa, as BMP-2, BMF-5 e BMF-6, e derivadas das células da teca, BMF-4 e BMF-7, na proliferação das próprias células da granulosa, sobrevivência do folículo e da prevenção da luteinização prematura e/ou atresia. Concomitantemente, ativina, TGF-β e os vários BMPs podem exercer diversas ações parácrina sobre as células da teca para atenuar a produção de andrógenos, LH-dependente, nos pequenos e médios folículos antrais (GLISTER et al., 2005).

A ativina também pode desempenhar um papel positivo na maturação dos oóci-tos e na aquisição da sua competência de desenvolvimento (KNIGHT e GLISTER, 2003). Quatro tipos de receptores de ativina têm sido identificados nos folículos, sendo denominados de receptores de ativina tipo IA, IB, IIA e IIB. A ativina-A liga-se primeiro aos receptores de ativina IIA (ActR-IIA) ou IIB (ActR-IIB) e depois então, ao IB (ActR-

-IB). O complexo ativado da ativina e seus receptores estimulam as moléculas de si-nalização intracelular que são deslocadas para o núcleo de regulação da transcrição gênica (PANGAS e WOODRUFF, 2000).

A folistatina, outro hormônio protéico encontrado no fluido folicular, não somente inibe a secreção de FSH, mas também se liga as ativinas e neutraliza sua atividade biológica. É, portanto, um modulador da secreção de FSH. Existem duas formas de folistatina (folistatina-315 e folistatina-288), e diferem estruturalmente no aminoácido 27 adicional, na extremidade terminal car-boxila da folistatina-315. A folistatina não é relacionada estruturalmente a ativina e inibina, mas se liga com alta afinidade à subunidade-β, capaz de neutralizar a ativi-dade da inibina, e mais particularmente, as formas da ativina (LIN et al., 2003).

Vários estudos têm demonstrado a importância do sistema ativina-folistatina no controle da função ovariana (VAN DEN HURK e ZHAO, 2005). In vitro, a ativina--A estimula a proliferação das células da granulosa nos folículos pré-antrais e início do antro nestes folículos, além de regular os receptores de FSH e a atividade da aromatase induzida por este hormônio. Em adição, a ativina-A retarda a luteinização e a atresia nos grandes folículos antrais elevan-do a maturação do oócito. Por outro lado, a folistatina atenua as ações da ativina-A e pode promover a luteinização e atresia dos grandes folículos antrais. A expressão da ativina-A e folistatina é, dependente da espécie, sendo encontrada em oócitos, nas células da granulosa e/ou teca (KNIGHT e GLISTER, 2003).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A compreensão dos mecanismos de regulação da foliculogênese em ovelhas envolve fatores estimuladores e inibidores do crescimento folicular. Portanto, torna-se indispensável o estudo e acompanhamento

Foliculogênese em ovelhas: fatores de ...

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da fisiologia e do desenvolvimento da bio-logia celular e molecular para atualização e melhor entendimento da regulação en-dócrina e modulação da foliculogênese na reprodução desta espécie.

Os mecanismos que regulam a foli-culogênese torna-se pré-requisito básico na promoção da eficiência reprodutiva e do melhoramento genético de animais de interesse zootécnico, e, dessa forma, avanços nas biotécnicas de reprodução assistida requerem melhor entendimento da fisiologia ovariana. Neste contexto, os estudos relativos à expressão de fatores de crescimento e/ou hormonais, relacionados direta ou indiretamente com a foliculogê-nese e sua modulação, bem como aqueles envolvendo fatores endócrinos, parácrinos e/ou autócrinos, que possam contribuir na elaboração de estratégias de intervenção para o desenvolvimento dos oócitos, vi-sando melhorar as taxas de viabilidade, crescimento e maturação dos mesmos tornam-se imprescindíveis.

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Revisão de Literatura

INSETOS-PRAGA EM ALIMENTO INDUSTRIALIZADO PARA ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO

Eduardo Henrique Leite MACHADO1*; Erilane de Castro Lima MACHADO2; Leucio Câmara ALVES3; Maria Aparecida da Gloria FAUSTINO3

RESUMO - Insetos-praga, principalmente das ordens Coleoptera e Lepidoptera, assumem um papel importante em grãos e ração animal causando sérios danos qualitativos e quantitativos a estes alimentos e trazendo prejuízos financeiros por inviabilizar sua comercialização. Devido à carência de informações sobre estas pragas no Nordeste brasileiro, esta revisão de literatura visa contribuir para um melhor conhecimento deste problema, apresentando aspectos relacionados ao mercado de alimentos industrializados, susceptíveis aos insetos, distribuição geo-gráfica dos coleópteros, perdas nutricionais e econômicas, bem como aos diversos métodos de controle. Termos para indexação: Coleópteros, Lepidópteros, ração, nutrição animal.

PEST INSECTS IN INDUSTRIALIZED PET FOOD

ABSTRACT - Insect pests, particularly the orders Coleoptera and Lepidoptera, play an important role in grain and animal feed causing serious damage to these qualitative and quantitative food and bringing financial losses derail your marketing. Due to lack of information about these pests in the Brazilian Northeast, this litera-ture review aims to contribute to a better understanding of this problem, presenting aspects related to market foods, susceptible to insects, geographic distribution of beetles, nutritional and economic losses, as well as control methods.Index Terms: Coleoptera, Lepidóptera, feed, animal nutrition.

INTRODUÇÃO

Entende-se por alimento industriali-zado para cães os compostos orgânicos formados principalmente por proteínas, car-boidratos, gorduras, minerais, vitaminas e água, sendo sua deterioração dependente de fatores físicos e químicos e de fontes externas, como por exemplo, a presença de insetos (FARONI, 2002). Para isso, tornam-se essenciais os cuidados com o armazenamento, período de estocagem, limpeza das instalações e um efetivo ma-nejo voltado para a prevenção de pragas

(LORINI, 1998; PETRI, 2002; BELLAVER, 2004), pois, segundo a Associação Na-cional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação-ANFALPET (2011), a qualidade deste alimento é de fundamental importância para atender as necessidades nutricionais dos animais, além das exigên-cias do mercado que preza pelo constante monitoramento da presença de insetos--praga nos produtos armazenados em embalagem fechada ou naqueles expostos e comercializados a granel, nos pontos de vendas, como forma de minimizar os graves prejuízos provocados pela infestação.

1 Mestre em Ciências Veterinárias, Total Alimentos, Rua. Mal Manoel Luis Osório, 85, Ap.502, Várzea, CEP 51021-040, Recife, Pernambuco, Brasil, [email protected] * Autor para correspondência

2 Professor Adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco3 Médica Veterinária pela Universidade Federal Rural de Pernambuco

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Com uma população de 32 milhões de cães e 16 milhões de gatos, o Brasil ocupa a segunda colocação no mercado mundial de alimentos industrializados para animais de estimação, movimentando 7,2 bilhões de reais por ano. A comercialização abran-ge todo o país. Entretanto, a maior con-centração ocorre na região Sudeste que representa 43% do consumo, seguida pela região Nordeste com 28%, e pelas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte, com 15%, 7% e 7%, respectivamente (ANFALPET, 2011). Dessa forma, salientando-se a importân-cia da alimentação oferecida aos animais de companhia, objetiva-se com esta re-visão de literatura, apresentar aspectos relacionados ao mercado de alimentos industrializados e sua susceptibilidade a duas classes de insetos (Coleoptera e Lepidoptera), como também os prejuízos econômicos e biológicos que possam causar aos proprietários, à indústria, aos vendedores e aos próprios animais.

INSETOS-PRAGA

Estes insetos são assim denomina-dos quando competem com o homem por alimento e abrigo (MORAES e ZANET-TI,1999). Quanto ao hábito alimentar, os insetos podem ser classificados em: primá-rios, capazes de romper o grão para atingir o endosperma; e os secundários, que geral-mente vivem associados aos insetos primá-rios, alimentando-se de grãos quebrados ou danificados (FARONI e BERBERT,1999).

Segundo Faroni (1997) os principais insetos que infestam grãos e produtos armazenados são pertencentes às ordens Coleoptera (Figura 1) e Lepidoptera (Figura 2). De acordo com Pacheco e Paula (2002), aqueles que fazem parte da primeira ordem (Coleoptera), caracterizam-se por apresen-tar o primeiro par de asas cobrindo parte ou todo o abdômen, enquanto o segundo par de asas são membranosas, e geralmente são utilizadas para o voo.

FIGURA 1- Coleopteros das espécies Rhyzopertha dominica (A); Lasioderma serricorne (B); Oryzaephilus surinamensis (C); Tribolium castaneum (D).

Fonte: acervo próprio.

Com relação à ordem Lepidoptera, esta compreende as borboletas e mariposas, sendo sua principal característica morfo-lógica, a presença de olhos compostos, ocelos, probóscide e quatro asas membra-nosas cobertas por escamas, que podem ter ou refletir diferentes cores (GALLO et al., 2002). Estes insetos são de grande

importância em armazenamento de grãos e em produtos estocados e as famílias de maior importância no Brasil são Pyralidae e Gelechiidae. O ciclo de vida de Lepdoptera compreende uma metamorfose completa com as fases de ovo, larva (lagarta), pupa (crisálida) e adulto, o qual possui o corpo frágil. (PACHECO e PAULA, 2002).

A B C D

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Dentre as espécies da ordem Coleop-tera de interesse agrícola, os insetos per-tencentes à família Anobiidae compreende mais de 1000 espécies, a maioria das quais se encontram em países tropicais, sendo os espécimes identificados pelo formato do protórax, o qual envolve parcialmente a cabeça, e, pela antena de 11 segmentos, apresentando, ainda, corpo cilíndrico, oval ou alongado (PACHECO e PAULA, 2002). Com dimensões variando de 2 a 2,5 milíme-tros, o gênero Lasioderma é representante típico desta família, o qual ocorre nas regi-ões tropicais, subtropicais e temperadas do mundo, desenvolvendo-se em condições climáticas próximas a 32ºC e umidade re-lativa (UR) de 70%, completando seu ciclo biológico em aproximadamente 25 dias (ARBOGAST, 1991; FARONI, 1997).

Os representantes da família Silva-nidae são insetos que: apresentam 2 a 4 mm de comprimento, corpo geralmente estreito e dorso-ventralmente achatado, antena com 11 segmentos com uma clava compacta; élitros (asas anteriores) cobrindo completamente o abdômen, e ainda pos-suem cinco segmentos abdominais visíveis ventralmente (PACHECO e PAULA, 2002). O gênero Oryzaephilus destaca-se como

principal gênero presente nesta pequena família, sendo considerada praga secun-dária, que ataca grãos, cereais e farinhas, mas que, no entanto é incapaz de atacar grãos inteiros e sadios (HOWE, 1965). Em condições de temperaturas ótimas, este inseto realiza seu ciclo biológico em torno de 22 dias (EVANS, 1981).

Por outro lado, os coleópteros da famí-lia Tenebrionidae são comumente encon-trados nas regiões tropicais e temperadas, podendo sua ocorrência em alimentos armazenados estar atribuída às condições inadequadas de estocagem (PACHECO e PAULA, 2002). Insetos do gênero Tribo-lium, pertencentes a esta família, podem infestar grãos, farinhas, farelos e ração animal (EVANS, 1981). O período de de-senvolvimento desta praga varia bastante. Entretanto, com temperaturas próximas a 37ºC e umidade relativa acima de 70%, seu ciclo de ovo a adulto pode ser completado em 22 dias (HOWE, 1965).

De acordo com Pacheco e Paula (2002) os representantes da família Bostrichidae apresentam características morfológicas como corpo cilíndrico, pronoto com saliên-cias dorsais semelhantes a dentes, cabeça geralmente escondida sob o pronoto, an-

FIGURA 2 - Lepdóptero da família Gelechiida Fonte: www.ent.uga.edu/pubs/homeipm.htm

Insetos-praga em alimento industrializado ...

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tena com clava composta de três a quatro segmentos, tarsos com cinco segmentos delgados e fortes mandíbulas. Segundo Galo et al. (2002), incluem-se nesta família coleópteros do gênero Rhyzopertha, que presentes em regiões tropicais e subtropi-cais, têm preferência por alimentos como o milho, sorgo, cevada, centeio, trigo e outros produtos armazenados. Seu ciclo bioló-gico, de acordo com Evans (1981), pode ser realizado em 25 dias em temperaturas variando de 20ºC a 38ºC, com umidade relativa de 70%.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DOS INSETOS-PRAGA

A frequência de insetos-praga em produtos armazenados tem sido verificada em vários países do mundo (LOSCHIAVO e OKUMURA, 1979; HAINES e PRONA-TA, 1982). No Reino Unido e na Itália, as espécies de Oryzaephilus surinamensis, Tribolium castaneum e Rhyzopertha domi-nica tem sido relatadas infestando grãos armazenados à granel e em produtos acondicionados em embalagens fechadas (SOLOMON e ADAMSON, 1995; TRE-MATERRA et al., 2000; COX e COLLINS, 2002).

Em Portugal, Carvalho et al. (2006) chamam a atenção para os riscos que cor-rem os alimentos como a farinha de trigo, o milho e a aveia, já que neste país, o cole-óptero Lasioderma serricorne é encontrado frequentemente em fábricas que utilizam estes cereais como matéria-prima. Se-gundo Papadopoulou e Buchelos, (2002), esta espécie também assume grande importância na região de Thessaloniki na Grécia, por infestar produtos como o fumo e os alimentos processados estocados em varejos.

Relatos sobre a presença de Tribolium castaneum e Rhyzopertha dominica na Austrália são frequentes, principalmente em fazendas onde predominam o cultivo

de cereais como aveia e trigo (SINCLAIR, 1982).

No Japão, Shibuya e Yamada (1935) mencionaram a presença de Lasioderma serricorne infestando farelos e farinha de trigo, ervadoce, cominho e gengibre desi-dratado. No Egito, Zacher (1948), relatou que este inseto também tem sido registra-do, com frequência, em arroz e temperos comercializados em varejos. Pacheco e Paula (2002) relataram a presença do lepidóptero Sitotroga cerealella na África, bem como, nas principais regiões tropicais, subtropicais e em regiões temperadas quentes, infestando grãos e cereais como trigo, milho, arroz, cevada, sorgo e centeio.

Outros achados da presença de inse-tos-praga em ração animal e cereais esto-cados foram mencionados em armazéns, na Arábia Saudita (ROSTOM, 1994).

Nos Estados Unidos e México vários trabalhos relataram a presença de coleóp-teros e lepidópteros como T. castaneum, R. dominica, O. surinamensis, L. serri-corne e Plodia interpunctella, infestando amostras de trigo, milho, sorgo, arroz com casca, soja e alimentos para animais de estimação (PEREZ-MENDOZA et al., 1999; HAGSTRUM, 2001; NANSEN et al., 2004; ARTHUR, 2006; ARTHUR et al., 2013).

Relatos sobre a presença destes inse-tos-praga em grãos armazenados no Brasil são descritos principalmente nos Estado de Minas Gerais (MORAES e ZANETTI, 1999; PACHECO e PAULA, 2002; FARONI, et al., 2004), Paraná (MATIOLI e ALMEIDA, 1979; CANEPPELE et al., 2003), Rio Grande do Sul (BRACKMANN e GUEDES, 1995; GUEDES et al., 1996), Goiás (VITAL et al., 2004) e São Paulo (VALENTINI et al., 1997).

Trabalhos que citam casos de infes-tações em alimentos industrializados para cães são raros no Brasil. Entretanto, Gre-dilha et al. (2005), relataram a presença de O. surinamensis em ração industrializada para cães e gatos, no Rio de Janeiro.

E.H.L. MACHADO et al.

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Em Pernambuco, Sousa et al. (2005) mencionaram à presença de coleópteros como Tribolium sp e O. surinamensis em alimentos para cães e gatos, milho e feijão que eram comercializados em feiras livres e supermercados na cidade de Recife. Em estudo semelhante, Machado et al. (2005) observaram os gêneros Tribolium, Rhyzopertha, Oryzaephilus e Lasioderma infestando estes alimentos em lojas agrope-cuárias localizadas na região metropolitana do Recife.

PERDAS NUTRICIONAIS E ECÔNÔMI-CAS

A infestação por insetos-praga pode causar sérios problemas, desde a colheita até o armazenamento, causando prejuízos como perdas nutricionais, mudanças de cor, textura, sabor e odor dos produtos (FARONI, 2002). Stweart-Jones et al. (2009) relataram que coleópteros dos gê-neros Tribolium e Rhyzopertha alteraram, significativamente, os níveis dos ácidos graxos palmítico, esteárico, oleico, linolei-co e linolênico em alimentos estocados no Reino Unido.

Já Pacheco e Paula (2002) observaram que as espécies de Lepidoptera causam danos consideráveis ao alimento, devido ao consumo pelas lagartas, a presença de teias, excrementos nos produtos armaze-nados, bem como, em grãos em estado de maturação no campo.

Dentre os vários estudos envolvendo perdas nutricionais em grãos, Matioli e Almeida (1979) citaram que o teor de li-pídeos do milho diminuiu com o aumento da população de insetos, devido a este substrato servir como principal fonte de alimentação para estes coleópteros. Corro-borando com este achado, Sinclair (1982) relatou a importância do ácido linoleico na fisiologia do inseto-praga, principal-mente nas fases de larva e pupa, onde se constatou maior armazenamento desse

composto pelas pragas, pois, assim como os lipídeos, os carboidratos são utilizados para a produção de energia, sendo essen-ciais para o desenvolvimento dos insetos. Neste contexto, Hall (1971) afirmou que os gorgulhos alimentam-se principalmente de carboidratos, consumindo, assim, parte do valor energético dos grãos.

Estudando amplamente sobre perdas nutricionais, Perez-Mendoza et al. (1999) afirmaram que, durante o processo de in-festação por insetos-praga, a maioria dos alimentos perdem lipídeos, carboidratos e proteínas, pois estes compostos são utilizados pelos coleópteros como fonte de energia.

De acordo com Wehling et al. (1984), vários fatores podem afetar a qualidade da farinha de trigo, dentre eles, pode-se destacar a infestação por insetos, que além de reduzir o nível de proteínas dos cereais, aumenta a quantidade de ácido úrico depre-ciando o produto. Em estudo semelhante, Samuels e Modgil (1999) assinalaram que a farinha obtida de grãos infestados com insetos-praga apresenta mudança de cor e diminuição da digestibilidade, em razão da perda de proteína.

A Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO) estimou, na dé-cada de 70, uma perda de produção na ordem de 14%, em consequência do ata-que de insetos na agricultura mundial. Já no Brasil as perdas médias com grãos são de aproximadamente 10% do total do que é produzido anualmente, o que representa um prejuízo aproximadamente de 8,5 a 9 milhões de toneladas ao ano (BENTO, 1999).

Em alimentos industrializados para animais de estimação, não se têm dados concretos sobre os prejuízos causados. En-tretanto, sabe-se que os danos provocados pelos insetos, diminui o valor nutricional, levando, na maioria das vezes, à inviabi-lidade do consumo ou da comercialização (FARONI, 2002).

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No âmbito dos alimentos industrializa-dos para cães, os prejuízos registrados, vão desde danos nutricionais provocados pela ação direta dos insetos, até prejuízos financeiros, ocasionados pela alteração da aparência do alimento e perda de confiança por parte da clientela, gerando

ainda maior custo com a reposição de produtos e/ou compensações financeiras aos compradores dos produtos (FARONI, 2002; BELLAVER, 2004).

Na Figura 3 pode ser visualizado um alimento industrializado para cães após infestação.

FIGURA 3 - Aparência de diferentes tipos de alimentos para cães (A e B), após infestação por coleópteros. Fonte: acervo próprio.

CONTROLE DE INSETOS-PRAGA

A maioria dos programas de controle de insetos-praga tem sido realizada no sentido de diminuir ou eliminar a popula-ção dos insetos presentes no ambiente de armazenamento. Desta forma, os métodos de controle físico (temperatura, pressão, sanitização e pó inertes), químico (fosfina e brometo de metila) e o biológico, com a utilização de parasitas ou predadores, são utilizados frequentemente, no sentido de diminuir os prejuízos causados pelos coleópteros e lepdopteros (FARONI, 1997; SHI et al., 2012).

Várias pesquisas têm revelado que a utilização de altas temperaturas no con-trole de insetos-praga vem apresentando resultados satisfatórios, principalmente por ser efetiva e não agredir o meio am-biente (EVANS, 1987; FIELDS, 1992; CANEPPELE et al., 2003; MAHROOF et al., 2003; ROESLI et al., 2003; ARTHUR,

2006). Nesta mesma linha, Riudavets et al. (2010) conseguiram controlar rapidamente os estágios de: ovo, larva, pupa e adultos de Oryzaephilus, Lasioderma, Sitophilus e Rhyzopertha, utilizando dióxido de carbono (CO2) em alta pressão.

Rajendran e Sriranjini (2008) utili-zaram óleos essenciais de plantas das famílias Apiaceae, Lamiaceae, Lauraceae e Myrtaceae no controle do lepdóptero Sitotroga cerealella e observaram que estes, possuem ação comparável com a do inseticida químico brometo de metila e cloropicrina.

Alternativas promissoras no controle de pragas têm sido observadas através da utilização de terra diatomácea e do inseti-cida Saccharopolyspora spinosa (WHITE e JAYAS, 1991; TOWES e SUBRAMANYAM, 2004; COLLINS e COOK, 2006).

Vale salientar que, embora as mo-dernas técnicas de controle isoladas ou comumente utilizadas sejam de alguma

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forma efetivas, as condições higiênicas se destacam como principais fatores a serem observados. Para tanto, torna-se essencial a remoção de grãos quebrados e resídu-os de alimentos presentes nos locais de armazenamento evitando-se a infestação por esses insetos (NANSEN et al., 2004; DAGLISH, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os insetos-praga representam uma ameaça constante à qualidade dos alimen-tos oferecidos pelas indústrias alimentícias animal, e podem estar presentes desde a colheita dos grãos, nos silos de armaze-namento, e, no produto final acabado, que é vendido pelos estabelecimentos comer-ciais. Registros da presença destas pragas nos alimentos ofertados para o consumo humano/animal são observados há vários anos, e os danos, apesar das tecnologias empregadas, ainda são consideráveis. O estudo da ocorrência/frequência de insetos como os coleópteros e lepidópteros, sua biologia e desenvolvimento em alimentos industrializados para cães, constitui-se um importante instrumento para a avalia-ção dos prejuízos, auxiliando na seleção/adoção de estratégias efetivas de controle, principalmente nos produtos comercia-lizados a granel, que, por estarem mais expostos ao ambiente, necessitam de maiores cuidados. Fatores relacionados à embalagem, rotatividade do produto no ponto de venda, bem como, as condi-ções ambientais onde os alimentos são armazenados, requerem monitoramento frequentes, como forma de prevenir altas taxas de infestação. O desafio ao controle desses insetos indica que, os esforços constantes dos pesquisadores ainda não foram suficientemente esgotados, mere-cendo atenção especial e pesquisas mais efetivas, para que se evitem as perdas nutricionais e econômicas.

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Revisão de Literatura

ERLIQUIOSE TRANSMITIDA AOS CÃES PELO CARRAPATO MARROM (Rhipicephalus sanguineus)

Daniela Maria Bastos de SOUZA¹, Zoraide Fernandes COLETO²*, Andreia Fernandes de SOUZA¹, Sildivane Valcácia SILVA3,

Jeyce Kelle de ANDRADE4, George Chaves GIMENEZ¹

RESUMO – Os animais da espécie canina representam aqueles que estão mais ligados ao homem, seja pelo apelo sentimental quando utilizados como animais de companhia, ou quando são empregados para serviço e/ou pesquisa. Entretanto, as doenças transmitidas pelos carrapatos, como a erliquiose, vêm causando grandes prejuízos econômicos e na saúde desses animais. Além destas questões, o protocolo estabelecido, o uso indiscriminado de medicamentos por parte dos proprietários que os utilizam como método preventivo provoca resistência às substâncias, gerando dificuldades no tratamento dessa patologia. Ao discorrer sobre o assunto, objetivou-se abordar o tema como forma de contribuir para um melhor conhecimento da biologia dessa doença, bem como a tomada de decisão na adoção de medidas de controle, prevenção e cura. Termos para indexação: hemoparasitose, medidas de controle, cura.

EHRLICHIOSIS TRANSMITTED TO DOGS BY TICK BROWN (Rhipicephalus sanguineus)

ABSTRACT – The canine species represent those who are more connected to the man, either by the sentimental appeal when used as pets or when they are em-ployed to service and/or research. However, diseases transmitted by ticks such as ehrlichiosis is causing a great economic loss and to the health of these animals. In addition to these issues, the established protocol, the indiscriminate use of drugs by the owners who use them as a preventive method, causes resistance to these substances, implying in difficulties in the treatment of this pathology. To discuss the subject, the objective of addressing the theme is a way of contributing to a better knowledge of the biology of this disease, as well as the decision on the adoption of control, prevention and cure measures. Index terms: hemoparasitosis, control measures, cure.

1 Professor Adjunto da Universidade Federal Rural de Pernambuco2 Doutora pela Universidade Federal Rural de Pernambuco *Autor para correspondência: Av: Bernardo Vieira de Melo,

2366, Apto 1801, Ed. Maria Odile [email protected] Professor Adjunto da Universidade Federal da Paraiba4 Doutoranda de Inovação Terapêutica da Universidade Federal de Pernambuco

INTRODUÇÃOMundialmente, são reconhecidas vá-

rias doenças transmitidas aos indivíduos da espécie animal por diversas espécies de carrapatos. Dentre essas doenças, a erliquiose é uma enfermidade parasitária transmitida por carrapatos aos cães de

todas as raças, sexo e idade, e foi descrita pela primeira vez no Brasil por Costa et al. (1973). Oyafuso et al. (2002), no norte do Paraná, caracterizaram a espécie Rhipi-cephalus sanguineus parasitando 96% de 71 cães, enquanto 4% eram da espécie Amblyomma cajenense, enquanto Torres

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et al. (2004), no estado de Pernambuco, encontraram somente carrapatos Rhipi-cephalus sanguineus parasitando 82,77% de 325 cães avaliados. Medeiros e Lima (2004) avaliaram 198 cães e constataram que 13 (6,56%) desses animais tiveram o diagnóstico clinico/parasitológico con-firmado para a doença. Benigno et al. (2011) estudaram 744 cães suspeitos para erliquiose, oriundos de duas populações diferentes: população A, localizada em região de alto padrão econômico; popula-ção B, localizada em região de periferia e baixo poder aquisitivo, determinando que, independente da localização, os animais da raça Podle foram os mais propensos à infecção (15 de 48 animais de raça definida avaliados).

A erliquiose é uma doença de ocorrên-cia frequente no verão brasileiro, visto que, os carrapatos necessitam de condições ideais como o calor e a umidade para se reproduzirem. É transmitida de um cão contaminado para um cão sadio através da picada do carrapato. O principal vetor é o carrapato marrom (Rhipicephalus sangui-neus), que irá infectar células sanguíneas da série branca, ou seja, as células de defesa do cão, com formas contaminantes

do agente causador da doença (HOSKINS, 1991). A sintomatologia é ampla e devem--se levar em conta outras enfermidades como, por exemplo, a doença viral cino-mose, que pode confundir o diagnóstico, pela similaridade dos aspectos clínicos (HARVEY, 1978; CHIARI, 2010).

Com esta revisão de literatura, objeti-vou-se auxiliar os profissionais envolvidos com a criação e cuidados dispensados aos cães no entendimento e no combate à erliquiose.

TRANSMISSOR DA ERLIQUIOSE

O carrapato Rhipicephalus sanguineus (Figura 1), tem grande importância epide-miológica por ser cosmopolita e um reser-vatório da doença. É um típico parasita de três hospedeiros, isto é, durante as fases de sua evolução (larva, ninfa e adulto), ele pode parasitar três animais diferentes e, as mudas de fase, ocorrem fora do corpo do hospedeiro, facilitando a transmissão da doença. O carrapato é contaminado quando o cão se alimenta do sangue de um cão por-tador de Ehrlichia sp, e este agente se mul-tiplica no interior do carrapato mantendo-se vivo por até 5 meses. O carrapato passa a

FIGURA 1 - Carrapatos do gênero Rhipicephalus sanguineus, transmissor da erliquiose em cães. Em A - fêmea ingurgitada, após espoliação do animal; B – macho adulto, apresentando exoesqueleto muito resistente, característico da espécie.

(Fonte: Viviane Dubal http//bullblogingles.files.wordpress.com, 2011)

D.M.B SOUZA et al.

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transmitir a Ehrlichia em 3 a 5 dias após a sua contaminação. A transmissão ocorre por inoculação no sangue, resultado da espoliação parasitária, quando o carrapato infectado pica um animal sadio, liberando no local da picada secreções salivares que contêm a Ehrlichia sp, infectando o animal, ou no momento de transfusões sanguíneas, através de agulhas ou instrumentais con-taminados e pela via transplacentária. O mesmo carrapato pode transmitir outras en-fermidades, como a babesiose e anaplas-mose, que podem ocorrer conjuntamente à erliquiose. O período de incubação varia de 7 a 21 dias, e no prazo de 14 a 28 dias, o animal manifesta a fase aguda da doença (ALMOSNY e MASSARD, 2002).

CICLO DA EHRLIQUIOSE

O agente se multiplica nos órgãos do sistema mononuclear fagocítico (fígado, baço e linfonodos) dos indivíduos. Os monócitos ligam-se às células endoteliais, iniciando uma vasculite. A destruição das plaquetas e a persistente trombocitopenia tende a provocar hemorragias em membra-nas, mucosas, ou em outros sistemas orgâ-nicos. A anemia ocorre devido à leucopenia na fase aguda e à hipoplasia da medula óssea na fase crônica (CHIARI, 2010).

O GÊNERO Ehrlichia sp.

A classificação do gênero Ehrlichia apresenta-se controversa, sendo designa-do inicialmente como Rickettsia, e compre-ende as famílias E. canis, E. chaffeensis, E. equi, E. ewingi (que acomete mais os humanos), E. platys e E. risticii. Estes parasitos sanguíneos intraleucocitários e plaquetários transmitidos aos cães pelos carrapatos acometem vários hospedeiros mamíferos. Harvey et al. (1978) descre-veram um microrganismo semelhante a E.sp, causador de trombocitopenia clínica induzida em cães, infectando plaquetas,

enquanto French e Harvey (1983) descre-veram organismos arredondados, ovoides ou achatados, corados pelo Giemsa em plaquetas de cães enfermos.

São organismos não móveis, de mor-fologia cocóide a elipsoidais que podem ocorrer de maneira isolada ou formando colônias arredondadas, de vários tama-nhos, visualizadas em vacúolos no cito-plasma de monócitos, corados em azul es-curo pelo Giemsa. É um parasito aeróbico, ou seja, não utiliza a glicose como fonte de energia, e, sim os aminoácidos como a glutamina e o glutamato, preferencialmen-te nesta ordem, para o seu metabolismo (CHIARI, 2010).

Os cães, comumente, contraem a espécie E. canis, com os indivíduos apre-sentando sintomatologia bem definida e específica ou quadro menos agressivos. Entretanto, Oliveira (2008), avaliando uma população de 100 cães, detectou 32 cães infectados por E. canis e 5 cães infectados por E. ewingii.

Os caninos também podem ser infecta-dos por E. equi que geralmente apresenta infecção leve. Na infecção em humanos, as espécies E. ewingii, E. platys, E. risticii e E. chaffeensis foram suficientemente investi-gadas e determinadas, apesar de existirem controvérsias quanto a classificação zooló-gica (DUMLER et al., 2001).

As plaquetas voltam a valores normais após 2 a 3 semanas. Na fase aguda da doença observa-se hiperplasia megacario-cítica regenerativa na medula óssea, uveíte bilateral, e ainda anemia arregenerativa pode ser observada (GLAZE e STEPHEN, 1986; GAUNT et al., 1990).

Hoskins (1991) relata que E. platys (ou Anaplasma plays/Dumler et al., 2001) parasita somente plaquetas provocando parasitemia cíclica das plaquetas, tromboci-topenia e linfadenopatia generalizada. Com o agravamento do quadro, a diminuição da ciclicidade e o aumento da trombocitopenia, a fase crônica é estabelecida.

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SINTOMATOLOGIA E FASES DA DOEN-ÇA EM CÃES

Os sintomas apresentados pelo animal, principalmente no estágio inicial, podem ser muito semelhantes aos de outros tipos de enfermidades, aliado ao fato de que os ani-mais podem ainda se apresentar sem sinais e/ou sintomas aparentes da doença (forma subclínica), dificultando o diagnóstico. De maneira geral, os sinais clínicos comumen-te observados no paciente com erliquiose são: letargia, onde o cão se apresenta apático, ou seja, sem vontade de brincar ou correr; perda de apetite (anorexia) e de peso; febre; sangramentos nas gengivas e demais mucosas sem lesão mecânica aparente; palidez das mucosas (anemia); alterações respiratórias com aumento da frequência, como se estivesse permanen-temente cansado; alterações na forma de caminhar, como se o paciente perdesse o equilíbrio e apresentasse dificuldade para deambular; e/ou inchaço nos membros. Entretanto, esses sinais clínicos corriquei-ramente podem ser divididos em três fases: aguda (início da infecção); subclínica (ge-ralmente assintomática) e crônica (nas in-fecções persistentes) (GAUNT et al., 1990).

Na fase aguda, o animal infectado pode transmitir a doença, sendo possível se encontrar os carrapatos parasitas. São observados, falta de apetite, febre, perda de peso e apatia, que podem surgir entre uma e três semanas após a infecção. O cão pode apresentar sangramento nasal, urinário, vômitos, manchas avermelhadas na pele e dificuldades respiratórias; fase subclínica, que pode perdurar de 6 a 10 semanas, ou por um período maior em alguns animais. O canino não apresenta sintomas clínicos, apenas alterações nos exames de sangue. Somente em alguns casos, o cão pode apresentar sintomas como inchaço nas patas, perda de apetite, mucosas pálidas, sangramentos, ceguei-ra, etc. Entretanto, a maioria dos animais

acometidos ingressa na fase subclínica, ou seja, assintomática (SMITH et al., 1975).

Caso o sistema imune do animal não seja capaz de eliminar a bactéria, o animal poderá desenvolver a fase crônica da do-ença. Durante a fase crônica os sintomas como perda de peso, abdômen sensível e dolorido, aumento do baço, do fígado e dos linfonodos, depressão, pequenas he-morragias, edemas nos membros e maior propensão em adquirir outras infecções são percebidos mais facilmente. A doença começa a comprometer o sistema imuno-lógico e a assumir características de uma doença autoimune. Geralmente o animal apresenta os mesmos sinais da fase aguda, porém, atenuados, com a ocorrência de infecções secundárias como pneumonias, diarreias, problemas de pele etc. Pode ainda apresentar sangramentos crônicos devido ao baixo número de plaquetas (células responsáveis pela coagulação do sangue), ou cansaço e apatia devidos à anemia (ALMOSNY e MASSARD, 2002).

Em áreas endêmicas, observa-se, frequentemente, a fase aguda da doença caracterizada por: febre (39,5 – 41,5 °C), perda de apetite e de peso, fraqueza mus-cular. Em menor frequência observam-se secreção nasal, perda total do apetite, depressão, sangramentos na pele, nariz e urina, vômitos, dificuldade respiratória ou ainda edema nos membros. Este es-tágio pode perdurar por até 4 semanas e, dependendo da severidade, pode não ser percebido pelo proprietário (SMITH et al., 1975).

A fase subclínica geralmente é assin-tomática, podendo, no entanto, ocorrer algumas complicações, tais como depres-são, hemorragias, edema de membros, perda de apetite e palidez de mucosas. O animal apresenta os mesmos sinais da fase aguda, porém, na maioria das vezes, bastante atenuados e concomitantes com os das infecções secundárias tais como pneumonias, diarreias e problemas de pele,

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dentre outras. O animal pode também apre-sentar sangramentos crônicos devido ao baixo número de plaquetas, responsáveis pela coagulação sanguínea, ou cansaço e apatia devidos à anemia. Nessa fase, já se observa o comprometimento do sistema imunológico, com a doença assumindo características de uma doença autoimune, podendo evoluir para a fase crônica (AL-MOSNY e MASSARD, 2002).

A fase persistente ou crônica da doen-ça pode ser observada quando o sistema imunológico do animal torna-se incapaz de combater e eliminar a bactéria do or-ganismo. Nestes indivíduos, as defesas imunológicas para esta e outras infecções ficam comprometidas e o animal pode ser acometido por infecções secundárias oportunistas, apresentando pneumonia, diarreia, lesões na pele, dentre outros sin-tomas. Nessa fase, ao exame de sangue, percebe-se uma queda do número de pla-quetas, responsáveis pela coagulação san-guínea, causando sangramentos crônicos (sangramento nasal, no aparelho digestivo, etc.), influenciando dessa forma, o estado geral do animal (WANER et al., 1997).

MÉTODOS DIAGNÓSTICOS

Diagnóstico ClínicoO diagnóstico clínico da enfermidade

é difícil no início da infecção, pois os sinto-mas são semelhantes aos de várias outras doenças. Entretanto, a presença do carra-pato e a ocorrência de casos da doença na região de domicílio, laser ou trabalho do animal são importantes para a confir-mação da suspeita clínica. Além do quadro clínico constatado, é de grande relevância a observação dos sinais antecedentes e prevalentes, relativos ao animal, quando do atendimento. A presença do carrapato no animal ou no ambiente e a ocorrência da enfermidade em outros cães, ou em outros animais como o gato, na região, podem auxiliar no diagnóstico (SILVA, 2009).

Diagnóstico LaboratorialGeralmente, se coleta sangue para

hemograma completo, esfregaços ou acondicionamento de material para testes bioquímico-sorológicos, ou avaliações genéticas do DNA/RNA que determinam a detecção do problema.

Um diagnóstico laboratorial é co-mumente realizado pela visualização de granulações basofílicas em esfregaços de sangue periférico (orelha), de mórulas e/ou granulações (corpúsculos iniciais de E. canis) intracitoplasmáticas (monócitos/linfócitos), observados em lâminas cora-das, que poderá concluir o diagnóstico (MYLONAKIS et al., 2003). Esfregaços corados pelo corante de Wright, Giemsa, kit Panótico Rápido ou a ainda a combina-ção Giemsa/kit Panótico Rápido em uma mesma amostra, aumenta a confiabilidade dos resultados como relatado por Olicheski (2003). A observação das três formas de E. canis nas lâminas: colônia arredondada com grânulos coradas em azul pelo Gie-msa; estruturas amorfas arredondadas de vários tamanhos presentes em vacúolos no citoplasma de monócitos (corpúsculos elementares); forma granular (corpúsculos iniciais), composta de múltiplos grânulos, que, porém, necessitam ser diferenciados das granulações azurófilas de cães sadios. Apesar de essa técnica/método ser am-plamente recomendada, sua limitação se refere ao ciclo do agente transmissor, aos órgãos aonde os mesmos se encontram e a sua disponibilidade no sangue perifé-rico, mesmo em animais que apresentem quadro agudo (ELIAS, 1992; LIBERATI et al., 2009).

Diagnóstico SorológicoA avaliação das características hemato-

lógicas e bioquímicas do sangue pode ser utilizada para o estabelecimento do diag-nóstico. A presença de hipoalbuminemia e hiperglobulinemia, geralmente aliados à trombocitopenia de ocorrência cíclica, auxi-

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lia no diagnóstico. Saito (2009), alerta que a redução na porcentagem de linfócitos T CD4 na fase inicial da doença, parece estar relacionada à virulência e letalidade da erlí-quia e pela constatação do aumento, ainda que mais discreto, dos linfócitos T CD8.

O diagnóstico sorológico é importante na fase subclínica e através de testes so-rológicos realizados em laboratórios espe-cializados pode-se estabelecer a ocorrência da doença. A Reação de Imunofluorescên-cia Indireta é muito utilizada, embora, de acordo com Isola et al. (2012), a associação do resultado do hemograma onde o ani-mal apresente trombocitopenia e anemia aliados à sintomatologia clínica sejam os mais utilizados. Sousa e Almeida (2008) realizaram estudo com kit comercial, con-siderando positivas, amostras observadas em microscópio de epifluorescência que apresentaram fluorescência na diluição de 1:40. Entretanto, segundo CHIARI (2010), para maior confiabilidade, devem-se levar em conta as reações cruzadas, os falso/positivos e falso/negativos, que podem resultar em um diagnóstico equivocado.

Na fase aguda da doença pode-se re-alizar ainda a punção aspirativa da medula óssea, que, de acordo com Tenório et al. (2007), podem ser encontradas mórulas em granulócitos, atestando que o mielograma pode ser utilizado como método diagnóstico para erliquiose.

Diagnóstico pela Técnica MolecularEstudos genéticos tem-se tornado

confiáveis e imprescindíveis na determi-nação do patrimônio dos indivíduos, das condições de higidez, ou na detecção de doenças em seres vivos utilizando-se mate-riais biológicos como o DNA, RNA, plasmí-deos, etc. através de várias metodologias. Reforçando esta afirmação, Iqbal et al. (1994) relataram que a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) é um teste altamente sensível e específico para a determinação de níveis muito baixos de E. canis.

De acordo com Ramos et al. (2009), a técnica nPCR é uma ferramenta que apresenta maior precisão diagnóstica da erliquiose canina. Por meio dessa técnica (nPCR), estes pesquisadores confirmaram a infecção por E. canis em cães da cidade de Cuiabá.

A utilização da técnica de PCR do sangue periférico deve ser usada criterio-samente, pois, de acordo com Harrus et al. (1998), na fase assintomática ou subclínica da doença, os cães podem se apresentar negativos à técnica, em virtude de o agente encontrar-se em órgãos, como por exemplo no baço, e ausentes na circulação sanguí-nea, dificultando o diagnóstico.

Na técnica de LAMP (Loop-Mediated Isothermal Amplification, Notomi et al, 2000), utilizaram sequências específicas do gene dsb (disulfide bond) de E. canis como alvo, os quais mostraram-se altamente específicos para a detecção de E. canis, por apresentar-se divergente, até mesmo em relação às bactérias filogeneticamente próximas. A técnica de diagnóstico por LAMP é mais sensível do que a da PCR, empregando-se a enzima PHUSIONTM FLASH DNA polimerase, demonstrando alta especificidade, não sendo necessária a extração do DNA para a sua amplificação. Além disso, o diagnóstico obtido através da metodologia LAMP possibilita a identi-ficação específica e alta sensibilidade em animais infectados, com uma estrutura laboratorial mínima, viabilizando sua utiliza-ção em clínicas veterinárias, laboratórios e instituições de ensino, por minimizar custos pela não utilização de gel de agarose, e otimizar o tempo de confirmação da enfer-midade (CHIARI, 2010).

NECROPSIA EM CÃES

A realização de avaliações necroscó-picas é de grande valia, principalmente no que se refere à detecção da doença em uma região. É comum observar-se no cor-

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po do animal a ocorrência de escoriações (escaras) de decúbito com áreas de alope-cia, decorrentes da emaciação, carência proteica e pela compressão prolongada e persistente de saliências ósseas sobre a pele e tecido muscular contra o solo ou cama, assim como, sinais de hemorragias petequiais, difusas e/ou equimoses que também são observadas nas superfícies serosas e mucosas em tecidos subcutâne-os e de vários órgãos. Edema de membros também é observado. Dentro da cavidade corporal podem ser observados: edema pulmonar, secreção gastrintestinal mucosa, ascite, hidrotórax, ulcerações e erosões bucais. Vísceras (pulmões) com distúrbio congestivo hemorrágico (HILDEBRAND et al., 1973; MYLONAKIS et al., 2003).

TRATAMENTO

O objetivo do tratamento é curar os animais doentes e prevenir a manutenção e a transmissão da doença pelos portadores assintomáticos (fase subclínica e crônica). A Erliquiose é tratável em qualquer fase. Por vezes, é necessária a complemen-tação do tratamento com aporte de soro ou transfusão de sangue, dependendo do estado do animal. Os critérios adotados para o tratamento variam de acordo com a precocidade do diagnóstico, dos sinto-mas clínicos, da severidade do caso, e/ou da fase da doença na qual o paciente se encontra. A doença é tratada com o uso de antibiótico (tetraciclina, oxitetraciclina, doxiciclina, minociclina, dipropionato de imidocarb e cloranfenicol), em qualquer de suas fases. O paciente é monitorado com contagem plaquetária semanal e, em casos graves, esse prazo de acompanhamento pode ser reduzido. Após o tratamento, os testes sorológicos devem ser repetidos (± 9 meses) (KONTOS e ATHANASIOU, 1998; ALMOSNY e MASSARD, 2002).

Dentre os protocolos existentes para o tratamento da erliquiose canina, o antibióti-

co de eleição é a Doxiciclina, um antibiótico bacteriostático da família das Tetraciclinas que atua em todos os estágios da Erliquiose canina. O tempo de tratamento pode va-riar de acordo com a fase da doença, dos sintomas e do estado em que o animal se encontra e na precocidade do diagnóstico, que aumenta as chances de cura. A dose recomendada pode variar de 5 a 11 mg/kg de peso corporal, duas vezes ao dia, observando-se melhora do quadro clínico após 24 a 48 horas do início do tratamento, sendo recomendado o mínimo de 14 a 21 dias de tratamento na fase crônica e até 56 dias, durante a fase aguda (VIGNARD--ROSEZ et al., 2001).

O Cloranfenicol tem sido utilizado no tratamento de filhotes de cães com menos de 5 meses de idade, apesar de alguns profissionais da área considerá-lo um trata-mento de suporte (TROY e FORRESTER, 1990; HOSKINS, 1991). O tratamento de suporte pode ser realizado com base na flui-doterapia principalmente em casos crônicos e com corticóides para animais em quadros de trombocitopenia. Em alguns casos, faz-se necessária a transfusão sanguínea quando o animal apresenta variações seve-ras nos aspectos hematológico-sorológicos. Alguns autores recomendam prolongar o tratamento por mais de 6 semanas nos casos de erliquiose subclínica (HARRUS et al., 1998; VIGNARD-ROSEZ et al., 2001).

É importante lembrar que um cão infectado anteriormente, não adquire imu-nidade e, assim, ao entrar em contato com carrapatos contaminados, o animal pode novamente adquirir a erliquiose. Os riscos de reinfecção e de transmissão a outros ani-mais sadios são minimizados pela adoção de medidas profiláticas (RIKIHISA, 1991; ALMOSNY e MASSARD, 2002).

PROGNÓSTICO

O prognóstico em caninos depende da fase na qual a doença foi diagnosticada e,

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do início, eficiência e eficácia da terapia. A precocidade no diagnóstico e tratamento melhoram sobremaneira as chances de cura. Em cães nas fases iniciais da doen-ça, observa-se melhora do quadro clínico após 24 a 48 horas do início do tratamento. O prognóstico geralmente é favorável na maioria dos casos (fase aguda), mas em cães com erliquiose crônica, com compro-metimento de medula óssea, o prognóstico é reservado para aqueles que estejam na fase crônica, pois nesta fase o animal poderá apresentar supressão da medula óssea e consequente diminuição das célu-las sanguíneas, não respondendo satisfa-toriamente ao tratamento. Ao se suspeitar de erliquiose canina, a prática corriqueira é a de iniciar o tratamento imediatamente e repetir o hemograma durante e após o tratamento. Manter o animal em repouso e bem alimentado, com fornecimento de água à vontade. Pode ser feita uma suplementa-ção vitamínico-mineral caso seja necessá-rio e efetuar um bom controle de carrapato no ambiente e no animal. (ALMOSNY e MASSARD, 2002; CHIARI, 2010).

PREVENÇÃO

Devido à inexistência de vacina contra esta enfermidade e apesar dos esforços em combater a erliquiose, a prevenção é rea-lizada através do tratamento dos animais doentes e do controle da infestação pelo vetor da doença (carrapatos) nos canis e em locais de grande concentração de ani-mais, utilizando-se produtos carrapaticidas ambientais e de uso tópico nos animais, que se mostraram bastantes eficaz. A aplicação de produtos anticarrapatos na pele, ou em coleiras impregnadas, deve ser utilizada regularmente, para que garantam a segu-rança do cão (SILVA, 2009).

Vários estudos foram efetivados para o desenvolvimento de métodos que confe-rissem imunidade aos animais acometidos pela doença. Or et al. (2009) e Rudoler et

al. (2012), relataram que após a infecção experimental de cães com amostra atenu-ada de Ehrlichia canis (# 611 A) verificaram um alto potencial de seu emprego como vacina, sendo recomendado por Rudoler et al. (2012) a utilização futura do próprio agente (carrapato) para inoculação da cepa atenuada.

Entretanto, não é suficiente verificar a presença de carrapato no cão com frequên-cia. Desinfetar periodicamente o ambiente onde o animal vive é imprescindível, pois as larvas de carrapatos são encontradas, com frequência, no ambiente, como no percurso de trilhas ecológicas, nas proximidades de coleções hídricas, em locais com pastagens mistas próximas a residências e condomí-nios, em escolas e indústrias que possuem canteiros com vegetação de crescimento excessivo e em outros locais de utilização de humanos aonde é constatada a circula-ção de cães errantes e gatos, oferecendo riscos de infestações (SILVA, 2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prevenção, assim como o diagnóstico precoce de doenças é fundamental para a recuperação e/ou cura dos pacientes. As medidas de higienização do animal e do ambiente contribuem para o controle de parasitos e a promoção de saúde sendo importantes: a adoção de banhos regulares, com a utilização de produtos veterinários carrapaticidas como sabonetes, xampus, coleiras, etc., Esta é uma ocasião que propicia uma melhor inspeção do corpo do animal. A tosa de animais de pelos longos em períodos de muito calor pode facilitar o controle de parasitas.

Entretanto, transfusões sanguíneas, através de agulhas ou instrumentais con-taminados, podem contribuir para a disse-minação da doença. É importante lembrar que, antes de procedimentos cirúrgicos, deve-se fazer uma avaliação sanguínea a fim de se detectar problemas como a

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erliquiose, e evitar hemorragias durante os procedimentos. Animais submetidos ao contato com outros cães em áreas de convivência (domicílios, hotéis, parques, exposições, etc.), visitas ao veterinário ou a pet shopping devem passar por uma ins-peção criteriosa em locais preferidos pelos carrapatos no corpo do animal, tais como, a região das orelhas, entre os dedos das patas, próximo aos olhos, nuca e pescoço. Portanto, deve-se manter a grama do jardim sempre curta e estar atento aos hotéis para cães, pois, se houver algum cão infectado, o mesmo poderá transmitir a doença atra-vés de outro carrapato do local.

É observado na clinica veterinária, através de relatos dos proprietários, que ao encontrar um carrapato no corpo do animal, o primeiro impulso é o de arrancá--lo. Entretanto este procedimento não é recomendado, pois, nessa retirada, uma parte do carrapato pode continuar aderida à pele do cão, representando uma porta de entrada para diversas infecções, e para o risco de contaminação. É recomendável a aplicação de algumas gotas de vaselina ou parafina na pele, ao redor do parasita, esfregando-a, até que seja possível sua retirada, suave e completamente. Depois, coloca-se o carrapato em recipiente com álcool para exterminá-lo, dificultando o escape de ovos ou larvas para o ambiente, no caso da fêmea ingurgitada. A prática de lavar e desinfetar as mãos após manipu-lação do paciente e/ou do carrapato pode dificultar a proliferação do parasito.

Deve-se considerar ainda, que por apresentar um diagnóstico difícil, no que se refere à sintomatologia nas diversas fases, que pode ser confundida com outras doen-ças, e, tendo em vista o aumento do número de casos da patologia, é importante que os profissionais e pesquisadores desenvolvam trabalhos, no sentido de um maior e mais efetivo controle da erliquiose, principalmen-te, no que se refere ao vetor transmissor e ao diagnóstico precoce, assim como na

descoberta de um método de imunização, objetivando facilitar a promoção da saúde animal.

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Artigo Científico

EFEITO DO TRATAMENTO HEMODIALÍTICO SOBRE AS CONCENTRAÇÕES DE URÉIA E CREATININA EM CÃES COM SÍNDROME DE INSUFICIÊNCIA

RENAL CRÔNICA

Telga Lucena Alves Craveiro de ALMEIDA1*, Karine Kleine Figueiredo dos SANTOS1, Simone Gutman VAZ1, Renata de Barros Pereira da SILVA2, Mirian Nogueira TEXEIRA3,

Eneida Willcox RÊGO3, Helio Cordeiro MANSO FILHO4.

RESUMO – A perda da função renal pode ser produzida por diferentes enfermi-dades, incluindo doenças em outros sistemas corporais, que causam patologias secundárias da função renal. A hemodiálise é um importante tratamento artificial utilizado em humanos e animais, que objetiva restaurar o balanço normal dos fluí-dos e eletrólitos e remover alguns metabólitos tóxicos. Nesse trabalho objetivou-se descrever os resultados do tratamento de hemodiálise sobre as concentrações de ureia e creatinina em caninos com síndrome de insuficiência renal crônica. Foram descritos os resultados de 45 caninos, que apresentavam concentrações elevadas de ureia e creatinina e que haviam sido submetidos a quatro seções de hemodiálise. Após três seções, as concentrações de ureia e creatinina foram reduzidas (P<0,05) a valores fisiológicos. Não houve reduções entre a terceira e quarta seção e o grupo etário não influenciou o resultado da hemodiálise. Termos para indexação: doença renal, rins, caninos.

EFFECT OF HEMODIALYSIS TREATMENT OVER UREA AND CREATININE CONCENTRATIONS IN DOGS WITH CHRONIC RENAL FAILURE SYNDROM

ABSTRACT – The loss of the renal function may be produced by different diseases, including diseases in other body systems that produce secondary pathologies of the renal function. The hemodialysis is an important artificial treatment regularly used in humans and animals, which has the objective to restore the normal balance of fluids and electrolytes and remove some toxic metabolites. The objective of this paper is to describe the results of hemodialysis treatment over urea and creatinine concentrations in dogs with chronic renal failure syndrome. Results from 45 dogs were described, which presented elevated urea and creatinine concentrations which were submitted to 4 hemodialysis sessions. The results showed that after 3 hemodialysis sessions, urea and creatinine concentrations were reduced (P<0.05) to physiological values. However, there was no reduction between the third and fourth section. Also, differences between age groups did not influence the result of the hemodyalisis. Index terms: renal disease, kidneys, canine.

1 Aluna, Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Rua Dom Manoel de Medeiros,s/n, CEP 52171-900 – Recife/PE.- *Autora para correspondência/Corresponding author ([email protected]).

2 Médico Veterinário, Clinica Renal Vet, R. República do Peru, 444 - Copacabana - Rio de Janeiro - RJ, 22021-040, Brasil.3 Professora, Laboratório de Patologia Clínica, DMV/UFRPE.4 Professor, Laboratório de Biologia Molecular Aplicada à Produção Animal, DZ/UFRPE.

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INTRODUÇÃO

O bom funcionamento renal é crucial para a manutenção do equilíbrio homeos-tático dos indivíduos. Quando os rins estão comprometidos, a ponto de não realizar suas atribuições fisiológicas regulatórias e excretórias, pode ocorrer uma elevação na concentração de compostos na corrente sanguínea. A perda da integridade do siste-ma excretório pode ser ocasionada por uma variedade de fatores, inclusive de ocorrência em outros sistemas corporais, afetando os rins de forma secundária, eventualmente com perdas irreversíveis, podendo provocar a morte.

A doença renal crônica é uma afecção comum na clínica humana e na de pequenos animais como cães e gatos idosos (ELLIOT, 2000), apresentando-se geralmente de ma-neira progressiva, podendo ser secundaria a algumas enfermidades como doença infec-ciosa, imunomediada, congênita, metabóli-ca, neoplásica, traumática e obstrutiva. Algu-mas formas como, por exemplo, a obstrução do trato urinário pode ser revertida se tratada precocemente. As causas mais comuns de lesão renal incluem isquemia ou exposição à nefrotoxinas, aonde os néfrons vão-se tornando afuncionais e os sinais clínicos da insuficiência aparecem (McGROTTY, 2008).

O teste de clearance de creatinina ou depuração de creatinina é um indicador diagnóstico da função renal que determina a eficiência com a qual os rins eliminam a creatinina do sangue. É um procedimento que visa avaliar a velocidade e eficiência da função renal e auxilia na adoção do tra-tamento hemodialítico, sendo utilizado em pacientes que apresentem doença renal ou insuficiência cardíaca congestiva, ou quando a sintomatologia sugere doenças nesses órgãos (PINHEIRO, 2009).

A partir do final de 2010 nos Estados Unidos da América, verificou-se a adoção de uma nova metodologia analítica, onde os laboratórios clínicos passaram a usar

um novo padrão de diluição isotópica com método de espectrometria de massa (IDMS) para medir a creatinina sérica. Este novo método (IDMS) parece dar valores mais baixos em comparação com métodos mais antigos, quando os valores de creatinina sérica são relativamente baixos, como por exemplo, 0,7 mg/dl. O método IDMS resulta em uma superestimação comparativa da taxa de filtração glomerular calculada cor-respondente (GFR) em alguns pacientes com função renal normal. As mudanças ocasionadas pela IDMS, implica em novas diretrizes da FDA, relacionadas com as doses de alguns medicamentos prescritos em pacientes com função renal normal e acometidos de patologias.

Estudo japonês recente, sugere que, um nível de creatinina sérica inferior está associada com um risco aumentado para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 em homens japoneses (HARITA et al., 2008).

A hemodiálise (HD) é indicada em ca-sos de Insuficiência Renal (IR) quando se observa níveis elevados de ureia e creati-nina, hiperpotassemia, acidose metabólica, hipervolemia e uremia. É um procedimento terapêutico que objetiva manter o balanço dos fluidos e eletrólitos corporais dentro da normalidade, promovendo a remoção de metabólitos tóxicos, como a ureia e a creatinina, de forma artificial. Neste contex-to, a uremia corresponde ao conjunto de sintomas clínicos associados à perda da função renal e não apenas ao acúmulo de compostos nitrogenados, onde a uréia e a creatinina constituem-se elementos tóxicos que contribuem para a toxicidade na IR (PINHEIRO, 2012).

Em humanos, um indivíduo acometido por problemas renais fica dependente de uma máquina, submetendo-se ao trata-mento várias vezes por semana e perma-necendo por diversas horas, conectado a um equipamento. Este procedimento vem sendo utilizado em Medicina Veterinária e tem demonstrado resultados favoráveis

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à sua aplicação (VEADO, 2003). Porém, em Medicina Veterinária, o animal não fica dependente da HD (BERNSTEIN e KLEINE, 2007), pois esta é indicada para estabilizar concentrações elevadas de uréia e crea-tinina que, ao final do tratamento deverão sofrer redução em torno de 60%. Os com-postos como fósforo e potássio em excesso, também poderão ser removidos durante o procedimento (VEADO, 2003).

A HD está disponível para caninos, feli-nos e equinos, tanto em casos agudos como nos casos crônicos. Nos casos agudos, os pacientes têm a possibilidade de recupera-ção do parênquima renal lesado (KLEINE, 2007; LUCENA, 2007). Para isto, 1, 2 ou 3 sessões de hemodiálise, em geral, já seriam suficientes para uma melhora das condições do paciente (VEADO, 2003). Por se tratar de uma técnica de tratamento adjuvante, a hemodiálise deve ser sempre associada ao tratamento conservador e fazer parte de um protocolo, para que seu efeito possa atingir o resultado esperado (VEADO, 2003). Por representar um procedimento que contribui para a redução dos níveis de toxinas no or-ganismo, a HD deve ser auxiliada por uma nutrição terapêutica para insuficiência renal, até que se alcance a estabilização e o animal possa se recuperar.

A diálise mecânica substitui a capaci-dade natural de filtração renal, porém não desempenha todas as funções renais, sendo necessária a manutenção dos pacientes em um tratamento intensivo, denominado tratamento pós-dialítico. Em Medicina Vete-rinária, esse tratamento inclui fluidoterapia específica, antibióticos, bloqueadores H2 e outros medicamentos, de acordo com a necessidade de cada caso (BERNSTEIN e KLEINE, 2007).

Após uma sessão de hemodiálise, o ani-mal deve ser clinicamente avaliado. Exames complementares (hemograma, e dosagens de ureia, creatinina, fósforo e potássio sé-ricos) são importantes para se determinar a necessidade de diálises suplementares

(QUINTANILLA e LAMPREABE, 2004). Sendo uma patologia que apresenta alta prevalência em cães e que provoca extrema debilidade, objetivou-se com esse estudo determinar os efeitos de um programa de hemodiálise sobre a concentração de ureia e de creatinina em cães com diagnóstico de Síndrome de Insuficiência Renal Crônica--SIRC.

MATERIAL E MÉTODOS

Animais Foram selecionados 45 cães, de ambos

os sexos e com média de idade entre 4 e 15 anos, todos com diagnóstico de SIRC, baseado nas elevadas concentrações de uréia [UREIA] (>100mg/dL) e creatinina [CREAT] (>4,0 mg/dL), conforme Bernstein e Kleine (2007), que foram encaminhados por Médicos Veterinários para a Renal Vet, na cidade do Rio de Janeiro-RJ, para serem submetidos a HD.

Programa e Técnica de HemodiáliseO programa de hemodiálise foi insti-

tuído pela facilidade em executá-lo, pela disponibilidade do equipamento, e consistiu, inicialmente, da avaliação e detecção da SIRC através das análises dos seguintes pa-râmetros: ureia, creatinina, sódio, potássio, fósforo e albumina. Em seguida, os animais foram cateterizados (duplo lúmen), através da veia jugular, por onde o sangue saia do corpo do animal, passava pela máquina de hemodiálise, para retornar ao corpo pela veia femoral. Quando o acesso periférico não suportava a pressão com a qual o san-gue retornava, era utilizado o acesso central na veia jugular para o retorno sanguíneo.

O equipamento empregado na hemo-diálise foi o da linha Baby (Fresenius), que possui um sistema mecânico responsável pela circulação do sangue e do dialisado, em um sistema eletrônico que controla parâme-tros como pressão sanguínea, temperatura, pH e coagulação, dentre outros. Utilizou-se

T.L.A.C. ALMEIDA et al.

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a hemodiálise clássica, onde os solutos são removidos diretamente da corrente sanguí-nea por um sistema de troca entre meios, cujo princípio fisiológico é o da osmose. O dialisador possui uma estrutura composta de dezenas de tubos ocos que apresentam membranas semipermeáveis. O dialisado, cuja constituição é semelhante a do plas-ma normal, passa para o tubo onde está o sangue, e o plasma, por sua vez, vai ao que continha o dialisado. Essa troca ocorre por um principio simples de difusão através de uma membrana semipermeável, funcionan-do como um rim artificial, permitindo a troca entre o plasma e o dialisado, eliminando, desta maneira, as toxinas ou impurezas do plasma (VEADO, 2003).

Durante o processo, os animais foram submetidos a quatro sessões de hemodi-álise, em dias consecutivos, com duração de 2 a 4 horas, sendo acompanhados por um médico veterinário, monitorando-se os seguintes parâmetros: pressão sistólica, tem-peratura corporal, nível de desidratação, pH sanguíneo, avaliando-se ainda, a frequência cardíaca e efetuando-se auscultação pulmo-nar. Todos os animais foram tratados com heparina de baixo peso molecular (HBPM), procedimento realizado antes das seções de HD, a fim de evitar a coagulação sanguínea no sistema extracorpóreo.

Antes e após cada sessão de HD foi coletado sangue de cada animal para a avaliação da concentração sérica de ureia e de creatinina. Ao final de cada sessão, os animais receberam antibióticoterapia e foram mantidos em fluidoterapia. Ao termi-no do tratamento, cada animal recebia alta, adotando-se então, o tratamento higiênico--dietético, onde foi prescrita alimentação lipoproteica para pacientes renal, e fluido-terapia. Os animais foram avaliados a cada 20 dias durante 1 ano para averiguação da [UREIA] e [CREAT], frente ao tratamento conservador estabelecido pelo clínico ve-terinário. Todos os animais permaneceram internados durante o período de procedi-

mentos. Só receberam alta uma hora após o término da última sessão de hemodiálise.

Análises BioquímicasA determinação das concentrações

de Uréia (UREIA), Creatinina (CREAT), Alanina Aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), Fósforo, Cálcio e Albumina foram realizadas no equipamento bioplus Bio-2000 com kits comerciais (Lab-test), seguindo a orientação do fabricante. As análises de sódio e potássio foram obti-das utilizando-se um espectrofotômetro de chama, modelo 7000 Tecnow.

Análise EstatísticaOs dados foram avaliados pelo ANOVA,

com P estabelecido em 1% e o teste post hoc utilizado foi o Holm-Sidak, para comparação entre as médias e com P estabelecido em 5%. Foi utilizado o programa de estatística SigmaStat® 3.0 para todos as análises. Todos os resultados foram expressos em média + erro padrão médio.

RESULTADOS

Inicialmente, observou-se que as mé-dias dos parâmetros bioquímicos analisados nos pacientes na primeira consulta estive-ram bem acima dos valores normais para a espécie canina, como o valor da [UREIA] (~300mg/dL) e [CREAT] (~8,5 mg/dL), que esses valores foram compatíveis com o diagnóstico de SIRC, e que a media de idade dos animais com essa enfermidade foi de 8,73 anos (Tabela 1). Também, observou-se que, quando os animais foram agrupados por faixas etárias, não houve diferenças nas concentrações dos parâmetros analisados para o diagnóstico da SIRC (Tabela 2).

Observou-se que a [UREIA] e a [CRE-AT], após as quatro sessões de hemodiálise, se reduziram significativamente (P<0,05), e que, já na terceira seção, as concentrações médias de Ureia e de Creatinina apresenta-ram-se em níveis próximos da normalidade.

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As [URÉIA] e [CREAT], que antes da pri-meira seção de HD se apresentavam em ~ 300mg/dL e ~ 9,0mg/dL, respectivamente, passaram para ~ 148mg/dL e ~ 5,5mg/dL, após a quarta seção de HD. Entretanto não

houve diferenças significativas entre as mé-dias da [CREAT], quando foram comparadas entre a terceira e quarta sessões de hemo-diálise, mas foi observado uma elevação da [UREIA] após a quarta seção (Figura 1).

Parâmetros analisados Resultados

Idade (anos) 8,73 ± 0,52Uréia (mg/dL) 292,73 ± 18,10Creatinina (mg/dL) 8,53 ± 0,74Sódio (mEq/L) 145,12 ± 0,88Potássio (mEq/L) 4,76 ± 0,23Fósforo (mEq/L) 16,73 ± 1,15Albumina (mg/dL) 2,59 ± 0,10

Obs: Todos os resultados são expressos em média + erro padrão médio.

TABELA 1 - Resultados das análises bioquímicas de 45 caninos de idades variadas com síndrome de insuficiência renal crônica (SIRC), antes do início das sessões de hemodiálise

A média de idade encontrada (8,73 anos) para a ocorrência da doença apre-sentou-se de acordo com aquelas relata-das por Elliot (2000), que caracterizaram animais idosos. Após o diagnóstico de doença renal, foram realizados exames de bioquímica sérica, para determinar a

necessidade do procedimento dialítico. Conforme observado na Tabela 1, foi constatada a indicação do procedimen-to, pois os níveis de ureia e creatinina apresentaram-se bem acima dos valores fisiológicos normais indicados por Berns-tein e Kleine (2007).

TABELA 2 – Resultados das avaliações bioquímicas da concentração de Ureia, Creati-nina, Sódio, Potássio, Fósforo e Albumina em 45 caninos com síndrome de insuficiência renal crônica durante a primeira visita à clínica veterinária, de acordo com o grupo etário

Grupo Etário

Metabólito sanguíneo Grupo I Grupo II Grupo III (n=6) (n=21) (n=18)

Uréia (mg/dL) 304,83 ± 28,24a 275,74 ± 24,17a 308,55 ± 34,66aCreatinina (mg/dL) 8,56 ± 1,62a 7,94 ± 1,02a 9,20 ± 1,35aSódio (mEq/L) 146,16 ± 2,57a 144,84 ± 1,45a 145,05 ± 1,20aPotássio (mEq/L) 4,85 ± 0,41a 4,61 ± 0,29a 4,90 ± 0,44aFósforo (mEq/L) 20,93 ± 1,36a 15,24 ± 1,26a 16,91 ± 2,43aAlbumina (mg/dL) 2,21 ± 0,19a 2,65 ± 0,13a 2,65 ± 0,16a

Obs.: Numa mesma linha, valores seguidos de letras iguais, indicam que P>0,05, pelo teste de Holm-Sidak. Grupo I: menos de 5 anos, Grupo II: dos 5 a 10 anos, Grupo III: mais de 10 anos. Todos os resultados foram expressos em média + erro padrão médio.

T.L.A.C. ALMEIDA et al.

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Com base na Tabela 2, pode-se observar que o grau de lesão não sofreu influencia da idade, pois uma vez instalada a enfermidade, o comprometimento renal é semelhante em qualquer idade do animal.

FIGURA 1 - Concentração sérica de Ureia e Creatinina antes e após um programa de quatro secções de hemodiálises em caninos com síndrome de insuficiência renal crônica.

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A Figura 1 revela o comportamento dos níveis da concentração sérica de ureia e creatinina nos animais durante o procedi-mento de hemodiálise, onde é possível se observar que, entre o primeiro pré (exame realizado antes do procedimento dialítico) e o último pós (exame realizado após o procedimento dialítico) as concentrações desses metabólitos se reduziram conside-ravelmente, porém constatando-se uma maior redução nos níveis de ureia.

DISCUSSÃO

Avaliação dos Metabólitos por Grupo Etário

A Síndrome de Insuficiência Renal Crônica (SlRC) é uma afecção irreversível, caracterizada pela incapacidade dos rins funcionarem adequadamente, devido à perda da função progressiva dos néfrons, dentro de um período que pode correspon-der a meses ou anos (LESS, 2003). Quando um rim perde de 66 a 75% dos néfrons, comprometendo a manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico, ácido–básico e a capacida-de de excreção de produtos resultantes do metabolismo, além de interferir na síntese de várias substâncias, a afecção é considerada uma síndrome (SIRC) progressiva e irrever-sível (OSBORNE et. al., 1999; LESS, 2003).

Em cães e gatos idosos a SIRC é a enfermidade renal mais comum (ELLIOT, 2000) e os resultados encontrados nesse trabalho, assemelharam-se aos descritos na literatura, visto que a média de idade dos animais submetidos a HD estava próxima a 9 anos (8,7 anos), o que configura animais adultos/idosos (Tabela1). Todavia, quando os animais foram agrupados por faixas etá-rias (jovem, adulto e idoso) não foram en-contradas diferenças significativas (P>0,05), podendo ser explicado pelo fato de a SIRC ser uma enfermidade crônica e muitas ve-zes secundária, e que quando instalada, revela-se de diagnóstico preciso através das avaliações bioquímicas (Tabela 2).

Nesse trabalho só foram descritos animais que se enquadraram dentro do diagnóstico de SIRC e que apresentaram níveis de [UREIA] e [CREAT] acima de 100mg/dL e 4,0 mg/dL, respectivamente (BERNSTEIN e KLEINE, 2007), quando a SIRC já estava instalada, justificando--se os resultados descritos nesse trabalho para a indicação dos animais submetidos a quatro seções HD. A creatinina produzida pela ingestão em excesso é rapidamente excretada pelos rins normais. Creatinina elevada é causada por problemas renais, que podem ser congênito ou adquirido. Problemas autoimunes, infecções, tumo-res, diabetes, pressão alta, doenças dos vasos sanguíneos, toxinas, certas drogas, traumas ou problemas metabólicos podem danificar os rins e aumentar metabólitos da creatina.

Avaliação da Concentração da Ureia e Creatinina antes e após as seções de Hemodiálise

A média geral encontrada para os pa-râmetros analisados estavam alterados em relação aos valores de referência. A ureia, a creatinina e o fósforo encontravam-se acima dos valores indicados para a espécie em questão (Tabela 1) (KANEKO et al., 1997).

Com a adoção da hemodiálise a [UREIA] e a [CREAT] reduziram-se em aproximadamente 50% e 20% respecti-vamente, nos animais enfermos, todavia essas concentrações, mesmo após quatro seções, se mantiveram acima do valor mínimo descrito em outros experimentos (NELSON e COUTO, 1998; McGROTTY, 2008). Observou-se que os resultados encontrados para [UREIA] na fase pós-HD da terceira (~148mg/dL) e quarta (~148mg/dL) seções foram diferentes (P<0,05), mas o mesmo não ocorreu com a [CREAT] (P>0,05), que estava em ~4,4mg/dL e ficou em ~5,5mg/dL. Esses resultados podem ser utilizados para o estabelecimento e

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acompanhamento dos tratamentos pós-HD. Também os resultados indicaram que a [UREIA] e [CREAT] na fase pós-HD foram sempre inferiores (P<0,05) aos observados na fase pré-HD, demonstrando que a HD foi efetuada com eficiência.

Nem todos os animais acompanhados tiveram a causa primária da SIRC detec-tada, apesar de Nelson e Couto (1998) terem afirmado que para um tratamento eficaz, nesses casos, é necessário que se encontrem as causas subjacentes para que possam ser tratadas. No entanto, nem sempre isso é possível, pois mesmo sem ter havido a possibilidade de identificação da causa primária em alguns animais, os resultados encontrados foram satisfatórios, com a [UREIA] e a [CREAT] retornando a valores próximos da normalidade e con-tribuindo para o bem estar dos animais, mesmo sem o diagnóstico da enfermidade primária. Todavia, deve-se observar que nenhum dos animais deste experimento foi submetido a mais de quatro sessões de hemodiálise, o que está de acordo com Veado (2003) e Bernstein e Kleine (2007) ao afirmarem que, ao contrário do que acontece com os humanos, os animais não ficam dependentes da hemodiálise.

Os resultados descritos nesse trabalho podem servir de alerta para os clínicos ve-terinários no sentido de se estabelecer o diagnóstico precoce da SIRC em caninos, pois, com isso, poderia ser melhorada a eficiência do tratamento hemodialítico e evitar que o procedimento de indicação da HD em animais seja utilizado apenas quando a SIRC já estiver instalada e os animais apresentem as consequências dessa enfermidade.

De acordo com Bernstein e Kleine (2007) os animais podem ser liberados quando forem capazes de se alimentarem normalmente e estiverem com o cateter venoso implantado e protegido por uma bandagem. Entretanto, este procedimento não foi adotado neste experimento em fun-

ção de não haver disponibilidade de tempo do proprietário em promover os cuidados e vigilância necessários ao animal enfermo, que poderia apresentar complicações.

CONCLUSÕES

A função renal normal nos animais tem o objetivo de equilibrar líquidos e eletrólitos essenciais à boa condição de saúde. Na espécie canina os problemas renais são corriqueiramente observados. A hemodi-álise, com aplicabilidade em humanos, foi levada aos cães para promover a cura e/ou amenizar os casos de insuficiência renal. Em caninos, a HD deve ser recomenda-da quando do diagnóstico de lesão renal compatível com a SIRC, por reduzir as concentrações dos metabólitos no sangue de animais com esta síndrome, já a partir da terceira seção. Todavia, por ser um tratamento de suporte, a HD necessita ser associada a condutas terapêuticas adequa-das, mormente aos aspectos nutricionais, para que os animais sadios não adoeçam e os enfermos possam usufruir da qualidade de vida proporcionada pela utilização desse tratamento de suporte.

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Efeito do tratamento hemodialítico sobre ...

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Artigo Científico

AVALIAÇÃO DA FREQUÊNCIA CARDÍACA E DO ESFORÇO FÍSICO EM CAVALOS ATLETAS PELO USO DO FREQUENCÍMETRO

Hélio Cordeiro MANSO FILHO1*, Helena Emília Cavalcanti da Costa Cordeiro MANSO2, Emanuel de Albuquerque CARDOSO3, Roberta Espínola de MELO3,

Flávia de Souza e SILVA4, José Mário Girão ABREU5

RESUMO – A determinação da frequência cardíaca (FC) pelo uso do frequencímetro ajuda no entendimento das adaptações fisiológicas aos exercícios. Nesse trabalho, objetivou-se avaliar o nível do esforço através da determinação da FC pelo uso do frequencímetro. Foram utilizados 18 cavalos adultos, divididos em três tratamentos: vaquejada (n=6), marcha (n=6), cavalgada (n=6), aonde se avaliou a FC à montada, FC máxima no terço inicial do exercício, FC máxima no terço final do exercício, número das avaliações da FC abaixo de 170 bpm e acima de 180 bpm e a FC média no exer-cício de cada um dos cavalos. ANOVA, teste T e Holm-Sidak foram utilizados quando necessário com P<0,05. Cavalos de vaquejada apresentam maiores FC máximas (~200 bpm) durante os exercícios, seguidos pelos de cavalgadas (~180 bpm) e de-pois os de marcha (~140 bpm) (P<0,05). Cavalos de vaquejada apresentaram maior número de FC acima de 180 bpm quando comparados com os de outros esportes (P<0,05). Ainda foram observadas diferenças na FC média (P<0,05). Conclui-se, então, que os diferentes esportes equestres avaliados apresentaram variações sig-nificativas na frequência cardíaca durante a simulação, quando analisados através do uso do frequencímetro. Ainda com base no gasto energético, observa-se que os animais de vaquejada desenvolvem grande esforço físico em um curto intervalo de tempo, com contraste com os animais de marcha e cavalgada.Palavras-chave: equino, atividade física, treinamento.

EVALUATION OF HEART RATE AND PHYSICAL EFFORT IN ATHLETE HORSES BY THE USE OF A FREQUENCY METER

ABSTRACT – Determination of the heart rate (HR) by the use of frequency meters helps to understand the physiological adaptations to exercises. The aim of this research was to evaluate the level of effort through the determination of HR using a frequency meter. A total of 18 adults horses were used and divided into three treatments: rodeo (n=6), march (n=6), and riding (n=6) where the HR was analyzed at mounting, maximum HR at first third of the ride, maximum HR at the final third of the ride, the number of HR evaluations below 170 bpm and above 180 bpm, and the average HR in the exercise of each horse. ANOVA, T test and the Holm-Sidak test were used when necessary with P<0,05. Rodeo horses showed higher maximum HR (~200 bpm) during exercises, followed by the rides (~180 bpm) and then by horse march (~140 bpm) (P<0.05). Rodeo horses showed a greater number of HR above 180 bpm when compared to other sports (P<0.05). Differences were still observed in

1 Professor do Núcleo de Pesquisa Equina, Universidade Federal Rural de Pernambuco *Autor para correspondência/corresponding author: [email protected]

2 Professora do BIOPA - Laboratório de Biologia Molecular Aplicada à Produção Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco

3 Médico Veterinário Autônomo 4 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco5 Professor da Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Ceará

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the average HR (P<0.05). It is concluded that the different equestrian sports evaluated showed significant differences in the HR during the simulation, when analyzed with a frequency meter. Based on the energy expenditure, it is reported that rodeo horses develop a large exercise effort in a short period of time, in contrast with the marching and riding horses.Key-word: Equine, physical activity, training.

INTRODUÇÃO

No Brasil os esportes equestres e as avaliações dos animais em campanha esportiva desenvolveram-se rapidamente nas últimas décadas, contribuindo para o aumento do conhecimento da fisiopatolo-gia do exercício equino. Todavia, devido a grande variedade de esportes e das raças de cavalos, torna-se importante a avaliação dos animais praticando as suas atividades físicas em condições de campo para que se possa estabelecer programas de nutri-ção e condicionamento físico (SLOET Van OLDRUITENBORGH-OOSTERBAAN et al., 1987; SCHOTT II et al., 2006), e com isso contribuir para o bem-estar desse grupo de atletas.

Um dos métodos mais importantes para se avaliar o condicionamento físico e os gastos energéticos dos cavalos é a determi-nação da frequência cardíaca (FC) durante o esforço físico (WILLIAMS et al., 2009). Em laboratórios utilizam-se equipamentos como os eletrocardiógrafos, que fornecem dados bastante precisos, mas que apre-sentam baixa aplicabilidade em condições de campo (EVANS, 1994). Recentemente, com o uso de frequencímetros desenvol-vidos especificamente para equinos, as avaliações de animais em condições de competição ou campo tornaram-se bastan-te eficientes (WILLIAMS et al., 2009). Esses aparelhos colhem informações com os animais montados e durante o treinamento, podendo ser utilizados para se estimar o gasto de energia e também a evolução físi-ca dos animais durante o condicionamento. De acordo com Evans (1994) e Serrano et al. (2002), existe correlação positiva entre a FC, consumo de oxigênio e gasto ener-

gético possibilitando avaliar os exercícios e o nível de esforço físico, caracterizando-os com base na variação da FC de forma bem precisa (NRC, 2007).

Em várias regiões do Brasil as caval-gadas e as vaquejadas representam impor-tantes segmentos dos esportes equestres. Nas cavalgadas pode-se encontrar a pre-sença de cavalos das raças marchadoras, Campolina e Mangalarga-Marchador, e, por isso, muitos dos animais que participam das provas de marcha são utilizados para as cavalgadas. Já os animais de vaquejada raramente são utilizados nas cavalgadas, mas, com certa frequência, podem ser utilizados em festas de pega de boi, nas regiões centrais do Nordeste.

Para melhor entender os gastos ener-géticos e o esforço físico a partir das va-riações na FC nos cavalos de vaquejada, de prova de marcha e de cavalgada, foi desenvolvido um experimento no qual se objetivou realizar a caracterização da va-riação da frequência cardíaca de cavalos atletas, de três modalidades esportivas, durante o exercício através do uso do fre-quencímetro, e, por conseguinte, o nível de esforço físico.

MATERIAL E MÉTODOS

Animais e Condições de AvaliaçãoForam utilizados 18 equinos, adultos,

escolhidos aleatoriamente e divididos em três tratamentos: vaquejada (n=6; ~8 anos), prova de marcha (n=6, ~7 anos) e cavalga-das (n=6, ~9 anos), e que participavam re-gularmente do tipo de exercício que estava sendo analisado. Só foram utilizados equi-nos que estivessem sendo condicionados por período de mais de 3 meses para o tipo

H.C. MANSO FILHO et al.

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de esporte que praticavam regularmente e as técnicas empregadas nos animais estão aprovadas no comitê de ética em pesquisa com animais (62/2007-CTA/DZ/UFRPE). Os animais das provas de marcha e de cavalgada eram das raças Mangalarga Marchador (~400 kg; n=6 (3/3) e Campoli-na (~500 kg; n=6 (3/3)), e os de vaquejada eram animais de puxar da raça Quarto-de--Milha (~500 kg). A massa da carga, em todos os casos, foi de aproximadamente 100 kg, e correspondia a massa do cava-leiro, acrescido da massa dos arreios de montada e de condução mensurados em uma balança eletrônica. Tanto para o teste padrão de simulação de prova de marcha, com duração de 30 minutos, como para o teste padrão de simulação de vaquejada, com 10 minutos de duração, foi utilizado o modelo já descrito na literatura (MAN-SO FILHO et al, 2012; SANTIAGO et al., 2013; WANDERLEY et al., 2010) e para as avaliações dos cavalos de cavalgada, com duração de 3 até 5 horas, foram utilizadas cavalgadas em condições de campo.

Determinação da Frequência CardíacaA aferição da frequência cardíaca

(FC) foi realizada com o frequencímetro Polar 800CX® GPS-G36. Os transdutores do frequencímetro foram colocados con-forme a indicação do fabricante, em duas localizações, sendo uma abaixo da manta da sela, no costado direito, e a outra sob a cilha, na região do cilhadouro esquerdo, sendo todos em contato direto com a pele dos animais. Em seguida, o receptor de sistema de posicionamento global (GPS) e o frequencímetro foram colocados no braço do cavaleiro. Após a montada do cavaleiro, os equipamentos foram acionados, e só foram desligados ao final de período de recuperação. Todas as medições foram realizadas com os animais montados e sem

o afrouxamento da cilha.O frequencímetro utilizado determinou

a FC ao longo do exercício físico e todos os animais foram avaliados em pistas de treinamento semelhantes as encontradas nos locais de competições, mas de tama-nhos variados, ou em trilhas de cavalgada.

Após a finalização das avaliações, os dados armazenados no frequencímetro foram transferidos para um computador MacBook Pro®7, aonde foram visualizados pelo programa Polar Protrainer® 5 Equine Edition8. Os seguintes parâmetros para comparação entre os três tipos de esportes foram avaliados: FC à montada do cavaleiro (FCSELA), FC máxima durante o terço ini-cial do exercício (FCMAX1), FC máxima du-rante o terço final do exercício (FCMAX3), número das medições da FC abaixo de 170 batimentos/minutos (FC<170) e acima de 180 batimentos/minutos (FC>180), FC mé-dia durante o exercício (FCMÉDIA). Como as simulações de vaquejada são bastante rápidas, foi assumido que o primeiro boi corrido corresponderia ao primeiro terço da simulação e o terceiro boi corrido ao terço final da simulação, sendo que os cavalos correm os três bois, um em seguida do outro.

Determinação do Gasto EnergéticoO gasto energético (GE) foi estimado

através da fórmula descrita por Coenen (2005), que tem como base a determina-ção do consumo de oxigênio com base no peso do animal, frequência cardíaca durante o esforço e o tempo de esforço (oxigênio utilizado mL/massa corporal kg/minuto = 0,0019x(FC)2,0653, (R2 = 0,9)). A frequência cardíaca média de cada tipo de exercício, durante o exercício físico, foi utilizada na fórmula para se estimar o consumo de oxigênio. Análise Estatística

6 Polar 800CX® GPS-G3, Polar Sport Tester, Kempele, Finland.7 MacBook Pro, Apple Computers Inc., Cupertino, CA, USA.8 Polar Protrainer® 5 Equine Edition, Polar Sport Tester, Kempele, Finland.9 SigmaStat 3.0, SPCC Inc., Jandel Scientific, San Rafael, CA, USA.

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Os resultados dos três tipos de exer-cícios (tratamentos) foram analisados pela ANOVA e, caso observado diferenças entre eles, foi utilizado o teste Holm-Sidak. Tam-bém foi utilizado o teste T na comparação das médias na distribuição da FC abaixo de 170bpm e acima de 180bpm. Em todos os casos utilizou-se o nível de significância estabelecido em 5% e o programa Sig-maStat 3.09 foi utilizado para as análises estatísticas. Os resultados da FC foram expressos em média ± erro padrão médio e em batimentos por minuto (bpm).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesse trabalho observaram-se va-riações na frequência cardíaca (FC) em equinos durante diferentes tipos de exer-cício físico desenvolvidos em condições tropicais com o uso do frequencímetro em tempo real. Com a ajuda do equi-pamento foi constatado que os cavalos de vaquejada desenvolvem exercícios, majoritariamente, anaeróbicos e com FC máximas de ~200 bpm, em contraste com os exercícios majoritariamente aeróbicos observados nos cavalos de prova de marcha e de cavalgada, com FC máximas ~140 bpm e ~180 bpm, respectivamente,

(Tabela 1). Esses resultados confirmam indicações anteriores que tinham como base a composição corporal desses atle-tas equinos (MANSO FILHO et al., 2010). Os resultados permitem inferir que os ani-mais de vaquejada apresentam maiores FC>180 e FCMÉDIA quando comparados com os outros dois tipos de exercícios (P<0,05) (Tabela 1 e 2). Em contraste, a simulação da prova de marcha e as cavalgadas apresentaram FC<170 e FC-MÉDIA similares (P>0,05), mesmo tendo a cavalgada duração superior à prova de marcha (Tabela 1 e 2).

Ainda analisando-se os animais, nos diferentes esportes, foi observado que to-dos terminaram as provas sem demonstrar sinais de fadiga periférica, que podem ser caracterizados pela sudorese excessiva, perda da qualidade do andamento e mo-vimentos excessivos do conjunto cabeça/pescoço, e/ou uso frequente das ajudas pelo cavaleiro (EVANS, 1994). Finalmente, não foi observada a presença de sangue nas partes do corpo do animal que esti-veram em contato permanente com os arreios ou com as ajudas. Também, não foram observados animais com claudica-ção após as simulações.

As avaliações sobre a variação da FC

Frequência cardíaca (FC/bpm)

À montada Média Máxima 1 Máxima 3

Vaquejada 54,0±3,6 cA 140,3±5,8 bA 196,0±3,5 aA 207,7±3,0 aAProva de Marcha 57,3±4,8 cA 119,7±4,2 bB 139,8±6,7 abB 147,7±8,2 aCCavalgada 60,0±4,5 cA 116,5±4,1 bB 184,5±7,2 aA 185,2±8,9 aB

TABELA 1 - Frequência cardíaca obtida durante a simulação em cavalos atletas de vaquejada, prova de marcha e cavalgada em diferentes fases do evento esportivo, avaliadas com o frequencímetro

Observações: diferentes letras minúsculas na mesma linha, ou letras maiúsculas na mesma coluna são diferentes (P<0,05) pelo teste de Holm-Sidak. FC: frequência cardíaca, bpm: batimentos por minuto.

Evento esportivo

H.C. MANSO FILHO et al.

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nos esportes equestres nacionais e em condições de campo ainda são escassas. A ação do cavaleiro e do tipo de pista pode influenciar bastante o desempenho do ani-mal, podendo causar-lhe sérios problemas, como também ao cavaleiro. Recentemente, alguns autores demonstraram a impor-tância das avaliações em condições de campo (SLOET van OLDRUITENBORGH--OOSTERBAAN et al., 1987) pois elas fornecem informações importantes de como os animais estão utilizando as suas reservas energéticas e, com isso, pode-se estabelecer programas de reposição ener-gética. Nos animais de enduro equestre, concurso completo de equitação (CCE) e de corrida as pesquisas de campo são frequentes e ajudam no desenvolvimento do esporte, identificando como os cavalos utilizam os seus metabólicos energéticos através da caracterização da frequência cardíaca (SERRANO et al., 2002; COTTIN et al., 2006; SCHOTT II et al., 2006) e, com isso, contribuindo para o bem-estar dos atletas equinos.

Durante a simulação da vaquejada observou-se que a FC>180 é significati-vamente maior do que os resultados dos animais de prova de marcha e de cavalgada (P<0,05) (Tabela 2). Interessantemente, foi observado que as médias da FCMAX1 e FCMAX3 na vaquejada foi de ~197 e ~207bpm, respectivamente assemelhando-

-se aos valores observados em cavalos de corrida de trote (~205 bpm) (COTTIN et al., 2006) e nas fases mais velozes do CCE (~200 bpm) (SERRANO et al., 2002), to-davia ainda são pouco inferiores as médias observadas em cavalos de corrida (~230 bpm) (MUKAI et al., 2006). Dessa forma, fica facilitado a caracterização do esforço físico dos cavalos de vaquejada como de elevada intensidade, mas, não dentro da categoria descrita no NRC (2007) como muito intenso, como são as corridas e de-terminadas provas de elite de enduro e de CCE. Outro estudo com cavalos de puxar demonstrou que ocorria elevado acúmulo de lactato ao final das corridas de vaque-jada (SANTIAGO et al, 2013), compatível com FC elevada observada nos esportes de alta intensidade (EVANS, 1994), corro-borando os resultados encontrados com o uso do frequencímetro nesse experimento. Entretanto, deve-se observar que o tra-balho de Santiago et al (2013) determina a FC através do estetoscópio, que limita o reconhecimento da FCMAX, por conta de a FC retornar rapidamente aos valores submáximos rapidamente após a parada dos exercícios (EVANS, 1994).

Nas simulações efetuadas no pre-sente experimento, os cavalos correram três bois, um em seguida ao outro, o que normalmente não ocorre na vaquejada. Todavia, deve-se observar que cavalos de

Distribuição da frequência cardíaca

FC<170 FC>180

Vaquejada 88,3±3,4 aA 11,7±3,4 bAProva de Marcha 99,7±0,3 aB 0,3±0,2 bBCavalgada 98,2±0,5 aB 1,8±0,5 bB

Observações: diferentes letras minúsculas na mesma linha indicam que P<0,05 pelo teste T; diferentes letras maiúsculas na mesma coluna indicam que P<0,05 pelo teste de Holm-Sidak; FC: frequência cardíaca; bpm: batimentos por minuto; FC<170: número das avaliações da FC abaixo de 170 bpm; FC>180: número das avaliações da FC acima de 180 bpm.

TABELA 2 - Distribuição das frequências cardíacas, obtidas durante a simulação em diferentes tipos de eventos equestres com equinos atletas, pelo frequencí-metro

Eventos equestres

Avaliação da frequência cardíaca e ...

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vaquejada correm até cinco bois em uma única rodada de 10-15 minutos, e até dez vezes, caso estejam na disputa final, já que não há limites de corridas nessa fase do evento. Por conseguinte, esse tipo de es-forço físico pode comprometer o bem-estar dos animais, quando estes não estão bem condicionados.

Ainda, com base nos resultados, observou-se que os cavalos de prova de marcha e de cavalgada desenvolviam outro tipo de atividade física, quando comparado com aqueles utilizados no exercício de vaquejada. No grupo de prova de marcha observou-se que quando os animais estão em condições controladas, como no teste de simulação de prova de marcha adotado nesse experimento, as FCMÉDIA permaneceram abaixo dos valores indicados como limites máximos para os exercícios aeróbicos, que se situa entre 150 e 170 bpm (PERSSON, 1983). Recentemente foi demonstrado por Prates el al. (2009) que a FCMAX encontrada em cavalos marchadores durante uma compe-tição foi de ~185 bpm, mas não há relato da FCMÉDIA desses animais. Cardoso et al. (2010) e Manso Filho et al. (2012) demonstraram FCMAX de ~180 bpm du-rante a simulação de prova de marcha., corroborando como o atual estudo. Os resultados desse experimento, quando analisados em conjunto, permitem concluir que esse grupo de cavalos de prova de marcha realizaram exercícios abaixo do limiar tipicamente aeróbicos, com pouca elevação na concentração de lactato, na dependência de suas reservas corporais de gordura (MANSO FILHO et al., 2010; WANDERLEY et al., 2010).

Diferentemente das vaquejadas, ob-serva-se que nas cavalgadas os cavalos apresentam FCMAX1 e FCMAX3 próximas a 190 bpm e com elevado FC<170. Durante as cavalgadas os andamentos vão do pas-so e da marcha até o galope ordinário, por isso deve-se esperar que a FCMAX1 e FC-

MAX3 sejam elevadas, a FCMÉDIA baixa e a FC<170 elevada, já que nesse esporte equestre é permitido ao cavaleiro modificar a velocidade de deslocamento do conjunto, inclusive podendo parar e dar descanso ao cavalo. Devido a essas características, na cavalgada (~116bpm), a FCMÉDIA não foi diferente daquelas observadas nos cavalos de prova de marcha (~119bpm) (P>0,05), mesmo com os animais competindo em condições tão díspares de pista/terreno e de tempo de esforço.

Em poucos esportes equestres a du-ração da competição é tão longa quanto à das cavalgadas, e, entre eles temos as provas de enduro equestre e o concurso completo de equitação. Nesses esportes, os cavalos apresentam FC acima de 180 bpm e deslocam-se ao galope de corrida (SCHOTT II et al., 2006; SERRANO et al., 2002), o que não ocorre nas cavalgadas. Baseando-se nos resultados obtidos nos animais de cavalgada podemos supor que cavalos de prova de marcha poderiam participar de cavalgadas, quando bem condicionados. Finalmente, e com base nas avaliações da FC desses cavalos nessas provas, pode-se caracterizá-las como um esporte de média intensidade, mas diferentemente dos animais da prova de marcha, de longa duração, quando ob-servadas as condições de avaliação desse experimento.

O conhecimento da FCMÉDIA e do tempo gasto durante o esforço podem ser utilizados para se estimar o consumo de energia durante o exercício e com isso obter-se um indicativo do grau do esforço físico de um cavalo ou esporte equestre. Com isso, aceitando-se a hipótese de que FCMÉDIA pode representar, em parte, um bom indicativo do esforço físico durante um teste de exercício, calcularam-se os valores médios do oxigênio consumido nos esportes durante o experimento. Ficou determinado que os animais de vaquejada consumiram ~51,42mL de O2/kg/minuto

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e os de prova de marcha e de cavalgada, ~37,40mL e ~34,90mL de O2/kg/minuto, respectivamente. Esses resultados, ob-tidos pela utilização da fórmula descrita por Coenen (2005), representam bem os gastos aeróbicos, mas não os anae-róbicos, e ressalta que, para se calcular o consumo total de oxigênio, durante o esforço físico, deve-se somar a massa do cavalo e a massa da carga. Entretanto, as informações obtidas a partir do uso dessa fórmula poderão contribuir para um melhor entendimento dos esportes avaliados, facilitando a implementação de programas de treinamento e contri-buindo para o bem-estar desses grupos de cavalos atletas.

CONCLUSÕES

Os diferentes esportes equestres repre-sentam um forte traço cultural no Nordeste brasileiro. Várias provas utilizando-se equí-deos são efetivadas, sem, entretanto, ser demonstrado preocupação com os animais que delas participam. O conhecimento dos gastos energéticos, das variações significativas na frequência cardíaca, e das consequências do grande esforço físico dispendidos pelos animais em um curto in-tervalo de tempo, podem auxiliar na adoção de medidas que visem minimizar os efeitos maléficos e proporcionar competições que proporcionem benefícios à saúde e permi-tam maior longevidade a esses animais.

AGRADECIMENTOS

Aos criadores (Haras Abreu [Tracu-nhaém-Pe], Engenho Salgado [Nazaré da Mata-PE], Haras Cascatinha [Camaragibe--PE], Centro de Treinamento “Rui Guerra” [Limoeiro-PE]) e a seus cavaleiros que se prontificaram em ceder seus cavalos atletas bem condicionados, e ainda, disponibiliza-rem o uso do frequencímetro.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RELATO DE CASO

PLATINOSOMÍASE EM CUXIÚ (CHIROPOTES SATANAS UTAHICKI)

Luana Célia Stunitz da SILVA1*, Klena Sarges Marruaz SILVA2, Frederico Ozanan Barros MONTEIRO3, José Augusto Pereira Carneiro MUNIZ2,

Paulo Henrique Gomes CASTRO2

RESUMO – No presente trabalho relata-se a ocorrência do Platynosomum illiciens em um primata não humano da espécie Chiropotes satanas utahicki mantido em cativeiro pelo Centro Nacional de Primatas (CENP) em Ananindeua-PA. O animal foi submetido a uma avaliação clínica, sanguínea, parasitológica e ultrassonográfica nas quais foi constatada a presença de diarreia e discreta inapetência, alterações significativas nas amostras séricas hepáticas, observação de ovos compatíveis com Platynosomum illiciens ao exame de sedimentação e a presença de massa vegeta-tiva no interior da vesícula biliar, bem como espessamento e dilatação da parede da mesma. Deste modo, sugere-se a inclusão da platinosomíase como diagnós-tico diferencial em casos de doenças hepáticas, principalmente quando aliadas a condições favoráveis como regiões tropicais e recintos em torno de matas nativas, ressaltando-se a importância de se investigar a epidemiologia e a relevância desta enfermidade na conservação e medicina de primatas.

Termos para indexação: alterações hepáticas, Platynosomum illiciens, primatas não humanos.

PLATINOSOMIASIS IN CUXIÚ (CHIROPOTES SATANAS UTAHICKI)

ABSTRACT – This work reports the occurrence of Platynosomum illiciens in a nonhuman Chiropotes utahicki primate species held captive by the National Center of Primates (CENP) in Ananindeua-PA. The animal underwent a clinical, blood, parasitological and ultrasound evaluation in which there was presence of diarrhea and discrete lack of appetite, significant changes in the hepatic serum samples, the observation of eggs consistent with the Platynosomum illiciens sedimentation exam and the presence of vegetative mass inside the biliary vesicle as well as the dilatation and thickening of its wall. Thus, the inclusion of platinosomiasis as a differential diagnosis in cases of hepatic diseases is suggested, especially when coupled with favorable conditions such as tropical regions and environments around native forests, emphasizing the importance of investigating the epidemiology and the relevance of this disease for the conservation and care of primates.Index terms: hepatic changes, nonhuman primates, Platynosomum illiciens.

1 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), Pós-Graduação em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres, Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87 CEP 05508 270 - Cidade Universitária - São Paulo/SP – Brasil, 11 3091-3016 *Autor para correspondência: [email protected]

2 Centro Nacional de Primatas, CENP-SVS/MS, Ananindeua, Pará.3 Universidade Federal Rural da Amazônia, Instituto de Saúde e Produção Animal, UFRA, Belém, Pará.

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INTRODUÇÃO

O Gênero Platynosomum é pertencente ao Filo Plathelminthes, Classe Trematoda, Super-Família Dicrocoelidea e Família Dicrocoellidae (URQUHART et al., 1998) possuindo diversas espécies descritas e com hospedeiros vertebrados distintos, acomete principalmente os felinos através da espécie Platynosomum fastosum, iden-tificada também em indivíduos primatas do Velho Mundo (WARREN et al., 1998). Esses parasitos habitam o sistema biliar de hospedeiros definitivos, como aves e mamíferos, e podem acarretar diversas alterações biliares e hepáticas, caracteri-zadas como uma enfermidade de cunho tropical que necessita de dois hospedeiros intermediários no seu ciclo. Para outras espécies do Platynosomum sp. existem relatos, por exemplo, de P. illiciens identi-ficados em aves como galos-da-campina (CARVALHO et al., 2007) e falconiformes (FERRER et al., 2004) e a espécie P. proxillicens em cacatua (KASAKOS et al, 1980). No entanto, muitas vezes se apresentam de forma assintomática, difi-cultando o seu diagnóstico e tornando-se mais um achado de necropsia.

Com relação especificamente aos primatas, tem-se notificação de casos envolvendo P. amazonensis em Callimico goeldii, Saguinus nigricollis (KINGSTON e COSGROVE, 1967) e Callithrix jacchus (PORTER, 1972; POTKAY, 1992); P. mar-moseti e P. fastosum em Saguinus nigri-collis (KINGSTON e COSGROVE, 1967); P. minutum acometendo Saguinus mistax e Callithrix geoffroyi (KIFUNE e UYEMA, 1982).

A platinosomíase ocorre principalmente em regiões tropicais por permitir as condi-ções ideais para o desenvolvimento de seus hospedeiros intermediários, bem como a sobrevivência do gênero Platynosomum (AZEVEDO, 2008), apresentando relatos em áreas como a Malásia, Papua Nova

Guiné, Austrália, Havaí, Bahamas, Porto Rico, Cuba, Brasil, Guiana Britânica e Fló-rida (BARRIGA et al., 1981; GOLDERG e BURSEY, 2000).

O ciclo dos parasitos do gênero Platy-nosomum ainda não está totalmente elu-cidado (SALOMÃO et al., 2005), existindo diversas controvérsias quanto ao número exato de hospedeiros intermediários. No entanto, vários autores relataram que, se fazem necessários dois hospedeiros inter-mediários para a total evolução do parasito, como um caramujo terrestre e, por final, um anfíbio ou lacertílio, como as lagartixas (FOLEY, 1994; SALOMÃO et al., 2005).

Os ovos são eliminados ao ambiente externo juntamente com a bile, nas fezes dos hospedeiros definitivos, apresentando os miracídios, primeiro estádio da fase de desenvolvimento. Quando se completa o primeiro estádio, ocorre penetração ati-va, através do tegumento dos primeiros hospedeiros intermediários, aonde haverá uma maturação até esporocistos e de es-porocistos de segunda geração, os quais darão origem às cercárias. Estas, por sua vez, abandonam o hospedeiro ativamente, podendo infectar os segundos hospedeiros intermediários por meio de sua ingestão ou por penetração ativa, ocorrendo então a liberação de metacercárias, as quais se encistam nos tecidos desse hospedeiro. Quando mamíferos ou aves ingerem os lacertílios ou anfíbios infectados, as me-tacercárias são liberadas, migrando até o ducto biliar pela papila duodenal maior onde permanecem até a fase adulta, sendo ra-ramente encontradas no intestino delgado (FOLEY, 1994; LEAL, 2003; SALOMÃO et al., 2005; AZEVEDO, 2008).

No presente trabalho é relatada a ocor-rência do Platynosomum illiciens em um indivíduo da espécie Chiropotes satanas utahicki de cativeiro e são apresentados os aspectos clínicos, parasitológicos, hemato-lógicos, bioquímicos e ultrassonográficos relacionados à parasitose neste primata.

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RELATO DO CASO

No período de julho de 2008, um pri-mata não humano da espécie Chiropotes satanas utahicki (Cuxiú), fêmea, adulta, cativa do Centro Nacional de Primatas (CENP) na cidade de Ananindeua-PA, apresentou histórico de diarreia e discre-ta inapetência. O animal foi anestesiado com o protocolo de Cetamina (10mg/kg) associado à Xilazina (0,5mg/kg), por via intramuscular, para avaliação clínica, san-guínea, parasitológica e ultrassonográfica.

Após a contenção química, ao exame físico, observou-se que o animal não apre-sentava outros sinais dignos de nota. Foi realizada colheita de amostra sanguínea por punção da veia femoral para a realiza-ção de hemograma e perfil bioquímico com a determinação da atividade sérica das enzimas hepáticas alanina aminotrans-ferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (FA) e gama glutamil-transferase (GGT), efetuadas no Instituto Evandro Chagas-Ananindeua. Efetuou-se, ainda, a coleta de amostra fecal por retirada diretamente do reto, que foi imediatamente remetida para o Setor de Laboratório (SELAB) do CENP, onde se realizou os exames: direto, de flutuação

ou Willis-Mollay e o de sedimentação ou Hoffmann.

DISCUSSÃO

Animais apresentando platinosomíase, geralmente demonstram ausência de si-nais clínicos (BIELSA e GREINER, 1985). Entretanto, os animais infectados por Pla-tynosomum podem exibir outros sinais, tais como: anorexia, letargia, vômitos, icterícia, colangite, colângio-hepatite e obstrução extra-hepática, além de inapetência e diar-reia (BARRIGA et al., 1981; SALOMÃO, et al., 2005; AZEVEDO, 2008). O aumento na gravidade sintomatológica acompanha o aumento no número de parasitos presentes no sistema biliar (FOLEY, 1994). No caso relatado, durante a avaliação clínica inicial do animal, foram observadas apenas uma discreta inapetência e diarreia.

As alterações encontradas no exame bioquímico foram significativas como de-monstrado na Tabela 1. Entretanto, ressalta--se que não existem valores de referência disponíveis na literatura para a espécie citada, adotando-se, assim, indicadores já descritos para a espécie Cebus apella (macaco-prego), para a comparação dos valores bioquímicos e de hemograma.

Parâmetros Resultados Indicadores (a)

Hemácias (x106/uL) 7,27 6Hemoglobina (g/dL) 16 14-17Hematócrito (%) 53 45-53Volume Corpuscular Médio (u3) 72,9 –Leucócitos Totais (x103/uL) 12,6 5-24Bastonetes (%) 0 –Segmentados (%) 71 55Eosinófilos (%) 3 1,6Basófilos (%) 0 <1Linfócitos (%) 22 41Monócitos (%) 4 1,8

TABELA 1 - Perfil hematológico e bioquímico de uma fêmea da espécie Chiropotes sa-tanas utahicki cativa do Centro Nacional de Primatas (CENP) da cidade de Ananindeua-PA, infectada pelo Platynosomum illiciens

Platinosomíase em Chiropotes satanas ...

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Com relação aos achados hematoló-gicos, a eosinofilia é uma característica presente em casos de infecções parasitá-rias (GRACZYK, 1997), o que também foi constatado no indivíduo Chiropotes satanas utahicki avaliado, acometido por uma signi-ficativa carga parasitária.

Em relação à presença de linfopenia, esta ocorrência pode estar associada a um estresse prolongado, justificando a condição do animal deste relato, por sua submissão ao cativeiro.

A observação de uma monocitose pode ser indicativa de uma afecção crônica, bem como de doenças infecciosas específicas e necrose, relacionando-se, provavelmente, às alterações hepáticas acarretadas pela platinosomíase (ALMOSNY e MONTEIRO, 2006).

Nas análises bioquímicas realizadas observou-se, ainda, aumento significativo nos valores de ALT, AST, FA e GGT que podem sugerir a presença de uma possí-vel colestase devido à ocorrência de lesão hepatocítica (CENTER et al., 1986; JOHN-SON e SHERDING, 1998).

A elevação significativa na dosagem de amônia pode estar relacionada a uma hepatopatia crônica devido à baixa conver-são de amônia em ureia, segundo Almosny e Monteiro (2006).

A taxa elevada da amilase sérica observada pode ser sugestiva de uma

obstrução do ducto pancreático, localizado anatomicamente próximo ao ducto colé-doco, ou mesmo pela menor depuração da amilase pelo sangue, uma vez que o sistema fagocítico mononuclear do fígado é a principal via de degradação desta enzima (THRALL, 2007). Com relação à dosagem da creatinina sérica, não se sabe, ao certo, sua total relevância dentro do quadro dessa parasitose, visto que, em gatos infectados experimentalmente com o Platynosomum spp., não foi observada mudanças renais macroscópicas, assim como alterações nos valores de ureia plasmática e no balanço iônico (TAYLOR e PERRI, 1977).

Devido à baixa presença de ovos elimi-nados pelos parasitos adultos do Gênero Platynosomum nas fezes diariamente, faz-se necessário a aplicação de uma téc-nica de avaliação da concentração para o diagnóstico coproparasitológico, como relatado por Azevedo (2008), o qual refe-riu que a técnica de sedimentação ou de Hoffman se mostra mais sensível do que o exame de flutuação ou de Willis-Mollay. No presente caso, foi detectado o parasito Platynosomum illiciens apenas ao exame de sedimentação, observando-se a presen-ça de ovos de coloração marrom, ovalados, operculados, semelhantes aos observados por Soulsby (1982) e Bielsa e Greiner (1985), permitindo identificá-los como ovos de Platynosomum illiciens (Figura 1).

Uréia (mg/dL) 28 13-90Proteínas Totais (g/dL) 6,8 6,1-10,1Albumina (g/dL) 4,6 3,4-5,4Alanina-aminotransferase (UI/L) 119 1-19Aspartato aminotransferase (UI/L) 219 4-40Fosfatase alcalina (UI/L) 743 36-293Gama-glutamiltransferase (UI/L) 297 15-97Bilirrubina Total (mg/dL) 1,0 0,04-0,81Amônia (mmol/L) 388 –

(a) Indicadores hematológico e bioquímico para a espécie Cebus apella (macaco-prego).Fonte: Larsson et al., (1997), Pissinati e Verona (2006).

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Além disso, a soma de fatores como a pequena produção de ovos pelo parasito, aliada a uma sintomatologia inespecífica, acarretam em dificuldade no diagnóstico da infecção ocasionada pelo Platynosomum spp. em indivíduos vivos, sendo este, um achado mais comum em necropsia (SEE-THA e CHENG, 1997).

A presença da parasitose descrita pode ter ocorrido devido à localização geográfica tropical do CENP, que propicia o pleno desenvolvimento do parasito em seus hospedeiros intermediários, aliado ao fato de que a área demarcada do CENP encontra-se em uma grande extensão de floresta primária nativa, com a presença de espaços residenciais ao seu redor, fa-cilitando o ingresso de insetos, lacertílios, bem como anfíbios. Na área demarcada, observou-se ainda o acesso de gatos erran-tes no período noturno, nas proximidades das gaiolas de permanência dos animais os quais, podem estar contaminados, e funcionando como disseminadores (SILVA et al., 2008). Entretanto, devido aos hábitos alimentares dos primatas de ingestão de pequenos lagartos e anfíbios (AURICCHIO, 1995), permite que este evento funcione

como uma considerável explicação para a ocorrência do parasito.

Como exame complementar para a enfermidade, a ultrassonografia, aliada aos demais exames diagnósticos permitem a avaliação de uma série de anormalidades hepáticas (NEWELL et al., 2001), sendo esta ferramenta considerada como a melhor forma de avaliação do fígado (MAMPRIM, 2004). Contudo, são escassos os trabalhos envolvendo esta técnica imaginológica como forma de diagnóstico para a platinosomíase em animais, principalmente, no que tange à medicina de primatas não humanos. As alte-rações que puderam ser observadas quando da utilização desta técnica em espécimes afetadas, é a presença de sedimentação na vesícula biliar, alterações no parênquima hepático, o espessamento da parede biliar, a dilatação da vesícula e dos ductos intra e extra-hepáticos bem como a presença do parasito (NORSWORTY, 2004).

Nos exames ultrassonográficos abdo-minais utilizou-se um transdutor de 6,6 a 12 MHz, cujas imagens evidenciaram um aumento na ecogenicidade do parênquima hepático, espessamento da parede biliar, dilatação da vesícula e identificação de uma

FIGURA 1 - Fotomicrografia evidenciando um ovo de Platynosomum illiciens encontrado no exame de sedimentação do espécime de Chiropotes satanas utahicki. Notar a presença de miracídio em ambas as fotos (setas pretas). (A) Aumento de 200x. (B) Aumento de 400x.

Platinosomíase em Chiropotes satanas ...

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massa vegetativa de aspecto ecogênico hiperecóico, em diversos cortes na parede da vesícula biliar, e ainda, a presença de

massa no interior da mesma, contrastando com o conteúdo anecóico interno do órgão (Figura 2).

FIGURA 2 - Imagem ultrassonográfica de uma fêmea cuxiú da espécie Chiropotes sata-nas utahicki observando-se espessamento da parede biliar e identificação de uma massa vegetativa de aspecto ecogênico no lúmen da vesícula biliar.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

As enfermidades que acometem os animais de vida livre mantidos em cati-veiro podem ser ocasionadas por fatores de manejo que facilitem a ocorrência de doenças, ou pela dificuldade de diagnósti-co, influenciando a condição de saúde dos animais. Patologias de pequena ocorrência são particularmente difíceis de detectar. De acordo com este relato, torna-se relevante a inclusão do trematódeo do Gênero Pla-tynosomum como diagnóstico diferencial em casos de sintomatologia hepática em primatas não humanos mantidos em ca-tiveiro, principalmente quando aliadas às condições favoráveis de desenvolvimento,

como regiões tropicais e recintos locali-zados próximos de matas nativas. Além de se constituir ferramenta diagnóstica usual, a ultrassonografia é uma técnica relevante na detecção deste tipo de pato-logia. Ressalta-se, ainda, a importância da investigação epidemiológica e da adoção de medidas que facilitem a determinação dessa enfermidade, no sentido de preservar os primatas não humanos.

AGRADECIMENTOS

Ao Centro Nacional de Primatas (CENP-SVS/MS-PA) e ao Instituto Evandro Chagas-Ananindeua (IEC-SVS/MS-PA).

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L.C.S. SILVA

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RELATO DE CASO

PERSISTÊNCIA CLÁSSICA DO DUCTO ARTERIOSO EM CADELA

Robério Silveira de SIQUEIRA FILHO1*, Edvaldo Lopes de ALMEIDA2,Julia Maria MATERA3, Hugo Barbosa do NASCIMENTO4

RESUMO – O ducto arterioso é um vaso que durante a vida fetal conecta a aorta à artéria pulmonar e, normalmente, se fecha algumas horas após o nascimento. A não oclusão desse ducto é chamada de persistência do ducto arterioso (PDA) ou ducto arterioso patente, acarretando em um defeito cardíaco congênito comum em cães, acometendo principalmente as fêmeas, e que raramente é encontrado em gatos. O PDA apresenta-se de duas formas: a forma clássica, que se caracteriza pelo fluxo sanguíneo no interior do ducto ocorrendo da esquerda (artéria aorta) para a direita (artéria pulmonar), e a PDA reversa, cujo fluxo sanguíneo apresenta a direção da aorta, ou seja, da direita para a esquerda. O tratamento para oclusão do ducto arterial é cirúrgico, através de um procedimento aberto, eleito como técnica padrão devido à segurança que esse método oferece. Porém, somente os animais com persistência de ducto arterioso clássico podem ser operados para fechamento do ducto, pois nos casos de fluxo reverso, o ducto funciona como válvula de escape para a arté-ria pulmonar. Objetivou-se neste trabalho relatar um caso de persistência clássica do ducto arterioso em cadela, bem como abordar a técnica cirúrgica utilizada para resolução da persistência clássica do ducto arterioso. Termos para indexação: Artéria, coração, cão.

CLASSIC PATENT DUCTUS ARTERIOSUS IN A FEMALE DOG

ABSTRACT – The ductus arteriosus is a vessel that during fetal life connects the aorta to the pulmonary artery and usually, closes a few hours after birth. The failure to the occlusion of the duct is called the persistence of ductus arteriosus (PDA) or patent ductus arteriosus, resulting in a common congenital heart defect in dogs, affecting mainly the females, and that is rarely found in cats. The PDA presents itself in two forms: the classical PDA, characterized by blood flow within the duct occurring from the left (aorta) to the right (pulmonary), and the reverse PDA, in which the blood flow is towards the aorta, from right to left. The treatment is a surgical intervention for the closure of the ductus arteriosus, through an open procedure, elected as a technical standard due to the security that this method offers. However, only animals with classic patent ductus arteriosus can be operated to close the duct, as in cases of reverse flow, the duct acts as an escape valve for the pulmonary artery. The objective of this study is report a case of classic patent ductus arteriosus in a female dog, as well as approaching the surgical technique used for the resolution of classic patent ductus arteriosus.Index terms: Artery, heart, dog.

1 Médico Veterinário. E-mail: [email protected] *Autor para correspondência. Rua Joana Norberto Pessoa, 943, Casa Caiada, Olinda - PE, CEP 53130-030.

2 Professor Associado do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife - PE. CEP: 52.171-900.

3 Professora Titular do Departamento de Cirurgia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. Av. Prof. Orlando Marques de Paiva, 87, São Paulo – SP,CEP 05508-270.

4 Médico veterinário, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biociência Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos, Recife - PE. CEP: 52.171-900.

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INTRODUÇÃO

O ducto arterioso é um vaso fetal que conecta a artéria pulmonar à aorta descen-dente e tem como função desviar o sangue da artéria pulmonar para a artéria aorta evitando, assim, o fluxo sanguíneo para os pulmões ainda não funcionais. Este canal presente ao nascimento fecha-se imediata-mente, após algumas horas, ou nos primei-ros dias de vida (VAN ISRAEL et al., 2002; FOSSUM, 2004; WARE, 2006; EYSTER et al.,1998). Quando ocorre a persistência prolongada deste ducto por mais que pou-cos dias após o nascimento é chamada de persistência do ducto arterioso (PDA) ou ducto arterioso patente. Esta patologia se constitui em um dos defeitos congênitos mais comuns em cães (BONAGURA, 1989; SAUNDERS et al., 1999) e, também, é de ocorrência rara em gatos (FOSSUM, 2004; BELERENIAN, 2003).

O diagnóstico é habitualmente exe-cutado através da detecção de um sopro característico (sopro contínuo) à auscul-tação cardíaca. Este sopro é mais audível acessando-se a axila esquerda do animal. As radiografias de tórax ou um exame ele-trocardiográfico podem revelar alterações compatíveis com esta patologia, mas o diagnóstico definitivo é obtido por meio de uma ecocardiografia (STOPIGLIA, et al., 2004).

A sintomatologia geralmente apresenta animais com sinais que poderão ser de cansaço, intolerância ao exercício, tosse, dificuldade em respirar. Apesar de em al-guns casos bastante leves a expectativa de vida ser normal e nunca serem observados sintomas, frequentemente tal anomalia (PDA) leva a alterações cardíacas graves e morte no primeiro ano de vida (STOPIGLIA, et al., 2004).

Existem duas condições com carac-terísticas hemodinâmicas em relação à persistência do ducto arterioso. A primeira, e mais frequente, é caracterizada pelo fluxo

sanguíneo no interior do ducto da aorta descendente para a artéria pulmonar, ocor-rendo da esquerda para a direita, conhecida por persistência clássica do ducto arterioso. A segunda condição, chamada de persis-tência reversa do ducto é caracterizada pela reversão do fluxo sanguíneo da direita para a esquerda, ou seja, do tronco pulmonar para a aorta descendente (STOPIGLIA, et al., 2004).

É relatado o óbito de 70% dos animais não tratados cirurgicamente, antes de 1 ano de idade (MILLER e BONAGURA, 2003).

A principal consequência da PDA clás-sica é a sobrecarga do ventrículo esquerdo, ocasionando posteriormente dilatação e hipertrofia ventricular esquerda. De modo geral, a persistência do ducto não vem acompanhada de outros defeitos congêni-tos (FOSSUM, 2004).

O tratamento da persistência do ducto arterioso é realizado, na maioria das vezes, de forma cirúrgica. Entretanto, técnicas ra-diográficas e angiográficas intervencionais utilizando vários dispositivos, como por exemplo, molas, têm sido aplicadas como um tratamento menos invasivo. Desde quando Porstmann et al. (1967) descreve-ram a primeira oclusão por cateterismo do ducto arterial, diversos tipos de próteses e diferentes técnicas de implante auxiliado por cateterismo para ocluir este vaso têm sido desenvolvidas. O uso da mola intra-vascular (de Gianturco) para tratamento de PDA de pequeno diâmetro em humanos foi relatado em 1992, e sua utilização foi efetivada para o tratamento em cães desde 1994 (GOODRICH et al., 2007).

As técnicas e procedimentos intravas-culares foram desenvolvidos, para se evitar a anestesia geral, os efeitos invasivos da to-racotomia, para minimizar as complicações e a mortalidade em humanos. No paciente veterinário, a anestesia geral é necessária para a adoção da técnica intravascular. No entanto, a vantagem é a diminuição da taxa de complicações, e os casos relatados

R.S. SIQUEIRA FILHO et al.

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demostraram que a técnica intravascular apresenta-se segura e eficaz no tratamento de cães com PDA clássica (GOODRICH et al., 2007).

O dispositivo ideal para a oclusão dos diferentes tipos de ductos deve obedecer à seleção individualizada, levando-se em consideração a morfologia, o diâmetro míni-mo, o comprimento e os tamanhos disponí-veis de cada modelo, assim como a melhor relação custo-benefício (KRICHENKO et al., 1989). Em geral, os dispositivos mais utilizados para a oclusão percutânea do canal arterial são feitos com saco de nylon, fios de nitinol, aço inoxidável com ou sem cerdas de dacron, retalho de poliuretano montado em um balão e podem ser como os coils de Gianturco e os de liberação con-trolada (Flipper e NitOcclud), dentre outros (HADDAD et al., 2005).

Os coils de Gianturco, devido a seu baixo custo e grande efetividade, são os preferidos para a oclusão de canais ar-teriais pequenos. Já para os canais um pouco mais calibrosos ou de alto fluxo, a utilização de coils de liberação controlada são mais vantajosos, devido à possibilidade de reposicioná-los durante o procedimento de oclusão, reduzindo a ocorrência de em-bolização e de fluxo residual significativo. O Amplatzer Duct Occluder, devido ao seu custo elevado em relação aos coils, fica res-trito a canais de grande calibre (HADDAD et al., 2005).

Ware (2006) referiu que a incidência em cães é aproximadamente três vezes maior nas fêmeas do que em machos, enquanto Miller e Bonagura (2003) citaram que as fê-meas são mais predispostas, na proporção de 2,2:1. O PDA é encontrado com maior frequência em cães de raça pura, como o Maltês, Lulu da Pomerânia, Pastor de Shetland, Springer Spaniel Inglês, Bichon Frise, Poodle Toy e Miniatura, Yorkshire Terrier, Chihuahua e Collie (FOSSUM, 2004; ACKERMAN et al.,1978; BONAGU-RA, 1989).

A cirurgia, na qual uma ligadura é feita à volta do canal é muito eficaz, apesar de invasiva. A toracotomia com ligadura do ducto arterioso foi o método de tratamento escolhido nesse caso, por conta de apre-sentar índice de 95 % de sobrevida no Hospital Veterinário do Departamento de Clínica Médica (VCM), da FMVZ/USP.

Objetivou-se com esse trabalho relatar um caso de persistência clássica do ducto arterioso em cadela, bem como abordar a técnica cirúrgica utilizada para resolução da persistência dessa patologia.

RELATO DO CASO

Deu entrada no Hospital Veterinário do Departamento de Clínica Médica (VCM), da FMVZ/USP, para atendimento na Clíni-ca Médica, um animal de pequeno porte, da espécie canina, sexo feminino, raça miniatura Pinscher, de pelagem marrom, com 4 anos de idade e pesando 3,5 kg. O animal compareceu no ambulatório da FMVZ/USP, apresentando tosse frequente, quadros de desmaios (síncope) e relutância na realização de atividade física modera-da. O paciente apresentava normorexia, normodipsia, normoquezia, normoúria, mucosas oral e conjuntival normocoradas, tempo de preenchimento capilar (TPC) de 1 segundo, turgor cutâneo dentro da normalidade, linfonodos sem alterações e temperatura retal de 38,8 ºC. Quando o animal se estressou durante o exame físico, a mucosa oral tornou-se cianótica. O animal apresentava-se taquipnéico e na auscultação cardíaca percebeu-se a pre-sença de sopro, principalmente, próxima ao foco da artéria pulmonar principal, na base esquerda dorsal do coração, e com 120 batimentos por minuto (bpm).

Aferiu-se a pulsação através da artéria femoral, onde a mesma apresentava-se hipercinética e com 120 pulsações por minuto.

Foram solicitados exames complemen-

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tares como hemograma, perfil bioquímico renal, perfil bioquímico hepático, dosagem de sódio e potássio, radiografia torácica, eletrocardiograma e ecodopplercardiogra-ma colorido. Através das alterações obser-vadas no eletrocardiograma e radiografia torácica, realizou-se o ecodopplercardio-grama para confirmar o diagnóstico de PDA. Foi esclarecido ao proprietário que a cirurgia de PDA clássica é considerada curativa e deve ser realizada logo que pos-sível após o diagnóstico.

O tratamento clínico foi realizado com a furosemida na dose de 3 mg/kg por via oral a cada 12 horas, atenolol na dose de 2 mg/kg por via oral (PO) a cada 24 horas, maleato de enalapril na dose de 0,5 mg/kg PO a cada 12 horas e espironolactona na dose de 2 mg/kg PO a cada 24 horas.

No dia da cirurgia, o paciente estava em jejum alimentar de 12 horas e hídrico de 8 horas, conforme instrução ao proprie-tário, e passou por uma nova avaliação para constatação de sua condição e estado geral, a fim de ser submetido aos proce-dimentos cirúrgicos, reavaliando-se seu estado físico, aferindo-se os parâmetros cardíaco (140 bpm), respiratório (taquip-néico) e temperatura retal (38,3ºC). Após essa avaliação, realizou-se a medicação pré-anestésica (MPA) de acordo com uma nova pesagem, com o uso de meperidina na dose de 3 mg/kg por via intramuscular; aguardou-se o tempo de ação da droga e foi feita a tricotomia ampla da região torácica esquerda, além da região de seu membro anterior direito para acesso venoso.

O animal foi encaminhado ao Bloco Cirúrgico, onde foi colocado em venóclise com cateter número 24 e solução ringer com lactato gota a gota através da veia ce-fálica para manutenção do acesso venoso. Posteriormente, o paciente foi submetido à anestesia geral inalatória usando-se para

indução Propofol, na dose de 5 mg/kg por via endovenosa, intubação oro traqueal com sonda de número cinco e Isoflurano para a manutenção do plano anestésico.

Iniciou-se o procedimento cirúrgico com a identificação do quarto espaço intercostal esquerdo, incisou-se a pele com o uso de bisturi elétrico do tipo bipolar, depois, foi realizada a divulsão do tecido subcutâneo e do músculo tronco-cutâneo com uso de tesoura de Metzembaum. Após este procedimento, observou-se a presença do músculo grande dorsal, o qual foi incisado utilizando-se o bisturi elétrico. Os músculos intercostais externo, interno e a pleura pa-rietal também foram incisados com o auxílio do bisturi elétrico. A incisão foi estendida no sentido dorsal e ventral com o uso da tesoura de Metzembaum. Para facilitar o campo cirúrgico, foram colocados tampões de compressas umedecidas nas bordas expostas da incisão torácica e um afasta-dor de Finochietto para abrir as costelas, prosseguindo com o rebatimento caudal dos lobos pulmonares, acompanhado de compressa umedecida, para expor a área referente ao ducto arterioso. Identificou-se o nervo vago esquerdo, isolando-o por dis-secação através de divulsão, utilizando-se cotonete, passando-se uma fita cardíaca sobre o mesmo, isolando-o dorsalmente ao ducto. Então, realizou-se a dissecação do ducto por meio de divulsão, no qual foram utilizados cotonetes. Após a dissecação do ducto passou-se uma pinça hemostática curva de Kelly por debaixo do ducto no sen-tido caudo-cranial, pinçou-se o fio de seda número zero, que foi lentamente puxado por baixo do ducto. Posteriormente, passou-se outro fio de sutura, utilizando-se a mesma manobra. Primeiramente, foi executada a ligadura do ducto na porção próxima à aorta (Figura 1).

R.S. SIQUEIRA FILHO et al.

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Em seguida, foi realizada a segunda ligadura, na porção mais próxima da artéria pul-monar, sendo esta manobra conhecida como ligadura dupla do ducto arterioso (Figura 2).

FIGURA 1 - Ligadura do ducto na porção próxima à aorta em uma cadela da raça mi-niatura Pinscher de 4 anos de idade.

FIGURA 2 - Ligadura dupla do ducto arterioso em uma cadela da raça miniatura Pinscher de 4 anos de idade.

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Após a ligadura do ducto, procedeu--se à manobra de síntese da toracotomia sendo utilizado fio mononylon 3-0, para suturar a parede torácica, passando-se os fios craniais à costela cranial, e caudal à costela caudal. No último ponto foi reali-zada a expansão pulmonar para retirada do ar contido durante o ato cirúrgico. Para a síntese do músculo grande dorsal foi re-querido o fio mononylon 4-0, utilizado num padrão de sutura contínua simples e aboli-ção do subcutâneo por meio de padrão de sutura contínua do tipo zigue zague com fio mononylon 4-0. Na pele utilizou-se padrão de sutura do tipo isolado simples, com fio mononylon 4-0.

Durante o período transoperatório executou-se por via endovenosa, cefalotina na dose de 30 mg/kg, rocurônio na dose de 0,4 mg/kg via endovenosa a cada 20 minutos e em bomba de infusão remifentanil na dose 0,2 microgramas por quilo (µg/kg). Logo após a dupla ligadura do ducto arte-rioso, efetuou-se por via endovenosa em bomba de infusão, nitroprussiato de sódio na dose de 1 µg/kg/min, já que houve um grande aumento na pressão arterial. Na ferida cirúrgica realizou-se bloqueio local com cloridrato de bupivacaína na dose de 1 mg/kg.

Finalizada a cirurgia, aguardou-se o retorno do animal do plano anestésico e encaminhou-se o paciente para o Serviço Intensivo de Monitoramento (SIM), a fim de avaliar-se a função cardíaca e a analgesia. No SIM, administrou-se ao animal cefalo-tina na dose de 30 mg/kg a cada 8 horas via endovenosa, carprofeno na dose de 2,2 mg/kg a cada 12 horas via subcutânea e dipirona na dose de 25mg/kg a cada 8 horas via subcutânea. No dia seguinte, foi prescrito por via oral, ampicilina na dose de 30 mg/kg a cada 8 horas durante 10 dias, cloridrato de tramadol na dose de 4mg/kg a cada 8 horas durante 3 dias, carprofeno na dose de 2,2 mg/kg a cada 24 horas duran-te 4 dias, dipirona na dose de 25 mg/kg a

cada 8 horas durante 3 dias e continuou-se mantendo a furosemida, espironolactona, maleato de enalapril e atenolol.

DISCUSSÃO DO CASO

Segundo Ackerman et al. (1978), Bona-gura (1989), Eyster et al.(1998), Goodwin (2002), Miller e Bonagura (2003), Fossum (2004) e Ware (2006), as fêmeas apresen-tam maior risco de desenvolvimento de PDA, permitindo reforçar estas afirmações, pela constatação do sexo da paciente des-se relato.

De acordo com Fossum (2004), as queixas mais comuns em animais sintomá-ticos de PDA com desvio da esquerda para a direita são a intolerância a exercícios, tosse e/ou falta de fôlego. Dunn et al. (2001) relataram que poucos animais experimen-tam episódios de síncope.

Ao exame clínico, os sinais apresen-tados pelo animal atendido no hospital, observou-se durante a auscultação cardía-ca, um sopro contínuo, predominantemente no foco da artéria pulmonar principal na base esquerda dorsal do coração, como aquele relatado por Goodwin (2002). No hemograma completo, perfil bioquímico renal, perfil bioquímico hepático, dosagem de sódio e dosagem de potássio não foram observadas alterações. Stopiglia et al. (2004) e Fossum (2004), afirmaram que as alterações laboratoriais normalmente não são encontradas no PDA clássico.

Ao exame radiográfico do animal, observou-se aumento global da silhueta cardíaca, deslocamento dorsal da traqueia torácica pré-terminal e edema pulmonar. Esses achados radiográficos foram con-dizentes com os relatados por Stopiglia et al. (2004), Ackerman et al. (1978) e Ware (2006).

No ecodopplercardiograma colorido, observou-se aumento de átrio esquerdo, aumento de ventrículo esquerdo, fluxo turbulento contínuo no interior da artéria

R.S. SIQUEIRA FILHO et al.

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pulmonar (desvio da esquerda para a direi-ta) com gradiente de pressão estimado em aproximadamente 105 mmHg, culminando com o diagnóstico de persistência clássica do ducto arterioso. Stopiglia et al. (2004) afirmaram que o exame ecocardiográfico forneceu o diagnóstico definitivo para os casos de PDA. Moise (1989) relatou que o exame ecocardiográfico também pode ser útil para descartar outros defeitos cardíacos concomitantes.

Como o animal apresentava insuficiên-cia cardíaca congestiva esquerda (ICCE), foi realizado tratamento com atenolol, blo-queador beta1-adrenérgico, antiarrítmico e anti-hipertensivo e maleato de enalapril, um vasodilatador inibidor da enzima converso-ra de angiotensina (ECA) e, o tratamento para o edema pulmonar determinado, foi realizado com furosemida, um diurético de alça, associado à espironolactona, (diuréti-co poupador de potássio). Foi sugerido ao proprietário o tratamento cirúrgico, já que Fossum (2004) e Ware, (2006), afirmaram que a ligadura de uma PDA clássica é con-siderada curativa e que a cirurgia demanda certa urgência.

Durante a cirurgia não houve intercor-rência em relação à anestesia, com exce-ção do aumento significativo da pressão arterial no momento da ligadura do ducto que, de acordo com Stopiglia et al. (2004), ocorre concomitante com a redução na frequência cardíaca (reflexo de Branham). Para se promover a diminuição da pressão arterial realizou-se infusão contínua de nitroprussiato de sódio, um vasodilatador relaxante da musculatura lisa vascular, no pós-operatório durante o internamento. Os outros parâmetros como a temperatura, a frequência respiratória, a saturação de oxi-gênio, o tempo de preenchimento capilar e a mucosa oral e conjuntival, mantiveram-se dentro da normalidade.

Para a redução da dor no local da incisão, realizou-se o bloqueio local da ferida cirúrgica com o uso de cloridrato

de bupivacaína, pois conforme Fantoni (2002), o cloridrato de bupivacaína utilizado intercostal ou intrapleural são usados para analgesia suplementar.

Quinze dias após o procedimento cirúr-gico, o animal retornou ao Hospital Veteri-nário para a retirada dos pontos. Durante a auscultação cardíaca, o sopro cardíaco não se fez presente, assim como o pulso hipercinético quando foi aferida a artéria femoral, considerando-se o paciente em condição de alta cirúrgica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tratamento de eleição da PDA clássi-ca é a correção cirúrgica, através da dupla ligadura do ducto, sendo a técnica mais utilizada na maioria dos casos de PDA no paciente animal. Apesar de ser um pro-cedimento cirúrgico aberto, mais invasivo quando comparado às intervenções intra-vasculares, é corriqueiramente aplicado, pela segurança e índice de sucesso que oferece. Vale ressaltar que, apesar de a correção cirúrgica ser altamente exequível e confiável, ela deve ser realizada por equi-pe com experiência em cirurgia e anestesia torácica, com a adoção de condutas ade-quadas e atenção especial ao estado geral do paciente a fim de se evitar o surgimento de consequências desastrosas à recupe-ração/cura do mesmo e a sua sobrevida.

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Relato de Caso

COMPLICAÇÕES EM OVÁRIO-SALPINGO-HISTERECTOMIA EM CADELA

Hugo Barbosa do NASCIMENTO1*, Robério Silveira de SIQUEIRA FILHO2,Edvaldo Lopes de ALMEIDA3

RESUMO – Embora a ovário-salpingo-histerectomia (OSH) seja considerado um procedimento cirúrgico tecnicamente simples, há risco de complicações. Todos os fios de sutura são corpos estranhos ao organismo e, durante a escolha, devem ser levadas em consideração suas características físicas e a interação biológica entre o fio e o tecido animal, assim como o emprego de técnicas assépticas adequadas, para que complicações pós-operatórias sejam evitadas. Nesse trabalho, objetivou-se relatar um caso de hidronefrose secundária a uma cirurgia de ovário-salpingo-histerectomia realizada em uma cadela, consequente à reação tecidual provocada por fio de sutura de algodão. Após a ressecção dos granulomas direito e esquerdo e nefrectomia direita o animal apresentou resolução clínica. Palavras chave: fios de sutura, hidronefrose, fístula abdominal, granuloma.

COMPLICATIONS IN OVARIAN-SALPINGO-HYSTERECTOMY IN BITCH

ABSTRACT – Although ovarian salpingo-hysterectomy (OSH) is considered a technically simple surgical procedure, there are risks of complications. All sutures are foreign to the body and, during the selection it must be taken into consideration its physical and biological interaction between the thread and animal tissue, as well as the use of aseptic techniques suitable for postoperative complications are avoided. This study aimed to report a case of secondary hydronephrosis in a ovarian salpingo-hysterectomy surgery performed on a dog, consequent tecidual reaction caused by suture cotton. After the resection of right and left granulomas and right nephrectomy the animal showed clinical resolution.Keywords: suture, hydronephrosis, abdominal fistula, granuloma.

1 Medico veterinário, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Biociência Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos. CEP: 52.171-900, Recife, PE. *Autor para corres-pondência: e-mail: [email protected]

2 Médico veterinário autônomo3 Professor Associado do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom

Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos. CEP: 52.171-900, Recife, PE

INTRODUÇÃO

A ovário-salpingo-histerectomia (OSH) representa um dos procedimentos mais re-alizados pela clínica de pequenos animais, tendo por finalidade o controle da natalida-de, prevenção de cio e pseudogestação, como também, tratar afecções do trato reprodutor feminino (TROMPOWSKY et al., 2007) e, em alguns países, adicionalmente,

o método visa reduzir o número de animais submetidos à eutanásia, por possibilitar uma posterior adoção dos cães tornados inférteis (JOHNSON, 2006).

Embora a OSH seja considerado um procedimento cirúrgico tecnicamente sim-ples, há risco de complicações (POLLARI et al., 1996). As mais comuns são as he-morragias, a ligadura acidental ou trauma do ureter, a formação de fístulas, e, de gra-

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nulomas de coto uterino, ou seja, presença de tecido de granulação encontrado no pedículo ou base remanescente a excisão do útero (SANTOS et al., 2009). O processo inflamatório do coto uterino e a formação de granulomas podem ser causados por liga-duras com material de sutura inabsorvível pelo organismo animal ou à técnica conta-minada. Os granulomas de ligaduras vas-culares ovarianas apresentam os mesmos fatores etiológicos, podendo envolver os polos caudais dos rins e a região proximal dos ureteres, tendo como consequência a formação de hidronefrose, megaureter pro-ximal ao rim, além de extensas aderências (MARTINS et al., 2006).

Todos os fios de sutura são corpos estranhos ao organismo. Assim, durante a escolha, devem ser levadas em considera-ção suas características físicas e a intera-ção biológica entre o fio e o tecido animal (RAHAL et al., 1997). Os fios sintéticos ge-ralmente determinam uma fase inflamatória de curta duração. Os de origem orgânica, como algodão e seda, constituídos de pro-teínas naturais, ocasionam reação tecidual mais intensa (OKAMOTO et al., 2003). O fio de algodão multifilamentar, constituído de celulose com alto grau de absorção, facilita o acúmulo de fluídos, os quais, constituem um meio propício ao desenvolvimento mi-crobiano e as reações inflamatórias locais (SOARES et al., 2001). A utilização de diversos materiais em ligaduras durante a OSH pode levar a uma intensa reação tecidual, sendo a omentopexia a ligadura do coto uterino sugerida como o melhor procedimento para se evitar a formação de aderências em órgãos adjacentes (TROM-POWSKY et al., 2007).

A hidronefrose é uma distensão pro-

gressiva da pelve renal, seguida de atrofia do parênquima (SILVEIRA et al., 2006), devido a obstrução da pelve, que podem ter como causas, os nefrólitos, ureterólitos, as neoplasias, as doenças retroperitoneal, o traumatismo, a ligadura acidental do ureter, hérnia perineal, complicações de nefrectomia parcial ou de biopsia renal e ureter ectópico (SILVEIRA, et al., 2006; GIORDANI et al., 2008). Os sinais clínicos observados nos casos de hidronefrose são a disúria, tumoração renal, fístulas externas (TROMPOWSKY et al., 2007), peritonite supurativa difusa e desenvolvimento de choque séptico (OKAMOTO et al., 2003). Como procedimento para hidronefrose, pode-se realizar nefrectomia (SILVEIRA et al., 2006), indicada nos casos avançados, quando o rim apresenta-se repleto de líqui-do, dilatado e perdendo sua conformação (GIORDANI et al., 2008).

Nesta perspectiva, esperando-se con-tribuir com o desenvolvimento dos estudos clínicos na área de nefrologia, objetivou--se com este trabalho, relatar um caso de hidronefrose secundária a ovário-salpingo--histerectomia, em consequência à reação tecidual provocada por fio de sutura de algodão.

RELATO DO CASO

Atendeu-se no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambu-co, um canino, fêmea, sem raça definida, com 5 anos de idade, pesando 14 quilo-gramas, castrada, apresentando como queixa principal sinal de dor e fístulas na região abdominal lateral direita (Figura 1) e esquerda (Figura 2), com secreção piosanguinolenta.

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FIGURA 1 - Fístula abdominal lateral direita em cadela de 5 anos de idade, após cirurgia de OSH (seta).

FIGURA 2 - Fístula abdominal lateral esquerda em cadela de 5 anos de idade, após cirurgia de OSH (seta).

Na anamnese, o proprietário relatou que o animal foi submetido à OSH, em ser-viço público veterinário, aproximadamente há 2 anos e, que após quatro meses de realizado o procedimento, o mesmo apre-

sentou fístulas com secreções na região abdominal lateral direita e esquerda. A ul-trassonografia do abdome, realizada após o aparecimento das fístulas, evidenciou re-ação inflamatória e presença de aderências

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na região dos ureteres. Posteriormente, em clínica veterinária particular, submeteu-se o animal a duas laparotomias exploratórias em períodos diferentes, nas quais, se reti-raram granulomas de ligaduras vasculares ovarianas, observando-se a presença de fio de algodão. Após os procedimentos, observou-se uma melhora clínica do ani-mal, permanecendo, contudo, os processos fistulosos.

Finalizada a anamnese, realizou-se o exame físico do animal e solicitou-se hemograma, dosagem sérica de uréia e creatinina, bem como, ultrassonografia do abdome total. Ao exame clínico inicial, o animal apresentou mucosas róseas, hidra-tação normal, bom estado geral, temperatu-ra retal de 38,5ºC e frequência cardíaca e respiratória dentro dos parâmetros normais para a raça. Os valores hematológicos, no pré-operatório, assim como os níveis séri-cos de uréia e creatinina encontravam-se conforme parâmetros fisiológicos descritos por Viana (2007).

No exame ultrassonográfico, o rim direi-to apresentava-se em topografia habitual, aumentado de volume (7,8cm de compri-mento), com contornos regulares, perda parcial da arquitetura devido à severa dila-tação da pélvica (3,3cm) e ecogenicidade da região cortical mantida. Foi observada perda da definição cortico-medular, pela dilatação medular, observando-se ainda, estenose parcial no seguimento inicial do ureter direito, por aderência à região da ligadura vascular ovariana direita, e, nesta, observaram-se ainda, tecido inflamatório na região abdominal lateral direita e esquerda com descontinuidade da parede abdominal (fístulas) de 2,6cm de diâmetro no esquer-do e 1,7cm no direito. A interpretação dos resultados obtidos, tanto na avaliação clínica quanto nos exames complementa-res, reforçou a necessidade de adoção da laparotomia exploratória no animal.

No pré-operatório, procedeu-se punção da veia cefálica com cateter intravenoso,

mantendo a venóclise com solução de Rin-ger com lactato. Administrou-se cloridrato de tramadol (2mg/kg/IV) e diazepam (1mg/kg/IV) e indução com propofol (4mg/kg/IV). Procedeu-se intubação endotraqueal e vaporização com oxigênio 100% e iso-flurano. Procedeu-se a antissepsia da área operatória com iodopovidona tópico a 10% e, após colocarem-se os campos cirúrgicos, realizou-se a laparotomia exploratória.

Visualizaram-se aderências do omen-to, envolvendo o coto uterino, bexiga, baço e seguimentos intestinais. Verificando-se a presença de granuloma caudal ao rim di-reito (Figura 3), procedeu-se a nefrectomia e ressecção do granuloma. Nas ligações venosas e arteriais e na nefrectomia direita, utilizou-se fio categute cromado número 1. Realizou-se dupla ligação do ureter próximo à bexiga, com fio mononylon número 2-0.

FIGURA 3 - Presença de granuloma na região de ligação vascular ovariana, caudal ao rim direito de uma cadela de 5 anos de idade (seta).

No pós-operatório prescreveu-se anti-biótico (cefalexina 25mg/kg/VO/TID por dez dias) e antiinflamatório (meloxicam 0,1mg/kg/VO/SID por 7 dias). Procedeu-se o acompanhamento pós-cirúrgico e avaliação clínica durante 7 dias. Com 20 dias de rea-lização do procedimento cirúrgico, realizou--se a ressecção externa do granuloma, que se encontrava aderido à musculatura e a pele da região abdominal lateral esquerda,

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obedecendo-se aos mesmos protocolos de pré-anestesia, anestesia e terapêutica pós-operatória anteriormente emprega-dos, assim como o acompanhamento e a evolução clínica pós-cirúrgica. Finalizada a cirurgia, realizaram-se incisões no granu-loma (Figura 4) e no rim direito (Figura 5), evidenciando-se fio de sutura de algodão e perda do parênquima com dilatação da região da pelve, respectivamente.

FIGURA 4 - Presença de fio de sutura de algodão com formação de gra-nuloma de ligadura vascular, em uma cadela de 5 anos de idade (seta)

FIGURA 5 - Rim direito de uma cadela com 5 anos de idade, com perda de parênquima e dilatação da pelve renal (hidronefrose) (seta).

As suturas foram removidas 8 dias após as cirurgias. O animal retornou para avaliação 15 dias após a ressecção do granuloma direito e nefrectomia unilateral direita, apresentando melhora dos sinais dolorosos e uma regressão da fístula ab-dominal lateral direita, não apresentando secreções exsudativas. Após 15 dias de realizada a ressecção externa do granulo-ma e pele, o animal não manifestava sinais dolorosos. Depois de decorridos 4 meses dos atos cirúrgicos, evidenciou-se cicatriza-ção completa das fístulas abdominal direita (Figura 6) e esquerda (Figura 7).

FIGURA 6 - Cadela de 5 anos de idade, apresentando cicatrização completa de fístula abdominal lateral direita, 4 meses após realização de procedimentos cirúrgicos corretivos (seta).

FIGURA 7 - Cadela de 5 anos de idade, apresentando cicatrização completa de fístula abdomi-nal lateral esquerda, 4 meses após realização de procedi-mentos cirúrgicos corretivos (seta).

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DISCUSSÃO DO CASO

Joshua (1965) dissertou sobre o desen-volvimento de granulomas associando-os à contaminação do material de sutura ou a falhas cometidas durante a assepsia, o que permitiria o desenvolvimento de fístulas na região abdominal lateral e hi-dronefroses, culminando em nefrectomias, obstruções intestinais, piometra de coto e ainda complicações da ferida cirúrgica abdominal. Posteriormente, pesquisado-res (PEARSON, 1973; FINGLAND, 1998; HEDLUND, 2005; VAN GOETHEM et al., 2006) relacionaram a utilização de material de sutura multifilamentar não absorvível nas ligaduras vasculares ovarianas com o desenvolvimento de fístulas e granulomas, devido aos fios permitirem a aderência bacteriana. No presente estudo, mesmo não sendo possível assegurar que houve contaminação dos fios de sutura e demais materiais utilizados nos procedimentos ci-rúrgicos, os achados anatomopatológicos corroboram com aqueles observados nos trabalhos supracitados.

Os fios de algodão encontrados no interior dos granulomas sugerem a ocor-rência de reação inflamatória de maior in-tensidade, assim como, de reação de corpo estranho, mais pronunciada, fato relatado por Castro et al. (1974), que pesquisaram algodão, nylon e poliéster como material de sutura em ratos e observaram que o fio de algodão provocou maior reação.

Apesar da existência de aderências em segmentos intestinais, não foram evidencia-das quaisquer obstruções nesses órgãos, como as descritas por Pearson (1973). A melhora do estado clínico e do processo cicatricial demonstrou que a remoção dos fios e tecidos circundantes comprometidos, conforme descrito por Pearson (1973) e Fingland (1998), é importante para a recu-peração do paciente.

O granuloma de pedículo ovariano, de acordo com relato de Pearson (1973),

envolveram o rim e ureter proximal, promo-vendo a hidronefrose, sendo necessária a realização de nefrectomia, como preconiza-do por Fossum (2005) e Christie e Bjorling (1998).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A incidência de complicações pós OSH produzem sinais clínicos inespecíficos que surgem em poucos meses ou até em anos após a cirurgia e variam de acordo com a experiência do cirurgião, o tipo de material de sutura e a assepsia aplicados durante os procedimentos. Nessa perspectiva, faz-se necessário o correto emprego de técnicas cirúrgicas, a correta aplicação dos diferen-tes tipos de fios de sutura, assim como a assepsia adequada, para que complicações pós-operatórias sejam evitadas.

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Complicações em ovário-salpingo-histerectomia ...

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 15, no 1/2/3, p. 65 - 71 - janeiro/dezembro, 2012