ciência e trópico

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Versão atualizada do número especial sobre América Central

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  • Volu

    me

    38N

    mer

    o 1

    2014

  • Dilma RousseffPresidente da Repblica

    Jos Henrique PaimMinistro da Educao

    Fernando FreirePresidente da Fundao Joaquim Nabuco

    Paulo GustavoEditor da Editora Massangana

    EditoraAlexandrina Sobreira de Moura

    Diretoria de Pesquisas Sociais

    Conselho EditorialEsther Caldas Bertoletti

    Fundao Biblioteca Nacional e Projeto Resgate Secretaria de Articulao Institucional/Ministrio da Cultura

    Ctia LubamboFundao Joaquim Nabuco

    Joo Arriscado NunesFaculdade de Economia

    e Centro de Estudos Sociais da Universidade de CoimbraJos Paulo Chahad

    Faculdade de Economia e Administrao da USPMaria Ceclia MacDowel Santos

    Universidade de So Franscisco, Califrnia e Centro de Pesquisas Sociais da Universidade de Coimbra

    Marion AubreCentre de Recherche sur le Brsil Contemporain (CRBC)

    et no Centre dEtudes Interdisciplinaires des Falts Religieux (CEIFR) da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS - Paris)

    Otto RibasFaculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Braslia

    Sillvina CarrizoConsejo Nacional de Investigaciones Cientficas y Tcnicas (CONICET)

  • 2014, Fundao Joaquim Nabuco

    Todos os direitos reservados, proibida a reproduo por meios eletrnicos, fotogrfi-

    cos, gravao ou quaisquer outros, sem permisso por escrito da Fundao Joaquim

    Nabuco.

    E-mail: [email protected]

    http://www.fundaj.gov.br

    Pede-se permutaOn demande l change

    We ask for exchangePidese permuta

    Si richiede lo scambioMan bittet um Austausch

    Intershangho dezirata

    Reviso lingustica: Victor Hugo Torres de Souza, Esperanza Izuel, Mariana Yante B. Pereira e Juliana VitorinoTraduo: Mariana Yante B. Pereira, Flvia Farias de Oliveira, Lucas Scholl Matter, Wenerton Ferreira, Joelma Gusmo, Eugnio Xavier, Martha Hirsch, Juliana Vitorino, Lucas S. MatterDiagramao: Aline Maya/TikinetProjeto da capa: Rosngela Mesquita / Editora MassanganaIlustrao da capa: Trabalho grfico executado sobre foto de Jarra de Talavera de Puebla de mediados del siglo XIX

    Cincia & Trpico - Recife: Fundao Joaquim Nabuco

    1973 - Semestral

    Continuao do Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (v.38-1),

    1952-1971. A partir do volume 8 que corresponde ao ano de 1980, o Instituto Joaquim

    Nabuco de Pesquisas Sociais passou a se denominar Fundao Joaquim Nabuco.

    ISSN 0304-2685CDU 3: 061.6(05)

  • Cincia & Trpico Recife v. 38 n. 1 p. 1-190 jan./jun. 2014ISSN 0304-2685

    SUMRIO

    8-11 Nota Editorial

    12-19 Apresentao Presentacin

    Willy Soto ACOSTA 21-23

    24-26

    Primeiras palavras Brasil e Amrica Central: Vizinhos, mas estranhos Palabras iniciales Brasil y Centroamrica: vecinos pero extraos

    Aleksander AGUILAR 27-33

    34-41

    O massacre de el Mozote: a maldio de Marcos Diaz La masacre de el Mozote: la maldicin de Marcos Daz

    Andrs Mora RAMIREZ 42-44

    45-47

    O projeto do grande canal da NicarguaEl proyecto del gran canal de Nicaragua

    lvaro CLIX 48-50

    51-53

    O crculo vicioso Centro-americanoEl crculo vicioso Centroamericano

    Arno ARGUETA 54-57

    58-61

    Ttulos, liberdade e consumo: Protestantismo na GuatemalaTtulos, libertad y consumo: Protestantismo en Guatemala

    Amaral Palevi Gmez ARVALO

    62-65

    66-69

    A segurana e a construo da violncia nos jovens em El SalvadorLa seguridad y la construccin de la violencia entre los jvenes en El Salvador

    Carmen Elena Villacorta ZULUAGA

    70-7475-79

    No saber perderNo saber perder

  • Esteban DE GORI 80-86

    87-93

    Batalha eleitoral no Panam e o fortalecimento das direitas polticasPugna electoral en Panam y el fortalecimiento de las derechas polticas

    Juliana VITORINO 94-97

    98-101

    Crianas migrantes: drama estadunidense ou tragdia Centro-Americana?Nios migrantes: drama estadounidense o tragedia Centroamericana?

    Julieta ROSTICA 102-104

    105-107

    40 aniversrio da morte de Miguel ngel Asturias40 aniversario de la muerte de Miguel ngel Asturias

    Mercedes Elena SEOANE 108-109

    110-111

    O descobrimento da Amrica Central atravs de sua literaturaEl descubrimiento de Centroamrica a travs de sua literatura

    Rudis Yilmar Flores HERNANDEZ

    112-114

    115-117

    A luta dos movimentos sociais pelo direito gua em El SalvadorLa lucha de los movimientos sociales por el derecho al agua en El Salvador

    Saira Johanna BARRERA 118-120

    121-123

    23 Anos de (des) acordos (econmicos) de paz em El Salvador23 Aos de (des) acuerdos (econmicos) de paz en el salvador

    Cincia & Trpico Recife v. 38 n. 1 p. 1-190 jan./jun. 2014ISSN 0304-2685

  • lvaro CALIX 124-126

    127-129

    Diversificao de atores empresariais: acumulao econmica e acomodao polticaDiversificacin de actores empresariales: acumulacin econmica y acomodamientos polticos

    Andrs Mora RAMREZ 130-133

    134-136

    Pobreza e mudanas climticas: o que ocorre na amrica central?Pobreza y cambio climtico: qu pasa en centroamrica?

    Arno ARGUETA 137-141

    142-146

    Uma olhada no cinema feito na guatemala o espelho, a cultura formativa e identidadeUna ojeada al cine hecho en guatemala el espejo, cultura formativa e identidad

    Carmen Elena Villacorta ZULUAGA

    147-151

    152-156

    Repercusses de El Salvador na ColmbiaResonancias de El Salvador en Colombia

    Mercedes Elena SEOANE 157-160161-164

    Literatura, identidade e mercadoLiteratura, identidad y mercado

    Rudis Yilmar Flores HERNNDEZ

    165-167

    168-170

    Petrocaribe em El Salvador e a integrao latinoamericanaPetrocaribe en El Salvador y la integracin latinoamericana

    Willy Soto ACOSTAMara Fernanda Morales CAMACHO

    171-178

    179-186

    As razes de uma tragdia humana ou a histria feita presenteLas races de una tragedia humana o la historia hecha presente

    Cincia & Trpico Recife v. 38 n. 1 p. 1-190 jan./jun. 2014ISSN 0304-2685

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    NOTA EDITORIAL

    Os artigos includos nesta edio da Revista Cincia & Trpico foram feitos em parceria com a plataforma O ISTMO, ligada ao N-cleo de Estudos e Pesquisas Regionais do Desenvolvimento, do progra-ma de Ps-Graduao em Cincia Poltica da Universidade Federal de Pernambuco. A plataforma, que busca explanar multidisciplinarmente temas centro-americanos, traz junto a Cincia & Trpico, nesta edio, uma reunio de ensaios, anlises e artigos referentes a pesquisas sociais. Por essa razo, dialoga com a tradio da Revista e da Fundao Joa-quim Nabuco (Fundaj) em buscar intercesses temticas para discutir as questes sociopolticas concernentes aos trpicos e, em especial, na construo do elo acadmico entre Brasil e os pases latino-americanos.

    O histrico de publicaes da Fundao Joaquim Nabuco, inician-do-se pelos Boletins do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (IJNPS), revela uma tradio de interesse pela parceria com instituies internacionais. Em 1952, as parcerias foram publicadas nos Noticirios do primeiro Boletim, que expressa a articulao do Instituto com insti-tuies do Norte da frica, em razo das semelhanas polticas e socioe-conmicas da regio com Brasil, e apresenta resultados de trabalhos rea-lizados com diversas divises da Organizao das Naes Unidas, como a Unesco. Ainda nessa seo do primeiro Boletim, revela-se o que se seguiria como tradio da Fundao Joaquim Nabuco: consolidar a inter e multidisciplinaridade em nvel internacional noticiando palestras de acadmicos portugueses e franceses sobre pesquisas sociais.

    10

  • 11Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.10-13, 2014

    Nas publicaes subsequentes, encontram-se anlises de obras e publicaes de autores americanos, europeus e africanos. No tercei-ro volume, publicado em 1954, anunciado que o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais estabeleceria uma parceria com o Institut Franais dAfrique Noire e com o West African Institute of Social and Economic Research.

    Em relao a Amrica Latina, os Boletins do IJNPS trazem di-versas publicaes de artigos, anlises e notcias. Entre elas, o anncio da passagem, no Boletim de volume 12, em 1963, do socilogo alemo especialista em Amrica Latina, Helmut Schelsky, recebido pelo Insti-tuto para proferir uma palestra. No nmero anterior, volume 11 (1962), publicado um relatrio, intitulado Pesquisa Social na Amrica Latina, do pesquisador Ren Ribeiro acerca de sua participao nas confern-cias ocorridas na Cidade do Mxico no Social Science Research Cou-ncil e no XXXV Congresso Internacional de Americanistas, em 1962. Na ocasio, o pesquisador estabeleceu contato com o Centro de Investi-gaciones Sociales (CISAC), da Colmbia. Ribeiro ressalta as discusses nas conferncias que participou, apresentando tpicos como parcerias acadmicas entre universidades latino-americanas, desenvolvimento profissional em Cincias Sociais, etc. As relaes, inclusive, do Ins-tituo Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais com outras instituies de pesquisas latino-americanas data-se de anos anteriores, como dito no volume 8 do Boletim, publicado em 1958. Nele, destacam-se duas par-cerias voltadas para o aperfeioamento de acadmicos em pesquisas sociais, uma com o Centro Interamericano de Vivienda y Planeamien-to e outra com o Programa Interamericano para o Aperfeioamento de diplomados em Cincias Sociais, que contava com a administrao da Unio PanAmericana.

    O Boletim do IJNPS, na dcada de 1970, foi substitudo pela Re-vista Cincia Trpico, com ampla circulao. Em 1989, no volume 17, o ensaio de J. W. Bautista Vidal, Um espao dos Trpicos: a busca dasobrevivncia, traz uma crtica ao cenrio latino-americano, ressaltan-do as relaes econmicas, polticas, sociais e culturais entre os pasestropicais e do bloco anglo-saxo. Em 1992, destaca-se o artigo dos pes-quisadores norte-americanos David T. Geithman e Clifford E. Landers,Political and economic forces in Colombian society as reflected in theliterature of La Violencia, que traz uma anlise do impacto da violn-

  • 12 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.10-13, 2014

    cia de massa na sociedade colombiana aps a Segunda Guerra Mundial por meio das literaturas ficcionais latino-americanas, a exemplo de Ga-briel Garcia Mrquez e Alvaro Valencia Tovar.

    Por fim, distinguem-se nas recentes publicaes, entre os anos de 2011 e 2012, de trs nmeros especiais (35.1, 35.2 e 36.1) contendo 25 artigos produzidos na Quinta Escola de Vero Sul-Sul, com o tema Repensar o Desenvolvimento: Alternativas Regionais e Globais para o Desenvolvimento do Sul, realizado por meio do Programa de Cola-borao Acadmica entre frica, Amrica Latina e sia, e do ConsejoLatinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO). Nessas trs edies,dez artigos especializaram-se em tratar da Amrica Latina, discutindoparticipao governamental, em Desarrollo participativo em la socie-dad cubana actual, de Hans Carrilho Guach; direitos de imigrantes,em Ampliacin de los derechos polticos de los inmigrantes, por MariaVirgnia Bonora; poltica industrial, em Poltica industrial, la experien-cia boliviana, de Roberto Del Barco Gamarra; a agncia cultural, emDe los agentes a la agencia, de Estafana Gonzlez Vlez; desenvol-vimento socioprodutivo do Mercosul, em Los desafios de una agendaregional para ll desarrollo, de Luciano Borgoglio; cooperao regionalde mercado entre Mercosul, Alba e Unasur, em Los condicionantes he-gemnicos sobre las alternativas regionales de desarrollo en el Sul,de Victoria Mutti; anlise dos impactos socioeconmicos da polticaps-neoliberal na Amrica Latina, em Economic and social policy inpost-neoliberal Latin America, de Tara Ruttenberg; Diplomacia dosPovos, em La diplomacia de los pueblos, relaciones internacionalesalternativas desde el Sur, de Karla Daz Martnez; e anti-neoliberalis-mo, em A brief history of anti-neoliberalism in South American Politi-cal Economy and Development Paradigms in the XXI Century, de JosFrancisco Puello Socarrs.

    Pesquisadores do Consejo Nacional de Investigaciones Cient i-cas y Tcnicas (CONICET) contriburam com artigos de que exemplo La represa de Yacyret en el desarrollo energtico y territorial, de Sil-vina Carrizo e Fernando Brunstein. E, mais recentemente, o autor cuba-no Gerson Herrera Pupo, discute El papel de la Industria azucarera en la estructuracin territorial de la provincia de Camagey.

    Assim, a Fundaj e a Cincia & Trpico, com a misso de gerar conhecimento a partir de uma viso comparada internacional, apresenta

  • 13Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.10-13, 2014

    as publicaes da plataforma O ISTMO, que uma rede de centro-ame-ricanistas para informao, opinio e anlise sobre a Amrica Central. Fortalece, assim, a pesquisa terica, em que est presente a anlise das estruturas e problemas sociopolticos dos povos, das expresses cultu-rais, das identidades, da insero internacional e do desenvolvimento das sociedades na Amrica Central. Este nmero, portanto, resgata, 60 anos depois, a importncia que o antigo Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais debateu, publicou e deu visibilidade a tpicos que hoje embasam iniciativas pioneiras como a da plataforma O ISTMO.

    Alexandrina SobreiraEditora

  • 14

    APRESENTAO

    A regio que se entende como Amrica Latina mobiliza, nessas primeiras dcadas do sculo XXI, diversos e poderosos interesses eco-nmicos e polticos. Mas um pequeno istmo, em especfico, desse con-tinente, embora geograficamente inscrito no centro, situa-se num lugar perifrico tanto do sistema internacional em geral, como do espao la-tinoamericano, em particular. Paradoxalmente, ele est encravado com virtual desdm entre o hegemnico Norte e o promissor Sul do nosso vasto continente. o que chamamos Amrica Central.

    Corriqueiramente esquecido por boa parte da investigao acad-mica das Cincias Sociais, o istmo centro-americano, que o poeta Pablo Neruda denominou la dulce cintura de Amrica, conformado por sete Estados (Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicargua e Panam) com menos de 50 milhes de habitantes em pou-co mais de 500 mil km. Trata-se de uma regio marcada por uma alta complexidade histrica e por difusas e estimulantes relaes sociopo-lticas contemporneas. A Amrica Central, de povos cujas razes cul-turais, diversas e profundas, remontam s civilizaes pr-colombianas Maias, foi singularmente afetada pelo encontro colonial e particular-mente influenciada por processos recentes de ingerncias polticas ex-ternas que a levaram a ser caracterizada como um espao de convulso social.

    Em mbito mundial, a regio centro-americana foi foco de aten-o, nas ltimas dcadas, de uma gerao de acadmicos concentrados

    14

  • 15Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.14-17, 2014

    em problemas relacionados principalmente com as causas e consequn-cias dos conflitos armados e dos desafios da transio democracia. Hoje, contudo, para os centro-americanistas, existem novos interesses na regio tais como migraes, violncia, narcotrfico e crime orga-nizado, desenvolvimento econmico, relaes internacionais que am-pliam os desafios das Cincias Sociais na reflexo contextual de temas transterritoriais. Os novos temas motivam a abertura do debate sobre o estado atual da pesquisa sobre a Amrica Central, sobre os problemas e respostas, sobre teorias e mtodos a serem organizados para responder complexidade da sociedade e da poltica da regio no mundo global.

    Designada por uma espcie de destino geogrfico, uma das espe-cificidades desse istmo no contexto latino-americano justamente a de uma regio de trnsito entre os dois oceanos, posio que marcou sua histria no passado e lhe influencia no presente, dando-lhe peso geopo-ltico e caractersticas identitrias que a colocam em condies parti-culares para converter-se em um mbito que merece anlise especifica.

    A Amrica Central, no entanto, no se limita a um destino geogrfico. A realidade sociopoltica da regio, hoje, debate-se entre a afirmao do neocolonialismo e a reao a este. Por um lado, a condio neocolonial afirma-se atravs dos modelos hegemnicos de desenvolvimento de corte neoliberal e capitaneados por uma agenda geopoltica agressiva dos Estados Unidos, que pressionar por um assimtrico livre comrcio e uma ampla abertura a investimentos estrangeiros diretos. Por outro, temos as reaes ao neocolonial por tendncias expressas em projetos no hegemnicos que buscam a construo de uma nova arquitetura de integrao baseada na comple-mentaridade entre os pases latino-americanos. Aqui, pode-se situar os impulsos do Brasil sobretudo na gesto de Lula, com suas polticas de liderana sem hegemonia e de cooperao sul-sul aos centro-ameri-canos e da China, que avassaladoramente vem inundando a Amrica Latina, em geral, e a Amrica Central em especfico, de investimentos financeiros e commodities de baixo custo.

    Outrora, o interesse acadmico no istmo se baseou nos conflitos armados e na transio para a democracia. Mais de vinte anos depois de findados esses conflitos, queremos contribuir para a anlise e entendi-mento de uma regio que se v diante da necessidade de encarar velhos, novos e renovados dilemas e que exigem uma abordagem macrossocial

  • 16 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.14-17, 2014

    e transterritorial, visto que os destinos da regio somente podem ser pensados com relaes ao ambiente social, econmico e poltico mais amplo. Queremos abordar a Amrica Central contempornea sem dei-xar escapar temas que esto na ordem do dia, resultados das novas con-figuraes sociopolticas no istmo. Pensamos em particular naqueles te-mas que tm a ver com a guinada ao centro e esquerda da maioria dos pases do bloco centro-americano, a partir de 2004, num contexto no qual no se pode relevar a influncia das relaes econmicas, polticas e estratgicas com os Estados Unidos. Aquele ano marcou o incio de uma srie de governos que procuraram romper com o neocolonialismo mediante a afirmao de polticas voltadas para um maior grau de auto-nomia, autodeterminao e soberania nas suas relaes com os Estados Unidos e com outros pases do chamado Sul Global.

    Enganam-se os que pensam que a realidade centro-americana apenas interessa aos centro-americanos. Em uma perspectiva antico-lonial, adotamos que o que acontece naquela regio interessa a todo continente e tambm ao Brasil e aos brasileiros. Nessa direo, h um esforo de pesquisadores nordestinos de colaborarem para a criao do Instituto da Amrica Latina (IAL) da Universidade Federal de Pernam-buco (UFPE), com vistas a agregar pesquisadores e recursos de modo a contribuir para renovar as reflexes latino-americanistas na UFPE e em instituies acadmicas renomadas na regio, como a Fundao Joa-quim Nabuco de Pesquisas Sociais (Fundaj). Nesse sentido, a organiza-o deste nmero especial da Revista Cincia & Trpico, editada pela Fundaj, contribui para o estreitamento dos esforos de pesquisadores e instituies comprometidos com os estudos centro-americanistas. Acre-ditamos na ampliao do entendimento de que entre o Norte e o Sul, est o Centro! E esse Centro precisa ser visto, conhecido, problematiza-do, questionado e compreendido pela academia brasileira.

    Neste nmero especial, seguimos uma frmula distinta: uma s-rie de artigos curtos, contribuies de professores, pesquisadores e aca-dmicos de diversos pases da Amrica Latina que conformam a rede O Istmo (www.oistmo.com), iniciativa dos doutorandos da UFPE, es-pecializada em temas centro-americanos e que hoje integra o Instituto da Amrica Latina. So artigos que buscam fazer uma aproximao ao variado repertrio de eventos e fatos histricos, polticos e sociais que, acreditamos, fazem parte dessa contemporaneidade centro-americana

  • 17Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.14-17, 2014

    a qual nos referimos. Era necessrio que, ao olhar a Amrica Central, pudssemos enxergar a multiplicidade de novos temas que conformam essa fotografia atualizada das realidades desses pases no sistema inter-nacional atual.

    Recife, 30 de maro de 2015.

    Paulo Henrique Martins Coordenador do Instituto da Amrica Latina (Universidade Federal de Pernambuco UFPE).

    Aleksander Aguilar, Juliana Vitorino e Mariana Yante membros pesquisadores do Instituto da Amrica Latina (UFPE).

  • 18

    PRESENTACIN

    La regin que llamamos Latinoamrica moviliza en estas prime-ras dcadas del siglo XXI diversos y poderosos intereses econmicos y polticos. Pero un pequeo istmo de este continente, aunque geogrfi-camente circunscripto en el centro, se ubica en un sitio perifrico tanto en el sistema internacional, en general, como en el espacio latinoameri-cano, en especfico. Como paradoja, est clavado con virtual desinters entre el hegemnico Norte y el promisor Sur de nuestro enorme conti-nente. Es lo que llamamos Amrica Central.

    A menudo olvidado por gran parte de la investigacin acadmica de las ciencias sociales, el istmo centroamericano, aqul que el poeta Pablo Neruda llam la dulce cintura de Amrica, est conformado por siete Estados (Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Hondu-ras, Nicargua y Panam), tiene menos que 50 millones de habitantes que viven en poco ms de 500 mil km. Se trata de una regin marcada por una alta complejidad histrica y por difusas y estimulantes relacio-nes sociopolticas contemporneas. La Centroamrica de pueblos cuyas races culturales diversas y profundas, que remontan a las civilizacio-nes precolombinas mayas, fue intensamente afectada por el encuentro colonial y es particularmente influenciada por los procesos recientes de injerencias polticas externas que la llevaron a caracterizarse como un espacio de convulsin social.

    En mbito mundial, la regin centroamericana ha sido foco de atencin, en las ltimas dcadas, de una generacin de acadmicos con-

    18

  • 19Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.18-21, 2014

    centrados en problemas relacionados principalmente con las causas y consecuencias de los conflictos armados y los desafos de la transicin a la democracia. Sin embargo, hoy existen nuevos intereses para los centroamericanistas la migracin, la violencia, el narcotrfico y el cri-men organizado, el desarrollo econmico y las relaciones internaciona-les que aumentan los desafos de las ciencias sociales en la reflexin contextual de temas transterritoriales. Estos nuevos temas motivan la apertura del debate sobre el estado actual de la investigacin sobre Cen-troamrica, sobre los problemas y respuestas, sobre teoras y mtodos que respondan a la complejidad de la sociedad y de la poltica de la regin en el mundo global.

    Designada por una especie de destino geogrfico, una de las especificidades de este istmo, en el contexto latinoamericano, es jus-tamente la de una regin de trnsito entre dos ocanos, posicin que marc su historia en el pasado y influencia en el tiempo presente, re-galndole peso geopoltico y caractersticas identitrias que le ponen en condiciones particulares para convertirse en un mbito que merece anlisis especfica.

    Pero Centroamrica no es apenas un lmite geogrfico. La reali-dad sociopoltica de la regin est comprendida entre la afirmacin de un neocolonialismo y la reaccin a este neocolonialismo. De un lado, la condicin neocolonial se afirma a travs de modelos hegemnicos de desarrollo con corte neoliberal y capitaneados por una agenda geopol-tica agresiva de los Estados Unidos que presiona por un asimtrico libre comercio y amplia apertura a inversiones extranjeras directas. De otro lado, tenemos las reacciones al neocolonialismo a partir de tendencias expresadas en proyectos no hegemnicos que buscan la construccin de una nueva arquitectura de integracin basada en la complementariedad entre los pases latino-americanos. Aqu, podemos ubicar los impulsos de Brasil, sobre todo en los gobiernos de Lula con sus polticas de liderazgo sin hegemona y de cooperacin sur-sur hacia los centroa-mericanos y de China, que avasalladoramente est inundando Lati-noamrica, en general, y Centroamrica, en especfico, de inversiones financieras y commodities de bajo coste.

    En otros tiempos, el inters acadmico en el istmo se bas en los conflictos armados y en la transicin a la democracia. Ms de veinte aos despus de terminados estos conflictos, queremos contribuir para

  • 20 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.18-21, 2014

    el anlisis y el entendimiento de una regin que se ve delante de la necesidad de encarar viejos, nuevos y renovados dilemas y que exigen un abordaje macrosocial y transterritorial, una vez que los destinos de la regin solamente pueden ser pensados si relacionados al ambien-te social, econmico y poltico ms amplio. Queremos abordar esta Centroamrica contempornea sin dejar escapar temas que estn en la agenda actual, resultados de nuevas configuraciones sociopolticas en el istmo. Pensamos en particular en aquellos temas que tienen que ver con el vuelco de centro-izquierdas en la mayora de los pases del bloque centroamericano a partir del 2004, en un contexto en que no se puede relevar la influencia de las relaciones econmicas, polticas y estrat-gicas con Estados Unidos. El ao de 2004 marc el inicio de una serie de gobiernos que buscaron romper con el neocolonialismo mediante la afirmacin de polticas que cobraban mayores grados de autonoma, autodeterminacin y soberana en sus relaciones con Estados Unidos y otros pases del denominado Sur Global.

    Se equivocan los que piensan que la realidad centroamericana interesa apenas a los centroamericanos. A partir de una perspectiva an-ticolonial, asumimos que lo que pasa en aquella regin interesa a todo el continente y tambin a Brasil y los brasileos. En este sentido, existe un esfuerzo de investigadores del noreste de Brasil de colaboraren para la creacin del Instituto da Amrica Latina (IAL) de la Universidad Federal de Pernambuco (UFPE), con vistas a agregar investigadores y recursos para contribuir en la renovacin acerca de las reflexiones latinoamericanistas en la UFPE y en instituciones acadmicas presti-giosas, como es la Fundao Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (Fundaj). De esta forma, la organizacin de este nmero especial de la Revista Cincia & Trpico, editada por la Fundaj, contribuye para el estrechamiento de los esfuerzos de investigadores e instituciones com-prometidos con los estudios centroamericanistas. Creemos en la am-pliacin del entendimiento de que entre en Norte y el Sur est el Centro. Y este Centro necesita ser visto, conocido, problematizado, cuestionado y comprendido por la academia brasilea.

    En este nmero especial de la Revista Cincia & Trpico segui-mos una frmula distinta: una serie de artculos cortos, contribuciones de profesores, investigadores y acadmicos de diversos pases de Am-rica Latina que conforman la red O Istmo (www.oistmo.com), iniciativa

  • 21Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.18-21, 2014

    de doctorandos de la UFPE, especializada en temas centroamericanos y que hoy integra el Instituto da Amrica Latina. Son artculos que pretenden un acercamiento al variado repertorio de eventos y hechos histricos, polticos y sociales que, creemos, son parte de la contempo-raneidad centroamericana. Era necesario que al mirar Centroamrica, pudiramos ver la multiplicidad de nuevos temas que conforman esa fotografa actualizada de las realidades de estos pases en el sistema internacional actual.

    Recife, 30 de marzo de 2015.

    Paulo Henrique Martins Coordenador del Instituto da Amrica Latina (Universidade Federal de Pernambuco UFPE).

    Aleksander Aguilar, Juliana Vitorino y Mariana Yante membros pesquisadores del Instituto da Amrica Latina (UFPE).

  • ARTIGOS

  • 23

    ARTIGOS

    PRIMEIRAS PALAVRAS First words

    BRASIL E AMRICA CENTRAL: VIZINHOS, MAS ESTRANHOS1

    Brazil and Central America: Unknown neighbours

    Willy Soto Acosta*2

    um lugar comum dizer que a histria da Amrica Central, aps a segunda metade do sculo XIX, tem sido influenciada, na maior parte das vezes de maneira negativa, pelos Estados Unidos da Amrica. Outra trivialidade expressar que desde a independncia dessa regio da Espanha, em 1821, no se cessaram esforos integracionistas que coexistem com fortes sentimentos nacionalistas/localistas que freiam o avano unionista.

    Faz-se necessrio reconhecer, tambm, que, nos ltimos tempos, a integrao centro-americana toma um novo impulso, qui no tanto pela irmandade, mas devido a um reconhecimento realista e pragmti-co de que necessrio um bloco regional para fazer frente s ameaas emergentes (crime organizado, efeitos do Cmbio Climtico, pobreza extrema, fenmenos transnacionais etc.). A expresso pejorativa, mas parcialmente vlida, de Estados falidos reflete essa situao de impo-tncia em face de fenmenos que excedem as capacidades reais desses pases. A realidade transnacional se impe insistentemente ante os ima-ginrios local-nacionais. O outrora Estado dono e senhor de tudo se v no espelho e descobre como envelhece cada vez mais rpido!

    1 Traduo de Mariana Yante B. Pereira.* Licenciado em Cincia Poltica e Mestre em Sociologia pela Universidad de

    Costa Rica. Possui especializao em Estudos Polticos e doutorado em Cincia Poltica pela Universit de Droit, d Economie et des Sciences d Aix-Marseille. Professor de graduao em Relaes Internacionais e do programa de doutorado em Estudos Latino-americanos da Universidad Nacional de Costa Rica (Heredia).

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  • 24 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.23-25, 2014

    Primeiras palavras

    Nem tudo solido para nossa regio. Seu irmo mais velho, o Mxico, h muitas dcadas olha em direo a seu Sul a Amrica Central. Na poca dourada da poltica externa mexicana latino-ame-ricanista e terceiro-mundista, o fazia como um desplante em relao ao Imprio do Norte (Pobre Mxico, to longe de Deus e to prxi-mos dos Estados Unidos!). Ou devemos recordar a bofetada que o Mxico deferiu na cara estadunidense quando, em 1981, no melhor da Guerra Fria, teve o tup juntamente com o governo socialista francs de reconhecer a guerrilha salvadorenha como fora pol-tica representativa? Depois de tal insolncia, a atitude mexicana tem oscilado entre ser um representante e intermedirio em termos comerciais e polticos dos interesses norte-americanos no Istmo e sua nostalgia de voltar a seus tempos de juventude de uma poltica externa independente.

    Esta relao complexa asteca-centro-americana adquire uma nova dimenso com o ressurgimento da identidade latino-americana que produz o socialismo do Sculo XXI, originado na Amrica do Sul, principalmente na Venezuela, com Hugo Chvez. Qui a conden-sao de tudo isso seja a constituio da Comunidade de Estados Lati-no-americanos e Caribenhos (CELAC), em 2010. A partir de ento, este fenmeno vai impregnar o curso das relaes entre Mxico e Amrica Central, e entre estes pases e os Estados Unidos.

    O fortalecimento de uma identidade latino-americana coincide com outro fato no menos importante: o surgimento do Brasil como um BRICS, como uma potncia emergente. Mas, para a Amrica Latina, este novo papel de seu vizinho sul-americano serviria de muito pouco se o Brasil replica o modelo estadunidense de potncia, ou seja, de con-trolar e dominar econmica e politicamente o Istmo.

    Resulta bvio que o interesse nacional brasileiro exercer sua hegemonia em seus crculos mais prximos: os outros BRICS, o MER-COSUL e o resto dos pases da Amrica do Sul. No entanto, esse con-texto da CELAC, da Amrica Central e do Caribe esperaria uma lide-rana brasileira baseada na cooperao Sul-Sul.

    Da mesma forma, a Amrica Central tem um grande objetivo: saber gerir suas relaes com o Brasil e, em menor medida, com o Mxico para diminuir seu tradicional vnculo assimtrico com os

  • 25Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.23-25, 2014

    Willy Soto Acosta

    Estados Unidos. Isso mesmo se aplica China: a crescente presena do gigante asitico na regio centro-americana uma carta que se deve utilizar astutamente.

    Este novo contexto uma oportunidade nica e promissora para que estes dois vizinhos deixem de ser estranhos e comecem a entabular fortes laos de cooperao. Cada um dos dois Brasil e Amrica Cen-tral tem muito a dar e muito que aprender do outro.

  • 26PALABRAS INICIALES

    First words

    BRASIL Y CENTROAMRICA: VECINOS PERO EXTRAOS

    Brazil and Central America: Unknown neighbours

    Willy Soto Acosta*1

    Es un lugar comn decir que la historia de Centroamrica, des-pus de la segunda mitad del Siglo XIX, ha estado influenciada, la mayor parte de las veces de manera negativa, por los Estados Unidos de Amrica. Otra Verdad de Perogrullo es expresar que desde la Inde-pendencia de esta regin de Espaa en 1821, no han cesado esfuerzos integracionistas que coexisten con fuertes sentimientos nacionalistas/localistas que frenan el avance unionista.

    Hay que reconocer tambin que en los ltimos lustros la integra-cin centroamericana toma un nuevo impulso, quizs no tanto por her-mandad sino por un reconocimiento realista y pragmtico de que es ne-cesario un bloque regional para hacer frente a las amenazas emergentes (crimen organizado, efectos del Cambio Climtico, pobreza extrema, fenmenos transnacionales, etc.). La expresin peyorativa pero parcial-mente vlida de Estados fallidos, refleja esta situacin de impotencia ante fenmenos que desbordan las capacidades reales de estos pases. La realidad transnacional se impone tercamente ante los imaginarios local-nacionales. El otrora Estado dueo y seor de todo se mira en el espejo y descubre como envejece cada vez ms rpido!

    * Licenciado en Ciencia Poltica e Maestra en Sociologa en la Universidad de Cos-ta Rica. Tiene especializacin em Estudios Polticos e doctorado em Ciencia Pol-tica pela Universit de Droit, d Economie et des Sciences d Aix-Marseille. Profe-sor de graduacin em Relaciones Internacionales e do programa de doctorado em Estudios Latino-americanos da Universidad Nacional de Costa Rica (Heredia).

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  • 27Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.26-28, 2014

    Willy Soto Acosta

    No todo es soledad para nuestra regin. Su hermano mayor, Mxico, desde hace muchas dcadas mira hacia su Sur, Centroamrica. En la poca dorada de la poltica exterior mexicana latinoamericanista y tercermundista, lo haca como un desplante hacia el Imperio del Norte (Pobre Mxico, tan lejos de Dios y tan cerca de los Estados Uni-dos!). O debemos recordar la bofetada que Mxico propin en la cara estadounidense cuando en 1981, en lo mejor de la Guerra Fra, tuvo el tup junto con el gobierno socialista francs- de reconocer a la guerri-lla salvadorea como fuerza poltica representativa? Despus de tal insolencia, la actitud mexicana ha oscilado entre ser un representante e intermediario en trminos comerciales y polticos- de los intereses norteamericanos en el Istmo y su aoranza de volver a su tiempos mo-zos de una poltica exterior independiente.

    Esta relacin compleja azteca-centroamericana adquiere una nueva dimensin con el resurgimiento de la identidad latinoamericana que produce el socialismo del Siglo XXI originado en Sudamrica, principalmente en Venezuela con Hugo Chvez. Quizs la conden-sacin de todo esto sea la constitucin de la Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeos (CELAC) en el 2010. En adelante este fenmeno va a impregnar el curso de las relaciones entre Mxico y Centroamrica y entre esos pases y los Estados Unidos.

    El fortalecimiento de una identidad latinoamericana coincide con otro hecho no menos importante: el surgimiento de Brasil como un BRICS, como una potencia emergente. Pero para Centroamrica este nuevo papel de su vecino sudamericano servira de muy poco si Brasil replica el modelo estadounidense de potencia, es decir, de controlar y dominar econmica y polticamente al Istmo.

    Resulta obvio que el inters nacional brasileo es ejercer su he-gemona en sus crculos ms cercanos: los otros BRCICS, el MER-COSUR y el resto de pases de Sudamrica. Pero en el contexto de la CELAC, Centroamrica y el Caribe esperaran un liderazgo brasileo basado en la cooperacin Sur-Sur.

    Igualmente Centroamrica tiene un gran reto: saber gestionar sus relaciones con Brasil y en menor medida con Mxico- para dismi-nuir su tradicional nexo asimtrico con Estados Unidos. Esto mismo se aplica a China: la creciente presencia del gigante asitico en la regin centroamericana es una carta que se debe utilizar astutamente.

  • 28 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.26-28, 2014

    Palabras iniciales

    Este nuevo contexto es una oportunidad nica y prometedora para que estos dos vecinos dejen de ser extraos y comiencen a entablar fuertes lazos de cooperacin. Cada uno de los dos Brasil y Centroa-mrica- tiene mucho que dar y mucho que aprender del otro.

  • 29O MASSACRE DE EL MOZOTE:

    a maldio de Marcos Diaz1

    THE MASSACRE IN EL MOZOTE: the Marcos Diazs curse

    Aleksander Aguilar*2

    1 INTRODUO

    O episdio ocorrido em El Mozote, em El Salvador, em 11 de de-zembro de 1981, um dos maiores massacres cometidos contra civis na histria recente da Amrica Latina, com pelo menos o dobro de vtimas que My Lai, e qui levado a cabo com mais requintes de crueldade do que o da vergonha, mundialmente famosa, promovida na aldeia vietna-mita pelos Estados Unidos durante a guerra, nos anos 1960.

    O famigerado ex-batalho Atlacatl do exrcito salvadorenho, numa tentativa desesperada de conter o brote revolucionrio no pas no incio dos anos 1980, aterrorizou e assassinou quase 1.200 civis pacfi-cos, incluindo idosos, mulheres e crianas de colo. A misso do Atlacatl, financiada e treinada pelos Estados Unidos, era colocar em prtica as medidas necessrias para operaes conhecidas como tierra arrasada ou, no jargo do prprio exrcito na poca, secar o rio para evitar que os peixes cresam. Contudo, para muitos salvadorenhos, especialmente os da gerao que nasceu depois da guerra que durou oficialmente entre 1980-1992, El Mozote distante, no tempo e tambm no espao, apesar do cenrio da matana estar a menos de 300 km da capital, San Salvador.

    Essa a ironia da recente e obscura histria salvadorenha. El pul-garcito de America (o pequeno polegar da Amrica, como foi apelidado

    1 Este texto foi publicado originalmente na verso impressa do jornal Brasil de Fato em 27 de maio de 2011. Revisado e atualizado para publicao no stio eletrnico de O Istmo por ocasio do aniversrio de 33 anos da tragdia.

    * Jornalista e linguista, doutorando em Cincia Poltica, membro do Instituto da Amrica Latina e coordenador da rede O ISTMO.

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  • 30 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.29-35, 2014

    O massacre de el Mozote:

    o pas pela escritora Gabriela Mistral) tambm quer virar pginas de dor. Mas punir os criminosos, rechaar a impunidade e manter viva a memria nem sempre foi e muitas vezes no entendida como a prova sria dessa disposio. O Pas continua ignorando-se e sendo ignorado. Setores da sociedade, aqueles que estiveram envolvidos com massacres, esquadres da morte e desaparecimentos, querem incentivar o esquecimento em lugar da tomada de conscincia crtica, e isso faz com que, como nao, o lugar se mantenha olvidado.

    Em nvel latino-americano, essa invisibilidade e desmemoria igualmente latente. Brasileiros, particularmente, tambm tendem a co-nhecer mais da simblica histria de My Lai do que sobre os fenmenos e dores, com semelhana de carter e motivaes, que nosso continente sofreu. No temos a menor ideia do que foi o El Mozote. A Amrica Central toda, e quase sempre, no vista no senso comum mais do que como um pedao de terra entre o sul e o imprio onde houve guerras, h vulces e terremotos e nem nos envergonhamos dessa grotesca e absur-damente rasa percepo que temos da nossa prpria geografia e histria.

    2 PARA CHEGAR AO EL MOZOTE

    Sem veculo prprio como acontece em muitos destinos de El Salvador o acesso no muito simples, embora as estradas hoje em dia sejam bastante razoveis. A falta de um sistema de transporte pbli-co decente no pas faz com que a viagem seja uma jornada.

    Samos no incio da tarde do deprimente Terminal do Oriente de San Salvador com destino cidade de San Miguel, de onde se toma outro nibus. Ao chegar a, pouco depois das cinco horas, j no h transporte at a famosa Perquin, (cidadela que foi o centro do controle guerrilheiro na regio nos anos 1980), com exceo das populares tra-seiras de camionetes em uma viagem de duas horas at outro lugarejo histrico, Francisco Gotera, para da pegar outra pick-up. Para evitar estar na estrada ao anoitecer, decidimos passar a noite em San Miguel para seguir s seis da manh seguinte.

    No outro dia, depois de mais trs horas em outro precrio nibus, chegamos ao lugar onde est o Museu da Revoluo Salvadorenha, um pequeno e humilde prdio, organizado pelos prprios ex-combatentes que ainda vivem na regio, que abriga um verdadeiro arquivo histrico: armas usadas na guerra, cartazes da Frente Farabundo Mart Libera-

  • 31Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.29-35, 2014

    Aleksander Aguilar

    cin Nacional (FMLN) e de organizaes internacionais em solidarie-dade ex-guerrilha, fotos de homens e mulheres que lutaram na revo-luo, cascos de bombas de 500 libras do arsenal norte-americano que eram despejados pelo exrcito de El Salvador (financiado pelos Estados Unidos na sua poltica de contrainsurgncia e intervencionista), e at os carros utilizados por dois dos cinco comandantes do FMLN durante a guerra, Schafik Handal e Joaquin VillaLobos.

    Visitamos o museu pela manh com o objetivo de ir ao El Mo-zote pela tarde, mas depois das 13h j no h nem pick-ups que passem pelo desvio de Arambala, que d acesso ao local, de onde temos que to-mar outro nibus para, por fim, chegar ao cenrio do massacre. Assim, logo de buscar hospedagem em Perquin para mais uma noite, foi apenas na manh seguinte que conseguimos chegar a El Mozote.

    Uma minscula vila, entrada nas montanhas da parte norte-o-riental do Pas, quase na fronteira com Honduras. Hoje, o vilarejo no deve ser muito diferente do El Mozote do incio dos anos 80, a no ser pela presena de um monumento memria do massacre e pelo simptico e singular posto de informao turstica em frente igreja. Alguns minutos depois de descermos do nibus com mo-chilas e caras de turista no meio da silenciosa e polvorenta vila, uma jovem se aproxima disposta a nos contar a histria. Ao redor, s se v uma dzia de residncias; a igreja; o passo eventual de uma criana ou adolescente de bicicleta; dois ou trs homens, depois da cerca, com lenha ou apetrechos de trabalho agrcola nas costas; al-guns cachorros famintos perambulando; um poo pintado de branco de onde se ergue um alto bambu com uma bandeira vermelha do FMLN no topo, e uma pequena mercearia de onde nos observa uma curiosa senhora.

    Estamos em frente diminuta praa onde est o monumento memria do massacre e que guarda os restos mortais de um milhar de pessoas assassinadas. ali, em frente quela placa de metal recortada na forma da silhueta de uma famlia, colocada em frente a um muro de tijolos com os nomes das vtimas, que ouvimos a humilde guia tursti-ca do El Mozote relatar a triste histria da miservel vila e recorrer os lugares exatos das execues, dos escombros das casas que resistiram aos incndios provocados pelos soldados para esconder a vergonha da barbrie ali cometida.

  • 32 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.29-35, 2014

    O massacre de el Mozote:

    3 VERGONHA ESCONDIDA

    Durante onze anos uma mulher, Rufina Amaya Marquez, foi dian-te de todo o mundo a nica testemunha do massacre, mas pouca gente lhe dava crdito. Ela foi a nica pessoa que, milagrosa e bravamen-te, sobreviveu asquerosa operao Yunque y Martillo do famigerado Batalho Atlacatl do exrcito salvadorenho no dia 11 de dezembro de 1981, quando foi executada toda a populao de El Mozote e arredores.

    At outubro de 1992, ano em que a guerra civil de pelo menos doze anos em El Salvador por fim havia terminado, Washington teve sucesso em manter o crime em segredo; enterrado entre mais de mil cadveres no extremo oriente do pas.

    Rufina, que viu seu marido e quatro filhos (um deles de oito me-ses de idade, que lhe foi arrancado do peito) serem assassinados, con-seguiu, com uma extraordinria fora psicolgica, contar a histria ao mundo. Seu relato, verificado in loco por jornalistas norte-americanos, foi manchete do The Washington Post e do The New York Times, aps a legendria Radio Venceremos (rgo oficial de comunicao da guerrilha) ter denunciado o massacre. Porm a Casa Branca, que, naquele momento, comeo de 1982, debatia se manteria ou no mais apoio para o governo ditatorial salvadorenho combater a guerrilha, precisava desacreditar a histria que, no perodo intrincado da Guerra Fria, deixava o Pas entre o dilema de manter a segurana nacional e o suposto respeito aos direitos humanos (j que os polticos americanos estavam cientes do nvel de violncia em El Salvador) que os Estados Unidos julgavam, e julgam, exercer.

    4 SECAR O RIO

    No dia primeiro de dezembro de 1981, a guerrilha foi informada de que havia sido confirmado um operativo militar de grande enverga-dura na regio. O governo salvadorenho queria resgatar a regio de Morazn das mos dos guerrilheiros que tinham o controle poltico no oriente do pas. Os oficiais temiam que se a guerrilha no fosse retirada de Morazn, o Pas, o menor de todo o continente Americano, com ape-nas 21 mil km quadrados, pudesse terminar dividido em dois.

    O batalho Atlacatl, treinado pelo carismtico e truculento co-ronel Domingos Monterrosa (homem de confiana dos norte-america-

  • 33Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.29-35, 2014

    Aleksander Aguilar

    nos) era uma classe diferente da maioria dos soldados salvadorenhos. Eram mais ferozes, mais profissionais e muito melhor equipados. Sem-pre com dinheiro e estrutura norte-americana. Nesse perodo, os EUA haviam dado um passo a frente no financiamento da guerra, mas no estavam dispostos a envolver seus soldados diretamente, j que o Pas ainda estava sob a ressaca histrica do Vietn.

    O El Mozote estava dentro da zona controlada pela guerrilha, mas os rebeldes no eram capazes de oferecer aos civis suficiente pro-teo. Em uma operao do exrcito de grande porte, a populao civil tambm tinha que fugir. Mas a populao do El Mozote, no incio da-quele dezembro, decidiu ficar.

    5 A MALDIO

    Como em muitas outras comunidades do Departamento de Mo-razn, a populao se esforava em manter-se neutra durante a guerra e muitas vezes, de fato, tinha medo da guerrilha. Contudo, a confiana no exrcito, e em Marcos Diaz, contribuiu para levar todo o vilarejo morte.

    A narrativa do livro Vagalumes no El Mozote (traduo livre do espanhol), publicado em El Salvador pelo Museu da Palavra e da Imagem (MUPI), com relatos da histria feitos por Santiago quem havia sido o responsvel pela legendria Radio Venceremos (cujo nome real Carlos Henrique Consalvi, atual diretor do MUPI) , pelo jorna-lista norte-americano Mark Danner e pela prpria Rufina Amaya, ex-plicita os fatos. Marcos Diaz, dono da nica mercearia da comunidade, organizou uma plenria em frente a sua casa no incio de dezembro de 81. Ele contou aos moradores o que lhe haviam dito em San Miguel, onde ele fazia as compras para abastecer sua lojinha.

    Um oficial do exrcito lhe garantiu que, apesar de a operao mili-tar estar realmente dirigindo-se ao El Mozote, o melhor a fazer era ficar na vila e permanecer nas casas para no correr o risco de que os soldados os confundissem com guerrilheiros em retirada. Marcos Diaz confiou na sua fonte no exrcito, e a populao do El Mozote confiou em Marcos Diaz.

    A maioria ficou na vila, sabendo que o exrcito se aproximava, mas confiantes de que, por no serem colaboradores da guerrilha, nada de mal lhes ocorreria. A certeza converteu-se em decepo e morte e, para Marcos Diaz, em uma maldio. O batalho Atlacatl estava ali para levar a cabo uma estratgia poltica-civil organizada. E milhares foram assassinados.

  • 34 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.29-35, 2014

    O massacre de el Mozote:

    Oficialmente, a misso era aniquilar a Radio Venceremos. A r-dio da guerrilha era a obsesso do coronel Monterrosa, que no admitia e se enfurecia com a sua existncia. O Atlacatl foi ao norte de Morazan, com destino a Guacamaya, onde de fato foi um dos lugares de funciona-mento da emissora. Porm a inteligncia da guerrilha j havia tomado conhecimento do operativo, e o coletivo da rdio partiu do acampamen-to muito antes da chegada do exrcito. Durante seu trajeto a Guacama-ya, o Atlacatl aterrorizou e assassinou em Perquin, em Torilas e no El Mozote finalizou sua misso de barbrie.

    Vagalumes no El Mozote relata que o batalho levou dois dias para cumprir o que se pode chamar de ritual. A populao foi dividida entre homens, mulheres e crianas; cada grupo encerrado em uma casa da comunidade. Os homens, que estavam na igreja, foram os primeiros. Foram levados em pequenos grupos atrs do prdio e metralhados, e os que ficavam agonizando eram decapitados. As cabeas, cujos crnios foram encontrados anos mais tarde, foram amontoadas perto da sacris-tia. Pouco depois foi a vez das mulheres. Os soldados selecionavam as mais jovens e as arrastavam para os cerros nos arredores. As outras ou-viam os gritos das que estavam sendo estupradas. Depois, os soldados voltaram s casas e comearam a separar as mes dos filhos. Grupos de mulheres eram levados execuo na pequena praa da vila, e a casa aos poucos se enchia de rfos aos prantos. Os soldados do Atlacatl por fim terminaram sua misso, matando todas as crianas do El Mozote.

    Rufina Amaya assistia a todo o repugnante ritual escondida atrs de um p de ma, que ainda existe no El Mozote reconstrudo. Quando enfileiravam as mulheres na praa, ela, que estava ao final de um dos gru-pos, aproveitou a distrao do soldado em meio ao alarido de desespero e se arrastou por baixo de uma cerca, escondendo-se atrs da arvore onde permaneceu por todo um dia e toda uma noite. Ela faleceu em 2007, mas deixou registrado no livro publicado pelo MUPI o seguinte depoimento:

    Yo no saba qu hacer. Estaban matando a mis hijos. Saba que se regresaba all me haran pedazos, pero no poda resistir es-cuchar los gritos de mis hijos. No poda soportarlo. Tena miedo de llorar ruidosamente. Pens que iba a gritar, que me iba a vol-ver loca. No poda soportarlo y suplicaba a Dios que me ayu-dara. Le promet que si l me ayudaba, yo le contara al mundo lo que haba ocurrido aqu. Despus me amarre el cabello y la falda entre las piernas y me arrastre sobre el estmago detrs del

  • 35Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.29-35, 2014

    Aleksander Aguilar

    rbol. All haba animales. Unas vacas y un perro me vieron e yo tuve miedo de que hicieran algn ruido, pero Dios hizo que es-tuvieran silenciosos. Me arrastre entre ellos. Cruce la calle bajo un cero de pas y cruce entre las plantas de maguey hacia el otro lado. Me arrastre lejos a travs de las espinas. Cav un pequeo hoyo con mis manos y coloque mi cara dentro de l para poder llorar sin que nadie me oyera. Todava poda or los nios gri-tando y llorando. Me qued all con la cara en la tierra y llor.

    Durante as negociaes para a paz em El Salvador, j no come-o dos anos 90, foi estabelecido que seria criada, com intermediao da ONU, uma comisso internacional, chamada Comisso da Verdade, para investigar e fazer pblicos os acontecimentos que marcaram a his-tria pas e apontar recomendaes. O documento define a guerra civil salvadorenha como loucura e delirante.

    Assim como no Brasil ps-ditadura, a luta por memria, verdade e justia em El Salvador tem sido conduzida pela sociedade civil organi-zada. A indita e histrica vitria eleitoral da FMLN em 2009, o ex-gru-po guerrilheiro transformado em partido institucional depois dos Acor-dos de Paz de 92, que se repetiu em 2014, agora com o ex-comandante da guerrilha, Sanchez Ceren, gerou expectativas positivas em diversas organizaes de direitos humanos e atores polticos do pas, inclusive na comunidade internacional, para a plena realizao dos direitos das vti-mas por justia e reparao, nesse episdio do El Mozote e em diversos outros casos de violao dos direitos humanos durante a guerra civil no Pas, que deixaram um saldo de pelo menos 70 mil mortes.

    Entretanto, apesar de positivas iniciativas de memria histri-ca, pouco se fez em aes de Justia de Transio. Permanece como o grande desafio da democracia salvadorenha e da plena reconciliao nacional analogamente ao desafio brasileiro ps-regimes militares a reviso da Lei de Anistia. Ela uma norma ainda vigente, que estabe-lece a extino penal de todos os que estiveram envolvidos na viola-o dos direitos humanos durante o conflito salvadorenho. Na prtica, a possibilidade das vtimas exigirem justia com base na informao do relatrio da Comisso da Verdade est vedada por esse obstculo.

    Ainda hoje, nenhuma investigao ampla foi levada a cabo no pas pelo Estado, ningum foi condenado em El Salvador e permanece a impunidade.

  • 36LA MASACRE DE EL MOZOTE:

    la maldicin de Marcos Daz1

    THE MASSACRE IN EL MOZOTE: the Marcos Diazs curse

    Aleksander Aguilar*2

    1 INTRODUCTIN

    El episodio ocurrido en El Mozote, en El Salvador, el 11 de octubre del 1981, es una de las mayores masacres cometidas contra civiles en la historia reciente de Amrica Latina, con por lo menos el doble de vctimas que My Lai y quizs con ms exceso de crueldad que la vergonzosa y mundialmente conocida masacre que Estados Unidos promovi en la aldea vietnamita durante la guerra, en los aos 1960.

    El deplorable ex batalln Atlacatl del ejrcito salvadoreo, en un intento desesperado por contener el brote revolucionario en el pas en el inicio de los aos 1980, aterroriz y asesin a casi 1200 civiles pa-cficos, incluyendo ancianos, mujeres y bebs. La misin del Atlacatl, con financiamiento y entrenamiento de Estados Unidos, era colocar en prctica las medidas necesarias para operaciones conocidas como tierra arrasada o, en el lenguaje del propio ejrcito en la poca secar el ro para evitar que los peces crezcan. Sin embargo, para muchos salva-doreos, especialmente los de la generacin que naci despus de la guerra que se llev a cabo oficialmente entre 1980 y 1992, El Mozote

    1 Este texto fue publicado en la versin impresa del diario Brasil de Fato el 27 de mayo de 2011. Revisado y actualizado para publicacin en el sitio electrnico de O Istmo por ocasin del aniversario de 33 aos de la tragedia. Traduccin de Flvia Farias de Oliveira.

    * Periodista e lingista, doctorando em Ciencia Poltica, miembro do Instituto da Amrica Latina e coordinador da rede O ISTMO.

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  • 37Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.36-43, 2014

    Aleksander Aguilar

    es distante, en el tiempo y tambin en el espacio, a pesar del escenario de matanza a menos de 300 km de la capital, San Salvador.

    Esa es la irona de la reciente y oscura historia salvadorea. El pulgarcito de Amrica, como lo llama la escritora Gabriela Mistral, tambin quiere dar la vuelta la pgina del dolor. Pero punir a los crimi-nales, rechazar la impunidad y mantener viva la memoria no siempre ha sido y muchas veces no lo es entendido como la prueba seria de esa disposicin. El pas sigue ignorndose y siendo ignorado. Sectores de la sociedad, aquellos que se involucraron en las masacres, en los escua-drones de la muerte y en desapariciones, quieren incentivar el olvido en lugar de la toma de consciencia crtica y eso hace que, como nacin, el lugar se mantenga olvidado.

    A nivel latinoamericano, esa invisibilidad y desmemoria es igualmente latente. Los brasileos, particularmente, tambin tienden a conocer ms de la simblica historia de My Lai que sobre los fenme-nos y dolores, con semejanza de carcter y motivaciones, sufridos en nuestro continente. No tenemos la menor idea de lo que fue El Mozote. El sentido comn ve, casi siempre, a Amrica Central como apenas un pedazo de tierra entre el sur y el imperio, donde hubo guerras, donde hay volcanes y terremotos. Y no nos avergonzamos de esta lamentable y absurdamente superficial percepcin que tenemos acerca de nuestra propia geografa e historia.

    2 PARA LLEGAR A EL MOZOTE

    Sin vehculo propio como ocurre en muchos destinos de El Salvador el acceso no es muy simple, aunque las carreteras hoy en da estn bastante mejor. La falta de un sistema de transporte pblico adecuado en el pas hace que el viaje sea complicado.

    Salimos al inicio de la tarde de la deprimente Terminal del Oriente de San Salvador con destino a la ciudad de San Miguel, donde se toma otro bus. Al llegar all, poco despus de las cinco horas, ya no hay transporte hasta la famosa Perqun (ciudadela que fue el centro del control guerrillero en la regin en los aos 80) con excepcin de las populares camionetas que realizan un viaje de dos horas hacia otro pue-blecito histrico, Francisco Gotera, para desde ah tomar otra pick-up. Para evitar estar en la carretera al anochecer, decidimos dormir en San Miguel y seguir a las seis de la maana del da siguiente.

  • 38 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.36-43, 2014

    La masacre de el Mozote

    Al otro da, despus de ms de tres horas en otro precario bus, llegamos al lugar donde est el Museo de la Revolucin Salvadorea, un pequeo y humilde edificio, organizado por los propios ex comba-tientes que an viven en la regin, que abriga un verdadero archivo histrico: armas de la guerra; carteles del Frente Farabundo Mart Li-beracin Nacional (FMLN) y de organizaciones internacionales en so-lidaridad con la ex guerrilla; fotos de hombres y mujeres que lucharon en la revolucin; cascos de bombas de 500 libras del arsenal norteame-ricano que eran tiradas por el ejrcito de El Salvador (financiado por Es-tados Unidos en su poltica intervencionista y de contrainsurgencia) y hasta los carros utilizados por dos de los cinco comandantes del FMLN durante la guerra, Schafik Handal y Joaqun VillaLobos.

    Visitamos el museo por la maana con el objetivo de ir a El Mo-zote por la tarde, pero despus de las 13 horas ya no hay pick-ups que pasen por el desvo de Arambala, que da acceso al lugar, en donde tene-mos que tomar otro bus para, por fin, llegar al escenario de la masacre. As, tras buscar hospedaje en Perqun para pasar una noche ms, slo a la maana siguiente logramos llegar a El Mozote.

    Un minsculo pueblo, adentrado en las montaas de la parte Norte-oriental del pas, casi en la frontera con Honduras. Hoy el pue-blecito no debe ser muy diferente de lo que era El Mozote en el inicio de los aos 80, a no ser por la presencia de un monumento a la memoria de la masacre y por el simptico y singular punto de informacin tu-rstica enfrente de la iglesia. Algunos minutos despus de salir del bus con mochilas y caras de turista en el medio silencioso y polvoriento pueblecito, una joven se nos acerca dispuesta a contarnos la historia. Alrededor, slo se ve una docena de casas; la iglesia; el eventual paso de un nio o adolescente en su bicicleta; dos o tres hombres por detrs del cercado, cargando lea o aparatos de trabajo agrcola; algunos pe-rros hambrientos; un pozo pintado de blanco desde donde se yergue un alto bamb con una bandera roja del FMLN en el extremo superior, y una pequea tienda desde donde nos observa una curiosa seora.

    Estamos frente a la minscula plaza donde est el monumento a la memoria de la masacre y que guarda los restos mortales de miles de personas asesinadas. Es all, delante de aquella chapa de metal recorta-da con la forma de la silueta de una familia, colocada frente a un muro de ladrillos con los nombres de las vctimas, que omos a la humilde

  • 39Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.36-43, 2014

    Aleksander Aguilar

    gua turstica de El Mozote relatar la triste historia del miserable pueblo y recorrer los lugares exactos de las ejecuciones, de los restos de las casas que resistieron a los incendios provocados por los soldados para esconder la vergenza de la barbarie all cometida.

    3 VERGENZA ESCONDIDA

    Durante 11 aos, una mujer, Rufina Amaya Mrquez, fue para todo el mundo el nico testigo de la masacre, pero poca gente le daba crdito. Ella fue la nica persona que, milagrosa y bravamente, sobrevi-vi a la asquerosa operacin Yunque y Martillo del deplorable batalln Atlacatl del ejrcito salvadoreo el da 11 de diciembre de 1981, cuan-do ejecutaron a toda la poblacin de El Mozote y alrededores.

    Hasta octubre de 1992, ao en que tuvo fin la guerra civil que dur por lo menos 12 aos en El Salvador, Washington tuvo xito en mantener el crimen en secreto; enterrado entre ms de mil cadveres en el extremo oriente del pas.

    Rufina, que vio el asesinato de su marido y de sus cuatro hijos (uno de ellos arrancado de su pecho con ocho meses de vida), logr, con una extraordinaria fuerza psicolgica, contar la historia al mun-do. Su relato, verificado in loco por periodistas norteamericanos, fue titular del The Washington Post y del The New York Times luego de que la legendaria Radio Venceremos (medio oficial de comunicacin de la guerrilla) denunciara la masacre. Sin embargo, la Casa Blan-ca, en aquel momento, inicio de 1982, debata si mantendra o no el apoyo para que el gobierno dictatorial salvadoreo combatiera la guerrilla. Estados Unidos necesitaba desacreditar la historia que, en el periodo de la Guerra Fra, dejaba al pas en el dilema entre man-tener la seguridad nacional y el supuesto respeto a los derechos humanos (ya que los polticos norteamericanos eran conscientes del nivel de violencia en El Salvador) que los Estados Unidos juzgaban, y juzgan, ejercer.

    4 SECAR EL RO

    El da primero de diciembre de 1981, informaron a la guerrilla que se haba confirmado una operacin militar de gran envergadura en la regin. El gobierno salvadoreo quera rescatar la regin de Mo-

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    La masacre de el Mozote

    razn de las manos de los guerrilleros que tenan el control poltico en el oriente del pas. Los oficiales teman que si la guerrilla no se retirase de Morazn, el pas ms pequeo de todo el continente americano, con apenas 21 mil km cuadrados, podra dividirse en dos.

    El batalln Atlacatl, entrenado por el carismtico y truculento coronel Domingos Monterrosa (hombre de confianza de los norteame-ricanos) era una clase diferente de la mayora de los soldados salvado-reos. Eran ms feroces, ms profesionales y mucho mejor equipados. Siempre con dinero y estructura norteamericana. En ese periodo, los EUA haban dado un paso adelante en lo que se refiere a la inversin en la guerra, pero no estaban dispuestos a involucrar a sus soldados directamente, ya que el pas an estaba bajo la resaca histrica de Vietnam.

    El Mozote se encontraba dentro de la zona controlada por la gue-rrilla, pero los rebeldes no eran capaces de ofrecer suficiente proteccin a los civiles. En una operacin de gran porte del ejrcito, la poblacin civil tambin tendra que huir. Sin embargo, la poblacin de El Mozote, en el inicio de aquel diciembre, decidi quedarse.

    5 LA MALDICIN

    Como en muchas otras comunidades del Departamento de Mora-zn, la poblacin se esforzaba en mantenerse neutral durante la guerra y muchas veces, de hecho, tena miedo de la guerrilla. Sin embargo, la confianza en el ejrcito, y en Marcos Daz, contribuy para llevar todo el pueblo a la muerte.

    La narrativa del libro Lucirnagas en El Mozote, publicado en El Salvador por el Museo de la Palabra y de la Imagen (MUPI), con relatos de la historia realizados por Santiago quien haba sido el responsable por la legendaria Radio Venceremos (cuyo nombre real es Carlos Hen-rique Consalvi, actual director del MUPI) , por el periodista norteame-ricano Mark Danner y por la propia Rufina Amaya, explicita los hechos. Marcos Daz, dueo de la nica tienda de la comunidad, organiz una asamblea enfrente de su casa en el inicio de diciembre de 1981. l cont a la gente que viva ah lo que le haban dicho en San Miguel, donde haca las compras para abastecer su tienda.

    Un oficial del ejrcito le garantiz que, a pesar de que la opera-cin militar estaba realmente dirigindose a El Mozote, lo mejor era

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    Aleksander Aguilar

    quedarse en el pueblo y permanecer en las casas para no correr el riesgo de que los soldados los confundieran con guerrilleros en retirada. Mar-cos Daz confi en su fuente del ejrcito y la poblacin de El Mozote confi en Marcos Daz.

    La mayora de la gente se qued en el pueblo, sabiendo que el ejrcito se acercaba, pero confiando en que, al no ser colaborador de la guerrilla, nada malo les ocurrira. La certeza se convirti en decepcin y muerte y, para Marcos Diaz, en una maldicin. El batalln Atlacatl estaba all para llevar a cabo una estrategia poltica-civil organizada. Y miles fueron asesinados. Oficialmente, la misin era aniquilar a la Radio Venceremos. La radio de la guerrilla era la obsesin del coronel Monterrosa, que no la admita y se enojaba con su existencia. El Atlacatl fue al norte de Morazn, con destino a Guacamaya, uno de los lugares donde, de hecho, funcion la emisora. No obstante, la inteligencia de la guerrilla ya haba tomado conocimiento del operativo y el colectivo de la radio dej el campamento mucho antes de la llegada del ejrcito. Durante su trayecto a Guacamaya, el Atlacatl aterroriz y asesin en Perqun, en Torilas y en El Mozote finaliz su misin de barbarie.

    Lucirnagas en El Mozote relata que el batalln llev dos das para cumplir lo que se puede llamar de ritual. La poblacin se dividi entre hombres, mujeres y nios; cada grupo encerrado en una casa de la comunidad. Los hombres, que estaban en la iglesia, fueron los pri-meros. Los llevaron en pequeos grupos a la parte de atrs del edificio donde los ametrallaron, y los que agonizaban fueron decapitados. Las cabezas, cuyos crneos se encontraron aos ms tarde, se amontonaban cerca de la sacrista. Poco despus fue el turno de las mujeres. Los sol-dados seleccionaban las ms jvenes y las arrastraban a los cerros de los alrededores. Las otras oan los gritos de las que estaban siendo violadas. Despus, los soldados volvieron a las casas y empezaron a separar a las madres de sus hijos. Llevaban grupos de mujeres para ejecutarlas en la pequea plaza del pueblo y la casa, de a poco, se llenaba de hurfanos en llanto. Los soldados del Atlacatl por fin terminaron su misin, ma-tando a todos los nios de El Mozote.

    Rufina Amaya vea todo el repugnante ritual escondida detrs de un manzano, que an existe en El Mozote reconstruido. Cuando hacan fila las mujeres en la plaza, ella, que estaba al final de uno de los grupos, aprovech la distraccin del soldado en medio del alarido de desespe-

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    La masacre de el Mozote

    racin y se arrastr por debajo de una cerca escondindose detrs de un rbol donde permaneci por todo un da y toda una noche. Ella falleci el 2007, pero dej registrado en el libro publicado por el MUPI el si-guiente testimonio:

    Yo no saba qu hacer. Estaban matando a mis hijos. Saba que si regresaba all me haran pedazos, pero no poda resistir escuchar los gritos de mis hijos. No poda soportarlo. Tena miedo de llorar ruidosamente. Pens que iba a gritar, que me iba a volver loca. No poda soportarlo y suplicaba a Dios que me ayudara. Le promet que si l me ayudaba, yo le contara al mundo lo que haba ocurrido aqu. Despus me amarr el cabe-llo y la falda entre las piernas y me arrastr sobre el estmago detrs del rbol. All haba animales. Unas vacas y un perro me vieron y yo tuve miedo de que hicieran algn ruido, pero Dios hizo que estuvieran silenciosos. Me arrastr entre ellos. Cruc la calle bajo un cerco de pas y cruc entre las plantas de maguey hacia el otro lado. Me arrastr lejos a travs de las espinas. Cav un pequeo hoyo con mis manos y coloqu mi cara dentro de l para poder llorar sin que nadie me oyera. Todava poda or los nios gritando y llorando. Me qued all con la cara en la tierra y llor.

    Durante las negociones para la paz en El Salvador, ya en el co-mienzo de los aos 90, se estableci que se creara, con intermediacin de la ONU, una comisin internacional, llamada Comisin de la Ver-dad, para investigar y tornar pblicos los acontecimientos que marcaron las historia del pas y apuntar recomendaciones. El documento define la guerra civil salvadorea como locura y delirante.

    As como en el Brasil de posdictadura, la lucha por memoria, verdad y justicia en El Salvador ha sido conducida por la sociedad ci-vil organizada. La indita e histrica victoria electoral de la FMLN en 2009, el ex grupo guerrillero transformado en partido institucional tras los Acuerdos de Paz del 92, que se repiti en 2014, esta vez con el ex co-mandante de la guerrilla, Snchez Ceren, gener expectativas positivas en diversas organizaciones de derechos humanos y actores polticos del pas, incluso en la comunidad internacional, para la plena realizacin de los derechos de las vctimas por la justicia y reparacin en ese episodio de El Mozote y en otros diversos casos de violacin de los derechos humanos durante la guerra civil en el pas, que dej un saldo de por lo menos 70 mil muertos.

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    Aleksander Aguilar

    Sin embargo, a pesar de las positivas iniciativas de memoria his-trica, se hizo muy poco en acciones de Justicia de Transicin. Perma-nece como el gran desafo de la democracia salvadorea y de la plena reconciliacin nacional anlogamente al desafo brasileo pos reg-menes militares la revisin de la Ley de Amnista. Tal Ley es una norma vigente que establece la extincin de reaponsabilidad penal de todos los que se involucraron en la violacin de los derechos humanos durante el conflicto salvadoreo. En la prctica, la posibilidad de que las vctimas exijan justicia con base en la informacin del informe de la Comisin de la Verdad est vedada por ese obstculo.

    An hoy, el Estado no ha llevado a cabo en el pas ninguna in-vestigacin amplia, nadie ha sido condenado en El Salvador y, as, per-manece la impunidad.

  • 44O PROJETO DO GRANDE CANAL DA NICARGUA1

    The great Nicaragua Canal project

    Andrs Mora Ramirez*2

    A empresa chinesa HKND Group e o governo sandinista da Ni-cargua divulgaram a trajetria definitiva do Grande Canal interoce-nico: um traado de 278 km de longitude, desde a desembocadura do Rio Ponta Gorda, na costa do Caribe, at a desembocadura do Rio Brito em Rivas, na do Oceano Pacfico. Trata-se de um dos mais ambiciosos projetos de engenharia da histria moderna e, por essa mesma razo, desperta tanto dvidas sobre seu impacto ambiental23, como expectati-vas pelos benefcios diretos e indiretos que geraria para a economia do pas centro-americano.

    Em se concretizando sua construo, essa obra resultaria no apo-geu de um velho sonho esboado desde o final do sculo XIX pelo go-verno liberal de Jos Santos Zelaya, e cujo falido desenlace nessa poca (quando Washington havia elegido o Panam como o lugar onde se-ria traado seu canal) marcou, em muitos sentidos, o desenvolvimento poltico deste pas centro-americano durante o sculo XX, pois tornou insustentvel o choque entre as aspiraes comerciais e soberanas ni-caraguenses e os interesses geoestratgicos imperialistas, em definitivo dos Estados Unidos na Amrica Central. Evidentemente, tambm ser-viu de justificativa s elites norte-americanas para invocar a Doutrina

    1 Traduzido por Mariana Yante B. Pereira.* Pesquisador do Instituto de Estudios Latinoamericanos e do Centrode Investiga-

    cin y Docencia em Educacin da Universidad Nacional de Costa Rica.2 Sobre a temtica dos impactos ambientais, consultar PIANZOLA, Natalia. Las

    dudas ambientales sobre el proyecto chino del canal de Nicaragua. Disponvel em: . Acceso en: 20 mar. 2015.

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  • 45Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.44-46, 2014

    Andrs Mora Ramirez

    Monroe e empreender suas reiteradas prticas de intervencionismo eco-nmico, poltico e militar.

    Mas, antes disso, a possibilidade de construir um canal na Ni-cargua j havia sido contemplada pelas potncias imperais europeias desde o sculo XVII. Em outras palavras, o projeto do canal tem como plano de fundo histrico as disputas interimperialistas que definiram, em boa parte, a insero subordinada da Amrica Central no cenrio do sistema internacional, desde o sculo XIX, at nossos dias. O histo-riador costarriquense Rodrigo Quesada, em seu estudo sobre a presen-a do imprio britnico em nossos pases, afirma que o imperialismo sempre viu na Amrica Central a possibilidade mais real de construir um canal interocenico, e isto, desde a segunda parte do sculo XVI, sempre foi a razo mais essencial para dar boas-vindas aos centro-ame-ricanos comunidade internacional. As consequncias desta recepo esto vista para quem queira.

    Hoje, essa comunidade internacional volta a pr seus olhos e seus interesses, no h dvidas na Amrica Central, mas j no so os mesmos atores do passado: empresas pblicas e privadas da China, Rssia e Ir, e inclusive dos Estados Unidos, j tm manifestado suas intenes de financiar e participar da megaconstruo. Nossa regio poderia converter-se, assim, no destino de uma impressionante mobi-lizao de capitais, como nunca se haveria conhecido nessas latitudes: no lapso de treze anos, desde o incio das obras de ampliao do Canal do Panam em 2007, at a data prevista para a finalizao do Grande Canal da Nicargua, no ano de 2020, se havero investido mais de 50 bilhes de dlares, levando em conta os custos iniciais orados e os imprevistos.

    Que implicaes geopolticas ter para a Nicargua a operao dessa via, no nvel de suas relaes diplomticas com os Estados Uni-dos que consideram o governo sandinista como hostil a seus inte-resses e com outros pases e blocos regionais? vista do que ocorreu no Panam e de sua larga luta pela recuperao da soberania sobre a rota interocenica, de que maneira o modelo de concesso da constru-o e explorao do Canal durante cinquenta anos, prorrogveis por outro meio sculo, permitir Nicargua fortalecer-se como Estado, recrudescer suas receitas fiscais e reinvesti-las no desenvolvimento so-cial e material do Pas?

  • 46 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.44-46, 2014

    O projeto do grande canal da Nicargua

    So questionamentos que permanecero abertos, e somente na medida em que avancem as obras e os acontecimentos polticos, sociais e ambientais relacionados a estes, poderemos elucidar as perguntas for-muladas. Por ora, a nica evidncia de que as dinmicas do mundo que muda e que se reconfigura de forma acelerada, e que avana at a consolidao da multipolaridade no sistema internacional, expressam-se com fora na Amrica Central.

    No entanto, o fato de que o projeto do Grande Canal se conceba a partir de uma perspectiva poltica e estratgica diferente daquela que, no incio do sculo XX, se impulsionou por todos os meios legais e esprios no Canal de Panam para afianar o domnio do istmo por parte dos Estados Unidos, j um sinal auspicioso. Tomar que o povo nicaraguense e suas lideranas polticas, qualquer que seja sua filiao ideolgica, compreendam a importncia do momento histrico e das novas condies que o contexto global oferece para o Grande Canal; que sejam vigilantes sobre sua execuo em todos os mbitos, no res-guardo de seu patrimnio ambiental e, sobretudo, que nos permitam que a promessa de bem-estar que se anuncia no seja arrebatada por ningum.

  • 47EL PROYECTO DEL GRAN CANAL DE NICARAGUA

    The great Nicaragua Canal project

    Andrs Mora Ramrez*1

    La empresa china HKND Group y el gobierno sandinista de Ni-caragua dieron a conocer la ruta definitiva del Gran Canal interoce-nico: un trazado de 278 km de longitud, desde la desembocadura del ro Punta Gorda, en la costa del Caribe, hasta la desembocadura del ro Brito en Rivas, en la costa del Ocano Pacfico. Se trata de uno de los ms ambiciosos proyectos de ingeniera de la historia moderna, y por esa misma razn, despierta tantas dudas sobre su impacto ambiental12 como expectativas por los beneficios directos e indirectos que generara para la economa del pas centroamericano.

    De concretarse su construccin, esta obra culminara un viejo sue-o esbozado desde finales del siglo XIX por el gobierno liberal de Jos Santos Zelaya, y cuyo fallido desenlace en esa poca (cuando ya Washin-gton haba elegido a Panam como el sitio de trazado de su canal) marc en mucho sentidos el desarrollo poltico de este pas centroamericano durante el siglo XX, pues hizo insostenible el choque entre las aspiraciones comerciales y soberanas nicaragenses, y los intereses geoestratgicosimperialistas, en definitiva- de Estados Unidos en Amrica Central. Por supuesto, tambin le sirvi de justificacin a las lites norteamericanas para invocar la Doctrina Monroe y emprender sus reiteradas prcticas de intervencionismo econmico, poltico y militar.

    * Pesquisidor do Instituto de Estudios Latinoamericanos e do Centro de Investiga-cin y Docencia en Educacin da Universidad Nacional de Costa Rica.

    1 A cerca de la temtica de los impactos ambientales, consultar PIANZOLA, Na-talia. Las dudas ambientales sobre el proyecto chino del canal de Nicaragua. Disponible: . Acceso en: 20 mar. 2015.

  • 48 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.47-49, 2014

    El proyecto del gran canal de Nicaragua

    Pero antes de esto, la posibilidad de construir un canal en Ni-caragua ya haba sido contemplada por las potencias imperiales euro-peas desde el siglo XVII. Es decir, el proyecto del canal tiene como teln de fondo histrico las disputas inter-imperialistas que definieron, en buena medida, la insercin subordinada de Amrica Central en el escenario del sistema internacional, desde el siglo XIX hasta nuestros das. El historiador costarricense Rodrigo Quesada, en su estudio sobre la presencia del imperio britnico en nuestros pases, afirma que el imperialismo siempre vio en Amrica Central la posibilidad ms real de construir un canal interocenico, y esto, desde la segunda parte del siglo XVI, siempre fue la razn ms esencial para darle la bienvenida a los centroamericanos a la comunidad internacional. Las consecuencias de esta bienvenida estn a la vista para el que quiera.

    Hoy, esa comunidad internacional vuelve a posar sus ojos y sus intereses, qu duda cabe- en Amrica Central, pero ya no son los mismos actores del pasado: empresas pblicas y privadas de China, Rusia, Irn e incluso de los Estados Unidos, ya han manifestado sus intenciones de financiar y participar de la megaconstruccin. Nuestra regin podra convertirse as en el destino de una impresionante movilizacin de ca-pitales, como nunca se haba conocido en estas latitudes: en el lapso de 13 aos, desde el inicio de la obras de ampliacin del Canal de Panam en 2007, hasta la fecha prevista de finalizacin del Gran Canal de Ni-caragua, en el ao 2020, se habrn invertido ms $50 mil millones de dlares, tomando en cuenta los costos iniciales presupuestados y los imprevistos.

    Qu implicaciones geopolticas tendr para Nicaragua la opera-cin de esta va, a nivel de sus relaciones diplomticas con los Estados Unidos que consideran al gobierno sandinista como hostil a sus inte-reses- y con otros pases y bloques regionales? A la vista de lo sucedido en Panam y su larga lucha por la recuperacin de la soberana sobre la ruta interocenica, de qu manera el modelo de concesin de la construccin y explotacin del Canal durante 50 aos, prorrogable a otro medio siglo, le permitir a Nicaragua fortalecerse como Estado, engrosar sus ingresos fiscales y reinvertirlos en el desarrollo social y material del pas?

    Son cuestionamientos que permanecern abiertos y solo en la medida que avancen las obras y los acontecimientos polticos, sociales y ambientales relacionados con estas, podremos ir dilucidando las inte-

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    Andrs Mora Ramrez

    rrogantes. Por ahora, lo nico claro es que las dinmicas de un mundo que cambia y se reconfigura aceleradamente, y que avanza hacia la con-solidacin de la multipolaridad en el sistema internacional, se expresan con fuerza en Amrica Central.

    Con todo, el hecho que el proyecto del Gran Canal se conciba desde una perspectiva poltica y estratgica diferente a la que, a inicios del siglo XX, se impuso por todos los medios legales y espurios en el Canal de Panam para afianzar el dominio del istmo por parte de los Estados Unidos, es ya un signo halageo. Ojal el pueblo nica-ragense y sus dirigencias polticas, cualquiera sea filiacin ideolgi-ca, comprendan la importancia del momento histrico y de las nuevas condiciones que el contexto global ofrece para el Gran Canal; que sean vigilantes de su ejecucin en todos los mbitos, del resguardo de su pa-trimonio ambiental y, por sobre todo, que no permitan que la promesa de bienestar que se augura les sea arrebatada por nadie.

  • 50O CRCULO VICIOSO CENTRO-AMERICANO1

    The Central American vicious circle

    lvaro Clix*2

    Afirma-se que a Amrica Central tem avanado nas ltimas duas dcadas e meia. uma meia verdade que esconde mais do que revela. A superao dos conflitos armados, os processos de democratizao for-mal e a melhora nos indicadores sociais so boas notcias, mas no se pode fazer vista grossa e ignorar os dficits que colocam a regio numa trajetria inerte em direo fragmentao e desagregao.

    De fato, junto aos progressos observados, coexistem atrasos es-truturais que neutralizam aos avanos, com particular nfase nos pases do CA4 (Guatemala, El Salvador, Honduras e Nicargua). Os atrasos impedem a coeso social nos pases e na regio. Os altos nveis de inci-dncia de pobreza e desigualdade so os resultados mais dramticos dos dficits que demonstra a maioria dos pases da regio. Por trs desses fenmenos, aparecem anomalias que estruturam o perfil centro-ameri-cano, com excees contadas. Destacam-se os altos nveis de desnutri-o infantil, a baixa cobertura educativa dos nveis pr-escolar e mdio, o fenmeno de jovens que no estudam nem trabalham (NINIS), a inci-dncia crnica da economia informal e a violncia social.

    A desigualdade no acesso s oportunidades educativas, aos re-cursos produtivos e aos circuitos de empreendimento econmico est

    1 Traduo de Lucas Scholl Matter.* Escritor e pesquisador social. Doutor em Cincias Sociais (Programa Latinoa-

    mericano de Trabajo Social Universidad Nacional Autnoma de Honduras). Membro do Centro de Investigacin y Promocin de los Derechos Humanos en Honduras. Desempenhou-se como professor em vrios programas de mestrado na Universidad Nacional Autnoma de Honduras e, tambm, no Mestrado Cen-tro-americano em Cincia Poltica da Universidad de Costa Rica.

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  • 51Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.50-52, 2014

    lvaro Clix

    na base dos atrasos estruturais da regio. O notvel desequilbrio na estrutura de oportunidades no casual, pois corresponde a uma matriz poltica excludente, que explica a heterogeneidade econmica da regio e a debilidade do Estado para corrigir as distores. Hoje, mais que nunca, a regio sofre a convergncia de velhos e novos problemas que afetam a capacidade dos pases para superar seus estgios de desenvol-vimento.

    Entre as principais novas ameaas, destacam-se:

    A geopoltica da violncia e do crime organizado. Os impactos crescentes das alteraes climticas. A generalizao da corrupo e da impunidade dos Estados. O estancamento do progresso democrtico iniciado nos anos oi-

    tenta do sculo XX. A crise global que tem afetado especialmente os pases e os mer-

    cados com os quais a regio tem baseado majoritariamente suas relaes econmicas.

    O aumento da conflitualidade social pela agressiva estratgia de acumulao, custa dos recursos naturais em territrios rurais ha-bitados pela populao mais pobre.

    Tendo por base a convergncia entre velhos e novos problemas para alm dos avanos em modernizao e desenvolvimento, fica claro que um trao indito nas sociedades centro-americanas o aumento da complexidade social. Esta se baseia no acentuado ritmo de urbanizao, na maior conectividade comunicacional, em um maior mesmo que ainda insuficiente nvel educativo, na amplitude dos fluxos migrat-rios intra e extra-regionais, na diversificao/regionalizao das ativi-dades econmicas, assim como na diversificao dos atores sociais que reivindicam a incorporao poltica de suas demandas e pontos de vista.

    Em face de uma maior complexidade de dinmicas, cosmovises e interesses, os sistemas poltico e econmico no tm sido capazes de transformar-se, a fim de integrar os diferentes atores sociais e setores populacionais. Pelo contrrio, a poltica vem se conformando em garan-tir uma espcie de elitismo competitivo para a alternncia de governos mediados por processos eleitorais; ao mesmo tempo, a economia tem buscado ampliar os eixos de acumulao econmica, a partir de uma

  • 52 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.50-52, 2014

    O crculo vicioso centro-americano

    lgica de concentrao dos benefcios, contornando, ademais, os im-pactos ambientais.

    Essa lgica excludente explica tambm por que o sistema econ-mico aprofunda as lacunas de riqueza, incentiva a economia informal e a funcionalizao dos capitais ilcitos dentro do subsistema financeiro. E continua muito dependente da oferta relativamente abundante de ma-trias primas, salrios baixos e privilgios para ter acesso aos contra-tos com o Estado. Em contraste, as empresas que tm participado com maior inovao e valor agregado, geralmente no criam tantos postos de trabalho como se pensa, e em geral, parecem estar desconectadas do mundo das pequenas e mdias empresas no qual se concentra a maior parte da Populao Economicamente Ativa (PEA) centro-americana. Nesse contexto, o regime de incentivos outorgado pelos Estados tende a favorecer o investimento estrangeiro sem as condicionalidades sufi-cientes e medidas polticas para gerar cadeias de produo.

    Ao invs de avanar em direo a sistemas democrticos legti-mos e eficazes, transita-se para o descontentamento e para o aumento do protesto social, pela incapacidade de incorporar mecanismo trans-parentes e institucionalizados para representar os distintos interesses e dirimir os conflitos.

    Alm de no mediar as profundas assimetrias de poder, a debili-dade do Estado refletida, tambm, na incapacidade de exercer o mo-noplio legtimo do uso da fora, o que acarreta provoca um aumento generalizado da violncia como meio para a resoluo dos conflitos, o fortalecimento de atores ilcitos que penetram tanto no territrio, como nas instituies estatais, e, para piorar, o aumento da discricionariedade e do abuso das foras repressivas do Estado.

    Em resumo, a Amrica Central, sobretudo os pases do tringulo norte, combina uma srie de perigos que no esto sendo enfrentados da melhor maneira. Pior ainda, as elites parecem persistir em seu autismo e no bloqueio aos setores mais excludos. Por isso fundamental estudar e atuar para romper esse crculo vicioso; seno, os piores cenrios esta-ro esperando na prxima esquina.

  • 53EL CRCULO VICIOSO CENTROAMERICANO

    The Central American vicious circle

    lvaro Clix*1

    Se dice que Centroamrica ha avanzado en las ltimas dos dca-das y media. Es una verdad a medias que esconde ms de lo que revela. La superacin de los conflictos armados, los procesos de democrati-zacin formal y la mejora en indicadores sociales son buenas noticias, pero no se puede voltear la cara e ignorar los dficits que colocan a la regin en una ruta inercial hacia la fragmentacin y la descomposicin.

    En efecto, junto a los progresos observados, coexisten rezagos estructurales que neutralizan a los avances, con particular nfasis en los pases del CA4 (Guatemala, El Salvador. Honduras y Nicaragua). Los rezagos impiden la cohesin social en los pases y en la regin. Los altos niveles de incidencia de pobreza y desigualdad son los resultados ms dramticos de los dficits que muestran la mayora de pases de la regin. Detrs de esos dos fenmenos, aparecen anomalas que estruc-turan el perfil centroamericano, con contadas excepciones. Destacan los altos niveles de desnutricin infantil, la baja cobertura educativa en preescolar y secundaria, el fenmeno de los jvenes que no estudian ni trabajan (NINIS), la incidencia crnica de la economa informal y la violencia social.

    El desigual acceso a las oportunidades educativas, a los recursos productivos y a los circuitos de emprendimiento econmico est a la

    * Escritor y pesquisidor social. Doctor en Ciencias Sociais (Programa Latinoa-mericano de Trabajo Social Universidad Nacional Autnoma de Honduras). Miembro do Centro de Investigacin y Promocin de los Derechos Humanos en Honduras. Desempe como profesor en varios programas de maestras en la Universidad Nacional Autnoma de Honduras y, tambin, en la Maestra Centro-americano en Ciencia Poltica da Universidad de Costa Rica.

  • 54 Ci. & Trp. Recife, v.38, n. 1, p.50-55, 2014

    El crculo vicioso centroamericano

    base de los rezagos estructurales de la regin. El notable desbalance en la estructura de opo