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CURSO LIVRE DE

MISSIOLOGIA

ES

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APRESENTAÇÃO DO CURSO

O material aqui presente tem como objetivo introduzir a aprendizagem dos discentes, anexando

conteúdoslivres no material, para enriquecimento dos mesmos. Faça-se menção aos autores dos conteúdos. Trata-se apenas de uma junção de textos interessantes

e disponíveis para estudo online, que caracterizam a liberdade dos Cursos Livres. Dessa forma,

esta apostila somente poderá ser utilizada pelos alunos da Faculdade Teológica Nacional,

disponibilizada gratuitamente aos alunos da mesma. Segue abaixo a Grade Curricular e Carga Horária do Curso de Missiologia Livre: GRADE CURRICULAR CARGA HORÁRIA

1 INTRODUÇÃO À MISSIOLOGIA I 40

2 INTRODUÇÃO À MISSIOLOGIA II 40

3 FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA MISSÃO 40

4 ANTROPOLOGIA MISSIONÁRIA 40

5 MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA CRISTÃ 40

6 A MISSÃO DA IGREJA CRISTÃ 40

7 TEOLOGIA DA MISSÃO 40

8 NATUREZA E MISSÃO DA TEOLOGIA 40

9 MISSÃO URBANA 40

10 MOBILIZAÇÃO MISSIONÁRIA 40

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SUMÁRIO

A MISSIOLOGIA, MISSÃO E MISSÕES .......................................................................................................1 A MISSIOLOGIA URBANA .....................................................................................................................4 ELEMENTOS MISSIOLÓGICOS ................................................................................................................6 TEOLOGIA DA MISSÃO ...................................................................................................................... 10 O QUE É MISSÃO? ............................................................................................................................ 11 HISTORICIDADE DA MISSÃO ............................................................................................................... 13

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CAPÍTULO 1

A MISSIOLOGIA, MISSÃO E MISSÕES

O termo missiologia éa junção de dois vocábulos,um latino, “missione” e outro grego

“logia”. Literalmente significa “estudo ou tratado sobre missões”. A palavra “missão” procede do

verbo latino “mittere”, isto é,“ação, tarefa, ordem, mandato” e pode significar desde uma função

ou poder que se confere a alguém para a realização de alguma atividade, até uma função especial

da qual um governo encarrega um diplomata junto a outro país.

O vocábulo missiologia também pode agrupar os significados de sua própria raiz,

significando desde uma autorização ou poder concedido por alguém,atéo enviado ser incumbido

de uma missão especial. Estas considerações se conformam aos principais textos missiológicos

dos evangelhos de Mateus (28.18-20) e de Marcos (16.15-18).

Desta forma, podemos afirmar que Missiologia é a ciência que estuda a missão

evangelizadora da Igreja, seja nacional ou estrangeira. Uma acepção técnica conduz ao conceito

de ser a disciplina da Teologia Prática que se ocupa do estudo da missão integral da igreja,

segundo a ordem imperativa de Jesus registrada no evangelho de Mateus (28.18-20) e de Marcos

(16.15-18) e confirmada pelo restante das Escrituras; e ainda, a ciência que estuda, analisa e

estabelece estratégia se formas de incentivo do trabalho missionário .

São três as tarefas da Missiologia, a saber, restrita: analisar, objetiva e criticamente os

projetos, motivos, estruturas, métodos, pautas de trabalho e lideranças que a igreja tem

desenvolvido em cumprimento ao mandamento de Deus; ampla: examina todos os tipos de

atividades humanas, quer sejam sociais, filosóficas, éticas,políticas ou de outro tipo qualquer, que

combatem os diversos males que háno mundo, para ver se as atividades são adequadas com os

critério se metas do reino de Deus; e, dogmática:a Missiologia ao investigar a Missão da Igreja

tem como fundamento a própria “missão de Deus” ao planejar a salvação dos povos. Inicialmente

chamando o povo de Israel para ser luz à todas as nações (Is 49.6), logo a seguir, por meio da

morte e ressurreição de Jesus, a comissão de Jesus à todos os seus discípulos para serem suas

testemunhas, geograficamente, até os confins da terra e, cronologicamente, atéo fim dos tempos

(Mt 28.18-20; Hb 1.8).

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A questão da definição e do conceito de missão tem sido amplamente discutida ao longo

dos anos, e a falta de um vocabulário comum no meio cristão tem causado embaraço na definição

das atividades da igreja, ou seja, naquilo que a igreja deve ou não fazer, o que émissão e o que

não é,até que ponto a igreja pode ir ou deve realizar obras tendo a convicção de que está

cumprindo fielmente o propósito Divino.

Em termos bem simplórios, pode-se dizer que missão “é o trabalho amoroso de Deus para

trazer a espécie humana, como igreja, para perto de Si”. Como conseqüência secundária,missão “é o

ministério global da igreja para evangelização mundial”. E ainda, que a qualquer atividade nas quais

os cristãos estejam envolvidos para cumprir esta tarefa, chamamos “missões”.

Essa definição ou delimitação da missão parte do conceito, o qual, como já dito, no

decorrer dos anos, tem vestido várias roupagens, dentre elas pode-se citar que Missão é:o envio de

missionários para um designado território; tem a ver com as atividades realizadas por tais

missionários; a área geográfica aonde os missionários realizam seus ministérios; a agência

missionária responsável pela logística e pelo envio de missionárisoaos seus respectivos campos; a

propagação do evangelho aos povos não alcançados; o centro do qual os misionário siradiam o

evangelho; uma série de serviços religiosos com o propósito de despertar vocações missionárias; a

propagação da fé cristã; a expensão do reino de Deus; a conversão dos povos pagãos; a plantação

de novas igrejas[1].

Percebe-se, portanto, que o conceito de missão flutuou do genérico ao específico, da

serviço à geografia, da ação ao preparo, sendo, desse modo, definidor da ação a ser desenvolvida

pelo corpo de Cristo.

Contudo, convém destacar, para melhor elucidação do tema, dois termos que devem ser

considerados para a definição do conceito, a saber, a missio Dei e a missio ecclesiae, expressões,

não cunhadas, mas utilizadas pelo missiólogo David Jacobus Bosch[2] para distinguir a missão de

Deus e a missão da igreja.

Segundo Bosch, o primeiro conceito alude a missio Dei (missão de Deus), isto é,a auto-

revelação de Deus como aquele que ama este mundo, o envolvimento de Deus no e com o mundo,

a natureza e atividade divinas, as quais abarcam a igreja e ao mundo, e das quais a igreja tem o

privilégiode participar.

Outrossim, não é demais dizer que a missão se origina em Deus, ou seja, na Trindade.

Timóteo Carriker nos ajuda a compreender melhor tal afirmação ao declarar que:

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“Portanto, ‘missão’ é uma categoria que pertence a Deus. A missão, antes de ter uma conotação humana que fala da tarefa da igreja, antes de ser da igreja, é de Deus. Esta perspectiva

nos guarda contra toda atitude de auto-suficiênciae independênciana tarefa missionária.Se a

missão é de Deus, então é dEle que a igreja deve depender na sua participação na tarefa. Isto implica numa profunda atitude de humildade e de oração para a capacitação missionária,uma dependência confiante em Deus, em vez da independência característica da queda, do dilúvio, da torre de Babel e do próprio cativeiro.”[3]

Noutra quadra, as missiones ecclesiae (missões da igreja) referem-se aos empreendimentos missionários da igreja, designando formas particulares, relacionadas com os

tempos, os lugares ou necessidades específicos, de participaçao na missio Dei.

Desse modo, a missão não é,pois, primeiramente uma atividade que a igreja realizada por

si só, mas um atributo divino. A missão éprimária;as missões são secundárias,derivadas da

primeira. Nesse toar, sua vocação étornar-se co-participante da própria ação de Deus no mundo.

A tarefa da igreja deste Deus missionário– como enviada – éver, ouvir, chamar, orientar, apontar,

ajudar e tornar-se solidária como parte do testemunho daquela ação de Deus.

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CAPÍTULO 2

A MISSIOLOGIA URBANA

O século20 testemunhou várias mudanças no cenário da população mundial. Entre elas,

a rápida urbanização. A proporção global de população urbana cresceu de 13 % em 1900 para 29

% em 1950 e, de acordo com o 2005 Revision of World Urbanization Prospects, alcançou 49 %

em 2005 (sendo que na América Latina, 78 % das pessoas moram em cidades). E, a esta altura, a população mundial, pela primeira vez na história, já tem mais habitantes urbanos do que rurais. A

população urbana mundial, estimada em 3 bilhões em 2003, deve atingir 5 bilhões até2030.

Esperava-se que a rápida urbanização significasse o triunfo do racionalismo, dos valores seculares e da desmistificação do mundo, bem como o relegar a religião a um papel secundário,

mas de acordo com um relatório do Population Fund das Nações Unidas, em 2007, “tem havido

uma renovação do interesse religioso em muitos países” [1].

Perante tais transformações, o que a Bíblia tem a ensinar sobre o cumprimento da missão

no contexto urbano? Como Paulo se relaciona com as cidades no seu ministério?O que a Igreja

pode aprender com a experiência dos cristãos da Galácia?

Paulo e as cidades

O contexto urbano era familiar para Paulo. Ele havia nascido numa região metropolitana

e conhecia a situação daquelas comunidades ao ponto de mencionar que era “natural de Tarso,

cidade não insignificante da Cilícia” (At 21:39). De fato, esse era um importante centro de

comércio,cultura e educação.[2] Além disso, foi a bem-sucedida pregação cristã em Damasco que

despertou os ataques de Paulo e ali ocorreu sua conversão (Gl 1:13-17).

Mas Paulo também via as cidades favoravelmente na estratégia evangelística. Na

verdade, ele priorizava os contextos urbanos e se dedicava, nas viagens, a visitar e evangelizar

cidades. “Elas eram centros estratégicos,não corredores, de onde o evangelho seria espalhado.

‘Todas as cidades, ou vilas, nas quais ele plantou igrejas eram centros de administração romana,

de civilização grega, de influência judia, ou de alguma importância comercial”. Paulo não pregou

em todas as cidades do caminho. Ele escolheu aquelas que, por uma razão ou outra, eram

importantes para o seu plano de rápida evangelização do império.Naqueles primeiros anos,

hámenos de uma

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5 Década da crucifixão de Jesus, a cultura de vila da Palestina havia ficado para tráse a cidade

greco-romana havia se tornado o ambiente predominante no movimento cristão.[5] E foi de

acordo com essa estratégia que Paulo escolheu trabalhar na região da Galáciae fundar igrejas ali.

Se o mundo de Paulo consistiu basicamente de cidades do Império Romano, talvez fique

mais fácil entender sua conclusão quanto a seu ministério urbano, quando diz que “desde

Jerusalém e circunvizinhanças atéao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo” (Rm 15:19).

Apesar de a epístola aos Gálatas não ser tradicionalmente uma “cartilha” para missão urbana, se

atentarmos para o contexto em que viviam as pessoas mencionadas nessa carta, certamente

poderemos extrair lições importantes para os dias atuais.

Aos gálatas

A região da Galácia tinha várias igrejas aparentemente com organização distinta e

fundadas pelo apóstolo Paulo. Esse grupo de congregações émencionado tanto em 1 Coríntios

16:1 como em Atos 18:23. O Novo Testamento não destaca nomes de lugares ou pessoas naquela

região, mas as igrejas estavam possivelmente localizadas em cidades como Icônio, Listra, Derbe e

Antioquia da Psídia. A igreja era primariamente formada por gentios, de origem celta, mas ao

redor de um núcleo de judeus conversos.[6] Essas cidades estavam situadas ao longo da Via

Sebaste, a principal rota de comércio entre Éfeso e a região oriental do império, um canal de

comunicação essencial para o governo. Por esse caminho Paulo e Barnabé viajaram, pregaram nas

sinagogas e mercados e plantaram igrejas.[7] Apesar de as igrejas gálatas estarem em erro,

continuavam sendo verdadeiras igrejas de Cristo. Como parte do seu trabalho naquela região,

procurando combater os problemas e alimentar a fé dos irmãos, Paulo escreveu a epístola aos

Gálatas.

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CAPÍTULO 3

ELEMENTOS MISSIOLÓGICOS

Ao se aproximar da epístola aos Gálatas,é importante atentar para a dimensão missionária,

nem sempre reconhecida, da teologia de Paulo. De fato, como David J. Bosch comenta, “a teologia

e missão de Paulo não simplesmente se relacionam como ‘teoria’ e ‘prática’ no sentido em que sua

missão ‘flui’ da sua teologia, mas no sentido em que sua teologia é uma teologia missionária”[8].

Neste caso, a introdução da carta oferece o pano de fundo para o seu desenvolvimento, originado na

dinâmica da comunicação do evangelho.

Reforçando as características já mencionadas, logo no início de Gálatas,Paulo menciona

sua tendência de pregar particularmente aos “de maior influência”com o objetivo claro de “não

correr ou ter corrido em vão” (Gl 2:2) e de delegação do trabalho, o que é detalhado no final do

capítulo 1 e no capítulo 2. Além disso, sendo sensível à cultura local, Paulo se apresenta como

“sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl 1:14). Tal zelo, no entanto, é ainda

maior quanto ao evangelho supracultural. Em relação ao conteúdo do evangelho, J. Herbert Kane,

destaca que Paulo era inflexível e dogmático .A mensagem jamais podia ser mudada, nem por um

anjo do Céu:“Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do Céu vos pregue evangelho que vá

além do que vos temos pregado, seja anátema”(Gl 1:8) [9]. O resultado da missão de Paulo na

Galácia,seguindo esses princípios não poderia ter sido mais legítimo. Como George Knight

enfatiza, além de responderem ao evangelho com entusiasmo (Gl 4:13, 14; 1:9), as pessoas tinham

recebido o Espírito de Deus, que havia operado milagres (Gl 3:2, 3, 5). “Eles tinham tido uma

experiência cristã genuína.”

Autoridade na Palavra de Deus. Algumas atitudes infiltradas nas comunidades da Galácia,

motivo para o envio da carta, passaram a minar aquela experiência inicial. Paulo não começa sua

epístola da maneira habitual, louvando a Deus e orando pelos santos, porque “há alguns que vos

perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Gl 1:7). Esses falsos mestres aparentemente

haviam tido bastante sucesso nas suas investidas e haviam desviado um grande número de

membros das igrejas da Galácia, em pouco tempo (Gl 1:6). Gálatas convertidos haviam se

apostatado através dessa influência e foram chamados por Paulo de “insensatos!” (3:1).

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Nesse contexto, até a autoridade de Paulo estava sendo questionada. Apesar de esse

questionamento não aparecer explicitamente, o apóstolo inclui duas seções longas reafirmando

sua conversão e caminhada espiritual que certamente serviram a esse propósito (1:11-24 e 2:11-

21). Ele relembra sua vida anterior de perseguição à igreja de Deus (1:13), sua aprovação pelos

demais apóstolos Cefas e Tiago (1:18-19) e pelas igrejas da Judeia (1:22-24). A sua autoridade, no

entanto, não estava primariamente baseada nesses fatos: “Faço-vos, porém,saber; irmãos, que o

evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não recebi, nem o aprendi de

homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo” (1:11-12).

Salvação em Cristo.

Esses falsos mestres eram judaizantes, talvez os mesmos que haviam causado problema

em Antioquia da Síria (At 15:1), enfatizavam um retorno às tradições judaicas em detrimento do

verdadeiro significado do ministério de Cristo e foram qualificados por Paulo de “falsos irmãos

que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus e

reduzir-nos à escravidão” (Gl 2:4). Esses “missionários”, diferentemente da contextualização

sábia típica das missões de Paulo, queriam impor sua cultura aos gentios como parte do

evangelho.

Tão logo o Evangelho passou a ser pregado àqueles que não eram judeus, as diferenças

culturais ficaram evidentes na vivênciado cristianismo e no convívio entre eles. Paulo se dedicou

à missão entre os gentios (2:7-8). Num primeiro momento de compreensão e adaptação, até

mesmo os líderes tiveram dificuldade em lidar com as diferenças. Paulo cita que até mesmo

Pedro, ao visitar Antioquia, agiu de modo incoerente com o evangelho da graça (2:12).

Apesar do acirrado debate missiológico nos dias de Paulo envolver a questão prática da

circuncisão (Gl 2:3-4, 7-9), a pergunta era: como ser salvo? Em resposta a essa pergunta, na parte

central da epístola, Paulo comenta sobre (1) a fé, (2) a lei, (3) os cristãos e (4) Cristo.

Primeiramente, ele declara que “o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé

em Cristo Jesus” (2:16). E então faz uma pergunta retórica conectada à própria experiência dos

gálatas:“Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação

da fé?” (3:2). Finalmente, um lembrete sobre o exemplo da fé de Abraão (3:6, Abraão é

mencionado novamente em Gl 4:21-31 para demonstrar a prática da justificação pela fé)e o resgate

do texto de Habacuque 2:4: “O justo viverá pela fé” (Gl 3:11). Em seguida, Paulo passa para a

razão de ser da lei (3:19) e conclui que “a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de

que fôssemos justificados por fé” (3:24).

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Na sequência,Paulo destaca de forma especial que se alguém aceita Jesus, torna-se filho

de Deus, portanto descendente de Abraão e herdeiro da promessa dada a Abraão. O conceito é

expandido alguns versos depois com a conclusão de que acima de tudo aquele que aceita Jesus é

um herdeiro de Deus (3:26). “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem

liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo,

também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (3:28 e 29).

Paulo chega ao cerne da questão ao apresentar de forma compacta e concentrada quem é

Jesus: “Vindo, porém,a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido

sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos”

(4:3). Posteriormente, Paulo deixa claro o propósito da sua perseverança “até ser Cristo formado

em vós” (4:19), já que era importante que entendessem que Cristo era o libertador (5:1). Paulo

ainda faz uma advertência:“De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da

graça decaístes” (5:4).

Como foi mencionado anteriormente, nesta epístola Paulo não está tão preocupado com a

circuncisão, apesar de mencionar essa questão, ou outro aspecto da lei, em particular, como o falso

ensinamento de que o homem pode se salvar pelas obras, a conciliação do papel da lei e o

sacrifício de Cristo (4:8-10).[11] Seguindo a coerência da sua argumentação sobre o

relacionamento entre Cristo e a lei, sobre a circuncisão Paulo diz: “Se vos deixardes circuncidar,

Cristo de nada vos aproveitará.De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está

obrigado a guardar toda a lei” (5:2-3). Mesmo que chocante para alguns, no seu fervor, Paulo

define: “Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a

fé que atua pelo amor” (5:6).

Autenticidade no Espírito.

Na última seção do livro, o apóstolo apresenta as credenciais de um cristão autêntico,que

pratica aquilo que prega. Paulo introduz essa parte relembrando a própria experiência(4:16-20)

mais uma vez. Em seguida, apela aos gálataspor uma vida liberta dos preconceitos tradicionais,

mas firme na féem Jesus Cristo (5:13-15); uma vida de abundante graça, esperança da justiça e

atos de amor (5:4-6). Dessa forma, a Igreja na Galácia seria conhecida por andar no Espírito e

jamais satisfazer à concupiscência da carne (5:16), por frutificar no Espírito e crucificar na carne.

Essa mudança também serviria de antídoto para as dificuldades do dia-a-dia. “Irmãos, se

alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de

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9 brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado” (6:1). Se alguém tiver uma carga muito

pesada, “levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo” (6:2). Finalmente,

cultivem o amor “e não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não

desfalecermos. Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas

principalmente aos da família da fé” (6:9, 10).

Os conselhos práticos de Paulo se encontram após uma pequena introdução entre as duas

últimas vezes que Paulo usa a palavra “lei”, sem querer recomeçar a discussão. Ele apresenta que

essa seria uma vida de verdadeiro cumprimento da lei de Deus, “porque toda a lei se cumpre em

um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (5:14). “Pois nem mesmo

aqueles que se deixam circuncidar guardam a lei; antes, querem que vos circuncideis, para se

gloriarem na vossa carne” (6:13).

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CAPÍTULO 4

TEOLOGIA DA MISSÃO

Até o século XVI , o conceito de missão aplicava-se somente às missões divinas, á

missão do Filho e à missão do Espírito Santo. No século XVI, os jesuítas usaram esse conceito

para expressar a atividade de expansão do cristianismo no mundo recém descoberto.

A entrega da missão aos discípulos

A missão pela qual Jesus foi enviado pelo Pai, Jesus a transmite aos seus discípulos.

“Como o meu Pai me enviou, também eu vos envio”. O que se comunica não é somente o fato de

ser enviado, mas todo o conteúdo do envio, a obra do Pai que é preciso realizar. O conjunto do

Novo Testamento mostra que Jesus delega toda a sua missão aos discípulos. Essa missão não é

algo além das outras prescrições. Não é um novo mandamento ao lado de outros, não é outra obra

como se houvesse outra ao lado. A missão é tudo, toda a vida dos discípulos, já que Jesus exige

deles a totalidade da sua vida, no tempo, no espaço, na intensidade.

Os discípulos são aqueles que são enviados ao mundo como presença ativa de Jesus. Por

meio deles Jesus realiza a sua missão. Não quer dizer que Jesus abandona a sua missão e

descansa, mas que doravante a sua missão Ele a realiza usando as pessoas dos seus discípulos.

Todas as atividades dos cristãos são ou deveriam ser parte da missão de Jesus.

Esta delegação da missão dirige se ao povo inteiro, pois os discípulos são o núcleo

inicial do povo. A missão dirige-se ao povo como coletividade e a cada um dos membros desse

povo. Não há uma ação única do povo da qual todas as ações particulares seriam uma peça.

Cada ação individual tem a sua autonomia e o seu valor próprio. Mas, todas juntas estão

inseridas numa obra comum que é a missão entregue ao povo como totalidade. Não é uma

totalidade de tipo militar ou imperial em que todos copiam o mesmo esquema de ação e obedecem

a um mesmo plano, mas uma totalidade unida pelo sopro do mesmo Espírito com a maior

diversidade de aplicações particulares.

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CAPÍTULO 5

O QUE É MISSÃO?

O envio aos pobres Jesus foi enviado aos pobres.

Os Sinóticos mostram-no vivendo no meio do povo pobre de Galiléia, em disputa

permanente com as autoridades. O evangelho de Lucas está centrado na oposição ricos-pobres e o

Magníficat representa de certo modo a sua síntese. Também as bem-aventuranças são muito

claras. Paulo é claríssimo na sua opção. Para ele, a missão dirige-se ao pobres a tal ponto que quis

viver do seu trabalho manual como um pobre. Em João, a vida de Jesus foi um imenso debate

entre Jesus e as autoridades.

Os discípulos são os pequenos e Jesus defende os pequenos contra a dominação dos

grandes. Esta doutrina tão evidente foi esquecida durante quase sete séculos,mas ela reapareceu

nas crises sociais do século XIX.

Há sobretudo uma geração de missionários que foram para os pobres entregar a boa

notícia que lhes era destinada. Desde então, a consciência de que os pobres são os destinatários da

missão permanece mais nos textos do que na realidade, mais nas palavras do que nas ações.

Por que a missão é envio aos pobres? Porque o objeto da missão é para eles uma

mensagem de alegria e que não o é para todos. O objeto da missão é o anúncio da chegada do

reino de Deus. O reino de Deus é a libertação dos pobres: a realização das bem-aventuranças, a

realização das promessas proclamadas por Maria. Um mundo novo está começando. Já começou

com a chegada de Jesus e continuará com a missão dos discípulos.

É o advento da vida. Como diz Jesus às autoridades de Israel: eles só querem a morte,

mas Jesus quer a vida de todos aqueles que as autoridades querem matar. O evangelho de João

expressa essa libertação com imagens muito fortes. O que está acontecendo, o que éa missão de

Jesus éo combate final entre Deus e Satanás .Satanás quer a morte e seduz por meio de mentiras.

Ele atua por meio das autoridades de Israel, os sacerdotes, os doutores, os poderosos, os fariseus,

todos aqueles que exigiram que Pilatos condenasse Jesus à morte. Todos eles querem a morte,

mas Jesus vem para dar vida a todas essas vítimas. Por um lado estão os poderosos e por outro

lado estão as vítimas dos poderosos.

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Esse reino de Deus é boa nova para todos aqueles que ainda esperavam nas promessas

dos profetas. Pois, a libertação anunciada por Jesus é obra de justiça, recuperação da dignidade e

dos direitos dos pobres, reconquista da auto-estima depois de tantas humilhações. A missão da

Igreja é anunciar, proclamar esse evangelho, mas também trabalhar para esse advento. Pois, Jesus

não veio anunciar um milagre, mas a chegada de uma era nova em que os próprios pobres,

animados pelo Espírito de Deus, poderiam recuperar a vida, recuperar a liberdade, a dignidade

humana.

O reino de Deus não vem por milagre, mas pela ação do próprio povo pobre. A missão

de Jesus é essa ação do povo pobre que se liberta. A missão do povo de Deus éentrar na

caminhada de libertação conduzida pela força do Espírito Santo. Por todas essas razões a missão

se dirige para os pobres.

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CAPÍTULO 6

HISTORICIDADE DA MISSÃO

As condições históricas

A missão começou na terra de Israel. Segundo Lucas ou João, ela teria começado em

Jerusalém. Segundo Mateus e Marcos, ela começou na Galiléia. Ela deve ter começado

simultaneamente em Jerusalém e na Galiléia.Então começou a dispersão, lenta primeiro e mais

acelerada depois. Os apóstolos não eram nem geógrafos, nem estratégias. Não elaboraram

nenhum plano. Seguiram os caminhos abertos. Viram onde estavam as portas abertas. Não

puderam evangelizar o mundo inteiro de uma vez.

Paulo teve um pouco a ilusão de percorrer o mundo inteiro com a sua viagem a Espanha.

Mas, os missionários tiveram que descobrir um Império imenso feito de 50 povos. Depois da

primeira geração, a missão não foi feita em primeiro lugar por missionários enviados

oficialmente. A mensagem de Jesus foi levada por comerciantes, viajantes, soldados itinerantes.

Viajava-se muito no Império Romano. Tudo foi feito pelas estradas existentes.

As condições políticas

A terra de Israel estava dentro do Império Romano. Por isso a missão estendeu-se ao

Império Romano e permaneceu dentro dos limites do Impériona sua quase totalidade até o século

VIII, quando Carlos Magno fez a conquista da Germânia. Uma vez que o cristianismo se tornou

religião oficial do Império,a entrada nos países inimigos foi mais difícil.

Milhares de mártires morreram no Império persa por causa da guerra entre Roma e a

Pérsia.Ainda hoje, a missão cristã é quase impossível em todo o mundo muçulmano por causa das

guerras incessantes entre a cristandade e o Islã. Foram 1400 anos de guerra. Isto torna o diálogo

muito difícil. Muitos países entraram na cristandade como consequência da conquista militar: os

povos germânicos e eslavos, os povos da América e grande parte da África. Os que resistiram à

conquista, resistiram também à religião dos conquistadores, como na China ou no Japão. De

qualquer maneira, a colonização deixou uma implantação forte do cristianismo na América,nas

Filipinas, na Sibéria.Houve tentativas de missão entre os mongóis na idade média.Mas era preciso

contornar todo o mundo muçulmano, e, finalmente, boa parte dos mongóis entrou no Islã.

Condições culturais Certas culturais mostraram-se mais abertas e outras mais fechadas, não

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14 somente por razões políticas, mas por razões culturais. Alguns povos puderam achar que podiam

combinar a sua própria cultura com o cristianismo e outros não.

O cristianismo encontrou um terreno muito favorável na África, mas muito mais difícil

na Ásia, por causa da resistência de religiões mais antigas e amalgamadas com culturas milenares.

A rigidez do sistema católico tornou o diálogo mais difícil. Depois de Trento, o catolicismo se

fechou num sistema rigoroso de dogmas, ritos e leis que constitui um obstáculo maior para a

missão. Pois, a missão da Igreja pede ao mesmo tempo a conversão ao evangelho e a aceitação de

todo o sistema religioso da cristandade ocidental. Em muitos casos, o próprio cristianismo

desaparece debaixo da abundância de formas culturais do sistema católico. Ninguém consegue

mais reconhecer a mensagem de Jesus debaixo de um revestimento tão sólido.

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