cisto do ducto nasopalatino: relato de caso...

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CISTO DO DUCTO NASOPALATINO: RELATO DE CASO NASOPALATINE DUCT CYST: A CASE REPORT Cristiane Portes Pinheiro Carrijo 1 ; Ana Claudia Galvão de Aguiar Koubik 2 1 Pós-graduanda do Curso de Especialização de Radiologia Odontológica e Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR). 2 MSc, Professora Orientadora do Curso de Especialização de Radiologia Odontológica e Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR). Endereço para correspondência: [email protected] RESUMO O cisto do ducto nasopalatino é o cisto não odontogênico mais frequente da cavidade oral, derivado de células remanescentes do ducto nasopalatino com proliferação espontânea ou provocada por traumas, infecções ou processos inflamatórios. Demonstra predileção pelo sexo masculino e sua maior incidência ocorre entre os 40 a 60 anos, sem preferência por raça. Radiograficamente apresenta-se na região anterior da maxila como uma imagem radiolúcida, circunscrita, bem delimitada, oval, circular ou em formato de coração. O tratamento indicado é a remoção cirúrgica, sendo a biópsia e análise anatomopatológica imprescindíveis. No presente estudo os achados clínicos e radiográficos, bem como tratamento de um cisto do ducto nasopalatino foram relatados, demostrando a necessidade da identificação por um clínico geral desde o início de sua suspeita, evitando assim erros no tratamento. Palavras chaves: cisto do ducto nasopalatino, cisto não odontogênico, cisto de desenvolvimento. ABSTRACT The nasopalatine duct cyst is the most common non-odontogenic cyst of the oral cavity, cells derived from remnants of nasopalatine duct proliferation spontaneously or caused by trauma, infection or inflammation. Shows a predominance of males and its incidence is higher among 40-60 years old, without racial prevalence. Radiographically it shows in the anterior maxilla as a radiolucent, circumscribed, well-defined, oval, round or heart-shaped. The recommended treatment is surgical removal, biopsy and histopathological analysis is essential. In the present study, the clinical and radiographic findings, and treatment of nasopalatine duct cysts were reported, demonstrating the need for identification by a general practitioner from the beginning of his suspicion, thus avoiding mistakes in treatment.

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CISTO DO DUCTO NASOPALATINO: RELATO DE CASO

NASOPALATINE DUCT CYST: A CASE REPORT

Cristiane Portes Pinheiro Carrijo1; Ana Claudia Galvão de Aguiar Koubik2

1 Pós-graduanda do Curso de Especialização de Radiologia Odontológica e Imaginologia da

Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR).

2 MSc, Professora Orientadora do Curso de Especialização de Radiologia Odontológica e

Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR).

Endereço para correspondência: [email protected]

RESUMO

O cisto do ducto nasopalatino é o cisto não odontogênico mais frequente da cavidade

oral, derivado de células remanescentes do ducto nasopalatino com proliferação

espontânea ou provocada por traumas, infecções ou processos inflamatórios.

Demonstra predileção pelo sexo masculino e sua maior incidência ocorre entre os 40 a

60 anos, sem preferência por raça. Radiograficamente apresenta-se na região anterior

da maxila como uma imagem radiolúcida, circunscrita, bem delimitada, oval, circular

ou em formato de coração. O tratamento indicado é a remoção cirúrgica, sendo a

biópsia e análise anatomopatológica imprescindíveis. No presente estudo os achados

clínicos e radiográficos, bem como tratamento de um cisto do ducto nasopalatino

foram relatados, demostrando a necessidade da identificação por um clínico geral

desde o início de sua suspeita, evitando assim erros no tratamento.

Palavras chaves: cisto do ducto nasopalatino, cisto não odontogênico, cisto de

desenvolvimento.

ABSTRACT

The nasopalatine duct cyst is the most common non-odontogenic cyst of the oral

cavity, cells derived from remnants of nasopalatine duct proliferation spontaneously or

caused by trauma, infection or inflammation. Shows a predominance of males and its

incidence is higher among 40-60 years old, without racial prevalence. Radiographically

it shows in the anterior maxilla as a radiolucent, circumscribed, well-defined, oval,

round or heart-shaped. The recommended treatment is surgical removal, biopsy and

histopathological analysis is essential. In the present study, the clinical and

radiographic findings, and treatment of nasopalatine duct cysts were reported,

demonstrating the need for identification by a general practitioner from the beginning

of his suspicion, thus avoiding mistakes in treatment.

Keywords: nasopalatine duct cyst, non-odontogenic cyst, cyst development.

1 INTRODUÇÃO

O cisto do ducto nasopalatino é

o cisto não odontogênico mais

frequente da cavidade oral,

representando 1% de todos os cistos

maxilares.¹ É um cisto de

desenvolvimento epitelial que ocorre a

partir de células remanescentes do

ducto nasopalatino frente à uma

proliferação espontânea levando à

formação da lesão ou a partir de

traumas, infecções ou ainda processos

inflamatórios.¹ São lesões 3 vezes mais

frequentes no sexo masculino e sua

maior incidência ocorre entre os 40 a

60 anos, sem predileção por raça.1

Na presença de sintomatologia,

a principal queixa do paciente é o

aumento de volume na região anterior

do palato duro, podendo ocorrer

também sensação de queimação na

região, mas na grande maioria dos

casos apresenta-se assintomático.2 O

cisto do ducto nasopalatino é

normalmente descoberto em achados

radiográficos em exames de rotina ou

exames com outras finalidades.2

Radiograficamente observa-se na

região anterior da maxila uma área

radiolúcida, circunscrita, bem

delimitada, oval, circular ou em

formato de coração.2 Pode-se ainda

notar a integridade da lâmina dura dos

dentes adjacentes à lesão, assim como

teste de vitalidade pulpar positivo.2

O tratamento indicado para o

cisto do ducto nasopalatino é a

remoção cirúrgica da lesão, entretanto

em lesões de grande extensão o

manejo inclui marsupialização previa à

sua remoção.3 A biópsia e análise

anatomopatológica também são

indicadas em todos os casos, apesar do

potencial de malignização ser ínfimo.3

O objetivo do presente estudo é

realizar uma breve revisão da literatura

sobre o cisto do ducto nasopalatino e

relatar um caso discutindo aspectos

relevantes acerca de suas

características clínicas, radiográficas e

tratamento.

2 REVISÃO DA LITERATURA

Escoda et al.1 (2008) realizaram

uma análise de 22 casos e revisão de

literatura de lesões císticas do ducto

nasopalatino com confirmação

histopatológica. O período de

observação foi compreendido de 1970

a 2006 (36 anos), em todos os casos

foram analisadas radiografias

panorâmicas e tomografias

computadorizadas, assim como

ressecção cirúrgica e biópsia. Do total

de 22 pacientes, 12 eram homens e 10

mulheres, com idades entre 16 e 73

anos, sendo a média de 46 anos com

pico de incidência entre 50 e 60 anos.

Dos pacientes avaliados apenas 7

apresentavam doenças pré-existentes

como hipertensão (n=4), doença

pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)

(n=2), úlcera gástrica (n=3),

hipercolesterolemia (n=2) e um único

paciente com histórico de três

derrames. Em 8 pacientes o cisto

estava relacionado à infecção

secundária crônica dos incisivos

centrais relacionada a trauma, doença

periodontal ou tratamento

endodôntico mal sucedido. Em 2

pacientes o ducto nasopalatino pode

ter sido infectado por via nasal, pois os

pacientes apresentavam rinite crônica

bacteriana assintomática na época do

diagnóstico. Apenas 8 pacientes não

apresentavam nenhuma patologia

associada à lesão. Em 14 casos os

pacientes se apresentavam

assintomáticos, 4 apresentaram

inflamação na região e os outros 4

reportaram dor e ulceração. Em todos

os casos o tratamento foi a completa

remoção cirúrgica da lesão, onde o

acesso palatino ocorreu em 21 casos e

o acesso vestibular em 1 caso apenas.

Na análise histológica dos casos foram

encontrados exclusivamente células

epiteliais escamosas em 15 casos

(68,18%), e nos outros 7 (31,82%) dos

casos associadas a essas células haviam

células epiteliais cilíndricas ciliadas. Foi

realizado acompanhamento

radiográfico e 20 lesões se

apresentaram completamente curadas

após um ano. Houve recidiva após três

anos em 3 casos. Acompanhamento

radiográfico anual é sugerido.

Para Cecchetti et al.2 (2013) em

seu estudo de 52 casos de retrospectiva

epidemiológica encontraram em um

período de análise de 14 anos (de 1998

a 2012) 52 casos confirmados de cisto

do ducto nasopalatino, radiografias

panorâmicas foram solicitadas em

todos os casos e TC somente em alguns

casos. Biópsias após a remoção

cirúrgica foram realizadas. Dos 52

pacientes analisados 32 pacientes

(61,5%) eram homens e 20 pacientes

(38,5%) eram mulheres. A idade média

encontrada foi a de 54,5 anos. 15

pacientes apresentaram doenças pré

existentes com interesse clínico: 6

hipertensos, 5 diabéticos tipo II, 3

apresentaram osteoporose idiopática e

1 tireoidite de Hashimoto. Em 44 casos

a localização da lesão era superficial ou

palatina, somente em 8 casos ela se

apresentou na região nasal, mais

superior. Na cirurgia de remoção da

lesão, em todos os 52 casos foi

associada a excisão cirúrgica à

dissecção piezocirúrgica.

Radiograficamente as lesões se

apresentaram radiolúcidas e bem

delimitadas, medindo entre 1 e 2 cm,

com formato circular, ovóide ou em

formato de coração. A análise

histológica mostrou células epiteliais

escamosas em 32 lesões (61,5%) e em

20 casos (38,5%) uma combinação

dessas com células cilíndricas ciliares.

Foi encontrada recidiva em 15% dos

casos. Os resultados dessas análises

confirmam que o cisto do ducto

nasopalatino é uma entidade

patológica não rara com prognóstico

favorável de tratamento, sem risco de

complicação pós cirúrgica, e com

importância do diagnóstico precoce

para evitar sintomas desagradáveis.

Conte Neto et al.3 (2010)

relataram um caso clínico de cisto do

ducto nasopalatino em um paciente do

sexo feminino, 33 anos, com achado

radiográfico em exame de rotina, na

história odontológica da paciente

consta tratamento endodôntico prévio

nos dentes 11 e 12 com insucesso no

tratamento. Anterior ao retratamento

endodôntico, a primeira radiografia

periapical mostrou uma imagem

radiolúcida, bem delimitada, em

formato de coração na região anterior

localizada entre os incisivos laterais

envolvendo os centrais, além disso,

apresentava rarefações ósseas

circunscritas às regiões periapicais dos

dentes 11 e 12. Seis meses após o

retratamento endodôntico pode-se

observar numa radiografia periapical, a

mesma imagem em formato de coração

observada na primeira radiografia

periapical, entretanto as rarefações

ósseas circunscritas aos ápices dos

dentes 11 e 12 desapareceram e houve

neoformação óssea. Os dentes 21 e 22

apresentaram teste de vitalidade

positivo. Baseado nas análises clínicas e

radiográficas a hipótese diagnóstica foi

cisto do ducto nasopalatino associada a

uma lesão inflamatória periapical. Foi

realizada a enucleação total do cisto e

enviado para análise histopatológica. O

histopatológico revelou uma cavidade

cística, delineada por epitélio cubóide e

respiratório, sustentados por tecido

conjuntivo denso, associado a nervos,

artérias, glândulas salivares e células

inflamatórias crônicas. Concluíram que

o cisto do ducto nasopalatino é o mais

comum cisto não odontogênico da

cavidade oral, usualmente detectado

em exames de rotina ou exames com

outra finalidade, independente da sua

busca. Seu diagnóstico precoce se faz

importante para evitar tratamento

endodôntico desnecessário e

complicações. Seu tratamento e a

completa remoção cirúrgica e sua

recorrência é rara.

Noleto et al.4 (2010) reportaram

caso clínico em paciente pediátrico,

sexo masculino, 10 anos de idade que

se submeteu a exames radiográficos

para tratamento ortodôntico onde se

observou imagem radiolúcida,

unilocular, bem delimitada por halo

radiopaco, de aproximadamente 1,8 cm

de diâmetro, localizada na linha média

entre os ápices dos incisivos 11 e 21.

Foi confirmada a localização através de

TC. Por se caracterizar como lesão

benigna foi feita biópsia excisional. O

exame anatomopatológico revelou

cavidade cística revestida por epitélio

pavimentoso estratificado e epitélio

colunar pseudo estratificado ciliado,

com parede fibrosa apresentando

nervos e vasos sanguíneos. Aspectos

que confirmaram a hipótese

diagnóstica de cisto do ducto

nasopalatino. Exame radiográfico após

18 meses confirmou neoformação

óssea na região. Concluiu-se que o cisto

do ducto nasopalatino é uma entidade

benigna com condição de prognóstico

favorável, sendo sua enucleação de

baixa morbidade e eficaz no

tratamento de lesões pequenas.

Para Sharma et al.5 (2012), o

cisto do ducto nasopalatino é oriundo

de remanescentes do ducto

nasopalatino, entretanto como cita

Sharma, para a Organização Mundial de

Saúde ele é classificado como cisto de

desenvolvimento, epitelial e não

odontogênico. Em seu estudo foram

avaliados dois casos clínicos de

pacientes portadores de lesões císticas,

ambos com queixa de inchaço na região

anterior do palato duro, o caso 1 com a

presença de pus e o caso 2 com queixa

de dor, ambos com dentes vitais e com

radiografias que apresentavam região

radiolúcida bem delimitada com

formato de coração na região anterior

superior da maxila, próxima aos dentes

11 e 21. Foram feitas cirurgias de

remoção da lesão e ambos

confirmaram cisto do ducto

nasopalatino. O objetivo deste trabalho

foi elucidar uma situação de inchaço

não usual do palato além de dor e um

diagnóstico diferencial do aumento

anatômico do ducto. Conclui que esses

casos por eles estudados apresentam a

necessidade de identificação clínica e

radiográfica da entidade no inchaço da

região anterior do palato.

Nelson, Linfesty6 (2010)

relataram um caso clínico de cisto do

ducto nasopalatino, em um homem de

41 anos, com achados radiográficos

característicos, lesão radiolúcida bem

delimitada com formato de coração,

sobreposta à espinha nasal anterior e

sem reabsorção radicular. As

características histológicas

apresentadas foram um cisto

delimitado por epitélio escamoso

pseudoestratificado e epitélio cubóide,

apresentando tecido conjuntivo

fibrovascular, artérias, veias, glândulas

salivares menores e nervos. Concluíram

que o melhor tratamento para o cisto é

a sua completa remoção, normalmente

por palatino, seguida de biópsia e sua

recidiva é rara.

O estudo realizado por Martins et al.7

(2007) descreveu uma paciente do sexo

feminino, 22 anos, com achado

radiográfico em região anterior da

maxila, sem histórico de trauma e sem

características clínicas visíveis com

dentes vitais. A lesão observada

apresentava formato de pêra e estava

localizada entre os ápices dos incisivos

centrais superiores, a hipótese de

diagnóstico foi cisto do ducto

nasopalatino. Foi realizada biópsia

excisional e análise anatomopatológica.

Foi encontrado tecido conjuntivo

denso, revestido parcialmente por

epitélio cuboidal, em algumas regiões

ciliado, feixes de tecido nervoso,

muscular e células adiposas. De acordo

com os achados e revisão de literatura,

a conclusão foi que o cisto do ducto

nasopalatino é o cisto não

odontogênico mais frequente da

cavidade oral e apesar de se

caracterizar por crescimento lento e

assintomático, deve ser identificado e

tratado com remoção cirúrgica tendo

em vista que seu crescimento pode

ocasionar alteração nos dentes,

expansão óssea e dor.

Manne et al.8 (2013)

apresentaram um caso de cisto do

ducto nasopalatino com variantes

quanto à sua ocorrência, a idade, o

sexo e o tamanho da lesão. O caso

ocorreu em uma paciente do sexo

feminino, 22 anos, com uma queixa de

inchaço gradual, sem outros sintomas

associados além de eventual gosto

salgado na boca, sem histórico de

trauma, de doenças ou de parafunções.

No exame clínico foi observado inchaço

de 3 x 3 cm na região anterior do palato

duro envolvendo a papila incisiva e

testes de vitalidade dos dentes

associados resultaram positivos. Foi

realizada radiografia periapical onde

identificaram lesão cística em formato

de coração entre os ápices dos incisivos

centrais superiores. Foi removida

cirurgicamente a lesão e a análise

anatomopatológica resultou em cisto

parcialmente revestido por epitélio

pseudo estratificado ciliado e

parcialmente por epitélio escamoso

não queratinizado, tecido conjuntivo

com grandes áreas hemorrágicas,

grande coleção de vasos sanguíneos,

nervos e células inflamatórias de

infiltrado crônico, compatível com

CDNP. Esse caso foi considerado

variante do comum por seus autores

por ocorrer na terceira década de vida,

num paciente sexo feminino, com

recidiva, apresentando grande

diâmetro desde o palato até o epitélio

nasal.

Oliveira et al.9 (2009), em um

relato de caso de cisto do ducto

nasopalatino de paciente sexo

masculino da clínica de odontologia da

UFVJM, avaliaram um caso associado a

tratamento endodôntico insatisfatório,

onde o paciente apresentava edema e

abaulamento das corticais ósseas

vestibulares e palatinas na região dos

11 e 21. Realizaram testes de vitalidade

pulpar e obtiveram respostas negativas.

Foi feita punção aspirativa positiva para

líquido. Indicado retratamento

endodôntico dos 11 e 21, sem melhora

clínica com o procedimento. Novo

planejamento terapêutico foi feito na

suspeita de ser uma lesão de origem

não odontogênica. A técnica cirúrgica

escolhida foi a marsupialização seguida

de biópsia. Laudo histopatológico

confirmou ser um cisto do ducto

nasopalatino. O paciente permaneceu

em preservação e ao exame

radiográfico mostrou neoformação

óssea na região que anteriormente era

ocupada pelo cisto. A conclusão é que

apesar de ser o cisto não odontogênico

mais frequente na cavidade oral, seu

diagnóstico mostra-se difícil e a falta de

conhecimento sobre o assunto pode

levar a erros de diagnóstico e conduta

terapêutica.

Bachur et al.10 (2009), em uma

análise sobre as considerações

microscópicas e de diagnóstico

diferencial do cisto do ducto

nasopalatino compararam os

diagnósticos feitos pelos cirurgiões que

atenderam pacientes com algumas

características afins, como idade do

paciente, sexo, região da lesão e o fato

de serem descobertas em radiografias

de rotina. Foram estudados 4 casos

onde apenas um apresentava aumento

de volume palatino. Os 4 casos

acometeram pacientes com idades

entre 41 e 72 anos (média de 53 anos).

A imagem radiográfica das 4 lesões se

mostravam bem delimitadas,

localizadas entre os incisivos centrais e

superiores com tamanho variando

entre 1,0 a 4,0 cm de diâmetro (média

de 2,0 cm). Todos os casos foram

tratados com remoção cirúrgica

completa da lesão. Os diagnósticos

dados pelos profissionais que trataram

os pacientes foram: 2 casos

apresentaram cisto do ducto

nasopalatino como diagnóstico, 1 caso

apresentou como cisto periapical e 1

caso apresentou como cisto. Os

pacientes com cisto do ducto

nasopalatino geralmente são

submetidos a tratamento endodôntico

dos dentes 11 e 21 em virtude de

avaliações clínico radiográficas

deficientes, falhando muitas vezes com

o teste de vitalidade pulpar e avaliação

criteriosa da integridade da lâmina dura

dos dentes associados. A conclusão é

que devem ser consideradas como

possibilidades diagnósticas nas áreas

radiolúcidas da linha média da maxila e

sua investigação deve ser

complementada por exames

radiográficos da região e por testes de

vitalidade pulpar. São tratados com

enucleação simples e análise

anatomopatológica da peça removida.

Em um estudo sobre a

prevalência, distribuição e diagnóstico

diferencial de cistos do ducto

nasopalatino Cecchetti et al.11 (2012)

descreveram que o cisto do ducto

nasopalatino é o cisto não

odontogênico mais comum na cavidade

oral, o teste de vitalidade é

imprescindível para auxiliar o

diagnóstico, o tratamento de escolha é

a remoção cirúrgica completa da lesão

seguida da análise histopatológica da

mesma, e que o diagnóstico definitivo é

estabelecido somente por análise

histológica da lesão. Relataram que

deve ser realizado acompanhamento

pós-operatório clínico e radiográfico.

Concluíram também que houve

variação considerável do tipo de

epitélio de revestimento, inclusive na

mesma lesão.

Chen et al.12 (2011) realizaram

um estudo sobre o potencial de

crescimento do cisto do ducto

nasopalatino quanto esse alcança os

espaços medulares. No seu estudo foi

relatado um caso clínico onde um

paciente do sexo masculino, 59 anos,

usuário de prótese total observou o

inchaço da região anterior do palato

duro. Em radiografia panorâmica foi

observada severa reabsorção na região

anterior da maxila, em seguida

solicitada tomografia computadorizada,

onde se observou a reabsorção, foi

realizada biópsia excisional e remoção

da lesão. A análise histopatológica

confirmou a presença de lesão cística

com epitélio bem definido com a

presença de células escamosas, células

ciliares ou uma combinação delas na

mesma peça, além de infiltrado

inflamatório e celular hemorrágicas.

Segundo este estudo o padrão de perda

óssea é lento e o potencial de

malignização é raro, mas a perda óssea

associada à lesão é extensa devendo

ser tratada o quanto antes, é indicado

acompanhamento radiográfico anual

após completo restabelecimento da

região afetada.

Cicciù et al.13

(2010) discutiram

sobre um caso raro de duplo

acometimento do cisto do ducto

nasopalatino, em ambos os canais de

Stenson, a lesão ocorreu em um

paciente do sexo masculino, 35 anos

com queixa de inchaço na região

anterior do palato duro. Foram

realizados exames radiográficos,

radiografia panorâmica e tomografia

computadorizada, foi também

realizado teste de vitalidade que

resultou positivo, o diagnóstico

diferencial da lesão foi feito com tumor

odontogênico queratocístico. O

resultado do exame

anatomopatológico foi parede fina,

com epitélio cubóide a colunar onde

foram encontradas células goblet,

células essas características de

revestimento do epitélio respiratório. O

cisto do ducto nasopalatino pode

ocorrer bilateralmente como descrito

neste caso.

Para Pavankumar et al.14 (2010)

o cisto do ducto nasopalatino tem

origem incerta, se mostra mais

prevalente entre a quarta e sexta

década de vida, não apresentam

predileções raciais e são assintomáticos

na ausência de infecção. Quando

presentes devem se evitar fatores

irritantes e remover cirurgicamente o

quanto antes. O diagnóstico diferencial

deve ser baseado nas características

clínicas e exames radiográficos além da

tomografia computadorizada. O

diagnóstico definitivo é estabelecido

somente com o estudo

anatomopatológico da lesão. Após a

remoção cirúrgica da lesão

recomendam que seja feito

acompanhamento pós-operatório de

pelo menos um ano.

Igreja et al.15 (2005) em um

estudo sobre o tratamento das lesões

de cisto do ducto nasopalatino

confirmaram que o tratamento ideal é

a enucleação cirúrgica, mas deve ser

proposto caso a caso, pois em casos de

lesões muito extensas deve ser

indicada a marsupialização da lesão

prévia à sua completa remoção para

que seja prevenida a possibilidade de

causar infecção com subsequente

perfuração óssea e formação de fístula

oro nasal. Nesse caso a marsupialização

é utilizada como primeira etapa do

tratamento, com a finalidade de

descompressão e redução do tamanho

do cisto para uma segura enucleação

da lesão.

3 RELATO DE CASO

Paciente sexo M, 67 anos de

idade, em outubro de 2012

compareceu a uma clínica odontológica

em busca de substituir a prótese total

superior por uma prótese fixa sobre

implantes. No exame extra e intra bucal

não foi visualizada nenhuma alteração.

Foi solicitado exame

radiográfico panorâmico, onde

observou-se imagem radiolúcida

delimitada unilocular, de formato oval,

na região anterior de linha média da

maxila, sugestiva de aumento do canal

nasopalatino ou cisto do ducto

nasopalatino (Figura 1). Para melhor

detalhamento da lesão e sua relação

com estruturas adjacentes optou-se

pela realização de uma tomografia

computadorizada cone beam (Figura 2).

No exame tomográfico notou-se

imagem hipodensa delimitada

localizada em região anterior de maxila.

Nos cortes sagitais visualizou-se a

mesma em íntimo contato com o canal

nasopalatino e ausência de expansão

das corticais ósseas vestibular e palatal.

O aspecto imaginológico reforçou a

hipótese de diagnóstico de cisto do

ducto nasopalatino.

Após avaliação das imagens,

suspeitando-se de lesão cística, decidiu-

se pelo exame de punção aspirativa e o

material foi enviado a um laboratório

especializado em patologia clínica. O

líquido aspirado apresentou aparência

de conteúdo de lesão cística (Figura 3),

entretanto com presença de células

sanguíneas.

Figura 1. Radiografia panorâmica, outubro de 2012

Figura 2. Resultado do exame de punção aspirativa da lesão

Punção de lesão radiolúcida - palato duro. Avaliação citopatológica: - Quadro citológico consistente com conteúdo de Lesão Cística.

Figura 3. Tomografia Computadorizada Cone Beam (cortes sagitais) da região afetada

mostrando imagem hipodensa dos cortes 19 ao 28 e Canal Nasopalatino

Foi realizada biópsia excisional (Figura

4) com enxerto ósseo imediato. A peça

foi enviada ao laboratório de patologia

clínica para análise histológica. O

resultado foi compatível com lesão

cística (Figura 5).

Figura 4. Imagem da loja cirúrgica no momento da biópsia excisional.

Figura 5. Resultado da biópsia excisional

Biópsia exame: bx13-07082 data: 16/3/2013 09:54:57 Paciente : xxxxxxxxx Espécime/topografia :

Região anterior da maxila - lesão intraóssea. Avaliação de cisto de canal naso-palatino. Interpretação

Compatível com conteúdo de lesão cística. Cid-10 : k 10.0 Nota / complemento

O quadro histopatológico é compatível com o conteúdo da lesão cística de interesse. A proliferação conjuntiva observada é entremeada por tecido adiposo e por vasos sanguíneos sem atipias.

Em julho de 2013 para avaliação pós

cirúrgica, nova tomografia

computadorizada cone beam foi

solicitada (Figura 6). Observou-se na

região anterior de maxila a presença de

enxerto ósseo, evidenciando bom

resultado frente à conduta terapêutica

adotada.

Figura 6. Tomografia Computadorizada Cone Beam (cortes sagitais) pós cirurgia de remoção da

lesão e enxerto ósseo imediato, julho de 2013

4 Discussão

Todos os autores analisados

concordam sobre a ocorrência do cisto

do ducto nasopalatino ser o cisto não

odontogênico mais comum da cavidade

oral. Afirmam também sobre a

remoção cirúrgica ser o tratamento de

escolha, entretanto para Oliveira et al.

e Igreja et al. (2005) foi indicada a

marsupialização prévia à remoção

cirúrgica devido ao fato da lesão ser

muito extensa.

Segundo Escoda et al (2008),

Sharma et al (2012) e Manne et al

(2012) a origem é devida a algum

trauma, infecção ou ainda inflamação

na região do ducto, oriunda de restos

epiteliais. Já Pavankumar (2010) relata

ter origem incerta. Entretanto, Conte

Neto (2010) confirmou a origem devido

a tratamento endodôntico mal

sucedido.

Foram achados muito

frequentes células com características

similares: epiteliais de revestimento e

ciliares em Escoda et al. (2008),

Cecchetti et al. (2013), Conte Neto et

al. (2010), Noleto et al. (2010), Nelson,

Linfesty (2010), Martins et al. (2007),

Manne et al. (2012) e Cecchetti et al.

(2012), inclusive em regiões diferentes

da mesma lesão o que confere à ela

características da região onde se

encontra, quando próximo ao soalho

do nariz apresenta células ciliares, já

em lesões mais próximas do epitélio de

revestimento do palato, apresenta

células cilíndricas de revestimento.

A sintomatologia consta nos

estudos como um fator variável, para

Escoda 14 dos 22 casos analisados se

mostraram assintomáticos. Noleto, o

caso analisado em seu estudo não

apresenta sintomatologia, foi um

achado radiográfico prévio a

tratamento ortodôntico. No estudo de

Sharma et al (2012) foram analisados

dois casos com sintomas de inchaço no

palato, um deles com a presença de

pus e o outro com dor. Manne et al

(2012) apresentou um caso com queixa

de inchaço gradual, sem outros

sintomas associados além de eventual

gosto salgado na boca. Oliveira et al

(2009) mostraram um caso no qual o

paciente apresentava edema e

abaulamento das corticais ósseas

vestibulares e palatinas. Para Bachur et

al (2009) dos 4 casos estudados apenas

1 apresentava aumento de volume

palatino. Chen et al (2011) observaram

o inchaço da região anterior do palato

duro. Nelson, Linfesty (2010) e

Martins (2007) não encontraram

sintomatologia associada à lesão. A

ocorrência de sintomas que se

apresentou nos casos estudados foi

inchaço, presença de pus, gosto

salgado na boca, ou nenhuma

sintomatologia, o que nos mostra a

evolução da lesão, seu dano ao tecido

ósseo e complicações com o

diagnóstico tardio.

A recidiva para Escoda et al.

(2008) ocorreu em 7% dos casos após

três anos. Considerada rara para Conte

Neto et al. (2010) e Nelson, Linfesty

(2010). Entretanto, Cecchetti et al.

(2013) identificou 15% de recidiva em

seu estudo. Manne et al (2012)

também observou recidiva no seu

estudo de caso.

Algumas variantes foram

observadas nos estudos de Martins et

al (2007) ocorreram em paciente do

sexo feminino aos 22 anos, Manne et al

(2012), paciente sexo feminino aos 22

anos, Conte Neto et al (2010)em

paciente sexo feminino aos 33 anos.

Noleto et al (2010) descreveram a

ocorrência do cisto em um paciente

pediátrico do gênero masculino com 10

anos. Essas variantes mostram que

apesar de muito característica a

ocorrência do cisto do ducto

nasopalatino, esta pode ser variável,

nos orientando a investigação mais

profunda, ainda que seja fora da idade

e gênero prevalentes.

5 CONCLUSÃO

Os aspectos radiográficos do cisto do

ducto nasopalatino são relevantes na

suspeita de seu diagnóstico inicial,

principalmente devido à sua

localização, devendo o cirurgião

dentista estar atento na avaliação

imaginológica. A suspeita da lesão

obrigatoriamente deve ser confirmada

pelo exame anatomopatológico, após

punção aspirativa e biópsia. O enxerto

ósseo imediato pós-excisão cirúrgica se

mostrou eficiente na rápida reparação

óssea da área da lesão.

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