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UNIVERISADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MARIANA SOARES SANTOS ILHÉUS BAHIA 2010 SAZONALIDADE E INTERAÇÃO COM EMBARCAÇÃO DO BOTO- CINZA, Sotalia guianensis, (CETACEA: DELPHINIDAE) NO PORTO DO MALHADO, ILHÉUS, BAHIA- BRASIL

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Page 1: COM EMBARCAÇÃO DO BOTO- CINZA, Sotalia guianensis ...€¦ · Cetáceo – Conservação – Ilhéus (BA). 4. Cetáceo – Comportamento. I. Título. CDD 599.5098142 . IV . III

I

UNIVERISADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

MARIANA SOARES SANTOS

ILHÉUS – BAHIA

2010

SAZONALIDADE E INTERAÇÃO

COM EMBARCAÇÃO DO BOTO-

CINZA, Sotalia guianensis, (CETACEA:

DELPHINIDAE) NO PORTO DO

MALHADO, ILHÉUS, BAHIA-

BRASIL

Page 2: COM EMBARCAÇÃO DO BOTO- CINZA, Sotalia guianensis ...€¦ · Cetáceo – Conservação – Ilhéus (BA). 4. Cetáceo – Comportamento. I. Título. CDD 599.5098142 . IV . III

II

MARIANA SOARES SANTOS

SAZONALIDADE E INTERAÇÃO COM EMBARCAÇÃO DO BOTO-CINZA,

Sotalia guianensis, (CETACEA: DELPHINIDAE) NO PORTO DO MALHADO,

ILHÉUS, BAHIA- BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais pela

Universidade Estadual de Santa Cruz, para a obtenção

do título de Mestre em Ecologia de Sistemas

Aquáticos Tropicais.

Área de concentração: Sistemas Aquáticos Tropicais

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Schiavetti

Co-orientador: Prof. Dr. Niel Nascimento Teixeira

ILHÉUS-BAHIA

2010

Page 3: COM EMBARCAÇÃO DO BOTO- CINZA, Sotalia guianensis ...€¦ · Cetáceo – Conservação – Ilhéus (BA). 4. Cetáceo – Comportamento. I. Título. CDD 599.5098142 . IV . III

III

S237 Santos, Mariana Soares. Sazonalidade e interação com embarcação do boto- cinza, Sotalia guianensis, (Cetácea : Delphinidae) no Porto do Malhado, Ilhéus, Bahia – Brasil / Mariana Soares Santos. – Ilhéus, BA: UESC/PPGSAT, 2010. xii, 70 f. : il. ; anexos. Orientador: Alexandre Schiavetti. Co-orientador: Niel Nascimento Teixeira. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa de Pós-Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais. Inclui bibliografias e apêndices.

1. Cetáceo – Ilhéus (BA). 2. Boto (Mamífero aquático). 3. Cetáceo – Conservação – Ilhéus (BA). 4. Cetáceo – Comportamento. I. Título. CDD 599.5098142

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IV

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III

MARIANA SOARES SANTOS

SAZONALIDADE E INTERAÇÃO COM EMBARCAÇÃO DO BOTO-CINZA,

Sotalia guianensis, (CETACEA: DELPHINIDAE) NO PORTO DO MALHADO,

ILHÉUS, BAHIA- BRASIL

ILHÉUS – BA, ___________________

_____________________________________________

Prof. Dr. Alexandre Schiavetti – Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

(Orientador)

_____________________________________________

Dr. Paulo André de Carvalho Flores – Instituto Chico Mendes de Conservação da

Biodiversidade - ICMBio

_____________________________________________

Dr. Mirco Solé – Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

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IV

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter permitido a realização dessa nova etapa da minha vida, de

amadurecimento pessoal e realização profissional.

Aos meus pais, Pedro, Marilu e Iazinha, minhas irmãs, Luciana e Fernanda, meus

sobrinhos, Inaê e Felipe e meu cunhado, Pablo. Dedico a vocês o meu trabalho, por vocês

acreditarem em mim, pela força, apoio, pela presença, mesmo à distância, e principalmente

por todo amor a que me dedicam. É puro clichê, mas sem vocês não sou ninguém.

Ao meu orientador, Alexandre Schiavetti, primeiramente por ter me aceito como

orientanda sem me conhecer, apenas por troca de e-mails. Agradeço por toda paciência,

criatividade e objetividade... Pela informalidade, pelas soluções simples as minhas dúvidas

e indagações, pela presença e disponibilidade constantes, mesmo que por MSN e pela

confiança depositada em mim.

Ao Niel Nascimento Teixeira, por ter se disponibilizado a me co-orientar, mesmo

que o meu trabalho não se enquadrasse na sua área específica. Agradeço por toda paciência

ao me ensinar a manusear o teodolito, as idas ao campo para marcação de pontos com GPS,

ao desenvolvimento de fórmulas, para mim, super complexas, por sempre estar acessível e

por fim, por ter me amparado na parte mais “complexa” do meu projeto.

À Thailla e Isa. Obrigada pela companhia, pelas viagens, risadas, “farras”, pelas

inúmeras horas gastas na pracinha da Irene jogando conversa fora, pelos conselhos, pelo

colo nas horas de tristeza, por agüentarem minhas lamentações e meus momentos de

estresse... Enfim, obrigada por vocês terem aparecido em minha vida! Estarão sempre no

meu coração.

À Tetela, Flavinha e Isa, por todos os momentos de divertimento que passamos

juntas... obrigada pela alegria e companhia!

À Flavinha, Tetela, Isa, Carla e Bianca, pela companhia nos dias de campo em que

íamos juntas. As coletas se tornavam mais divertidas com a presença de vocês.

À Dani Alarcon, que embora tenhamos nos aproximado há pouco tempo, tem se

tornado uma amiga muito especial. Obrigada por sempre se dispor a ler e fazer sugestões

pertinentes em meu trabalho, pelas longas conversas pelo MSN, pela companhia, conselhos

e confortos, pelas suas maravilhosas fotos e por estar sempre disposta a ajudar.

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V

À Alinne, por ter sido tão acolhedora em minha chegada a Ilhéus, por ter me

ajudado em minha adaptação, me acompanhado e por ter se tornado uma grande amiga.

A todos os meus colegas do Sat, Colegão, Juju, Dedé, Zitão, Cellão, Thaillão,

Bellão, Lili, Cezinha, Fênix e Xanda. Posso dizer a vocês que nunca tinha tido uma turma

com pessoas tão maravilhosas. Obrigada por toda companhia durante essa jornada.

Aos amigos, Mariana Bueno, Fafelinha, Dulce, Nathali e Cristiano, por

participarem, embora à distância, intensamente da minha vida.

À banca examinadora, pelas sugestões e críticas pertinentes para o melhoramento do

trabalho.

À Harildon, por ter produzido todos os mapas do meu trabalho, pelas sugestões e

pela disposição em me ajudar. Obrigada!

À Alice e Emily por terem me ajudado nas coletas de campo e a Priscilla por ter

organizado o meu banco de dados.

À coordenação do Porto do Malhado, por permitir o desenvolvimento do trabalho

em suas dependências e aos seguranças portuários.

Ao Grupo de Pesquisa de Mamíferos Aquáticos de Ilhéus, em especial Yvonnick,

pelas sugestões e correções em minhas bancas de seminário e por estar sempre disponível

para ajudar.

À Universidade Estadual de Santa Cruz e ao Mestrado em Sistemas Aquáticos

Tropicais, em especial aos professores.

Ao Mestrado de Zoologia Aplicada, onde cumpri inúmeros créditos e aos colegas da

zoologia que também me acompanharam durante o mestrado.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela

bolsa concedida para o desenvolvimento da minha pesquisa.

Agradeço especialmente aos botos, por todo encanto e fascínio que me

proporcionam e pela companhia durante muitas horas de campo.

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VI

APRESENTAÇÃO

Por aproximadamente 10 anos a espécie Sotalia guianensis vem sendo tema de

pesquisas no Litoral de Ilhéus. Seus aspectos ecológicos e comportamentais têm sido

monitorados nos diferentes locais onde podem ser avistados, como na Baía do Pontal,

Morro do Pernambuco e Porto do Malhado, através do Grupo de Pesquisa de Mamíferos

Aquáticos de Ilhéus – GPMAI.

Uma concentração das pesquisas ocorre na área do Porto do Malhado, onde os

animais podem ser avistados ao longo do ano e por longos períodos do dia. Em 2002,

Reis deu início as pesquisas nessa área, relacionadas à aspectos comportamentais e

interação com atividades pesqueiras. A partir daí, novos projetos foram desenvolvidos,

principalmente com relação a aspectos comportamentais.

Dando continuidade às pesquisas no Porto do Malhado e contribuindo para o

melhor conhecimento da espécie na região, o presente trabalho aborda novos temas em

dois capítulos. O primeiro capítulo, intitulado “Sazonalidade na ocorrência do boto-

cinza, Sotalia guianensis (Cetacea: Delphinidae), no Porto do Malhado, Ilhéus, Bahia-

Brasil” trata da variação sazonal na ocorrência da espécie na área, caracterizando-a de

acordo com aspectos físicos e ecológicos e será submetido ao periódico Aquatic

Ecology. O segundo capítulo “Interação entre Sotalia guianensis (Cetacea: Delphinidae)

e embarcações no Porto do Malhado, Ilhéus, Bahia- Brasil” trata das reações da espécie

ao contato com os diferentes tipos de embarcações que trafegam na área, através da

variação no número de subidas à superfície na presença e ausência de embarcações, tipo

de embarcação e distância de aproximação. Este capítulo será submetido ao periódico

Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdon.

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VII

LISTA DE FIGURAS

Introdução

Figura 1: Ocorrência de Sotalia guianensis no Litoral de Ilhéus............................. 14

Capítulo I: Sazonalidade na ocorrência do boto-cinza, Sotalia guianensis

(CETACEA: DELPHINIDAE) no Porto do Malhado, Ilhéus, Bahia, Brasil

Figura 1: Localização geográfica do ponto fixo de observação no Porto do

Malhado, Ilhéus, Bahia, Brasil.................................................................

29

Figura 2: Representação esquemática das medidas de distância do teodolito para

o boto........................................................................................................

31

Figura 3: Distribuição espacial dos grupos de Sotalia guianensis no Porto do

Malhado durante o período de verão e inverno........................................

37

Figura 4: Distância entre o ponto-fixo de observação e os grupos de S.

guianensis no verão e inverno..................................................................

38

Figura 5: Distribuição espacial dos grupos de Sotalia guianensis de acordo com

os ângulos de incidência solar..................................................................

39

Figura 6: Distância entre o ponto-fixo de observação e os grupos de S.

guianensis para os períodos de incidência solar de 45° a 90° e 0° a 45°.

40

Capítulo II: Interação entre Sotalia guianensis (Cetacea: Delphinidae) e

embarcações no porto do Malhado, Ilhéus, Bahia- Brasil

Figura 1: Localização geográfica do ponto fixo com o raio de observação, no

Porto do Malhado - Ilhéus................................................................

54

Figura 2: Média do número de subidas dos botos-cinza por minuto de acordo

com as categorias de embarcações..........................................................

58

Figura 3: Média do número de subidas dos botos-cinza por minuto de acordo

com a presença e ausência de embarcações e a composição dos

grupos......................................................................................................

59

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VIII

LISTA DE TABELAS

Capítulo I: Sazonalidade na ocorrência do boto-cinza, Sotalia guianensis

(CETACEA: DELPHINIDAE) no Porto do Malhado, Ilhéus, Bahia, Brasil

Tabela I Valores do esforço amostral e efetivo, quantidade de grupos e de

espécimes, índice de ocupação, tamanho e composição de grupos entre

as duas estações no Porto do Malhado.....................................................

35

Tabela II Tempo de monitoramento com o teodolito por grupo de S. guianensis

nas estações de inverno e verão no Porto do Malhado............................

36

Capítulo II: Interação entre Sotalia guianensis (Cetacea: Delphinidae) e

embarcações no porto do Malhado, Ilhéus, Bahia- Brasil

Tabela I: Média do número de subidas por minuto para respiração com relação

à categoria da embarcação, distâncias e composição de grupos.............

59

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IX

RESUMO

O boto-cinza é uma pequena espécie costeira de cetáceo que se distribui ao longo de

praticamente toda a costa atlântica da América Central e do Sul. A sua ocorrência em

áreas portuárias já foi reportada para outras localidades ao longo do litoral brasileiro. O

objetivo do presente trabalho foi analisar a variação sazonal na ocorrência e as

interações com embarcações de S. guianensis no Porto do Malhado, Ilhéus, Bahia,

Brasil. A pesquisa foi desenvolvida em um ponto fixo situado na extremidade do molhe

do Porto do Malhado (14° 46’ 08” S e 39º 01’ 33” W). As coletas foram realizadas

semanalmente, entre as 08:00 e 16:00 horas, entre dezembro de 2008 e novembro de

2009 para as observações de sazonalidade na ocorrência, totalizando 358,3 h de esforço

amostral e 173,8 h de esforço efetivo e entre setembro de 2008 e agosto de 2009 para as

observações de interação com embarcações, com um total de 362,6 h de esforço

amostral e 213,22 h de esforço efetivo. A variação sazonal na ocorrência dos botos-

cinza no Porto do Malhado foi monitorada através de um teodolito eletrônico. O número

de indivíduos, tamanho e composição dos grupos, entrada e saída dos animais e os

ângulos provenientes da leitura do teodolito foram registrados. As estações foram

divididas em verão (outubro a março) e inverno (abril e setembro) e os períodos do dia

foram categorizados de acordo com os ângulos de incidência solar na superfície da

água, sendo de 0º a 45º no período das 08:00 e 10:00 h e 14:00 e 16:00 h e de 45º e 90º

no período das 10:00 as 14:00 h. Para analisar se a passagem de embarcações causou

alteração comportamental no padrão de superfície de S. guianensis, foi registrado o

número de subidas à superfície por grupo de boto-cinza, no período de um minuto, em

momentos de presença e ausência de embarcações. A composição dos grupos foi

classificada de acordo com a presença e ausência de filhotes. As embarcações foram

classificadas em: motor de centro (MC), motor de popa (MP), navios (N) e sem motor

(SM). O tamanho médio dos grupos (𝑥 = 4,1 ±1,98) não variou sazonalmente (z = 2,063;

p= 0.039) durante o monitoramento com teodolito, porém, o número de grupos (34 no

verão e 65 no inverno), de espécimes (162 no verão e 384 no inverno), o tempo médio

de monitoramento (𝑥 = 46,09 no verão e 𝑥 = 122,07 no inverno) e a área de ocupação

(1,60 km² no verão e 2,45 km²) foram maiores no inverno. Não houve variação

significativa no número de indivíduos para os períodos de incidência solar (z= 0,30; p=

0,38). Foram coletadas 365 amostras de um minuto na ausência de embarcações e 379

na presença. S. guianensis não apresentou alteração no padrão de superfície para a

maioria das categorias de embarcações, apenas para aquelas de motor de popa (𝑥 =1,82;

Md= 2,2). Em grupos contendo filhotes, o número de subidas à superfície diminui

significativamente (𝑥 =2,13; p= 0,00032). Foi possível observar que houve variação

sazonal na ocorrência de S. guianensis no Porto do Malhado e que as embarcações de

motor de popa alteram o padrão comportamental de superfície.

Palavra-chave: cetáceos, monitoramento com teodolito, padrão de superfície e reação

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X

ABSTRACT

Guiana dolphin is a small coastal cetacean species that is distributed at almost all

Atlantic coast of Central and South America. It occurrence in port areas has been

reported for other locations along the Brazilian coast. The aim of this study was to

analyze the seasonal variation in the occurrence and interactions with boats of S.

guianensis at the Port of Malhado, Ilhéus, Bahia, Brazil. The research was conducted at

a fixed point located at the extremity of the Port’s pier (14 ° 46 '08 "S and 39 º 01' 33"

W). Samples were collected weekly between 08:00 and 16:00, between December 2008

and November 2009 for observations of seasonality in the occurrence, totaling 358.3

hours of sampling effort and 173.8 h of effective effort and between September 2008

and August 2009 for observations of interactions with boats with a total of 362.6 hours

of sampling effort and 213.22 h of effective effort. The seasonal variation in the

occurrence of estuarine dolphins in the Port of Malhado was monitored using an

electronic theodolite. The number of individuals, size and composition of the groups,

entry and exit of animals and the angles from reading the theodolite were recorded. The

stations were divided into summer (October to March) and winter (April to September)

and periods of the day were categorized according to the angles of sunlight on the water

surface, and from 0° to 45° of the period between 08:00 and 14:00 and 10:00 h and

16:00 h and 45° and 90° from 10:00 to 14:00 h. To examine whether the passage of

boats caused behavioral changes in the surface pattern of S. guianensis, was recorded

the number of rises to the surface by a group of Guiana dolphins in one minute, in

moments of presence and absence of boats. The composition of the groups were

classified according to the presence and absence of calves. The boats were classified in

motor center (MC), outboard (MP), vessels (N) and without motor (SM). The mean size

of the groups (𝑥 = 4.1 ± 1.98) did not vary seasonally (z= 2.063; p= 0.039) during

theodolite tracking, however, the number of groups (34 in summer and 65 in winter) of

specimens (162 in summer and 384 in winter), the mean monitoring time (𝑥 = 46.09 in

the summer (𝑥 = 122.07 in the winter) and area of occupattion (1.60 km² in summer and

2, 45 km ²) were higher in winter. There was no significant variation in the number of

individuals for periods of sunlight (z = 0.30; p = 0.38). We collected 365 samples of one

minute in the absence of boats and 379 in presence. S. guianensis showed no change in

surface pattern for most categories of boats, only for those of outboard (𝑥 = 1.82, Md =

2.2). In groups of calves, the number of rises to the surface decreases significantly (𝑥 =

2.13; p = 0.00032). It was observed that there was seasonal variation in the occurrence

of S. guianensis in Port of Malhado and craft outboard alter the behavioral pattern of the

surface.

Keywords: cetaceans, theodolite tracking, surfacing pattern, reaction

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XI

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS..................................................................................... IV

APRESENTAÇÃO........................................................................................... IV

LISTA DE FIGURAS...................................................................................... VII

LISTA DE TABELAS.................................................................................... VIII

RESUMO.......................................................................................................... IX

ABSTRACT.................................................................................................... X

1. INTRODUÇÃO GERAL........................................................................... 13

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................... 15

2.1. Os Cetáceos........................................................................................ 15

2.2. Sotalia guianensis............................................................................... 16

3. OBJETIVOS.............................................................................................. 19

3.1. Objetivo Geral.................................................................................... 19

3.2. Objetivos Específicos......................................................................... 19

4. RESULTADOS.......................................................................................... 19

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................. 20

CAPÍTULO I: SAZONALIDADE NA OCORRÊNCIA DO BOTO-CINZA,

Sotalia guianensis (CETACEA: DELPHINIDAE) NO PORTO DO

MALHADO, ILHÉUS, BAHIA- BRASIL.....................................................

25

Resumo...................................................................................................... 26

Abstract...................................................................................................... 27

INTRODUÇÃO......................................................................................... 27

MATERIAL E MÉTODOS....................................................................... 28

Área de estudo........................................................................................... 28

Monitoramento com o teodolito................................................................ 30

Coleta de dados.......................................................................................... 32

Definições das estações do ano e dos períodos do dia............................... 33

Análise dos dados...................................................................................... 33

RESULTADOS......................................................................................... 34

Tamanho e composição dos grupos........................................................... 34

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XII

Variação espacial sazonal e diária.............................................................. 35

DISCUSSÃO.............................................................................................. 40

Tamanho e composição de grupos.............................................................. 40

Variação espacial sazonal e diária.............................................................. 42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................... 45

CAPÍTULO II: INTERAÇÃO ENTRE Sotalia guianensis (CETACEA:

DELPHINIDAE) E EMBARCAÇÕES NO PORTO DO MALHADO,

ILHÉUS, BAHIA-BRASIL.............................................................................

50

Resumo....................................................................................................... 51

Abstract..................................................................................................... 52

INTRODUÇÃO......................................................................................... 52

MATERIAL E MÉTODOS........................................................................ 53

Área de estudo........................................................................................... 53

Coleta de dados.......................................................................................... 55

Análise dos dados...................................................................................... 56

RESULTADOS......................................................................................... 57

DISCUSSÃO.............................................................................................. 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................... 64

APÊNDICES............................................................................................. 67

Apêndice I: Mapas da distribuição espacial de S. guianensis por cada

mês do verão...............................................................................................

68

Apêndice II: Mapas da distribuição espacial de S. guianensis por cada

mês do inverno............................................................................................

69

ANEXOS

70

Anexo I: Normas para publicação do periódico Aquatic Ecology

Anexo II: Normas para publicação do periódico Journal of Marine

Biological Association

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13

1. INTRODUÇÃO GERAL

O boto-cinza, Sotalia guianensis, é uma pequena espécie de cetáceo de hábitos

costeiros e estuarinos que pode ser encontrado ao longo de praticamente toda a costa

atlântica da América Central e da América do Sul (DA SILVA; BEST, 1996). Devido à

sua distribuição costeira, a espécie está vulnerável a uma variedade de ações humanas,

tais como envolvimento em atividades pesqueiras que podem ocasionar capturas

acidentais em artefatos de pesca, sendo essa a principal ameaça a espécie (DI

BENEDITTO, 2003); poluição química da água, causando bioacumulação de

contaminantes (MONTEIRO-NETO et al., 2003; YOGUI et al., 2003); degradação de

hábitats (FLORES; DA SILVA, 2009) e exposições a embarcações motorizadas, que

podem provocar alterações comportamentais (PEREIRA et al., 2007) ou até mesmo

lesões corporais (AZEVEDO et al., 2008). A presença de populações de S. guianensis já

foi constatada em regiões portuárias por Araújo e colaboradores (2008) no litoral de

Pernambuco e por Cremer e colaboradores (2009) na Baía de Babitonga, em Santa

Catarina, onde são suscetíveis ao contato com embarcações de pequeno e grande porte.

De acordo com a União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) a

espécie é classificada como “insuficientemente conhecida” em relação ao risco de

extinção (IUCN, 2008) devido às lacunas de conhecimento sobre sua ecologia, biologia

e dados demográficos em diversas regiões. A mesma classificação é dada pelo Plano de

Ação para Mamíferos Aquáticos do Brasil que menciona uma série de recomendações

prioritárias para classificar a sua categoria de conservação (IBAMA, 2001).

S. guianensis pode ser avistado em diferentes locais ao longo da costa de Ilhéus

(Bahia), como na Baía do Pontal (SANTOS, 2007), no Morro do Pernambuco

(MORAIS et al., 2009) e no Porto do Malhado (ASSIS, 2008; IZIDORO, 2009; REIS,

2002) (Fig. 1). As pesquisas existentes envolvem uso de habitat (REIS et al., 2000),

interação com atividades pesqueiras (REIS, 2002), movimentação e fatores ambientais

influenciando na ocorrência da espécie (SANTOS, 2007), padrões comportamentais

(BATISTA 2001; NASCIMENTO, 2006) comportamento de forrageio (ASSIS, 2008) e

comportamento de brincadeira (IZIDORO, 2009).

No Porto do Malhado, há trânsito diário de embarcações de pesca, lazer e navios

na área de concentração desse cetáceo. Uma Unidade de Conservação Marinha – UC

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14

Marinha (Lei Municipal n° 3.212 de 30 de janeiro de 2006) foi criada para a

preservação de meros (Epinephelus itajara), próximo ao Porto do Malhado. Até o

momento, porém, os limites de sua área não foram definidos.

Este trabalho tem como objetivos analisar a ocorrência sazonal de S. guianensis

no Porto do Malhado e a interação da espécie com os diferentes tipos de embarcações

que trafegam na área. Com isso, pretende-se incluir a área de ocorrência dessa

população na área da UCM proposta para o mero, colaborando para a conservação de S.

guianensis na região.

Figura 1: Locais de ocorrência de Sotalia guianensis no litoral de Ilhéus. A linha

pontilhada representa a distância entre a Barra do Rio Cachoeira e a extremidade do

Molhe do Porto do Malhado.

4.06 km

Daniela T. Alarcon

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1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1. Os Cetáceos

Os cetáceos (latim científico: Cetacea) são mamíferos exclusivamente

aquáticos, conhecidos popularmente como botos, baleias e golfinhos. O nome da ordem

deriva do grego ketos e do latim cetus que significa baleia (HETZEL; LODI, 1993).

Atualmente é constituída por três subordens: Mysticeti, Odontoceti e Archaeoceti, essa

última ordem representada por cetáceos extintos, sendo reconhecidos somente por restos

fósseis (JEFFERSON et al., 1994).

Os misticetos são representados pelas baleias de barbatana, como a baleia-

jubarte, Megaptera novaengliae, baleia-franca, Eubalaena australis e baleia-azul,

Balaenoptera musculus. Além das diferenças morfológicas, fisiológicas e

comportamentais, distinguem-se externamente dos odontocetos por apresentarem dois

orifícios respiratórios e por possuírem, como aparato trófico bucal, barbatanas (estrutura

formada de queratina) que têm como função filtrar os alimentos. Já os odontocetos

apresentam apenas um orifício respiratório e caracterizam-se pela presença de dentes

(JEFFERSON et al., 1994).

Atualmente são reconhecidas 86 espécies de cetáceos (IWC, 2009) pelos mares e

oceanos de todo o mundo, incluindo alguns habitantes de sistemas fluviais na América

do Sul e Ásia (JEFFERSON et al., 1994). Estas espécies estão divididas em 14 famílias,

sendo 4 da ordem Mysticeti, com 14 espécies (Balaenidae, Balaenopteridae,

Eschrichtiidae e Neobalaenidae) e 10 da ordem Odontoceti, com 72 espécies

(Delphinidae, Ziphiidae, Monodontidae, Phocoenidae, Kogiidae, Physeteridae, Iniidae,

Lipotidae, Platanistidae e Pontoporiidae) (IWC, 2009; REEVES et al., 2003). Em águas

jurisdicionais brasileiras já foram oficialmente registradas a presença de 43 espécies de

cetáceos, representando 50% das espécies em âmbito mundial. Dentre estas, nove

famílias, sendo duas da ordem Mysticeti (Balaenidae e Balaenopteridae), com um total

de oito espécies e sete da ordem Odontoceti (Delphinidae, Iniidae, Ziphiidae,

Phocoenidae, Pontoporiidae, Physeteridae e Kogiidae), totalizando 35 espécies

(IBAMA, 2001; PINEDO et al., 2002).

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1.2. Sotalia guianensis

Sotalia guianensis (van Bénéden, 1864), pertence à ordem Cetacea, à subordem

Odontoceti e a família Delphinidae. Inicialmente, a espécie foi descrita por van Bénéden

(1864) como Delphinus guianensis, com base em exemplares coletados na Guiana

Francesa. Essa espécie foi classificada como Sotalia guianensis, em 1866, quando Gray

descreveu o gênero Sotalia. No mesmo século duas novas espécies foram descritas para

o gênero: Sotalia fluviatilis, referente aos botos da bacia Amazônica e Sotalia

brasiliensis, para os botos da Bacia de Guanabara, no Rio de Janeiro (CABALLERO et

al., 2007; MONTEIRO-FILHO et al., 2008). A denominação foi aceita até aparecerem

novos registros de Sotalia ao longo da costa da América do Sul e Central (BOROBIA et

al., 1991; SIMÕES-LOPES, 1988).

Após um estudo de análise da morfologia craniana (BOROBIA; SERGEANT, 1989)

o gênero foi reorganizado como monoespecífico, Sotalia fluviatilis, com dois ecótipos,

o marinho e o fluvial; no entanto, estudos recentes realizados com exemplares dos dois

ambientes demonstram diferenças morfológicas/morfométricas (MONTEIRO-FILHO et

al., 2002) e genéticas (CABALLERO et al., 2007; CUNHA et al., 2005). Assim, o

ecótipo marinho (boto-cinza) e o fluvial (tucuxi) foram separados em espécies

diferentes, S. guianensis, de distribuição geográfica contínua (BOROBIA et al., 1991)

ao longo de toda a costa tropical e subtropical da América do Sul e Central, sendo seu

limite ao norte, Honduras (15°58’ N, 85°42’ W; DA SILVA; BEST, 1996) e ao sul o

litoral de Santa Catarina, na América do Sul (27°35’ S, 48°34’ W; SIMÕES-LOPES,

1988) e Sotalia fluviatilis endêmico à bacia dos Rios Amazonas e Orinoco, ocorrendo

desde o Pará, no Brasil até os Rios Putumayo e Ucayali, no Peru (BOROBIA et al.,

1991; DA SILVA; BEST, 1996).

O boto-cinza, assim conhecido por conta de sua coloração acinzentada, é uma das

menores espécies de golfinho, com um tamanho máximo registrado de 220 cm

(FLORES; DA SILVA, 2009), peso máximo de 121 kg (ROSAS; MONTEIRO-FILHO,

2002) e a estimativa máxima de idade, baseada na leitura das camadas de crescimento

na dentina, “Grupo de Camada de Crescimento” (GLG), de 30 anos (ROSAS et al.,

2003; SANTOS et al., 2003). Não apresenta dimorfismo sexual aparente (HETZEL;

LODI, 1993) e possui como característica morfológica marcante, uma nadadeira dorsal

triangular (FLORES; DA SILVA, 2009). A maturidade sexual ocorre entre os 170 e 175

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cm de comprimento nos machos, com idade estimada de sete anos e entre 165 e 170 cm

para fêmeas, com idade estimada de seis anos (ROSAS; MONTEIRO-FILHO, 2002). A

reprodução ocorre durante todo o ano, com picos de nascimento variando sazonalmente

em diferentes localidades (RAMOS et al., 2000). O tempo de gestação é de 11,5 a 12

meses e os filhotes nascem com um comprimento total entre 88 a 98 cm (ROSAS;

BARRETO, 2008). O ciclo reprodutivo é de cerca de dois anos, podendo ser inferior

devido a perda do filhote ou a um menor período de lactação que varia entre 6,7 a 10,3

meses (ROSAS; MONTEIRO-FILHO, 2002).

A estrutura social de S. guianensis é caracterizada por grupos pequenos de dois a 30

indivíduos (DA SILVA; BEST, 1996) sendo mais comumente encontrados grupos

contendo dois a seis animais (FLORES; DA SILVA, 2009). Porém, em algumas

regiões, é possível observar grandes agregações, como é o caso da Baía de Paraty, com

até 450 indivíduos (LODI; HETZEL, 1998), e na Baía de Sepetiba, com 280 indivíduos

(FLACH et al., 2008). Habita ambientes tipicamente costeiros, como baías e estuários

(BOROBIA et al., 1991) podendo ser encontrados em ambientes com ampla variação

de profundidades, temperaturas, salinidade e turbidez (FLORES; DA SILVA, 2009).

Não realizam grandes deslocamentos, permanecendo na mesma área ao longo do ano

(HETZEL; LODI, 1993) e ainda apresentam certo grau de residência, uma vez que,

através da técnica de fotoidentificação (técnica de marcação-recaptura utilizada na

identificação individual de cetáceos), em diversas localidades, pôde ser observada a

presença dos mesmos animais (identificados) ao longo dos anos (ex: BATISTA, 2008;

FLORES, 1999; ROSSI-SANTOS et al., 2007).

O hábito alimentar de S. guianensis pode ser considerado oportunístico e

generalista, pois se alimentam de presas de diferentes tamanhos em diferentes

profundidades (LODI, 2002). Pesquisas de conteúdo estomacal desenvolvidas no Rio de

Janeiro demonstram que sua dieta inclui peixes de diversas famílias caracteristicamente

costeiras e estuarinas, de hábitos demersais, pelágicos e pelágico-demersal; lulas e com

menor significância, camarões (DI BENEDITTO et al., 2001). Predadores naturais são

desconhecidos, embora haja registro de mordidas de tubarões em botos cinza (FLORES;

DA SILVA, 2009).

Por conta de sua distribuição costeira, populações de S. guianensis tornam-se

vulneráveis a diversos impactos antrópicos. As principais ameaças estão relacionadas à

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perda e degradação de hábitats, poluição, interação com embarcações e principalmente

pela captura acidental em redes de pesca (IBAMA, 2001; LODI; BARRETO, 1998;

REIS, 2002). Existem registros de capturas acidentais em todo o litoral brasileiro e do

uso da carne para consumo humano, em pequena escala, e para uso como isca de

espinhel na pesca de tubarões (SICILIANO, 1994). Em diversas regiões, principalmente

no Norte do país, órgãos, dentes e ossos dos animais, provenientes da captura são

comercializados, com fins medicinais e religiosos (ALVES; ROSA, 2008).

As pesquisas relacionadas à S. guianensis tiveram início há aproximadamente 30

anos no Brasil e concentravam-se nas regiões Sudeste e Sul do país, (ex: SIMÕES-

LOPES, 1988; GEISE, 1991; GEISE et al., 1999; LODI, 2003; MONTEIRO-FILHO;

MONTEIRO, 2001; CREMER et al., 2004; BAZZALO et al., 2008). Nas regiões Norte

e Nordeste os estudos são mais recentes: (ex: ARAÚJO et al., 2001; NASCIMENTO et

al., 2008; TORRES; BEASLEY, 2003; MONTEIRO-NETO et al., 2004; ROSSI-

SANTOS et al., 2007).

Apesar da existência desses diversos estudos que envolvem aspectos biológicos,

ecológicos e comportamentais, O Plano de Ação para Mamíferos Aquáticos do Brasil

(IBAMA, 2001) se refere à espécie como pouco conhecida e essa limitação de

informações a leva a uma classificação de “status” de conservação “dados deficientes”

(DD). A União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) a classifica como

“insuficientemente conhecida” (IUCN, 2008) e a Convenção sobre o Comércio

Internacional de Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção -

CITES a classifica no apêndice I, ou seja, “ameaçada de extinção” (CITES, 2008).

O mesmo Plano de Ação para Mamíferos Aquáticos do Brasil lista uma série de

ações prioritárias para promover um maior conhecimento com relação à espécie e assim

redefinir seu “status” de conservação. Dentre estas, destacam-se: estimativas de

abundância populacional, caracterização de hábitats preferenciais para criação de áreas

mínimas de conservação, avaliação dos impactos causados pelo turismo, estudos de

dinâmica populacional, avaliação de impactos de pesca e magnitude da utilização da

carne para consumo humano, dentre outras (IBAMA, 2001).

Uma maior conservação da espécie será atingida a partir de trabalhos contínuos

nas áreas de ocorrência da espécie e também do preenchimento de lacunas de

conhecimentos a respeito dos aspectos biológicos, demográficos e ecológicos.

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2. OBJETIVOS

2.1.Objetivo Geral

Analisar o padrão sazonal de ocorrência de Sotalia guianensis e suas

interações com embarcações no Porto do Malhado, Ilhéus, Bahia.

2.2.Objetivos Específicos

a) Analisar a variação sazonal e diária de ocorrência de S. guianensis no Porto

do Malhado;

b) Relacionar o padrão de superfície de S. guianensis de acordo com a

presença, o tipo e a distância das embarcações.

3. RESULTADOS

Capítulo I: Sazonalidade na ocorrência do boto-cinza, Sotalia guianensis (Cetacea:

Delphinidae), no Porto do Malhado, Ilhéus, Bahia- Brasil.

Capítulo II: Interação entre Sotalia guianensis (Cetacea: Delphinidae) e embarcações

no Porto do Malhado, Ilhéus, Bahia- Brasil.

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CAPÍTULO I*

Sazonalidade na ocorrência do boto-cinza,

Sotalia guianensis (Cetacea: Delphinidae), no

Porto do Malhado, Ilhéus, Bahia- Brasil

*Este capítulo será submetido ao periódico Aquatic Ecology

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Sazonalidade na ocorrência do boto-cinza, Sotalia guianensis (Cetacea:

Delphinidae), no Porto do Malhado, Ilhéus, Bahia- Brasil

Mariana Soares Santos¹, Alexandre Schiavetti² e Niel Nascimento Teixeira²

1. Programa de Pós Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais. Universidade

Estadual de Santa Cruz – UESC. Rodovia Ilhéus - Itabuna, km16, Salobrinho –

CEP 45.662-000 – Ilhéus – Bahia - Brasil.

2. Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais. Universidade Estadual de

Santa Cruz – UESC. Rodovia Ilhéus - Itabuna, km16, Salobrinho – CEP

45.662-000 – Ilhéus – Bahia - Brasil.

e-mail para correspondência: [email protected]

Resumo

A ocorrência sazonal de S. guianensis foi analisada no porto do Malhado, Ilhéus, Bahia,

Brasil. A pesquisa foi realizada através de um teodolito eletrônico, entre dezembro de

2008 e novembro de 2009, totalizando 358,3 h de esforço amostral e 173,8 h de

avistagem efetiva. O número de indivíduos, tamanho e composição dos grupos, entrada

e saída dos animais e os ângulos provenientes da leitura do teodolito foram registrados.

As estações foram divididas em verão (outubro a março) e inverno (abril e setembro) e

os períodos do dia foram categorizados de acordo com os ângulos de incidência solar na

superfície da água, sendo de 0º a 45º no período das 08:00 e 10:00 h e 14:00 e 16:00 h e

de 45º e 90º no período das 10:00 as 14:00 h. O tamanho médio dos grupos (𝑥 = 4,1

±1,98) não variou sazonalmente (z = 2,063; p= 0.039), porém, o número de grupos (34

no verão e 65 no inverno), de espécimes (162 no verão e 384 no inverno), o tempo

médio de monitoramento (𝑥 = 46,09 no verão e 𝑥 = 122,07 no inverno) e a área de

ocupação (1,60 km² no verão e 2,45 km²) foram maiores no inverno. Não houve

variação significativa no número de indivíduos para os períodos de incidência solar (z=

0,30; p= 0,38). Foi possível observar que há variação sazonal na distribuição de S.

guianensis nas proximidades do porto e isso pode estar relacionado a variação sazonal

na abundância de presas.

Palavras-chave: cetáceo, monitoramento, teodolito, estações

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Abstract

The seasonal occurrence of S. guianensis was analyzed in the port of Malhado, Ilhéus,

Bahia, Brazil. The survey was conducted through an electronic theodolite, between

December 2008 and November 2009, totaling 358.3 hours of sampling effort and 173.8

hours of effective sightings. The number of individuals, size and composition of the

groups, arrive and go away of animals and the angles from reading the theodolite were

recorded. The stations were divided into summer (October to March) and winter (April

to September) and periods of the day were categorized according to the angles of

sunlight on the water surface, and from 0° to 45° of the period between 08:00 and

14:00 and 10:00 h and 16:00 h and 45° to 90° from 10:00 to 14:00 h. The mean size of

the groups (𝑥 = 4.1 ± 1.98) did not vary seasonally (z = 2.063, p = 0.039), but the

number of groups (34 in summer and 65 in winter), specimens (162 in summer and 384

in winter), the mean tracking time (𝑥 =46.09 in the summer and 𝑥 =122.07 in the winter)

and area of occupation (1.60 km ² in the summer and 2.45 km ²) were higher in winter.

There was no significant variation in the number of individuals for periods of sunlight

(z = 0.30, p= 0.38). It was observed that there is seasonal variation in the distribution

of S. guianensis nearby port and this may be related to seasonal variation in prey

abundance.

Keywords: cetaceans, theodolite, tracking, seasons

INTRODUÇÃO

A distribuição espacial e temporal dos cetáceos está relacionada a diversos

fatores abióticos, tais como: profundidade (Cubero-Pardo 2007; Davis et al. 1998;

Hastie et al. 2003; Ingram e Rogan 2002; Karczmarski et al. 2000; Wursig e Wursig

1979), salinidade (Cubero-Pardo 2007), temperatura da água (Reilly 1990; Wursig e

Wursig 1980), ciclo de maré (Harzen 1998; 2002; Mendes et al. 2002; Shane 1980),

características do fundo (Davis et al. 1998; Hastie et al. 2003; Ingram e Rogan 2002;

Karczmarski et al. 2000) e fatores bióticos, como a disponibilidade de presas (Bailey e

Thompson 2006; Cubero-Pardo 2007; Shane 1980; Wursig e Wursig 1980). A variação

desses fatores pode causar migrações sazonais em grande escala, como observado para

as baleias (Craig e Herman 1997; Kenney et al. 2001) e em pequena escala, como

realizadas pelos golfinhos (Cubero-Pardo 2007; Harzen 2002; Hastie et al. 2003; Shane

1980).

O boto-cinza, Sotalia guianensis, é um pequeno cetáceo costeiro que se distribui

geograficamente ao longo da costa atlântica ocidental da América do Sul e América

Central, desde o sul do Brasil (27 ° 35’S, 48 ° 35’W) até Nicarágua (14 ° 35’N, 83 °

14’W) e possivelmente, Honduras (15 ° 58’N, 79 ° 54’W) (Flores e da Silva 2009).

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Estudos de fotoidentificação têm mostrado que S. guianensis apresenta residência e

fidelidade ao hábitat (Flores 1999; Flores e Bazzalo 2004; Rossi-Santos et al. 2007),

apresentam movimentos diários em pequena escala e os padrões de movimentos variam

entre as estações quentes e frias (Flores e Da Silva 2009).

Estudos relacionados aos movimentos em pequena escala de diversas espécies

de golfinhos costeiros têm sido conduzidos em pontos fixos terrestres através de

monitoramento com teodolito (Bejder e Dawson 2001; Denardo et al. 2001; Harzen

2002; Mendes et al. 2002; Wursig e Wursig 1979; 1980). Esse tipo de pesquisa

apresenta uma série de vantagens, principalmente por promover com precisão dados

com relação a posição geográfica dos animais de maneira não invasiva (Bailey e

Lusseau 2004; Harzen 2002) sem alteração de seu comportamento, uma vez que é

realizado em ponto fixo na terra (Wursig et al. 1991).

No Porto do Malhado, em Ilhéus (Bahia, Brasil) há uma população de S.

guianensis que pode ser avistada ao longo de praticamente todo o ano. Os animais

passam longos períodos do dia bem próximos à extremidade do molhe do Porto,

facilitando a avistagem e as pesquisas através de ponto fixo. No presente trabalho foi

utilizado o monitoramento com teodolito com o objetivo de analisar se há variação

sazonal na ocorrência e permanência de S. guianensis no Porto do Malhado.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O Porto do Malhado (14° 46’ 08” S e 39º 01’ 33” W) é localizado na enseada

das Trincheiras (Santos 2001), município de Ilhéus, litoral sul do Estado da Bahia (Fig.

1). A presença de S. guianensis nessa área pode ser observada ao longo do ano e por

longos períodos do dia. A pesquisa foi desenvolvida em um ponto fixo de 5,06 m de

altitude, situado na extremidade do molhe do porto. A extremidade do molhe é

orientada segundo o Norte Verdadeiro (Santos 2001), apresenta aproximadamente 2,3 m

de comprimento e uma bacia de evolução, (local próximo ao cais onde ocorrem as

manobras e fundeamento de embarcações) de 200 m de largura e 10 m de profundidade,

o que permite a entrada de navios de médio calado (Andrade 2003). A amplitude de

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maré no porto é de 2,4 m (Andrade 2003) e o sedimento do fundo é composto por areia

fina.

Figura 1: Área de estudo no litoral de Ilhéus Bahia, Brasil (Fonte: Reuss-Strenzel e

Assunção 2008). O círculo indica o ponto fixo de observação.

Ponto fixo de

observação

Ponto fixo de

observação

Oceano

Atlântico

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Monitoramento com o teodolito

Teodolitos são instrumentos de pesquisa capazes de mensurar ângulos

horizontais e verticais de um alvo. O ângulo vertical é relativo à gravidade e o

horizontal é relativo a um ponto de referência aleatoriamente escolhido, de posição

geográfica conhecida (ângulo zero) (Bailey e Lusseau 2004; Wursig et al. 1991). Se a

posição geográfica, a altura do teodolito acima da superfície do mar e a posição

geográfica do ângulo zero são conhecidas, esses ângulos podem ser transformados,

através de equações trigonométricas, em coordenadas planas UTM (E, N). Para uma

maior precisão na determinação da altura do teodolito, é necessário o conhecimento do

estado da maré, assim como para todas as mensurações dos ângulos, ao longo das

coletas. Os dados das coordenadas, plotados em mapas de profundidade podem ser

utilizados para correlacionar os movimentos com fatores físicos, como topografia

(Wursig et al. 1991).

Para o monitoramento de S. guianensis na área de estudo em questão, foi

utilizado um teodolito eletrônico LEICA T 110, com precisão de 10 segundos. O

aparelho foi posicionado em um ponto fixo de observação – P1 (14° 46' 07,82683"S e

39° 01' 33,57041"W e UTM 497202,710 E e 8367240,821 N) com uma altura de 5.06

m acima do nível do mar. O ponto escolhido para zerar o teodolito – P2 (ângulo zero)

(14° 46' 08,15708" S e 39° 01' 33,29707" W e UTM 497210,883 E e 8367230,676 N)

apresenta uma altura de 4,22 m acima do nível do mar. As coordenadas dos pontos P1e

P2 foram rastreadas por um período de duas horas através de um GPS Geodésico de

alta precisão (Trimble, modelo 5800). Os dados do GPS foram descarregados no

programa de pós-processamento TGO da Trimble. Em seguida, foi realizado o pós-

processamento e ajustamento de suas coordenadas em função das coordenadas de

pontos conhecidos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), obtendo-se

uma precisão em torno de 2 cm nas coordenadas horizontais e verticais destes pontos.

As altitudes GPS dos pontos P1 e P2 (altitude geométrica) foram transformadas em

altitudes ortométricas, por meio do programa MAPGEO 2004 do IBGE.

A partir do conhecimento da altitude do teodolito e do boto, combinados com o

azimute, valor em graus sexagesimais – contados a partir do Norte geográfico, sempre

no sentido horário – e o ângulo horizontal (α) referente ao alinhamento P2-P1 e P1-

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Boto, se obteve, por meio de processos trigonométricos, a distância entre o boto e o

ponto de observação (Fig. 2).

Figura 2: Medida de distância entre o teodolito e os grupos de botos-cinza. Figura A

representa a vista de topo e a figura B a vista lateral.

Utilizando-se a distância (DP1 - boto) e o azimute do alinhamento P1-Boto (AZP1-

boto) e as coordenadas de P1, é possível calcular as coordenadas UTM (E, N) do boto

na superfície da água através das seguintes equações:

(1) 𝛽 = 180° − 𝑍

(2) 𝐻 = ℎ + 𝐴𝐼

(3) 𝑡𝑔 𝛽 = 𝑡𝑔 180° − 𝑍 = 𝐷𝑃1_𝑏𝑜𝑡𝑜

𝐻

(4) 𝐷𝑃1_𝑏𝑜𝑡𝑜 = 𝑡𝑔 180° − 𝑍 𝐻

(5) 𝐴𝑍𝑃1_𝑏𝑜𝑡𝑜 = 𝐴𝑍𝑃1_𝑃2_𝛼

(6) ∆𝐸 = 𝑠𝑒𝑛 𝐴𝑍𝑃1_𝑏𝑜𝑡𝑜 × 𝐷𝑃1_𝑏𝑜𝑡𝑜

(7) ∆𝑁 = 𝑐𝑜𝑠 𝐴𝑍𝑃1_𝑏𝑜𝑡𝑜 × 𝐷𝑃1_𝑏𝑜𝑡𝑜

(8) 𝑁𝑏𝑜𝑡𝑜 = 𝑁𝑃1 + ∆𝑁

(9) 𝐸𝑏𝑜𝑡𝑜 = 𝐸𝑃1 + ∆𝑁

B A

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Onde:

H= altura total (do teodolito + do ponto fixo)

h= altura do ponto fixo

AI= altura do teodolito

Z= distância zimutal

Nboto = coordenada norte do boto

Eboto = coordenada leste do boto

ΔE = Projeção parcial da coordenada Leste (E)

ΔN= Projeção parcial da coordenada Norte (N)

α= ângulo horizontal

v= ângulo vertical

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada semanalmente entre os meses de dezembro de

2008 a novembro de 2009, com duração diária de até 8 horas (entre as 08:00 e 16:00

horas), totalizando 358,3 horas de esforço amostral. O monitoramento dos botos com o

teodolito iniciava quando um único indivíduo ou um grupo era avistado, era realizado

durante toda a permanência dos animais na área de estudo e finalizava quando os

indivíduos saiam ou quando não era mais possível visualizá-los, por conta da distância

ou das condições ambientais. O monitoramento reiniciava quando algum indivíduo ou

grupo era avistado.

Um grupo foi considerado como agregação de dois ou mais indivíduos, em

associação aparente, próximos uns dos outros (Azevedo et al. 2005; 2007). Se durante o

monitoramento de um grupo aparecessem novos indivíduos, esses eram adicionados ao

tamanho do grupo anterior e se outro grupo fosse formado, o monitoramento

permanecia com o primeiro grupo. Os pontos do teodolito foram coletados do indivíduo

que estivesse no centro do grupo. Os ângulos verticais e horizontais, a hora da

avistagem, tamanho e composição de grupos foram anotados em planilhas de campo

padronizadas. A composição dos grupos foi classificada em duas categorias: grupos sem

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filhotes (formado apenas por adultos e adultos/ juvenis) e grupos com filhotes. Sua

determinação foi realizada a partir de estimativa visual, baseando-se no tamanho

proporcional dos animais e coloração padrão. Filhotes foram considerados os indivíduos

que estivessem sempre acompanhados de um ou mais adultos, com tamanho corporal

médio ou inferior ao tamanho dos adultos e com coloração predominantemente rosada e

manchas acinzentadas no dorso, cabeça e rostro. Os adultos e juvenis foram

considerados todos os indivíduos com tamanho superior a 120 cm e com coloração

acinzentada mais definida, com apenas o ventre de cor clara (baseado em Randi et al.

2008; Rosas e Barreto 2008).

Definições das estações do ano e dos períodos do dia

As estações do ano foram divididas em verão e inverno (uma vez que para a

região as outras duas estações, primavera e outono, não são bem definidas), de acordo

com os padrões de vento que ocorrem na costa de Ilhéus. No verão (outubro a março)

predominam ventos alísios do Nordeste (NE) que geram ondas de NE e no inverno

(abril a setembro) chegam à costa ventos alísios do Sudeste (SE) que, junto com os

ventos Leste (E), presente na costa de Ilhéus durante todo ano, geram ondas de SE

(Bittencourt et al. 2000).

Os períodos do dia foram categorizados de acordo com os ângulos de incidência

de radiação solar na superfície d’água, de modo a observar se a incidência solar

interfere na distribuição espacial de S. guianensis. No período compreendido entre as

08:00 e 10:00 horas da manhã e 14:00 e 16:00 horas da tarde, os ângulos de incidência

são de 0º a 45º e entre o período de 10:00 as 14:00 horas, a incidência solar na

superfície da água é direta, entre 45º e 90º (Esteves 1998).

Análise dos dados

Os dados dos ângulos verticais e horizontais obtidos pelo teodolito foram

armazenados em bancos de dados do Programa Excel 2007 contendo as equações

trigonométricas responsáveis pela obtenção das coordenadas geográficas UTM e

distâncias entre o ponto fixo de observação (P1) e os botos-cinza (ver item

monitoramento com teodolito). As correções da maré foram realizadas para ponto

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coletado com o teodolito, para obtenção de uma maior precisão na determinação da

distância entre os botos-cinza e o ponto fixo (P1).

As coordenadas geográficas UTM dos botos-cinza foram plotadas sobre mapas

de batimetria no programa ArcMap 9.2. Para o cálculo das áreas de distribuição espacial

sazonal e diária de S. guianensis foi utilizado o método do Mínimo Polígono Convexo

(MPC), que consiste na união dos pontos geográficos mais extremos de distribuição dos

botos, de forma a fechar o menor polígono possível, sem admitir concavidades. Esses

pontos foram interligados no programa ArcMap 9.2. onde foi calculada a área do

polígono.

A variação do esforço efetivo de avistagem e da composição dos grupos entre as

duas estações foi analisada estatisticamente através do teste qui-quadrado para

proporções esperadas desiguais. Um índice de ocupação foi calculado considerando o

número total de indivíduos observados em cada estação dividido pelo esforço amostral

de cada estação. A variação sazonal no tamanho dos grupos, tempo de monitoramento

de cada grupo, distâncias entre o ponto fixo de observação e os grupos de S. guianensis

e ainda, distância entre o ponto fixo e os botos-cinza com relação as categorias de

ângulos de incidência solar, foram analisadas através do teste estatístico não-

paramétrico Mann-Whitney. A significância foi estabelecida como p < 0,01.

RESULTADOS

Tamanho e composição de grupos

Foram realizadas 173,8 horas de avistagem efetiva distribuídas em 48 dias de

coleta de dados. O boto-cinza foi encontrado na área em 91,5% dos dias de pesquisa,

não sendo avistado em apenas quatro dias durante o verão. Houve diferença

significativa no tempo de avistagem efetiva dos animais entre os meses de verão e

inverno (X2, p< 0,0001) (Tab. I). Foram monitorados 99 grupos de S. guianensis e um

total de 546 espécimes. O tamanho dos grupos variou de 2 a 12 indivíduos, com média

de 4,1 (±1,98) e moda de dois. Em seis monitoramentos foram observados indivíduos

solitários. O índice de ocupação anual foi de 1,5 indivíduos/hora. Com relação à

composição, 47,5% (n=47) dos grupos foram compostos por somente adultos ou

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adultos/ juvenis, em 33,3% (n=33) dos grupos houve a presença de filhotes e em 19,2%

(n=19) das ocasiões não foi possível determinar a composição dos grupos. A quantidade

de grupos e de indivíduos e o índice de ocupação dos botos-cinza foram menores no

verão quando comparados com o inverno (Tab. I). Não houve diferença significativa no

tamanho médio do grupo entre as duas estações (z = 2,063; p= 0.039), nem variação

sazonal significativa na quantidade de grupos com filhotes (X2, p= 0,196) e grupos sem

filhotes (X2, p= 0,279) (Tab. I)

Tabela I: Valores do esforço amostral e efetivo, quantidade de grupos e de

espécimes, índice de ocupação, tamanho e composição de grupos entre as duas estações

no Porto do Malhado.

Variação espacial sazonal e diária

As análises dos dados originados pelo teodolito eletrônico promoveram com

precisão a localização geográfica dos botos-cinza em torno do molhe do Porto do

Malhado. Um total de 2088 pontos de ângulos verticais e horizontais foi registrado

durante o monitoramento com o teodolito, sendo 419 pontos referentes ao verão e 1669

ao inverno. O tempo médio de monitoramento por grupo de boto-cinza foi de 97,01

minutos (±114,5), com mediana de 40 minutos e tempo máximo e mínimo de 470 e 6

minutos, respectivamente. Houve diferença significativa no tempo médio de

monitoramento por grupo entre as duas estações (z = 3,855; p< 0,0001; Tab. II).

Parâmetros Verão Inverno

Esforço amostral (horas) 177,5 180,8

Esforço efetivo (horas) 35,2 138,5

Quantidade de grupos 34 65

Número de espécimes 162 384

Índice de ocupação (ind./h) 0,91 2,12

Tamanho médio dos grupos 3,5 4,5

Desvio padrão 1,78 2

Moda 2 2

Máximo 11 12

Mínimo 1 1

Grupos com filhotes 6 (17,6%) 27 (41,5%)

Grupos sem filhotes 18 (52,9%) 29 (44,7%)

Composição indeterminada 10 (29,5%) 9 (12,8%)

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Tabela II: Tempo de monitoramento com o teodolito por grupo de S. guianensis

nas estações de inverno e verão no Porto do Malhado.

A distribuição espacial dos botos-cinza se concentrou em uma pequena área de

3,24 km2, próximos à extremidade do molhe do porto. No verão, a área de ocupação foi

de 1,60 km² e no inverno de 2,45 km² (Fig. 3). De acordo com a figura 4 é possível

observar que a maioria dos pontos se encontra nas profundidades de 5 m, com alguns

pontos em profundidades de 10 m. É possível ainda observar que a concentração de S.

guianensis na área estudada varia de acordo com a época do ano, sendo menor durante o

verão, enquanto no inverno a quantidade de pontos e a sobreposição entre eles,

evidenciam que há uma maior concentração nessa estação (Fig. 3).

Tempo de monitoramento (minutos) Verão Inverno

Média 46,09 122,07

Desvio padrão 73,82 122,84

Mediana 19,5 76

Máximo 310 470

Mínimo 6 6

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Figura 3: Distribuição espacial dos grupos de Sotalia guianensis durante o período de verão e inverno no Porto do Malhado, em Ilhéus. Maior

concentração dos grupos nas isóbatas de 5 m de profundidade, com alguns grupos em isóbatas de 10 m. O polígono tracejado representa a área do

MPC, no verão de 1,60 km² e no inverno, de 2,45 km².

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A distância média registrada com o teodolito entre o ponto fixo de observação e

os botos-cinza foi de 0,16 km (± 0,18), com uma distância máxima de 1,85 km ao norte,

registrada no inverno e de 1,37 km ao sul, registrada no verão. A distância mínima para

os dois períodos foi de 0,03 (Fig. 4). Não houve diferença significativa nas distâncias

entre as duas estações (z = 1,70; p = 0,087).

Figura 4: Distância entre o ponto-fixo de observação e os grupos de S. guianensis no

verão e inverno.

Dos 2088 pontos de teodolito coletados, 1131 foram referentes ao período de

incidência solar de 45° a 90° (das 10:00 as 13:59) e 957 referentes ao período de

incidência de 0° a 45° (entre as 08:00 e 09:59 e 14:00 as 16:00). O número de

indivíduos observados das 10:00 as 13:59 foi de 286 e entre as 08:00 as 09:59 e 14:00

as 16:00 foi de 260. Não houve diferença significativa no número de indivíduos

observados para os dois períodos (z= 0,30; p= 0,38). A área de distribuição dos grupos

de S. guianensis para a primeira categoria (45° a 90°) foi de 1,64 km². No verão, a área

utilizada para essa categoria de incidência solar foi de 0,78 km² e no inverno, de 1,53

km². Para a categoria de 0° a 45, a área foi de 2,98 km², com 1,45 km² no verão e 2,13

km² no inverno (Fig. 5).

Verã

o

Invern

o0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

2

Dis

tância

(km

)Max

Min

75%

25%

Mediana

𝑥 = 0,17

± 0,17

𝑥 = 0,16

± 0,18

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Figura 5: Distribuição espacial dos grupos de Sotalia guianensis durante o período de incidência solar de 45° a 90° (das 10:00 as 13:59 horas)e de 0 a 45° (das

08:00 as 09:59 horas e 14:00 as 16:00 horas) no Porto do Malhado, em Ilhéus. O polígono com linha contínua representa a área do MPC no verão, e o

tracejado no inverno. Os valores das áreas para o período de incidência de 45° a 90° no verão e inverno foram 1,45 km² e 2,13 km², respectivamente e para o

período de 0° a 45°, foram de 0,78 km² para o verão e 1,53 km² para o inverno.

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A distância média do ponto fixo de observação e os grupos de botos-cinza para

os dois períodos de incidência solar não apresentou variação significativa (z = 1,233; p=

0,108; Fig. 6).

Figura 6: Distância entre o ponto-fixo de observação e os grupos de S. guianensis para

os períodos de incidência solar de 45° a 90° e 0° a 45°.

DISCUSSÃO

O porto do Malhado é uma área onde há tráfego diário de uma diversidade de

embarcações, desde barcos de pesca à vela até grandes navios de carga e de turismo.

Essa área demonstra ser de intensa ocupação por S. guianensis, uma vez que os mesmos

podem ser avistados ao longo do ano. A ocupação de áreas portuárias já foi

demonstrada para a espécie em outras regiões. Em Pernambuco, a presença de S.

guianensis foi reportada para duas regiões portuárias, o porto de Suape e de Recife

(Araújo et al. 2008). Na baía de Babitonga, em Santa Catarina, foi observado que uma

população de boto-cinza utiliza a área do porto de São Francisco do Sul intensamente,

principalmente com propósitos de forrageio (Cremer et al. 2009).

Tamanho e composição de grupos

A organização social de Sotalia guianensis no Porto do Malhado foi

caracterizada pela formação de pequenos grupos (𝑥 =4,1 indivíduos), semelhante ao

45°

a 9

0

a 4

5°0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2

Dis

tância

(K

m)

Max

Min

75%

25%

Mediana

𝑥 = 0,15

± 0,13

𝑥 = 0,17

± 0,23

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reportado para a espécie em outras regiões, onde o tamanho médio dos grupos varia de

dois a 10 indivíduos (Araújo et al. 2001; Azevedo et al. 2005; Edwards e Schnell 2001

Geise et al. 1999). A ausência de variação sazonal no tamanho médio dos grupos

também foi observada para a espécie na Baía da Guanabara (Azevedo et al. 2005) e na

Baía de Sepetiba (Flach et al. 2008). Resultados opostos foram encontrados na Baía de

Paraty, Rio de Janeiro (Lodi 2003) e na Baía Norte de Santa Catarina (Daura-Jorge et al

2005), onde foi observado variação sazonal no tamanho médio dos grupos, sendo que,

na Baía de Paraty, os maiores grupos foram observados no verão e na Baía Norte, no

outono. De acordo com Flach e colaboradores (2008) esses diferentes resultados

encontrados entre os locais sugere que a variação sazonal no tamanho dos grupos pode

estar relacionados as características estruturais ambientais peculiares e restritas a cada

hábitat.

O tempo de permanência dos grupos de S. guianensis e o número total de

indivíduos avistados no inverno foram superiores ao observado no verão, no Porto do

Malhado. Na Baía de Paraty, o número de indivíduos observados foi maior durante o

período de verão (Lodi 2003) e, segundo a autora, essa variação sazonal está

provavelmente relacionada às características físicas e oceanográficas do hábitat, que

determinam a disponibilidade e distribuição de recursos alimentares.

A presença de grupos com filhote foi constatada durante todo o ano e não variou

entre as estações. Assim como no porto do Malhado, filhotes podem ser avistados ao

longo do ano na baía de Paraty (Lodi, 2003), no estuário de Cananéia (Geise et al.

1999), na baía de Guanabara (Azevedo et al. 2005), na Baía Norte de Santa Catarina

(Bazzalo et al. 2008; Daura-Jorge et al. 2005) e na baía dos Golfinhos (Araújo 2001).

De acordo com um estudo sobre aspectos reprodutivos realizado no Paraná com animais

acidentalmente capturados, foi possível observar que as fêmeas de S. guianensis não

apresentam um período de ovulação definido, não havendo, portanto, época definida

para os nascimentos de filhotes (Rosas e Monteiro-Filho 2002), porém, em algumas

localidades, embora filhotes sejam avistados ao longo do ano, sua freqüência é maior

nas estações mais quentes, como na baía de Paraty (Lodi 2003) e na Baía Norte de Santa

Catarina (Daura-Jorge et al. 2005)

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Variação espacial sazonal e diária

O tamanho da área (3,24 km²) utilizada pelos botos-cinza no Porto de Ilhéus e a

distância máxima (1,85 km) entre os animais e o ponto-fixo de observação é um valor

subestimado, uma vez que o monitoramento com o teodolito apresenta limitações para

acompanhar os animais por todo o percurso desempenhado por eles. A área de vida

estimada para S. guianensis na Baía Norte de Santa Catarina foi de 13,38 km2 (de

acordo com o modelo do Mínimo Polígono Convexo) (Flores e Bazzalo 2004) e na baía

de Guanabara, os botos ocupam uma área de 136,9 km2

(Azevedo et al. 2007). Com

relação à profundidade, S. guianensis apresentou preferência por águas rasas (5 m),

próximas à extremidade do molhe. Na Nicarágua, a profundidade máxima em que S.

guianensis pode ser avistado foi de 5 m (Edwards e Schnell 2001). Resultado

semelhante foi reportado para a Baía Norte de Santa Catarina, onde os animais são

frequentemente avistados em profundidades abaixo de 10 m, sendo registrados

principalmente em isóbatas de 3 m (Bazzalo et al. 2008; Flores e Bazzalo 2004). No

entanto, a profundidade é um fator que varia entre os locais de ocorrência da espécie e

está relacionada às características do ambiente. Na baía de Guanabara, a profundidade

varia entre dois a 35 m, com média de 11,63 m, sendo que o maior número de grupos

foi avistado em profundidade entre 5.1 e 15 m. A preferência por águas mais profundas

nessa localidade parece estar relacionada com a qualidade da água e a disponibilidade

de presas (Azevedo et al. 2007).

O boto-cinza apresentou variação espacial sazonal na área de estudo, sendo

observado que no período de verão, a área de ocupação em torno do molhe foi menor

(1,6 km²) quando comparada com a área do inverno (2,45 km²). Na Baía de Cispatá,

costa colombiana, durante a estação chuvosa, os botos-cinza apresentam uma

distribuição mais dispersa em áreas vizinhas à baía, enquanto na estação seca, se

concentram mais no interior da baía (Garcia e Trujillo 2004). Na Baía Norte, em Santa

Catarina, a espécie tende a restringir suas atividades a áreas específicas, de acordo com

cada estação do ano. Na primavera e verão, os animais utilizam a mesma área, de

requerimento espacial menor (8,32 e 8,42 km2, respectivamente), comparadas com as

utilizadas durante o outono e inverno (20,27 e 32,12 km2, respectivamente) (Wedekin et

al. 2007). No mesmo local, foi observado que durante as estações frias, os botos-cinza

se movimentam mais, apresentando os maiores valores de distâncias percorridas

(Bazzalo et al. 2008; Daura-Jorge et al. 2004; 2005; 2007; Flores e Bazzalo 2004).

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Em todos os estudos nas outras regiões acima citados, a provável explicação

para a variação sazonal na distribuição espacial de S. guianensis está na variação

sazonal da disponibilidade, abundância e distribuição de recursos alimentares. Na costa

colombiana, a abundância e o tamanho dos peixes são maior durante a estação chuvosa

no exterior da Baía de Cispatá (Garcia e Trujillo 2004) e na baía Norte, os maiores

requerimentos espaciais e maior intensidade de deslocamento podem ser decorrentes da

baixa abundância de presas, ocorrendo o oposto nas estações quentes (Bazzalo et al.

2008; Daura-Jorge et al. 2004; 2005; 2007; Flores e Bazzalo, 2004; Wedekin et al.

2007). De acordo com Flores e Bazzalo (2004), outras possíveis explicações para os

maiores taxas de movimento durante o período de inverno na Baía Norte de Santa

Catarina seriam a demanda energética, para manter a temperatura do corpo e ainda o

tráfego de embarcações, que aumenta no período de verão.

Para outras espécies costeiras de cetáceos também foi reportada a variação

sazonal na distribuição espacial em resposta ao movimento sazonal de suas presas,

como por exemplo, T. truncatus (Cubero-Pardo 2007; Hastie et al. 2003; Ingran e

Rogan 2002; Shane 1980), Sousa chinensis (Karczmarski et al. 2000), Stenella

attenuata (Cubero-Pardo 2007) e Lagenorhynchus obscurus (Wursig e Wursig 1980).

De acordo com Gonçalves (2009), a principal atividade desenvolvida por S.

guianensis no Porto do Malhado é o forrageio. Embora não se tenha conhecimento com

relação aos itens que compõem a dieta alimentar da espécie nessa área, em uma

pesquisa relacionada a composição, abundância e diversidade da ictiofauna demersal,

realizada nessas proximidades (Moraes et al. 2009), foi levantada a ocorrência de 12

famílias e 28 espécies de peixes reportadas como itens alimentares de S. guianensis por

pesquisas realizadas a este respeito ao longo do litoral brasileiro (Borobia e Barros

1989; Di Beneditto et al. 2001; Di Beneditto e Siciliano 2007; Gurjão et al. 2003). Foi

observada variação temporal na abundância das principais espécies de peixes que

ocorrem no porto, Isopisthus parvipinnis, Paralonchurus brasiliensis, Larimus

breviceps, Stellifer brasiliensis, Stellifer stellifer, Eucinostomus gula, e que também

estão presentes na dieta de S. guianensis, sendo essa abundância maior no período de

maior índice pluviométrico, provavelmente pelo fato de que nesse período haja maior

concentração de matéria orgânica alóctone, que certamente interfere na dinâmica trófica

da área e na estrutura e composição das comunidades de peixes existente (Moraes

2006). Assim sendo, uma provável explicação para a diminuição no número de S.

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guianensis durante o período de verão, quando há uma diminuição do índice

pluviométrico, seja a diminuição na abundância de presas, tendo os animais que se

deslocarem para outras áreas, onde haja uma maior disponibilidade de recursos.

O presente trabalho propôs analisar a variação espacial ao longo do dia de S.

guianensis baseada na incidência de radiação solar na superfície da água, uma vez que,

entre os períodos das 08:00 as 10:00 da manhã e de 14:00 as 16:00 da tarde, o ângulo de

incidência é em torno de 0° a 45° e no período compreendido entre 10:00 e 14:00

horas, o ângulo de incidência é perpendicular a superfície da água (em torno de 90°). O

número de indivíduos observados e a distância máxima de avistagem dos grupos não

demonstraram ser influenciados por esse fator. Os pontos mais afastados que ampliaram

a área utilizada pelos botos-cinza durante as horas iniciais ou finais das coletas (período

de incidência de 0° a 45°) podem ser referentes ao movimento de entrada e saída dos

animais no Porto do Malhado. Na baía de Babitonga, o índice de ocupação de S.

guianensis não foi influenciado pelos períodos do dia (Cremer et al. 2009), no entanto,

para outras localidades, o horário apresentou influência, como na baía de Paraty (Lodi

2003), na baía Norte de Santa Catarina (Daura-Jorge et al. 2005), na baía de Cispatá

(Garcia e Trujillo 2004), estuário de Cananéia (Geise et al. 1999) e na baía dos

Golfinhos (Araújo et al. 2001).

A ocorrência de S. guianensis já foi reportada para outras localidades ao longo

do litoral de Ilhéus, como no interior da Baía do Pontal (Santos et al. no prelo), com

distancia de aproximadamente quatro km do Porto do Malhado. No estudo aqui

apresentado foi possível observar que há variação sazonal na distribuição da espécie nas

proximidades do Porto, porém os animais foram monitorados a partir de um ponto fixo,

portanto, não sendo possível acompanhar todo o deslocamento desempenhado pelos

grupos. Pesquisas futuras de fotoidentificação e monitoramento embarcado devem ser

desenvolvidas durante todo o ano, com o propósito de observar a dinâmica sazonal e

diária da espécie na costa de Ilhéus.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Paulo Flores, Yvonnick Le Pendu e Mirco Solé pelas correções desse

manuscrito e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)

pela bolsa concedida para o desenvolvimento da pesquisa.

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CAPÍTULO II*

Interação entre Sotalia guianensis (Cetacea:

Delphinidae) e embarcações no Porto do

Malhado, Ilhéus, Bahia- Brasil

*Este capítulo será submetido ao periódico Journal of the Marine Biological

Association of the United Kingdon

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51

Interação entre o boto-cinza e embarcações Santos, M. S. e Schiavetti, A.

Interação entre Sotalia guianensis (Cetacea: Delphinidae) e embarcações no Porto

do Malhado, Ilhéus, Bahia- Brasil

Mariana Soares Santos1*

e Alexandre Schiavetti2

1. Programa de Pós Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais. Universidade

Estadual de Santa Cruz – UESC. Rodovia Ilhéus - Itabuna, km16, Salobrinho –

CEP 45.662-000 – Ilhéus – Bahia - Brasil.

2. Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais. Universidade Estadual de

Santa Cruz – UESC. Rodovia Ilhéus - Itabuna, km16, Salobrinho – CEP

45.662-000 – Ilhéus – Bahia - Brasil.

*E-mail para correspondência: [email protected]

Resumo

A interação com embarcações pode causar diversas alterações comportamentais em

cetáceos. Este trabalho tem como objetivo analisar se a espécie S. guianensis altera o

padrão de superfície na presença de diferentes categorias de embarcações e distâncias de

contato, no Porto de Ilhéus, Bahia. Os dados foram coletados em um ponto fixo, entre

setembro de 2008 a agosto de 2009, com um total de 362,6 horas de esforço amostral e

213,22 horas de esforço efetivo. Foi contado o número de subidas à superfície por grupo

de boto-cinza, em um período de um minuto, a cada passagem de embarcação e em

momentos de ausência de embarcações. A composição dos grupos foi classificada em

grupos com filhotes e grupos sem filhotes. As embarcações foram classificadas em

motor centro (MC), motor popa (MP), navios (N) e sem motor (SM) e as distâncias

classificadas como perto, intermediária e longe. Foram coletadas 365 amostras de um

minuto na ausência de embarcações e 379 na presença. As embarcações de motor de

centro foram as mais representativas na área de estudo (n=478) e em interação com os

botos-cinza (n=260), entretanto, as embarcações de motor de popa foram as principais

responsáveis pela diminuição no padrão de superfície (𝑥 =1,82; Md= 2,2). Em grupos

contendo filhotes, o número de subidas à superfície diminui significativamente

(𝑥 =2,13; p= 0,00032). Com relação às distâncias, não houve variação significativa no

padrão de superfície para nenhuma das categorias de embarcações. A variação no

padrão de superfície de S. guianensis perante presença de embarcações pode ser uma

estratégia de evitação da embarcação ou uma resposta a dificuldade de comunicação

entre os animais.

Palavras-chave: boto-cinza, padrão de superfície e reação

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52

Abstract

The interaction with boats can cause several behavioral changes in cetaceans. The

purpose of this research is to analyze if the S. guianensis species changes the surface

pattern in the presence of different categories of boats and contact distances at Porto de

Ilhéus, Bahia, Brazil. Data were collected at a fixed point, from September 2008 to

August 2009, totalizing 362.6 hours of sampling effort and 213.22 hours of effective

effort. A number of rises to the surface by a group of estuarine dolphins was counted in

a period of one minute, in every passing boat and at times of absence of boats. The

composition of groups was classified into groups with calves and groups without calves.

The boats were classified as center motor (MC), outboard (MP), ships (N) and without

motor (SM), and distances are classified as near, intermediate and far. 365 samples of

one minute in the absence of boats and 379 in their presence were collected. The center

motor boats were most representative in the study area (n=478) and in interaction with

estuarine dolphins (n=260), however, the outboard boats were the main responsible

ones for decrease in the surface pattern (𝑥 =1.82; Md= 2.2). In groups with calves, the

number of rises to the surface decreased significantly (𝑥 =2.13; p= 0,00032). There was

no significant variation concerning distances in the surface pattern for any of the

categories of boats. The variation in the surface pattern of S. guianensis in the presence

of boats may be a strategy of avoidance of boats or a response to the difficulty of

communication between animals.

Keywords: Guiana dolphin, surface pattern and reaction

INTRODUÇÃO

A interação entre cetáceos a embarcações pode causar impactos diretos, como

colisão, capaz de causar ferimentos e até morte (Laist et al., 2001; Vanderlaan &

Taggart, 2007) e indiretos, como alterações comportamentais (Mattson et al., 2005;

Lusseau, 2006). Pesquisas desenvolvidas com espécies de delfinídeos costeiros

demonstraram alterações comportamentais perante presença de embarcações. A espécie

Tursiops truncatus demonstra um aumento no intervalo respiratório (Janik &

Thompson, 1996; Nowacek & Wells, 2001; Lusseau, 2003); aumento no sincronismo

dos grupos (Hastie et al., 2003) e movimentação irregular (Lusseau, 2006). Os

golfinhos-de-hector, Cephalorhynchus hectori, aumentam a coesão de grupos (Bejder et

al., 1999) e o tamanho dos grupos diminui na presença de diversas embarcações

simultaneamente (Nichols et al., 2001). Essas alterações de curto prazo podem

desencadear reações de longo prazo, tais como abandono da área (Lusseau, 2005) ou

alteração no orçamento comportamental da população, ou seja, uma transição e variação

no tempo despendido em estados comportamentais (Lusseau, 2004).

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53

O tipo de embarcação, a quantidade e a forma de aproximação provocam

diferentes reações nos animais. De acordo com Janik e Thompson (1996) e Constantine

e colaboradores (2004), as embarcações de turismo de observação são as mais

impactantes.

O boto-cinza, Sotalia guianensis, é uma pequena espécie de delfinídeo

encontrado em baías, estuários e águas costeiras protegidas. Distribui-se

geograficamente ao longo da costa atlântica ocidental da América do Sul e América

Central, desde o sul do Brasil (27 ° 35’S, 48 ° 35’W) até Nicarágua (14 ° 35’N, 83 °

14’W) e possivelmente, Honduras (15 ° 58’N, 79 ° 54’W). As principais ameaças a

espécie estão relacionadas à captura acidental em redes de pesca, poluição da água,

atividades sísmicas, derramamento de óleo, destruição de hábitats e tráfego de

embarcações (Flores & Da Silva, 2009).

Pesquisas referentes à interação de S. guianensis com embarcações vêm sendo

realizadas ao longo do litoral brasileiro (Santos-Jr et al., 2006; Valle & Melo, 2006;

Pereira et al., 2007; Araújo et al., 2008; Carrera et al., 2008; Filla et al., 2008; Tosi &

Ferreira, 2008) e os resultados obtidos por estes autores demonstram que o boto-cinza

apresenta uma variedade de respostas comportamentais, semelhantes às das outras

espécies mencionadas anteriormente.

No Porto do Malhado, Ilhéus, há uma população de S. guianensis que pode ser

avistada ao longo de praticamente todo o ano. Na região não há turismo de observação

dos botos, mas há tráfego de barcos de pesca e lazer, navios e rebocadores. Para tanto, o

presente trabalho tem como objetivo verificar se os botos-cinza apresentam alterações

comportamentais perante a presença dos diferentes tipos de embarcações e distâncias de

aproximação, através do registro de variações no padrão comportamental de superfície

dos animais.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O Porto do Malhado (14°46’08”S e 39º01’33”W) é localizado na enseada das

Trincheiras, município de Ilhéus, litoral sul da Bahia, Brasil (Fig. 1). A pesquisa foi

desenvolvida em um ponto fixo, assim como em outros locais onde a espécie é estudada

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54

(ex: Santos et al., 2000; Araújo et al., 2001), onde é possível a observação dos animais

de maneira confiável sem interferir em seu comportamento natural (Azevedo et al.,

2009).

Figura 1: Localização da área de estudo no litoral de Ilhéus, Bahia - Brasil. O triângulo

representa o ponto fixo de observação, na extremidade do molhe do porto do Malhado,

o círculo representa a amplitude do campo visual de observação, com raio de 200 m e a

linha tracejada representa a trajetória realizada pelas embarcações.

O ponto fixo apresenta 5,06 m de altura, situa-se na extremidade do molhe do

Porto do Malhado. A extremidade do molhe é orientada segundo o norte verdadeiro,

apresenta aproximadamente 2,3 km de comprimento e uma bacia de evolução, (local

próximo ao cais onde ocorre as manobras e fundeamento de embarcações) de 200 m de

largura e 10 m de profundidade, o que permite a entrada de navios de médio calado

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55

(Andrade, 2003). A amplitude de maré no porto é de 2,4 m (Andrade, 2003) e o

sedimento do fundo é composto por areia fina (Apoluceno, 1998). As observações

foram realizadas a olho nu em um campo visual de 200 m de raio, com uma área de 1,5

ha, definida com auxílio de um teodolito eletrônico, a partir do ponto fixo (Fig.1).

A área de estudo foi escolhida por ser uma região de tráfego de embarcações de

lazer, pesca, carga e rebocadores. Essas embarcações utilizam a área apenas para

transitar, com uma trajetória definida, contornando a região do molhe do Porto (Fig. 1).

A área foi escolhida também pela presença e permanência ao longo de praticamente

todo ano de S. guianensis, além da proximidade dos animais ao ponto fixo, o que

permite uma melhor visualização para as coletas de dados.

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada entre os meses de setembro de 2008 a agosto de

2009, com saídas semanais de oito horas por dia (entre 8 e 16 horas), totalizando 48 dias

de campo e 362,2 horas de esforço amostral. As observações foram realizadas em

estados do mar ≤ 3 na escala de Beaufort.

Pelo fato de os indivíduos não serem individualmente identificados, os registros

de padrões de superfície (Underhill, 2006), ou seja, a variação no número de subidas à

superfície, foi tomado por grupos. Um grupo foi considerado como agregação de dois

ou mais indivíduos, em associação aparente, próximos uns dos outros (Azevedo et al.,

2005; 2007). Primeiramente, registrava-se o tamanho e a composição do grupo,

classificada em duas categorias: grupos com filhotes e grupos sem filhotes. A

composição foi determinada a partir de estimativa visual, baseando-se no tamanho

proporcional dos animais e coloração padrão. Filhotes foram considerados os indivíduos

que estivessem sempre acompanhados de um ou mais adultos, com tamanho corporal

médio ou inferior ao tamanho dos adultos e com coloração predominantemente rosada e

manchas acinzentadas no dorso, cabeça e rostro. Os adultos foram considerados todos

os indivíduos com tamanho superior a 120 cm e com coloração acinzentada mais

definida, com apenas o ventre de cor clara (baseado em Randi et al., 2008; Rosas &

Barreto, 2008).

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56

Após determinar o tamanho do grupo, durante o período de um minuto, contava-

se, com auxílio de um cronômetro digital, o número de subidas à superfície de todos os

indivíduos (Underhill, 2006). A cronometragem iniciava quando o primeiro indivíduo

subia à superfície e finalizava quando encerrasse o período de um minuto. Assim, com o

conhecimento do tamanho do grupo e do número de subidas, foi possível extrair a

média de subidas à superfície por indivíduo por minuto. As amostras foram coletadas

em momentos de presença e ausência de embarcações (controle).

As interações entre os botos-cinza e as embarcações foram registradas através do

método de amostragem “todas as ocorrências” para grupos de animais (Mann, 1999), de

modo a registrar o maior número de interações com barcos que trafegam pela área.

Mesmo quando não havia animais durante a passagem de embarcações, registrava-se o

tipo de barco e a hora. Dados referentes à quantidade, tipo de embarcação e distância

entre os animais e os barcos também foram coletados. Os tipos de embarcações foram

classificados em 4 categorias: barcos com motor de centro (MC), representadas pelos

barcos de pesca e todas as outras embarcações de madeira motorizadas; barcos sem

motor (SM), representados pelas canoas à remo, canoas à vela e catamarãs; barcos com

motor de popa (MP), representados por lanchas, veleiros, voadeiras, botes infláveis e

jet skis; e navios (N), de turismo, cargueiros e rebocadores. A medição da distância

entre os botos e o barco foi estabelecida a partir de uma avistagem piloto com um

teodolito eletrônico. A partir das distâncias obtidas pelo teodolito, foram criadas

categorias de distâncias e estas passaram a ser estimadas visualmente a cada avistagem,

sendo a interação entre os botos-cinza e as embarcações considerada quando estes

estivessem a aproximadamente 150 metros de distância entre si e então classificada em

3 categorias: distante, quando as embarcações estivessem a menos de 150 dos botos-

cinza; intermediária, quando estivessem a menos de 75 m e próxima, quando estivessem

a menos de 25 m.

Para os dados de controle, os registros de subidas à superfície foram tomados na

ausência de embarcações durante o período de coleta, aleatoriamente, de modo que a

quantidade de amostras fosse equivalente aos dados de presença de embarcações.

Análise dos dados

Os dados foram devidamente registrados em um banco de dados no programa

Excel 2007 e para análise estatística, utilizou-se o programa Biostat 5.0. Para analisar se

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houve diferença significativa entre o número de subidas à superfície na ausência

(controle) e presença de embarcações foi utilizado o teste não paramétrico Mann

Whitney. Para análise da variação no padrão de superfície de acordo com cada categoria

de embarcação, foram utilizados os dados em que houvesse apenas uma embarcação em

interação. Os testes estatísticos utilizados para analisar se houve variação significativa

no número de subidas à superfície do boto-cinza de acordo com as categorias de

embarcações, à composição dos grupos e as categorias de distâncias, foram a análise de

variância (ANOVA ONEWAY) e o teste de Tukey. Devido ao número de amostras em

momentos com mais de uma embarcação ter sido muito baixo (n=38), estes dados foram

excluídos das análises. A significância foi estabelecida como p = 0,01.

RESULTADOS

Os botos-cinza foram avistados em 42 dias, totalizando 213,22 horas de esforço

efetivo. O número de animais simultaneamente na área variou de 1 a 12 indivíduos, com

média de tamanho de grupo 3,76 (DP= 1,81) e tamanho modal de dois indivíduos. Em

73% (n=543) das amostras pode-se determinar a composição dos grupos, sendo 40%

(n=217) dos grupos contendo filhotes e 60% (n=326) grupos sem filhotes.

Um total de 855 embarcações foi registrado trafegando na área de estudo. Os

barcos de motor de centro foram os mais freqüentes (n= 478), seguido dos de motor de

popa (n=178), das embarcações sem motor (118) e por último, dos navios (n=81). Em

49,9% do total de barcos (n=427) foi registrada interação com o boto-cinza, sendo 260

referentes a embarcações de motor de centro, 66 as com motor de popa, 62 as sem

motor e 39 aos navios. Foram coletadas 744 amostras de contagens de subidas a

superfície do grupo por minuto. Destes, 365 registros foram tomados na ausência de

embarcações (controle) e 379 na presença. Em 38 ocasiões ocorreu a presença de mais

de uma embarcação em interação com os botos, com um máximo de três

simultaneamente (n=10). Em 28 ocasiões houve duas embarcações, porém, a maioria

das interações ocorreu na presença de apenas uma (n=341).

A média do número de subidas à superfície por indivíduo foi de 2,59 (DP=1,03)

por minuto na ausência de embarcações e de 2,26 (DP=1,05) na presença, sendo

significativamente menor o número de subidas na presença de embarcações (Z=4,15;

p<0,0001). O número médio de subidas a superfície por minuto na presença de

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embarcações de motor de centro foi de 2,27 (DP= 1,06; Md= 2,2), motor de popa de

1,82 (DP= 0,98; Md= 2,2), sem motor de 2,64 (DP= 1,03; Md= 2,5) e navio de 2,1;

(DP=0,81; Md= 2). Houve variação no padrão de superfície de acordo com as

categorias de embarcações (p= 0,0000016), sendo o número de subidas

significantemente menor na presença de embarcações de motor de popa com relação ao

controle (p= 0,001576) e embarcações de motor de popa com relação às embarcações

sem motor (p= 0,000576). Dentre as demais categorias de embarcações (motor de

centro, navios e embarcações sem motor), não houve variação significativa (p > 0,01)

(Fig. 2).

Figura 2: Subidas à superfície por indivíduo por minuto de acordo com as categorias de

embarcações (MC= motor de centro; MP= motor de popa; N= navio; SM= sem motor e

C= controle), onde ° são valores 1,5 vezes maiores que o 3° quartil e * são valores 3

vezes maiores que o valor do 3° quartil).

Na tabela 1 estão representados os dados referentes ao número de amostras (n) e

as médias do número de subidas à superfície (x) para as categorias de grupos, as

categorias de embarcações e as categorias de distâncias. Análises estatísticas referentes

à composição de grupos, categorias de embarcações e distâncias de aproximação não

foram realizadas, devido a variação no número de amostras.

MC

MP N

SM C

0

0.8

1.6

2.4

3.2

4

4.8

5.6

6.4

7.2

8

Su

bid

as à

su

pe

rfíc

ie/ind

ivíd

uo

/min

uto

Max

Min

75%

25%

Mediana

Categorias de embarcações

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59

Tabela 1: Número de amostras (n) e média (x) do número de subidas à superfície por

minuto por indivíduo de acordo com as categorias da embarcação, distâncias e

composição de grupo.

MC, motor centro; MP, motor popa; N, navio; SM, sem motor

Em grupos contendo filhotes, o número de subidas à superfície por indivíduo é

significantemente menor na presença de embarcações (n= 118; 𝑥 =2,13; DP= 1,04;

Md= 2) do que na ausência (n= 99; 𝑥 =2,66; DP=0,98; Md= 2,6) (p= 0,00032). Em

grupos compostos somente por adultos e juvenis, não há diferença significativa no

padrão de superfície em momentos de presença (n= 183; 𝑥 =2,26; DP=1,06; Md= 2) e

ausência (n= 143; 𝑥 =2,49; DP=1,12; Md=2,5) de embarcações (p > 0,01) (Fig. 3).

Figura 3: Subidas à superfície por indivíduo por minuto com relação à composição de

grupos (ASB= grupos formados apenas por adultos e juvenis na ausência de

embarcações; ACB= grupos formados apenas por adultos e juvenis na presença de

embarcações; FSB= grupos com filhotes na ausência de embarcações e FCB= grupos

com filhotes na presença de embarcações).

Distâncias

MC MP N SM

Grupos com

Filhote Grupos com

adulto Grupos com

Filhote Grupos com

adulto Grupos com

Filhote Grupos com

adulto Grupos com

Filhote Grupos com

adulto

x n x n x n x n x n x n x n x n

Perto 1.80 29 2.29 48 1.79 7 1.55 6 2.05 3 2.5 1 2.33 6 1.86 7

Médio 2.34 18 2.06 37 2.08 4 1.95 5 2.0 1 2.0 2 2.58 4 3.5 1

Longe 2.43 15 2.49 28 2.3 4 1.78 4 2.25 1 2.6 5 3.43 5 2.8 12

Indeterminada 6 3 4 2 0 2 2 0

AS

B

AC

B

FS

B

FC

B0

0.8

1.6

2.4

3.2

4

4.8

5.6

6.4

Sub

idas

à s

uper

fíci

e/in

diví

duo/

min

uto

Max

Min

75%

25%

Mediana

Composição de grupos

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60

A maioria das embarcações foi observada em distâncias próximas aos botos (n=

127), seguido de distâncias longe (n= 95) e intermediária (n= 89). Em 30 ocasiões a

distância não foi determinada com precisão. A média do número de subidas à superfície

por minuto por indivíduo foi 2,1 (DP= 0,97); 2,2 (DP=1,1) e 2,4 (DP=1,05),

respectivamente. Não houve diferença significativa com relação às categorias de

distâncias entre os botos-cinza e embarcações para nenhuma categoria de embarcação

na área de estudo (p= 0,039).

DISCUSSÃO

Os resultados obtidos nesse trabalho mostram que S. guianensis apresenta

variação no padrão de superfície ao interagirem com embarcações, apresentando uma

diminuição no número de subidas quando comparado com momentos de ausência de

barcos. Essa reação comportamental já foi observada para a espécie por Valle e Melo

(2006) na Praia de Pipa- Rio Grande do Norte, por Pereira e colaboradores (2007), na

Baía Norte de Santa Catarina e ainda para outras espécies de golfinhos, como Tursiops

truncatus (Janik & Thompson, 1996; Nowacek & Wells, 2001; Lusseau, 2003);

Orcaella brevirostris (Kreb & Rahadi, 2004) e Sousa chinensis (Ng & Leung, 2003).

Outras alterações comportamentais relacionadas à interação com embarcações já

foram reportadas para S. guianensis, como aumento na coesão de grupos (Valle &

Melo, 2006; Tosi & Ferreira, 2008); diminuição na atividade de forrageio (Carrera et

al., 2008), afastamento da embarcação (Pereira et al., 2007) e alterações em

comportamentos acústicos (Filla et al., 2008).

A maioria das interações entre S. guianensis e embarcações no Porto do

Malhado ocorreu com a categoria de barcos de motor de centro, seguida da categoria

motor de popa, sem motor e por fim, navios. O número de subidas à superfície de S.

guianensis variou de acordo com o tipo de embarcação, sendo menor na presença das

embarcações de motor de popa. Respostas comportamentais a diferentes tipos de

embarcações também foram observadas para a espécie em outras regiões. Sasaki (2006)

observou em sua pesquisa que as embarcações de motor de popa são as mais

impactantes para a população de boto-cinza na Ilha de Peças - Paraná, assim como Filla

e colaboradores (2008) no estuário de Cananéia, que observaram que os animais alteram

a faixa de freqüência para se comunicar através do assobio na presença de embarcações,

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principalmente as que possuem motor de popa. Pereira e colaboradores (2007)

observaram na Baía Norte de Santa Catarina que as escunas (motor de centro) foram as

embarcações que mais causaram reações negativas nos botos-cinza devido a freqüência

sonora produzida pelas mesmas.

Reações a diferentes tipos de embarcações também foram reportadas para outras

espécies de golfinhos. Para a espécie Tursiops truncatus, os jet skis causam um maior

tempo de submersão dos indivíduos e isso está associado a alta velocidade do barco, ao

movimento não definido e ao barulho produzido pelo motor (Mattson et al., 2005). A

espécie Orcaella brevirostris diminui o número de subidas à superfície na presença de

canoas motorizadas (<40 hp), barcos de alta velocidade (40-200 hp) e navios

rebocadores (>1000 hp), respectivamente (Kreb & Rahadi, 2004) e para a espécie Sousa

chinensis, as lanchas e botes infláveis são as mais impactantes (Ng & Leung, 2003).

O tipo de embarcação que trafega nas áreas onde o boto-cinza desenvolve suas

atividades pode alterar seu comportamento e até mesmo a comunicação social dos

indivíduos (Rezende, 2008), por outro lado, Araújo e colaboradores (2008), em seu

estudo de reações de S. guianensis perante embarcações em quatro localidades de

Pernambuco, observaram que houve uma predominância nas reações neutras para todos

os tipos de embarcações. Os autores discutem que isso se deve pelo movimento em

constante velocidade, sentido definido dos barcos e a passagem breve na área, que é

utilizada apenas como trânsito, sem intenção de observação (dolphin-watching) e

contato com os animais (Araújo et al., 2008). Todas as pesquisas desenvolvidas sobre

interação de S. guianensis e embarcações de turismo de observação demonstraram

reações negativas pelos animais (Santos-Jr et al., 2006; Valle & Melo, 2006; Pereira et

al., 2007; Tosi & Ferreira, 2008).

Assim como no litoral de Pernambuco, no Porto do Malhado, em Ilhéus, os

botos-cinza não são alvos de turismo de observação e as embarcações utilizam a área

apenas para passagem, com velocidade constante e rota pré-definida, despendendo

pouco tempo em contato com os animais, o que é uma possível explicação para a

ausência de variação significante no padrão de superfície perante a maioria das

categorias de embarcações (motor centro, navios e sem motor), embora tenha havido

diferença significativa para as embarcações de motor de popa. Outra explicação seria

que, pelo fato de habitarem a área portuária, convivem com o tráfego de embarcação

diariamente. Esse convívio pode ter levado a uma tolerância dos animais a passagem

das embarcações e a tolerância pode ser resultado de danos ao aparelho auditivo dos

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animais. A hipótese de perda auditiva temporária ou permanente devido exposição a

embarcações foi sugerida por Erbe (2002) para e espécie Orcinus orca e reportada como

possível causa de declínio de reações comportamentais negativas e aumento de reações

positivas ao encontro com embarcações para a espécie S. guianensis por Pereira e

colaboradores (2007), na Baía Norte, em Santa Catarina.

As embarcações de motor de popa se deslocam mais rápido e produzem maiores

ruídos, enquanto as embarcações de motor de centro e navios apresentam deslocamento

mais lento e barulho produzido pelo motor mais baixo. É possível que os botos-cinza

apresentem maiores reações negativas na presença de embarcações de popa por conta do

ruído produzido pelo motor, que pode ser ouvido pelos golfinhos a uma maior distância.

De acordo com Erbe (2002), as embarcações de motores mais rápidos podem ser

ouvidas por O. orca a uma distância de 16 km e causar respostas comportamentais dos

animais a 200 m. As embarcações mais lentas, podem ser ouvidas pelas orcas a

distância de um km e causam reações comportamentais a 50 m.

Na praia de Pipa, Valle e Melo (2006), observaram que, quando as embarcações

de motor de popa eram desligadas ou permaneciam em baixa rotação, os botos-cinza

tendiam a se aproximar ou a apresentar reações neutras. De acordo com Mattson e

colaboradores (2005), o prolongado tempo em baixo d’água na presença de

embarcações de motor de popa pode ser uma estratégia de evitação da embarcação ou

mesmo uma resposta à dificuldade de comunicação.

A passagem de apenas uma embarcação é mais freqüente na área de estudo. Em

poucas ocasiões foi possível observar duas e o máximo de três embarcações

simultaneamente foram observadas. Embora os dados sobre esse quesito não tenham

sido analisados nesse estudo, nas pesquisas realizadas por Constantine e colaboradores

(2004) e Mattson e colaboradores (2005), foi observado que a quantidade de

embarcações simultaneamente em contato com cetáceos também causam alterações

comportamentais, pois quanto mais barcos na área de ocorrência dos animais, maiores

as reações negativas.

O número de subidas à superfície na presença de embarcações variou de acordo

com a composição dos grupos. Em grupos contendo filhotes, o número de subidas foi

menor na presença de embarcações quando comparado com a ausência, assim como

quando os grupos apresentaram adultos e juvenis, na presença e ausência de

embarcações. Essa reação pode estar relacionada com uma forma de defesa da prole,

pois, quanto menos subirem à superfície, menos chances de os filhotes serem avistados.

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Na praia de Pipa foi observado que grupos de S. guianensis contendo filhotes na

presença de embarcações apresentaram menos atividades aéreas e maiores

comportamentos indicativos de afastamento da enseada e evitação das embarcações

(Santos-Jr, et al., 2006). Para a espécie Sousa chinensis, foi observado que há uma

alteração no comportamento acústico em grupos contendo um ou mais pares de adultos-

filhotes, em que eles demonstram um aumento no número de assobios em resposta à

passagem de barcos, para poderem se assegurar de que estão mantendo contato (Parijs

& Corkeron, 2001).

Não houve variação no número de subidas à superfície com relação as categorias

de distâncias das embarcações para os botos-cinza no Porto do Malhado. Reações

comportamentais neutras foram observadas por Araújo e colaboradores (2008) para as

suas categorias de distâncias. Embora os resultados apresentados para o Porto do

Malhado e para o litoral de Pernambuco (Araujo et al., 2008) demonstrem que a

distância não causou interferência no padrão comportamental dos botos, foi observado

na Praia de Pipa (Valle & Melo, 2006) e na Baía Norte de Santa Catarina (Pereira et al.,

2007) que, quanto maior a aproximação das embarcações, maiores as respostas

comportamentais dos botos. A proximidade, o aumento de ruídos e a chance de colisão

podem explicar essa diferença de resultados com relação à distância. Nos dois primeiros

locais, as embarcações analisadas utilizam a área apenas como passagem, despendendo

pouco tempo em interação com os animais, já nas duas últimas localidades, a interação

se refere ao turismo de observação dos golfinhos, onde as embarcações têm a intenção

de seguir os animais por um maior período do tempo.

Nesse trabalho apenas uma reação comportamental foi analisada, a variação no

padrão de superfície na presença e ausência de embarcação e para essa reação, os botos

apresentaram variação significante, principalmente na presença de embarcações de

motor de popa. Para uma análise mais abrangente sobre alterações comportamentais

provocadas por embarcações em Sotalia guianensis no Porto do Malhado é necessário

que outras reações sejam analisadas, tais como coesão e sincronismo de grupos,

variação no tamanho dos grupos e alteração dos estados comportamentais e na

freqüência acústica.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Paulo Flores, Yvonnick Le Pendu e Mirco Solé pelas correções desse

manuscrito e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)

pela bolsa concedida para o desenvolvimento da pesquisa.

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67

APÊNDICE

Page 70: COM EMBARCAÇÃO DO BOTO- CINZA, Sotalia guianensis ...€¦ · Cetáceo – Conservação – Ilhéus (BA). 4. Cetáceo – Comportamento. I. Título. CDD 599.5098142 . IV . III

68

Apêndice I: Distribuição espacial de S. guianensis entre outubro (A) e março (F) na

extremidade do molhe do Porto do Malhado – Ilhéus, Bahia

B A

D C

E F

Page 71: COM EMBARCAÇÃO DO BOTO- CINZA, Sotalia guianensis ...€¦ · Cetáceo – Conservação – Ilhéus (BA). 4. Cetáceo – Comportamento. I. Título. CDD 599.5098142 . IV . III

69

Apêndice II: Distribuição espacial de S. guianensis entre abril (G) e setembro (L), na

extremidade do molhe do Porto do Malhado – Ilhéus, Bahia

I

K

J

G H

L

Page 72: COM EMBARCAÇÃO DO BOTO- CINZA, Sotalia guianensis ...€¦ · Cetáceo – Conservação – Ilhéus (BA). 4. Cetáceo – Comportamento. I. Título. CDD 599.5098142 . IV . III

70

ANEXO