comparação entre a contagem de plaquetas pelos métodos manual e automatizado, newslab, 2007
TRANSCRIPT
NewsLab - edição 81 - 2007 106
Comparação Entre a Contagem de Plaquetas pelos Métodos Manual
e Automatizado
Luiz Arthur Calheiros Leite1, Nilson Marques Silva Junior2, Mayara Soares Miranda2
1 - Professor da Disciplina de Hematologia do CESMAC. Mestre em Ciências, Disciplina de Hemtologia - UNIFESP2 - Alunos de habilitação em Bioquímica – CESMAC FEJAL
Artigo
A contagem de plaquetas é extremamente importante para avaliar amostras de pacientes com plaquetopenia ou plaquetose. Os laboratórios utilizam os métodos au-tomatizados e manuais, estando este último em desuso devido a argumentos relativos à sua baixa precisão e exatidão. Este trabalho se propõe a comparar resultados de exames realizados pelo método de Fonio com o mé-todo automatizado. Foi realizado um estudo prospectivo e comparados os resultados encontrados quando do emprego de contagens de plaquetas de forma manual e automatizada, a partir de lâminas de hematologia de um laboratório de rotina. Dentre as 99 amostras avaliadas pelo método manual de Fonio, 92 foram confirmadas pelo método automatizado, seis apresentaram plaqueto-penia pela automação, seis apresentaram plaquetopenia pelo método manual e uma apresentou plaquetose pela automação. A análise dos dados nos conduz a afirmar que as discordâncias de alguns resultados não são significativas para garantir que os resultados obtidos pelo método automatizado não confirmam os resultados encontrados quando se utiliza o método indireto.
Palavras-chave: Contagem de plaquetas, método de Fonio, automação
Resumo Summary
Comparison between Counting of Platelet using Manual and Automatized MethodsThe counting of platelets is extremely important to evaluate patients with plaquetopenia or plaquetose. The laboratories used to automatized, or direct indirect method, being this last one more in disuse due its low precision and exactness. A bibliographical survey and comparison with the counting of platelets was made, from blades of hematology of an archive of blades, analyzing the values gotten for the automation. Amongst the 99 samples evaluated for the automatized accountant, 93 had been confirmed by the manual method of Fonio, 2 had presented plaquetopenia for the automation, 2 had presented plaquetopenia for the manual method and 3 had presented plaquetose for the automation. This work considered to compare the indirect method (Fonio) with the automatized method. The values gotten had demonstrated that the indirect method does not confirm all the results with the automatized method, but show great correlation when the number of platelets is normal.
Keywords: Counting of platelets, method of Fonio, automation
NewsLab - edição 81 - 2007 108
Material e Método
IntroduçãoIntrodução
A s plaquetas são produzi-
das na medula óssea por
fragmentação do citoplasma dos
megacariócitos. Em um estágio
variável do desenvolvimento, o
citoplasma torna-se granuloso e
as plaquetas são liberadas (HOFF-
BRAND, 2004).
A maioria tem diâmetro de 1,3
a 3,5 µm, mas pode ser maior em
certas doenças. Elas não contêm
núcleo e são cercadas por uma
membrana de duas camadas lipídi-
cas (LEWIS, 2006).
A principal função das plaquetas
é a formação de um tampão me-
cânico durante a resposta hemos-
tática normal à lesão vascular. Na
ausência de plaquetas pode ocorrer
vazamento espontâneo de sangue
pelos pequenos e grandes vasos
(HOFFBRAND, 2004).
A contagem de plaquetas é ne-
cessária para se determinar alguma
alteração plaquetária (quantitativas
e qualitativas anisocitose plaque-
tária). Existem métodos manuais
em que se utiliza a comparação de
plaquetas com o número de eritró-
citos por campo (método de Fonio)
e os métodos automatizados. Esses
métodos não apresentam valores
exatos e sim uma estimativa. Por
serem trabalhosos estão ficando em
desuso (FAILACE, 2003). A maneira
mais satisfatória de contar plaque-
tas com a técnica exigida pela prá-
tica hematológica atual é através de
contadores automatizados, os quais
procedem à contagem de plaquetas
por tecnologia de impedância, de
dispersão de luz, ou com ambas
(BAIN, 2004). Todas as amostras
de sangue com baixa contagem
de plaquetas devem ter as lâminas
examinadas ao microscópio para
excluir agregação plaquetária e
satelitismo (FAILACE, 2003).
Quando se constata uma dimi-
nuição na quantidade de plaquetas
diz-se que ocorre uma plaquetope-
nia ou trombocitopenia e no caso de
aumento do quantitativo de plaque-
tas diz-se que ocorre plaquetose ou
trombocitose. Segundo FAILACE,
2003, as principais causas de pla-
quetopenias e plaquetoses são as
constantes da Tabela 1.
Preferencialmente, as conta-
gens de plaquetas automatizadas
são feitas em sangue venoso an-
ticoagulado com EDTA, obtido por
uma venopunção limpa. Contagens
com sangue obtido por picada
digital tendem a ser mais baixas.
Já as contagens de plaquetas por
método manual (Fonio) devem
ser realizadas através de lâminas
sem EDTA (BAIN, 2004). Diversas
fontes de erros influenciam em um
plaquetograma, como: formação de
coágulos no sangue, agregação pla-
quetária em raros casos de sangue
colhidos com EDTA.
O presente estudo tem por
objetivo analisar e comparar veri-
ficando a existência de correlação
entre os dois métodos, para que
com exatidão seja possível liberar
um plaquetograma de qualidade e
confiabilidade.
Material e Método
Foram coletadas 99 amostras
para realização de hemogramas
através da punção venosa com
EDTA para contagens automatiza-
das e confeccionadas lâminas sem
EDTA para contagem manual. As
Plaquetopenias Plaquetoses
Leucemias Agudas Policitemia Vera
Anemia Aplásica Leucemia Mielóide Crônica
Esplenomegalia Período pós-hemorrágico
Grandes hemorragias Após esplenectomia
Viroses em geral Doenças infecciosas crônicas
AIDS Trombocitemia essencial
Púrpuras imunológicas
Quimioterapia e radioterapia antiblástica
Tabela1. Principais causas de plaquetopenias e plaquetoses
Fonte: Renato Failace, Hemograma – Manual de Interpretação, 2003.
NewsLab - edição 81 - 2007 110
Resultados
Análise Estatística
uma compreendendo os resultados
encontrados pelo método manual e
a outra consistindo dos resultados
encontrados pelo método automa-
tizado utilizando-se para tanto suas
respectivas amostras.
O procedimento foi utilizado
para detectar se há diferença
entre as médias das populações.
Para tanto, foram utilizados para
comparação das amostras o teste
t e o valor de p, sendo significan-
te p < 0,05. Como para usar o
procedimento da comparação das
médias é necessário assumir que
as populações sejam distribuídas
normalmente, o que nem sempre
ocorre, foi empregada também,
para comparação das duas popu-
lações, a técnica conhecida como
Teste de Postos de Wilcoxon.
Resultados
Dentre as 99 amostras com-
paradas, 60 (59%) contadas pelo
método manual apresentaram va-
lores menores do que a contagem
de plaquetas automatizadas e as
amostras foram selecionadas ale-
atoriamente e não houve critérios
para escolha das amostras.
As amostras de sangue venoso
coletado com EDTA foram proces-
sadas em um contador Coulter JT.
As lâminas coradas (Corante Panó-
tico) sem EDTA foram observadas
ao microscópio Nikon Eclipse e, em
seguida, comparadas com o resul-
tado da automação.
A avaliação iniciou-se analisando
a distribuição dos eritrócitos, foca-
lizando campos onde os mesmos
tocavam-se sem se sobreporem.
Em seguida foi observada a distri-
buição das plaquetas e contadas
pelo método de Fonio1, onde as pla-
quetas foram contadas em campos
de aproximadamente 200 hemácias
cada e o cálculo estimado de pla-
quetas foi realizado em relação ao
número de eritrócitos por microlitro
(CARVALHO, 2002).
O cálculo (ao lado e acima) é re-
alizado contando-se mil hemácias e
ao mesmo tempo as plaquetas, ano-
tando o valor. A contagem é feita em
vários campos sucessivos seguindo
linhas longitudinais em relação à
lâmina (CARVALHO, 2002).
Por ter uma média de 200 he-
mácias por campo, utilizou-se a
contagem de cinco campos com dis-
tribuição uniforme de plaquetas.
Análise Estatística
A análise estatística foi procedi-
da através da comparação das mé-
dias de duas diferentes populações;
restantes apresentaram valores
maiores. Houve concordância, no
que diz respeito à análise compa-
rativa com os valores de referência
com 93% das amostras.
Das 85 amostras com valores
normais de plaquetas (150.000 e
450.000/μl) avaliadas pelo método
automatizado, 83 apresentaram
concordância com o método manual
de Fonio.
Em relação às amostras ana-
lisadas houve discordância entre
11 amostras, apresentando pelo
método automatizado três pla-
quetoses e valores normais pelo
método manual, cinco amostras
apresentaram valores normais pela
automação e plaquetopenias pelo
método manual, três amostras
apresentaram plaquetopenia pela
automação e valores normais pelo
método manual. Houve concordân-
cia em 88 amostras.
Quanto à plaquetopenia, foram
identificadas em 11 amostras pela
automação e nove (81,8%) foram
confirmadas pelo método manual.
A avaliação das plaquetoses
encontrada pelo aparelho (três
Tabela2. Valores de referências
Cálculo: Plaquetas por μl de sangue =
, sendo
P a quantidade plaquetas e Hm a de hemácias.
Hemácias/µL Hemoglobinasg/dL Plaquetas/µL
Homem 4,4 a 5,4x106 13,3 a 16,6 150.000 a 450.000
Mulher 4 a 5 x106 12 a 15,3 150.000 a 450.000
1Fonte: CARVALHO, William de Freitas. Técnicas Médicas de Hematologia e Imuno-Hematologia, 2002.
NewsLab - edição 81 - 2007 112
Discussão
amostras), não foi confirmada,
apresentando valores normais
pelo método manual.
O Gráfico 1 apresenta o dia-
grama de dispersão dos resulta-
dos das contagens de plaquetas
das amostras. As duas linhas
paralelas ao eixo das amostras
representam o intervalo fechado
no qual o resultado é considerado
normal. Abaixo da linha inferior
indicam casos de plaquetopenia
e acima da linha superior encon-
tram-se os casos de plaquetose.
A Tabela 2 apresenta os valo-
res de referências utilizados na
maioria das referências bibliográ-
ficas para ensaios de hemácias,
hemoglobina e plaquetas.
O fato constatado anterior-
mente de que alguns exames
efetuados por ambos os métodos
conduzem a análises clínicas dis-
tintas, não é argumento suficiente
para sustentar que os resultados
não são consistentes.
Os resultados estatísticos da
comparação entre os resultados
constam da Tabela 3.
Usando-se a estatística p, che-
ga-se a conclusão que o valor de p é
maior do que 0,05 significa que não
existe diferença significante entre
os valores médios das contagens
manual e automatizada.
Discussão
A literatura mostra a eficiên-
cia e sensibilidade dos aparelhos *Tabela desenvolvida em Excel usando a ferramenta análise de dados.
Tabela3. Estatística para comparação entre os resultados dos dois procedimentos de ensaios*
Gráfico1. Diagrama de Dispersão do resultado da contagem de plaquetas
PLTAutomático PLTManual
Média 254.020,202 245.573,939
Variância 6.507.877.138,73 6.201.104.354,73
Observações 99 99
Variância agrupada 6.354.490.746,73
Hipótese da diferença de média 0
Gl 196
Stat t 0,74546
P(T<=t) uni-caudal 0,22844
t crítico uni-caudal 1,65267
P(T<=t) bi-caudal 0,45688
t crítico bi-caudal 1,97214
Nível de significância 0,05000
Decisão usado t Não Rejeitar
Decisão usando p Não Rejeitar
NewsLab - edição 81 - 2007 114
Conclusão
automatizadas. Em relação às pla-
quetoses, pelo método manual to-
das apresentaram valores normais,
não sendo analisados os agregados
plaquetários devido à dificuldade de
contagem.
Em casos onde as plaquetas que
deram valores abaixo de 130.000/
µL sem indicação que justificasse a
plaquetopenia, recomendamos que
seja colhida amostra sem garrote,
pois pode haver aumento significa-
tivo de plaquetas.
A presente pesquisa mostrou
boa correlação de resultados quanto
à contagem de plaquetas automa-
tizada e o método Fonio.
Finalmente, os estudos estatís-
ticos apontam que os resultados
podem ser considerados satisfatórios
por ambos os métodos. Portanto,
os laboratórios que não tenham de-
mandas para viabilizar a aquisição de
equipamentos automatizados podem
automatizados. Em nosso estudo
92 lâminas apresentaram concor-
dância pela contagem automati-
zada e manual não apresentando
variação de plaquetas.
Coelho E. et al, 1981, demons-
traram que as amostras contadas
pelo método manual estão sujeitas
a variáveis, podendo ser devido à
má distribuição de plaquetas nos
campos focalizados.
Segundo Failace R., 2003, as
contagens automatizadas apre-
sentam um coeficiente de variação
menor que 10% em contagens
entre 40.000 e 500.000/µL, mas
insatisfatória nas contagens mais
baixas. Quando a contagem está
abaixo de 20.000/µL o coeficiente
de variação é de aproximadamente
de 50%.
Ficou evidente que a contagem
de plaqueta manual varia, ficando
a maioria abaixo das contagens
continuar a realizar a contagem de
plaquetas pelo método de Fonio, le-
vando em conta que seu uso requer
experiência e cuidados especiais.
Conclusão
O presente trabalho mostra que a
contagem automatizada de plaque-
tas é de grande eficiência e precisão.
Em laboratórios de pequeno porte
que não têm acesso a esses apare-
lhos e sua demanda não os tornam
necessários, a contagem manual
de plaquetas pode ser utilizada sem
prejuízos para o diagnóstico do exa-
me, porém o método de Fonio deve
ser usado com cautela, pois requer
experiência do microscopista.
Correspondência para:
Luiz Arthur Calheiros Leite
Referências BibliográficasReferências Bibliográficas
1. Bain BJ. Células sanguíneas: um guia prático. 3ª. ed. Porto Alegre, Artmed, 2004.
Carvalho, William de Freitas. Técnicas médicas hematologia e imuno-hematologia. 7ª. ed. rev Belo Horizonte , Coopmed, 2002.
2. Coelho E. Técnicas de estudo da coagulação. 3ª. ed. São Paulo, Santos, 1981.
Failace, Rafael Pranke, Patrícia. Avaliação dos critérios de liberação direta dos resultados de hemogramas através de con-
tadores eletrônicos. Rev. Bras. Hematol. Hemoter., 2004 vol.26, no. 3, p.159-166. ISSN 1516-8484.
3. Failace R. Hemograma: Manual de interpretação. 4ª. ed. Porto Alegre, Artemed, 2003.
4. Hoffbrand AV. Atlas colorido de hematologia clínica, São Paulo, Manole, 2001.
5. Larson R. Estatística Aplicada. 2ª. ed. São Paulo, Pearson Prentice Hall, 2004
6. Lewis SM. Hematologia prática de Dacie e Lewis, São Paulo, Artmed, 2006.
7. Oliveira RAG, Takadachi MM et al. A absoluta recomendação de se usar o método direto de contagem de plaquetas em
câmara de Neubauer em pacientes intensamente plaquetopênicos. J. Bras. Patol. Med. Lab., abr./jun. 2003, vol.39, no.2,
p.139-141. ISSN 1676-2444.
8. Segal HC, Briggs C. Accuracy of platelet couting haematology analisers in severe thrombocytopenia and potential impact
on platelet transfusion. Journal of haematology, 2005, 128, 520-525.