competÊncias do contador: um estudo empÍrico ricardo …
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE E ATUÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS
COMPETÊNCIAS DO CONTADOR: UM ESTUDO EMPÍRICO
Ricardo Lopes Cardoso
Orientador: Prof. Dr. Edson Luiz Riccio
SÃO PAULO
2006
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE E ATUÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS
COMPETÊNCIAS DO CONTADOR: UM ESTUDO EMPÍRICO
Ricardo Lopes Cardoso
Orientador: Prof. Dr. Edson Luiz Riccio
SÃO PAULO
2006
Tese apresentada ao Departamento de Contabilidade e Atuária da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, como requisito parcial para à obtenção do título de Doutor em Ciências Contábeis
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Agradecimentos
No transcorrer dessa tese, que foi de uma etapa de minha vida extremamente
satisfatória, algumas pessoas contribuíram direta e indiretamente para que eu concluísse.
Meu pai, (João, 1944-1995) muito obrigado, pelas orientações de incentivo ao estudo e
ao exemplo de vida deixado aos seus filhos. A Elza, minha mãe, pelo amor, carinho e
serenidade de uma mulher de garra e aos meus irmãos Danilo e Emerson pela
compreensão e apoio.
A Cláudia, que compartilha comigo a paixão pelo saber, me dando apoio nos momentos
de adversidade e incentivando o meu estudo e compreendendo a realização deste projeto
que nos rouba parte de tempo do nosso convívio.
Aos professores Gideon, Antonio Marcos, Mario e Marcos Francisco pelos exemplos de
dedicação ao ensino e que desde minha graduação incentivam ao meu desenvolvimento
profissional.
Gostaria de fazer um agradecimento especial ao professor Edson Luiz Riccio, meu
orientador, que sempre me apoiou e dedicou horas para me orientar com todo o seu
conhecimento e paciência. Aprendi muitas coisas que levo por toda a minha carreira
profissional. Também gostaria de agradecer ao professor Paul Stephaneck do Instituto
de Psicologia, que me ajudou muito com seus conhecimentos de psicometria.
Gostaria também de agradecer aos professores Nelson Carvalho e Lindolfo Galvão de
Albuquerque pelas valiosas contribuições dados no exame de qualificação, bem como, a
todo o corpo docente da área de Pós Graduação em Ciências Contábeis da FEA-USP,
pela honra de ter sido aluno.
Obrigado
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Resumo
A identificação das competências do contador pode contribuir para o desenvolvimento
da profissão. O objetivo principal desse estudo é verificar a existência de uma estrutura
de interdependência subjacente às competências do contador, explicando-as melhor. A
fundamentação teórica sobre competências está relacionada ao estudo McClelland
(1973,1998), Boyatzis (1982) e Spencer e Spencer (1993). No campo profissional as
referências são Hardern (1995) e Sakagami, Yoshimi e Okano (1999). Os estudos
relacionados as competências do contador não estão baseados em fundamentos da
psicologia ou estruturas genéricas de competências, o que é o objetivo desse trabalho.
Está pesquisa está baseada no estudo de 18 competências coletadas em 24 artigos sobre
as habilidades do contador que foram submetidos a 159 contadores no Brasil. O
instrumento de coleta dos dados apresentou um alfa de cronbach de 0,834. A partir da
análise fatorial foram formados 4 fatores: competências específicas, competências de
conduta e administração, competências de gerenciamento da informação e competências
de comunicação. A validação dos dados de pesquisas seguiu os passos descritos por
Cone e Foster (1997). O resultado apresentou uma estrutura genérica de competências.
As principais limitações desse estudo estão relacionadas as características da amostra e
a falta da validação com uso de estudos comparativos e longitudinais. Os pontos para
futuras pesquisas são destacar a validação dos resultados em outras amostras de
contadores e a aplicação da estrutura genérica em outras corporações.
Palavras Chaves: competências, contador e modelo genérico.
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Abstract
Identifying accountants' competencies and skills may contribute for professional
growth and development. The major purpose of the present study is to evaluate
the possibility of utilizing, defining and creating a construct to explain the
relationship between the competencies identified in field research and a
possible underlying competencies and skills structure: the generic competencies
and skills model for that specific professional. Theoretical background for
competencies is based on McClelland (1973, 1998), Boyatzis (1982) and Spencer &
Spencer (1993). Professionally, references are Hardern (1995) and Sakagami,
Yoshimi and Okano (1999). Studies that focus accountants have not identified
psychology models or the search for a generic model, as this study proposes to
do. The present research was carried out based on the study of 18 competencies
collected from 24 articles on accountants' behavioral studies, which were then
submitted to the assessment of 159 certified public accountants in Brazil. Data
collecting tool showed a 0.834 Cronbach's alpha. Construct formation took place
through factorial analysis that resulted in 4 factors: specific competency,
behavioral and administrative competencies, communication and the ability to
manage information. Research validation followed the steps as in Cone & Foster
(1997). Research result was a generic model to explain competencies. Study
limitations are associated to sampling itself, and to the lack of validation
through longitudinal studies. Future research will be able to count on model
validation from other samples as well as the application of the model in
corporations.
Keywords: competencies, accountants´ and skills model.
42
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 01 I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: O CONCEITO DE
COMPETÊNCIA E SEUS RELACIONAMENTOS 14
1 O CONCEITO DE COMPETÊNCIAS 14 1.1 Introdução ao Conceito de Competência 15
1.2 As Escolas Americanas e Européias de Competências 15
1.3 Detalhamento do Conceito de Competência 18
1.4 A Competência e suas Relações com a Estratégia e a Aprendizagem 23
1.5 Estrutura de Competências 38
1.5.1 Considerações sobre Uso das Estruturas de Competências 41
1.5.2 Dimensões das Competências 47
1.6 Considerações sobre Capítulo 50
II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: COMPETÊNCIA DO
CONTADOR 52
2 AS COMPETÊNCIAS DO CONTADOR 52 2.1 O Desenvolvimento da Profissão 52
2.2 Uma Breve Apresentação da Evolução da Contabilidade 54
2.3 A Função do Contador nas Empresas 56
2.3.1 A Função do Contador: Estudos Internacionais 57
2.3.2 A Função do Contador: Estudos Nacionais 61
2.4 Os Estudos sobre Competência do Contador 65
2.4.1 A Visão de Autores Internacionais e Nacionais 65
2.4.2 A Visão dos Órgãos Reguladores e Institucionais 71
2.5 Considerações sobre a Literatura de Competências do Contador 77
2.6 Dicionário de Competências do Contador 78
43
III METODOLOGIA 84 3 METODOLOGIA DA PESQUISA 84 3.1 Característica da Pesquisa 84
3.2 Fases do Desenvolvimento da Pesquisa 85
3.2.1 Amostra 87
3.2.2 Composição do Instrumento de Coleta de Dados 88
3.2.3 O Questionário 90
3.2.4 Variáveis em Estudo 90
3.3 Questões e Hipóteses do Estudo 92
3.4 Tratamento Estatístico dos Dados 95
3.4.1 Estágios do Processo Estatístico 96
3.4.2 O Alfa de Cronbach e Análise Fatorial 99
IV ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA 108 4 RESULTADOS DA PESQUISA 108 4.1 Os Dados da Pesquisa 108
4.1.1 Análise dos Dados Ausentes 109
4.1.2 Análise dos Dados Extremos 110
4.2 Os Resultados da Pesquisa 111
4.2.1 Análise Exploratória Descritiva 111
4.2.2 Análise Multivariada 116
4.2.2.1 Alfa de Cronbach 116
4.2.2.2 Análise Fatorial Exploratória 118
4.2.3 A Validação da Pesquisa 134
4.2.3.1 Validade de Face 135
4.2.3.2 Validade do Conteúdo 135
4.2.3.3 Validade do Construto – Interna 135
4.2.3.4 Considerações sobre o Processo de Validação 138
4.2.4 A Hipótese Geral do Estudo: A Estrutura Genérica de Competência do
44
Contador 139
4.2.5 O Teste das Hipóteses Subjacentes 140
CONSIDERAÇÕES FINAIS 143 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 151 ANEXOS
45
LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 Conceitos sobre Competências 21
Figura 1.2 Modelo de Fluxo Causal de Competência 26
Figura 1.3 Modelo de Performance Efetiva 28
Figura 1.4 O Modelo Iceberg 30
Figura 1.5 As Três dimensões da Competência 33
Figura 1.6 Competência é um Saber-agir 34
Figura 1.7 Competência como Fonte de Valor para o Indivíduo e a
Organização
35
Figura 1.8 Esquema de Ligação 39
Figura 1.9 Interações dos Componentes da Performance do Trabalho e Níveis
de Competências
42
Figura 3.2 Processo Estatístico da Análise Fatorial 103
LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 4.1 Diagrama de Autovalores 126
Gráfico 4.2 Diagrama de Autovalores após Exclusões 131
46
LISTA DE QUADROS Quadro 1.1 Comparativos dos Conceitos de Competências 19
Quadro 1.2 Diferenças de Abordagens 20
Quadro 1.3 Taxionomia de Competências 25
Quadro 1.4 Características Subjacentes que Compõem as Competências 27
Quadro 1.5 Competências para o profissional 36
Quadro 1.6 Relação entre intento estratégico, competências organizacionais
e competências individuais
40
Quadro 1.7 Passos para o Modelo Clássico 44
Quadro 1.8 Passos para o Modelo usando Painel de Especialistas 44
Quadro 1.9 Possibilidades para Estudos de Cargos Singulares ou Futuros 45
Quadro 2.1 Dicionário de Competências do Contador 81
47
LISTA DE TABELA Tabela 2.1 Sumário da Literatura sobre Competências do Contador 74
Tabela 2.2 Sumário da Literatura sobre Competências do Contador 75
Tabela 2.3 Sumário da Literatura sobre Competências do Contador 76
Tabela 3.1 Variáveis Consideradas no Estudo 91
Tabela 4.1 Identificação dos Dados Ausentes 110
Tabela 4.2 Distribuição de Freqüência dos Respondentes por Sexo 111
Tabela 4.3 Distribuição de Freqüência dos Cargos dos Respondentes 112
Tabela 4.4 Distribuição de Freqüência do Grau de Experiência
Profissional e Escolaridade
112
Tabela 4.5 Distribuição de Freqüência do Setor das Empresas dos
Respondentes
113
Tabela 4.6 Dados Descritivos das Variáveis Observadas 114
Tabela 4.7 Freqüência Percentual Atribuída pelos Respondentes a cada
Competência
115
Tabela 4.8 Alfa de Cronbach das Variáveis Observadas 117
Tabela 4.9 Matriz de Correlação das Variáveis Observadas 120
Tabela 4.10 Adequação Global da Amostra e Esferacidade 121
Tabela 4.11 Mensuração da Adequação da Amostra – Faixas de
Aceitação
121
Tabela 4.12 Matriz de Anti Imagem 122
Tabela 4.13 Cumunalidades das Variáveis 124
Tabela 4.14 Distribuição da Variância entre os Fatores Extraídos 125
Tabela 4.15 Matriz Incompleta dos Fatores 127
Tabela 4.16 Matriz Incompleta dos Fatores após Rotação 128
Tabela 4.17 Distribuição de Variância entre os Fatores Extraídos após
Exclusões
131
Tabela 4.18 Matriz Incompleta dos Fatores após Rotação e Exclusões 132
Tabela 4.19 Alfa de Cronbach e a Fidedignidade do Construto 136
48
Tabela 4.20 Matriz Incompleta dos Fatores após Rotação – Validação
com Amostra 01
137
Tabela 4.21 Matriz Incompleta dos Fatores após Rotação – Validação
com Amostra 02
137
Tabela 4.22 Estrutura de Competências Genérica para Contador 140
Tabela 4.23 Resultado do Teste de Kruskal Wallis 142
49
INTRODUÇÃO
A profissão do contador tem passado por mudanças significativas nos últimos tempos
em razão das alterações no ambiente de negócios. Essas modificações exigem dos
contadores determinadas competências que vêm se alterando ao longo dos tempos.
Esse ambiente de constante evolução trouxe, em conseqüência, a valorização dos
indivíduos, o que é salientado por Marquardt e Engel (1993). Pode-se entender mesmo
que, em nenhuma outra época na história das organizações, as pessoas, dadas as suas
competências e talentos, foram tão valorizadas como atualmente.
Para Porter (1990), a nova realidade trouxe à tona a valorização do chamado capital
intelectual e o reconhecimento da relevância das pessoas e de seu desenvolvimento
como fontes primordiais de vantagens competitivas sustentáveis.
A valorização dos indivíduos em face das necessidades atuais das organizações é algo
consolidado e tem contribuído sem dúvida para o aprimoramento das pessoas e das
organizações. Dentro do contexto da profissão contábil, essa realidade de mudança não
é diferente.
Uma análise das competências individuais dos contadores deverá, portanto, considerar o
contexto de mudanças existentes atualmente na profissão. O primeiro ponto a ser
considerado é a questão da harmonização de normas contábeis e de auditoria no plano
internacional.
50
Os contadores deverão, a cada dia, atualizar-se e adaptar-se às novas realidades e às
exigências, antes únicas em seus países, passando, mesmo a competir e a acompanhar
questões de cunho internacional, como as normas internacionais conhecidas
inicialmente como IAS e, atualmente, como IFRS – Standard International Financial
Reporting. Tal demanda exige cada vez mais a capacidade e a habilidade dos contadores
e auditores tanto no campo da interpretação, como do julgamento e da mensuração dos
eventos econômicos.
Outra consideração a fazer-se é que os contadores estão sendo cada vez mais solicitados
a se capacitarem a fim de fazer frente às demandas que a sociedade está, a cada dia,
gerando para esses profissionais. Preocupados com essa questão, podemos citar
organismos internacionais de contabilidade como o IFAC – International Federation of
Accountants, e o IASB – International Accounting Standards Board, bem como a ONU
– Organização das Nações Unidas, por meio de setores como o ISAR –
Intergovernmental Working Group of Experts on International Standards of Accounting
and Reporting/ UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development.
Um dos produtos, resultante das preocupações dos organismos internacionais citados
acima, é a discussão do chamado currículo mundial para os contadores, conforme
proposto pelo ISAR/UNCTAD/ONU. Trata-se de um Currículo Mundial (CM) no qual
se têm a estrutura conceitual ideal, ou seja, no qual estão descritos os blocos de
conhecimentos a serem ministrados pelas universidades em suas grades curriculares de
contabilidade.
Para Riccio e Marici (2004), a crescente harmonização dos princípios contábeis
internacionais induz à conseqüente formação de um profissional de contabilidade com
características similares nos diferentes países. Para que isso aconteça, entendem os
autores que a educação formal dos contadores, no mundo deverá convergir para os
mesmos conjuntos de conhecimentos, harmonizados e globalizados, exceção feita ao
conjunto de conhecimentos específicos de cada país, como história e cultura local.
Assim, entende-se que, quanto maior for a similaridade entre o currículo adotado por
um determinado país e o currículo internacional, tanto maior será a evidência de perfeita
harmonização na educação contábil desse país.
51
No caso brasileiro, constatá-se também como fator externo importante que impacta a
profissão contábil, a situação da legislação tributária que pode influenciar certos
aspectos comportamentais e técnicos do contador, conforme relata Iudícibus e Lopes
(2002), autores esses que expõem a influência da legislação tributária como perniciosa
para o uso da informação contábil e para contadores.
Essas referências sobre a influência da legislação tributária na contabilidade e no perfil
dos contadores já era destacada por Martins (1993), ao expor que a função do contador
não consiste somente em escriturar contabilidade e, sim, informar.
As mudanças ocorridas no âmbito da profissão de contador e, ao mesmo tempo, a busca
constante das organizações por vantagens competitivas para melhorar a oferta de seus
produtos, bem como a forte necessidade de utilizar informações contábeis para o
processo decisório, auxiliado pelo uso intenso da tecnologia da informação, trouxe
como conseqüência a alteração do chamado contrato psicológico entre as organizações e
os funcionários que realizam a função de contadores.
Para Schein (1982), as expectativas das organizações tornam-se mais explícitas pela
busca de competitividade e voltam-se para objetivos importantes como a capacidade de
comunicação, a visão do negócio, a capacidade de forte uso da tecnologia da
informação, entre outros aspectos. Como base nesse contexto, ficam sa seguintes
questões para serem discutidas neste estudo:
• Quais seriam as competências requeridas para o contador?
• Existe uma estrutura de interdependência subjacente às competências do
contador, explicando-as melhor?
Competência um Construtor em Desenvolvimento
As chamadas competências de um profissional são estudadas, inicialmente, na área da
psicologia com os artigos de McClelland (1973) e mais tarde com Boyatzis (1982) e
depois com Spencer & Spencer (1993). Esse último elaborou o chamado dicionário de
competências de diversas profissões baseado em estudos empíricos.
52
Mais recentemente, esses estudos procuram relacionar as competências dos
profissionais às suas habilidades intelectuais, cognitivas e à inteligência emocional,
como um dos últimos artigos de McClelland (1998), publicado na renomada American
Psychological Society. Os estudos de competências e suas relações também sofrem
influência da abordagem de estudos longitudinais feitos por Boyatzis, Stubbs e Taylor
(2002) e Goleman, Boyatzis e McKee (2002) que trabalharam, segregando as
competências em self-management, relationship management and cognitive.
Apesar de todos os estudos existentes sobre a questão da competência, porém, é
consenso ainda esta que não pode ser considerada uma questão resolvida. Competência
ainda é um construto em formação. Segundo Dutra, Hipólito e Silva (2000), ao se tentar
responder à pergunta: O que é competência? entra-se em terreno minado, tal é a
diversidade das interpretações do termo ao longo dos últimos trinta anos. Segundo os
autores, porém, o risco vale a pena por se tratar de conceito cuja finalidade é esclarecer
aspectos nebulosos da gestão de pessoas.
Apesar das divergências registradas entre os vários autores, como Woodruffe (1991), Le
Boterf (1994) e Parry (1996), o termo “competência” tem como origem a palavra
competentia, do latim, significando a qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver
certo assunto, de fazer determinada coisa, com capacidade, habilidade, aptidão e
idoneidade.
Outro aspecto importante a ser analisado no que concerne à competência é a associação
de toda competência ao ideal de agregação de valor e entrega a determinado contexto de
forma independente do cargo em questão, o que foi mais tarde discutido por autores
como Zarifian (2001) e Le Boterf (1994 e 2001).
Como agregação de valor, entende Dutra (1999) algo que a pessoa entrega para a
organização de forma efetiva, ou seja, algo que permanece, mesmo quando a pessoa sai
da organização.
53
Cabe também destacar que nos anos 70 e 80, nas escolas de origem preponderantemente
americanas, competência significava o conjunto de qualificações que a pessoa deveria
ter para executar certo trabalho com nível superior de desempenho. Destacam-se, nesse
sentido, as produções dos autores McClelland (1973), Boyatzis (1982) e, mais tarde,
Spencer e Spencer (1993).
Para esses autores, a competência pode ser prevista ou estruturada, de modo que se
estabeleça um conjunto qualificador ideal para que a pessoa apresente um desempenho
superior no seu trabalho.
Segundo Dutra, Hipólito e Silva (2000), nos anos 80 e 90, muitos autores contestaram
tal definição de competência, associando-a às realizações das pessoas, àquilo que elas
provêm, produzem ou entregam. De conformidade com esses autores, o fato de a pessoa
deter as qualificações necessárias para certo trabalho não assegura que ela irá entregar o
que dela é demandado. Essa linha é defendida por autores como Jacques (1990),
LeBortef (1994) e Zarifian (1996), em sua maioria, europeus.
Contrariamente à visão da linha americana, LeBortef (1994) diz que a competência não
é estado que se tem, nem é resultado de treinamento. Competência é, na verdade,
colocar em prática o que se sabe em um determinado contexto, marcado geralmente
pelas relações de trabalho, cultura da empresa, imprevistos, limitações de tempo e
recursos. Pode-se, portanto, falar-se de competência apenas quando há competência em
ação, isto é, ser competente é saber ser e saber mobilizar conhecimentos em diferentes
contextos.
Com o passar dos tempos, um conjunto de autores começou a avaliar os dois
posicionamentos vendo-os em conjunto: a entrega e as características da pessoa, que
pode defini-la mais adequadamente. (Parry, 1996).
Pode-se considerar que a questão da entrega referida pelos autores nacionais e pelos
ingleses e franceses como fundamental dentro do processo de análise das competências
dos indivíduos em que, na realidade, conta mesmo que de forma intuitiva, é a
valorização valendo-se de seus atos e realizações e não com base na descrição formal de
suas funções ou atividades.
54
A segregação das competências em inputs: conhecimentos, habilidades e atitudes e
outputs: agregação de valor, talvez não seja a melhor solução, pois, pelo que se pode
perceber, existe uma sinergia entre os dois conceitos e, ao mesmo tempo, uma
interdependência.
Apesar das discussões e da falta de consenso na literatura, portanto, sobre o que sejam
competências, neste trabalho vale-se destes conceitos: habilidades, capacidades,
conhecimentos, atitudes, traços e motivos dentro do contexto de entrega, e fica-se muito
próximo da tríade denominada CHA: conhecimento, habilidades e atitudes.
Competências da Profissão
Aliado aos estudos que buscam a formação de um consenso na formação do construtor
chamado competência e na sua aplicação no âmbito de cargos em organizações
empresariais, também é possível encontrar alguns pesquisadores de campos específicos
do conhecimento que começaram a se utilizar dessa base teórica para desenvolver
pesquisas aplicadas sobre a competência em determinadas profissões com destaque para
os médicos, com Epstein & Hundert (2002), gerentes de negócios, com Erondu &
Sharland (2002) e compradores, com Giunipero e Pearcy (2000).
Esses estudos podem ser considerados uma minoria dentro da área da competência, uma
vez que na literatura existem poucas citações sobre tal abordagem. Essa é uma das
grandes motivações deste estudo, vale dizer, procurar entender as competências da
profissão de contador no Brasil, de forma geral.
Estudar a profissão de contador como um todo sem considerar eventuais especialidades
reflete a característica da profissão no Brasil que não separa especificidades como a
tributária, a auditoria, a gerencial, entre outras.
55
No caso da área de contabilidade, os estudos sobre competências confundem-se um
pouco com as funções e as atividades do profissional. Um dos estudos iniciais, dando
uma visão geral sobre a posição do contador, é o de Kester (1928), mais tarde, há o
artigo de Bower (1957) sobre a profissão contábil e, em 1953, Heckert e Willson citado,
aqui, da edição de (1963) os quais descrevem os princípios que devem nortear o
profissional contador.
Henning e Moseley (1970) procuraram investigar as funções e algumas habilidades
requeridas para o profissional da época.
Mais recentemente, os estudos sobre competências na área contábil enfocam a relação
das mudanças no mundo dos negócios e os impactos na profissão com destaque para os
estudos de Hardern (1995), verificando as dificuldades da definição de competência
para a profissão contábil da Inglaterra.
Com uma abordagem mais ampla, há o estudo do IFAC – International Federation of
Accountants que lista as habilidades profissionais requeridas para o profissional da área
publicada por Needles, Cascini, Krylova e Moustafa (2001), segregando as
competências em 04 (quatro) grandes grupos: conhecimentos, habilidades, valores
profissionais e flexibilidade.
A mudança em relação às competências do contador, com o passar dos tempos, pode ser
notada claramente no estudo da IFAC, como também em outras pesquisas, como a feita
por Sakagami, Yoshimi e Okano (1999) que relatam o estágio atual de desenvolvimento
do profissional contador japonês. Outras discussões semi-estruturadas sobre
competências podem ser vistas em Laurie (1995) e nas referências de Esselstein (2001).
Percebe-se, pelo estudo da literatura, que o estudo das competências do profissional
contador, tanto no âmbito nacional como internacional, é carente e confuso, pois nele
discutem-se tarefas e funções, quando, na verdade, a competência deveria ser o foco, e o
56
outro ponto, seria a carência de estudos que procurem basear-se em evidências
empíricas.
Considerando-se este estágio da pesquisa sobre competências do contador, este estudo
pressupõe serem as demandas postas ao contador, as passíveis de registro na literatura
sobre a profissão do contador. Estudos esses normativos, semi-estruturados e alguns
estruturados, bem como na analise das competências mediante o dicionário de
competência, submetido ao painel de especialistas consultados. É importante, de igual
modo, referir os estudos similares, como os de Epstein & Hundert (2002) para médicos
e os de Giunipero e Pearcy (2000) para compradores.
Este trabalho insere-se como um olhar sobre a profissão de contador em uma linha
comportamental tentando entender melhor os impactos das tensões que envolvem
atualmente este profissional com destaque para a questão da harmonização das normas
contábeis, currículo global e mesmo as questões vinculadas à área de tecnologia da
informação.
Acredita-se que, valendo-se de esforço maior para o entendimento das competências do
contador, seja possível potencializar estudos sobre questões de ensino em contabilidade,
treinamento de profissionais, bem como sobre aspectos comportamentais dessa
profissão. É dentro deste contexto que este trabalho se insere.
Problema e Hipótese do Trabalho
Utilizando-se, como referencial teórico, à visão da psicologia e de recursos humanos
sobre competências, além dos estudos específicos já feitos na área de contabilidade,
decidiu-se que o objetivo deste estudo é o de investigar as competências requeridas ao
contador diante das mudanças recentes ocorridas na economia brasileira. Como base
nesse contexto, são lançadas as seguintes questões para serem discutidas neste estudo:
• Quais seriam as competências requeridas para o contador?
• Existe uma estrutura de interdependência subjacente às competências do
contador, explicando-as melhor?
57
Essas perguntas de caráter geral não envolvem a prova ou refutação de nenhum modelo
específico. Procura-se, no trabalho, a resposta às perguntas acima, sem que existam
definições pré-concebidas dos resultados que deveriam ser encontrados.
Como questão subjacente, discute-se a existência de competência ou competências a
serem priorizadas no desenvolvimento do contador. Para esse questionamento são
apresentadas as seguintes hipóteses:
Hipótese 1: Há diferença significativa na importância atribuída à competência
comunicação em relação às demais.
Hipótese 2: Há diferença significativa na importância atribuída à competência
gestão da informação em relação às demais.
Hipótese 3: Há diferença significativa na importância atribuída à competência
estratégica em relação às demais.
Estas hipóteses subjacentes foram escolhidas em razão das características específicas
destacadas por grupos de autores as quais podem ser distintas em alguns casos. No caso
da competência comunicação, a prioridade é dada por Morgan (1997) e Moramed e
Lashine (2003); competência da gestão da informação aparece com maior destaque a
partir dos anos 90, especialmente nos estudos feitos pelos órgãos reguladores da
profissão IFAC (2003) e IMA - Siegel e Sorensen (1999); e a competência estratégica é
citada ao longo de quase todo o período do levantamento bibliográfico, o que, por si,
demonstra a importância que tem para o contador, e a maior ênfase neste quesito é dada
por Bower (1957) e Hardern (1995).
58
Justificativa do Trabalho
Este estudo procura diferenciar-se dos demais relatados na área de contabilidade em
razão do recorte metodológico, pelo qual a ênfase é dada à busca da identificação das
competências profissionais do contador.
Como justificativas teóricas para este estudo apresentam-se os tópicos a serem
discutidos no capítulo II em que é feita a revisão bibliográfica dos estudos sobre o
contador com destaque para os seguintes aspectos:
• carência de estudos sobre a competência do contador, pois a literatura, na sua
maioria, trata da função do profissional e não do fator competências;
• a quase totalidade dos estudos não realiza levantamentos empíricos e sequer
trata o aspecto da competência mediante a abordagem da psicologia e de
recursos humanos.
A necessidade de estudos das competências dos contadores, baseando-se em
fundamentos teóricos mais sólidos e em metodologia apropriada, é relatada nos estudos
de Abdolmohammadi, Searson e Shanteau (2004), IFAC (2003) e no inventário sobre
estudos ligados à contabilidade comportamental de Meyer e Rigsby (2001).
Importa relatar que os estudos recentes das entidades reguladoras internacionais
começam a demonstrar uma maior preocupação com a estruturação conceitual.
Essa questão de pesquisa, portanto, torna-se relevante na medida em que utiliza uma
abordagem conceitual mais ampla do que a visão normativa das competências dos
contadores e procura evidências empíricas com tratamento estatístico adequado para
estruturar as competências do contador.
Importa lembrar ainda que este estudo não procura reproduzir toda a complexidade da
realidade, mas busca expressar uma condensação do que é nele percebido tendo em
vista sua compressão, previsão e controle.
59
Segundo Kaplan (1975), é de esperar-se que as variáveis não sejam medidas com
exatidão. Além disso, supõe-se que algumas variáveis importantes tenham sido omitidas
quando se estudam aspectos da ciência do comportamento.
Metodologia
O presente estudo tem natureza exploratória, buscando o desenvolvimento da
estruturação das competências do contador, para o que dispõe de um conjunto de
características requeridas para o desenvolvimento deste profissional atendendo aos
preceitos apontados por Spencer e Spencer (1993), Lucia & Lepsonger (1999),
Boyatzis, Stubbs e Taylor (2002) e Miguel (2002).
Quanto ao tratamento dos dados, o estudo procura separar as competências mediante o
dicionário de competências citado por Spencer e Spencer (1993) que é depois
transformado em um questionário respondido por 159 contadores. Após o recebimento
dos dados, foi realizada a análise fatorial, considerando-se os pressupostos da técnica,
bem como o teste não paramétrico Kruskal-Wallis para as hipóteses subjacentes e os
testes específicos como o alfa de cronbach para a validação dos resultados.
Limitações do Estudo
Abaixo estão sumarizadas as principais limitações do trabalho e os seus respectivos
impactos na interpretação dos resultados.
a) As limitações deste estudo estão relacionadas à amostra intencional e não
probabilística. Esse fato é comum em estudos desta natureza, não permitindo
nenhum tipo de generalização.
b) Outra questão são as limitações próprias da análise fatorial, como no caso da
escolha do número de fatores. Esses aspectos podem influenciar a estrutura
comum apresentada para o profissional contador.
60
c) A validação dos dados resumiu-se ao painel de especialistas, à própria fatorial e
ao alfa de cronbach que estão relacionados a validades internas sem o uso de
validades externas de longo prazo com o uso de estudos comparativos e
longitudinais, como citado por Spencer & Spencer (1993) e, mais recente, por
Boyatzis, Stubbs e Taylor (2002). Os resultados devem, portanto, ser
considerados como achados que ainda devem ser mais estudados.
d) Também deve-se realçar a desconsideração no desenho da pesquisa de fatores
importantes para a construção de relações de interdependência das competências
dos contadores como as políticas de recursos humanos relacionados e aspectos
pontuais de cada organização. Não se deve considerar, portanto, as competências
condensadas no final do trabalho como vitais ou únicas variáveis importantes
para avaliar o contador.
Contribuições
A contribuição deste trabalho reside no fornecimento de evidências empíricas sobre as
competências do contador. Assim, procura-se cobrir uma lacuna na literatura nacional e
internacional sobre formas de desenho da pesquisa sobre competências do contador,
mediante referencial teórico da psicologia e de recursos humanos. O tratamento
estatístico dado aos dados também pode ser analisado como uma contribuição para os
estudos sobre as competências do contador.
De igual modo, podem beneficiar-se deste trabalho os estudantes, tendo em vista um
maior entendimento da temática da competência do contador, uma vez que, por meio
dele, tem-se uma avaliação das competências requeridas aos profissionais de
contabilidade de um modo geral. As associações de classe e escolas podem beneficiar-
se igualmente, utilizando os resultados como mais uma fonte para direcionar as suas
estratégias de ensino e capacitação desses profissionais.
Pesquisadores de contabilidade comportamental devem encontrar subsídios suficientes
neste trabalho para continuidade desse tipo de estudo no Brasil, por intermédio das
sugestões para pesquisas futuras.
61
Estrutura do Trabalho
Os demais tópicos do trabalho estão organizados da seguinte forma: o capítulo 1
apresenta o conceito de competência, suas variações e fundamentações, bem como os
relacionamentos teóricos entre inputs e outputs das competências. Esse capítulo é
importante uma vez que nos estudos sobre competências do contador, especialmente no
Brasil demonstram um certo desconhecimento desses entendimentos teóricos das áreas
da psicologia e de recursos humanos; o capítulo 2 apresenta uma revisão detalhada dos
estudos existentes nacionalmente e internacionalmente sobre as competências do
contador sendo este o capítulo base para avaliar as demandas da profissão de contador;
o capítulo 3 apresenta as questões metodológicas detalhando os procedimentos e
técnicas estatísticas utilizadas, e, por final, o capítulo 4 detalha a amostra utilizada e os
resultados apresentados pelo estudo. Ao final, têm-se as considerações finais e algumas
sugestões de opções de pesquisas futuras.
CAPÍTULO I
FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA: O CONCEITO DE COMPETÊNCIA E SEUS
RELACIONAMENTOS
APRESENTAÇÃO
As alterações recentes no mundo dos negócios têm, sem dúvida, atingido o contador, na
medida em que deste se vem exigindo, cada vez mais, determinadas competências.
As chamadas competências exigidas para todo profissional são estudadas, inicialmente,
na área da psicologia com os artigos de McClelland (1973) e, mais tarde, com Boyatzis
(1982) e, depois, com Spencer & Spencer (1993). Este último elaborou o chamado
dicionário de competências de diversas profissões baseado em estudos empíricos.
Mais recentemente, os estudos referidos procuram relacionar as competências dos
profissionais com as suas habilidades intelectuais, cognitivas e com a inteligência
62
emocional, como refere um dos últimos artigos de McClelland (1998), publicado na
American Psychological Society. Os estudos de competências e suas relações sofrem
também influência da abordagem de estudos longitudinais feitos por Boyatzis, Stubbs e
Taylor (2002) e Goleman, Boyatzis e McKee (2002) que trabalharam segregando as
competências em self-management, relationship mangement and cognitive.
Com base em tais estudos, alguns pesquisadores de campos específicos do
conhecimento começaram a utilizar-se dessa base teórica para desenvolver pesquisas
aplicadas sobre competências em determinadas profissões. Assim, as pesquisas foram
desenvolvidas, com destaque para os médicos, por Epstein & Hundert (2002); para os
gerentes de negócios, por Erondu & Sharland (2002) e, para os compradores, por
Giunipero e Pearcy (2000). Com relação aos contadores, não foi localizado até o
momento, na revisão bibliográfica deste trabalho, nenhum tipo de estudo que fosse
modelado, considerando-se o embasamento teórico de competências da psicologia e os
aspectos estatísticos desta pesquisa.
1. O CONCEITO DE COMPETÊNCIAS
1.1. Introdução ao Conceito de Competência
Consoante já expresso aqui, os autores Dutra, Hipólito e Silva (2000) apontam as
dificuldades para se definir “competência”, visto serem múltiplas as interpretações
dados ao termo ao longo dos últimos 30 anos.
A dificuldade dá-se certamente na medida em que “competência” implica
comportamento, atitude e gestão da parte dos seres que estão sob julgamento.
Segundo esses autores, no entanto, “o risco vale a pena” por se tratar de conceito cujo
condão é esclarecer aspectos nebulosos da gestão de pessoas.
63
Para Manfredi (1998), a inexistência de um consenso quanto a seu conceito, em razão
das divergências de caráter filosófico e ideológico, pode de igual modo, ser atribuída à
adoção da expressão com diferentes enfoques, em diferentes áreas do conhecimento.
Pelas diferentes interpretações por conta dos vários autores e dada a quantidade e
qualidade de suas investigações, fica claro que no termo “competência” (do latim
competentia) significa qualidade da pessoa, o que envolve aptidão, habilidade e
idoneidade. (Woodruffe, 1991; Le Boterf,1994; e Parry, 1996)
O dicionário Webster (1995) assim define competência: o estado ou a qualidade de ser
funcionalmente adequado ou ter suficiente conhecimento, julgamento, habilidade ou
força para uma determinada tarefa. Esta definição bastante genérica revela três pontos
importantes, segundo o conhecimento, as habilidades e a tarefa.
Para Fleury e Fleury (2001), nos últimos anos, o termo competência entrou para a pauta
das discussões acadêmicas e empresariais, associado a estas diferentes instâncias de
compreensão: o referente da pessoa, ou seja, a competência do indivíduo; das
organizações, as cores competences, e o dos países, isto é, os sistemas educacionais e a
formação de competências.
Este trabalho procura focar o seu estudo na competência da pessoa, dado o seu objeto de
estudo: a competência do contador.
A preocupação pela competência do indivíduo não é algo recente, que possa ser
considerado novo na gestão das empresas, Taylor (1970) já alertava, no início do século
passado, para a necessidade das empresas contarem com homens eficientes, ressaltando
que a procura pelos competentes excedia a oferta. Este conceito também estava
amarrado ao controle como ponto central da relação entre pessoas e organização.
Brandrão e Guimarães (2001) referem que, na época do taylorismo, as habilidades
necessárias para o desempenho da atividade específica restrigiam-se às questões
técnicas relacionadas ao trabalho. Depois, em decorrência de pressões sociais e o
aumento da complexidade das relações de trabalho, as organizações passaram a
considerar, no processo de desenvolvimento profissional de seus empregados, não
64
somente questões técnicas, mas também aspectos sociais e comportamentais
relacionados ao trabalho.
Para Fleury e Fleury (2001), competência constitui uma idéia consideravelmente antiga,
porém (re-)conceituada e (re-)valorizada no presente, em decorrência de fatores como
os processos de reestruturação produtiva em cursos, a intensificação das
descontinuidades e a imprevisibilidade das situações econômicas , organizacionais e de
mercado, além das sensíveis mudanças nas características do mercado de trabalho,
resultantes, em especial, dos processos de globalização.
Na área de gestão, o termo competência foi desenvolvido por McClelland (1973) com o
artigo “Testing for competence rather than intelligence”, tendo mais tarde a contribuição
de Boyatzis (1982), com o livro “The competent manager”, no qual o autor procura
investigar quais as características que deveriam possuir os gerentes para uma
performance eficaz nas mais variadas empresas.
Para Boyatzis (1982), as ações específicas ou comportamentos gerenciais são resultados
da união de três componentes críticos: as funções e demandas do cargo, o ambiente
organizacional e as competências da pessoa.
Desse modo, o autor começa a colocar em discussão as questões relacionadas com a
percepção do contexto no qual a pessoa está inserida, como meio fundamental para o
esboço de comportamentos aceitáveis.
Os testes de McClelland (1973) apoiaram-se na preocupação em predizer
comportamentos que gerem resultados práticos e socialmente úteis, a que o autor
denomina competência. Entende-se como resultados práticos a atuação no trabalho e o
sucesso profissional, fazendo, deste modo, um contraponto aos testes tradicionais de
inteligência e de aptidões.
No texto original, McClelland (1973) exemplifica estes conceitos como discutidos a
seguir:
1) Paciência: é uma característica humana que parece ser essencial para muitos
resultados práticos da vida. Como exemplo, temos a desejável característica
65
em ocupações de serviços, em que as necessidades e pedidos dos clientes
podem ser irritantes;
2) Habilidade de comunicação: deve-se em muitas atividades profissionais,
requer relacionamento interpessoais, o que exige da pessoa capacidade em se
comunicar por palavras, aparência e gestos;
3) Estabelecer metas razoáveis: em muitas situações da vida é claramente
preferível a estabelecer metas elevadas demais ou baixas demais, que
frequentemente levam ao fracasso.
Com base neste entendimento, começam a surgir novas pesquisas com tal abordagem,
procurando aperfeiçoar os métodos tradicionais de seleção de pessoal e desenvolver
novos parâmetros de predição de desempenho de pessoal em relação ao de valor criado
para as organizações.
Duas definições após os estudos de McClelland podem sintetizar o conceito de
competência a ser utilizado neste trabalho. São elas:
Competência uma característica subjacente a uma pessoa que está casualmente
relacionada com um desempenho superior em um posto de trabalho. Boyatzis
(1982).
Competência um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes que
influenciam a maioria dos trabalhos (papéis ou responsabilidades) de uma
pessoa e se correlaciona com o desempenho em um trabalho. Parry (1996).
Identificando uma competência, podem-se predizer comportamentos em uma grande
parte de situações e de trabalho. Segundo a visão de Boyatzis (1982) e Spencer &
Spencer (1993), essa questão subjacente em uma competência torna-se a parte
importante da personalidade.
Mais tarde, autores como Zarifian (2001) e Le Boterf (1994 e 2001) discutem o conceito
de competência associado ao ideal de agregação de valor e entrega a determinado
contexto de forma independente do cargo em questão, no caso avaliado.
66
1.2. As Escolas Americanas e Européias de Competências
A percepção do termo competência é bastante diferenciada e recebe diversas
abordagens. Existem duas linhas teóricas: a americana, em que o termo tem a forma
“competency”, e a européia a que os ingleses denominam “competence”, o que
demonstra toda uma construção teórica diferenciada.
Na literatura, constatam-se essas diferenças em relação à percepção do termo
competência seguindo estes dois sentidos: (1) o termo pode ser usado para se referir às
áreas de trabalho em que cada pessoa é competente, como, por exemplo, planejar
campanhas publicitárias, e (2) é usado para se referir a dimensões do comportamento
que estão por trás de um desempenho competente.
Alguns autores, como Woodruffe (1991) e depois Sparrow e Bognanno (1994),
apresentam, de forma detalhada, toda a diferenciação entre as duas abordagens.
Apresenta-se a seguir o quadro comparativo entre as duas abordagens, segundo
adaptação de Sparrow e Bognanno (1994):
Definição O que são competences?
Europa
O que são competencies?
EUA
Descrição Conhecimentos, habilidades e
atitudes com a inclusão de alguns
comportamentos pessoais.
Repertórios comportamentais que
as pessoas trazem para um trabalho,
papel ou contexto organizacional.
Identifica-se
mediante
Análise funcional dos trabalhos
desempenhados e
responsabilidades
Técnicas de investigação baseadas
em eventos comportamentais
Centrado
em
Técnicas de análise focadas na
tarefa que refletem expectativas no
desempenho no local de trabalho
Técnicas de análise centradas na
pessoa, que refletem a eficácia.
Significa Áreas ou campos de
conhecimentos que uma pessoa
deve realizar efetivamente
O que pessoas precisam trazer para
realizar a função com determinado
nível
67
Critério de
desempenho
Enuncia um padrão Características de uma performance
individual superior (excelente).
Aplicação Padrões genéricos por meio das
organizações e ocupações
Excelente comportamento sob
medida para a organização.
Níveis de
análise
Ocupação ou setor baseado em
uma amostra de postos-chave
Níveis de trabalho ou hierarquia
gerencial
Domínio Competência dominada por
instituições ou organizações e
concedidas para o indivíduo
Competência contida em um
indivíduo e trazida para a
organização
Ônus da
avaliação
Seleção a fim de conceder
prestígio profissional
Identificação de potencial a fim de
assegurar o desenvolvimento
profissional
Motivação
individual
Realização que se pode transferir Realização que se pode estimular
Quadro 1.1: Comparativos dos Conceitos de Competências
Adaptado de Sparrow e Bognanno (1994: 59)
Na prática, o que se encontra em muitas organizações, segundo Sparrow e Bognanno
(1994: 59), é uma mistura das duas abordagens, aplicando as abordagens em diferentes
níveis da organização.
Na tentativa de facilitar o processo de reflexão sobre essa questão, Conde (2001)
sintetiza, conforme quadro apresentado abaixo, as principais diferenças das abordagens
americanas e européias, considerando uma série de autores com destaque para
Woodruffe (1991) e Fleury e Fleury (2001):
Competence (areas of competence) Competency
É usado no sentido relacionado com o
cargo
É usado no sentido relacionado com a
pessoa
Linha de pensamento predominante na
Europa
Mais usado nos Estados Unidos
Características do indivíduo Desempenho do cargo
Agregação de valor Conhecimento, habilidades e atitudes
68
Output (resultados e produtos) Input
Exemplo: planejamento de campanhas
publicitárias
Exemplo: bom relacionamento. Ser capaz
de falar com pessoas de todos os níveis;
receber outros para falar; formar bons
relacionamentos no trabalho; ver as
situações na visão dos outros.
Quadro 1.2: Diferenças de Abordagens
Fonte: Adaptado de Conde (2001)
1.2.1. Competência: Inputs e Outputs
Com base nesse quadro, percebe-se que a principal diferença referente ao conceito de
competência na visão destes autores é a de que, em uma visão, a competência é vista
como inputs e, na outra, como outputs do comportamento humano. Como apresentado
na figura a seguir:
Figura 1.1 – Conceitos sobre Competência
Fonte: Adaptado de Dutra (2004;30)
INPUTS OUTPUTS
Conhecimentos Habilidades Atitudes
Agregação de Valor
Elliot Jacques
Estados Unidos McClelland (McBer)
Boyatziz
Inglaterra/França Billis/Stamp
Zarifian/Le Boterf
Pessoas
69
Parry (1996) expressa o fato de que na visão americana as competências são inputs
consistindo em conjuntos específicos de conhecimentos, atitudes e habilidades que
afetam a capacidade de realização do indivíduo. Em razão deste conceito, o autor fala
em competências (plural), pois refere-se a esse conjunto de capacidades próprio de cada
indivíduo e que será posto em xeque no dia-a-dia.
Para o mesmo autor, na Europa, os empregados dispõem de competências em graus,
conforme as metas de seus trabalhos ou quando estes superam os padrões de metas
prescritos. Assim, a competência refere-se ao nível de agregação de valor do
funcionário ao serviço que desenvolve e, consequentemente, à empresa que o contrata.
Como agregação de valor entende Dutra (1999) como algo que a pessoa entrega para a
organização de forma efetiva, ou seja, este algo fica, mesmo quando a pessoa sai da
organização.
Cabe também destacar que nos anos 70 e 80, nas escolas de origem preponderantemente
americanas, competência significava o conjunto de qualificações que a pessoa deveria
ter para executar certo trabalho com nível superior de desempenho. Destacam-se as
produções dos autores McClelland (1973), Boyatzis (1982) e, mais tarde, Spencer e
Spencer (1993).
Para esses autores, a competência pode ser prevista ou estruturada, de modo que se
estabeleça um conjunto qualificador ideal para que a pessoa apresente um desempenho
superior no seu trabalho.
Segundo Dutra, Hipólito e Silva (2000), nos anos 80 e 90, muitos autores contestaram
tal definição de competência, associando-a às realizações das pessoas, àquilo que elas
provêem, produzem ou entregam. De conformidade com esses autores, o fato de a
pessoa deter as qualificações necessárias para certo trabalho não assegura que ela irá
entregar o que dela é demandado. Essa linha é defendida por autores como Jacques
(1990), LeBortef (1994) e Zarifian (1996), em sua maioria, europeus.
70
Contrário à visão da linha americana, LeBortef (1994) diz que a competência não é
estado que se tem, nem é resultado de treinamento. Competência é, na verdade, colocar
em prática o que se sabe em um determinado contexto, marcado geralmente pelas
relações de trabalho, cultura da empresa, imprevistos, limitações de tempo e recursos.
Pode-se, portanto, falar-se de competência apenas quando há competência em ação, isto
é, saber ser e saber mobilizar conhecimentos em diferentes contextos.
Com o passar dos tempos, percebe-se que um conjunto de autores começou a avaliar
estes dois posicionamentos em conjunto: a entrega e as características da pessoa, que
podem ajudá-la com maior facilidade. (Parry, 1996).
Pode-se considerar que a questão da entrega relatada pelos autores nacionais e os
ingleses e franceses é fundamental dentro do processo de análise das competências dos
indivíduos onde o que na realidade conta, mesmo que de forma intuitiva, é a valorização
com base em seus atos e realizações e não na descrição formal de suas funções ou
atividades.
A segregação das competências em inputs (conhecimentos, habilidades e atitudes) e
outputs (agregação de valor) talvez não seja a melhor solução, pois pelo que se pode
perceber existe uma sinergia entre os dois conceitos e ao mesmo tempo uma
interdependência.
Uma variável importante que está diretamente relacionada com os aspectos de entrega e
agregação de valor refere-se às demandas do cargo, isso é, quais serão os atributos
requisitados aos profissionais que deverão desenvolver aquela função.
Com estas explanações, procurou-se sintetizar os principais conceitos das duas
abordagens de competências e os seus entendimentos. No próximo tópico será detalhado
o conceito de competência, a fim de embasar o instrumento a ser utilizado nesta
pesquisa.
1.3. Detalhamento do Conceito de Competência
71
Baseando-se nestas primeiras exposições do estudo percebe-se que o trabalho não é um
conjunto de simples tarefas associadas a um cargo, mas um prolongamento direto da
competência que a pessoa mobiliza em resposta a um mercado de trabalho cada vez
mais dinâmico e agressivo.
Assim, a competência é a capacidade para enfrentar e resolver problemas com sucesso
em situações de incerteza, novas ou irregulares, na vida do trabalho. É essa
imprevisibilidade que diferencia a competência do conceito tradicional de qualificação.
(Ducci, 1996)
Zarifian (2001) difere o modelo baseado em competências do modelo de qualificação,
apesar de considerar que as definições atuais deste novo modelo possuem grande
influência dos conceitos relacionados à qualificação. O modelo de competência não tem
mais o posto de trabalho como fundamento e referência, conforme o modelo de
qualificação.
Como diferença marcante, o autor referido ressalta a importância crescente das
informações tácitas em oposição às qualificações formais, indicando que o modelo tem
como suporte o indivíduo, sua cognitividade social e pessoal. A ênfase é dada à
competência do trabalhador manifestada e avaliada em uma situação profissional
específica, e não na qualificação de um emprego.
Para McLagan (1997), as definições de competências podem assumir muitas formas,
incluindo explicações, descrições, analogias e exemplos. Selecionar uma competência é
simples, se considerarmos que uma competência é invisível, exceto quando expressa por
comportamentos que a reflitam. Podemos conhecer uma competência por meio de
explicações, testes, em crises, no trabalho e assim por diante.
O mesmo autor elabora um quadro, o qual vai apresentado a seguir, demonstrando a
taxonomia de competência, bastante útil para o entendimento deste conceito:
72
Tipo de definição do termo Descrição
Competência de tarefa (task
competencies)
Tarefas do trabalho e atividades. Ex.: Analisar
demonstrativos financeiros
Competência de resultados
(result competencies)
Descreve-se a competência adicionando-se a palavra
“habilidade de” a um resultado. Ex. Habilidade de gerar
lucros.
Competências de produtos
(output competencies)
A palavra “habilidade de” precede um produto, isto é,
algo que uma equipe produz, provê ou entrega. Ex.:
Habilidade de produzir análises de projetos.
Competências de
habilidades, conhecimentos
e atitudes (knowledge, skills
and attitude – KSA –
competencies)
Neste caso, unem-se um nível cognitivo (ex.:
conhecimentos de engenharia eletrônica), um nível
processual (ex.: habilidade de ouvir) e um nível afetivo,
composto por atitudes, valores, orientações e
comprometimentos (ex.: integridade e realização).
73
Diferencial de performance
superior (superior-
performance differentiator)
Lista de competências que pessoas de performance
superior possuem, que as outras pessoas não possuem.
Habitualmente, este tipo de busca encontra aptidões
apoiadas em inteligência e personalidade. Estas são
discernidas em candidatos por meio de testes. É este o
problema que McClelland quer resolver com sua
metodologia.
Feixes de atributos Atribuições complexas que envolvem em seu interior
tarefas, resultados, produtos, conhecimentos, atitudes,
de uma forma híbrida. Ex. liderança, resolução de
problemas ou tomada de decisões.
Quadro 1.3: Taxionomia de Competências
Fonte: Adaptado de McLagan (1997)
O autor Miguel (2002) refere que a subjacência de uma competência torna-a elemento
importante da personalidade. Quando se identifica uma competência, pode-se predizer
comportamentos em uma grande variedade de situações e de trabalho (Boyatzis, 1982;
Dalton, 1997; Spencer e Spencer, 1993).
Spencer e Spencer (1993), influenciados pelos estudos realizados por D. C. McClelland
(1973) sobre o caráter profundo incluindo fatores ligados à personalidade, como os
motivos os traços e o autoconceito do indivíduo e sobre o caráter superficial das
competências como as habilidade e os conhecimentos igualmente as definem como
aquelas características subjacentes no indivíduo, relacionadas a um critério de eficácia e
desempenho superior na execução de um dado trabalho.
Levando em consideração estes aspectos subjacentes da competência, começam a surgir
modelos que relacionam a competência com o desempenho no trabalho, efetuando uma
análise de causa e efeito como segue:
“Intento” Características
Pessoais
Motivos Traços
Autoconceito Conhecimento
“Ação” Comportamento
“Resultado” Desempenho no
Trabalho
74
Figura 1.2 – Modelo de Fluxo Causal de Competência
Fonte: Adaptado de Spencer & Spencer (1993;13)
Dada a importância da questão da competência como característica subjacente em um
indivíduo, causadora de desempenho superior, Amatucci (2000) montou um quadro
comparativo das características subjacentes referidas por Boyatzis (1982) e Spencer e
Spencer (1993), o qual vai apresentado a seguir:
Característica
Subjancente
Boyatzis
(1982)
Spencer e
Spencer (1993)
Descrição
Motivos
X
X
As coisas que a pessoa
consistentemente pensa a respeito, ou
quer, causadora da ação. Dirigem,
direcionam e selecionam
comportamentos.
Traços
pessoais
X
X
Características físicas e respostas
consistentes a situação ou informações.
Autoconceito
X
X
Atitudes, valores ou auto-imagem. (Em
Boyatzis auto-imagem inclui
autopercepção, auto-estima e
autoconceito. Para o autor é a
comparação que a pessoa faz entre si
75
própria e os outros). Também inclui
valores e crenças.
Conhecimento - X Informação que a pessoa possui em
áreas de conteúdo específico
Papel social
X
-
Percepção das normas sociais de
comportamento apropriadas aos grupos
sociais e organizações.
Habilidade
X
X
Aptidão para a realização de
determinada atividade física ou mental.
Quadro 1.4: Características Subjacentes que Compõem as Competências
Fonte: Adaptado de Amatucci (2000), Boyatzis (1982) e Spencer e Spencer (1993)
Reforçando a ênfase da competência no desempenho, Gonczi (1992) informa que é
comum descrever a pessoa competente baseando-se nos conhecimentos, habilidades e
atitudes requeridas para desenvolver determinada função em nível de aceitação mínima.
Especificamente, todavia, competência é algo que pode ser atribuído ao indivíduo tendo
como base as inferências desenhadas com base em seu desempenho no trabalho. O
conceito de competência organizacional é global e genericamente construído ao passo
que deveria ser específico e construído baseando-se em cada situação individual.
Boyatzis (1982) expõe na discussão sobre competências em um questionamento a
respeito de atuação efetiva, aquilo que é importante para entender as relações de
causalidade que se estabelece entre as competências e a performance efetiva. Para este
autor, a ação ou o comportamento específico consiste na intersecção ou encontro de três
grupos de variáveis, a saber: as competências individuais, as demandas da tarefa e o
ambiente organizacional, conforme descrito a seguir:
76
Figura 1.3 – Modelo de Performance Efetiva
Fonte: Adaptado de Boyatzis (1982;16)
É importante colocar que, na visão de Boyatzis, a competência individual tem uma
relação de causalidade com a atuação efetiva, mas a competência não é a única causa,
podendo ser desperdiçada pela falta das demais condições.
Procurando descrever o momento da discussão atual sobre competência e sua relação
com o desempenho, Amatucci (2000) diz que a descrição de competências, seja pelo seu
caráter incipiente na teoria administrativa, seja pelo caráter pragmático de sua aplicação
por profissionais que necessitam resolver problemas práticos, mas, particularmente pela
complexidade da realidade que o termo tem que representar, acaba assumindo
frequentemente a forma de feixe de atributos de características distintas, arrolado de
maneira a descrever o que se espera que alguém seja capaz de fazer ou faça
efetivamente.
Competências individuais
Ambiente organizacional
Demandas do Cargo
Ação ou comportamento
efetivo
77
Neste ponto, deve-se refletir para uma questão importante que se refere à inclusão da
variável performance, colocada junto ao conceito de competência, aumentando ainda
mais a complexidade da discussão.
Spencer e Spencer (1993) sumarizam, em sua obra, centenas de estudos pesquisados por
mais de 20 anos em 24 países. Os autores apresentam um dicionário com 21
competências genéricas encontradas em 286 estudos em áreas como:
empreendedorismo, técnicos e profissionais de vendas, serviços humanos e cargos
gerenciais na indústria, governo, área militar, organizações de saúde, educação e
organizações religiosas. Além de descreverem como se devem conduzir as entrevistas
de evento comportamental, instrumento para o processo de avaliação das competências
do cargo, propõem uma metodologia para o desenvolvimento de modelos genéricos.
Os autores também classificam, segundo dois níveis, as competências em: competências
ocultas e competências visíveis.
Habilidades Conhecimentos
Autoconceito Traços Motivos
Visível
Oculto
78
Figura 1.4: O Modelo de Iceberg
Fonte: Spencer e Spencer (1993: 11)
Na visão de Spencer e Spencer (1993) as competências conhecimento e habilidades,
tendem a ser mais visíveis e fáceis de serem identificadas e mapeadas, bem como mais
fáceis de serem desenvolvidas.
Em relação às competências marcadas como traços e motivos, estas são características
mais profundas e centrais no que toca à personalidade da pessoa, o que as torna mais
difíceis de serem avaliadas e desenvolvidas, ao passo que autoconceito, atitudes e
valores são características que podem ser modificadas por treinamentos, dinâmicas de
grupos, etc. Os autores expressam que, apesar de passíveis de mudanças, o processo
para essa mudança tende a ser custoso e demorado.
Outro fundamento importante nesta discussão está relacionado com aqueles que
compartilham da chamada escola McBer com McClelland (1973), Boyatzis (1982) e
Spencer & Spencer (1993) em que a chamada abordagem pura leva em consideração a
Superfície: Mais fácil para desenvolver
Centro da Personalidade: Muito difícil de desenvolver
Traços Motivos
Autoconceito
Atitudes Valores
Conhecimentos
Habilidades
79
capacidade cognitiva na sua definição de competência. Outros autores, como Green
(1999), em seu modelo KSAO – Knowledge, Skill, Ability and Other, rejeitam essa
hipótese ao traduzirem o alinhamento da abordagem comportamental com a abordagem
psicométrica.
Esses desencontros quanto à abordagem da competência podem ser vistos de igual
modo em alguns autores europeus, como Boterf (1999), que trabalha a idéia de
competência como algo que seriam os conhecimentos e as capacidades aplicadas e
mobilizadas em uma situação específica, classificando-se em: conhecimentos,
habilidades, atitudes, recursos fisiológicos e recursos do ambiente.
Para Zarifian (2001), as definições atuais que fundamentam o chamado modelo de
competências, muito embora tenham emergido na literatura em meados dos anos
oitenta, valendo-se de pesquisas realizadas na França pelo Centre d´Études et de
Recherches sur les Qualifications – CEREQ e Conseil National du Patronat Français –
CNPF atual Mouvement dês Entreprises de France – MEDEF, caracterizam-se, ainda
hoje, pela influência marcante das abordagens típicas dos anos setenta em torno do
conceito de qualificação do emprego. Para o CNPF (1998) apud Zarifian (2001) assim
entende-se competência:
“Uma combinação de conhecimentos, de saber fazer, de experiências e
comportamentos que se exerce em um contexto preciso. Ela é constatada quando
de sua utilização em situação profissional, a partir da qual é passível de
validação”.
Durand (1998) construiu um conceito de competência baseado em três dimensões:
conhecimentos, habilidades e atitudes. Para o autor, essas dimensões são
interdependentes na medida em que, para a exposição de uma habilidade, se presume
que o indivíduo conheça princípios e técnicas específicas.
Segundo este mesmo autor, essas três variáveis podem ser explicadas como vão
descritas a seguir:
80
Conhecimento: corresponde a uma série de informações assimiladas e estruturadas pelo
indivíduo e que lhe permitem entender o mundo.
Capacidade: é a capacidade de receber informações integrá-las dentro de um esquema
pré-existente, o pensamento e a visão estratégicos, o saber, o que e o porquê; habilidade,
que se refere ao saber fazer, envolvendo técnica e aptidão e uma proficiência prática –
física e mental – sendo adquirida, regra geral, por meio de processos de treinamentos e
experiência;
Atitude: diz respeito a aspectos afetivos e sociais relacionados ao trabalho. Também se
inclui nesta concepção a identidade do indivíduo com os valores da organização e, por
conseqüência, seu comprometimento e motivação para atender aos padrões de
comportamento esperados para atingir resultados com alto desempenho no trabalho.
Para Brandão e Guimarães (2001), abordagens como a de Durand (1998) possuem uma
aceitação mais ampla, tanto no ambiente empresarial, como no meio acadêmico, visto
que procuram integrar diversos aspectos relacionados ao trabalho. A seguir, são
apresentadas as três dimensões do autor:
81
Figura 1.5: As Três dimensões da Competência
Fonte: Adaptado de Durand (2000)
Com base nestas colocações serão apresentadas algumas definições de autores que
entendem a competência como resultante de uma ação, utilizando para isso os termos
“saber” fazer, “saber” agir e “saber” ser.
Pode-se considerar que um dos mais fortes defensores desta visão é Le Boterf (1994), o
qual refere que a competência não reside nos recursos, vale dizer, nos saberes,
conhecimentos, capacidades e habilidades a serem mobilizados, mas na própria
mobilização desses recursos. Este autor apóia-se, portanto na tríade de saberes: saber
fazer, saber agir e saber ser.
Na visão de Le Boterf (1999), esses recursos de competências são descritos da seguinte
forma:
Conhecimentos Informação Saber o quê
Saber o porquê
Habilidades Técnica
Capacidade Saber como
Atitudes Querer fazer Identidade
Determinação
Competência
82
• Conhecimentos: gerais e teóricos, operacionais e acerca do ambiente;
• Habilidades: operacional, experiência, relacional e cognitivo;
• Atitudes: atributos pessoais e relacionais;
• Recursos fisiológicos: energia e disposição;
• Recursos do ambiente: sistema de informação e banco de dados.
Detalhando ainda mais o conceito de Le Boterf (1999), temos a figura apresentada a
seguir:
Figura 1.6: Competência é um Saber-agir
Fonte: Adaptado de Le Boterf (1999)
Seguindo a visão de Le Boterf (1994), de Durand (1998) e de Zarifian (2001), os
autores Kilimnik, Sant´anna e Luz (2003) esclarecem que se compreende a competência
como resultante de múltiplos saberes, obtidos pelas mais variadas formas: por via de
transferência, de aprendizagem, de adaptação, saberes esses que possibilitam ao
indivíduo criar uma base de conhecimentos e habilidades capazes de resolução de
problemas em situações concretas. Nesse sentido, como um misto de múltiplos
ingredientes, a competência revela-se mais do que simplesmente numa adição de
saberes parciais ou de qualificações: ela é uma síntese de saberes.
Seguindo o mesmo entendimento, Stroobants (1993) compreende competência como
resultante de três componentes principais:
Saberes ou conhecimentos formais: que podem ser traduzidos por fatos e regras;
Competência = Saber-agir Responsável e validado
Saber-mobilizar Saber- integrar Saber-transferir
Os recursos (conhecimentos e capacidades)
83
Saber-fazer: que pertence à esfera dos procedimentos empíricos, como as receitas e
conhecimentos tácitos do ofício que se desenvolvem na prática quotidiana de uma
profissão ou ocupação;
Saber-ser: compreendido como o saber social ou do senso comum, que mobiliza
estratégias e raciocínios complexos, interpretações e visões do mundo.
Sintetizando todo este pensamento e agregando alguns conceitos importantes das
competências do indivíduo, Fleury e Fleury (2001) montam o quadro apresentado a
seguir:
Figura 1.7: Competência como Fonte de Valor para o Indivíduo e a Organização
Fonte: Adaptado de Fleury e Fleury (2001)
Fleury e Fleury (2001) definem competência com um saber agir responsável e
reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos,
habilidade, que agregam valor econômico à organização e valor social ao indivíduo.
Percebe-se que estas competências do indivíduo estão limitadas pela contextualização
em que são utilizadas, incluindo a época.
Saber agir Saber mobilizar Saber transferir Saber aprender Saber engajar-se
Ter visão estratégica Assumir
responsabilidades
Indivíduo
Conhecimentos Habilidades Atitudes
Organização
Agregar Valor
Social Econômico
84
Os autores Fleury e Fleury (2001) descrevem, inspirados em Le Boterf, uma lista
apresentada a seguir do significado de cada um dos verbos registrados na figura
anterior:
Verbo Descrição
Saber agir Saber o que e por que faz
Saber julgar, escolher e decidir.
Saber mobilizar Saber mobilizar recursos de pessoas.
Financeiros, materiais, criando sinergia
entre eles.
Saber comunicar Compreender, processar, transmitir
informações e conhecimentos,
assegurando o entendimento da mensagem
pelos outros.
Saber aprender Trabalha o conhecimento e as
experiências.
Rever modelos mentais.
Saber desenvolver-se e propiciar o
desenvolvimento dos outros.
Saber comprometer-se Saber engajar-se e comprometer-se com
os objetivos da organização
Saber assumir responsabilidades Ser responsável, assumindo os riscos e as
conseqüências de suas ações, e ser, por
isso, reconhecido.
Ter visão estratégica Conhecer e entender o negócio da
organização, seu ambiente, identificando
oportunidades alternativas.
Quadro 1.5: Competências para o profissional
Fonte: Adaptado de Fleury e Fleury (2001)
Esse conceito de competência é questionado por Parry (1996) para quem as
competências devem ou não incluir traços de personalidade, valores e estilos. O autor
85
sublinha que alguns estudos fazem distinção entre competências flexíveis (soft
competencies), que envolveriam traços de personalidade, e competências rígidas (hard
competencies), que se limitaram a assinalar as habilidades exigidas para tal ou qual
trabalho específico.
Algumas críticas são feitas à forma e à ênfase dada a estes conceitos de competência e
da própria ênfase dada aos estudos de competências, com destaque para Sandberg
(2000) para quem não se deve centralizar somente na definição dos atributos de
competência, como o faz a maior parte das abordagens desenvolvidas sobre o tema, mas
centrar-se na sua aplicação prática. O trabalho de Sandberg critica o conceito tradicional
de competências como um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, ou seja,
como aquisição de atributos, o que o autor chama de abordagem racionalista.
Sandberg (2000) diz que “mediante análise de competências, eu estou cada vez mais
convencido que os aspectos essenciais da competência humana não podem ser
reduzidos a uma lista externa de atributos relacionados ao trabalho”.
Para o autor, o desenvolvimento de competências deve ser compreendido com base nas
práticas organizacionais, focalizando sua análise no enriquecimento de experiências e
vivências, o que ele chama de abordagem interpretativa.
Para o mesmo autor, o desenvolvimento da competência envolve a mudança na
estrutura e no significado das práticas de trabalho. Deste modo, a questão refere-se não
apenas ao que constitui competências (what), mas também ao como as competências
são desenvolvidas (how).
Procurando fechar a discussão, alguns autores, como Boyatzis, Stubbs e Taylor (2002) e
McClelland (1998) defendem que as competências, no mundo do trabalho, dizem
respeito a comportamentos que resultem em performance superior, podendo-se
considerar como competências: conhecimentos aplicados, manifestação das habilidades,
capacidade empregada e comportamentos manifestados pelas características pessoais
com busca de realização. Está é a linha a ser usada neste trabalho de pesquisa.
86
Apesar das discussões e da falta de consenso na literatura sobre o que sejam
competências, neste trabalho vale-se do conceito de competência como: habilidades,
capacidades, conhecimentos, atitudes, traços e motivos.
1.4. Competência e suas Relações com a Estratégia e a Aprendizagem
As competências individuais são importantes para o desenvolvimento do profissional e
para a própria organização e deve ter relação com outros aspectos como estratégia e
aprendizagem organizacional, para que se possa potencializar o seu uso e sua utilidade.
Quanto à estratégia, o que se espera é uma vinculação entre a estratégia adotada pela
organização e uma relação direta com as competências requeridas pela organização e
por seu pessoal, bem como uma vinculação com os aspectos da aprendizagem
organizacional.
Sobre a estratégia, segue-se o pensamento de Porter (1990), o qual aponta para a origem
da vantagem competitiva, a capacidade de organização, inovação e evolução, a qual se
desenvolve em razão de pressões e desafios por ela enfrentados em sua relação com o
ambiente. Analisando a visão de Porter, nota-se a preocupação com influências de
aspectos externos, com a organização e a necessidade de definir como enfrentar esses
desafios.
Outra visão que se tem neste campo são os estudos de Prahalad e Hamel (1990) que
lembram a necessidade de se desenharem as estratégias da organização olhando para
dentro, isto é, para os recursos internos e as capacidades. Deste modo, os autores
discutem o conceito teoria dos recursos da firma e apresentam a questão das
competências das organizações, o que para eles é algo fundamental.
Prahalad e Hamel (1990) só consideram uma competência como fator chave quando é
possível atender a três critérios: oferecer reais benefícios aos consumidores, ser difícil
de imitar e prover acesso a diferentes mercados. Deste modo, competência seria a
capacidade de combinar e transformar recursos em produtos e serviços.
87
Estratégia
Competência
Aprendizagem
Agregando estratégia à capacidade de combinar e integrar recursos, obtêm-se lições de
Fleury e Fleury (2001) para os quais a organização, situada em um ambiente
institucional, define a sua estratégia e as competências necessárias para implementá-las,
num processo de aprendizagem permanente. Não existe uma ordem neste processo, mas,
antes, um círculo virtuoso, em que cada face alimenta outra mediante o processo de
aprendizagem. Para ilustrar esse conceito, observa-se a figura destacada abaixo:
Figura 1.8: Esquema de Ligação
Fonte: Adaptado de Fleury e Fleury (2001)
Refletindo sobre a necessidade de integração e a relação entre estratégia e competências
das pessoas, Dutra (2004) expõe que, ao colocarmos organização e pessoas lado a lado,
podemos verificar um processo contínuo de troca de competências. A organização
transfere seu patrimônio para as pessoas, enriquecendo-as e preparando-as para
enfrentar novas situações profissionais e pessoais, na organização ou fora dela. As
pessoas, ao desenvolverem sua capacidade individual, transferem para a organização
seu aprendizado, capacitando-a a enfrentar novos desafios.
Objetivando a exemplificação desta relação, Dutra (2004) sistematizou as reflexões de
Fleury e Fleury (2001), os quais, por sua vez, valem-se da inspiração de Porter (1996) e
Treacy e Wiersema (1995), demonstrando as relações fortes que há entre a estratégia
adotada e os tipos de competências individuais requeridos pelas organizações:
88
Estratégia Competências
Organizacionais
Competências
Individuais
Volume de vendas
Excelência operacional
(bens de consumo e
commodities)
• Custo
• Qualidade
• Processo produtivo
• Distribuição
• Monitoramento de
mercado
• Comercialização
• Parcerias
estratégicas
• Orientação a custos e
qualidade
• Gestão de recursos e
prazos
• Trabalho em equipe
• Planejamento
• Interação com sistemas
• Multifuncionalidade
• Relacionamento
interpessoal
Foco na customização
Inovação em Produtos
(produtos para clientes
ou segmentos
específicos)
• Inovação de
produtos e processos
• Qualidade
• Monitoramento
tecnológico
• Imagem
• Parcerias
tecnológicas
estratégicas
• Capacidade de inovação
• Comunicação eficaz
• Articulação interna e
externa
• Absorção e transferência
de conhecimentos
• Liderança e trabalho em
equipe
• Resolução de problemas
• Utilização de dados e
informações técnicas
• Aprimoramento de
processos / produtos e
participação em projetos
Quadro 1.6: Relação entre intento estratégico, competências organizacionais e
competências individuais
Fonte: Adaptado de Dutra (2004) e Fleury e Fleury (2001)
89
Convém lembrar que, para desenvolver as formas de competências referidas deve-se
refletir sobre as questões de aprendizagem individual, em grupo e organizacional,
passando-se, seja, pela visão dos educadores, seja pela visão dos psicólogos, mediante
uma visão behaviorista ou cognitiva do aprendizado, até chegar à visão de autores mais
próximos das organizações, como são os estudos de Senge (1990).
Apesar de ser relevante a discussão sobre essas relações, não se pretende neste tópico
aprofundar ainda mais a discussão sobre este assunto, e, para poder clarificar a
profundidade do que estamos discutindo, trazemos as palavras de Fleury e Fleury
(2001) que ajudam a fechar a discussão inicial.
“Trabalhar o conceito de competência associado à estratégia e à aprendizagem
organizacional, com todo o seu potencial heurístico, implica em uma viagem
pelo Atlântico, procurando o diálogo entre a literatura americana e européia”.
1.5. Estrutura de Competências
Este estudo, cujos pilares assentam-se sobre o entendimento de competência, procura
relatar e demonstrar as competências relacionadas aos contadores do modo como estas
são vistas por eles próprios.
Após o entendimento sobre o conceito de competências e sua relação com as diversas
abordagens e escolas de pensamentos, deve-se explicar o conceito de modelos de
competências. A abordagem mais tradicional é a de que os modelos de competências
representam um conjunto de competências requeridas para um desempenho superior em
determinado cargo, procurando identificar comportamentos requeridos para
desempenhar, com sucesso, uma determinada função, conforme Lucia & Lepsinger
(1999).
Para Dalton (1997), um modelo de competência descreve certos motivos, traços,
habilidades, capacidades, conhecimentos e um conjunto de comportamentos desejados
para determinado cargo ou nível de desempenho.
90
Lucia & Lepsinger (1999) referem, ainda, que os modelos de competências, de uma
forma geral, inclusive os mais conhecidos, como os de Boyatzis (1982) e Spencer e
Spencer (1993), seguem geralmente metodologias que, na essência, produzem o mesmo
resultado: identificação dos comportamentos requeridos para desempenhar com sucesso
determinado papel. As diferenças dão-se do modo como os modelos são obtidos.
Hughes e Billson (1995) lembram que as empresas líderes estão desenvolvendo seus
próprios modelos de competência sem compartilhar-los com seus concorrentes, uma vez
que os consideram um ponto de vantagem competitiva.
Um dos modelos genéricos de competências mais desenvolvidos foi o de Boyatzis
(1982), para quem o organismo humano é um sistema completo, como o são também as
organizações. Estes sistemas não podem, portanto, ser observados de maneira isolada.
Devem-se entender, então, as competências de uma pessoa avaliando todo o contexto
que a cerca.
Figura 1.9: Interações dos Componentes da Performance do Trabalho e Níveis de
Competências
Fonte: Adaptado de Boyatzis (1982:35)
Traços Motivos
Auto-imagem
Papéis sociais
Habilidades
Comportamentos e Ações Específicas Demonstradas
Demanda Funcional e Situação Específica do Trabalho
Ambiente Cultural e Ambiente Organizacional
91
Para Boyatizis (1982), as competências provocam efeitos diretos sobre os
comportamentos manifestos e, ao mesmo tempo, causam algum efeito sobre as próprias
competências. O resultado da ação também pode ocorrer nas demandas funcionais e
situacionais do cargo limitado pela cultura organizacional e ambiente organizacional.
Para o autor, existe uma causalidade entre competência da pessoa e seu comportamento,
mas não se deve entender que a competência valha sozinha para o comportamento
eficaz.
Para Miguel (2002), essa visão de Boyatzis explica o uso de modelos de competências
que examinam seu relacionamento com o desempenho no trabalho.
A construção de modelos de competências para os cargos é discutida de várias formas,
mas podem ser sintetizadas pela visão de Spencer e Spencer (1993) que trabalham com
três métodos básicos:
• método clássico que utiliza funcionários com desempenho superior;
• painel de especialistas com a reunião e discussão sobre o cargo a ser modelado;
• estudos de cargos singulares ou futuros. Este último é o mais complicado, uma
vez que faltam parâmetros para a elaboração do modelo.
Os passos do método clássico são:
92
Passo Descrição
1° Definição de critérios para um desempenho eficaz utilizando-se dados como
lucratividade, métricas de desempenho, avaliações de superiores e de
clientes, entre outros aspectos.
2° Basear-se em exemplos de funcionários com desempenho superior ou outro
tipo de avaliação
3° Coleta de dados por meio de entrevistas sobre aspectos comportamentais,
observação de pessoal, pesquisa de desempenho, etc.
4° Análise dos dados e desenvolvimento de um modelo de competência
contemplando elementos de trabalho a ser desempenhado e características da
pessoa que tem desempenho superior: modelo de competência.
5° Validação do modelo de competência usando entrevistas e testes de
validações.
6° Aplicações do modelo: seleção, treinamento, desenvolvimento, avaliação de
desempenho, etc.
Quadro 1.7: Passos para o Modelo Clássico
Fonte: Adaptado de Spencer e Spencer (1993)
Passos para o painel de especialistas:
Passo Descrição
1° Convocação de especialistas que devem identificar competências
fundamentais e necessárias para um desempenho superior do cargo em
questão.
2° Condução de entrevistas sobre eventos comportamentais eventualmente para
verificação de detalhes.
3° Análise dos dados e desenvolvimento do modelo de competência
4° Validação do modelo de competência
Quadro 1.8: Passos para o Modelo usando Painel de Especialistas
Fonte: Adaptado de Spencer e Spencer (1993)
93
Para executar o estudo de cargos singulares ou futuros tem-se, segundo Spencer e
Spencer (1993), mais dificuldades, dada a inexistência de funcionários com desempenho
superior, para as comparações. Deste modo, o autor deixa três possibilidades a serem
utilizadas, em separado, ou conjuntamente.
Possibilidades Descrição
A
Painel de especialistas
B
Extrapolação de cargos similares
C Exemplos de funcionários que estejam realizando trabalhos
correlacionados
Quadro 1.9: Possibilidades para Estudo de Cargos Singulares ou Futuros
Fonte: Adaptado de Spencer e Spencer (1993)
Analisando outros autores que procuraram desenvolver modelos de competências de
determinadas profissões, percebe-se uma ligação muito forte com os conceitos
colocados por Spencer e Spencer (1993), segundo Boak e Coolican (2001).
Os próprios autores, Boak e Coolican (2001), ao desenvolverem estudo sobre a
identificação de competência de liderança em empresas do Reino Unido de grande porte
desenvolvem alguns passos que estão inspirados no passos colocados por Spencer e
Spencer (1993), como segue abaixo:
• entrevistas com um pequeno número de gerentes executivos;
• dinâmica entre o grupo com os entrevistados para mapear as competências de
consenso;
• validação da competência, utilizando-se de pesquisa exploratória com outros
gerentes executivos.
Outros autores, como Horton (2000) e recentemente Zhong e Kan (2004), utilizam-se
dos passos de Spencer e Spencer (1993) para poderem estudar as competências na área
de gestão ou mesmo na área da administração pública.
94
Percebe-se, desta forma, que a escola McBeer gera grande influência na construção de
modelos de competência.
Analisando-se, assim, as características de cada um dos métodos de construção de
modelos genéricos e a característica deste estudo, é que foi escolhido, para a construção
do modelo de competências do contador, o método do painel de especialista, mediante
pesquisa exploratória.
Esta escolha justifica-se em razão do objetivo de buscar um modelo genérico que possa
explicar as competências do contador de uma forma ampla e não singularmente o
contador de determinada empresa. O alvo é o profissional de contabilidade visto
institucionalmente.
1.5.1. Considerações sobre Uso dos Modelos de Competências
O uso de modelos de competências é considerado por autores, como Boyatizis (1982),
Spencer e Spencer (1993), Horton (2000) e Zhong e Kan (2004), importante, tanto para
as empresas que contratam profissionais, como para a própria profissão na medida em
que podem indicar competências que devem ser trabalhadas tanto pela educação formal
nos currículos escolares, como também mediante programas de treinamentos por conta
de entidades profissionais.
Valendo-se desse pensamento preponderante entre os autores, dimensiona-se a
importância de se poder trabalhar um modelo de competência para os contadores,
modelo esse estruturado em conceitos e pesquisas científicas de modo a poder contribuir
para a própria profissão contábil ao longo dos tempos.
Para que os modelos de competências tenham, porém, a devida utilidade, devem-se ter
alguns cuidados expressos por alguns autores que devem ser levados em consideração
no momento da aplicação desses modelos nas organizações e nas próprias estruturas das
profissões.
95
Blackmore (1999), citado por Miguel (2002), refere que há objeções aos modelos
genéricos. Uma dessas objeções é o pressuposto de que há apenas um tipo de
profissional competente ou eficaz: o modelo genérico. Outro cuidado diz respeito à
dependência da cultura organizacional em que o modelo poderá ser refutado ou poderá
haver interpretações diferentes da competência diante de situações diferentes.
Deve-se também estar atento à questão expressa por Erondu e Sharland (2002) sobre a
necessidade de estimular a participação dos gerentes de área envolvidos diretamente no
processo de implementação dos modelos genéricos, bem como o suporte da direção na
implementação dessas metodologias.
Quando se pensa no uso de modelos genéricos aplicados a empresas, devem-se ponderar
todos os aspectos sistêmicos colocados por Boyatzis (1982) como alinhamentos do
modelo com os objetivos da organização, cultura e valores.
1.5.2. Dimensões das Competências
O modelo de competência, desde sua concepção até a sua aplicação, irá refletir algumas
dimensões, que, neste trabalho, apontamos como as que apareceram com mais ênfase
em torno das discussões sobre competências feitas na primeira parte deste capítulo. São
elas: conhecimento, habilidades e capacidades.
Para exemplificar e dar uma visão mais ampla de cada um dos conceitos a serem
utilizados no entorno do modelo de competência tem-se como referência os estudos de
Green (1999: 34) com o seu modelo KSAO – Knowledge, Skill, Ability, Other:
Conhecimento (Knowledge): A informação específica necessária para desempenhar as tarefas de um trabalho. Este conhecimento é adquirido tipicamente por meio da educação formal, treinamento e experiência no trabalho.
Habilidade (Skill): Proficiência em usar ferramentas e equipamentos no trabalho. Esta habilidade pode ser adquirida em um ambiente educacional ou ser aprendida no trabalho em ambiente informal. Exemplos: dirigir equipamentos pesados e utilizar um processador de textos.
96
Capacidade (Ability): Conceitos como inteligência, orientação espacial, tempo de reação e resistência. Capacidades são sempre medidas por testes que fornecem estimativas, pelas quais o indivíduo tem uma capacidade específica necessária para desempenhar uma tarefa do trabalho.
Outras (Other): Características adicionais necessárias para fazer bem um trabalho. Esta categoria inclui performance da habilidade, atitudes, personalidade e outras características pessoais requeridas pelo funcionário. Exemplo: criatividade e capacidade em enfrentar problemas.
Apesar da rejeição, por parte de Green (1999), da escola McBer, em razão da exclusão
da capacidade cognitiva na sua definição, o detalhamento dessa capacidade traz clareza,
em razão de certos conceitos a serem trabalhados neste estudo.
Conhecimentos
Entende-se como conhecimento o conjunto de fatos, informações, princípios e conceitos
importantes para resolver pontos, questões e problemas relacionados ao trabalho.
Tem-se, portanto, como conhecimento aquilo que é apreendido mediante a educação
formal, treinamento ou experiência que pode ser aplicado ao trabalho. Deve-se, pois,
separar bem o que é conhecimento especializado do conhecimento comum, o que é
discutido em detalhes por Boyatzis (1982).
Não se deve esquecer que, tendo a competência de conhecimento, potencializam-se
competências como pensamento crítico, lembrando-se sempre que essa competência diz
apenas o que a pessoa pode fazer e não o que ela fará.
Habilidades
Apesar das grandes discussões e a falta de consenso sobre o estudo do termo habilidade,
iremos focar neste trabalho as explanações dos autores relacionados à área da psicologia
e dos recursos humanos.
Para Spencer e Spencer (1993), habilidade é capacidade de desempenhar uma tarefa
física ou mental. Esta definição alinha-se à visão expressa por Green (1999).
97
A habilidade para Spencer e Spencer (1993) revela, por exemplo, a capacidade de
operar determinado maquinário (habilidade física); reconhecer os dados de um relatório
e avaliar possíveis falhas (pensamento analítico); elaborar um plano de investimento
baseado em dados complexos (pensamento conceitual).
Outra questão importante é a necessidade de se distinguirem habilidades de tarefas que
são lembradas por Boyatzis (1982). Para o autor há determinadas funções que requerem
múltiplas tarefas a fim de se realizar um trabalho eficaz, e a estruturação destas tarefas é
uma habilidade mental do profissional.
Para Miguel (2002), as informações sobre habilidades são de extrema importância, pois
esta capacidade determina as similaridades e diferenças entre cargos, estabelece
agrupamentos de cargos, identifica capacidades transferíveis, entre outras.
Capacidades
A tradução do termo ability está mais relacionada com os termos aptidão, capacidade e
talento. Apesar de algumas discussões sobre as diferenças entre aptidão e capacidade,
entende-se que capacidades sejam atributos duradouros de uma pessoa as quais
influenciam o desempenho no trabalho e são classificados como cognitivos,
psicomotores, físicos e sensoriais na visão do O´Net (2001).
Furnham (1992) classifica algumas capacidades em cognitivas e não cognitivas como
seguem:
Cognitivas: leitura; numérica; uso da linguagem; espacial; mecânica; científica;
etc.
Não Cognitivas: Destreza manual; liderança, organização, etc.
Boyatzis (1982) nomeia as capacidades como físicas ou mentais, lembrando que estas
estão correlacionadas com o desempenho no trabalho.
98
Outras
As demais características estão relacionadas a atitudes, traços e personalidades do
profissional que se relacionam com o seu desempenho.
Para Brunner e Zeltner (2000), traço é uma característica da personalidade, atributo ou
tendência comportamental que pode variar ao longo de uma dimensão. Personalidade
para os autores é a totalidade peculiar de características de uma pessoa, expressas em
seu comportamento e vivência.
Já crenças, atitudes e valores são, segundo Miguel (2002), conceitos distintos e
representam um sistema cognitivo funcionalmente integrado, de maneira que qualquer
mudança em uma destas partes implica mudanças nas outras, alterando o
comportamento do indivíduo.
1.6. Considerações sobre o Capítulo
Este capítulo tratou da revisão bibliográfica sobre competências. Foram cobertos os
principais pontos sobre conceitos e metodologias para elaboração de estruturas de
competências para cargos.
Na parte conceitual percebeu-se que a matéria ainda está em desenvolvimento, bem
como existem diferentes escolas com diferentes abordagens sobre o assunto. Cada um
busca próprio rumo com poucos avanços nos estudos interdisciplinares, o que deve estar
mudando a partir dessa última década.
A bibliografia revisada sobre competências e também a questão das estruturas ou
modelos de competências para cargos ou profissões demonstra que se deve contemplar
nessa estrutura pelo menos as seguintes dimensões: conhecimentos, habilidades,
capacidades e outras características, como atitudes, traços e personalidades do
profissional, as quais se relacionam com o seu desempenho.
99
Para definição dessas competências no âmbito de uma profissão não se podem
desconsiderar as questões de demanda, pelas quais procura-se entender quais as
principais tensões pelas quais uma determinada profissão ou cargo passa nos dias atuais,
e que atributos devem ser requeridos ao profissional daquela área, além do
entendimento de competência como uma entrega da pessoa para a organização.
Não se deve entender, portanto, a estrutura para um determinado cargo ou profissão
como algo único, mas, sim, como algo vivo que deve ser modificado e adaptado a cada
realidade de forma consciente. Também é importante referir que as organizações
inseridas em ambientes altamente competitivos procurarão desenvolver seus próprios
modelos para cargos de direção como um diferencial.
Dadas as características do assunto, é importante expressar que o desenvolvimento de
estruturas ou modelos para cargos e profissões não deixe de lado o foco multidisciplinar
que envolve o assunto competências, mas, sim, ajude a ampliar o conhecimento.
CAPÍTULO II
FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA: COMPETÊNCIA DO CONTADOR
O objetivo deste capítulo é identificar as competências julgadas essenciais ao
desempenho do contador. Para atingir este objetivo foi realizada uma apresentação da
evolução da profissão de contador no mundo e no Brasil, bem como, foi feita a análise e
apresentação dos estudos existentes sobre competências do contador.
100
Ao final do capítulo, é desenvolvido o dicionário de competências do contador aplicável
ao cargo e às hipóteses desta pesquisa considerando-se os preceitos de Spencer e
Spencer (1993).
2. AS COMPETÊNCIAS DO CONTADOR
2.1.O Desenvolvimento da Profissão
A evolução da profissão de contador nas organizações está relacionada com o próprio
desenvolvimento dos negócios saindo de uma visão operacional e de controle, segundo
Kester (1928) e indo, em um primeiro estágio, para uma visão mais gerencial e pró-
ativa, exigindo outras habilidades do profissional relatadas por Bower (1957), Heckert e
Willson (1963) e, mais tarde, Henning e Moseley (1970).
O desenvolvimento da profissão contábil passa por várias fases de desenvolvimento
próprios da profissão, indo desde a sua formação até o início da organização formal da
profissão com os primeiros órgãos de classe representantes dos contadores. Passa-se do
termo prático para o de contador.
A partir do uso do termo contador, os profissionais que militavam na área, segundo
Edward (1968), começam a interessar-se por organizar a profissão tendo como
desbravadores os contadores da Escócia que, ao se juntarem, conseguem da Rainha, em
1854, a aprovação da associação que iria regular a profissão naquele país, a chamada
Society of Accountants.
Os ingleses discutiam, desde 1970, a necessidade de fundar uma associação, o que
conseguiram em 1880, criando o Institute of Chartered Accountants. Os americanos
procuram regular a profissão um pouco mais tarde, em 1887, com a American of Public
Accountants, que depois, em 1916, foi chamado pelo nome como o conhecemos hoje
American Institute of Certified Public Accountants.
No Brasil, mesmo antes de serem organizadas as primeiras escolas técnicas, já se
praticava a contabilidade por meio da figura do então guarda-livros, profissional este
101
definido no Código Comercial de 1850 e que, segundo D´Áuria (1949), era o elemento
que cuidava de registrar as transações dos estabelecimentos comerciais da época.
No Brasil somente em 1946, mediante o decreto 9.295/46, é criado o Conselho Federal
de Contabilidade no Brasil que também define as atribuições dos contadores, dos
técnicos e guarda-livros, o que provoca, a partir deste momento, um razoável
desenvolvimento da profissão no Brasil.
Uma característica importante no contexto nacional é o contador aqui não recebeu pela
sociedade a diferenciação de uma especialidade como acontece com outras profissões
como médico, advogado, entre outros. Portanto, neste trabalho trabalha com o contexto
de contador no seu todo sem considerar na formatação do trabalho as suas
especialidades.
Também é importante frisar que no Brasil o auditor não é uma profissão segregada
como acontece em alguns países. O que também reforço as colocações do parágrafo
anterior sobre especialidades do contador.
Com a chegada do século XX, temos mudança nas finalidades da informação contábil,
dando maior ênfase para a contabilidade financeira, buscando o atendimento aos
usuários externos impulsionados fortemente por turbulências ocorridas na Bolsa de
Nova York.
Kaplan e Johnson (1993) referem que nesse momento a contabilidade tida como
gerencial vinha desempenhando um papel importante no processo de acompanhamento
dos negócios empresariais da época, seja para atender o empresário antes do início do
XIX, ou depois da Revolução Industrial, com o advento da economia de escala para os
grandes conglomerados da época, começando a perder espaço com o início dos anos
1900, onde o enfoque a ser dado refere-se ao reporte de informações externas, dada a
maior regulação das práticas contábeis.
102
Este fato começa a surtir efeito na profissão com a criação do Institute of Management
Accountants, em 1919, fruto de discórdia de alguns contadores sobre os
pronunciamentos emitidos pelo American Institute of Accountants sobre a não alocação
no custo indireto de despesas de vendas e administrativas.
2.2.Uma Breve Apresentação da Evolução da Contabilidade
Antes de realizar uma discussão sobre as competências do contador será apresentada
uma breve descrição da evolução da contabilidade ao longo dos tempos. A importância
de conhecer o passado para melhor compreender os fatos atuais é evidenciada nesta fala
de McKinsey (1925): “Para compreender claramente as atuais tendências das práticas
contábeis é necessário entender como a contabilidade desenvolveu-se no passado para
enxergar como a profissão alcançou seu estágio atual. As tendências presentes são
influenciadas por circunstâncias que tiveram origem há muitos anos”.
As origens do uso da informação contábil gerencial parecem remontar à segunda metade
do século XIX na visão de Johnson e Kaplan (1996), com evolução significativa no
início do século XX, externando-se durante o decorrer do século que recentemente
findou. Essa evolução foi decorrente da necessidade de os sistemas de informações
acompanharem e se adaptarem às transformações sucessivas ocorridas na competição
empresarial.
A primeira especialização do contador em contador de custos e daí em contador
administrativo ocorreu na metade do século XIX, quando foi necessário acompanhar os
custos de estoques, da alocação de mão-de-obra e da utilização de máquinas e
equipamentos industriais na formação do produto. A ênfase desta etapa era dada aos
componentes dos custos de produção e, consequentemente, à formação de preços de
vendas.
103
Em decorrência desta conduta, alguns mecanismos de aferição do desempenho de
sucesso das empresas foram desenvolvidos em grandes organizações que, ultrapassando
o limiar do século XX, vieram a se transformar em grandes conglomerados industriais.
Os sistemas de controle eram desenvolvidos para aferir a alocação eficiente do capital
financeiro e físico. O período que se seguiu à segunda guerra mundial representou
grande desenvolvimento nos países vitoriosos e ensejou pesquisas a fim de maximizar a
produção e minimizar os custos.
O grande impacto no uso da informação contábil para fins externos acontece com a crise
de 1929, quando, após a grande guerra, ocorre um crescimento forte dos negócios com
necessidade de capital muito forte. Esse fato reflete-se na Bolsa de Valores de Nova
York com as determinações feitas por várias autoridades, objetivando maior rigor e
padronização da informação contábil divulgada ao mercado e em 1934 com a criação da
SEC – Securities and Exchange Commission.
O fato referido é, sem dúvida, um grande marco no desenvolvimento da contabilidade,
uma vez que os enfoques gerenciais e de reporte externo começam a ser separados com
maior clareza para fins de estudos e prática profissional influenciando também a
formação do próprio contador.
O grande impulso dado, provavelmente, às finanças empresariais e, por decorrência, à
contabilidade administrativa, foi proporcionado pela aceitação de conceitos
macroeconômicos agregados de taxa de retorno adicional e de custo adicional de
capital.
O processo de comparação entre taxas previstas e aquelas obtidas parece ter dado início
à atividade de planejamento operacional cujo desenvolvimento importante deu-se a
partir da década de 1950. Esse processo incipiente deve ter determinado outro, bem
104
mais desenvolvido, em que se tornavam necessárias definições estratégicas amplas que
permitiam a obtenção de resultados operacionais desejados.
O advento da era da informação, no último quarto de século XX modificou a visão
gerencial forçando a revisão de premissas fundamentais até então usadas e que
atendiam, com mais relevância, as atividades industriais sustentando suas vantagens
competitivas baseadas na maior ou menor rapidez com que as alocações de novas
tecnologias eram incorporadas aos ativos físicos.
O impacto da era da informação parece ter sido muito mais significativo para as
empresas de serviços. A prestação de serviços, durante muito tempo, ocorreu em
ambiente pouco competitivo. A capacidade, entretanto, de melhor explorar os ativos
intangíveis ou invisíveis tornou-se muito mais decisiva para melhor mobilizar as
habilidades e a motivação dos funcionários, para melhor aproveitar o conhecimento
acumulado, propiciando melhoria contínua de processos, de qualidade e dos tempos de
resposta.
2.3.A Função do Contador nas Empresas
Valendo-se do interesse de se entender os impactos da evolução da contabilidade na
profissão de contador, alguns pesquisadores passaram a estudar a questão da função do
contador e a evolução dessa função.
No caso da área de contabilidade, os estudos sobre competências confundem-se um
pouco com as funções e atividades do profissional. Deste modo, iremos destacar
inicialmente as funções dos contadores para depois discutir, em tópico específico, os
estudos sobre competências.
2.3.1. A Função do Contador: Estudos Internacionais
105
Um dos estudos iniciais, após os anos 1900, que fornece uma visão geral sobre a
posição do contador, é feito pelo professor R. Kester (1928) da Columbia University
publicado na The Accounting Review, no qual é destacada a função do contador.
As explanações de Kester (1928) esclarecem que as funções básicas do contador se
resumem à escrituração contábil e à apuração de custos. Ao longo do texto, o autor
apresenta uma lista de atribuições do contador da época, o qual iremos destacar a seguir:
• controle dos livros contábeis
• apuração de impostos
• apuração dos custos de produção
• inventários
• posição de tesouraria
• previsões de custos
• apuração dos orçamentos e projeções
• checagem dos pagamentos e recebimentos da contas
• reportar relatórios externos
Pelo detalhamento das atribuições citadas, percebe-se que a função de contador até
aquele momento, 1920, estava focada em aspectos operacionais como a escrituração
contábil, mas também, como relatado por Kaplan e Johnson (1993), em questões
gerenciais internas como orçamento, custo de produtos e projeções contábeis.
Um pouco mais tarde, os professores Wixon, Kell e Bedford (1943) escrevem o
Accountants´ Handbook e englobam uma série de funções dos contadores da época,
conforme vai descrito a seguir:
• reportes financeiros
• controle da contabilidade financeira
• planejamento e apuração de impostos
• apuração de auditoria interna e externa
• gerenciamento no sistema de informação
• custos e controles gerenciais
106
• montagem e controle orçamentário.
O levantamento de Husband (1947) engloba nas funções do contador o domínio da
legislação comercial e aspectos relacionados com publicações de informações para
investidores externos. Este fato vai ao encontro das informações de muitos autores sobre
os impactos da crise de 1929, na profissão do contador.
Juntamente com essa consideração sobre o domínio da legislação comercial e o
relacionamento com relatórios externos e a gestão dos impostos, tem-se o estudo de
Carey (1951). A questão dos relatórios externos também é constatada com grande
ênfase nos estudos de Bower (1957).
Outra constatação interessante é feita por Murphy (1958) ao comparar a função do
contador em diversos países, resultando diversas semelhanças com destaque para o
reporte de relatórios financeiros, custos e planejamento e apuração de impostos.
Campfield (1963), ao comparar as funções dos contadores nos anos 60, detecta a forte
influência dos efeitos pós-guerra e da queda da Bolsa de Valores, dando ênfase
excessiva às funções dos contadores em gerar relatórios externos de acordo com os
princípios contábeis da época, e à ampliação da função de auditoria.
Para fechar o desenvolvimento da função do contador dos anos 20 até 60, cite-se o
estudo de Melcher (1965) em que se discute a existência de uma defasagem entre o
desenvolvimento das funções práticas do contador e os aspectos debatidos por muitos
teóricos sobre aquilo que o contador deveria fazer.
A questão da defasagem entre a visão teórica da função de contador e os resultados dos
estudos feitos por Melcher (1965) é o grande motivador para o autor enumerar entre as
funções do contador o auxílio ao processo decisório. Esta situação não aparece até
aquele momento de forma incisiva nos textos científicos.
A partir deste ponto, será abordada a função do contador, considerando-se os relatos
encontrados nos estudos internacionais dos anos 70 a 90.
107
Como fonte inicial, aponta-se o estudo empírico com 25 empresas americanas feito por
Henning e Moseley (1970) os quais procuraram investigar as funções e habilidades
requeridas para o profissional contador, conforme enumeradas a seguir:
• relatórios para o governo
• auditoria interna
• sistemas contábeis
• avaliação econômica
• adequação dos seguros
• controle interno
• orçamento de longo prazo
• orçamento de curto prazo
• reportes contábeis externos.
No texto de Henning e Moseley (1970) é possível captar a ênfase dada à geração de
informação para o processo decisório, incluindo-se a discussão sobre sistemas
contábeis, fruto, segundo os autores citados, do início do processamento de dados.
Nas décadas de 80 e 90, ocorre uma discussão sobre a necessidade estratégica da
contabilidade e o papel mais proativo do profissional, aliado às mudanças estruturais na
forma de trabalho, dando ênfase ao trabalho em equipes e à visão sistêmica. Surgem
estudos como os de Hardern (1995) e Laurie (1995) que destacam como função do
contador um reporte mais qualitativo das informações contábeis indo além na
mensuração numérica e da percepção em relatórios financeiros.
.
Com uma abordagem mais ampla, há o estudo do IFAC – International Federation of
Accountants que lista as habilidades e funções do contador publicado por Needles,
Cascini, Krylova e Moustafa (2001), segregando as funções básicas do contador nestes
grandes grupos:
• reportes financeiros
• reportes gerenciais
• apuração e planejamento de impostos
108
• legislação comercial e de negócios
• finanças e gerenciamento financeiro
• gestão de negócios.
As mudanças em relação às funções de contador ocorrem com a incorporação de fortes
conhecimentos de finanças e a preocupação com a ética notada claramente no estudo da
IFAC, mas também no artigo de Sakagami, Yoshimi e Okano (1999) no qual é relatado
o estágio atual de desenvolvimento do contador japonês.
Mais recentemente tem-se os estudos de Moramed e Lashine (2003) que expressam, na
essência, os mesmos aspectos discutidos pela IFAC, dando ênfase, todavia, aos aspectos
éticos no dia-a-dia do contador.
Holtzman (2004), em seu estudo específico sobre as mudanças possíveis da função de
contador nos Estados Unidos, após os escândalos contábeis recentes, discute a
necessidade de retomar a função de controle interno e relacionamentos com
investidores.
Pode-se concluir que a evolução da função de contador nas organizações está
relacionada com o próprio desenvolvimento dos negócios saindo de uma visão
operacional e fiscalizadora conforme Kester (1928) indo, em um primeiro estágio, para
uma preocupação maior com os relatórios externos e o uso dos princípios e padrões
contábeis referido por Carey (1951), Bower (1957) e por Murphy (1958). Nos anos 80 e
90 há preocupação com a função de reportes gerenciais qualitativos, atrelado à mudança
no próprio perfil da forma de trabalho do contador descrito por Hardern (1995) e Laurie
(1995).
A consolidação desses conceitos e suas implicações na profissão podem ser percebidas
nos estudos de Sakagami, Yoshimi e Okano (1999), no caso japonês, e depois no estudo
do IFAC, citado em vários trabalhos como os de Needles, Cascini, Krylova e Moustafa
(2001).
109
Por final, tem-se, após os escândalos contábeis, previsões de mudança na profissão do
contador quanto à ênfase nos controles internos, governança e questões de integridade e
confiança apontados por Moramed e Lashine (2003) e Holtzman (2004).
2.3.2. A Função do Contador: Estudos Nacionais
Ao estudar a evolução da função do contador no Brasil, percebe-se a forte influência da
questão tributária na formação deste profissional. Em muitos casos a os próprios
usuários confundem o papel deste profissional.
Para Gomes (1979), a função do contador não deve se resumir à escrituração contábil e
ao levantamento de balancetes como havia acontecido até aquele momento. A profissão
que era lembrada no Código Comercial de 1850, como guarda livros, e, em 1946, como
contador com o Decreto 9.295 criando o CFC e definindo atribuições do contador,
técnico e do guarda livro.
Apesar do forte impacto na profissão deste decreto, por ser a primeira regulação
específica para os contadores, também gera alguns problemas destacados por Gomes
(1979) como a perda de muito jovens talentosos, por existir a equiparação do prático ao
profissional formado.
A inserção na década de 60 de um grande número de acontecimentos regulatórios, como
a Lei orçamentária (Lei 4.320), a Lei da reforma bancária (Lei 4.595/64), a Lei do
mercado de capitais (Lei 4.728/65) e a Reforma administrativa (Decreto-lei 200/67)
determinou um maior controle e a necessidade de mudanças contábeis, gerando em
conseqüência, maiores exigências para os contadores.
O estabelecimento da auditoria como prerrogativa exclusiva do contador ocorre nesta
época, e, somente a partir 1972, com as circulares 178 e 179 do Banco Central do
Brasil, dá-se a padronização de normas e princípios de contabilidade para os
110
demonstrativos financeiros das empresas de capital aberto, com a exigência de
certificação por auditores independentes.
Em dezembro de 1976, registra-se o marco do processo de consolidação da profissão
contábil no Brasil, segundo Gomes (1979), mediante a criação da CVM – Comissão de
Valores Mobiliários, substituindo o Banco Central em questões contábeis e de mercado
de capitais, e aprovação da Lei 6.404/76.
A apresentação de todos estes marcos legais que ocorrem no Brasil pretende ajudar a
entender um pouco mais a evolução da função do contador que vai expressa nos estudos
apresentados a seguir.
Relatando a preocupação com as funções exercidas pelo contador nas empresas, Franco
(1980) explica que o contador não tem como única função o atendimento a obrigações
fiscais, mas cabe-lhe informar a administração sobre o andamento dos negócios. O autor
coloca que a visão de que o contador como principal função atender as obrigações
tributárias tem sua origem tanto na formação inadequada dos contadores, como na
grande exigência do fisco e da contabilidade societária, bem como, o fato ocorre pela
falta de cultura do uso da informação contábil pelos usuários.
Um pouco mais à frente e analisando a função do contador por um outro enfoque, Luz
(1989) faz uma análise do impacto da microeletrônica na profissão do contador,
demonstrando que as funções de escrituração contábil e arquivo começam a ser
reduzidas para dar lugar, com maior ênfase, à análise contábil e à melhoria de controles
contábeis e financeiros.
Um pouco mais tarde, a discussão sobre a função do contador no trato da informação
contábil começa a tomar corpo com alguns relatos, como os de Martins (1993), ao expor
que a função do contador não é somente escriturar contabilidade e, sim, informar. Neste
momento, começa a aparecer com maior ênfase aquilo que conceitualmente era muito
discutido, mas que, no Brasil, ainda não era a prática entre os contadores: a informação
para tomada de decisão.
111
Este aspecto da informação para tomada de decisão começa a resgatar a função de
análise orçamentária, custos, preços, entre outros pontos que, pelos relatos da
bibliografia consultada estavam esquecidos ou eram pouco utilizados no dia-a-dia dos
contadores brasileiros.
Nakagawa (1997) elege como função fundamental do contador e da própria
contabilidade a prestação de contas.
Um estudo empírico de Geruza Cei e Bosco Filho (1997), mediante uma amostra de
contadores, demonstra as principais funções:
• elaborar demonstrações contábeis
• fazer auditoria
• escrituração contábil
• escrituração fiscal
• controle e execução de planejamento
• auxílio no sistema de informações e controles.
Segundo dados da pesquisa dos autores referidos, a ênfase encontrada ainda está na
escrituração contábil, fiscal e na elaboração das demonstrações contábeis. Este fato
condiz com o que outros autores expressam sobre o forte dom do contador brasileiro
para executar tarefas. A novidade neste estudo é o aparecimento da função de análise
dos sistemas de informações, fruto provável do desenvolvimento desta área nas
organizações.
Outra pesquisa utilizando dados de anúncios de jornais feita por Siqueira e Soltelinho
(2001) põe em destaque as solicitações da função:
• execução de planejamento e controle
• elaboração de relatórios econômicos e financeiros e a respectiva interpretação
• administração tributária
• elaboração de relatórios para o governo
• proteção de ativos
112
• avaliação econômica.
Seguindo o mesmo formato do estudo de Siqueira e Soltelinho (2001), o artigo Calijuri
(2004) realiza um levantamento sobre o perfil requerido da função controller/contador:
• controle de custos
• elaboração de relatórios contábeis
• elaboração de relatórios gerenciais
• planejamento tributário
• sistemas gerenciais
• elaboração de orçamentos
• estudos de viabilidade de investimentos
• participação em restruturação societária
• atendimentos de órgãos governamentais, bancos, fornecedores e clientes
• auditoria interna.
Para outros autores, todavia, como Marion e Muller (2002), a função do contador no
processo decisório é muito tímida e ainda carece de muita evolução, pois fica centrada
nas questões fiscais.
Tal posição sobre a função do contador feita por Marion e Muller (2002) é
compartilhada com Cano (2002) o qual afirma que mais de 80% dos contadores no
Brasil se dedicam tão somente à contabilidade financeira ou externa. Segundo o autor, é
até natural que uma grande parte dos administradores acabe por vê-los quase como
agentes do fisco.
Iudícibus e Lopes (2002) expõem que a influência da legislação tributária é perniciosa
para o uso da informação contábil e para contadores.
Percebe-se, ao longo do processo de revisão dos textos nacionais, que, no caso da
função do contador brasileiro, a questão central é a ênfase dada à execução da
contabilidade financeira e à apuração de impostos, o que não ocorre com tanta
constância nos textos internacionais. Uma possível explicação para essa diferença pode
113
passar por questões culturais, estrutura tributária e a pela própria formação do
profissional no Brasil.
2.4.Os Estudos sobre Competência do Contador
2.4.1. A Visão de Autores Internacionais e Nacionais
As alterações recentes no mundo dos negócios têm, sem dúvida, atingindo o contador
modificando-o e dele exigindo, cada vez mais, determinadas competências.
As chamadas competências de um profissional são estudadas, como foi visto no
primeiro capítulo, inicialmente na área da psicologia, com os artigos de McClelland
(1973) e, mais tarde, com Boyatzis (1982) e depois com Spencer & Spencer (1993).
Este último elaborou o chamado dicionário de competências de diversas profissões.
Baseando-se nesses estudos, pesquisadores de campos específicos do conhecimento,
passaram a valer-se dessa base teórica para desenvolver pesquisas aplicadas sobre
competências em determinadas profissões com destaque para os médicos, com Epstein
& Hundert (2002), gerentes de negócios, com Erondu & Sharland (2002) e
compradores, com Giunipero e Pearcy (2000).
No caso da área de contabilidade, os estudos sobre competências confundem-se um
pouco com as funções e as atividades do profissional e, até o início do ano 2000, não
identificamos estudos que realizam testes de dados empíricos vinculados a conceitos
teóricos sobre competências.
No âmbito internacional, um dos estudos iniciais é de Kester (1928) que ressalta a
necessidade de habilidades técnicas sobre contabilidade financeira, particularmente os
aspectos dos princípios contábeis que estavam em início de discussão, além das
ferramentas de controle como custos e acompanhamento de gastos.
114
Além dos pontos levantados no parágrafo anterior, Kester (1928) refere que o contador
deve desempenhar certa liderança e ter bastante habilidade na parte de impostos e de
direto comercial para o trato com os acionistas.
É importante notar que, apesar da época em que o estudo de Kester foi desenvolvido,
percebe-se uma preocupação inicial do autor em discutir questões comportamentais
como a liderança do contador.
Wixon, Kell e Bedford (1943) destacam estas questões técnicas: planejamento, controle
orçamentário, contabilidade financeira e mensuração que consideram vitais para o
contador. Destacam, ainda, aspectos do comportamento do contador como capacidade
de comunicação e negociação, bem como o autocontrole, a integridade ética e o
raciocínio analítico.
No estudo que Bower (1957) desenvolve sobre a profissão contábil, discute o fato de
que o contador deve reunir, além de conhecimentos técnicos, habilidades e
conhecimentos sobre a capacidade de comunicação, relacionamento e integridade
profissional. O estudo de Murphy (1958), na mesma época, ressalta questões técnicas e
a habilidade de comunicação ao comparar a profissão do contador com a dos
advogados.
Para Campfield (1963), em seu estudo sobre o comportamento do contador, fem face
das mudanças da contabilidade gerencial, fica clara a necessidade de trabalhar as
competências do contador sobre visão de longo prazo, controle orçamentário, custos,
bem como a necessidade de uma visão estratégica.
Nesta época, o debate sobre os conhecimentos e habilidades requeridos pelo contador
estava no auge nos Estados Unidos, com o artigo Kublin (1965) que escreve um artigo
na The Accounting Review, levantando a questão da necessidade de uma formação
específica em contabilidade no nível superior para poder acompanhar os anseios da
sociedade sobre a formação de um contador. Seguindo na mesma linha de crítica à
formação do contador, tem-se o estudo de Green e Steadman (1995).
115
Na seqüência desta discussão, tem-se o primeiro estudo empírico identificado nesta
revisão bibliográfica sobre as habilidades técnicas requeridas ao contador, feito com 25
empresas americanas por Henning e Moseley (1970), cujos resultados foram:
entendimento dos aspectos legais, planejamento e controle, custos, reporte de relatórios
contábeis e atendimento a usuários externos.
Mais recentemente, os estudos sobre competências na área contábil enfocam a relação
das mudanças nos negócios e os impactos na profissão com destaque para os estudos de
Hardern (1995) que verifica as dificuldades da definição de competência para a
profissão contábil da Inglaterra. Este estudo também foi o primeiro a trabalhar, com
embasamento teórico, da área da psicologia utilizando-se o texto de Boyatzis (1982)
como referência.
Para este autor, dada a forte mudança na forma de trabalho das pessoas ocorrida nos
anos 90, e o impacto da informatização das organizações, a profissão de contador requer
formação completa e não pode restringir-se à área técnica, mas deve trabalhar a área
comportamental e ética.
Harden (1995) não define diretamente quais as competências requeridas para o
contador, mas fornece indicativos de competências, com destaque para a capacidade de
comunicação, atendimento, negociação e iniciativa, além das competências técnicas.
Alguns outros estudos como os de Laurie (1995) e Medley (1996) já começam a relatar
a necessidade de conhecimentos em sistemas de informações e processamento de dados
com maior ênfase.
Morgan (1997) pesquisou, entre educadores e profissionais da área contábil na
Inglaterra a importância da habilidade de comunicação na profissão e na educação do
contador encontrando relatos especialmente sobre aspectos como: capacidade em
escrever memorandos, relatórios internos e externos, realizar apresentações, capacidade
de se comunicar com várias pessoas e capacidade de ouvir e de se fazer entender.
116
É interessante trazer que, ao longo das discussões semi-estruturadas sobre quais as
competências requeridas aos contadores internacionalmente, tem-se momentos de
grande apelo para as questões da formação deste contador e até mesmo discussões sobre
como os órgãos de classe estão reagindo a essas demandas em seus exames de
certificação como o americano CPA – Certified Public Accountants. Os estudos de
Rigsby e Siegel (1998) e Liao, Shafer e Park (2001) relatam a questão dos efeitos da
evolução da profissão nos exames de certificação dos órgãos da classe contábil nos
Estados Unidos, e Doost (1999) discute os impactos dessa evolução na educação.
A mudança em relação às competências do contador, com o passar dos tempos, pode ser
notada nos estudos de Sakagami, Yoshimi e Okano (1999), relatando o estágio de
desenvolvimento do contador japonês com destaque para as competências sobre
técnicas de gestão e gestão da informação.
Outras discussões semi-estruturadas de competências podem ser analisadas em
Esselstein (2001) nos quais são elencadas algumas competências técnicas, de
organização, de comunicação e de tecnologia, como: visão global, técnicas de gestão,
gestão da informação, saber ouvir e saber se comunicar, liderança, visão do cliente e
aspectos éticos.
O estudo de Needles, Cascini, Krylova e Moustafa (2001), baseado em diretrizes do
IFAC – International Federation of Accountants lista as habilidades profissionais
requeridas para o contador, segregando as competências em 04 (quatro) grandes grupos:
conhecimentos, habilidades, valores profissionais e flexibilidade.
O referido estudo preocupa-se em clarificar como as diretrizes do IFAC poderiam ser
agregadas em competências para contadores. Apesar de o artigo não efetuar nenhum
tipo de avaliação empírica, ou mesmo utilizar conceitos teóricos mais sólidos trazidos
da psicologia, pode-se concluir que este estudo contribui efetivamente para a discussão
estruturada sobre competências do contador.
117
Procurando discutir as competências para um profissional internacionalizado na área
contábil, Moramed e Lashine (2003) estabelecem, como prioridade a ser trabalhada,
estas capacidades: habilidade de comunicação, domínio da computação, raciocínio
analítico, visão global, liderança e pensamento crítico, além de habilidades técnicas
como: contabilidade, custos, orçamento e técnicas de controle.
Preocupado com os atributos e não somente com as competências do profissional de
auditoria Abdolmohammadi, Searson e Shanteau (2004) apresentam uma grande lista de
pré-requisitos para ser auditor, como ter experiência profissional no setor a ser auditado
entre outras capacitações. Os autores também apresentam algumas competências para
esse profissional com destaque para a capacidade de comunicação, atendimento,
conhecimento quantitativo, integridade e confiança, e também conhecimentos técnicos.
As competências requeridas aos contadores é algo dinâmico e sofre forte influência de
mudanças nos negócios, como aconteceu em relação à competência em processamento
de dados posta de forma incisiva nos últimos estudos após o ano 1995. Tal situação
ocorre igualmente em outros tempos relativamente às competências em visão estratégica
e liderança.
Nos últimos estudos é possível perceber uma preocupação em tentar entender o impacto
efetivo dos escândalos contábeis a respeito das competências dos contadores com
destaque para os estudos de Abdolmohammadi, Searson e Shanteau (2004) e, em
especial, o estudo de Hotltzman (2004), cujo foco é a integridade e a confiança nos
contadores.
No Brasil, segundo o levantamento bibliográfico feito neste estudo constata-se uma
maior carência de pesquisas sobre competências do contador, seja de forma estruturada
ou semi-estruturada, comparativamente aos estudos internacionais.
Tem-se os estudos feitos por Franco (1980) nos quais se pode notar o primeiro alerta
para a necessidade de o contador melhorar sua capacidade de comunicação e a visão dos
negócios. Já Luz (1989) alerta para a questão das habilidades com a informática.
118
Nos anos 90, cita-se o estudo de Riccio e Peters (1993) sobre os novos paradigmas da
controladoria e do controller alertando para a necessidade comunicação, liderança,
visão estratégica, gestão da informação e técnicas de gerenciamento.
Martins (1993) alerta sobre a capacidade de comunicação, integridade e a formação
técnica do futuro profissional contador. Em grande parte, estes aspectos são
confirmados por Nakagawa (1997).
Mais tarde, Holland (2000) aponta os principais enfoques dados órgãos internacionais
sobre necessidades do profissional de contabilidade, sendo sua síntese importante para
disseminar tais questionamento no Brasil.
Brundo, Macke e Ghedine (2004) realizam um estudo exploratório sobre quais as
funções e algumas competências próprias dos profissionais que trabalham em empresas
de serviços contábeis de Porto Alegre. Este estudo identifica como questões
preponderantes: liderança, foco no cliente, habilidade com informática, conhecimento
de contabilidade, legislação e comunicação.
Analisando questões sobre o perfil do contador, Calijuri (2004) levanta aspectos como
liderança, iniciativa, comunicação, raciocínio quantitativo, finanças e relacionamento
externo. Além disso, fala em competências técnicas como a contabilidade, planejamento
tributário, custos, planejamento e preços.
Por final, tem-se os estudos de Cornachione e Trombetta (2005) que enfocam a
percepção dos alunos de contabilidade sobre a habilidade de comunicação e o estudo de
Cheibub e Miranda (2005) sobre a formação do contador mediante análise curricular
fazendo referência a estudos sobre competências.
Com base nestes relatos, compreende-se que no Brasil, dada a carência deste tipo de
estudo, não é possível identificar com acerto os eventos que provocaram as mudanças
nas competências requeridas para o contador.
2.4.2. A Visão dos Órgãos Reguladores e Institucionais
119
Um dos primeiros estudos referendados por órgãos reguladores, os quais apresentam a
visão dos requisitos necessários para o exercício com sucesso da profissão de contador,
foi feito por Roy e MacNeil (1967) aceito em 1969 pelo AICPA – American Institute of
Certified Public Accountants. O estudo, que não trata especificamente de competências
dos contadores, fornece, entretanto, diretrizes para um profissional de sucesso.
Após este feito do regulador da profissão de contador, os sócios das 8 (oito) maiores
firmas de auditoria do mundo se reúnem e emitem pode meio de Kullberg e Gladstone
(1989) o relatório com o título “Perspective on Education: Capabilities for Sucess in the
Accounting Profession”. Neste relatório, já é possível perceber a preocupação em
entender quais seriam os conhecimentos e as habilidades necessárias para a formação do
contador.
A ênfase maior neste estudo está no relacionamento entre o forte conhecimento técnico
de auditoria, contabilidade, organização e a habilidade de comunicação.
Após este comunicado, Palmer, Ziegenfuss e Pinsker (2004) referem que a AAA –
American Accounting Association emite os primeiros sinais de preocupação efetiva com
as competências necessárias do contador mediante relatório em 1989 da AECC –
Accounting Education Change Commission, comissão essa criada e que funcionou
durante 07 (sete) anos com objetivo específico de propor mudanças na educação dos
contadores. Este estudo foi complementado por estudos de Francis, Mulder e Stark
(1995) gerando o relatório da AECC de 1996 que mantém basicamente as mesmas
competências do documento anterior, apenas suplementando a questão da gestão da
informação e informática.
O IMA – Institute of Management Accountants junto com o FEI – Financial Executives
Institute realizaram um estudo sobre as habilidades, conhecimentos e capacidades
necessárias para os contadores gerenciais. O estudo do IMA foi desenvolvido por Siegel
e Sorensen (1999) durante alguns anos, fechando em 1999, com base em uma lista de
162 itens que depois são agrupados por áreas como comunicação, contabilidade,
técnicas de gestão, entre outros aspectos.
120
Como se trata de um estudo desenvolvido pelo IMA, o enfoque dado ao estudo é mais
relacionado aos aspectos gerenciais.
Também, em 1999, o AICPA - American Institute of Certified Public Accountants
desenvolvem um estudo chamado Core competency framework for entry into the
accounting professions. As competências neste estudo são divididas em competências
funcionais, competências pessoais e competências de negócios.
Ao final, tem-se a posição da IFAC – International Federation of Accountants, que, por
meio do seu comitê de educação, posiciona-se em 2003, sobre a questão com o estudo
Towards Competent Professional Accountants.
O relatório da IFAC foi elaborado utilizando-se do International Management
Accounting Practice Statements (IMAPS) e da opinião de experts na área gerencial a
fim de identificar base conceitual do estudo objeto do relatório.
Neste relatório, é dado destaque à questão da gestão da informação como competência
requerida para o contador nos tempos atuais e a competência de liderar pessoas como
ponto central. Neste estudo da IFAC, é feito um alerta, sobre a necessidade de mais
estudos acadêmicos sobre as competências dos contadores, baseados em dados
empíricos e situações diferenciadas de cada país.
Valendo-se da literatura revisada sobre a competência do contador, foram identificados
na grande maioria dos casos os seguintes aspectos:
• A maior parte dos estudos sobre competência do contador trata da função do
profissional e não de competências;
• A quase totalidade dos estudos não realiza testes empíricos e sequer, trata do
aspecto da competência pelo enfoque da psicologia e recursos humanos;
• Os estudos das entidades reguladoras demonstram uma maior estruturação
conceitual e a preocupação em evoluir a discussão que propõe.
121
A seguir, serão apresentados alguns quadros desenvolvidos com base nos estudos
citados ao longo deste capítulo, procurando dar uma melhor visualização das
competências citadas do contador e tão somente, uma vez que no Brasil o auditor não é
uma profissão como ocorre em outros países.
Buscam-se enquadrar cada característica dentro dos conceitos de capacidade,
conhecimento, habilidades e outras características, para melhor identificação e definição
das competências necessárias ao dicionário de competências do contador a ser
elaborado no final deste capítulo.
122
Referência
Atendimento
Com
unicação Interpessoal
Analítica
Negociação
Habilidades com
Informática
Liderança
Ouvir Eficazm
ente
Visão Geral / Estratégica
Legal
Iniciativa / Empreendedora
Quantitativa
Autocontrole
Foco no cliente
Ferramentas de Controle
Integridade e Confiança
Mensuração
Técnicas de Gestão
Custos & Preços
Planejamento
Relacionamento Externo
Contabilidade e Finanças
Gestão da Informação
Kester (1928) x x x x x x x Wixon, Kell e Bedford (1943) x x x x x x x x x x x x Bower (1957) x x x x x x x x x Murphy (1958) x x x x x Campfield (1963) x x x x x Henning e Moseley (1970) x x x x x x Riccio e Peters (1993) x x x x x x Hardern (1995) x x x x x x x x x x x Laurie (1995) x x x x x x
Medley (1996) x x x x
Tabela 2.1: Sumário da Literatura sobre Competências do Contador
Fonte: Desenvolvido pelo Autor
123
Referência
Atendimento
Com
unicação Interpessoal
Analítica
Negociação
Habilidades com
Informática
Liderança
Ouvir Eficazm
ente
Visão Geral / Estratégica
Legal
Iniciativa / Empreendedora
Quantitativa
Autocontrole
Foco no cliente
Ferramentas de Controle
Integridade e Confiança
Mensuração
Técnicas de Gestão
Custos & Preços
Planejamento
Relacionamento Externo
Contabilidade e Finanças
Gestão da Informação
Morgan (1997) x x x x x Sakagami, Yoshimi e Okano (1999)
x x x x x x
Needles, Cascini, Krylova e Moustafa (2001)
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Esselstein (2001) x x x x x x Moramed e Lashine (2003) x x x x x x x x x x Abdolmohammadi, Searson e Shanteau (2004)
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Brundo, Macke e Ghedine (2004)
x
x
x
x
x
x
x
Calijuri (2004) x x x x x x x x x x
Tabela 2.2: Sumário da Literatura sobre Competências do Contador
Fonte: Desenvolvido pelo Autor
124
Referência
Atendimento
Com
unicação Interpessoal
Analítica
Negociação
Habilidades com
Informática
Liderança
Ouvir Eficazm
ente
Visão Geral / Estratégica
Legal
Iniciativa / Empreendedora
Quantitativa
Autocontrole
Foco no cliente
Ferramentas de Controle
Integridade e Confiança
Mensuração
Técnicas de Gestão
Custos & Preços
Planejamento
Relacionamento Externo
Contabilidade e Finanças
Gestão da Informação
White Paper – Big Eight Kullberg e Gladstone (1989)
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
AAA Francis, Mulder e Stark (1995)
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
IMA Siegel e Sorensen (1999)
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
AICPA (1999)
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
IFAC (2003)
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
x
Tabela 2.3: Sumário da Literatura sobre Competências do Contador
Fonte: Desenvolvido pelo Autor
108
Ao analisarmos os dados da Tabela 2.3 pode-se perceber que existe dentro da evolução
dos textos encontrados sobre competências do contador algumas considerações
interessantes.
A primeira delas refere-se a questão da comunicação pessoal que já aparecia como uma
característica importante para o contador desde os artigos da década de 40 e 50 até os
dias atuais. Neste período da década de 40, 50 e 60 além dos conhecimentos técnicos de
contabilidade e da parte legal é interessante perceber que aspectos técnicos de custos e
preços, planejamento e ferramentas de controle já erram bastante requeridos neste
período.
Na década de 70 e 80 poucos estudos foram localizados sobre as características
requeridas dos contadores sendo que o de maior destaque trata-se do estudo patrocinado
pelas então Big Eight nomeado White Paper (1989) que tem como fato marcante a
questão da ênfase na habilidade com informática e gestão de informação fato muito raro
de ser encontrado nos estudos anteriores.
Ficando para os anos 90 uma grande parte dos estudos destacando a questão
comportamental do auto controle, comunicação interpessoal,
2.5.Dicionário de Competências do Contador
O dicionário de competência tem como finalidade disponibilizar um conjunto de
competências requeridas para o contador. Valendo-se das competências descritas no
dicionário de competências e de sua validação inicial, o pesquisador pode procurar
construir os modelos de competências.
A constituição do dicionário de competências ocorreu neste trabalho mediante a
identificação junto à literatura das principais competências citadas sobre o contador. O
dicionário segundo Spencer e Spencer (1993) para ter eficácia deve conter três aspectos
básicos na sua formação e utilização: validação, esclarecimento e contextualização do
ambiente.
109
Deve-se, antes de utilizar o dicionário, efetuar a sua validação, com o objetivo de
referendar os achados encontrados na literatura, com os profissionais da área ou mesmo
trabalhando-o em determinadas empresas para poder verificar a sua eficácia.
A validação por completo só deve ocorrer a partir do momento em que for possível
efetuar estudos longitudinais para poder acompanhar o desempenho do cargo em
questão.
O objetivo do uso de um dicionário validado é, segundo Spencer e Spencer (1993),
poder predizer um desempenho superior mediante atendimento de certas competências
requeridas e até mesmo estimular a mudança no processo de formação educacional de
determinados profissionais.
O segundo aspecto refere-se aos esclarecimentos das competências, o que, segundo
ainda, Spencer e Spencer (1993), consiste em determinar um número limitado de
competências de um cargo entre 15 a 30 competências de forma a não repetir conceitos
na fase inicial do estudo.
Lucia e Lepsinger (1999) expressam que as competências constantes no dicionário
devem ser redigidas para evitar eventuais erros de interpretação no processo de
validação, o que deve complementar a rotina de esclarecimentos.
O terceiro aspecto trata da análise do contexto em que será utilizado o dicionário de
competências para determinação do perfil para o cargo ou até mesmo para treinamento
de pessoal. Como cada contexto de empresa pode alterar o perfil ou até mesmo as
competências requeridas para o profissional, ao analisar estes pontos, pode-se evitar o
que Lucia e Lepsinger (1999) chama de falta de aderência do conjunto de competências
a cultura e aspectos particulares do local de trabalho do profissional em questão.
Com base nestas características e nas recomendações de Spencer e Spencer (1993), o
dicionário de competência para o contador foi montado seguindo as seguintes etapas:
• Análise das principais competências do contador citadas na literatura;
110
• Análise da possibilidade de agregação de competências conforme o seu
significado para o cargo.
• Utilização do pressuposto de que competências básicas listadas por Lucia e
Lepsinger (1999) como ler, escrever, calcular, etc que não requerem nenhuma
aptidão exclusiva para o cargo em questão e portanto, são desnecessárias para o
dicionário.
• Montagem de quadro-resumo das principais competências citadas na literatura;
• Montagem da descrição de cada uma das competências mantendo coerência com
aquelas registradas na literatura;
Deste modo, o dicionário do contador ficou composto com as seguintes competências:
• Capacidades: analítica e de comunicação
• Habilidades: estratégica, informática, negociação, ouvir eficazmente,
atendimento e relacionamento externo.
• Conhecimentos: ferramentas de controle, legal, contabilidade e finanças,
planejamento, técnicas de gestão e gestão da informação.
• Outras características pessoas: autocontrole, empreendedor; integridades e
confiança e trabalho em equipe.
O quadro 2.1 apresenta o respectivo dicionário de competências do contador. Logo
abaixo de cada competência está a fundamentação preponderante utilizada para
alocação de cada uma das competências.
Quadro 2.1: Dicionário de Competências do Contador
Competência
Analítica Sabe analisar as partes de um problema ou situação estabelecendo
suas relações para formular diversas soluções e o valor de cada uma.
Moramed e Lashine (2003) e AICPA (1999)
111
Autocontrole Mantém o desempenho sob condições estressantes e hostis.
Respondendo positivamente aos problemas sem impulsividade e permanece calmo.
Spencer & Spencer (1993) e Laurie (1995)
Comunicação Estabelece sintonia nas comunicações com pessoas ou grupos, entendendo mensagens e é entendido. Demonstra boa articulação ao comunicar idéias por escrito e verbalmente.
Boyatzis, Stubbs e Taylor (2002), IFAC (2003) e Abdolmohammadi, Searson e Shanteau (2004)
Empreendedor Desenvolve soluções criativas aos problemas da empresa e dos clientes; procura inovar diante das restrições da empresa. Assume riscos calculados.
Spencer & Spencer (1993), Hardern (1995) e Laurie (1995)
Visão Estratégica Compreende o que está acontecendo no mercado e na sua empresa. Entende, antecipa e procura responder além das necessidades dos consumidores no longo prazo.
Bower (1957) e Hardern (1995)
Competência
Ferramentas de Controle
Conhece e utiliza as ferramentas de controle e gestão como: orçamento, controle interno, custos, fluxo de caixa, entre outros.
Henning and Moseley (1970) e IMA - Siegel e Sorensen (1999)
Legal Conhece e acompanha as tarefas obrigatórias como: planejamento tributário e atendimento às exigências fiscais.
Kester (1928) e Henning and Moseley (1970)
Informática Conhece e utiliza a informática como ferramenta na identificação, seleção e formatação de informações gerenciais para o processo decisório.
Needles, Cascini, Krylova e Moustafa (2001) e Moramed e Lashine (2003)
Integridade e Confiança
Tem integridade e exprime positivamente seus valores e crenças pessoais de maneira consistente com os padrões éticos de sua empresa. Inspira confiança pelo cumprimento dos compromissos assumidos.
112
Bower (1957) e White Paper – Big Eight - Kullberg e Gladstone
(1989) Contabilidade e Finanças
Domina e interpreta os conceitos relacionados à área de contabilidade e finanças empresariais atendendo os interesses dos usuários internos e externos desta informação e das normas vigentes no ambiente nacional como internacional.
Bower (1957) e Henning e Moseley (1970) Negociação Realiza acordos com as várias áreas envolvidas com o sistema de
informação e mensuração de desempenho, adicionando valor e vantagens competitivas às negociações. Busca opções para atender os interesses dos envolvidos e da empresa.
Boterf (1999) e Esselstein (2001) Ouvir Eficazmente
Desenvolve diálogos interativos com as pessoas, pergunta por mais detalhes sobre os assuntos, avalia as mensagens e fornece feedback.
Morgan (1997) e AAA - Francis, Mulder e Stark (1995) Atendimento Sabe atender e dialogar demonstrando corretamente os conceitos e
critérios utilizados no sistema de informação, tanto para usuários internos à empresa, como para auditores externos, fornecedores, mercado de capital e instituições financeiras.
Morgan (1997) e Boyatzis, Stubbs e Taylor (2002)
Competência Planejamento Estuda e aplica conceitos de planejamento e acompanhamentos
estratégico, operacional e financeiro auxiliando a alta administração no alcance dos seus objetivos.
Hardern (1995) e Needles, Cascini, Krylova e Moustafa (2001) Técnicas de Gestão
Demonstra estar atualizado com as técnicas, dados e novos conhecimentos por meio de leitura, cursos, viagens, congressos, etc.
Laurie (1995) e IMA - Siegel e Sorensen (1999) Trabalho em Equipe
Coopera com os demais membros da equipe e é comprometido com as metas e objetivos da equipe. Compreende e se esforça para o bem da equipe, ao invés de servir a seus próprios interesses.
Boyatzis, Stubbs and Taylor (2002) e IMA - Siegel e Sorensen (1999)
Gestão da Informação
Capacidade de gerenciar todas as informações necessárias para o bom andamento dos negócios, efetuando melhorias e supervisão no sistema de processamento de dados interagindo com áreas correlatas como: TI – Tecnologia da informação.
Esselstein (2001) e Laurie (1995)
113
Relacionamento Externo
Realiza acordos e negociação com instituições financeiras, órgãos governamentais, fornecedores, acionistas, clientes e empregados buscando atender os interesses da empresa.
Henning and Moseley (1970) e Morgan (1997)
CAPÍTULO III
METODOLOGIA
O objetivo deste capítulo é descrever as características da pesquisa, da amostra
investigada, das técnicas e estratégias para coleta de dados, assim como os
procedimentos utilizados para o tratamento estatístico. São apresentadas também as
hipóteses do estudo e as respectivas justificativas para o processo.
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
3.1 Característica da Pesquisa
Antes de caracterizar a pesquisa, é mister entender o papel da metodologia no processo
da investigação científica, para o que utiliza-se a exposição de Demo (1995) para quem
a metodologia não aparece como solução propriamente, mas como expediente de
questionamento criativo que permite opções mais seguras quanto mais consciência se
tiver de sua marca aproximativa.
Deste modo, a metodologia utilizada em uma pesquisa depende preponderantemente do
objetivo proposto e da natureza da pesquisa. É igualmente relevante entender que a
intenção do pesquisador em ciências sociais normalmente não se restringe a descrever,
mas a compreender os fatos sociais.
O presente estudo tem natureza exploratória, buscando o desenvolvimento de uma
estrutura de competências do contador, para o que disponibiliza de um conjunto de
características requeridas para o desenvolvimento deste profissional, atendendo aos
preceitos apontados por Spencer & Spencer (1993), Lucia & Lepsonger (1999),
Boyatzis, Stubbs e Taylor (2002) e Miguel (2002).
114
O estudo exploratório procura obter dados para levar a um melhor conhecimento do
assunto em questão, esclarecer uma situação percebida numa realidade específica e
propor estabelecimento de prioridades para futuras pesquisas.
Para Selltiz (1974), os estudos exploratórios provêem informações sobre aspectos
específicos dos fenômenos sociais, dos quais temos poucos conhecimentos. As
informações são usadas quando pouco se sabe sobre as organizações ou indivíduos a
serem estudados. A pesquisa exploratória tem por finalidade aumentar a familiarização
do pesquisador com a situação ou situações que devem ser investigadas. O estudo terá,
portanto, natureza exploratória e descritivo quantitativa.
Devem-se considerar as características intrínsecas do método descritivo, razão por que,
nesta pesquisa, procurou-se excluir inferências sobre relações de causa e efeito. Mesmo
assim, apesar do estágio inicial de discussão do assunto desta pesquisa, espera-se que,
com o passar do tempo e a realização de estudos rigorosos longitudinais com foco na
causalidade, seja possível identificar outros aspectos das competências dos contadores.
A pesquisa é igualmente considerada aplicada pela utilidade dos resultados para os
profissionais de contabilidade, como complementação aos estudos sobre educação
contábil e currículo, para o exercício das competências dos contadores e também como
potencial para uso na seleção e avaliação dos colaboradores das empresas de
contabilidade e auditoria, bem como de outras empresas que se valem do contador para
desenvolver suas atividades.
3.2 Fases do Desenvolvimento da Pesquisa
Para desenvolvimento deste trabalho foram seguidos os passos descritos e apresentados
a seguir:
115
Primeira Fase: Planejamento
1° Passo Diagnóstico problemático com delineamento do tema e a formulação da questão básica.
2° Passo Revisão inicial da literatura sobre competências, modelos de competências e estudos relacionados com o contador.
3° Passo Obtenção do consentimento do IBEF – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças – Seccional Campinas para realização da discussão inicial e autorização para realizar o pré-teste com contadores associados no 1° sem/04.
5° Passo Desenvolvimento final do dicionário de competências para contadores e formulação das hipóteses da pesquisa.
4° Passo Revisão final da literatura enfocando os estudos sobre competências dos contadores e aprofundamento sobre os estrutura e modelos de competências.
6° Passo Apresentação do projeto de pesquisa no Consórcio Doutoral da ANPAD, em setembro de 2004, objetivando obtenção de críticas e sugestões sobre o projeto.
7° Passo Elaboração da primeira versão do questionário com as competências julgadas mais relevantes para o contador.
8° Passo Obtenção do consentimento da coordenação do MBA Controller da FEA-USP e pós-graduação lato sensu em contabilidade e controladoria da PUC-Campinas para aplicação do questionário definitivo.
116
Segunda Fase: Execução
3.2.1 Amostra
A amostra utilizada nesta pesquisa foi intencional e não probabilística. A pesquisa foi
realizada durante os meses de junho a outubro de 2004, num total de 175 questionários
respondidos por alunos de pós-graduação. Do total de questionários, foram excluídos 16
exemplares por erros de preenchimentos, dados ausentes e dados extremos, totalizando
159 questionários válidos. Do total de alunos, 73, ou seja, 45,9% do total têm o nível de
especialização em contabilidade e controladoria da Pontifícia Universidade Católica de
Campinas, e 86 alunos, ou seja, 54,1% do total têm o nível de MBA – Controller da
Universidade de São Paulo.
O processo de amostragem ocorreu com autorização das duas escolas das quais
recebemos amplo apoio para aplicação dos questionários em sala de aula, esperando as
9° Passo Análise qualitativa da confiabilidade do questionário e envio para pré-teste com os contadores associados do IBEF.
10° Passo Ajustes no questionário final e envio para os alunos dos programas de pós-graduação USP e PUC-Campinas.
11° Passo Processamento e análise dos dados usando alfa cronbach e análise fatorial no SPSS.
12° Passo Análise dos resultados da pesquisa e comparação com estudos existentes.
13° Passo Apresentação da pesquisa em forma de resumo com dados preliminares em maio de 2005 no 28th EAA - 2005 – Annual Congress European Accounting temática OBA – Organizational and Behavioural Aspects of Accounting.
117
respostas no mesmo momento, o que aumentou, em muito, a taxa de resposta que foi de
58%. Em alguns casos, recebemos as respostas por meio eletrônico.
Para participação neste processo de pesquisa, os alunos deveriam ser obrigatoriamente
formados em Ciências Contábeis, o que limitou o número de alunos participantes do
processo. É importante também frisar que os alunos que cursam esses dois programas
são selecionados para ingresso no curso de pós-graduação, considerando-se sua
formação acadêmica anterior e a experiência profissional na área de concentração do
curso.
Vale destacar que a decisão pela realização da pesquisa com esse público justifica-se na
medida em que permite, em conformidade com os objetivos deste estudo, investigar a
existência de um modelo genérico de competência mediante o uso de painel de
especialista, com profissionais que retornam à academia, presumivelmente, com o
objetivo de ampliar o leque de suas competências, em decorrência das pressões e
motivações da vida profissional atual.
Além disso, cabe salientar as potencialidades desse grupo de respondentes quanto à
experiência profissional, aos cargos que ocupam e ao tipo de organização em que
trabalham. Este grupo é correspondente em perfil e número aos respondentes de outros
estudos que procuraram desenvolver modelo genérico de competências para outras
profissões baseados no método de painel de especialistas como Horton (2000), que usou
186 respondentes, e Zhong e Kan (2004) com 149 respondentes.
Além das características qualitativas da amostra, também há para uso da análise fatorial,
necessidade de um número mínimo de respondentes. Hair, Anderson, Tatham e Black
(1998) referem que preferencialmente o número de observações deva ser maior que 100
e, como regra geral, o mínimo é ter, pelo menos, cinco vezes mais observações, e o
tamanho aceitável seriam 10 casos por variável. Como neste caso serão analisados 18
variáveis (competências) e 159 respondentes válidos, haverá, certamente, um número
bem confortável para executar a técnica estatística.
3.2.2 Composição do Instrumento de Coleta de Dados
118
Para fins de realização deste estudo, foi utilizado, como instrumento básico de coleta de
dados, o questionário composto basicamente por questões medidas por meio de escalas
do tipo Likert.
O uso do questionário ocorreu em razão das características e do objetivo desta pesquisa,
visto que pode ser aplicado a um grande número de pessoas, gerar respostas mais fáceis
de serem comparadas e assegurar certa uniformidade de uma situação de mensuração
para outra. (Selltiz, Jahoda, Deustsch e Cook., 1972).
A construção do instrumento seguiu 02 estágios, o primeiro dos quais foi dividido nos
seguintes passos:
a) análise da fundamentação teórica das competências no âmbito da área
comportamental;
b) análise das competências citadas por estudos focados na área de contabilidade
para preparação das variáveis a serem mensuradas;
c) agregação das competências identificadas de acordo com o cargo em questão;
d) construção do dicionário de competência detalhando o significado de cada
competência objetivando a redução dos erros de interpretação por parte dos
respondentes;
e) realização de 02 rodadas de discussão com 03 profissionais, membros do
IBEF, com larga experiência na área de contabilidade e auditoria para verificar
aderência da proposta e levantar outras variáveis.
O segundo estágio consistiu na aplicação do questionário a 14 contadores associados do
IBEF para fins de pré-teste. Para Easterby-Smith, Thorpe e Lowe (1991) tal artifício
revela-se indispensável na medida em que permite verificar, anteriormente, se as
questões elaboradas são compreensíveis, se a duração prevista para a resposta do
questionário é adequada, se a seqüência das questões está bem delineada e se há
questões sensíveis.
119
Após a aplicação, colheram-se os comentários e as observações sobre o instrumento, os
quais foram avaliados e incorporados, na medida do necessário, concluindo-se, assim, a
fase da validação de conteúdo e operacionalidade. Em seguida, também foi realizado,
com base nos dados dos respondentes, por via SPSS, a confiabilidade satisfatória do
instrumento utilizando o alfa de conbrach de 0,88, o que é satisfatório, segundo
Nunnally (1978) e coerente com pesquisas como a de Giunipero e Pearcy (2000). Ao
final, foi gerada a versão final do instrumento que consta como anexo desse relatório de
pesquisa.
3.2.3 O Questionário
As competências descritas ficaram dividas em capacidades, habilidades, conhecimentos
e outras características pessoais. As questões foram elaboradas em uma escala Likert de
10 pontos com 01 para sem importância e 10 para extrema importância. A escada de 10
pontos neste tipo de estudo é também aplicada nos estudos de Abdolmohammadi,
Searson e Shanteau (2004) e evidenciado por Nunnally (1978) como adequado a esse
tipo de pesquisa.
O questionário foi dividido em dois grandes blocos: Bloco I - Dados pessoais dos
respondentes e Bloco II – Competências dos contadores com respectiva descrição e
escala de importância.
3.2.4 Variáveis em Estudo
As variáveis incorporadas ao questionário são apresentadas na tabela 3.1, considerando-
se como suporte de pesquisa os autores que descrevem com maior riqueza de detalhes a
competência, tanto no âmbito dos autores ligados à área comportamental quanto à área
de contabilidade. Pode-se verificar que esse quadro refere-se a um resumo do dicionário
de competência, apresentado no capítulo 2 deste estudo.
Os critérios para seleção das competências, portanto, foram apresentados juntamente
com a montagem do dicionário.
120
N° Competência Fundamentação de Pesquisa
V1 Analítica Moramed e Lashine (2003) e AICPA (1999)
V2 Autocontrole Spencer & Spencer (1993) e Laurie (1995)
V3 Comunicação Boyatzis, Stubbs e Taylor (2002), IFAC (2003) e Abdolmohammadi, Searson e Shanteau (2004)
V4 Empreendedor Spencer & Spencer (1993), Hardern (1995) e Laurie
(1995)
V5 Estratégica Bower (1957) e Hardern (1995)
V6 Ferramentas de Controle Henning and Moseley (1970) e IMA - Siegel e
Sorensen (1999)
V7 Legal Kester (1928) e Henning and Moseley (1970)
V8 Informática Needles, Cascini, Krylova e Moustafa (2001) e Moramed e Lashine (2003)
V9 Integridade e Confiança Bower (1957) e White Paper – Big Eight - Kullberg e
Gladstone (1989)
V10 Contabilidade e Finanças Bower (1957) e Henning e Moseley (1970)
V11 Negociação Boterf (1999) e Esselstein (2001)
V12 Ouvir Eficazmente Morgan (1997) e AAA - Francis, Mulder e Stark (1995)
V13 Atendimento Morgan (1997) e Boyatzis, Stubbs e Taylor (2002)
V14 Planejamento Hardern (1995) e Needles, Cascini, Krylova e Moustafa
(2001)
V15 Técnicas de Gestão Laurie (1995) e IMA – Siegel e Sorensen (1999)
V16 Trabalho em Equipe Boyatzis, Stubbs and Taylor (2002) e IMA - Siegel e
Sorensen (1999)
V17 Gestão da Informação Esselstein (2001) e Laurie (1995)
V18 Relacionamento Externo Henning and Moseley (1970) e Morgan (1997)
Tabela 3.1: Variáveis Consideradas no Estudo
121
3.3 Questões e Hipóteses do Estudo
Para fins de pesquisa, o estudo busca resposta para o questionamento das inter-relações
das competências. O grande questionamento refere-se, portanto, à existência de
estrutura de interdependência subjacente às competências do contador, explicando-as
melhor.
Esse fato está relacionado com o desenvolvimento de um modelo genérico de
competências do contador, com base nas competências pontuadas pelos respondentes,
utilizando-se, para isso, a análise fatorial, mais especificamente a sua variância
explicada e a análise de correlações entre a escala global e suas subescalas na busca do
construto comum, que é o modelo.
Essa questão leva em consideração a necessidade de estudar com base em fundamentos
da psicologia e de recursos humanos a questão das competências do contador
potencializando o uso de treinamentos empresariais e institucionais, objetivando a
educação continuada, formação de currículos de cursos de graduação e auxilio na
melhor seleção e capacitação de contadores a fim de obter um desempenho superior
destes profissionais.
Como justificativa teórica para este estudo apresentam-se os tópicos discutidos no
capítulo II em que é feita a revisão bibliográfica dos estudos sobre o contador com
destaque para os seguintes aspectos:
• carência de estudos sobre a competência do contador, pois a literatura, na sua
maioria, trata da função do profissional e não do fator competências;
• a quase totalidade dos estudos não realiza levantamentos empíricos e sequer
trata o aspecto da competência com a abordagem da psicologia e de recursos
humanos.
122
Esta necessidade de estudos das competências dos contadores, baseando-se em
fundamentos teóricos mais sólidos e metodologia apropriada, é relatada nos estudos de
Abdolmohammadi, Searson e Shanteau (2004), IFAC (2003) e no inventário sobre
estudos ligados à contabilidade comportamental de Meyer e Rigsby (2001).
É importante relatar que os estudos recentes das entidades reguladoras internacionais
começam a demonstrar uma maior preocupação com a estruturação conceitual.
Essa questão de pesquisa, portanto, torna-se relevante na medida em que utiliza uma
abordagem conceitual mais ampla do que a visão normativa das competências dos
contadores e procura evidências empíricas com tratamento estatístico adequado para
estruturar um modelo genérico de competências do contador.
É importante lembrar que a estrutura de competência do contador não procura
reproduzir toda a complexidade da realidade, mas apenas expressar uma condensação
do que é nele percebido para compressão, previsão e controle.
Segundo Kaplan (1975), é de esperar-se que as variáveis não sejam medidas com
exatidão. Além disso, supõe-se que algumas variáveis importantes tenham sido omitidas
quando se estudam aspectos da ciência do comportamento.
Miguel (2002) conclui que, como conseqüência, na melhor das hipóteses, uma estrutura
ou modelo de competências pode ser considerado uma representação da realidade de
modo a ser muito útil, sem ser a realidade em si.
Os seguintes pressupostos para este estudo são levantados com base nos estudos
conceituais de Boyatizis (1982) e Spencer e Spencer (1993):
a) É possível elaborar uma estrutura de competências essenciais para os
contadores. Essas novas competências serão importantes para os contadores por
fornecer-lhes um mapeamento das competências essenciais que podem resultar
em desempenho superior.
123
b) Em razão de recursos e diversidades culturais entre as organizações e até mesmo
as empresas de contabilidade, a estrutura de competências precisa ser
considerada um modelo temporário. São necessários trabalhos adicionais para
sua plena utilização.
Como questão subjacente, discute-se a existência de competência ou competências a
serem priorizadas no desenvolvimento do contador. Para esse questionamento são
apresentadas as seguintes hipóteses:
Hipótese 1: Há diferença significativa na importância atribuída à competência
comunicação em relação às demais.
Hipótese 2: Há diferença significativa na importância atribuída à competência
gestão da informação em relação às demais.
Hipótese 3: Há diferença significativa na importância atribuída à competência
estratégica em relação às demais.
Estas hipóteses subjacentes foram escolhidas em razão das características específicas
destacadas por grupos de autores que podem ser distintas para alguns casos. A primeira
refere-se à competência comunicação, citada em quase todos os estudos sobre aspectos
das competência do contador. Os autores que dão maior ênfase à necessidade de
priorizar essa competência são Morgan (1997) e Moramed e Lashine (2003). Apesar
disto, os autores não realizam um teste efetivo desta variável em relação às demais
competências em seus estudos; apenas efetuam correlações conceituais.
A questão da competência da gestão da informação aparece com maior destaque a partir
dos anos 90, especialmente nos estudos feitos pelos órgãos reguladores da profissão
IFAC (2003) e IMA - Siegel e Sorensen (1999). Neste caso, não foram identificados
estudos empíricos sobre essa questão na profissão contábil.
124
A competência estratégica é citada ao longo de quase todo o período do levantamento
bibliográfico, o que, por si, demonstra sua importância para o contador. A maior ênfase
neste quesito é dada por Bower (1957) e Hardern (1995), apesar de os autores não
realizarem testes empíricos sobre a questão.
Para testar essas hipóteses, utilizou-se o teste de médias, buscando-se identificar uma
distância dos dados que pudessem estar em correspondência com uma curva normal em
termos populacionais. As diferenças entre as médias das avaliações para as
competências foram testadas pela técnica estatística não paramétrica Kruskal-Wallis,
cuja aderência à amostra e aos dados da ciência do comportamento é considerada
adequada (Kerlinger, 1975).
Neste teste de médias também é avaliado o efeito do subgrupo homem e mulher sobre a
amostra. A escolha da análise deste subgrupo para avaliar as competências a serem
priorizadas fundamenta-se no estudo de Loft (1992) sobre a possível visão diferenciada
da mulher em relação a atributos da profissão de contador.
3.4 Tratamento Estatístico dos Dados
Os dados obtidos, mediante aplicação do questionário, foram inicialmente codificados e
tabulados para receberem tratamento estatístico no SPSS – Statistical Package for the
Social Sciences.
O pesquisador muitas vezes necessita de outras técnicas estatísticas, além da descritiva,
para poder realizar o seu trabalho de pesquisa, objetivando efetuar inferências e chegar a
conclusões mais seguras sobre o estudo. Para desenvolver este procedimento, pode-se
recorrer muitas vezes às técnicas multivariadas, aplicadas a inúmeras situações práticas
em que se queiram mensurar os efeitos ou relacionamentos entre múltiplas variáveis.
125
As técnicas estatísticas básicas analisam variáveis quantitativas e qualitativas de forma
unidimensional, ao passo que a análise multivariada as analisa de forma
multidimensional.
Para Hair et al. (1998), a análise multivariada refere-se a todos os métodos estatísticos
que simultaneamente analisam múltiplas medidas sobre cada indivíduo ou objeto de
investigação. Qualquer análise simultânea de mais de duas variáveis, de certo modo,
pode ser considerada análise multivariada.
Sheth (1977) informa que a análise multivariada são aquelas técnicas estatísticas que
focalizam e apresentam com destaque a estrutura de relações simultâneas entre três ou
mais fenômenos.
3.4.1 Estágios do Processo Estatístico
Hair et al. (1998) apresentam seis estágios importantes para dar-se um tratamento
estruturado aos modelos multivariados.
O primeiro estágio refere-se à definição do problema da pesquisa, dos objetivos e da
técnica multivariada a ser usada. Nesse estágio, a maior preocupação dos autores é que
exista um modelo conceitual, uma vinculação com aspectos teóricos, e somente após
essa vinculação deve-se definir a técnica a ser utilizada de modo que a técnica não se
sobreponha às questões conceituais preliminares.
No caso desta pesquisa, a questão da definição do problema e dos objetivos deu-se com
base primeiramente na inquietação do autor em estudar o tema e, depois, na necessidade
teórica de estudos estruturados em conceitos comportamentais para a definição de
competências dos contadores.
A escolha da técnica, isto é, a análise fatorial, ocorreu a partir do momento em que os
estudos sobre estruturação de competências para cargos e profissões passam por essa
técnica com destaque para os precursores Boyatizis (1982) e Spencer e Spencer (1993)
que relatam o uso desta técnica como própria neste tipo de estudo, bem como nos
126
estudos aplicados a militares americanos, com Giunipero e Pearcy (2000) e Horton
(2000).
O segundo estágio refere-se ao desenvolvimento do plano de análise que deve estar
relacionado com a implementação da pesquisa levando em consideração o tamanho
mínimo ou desejado da amostra, tipos permitidos de variáveis, entre outros aspectos.
Nesta pesquisa, o plano de análise considerou o número de respondentes que chegou a
159 alunos de pós-graduação e 18 variáveis a serem observadas (competências), o que
demonstra adequação aos preceitos colocados por Hair et al. (1998) e Johnson e
Wichern (1993).
O terceiro estágio está relacionado com a avaliação das suposições inerentes à técnica
multivariada em que o pesquisador deve antes de estimar o modelo multivariado,
avaliar se todas as suposições estabelecidas para aquela técnica foram respeitadas. Essas
suposições ocorrem tanto no âmbito estatístico como conceitual.
Segundo o próprio Hair et al. (1998) e também Tabachnick e Fidell (2001), as
suposições da análise fatorial são mais conceituais do que estatísticas. A normalidade,
homoscedasticidade e linearidade, portanto, aplicam-se apenas quando elas diminuem
as correlações e, como o objetivo é identificar se o conjunto de variáveis é inter-
relacionado, a multicolinearidade é desejável.
Nesta pesquisa, as suposições conceituais são objetivas, uma vez que se espera
encontrar uma estrutura latente que explique melhor as relações entre as variáveis
(competências) estudadas do contador, que é a estrutura genérica de competências.
Sobre os aspectos estatísticos são feitos testes dentro da própria fatorial particularmente
sobre a necessidade de correlação mediante uso da matriz de correlação.
O quarto estágio trata da estimação do modelo multivariado e avaliação do ajuste geral
do modelo, Neste momento é que se deve efetivamente operacionalizar a estimativa do
modelo avaliando a necessidade de ajustes e a significância estatística e prática dos
resultados.
127
Nesta pesquisa, que se vale da análise fatorial, a estimação do modelo ocorre logo após
a avaliação da matriz de correlação com análise de todos os testes necessários. Os
ajustes, por outro lado, referem-se à decisão sobre método de extração dos fatores e ao
número de fatores selecionados.
O quinto estágio deve tratar da interpretação da variável estatística que procura revelar a
natureza da relação multivariada.
Na análise fatorial utilizada nesta pesquisa o processo de interpretação resume-se à
análise dos fatores mediante análise da matriz fatorial não rotacionada e que depois,
caso seja necessário, será rotacionada em razão da necessidade de obter uma
interpretação mais adequada das variáveis em exame. Neste momento, pode-se avaliar a
necessidade em retirar alguma variável.
Ao final deste estágio, deve-se avaliar e efetuar a interpretação da matriz fatorial,
avaliando a matriz de cargas e a comunalidade das variáveis (competências) que
resultam nos fatores a serem nomeados.
O sexto estágio refere-se à validação do modelo multivariado. O pesquisador, antes de
aceitar os resultados, submete-o a um conjunto final de análises diagnósticas a fim de
que avaliem o grau de generalidade dos resultados pelos métodos de validação
disponíveis. Os autores ressaltam que esse diagnóstico acrescenta pouco à interpretação
dos resultados, mas pode ser visto como uma garantia de que os resultados são os
melhores descritores dos dados.
O processo de validação é importante, mas apresenta complexidades em sua execução
em muitos tipos de pesquisas. No caso desta pesquisa, que detém características
comportamentais valer de embasamento teórico da psicologia, o processo de validação
foi realizado objetivando dar mais segurança ao pesquisador sobre os resultados da
pesquisa. Para isso, são realizadas duas tentativas: a primeira é referente à divisão da
128
amostra aleatória em dois grupos para avaliar eventuais divergências, segundo
Tabachnick e Fidell (2001) e outra tentativa consiste no uso da alfa de cronbach
desenvolvido por Cronbach (1951) e discutido por Chong Ho Yu (2003) como
validador de constructo comuns, o que é o caso da estrutura genérica.
Este tipo de validação utilizando os próprios dados da pesquisa é considerado
importante para a pesquisa, mas não é o único e tampouco o suficiente, pois a aplicação
em outras amostras pode demonstrar com maior clareza para o pesquisador outras
variáveis que podem influenciar os resultados da pesquisa (Cone e Foster, 1997). Neste
caso, os de estudos longitudinais e até mesmo a aplicação em outras amostras fazem
parte da limitação deste estudo em razão da exigüidade do tempo e dos recursos
financeiros.
3.4.2 O Alfa de Cronbach e Análise Fatorial
Nesta pesquisa são utilizadas com maior grau de importância duas técnicas estatísticas
para análise dos resultados da pesquisa.
A primeira técnica refere-se ao alfa de cronbach, criado por Cronbach (1951) e que é
utilizado nesta pesquisa em dois momentos: no primeiro refere-se à validação da
fidedignidade do instrumento utilizado para avaliar as competências e, no segundo
momento, procura-se validar os dados da pesquisa segundo os preceitos de Chong Ho
Yu (2003).
A análise fatorial refere-se à segunda técnica que será utilizada para reduzir as variáveis
analisadas, buscando a construção do modelo genérico de competências do contador.
Para isso, seguem-se fundamentalmente as colocações de Hair et al. (1998), Tabachnick
e Fidell (2001) e Pereira (2001).
Alfa de Cronbach
Para entender-se a primeira função do alfa de cronbach nesta pesquisa deve-se entender
antes o conceito de fidedignidade, ou seja, o grau em que uma escala produz resultados
129
consistentes entre medidas repetidas ou equivalentes de um mesmo objeto ou pessoa,
revelando a ausência de erro aleatório (Pereira, 2001).
O alfa corresponde a uma medida da consistência interna da escala Spector (1992). O
Alfa procura, portanto, medir a fidedignidade do instrumento, isto é, saber se a mesma
pessoa responde a dois itens de um mesmo modo.
Para Pereira (2001), um indicador é considerado bom quando todas as suas medidas
integrantes têm uma relação coerente entre si no esforço de medir o fenômeno
considerado.
Para Pasquali (1977), citado por Oliveira Neto (2000), existem diversos coeficientes de
precisão, como Rulon, Guttman-Flamagan, entre outros, mas o mais utilizado é o
coeficiente de consistência interna Alfa de Cronbach (1951) – covariância;
A formulação do Alfa pode ser representada por:
α = k cov / var .
1+ (k-1) cov / var
k = número de variáveis consideradas
Cov = média das covariâncias
Var = Média das variâncias
O alfa é analisado observando-se uma variação de 0 até 1 e, quanto mais próximo de 1
estiver seu valor, maior a fidedignidade das dimensões do construto. Segundo Nunnaly
(1978), o valor mínimo para o alfa de cronbach deve ser 0,7 para pesquisa preliminar,
0,8 para pesquisa básica e de 0,9 para pesquisa aplicada. Hair (1998) trata 0,7 como
mínimo ideal, mas também pode se aceitar 0,6 para pesquisas exploratórias.
Pereira (2001) afirma que se pode entender o alfa como R² como uma suposta medida
real do fenômeno. Para o Alfa de Cronbach (1951), existem, segundo Pereira (2001),
duas perspectivas de análise do α : análise de confiabilidade e generalização.
130
Como exemplo tem-se a seguinte questão: Qual a confiabilidade e a generalização
possível para os indicadores (x, y e z) de impacto P&D?
• O α de 0,75 sugere que estaria medindo 75% do impacto real. – análise de
confiabilidade;
• O indicador representa 75% do universo de possíveis indicadores de impactos
constituídos pelo mesmo número de itens, ou suas medidas concordariam em
75% das vezes. – generalização;
Como premissa para se realizar o alfa, as correlações entre os itens devem ser positivas.
Uma correlação negativa viola o modelo e, para manter-se uma variável nessa situação,
seu sentido de direção deve ser mudado, multiplicando seus valores por -1 conforme
Pereira (2001).
Deve-se também examinar a matriz de correlações das variáveis consideradas e saber
que, quanto maior o tamanho da amostra e sua variabilidade, melhor será o índice de
fidedignidade. Quanto maior o número de variáveis compondo o indicador, melhor ele
será.
É importante lembrar que a alta fidedignidade não garante bons resultados, mas não
existem bons resultados sem confiabilidade. Um instrumento de alta fidedignidade deve
medir consistentemente e sem erros.
O segundo aspecto a ser analisado pelo alfa de cronbach refere-se à questão da
validação da pesquisa mediante o uso do alfa que tem por premissa o entendimento de
que a característica a ser medida por uma escala de múltiplos itens chama construto
(construct) e sua elaboração começa com uma teoria subjacente (Malhotra, 2001). Neste
caso, o estudo realizado tem como fundamento teórico subjacente o modelo genérico de
competência.
A questão da validação usando o alfa de cronbach pode ocorrer a partir do momento que
é possível identificar a existência de uma única dimensão que seria o modelo genérico
de competências. Segundo Chong Ho Yu (2003) deve-se avaliar a consistência
131
(variância comum) e unidimensional (único fator) com bastante cuidado para poder
identificar a existência de um construto comum ou não (multidimensional).
Análise Fatorial
A análise fatorial foi criada por Charles Spearman (psicólogo) e após a criação desta
técnica, o estatístico Karl Pearson desenvolveu uma técnica semelhante, mas que utiliza
preceitos diferentes, chamada componentes principais.
Análise fatorial é uma técnica multivariada de interdependência em que todas as
variáveis são simultaneamente consideradas, cada uma relacionada com as demais, a
fim de estudar as inter-relações existentes entre elas, tendo em vista a redução ou a
sumarização dos dados.
O objetivo básico da análise fatorial é portanto, sumarizar os dados por meio da
combinação linear (fatores) entre as variáveis e explicar a relação entre elas.
Segundo Johnson e Wichern (1999) o objetivo da análise fatorial é explicar, se possível,
os relacionamentos de convariância entre muitas variáveis como poucas quantidades
aleatórias, latentes, não observadas normalmente chamadas de fatores (construtos).
Para Tabachnick e Fidell (2001), a análise fatorial é uma técnica estatística aplicada em
um conjunto de variáveis, quando o pesquisador está interessado em descobrir quais das
variáveis formam subconjuntos coerentes e relativamente independentes uns dos outros.
A hipótese básica da análise fatorial são as correlações entre as variáveis, as quais são
devidas aos fatores que elas compartilham. Exemplo: Correlações entre notas dos alunos
e disciplinas cursadas podem ser resultado de fatores como: nível de inteligência,
habilidade de raciocínio abstrato e capacidade analítica. A técnica permite identificar os
fatores que são não diretamente observáveis, mas com base nas variáveis conhecidas, o
que, neste exemplo, seriam as notas dos alunos.
A análise fatorial transforma as variáveis originais da pesquisa em variáveis novas
denominadas fatores. Cada fator é uma combinação linear das variáveis originais da
132
pesquisa, tendo como medida as suas variâncias. O novo arranjo dá-se em razão dos
maiores valores informativos para cada fator. Disso resulta ser o fator mais informativo
o primeiro e, menos informativo, o último.
Abaixo é apresentado o esquema de apuração da análise fatorial colocado por Malhotra
(2001):
Figura 3.2 – Processo Estatístico da Análise Fatorial
Abaixo será realizado um comentário sobre cada item, baseado nos relatos de Hair et al.
(1998), Tabachnick e Fidell (2001) e Pereira (2001).
Fase 1: Realizar a formulação do problema a ser discutido na pesquisa. Essa fase está
relacionada à construção da pesquisa propriamente dita e, neste caso, esta foi realizada e
apresentada.
Fase 2: Avaliar qual a correlação entre variáveis, sendo necessário verificar a existência
de correlações (2 a 2) entre as variáveis. Por serem as correlações entre as variáveis
pequenas, a análise fatorial pode ser inadequada para tratamento dos dados.
Basicamente nesta fase tem-se como hipótese:
H0 – as variáveis da matriz de correlações não são suficientemente
correlacionadas;
FFoorrmmuullaarr oo pprroobblleemmaa
CCoonnssttrruuiirr aa mmaattrriizz ddee ccoorrrreellaaççããoo
DDeetteerrmmiinnaarr oo mmééttooddoo ddee aannáálliissee ffaattoorriiaall
DDeetteerrmmiinnaarr oo nnºº ffaattoorreess
RRoottaarr ooss ffaattoorreess
IInntteerrpprreettaarr ooss ffaattoorreess
CCaallccuullaarr ooss eessccoorreess ffaattoorriiaaiiss
SSeelleecciioonnaarr aass vvaarriiáávveeiiss ssuubbssttiittuuttaass
DDeetteerrmmiinnaarr oo AAjjuussttee ddoo MMooddeelloo
133
H1 – as variáveis da matriz de correlações são suficientemente correlacionadas.
Fase 3: Efetuar os testes para verificar a significância dos fatores obtidos: Para Pereira
(2003), temos:
• Esfericidade de Bartlett: saber se a correlação existente entre as variáveis é
significativa a ponto de apenas alguns fatores poderem representar grande parte
da variabilidade dos dados. Tem-se como base a significância (0,05<Sig).
• Medida de adequacidade da amostra Kaiser-Meyer-Olkin (KMO): procura saber
se a correlação entre cada par de variáveis pode ser explicada pelas demais
variáveis incluídas no estudo. Segue-se a seguinte regra < 0,50 – inaceitável, 0,7
boa e acima 0,80 muito boa;
Para Hair (1998), um recurso possível para adequação da amostra é eliminar da análise
variáveis que apresentem baixos índices de correlação parciais com as demais, adotando
50% como limite inferior - MSA – Measure of Sampling Adequacy, em que há
correlação de uma variável contra outra, controlados os efeitos de todas as outras
consideradas no modelo.
Deve-se analisar, ainda, nesta fase a comunalidade, ou seja, a porcentagem da variância
da variável que contribui para a correlação com as demais variáveis, ou é comum às
outras variáveis Aaker, Kumar e Day (2001).
O pesquisador deve considerar apenas as variáveis que tenham pelo menos metade da
variância explicada e a grande maioria acima de 60%. Assim, todas as variáveis da
matriz (abaixo) atendem ao critério de explicação suficiente da variância e foram
consideradas na carga fatorial.
Fase 4: Obter a interpretação dos fatores gerados que irão representar as novas
variáveis, podendo ser selecionados por um ou mais critérios:
134
• Autovalores: os fatores que tiverem eigenvalue acima de 1 devem ser
selecionados (ideal para casos entre 20 e 50), mas, na prática, é usado para todos
os casos – sendo esse método o mais conservador;
O autovalor de um fator indica a variância total atribuída aquele fator. A
variação total atribuída é igual ao número de fatores, portanto, (autovalor /
número total de variáveis) x 100 = % da variância total.
• Variância explicada: exame dos percentuais de variâncias explicadas por cada
um dos fatores. Para as ciências sociais, Hair (1998) refere que 60% é razoável
e, em alguns casos, até menos;
• Diagrama: diagrama dos autovalores obedece à regra de se definir a quantidade
de fatores antes do total da variância acumulada dominar a estrutura, ou seja,
formar quase uma reta pela gradual redução dos valores da variância explicada
para cada fator.
Pode o pesquisador defrontar-se com situações em que o número de fatores pode variar
um pouco e a sua definição deve levar em consideração um dos objetivos da análise
fatorial que é a parcimônia. Se o pesquisador trabalhar com poucos fatores, pode haver
prejuízo na estrutura latente e, com muitos fatores, a interpretação torna-se um tanto
difícil.
Como recomenda Hair (1998), o pesquisador deve procurar extrair um conjunto de
fatores que seja representativo e parcimonioso.
Ao escolher o número de fatores, é necessário analisar a matriz de cargas para
identificar em quais fatores estão alocadas as variáveis, isto é, o processo deve ser
realizado mediante as chamadas cargas fatoriais que são as correlações entre os fatores e
as variáveis originais. A carga fatorial oferece, assim, uma indicação de como variáveis
originais estão correlacionadas com cada fator, bem como a extensão desta correlação.
Existindo dificuldade em interpretar tais fatos, deve-se realizar a chamada rotação dos
fatores.
135
Fase 5: Rotação dos fatores: significa transformar a matriz inicial das cargas fatoriais
em outra mais fácil de interpretar – rotacionando os eixos coordenados, de tal forma,
que os eixos passem pelas maiores nuvens de pontos. Cada fator deverá ter cargas
expressivas somente com algumas variáveis.
A rotação dos fatores é feita segundo dois tipos: ortogonal e oblíquo. Na rotação
ortogonal: os fatores assumem total independência dos componentes (não têm relação) e
os ângulos são mantidos retos. Exemplos:
• Varimax: pretende-se que, para cada componente principal, existam apenas
alguns pesos significativos e todos os outros sejam próximos de zero. Este,
segundo Hair (1998), é o método mais utilizado;
• Quartimax: pretende-se tornar os pesos de cada variável elevados para um
número reduzido de componentes e próximos de zero para os componentes
restantes;
• Equamax: é combinação modelos anteriores.
Para este tipo de rotação, aplicam-se os casos como os dos modelos genéricos de
competências, conforme estudos de Horton (2000) e Zhong e Kan (2004) em que a
independência ocorre conceitualmente.
Rotação Oblíquo: os fatores não assumem total independência dos componentes (têm
correlação) e os ângulos não são mantidos retos. O principal tipo é o direct oblimin –
métodos oblíquos (não ortogonais).
Para este tipo de rotação, aplicam-se casos com forte presença de dependência das
variáveis em estudo. Exemplo: as dimensões dos indicadores contábeis: liquidez,
retorno, estrutura, risco, fluxo de caixa e crescimento de Abrantes (2001).
Após a rotação, é importante saber que cada variável deverá ter cargas não nulas
somente com alguns fatores; a rotação não afeta a qualidade do ajuste do modelo
136
fatorial; as comunalidades e o total da variância explicada pelos fatores não mudam com
a rotação, e o percentual de variância explicada em cada fator muda após a rotação.
Fase 6: Interpretação dos fatores: neste momento o pesquisador deve procurar
intuitivamente, com base na análise das variáveis que compõem cada um dos fatores, e
rotular o fator. Para Hair (1998), este processo deve ocorrer de forma intuitiva com base
em sua adequação para representar as dimensões latentes de um fator particular.
Por final, espera-se que, mediante a execução destas rotinas, seja possível efetuar a
análise dos dados coletados na pesquisa de campo, buscando-se resposta para os
questionamentos postos pela pesquisa:
Haveria uma estrutura de interdependência subjacente às competências do
contador, explicando-as melhor?
Qual a competência ou competências a serem priorizadas no desenvolvimento do
contador?
CAPÍTULO IV
ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA
137
O objetivo deste capítulo é apresentar os resultados da pesquisa empírica buscando
compor as respostas para as questões postas por esta pesquisa. Os dados serão
apresentados primeiramente de forma descritiva e depois apresentam-se os resultados da
análise fatorial e conclui-se com a apresentação do modelo genérico de competência
devidamente validado.
4. RESULTADOS DA PESQUISA
4.1.Os Dados da Pesquisa
Na pesquisa de campo foram recebidos 175 questionários respondidos durante os meses
de junho a outubro de 2004. Analisando-se os dados recebidos, foram excluídos 8
questionários em razão de erros de preenchimento (3) e por dados extremos (5)
atribuição de grau máximo de importância a todas as variáveis, ou seja, trata-se de
respostas estereotipadas, segundo Nunnally (1978).
Também foram excluídos 8 casos de dados ausentes seguindo os preceitos de
Tabachnick e Fidell (2001). O total foi de 159 casos a serem analisados
estatisticamente.
Seguindo as recomendações de autores como Tabachnick e Fidell (2001) e Hair et al.
(1998) quanto à relevância inicial para a adoção de técnicas multivariadas, para a
verificação dos dados coletados, apresentam-se, a seguir, os procedimentos e os
resultados das análises realizadas tendo em vista a identificação de dados ausentes e
extremos.
4.1.1. Análise dos Dados Ausentes
138
Segundo Hair et al. (1998), os dados ausentes podem ser definidos como uma
informação não disponível a respeito de uma pessoa (ou caso) sobre o qual outras
informações estão disponíveis.
Identificados casos nessa situação, o pesquisador dispõe de três opções: a) proceder à
imputação de dados ausentes pela média (substituição pela média); b) não utilizar casos
com dados ausentes em um ou dois indicadores, quando os mesmos são tomados em
pares; c) considerar apenas os casos que contêm dados válidos para todos os
indicadores.
Cabe salientar, no entanto, que a grande dificuldade gerada pela presença de um dado
ausente refere-se aos vieses em que sua exclusão pode alterar resultados, quando não
precedida uma análise de sua aleatoriedade. Autores como Tabachnick e Fidell (2001)
destacam, todavia, que tal análise pode ser dispensada quando o percentual de dados
ausentes, por variável, revelar-se inferior a 5% do total de casos.
Assim sendo, a fim de proceder-se à análise de dados ausentes, foi calculada a
distribuição de freqüência dos indicadores pesquisados. Na tabela 1, apresenta-se a
distribuição de freqüência absoluta e relativa dos casos ausentes obtidos para cada
variável. É importante lembrar que a ordem de apresentação das variáveis segue a
ordem utilizada no questionário.
Número
Variáveis
Dados Ausentes
%
V1 Analítica 1 0,60 V2 Autocontrole 0 0,00
139
V3 Comunicação 0 0,00 V4 Empreendedor 1 0,60 V5 Estratégia 0 0,00 V6 Ferramentas de Controle 0 0,00 V7 Legal 1 0,60 V8 Informática 1 0,60 V9 Integridade e Confiança 0 0,00 V10 Contabilidade e Finanças 0 0,00 V11 Negociação 0 0,00 V12 Ouvir Eficazmente 1 0,60 V13 Atendimento 0 0,00 V14 Planejamento 1 0,60 V15 Técnicas de Gestão 0 0,00 V16 Trabalho em Equipe 2 1,20 V17 Gestão de Informação 0 0,00 V18 Relacionamento Externo 0 0,00
Tabela 4.1: Identificação dos Dados Ausentes
Pela tabela 4.1 verifica-se que, comparativamente ao total de casos, todas as variáveis
pesquisadas apresentaram percentuais de dados ausentes inferiores a 5%. Diante disso,
os 8 casos em que os mesmos foram observados puderam ser excluídos, sem riscos de
um viés considerável na análise.
4.1.2. Análise dos Dados Extremos
Com o objetivo de retirar as observações cujas características revelaram-se destoantes
daquelas apresentadas no conjunto dos dados obtidos, foram retirados os casos que
sistematicamente colocam o mesmo grau de importância em todas as variáveis.
Este processo de exclusão segue os critérios adotados em estudos similares de modelo
genérico feito por Horton (2000) e Zhong e Kan (2004), baseados em Nunnally (1978) e
Cone e Foster (1997).
Após analise exploratória dos dados, foram identificados 5 casos nos questionários que,
sistematicamente, fizeram anotações de grau máximo e, portanto, foram considerados
dados extremos e excluídos da amostra.
140
Com a exclusão dos dados ausentes e extremos, teve início a segunda etapa da pesquisa
que se refere à análise dos resultados da pesquisa.
4.2. Os Resultados da Pesquisa
Os resultados da pesquisa serão apresentada em dois grandes grupos dos quais o
primeiro refere-se à análise exploratória dos dados e a segunda refere-se à análise
fatorial.
4.2.1. Análise Exploratória Descritiva
Baseando-se nos dados coletados pela pesquisa de campo têm-se, como características
dos respondentes, as seguintes informações:
Sexo Instituições Masculino Feminino
Total
PUC – Campinas 42 31 73 USP 45 41 86
87 72 159 Total 54,7% 45,3% 100,0%
Tabela 4.2: Distribuição de Freqüência dos Respondentes por Sexo
Na amostra selecionada, é possível perceber que a maioria dos respondentes válidos é
do sexo masculino com 54,7% do total. Os dados apresentam certo equilíbrio quanto ao
gênero dos respondentes na composição da amostra.
141
Faixa Etária Cargo De 21 a 30 De 31 a 40 De 41 a 50 Acima de
51
Total
%
Administrativo 24 15 3 0 42 27,1% Profissional Senior
17
16
7
0
40
25,8%
Gerencial 20 25 12 0 57 36,8% Diretoria 8 5 1 2 16 10,3%
69 61 23 2 155 100,0% Total 44,5% 39,4% 14,8% 1,3% 100,0%
Tabela 4.3: Distribuição de Freqüência dos Cargos dos Respondentes
Pode-se perceber que a amostra é constituída, em sua maioria, por profissionais de nível
sênior, gerencial e diretoria, prevalecendo, desta forma, a própria característica das
funções que os contadores ocupam nas organizações. Outra característica interessante é
que 44,5% dos respondentes desta questão são contadores com idade entre 21 a 30 anos.
Deve-se também considerar que alguns respondentes não preencheram este campo e,
portanto, o total nesta tabela e em outras que serão listadas abaixo não totalizam os 159
respondentes.
Grau de Escolaridade Total Experiência
Profissional Superior Completo
Pós-Graduação
MBA
Mestrado Doutorado Completo
%
Menos de 2 anos 11 3 14 9,1% Mais de 2 até 5 anos 34 12 46 29,9% Mais de 5 até 8 anos 19 20 39 25,3% Mais de 8 anos 33 19 3 55 35,7%
97 54 3 154 100,0% Total 63,0% 35,1% 1,9% 100,0%
Tabela 4.4: Distribuição de Freqüência do Grau de Experiência Profissional e
Escolaridade
Do total de respondentes, 35,7% têm mais de 8 anos de experiência em contabilidade e
controladoria, o que demonstra um grau de amadurecimento importante na profissão.
Sobre a formação, 63% têm curso superior completo e 35,1% têm outros cursos de pós-
graduação ou MBA já realizados.
142
Instituição Setor PUC – Campinas USP
Total
Indústria 31 37 68 19,9% 23,7% 43,6% Comércio 14 19 33 9,0% 12,2% 21,2% Serviços 26 29 55 16,7% 18,6% 35,3% Total 71 85 156
45,5% 54,5% 100,0%
Tabela 4.5: Distribuição de Freqüência do Setor das Empresas dos Respondentes
A indústria é a empregadora responsável por 43,6% do total de respondentes, ficando o
setor de serviços em segundo lugar com 35,3%.
A tabela 4.6, apresentada abaixo, demonstra aspectos de variabilidade, podendo
demonstrar ainda diferenças oriundas da própria origem dos entrevistados. Este fato
reforça a decisão de não se excluir por outras metodologias, além da adotada no início
deste capítulo, os dados extremos.
143
Desvio
Competências Casos Mínimo Máximo Média Padrão Assimetria Curtose
Analítica 159 5 10 8,29 1,19 -0,487 0,14
Autocontrole 159 4 10 8,08 1,21 -0,44 -0,24
Comunicação 159 5 10 8,81 1,15 -1,001 1,249
Empreendedor 159 4 10 7,83 1,42 -0,848 1,033
Estratégia 159 1 10 7,99 1,6 -1,729 5,129
Ferramentas de Controle
159 2 10 8,79 1,38 -2,335 4,976
Legal 159 2 10 8,29 1,43 -1,461 3,803
Informática 159 4 10 8,04 1,27 -0,52 0,472
Integridade e Confiança
159 5 10 8,59 1,44 -0,872 -0,105
Contabilidade e Finanças
159 2 10 8,7 1,5 -1,902 5,694
Negociação 159 1 10 7,92 1,89 -2,059 4,684
Ouvir Eficazmente
159 5 10 8,36 1,19 -0,726 0,406
Atendimento 159 5 10 8,43 1,29 -0,68 -0,057
Planejamento 159 6 10 8,69 1,12 -0,394 -0,726
Técnicas de Gestão
159 2 10 8,01 1,61 -1,528 2,924
Trabalho em Equipe
159 5 10 8,82 1,04 -0,56 0,008
Gestão de Informação
159 5 10 8,41 1,2 -0,524 -0,146
Relacionamento Externo
159 2 10 8,09 1,56 -1,104 2,616
Tabela 4.6: Dados Descritivos das Variáveis Observadas
Os dados apresentados acima revelam que a média está entre 7,83 (variável
empreendedor) e 8,81 (variável comunicação). O desvio padrão está na maioria acima
de 1, o que demonstra variabilidade particularmente nas variáveis negociação e técnica
de gestão. Há, assim, uma distribuição assimétrica negativa em todas as variáveis.
144
Grau de Importância (%)
Competências 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 %
Analítica 3,1 1,3 20,8 29,6 28,8 16,4 100
Autocontrole 0,6 0,6 8,8 23,3 22,6 34,7 9,4 100
Comunicação 2,5 0,6 6,9 27,7 28,3 34 100
Empreendedor 5 2,5 3,8 22 37,1 18,9 10,7 100
Estratégia 1,9 3,8 8,8 14,5 27 32,1 11,9 100
Ferramentas de Controle
1,9 0,6 10,1 21,4 30,8 35,2 100
Legal 1,3 0,6 2,5 3,1 16,4 25,2 32,7 18,2 100
Informática 1,3 2,5 5,7 20,8 34,6 21,9 13,2 100
Integridade e Confiança
4,4 5,7 11,9 17,6 25,2 35,2 100
Contabilidade e Finanças
1,9 0,6 3,1 10,7 22 23,3 38,4 100
Negociação 1,9 3,8 2,5 3,1 14,5 28,9 34,6 10,7 100
Ouvir Eficazmente
2,5 6,3 8,8 34 31,9 16,5 100
Atendimento 3,1 4,4 15,7 22,6 31,4 22,8 100
Planejamento 3,1 11,3 30,2 23,9 31,5 100
Técnicas de Gestão
1,9 3,8 1,9 3,8 17,6 23,9 35,8 11,3 100
Trabalho em Equipe
0,6 0,6 8,2 29,6 28,9 32,1 100
Gestão de Informação
1,9 3,8 17 26,4 30,8 20,1 100
Relacionamento Externo
1,9 1,3 8,2 23,9 20,8 23,3 20,6 100
Tabela 4.7 – Freqüência em Percentual Atribuído pelos Respondentes para cada
Competência
A tabela 4.7 revela que a variável mais citada como a mais importante (grau de
importância = 10) é a competência em contabilidade e finanças com 38,4%, ficando em
segundo lugar as variáveis ferramentas de controle e integridade e confiança, empatadas
com 35,2%. Constata-se que, com relação às competências, nenhuma delas apresenta
alto percentual de respostas com alto grau de importância.
4.2.2. Análise Multivariada
145
Dentro do processo de análise dos dados desta pesquisa Malhotra (2001), informa que a
característica a ser medida por uma escala de múltiplos itens chama-se construtor e sua
elaboração começa com uma teoria subjacente.
No caso desta pesquisa, o construtor que está sendo procurado é a estrutura genérica de
competência, cuja teoria subjacente está fundamentada especialmente nas referências de
Boyatizis (1982) e Spencer e Spencer (1993).
4.2.2.1. Alfa de Cronbach
Como descrito em detalhes no capítulo 3 deste trabalho, foi utilizado, como medida de
fidedignidade do instrumento, o alfa de cronbach (1951), procurando-se avaliar o grau
em que as escalas das variáveis competências geram resultados equivalentes, revelando-
se ausência de erros aleatórios, conforme Nunnally (1978).
Após ajuste da correlação negativa entre variável trabalho em equipe e relacionamento
externo, seguindo-se o pressuposto de Pereira (2001), o alfa de cronbach apurado foi de
0,8774 e o alfa padronizado foi de 0,8772, o que, segundo Nunnally (1978), está de
acordo com o tipo de pesquisa exploratória na área comportamental onde o mínimo
aceitável é de 0,70. A seguir segue-se a tabela detalhada dos cálculos do alfa retirado do
SPSS:
146
Competências
Média Escala se o
Item é Retirado
Variância se o
Item é Retirado
Correlação
Total do Item
Alfa se o Item é
Retirado
Analítica 141,8428 183,1713 0,4629 0,8725
Autocontrole 142,0503 185,5797 0,3759 0,8753
Comunicação 141,327 184,6898 0,4301 0,8735
Empreendedor 142,3019 177,1235 0,5397 0,8695
Estratégia 142,1384 175,1326 0,512 0,8708
Ferramentas de Controle
141,3459 177,8986 0,532 0,8699
Legal 141,8428 177,4498 0,5224 0,8702
Informática 142,0943 183,0986 0,4281 0,8736
Integridade e Confiança
141,5409 179,0094 0,4779 0,8719
Contabilidade e Finanças
141,434 175,3738 0,5477 0,8692
Negociação 142,2138 168,2198 0,5646 0,8692
Ouvir Eficazmente
141,7736 185,8851 0,3738 0,8753
Atendimento 141,7044 179,6909 0,5234 0,8703
Planejamento 141,4403 178,2353 0,6645 0,8663
Técnicas de Gestão
142,1195 171,7008 0,5943 0,8672
Trabalho em Equipe
141,3145 190,9385 0,2599 0,8783
Gestão de Informação
141,7233 180,7837 0,5328 0,8702
Relacionamento Externo
142,0377 171,5049 0,6254 0,8658
Tabela 4.8 – Alfa de Cronbach das Variáveis Observadas
Tem-se na primeira coluna da tabela 4.8 a escala média. Se o item é retirado, o que se
pode observar é que há um grande equilíbrio entre os indicadores, não sendo
demonstrada nenhuma dependência de peso entre os indicadores.
A segunda coluna demonstra a variância corrigida, se o item é retirado, e as variáveis
que apresentam a maior variabilidade de medida são: negociação, relacionamento
externo e técnicas de gestão.
147
A terceira coluna trata da correlação corrigida entre o item e o total depurado de sua
própria contribuição. Este dado é usado, segundo Pereira (2001), para as situações em
que se quer saber se a contribuição de cada item é efetiva, suficiente para valer o
esforço de sua mensuração no futuro. Para o autor, há casos de, pelo menos, 0,4 em
pesquisas da área de saúde e algo em torno de, no mínimo, 0,25 para valer a pena
mensurar em outras áreas do conhecimento. Percebe-se que todas as variáveis ficaram
dentro deste critério, e as que apresentaram menor correlação com o conjunto foram:
trabalho em equipe, ouvir eficazmente e autocontrole.
A quarta coluna demonstra como fica o alfa, se o item é retirado, sendo este o indicador
mais importante neste caso da pesquisa. Esta análise deve ser feita para verificar se
existe consistência interna uniforme entre as variáveis ou se algumas determinam o
valor do alfa de cronbach sozinhas, o que pode ser perigoso, segundo Numally (1978).
No caso desta pesquisa, não identificamos nenhuma variável que tenha grande peso
sobre o indicador, o que é bom quanto à consistência interna.
4.2.2.2. Análise Fatorial Exploratória
A análise fatorial exploratória será a técnica multivariada utilizada para poder avaliar a
existência da estrutura genérica de competência para contadores, conforme detalhado no
capítulo 3. As fases para realização da fatorial são descritas logo abaixo:
Fase 1: Deve-se, antes de realizar a análise fatorial, avaliar se existe correlação entre
variáveis para poder saber se a análise fatorial é indicada para avaliar a existência do
construto comum. Esta análise de correlação é feita (2 a 2) entre as variáveis. Por serem
as correlações entre as variáveis pequenas, a análise fatorial pode ser inadequada para
tratamento dos dados.
Hair et al. (1998) informa que essa fase é visual e procura identificar as correlações
relevantes, identificando as que são estatisticamente significantes no nível 0,01. Este
processo é, segundo Pereira (2001), inicial e exploratório, servindo para que o
pesquisador tome contato com os dados e comece a perceber se alguma variável não
apresenta correlação significativa com nenhuma outra variável. O importante é se tenha
um bom número de variáveis correlacionadas acima de 0,30, segundo Maroco (2003).
148
As hipóteses colocadas nesta fase são:
• H0 – as variáveis da matriz de correlações não são suficientemente
correlacionadas;
• H1 – as variáveis da matriz de correlações são suficientemente correlacionadas.
A tabela 4.9 apresenta a matriz de correlação entre as variáveis construídas com base
nas respostas referentes ao grau de importância atribuída a cada competência. É possível
perceber que existem casos de variáveis altamente correlacionadas como: V10
(contabilidade e finanças) com V6 (ferramentas de controle) e V7 (legal) com alta
correlação: 0,698 e 0,669, respectivamente. Entre V6 e V7 tem-se 0,628 de correlação,
esperando, deste modo, que possam estar no mesmo fator. Outras duas variáveis
altamente correlacionadas referem-se a V5 (estratégica) com V11 (negociação) com
0,586. Pelo exame visual das variáveis feito na tabela 4.9, percebe-se que as variáveis
apresentam correlações suficientes.
89
Variáveis V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10 V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V1 Analítica 1
V2 Autocontrole 0,309 1
V3 Comunicação 0,306 0,32 1
V4 Empreendedor 0,286 0,285 0,555 1
V5 Estratégia 0,323 0,03 0,394 0,551 1
V6 Ferramentas de Controle
0,277 0,252 0,121 0,114 0,207 1
V7 Legal 0,151 0,3 0,15 0,162 0,111 0,628 1
V8 Informática 0,039 0,199 0,035 0,218 0,167 0,314 0,362 1
V9 Integridade e Confiança
0,366 0,237 0,422 0,526 0,416 0,077 0,119 0,244 1
V10 Contabilidade e Finanças
0,173 0,173 0,086 0,157 0,238 0,698 0,669 0,314 0,071 1
V11 Negociação 0,352 0,064 0,226 0,452 0,586 0,272 0,221 0,215 0,386 0,339 1
V12 Ouvir Eficazmente
0,186 0,356 0,379 0,186 0,077 0,281 0,272 0,204 0,208 0,202 0,024 1
V13 Atendimento 0,32 0,338 0,385 0,234 0,182 0,31 0,35 0,337 0,402 0,246 0,059 0,554 1
V14 Planejamento 0,465 0,293 0,33 0,384 0,385 0,344 0,44 0,212 0,293 0,438 0,31 0,38 0,532 1
V15 Técnicas de Gestão
0,312 0,139 0,066 0,278 0,335 0,429 0,365 0,317 0,193 0,536 0,668 0,077 0,146 0,462 1
V16 Trabalho em Equipe
0,115 0,314 0,177 0,140 0,007 0,206 0,168 0,25 0,243 0,074 -0,034 0,279 0,466 0,228 0,111 1
V17 Gestão de Informação
0,209 0,09 0,168 0,339 0,339 0,121 0,254 0,47 0,284 0,331 0,533 0,016 0,197 0,365 0,571 0,253 1
V18 Relacionamento Externo
0,31 0,214 0,176 0,418 0,441 0,438 0,367 0,292 0,224 0,433 0,525 0,23 0,339 0,526 0,498 -0,036 0,435 1
Tabela 4.9 – Matriz de Correlação das Variáveis Observadas
90
Fase 2: Esta fase procura avaliar a significância dos dados obtidos com os testes de Bartlett,
KMO e a análise da Matriz de Anti Imagem.
O teste de esfericidade de Bartlett informa se a correlação existente entre as variáveis é
significativa, a ponto de apenas alguns fatores poderem representar grande parte da
variabilidade dos dados. Tem-se como base a significância (0,05<Sig).
Medida Estatística Medida de adequação da amostra (KMO) 0,790 Teste de esfericidade de Bartlett Qui-Quadrado aproximado 1363,53
Graus de liberdade 153 Significância 0,000
Tabela 4.10 – Adequação Global da Amostra e Esferacidade
Em relação à esferecidade, a Tabela 4.10 indica que a significância encontrada no teste de
Bartlett rejeitou a hipótese nula de que existiriam na amostra correlações iguais a 0 (zero).
A medida de adequação da amostra Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) procura testar se a correlação
entre cada par de variáveis pode ser explicada pelas demais variáveis incluídas no estudo. A
medida contida no intervalo [0,1], quanto mais próximo de 1 for o valor obtido, melhor a
adequação da amostra. Hair et al. (1998) apresentam as seguintes faixas de aceitação,
baseados no valor do KMO:
Intervalo Adequação 0,80 a 1,00 Excelente 0,70 a 0,80 Média 0,60 a 0,70 Medíocre 0,50 a 0,60 Muito Ruim 0,00 a 0,50 Inaceitável
Tabela 4.11 – Mensuração da Adequação da Amostra – Faixas de Aceitação
Fonte: Hair et al. (1998)
91
No que tange à medida de adequação da amostra – KMO, as variáveis em estudo
apresentaram medidas de adequação da amostra acima de 0,79, superiores, portanto, a 0,70 e
bem próximas de 0,80, o que é considerado um resultado dentro da média.
Segundo Hair et al. (1998), um recurso possível para adequação da amostra é eliminar da
análise variáveis que apresentem baixos índices de correlação parcial com as demais,
adotando 50% como limite inferior - MSA – Measure of Sampling Adequacy. Tem-se, então,
a correlação de uma variável contra outra, controlados os efeitos de todas as outras
consideradas no modelo.
Na tabela 4.12, demonstrada abaixo, pode-se perceber que todas as variáveis em estudo
apresentaram valores superiores a 0,50, o que demonstra, mais uma vez, que a amostra pode
ser considerada adequada (Hair et al., 1998).
Var V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8
V9 V10
V11
V12
V13
V14
V15
V16
V17
V18
V1 0,778
V2 0,775
V3 0,777
V4 0,826
V5 0,831
V6 0,708
V7 0,846
V8 0,75
V9 0,839
V10
0,815
V11
0,793
V12
0,838
V13
0,804
V14
0,832
V15
0,829
V16
0,549
V17
0,718
V18
0,816
92
Tabela 4.12 – Matriz de Anti Imagem
Como foi discutido no capítulo 3, a análise fatorial tem como pressuposto principal aspectos
teóricos do modelo a ser pesquisado, já os aspectos estatísticos expressos por Hair et al.
(1998) são as premissas da análise multivariada, ou seja, normalidade, homocedasticidade e
linearidade.
Na técnica fatorial, o efeito básico dos desvios a estas premissas é a diminuição das
correlações observadas na matriz. O fundamental é que haja suficiente correlação entre as
variáveis Nunnally (1978) e Hair et al. (1998), o que, no caso desta pesquisa pode ser
constatado nos testes realizados e apresentados até o momento.
A última análise a ser realizada é a da comunalidade que se refere à porcentagem da variância
da variável que contribui para a correlação com as demais variáveis, ou seja, comum às
outras variáveis.
A tabela 4.13 apresenta a comunalidade das variáveis, em que a quase totalidade das variáveis
apresenta valores acima de 0,40, o que é razoável para amostras de aproximadamente 150
observações, segundo Lucia & Lepsonger (1999) e Maroco (2003). As variáveis analíticas, de
autocontrole e domínio da informática apresentaram valores um pouco inferiores a este
parâmetro, o que pode representar uma limitação do estudo, pois o pesquisador pode, se julgar
importante, retirar mesmo estas variáveis. É importante frisar que o estudo de Giunipero e
Pearcy (2000) apresenta as mesmas características com poucas variáveis abaixo desse
parâmetro.
93
Comunalidades Inicial Extração Analítica 0,490 0,390 Autocontrole 0,415 0,361 Comunicação 0,503 0,519 Empreendedor 0,581 0,590 Estratégia 0,540 0,545 Ferramentas de Controle 0,680 0,668 Legal 0,577 0,585 Informática 0,425 0,355 Integridade e Confiança 0,476 0,468 Contabilidade e Finanças 0,664 0,727 Negociação 0,688 0,724 Ouvir Eficazmente 0,412 0,430 Atendimento 0,610 0,663 Planejamento 0,609 0,511 Técnicas de Gestão 0,656 0,635 Trabalho em Equipe 0,463 0,434 Gestão de Informação 0,614 0,759 Relacionamento Externo 0,584 0,504
Tabela 4.13 – Comunalidades das Variáveis
Fase 3: Esta fase do processo procura definir a obtenção e interpretação dos fatores gerados, os quais irão representar as novas variáveis que podem ser selecionadas por meio de um ou
mais critérios. O primeiro passo será definir o método para extração dos fatores, o que, neste
caso, foi o principal axis factoring julgado por Maroco (2003) como o mais utilizado e que
apresenta os resultados mais consistentes.
a) Autovalores: o critério comumente utilizado para estimar o número de fatores é o
eigenvalue, acima de 1, e considerado por alguns autores como o mais conservador;
94
O autovalor de um fator indica a variância total atribuída a esse fator. A variação total
atribuída é = números de fatores. Portanto, (autovalor / número total de variáveis) x
100 = % da variância total.
b) Variância explicada: exame dos percentuais de variâncias explicadas por cada um dos
fatores, para as ciências sociais. Hair (1998) refere que 60% são razoáveis e, em
alguns casos, pode ser usado até menos;
c) Diagrama: o diagrama dos autovalores obedece à regra de definir-se a quantidade de
fatores antes de o total da variância acumulada dominar a estrutura, ou seja, antes de
formar quase uma reta pela gradual redução dos valores da variância explicada para
cada fator.
Na tabela 4.14 serão apresentados os dados para análise do número de fatores previstos pelos
critérios de autovalores e da variância explicada.
Autovalores Iniciais
Extração da soma dos pesos ao quadrado
Rotação da soma dos pesos ao quadrado
Variância Variância Variância Variância Fator Total % Acumulada
(%) Total % Acumulada
(%) Total
1 5,966 33,143 33,143 5,532 30,734 30,734 3,007 2 2,143 11,903 45,046 1,704 9,469 40,203 2,771 3 2,068 11,487 56,534 1,653 9,182 49,385 2,28 4 1,258 6,992 63,525 0,808 4,492 53,877 1,639 5 0,929 5,159 68,684 6 0,808 4,488 73,172 7 0,738 4,103 77,274 8 0,647 3,597 80,871 9 0,574 3,189 84,06 10 0,511 2,842 86,901 11 0,468 2,599 89,501 12 0,395 2,197 91,698 13 0,338 1,88 93,578 14 0,298 1,656 95,235 15 0,296 1,642 96,876 16 0,235 1,303 98,18 17 0,176 0,98 99,16 18 0,151 0,84 100
Tabela 4.14 – Distribuição da Variância entre os Fatores Extraídos
95
Analisando-se os dados da tabela 4.14, percebe-se que, no critério de autovalores superiores a
1, devem-se considerar 4 fatores para estes dados. Pelo critério da variância explicada, porém,
um total de 4 fatores explica 63,52% da variância. Percebe-se que, a partir deste número, no
caso da variância explicada, tem-se pouca agregação de valores.
Número de Fatores
181716151413121110987654321
Autovalores
7
6
5
4
3
2
1
0
Gráfico 4.1 – Diagrama de Autovalores
Pelo critério de análise visual do método de diagrama, pode-se considerar como um número
de fatores razoáveis um total de 4 a 5 fatores, pois, a partir do quinto fator, percebe-se o peso
da variância acumulada. Tem pouco poder de explicação a inserção de mais fatores.
Com base nestas duas possibilidades, isto é, tornando-se 4 a 5 fatores, segundo o pensar do
autor desta pesquisa, o mais forte estatisticamente são os 4 fatores, o que se justifica por gerar
fatores mais representativos e parcimoniosos, Está é função do pesquisador ao fazer esta
análise de número de fatores, conforme ensinamentos de Hair et al. (1998).
96
Estas conclusões também foram precedidas da simulação dos fatores com 3 e com 5 fatores, e
o que demonstrou ser mais aderente ao modelo de competência, isto é, mais parcimonioso,
foi o modelo com quatro fatores confirmando o indicativo estatístico.
Fase 4: Após a definição do número de fatores deve-se analisar a matriz de cargas geradas a
qual apresenta os coeficientes utilizados para expressar as variáveis padronizadas quanto aos
fatores.
Estes coeficientes são denominados cargas fatoriais e representam as correlações entre os
fatores e a as variáveis da matriz. A carga fatorial oferece, assim, uma indicação de como as
variáveis originais estão correlacionadas com cada fator, bem como a extensão desta
correlação;
Fatores Variáveis 1 2 3 4
Analítica 0,488 Autocontrole 0,400 Comunicação 0,465 0,488 Empreendedor 0,582 0,449 Estratégia 0,560 Ferramentas de Controle 0,591 -0,485 Legal 0,583 -0,439 Informática 0,458 Integridade e Confiança 0,507 0,451 Contabilidade e Finanças 0,626 -0,555 Negociação 0,634 -0,564 Ouvir Eficazmente 0,414 0,494 Atendimento 0,580 0,539 Planejamento 0,701 Técnicas de Gestão 0,654 Trabalho em Equipe 0,293 0,429 0,402 Gestão de Informação 0,596 0,536 Relacionamento Externo 0,670
Tabela 4.15 – Matriz Incompleta dos Fatores (coeficientes > 0,400)
97
Ao analisar a tabela 4.15, pode-se perceber que a maior parte das cargas concentra-se no fator
um, o que dificulta sua interpretação. Este fato impossibilita a interpretação dos fatores e, por
conseqüência, dificulta a explicação das dimensões latentes.
A solução para esta situação, sem perder a variabilidade dos dados, é a rotação dos fatores. A
rotação significa transformar a matriz inicial das cargas fatoriais em outra mais fácil de
interpretar - rotacionando os eixos coordenados, de tal forma que os eixos passem pelas
maiores nuvens de pontos. Cada fator deverá ter cargas expressivas somente com algumas
variáveis.
Dentro dos tipos de rotações possíveis, tem-se o ortogonal e o oblíquo. Para o objetivo desta
pesquisa, a busca de um estrutura comum, o mais aderente é a metodologia ortogonal que
assume total independência dos componentes, não tendo relação, mantendo os ângulos retos
(Nunnally, 1978).
Dentro da rotação ortogonal, usou-se o método varimax, segundo o qual, para cada
componente principal devem existir apenas alguns pesos significativos, sendo todos os outros
próximos de zero. Este método é o mais utilizado neste tipo de pesquisa Horton (2000) e
Zhong e Kan (2004).
A tabela 4.16 mostra a distribuição das variáveis entre os fatores após a rotação varimax.
Pode-se perceber que, desta forma, obtém-se um melhor arranjo dos dados em torno dos
fatores, e consequentemente, do próprio modelo genérico.
Fatores Variáveis 1 2 3 4
Analítica 0,45 Autocontrole 0,479 Comunicação 0,577 Empreendedor 0,743 Estratégia 0,705 Ferramentas de Controle 0,783 Legal 0,694 Informática 0,465 Integridade e Confiança 0,554 Contabilidade e Finanças 0,822 Negociação 0,643 Ouvir Eficazmente 0,595 Atendimento 0,757
98
Planejamento 0,491 Técnicas de Gestão 0,437 0,515 Trabalho em Equipe 0,587 Gestão de Informação 0,804 Relacionamento Externo 0,498 0,441
Tabela 4.16 – Matriz Incompleta dos Fatores (coeficientes > 0,400) após Rotação
Ao rotar os fatores, Malhotra (2001) informa que se deve observar o seguinte para um bom
ajuste do modelo:
a) que cada fator tenha cargas ou coeficientes diferentes de zero para apenas algumas
variáveis;
b) que, quando os fatores forem carregados, que o sejam com poucas variáveis
significativas, e, se possível, com apenas uma.
Considerando-se estes critérios percebe-se que a rotação varimax atendeu ao processo de
alocação das variáveis aos fatores, pois, conforme se verifica, somente duas variáveis, o
relacionamento externo e as técnicas de gestão, apresentam dois valores acima de 0,40. Esta
conduta também pode ser explicada em estudos sobre competências de compradores, como o
de Giunipero e Pearcy (2000).
Fase 5: Nesta fase, deve-se buscar o refinamento da escala e denominação de cada fator. O
refinamento da escala refere-se à definição do número de variáveis que devem compor o
modelo de competências dos contadores. Para isso, utilizou-se a recomendação de Dutra
(2001), que indica algo em torno de sete a doze competências para formar o modelo. Outros
autores prevêem o uso de modelos reduzido com algo em torno de 8 a 14 competências, como
Horton (2000) e Zhong e Kan (2004).
Para Dutra (2001), este intervalo minimiza o viés de subjetividade na avaliação das pessoas e
aumenta a possibilidade de sobreposição entre as competências. Este fato tem relação direta
com o uso prático do modelo genérico.
99
Para realizar essa redução, utilizou-se o parâmetro das variáveis que apresentaram carga
fatoriais mais baixas, demonstrando menor relação com o construtor comum, modelo
proposto por Horton (2000).
Seguindo este critério, no caso desta pesquisa, foram retiradas todas as variáveis que
apresentaram cargas fatoriais menores que < 0,500. Enquadraram-se neste critério as
seguintes variáveis: analítica (0,450), autocontrole (0479), informática (0,465), planejamento
(0,491) e relacionamento externo (0,498). Com estes ajustes, o modelo passa de 18 variáveis
para 13 variáveis.
Após realizar essas reduções de variáveis, foi efetuada uma nova análise fatorial e nova
análise de todos os pressupostos desta técnica, o que foi plenamente atendido pelos novos
dados conforme descrito abaixo.
Um coeficiente de confiabilidade para nova escala foi medido pelo alfa de cronbach de
0,8342, superior mesmo aos padrões mínimos necessários.
O método de extração foi o principal axis factoring e o método de rotação dos fatores foi
varimax, os mesmos utilizados até o momento nesta pesquisa. Ao rodar o modelo novamente,
chegou-se aos seguintes resultados:
a) o teste de esfericidade de Bartllet obteve um p<0,000 para o nível de significância
de 0,05;
b) para a medida de adequacidade da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), obteve-
se neste estudo um valor absoluto de 0,777;
c) com a matriz de antiimagem obtiveram-se combinações que atingiram uma
correlação superior de 0,50 para cada par de variáveis e a que obteve o menor índice
foi a variável trabalho em equipe com 0,598.
Todos esses testes, em conjunto, demonstram que a hipótese nula, segundo a qual as variáveis
da matriz não são suficientemente correlacionadas, pode ser rejeitada. Aceita-se, desse modo,
o pressuposto da análise fatorial, usada por Hair (1998) e Tabachnick & Fidell (2001).
100
Outro critério considerado e aceito na análise fatorial foi o da comunalidade, isto é, a
variância comum da variável em relação às outras ficou com valores acima de 60% para todas
as variáveis, e as únicas que ficaram pouco abaixo de 50% foram as variáveis ouvir
eficazmente com 41%, integridade e confiança com 47,3% e trabalho em equipe com 45,7%
atendendo ao pressuposto referido por Hair (1998).
O número de fatores continuou 4 (quatro), para o que se utilizaram autovalores acima de 1,
variância explicada acima de 60% no acumulativo e, por final, foi feita a análise do diagrama
dos autovalores.
Autovalores Iniciais Variância Variância
Fatores Total (%) Acumulada (%) 1 4,39 33,771 33,771 2 2,001 15,392 49,163 3 1,918 14,756 63,919 4 1,089 8,379 72,297 5 0,628 4,828 77,125 6 0,581 4,469 81,594 7 0,543 4,174 85,767 8 0,434 3,335 89,103 9 0,35 2,689 91,792 10 0,338 2,597 94,389 11 0,302 2,325 96,714 12 0,235 1,806 98,52 13 0,192 1,48 100
Tabela 4.17 – Distribuição de Variância entre os Fatores Extraídos após Exclusões
101
Número de Fatores
13121110987654321
Autovalores
5
4
3
2
1
0
Gráfico 4.2 – Diagrama de Autovalores após Exclusões
Considerando-se os pressupostos da análise de cada um destes critérios expressos por
Tabachnick & Fidell (2001), foi definido o número de 04 fatores como aquele que melhor
atende aos pressupostos estabelecidos, demonstrando um poder explicativo de 72,29% da
variância.
Estes dados chegaram a uma nova matriz dos fatores após a rotação varimax, conforme é
apresentada abaixo:
Fatores Variáveis
Variáveis
Média
Desvio Padrão 1 2 3 4
V1 Comunicação 8,81 1,15 0,671 V2 Empreendedor 7,83 1,42 0,783 V3 Estratégia 7,99 1,6 0,624 V4 Ferramentas de Controle 8,79 1,38 0,799 V5 Legal 8,29 1,43 0,717 V6 Integridade e Confiança 8,59 1,44 0,568 V7 Contabilidade e Finanças 8,7 1,5 0,835 V8 Negociação 7,92 1,89 0,687 V9 Ouvir Eficazmente 8,36 1,19 0,497 V10 Atendimento 8,43 1,29 0,745 V11 Técnicas de Gestão 8,01 1,61 0,41 0,717
102
V12 Trabalho em Equipe 8,82 1,04 0,657 V13 Gestão da Informação 8,41 1,2 0,708
Tabela 4.18 – Matriz Incompleta dos Fatores (coeficientes > 0,400) após Rotação e Exclusões
Os dados apresentados na análise fatorial exploratória, após realizar a exclusão das variáveis,
demonstraram-se bastante consistentes em face dos critérios estatísticos necessários.
O próximo passo será nomear os fatores, quando, segundo Hair (1998), o pesquisador deverá
analisar as variáveis com maiores cargas em um fator particular e tentará designar um nome
ou rótulo para este fator de modo a tentar refletir com precisão as variáveis com carga naquele
fator. Este rótulo será desenvolvido intuitivamente pelo pesquisador com base em sua
adequação para representar as dimensões latentes de um fator particular.
Seguindo estes preceitos colocados por Hair (1998), nomeou-se e descreveu-se o significado
de cada fator que representam parte de um conjunto designado modelo genérico de
competências do contador.
Fator 01: Competências Específicas: congrega as competências voltadas aos conhecimentos
específicos da área de contabilidade, particularmente aqueles relacionados com aspectos
técnicos, como os de contabilidade, orçamento, planejamento, custos e controles internos.
Além disso, inclui-se a competência específica na parte de administração e planejamento
tributário. Percebe-se claramente que a característica básica do profissional é a sua
competência técnica. As competências aqui referidas são: contabilidade e finanças, legal e
ferramentas de controle.
Fator 02: Competências de Conduta e Administração: estão relacionadas com a visão de
negócios do profissional e a sua conduta nas negociações com membros internos e externos à
organização, bem como com a capacidade de se comunicar, analisar e resolver problemas da
atividade empresarial. É natural que no desenvolvimento das suas funções, o contador tenha
capacidade de entender o negócio da organização para poder administrar todos os interesses
relacionados aos dados que ele procurar apurar. Tudo isso está relacionado com a postura
profissional de integridade e confiança necessárias para o exercício da sua função. As
103
competências relacionadas com esses dados são: comunicação, empreendedora, estratégica e
integridade e confiança.
Fator 03: Competências de Gerenciamento da Informação: dentre as competências, talvez
seja a capacidade de gerenciar informação a mais recente a ser atribuída ao contador, dada a
importância que a TI - tecnologia da informação e os sistemas de gestão integrados
conhecidos como ERP’s têm atingido nas organizações. Deve-se aliar este aspecto à
competência em negociação de critérios para estabelecimento de um eficiente sistema de
informação, passando pelo conhecimento sobre técnicas de gestão utilizadas pelas
organizações. As competências relacionadas foram: gestão da informação, negociação e
técnicas de gestão.
Fator 04: Competências de Comunicação: como reflexo de toda uma mudança de postura
das próprias organizações em que a capacidade de se comunicar e de se fazer entender é vital
para o dia-a-dia, o contador necessita demonstrar tal competência. Capacidade de ouvir e
atender aos diversos usuários das informações gerenciais que ele administra também faz parte
deste contexto. Toda esta exigência está vinculada à capacidade de trabalhar em equipe, tanto
dentro da área de contabilidade como em grupos multidisciplinares na busca de soluções para
os problemas empresariais dos mais diversos. As competências relacionadas são: ouvir
eficazmente, atendimento e trabalho em equipe.
No capítulo três são apresentados os questionamentos desta pesquisa, dos quais o primeiro
está sendo aqui discutido:
Existiria uma estrutura de interdependência subjacente às competências do contador,
explicando-as melhor?
Buscando indícios para essas questões, pode-se considerar que os 04 fatores descritos acima
podem dar resposta a essas questões. A ordem dos fatores parece demonstrar uma certa
hierarquia ou talvez áreas de competência a serem consideradas na capacitação desses
profissionais. Para isso, porém, os resultados da pesquisa necessitam ser validados junto aos
profissionais de contabilidade.
104
4.2.3. A Validação da Pesquisa
O processo de validação é, sem dúvida, um dos mais importantes processos e um dos que
menos favorece os estudos exploratórios. Leve-se em consideração os preceitos de Cone &
Foster (1997), para os quais uma mensuração de atitudes tem validade, caso consiga medir
aquilo que se espera que meça. Os mesmos autores apontam os seguintes tipos de validades:
validade de face, de conteúdo e de construto.
4.2.3.1.Validade de Face
A primeira validade é a de face, estando mais relacionada, segundo os referidos autores, à
formulação de itens que não apareçam desapropriados, sem sentido ou sem propósito.
No caso dos dados destas pesquisas, percebe-se que essa validade foi contemplada, uma vez
que existe coerência nas respostas, obtendo-se altas taxas de respostas em todas as questões, e
a quase inexistência de rasuras e comentários desnecessário nos questionários distribuídos.
4.2.3.2.Validade de Conteúdo
A segunda validade, a de conteúdo, é feita de forma subjetiva pelo pesquisador ou pelos
profissionais ligados ao fenômeno estudado. No caso em estudo, a validação iniciou-se com a
revisão teórica para a construção do quadro de variáveis (competências) e depois foram
realizadas rodadas de discussões com os profissionais da área de contabilidade e o pré-teste,
respeitando-se todas estas premissas na construção dos questionários tanto pela ótica de
vocabulário como uma detalhada descrição das competências, procurando alinhar conceitos
no momento das respostas. Cabe também destacar o papel do dicionário de competências
como fator importante para este processo.
4.2.3.3.Validade do Construto - Interna
105
A terceira validade está relacionada ao construto em que se procura entender as razões pelas
quais a escala funciona e quais deduções podem ser feitas em relação à teoria subjacente. Este
processo depende de uma teoria subjacente forte e que contenha estudos aplicados
sistemáticos para poder auxiliar no processo de validação.
Para alguns autores, como Tabachnick & Fidell (2001), a análise fatorial pode ser considerada
um método de validação de construtos. Além da fatorial, são utilizados diversos métodos,
entre eles, o alfa cronbach, segundo os estudos de Chong Ho Yu (2003) e de Gardner (1995) e
(1996), os quais demonstram uma visão multidimensional, indo além da tradicional
unidimensionalidade para análise de construtos com aplicação do alfa de cronbach.
No estudo em questão, tem-se um alfa de 0,834 para todas as variáveis e alfas menores para
os fatores segregados, como apresentado na tabela 4.18:
Fator
Número de Variáveis
Cronbach
Alpha
1 3 0,811 2 4 0,779 3 3 0,800 4 3 0,699
Alpha Geral 13 0,834
Tabela 4.19: Alfa de Cronbach e a Fidedignidade do Construto
O alfa de cronbach mais elevado no conjunto do que em cada fator demonstra alta correlação
entre as variáveis como um todo, o que gera evidências de um construto comum subjacente
aos fatores, segundo Gardner (1995) e (1996), o que, neste caso, seria o modelo de
competências do contador.
Outra forma de validar os resultados, segundo Hair (1998), consiste em separar a amostra
aleatoriamente, comparando-se os resultados das duas amostras com o modelo originalmente
realizado.
Nesta pesquisa, foi separada a amostra original de 159 observações em duas partes de 80 e 79
casos, mediante a função select case do SPSS, rodando novamente a análise fatorial. Estas
106
amostras teriam 13 variáveis, o que daria cerca de 6 casos por variável dentro do limite
mínimo colocado por Hair (1998).
Em seguida, analisou-se com base nos mesmos critérios já expostos nos itens anteriores os
resultados dos testes: KMO, comunalidade, variância explicada, entre outros aspectos, e o
atendimento estatístico foi constatado aderente. Em seguida, foi realizada rotação varimax dos
fatores chegando-se à seguinte matriz de cargas rotacionada para cada amostra:
Fatores Variáveis 1 2 3 4
V1 Comunicação 0,676 V2 Empreendedor 0,815 V3 Estratégia 0,593 V4 Ferramentas de Controle 0,757 V5 Legal 0,664 V6 Integridade e Confiança 0,609 V7 Contabilidade e Finanças 0,89 V8 Negociação 0,866 V9 Ouvir Eficazmente 0,501 V10 Atendimento 0,755 V11 Técnicas de Gestão 0,6 V12 Trabalho em Equipe 0,644 V13 Gestão da Informação 0,575
Tabela 4.20 – Matriz Incompleta dos Fatores (coeficientes > 0,400) após Rotação – Validação
com Amostra 01 (80 casos)
Fatores Variáveis 1 2 3 4
V1 Comunicação 0,622 V2 Empreendedor 0,723 V3 Estratégia 0,531 V4 Ferramentas de Controle 0,796 V5 Legal 0,669 V6 Integridade e Confiança 0,508 V7 Contabilidade e Finanças 0,814 V8 Negociação 0,732 V9 Ouvir Eficazmente 0,511 V10 Atendimento 0,785
107
V11 Técnicas de Gestão 0,65 V12 Trabalho em Equipe 0,725 V13 Gestão da Informação 0,548
Tabela 4.21 – Matriz Incompleta dos Fatores (coeficientes > 0,400) após Rotação – Validação
com Amostra 02 (79 casos)
Pode-se perceber que as variáveis que compõem cada um dos fatores não foram alteradas e a
única variação que ocorreu é que, na amostra 02 (79 casos), em que as variáveis trocaram de
fatores, mas permanecendo dentro do mesmo grupo, essas mudanças não alteraram as
variáveis que fazem parte de cada fator o que, portanto, valida internamente o modelo.
4.2.3.4.Considerações sobre o Processo de Validação
É fundamental ponderar as limitações deste processo de validação, dadas as características do
fenômeno estudado. Esse cuidado deve-se às referências de Spencer & Spencer (1993), para
quem o caminho mais poderoso para validação de uma estrutura comum de competências ou
modelo de competências é o treinamento das pessoas, por meio das suas competências e a
verificação, em um segundo momento, do desempenho superior, ou não, dos profissionais em
questão.
Deste modo, deve-se considerar que este modelo somente foi validado com dados internos (da
própria amostra) e, portanto, sem validação externa como as referidas por Cone & Foster
(1997), nas quais devem-se considerar, além dos dados internos, outras amostras e estudos
longitudinais. A validação externa não ocorreu em razão das restrições orçamentárias e
temporais.
108
A validação ou análise comparativa com outros modelos referentemente a contadores ficou
prejudicada visto que, no capítulo II, apontou-se a carência de estudos realizados por
contadores que contemplam a metodologia usada neste trabalho.
4.2.4. A Hipótese Geral do Estudo: A Estrutura Genérica de Competências do
Contador
Considera-se como objetivo e questionamento principal desta pesquisa a existência de um
construto subjacente que possa explicar as relações entre as competências discutidas na
pesquisa e um núcleo comum, isto é, uma estrutura genérica de competências para o contador.
Avaliando os resultados da análise fatorial e o processo de validação da pesquisa, têm-se as
evidências para a montagem da chamada estrutura genérica.
A montagem deste tipo de estrutura não foi identificada na literatura específica referente ao
contador, o que reforça a necessidade e a importância desta proposta.
Para futuras pesquisas, especialmente deve-se buscar o acompanhamento dos impactos de
novas tecnologias e técnicas de gestão nas competências do profissional, bem como avaliar as
competências do modelo genérico com as competências requeridas para profissionais de
contabilidade de setores específicos, como para empresas de auditoria e de contabilidade e
empresas de setores diversos, seja financeiro, do varejo, da indústria, e outros.
Com base na fundamentação teórica e nos resultados da pesquisa empírica, pode-se construir
uma estrutura genérica de competências como descrito por Boyatzis (1982) e, mais
especificamente, pela formatação de Spencer & Spencer (1993):
109
Competências
Comunicação
Ouvir eficazmente, atendimento e trabalho em
equipe.
Competências
Gerenciamento da
Informação
Negociação, técnicas de gestão e gerenciamento da
informação.
Competências Conduta e
Administração
Comunicação, empreendedor, estratégica e
integridade e confiança.
Competências Específicas Contabilidade e finanças, legal e ferramentas de
controle.
Tabela 4.22: Estrutura de Competências Genérica para Contador
Apesar do amplo uso de estruturas ou modelo genéricos na área de gestão de pessoas, existem
críticas aos modelos como as feitas por Blackmore (1999) que alerta para o pressuposto de
que há apenas um tipo de profissional competente ou eficaz: o do modelo genérico. Outra
crítica refere-se à dependência da cultura organizacional em que o modelo poderá ser refutado
ou até mesmo ocorrem interpretações diferentes da competência diante de situações
diferentes.
Para reduzir erros mediante uso de estruturas genéricas, alguns autores indicam alguns
cuidados na implementação, destacando-se os autores seguintes: Boyatzis (1982) para quem o
modelo deve estar alinhado aos objetivos, à cultura e aos valores da organização; McClelland
110
(1998), que versa sobre a necessidade de apoio da alta administração e foco na melhoria da
performance; Lucia & Lepsinger (1999) que lembra a necessidade de procurar e identificar
problemas potenciais e suas possíveis causas; desenvolver planos alternativos e estabelecer
canais de comunicação.
4.2.5. O Teste das Hipóteses Subjacentes
Com base em dados da pesquisa e da discussão sobre a existência ou não de competências a
serem priorizadas no desenvolvimento do profissional em questão, foram testadas as hipóteses
H1, H2 e H3 do estudo apoiado em testes de médias.
Hipótese 1: Há diferença significativa na importância atribuída à competência
comunicação, em relação às demais.
Hipótese 2: Há diferença significativa na importância atribuída à competência gestão da
informação, em relação às demais.
Hipótese 3: Há diferença significativa na importância atribuída à competência estratégica,
em relação às demais.
Para o teste de média, foi utilizado o método de Kruskal-Wallis, considerado bastante
eficiente para este tipo de estudo, segundo Maroco (2003), em que se testa se duas ou mais
amostras provêm de uma mesma população ou de populações diferentes. A base do teste é a
diferença entre as médias das avaliações de importâncias para as variáveis competências entre
os contadores homens e mulheres que responderam à questão.
O fato de usar homens e mulheres está relacionado às referências feitas nos estudos de Loft
(1992) e Anderson, Johnson e Reckers (1994) sobre percepção da mulher contadora sobre
aspectos da profissão em que são identificadas visões diferentes, o que poderia também ser
identificado neste trabalho.
111
Baseado neste teste, a hipótese nula considerada é a de que não existe diferença
estatisticamente significativa relativamente à distribuição da variável entre os grupos
formados por homens e mulheres.
Competências
Qui-Quadrado
Graus de Liberdade
Nível de Significância
Comunicação 0,204 1 0,651 Empreendedor 6,326 1 0,012 Estratégia 1,298 1 0,255 Ferramentas de Controle 0,275 1 0,600 Legal 0,002 1 0,962 Integridade e Confiança 1,257 1 0,262 Contabilidade e Finanças 0,012 1 0,914 Negociação 0,336 1 0,562 Ouvir Eficazmente 2,830 1 0,092 Atendimento 1,817 1 0,178 Técnicas de Gestão 3,383 1 0,066 Trabalho em Equipe 0,334 1 0,563 Gestão da Informação 1,783 1 0,182
Tabela 4.23: Resultado do Teste de Kruskal-Wallis
Com um nível de significância < 0,05, percebe-se que não há diferença entre os respondentes
provenientes dos 02 grupos: homens e mulheres, exceto quanto à variável empreendedor. Não
se pode rejeitar, portanto, a hipótese nula de igualdade das médias, concluindo-se que as
subamostras não tiveram influência nos resultados gerais do estudo.
Analisando-se também a tabela 4.20, percebe-se que cada uma das variáveis postas em
discussão: comunicação, estratégia e gestão da informação, as quais compõem as hipóteses
H1, H2 e H3, não podem ser rejeitadas, confirmando-se os graus de importância das
112
respectivas variáveis estudadas de forma que todas as variáveis possam ser consideradas
importantes em relação às demais consideradas no estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consoante já envocado nas reflexões introdutórias a esta pesquisa, as mudanças recentes no
mundo dos negócios, sobretudo a partir da estabilização econômica brasileira, têm repercutido
efetivamente na profissão de contador no Brasil exigindo dos contadores competências as
quais deverão responder em razão da evolução da economia e das organizações ao longo dos
tempos.
Este desafio representa, de igual modo, uma valorização das pessoas, o que também não se
tinha visto em outra época da história das organizações, segundo Marquardt e Engel (1993).
A valorização dos indivíduos em face das necessidades atuais das organizações favorecendo o
desenvolvimento intelectual das pessoas e processo de gestão das organizações. Esse
progresso refletiu-se naturalmente na realidade da profissão contábil.
Na profissão de contador, aspectos importantes devem ser considerados como fatores de
influência na profissão. Os aspectos que se podem destacar referem-se à harmonização de
normas contábeis e de auditoria no plano internacional, exigindo, dentre outras questões,
atualização do conhecimento das normas internacionais, conhecidas inicialmente como IAS e
hoje como IFRS – Standard International Financial Reporting. Essa demanda exige, cada vez
113
mais, capacidades e habilidades dos contadores e auditores tanto no campo da interpretação,
como do julgamento e da mensuração.
A preocupação em considerar, mediante análise criteriosa, tal demanda por órgãos
internacionais como IFAC e o IASB além da ONU por meio do ISAR/UNCTAD, como já
mencionados anteriormente, refletem a importância do tema em questão, bem como outro
reflexo desta internacionalização é a questão do currículo mundial.
Toda a inquietação sobre a problemática, derivada, inclusive no Brasil, da posição
profissional do contador e da sua qualificação, duas questões estão pedindo respostas tendo
em vista não a formação técnica do profissional contador como também a formação
intelectual e ética. Tentar entender quais seriam as competências requeridas para o contador?
e a segunda questão verificar se existe uma estrutura de interdependência subjacente às
competências do contador, explicando-as melhor.
Essas questões estão fundamentadas no pressuposto de que entender quais seriam as
competências requeridas para os contadores e se existas competências estariam vinculadas a
uma estrutura genérica comum de competências do contador é relevante tanto para o
entendimento de quais seriam as características requeridas desse profissional servindo tanto
para melhorar questões ligadas à educação e ao treinamento como para as organizações que se
utilizam desse profissional nos dias de hoje.
Esse estudo realizou primeiramente uma revisão primeiramente da questão de competências
apresentando o tema como um construtor em desenvolvimento e no capítulo seguinte
analisando as competências específicas do contador citada nos estudos internacionais e
nacionais. No âmbito das competências, dada a diferenças de abordagens, optou-se pelas
características das pessoas: conhecimentos, habilidades, capacidades e outras. No âmbito do
profissional contador verificou-se grande carência de estudos que se utiliza de arcabouço
teórico da psicologia e ao mesmo tempo realiza-se testes empíricos.
Com base na revisão teórica, foram selecionadas 18 competências consideradas
preponderantes e que formaram, assim o dicionário de competências, objeto da pesquisa de
campo. Na busca de atender o objetivo do estudo, isto é, verificar a existência de uma
estrutura comum das competências do contador, verificando a veracidade da hipótese do
114
estudo, foi realizada uma pesquisa com 159 contadores estudantes dos cursos de pós
graduação em nível de especialização e MBA da PUC – Campinas e da FEA – USP.
Para avaliar os resultados desse trabalho devem-se retomar as principais limitações do estudo.
A primeira limitação do presente estudo está relacionada a uma amostra que é intencional e
não probabilística. Esse fato é comum em estudos desta natureza, não se permitindo nenhum
tipo de generalização, sendo mesmo possível que muitos contadores expostos a diferentes
situações competitivas tornando inviável o uso da estrutura genérica, além de poder sofrer
variações em razão das especialidades dos contadores, especialidades que apesar de não serem
reconhecidas pela sociedade brasileira, existem de fato e não estão contempladas neste estudo.
Outra questão são as limitações próprias da análise fatorial, como no caso da escolha do
número de fatores a serem extraídos da matriz de correlação e do modo como realizar a
rotação dos fatores. Os próprios autores ligados à área referem esse aspecto como uma
questão subjetiva, a qual pode influenciar os resultados, como no caso da estrutura comum
apresentada para o profissional contador.
O processo de validação dos dados resumiu-se a um painel de especialistas, à própria fatorial
e ao alfa de cronbach que estão relacionados a validades internas sem o uso de validades
externas de longo prazo, como o uso de estudos comparativos e longitudinais. A questão de
estudos comparativos deve-se fundamentalmente a carência de estudos estruturados na área de
contabilidade, ao passo que o aspecto temporal deve-se preponderantemente à questão do
fator tempo. Os resultados devem ser considerados, portanto, como achados que ainda devem
ser estudados.
O estudo desconsiderou, no desenho da pesquisa, os fatores importantes para a construção de
relações de interdependência das competências dos contadores, como as políticas de recursos
humanos relacionados e os aspectos pontuais de cada organização. Não se deve considerar,
portanto, as competências condensadas no final do trabalho como vitais ou únicas variáveis
importantes para avaliar-se o contador.
Resultados e seus Relacionamentos Teóricos
115
Baseando-se na análise dos dados e da confecção dos testes estatísticos, pode-se entender
quais seriam as principais competências requeridas aos contadores e proceder a avaliação
sobre se essas competências apresentam uma estrutura comum.
Com a aplicação da análise fatorial, foi possível extrair os 04 fatores seguintes, os quais foram
rotulados com objetivo de representar as dimensões latentes de um fator particular:
Competências específicas: compreendem as competências voltadas a contabilidade e a
finanças, e domínio da parte legal e de ferramentas de controle. Na qualidade de dimensões
das características da pessoa, ou seja, do ser agente, essas qualidades representam a parte dos
conhecimentos técnicos requeridos aos contadores. Esses aspectos fundamentam a essência da
função do contador quando dele é requerida como a execução e a análise de questões ligadas à
contabilidade financeira, à contabilidade gerencial, à auditoria e ao controle, bem como, ao
domínio de questões tributárias que se fazem presentes no contexto brasileiro de forma
efetiva.
Competências de Conduta e Administração: compreendem as competências em
comunicação, empreendimento, estratégia e integridade e confiança. Como dimensões para as
características da pessoa considera-se a capacidade de comunicação como algo vital na
profissão do contador, entendendo mensagens e fazendo-se entender, uma vez que esse
profissional deve participar do processo decisório. Outra dimensão compreende a habilidade
estratégica que está relacionada com a visão de negócios, procurando entender e antecipar
questões de mercado e inserindo a contabilidade neste contexto. Por final, há outras
características pessoais, como o empreender e a integridade e a confiança, sendo a primeira
relacionada à possibilidade em desenvolver soluções criativas, assumindo riscos calculados,
se necessário. A questão de integridade e confiança está relacionada à postura profissional e
aos padrões éticos, o que pode parecer cada vez mais solicitado nos dias atuais, dados os
escândalos contábeis recentes.
Fator 03: Competências de Gerenciamento da Informação: As competências relacionadas
são: gestão da informação, negociação e técnicas de gestão. Como dimensões das
características da pessoa, conta-se o conhecimento de gerenciar informação, a mais recente
116
qualidade a ser atribuída ao contador, dada a importância que a TI - tecnologia da informação
e os sistemas de gestão integrados conhecidos como ERP’s têm atingido nas organizações.
Deve-se aliar a este aspecto o conhecimento de técnicas de gestão, mesmo que essas técnicas
não estejam diretamente relacionadas à contabilidade, uma vez que a demanda atual é de um
profissional bem mais ativo no processo decisório. Por final há a habilidade em negociar e
realizar acordos com as áreas envolvidas com sistema de informação e mensuração.
Fator 04: Competências de Comunicação: As competências relacionadas são: ouvir
eficazmente, atendimento e trabalho em equipe. Na dimensão pessoal de habilidade tem-se a
capacidade de comunicar-se e de fazer-se entender, o que é vital para o dia-a-dia, do contador.
A habilidade de ouvir e atender aos diversos usuários das informações gerenciais que o
contador administra também faz parte deste contexto e este é um processo cada vez mais
dinâmico em razão do uso intenso dos sistemas integrados. Toda esta exigência está vinculada
à capacidade de trabalhar em equipe, tanto dentro da área de contabilidade como em grupos
multidisciplinares na busca de soluções para os problemas empresariais dos mais diversos.
Nos testes de validação interna do modelo realizado no capítulo 4 pode-se perceber que em
todos os casos foi possível obter consistência nos dados, seja no uso de especialistas, seja no
uso da própria análise fatorial ou no uso do alfa de cronbach.
Desta forma, as estruturas genéricas de competências do contador podem com todas as
limitações desta pesquisa, representar uma resposta à questão de pesquisa básica que foi
proposto por este estudo:
Existiria uma estrutura de interdependência subjacente às competências do contador,
explicando-as melhor?
Pode-se considerar que os 04 fatores descritos acima podem dar resposta a essas questões. A
ordem dos fatores parece demonstrar uma certa hierarquia ou talvez áreas de competência a
serem consideradas na capacitação desses profissionais. Para isso, porém, os resultados da
pesquisa necessitam ser validados pelos profissionais de contabilidade.
117
No decorrer deste estudo, foram apresentadas as particularidades que o distinguem dos
trabalhos realizados no campo de competências do contador. Dada a carência destes estudos e
o viés metodológico apresentado neste tipo de pesquisa, confirmados pelos estudos de
Abdolmohammadi, Searson e Shanteau (2004), IFAC (2003) e no inventário sobre estudos
ligados à contabilidade comportamental de Meyer e Rigsby (2001) percebe-se que a primeira
implicação teórica deste estudo para a área de contabilidade é a inserção de mais uma opção
de olhar sobre a realidade das competências do contador considerando aspectos da psicologia.
A segunda implicação teórica refere-se à perspectiva de que à apresentação de uma estrutura
genérica para que o contador possa estagnar os estudos, uma vez que melhor seria deixar no
estado de solução, deixando, dessa forma, múltiplas outras possibilidades. Ao recorrer a uma
estrutura comum, porém, é possível verificar até que ponto a suspeita do pesquisador é
verdadeira.
O terceiro aspecto teórico refere-se à contribuição que este estudo pode gerar para
modelagem de estudo sobre competências da profissão, utilizando mecanismos de estatística
multivariada em busca de variáveis latentes, podendo fornecer uma melhor visão sobre a
realidade.
Implicações do Trabalho
Este trabalho pode gerar algumas implicações, dada a diversidade de naturezas, dependendo
do ponto de vista.
Contadores e Entidades de Classe: Para os contadores, os resultados deste estudo podem ser
valiosos, uma vez que representa mais um elemento para poder avaliar o que está sendo
demandado como as competências requeridas para contadores e quais as prioridades. As
entidades de classe podem, mediante estudos dessa natureza, balizar sobre mais um olhar suas
políticas de qualificação e educação continuada.
118
Instituições de Ensino: Para essas instituições, o impacto parece-nos grande, visto que as
informações de competências requeridas ao contador são sempre um dos pressupostos
adotados para a montagem de currículos e projetos pedagógicos. Ter elementos para estruturar
melhor estes aspectos pode ser útil no dia a dia.
Empresas e Instituições Demandantes dos Contadores: Essas entidades podem auxiliar-se no
processo de contratação, sendo eventualmente um referencial inicial para a montagem de
estruturas de competências de contadores próprias para cada empresa. Um exemplo seriam as
empresas de auditoria que podem utilizar-se de questões deste tipo para ajustar suas políticas
internas nessa área.
Pontos para Futuras Pesquisas
Dadas as características do estudo, alguns pontos podem ser apresentados para fins de
pesquisa futura:
a) Efetuar a análise desses achados para especificidades do contador. Procurar respostas
para questões como estas: Qual a diferença de competências entre um contador
especializado em tributos e um contador especializado em contabilidade gerencial?
Quais as características específicas dos auditores? Esses pontos podem auxiliar o
melhor entendimento de eventuais diferenças e seus possíveis motivos.
b) Avaliar as percepções de competências do contador em relação a diferentes setores da
economia. Esse ponto ajuda a avaliar eventuais carências e requisitos de setores
específicos, como instituições financeiras, empresas de contabilidade, etc.
c) Estudar a validade preditiva da estrutura genérica de competências do contador em
estudos longitudinais avaliando, ainda com melhor precisão o efeito entrega dentro
dessas competências. Esse processo pode auxiliar efetivamente as empresas de
contabilidade, por exemplo, a avaliar a efetividade de aspectos como treinamento e
resultados dos processos seletivos.
119
d) Estudos comparativos entre países e seus aspectos culturais. Trata-se de um campo
fértil no qual pode-se entender um pouco mais sobre as diferenças da profissão
contábil no mundo e suas razões. Esse poder ajudaria a mensurar com mais efetividade
quais seriam os aspectos que diferenciam alguns profissionais contadores em relação
aos colegas de outras partes do mundo.
e) Efetuar recortes metodológicos diferentes com uso de amostras diferentes e uso de
mecanismos mais robustos de validação externa dos dados. Esse ponto pode auxiliar o
desenvolvimento maior desse tipo de pesquisa dentro da área de contabilidade.
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