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Maiara Albuquerque Hayata
COMPOSIÇÃO E VARIAÇÃO SAZONAL DA ICTIOFAUNA DA
ZONA DE ARREBENTAÇÃO DA PRAIA DA BARRA DA
LAGOA, EM FLORIANÓPOLIS/SC
Trabalho de Conclusão de Curso
submetido ao Centro de Ciências
Biológicas da Universidade Federal de
Santa Catarina para a obtenção do
Grau de Bacharel em Ciências
Biológicas.
Orientador: Prof. Dr. Renato Hajenius
Aché de Freitas.
Coorientadora: MsC. Gisela Costa
Ribeiro.
Florianópolis
2016
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à minha família, especialmente aos
meus pais, pelo apoio total que sempre me deram no decorrer da minha
jornada, por sempre terem sido exemplos de força e superação e por
todo o carinho e compreensão com que me tratam. Aos meus irmãos,
gostaria de agradecer por tudo que já me ensinaram, pelo apoio com este
trabalho e por servirem de exemplo de gênios incríveis que me motivam
e me matam de orgulho.
Agradeço ao Kauan, ao Rinaldo, à Mari, à Rafa, ao Firula, ao
Cleitinho, à Bruna e ao Ale por toda ajuda em campo, este trabalho não
teria sido possível sem o apoio e colaboração de todos vocês. Pagarei
em cerveja e carinho, sempre.
Ao Montanha por me inserir no mundo dos programas estatísticos
e ao Mineiro por me ajudar a entender toda a loucura que eles trazem
junto.
Aos meus orientadores e amigos, Renato Freitas e Gisela Ribeiro,
por acreditarem na minha capacidade, por toda a ajuda que me
ofereceram, por serem grandes tutores, e principalmente, porterem
tornado este trabalho possível. Vocês são demais!
Agradeço ao meu companheiro de todas as horas, quem aguentou
firmemente todo meu chororô e crises de desespero, em momento
nenhum me deixando duvidar de que conseguiria finalizar o TCC, e
quem está ao meu lado sempre, me apoiando, me ajudando e me fazendo
feliz! Meu muito obrigada Kauan! Eu te amo.
Finalmente, agradeço à todas as pessoas que de algum modo
fizeram parte da minha caminhada nestes muitos anos de graduação.
Especialmente ao grupinho do mal da 11.1, por toda a parceria, zuera e
companhias pro bar; às amiguinhas e amiguinhos do 406E, pelo
melhores momentos proporcionados dentro e fora do nosso apêzinho;
aos passados e atuais atleticanos, por fazerem parte da minha segunda
família, por toda a parceria nos Interbios da vida e pelas risadas; às
muitas pessoas que já formaram ou ainda formam a comissão da
Semana da Bio, por terem se tornado bons amigos e companheiros na
construção de algo tão lindo; ao PIBID, pelos muitos anos de
aprendizado; ao CABio por tantos bons momentos que vivi neste espaço
e com as pessoas que o compõem; e àmuitas outras pessoinhas da Bio
ou não. Amo vocês!
RESUMO
As zonas de arrebentação de praias arenosas são áreas
extremamente importantes para a comunidade ictiofaunística, uma vez
que conferem proteção contra predadores, alimento abundante e ainda
são utilizadas como área de berçário e recrutamento. Estas zonas são
caracterizadas por conter poucas espécies de peixes dominantes e
residentes, sendo encontrados majoritariamente em estágios larvais e
juvenis com pequeno tamanho corporal. Tais indivíduos exercem uma
importante função de reciclagem de nutrientes a partir da excreção de
urina e fezes, assim como, devido à sua grande motilidade e migração,
são essenciais para o transporte e exportação de energia do sistema
praia/zona de arrebentação para os oceanos e demais ambientes
marinhos e estuarinos. O presente estudo teve como objetivo analisar a
composição e variação sazonal da comunidade ictiofaunísticada zona de
arrebentação da Praia da Barra da Lagoa, em Florianópolis-SC. Como
ferramenta de pesca foiutilizada uma rede de arrasto de 9,0 m x 1,0 m
com malhagens laterais de 10,0 mm entrenós e uma porção central de
3,0 m com três panos de malha de 7,0 mm.As coletas foram feitas
mensalmente durante um ano, em período da maré mais baixa do horário
da manhã. Foram delimitados dois pontos com diferentes graus de
exposição às ondas, e, em cada ponto, realizados três arrastos
consecutivos de 30,0 m. Atemperatura superficial, transparência e
salinidade da água foram mensuradas a cada coleta. A temperatura
média do ar e precipitação mensal foram obtidos através do Centro de
Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa
Catarina (CIRAM) e os valores das flutuações de maré foram obtidos
conforme dados disponibilizados pela Diretoria de Hidrografia e
Navegação (DNH). Foram coletados 1255 indivíduos, pertencentes à 18
espécies, 11 famílias e 15 gêneros.As maiores abundâncias foram
encontradas nas estações que apresentaram maiores médias de
temperatura (Verão e Outono) em detrimento da de menor média
(Inverno), tendo a Primavera uma abundância maior que a última e
menor que o Verão e Outono. A assembleia de peixes encontrada no
Verão diferiu daquela encontrada no Inverno, o que não ocorreu entre as
demais estações do ano. O ponto amostral de menor grau de exposição
às ondas obteve uma maior abundância e riqueza de espécies, indicando
que a variação espacial é um fator influente na composição da
comunidade.
Palavras-chave: Comunidade ictiofaunística. Distribuição espaço-
temporal. Ecologia marinha. Peixe. Rede de arrasto. Zona de
arrebentação.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Mapa de Florianópolis indicando a localização da Praia da
Barra da Lagoa. Fonte: Google Maps. .................................................. 19
Figura 2. Foto mostrando o Canal da Barra da Lagoa e o Molhe da
Barra da Lagoa. Fonte:
http://www.flickriver.com/photos/zepaiva/4728340278/. ..................... 20
Figura 3. Foto do Molhe do Canal da Barra da Lagoa. Fonte: Thiago
Fiuza. ..................................................................................................... 20
Figura 4. Foto da Praia da Barra da Lagoa, com indicação para a
localização das duas áreas de amostragem (em vermelho). Fonte:
Eduardo Soriano-Sierra. ........................................................................ 21
Figura 5. Arrasto de praia sendo realizado no ponto de amostragem de
maior grau de exposição às ondas. Fonte: Bruna Winter. ..................... 23
Figura 6. Arrasto de praia sendo realizado no ponto de amostragem de
menor grau de exposição às ondas. Fonte: Gisela Ribeiro. ................... 23
Figura 7. Processamento das amostras. Ferramentas utilizadas para
medição, pesagem, identificação e registro. .......................................... 25
Figura 8. Medição de comprimento total (CT) e comprimento padrão
(CP) sendo realizado conforme padrão. ................................................ 25
Figura 9. Espécies mais abundantes (FO > 1%). Fonte: Fishbase, 2016.
............................................................................................................... 28
Figura 10. Médias mensais de valores de temperatura superficial da
água (°C) e salinidade (ppm) coletadas durante os dias de amostragem,
com indicação para as estações de Primavera (roxo), Verão (laranja),
Outono (verde) e Inverno (azul). ........................................................... 29
Figura 11. Médias (± EP) da Diversidade de Shannon-Wiener (H’),
Equitabilidade de Pielou (J’) e Riqueza de Margalef (d) da ictiofauna
amostrada na praia da Barra da Lagoa, SC, por estação........................ 35
Figura 12. Médias (± EP) da Diversidade de Shannon-Wiener (H’),
Equitabilidade de Pielou (J’) e Riqueza de Margalef (d) da ictiofauna
amostrada na praia da Barra da Lagoa, SC, por ponto de amostragem. 36
Figura 13. Escalonamento Multidimensional (MDS), indicando
visualmente a semelhança dos conjuntos amostrais de cada mês e
pontos (1 – abrigado; 2 – exposto) amostrados, assim como dos
conjuntos amostrais das estações do ano de coleta (Primavera, Verão,
Outono e Inverno). ................................................................................ 41
Figura 14. Média (± EP) do comprimento total (CT; t = 3,68) e
comprimento padrão (CP; t = 3,98) de H. clupeola durante as estações
de Primavera e Outono. Letras diferentes denotam diferença
significativa (Teste t; p < 0,01). ............................................................ 43
Figura 15. Média (± EP) da biomassa em gramas (t = 3,92) de H. clupeola durante as estações de Primavera e Outono. Letras diferentes
denotam diferença significativa (Teste t; p < 0,01). .............................. 43
Figura 16. Média (± EP) do comprimento total (CT; t = 5,01) e
comprimento padrão (CP; t = 3,40) de M. curema durante as estações de
Verão e Outono. Letras diferentes denotam diferença significativa
(Teste t; p < 0,01). ................................................................................. 44
Figura 17. Média (± EP) da biomassa (t = 5,33) de M. curema durante
as estações de Verão e Outono. Letras diferentes denotam diferença
significativa (Teste t; p < 0,01). ............................................................ 45
Figura 18. Média (± EP) do comprimento total (CT; H = 46,79) e
comprimento padrão (CP; H = 53,45) de M. liza entre as estações do
ano. Letras diferentes denotam diferença significativa (Kruskal-Wallis;
p < 0,05). ............................................................................................... 46
Figura 19. Média (± EP) da biomassa (H = 39,99) de M. liza entre as
estações do ano. Letras diferentes denotam diferença significativa
(Kruskal-Wallis; p < 0,05). ................................................................... 47
Figura 20. Média (± EP) do comprimento total (CT em mm; H =
30,46), comprimento padrão (CP em mm; H = 28,21) e biomassa em
gramas (H = 34,92) de T. carolinus durante as estações de Primavera,
Verão e Inverno. Letras diferentes denotam diferença significativa
(Kruskal-Wallis; p < 0,05). ................................................................... 49
Figura 21. Média (± EP) do comprimento total (CT; t = 3,77; p = 0,00),
comprimento padrão (CP; t = 3,82; p = 0,00) e biomassa (t = 2,15; p =
0,03) de T. carolinus nos diferentes pontos amostrais (abrigado;
exposto) durante todas as estações conjuntamente. Letras diferentes
denotam diferença significativa (p < 0,05). ........................................... 50
Figura 22. Médias (± EP) de comprimento total (CT; H = 79,34) e
comprimento padrão (CP; H = 81,20) de T. falcatus durante as estações
de Primavera, Verão e Outono. Letras diferentes denotam diferença
significativa (Kruskal-Wallis; p < 0,05). ............................................... 51
Figura 23. Média (± EP) da biomassa (H = 72,38) de T. falcatus durante
as estações de Primavera, Verão e Outono. Letras diferentes denotam
diferença significativa (Kruskal-Wallis; p < 0,05). ............................... 52
Figura 24. Médias (± EP) de comprimento total (CT; t = 1,96; p = 0,06)
e comprimento padrão (CP; t = 3,14; p = 0,00) de T. falcatus nos
diferentes pontos amostrais (abrigado; exposto) durante a Primavera.
Letras diferentes denotam diferença significativa (p < 0,05). ............... 53
Figura 25. Média (± EP) da biomassa (t = 3,24; p = 0,00) de T. falcatus
nos diferentes pontos amostrais (abrigado; exposto) durante a
Primavera. Letras diferentes denotam diferença significativa (Teste t; p
< 0,05). .................................................................................................. 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Resultado da Análise de Variância (ANOVA) entre os
parâmetros abióticos (temperatura superficial da água e salinidade) e a
abundância numérica das estações (PR = Primavera; VE = Verão; OU =
Outono; IN = Inverno). ......................................................................... 30
Tabela 2. Identificação das espécies capturadas na praia da Barra da
Lagoa, ordenadas por ordem alfabética de famílias. * indica larva de
espécime coletada. ................................................................................ 32
Tabela 3. Tamanhos mínimos e máximos de comprimento total
encontrados das espécies coletadas, e tamanhos máximos registrados
para as mesmas, segundo FISHBASE (2016). ...................................... 33
Tabela 4. Abundância Numérica (AN), Abundância Relativa (AR),
Frequência de Ocorrência (FO), Biomassa Total (BT) e Biomassa
Relativa (BR) das espécies capturadas na praia da Barra da Lagoa, entre
Abril de 2015 e Março de 2016. ........................................................... 34
Tabela 5. Número de espécies encontrado em cada estação. ............... 35
Tabela 6. Abundância encontrada em cada estação e ponto amostral
durante o ano de coleta.......................................................................... 36
Tabela 7. Presença ou ausência das espécies identificadas na zona de
arrebentação da praia da Barra da Lagoa/SC, conforme sazonalidade
(Primavera – PR; Verão – VE; Outono – OU; Inverno – IN) e ponto
amostral (Abrigado – AB; Exposto – EX). ........................................... 37
Tabela 8. Resultados das Análises de Similaridade (ANOSIM) entre as
estações do ano. * indica diferença significativa (p < 0,05). ................ 38
Tabela 9. Resultados da análise de Similaridade de Percentagens
(SIMPER) do conjunto amostral de cada estação, indicando a
porcentagem das espécies mais contribuintes na composição dos
mesmos. ................................................................................................ 39
Tabela 10. Resultados da análise de Similaridade de Percentagens
(SIMPER) entre os conjuntos amostrais de cada estação, indicando a
dissimilaridade entre os mesmos. .......................................................... 39
Tabela 11. Resultados da análise de Similaridade de Percentagens
(SIMPER) de cada ponto amostral (abrigado; exposto) e entre estes,
indicando a porcentagem de contribuição de cada espécie para a sua
similaridade ou dissimilaridade. ............................................................ 39
Tabela 12. Abundância numérica de cada espécie por estação/ponto e
resultados dos Testes de Goodman. ...................................................... 42
Tabela 13. Resultados dos testes t de Student quanto à variação de
comprimento total (CT), comprimento padrão (CP) e biomassa de M.
curema nos diferentes pontos amostrais (abrigado; exposto), tanto nas
quatro estações conjuntamente quanto no Verão separadamente. ......... 45
Tabela 14. Resultados dos testes t de Student quanto à variação de
comprimento total (CT), comprimento padrão (CP) e biomassa de M.
liza nos diferentes pontos amostrais (abrigado; exposto), tanto nas
quatro estações conjuntamente quanto em cada uma separadamente. .. 48
Tabela 15. Resultados dos testes t de Student quanto à variação de
comprimento total (CT), comprimento padrão (CP) e biomassa de T.
carolinus nos diferentes pontos amostrais (abrigado; exposto) na
Primavera e Verão. ................................................................................ 50
Tabela 16. Resultados dos testes t de Student quanto à variação de
comprimento total (CT), comprimento padrão (CP) e biomassa de T.
falcatus nos diferentes pontos amostrais (abrigado;exposto), nas quatro
estações conjuntamente. ........................................................................ 52
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................ 13
2. OBJETIVO GERAL ..................................................................... 17
2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................... 17
3. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................... 19
3.1. ÁREA DE ESTUDO ............................................................ 19
3.2. METODOLOGIA DE AMOSTRAGEM ............................. 22
3.3. PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS ............................ 24
3.4. ANÁLISE DOS DADOS ..................................................... 25
4. RESULTADOS ............................................................................ 29
4.1. FATORES AMBIENTAIS................................................... 29
4.2. COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA .................................... 30
4.3. ÍNDICES DE DIVERSIDADE ............................................ 34
4.4. VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL .................................. 36
4.5. INFLUÊNCIA ESPAÇO-TEMPORAL NO CRESCIMENTO
DAS ESPÉCIES MAIS ABUNDANTES (FO > 1%) ...................... 42
4.5.1. Harengula clupeola (“sardinha cascuda”) ................... 42
4.5.2. Mugil curema (“parati”) ............................................... 44
4.5.3. Mugil liza (“tainha”) .................................................... 45
4.5.4. Trachinotus carolinus (“pampo”) ................................ 49
4.5.5. Trachinotus falcatus (“sernambiguara”) ...................... 50
5. DISCUSSÃO ................................................................................ 55
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 63
REFERÊNCIAS .................................................................................... 65
ANEXO 1
ANEXO 2
13
1. INTRODUÇÃO
As zonas costeiras são tidas como áreas de transição entre a
ação dos processos marinhos e continentais (OLIVEIRA, 2011),
estando suscetíveis às variações temporais e geográficas, tais como
ação das ondas e das marés. Estes ambientes desempenham
importantes papéis ecológicos, culturais e econômicos, uma vez
considerada sua importância como habitat temporário ou permanente
para a fauna marinha e seu valor socioeconômico para a população
como um todo, servindo de habitação e provedor de recursos para a
mesma (GOYA; TESSLER, 2000; OLIVEIRA, 2011; PESSANHA,
2000). Dentro destas zonas costeiras podemos encontrar diversos
ambientes marinhos, como os costões rochosos, recifes de corais,
estuários e praias arenosas (HACKRADT, 2006).
As praias arenosas representam a maior parcela das áreas
litorâneas do mundo e o mais extenso dentre os ecossistemas
sedimentares costeiros (FELIX, 2006). Neste ambiente, a maré
exerce a função de prover os nutrientes e minerais para o
ecossistema, devido à baixa produção primária nele existente
(TEIXEIRA; ALMEIDA, 1998). A costa brasileira, a qual estende-se
pelo Oceano Atlântico por 7.367km, é dominada por ambientes
praiais (IBGE, 2015). Estes ambientes costeiros são extensamente
utilizados pela população de diferentes maneiras, acentuando-se seu
uso como área residencial, comercial, de lazer e de turismo, o que
influencia comunidades diretamente dependentes das praias para
obtenção de recursos alimentares e/ou econômicos (FÉLIX, 2006).
Segundo Calliari et al. (2003), nas praias arenosas existem três
diferentes zonas: a zona de arrebentação, a zona de surfe e a zona de
espraiamento.A zona de arrebentação representa o espaço “entre o
limite externo de quebra das ondas e a linha de costa da praia”
(CARTER, 2002; MCLACHLAN; BROWN, 2006;
VASCONCELLOS et al., 2007), consistindo em um ambiente
turbulento extremamente dinâmico. Esta zona se destacada da zona
de espraiamento por uma zona entremarés, estando localizada em um
nível de maré baixa (MCLACHLAN; BROWN, 2006). Neste
ambiente a ação das ondas atua como fator primário para o controle
das características físico-químicas da área, em virtude do estresse
físico causado pelo quebrar das ondas, influenciando a estrutura
sedimentar e as fontes de alimento (OLIVEIRA, 2011;
VASCONCELLOS et al., 2007). Esta área desempenha um papel
fundamental na ecologia dos peixes, uma vez que a superficialidade,
14
turbulência e consequente turbidez da água disponibilizam proteção
contra predadores e a ação contínua das ondas sobre o sedimento
disponibiliza alimento abundante (ARAÚJO, 2009;FÉLIX et al., 2007). Além disso, estas áreas são utilizadas como berçário e para
recrutamento de diversas espécies(CARTER, 2002; GIANNINI;
PAIVA FILHO, 1995; MONTEIRO-NETO et al., 2003;
VASCONCELLOS et al., 2007).
A zona de arrebentação apresenta uma ictiofauna característica,
composta principalmente por larvas e indivíduos juvenis com
pequeno tamanho corporal (GIANNINI; PAIVA FILHO, 1995;
MCLACHLAN; BROWN, 2006; VASCONCELLOS et al., 2007),
além de poucas espécies dominantes (presentes em abundância e em
todas as estações) e residentes (presentes durante todas as fases do
seu ciclo de vida) dentre as totais encontradas neste ambiente
(ARAÚJO, 2009; FÉLIX et al., 2007). Nesta zona, os peixes exercem
um importante papel na ciclagem de nutrientes a partir da excreção
de urina e fezes, assim como transportando e exportando energia do
sistema praia/zona de arrebentação para os oceanos e demais
ambientes marinhos e estuarinos, devido à sua migração e grande
mobilidade (GIANNINI; PAIVA FILHO, 1995; MCLACHLAN;
BROWN, 2006).
Goya e Tessler (2000) apontam que independente da
importância dos ambientes praias, estes tem sido os ambientes
costeiros menos estudados. Adicionalmente, a comunidade de peixes
de zonas de arrebentação tem recebido menos atenção em
comparação à de outros ecossistemas costeiros, devido às
dificuldades de se estudar a fauna nesta faixa de alta turbulência
(VASCONCELLOS et al., 2007). Particularmente no Brasil, apesar
do aumento de pesquisas desenvolvidas a partir da década de 1990,
remanescem muitos pontos a serem explorados ao longo da costa
(GOYA; TESSLER, 2000).Tal déficit possivelmente também pode
ser justificado pelo fato dos indivíduos encontrados e coletados em
zonas de arrebentação serem majoritariamente juvenis, portanto com
pequeno tamanho corporal e, assim, de baixo interesse comercial.
A carência de estudos compreendendo a estrutura e
funcionamento da comunidade ictiofaunística nestes ambientes
acarreta também na ausência de conhecimento de como seus recursos
pesqueiros podem ser explorados. Adicionalmente, é difícil
quantificar os impactos ambientais decorrentes da ação
antropogênica,como o aumento da temperatura da água do planeta, já
veemenciado em relatório da IPCC (Intergovernmental Panel on
15
Climate Change) (2007).Isto devido ao fato da ictiofauna ser
influenciada também por “mudanças temporais cíclicas e
estocásticas” (SOETH, 2013).
No Brasil, são poucos os trabalhos realizados exclusivamente
com a ictiofauna de zonas de arrebentação. Dentre eles podemos citar
um na região Nordeste (OLIVEIRA, 2011), alguns na região Sudeste
(GIANNINI; PAIVA FILHO, 1995; GOMES et al., 2003; PAIVA
FILHO; TOSCANO, 1987; VASCONCELLOS et al., 2007) e Sul
(FÉLIX,2006; FÉLIX et al., 2008; GODEFROID et al., 2003; LIMA;
VIEIRA, 2009; MONTEIRO-NETO et al., 2003). Tais trabalhos
abordam, especialmente, aspectos ecológicos da comunidade de
peixes, como sua utilização espaço-temporal do ambiente e a
influência de aspectos abióticos sobre a mesma.
Considerando o contexto mais local da ilha de Santa Catarina,
Ribeiro et al. (1999) avaliou a composição da ictiofauna do
ecossistema da Lagoa da Conceição, fornecendo dados sobre a
estrutura da assembleia de peixes ali presente. Adicionalmente, mais
estudos sobre a ictiofauna e outros aspectos ambientais foram
realizados na Lagoa da Conceição (BORGO, 2014; GARCIA, 1999;
HOSTIM-SILVA, 1994; RIBEIRO et al., 1999) e no Canal da Barra
da Lagoa (GARCIA, 1999; PEREIRA, 2004), trazendo informações
sobre a comunidade ictiofaunística do complexo estuarino da Lagoa e
sobre a dinâmica do Canal. Entretanto, nenhum estudo avaliou a
influência da exposição às ondas na região próxima da
desembocadura do estuário da Praia da Barra da Lagoa. Este fator
pode exercer influência direta na riqueza e abundância de espécies na
zona de arrebentação (OLIVEIRA, 2011; VASCONCELLOSet al. 2007), portanto, é fundamental descrever seu efeito na assembleia de
peixes local.
Como enfatizado por Muler (2012), o trecho sul da praia da
Barra da Lagoa possui uma grande presença antrópica e o processo
de ocupação humana neste ambiente cresce com constância, tendo
sido observado um aumento de 5700% de área construída no sul da
praia entre 1957 e 2009. Tal fato mostra-se preocupante, uma vez
que as zonas costeiras já apresentam uma densidade populacional três
vezes maior que a média do mundo, e são moradia de mais de 50%
da população mundial (MMA, 2010). Segundo Leal e Horn Filho
(2004), as projeções das Nações Unidas previam que, em até três
anos, 75% da população mundial estará residindo em zonas costeiras,
totalizando cerca de 6,3 bilhões de pessoas. Consequentemente, a
pressão antrópica na biota marinha deste ambiente costeiro tende a
16
ser intensificada, tanto pelo aumento da atividade pesqueira como
pela ocupação irregular sobre a duna frontal e a pós-praia, fato que
interfere no equilíbrio praial (LEAL; HORN FILHO, 2004). De
acordo com o Boletim Estatístico da Pesca Industrial de Santa
Catarina de 2012, disponibilizado pela UNIVALI (2013),
Florianópolis esteve entre os cinco municípios com maior volume de
produção pesqueira pelágica e demersal desembarcada, o qual,
mesmo não se restrigindo à pesca praial, a inclui.
Considerando o contexto geral e as problemáticas apresentadas,
torna-se então imprescindível a realização de mais pesquisas em
ambientes praiais e zonas de arrebentação, de forma a conhecer a
estrutura das assembleias de peixes destas áreas. Este é um passo
fundamental para a criação de medidas de manejo e geração de
subsídios para manter o monitoramento das mesmas, protegendo o
habitat assim como os recursos por ele disponibilizados (ARAÚJO,
2009; PICHLER, 2005; VASCONCELLOS et al., 2007).
17
2. OBJETIVO GERAL
Descrever acomposição e variação sazonal da ictiofauna na zona
de arrebentação da Praia da Barra da Lagoa, em Florianópolis, Santa
Catarina.
2.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar as espécies presentes na área de estudo e analisar a
abundância das mesmas;
Verificar a variação na distribuição temporal da ictiofauna neste
ambiente;
Verificar a influência do grau de exposição às ondas sobre a
abundância e riqueza de espécies nos pontos amostrados;
Verificar a distribuição espaço-temporal de indivíduos de
diferentes tamanhos corporais das espécies mais abundantes;
Analisar a influência de fatores abióticos sobre a comunidade
de peixes;
18
19
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. ÁREA DE ESTUDO
O presente estudo foi realizado na praia da Barra da Lagoa,
localizada na porção centro-leste de Florianópolis, Santa Catarina
(27°29'00"-27°34' IO"S e 48°23 '00"-48°26 ' 20"W) (Figura 1). Essa
praia possui extensão de 650 m e classifica-se como de estado
morfodinâmico intermediário, com grãos majoritariamente compostos
por areia fina e bem selecionados, variando de abrigada a exposta à alta
energia de ondas dependendo da direção do vento(HORN FILHO, 2006;
OTEGUI, 2010). A praia da Barra da Lagoa é considerada pela FATMA
(Fundação do Meio Ambiente) uma praia com balneabilidade “própria”,
ou seja, em 80% ou mais de um conjunto de amostras coletadas em
cinco semanas, o número de Escherichia coli por 100 ml não atingiu
número máximo aceitável de 800 (FATMA, 2015).
Figura 1. Mapa de Florianópolis indicando a localização da Praia da Barra da
Lagoa. Fonte: Google Maps.
20
Figura 2. Foto mostrando o Canal da Barra da Lagoa e o Molhe da Barra da
Lagoa. Fonte: http://www.flickriver.com/photos/zepaiva/4728340278/.
Figura 3. Foto do Molhe do Canal da Barra da Lagoa. Fonte: Thiago Fiuza.
21
Figura 4. Foto da Praia da Barra da Lagoa, com indicação para a localização
das duas áreas de amostragem (em vermelho). Fonte: Eduardo Soriano-Sierra.
A praia é delimitada a leste por um canal nomeado Canal da
Barra da Lagoa (Figura 2). Devido à localização do canal, no litoral sul
da costa ocidental do Oceano Atlântico (PEREIRA, 2004), este adentra
uma área dominada por mesomarés, e sua hidrodinâmica é
essencialmente dependente do mar que o penetra (GARCÍA, 1999). O
Canal da Barra da Lagoa é a única ligação da Lagoa da Conceição com
o mar, estendendo-se por 2,5km e entre 20 a 50 m de largura (GARCÍA,
1999; PEREIRA, 2004). Em 1981, foram realizadas obras de infra-
estrutura para que a desembocadura deste canal para o oceano Atlântico
ficasse aberta permanentemente, ajudando assim a navegação de
embarcações pesqueiras e de lazer. Um resultado positivo das obras foi a
22
penetração e migração de diversos indivíduos reprodutivos de peixes e
outros organismos para a lagoa e o canal em si (GARCÍA, 1999;
PEREIRA, 2004). Outra característica marcante da praia é a presença de
um molhe entre o início da faixa de areia da praia e o Canal da Barra da
Lagoa (Figura 3). Este molhe foi construído na década de 1980, de
maneira a proteger a entrada e saída das embarcações no Canal da Barra
da Lagoa, sendo utilizado também para pesca artesanal e como ponto de
referência, devido ao farol construído na sua extremidade (GARCÍA,
1999; PEREIRA, 2004).
Após a implantação da rodovia SC-406 em 1975, a qual
melhorou o acesso ao distrito da Barra da Lagoa, a urbanização ali
cresceu intensamente, tendo como consequência um aumento dos riscos
ligados ao comportamento dinâmico dos sistemas naturais (MULER,
2012), uma vez que a cidade tende a crescer para regiões suscetíveis tais
como dunas e encostas (MULER, 2012).Adicionalmente, a mesma
autora ainda ressalta que a praia da Barra da Lagoa é considerada de
suscetibilidade muito alta à retração da linha da costa, ou seja, à
diminuição da faixa de areia, fato observado durante o período de 1957
a 2009, tornando o processo de urbanização e ocupação desta área
preocupante.
3.2. METODOLOGIA DE AMOSTRAGEM
O estudo em questão contou com a coleta de material biológico
in-situ, autorizada via Sistema de Autorização e Informação em
Biodiversidade (SISBIO), do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio)pelo número 48235-1 (Anexo 1).
Durante a amostragem, foram delimitados dois pontos de
coletacom diferentes graus de exposição às ondas. O primeiro, com
menor grau de exposição, foi localizado junto ao Molhe do Canal da
Barra da Lagoa, enquanto o segundo ponto, de maior grau de exposição
às ondas, localizou-se aaproximadamente 250 m de distância do
primeiro (Figura 4).
O instrumento de pesca utilizadofoi uma rede de arrasto de
praia de 9,0 m de extensão e 1,0 m de altura, com malhagens laterais de
10,0 mm entrenós e uma porção central de 3,0 m com três panos de malha de 7,0 mm entrenós. Em cada ponto de amostragem, foram
efetuados três arrastos consecutivos de aproximadamente 30,0 m de
extensão cada (90,0 m totais) e máximo de 1,5 m de profundidade,
delimitados por marcadores pré-fixados na praia, totalizando seis
arrastos por mês (Figuras 5 e 6).
23
As coletas foram efetuadas mensalmente ao longo de um ano
(abril de 2015 a março de 2016), no período de maré mais baixa durante
a manhã. Não houve padronização de lua durante as coletas, uma vez
que, segundo estudo realizado por Godefroid et al. (2003) em uma
planície de maré da Baía de Paranaguá, não foram observadas diferenças
estatísticas entre as médias do número de peixes, peso da captura e
riqueza entre as coletas realizadas em diferentes fases da lua e entre
maré baixa e alta.
Figura 5. Arrasto de praia sendo realizado no ponto de amostragem de maior
grau de exposição às ondas. Fonte: Bruna Winter.
Figura 6. Arrasto de praia sendo realizado no ponto de amostragem de menor
grau de exposição às ondas. Fonte: Gisela Ribeiro.
24
Em cada ponto, antes do início dos arrastos, eram mensurados:
(i) temperatura do ar e (ii) temperatura superficial da água, (iii)
transparência da água com a utilização de um disco de Secchi graduado
em centímetros (iv) salinidade da água com o uso do refratômetroBrix.
Dados das médias de temperatura do ar e precipitação mensais, de abril
de 2015 a março de 2016, foram obtidos através do Centro de
Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa
Catarina (CIRAM), ligado à Empresa de Pesquisa Agropecuária e
Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) (Anexo 2), e os valores das
flutuações de maré foram obtidos conforme dados disponibilizados pela
Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN).
Os peixes coletados foram armazenados em sacos plásticos
apropriadamente etiquetados e acondicionados em caixas térmicas
contendo gelo até o seu transporte para o freezer do Laboratório de
Ictiologia do Núcleo de Estudos do Mar (NEMAR), na Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC).
3.3. PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS
Os exemplares eram descongelados e logo em seguida
processados, pesados com a utilização de uma balança eletrônica
QUIMIS – Q360/1000 (precisão de 0,01g), medidos pelo seu
comprimento total (CT), o qual representa a distância horizontal em
milímetros da extremidade do focinho até o fim da nadadeira caudal, e
pelo seu comprimento padrão (CP), representado pela distância
horizontal da extremidade do focinho até a última vértebra caudal
(Figuras 7 e 8). A identificação do material foi feita a nível de espécie
com a utilização de diferentes chaves de identificação taxonômica
(BARLETTA; CORRÊA, 1992; FIGUEIREDO; MENEZES, 1978;
FIGUEIREDO; MENEZES, 1980; MENEZES; FIGUEIREDO, 1985;
FISCHER et al., 2011), com o auxílio de site (FISHBASE, 2015;2016) e
de diferentes publicações (MOREY, 2016; WADE, 1962). Finalizada a
identificação, os peixes coletados foram fixados em solução de formol
10%, e posteriormentearmazenados em vidros contendo álcool 70% na
Coleção Ictiológica do Laboratório de Ictiologia do Núcleo de Estudos
do Mar (NEMAR), como testemunho.
25
Figura 7. Processamento das amostras. Ferramentas utilizadas para medição,
pesagem, identificação e registro.
Figura 8. Medição de comprimento total (CT) e comprimento padrão (CP)
sendo realizado conforme padrão.
3.4. ANÁLISE DOS DADOS
A partir dos dados coletados, foram mensuradas a Abundância
Numérica (AN = número total de indivíduos coletados por amostra), a
AbundânciaRelativa (%AR = número de indivíduos da espécie/número
total de peixes coletados), a Biomassa Total em gramas (BT = soma das
CP
CT
26
biomassas de todos os indivíduos coletados da espécie) e a Biomassa
Relativa (%BR = soma dos pesos dos indivíduos da espécie/soma total
dos indivíduos coletados). Adicionalmente, foi também calculado o
valor da Frequência de Ocorrência (%FO = número de amostras que a
espécie ocorreu/número total de arrastos).
Para as análises de sazonalidade deste estudo, considerou-se as
diferentes estações do ano compreendidas em: primavera (setembro a
novembro), verão (dezembro a fevereiro), outono (março a maio) e
inverno (junho a agosto). Já para as análises da estrutura espacial
considerou-se o primeiro ponto de amostragem como uma zona abrigada
e de baixo grau de exposição às ondas e o segundo ponto de amostragem
de alto grau de exposição às ondas.
De maneira a atender ao objetivo de avaliar a estrutura espacial
e temporal da comunidade de peixes da zona de arrebentação, foram
determinados o número de famílias, gêneros e espécies ocorrentes nas
quatro estações do ano e nos dois pontos de amostragem.
Foram realizadas Análises de Variância (ANOVA) com o
intuito de inferir se houve influência dos fatores abióticos sobre a
abundância encontrada nas diferentes estações. Para tais, utilizou-se o
software estatístico STATISTICA 13.1.
Os índices de diversidade e riqueza foram escolhidos de
maneira a detectar possíveis variações na composição e estrutura da
ictiofauna (OLIVEIRA, 2011). Foram utilizados o Índice de
Diversidade de Shannon-Wiener (H’), sendo calculado através da
fórmula:H’ = (pi), onde pi = proporção de indivíduos da
espécie i na amostra, a Equitabilidade de Pielou (J), o qual mede a
uniformidade das espécies dentro de uma comunidade, sendo calculado
através da fórmula:J’ = , onde H’ = índice de diversidade de
Shannon-Wiener eHmax = Log S (S = número de espécies) e a Riqueza
de Margalef (D), relacionado com a riqueza de espécies, calculado
através da fórmula: D = – , onde S = número de espécies e
N = número total de indivíduos.
Todos estes índices foram calculados utilizando o software
estatístico PRIMER 6.0, com base de logarítmos decimais (Log10).
Visando promover uma melhor visualização dos resultados, os
dados de abundância dos indivíduos foram transformados pela raiz quadrada (√2). A partir dos dados transformados, objetivando avaliar a
similaridade da ictiofauna entre as estações e pontos amostrais, foi
obtido o índice de similaridade de Bray Curtis e a análise de
agrupamento (CLUSTER), gerando um gráfico de Escalonamento
27
Multidimensional (MDS), e adicionalmente foi realizada a Análise de
Similaridade (ANOSIM) entre as diferentes estações e pontos amostrais,
assim como a Análise de Similaridade de Percentagens (SIMPER),
utilizando os mesmos parâmetros.
A fim de estimar se nas diferentes estações e pontos amostrais
(abrigado/exposto) encontramos indivíduos de tamanhos e biomassas
significativamente diferentes, foram realizados testes de Kruskall-Wallis
e Testes t entre as estações e pontos amostrais com a utilização da
plataforma estatística STATISTICA 13.1.Foram utilizados como
parâmetros as variações mensais de comprimento total (CT),
comprimento padrão (CP) e peso das cinco espécies com frequência de
ocorrência maior que 1%, as quais apresentaram maior abundância,
sendo estas Harengula clupeola, Mugil curema, Mugil liza, Trachinotus
carolinus e Trachinotus falcatus(Figura 9). No entanto, só foram
analisadas as estações e pontos amostrais que apresentavam número de
indivíduos ocorrentes ≥ 4.Foi testada a normalidade (Teste de
Kolmogorov-Smirnov) e homocedasticidade (Teste de Levene) para
avaliar o uso de estatística paramétrica e não paramétrica.
De forma a analisar se houveram diferenças significativas de
abundância nas diferentes estações e pontos amostrais, foram realizados
Testes de Goodman (1964, 1965) entre as médias das abundâncias
numéricas das mesmas cinco espécies mais abundantes com frequência
de ocorrência maior que 1% (Harengula clupeola, Mugil curema, Mugil
liza, Trachinotus carolinus e Trachinotus falcatus). Para todos os testes realizados foi considerada diferença
significativa quando o valor de p foi menor do que 0,05.
28
Figura 9. Espécies mais abundantes (FO > 1%). Fonte: Fishbase, 2016.
Harengula clupeola
Mugil curema
Mugil liza
Trachinotus carolinus
Trachinotus falcatus
29
4. RESULTADOS
4.1. FATORES AMBIENTAIS
Em média, os maiores valores da temperatura superficial da água
foram encontrados durante os meses de Outono e Verão,
respectivamente, enquanto o Inverno apresentou as menores médias
(Figura 10).Não houve grandes oscilações nos valores de salinidade da
água durante as Estações. A temperatura superficial da água (°C) e a
salinidade (ppm) não apresentaram influência direta na abundância da
assembleia de peixes da área amostral durante o período de coletas
(Tabela 1). A transparência da água foi total em todos os meses de
coleta e pontos amostrais.
Figura 10. Médias mensais de valores de temperatura superficial da água (°C) e
salinidade (ppm) coletadas durante os dias de amostragem, com indicação para
as estações de Primavera (roxo), Verão (laranja), Outono (verde) e Inverno
(azul).
0
10
20
30
40
50
Ab
ril
20
15
Mai
o 2
01
5
Junho
20
15
Julh
o 2
01
5
Ago
sto
20
15
Set
emb
ro 2
01
5
Outu
bro
20
15
No
vem
bro
…
Dez
emb
ro 2
01
5
Janei
ro 2
01
6
Fev
erei
ro 2
01
6
Mar
ço 2
01
6
Méd
ia
Temperatura
da água ( C)
Salinidade
(ppm)
30
Tabela 1. Resultado da Análise de Variância (ANOVA) entre os parâmetros
abióticos (temperatura superficial da água e salinidade) e a abundância
numérica das estações (PR = Primavera; VE = Verão; OU = Outono; IN =
Inverno).
Estação PR x VE x OU x IN
Variáveis Valor de p
T. mar (°C) 0,47
Sal (ppm) 0,28
4.2. COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA
Foram coletados 1255 indivíduos, pertencentes a 18 espécies
agrupadas em 15 gêneros e 11 famílias (Tabela 2). As famílias
Carangidae, Clupeidae e Mugilidae representaram 97,13% do número
total de peixes capturados e 92,06% da biomassa total de indivíduos. As
famílias Carangidae e Sciaenidae contribuíram com o maior número de
espécies, com três cada uma (Tabela 2).O exemplar da família
Megalopidae coletado era uma larva, a qual foi identificada em nível de
espécie (Megalops atlanticus).
Os indivíduos coletados apresentarampequenos tamanhos corporais,
com média de 31,67 mm (± 15,96) de comprimento total e 23,53 mm (±
11,77) de comprimento padrão, demonstrando serem em grande parte
juvenis, segundo tamanhos máximos conhecidos de cada espécie
(Tabela 3).
Quanto à biomassa, foram capturados um total de 943,34 g de
peixes, apresentando cinco espécies contribuintes com 77,38% do peso
total, sendo estas Mugil curema (13,95%), Mugil liza (15,96%),
Trachinotus carolinus (34,03%)e Trachinotus falcatus (13,44%) (Tabela
4). Cinco espécies obtiveram maior abundância relativa, contribuindo
com 95,38% do número total capturado. São elas: Sardinella brasiliensis (15,46%), Mugil curema (38,57%), Mugil liza (16,57%),
Trachinotus carolinus (14,02%)e Trachinotus falcatus (10,76%) (Tabela
4). As espécies menos abundantes, as quais contribuíram com 4,6% do
número total capturado foram Harengula clupeola (1,67%),
Menticirrhus littoralis (1,20%), Atherinella brasiliensis (0,88%),
Anchoa tricolor (0,16%), Anchoa lyolepis, Diplectrum radiale,
Hyporhampus unifasciatus, Stellifer rastrifer, Umbrina coroides,
Polydactylus virginicus, Pomatomus saltator, Caranx latus e Megalops
31
atlanticus.Estas nove últimas espécies exibiram valor de abundância
relativa de 0,08% cada uma (Tabela 4).
Quando analisando o conjunto amostrado, Mugil liza e Trachinotus carolinus foram as espécies mais frequentes, ocorrendo em 28% das
amostragens totais, seguidas diretamente por Mugil curema (11%),
Trachinotus falcatus (10%) e Harengula clupeola (8%) (Tabela 4).
32
Tabela 2. Identificação das espécies capturadas na praia da Barra da Lagoa,
ordenadas por ordem alfabética de famílias. * indica larva de espécime coletada.
Identificação Espécies Nome vulgar
ATHERINOPSIDAE
Atherinella brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1825) "peixe-rei"
CARANGIDAE
Caranx latus Agassiz, 1829 "xarelete"
Trachinotus carolinus (Linnaeus, 1766) "pampo"
Trachinotus falcatus (Linnaeus, 1758) "sernambiguara"
CLUPEIDAE
Harengula clupeola (Cuvier, 1829) "sardinha cascuda"
Sardinella brasiliensis (Steindachner, 1879) "sardinha verdadeira"
ENGRAULIDAE
Anchoa lyolepis (Evermann & Marsh, 1900) "manjuba"
Anchoa tricolor (Spix & Agassiz, 1829) "manjuba"
HEMIRAMPHIDAE
Hyporhamphus unifasciatus (Ranzani, 1841) "agulha"
MEGALOPIDAE*
Megalops atlanticus Valenciennes, 1847 "tarpão"
MUGILIDAE
Mugil curema Valenciennes, 1836 "parati"
Mugil liza Valenciennes, 1836 "tainha"
POLYNEMIDAE
Polydactylus virginicus (Linnaeus, 1758) "parati-barbudo"
POMATOMIDAE
Pomatomus saltator (Linnaeus, 1766) "enchova"
SCIAENIDAE
Menticirrhus littoralis (Holbrook, 1847) "betara"
Stellifer rastrifer (Jordan, 1889) "cangoá"
Umbrina coroides Cuvier, 1830 "castanha riscada"
SERRANIDAE Diplectrum radiale (Quoy & Gaimard, 1824) "michole da areia"
33
Tabela 3. Tamanhos mínimos e máximos de comprimento total encontrados das
espécies coletadas, e tamanhos máximos registrados para as mesmas, segundo
FISHBASE (2016).
Espécie CT (min -
máx coletado) CT (máx)
Atherinella brasiliensis 23 – 114 160
Caranx latus 48 1010
Trachinotus carolinus 13 – 149 640
Trachinotus falcatus 15 – 106 1220
Harengula clupeola 43 – 85 180
Sardinella brasiliensis 29 – 41 270
Anchoa lyolepis 62 120
Anchoa tricolor 58 – 62 118
Hyporhampus unifasciatus 125 300
Megalops atlanticus 65 2500
Mugil curema 17 – 93 900
Mugil liza 18 – 109 800
Polydactylus virginicus 34 330
Pomatomus saltator 58 1300
Menticirrhus littoralis 24 – 62 483
Stellifer rastrifer 25 200
Umbrina coroides 64 350
Diplectrum radiale 22 260
34
Tabela 4. Abundância Numérica (AN), Abundância Relativa (AR), Frequência
de Ocorrência (FO), Biomassa Total (BT) e Biomassa Relativa (BR) das
espécies capturadas na praia da Barra da Lagoa, entre Abril de 2015 e Março de
2016.
Espécie NA AR
(%)
FO
(%) BT (g)
BR
(%)
Atherinella brasiliensis 11 0,88 6 50,35 5,34
Caranx latus 1 0,08 1 1,73 0,18
Trachinotus carolinus 176 14,02 15 321,01 34,03
Trachinotus falcatus 135 10,76 10 126,77 13,44
Harengula clupeola 21 1,67 8 79,41 8,42
Sardinella brasiliensis 194 15,46 1 57,35 6,08
Anchoa lyolepis 1 0,08 1 1,28 0,14
Anchoa tricolor 2 0,16 1 2,14 0,23
Hyporhampus unifasciatus 1 0,08 1 4,23 0,45
Megalops atlanticus 1 0,08 1 0,29 0,03
Mugil curema 484 38,57 11 131,55 13,95
Mugil liza 208 16,57 13 150,60 15,96
Polydactylus virginicus 1 0,08 1 0,26 0,03
Pomatomus saltator 1 0,08 1 1,83 0,19
Menticirrhus littoralis 15 1,20 6 11,42 1,21
Stellifer rastrifer 1 0,08 1 0,24 0,03
Umbrina coroides 1 0,08 1 2,77 0,29
Diplectrum radiale 1 0,08 1 0,11 0,01
4.3. ÍNDICES DE DIVERSIDADE E RIQUEZA
Sazonalmente, os maiores valores dos índices de diversidade foram
encontrados durante o Outono, com exceção da Equitabilidade de Pielou
(J’), a qual apresentou valor mais alto durante a Primavera (0,709) (Figura 11). O valor mais alto exibido pela Diversidade de Shannon-
Wiener (H’) foi de 0,602 no Outono, enquanto o da Riqueza de
Margalef (d) foi de 1,735 no Outono, seguido diretamente pelo valor de
1,487, encontrado no Verão (Figura 11).
35
O maior número de espécies foi encontrado durante as estações de
Verão e Outono e os menores números durante a Primavera e Inverno
(Tabela 5).
Figura 11. Médias (± EP) da Diversidade de Shannon-Wiener (H’),
Equitabilidade de Pielou (J’) e Riqueza de Margalef (d) da ictiofauna amostrada
na praia da Barra da Lagoa, SC, por estação.
Tabela 5. Número de espécies encontrado em cada estação.
Parâmetro Primavera Verão Outono Inverno
Número de espécies 7 11 11 7
Espacialmente, os maiores valores dos índices de diversidade
foram encontrados no ponto de amostragem abrigado, com exceção da
Equitabilidade de Pielou (J’) a qual apresentou valor mais alto no ponto
exposto (0,578) (Figura 12). Os valores da Diversidade de Shannon-
Wiener (H’) e da Riqueza de Margalef (d) encontrados no posto
abrigado foram de 0,649 e 2,032, respectivamente (Figura 12).
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
0
1
Primavera Verão Outono Inverno
Val
ore
s d
e Ín
dic
es
Shannon
Wienner
(H')
Pielou (J')
Margalef
(d)
36
Figura 12. Médias (± EP) da Diversidade de Shannon-Wiener (H’),
Equitabilidade de Pielou (J’) e Riqueza de Margalef (d) da ictiofauna amostrada
na praia da Barra da Lagoa, SC, por ponto de amostragem.
4.4. VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL
Temporalmente, a maior abundância numérica ocorreu durante o
Verão, seguido diretamente pelo Outono, Primavera e Inverno (Tabela
6). Quando consideramos a variação espacial, o ponto de amostragem
com baixo grau de exposição às ondas apresentou a maior abundância,
em detrimentodo de alto grau de exposição apresentou somente (Tabela
6).
Tabela 6. Abundância encontrada em cada estação e ponto amostral durante o
ano de coleta.
Parâmetro Estações Pontos amostrais
Abundância Primavera Verão Outono Inverno Abrigado Exposto
146 835 180 94 982 273
Não houve ocorrência exclusiva de espécies na Primavera, no
entanto Sardinella brasiliensis, Polydactylus virginicus, Pomatomus saltator e Stellifer rastrifer foram espécies de ocorrência exclusiva no
Verão, Caranx latus, Anchoa lyolepis, Anchoa tricolor, Hyporhamphus unifasciatus e Diplectrum radiale ocorreram somente no Outono e
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
0
1
Abrigado Exposto
Val
ore
s Ín
dic
es Shannon
Wienner (H')
Pielou (J')
Margalef (d)
37
Megalops atlanticus e Umbrina coroides foram espécies ocorrentes
exclusivamente no Inverno (Tabela 7). Analisando este quesito
espacialmente, oito espécies ocorrentes foram exclusivas do ponto de
amostragem abrigado, sendo estas A. tricolor, P. virginicus, P. saltator,
S. brasiliensis, S. rastrifer, U. coroides, M. atlanticus e D. radiale,
contrastando com três espécies exclusivas do ponto de amostragem de
maior grau de exposição às ondas, A. lyolepis, C. latus e H. unifasciatus
(Tabela 7).
Tabela 7. Presença ou ausência das espécies identificadas na zona de
arrebentação da praia da Barra da Lagoa/SC, conforme sazonalidade (Primavera
– PR; Verão – VE; Outono – OU; Inverno – IN) e ponto amostral (Abrigado –
AB; Exposto – EX).
Espécie PR VE OU IN
AB EX AB EX AB EX AB EX
Atherinella brasiliensis X
X X X
X
Caranx latus
X
Trachinotus carolinus X X X X X X
X
Trachinotus falcatus X X X X X X
Harengula clupeola X X X X
X
Sardinella brasiliensis
X
Anchoa lyolepis
X
Anchoa tricolor X
Hyporhamphus unifasciatus
X
Megalops atlanticus
X
Mugil curema
X X X X X X
Mugil liza X X X X X X X X
Polydactylus virginicus
X
Pomatomus saltator
X
Menticirrhus littoralis X
X X
Stellifer rastrifer
X
Umbrina coroides
X
Diplectrum radiale X
38
De acordo com a Análise de Similaridade (ANOSIM), houve
diferença significativa entre a composição da comunidade ictiofaunística
da zona de arrebentação entre as estações do ano de coleta (Tabela 8).
No entanto, os pós testes demonstraram que tal diferença provém
somente da comparação entre os conjuntos amostrais encontrados nas
estações de Verão e Inverno (Tabela 8).Não houve diferença
significativa na Análise de Similaridade (ANOSIM) entre os diferentes
pontos amostrais, apresentando valor de R em 0,033 e valor de p de
0,206.
Tabela 8. Resultados das Análises de Similaridade (ANOSIM) entre as estações
do ano. * indica diferença significativa (p < 0,05).
Teste Global R Valor de p
Primavera x Verão x Outono x
Inverno 0,20 0,01
Testes Pareados
Verão x Outono 0,22 0,06
Verão x Inverno* 0,33 0,03
Verão x Primavera 0,20 0,07
Outono x Inverno 0,17 0,12
Outono x Primavera 0,22 0,07
Inverno x Primavera 0,00 0,45
De acordo com a análise de Similaridade de Percentagens
(SIMPER), o conjunto amostral da Primavera foi o que apresentou
maior similaridade (49,25%), tendo contribuído mais para esse resultado
as espécies Trachinotus carolinus e Mugil liza (Tabela 9). O conjunto
amostral do Verão exibiu 35,39% de similaridade, seguido diretamente
pelo Outono (31,93%) e Inverno (28,26%) (Tabela 9).A maior
dissimilaridade encontrada foi entre as estações de Verão e Inverno
(81,25%), tendoTrachinotus falcatus, Mugil liza, Trachinotus carolinus,
Mugil curema, Menticirrhus littoralis e Sardinella brasiliensiscomo
principais espécies contribuintes para este resultado (Tabela 10). As
estações de Outono e Inverno, seguidas diretamente por Verão e
Outono, apresentaram dissimilaridades de 75,05% e 72,19%,
respectivamente (Tabela 10).
39
Tabela 9. Resultados da análise de Similaridade de Percentagens (SIMPER) do
conjunto amostral de cada estação, indicando a porcentagem das espécies mais
contribuintes na composição dos mesmos.
Estação Primavera Verão Outono Inverno
Similaridade média (%) 49,25 35,39 31,93 28,26
Espécies Contribuição (%)
Harengula clupeola - - 6,76 -
Menticirrhus littoralis - 8,27 - -
Mugil curema - - 15,46 -
Mugil liza 26,75 - 31,81 62,58
Trachinotus carolinus 64,91 32,64 9,20 37,42
Trachinotus falcatus - 51,52 32,84 -
Tabela 10. Resultados da análise de Similaridade de Percentagens (SIMPER)
entre os conjuntos amostrais de cada estação, indicando a dissimilaridade entre
os mesmos.
Entre as
Estações
VE x
OU
VE x
IN
OU x
IN
VE x
PR
OU x
PR
IN x
PR
Dissimilaridade
média (%) 72,19 81,25 75,05 65,04 69,49 63,27
Quanto aos dois pontos amostrais, abrigado e exposto, a análise de
Similaridade de Percentagens (SIMPER) apontou uma similaridade
média de 25,18% no ponto abrigado, tendo Mugil liza, Trachinotus carolinus, Trachinotus falcatus, Harengula clupeola e Mugil curema
como principais contribuintes para tal resultado (Tabela 11). No ponto
exposto, as espécies Trachinotus carolinus, Mugil liza e Trachinotus
falcatus tiveram a maior contribuição para a similaridade média de
37,35% do conjunto amostral (Tabela 11). Entre os pontos amostrais, a
dissimilaridade média teve valor de 70,14%, apresentando Mugil liza,
Trachinotus falcatus, Trachinotus carolinus e Mugil curema como
principais contribuintes desta dissimilaridade (Tabela 11).
Tabela 11. Resultados da análise de Similaridade de Percentagens (SIMPER)
de cada ponto amostral (abrigado; exposto) e entre estes, indicando a
porcentagem de contribuição de cada espécie para a sua similaridade ou
40
dissimilaridade.
Ponto amostral Abrigado Exposto Entre os pontos
amostrais
Abrigado x
Exposto
Similaridade
média (%) 25,18 37,35
Dissimilaridade
média (%) 70,14
Espécies Contribuição (%) Espécies Contribuição
(%)
A. brasiliensis - - A. brasiliensis 4,71
H. clupeola 10,03 - H. clupeola 7,19
M. littoralis - - M. littoralis 4,78
M. curema 7,03 - M. curema 14,11
M. liza 44,37 23,49 M. liza 23,25
S. brasiliensis - - S. brasiliensis 3,37
T. carolinus 23,05 51,58 T. carolinus 16,39
T. falcatus 11,75 18,56 T. falcatus 18,07
As amostras para as quatro diferentes estações e dois distintos
pontos amostrais tiveram grandes sobreposições no MDS. É possível, no
entanto,visualizar que o conjunto amostral do Verão apresentou uma
maior segregação com o do Inverno (Figura 13).
41
Figura 13.Escalonamento Multidimensional (MDS), indicando visualmente a
semelhança dos conjuntos amostrais de cada mês e pontos (1 – abrigado; 2 –
exposto) amostrados, assim como dos conjuntos amostrais das estações do ano
de coleta (Primavera, Verão, Outono e Inverno).
Conforme resultados dos Testes de Goodman, na Primavera, no
ponto abrigado,T. falcatus obteve proporção de abundância
significativamente maior que as outras espécies. Já no ponto exposto,
esta posição foi ocupada por M. liza e T. carolinus. Entre os pontos,
somente M. liza e T. falcatus exibiram diferenças significativas (Tabela
12).
No verão, no ponto abrigado, a proporção de abundância de M. curema diferiu completamente das demais espécies, enquanto no ponto
exposto o mesmo ocorreu com T. carolinus. Quando analisando entre os
pontos, M. curema, T. carolinus e T. falcatus apresentaram diferenças
significativas, sendo os carangídeos mais abundantes no ponto exposto e
o mugilídeo no ponto abrigado (Tabela 12).
Durante o outono, no ponto abrigado, M. curema e M. liza
demonstraram ser proporcionalmente mais abundantes do que as outras
espécies, enquanto no ponto expostoM. liza eT. falcatus apresentaram
este resultado.Entre os pontos, somente as espécies H. clupeola e M.
curema demonstraram diferença entre proporção de abundância, sendo
mais abundantes no ponto abrigado (Tabela 12).
42
Por fim, no Inverno, M. liza foi a única espécie que apresentou
proporções de abundância significativamente maiores que as outras
espécies no ponto abrigado e no exposto, neste último sendo
acompanhada por T. carolinus(Tabela 12).
Tabela 12. Abundância numérica de cada espécie por estação/ponto e
resultados dos Testes de Goodman.
Espécies
(FO > 1%)
Primavera Verão Outono Inverno
AB EX AB EX AB EX AB EX
H. clupeola 7 b 1 b 1 b 0 b 11 b* 0 b 1 b 0 b
M. curema 0 b 3 b 408 a* 4 b 66 a* 2 b 1 b 0 b
M. liza 10 b* 26 a 10 b 7 b 65 a 11 a 72 a* 7 a
T. carolinus 21 b 22 a 7 b* 113a 2 b 1 b 0 b* 10 a
T. falcatus 41 a* 13 b 35 b* 38 b 4 b 4ª 0 b 0b
* indica diferença (Intervalo de Confiança não inclui o valor zero para
Acrítico = 3,84 de 2 classes multinomiais, abrigado e exposto como
variáveis dependentes) entre os pontos “abrigado” e “exposto” em cada
estação do ano separadamente pelo teste de Goodman (1965). Letras
diferentes denotam diferença significativa (Gcalculado> Gcrítico = 2,81)
entre as abundâncias das espécies das estações para um mesmo ponto
(Teste de Goodman, 1964; estação como variável independente – entre
multinomiais).
4.5. VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DAS ESPÉCIES MAIS
ABUNDANTES
Considera-se aqui as espécies que apresentaram
frequência de ocorrência maior que 1% e foram mais abundantes.
4.5.1. Harengula clupeola (“sardinha cascuda”)
Houve diferença significativa entre as médias de tamanho e
peso corporal dos exemplares de H. clupeola, sendo estas maiores
durante a Primavera do que no Outono (Figuras 14 e 15). Não havia
número de indivíduos suficiente para que as análises fossem feitas
também nas estações de Verão e Inverno, nem nos diferentes pontos
amostrais.
43
Figura 14. Média (± EP) do comprimento total (CT; t = 3,68) e comprimento
padrão (CP; t = 3,98) de H. clupeola durante as estações de Primavera e
Outono. Letras diferentes denotam diferença significativa (Teste t; p < 0,01).
Figura 15. Média (± EP) da biomassa em gramas (t = 3,92) de H. clupeola
durante as estações de Primavera e Outono. Letras diferentes denotam diferença
significativa (Teste t; p < 0,01).
a
b
a
a b
b
44
4.5.2. Mugil curema (“parati”)
As médias de tamanho e peso corporal foram maiores no Verão
que Outono (Figuras16 e 17). Entretanto,não existiu diferenças
significativas para essas variáveis entre os pontos abrigado e
expostotanto para as quatro estações conjuntasquanto para o Verão
especificamente (Tabela 13).
Figura 16. Média (± EP) do comprimento total (CT; t = 5,01) e comprimento
padrão (CP; t = 3,40) de M. curema durante as estações de Verão e Outono.
Letras diferentes denotam diferença significativa (Teste t; p < 0,01).
a
a
b
b
45
Figura 17.Média (± EP) da biomassa (t = 5,33) de M. curema durante as
estações de Verão e Outono. Letras diferentes denotam diferença significativa
(Teste t; p < 0,01).
Tabela 13. Resultados dos testes t de Student quanto à variação de
comprimento total (CT), comprimento padrão (CP) e biomassa de M. curema
nos diferentes pontos amostrais (abrigado; exposto), tanto nas quatro estações
conjuntamente quanto no Verão separadamente.
Estação PR x VE x IN x OU Estação Verão
Entre os
pontos Abrigado x Exposto
Entre os
pontos Abrigado x Exposto
Variáveis Valor de t Valor de p Variáveis Valor de t Valor
de p
CT 0,49 0,62 CT 1,55 0,12
CP 0,57 0,57 CP 1,72 0,09
Biomassa 0,08 0,94 Biomassa 0,81 0,42
4.5.3. Mugil liza (“tainha”)
As médias de comprimento total (CT), comprimento padrão (CP) e
biomassa foram significativamente maiores durante o Outono em
relação as demais estações e diferentes entre Primavera e Inverno
(Figuras 18 e 19).No entanto, tais médias não variaram
a
b
46
significativamente entre os pontos abrigado e exposto quando analisadas
as quatro estações conjuntas ou cada uma separadamente (Tabela 14).
Figura 18. Média (± EP) do comprimento total (CT; H = 46,79) e comprimento
padrão (CP; H = 53,45) de M. liza entre as estações do ano. Letras diferentes
denotam diferença significativa (Kruskal-Wallis;p < 0,05).
a
b bc c
a
b bc c
47
Figura 19. Média (± EP) da biomassa (H = 39,99) de M. liza entre as estações
do ano. Letras diferentes denotam diferença significativa (Kruskal-Wallis; p <
0,05).
0
1
2
Biomassa
Méd
ia B
iom
assa
(g)
Primavera
Verão
Outono
Inverno
a
b b b
48
Tabela 14. Resultados dos testes t de Student quanto à variação de
comprimento total (CT), comprimento padrão (CP) e biomassa de M. liza nos
diferentes pontos amostrais (abrigado; exposto), tanto nas quatro estações
conjuntamente quanto em cada uma separadamente.
Estação PR x VE x IN x OU
Entre os pontos Abrigado x Exposto
Variáveis Valor de t Valor de p
CT 0,85 0,39
CP 0,92 0,36
Biomassa 0,43 0,67
Estação Primavera
Entre os pontos Abrigado x Exposto
Variáveis Valor de t Valor de p
CT 0,82 0,42
CP 0,86 0,40
Biomassa 0,81 0,42
Estação Verão
Entre os pontos Abrigado x Exposto
Variáveis Valor de t Valor de p
CT 1,21 0,24
CP 0,33 0,74
Biomassa 1,20 0,25
Estação Outono
Entre os pontos Abrigado x Exposto
Variáveis Valor de t Valor de p
CT 1,36 0,18
CP 1,31 0,19
Biomassa 1,16 0,25
Estação Inverno
Entre os pontos Abrigado x Exposto
Variáveis Valor de t Valor de p
CT 0,27 0,79
CP 0,81 0,42
Biomassa 1,11 0,27
49
4.5.4. Trachinotus carolinus (“pampo”)
O tamanho e biomassa de Trachinotus carolinusforam maiores na
Primavera do que no Verão e Inverno (Figura 20).
Figura 20. Média (± EP) do comprimento total (CT em mm; H = 30,46),
comprimento padrão (CP em mm; H = 28,21) e biomassa em gramas (H =
34,92) de T. carolinus durante as estações de Primavera, Verão e Inverno.
Letras diferentes denotam diferença significativa (Kruskal-Wallis; p < 0,05).
Quando analisadas as médias de tamanho e peso corporal dos indivíduos
de T. carolinus separadamente por estação, não foram encontradas
diferenças significativas entre o ponto abrigado e exposto em nenhuma
das estações analisadas (Tabela 15). Porém, uma vez realizadas as
análises entre todas as estações conjuntas, verificou-se que o tamanho
corporal e biomassa de T. carolinus são maiores no ponto abrigado
(Figura 21).
a
ab
b
a
a
b a
a b
50
Tabela 15. Resultados dos testes t de Student quanto à variação de
comprimento total (CT), comprimento padrão (CP) e biomassa de T. carolinus
nos diferentes pontos amostrais (abrigado; exposto) na Primavera e Verão.
Estação Primavera Estação Verão
Entre os
pontos Abrigado x Exposto
Entre os
pontos
Abrigado x
Exposto
Variáveis Valor de t Valor de
p Variáveis Valor de t
Valor
de p
CT 0,48 0,64 CT 0,07 0,95
CP 0,54 0,59 CP 0,14 0,89
Biomassa 0,41 0,68 Biomassa 0,20 0,84
Figura 21. Média (± EP) do comprimento total (CT; t = 3,77; p = 0,00),
comprimento padrão (CP; t = 3,82; p =0,00) e biomassa (t = 2,15; p =0,03) de T.
carolinus nos diferentes pontos amostrais (abrigado; exposto) durante todas as
estações conjuntamente. Letras diferentes denotam diferença significativa (p <
0,05).
4.5.5. Trachinotus falcatus (“sernambiguara”)
Na Primavera,Trachinotus falcatus teve as menores médias de
tamanho e peso corporal quando comparada com Verão e Outono
(Figuras 22 e 23).
a
a
a
b
b
b
51
Em sua totalidade, também não foi encontrada diferença entre
as médias de tamanho corporal e biomassa dos dois distintos pontos
amostrais (Tabela 16). Entre as estações, somente na Primavera
ocorreu distinção entre as médias de comprimento padrão (CP) e
biomassa encontradas (Figuras 24 e 25).
Figura 22. Médias (± EP) de comprimento total (CT; H = 79,34) e
comprimento padrão (CP; H = 81,20) de T. falcatus durante as estações de
Primavera, Verão e Outono. Letras diferentes denotam diferença significativa
(Kruskal-Wallis;p < 0,05).
a
b b
a
b b
52
Figura 23. Média (± EP) da biomassa (H = 72,38) de T. falcatus durante as
estações de Primavera, Verão e Outono. Letras diferentes denotam diferença
significativa (Kruskal-Wallis; p < 0,05).
Tabela 16. Resultados dos testes t de Student quanto à variação de
comprimento total (CT), comprimento padrão (CP) e biomassa de T. falcatus
nos diferentes pontos amostrais (abrigado;exposto), nas quatro estações
conjuntamente.
Estação PR x VE x IN x OU
Entre os pontos Abrigado x Exposto
Variáveis Valor de t Valor de p
CT 1.70 0.09
CP 1.71 0.09
Biomassa 1.13 0.26
a
b
b
53
Figura 24. Médias (± EP) de comprimento total (CT; t = 1,96; p = 0,06) e
comprimento padrão (CP; t = 3,14; p = 0,00) de T. falcatus nos diferentes
pontos amostrais (abrigado; exposto) durante a Primavera. Letras diferentes
denotam diferença significativa (p < 0,05).
a
a
b
b
54
Figura 25.Média (± EP) da biomassa (t = 3,24; p = 0,00) de T. falcatus nos
diferentes pontos amostrais (abrigado; exposto) durante a Primavera. Letras
diferentes denotam diferença significativa (Teste t; p < 0,05).
a
b
55
5. DISCUSSÃO
O presente estudo constatou uma alta predominância de indivíduos
juvenis na área de estudo, com pequenos tamanhos corporais e baixa
biomassa, característica marcante da ictiofauna de zonas de arrebentação
(CUNHA, 1981; GOMES, 2003; MODDE; ROSS, 1981; PAIVA
FILHO; TOSCANO, 1987; VASCONCELLOS et al., 2007). Desta
maneira, percebe-se a importância deste ambiente para estas espécies
por constituir uma zona de recrutamento e criação (VASCONCELLOS
et. al., 2007), assim como área provedora de alimento abundante e de
proteção contra predadores (CARTER, 2002; CLARK, 1997; FÉLIX et al., 2007; GIANNINI; PAIVA FILHO, 1995; MONTEIRO-NETO et
al., 2003).
A alta dominância específica, caracterizada aqui por M. curema, M. liza, T. carolinus e T. falcatus também é uma característica
marcante de comunidades ictiofaunísticas de zonas de arrebentação
(e.g.CUNHA, 1981; FELIX, 2006; MODDE; ROSS, 1981; PAIVA
FILHO; TOSCANO, 1987; VASCONCELLOS, 2008). Vasconcellos
(2008) coloca este padrão de dominância como uma vantagem evolutiva
na ocupação do ambiente, uma vez que somente poucas espécies
conseguem recrutar e permanecer dominantes em tal habitat de alta
turbulência e instabilidade.
O registro de muitas espécies raras pode ser decorrente do curto
tempo de residência destes indivíduos na zona de arrebentação, os quais
migrariam após atingirem um maior tamanho, ou por estes serem
visitantes ocasionais (VASCONCELLOS et al., 2007). No entanto,
conforme observado por Mendonça (2005), considerando o alto número
de espécies raras, outra justificativa possível consiste na amostragem ter
sido realizada somente com um artefato de pesca e com frequência
reduzida (mensalmente), influenciando os resultados.
Os meses de Verão e Outono apresentaram as maiores médias
de temperatura do ar neste estudo, ao passo que o Inverno apresentou as
menores, segundo dados disponibilizados pelo CIRAM/EPAGRI
(Anexo 2). As maiores abundâncias totais encontradas foram durante as
estações mais quentes do ano, enquanto opostamente, as menores foram
nas mais frias, em concordância com o padrão encontrado por diferentes
autores (e.g.CUNHA, 1981; FÉLIX, 2006; GIANNINI, PAIVA FILHO,
1995; MODDE; ROSS, 1981; VASCONCELLOS et al., 2007). Tais
ciclos provavelmente justificam-se pelos padrões de recrutamento,
atividade reprodutiva e circulação costeira dos indivíduos (FÉLIX et al., 2007; PICHLER, 2005; SPACH et al., 2004), sendo exemplificado pelo
56
grande número de juvenis de M. curema, T. carolinus e T.
falcatuscapturados durante os meses de Verão.O padrão de maior
abundância nas estações mais quentes do período amostral (Verão e
Outono) apresentado aqui também foi encontrado em diferentes estudos
(e.g.CUNHA, 1981; GIANNINI; PAIVA FILHO, 1995; MATSURA;
NAKATANI, 1979; MODDE; ROSS, 1981).
Somente a estação de Verão apresentou valor de abundância
numerosamente discrepante das outras estações, podendo indicar que a
influência da sazonalidade na abundância da ictiofauna é mais
pronunciada em praias que apresentam variações de temperaturas
superiores a 20°C por ano (CLARK et al., 1996), as quais não ocorrem
na área de estudo.Adicionalmente, Vasconcellos (2008) aponta que em
regiões temperadas, há tendência de ocorrência de maiores abundâncias
durante o Verão em comparação com a Primavera, uma vez que nas
mesmas, as condições apresentadas no Verão são favoráveis à
colonização dos recrutas, possuindo menor estresse de temperatura e
maior metabolismo.Este apontamento vai de encontro com os
resultados, considerando que as espécies mais frequentes encontradas no
presente estudoou recrutam durante os meses de Verão (M. curema)
(OLIVEIRA, 2010), ou são encontradas em maiores abundâncias
durante esta estação, reproduzindo-se por épocas prolongadas antes da
mesma (A. brasiliensis, M. littoralis, T. falcatus) (CRABTREE; HOOD;
SNODGRASS, 2002; DEL FAVERO, 2011; PESSANHA; ARAUJO,
2001), ouse reproduzem neste período (T. carolinus) (CRABTREE;
HOOD; SNODGRASS, 2002).Gomes, Cunha e Zalmon (2003) também
apontam maiores registros de abundância e riqueza nos meses de Verão
devido à combinação da presença de peixes marinhos, estuarinos e
estuarino-dependentes.No entanto, o fenômeno da ressurgência, o qual
consiste na subida de águas mais frias para regiões próximas à
superfície, ocorre durante o Verão na costa do Rio de Janeiro (LODI;
HETZEL, 1998). Este processo enriquece as águas costeiras, trazendo
nutrientes e fontes de alimento como fitoplâncton para a superfície,
atraindo muitos outros organismos, como peixes.Dessa maneira, os
resultados de Gomes, Cunha e Zalmon (2003) podem ter sido
potencializados pela ocorrência deste fenômeno, enquanto não houve
influência deste no presente estudo.
Os valores coletados de temperatura superficial da água e
salinidade não apresentaram influência significativa na composição e
abundância da ictiofauna durante o ano amostral, diferindo dos
resultados encontrados por demais autores (FÉLIX, 2006; LIMA;
VIEIRA, 2009). Isto pode ser devido à amostragem destes parâmetros
57
ter sido feita somente nos dias de coleta, tornando possível a perda do
registro completo das variações sazonais de salinidade e temperatura
superficial da água.
A Análise de Similaridade (ANOSIM) somente demonstrou
diferença estrutural na composição da assembleia dos peixes entre as
estações de Verão e Inverno, as quais apresentaram maiores amplitudes
de temperatura média do ar entre si (Anexo 2), como visto em outros
trabalhos (e.g. GIANNINI; PAIVA FILHO, 1995; VASCONCELLOS
et. al., 2007; VASCONCELLOS, 2008). Os resultados de abundância e
do índice de riquezademonstraram que o Verão apresentou maior
riqueza eabundância quando comparado com o Inverno, fato justificado
pelo grande número de juvenis capturados durante o Verão e pelo
grande número de espécies encontradas nesta estação. O Inverno
também apresentou o menor valor de Equitabilidade de Pielou,
demonstrando uma composição de espécies em abundâncias
desproporcionais, diferente das outras estações, fundamentando os
resultados da ANOSIM e da Similaridade de Percentagens (SIMPER), a
qual apresentou maior valor de dissimilaridade entre as estações de
Verão e Inverno. Isto pode estar relacionado com a migração dos
indivíduos para as áreas adjacentes durante este período, e com o
pequeno número de espécies encontradas nesta estação, as quais
obtiveram abundâncias diversas.
Os padrões encontrados pela ANOSIM e SIMPER, podem ser
visualizados no MDS (Figura13). Nesta figura observamos uma maior
segregação entre os grupos amostrais do Verão e Inverno, devido aos
padrões de recrutamento e combinação de espécies marinhas, estuarinas
e estuarinas-dependentes encontradas no Verão. A grande sobreposição
dos conjuntos amostrais pode ser fundamentada pelo baixo número de
espécies componentes da ictiofauna da zona de arrebentação, com
poucas apresentando alto grau de dominância,fato contribuinte para a
baixa similaridade dentro das estações e alta dissimilaridade entre as
mesmas.
A composição da comunidade íctica da zona de arrebentação da
praia da Barra da Lagoa mostrou-se em concordância com dados já
levantados sobre a assembleia de peixes do ecossistema da Lagoa da
Conceição (BORGO et al., 2015; RIBEIRO et al., 1999).Como
observado nestes estudos, há uma alta dominância de espécies da família
Mugilidae e grande número de espécies da família Carangidae, assim
como uma maior presença de indivíduos juvenis, poucas espécies
residentes, sendo a maioria visitante. As mesmas espécies com
importância comercial encontradas pelas autoras foram coletadas no
58
presente estudo, sendo estas as tainhas (M. liza), os paratis(M. curema),
a enchova (P. saltator), o xaréu(C. latus)e as sardinhas-cascudas (H.
clupeola). Foram encontradas também espécies de importância
comercial especialmente para a população local, como o pampo (T.
carolinus), a sernambiguara (T. falcatus) e as majubas (A. lyolepis, A.
tricolor). O fato de encontrarmos estas espécies tanto na zona de
arrebentação quanto no ambiente lagunar da Lagoa da Conceição
evidencia a importância destas áreas como fonte de alimento, refúgio e
recrutamento destes indivíduos (BORGO et al., 2015).Não obstante, as
espécies que não são alvo de interesse comercial também mostram-se
altamente dependentes destas áreas estuarinas, marinhas e lagunares,
seja para recrutamento, proteção ou para fonte de alimento. Estes
exemplares ainda servem de alimento para peixes que apresentam
interesse econômico (ROBERTSON; DUKE, 1990) e, assim como as
outras, exportam matéria e sedimentos orgânicos do sistema lagunar
para regiões adjacentes (LEBRETON et al., 2011).
No presente estudo também foi encontrada uma larva de tarpão
(Megalops atlanticus), espécie classificada como vulnerável na lista de
espécies ameaçadas da IUCN (2016), fato evidenciado pelo volume
global desembarcado desta espécie ter apresentado um declínio de
84,5% entre 1965 e 2007, especialmente no Brasil (IUCN, 2016). Esta
captura evidencia a relevância deste ambiente e suas áreas adjacentes
para a conservação de espécies ameaçadas, sendo sua proteção de
extrema importância.
Espacialmente, a composição estrutural da ictiofauna da zona
de arrebentação não apresentou diferenças significativas, o que pode ser
visualizado através do MDS (Figura 13) pela distribuição aleatória dos
conjuntos amostrais de cada ponto. Isto pode ser justificado pela
proximidade dos dois pontos amostrais, os quais foram determinados
com uma distância de aproximadamente 250 m entre um e outro,
diferente do visto em outros trabalhos(e.g.CLARK, 1997; FÉLIX, 2006;
OLIVEIRA, 2011; VASCONCELLOS et al., 2007). Porém, o
pontoabrigado apresentou maiores valores de abundância, biomassa e
riqueza de espécies em comparação com o ponto exposto, tendo o grau
de exposição às ondas agido como fator determinante da estrutura da
comunidade. Segundo Gibson (1994), a ação das ondas e consequente
turbulência são colocadas como fatores que acarretam uma maior
dificuldade na obtenção do alimento disponível, devido à necessidade
constante do ajuste da posição corporal e da redução do campo de visão
na água turva, justificando uma menor abundância e riqueza de espécies
em ambientes de maior grau de exposição às ondas. Como foi
59
constatada transparência total da água nos dois pontos amostrais em
todas as coletas, imaginaria-se que a turbidez não seja fator de alta
influência na abundância e riqueza da ictiofauna de zonas de
arrebentação. No entanto, as medições foram feitas sempre em baixas
profundidades (até 1 m) e somente nos dias de coleta, influenciando no
resultado obtido.O menor valor do índice de riqueza de Margalef para o
ponto exposto também é fundamentado pela possibilidade de haver
maior dificuldade de adaptação das espécies em ambientes com maior
exposição às ondas, uma vez que estes apresentam vantagens como
proteção contra predadores (DEL FAVERO, 2011; VASCONCELLOS
et al., 2007). O formato do corpo das espécies de Carangídeos
encontradas, o qual garante às mesmas uma grande capacidade natatória,
pode estar relacionado com a alta abundância destes indivíduos
encontrada no ponto exposto. Demais espécies encontradas no estudo
(e.g. H. clupeola, M. curema M. littoralis, M. liza) não possuem um
formato de corpo que garante tal capacidade natatória, tendo, dessa
maneira, sido encontradas principalmente no ponto de menor grau de
exposição às ondas.
A sardinha cascuda (Harengula clupeola) esteve entre as cinco
espécies mais frequentese teve um padrão sazonal de crescimento
corporal, o qual apresentou valores significativamente menores de
tamanho e biomassa durante os meses de Outono em comparação com a
Primavera, quando foram encontrados indivíduos com maiores valores
de comprimento e biomassa. Esta espécie é colocada como r –
estrategista (VAZ DOS SANTOS; SILIPRANDI; ROSSI-
WONGTCHOWSKI, 2010), o que vai de encontro com a captura de
juvenis durante todo o ano, e indica que houve um pico de reprodução
desta pouco antes ou durante o Outono. Vasconcellos et al. (2007) e
Paiva Filho e Giannini (1995) também encontraramH. clupeolaemgrande abundância no seu estudo, indicando que esta espécie
utiliza praias arenosas como área de criação, e ressaltando que a mesma
não apresenta variações de abundância espaciais e sazonais. No presente
estudo também não houveram grandes discrepâncias de abundância
desta espécie, quando capturada. No entanto, do número total de
indivíduos coletados, apenas 1 era decorrente da zona exposta,
apresentando uma possível preferência desta espécie por zonas
abrigadas, fato corroborado pelo estudo de Paiva Filho e Giannini
(1995).
As espécies pertencentes à família Mugilidae apresentaram
uma alta abundância e frequência de ocorrência, sendo o grupo amostral
composto majoritariamente por indivíduos juvenis de pequeno tamanho
60
corporal. Assim, o estudo atual e de outros autores (e.g. BORGO et al.,
2015; DE LEDO et al., 1999; RIBEIRO et al., 1999) corroboram com o
apontamento deMatsuura e Nakatani (1979), o qual indica que os
indivíduos desta família com menores tamanhos corporais se encontram
nas orlas das praias ou em canais de lagoas. Isto se deve pois estas áreas
apresentam uma maior disponibilidade de alimento e maiores médias de
temperatura, fatores que influenciam positivamente a taxa de
crescimento dos juvenis (HERBST; HANAZAKI, 2014).
Adicionalmente, diferentes autores apontam que estas zonas são local de
recrutamento destas espécies (DEL FAVERO, 2011; HERBS;
HANAZAKI, 2014; OLIVEIRA, 2010).
Paiva Filho e Toscano (1987) apontaram que juvenis de
Mugilidae são mais frequentes durante as estações de Primavera e
Verão, com início de ocorrência durante o Inverno, coincidindo com o
período de reprodução de algumas espécies desta família, como M.
curema e M. liza (DEL FAVERO, 2011; HERBST; HANAZAKI, 2014;
OLIVEIRA, 2010).Os resultados do presente estudo mostraram maior
abundância de M. curema durante o Verão, e de M. liza durante o
Inverno, esta última conforme os resultados de Del Favero (2011) e De
Ledo et al. (1999). Isto ocorreu devido às diferenças nos períodos de
reprodução e recrutamento de ambas as espécies, tendo M. curema
apresentado um longo período reprodutivo, com dois picos de atividade
reprodutiva durante os meses de estação chuvosa no Nordeste (abril a
julho) recrutando durante os meses de Verão (OLIVEIRA, 2010),
enquanto diferentes estudos (e.g. DEL FAVERO, 2011; HERBST;
HANAZAKI, 2014) indicam que M. liza apresenta um padrão de desova
parcial, com início em Maio e recrutamento durante os meses de
Inverno.Esta grande ocorrência de indivíduos juvenis tanto na zona de
arrebentação da praia da Barra da Lagoa quanto no sistema lagunar da
Lagoa da Conceição pode evidenciar os trajetos migratórios realizados
entre estas áreas por estas espécies (DE LEDO, 1999), assim como a
importância da zona de arrebentação como criadouro natural das
mesmas, igualmente à Lagoa da Conceição (DE LEDO, 1999; DE
LEDO et al., 1999). Adicionalmente, ter locais de desova e de criação e
recrutamento próximos éaltamente relevante para a sobrevivência das
pós-larvas, assim como para o posterior desenvolvimento destas
espécies de mugilídeos (BLABER, 1987 apud DE LEDO et al., 1999).
Por fim, a família Carangidae, composta neste estudo pelas
espécies C. latus, T. carolinus e T. falcatus, apresentaram um padrão de
sazonalidade semelhante ao encontrado por Matsuura e Nakatani (1979)
e Vasconcellos et al. (2007), apresentando baixa ocorrência/abundância
61
de C. latus, enquanto T. carolinus foi a espécie mais abundante entre as
três, conforme Vasconcellos et al. (2007). Os picos de abundância desta
espécie foram nas estações de Primavera e especialmente Verão,
exatamente como observado por Matsuura e Nakatani (1979).T.
falcatus, por sua vez, apresentou valor máximo de abundância durante o
Verão, fato constatado também por Matsuura e Nakatani (1979). A
presença abundante de indivíduos da família Carangidae é devida ao
fato da zona de arrebentação ser adequada ao desenvolvimento dos seus
primeiros estágios de vida (CUNHA, 1987 apudGIANNINI; PAIVA
FILHO, 1995). T. carolinus, apresentou maiores valores de abundância
no ponto exposto, fato fundamentado pela espécie ser típica de zonas
expostas (MODDE; ROSS, 1983 apud VASCONCELLOS et al., 2007).
62
63
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A composição da assembleia de peixes encontrada mostrou-se
característicamente condizente com os atributos da ictiofauna de zonas
de arrebentação e com o levantamento de espécies presentes no
ecossistema da Lagoa da Conceição realizado anteriormente (RIBEIRO
et al., 1999). Assim, esta apresentou indivíduos majoritariamente
juvenis, poucas espécies residentes e alta dominância de determinadas
espécies, como as pertencentes às famílias Mugilidae e Carangidae. A
presença de espécies ameaçadas de extinção neste ambiente demonstra
sua importância para a preservação das mesmas, assim como para área
de recrutamento, criação e proteção contra predadores.
As espécies dominantes e com maior abundância encontradas
na área de estudo possuem padrões diferenciados de ocupação sazonal e
espacial do ambiente.Estes são influenciados pelos seus ciclos
reprodutivos e migratórios e pela adequação da área às necessidades dos
indivíduos jovens, assim como pelas preferências particulares de cada
espécie.Tal fato demonstra quão complexo é o ecossistema da zona de
arrebentação, uma vez que ambos os pontos amostrais, mesmo com
pequena distância entre si,apresentaram cada qual sua importância para
espécies presentes nesta área, assim como as diferentes estações.
Por fim, conclui-se que a área de estudo e os ambientes
adjacentes à esta apresentam grande importância para sobrevivência e
reprodução deespécies ameaçadas e de espécies com grande interesse
comercial, assim como para os demais indivíduos ali presentes. Dessa
maneira, torna-se imprescindível a preservação destas áreas, tanto
quanto a realização de mais pesquisas, com o propósito de possibilitar o
embasamento de medidas de manejo e monitoramento do ecossistema
da Lagoa da Conceição e ecossistemas adjacentes.
64
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ANEXO 1
Autorização do SISBIO (N° 48235-1) para as atividades do projeto.
Folha 1
Folha 2
Folha 3
ANEXO 2
Valores de temperatura média do ar (°C) e precipitação (mm)
durante os meses de coleta, disponibilizadas pela CIRAM/EPAGRI,
com indicação para as estações de Primavera (roxo), Verão
(laranja), Outono (verde) e Inverno (azul).
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0
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Ab
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Méd
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Temp.
Média ( C)
Precipitação
(mm)