composito de resina poliuretano
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composito de resina poliuretano derivado de oleo de mamonaTRANSCRIPT
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Compsito de resina poliuretano derivada de leo de mamona e fibras vegetais.
Rosana Vilarim da Silva
Tese apresentada rea Interunidades em Cincia e Engenharia de Materiais, da Universidade de So Paulo, para obteno do ttulo de Doutor em Cincias e Engenharia de Materiais.
Orientador: Prof. Dr. Dirceu Spinelli
So Carlos 2003
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Aos meus pais, Manoel e Severina, irmos e amigos pelo apoio e incentivo.
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AGRADECIMENTOS
Meu maior agradecimento aos professores Dr. Dirceu Spinelli e Dr. Waldek
Wladimir Bose Filho pela orientao, amizade e confiana durante os anos de
convvio.
Ao Prof. Dr. Gilberto Oriovaldo Chierice, ao pesquisador Dr. Salvador Claro
Neto e ao Toninho, ambos do GQATP-IQSC, pelo fornecimento da resina, por
permitir a utilizao dos equipamentos do seu laboratrio e pelas indispensveis
sugestes na utilizao da resina.
Ao Prof. Dr. Elias Hage Jr. por permitir a utilizao dos equipamentos de
DMTA e de ensaios mecnicos e ao amigo Nelson pela ajuda na realizao dos
ensaios de DMTA.
s indstrias LWARCEL - Celulose e papel Ltda e Diniz S/A - Fbrica de
vassouras e capachos, que doaram as fibras de sisal e coco, respectivamente.
Aos amigos Neilor, Geraldo e Volnei do Departamento de Engenharia
Mecnica pela amizade e grande ajuda no incio da realizao deste trabalho.
Ao amigo Douglas de Brito e ao Prof. Dr. Sergio Campana do IQSC pela
realizao de experimentos de anlises trmicas.
Sandra Patrcia pelas sugestes na realizao do tratamento das fibras.
Aos tcnicos do Departamento de Engenharia de Materiais, Aeronutica e
Automobilstica, Tico, Silvano, Joo, Pedro e Alberto pela ajuda na realizao do
trabalho experimental.
s secretrias, Regina, Ana, Eliete e Lcia pelos servios prestados.
s bibliotecrias Eleninha e Elenise pelos servios prestados.
Aos amigos e companheiros de trabalho, Ricardo, Heloisa, Cassius,
Marcelo, Falco, Nei e Omar pela amizade e auxlio.
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Aos alunos de iniciao cientfica Carlos, Leandro e Guilherme pela grande
ajuda nas ltimas etapas do trabalho.
Ao amigo Andr Paschoal pela ajuda na fotografia dos corpos de prova e
equipamentos.
Ao amigo Marcelo Ueki do Dema-UFSCar pela amizade e sugestes no
trabalho.
Aos amigos Helaine, Ingrid, Lucineide e Andr Itman pela pacincia e
grande amizade.
FAPESP, processo 98/13405-7, pelo apoio financeiro.
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SUMRIO
PUBLICAES __________________________________________________________________ i
LISTA DE FIGURAS _____________________________________________________________ ii
LISTA DE TABELAS _____________________________________________________________ vi
LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLAS___________________________________________ vii
LISTA DE SMBOLOS __________________________________________________________ viii
RESUMO_______________________________________________________________________ ix
ABSTRACT _____________________________________________________________________ xi
1. INTRODUO ________________________________________________________________ 1
2. FUNDAMENTAO TERICA E REVISO BIBLIOGRFICA_______________________ 3
2.1 Materiais Compsitos _______________________________________________________ 3 2.1.1 Definio e Classificao ________________________________________________ 3 2.1.2 Compsitos Polimricos Reforados por Fibras_____________________________ 4 2.1.3 Moldagem por Compresso______________________________________________ 5 2.1.4 Propriedades Mecnicas de Compsitos Polimricos e Ensaios Normatizados. _ 6
2.2 Fratura em Polmeros e Compsitos____________________________________________ 9 2.2.1 Introduo_____________________________________________________________ 9 2.2.2 Mecnica da Fratura Aplicada aos Polmeros _____________________________ 10 2.2.3 Fratura em Compsitos ________________________________________________ 14
2.2.3.1 Tenacidade Fratura de Compsitos _____________________________ 16
2.3 Resinas Poliuretano ________________________________________________________ 20 2.3.1 Histrico e Aplicaes__________________________________________________ 20 2.3.2 Reao de Polimerizao ______________________________________________ 21
2.4 Fibras Vegetais ____________________________________________________________ 22 2.4.1 A Fibra de Sisal _______________________________________________________ 27 2.4.2 A Fibra de Coco_______________________________________________________ 29 2.4.3 Mtodos de Modificao Superficial das Fibras Vegetais____________________ 31 2.4.4. Efeito do Tratamento Alcalino nas Fibras Vegetais ________________________ 34
2.5 Compsitos Polimricos Reforados com Fibras Vegetais _________________________ 36
2.6 Anlise Trmica Dinmico-Mecnica (DMTA)__________________________________ 41
3. MATERIAIS E PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL _______________________________ 45
3.1 Materiais _________________________________________________________________ 45 3.1.1 Resina Poliuretano ____________________________________________________ 45 3.1.2 Fibras de Sisal e Coco _________________________________________________ 45 3.1.3 Reagentes ___________________________________________________________ 47
3.2 Procedimento Experimental _________________________________________________ 48 3.2.1 Tratamento Alcalino das Fibras de Sisal e Coco ___________________________ 48 3.2.2 Moldagem dos Corpos de Prova de Resina Poliuretano_____________________ 48 3.2.3 Moldagem dos Compsitos _____________________________________________ 49 3.2.4 Ensaios de Trao e Flexo ____________________________________________ 52 3.2.5 Tenacidade Fratura __________________________________________________ 53
3.2.5.1 Confeco dos Corpos de Prova _________________________________ 53 3.2.5.2 Ensaio de Tenacidade Fratura da Resina Poliuretano _______________ 54 3.2.5.3 Ensaio de Tenacidade Fratura dos Compsitos ____________________ 56
3.2.6 Ensaio de Impacto Charpy______________________________________________ 56 3.2.7 Ensaio de Absoro dgua _____________________________________________ 57 3.2.8 Anlise Trmica Dinmico Mecnica _____________________________________ 57
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3.2.9 Anlise da Superfcie de Fratura dos Corpos de Prova _____________________ 57 3.2.10 Determinao da Frao Volumtrica ___________________________________ 58
4. RESULTADOS E DISCUSSO __________________________________________________ 59
4.1 Tratamento Alcalino das Fibras de Sisal e Coco _________________________________ 59
4.2 Propriedades Mecnicas em Trao___________________________________________ 64
4.3 Propriedades Mecnicas em Flexo ___________________________________________ 79
4.4 Tenacidade Fratura_______________________________________________________ 85 4.4.1 Tenacidade Fratura da Resina Poliuretano ______________________________ 85
4.4.1.1 Morfologia da Superfcie de Fratura_______________________________ 88 4.4.2 Tenacidade Fratura dos Compsitos ___________________________________ 91
4.5 Resistncia ao Impacto_____________________________________________________ 107
4.6 Absoro dgua__________________________________________________________ 114
4.7 Anlise Trmica Dinmico Mecnica _________________________________________ 119
5. CONCLUSES ______________________________________________________________ 126
6. SUGESTES PARA FUTUROS TRABALHOS ____________________________________ 129
7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ____________________________________________ 130
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PUBLICAES
SILVA, R. V.; BOSE FILHO, W. W.; SPINELLI, D. Anl ise Trmica
Dinmico Mecnica de um Compsito Derivado da Biomassa. IN: XV
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CINCIA DOS
MATERIAIS, Natal -RN, 2002.
SILVA, R. V.; BOSE FILHO, W. W.; SPINELLI, D. Composites based
on Polyurethane Resin Derived from Castor Oi l and Sisal Weave and
Short Fiber. IN: EIGHTEENTH ANNUAL MEETING OF THE
POLYMER PROCESSING SOCIETY (PPS-18), Guimares,
Portugal, 2002.
SILVA, R. V.; BOSE FILHO, W. W.; SPINELLI, D. Sisal Weave-
Polyurethane Composite: Mechanical and Dynamical Propert ies.
In: FOURTH INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON NATURAL
POLYMERS AND COMPOSITES, So Pedro SP, 2002.
SILVA, R. V.; BOSE FILHO, W. W.; SPINELLI, D. Inf luncia do Tratamento
Alcal ino na Resistncia ao Impacto do Compsito Sisal/Pol iuretano.
In: V SIMPSIO EM CINCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS, So
Carlos SP, 2002.
SILVA, R. V. et al. Pol iuretano Derivado do leo de Mamona
Tenacidade Fratura e Morfologia da Superfcie de Fratura. In: IV
SIMPSIO EM CINCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS, So
Carlos SP, 2001.
SILVA, R. V. et al . Comportamento Mecnico do Compsito
Sisal/Pol iuretano Derivado de leo de Mamona. In: IV XIV
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA E CINCIA DOS
MATERIAIS, So Pedro - SP, 2000.
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ii
LISTA DE FIGURAS Figura 1 Mecanismos de falha em materiais compsitos (Anderson, 1995). ....................... 15 Figura 2 Constituio estrutural de uma fibra vegetal (Rong et al., 2001). ........................... 25 Figura 3 Estrutura da celobiose, unidade repetitiva da celulose (Fengel; Wegener, 1989)............................................................................................................................................................... 26 Figura 4 Foto de uma plantao de sisal (EMBRAPA CNPA, 1997).................................. 27 Figura 5 Seo transversal do fruto do coqueiro (Cempre - Compromisso Empresarial para Reciclagem, 1998). ........................................................................................................................... 30 Figura 6 Foto de um Mercedes classe E com os componentes interiores que utilizam fibras naturais (Suddell, 2002). .................................................................................................................. 38 Figura 7 - Relao entre os vrios parmetros utilizados para expressar os resultados de uma medida dinmico mecnica (Murayama, 1978). .................................................................. 42 Figura 8 - Fibras de sisal e coco nas suas diferentes formas. (a) bobina de fios de sisal, (b) fibras curtas de sisal, (c) tecido de sisal, (d) fibras curtas de coco, (e) fibras de coco penteadas. .......................................................................................................................................... 46 Figura 9 Prensa, estufa e bombra de vcuo utilizadas na fabricao dos compsitos....... 50 Figura 10 (a) aspecto geral e (b) desenho esquemtico do molde utilizado na fabricao dos compsitos. ................................................................................................................................. 50 Figura 11 Canaleta e alinhadores utilizados na moldagem dos compsitos com fios de sisal unidirecionais. ........................................................................................................................... 51 Figura 12 - Dimenses e geometria dos corpos de prova para o ensaio de trao (a) e flexo (b). Obs: Dimenses em milmetros. .............................................................................................. 52 Figura 13 (a) Dimenses do corpo de prova do tipo compacto (CT). (b) Detalhe do entalhe e da pr-trinca, feita com uma lmina de ao, em um corpo de prova de resina poliuretano............................................................................................................................................................... 54 Figura 14 Montagem do extensmetro no corpo de prova do tipo CT. ................................. 55 Figura 15 Superfcie de uma fibra de sisal sem tratamento. Em (a), as marcas transversais decorrem das clulas de parnquema que envolvem a fibra. Em (b), imperfeies e resduos da folha so observados. ................................................................................................................. 60 Figura 16 Superfcie de uma fibra de sisal tratada em soluo de NaOH (10%) por 1h. Em (a) algumas marcas das clulas de parnquema so ainda visveis. Em (b) possvel visualizar as fibrilas que formam a fibra......................................................................................... 60 Figura 17 (a) Superfcie de uma fibra de coco sem tratamento. (b) Superfcie de uma fibra de coco tratada em soluo de NaOH (10%) por 1h. .................................................................. 61 Figura 18 (a) Superfcie de uma fibra de coco tratada em soluo de NaOH (10%) por 24h. (b) Seo transversal de uma fibra de coco tratada em soluo de NaOH (10%) por 24h (imagem obtida da superfcie de fratura do compsito coco/PU ensaiado em trao). A seta indica o lumen. ................................................................................................................................... 62
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iii
Figura 19 Curvas da fora em funo do deslocamento obtidas nos ensaios de trao, para o poliuretano e compsitos com fibras curtas de sisal e coco no tratadas (NT), e tratadas (T), em soluo de NaOH (10%). Vff refere-se a frao volumtrica de fibras......... 64 Figura 20 - Curvas da fora em funo do deslocamento obtidas nos ensaios de trao, para o poliuretano e compsitos com reforo de sisal de diferentes geometrias. NT- No tratado, T - tratado em soluo de NaOH (10%). Vff refere-se a frao volumtrica de fibras............................................................................................................................................................... 65 Figura 21 Grficos da resistncia trao (a), mdulo de elasticidade (b), e alongamento total (c), do poliuretano e compsitos com fibras curtas de sisal e coco no tratadas e tratadas em soluo de NaOH (10%). ........................................................................................... 66 Figura 22 - Grficos da resistncia trao (a), mdulo de elasticidade (b), e alongamento total (c), do poliuretano e compsitos com reforo de sisal de diferentes geometrias. .......... 68 Figura 23 - Morfologia de fratura dos corpos de prova de trao de compsitos com fibras curtas de sisal no tratadas, (a), e tratadas em soluo de NaOH (10%), (b). Em (a) as setas pretas indicam o mecanismo de extrao de fibras, em (b) mostram fibras fraturadas sem a ocorrncia de extrao. A seta branca indica uma bolha. .............................................. 71 Figura 24 - Morfologia de fratura dos corpos de prova de trao de compsitos com fibras curtas de coco tratadas em soluo de NaOH (10%). Em (a) v-se vrias fibras com boa aderncia na interface e sem a ocorrncia de extrao, em (b) tm-se a indicao de extrao de fibras e fraca adeso na interface............................................................................. 72 Figura 25 - Morfologia de fratura dos corpos de prova de trao dos compsitos com tecido. (a) Compsito com tecido tratado. (b) Compsito com tecido no tratado. ............................. 75 Figura 26 - Grficos da resistncia flexo (a), e do mdulo de elasticidade em flexo (b), do poliuretano e compsitos com fibras curtas de sisal e coco no tratadas e tratadas em soluo de NaOH (10%). ................................................................................................................. 80 Figura 27 - Grficos da resistncia flexo (a), e do mdulo de elasticidade em flexo (b), do poliuretano e compsitos com reforo de sisal de diferentes geometrias. ......................... 81 Figura 28 - Curvas da fora em funo do deslocamento obtidas no ensaio de tenacidade fratura, para as duas velocidades de carregamento utilizadas. ................................................. 85 Figura 29 - Curvas J-R para a resina poliuretano nas duas velocidades de carregamento utilizadas. ............................................................................................................................................ 86 Figura 30 Foto das superfcies de fratura de corpos de prova de resina poliuretano, ensaiados com velocidades de carregamento de 0,5mm/min (a e b) e 1mm/min (c). As regies I, II e III correspondem ao entalhe usinado, pr-trinca e propagao estvel da trinca (a), respectivamente....................................................................................................................... 88 Figura 31 (a) Superfcie de fratura de um corpo de prova ensaiado com velocidade de carregamento de 0,5mm/min. (b) Ampliao da rea de incio de propagao da trinca. A direo de propagao da trinca indicada pela seta. I, II e III indicam as regies de pr-trinca, propagao estvel e fratura final em nitrognio lquido................................................. 90 Figura 32 (a) Superfcie de fratura de um corpo de prova ensaiado com velocidade de carregamento de 1mm/min. (b) Ampliao da rea de incio de propagao da trinca. A direo de propagao da trinca indicada pela seta. I e II indicam as regies de pr-trinca e propagao estvel da trinca. ...................................................................................................... 90
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Figura 33 Corpos de prova do tipo CT, aps o ensaio de tenacidade. (a) compsito com fibras curtas de sisal no tratadas, (b) compsito com fibras curtas de coco no tratadas, (c) compsito com tecido de sisal no tratado. .................................................................................. 92 Figura 34 Superfcie de fratura dos corpos de prova do tipo CT fraturados em nitrognio lquido. As fotos (a), (b) e (c) so de compsitos com fibras curtas de sisal, fibras curtas de coco e tecido de sisal no tratados, respectivamente. As fotos (d), (e) e (f) so dos mesmos tipos de compsitos com fibras tratadas em soluo de NaOH (10%). A seta indica a direo de crescimento da trinca e a linha pontilhada delimita a regio da pr-trinca. ........................ 93 Figura 35 Curvas da fora em funo do deslocamento obtidas dos ensaios de tenacidade, com velocidade de carregamento de 0,5mm/min, para o poliuretano e compsitos com fibras curtas de sisal e coco. NT - No tratadas, T - Tratadas em soluo de NaOH (10%). ................................................................................................................................ 94 Figura 36 - Curvas da fora em funo do deslocamento obtidas dos ensaios de tenacidade, com velocidades de carregamento de 0,5 e 1,0 mm/min, para o poliuretano e compsitos com fibras curtas de sisal e coco no tratadas (NT).................................................................... 94 Figura 37 Curvas da fora em funo do deslocamento obtidas dos ensaios de tenacidade com velocidade de carregamento de 0,5mm/min, para os compsitos com tecido de sisal no tratados, (NT) e tratados, (T), em soluo de NaOH (10%). O nmero de camadas de tecido utilizados na moldagem dos compsitos indicado na legenda. .................................. 95 Figura 38 Influncia do tratamento alcalino na Rigidez (a), e na tenacidade, G-Pmx (b), para os compsitos ensaiados com velocidade de carregamento de 0,5mm/min. A frao volumtrica de reforo dos compsitos com tecido indicada nas colunas do grfico correspondente. ................................................................................................................................. 97 Figura 39 - Superfcie de fratura mostrando a regio de propagao estvel da trinca em compsitos com fibras curtas de sisal no tratadas, (a), e tratadas, (b), em soluo de NaOH (10%)..................................................................................................................................... 100 Figura 40 - Superfcie de fratura mostrando a regio de propagao estvel da trinca em compsitos com tecido de sisal no tratado (a) e tratado em soluo de NaOH (10%). ..... 101 Figura 41 - Superfcie de fratura mostrando a regio de propagao estvel da trinca em compsitos com fibras de coco no tratadas. (a) Viso geral da fratura. (b) detalhe da interface entre fibra e matriz. ......................................................................................................... 102 Figura 42 - Superfcie de fratura mostrando a regio de propagao estvel da trinca em compsitos com fibras de coco tratadas em soluo de NaOH (10%) por 24h. (a) Viso geral da fratura. (b) detalhe da interface entre fibra e matriz com a indicao de desfibrilao (setas). .............................................................................................................................................. 103 Figura 43 Influncia da velocidade de carregamento na Rigidez (a) e na taxa de liberao de energia na carga mxima, G-Pmx (b), para os compsitos com fibras no tratadas. Os nmeros entre parnteses no grfico dos compsitos com tecido correspondem ao nmero de camadas utilizadas na moldagem dos compsitos. ............................................................. 105 Figura 44 Resistncia ao Impacto do poliuretano e compsitos. A linha horizontal que cruza os grficos corresponde ao resultado da resina poliuretano sem reforamento. ....... 108 Figura 45 Corpos de prova Charpy aps os ensaios de impacto. (a) compsitos com fibras curtas de sisal, (b) compsitos com fibras curtas de coco e (c) compsitos com tecido de sisal. NT Fibras no tratadas, T Fibras tratadas. ................................................................. 110 Figura 46 - Superfcie de fratura de corpos de prova Charpy com fibras curtas de sisal no tratadas, (a) e tratadas, (b), em soluo de NaOH (10%). ....................................................... 111
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Figura 47 - Percentual de gua absorvida em funo do tempo de imerso para o poliuretano e compsitos com fibras curtas de sisal. Os percentuais de frao volumtrica e condio da fibra, no tratada ou tratada em soluo de NaOH (10%), so indicados na legenda. ............................................................................................................................................ 114 Figura 48 - Percentual de gua absorvida em funo do tempo de imerso para o poliuretano e compsitos com fibras curtas de coco. Os percentuais de frao volumtrica e condio da fibra, no tratada ou tratada em soluo de NaOH (10%), so indicados na legenda. ............................................................................................................................................ 115 Figura 49 - Percentual de gua absorvida em funo do tempo de imerso para o poliuretano e compsitos com fibras de sisal de diferentes geometrias. Os percentuais de frao volumtrica e condio da fibra, no tratada ou tratada em soluo de NaOH (10%), so indicados na legenda. ............................................................................................................. 115 Figura 50 (a) Mdulo de armazenamento, (b) Mdulo de perda e (c) tan, em funo da temperatura, para o poliuretano e compsitos com fibras curtas de sisal e coco. Os compsitos so identificados pela frao volumtrica e condio da fibra, no tratada (NT) ou tratada (T). .................................................................................................................................. 120 Figura 51 - (a) Mdulo de armazenamento, (b) Mdulo de perda e (c) tan, em funo da temperatura, para o poliuretano e compsitos com reforo de sisal de diferentes geometrias. Os compsitos so identificados pela frao volumtrica e condio da fibra, no tratada (NT) ou tratada (T). ......................................................................................................................... 121
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vi
LISTA DE TABELAS Tabela I Propriedades mecnicas e caractersticas de fibras vegetais e fibras convencionais de reforamento (Mohanty et al., 2000), (Bledzki; Gassan, 1999), (Baley et al., 1997). ............................................................................................................................................ 24 Tabela II Composio qumica provvel de algumas fibras vegetais (% em peso) (Bledzki; Gassan, 1999), (Bisanda; Ansell, 1992). ....................................................................................... 24 Tabela III Resultados do ensaio de trao das fibras de sisal e coco tratadas e no tratadas. .............................................................................................................................................. 63 Tabela IV Resultados do ensaio de trao dos fios tratados e no tratados........................ 75 Tabela V - Resumo das propriedades mecnicas dos compsitos em estudo e de alguns compsitos polimricos com fibras naturais encontrados na literatura..................................... 78 Tabela VI Temperatura de transio vtrea, Tg, pico de tan e mdulo de armazenamento, E, temperatura ambiente, para o poliuretano e compsitos. Os compsitos so identificados pela frao volumtrica e condio da fibra, no tratada (NT) ou tratada (T). .................................................................................................................................. 119
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vii
LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLAS
ABS Estireno butadieno acrilonitrila
ASTM - American Society for Testing Materials
CT Compact tension
CTDIC Uretano derivado do cardanol
DCB - Double Cantilever Beam
DMTA Anlise Trmica Dinmico Mecnica
DSC Calorimetria Exploratria Diferencial
EWF - Trabalho Essencial de Fratura.
GQATP Grupo de Qumica Analtica e Tecnologia de Polmeros
L0 Comprimento inicial para a medida do alongamento total no ensaio de trao
LDPE Polietileno de baixa densidade
MAN Anidrido maleico
MDI - difenilmetano diisocianato
MFEL - Mecnica da Fratura Elstica Linear
MFEP - Mecnica da Fratura Elasto-Plstica
NaOH Hidrxido de sdio
NT Fibras no tratadas
OH Grupo hidroxila
PEEK Polietereter cetona
PU - Poliuretano
PVC Poli (Cloreto de vinila)
T Fibras tratadas em soluo de NaOH
TDI Tolueno di-isocianato
Tg Temperatura de transio vtrea
UD Unidirecional
VFE - Variao da Flexibilidade Elstica
J-R - Curva de resistncia ao trincamento dctil tendo como parmetro de
tenacidade a Integral-J da MFEP
N - Nmero de ciclos de carregamento aplicado a um componente
P Carga genrica aplicada a um corpo
Pmx - Carga mxima atingida durante ensaios mecnicos de trao e tenacidade
S Tenso cclica aplicada a um componente
U - rea (energia) sob a curva da Fora em funo do Deslocamento
V Deslocamento da abertura da trinca medido por um extensmetro
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viii
LISTA DE SMBOLOS
- Coeficiente de Poisson - Deslocamento - Deslocamento medido na abertura da trinca - Funo de a/W amx Propagao mxima da trinca y - Valor mdio entre o limite de escoamento e o limite de resistncia a - Comprimento de trinca
ai Comprimento inicial da trinca
ac Comprimento crtico de trinca
ao - Comprimento inicial da trinca
B - Espessura do corpo de prova
bo - Ligamento original do corpo de prova
E - Mdulo de elasticidade em trao monotnica
E Mdulo de perda
E Mdulo de armazenamento
f(a/W) - Funo flexibilidade elstica
G - Taxa de liberao de energia ou taxa de alvio de energia
GIC Taxa de liberao de energia crtica no modo I de carregamento
GIIC - Taxa de liberao de energia crtica no modo II de carregamento
G-Pmx Tenacidade fratura medida na carga mxima
J - Integral-J
JIC - Valor J de iniciao no modo I de carregamento em deformao plana Jmx - Valor mximo de J em uma curva J-R
K - Fator de intensidade de tenso
KIC - Tenacidade fratura sob deformao plana
tan - fator de dissipao de energia ou tangente de perda Vf - Volume de fibras
Vff Frao volumtrica de fibras
Vfm Frao volumtrica da matriz
Vm Volume da matriz
W - Largura do corpo de prova
-
ix
RESUMO
O novo paradigma de se preservar o meio ambiente e de se utilizar produtos
naturais vem contribuindo para um maior interesse na utilizao de materiais
derivados da biomassa. Neste sentido, os compsitos polimricos com fibras
vegetais surgem como uma boa alternativa no campo dos materiais para aplicaes
de engenharia. Os principais objetivos deste trabalho foram o processamento e a
caracterizao do compsito formado por uma resina poliuretano derivada do leo
de mamona e fibras de sisal e coco. O processamento foi realizado utilizando-se a
tcnica de moldagem por compresso. As fibras foram utilizadas em diferentes
formas como fibras curtas, fibras longas, tecido e fios contnuos. A caracterizao
foi realizada atravs dos seguintes ensaios: trao, flexo, impacto, tenacidade
fratura, absoro dgua e DMTA. Foi tambm avaliado o efeito do tratamento com
hidrxido de sdio (10%), nas fibras de sisal e coco, nas anlises realizadas. O
resultados mostraram que o desempenho dos compsitos com fibras de coco foi
inferior aos compsitos com fibras de sisal, e mesmo ao poliuretano. Nos ensaios
de trao e flexo, as fibras longas de sisal apresentaram o melhor efeito de
reforamento, seguido dos fios contnuos, fibras curtas e tecido. Nos ensaios de
impacto e tenacidade fratura, o melhor desempenho foi dos compsitos com
tecido de sisal. O efeito do tratamento alcalino variou em funo do tipo de ensaio e
da geometria do reforo. Nos ensaios de trao e flexo, o seu efeito foi positivo
para os compsitos com fibras longas e curtas, e negativo para os compsitos com
tecido e fios, devido deteriorao da estrutura dos fios. Nos ensaios de
tenacidade e impacto foi prejudicial, pois ao melhorar a aderncia na interface,
reduziu os principais mecanismos de absoro de energia, que so, a extrao de
fibras e o descolamento na interface. Com relao s medidas de absoro dgua,
-
x
foi observado aumento no nvel de absoro dos compsitos com o aumento da
frao volumtrica de fibras. O mximo percentual de absoro foi de 17%, para os
compsitos com fibras curtas de coco no tratadas. Este percentual diminuiu com o
tratamento alcalino das fibras. Na anlise trmica dinmico mecnica, de uma
forma geral, os compsitos mostraram acrscimo do mdulo de armazenamento e
decrscimo do amortecimento e da temperatura de transio vtrea, Tg, em relao
ao poliuretano. Este comportamento foi proporcional ao aumento da frao
volumtrica de fibras.
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xi
ABSTRACT
The new paradigm in preserving the environment and the use of natural
products has contributed to increase the interest in the development and use of
derived biomass materials. In this sense, the polymeric composites with natural
fibers appear to be a good alternative for engineering applications. The main targets
of this work were the processing and characterization of composites obtained by a
polyurethane resin derived from castor oil and sisal and coir fibers. The compression
moulding technique was used to process the composite. The fibers were employed
in different forms such as: short fibers, long fibers, biaxial weave and continuos
yarns. Tension, bend, impact, fracture toughness, water absorption and DMTA tests
were used to characterize the composites. The sodium hidroxide (10%) treatment
effect on the sisal and coir fibers was also evaluated. The results showed, in
general, that the coir fibers composites performance were inferior to the sisal fibers
composites, and even to the polyurethane matrix. Under tension and bending
conditions, the long sisal fibers presented the best reinforcement effect, followed by
the continuous yarns, short fibers, and the biaxial weave. Under impact and fracture
toughness tests, the best performance was enhanced by sisal weave composites.
The alkaline treatment effect varied in accordance with test type and reinforcement
geometry. In tension and bending tests, its effect was positive for composites with
short and long fibers and negative for composites with weave and yarns. This late
was due to deterioration of the yarn structure. In the impact and toughness tests, the
alkaline treatment effect was harmful, because when adherence is improved at the
interface, the main energy absorption mechanisms are reduced, that mean, the
fibers are pulled out and interface is debonded. Water absorption measurements
showed an increase in the absorption level for the composites with higher volumetric
fraction of fibers. The maximum water absorption was 17% for composites with non-
treated coir short fibers. This percentage decreased for composites with treated
-
xii
fibers. In the dynamic mechanical thermal analysis (DMTA) the composites showed
an increased storage modulus and a decreased glass transition temperature, Tg,
when compared to polyurethane matrix. This behaviour was proportional to the
increase of the fibers volumetric fraction.
-
1
1. INTRODUO
Compsitos formados por matrizes polimricas e fibras vegetais constituem,
na atualidade, uma das maiores reas de interesse na pesquisa de materiais
compsitos. Este interesse surgiu com mais intensidade no incio da dcada de 90
devido s exigncias das autoridades legislativas quanto ao uso e destino final de
fibras sintticas e resinas derivadas do petrleo e a maior conscientizao dos
consumidores, da necessidade de preservao do ambiente e de fontes naturais.
Quando fibras vegetais so associadas com resinas derivadas de leos
vegetais forma-se uma classe especial de materiais chamada de oko-composite,
isto , um compsito formado por materiais derivados de fontes renovveis. Se o
polmero utilizado for biodegradvel tem-se o chamado bio-composite ou
compsito biodegradvel. Neste caso, alm de biodegradvel, o polmero
tambm, geralmente, derivado da biomassa (Schuh; Gayer1, 1997).
A fibra de sisal mostra-se promissora no desenvolvimento de materiais
compsitos devido ao seu baixo custo, boas propriedades mecnicas e
disponibilidade no mercado. O incentivo ao seu uso fundamental para o
desenvolvimento das regies de onde estas fibras so originrias, geralmente
regies subdesenvolvidas, como ocorre no Brasil que o maior produtor mundial
das fibras de sisal (FAO2, 2002).
1 Schuh, T.; Gayer, U. Automotive Applications of Natural Fiber Composites. In: LEO, A.; CARVALHO F.X., FROLLINI, E., eds. Lignocellulosics-Plastics Composites. So Paulo, USP/UNESP, 1997. 2 FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (FAO). Agriculture statistical database. http://apps.fao.org (acesso em 09/2002).
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A inerente natureza rica em hidroxilas das fibras vegetais sugere que elas
so particularmente teis em sistemas termorrgidos, tal como o poliuretano, onde o
grupo hidroxila das fibras pode reagir com o grupo isocianato do poliuretano.
Poliuretanos so polmeros muito versteis que, pela escolha adequada dos seus
elementos, podem ser preparados como um termoplstico, termorrgido,
elastmero, espuma rgida ou adesivo. Pode ser derivado tanto do petrleo como
de leos vegetais, o que o torna um grande atrativo no ramo dos chamados oko-
composites.
Com a crescente preocupao mundial com o meio ambiente, a utilizao
de recursos materiais renovveis, os quais no agridem o meio ambiente e
representam uma fonte alternativa de grande potencial econmico, tornou-se vital
para a sobrevivncia das indstrias em um mercado globalizado e competitivo. O
presente estudo se encaixa muito bem dentro desta tendncia, pois faz uso de
recursos renovveis como matrias-primas para a formao do compsito, isto , o
leo de mamona na sntese da resina poliuretano e as fibras vegetais de sisal e
coco. No intuito de desenvolver um material de fcil processamento e baixo custo
foram utilizadas alm das fibras, denominadas de fibras tcnicas, tecido e fios de
sisal. O desenvolvimento do processo de fabricao e a caracterizao deste
compsito so fundamentais para a sua introduo como material de engenharia,
com grande potencial de aplicao na indstria automotiva.
O objetivo deste trabalho foi desenvolver um compsito formado por uma
resina poliuretano derivada do leo de mamona e fibras de sisal e coco. Foram
avaliadas as propriedades mecnicas de trao, flexo, impacto e tenacidade
fratura, propriedades trmicas (Anlise Trmica Dinmico Mecnica) e nveis de
absoro dgua. Tambm foram avaliadas a influncia da geometria do reforo e
do tratamento alcalino, aplicado s fibras de sisal e coco.
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2. FUNDAMENTAO TERICA E REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 Materiais Compsitos
2.1.1 Definio e Classificao
Segundo a norma ASTM D3878-95, compsito uma substncia
consistindo de dois ou mais materiais, insolveis entre si, que so combinados para
formar um material de engenharia til com certas propriedades que no se
encontram nos materiais isoladamente. A denominao destes materiais bastante
diversificada, podendo ser tratados na literatura como: compostos, conjugados ou
compsitos (Mano, 1991).
Os compsitos podem surgir de combinaes entre metais, cermicas e
polmeros. As possveis combinaes so condicionadas s condies de
processamento e s provveis incompatibilidades entre os componentes.
Compsitos para aplicaes estruturais geralmente utilizam fibras, sintticas ou
naturais, como agentes de reforamento. As fibras podem ser contnuas ou
descontnuas, alinhadas ou com distribuio aleatria, podendo ser obtidas em uma
variedade de formas, como mantas e preformas txteis de diferentes arquiteturas.
Como componente matricial, os polmeros so os materiais mais utilizados devido
sua leveza e fcil moldagem. Em relao ao peso, os materiais compsitos
polimricos apresentam propriedades mecnicas especficas que podem exceder
consideravelmente s dos metais.
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2.1.2 Compsitos Polimricos Reforados por Fibras
Os compsitos polimricos reforados por fibras contnuas constituem os de
melhor performance mecnica. Diferente dos compsitos reforados por fibras
descontnuas, que apresentam um comportamento isotrpico em uma escala
macroscpica, apresentam propriedades mecnicas ortotrpicas que conduzem a
mecanismos de falha especficos. Apresentam alta resistncia e rigidez na direo
das fibras, porm, um baixo desempenho na direo transversal s mesmas, e
neste caso a resistncia e a rigidez so controladas pelas propriedades da matriz.
Para carregamentos biaxiais so geralmente utilizados compsitos laminados,
formados pela unio de vrias lminas com diferentes orientaes. O desempenho
destes materiais depende do tipo de fibra e matriz, volume de fibra e seqncia de
empilhamento das lminas. Os fundamentos da teoria de laminados j esto bem
compreendidos e estabelecidos (Hyer, 1989).
Embora possuam propriedades mecnicas inferiores quando comparados
aos compsitos com fibras contnuas, os compsitos com fibras descontnuas
oferecem maior facilidade de processamento a um menor custo. Nos compsitos
com fibras descontnuas o carregamento na fibra funo de seu comprimento e
geralmente segue a distribuio de Weibull. Os extremos das fibras so geralmente
pontos concentradores de tenses, que induzem tenses cisalhantes na interface.
Assim como o comprimento das fibras, a sua orientao de igual importncia e
depende essencialmente do processo de fabricao. As propriedades mecnicas
variam consideravelmente de acordo com a mudana na distribuio de orientao
das fibras.
A interface fibra/matriz a principal responsvel pela transferncia da
solicitao mecnica da matriz para o reforo e suas propriedades so especficas
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para cada sistema fibra/matriz. Existem mtodos experimentais, no normatizados,
para se determinar a resistncia interfacial (Silva; Al-Qureshi, 1999), (Hsueh, 1995).
2.1.3 Moldagem por Compresso
A escolha do processo de fabricao est fortemente ligada s
caractersticas da matriz, principalmente temperatura de trabalho. A tcnica de
moldagem por compresso aplica-se a polmeros termoplsticos ou termorrgidos.
No entanto, a maioria das aplicaes atuais destina-se a polmeros termorrgidos.
De fato, a moldagem por compresso o mtodo mais comum de processamento
de polmeros termorrgidos. Neste mtodo, o material (fibras e resina) colocado
dentro do molde que subseqentemente fechado e mantido a alta presso.
Geralmente o molde aquecido para iniciar a reao de cura da resina.
A tcnica de moldagem por compresso garante alto volume de produo e
compsitos com alta qualidade superficial, alem de permitir o uso de reforos com
diferentes geometrias. Os fatores bsicos que influenciam no mtodo so: a taxa de
aquecimento do molde, a taxa de compresso, o tempo de gel da resina e o tempo
para a desmoldagem. Algumas resinas emitem gases durante a cura, o que pode
implicar em vazios no produto final. Um outro problema diz respeito ao fluxo da
resina dentro do molde, que depende da viscosidade da resina e pode influenciar
na orientao das fibras.
Na moldagem de compsitos de alto desempenho utiliza-se um sistema pr-
formulado, denominado de SMC (sheet molding compound) composto de fibras,
resina e aditivos, que podem ser moldados sem preparao adicional (El-Sheikh et
al., 1997).
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2.1.4 Propriedades Mecnicas de Compsitos Polimricos e Ensaios Normatizados.
At o presente, quase todo o desenvolvimento de materiais compsitos teve
como objetivo as aplicaes estruturais. Devido sua complexa microestrutura,
estes materiais so de difcil caracterizao. Na avaliao das propriedades
mecnicas, deve-se levar em conta a complexidade da interao mecnica entre o
reforo e a matriz. As propriedades mecnicas de maior interesse so: resistncia
trao, compresso, flexo, impacto, fadiga, e abraso, alm do mdulo de
elasticidade em trao e flexo, dureza e tenacidade fratura.
No ensaio de trao so determinadas as propriedades de resistncia
trao uniaxial, mdulo de elasticidade, alongamento e coeficiente de Poisson. A
resistncia trao avaliada pela carga aplicada ao material por unidade de rea,
no momento de ruptura. O alongamento representa o aumento percentual do
comprimento da pea sob trao, no momento de ruptura. O mdulo de elasticidade
medido pela razo entre a tenso e a deformao, dentro do regime elstico,
onde a deformao totalmente reversvel e proporcional tenso. O coeficiente
de Poisson definido como a razo negativa entre a deformao transversal e a
correspondente deformao longitudinal de um corpo de prova sob tenso uniaxial,
abaixo do limite de proporcionalidade do material. As normas ASTM D638 e D3039
descrevem o ensaio de trao. A norma ASTM D638 mais abrangente enquanto
que a norma ASTM D3039 indicada para compsitos laminados reforados com
fibras de alto mdulo.
No ensaio de flexo as propriedades de interesse so a resistncia flexo
e o mdulo de elasticidade em flexo. As configuraes de carregamento podem
ser flexo em trs pontos e flexo em quatro pontos. A resistncia flexo
representa a tenso mxima desenvolvida nas fibras externas de uma barra sujeita
a dobramento, no momento da quebra. O mdulo de elasticidade em flexo
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determinado tal como em um ensaio de trao: a razo, dentro do regime elstico,
entre a tenso e a deformao. O ensaio de flexo aplica-se a materiais rgidos e
descrito pela norma ASTM D790.
A resistncia compresso, pode ser obtida segundo a norma ASTM D695
e expressa pela tenso mxima que um material rgido suporta sob compresso
longitudinal, antes do colapso.
A resistncia fadiga representa a resistncia do material em suportar
solicitaes cclicas. O comportamento em fadiga importante, pois a fratura do
material sob carregamento cclico pode ocorrer em nveis de carga muito menores
do que sob carregamento monotnico. H dois mtodos distintos para a medida da
resistncia fadiga dos materiais. O primeiro, a tradicional determinao das
curvas S-N, nmero de ciclos para falhar (N) em funo da tenso cclica (S). O
limite de resistncia fadiga a tenso abaixo da qual o material resiste a um
nmero muito grande de ciclos sem falhar. As normas ASTM D3479 e D6115
descrevem este ensaio. O segundo, direcionado ao crescimento de trinca por
fadiga. A taxa de crescimento de trinca por fadiga (da/dN) relacionada ao fator de
intensidade de tenso (K), atravs da conhecida equao de Paris, da/dN=cKm, onde c e m so constantes determinadas experimentalmente. Esta equao
utilizada para estimar o nmero de ciclos necessrios para a propagao de uma
trinca com um comprimento inicial, ai, at um comprimento crtico ac. Muitos
pesquisadores tm aplicado a equao de Paris para compsitos de fibras curtas,
que na prtica considerado como material isotrpico (Atodaria et al., 1997).
A resistncia ao impacto representa a energia para fraturar um corpo de
prova sob impacto. Oferece valores comparativos, mas de grande utilidade no
desenvolvimento de materiais. A norma ASTM D256 descreve este ensaio. Em
compsitos, a resistncia ao impacto depende fortemente da resistncia interfacial.
A energia absorvida pode ser dividida em energia para iniciao da fratura e
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energia para propagao da fratura. Agarwal e Broutman (1990), em experimentos
com laminados de fibras de vidro/epxi e vidro/polister, observaram que a energia
para a iniciao da fratura aumenta com o aumento da resistncia interfacial. No
entanto, a resistncia ao impacto total (iniciao e propagao) pode ser
maximizada com a reduo da resistncia interfacial. O corpo de prova suporta
menos carga durante a propagao, mas absorve mais energia devido maior
deflexo que o corpo de prova pode sustentar e aos mecanismos de falha atuantes,
como a delaminao.
A dureza mede a resistncia penetrao. A norma ASTM D785 descreve
este ensaio para materiais polimricos. A resistncia abraso representa a
capacidade do material de resistir ao desgaste produzido por frico. A norma
ASTM D1242 descreve a determinao desta propriedade. Os poliuretanos so os
materiais polimricos de maior resistncia abraso.
Das normas acima citadas, algumas so exclusivas para materiais
compsitos, outras so destinadas aos materiais polimricos, podendo ser
adaptadas aos materiais compsitos. As normas exclusivas aos materiais
compsitos foram elaboradas, em sua maioria, visando os compsitos
tradicionalmente utilizados, com fibras de vidro e carbono. No caso dos compsitos
com fibras naturais, estas normas, nem sempre, podem ser diretamente aplicadas.
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2.2 Fratura em Polmeros e Compsitos
2.2.1 Introduo
Polmeros e compsitos polimricos so amplamente utilizados na
engenharia, e em todas as aplicaes, a ocorrncia de fratura a maior
preocupao. Objetivando simplificar e racionalizar os estudos relativos aos
fenmenos de fratura, alguns pesquisadores desenvolveram um campo de
pesquisa denominado de Mecnica da Fratura. O precursor da idia foi Griffith em
1920, que estudou a ocorrncia de falhas em vidros. No entanto, o maior
desenvolvimento nessa rea ocorreu com os estudos realizados por Irwin em 1948
e Orowan em 1950, em trabalhos independentes. Desde ento muita pesquisa tem
sido realizada, e embora a grande maioria seja relativa aos materiais metlicos,
muito tem sido feito na rea dos materiais cermicos e polimricos.
A mecnica da fratura est dividida em duas grandes reas: A clssica
Mecnica da Fratura Elstica Linear (MFEL) e a Mecnica da Fratura Elasto-
plstica (MFEP). Para a MFEL, o parmetro de medida da tenacidade fratura
dado pelo fator de intensidade de tenso, K, expresso como uma funo da
geometria do corpo de prova utilizado e do carregamento aplicado, ou ainda pela
taxa de liberao de energia, G. Este conceito vlido para uma classe limitada de
problemas, onde corpos de prova trincados apresentam deformao plstica
reduzida na ponta da trinca, podendo ser utilizado para caracterizar a fratura frgil
nos materiais. Para uma grande faixa de materiais que apresentam alta ductilidade,
como a maioria dos polmeros, a ocorrncia de intensa deformao plstica nas
regies ao redor da ponta da trinca inviabiliza o uso da anlise elstica. Para estes
materiais, a anlise feita por meio da MFEP, sendo a Integral-J, neste caso, o
parmetro de medida da tenacidade fratura. A Integral-J, proposta inicialmente
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por Rice em 1968, uma Integral de contorno utilizada para caracterizar os campos
de tenso e deformao na ponta de uma trinca sob condies elasto-plsticas.
2.2.2 Mecnica da Fratura Aplicada aos Polmeros
Se comparado aos metais, o estudo da mecnica da fratura aplicada aos
polmeros est ainda no princpio. Devido ao seu comportamento viscoelstico, a
metodologia desenvolvida para os metais no poderia ser diretamente aplicada aos
polmeros. As anlises tericas que incorporam o comportamento viscoelstico dos
polmeros so relativamente recentes e raras so as aplicaes prticas destes
conceitos (Anderson, 1995). Apesar de algumas controvrsias, os ensaios para a
determinao da tenacidade fratura sob deformao plana, KIC, e da Integral-J
tm sido aplicados aos polmeros com notvel sucesso (Williams, 1984), (Han et al.,
1999). Os procedimentos utilizados nos ensaios so geralmente similares aos
aplicados aos metais.
Quando um polmero contendo uma trinca submetido a algum tipo de
carregamento, uma zona plstica formada na ponta da trinca. Para os polmeros
termorrgidos esta zona assemelha-se zona plstica formada nos metais, sendo a
deformao por cisalhamento o mecanismo de escoamento dominante. Para os
termoplsticos, o predominante escoamento por crazing (bandas concentradas de
microvazios), produz uma zona de escoamento de tira do tipo Dugdale, na frente da
ponta da trinca (Kausch, 1987).
As resinas termorrgidas so tradicionalmente consideradas frgeis, pois
assume-se que a alta densidade de ligaes cruzadas impedem o fluxo viscoso. No
entanto, foi constatado que estes materiais so capazes de considervel
deformao plstica altamente localizada na ponta da trinca. Em ensaios de
tenacidade fratura, podem ocorrer mecanismos de embotamento da ponta da
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trinca, (blunting), e freamento ou mesmo a parada da trinca devido alta
plasticidade. Ambas as propagaes estvel e instvel da trinca podem ser
observadas. As resinas epxi e os polisteres insaturados so os polmeros
termorrgidos mais estudados com relao a tenacidade fratura (Kausch, 1987).
Os modos de propagao de trinca tm, obviamente, repercusso na
morfologia da superfcie de fratura. A aparncia da superfcie de fratura do polmero
depende da sua estrutura e das condies de ensaio. Quando a propagao da
trinca estvel e contnua, a superfcie de fratura lisa. Tpicas linhas de
freamento podem ser observadas seguidas por uma regio de estrias paralelas
direo do crescimento da trinca. Estas estrias so caractersticas da propagao
lenta aps o freamento da trinca e tm sido observadas em resinas epxi,
poliamidas e fenol-formaldedo (Kausch, 1987). Em termoplsticos que apresentam
crescimento de trinca por crazing, a superfcie de fratura similar quela
observada nos metais que apresentam crescimento estvel de trinca pelo
coalescimento de microvazios (Anderson, 1995).
Tendo em mente o objetivo do presente trabalho, foi realizada uma reviso
bibliogrfica referente a utilizao da Integral-J na determinao da tenacidade
fratura dos polmeros. Os trabalhos pesquisados so sucintamente descritos a
seguir, focando os principais problemas encontrados e avaliando a aplicabilidade da
Integral-J para os polmeros.
Um dos principais pontos de controvrsia na aplicao da Integral-J aos
polmeros relativo ao uso da linha de embotamento (bluting line), para
determinao do valor crtico da Integral-J, JIC. Alguns pesquisadores argumentam
que o mtodo pode no ser apropriado para alguns polmeros dcteis (Chung;
Williams, 1991). Porm, no h um consenso quanto ao tema.
Narisawa e Takemori (1989) estudaram o processo de iniciao de trinca
em polmeros tenacificados e concluram que a construo da linha de
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embotamento e, desta forma a determinao de JIC, no eram adequados para
estabelecer as condies de iniciao da trinca para polmeros dcteis. Para eles,
no havia justificativa terica para a equao da linha de embotamento, pois a
ponta da trinca observada em seus ensaios era aguda e no arredondada. Huang e
Williams (1990), discutindo o trabalho de Narisawa e Takemori (1989), comentam
que o principal problema diz respeito s tcnicas normalmente empregadas para a
medida do crescimento da trinca. Estas, no so suficientemente sensveis para
detectar e distinguir os mecanismos de crescimento aparente resultante do
embotamento e do crescimento estvel da ponta da trinca. Alm disto, quando o
corpo de prova descarregado, as faces da trinca podem tocar-se, induzindo o seu
fechamento e mascarando qualquer evidncia do seu embotamento.
Um outro aspecto importante do ensaio de J diz respeito a se garantir a
condio de deformao plana na frente da trinca, ou seja, garantir um valor de J
independente da espessura da amostra. Este problema foi abordado por Hashemi e
Williams (1986), Huang (1991) e Pascaud et al. (1997). De um modo geral, houve
um consenso de que muito dos detalhes experimentais aplicados aos materiais
metlicos, parecem prover resultados satisfatrios, como o uso de entalhes laterais
nos corpos de prova, por exemplo, para aproximar a condio de deformao
plana. No entanto, as recomendaes das normas devem ser reexaminadas para
serem aplicadas aos polmeros. Em particular, as exigncias de espessura mnima
para a condio de um estado de deformao plana, que por demais
conservativa, e o crescimento de trinca mximo permissvel.
Constata-se que, experimentalmente, pode ser difcil determinar o ponto
preciso da iniciao da trinca. Alm disto, para a maioria dos materiais, pode
ocorrer significativo crescimento estvel de trinca aps a iniciao e, neste caso, a
identificao de um valor de tenacidade crtico seria arbitrrio (Huang, 1996). Para
estes casos, o uso da curva de resistncia, ou curva R, parece ser mais apropriado.
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A curva J-R descreve a energia exigida para o crescimento adicional de trinca aps
a sua iniciao mas, diferentemente de KIC ou JIC, depende da geometria do corpo
de prova.
A ASTM (American Society for Testing and Materials) publicou em 1996 uma
norma exclusiva que estabelece as regras para a determinao da curva J-R para
os materiais polimricos, a ASTM D6068-96, que j foi atualizada em 2002. No
trabalho de Liu et al. (2002), esta norma foi aplicada com sucesso na avaliao da
tenacidade fratura de blendas de um copolmero de acrilonitrila-butadieno-
estireno e plasticos de engenharia semicristalinos.
As tcnicas tradicionalmente empregadas nos ensaios de Integral-J para os
polmeros so a dos mltiplos corpos de prova; com menor freqncia a de um
nico corpo de prova (mtodo da variao da flexibilidade elstica); e mais
recentemente as tcnicas da normalizao.
De acordo com Chan e Williams (1983) a tcnica da Variao da
Flexibilidade Elstica (VFE) pode ser inadequada para os polmeros pois os
repetidos carregamentos/descarregamentos, embora pequenos, podem alterar a
taxa de deformao do material e consequentemente, a medida da tenacidade
fratura.
O mtodo da normalizao tambm utiliza um nico corpo de prova e a
curva J-R obtida atravs de tcnicas analticas/experimentais. Nos trabalhos de
Landes e Zhou (1993), Zhou et al. (1994), Bernal et al. (1996a), Bernal et al.
(1996b) e Brosa et al. (1999), o mtodo foi utilizado para a determinao da
tenacidade fratura de polmeros com relativo sucesso.
Apesar dos problemas encontrados, a metodologia da Integral-J tem sido
aplicada com sucesso a uma srie de polmeros dos mais diferentes tipos e
aplicaes. A norma ASTM D6068 mostra-se como uma boa opo de metodologia
para os polmeros de maior resistncia.
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Um mtodo relativamente novo de avaliao da tenacidade fratura de
polmeros, que tem despertado o interesse da comunidade cientfica o mtodo do
Trabalho Essencial de Fratura (EWF). Este mtodo surge como uma alternativa
para os casos onde h dificuldade de aplicar a Integral-J. Do ponto de vista
experimental o mtodo simples, no havendo necessidade de medir o
crescimento da trinca, o que uma grande vantagem no caso dos materiais
compsitos. Um valor crtico do Trabalho Essencial de Fratura, parmetro similar ao
JIC em um ensaio de Integral-J determinado no ensaio. Detalhes do mtodo
podem ser encontrados nos trabalhos de Alvares et al. (2002) e Wu e Mai (1996).
2.2.3 Fratura em Compsitos
A caracterizao das propriedades mecnicas dos materiais compsitos no
uma tarefa simples. A primeira questo que surge como aplicar os mtodos
padres, desenvolvidos para materiais homogneos, aos materiais compsitos.
Este especialmente o caso das propriedades locais, como os parmetros de
resistncia ao impacto e tenacidade fratura (Burzic et al., 2001).
A Figura 1 mostra os vrios mecanismos de falha que podem ocorrer em
compsitos reforados por fibras. A fratura raramente ocorre de modo catastrfico,
mas tende a ser progressiva, com falhas subcrticas dispersas atravs do material,
o que constitui uma vantagem.
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Figura 1 Mecanismos de falha em materiais compsitos (Anderson, 1995).
Os mecanismos de falha local que podem ocorrer durante a fratura de um
compsito fibrado so: a ruptura das fibras, a deformao e o trincamento da
matriz, o descolamento das fibras, o deslizamento interfacial seguido da ruptura das
fibras (pull out) e ainda o efeito denominado de ponte de fibras (fiber bridging), onde
as superfcies de uma trinca so interligadas por fibras. Vrios destes mecanismos
podem atuar simultaneamente durante o processo de fratura de um compsito.
Obviamente, a importncia de cada mecanismo no processo de fratura depender
do tipo de compsito em estudo, do tipo de carregamento aplicado e da orientao
das fibras. Segundo Harmia (1996) quando as fibras esto orientadas
paralelamente direo de propagao da trinca observa-se principalmente
descolamento das fibras, e quando elas esto orientadas perpendicularmente,
deslizamento e fratura das fibras so observados.
O processo de fratura por delaminao, Figura 1b, bastante comum nos
compsitos com fibras contnuas e ocorre devido s propriedades mecnicas
ortotrpicas destes compsitos. Neste tipo de fratura, a propagao da trinca pode
ocorrer entre as camadas do laminado e neste caso so denominadas de trincas
interlaminares, ou entre as fibras, sendo denominadas de trincas intralaminares. As
tenses que conduzem delaminao podem surgir da prpria estrutura
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geomtrica do compsito, de tenses externas aplicadas, ou ainda devido
diferena nos mdulos de elasticidade da matriz e das fibras. Sendo o mecanismo
de fratura mais comum nos compsitos laminados de alto desempenho, a fratura
por delaminao tem sido amplamente estudada (Schn et al., 2000), (Dvorak,
2000), (Truss et al., 1997).
J os compsitos com fibras curtas (descontnuas), distribudas de forma
aleatria, podem ser considerados materiais isotrpicos. Nestes compsitos, o
efeito das extremidades das fibras de grande importncia, pois estas
extremidades atuam como pontos de concentrao de tenso e so potenciais
iniciadores de trincas. Trincas locais na matriz ou na interface podem colocar em
risco a integridade do compsito, ainda que as fibras restantes permaneam
inalteradas. Os mecanismos de falha destes compsitos so semelhantes aos dos
compsitos com fibras contnuas. Vale citar a importncia da razo de aspecto das
fibras (razo entre o comprimento e o dimetro da fibra), de grande influncia nas
propriedades do compsito (Nielsen; Landel, 1994).
Pelo acima exposto, verifica-se que a condio interfacial fator importante
e governa o comportamento tenso-deformao dos compsitos. O comportamento
da interface tem sido estudado atravs de ensaios de deslizamento de uma nica
fibra (Hsueh, 1995). Estes ensaios avaliam o processo de transferncia de carga
entre fibra e matriz.
2.2.3.1 Tenacidade Fratura de Compsitos
A avaliao da tenacidade fratura em compsitos apresenta algumas
dificuldades normalmente no encontradas nos materiais homogneos. Isto ocorre
porque estes materiais apresentam propriedades mecnicas que variam com a
orientao das fibras. Os compsitos reforados com fibras curtas distribudas de
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forma aleatria so, na prtica, considerados como materiais isotrpicos e desta
forma seu comportamento similar ao de um material homogneo. Neste caso, as
tcnicas desenvolvidas para os materiais homogneos podem ser aplicadas sem
maiores dificuldades. Porm, os compsitos com fibras contnuas apresentam
propriedades mecnicas ortotrpicas. A metodologia convencional da mecnica da
fratura pode ser aplicada para estes materiais, mas deve-se ter em mente as suas
limitaes.
Nos compsitos laminados com fibras contnuas geralmente realizada a
avaliao da tenacidade fratura interlaminar, sendo um dos poucos casos onde a
mecnica da fratura formalmente aplicada (Anderson, 1995), (Lee; Suh, 1995).
Estes ensaios so largamente aplicados para os compsitos de alto desempenho,
como por exemplo, carbono/epxi e carbono/PEEK, utilizados principalmente na
indstria aeronutica. A literatura contm uma larga quantidade de dados de GIC e
GIIC para materiais compsitos de alto desempenho (Anderson, 1995). A norma
ASTM D5528-01 descreve o ensaio para a medida da tenacidade fratura
interlaminar em materiais compsitos com fibras unidirecionais no modo I de
carregamento.
Para os compsitos reforados com fibras curtas, a determinao da
tenacidade fratura mais simples e sendo assim mais comumente utilizada
(Wong; Mai, 1998), (Atodaria et al., 1997). Comparado aos compsitos com fibras
longas, estes compsitos possuem menor tenacidade e resistncia fratura,
devido, entre outros motivos, concentrao de tenso no final das fibras (Choi;
Takahashi, 1996).
A grande maioria dos compsitos para aplicaes estruturais constituda
de uma matriz frgil e fibras de alto mdulo elstico. Para estes materiais, a
avaliao da tenacidade fratura feita utilizando-se os conceitos da MFEL. A
resistncia fratura avaliada em termos dos parmetros K (fator de intensidade
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de tenso) e G (taxa de alvio de energia), tomando como base a tenacidade da
matriz polimrica (Zhao; Botsis, 1996), (Choi; Takahashi, 1996), (Gaffney; Botsis,
1999). Quando a matriz apresenta relativa ductilidade, o conceito da Integral J pode
ser aplicado (Wong; Mai, 1998), porm, vale salientar que em se tratando de
compsitos, h sempre bastante dificuldade na medida do crescimento da trinca
durante o ensaio de tenacidade fratura.
Em geral, com resinas termorrgidas frgeis, o compsito apresenta maior
tenacidade do que a resina sem reforamento, mas o efeito pode ser o inverso para
os polmeros de alta tenacidade. Neste caso, apenas uma frao da tenacidade da
matriz transferida ao compsito.
Os mecanismos que contribuem para a tenacidade dos materiais
compsitos so vrios e atuam em conjunto, embora um mecanismo possa ser
dominante (Matthews; Rawlings, 1994).
Pode ocorrer a deflexo da trinca, por um movimento de inclinao (tilting)
ou toro (twisting) ao redor do reforamento. Mais rea superficial criada, o que
aparentemente resulta em maior energia de fratura, da mesma forma atua o
mecanismo de descolamento e deslizamento entre fibra e matriz. As fibras podem
ainda ser extradas da matriz (pull-out) e dissipar energia por frico mecnica. Um
outro importante mecanismo de tenacificao o de pontes de fibras. Neste, as
fibras que sofreram deslizamento na interface mas no fraturaram, compem uma
ligao entre as superfcies da trinca. Parte da tenso aplicada ao compsito
transferida a estas fibras que ficam submetidas a uma tenso de ponte ao longo do
comprimento descolado, retardando o avano da trinca pela diminuio da fora
motriz aplicada na ponta da trinca. Quando a tenso de ponte atingir o seu valor
crtico ocorrer a fratura da fibra (Botsis; Beldica, 1995). O mecanismo de ponte de
fibras geralmente resulta em curvas-R ascendentes devido a natureza cumulativa
-
19
de seus processos durante a extenso da trinca principal (Miyajima; Mototsugu,
1991).
Um dos requisitos para a aplicao dos conceitos da mecnica da fratura
que a zona de dano na ponta da trinca deve ser muito menor que o comprimento da
trinca ou qualquer dimenso do corpo de prova. No caso dos compsitos, os
mecanismos de dano ocorrem no apenas na zona de processos frontal, (fpz),
frente da ponta da trinca, mas tambm na esteira de propagao da trinca,
denominada de zona de blindagem (shielding zone). Dependendo da extenso do
dano na esteira de propagao da trinca, o comportamento do crescimento da
trinca torna-se dependente do seu tamanho e o conceito de similitude fica
comprometido. Este problema particularmente importante quando se trata de
pontes de fibras. Para contornar este problema, tem sido proposto o uso de uma lei
de pontes (bridging law), em contrapartida ao uso da curva R (Sorensen;
Jacobsen, 1998). Assim como a curva R a lei de pontes pode ser considerada
uma propriedade do material (Lindhagen; Berglund, 2000).
Alm da reduo da resistncia e da rigidez, trincas em materiais
compsitos podem expor o material ao do ambiente. Isto tem uma importncia
particular na absoro de umidade; matrizes polimricas podem absorver umidade
que causa mudanas volumtricas e tenses residuais, alm da degradao das
fibras e da matriz (Dvorak, 2000). O problema de absoro de umidade ainda
mais significativo nos compsitos reforados por fibras naturais, uma vez que estas
fibras so de natureza hidroflica.
-
20
2.3 Resinas Poliuretano
2.3.1 Histrico e Aplicaes
Os poliuretanos (PU) foram desenvolvidos por Otto Bayer et al. em 1937. A
sua comercializao teve incio ainda na dcada de 30, com a fabricao de
espumas rgidas, adesivos e tintas. Na dcada de 40, na Alemanha e Inglaterra,
foram originados os elastmeros de PU. A dcada de 50 registrou o grande
desenvolvimento comercial dos PU(s), como espumas flexveis. Na atualidade, o
maior destaque a moldagem por injeo e reao, RIM, que deu mpeto aos
estudos relacionando estrutura molecular e propriedades dos poliuretanos (Vilar,
1993).
As resinas poliuretano mostram grande versatilidade de aplicao, podendo
ser utilizadas em diferentes segmentos industriais. Estas resinas podem ser obtidas
com densidades que variam de 6 a 1220kg/m3, podendo se apresentar como um
elastmero de alta flexibilidade ou de maior dureza, ou como um plstico de
engenharia (Woods, 1990).
Os poliuretanos so consumidos principalmente sob a forma de espumas
flexveis ou rgidas e elastmeros. Suas aplicaes so variadas e incluem
volantes, painis, assentos e pra-choques na indstria automotiva, colches e
assentos na indstria de mveis, sola de sapatos, ncleo de esquis e pranchas de
windsurfing, na indstria de esporte e lazer, adesivos, refrigeradores,
aquecedores, etc (Bouvier, 1997).
As resinas poliuretano podem ser derivadas tanto do petrleo como de
fontes naturais, e neste caso tem-se os chamados biomonmeros que podem ser
obtidos de fontes renovveis, como os leos vegetais. Estes leos derivam de um
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21
nmero de vegetais, tais como, soja, milho, aafroa, girassol, canola, amendoim,
oliva e mamona, entre outros (Petrovic, 1999).
O desenvolvimento dos poliuretanos derivados de leo de mamona teve
origem nos primeiros trabalhos propostos na dcada de 40 (Vilar, 1993). O leo de
mamona obtido da semente da planta Ricinus Communis, que encontrada em
regies tropicais e subtropicais, sendo muito abundante no Brasil. um lquido
viscoso, obtido pela compresso das sementes ou por extrao com solvente (Vilar,
1993).
2.3.2 Reao de Polimerizao
Denomina-se de uretano (ou uretana) o produto da reao qumica entre um
grupo isocianato e um grupo hidroxila (Wultz apud Claro Neto3). A polimerizao
dos poliuretanos ocorre quando um composto com dois ou mais isocianatos em sua
estrutura reage com um poliol.
R N C O + H O R R N C O R
O
H (1)
Isocianato Hidroxila Uretana
O C N R1 N C O + HO R2 OH C N
O
O H
R1 N
H
C
O
O R2 O
Di-isocianato Poliol Poliuretana (2)
3 WULTZ, A. Justus Liebigs Ann. Chem. v. 71, n.326, 1849. apud CLARO NETO, S. C. Caracterizao Fsico-Qumica de um Poliuretano Derivado de leo de Mamona Utilizado para Implantes sseos. So Carlos, 1997. 127p. Tese (Doutorado), Instituto de Qumica de So Carlos, Universidade de So Paulo.
-
22
As principais matrias-primas empregadas na fabricao dos poliuretanos
so os di ou poli-isocianatos e os polmeros hidroxilados de baixo peso molecular
(poliis). Como os compostos que contm grupos isocianatos so altamente
reativos, geralmente feita uma pr-polimerizao que consiste da reao de um di
ou poli-isocianato com um poliol, nas propores previamente determinadas, para a
obteno do teor de isocianato livre desejado. A reao de polimerizao ocorre
pela mistura a frio do pr-polmero com o poliol final, que conduz policondensao
uretana, gerando o PU de alto peso molecular.
Alm da reao principal podem tambm ocorrer reaes paralelas. A mais
comum a reao do isocianato com a gua que libera dixido de carbono (CO2),
que pode promover a expanso do polmero.
2.4 Fibras Vegetais
As fibras vegetais so classificadas de acordo com a sua origem e podem
ser agrupadas em fibras de semente (algodo), fibras de caule (juta, linho,
cnhamo), fibras de folhas (bananeira, sisal, piaava, curau, abac, henequm),
fibras de fruto (coco) e fibras de raiz (zacato) (Morassi, 1994). As fibras oriundas
do caule ou das folhas so as chamadas fibras duras e so as mais utilizadas como
reforo em compsitos polimricos.
Comparativamente s fibras sintticas, as fibras vegetais oferecem as
seguintes vantagens: fonte abundante e de rpida renovao, baixo custo, baixa
densidade, altas propriedades especficas, so menos abrasivas se comparadas s
fibras de vidro, no-txicas e biodegradveis (Bledzki; Gassan, 1999). Como
desvantagens pode-se citar a baixa temperatura de processamento, limitada a
aproximadamente 200oC. Para os compsitos com resinas termorrgidas essa
caracterstica no limitante, uma vez que a cura das resinas ocorre, geralmente,
-
23
em temperaturas inferiores a 200oC. Outras desvantagens so a falta de
uniformidade de propriedades, que dependem da origem das fibras, da regio do
plantio e da habilidade manual durante a colheita e a alta absoro de umidade,
que pode causar o inchao das fibras. A absoro de umidade pode ser
drasticamente reduzida pela modificao qumica das fibras e pela boa adeso na
interface fibra/matriz. Na Tabela I so apresentados dados comparativos das
propriedades mecnicas e caractersticas de fibras vegetais e fibras de
reforamento convencionais.
Os principais componentes qumicos das fibras vegetais so substncias
polares, tais como a celulose, a hemicelulose (ou polioses) e a lignina, com
menores percentuais de outros componentes como pectina, cera e substncias
solveis em gua. A composio qumica varia ligeiramente de acordo com a regio
de cultivo, tipo de solo e condies climticas. A composio de algumas fibras
apresentada na Tabela II.
Cada fibra vegetal, denominada de fibra tcnica, constituda de vrias
fibras elementares fortemente ligadas entre si por um material de cementao,
constitudo principalmente de lignina. A constituio estrutural de uma fibra
elementar mostrada na Figura 2. Esta possui uma parede espessa formada por
vrias microfibrilas que formam espirais ao longo do eixo da fibra, tendo um lumen
no centro. Cada fibra elementar , em essncia, um compsito no qual as rgidas
microfibrilas de celulose esto envolvidas por uma matriz de lignina e hemicelulose.
A lignina atua como o material de cementao, unindo as microfibrilas e a
hemicelulose como interface entre a microfibrila de celulose e a lignina.
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24
Tabela I Propriedades mecnicas e caractersticas de fibras vegetais e fibras convencionais de reforamento (Mohanty et al., 2000), (Bledzki; Gassan, 1999),
(Baley et al., 1997).
Fibra
Dimetro (m)
Densidade (g/cm3)
Resistncia trao (MPa)
Mdulo de elasticidade
(GPa)
Alongamento (%)
Algodo 16 21 1,5 1,6 287 597 5,5 12,6 7 8
Juta 200 1,3 393 773 26,5 1,5 1,8
Linho --- 1,5 345 1035 27,6 2,7 3,2
Cnhamo --- --- 690 --- 1,6
Rami --- 1,5 400 938 61,4 128 3,6 3,8
Sisal 50 - 300 1,45 511 635 9,4 22 3 - 7
Coco 100 - 450 1,15 1,45 131 - 175 4 13 15 - 40
Vidro E 8 - 14 2,5 2000 - 3500 70 1,8 3,2
Vidro S 10 2,5 4590 86 5,7
Kevlar-49 12 1,48 2800 3792 131 2,2 2,8
Carbono 7 - 10 1,6 1,9 4000 230 240 1,4 1,8
Tabela II Composio qumica provvel de algumas fibras vegetais (% em peso) (Bledzki; Gassan, 1999), (Bisanda; Ansell, 1992).
Sisal
Coco
Algodo
Juta
Linho
Rami
Kenaf Celulose 67-78 36-43 82,7 61-71,5 64,1 68,6 31-39
Hemicelulose 10-14,2 0,15-0,25 5,7 13,6-20,4 16,7 13,1 21,5
Lignina 8-11 41-45 --- 12-13 2,0 0,6 15-19
Pectina 10 3-4 5,7 0,2 0,2 1,9 ---
Solveis em gua
16,2 1,0 1,1 3,9 5,5 ---
Ceras 2 0,6 0,5 0,5 0,3 ---
ngulo espiral 20 41-45 8,0 10,0 7,5
Teor de umidade
11,0 10,0 12,6 10,0 8,0 ---
-
25
Figura 2 Constituio estrutural de uma fibra vegetal (Rong et al., 2001).
As fibras diferem em sua composio e na orientao das fibrilas (ngulo
espiral). Tais caractersticas dependem da origem da fibra e so determinantes nas
suas propriedades mecnicas (Mohanty et al., 2000). Na Tabela I, a fibra de coco
mostra a menor resistncia trao, o que atribudo ao seu baixo teor de
celulose, como pode ser visto na Tabela II, e alto ngulo espiral.
As hemiceluloses so constitudas por diferentes unidades de acares
sendo solveis em lcalis. Os principais acares so as pentoses, hexoses, 6-
desoxi-hexoses e os cidos urnicos. O seu grau de polimerizao de 10 a 100
vezes menor que o da celulose e as cadeias possuem um considervel grau de
ramificao em relao celulose (Joseph et al., 2000), (Fengel; Wegener, 1989).
A lignina possui uma estrutura complexa com constituintes alifticos e
aromticos. um material amorfo encontrado nas paredes celulares das plantas,
cuja funo conferir rigidez parede celular.
A celulose o componente principal de todas as fibras vegetais e principal
responsvel pela sua resistncia mecnica. constituda de unidades de anidro-D-
glicose (C6H10O5), que unidas formam uma cadeia molecular. Sua estrutura
mostrada na Figura 3. A celulose pode ser descrita como um polmero linear com
uma estrutura de cadeia uniforme (Fengel; Wegener, 1984). Cada unidade de
-
26
anidro-D-glicose contm trs grupos hidroxila (-OH). Estas hidroxilas formam
ligaes de hidrognio dentro da molcula (intramolecular) e entre molculas de
celulose (intermolecular). A cristalinidade da celulose deve-se principalmente s
ligaes de hidrognio intermoleculares.
Devido s ligaes de hidrognio, as fibras vegetais so de natureza
hidrfila. Este o maior problema das fibras vegetais, se usadas como
reforamento em compsitos polimricos, pois so incompatveis com a maioria dos
polmeros, que so hidrofbicos. Sua natureza hidrfila influencia todas as
propriedades mecnicas e fsicas, tanto das fibras como dos compsitos. Por outro
lado, sua natureza rica em hidroxilas sugere que elas so particularmente teis em
sistemas termorrgidos, tal como o poliuretano.
OH2COH
H
OH
H
H
OHO
H
OH
OH
H
H
H2COH
OH2COH
H
OH
H
H
OHO
H
OH
H
H2COH
OH
H HO
HH O
HH O
H H O
H
O
Figura 3 Estrutura da celobiose, unidade repetitiva da celulose (Fengel; Wegener, 1989).
Fibras vegetais so tradicionalmente utilizadas para a produo de fios,
cordas, sacarias, mantas, tapetes, artefatos de decorao, etc (Cruz-Ramos, 1986).
Existe um crescente interesse em encontrar novas aplicaes para este abundante
e renovvel recurso natural. Os materiais compsitos estruturais aparecem como
um importante campo para a utilizao destas fibras, como reforo em matrizes
polimricas termorrgidas ou termoplsticas, em substituio s fibras sintticas
(Young, 1997).
Unidade repetitiva
-
27
2.4.1 A Fibra de Sisal
As primeiras plantaes de sisal, foto na Figura 4, classificado como Agave
Sisalana Perrine, foram desenvolvidas pelos Maias, no Mxico, antes da chegada
dos Europeus. Atualmente so conhecidas 57 espcies (Chavami et al., 1999). A
cultura sisaleira comeou a ser difundida no Brasil a partir de 1920, no estado da
Paraba. O Brasil o maior produtor de fibras de sisal, respondendo por cerca de
183.000 Mt por ano (FAO, 2002). A cultura do sisal, uma das fibras mais utilizadas
mundialmente, de extrema importncia scio-econmica para o Brasil, por ser a
nica economicamente vivel na regio semi-rida do Nordeste, com cerca de 1
milho de pessoas que dela dependem para sua subsistncia (Mattoso et al.,
1997).
Figura 4 Foto de uma plantao de sisal (EMBRAPA CNPA, 1997).
-
28
O crescimento da planta depende, entre outros fatores, da disponibilidade
de gua; a planta estoca gua na estao chuvosa e consome na estao seca
(Medina apud Paula4). O trabalho no campo se concentra basicamente no corte das
folhas, desfibramento, lavagem/secagem e batimento das fibras. A produo
destina-se, em geral, exportao como matria prima.
O principal e mais conhecido produto do sisal o fio biodegradvel utilizado
para empacotamentos em geral. Atualmente, com o uso de fibras sintticas para tal
fim, cresce a necessidade de novos usos.
As fibras de sisal classificam-se no grupo de fibras chamadas estruturais,
cuja funo a de dar sustentao e rigidez s folhas. So extradas das folhas por
um processo que utiliza uma desfibradeira. Cada folha de sisal contm em mdia
4% em peso de fibras. Dos 96% restantes, 81% lquido (suco) e 15% so os
resduos de desfibragem e podem ser utilizados como adubo orgnico e rao
animal (Mattoso et al., 1997).
Cada fibra de sisal (fibra tcnica) constituda por uma centena de fibras
elementares ligadas entre si. Possuem um alto teor de celulose, excelentes
propriedades de resistncia ruptura e alongamento e boa resistncia ao da
gua salgada.
A planta de sisal produz aproximadamente 200 a 250 folhas antes de
florescer e cada folha contm entre 700 e 1400 fibras (Mattoso et al., 1997). As
fibras de sisal dispem-se longitudinalmente ao longo do comprimento da folha e de
forma praticamente regular, com comprimentos que variam de 45 a 120 cm.
Compreendem trs tipos: fibras mecnicas, fibras de fita e fibras de xilemas. As
fibras mecnicas esto presentes em maior nmero e dificilmente se dividem
4 MEDINA, J. C. O sisal. Secretaria da Educao do Estado de So Paulo, So Paulo, 1954. apud PAULA, C. M. S. S. Estudo da influncia do tratamento qumico de fibras de sisal na resistncia mecnica de compsitos sisal/epoxy. Campinas, 1996. Dissertao (mestrado) Faculdade de Engenharia Qumica, Universidade Estadual de Campinas.
-
29
durante os processos de manufatura, o que lhes confere maior importncia
comercial.
2.4.2 A Fibra de Coco
As fibras de coco so extradas do fruto do coqueiro comum, Cocos
Nucifera. Os coqueiros so palmeiras tropicais com at 35m de altura que
florescem durante todo o ano e de forma mais abundante no vero, em regies
tropicais e subtropicais. No Brasil, o coco chegou em 1553, a bordo das
embarcaes portuguesas, proveniente das ilhas de Cabo Verde, para onde, por
sua vez, tambm havia sido levado pelos portugueses (A Biblioteca Virtual do
Estudante Brasileiro, 1999).
Na atualidade, os maiores produtores mundiais de coco so as Filipinas, a
Indonsia e a ndia. No Brasil, a rea cultivada ocupa cerca de 300.000 hectares e
os principais produtores so os estados de Alagoas, Sergipe e Bahia. Segundo a
FAO (2002) a produo nacional de fibras de coco em 1999 foi superior a 7000
ton/ano. Uma grande quantidade da casca do coco ainda negociada como
resduo quando, de fato, constitui uma fonte de matria prima para uso em
aplicaes industriais (Salazar; Leo, 2000). As fibras de coco tm ampla utilizao
na fabricao de capachos, sacos, escovas, redes, colches, esteiras, pincis, etc.
Alm das fibras e da madeira, o coqueiro fornece alimentos como a polpa e a gua-
de-coco, leos, produtos cosmticos, rao animal, etc (A Biblioteca Virtual do
Estudante Brasileiro, 1999). Existem pesquisas em andamento que estudam a
utilizao destes resduos na construo civil, como uma opo para construes
de baixo custo (Savastano, 1997). As partes principais de um coco podem ser
vistas na Figura 5. As fibras so obtidas do mesocarpo, a parte espessa fibrosa.
-
30
Figura 5 Seo transversal do fruto do coqueiro (Cempre - Compromisso Empresarial para Reciclagem, 1998).
O processo de desfibrao do mesocarpo para a obteno da fibra de coco
pode ser feita por macerao em gua ou por processo mecnico. O comprimento
das fibras varia de 10 a 200mm. Comparada a outras fibras vegetais, a fibra de
coco apresenta baixo teor de celulose, alto teor de lignina e polioses e alto ngulo
espiral, ver Tabela II.
A superfcie da fibra revestida por uma camada de cera, de origem aliftica
e no polar, denominada de cutcula (Satyanarayana et al., 1990). So tambm
observadas protruses globulares identificadas como marcas silicificadas
(Geethamma et al., 1998).
Segundo Morassi (1994) o uso da fibra de coco na indstria automobilstica
data de meados da dcada de 40 quando era utilizada, em complementao com
uma manta de algodo, como enchimento de estofamentos de veculos. No Brasil,
o primeiro veculo a usar estofamentos em fibra de coco foi o VW - 1957. A partir do
final da dcada de 60, a espuma de poliuretano comeou gradualmente a substituir
a fibra de coco, visando aumento da produtividade e reduo de custos. No
entanto, na dcada de 90 foram iniciados estudos para se reverter ao uso da fibra
de coco, devido constatao de que estas fibras ofereciam melhor conforto e
maior durabilidade, quando comparadas espuma de poliuretano. Alm disto, havia
-
31
a preocupao em produzir veculos com o mximo de matria prima renovvel. O
incentivo utilizao de fibras de coco na indstria automobilstica, seja em
estofamentos ou em outras aplicaes um incentivo ao desenvolvimento das
regies onde estas fibras so produzidas.
2.4.3 Mtodos de Modificao Superficial das Fibras Vegetais
A regio interfacial de fundamental importncia na determinao das
propriedades dos compsitos, pois atravs da interface que os esforos atuantes
na matriz so transmitidos ao reforo. Mtodos qumicos e fsicos podem ser
usados para modificar a fibra e otimizar a interface.
Como visto anteriormente, as fibras vegetais so constitudas basicamente
de celulose e de uma quantidade relativamente alta de lignina e hemicelulose, que
influi diretamente em suas propriedades adesivas. Nos compsitos, a celulose
responsvel pela ligao das fibras ao polmero enquanto a lignina atua impedindo
a difuso da matriz na celulose, dificultando a aderncia da fibra ao polmero (Dotan
et al., 1989).
Um dos mais antigos mtodos de modificao das fibras vegetais o
tratamento alcalino, que visa limpar a superfcie da fibra de ceras e graxas,
provenientes possivelmente do manuseio e manufatura das fibras, alm de remover
parcialmente a hemicelulose e a lignina, principalmente a hemicelulose, que
solvel em baixssimas concentraes de lcali (Fengel; Wegener, 1989).
Com o tratamento alcalino, aumenta-se a rugosidade da superfcie da fibra e
melhora-se a aderncia mecnica entre fibra e matriz. Paula (1996) obteve
acrscimo de 28% nas resistncias trao e flexo do compsito sisal/epxi,
tratando as fibras de sisal com NaOH 5% a 100C. Joseph et al. (1996a) obtiveram
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32
acrscimo de 10% nas propriedades mecnicas do compsito sisal/LDPE, tratando
as fibras de sisal com NaOH 10% a 100C. A efetividade do tratamento depende das condies do tratamento alcalino,
(concentrao, tempo e temperatura) e do sistema fibra/matriz. Condies timas
de tratamento asseguram melhores propriedades de trao dos compsitos
(Joseph et al., 1996a).
Tratamentos superficiais com ionizao de gases so tambm utilizados
para mudana das propriedades estruturais e superficiais