concepções de mindfulness em langer e kabat-zinn

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Resumo. O conceito de mindfulness se tornou importante na clínica contem- porânea. É herdeiro de duas distintas tradições de pensamento. A primeira emergiu da pesquisa de Ellen Langer em psicologia experimental. A segun- da iniciou-se com o trabalho de Jon Kabat-Zinn, que introduziu a meditação  budista na prática clínica. Dessa maneira, uma prática espiritual milenar que respira a losoa oriental conuiu com um corpo de conhecimento esta-  belecido pelas estratégias da ciência objetiva ocidental. O artigo apresenta uma ampla revisão teórica das formas em que esse conceito foi articulado na literatura psicológica, a partir das duas fontes supracitadas. A denição de mindfulness e as suas bases empíricas são revisadas para sustentar uma con- textualização no pensamento contemporâneo. O conceito contribuiu para o referencial teórico de diferentes modelos cognitivos e comportamentais na área clínica atual. Como exemplos citam-se a terapia comportamental dialética e a prevenção de recaída para clientes que já foram depressivos e encerraram com sucesso uma terapia cognitiva. O conceito também se tor- nou relevante no estudo de relacionamentos. Este artigo discute algumas aplicações no campo da terapia de casal e no manejo da relação terapêutica. Argumenta-se que a prática de mindfulness de origem budista é altamen- te compatível com a tradição de pesquisa experimental sobre mindlessness. Apesar das suas origens distintas, as duas abordagens compartilham um entendimento do sofrimento humano, além de promover soluções simila- res para as vivências problemáticas trazidas à terapia pelos clientes. Além disso, aponta-se que as duas abordagens trazem considerações similares, tanto para o aprimoramento pessoal quanto para o trabalho terapêutico no consultório. Palavras-chave:  mindfulness  , terapia cognitivo-co mportamental, budismo. Abstract. Mindfulness has become a salient concept in today’s clinical psychology. It descends from two distinct traditions of thought. The rst Contextos Clínicos, 2(2):124-135, julho-dezemb ro 2009 © 2009 by Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2009.22 .07 Concepções de mindfulness em Langer e Kabat-Zinn: um encontro da ciência Ocidental com a espiritualidade Oriental Concepts of mindfulness in Langer and Kabat-Zinn: An encounter of W estern science with Eastern spirituality Luc Vandenberghe Pontic a Universidade Católica de Goiás. Rua 232 , 128, 3º andar, Setor Universitário, Goiânia, GO, Brasil. [email protected] Alysson Bruno Assunção Petróleo Brasileiro S.A. Gestão Corporativa de Abastecimento. Av . República do Chile, 65, 20º andar, sala 2002, 20031-912, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. [email protected]

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Resumo. O conceito de mindfulness se tornou importante na clínica contem-porânea. É herdeiro de duas distintas tradições de pensamento. A primeiraemergiu da pesquisa de Ellen Langer em psicologia experimental. A segun-da iniciou-se com o trabalho de Jon Kabat-Zinn, que introduziu a meditação budista na prática clínica. Dessa maneira, uma prática espiritual milenar querespira a filosofia oriental confluiu com um corpo de conhecimento esta- belecido pelas estratégias da ciência objetiva ocidental. O artigo apresentauma ampla revisão teórica das formas em que esse conceito foi articulado naliteratura psicológica, a partir das duas fontes supracitadas. A definição demindfulness e as suas bases empíricas são revisadas para sustentar uma con-textualização no pensamento contemporâneo. O conceito contribuiu parao referencial teórico de diferentes modelos cognitivos e comportamentaisna área clínica atual. Como exemplos citam-se a terapia comportamentaldialética e a prevenção de recaída para clientes que já foram depressivos eencerraram com sucesso uma terapia cognitiva. O conceito também se tor-

nou relevante no estudo de relacionamentos. Este artigo discute algumasaplicações no campo da terapia de casal e no manejo da relação terapêutica.Argumenta-se que a prática de mindfulness de origem budista é altamen-te compatível com a tradição de pesquisa experimental sobre mindlessness.Apesar das suas origens distintas, as duas abordagens compartilham umentendimento do sofrimento humano, além de promover soluções simila-res para as vivências problemáticas trazidas à terapia pelos clientes. Alémdisso, aponta-se que as duas abordagens trazem considerações similares,tanto para o aprimoramento pessoal quanto para o trabalho terapêutico noconsultório.

Palavras-chave: mindfulness , terapia cognitivo-comportamental, budismo.

Abstract. Mindfulness has become a salient concept in today’s clinicalpsychology. It descends from two distinct traditions of thought. The first

Contextos Clínicos, 2(2):124-135, julho-dezembro 2009© 2009 by Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2009.22.07

Concepções de mindfulness em Langer e Kabat-Zinn:um encontro da ciência Ocidental

com a espiritualidade Oriental

Concepts of mindfulness in Langer and Kabat-Zinn:An encounter of Western science with Eastern spirituality

Luc Vandenberghe

Pontifica Universidade Católica de Goiás. Rua 232, 128, 3º andar, Setor Universitário, Goiânia, GO, [email protected]

Alysson Bruno Assunção

Petróleo Brasileiro S.A. Gestão Corporativa de Abastecimento. Av. República do Chile, 65, 20º andar,sala 2002, 20031-912, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. [email protected]

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emerged from research in experimental psychology done by Ellen Langer.The second began with the introduction, by Jon Kabat-Zinn, of Buddhist me-ditative practices in behavioral medicine. Thus, a millenary spiritual prac-tice that emanates oriental philosophy merged with a body of knowledgeestablished by the strategies of Western objective science. The present article

reviews the ways in which this concept, starting from its two distinguishedsources, has been articulated in the psychology literature. The definition ofmindfulness is explored as well as its empirical foundations and contem-porary thinking. This concept contributed to the theoretical framework ofdifferent cognitive and behavioral models of present day therapy. Examplesare dialectical behavior therapy and relapse-prevention for clients who suc-cessfully completed a treatment of depression with cognitive therapy. Theconcept also contributed to the study of relationships. We discuss some ofits applications in the field of couple therapy and in work on the therapist-client relationship. We argue that the tradition that originated in Buddhismand the one that was developed in experimental research are highly compa-tible. They share a valuable understanding of human suffering and its ori-gins. They sustain similar solutions for the experiential distress clients bringto therapy. And finally, the article discusses how both approaches suggest

similar considerations for personal development as well as for treatment.

Key words: mindfulness, cognitive-behavior therapy, Buddhism.

Aprender a lidar com emoções é um mo-tivo que leva muitas pessoas a procuraremauxílio da psicologia. Dentro do contextodessa necessidade, o conceito de mindful-ness ganhou destaque nas terapias compor-tamentais e cognitivas nas últimas duas dé-

cadas. O interesse dos clínicos pelo conceitonasceu da confluência entre duas tradições.A primeira delas, ligada ao nome da psicó-loga Ellen Langer, é baseada em quatro dé-cadas de pesquisa empírica, de acordo comos preceitos científicos Ocidentais. A outra éa tradição meditativa milenar do Oriente, in-troduzida na prática clínica por John Kabat-Zinn. A intenção deste artigo é descrever ecaracterizar esses dois caminhos, a partir dassuas articulações na literatura psicológica.

Mudanças de primeirae segunda ordem

No cenário internacional, o advento dos mo-delos cognitivos se anunciou no quadro de umarenovação nas práticas clínicas e nos princípiosteóricos subjacentes a esses. O movimento cog-nitivo-comportamental introduziu importantesmudanças. Se os primeiros tratamentos empi-ricamente sustentados para transtornos psico-lógicos eram baseados em tecnologia pautadaem princípios de extinção pavloviana (Eysenck

e Rachman, 1965), a nova onda foi marcada portécnicas argumentativas. Não se tratava mais

de trabalhar diretamente emoções disfuncio-nais, mas de questionar e debater crenças sub- jacentes (Beck, 1970; Ellis, 1964).

Mesmo assim, a terapia cognitivo-compor-tamental manteve certa continuidade com aprimeira onda da terapia comportamental.

Ambos os movimentos privilegiaram, nessaépoca de pioneirismo, estratégias que modi-ficam conteúdos específicos. Estes conteúdospoderiam ser respostas emocionais inadequa-das a serem eliminadas por meio de técnicasde exposição (extinção pavloviana), ou crençasirracionais que devem ser testadas, debatidase adaptadas (reestruturação cognitiva). A estaabordagem que visa à modificação direta dosconteúdos problemáticos, denomina-se mu-dança de primeira ordem.

Uma inovação mais radical ocorreu logo

depois. Apareceram propostas terapêuticasque colocaram mais ênfase na vivência sub-  jetiva do que na análise racional. Seguimos,neste artigo, uma corrente de clínicos que busca a mudança de segunda ordem – corren-te dentre do qual o interesse para o papel demindfulness se desenvolveu de maneira maisabrangente. Enquanto a mudança de  pri-meira ordem é definida como modificação deconteúdos, a de segunda ordem objetiva umarevisão da perspectiva em que são viven-ciados estes conteúdos. A proposta clínica

passa a ser, então, a de transformar a pers-pectiva que produz significado em relação a

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uma crença ou um sentimento. Ao invés demodificar os conteúdos de pensamentos esuposições irracionais, a terapia consiste emrever o contexto socioverbal que os alimenta.Na terapia, o cliente aprende a diferenciar a

si mesmo dos conteúdos presentes nos seuspensamentos e sentimentos. Descobre, porexemplo, que ele não é  o que pensa sobresi, mas sim alguém que  pensa algo sobre si(Hayes e Gregg, 2002).

A mudança de primeira  ordem consiste,portanto, em reestruturar os conceitos que ocliente tem de si, e as de segunda ordem  , emaprender a ver esses conceitos como nadamais do que conceitos. Conforme criticaHayes (1987, 2004), não importando quão ra-cionais pareçam ser, conceitos abstratos não

podem captar com plenitude o fluxo dinâ-mico da vivência. Esta crítica se apoia numaanálise filosófica que rejeita a ênfase excessi-va que a cultura moderna põe na racionali-dade. A pessoa que vive a partir de análisesconceituais de sua realidade arrisca-se a ficaralienada da sua vivência real. Não enxergamais o que não se encaixa nos seus conceitos.O autor contende que, além de tornar a aná-lise conceitual do cliente mais adequada, areestruturação cognitiva promove o papelcentral dos conceitos na vivência do mesmo.Entretanto, como viver a partir de conceitostende a ser alienador, a solução não é aperfei-çoar o que envolve os problemas, mas subver-tê-los como um todo.

Por outro lado, rejeitar o domínio da cog-nição e privilegiar a vivência emocional podeexpor o sujeito a outros problemas. Se umasituação for abordada pela “lente” das emo-ções por ela evocadas, a informação obtidaserá filtrada e deturpada por ela. A melhorsolução consiste, então, em buscar uma pers-pectiva que permita ao cliente transcendertanto os conceitos racionais quanto as emo-

ções. Em uma perspectiva transcendente,torna-se possível enxergar que as cogniçõese as emoções são função da história de vida edo contexto em que ocorrem (Linehan, 1993;Hayes e Gregg, 2002). Uma emoção negativapode oferecer informações sobre algum pro- blema que ocorre no cotidiano do indivíduoe indicar opções que precisam ser reconside-radas em sua vida. Por isso, os sentimentosnegativos devem ser acolhidos como fontesde sentido, da mesma forma que os positi-vos. Tal abordagem permite que o cliente ex-

plore e torne explícitos seus valores (Hayes,1987; Linehan, 1993).

Ellen Langer e a tradição ocidental

Antes de desenvolver sua noção de mind- fulness  , Langer (1989) dedicou a maior partede sua carreira a estudar o fenômeno que foi

chamado por ela de mindlessness. A autora de-fine esse termo como um modo de funcionarem que a pessoa vive como se fosse guiada porum piloto automático , usando referências pron-tas – um modo de ação muito comum na vidacotidiana. Trata-se de uma maneira de pensare agir em que o indivíduo confia em categoriaspreviamente estabelecidas e olha o mundo apartir de uma única visão.

Fontes de mindlessness

Uma das muitas fontes de mindlessness con-siste em viver de acordo com hábitos. Padrõesde comportamento bem treinados podem fun-cionar melhor quando a pessoa não pensa. Porexemplo, quando um motorista experientecomeçar a refletir criticamente sobre cada atoque pratica ao volante, será bem mais prová-vel que ele bata o carro do que confie nas suasreações habituais. O mesmo vale para automa-tismos intelectuais que têm seu desempenhoprejudicado quando a pessoa pensa enquantoos executa. Esse fenômeno se mostra particu-

larmente significativo em tarefas de rotina que já foram dominados e automatizados há mui-to tempo. Por outro lado, a reflexão crítica nãotende a prejudicar o desempenho em novastarefas (Langer e Weinman, 1981). Entretanto,quando a pessoa aprende que é melhor con-fiar em procedimentos e maneiras de pensar jáadquiridos, hábitos intelectuais podem tomarconta de áreas importantes da sua vida. Elapode funcionar de maneira confortável, massem ter uma noção clara do que está fazendo.

Outra fonte de mindlessness é o compro-misso cognitivo precoce (Chanowitz e Langer,

1981). Esse conceito descreve o efeito de infor-mações antigas, mas nunca examinadas criti-camente, sobre comportamentos que ocorremem situações novas. Tais informações podemter sido aceitas sem reflexão, no passado, pornão terem sido relevantes e não valer a penapensar sobre elas. Com o passar do tempo, apessoa continua usando essas informações demaneira não reflexiva, mesmo quando estádiante de novas situações nas quais aquela in-formação se tornou muito relevante e deveriaser avaliada cuidadosamente.

Uma terceira fonte de mindlessness é cons-tituída pela utilização de regras rígidas e ob-

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soletas que especificam quais recursos devemser preservados e quais objetivos devem serconquistados. Isso acontece, por exemplo,quando não se percebem as necessidades reaisque existem por trás dos nossos alvos super-

ficiais (Langer, 1989). Alguém pode monopo-lizar todo o trabalho no seu projeto, evitandoque outra pessoa se envolva neste por defen-der o projeto contra cópia por concorrentesmal intencionados; mas, depois de ter o proje-to divulgado, por que continuar a excluir pes-soas que podem contribuir?

A adoção de conceitos socialmente conven-cionados como corretos, sem que haja prévioquestionamento, é considerada uma quartafonte de mindlessness. Um exemplo é a adoçãode uma visão linear do tempo e da causa dos

eventos, em vez de considerar que a realidadeé socialmente construída. Colocar ênfase des-proporcional nos resultados e desvalorizar oprocesso, segundo o qual as coisas ocorrem,pode levar o sujeito a desconsiderar importan-tes aspectos da vivência (Langer, 1989).

Comparar-se frequentemente com outraspessoas é um comportamento que pode se tor-nar um automatismo. Quando isso ocorre semmotivo especial é uma fonte de mindlessness.A comparação automática, muitas vezes, en-volve uma descontextualização de si e do ou-tro. Vieses têm livre jogo na seleção dos com-portamentos a serem comparados e tende-se aconsiderá-los como representativos e prediti-vos de comportamentos futuros da pessoa. Acomparação geralmente desconsidera que, narealidade, não se sabe o que o comportamentodo outro significa e quais são os seus motivos.Finalmente, se a comparação é feita, pessoastendem a generalizar as conclusões sobre si,desconsiderando a complexidade de si e dasatribuições que fizeram (Djikic e Langer, 2007).

Efeitos de mindlessness

Segundo Langer (1989), adotar conceitoslineares, seguir regras ou informações acumu-ladas no passado e confiar em hábitos são es-tratégias que facilitam e simplificam a navega-ção do nosso ambiente social. Por outro lado,a autora aponta que tal simplificação pode serprejudicial em diversas situações. Um exem-plo disso ocorre quando indivíduos são res-peitosos em relação a uma autoridade em ummomento em que precisavam protestar.

Uma oportunidade perdida pode ser com-

preendida diferentemente, se consideradoo amplo processo em que o evento ocorreu.

Quando se seguem cegamente regras rígidas,persistindo em avaliações convencionadas,tais aspectos da vivência são facilmente des-considerados. Pode-se esquecer, por exemplo,que um relacionamento deu sentido a uma

época da vida, mesmo quando não teve resul-tado permanente.  Mindlessness promove umavisão de si limitada por conceitos descritivose papéis. O indivíduo forma um conceito desi baseado em regras rígidas, desconsiderandopossibilidades que estão ao alcance, mas quenão condizem com tal conceito formado.

Viver no   piloto automático potencialmenteleva os indivíduos a cometerem injustiças oucrueldades, sem haver tal intenção, como noscasos de atos preconceituosos e aplicação deestereótipos às pessoas (Langer e Abelson,

1974). Comparações de si com outras pessoas,quando ocorrem frequentemente e de modoautomático, promovem inveja, culpa e atitudesdefensivas desnecessárias que tornam aindamais rígido o conceito de si (White et al., 2006).Sem uma noção clara do que se está fazendo,corre-se o risco de desconsiderar dimensõeséticas importantes do comportamento.

Somando todas essas desvantagens discu-tidas acima, mindlessness gera restrições desne-cessárias em relação à variedade de soluçõesque poderiam ser utilizadas para resolver pro- blemas cotidianos. Não prestar atenção plenaao contexto e não integrar novas informaçõesem nosso olhar pode conduzir a erros impor-tantes de julgamento (Langer, 1989).

As fontes e os efeitos de mindfulness

Langer (1989) define mindfulness pela nega-ção das características de mindlessness. Assim,mindfulness é caracterizado, em um primei-ro momento, pela criação contínua de novascategorias para interpretação das vivências,prestando atenção plena à situação e ao con-

texto. É também resultado de uma abertura ainformações novas e de um foco sobre os pro-cessos complexos. Entretanto, não se trata sim-plesmente de acatar novas informações, poiselas podem inadvertidamente ser distorcidase encaixadas em velhas regras. Algumas estra-tégias conscientes são necessárias para evitarque ocorra tal erro.

A consideração simultânea de diferentespontos de vista é uma importante fonte demindfulness. O indivíduo que pode vir a en-tender a mesma situação de diferentes pers-

pectivas consegue enxergar sentidos que lheescapariam se vivesse a partir de um só ponto

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de vista. Pesquisas com pacientes que sofremde dor crônica pós-cirúrgica indicaram que re-enquadrar a dor pode reduzir o uso de medi-cação e acelerar a recuperação (Langer, 1989).

Langer (1989) argumenta que, em uma crise

vivencial ou em uma psicoterapia, esse tipo derecategorização está mais propenso a ocorrer.Durante o processo psicoterapêutico, a pessoapode enxergar seu cotidiano de outras formase encontrar novos quadros de referência parainterpretar eventos atuais e elementos de suahistória ou, ainda, encontrar diferentes manei-ras de entender a mesma vivência. Assim, elaé capaz de perceber os eventos como parte deum processo e compreender que não faz sen-tido julgá-los isoladamente. Tomando consci-ência do processo, a pessoa julga a si mesma

conforme seus próprios valores.Em um experimento clássico, Perlmuter eLanger (1979) testaram a hipótese de que pes-soas que prestam mais atenção as suas escolhascotidianas tendem a ter um melhor funciona-mento psicológico. Num primeiro grupo, foisolicitado que cada participante monitorassediariamente uma mesma atividade sua. Osparticipantes do segundo grupo foram requi-sitados a monitorar uma atividade diferente,selecionada a cada dia pelos pesquisadores. Ogrupo três recebeu a mesma tarefa que o grupodois, mas, para cada atividade monitorada, osparticipantes deveriam relatar como realizarama atividade e indicar três outras alternativasformas de executar a atividade. O grupo quatrorecebeu a mesma tarefa que o grupo três, masos participantes (e não os experimentadores)escolheram quais atividades monitorar.

Esse delineamento permitiu ao primeirogrupo uma visão focada em resultados: elesrelatavam seu desempenho em uma determi-nada atividade. O quarto grupo era obrigadoa prestar mais atenção no processo. Os pesqui-sadores aplicaram medidas de depressão, in-

dependência, confiança, atenção concentradae diversificação das atividades (criatividade).A comparação das medidas antes e depois daintervenção mostrou que o quarto grupo teveos maiores ganhos nos pontos avaliados. Oterceiro grupo teve melhores resultados queo segundo grupo, que, por sua vez, alcançoumelhores escores que o primeiro.

Promover uma perspectiva flexível aumentaa habilidade de se adaptar ao seu ambiente deuma maneira que faz sentido para a pessoa. Talflexibilidade permite que o indivíduo seja mais

autêntico, veja os benefícios de erros cometi-dos e entenda que avaliações e comparações

sociais são relativas. Esses fatores favorecem aaceitação de si pelo indivíduo (Carson e Lan-ger, 2006), um maior envolvimento no momen-to presente e uma consciência mais abrangentedas relações entre suas ações e as respectivas

consequências (Langer e Moldoveanu, 2000).

Jon Kabat-Zinn e a tradição oriental

Kabat-Zinn (1982) se baseou na sua experi-ência pessoal com a meditação, quando trouxeas práticas budistas para a medicina compor-tamental. Essa contribuição ocorreu no mo-mento em que surgia, no espectro das terapiascognitivo-comportamentais, um campo teóri-co e filosófico fértil, pronto para recebê-la. Anova tendência na clínica era favorável a esse

encontro com a meditação, porque apresenta-va aspectos muito semelhantes aos do budis-mo: ensinava que sensações e emoções negati-vas não devem ser combatidas, mas aceitas deum ponto de vista transcendental; valorizavaemoções positivas, atitude de vida de compai-xão e um desprendimento dos conteúdos con-ceituais (Hayes, 1987; Linehan, 1993).

Origens históricas e absorção naterapia cognitivo-comportamental

A visão de progresso espiritual no budis-mo (Davis, 1969) atingiu diretamente o traba-lho de Kabat-Zinn. Nesta tradição espiritual,os pensamentos, emoções e sentimentos sãocompreendidos como produções de cada in-divíduo. Por isso, não são tomados como re-presentações confiáveis de um mundo real.O praticante budista, assim como o cliente emterapia, aprende a suspender o julgamentoimediato de pensamentos e sensações e encer-ra a luta contra os mesmos. A partir daí, umestilo de vida é construído: deve ser marca-do por compaixão, uma atitude benevolente

a respeito de sentimentos, mesmo que sejamestes desagradáveis, e por determinação, ouseja, por ações que seguem os valores maisprofundos da pessoa.

Para várias correntes do budismo, o ser-mão de Benares, dado por Buda no iníciodo seu ministério na cidade de peregrinaçãoHindu de Benares (hoje Vispasana), resumea essência de seu ensino. Esse sermão desen-volve quatro grandes ideias ou noções: (i) avida é sofrimento; (ii) a origem do sofrimentoé o desejo; (iii) o fim do sofrimento é a acei-

tação; e (iv) a libertação passa por oito corre-ções: da atenção, da concentração, da inten-

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ção, da opinião, da fala, da ação, do esforçoe do caminho de vida (Davis, 1969).

O conceito de mindfulness  , de acordo comos ensinamentos orientais, é uma perspec-tiva que consiste em (i) prestar atenção, (ii)

intencionalmente, (iii) no momento atual, (iv)sem julgar e (v) na vivência enquanto estadesabrocha (Kabat-Zinn, 1990). Essa posiçãoé definida em oposição ao  piloto automático ,descrito por Langer (1989), caracterizado peloviver sem prestar atenção ao momento, base-ando-se em julgamentos feitos previamente eem conceitos categóricos. Mindfulness precisaser adquirido por intermédio de intensa prá-tica, mas, paradoxalmente, consiste em fazeruso de ferramentas que estão à disposição.Para alcançar essa meta é necessário concen-

trar-se em dados sensoriais, no presente, semrecorrer a julgamentos ou conceitos prontos(Kabat-Zinn, 2005).

Treino de redução de estresse

O treino de mindfulness foi inicialmente in-troduzido por Kabat-Zinn (1982) como trata-mento para dor crônica, mas se mostrou eficazpara outros problemas, como, por exemplo, di-versos transtornos de ansiedade (Kabat-Zinnet al.  , 1992). Esse tratamento consiste em prá-ticas de meditação formal e informal, as quaissão baseadas no ensino dos mestres budistas(Kabat-Zinn, 1990, 2005). As primeiras ativida-des formais incluem exercícios de varreduracorporal (body scan) e respiração consciente. Oparticipante aprende a focar intencionalmentesua atenção na vivência imediata, guiada prin-cipalmente pelos dados sensoriais concretos,e a aceitar as vagarias da sua atenção duranteos exercícios. Cada vez que uma preocupação, julgamento ou lembrança se impõe, ele a saú-da, deixa que ela vá embora e volta novamentea dedicar atenção plena ao exercício. A varre-

dura corporal é feita com o corpo imóvel. Aatenção é focada nas sensações em diferentespartes do corpo, ponto por ponto. O pratican-te fica em silêncio e permite que sensações seapresentem, sem tentar controlá-las.

O exercício de meditação com foco na res-piração é realizado em três fases: (i) a pessoaobserva, de olhos fechados, o que acontecedentro dela naquele momento; (ii) observa arespiração; e (iii) aceita as sensações do corpo,colocando todas, agradáveis e desagradáveis,sem discriminação, no mesmo nível. Na me-

ditação com foco nas percepções externas, asmesmas fases são repetidas, mas a observação

da respiração é substituída pela concentraçãoem ruídos ambientais. Outro exercício parainiciantes consiste numa rotina de alonga-mentos feitos diariamente. O objetivo não émelhorar a flexibilidade corporal ou sentir-se

melhor, mas entrar plenamente em contatocom as sensações (tanto as agradáveis quantoas desagradáveis) do próprio corpo e aceitar avivência como ela é (Kabat-Zinn, 1990).

Os exercícios informais consistem em fazeralgo com plena atenção, sem julgamento e semelaboração intelectual, estando realmente pre-sente em cada aspecto do próprio ato. Começacom práticas simples, como comer uma uvapassa, mas prestando plena atenção a todos osseus aspectos, incluindo cheiro, variações decor, textura, sabor. Posteriormente, mindfulness 

pode ser treinado pelo indivíduo enquantofaz caminhada, escova os dentes ou conversaao telefone. Não importa a atividade, pois amaneira de realizá-la é denominada mindful-ness; os exercícios são apenas pretextos (Kabat-Zinn, 2005).

Terapia comportamental dialética

O conceito de mindfulness foi integrado deforma abrangente à terapia comportamentaldialética, desenvolvida por Linehan (1987).A visão teórica que orienta o tratamento con-sidera que a realidade é constituída por opo-sições, e a vivência é inevitavelmente contra-ditória. A melhor opção não é viver semprede acordo com as emoções, nem usar a razãofriamente todo o tempo. Essas ideias são inspi-radas na filosofia oriental que Linehan (1993)integrou no seu trabalho, tanto por influênciade Kabat-Zinn quanto por sua própria práticade meditação Zen. Na terapia comportamentaldialética, o cliente aprende a aceitar vivênciasclassificadas como ruins para poder agir deforma a promover mudanças mais profundas.

A aceitação e a mudança funcionam como pré-requisitos uma para a outra.

Linehan (1993) descreve mindfulness em seishabilidades. Três delas são definidas em termosde “o que fazer?”: observar, relatar/descreverpara si mesmo e participar. As outras habilida-des envolvem um “como fazer?”: sem julgar,com plena atenção e em consonância com seusvalores ou alvos de vida. Na terapia comporta-mental dialética, essas habilidades são treinadasem um grupo que se reúne semanalmente du-rante um ano e realiza atividades que incluem

muitos exercícios formais e informais, sempadronização e atuando, concomitantemente,

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Concepções de mindfulness em Langer e Kabat-Zinn

com outras atividades de regulação emocional.Durante o funcionamento do grupo, os partici-pantes também estão em terapia individual.

Prevenção de recaída na depressão

Em 1991, Teasdale, Segal e Williams fo-ram solicitados por uma fundação de pesqui-sa a desenvolver uma adaptação da terapiacognitiva que pudesse ser usada para pre-venir recaída na depressão. Esta adaptaçãoprecisaria responder ao problema de recaídaque ocorre em muitos pacientes depressivosque foram tratados com sucesso pela terapiacognitiva. Teasdale et al. (1995) perceberamque pessoas que já passaram por episódiosde depressão têm uma tendência de reagir

a sentimentos negativos com respostas cog-nitivas irracionais que, durante os episódiosdepressivos, foram associadas a tais senti-mentos. Para essas pessoas, sentimentos ne-gativos, normalmente inofensivos, resultamem pensamentos automáticos, os quais, porterem sido tão habituais, reiniciam os pa-drões de ruminação mental e as espirais depensamento depressivo.

O grupo de Teasdale cogitou que a terapiacognitiva continha um elemento que poderiaprevenir a recorrência da depressão; a saber,a descentralização ou o distanciamento. Estesdois termos sinônimos descrevem uma ma-neira desprendida de se relacionar com seuspensamentos. O enfoque tradicional da tera-pia cognitiva consiste em mudar o conteúdode cognições negativas. Mas, durante o traba-lho de reestruturação cognitiva, a pessoa podeobservar seus pensamentos e suas crenças deuma maneira mais desprendida e descobrirque os mesmos não são representações confi-áveis do mundo real, perdendo assim o lugarcentral na vivência do cliente. Na terapia cog-nitiva, esta mudança de perspectiva já havia

sido descrita (Beck et al.  , 1979), mas recebeupouca atenção na prática clínica. Os pesqui-sadores hipotetizaram que a exploração desseelemento poderia evitar recaídas.

Teasdale e seus colegas foram auxiliadospor um estudo empírico sobre o tratamentode pessoas com o transtorno de personalida-de borderline. Chamou a atenção de Teasdaleque o tratamento usou a prática de mindfulness (Linehan et al. , 1991) para promover a descen-tralização. Então, Teasdale et al. (1995) propu-seram um programa em que o cliente aprende

primeiro, a partir da abordagem de Linehan,a prestar atenção no que ocorre no momento

presente. Especificamente, ele aprende a iden-tificar os pensamentos negativos enquanto sãoformulados, antes que iniciem a espiral de ru-minação que leva à recaída depressiva. Umavez que o cliente aprende a identificar os pen-

samentos negativos precocemente, o distan-ciamento é promovido usando as técnicas dereestruturação cognitiva de Beck.

Críticas dirigidas a essa primeira tentati-va levaram os pesquisadores a reexaminar aproposta. O contato posterior com o trabalhode redução de estresse de Kabat-Zinn escla-receu para Teasdale e seus colegas que essetratamento não incluía reestruturação dosconteúdos cognitivos, mas buscava promo-ver um tipo de tolerância benévola em relaçãoaos mesmos. Integrando essa característica ao

tratamento, o grupo de Teasdale evoluiu parauma nova forma de terapia cognitiva baseadaem mindfulness  , na qual o participante apren-de, por meio da prática em grupo, a permitirque pensamentos ocorram e não se esforçapara mudá-los, apenas observa a natureza realdeles enquanto eventos passageiros.

O tratamento desenvolvido por Teasdale etal. (2001) e Segal et al. (2002) conseguiu reduzira probabilidade de episódios depressivos. Aspessoas com quem o programa tem os melho-res resultados são as com histórico de muitas

recaídas e as que têm uma tendência forte dereagir com cascatas de pensamentos automáti-cos a uma emoção negativa. Pacientes que já ti-veram mais do que dois episódios depressivosanteriores, normalmente têm um prognósticode 78% de uma nova recaída. O tratamento re-duziu este índice a 36% (Ma e Teasdale, 2004),além de reduzir os sintomas residuais de de-pressão, principalmente aqueles relacionadoscom ruminação mental (Kingston et al., 2007).

 Mindfulness em relacionamentos

Depois de ser introduzido na área clínica,o estudo de mindfulness contribuiu tambémpara uma nova abordagem dos relaciona-mentos interpessoais. Algumas referênciassão discutidas a seguir. Dois campos em queeste assunto é particularmente relevante parao terapeuta são o relacionamento íntimo decasais que procuram tratamento para pro- blemas conjugais e o relacionamento entre opróprio terapeuta e o cliente, que consiste noprocesso central por meio do qual a terapia

ocorre. Em ambos os campos, trabalhos ino-vadores foram desenvolvidos.

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Luc Vandenberghe, Alysson Bruno Assunção

O relacionamento de casal

Fruzzei e Iverson (2004) traduziram o con-ceito de mindfulness – como cultivado na terapiaindividual – para o tratamento de problemas de

casal. O “mindfulness relacional” ocorre no casalquando cada parceiro (i) está atento ao contextodas suas interações, aos alvos em longo prazoe aos valores relevantes para o relacionamento;(ii) participa plenamente no momento, escutan-do o outro sem fazer julgamentos (também nosmomentos de conflito); e (iii) valida o comporta-mento do parceiro. Segundo os autores, validaras ações do outro envolve (a) escutar prestan-do atenção real, sem deixar que suas própriasreações contaminem sua escuta; (b) reconhecero que está acontecendo com o parceiro; (c) re-

sumir e clarificar a perspectiva do parceiro; (d)mostrar-se vulnerável quando o outro se vulne-rabilizar; e (e) demonstrar que a auto-revelaçãodo outro foi aceita.

Burpee e Langer (2005) constataram que ograu de satisfação com o relacionamento decasal se relacionou altamente com o grau demindfulness (ambos verificados por questio-nários) dos parceiros. O grau de mindfulness se mostrou mais importante do que qualquervariável demográfica verificada neste estudo,e também mais importante do que a similari-

dade entre os parceiros em vários aspectos.Estudos de James Carson et al. (2004a), Bro-wn e Ryan (2003), Barnes et al. (2007) e Wa-chs e Cordova (2007), baseados no conceitode mindfulness , da forma proposta por Kabat-Zinn, trouxeram resultados similares.

Shelley Carson et al. (2004b) mostraram quea prática de mindfulness por casais não apenasmelhorou vários aspectos do funcionamentopessoal de cada uma das partes, como tambémaumentou o nível de aceitação do parceiro,assim como a sensação de intimidade, a pro-ximidade emocional e diversos parâmetros da

qualidade do relacionamento. Numa análiseaprofundada de conteúdos de auto-observa-ções feitas diariamente, os autores demonstra-ram que a prática de mindfulness durante de-terminado dia geralmente produzia, por váriosdias consecutivos, uma maior satisfação com orelacionamento e melhor coping em relação aoestresse dentro e fora do relacionamento.

Existe literatura que usa uma situação dediscussão sobre conflitos entre o casal, paraverificar experimentalmente quais mudançaspessoais concretas podem influenciar o rela-

cionamento por meio das mindfulness. Browne Ryan (2003), por exemplo, mostraram que

mindfulness aumenta a abertura para o outro,a clareza na percepção da relação com o ou-tro e o grau de proximidade emocional. Mu-danças no nível pessoal, que são o resultadode mindfulness e que, por sua vez, favoreçam o

relacionamento, incluem aumento de afeto po-sitivo e satisfação com a própria vida. Barneset al. (2007) identificaram que mais mindfulness leva a níveis mais baixos de emoção negativae a uma percepção mais positiva do parceirodurante situações de conflito.

Resumindo os estudos acima, o maior graude mindfulness está relacionado com uma res-posta de estresse mais branda a conflitos rela-cionais, e isso leva a menor ansiedade e hos-tilidade depois de uma discussão. O grau demindfulness (durante a discussão) é relaciona-

do com a qualidade da comunicação (incluin-do menor agressão verbal, menor expressãonegativa e menor ocorrência de recuos pelosparceiros), o que, por sua vez, prediz maior bem-estar no relacionamento de casal.

 Mindfulness promove algumas habilida-des que podem influenciar a qualidade dorelacionamento, como, por exemplo, melhortomada de perspectiva concernindo ocorrên-cias (tanto eventos positivos quanto negati-vos) em relacionamentos e comportamentosmais cooperativos (Brown e Ryan, 2003). Bar-nes et al. (2007) mostram que mindfulness estárelacionado com maior capacidade de intimi-dade e maior capitalização de investimentopessoal numa relação romântica. Wachs eCordova (2007) mostraram que saber identi-ficar emoções e saber expressá-las com plenaatenção em um contexto de conflito ou de iraé um fator capaz de predizer a qualidade dorelacionamento.

Todas essas habilidades ajudam o casala atravessar vivências negativas e negociarnecessidades e sentimentos. A intimidadedo casal contém muitos desafios emocionais.

Maior atenção para o momento atual permitemelhor interação emocional, porque possibi-lita enxergar o outro com menos julgamento eser mais responsivo a ele ou ela. Estar interes-sado na vivência do outro facilita a tomada deperspectiva, ao invés de olhar as coisas de umúnico ponto de vista. Identificar as própriasemoções no momento em que elas desabro-cham permite uma comunicação mais clarae uma resposta mais empática. A habilidadede diferenciar as próprias emoções e a habi-lidade de comunicá-las tende a aumentar a

intimidade no casal (Cordova et al. , 2005; Mir-gain e Cordova, 2007).

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Concepções de mindfulness em Langer e Kabat-Zinn

O relacionamento terapeuta-cliente

Carson e Langer (2004) abordam a importân-cia de mindfulness para profissionais de saúdemental. As autoras apontam para o perigo exis-

tente no fato de o clínico atuar a partir de cate-gorias prontas adquiridas na sua formação oudurante anos de prática. Elas descrevem comotal atuação pode reduzir sua eficácia contextu-al. Um experimento antigo de Langer e Abelson(1974) mostrou que clínicos diagnosticam o mes-mo comportamento de forma diferente quandoa pessoa que o emite é rotulada como pacienteou não. O comportamento é descontextualizadoe interpretado a partir da categoria conceitual“paciente”. Treinar terapeutas a entender os efei-tos de rotulação diminui essa distorção.

O ato de categorizar comportamentos comosintomas e sintomas como algo que precisa sereliminado leva o clínico a desconsiderar o con-texto em que estes comportamentos tem sen-tido (Carson e Langer, 2004). As autoras pro-põem que o clínico considere as informaçõesdiagnósticas sempre como algo fluido e relati-vo e fique atento a como interesses e posiçõesinfluenciam indevidamente seu modo de cate-gorizar os problemas do cliente. Ficar preso nopapel de terapeuta e forçar o outro no papel depaciente tende a ser pouco eficaz, já que ser ca-paz de descobrir novas perspectivas sobre osproblemas do cliente é imprescindível.

Em terapias que privilegiam o relacionamen-to interpessoal com o cliente como instrumentoterapêutico, o terapeuta deve estar plenamenteaberto a sentimentos, sensações e pensamentosque o cliente evoca nele, sem fazer julgamentose sem usar categorias pré-existentes (Kohlen- berg et al.  , 2004). Assim, o conceito relacionalde mindfulness  , como descrito por Fruzzei eIverson (2004) no relacionamento de casal, seaplica também à atitude que o terapeuta precisater no seu relacionamento com o cliente. Koh-

lenberg (2006), nesse ponto, se refere tanto aotrabalho de Langer (1989) quanto à visão orien-tal e propõe uma meditação de saudação parao terapeuta antes da sessão. As instruções paraa meditação são as seguintes:

Sua (seu) cliente está na sala de espera, te espe-rando. Você está no consultório. (i) Sente-se numa  posição confortável, dedique um momento para perceber sua respiração. (ii) Imagine-se de frente para o fluxo de sua história que modelou quemvocê é. Estas vivências incluem o que ocorreu uns

minutos atrás, os eventos de ontem, sua formação,sua infância. Agora esteja consciente da sua (doseu) cliente, na sala de espera, que também estáde frente para o seu próprio fluxo de vivênciasque modelaram quem ela (ele) é, o que vai fazere sentir hoje. Lembre-se que ela (ele) sofre, quetem esperanças e sonhos, que vem até você acre-ditando que você pode ajudar. Lembre-se comosua consciência de comportamentos clinicamen-te relevantes pode ser poderosa e curativa. Estejaconsciente da formulação de caso. Tente construirum ambiente terapêutico que aumente sua cons-ciência de progressos ao vivo, que os evoca e osnutre. Vocês duas (dois) estão no momento de seencontrar. (iii) Levante-se, vá até sua (seu) clientee cumprimente-a (o). (iv) Crie sua própria medi-tação de saudação pré-sessão. Modifique esta me-ditação frequentemente1 (Kohlenberg, 2006, p. 1).

Os estudos sobre mindfulness trouxeramuma nova visão a respeito do papel do tera-peuta. Desenvolveu-se um estilo mindful deconduzir a terapia, caracterizado pela relaçãode igualdade entre terapeuta e cliente, pois opróprio terapeuta deve praticar o que ensinanas sessões. Ele assume que não tem as solu-ções para os problemas do cliente no nível dasmudanças de primeira ordem. Em contraste comas terapias tradicionais, o terapeuta tambémnão deve seguir regras estritas sobre como devese comportar. As intervenções são baseadas

nas perguntas e nos comentários do cliente,concernindo suas vivências, e não na teoria doterapeuta. Ele deve vivenciar o relacionamentoterapêutico com atenção para o momento pre-sente, sem julgar, e deve estar consciente dosseus valores (Kohlenberg et al. , 2004).

Crane e Elias (2006) enfatizam a importân-cia de que o terapeuta tenha abertura para asvivências do próprio corpo e esteja disposto aexplorá-las, de modo a permanecer mais fo-cado na vivência da sessão enquanto esta de-sabrocha. O terapeuta deve estar plenamenteatento a qualquer deslize na tonalidade emo-cional da sessão, para que seja capaz de captarmudanças sutis na maneira em que o cliente oafeta e para que possa reagir com eficácia te-rapêutica. Quando o profissional se dispõe avivenciar a sessão sem forçar o que ocorre emcategorias antigas, ele se permite estar plena-mente presente na vivência de tristeza ou dorprofunda pela qual passa o cliente. Assim, oterapeuta não está traduzindo uma teoria ouum registro normativo para o cliente, mas estáem contato com o que realmente ocorre.

1 Tradução por Luc Vandenberghe, Rafaela Luiza Silva Silvestre e Alysson Bruno Assunção.

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Luc Vandenberghe, Alysson Bruno Assunção

A prática de mindfulness pelo terapeuta au-menta o senso de similaridade com a vivênciado cliente (Crane e Elias, 2006). Já que o tera-peuta também se permite sentir as angústias eas limitações da sua existência, ele terá maior

facilidade em mostrar empatia pela experiên-cia do cliente. Será mais fácil para ele aceitaro momento como este se apresenta e adquiriruma melhor perspectiva sobre seu papel e asimplicações que este tem.

A prática de mindfulness pelo terapeutapermite que ele se aproxime mais da vivênciadireta, ao invés da interpretação teórica dessavivência. Assim, manter-se plenamente cons-ciente no momento em que está se sentindoentediado com o cliente, sem julgar este sen-timento e com sensibilidade ao contexto em

que ele desabrocha, traz algumas vantagens.A atitude benévola frente a um sentimentonegativo permite que o terapeuta mantenha acuriosidade e abertura em relação ao desconhe-cido. O terapeuta não deve tentar evitar ou ig-norar sentimentos negativos que são evocadosnele pelo cliente. Ele pode se permitir senti-losplenamente e explorá-los. Pode se perguntar oque está ocorrendo entre ele e seu cliente queevoca tal sentimento e se isso diz algo sobre ocliente. Ele pode verificar o que o cliente fazpara lhe evocar tal sentimento; pode, ainda,descobrir se o cliente age das mesmas formasem outros relacionamentos e se há relaçãocom seus problemas do cotidiano.

Tal medida é diferente da de usar catego-rias fechadas, como “este cliente não colabora,farei algo para motivá-lo”; ou, ainda, “este pa-ciente não esta querendo nada com a terapia,vou encaminhá-lo”. O uso de categorias pron-tas libera o terapeuta da responsabilidade deaprofundar o que a vivência significa e mostra,muitas vezes, a indisposição do terapeuta emaceitar uma situação que ameaça sua autocon-fiança como terapeuta, ou simplesmente inco-

moda sua rotina.

Integração das perspectivas ocidentale oriental

Langer (1989) ressalta similaridades en-tre as duas tradições discutidas neste artigo.A autora aponta que a meditação promoveum processo de desautomatização cognitivacomparável com as estratégias que ela pro-põe. Categorias antigas, pelas quais a pessoacostumava viver, são também rompidas pela

meditação, e o indivíduo não está mais presoem uma visão unidimensional da realidade.

Assim, nas duas tradições, o desenvolvimentode mindfulness significa maior sensibilidade aocontexto e ao sentido da vivência, permitindoque a pessoa esteja mais apta a agir com plenaconsciência.

Mesmo assim, Langer (1989) enfatiza maisas diferenças. Na tradição oriental, mindfulness tem implicações morais e éticas na vida dopraticante e é resultado de prática espiritual. Aautora aponta que seu conceito de mindfulness está ligado a objetivos mais mundanos, como amelhora da eficácia pessoal, e é promovido porestratégias derivadas da psicologia científica.À primeira vista, a autora tem razão em dife-renciar seu trabalho desta forma da tradiçãooriental. Os programas de Teasdale et al. (2001)e Kabat-Zinn (1990) se apoiam em uma disci-

plina de prática meditativa. Também é verda-de que Kabat-Zinn (2005) descreve a promo-ção, via mindfulness , das responsabilidades doindivíduo para com a sustentabilidade e éticasocial. Terapeutas comportamentais adeptosde Kabat-Zinn consideram a espiritualidade, a busca da harmonia, o comprometimento comos valores e a ética como aspectos centrais dasaúde mental (Dimidjian e Linehan, 2003).

A teorização de Langer (1989) a esse res-peito, porém, não se distingue tanto da tra-dição oriental quanto a autora parece sugerir.A autora também trata de implicações morais,quando aponta a crueldade não intencionalque a mindlessness pode promover. Quinzeanos mais tarde, quando ela volta a afirmara distinção entre o conceito por ela propostoe o conceito proveniente da tradição budista,a distinção fica ainda menos convincente. Aprincipal diferença reside no fato de que o con-ceito da autora não está relacionado à práticade meditação (Carson e Langer, 2004).

Por meio da trajetória delineada pela li-teratura, observa-se que as duas tradiçõespartilham um entendimento do sofrimento

humano e suas origens (usar conceitos fecha-dos, manter uma perspectiva estreita, agir semprestar atenção). Ambas promovem soluçõessimilares (reconhecer e assumir as próprias es-colhas, ampliar a percepção de contextos, es-tar aberto à vivência do momento como ela é,tomar perspectiva). Além disso, trazem consi-derações semelhantes para o trabalho terapêu-tico, tanto em relação à abordagem dos proble-mas do cliente quanto para o aprimoramentoda sua própria eficácia pessoal e profissional.Por esses motivos, é sugerido que o clínico se

 beneficie das duas literaturas para a sua atua-ção, sem reservas.

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Submetido em: 22/06/2009Aceito em: 04/09/2009