conexão planetaria

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Comu ni ca ção& So cie dade R ESENHAS

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Comunicação&Sociedade

RESENHAS

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Uma análise filosóficae teológica da

globalização

LÉVY, Pierre. A conexão planetária: o mercado, o ciberespaço e aconsciência. São Paulo: Editora 34, 2001. 189 p.

O pensador francês Pierre Lévy é hoje considerado um “antropó-logo e filósofo do ciberespaço”. Esse fato incomoda certos acadêmicosacostumados a estudar os fenômenos humanos e sociais a partir deuma visão positivista das ciências, que elimina a reflexão filosófica daanálise dos fatos. Os escritos de Pierre Lévy apresentam uma duplaanálise, filosófica e cientifica, dos fenômenos provocados pelaglobalização.

A posição critica do autor explica a rejeição da sua obra por nu-merosos pesquisadores universitários. Sua leitura implica a postura des-crita por outro filósofo e sociólogo francês, Lucien Goldmann, no li-vro Ciências humanas e filosofia (São Paulo, Difel, 10a. ed., 1986, p. 16):“Se a filosofia traz verdades sobre a natureza do homem, toda tentativade eliminá-la falseia necessariamente a compreensão dos fatos humanos.As ciências humanas devem ser filosóficas para serem científicas”.

É a partir destas premissas que se analisará a mais recente obrade Pierre Lévy, Conexão planetária. Para entender o texto, é preciso acei-tar a regra estabelecida pelo autor no prefácio: “Não prometo ao leitoruma verdade cientifica, prometo apenas que, após ter lido honestamenteo livro, ele verá mais amplamente” (p. 12).

Segundo a Editora 34, “A conexão planetária combina budismo einternet, genética e economia para traçar uma síntese do desenvolvi-mento da humanidade, desde a dispersão pelo planeta no paleolítico atéo mundo de hoje interconectado e digital”.

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Um dos temas principais do livro é a unidade da espécie humana– unidade do corpo e do espirito, mas também unidade da cultura e doconhecimento e unidade da economia e da tecnologia da humanidade:“Isso diz respeito, talvez, tanto à humanidade global quanto às pessoas.Sua integração harmoniosa não pode ser atingida senão por umasincronia, uma reconciliação de seu corpo e de seu espírito. Mais quepôr a cultura, a inteligência e a espiritualidade de um lado, a economiae a técnica do outro, talvez devêssemos nos conscientizar de que as di-mensões materiais e espirituais estão ligadas de tal forma que provavel-mente só existe uma única realidade interdependente, mas que nossosrecortes conceituais dividem artificialmente” (p. 59).

O objetivo do capitulo “A economia virtual” é mostrar que a eco-nomia contemporânea “revela uma dinâmica da inteligência e da cons-ciência coletiva e que, então, não há lugar para separar as atividadestécnicas e materiais das instâncias intelectuais e espirituais da humani-dade” (p. 59). As transformações sociais provocadas pela globalização– verdadeira mutação antropológica – levam o autor a colocar quatroproposições (p. 59-60), que são desenvolvidas ao longo do capitulo:1. A economia se torna uma livre economia da informação e do co-nhecimento; 2. Conseqüentemente, a inteligência coletiva se torna umaespécie de economia de mercado ampliada; 3. No ciberespaço se entre-laçam o mercado, o processo da inteligência coletiva e o crescimentodinâmico do saber; 4. O ponto de junção entre a economia e a inte-ligência é provavelmente a capacidade de escuta e de manipulação daconsciência coletiva que flutua nos milhões de canais do ciberespaço.

No fim da reflexão sobre a economia virtual, Pierre Lévy inter-pela o economista, o acadêmico e até o religioso: “Oiko-nomia, emgrego arcaico, significa a legislação ou o governo da casa. Como man-ter e embelezar a casa, a maior casa, a sociedade humana e seu pla-neta, ao invés de degradá-la? Aí está a principal questão colocada aohomo economicus, que não está mais separado do homo academicus, nem dohomo spiritualis” (p.123).

Outro capítulo é “A subida na direção da noosfera”. A palavra“noosfera” é um neologismo composto da palavra grega “noos”, quesignifica espirito, e da palavra “sphera”, que significa universo. Po-

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demos então definir a “noosfera” como o universo do espirito. Elaserá, segundo o autor, “uma nova convergência do espirito humano” (p.151). É no ciberespaço que se realiza a alquimia da cultura universale se cria um imenso hipertexto. “O ciberespaço será o principal pontode apoio de um processo ininterrupto de aprendizagem e de ensino dasociedade por si mesma. No ciberespaço, todas as instituições humanasirão se entrecruzar e convergir para uma inteligência coletiva sempre ca-paz de produzir e explorar novas formas” (p. !52).

A construção da noosfera e do ciberespaço questionam seriamen-te a educação. Pierre Lévy propõe para as novas gerações “uma edu-cação humanista do ser integral, segundo a qual cada jovem seria levadoa percorrer aceleradamente a expansão da consciência universal e in-citado a persegui-la” (p. 155). E conclui afirmando: “A verdadeiraeducação e a verdadeira aprendizagem fundem todas as disciplinas emuma apreensão global para a qual a aprendizagem de si é tão importan-te quanto o conhecimento do mundo. Um conhecimento de si quefinalmente nos leva a perceber que somos, todos juntos, uma consciên-cia iluminando o mundo” (p. 156).

O último capitulo começa com uma corajosa profissão de féepistemológica do autor: “O mundo não precisa de critica, o mundoprecisa de amor. È somente quando amamos o mundo que ele se rendea nós e nos entrega seu sentido. O amor é o microscópio mais potente.O amor é o telescópio mais sensível. O amor é a maravilha observada.O amor é o olho que olha” (p. 158).

Desde as primeiras palavras de A conexão planetária Pierre Lévyvem fazendo à humanidade uma grande pergunta: “Quando que a mai-oria das pessoas irá enfim se dedicar à ciência e ao amor?” (p. 11). Olivro caminha para este desfecho: não há ciências humanas e sociaissem filosofia. A contemplação do novo universo leva o autor à reve-lação do amor divino: “Temos algum escrúpulo em empregar a palavra‘Deus’ para designar essa desordem eterna, essa ordem perfeita, essacrepitação de existência em todos os tons, essa unidade do todo, essametamorfose infinita berrando de amor, essa solidão absoluta, eu, você,essa paz real” (p. 184). Esse desfecho vai além das afirmações do pri-meiro parágrafo desta resenha; os fenômenos humanos e sociais não

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somente devem ser contemplados pela ciência e pela filosofia, mastambém pelo conhecimento teológico.

Pierre Levy encerra A conexão planetária com uma visão místicado mundo: “À medida que o universo se distancia no tempo do big-bang físico, a liberdade humana o leva em direção a um big-bang espi-ritual que o transporta para a dimensão do amor”.

Jacques VigneronDoutor em Ciências Humanas pela Université de Paris VIII,

educador, professor do Programa de Pós-Graduação

em Comunicação Social da Umesp.

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O Verbo se faz palavra:uma tautologia

com sentido

KUNSCH, Waldemar Luiz. O Verbo se faz palavra: caminhos da co-municação eclesial católica. São Paulo: Paulinas, 2001. 316 p.

É urgente que se tenha e se trace um perfil abrangente do pen-samento da Igreja Católica do Brasil sobre a comunicação social. Maisainda, que se cartografem os caminhos percorridos peloscomunicadores sociais católicos no Brasil, suas lutas e reflexões, nãosomente para iluminar a prática comunicacional, mas também paraestabelecer os limites da área e seu esforço para constituir aracionalidade da comunicação social como campo científico.

Esta tarefa, nos inícios do terceiro milênio, torna-se cada vezmais necessária. O esforço despendido, no Brasil e na América Latina,para pensar a comunicação a partir de nossa realidade, teve na IgrejaCatólica uma aliada de peso. O conjunto desse esforço está espelhadoem diversas obras de autores conhecidos no campo acadêmico e pro-fissional. Entre eles, destacamos Attilio Hartmann, Ismar de OliveiraSoares, Nivaldo Pessinatti, Joana Puntel, Helena Corazza, AnamariaFadul, Ralph della Cava e o autor desta resenha, sem esquecer oorientador de todos, José Marques de Melo. Menção especial mereceo inspirador dos comunicadores cristãos, Frei Romeu Dale.

No campo acadêmico, deve-se ressaltar a contribuição ímpar doPrograma de Pós-Graduação em Comunicação Social da UniversidadeMetodista de São Paulo. Foi ali que vários dos pesquisadores citadosencontraram guarida para suas inquietações, sob a orientação precisado mestre Marques de Melo. Recentemente, o mesmo programa, sobos auspícios da Cátedra Unesco-Umesp de Comunicação, realizou um

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seminário onde buscou resgatar as contribuições de marxistas e cristãospara o a definição do pensamento sobre comunicação social na AméricaLatina. Protagonismo especial desempenhou, nesse contexto, o pensa-mento elaborado pela Igreja Católica, principalmente no Brasil.

O livro O Verbo se faz palavra, produto da dissertação de mestradode Waldemar Luiz Kunsch, aborda a comunicação eclesial católicacomo objeto de pesquisa dentro da academia brasileira. O autor fazum levantamento da pesquisa brasileira da comunicação eclesial, comum recorte que vai de 1974 até o final de 2000, para, em seguida, deter-se na análise das seis teses produzidas nos programas de Pós-Gradu-ação em Comunicação e que, no seu pensamento, são paradigmáticas.

Pela sua abrangência e pelo fato de retormar idéias e pesquisas de-senvolvidas pelos pesquisadores acima mencionados, o livro assume umcaráter especial. Ele reúne o que estava disperso e lhe dá uma organicidadee uma racionalidade. Depois de um prólogo e uma introdução, o autordebruça-se sobre o seu objeto, abordado em duas partes. A primeira, comtrês capítulos, analisa a pesquisa da comunicação eclesial. Ela é importante,pois introduz o leitor nas tendências dos estudos eclesiais, com o papel daacademia na pesquisa sobre o assunto e a busca das fontes da comunicaçãoda Igreja. Nessa parte são traçadas as grandes linhas da comunicação daIgreja, bem como é esboçado o grande marco onde se inscreverá a segundaparte do trabalho. Esta buscará identificar pontos fortes da comunicaçãoeclesial nas teses que sobre ela foram escritas. A obra se fecha com umepílogo que se abre para novos estudos e incentivos.

Evidentemente, cada obra é reflexo de quem a realiza, com suasopções, sua visão de mundo e sua ideologia. Essa condição do autordeve ser respeitada por quem o avalia. Ao analista cabe, apenas, verifi-car a coerência e pertinência do estudo. Ora, o trabalho de WaldemarKunsch é pertinente, coerente e, na provisoriedade do momento, com-pleto. Entretanto, também em nome da coerência, é justo que se façaum pequeno reparo ou, talvez, um reforço nos esclarecimentos que opróprio autor traz em diferentes passagens do livro.

Há, neste, uma crítica velada às universidades católicas com pro-gramas de pós-graduação em Comunicação Social, de não terem aindaproduzido trabalhos acadêmicos sobre a comunicação católica. Três sãoas instituições que entram em questão: a Pontifícia Universidade Cató-

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lica de São Paulo, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos e aPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Ora, é precisonotar que as duas últimas só recentemente tiveram seus programasaprovados pela Capes e, concretamente em termos de doutorado, ape-nas agora estão começando a ter defesas de teses. Enquanto isso, aprimeira já possui uma trajetória maior.

Além disso, os temas de dissertações e teses não estão relacionadoscom a idade dos programas. Eles dependem das áreas de concentração edas linhas de pesquisa dos programas, por um lado, e da opção específicado candidato, por outro. No mais, é necessário que, nos respectivos pro-gramas, existam pesquisadores habilitados e dispostos a orientar projetosna área. No caso específico da Universidade Metodista de São Paulo e daUniversidade de São Paulo, grande parte dos estudos deve-se ao incentivoe à orientação pessoal de José Marques de Melo, profundo conhecedor dacomunicação católica. O mesmo se deve dizer de Ismar de Oliveira Soares.

Não obstante, essa pequena chamada no sentido de uma precisãoainda maior, por parte de quem se sentiu de alguma forma atingido pelacrítica, não prejudica nem invalida a qualidade da obra. Até mesmoporque, como o leitor poderá notar, o próprio autor também anotouessas ressalvas, de forma explícita e implícita.

Falta, ainda, explicar o título dado a esta resenha. Obviamente,dizer que o verbo se faz palavra é uma tautologia. Entretanto, pode-seentender que o Verbo, com maiúscula, é a palavra divina, que, encarna-da na palavra eclesial e focalizada na palavra dos pesquisadores, é o ob-jeto da obra. Nesse caso, trata-se de uma tautologia plena de sentido.

Uma nota, ainda, sobre o público a que se destina o livro. Este ésuficientemente amplo para servir de base para o agir eclesial em co-municação e de fonte de referência para os diversos programas de pós-graduação em Comunicação Social do Brasil. Poderá contribuir tambémpara o aprofundamento dos estudantes de graduação dos diversos cur-sos de comunicação.

Pedro Gilberto GomesDoutor em Comunicação pela ECA-USP,

professor titular do Programa de Pós-Graduação

em Ciências da Comunicação da

Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

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O votointeligente

LIMA, Venício A. Mídia, teoria e política. São Paulo: Editora da Fun-dação Perseu Abramo, 2001. 365 p.

Há um curso condensado que reflete sobre a propaganda polí-tica no Brasil, lançado recentemente por um dos mais expressivos pes-quisadores deste campo, Venício Artur de Lima. Sim, um curso, em for-mato de livro, porque o seu Mídia, teoria e política reúne algumas dasmais expressivas contribuições do autor para pensar e planejar estecampo instigante que emerge como possibilidade de estudo no Brasil.

A primeira aula do curso é dada por Nita Freire, esposa dePaulo Freire, com quem Venício conviveu por vários períodos nas suasandanças entre o Brasil e o exterior. E como se apresentasse o autor aum grupo novo de alunos, entre outras considerações, afirmou que “sesentia feliz por apresentá-lo, para também testemunhar, como PauloFreire, que, querendo um bem enorme a ele, o respeitou como intelec-tual e o quis como amigo dileto.”

Passado certamente o impacto da apresentação, Venício vaidescortinando aos seus prováveis alunos – leitores deste livro – asaulas que pretende dar no decorrer do curso e de que forma elas ga-nharão sentido de conjunto ao final. Apresenta na primeira aula umadiscussão saudável e estimulante sobre a complexidade do campo dacomunicação social à luz de algumas teorias, entre as quais oatualíssimo conceito de comunicação emitido por Paulo Freire.

E pede de antemão que os alunos leiam o texto base da aulaseguinte, onde traça os cenários da evolução da comunicação cono in-

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dústria no Brasil, fala dos efeitos da globalização nas políticas públicase as privatizações ocorridas entre 1995 e 1998 e coloca um aviso im-portante no pé da lousa virtual: o famoso Conselho Nacional das Co-municações, uma conquista do período da formulação da Constituintena década de 1980, não saiu ainda do papel.

Já na terceira aula, Venício fala com o coração daquilo de quemais gosta e que mais aprecia, a política e seus reflexos na mídia, des-tacando dois estudos que se tornaram clássicos e obrigatórios para to-dos os que partilham deste campo da propaganda política. Reapresentao conceito de representação política, o CRP, conseguindo confirmar,com bases científicas sólidas, que algumas eleições são decididas antes,bem antes de o próprio eleitor ir às urnas; e confirma isso com outroestudo clássico, sobre a retomada das eleições diretas no Brasil, em1989, ganhas por Fernando Collor de Melo, segundo Venício, seis mesesantes do dia formal de votação.

Na última aula, discute questões ligadas ao telejornalismo contem-porâneo, mostrando um estudo de caso sobre o DF-TV, em Brasília,além de um estudo comparado entre o Jornal Nacional e o Jornal daRecord, para apontar tangenciamentos e discrepâncias entre eles.

Antes de fechar o curso, Venício nos incentiva a pensar osparadigmas da comunicação no plano teórico, reflete sobre a conjuntura damídia industrial, avança competentemente pela política e encerra com boaslições sobre o que dizem e o que deixam de dizer os mais representativostelejornais brasileiros contemporâneos, oferecendo mesmo parâmetros depesquisa para quem quiser repetir a experiência em outros locais.

Para aqueles alunos que sentirem vontade, necessidade e interesse dese aprofundar nas questões levantadas, Venício ainda oferece, no final docurso, 24 páginas de referências bibliográficas nacionais e internacionaiscontemporâneas para que seus leitores continuem a percorrer o roteiro queele criteriosamente selecionou para ser publicado em livro. Que certamentepode/deve ser um bom roteiro para professores, pesquisadores, alunos degraduação e de pós-graduação, para que façam uma leitura agradável, como necessário bom-senso pedagógico, capaz de entusiasmar quem pega olivro na primeira página e só o consegue largar na página 365.

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Trata-se de um livro que pode/deve virar um curso. Um livropara se ler, reler, guardar, consultar sempre, estudar, refletir sobre seuconteúdo.Um livro que fala sobre histórias deste Brasil a partir do olharatento e da informação precisa de seu autor, que, entre outras qualida-des, possui uma incomum: foi escolhido para ser um dos amigos diletosde Paulo Freire, um pensador cujas contribuições à superação das de-sigualdades sociais no Brasil e no mundo são insubsitituíveis.

Mais ou menos como as contribuições que Venício oferece ago-ra aos seus amigos, ex-alunos e sempre discípulos.

Adolpho QueirozDoutor em Comunicação Social, professor do

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Umesp,

editor da revista Comunicação & Sociedade.

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Comunicação e folclore:resgate e atualização

de Luiz Beltrão

MARQUES DE MELO, José (Org.). Mídia e folclore: o estudo dafolkcomunicação segundo Luiz Beltrão. Maringá / São Bernardo doCampo: Faculdades Maringá / Cátedra Unesco-Umesp, 2001. 232 p.

Mídia e folclore é mais uma contribuição acadêmica para o resgatee a atualização da teoria da folkcomunicação de Luiz Beltrão, resultadoda iniciativa do titular da Cátedra Unesco-Umesp de Comunicação parao Desenvolvimento Regional, José Marques de Melo. A coletânea reúnetextos de diferentes autores e de épocas diversificadas. Além do próprioorganizador da coletânea, outros pesquisadores que há tempos se de-têm no exame das idéias de Beltrão também foram convidados paracompor essa nova obra de retomada dos estudos folkcomunicacionais.Entre eles destacam-se Roberto Benjamin, Osvaldo Trigueiro e JosephLuyten. Os textos de todos eles compõem a primeira parte do livro,intitulada “O campo da Folkcomunicação”, uma espécie de introduçãoà segunda parte, que apresenta uma dúzia de textos escritos pelo pró-prio Luiz Beltrão.

Na primeira parte, os autores demonstram profundo conhecimentoda vida e obra de Beltrão, oferecendo explicações que ajudam a situar oleitor no universo das pesquisas sobre folkcomunicação e, em especialsobre a trajetória de Beltrão. Um exemplo é o texto de José Marques deMelo, “Folkcomunicação: a comunicação do povo”, em que o autor vaialém da biografia e da história de vida de Beltrão e de fontes documen-tais deixadas pelo próprio pioneiro do estudo da folkcomunicação noBrasil, para explicar o porquê da existência de duas vertentes aparente-mente antagônicas no pensamento de Beltrão: o estudo sistemático sobre

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a produção do discurso jornalístico (considerado na época um produtoda cultura burguesa) e as análises sobre a comunicação popular, aquelaque resultou da marginalização social, política, econômica e cultural dapopulação rural e das periferias urbanas. A que se deve esse “segundo fioda sua obra acadêmica”?, indaga Melo.

E aí nos deparamos com os argumentos de que a explicação pes-soal de Luiz Beltrão para seu interesse pela folkcomunicação tem origemna sua atividade profissional como repórter, ou seja, a segunda vertentede seu pensamento seria conseqüência da primeira. Isso porque, em suarotina de reportagem, teve que cobrir fatos cujos protagonistas foram, namaioria das vezes, pais de famílias pobres ou desempregados, conduzidosao crime para dar sustento aos filhos, além de mulheres que, pelas cir-cunstâncias sócio-econômicas, não tiveram outra alternativa senão a pros-tituição, sem contar com crianças abandonadas que “aprenderam nas ruasa defender-se contra uma ordem social injusta e desumana” (p. 27).

Entretanto, na visão de Melo, essa explicação, mesmo tendo sidoconstruída pelo próprio Luiz Beltrão, não é suficiente para entender seuinteresse pelo campo da Folkcomunicação. E aqui nos deparamos comuma forma de análise original e consistente, que demonstra pleno conhe-cimento da biografia e das idéias de Beltrão, bem como domínio dométodo biográfico (lembra o estudo de Norbert Elias sobre a vida e obrade Mozart e as condições de produção do campo cultural de sua época).Vale a pena transcrever os argumentos de Melo acerca da questão:

Aprofundando a análise da biografia de Luiz Beltrão, vamos iden-tificar certos traços que, se foram decisivos, exerceram forte impactopara sua dedicação ao estudo da comunicação do povo. Sua velhaamizade com o líder socialista Francisco Julião, patrono das LigasCamponesas no Nordeste, certamente o afetou naquela inclinação in-telectual. Seu convívio (hoje interrompido) com o líder comunistapernambucano Paulo Cavalcanti, ele próprio um apaixonado pelo cordelde época, inegavelmente exerceu alguma influência. Sua participaçãoativa na vida do sindicato dos jornalistas, de que aliás foi presidentemais de uma vez, e sua militância na federação nacional da categoria oconduziram a ter mais claro o antagonismo entre patrões e empregadosna sociedade de classe (p. 27).

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Ainda na primeira parte, cabe mencionar três textos de RobertoBenjamin que se voltam para a aplicação e atualização das idéias deBeltrão em processos e contextos comunicacionais específicos, desta-cando os veículos de manifestação da cultura popular; os novos espa-ços, fluxos e abrangências da folkcomunicação e os estudos de narra-tivas populares que o autor denomina de “folk-medias”.

No primeiro caso, Benjamin parte da premissa de que todas associedades tradicionais encontram alternativas e formas específicas decomunicação que preenchem as funções exercidas pelos meios de co-municação convencionais das sociedades urbanas e industriais. Nas co-munidades que ficam à margem do desenvolvimento econômico, urba-no e tecnológico, “os canais populares atuam como intermediários entreas elites e as massas, retransmitindo as mensagens, depois de elabora-das” (p.19). Com essa premissa, o autor resgata a origem histórica doconceito de folkcomunicação desenvolvido por Beltrão, cuja matrizforam os estudos a respeito da comunicação em múltiplas etapas deLazarsfeld, com destaque para o papel desempenhado pelos líderes deopinião e pelo contexto comunitário, com ênfase para comunicaçãointerpessoal e as influências dos grupos sociais primários e secundários.

No segundo caso, Benjamin analisa as manifestaçõesfolkcomunicaionais e sua relação com a cultura de massa, destacandoque, no contexto atual, a comunicação popular não se restringe mais aformas de comunicação que ficam à margem da mídia. O que ocorreatualmente são modos de apropriação de tecnologias da comunicaçãode massas e o uso dos canais massivos por agentes da cultura folk eapropriação de elementos dessa cultura pela indústria cultural. Essaconcepção do autor é complementada em seu terceiro texto “As narra-tivas populares como folk-media”, no qual ele analisa a cantoria, ocordel, os folguedos, o bumba-meu-boi e o mamulengo.

A segunda parte do livro, como já assinalamos, apresenta dozetextos escritos pelo próprio Luiz Beltrão. São artigos sobre teoria emetodologia da folkcomunicação, além de estudos de casos em que oautor aplica seus pressupostos teóricos e sua proposta metodológica.

Com o primeiro aspecto relacionam-se oito textos: (1) teoria dafolkcomunicação: os agentes folclóricos como líderes de opinião; (2)

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mediações comunicacionais: relações entre mídia e folclore; (3) comu-nicação popular e região no Brasil; (4) o folclore como discurso; (5) osistema da folkcomunicação; (6) a pesquisa da folkcomunicação; (7) ointeresse pela folkcomunicação; (8) a folkcomunicação não é uma co-municação classista.

Como podemos perceber, trata-se de um amplo leque de pesqui-sas com um enfoque igualmente diversificado, que inclui o estudo dosefeitos; do processo folkcomunicacional; de seus agentes, mediações eintermediações; de aspectos históricos, sociais e culturais; de relaçõesinterpessoais; movimentos cívicos, políticos, religiosos e festas popula-res. Tudo isso com a preocupação de entender o contexto teórico, aca-dêmico e cultural em termos gerais, mas com os olhos voltados para asraízes brasileiras, com suas complementações e antagonismos regionais.Luiz Beltrão já seguia o chamado “modo de pensar global e agir local”,ou seja, seu pensamento já se mostrava com “antena” e “raízes”.

Um exemplo claro disso é o texto “Comunicação popular e regiãono Brasil”, o qual é aberto com a seguinte frase: “não há melhor labo-ratório para a observação do fenômeno comunicacional do que a re-gião” (p.153), considerada por ele ao mesmo tempo palco e ator da co-municação e das diversas manifestações da cultura popular, que envol-vem um processo complexo de intercâmbio “de idéias, informações esentimentos”, mediante a utilização de linguagens verbais e não-verbaise de “canais naturais e artificiais empregados para a obtenção daquelasoma de conhecimentos e experiências necessárias à promoção daconvivência ordenada e do bem-estar coletivo” (p.153).

É com base nesses pressupostos, aqui apresentados de forma pa-norâmica e sintética, que Beltrão realiza os quatro estudos monográficosincluídos na coletânea em apreciação, sobre casos específicos de manifes-tações folkcomunicaionais: (1) O ex-voto como veículo jornalístico; (2)Almanaque de cordel: veículo de informação e educação do povo; (3)Videntes & volantes; (4) As piedosas recordações.

São estudos que mesclam descrição e análise de forma hábil e cri-ativa. Ele se detém em todas as minúcias de códigos, mensagens eespecificidades comunicacionais, destacando sempre a força do sentidoinstaurado pelo verbal e o não-verbal. Concentra-se na descrição deta-

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lhada dos objetos, entendendo-os como elementos de comunicação ou“transobjetos”, como no caso dos ex-votos, peças em madeira, cerâmi-ca, tecido, cera, papel, fita, linha, cordão, papelão, cartolina, chifre,gesso, pedra-sabão, coco e até plásticos. São “transobjetos” porquetranscendem a sua própria condição material e adquirem um valor sim-bólico, que comunica idéias, valores e conceitos por meio das formas,cores e outros elementos que oferecem a chave para “decodificarmosas mensagens contidas nas peças expostas no altar ou nas paredes docentro devocional” (p. 212).

Ao descrever de forma tão minuciosa esses elementosfolkcomunicacionais, Beltrão consegue, ao mesmo tempo, realizar pro-fundos exercícios de análise funcional e cultural, a exemplo da pesquisasobre os almanaques de cordel e sobre os elementos sincréticos presen-tes nas ciências ocultas e na piedade popular. O cordel, por exemplo,é associado a manifestações culturais típicas do Nordeste brasileiro e doimaginário de sua população, sobretudo do semi-árido: a seca, a chuva,os rios, os brejos, a cultura do algodão, do milho, da mamona etc. Éuma forma de comunicação que, como ele mesmo destaca, inteligente-mente, “inseria as mais curiosas e estranhas informações para a vidadiária do matuto” (p. 216). O mesmo ocorre com as ciências ocultas ea piedade popular. Suas mensagens são sempre voltadas para o universodo cotidiano do receptor, tendo como eixo quase sempre desejosmateriais: cura, fortuna, fartura, casamentos, felicidade, paz, saúde.

A esperança é o capital simbólico por excelência dos ex-votos, docordel, do ocultismo e da piedade popular nos processosfolkcomunicacionais analisados por Beltrão. No estudo sobre “Videntese volantes” chama atenção a pesquisa de campo que ele realizou emBrasília, considerada por ele uma cidade em que proliferam de formagigantesca os “vendedores de ilusão”, sobretudo nas chamadas cidades-satélites, para os migrantes sem referências culturais, recém-chegadosdas mais diversas regiões do País, à procura de emprego. Mas, observaBeltrão, as videntes estão presentes em todas as regiões do Brasil: “indoe vindo, espraiando-se como ondas do oceano sobre as areias, as viden-tes estão, como citamos, no Recife e em Porto Alegre, e também emSergipe...” (p. 228).

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O texto que fecha a coletânea, voltado para a análise das “piedosasrecordações”, analisa as mensagens impressas distribuídas a familiares eamigos de pessoas falecidas, um rico material de pesquisafolkcomunicacional na visão de Beltrão, pela presença das gravuras reli-giosas (Jesus coroado de espinhos; a agonia no Horto das Oliveiras; amorte na cruz; a ressurreição; e a imagem de santos como a VirgemMaria, São José, Santo Antonio, etc.). Além disso, ele destaca ainda asmensagens impressas que misturam o sagrado e o profano, com a mesclade trechos bíblicos e declarações de afeto de familiares e parentes ou ain-da epítetos do tipo “piedosa recordação de Fulano”; “ao esposo, ao pai,ao amigo de todas as horas nossa homenagem de permanente amor esaudade”. São veículos que comunicam a esperança e transformam a dorem mensagem lúdica e solidária, em união e confraternização fúnebre.

Enfim, os textos selecionados oferecem uma amostra da concep-ção teórica, metodológica e empírica do pioneiro dos estudosfolkcomunicacionais no Brasil, contribuindo não só para divulgar suasidéias e as de seus estudiosos da atualidade, mas talvez para inspirarnovos e possíveis aventureiros na pesquisa em comunicação e culturanas mais diversificadas regiões do Brasil, com todas as suas diversidadese complexidades.

Antonio Teixeira de BarrosDoutor em Sociologia e mestre em Comunicação,

professor do Curso de Comunicação do UniCeub,

pesquisador-associado do Programa de Pós-Graduação

em Comunicação da UnB.

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Voces yparticipación

ciudadana

CAMACHO, Carlos. Las radios populares en la construcción de laciudadanía: ensñanzas de la experiencia de Erbol en Bolivia. La Paz:Centro Interdisciplinario Boliviano de Estudios de la Comunicación,2001. 276 p.

El particular interés por lo que la comunicación, la cultura y lapolítica suponen a la luz de las reflexiones teóricas de Jesús Martín-Barbero, desde su resonancia en la floreciente concepción de losmedios de comunicación masiva como agentes mediadores en laconstrucción de ciudadanías, encuentra en la reciente obra del bolivianoCarlos A. Camacho Azurduy un vivificante punto de referencia.

El libro, titulado Las radios populares en la construcción de ciudadanías.enseñanzas de la experiencia de Erbol en Bolivia, trabaja sobre la base de unestudio originalmente presentado por su autor como tesis de maestríaen Comunicación y Desarrollo en la Universidad Andina Simón Bolívar(UASB) – Oficina La Paz El autor, como una palmaria muestra de quela pasión temática y la rigurosidad metodológica no son incompatibles,aborda el rol de las radioemisoras populares de la Asociación deEducación Radiofónica de Bolivia (Erbol) como espacios públicosgestores de ciudadanía en lo local a partir de diversos ámbitos comu-nicativos complementarios, a saber, el discurso radiofónico, la oferta in-formativa noticiosa, la incidencia de la opinión pública y la generaciónde participación radial entre los oyentes. De esta forma, el trabajo deCamacho, a tiempo de inscribirse en el concierto reflexivo en torno ala re-definición de los medios de comunicación en contextos democrá-

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ticos, provee de adecuados insumos teórico-empíricos al hasta hacealgunos años en Latinoamérica intransitado campo de la comunicacióny la construcción de ciudadanías.

Para su consideración pública, la investigación fue estructurada entres partes. La primera, compuesta por tres capítulos, formaliza un in-tento de análisis de las corrientes teóricas contemporáneas acerca de laciudadanía y sus repercusiones en el área del desarrollo y la educaciónciudadana desde una óptica crítica de la modernidad, así como de susinflujos terminales en Bolivia a partir de una lectura histórica de agen-das públicas de participación popular y de potenciación de ciudadaníasen contextos democráticos. La segunda, integrada por los capítuloscuarto y quinto, concentra un interés por precisar conceptualmente elsentido actual de radio(s) popular(es) y, complementariamente, analizarlos ámbitos en los que las mismas plasman su cotidiana acción comu-nicativa. La última parte, cuya conformación completa los diez capítulosdel libro, da cuenta de un examen de la mencionada asociación desdela perspectiva de su labor de comunicación educativa para el desarrollocomo motor de mediación en la estructuración de identidades decorrelación en espacios públicos.

Así estructurada, la producción comentada traza en sus más de270 páginas marcadas pautas teóricas y metodológicas para elacercamiento integral al proceso de comunicación radiofónica: por unlado, retrata la especificidad de la alteridad conjugada entre y por latríada emisor-mensaje-receptor y, por otro, des-cubre las interaccionesprofundas que, en la lógica de la tarea educativa desplegada por unadocena de radios consignadas en el estudio, se consuman y reproducenininterrumpidamente dentro del proceso comunicativo. En esa medida,el trabajo de Camacho se arroga, además de la re-producción de lasmediaciones implicadas en la red de la construcción radiofónica deciudadanías, el destaque y proyección de nuevas estéticas y rutinas deproducción emisivas.

Destácase asimismo en la obra de Camacho la utilización, encombinación con la encuesta y el análisis de discurso, del debate grupalen el tratamiento técnico-cualitativo del polo emisor de lasradioestaciones afiliadas a la Asociación objeto de estudio, de suyo

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precipitadora de relevancia empírica al tratarse de una instituciónreconocida mundialmente por sus más de tres décadas de trayectoria enel campo de la comunicación educativa.

Publicado con el respaldo institucional de la UASB - Oficina LaPaz en co-edición con The Freedom Forum, Erbol y MKT - MarketingS.R.L., el libro representa, pues, una fructífera contribucióninterdisciplinaria al debate acerca del papel que cumplen enLatinoamérica los medios de comunicación en la construcción deciudadanías a partir de un atento análisis de lo hecho en Bolivia entreagosto y octubre de 1999 por un reconocido grupo de radios populares.

Oscar José Meneses BarrancosInvestigador y coordinador de Difusión del

Centro Interdisciplinario Boliviano

de Estudios de La Comunicación

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Televisão e identidadecultural: como os

sul-rio-grandensesse tornam gaúchos

JACKS, Nilda. Querência: cultura regional como mediação simbólica.Porto Alegre: Editora da UFRGS. 286 p.

Estar na contramão de certos pontos de vista como, por exemplo,o da “desterritorialização da cultura”, é uma das qualidades do livro deNilda Jacks, porque consegue reacender o debate generalizante que seconfigura em torno do tema. Aliás, os percursos da pesquisadora por SãoPaulo, México, Dinamarca ou Porto Alegre têm sido uma referência paraa investigação de uma complicada tríade: cultura, identidade e televisão.

Querência: cultura regional como mediação simbólica – originalmente suatese de doutorado, defendida em 1993 na Escola de Comunicações eArtes – explora empiricamente os vínculos entre os três termos ao des-crever e interpretar o papel da televisão na construção de um imaginá-rio regional que propaga valores, práticas e costumes nos quais os gaú-chos se reconhecem. E, contemplando imagens de si mesmos, negoci-ando-as nos diferentes cenários onde transitam, eles se tornam gaúchos.O livro trata, portanto, da complexidade que é a constituição social dossujeitos e de suas ações no mundo contemporâneo.

Logo no primeiro capítulo, o quadro teórico não só focaliza aspesquisas de recepção no amplo debate sobre as relações entre comu-nicação e cultura, a partir de autores tais como Martín-Barbero, GarcíaCanclini, Renato Ortiz e Guillermo Orozco, como também nos lembrao quanto elas podem representar uma real inovação para as tendênciasteórico-metodológicas da pesquisa em Comunicação.

O cerne dessa aventura é evidenciar a constituição da identidadecultural – pelos meios de comunicação e para além deles – e a formacom que as pessoas se apropriam de uma cultura fortemente institu-cionalizada (pelos Centros de Tradições Gaúchas, pelo Estado, pela

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escola e pela família) como a cultura regional. A hipótese que norteiao trabalho é a de que a cultura gaúcha constitui a audiência e contribuipara relativizar o efeito das mensagens televisivas.

Sob o ponto de vista da produção, o papel dos meios de comunica-ção nesse processo é comprovado com inúmeros exemplos de matérias,charges e editoriais publicados em jornais, programação estadual e local deemissoras de rádio e televisão, anúncios publicitários e propagandas, alémde campanhas institucionais e projetos de caráter comunitário, histórico etc.Em relação à recepção da tevê, a autora realiza uma pesquisa qualitativacom famílias de estratos socioeconômicos baixo, médio e alto, que abrangetrês fases distintas e utiliza técnicas como o formulário, a entrevista emprofundidade e a etnografia do espaço doméstico.

A interação dos receptores gaúchos com a televisão, no caso, aRBS TV - Santa Maria – uma das emissoras da Rede Brasil Sul de Co-municação, que, por sua vez, apresenta o maior índice de programaçãolocal dentre as afiliadas da Globo –, é descrita num contexto que con-sidera: os hábitos e as rotinas no meio urbano, com especial referênciaao ambiente familiar e aos principais indicadores dos vínculos com acultura gaúcha como os hábitos de tomar chimarrão e comer churrasco,freqüentar ou não o Centro de Tradições Gaúchas (CTG), usar olinguajar característico e aderir a certos valores.

A estratégia da autora é estudar a recepção da “telenovela dasoito” (Pedra sobre pedra, 1992, Rede Globo), explicitando os múltiplos fa-tores ou mediações a condicionar a relação entre “texto” e receptor.Entende-se por mediações “o conjunto de elementos que intervêm naestruturação, organização e reorganização da percepção da realidade emque está inserido o receptor” (p. 48). A análise da recepção da novelaconsiste em captar a mediação da identidade regional, por intermédiodos três traços básicos que o grupo de entrevistados usa paracaracterizá-la, a saber, tradição, distinção e território. Isto é, ela eviden-cia o sentido que os receptores constroem a partir destes referenciaise, além, disso, tenta estabelecer uma conexão entre as falas dos entre-vistados e o universo cultural regional.

Pode-se ressaltar duas conclusões do estudo acerca das relaçõesentre tevê e cultura: a) a televisão, entre todas as mediações analisadas,têm um papel decisivo no reforço da identidade gaúcha; b) “” identi-

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dade cultural borra as diferenças de classe, sexo, idade em situações emque estão em jogo aspectos que historicizam a inserção do receptor,como é o caso dos receptores gaúchos” (p. 256).

O enfoque de Nilda Jacks se afasta daquelas pesquisas de recepçãoque tentam comprovar a capacidade da audiência em resistir à ideologiadominante, mostrando a importância dos meios de comunicação demassa no Rio Grande do Sul para a produção e reprodução de umaimagem de gaúcho com grande “dose de positividade”. Querência enfatizao poder da mídia sem diminuir a autonomia relativa da audiência.

O trabalho, por outro lado, sugere uma série de questões que de-vem se levadas em conta neste tipo de investigação, das quais aponta-remos duas. Uma delas é a de que a telenovela, segundo o argumentoda autora, seria um texto exemplar para o estudo da relação entre re-cepção e cultura, pois o gênero trabalha diretamente com o imagináriocultural do telespectador e oferece um campo crucial para a introduçãode hábitos e valores. Sem dúvida, este é um argumento que pode vir aser explorado empiricamente em pesquisas futuras, pois aguça nossacuriosidade em sabermos se realmente haveria diferenças em usar como“pretexto” outros gêneros televisuais como o telejornal, por exemplo,ou simplesmente, optar por considerar os programas televisivos depreferência da audiência. Neste último caso, os autores que defendemesse ponto de vista o fazem com base na idéia de que as pessoas vêemtelevisão e não um programa específico e é justamente o f luxotelevisual que faz sentido para o receptor.

A outra questão diz respeito a um problema metodológico, já le-vantado por Maria Immacolata Vassallo de Lopes em uma análise daspesquisas em comunicação: o seu caráter descritivo e a necessidade deuma interpretação ou explicação do fenônemo estudado. Com seu tra-balho, Nilda Jacks nos mostra que é preciso arriscar um pouco e apos-tar numa hierarquia entre todas as mediações que interagem no proces-so de ver, usar e interpretar a televisão. A ousadia da autora nos poupade saber o que já sabemos: o processo de recepção é complexo, poisnele intervêm inúmeros fatores.

Veneza Mayora RonsiniDoutora em Sociologia pela USP,

com bolsa-sanduíche na Universityof California, professora da Universidade

Federal de Santa Maria (RS).

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As indústrias do conteúdoe a ordem informacional

MIÈGE, Bernard. Les industries du contenu face à l’ordreinformationnel. Grenoble: Presses Universitaires, 2000.

“O futuro das indústrias do conteúdo é dependente das técnicasda informação e da comunicação (TIC), de quem elas constituirão umcomponente essencial e onde representam a principal fonte de valor.”A partir dessa idéia-chave, Bernard Miège, em sua obra Les industries ducontenu face à l`ordre informationnel, procede sucessivamente ao estudo dapassagem da indústria cultural (no singular) às indústrias culturais (noplural); à análise da confrontação entre as indústrias culturais e asmídias de massa; e ao exame da formação (sempre em curso) das in-dústrias do conteúdo.

Essas indústrias foram formadas, não sem conflitos, a partir deformas artesanais ou a partir dos espetáculos ao vivo, e em correspon-dência com os valores sociais e culturais inerentes à cultura e à infor-mação. Essa história os marcou profundamente e – esta é uma dasconclusões do autor – não está próxima de se apagar; suas lógicaspróprias carregarão suas características ainda por muito tempo. Porisso, o professor de Ciências da Comunicação da Universidade Stendhal(Grenoble 3) propõe ao leitor começar não por uma projeção dessasindústrias na modernidade, mas por um retorno sobre as condições quepresidiram sua emergência e, depois, seu desenvolvimento. A preocu-pação do autor não é de ordem histórica; ele pretende sobretudo co-locar em evidência a origem das “formas” que serão progressivamenteimpostas e que têm todas as chances de perdurar, “apesar do que pensa

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a maior parte dos especialistas da tecnologia, para quem o avanço dasTIC procede sempre da ‘tabula rasa’”.

Para realizar seu intento, Miège utilizou as metodologias da soci-ologia e da economia adaptadas ao campo da Comunicação e a suaslógicas próprias. O livro, dirigido tanto aos estudantes como aos pes-quisadores, faz referência aos textos consagrados a esta temática, artigose obras publicadas pelo autor ao longo do último quarto do século quepassou. Dessa maneira, o leitor que se interessa pelo assunto pode teracesso a textos hoje dificilmente acessíveis e aprofundar suas análisesem função das mudanças contextuais.

Miège justifica o emprego da expressão ordre de l’information, apre-sentada no subtítulo da obra, pelo fato de que o paradigma da info-co-municação está cada vez mais presente no seio de todas as atividadeshumanas, da produção ao consumo dos mercados, em todas as instânciasda mediação e de reprodução sociais e mesmo na esfera privada. “A forçadesse paradigma é de impor uma ordem à mudança social e mesmo deimpulsionar muito eficazmente a formação de ‘riquezas’ sociais, semportanto pôr em causa os fundamentos e a natureza das lógicas sociaisdominantes, sem mesmo impor um modo de desenvolvimento diferentedesse que acompanha o capitalismo dos monopólios”.

A partir da análise das idéias de autores, sobretudo europeus ecanadenses, produzidas nas décadas de 1970-1980, foram apresentadosos elementos disseminados de uma teoria das indústrias culturais. Segun-do Nicholas Garnham, as características específicas dos mercados cultu-rais seriam as seguintes: 1. cada produto cultural é um protótipo, oaproveitamento depende da reprodução e da distribuição; 2. a demandaé grandemente elástica, de sorte que é impossível prever o que se tornaráum sucesso ou um fracasso; 3. os produtos culturais não são destruídosno processo de consumo, o que conduz, em certas condições, os produ-tores e distribuidores a estratégias de penúria relativa de oferta.

Jean-Guy Lacroix, pesquisador canadense, lança as bases de umateoria das indústrias culturais, que ele situa expressamente como origi-nária da Teoria Crítica, em que essas indústrias participam ativamenteda reprodução social. Essa filiação com a Escola de Frankfurt chega atéeste autor pela obra de pesquisadores como Armand e Michèle

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Mattelart. Lacroix dirige sua atenção à questão do trabalho cultural e,particularmente, à sua desvalorização.

As indústrias culturais são já antigas, mas na Europa o seu cres-cimento se tornou regular depois da década de 1970, quando dareestruturação das economias e da valorização das atividades sociaispouco industrializadas como solução de problemas sócio-econômicos. Asindústrias culturais emergentes todas funcionaram segundo o modeloeditorial, que se caracteriza pelo pagamento quotidiano do leitor ou porassinatura. O modelo editorial apareceu com a edição de livros a partirdo momento em que foi organizado sob a forma industrial e abandonoua produção artesanal, cujo primeiro mestre foi Gutenberg, e foi estendidaà música gravada e depois, sob formas específicas, ao cinema. O modelode “flot”, em que os recursos publicitários ou os provenientes de anún-cios constituem a contrapartida financeira da venda do “leitorado” aosanunciantes, emerge com as primeiras estações de rádio na década de1920 e se desenvolve com as estações de televisão generalistas.

Paralelamente, a imprensa comercial de massa desenvolveu-se rapi-damente a partir da segunda metade do século XIX, seguindo seu própriomodelo de produção, constituído de características do modelo editorial edo modelo de “flot”, na origem de um “segundo mercado” da imprensa.

A década de 1980 viu o poder do modelo de “flot” e sua domi-nação sobre as indústrias culturais; estas conheceram sua expansão, obtidasob o controle dos mídias audiovisuais dominantes. “Nessas condições,não é espantoso que a aproximação mais habitual é feita geralmente emrelação com o desenvolvimento dos mídias; e isto se nota tanto nas re-flexões de ordem econômica quanto na tomada de decisões das políticaspúblicas”, afirma Miège, novamente reforçando o pensamento-chave daobra. “A idéia, de aparência sedutora, de que os produtos das indústriasculturais clássicas (imprensa, rádio, cinema, edição de livros, discos) te-riam chegado ao fim de seu ciclo de vida, não se encontrou confirmadana década de 1990”. A explicação vem, sobretudo, do ponto de vista doautor, de que elas não seriam apreendidas como fileiras unificadas; elasestão em perpétua evolução. Contudo, o autor anuncia uma crise decriatividade de novas formas, o que leva a reconhecer que, contrariamentea uma análise convencional de inovação, os serviços industrializados não

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seguem mais o processo anteriormente admitido segundo o qual a ino-vação repousava sobre uma base técnica.

A partir dessas reflexões, Miège levanta a hipótese de que a re-novação e a extensão das modalidades de industrialização da informa-ção e da cultura acompanha mudanças estruturais significativas das in-dústrias da informação e da cultura. “O crescimento das modalidades,tornado possível pela extensão das TIC, e a mobilização dos conteúdosinformacionais e culturais pelo conjunto do setor da comunicação, emvista do sucesso de seus programas industriais, coexistem com a apa-rição de novas indústrias da informação e da cultura. A emergência dasindústrias do conteúdo deve ser encarada como uma das tendênciasmarcantes das sociedades contemporâneas”.

Miège apresenta, então, as principais tendências das indústrias doconteúdo:

• A individualização das práticas e a extensão do pagamento pelosconsumidores (as práticas individuais – tevê por assinatura – são acei-tas mais facilmente como relevantes pelo mercado que as práticas maissocializadas – tevê generalista);

• A tendência à desmaterialização dos suportes (os suportes indi-viduais sobre os quais são feitas as produções culturais ouinformacionais serão substituídas pelo on line);

• O crescimento dos mercados consumidores (a extensão do con-sumo requer tempo e longas campanhas de promoção comercial).

Essas tendências estão acompanhadas de mutações correlatas, taiscomo: o caráter estratégico da difusão dos produtos;

• A composição do capitalismo midiático (o oligopólio global dasmídias evoluirá gradualmente ao longo das próximas décadas em umoligopólio muito maior dos grupos de comunicação. O objetivo funda-mental das futuras fusões e aquisições é o controle da transmissão detrês produtos de base das telecomunicações: a voz, os dados e o vídeo-imagem. O capitalismo midiático, sob a influência do liberalismo eco-nômico, é considerado por alguns autores como um perigo para o libe-ralismo político);

• Convergência e competitividade (a convergência entre telecomu-nicações, informática e audiovisual deve ser apreendida como uma“construção social”; a convergência não é um dado, resultado de um

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processo irreversível. “Somente a possibilidade de numerizar voz, dadose imagens não conduz necessariamente e inevitavelmente à convergên-cia dos sistemas de comunicação. Ela se apresenta muito mais comouma construção social cujos contornos resultam de pressões ligadas àslógicas socioeconômicas dominantes e da ação mais ou menos eficaz dediversos grupos sociais. De fato, ela não se realizará no mesmo ritmoe não tomará necessariamente as mesmas formas que nos diversoscontextos nacionais e regionais”);

• A multimídia: a inovação diferenciada (a coexistência de som,imagem e dados num mesmo suporte faz entrever possibilidades con-sideráveis de renovação e mesmo de revolução das formas dos produ-tos de ficção ou informação).

Diante dessa perspectiva, o autor conclui que as indústrias da cul-tura e da informação manterão os traços dos três períodos que emer-giram sucessivamente (lógica editorial, modelo de “flot” e lógica da in-formação escrita). “O fim das indústrias culturais não está programado,e seu conjunto está cada vez mais sob a influência dos métodos de pro-moção comercial; a importância da difusão dos produtos é cada vezmaior; os debates de idéias e os conflitos de interesse vão se multipli-car, mas não sem obscuridades nem equívocos”.

As indústrias do conteúdo possuem um valor emblemático nassociedades e economias contemporâneas. “O seu avanço pode ser in-terpretado como um movimento dialético complexo incluindo simulta-neamente 1. a integração das atividades culturais e comunicacionais noespaço mercadológico e industrial; 2. a redefinição de normas de pro-dução resultantes desta integração; 3. a extensão das características dosetor cultural no conjunto da produção econômica; e 4. uma diluiçãoconcomitante de sua especificidade e sua densidade nos campos da cul-tura e da comunicação”.

Miège termina a obra incitando o leitor ao debate: o fato é que osestudos e as discussões sobre esse tema apenas começaram e “as oca-siões de questionar e criticar as indústrias do conteúdo certamente nãoirão faltar”.

Karina Medeiros de LimaJornalista, mestranda do Programa de Pós-Graduação

em Comunicação Social da Umesp.

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Livro paraninguém?

MARQUES DE MELO, José; DUARTE, Jorge A. Menna (Orgs.).Memória das ciências da comunicação no Brasil: os grupos do cen-tro-oeste. Brasília: UniCeub, 2001. 352 p.

Creio inexistir, Brasil afora ou adentro, o leitor ou a leitora queeste Memória das ciências da comunicação no Brasil: os grupos do centro-oeste estápedindo. Isto não é só uma boutade para nariz-de-cera de resenha. Or-ganizado por José Marques de Melo e Jorge Antonio Menna Duarte,com edição conjunta do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) eda Cátedra Unesco-Umesp de Comunicação para o DesenvolvimentoRegional, o livro pede uma abordagem de conjunto difícil de realizar.

Integrando projeto de mapeamento das Ciências da Comunicaçãona América Latina, esta obra vem a lume depois dos tomos dedicadosaos pesquisadores gaúchos e ao chamado Grupo de São Bernardo doCampo. Ela contém perfis biobibliográficos de 21 pesquisadores doDistrito Federal, de dois de Goiás e de dois de Mato Grosso do Sul.Além disso, um artigo, de Elen Geraldes, focaliza especificamente aexperiência de pós-graduação da Faculdade de Comunicação da Univer-sidade de Brasília e outro, de Sonia Zaramella, faz uma apresentaçãodos interesses e das atividades de pesquisa de dezoito professores daUniversidade Federal de Mato Grosso.

Já desaparecidos, Pompeu de Sousa, Heinz Forthmann, Luiz Fon-seca e Luiz Beltrão têm sua trajetória intelectual recuperada e relatadaem artigos de Verenilde Pereira, Duda Bentes, Cyro MascarenhasRodrigues e Jorge Duarte, respectivamente. Professor do UniCeub ecampeão na orientação de trabalhos de iniciação científica premiadosnos congressos da Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos

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Interdisciplinares da Comunicação, Antonio Teixeira de Barros apareceno livro tanto como “perfilado” (por Ilana Trombcka) quanto comoautor do perfil de José Salomão David Amorim, um dos decanos dapesquisa em Comunicação no País.

Juntamente com Salomão Amorim, Carlos Chagas, José LuizBraga, Luiz Martins, Luiz Gonzaga Motta, Marco Antonio RodriguesDias, Milton Cabral Viana, Murilo César Ramos, Sérgio Dayrell Portoe Venício Artur de Lima estão entre os pesquisadores que ensinaram ouensinam na Faculdade de Comunicação da UnB. O nome de TherezaNegrão figura solitário, de certa forma, como que a representar as con-tribuições à reflexão sobre comunicação aportadas por pesquisadoresde outros departamentos, no caso, de História.

A maior parte dos pesquisadores selecionados construiu sua repu-tação nas universidades públicas, mas o livro se abre também a nomescomo Beth Brandão, Samir Suaiden e Newton Quirino, que, comoBeltrão, no passado, e Barros, no presente, atuaram e atuam em institui-ções de ensino privadas. Segundo Jorge Duarte, “a seleção apresentadanesta publicação pode denunciar esquecimentos, fragilidades, falhas, mas(...), ainda que caracterizada como preliminar, torna-se um importantedocumento para a construção de nossa memória e para se conhecer umpouco da pesquisa realizada na Região Centro-Oeste” (p.14).

Certamente um interesse maior do livro tem a ver com a dinâmicada construção de idéias e referências, cujo pano de fundo é, sempre, nemmais nem menos, a experiência de Brasil dada a viver àqueles que o “ex-perimentam” do ângulo da reflexão sobre a comunicação. A propósito,leiam-se, em especial, os textos que Ana Lucia Novelli, Iluska Coutinho,João Carlos Picolin e Sayonara Leal dedicaram, respectivamente, a BethBrandão, Murilo César Ramos, Venício Artur de Lima e Luís Martins.

Colega, na graduação ou no mestrado, de dois dos 21 pesquisa-dores que tiveram seus perfis biobibliográficos trabalhados e ex-alunode outros dez “perfilados”, entre 1985 e 1997, eu diria que o livro fazpensar que, em maior ou menor grau de protagonismo, seríamos todosparticipantes de um projeto ou processo coletivo de formação da experi-ência brasileira de reflexão sobre comunicação.

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Mais que isso, muitos desses pesquisadores abraçaram a tarefa decontribuir para a construção de um pensamento crítico no campo dacomunicação no Brasil. A conjuntura em que, por exemplo, a pesqui-sadora Jane Sarques inicia, no ano de 1978, seus estudos de mestradona UnB, onde elaboraria dissertação sobre a telenovela Os gigantes, fezcom que a mesma “abraçasse uma linha de pesquisa mais sociológicana área de comunicação, baseada em autores marxistas tais comoMarcuse, Engels, Horkheimer, Adorno, Armand Mattelart, dentre ou-tros” (p. 306), destaca Júlio Afonso Sá.

A diferenciação que refletir criticamente provoca dentro do projetode meramente refletir tem a ver com o tema da divisão social e do com-promisso com sua superação. “A utopia”, formulava Carlos AugustoSetti, em uma dissertação intitulada Comunicação e utopia, “é a concre-tização histórica dos princípios da lógica dialética, que não admite aestagnação e a terminalidade do real-dado” (1983, p.ii). Nessa direção,o Centro-Oeste talvez tenha acompanhado o resto do País, sendo a tra-jetória de seus pesquisadores um prato cheio para autores como Fran-cisco Rüdiger, que já arriscou um traçado da fortuna da teoria críticanos estudos de mídia brasileiros.

Porém, para complicar definitivamente tudo, num país como oBrasil, o meramente refletir não teria nada de somero; ao contrário,corresponderia àquilo que fora feito, primeiro, na literatura e, depois,nas Ciências Sociais e na economia política, nos momentos em estas ex-perimentaram sua maturação no País.

Sob este ângulo, a experiência brasileira de reflexão sobre comu-nicação não se formou ou não conheceu sua maturidade, simplesmente.A implicação básica, juntando-se as duas pontas, é esta: a experiência bra-sileira de reflexão sobre comunicação reflete pouco a experiência brasileiracom comunicação, cujos traços decisivos permanecem à espera de repre-sentação. Exteriorizando de forma mais tradicional essa angústia, MuriloCésar Ramos pergunta-se: “Por que razão não conseguimos produzirautores que sejam verdadeiras referências, por sua consistência e origi-nalidade?” (p. 221).

No fundo, categorias como produção de conhecimento e contribuiçãocientífica ainda respondem por pouco e nem sempre pela parte decisiva.

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Um mal – menor – é constatar que professores importantes o suficientepara serem “perfilados” não vestem bem o figurino inadequado do“pesquisador”. Outro mal – maior – é que, mais que pesquisas e pes-quisadores, os programas de pós-graduação vêm contando mesmo, fun-damentalmente, por formar gente, isto é, mestres cujo destino é abas-tecer o mercado aberto para esta força-de-trabalho qualificada nas fa-culdades particulares de Comunicação.

“Na universidade pública”, compara Beth Brandão, “o professoré um cientista que pratica a educação, ela é uma das formas de aplica-ção do pensamento científico; na faculdade particular, o professor é umeducador que ensina a ciência, ela é seu objeto de ensino e não seuobjeto de trabalho” (p. 43). Neste cenário, em que o encontro entredocentes e discentes é presidido pela chamada forma-mercadoria, osefeitos mal começaram a ser conversados.

Lunde Braghini JúniorProfessor de comunicação do UniCeub -

Centro Universitário de Brasília.

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O caminho das pedraspara um bom

texto jornalístico

BARROS, Edgard de Oliveira. Quem? Quando? Como? Onde? Oquê? Por quê? São Paulo: Visual Media, 2002. 87 p.

Por onde começar a matéria? Esta é a pergunta que mais martelana cabeça dos jovens estudantes de jornalismo quando se deparam como momento de pôr no papel tudo aquilo que foi apurado durante en-trevistas, pesquisas e levantamentos de dados. Foi justamente para elesque o velho lobo da imprensa, Edgard de Oliveira Barros, criou esteverdadeiro manual de conduta, Quem? Quando? Como? Onde? O quê? Porquê?, que mostra, de maneira simples, em 87 páginas, o que fazer nestasinevitáveis horas.

Edgard fala com autoridade de quem, mesmo sem títulos de mestreou doutor angariados na academia, sabe como funciona, na prática, o dia-a-dia dos profissionais da comunicação. Aliás, embora sendo hoje profes-sor universitário nas Faculdades Integradas Alcântara Machado, ele brincaum pouco com aqueles que perguntam qual foi seu arcabouço literáriopara escrever o livro. “O apud sou eu mesmo”, sentencia.

Para quem teve a honra de conviver com o jornalista AssisChateaubriand e ainda escrever para diversos periódicos como o Diáriode São Paulo, Diário da Noite 1a. Edição e Diário da Noite 2a. Edição, ficafácil contar para os focas qual é o caminho das pedras para o sucesso.Edgard teve ainda passagens pelo mundo da publicidade e propagandae dirigiu por dez anos o falecido Diário Popular, tendo sido o editor-chefe desse jornal na sua edição centenária.

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Já no prefácio, o alagoano-corintiano e atual morador de Atibaia (SP)mostra que querer saber das coisas é algo que deve estar presente na almados estudantes de jornalismo. “O jornalista é apenas um ser humano comotodos, a diferença está em ser o mais curioso entre os viventes”, lembra oautor. Brincando com as palavras, ele mistura Zeca Pagodinho comPaulinho da Viola logo no começo do primeiro capítulo, lembrando que oimportante para o bom profissional é poder divagar com pressa. Além disso,a importância do jornal como ferramenta de resgate histórico dos fatos érealçada, com uma tese deste notório-saber-em-comunicação, formado pela“faculdade da vida”: “Minha tese é que boa parte dos textos escritos ‘nohoje’ serão os referenciais para grandes histórias que serão consagradas noslivros de amanhã. Os jornais e as revistas se alinham entre as melhoresfontes de pesquisa”. Elementar, caro Edgard!

O autor mostra que quem diz que o jornal está com seus diascontados em função do aparecimento de outras mídias pode estar apos-tando no cavalo errado. Segundo o pai de Quem? Quando? Como? Onde?O quê? Por quê?, não será tão fácil deixar este veículo sagrado de lado e,para justificar esta tese, conta até com o auxílio da lei: “A propósito, noBrasil, as leis só entram em vigor quando publicadas. Seja no jornaloficial, seja nos jornais de grande tiragem e até mesmo nos pequenosjornais que circulam diariamente, semanalmente, quinzenalmente ou atémensalmente nas pequenas cidades”, uiva o velho lobo.

Outro destaque, neste manual de jornalismo do foca, escrito porEdgard de Oliveira Barros, fica para as ilustrações bem-humoradas deJean Takada, que lembram muito as que compõem o trabalho encomen-dado pela Escola Paulista de Medicina, Corra que a imprensa vem aí: Umguia de sobrevivência, publicação que mostra aos médicos como lidar como povo da comunicação.

Entre os temas abordados pelo autor de Quem? Quando? Como?Onde? O quê? Por quê?, estão a pauta, o planejamento e a pesquisa paraa elaboração de matérias, a importância das fontes (e de beber em di-ferentes fontes, sempre), a definição do tipo de trabalho que será feito(reportagem?, crônica?, notícia?) e a necessidade de clareza no que estásendo produzido.

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É claro que, mesmo vindo de uma época em que tudo era “umabrasa, mora?”, Edgard tem um pé atrás com o chamado “nariz-de-cera”,dizendo que é bocomoco, cheira mal e parece papo de bêbado. “O nariz-de-cera pode ser lindo, poético, doído como dor de dente, às vezescomovente, por que não?”, mas, como lembra o autor, “quem partepara o caminho de elaborar um texto iniciando pelo nariz-de-cera, ficatentado a emitir opinião e repórter não tem opinião. Repórter reporta”,esbraveja Edgard.

O jeito é não colocar nosso nariz – que não é de cera - no livro doEdgard e deixar que o leitor de Quem? Quando? Como? Onde? O quê? Porquê? confira o conteúdo e tire suas próprias conclusões. Fica aqui a su-gestão e a máxima registrada pelo autor na página 81, que poderá finalizarestas considerações com as palavras dele próprio: “Regra 13: a comuni-cação não é o que a gente diz, mas sim o que as pessoas entendem. Oque é óbvio para você pode não ser óbvio para o seu leitor. Aliás, o óbviosó é óbvio enquanto é óbvio, ou seja, só é óbvio quando é citado, falado,comentado. Seja simples, seja óbvio.” Isto é óbvio, Edgard!

Arquimedes PessoniJornalista, mestrando na Umesp, professor

da Faculdade de Comunicação da UniFiam.

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Divulgação científica:pedras no caminho

e avanços

GUIMARÃES, Eduardo (Org.). Produção e circulação do conheci-mento: estado, mídia, sociedade. São Paulo: Pontes Editores, 2001.

O mundo moderno se caracteriza pela rapidez com que a infor-mação circula. Há uma inundação de notícias espalhadas pelos veículosde comunicação de massa e, se prestarmos atenção, veremos que boaparte delas se refere à Ciência e Tecnologia. Resta indagar até queponto o conteúdo que nos é repassado contribui para a formação deuma consciência sobre o assunto, de forma clara e didática.

Aquele leitor interessado em compreender o papel do jornalismoe da ciência na vida em sociedade encontrará nas páginas do livro Pro-dução e circulação do conhecimento: estado, mídia, sociedade vários textos que nosfazem refletir sobre as complexas relações que envolvem desde a produ-ção científica ao emprego da linguagem para comunicar descobertas.

A obra, organizada pelo lingüista Eduardo Guimarães, é umapublicação do Núcleo de Jornalismo Científico do Laboratório de Estu-dos Avançados em Jornalismo (Labjor), da Universidade Estadual deCampinas (Unicamp), por meio do Laboratório de Estudos Urbanos(Labeurb/Unicamp), do CNPq/Pronex e de Pontes Editores. Nela estãoreunidos artigos de pessoas ligadas à produção e à divulgação do conhe-cimento no Brasil. São depoimentos e relatos nascidos de experiências ede pesquisas que retratam com riqueza de detalhes a nossa realidade.

Os autores, ao abordar temas referentes a jornalismo, ciência esociedade, trazem à tona questionamentos a respeito da estreita ligação

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dessas espécies de “entidades” com o Estado. Esse é um assunto recor-rente em vários artigos, que apontam para as deficiências e fragilidadesexistentes, uma marca das conjunturas em que vivemos. Nesse universosurgem os debates sobre os obstáculos da comunicação entre jornalistase cientistas, que comprometem a divulgação científica no País.

Na última década, após inúmeras tentativas no Brasil de se ofe-recerem cursos que preparem as pessoas para trabalhar com jornalismocientífico, o Labjor conseguiu iniciar, em 1999, o seu primeiro Curso deEspecialização em Jornalismo Científico para jornalistas, divulgadoresde ciência, assessores de comunicação de universidades e institutos depesquisa, enfim, profissionais ligados a diversas áreas do conhecimentohumano. Sobre isso o leitor obterá informações no livro.

A facilidade proporcionada pela internet na divulgação de assun-tos científicos é outro assunto abordadona obra. Os estudantes queapreciam a divulgação científica terão acesso a discussões a respeito dadificuldade que há em aproximar cientistas e jornalistas em benefício dadisseminação das notícias referentes à produção científica nacional. Osprofissionais ou cientistas que atuam nessa área, ao lerem a obra, emvários momentos terão a sensação de ter vivido ou presenciado muitosdos fatos relatados.

Um dos aspectos interessantes do livro é que nele nos depara-mos com várias idéias sobre a ciência quando ela se torna notícia, deonde extraímos preciosas informações sobre a divulgação científicapelos principais veículos de comunicação no País. Ainda relacionadasa esse tema, temos avaliações, nos artigos, que abordam a função dalíngua na construção de textos e como a escola age nesse processo delevar o conhecimento da ciência aos alunos, por meio de matériaspublicadas pela imprensa.

Ao ser transformada em notícia, a ciência ocupa espaço emjornais, revistas, rádio, televisão e internet. Mas há uma correlação entrea divulgação científica e as novas tecnologias da linguagem? A leiturados textos nos mostra enfoques interessantes sobre o assunto, em quese expõem preocupações com os aspectos pragmático e utilitário desseprocesso de comunicação, considerado por muitos como prejudicialpara o sujeito e a sociedade. É possível constatar que as avaliações

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sobre a ciência e as políticas científicas e a mídia indicam que o percur-so do conhecimento sofre a interferência do Estado.

As discussões expostas no livro sobre como levar o conhecimen-to científico ao público em geral, de forma didática, surgem ao longodos textos. Temos aí um leque de considerações e de estudos que nosapresentam a realidade, nos convidam a refletir e nos brindam comfatos curiosos, como o artigo de José Marques de Melo, em que desco-brimos o jornalista Hipólito da Costa como precursor do jornalismocientífico no Brasil. No final da leitura, resta-nos a sensação de quetodos temos um papel essencial na divulgação da ciência no nosso País.Precisamos apenas escolher o melhor caminho.

Rosane de BastosJornalista, aluna do Curso de Pós-Graduação

em Jornalismo Científico do Labjor/Unicamp

e bolsista do Mídia/Ciência da Fapesp.

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A comunicaçãocomo ferramenta

de relacionamentona era moderna

VIANA, Francisco. De cara com a mídia. São Paulo: Negócio Edito-ra, 2001.

Nos últimos anos, em decorrência da globalização e do rápidoavanço tecnológico, a comunicação sofreu um grande salto em nível deimportância dentro das empresas modernas. Isso porque a chamadaRevolução da Informação contribuiu para a formação de uma socieda-de mais exigente e influenciadora, que hoje exerce papel determinanteno sucesso ou fracasso de uma administração.

Em De cara com a mídia, Francisco Viana fala sobre as técnicas derelacionamento com a mídia, uma questão relevantíssima e essencialpara a administração empresarial dos tempos modernos. Consultor deempresas e diretor da área de comunicação estratégica da FSB Comu-nicações, Viana possui uma bem-sucedida carreira de jornalista, tendoatuado como repórter de O Globo e editor de reportagens especiais darevista IstoÉ. Sua maior contribuição, no entanto, provém da experiên-cia adquirida durante os anos em que percorreu o País como editor darevista Senhor, entrevistando grande parte da elite empresarial do Brasil.

Já na década de 1980, quando iniciou sua trajetória nessa área, oautor constatou que um dos maiores problemas de comunicação dasempresas brasileiras era a forma de relacionamento mantido com a im-prensa. Para ele, tal dificuldade é resultado de um processo político-eco-nômico que o País atravessou durante o regime militar. Por muitos anoscultivou-se a idéia de que em cada repórter existia um comunista disfar-çado, disposto a destruir o capital em prol da sociedade sem classes.

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Contudo, Viana nunca conseguiu ver empresários e imprensa emcampos opostos. E essa visão se comprova a cada dia, com a crescenteidéia de igualdade de direitos, participação e livre iniciativa. Hoje, maisdo que nunca, a comunicação com os diversos públicos é imprescindí-vel para a construção de uma imagem que conquiste a lealdade doconsumidor. Conforme o autor, as características da comunicaçãomoderna, principalmente a facilidade de acesso à informação, deram àmídia um vigoroso poder de interagir com a sociedade.

Assim, para que a empresa se integre ao cotidiano da sociedade,precisa estar aberta a um diálogo constante com a mídia. Em outraspalavras, a comunicação, a exemplo do que gradativamente vem ocor-rendo, deve tornar-se parte integrante da estratégia geral dos negóciose articular-se a todo o conjunto de atividade da empresa. O autor es-clarece que muitos já despertaram para essa realidade e até se dispuse-ram a colocar tal proposta em prática. Mas apenas alguns poucos sabemexatamente qual caminho devem seguir.

Sem a pretensão de construir um guia prático desse novo concei-to de comunicação, Viana dividiu seu livro em cinco etapas, extraindoda própria história exemplos marcantes e critérios essenciais para osucesso dos empreendimentos modernos. Já no passado, diz o autor, osgrandes homens de negócio sabiam o poder que a informação lhesagregava. Lourenço Médici, banqueiro e precursor da globalização,exigia relatórios detalhados das oportunidades de negócios que pudes-sem surgir nas terras do Novo Mundo ou da Índia. O Barão de Mauápassava noites cercado de jornais em seu palacete, não só para acom-panhar o vaivém das divisas, como também para auscultar o panoramapolítico nacional de forma a antever possíveis impactos no País daexpansão do mercantilismo inglês.

Esses são apenas dois dos muitos casos que, com excelente des-treza, o autor destaca no decorrer do seu diálogo com o leitor, logo naprimeira etapa. Já a segunda parte do livro traz reflexões eposicionamentos que interessam principalmente aos profissionais queatuam diretamente na área de comunicação empresarial, pois é a partirdessa etapa que Viana expõe grande parte de sua visão, sem abster-sedos conhecimentos que adquiriu enquanto consultor.

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Da escolha do porta-voz à comunicação interna, o autor atravessatemas que vêm ganhando força e gerando grande discussão na atuali-dade. O marketing social, por exemplo, é, na visão do autor, um dosinstrumentos criados em vir tude das novas demandas da eraglobalizada. “Nos dias atuais, o cidadão quer participar, ver resultadosno que está fazendo ou cuja execução apóia. Não é contra o lucro, aocontrário. Sabe que onde há empresas lucrativas existe oferta ascenden-te de emprego e renda. Existem bem-estar e horizontes de realizaçãoindividual e coletiva. Mas se recusa a aceitar que uma empresa poluarios, use o trabalho escravo de menores ou não participe da solução deproblemas sociais nas comunidades em que tem raízes” (p.101).

Como todo bom jornalista, Francisco Viana não se restringe atratar apenas as questões que tangem aos empresários e assessores deimprensa. Além das brilhantes inserções sobre técnicas de comunicação,que surgem em todos os capítulos do livro nos quadros denominados“Guias do cotidiano”, numa terceira etapa o autor relata um pouco otrabalho dos jornalistas, os “Artesãos da notícia”. Apesar de levar emconta todos os estigmas do ofício, ele não deixa de considerá-los osnovos donos do poder. É nesse capítulo que o autor centraliza as idéiastransmitidas em todo o percurso e atinge o alvo dos seus objetivos.

De forma bastante concisa, Viana define em poucas páginas overdadeiro papel dos jornalistas para com a sociedade, explica a origemdos preconceitos que lhes são peculiares e, mais uma vez, recorre àhistória para esclarecer a conquista desse inexorável poder ao longo dosúltimos anos. A conveniência do relacionamento entre empresa e mídiafica claro quando o autor afirma que a função do jornalista se equivaleao de um advogado da sociedade e, qualquer que seja a situação deconflito entre os interesses de uma empresa e a comunidade, ele difi-cilmente ficará do lado da empresa. Não interessa o quanto de verbaesta empresa assegure em publicidade, ideologicamente ou não o traçocaracterístico dos jornalistas é a independência. “Mesmo quando nãoé independente, o jornalista gosta de, e necessita, parecer independente.(...) Sem independência o jornalista perde o poder e sem poder ele,assim como a mídia, não existem” (p. 124).

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Com absoluta capacidade de discernimento, Viana destaca osdiversos aspectos – positivos e negativos – que, assim como toda pro-fissão, fazem parte do cotidiano dos jornalistas. Além disso, conseguetraçar ao longo do texto a forte relação entre empresas, mídia e opiniãopública. Para finalizar, dedicou os dois últimos capítulos à administraçãode crises, um tema até então pouco discutido no Brasil, mas que estáintrinsecamente ligado à proposta do livro. “Nada melhor para preveniros impactos negativos de uma crise do que uma política saudável econtinuada, de relacionamento com a mídia” (p. 173).

Em suma, De cara com a mídia constitui uma obra dinâmica, deleitura rápida e agradável, que traz uma contribuição diferenciada efundamental para empresários, assessores, jornalistas e estudantesengajados aos novos processos de administração e comunicação empre-sarial, pois trata, de forma bastante inteligente, questões primordiais aostempos modernos.

Camila Pierobom BertoldoJornalista, mestranda do Programa de Pós-Graduação

em Comunicação Social da Umesp.

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O caso daFavela Naval

BLAT, José Carlos; SARAIVA, Sérgio. O caso da Favela Naval: políciacontra o povo. São Paulo: Contexto, 2000.

Quem cresceu acostumado a assistir aos seriados americanos –tipo Batman – não consegue esquecer as frases de efeitos utilizadaspelos heróis enlatados, como “o crime não compensa” ou “o criminososempre volta ao local do crime”. É mais ou menos o que aconteceu emDiadema (SP), em 1997, e que acabou virando livro, só que com odiscurso às avessas: “o crime quase sempre compensa” e “os criminosostrabalham no local do crime”. No popular, diria Chico Buarque, “chamao ladrão, chama o ladrão!”

Partindo das cenas que chocaram o País no dia 31 de março de1997, exibidas no Jornal Nacional , e que foram gravadas por umcinegrafista em busca de um furo de reportagem de plantão no local,a blitz supostamente montada pela Polícia Militar de Diadema paradetectar tráfico de drogas terminou com imagens de espancamento emorte de gente inocente moradora da Favela Naval e cujo único crimeera estar no lugar errado e na hora errada.

O episódio – como bem lembraram os autores – fez tremer asinstituições brasileiras, afetando fortemente a imagem externa do País(p. 84), e gerou uma série de pesquisas, entre elas a do InformEstado,mostrando que, uma semana depois da veiculação das imagens, entre52% e 64% dos paulistanos, dependendo da faixa social, temiam ospoliciais militares (p. 85).

Toda a história de bastidores e que poucos profissionais da impren-sa se preocuparam em mostrar foi reunida em 240 páginas no livro Ocaso da Favela Nava: polícia contra o povo, escrito pela dupla dinâmica José

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Carlos Blat e Sérgio Saraiva. O trabalho foi um dos ganhadores do PrêmioJabuti 2001, na categoria de livro-reportagem. O esforço do promotorBlat e o talento do jornalista Sérgio Saraiva garantiram um trabalho dequalidade, mostrando que, quando o judiciário e a imprensa se unem parafiscalizar e denunciar, o resultado é nitroglicerina pura.

Num ritmo extremamente ágil, a obra surpreende pela facilidadecom que o leitor mergulha na história de Mário José Josino, a vítimados policiais militares de plantão na favela e que, graças a um esforçocorporativista da Polícia Militar, quase passa de vítima a vilão da his-tória. Os autores Blat e Saraiva mostram de forma clara como é o fun-cionamento da máquina destinada a garantir a impunidade de policiaismilitares assassinos e transformar trabalhadores humildes em inimigosnúmero-um da população.

Utilizando bastante a fórmula “enquanto isso, no outro lado da ci-dade”, o livro reserva aos leitores o conhecimento das histórias de fundodos personagens de carne e osso que entraram “de gaiato” na obra maiorque foi o caso da Favela Naval. Com a leitura desse trabalho de Blat eSaraiva, a forma como os policiais militares tentaram se autoproteger ereescrever de maneira distorcida o que realmente aconteceu no dia 3 demarço de 1997 e todo o esforço que a Justiça precisou adotar para que averdade viesse à tona, o leitor, com certeza, começará a ver com reservasaquilo que é mostrado como verdadeiro pela imprensa. E muito mais:quem nem só de gente boa é composta a Polícia Militar.

Mostrando que Herbert Marshall McLuhan não exagerou quandoafirmava que “o meio é a mensagem”, logo no início do livro os auto-res já mostravam como a polícia pode atuar de forma comprometedorana hora de comunicar fatos que afetam negativamente a imagem dacorporação: “Quando a escolta policial que protegia Jefferson da pró-pria polícia saiu em direção à delegacia-sede de Diadema, pouco antesdas três horas, o soldado de plantão no pronto-socorro já havia comu-nicado o caso e começara o registro do boletim de ocorrência na Po-lícia Civil. As estratégias de sempre para confundir inquéritos – algumasimprovisadas – já estavam em curso. Plantavam-se as sementes daimpunidade” (p.19).

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Como na vida real histórias com final feliz não são regra, mesmocom todo o empenho da imprensa e do judiciário, a punição pelascenas que chocaram o Brasil e que levaram a óbito Mário José Josinoficou apenas para parte dos envolvidos. Os que estavam acima do bai-xo-clero se safaram – como sempre – e os poucos que levaram a pior– como o soldado Otávio Lourenço Gambra, o Rambo, condenado a45 anos de reclusão – acabaram, posteriormente, tendo sua pena redu-zida. Para a família de Josino ficaram as saudades, uma pensão de 782reais para a viúva e a certeza de que a presença da polícia, que deveriaoferecer segurança, às vezes, é motivo de medo.

Para os autores, fica a sugestão de atualizar o conteúdo do livronuma segunda edição, mostrando como os condenados no episódiomudaram (se é que mudaram) sua conduta. No geral, paira a impressãode que, ao nos depararmos com uma blitz da Polícia Militar no nossocaminho, o primeiro pensamento que vem à mente é: corram, que aPolícia vem aí.

Arquimedes PessoniMestrando em Comunicação na Umesp.

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Por uma críticaà globalização

MATTELART, Armand. A globalização da comunicação. Trad. deLaureano Pelegrin. Bauru, SP: Edusc, 2000. 194 p.

Fazer uma retrospectiva crítica do processo de globalização desdeseus primeiros indícios, no século XIX, até o estágio atual, utilizandopontos de vista midiológico e político-econômico. É o que ArmandMattelart busca com sua obra A globalização da comunicação, em que re-gistra “essa nova fase de abertura do mundo, da história das formassociais que o processo de internacionalização foi assumindo no correrdo tempo” (p. 11).

Para o autor, os sistemas de comunicação em tempo real determi-nam a estrutura de organização do planeta. Essa idéia é desenvolvidaao longo de todo o livro, onde procura ressaltar sempre a importânciafundamental dos meios de comunicação no processo de globalização,sendo a ele inerente. “Ampliando progressivamente o campo de circu-lação de pessoas, como também de bens materiais e simbólicos, osinstrumentos de comunicação têm acelerado a incorporação das soci-edades particulares em grupos cada vez maiores, redefinindo continu-amente as fronteiras físicas, intelectuais e mentais” (p. 11).

A retrospectiva histórica do processo de globalização inicia-se já nocapítulo 1, onde é apresentado o pensamento de que ainternacionalização da comunicação seria filha de dois universalismos: oiluminismo e o liberalismo. Graças ao iluminismo e seu ideal de “liber-dade de pensamento e de opinião”, o comércio passou a ser consideradocomo gerador de valores, pois a fluidez dos fluxos de pessoas e merca-dorias asseguraria tal liberdade. A comunicação começou a ser associada

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a um espaço nacional e à formação de um mercado interno. Tendo olivre comércio se tornado “artigo de fé”, o liberalismo econômico – cujasidéias principais são a secularização da sociedade, a liberdade individualno cerne das instituições, limitando o poder arbitrário do Estado – con-sagrou a força da economia mercantil. Foi “a eclosão do que se chamamarket mentality, conforme a expressão do historiador econômico KarlPolanyi, o nascimento de uma ‘nova sociedade’, onde os mecanismos domercado se difundem por todo o corpo social” (p. 23).

O século XIX viu o surgimento das agências de notícias: a Havasaparece em 1835; a Wolff, em 1849; a Reuter, em 1851; e a AssociatedPress, em 1848. Apenas as três primeiras, européias, tinham porte in-ternacional. Por meio de alianças concluídas em 1870, elas dividiram omundo em territórios de influência. Foi “a eclosão de um mercado dainformação pensado em âmbito mundial orientado por interessesgeopolíticos” (p.48). Mas o estabelecimento das agências americanas nocenário mundial (Associated Press e United Press) influenciou o mo-delo da imprensa francesa no período. É deste primeiro contato daimprensa européia com o modelo profissional americano – caracteriza-do por um “tipo de jornalismo priorizando a chamada news value, ohuman interest. Uma informação pontual, rápida, concisa como umamensagem telegráfica, útil, que trata de generalidades” (p. 49) – quesurge a noção da “americanização”, de acordo com o historiador damídia Michael Palmer.

A propaganda revela sua força na Primeira Guerra Mundial. Tan-to na deflagração do conflito quanto no período entre-guerras, ospublicitários e cientistas políticos, fundadores da sociologia americanada mídia, como Walter Lippmann e Harold Lasswell, trabalham com anoção de que “a democracia não consegue sobreviver sem as técnicasmodernas de ‘gerenciamento invisível da sociedade maior’ ” (p. 68).Assim, a “psicologia de massa” assume uma importância fundamentalnas relações diplomáticas entre países e também no “gerenciamento”da opinião pública e da democracia no interior de cada país.

O fato de que, já em 1919, 90% dos filmes exibidos nos cinemaseuropeus vinham dos Estados Unidos, deixando para trás a supremaciafrancesa, faz com que a França e a Alemanha adotem políticas de pro-

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teção e suscita um debate no meio artístico e intelectual acerca do temaamericanização, entendido na época como uma agressão à “alta cultu-ra”. A visão apocalíptica da “crise da civilização” foi alvo de reflexõesde intelectuais como Antonio Gramsci, Sigmund Freud, OswaldSpengler, Paul Valéry e o detentor do Prêmio Nobel de Literatura de1934, Luigi Pirandello. É deste último a afirmação de que “o dinheiroque circula no mundo é americano e, por trás desse dinheiro, existetodo um universo de vida e de cultura” (p. 79).

O cenário da Guerra Fria determinou os modelos de implantaçãodos sistemas de satélite. O lançamento do Sputnik, em 1957, pela UniãoSoviética, ocasiona, como reação dos Estados Unidos, a fundação nomesmo ano da Nasa. Essa “corrida espacial” dura pouco mais de dezanos. A partir desse momento, “a conquista do Terceiro Mundo trans-forma-se no grande impasse do embate entre os dois sistemas políti-cos”, pois os grandes desequilíbrios entre países desenvolvidos esubdesenvolvidos ameaçam “fazer a cama do comunismo mundial”. AUnesco estabelece como padrões mínimos contra o subdesenvolvimen-to, para cada país, a possessão de “dez exemplares de jornal, cincoaparelhos de rádio, dois televisores, dois assentos de cinema para cadacem habitantes” (p. 96). Para Mattelart, essa crença na capacidademodernizadora das mídias nada mais é que uma atualização das teoriasdifusionistas do século XIX, em que os povos primitivos apenas imita-vam os modelos dos mais adiantados.

Com o fim da Guerra Fria, a representação geopolítica do mun-do dá lugar às lógicas geoeconômicas. Os estados nacionais perdem seupoder e as empresas não -estatais assumem importância fundamental no“movimento de integração mundial”. Uma das idéias centrais da obraé justamente a noção de que “a homogeneização das sociedades éinterente à unificação da economia” (p. 12), conferindo às relaçõeseconômicas, não mais dependentes do poder de cada Estado, em par-ticular, mas na iniciativa privada e nas multinacionais e transnacionais,o papel principal, não mais de coadjuvante, no processo de globalização.

A década de 1970 foi a época da crítica aos desequilíbrios inter-nacionais dos fluxos da informação. A Nova Ordem Mundial da Infor-mação e da Comunicação - Nomic trouxe o debate sobre o “imperi-

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alismo cultural” e a “comunicação de mão única” das grandes agênciasnoticiosas dos países desenvolvidos.

É no capítulo 6 que Mattelart finalmente apresenta uma definiçãode globalização. Segundo ele, trata-se de uma fase de integração mun-dial iniciada nos anos 1980, caracterizada como um processo de unifi-cação do campo econômico e, por extensão, como um estado geral doplaneta. “A globalização é, primeiramente, um modelo de administraçãode empresas que, respondendo à crescente complexidade do ambienteda concorrência, procede da criação e da exploração de competênciasem nível mundial, objetivando maximizar os lucros e consolidar suasfatias de mercado. A globalização é a grade de leitura do mundo pró-pria dos especialistas em administração e marketing. A palavra de or-dem que rege esta lógica empresarial é a integração. Na transição parao modelo de gerenciamento global, a multiplicação de riscos transfor-mou a função ‘comunicação’ em uma das ferramentas da gestão estra-tégica” (p. 125 e 128).

O Mattelart crítico aparece com intensidade no último capítulo,onde deixa de lado a história, ou melhor, aproveita o percurso históricoque apresentou ao longo de todo o livro para expor seus pontos devista a respeito da globalização. Para o autor, a globalização é um com-ponente da cultura contemporânea, mas nunca a única lógica capaz dedefinir os destinos do planeta, pois junto a ela floresceu igualmente ummovimento de idéias que sublinha a pluralidade das culturas. Ele con-cebe “a fragmentação e a globalização como dois fatores em tensãoonde se joga a decomposição/recomposição das identidades sociais eculturais”. O conceito de modernização que se baseava na projeção daexperiência européia e norte-americana foi desmistificado e novosconceitos mostram que, “longe de desaparecerem do mapa, as culturaslocais se reformulam, ligam ‘moderno’ ao ‘tradicional’, elaborando assimas bases de suas próprias indústrias culturais e de seu próprio campo decriação artística”. E cita como confirmação dessa idéia o fenômeno dapenetração da indústria da telenovela brasileira no mercado mundial. Éenfático ao concluir seu pensamento: “Até prova em contrário, a menosque se acredite no mito do ‘fim do Estado’ típico da ‘República mer-

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cantil universal’, o território nacional continua sendo o lugar da cons-trução da cidadania” (p. 175).

Continuando seu raciocínio, o professor da Universidade de ParisVIII aponta o desencontro entre técnica e sociedade como causa doagravamento do desnivelamento mundial, mas considera a técnica fatorimportante na redefinição do contrato social e das instituições locais emundiais. A solução seria, então, democratizar o acesso dos cidadãos aosistema técnico. “Somente uma visão midiacêntrica poderia fazer acre-ditar que a ligação ao horizonte planetário se resume a uma maiorexposição aos meios de comunicação. A conexão ao mundo realiza-setambém, e sobretudo, na ordem do vivido. Ela ocorre baseada namutação do modelo econômico e social exigida pela integração de cadasociedade particular ao espaço mundial” (p. 176).

A crítica à globalização acentua-se quando o autor a considerauma espécie de mito moderno, “um modo generalista de abordar osproblemas da geopolítica e de exorcizar os perigos que ameaçam oplaneta”, obrigando as sociedades a aceitar as desregulamentações doEstado como fatos acabados, ferindo o cerne da democracia. ParaMattelart, a globalização utiliza a angústia individual e coletiva, “frentea um mundo que transformou o trabalho num privilégio”, para impedirque se adote uma posição crítica com relação aos acontecimentos. E,como conclusão, aguça sua crítica ao considerar frágil “o projeto deunificação do planeta que confia ao monetarismo a incumbência deestruturar a sociedade digital. Ilusória é a ‘solução global’ que deixa àPandora o cuidado da reestruturação do mundo e nega à sociedade doscidadãos o direito de pensar em outros caminhos de integraçãosupranacional e para uma consciência planetária que esteja à altura dodesafio de civilização representado pelo momento histórico” (p. 185-186). Para o catedrático de Vincennes-Saint Denis, a globalização temsido uma promessa e um risco ao longo de toda a sua trajetória. “Econtinua sendo mais do que nunca”.

Armand Mattelart é pesquisador e professor universitário nascidona Bélgica, com ampla trajetória na Europa e na América-Latina. Ini-ciou sua carreira universitária na Escola de Sociologia da UniversidadeCatólica do Chile, em 1962, e a partir de 1967 foi especialista em de-

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senvolvimento social das Nações Unidas naquele país. Durante o gover-no de Salvador Allende (1970-1973), trabalhou no setor das políticas decomunicação. E.m setembro de 1973, foi expulso do Chile pela ditaduramilitar. Atualmente é professor catedrático em Ciências da Informaçãoe da Comunicação na Universidade de Paris VIII (Vincennes-SaintDenis). É autor de mais de vinte livros sobre a história da comunicação.

Karina Medeiros de LimaJornalista, mestranda do Programa de

Pós-Graduação em Comunicação Social da Umesp.