conselho nacional do laicato do brasil c n l b

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CONSELHO NACIONAL DO LAICATO DO BRASIL C N L B Presidência 2016-2019 Presidente: Marilza José Lopes Schuina Vice Presidente: Maria das Graças Silva Gervásio Secretário: Luis Antônio Ferreira Secretária-Adjunta: Sônia Gomes de Oliveira Tesoureiro: Eduardo Lange Filho Tesoureira Adjunta: Maria Aurenir da Silva Paiva CUIABÁ, JANEIRO/2019 Responsável: Conselho Nacional do Laicato do Brasil SGAN 905 – conjunto C – Asa Norte – 700790-050 – Brasília – DF Email: [email protected]; [email protected] - www.cnlb.org.br VII ENCONTRO NACIONAL - COMISSÃO DE REDAÇÃO Texto original: Carlos Signorelli (Comissão de Assessoria Permanente). Contribuições/revisões: Laudelino Augusto dos Santos Azevedo, Luis Antônio Ferreira, Luis Henrique Ferfoglia Honório, Márcia M. D. Signorelli, Márcio José de Oliveira, Marilza J. L. Schuina Conselho Nacional do Laicato do Brasil - CNLB/ Um Olhar. Brasília, 2018 Edições 2019 35 p. 21 x 29,7 ISSN 2526-6624

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CONSELHO NACIONAL DO LAICATO DO BRASIL

C N L B

Presidência 2016-2019Presidente: Marilza José Lopes SchuinaVice Presidente: Maria das Graças Silva GervásioSecretário: Luis Antônio FerreiraSecretária-Adjunta: Sônia Gomes de OliveiraTesoureiro: Eduardo Lange FilhoTesoureira Adjunta: Maria Aurenir da Silva Paiva

CUIABÁ, JANEIRO/2019

Responsável: Conselho Nacional do Laicato do BrasilSGAN 905 – conjunto C – Asa Norte – 700790-050 – Brasília – DF

Email: [email protected]; [email protected] - www.cnlb.org.br

VII ENCONTRO NACIONAL - COMISSÃO DE REDAÇÃOTexto original: Carlos Signorelli (Comissão de Assessoria Permanente).

Contribuições/revisões: Laudelino Augusto dos Santos Azevedo, Luis Antônio Ferreira, Luis Henrique Ferfoglia Honório, Márcia M.

D. Signorelli, Márcio José de Oliveira, Marilza J. L. Schuina

Conselho Nacional do Laicato do Brasil - CNLB/ Um Olhar. Brasília, 2018Edições 201935 p. 21 x 29,7

ISSN 2526-6624

SumárioApresentação ......................................................................................................................... 4I - Olhar sobre o momento histórico – “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade: um novo olhar, um novo agir” .............................................................................................. 5 1. - Vivemos em crise 6 1.1. - Definindo a crise 6 1.2. - Crise do Estado-Nação 6 2. - Crime organizado   7 3. - Precarização do trabalho? 7 4. - A Democracia 8 5. - O planeta Terra e a posição de Francisco 9 6. - O fim da Guerra Fria e o seu vencedor 10 7. - A ação do FMI, da CIA e dos bilionários americanos 11 8. - O individualismo e o comunismo 11 9. - O nazi fascismo de volta ao mundo 11 10. - Crise dos valores 12 11. - Crise das Instituições 12 12. - Crise na relação com o Sagrado 12II - Religião, Igreja e Política ............................................................................................. 13III - O fim das utopias de libertação? ................................................................................. 13IV - Crise epocal ou Mudança de Época? .......................................................................... 14V - Crise no paradigma civilizacional burguês (ou modernidade) .................................... 14VI - Alguns sinais para um outro olhar .............................................................................. 15 6.1. - Para uns, tudo... Para os demais, a miséria! 16 6.2. - O motivo de tanta concentração 16 6.3. - Uma civilização estruturada para matar 16VII - Brasil: Façamos antes que o povo faça!.................................................................... 18VIII - O grave momento da Igreja ..................................................................................... 20IX - O nosso agir: a noção de sujeito como condição básica para o ser e o agir do cristão .................................................................................................................................. 23 9.1. - A busca da construção de uma ação coletiva 23 9.2. - Os desafios do ser Igreja 24 9.3. - O aperfeiçoamento da ordem temporal 24 9.4 - Atitudes para operar as transformações no mundo 25 9.5 - O agente da história é o ser humano         26X - Continuando: Agir como Sujeito na Igreja e na Sociedade ......................................... 27 10.1 - Construir outro mundo, outra história 28 Citações e Referências Bibliográficas 29Celebração da Palavra ....................................................................................... 30

5VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil - 20 a 23 de Junho de 2019 - Cuibá/MT

ApresentaçãoRealizar-se-á em Cuiabá/MT, nos dias 20 a 23 de junho de 2019, o VII Encontro Nacional do Laicato

do CNLB, para o qual precisamos nos preparar. Os encontros nacionais do CNLB têm como objetivo “contribuir para a articulação do laicato do

Brasil, estabelecer diretrizes gerais e definir as grandes linhas de ação do organismo” (Estatuto do CNLB, art. 10), bem como “oferecer aos cristãos leigos e leigas do Brasil uma oportunidade de aprofundar temas ligados à sua vocação específica, estabelecer diretrizes e prioridades para a ação dos membros do CNLB e para a atuação dos leigos e leigas conforme sua vocação, na Igreja e no mundo, em comunhão com os demais Organismos do Povo de Deus” (Estatuto do CNLB, art. 11).

Todos os conselhos regionais, diocesanos e as organizações filiadas podem enviar seus delegados. Podemos comparecer com nossas delegações completas, para que possamos ter um número expressivo de participantes.

O tema escolhido para iluminar a reflexão deste nosso VII encontro “CRISTÃOS LEIGOS E LEI-GAS NA IGREJA E NA SOCIEDADE: UM NOVO OLHAR, UM NOVO AGIR” e o lema “EU VI, OUVI E DESCI” (Ex.3,7-8) propicia a análise e aprofundamento do tempo presente no Brasil e no mundo, bem como da realidade de nossa ação enquanto Igreja na sociedade e nos aponta horizontes para nossa atuação enquanto cristãos leigos e leigas do CNLB.

Frente à nossa realidade, somos convidados a ver o mundo que nos cerca, ouvir as dores e as alegrias, as tristezas e as esperanças e, como Deus que “desce” e “entra” no mundo e na história, devemos, como Igreja assumir nossa missão sem limites, sem fronteiras. “É missão do povo de Deus assumir o compromis-so sociopolítico transformador, que nasce do amor apaixonado por Cristo” (CNBB, 105 n. 161).

O processo preparatório para nosso encontro já começou com o Ano Nacional do Laicato, onde ti-vemos a oportunidade de vivenciar com ardor a vocação, identidade, espiritualidade e missão dos Cristãos Leigos e Leigas, sujeitos na Igreja em saída, a serviço do Reino” (tema Ano do Laicato).

O desafio agora é continuar nessa pegada, com a Campanha da Fraternidade 2019: Fraternidade e Políticas Públicas e com este nosso encontro nacional.

O texto que recebemos em mãos quer contribuir para aprofundar nosso processo preparatório. Para isso ele deve ser lido, refletido nos conselhos, nas organizações, em assembleias, reuniões e encontros, para que venhamos a Cuiabá com o conteúdo que iremos partilhar nos momentos em que estaremos reunidos.

A metodologia do texto e também do encontro é o VER-JULGAR-AGIR...Um VER– um olhar para a realidade: vivemos num planeta numa crise provocada: que não é passa-

geira; é uma crise do sistema mundial; uma crise civilizatória; uma crise ambiental profunda; uma crise de valores. Neste meio, o Brasil vive uma ofensiva neoliberal, com forte ataque do c apital financeiro, numa nova onda corrupção, falta de ética e submissão aos interesses neoliberais internacionais, rompendo com a autonomia e soberania do país, criminalizando os movimentos sociais e até a própria Igreja, pois “o Estado investigar os nossos bispos é investigar a Igreja, todo o Corpo Eclesial, portanto, nos atinge a todos e todas”.

Um JULGAR- que chamamos de “uma pequena análise eclesial” da Igreja na Europa, na América Latina e no Brasil, buscando assim a iluminação histórica para o desafio do clericalismo e da clericalização do leigo.

Um AGIR – que não diz o que deve ser feito, mas aponta horizontes e alguns indicadores de ação para que os cristãos leigos e leigas, como sujeito, vivam sua “cidadania no mundo através de sua presença nas macro e microestruturas que compõem o conjunto da sociedade”, sabendo que “a Igreja existe unicamente para servir”.

Trazemos ainda, uma sugestão de celebração para iluminar a reflexão em todos os momentos de es-tudo.

Preparemo-nos! O VII Encontro nos espera!Marilza José Lopes Schuina

Presidente do CNLB

I - Olhar sobre o momento histórico – “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade: um novo olhar, um novo agir”

Desde a década de 1960, na América Lati-na, segmentos importantes e numerosos de cris-tãos oriundos da Ação Católica e das palavras do Concílio, principalmente de seu último documen-to, a Gaudium et Spes, buscavam uma prática que os direcionasse, bem como ao mundo, no rumo do Reino anunciado por Jesus, do qual eram sinais e instrumentos (Lumen Gentium, 31).

A utopia do Reino de Deus e as visões do mundo e da história que hoje chamamos de “uto-pias”, moviam-lhes e davam-lhes segurança no passo seguinte de seu caminhar. Uma das formas de alcançar esta ou aquela vitória rumo à utopia desejada era através da política, já estabelecida e vivenciada por outrem.

Hoje, fazer política para o cristão é cons-truir as estruturas e as práticas que levem a um mundo novo em que os pobres sejam sujeitos no processo histórico. E isso não vem com fórmulas prontas, de práticas de lutadores anteriores. O que vem, virá com a nossa prática!

Como a prática se dá no presente, muitos se contentam com uma análise conjuntural, ou seja, um olhar só sobre o presente.

E isto não basta, porque a história não é apenas uma sucessão de eventos, praticamente desligados entre si, onde se vê os efeitos e não as causas; onde se vê o agir dos protagonistas, como se fossem verdades históricas, quando, muitas vezes, são marionetes; onde se pauta a prática e discussões a partir do que a mídia fala, como se fosse verdade, quando aquilo tudo que ela faz é mostrar a sua verdade, aquilo que a ela (aos que as financiam) interessa que se veja.

Se a análise conjuntural não for acompanha-da de uma outra, mais profunda, que busca as ra-zões dos fatos presentes, ela não terá efetividade. Trata-se de buscar a análise estrutural dos acon-tecimentos. Em outras palavras, dizer que existe muita corrupção nos meios políticos brasileiros é uma obviedade. O necessário é buscar as causas,

históricas e institucionais, no mínimo. Isto se faz numa análise estrutural em que se pergunta sobre a causa e não só sobre o efeito, ao mesmo tempo em que se pergunta a quem interessa tais gestos e atitudes, tais ações políticas e quem está ganhan-do ou perdendo com tudo isso?

Por isso, se diz que toda conjuntura é fruto de uma estrutura e que todo olhar é fruto de uma opção; isto quer dizer que além do instrumental analítico absolutamente necessário para buscar-mos as razões do que vemos, devemos acrescen-tar o olhar evangélico ao olhar analógico, como o fez o Papa Francisco em sua Exortação Apostóli-ca Evangelii Gaudium.

Estamos em preparação para o VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil que acontece num momento histórico extremamente questionante para nosso hoje e muito mais para nosso futuro. Não poderemos vivenciá-lo sem que tenhamos bem claro em que mundo estamos, em que mundo vamos colocar em prática o nosso agir de discípu-los missionários e como vamos ser sal e luz nesse mundo em construção.

Viver no mundo de hoje é algo muito mais complexo que antes, principalmente se queremos pensar e agir a partir dos valores do Evangelho. O problema, hoje, não atinge mais só a nossa paró-quia ou a nossa diocese, mas atinge todos os ho-mens e mulheres, de todas as regiões, suas famí-lias, seus empregos.

Por isso precisamos chegar ao nosso VII Encontro preparados e com mais ideias para nos construirmos como cristãos e cristãs e como mem-bros do Conselho Nacional do Laicato do Brasil e, fundamentalmente, colocar o nosso Organismo no campo de luta das urgentes transformações so-ciais, políticas e econômicas que, necessariamen-te virão e que exigirão de nós, cristãos leigos e leigas ações eficazes conforme o Reino espera de nós.

6 7VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil - 20 a 23 de Junho de 2019 - Cuibá/MTRevista UM OLHAR - Ano VIII - Nº 12 - Fev./2019 - Conselho Nacional do Laicato do Brasil

1. - Vivemos em crise Há algum tempo vimos refletindo sobre

uma questão que a grande maioria dos pensado-res chama de CRISE! E para exemplificar, vamos citar o texto de Carlo Bordoni e Zygmunt Bau-mann, “Estado de Crise”[1].

1.1. - Definindo a crise Morin afirma que a crise é a forma de viver-

mos na sociedade atual. O próprio termo desen-volvimento só pode ser entendido quando, em seu bojo, está acontecendo a crise, a crise do passado, a construção do novo[2].

É comum dizer que muita gente está perple-xa com os acontecimentos, com as pessoas, com as instituições. Parece que nada está como antes, parece que vivemos num mundo de egoístas, onde os valores perderam seu significado. E esse sen-timento é comum a muita gente, no mundo todo.

É isso o que nos leva a dizer que estamos vivendo uma crise na nossa civilização, ou seja, todo o ambiente cultural, social, político, econô-mico, religioso em que vivemos está em processo de transformação, está se desfazendo do velho, das estruturas que aprendemos a conhecer e viver, para ir para outra estrutura civilizacional. Estamos vivendo a metamorfose do que foi questionado, e, queiramos ou não, indo para uma nova estrutura civilizacional.

Podemos dizer que estamos deixando o ve-lho e ultrapassando-o rumo ao novo. A situação não é fácil, e a sensação de que nada está em seu lugar é muito próxima da realidade. Mas, cri-se não significa uma coisa boa nem uma coisa má, mas apenas a passagem do velho, que não mais satisfaz, para o novo que ainda não está construído. Frente a isso, a pior ação é fazer de conta que nada está acontecendo, ou, então, desesperar-se. Afinal, é comum dizer que o novo será construído com nossa participação ou sem ela. Podemos ser sujeitos ou objetos da crise. Isto é muito sério! Nossa fé nos leva a ver toda crise como a iluminação do Espírito. Crise é a antessala do novo.

1.2. - Crise do Estado-NaçãoO Estado moderno, em seus três poderes,

mais e mais tem sido um apêndice do poder eco-nômico, das grandes fortunas e das grandes trans-

nacionais capitalis-tas, que determinam o agir do Estado em seu favor, estabele-cendo legislações e jurisprudências que lhes apetecem.

O Estado tem entre suas obriga-ções constitucionais

o dever de assegurar aos seus cidadãos e cidadãs um certo piso de condições de vida individual e de bem-estar social. No entanto, ele parece não ter capacidade, enquanto soberania, de fazer frente aos poderes paralelos dos grupos organizados em redes internacionais. Os exemplos aparecem continuamente e não somente nos países ditos periféricos mas até nas grandes potências militares e econômicas.

Economicamente, o Estado Nacional tor-nou-se alvo das armadilhas do capital globaliza-do, que vê nele antes uma fonte segura de rendi-mentos, por meio da dívida pública, do que uma instância de bem-estar social. Qualquer medida num Estado pode gerar ações de desmobilização ou de debandada do capital internacionalizado, sempre em busca de mercados de trabalho e de consumo mais adequados à sua fome de lucros.

As grandes corporações são, hoje, superiores em poder político, econômico e logístico a quase todos os Países. Algumas dessas corporações têm um faturamento bruto superior ao PIB (Produto Interno Bruto) da maioria dos Países-membros da ONU. Esse poder econômico desestabiliza total-mente as estruturas político-administrativas, quer seja pelo seu movimento quer seja pela constitui-ção de grupos político-partidários subsidiados a seu serviço, além do poder mobilizador das gran-des corporações junto à grande mídia.

A instituição “Estado” tem sido gravemente debilitado pelo pensamento neoliberal que afirma ser o Estado um empecilho à liberdade individu-al no mercado e propõe diminuir o Estado para aumentar o investimento na produção. Para esse pensamento, Reforma do Estado significa sua re-dução ao mínimo possível, um Estado enfraque-cido, incapaz de sustentar políticas sociais e de regular o mercado globalizado, mas intacto nas suas funções ditas essenciais: econômicas (garan-tir a credibilidade da moeda), policiais (garantir a propriedade), jurídicas (fazer cumprirem-se os

contratos), militares (defender a chamada segu-rança nacional) e diplomáticas (regular as rela-ções internacionais). Em suma, um Estado fraco para as políticas sociais, mas forte bastante para dar sustentação ao mercado. Fica, então a pergun-ta: a quem interessa tal Estado[3]?

2. - Crime organizado O crime organizado sempre foi um elemen-

to de medo e de grandes preocupações. Vejam-se as máfias italianas, a Yakuza, máfia japonesa, que são motivo de grandes reflexões acerca do fruto de suas ações, de suas implicações no processo econômico e político, entre outras. Entretanto, no atual momento histórico, as ações mafiosas atin-gem ou podem atingir os próprios Estados e até Continentes inteiros.

A partir da década de 70, com o que deno-minamos “revolução das comunicações”, pela informatização de tudo, também o crime organi-zado se apropriou desses grandes avanços tecno-lógicos. Mas podemos marcar o fim da União So-viética, acontecido como foi, como um momento extremamente inquietante, já que foi aproveitado pelo crime organizado, a partir das máfias russas, no roubo de armas de todas as espécies e peri-culosidades, inclusive a atômica, para a venda mundial. Muito embora não tenhamos ainda ele-mentos claros do uso de tais armas, o que se sabe é que elas estão disseminadas, nas mãos do crime organizado no mundo todo, não tanto para o uso como para a venda.

3. - Precarização do trabalho?No atual momento, vemos a opressão e o

massacre dos trabalhadores e trabalhadoras que se dá de forma exponencial, por causa do que cha-mamos de Terceira Revolução Industrial, da in-formatização e da comunicação. Como nos diz o Papa Francisco, essa economia mata![4]. Dadas as possibilidades de comunicação em todos os níveis e por todos os instrumentos, as plantas fabris mudam sempre em busca de mão-de-obra mais próxima à escravidão, hoje, principalmente, na Ásia.

Segundo Rifkin,[5] estamos na “era do acesso”, num capitalismo em rede, e construindo um mundo onde o emprego poderá desaparecer. Muito embora haja muitos questionamentos a respeito do fim dos empregos, entretanto o

capitalismo em rede já questiona as plantas fabris e mesmo a forma de se trabalhar, incluindo o local.

As transformações que foram ocorrendo na produção capitalista, a partir da década de 70, geraram grandes e significativas mudanças, tanto no processo de produção como também nas con-dições de trabalho de homens e mulheres. Isto levou a um mundo do trabalho no qual vemos a extrema acumulação e concentração da riqueza, e, também, o crescimento do desemprego, a preca-rização do trabalho e o agravamento da pobreza.

Podemos dizer que: “A globalização econômica evidenciou com mais intensidade os

novos mecanismos ideológico-políticos e econômicos utilizados

pelo capital para intensificar a produção e, ao mesmo tempo,

sufocar a organização dos trabalhadores. Através de estratégias de retroalimentação

do capital, tais como: a terceirização, a flexibilização, a informalidade,

a busca por mão-de-obra barata, o controle de qualidade, entre outras,

ela colaborou para o aumento da precarização,da exploração do trabalho e do trabalhador

brasileiro”[6].

Com a criação de um mercado global, onde se produz e se vende tudo, os investimentos são muito grandes no aumento e na rapidez da pro-dução. Daí, o surgimento de uma automação sem fim, que faz com que o mercado de trabalho dê espaço a máquinas que substituem o trabalhador e a trabalhadora.

Assim sendo, quanto mais avança a subs-tituição dos trabalhadores e trabalhadoras pelas máquinas e pelos robôs, mais avança o que alguns denominam de precarização do trabalho; outros, inclusive o Papa Francisco, chegam a falar de “descarte” do trabalhador. Em suma, o que es-tamos vendo no mundo atual é a constituição de uma massa de humanos não mais sendo oprimi-dos, sugados pelo mundo do trabalho. Ao contrá-rio, este prescinde deles e delas. Descarta-os!

Por um lado, o capital financeiro recebe a maior parte dos investimentos dos lucros do capi-tal produtivo. Este, ao final de um período, rece-bendo dividendos, ao contrário do passado, prati-camente deixa de investir na produção, e investe

8 9VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil - 20 a 23 de Junho de 2019 - Cuibá/MTRevista UM OLHAR - Ano VIII - Nº 12 - Fev./2019 - Conselho Nacional do Laicato do Brasil

no mercado financeiro, nas bolsas de valores. Afi-nal, o retorno é maior e sem trabalho.

Por outro lado, ainda no campo empresa-rial, o capital financeiro é chamado de improdu-tivo,[7] já que não gera empregos, mas apenas retorno financeiro, o que prenuncia uma redução dos empregos. Além disso, lembremo-nos da chamada 4ª. Revolução Industrial,[8] aquela que, em essência, mostra a importância da robótica, da internet, da cibernética. Cada vez mais, estudiosos do assunto mostram os efeitos deletérios no campo do trabalho humano, no qual, este é substituído pelas máquinas que “quase” pensam.

É claro que isto pode levar a uma redução drástica do nível de vida de milhões de famílias, incluindo falta de moradia e de alimento. E não nos esqueçamos de aí colocar milhões de crian-ças.

E não nos esqueçamos dos acontecimentos dos últimos anos, aqui no Brasil e também em países da América Latina, Estados cujos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) controlados pelo capital financeiro e pelo capital empresarial. Legislações são aprovadas, mudanças radicais no processo constitucional vão alterando radical-mente os direitos dos trabalhadores e trabalhado-ras, inclusive nos direitos previdenciários[9].

Sabemos que alguns estudiosos, quase que de forma ideológica, não concordam com aquilo que alguns denominam de “fim do trabalho”, que o trabalho existirá e que o trabalho é o elemento constituidor do humano, que com ele constrói e molda o seu mundo.

Mas, então, como fazer?

4. - A Democracia Quando a burguesia

vence a disputa revolu-cionária na Inglaterra, no século XVII, o elemento mais forte e fundamen-tal que ela impõe é a constituição de um Estado que não esteja moldado pelos ditames do rei de plantão. É assim que surge o Parlamento que temos atualmente, e um Poder Judiciário ao qual recorrer. E, todos os homens e mulheres são cha-mados a participar, a construir este Estado, a par-tir da Democracia.

Ao longo dos séculos, principalmente a par-tir da independência americana, em 1774, o povo, mal ou bem, atuava na constituição democrática do Estado. Por isso mesmo, Lincoln insistia que a democracia era o governo do povo, pelo povo e para o povo.

Entretanto, hoje mais do que antes, as es-truturas do Estado são manipuladas pelo poder econômico, até aquela que alguns acreditavam impoluta: a justiça que, talvez, seja a mais passí-vel de ser construída por interesses outros que não a construção do direito.

Vejamos o que nos diz R. Rorty:

“Nós temos agora uma superclasse que toma todas as decisões econômicas importantes,

fazendo-o em total independência em relação às legislaturas e, a fortiori,

à vontade dos eleitores de qualquer país determinado”[10].

Neste momento, o parlamento, no Brasil em suas duas câmaras, é feita quase que só a par-tir do capital financeiro. Todos sabemos quem fo-ram os eleitos (as) nas últimas eleições: aqueles que estão a serviço do capital financeiro e de seus aliados, as chamadas bancadas da “Bala, do Boi, da Bíblia” e outras.

Deste modo, o processo democrático serve mais para encobrir a realidade e, portanto, quando estamos indo para as urnas, estamos, na verdade, coonestando a farsa. Parodiando uma frase muito citada, temos o melhor Estado e o melhor con-gresso que o dinheiro pode comprar.

Assim, entendendo tal democracia como um conjunto de gestos pré-moldados que terminam com o “sim” na urna eletrônica (aqui no Brasil), temos que pensar e construir um outro modelo de democracia: a Democracia Participativa[11].

O que chamamos normalmente de demo-cracia, na verdade, é um tipo de democracia: a de-mocracia representativa. Muitos dos meios de comunicação, de forma muito bem pensada, de-senvolveram na consciência das pessoas o concei-to de que democracia é sinônimo de eleições. Se estas acontecem normalmente, periodicamente, então, estamos vivendo numa democracia.

É preciso atentarmos para o fato de que esta chamada democracia é o cumprimento de determinada legislação, de determinados rituais. Por um tempo, fala-se demais em política,

mostram-se os candidatos, há debates e, ao final, acontece aquilo que normalmente se denomina de “festa cívica”: o momento eleitoral. Os eleitores vão aos locais de votação, depositam seu voto ou escolhem seus candidatos e pressionam a tecla “confirma” das urnas eletrônicas.

Mas o que acontece, depois? O ato de votar faz com que indiquemos que determinada pessoa nos represente, ou seja, entregamos nosso ser po-lítico para ela. Votamos e vamos para casa, sem atentarmos que, nessa maneira de viver a demo-cracia, nós damos a quem nós votamos o direito de agir em nosso nome, de ser o político que nós . Nós outorgamos ao eleito(a) nosso ser político e nos transformamos em objeto de suas ações.

Por isso dizemos que, se democracia é, te-oricamente, a pessoa participando como sujeito dos destinos e das ações do Estado, organizando--o a partir de sua ação como cidadão de plenos direitos, é visivelmente necessário ultrapassar esta democracia representativa. Mais que isso, é necessária a construção de instrumentos e canais de participação que coloquem o mais possível as decisões ao alcance e a partir de todos e todas.

5. - O planeta Terra e a posição de Francisco

O atual processo econômico, tendo a razão instrumentalizada a seu favor (DAp 45), produziu um mundo à beira da falência da sustentabilidade. E por mais que se chame a atenção para a situação que pode se tornar ingovernável, o capital parece não entender o extremo perigo que a humanidade vive.

A Modernidade, em sua exaltação da razão humana e de suas realizações, ao longo dos últi-mos séculos transformou o planeta Terra em fon-te inesgotável de recursos, principalmente para o capital, que dele se aproveita para o aumento de seus lucros. Ao mesmo tempo, o humano usa o planeta como uma espécie de lixeira.

“A destruição do ambiente humano é um fato muito grave, porque, por um lado,

Deus confiou o mundo ao ser humano e, por outro, a própria vida humana é um dom

que deve ser protegido de várias formas de degradação.

Toda a pretensão de cuidar e melhorar o mundo requer mudanças profundas

«nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo,

nas estruturas consolidadas de poder, que hoje regem as sociedades».”(LS, 5)

Entretanto, somente agora, a partir dos anos 80 que começamos a ter elementos claros de que não só estávamos poluindo o planeta, mas des-truindo-o como habitat para o humano. No pla-neta, há cada vez menos condições de vida digna. Quanto ao ar que respiramos, há cada vez mais a possibilidade de não mais podermos respirá-lo. Os estudos vão cada vez mais demonstrando que temos que parar com a destruição ecológica da Terra, e isto implica em mudarmos, inclusive, a forma de produzir e de consumir.

E o Papa Francisco traz também o pensa-mento da Igreja sobre o assunto, em sua Encíclica “Laudato Si”, extremamente bem recebida pelos intelectuais ligados ao assunto. Duas coisas se destacam em sua leitura. A primeira é chamar a Terra de “Casa Comum”. O segundo ponto, que está praticamente só na fala do Papa, os proble-mas ecológicos, a crise do nosso Planeta atinge mais e em primeiro lugar os pobres.

Por outro lado, segmentos importantes dos poderes político e econômico mundiais se negam a ouvir a extrema necessidade de mudanças em sua prática e na prática de seus países. Veja-se o presidente dos EUA e os grupos econômicos de presença mundial. Pode parecer muito trágico, mas a verdade é que se nada começar a ser feito, já, para afastar a catástrofe dos povos da Terra, em alguns anos nada mais poderá ser feito.

Hoje já não se tem mais dúvidas de que estamos vivendo o que se denomina aquecimen-to global. Este é, a grosso modo, o processo de aumento da temperatura média da atmosfera, dos oceanos e da própria Terra. Entre as muitas cau-sas, este se dá em função das atividades das pes-soas, dos humanos, e, principalmente, em função do modo de produção que temos hoje no mundo, o capitalismo. As emissões de gases que criam o chamado efeito estufa estão na origem de tal aquecimento, como o uso de gasolina e de todos os combustíveis tirados da Terra.

Por isso mesmo, neste momento de tamanha gravidade, a própria forma de produção ou sua es-truturação deve ser repensada. Afinal, como o diz o Papa Francisco, o sistema industrial, no final do ciclo de produção e consumo, não desenvolveu a

10 11VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil - 20 a 23 de Junho de 2019 - Cuibá/MTRevista UM OLHAR - Ano VIII - Nº 12 - Fev./2019 - Conselho Nacional do Laicato do Brasil

capacidade de absorver e reutilizar resíduos e es-córias (LS 23). Veja-se as lamentáveis tragédias de Mariana e de Brumadinho, dentre outras.

Estamos sentindo, já, os efeitos do aqueci-mento do planeta, da atmosfera, o aquecimento global. A Terra e sua produção serão prejudica-das, bem como nós todos e todas. Praticamente todos os estudos independentes nos mostram que “a maior parte do aquecimento global das últimas décadas é devido à alta concentração de gases com efeito estufa (anidrido carbônico, metano, óxido de azoto e outros) emitidos sobretudo por causa da atividade humana” (LS 24). No afã de produzir mais e mais valores de troca para aten-der ao consumismo, as indústrias consomem mais e mais energia, de todas as espécies, e também fazem da natureza um manancial de insumos, de matérias primas. O pior de tudo é que não só se consome a natureza, extinguindo-a, mas também ela é continuamente morta através das sementes transgênicas, dos agrotóxicos, e também de todo o lixo, não só o produzido pelas empresas, mas também pelo cidadão comum.

O Papa Francisco entra fundo e faz uma análise questionadora da grande mudança do agir humano naquilo que podemos denominar pós--modernidade.

A contínua aceleração das mudanças na humanidade e no planeta junta-se,

hoje, à intensificação dos ritmos de vida e trabalho,

que alguns, em espanhol, designam por “rapidación”.

Embora a mudança faça parte da dinâmica dos sistemas complexos, a velocidade que hoje lhe impõem as ações humanas contrasta com a lentidão natural da evolução biológica. Os

objetivos desta mudança rápida e constante não estão

necessariamente orientados para o bem comum e para um desenvolvimento humano sustentável

e integral. A mudança é algo desejável,mas torna-se preocupante quando se transforma

em deterioraçãodo mundo e da qualidade de vida de grande

parte da humanidade (LS 18).

Ainda tendo como base as análises em Lau-dato Si’, vemos que as pessoas são afetadas con-tinuamente pelos problemas do meio ambiente, principalmente os pobres.

A exposição aos poluentes atmosféricos produz uma vasta gama de efeitos sobre a saúde,

particularmente dos mais pobres, e provocam milhões de mortes prematuras. (LS 20).

Além disso, não só pela necessidade de vi-verem em lugares infectos, também seu trabalho e sua subsistência dependem fortemente das reser-vas naturais.

Não possuem outras disponibilidades econômicas nem outros recursos que lhes

permitam adaptar-se aos impactos climáticos ou enfrentar situações catastróficas, e gozam

de reduzido acesso a serviços sociais e de proteção (LS 25).

Ainda nessa linha, o Papa Francisco afirma que

este mundo tem uma grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água

potável, porque isto “é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável (LS

30).

6. - O fim da Guerra Fria e o seu vencedor

A 2ª guerra mundial teve dois vencedores: os EUA e a Rússia, depois União Soviética. A par-tir da derrota do nazi-fascismo, surgiu uma grande disputa entre os dois vencedores, que nunca che-gou ao estado de batalhas, e ficou sendo chamada de Guerra Fria.

Ao longo de 25 anos, que muitos estudiosos chamam de “25 anos gloriosos”, dado o nível de vida das populações, principalmente da Europa, a disputa se dava nos campos da ciência, da ideolo-gia e da produção armamentista.

O modelo de socialismo soviético era tido por muitos como uma utopia a ser realizada em

seus países, contra o predomínio do capitalismo que expropriava os seus direitos. Assim, o socia-lismo soviético era o horizonte das chamadas lu-tas de libertação por todo o mundo.

Entretanto, o chamado paraíso soviético, no qual todos e todas tinham trabalho, educação e saúde gratuitas, aquele império que tinha man-dado o primeiro homem ao espaço, Gagarin, vivia problemas enormes quanto à produção de alimen-tos, não fosse o imenso problema da falta de li-berdades.

Em 1991, vimos a União Soviética se tor-nar um passado. Isto fez que possamos dizer que a Guerra Fria teve um vencedor: os EUA. Estes, sem oposição, fazem o que entendem que seja ne-cessário para manter sua visão ideológica e econô-mica. Ocupam países, criam bases militares onde querem, põem ou tiram governantes democratica-mente eleitos. O modelo mais visível de sua atu-ação se dá na América Latina que, segundo até documentos oficiais,[12] é considerada “quintal” dos Estados Unidos.

7. - A ação do FMI, da CIA e dos bilionários americanos

Quando do processo do “impeachment” da presidente Dilma, e agora nas últimas eleições presidenciais, circularam notícias de que grupos de jovens, atuando principalmente nas novas mí-dias, eram sustentados pelos petrodólares de famí-lias americanas, assim como grupos milionários no mundo, principalmente nos EUA, compraram grandes universidades ou conseguiram instituir cursos nas mesmas que validam, explicam e de-fendem o neoliberalismo, a partir das conclusões de Mont Pellerin. Por isso mesmo, a Escola de Chicago defende com unhas e dentes tal proces-so político-econômico, sendo dela o economista Milton Freedman, aquele que constituiu economi-camente o primeiro neoliberalismo da história, no Chile de Pinochet, causando, inclusive, um terror e um morticínio na esquerda, jamais igualado.

Em outras palavras, podemos dizer que os movimentos, tais como o citado do “impeach-ment”, não são neutros e nem veleidades, mas es-truturados e condicionados por grandes interesses como o do capital financeiro especulativo, e teve a mão do FMI e da CIA, e seus dólares nos desti-nos políticos do nosso país.

8. - O individualismo e o comunismo

É a partir da década de 60 que as chamadas revoluções culturais (lembremo-nos do Maio Francês de 1968) vão trazer no centro das preocupações dos homens e mulheres, a questão do individualismo, a afirmação da subjetividade, a auto propriedade do corpo, não ao passado e à tradição, a pós-modernidade, etc.

A Modernidade tem no pensamento carte-siano um de seus eixos. A partir de seu “Cogito, ergo Sum” (Penso, logo existo), Descartes faz a afirmação cabal para a modernidade que o EU, o Humano, com sua razão infinita, define a verdade e, portanto, define o mundo e o outro. O EU PEN-SO define o outro como objeto a ser definido. Por isso dizemos que a forma de vida construída sob o impacto da Modernidade é o “individualismo”.

Por isso, o OUTRO é considerado um im-pedimento, uma pedra no caminho do EU, e que tem que ser eliminada. Este individualismo, a partir do movimento do pensamento pós-moder-no “e globalizado favorece um estilo de vida que debilita o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares”[13].

Além das guerras que existem pelos mais diferentes motivos, o individualismo é o que afas-ta o EU do OUTRO, que, fazendo deste um obje-to, não o considera dialogante. Assim, o mundo, que está dilacerado pelas guerras e a violência, está, também moldado por um doentio individua-lismo que divide os seres humanos e põe-nos uns contra os outros visando o próprio bem-estar.

O Individualismo também gera uma espécie de vício como saída e resolução do problema: é o consumismo. E nesse caso, economicamente, a atual economia, com o predomínio de um capital financeiro e outro produtivo, colocam em alta, e difundem, uma exacerbação do consumo, o con-sumismo desenfreado que o mercado incentiva.

9. - O nazi fascismo de volta ao mundo

Lembremo-nos das atrocidades que o mun-do viveu nas décadas de 30 e 40, provindas das práticas do Nazismo e do Fascismo. Ao final da segunda guerra, chegamos à conclusão de que aquela forma de pensar e de agir estava derrota-

12 13VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil - 20 a 23 de Junho de 2019 - Cuibá/MTRevista UM OLHAR - Ano VIII - Nº 12 - Fev./2019 - Conselho Nacional do Laicato do Brasil

da por formas mais lógicas e humanas. E assim vivemos por décadas. E eis que agora nos preocu-pa demasiado o que estamos vendo pelo mundo, principalmente depois do fim da União Soviética, nas disputas políticas na Europa e agora também no Brasil. É a presença de grupos à extrema direi-ta, carregando vestimentas e bandeiras nazifascis-tas. Sem nenhum pejo, concorrem nas eleições, e, em alguns lugares, ganham cadeiras nos parla-mentos.

É um perigo! O seu crescimento e sua pre-sença mais forte na mídia e nas práticas grupais pode nos levar a acreditar em outras décadas de sofrimento e angústia como foram as de 30 e 40.

10. - Crise dos valoresA crença no absolutismo do ‘eu’ cartesia-

no, munido de uma razão todo-poderosa desapa-rece, principalmente frente ao sofrimento causa-do pelas guerras propiciadas pela mesma razão instrumentalizada pelo capital e por um sistema econômico que favorece uma pequena minoria e deixa ao relento uma massa de empobrecidos e miseráveis, ou, no dizer do Papa Francisco, “res-to”[14]. A verdade deixa de ser universal ou de ser buscada. Afinal, o ‘eu’ é o dono da verdade, ou seja, é ele quem decide o que é e o que faz o objeto, ou seja, o outro. Assim, o belo, o valor, a verdade, são determinados por uma egolatria vinculada ao mercado. O individualismo é o pos-to-chave para o entendimento da modernidade. O egoísmo e o individualismo eliminam o outro como companheiro de caminhada.

11. - Crise das InstituiçõesAs institui-

ções construídas ao longo dos últi-mos 200 anos vão perdendo o signi-ficado que tinham e em seu lugar não são coloca-dos, ainda, outros significados. Assim, a família, a paternidade, a maternidade, o ser filho ou filha, a escola, a Igreja, tudo é colocado em questão.

Tais instituições eram o centro das certezas que permitiam ao humano manter-se. Entretanto, uma característica da modernidade, hipervalori-zada neste momento de crise, é a individualiza-

ção, a característica que faz o eu querer afirmar-se em relação aos demais, afirmando-se em seu próprio caminhar. A individualização faz com que as pessoas se coloquem cada vez mais distantes das instituições que lhe davam segurança e instabilidade.

12. - Crise na relação com o Sagrado

E o que dizer da “crise da Alma”, expressão de Morin[15]? Num momento de crise dos valo-res, no abandono de cada um por si, no comando despótico dos que detém as formas de inculcar a sua verdade e a sua cultura no outro, neste mo-mento surge a crise religiosa, a busca da religião como explicação ou como espaço de socorro e de escondimento frente ao novo desconhecido. O mesmo processo de individualização faz com que o religioso, o sagrado passe a ter inúmeros sig-nificados, até discordantes entre si. Dessa forma, a religião e seus signos passam a ser objetos de opção pessoal, individual.

Podemos, pois, nos perguntar, se está certo Otto Petras, que, em 1935, afirmou que “o cris-tianismo, esse movimento impressionante que marcou a história e que foi o mais poderoso for-mador do nosso planeta, esgotou sua força cria-dora”[16]?

Comparando as décadas de 60 e de 90, po-demos dizer que aquela foi a década da esperança e esta última, a década do “não há como mudar”. Esta diferenciação é extremamente significativa na forma como se milita.

1. Ontem vivíamos uma forma de fazer po-lítica: otimismo, esperança, a certeza na frente e a história na mão...

2. Hoje, parece que tudo o que estruturamos, pensamos, criamos em nossa luta passada já não tem sentido, ou parece perdida, parece traída...

3. Em alguns ambientes, fala-se, mesmo, do fim da utopia.

Já na década de 60 começaram a aparecer outros movimentos que iam além dos movimentos de classe, econômicos. Apareciam os movimentos culturais, a busca de uma nova forma de viver em sociedade, a partir do atendimento das demandas de gênero, de etnia, etárias etc. Eram demandas que estavam num outro patamar das demandas de

classe. A nova sociedade que pleiteavam não era só baseada na eliminação da opressão capitalista. Ao contrário, muitos desses movimentos não co-locavam nem as classes e nem o modo de produ-ção no centro de suas preocupações.

A década de 90 nos viu órfãos de utopias, insistindo a todo momento que a história chegara ao fim, que o capitalismo vencera, e que qualquer busca de mudança era fadada ao fracasso. Ao fi-nal da década de 80, com o fim da experiência do socialismo soviético, entra em questão a possi-bilidade ou a exequibilidade de se construir uma sociedade socialista. O liberalismo, em sua exa-cerbação com o nome de neoliberalismo, assume, pelos seus defensores, a afirmação de que fora vitorioso na disputa dos dois projetos. Em termos do Pensamento Social da Igreja, assim é feita a reflexão do fim da Guerra Fria na Centesimus An-nus, de São João Paulo II.

Nada mais há que se fazer, a não ser se in-tegrar e se entregar à mercadoria e ao Consumo?

II - Religião, Igreja e Política

Neste grave momento histórico, diante das tantas questões colocadas, ressaltando a própria sobrevivência, o empobrecimento, o desemprego, as religiões cristãs têm que dar a sua palavra, e os cristãos e cristãs têm que se perguntar qual sua responsabilidade nisso tudo, quer seja nas mudan-ças quer seja nas revoluções. Afinal, cremos que, em determinado momento histórico, para nós, o Pai encarna seu filho para mostrar ao humano o que é ser humano. E este humano está correndo o risco de desaparecer.

Eis nossa responsabilidade!

As utopias que nos moviam na construção do Novo, de um novo processo social, político e econômico, de novas relações entre os humanos, deixaram de existir na mente e nos corações da-queles e daquelas que queriam mudar, que que-riam construir um mundo melhor. Os sonhos dos que buscavam as mudanças se baseavam em mo-delos pensados e construídos a partir do final do século XIX, chamados de utopias, construídas a partir do pensamento moderno, da modernidade, que surgira na derrocada da aristocracia feudal e na chegada ao poder social, político e econômico da burguesia europeia.

III - O fim das utopias de libertação?

14 15VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil - 20 a 23 de Junho de 2019 - Cuibá/MTRevista UM OLHAR - Ano VIII - Nº 12 - Fev./2019 - Conselho Nacional do Laicato do Brasil

A expressão crise no paradigma civilizacio-nal é sinônima de crise da modernidade. Significa que estamos vivendo uma crise de toda uma civi-lização construída pela burguesia europeia em seu processo de construção de hegemonia, ao longo do segundo milênio da era cristã. Assim, valores, conceitos, estabilidades, tudo entra em crise. E nós nos sentimos perdidos, sem verdades, sem lu-gares sólidos onde nos situarmos. Estão em crise a família, a verdade, a religião, o Estado, a demo-cracia e, o pior de tudo, o próprio mundo, enquan-to sistema vivo que pode morrer, em função do modo de produção estabelecido por esta mesma burguesia em ascensão.

Estamos vivendo tal situação que não po-demos mais chamar de momento de crises, de

mudanças modulares, localizadas. Nem podemos dizer que estamos vivendo um momento de crise como já fora vivido em outros momentos, ou seja, num processo de crises cíclicas. Ao contrário, a crise que nos atinge é sistêmica! Como dissemos anteriormente, não é uma crise que atinge o mo-mento conjuntural, mas é uma crise estrutural, nos sustentáculos da civilização em que vivemos. A incerteza em que vivemos, em todos os campos, “é o primeiro sentido que encerra o termo cri-se”[18].

Todo o processo cultural, político e eco-nômico construído a partir da visão moderna de mundo, ou visão burguesa de mundo, entra em crise, no sentido de ser questionada e chamada a se reconstruir em novo paradigma civilizacional.

IV - Crise epocal ou Mudança de Época?

O Documento de Aparecida e o Papa Fran-cisco na Evangelii Gaudium, falam que estamos vivendo uma mudança epocal, uma crise epocal ou uma mudança de época. Parece que nada está naquele lugar em que sempre vimos as coisas. No caso da expressão mudança de época, o que se quer dizer é que vivemos um momento ímpar na história da humanidade. Não são apenas mudan-ças ocasionais nos costumes ou nos valores, mas é o próprio humano que está em processo de trans-formação.

O termo vem de um filósofo alemão, Karl Jaspers[17], que analisou a importância estrutural e ontológica do início da filosofia, na Grécia, e o período de seu auge, dos séculos VIII ao IV a.C..

O pensar filosófico traz à luz a importância do ‘logos’, da palavra originada pela racionalidade, contraposta ao mito.

Mudança de época é, pois, essa mudan-ça radical, ontológica, onde o humano tem de si mesmo uma outra visão. É mais do que uma mudança de valores, de estruturas, de considera-ções. Altera a concepção que tem de si mesmo e de sua relação com Deus. Se na primeira mudan-ça de época, ocorrida, segundo Jaspers, entre os séculos VIII a IV a.C., houve a separação entre a transcendência e a imanência, entre o mito e a razão, agora estamos vivendo outra grande e ra-dical transformação. Apenas não temos nenhuma certeza aonde chegará.

V - Crise no paradigma civilizacional burguês (ou modernidade)

VI - Alguns sinais para um outro olhar

A Organização Internacional do Tra-balho (OIT) e a OXFAM[19] (entidade de Oxford que combate a fome) divulgaram dados alarmantes como resultados das crises financeiras e do capitalismo. Para estes dois organismos, a crise financeira mundial gerou uma inédita concentração de renda, ao mesmo tempo em que criou uma gigantesca massa de desempregados.

E mais! Eis uma parte da análise que a OX-FAM fez em 2016:

• Desde 2015, o 1% mais rico detinha mais riqueza que o resto do planeta;

• Atualmente, oito homens detêm a mesma riqueza que a metade mais pobre do mundo;

• A renda dos 10% mais pobres aumentou em menos de US$ 65 entre 1988 e 2011, enquanto a dos 10% mais ricos aumentou 11.800 dólares – 182 vezes mais;

• Nos Estados Unidos, nos últimos 30 anos, a renda dos 50% mais pobres permaneceu inalterada, enquanto a do 1% mais rico au-mentou 300%;

• Os lucros das 10 maiores empresas do mun-do somam uma receita superior à dos 180 países mais pobres juntos;

• As maiores empresas de vestuário do mun-do têm ligação com fábricas de fiação de algodão na Índia que usam trabalho forçado de meninas rotineiramente;

• 5 anos após a crise de 2008, aumentou a de-sigualdade no mundo. Os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres;

• 10% da população tem em mãos 86% dos ativos do planeta;

• Nos EUA, 95% do crescimento gerado após 2008 ficou nas mãos de 1% da população;

• As 10 pessoas mais ricas da Europa mantêm uma fortuna de 200 bilhões de dólares.

• A crise da desigualdade global está em nos-sa vista.

• A distância entre ricos e pobres está chegan-do a novos extremos. O banco Credit Suisse revelou recentemente que o 1% mais rico da população mundial atualmente acumu-la mais riqueza que todo o resto do mundo junto;

• Ao mesmo tempo, a riqueza detida pela me-tade mais pobre da humanidade caiu em um trilhão de dólares nos últimos 5 anos;

• Em 2015, apenas 62 indivíduos detinham a mesma riqueza que 3,6 bilhões de pessoas;

• A riqueza da metade mais pobre caiu em pouco mais de 1 trilhão de dólares no mes-mo período – uma queda de 38%;

• Os apologistas do atual modelo econômico e social afirmam que a preocupação com a desigualdade é alimentada pela política da inveja.

Segundo Winnie Byanyima, diretora da OXFAM, a concentração de renda aconteceu por um processo em que a elite levou o processo polí-tico a desenhar regras no sistema econômico que a favorecessem.

Estamos, pois, vivendo uma profunda do-minação econômica sobre o social. Por um lado, as indústrias produtivas reconhecem que os lu-cros ligados à produção são muito menores da-queles obtidos pelos “traders” dos grandes grupos financeiros[20]. Por outro lado, “os altíssimos salários, aumentados por toda sorte de primes e outros ‘guarda-chuvas dourados’, constituem uma verdadeira oligarquia formada por aqueles que geram juros globais”. Estes agem cada vez mais com manobras cada vez mais arriscadas.

16 17VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil - 20 a 23 de Junho de 2019 - Cuibá/MTRevista UM OLHAR - Ano VIII - Nº 12 - Fev./2019 - Conselho Nacional do Laicato do Brasil

6.1. - Para uns, tudo... Para os demais, a miséria!

Mudanças ocorridas nas políticas econômi-cas dos últimos 30 anos, como as decorrentes da desregulação, da privatização, do sigilo financei-ro e da globalização, especialmente do setor fi-nanceiro, potencializaram a velha capacidade dos ricos e poderosos de usar sua influência para con-centrar ainda mais sua riqueza.

Uma rede global de paraísos fiscais permite que os indivíduos mais ricos do mundo escondam 7,6 trilhões de dólares das autoridades fiscais de seus países. Esta rede de paraísos fiscais e da in-dústria de evasão fiscal que floresceu nas últimas décadas representa um exemplo inquestionável de um sistema econômico manipulado para favo-recer os poderosos. Os indivíduos e as empresas mais ricos – os que deveriam pagar mais impostos – são justamente os que têm condições de recorrer a esses serviços de arquitetura global para evitar pagar o que devem.

Essa é também uma situação que indireta-mente induz governos de países fora de paraísos fiscais a reduzirem a tributação de empresas e de ricos numa inexorável “corrida para baixo”, que, por sua vez, leva a cortes em serviços públicos essenciais. Essa situação também torna governos cada vez mais dependentes de tributos indiretos, como do imposto sobre valor agregado, que recai, desproporcionalmente, sobre as pessoas mais afe-tadas pela pobreza.

Esse sistema global de evasão fiscal está drenando a vida de Estados de bem-estar social no mundo rico. Ele também priva países pobres de recursos necessários para combater a pobreza, colocar e manter crianças na escola e impedir que seus cidadãos faleçam em decorrência de doenças facilmente curáveis.

6.2. - O motivo de tanta concentração

A concentração de renda acima demonstra-da aconteceu porque, fazendo do Estado um em-pregado de seus interesses, a elite o levou a dese-nhar regras no sistema que a favorecem. Por isso afirma-se que “Governar para as elites significa sequestro democrático e desigualdade econômi-ca”.

Entre as políticas desenhadas nos últimos anos, e que favorecem a minoria, podemos enu-merar: desregulamentação e opacidade financei-ra; os paraísos fiscais; a redução de impostos para as rendas mais altas; os recortes de despesas em serviços e investimentos públicos.

Ouvindo Francisco

Em 2013, o Papa Francisco, recém-elei-to, publicou uma Exortação Apostólica de nome Evangelii Gaudium, a Alegria do Evange-lho. Neste documento, em seu capítulo II, com aquilo que ele mesmo denomina de “olhar evan-gélico”, faz uma crítica violenta ao atual sistema econômico. As frases abaixo, retiradas do referido documento, nos mostram a situação violenta em que nos encontramos, neste início de milênio:

“Não à cultura do descartável” (EG 53); “Não à globalização da indiferença” (EG 54); “Não à idolatria do dinheiro” (EG 55); “Não à especulação financeira” (EG 56); “Não a um di-nheiro que governa ao invés de servir” (EG 57); “Não à desigualdade social que gera violência” (EG 59). E, ainda, no capítulo II: “a elite deter-mina: a ralé é o resto”; “Não a uma economia de exclusão”; “essa economia mata!” (EG 53)

Tal posicionamento granjeou-lhe inúmeras e violentas críticas, inclusive de setores católicos conservadores. Jornais defensores do modelo vi-gente não pouparam páginas de críticas. Infeliz-mente, também no interior da Igreja, ao mesmo tempo em que sua fala ecoava, vozes discordantes e até favoráveis ao neoliberalismo, se faziam ou-vir, inclusive em Roma.

Mas, vamos colocar em dados estatísticos aquilo que as palavras do Papa Francisco dizem, a partir do coração e da Palavra de Deus.

6.3. - Uma civilização estruturada para matar

Qualquer pessoa que reflita sobre os imen-sos problemas e injustiças que estão grassando

pelo mundo, neste momento, não con-segue acreditar que, em continuando com isto, o mundo, o hu-mano e a Terra te-nham algum futuro.

Em séculos anteriores, os pro-blemas eram menos e, em alguns casos, uma crise localiza-da, que chegara de forma imprevista, dizimou percentuais gigantescos da popu-lação. Assim foi com a peste bubônica, nos sécu-los XIII e XIV, na Europa, que chegou a matar, segundo alguns, a metade da população da época. Entretanto, agora, no século XXI, o mundo não é mais rural, mas urbano.

Três são as grandes tempestades socioeco-nômicas que podemos esperar:

a. a morte dos pobres, e, principalmente, suas crianças;

b. a imensa disparidade de riqueza;c. uma Terra que não permita ao humano

habitá-la.a. Com relação à pobreza e à morte, a

situação tem, ao mesmo tempo, uma vertente econômica e outra de caráter pessoal, que pode ser identificada pela palavra “egoísmo”. Não obstante as mortes por doenças, e estas também, em sua grande maioria, passíveis de cura, elas atingem a população pobre, de países pobres, e, em seu seio, o maior contingente de atingidos pela fome são as crianças, que morrem aos milhões no mundo todo. De tal maneira que o relator das Nações Unidas para o direito à alimentação, Jean Ziegler, ter afirmado que “todas as crianças que morrem de fome atualmente, morrem assassinadas”.

O relatório da ONU para a alimentação de agricultura (FAO), de 2005, sublinhou que 853 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de desnutrição crônica, ou seja, um em cada 6 se-res humanos. Em cada 5 segundos, uma criança com menos de 10 anos morre de fome. Mas a produção agrícola atual poderia, sem problemas, fornecer alimentos em quantidade suficiente para 12 bilhões de pessoas. Eis aí um dos motivos do aumento vertiginoso no número de migrantes, as-

sociado àquele causado pelos conflitos inter-étni-cos em suas regiões. Eis aí um conjunto de dados que clama aos céus, e exige dos cristãos um agir no sentido de eliminar tal pecado social.

b. Com relação à imensa disparidade de riqueza, há um choque muito grande quando vemos que as pessoas mais ricas do mundo ficam cada vez mais ricas, e os pobres cada vez mais pobres. E essa injustiça aumenta ainda mais. Os dados acima nos mostram isso em números.

Thomas Pikety[21] nos mostra que essa riqueza não vem do trabalho, mas das rendas auferidas no mercado financeiro, das heranças recebidas ao longo do último século. Essas pessoas não trabalham; os especialistas trabalham por elas, e, mediante altíssimos “salários”, fazem suas ações supervalorizarem na área das finanças.

c. Uma Terra que não mais permite ao humano habitá-la foi o grito do Papa na Lauda-to Si’. Há mais de 20 anos que estamos ouvindo cientistas nos mostrando que estamos a caminho de um aquecimento da temperatura da Terra sem precedentes, aquecimento este, fruto da ação hu-mana. Por isso, esse momento histórico é chama-do de Era Antropocena.

O próprio Papa Francisco, através da referi-da Encíclica, chamou a atenção para o fato de que os problemas ecológicos, além de poderem des-truir toda a vida na Terra, atingem, em primeiro lugar e de forma mais violenta, os pobres. A fome, a falta de moradia e os deslocamentos forçados em busca de um lugar para se ter vida mais dig-na são frutos de uma Terra que não mais produz, da ausência de água e do aumento da temperatura média.

Mas, apesar dessa perspectiva, não se vê a mínima mudança naqueles e naquelas que mais produzem o fenômeno, a tragédia. Mesmo que ocorram reuniões de nível internacional entre os países geradores dos efeitos, nenhuma ação apa-rece, nenhum prazo de conclusão de trabalhos é apresentado. Afinal, por que isso vai acontecer, se até figuras de realce no mundo político afirmam serem as reflexões sobre os problemas ecológicos apenas falácias?

As migrações já nos mostram parte do imen-so problema que já vai se iniciar, em poucos anos: o fim da agricultura em alguns países e regiões, tendo em vista o aumento da temperatura média anual, o fim de países-ilhas e cidades marítimas invadidas pelas águas, fruto do descongelamento das camadas polares e afins.

18 19VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil - 20 a 23 de Junho de 2019 - Cuibá/MTRevista UM OLHAR - Ano VIII - Nº 12 - Fev./2019 - Conselho Nacional do Laicato do Brasil

No dia 17 de abril de 2016, o Brasil viveu um de seus mais vergonhosos momentos. No ple-nário do Congresso Nacional, deputados e depu-tadas gritando por seus pais, filhos, jogando con-fetes e serpentinas, gritando “tchau querida” para a Presidenta Dilma que estava sofrendo um “im-peachment”. Uma vergonha que a chamada elite política do Brasil pudesse se expor a tal ridículo, assim considerado pelo mundo todo.

O vice-presidente à frente do Executivo nomeou um conjunto de pessoas delatadas em vários processos por corrupção, inclusive o mes-mo. Medidas parlamentares foram tomadas o que mostrou o quê e quem estava por trás de todo o movimento:

1. Uma alteração constitucional que conge-la e limita radicalmente os gastos com educação e saúde;

2. Uma reforma trabalhista que corta direi-tos e ações dos trabalhadores e trabalhadoras;

3. Uma ainda não aprovada em definitivo reforma da previdência, que, praticamente, não mais vai deixar trabalhador se aposentar, além de privatizá-la.

Fim da Educação Pública

Fim do SUS

Fim da Previdência

Claro está que o corte nos direitos previdenciários, trabalhistas e sociais são as exigências do capital financeiro, do neoliberalismo, presentes nas conclusões de Mont Pellerin, e apre-goados pelos EUA e por suas agências políticas. O golpe no Brasil se inseriu na agenda da Cia e do FMI.

As elites brasileiras, como sempre no trans-correr da história do Brasil, foi o sustentáculo do golpe que, num primeiro momento, as favorecem.

Desde a “Independência” do Brasil, em 1822, é a elite que toma a iniciativa, indica o cam-po de batalha e escolhe as armas. Mas, e agora? Virá uma outra História? Virão outros valores? Alguns agentes sugerem o confronto, já que a toda ação corresponde uma reação.

O golpe no Brasil não ocorreu por obra e graça exclusivas das elites nacionais. Há também outros motivos, de fundo geopolíticos: fundamentalmente por causa das ameaças ao do-mínio dos EUA. Afinal, o governo encetou vários projetos que foram vistos como potenciais amea-ças à ordem mundial dominada pela única super-potência, vencedora da Guerra Fria:

• Criação de um país independente, com novas alianças e projetos no plano inter-nacional. Veja-se a criação e a participa-ção do Brasil nos BRICS;

• Orientação nacionalista;

• Integração sul-americana, principal-mente com os países bolivarianos;

• Aproximação com a África.

Estamos vivendo um momento político e social bastante complexo, com um executivo cheio de pessoas acusadas por corrupção, minis-tros e ministras que demonstram pouco conheci-mento da pasta que comandam e, a influência que determinado senhor, que vive nos EUA, tem so-bre o presidente eleito e gente do seu staff.

VII - Brasil: Façamos antes que o povo faça!

(Hipólito José da Costa)

Além disso, uma mídia que mais desinfor-ma, um Legislativo quase todo ele ligado a inte-resses não populares, ao contrário: Agora, com o atual presidente, as bancadas do Boi, da Bala e da Bíblia parecem estar à vontade. Vejam-se as medidas tomadas com relação à Amazônia, ao desmatamento, ao agrotóxico, à posse de armas e estejamos atentos ao que virá.

Com relação às investidas do presidente eleito sobre os grupos evangélicos, é preciso co-nhecer e estar atentos, já que com tais grupos ele trabalha a postura frente a legislações que estes grupos desejam ver aplicadas. A legislação sobre a posse e o uso de armas por todos os que quise-rem é um imenso problema ao qual todos esta-mos vivendo o papel de vítimas.

Assim, também com relação ao problema da educação, várias posições têm sido informadas e, quando as propostas começarem a vir ao nosso conhecimento, precisamos pensar sobre o nosso agir frente a tudo isso.

20 21VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil - 20 a 23 de Junho de 2019 - Cuibá/MTRevista UM OLHAR - Ano VIII - Nº 12 - Fev./2019 - Conselho Nacional do Laicato do Brasil

Em texto do cardeal Ratzinger lemos que:

“Estamos em um ponto de virada enorme na evolução da humanidade. Este momento torna o movimento de passagem da era medieval para os

tempos modernos parecer insignificante”.Cremos que o texto procura mostrar que estamos vivendo, realmente, um momento de crise jamais

visto anteriormente. E ele continua, bastante questionador:

“A Igreja se tornará pobre.. Os homens, em um mundo totalmente planejado, se verão

indescritivelmente solitários. Terão perdido totalmente a visão de Deus,

sentirão todo o horror de sua pobreza.”

IGREJA na Europa

O problema é muito grave, principalmente porque está cada vez mais reduzida a presença de fiéis às celebrações. E isto não se dá por ateísmo. Apenas, a frequência periódica às celebrações e aos sacramentos não mais faz parte do desejo e da necessidade dos fiéis. Assim, as igrejas ficam quase vazias nos momentos celebrativos. Muitas das belas igrejas dos séculos passados tornaram--se museus, outras, salões de música clássica, e conventos tornaram-se, muitas vezes, “spas”. Há um declínio de respostas ao chamado à vocação.

O Concílio Vaticano II nos infundiu a espe-rança de que ali nasceria uma Igreja ultrapassando todo um esquema conservador secular e que não dialogava mais, nem no interior, nem com o ex-terior. Este foi o nosso sonho, o qual pareceu se realizar logo nos primeiros tempos conciliares.

Pouco depois, aqueles que sentiam sauda-des dos tempos antigos reforçaram-se, e condu-zidos por um clericalismo de pompas e circuns-tancias, buscaram instaurar um retorno aos “bons tempos”. Em outras palavras, começamos a ver e viver um grande processo de reconstrução do antigo, um neoconservadorismo que começou a nos tirar a certeza de que agora a Igreja iria dialo-

gar. Ao contrário, a palavra continua do clero, as deliberações acontecem no clero... E segmentos do clero continuam usando as belas roupas que já não tinham sentido no século XVI. Mas para eles, é sinal de pompa e circunstância, algo incompatí-vel com o Jesus pobre e cuidador dos pobres.

IGREJA na América Latina

Conforme o Papa Bento XVI, a América Latina é o continente da Esperança e a Igreja la-tino-americana é a Igreja da Esperança, mas há uma queda assustadora do número de católicos latino-americanos e crescente aumento dos gru-pos evangélicos.

Importantes são as proposições aprovadas na Conferência de Aparecida e expostas em seu documento:

A primeira foi a constatação de que o insti-tucional e as estruturas eclesiais precisam passar por uma “Conversão Pastoral” (DAp 370). No-te-se que a expressão “Conversão” é fortíssima. Significa, mesmo, abandonar o passado e fazer-se atual, segundo as mudanças que ocorreram nas pessoas e no mundo. Converter-se não para ser mais, mas para atender ao apelo do próprio Cris-to: a Igreja existe para apontar para o Reino, para levar os católicos a serem sinais visíveis do Rei-no. Aliás, conversão para que a própria Igreja seja sinal do Reino. “Para isto existe a Igreja: para o

Reino de Deus, que o Cristo glorificado, na força do Espírito, continua a realizar na história huma-na”. (CNBB 105, n. 242)

A segunda foi sugerir que as paróquias se-jam “Comunidade de Comunidades”, ou uma “Rede de Comunidades” (DAp 5.2.2). Vimos que já não responde aos anseios e à cultura con-temporânea aquelas instituições como as paró-quias, onde os crentes são indiferenciados, não têm nome nem vida própria. E onde o único que fala é o presbítero.

A Igreja no Brasil assumiu o projeto e até escreveu um documento, o documento 100 da CNBB, “Comunidade de Comunidades: uma nova paróquia”. Entretanto, nos poucos lugares onde foi estudado o documento, pouco se viu avançar na ideia.

E no Brasil?

Segundo o IBGE, o Rio é o Estado com me-nor percentual de católicos no país: 45,8%. Piauí é o Estado com o maior índice, de 85,1%. Mas, há uma queda no percentual de brasileiros que se de-claram católicos, que passou de 73,6%, em 2000, para 64,6%, em 2010. Enquanto os números mostram a queda do número de fiéis católicos, o percentual de evangélicos do país passou de 15% para 22%. A porcentagem de brasileiros sem reli-gião também aumentou, de 7,4% para 8%.

Mas, vejamos o que nos diz o Documento de Aparecida:

“Nenhuma comunidade deve isentar-se de entrar decididamente,

com todas as forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonaras ultrapassadas estruturas que já não

favoreçam a transmissão da fé.”( DAp, n.365).

Por que ultrapassadas? Porque a Igreja que veio até nós, antes do Concílio, foi a Igreja do Concílio de Trento. Este Concílio procurou fazer a Igreja responder a um momento extremamen-te grave, a Reforma Protestante, mas foi muito além, já que moldou uma “outra” Igreja, atenta aos sinais da modernidade. Com Trento a Igreja se estruturou, canonicamente e institucionalmen-te, para continuar sendo sinal do Reino.

Trento Igreja = Clero Clericalismo

Mas, já no final do século XIX essa estru-tura humana e institucional já estava ultrapassada

por causa dos novos sujeitos históricos, das no-vas estruturas históricas... E a Igreja mantinha-se tridentina. Se em Trento o laicato, analfabeto e frágil, foi considerado objeto da “cura pastoral”, das preocupações conforme o pensamento do Papa Pio X, por exemplo, mas também do Código de Direito Canônico de 1918, ao final do século XIX e durante primeiras décadas do século XX começamos a ver leigos e leigas vivendo o seu ser Igreja com competência e intelectualmente cons-ciente. Veja-se a Ação Católica.

Um dos pontos altos da reforma de Trento foi a constituição dos seminários, ou seja, espaços de formação dos presbíteros a serem ordenados. Para entender isso basta dizer que um sem núme-ro de presbíteros, principalmente párocos, eram quase analfabetos e outros eram apadrinhados por bispos seus parentes. Com os seminários, nasce um clero mais capaz intelectualmente e conside-rado assim pelos fiéis leigos e leigas, também pra-ticamente analfabetos. Assim, o respeito ao pres-bítero é quase um endeusamento do que fala e faz. Vem daí o grande problema do clericalismo.

Nesta situação, o presbítero, o pároco, é a Igreja. É ele que determina até o acender ou apa-gar das luzes, é ele que chega até a determinar as coisas mínimas para o agir dos leigos e leigas. Quando o leigo ou a leiga têm alguma tarefa, esta é por ele determinada, até na forma em que é rea-lizada. A Palavra de Deus não é lida se não em sua presença. Até o conservador Pio XII sente que a coisa tem que mudar. Diz ele que o leigo e a leiga têm que entender que não só estão na Igreja, mas que são Igreja.

Alguns temas, a partir do final do século XIX, serão motivos da criação de alguns movi-mentos que repensavam tudo na Igreja, movimen-tos esses que deram o tom do Concílio Ecumênico Vaticano II: movimento leigo (principalmente a Ação Católica em suas especificações), movimen-to litúrgico, movimento bíblico, dentre outros.

O Concílio Vaticano II:

IGREJA = POVO DE DEUS

Todos são chamados

Cada um em sua vocação, dom do Espírito

Até que o papa João XXIII chama o Concí-lio para o Vaticano, que será o 2º. neste local e dá a ele um rumo mais pastoral, que se evidencia no seu discurso de abertura. No que diz respeito ao

VIII - O grave momento da Igreja

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laicato, tudo muda na Igreja. Inclusive, pela pri-meira vez na história da Igreja, um Concílio dis-cute o laicato e apresenta até um documento sobre ele: “Apostolicam Actuositatem” (Decreto sobre “O Apostolado dos Leigos”).

Mas, a Igreja que resultou do Concílio saiu em choque entre duas visões diferentes. Uma, quer manter tudo como estava antes do Concílio, como se o mundo e as pessoas não tivessem mu-dado, como se as décadas precedentes não hou-vessem mudado nada, como se a década de 60 não tivesse existido. Mais grave ainda é não entender que a mudança veio para ficar.

Para alguns, temos, como Igreja, que forçar tudo o que mudou a voltar aos séculos passados. Aí se incluem aqueles e aquelas que acreditam que o “latim é a língua de Deus”, e, por isso, as nossas celebrações deveriam ser todas naquela língua.

Mas, os sinais dos tempos, ou seja, a pre-sença do Espírito em nós, como comunidade ecle-sial e na história, nos chama a nos estruturarmos de tal modo que sejamos sinais do Reino, homens e mulheres que agem segundo o Espírito nos cha-ma a agir.

“Daí nasce na fidelidade ao Espírito Santo que a conduz (a Igreja),

à necessidade de uma renovação eclesial,que implica reformas espirituais, pastorais e

também institucionais.”(DAp, n. 367).

Por isso, Aparecida insiste que, em tal momento histórico, faz-se necessário não apenas uma “mudança” nas estruturas e nos discursos, mas uma verdadeira conversão:

“A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de

mera conservação para uma pastoral decididamente missionária.”(DAp, n. 370).

Importante é que todos os problemas que aqui estamos relatando podem ser minorados com a aplicação concreta do Documento 105 da CNBB: “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade: Sal da Terra e Luz do Mundo”. (Mt 5, 13-14). Mas, dois problemas existem e exigem que se falem deles. O primeiro é que a maioria dos cristãos leigos e leigas não está consciente do seu “ser sujeito” e se está, não tem descoberto fórmulas de fazer avançar o seu caráter de sujeito.

O segundo problema é o clericalismo presente no interno da Igreja, em que os ministros ordenados assumem uma postura de poder, de dizer a última palavra, de não ouvir os cristãos leigos e leigas a não ser quando parabenizam e batem palmas. Aliás, como o diz o Papa Francisco, grande par-te dos leigos e leigas, com algum predomínio nas paróquias e comunidades, sentem-se, também, clericais e, portanto, não concordam em deixar o mando, o poder.

O IMENSO PROBLEMA DO CLERICALISMO

Lembremo-nos: temos a fé de que o Es-pírito nos chama para o Novo, não só para nos constituirmos como Igreja, mas como sinais e construtores do Reino. E, nesse sentido, se em al-gum momento histórico o clericalismo respondeu adequadamente, como na civilização eclesial tri-dentina, hoje ele é, absolutamente, o sinal de uma Igreja que não está atenta aos sinais dos tempos. É isso que o Papa Francisco nos diz.

“Não podemos refletir o tema do laicato ignorando uma das maiores deformações que a América Latina deve enfrentar – e para a qual peço que dirijais uma atenção particular – o

clericalismo. [ ] O clericalismo, longe de dar impulso às diversas contribuições e propostas,

apaga pouco a pouco o fogo profético do qual a inteira Igreja está chamada a dar testemunho no

coração dos seus povos.O clericalismo esquece que a visibilidade e a

sacramentalidade da Igreja pertencema todo o Povo de Deus e não só a poucos eleitos

e iluminados.”(Carta ao cardeal M.Ouelet)

Assim afirmando, o Papa Francisco nos chama a atenção para este grande problema da Igreja, hoje, e para a solução que pode e deve ser buscada: a eliminação de todo clericalismo, seja nos ordenados seja no próprio laicato.

IX - O nosso agir: a noção de sujeito como condição básica para o ser e o agir do cristão

Ao abrirmos este capítulo dedicado ao eixo do AGIR, concentraremos a princípio nossa refle-xão, resgatando o conceito central que perpassa todo o Documento 105 da CNBB, que é a noção de sujeito eclesial. A adoção de tal medida é fun-damental, pois ao se analisar o novo olhar e o novo agir desse (a) cristão leigo e leiga na Igreja e na Sociedade, gera-se uma nova compreensão e importância do seu real significado.

Inicialmente, merece destacar que ao se falar de sujeito, é preciso estabelecer que só há a existência do mesmo, quando o indivíduo em questão é dotado de conhecimento, é convicto de suas escolhas e que age autonomamente diante dos inúmeros desafios enfrentados a todo mo-mento. Sendo assim a não se detectar a ocorrência dessa autonomia, conclui-se, portanto, que há a presença de individuo, mas não de fato, um su-jeito. A formação deste sujeito constitui, portanto, um desafio permanente, exigindo a atuação simul-tânea na sua dimensão eclesial e social do ser e do agir cristão.

O que se busca é o sujeito ativo, inserido e atuante nas diversas realidades sociais, familia-res, profissionais e religiosas, em contraponto ao modelo de laicato passivo verificado em muitos espaços eclesiais, oriundo de um modelo de Igreja que se tornou a própria negação do Cristianismo.

9.1. - A busca da construção de uma ação coletiva

Ao se referir a Igreja, é preciso deixar claro que ao falarmos de sujeito, se faz necessário apre-sentá-lo aqui como um sujeito coletivo, ou seja, sua ação acontece através da união dos vários su-jeitos individuais que agindo em comum, forta-lecem o conceito de comunidade. Esse modo de apresentação, feito através do sujeito coletivo, é o mesmo que chamá-lo de Igreja (Povo de Deus) e que está em permanente construção. Não se deve associar aqui, a ideia de sujeito coletivo com co-munitarismo, pois esse separa a Igreja do Mundo, diminuindo assim a sua correta interpretação.

O sujeito coletivo descrito acima exige que a construção ora mencionada seja realizada também de forma coletiva, respeitando priorita-riamente as diferenças existentes em cada sujeito individual que enriquecem o conjunto da socie-dade. Essa forma de atuação ligando o individual com o coletivo, desenvolve nos mesmos o senti-mento de cumplicidade mútua e a valorização da partilha nos trabalhos realizados e nas tomada de decisões.

Essa tomada de consciência é fundamen-tada, de acordo com o pensamento do sociólogo Zygmunt Bauman sobre a valorização dessa ideia. Segundo ele, “Caminhamos rumo à privatização dos meios de garantir/assegurar/firmar a liber-dade individual, porém a liberdade individual só pode ser produto do trabalho coletivo” (Bauman, Zygmunt (2000) Em busca da Política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.).

As diferenças existentes nos indivíduos são frutos de uma sociedade atual complexa e marcada por inúmeras pluralidades advindas das transformações sociais e culturais em curso que afetam o conjunto das instituições sólidas de ou-trora existentes, como a Educação, a Política, a Família, a Medicina, o Direito. Aqui se exige en-tender que essa sociedade é dotada de múltiplas

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linguagens, com diferentes desafios e aspirações, marcadas por imaginários e culturas diversas que interferem em cada campo ora mencionado.

9.2. - Os desafios do ser IgrejaA própria Igreja representada muitas vezes

por sua tradição e sua história, também é vitima das transformações sociais e culturais em curso e passa a ser questionada por adotar um discurso universal e um modelo pastoral único, como res-posta a todos os problemas vivenciados atualmen-te. Importante reconhecer que ela não tem mais a mesma relevância para a sociedade como no passado. É inadiável, portanto, propor soluções e modificações em certas estruturas geradas no pas-sado, que hoje são barreiras a evangelização efe-tiva, sendo essa uma das advertências constantes no Documento de Aparecida, em seus números 365 e 367.

Surge outro desafio, pois, a necessidade das mudanças no modo de ser Igreja, coloca em dis-puta, duas visões conflitantes por parte do Povo de Deus. Vivenciamos atualmente, situações onde determinados grupos, optam por um modelo de participação concentrada na tradição e história da Igreja, rejeitando qualquer evolução que porven-tura comprometa as aquisições do passado. De outro lado, organiza-se outro grupo que tem como característica a rejeição da herança recebida e que tem a tendência de estabelecer como verdade, toda a novidade apresentada.

Vale ressaltar que as visões conflitantes elencadas, traz ainda um ingrediente a mais de preocupação. Observa-se que as disputas atuais por parte de alguns integrantes destes grupos, car-regam uma predisposição a posições autoritárias, associadas muitas vezes por visões políticas e ide-ológicas que reforçam preconceitos, posturas rea-cionárias e atitudes de intolerância, onde adota-se como forma de resolver conflitos a aplicação de medidas rígidas e violentas.

Diante dessa triste realidade, a contribuição do laicato visto como sujeito maduro e conscien-te é solicitada de modo a proporcionar a criação de espaços propícios de convivência sob a ótica da diversidade e da heterogeneidade, tendo como princípio fundamental de ação, o desenvolvimen-to e a amplitude de valores relativos à coletivi-dade, à diminuição de conflitos, a compreensão e o respeito as mais diversas formas de ser e exis-tir, alimentados pelas práticas e ensinamentos de

Jesus onde nos clama para a igualdade básica de todos: “Vocês todos são irmãos” (Mt 23,8-10) e a convivência amiga a ponto de não ter mais segre-dos (Jo 15,15).

9.3. - O aperfeiçoamento da ordem temporal

A atitude do cristão leigo e leiga não pode e não deve se resumir as ações apenas nos espaços e ambientes eclesiais, pois, como visto nesse do-cumento e no próprio título que o acompanha, o ser cristão exige sua presença prioritariamente do leigo e da leiga no mundo e na sociedade, reafir-mando o alerta feito pelo Papa Francisco que nos diz: “Já não se pode afirmar que a religião deve limitar-se ao âmbito privado e serve apenas para preparar as almas para o céu.” (EG, nº 182).

Antes de falarmos desse processo de cons-trução, é necessário que se faça primeiro, uma análise histórica e atual da sociedade brasileira. Sendo assim, como dita anteriormente, a socieda-de em questão é marcada pela incidência ainda em nosso meio de situações como: preconceito, intolerância, discriminação, o não reconhecimen-to de direitos de certos grupos sociais e a não acei-tação da pluralidade. É fundamental entender que os males descritos acima, tem origem na herança direta com o longo período escravagista viven-ciado, como também, a presença de um sistema político oligárquico e patrimonial, de um modelo de ensino autoritário e elitista, de nossa compla-cência com a corrupção e privilégios dos gover-nantes e das elites, de nossas práticas religiosas e da organização de um sistema familiar patriarcal, machista, racista e preconceituoso, que marcam o processo de formação da sociedade brasileira.

Soma-se a esse quadro histórico, as mudan-ças significativas e a consequência do processo atual de globalização e do neoliberalismo que regem nosso modo de organização social. Neles, nos deparamos com a presença do empobreci-mento crescente e da exclusão, crises políticas e democracias frágeis, aumento da violência e da insegurança, crises migratórias, o poder do cri-me organizado e do narcotráfico, a devastação da natureza, o desemprego estrutural e a existência de empregos precários, a fragilidade dos progra-mas sociais aliadas a uma proposta política de um Estado que não seja mais responsável por essas políticas públicas. Experimenta-se também, con-sequências sutis decorrentes desse processo, que

provocam a extinção de valores como solidarie-dade, companheirismo e sociabilidade. De outro lado, estimula-se o individualismo, o personalis-mo e a concorrência entre os indivíduos.

Apesar desse contexto, é necessário agir para superar esse modelo que vem sendo imple-mentado, já que a obra de evangelização não pode negligenciar os graves problemas que afetam a vida no planeta. É importante reforçar que há muitas lutas do laicato sendo realizadas em di-versos espaços como ONG’s, Partidos Políticos, Sindicatos, Conselhos de Políticas Públicas, entre outros. Como vimos, a necessidade da transfor-mação social engloba todas as suas dimensões (econômica, política, cultural, pedagógica, ecoló-gica, etc.). Ao cristão leigo e leiga, sua dimensão de fé contemplará assim, aquilo que o Papa Fran-cisco nos pede:

“Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – comporta sempre um profundo

desejo de mudar o mundo, de transmitir valores, de deixar a Terra um pouco melhor depois da

nossa passagem por ela.” (EG, nº 183).

9.4 - Atitudes para operar as transformações no mundo

Atendendo ao que preconiza os diversos do-cumentos que tratam do tema do Cristão Leigo e Leiga, é preciso estar no mundo e como vimos an-teriormente, é preciso desvendá-lo, notando suas contradições, expondo sua rede de relações, para de certo modo, compreendamos a sociedade em que vivemos.

Os desafios são enormes e haverá vários motivos, dentre eles, alguns de ordem pessoal para o não engajamento, mas como nos aponta o filósofo francês Emanuel Mounier, nós sem-pre: “Estamos mergulhados em circunstâncias históricas concretas. Jamais encontraremos por aí a posição ideal que desejaríamos para agir como gostaríamos. Apoiar-se numa ‘pureza ide-al’ para justificar o não-engajamento na história é deixar de ser humano”.

Baseados no modelo desenvolvido pelo fi-lósofo, denominado “Personalismo”, o pensador relaciona a necessidade do engajamento ao nos-so ato de fé ao dizer que: “O engajamento será nosso mestre interior. O homem só é homem pelo engajamento”. Na mesma linha, ele continua sua provocação ao tratar a fé como um compromisso

social da evangelização ao dizer: “Que adianta chegar com as mãos puras diante do Criador, po-rém vazias”. O pensador fixava na apresentação de métodos de ação para operar as transformações no mundo em um contexto político e social mar-cado pelo pessimismo, algo muito semelhante ao período vigente.

Entendendo essas provocações, é funda-mental assumir um compromisso radical com a justiça e a solidariedade. Apostar na capacidade das pessoas de serem construtoras da vida social, confiando no potencial criador capaz de germinar novo mundo, abolindo todo tipo de abolição ou apartação social, respeitando a diversidade das culturas e das diferentes etnias, apostando inte-gralmente no valor da participação. Abandonar o desânimo, além de preservar os direitos adquiri-dos, ampliando as lutas para a conquista de no-vos direitos que resinifique o existir e o agir dos povos, já que a humanidade não tolera mais ser desrespeitada.

Apontar caminhos de organização para o povo, valorizar suas ricas e muitas vezes, esque-cidas experiências. Há de se ressaltar que já são muitas as experiências concretas de ação sendo realizadas. Conhecê-las, disseminar suas boas práticas e valorizar o que vem sendo construído é fundamental.

Como indicativos, é importante destacar essas experiências, realizadas em espaços como o Fórum Social Mundial, Campanha da Fraternidade, Grito dos Excluídos, Encontro dos Intereclesiais das Comunidades Eclesiais de Base a nível nacional, latino-americano e caribenho, Semanas Sociais Brasileiras, Romarias das Águas, da Terra e dos Trabalhadores/as, as experiências das Escolas de Fé e Política, a participação nos Sindicatos e a luta contra o desemprego, Fóruns das Pastorais Sociais, Fórum da Reforma Agrária, o fortalecimento dos meios de comunicação alter-nativa como rádios comunitárias, jornais e mídias

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sociais alternativas e participação em Campanhas Nacionais como pela Auditoria Cidadã da Dívida Pública e a Propostas de Reforma Política com participação popular.

Destaca-se a presença significativa e o engajamento de cristãos leigos e leigas, em movimentos populares reivindicatórios como o acesso a água, ao esgoto, escolas, creches, pos-tos de saúde e passarelas. É também valorosa a participação em movimentos de causas específi-cas como a valorização da mulher, do negro, dos indígenas, a luta dos Sem Terra, dos Sem Tetos e outros. Aqui, vale ressaltar que sobre a valoriza-ção da mulher, seja na própria Igreja e na Socie-dade, esse tema merece maior aprofundamento e também uma nova prática.

Há de reforçar também a iniciativa aponta-da no número 263 do documento 105 que sugere “impulsionar os cristãos a construírem mecanis-mos de participação popular que contribuam com a democratização do Estado e com o fortaleci-mento do controle social e da gestão participati-va”. Almeja-se com isso, o fortalecimento de um Estado subordinado á sociedade e a serviço dos que mais necessitam.

9.5 - O agente da história é o ser humano

As implicações da nossa fé, advindas da to-mada de consciência sobre a responsabilidade de uma ação mais efetiva no mundo, não pode ser interpretada como mero ativismo. Ao contrário, o nosso agir precisa estar imbuído de um profundo amor pelos outros, pelo próximo, um amor pela causa a que se luta e toda a nossa ação deve consi-derar a “primazia do humano” (EG,n.49)

Nesse sentido o Documento de Aparecida em seu número 74, chama-nos a atenção sobre a necessidade de se reconhecer e potencializar o protagonismo dos diferentes atores sociais, em especial aos novos sujeitos que estão emergindo na sociedade (refugiados, sem-abrigos, nômades, deficientes, menores em situação de risco, nasci-turos, desempregados, migrantes, abandonados, enfermos, idosos e outros) que encontravam-se invisibilizados e que hoje se tornam presentes e começam a exigir mudanças.

Esses novos sujeitos que se tornam o meu igual-diferente, mas que hoje, muitas vezes, me são tão indiferentes, são frutos daquilo que o Papa

Francisco nos chama a atenção sobre as consequ-ências da cultura do descartável (EG, n.53) e da globalização da indiferença (EG, n.54).

É fundamental entender, portanto, que o conjunto das ações apresentadas nesse capítulo pautadas nas realidades que contradizem o REI-NO DE DEUS, visa demonstrar como cristãos leigos e leigas, que a prática de Jesus revela uma nova visão das coisas, um novo ponto de partida, uma nova ordem. Assim é necessário, espalhar a “boa-nova” que vem sendo construída, afinal so-mos agentes de transformação e filhos da espe-rança.

Encerrando esse nosso estudo que serve como material de preparação para esse nosso VII Encontro Nacional, finalizamos com um pensa-mento do Padre Juvenal Arduini que nos provoca ao dizer:

“Não basta mudar o curso do tempo. Há que mudar a vida da humanidade aviltada. É ur-gente construir a história da justiça, em vez da história da desigualdade; construir a história da dignidade, em vez da história da miséria; cons-truir a história da maioria silenciada, em vez da história da minoria falante. A história não está encerrada. E a sociedade brasileira há de acele-rar o ritmo de gênese. E ter ousadia para reinven-tar-se”. (Juvenal ARDUÍNI. Antropologia: ousar para reinventar a humanidade).

Ao se analisar alguns seminários e semina-ristas, vemos Instituições e cristãos em formação numa dinâmica que responde às necessidades de hoje, mas constatamos, também, que algo pode não estar bem. Muitos preocupam-se em ves-tir-se como se já fossem ordenados, numa clara demonstração de que consideram as vestes como mais importantes do que a ação pastoral, por exemplo. Também o carreirismo, que já foi criti-cado pelo Papa Francisco: “Por favor, isto como irmão, como padre, como amigo; por favor, fujam do carreirismo eclesiástico, que é uma peste. Fu-jam disso”. (1.4.17)

Também no laicato, apesar do crescimento da consciência e da identidade e da missão dos cristãos leigos e leigas na Igreja e no mundo, ain-da há um longo caminho a percorrer. (Cf. CNBB 105, n.9)

“A tomada de consciência desta responsabilidade laical que nasce do Batismo e

da Confirmação, não se manifesta de igual modo em toda a parte: em alguns casos, porque não se formaram para assumir responsabilidades importantes, em outros por não encontrarem

espaço nas suas Igrejas particulares para poderem exprimir-se e agir por causa de um

excessivo clericalismo que os mantém à margem das decisões”. (EG, n. 102)

Talvez, seja necessária a lembrança de uma frase de Pio XII sobre o laicato:

“Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da Igreja: por eles a Igreja é o

princípio vital da sociedade humana. Por isso, especialmente, eles devem ter uma consciência

cada vez mais clara, não somente de pertencer à Igreja, mas de ser Igreja. “

E agora, décadas depois, temos que ir mui-to mais longe, na necessidade de sermos mais exi-gentes, dadas as condições histórico-eclesiais que vivemos.

Neste momento histórico, se a Igreja quer dialogar com o mundo e com a história, isso deve ser feito a partir do laicato. O laicato tem que descobrir aí a sua missão fundamental. Até aqui, quem falou pela Igreja, quem decidiu pela Igreja, foi o clero, foi a hierarquia, no mais das vezes. Mas, nesse momento, se os cristãos leigos e leigas não se assumirem como sujeitos eclesiais, se não se assumirem com a Palavra da Igreja, a Igreja não mais dará respostas adequadas ao mundo.

O Documento 105 insiste: “O presente do-cumento tem como perspectiva a afirmação dos cristãos leigos e leigas como verdadeiros sujei-tos eclesiais”. Além de ser a identidade, vocação, espiritualidade e missão dos cristãos leigos e lei-gas atuarem nos âmbitos eclesial e social, tem a questão numérica. O Papa Francisco afirma: “A imensa maioria do povo de Deus é constituída por leigos. A seu serviço está uma minoria: os minis-tros ordenados”. (EG, n. 102).

Eis aí um grande problema de um laicato que, acostumado a ser “objeto da cura pastoral”, desconhece o que é ser sujeito eclesial e o como fazer para sê-lo de fato! Assim, o primeiro ponto para fazer com que a Igreja dê respostas adequa-das ao mundo no qual está inserida, é buscar fazer com que o cristão leigo e a cristã leiga assumam verdadeiramente o caráter de sujeitos eclesiais, dentro e fora do institucional.

X - Continuando: Agir como Sujeito na Igreja e na Sociedade

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10.1 - Construir outro mundo, outra história

O nosso “Agir” aqui refletido tem que ser pensado a partir do Organismo ao qual pertence-mos, é evidente que um agir individual, a partir de nossas concepções pessoais e nossas análises é muito bom e deve ser encetado, mas o chamado é para agirmos como Igreja Comunhão e Missão.

Daí a importância de nossa participação no VII ENCONTRO NACIONAL DO LAICA-TO DO BRASIL. E, pensemos, primeiramente, no agir como cidadãos num mundo retratado no VER definido como “O Grave Momento Históri-co em que vivemos”, no início deste texto. E para isso, muito embora já tenhamos dito que as ações podem ser individuais, entretanto vamos propor que as façamos através do nosso Organismo de articulação, organização, unidade e comunhão eclesiais.

a. Grupos de Fé e CidadaniaO nosso agir tem que partir de fortes e

profundas análises do momento presente. Daí a importância dos chamados “Grupos de Fé e Ci-dadania”, os quais entendemos como grupos de cristãos leigos e leigas, de determinada região que, chamados pelo Conselho, se reúnem periodi-camente para analisar, discutir, e encontrar formas de ação frente aos desmandos, à fome, à falta de participação do povo naquilo que lhe diz respeito.

Estes grupos não podem ser partidários e nem fechados em si mesmos. Nem mesmo olhar e analisar somente aquilo que acontece em sua paróquia ou município. Têm que agir localmen-te mas analisar globalmente. Viver a cidadania é buscar a participação política. Os grupos de fé e política buscam soluções para os problemas e de-vem encontrar meios de fazer chegar suas propos-tas até às autoridades. Lembremos do que nos en-sinam nossos bispos: “É missão do povo de Deus assumir o compromisso sociopolítico transforma-dor, que nasce do amor apaixonado por Cristo”. (CNBB 105, n. 161).

b. Escolas de Fé e Cidadania A Escola de Fé e Cidadania (ou ‘Fé e Po-

lítica’ ou outros nomes) é um agir que vai além das reflexões dos Grupos de Fé e Cidadania. É um espaço de formação, com temas mais específicos e com professores e professoras com maior ex-periência. Não é escola para quem quer entrar na

política, mas para quem quer entender melhor os mecanismos do processo político.

Podemos ver no Documento 105 muitas propostas para o ‘agir’ na política, especialmente quanto à formação, onde cita as Escolas Dioce-sanas e Regionais de Fé e Cidadania, o CEFEP – Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara, dentre outros. (Cf. CNBB 105, 263).

b. Curso de Doutrina Social da Igreja Cada vez mais a Doutrina social da Igre-

ja, ou Ensino social da Igreja, é vista, pelos seus princípios, como um contraponto fundamental aos sistemas econômicos que oprimem o homem e a mulher de hoje, principalmente o liberalismo econômico capitalista.

O Documento 105 insiste, também, nesta questão. (Cf. CNBB 105, n. 237). Assim, será de todo muito bom que em cada diocese se promova um curso de Doutrina social da Igreja, do qual o CNLB tem material a oferecer.

d. Grupos de Acompanhamento ao Legislativo

Estar presente nas seções dos Legislativos, principalmente nas Câmaras Municipais, é uma forma de:

a) Tomar conhecimento e acompanhar o que lá acontece;

b) Entender os projetos que são aprovados e a quem interessam;

c) Ouvir os discursos dos parlamentares e entender sua visão de mundo ou a serviço de quem estão, como também suas práticas em plenário.

Neste sentido, em muitos municípios, grupos de cristãos leigos e leigas criam as chamadas “Comissões de Acompanhamento ao Legislativo”. Não são necessários muitos mem-bros, mas é importante que tal comissão mostre para a cidade o que lá acontece. E hoje, com a internet, nada mais fácil do que “pôr a boca no trombone” e anunciar o que tem de bom e denun-ciar as irregularidades. As experiências que já existem atestam que as Câmaras melhoram muito em qualidade e representatividade.

e. Construir a Democracia Participativa O Documento 105 da CNBB, cita, entre

os areópagos – ambientes de ação - dos cristãos leigos e leigas o “Mundo das Políticas Públicas”,

ou seja, a Igreja no Brasil insiste em que os cris-tãos devem participar dos Conselhos Municipais Paritários, ou seja, dos Conselhos Municipais de Direitos (da Educação, da Saúde, da Mulher, da Criança e do Adolescente, do Idoso, do Meio Ambiente etc). Veja-se que este é o tema da Cam-panha da Fraternidade deste ano: “Fraternidade e Políticas Públicas”, que é uma oportunidade para tomarmos consciência deste vasto campo de ação, iluminados pela fé e pela Doutrina Social da Igre-ja. O Documento 105 reconhece e ensina: “Assim, a participação consciente e decisiva dos cristãos em movimentos sociais, entidades de classe, par-tidos políticos, conselhos de políticas públicas e outros, sempre à luz da Doutrina Social da Igreja, constitui-se num inestimável serviço à humanida-de e é parte integrante da missão de todo o povo de Deus”. (CNBB 105, n. 162).

Em outras palavras, para os nossos bispos a Democracia Representativa tem seus valores, evidentemente, mas não estão esgotadas todas as possibilidades de viver a democracia, fazendo-se necessária a Democracia Participativa. Por isso chama os cristãos leigos e leigas a participarem dos movimentos sociais, sindicatos, partidos, conselhos e outros.

É fundamental que os Planos Diocesanos de Formação do Laicato incluam a formação para a missão nestes ‘areópagos’ preparando os cristãos leigos e leigas para tal inserção com conhecimen-to de causa.

POR FIM...Temos que viver este momento histórico

imbuídos de que a Igreja só cumprirá com sua missão se todos e todas, ordenados ou não orde-nados, se entenderem como sujeitos na Igreja e na sociedade. Muito importante, pois, na realização do nosso VII Encontro Nacional, que pensemos na nossa responsabilidade de leigos e leigas numa Igreja que tem que viver e anunciar o Reino de Deus.

Assim, é de fundamental importância que pensemos sempre, durante a nossa preparação, ao estudarmos este caderno, e durante a realização do Encontro: Como ser Igreja neste mundo que vive um grave momento hist6órico? Como anun-ciar o Evangelho aí? E, mais grave: como viver este mesmo Evangelho?

Pensemos!

Citações e Referências Bibliográficas

[1] BAUMANN e BORDONI, “Estado de Crise”, Ed. Zahar, 2016

[2]. Idem, p. 23.

[3] Texto extraído de estudos feitos para a compo-sição do Doc. 91 da CNBB.

[4]. FRANCISCO. Evangelii Gaudium, n. 52.

[5]. RIFKIN. J. “A era do acesso”, Makron Books, São Paulo, 2005

[6]. SOUZA LIMA. Os impactos da globalização no mundo do trabalho.

[7] DOWBOR, L. “A Era do O Capital improduti-vo”, Outras Palavras e Autonomia Literária, São Paulo, 2017

[8] SCHWAB, C., “A Quarta Revolução Industrial”, Edipro, São Paulo, 2015

[9] Ver apresentação de C.Sanson sobre o livro acima citado em http://www.ihu.unisinos.br/ima-ges/ihu/apresentacoes_palestrantes/30_05_17_cesar_sanson_revolucao_4.0.pdf

[10] “Philosophy and social hope”, citado por Bor-doni em “Estado de Crise.”o.c.

[11] CNBB, Doc. 105, 258-266

[12] HARWEY, D.,” O Novo Imperialismo”, Editora Loyola, São Paulo, 2004.

[13] PAPA FRANCISCO, Evangelii Gaudium, 52

[14]. FRANCISCO. Evangelii Gaudium, n. 52.

[15]. MORIN. EE. Rumo ao abismo, Ed. Bertrand Brasil, São Paulo, 2011, p. 27.

[16]. Citado por NOVAES. “Civilização e barbá-rie?”, Cia das Letras, São Paulo, 2004, p. 17.

[17]. JASPERS, Karl, “Introdução ao pensamento filosófico”, Editora Cultrix, São Paulo, 2011

[18]. MORIN, E. “Para onde vai o mundo?”, Edito-ra Vozes, Petrópolis, 2010, p. 19.

[19]. Ver em: <https://www.oxfam.org.br/?gclid=-CIG6s42G29ICFc9XDQodTDsKFQ>.

[20]. Idem, p. 36.

[21]. PIKETY, T., “O capital no século XXI”, Editora Intrínseca, Rio de Janeiro, 2014

As imagens utilizadas disponíveis na internet.

30 31VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil - 20 a 23 de Junho de 2019 - Cuibá/MTRevista UM OLHAR - Ano VIII - Nº 12 - Fev./2019 - Conselho Nacional do Laicato do Brasil

Tema:

Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade: um novo olhar e um novo agir

Iluminação Bíblica

Eu vi, ouvi e desci. (Cf. Ex 3,7-8)

PARA A CELEBRAÇÃO SAIR BONITA

1. No local, as cadeiras dispostas em círculo facilitam o contato visual, proporcionando comunhão entre todos.

2. Os símbolos ajudam muito a entrar na ora-ção. O espaço onde se realiza a celebração é parte da mesma e precisa ser preparado com cuidado. No centro devem estar um círio (ou vela grande) apagado, uma bíblia grande, a tema do 7° Encontro Nacional do Laicato escrito num cartaz, visível a todos e todas e uma bacia com água perfumada e pétalas de flores. Tecidos coloridos ajudam na beleza do ambiente.

3. As luzes podem ser diminuídas, facilitando assim um ambiente de acolhimento e con-centração.

4. Providenciar os leitores com antecedência, aprender/ensaiar os cantos (cujos links para o YouTube se encontram no texto) contribui para bem celebrar.

5. Esta celebração foi pensada para durar en-tre 45 a 60 minutos. Podendo, entretanto, ser adaptada conforme a criatividade de quem coordenará: inserir leituras, cantos, símbolos locais, gestos...

6. Os momentos de silêncio sempre são bem intensos na celebração. Procure valorizá-los não apenas como um detalhe, mas algo ne-cessário na mística que se assume.

7. O texto entre parênteses no decorrer do ro-teiro são dicas de como dinamizar cada mo-mento, evitando assim ruídos desnecessá-rios que prejudicam o clima de oração que a celebração merece.

8. Sugerimos terminar a celebração com uma confraternização: combinem com os partici-pantes para trazerem pratos de comidas e bebidas.

9. Registre em fotos a celebração do grupo e envie no e-mail [email protected] para divulgarmos nas mídias sociais do Organis-mo.

01. RITOS DE ACOLHIDA(Inicia-se sem qualquer comentário o can-to do refrão. Após alguns minutos, durante

o canto, uma mulher com uma pequena vela acesa se aproxima do círio e o acende)

A. REFRÃO MEDITATIVO (Frei Telles Ramon) - (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RDlUYEbUeaQ)

Eu sou a luz do mundoQuem me segue não andará

Nas trevas, nas trevasMas a luz da vida terá

B. ABERTURA (Ofício Divino das Comunidades) - (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QvtHFecpdyk)

Vem, ó Deus da vida, vem nos ajudar (bis)Vem, não demores mais, vem nos libertar (bis)

Venham, adoremos a nosso Senhor (bis)Ele e a nossa força, Deus libertador (bis)

Vejam como e boa nossa união (bis)Vejam como e bonito, ó irmãs e irmãos (bis)

Suba nossas preces a ti, ó Senhor (bis)Do CNLB reunido, aceita o louvor (bis)

Gloria ao Pai, ao Filho e ao Santo Espirito (bis)Gloria a Trindade Santa, gloria

aos Deus bendito (bis)

Aleluia, irmãs, aleluia, irmãos (bis)

O povo que combate traga louvação (bis)

Celebração da Palavra

VII ENCONTRO NACIONAL DO LAICATO

20 A 23 DE JUNHO DE 2019

CUIABÁ - MT

32 33VII Encontro Nacional do Laicato do Brasil - 20 a 23 de Junho de 2019 - Cuibá/MTRevista UM OLHAR - Ano VIII - Nº 12 - Fev./2019 - Conselho Nacional do Laicato do Brasil

02. AS DORES DO POVO PRE: Como vimos no Documento Preparatório do 7° Encontro Nacional do Laicato, nos últimos anos se ampliou o rosto sofredor de Jesus na América Latina. São rostos desfigurados pela fome, rostos cansados de migrantes sem acolhida, rostos an-gustiados de irmãos em situação de rua, rostos humilhados por preconceitos, xenofobia e racis-mo... Solidários com as dores do povo e fiéis à nossa missão de descer da cruz os pobres, faça-mos nossa memória penitencial.

A. MEMÓRIA PENITENCIALL1: Na cruz de Jesus, as cruzes do povo indígena.

L2: Na cruz de Jesus, as cruzes do povo da rua.

L1: Na cruz de Jesus, as cruzes do povo negro.

L2: Na cruz de Jesus, as cru-zes dos jovens assassinados

T: São tantas lágrimas no cálice do povo, tua paixão parece acontecer de novo!

L1: Na cruz de Jesus, as cruzes dos menores abandonados.

L2: Na cruz de Jesus, as cruzes dos dependentes químicos.

L1: Na cruz de Jesus, as cruzes dos idosos.

L2: Na cruz de Jesus, as cruzes dos ribeirinhos.

T: São tantas cruzes sobre os ombros do teu povo, tua paixão parece acontecer de novo.

L1: Na cruz de Jesus, as cruzes das mulheres em prostituição.L2: Na cruz de Jesus, as cru-zes dos desempregados.L1: Na cruz de Jesus, as cruzes dos quilombolas.L2: Na cruz de Jesus, as cru-zes da natureza saqueada.T: São tantas pedras no caminho do teu povo, tua paixão parece acontecer de novo.

L1: Na cruz de Jesus, as cruzes dos camponeses. L2: Na cruz de Jesus, as cru-zes das homossexuais.L1: Na cruz de Jesus, as cruzes dos lavradores.L2: Na cruz de Jesus, as cru-zes do povo migrante.T: São tantas dores junto à vida do teu povo, tua paixão parece acontecer de novo.

L1: Na cruz de Jesus, as cruzes das pessoas com deficiência.L2: Na cruz de Jesus, as cru-zes do povo operário.L1: Na cruz de Jesus, as cru-zes dos encarcerados.L2: Na cruz de Jesus, as cru-zes dos povos em guerra.T: São tantos espinhos coroando o teu povo, tua paixão parece acontecer de novo.PRE: Deus que não é indiferente às dores da hu-manidade. Ao ver seu povo escravo no Egito, ele diz a Moisés: “Eu vi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor con-tra seus opressores e conheço seus sofrimentos”. Por fim, intervém por meio do Seu Filho Jesus, descendo no meio da humanidade, revelando-se solidário com todos. Jesus ensina-nos a ser mise-ricordiosos como o Pai.

B. CANTO (Flavio Irala, Jaci Maraschin e Rodolfo Neto) - (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lIGhNbCe0dM)Pelas dores deste mundo, ó Senhor, imploramos piedade, a um só tempo geme a criação. Teus ou-vidos se inclinem ao clamor desta gente oprimida, apressa-te com tua salvação!A tua paz, bendita e irmanada co’a justiça, abrace o mundo inteiro, tem compaixão! O teu poder sus-tente o testemunho do teu povo, teu Reino venha a nós, Kyrie Eleison!

C. ORAÇÃOPRE: Pai de misericórdia, ensina-nos a estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão. Fazeis que nós, conduzidos pelo vosso Espírito, possa-mos realizar o vosso sonho na terra, olhando e socorrendo quem está lançado ao chão, à bei-ra da estrada, e ter a surpresa de nele um dia ver vosso Filho e reconhecer: ‘eras tu, Senhor’?! Por teu Filho Jesus, o Crucificado-Ressuscitado. Amém.

03. ILUMINANDO A CAMINHADAPRE: Iluminados pelo batismo, os cristãos leigas e lei-gos assumem o Projeto de Jesus. Nossa fidelidade à Ele exige Coragem! Não há porque ter medo, pois o Espírito do Senhor está presente em nossa vida. O en-contro com o Senhor que vem é a recompensa para todos aqueles que perseveram na missão e vocação para o qual somos chamados.

A. SALMO 145 (Reginaldo Veloso) - (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CViTnDEig0Q)

Quero cantar ao Senhor, sempre enquanto eu viver. Hei de provar seu

amor, seu valor e seu poder!

Aleluia, eu vou louvar, ó minh’alma bendize ao Senhor. Toda a vida eu vou tocar, ao

meu Deus vou cantar meu louvor.

Não confiem nos poderosos, são de barro e não podem salvar. Quando expiram voltam

ao chão, seus projetos vão logo acabar.

Nosso Deus põe-se ao lado dos fracos, dos famintos e injustiçados. Dos pobres e

oprimidos, dos injustamente vencidos.

Ele barra o caminho dos maus, que exploram sem compaixão. Mas dá forças aos braços dos bons, que sustentam o peso do irmão.

Faz justiça aos oprimidos, aos famintos sacia de pão. O Senhor liberta os cativos,

abre os olhos e os cegos verão.

Aleluia, vamos cantar, glória ao Pai e ao Filho tambem. Glória igual ao Espírito

Santo. Aleluia pra sempre, amem.

B. LIÇÃO BÍBLICA (Hb 10,32-39)Lembrem-se dos primeiros dias, depois que vocês foram iluminados: vocês tiveram que suportar uma grande e penosa luta, ora expostos publicamente a insultos e tribula-ções, ora tornando-se solidários com aque-les que assim eram tratados. De fato, vocês participaram do sofrimento dos prisioneiros e aceitaram com alegria ser despojados dos próprios bens, sabendo que possuíam bens, que são melhores e mais duráveis. Portanto, não percam agora a coragem, para a qual está reservada uma grande recompensa. Vocês necessitam apenas de perseverança, a fim de cumprirem a vontade de Deus, e assim alcançarem o que ele prometeu. Por-que, falta apenas um pouco, e aquele que deve vir vai chegar e não tardará. O meu justo vive pela fé; mas, se ele volta atrás, nele eu não encontro mais nenhuma satis-fação. Nós, porém, não somos como aque-les que voltam atrás para se perder, mas somos homens de fé, para salvar a nossa vida. Palavra do Senhor!

C. REFLEXÃO / PARTILHA / SILÊNCIOPRE: O tema do 7° Encontro “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade: um novo olhar e um novo agir” é um chamado: te-mos uma necessária e imprescindível con-tribuição à dar para a superação dos sinais que morte que lançam à margem milhões de pessoas. O “aperfeiçoamento da ordem temporal” se caracteriza como nosso cha-mado mais específico, pois, ao sermos as-sinalados pelo Batismo, assumimos, junto à fonte batismal, a tarefa de artífices da Ci-vilização do Amor, sinal do Reino em nosso meio.

• Dentre os sinais de morte que recor-damos no início de nossa celebração, quais estão mais presentes em nossa realidade e como podemos ajudar a su-perá-los?

• Como nós, nossos grupos e comunida-des somos afetados pelo clima genera-lizado de pessimismo, desalento, me-dos... que se está respirando em muitos setores da Igreja nestes últimos anos? Como olhamos para o futuro? (Pagola, 2015, p.27)

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• A leitura de Hebreus é um contraponto: uma chamada a esperançar! Como for-talecer a articulação do Organismo em tempos tão exigentes?

• Por fim, quais ações que realizamos em nosso Conselho/Organização Filiada podemos levar para partilhar no 7° En-contro Nacional do Laicato?

04. NOSSO COMPROMISSO

A. PRECES PRE: Apresentemos espontaneamente ao Senhor as preces que brotam dessa nos-

sa oração. Após cada uma delas:

Escuta-nos, Senhor da vida!

B. RITO DO COMPROMISSO (Frei Telles Ramon) (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gFNTLhfXjfI)(Quem preside convida a todos para um gesto de compromisso. Ele lava suas mãos na bacia com água perfumada, lembrando nosso batismo, e convida os outros a fazerem o mesmo. Enquanto isso se canta).

Senhor, chamaste-me aqui estou! / Chamaste-me aqui estou! / Ôôô, chamaste-me aqui estou!

C. ORAÇÃO E BENÇÃOPRE: Que a terra abra caminhos sempre à frente dos teus passos. E que o vento sopre suave sobre os teus ombros. Que o sol brilhe sempre cálido e fraterno no teu rosto. Que a chuva caia suave em teus campos. E até que nos tornemos a encontrar, Deus nos guarde no calor do seu abraço. E até que nos tornemos a encontrar, Deus nos guarde, Deus nos guarde em seu abraço. - Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

D. SAIDEIRA (Reginaldo Veloso) - (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QklKDMSge0M)

Teu sol não se apagará / Tua lua não terá minguante / Porque o Senhor será

tua luz/ Ó povo que Deus conduz.

36 Revista UM OLHAR - Ano VIII - Nº 12 - Fev./2019 - Conselho Nacional do Laicato do Brasil