conselhos aos filósofos cristãos - alvin plantinga

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  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

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    CONSELHO AOS FILSOFOS CRISTOS ALVIN PLANTINGA

    (Com um prefcio especial para pensadores cristos de diferentes disciplinas)

    Alvin Plantinga

    Traduo: Vitor Grando

    [email protected]

    VitorGrando.wordpress.com

    Prefcio.

    No artigo seguinte eu escrevo da perspectiva de um filsofo e, claro, eu tenho

    conhecimento detalhado apenas (no mximo) do meu campo de trabalho. Estou

    convicto, entretanto, de que muitas outras disciplinas se assemelham filosofia

    no que tange s coisas que eu digo abaixo. (Fica a cargo dos praticantes de tais

    disciplinas observar se estou certo ou no).

    Primeiro, no somente na filosofia que ns cristos somos altamente

    influenciados pelas prticas e procedimentos de nossos colegas no-cristos.

    (De fato, tendo em vista o carter rixento dos filsofos e o grande desacordo na

    filosofia provavelmente mais fcil ser um dissidente na filosofia do que em

    qualquer outra disciplina.) O mesmo vale para aproximadamente qualquer

    disciplina intelectual contempornea importante: histria, crtica literria e

    artstica, musicologia e as cincias tanto sociais quanto naturais. Em todas essas

    reas h maneiras de se proceder, hipteses difundidas sobre a natureza da

    disciplina (por exemplo, hipteses sobre a natureza da cincia e seu lugar na

    nossa economia intelectual), hipteses sobre como a disciplina deve ser

    realizada ou sobre o que uma contribuio importante; ns absorvemos essas

    mailto:[email protected]://vitorgrando.wordpress.com/http://vitorgrando.wordpress.com/http://vitorgrando.wordpress.com/mailto:[email protected]
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    muitas vezes, opostas perspectiva crist. Nessas reas, ento, como na

    filosofia, cabe aos cristos que as praticam desenvolver as apropriadas

    alternativas crists.

    1. Introduo

    O cristianismo, atualmente, e na nossa parte do mundo, est crescendo. H

    muitos sinais apontando nesta direo: o crescimento de escolas crists, de

    srias denominaes crists conservadoras, o furor sobre a orao pblica nas

    escolas, a controvrsia evoluo/criao, e outros.

    H tambm poderosas evidncias disso na filosofia. Trinta ou trinta e cinco anos

    atrs, o temperamento pblico da filosofia corrente no mundo de fala inglesa

    era profundamente no-cristo. Poucos filsofos eram cristos; menos ainda

    admitiam em pblico que eram, e menos ainda pensavam que ser cristo faria

    alguma diferena real em sua prtica filosfica. A questo da teologia filosfica

    mais popular, na poca, era no se o cristianismo ou o tesmo eram verdadeiros;

    a questo era se fazia sentido dizer que h tal pessoa como deus. De acordo com

    o positivismo lgico, em alta na poca, a afirmao "Deus existe" no fazia

    sentido algum; loucura; no expressa nada. A questo central no era se o

    tesmo era verdadeiro; era se h tal coisa como tesmo - uma afirmao factual

    que ou falsa ou verdadeira. Mas as coisas mudaram. H muito mais filsofoscristos e ainda mais produtivos filsofos cristos entre os maiores da vida

    filosfica americana. Por exemplo, a fundao da Society for Christian

    Philosophers (Sociedade para Filsofos Cristos), uma organizao que

    promove companheirismo e troca de ideias entre filsofos cristos, tanto uma

    evidncia como uma consequncia desse fato. Fundada seis anos atrs, agora

    uma forte organizao com encontros regionais em toda parte do pas; seus

    membros esto profundamente envolvidos na vida filosfica americana

    profissional. Ento, o cristianismo est crescendo e crescendo na filosofia, comotambm em todas as outras reas da vida intelectual.

    Mas mesmo o cristianismo crescendo, deu poucos passos; e est marchando

    dentro de um territrio alheio. Visto que a cultura intelectual de nossos dias ,

    em grande parte, profundamente no-testa e, portanto, no-crist - mais do

    que isso, antitesta. Muito das chamadas cincias humanas, muito das cincias

    no-humanas, muito do engajamento intelectual no-cientfico e mesmo uma

    boa parte da suposta teologia crist animada por um esprito estranho ao

    tesmo cristo. No tenho espao aqui para desenvolver e elaborar esse ponto;

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    mas eu no preciso, pois isso familiar a vocs todos. Retornando filosofia:

    muito dos principais departamentos de filosofia na Amrica tem praticamente

    nada para oferecer ao estudante que intenta ver como se um filsofo cristo,

    como desenvolver o testemunho cristo em assuntos correntes na filosofia. Num

    departamento de filosofia tpico haver pouco mais do que um curso sobrefilosofia da religio no qual lhes ser sugerido que as evidncias a favor da

    existncia de Deus - as provas testas clssicas - so, no mnimo,

    contrabalanadas pelas evidncias contra a existncia de Deus - o problema do

    mal, talvez; e tambm pode ser acrescentado que a escolha mais sbia, tendo em

    vista mximas como A Navalha de Ockam, dispensar toda essa ideia de Deus,

    pelo menos para propsitos filosficos.

    Meu intento, aqui, dar alguns conselhos aos filsofos que so cristos. Eapesar de meus conselhos serem dirigidos especificamente aos filsofos cristos,

    relevante para todos os filsofos que creem em Deus, judeus ou muulmanos.

    Eu proponho apresentar algum conselho comunidade filosfica crist ou

    testa: algum conselho relevante situao na qual nos encontramos. "Quem

    voc?", me perguntas, "para nos dar conselhos?". uma boa pergunta sem

    resposta: devo ignor-la. Meu conselho pode ser resumido em duas sugestes

    interligadas, junto de uma explicao. Primeiro, filsofos e intelectuais cristos

    devem demonstrar mais autonomia - mais independncia do resto do mundo

    filosfico. Segundo, filsofos cristos devem mostrar integridade - integridade

    no sentido original da palavra, ser um inteiro. Talvez "integralidade" fosse a

    melhor palavra aqui. E necessrio aos dois h um terceiro: coragem crist, ou

    ousadia, ou fora, ou talvez autoconfiana crist. Ns filsofos cristos devemos

    mostrar mais f, mais confiana no Senhor; ns devemos vestir toda armadura

    de Deus. Deixe-me explicar de forma preliminar e breve o que eu tenho em

    mente; ento considerarei alguns outros exemplos mais detalhadamente.

    Pense num estudante cristo de Grand Rapids, Michigan, ou Arkadelphia,Michigan - que decide seguir seu caminho na filosofia. Naturalmente o bastante,

    ele ir para a faculdade para aprender como se tornar filsofo. Talvez v a

    Princeton, ou Berkeley, ou Pittsburg, ou Arizona; no importa muito qual. L ele

    aprende como a filosofia praticada. As questes presentes so tpicos tais

    como a nova teoria de referncia; a controvrsia realismo/antirrealismo; os

    problemas de probabilidade; a alegao de Quine sobre a indeterminao

    radical da traduo; Rawls sobre justia; a teoria causal do conhecimento;

    problemas de Gettier; o modelo de inteligncia artificial para entender o que ser uma pessoa; a questo sobre o status ontolgico no-observvel de entidades

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    ideias e procedimentos de Quine: seu empirismo radical, sua fidelidade cincia

    natural, sua inclinao ao behaviorismo, seu naturalismo, e seu gosto por

    paisagens desertas e sua parcimnia ontolgica. Seria totalmente natural para

    ele se tornar envolvido nessas ideias e projetos, ver a filosofia frutfera e til

    como substancialmente envolvida nesses projetos. Claro que ele notar certastenses entre sua crena crist e sua maneira de fazer filosofia; e pode, depois,

    se esforar para harmoniz-las. Ele devotar seu tempo e energia para entender

    e reinterpretar a crena crist de modo a se tornar aceitvel ao quiniano. Um

    filsofo que eu conheo, que embarcou num projeto desses, sugeriu que os

    cristos deveriam pensar em Deus como um conjunto (Quine est propenso a

    aceitar conjuntos): o conjunto de todas as proposies verdadeiras, talvez, ou o

    conjunto de aes certas, ou a unio desses conjuntos, ou talvez seu produto

    cartesiano. Isso compreensvel. mas tambm vai numa direo muito errada.Quine um filsofo brilhante: uma fora filosfica, poderosa, original e hbil.

    Mas seus compromissos fundamentais, seus projetos e preocupaes

    fundamentais, so totalmente diferentes dos projetos e preocupaes da

    comunidade crist - totalmente diferentes e, de fato, contrrios. E o resultado de

    tentar enxertar o pensamento cristo sobre suas vises bsicas do mundo ser

    no mximo uma baguna nada ntegra; e no pior comprometer, distorcer ou

    trivializar seriamente as alegaes do tesmo cristo. O que preciso mais

    inteireza, mais integralidade.

    Ento o filsofo cristo tem seus prprios tpicos e projetos sobre os quais

    pensar; e quando ele pensa sobre os tpicos correntes no mundo filosfico, ele

    vai pens-los de sua prpria maneira, que poder ser uma maneira diferente.

    Ele poder ter que rejeitar hipteses bem aceitas sobre a empreitada filosfica -

    ele pode ter que rejeitar hipteses aceitas em relao ao ponto de incio e

    procedimentos da empreitada filosfica. E - e isso muito importante - o

    filsofo cristo tem um direito perfeito sobre o ponto de vista e hipteses pr-

    filosficas que ele trs para o labor filosfico; o fato de que isso no amplamente compartilhado fora da comunidade crist ou testa interessante

    mas fundamentalmente irrelevante. Eu posso explicar melhor o que penso

    atravs de um exemplo; ento descerei do nvel de explicaes gerais para

    explicaes mais especficas.

    II. Tesmo e Verificabilidade

    Primeiro, o temido "Critrio de Verificabilidade de Sentido". Durante os

    prsperos dias do positivismo lgico, h uns trinta ou quarenta anos atrs, os

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    positivistas alegaram que a maioria das afirmaes crists caractersticas -

    "Deus nos ama", por exemplo, ou "Deus criou os cus e a terra" - nem sequer

    tm o privilgio de serem falsas. Elas so, diziam os positivistas, literalmente

    sem sentido. No que elas expressem proposies falsas; elas no expressam

    nada. Como a famosa citao de "Alice no Pas das Maravilhas": "Era briluz. Aslesmolisas touvas Roldavam e relviam nos gramilvos." Tais afirmaes no

    dizem nada falso, mas somente porque no dizem nada, elas so

    "cognitivamente sem sentido", para usar a charmosa frase positivista. O tipo de

    coisa que testas e outros tm dito por sculos, eles disseram, agora mostra-se

    sem sentido; ns testas fomos todos vtimas, parece, de um hoax cruel -

    perpetrado, talvez, por ambiciosos sacerdotes e imposto a ns por nossas

    prprias naturezas crdulas

    Agora se isso for verdadeiro, de fato importante. Como os positivistas

    chegaram a esta surpreendente concluso? Eles a inferiram a partir do Critrio

    de Verificabilidade de Sentido, que diz, mais ou menos o seguinte, que uma

    afirmao tem sentido somente se for ou analtica, ou sua veracidade ou

    falsidade puder ser determinada por investigao emprica ou cientfica pelos

    mtodos das cincias empricas. Sobre essas bases no somente o tesmo e a

    teologia, mas muito da metafsica e da filosofia tradicionais e muito mais foram

    declaradas sem sentido, sem sentido literal algum. Alguns positivistas

    reconheceram que a metafsica e a teologia, apesar de serem sem sentido, ainda

    tm um certo valor limitado. Carnap, por exemplo, achava que elas fossem

    algum tipo de msica. No se sabe se ele esperava que a teologia e a metafsica

    se sobrepusessem a Bach ou Mozart, ou at Wagner; eu, entretanto, penso que

    elas poderiam substituir o rock. Hegel poderia tomar o lugar dos The Talking

    Heads; Immanuel Kant poderia tomar o lugar dos Beach Boys; e no lugar do

    The Grateful Dead poderamos ter, talvez, Arthur Schopenhauer.

    O positivismo tinha um gostoso ar de ser avant garde, moderno, e muitosfilsofos o acharam extremamente atrativo. Alm do mais, muitos dos que no o

    endossaram ainda dialogaram com ele com muita hospitalidade como sendo, no

    mnimo, extremamente plausvel. Como consequncia muitos filsofos tanto

    cristos como no-cristos viram nisso um verdadeiro desafio e um grande

    perigo ao cristianismo: O maior perigo ao tesmo hoje, disse J.J.C. Smart em

    1955, vem das pessoas que querem dizer que 'Deus existe' e 'Deus no existe'

    so afirmaes igualmente absurdas. Em 1955 o livro New Essays in

    Philosophical Theology surgiu, um volume de ensaios que ditariam o tom e ostpicos da filosofia da religio para a prxima dcada ou at mais; e muito deste

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    volume tratava da discusso sobre o impacto do verificacionismo no tesmo.

    Muitos cristos inclinados filosoficamente ficaram perturbados e perplexos e se

    sentiram profundamente ameaados; poderia mesmo ser verdade que os

    filsofos linguistas, de alguma forma, descobriram que as mais caras convices

    dos cristos eram, na verdade, simplesmente sem sentido? Havia muitaansiedade entre os filsofos, tanto testas quanto aqueles simpticos ao tesmo.

    Alguns sugeriram, em face do violento ataque positivista, que a comunidade

    crist deveria recolher suas armas e recuar silenciosamente, admitindo que o

    critrio da verificabilidade provavelmente era verdadeiro. Outros afirmaram

    que o tesmo mesmo nonsense, mas um nonsense importante. Ainda outros

    sugeriram que as afirmaes em questo deveriam ser reinterpretadas de tal

    maneira a no afrontar os positivistas; algum sugeriu seriamente, por exemplo,

    que os cristos usassem, ento, a sentena Deus existe como significandoalguns homens e mulheres tiveram, e tm, experincias chamadas de 'encontro

    com Deus', ele acrescentou que quando dizemos Deus criou o mundo a partir

    do nada o que deveramos entender tudo que chamamos de 'material' pode

    ser usado de tal maneira a contribuir com o bem-estar dos homens. Em um

    contexto diferente mas no mesmo esprito, Rudolf Bultmann iniciou seu projeto

    de demitologizao do cristianismo. A tradicional crena crist sobrenaturalista,

    disse ele, impossvel na era da luz eltrica e redes sem-fio. (Algum poderia,

    talvez, imaginar um ctico antigo tendo uma viso semelhante de, digamos, daimprensa, por exemplo, ou do papiro).

    Por agora, claro, o verificacionismo se retraiu obscuridade que tanto merece;

    mas a moral continua. Essas tentativas de acomodar o positivismo foram

    totalmente inapropriadas. Eu entendo que olhar para o passado mais claro do

    que para o futuro e eu no trouxe tona este trecho da histria intelectual

    recente para ser crtico de meus antepassados ou para alegar que somos mais

    espertos que nossos pais: o que eu quero mostrar que podemos aprender algo

    desse incidente. Pois os filsofos cristos deveriam ter adotado um atitudediferente em relao ao positivismo e seu critrio de verificabilidade. O que

    deveriam ter tido aos positivistas Seu critrio est errado: pois tais afirmaes

    como 'Deus nos ama' e 'Deus criou os cus e a terra' tm um sentido claro; ento

    se no so verificveis no seu sentido, ento falso que s afirmaes

    verificveis nesse sentido so vlidas. O que era necessrio aqui era menos

    acomodao corrente vigente e mais autoconfiana crist: o tesmo cristo

    verdadeiro; se o tesmo cristo verdadeiro, ento o critrio do verificacionismo

    falso. Claro, se os verificacionistas tivessem dado argumentos convincentespara seu critrio a partir de premissas aceitas pelos pensadores testas ou

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    cristos, ento talvez haveria um problema para o filsofo cristo. Ento

    deveramos ou concordar que o tesmo cristo cognitivamente sem sentido, ou

    revisar ou rejeitar tais premissas. Mas os verificacionistas nunca apresentaram

    quaisquer argumentos convincentes. De fato, eles quase nem sequer

    apresentavam argumentos. Alguns simplesmente declaravam esse princpiocomo uma grande descoberta e, quando desafiados, repetiam-no em alto e bom

    som; mas por que isso deveria perturbar algum? Outros propuseram isso como

    uma definio uma definio do termo sentido. Agora claro que os

    positivistas tinham o direito de usar este termo da maneira que escolheram;

    um pas livre. Mas como que a deciso deles de usar esse termo de uma maneira

    especfica pode apresentar algo to significativo como o fato de todos os crentes

    em Deus estarem iludidos? Se eu propuser o uso do termo democrata como

    tendo o significado de um completo salafrrio, seguiria da que os democratasdeveriam se envergonhar? O meu ponto, para repetir, que os filsofos cristos

    deveriam mostrar mais integridade, mais independncia, menos prontido em

    abraar os predominantes ventos de doutrinas filosficas e mais autoconfiana

    crist.

    III.Tesmo e a Teoria do Conhecimento

    Posso apenas dar meu segundo exemplo indiretamente. Muitos filsofos

    alegaram encontrar um srio problema para o tesmo na existncia do mal, ou

    na quantidade e tipos de males que encontramos. Muitos que alegaram

    encontrar nisso um problema para os testas argumentaram o argumento

    dedutivo do mal: eles alegaram que a existncia de um Deus onipotente,

    onisciente e totalmente bom logicamente incompatvel com a presena do mal

    no mundo uma presena, inclusive, afirmada e enfatizada pelos testas

    cristos. Por sua vez, os testas argumentaram no haver nenhuma

    inconsistncia aqui. Acredito que o consenso presente, at mesmo entre aqueles

    que usaram de algum tipo de argumento do mal, que sua forma dedutiva insatisfatria.

    Mais recentemente, filsofos alegaram que a existncia de Deus, apesar de

    talvez no ser inconsistente com a existncia desta quantidade e tipos de males

    que encontramos no mundo, , de alguma forma, improvvel em relao a isso.;

    isto , a probabilidade de Deus existir tendo em vista o mal que encontramos,

    menor do que a probabilidade, em relao a mesma evidncia, de Deus no

    existir nenhum criador onipotente, onisciente e totalmente bom. Assim a

    existncia de Deus improvvel em relao quilo que sabemos. Mas, ento, se

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    a crena testa improvvel em relao quilo que sabemos, segue-se que

    irracional ou, pelo menos, est num nvel intelectual inferior aceit-la.

    Agora examinemos essa alegao brevemente. O objetor afirma que:

    1.Deus um criador onipotente, onisciente e totalmente bom.

    improvvel em relao a:

    2. Existem 10E+13 turps de mal

    (Onde turp a unidade bsica do mal).

    Eu argumentei algures que existem grandes dificuldades em torno da alegao

    de que (1) improvvel dado que (2). Chame esta resposta de "respostasecundria". Aqui eu quero seguir no que eu chamo de resposta primria.

    Suponhamos que ns estipulssemos, para propsitos argumentativos, que (1)

    , de fato, improvvel dado (2). Vamos concordar que improvvel, dado a

    existncia de 10E+13 turps de mal, que o mundo tenha sido criado por um Deus

    que perfeito em poder, conhecimento e bondade. O que deveria seguir da?

    Como isso se torna uma objeo crena testa? Como se segue da o argumento

    do objetor? No se segue, claro, que o tesmo seja falso. Tambm no segue

    que algum que aceite tanto (1) quanto (2) (e vamos acrescentar, reconhece que(1) improvvel em relao a (2)) tenha um sistema de crenas irracional ou

    est, de alguma maneira, culpado de impropriedade notica; obviamente pode

    haver pares de proposies A e B, tais que conhecemos tanto A quanto B, apesar

    do fato de que A improvvel em relao a B. Eu posso saber, por exemplo, que

    Feike um frsio e que 9 em cada 10 frsios no sabem nadar, e ainda assim

    Feike sabe nadar; ento eu estou obviamente dentro dos meus direitos

    intelectuais em aceitar ambas proposies, mesmo sendo a ltima improvvel

    em relao primeira. Ento mesmo se houvesse um fato de que (1)

    improvvel em relao a (2), esse fato, no traria muitas consequncias. Como,

    ento, esta objeo pode ser desenvolvida?

    Presumivelmente o que o objetor quer afirmar que (1) improvvel, no

    somente em relao a (2), mas em relao a todo um corpo de evidncias

    talvez toda evidncia que o testa tem, ou talvez o corpo de evidncias que ele

    racionalmente obrigado a ter. O objetor deve estar supondo que o testa tem um

    relevante corpo de evidncias aqui, um corpo de evidncias que inclui (2); e sua

    alegao que (1) improvvel em relao a este corpo de evidncias.Suponhamos que dissssemos que T o corpo de evidncias de um certo testa

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    T; e suponhamos que concordssemos que uma sntese racionalmente

    aceitvel para ele somente se no for improvvel em relao a T. Agora que tipo

    de proposies devemos encontrar em T? Talvez as proposies que ele sabe

    serem verdadeiras, ou talvez o maior conjunto de crenas que ele pode aceitar

    sem evidncias de outras proposies, ou talvez as proposies que ele conheceimediatamente conhece, mas no conhece sobre as bases de outras

    proposies. Seja como for que caracterizemos esse conjunto T, a questo que

    eu proponho esta: por que no pode a prpria crena em Deus ser membra de

    T? Talvez o testa tenha um direito de iniciar a partir da crena em Deus,

    tomando esta proposies como uma das que em relao a esta determina a

    propriedade racional de outras crenas que ele tenha. Mas se for assim, ento o

    filsofo cristo est totalmente dentro de seus direitos ao comear a filosofar a

    partir de sua crena. Ele tem o direito de tomar a existncia de Deus comopressuposto e comear o seu labor filosfico a partir da assim como outros

    filsofos tm o direito tomar por pressuposto a existncia do passado ou,

    digamos, de outras pessoas, ou as alegaes bsicas da fsica contempornea. E

    isso me leva ao meu ponto aqui. Muitos filsofos cristos parecem pensar de si

    mesmos como filsofos como engajados junto dos filsofos ateus e agnsticos

    numa busca comum pela correta posio filosfica quanto questo de se h tal

    pessoa como Deus. claro que o filsofo crist ter suas prprias convices

    privadas neste ponto; ele acreditar, claro, que h de fato tal pessoa comoDeus. Mas ele pensar, ou tender a pensar, que como filsofo ele no tem

    direito a esta posio a menos que esteja apto a mostrar que esta crena segue

    de, ou provvel, ou justificada em relao a premissas aceitas por todos os

    partidos envolvidos na discusso testas, agnsticos ou atestas. Alm do mais,

    ele estar propenso a pensar que no tem direitos, como filsofo, a posies que

    pressupem a existncia de Deus se ele no puder demonstrar que essa crena

    justificada de outras maneiras. O que eu quero argumentar que a comunidade

    filosfica crist no deve pensar de si mesma como engajada nesse esforo

    comum em determinar a probabilidade ou a plausibilidade filosfica da crena

    em Deus. O filsofo cristo muito apropriadamente comea a partir da crena

    em Deus, e a pressupe em seu labor filosfico, sendo ou no capaz de

    demonstr-la como provvel ou plausvel em relao s premissas aceitas por

    todos os filsofos, ou a maioria dos filsofos nos grandes centros filosficos

    contemporneos.

    Tomando como pressuposto, por exemplo, que h tal pessoa como Deus e que

    ns estamos, de fato, dentro de nossos direitos epistmicos (sendo justificadosnesse sentido) em acreditar que h um Deus, o epistemlogo cristo pode

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    perguntar o que que confere justificao a crena: em virtude de que est o

    testa justificado? Talvez haja diversas respostas possveis. Uma das que ele

    pode apresentar a de Joo Calvino (e, antes dele, da tradio Agostiniana,

    Anselmiana, Boaventuriana da Idade Mdia): Deus, disse Calvino, incutiu no ser

    humano uma tendncia, uma propenso, ou uma disposio a acreditarem nele:

    Est fora de discusso que inerente mente humana, certamente por instinto

    natural, algum sentimento da divindade. A fim de que ningum recorra ao

    pretexto da ignorncia. Deus incutiu em todos uma certa compreenso de sua

    deidade... Ento, de tal perspectiva, desde o comeo do mundo, nenhuma

    cidade, nenhuma casa existiria que pudesse carecer de religio. Nisso h uma

    tcita confisso: est inscrito no corao de todos um sentimento de divindade.

    [2]

    A alegao de Calvino, ento, que Deus nos criou de tal forma que tivssemos

    por natureza uma forte tendncia ou inclinao ou disposio em direo

    crena nele.

    Apesar de esta disposio a acreditar em Deus ter sido, em parte, suprimida

    pelo pecado ainda assim est universalmente presente. E disparada por

    condies amplamente compreendidas:

    Para que ningum, ento, seja excludo do acesso felicidade, ele no s plantou

    na mente do homem a semente da religio da qual j falamos, mas se revela

    diariamente na construo do universo. Como consequncia o homem no pode

    abrir seus olhos sem ser compelido a v-lo.

    Como Kant, Calvino ficou impressionado com essa conexo, pela admirvel

    estrutura dos estrelados cus acima:

    Mesmo o povo mais comum e o menos instrudo, que foram ensinados apenaspor seus prprios olhos, no podem deixar de perceber a excelncia da arte

    divina, pois esta se revela em sua inumervel e ainda distinta e ordenada

    variedade.

    O que Calvino diz sugere que algum que adere a esta tendncia e nessas

    circunstncias aceita a crena de que Deus criou o mundo talvez ao observar o

    cu estrelado, ou a esplndida majestade das montanhas, ou a beleza complexa

    e articulada de uma pequena flor est to racional e justificado quanto algum

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    que acredita ver uma rvore por ter o tipo de experincia visual que nos sugere

    estarmos vendo uma rvore.

    Sem dvida, essa sugesto no convenceria o ctico; tomada como uma

    tentativa de convencer o ctico ela circular. Meu ponto somente este: ocristo tem suas prprias perguntas para responder, e seus prprios projetos;

    esses projetos podem no se entrosar com aqueles dos filsofos cticos ou

    descrentes. Ele tem suas prprias questes e seu prprio ponto de partida ao

    investigar tais questes. claro, eu no quero sugerir que o filsofo cristo deve

    aceitar a resposta de Calvino questo mencionada acima; mas eu digo que

    perfeitamente apropriado para ele dar a essa questo uma resposta que

    pressupe precisamente aquilo do que o ctico ctico mesmo se esse

    ceticismo for quase unnime na maioria dos prestigiados departamentos defilosofia de nossos dias. O filsofo cristo, de fato, tem uma responsabilidade

    para com o mundo filosfico, mas sua responsabilidade fundamental com a

    comunidade crist, e finalmente com Deus.

    Novamente, o filsofo cristo pode estar interessado na relao entre f e razo,

    entre f e conhecimento: concedido que afirmamos algumas coisas por f e

    sabemos outras coisas: concedido que creiamos que h tal pessoa como Deus e

    que a crena testa verdadeira; ns tambm sabemos que Deus existe?

    Aceitamos tal crena por f ou razo? O testa pode estar inclinado em direo a

    uma teoria do conhecimento confiabilista; ele pode estar inclinado a pensar que

    uma crena verdadeira constitui conhecimento se for produzida por um

    mecanismo produtor de crenas confivel. (H problemas difceis aqui, mas

    ignoremo-los por enquanto). Se o testa acha que Deus nos criou com o sensus

    divinitatisde que Calvino fala, ele vai afirmar que, de fato, h um mecanismo

    produtor de crenas confivel que produz a crena testa; ele, ento, afirmar

    que sabemos que Deus existe. Algum que siga Calvino aqui vai afirmar tambm

    que a capacidade de compreender a existncia de Deus parte do nossoequipamento intelectual ou notico como a capacidade de compreender

    verdades de lgica, verdades perceptivas, verdades sobre o passado, e verdades

    sobre outras mentes. A crena na existncia de Deus est, ento, no mesmo

    barco que esto as crenas nas verdades da lgica, outras mentes, o passado,

    objetos perceptivos; em cada caso Deus nos construiu de tal forma que nas

    circunstncias corretas adquirimos a crena em questo. Mas ento a crena de

    que h um Deus est entre as sentenas de nossas faculdades noticas naturais

    assim como esto aquelas outras crenas. Assim ns sabemos que h tal pessoacomo Deus, e no somente cremos nisso; e no por f que compreendemos a

  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

    14/24

    existncia de Deus, mas pela razo; e isso independente do sucesso de qualquer

    argumento testa clssico.

    Meu ponto no que o filsofo cristo deva seguir Calvino aqui. Meu ponto

    que o filsofo cristo tem um direito (eu diria um dever) de trabalhar nos seusprprios projetos projetos definidos pelas crenas da comunidade crist da

    qual ele parte. A comunidade filosfica crist deve trabalhar as respostas s

    suas questes; e tanto as questes como a maneira apropriada de desenvolver as

    respostas pode pressupor as crenas rejeitadas pelos principais centros

    filosficos. Mas o cristo est procedendo muito apropriadamente ao comear a

    partir destas crenas, mesmo se forem rejeitadas. Ele no est sob nenhuma

    obrigao de confinar seus projetos de pesquisa queles exercidos naqueles

    centros, ou de exercer seus projetos sob as hipteses que prevalecem l.

    Talvez eu possa explicar melhor o que eu quero dizer contrastando com uma

    viso totalmente diferente. De acordo com o telogo David Tracy,

    De fato o telogo cristo moderno no pode eticamente fazer nada alm de

    desafiar o tradicional autoentendimento do telogo. Ele no mais v seu

    trabalho como uma simples defesa ou at mesmo uma reinterpretao ortodoxa

    da crena tradicional. Ao invs, ele acha que seu comprometimento tico

    moralidade do conhecimento cientfico o fora a assumir uma postura crtica emrelao s suas prprias crenas tradicionais... Em princpio, a lealdade

    fundamental do telogo como telogo moralidade do conhecimento

    cientfico compartilhada com seus colegas, os filsofos, historiadores e demais

    cincias sociais. No mais eles podem assumir suas prprias crenas ou

    tradies como garantias para seus argumentos. De fato, em toda empreitada

    teolgica apropriada, a anlise deveria ser caracterizada por aquelas mesmas

    posturas ticas do julgamento autnomo, julgamento crtico e o apropriado

    ceticismo que caracteriza as anlises em outras reas. [3]

    Alm do mais, essa moralidade do conhecimento cientfico insiste que cada

    pesquisador inicie com os mtodos e conhecimento do campo em questo, a

    menos que algum tenha evidncias do mesmo tipo lgico para rejeitar esses

    mtodos e esse conhecimento. Mais ainda, para a nova moralidade cientfica,

    a lealdade fundamental de algum como analista de qualquer e todas alegaes

    cognitivas somente a esses procedimentos metodolgicos que a comunidade

    cientfica em questo desenvolveu. (6).

  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

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    Eu digo caveat lector: Estou pronto para apostar que essa nova moralidade

    cientfica como o Sacro Imprio Romano: no nem nova nem cientfica nem

    moralmente obrigatria. Alm do mais, a nova moralidade cientfica me

    parece tremendamente desfavorvel como postura para um telogo cristo,

    moderno ou no. Mesmo se houvesse um conjunto de procedimentosmetodolgicos defendidos pela maioria dos filsofos, historiadores e cientistas

    sociais, ou a maioria dos filsofos, historiadores e cientistas sociais seculares,

    por que deveria o telogo cristo ser leal a esse conjunto ao invs de, digamos, a

    Deus, ou s verdades fundamentais do cristianismo? A sugesto de Tracy sobre

    como os telogos cristos devem proceder parece pouco prometedora. claro

    que sou somente um filsofo, no um telogo moderno; sem dvida estou me

    aventurando para alm dos meus domnios. Portanto, no pretendo falar para

    telogos modernos; mas, ainda assim, as coisas valem para eles, o filsofocristo moderno tem um direito, como filsofo, de comear a partir de sua

    crena em Deus. Ele tem o direito de assumi-la, pressup-la em seu labor

    filosfico independentemente de poder convencer seus colegas descrentes de

    que essa crena verdadeira ou corroborada por aqueles procedimentos

    metodolgicos que Tracy menciona.

    E a comunidade filosfica crist deve se preocupar com as questes filosficas

    importantes para a comunidade crist. Deve seguir com o projeto de explorar e

    desenvolver as implicaes do tesmo cristo para todo tipo de questes que os

    filsofos fazem e respondem. Deve fazer isso independente de poder convencer

    a maioria da comunidade filosfica de que h de fato um Deus, ou de que

    racional ou razovel acreditar que h. Talvez o filsofo cristo possa convencer o

    filsofo ctico ou descrente de que h um Deus. Talvez seja possvel em alguns

    casos. Em outros casos, claro, pode ser impossvel; mesmo se o ctico aceitar

    premissas a partir das quais a crena crist se segue por argumentos que ele

    tambm aceita, ele pode, quando ciente desta situao, desistir de tais premissas

    ao invs de sua descrena (Dessa maneira possvel reduzir algum doconhecimento ignorncia apresentando um argumento que ele creia ser vlido

    a partir de premissas que ele saiba serem verdadeiras).

    Mas sendo isso possvel ou no, o filsofo cristo tem outras questes com as

    quais se preocupar. claro que ele deve ouvir, entender, e aprender da

    comunidade filosfica e ele deve assumir seu lugar l; mas seu trabalho como

    filsofo no est restrito ao que o ctico ou o resto do mundo filosfico acha do

    tesmo. Justificar ou tentar justificar a crena testa para a comunidadefilosfica no a nica tarefa da comunidade filosfica crist; talvez no esteja

  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

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    nem entre suas tarefas mais importantes. A filosofia uma empreitada

    comunitria. O filsofo cristo que observa exclusivamente o mundo filosfico

    externo comunidade crist, que pensa de si mesmo como pertencente

    primariamente quele mundo, corre um risco duplo. Ele pode vir a negligenciar

    uma parte essencial de sua tarefa como filsofo cristo; e pode vir a se encontrarusando prncipios e procedimentos que no se encaixam bem com suas crenas

    como cristo. O que preciso, mais uma vez, autonomia e integralidade.

    Meu terceiro exemplo tem a ver com antropologia filosfica: como deveramos

    pensar sobre as pessoas humanas? Que tipo de coisa, fundamentalmente, so as

    pessoas? O que ser uma pessoa, o que ser uma pessoa humana, e como

    deveramos pensar a pessoalidade? Como, em particular, os cristos, filsofos

    cristos, deveriam pensar sobre tais coisas? O primeiro ponto a notar que naviso crist, Deus a pessoa principal, o primeiro e exemplar-chefe de

    pessoalidade. Deus, alm do mais, criou o homem sua imagem; ns, homens e

    mulheres, somos portadores da imagem de Deus. E as propriedades mais

    importantes para o entendimento de nossa pessoalidade so as propriedades

    que compartilhamos com ele. O que pensamos sobre Deus, ento, ter um efeito

    imediato e direto na maneira como vemos a raa humana. claro que

    aprendemos muito sobre ns mesmos por outras fontes da observao diria,

    por exemplo, da introspeco e auto-observao, da investigao cientfica e

    assim por diante. Mas tambm perfeitamente apropriado comear a partir

    daquilo que sabemos como cristos. No o caso que a racionalidade, ou o

    mtodo filosfico apropriado, ou a responsabilidade intelectual, ou a nova

    moralidade cientfica, ou qualquer coisa, requeiram que comecemos a partir de

    crenas compartilhadas com todo mundo o que o senso comum e a cincia

    corrente ensinam, e.g. - para arrazoar ou justificarmos as crenas que temos

    como cristos. Ao tentarmos prover um relato filosfico satisfatrio de alguma

    rea ou fenmeno, podemos apropriadamente apelar, no nosso relato ou

    explanao, a qualquer coisa que j cremos racionalmente seja isso a cinciacorrente ou a doutrina crist.

    Deixe-me prosseguir novamente para exemplos especficos. H uma linha

    divisria fundamental, na filosofia antropolgica, entre aqueles que veem o ser

    humano como livre livre no sentido libertrio (livre-arbitro) e aqueles que

    aderem ao determinismo. De acordo com os deterministas, toda ao humana

    uma consequncia de condies iniciais que fogem ao nosso controle por leis

    causais que tambm fogem ao nosso controle. Algumas vezes por trs dessaalegao h uma retratao do universo como uma enorme mquina onde todos

  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

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    os eventos, em nvel macroscpico, incluindo as aes humanas, so

    determinados por eventos prvios e por leis causais. Nessa viso toda ao que

    eu realizei aconteceu de tal forma que no estava sob meu controle refre-la.; e

    se, numa dada ocasio eu no realizei uma determinada ao, ento no estava

    sob meu controle realiz-la. Se eu levantar meu brao, ento, na viso emquesto, no estava sob meu controle no levant-lo. O pensador cristo tem

    uma posio nessa controvrsia pelo simples fato de ser cristo. J que ele

    acreditar que Deus nos v como responsveis por muito do que fazemos

    responsveis e tambm apropriadamente sujeitos a louvor ou culpa, aprovao

    ou desaprovao. Mas como eu posso ser responsvel pelas minhas aes, se

    no estava sob meu controle realizar qualquer ao que de fato eu no realizei, e

    tambm no estava sob meu controle refrear qualquer coisa que eu realizei? Se

    minhas aes so determinadas assim, ento no posso ser responsabilizado porelas; mas Deus no faz nada imprprio ou injusto, e ele me v como responsvel

    pelas minhas aes; assim no o caso que todas minhas aes so

    determinadas. O cristo tem uma razo inicial forte para rejeitar a alegao de

    que todas nossas aes so causalmente determinadas uma razo muito mais

    forte do que os argumentos escassos e anmicos que o determinista pode reunir

    do outro lado. claro que se houvesse fortes argumentos do outro lado, ento

    haveria um problema aqui. Mas no h, portanto no h problema algum.

    O determinista pode responder que a liberdade e o determinismo causal so,

    contrariando aparncias iniciais, de fato compatveis. Ele pode argumentar que

    ser livre em relao a uma ao realizada no tempo t por exemplo, no implica

    dizer que no estava sob meu controle refre-la, mas somente algo mais fraco

    talvez algo como se eu tivesse escolhido no realiz-la, eu no a teria realizado.

    De fato, o compatibilista vai alm. Ele vai afirmar, no somente que a liberdade

    compatvel com o determinismo, mas que a liberdade requer o determinismo.

    Ele vai afirmar, assim como Hume, que a proposio S livre em relao a uma

    ao A ou que S faz A livremente implica que S causalmente determinado emrelao a A que h leis causais e condies antecedentes que juntas implicam

    tanto que S realize A ou que S no realize A. Ele manter a alegao insistindo

    que se S no assim determinada em relao a A, ento simplesmente uma

    questo de acaso que se deve, talvez, aos efeitos quantum no crebro de S

    que S realiza A . Mas se s uma questo de acaso S realizar A ento ou S no

    realiza A, ou S no responsvel por realizar A. Se S realizar A s uma questo

    de acaso, ento S realizar A algo que simplesmente acontece a S; mas no

    realmente o caso de que S realize A de qualquer forma no o caso que S seja

  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

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    responsvel por realizar A. E assim a liberdade, no sentido que requerido para

    a responsabilidade, requer o determinismo.

    Mas o pensador cristo vai achar essa alegao incrivelmente implausvel.

    Presumivelmente o determinista quer dizer que o que ele diz caracteriza aesgerais, no somente aquelas dos seres humanos. Ele vai assegurar que uma

    verdade necessria que se um agente no levado a realizar uma ao ento

    simplesmente obra do acaso que o agente em questo realize a ao em questo.

    De uma perspectiva crist, entretanto, isso muito incrvel. J que Deus realiza

    aes, e realiza aes livremente; e certamente no o caso de que h leis

    causais e condies antecedentes fora de Seu controle que determinem o que Ele

    faz. Pelo contrrio: Deus o autor das leis causais que existem; de fato, talvez a

    melhor maneira de pensar essas leis causais como registros das maneiras queDeus trata normalmente as criaturas que ele criou. Mas claro que no

    simplesmente obra do acaso Deus fazer o que faz criar e sustentar o mundo,

    digamos, e oferecer redeno e renovo para seus filhos. Ento o filsofo cristo

    tem uma tima razo para rejeitar essa premissa, junto com o determinismo e o

    compatibilismo que ela suporta.

    O que est realmente em questo nessa discusso a noo de agente causal: a

    noo de uma pessoa como fonte ltima de uma ao. De acordo com os

    partidrios do agente causal, alguns eventos so causados, no por outros

    eventos, mas por substncias, objetos tipicamente agentes pessoais. E pelo

    menos desde a poca de David Hume, a ideia de agente causal tem se

    enfraquecido. justo dizer, eu acho, que a maioria dos filsofos cristos que

    trabalham nesta rea rejeitam o agente causal completamente ou suspeitam

    dessa ideia. Eles veem a causao como uma relao entre eventos; eles

    conseguem entender como um evento causa outro evento, ou como eventos de

    um tipo podem causar eventos de outro tipo. Mas a ideia de uma pessoa,

    digamos, causando um evento, lhes parece ininteligvel, a menos que possa seranalisada, de alguma forma, em termos de evento causal. essa devoo ao

    evento causal, claro, que explica a alegao de que se voc realiza uma ao

    mas no causado, ento sua realizao da ao obra do acaso. Pois se eu

    afirmar que toda causao ultimamente um evento causal, ento eu vou supor

    que se voc realiza uma ao mas no causado por eventos prvios, ento sua

    realizao da ao no causada e , portanto, obra do acaso.

    O devoto do evento causal, alm do mais, vai argumentar, talvez, da seguinte

    maneira. Se tais agentes como pessoas causam efeitos que acontecem no mundo

  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

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    fsico o movimento do meu corpo de uma certa maneira, por exemplo ento

    esses efeitos devem ser causados ultimamente por volies ou

    empreendimentos os quais, aparentemente, so eventos imateriais e no-

    fsicos. Ele alegar, ento, que a ideia de um evento imaterial ter eficcia causal

    no mundo fsico enigmtica, ou dbia ou pior.

    Mas o filsofo cristo achar esse argumento pouco expressivo e sua devoo ao

    evento causal incompatvel. O cristo j acredita que os atos de volio tm

    eficcia causal; ele acredita de fato, que o universo fsico deve sua prpria

    existncia a tais atos volitivos A vontade de Deus de cri-lo. E quanto

    devoo ao evento causal, o cristo estar, inicialmente, fortemente inclinado a

    rejeitar a ideia de que evento causal primrio e o agente causal deve ser

    explicado em relao a isso. Pois ele acredita que Deus faz e fez muitas coisas:ele criou o mundo; ele o sustenta; ele se comunica com seus filhos. Mas

    extraordinariamente difcil ver como tais verdades podem ser analisadas em

    termos de relaes causais entre eventos. Que eventos poderiam fazer Deus

    criar o mundo? O prprio Deus institui ou estabelece as leis causais que

    existem; como, ento, podemos ver todos os eventos feitos por sua ao como

    relacionados a leis causais anteriores? Como poderamos explicar em termos de

    evento causal proposies que atribuem aes a ele?

    Alguns pensadores testas notaram este problema e reagiram diminuindo a

    atividade causal de Deus, ou seguindo impetuosamente Kant ao declarar que

    isso de uma esfera totalmente diferente da qual ns estamos engajados, uma

    esfera alm da nossa compreenso. Eu acredito que essa resposta errada. Por

    que um filsofo cristo deveria se juntar reverncia geral ao evento causal?

    No que haja argumentos convincentes aqui. A verdadeira fora por trs desta

    alegao uma certa maneira filosfica de ver as pessoas e o mundo; mas esta

    viso no tem nenhuma plausibilidade inicial do ponto de vista cristo e no

    tem nenhum argumento convincente em seu favor.

    Ento, nestes pontos controversos da antropologia filosfica o testa ter uma

    forte predileo inicial para resolver a disputa de um jeito ao invs de outro. Ele

    tender a rejeitar o compatibilismo, e afirmar que o evento causal (se houver tal

    coisa) deve ser explicado em termos de agente causal, a rejeitar a ideia de que se

    um evento no causado por outros eventos, ento sua ocorrncia questo de

    acaso, e rejeitar a ideia de que eventos no mundo fsico no podem ser causados

    pela deliberao de um agente. E o meu ponto aqui esse. O filsofo cristo est

    dentro de seus direitos ao afirmar tais posies, podendo ou no convencer o

  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

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    resto do mundo filosfico e seja l qual for o consenso filosfico corrente, se

    houver um consenso. Mas esse apelo a Deus e suas propriedades, nesse contexto

    filosfico, no seria um vergonhoso apelo a um deus ex machina? Certamente

    que no. A filosofia, como Hegel uma vez disse num raro lance de lucidez,

    pensar sobre as coisas. A filosofia , em grande parte, uma clarificao,sistematizao, articulao, relacionamento e aprofundamento de uma opinio

    pr-filosfica. Ns vamos filosofia com muitas opinies sobre o mundo e a

    natureza humana e o lugar deste naquele; e na filosofia ns pensamos sobre

    esses assuntos, articulamos sistematicamente nossas vises, juntamos e

    relacionamos nossas vises sobre diversos tpicos, e aprofundamos nossas

    vises ao encontrarmos interconexes no esperadas e descobrindo resposta a

    questes ainda no formuladas. claro que podemos mudar nosso pensamento

    em virtude da empreitada filosfica; podemos descobrir incompatibilidades ououtras infelicidades. Mas vamos filosofia com opinies pr-filosficas; assim

    que acontece. E o ponto em questo : o cristo tem tanto direito s suas

    opinies pr-filosficas quanto os outros tem s deles. Ele no precisa 'prov-

    las' a partir de proposies aceitas por, digamos, a grande parte da comunidade

    filosfica no-crist; e se forem rejeitadas como ingnuas, pr-cientifcas,

    primitivas, ou indignas de homens eruditos, no h nada contra elas. claro

    que se houvesse argumentos genunos e substanciais contra elas a partir de

    premissas legtimas para o filsofo cristo, ento haveria um problema; eledeveria mudar algo. Mas na ausncia de tais argumentos e a ausncia de tais

    argumentos evidente a comunidade filosfica crist, comea

    apropriadamente, na filosofia, a partir daquilo que ela acredita.

    Isso significa que a comunidade filosfica crist no precisa dedicar todos seus

    esforos tentativa de refutar alegaes opostas e argumentos a partir de outras

    premissas, premissas aceitas pela comunidade filosfica no-crist. Ela deve

    fazer isso, de fato, mas deve fazer mais. Pois se ela fizer somente isso,

    negligenciar uma importante tarefa filosfica: sistematizar, aprofundar, eclarificar o pensamento cristo sobre esses tpicos. Ento, novamente: meu

    apelo para que o filsofo cristo, a comunidade filosfica crist, demonstre,

    primeiro, mais independncia e autonomia: no precisamos trabalhar somente

    em projetos de pesquisa aceitos e trabalhados pela popularidade; temos nossas

    prprias questes para refletirmos. Segundo, devemos demonstrar mais

    integridade. No podemos assimilar automaticamente o que corrente ou est

    na moda ou popular no procedimento e opinio filosfica; pois muito disso

    nocivo ao pensamento cristo. E finalmente, devemos demonstrar mais auto-confiana crist, ou coragem ou ousadia. Temos perfeito direito s nossas vises

  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

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    pr-filosficas: por que, ento, deveramos nos intimidar pelo que o resto do

    mundo filosfico acha que plausvel ou implausvel?

    Esses so meus exemplos; eu poderia ter escolhido outros. Em tica, por

    exemplo: talvez o principal interesse teortico, da perspectiva crist, a questosobre como o certo e o errado, o bom e o mal, o dever, a permisso e a obrigao

    se relacionam com Deus e sua vontade e sua atividade criativa? Essa pergunta

    no surge, naturalmente, de uma perspectiva no-testa; e ento, naturalmente,

    eticistas no-cristos no tratam dela. Mas talvez seja a questo mais

    importante para um eticista cristo trabalhar. Eu j falei sobre epistemologia;

    deixe-me mencionar outro exemplo desta rea. Epistemlogos, s vezes, se

    preocupam com a abundncia ou falta de justificao epistmica, por um lado, e

    verdade ou confiabilidade, do outro. Suponhamos que fizessemos o mximo quese espera de ns, falando noeticamente; suponhamos que fizssemos nossos

    deveres intelectuais e satisfizssemos nossas obrigaes intelectuais: que

    garantia haveria de que ao fazermos isso chegaramos verdade? H alguma

    razo para supor que se satisfizssemos nossas obrigaes, teramos uma

    melhor chance de nos aproximar da verdade do que se as desprezssemos? E de

    onde vm essas obrigaes intelectuais? Como as adquirimos? Aqui o testa tem,

    se no um claro conjunto de respostas, pelo menos claras sugestes em direo

    de um conjunto de respostas. Outro exemplo: o antirrealismo criativo est

    popular entre os filsofos; essa a viso que afirma que o comportamento

    humano em particular, o pensamento e a linguagem humanas o responsvel

    pelas estruturas fundamentais do mundo e pelos tipos fundamentais de

    entidades que existem. De um ponto de vista testa, entretanto, o antirrealismo

    criativo universal no mximo uma mera impertinncia, uma fanfarronice

    risvel. Pois Deus, claro, no deve sua existncia nem suas propriedades a ns

    e nossas maneiras de pensar; a verdade o contrrio. Apesar de o universo, de

    fato, dever sua existncia a atividade de uma pessoa, tal pessoa no ,

    certamente, uma pessoa humana.

    Um exemplo final, dessa vez oriundo da filosofia da matemtica. Muitos que

    pensam sobre conjuntos e sua natureza tendem a aceitar as seguintes ideias.

    Primeira, nenhum conjunto membro de si mesmo. Segunda, ao passo que uma

    propriedade tem sua extenso contigentemente, um conjunto tem sua filiao

    (membership) essencialmente. Isso significa que nenhum conjunto poderia

    existir se um de seus membros no existisse, e que nenhum conjunto poderia ter

    menos ou mais membros do que aqueles que de fato tem. Isso significa, alm domais, que conjuntos so seres contingentes; se Ronald Reagan no existisse,

  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

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    ento seu conjunto no teria existido. E terceiro, conjuntos formam um certo

    tipo de estrutura repetida: no primeiro nvel h conjuntos cujos membros so

    no-conjuntos, no segundo nvel h conjuntos cujos membros so no-

    conjuntos ou conjuntos de primeiro nvel; no terceiro nvel h conjuntos cujos

    membros so no-conjuntos ou conjuntos dos primeiros dois nveis, e por a vai.Muitos tambm tendem, junto a George Cantor, a considerar conjuntos como

    colees como objetos cuja existncia dependente sobre um certo tipo de

    atividade intelectual - uma coleo ou "pensamento conjunto" como Cantor

    colocou. Se os conjuntos fossem colees deste tipo, isso explicaria sua

    demonstrao das trs caractersticas que eu mencionei. Mas se a coleo ou

    pensamento conjunto tivesse que ser feito por pensadores humanos, ou por

    qualquer pensador finito, no haveria conjuntos suficientes nem perto da

    quantidade que pensamos haver. De um ponto de vista testa, a conclusonatural que conjuntos devem sua existncia ao pensamento de Deus. A

    explicao natural dessas trs caractersticas simplesmente que conjuntos so,

    de fato, colees colees colecionadas por Deus; elas so ou resultam do

    pensamento de Deus. Essa ideia pode no ser popular nos centros

    contemporneos de teoria dos conjuntos; mas no nem aqui nem l. Cristos,

    testas, devem entender os conjuntos de uma perspectiva crist e testa. O que

    eles creem como testas proporciona um recurso para entender conjuntos que

    no est disponvel ao no-testa; e por que eles no deveriam utilizar esserecurso? Talvez aqui ns poderamos proceder sem apelar quilo que cremos

    como testas; mas por que deveramos, se tais crenas so teis e explanatrias?

    Eu poderia provavelmente chegar em casa hoje pulando numa perna s; e talvez

    pudesse escalar a Torre do Diabo com meus ps atados. Mas por que eu iria

    querer isso?

    O filsofo cristo ou testa, ento, tem sua prpria maneira de trabalhar. Em

    alguns casos existem alguns itens em sua agenda itens importantes no

    encontrados na agenda da comunidade filosfica no-testa. Em outros casos,itens em alta na comunidade filosfica podem parecer de pouca importncia de

    uma perspectiva crist. Em ainda outros, o testa rejeitar hipteses e vises

    comuns sobre como iniciar, como proceder, e o que constitui uma resposta boa

    ou satisfatria. Em ainda outros casos o cristo vai presumir e vai comear a

    partir de hipteses ou premissas rejeitadas pela maior parte da comunidade

    filosfica. claro que eu no estou sugerindo que os filsofos cristos no tm

    nada a aprender de seus colegas no-cristos ou no-testas: isso seria

    arrogncia tola, e totalmente rechaada pelos fatos. Nem estou sugerindo que ofilsofo cristo deveria se retrair em isolamento, tendo pouco a ver com os

  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

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    filsofos no testas. claro que no! Os cristos tm muito a aprender e muito

    de grande importncia a aprender dialogando e discutindo com seus colegas

    no-testas. Filsofos cristos devem estar intimamente envolvidos na vida

    profissional da comunidade filosfica, tanto por causa do que ele pode aprender

    como por causa daquilo com o que ele pode contribuir. Alm do mais, enquantoos filsofos cristos no precisam e no devem se ver como envolvidos, por

    exemplo, no esforo comum em determinar se h ou no uma pessoa como

    Deus, estamos ns, tanto testas quanto no-testas, engajados no projeto

    humano de entender a ns e o mundo no qual nos encontramos. Se a

    comunidade filosfica crist est fazendo seu trabalho apropriadamente, estar

    engajada numa discusso complicada e dialtica multifacetada, fazendo sua

    prpria contribuio a esse projeto humano comum. A comunidade deve prestar

    cuidadosa ateno a outras contribuies; deve buscar um profundoentendimento delas; deve aprender o que puder delas e deve levar a descrena

    com bastante seriedade.

    Tudo isso verdadeiro e importante; mas nada disso vai de encontro ao que eu

    tenho dito. A filosofia muitas coisas. Eu disse antes que uma questo de

    sistematizar, desenvolver e aprofundar as opinies pr-filosficas. isso, mas

    tambm uma arena para articulao e intercmbio de compromissos e

    lealdades fundamentalmente religiosas por natureza; uma expresso de

    perspectivas profundas e fundamentais, maneiras de ver a ns mesmos, o

    mundo e Deus. Entre seus mais importantes projetos esto a sistematizao,

    aprofundamento, a explorao e a articulao dessa perspectiva, e explorar suas

    implicaes no resto do que pensamos e fazemos. Mas ento a comunidade

    filosfica crist tem sua prpria agenda; ela no precisa e no deve

    automaticamente tomar seus projetos da lista daqueles projetos favoritos nos

    centros filosficos contemporneos de ponta. Alm do mais, os filsofos cristos

    devem estar cautelosos quanto a assimilar ou aceitar procedimentos e ideias

    filosficas populares; pois muitas delas tm razes profundamente anti-crists.E finalmente a comunidade filosfica crist tem um direito s suas perspectivas;

    ela no est sob nenhuma obrigao de mostrar que tais perspectivas so

    plausveis em relao quilo que tomado como verdade por todos filsofos, ou

    a maioria dos filsofos, ou os prominentes filsofos de nossos dias.

    Em resumo, ns que somos cristos e nos propomos a sermos filsofos no

    devemos nos contentar em sermos filsofos que, por acaso, so cristos;

    devemos nos esforar em sermos filsofos cristos. Ns devemos, portanto,

  • 8/7/2019 Conselhos aos Filsofos Cristos - Alvin Plantinga

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