consumo colaborativo em bazares de trocas do facebook: um estudo de caso do bazar de trocas da...
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Trabalho de conclusão do curso de Comunicação Digital da aluna Nathalia Schoen Munhoz em 2012/01TRANSCRIPT
UNISINOS – UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE COMUNICAÇÃO DIGITAL
NATHALIA SCHOEN MUNHOZ
CONSUMO COLABORATIVO EM BAZARES DE TROCAS DO FACEBOOK
UM ESTUDO DE CASO DO BAZAR DE TROCAS DA ESTILO
SÃO LEOPOLDO
2012
Nathalia Schoen Munhoz
CONSUMO COLABORATIVO EM BAZARES DE TROCAS DO FACEBOOK
Um estudo de caso do Bazar de Trocas da ESTILO
Monografia apresentada como exigência
parcial para obtenção do grau de Bacharel em
Comunicação Social – Habilitação em
Comunicação Digital, na Universidade do
Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS.
Orientadora: Prof. Ms. Rosana Vieira de Souza
São Leopoldo
2012
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Edailson e Eliana, que cobraram que eu fosse uma boa aluna desde
pequena, que sempre me amaram e confiaram em mim, que relevaram meu eventual mau
humor nesse último semestre e perdoaram todas as louças que não lavei, eu agradeço
infinitamente. Espero poder deixá-los orgulhosos.
Mãe, obrigada por ter me apresentado o mundo maravilhoso dos brechós, por dividir
teu guarda-roupa comigo e por nunca ter desistido de tentar me fazer gostar de moda. Tenha
certeza que este trabalho tem um pedacinho seu.
Pai, obrigada pelo carinho, por zelar pelo meu conforto, por atender aos meus desejos
sem que eu pedisse, e por todos os mimos. Tu és um amor!
Aos meus avós, por tudo que me ensinaram, por todo o carinho e por sempre me
receberem de braços abertos: muito obrigada. Em especial à minha avó Elma, por ser sempre
tão chique e elegante, por fazer as melhores comidas do mundo e pela ajudinha mensal pra
pagar a faculdade. Vó, sem palavras pra agradecer!
Ao meu par, Daniel Limas, parceiro de todas as horas, por estar comigo nos tendéis e
nas rajadas, por me fazer companhia nessas noites e finais de semana de estudo, por estar
sempre pronto pra dar uma mão, por aguentar o mimimi e sempre me dizer que ia dar tudo
certo, muito obrigada. Babe, te amo!
À minha querida orientadora Rosana Souza, pela amizade, pelos cafés, pelas risadas,
por dividir comigo o gosto pelo retrô, por conter meu desespero a cada orientação, por sempre
me indicar um norte e, principalmente, por acreditar neste trabalho. Valeu, Rô!
Ao meu pequeno grande amigo Eric, por ser um querido, por dividir comigo as
angústias e as conquistas, e por estar ao meu lado nessa jornada acadêmica, gracias!
Ao pessoal da SiriusPrime pelo apoio e compreensão, e por acreditar que juntos
podemos transformar o mundo. Vocês todos são muito especiais, obrigada.
E, por fim, às meninas dos bazares de trocas, pela amizade, pelas conversas, pelas
risadas, pelas troquinhas maravilhosas, e por colaborarem com a execução desse trabalho.
Sem vocês, este trabalho não existiria. Muito obrigada, meninas!
Thally
Tudo quanto existe, tudo que representa Espírito para Espírito, é propriamente uma Roupa,
um Traje ou Vestimenta, vestida para uma estação, e a ser posta de lado. Assim, nesse
importante assunto das ROUPAS, devidamente compreendido, inclui-se tudo que o homem
pensou, sonhou, fez e foi: todo o Universo exterior e o que ele contém nada é senão
Vestimenta; e a essência de toda ciência reside na FILOSOFIA DAS ROUPAS.
Thomas Carlyle (1795 – 1881)
RESUMO
Esta pesquisa tem por objetivo compreender a lógica do modelo de trocas de roupas em redes
sociais a partir do estudo de caso do Bazar de Trocas da Estilo, um grupo de criado no
Facebook pela revista Estilo para esta finalidade. Para isto, estudou-se o histórico do comércio
desde o escambo de mercadorias até o modelo atual; a lógica do consumo, com ênfase no
consumo feminino; e o consumo colaborativo. Também foram estudadas as dinâmicas de
redes sociais e das ferramentas do Facebook. Foram realizadas pesquisas qualitativas e
quantitativas baseadas em netnografia. Foi possível, a partir desta pesquisa, compreender este
tipo manifestação de consumo colaborativo em redes sociais. Conclui-se então que os meios
digitais possuem ferramentas que potencializam a colaboração, e que a partir disto é possível
a existência de modelos de consumo colaborativo como o de trocas de roupas pela Internet.
Palavras-chave: Consumo colaborativo. Bazares. Trocas de roupas. Redes Sociais.
Facebook.
ABSTRACT
This research aims to understand the logic of the model of clothing exchange in social
networks from the case study of Bazar de Trocas da Estilo, a group created on Facebook by
the magazine Estilo for this purpose. For this, was studied the history of commerce from the
barter of goods to the current model of commerce, the logic of consumption, with emphasis
on women's consumption, and collaborative consumption. Also been studied the dynamics of
social networks and Facebook's tools. Was performed qualitative and quantitative research
based on netnography. It was possible from this research to understand such demonstration of
collaborative consumption on social networks. It was concluded that digital media have tools
that empower collaboration, and from this is possible to have models of collaborative
consumption as the clothing exchange by the Internet.
Keywords: Collaborative consumption. Bazaars. Clothing exchange. Social networks.
Facebook.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Pirâmide da hierarquia das necessidades de Maslow ............................................... 19 Figura 2: Tela inicial do Facebook ........................................................................................... 38
Figura 3: Quadro resumo da metodologia ................................................................................ 50 Figura 4: Cabeçalho do Bazar de Trocas da Estilo, com o mural ............................................ 54 Figura 5: Divulgação de álbum de trocas ................................................................................. 57 Figura 6: Divulgação de peça para troca .................................................................................. 57 Figura 7: Divulgação de álbuns e peças para troca (apenas link) ............................................. 58
Figura 8: Divulgação de álbum de desejos (wishlist) ............................................................... 58 Figura 9: Textos de procura por peças de desejo...................................................................... 58
Figura 10: Divulgação de peça para venda, e indicação de grupos de venda ........................... 59 Figura 11: Divulgação de álbum de vendas, e indicação da proibição de vendas .................... 59 Figura 12: Publicação de álbum de vendas .............................................................................. 60 Figura 13: Mensagem de usuária indo para encontro presencial regional de usuárias............. 60 Figura 14: Postagem de foto de encontro presencial, com conversação. ................................. 61
Figura 15: Reclamação sobre fraudes ....................................................................................... 61 Figura 16: Reclamação sobre o Facebook ................................................................................ 62 Figura 17: Reclamação sobre falta de honestidade .................................................................. 62 Figura 18: Mensagem de agradecimento de troca recebida ..................................................... 63
Figura 19: mensagem de recomendação de usuárias ................................................................ 63 Figura 20: Divulgação de código de rastreamento ................................................................... 63
Figura 21: Comprovante de envio ............................................................................................ 64 Figura 22: Postagem de bom dia .............................................................................................. 64
Figura 23: Postagem sobre o grupo .......................................................................................... 65 Figura 24: Desabafo sobre troca ............................................................................................... 65
Figura 25: Pedido de ajuda para fazer parte do grupo .............................................................. 65 Figura 26: Comentários sobre vício de compras (sapatos) ....................................................... 66 Figura 27: Postagem sem conteúdo .......................................................................................... 66
Figura 28: Postagem com informações sobre problemas de saúde .......................................... 67 Figura 29: Postagem com divulgação de link de promoção ..................................................... 67 Figura 30: Pedido de ajuda com inglês ..................................................................................... 68
Figura 31: Postagem de frase pronta, pensamento ................................................................... 68 Figura 32: Gráfico de resultados do questionário no item Gênero........................................... 69
Figura 33: Gráfico de resultados do questionário no item Faixa etária ................................... 69 Figura 34: Gráfico de resultados do questionário no item Status de Relacionamento ............. 70
Figura 35: Gráfico de resultados do questionário no item Faixa de renda aproximada .......... 70 Figura 36: Gráfico de resultados do questionário no item Localização ................................... 71 Figura 37: Gráfico de resultados do questionário no item........................................................ 72
Figura 38: Gráfico de resultados do questionário no item Tipo de itens negociadas ............... 72
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10 1.1 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................................... 11 1.2 OBJETIVOS E ESBOÇO METODOLÓGICO ................................................................. 13
1.3 JUSTIFICATIVA DO TEMA ............................................................................................ 14
2 COMÉRCIO, CONSUMO E CONSUMO COLABORATIVO ..................................... 16 2.1 BREVE HISTÓRICO DO COMÉRCIO ............................................................................ 16 2.2 NOÇÕES SOBRE A LÓGICA DO CONSUMO .............................................................. 18 2.2.1 AS MULHERES E O CONSUMO ................................................................................. 21
2.3 CONSUMO COLABORATIVO ........................................................................................ 23
2.3.1 Motivações para a colaboração .................................................................................... 23
2.3.2 Negócios baseados em compartilhamento ................................................................... 24 2.3.3 Práticas de consumo colaborativo na atualidade........................................................ 26 3 REDES SOCIAIS ................................................................................................................ 29 3.1 ATORES, NÓS E A CONSTRUÇÃO DO EU VIRTUAL ............................................... 29 3.2 CONEXÕES, LAÇOS E CAPITAL SOCIAL ................................................................... 31
3.3 DINÂMICAS DAS REDES SOCIAIS NA INTERNET ................................................... 34 3.4 O FACEBOOK ................................................................................................................... 35
3.4.1 Histórico do Facebook ................................................................................................... 36 3.4.2 Recursos do Facebook ................................................................................................... 37
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................... 41 4.1 ETNOGRAFIA E NETNOGRAFIA .................................................................................. 41
4.2 SONDAGEM ..................................................................................................................... 44 4.3 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA ........................................................................................... 45 4.4 ETAPAS DE PESQUISA ................................................................................................... 46
4.4.1 Observação participante ............................................................................................... 46 4.4.2 Mapeamento de uso da ferramenta Grupos ............................................................... 46
4.4.3 Identificação de categorias de postagens ..................................................................... 46 4.4.4 Aplicação de questionário ............................................................................................. 47
4.4.5 Entrevista em profundidade ......................................................................................... 48 4.5 QUADRO RESUMO ......................................................................................................... 49
5 RESULTADOS OBTIDOS ................................................................................................. 51 5.1 LÓGICA DE FUNCIONAMENTO DO BAZAR ............................................................. 51 5.2 APROPRIAÇÕES DA FERRAMENTA GRUPOS........................................................... 53
5.2.1 Mural .............................................................................................................................. 53 5.2.2 Publicações do mural .................................................................................................... 54
5.2.3 Membros ......................................................................................................................... 55 5.2.4 Fotos ................................................................................................................................ 55 5.2.5 Documentos .................................................................................................................... 55 5.3 CATEGORIAS DE POSTAGENS .................................................................................... 56
5.3.1 Divulgação de Trocas .................................................................................................... 57
5.3.2 Divulgação de Vendas ................................................................................................... 58 5.3.3 Mensagens pessoais ....................................................................................................... 60 5.3.4 Outras postagens ........................................................................................................... 66 5.4 RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO ............................................................................. 68
5.4.1 Gênero ............................................................................................................................ 69 5.4.2 Faixa etária ..................................................................................................................... 69
5.4.3 Status de relacionamento .............................................................................................. 70
5.4.4 Faixa de renda aproximada .......................................................................................... 70
5.4.5 Localização geográfica .................................................................................................. 71 5.4.6 Atividades realizadas nos bazares ................................................................................ 72 5.4.7 Tipo de itens negociados ............................................................................................... 72 5.4.8 Perguntas abertas .......................................................................................................... 73 5.5 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS ............................................................................. 76
5.5.1 Motivações de uso dos bazares ..................................................................................... 76 5.5.2 Impacto na vida e na rotina .......................................................................................... 78 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 82 Apêndice 1 – Instrumento de coleta do questionário ............................................................... 84
Apêndice 2 - Entrevista 01 ....................................................................................................... 88 Apêndice 3 - Entrevista 02 ....................................................................................................... 90 Apêndice 4 - Entrevista 03 ....................................................................................................... 94
Apêndice 5 - Entrevista 04 ....................................................................................................... 96 Apêndice 6 - Entrevista 05 ....................................................................................................... 98
10
1 INTRODUÇÃO
Na sociedade capitalista, tudo aquilo que os indivíduos precisam para viver tem de ser
comercializado de alguma forma, de itens de primeira necessidade a supérfluos, o que faz
com que seja quase impossível viver sem consumir. E a cada dia surgem novas formas de
consumo que evoluem e se modificam juntamente com os avanços tecnológicos. Toda nova
invenção tecnológica, além de potencial mídia, pode se tornar um canal de vendas. Foi assim
com o rádio, a televisão, e com a Internet não foi diferente. A rede mundial de computadores
trouxe outro modelo de comércio: o comércio eletrônico, ou e-commerce. Para além das lojas
virtuais1, sites de compras coletivas e clubes de compras
2, também há o comércio informal
praticado por pessoas comuns a partir das ferramentas que a rede proporciona, como sites de
redes sociais, blogs, fóruns, entre outros.
Navegando por sites, redes sociais e blogs na Internet, é possível observar que as
ferramentas disponíveis nestes canais são utilizadas pelos usuários para fins diferentes
daqueles para os quais haviam sido construídas. O comércio informal na Internet é realizado a
partir das apropriações destas ferramentas. Blogs viram vitrines, álbuns do Flickr se
transformam em catálogos, comunidades do Orkut e grupos do Facebook viram grandes feiras
e shoppings virtuais. São desde pessoas vendendo seus trabalhos artesanais, até pessoas
comercializando produtos usados que não querem mais.
Na sociedade onde o modelo capitalista incentiva o consumo, cada vez mais surgem
movimentos que visam consumir conscientemente. A sustentabilidade é um tema que está
sendo amplamente abordado hoje, e a consciência do consumidor em relação a esse tema vem
aumentando cada vez mais. Pensar mais antes de comprar, ponderar prós e contras e constatar
se determinado produto é realmente necessário é uma das formas de consumir
conscientemente. Outra forma é reutilizar e reciclar produtos que não utilizamos mais. E isto
1 Lojas virtuais são sites inteiramente destinados ao comércio eletrônico, ou e-commerce, onde o comprador
passa por todas as etapas do processo de compra/venda online, sem necessitar do intermédio de um vendedor, e
independente do horário comercial. Fonte: eCommerceOrg. Disponível em: <http://www.e-
commerce.org.br/lojas_virtuais.php>. Acesso em: 21 abril 2012. 2 Os sites de compras coletivas disponibilizam diariamente ofertas de curta duração de produtos e serviços com
grandes descontos, com o objetivo de fazer com que as pessoas conheçam marcas e estabelecimentos. Para que
uma oferta seja válida, é necessário atingir um número mínimo de compradores. Já os clubes de compras são
sites que oferecem diversas campanhas de marcas, disponibilizando por alguns dias uma loja virtual com
diversos produtos, sempre com bons descontos. Os produtos à venda em geral são peças de ponta de estoque, de
coleções passadas ou ainda com pequenos defeitos de fabricação. Fonte: Oficina Da Net. Disponível em:
<http://www.oficinadanet.com.br/artigo/e-commerce/solucoes_em_e-
commerce_entenda_o_que_e_compra_coletiva_e_clube_de_compra>. Acesso em: 21 abril 2012.
11
não diz respeito apenas à reciclagem de lixo, mas também a dar outro destino a produtos que
estejam em condições de uso.
Há muitos produtos que são comprados por impulso e acabam não sendo utilizados;
outros que são utilizados por um tempo, e depois deixam de ser utilizados; outros que
agradam na hora da compra, mas deixam de agradar à segunda vista e nunca são utilizados.
Isso acontece com frequência dentre o público feminino, que compra itens de vestuário
regularmente, e com frequência adquire estes produtos por impulso, vindo a não utilizar ou
utilizar pouco posteriormente. Pensando assim, muitas mulheres doam as roupas que não
usam mais, ou as vendem em brechós. Passar adiante estes produtos é uma forma de consumir
conscientemente, afinal, o que para uma pessoa não tem utilidade, pode ser interessante para
outra pessoa.
1.1 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA
Os brechós sempre trouxeram implícito o conceito de reutilização de roupas, mas o
que outrora era sinônimo de roupas velhas, usadas, baratas e fora de moda, hoje vem
ganhando outra conotação. Os brechós ganharam visibilidade com os movimentos de
sustentabilidade, e passaram a ser considerados Cult. Muitos artistas e personalidades
conhecidas também ajudaram a dar visibilidade aos brechós nos últimos tempos, ao declarar
que gostavam de frequentar lojas do gênero. São lugares onde é possível encontrar os
chamados “achados”: peças de boa qualidade, de marcas e modelos diferentes dos que
costuma-se encontrar em lojas tradicionais, e a preços muito mais baixos.
As peças antes consideradas velhas e fora de moda, agora são vintage e podem ajudar
a construir um look atual. E com o ciclo da moda, que vai e volta, peças que saem de moda
agora e vão parar num brechó, em pouco tempo podem estar de volta às ruas novamente como
peças da moda. E também está acontecendo uma quebra de paradigma em relação aos
brechós, que passam a ter roupas de marca, de boa qualidade, semi-novas e às vezes até
mesmo peças novas, que foram compradas na estação, mas não foram utilizadas.
Há vários motivos que fazem com que consumidores procurem os brechós. Segundo
Silva e Godinho (2009), as pessoas buscam os brechós por cansarem de acompanhar as
tendências da moda, por vê-los como uma forma de economizar, por buscar identidade
pessoal a partir de peças vintage diferenciadas e exclusivas, ou mesmo para encontrar artigos
de boas marcas por preços mais acessíveis. Todos estes motivos também colaboraram para
que este fenômeno chegasse ao meio virtual.
12
Na Internet é possível encontrar inúmeros blogs destinados à comercialização informal
de peças usadas, em especial de vestuário feminino. São pessoas que encontraram na Internet
uma forma de passar adiante as peças de roupa que não usam mais, ganhando espaço no
armário, economizando dinheiro e consumindo de maneira sustentável. Este é o caso do blog
Enjoei (e to vendendo)3, por exemplo. As donas e visitantes destes blogs acabaram criando
uma espécie de rede social informal de brechós, com processos e convenções implícitas que
foram sendo construídas pelas próprias usuárias. Aos poucos este movimento foi ganhando
maiores dimensões, e chegou às redes sociais, como o Flickr4, o Orkut
5 e o Facebook
6. As
usuárias utilizam seus perfis pessoais para divulgar suas peças, ou criam perfis específicos
para realizar esta atividade.
Ainda nas redes sociais surgiu outro movimento a partir dos brechós: os bazares de
trocas. São grupos que funcionam dentro dessas redes, destinados à troca dessas peças de
roupas que antes eram vendidas nos brechós. A diferença é que, ao invés de vender o que ou
comprar as peças usadas, ambas as partes negociam uma troca de peça por peça. De certa
forma, é um retorno ao sistema de escambo, que existia no início da história do comércio.
Mas este sistema de escambo virtual não acontece apenas com roupas. Há diversos grupos,
comunidades e blogs que são utilizados para outros tipos de troca, como o site Troca
Figurinhas7, que possibilita que os colecionadores troquem suas figurinhas, e também o
aplicativo Dois Camelos8 do Facebook e o português Clube de Trocas
9, também no Facebook,
que possibilitam todo tipo de troca de objetos e até mesmo serviços.
A partir deste contexto, observado durante a fase de sondagem do tema a ser
pesquisado, foi possível elaborar alguns questionamentos que nortearam a pesquisa:
Como funciona a lógica do modelo de trocas pela Internet?
Como é feita a apropriação das ferramentas disponíveis nas redes sociais para a
realização dos bazares de trocas?
Como se dão as interações sociais e “comerciais” entre as pessoas que compõe estes
bazares?
Quais os fatores que motivam o usuário a participar destes grupos?
3 Disponível em: <http://www.enjoei.com.br>. Acesso em: 01 maio 2012.
4 Disponível em: <http://www.flickr.com>. Acesso em: 01 maio 2012.
5 Disponível em: <http://www.orkut.com.br>. Acesso em: 01 maio 2012.
6 Disponível em: <http://www.facebook.com>. Acesso em: 01 maio 2012.
7 Disponível em: <http://www.trocafigurinhas.com/>. Acesso em: 30 set. 2011.
8 Disponível em: <http://apps.facebook.com/doiscamelos/>. Acesso em: 30 set. 2011.
9 Disponível em: <http://www.facebook.com/group.php?gid=292470249203>. Acesso em: 30 set. 2011.
13
Como é possível relacionar os bazares de trocas com os modelos de consumo
colaborativo?
Com base nestes questionamentos foi possível estabelecer os objetivos a serem
alcançados com esta pesquisa.
1.2 OBJETIVOS E ESBOÇO METODOLÓGICO
O presente trabalho tem por objetivo compreender a lógica do modelo de trocas online
a partir de uma pesquisa exploratória realizada em grupos existentes para este fim nas redes
sociais; em especial o Bazar de Trocas da Estilo10
, grupo do Facebook destinado a trocas de
peças de vestuário, relacionando este estudo de caso com as práticas de consumo
colaborativo.
Para tanto se fez necessário investigar quais são os usos e de que maneira se dão as
apropriações das ferramentas do Facebook pelos usuários de bazares de trocas, e também
identificar as motivações do uso e o impacto na vida dos usuários destes bazares.
Foi realizada inicialmente uma sondagem acerca do tema, onde foram observados
brechós virtuais localizados em blogs, sites e redes sociais, para que fosse possível conhecer o
universo pesquisado e delimitar o tema de pesquisa. Durante esta sondagem, foram
descobertos os bazares de trocas no Facebook, grupos nos quais foi realizada a observação
participante.
A participação ativa nos bazares – interagindo com as usuárias e realizando trocas – se
fez necessária para compreensão do modelo de trocas online, e esta interação com as usuárias
foi fundamental para entender o como ocorre o processo de negociação e a construção de
reputação e confiança em forma de capital social.
Também se fez necessária a realização de questionários e entrevistas com os
utilizadores dos bazares, para que fosse possível conhecer o perfil destes usuários e
compreender as suas motivações e as mudanças ocasionadas em suas vidas a partir deste uso.
Além disso, foi realizada a identificação dos elementos que compõe a ferramenta
grupos do Facebook, a identificação das suas apropriações, e a categorização das postagens
durante uma semana de observação diária do grupo, de modo a compreender os bazares de
trocas como um todo. Os procedimentos metodológicos serão explicados detalhadamente no
capítulo 4 desta monografia.
10
Disponível em <https://www.facebook.com/groups/128866630515607/>. Acesso em: 30 set. 2011
14
1.3 JUSTIFICATIVA DO TEMA
A sustentabilidade é um tema que está em alta e vem sendo amplamente discutido e
desenvolvido. Com o surgimento de novas formas de comercialização e de negócios na
Internet a cada dia, como os sites de compras coletivas e os clubes de compras com descontos,
que incentivam cada vez mais o consumo, os brechós e bazares de trocas se mostram uma
forma interessante de desenvolver um modelo de comércio baseado no consumo consciente e
na sustentabilidade.
Além disso, é um modelo ecologicamente correto, já que o indivíduo deixa de
consumir recursos naturais novos para reutilizar e reciclar produtos que ainda estão em boas
condições de uso. E os benefícios não são apenas para a natureza e para o bem estar do
planeta: O uso de bazares de trocas satisfaz o desejo de consumo, mas de uma maneira muito
mais social e consciente, além de representar uma economia muito grande para o bolso de
quem utiliza.
Para além da crescente importância acadêmica e mercadológica que os bazares de
trocas na Internet vêm alcançando, a escolha desta temática parte, também, de uma motivação
pessoal da autora desta monografia, a qual, desde a infância, fazia uso de peças de segunda
mão. Tanto roupas e calçados herdados de primos maiores, como também uma variedade de
outros objetos, como livros e até mesmo móveis. Este fato, motivado pela situação financeira
familiar, ajudou a construir noções do que acerca do que significa era economizar e reutilizar.
Dessa forma, a visita a brechós e bazares de caridade e o gosto por coisas objetos tidos
como “vintage” ou retrô foram frequentes por parte da autora deste trabalho. A Internet
passou, então, mais recentemente, a caracterizar uma nova plataforma onde o hábito
adquirido, anteriormente, pode se manter e se desenvolver, a partir das funcionalidades que o
ambiente digital pode oferecer. A Internet pode ser um bom meio para procurar objetos de
desejo, os quais podem ser encontrados em clubes de compras coletivas, lojas virtuais, mas
também em blogs e redes sociais, como é o caso dos bazares de trocas.
Neste contexto, o grupo de trocas de peças de vestuário dentro da plataforma
Facebook, criado pela revista de moda Estilo, constitui um local onde muitas pessoas, em
geral mulheres, trocam suas peças de roupas todos os dias, estabelecendo relações de amizade
com as outras usuárias. Além das trocas há, aparentemente, uma motivação anticonsumista e
uma preocupação com a sustentabilidade que provém das próprias usuárias.
15
A relação do tema escolhido com o curso de Comunicação Digital provém do fato de
que a Internet tem se mostrado cada vez mais como um agente facilitador para promover o
surgimento de novas formas de comunicação e de consumo. As redes sociais na Internet
facilitaram a conexão entre pessoas desconhecidas, porém com interesses em comum, o que
faz com que surjam grupos de interesse como os bazares de trocas. Este tipo de integração
social não seria possível sem a existência da Internet e das ferramentas que ela disponibiliza.
Compreender as formas com que as pessoas se apropriam das ferramentas para criar novas
maneiras de interagir e consumir é um dos motivos que torna esta pesquisa relevante para a
área da Comunicação Digital.
16
2 COMÉRCIO, CONSUMO E CONSUMO COLABORATIVO
Neste capítulo é realizada uma breve síntese da história do comércio, mostrando como
o consumo evoluiu desde o escambo até chegar aos movimentos de consumo colaborativo que
emergem na atualidade. Também são explorados os desdobramentos do consumo colaborativo
na sociedade atual.
2.1 BREVE HISTÓRICO DO COMÉRCIO
O comércio data do início da história da humanidade, quando o ser humano vivia em
pequenos grupos, produzia suas próprias ferramentas e utensílios, obtinha por meio de caça e
colheita sua própria comida, e seu vestuário era composto por peles dos animais que ele
mesmo caçava. Com o tempo, os indivíduos começaram a perceber que outros grupos
possuíam objetos, ferramentas, utensílios e até mesmo alimentos diferentes dos seus, e
segundo Ratto (2008), perceberam que a forma mais pacífica de obter os itens desejados dos
outros grupos era propor a troca.
A origem do comércio foi estimulada, então, pela constatação da existência
de mercadorias diferentes produzidas por grupos rivais. A troca foi o meio
encontrado para obter de modo pacífico as mercadorias desejadas. Com a
troca, o homem passou a atender melhor as suas necessidades e, assim,
evoluir em sua condição de sobrevivência. (RATTO, 2008, p. 20.)
Assim surgia a primeira forma de comércio, chamado de escambo, ou permuta. Esta
prática foi utilizada durante muito tempo, inclusive na troca de mercadorias por trabalho,
como ocorria no Brasil colonial, por exemplo, onde os índios ofereciam o seu trabalho aos
colonizadores para receber em troca objetos como escovas de cabelo, espelhos e utensílios
domésticos. Hoje, o escambo na sua forma original, como principal forma de
comercialização, é pouco comum na sociedade, sendo mais frequente em locais menos
desenvolvidos (RATTO, 2008).
O escambo não visava o lucro. A troca de produtos ou serviços consistia em satisfazer
ambas as partes envolvidas, sem lucros ou prejuízos de nenhuma das partes, diferentemente
do comércio contemporâneo, que é baseado na moeda (dinheiro), onde quase invariavelmente
há lucro de uma das partes. Nos países mais desenvolvidos, onde o capitalismo já está
arraigado, o uso da moeda (dinheiro) é o mais comum. Ratto (2008) afirma que o surgimento
17
da moeda foi o que deu origem ao processo de compra e venda como o conhecemos
atualmente.
A busca pelo lucro nas transações comerciais tornou o comércio uma prática social
muito mais complexa, dando origem à sociedade de consumo da qual participamos
atualmente. A partir dessa busca pelo lucro nas transações comerciais, foi criado o marketing
como forma de divulgação e o design como forma de valoração e diferenciação dos produtos,
entre outros elementos que ajudaram a construir o modelo de consumo atual
(BAUDRILLARD, 1995).
Com a evolução da humanidade, o comércio foi modificando-se, e estendendo-se às
novas tecnologias que foram surgindo. E a cada dia surgem novas formas de consumo, que
evoluem e se modificam juntamente com os avanços tecnológicos. É possível constatar, por
exemplo, que o homem inventou a telefonia, e posteriormente inventou o telemarketing e as
vendas por telefone. Inventou o correio, e subsequentemente inventou o comércio por mala
direta. Inventou a televisão, e também inventou as propagandas comerciais e os canais de
vendas de produtos, e assim por diante. Toda nova invenção tecnológica pode e
provavelmente deverá se tornar um potencial canal de vendas (RATTO, 2008).
Com o advento e a popularização da Internet, surgiu o chamado comércio eletrônico,
ou e-commerce. O comércio eletrônico consiste no mesmo processo de compra e venda do
comércio tradicional, geralmente baseado em pagamento monetário, porém, com o intermédio
de algum equipamento eletrônico como um computador ou um smartphone, conectado à
Internet. O comércio eletrônico ganhou espaço aos poucos, e hoje movimenta o comércio
mundial paralelamente ao mercado tradicional, estando em constante expansão. Este modelo
trouxe um grande diferencial para o mercado, que foi a possibilidade de comercializar
produtos e serviços a qualquer dia ou horário, sem depender necessariamente de um vendedor
à postos para atender o cliente e concretizar a compra. O consumidor pode visualizar os
produtos ou serviços desejados quantas vezes ele quiser, à hora que desejar, no conforto de
sua casa, e em caso de decidir pela compra, passa por todo o processo de compra e pagamento
sozinho, sem precisar do intermédio de ninguém, e sem enfrentar filas (ALBERTIN, 2004).
Aos poucos o comércio eletrônico começou a ganhar visibilidade e credibilidade com
os consumidores, e este modelo de negócio foi se expandindo e ganhando força. Pipocaram os
mais variados tipos de loja virtual, desde lojas pequenas, até grandes portais e lojas de
departamento que vendem os mais variados tipos de produtos. Também surgiram plataformas
18
comunitárias de compra e venda de produtos, como o E-bay11
e o Mercado Livre12
, que
permitem que qualquer pessoa venda ou compre o que quiser. Mais recentemente, surgiram os
sites de compras coletivas (como o Peixe Urbano13
e o Groupon14
) e os clubes de compras
(Como Brandsclub15
e Privalia16
), que se valem de descontos para atrair consumidores a
conhecer novos estabelecimentos e marcas, ou mesmo liquidar produtos de ponta de estoque.
A evolução das práticas comerciais influenciou diretamente a maneira como o ser
humano consome, e para compreender a lógica do consumo colaborativo, presente nos
bazares de trocas, algumas noções sobre a lógica do consumo se fazem necessárias.
2.2 NOÇÕES SOBRE A LÓGICA DO CONSUMO
O consumo é uma área muito abrangente e complexa de se estudar. Definir o que é
consumo, ou quais são suas motivações, é uma tarefa muito difícil, principalmente para dar a
essa definição um caráter multidisciplinar. Slater (2002) diz que o consumo é sempre um
processo cultural, e que a cultura do consumo define um sistema em que as pessoas utilizam
de seu livre-arbítrio para escolher o que querem consumir, enquanto por outro lado utilizam
argumentos para persuadir o outro a querer consumir determinado produto. Para Canclini
(1995) não há uma teoria sociocultural do consumo, que é muito complexo e permeado de
nuances de acordo com o ângulo que se observa. Mas ainda assim ele propõe uma definição
para nortear o pensamento sobre o consumo:
[...] o consumo é o conjunto de processos socioculturais em que se realizam
a apropriação e os usos dos produtos. Esta caracterização ajuda a enxergar os
atos pelos quais consumimos como algo mais do que simples exercícios de
gostos, caprichos e compras irrefletidas, segundo os julgamentos moralistas,
ou atitudes individuais, tal como costumam ser explorados pelas pesquisas
de mercado. (CANCLINI, 1995, p. 53)
É possível viver sem produzir, mas é praticamente impossível viver sem consumir. E o
conceito de consumir é muito mais abrangente que o simples ato comercial de comprar ou
vender. O homem consome cultura, recursos naturais, e tudo aquilo que lhe é externo
11
Disponível em: <http://www.ebay.com/>. Acesso em 12 jun. 2011. 12
Disponível em: <http://www.mercadolivre.com.br/>. Acesso em 12 jun. 2011. 13
Disponível em: <http://www.peixeurbano.com.br/>. Acesso em 12 jun. 2011. 14
Disponível em: <http://www.groupon.com.br/>. Acesso em 12 jun. 2011. 15
Disponível em: <http://www.brandsclub.com.br/>. Acesso em 12 jun. 2011. 16
Disponível em: <http://br.privalia.com/>. Acesso em 12 jun. 2011.
19
fisicamente, e que ele adquire para si (CANCLINI, 1995). Estudando apenas a fatia do
consumo que está relacionada a bens materiais, ainda é possível subdividir o consumo naquilo
que é necessidade básica, e de outro lado o que é supérfluo – e ainda assim, esta divisão seria
muito subjetiva e pessoal. Segundo Barbosa e Campbell (2008), as necessidades básicas são
as que não suscitam culpa ao indivíduo, e que, portanto, podem ser consideradas legítimas,
enquanto as supérfluas estão associadas ao desejo e ao excesso, e requerem justificativas para
diminuir a culpa do indivíduo.
Mesmo na sociedade contemporânea, moderna e individualista, na qual as
noções de liberdade e de escolha são valores fundamentais, sente-se a
necessidade de justificar a compra de alguma forma. E este último aspecto é
muito significativo, pois esta necessidade contraria o pressuposto da
racionalidade econômica na aquisição de bens. (BARBOSA; CAMPBELL,
2008, p. 20)
Segundo Maslow (1962) necessidade é, em resumo, a privação de certas satisfações.
Como o indivíduo em geral não pode satisfazer todas as suas necessidades de consumo, se faz
necessário que ele estabeleça prioridades. Neste caso, de acordo com a Teoria das
Necessidades de Maslow (1943), as necessidades sempre serão satisfeitas de acordo com uma
ordem hierárquica, que possui cinco níveis, de acordo com a pirâmide da figura 1:
Necessidades fisiológicas, necessidades de segurança, necessidades sociais, necessidades de
estima, e por último, necessidades de autorrealização.
Figura 1: Pirâmide da hierarquia das necessidades de Maslow
Adaptada de: Maslow (1943).
De acordo com Maslow (1943), as necessidades de nível mais baixo devem ser
satisfeitas primeiro, para que seja possível satisfazer as necessidades de nível mais alto. O
primeiro degrau compreende as necessidades fisiológicas, como fome, sede e sono; No
segundo degrau estão as necessidades de segurança, que vão desde sentir-se fisicamente
seguro, até inclusive possuir segurança financeira; No terceiro degrau estão as necessidades
20
sociais, que compreendem o amor, o afeto, a amizade e a pertença a um grupo; No quarto
degrau estão as necessidades de estima, que compreendem o sentimento de autoestima,
confiança e conquista do respeito dos outros indivíduos; Por fim, o último degrau diz respeito
à realização pessoal, em que o indivíduo busca aquilo que o faz ser quem é essencialmente.
Esta hierarquia tende a ser respeitada no contexto do consumo e da aquisição de bens,
onde primeiramente o indivíduo deverá consumir itens de alimentação e higiene, por
exemplo, e somente deverá consumir supérfluos como acessórios de moda quando tiver
satisfeito estas e outras necessidades básicas, estabelecendo-se assim prioridades. Porém,
mesmo para satisfazer as necessidades básicas, o indivíduo pode fazer escolhas de consumo
baseadas no seu desejo pessoal.
Considerando um indivíduo que esteja com fome: a necessidade a ser suprida é a
alimentação, mas a escolha de qual item será consumido para satisfazer esta necessidade vai
depender de fatores sociais, econômicos e de escolhas pessoais. O mesmo acontece com o
consumo de moda, cuja necessidade básica é vestir-se, mas outras necessidades associadas,
como a autorrealização, autoafirmação e a diferenciação vão influenciar na decisão do
produto que será consumido. Estes fatores secundários são cada vez mais importantes para os
consumidores, e recentemente acabaram ocasionando mudanças no processo de decisão de
compra.
Consumidores de todos os mercados começaram a adotar um novo modelo
de compras: ao mesmo tempo em que preferem lojas com descontos para
abastecer a despensa, e procuram economizar, investem significativamente
em categorias que oferecem gratificação emocional. (VERA, MASSON e
VICÁRIA, 2008, p. 44)
Outra característica do indivíduo consumidor é a insaciedade. Segundo Baudrillard
(1995) o homem nunca se sente realizado, e está sempre a procura de algo novo que o sacie.
O próprio convívio em sociedade o motiva a querer consumir coisas que o façam saciar certas
necessidades e buscar realização, mas estas coisas nunca serão suficientes ou definitivas, pois
as necessidades também mudam com o indivíduo. Este sentimento de insaciedade é o motor
do consumo.
Assim, na sociedade contemporânea, consumo é ao mesmo tempo um
processo social que diz respeito a múltiplas formas de provisão de bens e
serviços e a diferentes formas de acesso a esses mesmos bens e serviços; um
mecanismo social percebido pelas ciências sociais como produtor de
sentidos e de identidades, independentemente da aquisição de um bem;
(BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 26)
21
2.2.1 As mulheres e o consumo
A maneira feminina de consumir é bem diferente da masculina, principalmente no que
diz respeito ao consumo de moda. Conhecer estas diferenças se faz necessário para que seja
possível compreender o público utilizador dos bazares de trocas, que é essencialmente
feminino. Para tanto, neste subcapítulo serão exploradas as particularidades da relação entre
as mulheres e o consumo, com ênfase no consumo de moda. “A moda afeta a atitude da
maioria das pessoas em relação a si mesmas e aos outros. Muitas delas negariam isso, mas
essa negativa é normalmente desmentida por seus próprios hábitos de consumo”
(SVENDSEN, 2010, p. 10).
Em nenhum momento da história a mulher ganhou tanto quanto hoje (BARLETTA,
2003), e vem aumentando seu poder aquisitivo nos últimos anos, garantindo a sua
independência e aumentando exponencialmente sua participação no mercado. Segundo Bento
(2010), apesar da mulher ainda possuir remuneração inferior à masculina, essa realidade está
mudando, e elas vêm se tornando cada vez mais financeiramente independentes e,
principalmente, adquirindo poder de decisão de compra; Estima-se que cerca de 80% dos
gastos familiares estão sob decisão da mulher (BARLETTA, 2003). Isto contribuiu para que o
público feminino fosse cada vez mais visado no mercado, sendo alvo certo para a publicidade
das marcas.
A mulher consumidora é muito ocupada, tem uma lista extensa e complexa
de tarefas que são próprias da sua nova condição de trabalhadora, acumulada
com a sua antiga e presente posição de mulher, mãe e dona de casa. Por tudo
isto, tem menos disponibilidade, não tem tempo a perder, e está sempre a
pensar em várias coisas, sendo difícil atrair a sua atenção. (BENTO, 2010, p
15)
De acordo com Barletta (2003), o jeito feminino de comprar é muito diferente do
masculino. Enquanto homens utilizam muito a racionalidade, analisam os prós e contras e
usam o senso prático e de oportunidade, as mulheres utilizam muito mais a percepção
extrassensorial, valorizam muito a questão emocional e são muito atentas a detalhes. Além de
terem seus sentidos afetados com mais facilidade, as mulheres os levam em conta no
momento da compra.
Outro fator importante é o pensamento contextual: mulheres associam cada elemento a
um “todo” maior e mais amplo, permeado de significações. A questão social também é levada
22
em conta, desde a opinião de um amigo até a expressão do vendedor são fatores que vão
contribuir para a decisão de compra (BARLETTA, 2003). Então, uma peça de roupa deve não
somente ser bonita aos olhos, mas também deve ser agradável ao tato e ter um cheiro
aprazível, além de trazer algum tipo de significação para que conquiste uma consumidora.
Segundo Barletta (2003), a maioria do público online é feminino, e os principais
componentes da Internet (que de acordo com a autora são: comunicação, conteúdo, comércio,
comunidade e conveniência) têm mais apelo entre as mulheres do que entre os homens, o que
explica a grande oferta de produtos para este público na Internet. Acompanhando durante
alguns dias as ofertas dos sites de compras coletivas e as campanhas de clubes de compras,
por exemplo, é possível observar que uma fatia consideravelmente maior delas consiste em
produtos e serviços voltados para o público feminino. E a grande maioria destas ofertas são
peças de vestuário ou itens relacionados à beleza, todos eles objetos de desejo feminino.
E este fenômeno não é inédito, relembrando as liquidações de lojas de roupas em final
de estação, por exemplo. As lojas ficam lotadas de consumidores que desejam aproveitar as
ofertas de produtos com descontos. A maior parte do público consumidor da temporada de
liquidações são as mulheres, especialmente no que diz respeito a itens de vestuário. De acordo
com Miller (2002), é um fato que as mulheres consumem muito mais itens de vestuário do
que os homens, e apesar de possuírem os guarda-roupas muito mais cheios que a maioria dos
homens, elas nunca estão satisfeitas com seu arsenal. E elas não compram apenas produtos
para si, mas lembram de comprar roupas para o cônjuge, para os filhos, para a mãe, e até
mesmo para os amigos mais próximos.
As mulheres compram na esperança de que aqueles para quem elas compram
se tornem os recipientes adequados daquilo que foi comprado e de suas
devoções. As mercadorias, de bens alienáveis, passam a ocupar o lugar que
seria de bens inalienáveis em outras sociedades ao se transformarem em
objetos de devoção. (MILLER, 2002, p. 16)
Boa parte dos produtos de moda adquiridos é proveniente de compras por impulso, e
muitas vezes nem serão usados. Seja porque na próxima estação a peça não estará mais na
moda, ou não nos servirá mais, ou ainda porque a um segundo olhar, o produto não agradou
ao consumidor da mesma forma que à primeira vista. É assim que muitos produtos acabam
esquecidos nos armários, ocupando espaço e gerando cada vez mais desperdício.
Apesar deste fato, as mulheres continuam consumindo, querendo adquirir produtos
que satisfaçam seus desejos, e assim gastando uma fatia considerável de sua renda todos os
meses em itens de beleza e vestuário. E é por isto que os bazares de trocas podem ser uma
23
alternativa prática, econômica e sustentável de suprir os desejos de consumo feminino, além
de uma forma de educar aos poucos as pessoas para promover o consumo colaborativo
(assunto que será abordado a seguir).
2.3 CONSUMO COLABORATIVO
Neste subcapítulo iremos explorar o conceito de consumo colaborativo, relacionando
sua aplicação aos bazares de trocas, a partir das noções estabelecidas sobre escambo,
comércio e consumo nos capítulos anteriores, e com base nas ideias dos autores Tapscott e
Williams (2006), Botsman e Rogers (2011) e Gansky (2010), entre outros que abordam a
onda do consumo colaborativo e suas possibilidades.
2.3.1 Motivações para a colaboração
O comércio então pode ser entendido como uma prática cultural baseada na oferta de
produtos e serviços para a satisfação de desejos ou necessidades, visando o lucro de uma das
partes. Porém, nem toda transação comercial precisa ser baseada no lucro e na exploração.
Johann Schneider, em entrevista ao autor Elias Fajardo (2010) disse que comércio é
essencialmente troca, e que as trocas podem ser boas para ambos os lados, sem que ninguém
seja explorado.
Comércio nada mais é do que troca. Quem o transforma em algo bom ou
ruim, explorador ou não, é o ser humano que o pratica. Infelizmente se criou
uma imagem de que o comércio tem necessariamente de ter aspectos de
exploração. Isto está mudando, pois pode haver trocas boas, sem exploração,
entre alguém que produz algo e alguém que vai consumi-lo. Estamos falando
de comércio como parceria. (FAJARDO, 2010, p. 59)
É possível oferecer um produto ou serviço sem almejar lucro, tendo em vista que
também se pode usufruir de outro produto ou serviço quando necessário, como uma troca de
favores, uma parceria. Isto é basicamente a essência do consumo colaborativo. Todos
possuem algo que pode ser compartilhado, e assim contribuir para a comunidade. De acordo
com Botsman e Rogers (2001) as pessoas em geral fazem isto sem perceber, quando
emprestam um livro, quando passam uma receita, quando fornecem informação especializada
(no caso de um advogado dar orientação jurídica para um amigo, por exemplo), entre tantos
24
outros exemplos que poderiam ser citados. A colaboração está implícita nas relações
interpessoais.
Além das motivações sociais, de colaboração e pertencimento a uma comunidade, a
necessidade econômica em períodos de crise financeira também fez com que as pessoas
ficassem mais abertas a novas formas de acesso ao que elas precisam, e de como consegui-las.
O modelo econômico tradicional visava o consumismo, em que as pessoas compravam
produtos, utilizavam, jogavam fora e voltavam a comprar. Embora funcionasse
economicamente a curto prazo, de acordo com Tapscott e Williams (2006), não era um
modelo saudável nem sustentável. Para estes autores, uma nova democracia econômica está
surgindo, na qual todos são protagonistas. O consumo colaborativo é mais do que apenas boa
vizinhança e sustentabilidade, mas também é uma forma saudável de manter a economia
fazendo as pessoas consumirem mais gastando menos, numa economia do que Botsman e
Rogers (2011) intitularam de “o que é meu é seu”.
Para Botsman e Rogers (2011) os consumidores estão cada vez mais conscientes de
que o crescimento indeterminado e o consumo de recursos finitos são inviáveis em termos
econômicos, ambientais e existenciais, exigindo uma postura mais social por parte das
organizações. Mais que adquirir mercadorias, os consumidores contemporâneos são
consumidores de ideias, filosofias e experiências, que uma vez estabelecidos através das
marcas, despertam nos públicos o desejo de pertencimento a essas "comunidades
ideológicas".
2.3.2 Negócios baseados em compartilhamento
Muitas empresas também já perceberam que a colaboração em alta traz uma vasta
gama de oportunidades, e estão trabalhando de forma a aproveitar esta onda. Segundo Lisa
Gansky (2010), o modelo de negócios do futuro é baseado no compartilhamento de produtos e
serviços e está baseado nas redes de relacionamentos. Para Tapscott e Williams, esta era da
colaboração também traz grandes desafios para as empresas. Os novos modelos de negócio
começam a ameaçar os modelos tradicionais. e quem não souber aproveitar este momento
ficará para trás. Porém, o compartilhamento não deve substituir o consumismo: de acordo
com os autores, ambos os modelos tendem a coexistir em harmonia futuramente. “Em vez de
reconhecerem a derrota para a força econômica mais poderosa do nosso tempo, as empresas já
estabelecidas podem utilizar a nova colaboração para obter um sucesso sem precedentes”
(TAPSCOTT; WILLIAMS, 2006).
25
Lisa Gansky (2010) cunhou o termo “Mesh” para definir os negócios baseados em
compartilhamento de informações e recursos. Para ela, pessoas e empresas que iniciam
projetos com esta mesma mentalidade acabam gerando um ecossistema de negócios, em que
todos se ajudam para crescer e prosperar, otimizando processos e minimizando a utilização de
recursos com base no compartilhamento. E quando fala de negócios, Gansky se refere a
empresas, mas também a projetos, movimentos e até mesmo ONGs que acreditam que
estamos na era do compartilhamento e que todos têm a ganhar com o Mesh.
Por que chamar de “Mesh” essa nova onda de negócios? Mesh descreve um
tipo de rede que permite que qualquer nó se ligue em qualquer direção com
quaisquer outros nós no sistema. Cada parte está conectada a cada outra
parte e elas se movem em conjunto, uma atrás da outra. Para mim, “Mesh” é
uma metáfora apta e rica para descrever uma nova fase completa de serviços
baseados em informações. (GANSKY, 2010, p.16)
De acordo com a teoria da cauda longa de Anderson (2010), o chamado “mercado de
hits”, composto por poucos produtos que são destinados a grandes massas, vem sendo
substituído pelo mercado de nichos, que por sua vez é representado por uma infinidade de
produtos destinados a milhares de pequenos nichos, que em sua totalidade podem competir
com o mercado de hits. Para Gansky (2010), os negócios Mesh são capazes de encontrar e
preencher nichos facilmente, por sua estrutura estar mais bem capacitada para a identificação
de desejos e necessidades dos clientes.
O computador com acesso à Internet foi o principal fator que colaborou para o
fenômeno da cauda longa, por causa de: (1) ter democratizado as ferramentas de produção, (2)
ter reduzido os custos de consumo, através da democratização da distribuição e (3) por ter
proporcionado a ligação entre a oferta e a demanda. Estes fatores representam as três forças
da cauda longa (ANDERSON, 2006, p 50-55) e também explicam como o consumo
colaborativo vem ganhando força nos últimos anos a partir da Internet. Gansky (2010)
concorda com a importância da Internet neste contexto, e afirma que a Mesh só se torna
possível a partir do momento em que todos estão ligados uns aos outros a partir desta
conectividade permanente e relativamente barata, e que ao mesmo tempo abre um leque muito
maior de possibilidades.
A Internet oferece muitas vantagens para a comercialização online, de acordo com
Anderson (2006) por atingir diretamente o consumidor, com baixo custo de divulgação e
manutenção da estrutura comercial tradicional, por não possuir restrição ao horário comercial,
26
por muitas vezes não depender de uma interação direta entre vendedor e comprador, por
facilitar as buscas de produtos, entre outros motivos. Todos podem ser compradores e
vendedores, e todos podem também ser formadores de opinião.
Consumidores que antes não tinham meios eficazes de compartilhar sua opinião sobre
determinados produtos, agora podem localizar e contribuir com conteúdo sobre estes
produtos, a partir das redes sociais e de fóruns de discussão. As ferramentas disponíveis na
Internet também possibilitaram outros tipos de comercialização informal, o que potencializou
o consumo colaborativo a partir de redes sociais e sites específicos para este fim.
2.3.3 Práticas de consumo colaborativo na atualidade
Por meio do consumo colaborativo, tem-se acesso a uma maior gama de produtos sem
que haja necessidade de aumentar a produção dos mesmos; eles são compartilhados,
reutilizados, pertencem a uma coletividade e não apenas a um indivíduo. Porém, a era da
colaboração muda os valores sociais. De acordo com Botsman e Rogers (2011), o valor de um
indivíduo para a sociedade, que antes era determinado por crédito, propaganda e pelas coisas
que consumia, cada vez mais será definido pela reputação, pela comunidade e pelo que é
doado e compartilhado.
São muitos os casos de consumo colaborativo, e a seguir serão expostos alguns
exemplos citados pelos autores referenciados neste capítulo, para exemplificar a manifestação
desta cultura na Internet e nas redes sociais.
Gansky (2010) cita o exemplo da Zipcar17
, um serviço de compartilhamento de carros
que está presente nos Estados Unidos, no Canadá e em alguns países da Europa. O serviço foi
criado por duas amigas que souberam identificar uma maneira melhor de suprir uma
necessidade. Diferentemente dos serviços tradicionais de aluguel de carros, a Zipcar
disponibiliza carros convenientemente localizados por toda a cidade, e que podem ser locados
via Internet de maneira fácil e rápida. Além de facilitar a vida de seus usuários com o
consumo colaborativo de automóveis, serviços como o da Zipcar também ajudam a reduzir a
poluição e o consumo de recursos. “A base do sucesso da Zipcar foi uma fórmula simples:
criar uma maneira simples e eficiente para que as pessoas compartilhassem os carros ao invés
de comprá-los. O serviço é rápido, útil e acessível” (GANSKY, 2010, p. 11).
17
Disponível em: <http://www.zipcar.com/>. Acesso em: 15 maio 2012.
27
Outro serviço citado por Gansky (2010) é o Roomorama18
, uma plataforma de
hospedagem alternativa, que permite que pessoas tornem suas casas em uma estada de curta
duração com tempo compartilhado, beneficiando hóspedes e anfitriões. Para o hóspede, o
Roomorama representa um baixo custo de hospedagem; para o anfitrião, uma maneira de
ganhar um dinheiro extra. “É isso que a Roomorama faz. Ao oferecer um serviço, ela cria
oportunidades para todos” (GANSKY, 2010, p. 25). Assim como o Zipcar e o Roomorama,
existem vários outros serviços semelhantes para compartilhamento de carros, residências e
outros tipos de produtos e serviços.
Entrando na parte de trocas de roupas, Gansky (2010) traz o exemplo do ThredUP19
,
uma plataforma para trocas de roupas que surgiu da ideia de um homem que queria encontrar
alguém do seu tamanho para trocar suas camisas. A ideia foi um sucesso, e logo milhares de
homens e mulheres associados estavam trocando suas peças de roupas por outras “novas”. Os
sócios listavam as peças que possuíam e os itens que gostariam de receber em troca, depois
enviavam seu pacote para o ThredUP, que se encarregava de enviar pacotes com peças de
igual valor. “Os sócios gostam de receber um pacote no correio com roupas “novas”. Ele
chega, e parece como um presente: você sabe que é pra você, mas não sabe exatamente o que
o espera” (GANSKY, 2010). Posteriormente, o foco do ThredUP foi mudado para as roupas
infantis, que em geral são utilizadas por curtos períodos e depois deixam de servir. A
mudança de foco foi uma sugestão dos próprios sócios.
Dentro do nicho da moda, há diversos outros exemplos além do ThredUP. O site
americano 99Dresses20
é uma plataforma de compra e venda de roupas de segunda mão
através de uma moeda virtual chamada de “botões”. Inicialmente, a ideia era disponibilizar
uma plataforma onde as mulheres pudessem trocar vestidos de festa. Hoje o site se apresenta
como “um guarda-roupa infinito de moda gratuita” que permite que você “nunca vista a
mesma roupa duas vezes”. Nesse estilo, existe também o britânico Big Wardrobe21
, cujo site
informa que hoje está presente em cerca de 140 países, o americano I-Ella22
e o francês
VideDressing23
, que recentemente lançou uma versão brasileira.
Neste capítulo foi explorado o consumo colaborativo, com base no histórico do
comércio e na lógica do consumo. Em geral, além de representarem economia para os bolsos
de seus usuários, os sistemas de consumo colaborativo trazem a seus usuários um valor
18
Disponível em: <http://www.roomorama.com>. Acesso em: 15 maio 2012. 19
Disponível em <http://www.thredup.com>. Acesso em 16 maio 2012. 20
Disponível em <http://www.99dresses.com>. Acesso em 16 maio 2012. 21
Disponível em <http://www.bigwardrobe.com>. Acesso em 16 maio 2012. 22
Disponível em <http://www.i-ella.com>. Acesso em 16 maio 2012. 23
Disponível em <http://www.videdressing.com>. Acesso em 16 maio 2012.
28
agregado, ao mostrarem o valor da comunidade e do compartilhamento. Para que seja possível
compreender o contexto em que os bazares de trocas estão inseridos, bem como os novos
valores sociais trazidos pela era da colaboração, se faz necessário explorar os conceitos de
redes sociais, que serão abordados no próximo capítulo.
29
3 REDES SOCIAIS
Neste capítulo serão abordados os conceitos de redes sociais, baseados nas ideias do
livro “Redes sociais e Internet”, de Raquel Recuero (2009), dentre outros autores que tratam
do tema. Também será abordado o Facebook, site de rede social onde estão situados os
bazares de trocas que são objeto de nesta monografia.
3.1 ATORES, NÓS E A CONSTRUÇÃO DO EU VIRTUAL
A Internet tornou possível que as pessoas se expressassem e sociabilizassem com
maior facilidade através das ferramentas de comunicação que surgiram a partir dela. O uso
destas ferramentas faz com que os usuários deixem rastros, a partir dos quais é possível
estudar as interações, compreender o seu comportamento e fazer o reconhecimento de padrões
nas redes sociais.
Marteleto (2001, p.72) define rede como um "sistema de nodos e elos; uma estrutura
sem fronteiras; uma comunidade não geográfica; um sistema de apoio ou um sistema físico
que se pareça com uma árvore ou uma rede". Uma rede social, de acordo com Recuero (2009)
é composta de atores e conexões, onde atores são os nós da rede (pessoas, grupos,
instituições) e as conexões são as interações e laços sociais entre eles. As redes sociais, para
Marteleto (2001, p.72), representam “[...] um conjunto de participantes autônomos, unindo
idéias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados”.
Uma rede, assim, é uma metáfora para observar os padrões de conexão de
um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores.
A abordagem de rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é
possível isolar os atores sociais e nem suas conexões.
(RECUERO, 2009, p.24)
Os atores são representados por nós (ou nodos), e são as pessoas que estão presente na
rede. Eles são responsáveis por moldar esta rede a partir das interações e da construção de
laços sociais. Na Internet, segundo Recuero (2009), os atores da rede não são identificados
imediatamente, e se faz necessário o uso de representações. Um exemplo disso é que uma
comunidade do Orkut é um nó, mas ela é formada por diversos membros, e cada qual também
é um nó na rede. Ambos, a comunidade e os perfis pessoais no Orkut não são atores sociais,
30
mas são representações desses atores, construídos por eles para representar elementos de sua
individualidade.
Este tipo de construção identitária é um processo que se mantém em permanente
evolução, e se repete em outros elementos do ciberespaço (RECUERO, 2009). Como por
exemplo, os sites pessoais, que não necessariamente são redes sociais. A construção do “eu”
está presente nas diversas apropriações que os usuários fazem de espaços virtuais, desde a
escolha de nicknames, a migração de um site de rede social para outro, a escolha de um tipo
de avatar ou a descrição de si mesmo. Um perfil em uma rede social é uma presença do “eu”
no ciberespaço, um espaço privado e público ao mesmo tempo, pois é preciso ser visto para
existir no ciberespaço. E quando as pessoas falam a partir desses espaços estão tornando
possível a expressão das redes sociais na Internet.
As pessoas têm uma necessidade premente de
pertencimento/reconhecimento em relação à comunidade ou grupo social no
qual estão inseridas. Nesse sentido, a sua organização em torno de projetos
comuns, sobretudo culturais, onde os indivíduos compartilham não só o
mesmo território, mas seus interesses, suas necessidades, enfim desejos
comuns é que se constitui neste processo de formação de identidade
individual e coletiva. (SILVA, 2005, p.3)
De acordo com Silva (2005), a construção da identidade pessoal tem raiz na identidade
coletiva. A percepção do outro é essencial para a interação humana, e no ciberespaço as
pessoas são percebidas a partir das suas palavras. Mas é preciso colocar rostos e informações
que identifiquem os atores responsáveis por cada informação, geralmente anônima, na
Internet. Conforme Recuero (2009), a partir dessa identificação dos atores que se torna
possível a interação social que cria vínculos e conexões na rede. Num perfil do Orkut ou do
Facebook, por exemplo, existem informações pessoais como nome, cidade e estado; há
também uma foto escolhida como avatar; e ainda existem relacionados a estes perfis
informações que identifiquem os gostos pessoais. Todas estas escolhas ajudam a construir o
“eu” nesses perfis, de forma que o perfil é percebido pelas outras pessoas como a
representação do próprio indivíduo dentro daquela rede.
Assim, podemos entender que os atores são as pessoas que agem através destas
ferramentas (blogs, websites, perfis em redes sociais) para se expressar de alguma forma. No
entanto, estas representações apenas são plausíveis a partir da possibilidade de interação com
outros atores e a criação das conexões. A soma das representações de cada indivíduo nas
diferentes plataformas e ferramentas na web dão pistas para que possamos entender quem é
31
aquele indivíduo. “São construções plurais de um sujeito, representando múltiplas facetas de
sua identidade” (RECUERO, 2009, p. 30).
3.2 CONEXÕES, LAÇOS E CAPITAL SOCIAL
O outro elemento que compõe as redes sociais são as conexões, as ligações entre os
nós. Em geral, a rede é composta pelos laços sociais que são formados a partir da interação
dos seus atores. Esta interação só pode ser percebida graças aos rastros deixados nas redes.
Como por exemplo, uma publicação no mural de um perfil do Facebook fica gravada e
disponível até que alguém a delete, ou que o sistema saia do ar. Costuma-se dizer que o que é
publicado na web é como se fosse escrito em pedra, porque após publicado, não se tem mais
controle sobre este conteúdo; Ainda que tenha sido deletado, o conteúdo em questão teve livre
acesso por um determinado tempo, e gerou replicações na memória do computador de quem
acessou, foi indexado em sistemas de busca, e também pode ter sido copiado e republicado
por outras pessoas que tiveram acesso a ele.
A interação depende da atividade do outro, pois toda ação cria a expectativa de uma
reação, num processo comunicacional de caráter social. E no ciberespaço, as interações
possuem algumas peculiaridades. Recuero (2009) diz que na web, geralmente não há pistas da
linguagem não-verbal, mas poderiam ser citadas como exemplo as transmissões em streaming
via Twitcam (http://www.twitcam.com), onde existe a percepção destes sinais gestuais e de
fala, ainda que numa via de mão única, pois quem é assistido apenas recebe comentários
escritos em resposta, como forma de interação.
A ação de um depende da reação do outro, e há orientação com relação às
expectativas. Essas ações podem ser coordenadas através, por exemplo, da
conversação, onde a ação de um ator social depende da percepção daquilo
que o outro está dizendo. (...) A interação é, portanto, aquela ação que tem
um reflexo comunicativo entre o indivíduo e seus pares, como reflexo social.
(RECUERO, 2009, p. 30)
De acordo com Recuero, a interação entre os atores pode ser síncrona ou assíncrona.
Na primeira, os atores estão ambos presentes, interagindo simultaneamente (como nos chats e
sistemas de mensagens instantâneas), e na segunda os atores dividem um mesmo espaço e
mantém uma conversação, mas em tempos diferentes (como em fóruns e postagens no
Facebook, por exemplo). Mas as conexões nem sempre são fáceis de distinguir no
32
ciberespaço. Uma conversação pode começar em um comentário no Facebook, evoluir em
uma conversa no Messenger, voltar para o Facebook, e ainda ter desdobramentos por outros
meios, como Twitter, e-mail, telefone, ou até mesmo presencialmente. E para quem não
participou ativamente desta interação, pode ser difícil compreender a evolução destas
conversações.
A interação mediada pelo computador cria e mantém relações complexas que ajudam a
construir as redes sociais na Internet. As relações geradas nessas redes, por sua vez, vão gerar
laços sociais. Determinadas ações e interações podem vir a criar, fortalecer, enfraquecer, ou
mesmo extinguir os laços sociais entre os atores, já que nem sempre a interação acontece de
forma positiva. O laço social é uma relação de interação estabelecida entre dois ou mais
atores, e independe de empatia ou afeto entre as partes, ou do tempo de duração. O laço social
pode variar de intensidade (fortes, fracos) e de duração (curtos, longos), de acordo com as
circunstâncias, e estas duas características em geral estão diretamente relacionadas entre si e
com o grau de intimidade entre o par de atores.
As redes sociais na Internet suportam tanto os laços fracos quanto os fortes, embora
sejam mais propícias para os laços fracos, já que propiciam a interação esparsa. Quanto maior
o número de laços, maior o número de interações, e maior será a complexidade de
determinada rede social. Os laços sociais podem vir de relações pessoais reais, e podem surgir
dentro do ciberespaço. Há até mesmo laços sociais que podem ser estreitados quando trazidos
para o ciberespaço, e também relações que só se mantém à distância, utilizando as redes
sociais na Internet como meio de interação, o que cria uma desterritorialização dos laços.
Os laços sociais, de acordo com Recuero (2009), também podem ser divididos em
laços relacionais e laços associativos. Os laços relacionais são aqueles em que há interação
mútua, que pode ser originada através da comunicação instantânea, onde o fluxo de
mensagens é mais constante. Os laços relacionais podem se fortalecer mais a cada nova
interação. Os laços associativos, por sua vez, se caracterizam pelo sentimento de
pertencimento, quando alguém quer demonstrar que faz parte de um determinado grupo, que
compartilha gostos em comum com outras pessoas ou mesmo busca identificação com outros
usuários. De acordo com Marteleto (2001) as redes informais são iniciadas a partir do
momento em que uma comunidade está consciente sobre interesses e/ou necessidades que são
comuns entre seus membros, e isso ocorre a partir dos laços relacionais.
Laços relacionais, deste modo, são aqueles constituídos através de relações
sociais, apenas podem acontecer através da interação entre os vários atores
33
de uma rede social. Laços de associação, por outro lado, independem dessa
ação, sendo necessário, unicamente, um pertencimento a um determinado
local, instituição ou grupo. (RECUERO, 2009, p. 39)
Outro elemento relativo às conexões de uma rede social na Internet é o capital social.
Para Araújo (2010), “Capital Social é a argamassa que mantém as instituições em contato
entre si e as vincula ao cidadão visando a produção de bem comum” (ARAÚJO, 2010, p.10) .
Já Recuero (2009) trabalha a construção do conceito de capital social a partir de conceitos de
alguns autores, como Putnam, Bourdieu e Coleman. Inicialmente, de acordo com a reflexão
da autora, entendemos que é um indicativo da conexão entre os pares de indivíduos em uma
rede social. O capital social refere-se a estabelecer confiança e reciprocidade nas relações, a
partir de aspectos individuais e coletivos.
A confiança, preceito básico do capital social, segundo Putnam (2002), pode derivar
de duas fontes que são (1) regras de reciprocidade e (2) sistemas de participação cívica. As
regras de reciprocidade, conforme o autor, estão relacionadas com a retribuição de favores,
mas também com a aplicação de regras de constrangimento social, definidas publicamente de
maneira clara, para quem não coopera ou transgride as regras estabelecidas. Já os sistemas de
participação cívica remetem a vários tipos de associações, onde o indivíduo tem consciência
de que tem seu papel e que precisa desempenhá-lo para que adquira a sensação de
pertencimento àquele grupo social (PUTNAM, 2002).
O capital social é o agregado dos recursos atuais e potenciais, os quais estão
conectados com a posse de uma rede durável, de relações de conhecimento e
reconhecimento mais ou menos institucionalizadas, ou em outras palavras, à
associação a um grupo – o qual provê cada um dos membros com o suporte
do capital coletivo (...) (BOURDIEU, 1983, p.248-249 apud RECUERO,
2009, p. 46)
O capital social, de acordo com Araújo (2010) está associado à coletividade; para
Recuero (2009) está relacionado ao pertencimento a grupos, às ações dos atores destes grupos,
e ao conhecimento e reconhecimento mútuo dos participantes destes grupos. Dessa forma,
também podemos dizer que para compreender o capital social é necessário observar não
apenas os atores e suas interações, mas o conteúdo das mensagens trocadas entre eles, e
principalmente o sentido destas mensagens para o coletivo. Ao que diz respeito à Internet, é
importante compreender o conceito de capital social para poder estudar as relações
estabelecidas nas redes sociais, que são ainda mais complexas no ciberespaço.
34
Uma sociedade cuja cultura pratica e valoriza a confiança interpessoal é mais
propícia a produzir o bem comum, a prosperar. A cooperação voluntária,
assentada na confiança, por sua vez, só é possível em sociedades que
convivem com regras de reciprocidade e com sistemas de participação
cívica. Em sociedades que tenham capital social, que, a exemplo de outras
formas de capital, é produtivo e possibilita a realização de certos objetivos
que sem ele seriam inatingíveis (ARAUJO, 2010, p.17).
.
3.3 DINÂMICAS DAS REDES SOCIAIS NA INTERNET
São muitos os elementos que compõe as dinâmicas das redes sociais na Internet. O
primeiro aspecto a ser levado em conta, de acordo com Watts (2003) citado por Recuero
(2009) é que as redes sociais se modificam com o tempo, pois por serem dinâmicas estão em
constante transformação. Estas transformações, em uma rede social, são muito influenciadas
pelas interações. “Os processos dinâmicos das redes são consequência direta dos processos de
interação entre os atores. Redes são sistemas dinâmicos e, como tais, sujeitos a processos de
ordem, caos, agregação, desagregação e ruptura” (NICOLIS; PRIGOGINE, 1989 apud
RECUERO, 2009, p. 80).
Outro aspecto a ser considerado sobre as redes sociais é seu caráter emergente.
Segundo afirma Recuero (2009) esta é uma característica dos sistemas complexos, que
envolve o aparecimento de padrões de comportamento que se repetem em larga escala de
modo coletivo e descentralizado. Neste contexto, a partir da interação surgem alguns
elementos importantes, como a cooperação, a competição e o conflito, como processos sociais
que influenciam a rede.
Quando os homens trabalham juntos, tendo em vista um objetivo comum,
seu comportamento é chamado cooperação. Quando lutam um contra o
outro, a conduta é rotulada oposição. Cooperação e oposição constituem os
dois processos básicos da vida em grupo (OGBURN; NIMKOFF, 1975,
p.236 apud RECUERO, 2009, p. 81)
Conforme afirma Recuero (2009), para que seja possível viver em sociedade, é
necessária a cooperação, que é o processo formador das estruturas sociais. A cooperação é o
que faz com que pessoas ajam de maneira organizada, de modo que um grupo possa ser
formado. A cooperação pode ser motivada pelos interesses individuais, pelo capital social
envolvido e pelas finalidades do grupo. "Sugere-se um ambiente de total cooperação, em que
se desenvolve o sentimento de pertença, promovendo a preocupação com o bem-estar do
35
grupo, que em troca proporcionará a todos uma desinteressada receptividade e um confortante
sentimento de segurança" (PRIMO, 2005)
A competição é uma forma de luta social, que compreende a luta mas não a
hostilidade, que por sua vez é característica presente no conflito (RECUERO, 2009).
Enquanto a competição pode gerar cooperação entre os membros de um determinado grupo
ou subgrupo – que se organizam para vencer outro grupo em algum aspecto – a competição
pode levar a uma ruptura na organização social, podendo inclusive originar novos grupos a
partir dessa ruptura. Para Primo (2005), cooperação e conflito não são opostos. “Se um
competidor livrar-se de seu adversário, ele não poderá mais competir” (PRIMO, 2005). Para
Recuero (2009), estes processos podem estar relacionados de maneira mais complexa:
A cooperação, a competição e o conflito não são, necessariamente, processos
distintos e não relacionados. São, sim, fenômenos naturais emergentes das
redes sociais. O conflito, por exemplo, pode envolver cooperação, pois há a
necessidade de reconhecimento dos antagonistas como adversários. Esse
reconhecimento implica cooperação. Do mesmo modo, o conflito entre
grupos pode gerar cooperação dentro dos mesmos (RECUERO, 2009, p. 82).
Outros aspectos importantes a serem considerados sobre a dinâmica das redes sociais
são a ruptura e a agregação. “Uma das dinâmicas esperadas em grupos sociais é sua
capacidade de agregar mais pessoas e de que pessoas rompam com o grupo” (Recuero, 2009).
Deste modo, é possível compreender que os atores ligados a determinado grupo têm o poder
de agregar novos membros relacionados a um determinado tema ou contexto. E quanto maior
é a comunidade, maior a chance de ocorrerem competições e conflitos, que podem gerar
rupturas. Em geral, as rupturas são causadas por grupos pequenos em relação à comunidade,
mas que possuem grande expressão por estar reunidos em torno de clusters, que são atores
que possuem um número de conexões maior do que a média e acumulam um capital social
rico. Deste modo, as opiniões dos clusters costumam ter maior relevância e levam a agregar
outras pessoas mais facilmente, como uma forma de liderança.
3.4 O FACEBOOK
Nos capítulos 3.1 a 3.3, foram abordados os conceitos presentes nas redes sociais
aplicados à Internet, de acordo com as ideias de Recuero (2009). Neste capítulo será abordado
36
de forma breve o site de rede social Facebook, para contextualizar o ambiente no qual se
situam os bazares de trocas estudados na presente monografia.
3.4.1 Histórico do Facebook
O Facebook é um site de rede social, ou seja, “um site que foca a publicização na rede
social dos atores” (Recuero, 2009, p. 178). Hoje é um dos sites de rede social mais acessados
no mundo. Chamado originalmente de “thefacebook”, o Facebook foi lançado em 2004, por
Mark Zuckerberg, em parceria com seus colegas Dustin Moskovitz e Chris Hughes, enquanto
eram alunos de Harvard.
Inicialmente, o site era focado naqueles alunos que estavam deixando o ensino
secundário e entrando na universidade. O foco inicial era criar uma rede de contatos entre os
universitários. Foi primeiramente aplicado a alunos de Harvard (em 2004), e depois
expandido a outras universidades e escolas (em 2005), e neste primeiro momento para entrar
no thefacebook era necessário pertencer a alguma das instituições reconhecidas. Em 2005, o
site possuía 5 milhões de membros ativos, e foi o ano em que passou a ser conhecido somente
como “Facebook”24
.
Posteriormente, o Facebook foi sendo liberado para escolas e empresas, até estar
disponível para o mundo inteiro. Em dezembro de 2011, o site ultrapassou o Orkut em
número de usuários e acessos, se tornando a maior rede social no Brasil. De acordo com a
comScore25
, as mulheres passam mais tempo no Facebook do que os homens no Brasil
(enquanto eles passam cerca de 4,1 horas no site, elas costumam ficar cerca de 5,3 horas).
Além disso, pessoas com idades de 25 a 34 anos representam a maioria dos visitantes do site e
30,6% da audiência total26
.
Hoje, de acordo com a página oficial do Facebook no site homônimo, “a missão do
Facebook é dar às pessoas o poder de compartilhar e tornar o mundo mais aberto e
conectado27
”. Nesta página, o site também fornece uma pequena descrição sobre a rede social:
“Milhões de pessoas usam o Facebook todos os dias para relacionar-se com os amigos,
24
Fonte: <http://www.infoescola.com/Internet/historia-do-facebook/. Acesso em: 16 jun. 2012. 25
A comScore é uma das maiores empresas do mundo que se dedicam a pesquisas sobre a Internet e o mundo
móvel. 26
Fonte: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/01/facebook-passa-orkut-e-vira-maior-rede-social-do-
brasil-diz-pesquisa.html>. Acesso em: 16 jun. 2012. 27
Traduzido de “Facebook's mission is to give people the power to share and make the world more open and
connected”. Fonte: <https://www.facebook.com/facebook/info>. Acesso em: 16 jun. 2012.
37
carregar um número ilimitado de fotos, compartilhar links e vídeos, e saber mais sobre as
pessoas que encontram28
”.
3.4.2 Recursos do Facebook
Para entrar no Facebook, o usuário deve preencher um cadastro simples (ver figura 2),
com poucas informações, como nome, sobrenome, e-mail e senha, gênero e aniversário. O site
possui uma validação de nome para evitar que sejam feitos cadastros fakes29
. O e-mail e a
senha são necessários para entrar no site e acessar sua conta posteriormente, e o aniversário é
requerido pela limitação de idade do Facebook só para maiores de 13 anos. O perfil30
do
Facebook é feito para pessoas físicas. Empresas, instituições, organizações e marcas devem
criar fanpages31
.
Após o cadastro, é solicitado ao novo usuário fazer uma busca pelos seus amigos e
conhecidos que já estão presentes na rede social para adiciona-los a sua rede de amigos. O
usuário também é incentivado a complementar as informações do seu perfil, adicionando o
local onde mora, onde nasceu, onde trabalha atualmente e locais onde já trabalhou, onde
estuda atualmente e locais onde já estudou; O usuário também pode relacionar amigos a seu
perfil como familiares e informar se está em um relacionamento, entre outras informações.
28
Traduzido de “Millions of people use Facebook everyday to keep up with friends, upload an unlimited number
of photos, share links and videos, and learn more about the people they meet.” Fonte:
<https://www.facebook.com/facebook/info>. Acesso em: 16 jun. 2012. 29
Termo utilizado para representar os perfis falsos. 30
Seu perfil (linha do tempo) é uma imagem completa de si mesmo no Facebook. Fonte:
<https://www.facebook.com/help/glossary>. Acesso em: 16 jun. 2012. 31
Páginas permitem que empresas, marcações e celebridades se conectem com pessoas no Facebook. Os
administradores podem publicar informações e atualizações do Feed de notícias para pessoas que "curtem" suas
páginas. Fonte: <https://www.facebook.com/help/glossary>. Acesso em: 16 jun. 2012.
38
Figura 2: Tela inicial do Facebook32
O usuário também é incentivado a postar fotos, vídeos e atualizações em seu mural33
,
além de interagir com as publicações dos amigos (que aparecem no feed de notícias), através
dos botões curtir34
, compartilhar e fazendo comentários. O usuário também pode curtir
fanpages, que ficam relacionadas a seu perfil como interesses, e também pode fazer parte de
grupos35
.
Todas as informações pessoais e de interesse do usuário ficam disponíveis para acesso
em seu perfil. Recentemente, o Facebook lançou a timeline36
, ou linha do tempo, recurso em
que a história do usuário é contada ano a ano desde seu nascimento, de acordo com as
informações pessoais e atualizações diárias no site.
São muitas as ferramentas e recursos que compõe o Facebook, mas abaixo é feita uma
relação apenas daquelas que são necessárias para compreender os bazares de trocas, tema de
pesquisa da presente monografia.
32
Imagem da tela de login do Facebook (http://www.facebook.com) em 17 de junho de 2012. 33
“Seu Mural é o espaço no seu perfil no qual você e seus amigos podem publicar e compartilhar”. Fonte:
<https://www.facebook.com/help/glossary>. Acesso em: 16 junho 2012. 34
“Clicar em "Curtir" é uma forma de fazer comentários positivos e conectar-se com coisas importantes para
você”. Fonte: <https://www.facebook.com/help/glossary>. Acesso em: 16 junho 2012. 35
“Grupos são círculos fechados de pessoas que compartilham e mantém contato no Facebook”. Fonte:
<https://www.facebook.com/help/glossary>. Acesso em: 16 junho 2012. 36
“Sua linha do tempo é a sua coleção de fotos, histórias e experiências que contam sua história”. Fonte:
<https://www.facebook.com/help/glossary>. Acesso em: 16 junho 2012.
39
Mural: O Mural é um espaço presente na página de perfil do usuário que permite que
ele poste atualizações de status, fotos, vídeos e links. Caso o usuário permita, seus amigos
também podem postar conteúdo de texto, links ou fotos no seu mural. Todas as postagens do
mural estão sujeitas às configurações gerais de privacidade do usuário, em que ele decide
quem pode visualizar suas publicações, mas estas configurações padrão podem ser alteradas
para cada postagem individual.
Botão Curtir: O botão de curtir (like, na versão original) é um recurso onde os
usuários podem manifestar que gostam de determinado conteúdo, sejam atualizações de
status, comentários, fotos, links compartilhados, fanpages, entre outros.
Botão Compartilhar: O botão de compartilhar (share, na versão original) é um
recurso onde os usuários podem replicar determinado conteúdo conteúdo para sua rede, sejam
atualizações de status, comentários, fotos, links compartilhados, fanpages, entre outros. Em
geral, o botão compartilhar está localizado ao lado do botão curtir.
Comentários: Em geral, quase todo tipo de publicação de um usuário no Facebook
permite que outros usuários postem comentários. Estes comentários podem ser isolados e
independentes, mas também podem gerar conversação.
Fotos: Todos os usuários possuem em seu perfil uma seção de fotos, onde podem
postar fotos divididas em álbuns. Também é possível postar vídeos, mas este é um recurso
pouco utilizado. Por padrão, o usuário possui um álbum de “Fotos do Mural”, um de “Fotos
do Perfil” e um de “Fotos de Capa”, mas o usuário pode criar outros álbuns. Cada álbum pode
conter uma descrição e várias fotos. Em cada foto, o usuário pode colocar uma descrição,
informar o local onde foi tirada e com quem estava naquela foto. Também é possível marcar
os amigos nas fotos. Abaixo dos álbuns, há uma seção com todas as fotos e vídeos em que o
usuário foi marcado.
Bate-papo: O Facebook disponibiliza uma ferramenta de bate-papo ou chat, em que
os usuários podem enviar mensagens instantâneas para conversar com seus amigos que
estiverem online. É possível adicionar amigos à conversa, e também iniciar chamadas de
vídeo. Quando um usuário tenta falar com outro usuário que esteja offline, o conteúdo é
enviado como mensagem para que ele veja quando estiver online. Todas as conversas do bate-
papo ficam com histórico disponível em mensagens, agrupadas por usuário ou por usuários.
Mensagens: Além de armazenar o histórico das conversas do bate-papo, o recurso de
mensagens permite aos usuários trocar mensagens privadas com usuários, sejam eles amigos
ou não, de acordo com as opções de privacidade do usuário. As mensagens podem ser lidas,
40
respondidas e arquivadas como num sistema de e-mail. Também é possível enviar links e
anexar fotos e arquivos de maneira privada pelas mensagens.
Grupos: Os grupos são um espaço fechado onde grupos de pessoas podem se
comunicar sobre interesses em comum. Os grupos podem ser públicos, privados ou secretos.
Em grupos secretos ou fechados, as publicações ficam visíveis somente para os membros dos
grupos, e membros dos grupos devem ser aprovados ou adicionados por outros membros.
Grupos públicos ficam disponíveis na busca do Facebook, e qualquer um pode passar a fazer
parte. Os membros recebem notificações por padrão quando algum membro publica algo no
grupo. Os membros dos grupos podem participar de bate-papos, carregar fotos para álbuns
compartilhados, colaborar em documentos dos grupos e convidar os membros que são amigos
para eventos dos grupos. A ferramenta grupos e suas apropriações nos bazares de trocas serão
abordadas com mais detalhes no capítulo 5.2 da presente monografia.
41
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo são abordados os processos metodológicos utilizados para a realização
da pesquisa, bem como o detalhamento de cada uma das etapas que foram realizadas e seus
respectivos objetivos.
Após a sondagem inicial, foram feitos recortes no escopo, e subsequentemente a
seleção do corpus da pesquisa. Definiu-se que a pesquisa seria realizada em duas etapas: (1)
quantitativa e (2) qualitativa.
Na etapa quantitativa, foi realizada observação participante no Bazar de Trocas da
Estilo, de modo a compreender a lógica de funcionamento do mesmo. Depois foi feita a
documentação da ferramenta grupos, para identificação das apropriações de uso para a
realização dos bazares. Em seguida, foi feita a observação documentada da atividade do bazar
durante uma semana, a qual possibilitou a identificação de categorias. Por fim, foi aplicado
um questionário com as usuárias, para obter um perfil demográfico e compreender as
motivações de uso dos bazares de trocas.
Na etapa qualitativa, foram aproveitados os conhecimentos adquiridos a partir dos
meses de conversação com as usuárias37
, bem como as respostas às perguntas abertas do
questionário da fase quantitativa. Para complementar a análise, foram realizadas entrevistas
em profundidade com cinco usuárias. O objetivo da fase qualitativa era conhecer o ponto de
vista das usuárias sobre os bazares de trocas, identificar suas motivações de uso e o impacto
deste uso em suas vidas.
Para realizar a pesquisa, de maneira a aprofundar o conhecimento acerca da lógica de
funcionamento dos bazares de trocas, e das motivações das usuárias, foi escolhido o método
de observação participante, embora em alguns momentos tenha sido utilizada a observação
silenciosa. Os procedimentos metodológicos utilizados tiveram base na netnografia.
4.1 ETNOGRAFIA E NETNOGRAFIA
A metodologia utilizada para a realização desta pesquisa foi a Etnografia aplicada à
Internet, também conhecida como Netnografia. Ambas serão explicadas a seguir neste
subcapítulo.
37
São considerados todos os meses desde a sondagem inicial (março de 2011) até a finalização do presente
trabalho (junho de 2012).
42
Etnografia é um processo utilizado para descrever um grupo de pessoas, onde o
pesquisador vai à campo para coletar informações sobre este grupo. Não consiste
necessariamente uma metodologia, mas pode ser um método utilizado como narrativa para
uma pesquisa (ANGROSINO, 2009). Desta forma, foram utilizadas abordagens etnográficas
para o desenvolvimento da pesquisa e análise.“A etnografia é a arte e a ciência de descrever
um grupo humano – suas instituições, seus comportamentos interpessoais, suas produções
materiais e suas crenças” (ANGROSINO, 2009, p. 30).
Inicialmente surgida na área da antropologia, a etnografia sofreu muitas apropriações
e adaptações, e hoje é utilizada nas mais diversas áreas, ainda que muitas vezes de forma
incorreta. Após a Internet se consolidar como meio de comunicação, alguns pesquisadores
perceberam que poderiam aplicar abordagens etnográficas para estudar culturas de
comunidades virtuais, ainda que esta perspectiva causasse estranhamento em cientistas e
antropólogos, que sentiam falta do poder “ir a campo” num contexto atemporal e
independente de localização física, como é o caso da Internet. Outro ponto criticado é a frieza
das relações humanas intermediada por máquinas.
Porém, há autores que defendem a validade desta transposição. Hine (2000; 2005),
que popularizou o termo, afirma que a construção do campo, diferentemente do presencial
onde podemos analisar a realidade social, no virtual acontece a partir de reflexões subjetivas.
O virtual nunca está totalmente separado do real, acontecendo através da imersão do sujeito
através da máquina. Por causa da atemporalidade do meio virtual, em geral a narrativa é
construída depois dos fatos, e raramente respeita a ordem cronológica dos acontecimentos.
O termo netnografia é um neologismo surgido na metade da década de 90, formado
por net + etnografia. Este termo foi popularizado por Robert Kozinets em suas pesquisas
relacionadas a fandoms38
. Posteriormente, outros autores passaram a defender o termo, e
defendendo que a utilização dele ajuda a demarcar as diferenças da etnografia quando
aplicada para ambientes virtuais, desde as formas de coleta de dados até a análise (Kozinets,
2010). Além de “netnografia”, outros termos foram cunhados por outros autores para
denominar a pesquisa etnográfica no meio virtual, porém, discussões acerca da implicação de
significado desses termos acabaram por definir que a própria “etnografia” continua aplicável
para pesquisas no campo virtual.
A etnografia pode ser escolhida “para estudar questões ou comportamentos sociais
que ainda não são claramente compreendidos e ajudar o pesquisador a ‘tomar pé da situação’
38
Palavra de origem inglesa (derivada de Fan Kingdom), que se refere ao conjunto de fãs de um determinado
programa da televisão, pessoa ou fenômeno em particular.
43
antes de centrar-se em questões específicas” (Angrosino, 2009, p. 36). Também podemos
escolher esse método para “conhecer a perspectiva das próprias pessoas sobre as questões”.
Ele pode ser utilizado para definir o problema de pesquisa, identificar os participantes de um
cenário social, registrar um processo e contextualizar o levantamento de dados quantitativos.
Para realizar uma pesquisa etnográfica, é necessário realizar um planejamento inicial,
que pode ser alterado durante o curso da pesquisa – já que os processos não são
necessariamente lineares, e o comportamento das pessoas nem sempre corresponde às nossas
expectativas. O planejamento deve contemplar alguns limites, para que o pesquisador não
desvie do foco da pesquisa, como o que estudar e o que deixar de fora. O pesquisador deve
revisar a literatura existente acerca da temática do objeto, enquanto busca se aclimatizar e
conhecer bem o objeto. Em alguns casos, a literatura existente não contempla o problema de
pesquisa, mas ainda assim a etnografia ajuda a construir este problema.
Após a literatura e o domínio inicial do tema de pesquisa, o pesquisador deve ir a
campo para estudar o objeto, tanto como observador quanto como participante. No caso da
netnografia, o pesquisador deve se inserir no campo de pesquisa, “selecionar, observar,
documentar (salvando arquivos e mensagens, fazendo printscreens, efetuando downloads de
materiais etc.), questionar e analisar” (AMARAL et al, 2011). É importante ter o material
salvo, pois apesar de tudo aparentemente estar sempre disponível na web, em algum momento
pode não estar mais: sites mudam o layout ou são descontinuados; postagens são excluídas,
usuários deixam o sistema, funcionalidades são adicionadas ou removidas, entre outros
problemas.
O campo virtual deve ser considerado como um elemento da vida cotidiana, e não
como algo independente. Os elementos de interação social (mensagens, tweets, recados, links,
etc) devem ser reparados no dia a dia da pesquisa. Devem ser consideradas três fronteiras
(espacial, temporal e relacional) e três esferas de influência (analítica, ética e pessoal) para a
construção do campo a ser pesquisado (KENDALL, 2009, p. 22). Ambas as fronteiras e as
esferas de influência vão ajudar a delimitar o recorte do objeto. As fronteiras espaciais
ajudarão num campo mais descritivo de um projeto.
Quando o pesquisador for a campo, deve entrar em contato com o grupo para
ambientação, e a partir daí manter um diário de campo com as anotações que serão utilizadas
para construir uma descrição e análise de seu objeto. No diário de campo devem ser feitos os
comentários de função emotiva (anotações subjetivas do pesquisador), empírica (para coleta
de dados), reflexiva e analítica (identificação de padrões e categorias). A netnografia não é
feita apenas da observação, mas também das trocas culturais e dos questionamentos aos
44
informantes. A etnografia, segundo as autoras, pode ser adaptada e combinada com diversos
outros métodos de pesquisa, como análises quantitativas e estatísticas, pesquisas de opinião,
análise de redes sociais, estudos de caso, análise de conversação, e até mesmo do uso de
games.
O grau de familiarização do pesquisador com as ferramentas digitais, suas facilidades
de dificuldades dentro do campo, são fatores que contribuem para a discussão e análise, e
ajudam a garantir a confiabilidade dos dados (AMARAL et al., 2011). Outra coisa importante
é a decisão do pesquisador de ser apenas observador anônimo ou agir como participante; e
isto varia da percepção do pesquisador em relação ao que é mais adequado a cada objeto que
vá pesquisar. Ambos têm seus aspectos positivos e negativos. Em ambos os casos, por estar
lidando com informações e conteúdos pessoais, é necessário respeitar os valores éticos e a
privacidade dos pesquisados em ocasião da divulgação dos resultados da pesquisa. “A
tecnologia disponível para o etnógrafo moderno aumenta sua capacidade de fazer trabalho de
campo, mas também corre o risco de congelar o instante com tanta clareza e (aparente)
conclusividade que o fluxo da ‘vida real’ não é mais capturado” (ANGROSINO, 2009, p.
123).
4.2 SONDAGEM
Neste capítulo será detalhada a etapa de sondagem. Antes que fosse determinado o
escopo de pesquisa da presente monografia, foi realizada uma etapa de sondagem acerca do
tema escolhido, que num primeiro momento eram os brechós online.
Nesta etapa de sondagem foram pesquisados alguns brechós online situados em sites,
blogs e perfis de redes sociais. Durante esta pesquisa, foi descoberto um grupo de trocas de
roupas no Facebook. Inicialmente, foi feita apenas a observação do funcionamento deste
grupo, mas após alguns dias de observação silenciosa, foi iniciado o processo de observação
participante do grupo, com a realização efetiva de trocas, estabelecendo relações sociais e de
amizade com as usuárias. Neste período, foram feitas anotações iniciais e o planejamento do
projeto de pesquisa.
Foi realizada ainda na fase exploratória uma pesquisa simples, em forma de
questionário. O objetivo dessa pesquisa inicial era conhecer o perfil geral dos usuários do
bazar de trocas, verificar se o tema possuía relevância para ser pesquisado, e sondar usuários
que pudessem compor a amostra da pesquisa posteriormente. Durante a realização desta
pesquisa inicial, também foram descobertos outros bazares de trocas, e alguns até mesmo de
45
vendas de peças usadas, principalmente dentro do Facebook. Em geral, as usuárias destes
outros bazares também faziam parte do bazar da revista Estilo, ou tinham o mesmo perfil, mas
começavam a segmentar em outros grupos. Por exemplo, criando grupos de trocas por região,
ou por numeração de calçados, como é o caso do “Bazar de Trocas Rio”, e do “Bazar de
Trocas e Vendas de Calçados do 37 ao 40”, respectivamente.
Diante da amplitude de campo e da relevância atual do tema a ser pesquisado, foi
possível concluir que o tema era digno de ser pesquisado. A partir desta primeira sondagem,
foi possível definir o escopo de pesquisa e a amostra.
4.3 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA
Visto que o universo dos brechós e bazares online é muito amplo, e que o tempo hábil
para a realização da pesquisa era limitado, tornou-se necessário fazer algumas escolhas quanto
à amostra que seria pesquisada. O primeiro recorte feito foi focar a pesquisa nos bazares de
trocas de roupas em redes sociais, por possuírem muitas especificidades interessantes, por
terem relação direta com o consumo colaborativo, e por se restringirem principalmente ao
público feminino. A partir deste recorte, foi definido que a pesquisa seria focada apenas nos
bazares do Facebook, por este disponibilizar ferramentas mais sociais (como as opções curtir
e compartilhar, e a própria ferramenta grupos, onde se situam os bazares) que enriquecem a
experiência dos usuários.
Dentro do universo dos bazares de trocas do Facebook, foi selecionado um grupo para
observação e realização do estudo de caso: o “Bazar de Trocas da ESTILO”, criado pela
revista de moda Estilo. Este grupo foi escolhido pela sua relevância, por possuir um número
significativo de usuários, por registrar atividade diária e constante, e consequentemente por
ter sido notado na mídia nacional, aparecendo em matérias de canais televisivos, jornais,
revistas e em sites de notícias.
Como comentado anteriormente, a pesquisa se dividiu em duas etapas (qualitativa e
quantitativa), e para cada etapa foram utilizadas algumas usuárias para compor a amostra. A
amostra do questionário (fase quantitativa) foi composta pelas usuárias que voluntariamente
se disponibilizaram para respondê-lo. No que diz respeito às usuárias entrevistadas na etapa
qualitativa, foram escolhidas usuárias que se mostraram ativas durante o período de coleta de
dados, e que concordaram em participar. A diversidade de perfis também fez parte do critério
de escolha: Mulheres de diferentes idades, estados civis, classes sociais e localidades;
Algumas das usuárias pesquisadas foram mulheres que faziam trocas nos grupos, mas
46
também vendiam e compravam peças de brechós online; Também haviam mulheres que
possuíam sites e blogs para comercialização de peças de brechó, mulheres que utilizavam
apenas as redes sociais, e também as que se faziam presentes em ambos os ambientes.
4.4 ETAPAS DE PESQUISA
Neste capítulo serão detalhados os procedimentos realizados nas etapas qualitativa e
quantitativa da pesquisa.
4.4.1 Observação participante
Foi realizada a observação participante da autora da presente monografia como usuária
dos bazares de trocas. Nesta etapa, a pesquisadora procurou, através da observação e da
participação ativo no Bazar de Trocas da Estilo, compreender como era o funcionamento do
grupo. Para isto também foi necessária a realização negociações e envio de trocas de roupas,
tanto pelos correios quanto presencialmente. A conversação e a interação com as usuárias foi
essencial para compreender a lógica de funcionamento do grupo, e como se dá a construção
de confiança entre as usuárias. Os resultados desta etapa estão descritos no capítulo 5.1 desta
monografia.
4.4.2 Mapeamento de uso da ferramenta Grupos
Para que fosse possível compreender as apropriações de uso que as usuárias faziam da
ferramenta grupos do Facebook para a realização dos bazares de trocas, foi feito o
mapeamento dos recursos e funcionalidades disponíveis nesta ferramenta. A partir daí, foi
observada a maneira como eram utilizados estes recursos, e os resultados encontrados foram
documentados. Os resultados desta etapa estão descritos no capítulo 5.2 desta monografia.
4.4.3 Identificação de categorias de postagens
Após a identificação dos elementos presentes em grupos do Facebook, e suas devidas
apropriações pelos usuários dos bazares de trocas, foi realizada a documentação das postagens
do Bazar de Trocas da Estilo, com intuito de categorizar essas postagens, a partir da
47
observação silenciosa das postagens contabilizadas durante uma semana39
. Os resultados
desta etapa estão descritos no capítulo 5.2 desta monografia.
4.4.4 Aplicação de questionário
Foi elaborado um questionário dividido em duas partes. A primeira delas, de caráter
objetivo, era referente a dados básicos de faixa etária, localização, entre outros. A segunda
parte possuía perguntas abertas sobre o uso dos bazares de troca. O questionário40
foi feito a
partir da ferramenta de formulários do Google Docs (ver instrumento de coleta no Apêndice 1
deste trabalho), e disponibilizado em um endereço público durante duas semanas, e obteve 68
respostas espontâneas. Neste período, a divulgação do formulário foi feita diariamente no
mural do Bazar de Trocas da Estilo. “As mulheres adoram enquetes e testes – e é por isto que
todas as revistas femininas os publicam com frequência e até os utilizam como parte de sua
pesquisa de audiência” (BARLETTA, 2003).
Na primeira etapa, eram pedidos os seguintes dados: Nome ou pseudônimo41
, gênero,
faixa etária, status de relacionamento42
, estado, cidade e faixa de renda.
Na segunda etapa, as perguntas abertas eram as seguintes:
Quando e como você começou a utilizar bazares de trocas na Internet?
Qual a frequência com que você utiliza os bazares de trocas na Internet?
Que tipo de bazares você faz parte? Pode citar alguns dos que você é mais ativo?
Além dos bazares de trocas no Facebook, você utiliza blogs, sites ou outras
ferramentas para realizar trocas? Se sim, quais?
Você já sofreu algum tipo de problema (calote, prejuízo, depepção) com uma troca?
Se sim, como procedeu na situação?
Que tipo de mudanças os bazares trouxeram para a sua vida?
Na segunda etapa ainda haviam duas perguntas objetivas de múltipla escolha, que
eram as seguintes:
39
Período de coleta: de terça 8/11/2011 às 12h 00min até terça 15/11/2011 às 12h 00min 40
Questionário disponibilizado entre 15 e 29 de novembro de 2011, no seguinte link:
<https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?hl=pt_BR&formkey=dEdPRDlZMmZXS3VQejdtSUNDNFEt
OXc6MQ#gid=0>. 41
Neste campo, foi pedido um nome para identificação. Foi sugerido um apelido ou pseudônimo que fosse
utilizado nos bazares de trocas, ou o nome e as iniciais do sobrenome, ou ainda informar um nome ou apelido
qualquer à escolha do usuário. O nome escolhido neste campo seria utilizado para eventuais citações das
respostas no trabalho acadêmico. 42
Neste campo, foi pedido aos informantes que escolhessem a opção que fosse mais compatível com seu status
real de relacionamento atual (não necessariamente o que está informado no Facebook). Como a pesquisa está
baseada em redes sociais, definiu-se que o status de relacionamento seria mais relevante que o estado civil.
48
Sobre a sua atividade nos bazares, você costuma... (múltipla escolha)
o Trocar peças
o Comprar peças
o Vender peças
o Emprestar peças
o Alugar peças
o Apenas observar
Que tipo de itens você costuma negociar nos bazares? (múltipla escolha)
o Peças de vestuário
o Calçados
o Acessórios de moda
o Maquiagens, perfumaria e cosméticos
o Lingerie (roupas de baixo e roupas de dormir)
o Eletrônicos (iPod, mp3 player, câmera digital, etc)
o Celulares / Smartphones
o Computadores / notebooks / laptops / tablets
o Eletroportáteis (chapinha, baby liss, escova modeladora, depilador, etc)
o Itens de decoração (casa)
o Livros, CDs e DVDs
o Outro: (campo para digitação)
Por fim, foi disponibilizado um campo para que o informante fizesse comentários, e
outro para que deixasse um e-mail de contato, para que posteriormente fosse possível contatar
os informantes, até mesmo para dar um feedback sobre a pesquisa. Ambos os campos eram
facultativos.
Os resultados desta etapa estão descritos no capítulo 5.4 desta monografia.
4.4.5 Entrevista em profundidade
Após a realização das etapas anteriores, verificou-se a falta de informações mais
pertinentes a respeito de como as usuárias se sentiam em relação ao uso dos bazares, e sobre
as mudanças que este uso tinha trazido pra vida delas. Para que fosse possível obter estas
informações, foi feita a pesquisa qualitativa, a partir da realização de entrevistas em
profundidade com algumas usuárias.
49
Novas técnicas de pesquisa reconhecem que, quando as mulheres
“conversam entre si”, a dinâmica é muito diferente da de uma conversa entre
homens. As mulheres se tornam mais comunicativas quando interagem
livremente, e quando têm permissão de falar em termos variados, num estilo
feminino e amigável. (BARLETTA, 2003, p. 173)
Esta etapa foi fundamental para compreender a importância dos bazares na vida das
usuárias e o impacto que este uso ocasionou na vida e no comportamento dessas mulheres. A
entrevista foi feita com cinco usuárias, algumas de modo presencial, com uso de gravador, e
outras a partir da ferramenta de chat do Facebook. As usuárias escolhidas possuíam diferentes
perfis, tanto em relação a faixa etária, faixa de renda, estado civil e localidade.
A entrevista foi dividida em dois blocos de perguntas por tema. Dentro de cada bloco
havia uma lista de perguntas que seriam utilizadas como baliza para a entrevista. Outras
perguntas foram acrescentadas de acordo com o andamento de cada entrevista.
Bloco 01: Motivações da utilização dos bazares
O primeiro bloco de perguntas foi relacionado às motivações das usuárias para utilizar
os bazares de trocas. Para guiar este bloco, foram utilizadas as seguintes questões:
(A) Como e por que você começou a utilizar os bazares de trocas?
(B) Que motivos fizeram com que você continuasse participando?
(C) O que os bazares de trocas significam para você hoje?
Bloco 02: Impacto do uso na vida e na rotina
O segundo bloco de perguntas foi relacionado ao impacto que o uso dos bazares
causou na vida e na rotina das usuárias. Para guiar este bloco, foram utilizadas as seguintes
questões:
(A) O que mudou na sua vida e na sua rotina depois que começou a utilizar os bazares?
(B) Que pontos positivos e negativos você poderia apontar sobre o seu uso dos bazares?
(C) Seu modo de consumir itens de vestuário mudou após a utilização dos bazares?
4.5 QUADRO RESUMO
O infográfico abaixo apresenta o quadro resumo da metodologia utilizada nesta
pesquisa, de modo a facilitar o entendimento deste capítulo.
50
Figura 3: Quadro resumo da metodologia
51
5 RESULTADOS OBTIDOS
Este capítulo apresenta os resultados obtidos a partir dos procedimentos
metodológicos descritos no capítulo anterior, bem como a análise destes resultados com base
na fundamentação teórica acerca de comércio, consumo, consumo colaborativo (capítulo 2) e
redes sociais (capítulo 3).
5.1 LÓGICA DE FUNCIONAMENTO DO BAZAR
Conforme visto anteriormente, uma rede social é uma metáfora que pode ser usada
para o estudo dos padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões de seus atores
(RECUERO, 2009). Uma rede social é composta de atores e conexões, onde atores são os nós
da rede (pessoas, grupos, instituições) e as conexões são as interações e laços sociais entre
eles. Sites de redes sociais são ferramentas que servem de apoio para as interações de uma
rede de pessoas. Os atores são responsáveis por moldar esta rede a partir das interações e da
construção de laços sociais. Um perfil no Facebook, por exemplo, não é um ator social, mas
uma representação desse ator. Uma rede social só existe quando há conexões entre os nós,
gerando interação. Nas ferramentas de redes sociais na Internet, esta interação só pode ser
percebida graças aos rastros deixados nas redes.
Como em toda rede social, podemos observar no Bazar de Trocas da Estilo os aspectos
básicos que se pressupõe de uma rede, além dos atores e das conexões. Também podemos
identificar a cooperação, os conflitos, a competição, ruptura, agregação e adaptação
(RECUERO, 2009). As usuárias cooperam para criar e manter as regras do bazar, para
informar as moderadoras, para atualizar a “Lista Branca” das pessoas confiáveis e a “Lista
Negra” de não confiáveis, para resolver conflitos nas trocas e até mesmo para avisar a outras
usuárias que encontraram certas peças que elas estavam procurando. Também há
manifestações solidárias quando alguma das usuárias se encontra com dificuldades, dúvidas
ou problemas pessoais, por exemplo.
Como é uma rede baseada em confiança, as usuárias dependem da confiabilidade
umas das outras. Mas muitas vezes ocorrem conflitos quando uma troca não é enviada por
uma das partes, ou quando são enviadas peças sem condições de uso, por exemplo. Também
há geração de conflitos em relação às vendas no bazar, já que algumas usuárias querem
comprar e vender peças, enquanto outras repudiam esta prática, alegando que o “bazar de
trocas” é feito só para trocas. Também foram observados casos de usuárias que se
52
incomodavam com manifestações de amizade e postagens que não fossem diretamente
relacionadas a peças para trocas no bazar, o que gerava conflito com as pessoas que nutriam
estas práticas.
Foi possível observar também que há certas peças que causam “disputas” dentro da
comunidade quando alguma usuária posta. Produtos de marcas boas ou marcas “queridinhas”
como Melissa, Farm e Victoria’s Secret, ou produtos visados em determinada época, como
vestidos de renda no verão, ou botas no inverno, por exemplo, motivam a competição para ver
quem vai levar a peça.
Por causa de conflitos existentes entre usuárias do Bazar de Trocas da ESTILO entre
as usuárias, onde umas se incomodavam com manifestações de amizade e postagens que não
fossem diretamente relacionadas a peças para trocas no bazar, enquanto outras apoiavam e
consideravam saudável este comportamento no grupo. O conflito acabou por gerar uma
ruptura, em que um pequeno grupo de usuárias criou um bazar onde pudessem se expressar
livremente, e também se defender das usuárias “mal intencionadas”, o Trocas Entre Amigas.
Também houve uma ruptura no grupo no que diz respeito às vendas de produtos. As usuárias
que queriam comprar e vender seus produtos acabaram criando vários outros grupos no
Facebook destinado a vendas, já que o comércio era “proibido” nos grupos de trocas. Como
exemplo é possível citar o grupo “e-LOka Trocas e Vendas43
”.
Como comentado anteriormente, no Bazar de Trocas da ESTILO havia um grupo de
usuárias que tiveram o poder de agregar um número significativo de pessoas e romperam com
o grupo, para dar origem a outro grupo semelhante, porém, com novas regras de operação.
Como clusters deste grupo, é possível citar Desiree Guedes e Thainá Freitas, por exemplo.
O grupo Trocas Entre Amigas44
foi fundado em março de 2011 por um grupo de
meninas que pertenciam ao “Bazar de Trocas da ESTILO” que estavam descontentes o grupo,
por causa de “barracos”, que segundo as fundadoras do novo grupo, aconteciam no grupo da
Estilo. De acordo com elas, estes desentendimentos ocorriam por causa de calotes nas trocas
(pessoas que não enviavam as trocas combinadas, ou enviavam peças sem condições de uso),
pelo uso da rede de trocas para divulgação de venda de produtos e por causa da “opressão”
(por parte das moderadoras do grupo, e de algumas usuárias) às relações sociais e
manifestações de amizade a partir da criação de tópicos que não fossem relacionados
diretamente à divulgação de peças para troca.
43
Disponível em: <http://www.facebook.com/groups/203793372988309/>. Acesso em: 5 out. 2011. 44
Disponível em: <http://www.facebook.com/groups/trocasentreamigas/>. Acesso em: 5 out. 2011.
53
Quando foi solicitada a colaboração das usuárias com dados sobre a criação do grupo,
uma delas respondeu o seguinte:
“A fundadora foi a Thainá Souza e as motivações foram os barracos, desentendimentos e
afins da Estilo... queríamos um ambiente saudável de lazer e onde pudéssemos ficar mais
atentas aos golpes, e onde poderíamos ajudar mais...” - Desiree Guedes.
Também houve segmentações do grupo que não ocorreram por causa de conflitos, mas
pelo que podemos considerar como adaptação, a partir da criação de outros grupos
semelhantes de trocas (em alguns casos, de vendas também) por grupos de interesse. Podemos
citar grupos segmentados por localidades, como o “Bazar de Trocas Porto Alegre45
”; grupos
relacionados a marcas, como o “Desapegos Melissa46
”; e até mesmo grupos por tipo e
tamanho de produto, como é o caso do “Bazar de Trocas e Vendas Calçados do 37 ao 40!47
”.
5.2 APROPRIAÇÕES DA FERRAMENTA GRUPOS
As usuárias do Bazar de Trocas da Estilo, bem como de outros bazares semelhantes, se
apropriaram da ferramenta de grupos do Facebook e se auto-organizaram para dar forma aos
bazares de trocas. Abaixo, é feita uma relação das ferramentas disponíveis nos grupos do
Facebook, e como elas são utilizadas48
:
5.2.1 Mural
O mural é a página que exibe os tópicos postados pelos usuários do grupo, em ordem
cronológica decrescente. As postagens atualmente podem ser de três tipos:
45
Disponível em: <http://www.facebook.com/groups/104208902994300/>. Acesso em: 6 out. 2011. 46
Disponível em: <http://www.facebook.com/groups/132502760163890/>. Acesso em: 6 out. 2011. 47
Disponível em: <http://www.facebook.com/groups/202944283070067/>. Acesso em: 6 out. 2011. 48
A ferramenta Grupos do Facebook (bem como todas as outras ferramentas desta rede social) vem sofrendo
alterações freqüentes recentemente, então a identificação de recursos está sujeita ao período de observação
(outubro de 2011).
54
Figura 4: Cabeçalho do Bazar de Trocas da Estilo, com o mural
1. Escrever mensagem: É a opção padrão, em geral apenas para publicação de
mensagens em formato texto. Quando há um link adicionado à postagem, ele é convertido
para um formato padrão de imagem, título, teaser (um pequeno pedaço do conteúdo) e fonte
(site/url). É a opção mais utilizada nos bazares de trocas, para conversação e até mesmo para
divulgação de peças e álbuns, que são postados em geral por link.
2. Adicionar foto/vídeo: Este modelo permite três opções: Enviar foto/vídeo (arquivo do
seu computador), usar webcam (tirar foto ou gravar vídeo na hora), criar um álbum de fotos
(criar um álbum dentro do grupo, e adicionar várias fotos). As fotos, os vídeos e os álbuns
adicionados ficam dentro do grupo, todos na seção “fotos”. Praticamente não são adicionados
vídeos nos bazares de trocas, e as fotos são de certa maneira poucas, já que em geral as
usuárias utilizam os álbuns de fotos de seus perfis pessoais para postar as fotos das peças, e
não o mural do grupo. Todavia, é possível encontrar fotos de peças para troca postadas a
partir desta ferramenta.
3. Perguntar: Permite a criação de enquetes ou perguntas com respostas que podem ser
pré-determinadas ou não. É possível adicionar opções de resposta, e há a opção de liberar (ou
não) que qualquer usuário do grupo possa adicionar uma resposta. Esta opção é raramente
utilizada pelas usuárias do bazar.
Para todas as três modalidades de postagem, há a opção de adicionar pessoas que
estejam com você no momento da postagem, e adicionar o local onde você está manualmente
ou via geolocalização. Ambos os recursos não são utilizados usualmente nos bazares de
trocas.
5.2.2 Publicações do mural
Todas as publicações do mural são tópicos que podem ser “curtidos”, comentados e
seguidos por outros usuários. Ao comentar ou curtir uma publicação, o usuário
55
automaticamente está seguindo esta publicação, mas pode deixar de seguir a qualquer
momento. Também é possível seguir uma publicação sem ter curtido ou feito um comentário
nela. Quando o usuário segue uma publicação, ele passa a receber notificações de atualização
cada vez que outro usuário comentar ou curtir a postagem. As postagens e suas devidas
categorizações serão descritas mais profundamente no capítulo 5.3.
5.2.3 Membros
Na seção de membros49
há uma listagem dos membros do grupo, com nome, foto e
alguma informação adicional (que pode ser cidade de origem ou profissão, por exemplo).
Além disso, se o membro listado for um amigo do usuário, há o botão “amigos”, com opção
de categorizá-lo nas listas de amigos ou desfazer amizade; Se o membro não for um amigo, há
a opção de adicionar como amigo; Caso este membro já tenha feito uma solicitação de
amizade para o usuário, há um botão para responder à solicitação de amizade (confirmar ou
excluir solicitação); E caso o usuário já tenha solicitado amizade de algum membro mas não
tenha sido aprovado, há a informação “aguardando aprovação”.
5.2.4 Fotos
Na seção de fotos50
estão disponíveis todas as fotos e os vídeos que foram adicionados
ao grupo através do mural. Também há a opção de criar álbuns públicos de fotos, onde
qualquer membro pode adicionar fotos ou vídeos, “curtir” e comentar os álbuns ou as
fotos/vídeos individualmente.
5.2.5 Documentos
A seção de documentos51
possui uma listagem dos documentos do grupo, que são
visíveis para todos os usuários. Os documentos também podem ser editados por qualquer
membro do grupo, desde que o membro criador do documento permita esta opção nas
configurações de criação do documento.
49
Disponível em: <http://www.facebook.com/groups/128866630515607/members/>. 50
Disponível em: <http://www.facebook.com/groups/128866630515607/photos/>. 51
Disponível em: <http://www.facebook.com/groups/128866630515607/docs/>.
56
Os principais documentos são o documento de regras de uso da comunidade, a “Lista
Branca” (de usuárias confiáveis) e a “Lista Negra” (de usuárias que não se mostraram
confiáveis), que são constantemente editados, onde os usuários adicionam, respectivamente,
nomes de pessoas com quem realizaram trocas boas e ruins, além de comentários eventuais
sobre o motivo da adição de um membro à respectiva lista. Há documentos criados com o
propósito de esclarecer casos de conflitos na comunidade, e também há documentos criados
para divulgação de bazares presenciais e outros eventos.
5.3 CATEGORIAS DE POSTAGENS
Durante o período de coleta foram contabilizadas 1905 postagens únicas, sem
considerar o número de comentários, que variava de 0 a 200 por postagem. Destas postagens,
foi possível identificar quatro tipos:
1. Postagens de divulgação de peças para troca
2. Postagens de divulgação de peças para vendas
3. Postagens com mensagens de caráter pessoal
4. Outros tipos de postagens
Na tabela abaixo são exibidos os resultados encontrados durante o período de coleta:
Tabela 1 – Categorias de postagens.
Tipo Categoria N°
Divulgação
de trocas
Álbum ou peça (link do álbum, com foto, formato Facebook) 1146
Link para álbum (apenas link, sem formato Facebook) 129
Texto descritivo sobre peças/álbum 43
Álbum ou peça de desejo (link, foto, etc) 10
Pergunta sobre peças de desejo (texto) 178
Divulgação
de vendas
Álbum ou peça (link do álbum, com foto, formato Facebook) 29
Texto descritivo sobre peças 3
Mensagens
pessoais
Sobre encontros presenciais 26
Reclamações sobre trocas ou vendas 28
Agradecimentos e recomendações 43
Fotos (relacionado a moda) 5
Divulgação de código de rastreamento 10
Mensagens para as outras usuárias 110
Outras
postagens
Postagem sem conteúdo 89
Divulgação de mensagens de correntes e utilidade pública 8
57
Compartilhamento de links ou informações 12
Pedido de ajuda em assuntos específicos 5
Piadas, bobagens, etc. 7
Frases, pensamentos, etc. 7
Divulgação de sites e eventos 17
TOTAL 1905
5.3.1 Divulgação de Trocas
A grande maioria das postagens, 1146 das 1905 postagens, era referente a divulgação
de álbuns ou peças para troca, em formato de link do Facebook, como pode ser observado nas
figuras 5 e 6. com foto, título e descrição. Alguns álbuns eram de “Trocas e Vendas”, mas
estes também foram contabilizados como álbuns de troca.
Figura 5: Divulgação de álbum de trocas
Figura 6: Divulgação de peça para troca
58
Foram registradas 129 postagens de divulgação de peças ou álbuns para troca, que por
algum motivo não apareciam no formado de Facebook, mantendo apenas o link, como visto
na figura 7. Este fato pode ser devido a permissões de acesso ao álbum ou foto do usuário, ou
a erros da ferramenta durante a postagem.
Figura 7: Divulgação de álbuns e peças para troca (apenas link)
Também foram encontradas 43 postagens com divulgação apenas textual de peças
para troca, sem links ou imagens, como exemplificado na figura 8. Com relação a listas de
desejos, foram feitas 10 publicações de álbuns desse tipo, e 178 postagens de divulgação
textual de peças de desejo, conforme a figura 9.
Figura 8: Divulgação de álbum de desejos (wishlist)
Figura 9: Textos de procura por peças de desejo
5.3.2 Divulgação de Vendas
Apesar de se tratar de um bazar de trocas, foi possível identificar postagens de vendas
(como pode ser visto nas figuras 10, 11 e 12) que em geral eram repreendidas pelas outras
59
usuárias, que perguntavam se a pessoa também fazia trocas das peças divulgadas, e caso
contrario informavam que a prática de vendas não era bem aceita no grupo. Em alguns casos
de insistência ou conflito acabavam por pedir para que as moderadoras retirarem a usuária que
estivesse vendendo dentro do grupo.
Figura 10: Divulgação de peça para venda, e indicação de grupos de venda
Figura 11: Divulgação de álbum de vendas, e indicação da proibição de vendas
60
Figura 12: Publicação de álbum de vendas
5.3.3 Mensagens pessoais
Também foram encontradas muitas mensagens pessoais, que eram conversações entre
as usuárias, sobre assuntos independentes da divulgação de álbuns ou peças para trocas.
Foram encontradas 26 postagens falando sobre encontros presenciais de usuárias, como no
exemplo da figura 13. Algumas dessas postagens continham fotos destes encontros, como
pode ser visto na figura 14. Os encontros presenciais eram tanto encontros casuais entre duas
usuárias para trocas de peças, como também encontros regionais organizados com várias
usuárias.
Figura 13: Mensagem de usuária indo para encontro presencial regional de usuárias
61
Figura 14: Postagem de foto de encontro presencial, com conversação.
Outro tipo de mensagem encontrada foram as de reclamações sobre trocas, como nas
figuras 15, 16 e 17; ao todo foram 28 postagens. As usuárias reclamavam de trocas que não
haviam sido enviadas ou que haviam chegado sem condições de uso, fraudes, desonestidade,
problemas com o Facebook, entre outros.
Figura 15: Reclamação sobre fraudes
62
Figura 16: Reclamação sobre o Facebook
Figura 17: Reclamação sobre falta de honestidade
Porém, além das reclamações, foram feitas 43 postagens com agradecimentos de
trocas e recomendações de usuárias, conforme as figuras 18 e 19. Nesta contagem estão as
63
postagens de atualização da Lista Branca, que apareciam no mural juntamente com as demais
postagens.
Figura 18: Mensagem de agradecimento de troca recebida
Figura 19: mensagem de recomendação de usuárias
Foram feitas 5 postagens com imagens relacionadas a moda (imagens retiradas de
revistas por exemplo) e 10 com divulgação de código de rastreamento (figura 20) e
comprovantes de envio (figura 21).
Figura 20: Divulgação de código de rastreamento
64
Figura 21: Comprovante de envio
Foram encontradas 110 postagens com mensagens pessoais para outras usuárias, como
postagens de bom dia / boa tarde / boa noite, comentários sobre coisas do dia-a-dia, pedidos
de ajuda para iniciar no bazar, desabafos, convite para organização de bazar presencial,
perguntas sobre customização de roupas, comentários sobre o tempo, postagens perguntando
quem está online, perguntando código de rastreio, pedindo desculpas por atraso de postagem,
entre outras. Elas foram agrupadas por não haver assunto em comum suficientemente
relevante, conforme exemplos das figuras 22 a 26.
Figura 22: Postagem de bom dia
65
Figura 23: Postagem sobre o grupo
Figura 24: Desabafo sobre troca
Figura 25: Pedido de ajuda para fazer parte do grupo
66
Figura 26: Comentários sobre vício de compras (sapatos)
5.3.4 Outras postagens
Por fim, também foram encontrados outros tipos de postagens, como as 89 postagens
sem conteúdo, como no exemplo da figura 27 (que podem ser devido a erros do Facebook, ou
devido às configurações de privacidade da usuária que postou).
Figura 27: Postagem sem conteúdo
Outro tipo encontrado foram as 8 postagens de correntes e de itens utilidade pública, e
as 12 postagens com compartilhamento de links e informações diversas, como notícias, por
exemplo. Na figura 28, vemos uma postagem de uma usuária com informações sobre um
determinado problema de saúde, o qual foi comentado por usuárias que conheciam o
problema. Já na figura 29, vemos o compartilhamento de um link promocional.
67
Figura 28: Postagem com informações sobre problemas de saúde
Figura 29: Postagem com divulgação de link de promoção
Também foram registradas 5 mensagens com pedido de ajuda para as usuárias do
bazar que tivessem algum tipo de conhecimento específico, como inglês (ver figura 30), arte,
direito, enfermagem, etc.
68
Figura 30: Pedido de ajuda com inglês
O mural do grupo foi usado em 17 postagens para divulgação de eventos. Também
foram encontradas 7 postagens com citações de frases reflexivas e pensamentos (conforme
figura 31), e 7 com piadas, brincadeiras e conteúdo humorístico.
Figura 31: Postagem de frase pronta, pensamento
5.4 RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO
Após o encerramento do período para respostas, foram contabilizadas 68 respostas, a
partir das quais foi possível traçar um perfil demográfico dos usuários do bazar, com as
seguintes constatações:
69
5.4.1 Gênero
Figura 32: Gráfico de resultados do questionário no item Gênero
De acordo com a figura 32, assim como pôde ser observado no grupo, o gênero dos
informantes foi exclusivamente feminino, somando 100%.
5.4.2 Faixa etária
Figura 33: Gráfico de resultados do questionário no item Faixa etária
De acordo com o gráfico da figura 33, a faixa etária encontrada foi de 15 a 60 anos,
com maior concentração entre 20 e 30 anos (41%), e entre 30 e 40 anos (35%); Em seguida,
pessoas entre 40 e 60 anos (15%), e em menor número, pessoas entre 15 e 20 anos (6%) e
entre 50 e 60 anos (3%).
70
5.4.3 Status de relacionamento
Figura 34: Gráfico de resultados do questionário no item Status de Relacionamento
Em status de relacionamento (as mesmas opções disponibilizadas nas configurações
de usuário do Facebook), como pode ser visto no gráfico da figura 34, a maioria dos
informantes se declarou “Casado(a)” (49%), seguido por “Em um relacionamento sério”
(21%), ”Solteiro(a)” (15%) e “Noivo(a)” (7%). “Amizade Colorida” não foi marcada por
nenhum dos informantes. As outras opções somam 8%.
5.4.4 Faixa de renda aproximada
Figura 35: Gráfico de resultados do questionário no item Faixa de renda aproximada
A faixa de renda (per capita) da maioria dos informantes, de acordo com o gráfico da
figura 35, ficou entre R$1.000 a R$3.000 (47%), seguida pela faixa entre R$3.000 a R$5.000
71
(21%), e entre R$500 a R$1.000 (19%). Em menor número estão as faixas acima de R$5.000
(10%) e até R$500 (3%).
5.4.5 Localização geográfica
Figura 36: Gráfico de resultados do questionário no item Localização
No item Estado (UF), de acordo com o gráfico da figura 36, foi possível perceber que
a grande concentração de usuários está entre São Paulo (41%) e Rio de Janeiro (18%), como
72
foi possível perceber facilmente durante a observação. Depois, aparece o Rio Grande do Sul
(9%), seguido do Paraná (6%) e Minas Gerais (6%). Acre, Bahia, Distrito Federal, Goiás,
Maranhão, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina variam entre 1% e 4%, somando 18%.
5.4.6 Atividades realizadas nos bazares
Figura 37: Gráfico de resultados do questionário no item
Quanto à atividade dos usuários nos bazares, de acordo com o gráfico da figura 37 foi
possível identificar que a grande maioria costuma trocar peças (94%), e também há muitas
pessoas que costumam comprar (60%) e vender peças (46%). Também há um número
considerável que declarou apenas observar os bazares (16%) e um pequeno número que
declarou emprestar peças pelos bazares (3%).
5.4.7 Tipo de itens negociados
Figura 38: Gráfico de resultados do questionário no item Tipo de itens negociadas
73
Conforme o gráfico da figura 38, com relação aos itens que costumam negociar nos
bazares, a grande maioria declarou negociar peças de vestuário (97%) e calçados (96%). Há
também um grande número de pessoas que declararam negociar acessórios de moda (79%),
maquiagens, perfumaria e cosméticos (56%). Em menor número foram considerados livros,
CDs e DVDs (32%), eletrônicos (24%), celulares / smartphones (22%), lingerie (19%), itens
de decoração (19%), eletroportáteis (18%), computadores / notebooks / laptops / tablets (9%)
e outros (4%).
5.4.8 Perguntas abertas
Com as questões abertas, de caráter qualitativo, as respostas das informantes ajudaram
a construir um melhor entendimento sobre a lógica de funcionamento, e sobre o perfil das
usuárias dos bazares em relação a vários aspectos.
Observação: Os nomes exibidos nas citações abaixo são pseudônimos utilizados nas
respostas do formulário de pesquisa, cujo uso foi autorizado pelas informantes.
A maioria das usuárias afirma ter conhecido os bazares de trocas a partir de links
patrocinados do Facebook e indicação de amigas que já utilizavam. A maioria começou a
participar dos bazares a partir do Bazar de Trocas da ESTILO, ainda no início deste ano, mas
muitas declararam participar de outros tipos de bazares (como mercado livre e comunidades
no Orkut) e utilizar brechós online já desde 2010.
74
“Iniciei no Facebook, ao ver uma amiga fazendo trocas, comecei a adicionar os bazares,
fiz o meu também e as trocas começaram” (15/11/2011, por Juli)
“Por volta de abril de 2011 conheci o bazar de trocas da Estilo no site da revista e desde
então faço trocas frequentes. Já tenho meu bazar/brechó há mais de 2 anos e faço trocas
tb desde que abri” (16/11/2011, por Garimpo)
“A partir de fevereiro de 2011, depois de ver um anúncio do bazar da Estilo. Hoje
participo e administro uns 6 bazares virtuais, além de participar de encontro de brechós
pessoalmente” (18/11/2011, por Ana's Bazzar)
Quanto a frequência de uso, grande parte das informantes afirmou utilizar os bazares
de trocas diariamente, várias vezes por dia. Muitas afirmaram passar em média 2 horas
conectadas, e algumas chegaram a afirmar que passam mais de 3 a 4 horas, fazendo trocas e
observando os bazares. Outras afirmaram fazer um uso mais moderado, algumas vezes na
semana, ou ainda de modo esporádico.
“Desde que entrei tenho ficado conectada quase o dia todo... às vezes propondo e
fazendo trocas, outras vezes somente para passar o tempo” (16/11/11, por Karen Kiss)
“Todos os dias...hahahaha é viciante, atualizo a página toda hora, mesmo se estiver
trabalhando” (22/11/2011, por Cici troquinhas)
“No inicio eu dediquei muito tempo para o bazar, mas agora faço trocas eventualmente”
(16/11/2011, por Cáthia Lavor)
Quanto à realização de vendas nos bazares (que é um tema polêmico entre as
usuárias), muitas se mostraram favoráveis, e muitas afirmaram apoiar quando a venda é
realizada em bazares de vendas (e não nos bazares de trocas). Porém, a maioria declararou
não gostar da prática dentro dos bazares de trocas, por causar decepções na hora de negociar
um produto propondo troca, e descobrir que a outra parte aceita apenas venda. Outra
reclamação é com relação aos preços das peças nestes bazares de vendas, que muitas vezes
são superestimados.
“Acho que os bazares de vendas são válidos. Podemos comprar produtos que não
encontramos na nossa cidade e, às vezes, com preços mais justos do que no mercado
tradicional” (15/11/2011, por Lauren)
“Não participo de nenhum, pois não me inspiram confiança” (16/11/2011, por Sirlei)
“Discordo, pois você se cadastra num bazar de trocas é para trocar e não para vender. A
pessoa vai até o perfil de outra e só encontra coisas para venda aí é injusto”
(16/11/2011, por Bruna e Paulo Deretti)
75
“Acho que bazar de trocas, e é exclusivamente para trocas, por isso que existem os
bazares de vendas, acho que não é legal misturar as estações, pq acaba que muita gente
se camufla dizendo que troca, e no final só quer vender!” (16/11/2011, por Kelly Sousa)
“Acho os bazares de vendas interessantes quando vc acha produtos com preços
razoáveis e as vezes acho coisas que me servem que não acho nas lojas e em ótimo
estado!” (27/11/2011, por Fátima Bispo Bernardes)
A maioria das informantes disse não utilizar brechós online em blogs e outras
ferramentas além do Facebook, mas algumas afirmaram utilizar o Flickr, Orkut e blogs para
comprar, trocar e vender peças.
Quanto aos problemas com os bazares, as respostas foram divididas. Parte das
informantes disse nunca ter tido problemas, mas outra parte alegou já ter sofrido algum tipo
de calote, prejuízo ou decepção. Muitas delas até mesmo narraram os casos na resposta.
Porém, mesmo para as que tiveram problemas, estes foram casos isolados na utilização dos
bazares.
“Graças a Deus não, já tive casos de não servir, mas não foi um problema, pois a peça
estava em perfeita ordem e foi tranqüilo para trocá-la com outra pessoa” (16/11/2011,
por Kelly Sousa)
“Já sofri alguns problemas desses, algumas trocas vieram em mau estado, outras não
eram como descritas nas fotos, mas acho que esse é um risco que assumimos num bazar
como esse onde as negociações são feitas via Internet e não se pode olhar o produto
pessoalmente. Na maioria das vezes, não tomei atitude nenhuma, pois acho muito
desgastante ficar me aborrecendo por coisas que nem uso e que se não fosse pelo bazar
acabariam doadas. Encaro como uma doação mesmo. Apenas uma vez pedi para
destrocar e a menina concordou prontamente, sendo assim ficou só entre nós, nem
comentei nos bazares” (17/11/2011, por Ana Cristina)
Por fim, quanto às mudanças que os bazares de trocas representaram na vida destas
pessoas, as respostas foram muito variadas. Muitas disseram ter o bazar como um hobby
prazeroso e divertido, a maioria afirmou ter feito novas amizades e passarem a ser mais
vaidosas, mas também muitas reclamaram de passar muito tempo em frente ao computador, e
também de ficarem mais consumistas. Algumas reclamaram de gastar muito com frete, mas
muitas afirmaram ter encontrado uma forma de economizar e renovar o guarda-roupa de
maneira barata.
76
“Fiquei mais consumista...kkkkkkk – negativo. Renovei o guarda-roupa, fiquei mais
vaidosa – positivo. Fiz mais amizades – positivo. Passei a ficar muito tempo na net –
negativo” (16/11/2011, por Isabella)
“Conheci muitas pessoas legais no bazar da Estilo, já encontrei algumas pessoalmente e
fiz ótimas amizades. Fiz ótimas trocas tb. O lado negativo é o vício de ficar horas online”
(16/11/2011, por Garimpo)
“Despertei um novo olhar sobre as minhas roupas que já estavam "aposentadas" dentro
do armário. Comecei a fazer um uso mais efetivo de acessórios (descobri que o cinto é
uma arma poderosíssima para compor um visual). Gostei dos relacionamentos de
"amizade" que criei no bazar” (16/11/2011, por Karen de Andrade Gaúcha)
5.5 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS
Apesar das questões abertas do questionário terem ajudado a compor um
conhecimento acerca das usuárias dos bazares de trocas, se fez necessário o uso de entrevistas
em profundidade para que fosse possível obter informações com mais qualidade sobre o uso
dos bazares.
Para obter estas informações, foram realizadas entrevistas em profundidade com cinco
usuárias. As entrevistas foram feitas com dois blocos temáticos: (1) as motivações do uso dos
bazares de trocas e (2) o impacto deste uso na vida das usuárias. A metodologia utilizada para
as entrevistas encontra-se no capítulo 4.4.2. desta monografia, e as entrevistas podem ser lidas
na íntegra do Apêndice 2 ao Apêndice 6.
Abaixo, um quadro com o perfil das usuárias entrevistadas:
Tabela 2 – Perfil das usuárias entrevistadas. N º Usuária Idade Estado Civil Profissão Escolaridade Cidade/Estado
01 Trocar e
Renovar
27 Casada Bancária Superior
(cursando)
São Paulo/SP
02 Baú da
Deinha
31 Solteira “Bazarzeira” Técnica em
contabilidade
Vila Velha/ES
03 Liége
Desapegos
28 União
estável
Captadora de
recursos
Pós graduada
/ Socióloga
São Leopoldo/RS
04 Jo Sts 32 Solteira Advogada Superior Osasco/SP
05 KlicBazar
Marilia
27 Solteira Consultora Superior
(cursando)
São Leopoldo/RS
5.5.1 Motivações de uso dos bazares
77
Com o primeiro bloco de perguntas, foi possível identificar as motivações que fizeram
com que as usuárias entrevistadas começassem a utilizar os bazares de trocas e se
continuassem a utilizá-lo.
As entrevistadas ficaram sabendo dos bazares de trocas a partir de meios diferentes.
Uma descobriu por acaso, outra a partir de uma matéria em um telejornal, mas o principal
meio de divulgação e de propagação dos bazares de trocas parece ser a indicação de amigos
que já utilizam ou que conhecem alguém que já utiliza. Porém, o principal fator que
impulsionou as usuárias a entrarem nos bazares foi a curiosidade que estes grupos
despertaram.
Utilizar as roupas boas que estão paradas no guarda-roupas como moeda para adquirir
outros produtos foi a novidade que fez despertar esta curiosidade, e as pessoas parecem estar
cada vez mais abertas para este tipo de prática de consumo colaborativo, que vai contra o
modelo tradicional de consumo.
Após a curiosidade inicial, os motivos que mantiveram as usuárias nos bazares de
trocas foram principalmente as boas trocas realizadas e o relacionamento de amizade criado
com as outras usuárias, fator que é muito valorizado.
“As trocas bem sucedidas e as amizades que se criam. Dá para se divertir. Renovei meu
guarda roupa; estava começando um trabalho novo e busquei roupas mais sociais, e
consegui! Sabe que eu era muito apegada nas coisas; quando nos mudamos aqui para o
apartamento, que é bem pequeninho, tivemos que nos desfazer de muitas coisas, e foi um
exercício ótimo. Parece que agora tô continuando o exercício. Faz bem.“ (Liege
Desapegos)
“Eu achei muito interessante a ideia de poder trocar coisas que para mim não são tão
uteis por coisas que eu poderia utilizar e fazer o mesmo por outras pessoas; eu acho que
é uma maneira de todo mundo sair ganhando, de, de repente, gastar menos, e também
fazer novas amizades, conversar com pessoas diferentes.” (KlicBazar Marilia)
Elas consideram o bazar uma diversão e um hobby, que até certo ponto satisfaz os
desejos de consumo com um baixo custo, além de liberar espaço no armário para coisas
novas. De acordo com as entrevistadas, renovar o guarda-roupas é bom, mas exercitar o
desapego também é um fator importante. Porém, uma das entrevistadas considerou que os
bazares fizeram com que ela ficasse mais apegada às coisas, no sentido de que ela deixou de
doar roupas para trocá-las nos bazares.
78
“Tenho mais roupas do que realmente preciso. E INFELIZMENTE ao invés de praticar o
desapego (doar), acabei me apegando! Sempre doei as roupas sempre que eu comprava
uma nova... Com o bazar, acumulo e não doo mais.” (Jo Sts)
Para a maioria das usuárias, a troca vai além da peça de roupa. Para algumas usuárias,
enviar e receber as trocas é como uma troca de presentes. Muitas delas também enviam
“mimos” umas para as outras além das peças combinadas nas trocas. As usuárias querem não
somente fazer as trocas, mas querem também agradar as parceiras de trocas, deixa-las felizes
ao receber os pacotes.
“A roupa é legal, receber é legal porque a gente se sente como se estivesse recebendo um
presente. Essa é a sensação que eu tenho quando recebo um pacote: não parece uma
troca, parece um presente; e quando eu mando um pacote para alguém, também, parece
que eu estou mandando um presente.” (KlicBazar Marilia)
Em geral, de acordo com as entrevistadas, os bazares de trocas significam na vida das
usuárias um passatempo, um hobby e uma forma de fazer novas amizades e conhecer outras
culturas.
5.5.2 Impacto na vida e na rotina
Apesar do interesse das usuárias, o uso dos bazares de trocas traz uma série de
implicações para a vida e para a rotina delas.
O principal ponto observado pelas entrevistadas foi o tempo. Ser usuária dos bazares
de trocas demanda tempo e dedicação. Elas precisam de tempo para organizar o armário,
separar as peças, lavar, fotografar, fazer upload, colocar descrição, divulgar nos grupos de
trocas, responder as mensagens das interessadas, além de garimpar os perfis das outras
usuárias em busca de peças interessantes para troca, o que também faz com que elas passem
muito mais tempo online no Facebook do que passavam antes de começarem a utilizar os
bazares.
Outro fator importante é a postagem. As trocas precisam ser devidamente embaladas,
endereçadas e enviadas pelo correio. Além do tempo para fazer o pacote, há também a
questão logística de ir até os correios, que nem sempre faz parte do itinerário rotineiro das
usuárias, e também há a questão financeira. Por mais que as trocas tragam economia, de certa
forma, as usuárias reclamam muito dos gastos com os correios.
79
As entrevistadas também indicaram pontos positivos e negativos da utilização dos
bazares. Dentre os pontos positivos mais citados estão as amizades e as peças recebidas. Já
dentre os pontos negativos mais citados estão o tempo que precisa ser investido e as pessoas
mal intencionadas, que não cumprem com o combinado. No entanto, todas afirmam que os
pontos positivos pesam mais que os negativos, e que em geral as trocas boas são bem mais
frequentes do que as ruins.
“O positivo é a renovação do guarda roupa e as amizades. Negativo são pessoas que
trocam produtos de má qualidade, com defeito, etc. Ou que não mandam as trocas como
combinam.” (Liége Desapegos)
Por fim, todas elas afirmaram que seu jeito de consumir itens de vestuário mudou após
começarem a utilizar os bazares. Elas afirmam que deixaram de comprar muitas coisas em
lojas para adquiri-las através de trocas, então o consumo de itens novos diminuiu, e ao mesmo
tempo fez aumentar a circulação de produtos que antes seriam esquecidos nos armários, o que
ajuda a reduzir o desperdício. Outro fator apontado pelas usuárias foi que elas acabaram
mudando seu estilo, experimentando usar coisas que elas antes jamais comprariam, por
exemplo.
Neste capítulo foram abordados os resultados obtidos a partir de cada uma das etapas
descritas na metodologia.
80
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a pesquisa nos bazares de trocas nesta monografia, usando como exemplo o
estudo de caso do Bazar de Trocas da Estilo, desde a simples observação diária, considerando
a inserção da pesquisadora como usuária, passando pela interação com as usuárias, o
monitoramento das postagens, a identificação de processos e categorias, as anotações de
campo, os questionários disponibilizados, e até mesmo as entrevistas em profundidade, foi
possível obter um material rico para análise deste nicho.
A fundamentação teórica a partir do estudo do histórico do comércio, com detalhe para
as antigas práticas de escambo de mercadorias; as noções sobre a lógica do consumo, em
especial o consumo feminino; o estudo sobre o consumo colaborativo; bem como o estudo das
dinâmicas das redes sociais ajudaram a construir uma base para entender a lógica do modelo
de trocas dos bazares e traçar o perfil das usuárias. Deste modo, a partir dos resultados
obtidos, foi possível atingir os objetivos a que a presente monografia se propunha.
Os bazares de trocas são relativamente recentes, e embora já existissem manifestações
semelhantes no Orkut e em blogs, por exemplo, eles se popularizaram entre o público
feminino no Facebook a partir do início do ano de 2011, ganhando milhares de adeptas pelo
país, principalmente após a divulgação do grupo da revista Estilo, o que ajudou a dar mais
visibilidade a este segmento.
Os álbuns de fotos dos perfis viraram catálogos de produtos para troca; o mural dos
grupos se transformou em um verdadeiro bazar, servindo tanto como vitrine para divulgação
dos produtos quanto como local de conversação, gerando conversações, negociações e
relações de amizade.
Foi possível também reconhecer os atores e as conexões entre eles, e também
estabelecer uma ligação com as dinâmicas de redes sociais, como cooperação, competição,
conflito e adaptação (RECUERO, 2009; PRIMO, 2005).
Nos bazares de trocas, as relações são baseadas na confiança mútua e em um sistema
de reputação, no qual as próprias usuárias colaboram editando documentos de “Lista Branca”
para fazer recomendações e “Lista Negra” para reclamações. Este sistema ajuda na construção
do capital social envolvido neste processo. “Se não houver confiança ou instrumentos
definidos para obrigar cada um a cumprir sua parte no contrato, pessoas racionais não
produzem espontaneamente bens coletivos” (ARAUJO, 2010, p. 17)
Apesar de muitas usuárias reclamarem de passar muito tempo na Internet, de gastar
com os correios e de sofrer em alguns casos com trocas não enviadas, calotes e decepções, a
81
maioria das usuárias ainda considera os bazares de trocas uma coisa positiva, e descobriram
uma forma barata, colaborativa e sustentável de renovar o guarda-roupa, além de muito
divertida.
Embora algumas usuárias utilizem os bazares apenas para negociar as peças, a maioria
das usuárias acaba fazendo novas amizades, muitas vezes estendendo essa experiência para a
“vida real”, conhecendo outras usuárias pessoalmente, e realizando bazares ao vivo.
Avaliando os prós e os contras, os bazares de trocas se mostraram uma forma positiva de
consumir conscientemente e fazer amigos.
O estudo realizado nesta monografia se mostrou importante para a área da
Comunicação Digital por explorar um dos desdobramentos das novas formas de consumo
colaborativo que a Internet propicia, e que sem ela não seriam possíveis da forma que se
apresentam. Os bazares de trocas de roupas em redes sociais são um claro exemplo de como o
modelo de consumo está mudando, cada vez mais ancorado nas pessoas e na colaboração.
Conclui-se, por fim, que ainda há muito que se estudar neste campo, visto que o consumo
colaborativo é um tema cada vez mais forte e atual.
82
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84
Apêndice 1 – Instrumento de coleta do questionário
85
86
87
88
Apêndice 2 - Entrevista 01
Entrevistador: Nathalia Schoen Munhoz
Usuária entrevistada (nome de perfil): Trocar e Renovar
Modalidade: Bate-papo do Facebook
Entrevistador: Os objetivos dessa entrevista são entender as motivações da utilização dos
bazares de trocas, e entender o impacto desse uso na vida e na rotina das usuárias.
Trocar e Renovar: ok
Entrevistador: Primeiro, precisaria de alguns dados seus para poder situar a pesquisa:
idade, estado civil, profissão/ocupação, escolaridade e cidade.
Trocar e Renovar: 27 anos, Casada, Bancária, superior (cursando), São Paulo.
Entrevistador: Obrigada... Sobre as motivações de uso: Como e por que você começou a
utilizar os bazares de trocas?
Trocar e Renovar: Comecei depois que vi essa movimentação em um programa de TV.
Entrevistador: Era um programa de TV falando sobre os bazares de trocas?
Trocar e Renovar: Sim, na verdade uma entrevista se eu não me engano no jornal hoje a
mais de um ano atrás, aí me interessei.
Entrevistador: hmmm bacana, me lembro dessa entrevista. E você gostou? Que motivos
fizeram que você continuasse participando?
Trocar e Renovar: No inicio sim amei, mas fiquei parada por uns meses levei uns calotes...
rsrs... Hoje voltei mais no intuito de vender, pois na troca hoje depois de tanta divulgação
muitas pessoas entram para estelionato.
Entrevistador: Eu nunca levei calotes. Mas já vi muitos. O que mais acontece são atrasos e
tal... Mas também ocorreram trocas boas, não?
Trocar e Renovar: Sim, claro tive muitas trocas excelentes que me fizeram criar laços de
amizade e troco com essas pessoas ate hoje!
Entrevistador: E o que o bazar significa pra você hoje?
Trocar e Renovar: Relacionamento!
Entrevistador: Agora vamos para a parte 2: Impacto do uso na vida e na rotina. O que
mudou na sua vida e na sua rotina depois que começou a utilizar os bazares?
Trocar e Renovar: Na rotina muita coisa pelo fato de ir ao correio quase sempre... Na minha
vida? Hum, ate meu marido esta trocando... rs
Entrevistador: Legal... Então você mostrou os bazares pra outras pessoas? Incentivou o uso?
89
Trocar e Renovar: Sim claroooooo! Para amigas, colegas de trabalho...
Entrevistador: Bacana... E que pontos positivos e negativos você poderia apontar sobre o seu
uso dos bazares?
Trocar e Renovar: Positivos como disse as amizades e a aquisição de algumas coisas que
não encontro nem em loja mais. Negativos: Infelizmente algumas pessoas de má índole...
Entrevistador: E o que pesa mais? Os pontos positivos ou os negativos?
Trocar e Renovar: Positivos, se não eu já teria saído daqui.
Entrevistador: Uma última questão: Seu modo de consumir itens de vestuário mudou após a
utilização dos bazares?
Trocar e Renovar: Sim, não compro mais sapatos, por exemplo... rsrs. Só troco!
Entrevistador: Legal... Você hoje com os bazares gasta menos?
Trocar e Renovar: Sim, mesmo com o frete caríssimo do correios... rs
Entrevistador: haha sim... Às vezes vale a pena né?
Trocar e Renovar: Sim sempre vale!
Entrevistador: é isso então! Muito obrigada pela atenção! Você tem alguma sugestão,
alguma questão que não foi abordada?
Trocar e Renovar: No momento não, flor. Boa sorte!!!
90
Apêndice 3 - Entrevista 02
Entrevistador: Nathalia Schoen Munhoz
Usuária entrevistada (nome de perfil): Baú da Deinha
Modalidade: Bate-papo do Facebook
Entrevistador: Os objetivos dessa entrevista são entender as motivações da utilização dos
bazares de trocas, e o impacto desse uso na vida e na rotina das usuárias.
Baú da Deinha: Eu ja trabalho com bazar com minha mãe ja tem mais de uns 15 anos, a
vontade de mexer com isso foi necessidade mesmo, e tambem juntou uma coisa que a gente
gosta muito de lidar, reutilização das coisas... e tambem era uma coisa que parecia de facil
começo. Eu faço muitas vendas e troquinhas sempre, quase que diariamente.
Entrevistador: Eu vou te fazer algumas perguntinhas do roteiro tudo bem?
Baú da Deinha: Ok.
Entrevistador: Primeiro, precisaria de alguns dados seus para poder situar a pesquisa:
idade, estado civil, cidade, profissão/ocupação e escolaridade.
Baú da Deinha: 31, solteira, no momento, “bazarzeira” mesmo, haha… tenho conseguido
viver disso; sou técnica em contabilidade, Vila Velha - ES.
Entrevistador: Jura, que bacana.
Baú da Deinha: haha... a gente tem uma lojinha em casa tb, um brechó, só que tá
reformando.
Entrevistador: Que máximo, adoro brechós.
Baú da Deinha: É uma coisa ainda muito interessante, pq não se cobra impostos; pra se abrir
uma loja de novos, mesmo quem pode, geralmente fecha antes do primeiro ano. E bazar, se a
pessoa souber lidar, ganha um dinheiro legal sim. Ali na Glória tem uma senhora, em frente
ao Extrabom, ela lida com bazar ha muitos anos ali. Ela tem funcionaria, paga aluguel de uns
mil reais, haha... ela fatura um dimdim bom ali.
Entrevistador: Que massa. Eu sempre estou em brechó. Acho cada coisa bacana...
Baú da Deinha: haha... eu tb. Amo shopping, mas não largo bazar não.
Entrevistador: hahaha idem! Então, vou te fazer as perguntinhas do bloco 1, ok?!
Baú da Deinha: Ok.
Entrevistador: Sobre as motivações de uso: como e por que você começou a utilizar os
bazares de trocas?
Baú da Deinha: Especificamente só de trocas?
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Entrevistador: Sim, estou focando o TCC nos bazares de trocas. Mas, pode falar sobre sua
experiência com as compras e vendas também, fique à vontade.
Baú da Deinha: Eu sempre prefiro as vendinhas, claro, haha... mas troquinhas são muito bem
vindas também. O que as meninas fazem muito é um álbum de desejos, pra já ficar
especificado o que tão procurando pra trocar. É difícil achar coisas pra mim pq sou grandona,
meço 1,80m e calço 40, haha...
Entrevistador: O álbum de desejos é pra não trocar só por trocar, isso?
Baú da Deinha: Isso. Geralmente as trocas são por coisas que preciso mesmo, mas já troquei
uma bota por um ferrinho de criança antigo; antigamente os brinquedos eram feitos como que
pra gente grande, haha... Amo coisas retrô, vintage. As trocas me dão isso tb: achar coisas que
podem tá perdidas aí na casa de alguém, haha... e o Facebook facilita mais ainda isso.
Entrevistador: E você fez amizades também com meninas do bazar?
Baú da Deinha: Sim, várias. Muitas também de longe, através do correio, pelo Facebook...
tem uma menina que eu amoooo, a Viviane; troquei um vestido meu da Farm com uma
coleção de miniaturas de perfume. Outra coisa que eu amo: miniaturas, haha...
Entrevistador: hmmmm... E como vc começou a usar os bazares?
Baú da Deinha: Por necessidade e curiosidade, tudo misturado, haha...
Entrevistador: Descobriu eles onde ou quando?
Baú da Deinha: Eu já conhecia os do Orkut, e os de lá migraram pra cá, haha... e antes do
Orkut eu sempre andei por ai com mamãe vendo uns daqui de perto.
Entrevistador: hmmm legal... eu conheci só aqui no Facebook. E que motivos fizeram com
que você continuasse participando? (ex: amizade, rentabilidade, hobby, economia, etc...)
Baú da Deinha: Ah, pq como eu tenho muitos contatos, com amigas que viajam e me trazem
coisas diferentes, dai a gente troca, compro delas pra expor na minha página. E eu gosto de
mexer com coisas diferentes: antiguidades, fantasias.
Entrevistador: O que os bazares de trocas significam para você hoje?
Baú da Deinha: Uma oportunidade de me livrar do que eu já enjoei e/ou acho que vai ser
interessante pra alguém e conseguir em troca um dimdim ou algo que me sirva.
Entrevistador: Agora vou fazer as perguntas sobre o impacto na vida e na rotina, ok? O que
mudou na sua vida e na sua rotina depois que começou a utilizar os bazares?
Baú da Deinha: Eu sempre tenho que ter um tempo disponível pra dar atenção ao pessoal, eu
geralmente tiro pra me comunicar com eles na hora do almoço e depois das 8h da noite; e
quase todo dia tb tiro um tempo pra entregar as coisas.
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Entrevistador: Você negocia só com pessoas da sua região ou também negocia com gente de
longe?
Baú da Deinha: Os dois. No orkut era mais pelo correio, agora ta sendo mais pessoalmente.
Entrevistador: Troca pessoalmente e pelo correio tb? hmmm legal...
Baú da Deinha: Porque tem os grupos dos locais.
Entrevistador: Sim, também estou em alguns grupos locais.
Baú da Deinha: No Orkut esses grupos locais eram mais parados.
Entrevistador: É bacana conhecer as meninas pra trocar, né?
Baú da Deinha: Muito!
Entrevistador: O Facebook facilitou a socialização, creio eu.
Baú da Deinha: Muito! Mas muita gente ainda tá pelo Orkut. Eu chamo, mas se recusam a
vir para o Facebook. Dizem que é difícil de mexer.
Entrevistador: Continuando... Que pontos positivos e negativos você poderia apontar sobre o
seu uso dos bazares?
Baú da Deinha: Positivos: é que sempre da pra eu tirar um troquinho bom, principalmente
com propaganda no Facebook. E ao mesmo tempo isso complica. Já tive umas brigas feias
pela net. Várias vezes pq vendi a peça e ainda não tinha apagado. Daí como não é
pessoalmente, a pessoa ainda acha que ta lá. Isso já me aconteceu umas 2 ou 3 vezes. E
brigaram feio comigo, pq aqui tem um tal de “quem fala primeiro na peça, é dela”. Quem
comenta né? Daí, nossa! Acharam que ainda tava a venda, e brigaram comigo pq não tinha
mais a peça e ainda tava anunciando. Tem que ficar muito atenta!
Entrevistador: Nossa!
Baú da Deinha: Pq da gente pra tudo mesmo... ah, uma coisa muito chata também: muita
gente leva na brincadeira, marca e não vai. Já perdi muito tempo indo entregar, e a pessoa
simplesmente some, exclui e bloqueia; Isso acontece MUITOOOO!
Entrevistador: Nossa, sério? Já tinha visto calotes, mas isso não tinha visto ainda.
Baú da Deinha: É, tem vários grupos de caloteiras. Já levei um no Orkut. Mandei um vestido
xadrez e um bichinho de pelúcia lindo, e em troca veio um aparelho que não funcionou. Eu
sempre prefiro deixar pra lá, mas tem gente que encrenca feio querendo de volta. Aparelhos a
distância, não troco mais.
Entrevistador: Pra terminar: Seu modo de consumir itens de vestuário mudou após a
utilização dos bazares?
Baú da Deinha: Sim,a maioria das roupas e coisas que tenho hoje em dia são de bazar ou
comprei com dinheiro que ganhei de bazar. E eu gosto mesmo de reutilizar as coisas. Eu
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nunca segui muito moda, primeiro que a moda não gosta de mim, pq sou tamanho maior, e tb
tudo da moda é caro, só uso se achar mais barato em bazar; E eu geralmente consigo achar!
Dou muita sorte de achar o que quero em bazares.
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Apêndice 4 - Entrevista 03
Entrevistador: Nathalia Schoen Munhoz
Usuária entrevistada (nome de perfil): Liége Desapegos
Modalidade: Bate-papo do Facebook
Entrevistador: Os objetivos dessa entrevista são entender as motivações da utilização dos
bazares de trocas, e o impacto desse uso na vida e na rotina das usuárias.
Liége Desapegos: Ok!
Entrevistador: Primeiro, precisaria de alguns dados seus para poder situar a pesquisa:
idade, estado civil, profissão/ocupação, escolaridade e cidade.
Liége Desapegos: Idade: 28 anos. Estado civil: União Estável. Profissão: Socióloga
Captadora de Recursos e Projetos. Escolaridade: Pós graduada. Cidade: São Leopoldo.
Entrevistador: Sobre as motivações de uso: como e por que você começou a utilizar os
bazares de trocas?
Liége Desapegos: O meu marido me falou que vocês (tu e a Marília) faziam as trocas na
Internet. Ele ia me explicando como funcionava; depois de um tempo, resolvi entrar para ver
como era. Falei com a Marília, ela me explicou que criou um perfil diferente do pessoal, só
para trocas. Fiz o mesmo e comecei a trocar. Primeiro eu pensei nas trocas para roupas para o
meu filho; depois inseri outras trocas, porque roupa de criança não é muito comum. Ah, e
falei contigo também sobre as trocas.
Entrevistador: Mas tu chegou a encontrar peças infantis?
Liége Desapegos: Sim! Fiz três trocas com roupas para ele, e tênis também. Uma nos
primeiros dias de bazar.
Entrevistador: O ruim é que é difícil de trocar peças de criança... pq se deixou de servir no
filho de alguém, provavelmente a pessoa vai querer roupinhas maiores, e não menores, né?
Liége Desapegos: Sim. Mas a troca pelas roupas de criança é por roupas femininas, para a
mãe da criança em geral.
Entrevistador: hmmmm bacana! Que legal, essa parte, como não sou mãe, e não troquei
roupas infantis, eu não sabia.
Liége Desapegos: Algumas pessoas só vendem, mas eu não compro. E já troquei roupas do
meu filho por outras peças.
Entrevistador: E depois que tu começou a usar os bazares, tu gostou? Que motivos fizeram
com que você continuasse participando?
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Liége Desapegos: As trocas bem sucedidas e as amizades que se criam. Dá para se divertir.
Renovei meu guarda roupa; estava começando um trabalho novo e busquei roupas mais
sociais, e consegui! Sabe que eu era muito apegada nas coisas; quando nos mudamos aqui
para o apartamento, que é bem pequeninho, tivemos que nos desfazer de muitas coisas, e foi
um exercício ótimo. Parece que agora tô continuando o exercício. Faz bem.
Entrevistador: O que os bazares de trocas significam para você hoje?
Liége Desapegos: Novas amizades, hobby e um passatempo. Não acho que haja economia,
porque o gasto com correio é alto, mas assim, liberamos espaço no armário para receber
outras coisas. Apesar de ter feito trocas presenciais já.
Entrevistador: Bom, vamos pra segunda parte, que é sobre o impacto do uso dos bazares na
sua vida: o que mudou na sua vida e na sua rotina depois que começou a utilizar os bazares?
Liége Desapegos: Uso o computador à noite todos os dias neste horário para olhar o bazar;
isso mudou na minha rotina. O pessoal do correio da Unisinos já me conhece pelo nome.
Entrevistador: Legal... Que pontos positivos e negativos você poderia apontar sobre o seu
uso dos bazares?
Liége Desapegos: O positivo é a renovação do guarda roupa e as amizades. Negativo são
pessoas que trocam produtos de má qualidade, com defeito, etc. Ou que não mandam as trocas
como combinam.
Entrevistador: Por ultimo: seu modo de consumir itens de vestuário mudou após a utilização
dos bazares?
Liége Desapegos: Sim. Algumas peças de "desejos" eu não compro direto; procuro primeiro
no bazar e na ausência eu compro. Acho legal que também tem um viés sustentável, pois se
troca, alguém usa, e não compra diretamente.
Entrevistador: Diminui o desperdício, né?!
Liége Desapegos: Sim. Tecido polui desde o processo de fabricação e descarte até o descarte.
Entrevistador: Mais alguma coisa que tu gostaria de comentar e que não tenha sido
abordada na entrevista?
Liége Desapegos: Acho os bazares uma forma de interação social muito bacana, mas há
necessidade de melhorar o processo de troca. Às vezes é difícil achar alguém que use o
mesmo numero, ou tenha roupas infantis, enfim, perfis próximos. Então exige tempo. Desde
que comecei a trabalhar fiz poucas trocas porque não tive tempo de fomentar as trocas. É
legal, mas exige dedicação.
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Apêndice 5 - Entrevista 04
Entrevistador: Nathalia Schoen Munhoz
Usuária entrevistada (nome de perfil): Jo Sts
Modalidade: Bate-papo do Facebook
Entrevistador: Os objetivos dessa entrevista são entender as motivações da utilização dos
bazares de trocas, e o impacto desse uso na vida e na rotina das usuárias.
Jo Sts: Tranquilo…
Entrevistador: Primeiro, precisaria de alguns dados seus para poder situar a pesquisa:
idade, estado civil, profissão/ocupação, escolaridade e cidade/estado.
Jo Sts: 32 anos, solteira, advogada, superior completo Osasco/SP
Entrevistador: Obrigada. Teremos dois blocos de perguntas. O primeiro é: motivação da
utilização dos bazares.
Jo Sts: Certo...
Entrevistador: Como e por que você começou a utilizar os bazares de trocas?
Jo Sts: Descobri o grupo por um acaso... No início só olhei... Pra entender como funcionava.
Depois comecei a ver coisas que me interessavam... E tinha muita coisa guardada em casa...
Então pensei em trocar o que eu não usava, por peças que eu queria... Tudo isso com um custo
pequeno.
Entrevistador: E você gostou? E que motivos fizeram com que você continuasse
participando?
Jo Sts: Em partes. Gostei muito das peças que eu troquei... O que eu não gostei é que tem
pessoas que desvalorizam muito as peças dos outros para sair ganhando. Minha motivação é
que consegui trocar muita coisa legal! E ainda tenho coisas em casa que quero me desfazer.
Entrevistador: O que os bazares de trocas significam para você hoje?
Jo Sts: Uma diversão e um passatempo.
Entrevistador: Bloco 2: Impacto do uso na vida e na rotina. O que mudou na sua vida e na
sua rotina depois que começou a utilizar os bazares?
Jo Sts: Na minha vida: mudou que agora meu armário está mais abarrotado que nunca. Tenho
mais roupas do que realmente preciso. E INFELIZMENTE ao invés de praticar o desapego
(doar), acabei me apegando! Sempre doei as roupas sempre que eu comprava uma nova...
Com o bazar, acumulo e não doo mais. Rotina: acabo olhando o Facebook mais vezes por
dia... E comecei a olhar para as peças das lojas com outros olhos. Ao invés de pagar R$100
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numa calça... Logo penso que no bazar consigo trocar por uma peça que me custou R$40,00,
por exemplo. Deixei de comprar roupas nas lojas e priorizei as trocas.
Entrevistador: Que pontos positivos e negativos você poderia apontar sobre o seu uso dos
bazares?
Jo Sts: Positivos: ter peças que eu sempre quis com um custo mínimo. Estar sempre com um
visual novo. Conhecer pessoas de todo o Brasil! Negativos: passei a acumular muitas peças.
Tenho mais roupas do que realmente preciso. E parei de doar as peças, sempre pensando em
trocar.
Entrevistador: A última pergunta eu acho que vc já me respondeu, mas, se quiser
complementar: seu modo de consumir itens de vestuário mudou após a utilização dos
bazares?
Jo Sts: Sim!!!! Deixei de comprar em lojas para trocar no Bazar. Gasto menos... Mas tenho
mais coisas, o que acho desnecessário!
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Apêndice 6 - Entrevista 05
Entrevistador: Nathalia Schoen Munhoz
Usuária entrevistada (nome de perfil): KlicBazar Marília
Modalidade: Pessoalmente
Entrevistador: Acerca dos bazares de troca, eu gostaria de fazer dois blocos de perguntas
rápidas; o primeiro diz respeito às motivações para a utilização dos bazares. Eu queria saber
como e porque tu começou a utilizar os bazares?
KlicBazar Marília: eu comecei a utilizar porque uma amiga minha comentou que haviam
grupos no Facebook para trocas, e aí eu fui ver como é que era, fiquei curiosa, acessei, achei
bem interessante e comecei a usar.
Entrevistador: E que motivos fizeram com que tu continuasse participando? Qual foi tua
primeira impressão, o que te fez gostar e continuar participando?
KlicBazar Marília: eu achei muito interessante a ideia de poder trocar coisas que para mim
não são tão uteis por coisas que eu poderia utilizar e fazer o mesmo por outras pessoas; eu
acho que é uma maneira de todo mundo sair ganhando, de, de repente, gastar menos, e
também fazer novas amizades, conversar com pessoas diferentes. É gostoso isso, você
conhece uma pessoa e pensa “tal peça é a cara daquela pessoa”, e então tu acabe te sentindo
amiga, mais íntima; é bem interessante, bem bacana. Por isso que eu continuei, eu senti esse
aconchego.
Entrevistador: Tu consideraria o uso dos bazares um hobby, um passatempo?
KlicBazar Marília: É, pra mim isso é um passatempo; é uma atividade que eu faço quando
eu tenho um pouco de tempo vago, quando as coisas estão mais corridas realmente eu não
consigo entrar tanto, mas é como um hobby mesmo; é umas coisa que me dá prazer, é uma
coisa que tira um pouco a cabeça da correria, dos problemas; é bacana.
Entrevistador: Tu diria, então, que é mais do que só as roupas, mais do que só a peça que tu
recebe?
KlicBazar Marília: Com certeza. A roupa é legal, porque realmente tu acha coisas bem
interessantes, coisas que talvez tu nem compraria, mas é algo diferente, alguém tem, tá
acessível, então tu acaba experimentando coisas diferentes do que tu provaria normalmente. A
roupa é legal, receber é legal porque a gente se sente como se estivesse recebendo um
presente. Essa é a sensação que eu tenho quando recebo um pacote: não parece uma troca,
parece um presente; e quando eu mando um pacote para alguém, também, parece que eu estou
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mandando um presente. Então é muito bacana isso, né?! E por tudo isso que proporciona, por
ser esse passatempo, por ter essas amizades, tudo isso... vai além da peça.
Entrevistador: Tem também a questão econômica, porque, se tu pensar, tu, fazendo essas
trocas, deixa de gastar um dinheiro comprando alguma coisa, não é?!
KlicBazar Marília: Com certeza! Eu economizei bastante fazendo trocas, praticamente
renovei meu guarda roupas; quando comecei a fazer, fiz bastante. Tem o custo de correio que
é uma coisa que fica muito pequeno perto do valor que tu iria gastar se tu fosse adquirir as
peças. Então vale bem a pena.
Entrevistador: O segundo bloco de perguntas seria sobre o impacto do uso dos bazares na
tua vida e na tua rotina. Queria saber o que mudou na tua vida, no teu jeito de pensar, na tua
rotina, no dia a dia, depois que começaste a utilizá-los?
KlicBazar Marília: Na rotina, muda o fato de começar a tirar tempo para fazer isso; porque,
por mais que seja um hobby, tu tens vontade de, pelo menos uma vez por dia, dar uma
espiadinha para ver o que tem de novidade. Isso é o que mudou na minha rotina: aquela
vontade de ir lá, procurar, ver o que tem, o que me serve... aquela cosa bacana.
Entrevistador: Garimpar, não é?!
KlicBazar Marília: É, garimpar; sempre dá aquela vontadezinha. Isso foi uma coisa que
mudou na minha rotina.
Entrevistador: E sobre o teu jeito de pensar sobre o consumo?
KlicBazar Marília: Antes não passava muito pela minha cabeça fazer trocas; até tinha várias
coisas na minha casa que não serviam mais, que eu não usava, e coisas que eu realmente não
tinha como reaproveitar... eu dava pra outras pessoas, ou doava para entidades, ou alguém da
minha família, enfim... mas, às vezes eram coisas que eu havia pagado um valor razoável,
estavam novas, e eu acabava dando para alguém porque não tinha o que fazer. Algumas outras
eu deixava guardadas, na esperança de que um dia eu iria querer usar, ou por pena, por serem
peças boas. Isso mudou: hoje eu vejo uma forma de ganhar algo com isso.
Entrevistador: É o exercício do desapego, não é?!
KlicBazar Marília: É, só que quando tu sabe que vai ter algo pra ti, tu vai gostar também, é
muito mais fácil desapegar, né?!
Entrevistador: Sobre o uso dos bazares, que pontos positivos e negativos tu pode me dar?
KlicBazar Marília: O que há de positivo é a variedade de coisas que tu pode encontrar; além
de roupas, calçados, acessórios, tu encontra utilidades em geral, eletrônicos, etc; tem de tudo,
então torna-se algo bem bacana. Também a questão de ter contatos com outras pessoas, às
vezes tu pode trocar ideia sobre outras coisas, tu acaba conhecendo gente do Brasil inteiro...
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Entrevistador: Há um pouco de intercâmbio cultural?
KlicBazar Marília: É, um intercambio de cultura. Às vezes o que está se usando aqui no sul,
não se usa lá no Rio de Janeiro, por exemplo.
Entrevistador: Eventualmente uma coisa que por aqui se usa bastante vai pra lá como
novidade.
KlicBazar Marília: Exatamente. Essa coisa é muito bacana. Normalmente a gente não tem
tantas amigas em outros lugares, pra poder realizar esse tipo de troca.
Entrevistador: Inclusive encontrar gente que tenha o mesmo tamanho que tu, né?! Às vezes tu
tens bastante amigas querendo trocar coisas contigo, só que vocês usam tamanhos diferentes.
Nos bazares tu encontra.
KlicBazar Marília: Essa é uma dificuldade nos bazares: é bem difícil encontrar uma pessoa
que tenham um perfil parecido com a gente. Da maneira que os bazares estão hoje, tu
realmente tem que garimpar. Mas às vezes a pessoa tem vários tamanhos. Varia muito,
depende da menina; algumas tem de tudo. Mas, para mim uma das dificuldades é essa:
encontrar quem calce o meu número, quem usa o mesmo número de roupa... ou até quem
gosta de coisas parecidas com o que eu gosto. Às vezes a menina tem o meu tamanho, mas
tem um estilo completamente diferente. Acredito que essa seja uma das dificuldades. É difícil
encontrar as pessoas certas, porque se perde muito tempo procurando, e aí uma coisa que
deveria ser prazerosa torna-se uma coisa cansativa. Tu fica procurando e procurando pessoas
e peças e tal... se eu tivesse como procurar mais fácil, e ter as minhas favoritas, seria bem
legal. (vamos supor que...) Hoje eu estou afim de ver novidades. Eu já vou de cara nas minhas
favoritas; não preciso ficar todo dia procurando.
Entrevistador: Finalizando: teu jeito de consumir itens de vestuário mudou?
KlicBazar Marília: Mudou porque abriu um pouco a minha mente pra outras coisas que eu
não consumiria antes. Essa questão de pegar uma peça que não seria tanto teu estilo, mas que
tu acha interessante e tu pega, porque está mais acessível do que tu comprar aquela peça. Tu
não tem que ter um desembolso tão alto; se tu não gostar, tu troca de novo. Tem essa
facilidade. O que acontece é que muitas peças são diferentes e eu não compraria,
provavelmente... mas, estando ali (no bazar)... E aí acaba que tu vai mudando um pouco teu
estilo; tu vai te descobrindo, vai provando coisas diferentes, e vai começando a consumir
coisas diferentes.