contos sufis

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  • Contos Sufis

    O Homem Cuja Vida Era Inexplicvel

    Postado em 10 de agosto de 2010 por Prof. Rita Alonso (Analogias e Metforas)

    Havia uma vez um homem chamado Mojud. Vivia numa cidade onde obtivera um em-

    prego como pequeno funcionrio, e tudo parecia indicar que terminaria sua vida como

    Inspetor de Pesos e Medidas.

    Certo dia quando caminhava ao longo dos jardins de um antigo edifcio prximo sua

    casa, Khidr, o misterioso Guia dos Sufis, surgiu diante dele, vestido de um verde lumi-

    noso. Ento Khidr disse:

    - Homem de brilhantes perspectivas! Deixe seu trabalho e se encontre comigo na mar-

    gem do rio dentro de trs dias. Dito isso, desapareceu.

    Excitado, Mojud procurou seu chefe e lhe disse que ia partir. E todos na cidade logo

    souberam do fato e comentaram:

    - Pobre Mojud! Deve ter ficado louco.

    Mas como havia muitos candidatos ao posto vago, logo se esqueceram de Mojud. No

    dia marcado, Mojud encontrou Khidr, que lhe disse:

    - Rasgue suas roupas e se lance no rio, talvez algum o salve.

    Mojud obedeceu, embora se perguntasse se no estaria louco .

    J que sabia nadar, no se afogou, mas ficou boiando deriva um longo trecho da cor-

    rente antes que um pescador o recolhesse em seu bote, dizendo:

    - Homem insensato! A corrente aqui forte. Que est tentando fazer?

    - Na verdade eu no sei respondeu Mojud.

    - Vejo que perdeu a razo, mas o levarei minha cabana de juncos junto ao rio e a ve-

    remos o que se pode fazer por voc disse o pescador.

    Quando o pescador descobriu que Mojud era bem instrudo, passou a aprender com ele

    a ler e escrever. Em troca, Mojud recebeu alojamento e comida e ajudou o pescador em

    seu trabalho dirio.

    Transcorridos uns poucos meses, Khidr apareceu novamente, desta vez ao p do leito de

    Mojud, e disse:

    - Levante-se e deixe a cabana deste pescador. Ser provido do necessrio.

  • Vestido como um pescador, Mojud deixou imediatamente a humilde cabana e perambu-

    lou sem rumo certo at alcanar uma estrada.

    Ao romper da aurora, viu um granjeiro montado num burro, a caminho do mercado.

    - Procura trabalho? perguntou o agricultor. Estou precisando de um homem que me ajude a trazer algumas compras da cidade.

    Mojud o acompanhou ento. Trabalhou para o granjeiro durante quase dois anos, ao fim

    dos quais aprendeu muita coisa, mas somente sobre agricultura.

    Uma tarde quando estava ensacando l, Khidr fez nova apario e lhe disse:

    - Deixe esse trabalho, dirija-se cidade de Mosul, e empregue suas economias para se

    converter em mercador de peles.

    Mojud obedeceu.

    Em Mosul tornou-se logo conhecido como um negociante de peles, sem voltar a ver

    Khidr durante os trs anos em que exerceu seu novo ofcio. Tinha reunido uma conside-

    rvel quantia e estava pensando em comprar uma casa, quando Khidr lhe apareceu e

    disse:

    - D-me seu dinheiro, afaste-se desta cidade rumo distante Samarkand e l passe a

    trabalhar para um merceeiro.

    Foi o que Mojud fez. E logo comeou a demonstrar indcios indubitveis de iluminao.

    Curava os enfermos, servia a seu prximo no armazm e nas horas de lazer, e seu co-

    nhecimento dos mistrios da vida tomou-se cada vez mais profundo.

    Sacerdotes, filsofos e outros o visitavam e indagavam:

    - Com quem voc estudou?

    - difcil dizer respondia Mojud.

    Seus discpulos perguntavam:

    - Como iniciou sua carreira?

    E ele retrucava:

    - Como um pequeno funcionrio.

    - E deixou o emprego para dedicar-se automortificao?

    - No, simplesmente abandonei a carreira.

    Eles no o compreendiam.

  • Pessoas dele se acercavam, desejosas de escrever a histria de sua vida.

    - Que tem feito em sua vida? indagavam.

    - Em me atirei a um rio, fui salvo por um pescador com quem morei e trabalhei. Certa

    noite, abandonei a sua cabana de juncos. Depois, me converti num agricultor. Quando

    estava ensacando l, larguei meu trabalho e me dirigi para Mosul, onde me tornei mer-

    cador de peles. Economizei algum dinheiro ali, mas o doei. Ento fui para Samarkand,

    passando a trabalhar para um merceeiro. E aqui estou agora.

    - Mas esse comportamento inexplicvel no esclarece de modo algum seus estranhos

    dons e exemplos edificantes observaram os bigrafos.

    - Assim disse Mojud.

    E foi assim que os bigrafos teceram em torno da figura de Mojud uma histria maravi-

    lhosa e excitante. Porque todos os santos afinal devem ter sua histria, e esta deve estar

    de acordo com a curiosidade do ouvinte, no com as realidades da vida.

    E a ningum permitido falar de Khidr diretamente. por isso que esta histria no

    verdica. uma representao de uma vida. A vida real de um dos maiores sufis.

    O Homem Cuja Vida Era Inexplicvel

    O Xeque Ali Farmadhi (falecido em 1078) reputava importante este conto para exempli-

    ficar a crena sufi de que o mundo invisvel est todo o tempo, em vrios lugares, in-terpenetrando a realidade comum.

    Coisas diz ele que encaramos como inexplicveis so, de fato, devidas a tal inter-veno. E mais, as pessoas no reconhecem a participao desse mundo no seu, por acreditarem conhecer a causa real dos acontecimentos. Mas no a conhecem. Somente

    quando advertem a possibilidade de outra dimenso que atua s vezes sobre as experi-

    ncias comuns, que tal dimenso pode tornar-se acessvel a elas.

    O Xeque o dcimo Xeque e Mestre instrutor da Ordem dos Khwajagan (mestres), conhecida depois como o Caminho Naqshbandi.

    A presente verso do manuscrito do sculo XVII de Lala Anwar,

    Hikayat-i-Abdalan (Histrias dos Transformados).

    Extrado de Histrias dos Dervixes Idries Shah Nova Fronteira 1976

  • Bata Neste Lugar

    Postado em 10 de agosto de 2010 por Prof. Rita Alonso (Analogias e Metforas)

    Dhun-Nun, o Egpcio, explicou graficamente numa parbola como extrara os conheci-

    mentos ocultos nas inscries faranicas.

    Havia uma esttua apontando com um dedo sob o qual se achava a inscrio: Bata nes-te lugar para obter um tesouro. A origem dessa inscrio era desconhecida, mas gera-es inteiras haviam golpeado o lugar indicado. Como era feito de pedra slida demais,

    os golpes deixaram poucas marcas e o significado permaneceu oculto.

    Certo dia, ao contemplar absorto a esttua, Dhun-Nun observou que exatamente ao

    meio-dia a sombra do dedo indicador, ignorada durante sculos, traava uma linha no

    pavimento ao p da esttua.

    Marcou o ponto exato, muniu-se dos instrumentos necessrios e com uma barra de ferro

    fez saltar uma lousa. Aconteceu ser esta uma espcie de alapo no teto de uma caverna

    subterrnea. Esta continha estranhos objetos de tal feitura que permitiram a Dhun-Nun

    deduzir a cincia de sua fabricao, h longo tempo esquecida, e assim pode adquirir os

    tesouros, e aqueles outros de gnero mais convencional que os acompanhavam.

    Uma histria muito parecida era contada pelo Papa Silvestre II, que difundiu, no sculo

    X, desde Sevilha, Espanha, ensinamentos rabes, incluindo matemtica.

    Gerbert (como era chamado originariamente) ganhou a reputao de mago, por seus

    conhecimentos e feitos tcnicos. Viveu com um filsofo da seita Sarracena. Foi nesse

    meio certamente que aprendeu esta histria Sufi. Diz-se que a mesma foi divulgada pelo

    Califa Abu-Bakr, falecido no ano de 634.

    Extrado de Histrias dos Dervixes Idries Shah Nova Fronteira 1976

  • Lucun A La Pistache

    Postado em 10 de agosto de 2010 por Prof. Rita Alonso (Analogias e Metforas)

    Na antiga Prsia vivia um poderoso Rei, e seu reino era rico e cheio de palcios, jardins

    maravilhosos com riachos muito belos. O Rei era uma pessoa muito justa e magnnima,

    e era aconselhado pelo seu Gro Vizir, seu brao direito. O Gro Vizir era seu homem

    de alta confiana, e o Rei no tomava nenhuma deciso antes de pedir um parecer ao

    seu fiel Gro Vizir.

    O Gro Vizir era muito invejado, e todos os outro ministros do reino viviam cobiando

    seu lugar, fazendo intrigas, boatos e calnias, mas nada abalava aquela relao.

    Certo dia, o vizir foi at as termas pblicas, e enquanto se banhava percebeu que havia

    perdido seu anel, porm tambm percebeu que seu anel pesado, de ouro e pedras, boiava

    na sua frente. Ficou em silncio, meditativo, e depois de um tempo, resolveu chamar

    seu fiel servial:

    - Caro Omar, rene todos os meu pertences do palcio, pegue minha mulher e filha e leve-as ao prximo povoado, aonde temos parentes, para que possam ficar por l, e que

    aguardem minhas notcias.

    Dias depois, antes da partida, o prprio vizir disse a sua esposa que teriam que viver a

    dor da separao, mas ela, como boa mulher de seu tempo, no fez maiores perguntas.

    Sete dias se passaram sem que nada acontecesse. Mas no stimo dia, o rei, esbaforido,

    entrou no gabinete do vizir e foi logo esbravejando:

    - Seu traidor ! Logo voc, que sempre teve minha confiana! No precisa dizer nada, voc ter o seu castigo !

    O Vizir foi levado aos pores do palcio, jogado numa cela fria e mida. Os dias foram

    se passando, os meses, os anos.

    Vocs pensam que o que mais martirizava o vizir era a ingratido do rei, ou falta de sua

    esposa ? Tudo isso era muito triste, pesado, mas o que o vizir sentia mais falta era de

    Lucun a la Pistache.

    Esse um doce esverdeado, feito com a semente de pistache, e recoberto com o mais

    fino acar encontrado no oriente, alm de outros truques no preparo.

    Todos os dias, meses a fio, o homem pedia ao seu carcereiro, sdico e intransigente, um

    pedacinho do doce, mas nada. Para completar seu sofrimento, as paredes midas, reco-

    bertas com musgos e lodo verde, o faziam lembrar-se do doce.

    At que um dia, no se sabe porque motivo, o carcereiro ficou bem humorado e genero-

    so, e resolveu lhe dar um pedao de Lucun.

  • Os olhos do Vizir ficaram cheios dgua, brilhando como espelho de to cobiado doce. Ele ento pegou um pedao de leno que guardava para ocasies especiais, colocou-o

    no meio da cela com o doce. Decidiu esperar a rao horrorosa que todo dia comia, para

    depois degustar o doce. Aquele nctar merecia ser esperado.

    Quando ento, se preparava para comer o doce, aps a rao, de um pequeno buraco da

    parede da cela surgiu uma gigantesca ratazana, que assustada correu em linha reta, colo-

    cando uma pata exatamente em cima do maravilhoso doce. Assustada, querendo sair,

    atolou a outra pata, e presa , acabou com as quatro patas em cima do doce. Morrendo de

    medo, sob o olhar do Vizir, pensando-se numa armadilha, urinou em cima do doce.

    O Vizir ficou um bom tempo calado, paralisado, pensativo. Por fim pediu que chamas-

    sem Omar, seu fiel empregado.

    - Omar, por favor, providencie que minha mulher e meus filhos retornem do reino vi-zinho, prepare minha casa e pea a eles que aguardem minhas notcias.

    O empregado obedeceu, e passados sete dias na cela, a porta se abriu, com um rosto

    perturbado que encheu o ambiente. Era o rei, que se ps humildemente de joelhos:

    - Meu querido Vizir, como fui injusto ! Como pude desconsiderar tantos anos de leal-dade, e acreditar naquela corja de invejosos e ciumentos. Tudo no passou de uma

    conspirao, e todos foram j punidos. Peo-lhe perdo, e peo-lhe que imediatamente

    volte s suas funes palacianas. Por favor!

    O Vizir, que era muito paciente, e gostava do Rei, aps refletir um pouco, aceitou o pe-

    dido. Houve uma grande festa para comemorar o evento, e o vizir fez questo de cele-

    brar, colocando numa enorme mesa, de 5 metros por 3 de largura, diversos tipos de Lu-

    cun a la Pistache.

    No meio da festa, um grande amigo do vizir, de muitos anos, chamou-o num canto:

    - Mas meu amigo Vizir, uma coisa me intriga: quando voc caiu em desgraa, parecia t-la previsto, tomando providncias para resguardar sua famlia, e quando foi cair em

    graa novamente, agiu como se soubesse disso!

    Ele olhou para o amigo e disse:

    - Eu tinha uma vida invejvel, usufrua o bom e do melhor, era rico e famoso. Quando fui s termas, numa tarde, e o maior smbolo de minha riqueza, aquele pesado anel, no

    se perdeu naquele mundo de guas e ainda permaneceu boiando na minha frente, eu

    pensei:

    No possvel, cheguei ao topo, daqui no posso subir mais, e pressenti algo

    - Por outro lado, naquela cela, privado de tudo, quando meu maior desejo ia ser concre-tizado e aconteceu aquele desastre, com a ratazana estragando tudo, pensei que dali no

    poderia descer mais, nada ficaria pior. No tive dvida que algo mudaria em minha vida

    para melhor.

  • Assim, por saber interpretar e Ter sensibilidade para sentir o que a vida lhe trazia, o

    vizir soube se antecipar e preparar para os acontecimentos.

    Conto do Folclore rabe traduzido por Gislaine Mattos.

  • A Arte Da Consolao (Al-Kindi)

    Postado em 10 de agosto de 2010 por Prof. Rita Alonso (Analogias e Metforas)

    Indicaes para Combater A Tristeza E Manter A Altivez Da alma em Toda A Sua Vir-

    tude

    Aquele que deseja as coisas que so passageiras pode ser considerado um homem infe-liz, ao passo que aquele cuja vontade se cumpre um homem feliz.

    Aspirar a felicidade e nos guardar de sermos desgraados possvel se fazemos com que nossa vontade e aquilo que desejamos estejam alm daquilo que nos chega pelo

    mundo sensvel, mutante e instvel e tambm, se no nos entristecemos com aquilo que

    nos escapa do mundo sensvel.

    Se no existe o que queremos, devemos querer o que existe e no preferir a persistn-cia da tristeza no lugar da persistncia da alegria.

    A quem se entristece com a perda das coisas que se perdem assim como com a neces-sidade das coisas que se necessita, a este jamais desaparecer a tristeza

    porque, em todas as situaes da vida, perder objetos amados e se-lhe escapar aquilo

    que busca.

    Visto que a alegria e a tristeza no podem coexistir no mesmo instante na alma, deve-mos fazer com que nossas almas estejam satisfeitas em todas as circunstncias mediante

    uma conduo correta que proporcionamos a ela.

    E nessa senda devemos conduzir nossa alma aos costumes excelentes e acostum-la a isso at que forjemos um carter que torne a vida agradvel durante o tempo de nossa

    existncia.

    Como no podemos nos manter totalmente isentos de estarmos tristes e como faz parte da natureza tropearmos na tristeza, devemos ao menos ter cuidado em reduzir o tempo

    em que ela dura em ns.

    Se realmente houvesse um motivo para nos entristecermos este deveria ser o da sepa-rao de nosso verdadeiro lugar e de nossa verdadeira ptria, onde no h carncias nem

    desgraas, nem perdas nem coisas inalcanveis

  • A Parbola dos Filhos Cobiosos

    Postado em 10 de agosto de 2010 por Prof. Rita Alonso (Analogias e Metforas)

    Havia uma vez um lavrador generoso e muito trabalhador que tinha vrios filhos, todos

    preguiosos e cheios de cobia. Em seu leito de morte, o velho lavrador lhes disse que

    encontrariam seu tesouro se viessem a cavar num lugar determinado. Assim que o la-

    vrador morreu, seus filhos correram para o campo, que escavaram de ponta a ponta,

    com nsia e desespero crescentes ao no encontrar o ouro no trecho indicado.

    No encontraram o que buscavam. Imaginando ento que por ser muito generoso, o pai

    distribura seu ouro em vida, desistiram da busca. Por fim, pensaram que, j que a terra

    fora revolvida, poderiam plantar ali algum cereal. Assim plantaram trigo, que cresceu e

    deu abundante safra. Eles venderam o produto da colheita e tiveram um ano de prospe-

    ridade.

    Concluda a colheita, os filhos do lavrador pensaram novamente na remota possibilida-

    de de que o ouro talvez lhes tivesse passado despercebido. E foram cavar de novo em

    suas terras, mas sem resultado.

    Transcorridos alguns anos eles acostumaram-se a semear e colher, seguindo o curso das

    estaes, algo que no tinham aprendido antes.

    Foi ento que compreenderam a razo pela qual seu pai usara aquele expediente para

    disciplin-los, e se converteram em lavradores honestos e contentes com sua condio.

    Finalmente se deram conta de que possuam riqueza suficiente para no precisarem se

    interessar pelo tesouro escondido.

    D-se o mesmo com o ensinamento acerca da maneira de entender o destino humano e o

    significado da vida. O professor, ao defrontar-se com a impacincia, a confuso e ansie-

    dade dos estudantes, deve encaminh-los para uma atividade que ele sabe ser instrutiva

    e benfica para eles, mas cuja verdadeira funo e objetivo com frequncia lhes perma-

    necem ocultos devido a sua prpria inexperincia.

    A Parbola dos Filhos Cobiosos

    Esta histria que enfatiza a afirmao de que uma pessoa pode desenvolver certas facul-

    dades a despeito de seu esforo para desenvolver outras , de maneira inusitada, muito

    conhecida. Isto talvez seja devido a ser prefaciada assim:

    Aqueles que a repetem obtero mais do que sabem.

    Ela foi publicada pelo frade Roger Bacon (que citava a filosofia sufi e a ensinou em

    Oxford, de onde foi afastado por ordem do Papa), e pelo qumico Boerhaave, que viveu

    no sculo XVII.

    A presente verso atribuda ao sufi Hasan de Basra, que viveu h quase doze sculos.

    Extrado de Histrias dos Dervixes Idries Shah

  • A Iniciao de Malik Dinar

    Postado em 10 de agosto de 2010 por Prof. Rita Alonso (Analogias e Metforas)

    Depois de muitos anos de estudo sobre temas filosficos, Malik Dinar achou que chega-

    ra o momento de viajar em busca de conhecimento.

    - Irei procura do Mestre Oculto, de quem dito tambm achar-se na parte mais pro-

    funda de meu ser disse para si mesmo.

    Sara de sua casa levando como alimento apenas algumas tmaras, quando se encontrou

    com um dervixe que caminhava com certo esforo pela estrada empoeirada. Malik se

    ps a caminhar junto a ele em silncio.

    Finalmente o dervixe perguntou:

    - Quem voc e para onde se dirige?

    - Eu sou Dinar, e inicio a viagem em busca do Mestre Oculto.

    - Eu sou El-Malik El-Fatih, e seguirei com voc disse o dervixe.

    - Poder ajudar-me a encontrar meu mestre? indagou Dinar.

    - Posso ajud-lo e pode voc ajudar-me? perguntou Fatih, no estilo meio irritante pr-prio dos dervixes. O Mestre Oculto, segundo dizem, reside no prprio ser do homem. A maneira de encontr-lo depende do uso que se faa da experincia. E isto algo que

    s transmitido parcialmente por um companheiro.

    Pouco tempo depois, chegaram ao p de uma rvore que estava balanando e se incli-

    nando. O dervixe parou e disse aps alguns instantes:

    - Esta rvore est dizendo: Alguma coisa me incomoda, parem e tirem de meu flanco a causa desse incmodo, a fim de que eu possa repousar.

    - Estou com certa pressa retrucou Dinar. E alm disso, como pode uma rvore falar? E seguiram seu caminho.

    Algumas milhas adiante, o dervixe disse:

    - Quando estvamos perto da rvore julguei ter sentido cheiro de mel. Talvez haja al-

    gum ninho de abelhas no interior da rvore.

    - Sim, deve ser isso disse Dinar. Voltemos l depressa, assim poderemos recolher o mel, para nos alimentarmos com uma parte dele e vender a outra para nos mantermos

    durante a viagem.

    - Como queira disse o dervixe.

  • - Quando se acercaram novamente da rvore, viram que outros viajantes j tinham se

    antecipado, recolhendo uma grande quantidade de mel.

    - Que sorte a nossa! diziam aqueles homens. Aqui h mel suficiente para alimentar todo um povoado. Ns, pobres peregrinos, poderemos agora converter-nos em mercado-

    res. Sim, nosso futuro est garantido.

    Dinar e Fatih seguiram seu caminho.

    Pouco tempo depois alcanaram o sop de uma montanha, onde ouviram um zumbido.

    O dervixe encostou o ouvido no solo. Ento disse:

    - Debaixo de ns h milhes de formigas, construindo uma colnia. Este zumbido um

    pedido coletivo de ajuda. Na linguagem das formigas, quer dizer: Ajudem-nos, aju-dem-nos. Estamos escavando, mas esbarramos em pedras estranhas que impedem nosso

    avano. Ajudem-nos a tir-las do caminho! Devemos parar e ajud-las, ou prefere seguir em frente? indagou o mestre dervixe.

    - Formigas e rochas no so assunto nosso, irmo disse Dinar -, pois eu, de minha parte, estou procura de meu mestre.

    - Est bem, irmo falou o dervixe -, embora digam que todas as coisas se acham rela-cionadas, e isto poderia ter uma certa conotao conosco.

    Dinar no prestou a devida ateno ao que o velho murmurava, e assim foi que segui-

    ram adiante.

    Fizeram uma parada ao anoitecer, e a Dinar deu por falta de ser canivete.

    - Devo t-lo deixado cair perto daquele formigueiro. Amanh voltaremos l.

    Na manh seguinte, ao chegarem novamente ao lugar do formigueiro, no encontraram

    nem sinal do canivete de Dinar. Em troca, viram um grupo de pessoas, cobertas de bar-

    ro, descansando junto a uma pilha de moedas de ouro.

    - Fazem parte de um tesouro escondido que acabamos de desenterrar explicaram aque-las pessoas. Seguamos pela estrada quando um velho e frgil dervixe nos disse: Ca-vem neste lugar e encontraro aquilo que para uns simples rocha e para outros, ouro.

    Dinar lamentou sua m sorte. E observou:

    - Se tivssemos parado um pouco aqui ontem, voc e eu estaramos ricos agora, der-

    vixe.

    - Forasteiro, o dervixe que o acompanha se parece bastante com o que vimos ontem

    noite disseram os que haviam achado o tesouro.

    - Todos os dervixes se parecem muito disse Fatih. E retomaram seu caminho.

  • Dinar e Fatih prosseguiram viagem, chegando alguns dias depois s margens de um

    belo rio. O dervixe parou, e enquanto esperavam sentados a chegada de uma balsa, um

    peixe pulou fora dgua vrias vezes, sempre perto dos dois viajantes.

    - Este peixe nos envia uma mensagem disse o dervixe. Ele diz: Engoli uma pedra que me sufoca. Segurem-me e me dem certa erva para comer. Assim poderei vomitar a

    pedra e me sentir aliviado. Caminhantes, tenham piedade!

    Nesse instante a balsa chegou, e Dinar, sempre impaciente para seguir viagem, empur-

    rou o dervixe para dentro da embarcao. O barqueiro mostrou-se agradecido pela moe-

    da que deram, e Fatih e Dinar dormiram bem naquela noite, na margem oposta, numa

    casa de ch para viajantes que fora construda por alguma alma caridosa.

    Na manh seguinte estavam tomando ch quando apareceu o barqueiro. Segundo ele, a

    noite passada fora muito afortunada. Os peregrinos lhe haviam trazido sorte. Beijou as

    mos do venervel dervixe, para receber sua beno.

    - Voc bem o merece, meu filho disse Fatih.

    O barqueiro agora era um homem rico. Explicou aos dois homens o que realmente lhe

    acontecera. J se dispunha a voltar para casa quando vira o dervixe e seu companheiro

    sentados na margem do rio. A resolveu fazer mais uma viagem, ainda que eles pareces-

    sem pobres, a fim de obter a baraka, isto , a beno pela ajuda prestada a um viajan-te. Mais tarde, de retorno outra margem, viu um peixe que parecia muito aflito. Estava

    junto margem do rio e tentava engolir algo. A o barqueiro ps uma erva com cuidado

    na boca do peixe. Este vomitou uma pedrinha e voltou gua. Pois bem, a tal pedra era

    um grande e perfeito diamante de incalculvel valor e brilho.

    - Voc um velho demnio! gritou Dinar, furioso, ao dervixe Fatih. Estava a par dos trs tesouros graas a alguma percepo oculta, e no entanto nada me revelou nas

    trs ocasies apropriadas. Isto que o verdadeiro companheirismo? Antes, a minha

    m sorte era muita, mas sem voc jamais teria conhecido as possibilidades ocultas em

    troncos de rvores, formigueiros e peixes!

    Mal dissera tais palavras sentiu como se um forte vento lhe sacudisse o ntimo. Ento

    compreendeu que acabara de dizer o reverso da verdade.

    O dervixe, cujo nome significa Rei Vitorioso, tocou suavemente o ombro de Dinar, sor-

    riu e disse:

    - Agora, irmo, descobrir que pode aprender com a experincia. Eu sou aquele que se

    acha a servio do Mestre Oculto.

    Quando Dinar se atreveu a erguer a vista, viu seu mestre afastando-se pela rua, com um

    pequeno grupo de viajantes que discutiam sobre os riscos da longa jornada que os espe-

    rava.

    Hoje, o nome de Malik Dinar figura entre os principais dervixes, companheiro e mode-

    lo, o Homem que Chegou.

  • Malik Dinar foi um dos primeiros mestres clssicos.

    O Rei Vitorioso desta histria uma encarnao das funes superiores da mente as que Rumi denominava O Esprito Humano, que o homem deve cultivar antes que possa operar de uma maneira iluminada.

    A presente verso creditada ao Emir el-Arifin.

    Extrado de Histrias dos Dervixes Idries Shah Nova Fronteira 1976

  • A Histria da Serpente Negra

    Postado em 10 de agosto de 2010 por Prof. Rita Alonso (Analogias e Metforas)

    H muito tempo, viveu um rei respeitado pelos seus inimigos e amado pelo seu povo.

    Este rei no tinha descendente, e seus anos de juventude j estavam distantes. Por isto,

    chamou um dia seu vizir e disse-lhe:

    - Vizir, estou ficando velho e no tive a graa de ter filhos. Minha morte se aproxima, e

    com isso me trono e minha coroa cairo em mos estranhas. Temo que minha sucesso

    coloque o reino em perigo.

    - Meu rei disse o vizir queira Deus que seus dias ainda sejam muitos. Mas de qual-quer forma, tenho uma idia: proponho que saiamos disfarados, e procuremos algum

    que, por fora de sua magia ou de sua f, possa nos ajudar.

    O rei gostou da sugesto do seu conselheiro, e no dia seguinte, aproveitando-se da soli-

    do do amanhecer, saram os dois disfarados para uma caminhada de destino incerto.

    Depois de muitas horas de caminhada, chegaram at uma fonte, onde pararam para des-

    cansar. Ento viram que ali chegava tambm um dervixe de longas barbas brancas, de

    aspecto venervel e vestindo um manto branco. Fez-lhes uma profunda reverncia, di-

    zendo:

    - Deus salve o rei!

    O rei recebeu surpreso a saudao do dervixe:

    - Como sabes quem somos, sabers tambm a que viemos?

    O dervixe disse que sim, e deu para o rei uma ma, dizendo que noite, ele deveria

    comer a metade, dando a outra metade sua esposa. O rei agradeceu, pegou a ma e

    fizeram o caminho de volta.

    noite, o rei fez como disse o velho dervixe: antes de deitarem, rei e rainha comeram,

    cada qual uma metade da ma. Dias depois, percebeu-se que a rainha estava grvida,

    enchendo o castelo e todo reino de imensa alegria. Nove meses e dez dias aps aquela

    noite, a rainha sentiu as dores do parto. Foi chamada uma parteira, e quando a rainha ia

    dar luz viu-se que se tratava de uma serpente negra, que to logo colocou sua cabe-a para fora, mordeu a parteira e esta morreu. Uma outra parteira foi chamada, mas

    tambm foi morta pela serpente. O mesmo aconteceu com uma terceira e uma quarta

    parteira, e logo ningum mais atendeu ao chamado para ser parteira no castelo.

    Os guardas andavam de porta em porta pelo reino procurando uma parteira, at que

    chegaram em uma casa onde a mulher que os atendeu tinha uma enteada a quem odiava

    e lhes disse:

    - Meus filhos, eu tenho um filha que mestra em trazer crianas ao mundo.

  • Os guardas pediram ento que permitisse que a garota fosse levada ao castelo, e assim

    foi. Pelo caminho, passaram pelo cemitrio, onde estava enterrada sua me verdadeira, e

    ela rezou:

    - Mezinha, mezinha, minha madrasta me manda para a morte, me ajuda mezinha!

    Ela escutou uma voz que dizia:

    - Minha filha, quando chegares no castelo, pe leite numa caixa. A rainha tem uma ser-

    pente negra em seu ventre. Coloca a caixa diante de ti, e quando a serpente sair, fecha a

    tampa e leva a caixa ao rei.

    A garota fez como lhe disse a voz: colocou leite em uma caixa, e quando foi atender a

    rainha colocou a caixa diante de si. Tudo aconteceu muito rpido, mas foi como lhe

    disse a voz. A serpente saiu para dentro da caixa e a garota fechou a tampa. Depois,

    levou ao rei para que ele conhecesse seu filho. O rei ficou muito surpreso. Agradeceu e

    recompensou a jovem com muitas moedas. Ento, ela deixou o castelo e, voltando para

    casa, deu as moedas para sua madastra.

    No castelo, o prncipe crescia trancado num quarto no alto de uma torre. Ficava aos cui-

    dados de escravas, porque quem quer que estivesse com ele, exceto seus pais, corria

    risco de vida. De tempos em tempos, diante de alguma contrariedade, uma escrava era

    mordida e morria. O rei fazia trazer outra e assim passavam-se os anos.

    Quando o prncipe-serpente completou cinco anos, disse para a escrava que ento toma-

    va conta dele:

    - Diga ao meu pai que eu quero estudar e aprender. Ele deve me trazer um professor.

    O rei ficou satisfeito com o pedido. Providenciou que trouxessem um professor e o

    prncipe comeou a ter aulas. Mas logo nos primeiros dias, mordeu o professor, e este

    morreu. O rei mandou trazer outro, e o mesmo aconteceu, e assim mais outro e outro

    mais At que no se encontrasse no reino algum disposto a dar aulas para o prncipe. Ento o vizir sugeriu ao rei que mandasse buscar a parteira do prncipe para que ela lhe

    desse aulas.

    Esta proposta agradou ao rei, e ele mandou novamente guardas at a casa daquela garota

    para que a trouxessem. Quando estava sendo trazida ao castelo, passou novamente pelo

    cemitrio onde estava enterrada sua me, e disse:

    - Mezinha, mezinha, eu fiz como tu disseste, e fiz nascer a serpente. Agora procuram

    um professor, pois todos os outros a serpente mordeu e matou. Agora, vieram me bus-

    car, eu eu no se o que fazer.

    - Minha filha, no tema disse-lhe a voz corta quarenta e uma hastes de roseira. Quando a serpente pular em ti, bate nela com as quarenta hastes, e finca com a quadra-

    gsima primeira.

    Quando a garota chegou no castelo, disse que precisava ir at o jardim. L colheu as

    hastes de roseira e foi at o quarto onde estava o prncipe. Tirou-o da caixa e abriu o

  • Coro para comearem o estudo. Aps alguns momentos, o prncipe precipitou-se con-

    tra a garota e ela defendeu-se com as hastes de roseira, tal como dissera a voz. O prnci-

    pe-serpente acalmou-se e a aula pode continuar. E assim, passaram-se os dias e os me-

    ses, e para surpresa e agrado do rei, o prncipe aprendia. Depois de muitas aulas, a garo-

    ta j no tinha mais nada a ensinar-lhe. Novamente foi recompensada com muitas moe-

    das, voltou para sua casa e entregou tudo sua madastra.

    Os anos passavam e quando o prncipe tinha dezesseis anos, foi at seu pai e disse:

    - Pai, eu quero me casar!

    Mal ou bem, o rei concordou com o pedido, e procurou uma princesa para casar o filho.

    O casamento foi feito, sem muita festa ou alarde. Mas logo na primeira noite em que os

    noivos ficaram juntos, a serpente mordeu a moa e ela morreu. E o mesmo aconteceu

    com outra e mais outra At que o rei foi aconselhado a casar o filho com aquela que havia sido sua professora. Novamente a moa foi trazida ao castelo. E quando passava

    pelo cemitrio onde estava enterrada sua me, ela disse:

    - Mezinha, mezinha, eu dei aulas e ensinei a serpente, tal como tu o disseste. Mas

    agora, querem que eu seja sua esposa. Eu no sei o que fazer.

    - Minha filha, no tema. Veste a pele de quarenta porcos, e a serpente no te atingir.

    Quando ele pedir que tu tires a roupa, pede que ele tire a sua primeiro. Quando ele tirar

    sua roupa, joga-a no fogo, e depois podes deitar com ele sem medo.

    A garota fez como disse a voz, e o casamento foi realizado. Quando os noivos foram

    para o seu quarto, a serpente pulou na garota tentando mord-la, mas seus dentes no

    conseguiram atravessar as peles. Ento o prncipe disse para que ela tirasse suas roupas.

    Ela falou para que ele primeiro tirasse a sua. Quando ele o fez, ela jogou a roupa de

    prncipe no fogo que ardia na lareira do quarto. Ento ela viu que diante de si estava um

    jovem, belo como a Lua no dcimo quarto dia, e os noivos abraaram-se. Na manh

    seguinte, os pais do prncipe foram at o quarto dos noivos e ficaram maravilhados com

    o acontecido. Eram indescritveis a emoo e a alegria de todos, e logo todo o reino par-

    ticipava desta felicidade.

    O prncipe e sua esposa (a jovem que agora era princesa), viveram muito tempo juntos.

    Mas um dia, o prncipe foi at seu pai e lhe disse:

    - Pai, eu quero viajar para o estrangeiro. Se Deus quiser, volto em dois meses.

    O rei concordou, e o rapaz arrumou tudo para a sua partida. Ao sair, despediu-se da sua

    esposa, beijando-a nos olhos.

    Tanto o rei como a rainha eram imensamente gratos moa que, desde o nascimento,

    tanto ajudara seu filho, culminando com o desencantamento. Assim, tratavam-na melhor

    que a uma filha verdadeira. Entretanto, este no era o sentimento de outros dentro do

    castelo: algumas escravas sobreviventes dos tempos dos prncipe-serpente, tinham inve-

    ja da sorte da jovem tornada princesa. Quando a rainha, aps um ms de ausncia do

    filho, recebeu uma carta sua, as escravas escreveram uma outra carta, onde se lia: Que-ro que cortem mos e ps da minha esposa, e joguem-na fora.

  • A rainha leu a carta e, cheia de horror, mostrou-a para a princesa. Disse que no conse-

    guiria fazer cumprir a ordem de seu filho, sugerindo que a princesa fugisse. A jovem foi

    para o seu quarto, vestiu um roupa simples, juntou alguns poucos pertences e partiu.

    Depois de algum tempo de andana, a princesa chegou a um lugar onde estavam alguns

    caixes. Ela estava cansada e triste. Bem perto dela, num dos caixes, estava deitado um

    jovem. O rapaz levantou-se, foi at ela e disse:

    - Ei, garota, como chegaste at aqui sem medo? Saiba que logo vir uma pomba, e se ela

    te v, vai matar-te. Vem, deita neste caixo e te esconde.

    Mas o jovem deitou-se junto. E deste encontro, a princesa ficou grvida. A pomba veio,

    trouxe comida ao rapaz que dormia no caixo. Quando a pomba se foi, ele dividiu seu

    alimento com ela, e assim passavam os dias. Quando chegou o tempo do nascimento do

    filho que a princesa trazia em seu ventre, o rapaz lhe disse para seguir pelo caminho at

    uma fonte, em frente da qual havia um palcio.

    - Dali, sair uma jovem, a quem deves dizer: Por Bachtijar, leva-me para casa, pois vou dar a luz. Ela vai amparar-te, ento eu virei e darei um nome para a criana.

    A princesa levantou-se, foi at a fonte, sentou-se em uma pedra e aguardou. Do palcio,

    veio uma jovem escrava com um grande jarro nas mos. A princesa ento falou confor-

    me o rapaz mandara. A escrava levou-a para o palcio, foi at a rainha e contou o que

    havia acontecido. A rainha emocionada disse para sua filha, irm mais velha do rapaz:

    - Oh, esta jovem conhece meu filho Bachtijar, e certamente dele que est grvida.

    Traga-a imediatamente.

    A jovem foi levada at a rainha, que a levou para o quarto do seu filho Bachtijar que estava vazio. Ali ela foi instalada, e logo comeou com os trabalhos de parto. Poucas

    horas depois, nasceu um lindssimo menino. Exatamente meia-noite, veio o rapaz e

    disse que seu filho deveria se chamar Havbetjar, e se foi.

    Ele voltou na noite seguinte, e perguntou pelo seu Havbetjar. A princesa respondeu que

    ele estava no bero, sendo cuidado pela sua irm mais velha. A moa contou para a rai-

    nha e sua cunhada que Bachtijar estava vindo ver seu filho. Na noite seguinte, quando

    ele voltou, sua me e sua irm o esperavam no quarto. O rapaz tinha sido levado do cas-

    telo quando ainda era menino, e todos sentiam muitas saudades. Depois de se abraa-

    rem, ele disse que deveria voltar antes que o pssaro percebesse a sua ausncia, mas a

    me f-lo ficar, pois ainda era muito cedo e as estrelas ainda brilhavam. As horas foram

    passando, e a rainha sempre dizendo ao seu filho que no fosse, pois era cedo. Assim, a

    luz do dia chegou e com ela, o pssaro. De um galho, janela, gritou:

    - Ei, Bachtijar, que caia a parede a qual toquei!

    Mal disse estas palavras e a parede caiu com grande estrondo. E o pssaro continuou:

    - A rvore, sobre a qual estou, deve secar! e a rvore comeou a secar e suas folhas a carem. E assim continuou a pomba a falar, mostrando todo seu dio, at que rebentou.

  • - Graas a Deus!! disse o rapaz O pssaro morreu e eu agora estou salvo. Todos se abraaram, e a rainha disse que agora deveriam tratar do casamento do seu filho com a

    jovem que tanta felicidade havia trazido quela casa.

    Passados alguns dias, Bachtijar foi at a casa de ch da cidade. Justo neste momento,

    um jovem estrangeiro entrou e sentou-se perto de Bachtijar. Era o prncipe que havia

    nascido serpente: quando voltou da sua viagem, foi logo perguntando pela sua esposa.

    Sua me disse-lhe que por causa da sua carta, ela havia ido embora, na direo das mon-

    tanhas, pois no havia permitido que suas ordens fossem cumpridas. O prncipe no

    entendeu nada, pois sua carta verdadeira no trazia seno saudaes e manifestaes de

    carinho. Viram que se tratava de alguma maldade e ele saiu desesperado a procurar pela

    sua esposa. Agora estavam ali, bem prximos um do outro, e ele comeou a perguntar

    por ela.

    Quando o prncipe contou sua histria, Bachtijar percebeu de quem se tratava a moa

    que aquele jovem buscava. Foi at ele e convidou-o para ir at sua casa. Deixaram a

    casa de ch e foram para o palcio. Enquanto comiam, contou Bachtijar a sua histria,

    do comeo at o final. Depois, foi ao quarto onde estava a jovem e disse-lhe:

    - Minha princesa, acaba de chegar teu primeiro marido, e ele vem tua procura. Diz que

    a carta que recebeste era uma fraude, e te quer de volta. Tu deves refletir, e depois ir at

    aquele com o qual queres ficar. Mas te aviso que, se quiseres ir, ficarei com o nosso

    filho.

    Bachtijar voltou e sentou-se. Depois de algum tempo de espera, a jovem veio at a por-

    ta. Ali, parou. Quando olhou nos olhos do prncipe serpente, foi direto at ele. Bachtijar

    disse:

    - Deus os abenoe! e saiu da sala.

    Na manh seguinte, os dois voltaram para sua casa. Trouxeram muita alegria ao rei e

    rainha, que tanto sentiam a falta daquela que salvou seu filho do terrvel destino de ser-

    pente. Renovaram suas bodas com grande festa, que durou quarenta dias e quarenta noi-

    tes. E a mesma alegria que reinou durante os dias e noites de festa, acompanhou-os por

    toda a sua vida.

    Trkische Mrchen, Eugen Diederichs Verlag, Jena, 1925

    Traduzido do Alemo por Sergio C. Bello

  • As Fogueiras De Hoje

    Postado em 10 de agosto de 2010 por Prof. Rita Alonso (Analogias e Metforas)

    Conta-se que Bahaudin Naqshband fez este rcito:

    - Eu tinha sido convidado a falar para uma assemblia composta de letrados e de igno-

    rantes. Havia um grande nmero de pessoas. Todos pareciam atentos e interessados,

    mas quando eu olhei e senti, no vi entre eles nenhum ser humano.

    Eu disse aqueles que eu havia trazido comigo para mostrar-lhes os limites do efeito

    que se pode ter sobre os inaptos: O orvalho no enche o poo; e o que se tornar a fo-lha sobre a qual se entorna toda a gua do poo?

    Comecei por dizer:

    - Os sufis so a vergonha da humanidade. Eles preservam ensinamentos secretos que

    recusam dividir com o homem comum. pelo exerccio de poderes ilcitos que um

    grande nmero deles veio a ocupar dentro da sociedade uma eminente posio. Agora

    digam-me, vocs querem ser sufis?

    Quase todos meus ouvintes fizeram no com a cabea.

    Eu prossegui:

    - Eis a em que termos falava dos sufis este ignorante, este idiota, este cabea-dura do

    governador de Koufa, do qual todos vocs j ouviram tanto falar. Como vocs no igno-

    ram, ele um farsante, um assassino e um inimigo do gnero humano. Por isso no de

    se espantar que ele tenha acreditado ser uma boa coisa manchar os sufis com cores to

    pouco agradveis.

    Ora, ns todos aqui sabemos que os sufis so os eleitos entre os homens. Quem dentre

    vocs se diria ser um sufi?

    A estas palavras, todos se levantaram.

    - assim que a auto-suficincia (ab o tab) nasce da vaidade (ghurur), que uma das

    manifestaes do eu dominante (nafs i ammara).

    As fogueiras de hoje so as cinzas de amanh.

  • A Histria De Hiravi

    Postado em 10 de agosto de 2010 por Prof. Rita Alonso (Analogias e Metforas)

    Nos tempos do Rei Mahmud, o Conquistador de Ghazna, viva um homem jovem cha-

    mado Haidar Ali Jan. Seu pai, Iskandar Khan, decidiu conseguir-lhe a proteo do im-

    perador e o mandou estudar temas espirituais com os maiores sbios de seu tempo.

    Quando Haidar Ali dominou as repeties e os exerccios, quando soube os rcitos e as

    posturas fsicas das escolas sufis, foi levado por seu pai presena do imperador.

    - Poderoso Mahmud disse Iskandar tenho feito com que este jovem, meu filho mais velho e mais inteligente, seja treinado nas tcnicas dos sufis, para que possa obter uma

    posio digna em vossa corte, sabendo que sois o mentor do conhecimento desta poca.

    Mahmud no se deteve em averiguaes. Simplesmente disse:

    - Traga-o novamente dentro de um ano.

    Um pouco desiludido, mas com grandes esperanas, Iskandar mandou Ali estudar os

    trabalhos dos grandes sufis do passado e visitar os templos dos antigos mestres de Bag-

    dad, para que o tempo que havia a transcorrer no fosse desperdiado.

    Quando levou o jovem novamente corte, disse:

    - Pavo Real desta poca, meu filho tem levado a cabo grande e difceis viagens e, ao

    mesmo tempo, tem agregado a seus conhecimentos uma familiaridade completa com os

    clssicos. Rogo que o examinem, para que se demonstre que poderia ser um adorno na

    corte de vossa majestade.

    - Deixe que regresse depois de outro ano disse Mahmud imediatamente.

    Durante os doze meses seguintes, Haidar Ali cruzou o Oxus e visitou Bokhara e Samar-

    kanda, Qasr-i-Arifin e Taqshqand, Dushande e as tumbas dos santos sufis do Turquis-

    to.

    Quando regressou corte, Mahmud de Ghazna o olhou e disse:

    - Pode ser que queira regressar dentro de mais um ano.

    Haidar Ali fez esse ano a peregrinao a Meca. Viajou ndia, e na Prsia consultou

    livros raros e nunca perdeu a oportunidade de encontrar e estar com os grandes dervixes

    da poca.

    Quando regressou a Ghazna, Mahmud lhe disse:

    - Agora, selecione um mestre e, se ele te aceitar, regresse dentro de um ano.

  • Quando terminou esse ano e Iskandar Khan estava se preparando par levar seu filho

    corte, Haidar Khan no mostrou nenhum interesse em ir. Simplesmente ficou sentado

    aos ps de seu mestre em Herat, e nada do que disse seu pai o fez mover-se dali.

    - Tenho desperdiado meu tempo e meu dinheiro e este jovem tem falhado nas provas

    impostas pelo Rei Mahmud se lamentava o pai, e abandonou a empresa.

    Entretanto, o dia em que o jovem teria que se apresentar chegou e passou; ento Mah-

    mud disse a seus cortesos:

    - Preparem-se para fazer uma visita a Herat. Por l tem algum a quem tenho que ver.

    Ao entrar o Imperador e seu cortejo em Herat, ao som de trombetas, o mestre de Haidar

    Ali o tomou pelas mos. Levou-o porta da tekkia e ali esperaram.

    Pouco depois Mahmud e seu corteso Ayaz, tirando os sapatos, se apresentaram no san-

    turio.

    - Aqui est, Mahmud disse o Sheik sufi o homem que no era nada enquanto visita-va os reis, mas que agora algum a quem os reis visitam. Toma-o como teu conselhei-

    ro sufi, pois est pronto.

    Esta a histria dos estudos de Hiravi, Haidar Ali Jan, o Sbio de Herat.

    Isto Tambm Passar

    Um dervishe, depois de uma rdua e longa viagem atravs do deserto, chegou por fim

    civilizao. O povoado se chamava Colinas Arenosas e era quente e seco. No havia

    muito verde, exceto feno para o gado e alguns arbustos. As vacas eram o principal meio

    de vida das pessoas de Colinas Arenosas. O dervishe perguntou educadamente a algum

    que passava se havia algum lugar onde poderia encontrar comida e abrigo para aquela

    noite.

    - Bem, disse o homem coando a cabea no temos um lugar assim no povoado, mas estou certo de que Shakir ficar encantado de lhe brindar com sua hospitalidade esta

    noite.

    Ento o homem indicou o caminho da fazenda de propriedade de Shakir, cujo nome

    significa o que agradece constantemente ao Senhor.

    No caminho at a fazenda, o dervishe parou perto de um pequeno grupo de ancies que

    estavam fumando cachimbo e eles confirmaram a direo. Eles disseram que Shakir era

    o homem mais rico da regio.

    Um dos homens disse que Shakir era dono de mais de mil vacas.

    - E isso maior do que a riqueza de Haddad, que vive no povoado ao lado.

  • Pouco tempo depois o dervishe estava parado em frente a casa de Shakir a admirando.

    Shakir, que era uma pessoa muito hospitaleira e amvel, insistiu para que o dervishe

    ficasse por alguns dias em sua casa.

    A mulher e as filhas de Shakir eram igualmente amveis e deram o melhor para o der-

    vishe. Inclusive, ao final de sua estadia, lhe deram uma grande quantidade de comida e

    gua para sua viagem.

    No seu caminho de volta para o deserto, o dervishe no conseguia parar de se perguntar

    o significado das ltimas palavras de Shakir.

    No momento da despedida o dervishe havia dito:

    - D Graas a Deus pela riqueza que tens.

    - Dervishe havia respondido Shakir no se engane pelas aparncias, porque isto tambm passar.

    Durante o tempo em que havia passado no caminho Sufi, o dervishe havia compreendi-

    do que qualquer coisa que ouvisse ou visse durante sua viagem lhe oferecia uma lio

    para aprender, e portanto, valia a pena consider-la. Alm de tudo, essa era a razo pela

    qual havia feito a viagem, para aprender mais.

    As palavras de Shakir ocuparam seus pensamentos e ele no estava seguro de ter com-

    preendido completamente o seu significado.

    Quando estava sentado sob a sombra de um arbusto para rezar e meditar, recordou do

    ensinamento Sufi sobre guardar silencio e no se precipitar em tirar concluses para

    finalmente alcanar a resposta. Quando chegasse o momento, compreenderia, j que

    havia sido ensinado a permanecer em silncio e sem fazer perguntas. Para tanto, fechou

    a porta dos seus pensamentos e submergiu sua alma em um estado de profunda medita-

    o.

    E assim se passaram mais cinco anos, viajando por diferentes terras, conhecendo pesso-

    as novas e aprendendo com suas experincias no caminho. Cada nova aventura oferecia

    uma lio a ser aprendida. Entretanto, como requeria o costume Sufi, permanecia em

    silncio, concentrado nas ordens do seu corao.

    Um dia, o dervishe voltou a Colinas Arenosas, o mesmo povoado onde havia passado

    alguns anos antes. Se lembrou de seu amigo Shakir e perguntou por ele.

    - Est vivendo no povoado ao lado, a dez milhas daqui. Agora trabalha para Haddad respondeu um homem do povoado.

    O dervishe lembrou surpreendido que Haddad era o outro homem rico da regio. Con-

    tente com a idia de voltar a ver Shakir outra vez, se apressou para ir ao povoado vizi-

    nho. Na maravilhosa casa de Haddad, o dervishe foi bem recebido por Shakir, que agora

    parecia muito mais velho e estava vestido em andrajos.

    - O que lhe aconteceu? quis saber o dervishe.

  • Shakir respondeu que uma enchente trs anos antes o havia deixado sem vacas e sem

    casa; assim ele e sua famlia se tornaram empregados de Haddad, que sobreviveu en-

    chente e agora desfrutava da posio de homem mais rico da regio. Entretanto, esta

    alterao na sorte no havia mudado o carter amistoso e atencioso de Shakir e de sua

    famlia.

    Cuidaram amavelmente do dervishe na sua cabana durante os dois dias e lhe deram co-

    mida e gua antes dele sair.

    Na despedida, o dervishe disse:

    - Sinto muito pelo que aconteceu com voc e sua famlia. Mas sei que Deus tem um

    motivo para aquilo que faz..

    - Mas no se esquea, isto tambm passar.

    A voz de Shakir ressoou como um eco nos ouvidos do dervishe. O rosto sorridente do

    homem e seu esprito tranqilo no abandonavam seu pensamento.

    - O que ele quer dizer com esta frase desta vez?

    O dervishe sabia agora que as ltimas palavras de Shakir na sua visita anterior se ante-

    ciparam s mudanas que ocorrerem. Mas dessa vez, se perguntava o que poderia justi-

    ficar um comentrio to otimista. Assim deixou a frase de lado outra vez, preferindo

    esperar pela resposta.

    Passaram meses e anos, e o dervishe, que estava ficando velho, continuou viajando sem

    nenhuma inteno de parar.

    Curiosamente, suas viagens sempre o levavam de volta ao povoado onde vivia Shakir.

    Assim sendo, demorou sete anos para voltar a Colinas Arenosas e Shakir estava rico

    outra vez. Agora vivia na casa principal da propriedade de Haddad e no na pequena

    cabana.

    - Haddad morreu h dois anos explicou Shakir e, como no tinha herdeiro, decidiu deixar sua fortuna para mim como recompensa dos meus leais servios.

    Quando estava terminando sua visita, o dervishe se preparou para a viagem mais impor-

    tante de sua vida: cruzaria a Arbia Saudita para fazer sua peregrinao a p at Meca,

    uma antiga tradio entre seus companheiros. A despedida de seu amigo no foi diferen-

    te das outras vezes. Shakir repetiu sua frase favorita:

    - Isto tambm passar.

    Depois da peregrinao, o dervishe viajou ndia. Ao voltar a sua terra natal, Prsia,

    decidiu visitar Shakir mais uma vez para ver o que havia acontecido com ele. Assim,

    mais uma vez se ps em marcha para Colinas Arenosas. Mas em vez de de encontrar

    seu amigo Shakir, lhe mostraram uma humilde tumba com a inscrio Isto tambm passar. O dervishe ficou ainda mais surpreendido do que das outras vezes, quando o prprio Shakir havia pronunciado estas palavras.

  • - As riquezas vem e as riquezas se vo pensou o dervishe mas, como pode trocar um tmulo?

    A partir de ento o dervishe adquiriu o costume de visitar a tumba de seu amigo de tan-

    tos anos e passava algumas horas meditando na morada de Shakir. Entretanto, em uma

    de suas visitas o cemitrio e a tumba haviam desaparecido, arrasados por uma enchente.

    Agora, o velho dervishe havia perdido o nico vestgio deixado por um homem que

    havia marcado to excepcionalmente as experincias de sua vida. O dervishe permane-

    ceu durante horas nas runas do cemitrio, olhando o cho fixamente. Finalmente, le-

    vantou a cabea em direo ao cu e ento, como se houvesse descoberto um significa-

    do mais elevado, abaixou a caber em sinal de confirmao e disse:

    - Isto tambm passar.

    Finalmente o dervishe ficou muito velho para viajar, decidindo se fixar e viver tranqilo

    e em paz pelo resto de sua vida.

    Os anos se passaram e o ancio se dedicava a ajudar a quem se acercava dele para os

    quais aconselhava e a compartilhar suas experincias com os jovens. Vinha gente de

    todas as partes para beneficiar-se de sua sabedoria. Finalmente, sua fama chegou at o

    grade conselheiro do rei, que casualmente estava buscando algum com grande sabedo-

    ria.

    O fato era que o rei desejava que lhe fizessem um anel. O anel teria de ser especial: de-

    via ter uma inscrio de tal forma que quando o rei se sentisse triste, olhasse o anel e

    ficaria contente e se estivesse feliz, ao olhar o anel se entristeceria.

    Os melhores joalheiros foram contratados e muitos homens e mulheres se apresentaram

    para dar sugestes sobre o anel, mas o rei no gostava de nenhuma. Ento o conselheiro

    escreveu para o dervishe explicando a situao, pedindo ajuda e o convidando para ir ao

    palcio. Sem abandonar sua casa, o dervishe enviou sua resposta.

    Poucos dias mais tarde, um anel foi feito com uma esmeralda e foi entregue ao rei. O

    rei, que havia estado deprimido por vrios dias, mal o recebeu, botou o anel no dedo e

    olhando-o, deu um suspiro de decepo.

    Logo comeou a sorrir e, pouco depois, ria s gargalhadas.

    No anel que usava estavam escritas as palavras Isto tambm passar.

    Farid Ud Din Attar Histrias da Terra dos Sufis

  • O Gramtico e o Dervixe

    Postado em 10 de agosto de 2010 por Prof. Rita Alonso (Analogias e Metforas)

    Numa noite escura um dervixe passava junto a um poo seco, quando do interior do

    mesmo brotou um chamado de socorro.

    - Que ser? indagou o dervixe, olhando para o fundo do poo.

    - Sou um gramtico e infelizmente, por desconhecer o caminho, ca neste poo profun-

    do, em que estou agora quase imobilizado respondeu o outro.

    - Aguenta firme a, amigo. Vou buscar uma escada e corda gritou o dervixe.

    - Um momento, por favor! exclamou o gramtico. Sua gramtica e pronncia so incorretas, seria bom que as corrigisse.

    - Se isso mais importante que o essencial ser melhor que voc permanea onde est,

    at que eu tenha aprendido a falar com elegncia e propriedade.

    Este conto foi relatado por Jalaludin Rumi e est registrado em Feitos dos Adeptos de Aflaki. Editado na Inglaterra em 1965 sob o ttulo de Lendas dos Sufis, a presente narrativa acerca dos Mevlevis e suas supostas faanhas foi escrita no sculo XIV.

    Algumas dessas narrativas so meramente lendas sobre feitos fantasiosos, mas outras

    so histricas, e algumas pertencem ao estranho gnero conhecido pelos sufis como

    histrias ilustrativas, quer dizer, uma srie de fatos entremeados para exemplificar processos psicolgicos.

    Por esse motivo tais contos tem sido denominados A Arte dos Cientistas Dervixes.

    Extrado de Histrias dos Dervixes Idries Shah