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    MANUEL SLVIO ALVES CONDEMANUELSLVIOALVESCONDE

    CONSTRUIR,HABITAR:

    A CASA MEDIEVAL

    MANUEL SLVIO ALVES CONDE

    CONSTRUIR,HABITAR:A CASA ME DIEVAL

    NUEL SLVIO ALVES CONDE

    ONSTRUIR,ABITAR:

    CASA ME DIEVAL

    CONSTRUIR,HABITAR:

    ACASAMEDIEVAL

    MANUEL SLVIO ALVES CONDEProfessor Auxiliar, com Agregao, do Departamento de

    Histria, Filosofia e Cincias Sociais da Universidade dos

    Aores. Investigador do Centro de Estudos Histricos e

    do CITCEM. Licenciado em Histria pela Faculdade de

    Letras da Universidade de Lisboa e Mestre em Histria

    Medieval pela Faculdade de Cincias Sociais e Humanas da

    Universidade Nova de Lisboa, concluiu o Doutoramento

    em Histria na Universidade dos Aores e a Agregao em

    Histria na Universidade Nova de Lisboa. Autor dos livros

    Tomar medieval. O espao e os homens (1996), Horizontes do

    Portugal medieval. Ensaios histricos (1999), Uma paisagem

    humanizada. O Mdio Tejo nos finais da Idade Mdia (2

    volumes, 2000), O hospital medieval do Esprito Santo

    de Sesimbra e a assistncia caritativa portuguesa(2004),

    colaborador das obras (dirigidas por Jos Mattoso) Histria

    da vida privada (2010) e Historiography of Medieval Portugalc. 1950-2010 (2012), co-editor (com Iria Gonalves) dos

    Tombos da Ordem de Cristo, vol. 2 - Comendas do Mdio Tejo

    (2005) e vol. IV - Comendas do Noroeste(2008), director de

    Media tas(1. e 2. sries, desde 1999). O seu campo de

    investigao abrange temas de histria urbana, urbanismo e

    patrimnio urbano, confraternidade e assistncia caritativa,

    histria rural, organizao do espao e paisagem, construo

    e habitao corrente, histria do quotidiano.

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    CONSTRUIR,HABITAR:

    A CASA MEDIEVAL

    MANUEL SLVIO ALVES CONDE

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    FICHA TCNICA

    Ttulo: Construir, habitar A casa medieval

    Autor: Manuel Slvio Alves Conde

    Figura da capa: Livro de Horas de D. Fernando, fl. 2 v. (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, IL. 13).Foto: Diviso de Documentao Fotogrfica / Instituto dos Museus e da Conservao

    Edio: CITCEM Centro de Investigao Transdisciplinar Cultura, Espao e Memria

    Livro publicado pelo projecto DOMUSIberOMa, financiado pela Secretaria Regional da Cincia, Tecnologiae Equipamento dos Aores

    Design grfico: Helena Lobo www.hldesign.pt

    ISBN: 978-989-97558-4-0

    Depsito Legal: 341104/12

    Concepo grfica: SerSilito-Empresa Grfica, Lda. www.sersilito.pt

    Braga, Dezembro 2011

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    SUMRIO

    Prefcio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

    Introduo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    Captulo I

    A habitao e a arquitectura corrente do Norte Trasmontano, em finais daI d a d e M d i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    Captulo II

    Construes rsticas e urbanas do Mdio Tejo nos sculos XV-XVI . . . . . . . . . . . . . 69

    Captulo III

    Tipologias, materiais e tcnicas construtivas na casa comum das cidades doVale do Tejo, em fins da Idade Mdia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

    Captulo IV

    A casa urbana comum, no Alentejo dos sculos XV-XVI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

    Captulo V

    As gentes da construo na sociedade medieval portuguesa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147

    Captulo VI

    Materiais e tcnicas de construo na arquitectura rural do Mdio Tejo,em finais da Idade Mdia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165

    Captulo VII

    Alteraes estruturais e superficiais na construo corrente urbana doOcidente Peninsular em fins da Idade Mdia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179

    Captulo VIII

    A habitao corrente nos finais da Idade Mdia: morfologias, materialidades,

    funcionalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 3 7

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    uma casa a coisa mais sria da vida(Ruy Belo,Aquele grande rio Eufrates)

    memria dos meus pais, Maria e Antnio.

    A todos os que esto na minha vida, e so da minha casa.

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    PREFCIO

    IRIA GONALVES

    Um abrigo contra as intempries e outros perigos envolventes, sobretudo osque a noite mais propiciava e escondia, um espao de tranquilidade e descansofoi anseio comum a todos os homens e mulheres ao longo dos tempos. Uma casa.Uma habitao. Maior ou menor, mais requintada e confortvel ou mais rstica edesprovida mas, de qualquer modo, uma casa.

    Atento que deve estar um historiador a tudo quanto marca deixada pelos ante-passados e que, como tal, pode ajudar a compreender, to ampla e diversificadamentequanto possvel, quais foram as condies de vida desses antepassados, como sedesenrolaram as suas existncias, como se relacionaram uns com os outros, o queproduziram ou destruram, o que receberam dos seus prprios maiores ou o quelegaram s geraes posteriores, numa escala de prioridades que muitas vezes temque ser estabelecida pela qualidade e volume daquelas marcas mas que, sempre quepossvel, o dever ser pela importncia do objecto de anlise, fcil perceber comoo estudo da casa conviria que fosse um assunto a no desprezar, antes a valorizare a iluminar com toda a luz possvel e nos variados aspectos que a ela se prendem.

    No que poca medieval se refere certo que, entre ns, h muito a habitao

    atraiu os olhares dos historiadores desde que Costa Lobo, no incio do passado sculo,lhe dedicou algum cuidado em pginas pioneiras e que ainda guardam todo o seuinteresse. Mas esses olhares foram fugazes e na altura no suscitaram continuadores.S muito mais tarde, j na dcada de sessenta, Oliveira Marques lhe dedicou tambmalguma ateno, tendo-nos legado pginas do maior interesse sobre o tema. certoque, mais recentemente, vrias monografias que elegeram o espao rural e sobretudourbano como objecto de anlise historiogrfica no deixaram de abordar maisou menos detidamente alguns dos aspectos relacionados com a habitao. Podem,naturalmente, carrear-se nessas obras bastantes informaes a permitirem o esboo

    de um quadro mais completo. Mas poucos tm sido os medievalistas portuguesesa elegerem a morada como tema especfico da sua investigao.

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    Construir, habitar: A casa medieval

    Ao lado de Maria da Conceio Falco Ferreira, que com toda a justia deve serlembrada, neste caso, Manuel Slvio Alves Conde um desses poucos medievalistas.

    j um labor de vrios anos este que Slvio Conde tem dedicado ao estudo da habi-tao medieval. Um labor que tive o prazer de acompanhar desde o seu incio, que mefoi muito grato ver como se ia desenvolvendo em vrias direces de modo a abarcaro maior nmero possvel de facetas em que a temtica se desenrola, sempre, como timbre do autor, com todo o rigor cientfico, com toda a seriedade, com toda a solidez,fazendo apelo a um alargado leque de fontes que, como sempre, o autor estuda minu-ciosamente e utiliza com mestria, e a que aplica metodologias sempre bem adequadase por vezes at inovadoras. E que complementa com vasta e actualizada bibliografia.

    Reunidos agora em volume nico textos dispersos por diversas revistas da especia-

    lidade e actas resultantes de encontros cientficos, esses textos formam um livro que nosd a conhecer como era e como funcionava a casa medieval. Ensina-nos as tcnicas deconstruo e mostra-nos os materiais que nela eram utilizados; diz-nos da sua implantaono terreno, da sua volumetria, da rea que ocupava ou podia disponibilizar; aponta-nosa sua diviso em compartimentos ou no , as suas aberturas, a sua rusticidade comotambm os elementos de conforto que a tornavam mais aconchegada e acolhedora. Masexplica-nos tambm quais as suas mltiplas funcionalidades, sugere-nos como seriautilizada quer se tratasse da pequena casa unicelular das gentes mais humildes ou dagrande moradia dos possidentes, desdobrando-se, esta, em salas e cmaras vrias, cres-cendo em altura por sobreposio ao andar trreo de um ou mais sobrados, de modoa destacar-se, pela sua elevao, das vivendas terreiras do povo comum.

    Tem assim o leitor, nas sua mos, um mundo de temas dentro de um temanico, por isso a formarem um conjunto muito coerente e expressivo. Um con-junto que, agora, reunido numa mesma obra e por isso de consulta e comparaomuito fceis, se tornar, estou certa disso, muito til para todos os medievalistasinteressados em assuntos para os quais a compreenso da moradia, urbana comorural, tenha alguma relevncia. Para eles ser um livro de leitura obrigatria. Para

    todos quantos alimentam alguma curiosidade acerca do nosso passado medieval as nossas mais genunas razes este livro abrir horizontes, despertar, estoucerta disso, salutares interesses. E at um eventual leitor partida mais desatentono ficar decepcionado. Encontrar uma escrita clara, lmpida, fluente, que lheproporcionar, para alm do mais, algumas horas de leitura agradvel.

    Para mim, amiga desde h muitos anos do autor, interessada, como investiga-dora, nos assuntos aqui trabalhados um enorme prazer ter a oportunidade desaudar com este prefcio a publicao da obra que agora vem a lume.

    Que ela frutifique, para bem do medievalismo portugus.

    Lisboa, Dezembro de 2011.

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    INTRODUO

    Reno neste livro oito textos significativos da minha produo cientfica na

    primeira dcada deste milnio. Cinco deles foram escritos no mbito de projectosde investigao em que participei: o projecto Paisagens rurais e urbanas entre aIdade Mdia e os Tempos Modernos. Fontes para o seu estudo, dirigido por IriaGonalves, e o projecto A casa da Ibria ocidental e da Macaronsia, de que fuiresponsvel.

    A publicao num nico volume de sete textos dispersos por actas de encon-tros cientficos, no Pas e no exterior, e de um ainda indito, consagrados mesmatemtica a casa medieval procura sobretudo proporcionar aos alunos umacesso fcil aos mesmos, mas poder tambm servir aos colegas e amigos queos demandam e, porventura, a profissionais de outras reas e a um pblico maisamplo, interessados pelas questes da construo e da habitao.

    Para esta edio, normalizaram-se graficamente os textos, cortou-se uma ououtra pequena redundncia e realizaram-se pontuais intervenes ortogrficas ousintcticas. Entendi no ir alm disto, tendo em conta o contexto da sua produ-o, assinalado em nota junto a cada ttulo e que o leitor dever ter em conta. Apossibilidade de proceder a actualizaes foi considerada, mas conclu pela manu-

    teno dos textos originais, com as respectivas notas infrapaginais e refernciasbibliogrficas, sem prejuzo da insero de uma ou outra nota, apresentada entreparntesis rectos, nos casos em que o pensamento actual do autor diverge do quefoi anteriormente escrito e naqueles em que se verificaram alteraes de cotasarquivsticas. Atendendo ao natural interesse do leitor em encontrar refernciasbibliogrficas actualizadas, optei por eliminar as bibliografias originalmente apensasa alguns dos textos e apresentar, no final, uma bibliografia temtica actualizada.

    A organizao do volume teve em conta a natureza dos textos: anlises de base

    regional (os quatro primeiros); abordagem de temas especficos (os trs seguintes),um texto de carcter geral (o ltimo).

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    Construir, habitar: A casa medieval

    Os quatro textos da primeira seco perspectivam as questes da construo eda habitao em mbitos regionais variados: os meios urbanos e rurais do Norte

    Trasmontano e do Mdio Tejo, as cidades do Vale do Tejo e do Alentejo. Os espaosconsiderados foram escolhidos de acordo com prioridades de pesquisa, tendo emconta quer o conhecimento acumulado pelos investigadores de histria urbana,quer os trabalhos j elaborados ou em curso, respeitantes casa1. So diversos osseus mbitos temticos: uns contemplam a abordagem da morfologia, materialidadee funcionalidade da casa urbana comum, enquanto outros consideram tambma moradia rstica e as suas adjacncias e um deles aprecia outrossim a habitaosenhorial (paos, domus fortis e casa-torre) e as construes especializadas (dearmazenamento, de transformao, assistenciais e estalagens). Um dos textos pro-

    cura ainda apreciar os efeitos da escala urbana no quadro evolutivo da casa, nosvrios aglomerados de uma mesma regio.

    Na segunda seco, a construo entrevista a partir de trs perspectivasdiferentes. O primeiro dos textos foca as gentes da construo, seja a composiodo grupo socioprofissional e o peso relativo deste no quadro da populao activaurbana, seja a organizao profissional de carpinteiros e pedreiros e as suas rela-es com os poderes, seja, por ltimo, o seu estatuto socioeconmico. Estudam-se,depois, os diversos materiais e tcnicas construtivos a pedra, a terra, os mate-riais vegetais e os metais num quadro onde se percebe no tanto um contrastecivilizacional, mas sobretudo arquitecturas integradoras ou opes econmicas,culturais entre as alternativas possveis no quadro local. O terceiro texto ponderaas transformaes da casa dentro dos processos evolutivos das urbes dos finaisda Idade Mdia: verticalizao, novas tipologias arquitectnicas, novas exignciastcnicas e materiais impondo-se nas reas urbanas mais dinmicas, forando aperiferizao das artes de construir tradicionais.

    A terceira seco constituda por um texto de sntese relativo s morfolo-gias, materialidades e funcionalidades da casa comum dos finais da Idade Mdia.

    Dada a natureza didctica do texto trata-se da lio que apresentei, em provasde Agregao, realizadas em Junho de 2004 na Universidade Nova de Lisboa foiconstrudo com um aparato erudito bastante leve, compensado pela listagembibliogrfia anexa, que, um tanto ampliada, serviu de base bibliografia propostano final do volume.

    A casa medieval, ou melhor, a casa dos finais da Idade Mdia aqui apreciadaem torno de dois eixos problemticos essenciais: construir e habitar.

    1Em particular os produzidos, com objectivos e metodologias semelhantes, por Iria Gonalves,Conceio Falco e Lusa Trindade.

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    INTRODUO

    Para o poeta Ruy Belo, uma casa a coisa mais sria da vida. certo que ahabitao, a arquitectura de uma sociedade no se reduz casa. Mas, seguindo

    a excelente metfora de Isac Chiva2

    , ela est para a sociedade como o caroo/ncleo (noyau)est para o fruto e para a rvore, pois contm o que lhe permitereproduzir-se.

    Em todos os tempos, os grupos humanos experimentaram a necessidade deencontrar um abrigo, uma concha protectora, que os poupasse dos perigos e dasinclemncias da natureza. Desde os tempos mais remotos, demandaram algumadobra do territrio e exerceram sobre ela um esforo de adaptao para convert--la em espao habitacional. Depois, cuidaram de construir, isto , produzir, as suashabitaes, recorrendo a materiais variados, recolhidos na natureza, juntando -os

    em formas determinadas, segundo um dado projecto, recorrendo para tal a tcnicase instrumentos por si concebidos3. O termo latino constructioconstruo, estru-tura foi usado pelos retricos no sentido de sintaxe: os materiais construtivos/aspalavras no seriam meros amontoados sem nexo, haviam de ser organizados emobedincia a uma regra/sintaxe.

    O timo latino de habitar, habito, um frequentativo de habeo, expresso deenorme riqueza semntica. Habitar denota ter, possuir, ser, estar senhor de, conter,encerrar, abranger, exibir, habitual e repetidamente.

    A estruturahabitacional criada pelos homens, a casa, revelar-se-ia um elementoessencial no esforo de domnio da natureza por aqueles. O abrigo construdo, cenriode vida quotidiana e de reproduo biolgica (e cultural) da espcie, transfigurou--se, no fluir dos tempos e na diversidade dos espaos. Por vezes, tornou-se maiscomplexo e assumiu novas dimenses materiais e imateriais. Facultou seguranae conforto, mas tambm albergou actividades produtivas e servios, conteve ali-mentos e bens acumulados. Tornou-se princpio organizador de sociedades ele-mentares, mas tambm de sociedades complexas, congregando grupos humanose projectando-os no devir (casa/famlia, casa/linhagem), afirmou-se como pessoa

    moral, detentora de um domnio composto de elementos materiais (bens mveise imveis) e imateriais (nome, crenas, tradies, memria), perpetuando-se pelatransmisso desse patrimnio atravs das geraes, continuando-se e renovando--se pela filiao e pela aliana4. Adquiriu uma dimenso cenogrfica, converteu-seem suporte de comunicao com o exterior, sinal de distino social e cultural.

    2Isac CHIVA, La maison: le noyau du fruit, larbre, lavenir, in Terrain 9 -Habiter la maison(1987),pp. 5-9.

    3Franois VALLA, Lhomme et lhabitat: Linvention de la maison durant la prhistoire,Paris, 2008.4

    Cf. Claude LVISTRAUSS, La notion de maison,Paroles donnes,Paris, 1984, pp. 189-191 ; Idem,La notion de maison. Entretien avec Claude Lvi-Strauss, par Pierre Lamaison, in Terrain 9 Habiterla maison(1987), pp. 34-39.

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    Construir, habitar: A casa medieval

    O esforo, que tenho partilhado com uns poucos mais5, de aprofundar o conhe-cimento da casa medieval de que aqui exponho alguns resultados tem a sua

    razo de ser essencial na circunstncia de a casa, as artes de construir e as maneirasde habitar servirem para pensara sociedade a que pertencem6. Microcosmo dasociedade, a casa, urbana ou rural, comum ou qualificada, profundamente reve-ladora daquela, dos espaos e dos tempos em que se ergueu e perdurou.

    A construo/colectnea que vos apresento imperfeita e frgil. Os materiaiscom que a fui erguendo textos, imagens, estruturas habitacionais e objectos doquotidiano so incertos, ora quase mudos, ora desvirtuados. Mas so o que temos,o que resistiu usura dos tempos, incria dos homens, depredao. Fruto de

    uma seleco, em que mais facilmente perdurou o que era forte, belo e valioso, emdesfavor do que era frgil, feio e pobre. A conservao diferencial dos vestgios dopassado obliqua, tantas vezes, a nossa leitura dos mesmos. O desaparecimento decontratos de obra, de livros de contas, de inventrios de bens mveis, a pobreza daiconografia ou os silncios dos textos so obstculos severos ao esclarecimento detantos temas, que o investigador tem de superar, atravs de metodologias adequadas.No obstante tais escolhos, muito poderemos decerto fazer, atravs do comparati-vismo com reas europeias e mediterrnicas possuidoras de uma documentaomais rica ou de persistncias arquitectnicas mais indicativas, da aplicao domtodo regressivo, do recurso aos dados da etnografia, de um trabalho renovado,mais sistemtico, de explorao das fontes textuais e iconogrficas existentes. Masimportar, sobretudo, que a arqueologia urbana se enraze e procure responderquilo que os textos omitem e que os arquivos do subsolo dos espaos rurais emvias de desertificao sejam igualmente revelados, para que tantos aspectos relativos casa rural, hoje obscuros, possam finalmente ser esclarecidos.

    Por ltimo, devo assinalar o meu reconhecimento queles cujo apoio tornou

    possvel a publicao deste livro. Direco Regional da Cincia e Tecnologia/ Secretaria Regional da Cincia, Tecnologia e Equipamentos dos Aores, pelofinanciamento do projecto DOMUSIberOMa, incluindo a presente edio. AoCITCEM Centro de Investigao Transdisciplinar Cultura, Espao e Memria,pela incluso deste livro no seu plano editorial; em especial, ao Francisco Men-des, colega e amigo de sempre, pela disponibilidade demonstrada e pelo grande

    5Veja-se o recente balano historiogrfico relativo aos temas do quotidiano: Manuel Slvio AlvesCONDE, e history of everyday life (1950-2010), in Jos Mattoso (dir.), Te historiography of Medieval

    Portugal c. 1950-2010,Lisboa, Instituto de Estudos Medievais/FCSH, no prelo.6Tenha-se presente o conhecido ensaio de Martin HEIDEGGER, Btir, habiter, penser, in Essais etconfrences,reed., Paris, 2004, pp. 170-193.

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    INTRODUO

    empenho com que acompanhou este projecto. Universidade dos Aores e ao seuDepartamento de Histria, Filosofia e Cincias Sociais, pelo apoio concreto em

    vrios aspectos que permitiram quer a elaborao dos textos aqui presentes, quera preparao desta colectnea.So muitas as dvidas de gratido que acumulei, ao longo da dcada em que

    estes textos foram sendo elaborados.Para com os meus Mestres, Iria Gonalves, Jos Mattoso e o saudoso A. H.

    de Oliveira Marques, por quanto com eles tenho aprendido, pelo rigor e elevadograu de exigncia, pelo humanismo, pela confiana e incentivo. Para com SantiagoJimnez Gmez, pelas portas que me abriu em Santiago de Compostela, pelo vigorproblematizante, pela constante solicitude.

    Para com Lus Krus, pelo especial desvelo e pertinentes observaes comque acompanhou a construo dos primeiros textos deste conjunto, num dilogofecundo que os deuses interromperam, levando-o to prematuramente para juntode si; Conceio Falco, pelo companheirismo nestas demandas; Marina Vieira,co-autora do primeiro dos textos desta colectnea, pela frutuosa troca de ideias (ede leituras), pela atenta leitura crtica de muitas destas pginas, na sua primeiraverso, pelo incentivo; Isabel Albergaria, pelos intercmbios de opinies e materiaisrelativos aos temas da construo e da habitao.

    Para com os Amigos tantos, que seria impossvel nome-los aqui queacompanharam a elaborao destes textos, contribuindo, com crticas e sugestes,para a sua melhoria; os que generosamente me facultaram preciosas indicaesarquivsticas ou bibliogrficas; os que tornaram possvel a apresentao e o debatepblicos dos textos aqui apresentados e os que participaram criticamente nessedebate; os que e em particular os meus Alunos , de tantas formas, tm mani-festado interesse por estes temas e ateno aos meus trabalhos.

    Todos eles esto na minha vida, e so da minha casa.Por ltimo, para com a Famlia, os que privam de perto comigo, para quem

    tantas vezes o trabalho significa menor disponibilidade minha; e que persistemem dar-me o que tm de melhor.Bem-hajam!

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