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CRIANÇA, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM

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Esta obra aborda, dentro da psicologia da educação e do desenvolvimento, as diferentes concepções de aprendizagem, sendo elas inatismo, empirismo e interacionismo. Os leitores irão ainda ler mais sobre Piaget e as teorias de desenvolvimento relacionadas à educação infantil e à construção do conhecimento pela criança. Iremos tratar ainda dos diferentes aspectos do sociointeracionismo de Vygotsky e como Wallon trata a afetividade, a motricidade e a cognição.

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CRIANÇA, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM

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CRIANÇA, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM

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5Apresentação

Apresentação Um conteúdo objetivo, conciso, didático e que atenda às expectativas de quem leva a vida em constante movimento: este parece ser o sonho de todo leitor que enxerga o estudo como fonte inesgotável de conhecimento.

Pensando na imensa necessidade de atender o desejo desse exigente leitor é que foi criado este produto voltado para os anseios de quem busca informação e conhecimento com o dinamismo dos dias atuais.

Com esses ideais em mente, nasceram os livros eletrônicos da Cengage Learning, com conteúdos de qualidade, dentro de uma roupagem criativa e arrojada.

Em cada título é possível encontrar a abordagem de temas de forma abrangente, associada a uma leitura agradável e organizada, visando facilitar o aprendizado e a memorização de cada disciplina.

A linguagem dialógica aproxima o estudante dos temas explorados, promovendo a interação com o assunto tratado.

Ao longo do conteúdo, o leitor terá acesso a recursos inovadores, como os tópicos “Atenção”, que o alertam sobre a importância do assunto abordado, e o “Para saber mais”, que apresenta dicas interessantíssimas de leitura complementar e curiosida-des bem bacanas, para aprofundar a apreensão do assunto, além de recursos ilustra-tivos, que permitem a associação de cada ponto a ser estudado. Ao clicar nas palavras- -chaveemnegrito,oleitorserálevadoaoGlossário,parateracessoàdefiniçãodapalavra. Para voltar ao texto, no ponto em que parou, o leitor deve clicar na própria palavra-chave do Glossário, em negrito.

Esperamos que você encontre neste livro a materialização de um desejo: o alcance doconhecimentodemaneiraobjetiva,concisa,didáticaeeficaz.

Boa leitura!

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7Prefácio

PrefácioA psicologia pretende explicar o que as pessoas pensam e sentem. Não é uma ciênciafácil.Afinal,tentarentenderamentedoserhumanonãoéalgosimplesdese fazer.

Justamentepelacomplexidadedequeestaciênciaserevesteéqueseidentificaasua importância nos mais diversos campos das relações interpessoais.

Neste material, no entanto, a psicologia será estudada para compreender a im-portância da Criança, do desenvolvimento e da aprendizagem sob dois vieses: a primeira delas é a Psicologia do Desenvolvimento, que tem por objeto explorar os fenômenos comportamentais individuais, descrevendo as capacidades, potencia-lidades, limitações, ansiedades e angústias típicas de cada faixa etária do ser hu-mano. A segunda é a Psicologia da Aprendizagem, área da psicologia que observa, investiga, registra e analisa o processo por meio do qual o ser humano se apropria das formas de pensar e do conhecimento proveniente da experiência humana a partir da interação social.

Para que o estudo possa atingir o seu importante objetivo, ele foi dividido em 4 partes. A primeira explora os conceitos principais dessas duas vertentes da psi-cologia,passandopelasfilosofiasdeAristóteles,Sócrates,PlatãoeDescártesatéchegar a Edward Thorndike, Burrhus Frederic Skinner e Edwin R. Guthrie, psi-cólogosqueincentivarameorientaramainfluênciadapsicologianoprocessodedesenvolvimento do indivíduo.

Na segunda unidade o leitor conhecerá, um pouco, como os seres humanos aprendem e quais são as suas fases evolutivas.

A terceira unidade trata dos objetivos da avaliação, trazendo uma importante re-flexãoacercadesseprocesso,quaisostiposdeavaliaçãoexistentesatualmente,quais as normas e técnicas para construção de avaliação e os benefícios do pro-cesso de avaliação.

Finalmente,naquartaunidade,umaimportanteeabrangentereflexãosobreaafe-tividade, aprendizagem e avaliação, a importância do feedback na vida do aluno e a postura a ser adotada pelo educador no processo de avaliação.

Trata-se de um contexto sucinto, porém, importante para compreender a impor-tância da psicologia no desenvolvimento do indivíduo.

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9Unidade 1 – Psicologia da educação e do desenvolvimento

UNIDADE 1PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO E DO DESENVOLVIMENTO

Capítulo 1 O que é Psicologia, 10

Capítulo 2 O que a Psicologia investiga?, 12

Capítulo 3 A psicologia do desenvolvimento na aprendizagem, 17

Glossário, 26

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10 Criança, desenvolvimento e aprendizagem

1. O que é Psicologia? Psicologia é a ciência que visa a compreensão e o esclarecimento a respeito da mente humana.

Essa ciência aventura-se a decifrar a nossa mente, o que temos de mais secreto e íntimo, o lugar em que guardamos nossos pensamentos e desejos mais íntimos.

ApalavraPsicologia,emsuabrutaessência,significaoestudodaalma.Trata--se do estudo de nossas funções mentais, como a cognição, além de atitudes, comportamentos, personalidade e reações e relações interpessoais e, também, da maneira como agimos e sentimos. Compreende-se por ser uma ciência com-plexa, que tenta compreender a subjetividade e o comportamento humano.

EssaciênciasurgiunaGréciaantiga,comasdúvidasdosfilósofos.Paraeles,todas as coisas – o ar, a terra, a água, a luz do sol, o amanhecer, o mundo, a alma, o homem – deveriam ter um sentido, uma compreensão, um motivo de existência.Comportamentos,pensamentosepalavrasdeveriamterumadefini-ção,umsignificado,indicandocomoanossamentefuncionava.Eassimpen-savamosantigosfilósofos:indagando-se,comocriançasnafasedos“porquês”.

Osfilósofosgregoserampoetasimaginativos.Nãopodemosdistingui-loscomocientistas, pois tudo o que queriam elucidar e tentar descrever eram indaga-ções, hipóteses e pensamentos que surgiam de um senso comum, termo este quepodeserdefinidocomoalgodito,pensadoeobservadopelaspessoas.

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11Unidade 1 – Psicologia da educação e do desenvolvimento

Encontramos no Brasil colonial um bom exemplo para explicar o que é senso comum: o leite era uma bebida rara – somente os senhores de engenho e as pes-soas que moravam na casa grande podiam desfrutar e saborear esse precioso néctar. Como não se permitia nem se queria que escravos consumissem leite, e como nos pomares das fazendas havia abundância de manga, os senhores do engenho espalharam a ideia de que fazia mal tomar leite com manga, o que se tornou um “senso comum”, ou seja, um mito, uma crendice que se mantém viva até hoje.

Para uma ideia se tornar senso comum, é relativamente simples; entretanto, parasetornarcientífica,elacarecedeumafundamentaçãoempírica,ouseja,a ideia deve ser provada por meio de experiências e de estudos devidamente comprovados. Tantos questionamentos e inquietações, como os dos filósofosantigos,necessitamserexplicadoscombaseemconceitosemétodoscientíficos.

Nesse sentido de busca do real e do abstrato, a Psicologia é uma ciência nova de estudo do indivíduo. Sua abordagem e seus conhecimentos não são processos fechados ou prontos.

Então, vamos compreender o homem: diferente dos animais, o homem é um ser em constante transformação, na medida em que procura encontrar e ultrapassar seus limites em seu espaço físico e psíquico.Eleéimpulsionadoadesafiarnovasconquistas, novas formas de ver e de se posicionar no mundo em que vive.

Movido por seus desejos, sentimentos, moralidade, racionalidade, pensamentos e atitudes, os quais estão sempre o impulsionando e desafiandoparanovasconquistaseaventuras,ohomemvaitransformando-seemodificandoomundoque o cerca, compondo e formando a personalidade humana. Assim, sendo um ser que tem consciência, o homem se diferencia dos animais, tendo a capaci-dade de analisar os próprios atos e práticas, mas estando sempre à procura e embuscadealgoamais,dealgumacoisaquedesafieosseuspróprioslimites.

Em razão de vários fatos e fatores, sejam eles sociais, culturais, psicológicos ou biológicos,ohomeméumsercomplexoeinfluenciável.APsicologia,portanto,não pode ser uma ciência fechada. O homem é um sujeito ímpar. Nenhuma pessoa é igual a outra; cada uma tem o seu jeito, a sua maneira de pensar para tomar suas atitudes. Por esse motivo, não existe um padrão de desenvolvimento humano linear, isto é, não podemos e nem devemos padronizar o indivíduo.

Apartirde1879,opaidapsicologiacientífica,umcientistaalemãochamadoWilhelm Wundt, procurou entender como funcionava a consciência – a mente humana. Em meio a tantos questionamentos, em variadas situações ocorridas em seus experimentos sobre o comportamento humano, ele acabou criando as primeiras teorias, ou seja, os primeiros métodos de estudo e conceitos sobre o comportamento e desenvolvimento do ser.

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Vamos, neste momento, compreender como a ciência da Psicologia estuda sem se libertar de seus conhecimen-tos, de sua origem na Grécia antiga e de seusfilósofos.O objetivo principalda Psicologia é o de investigar os pro-cessos e estados conscientes e incons-cientes, permitindo que se tenha um conhecimento abrangente do homem em relação ao mundo que o cerca.

Homemeciênciamodificam-se,eaPsi-cologianãopoderiaserdefinidacomoapenas uma pesquisa sobre a alma e da psique humana, pesquisa essa que não se limita ao estudo de algo abstra-

to, e sim de um estudo concreto. Trata-se de um estudo real, a partir do qual se passaram a desenvolver teorias, isto é, um conjunto de conhecimentos capazes de serem explicados.

P ARA SABER MAIS: O termo “psique” tem origem na mitologia grega, quando se estudava a compreensão da alma e sua relação com a Psicologia, que é o estudo

da mente humana.

2. O que a Psicologia investiga?A Psicologia aventura-se a investigar e esclarecer sensações e comportamentos; uma verdadeira comparação e comprovação entre a subjetividade e a objetivi-dade na psique humana. Seu principal objetivo é o estudo da mente humana.

A fim de desvelar suas inquietaçõesacerca de si mesmo e do outro e expli-car ações e comportamentos, algumas teorias foram desenvolvidas. Será re-levante conhecê-las, para saber de onde surgiram algumas das ideias da Psicologia que são defendidas nos dias hoje, como o estruturalismo, o funcionalismo e o associacionismo.

Estruturalismo: Método de observa-ção desenvolvido no século XX, cujos estudos foram elaborados a partir de dados de observação e compreensão

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13Unidade 1 – Psicologia da educação e do desenvolvimento

da subjetividade e das relações humana, e teve por objetivo investigar como se organizava essa estrutura e como os sujeitos interagiam nessa unidade, fosse dentro ou fora do sistema organizacional, ou seja, a sociedade e os sujeitos e suas inter-relações no espaço que ocupam.

Qualquer alteração nessa estrutura caracterizada pelas relações humanas po-derá provocar uma transformação na organização formal. Cada indivíduo, na sociedade, tem direitos e deveres a desempenhar no espaço em que vive e em suas relações, sejam elas sociais, políticas ou culturais. Como abordamos, o objeto de estudo do estruturalismo é a subjetividade, a consciência humana, e seu método de estudo é a observação, a análise das estruturas das conexões da mente por meio das partes que as formam e se constituem.

Funcionalismo: Essa teoria procura estudar o processo dos atos mentais, o modo de pensar. Para a Psicologia, a mente deve ser estudada no intuito de descobrir para que serve e qual é a sua função. Está centrada nos processos que buscam as funções da consciência da mente humana, as do comportamento humano e de sua relação e adaptação com o meio. Como abordamos, objeto de estudo do funcionalismo é a consciência que representa as experiências, as funções e os fenômenos da vida mental.

Associacionismo: Teoria da conduta, segundo a qual a vida tem o sentido de adaptação por um processo contínuo de associações de ideias, partindo das mais simples para as mais complexas. Baseava-se na lei do efeito, em que as atitudes que tomamos e que obtivemos êxito serão lembradas e aquelas em que fracassamos serão eliminadas ou esquecidas.

Podemos,então,refletirecompreenderquenãoexisteumasóteoria,masvá-rias. A Psicologia não é uma ciência fechada, assim como o homem, que é um ser em eterna transformação, quebrando paradigmas, ou seja, modelos e pa-drões.Nosestudosdasciências,podemoscauterizardeParadigmasCientíficos.Assim, investigadores e cientistas estão sempre rompendo modelos e ideias.

Com tantas e para tantas indagações e inquietações, surgem as correntes teó-ricas. Elas possuemafinalidadedeelucidarosprincipaisconceitosecorrentesdo comportamento subjetivo e objetivo em suas variadas formas. Na verdade, são muitas as teorias, e elas se organizam dentro dessas correntes ou paradig-mas. No caso da Psicologia, cada paradigma busca explicar o “por quê” e o “para quê”, e a maneira como o ser humano se desenvolve em seus comportamentos, sentimentos, relacionamentos, pensamentos e atitudes.

P ARA SABER MAIS: A importância de se estudar as teorias visa a compreensão e a investigação do comportamento, bem como o entendimento da objetividade da

consciência humana – a mente – diante de uma realidade ou situação.

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Assim sendo, apresentaremos, a seguir, três correntes teóricas ou paradigmas na Psicologia contemporânea: a abordagem psicanalítica, a behaviorista e a da gestalt.

Abordagem psicanalítica

O representante dessa abordagem, Sigmund Freud, pesquisou a vida mental e investigou as regiões mais confusas da mente humana, que são o consciente, o inconsciente e o pré-consciente.

• Consciente: É a capacidade de percepção de nossas atitudes à lembrança de um sonho, e o ato de pensar, do raciocínio à memória.

• Inconsciente: É o que a nossa mente não tem lembrança, como as falhas de memória; é o homem, em seu interior mais profundo. Essa área é constituída pelos nossos desejos, consistindo uma zona mais obscura do ser humano, como os nossos instintos.

• Pré-consciente: Trata-se do nosso subconsciente, é a lembrança, por exem-plo,doquecomemosedoquefizemosnodiaanterioràmemória.

A abordagem psicanalítica tinha como principal objetivo investigar as atitudes traumáticasmaisescondidasemseusconflitosemocionaise,emespecial,asforças do inconsciente, que determinam o comportamento humano. Essa abor-dagem, postulada por Freud, retrata a dinâmica do psiquismo humano, do in-consciente–umaáreaqueexerceforteinfluênciaemnossapersonalidade.

Nessa busca de compreensão, rastreando essa teia, essa trama, que é a mente humana, do consciente e o inconsciente, Freud propôs o conceito de id, ego e superego.

• Id: Espaço da mente em que se encontra toda a emoção; assim como os de-sejos e o prazer, seu papel é obter satisfação, é ter e possuir sempre relacio-nado à libido. O id localiza-se em nossa mente inconsciente, e suas ações não levam em conta a realidade, a noção do real – ele age de uma forma subjetiva, não conhecendo o que é certo e o que é errado. As crianças até 3 anos de idade têm, em sua personalidade, o Idaflorado,poissãopurodesejo,são egocêntricas, não conseguindo equilibrar o seu “eu quero”, “é meu” com o mundo real em que estão envolvidas.

• Ego: Lugar de nossa mente no qual se encontra a realidade. Estabelece o equilíbrio e o bom senso. Apesar de encontrar-se no limite do inconsciente, suas atitudes e ações são estabelecidas pelo consciente. O Ego é contra o de-sejo dos impulsos sem limites do ID. O ego, como membro da personalidade, tem a função básica de controlar a percepção e a noção de nossas ações.

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• Superego. É o componente inibidor dos impulsos dos desejos do id, que não conhece a moralidade. Atua como regulador de normas, valores e regras, do conceito de certo e errado, e do que é ou não é permitido. Atua também como autorregulador do ego, controlando-nos e, ao mesmo tempo, impulsionan-do-nos para um desejo de perfeição. A função social da personalidade está localizada entre o consciente e o pré-consciente.

P ARA SABER MAIS: O id, o ego e o superego são conceitos que Freud elaborou para caracterizar a nossa personalidade, mas são fatores distintos e interdependentes,

cada um tendo função e papel próprio.

Abordagem behaviorista

Essa abordagem, também conhecida como comportamentalismo, tem por obje-tivo descrever e analisar o comportamento, ou seja, a conduta, o modo de agir e as atitudes humanas. Entretanto, o behaviorismo não é uma ciência, propria-mentedita,caracterizando-seporserumafilosofiaquetratadanossaexistên-cia, da verdade, dos valores morais, da nossa mente e do nosso comportamento.

O behaviorismo pode ser apresentado em três formas de observação e mensuração:

• Behaviorismo metodológico ou clássico: Acredita que é possível controlar e preveracondutahumana,afirmandoque,seamenteoueventosmentaisexistem,estesnãosãoapropriadosparaumestudocientífico.Ocomporta-mento é observável pelo outro. Essa corrente teórica visa o comportamento, as interações entre o sujeito e o espaço em que ele vive.

• Behaviorismo metafísico:Afirmaquementeoueventosmentaisnãoexistem;portanto, não podem ser observados nem mensurados.

• Behaviorismo analítico: Ao citar a mente ou eventos mentais, pressupõe-se que estes possam ser analisados e observados.

Contudo, para o behaviorismo e suas formas de observação do compor-tamento humano, o homem é visto como um ser orgânico, ou seja, um ser que, em sua conduta, responde aos estímulos e às reações prove-nientes do mundo que o cerca. Nes-sa corrente, o processo de apren-dizagem pode ser visto como uma forma de aprender por condiciona-

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mento, ou seja, que o homem pode aprender se for condicionado, que o sujeito pode ser moldado.

No behaviorismo, o processo da aprendizagem caracterizou-se e evoluiu a partir de quatro princípios de desenvolvimento do conhecimento:

• Empirismo: Esse princípio diz que fonte e processo de conhecimento ocorrem por meio de experiências, de como o indivíduo se comporta ao aprender com o outro, em seus experimentos, tendo a aprendizagem sustentada pela ob-servação.

• Determinismo: Esse princípio diz que, no processo de aprendizagem, qual-quer evento é determinado pelo comportamento do sujeito.

• Parcimônia: Esse princípio diz que, diante de duas explicações iguais, o su-jeito construirá seu conhecimento optando pela mais simples.

• Manipulaçãocientífica: Esse princípio diz que os resultados do processo de construção do conhecimento devem ocorrer por meio de experimentos, que demonstram a validade, o que e como, de fato, se chegou ao resultado.

Nesse sentido, compreende-se que todo comportamento e conduta de um in-divíduo podem ser aprendidos, observados e mensurados, e que o processo de aprendizagem é relevante para os behavioristas.

Abordagem da GestaltEssa corrente teórica caracteriza-se por algumas leis que regem o nosso com-portamento, a nossa percepção e a conclusão de ideias para tornar concreto o queaprendemosepercebemos.AGestalt,ouPsicologiadaConfiguração,de-riva-sede“concreto”, trazendoessesignificadoemsuaformação.Surgidanoséculo XX, sua função é tornar explícito aquilo que não pode ser visto, mergu-lhando no inconsciente para descobrir o que se encontra subentendido.

E para que serve a corrente teórica da gestalt? Os gestaltistas estão sempre pro-curando e observando reações e percepções emocionais em suas variadas formas, tornando claro aquilo que poderia estar oculto, que se apresenta de forma inteira na mente, e está sempre buscando uma solução mais simples para fatos e coisas que ocorrem em nosso cotidiano. Essa teoria nos ajuda a resolver os problemas comuns em nossa vida, ou seja, leva-nos a olhar para o todo e não para as partes.

Podemos caracterizar algumas leis básicas dessa corrente teórica, são leis que descrevem o procedimento do cérebro ao processo de percepção:

Lei da semelhança: De acordo com essa lei, coisas semelhantes se agrupam en-tre si, como por exemplo, cores, formas, peso.

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Lei da proximidade: De acordo com essa lei, os elementos próximos tendem a se juntar, ou seja, eles se agrupam.

Lei da continuidade: De acordo com essa lei, a percepção tem uma direção a seguir, um caminho a ser traçado, uma lógica contínua.

Lei da pregnância: De acordo com essa lei, todas as formas tendem a ser perce-bidas em sua simplicidade; objetos e situações podem ser vistos da forma mais simples possível.

Lei da experiência passada: Essa lei, relaciona-se com o pensamento, no pro-cesso principal da percepção considerando a forma como ela ocorre.

Lei do fechamento: De acordo com essa lei, as formas das situações se comple-tam, se fecham e se organizam entre si e sobre si mesma.

A importância em se compreender a psicologia da Gestalt reside em observar queosentidodefiguraeformapodeserusadoemnossocotidiano,comoumamaneira de percepção e de observação do meio em que vivemos e da nossa rela-ção com o outro, ou seja, enxergando, em uma sequência lógica, o todo e não as partes, assim como se pode ver a maneira racional de solução de um problema ou como um livro tem papel e letras que podem ser compreendidos e ter um significadoeumasignificância.

Contudo, vimos que várias abordagens, como as teorias e correntes teóricas daPsicologia,têmumespaçoeumsignificadoparaquepossamosdecifraroucompreender um questionamento, uma percepção, um comportamento e uma reflexãonacondutadodesenvolvimentohumano.

3. A psicologia do desenvolvimento na aprendizagemA psicologia do desenvolvimento nos esclarece e nos ajuda a compreender como ocorre o desenvolvimento mental e o comportamento cognitivo, social e afetivo ao longo da vida. É sempre uma fonte esclarecedora para o estudo do com-portamento humano. No processo de ensino e aprendizagem, contribui com o cotidiano dos educadores em suas práticas e metodologias, assim como em sua relação com os educandos.

O ser humano, como vimos, está sempre em processo de evolução, seja bioló-gico, seja físico. Assim, a psicologia na educação ajuda a compreender como ocorre o desenvolvimento da aprendizagem, encaminhando o educador para um caminho em sua prática pedagógica, o qual consiste de duas abordagens: O que é ensinar e como ocorre a aprendizagem no desenvolvimento; e a prática pedagógica no desenvolvimento da aprendizagem.

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Primeira abordagem: o que é ensinar e como ocorre a aprendiza-gem no desenvolvimento?Para tratar disso, temos de voltar um pouco no tempo. Sócrates acreditava queaprendíamospormeiodoquestionamento,levandoaspessoasarefletirea descobrir a verdade por si próprias. Sendo assim, com a descoberta de nos-sosquestionamentos,contradiçõesereflexões,porvezeserrados,chegamosaonovo. É com a dedução que o conhecimento surge.

Sócrates acreditava que só aprendemos quando quebramos paradigmas. O ser que tudo sabe e que domina todo o conhecimento não é um sujeito livre, aberto a novos saberes. Para ele, o ser humano está sempre na fase de evolução emo-cional cognitiva, está sempre aberto para aprender e para se compreender nesse processo contínuo de aprendizagem.

Em suas palavras, “este sim é um verdadeiro sábio”. Ele estabeleceu o método da maiêutica, ou seja, temos internamente o conhecimento; só precisamos sa-bercomoesseconhecimentotemdenascer,deaflorar,emnossoprocessodeaprendizagem. No entanto, esse processo somente acontece quando estamos dispostos a buscar algo para o nosso desenvolvimento, de modo que precisamos estar sempre motivados a aprender.

ParaofilósofoPlatão,nósaprendemosquandoanossaalmalibertainforma-ções de vidas passadas; para ele, aprender é relembrar fatos e coisas antigas pela percepção de nossa consciência.

Aristóteles, por sua vez, utilizou o método dedutivo para o processo de aprendi-zagem. Ele valeu-se da dedução, aplicando-a em hipóteses de questionamentos para chegar ao conhecimento por meio das experiências vivenciadas e aplicadas no cotidiano.

Portanto,àluzdosfilósofos,aaprendizagemcaracteriza-seporumacontínuamudança de comportamentos enfrentados em determinadas situações. A apren-dizagemmodificaohomememseudesenvolvimento,caracterizando-seporumamudança,porumaatitude,sejanoagir,sejanofalar,pensarerefletirsobrealgo que questionamos.

Quando questionamos, podemos aprender por experiências, pois é nesse pro-cesso que estabelecemos uma ponte entre nossas vivências e algo que expe-rimentamos e sentimos. Aprendemos quando nos relacionamos com o outro, quando o conhecimento dele se torna também o meu. E aprendemos ainda quando estabelecemos vínculos sociais, culturais e afetivos. Portanto, aprender é um processo permanente.

Mas, para que esse processo de aprendizagem ocorra, são necessários alguns elementos de uma situação estimuladora, como a leitura, o hábito de ler, e o brincar.

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19Unidade 1 – Psicologia da educação e do desenvolvimento

A leitura desperta o imaginário da criança nesse processo de aprendizagem. Ao incentivar a criança a ler trabalhamos a cognição, o visual, a percepção, o pro-cesso de criatividade, a oralidade e a interação com o outro e com ela mesma.

Iremos nos estender um pouco mais sobre o brincar, no processo de desenvolvi-mento e na da aprendizagem. O brincar durante a infância estimula o processo de desenvolvimento da criança. Mais que uma ferramenta lúdica e pedagógica, é a base essencial para o desenvolvimento da aprendizagem. Ao brincar, a criança desenvolve a motricidade, ou seja, trabalha suas habilidades motoras, estimula a criatividade e a memória, e explora a realidade e a subjetividade em seu imaginá-rio. Educadores podem trabalhar com regras e valores durante as brincadeiras.

Ao brincar, a criança aprende a ser e a conhecer sobre a realidade e o mundo que a cerca. Aprende sobre situações e papéis, que podem ser invertidos, com a aluna se tornando professora e a professora, aluna, em um processo de explora-ção de diversas realidades e situações. O brincar potencializa o desenvolvimento emocional,cognitivoeafetivo tão importantenaprimeira infância.Enfim,aobrincar a criança aprende a conhecer, saber, fazer, conviver e ser.

Aobrincar,estimulamosaconfiançaeproporcionamosodesenvolvimentodalinguagem de uma forma prazerosa, pela a qual as crianças aprendem a fazer e, ultrapassando a realidade, aprendem a conviver e, sobretudo, a ser. Além de estimularacuriosidade,aautoconfiançaeaautonomia,brincarproporcionaodesenvolvimento do pensamento, da concentração e da atenção.

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É brincando que se aprende, e é com o outro que estabelecemos as primeiras organizações sociais. Ao olhar atento do educador, as crianças, enquanto brin-cam,podemexpressarsuasdificuldadeseansiedades.Obrincar,nessafase,torna-se a principal atividade da criança, pois constrói uma realidade que é só dela e sua capacidade de adaptação ao meio. O brincar é uma atividade comple-ta, que proporciona habilidades comunicativas, solução de problemas e funções sensório-motoras.

Na produção de novas possibilidades, habilidades de expressão, a criança ocu-pa o papel de agente fundamental de seu próprio desenvolvimento, pois é por meio desse desenvolvimento que ela constrói as aquisições necessárias para o seu avanço e aprendizado. O desenvolvimento humano está ligado às mudanças e estabilidades que ocorrem em todo o seu ciclo e ao longo da vida.

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21Unidade 1 – Psicologia da educação e do desenvolvimento

Na fase do desenvolvimento humano, e ao brincar, a criança se aprimora e apresenta inúmeras características que a auxiliam em seu processo de obser-vação, compreensão e interpretação, favorecendo condições para um desen-volvimento pleno e global. Brincando, a criança aprende a lidar com o mundo e forma sua personalidade, recria situações do cotidiano e experimenta senti-mentos básicos.

O mundo da criança é diferente do mundo do adulto. Nele, se encontram o en-canto, o conto do faz de conta, da imaginação, do sonhar e do descobrir-se. É por meio das brincadeiras e da espontaneidade do brincar que a criança ma-nifesta as diferentes impressões vivenciadas em seu contexto familiar e social.

O brincar, na constituição do conhecimento e no desenvolvimento, permite à criança explorar o mundo interior e o exterior em que vive e se relaciona, o que é uma atitude importante para o seu crescimento físico e mental. A brincadeira, no processo de aprendizagem, é essencial e fundamental para que a aprendiza-gem se desenvolva espontaneamente.

Contudo, na vida humana, esse processo não é restrito à infância. A aprendiza-gem ocorre durante toda a nossa vida, desde o momento em que nascemos, ou até mesmo antes dele. Logo que a criança nasce, se inicia o processo de apren-dizagem, que será contínuo. Todo ser racional tem a capacidade de aprender; é por meio dela que amadurecemos em nossa cognição, ou seja, que adquirimos a capacidade de compreender.

Aprendemos em vários espaços – na escola, na família, com os amigos. Em qual-quer lugar que exista uma organização social, há um processo de aprendizagem permanente. Por meio da aprendizagem, o homem evolui, construindo conceitos esuaprópriasobrevivência,eénesseprocessoqueeleseidentifica,ouseja,que forma a sua identidade e compreende a sua personalidade, preparando-se e adaptando-se para viver em sociedade, e adquirindo a compreensão e o respeito pelo próprio espaço e pelo do outro.

Nesse processo, as crianças, principalmente, estão em constante evolução, pois ele leva ao crescimento do comportamento infantil, fazendo a criança integrar--se cada vez mais em seu meio social e afetivo. Portanto, ensinar e aprender po-dem ser explicados como o processo ou a intenção de promover conhecimento, uma ação destinada a desenvolver a aprendizagem a quem se ensina e como se aprende.

Há várias maneiras de aprender, seja pelos nossos erros, seja pelas nossas reflexões.Aaprendizageméumobjetivointencionalque,paraseralcançado,necessita dos pilares cognitivo, emocional e motor. Mas, além desses, há outros pilares nos quais esse objetivo intencional se sustenta, quais sejam: motivação, objetividade, preparação e obstáculos.

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74 Criança, desenvolvimento e aprendizagem

Esta obra aborda, dentro da psicologia da educação e do de-senvolvimento, as diferentes concepções de aprendizagem, sendo elas inatismo, empirismo e interacionismo.

Os leitores irão ainda ler mais sobre Piaget e as teorias de desenvolvimento relacionadas à educação infantil e à cons-trução do conhecimento pela criança. Iremos tratar ainda dos diferentes aspectos do sociointeracionismo de Vygotsky e como Wallon trata a afetividade, a motricidade e a cognição.

CRIANÇA, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM