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Universidade do MinhoEscola de Ciências
Cátia Alexandra Dias Gomes
outubro de 2017
Hábitos de Visão nos Novos Estudantes da Universidade do Minho
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Universidade do MinhoEscola de Ciências
Cátia Alexandra Dias Gomes
outubro de 2017
Hábitos de Visão nos Novos Estudantes da Universidade do Minho
Trabalho realizado sob orientação doProfessor Doutor Jorge Manuel Martins Jorgee do Professor Doutor José Manuel González-Méijome
Dissertação de Mestrado
Mestrado em Optometria Avançada
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DECLARAÇÃO
Nome: Cátia Alexandra Dias Gomes
Endereço eletrónico: [email protected]
Número do Bilhete de Identidade: 14373889 5 ZY6
Título da Dissertação de Mestrado: Hábitos de Visão nos Novos Estudantes da Universidade do
Minho
Orientadores:
Professor Doutor Jorge Manuel Martins Jorge
Professor Doutor José Manuel González-Méijome
Ano de conclusão: 2017
Designação do Mestrado: Optometria Avançada
De acordo com a legislação em vigor, não é permitida a reprodução de qualquer parte desta
dissertação.
Universidade do Minho, ___/___/______
Assinatura: _______________________________________________
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“Viva como se fosse morrer amanhã.
Aprenda como se fosse viver para sempre.”
Mahatma Gandhi
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AGRADECIMENTOS
Este pequeno espaço não me permite agradecer a todas as pessoas que, direta ou
indiretamente me ajudaram a concluir mais uma etapa da minha formação académica. Contudo,
expresso algumas palavras de reconhecimento àquelas que tiveram um importante papel nesta
fase.
Aos meus orientadores, Professor Doutor Jorge Manuel Martins Jorge, e Professor Doutor
José Manuel González-Méijome, agradeço a orientação e competência científica demonstradas, a
disponibilidade e encorajamento que permitiram a elaboração deste trabalho. Agradeço ainda pela
contribuição para o enriquecimento da minha formação académica.
À minha mãe, pai, irmãos e avô pelo apoio e ajuda constante, pela paciência e por
mostrarem que sempre acreditaram em mim. Ainda um agradecimento sentido pela oportunidade
e esforço demonstrado para a conclusão de mais uma etapa. A eles dedico este trabalho.
Um agradecimento de forma especial ao Rui Martins pelo apoio incondicional e carinho
diários, por me fazer acreditar que seria capaz, pela força e confiança transmitida em todos os
momentos e por me mostrar que tudo vale a pena.
Um Muito Obrigada às minhas amigas e companheiras de Mestrado, Andreia, Diana e
Joana pela entreajuda, apoio e pela amizade acima de tudo. Agradeço pela preocupação nos
momentos mais difíceis e pela partilha de ótimos momentos. Ao João Gonçalves pela contribuição
numa das partes mais difíceis para mim, pela atenção e dedicação em tudo o que faz.
À Bruna e ao Alexandre, afilhados do coração, por tornarem tudo 1000 vezes melhor do
que é, pelo apoio e carinho nos bons e maus momentos, pela genuinidade e afeto. Um enorme
obrigado por caminharem comigo para todo o lado.
Por fim, agradeço a todos os participantes que fizeram parte da amostra deste estudo,
tornando-o possível.
“A grandeza não consiste em receber honras,
mas em merecê-las…”
(Aristóteles)
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RESUMO
Objetivo: Este estudo tem como objetivo avaliar a influência que os diversos hábitos de
visão dos novos alunos que ingressaram para o ensino superior têm nos diferentes erros refrativos.
Este estudo pretende analisar hábitos como as atividades ao ar livre, as atividades dentro de casa
como leitura, ver televisão ou estar no telemóvel, dormir com a luz acesa e também as diferenças
dos erros refrativos nos diferentes tipos e zonas de residência.
Métodos: Para este estudo foram recrutados 908 alunos com média de idades de 19,6±
2,83 anos que fizeram a sua primeira inscrição no ensino superior, nomeadamente na
Universidade do Minho no ano letivo 2016/2017. Destes alunos foram excluídos cerca de 15,5%
devido a reportarem valores incoerentes. Foi realizado a todos os participantes um inquérito acerca
dos seus hábitos de visão, com base nos fatores de risco associados ao aparecimento e progressão
dos erros refrativos. Foram obtidos valores de refração através do autorrefratómetro de campo
aberto, sem recorrer a ciploplégico e os alunos foram avaliados também com o Biómetro de
Coerência Ótica (IOL Master) onde era obtida a dimensão ocular (valor do comprimento axial do
olho). As forias em visão próxima foram obtidas através da Asa de Maddox.
Resultados: Observou-se que uma grande parte dos participantes eram emetropes
(58,2%), 29,1% eram míopes e apenas 12,7% eram hipermetropes. O sexo feminino está associado
com refrações mais miópicas (p=0,018) e também a atividades como ler (p
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ABSTRACT
Objective: This study aims to evaluate the influence of the different habits of vision of the
news students who have entered higher education on the different refractive errors. This study
intends to analyze habits such as: indoor activities (e.g. reading, watching television, being on the
phone), outdoor activities, sleeping with the light on or even differences of refractive errors in
different types and areas of housing.
Methods: For this study, 908 students who made their first enrollment in higher education
and with an average age of 19,6 ± 2,83 were recruited, namely at the University of Minho, in the
2016/2017 school year. Within this sample, about 15,5% were excluded due to incoherent values.
All participants were interviewed about their vision habits with a questionnaire based on the risk
factors associated to the onset and progression of refractive errors. Refractive values were obtained
through the open field autorrefratometer, without recourse to cycloplegia. The biometric
parameters were evaluated with the Optical Coherence Biometer (IOL Master), where the ocular
dimension was obtained (value of the axial length of the eye). The near-vision in phoria was obtained
with a Maddox wing.
Results: It was possible to conclude that the vast majority of the survey respondents were
emmetropes (58,2%), while 29,1% and 12,7% were myopes and hypermetropes, respectively. It
was also possible to infer that the biggest levels of myopic refractions were associated not only to
the female gender (p=0,018), but also to some activities such as reading (p
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that outdoor activities are statistical related to higher axial lengths, whereas indoor activities suggest
smaller axial lengths.
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Conteúdo
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... v
RESUMO ............................................................................................................................ vii
ABSTRACT .......................................................................................................................... ix
ABREVIATURAS .................................................................................................................. xiii
ÍNDICE DE FIGURAS ............................................................................................................xv
ÍNDICE DE TABELAS .......................................................................................................... xvii
1. Revisão Bibliográfica .................................................................................................. 19
1.1 Análise global da prevalência dos erros refrativos nas crianças e adolescentes .... 20
1.2 Influência sazonal nas mudanças de refração ..................................................... 26
1.3 Diferenças étnicas e geográficas na prevalência da miopia .................................. 29
1.3.1 Diferenças na prevalência da miopia entre etnias e/ou regiões geográficas ......... 29
1.3.2 O elevado e rápido aumento da prevalência de miopia no Leste Asiático ............. 31
1.3.3 Estudo da prevalência em populações caucasianas não europeus ...................... 34
1.3.4 Estudos da prevalência de miopia em populações Indianas ................................ 34
1.3.5 Estudos da prevalência de miopia em populações Africanas ............................... 35
1.3.6 Estudos sobre a prevalência de miopia em populações de origem predominantemente
europeia......................................................................................................................... 36 1.4 Hipermetropia ................................................................................................... 38
1.4.1 Fatores de risco associados à Hipermetropia ...................................................... 38 1.5 Astigmatismo .................................................................................................... 40
1.5.1 Fatores de risco associados ao Astigmatismo ..................................................... 41 1.6 Miopia .............................................................................................................. 43
1.6.1 Fatores de risco associados á progressão e aparecimento da miopia. ................. 44
2. Hipótese e objetivos de trabalho ................................................................................. 63
2.1 Hipótese ............................................................................................................ 63
2.2 Objetivo ............................................................................................................ 63
3. Metodologia e Material ............................................................................................... 65
3.1 Tipo de Estudo ................................................................................................... 65
3.2 Seleção e descrição da Amostra ......................................................................... 65
3.2.1 Critérios de Inclusão e Exclusão ......................................................................... 66
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3.3 Descrição metodológica dos dados recolhidos .................................................... 66
3.3.1 Inquérito sobre os hábitos de visão dos novos alunos ......................................... 66
3.3.2 Instrumentação utilizada na obtenção de dados ................................................. 68 3.4 Análise Estatistica .............................................................................................. 69
3.4.1 Testes paramétricos .......................................................................................... 70
3.4.2 Testes não paramétricos .................................................................................... 70
3.4.3 Correlações ....................................................................................................... 71
4. Resultados obtidos ..................................................................................................... 73
4.1 Descrição da amostra ........................................................................................ 73
4.1.1 Resultados obtidos através do questionário ........................................................ 77
4.1.2 Correlações ....................................................................................................... 84
5. Discussão dos Resultados .......................................................................................... 97
6. Conclusão ................................................................................................................103
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................105
8. ANEXOS ...................................................................................................................123
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ABREVIATURAS
M – Equivalente esférico
Ret – Retinoscopia
AR – Autorrefratómetro
C/C – Com cicloplégico
S/C – Sem cicloplégico
Ret S/C – Retinoscopia sem cicloplégico
Ret C/C – Retinoscopia com cicloplégico
D – Dioptria
UL – Unilateral
BL – Bilateral
NR – resultados não reportados
Δ – Dioptrias prismáticas
OD – Olho Direito
OE – Olho esquerdo
CA – Comprimento Axial
VP – Visão de Perto
VL – Visão de Longe
J0 – Componente do astigmatismo no meridiano horizontal e vertical
J45 – Componente do astigmatismo no meridiano de 45º e 135º
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p – Significância estatística
HO – Hipótese nula
H1 – Hipótese alternativa
DP – Desvio Padrão
Eixo – Eixo do cilindro
LE – Left eye
RE – Right eye
AL – Axial Length
N – Número da Amostra
LC – Lentes de Contacto
Kmédio – Raio de curvatura médio
R1 – Raio de curvatura no meridiano horizontal
R2 – Raio de curvatura no meridiano vertical
mm – milímetros
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ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1. Nível de prevalência da miopia nos diversos países participantes PISA 2009…………..43
Figura 1.2. Relação da quantidade de proteína animal consumida no grupo de tratamento e da
alteração da miopia (Gardiner 1958)……………………………………………………………………..……...55
Figura 3.1 Asa de Maddox (à esquerda) e IOL Master (à direita) ………………………………………..69
Figura 4.1. Distribuição da amostra por género……………………………………………..………..………73
Figura 4.2 Distribuição da amostra por Distrito de Nascimento…………………………………………...74
Figura 4.3 Distribuição da amostra pelo país onde nasceu……………………………..………...……….74
Figura 4.4 Distribuição da amostra por curso em que se inscreveram…………………………………76
Figura 4.5 Distribuição da amostra pelo tempo passado em atividades dentro de casa por dia.....81
Figura 4.6 Gráfico da relação entre a foria e o tipo de ametropia observada……………………………84
Figura 4.7 Correlação entre as horas a jogar videojogos por dia e o sexo dos participantes………..86
Figura 4.8 Correlação entre o tempo passado no exterior e a idade em que começou a usar
óculos...........................................................................................................………………….....87
Figura 4.9 Correlação entre a idade dos participantes e a sua média de entrada na Universidade
do Minho…………………………………………………………………………………………………………….…..88
Figura 4.10 Correlação entre a ametropia verificado no OD e o sexo dos participantes…………….90
Figura 4.11 Ametropia verificado no OD e o sexo dos participantes (0- sexo masculino; 1- sexo
feminino)…………………………………………………………………………………………………………………90
Figura 4.12 Correlação entre o raio de curvatura no meridiano horizontal (R1) no OD e as horas
passadas por dia, pelos participantes, a jogar videojogos…………………………………………..……...92
Figura 4.13 Correlação entre o R1 no OD e as horas passadas por dia, pelos participantes, a
estudar…………………………………………………………………………………………………………….……..92
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Figura 4.14 Correlação entre o comprimento axial (mm) e o sexo dos participantes……………….94
Figura 4.15 Correlação entre o CA (mm) e as horas passadas no computador, por dia……………..95
Figura 4.16 Correlação entre o CA (mm) e as horas passadas a jogar videojogos, por dia………….95
Figura 4.17 Correlação entre o tipo de ametropia e o tipo de foria observada………………………….95
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ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1.1. Estudos acerca da prevalência de miopia e hipermetropia em populações jovens
(crianças e adolescentes) …………………………………… ……………………………………………..………21
Tabela 1.2 Prevalência dos erros refrativos em crianças obtidas através de amostras e
procedimentos semelhantes……………………..…………………………………………………………………24
Tabela 4.1. Cateterísticas da População Amostral……………………………………….……………………75
Tabela 4.2 Distribuição da amostra pelo tipo de nascimento………………………………………………77
Tabela 4.3 Distribuição da amostra pelas doenças oculares, psicológicas e gerais e ainda pela
necessidade de compensação ocular……………………………………………………………………….……78
Tabela 4.4 Distribuição da amostra pelo local e tipo de habitação e pela sua história familiar.......80
Tabela 4.5 Distribuição da população pelo seu regime alimentar e início de regime alimentar que
não o normal……………………………………………………………………………………………………………82
Tabela 4.6 Distribuição da amostra pelas condições ergonómicas na leitura (Inclinação da cabeça
e aproximação do plano de leitura) ………………………………………………………………………….……82
Tabela 4.7 Resumo dos valores médios de refração, comprimento axial e forias obtidos…………83
Tabela 4.8 Tabela de correlações relativamente às atividades de interior e exterior…………….……85
Tabela 4.9 Tabela de correlações relativamente à idade, doenças psicológicas, presença de
gêmeos e irmão com óculos………………………………………………………………………………..………87
Tabela 4.10 Tabela de correlações relativamente aos valores de refração para visão de longe (M,
J0, J45 e Ametropia) …………………………………………………………………………………………………89
Tabela 4.11 Tabela de correlações relativamente aos parâmetros oculares do OD…………..………91
Tabela 4.12 Tabela de correlações relativamente aos parâmetros oculares do OD (continuação na
página seguinte) …………………………………………………………………………………….…………………93
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1. Revisão Bibliográfica
A maior parte de toda a informação que chega até nós é através do nosso sistema visual.
Os erros refrativos estão entre as anomalias que mais facilmente podem ser tratadas e são eles a
miopia, a hipermetropia e o astigmatismo1.
O estado refrativo é uma variável complexa que é determinada pelo balanço do poder ótico
da córnea e do cristalino e o comprimento axial do olho2. A ametropia é a razão mais frequente da
redução da acuidade visual devido à inadequada compensação desta que pode levar a défices do
conforto visual1. Na maioria dos casos trata-se de uma ametropia longitudinal onde o comprimento
axial do olho se afasta do valor considerado normal para a potência dos componentes óticos córnea
e cristalino. Um comprimento excessivo induz miopia e se este for reduzido pode causar
hipermetropia1.
Vários têm sido os estudos que pretendem relacionar diversos fatores com o aparecimento
e progressão da miopia. São encontradas relações com a idade, o género, a história familiar de
miopia e a influência das atividades ao ar livre3. Além disso as atividades de visão de perto mostram
uma grande influência na progressão da miopia4 5 6, assim como a alimentação7 8 9 que pode ter um
papel importante neste processo ou até o contributo dos ciclos de luz e a escuridão10 11 12. O estatuto
socioeconómico, segundo alguns autores, tem também alguma influência neste campo e o mesmo
acontece quando falamos da educação4, ou até do quociente de intelectualidade. Contudo, além de
existirem evidências fortes acerca da influência de alguns destes fatores na progressão da miopia,
nem todos os estudos concordam com estas observações e a controvérsia persiste quanto a alguns
destes fatores13.
Diversos estudos apontam para o facto de a miopia ser uma condição cada vez mais
frequente em todo o mundo, mais particularmente na Ásia2 14 15 16, como é o caso das crianças em
Hong Kong17. Para além disso, as crianças da Ásia apresentam também valores médios do
comprimento axial do olho maiores18. No leste da Ásia, os míopes moderados têm uma forma ocular
mais prolata e estas diferenças no formato ocular podem desempenhar um importante papel na
maior propensão que estes têm para o desenvolvimento e progressão da miopia19.
Este assunto apresenta ainda alguma controvérsia e disparidade nos achados apesar dos
diversos pontos de partida das diferentes investigações. Como tal, estudos indicam a inexistência
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Mestrado Optometria Avançada 20
da associação da miopia com o tempo a ver televisão ou com videojogos13, com o género5, idade5 ou
miopia parental5. O mesmo acontece com as atividades ao ar livre que não mostram qualquer
correlação com a progressão da miopia5.
Ambos os fatores, atividades ao ar livre e atividades de visão de perto, podem estar
relacionados e alterarem-se durante o período escolar, uma vez que este percurso os condiciona.
Assim sendo, têm sido estudadas, em vários países, as alterações que ocorrem nos parâmetros
refrativos durante os meses escolares 20 21, onde também se encontrou uma progressão da miopia e
um crescimento axial, em crianças míopes, mais lento durante o período do Verão20.
Um outro fator, mais controverso, que tem vindo a mostrar também uma influência
significativa no aparecimento e desenvolvimento da refração central é a desfocagem da retina
periférica19.
1.1 Análise global da prevalência dos erros refrativos nas crianças e adolescentes
A deficiência visual causada pelos diferentes erros refrativos não corrigidos, tanto nas
crianças como nos adolescentes, é um dos mais importantes e mais comuns problemas nas
populações em idade escolar e também um dos maiores contributos para a origem da cegueira
tratável em vários países22. Para reduzir esta ocorrência, surge a necessidade de obter informações
epidemiológicas sobre os erros refrativos e sobre outras doenças oculares entre as crianças em
idade escolar23.
Apesar de tudo, os diversos estudos realizados acerca da prevalência e tendências dos erros
refrativos ao longo do tempo podem não ser diretamente comparáveis devido ao facto de, as
estratégias de amostragem, os métodos que utilizam para obter a refração e também as
características da população em estudo, diferirem entre si24. Estas comparações dos diversos
investigadores no âmbito das prevalências dos erros refrativos em todo o mundo tornam-se cada
vez mais complexas devido ao facto de não haver um padrão único dos procedimentos na realização
destes trabalhos, nomeadamente em relação ao método utilizado para obtenção da medida do erro
refrativo, do uso ou não de cicloplégico, nos critérios e definições destas ametropias ou mesmo na
composição e dimensão da amostra utilizada24 25 26 27.
Como já referido, a definição dos limites dióptricos para as diferentes ametropias varia
conforme os diversos estudos realizados neste âmbito. Segundo Fan et al.17, a hipermetropia pode
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21
ser definida como o equivalente esférico (M) igual ou superior a +2,00D, enquanto num estudo
realizado em Singapura, para diferentes autores, esta pode ser definida como o equivalente esférico
igual ou superior a apenas +0,50D28. Quando falamos em miopia, não existe tanta discrepância
entre as definições, sendo vários os estudos que a definem como o equivalente esférico igual ou
inferior a -0,75D ou -0,50D18 23 29 30.
Na tabela que se segue encontram-se as diferentes prevalências de miopia e hipermetropia
obtidas em alguns estudos, na qual estão também especificados os métodos utilizados e critérios
envolvidos.
Tabela 1.1. Estudos acerca da prevalência de miopia e hipermetropia em populações jovens (crianças e adolescentes)
M - equivalente esférico; Ret – Retinoscopia; AR – Autorrefratómetro; C/C – com cicloplégico; UL - Unilateral; BL –
Bilateral; NR – resultados não reportados.
País Tamanho Amostral
Idade (anos)
Método utilizado
Prevalência da miopia Prevalência de hipermetropia
Critério % Critério %
Suécia29 1045 12-13 Ret C/C M ≤-0.50D 44,4 M ≥ +1,00 D 8,4
Irão30 4106 7 AR C/C M ≤ -0.50D 3,04 M > +2,00 D 6,2
EUA31 2583 6-14 AR C/C M≤ -0,75D M≤ -0.50D
10,1 11,6
M ≥ +1,25 D 8,6
EUA16 2523 5-17
AR C/C
M≤ -0,75 D
9,2 M ≥ +1,25 D
12,8 Afro- Americano
534 6,6 6,4
Asiático 491 18,5 6,3 Hispânico 463 13,2 12,7 Brancos 1035 4,4 19,3
Austrália32 1765 5-8 AR C/C M≤ -0.50D 1,43 M ≥ +0,50 D 91,0
Austrália18 2353 11-15 AR C/C M≤ -0.50D 11,9
M ≥ +2,00 D 3,5 M≤ -1.00D 8,0
Yongchuan23 3070 6-15 Ret C/C M≤ -0.50D 13,8 M ≥ +2,00 D 3,26
Singapura33 1453 7
AR C/C M≤ -0.50D 29,0
M ≥ +1,00 D NR 8 34,7 9 53,1
Hong Kong17 7560 5-16 AR C/C M≤ -0.50D 36,7 M ≥ +2,00 D 4,0
Malabo34 (África)
425 6-16 AR C/C M≤ -0.50D UL M≤ -0.50D BL
10,4 M ≥+2,00 D UL M ≥+2,00 D BL
3,1 5,2 1,6
Nepal35 5067 5-15 Ret C/C M≤ -0.50D 1,2 M ≥ +2,00 D 1,4
AR C/C M≤ -0.50D 1,2 M ≥ +2,00 D 2,1
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Mestrado Optometria Avançada 22
Na tabela anterior, pode observar-se que os autores encontraram prevalências de miopia
diferentes utilizando critérios distintos, sendo que estas são mais elevadas quando o critério M≤ -
0,50D é utilizado29,17,33.
Segundo o estudo de Villarreal et al., utilizando o método de retinoscopia com cicloplégico,
observou-se que os adolescentes Suecos possuem uma prevalência de miopia maior (44,4%). Neste
caso não foi encontrada uma diferença estatisticamente significativa entre o sexo masculino e
feminino29.
Analisando ainda a tabela, verifica-se que tanto na Austrália18 como nos Estados Unidos da
América (EUA)31, a prevalência da miopia é superior com uma definição de miopia de -0,50D ou
mais, ou seja, um critério menos restritivo, do que quando utilizado uma definição de miopia de -
0,75D ou mais no caso dos EUA31, ou de -1,00D ou mais miopia no estudo realizado na Austrália18.
Nestes mesmos estudos, observou-se uma prevalência de hipermetropia maior, 8,6%, na população
amostral dos EUA utilizando o critério de +1,25D ou mais, do que na Austrália, onde a prevalência
de hipermetropia foi de apenas 3,5% com uma definição de +2,00D ou mais de hipermetropia. No
que diz respeito ao género, existe uma maior tendência para prevalências de miopia superiores e
hipermetropias menores em raparigas australianas do que em rapazes, mas o mesmo não se aplica
na população dos EUA.
Num outro estudo realizado nos EUA e utilizando a autorrefração com recurso a cicloplégico,
foram analisadas crianças e adolescentes de 4 etnias diferentes em relação ao erro refrativo.
Verificou-se a existência de diferenças significativas em função da etnia e em relação á miopia, os
Asiáticos possuem a maior prevalência de 18,5% seguidos dos Hispânicos com 13,2%. A população
branca possui a menor percentagem de 4,4%, mas não muito diferente dos Afro-Americanos com
apenas 6,6%16.
Na Austrália, os estudos apresentados32,18 mostram um aumento da prevalência da miopia
nas crianças de 1,43% para 11,9% em adolescentes, utilizando o mesmo critério de definição de
miopia. No que toca á hipermetropia, verificou-se uma diminuição da prevalência desde 91% em
crianças, com um critério de hipermetropia de +0,50D ou mais, para 3,5% em adolescentes mas
com um critério diferente de +2,00D ou superior.
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Num estudo diferente, foram também recolhidos dados sobre os erros refrativo de crianças
australianas com idades de 6 e 12 anos e verificou-se de igual modo, através de autorrefração com
cicloplégico, uma hipermetropia mais elevada em crianças de 6 anos (13,2%), comparado com
apenas 5,0% em crianças com 12 anos36.
Em Hong Kong verificou-se uma maior percentagem para a emetropia de 53,9% (-0,50 D
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Mestrado Optometria Avançada 24
Tabela 1.2 Prevalência dos erros refrativos em crianças obtidas através de amostras e procedimentos semelhantes
AR – autorrefratómetro; Ret – retinoscopia; C/C – com cicloplégico; M – equivalente esférico; M* - sexo masculino; F –
sexo feminino
O estudo realizado na Malásia por Goh et al., avaliou o erro refrativo de crianças de várias
etnias, numa área suburbana no distrito de Gombak. Medidas de refração realizadas com
cicloplégico mostraram uma deficiência visual maioritariamente causada pela miopia, com uma
prevalência particularmente maior entre as crianças chinesas. Verificou-se também que a
prevalência da miopia é bastante superior em crianças com 15 anos de idade (32,5%) do que em
crianças com apenas 7 anos (10,0%) e está associada ao sexo feminino. Contrariamente, a
prevalência da hipermetropia é maior em crianças do que em adolescentes37.
Nas áreas urbanas da China a prevalência de miopia em crianças de 5 anos volta a ser
baixa com apenas 5,7%, ainda mais baixa do que na Malásia. Aos 15 anos de idade verifica-se uma
prevalência de miopia bastante superior com 78,4%, enquanto, relativamente á hipermetropia, nesta
idade existe menos de 1%42. Tal como na Malásia37, o risco de miopia é significativamente maior nas
mulheres42.
Segundo um estudo realizado numa área rural da China, observou-se que o sexo feminino
tem um risco significativamente maior tanto para a miopia como para hipermetropia15. Já na Índia,
a miopia é mais frequente no género feminino e ao facto de ter um dos pais com um maior grau de
País Região/ área Tamanho amostral
Idade Método Prevalência
de miopia (%)
Prevalência de hipermetropia
(%)
Malásia37 Gombak/ Suburbana
4634 7 AR C/C M ≤-0,50D M ≥+2,00D
M*F: 10,0 M*F: 5,0
China15 Shunyi/ rural 5884 5 Ret C/C M*F: 0,0 M*: 8,8 F:19,6
Índia38 New Delhi /Urbana
6447 5 Ret C/C M*F: 4,68 M*F: 15,6
Nepal35 Mechi/ rural 5067 5 Ret C/C M*: ≈1,0 F: ≈0,0
M*:≈1,8 F:≈2,0
Índia39 Andhra
Pradesh/rural 4074 7 Ret C/C M*F: 2,8 M*F: 0,70
Chile40 La Florida/ suburbana
5303 5 Ret C/C M*F: 3,4 M*: 22,7 F: 26,3
África41 Durban/
metropolitano 4890 5 AR C/C M*F: 3,2 M*F: 2,7
China42 Guangzhou/
urbano 4364 5 AR C/C M*F: 5,7 M*F: 17,0
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escolaridade39 e esta última relação é também verificada no Sul de África41. Existe também um
aumento da miopia com o aumento da idade e uma diminuição da hipermetropia para os grupos
com 15 anos de idade15. O mesmo foi verificado num estudo realizado na Índia, em Nova Deli, onde
a prevalência de miopia era maior em adolescentes com 15 anos e a hipermetropia era mais
frequente em crianças com 5 anos de idade38.
Tanto no Nepal35 como no Chile40, foi observado um maior risco de hipermetropia associado
ao sexo feminino e, tal como nos estudos anteriormente analisados, a miopia é associada a sujeitos
de mais idade. No Chile verificou-se um decréscimo na prevalência de hipermetropia de 22,7% para
7,1% no sexo masculino, enquanto no sexo feminino o decréscimo foi de 26,3% para 8,9%, sendo
que as mulheres têm um risco de hipermetropia significativamente maior do que os homens40. No
que diz respeito á miopia, esta aumenta desde 3,4% em crianças de 5 anos, até aos 19,4% em
rapazes e 14,7% nas raparigas com 15 anos de idade40. Nas idades escolares no Nepal, devido à
existência de erros refrativos corrigíveis, a prevalência da redução da visão é muito baixa. Aqui o
risco de hipermetropia, tal como verificado no Chile, é maior para o género feminino e o risco de
miopia encontra-se relacionado com sujeitos de mais idade35.
Através da pesquisa realizada, verifica-se que as zonas urbanas possuem uma percentagem
de miopia mais elevada quando comparadas com as zonas rurais que, em certos países como a
China15 e o Nepal35, têm uma prevalência de miopia quase nula em crianças de 5 anos. Na China15,
esta prevalência de miopia aos 15 anos de idade aumenta para 36,7% e 55,0% para o sexo
masculino e feminino, respetivamente. Relativamente á hipermetropia, acontece o contrário, existe
uma diminuição desta prevalência desde 8,8% em rapazes e 19,6% em raparigas para menos de
2% em ambos os sexos15. Na Malásia, em zonas urbanas a prevalência já é de 10,0% para crianças
com 7 anos de idade37. Ainda assim, no geral, estes estudos evidenciam uma baixa prevalência de
miopia mas uma prevalência maior de hipermetropia nestas mesmas crianças37-42.
Relativamente a dados obtidos na Europa, um estudo realizado na Grécia verificou uma
percentagem de miopia (M
-
Mestrado Optometria Avançada 26
(M ≤ -0,50D) entre os diferentes grupos etários, onde dos 2 aos 6 anos esta prevalência foi de
aproximadamente 0%, aumentando para 21,0% nos adolescentes (12 aos 17 anos) até 41,3% nos
adultos44. Inversamente, verificou-se um decréscimo dos valores da prevalência para a hipermetropia
(M ≥ +0,50D), atingindo o maior valor entre os 2 e os 6 anos, com 6,4%, diminuindo para 3,7% dos
12 aos 17 anos e sendo menor em adultos (2,9%)44. Neste estudo verificou-se uma prevalência de
miopia significativamente maior em mulheres (23,6%) do que em homens (14,6%).44
Na Bulgária, foi encontrada uma prevalência de miopia de 14,1% em crianças do ensino
primário enquanto no ensino secundário esta prevalência de miopia diminui para os 13,0%45. A
mesma investigação avaliou crianças da Grécia e verificou prevalências de miopia mais elevadas,
com 28,9% e 46,9% no ensino primário e secundário respetivamente. Este estudo, mais uma vez,
verificou uma maior tendência da miopia em adolescentes do sexo feminino, sendo essa tendência
estatisticamente significativa apenas nas Crianças da Grécia45.
Um outro estudo realizado na Europa, no Reino Unido, com crianças entre os 8 e os 10
anos, verificou uma prevalência de 24,3%46, maior do que os valores obtidos nas crianças na
Alemanha44.
1.2 Influência sazonal nas mudanças de refração
O estudo das tendências da refração em grupos populacionais são de cada vez maior
importância47. Para muitas crianças, o tempo de férias significa menos tempo passado em atividades
de visão próxima e mais tempo gasto em atividades ao ar livre, embora nem sempre seja assim.
Uma vez que existem estudos que revelam que mais horas de leitura foram associadas a uma
progressão mais rápida da miopia48, investigações no sentido de observar os efeitos das variações
sazonais na progressão da miopia tornam-se cada vez mais interessantes para estes autores.
A maioria das crianças na América do Norte e na Europa tem um longo período de férias
nos meses de verão enquanto não frequentam a escola. Este conhecimento de como pode a taxa
de progressão da miopia variar nos meses de trabalho próximo mais intenso e nos meses onde este
é menos intenso, pode ajudar imenso a estabelecer uma ligação de causa entre a miopia e o
trabalho de perto49.
Fulk et al., 1996 citado por Fulk. et al., 2002, e Goss et al., 1998 citado por Fulk et al.,
2002, em trabalhos sobre a progressão da miopia na América do Norte, relataram a existência de
-
27
um abrandamento da progressão da miopia durante um período de 6 meses que incluiu todas as
férias de Verão quando comparado com um período de 6 meses que não incluiu quaisquer férias
de Verão49.
Com o propósito de averiguar a influência das variações sazonais na progressão da miopia
e no alongamento ocular na idade escolar, Fulk et al., em 2002 avaliaram 71 crianças e verificaram
que a progressão da miopia e o aumento da profundidade da câmara vítrea foram significativamente
mais lentos durante os períodos de 6 meses que incluíam as férias de Verão do que durante os
restantes 6 meses do ano. No grupo de 37 crianças e adolescentes usuários de lentes monofocais,
a taxa de progressão da miopia em dois Verões foi de -0,15D, em média, e de -0,32D ao longo de
3 Invernos. Quanto ao grupo de 34 crianças e adolescentes com óculos bifocais, as taxas de
progressão no Verão e no Inverno foram de –0,07D e -0,30D, respetivamente. Quanto aos efeitos
sazonais no aumento do comprimento axial, estes foram semelhantes mas não atingiram
significância estatística49.
No Japão, avaliaram 92 estudantes míopes divididos em 2 grupos, conforme o uso de
óculos monofocais ou progressivos. Foram seguidos durante 1,5 anos e avaliados a cada 6 meses.
Contrariamente ao verificado em muitos artigos aqui apresentados, a progressão da miopia não foi
influenciada pelas variações sazonais naquele país, ou seja, esta progressão não é mais lenta no
verão, enquanto o alongamento axial foi significativamente influenciado pela época sazonal. Embora
o alongamento axial seja ligeiramente menor no verão, a progressão da miopia parece ser muito
estável ao longo do ano21.
Em Singapura, num estudo realizado com 168 crianças, foram realizadas 5 medidas de
refração com cicloplégico durante os 10 meses em que foram seguidas. Apurou-se a existência de
um efeito sazonal sobre a progressão da miopia, uma vez que esta foi mais rápida no mês de
Janeiro, período imediatamente após a realização dos exames escolares anuais. Esta tendência
pode ser interpretada como um efeito tardio do intenso trabalho de perto associado á preparação
para estes mesmos exames finais. Este efeito atingiu uma significância estatística para as crianças
míopes mais jovens, com 7 anos de idade50.
Pointer em 2001, publicou um estudo longitudinal realizado com uma amostra de 41
crianças caucasianas com idades entre os 6 e os 13 anos, onde foram avaliadas a cada ano durante
um período de 6 anos. Neste período de seguimento verificou-se que 73,2% da amostra mostrou
-
Mestrado Optometria Avançada 28
uma redução do equivalente esférico de -0,80 ± 0,80D. Aos 7 anos de idade existiam 2 sujeitos
com refração miópica (M ≤ -0,50D) mas aos 13 anos este número aumentou para 12 sujeitos, pelo
mesmo critério. Aqui o aumento miópico foi de -1,32 ± 0,99 D. O número de sujeitos
hipermetrópicos manteve-se inalterado durante o estudo mas o número de emetropes diminuiu
desde os 7 anos com 32 sujeitos, para 22 apenas aos 13 anos, com uma variação média de refração
de -0,30 ± 0,28D. Ao considerar a amostra completa (41 sujeitos), a variação verificada foi de -0,54
± 0,82 D, ou uma variação de -0.09D por ano.47
Na China avaliaram a progressão do erro refrativo e a incidência de miopia em 4662
crianças e adolescentes entre os 5 e os 13 anos de idade. Estas crianças foram avaliadas através
de autorefração com cicloplégico, inicialmente em 1998 e reexaminadas depois em 2000. Zhao et
al., em 28,5 meses, verificou uma variação médio de erro refrativo de -0,42 ± 0,68 D. Foi estimada
uma taxa de progressão de miopia de -0.17D por ano que é consideravelmente menor do que a
encontrada em estudos realizados, por exemplo, em Hong Kong em crianças entre os 7 e os 12
anos de idade que foram seguidas durante um período de 5 anos e avaliadas também anualmente.
Neste estudo observou-se uma progressão de miopia de -0,32 D por ano. Ainda em Hong Kong,
num estudo realizado durante 2 anos com crianças e adolescentes com idades entre os 6 e os 17,
verificou-se também uma taxa de progressão de miopia anual de -0,32 D51. Em Singapura, a
progressão anual de miopia em crianças com 7, 9 e 12 anos que foram seguidas durante 10 meses
foi de -0,87D, como já falado anteriormente50.
Em Portugal, Jorge et al., comparou a prevalência da miopia em estudantes universitários
do primeiro ano em 2002 e 2014 na Universidade do Minho. Em 12 anos, verificou-se um aumento
desta prevalência de 23,4% para 41,3%. O valor do comprimento axial também aumentou de 23,40
± 0,93 mm em 2002 para 23,74 ± 1,19 mm em 2014. Esta investigação põe a hipótese deste
aumento na prevalência da miopia ser devido às alterações do estilo de vida desta população de
estudantes52.
Em 2004, Fan et al., estudaram a prevalência, incidência e progressão da miopia em
crianças de Hong Kong, com idades entre os 6 e os 15 anos, e verificaram uma progressão de
miopia de -0,63D por ano em crianças que tinham miopia enquanto as crianças que não tinham
miopia no início do estudo, esta progressão foi de -0,29D17.
-
29
Um estudo publicado por Anderson et al., com uma amostra populacional de 114
estudantes míopes, de diversas etnias, com idades entre os 7 e os 13 anos mostrou um erro refrativo
médio no primeiro ano de -2,45 ± 0,95 D que aumentou para -4,77 ± 1,85 D no décimo ano de
avaliação. Estes autores avaliaram também a foria em visão próxima e verificaram uma alteração
de endoforia no primeiro ano do estudo, em média de 2,4 dioptrias prismáticas (Δ), para exoforia
de 4 dioptrias prismáticas no décimo ano de estudo53.
Shih et al., na tentativa de comparar a progressão da miopia em crianças na Tailândia entre
áreas rurais e áreas urbanas, utilizou uma população amostral de crianças e adolescentes com
idades entre os 6 e os 18 anos divididas por idade, sexo e zona de residência. Este estudo verificou
que a progressão de miopia foi superior no grupo de adolescentes que residem em áreas urbanas
em comparação com os que residem em áreas rurais. Nas crianças que frequentam a escola
primária, nas áreas urbanas verificou-se uma taxa de progressão da miopia de cerca de -0,20D por
ano nos rapazes e de -0,27D para as raparigas. A progressão da miopia foi muito mais rápida em
crianças do ensino secundário (idades entre os 13 e os 15 anos), com cerca de -0,45D por ano em
áreas urbanas e -0,28D em áreas rurais, sendo que em ambos esta progressão foi maior no sexo
feminino. Em todos os grupos se verificou que a progressão da miopia foi maior nos míopes do que
nos hipermétropes ou emétropes54.
1.3 Diferenças étnicas e geográficas na prevalência da miopia
1.3.1 Diferenças na prevalência da miopia entre etnias e/ou regiões geográficas
Os erros refrativos não corrigidos são uma das principais causas de deficiência visual em
crianças em todo o Mundo e como tal, a “World Health Organisation” atua com a prioridade de
eliminar, mundialmente, a cegueira que é evitável até 202055. Alguns estudos tentam separar a
população amostral por grupos étnicos a fim de perceber se o fator étnico condiciona a prevalência
dos diferentes erros refrativos.
O padrão de distribuição geográfico da prevalência da miopia tornou-se, nos últimos anos,
cada vez mais evidente24. A prevalência de miopia varia entre populações de diferentes regiões e
etnias56. A miopia é a maior comum causa de deficiência visual em todo o mundo, especialmente
na Ásia Oriental e são vários os estudos longitudinais que indicam que mais de 70% dos
adolescentes que vivem em áreas urbanas são afetados57. Existe uma preocupação pelo fato de, nas
-
Mestrado Optometria Avançada 30
sociedades industrializadas do Oeste, a prevalência de miopia nos adolescentes estar a aumentar
substancialmente nas últimas décadas e chega mesmo a aproximar-se de cerca de 10-25%, sendo
que em outros países já ultrapassou largamente esses valores26.
Contrariamente, noutras regiões como em Vanuatu (ilha do Pacífico), a percentagem de
miopia toma valores muito menores, sendo de apenas 1,3%58 (M ≤ -0,25D) em crianças estudantes
em 1983 e, Garner et al. verificaram apenas 2,9% (M ≤ -0,25D) de prevalência de miopia nas
crianças em Melanésia59. Nas ilhas Salomão, esta prevalência é das mais baixas60.
Relativamente às diferenças étnicas, Wu et al., em Singapura, analisaram recrutas militares,
com idades entre os 16 e os 25 anos, para verificar as diferenças na prevalência de miopia nas
diversas raças. A prevalência de miopia (M
-
31
Rudnika et al., em 2010 avaliaram uma amostra multiétnica de crianças britânicas com 10
e 11 anos de idade. Entre 2006 e 2008 foram analisadas 1179 crianças da Ásia do Sul, de raça
negra Afro-Caribenhos e de raça branca de origem europeia. Após autorrefração com cicloplégico,
observou-se que a prevalência de miopia (M
-
Mestrado Optometria Avançada 32
Alguns dos estudos realizados em Singapura baseiam-se na obtenção de dados através de
investigações onde o alvo de análise são estudantes do sexo masculino alistados no serviço militar61.
Estudos mais recentes mostram uma percentagem de 79,3% de miopia nos jovens adultos do sexo
masculino, em Singapura, e 13,1% na categoria de miopia severa (> -6,00D), apresentando assim
uma das mais elevadas prevalências de miopia observadas61. Foi realizado um estudo recente com
os alunos do 9º e 10º ano de escolaridade com idades entre os 15 e os 19 anos em Singapura
onde, no geral, a percentagem de miopia (M ≤ -0,50D) foi de 73,9% com 5,7% de alunos com miopia
elevada (M ≤ -6,00D). Esta prevalência foi maior em raparigas do que em rapazes e também maior
na população Chinesa do que nos estudantes malaios ou indianos61. Um estudo realizado por Wong
et al. em 2000 examinou adultos Chineses com mais de 40 anos em Singapura e apurou que a
prevalência geral da miopia foi de 38,7% e no que diz respeito á miopia elevada, esta atinge os 9,1%.
Neste estudo o sexo feminino volta a ter valores significativamente maiores do que os rapazes. O
grupo amostral dos 40 aos 49 anos de idade teve o maior valor de prevalência de miopia, ficando
perto dos 50%, com uma definição de miopia de -1,00D ou menor28.
Na China, em cidades como Hong Kong69 70 e Guangzhou42, a prevalência de miopia é elevada
a níveis comparáveis com os reportados em Singapura e nas áreas urbanas de Taiwan, sendo de
78,4% e de 82,8% em Hong Kong e Guangzhou, respetivamente. Foram verificados valores de
prevalência mais baixos em estudos realizados em Shunyi15 e também nas áreas rurais e urbanas
de Xiamen71. De um total de 5884 crianças avaliadas, a prevalência de miopia (M ≤ -0,50D) em
crianças de 5 anos é quase ausente mas aumenta para 55,0% no sexo feminino com 15 anos de
idade15. Já em Xiamen, a prevalência de miopia, em crianças com 6 e 7 anos, assume valores de
9,1% na cidade e nas áreas rurais apenas 3,9%, documentando assim, uma clara diferença urbano-
rural na prevalência de miopia71.
Em Hong Kong, uma população com idades entre os 7 e os 17 anos mostrou um aumento
da prevalência de miopia72 e, estudos como os realizados por Goh em 199469 ou Lam70 apoiam este
rápido aumento. Um destes estudos abrange uma população dos 19 aos 39 anos e verifica mesmo
que a prevalência da miopia tem uma maior tendência na população jovem de Hong Kong quando
comparado com a população de adultos mais velhos69.Um estudo mais recente em Hong Kong de
2004 investigou estudantes dos 13 aos 15 anos e observou um aumento da prevalência de miopia
de cerca de 25% desde 199173.
-
33
Diversos dados baseados em populações de crianças indicam que as populações Asiáticas,
especialmente as de etnia Chinesa, podem ser mais suscetíveis á presença de miopia quando
comparadas com as populações Ocidentais56 74. No entanto, quando falamos de populações adultas,
a situação é mais complexa e diferente56. A prevalência da miopia, em idades semelhantes, em
adultos Chineses de Singapura é apenas ligeiramente maior do que em populações brancas56. Sendo
a prevalência da miopia elevada na Ásia, esta torna-se ainda maior em raparigas Chinesas de áreas
rurais com 15 anos, assumindo uma percentagem de 55%15 enquanto no Nepal foi observada uma
prevalência de menos de 3% em crianças de áreas rurais também35.
No Japão, investigaram as alterações na prevalência da miopia em estudantes dos 3 aos
17 anos deste 1984 até 1996. A comparação entre os exames destas datas mostraram um aumento
considerável na incidência de miopia para as crianças com 7 ou mais anos de idade. Este estudo
revela uma idade precoce no aparecimento da miopia e um recente aumento na proporção de
estudantes míopes. No décimo terceiro ano de estudo a prevalência da miopia aumentou de 49,3%
para 65,6%75. Estes dados mostram um padrão semelhante ao observado em Taiwan66. Numa área
rural do Japão, esta prevalência foi significativamente menor, com apenas 0,3% aos 3 anos de idade
e 4,9% aos 11 (M ≤ -1,00D). Utilizando um critério de miopia de -2,00D ou mais, esta prevalência
baixa para menos de 1% em idades dos 6 aos 9 anos76. Shimizu et al., verificou, numa população
mais velha de 2168 com idades entre os 40 e os 79, uma prevalência de miopia de 45,7% nos
homens e 38,3% em mulheres. No grupo dos 40 aos 49 anos, a prevalência de miopia foi superior
a 60%, enquanto no grupo dos 70 aos 79 esta prevalência ficou abaixo dos 30%77.
Um estudo populacional de adultos com 40 anos de idade ou mais, na Mongólia, relatou
prevalências de miopia muito mais baixas do que aquelas usualmente relatadas em populações do
leste da Ásia, com uma prevalência de 17,2% (M
-
Mestrado Optometria Avançada 34
1.3.3 Estudo da prevalência em populações caucasianas não europeus
Os dados sobre populações da África do Norte e de origem na Ásia Ocidental são limitados66.
A prevalência da miopia nas escolas em Oman, avaliando crianças dos 6 aos 12 anos de idade,
revelou ser muito baixa. Aos 6 anos de idade verificou-se uma prevalência de miopia (M ≤-1,00D)
de apenas 0,56% e aos 12 anos esta prevalência aumentou para 5,16%. Nas áreas rurais, remotas,
a prevalência deste erro refrativo foi significativamente menor no grupo com mais idade (12 anos),
comparativamente ao resto do país79.
Estudos mais antigos na Europa e nos Estados Unidos documentam valores de prevalência
de miopia também elevadas nas populações Judaicas66. Em Londres, um estudo realizado com
populações judaicas e não judaicas verificou que a miopia é bastante mais comum entre as crianças
judaicas com 25,2%, enquanto em crianças não judaicas foi de 20,2%. A prevalência da miopia nos
rapazes aumentou de 21% (grupo dos 5 aos 9 anos) para 55,7% (dos 10 aos 14 anos) contra apenas
18,6% (dos 5 aos 9 anos) para 39,6% (dos 10 aos 14 anos) no caso das raparigas80.
Em Israel também têm sido realizados vários estudos. Num deles realizado por Hyams et
al., foram recrutados 8102 adultos com mais de 40 anos de idade. Nesta população adulta rural,
18,4% eram míopes e a miopia mais baixa era mais comum no sexo masculino do que no sexo
feminino. A prevalência de miopia não alterou a partir dos 40 anos até aos 70 anos, mas após os
70 diminuiu81. Ainda em Israel, Rosner verificou uma prevalência de miopia de 15,8% numa
população de 157748 rapazes entre os 17 e os 19 anos de idade82. Em ambos os estudos verificou-
se uma moderada prevalência de miopia66.
1.3.4 Estudos da prevalência de miopia em populações Indianas
Foram realizados estudos baseados em populações de crianças e adultos, tanto no norte
como no sul da Índia66 83 84. Em alguns dos estudos, a prevalência de miopia é relativamente baixa
quando comparada com os valores reportados no Este da Ásia66. Dandona et al., estudaram a
prevalência dos erros refrativos em populações urbanas no Sul da Índia e observaram que no grupo
com 15 anos ou menos, a prevalência de miopia foi de 4,44% e foi maior naqueles com idades entre
os 10 e os 15 anos. No grupo com mais de 15 anos a prevalência aumentou para 19.39%83. Em
2002 Dandona et al., verificaram uma prevalência de miopia (M
-
35
aumento da idade que foi mais prevalente na área urbana. No grupo com mais de 15 anos de idade
esta prevalência foi de 19,45%, sendo mais comum no sexo masculino84.
Estudos detalhados sobre a prevalência da miopia foram realizados em populações indianas
em Singapura onde se observou prevalências muito maiores do que aquelas reportadas na Índia61.
Wu et al. verificaram uma prevalência de miopia (M
-
Mestrado Optometria Avançada 36
Os valores de prevalência de miopia obtidos pelos estudos em África são consideravelmente
mais baixos do que os valores obtidos em pessoas negras em Baltimore88. Para além deste estudo,
um outro realizado com uma população negra em Barbados, apresentou valores de prevalência de
miopia de cerca de 21%, valor ainda maior do que os relatados em relação às populações africanas89.
1.3.6 Estudos sobre a prevalência de miopia em populações de origem predominantemente
europeia
Foram realizados estudos abrangentes de populações transversais, em populações adultas
de origem europeia na América no Norte. Sperduto et al., avaliaram uma amostra dos Estados
Unidos e observaram uma prevalência de miopia significativamente menor no sexo masculino do
que no sexo feminino, mas esta diferença não está presente após os 35 anos de idade. Pessoas
brancas possuem prevalências de miopia superiores (26,3%) em relação às pessoas negras
(13,0%)65. Numa população adulta entre os 23 e os 78 anos de idade, a prevalência da miopia
diminuiu de 60% no grupo dos 23 aos 43 anos para 20% no grupo com mais de 65 anos90.
Attebo et al. recrutaram residentes adultos e idosos de Sydney, na Austrália e verificaram
uma prevalência de miopia geral de apenas 15% que diminui com o aumento da idade. Em pessoas
com menos de 60 anos a prevalência foi de 21% e diminuiu para 10% em pessoas com mais de 80
anos de idade91. Em Victoria, na Austrália os valores não diferem muito. A população foi dividida em
residentes urbanos e rurais e verificou-se, no geral, uma prevalência de miopia (M
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37
Em todos estes estudos conseguiu-se verificar que a prevalência de miopia na Austrália é
inferior aos valores reportados para a Europa e para o Norte da América66. Contudo, McCarty e Taylor
estimaram a existência de um aumento de quatro vezes na prevalência de miopia, na Austrália, ao
longo do século passado93. Embora os dados não sejam conclusivos, parece haver um aumento
substancial da miopia que sustenta a ideia de que a prevalência de miopia tem vindo a aumentar
na Austrália94.
Um estudo observacional com 4 grupos etários diferentes, Afro-americanos, Asiáticos,
Hispânicos e brancos verificou uma prevalência de miopia mais alta entre as crianças Asiáticas,
com 18,5%, seguidos dos Hispânicos com 13,2% tendo a população branca obtido a menor
prevalência de miopia (4,4%) não significativamente diferente dos Afro-Americanos16.
Dados da população da Escandinávia dão uma imagem semelhante ao abordado
anteriormente e estudos mais recentes confirmam que a miopia ocorre e se desenvolve mais
frequentemente durante a idade escolar. A frequência da miopia é mais alta em estudantes do
ensino médio e universitário mas menor nos grupos com níveis culturais mais baixos. Um estudo
realizado por Goldschmidt 1968, citado por Goldschmidt, 1981, numa população Dinamarquesa,
não mostrou alterações significativas na prevalência de miopia ao longo de quase 100 anos mas
dados mais recentes sugerem a existência de um aumento desta devido ao stress educacional95 96.
Uma vez que é esperado um aumento contínuo da prevalência de miopia para além dos 12-
13 anos, a prevalência de miopia destas crianças em adultos será significativamente maior atingindo
níveis comparáveis aos valores do Leste Asiático66. Esta ideia é consistente com relatos recentes de
prevalências de miopia mais altas do que o esperado em populações de jovens adultos na Noruega
com 35,0%97.
O facto de se verificar uma menor prevalência de miopia na Austrália em comparação com
a América do Norte e a Europa, aponta para um impacto considerável dos fatores ambientais.
Relativamente a estes fatores não existem evidências de que a pressão educacional sentida nos
estudantes seja menos intensa na Austrália do que na Europa ou na América do Norte, uma vez
que dados comparativos internacionais sugerem que os resultados educacionais na Austrália são
comparáveis aos dos países europeus mais bem-sucedidos e até mesmo superiores aos alcançados
nos Estados Unidos. Isto revela que outros fatores ambientais estão envolvidos nestas diferenças de
prevalência66 (OECD, 2001 citado por Morgan et al. 2005).
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Mestrado Optometria Avançada 38
1.4 Hipermetropia
A hipermetropia é um erro refrativo com elevada prevalência entre as crianças mais
pequenas e também comumente se encontra associada ao desenvolvimento precoce da ambliopia
e estrabismo98.
No que diz respeito à área da hipermetropia infantil, ainda existe alguma incerteza quanto
à sua prevalência e também à frequência com que está associada ao desenvolvimento visual
anormal, quer seja na ausência ou presença de correção ótica99. Segundo Atkinson a hipermetropia
infantil está associada a ligeiros atrasos relativamente ao desenvolvimento visual-cognitivo e visual-
moto98. Alguns estudos longitudinais como o de Mutti apoiam a hipótese de que a modulação do
crescimento axial em relação ao erro refrativo inicial é o fator mais influente no processo de
emetropização, sendo por isso, apoiada a ideia de que muitas hipermetropias infantis se resolvem
através deste processo, durante o primeiro ano de vida100.
Ingram observou que não existem evidências que indiquem que a quantidade de
hipermetropia diminua entre os 1 e os 3 anos de idade101. Na verdade, apesar de Wood mostrar que
o erro refrativo se torna menos hipermetrópico durante o primeiro ano de vida, existe uma grande
dispersão entre os 3 e os 6 meses de idade onde cerca de metade dos hipermétropes se tornam
ainda mais hipermétropes102. Foi apurado também que os hipermétropes, durante a maior parte do
primeiro ano de vida, têm uma tendência para que o erro refrativo hipermetrópico diminua
linearmente com o aumento do comprimento axial103, sendo que, esta taxa de recuperação à qual
se dá o nome de emetropização, depende também do nível inicial da ametropia, ocorrendo mais
rapidamente quando o erro de refração inicial é maior104.
1.4.1 Fatores de risco associados à Hipermetropia
Em populações de mais idade, a hipermetropia parece estar sob um forte controlo
genético105, 106. Além disso, estudos indicam que a prevalência da hipermetropia aumenta com a
idade, até aos 75 anos, mantendo-se estável posteriormente105. Wojciechowski em 2005 verificou
também que os homens negros eram significativamente menos propensos a terem hipermetropia
do que mulheres negras ou homens e mulheres brancas105.
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39
De acordo com alguns estudos, a hipermetropia está inversamente correlacionada com a
idade42,37,107,40,108. Relativamente a fatores como a hereditariedade, nível económico, atividades ao ar
livre, ler, ver televisão ou jogar videojogos, estes não estão associados á hipermetropia108.
Estudos verificaram que crianças que passam mais horas por semana em atividades de
perto, como estudar, ler ou usar o computador, são menos hipermetrópicas do que aquelas que
não dispensam muitas horas por semana nestas tarefas109,110. Para além disso, este fator mostra
diferenças entre diversas etnias.
No que diz respeito às atividades ao ar livre, investigadores mostraram que, em oposição
ao afirmado anteriormente, crianças que passam mais tempo no exterior estão associadas a
refrações mais hipermetrópicas do que aquelas que passam mais tempo no interior10. Uma das
explicações para isto é o facto de a maior quantidade de luz a que as crianças estão expostas em
atividades ao ar livre, estimular a libertação de dopamina que, por sua vez, inibe o crescimento
ocular111,10.
Apesar de pequena, é possível encontrar diferenças de prevalência de hipermetropia entre
homens e mulheres ou entre etnias distintas37, sendo que as mulheres apresentam um risco
significativamente mais elevado de ter hipermetropia do que os homens 40,108. A hipermetropia é
também mais comum em crianças caucasianas do que em crianças de outras etnias36,18,112,108.
1.4.1.1 Relação entre o défice de atenção e hiperatividade
O défice de atenção e hiperatividade é um transtorno do desenvolvimento neurológico
caraterizado por um aumento da distração por parte da pessoa113. Vários estudos observaram que
crianças com estes défices mostram uma maior taxa de anormalidades oculares114,115.
Mezer et al, detetaram uma significante ametropia em 39% dos seus pacientes
diagnosticados com défice de atenção e hiperatividade113. No entanto, a relação entre a
hipermetropia e as dificuldades de aprendizagem continua a ser bastante controversa. Alguns
estudos apontam para o facto de a hipermetropia estar correlacionada com diferentes dificuldades
de desenvolvimento e desempenho escolar116,117, apesar de outros não encontrarem qualquer
correlação118.
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Mestrado Optometria Avançada 40
Normalmente as crianças hipermetrópicas têm uma boa acuidade visual para longe, mas
quando querem ver objetos próximos fazem um esforço acomodativo extra116. É este esforço extra
que pode causar défices de atenção, hiperatividade e dificuldades de aprendizagem119,117,98.
Williams et al. verificaram resultados de desempenho significativamente menores em
crianças com hipermetropias superiores a +1.25D116. Bebés hipermetrópicos apresentam défices
pequenos, mas significativos, em muitos testes visuo-cognitivos, espaciais, visuo-motores e de
atenção que podem causar efeitos persistentes no início dos anos escolares.98 No entanto, Fabian
et al. não encontraram associação entre hipermetropia e défice de atenção ou hiperatividade120 e
para alguns autores a base desta associação ainda não é conhecida, podendo ser originado pelo
desenvolvimento neurológico ou por consequência da hipermetropia no desenvolvimento cognitivo
e motor98.
1.4.1.2 Relação com a dislexia
A dislexia é caraterizada pela incapacidade que uma pessoa tem para ler normalmente,
embora tenha um nível de inteligência normal ou superior a qualquer outra121.
Existe ainda um grande desentendimento no que diz respeito à etiologia desta condição
uma vez que muitos destes pacientes possuem danos cerebrais e muitos outros não, sendo que o
mesmo acontece quando falamos de anomalias oculares121.
Alguns oftalmologistas estudaram cuidadosamente os pacientes com dislexia a fim de tentar
reconhecer se alguns defeitos visuais podem estar na origem das suas falhas na leitura121,122. Parece
haver um consenso quando dizemos que a hipermetropia não é compatível com uma boa leitura.
Além disso, uma grande quantidade de tempo a estudar revela uma maior incidência de
hipermetropia entre o grupo com a condição do que nos outros casos sem condição121.
1.5 Astigmatismo
O astigmatismo é um transtorno da visão comum que leva a uma visão turva, uma vez que
o sistema ocular não é capaz de formar uma imagem clara e focada na retina123.
Numa ametropia cilíndrica, a potência refrativa é diferente nos distintos meridianos
resultando assim numa imagem distorcida em forma de linha do objeto puntiforme original1.
Normalmente a causa pode ser a deformação da córnea (astigmatismo externo)1. Na grande maioria
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dos casos o astigmatismo é regular, sendo os seus planos principais perpendiculares um ao outro.
Quando não o são, o astigmatismo é denominado irregular1.
Existem autores que mostram que o tipo de astigmatismo altera conforme a etnia. Verificou-
se que o astigmatismo à regra é o mais comum em estudos realizados na Ásia124,125,126 e também em
crianças no Norte da América127,128, enquanto Mohindra et al. (1978) citado por Xiao et al. (2014)
verificaram que em Espanha o astigmatismo é predominantemente contra-a-regra.
Segundo Read et al., após o nascimento, o astigmatismo destes é elevado com origem
corneana e à medida que as crianças crescem a córnea torna-se mais plana e o astigmatismo
diminui significativamente123. A ideia de que o astigmatismo diminuiu com o aumento da idade é
apoiado por vários outros autores129,130. Em contrapartida, outros afirmam que este tende a aumentar
com a idade131 ou ainda que, este tende a ficar estável124.
A degradação visual produzida pelo astigmatismo é fortemente dependente do eixo do
astigmatismo, mas diversos estudos diferem nas suas conclusões sobre qual o impacto do ângulo
do astigmatismo induzido na visão132.
Um estudo que investigou a relação entre o astigmatismo e os riscos causados na vida
académica das crianças, verificou que as crianças com astigmatismo atingem resultados inferiores
do que as crianças sem astigmatismo. Estes valores são inferiores nos domínios de desenvolvimento
pessoal e social, na linguagem e alfabetização e também na comunicação133.
1.5.1 Fatores de risco associados ao Astigmatismo
A causa exata do astigmatismo continua desconhecida, contudo os fatores de risco
associados têm sido avaliados123.
Fatores como a raça, etnia Hispânica e Afro-Americana, a miopia, hipermetropia e
tabagismo materno durante a gravidez, estão associados a um maior risco de ter astigmatismo,
sendo que crianças Hispânicas e Afro-Americanas são mais propensas do que crianças brancas não
Hispânicas134 ou crianças Indianas na América135. Apesar disto, Lyle et al., encontraram uma média
de astigmatismo corneal significativamente mais elevada em crianças Indianas do que em crianças
Caucasianas136.
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Mestrado Optometria Avançada 42
Crianças com erros refrativos como miopia e hipermetropia são também mais suscetíveis a
terem astigmatismo135, sendo maior ainda em míopes134. Para além disso, bebés com idades
inferiores a 12 meses têm também um risco aumentado em comparação com crianças mais velhas
entre os 5 e 6 anos de idade134,130.
São vários os estudos que tentam perceber a influência do fator genético no
desenvolvimento do astigmatismo mas a verdade é que este tema continua muito controverso. Lee
et al. não verificaram influência genética no que diz respeito ao astigmatismo106 e o mesmo foi
verificado em gémeos137, mas outros autores apoiam a hipótese de uma associação possível123,138.
Apesar da discrepância de resultados, tal como nos fatores ambientais, a genética tem também um
papel no desenvolvimento do astigmatismo, embora a natureza dos mecanismos não seja ainda
totalmente compreendida123.
Como outras associações possíveis para a origem do astigmatismo, Read et al. aponta para
as interações mecânicas entre a córnea e as pálpebras e/ou os músculos extraoculares, ou para
um feedback visual onde o astigmatismo se desenvolve devido às diversas pistas visuais123. Através
de uma pesquisa realizada por Gwiazda et al., verificou-se que a pressão das pálpebras exercida na
córnea ao longo do tempo pode causar uma mudança no eixo astigmático em crianças, para um
astigmatismo à regra130. Embora sem certezas, Lyle, Grosvenor e Kean consideram a hipótese de
que uma má nutrição pode levar a uma redução da rigidez da córnea que resulta num aumento do
astigmatismo corneano à regra, devido a pressão causada pelas pálpebras ou pelos músculos extra-
oculares136, tal como verificado por Gwiazda et al.
Relativamente ao fator sexo, este não está associado à presença de astigmatismo segundo
Huang et al.135, mas Morgan et al. verificaram que a pressão das pálpebras induz mais astigmatismo
corneal no sexo feminino do que no sexo masculino139.
Cirurgias oculares podem levar a alterações significativas no astigmatismo pois podem
causar mudanças na curvatura da córnea que nos fornecem informações sobre as propriedades
biomecânicas da córnea123. As diversas tarefas de visão de perto, que nos obrigam a olhar numa
direção inferior, para além de causar alterações nas aberrações do olho, alteram também o
astigmatismo deste140.
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1.6 Miopia
A miopia é frequentemente considerada como uma "doença" benigna uma vez que esta
pode ser corrigida com óculos, lentes de contacto ou cirurgia refrativa. Mesmo assim, a miopia
emergiu como uma das maiores preocupações de saúde pública por diversas razões,
nomeadamente o grande aumento da sua prevalência em alguns países2, como é o caso de Shangai
e Hong Kong na China, Tailândia, Singapura, Japão e Coreia do Sul141. Mesmo sendo um tema de
grande interesse por parte dos investigadores, a exata etiologia da miopia continua a gerar grande
controvérsia.
Figura 1.1. Nível de prevalência da miopia nos diversos países participantes PISA 2009.
A miopia normalmente resulta de um olho que começa a tornar-se muito longo,
particularmente devido ao alongamento da câmara vítrea. Muitos são os estudos que nos dizem que
quase todas as crianças nascem hipermetropes, com uma distribuição normal dos erros refrativos142
mas durante o primeiro ou segundo ano após o nascimento, a distribuição fica mais estreita. Duke
et al., 1949; citado por Cook RC et al., 1951, concluíram que a hipermetropia simples é a condição
ótica mais comum em bebés e persiste ao longo da sua vida em 50% da população mundial. Estes
sugerem também que, em relação á miopia, esta ocorre de modo congénito, mas na maioria dos
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Mestrado Optometria Avançada 44
casos, aparece entre os 5 anos e na puberdade. Isto indica a existência de um processo ativo que
modela a distribuição da refração, conhecido como a emetropização2. Após este período a córnea
tende a estabilizar, mas a refração tende a ser mais miópica à medida que o comprimento axial
continua a aumentar143. Gordon et al. avaliaram 148 olhos normais de 79 pacientes desde recém-
nascidos prematuros até adultos de 36 anos e verificaram que a partir, aproximadamente, dos 10
anos de idade, o crescimento do comprimento axial do olho já não é significativo, ou seja, tende a
estabilizar. No entanto, a partir dos 6/7 anos de idade até à idade adulta, existe um deslocamento
no sentido miópico143. A miopia normalmente desenvolve-se durante os primeiros anos da infância,
mas esta pode também desenvolver-se nos últimos anos da adolescência ou início da idade adulta,
sendo mais significativa143. O comprimento axial é o fator mais variável durante o seu
desenvolvimento mantendo uma forte correlação com o estado refrativo. Sendo assim, olhos mais
longos são mais prováveis de ter miopia do que aqueles que são mais curtos143.
1.6.1 Fatores de risco associados á progressão e aparecimento da miopia.
1.6.1.1 Género e idade
Existem alguns estudos que tentam relacionar o fator género e o fator idade com o
aparecimento e progressão da miopia. Alguns dados epidemiológicos mostram que o
desenvolvimento refrativo é um processo dinâmico e que as mudanças na refração ocorrem ao
longo da vida, com diferentes taxas de progressão144. Aos 5 anos de idade, muitos autores
consideram as crianças emétropes100 66. Isto deve-se a um processo denominado por emetropização
onde o crescimento do olho é regulado através de um mecanismo de feedback visual144. A
distribuição dos erros refrativos muda gradualmente durante os anos escolares, com tendência para
o aparecimento de miopia com o aumento da idade144. A incidência de miopia tende a aumentar a
partir dos anos de escola e normalmente atinge um pico por volta dos 9 aos 12 anos de idade17 145.
O género também tem sido associado a alterações verificadas na prevalência dos erros
refrativos e muitas vezes esta diferença é explicada devido à puberdade que é alcançada por
raparigas e rapazes em períodos diferentes146. Yip et al. em 2012 verificaram que existia, tanto no
sexo feminino como no sexo masculino, uma associação entre o pico de crescimento típico durante
a puberdade e o aparecimento ou progressão da miopia146.
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Morgan et al. verificaram valores de prevalência de miopia muito maiores em crianças
chinesas com 15 anos de idade (70%) quando comparadas com as de apenas 5 anos (3%). Na
Austrália, foi verificada uma maior prevalência de miopia no sexo feminino comparativamente ao
sexo masculino em crianças com uma média de idade de 6,732. Quando falamos numa população
com idades dos 11 aos 15, ainda na Austrália, a prevalência de miopia já é mais elevada18. Estes
dois artigos mostram uma associação e maior fator de risco para o sexo feminino e a miopia e revela
também que esta tende a aumentar com o avançar da idade na Austrália18 32. O mesmo foi verificado
na Ásia, onde as crianças de Hong Kong com 11 anos de idade tinham quase 15 vezes mais
probabilidade de ter miopia do que as crianças com menos de 7 anos17. Na Malásia a prevalência
da miopia mostra novamente ser superior no sexo feminino (22,5% no sexo feminino e 19,0% no
sexo masculino) e maior em adolescentes com 15 anos (34,4%) do que em crianças com 7 anos
(9,8%)37. Estas associações são também encontradas no Sul da China147, na Tailândia148 e também
em populações caucasianas31. Contrariamente, numa população urbana na Índia (New Delhi) não
foram encontradas quaisquer diferenças entre o sexo feminino e o sexo masculino38. O mesmo foi
verificado numa área suburbana no Chile (La Florida)40, na África do Sul41 e também no Leste do
Nepal35.
Hyam et al. verificaram que a taxa de progressão da miopia no sexo feminino, em média, é
mais rápida do que no sexo masculino, sendo que nas raparigas esta progressão foi 0,16D maior
do que nos rapazes149.
1.6.1.2 Atividades de visão de perto e atividades ao ar livre
A identificação dos fatores que podem afetar a taxa de progressão da miopia é
extremamente útil na compreensão e desenvolvimento da miopia assim como também na procura
de soluções para retardar e, em última instância, evitar o desenvolvimento inicial da miopia49.
A questão da natureza e nutrimento do desenvolvimento da miopia tem sido estudada
durante séculos e são poucos os autores que questionam os vários fatores que contribuem para o
desenvolvimento da miopia24. O trabalho de perto ocorre como um dos fatores de risco da miopia
mais frequentemente citado e são vários os estudos que suportam este facto24 150 151. Por outro lado,
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resultados obtidos em vários estudos acerca da influência do trabalho de perto na progressão da
miopia em crianças que já são míopes são menos consistentes24.
No que diz respeito á influência do trabalho de perto na progressão da miopia, este tema
continua ainda a ser muito controverso. Num estudo realizado com crianças míopes de 12 anos
residentes em Singapura, o trabalho de perto não foi associado à progressão de miopia152, enquanto,
na Finlândia, crianças míopes que passam mais tempo a ler têm uma progressão da miopia mais
rápida153.
Recentemente, fatores como o aumento da competitividade educacional tem tido um
impacto aumentado no que diz respeito ao alargamento das atividades em visão de perto24. Para
além disso, as taxas de prevalência da miopia em jovens adultos e as taxas de progressão da miopia
são mais elevadas em grupos de indivíduos que passam longas horas em intensivo trabalho de
perto154 155.
Existem evidências marcantes para o rápido aumento da prevalência da miopia. Estas
elevadas prevalências de miopia nas cidades do Este da Ásia mostram-se estar associadas ao
aumento da pressão educacional, combinado com as alterações do estilo de vida que têm vindo a
reduzir, cada vez mais, o tempo que as crianças passam ao ar livre2. Há cerca de 50 anos atrás,
Sorsby A, 1962; citado por Morgan IG et al., 2012, apoiou a hipótese de que a miopia tinha uma
influência maioritariamente genética, com uma influência mínima dos fatores ambientais.
Foram relatadas associações consistentes entre a miopia e os anos de escolaridade e os
resultados escolares66 verificando-se que a miopia aumenta com o aumento dos anos de educação,
sendo esta relação mais forte entre a população branca88. O aumento da prevalência da miopia na
Ásia Oriental urbana pode estar associado ao aumento da intensidade educacional. Para além disso,
os países do leste Asiático com elevada miopia dominam agora os rankings internacionais de
desempenho educacional. O aumento da acomodação durante um intensivo trabalho de perto, como
ler ou escrever, pode mediar a associação entre a miopia e a escolaridade, mas o suporte
epidemiológico para esta ideia não é forte141. Esta relação não foi encontrada, por exemplo, entre o
trabalho de perto e a miopia. Por outro lado, países como Shanghai, Hong-Kong, Japão e Singapura
localizam-se entre os países com maior prevalência de miopia e todos eles foram classificados no
quartil superior do desempenho educacional141.
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Numa outra perspetiva, existem países com baixa prevalência de miopia associado a uma
elevada performance educacional, como é o caso da Finlândia e Austrália, onde os trabalhos de
perto após as aulas são reduzidos141. Pelo contrário, com elevada performance educacional mas
elevada prevalência de miopia encontram-se diversos países, onde as tarefas de visão de perto após
as aulas são muito exigentes e ocupam grande parte do dia141. Isto mostra que o excesso de
atividades de visão de perto pode ser um marco no ambiente educacional que determinam elevados
níveis educacionais141. Esta mesma relação não foi encontrada, tanto em alunos no ensino primário
como do ensino secundário156.
Apesar de ter sido verificado que crianças em Singapura, com idades entre os 7 e os 9 anos
que leem mais que 2 livros por semana têm mais probabilidade de ter miopia elevada do que
aqueles que leem menos, um estudo sobre miopia feito em Singapura, mostra que o trabalho de
perto por si só é um fraco fator, mas as crianças que leem constantemente ou que o fazem a uma
curta distância são mais suscetíveis de serem míopes109. Ip et al. quantificaram o trabalho de visão
de perto (VP) em estudantes australianos com 12 anos de idade. Verificaram que os alunos
despendiam mais tempo em visão de perto a fazer trabalhos de casa, com uma média de 7,6 horas
por semana e despendiam 6,4 horas por semana no computador. As raparigas relataram gastar
significativamente mais tempo em atividades como trabalhos de casa, ler livros e estar no
computador. As crianças de etnia caucasiana europeia contaram que gastaram menos tempo em
trabalhos de visão próxima, com uma média de 26,0 horas por semana, do que as crianças do
Leste da Ásia com uma média de 32,5 horas por semana. Os autores verificaram também que as
crianças que liam de forma contínua por mais de 30 minutos tinham 1,5 vezes mais probabilidade
de desenvolver miopia do que aquelas crianças que liam menos de 30 minutos de forma interrupta.
Do mesmo modo, as crianças que liam a uma distância inferior a 30 cm foram 2,5 vezes mais
propensas ao desenvolvimento de miopia quando comparadas com aquelas que liam a uma
distância maior109.
Outras investigações sobre miopia mostram um significante efeito do aumento das horas
de trabalho de perto110, como o tempo gasto na leitura e na escrita5 6 e mostram também uma
associação dos valores da refração inicial com a progressão anual dos valores de miopia5. Nesta
altura a literatura divide-se em 2 pontos, no sentido em que, embora a associação entre a miopia e
a educação seja forte e consistente, a ligação biológica entre escolaridade e miopia não é clara157 158.
Pesquisas recentes mostram que o aumento da quantidade de tempo ao ar livre protege contra o
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desenvolvimento da miopia, minimizando assim o risco aumentado de miopia associado ao trabalho
de perto ou à existência de pais míopes10. O efeito de proteção está, então, associado ao tempo total
passado ao ar livre e não a uma ocupação específica com desporto. Resultados de um estudo
realizado com crianças entre os 6 e os 7 anos de idade, de ancestrais chineses e residentes em
Singapura e Sydney, mostraram que a prevalência de miopia em Sydney é muito menor quando
comparada com Singapura159. Além disso as crianças em Sydney leem mais livros por semana, mas
também passam mais tempo em atividades ao ar livre, o que reforça a conclusão anteriormente
referida, onde o único fator ambiental que se correlaciona com a prevalência elevada da miopia em
Singapura é apenas o tempo passado ao ar livre159. O mesmo parece acontecer com estudantes do
ensino primário no centro da cidade de Pequim, onde elevados níveis de atividades ao ar livre são
associados a uma refração menos miópica156 e atuam no sentido de prevenção da progressão e
início da miopia160. Estas atividades mostraram ter um efeito proeminente no que diz respeito ao
controlo da miopia em crianças não míopes, mas não em crianças míopes3.
Por outro lado, outros estudos realizados no mesmo sentido não encontraram correlação
entre o tempo gasto em atividades no exterior e a progressão da miopia5 nem qualquer conexão na
redução do risco de início desta6. Na Noruega observou-se uma forte associação entre a leitura de
literatura científica e a progressão da miopia ao encontrar uma alteração significativa do estado
refrativo no sentido miópico durante o período de seguimento13. No entanto, a mesma associação
não se verificou entre o tempo dispensado em videojogos ou computador e a ver televisão13 5 6 3.
Contrariamente a este, um estudo realizado com universitários espanhóis, que estudou o impacto
do uso de dispositivos de ecrã digital na progressão da miopia, verificou que o aumento da exposição
a estes aumenta o risco de desenvolvimento e progressão deste erro refrativo4. Para além disto, um
elevado alcanc