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III Seminário Linguagem e Identidades: múltiplos olhares1
ROTEIRO RIQUEZA CULTURAL AFRO MARANHENSE: contando a história da
cultura afro para a construção da identidade maranhense
SANTOS, Dorilene Sousa¹
CARVALHO, Conceição de Maria Belfort de²
RESUMO
Este artigo propõe alguns roteiros turísticos para a cidade de São Luís-MA, elaborados a
partir do olhar das comunidades autóctones, com destaque para lugares que representam a
identidade cultural maranhense a partir do resgate de elementos constitutivos da memória e
das raízes dos negros que contribuíram para a formação da cultura local.
Palavras-chaves: Identidade. Roteiros turísticos. Cultura.
1. Graduanda do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão; 2. Profa. Dra. do Curso de Turismo da Universidade Federal do Maranhão (DETUH).
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ABSTRACT
This article proposes a number of tours to the city of São Luís, MA, prepared from the look
of the local communities, especially in places that represent the cultural identity if
Maranhão from the redemption of the constituent elements of memory and the roots of
black people who contributed to form the culture.
Keywords: Identity. Sightseeing. Culture.
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INTRODUÇÃO
A cidade de São Luís é indiscutivelmente uma cidade que transborda cultura. Esse
celeiro cultural provém de diversas etnias, de crenças e tradições, que dão à capital
maranhense uma identidade diferenciada das demais capitais brasileiras: habitada por
índios, recebeu a presença de franceses – considerados, oficialmente, os fundadores –,
portugueses, espanhóis e negros africanos. Essa diversidade de povos colaborou para a
formação da cultura local.
O presente artigo dá enfoque às contribuições dos africanos que até hoje exercem
forte influência na cultura maranhense. Tendo em vista que essas contribuições precisam
ser ressaltadas, em virtude do valor cultural deixado, e pelo pouco destaque da cultura afro
nos roteiros turísticos existentes em São Luís, elaborou-se um roteiro que agrega história,
identidade e memória da herança africana em São Luís. Com a criação desse roteiro,
pretende-se contribuir para diversificar as linhas de temáticas de roteiros existentes na
cidade.
Para a realização deste trabalho procedeu-se um estudo de caráter qualitativo,
realizado em duas etapas. A primeira consistiu em pesquisa bibliográfica e documental.
Para essa etapa foram feitas leituras sobre os seguintes temas: patrimônio cultural,
identidade, memória, turismo, roteirização turística e desenvolvimento local; para a
pesquisa documental foram feitas visitas a acervos documentais nas instituições
relacionadas diretamente ao turismo nas esferas municipal e estadual. Na segunda etapa,
que consistiu em pesquisa de campo, foram aplicados questionários, com perguntas abertas
e fechadas, junto à comunidade local.
O objetivo dos questionários era saber dos entrevistados os lugares com os quais
eles mais se identificavam e qual era a sua visão em relação ao turismo. A partir dos dados
obtiveram-se os seguintes resultados, que apresentam um panorama dos atrativos
turísticos: para 59% dos entrevistados o turismo não causa nenhum dano à comunidade;
para 98% a presença do turista é algo positivo para a cidade. Dos 99% dos entrevistados,
apenas 10% disseram que gostariam de atuar na área. Esses entrevistados alegaram não
conhecerem nenhuma ação desenvolvida para o turismo, talvez por isso essa reposta se
justifique. Em relação ao incremento da oferta turística para compor um roteiro turístico
para as comunidades, os locais destacados como os que mais teriam potencial são as praias
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(31%), o Centro Histórico (15%), museus (8%), casas de artesanato (8%), sedes de bumba-
meu-boi (7%), barracas de comida típicas do bairro da Praia Grande (4%), igrejas (4%), e
sítios históricos (3%). Para a comunidade, as manifestações que mais poderiam atrair a
atenção dos visitantes e turistas seriam o reggae (26%) e o carnaval (18%). Para 41% dos
entrevistados que há lugares desconhecidos na cidade até mesmo pela população local e
que deveriam ser mais valorizados: as casas e festas de reggae (34%) e as igrejas (34%).
Considerando o destaque dado às casas e festas de reggae, construiu-se o roteiro
Riqueza cultural afro maranhense, com ênfase aos locais com os quais a população mais
se identifica. Essa iniciativa, além de tentar rememorar as raízes da população
afrodescendente, será uma forma de agregar mais valor à oferta do turismo na capital,
escassa de novos produtos.
O ROTEIRO
O Roteiro Riqueza cultural afro maranhense foi criado vislumbrando mostrar um
pouco sobre a cultura do negro maranhense. Os africanos exerceram forte influência na
cultura local, deixando um rico legado para gerações futuras, e contribuindo
significativamente para a construção da identidade local.
Após a realização da pesquisa e do desenvolvimento do projeto foi elaborado o
seguinte roteiro, que foi apresentado e aprovado no Sindicato dos Guias do Maranhão, e
que será demonstrado passo a passo a seguir:
O roteiro todo se concentra no Centro Histórico de São Luís e inicia-se com uma
visita ao Portinho. O local foi escolhido por representar o começo da trajetória dos
africanos na ilha. Ali aportavam homens, mulheres, crianças, trazidos à revelia para
servirem de escravos em terras distantes, porém sem desprenderem-se de suas raízes. O
portinho tem uma extensão estipulada em 300 metros e tem uma bela vista à beira-mar.
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Figura 01: Portinho à noite
Fonte: Márcio Andson
Descendo o porto, os negros eram levados até a Cafua das Mercês, nossa segunda
parada do roteiro.
A Cafua das Mercês foi construída na segunda metade do século XX, e era uma
espécie de “depósito” dos escravos. Nesse local os negros escravos ficavam até serem
comercializados.
De fachada uniforme e dois pavimentos em estilo colonial, a Cafua não possui
janelas, apenas seteiras, única abertura para a entrada de luz e ventilação. O prédio foi
restaurado em 1975 e, atualmente, abriga um memorial dedicado à história e à cultura afro.
Faz parte do Museu histórico e Artístico do Maranhão e mostra a contribuição dos negros à
cultura maranhense em todos os seus aspectos. O prédio mantém suas características
originais.
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Figura 02: Cafua das MercêsFonte: Dorilene Sousa
É composto por dois pavimentos. O primeiro pavimento possui escultura e
instrumentos de origem africana; no segundo piso encontram-se peças que representam o
sincretismo religioso da cultura africana e Igreja Católica e indumentárias usadas em
rituais festivos e religiosos, principalmente do Tambor de Mina, manifestação cultural
africana. Compõe o acervo instrumentos de tortura usados para açoitar os escravos, como
uma réplica do pelourinho de São Luís, cujo original foi destruído em 1888 logo após a
libertação dos escravos.
Após a Cafua a terceira parada de visitação é a Praça Nauro Machado. De acordo
com relatos, esse era o local onde os escravos eram comercializados. Hoje a praça serve
como ponto de encontro de manifestações culturais em especial de raízes africanas, como a
capoeira e o tambor de Crioula.
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Figura 03: Praça Nauro MachadoFonte: Dorilene Sousa
O quarto local de visitação é o Teatro João do Vale, batizado com esse nome em
homenagem a um grande cantor, compositor e poeta maranhense, morto em 1996,
imortalizado com músicas populares como Pisa na Fulô e Carcará. É um dos principais
centros culturais da cidade e hoje apresenta programações artísticas culturais, em especial
de artistas maranhenses.
Figura 04: Fachada do Teatro João do ValeFonte: Dorilene Sousa
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Destaca-se que o teatro, outrora um sítio de penúrias dos escravos, hoje abriga um
local que homenageia um negro expoente, de bastante expressividade na música
maranhense.
O roteiro tem continuidade com uma parada gastronômica no Mercado da Praia
Grande, onde estão localizados diversos quiosques que oferecem especiarias da culinária
maranhense, que sofreu influência da gastronomia portuguesa, francesa, indígena e
africana. Da culinária africana, ficou uma vasta herança como o doce de espécie, as
especiarias, o uso do quiabo, da pimenta, do coco e do feijão, em especial do cuxá, feito de
um erva procedente da África, a vinagreira, e faz parte de uma das iguarias mais famosa do
Maranhão, o arroz-de-cuxá.
Figura 06: Mercado da Praia GrandeFonte: Dorilene Sousa
O Roteiro encerra-se com mais dois pontos de visitação: o Beco Catarina Mina e o
Centro de Cultura Catarina Mina.
Catarina Mina, a personagem que dá nome aos dois locais, foi uma bela escrava que
teve “relacionamentos” com coronéis portugueses, e conseguiu juntar uma bela soma
obtendo assim dinheiro suficiente para comprar sua própria alforria. Após conseguir sua
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liberdade, Catarina Mina comprou a liberdade de um grande número de escravos. A ex
escrava saía às ruas sempre bem vestida e coberta de jóias junto com o seu cortejo de
escravos.
Figura 07: Beco Catarina MinaFonte: Dorilene Sousa
Figura 08: Ponto de cultura Catarina MinaFonte: Dorilene Sousa
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Em 1930, o Beco teve seu nome mudado para Rua Djalma Dutra, porém, a maioria
das pessoas ainda conhece o Beco por Catarina Mina. Ao lado desse beco, situa-se o Ponto
Cultural, de realização da Companhia de Cultura Popular Catarina Mina. No ponto
cultural, são oferecidas diversas oficinas direcionadas especialmente para turistas que
querem aprender um pouco mais sobre a dança e a cultura afro maranhense. Com dez anos
de fundação a Companhia tenta manter viva a cultura negra tão presente na realidade
ludovicense.
No Ponto de cultura, estão expostos painéis, imagens e instrumentos relacionados a
diversas formas de manifestações culturais maranhenses, como o tambor de Crioula e a
capoeira; o turista ainda terá a oportunidade de participar das oficinas oferecidas pela
companhia, pagando apenas uma taxa simbólica.
Abaixo um esquema do percurso do Roteiro Riqueza cultural afro maranhense:
Figura 09: Esquema do RoteiroFonte: Dorilene Sousa
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Roteiro Riqueza cultural afro Maranhense foi criado com o intuito de apresentar
a identidade e a contribuição do negro africano para a construção da memória maranhense
que até hoje se encontra presente em diversos setores da cultura do estado, nas suas
manifestações, na gastronomia e na história. O roteiro vem contribuir para a disseminação
dessa história tanto para a comunidade local como para os turistas. Além de colaborar com
uma visão mercadológica para a fomentação do turismo com mais opções de produtos
turísticos. Em uma visão mais ampla o objetivo desse roteiro é a valorização da memória e
da identidade dos africanos e seus descendentes em terras maranhenses, pois isso ainda
constitui uma lacuna em termos de roteiro turístico da cidade.
REFERÊNCIAS
Centro Histórico – A Praia Grande – As ruas da Praia Grande In: PatrimoniodaHumanidade.com. Disponível em: http://www.patrimonioslz.com.br/pagina37.htm. Acessado em 05 de junho de 2011
Martins, Clerton (org.). Turismo, Cultura e Identidade. São Paulo: Roca, 2003.