cultura da mandioca

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO - CAMPUS ITAPINA MÓDULO PRODUÇÃO VEGETAL CULTURAS ANUAIS CULTIVO DE MANDIOCA ALUNO 1 ALUNO 2 ALUNO 3 ALUNO 4 Trabalho apresentado ao Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Campus Itapina, como parte das exigências da Disciplina Culturas Anuais, Módulo Produção vegetal, para obtenção de aprovação. 1

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Page 1: Cultura Da Mandioca

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIADO ESPÍRITO SANTO - CAMPUS ITAPINA

MÓDULO PRODUÇÃO VEGETALCULTURAS ANUAIS

CULTIVO DE MANDIOCA

ALUNO 1 ALUNO 2 ALUNO 3 ALUNO 4

Trabalho apresentado ao Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Campus Itapina, como parte das exigências da Disciplina Culturas Anuais, Módulo Produção vegetal, para obtenção de aprovação.

PROF. ANDERSON MATHIAS HOLTZINSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DO ESPIRITO SANTO – CAMPUS ITAPINAJUNHO 2009

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Page 2: Cultura Da Mandioca

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................................3

2. ORIGEM.....................................................................................................................................42.1. Historia.......................................................................................................................................4

3. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA...................................................................................................4

3.1. Panorama da Produção de Mandioca........................................................................................43.2. Estimativa de Consumo..............................................................................................................54. CLASSIFICAÇÃO CIENTÍFICA................................................................................................. .74.1. Classificação Botânica.............................................................................................................. .74.2. Crescimento e desenvolvimento da planta................................................................................75. VARIEDADES............................................................................................................................7

5.1. Características para exploração................................................................................................9

5.2. Toxidade....................................................................................................................................9

6. CLIMA......................................................................................................................................10

6.1. Influencia no ciclo vegetativo...................................................................................................11

7. SOLOS.....................................................................................................................................11

8. ESCOLHA DA ÁREA E PREPARO DO SOLO.........................................................................12

8.1. Manejo e conservação do solo..................................................................................................13

8.2. Controle da erosão....................................................................................................................14

8.3. Rotação de culturas..................................................................................................................14

8.4. Calagem e Adubação................................................................................................................14

8.5. Micorriza arbuscular..................................................................................................................18

9. PLANTIO...................................................................................................................................18

9.1. Espaçamento e profundidade de plantio...................................................................................19

9.2. Consorciação de Culturas.........................................................................................................19

9.3. Seleção e Preparo do Material de Plantio.................................................................................20

9.4. Quantidade de manivas (sementes).........................................................................................20

9.5. Transporte de ramas.................................................................................................................21

9.6. Poda..........................................................................................................................................21

10. PLANTAS DANINHAS...............................................................................................................21

11. DOENÇAS.................................................................................................................................23

12. COLHEITA E BENEFICIAMENTO.............................................................................................26

12.1. Épocas de colheita.....................................................................................................................27

12.2. Sistemas de colheita..................................................................................................................27

12.3. Produção de raízes....................................................................................................................28

12.4. Produção de ramas....................................................................................................................28

12.5. Transporte de raízes..................................................................................................................28

12.6. Conservação de raízes...............................................................................................................28

12.7. Conservação das ramas.............................................................................................................29

13. UTILIZAÇÕES............................................................................................................................29

14. INDUSTRIALIZAÇÃO DA MANDIOCA......................................................................................30

15. COMERCIALIZAÇÃO.................................................................................................................32

16. REFERÊNCIAS..........................................................................................................................33

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Page 3: Cultura Da Mandioca

1. INTRODUÇÃO

Um dos produtos de maior importância nacional, a mandioca também é um símbolo

nacional na agricultura. Tendo crescido muito nos últimos anos, esse produto de

origem sul americana é fonte de emprego, riqueza e renome internacional para o

Brasil, sendo motivo de orgulho para o país a segunda posição no ranking de

produtores mundiais. De fácil adaptação, a mandioca é cultivada em mais de 80

países, havendo muitas aplicações para o produto na área alimentícia, podendo ser

usada tanto na alimentação animal com na humana, em sua forma in natura ou

através de seus derivados. Usada para a fabricação de farinha, rações, chips,

bebidas, polvilho doce (fécula) e pratos típicos, a mandioca se mostra muito

presente na culinária do Norte e Nordeste brasileiro e base da alimentação de

alguns países africanos. Grande fonte de carboidratos, ainda há a possibilidade de

extração e modificação do amido, que também se mostra um nutriente bastante

presente, além disso, existem estudos do aproveitamento do valor protéico da folha

da mandioca. Estes e outros fatores fazem da mandioca um produto único de

grande valor econômico e cultural.

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Page 4: Cultura Da Mandioca

2. ORIGEM

Pertencente à ordem Malpighiales, família Euphorbiaceae, gênero Manihot e espécie Manihot esculenta Crantz, a mandioca é uma planta de origemsul-americana, cultivada desde a Antiguidade pelos povos nativos desse continente. Oriunda de região tropical encontra condições favoráveis para seu desenvolvimento em todos os climas tropicais e subtropicais.

2.1. Historia

A mandioca é uma planta de origem brasileira. A sua cultura é das mais antigas e tradicionais do Brasil. Já era cultivada pelos índios, por ocasião do descobrimento do Brasil. Hoje em dia, é explorada em todo o território brasileiro, em todos os países sul e centro-americanos e nas Antilhas. Em outras regiões do mundo de clima tropical e subtropical cultivam igualmente a mandioca, principalmente em Java, nas Filipinas, no Ceilão, na Tailândia, em grande parte da África e em Madagascar.

Mandioca (Aipim ou Macaxeira) é o nome pelo qual é conhecida espécie comestível e mais largamente difundida do gênero Manihot, composto por diversas variedades de raízes comestíveis.O nome dado ao arbusto da manihot é maniva. Trata-se de um arbusto que teria tido sua origem mais remota no oeste do Brasil (sudoeste da Amazônia) e que, antes da chegada dos europeus à América, já estaria disseminado, como cultivo alimentar, até a Mesoamérica (Guatemala, México). Espalhada para diversas partes do mundo, tem hoje a Nigéria como seu maior produtor.

Foi cultivada por várias nações indígenas da América Latina que consumiam suas raízes, tendo sido exportada para outros pontos do planeta, principalmente para a África, onde constitui, em muitos casos, a base da dieta alimentar. No Brasil, o hábito de cultivo e consumo da raiz continua.No Brasil possui muitos sinônimos, usados em diferentes regiões, tais como aipi, aipim, castelinha, macaxeira, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre, e variedades como aiapuã e caiabana, ou nomes que designam apenas a raiz, como caarina

Apresentando grande variabilidade genética, têm-se no Brasil mais de 4 mil variedades de mandioca catalogadas no momento, por tal motivo, são indicadas para o cultivo diferentes espécies de acordo com a região e seus respectivos parâmetros ecológicos.

3. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

A importância econômica da cultura da mandioca está na produção de raízes tuberosas e feculentas que representa valioso alimento humano e dos animais, fabricação de produtos alimentícios ou de aplicação industrial e produção de álcool.

Os principais produtos derivados da mandioca destinados ao consumo humano são: Farinha de mandioca, Fécula (ou amido) de mandioca, Mandioca de mesa (macaxeira ou aipim).

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Page 5: Cultura Da Mandioca

Estima-se que 22,1% da produção nacional de mandioca seja destinada à produção de farinha, 10,0% à produção de fécula e 2,0% ao consumo in natura, como mandioca de mesa (macaxeira ou aipim).

Segundo dados levantados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam), a produção de fécula concentra-se nos estados do Paraná (64,5%), Mato Grosso do Sul (19,5), São Paulo (11,9%), Santa Catarina (3,9%) e Ceará (0,2%).

Nos últimos 5 anos, os principais países de destino das exportações brasileiras de fécula de mandioca foram: Venezuela, Argentina, Estados Unidos.

Os países que concorrem com o Brasil no mercado internacional de fécula de mandioca são: Tailândia, Indonésia, China, Vietnam.

3.1. Panorama da Produção de Mandioca

Mais de 80 países produzem mandioca, sendo que o Brasil participa com mais de 15% da produção mundial. De fácil adaptação, a mandioca é cultivada em todos os estados brasileiros, situando-se entre os nove primeiros produtos agrícolas do País, em termos de área cultivada e o sexto em valor de produção. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de mandioca, ficando atrás apenas da Nigéria. Em termos continentais, a África é o maior produtor seguido da Ásia as Américas e Oceania, pois dos 10 maiores produtores mundiais, 6 são africanos. No mercado interno, o Estado que mais produz é o Pará, seguido de Bahia e Paraná, no ranking de produtores.Apresenta-se a seguir o ranking mundial e nacional dos produtores de mandioca.

Produtores mundiais de mandiocaPaís Área (ha) Produção (t) Rendimento

(t/ha)Nigéria 3.500.000 33.379.000 9,54Brasil 1.780.870 24.230.332 13,61Tailândia 1.050.000 20.400.000 19,43Indonésia 1.285.718 19.196.950 14,93Congo 1.900.000 14.950.500 7,87Gana 819.000 9.828.000 12,00Índia 270.000 7.100.000 26,30Tanzânia 660.000 6.890.000 10,44Moçambique 1.045.625 6.149.897 5,88Angola 640.000 5.600.000 8,75Uganda 400.000 5.400.000 13,50Vietnã 370.500 5.370.000 14,49Benin 300.000 4.000.000 13,33China 240.115 3.901.600 16,25Paraguai 260.000 3.900.000 15,00Malawi 150.000 2.559.319 17,06Madagascar 352.815 2.366.935 6,71Colômbia 191.719 2.218.112 11,57Camarões 145.000 1.950.000 13,45Costa do Marfim 320.000 1.700.000 5,31Filipinas 180.000 1.400.000 7,78 Fonte: EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA, 2004.

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Page 6: Cultura Da Mandioca

Produção brasileira de mandioca em 2003Estado Área(ha) Produção(t) Rendimento

(kg/ha)Pará 292.663 4.468.892 15.270Bahia 330.254 3.897.694 11.802Paraná 110.944 2.355.300 21.230Rio Grande do Sul 88.911 1.315.223 14.793Maranhão 164.617 1.241.190 7.540São Paulo 36.690 864.230 23.555Minas Gerais 60.648 850.592 14.025Amazonas 83.754 804.944 9.611Ceará 82.054 757.891 9.236Santa Catarina 28.417 538.930 18.965Mato Grosso do Sul 22.917 485.289 21.176Pernambuco 41.767 440.447 10.545Acre 23.188 437.028 18.847Sergipe 30.087 435.645 14.480Rondônia 24.429 400.012 16.374Rio Grande do Norte 37.193 394.572 10.609Piauí 39.797 358.874 9.018Mato Grosso 25.138 350.879 13.958Tocantins 14.706 344.486 23.425Goiás 17.822 268.899 15.088Paraíba 27.922 255.768 9.160Espírito Santo 12.673 206.659 16.307Alagoas 13.720 181.181 13.206Rio de Janeiro 10.666 154.693 14.503Roraima 5.600 74.400 13.286Amapá 6.375 67.166 10.536Distrito Federal 616 10.198 16.555BRASIL 1.633.568 21.961.082 13.444 Fonte: EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA, 2003b.

Em 2006, os preços de mandioca e seus derivados tiveram queda em função do crescimento da oferta que ocorreu pelo aumento da área cultivada em 2005. A queda no preço das raízes teve início logo nos primeiros meses do ano, tendo as cotações, registrado os menores patamares dos últimos 3 anos em junho de 2006, estes os quais, permaneceram estáveis até setembro. Mesmo havendo forte valorização de 76,8% no Paraná, 65,8% em São Paulo e 74,4% no Mato Grosso nos últimos três meses, estes números foram insuficientes para compensar o déficit dos meses anteriores.

No mercado da fécula, a maior oferta de matéria-prima e a baixa dos preços, contribuíram para a melhor competitividade da fécula com seus substitutos. Tal competição se mostrou bem acirrada, havendo situação favorável à fécula apenas no final do primeiro semestre. O aumento da demanda de fécula coincidiu com a queda de oferta das raízes de mandioca, e como os estoques de fécula estavam baixos, o resultado foi uma alta dos preços, o que aumentou o número de contratos antecipados, pois os agentes queriam evitar uma possível falta do produto no mercado.

Em relação à farinha de mandioca, 2006 foi um ano de estabilidade do mercado em relação aos anos anteriores até o último trimestre, onde ocorreu crescimento de 53,4% no preço da farinha de mandioca grossa branca e 51,5% na

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farinha de mandioca fina branca no Paraná, havendo também alta destes produtos em São Paulo e Santa Catarina.

3.2. Estimativa de Consumo

O maior consumo de farinha, por domicílio, é observado na Região Norte (34,189 kg/hab./ano). Os estados com os maiores índices de consumo de farinha são:

Pará (43,988 kg/hab./ano)Amazonas (43,778 kg/hab./ano)Amapá (32,376 kg/hab./ano)Bahia (25,449 kg/hab./ano)A Bahia é o estado que consome mais de 24% da produção de farinha de

mandioca do Brasil.

4. CLASSIFICAÇÃO CIENTÍFICA

Nos últimos anos, houve um avanço significativo na sistemática vegetal a partir das contribuições da biologia molecular, principalmente pelo sequenciamento do gen rbcL, responsável pela codificação da subunidade maior da RUBISCO. Novos direcionamentos tiveram que ser admitidos por força das evidências que foram surgindo, a ponto de serem criadas, em 1998, a APGI (Angiosperm Phylogeny Group) e, em 2003, a APGII que apresentam os mais recentes resultados obtidos por todos os pesquisadores na área de sistemática vegetal.

Como resultado dessas mudanças, termos como divisão, classe e subclasse foram ignorados nos trabalhos mais recentes, conservando-se apenas ordem e família como categorias hierárquicas acima de gênero. Dessa forma, a mandioca pertence à ordem Malpighiales, família Euphorbiaceae, gênero Manihot e espécie Manihot esculenta Crantz.

4.1. Classificação Botânica

A mandioca é uma planta dicotiledonea da família Euphorbiaceae genero Manihot. Este genero compreende várias espécies, das quais destacam, do ponto de vista econômico, a M. utilissima Pohl (sinonímia da espécie M. esculenta Crantz) e a M. dulcis Pax. A principal diferença botânica existente entre estas duas espécies parece residir no fruto que, na e M. utilíssima Pohl é alado e na espécie M. dulcis Pax é liso. As variedades cultivadas no Estado de São Paulo pertencem a espécie M. utilíssima que, segundo a revisão de PAX e HOFFMAN, tanto podem se apresentar na forma doce como na amargosa.

4.2. Crescimento e desenvolvimento da planta

No desenvolvimento da cultura da mandioca têm sido verificadas cinco fases fisiológicas, sendo quatro ativas e uma de repouso (Conceição, 1979).

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A duração de cada fase está na dependência de fatores relacionados com a própria diversidade genética da cultura e de fatores do ambiente.

Brotação da estaca

Em condições favoráveis de umidade e temperatura, após 5 a 7 dias do plantio, há o brotamento das estacas e o surgimento das primeiras raízes absorventes ao nível dos nós e da extremidade das estacas. Cerca de 15 dias é o tempo necessário para o atingimento desta fase.

Em regiões onde existe a possibilidade de ocorrência de estresse hídrico na fase de brotação das estacas, aconselha-se utilizar manivas maiores para o plantio (aproximadamente 20cm), porque manivas com essa dimensão podem manter a plântula com umidade e nutrientes por um período razoável de tempo.

Formação do sistema radicular

Essa fase dura, em média, 80 dias e se caracteriza pelo desaparecimento das primeiras raízes formadas em detrimento do aparecimento de outras. Essas novas raízes são chamadas raízes fibrosas e são responsáveis pela absorção de água e nutrientes.

As raízes de reserva são formadas pelo crescimento secundário das raízes fibrosas e esse processo se inicia em torno de 3 semanas após o plantio. O número de raízes de armazenamento, que varia de cinco a doze, é definido no início do ciclo da cultura (dois a três meses), embora algumas cultivares possam produzir novas raízes até com sete meses de idade. Por essa razão, qualquer estresse (água, temperatura, competição, ataque de insetos, etc.) que ocorra na fase inicial do crescimento da mandioca poderá dificultar a fixação das raízes de armazenamento com significativo comprometimento da produtividade.

Desenvolvimento da parte aérea

No sétimo dia após o plantio aparecem os primeiros ramos aéreos e aos dez dias surgem as primeiras folhas. Após o aparecimento, e sob condições normais, as folhas alcançam seu crescimento máximo entre o 10º e o 12º dia.

Quanto à duração de cada folha na planta, ela é dependente, sobretudo, da cultivar e do nível de sombreamento ao qual a planta é submetida, embora o estresse hídrico e temperaturas altas também possam acelerar o início da senescência foliar. A duração mínima encontrada para uma folha de mandioca foi de 37 dias, e a máxima de 210 dias.

Enchimento das raízes de reserva

Nesta fase há um direcionamento de carboidratos das folhas para as raízes. O início da deposição de amido nas raízes ocorre aos 25 dias após plantio.

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Page 9: Cultura Da Mandioca

Repouso

Esta fase é bem caracterizada em regiões onde ocorrem baixas temperaturas, o que é o caso da região Centro Sul Brasileira. Neste período, a planta perde toda a sua folhagem permanecendo apenas a migração de amido para as raízes. Ao completar um ciclo de 12 meses, segue-se um segundo período de atividades em que se processa a formação de novos ramos e folhas até o 16° mês. Do 17° ao 22° mês haverá novamente a formação de amido para que a planta entre novamente em repouso.

5. VARIEDADES

A cultura da mandioca apresenta ampla variabilidade genética, representada pelo grande número de variedades disponíveis em todo o País. Até o momento, já foram catalogadas, no Brasil, mais de 4 mil variedades, mantidas em coleções e bancos de germoplasma de várias instituições de pesquisa.

A mandioca é considerada uma planta rústica e com ampla capacidade de adaptação às condições mais variadas de clima e solo. Independentemente de sua ampla variabilidade genética e de sua interação com o ambiente, os principais parâmetros ecológicos da mandioca são constituídos pela temperatura, pela radiação solar e fotoperíodo, pelo regime hídrico e pelo solo. Por tal motivo, são indicadas para o cultivo diferentes espécies de acordo com a região e seus respectivos parâmetros ecológicos, levando em consideração a finalidade da exploração e duração do ciclo da variedade.

5.1. Características para exploração

As variedades recomendadas para a indústria de amido devem apresentar devem apresentar altos teores de amido nas raízes, polpa branca, córtex e película clara, ausência de cintas nas raízes, destaque fácil da película, raízes grossas e bem conformadas.

As variedades recomendadas para a alimentação animal devem apresentar alto rendimento de raízes e da parte aérea, boa retenção foliar, alto teor de proteína nas folhas e teor mínimo de ácido cianídrico, tanto nas folhas como nas raízes.Algumas cultivares para mesa Saracura, Maragogipe, Casca Roxa, Manteiga, Paraguai, Aipim Brasil e para indústria JussaraValença, Caetité, Catulina, Bibiana.

O ciclo cultural da mandioca é o período que vai do plantio à colheita. Com base na duração desse ciclo as cultivares são classificadas em:- Precoces (ciclo de 10 a 14 meses)- Semiprecoces (ciclo de 14 a 16 meses)- Tardias (ciclo maior que 18 meses)

5.2. Toxicidade

Há variedades de mandioca, chamadas "bravas" cujas raízes, quando ingeridas cruas ou mesmo cozidas, podem provocar intoxicações, porque encerram uma substância (um glicosídeo cianogenético de nome "linamarina") capaz de

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produzir ácido cianídrico (HCN) quando em presença dos ácidos ou enzimas do estomago. As variedades "mansas" (aipins ou macaxeras) também o encerram, porém em quantidades inócuas. A secagem (pelo calor do sol ou de secadores) elimina veneno por volatilização. A cocção pode não eliminar todo ele, razão pela qual a mandioca "brava", ainda que cozida, pode ocasionar acidentes, o que não acontece com os seus produtos de indústria.

A presença desse tóxico é constatada em todas as partes do vegetal, aéreas e subterrâneas. As folhas acusam as maiores porcentagens. Com relação às raízes, as análises revelam que o córtex, ou casca grossa, encerra teores mais elevados do que a polpa, podendo o córtex das raízes de uma variedade inócua encerrar dose porcentual mais elevada do que a polpa das raízes de variedades "bravas". No uso culinário das raízes, o  córtex é retirado antes do cozimento.

A variação do teor em HCN nas plantas de mandioca está não somente na dependência da variedade, idade das plantas (as mais novas, em geral, são mais ricas), como também está sujeita a influencia do meio ambiente, como solo, clima e altitude.

Citam-se casos de variedades que, sendo venenosas em uma localidade, passam a ser "mansas" quando plantadas em outros lugares, e vice-versa. Casos como esses parece ainda não terem sido constatados entre nós.Apesar da existência do princípio tóxico na parte aérea do vegetal, o farelo de ramas e folhas feito com variedades "bravas", quando bem fenado, até atingir 10 a 12% de umidade, pode ser utilizado pelos animais, sem perigo.

De modo geral, as raízes das variedades "mansas" (aipins ou macaxeiras) encerram, na polpa crua, de um até dez miligramas por cento de ácido cianídrico. As variedades "bravas" ou amargas encerram bem mais, em geral de 15 a 30mgr.

6. CLIMA

A mandioca é uma planta de origem sul-americana. Oriunda de região tropical encontra condições favoráveis para seu desenvolvimento em todos os climas tropicais e subtropicais.

Nas altitudes muitas elevadas, com mais de 1000 metros, o sucesso da cultura dependerá da duração da época fria e das temperaturas. As médias mensais deverão estar acima de 20ºC, durante o período vegetativo.

As atividades vegetativas dessa planta diminuem muito durante o nosso inverno (de maio a agosto), ficando aparentemente paralisadas em temperaturas abaixo de 15ºC. A mandioca é muito sensível à geada. Quando atingidas as plantas já bem desenvolvidas, seca, quase sempre, toda a parte aérea, continuam, entretanto, vivas as porções subterrâneas das hastes, de onde saem, mais tarde, novas brotações, refazendo-se o vegetal. Plantas muito novas, se atingidas pela geada, emitem outras brotações, mais tarde. Períodos quentes e secos são desfavoráveis nas primeiras fases da cultura, principalmente durante a época de plantio. Temperaturas ambientes com valores médios entre 20 e 30ºC são as mais favoráveis para o desenvolvimento da cultura.

Precipitações anuais em torno de 1.000 milímetros de chuvas são muito boas para a cultura, desde que distribuídas num período de seis a oito meses durante o ano. Entretanto, em zonas tropicais a mandioca prospera e produz, não raro, em localidades com precipitações de até 3.000 milímetros anuais, e, por outro lado, embora em condições precárias, também sob um regime de cerca de 500

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milímetros. Depois de bem desenvolvidas, as plantas de mandioca tem boa resistência à seca, possivelmente pela profundidade que pode atingir o seu sistema radicular.

Consideram-se os paralelos de 30 graus de latitude norte e sul, como delimitadores da faixa geográfica onde há condições climáticas favoráveis para o cultivo da mandioca.

O período de luz ideal está em torno de 12 horas/dia. Dias com períodos de luz mais longos favorecem o crescimento de parte aérea e reduzem o desenvolvimento das raízes de reserva, enquanto que os períodos diários de luz mais curtos promovem o crescimento das raízes de reserva e reduzem o desenvolvimento dos ramos.

6.1. Influencia no ciclo vegetativo

Cultura de mandioca com um ciclo vegetativo é a que tem, normalmente, de oito a quinze meses (plantio desde maio até outubro, e colheita de maio a agosto do ano seguinte) para o consumo humano, as plantas são, em geral, colhidas com um ciclo. A cultura tem dois ciclos vegetativos quando conta dezoito a vinte e quatro meses. As plantações para fins industriais ou forrageiros (raízes) são, preferivelmente, colhidas com dois ciclos, por serem mais produtivas.

Durante os meses de verão e chuvas (praticamente de setembro a março, em São Paulo) as plantas vegetam mais ou menos abundantemente. Nas épocas mais frias e, em geral, com menos chuvas (período de abril a agosto), as plantas diminuem as atividades vegetativas e perdem, até aproximadamente o mês de junho, totalmente, as folhas (algumas variedades podem manter ainda certa quantidade de folhas). Em condições normais, estas caem, gradativamente, a começar da base do vegetal, precedendo-se seu amarelecimento e seca.

A queda das folhas é um fenômeno natural e normal nesta espécie, agravado, entretanto, quando a temperatura desce a alguns graus abaixo de 20. Inicia-se a queda, normalmente, nas plantas ainda pequenas, nas primeiras fases do seu desenvolvimento. À medida que a planta cresce, ganhando em altura e adquirindo maior quantidade de folhas e ramas, prossegue a queda natural das folhas, aos poucos, e sempre no sentido da base para o ápice. Atingindo o máximo desenvolvimento do vegetal, o iniciando-se a época fria (março-abril), amarelecem e caem as folhas, até o mês de junho, em geral na sua totalidade.

Desfolhadas as plantas, dá-se a seca dos "ponteiros" ou seja, das últimas porções  de 30 a 50 cm das hastes, no sentido de cima para baixo. Em fins de julho ou princípio de agosto, as primeiras gemas da parte superior entram em brotação, à custa das reservas nutritivas acumuladas nas raízes e ramas. Desta fase em diante, reduz-se, por essa razão, o teor de amido das raízes, o qual será, posteriormente, recuperado por reposição através da fotossíntese. É durante o "período de repouso" das plantas que as raízes acumulam o máximo de reservas, principalmente amido.

7. SOLOS

Em geral, qualquer tipo de solo de boa fertilidade proporciona boas colheitas de mandioca, conquanto não sujeito ao encharcamento, como os solos de baixada, turfosos ou mal drenados, e nem dotado de propriedades físicas que o

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contraindiquem, como seja o de tornar-se demasiadamente compacto, e apresentar trincas ou fendas por ocasião de períodos secos, em consequência de um excesso de argila. Neste caso tornaria-se também difícil e cara a colheita.

Dois tipos de solos que, pelas suas boas características de fertilidade, originariamente, podem dar elevadas produções de mandioca, temos: o salmourão, o massapé e o arenito Bauru superior; as terras deste último tipo de solo apresentam boas propriedades físicas, para a cultura e muito especialmente para a colheita; a terra roxa legítima (como em Ribeirão Preto, Vira-douro etc).As produções são baixas e, muitas vezes, quase antieconômicas em terras da formação do glacial, com predominância de arenitos pobres, ou nos solos derivados do arenito, quando muito arenosos. Estes solos se caracterizam, de maneira geral, por serem quimicamente pobres e ácidos, e de más propriedades físicas. Pela sua vegetação primária, recebem os nomes de "campo cerrado", ou "campo de pau torto" (pela presença de árvores tortuosas), sendo com a ocorrência de barba-de-bode, indaiá, barba-timão, guabiroba, cambará-do-campo e certas bromeliáceas. Precisam ser melhoradas por meio de calagens, plantio de adubos verdes, rotação de culturas e adubação mineral.

Extensas culturas de mandioca tem sido plantadas em solos do tipo terciário, não nas várzeas, porém na parte alta. Em muitos desses lugares, os solos, pela sua pobreza e acidez, com índice pH não raro abaixo de 5,0, apresentam plantações precárias e pouco produtivas, quando não corrigida a acidez, nem adubados.

Nos lugares em que há uma mistura de terra roxa com o solo glacial ou o arenito de Botucatu, as condições de fertilidade melhoram, tanto mais quanto maior for a participação da terra roxa. E assim que encontramos, muitas vezes, mandiocais produtivos em manchas de solos de formação glacial ou de arenito.

Quanto à textura, os solos mais leves, um tanto arenoso, e que não se mostram compactos nas épocas secas, facilitam e torna menos dispendiosa a colheita. No que diz respeito aos índices de acidez, os solos com pH de 5,5 a 6,5 são bons, preferivelmente estes últimos. Um bom teor de matéria orgânica influi favoravelmente na produção.

Com relação à topografia, deve-se buscar terrenos planos ou levemente ondulados, com declividade de até 5%, podendo ir até 10%. Em ambos os casos deve-se utilizar práticas conservacionistas do solo, pois os plantios de mandioca estão sujeitos a acentuadas perdas de solo e água por erosão.

8. ESCOLHA DA ÁREA E PREPARO DO SOLO

O preparo do solo visa melhorar as condições físicas do solo para a brotação das manivas, o crescimento e engrossamento do sistema radicular e o desenvolvimento das partes vegetativas, mediante o aumento da aeração e da infiltração de água e a redução da resistência ao crescimento das raízes. O preparo do solo também ajuda no controle do mato e a incorporar e disponibilizar nutrientes para as plantas.

O preparo do solo deve ser o mínimo possível, apenas o suficiente para a instalação da cultura e para o bom desenvolvimento do sistema radicular, e sempre executado em curvas de nível, orientação esta que também deve ser seguida no plantio. A aração deve ser na profundidade de 40 cm e, 30 dias depois, executadas duas gradagens em sentido cruzado, a segunda em curva de nível, deixando-se o solo bem destorroado para ser sulcado e plantado. Nos plantios em fileiras duplas

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pode-se executar o preparo do solo apenas nas linhas duplas de plantio. No caso de pequenos produtores, o preparo do solo manual restringe-se à limpeza da área, coveamento e plantio.

8.1. Manejo e conservação do solo

Dois aspectos devem ser considerados na conservação do solo para o cultivo da mandioca:1) o solo é pouco protegido contra a erosão, pois o crescimento inicial é muito lento e o espaçamento é amplo, fazendo com que demore a cobrir o solo para protegê-lo das chuvas e enxurradas. 2) o solo tende ao esgotamento, pois quase tudo que produz (raízes, folhas e manivas) é exportado da área, para produção de farinha, na alimentação humana e animal e como sementes para novos plantios, sendo muito pouco retornando ao solo sob a forma de resíduos.

A análise de solo realizada antes do plantio possibilita a correção da acidez e dos nutrientes do solo, de acordo com as recomendações para a cultura, o que assegura o melhor e mais rápido desenvolvimento das plantas, cobrindo mais rapidamente o solo e protegendo-o do impacto direto das gotas de chuva, que causam degradação da estrutura do solo e erosão, evitando, inclusive, o esgotamento dos nutrientes do solo.

O consórcio é recomendável para melhorar a cobertura do solo e evitar os efeitos erosivos das chuvas e enxurradas. Pode-se também optar pelo plantio em leirão ou camalhões e em nível, pelo excelente controle da erosão que proporciona.

Enleirar em nível os restos culturais, auxiliando a conter as águas e a reduzir os riscos de erosão.

Sempre que houver disponibilidade de resíduos vegetais, cobrir o solo com vegetação morta, que protege o solo contra a erosão, incorpora matéria orgânica e conserva por mais tempo a umidade do solo.

Usar capinas alternadas, ou seja, capinar uma linha de mandioca e deixar a seguinte sem capinar, até chegar-se ao final da área, para que o solo não fique descoberto e desprotegido contra o escoamento das águas, depois de uma ou duas semanas, retorna-se capinando aquelas linhas que ficaram para trás.

Utilizar plantas de crescimento denso, como o capim vetiver, por exemplo, para formar linhas de vegetação cerrada que quebram a velocidade das águas, quando implantadas em curvas de nível no meio do plantio da mandioca.

Áreas com declividade maior 3% deve-se recorrer às práticas mecânicas de conservação do solo (terraços e canais escoadouros), que são mais onerosas, e por isso, somente utilizadas em condições extremas de riscos de erosão.

O plantio em nível ("cortando" as águas) é uma prática conservacionista extremamente simples e que apresenta grande eficiência no combate à erosão. Essa prática forma, no terreno, pequenos camalhões transversais ao declive que, juntamente com a cultura implantada, servem de obstáculos à formação de enxurradas, incrementando assim a infiltração da água no solo e reduzindo a erosão.

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8.2. Controle da erosão

O solo, particularmente quando arenoso e inclinado, deve ser defendido contra a erosão, pelo estabelecimento da cultura em curvas de nível, e cuidando-se do terraceamento das glebas, quando o seu declive o exigir. As perdas por erosão, durante o segundo ciclo vegetativo da mandioca, são bem menores do que durante o primeiro ciclo, período em que as perdas poderão ser grandes.

Deve-se dar, por isso, o máximo de importância a esta prática agrícola que, aliás, precisa manter no planejamento dos trabalhos na fazenda, uma estreita relação com o programa traçado para a rotação de culturas.

8.3. Rotação de culturas

Um dos princípios básicos da racionalização da agricultura é o planejamento da exploração agrícola segundo uma alternância de cultivos. Não é recomendável repetir o plantio da mandioca na mesma gleba em que ela tenha sido cultivada no ano anterior, mas, sim, deve-se plantá-la após outra cultura, como milho, algodão, arroz, soja ou leguminosas plantadas como adubo verde. Para isso, será traçado um programa que se adapte às condições da propriedade e às possibilidades do mercado.

Uma das principais vantagens do plantio em rotação de culturas é possibilitar melhor controle das moléstias e pragas não comuns às plantações que se sucedem.

Dada a enorme importância que tem, para a economia rural, a defesa do solo contra a erosão, num traçado conjunto com a rotação das culturas, deve o proprietário submeter esses itens relacionados com o uso racional do solo, à apreciação de engenheiros agrônomos especializados.

8.4. Calagem e Adubação

Tanto a adubação como as calagens devem ser feitas com base na análise do solo. As experiências  de adubação da mandioca revelaram que, em geral, os solos poucos ácidos, já bem explorados, e que revelam pobreza de elementos minerais, pode-se obter aumentos na produção de raízes pela aplicação de fertilizantes fosfatados. Como adubação básica, recomenda-se uma mistura de 800kg de superfosfato e 150 kg de cloreto de potássio, na base de 5 kg por 100 metro linear de sulco, antes do plantio.

Os adubos minerais nitrogenados, quando distribuídos nos sulcos, antes do plantio, só ou em mistura com outros adubos, ocasionam falhas por "queimarem" as manivas quando em contacto com elas. Quando necessários, serão aplicados em cobertura, junto às plantas, ao longo das linhas, trinta a sessenta dias após o plantio.

Observou-se que o índice de acidez da terra reflete condições de fertilidade que influem na resistência das plantas, no seu desenvolvimento vegetativo e na sua produção. As melhores plantações, mais desenvolvidas e produtivas foram constatadas em solos de pH entre 6 e 7, em condições naturais. Culturas mais fracas, pouco desenvolvidas, com maior incidência de bacterioses, pouco produtivas, foram encontradas em solos de pH entre 4,5 e 5, os quais apresentavam, também, baixo teor de matéria orgânica e elementos minerais no solo muito ácidos, principalmente quando estão presentes formas solúveis de ferro e

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alumínio. Neste caso, as adubações fosfatadas tornam-se menos eficientes em virtude da formação de fosfatos de ferro e de alumínio, insolúveis, e que não cedem o seu fósforo às plantas.

A calagem é o remédio para os solos ácidos. Corrige a acidez, torna melhores as condições químicas e físicas do solo, e assegura maior eficiência para a prática das adubações. A calagem deve ser feita com base na análise química do solo. Em geral, conseguem-se bons resultados pela aplicação de calcário dolomítico bem moído, na base de 3 a 5 toneladas por alqueire, anualmente, controlando-se o pH, até obter-se valor ao redor de pH 6,5. O calcário é esparramado a lanço por meio de máquinas que espalham, após a aração, sendo incorporado ao terreno com a gradeação.

Em média, para uma produção de 25 toneladas de raízes mais a parte aérea de mandioca por hectare são extraídos 123 kg de N, 27 kg de P, 146 kg de K, 46 kg de Ca e 20 kg de Mg, assim, a ordem decrescente de absorção de nutrientes é a seguinte: K > N > Ca > P > Mg.

Com base na análise do solo são feitas as seguintes recomendações para a cultura:Calagem: calcular a necessidade de calcário dolomítico (NC), em toneladas por hectare (t/ha), empregando as fórmulas:Critério de saturação por bases:

NC = T(V2 – V1)p 100

Utilizar a fórmula que apresentar maior quantidade de calcário. Aconselha-se o limite máximo de uma tonelada de calcário por hectare, ainda que tenham sido encontradas quantidades mais elevadas.

Recomendações de adubos para a mandioca, com base no resultado da análise do solo:Nutrientes Épocas de aplicação

Plantio Em cobertura, 30 a 60 dias após a brotação das manivas

mg/dm³ N (kg/ha)Nitrogênio: mineral ou orgânico - 30

Fósforo no solo (Melich) P205 (kg/ha)

Até 3 60 -4 a 6 40 -7 a 10 20 -

Potássio no solo (Melich) K20 (kg/ha)

Até 20 40 -21 a 40 30 -41 a 60 20 -

Realizando-se a calagem e a adubação nas doses, épocas e modos de aplicação recomendados, estima-se um rendimento médio de 20 toneladas de raízes por hectare. Há que se ressaltar que a média nacional é de cerca de 13 t/ha.

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Épocas e modos de aplicação do calcário e dos adubos:

CalcárioDeve-se utilizar o calcário dolomítico, que contem cálcio e magnésio. Ele

pode ser aplicado em qualquer época do ano, a lanço em toda a área, de modo uniforme, e incorporado até a profundidade de 20 cm ou mais, sendo importante que anteceda de um a dois meses o plantio, para dar tempo de reagir no solo.

Adubação nitrogenadaA mandioca responde bem à aplicação de adubos orgânicos (estercos, tortas,

compostos, adubos verdes e outros), que devem ser preferidos como fonte de nitrogênio, eles devem ser aplicados na cova, sulco ou a lanço, no plantio ou com alguns dias de antecedência para que ocorra a sua fermentação, como acontece com a torta de mamona. No caso da aplicação de uréia ou sulfato de amônio, a aplicação deve ser em cobertura ao redor da planta, 30 a 60 dias após a brotação das manivas, com o solo úmido.

Adubação fosfatadaO superfosfato simples e o superfosfato triplo são os adubos fosfatados mais

utilizados e devem ser aplicados no fundo da cova ou do sulco de plantio. O superfosfato simples tem a vantagem de também conter enxofre na sua composição.

Adubação potássica Deve ser aplicada na cova ou sulco de plantio, juntamente com o fósforo. Os

adubos potássicos mais utilizados são o cloreto de potássio e o sulfato de potássio. Em solos muito arenosos deve-se dividir o potássio em duas aplicações, sendo metade da dose no plantio e a outra metade em cobertura, junto com o nitrogênio.

MicronutrientesOs dados de resposta da mandioca aos micronutrientes ainda são escassos.

Como referência para interpretação da análise de solo, são apresentados os níveis críticos para culturas anuais. Para evitar possíveis prejuízos na produção da mandioca, recomenda-se a aplicação preventiva desses micronutrientes no sulco, juntamente com o fósforo e o potássio. A recomendação mencionada na é equivalente à metade da recomendada para culturas anuais. Nas lavouras com deficiências de zinco e manganês evidenciadas nas folhas, sugere-se pulverizar com uma solução contendo 2 a 4% de sulfato de zinco e de sulfato de manganês.

Interpretação dos resultados da análise do solo para disponibilidade de boro (B) extraído por água quente, e cobre (Cu), manganês (Mn) e zinco (Zn), extraídos pelo método de Mehlich-1, e recomendação de adubação no solo.

Classe de disponibilidade B Cu Mn Zn

mg/dm3

Baixa <0,2 <0,4 <1,9 <1,0Média 0,3-0,5 0,5-0,8 2,0-5,0 1,1-1,6Alta >0,5 >0,8 >5,0 >1,6

Recomendação de adubação no sulco (kg/ha)Baixa 1 1 3 3Média 0,3 0,3 0,8 0,8

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Os sintomas de deficiência e de toxidez de nutrientes em mandioca são:Nutrientes Sintomas de toxidezAl redução da altura da planta e do crescimento da raiz; amarelecimento entre as

nervuras das folhas velhas sob condições severas.B manchas brancas ou marrons nas folhas velhas, especialmente ao longo dos

bordos foliares, que posteriormente podem tornar-se necróticas.Mn amarelecimento das folhas velhas, com manchas pequenas escuras de cor

marrom ou avermelhada ao longo das nervuras; as folhas tornam-se flácidas e pendentes e caem no solo.

Nutrientes Sintomas de deficiênciaN Crescimento reduzido da planta; em algumas cultivares ocorre amarelecimento

uniforme e generalizado das folhas, iniciando nas folhas inferiores e atingindo toda a planta.

P Crescimento reduzido da planta, folhas pequenas, estreitas e com poucos lóbulos, hastes finas; em condições severas ocorre o amarelecimento das folhas inferiores, que se tornam flácidas e necróticas e caem; diferentemente da deficiência de N, as folhas superiores mantêm sua cor verde escura, mas podem ser pequenas e pendentes.

K Crescimento e vigor reduzido da planta, entrenós curtos, pecíolos curtos e folhas pequenas; em deficiência muito severa ocorrem manchas avermelhadas, amarelecimento e necrose dos ápices e bordas das folhas inferiores, que envelhecem prematuramente e caem; necrose e ranhuras finas nos pecíolos e na parte superior das hastes.

Ca Crescimento reduzido da planta; folhas superiores pequenas, com amarelecimento, queima e deformação dos ápices foliares; escassa formação de raízes.

Mg Clorose inter-nerval marcante nas folhas inferiores, iniciando nos ápices ou bordas das folhas e avançando até o centro; em deficiência severa as margens foliares podem tornar-se necróticas; pequena redução na altura da planta.

S Amarelecimento uniforme das folhas superiores, similar ao produzido pela deficiência de N; algumas vezes são observados sintomas similares nas folhas inferiores.

B Altura reduzida da planta, entrenós e pecíolos curtos, folhas jovens verdes escuras, pequenas e disformes, com pecíolos curtos; manchas cinzas, marrons ou avermelhadas nas folhas completamente desenvolvidas; exsudação gomosa cor de café nas hastes e pecíolos; redução do desenvolvimento lateral da raiz. 

Cu Deformação e clorose uniforme das folhas superiores; ápices foliares tornam-se necróticos e as margens das folhas dobram-se para cima ou para baixo; pecíolos largos e pendentes nas folhas completamente desenvolvidas; crescimento reduzido da raiz.

Fe Clorose uniforme das folhas superiores e dos pecíolos, os quais se tornam brancos em deficiência severa; inicialmente as nervuras e os pecíolos permanecem verdes, tornando-se de cor amarela-pálida, quase branca; crescimento reduzido da planta; folhas jovens pequenas, porém em formato normal.

Mn Clorose entre as nervuras nas folhas superiores ou intermediárias completamente expandidas; clorose uniforme em deficiência severa; crescimento reduzido da planta; folhas jovens pequenas, porém em formato normal.

Zn Manchas amarelas ou brancas entre as nervuras nas folhas jovens, as quais com o tempo tornam-se cloróticas, com lóbulos muito pequenos e estreitos, podendo crescer agrupadas em roseta; manchas necróticas nas folhas inferiores; crescimento reduzido da planta.

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8.5. Micorriza arbuscular

Um aspecto importante para a nutrição da mandioca é a contribuição da micorriza arbuscular na eficiência de práticas agronômicas como a calagem e adubação, principalmente da adubação fosfatada. A micorriza é uma associação simbiótica natural entre fungos micorrízicos do solo e as raízes das plantas. O efeito benéfico da micorriza arbuscular ocorre particularmente nas plantas que apresentam um sistema radicular reduzido e pouco ramificado, como a mandioca. As hifas externas do fungo podem estender-se no solo, funcionando como um sistema radicular adicional, e absorver nutrientes de um volume maior de solo, transferindo-os para as raízes colonizadas. Isso é especialmente importante para a absorção de nutrientes com baixa mobilidade no solo, como o fósforo.A mandioca é altamente dependente da micorriza arbuscular e apresenta alta colonização radicular por fungos micorrízicos arbusculares nativos, como exemplo a espécie Glomus manihotis, que se desenvolve melhor em solos ácidos. A aparente baixa necessidade em fósforo da mandioca cultivada em campo pode ser devido à contribuição da micorriza na maior absorção desse nutriente.

Quando presentes no solo e na planta, os fungos micorrízicos arbusculares alteram a resposta da mandioca à calagem e adubação fosfatada, aumentando a eficiência desses insumos no crescimento das plantas. Esses fungos ocorrem naturalmente nos solos e tem sido demonstrado que a rotação de culturas favorece a sua multiplicação e estimula a formação da micorriza. Culturas anuais como feijão, milho e adubos verdes (mucuna, crotalárias, feijão-de-porco, guandu, girassol, milheto, mamona), assim como forrageiras (estilosantes, andropogon, braquiária), apresentam elevado grau de dependência micorrízica; quando utilizadas em um sistema de rotação elas aumentam a população dos fungos micorrízicos arbusculares e beneficiam os cultivos subseqüentes. Desse modo, o cultivo da mandioca de forma consorciada ou em rotação poderá aumentar a população de fungos micorrízicos arbusculares e, consequentemente, a eficiência dos insumos utilizados para correção da acidez e da fertilidade do solo.

9. PLANTIO

A época de plantio é determinada pelas condições climáticas do local (principalmente disponibilidade de água no solo e temperatura), pelas características da variedade (ciclo e fases da cultura) e pelo destino da produção. Com respeito ao clima, deve-se também levar em consideração a freqüência de veranicos, o excesso de chuvas nas diferentes fases da cultura e as características do solo.

De modo geral, o plantio deve ser feito no início da estação chuvosa, quando a umidade e o calor tornam-se elementos essenciais para a brotação, enraizamento e estabelecimento das plantas no campo. Em decorrência da grande extensão territorial do Brasil e das diferenças regionais de clima e solo, o plantio da mandioca ocorre em diferentes épocas.

Considerando o regime de rotação de cultura e os ciclos normais e mais indicados para as culturas, deve-se organizar o trabalho de modo a se poder plantar à medida que se colhe. O indispensável é a programação dos trabalhos de modo a permitir o preparo do terreno em tempo de realizar-se esse plantio antecipado. As vantagens daí advindas são as maiores possíveis.

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9.1. Espaçamento e profundidade de plantio

No cultivo da mandioca, o espaçamento depende da fertilidade do solo, do porte da variedade, do objetivo da produção (raízes ou ramas), dos tratos culturais e do tipo da colheita (manual ou mecanizada).

Vários tipos de espaçamento já foram experimentados para a mandioca. Nos cultivos em fileiras simples, os melhores rendimentos de raízes foram obtidos com os espaçamentos de 1 m x 50 cm e de 1 m x 60 cm. E o melhor espaçamento para plantios em fileiras duplas é de 2 m x 60 cm x 60 cm. Quando se pretende produzir ramas para arraçoamento de animais, recomenda-se plantios adensados (altas populações) de 50 cm entre fileiras com manivas-semente de 50 cm de comprimento, colocadas nos sulcos de forma contínua. Se a colheita for mecanizada a distância entre as linhas deve ser de 1,20 m, facilitando assim o movimento da máquina colhedeira.

Se o mandiocal for capinado com equipamento mecanizado, deve-se adotar espaçamento mais largo entre as linhas, nesse caso, a distância entre fileiras duplas deve ser de 2,00 m a 3,00 m, para uso de tratores.

O espaçamento em fileiras duplas oferece as seguintes vantagens:a) aumenta a produtividadeb) facilita a mecanizaçãoc) facilita a consorciaçãod) reduz o consumo de manivas e de adubose) permite a rotação de culturas na mesma área, pela alternância das fileirasf) reduz a pressão de cultivo sobre o solog) facilita a inspeção fitossanitária e a aplicação de defensivos.

O plantio da mandioca, geralmente, é uma operação manual, sendo em solos não sujeitos a encharcamento pode ser feito em covas preparadas com enxada ou em sulcos, tanto as covas como os sulcos devem ser preparados com a profundidade aproximada de 10 cm. Quando se usa plantadeira mecanizada, dispensa-se a construção do sulco. Este implemento, de uma só vez: sulca, aduba, planta e cobre as manivas. Quanto à posição de colocação das manivas-semente, estacas ou rebolos no plantio, a mais indicada é a horizontal, porque facilita a colheita das raízes, colocando-se as manivas no fundo das covas ou dos sulcos. Quando se usa a plantadeira mecanizada, as manivas também são colocadas na posição horizontal. As posições inclinada e vertical são menos utilizadas porque as raízes aprofundam mais, dificultando a colheita, sendo, assim, utilizadas apenas para plantios em matumbos ou camalhões.

9.2. Consorciação de Culturas

Dentre as espécies cultivadas em associação, a mandioca aparece como uma das mais utilizadas, principalmente quando plantada simultaneamente com milho, feijões e amendoim. Estas são plantadas nos espaços livres deixados pelas fileiras duplas, sem causar prejuízo ao cultivo da mandioca e proporcionando um lucro maior ao agricultor.

Essa prática em que se associa o plantio de mandioca em linhas duplas, com o plantio, nas entrelinhas, de uma leguminosa (preferencial), promovem boa cobertura do solo, protegendo-o de processos erosivos, bem como dificultam o estabelecimento de ervas invasoras. Além disso, incorporam matéria orgânica ao

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solo, absorvem nitrogênio através da associação com bactérias e também, reciclam nutrientes das camadas mais profundas do solo. Favorecendo a alternância, ano a ano, das linhas duplas de plantio com as entrelinhas, reduzindo assim a pressão de cultivo sobre o solo e possibilitando o uso contínuo da mesma área.

Todavia, se o plantio de mandioca em fileiras simples é suscetível à erosão, por causa da demora para cobrir o solo, o plantio em fileiras duplas, que foi criado para suprir essa e outras deficiências, utilizado sem consórcio seria mais erosivo que o plantio em fileiras simples, pois as áreas descobertas durante todo o ciclo da planta seriam maiores.

9.3. Seleção e Preparo do Material de Plantio

Entre os fatores determinantes do ótimo desempenho da mandioca, estão as técnicas relacionadas ao material de plantio, as quais, se adequadamente executadas, trarão incrementos à produção a custos menos onerosos. Além de reduzir e de evitar a introdução de pragas e doenças, a seleção do material de plantio permitirá boa brotação, emissão de brotos vigorosos, bem como uniformidade e vigor no estabelecimento do cultivo.

Escolher manivas maduras provenientes de plantas com 8 a 12 meses de idade. Deve-se utilizar sempre o terço médio das hastes, eliminando-se a parte herbácea superior, que possui poucas reservas, e a parte basal, muito lenhosa e com gemas geralmente inviáveis.

As manivas-semente devem ter comprimento de 20 cm, com 5 a 7 gemas e diâmetro aproximado de 2 cm. sendo que a medula deve ocupar 50% ou menos disso. As plantas que irão fornecer as manivas devem ser rigorosamente inspecionadas, evitando o corte de plantas com hastes atacadas por pragas e doenças.

9.4. Quantidade de manivas (sementes)

A palavra maniva pode designar a planta inteira. Na prática, porém, aplica-se somente à rama ou ao pedaço da rama que se planta.

O consumo de ramas para o plantio mede-se em metros cúbicos, como no caso da lenha. Assim, estando as ramas devidamente empilhadas, não se considera o seu comprimento, que poderá ser de um metro ou pouco mais. A quantidade de ramas a ser consumida para o plantio de determinada área vai depender da idade da cultura que vai fornecê-las, da variedade, do seu desenvolvimento etc...

Para o plantio de um alqueire emprega-se, em geral, de oito a dez metros cúbicos de ramas. Em alguns casos, o consumo é maior, 12 a 14 m3. Considera-se, também, que um alqueire de mandioca com ano e meio pode fornecer, em condições normais, ramas para plantio de quatro a seis alqueires. Um metro cúbico de ramas pesa, aproximadamente, de 100 a 200 kg e pode fornecer cerca de 2.500 a 3.000 manivas com 20 cm de comprimento.

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9.5. Transporte de ramas

Em geral, o transporte das ramas de mandioca, de uma localidade para outra, é feito em caminhões, podendo o tipo grande levar cerca de 15 m3, a grandes distâncias. Recomenda-se o máximo cuidado na carga e na descarga do material, a fim de evitar ferimentos nas manivas. Sugere-se cobrir o fundo do caminhão com uma camada de capim seco, antes de carregá-lo. O transporte por estrada de ferro, em vagões abertos ou fechados, conduz a maiores perdas por seca de ramas, ou traumatismos, e, naturalmente, por ser mais demorado o transporte.

Dentro da área da fazenda, usam-se caminhões, carroças etc., para transportar, sejam as ramas inteiras, sejam as manivas já prontas para o plantio. Deve-se evitar o mais possível, durante essas operações, as esfoladuras nas manivas.

9.6. Poda

Em geral quando o mandiocal completa um ciclo vegetativo, contando de oito a doze meses de idade, costuma-se fazer a poda das plantas, cortando-se as hastes principais a 10 ou 15cm do chão. A operação é feita apenas na cultura que vai ficar para ser colhida no fim do segundo ciclo vegetativo. A poda da mandioca só se justifica em alguns casos, como quando se vai empregar a rama de ano para o plantio de novas áreas. Em localidades sujeitas a geadas, o corte é feito antes da ocorrência provável desse fenômeno climático.

Poda-se, também, a cultura cujas plantas, bastante atacadas pelas brocas do caule, necessitam de uma renovação da parte aérea para atravessarem o segundo ciclo vegetativo em melhores condições fitossanitárias. Neste caso, as ramas devem ser queimadas, a fim de combater a praga.

Fora de tais circunstâncias, não se deve podar o mandiocal. No caso de cultura atacada pela bacteriose, a poda das plantas poderá melhorar a situação, mas poderá também piorá-la, porque os facões com que se cortam as ramas poderão servir de instrumento de transmissão da moléstia, das plantas afetadas às sadias. Depois de podadas, as plantas emitirão novos brotos, em poucos dias. Aparecem, em geral, dois a três brotos por planta. A altura da ramificação das hastes que emergem depois da poda é sempre bem maior do que a das plantas da mesma variedade com um ano, ou mesmo com dois anos e não podadas.

10. PLANTAS DANINHAS

Podendo causar até 90% de perda na produtividade, o controle de plantas daninhas consome até 35% do total do orçamento de produção. A ocorrência deste fator desfavorável à produção deve-se principalmente por água, luz e nutrientes. No caso da mandioca, os períodos de maior competição entre as plantas daninhas, são os primeiros quatro a cinco meses do seu ciclo, exigindo nessa fase cerca de 100 dias livres da interferência do mato daninho, a partir de 20 a 30 dias após sua brotação, dispensando daí em diante as limpas até à colheita. Cada ecossistema tem suas peculiaridade em relação às plantas daninhas.

Levantamentos realizados nos Estados de Minas Gerais e Bahia identificaram mais de duzentas espécies, representando mais de 100 gêneros pertencentes a

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mais de 40 famílias entre mono e dicotiledôneas. As de maior ocorrência foram Compositae, Gramineae, Leguminosae, Rubiaceae, Malvaceae, Euphorbiaceae, Convolvulaceae, Portulacaceae, Amaranthaceae, Commelinaceae, Cyperaceae e Molluginaceae.

Embora representem um grande problema para o cultivo, as plantas daninhas não são um problema sem solução, existem quatro métodos para seu controle: cultural, mecânico, químico e integrado.

Controle cultural

Consiste em utilizar as características ecológicas das culturas e das plantas daninhas, no intuito de criar condições favoráveis para o rápido estabelecimento da mandioca, proporcionando-lhe vantagem no balanço competitivo com as invasoras na disputa por água e nutrientes. O sucesso dessa estratégia depende principalmente do preparo adequado do solo, da qualidade das manivas, da escolha da variedade adaptada ao ecossistema, da densidade de plantio, da rotação de culturas e do uso de cobertura verde.

A rotação de culturas é um meio cultural que impede o surgimento de altas populações de certas espécies de plantas daninhas adaptáveis a determinada cultura. Quando são aplicadas as mesmas práticas culturais seguidamente, ano após ano, no mesmo solo, a associação plantas daninhas-culturas tende a multiplicar-se, rapidamente, aumentando sua interferência sobre a cultura.

As coberturas verdes, como o feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), são culturas geralmente muito competitivas com as plantas daninhas. O objetivo principal do uso dessas coberturas é a melhoria das propriedades físicas e químicas do solo. Além disso, muitas dessas plantas possuem grande poder inibitório sobre determinadas invasoras, mesmo após o corte e formação de cobertura morta sobre o solo.

Controle mecânico

É realizado por meio de práticas de eliminação do mato, como o arranque manual, a capina manual, a roçada e o cultivo mecanizado feito por cultivadores tracionados por animais ou por trator.

Atualmente, o custo de duas limpas com enxada para manter a cultura livre de competição por aproximadamente 100 dias (período crítico de interferência) gira em torno de 19% do custo total, reduzindo consideravelmente a renda líquida do produtor.

Controle químicoA maioria dos herbicidas utilizados no cultivo da mandioca são de pré-

emergência total (antes da germinação do mato e da brotação da cultura) e aplicados logo após o plantio ou, no máximo, cinco dias depois. A escolha do herbicida depende das espécies de plantas daninhas presentes e do custo do produto.

Atualmente, uma aplicação da mistura de tanque do diuron + alachlor representa 8,5% do custo total de produção e substitui aproximadamente duas limpas com enxada. Essa mistura é de grande eficácia no controle de mono e dicotiledôneas em várias regiões do Brasil e de outros países.

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A mandioca é uma planta que apresenta boa resistência a vários herbicidas, quando aplicados antes de sua brotação e nas doses recomendadas.

Controle integrado

Consiste na integração dos métodos químico, mecânico, biológico e cultural, com o objetivo de eliminar as deficiências de cada um deles e, assim, obter um resultado mais eficiente, redução de custos e menor impacto sobre o meio ambiente.

O uso de herbicidas nas linhas de plantio, combinado com o de cultivador a tração animal ou tratorizado nas entrelinhas da mandioca, tem proporcionado o mais baixo percentual de participação no custo total de produção em comparação com outros métodos mecânicos de controle.

11. DOENÇAS

Bacteriose

A bacteriose, causada por Xanthomonas axoponodis pv. manihotis, é a principal doença da mandioca, sobretudo no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Nas condições de Cerrado essa doença adquiriu grande expressão econômica, podendo provocar perdas totais.

Os sintomas da bacteriose caracterizam-se por manchas angulares, de aparência aquosa, nos folíolos, murcha das folhas e pecíolos, morte descendente e exsudação de goma nas hastes, além de necrose dos feixes vasculares e morte da planta. Os prejuízos causados pela bacteriose variam com as condições climáticas, suscetibilidade ou tolerância das variedades, práticas culturais empregadas, épocas de plantio e nível de contaminação do material de plantio. A variação brusca de temperatura entre o dia e a noite é o fator mais importante para a manifestação severa da doença, sendo que a amplitude diária de temperatura superior a l0ºC durante um período maior que cinco dias é a condição ideal para o pleno desenvolvimento da doença. As perdas de produção estão em torno de 30% em cultivos usando variedades suscetíveis e, em locais com condições favoráveis para a doença, os prejuízos podem ser totais. Por outro lado, usando variedades tolerantes, mesmo com a ocorrência de condições favoráveis as perdas de produção chegam no máximo a 30%.

A utilização de variedades resistentes é a medida mais eficiente para o controle da bacteriose; mas, também, contribuem as práticas culturais como a utilização de manivas sadias e a adequação das épocas de plantio. As variedades atualmente em uso nas áreas de ocorrência da bacteriose caracterizam-se por apresentar uma tolerância aceitável à doença.

Podridão radicular

A podridão radicular é a doença de pouca expressão nas Regiões de Cerrado, sendo mais limitante na Região Nordeste, cujas perdas de produtividade de raízes nas áreas de maior ocorrência estão em torno de 30%. Na Região Norte ela é particularmente importante nos ecossistemas de Várzea e de Terra Firme, nos quais as perdas chegam a ser superiores a 50% no primeiro e atingem até 30% no

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segundo. Em alguns casos têm-se observados prejuízos totais, principalmente em áreas com solos adensados e sujeitos a constantes encharcamentos.

Os mais importantes agentes causadores da podridão radicular são os fungos Phytophthora sp. e Fusarium sp. não somente pela abrangência geográfica, mas principalmente pelas severas perdas na produção. Alguns estudos mostram que a ocorrência de Phytophthora sp. é mais acentuada em plantios de mandioca implantados em áreas sujeitas a encharcamento, com textura argilosa e de pH neutro ou ligeiramente alcalino. No caso de Fusarium sp. acredita-se que sua sobrevivência está relacionada a solos ácidos e adensados. Outros agentes causais como Diplodia sp. Sytalidium sp. e Botriodiplodia sp. podem em áreas favorecidas por microclima, tornar-se patógenos prejudiciais à cultura.

Os sintomas da podridão radicular são bastante distintos em função dos agentes causais. Normalmente, Phytophthora sp. ataca a cultura na fase adulta, causando podridões "moles" nas raízes, com odores muito fortes, semelhantes ao de matéria orgânica em decomposição; mostram uma coloração acizentada que se constitui dos micélios ou mesmos esporos do fungo nos tecidos afetados. O aparecimento de sintomas visíveis é mais freqüente em raízes maduras; entretanto, existem casos de manifestação de sintomas na base das hastes jovens ou em plantas recém-germinadas, causando murcha e morte total. No caso do Fusarium sp. os sintomas podem ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento da planta e raramente causam danos diretos nas raízes. O ataque ocorre no ponto da haste junto ao solo, causando infecções e muitas vezes obstruindo totalmente os tecidos vasculares, impedindo a livre circulação da seiva e, conseqüentemente, provocando podridão indireta das raízes. Ao contrário de Phytophthora sp. os sintomas provocados nas raízes pelo ataque de Fusarium sp. são caracterizados por uma podridão de consistência seca e sem o aparente distúrbio dos tecidos.

As medidas de controle da podridão radicular envolvem a integração do uso de variedades tolerantes, associado a práticas culturais como rotação de culturas, manejo físico e químico do solo, sistemas de cultivo e outras. Na Região Norte, trabalhos de pesquisa executados nas várzeas mostraram que o uso de variedade tolerante, associado à rotação de culturas e sistemas de plantio, reduziu a podridão em cerca de 60%. As variedades consideradas tolerantes até então conhecidas são: Osso Duro, Cedinha, Bibiana, clone 148/02, Aramaris e Kiriris, para o Nordeste, e Zolhudinha, Mãe Joana e Embrapa 8, para o Norte.

Superalongamento

O superalongamento, causado por Sphaceloma manihoticola, é uma das doenças causadas por fungos mais importantes da cultura da mandioca. A sua ocorrência no Brasil foi constatada pela primeira vez em 1977 na Região Norte, no Amazonas e Pará; após quase dez anos foi detectado no Mato Grosso, atacando grandes cultivos comerciais, e mais recentemente também foi observado no Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e, por último, na Bahia. Atualmente a doença encontra-se sob controle, não constituindo problema para a mandioca.

Os principais sintomas caracterizam-se pelo alongamento exagerado das hastes tenras ou em desenvolvimento, formando ramas finas com longos entrenós. Em casos severos as plantas afetadas podem ser identificadas pelas lesões típicas de verrugoses nas hastes, pecíolos e nervuras; também é comum observar retorcimento das folhas, desfolhamento e morte dos tecidos. A disseminação da doença é bastante rápida durante a estação chuvosa, pois os esporos são

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facilmente transportados a longas distâncias pelo vento e chuva. O estabelecimento da doença em áreas livres da mesma ocorre principalmente por meio de manivas-semente contaminadas.

Os prejuízos causados pelo superalongamento dependem da quantidade de inóculo inicial, da suscetibilidade das cultivares utilizadas e das condições climáticas. Em cultivar suscetível originada de plantação afetada, e com ocorrência de condições ambientais favoráveis à da doença, as perdas de produção podem atingir até 70%, enquanto que em cultivar tolerante, sob as mesmas condições, a perda chega no máximo a 30%.

As medidas de controle do superalongamento são basicamente a seleção de manivas sadias para o plantio, eliminação de plantas infectadas, uso de cultivares tolerantes ou resistentes e rotação de culturas nas áreas anteriormente afetadas.

Superbrotamento

O superbrotamento é uma doença causada por fitoplasma, que tem sido encontrada atacando a cultura da mandioca no Brasil, sendo particularmente importante na microrregião da Serra da Ibiapaba, no Ceará, apesar da sua ocorrência ser registrada em quase todas as regiões produtoras de mandioca.Em condições altamente favoráveis ao desenvolvimento da doença, pode provocar uma redução de até 70% no rendimento de raízes, e acentuada diminuição nos teores de amido, que chega a 80% em cultivares suscetíveis. O superbrotamento também pode causar perdas na produção de manivas-semente, tendo em vista que, nas plantas afetadas, as hastes apresentam-se com um tamanho muito reduzido e excesso de brotação das gemas.

Os sintomas da doença caracterizam-se pela emissão exagerada de hastes a partir da haste principal, também chamados de envassouramento ou flocos, além de provocar raquitismo e amarelecimento generalizado das plantas afetadas. Acredita-se que a disseminação da doença ocorra por meio de vetores transmissores, normalmente insetos que têm o hábito sugador, além de manivas-semente contaminadas utilizadas para o plantio.

O controle do superbrotamento pode ser efetuado preventivamente evitando a introdução de material de plantio de áreas afetadas, seleção rigorosa do material de plantio em áreas de ocorrência da doença e eliminação de plantas doentes dentro do cultivo. A utilização de variedades resistentes é o método mais eficiente de controle da doença; em trabalho realizado no Ceará foram identificados os genótipos Embrapa 54-Salamandra, Embrapa 55-Tianguá, Embrapa 56-Ubajara e Embrapa 57-Ibiapaba, resistentes à doença e com características agronômicas e industriais desejáveis.

VirosesO mosaico das nervuras

Apresenta ampla abrangência geográfica, embora seja particularmente importante no ecossistema do semi-árido nordestino, não somente pela severa manifestação produzida, como também pela influência negativa na qualidade dos produtos obtidos. Não existe definição clara do seu efeito na produção pois, enquanto alguns acreditam que o ataque severo pode reduzir a produtividade em até 30%, outros afirmam que ela não é afetada pelo vírus, e sim a qualidade do produtos, especialmente o teor de amido na raiz. Os sintomas caracterizam-se pela

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presença de cloroses intensas entre as nervuras primárias e secundárias, nas plantas afetadas. Em casos severos da doença é comum observar um forte retorcimento do limbo foliar.

O "couro de sapo"

Tem sido observado de modo muito restrito em algumas lavouras localizadas no Amazonas, Pará e Bahia. Entretanto, a doença é considerada como potencialmente importante, pois sua manifestação severa em plantios de mandioca pode inviabilizar economicamente a produção. O ataque severo do vírus pode provocar redução em torno de 70% na produtividade ou até mesmo perdas totais em variedades suscetíveis. O vírus pode também reduzir drasticamente a qualidade do produto, especialmente os teores de amido nas raízes, cuja diminuição pode variar de 10 a 80%.

O mosaico comum

Ocorre normalmente em regiões com temperaturas mais amenas, no Sul e Sudeste do Brasil. A manifestação severa da doença em variedades suscetíveis pode causar perdas de produção entre 10 a 20%; o vírus também prejudica a qualidade dos produtos, causando reduções nos teores de amido que variam entre 10 a 50%. Os sintomas são clorose da lâmina foliar e retorcimento dos bordos das folhas, especialmente em folhas em formação. Em alguns casos tem-se observado que, quando as folhas vão se desenvolvendo, os sintomas desaparecem por completo, notadamente quando as condições ambientes tornam-se adversas para o desenvolvimento da doença.

Como métodos de controle das viroses são sugeridos a seleção de material de plantio, uso de variedades resistentes e eliminação de plantas afetadas dentro do cultivo.

Outras doenças

Em alguns casos, dependendo das condições ambiente e da suscetibilidade das variedades utilizadas, a antracnose causada por Colletotrichum gloeosporioides pode causar prejuízos esporádicos ou temporários na mandioca; em determinadas épocas ela ocorre de maneira mais intensiva, causando perdas significativas na produção de raízes e redução da qualidade dos produtos.

As cercosporioses em mandioca são bem conhecidas, apesar de não causarem maiores prejuízos para a cultura; portanto, não são motivo de preocupação para os produtores.

12. COLHEITA E BENEFICIAMENTO

A mandioca é considerada a mais versátil das tuberosas tropicais por seus múltiplos usos culinários: minimamente processada, congelada ou refrigerada, pré-cozida e chips.

O processamento industrial da mandioca, no Brasil, concentra-se na produção de farinha, com cerca de 80%, na extração de fécula, com cerca de 3%, sendo o restante utilizado na alimentação animal.

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12.1. Épocas de colheita

As épocas mais indicadas para as colheitas são aquelas em que as plantas se acham em "período de repouso", ou seja, quando, pelas condições de clima (temperaturas mais baixas e quase nenhuma chuva), as plantas já derrubaram as folhas, atingindo o máximo de produção de raízes e de reservas de amido. Os melhores meses para esse fim são os de maio a agosto.

Entretanto, em culturas extensas, para fins industriais, a colheita se antecipa e se prolonga para além daqueles limites, iniciando em princípios de abril, muitas vezes até em março, e prolongando-se até setembro.

As porcentagens de amido nas raízes e a produção destas serão tanto menor quanto maior for a antecipação da colheita, em relação a abril. Normalmente, enquanto as plantas estiverem mantendo as suas folhas, estarão elaborando produtos de reserva para as raízes; de modo que colheita muito antecipada, conquanto não determine prejuízos diretamente, elimina a possibilidade de colheitas maiores.

12.2. Sistemas de colheita

Quando é grande o desenvolvimento vegetativo das plantas e elevada a produção de ramas, a colheita exige uma prévia remoção das ramas, o que, se faz cortando-se as hastes logo acima da primeira ramificação ou, então, de 15 a 20cm acima do chão. Em culturas cujas plantas sejam de tamanho médio e cujas ramas não se emaranhem, pode não haver necessidade do corte prévio das ramas. A grande maioria dos casos se enquadra no primeiro exemplo, constituindo uma operação dispendiosa a remoção das ramas, quando não se precisa delas para o plantio. Isso porque cerca de 25% da área plantada fornece material de propagação para plantar outra área igual. Os restantes 75% de ramas, se não foram vendidos, deverão permanecer no terreno. Recomenda-se, então, colher, amontoar e transportar o produto de cada cinco linhas, distribuindo-se, a seguir, ao longo delas, as ramas das outras cinco linhas seguintes, e assim sucessivamente. Um rôlo-faca ou grade de discos pesada triturará o material, após a colheita de toda a área, incorporando este material ao solo.

Em solos leves, as plantas serão arrancadas quando puxadas pela base, e em solo compacto, emprega-se o enxadão também é empregada a picareta com resultado bastante satisfatório.

Para a colheita mecanizada, há necessidade de se retirarem, previamente, as ramas do terreno, conforme já dito, deixando-se apenas 10 a 15cm da base das hastes a fim de indicar a direção das linhas.

Qualquer que seja o método empregado, a colheita será mais facilitada quanto mais no limpo estiver o terreno. Mandiocal no "mato" significa colheita difícil e cara.

Um homem pode colher cerca de 500kg de raízes por dia. Pode-se, entretanto, considerar que poderá colher 1.000kg em terrenos leves, estando o mandiocal no limpo, e com boa produção. Há casos de 2.000kg em dez horas.

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Depois de colhidas, as raízes serão destacadas, preferivelmente com golpes de facão. Cortam-se cada uma pela base (parte mais grossa da raiz), desprezando-se o pedúnculo, que sendo muito lenhoso, não deverá fazer parte da raiz.

12.3. Produção de raízes

A colheita de raízes por unidade de área cultivada é variável e dependente, logicamente, da fertilidade natural do solo ou da adubação, da variedade cultivada, da idade da cultura, dos tratos culturais, do estado fitossanitário etc. Em geral, consideram-se boas e econômicas produções ao redor de 30 e 55 toneladas de raízes por alqueire, com um e dois ciclos vegetativos, respectivamente. Entretanto, tais produções precisam e podem ser superadas, o que já se tem conseguido em culturas bem conduzidas sob todos os aspectos.

12.4. Produção de ramas

As quantidades de ramas produzidas são variáveis, e pelas mesmas razões, quanto a produção de raízes. As diferentes variedades de mandioca, para cada 100kg de raízes que produzem, poderá produzir igual, menor ou maior quantidade de ramas, considerando o peso de toda a parte aérea praticamente sem folhas, por ocasião da colheita. É uma característica que depende da variedade. Considerando-se apenas as ramas boas para o plantio, pode-se obter de 50m3 ou mais de manivas, por alqueire.

12.5. Transporte de raízes

Uma vez destacadas, as raízes são amontoadas no campo, em diversos pontos. Por meio de jacás, elas são levadas a carroções ou caminhões, ou a eles atiradas com a mão, diretamente. Muitas vezes, esse transporte se faz através de dezenas de quilômetros, podendo as raízes, nesse percurso, perder até cerca de 5% do seu peso na forma de água.

No descarregamento, a carga é pesada e avaliado o teor de amido, normalmente por meio de uma balança hidrostática. O processo de descarregar o produto pode ser feito manualmente ou mecanicamente, a granel, por plataformas basculantes. Depois de descarregada em silos, a mandioca é levada para o descascamento e lavagem por meio de roscas sem fim ou esteiras transportadoras e, após o descascamento, as etapas seguintes devem ser feitas sem muita espera, visando manter a qualidade do produto.

12.6. Conservação de raízes

Sendo as raízes de mandioca um produto de difícil conservação "in natura", deverão ser industrializadas, preferivelmente dentro de 24 horas após a colheita, uma vez que, passado esse prazo, começam a deteriorar-se e a comprometer a qualidade dos produtos da indústria, principalmente se as temperaturas ambientes forem elevadas. Muitas vezes, um dos sintomas do inicio da deterioração das raízes

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é a presença de manchas ou veias azuladas na polpa. Aliás, essas transformações se processam nas raízes em decorrência da sua própria constituição. Inicialmente, certas enzimas atuam sobre os hidratos de carbono; mais tarde, dá-se uma invasão de microrganismos, como fungos e bactérias, que intensificam as transformações. Crescem bolores, ocorrem fermentações e se deterioram as raízes.

Recomenda-se que as raízes recebam o mínimo de sol, após a colheita. Para uso culinário, elas podem ser conservadas por alguns dias na geladeira, a temperaturas de poucos graus acima de zero. Poderão, também, ser conservadas no quintal, quando enterradas em lugar fresco.

12.7. Conservação das ramas

Quando não se utilizam as manivas para o plantio, logo após a colheita, havendo necessidade de guardá-las por alguns meses, elas deverão ser conservadas preferivelmente à sombra de árvores, onde são colocadas em posição vertical, fincando-se cerca de 10cm da base das ramas na terra previamente afofada, e de modo a ficarem as manivas unidas umas às outras. A terra deverá ter boa umidade ou ser molhada, se necessário. As manivas assim dispostas enraízam na base enterrada e, após algum tempo, emitem brotações da extremidade apical, o que constitui sinal de boa conservação.

Em lugares sujeitos às geadas, as ramas em conservação precisam estar bem protegidas. No Sul do Brasil, os pequenos plantadores conservam as suas ramas em valas abertas no chão, cobertas com capim e uma camada da terra.

13. UTILIZAÇÕES

A mandioca é muito utilizada na culinária brasileira, como o processo de deterioração inicia-se logo após a colheita, a comercialização da mandioca em feiras e mercados está sendo substituída cada vez mais por produtos minimamente processados tais como: descascadas, embaladas e resfriadas, congeladas cruas, congeladas depois de cozidas, esterilizadas a vácuo e fritas tipo chips.

Indústria de alimentos

O amido é usado como espessante, que utiliza as propriedades de gelatinização em cremes, tortas, pudins, sopas, alimentos infantis, molhos e caldos, como recheio, aumenta o teor de sólidos em sopas enlatadas, sorvetes, conservas de frutas e preparados farmacêuticos, como ligante, impede a perda de água durante o cozimento em salsichas e carne enlatada; como estabilizante, aumenta a capacidade de retenção de água em sorvetes, fermento em pó, etc; utilizado também para produtos de panificação na elaboração de pães, biscoitos, extrusados e outros.

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Indústria têxtil

O amido é usado na engomagem, para reduzir ruptura e desfibramento nos teares, na estamparia, para espessar os corantes e agir como suporte das cores, no acabamento, para aumentar a firmeza e o peso de papel, papelão e tecidos.

Indústria de papel

Para dar corpo, aumenta a resistência a dobras; no acabamento, melhora a aparência e a resistência; goma, para sacos comuns de papel, papel laminado, ondulado e caixas de papelão.

Alimentação Animal

Além da larga aplicação da mandioca na alimentação humana, pela sua alta quantidade de energia, também é aplicada na alimentação animal podendo ser utilizada a mandioca fresca, sendo que para tal fim é mais utilizada a raspa de raiz de mandioca e o feno da parte aérea da mandioca.

Raspa de raiz de mandiocaRaspa de mandioca são pedaços de raízes de mandioca descascados e

desidratados, enquanto a farinha de raspas é o resultado de sua moagem e peneiragem. Quando utilizada como raspa, a mandioca é desidratada, pois com este processo, o seu valor energético aumenta de 1500 kcal de massa metabolizável para 3200 a 3600 kcal. O processo de produção consiste, basicamente, logo após a colheita, no corte das raízes e exposição ao sol. A produção de raspa deve ocorrer no período adequado à colheita, quando as condições climáticas são favoráveis (boa insolação, alta temperatura e baixa umidade relativa). As experiências têm demonstrado que a raspa de raízes de mandioca pode ser incluída na formulação de rações para animais domésticos, em substituição parcial ou total dos cereais (milho, trigo, cevada, etc.), graças ao seu valor energético e a sua palatabilidade.

Feno da parte aérea da mandiocaA parte aérea da mandioca (folhas, galhos e hastes) é um produto que

apresenta um potencial protéico de muita importância, sendo também rico em vitaminas especialmente A, C e do complexo B, o conteúdo de minerais é relativamente alto, especialmente cálcio e ferro. Esse material pode ser submetido a diferentes processos para obtenção de produtos destinados à alimentação animal.

14. INDUSTRIALIZAÇÃO DA MANDIOCA

Os principais produtos industrializados da mandioca são: farinha de mandioca, fécula, polvilho doce, polvilho azedo e outros amidos modificados. No Brasil, a principal forma de uso da mandioca é a farinha. Com relação à fécula, são utilizados dois terços seus nas indústrias agroalimentares. O polvilho doce bem como o azedo, são aplicados na indústria alimentícia, na fabricação de biscoitos de polvilho e pão-de-queijo, principalmente.

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Os amidos modificados, além de seu usual emprego como aditivo para melhor conservação e fabricação de alimentos, recentemente, vêm sendo aplicados na composição de plásticos biodegradáveis.

Farinha de Mandioca

A farinha é a principal forma de utilização de mandioca no Brasil, atingindo índices superiores a 80%. As principais farinhas fabricadas e comercializadas são as farinhas torradas, farinha de mesa e farinha d'água, com predomínio da primeira, e a nível local, a farinha do Pará que consiste na mistura das massas das duas anteriores. Há ainda a farinha de raspa, farinha proveniente de raiz seca sem passar por cozimento que já foi muito utilizada como farinha panificável até início da década dos anos 70. Atualmente o seu principal uso é na composição de rações.

Fécula de Mandioca ou Polvilho Doce

A fécula de mandioca é o amido obtido a partir da mandioca. Estima-se que a fécula é a segunda fonte de amido do mundo, somente perdendo para o amido de milho. Segundo o estudo realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social -Ipardes, no Brasil, dois terços da fécula de mandioca produzida são utilizados na forma nativa e o restante na forma modificada. No Brasil, o processo de obtenção de fécula incorre em perda de quase um terço do amido presente na raiz. A recuperação e utilização deste amido por parte das fecularias é o caminho para a competitividade em nível nacional e internacional.

Amidos Modificados

Há inúmeras modificações químicas que podem ser feitas no amido, cuja finalidade é produzir características funcionais diferentes do amido de origem. A maioria destas modificações é realizada em reatores/tanques com a introdução de reagentes, sendo que, calor e pressão também podem ser necessários. O amido no seu estado natural é insolúvel em água. Os amidos nativos na grande maioria das vezes não apresentam propriedades físico-químicas adequadas para diversas aplicações industriais. Pode-se proceder então modificações no amido cuja finalidade é ampliar sua aplicabilidade por meio de alterações físicas, químicas, enzimáticas e suas combinações.

Fermentação Alcoólica da Mandioca

Muitas raízes e tubérculos apresentam alto teor de carboidratos na forma de açúcares, amido e outros polissacarídeos que podem ser fermentados para a produção de bebidas alcoólicas. Dentre estes, a mandioca se destaca pela sua capacidade de adaptação, pela alta quantidade de amido e pela possibilidade de colheita durante todo o ano.

No processo de hidrólise, ocorre a transformação do amido em açúcar, o que pode ser feito por processo contínuo ou descontínuo, com hidrólise ácida ou enzimática. Este processo é necessário para a preparação do mosto para a produção de álcool.

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Em sua maioria, a mandioca é aplicada na produção de cerveja como adjunto de malte, mas também existem relatos da mandioca utilizada como fonte única de carboidratos para o mosto cervejeiro.

Plásticos de Mandioca

Iniciada na década de 70, a produção de bioplásticos com amido tem a vantagem de ser barato, farto e renovável, podendo ser aplicado também no setor de embalagens de diversos produtos. Os plásticos a base de amido já representam cerca de 90% dos bioplásticos presentes no mercado.

15. COMERCIALIZAÇÃO

A farinha é comercializada nas feiras livres, geralmente, embalada em sacas de 50 kg, ou em supermercados, embalada em pacotes de 500g, um ou dois quilos e comercializada em fardos de 30 kg. No caso da fécula, o produto é embalado em sacas de 25 ou 50 kg, para atender tanto ao mercado atacadista como ao mercado das indústrias, para atender a esse último mercado, a fécula é também comercializada em embalagens de maior capacidade.

O segmento de consumo da cadeia da mandioca é caracterizado por consumidores que absorvem a própria produção, ou seja, são agricultores que definem os produtos em função de suas preferências e hábitos regionais. No caso dos demais consumidores, que adquirem os produtos no mercado, o padrão de consumo depende do produto, nível de renda, costumes regionais e hábitos de compra. No que diz respeito à farinha comum, farinhas temperadas, farinha tipo “beijú”, mandioca “fresca” e outros produtos tradicionais, identificam-se, pelo menos, dois tipos de consumidores que podem ser caracterizados em função dos hábitos de compra: “o consumidor de feira livre” e o “consumidor de supermercado”. Com relação aos consumidores de fécula, todos podem ser classificados como consumidores intermediários, isto é, adquirem o produto para ser utilizado como insumo nos diversos processos industriais. Enquadram-se nessa categoria os consumidores que compram pequenas quantidades que podem ser encontradas no comércio varejista e no mercado atacadista, como é o caso das padarias, confeitarias e pequenas indústrias de processamento de carne. Além disso, incluem-se também os consumidores que transacionam grandes volumes, diretamente negociados com as fecularias, visando obter melhores preços e condições de pagamento. Nesse segmento da cadeia inserem-se, também, os importadores.

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16. REFERENCIAS

CENTEC, Centro de Ensino Tecnológico. Caderno Tecnológico: cultivo de mandioca. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2004. 88p.

CONCEIÇÃO, A. J. A mandioca. São Paulo. Nobel, 1987, 382p

DO AMARAL, L.; JAIGOBIND, A.G.A.; JAISINGH,S .Dossiê Técnico: Processamento da mandioca.tecpar, 2007. <http://www.respostatecnica.org.br>. acesso em: 16 maio .2009

EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA. http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mandioca

LORENZI, J. O. e DIAS, C. A. C. Cultura da mandioca. Campinas, SP: CATI, 1993. 39p. (CATI. Boletim Técnico da CATI, 211).

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