curso lacan e a psicanálise - aula 2: lacan e suas clínicas
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Segunda aula do curso "Lacan e a Psicanálise: interlocuções com a contemporaneidade", conduzido pelo psicanalista Alexandre Simões (MInas Gerais, Brasil).TRANSCRIPT
Lacan e a Psicanálise:interlocuções com a contemporaneidade
Tema:
Lacan e suas clínicas.
Coordenação Alexandre SimõesALEXANDRE
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Atualmente, vem sendo retomada a discussão sobre uma divisão
interna ao ensino de Jacques Lacan
a ponto de se falar (apesar de haver algumas pequenas diferenças nas designações) em uma
‘Primeira Clínica’ e em uma
‘Segunda Clínica’ de Lacan
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Antes de prosseguirmos, é válido visualizarmos algumas propostas de periodização do itinerário de
Jacques Lacan:
Primeira proposta:
Jacques-Alain Miller, em torno
de 1982
Terceira proposta
Jacques-Alain Miller, em 1986-
87
Segunda proposta:
Jean-Claude Milner, em seu
livro A obra clara, em 1996
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Estas periodizações tem algumas especificidades:
Primeira proposta (de Miller)
• Recorre a um critério
histórico, apontando para um
desdobramento teórico;
• Divisão tripla do percurso de
Lacan: Imaginário,
Simbólico, Real
Terceira proposta (de Miller)
• Recorre a um critério clínico (axiomas que
fundam a experiência
clínica);
• Duplicidade de planos em
Lacan: Primeira Clínica de
Lacan, Segunda Clínica de Lacan
Segunda proposta (de Milner)
• Recorre a um critério
epistemológico, uma vez que o que conta para
Milner é a posição de Lacan frente a
uma teoria da ciência;
• Bipartição do percurso: Primeiro
Classicismo e Segundo
Classicismo
A primeira clínica é mais conhecida e difundida.
Tende a coincidir com o que é mais visível nos seminários e escritos iniciais de Jacques Lacan (dos anos 50 ao final
dos anos 60)
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A segunda clínica é mais difusa, menos discernível . . .
Ela coincide com o último decênio da vida e do ensino de Jacques Lacan
(1970 a 1981)
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Todavia, de forma alguma, esta divisão temporal é delineada de modo cristalino pelo próprio Lacan
Os elementos que constituem aquilo que, posteriormente, foi chamado de primeira e segunda clínicas estão
onipresentes, com distintos contornos e intensidades, tal qual um interjogo barroco
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Em suma, a clínica lacaniana não tem contornos inevitavelmente rígidos e o que se constrói a partir dela
não se mostra imutável.
Os alicerces, os conceitos (também as formas de construí-los e formalizá-los) das duas clínicas são distintos.
Notemos que estabelecem relações complexas entre si. Notemos que estabelecem relações complexas entre si. ALEXANDRE
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Vale ainda sublinhar que a prática clínica da psicanálise não é linear e nem mesmo progressiva.
Por isso, não é plausível pensar que ao longo da condução de uma análise parte-se daquilo que é vigente na Primeira Clínica e segue-se
em direção ao que é manifesto na Segunda Clínica de Lacan.
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Para se compreender melhor a ambiência das duas clínicas, é relevante notar que há distintos níveis de
formulações em Lacan:
a) Temos as formulações que mostram mais vigor na cena temporal em que o próprio Lacan desenvolveu a maior
parte de seu ensino (dialogam, portanto, com os modos de
produção da vida, do corpo e dos laços-socais que aí se
colocavam);
b) Em outra medida, temos um conjunto menor de formulações que tem mais efetividade na nossa atualidade (a cena de um mundo globalizado, em que as coordenadas edípicas - verticalizadas, hierarquizadas - já não são
tão hegemônicas quanto antes) ALEXANDRE
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Em alguma proporção, podemos dizer que os dois momentos do ensino de Lacan funcionam como
planos de problemáticas distintas
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No ensino que Lacan estabelece entre os anos
50 e o final dos anos 70 do século passado,
o sentido emana (é produzido) por uma estrutura.
Notemos que não é o psicanalista, nem mesmo o analisando que engendram o sentido, mas o sentido brota de um lugar: o lugar do Outro (este lugar advém ao longo da associação livre, entrecortada
pelos sonhos, atos falhos e chistes). => Império do Significante
Ex.: a análise do Homem dos Ratos -> perspectiva do deciframento
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Nesta perspectiva clínica:
• Há um empuxo para que o analisando venha a se conhecer mais gradativamente (certamente, de um modo que não é calcado nos usos da razão);
• Uma significativa dimensão do percurso da análise leva o paciente a se conhecer melhor e, em consequência, a agir diferentemente, sob a segurança desse novo saber
Þ cartografia do Outro.
Temos aqui, pois, a ênfase
dada ao ‘retorno a Freud’ e às estruturas subjetivas
tematizadas por Freud: neurose, psicose e
perversão.
A Primazia do Simbólico e os
impasses do Édipo encontram-se bem
presentes nesse plano, conformando
o que se poderia nomear de uma
Clínica do Sujeito
Lacan pós-70:
propõe a tese do ‘desabonamento do inconsciente’ (que vem a ser um
congênere da formulação ‘o Outro não existe’)
=> indecifrável
Nesse sentido, a Segunda Clínica, comporta um ‘para-além de Freud’, no que tange especialmente à superação de seu viés edípico.
Temos, assim, uma Clínica Borromeana, na qual as considerações sobre o parlêtre e o gozo vão gradativamente se sobrepondo ao
cenário do Sujeito
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É importante estarmos atentos
aos efeitos práticos desta
chamada segunda clínica
de Lacan
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As implicações amplas de uma Clínica do Gozo:
Primeiramente, é imprescindível que consideremos que atualmente estamos vivendo, mais do que
anteriormente, em um momento de gozo dissidente e desregrado.
Alguns exemplos bastante notáveis disso são as intervenções da biotecnologia no corpo, as
toxicofilias, o flerte com a experiência-limite em alguns esportes ditos ‘radicais’, os ditames estéticos
em prol do upgrade do corpo, os sintomas devastadores: na vinculação com a escola/educação
(anomias), a delinquência juvenil, as doenças psicossomáticas. Em cada um desses acontecimentos, é notável o
limite da palavra face à tenacidade do gozo.
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O gozo é um acontecimento que não se delimita a um aspecto da vida, da conduta de cada um, do corpo ou do sintoma. Ele
está em todos os lugares; esta é a chamada
positividade do gozo.
Desta forma, o gozo pode ser temperado.
Uma breve nota sobre o gozo:
Cada vez menos compreende-se o propósito da análise em termos de atravessamentos (atravessamento do Édipo, do sintoma, do Pai, do
fantasma), e passa-se a problematizá-lo em termos quantitativos: face a um mais ou um menos, ao invés daquilo que sempre falta.
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Mais algumas implicações da Clínica do Gozo:
• A figura mais usual do psicanalista-intérprete é severamente posta em xeque;
• Este deslocamento do lugar do psicanalista nota-se em Lacan na medida em que ele relativiza suas construções acerca do inconsciente simbólico face ao inconsciente real;
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Enfim, busca-se aqui, com mais ênfase do que no período inicial (anos 50 ao final dos 60)
a responsabilização do ser falante no seu próprio sofrimento (notemos que isto não é a mesma coisa de se dizer que o paciente é responsável
pelo seu sofrimento)
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Lembremos: uma clínica baseada na primazia do Simbólico
é fortemente calcada no passado ( o passado é revelador, é palco de descobertas, como se
fosse portas que se abrem para outras portas)
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Segunda Clínica de Lacan:
... o pai é uma falta para todos
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Façamos um paralelo entre as clínicas:
Clínica Inicial de Lacan:
• O neurótico tem Pai;• O psicótico não tem Pai;• O perverso produz uma
versão do Pai (daí, a père version);
A Clínica que foi se desdobrando da Inicial:
• O Pai é ausente, precário no ser falante;
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Prosseguiremos no próximo encontro com o tema
Seminário 1 (Os escritos técnicos de Freud): o psicanalista e a linguagem
Até lá!
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