da climatologia geográfica à geografia do clima (1)

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  • 51Revista da ANPEGE. v. 4, 2008

    DA CLIMATOLOGIA GEOGRFICA GEOGRAFIA DO CLIMAGNESE, PARADIGMAS E APLICAES DO CLIMA COMO FENMENO

    GEOGRFICOJoo Lima SantAnna Neto

    UNESP/Presidente Prudente. [email protected]

    CONSIDERAES INICIAISDesde os anos fi nais da dcada de 1960 e incio dos anos 1980, o estudo dos fenmenos climticos

    passou a se constituir como grande rea de interesse de pesquisa, tanto pela sua natureza complexa e dinmica, quanto pela abordagem geogrfi ca e humanstica que Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, empreendia a tal tema.

    Desde ento, quase 30 anos se passaram, e neste campo disciplinar da Geografi a, elaboramos os pri-meiros estudos monogrfi cos, a dissertao de mestrado, a tese de doutorado e de Livre Docncia, sempre buscando uma perspectiva terica e aplicaes compatveis com os mtodos da Geografi a.

    Quando, em 1989, passei a integrar o corpo docente do Departamento de Geografi a da UNESP cam-pus de Presidente Prudente, propus a linha de pesquisa Dinmica Climtica e Organizao do Espao, atravs da qual, convergiriam todas as pesquisas vinculadas ao Laboratrio de Climatologia.

    Alguns anos mais tarde com o amadurecimento intelectual e pela necessidade de aprofundar a discusso geogrfi ca do clima, propus a linha de pesquisa Clima e Gesto do Territrio, fruto de um processo de estudo, em que as leituras de Milton Santos, David Harvey, Paul Claval, Horcio Capel, A. Guidens, E. Soja, Neil Smith, Michel Foucault e a releitura das obras clssicas de Max Sorre, Richard Hartshorne, Emmanuel De Martonne, Henry Lefebvre entre outros, culminaram com uma insatisfao terica com relao s prticas at ento concebidas.

    A utilizao do ritmo como paradigma da anlise geogrfi ca do clima, no qual apoiamos nossas investigaes, proposto por Monteiro (1971, 1976, 1989), a partir das concepes de Sorre (1951) e de

    Resumo

    Palavras-chave:

    Abstract

    Key Words:

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    Pdlaborde (1959), no mais nos satisfazia, nem enquanto construto terico, nem como perspectiva de anlise, menos ainda como prticas sociais.

    Em 2001, com o trabalho Histria da Climatologia no Brasil, apresentado na forma de tese de Livre Docncia, pretendi realizar uma releitura crtica da trajetria dos estudos geogrfi cos do clima. Desde ento, tenho buscado uma compreenso histrica e social do papel do clima como importante processo na produo do espao (e do territrio), bem como agente de interferncia no cotidiano da sociedade.

    Nesta perspectiva, esta refl exo apresenta uma proposta de reviso conceitual do clima como fenmeno geogrfi co substanciado pelas aplicaes de seu conhecimento no entendimento do territrio, no apenas como elemento natural, determinado pelas leis fsicas, mas, tambm, pelo signifi cado de sua repercusso nas relaes entre a sociedade e a natureza mediadas pela ao dos agentes sociais, que produzem espaos concretos nos mais variados nveis de segregao e vulnerabilidade.

    Esta ordem de preocupao se justifi ca em funo da reduo dos estudos geogrfi cos do clima, entre os principais grupos de pesquisa e programas de ps-graduao no Brasil, pois uma caracterstica que pode ser notada a de que parte signifi cativa das disciplinas vinculadas ao tema da climatologia tem sido ministrada por agrnomos e meteorologistas (entre outros), que a despeito de suas competncias, no desenvolvem contedos geogrfi cos, nem se apiam num instrumental comprometido com a anlise do clima como fenmeno de interao entre a sociedade e a natureza.

    Com isto, tem-se perdido uma tradio histrica, herdada de grandes mestres como Delgado de Car-valho, Salomo Serebrenick, Ary Frana, Lysia Bernardes, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, entre outros, que nos legaram uma importante contribuio teoria e epistemologia do clima como fenmeno geogrfi co. Assim, com a refl exo que fao a seguir, espero que se possa retomar esta discusso no seio da comunidade de gegrafos e para a construo de uma geografi a do clima.

    OBJETIVOSA proposta que apresentamos a seguir confi gura-se como uma linha de investigao a ser efetivada

    no escopo da Geografi a, motivada pela necessidade de superao do paradigma rtmico e sistmico da climatologia geogrfi ca produzida no Brasil at o presente.

    Trata-se, pois, de uma tentativa de propor no apenas um modelo conceitual, mas uma discusso te-rica com ensaios experimentais, de uma nova perspectiva de anlise geogrfi ca do clima, que permita uma leitura crtica de nosso objeto de anlise.

    Assim, pretende-se atingir dois nveis de questes. O primeiro, de ordem terica e metodolgica em que se prope a anlise crtica da Climatologia Geogrfi ca, de cunho neopositivista e neokantiano, para a construo de uma abordagem que incorpore a dimenso social interpretao do clima na perspectiva da anlise geogrfi ca. Isto signifi ca, necessariamente, compreender que a repercusso dos fenmenos atmosfricos na superfcie terrestre se d num territrio, transformado e produzido pela sociedade, de maneira desigual e apropriado segundo os interesses dos agentes sociais, criando espaos de segregao, em variados nveis de vulnerabilidade.

    O segundo, a partir de ensaios compreendendo a infl uncia dos fenmenos atmosfricos e dos padres climticos na estruturao do territrio e no cotidiano da sociedade, objetiva-se discutir as principais dimenses socioeconmicas e ambientais afetadas pelo clima, como:

    Clima urbano: na perspectiva de se analisar a qualidade de vida e o conforto ambiental, considerando a apropriao e fragmentao do espao urbano;

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    Clima e agricultura: objetivando considerar o grau de interferncia na rentabilidade agrcola, incor-porando os aspectos de polticas pblicas do setor e das novas tecnologias, que tendem a minimizar (ou no) o papel dos elementos do clima como insumo no processo de produo;

    Clima e sade: discutir a infl uncia dos tipos de tempo na morbidade epidemiolgica e nos casos

    de enfermidades, condicionados aos aspectos culturais (enquanto hbitos e costumes), da segregao

    socioespacial e do planejamento da sade pblica;

    Mudanas climticas: dialogar com as proposies ofi ciais do IPCC (International Panel on Clima-

    te Change) para alm da dimenso estritamente cientfi ca, investigando o que h por trs do discurso

    catastrofi sta, que sugere uma governana internacional, atravs de uma pseudo emergncia global.

    Desvendar os contedos que se travestem de tragdia, mas que podem confi gurar-se como farsa. Ou seja,

    problematizar este discurso, luz da contribuio de uma Geografi a do Clima.

    REFERENCIAL TERICO E METODOLGICO (ANTECEDENTES E PROBLEMATIZAO)

    Na segunda metade do sculo XIX, como resultado das amplas discusses e crticas de Vidal de La

    Blache ao carter determinista da Geografi a alem, personifi cada por Ratzel, o possibilismo passou a

    ser aceito como concepo que defi niria as relaes homem natureza. La Blache jamais aceitou a con-

    cepo fatalista e mecanicista da relao entre a sociedade e a natureza, presentes na Antropogeografi a

    ratzeliana (CAPEL, 1981).

    Com a escola lablacheana a regio elevada categoria de anlise. As especializaes, que tentavam

    realizar as snteses dos elementos, se fortaleceram a ponto de confi gurarem quase como reas autnomas

    da Geografi a, que se reencontrariam ao nvel da Geografi a regional (MORAES, 1983)

    As concepes de La Blache, que tiveram ampla divulgao e aceitao atravs dos Annales de Go-

    graphie e de sua maior obra (coletiva) a Geografi a Universal, esto na base de nossa Geografi a contem-

    pornea. A rede de seus discpulos e seguidores foi bastante ampla: de De Martonne, e a Geografi a Fsica,

    a Jean Brunhes, com a volumosa Geografi a Humana, passando por Albert Demangeon, que elaborou o

    conceito de meio geogrfi co, a partir de estudos no escopo da Geografi a Econmica (PEREIRA, 1999)

    A infl uncia do pensamento lablacheano alcanou outras reas do conhecimento, como a Histria.

    Em 1922, Lucien Febvre publicou a clssica obra A Terra e a Evoluo Humana, na qual assumia as

    posies possibilistas e criticava asperamente as idias deterministas de Ratzel e de sua mais conhecida

    seguidora, a gegrafa norte-americana, Ellen Sample. Com Max Sorre e Albert Demangeon, elaborou

    uma nova leitura da paisagem e considerava a necessidade do emprego dos documentos histricos, como

    fonte desta nova Geografi a que teria como objeto as relaes homem natureza, na perspectiva da Terra

    como a morada do Homem (FEBVRE, 1991) .

    Estes desdobramentos do pensamento lablacheano, a partir do desenvolvimento de novas idias

    por parte de seus discpulos, mesmo sem destruir suas bases conceituais iniciais, principalmente no que

    se refere a neutralidade do conhecimento, aprofundaram-se e determinaram o modelo acadmico de

    Geografi a.

    Ao discutir as questes climticas, principalmente em suas relaes com os quadros vegetais, Lucien

    Febvre se aproximava dos conceitos de Kppen e de A. Penck, mas se diferenciava de De Martonne,

    pois mesmo sem desconsiderar a anlise regional, propunha uma concepo humanstica, que muito

    infl uenciou Max Sorre. Este, por sua vez, desenvolveria alguns anos mais tarde, a noo de habitat,

    como a construo humana do meio. Alis, assim como Max Sorre, tanto Gaussen, quanto Birot e o

    prprio Tricart incorporaram o pensamento febvreano (SANTANNA NETO, 2001).

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    Foi neste contexto efervescente da escola francesa de Geografi a que Maximilien Sorre, considerado como um dos que mais avanou em termos das formulaes de La Blache, a partir da dcada de 1930, props que a Geografi a deveria estudar as formas pelas quais os homens organizam o meio, entendendo o espao como a sua morada.

    Nenhum dos temas geogrfi cos escapou da anlise inovadora de Max Sorre. Na obra Les Fondements de la Gographie Humanine, de 1948, props novos rumos tericos para a Geografi a defi nindo o conceito de ecologia humana. Tal defi nio baseava-se nas refl exes de Haeckel acerca do conceito de ecologia, publicadas, em 1943, na sua primeira obra intitulada, Les Fondements Biologiques de la Gographie Humanine, que tanto infl uenciou Ary Frana em sua Tese de Doutorado defendida em 1945 (a primeira da climatologia e a segunda da Geografi a no Brasil).

    O que mais nos interessa na obra de Max Sorre, entretanto, so as suas refl exes sobre a anlise ge-ogrfi ca do clima. Ao propor uma reviso conceitual que substitusse as defi nies de tempo e de clima vigentes, a partir de parmetros estatsticos mdios, o autor afi rmava:

    As defi nies clssicas do importncia exagerada noo de valores mdios. Propusemos substitu-lo por uma frmula mais diretamente utilizvel pelos bilogos: o clima, num determinado local, a srie de esta-dos da atmosfera, em sua sucesso habitual. E o tempo que faz nada mais do que cada um desses estados considerado isoladamente. Essa defi nio conserva o carter sinttico da noo de clima, enfatiza seu aspecto local e, ao mesmo tempo, evidencia o carter dinmico do clima, introduzindo as idias de variao e de diferenas includas nas de sucesso. (SORRE, 1943, p. 32)

    Ao defi nir o complexo climtico (ou meio climtico), concebeu a noo de ritmo, argumentando que exatamente o ritmo da sucesso de tipos de tempo que deveria nos interessar, uma vez que expressaria de forma global a variao do clima. Em cada instante, ainda segundo Sorre (1951), a combinao dos elementos meteorolgicos forma um conjunto original o tempo e, a sucesso dos tipos de tempo regida por leis da meteorologia dinmica, das quais o gegrafo extrai o conhecimento do mecanismo dos climas.

    Sob este aspecto, o autor no poupava crticas s propostas de classifi cao de Kppen, nem de De Mar-tonne, tanto pelo empirismo empregado, quanto pela impossibilidade destas classifi caes de conciliar uma defi nio dinmica dos climas, pois se pautava em defi nio esttica. Ao tratar da classifi cao elaborada por Thorntwaite (1948), tambm no concordava com sua estratgia de estabelecer um ndice de aridez, pois ela no atenderia as necessidades da ecologia humana, restringindo-se aos aspectos agronmicos.

    O conceito sorreano de clima encerra a concepo de totalidade dos tipos de tempo sobre um deter-minado lugar, acrescentando a esse conceito gentico, a noo de ritmo e de sucesso. Entretanto, Sorre no desconsiderava a importncia do uso dos valores mdios nem do emprego da estatstica nos estudos climticos que, segundo ele, seriam fundamentais para as anlises sobre a variabilidade climtica, pois:

    A ao de um fator no depende apenas de sua intensidade atual, mas do carter mais ou menos repentino de sua apario (limite diferencial), de sua frequncia e de sua durao, caractersticas estas inclusas na idia de variabilidade. (SORRE, 1954, apud MEGALE, 1984, p. 37).

    Voltando questo da crtica de Max Sorre aos conceitos de tempo e clima preconizados por Julius Hann e tambm, por que no dizer, da anlise que Emmanuel De Martonne produziu para o estabele-cimento destas concepes no escopo de Geografi a, o autor justifi cava que, apesar das propostas dos dois estudiosos partirem da escala local, buscando os encadeamentos com as escalas regional e global, esta somente poderia ser alcanada a partir do estudo prvio da circulao atmosfrica regional a qual,

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    sob a infl uncia dos fatores geogrfi cos dentro da regio, possibilitaria a defi nio dos climas locais

    (MONTEIRO, 1962).

    Desta forma, as novas perspectivas tericas que se abriram atravs dos postulados de Max Sorre no

    campo da Climatologia, como fenmeno Geogrfi co, possibilitaram uma reviso conceitual que, assumida

    por Pierre Pdlaborde na Frana, na dcada de 1950, e no Brasil por Carlos Augusto de F. Monteiro,

    na de 1960, cada um a sua maneira, propiciou uma verdadeira revoluo paradigmtica. As noes de

    dinmica, gnese e ritmo passaram a constituir os fundamentos do entendimento do fenmeno atmosf-

    rico como categoria de anlise geogrfi ca, contrastando com as abordagens generalizadoras e de carter

    regional, mais em busca de processos e de tipologias.

    O mais interessante da concepo sorreana que, sem nunca ter realizado qualquer estudo emprico

    sobre a climatologia, uma vez que sua obra se concentrou em aspectos de discusso terica, Sorre pode

    captar a essncia do carter dinmico e gentico do clima e, talvez, exatamente pelo fato de ter relido o

    seu papel a partir de uma perspectiva externa ao problema, conseguiu extrair da um novo paradigma. Esta

    a razo pela qual a obra de Max Sorre considerada como a fundadora de uma Climatologia eminente-

    mente geogrfi ca. Seus trabalhos esto no cerne das refl exes que, Monteiro, pouco mais de uma dcada

    depois, concretizaria sua proposta de anlise rtmica como a essncia da anlise geogrfi ca do clima.

    Somente a partir do incio dos anos trinta do sculo passado que fl oresceu uma Geografi a eminente-

    mente norte-americana, quando Richard Hartshorne, ao propor uma releitura da obra do gegrafo alemo

    Alfred Hettner, produzida entre 1890 e 1910, retomou uma anlise terica que buscava uma terceira

    possibilidade de interpretao da Geografi a, como uma superao da dicotomia entre Determinismo e

    Possibilismo (MORAES, 1983).

    Para Hartshorne (1978), caberia Geografi a o estudo das inter-relaes entre fenmenos heterogneos,

    apresentando-as numa viso sinttica.

    O carter nomottico da proposta hartshorneana possibilitaria a anlise de uma Geografi a Geral,

    na qual as integraes obtidas permitiriam atingir padres de variao, pelas comparaes de distintas

    reas. Assim, em conjunto com as anlises idiogrfi cas que seriam produzidas a partir de um estudo

    singular e unitrio, levando a um conhecimento profundo de terminado local como aperfeioamento

    da anlise regional, a dimenso nomottica viria ao encontro da necessidade de desenvolvimento de um

    vasto territrio (MORAES, 1983).

    Por suas caratersticas territoriais marcadas por uma variada diversidade de paisagens e em funo

    das infl uncias fi losfi cas e cientfi cas das escolas anglo-saxnicas, entre outros elementos de formao

    da nao americana, os Estados Unidos se transformariam na meca do pragmatismo, onde a modelagem

    e a abordagem sistmica, voltadas para o planejamento, encontrariam terreno frtil para seu desenvol-

    vimento, via quantifi cao, na produo dos diagnsticos.

    Nesta perspectiva e considerando o enorme crescimento econmico dos EUA, principalmente no setor

    agrcola, que Thorntwaite (1948) elaborou sua proposta de classifi cao racional do clima, partindo

    dos pressupostos de rendimento econmico e de padres agronmicos. O mtodo empregado tinha

    como principal objetivo aplicao de tcnicas quantitativas efi cincia trmica e precipitao efetiva

    voltadas para as necessidades de gua dos agrossistemas, viabilizada pelo clculo do balano hdrico.

    Na dcada seguinte, Arthur Strahler (1951), um dos mais renomados gegrafos dos EUA, divulgaria

    a proposta de classifi cao climtica que pretendia dotar as concepes de clima aceitas at ento, de

    um paradigma dinmico, ao incorporar em sua proposta, aspectos dinmicos de circulao atmosfrica

    aos elementos estticos regionais.

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    Embora durante dcadas, a classifi cao climtica do russo Wladimir Kppen fosse hegemnica em quase todo o planeta, com o advento da Meteorologia Sintica, as insatisfaes crescentes quanto s abordagens estticas e separativas, estimularam vrios gegrafos norte-americanos a elaborarem novos sistemas e esquemas interpretativos e classifi catrios. Entre eles, tanto Austin Miller (1931), quanto Glenn Trewartha (1937) apresentaram novas propostas sem, contudo, superar o modelo de Kppen, pois apenas refi naram os limites dos tipos climticos e aperfeioaram as anlises sobre a circulao atmosfrica.

    Mas, sem dvida alguma, a contribuio de Strahler (1951) foi a mais signifi cativa na busca de uma classifi cao climtica de base gentica e dinmica, ao agrupar os tipos de clima em funo das reas de domnios das massas de ar e dos elementos da circulao secundria. Esta preocupao com os aspectos dinmicos de Strahler e os agronmicos de Thorntwaite iria fundamentar o carter econmico da anlise climtica efetuada por Curry (1952), que introduziria o conceito de clima como recurso natural e principal regulador da produo agrcola.

    Leslie Curry foi um dos mais importantes estudiosos da Climatologia aplicada. Seguindo as concepes de Hartshorne, props uma anlise geogrfi ca do clima em que a organizao do espao agrcola deveria, necessariamente, partir de uma concepo dos atributos climticos, no como determinantes, mas como insumo nos processos naturais e de produo. Desta forma, tanto a radiao global quanto os principais elementos do clima passariam a ser considerados como agentes econmicos e, portanto, intervenientes na produo agrcola e parmetro de sua rentabilidade (SANTANNA NETO, 1998).

    A estas concepes de Curry (1952), poder-se-ia acrescentar ainda suas defi nies de tempo e clima, nas quais advertia sobre o aspecto terico da existncia abstrata do conceito de clima, enquanto a noo de tempo seria a nica a garantir o fato concreto e, portanto, observvel e sensvel. Monteiro (1991) discutiu essa questo e, ao interpretar as proposies tericas de Curry, concordaria com seus aspectos fundamentais comentando que:

    Assim, em meio a uma ordem de interesses e estratgias muito variadas h que distinguir a prpria natureza conceitual, cuja variao refora o carter terico que o autor atribui como algo peculiar ao clima. Concordo com ele na medida em que o fato concreto, observvel no domnio atmosfrico terrestre o tempo (meteo-rolgico) extremamente varivel no tempo (cronolgico). (MONTEIRO, 1991, p.16-17)

    Da a afi rmao de Leslie Curry, que considerava o clima como uma teoria e no como um fato. Esta noo nos remete ainda para a avaliao de seu signifi cado funcional, a qual somente seria vivel para as grandes correlaes, num nvel de anlise aqum das aspiraes da Geografi a Econmica (CURRY, 1962).

    Todo o progresso conceitual inerente ao desenvolvimento da cincia em geral e da Geogrfi ca, em particular, no decorrer do sculo XX, representados no exterior pelos avanos da Meteorologia Sintica das escolas de Bergen e de Chicago e interpretados em terras brasileiras por Adalberto Serra, alm da reviso dos conceitos de clima efetuados por Max Sorre, na Frana e por Leslie Curry, nos Estados Uni-dos, ofereceram os elementos a partir dos quais Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro se apropriou de maneira original e criativa, para elaborar sua proposta de anlise geogrfi ca do clima.

    A estes elementos incorporou, ainda, a perspectiva da abordagem episdica extrada da obra de Hil-gard Sternberg (1949), a discusso fi losfi ca de Kant sobre a idia de acidente (excepcionalismo) no sentido do princpio da permanncia da substncia e as concepes cientfi cas, quanto ao mtodo, de Paul Feyerabend (1975), alm das infl uncias que sofreu em sua formao acadmica, do mestre francs Francis Ruellan.

    Este complexo conjunto de idias, concepes e paradigmas est na base do pensamento monteriano e na formulao de sua proposta de estabelecer o ritmo como fundamento e paradigma da construo de uma Climatologia Geogrfi ca.

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    AS MATRIZES MONTERIANAS DE CONSTRUO DE UM PARADIGMA: O RITMOA reviso conceitual proposta por Max Sorre, entre os anos de 1940 e 1950, sobre o papel do clima

    na anlise geogrfi ca, como vimos, suscitou o surgimento de um novo paradigma, a partir das defi nies de tempo e clima, numa perspectiva gentica e dinmica, que j apareceram em seus primeiros trabalhos (MONTEIRO, 1962, 1963b e 1964).

    Pouco antes, na Frana, Pierre Pdlaborde (1957 e 1959), que tambm partia da aceitao dos pressupostos tericos de Sorre, props o mtodo sinttico das massas de ar, interessado na elaborao de um conjunto de tcnicas que permitisse a defi nio dos tipos de tempo encarados em sua totalidade, portanto, demonstrando menor interesse pela questo do ritmo. Entretanto, a leitura que Monteiro rea-lizou a partir da obra de Sorre, sobre os fundamentos genticos e dinmicos do clima, o levaria a uma concepo bastante diferente daquela preconizada por Pdlaborde, pois enquanto este se preocupava com a totalidade dos tipos de tempo, Monteiro se interessava mais pelo mecanismo de encadeamento sequencial desses tipos, ou seja, pelo ritmo.

    Nos primeiros artigos que vieram ao pblico atravs da Revista Geogrfi ca do IBGE, Monteiro (1962, 1963) j demonstrava a sua preocupao em incorporar a gnese na classifi cao dos climas. Foi neste perodo, tambm, que o autor props o uso das cartas sinticas, em sequncia, para a anlise geogrfi ca do clima. Alm disto, apresentava suas primeiras tentativas de estabelecer um ndice de participao das massas de ar aplicadas classifi cao climtica. Num de seus ltimos trabalhos publicados, Mon-teiro (1999) sintetizou de maneira muito clara o que foi a sua busca, por vrias dcadas, de um novo conceito de clima como fenmeno geogrfi co. O paradigma da anlise rtmica, malgrado as limitaes de abordagem estatstico generalizadoras, mas compensadas pela mostra dinmica de padres extremos e habituais, foi capaz de ensejar compreenso geografi camente mais vlida do que aquela abordagem calcada em estados mdios e propostas de regionalizao

    Desta forma, o autor elaborou um conjunto de procedimentos com a certeza de que somente o funda-mento do ritmo, analisado a partir do encadeamento dos tipos de tempo, portanto, na escala diria, seria a nica estratgia possvel de conciliar a compreenso dos mecanismos atmosfricos com as possibilidades de entendimento do papel do clima como fenmeno geogrfi co e, portanto, de interferncia nas atividades humanas e na organizao do espao.

    Para viabilizar esta estratgia, Monteiro adotou a perspectiva da anlise episdica, a partir da aplicao concreta que Sternberg (1949) divulgou em seu clssico trabalho sobre os movimentos coletivos do solo no Vale do Paraba, quando elaborou essa proposta. Incorporou ainda, a esta estratgia, o conceito de padres do clima, numa tentativa de substituir os valores mdios pelas defi nies de padres habituais (mais frequentes) e excepcionais (representativos das irregularidades climticas, anos secos e midos, frios e quentes, etc...)

    A necessidade de entendimento dos mecanismos dinmicos e da circulao atmosfrica levou Mon-teiro a buscar na obra de Adalberto Serra, principalmente aquela sobre as massas de ar na Amrica do Sul (SERRA; RATISBONNA, 1942), os princpios gerais desta circulao em territrio brasileiro, principalmente no que concerne caracterizao das massas de ar e sistemas perturbados, em suas reas fonte e trajetos mais freqentes.

    Este conjunto de procedimentos aplicados escala regional resultou na proposta de classifi cao gentica das clulas dos climas regionais para o Estado de So Paulo. Trabalho este publicado em forma de atlas que, apesar de ter sido concludo em 1964, veio ao pblico apenas em 1973.

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    Nesta obra de Monteiro (1973) j comparecem os elementos fundamentais de uma construo terica

    sobre seu conceito de clima, materializada num conjunto de procedimentos que podem ser interpretados

    como:

    desprezo dos valores mdios e a utilizao de dados reais, em escala diria, em proveito de uma

    minuciosa anlise da variao dos elementos do clima.

    A utilizao das cartas sinticas de superfcie como subsdio identifi cao dos tipos de tempo, possibilitando a relao entre a circulao atmosfrica regional com as manifestaes individualizadas localmente.

    A elaborao de um ciclo evolutivo da penetrao da massa Polar Atlntica, por considerar a sua presena (ou sua ausncia) como o elemento fundamental, composto de trs momentos: prenncio, avano e domnio.

    A escolha de perodos padro (anual, estacional, mensal e episdico) que seriam capazes de for-necer um quadro dinmico das situaes concretas, demonstrando a amplitude de ocorrncia dos tipos de tempo habituais, ao lado daqueles afetados por irregularidades na circulao com capacidade de produzir situaes adversas.

    A anlise da sequncia e encadeamento dos tipos de tempo, na busca do entendimento das variaes locais dentro de um quadro regional, marcado pelas caractersticas e infl uncias dos fatores geogrfi cos.

    E, por fi m, a tentativa de classifi cao climtica, em bases genticas e dinmicas, a partir de ndices de participao dos sistemas atmosfricos atuantes e suas respectivas repercusses no espao geogrfi co.

    A aplicao destes procedimentos, ao longo dos anos 60 do sculo passado, culminou com a proposta de anlise rtmica em climatologia que Monteiro (1971) estabeleceu como o seu programa de pesquisa no Laboratrio de Climatologia da Universidade de So Paulo, quando procurou direcionar suas pes-quisas e de seus orientados, na busca do ritmo climtico como paradigma e na sua aplicao aos estudos geogrfi cos. A fundamentao terica estabelecida pelo autor pressupe um conceito de ritmo como:

    [...] expresso da sucesso dos tipos atmosfricos que conduz, implicitamente, ao conceito de habitual pois que h variaes e desvios que geram diferentes graus de distores at atingir padres extremos. Saber o que se entende por ano seco e ano chuvoso conduz a uma lenta tarefa de reviso, at que se possa optar por uma norma mais conveniente aos nossos propsitos. (Monteiro, 1971, p. 4)

    O autor admitia que uma primeira aproximao vlida para este conceito de ritmo poderia advir das variaes anuais percebidas atravs das variaes mensais, a partir de um conjunto de anos como fun-damentao da noo de regime (MONTEIRO, 1971), como era muito difundido nesta poca.

    Entretanto, a sua avaliao crtica a respeito do uso do conceito de regime, considerava que no se chegaria noo de ritmo, pois, esta exigiria uma anlise que permitisse a decomposio cronolgica em unidades bem menores, ao nvel dirio e, at horrio, para que se pudesse compreender a contnua sucesso dos estados atmosfricos. Assim, o autor admitia que a nica maneira possvel de conceituar e fundamentar a noo de ritmo climtico, como paradigma, se compreendermos que:

    [...] somente atravs da representao concomitante dos elementos fundamentais do clima em unidades de tempo cronolgico pelo menos dirias, compatveis com a representao da circulao atmosfrica regional, geradora dos estados atmosfricos que se sucedem e constituem o fundamento do ritmo. (MONTEIRO, 1971, p. 9)

    Essa defi nio tornava clara a distino da perspectiva geogrfi ca de anlise do clima, com relao a Meteorologia ou a Agronomia, pois fundamentava uma compreenso gentica e qualitativa dos fatos

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    climticos, ao nvel da baixa atmosfera (troposfera), considerando-a como a camada antrpica de inte-

    rao geogrfi ca. Monteiro argumentava ainda, que, somente:

    [...] anlise rtmica detalhada ao nvel de tempo, revelando a gnese dos fenmenos climticos pela interao dos elementos e fatores, dentro de uma realidade regional, capaz de oferecer parmetros vlidos conside-rao dos diferentes e variados problemas geogrfi cos desta regio. (MONTEIRO, 1971, p.12)

    A fundamentao terica da anlise rtmica, como paradigma do clima sob a perspectiva geogrfi ca , pois, a grande contribuio que Monteiro legou Geografi a brasileira e, porque no, mundial. Se antes dela foram necessrios sculos de desenvolvimento e evoluo do pensamento cientfi co e tecnolgi-co, somente com a viso lcida, original e ousada de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, houve a possibilidade (ou oportunidade) de superar um antigo problema de ordem conceitual, permitindo o estabelecimento de uma nova ordem de valores, que revolucionou e impulsionou o progresso da Clima-tologia Geogrfi ca mundial.

    Desta forma, a concepo geogrfi ca do clima na organizao do espao deve ser vista, fundamental-mente, como a geradora de tipos de tempo cujas caractersticas so absolutamente dinmicas, complexas e muito sensveis a qualquer alterao imposta, infl uenciando cada parte do planeta, em funo da interao entre as diferentes esferas do globo e da ao do homem.

    Em linhas gerais, estes so os fundamentos da Climatologia Geogrfi ca, que desde as mudanas paradigmticas propostas por Sorre (1951) e estabelecidas por Monteiro (1971), a partir da noo de ritmo, esto na base da produo geogrfi ca do clima.

    DA CRTICA CLIMATOLOGIA GEOGRFICA A UMA PROPOSTA DE GEOGRAFIA DO CLIMA

    Todo o arcabouo terico e metodolgico que nos foi legado por Monteiro nas ltimas dcadas, de um lado, propiciou o nascimento de uma Climatologia Geogrfi ca, hoje rea reconhecida no meio cientfi co nacional, como pode ser notado pela vasta produo cientfi ca, por outro, tem demonstrado a necessidade de sua superao. Novas possibilidades de anlise, tanto no sentido tcnico, propriamente dito, quanto no sentido terico de uma releitura do clima e dos fenmenos atmosfricos, poderiam trazer novas perspectivas no contexto da cincia geogrfi ca.

    O problema da anlise geogrfi ca do clima na atualidade como j havamos discutido em estudo anterior (SANTANNA NETO, 2001), se refere forma trinmica caracterstica das abordagens que se tem praticado. Ou seja, esta abordagem sustenta-se a partir do trip: ritmo climtico ao antrpica - impacto ambiental.

    Nesta perspectiva, utiliza-se da anlise episdica, que comparece como o fundamento bsico no desenvolvimento da Climatologia Geogrfi ca, pretendendo dar conta da explicao, da gnese e dos processos de natureza atmosfrica intervenientes no espao antropizado. Entretanto, esta anlise no tem sido sufi cientemente esclarecedora dos mecanismos de feed back, nem das projees futuras que deveriam ser incorporadas s propostas de gesto e monitoramento dos fenmenos atmosfricos.

    H que se considerar, tambm, que a concepo de ao antrpica, alm de demonstrar uma viso extremamente naturalista da relao sociedade natureza tende a minimizar os aspectos de ordem social, econmico e ideolgico do processo de interveno e apropriao do espao geogrfi co (CLAVAL, 1999).

    Alm disto, antropizar o territrio signifi ca mascarar as reais intenes dos agentes sociais do siste-ma poltico e econmico hegemnico neste processo de apropriao, desviando as atenes da questo primordial, apropriao - utilizao - reproduo da natureza, que a de demonstrar os diferentes graus

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    de interveno dos agentes envolvidos os atores sociais desconsiderando-se sua organizao social

    estabelecida numa sociedade de classes (SANTOS, 1994).

    Com relao ao que se denomina impacto ambiental, tem-se buscado muito mais a compreenso das

    relaes causa efeito do papel do clima na superfcie terrestre, do que se introduzir uma concepo

    do clima enquanto recurso inerente ao processo de reproduo do capital e de dominao, como valor

    de uso. Nestes termos, no que hoje se convencionou denominar de valorao dos recursos naturais, h

    que se colocar as seguintes questes: O clima tem valor ? Qual o preo do tempo e o valor do clima ?

    Quais so os limites tolerveis de produo do calor e de poluio do ar e da gua ? Quem polui e usa e

    quem paga os danos ambientais e sociais ?

    H que se buscar um entendimento dos fenmenos atmosfricos que responda s indagaes de ordem

    terica da Geografi a contempornea. Isto signifi ca, necessariamente, uma releitura dos atuais modelos ou a incorporao de mtodos e novos paradigmas que possibilitem atingir um grau de conhecimento e uma nova viso desta ordem de problemas que esto sendo colocados e que ainda no foram sufi ciente-mente incorporados, na busca de uma Climatologia eminentemente humana e geogrfi ca, ou seja, uma Geografi a do Clima.

    A postura de Monteiro (1971, 1976 e 1989) em considerar o papel da cincia geogrfi ca, no rol das demais cincias, como a busca da anlise unitria de seus diversos elementos componentes, na qual, as relaes sociedade/natureza consistem, no s em seu objetivo primordial, mas tambm em seu grande trunfo metodolgico, partindo do pressuposto de que mais importante que a problemtica especfi ca de cada uma das esferas que compem o conhecimento geogrfi co, a resultante que converge destas interaes. Embora tal postura seja bastante aceitvel, no assume que estas relaes so mediadas pelos diversos agentes e atores sociais.

    H que se considerar que nas sociedades pr-capitalistas, em que a terra era objeto e meio universal de trabalho, a relao sociedade-natureza era direta, pois havia uma profunda identidade entre o homem e a natureza. O ritmo do trabalho e, portanto, do homem, repetia o ritmo da prpria natureza. J na sociedade capitalista, o modo de produo exige uma expropriao dos homens atravs da apropriao da natureza, implicando numa relao predatria. Ou seja, a relao sociedade-natureza passa a ser permeada pela relao entre os agentes e atores sociais, ainda que, como bem observou Claval (1999), no se pode perder de vista a dimenso cultural desta relao, que muitas vezes no adequadamente explicada apenas em sua produo econmica e poltica.

    Neste contexto, medida que o modo de produo capitalista avanou na conquista e ocupao do territrio, primordialmente como um substrato para a produo agrcola e criao de rebanhos e, poste-riormente, erguendo cidades, expandindo o comrcio, extraindo recursos naturais e instalando indstrias, ou seja, ao se apropriar da superfcie terrestre, este se constitui no principal agente produtor do ambiente. Como este ambiente vivo e regulado por processos e dinmicas prprias, responde s alteraes im-postas pelo sistema resultando em nveis de produo dos ambientes, naturais e sociais, dos mais variados.

    Independente do modo de produo, as variveis naturais mais signifi cativas no processo produtivo so, sem dvida, aquelas provenientes do clima, consideradas enquanto insumos de energia no sistema terrestre. Se o nvel de desenvolvimento econmico e tecnolgico de uma sociedade transforma o am-biente, no h dvida de que tambm por ele infl uenciado.

    O clima pode ser considerado como um regulador da produo agrcola e um importante componente da qualidade de vida das populaes. Mas, se a dinmica natural e do clima, independe do homem, por outro lado a natureza e seu domnio, passam a ser socialmente condicionados.

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    Dois aspectos parecem ser imprescindveis para o avano na construo e desenvolvimento de uma

    Geografi a do Clima. Em primeiro lugar, mas no necessariamente o mais importante, a necessidade de domnio do instrumental tecnolgico, sem o qual no se consegue imprimir novas possibilidades de anlise.

    A atmosfera ainda pode ser considerada como o domnio mais pulsante, dinmico e imprevisvel de todas as esferas naturais do planeta. a ltima fronteira do desconhecido mais prximo de ns. Com o advento da conquista do espao, nunca se teve tanto interesse pelos fenmenos meteorolgicos como hoje. Nas ltimas dcadas o impressionante desenvolvimento de equipamentos e tcnicas de anlise da atmosfera tem revolucionado tanto o instrumental tecnolgico, quanto posto em cheque algumas verdades estabelecidas.

    Obviamente no cabe Geografi a um importante papel neste nvel de pesquisa, uma vez que seus objetivos e propsitos vo a outra direo, qual seja a de trazer para o seu escopo o conhecimento me-teorolgico necessrio para as diferentes categorias de anlise de nossa cincia.

    Acontece que a linguagem matemtica e a compreenso dos fenmenos fsicos ainda nos colocam enormes difi culdades. Em parte pela nossa formao humanstica, mas tambm verdade que desconfi a-mos um pouco do arsenal extremamente tcnico e quantitativo sob o qual repousam seus procedimentos de anlise.

    Mesmo assim, fundamental conhecer as bases atravs das quais se produz este conhecimento, tanto para se estabelecer canais de dilogo com os profi ssionais que o desenvolvem, quanto para aprimorar nosso prprio instrumental. Entretanto, no podemos ter a iluso de que, sozinhos, somos capazes de produzir conhecimento bsico sobre a atmosfera e o clima. Nosso trabalho se inicia com os resultados alcanados pelos meteorologistas.

    O segundo aspecto trata da necessidade de se incorporar a dimenso social na interpretao do clima na perspectiva da anlise geogrfi ca. Isto signifi ca, necessariamente, compreender que a repercusso dos fenmenos atmosfricos na superfcie terrestre se d num territrio, transformado e produzido pela sociedade, de maneira desigual e apropriado segundo interesses dos agentes sociais.

    O modo de produo capitalista territorializa distintas formas de uso e ocupao do espao defi ni-das por uma lgica que no coincide com os critrios tcnicos do desenvolvimento (ou sociedade ?) sustentvel. Assim, o efeito dos tipos de tempo sobre um espao construdo de maneira desigual gera problemas de origem climtica, tambm desiguais. A entrada de um sistema atmosfrico, como uma frente fria (frente polar atlntica), por exemplo, se espacializa de maneira mais ou menos uniforme num determinado espao, em escala local. Entretanto, em termos socioeconmicos, este sistema produzir diferentes efeitos em funo da capacidade (ou possibilidade) que os diversos grupos sociais tem para defenderem-se de suas aes.

    Se o resultado concreto da entrada desta frente fria, em rea urbana, for a queda de precipitao em grandes quantidades, e se o produto fi nal desta ao desembocar numa enchente, tem-se que admitir que muito provavelmente as reas mais atingidas pelas guas devero ser aquelas onde os equipamentos urbanos e o poder pblico funcionam de forma mais precria, pois as enchentes no atingem e no afetam a todos da mesma maneira.

    Outro exemplo que se pode considerar de forma muito clara o da relao entre clima e rentabilidade das culturas agrcolas. Suponhamos um ano atpico, irregular (ou de padro excepcional), em que o regime pluviomtrico no tivesse atendido as expectativas dos produtores rurais, em funo das necessidades fenolgicas de uma dada cultura.

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    Imagine-se, ainda, que este fato tivesse tido uma dimenso espacial ao nvel regional. Analisando-

    se este evento apenas atravs da perspectiva climtica, como se tem feito no mbito da Climatologia

    Geogrfi ca, utilizando-se da anlise rtmica, poderamos facilmente identifi car os sistemas atmosfricos atuantes e, associando-os ao balano hdrico e ao calendrio agrcola, teramos uma explicao muito concreta do porque desta irregularidade.

    Alm disto, com os dados de produo e rea de uma cultura obteramos a sua rentabilidade e demons-traramos a relao entre a provvel diminuio da rentabilidade em funo dos padres pluviomtricos deste evento. Entretanto, estes procedimentos no permitem que se consiga compreender as dimenses sociais, polticas e econmicas envolvidas neste processo, pois no se incorporam nesta anlise estas perspectivas que so eminentemente geogrfi cas.

    H que se levar em considerao, portanto, que determinadas polticas pblicas para o setor da agri-cultura, privilegiam o grande agricultor que, capitalizado, tem capacidade de obter e se utilizar o aparato tecnolgico (sementes selecionadas; perodo menor de ciclo vegetativo da cultura, diminuindo, assim, a possibilidade de risco; irrigao, controle de pragas, etc.).

    Desta forma, numa mesma regio, um evento climtico irregular pode ser extremamente prejudicial ao pequeno agricultor, descapitalizado, destecnifi cado e sem potencial cooperativo, porm, no atingir com a mesma magnitude os grandes complexos agroindustriais.

    Num estudo sobre as relaes entre chuva e soja no estado do Paran, SantAnna Neto e Almeida (2005) demonstraram que em reas inseridas num contexto de forte modernizao da agricultura, esta relao de dependncia inferior a 50%, enquanto em reas tradicionais, a dependncia da rentabilidade da soja com relao s precipitaes pluviomtricas superior a 70%.

    Retomando a questo colocada anteriormente a respeito do trip que sustenta a anlise geogrfi ca do clima, ou seja, o ritmo climtico, a ao antrpica e o impacto ambiental e contextualizando-a na perspectiva de um mundo cada vez mais globalizado (e mundializado), torna-se fundamental que se estabelea uma reviso conceitual sobre esta relao clima sociedade. A produo do conhecimento sobre os fenmenos atmosfricos no pode ser encarada como um fi m em si mesmo.

    O clima, tratado como insumo no processo de apropriao e de produo da natureza, assume um papel variado na medida em que as diferentes sociedades (e dentro delas, os distintos grupos sociais) se encontram em momentos diferentes em relao ao processo de globalizao e de mundializao (fragmen-tao do territrio) e que, num mesmo territrio uma sociedade desigual, estruturada em classes sociais, no dispe (ou sua lgica assim no o permite) dos mesmos meios para lidar com a ao dos fenmenos atmosfricos, de forma a minimizar ou otimizar os seus efeitos para todos os segmentos sociais.

    Se em alguns territrios o clima ainda exerce papel determinante, em funo do estgio do aparato tecnolgico e do desenvolvimento econmico, em outros, a sofi sticada tecnifi cao e as relaes de produo altamente modernas minimizam os efeitos adversos da dinmica climtica sobre seus dom-nios. Assim, esta relao clima - sociedade, no mais se d na dimenso do homem enquanto espcie, ou indivduo, mas sim, no contexto do homem como ser social, inserido numa sociedade de classes e pertencente a um dado meio tcnico e cientfi co.

    Mais do que desvendar os processos dinmicos e as estruturas temporais e espaciais do clima que so importantes, como parte do procedimento metodolgico para o gegrafo, o que realmente deveria importar o signifi cado deste processo inserido nas dimenses socioeconmica e socioambiental. No

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    basta, como se tem realizado correntemente, identifi car os sistemas produtores do tempo e, em anlises episdicas, explicar como, onde e por que ocorreram, por exemplo, alagamentos e inundaes num determinado espao urbano.

    Na verdade, isto que em geral tem sido produzido pela Climatologia Geogrfi ca ainda privilegia os mecanismos fsicos do tempo e do clima. Indagar, compreender e explicar como e em quais circunstncias o territrio foi (e tem sido) produzido e como esta ao afeta de forma diferenciada os diversos agentes sociais, torna-se imprescindvel para uma anlise geogrfi ca do clima a Geografi a do Clima.

    PROCEDIMENTOSPara melhor elucidao dos objetivos e estratgias de investigao da proposta demonstramos no

    quadro 1 a seguir, as abordagens clssicas e aquelas que propomos:

    Quadro 1. Abordagens do clima

    Estas abordagens prendem-se aos nveis escalares adequados anlise do clima, do global ao local, combinando gneses e processos articulados aos diversos graus de intensidade estimulados pelas relaes entre o clima e as transformaes histricas dos territrios. O quadro 2 a seguir demonstra esta articulao.

    Como a manifestao do clima se d na dimenso dos episdios concretos, os eventos extremos, ou excepcionais, assumem destacada importncia na anlise, uma vez que estes episdios so os que em realidade, repercutem no espao/territrio, provocando desarranjos em seu interior. Considerando que tm sido tratados como desastres climticos, assumimos a proposta de Bryant (2001), que estabelece nveis de intensidade dos eventos extremos, em funo de diversos parmetros de avaliao.

    EXEMPLO DE ESTUDO DE CLIMA URBANO ASSOCIADO A SADEComo seria extremamente extenso apresentar todas as propostas de trabalho envolvidas nesta proposta,

    apresentaremos um exemplo do tratamento metodolgico e dos procedimentos tericos que vislumbramos numa perspectiva da Geografi a do Clima.

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    Como afi rmamos anteriormente, a incorporao da esfera socioeconmica na abordagem do clima exigir uma anlise dos fatores e processos envolvidos na dimenso do espao geogrfi co, entendido como uma totalidade (SANTOS, 1985), que para efeito de anlise, permite alguma fragmentao de seus elementos constituintes.

    Cada tema especfi co de interrelao entre o clima e os demais elementos do espao, exige a incor-porao de um conjunto de atributos necessrios sua compreenso.

    Quadro 2. Articulao da escalas geogrfi cas do clima

    Fonte: SantAnna Neto, 2003.

    No caso do clima urbano, uma das perspectivas possveis para entend-lo como fenmeno que interessa a Geografi a, poderia ser a infl uncia que determinados elementos meteorolgicos exercem na qualidade de vida (coletiva) e no conforto (individual) dos diversos segmentos sociais.

    No mundo tropical, como o caso do territrio paulista, os episdios extremos ou excepcionais que mais afetam o cotidiano da sociedade urbana so a qualidade do ar, as variaes de temperatura (ondas de frio ou de calor) e os impactos metericos, como vendavais, chuvas intensas e seca prolongada.

    Uma das manifestaes mais problemticas destes elementos meteorolgicos so as ondas de frio em perodos secos de inverno. Nestas ocasies, a queda de temperatura e a secura do ar provocam variaes orgnicas no aparelho respiratrio dos indivduos. Dependendo das condies de habitao e de sade da pessoa, estas condies meteorolgicas adversas podem potencializar casos de enfermidades e morbidades.

    Assim, as caractersticas dos elementos do clima e a variao rtmica dos tipos de tempo podem ser consideradas como fatores inerentes qualidade de vida. Associados s condies sociais e s polticas pblicas no setor da sade, podem oferecer um excelente instrumento de gesto e de mitigao ao que denominamos de Geografi a da Sade.

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    Confaloniere (2003) sugere que no contexto da vulnerabilidade socioambiental, estes trs conjuntos

    de fatores so essenciais para dar conta da compreenso dos problemas de agravos (fi gura 1 )Uma abordagem da Geografi a do Clima consideraria a anlise das condies climticas, atravs do

    reconhecimento da gnese dos tipos de tempo causadores de eventos extremos como, por exemplo, as temperaturas de inverno, num episdio de julho (fi gura 2).

    Observa-se no mapa de distribuio das temperaturas mnimas (no caso, trata-se da rea urbana de Presidente Prudente, em julho de 2006) que as reas mais frias, localizam-se nas pores leste e oeste da cidade. Nestas reas encontram-se os maiores bolses de pobreza, caracterizadas por habitaes precrias de populao de baixa renda.

    Figura 1. Modelo esquemtico da vulnerabilidade

    Fonte: Confaloniere, 2003

    Numa noite fria, uma famlia de baixa renda, sem o vesturio adequado e subalimentada, torna-se potencialmente vulnervel aos casos de doenas respiratrias. Menos provida de defesas aos agentes causadores das enfermidades, esta populao est mais suscetvel a contrair doenas e menos apta a sair mais rapidamente deste quadro de agravo.

    A maior parte das unidades habitacionais formada por residncias com telhado de fi bras de concreto (do tipo eternit) e por meias paredes de blocos cermicos. Ambos os materiais no so isolantes trmicos, o que propicia o intenso ingresso de ar frio para o interior da moradia

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    Figura 2. Estrutura da temperatura intra-urbana de Presidente Prudente

    Fonte: Amorim, M. e SantAnna Neto, J.L., 2007.

    Figura 3. Mapa da excluso social de Presidente Prudente

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    Figura 4. Mapa do local de residncia das internaes por doenas respiratrias

    Verifi cando o mapa da excluso social de Presidente Prudente (Figura 3), verifi ca-se mais claramente a localizao dos setores menos favorecidos da sociedade local e no mapa seguinte (Figura 4) a loca-lizao da rea de residncia das pessoas internadas por doenas respiratrias. Combinando estes trs elementos (clima, excluso social e casos de internao), temos um riqussimo material de pesquisa para a compreenso das relaes entre clima e sade, na perspectiva da anlise geogrfi ca. Se acrescentarmos ainda o entendimento do processo de urbanizao (especulao imobiliria, agentes produtores do espao urbano, poltica de habitao, etc.) e as polticas pblicas voltadas para o setor da sade, atravs da pre-veno, da assistncia e das campanhas, pode-se avaliar esta articulao de elementos do espao, numa perspectiva que permite a compreenso da realidade, escancarando a situao de desigualdade social. Assim, o clima nesta trade torna-se, tambm, mais um agente de excluso e de segregao. No em sua essncia (como contedo permanente do espao), mas em sua forma (enquanto manifestao episdica).

    Nesta perspectiva, a anlise do clima comparece como eminentemente geogrfi ca, medida que dialoga com as demais esferas do conhecimento da Geografi a, permitindo uma abordagem particular e comprometida com os seus mtodos.

    CONSIDERAES FINAISPara fi nalizar, na perspectiva do desenvolvimento da cincia geogrfi ca, fundamental que se busque

    uma nova concepo de clima com relao produo do espao (e de sua territorializao), de forma

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    mais comprometida e socialmente mais justa, que permita um novo conhecimento, pois a nova razo

    para este novo conhecimento, no sentido de uma Geografi a do Clima, j est colocada.

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    Recebido em abril de 2008Aceito em agosto de 2008