da escola pÚblica paranaense 2009 - … · nome era tirtamos, que o apelidou de teofrasto foi...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
LINEI JUKOSKI FONTANA
ATIVIDADES DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
ETNOBOTÂNICA: O CONHECIMENTO POPULAR ALIADO AO ENSINO DE CIÊNCIAS
NOVA CANTU 2010
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
LINEI JUKOSKI FONTANA
ETNOBOTÂNICA: O CONHECIMENTO POPULAR ALIADO AO ENSINO DE CIÊNCIAS
Atividades de Intervenção Pedagógica a serem desenvolvidas no Colégio Estadual Professor João Farias da Costa. Ensino Fundamental e Médio, do município de Nova Cantu, apresentado a Coordenação do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná em convênio com a Universidade Estadual de Maringá. Sob orientação da Profª Drª. Marli Aparecida Defani.
NOVA CANTU 2010
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................... 04
ATIVIDADE 1: Questionário para levantamento etnobotânico............ 06
ATIVIDADE 2: Cronologia histórica das plantas medicinais – Mapa
conceitual...................................................................................................
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ATIVIDADE 3: Organografia Botânica – Mapa Conceitual..................... 12
ATIVIDADE 4: Identificação alguns tipos de folhas das plantas
medicinais...................................................................................................
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ATIVIDADE 5: Coleta de plantas medicinais no ambiente natural
para confecção da exsicata......................................................................
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ATIVIDADE 6: Construção da horta medicinal....................................... 18
ATIVIDADE 7: Confecção da cartilha e apresentação do trabalho
para a comunidade....................................................................................
19
REFERÊNCIAS........................................................................................... 21
ANEXOS...................................................................................................... 22
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INTRODUÇÃO
O estudo da Etnobotânica contribui de forma positiva em diversos aspectos
dentro da disciplina de Ciências. Utilizar-se da Etnobotânica como uma
ferramenta didática para desenvolver o conteúdo de Botânica na 6ª Série é uma
alternativa viável, pois a mesma fornece, tanto para educadores como para
alunos, a possibilidade de compreender os conhecimentos científicos modernos
através de saberes e práticas tradicionais. A Botânica faz parte do cotidiano, tanto
de forma direta na alimentação, quanto indireta como no uso de um fármaco
produzido a partir de um vegetal, mesmo assim muitas vezes nos deparamos com
certo distanciamento entre o que se ensina na sala de aula sobre Botânica e sua
aplicação no cotidiano. As atividades propostas têm como objetivo tornar o
conteúdo de Botânica mais interessante através da utilização dos saberes
acumulados por diferentes povos através dos tempos. Pois, resgatar os
conhecimentos que a comunidade possuí sobre as plantas medicinais é uma
forma de proporcionar aos alunos uma aprendizagem dos conceitos de Botânica
de uma forma dinâmica e interativa.
Lorenzi e Matos (2008), colocam que o emprego de plantas medicinais na
recuperação da saúde tem evoluído ao longo dos tempos desde as formas mais
simples de tratamento local, provavelmente utilizadas pelo homem das cavernas,
até as formas tecnologicamente sofisticadas da fabricação industrial utilizada pelo
homem moderno. Todo o conhecimento foi passado oralmente ao longo das
gerações, que juntamente com mitos e rituais, foram constituindo partes
importantes de culturas locais. A própria história da botânica se mistura com a
busca de plantas com efeitos curativos. Não é fácil separar as primeiras obras
essencialmente botânicas ou essencialmente medicinais, já que os interesses se
mesclavam em tempos remotos. O que se sabe é que ao longo dos tempos a
busca por novas plantas medicinais acabou levando à descobertas botânicas e
vice-versa.
Conhecer a herança indígena, africana e européia é muito importante, pois
todo conhecimento que temos hoje sistematizado sobre plantas medicinais partiu
primeiramente do senso comum. Lembramos ainda que no Brasil grande parte de
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nossa herança sobre uso das plantas medicinais deve-se aos indígenas, africanos
e europeus.
Serão desenvolvidas as seguintes atividades: aplicação de questionário
para levantamento Etnobotânico; construção de mapa conceitual em ordem
cronológica com a história da utilização das plantas por diversas culturas;
construção de um mapa de conceitos com noções de Botânica identificando
conceitos como (criptógamas, fanerógamas, gimnospermas, angiospermas, entre
outros); coleta de plantas medicinais nas casas dos alunos para confecção da
exsicata; pesquisa das plantas medicinais mais citadas no questionário de
levantamento etnobotânico; realização de uma prática com coleta de vários tipos
de folhas para classificação e identificação das plantas medicinais, construção de
uma horta medicinal na escola e finalmente confecção de uma cartilha com dados
de todas as atividades desenvolvidas.
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ATIVIDADE 1
QUESTIONÁRIO PARA LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO O questionário será entregue ao aluno, para que o mesmo leve para casa e
realize a entrevista com sua família. Este questionário tem como objetivo realizar
o levantamento Etnobotânico local, e descobrir quais plantas medicinais as
pessoas mais utilizam, para que utilizam e com quem adquiriram este
conhecimento.
Esse questionário é do tipo chek list que de acordo com Ming (2005), é um
tipo de entrevista em que as perguntas já estão contidas em uma lista. Um
aspecto positivo desse tipo de entrevista é que durante esta coleta de dados, os
alunos têm um maior contato com as pessoas da comunidade o que se constitui
numa experiência diferenciada de aprendizagem. O questionário é composto por
10 questões, enfocando o uso das plantas em sua residência e por ultimo uma
questão com uma lista de plantas para que os alunos identifiquem e respondam
para que utiliza a planta, com quem aprendeu a fazer a uso dessa planta, partes
da planta que utiliza e ainda sua forma de uso.
O fato do nome das plantas já estar listado pode conduzir a erros, pois a
mesma planta pode ter diferentes nomes populares, ou plantas diferentes
apresentarem o mesmo nome popular. Porém esta é uma forma de delimitar as
plantas mais conhecidas na região. Após a realização do questionário faremos
uma seleção juntamente com os alunos das plantas mais citadas, para desta
forma poder analisar se plantas diferentes possuem o mesmo nome popular.
Esta seleção das plantas mais citadas no questionário nos dará suporte
para a realização das atividades subseqüentes. O modelo do questionário está
em anexo.
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ATIVIDADE 2
CRONOLOGIA HISTÓRICA DAS PLANTAS MEDICINAIS
Os estudos revelam que o homem desde a pré-história já fazia uso das
plantas para cura de seus males. Então, uma forma de auxiliar o aluno a
compreender esse processo histórico evolutivo é através da confecção de mapas
de conceitos. Utilizamos essa estratégia porque a mesma possibilita ao aluno
realizar uma interligação do processo histórico e relacionar toda cronologia
histórica das plantas medicinais desde o período Paleolítico Inferior com as
pinturas rupestres até os dias atuais, abordando principalmente no Brasil a cultura
indígena e africana. Após a construção desse mapa de conceitos serão
trabalhados textos informativos com os dados que herdamos da cultura indígena,
africana e européia quanto ao uso de plantas medicinais. Nesta atividade também
será realizada uma pesquisa bibliográfica sobre as plantas medicinais na história
humana e sobre a história das plantas medicinais no Brasil. Com a construção
deste mapa de conceitos será considerado principalmente os conhecimentos do
senso comum, os religiosos, entre outros, que constantemente estão presentes
no cotidiano escolar, pois a escola é um ambiente que incorpora vários tipos de
cultura.
Esta é uma forma de atendermos a Lei 11.645/08 que estabelece a
obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena" nas
escolas. A Lei Nº 11.645, de 10 Março de 2008 altera a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003,
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo
oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena". Desde as comunidades mais primitivas até o homem
moderno, a utilização das plantas aparece como forte elemento cultural, a história
desses povos pode ser recontada a partir dos registros da utilização dessas
plantas. Atendendo assim a Lei acima citada no que se refere à inclusão dos
diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da
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população brasileira, a partir dos grupos étnicos, resgatando as suas
contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do
Brasil.
Para sistematização completa dessa atividade será realizado um debate
com os alunos de um texto sobre a relação histórica dos povos africanos,
indígenas e europeus com as plantas medicinais.
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CRONOLOGIA HISTÓRICO DAS PLANTAS MEDICINAIS
PLANTAS MEDICINAIS
Paleolítico
Inferior
Pinturas Rupestres
Escritos dos caldeus, egípcios e nas
sagradas escrituras
Os caldeus, já se empregavam plantas para combater males com base em estudos astrológicos.
China é o País com mais longa tradição no
uso de plantas
medicinais
Os documentos mais antigos que se referem às propriedades medicinais das plantas é um tratado médico datado de 3.700 a.C, da China, escrito por Shen Wung. (Cho-Chin-Kei).
Egípcios 1.500.a.C, deixaram papiros
preciosos
Utilizavam ervas medicinais na medicina, cosmética, culinária e em suas técnicas de embalsamento. A arte de embalsamar cadáveres foi desenvolvida pelos antigos egípcios, evitando que estes entrassem em estado de putrefação. Os egípcios reverenciavam as propriedades do Aloés e o designavam como "Planta da Imortalidade". Isso acontecia talvez, porque era utilizada nos processos de embalsamento, assim como pela sua importância nos rituais funerários dos Faraós e pela utilização por parte das rainhas Nefertiti e Cleópatra.
A Índia foi considerada por alguns autores
como o Eldorado dos Medicamentos Ativos.
Segundo referências na Bíblia, a oliveira já existia quando Adão e Eva foram criados. A Bíblia diz-nos também que quando Noé enviou uma pomba branca para saber se as águas do dilúvio já tinham baixado, a pomba regressou com um ramo de oliveira. E foi assim que Noé incluiu esta árvore entre as quatro primeiras plantações que efetuou: a oliveira, a figueira, a vinha e o trigo.
Dentre as plantas mais utilizadas pelos Egípcios, é indispensável citar o zimbro, as coloquíntidas, a romãzeira, a semente do linho, o funcho, o bordo, o cardamomo, o cominho, o alho, a folha de sene, o lírio e o rícino. No antigo Egito, o tomilho era utilizado como medicamento e também no embalsamento das múmias.
Surgimento do fogo
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Mesopotâmia os
Sumérios.
De acordo com os registros foram os primeiros a plantarem erva-doce, beldroega e alcaçuz.
Hipócrates – Considerado o Pai da Medicina, nascido na
Grécia por volta de 460 a.C. Possuía princípios
éticos que até hoje servem de juramento
para os médicos.
Ele considerava como na homeopatia moderna, que se deveria tratar a doença e não o doente. A dieta, os hábitos do corpo e da mente eram sempre baseados em ervas e em princípios filosóficos. Alguns de seus ensinamentos são utilizados nos dias de hoje.
Foi em sua época que surgiu a Doutrina das assinaturas, já pesquisadas pelos chineses. Ela pregava que havia uma ligação entre a forma e a cor das flores com a doença ser tratada. Assim, as flores amarelas da calêndula e do dente-de-leão seriam usadas para curar hepatite; os frutos e as flores vermelhas, para os males da circulação, e as raízes retorcidas e cheias de nós das figueiras seria o remédio ideal para as varizes.
Teofrasto é considerado o Pai da Botânica.
(382 a.C a 287 a.C)
Possuía um dos maiores jardins gregos, foi discípulo de Aristóteles de Platão. Escreveu uma história das plantas onde descreve 450
tipos de árvores, flores e ervas em geral.
Consta que seu verdadeiro nome era Tirtamos, que o apelidou de Teofrasto foi Aristóteles.
Com o apogeu do Império Romano, o
saber deslocou-se para Roma e é lá que se vão
encontrar os dois maiores herbolários da Era Cristã. Dioscórides
e Galeno
Dioscórides foi médico de Nero. Viajou por todo o Mediterrâneo, colecionando centenas de tipos de plantas. No início da era cristã, Dioscórides inventariou no seu tratado De Materia Medica mais de 500 drogas de origem vegetal, mineral ou animal; à semelhança dos seus predecessores, esforçou-se por ter em conta o maravilhoso e separar o racional do irracional.
Galeno era grego foi médico do Imperador Marco Aurélio. Fisiologista descobriu que a urina é secretada pelos rins, sendo considerado o Pai da Fisiologia. Efetivamente, distingue-se o emprego das plantas em que solventes como o álcool, a água ou o vinagre servem para concentrar os componentes ativos da droga, os quais serão utilizados para preparar ungüentos, emplastros e outras formas galênicas.
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Na Idade Média os mosteiros tornaram-se centros importantes de estudo. Os livros e manuscritos existentes foram todos recolhidos pelos monges, que se apoderaram do saber antigo e foram detentores do saber da antiguidade. Ao redor das Igrejas, mosteiros e conventos foram cultivadas ervas utilizadas como alimentos, bebidas e medicamentos. Muitos destes herbários ainda existem e são conservados até hoje na Europa, principalmente na Inglaterra. Ainda atualmente se conserva a memória de Santa Hildegarda, a “santa curandeira”, cujos tratados, conhecidos pelo nome de Physica, além de resumirem os conhecimentos antigos, trazem à luz, pela primeira vez, as virtudes de algumas plantas como a pilosela ou a arnica. No entanto, a medicina da Idade Média foi sobretudo dominada pela Escola de Salerno; os eruditos que ali trabalhavam deram a conhecer, por intermédio de sábios (Avicena, Avenzoar e Ibn-el-Beithar) e dos textos árabes, grande número de obras da medicina grega. Rogério de Salerno, no início do século XII, contribuiu para os consideráveis progressos da medicina do seu tempo.
Com o declínio do Império Romano e a desestruturação de sua sociedade pelas invasões bárbaras, a importância da medicina retornou ao Oriente, que teve em Avicena (980-1037) seu médico maior. Muito inteligente e estudioso, aprendia facilmente sem cessar medicina, filosofia, astronomia e outras disciplinas. Aos 17 anos já era mestre na arte de curar, tendo já sua fama se espalhado pelo mundo árabe. Usava lavanda, camomila e menta em seus preparos e ficou conhecido por mais de seis séculos como o “Príncipe dos Médicos”. As primeiras farmácias instaladas em Bagdá datam dessa época.
No Brasil o caminho das plantas medicinais está aliado ao bom senso, à ciência e ao folclore. Historicamente, quando os portugueses aqui chegaram, encontraram os índios que já faziam uso de várias plantas para cura de seus males. Mais tarde os escravos que adentravam nesta terra também passaram a fazer uso das plantas. Estudar as ervas brasileiras é estudá-la a sua dimensão com toda a sua variabilidade de clima e meio ambiente.
Foi, no entanto, no Renascimento, com a valorização da experimentação e da observação direta, com o surto das grandes viagens para as Índias e a América, que deu origem a um novo período de progresso no conhecimento das plantas e das suas virtudes. No início do século XVI, um suíço chamado Philliphus Aurelius Theophrastros, mais tarde conhecido somente como Paracelso. Viajou por toda a Europa á procura de plantas e minerais, mas principalmente ouvindo feiticeiros, curandeiros e parteiras. Tentou descobrir a “alma”, a “quinta-essência” dos vegetais, de onde irradiam as suas virtudes terapêuticas.
Cultura Indígena
Cultura afro-brasileira
Cultura Européia
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ATIVIDADE 3
CONSTRUÇÃO DE UM MAPA CONCEITUAL COM TERMOS DA BOTÂNICA
Esta atividade consiste em desenvolver com os alunos conceitos básicos de Botânica, fazendo uso das plantas
medicinais. Tem como objetivo o reconhecimento das semelhanças e das diferenças entre as plantas, procurando valorizar
aqui o conhecimento sistemático, tanto para identificar como para valorizar a importância das plantas em nosso planeta.
As plantas podem ser encontradas em diversos ambientes terrestres e aquáticos. Identificar os principais grupos não é
uma tarefa difícil, tem-se que “enxergar” as plantas de uma forma diferente, isto é despertar a capacidade de observação e
percepção com relação à diversidade de formas e cores que as plantas possuem. Durante a construção do mapa conceitual
será levado para sala de aula alguns exemplares de plantas para identificação e construção do mapa.
Com a construção do mapa conceitual espera-se que o aluno:
- Identifique os principais grupos de plantas (avasculares, vasculares, gimnospermas, angiospermas, criptógamas e
fanerógamas);
- Identifique as partes principais de uma planta como, raiz, caule e folhas;
- Compreenda ainda a importância da adubação e das características do solo favoráveis ao crescimento vegetal.
- Compreenda o processo de fotossíntese e o transporte da seiva bruta e elaborada;
Em sala de aula será selecionado, juntamente com os alunos as plantas que melhor representam todos os órgãos de
uma planta, para discussão das características observadas, possibilitando dessa forma a identificação da planta.
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ORGANOGRAFIA BOTÂNICA – MAPA CONCEITUAL
O reino vegetal
pode ser agrupado
em:
FANERÓGAMAS-(phanero, evidente): possuem as
estruturas produtoras de gametas bem visíveis, são
as plantas que possuem flores e sementes.
Briófitas: são avasculares isto é sem tecido de condução.
CRIPTÓGAMAS-(kripto, escondido): plantas que
possuem as estruturas produtoras de gametas
pouco evidentes são as plantas sem sementes.
Pteridófitas: são vasculares, isto é com tecido de condução, sem sementes e com raiz caule e folhas.
O sistema condutor das plantas vasculares consiste no:
Xilema: que conduz a seiva bruta (água e
sais).
Floema: conduz a seiva elaborada (açúcar da
fotossíntese)
Angiospermas: São vasculares com flor fruto e semente.
Gimnospermas: São vasculares e sem fruto.
ATIVIDADE 4
CONHECENDO A ORGANOGRAFIA DA FOLHA DE ALGUMAS PLANTAS
MEDICINAIS
Para uma identificação mais precisa é muito importante conhecer a
organografia das folhas das plantas medicinais, tendo em vista que as plantas
medicinais de uso popular são em sua maioria identificadas pelas folhas. A
organografia é a base para um estudo botânico, é uma forma de identificar
diversas famílias, gêneros e espécies de plantas. Esta atividade está elaborada
de forma bem simplificada, para que a organografia seja compreendida
facilmente.
Esta atividade consiste em coletar várias folhas de plantas medicinais
para realizar a classificação e identificação dos tipos de folhas, tendo em vista
que grande parte das plantas medicinais é identificada através das folhas.
Muitas vezes as pessoas confundem uma planta medicinal com outra,
principalmente quanto à forma da folha. Conhecer a morfologia das folhas é
importante também para identificar as espécies. De acordo com Moraes et al
(1992), a partir da observação dos numerosos e variados tipos de folhas de
uma região, podemos classificá-las quanto a características específicas, como
forma de nervuras, bordos e limbos.
Existem as folhas simples, onde o limbo não é dividido. E também as
folhas compostas, onde o limbo é formado por várias partículas chamadas de
folíolos. Esta atividade tem como objetivo diferenciar folhas simples e
compostas, identificar as diversas características das folhas bem como ampliar
o conhecimento da morfologia externa da folha, e suas adaptações,
nomenclatura e classificação foliar.
Para a realização da atividade num primeiro momento realiza-se uma
pesquisa básica sobre folhas realizando uma abordagem sobre a nomenclatura
foliar, como fundamentação teórica desta atividade nos baseamos em Vidal e
Vidal (2003), que apresenta da seguinte forma:
Definição e curiosidades sobre as folhas: a folha apresenta-se de forma
achatada para favorecer a exposição solar; a sua cor verde é devido à clorofila
que possibilita a fotossíntese ou elaboração de alimentos; a sua nervura
contém células especializadas para transporte da seiva, os seus “poros”
microscópicos, os estômatos permitem a circulação de ar e a eliminação de
vapor d’água.
Importância da folha: metabolismo da planta; purificação do ar; uso alimentar,
medicinal e industrial.
Funções da folha: fotossíntese (nutrição); respiração e transpiração; condução
e distribuição da seiva.
Origem da folha: a folha pode se originar da gêmula do embrião da semente
ou de forma exógena como expansões laterais dos caules.
Partes constituintes da folha: limbo- parte laminar e bilateral; pecíolo- haste
sustentadora do limbo; bainha ou estípulas- bainha é a parte basilar e alargada
da folha que abraça o caule, chama-se estípula cada um dos apêndices,
geralmente laminar e em número de dois, que se formam de cada lado da base
foliar.
Os alunos farão análise das seguintes características das folhas
baseadas na Organografia Botânica de Vidal e Vidal (2003):
- Quanto a Nomenclatura Foliar;
- Quanto ao estudo do limbo (faces, nervação, consistência e superfície);
- Quanto à forma do limbo;
- Quanto à forma do bordo do limbo;
- Quanto à base do limbo;
- Quanto ao ápice do limbo;
Ao final desta atividade será solicitado aos alunos que realizem um
desenho de cada tipo de folha analisado e suas características básicas.
Para complementar esta atividade será realizado uma observação
simples no microscópio óptico, de algumas folhas para o aluno verem os
cloroplastos, estômatos e parede celular para que fique devidamente
comprovado aos alunos que as folhas têm uma importante função na planta,
pois, realizam fotossíntese, respiração, transpiração, condução e distribuição
de seiva.
ATIVIDADE 5
COLETA DE PLANTAS MEDICINAIS NO AMBIENTE NATURAL PARA
CONFECÇÃO DA EXSICATA
Para esta atividade será realizada uma excursão monitorada, com o
objetivo de coletar as plantas medicinais mais citadas no questionário de
levantamento etnobotânico. As plantas coletadas serão levadas até a escola e
prensadas em folha de jornal, após a secagem serão fixadas em uma folha de
papel A4, e condicionadas em uma pasta catálogo. Após a montagem da
exsicata cada aluno ficará responsável pela pesquisa bibliográfica de uma
planta, abordando os seguintes dados:
a) Nome científico
b) Família
c) Origem
d) Nomes populares
e) Descrição da planta ou dados botânicos
f) Princípios ativos ou constituintes químicos
g) Usos na medicina popular
h) Formas de uso
i) Partes usadas
j) Toxicidade
k) Usos em rituais afro-brasileiro ou indígena
l) Curiosidades
Concluída a pesquisa cada aluno apresentará a mesma, em sala de
aula, entregando os dados da pesquisa para cada um de seus colegas, para
que todos conheçam cada planta e suas finalidades. Após esta apresentação
os dados serão acrescentados na pasta catálogo juntamente com a respectiva
planta, desta forma finalizando a confecção da exsicata. A importância desta
atividade é que cada aluno terá a sua própria exsicata.
O conhecimento popular sobre plantas medicinais é muito importante
para uma região, mas o conhecimento científico vem comprovar se realmente
aquele conhecimento popular é verídico. Isso é importante, pois, muitas
pessoas ingerem chás de plantas sem conhecerem seus princípios ativos, e
esse tipo de atitude, pode levar a uma intoxicação. Dentro desse contexto o
objetivo principal da exsicata é catalogar e identificar plantas medicinais
utilizadas pela população local, montando um acervo bibliográfico da flora
medicinal local, além disso, pela análise já realizada do questionário de
levantamento etnobotânico teremos dados também dos hábitos da população
quanto à utilização de plantas medicinais e verificação de qual planta
consomem com mais freqüência.
ATIVIDADE 6
CONSTRUÇÃO DA HORTA MEDICINAL NA ESCOLA
Para a realização desta atividade solicitamos a doação das mudas para
o plantio para a Itaipu Binacional que desenvolve o Programa Cultivando Água
Boa no Refúgio Ecológico Bela Vista, e desenvolve o cultivo de plantas
medicinais. Esta atividade tem como objetivo orientar e motivar os alunos como
cultivar sua própria horta medicinal. Cada muda plantada receberá uma placa
de identificação contendo: nome científico, família, nome popular e uso popular.
A intenção desta atividade é estimular a formação de cidadãos e cidadãs com
um maior comprometimento pela qualidade de vida e pelo desenvolvimento
sustentável.
A escola sendo um espaço privilegiado para a ocorrência de diferentes
culturas é um local ideal para a implantação de uma horta medicinal a
disposição de todos os alunos e professores, pois vem contribuir de forma
positiva para a melhoria na saúde e qualidade de vida dos integrantes da
escola, e também de seus familiares. Acreditamos que com o cultivo de plantas
medicinais básicas dentro do ambiente escolar, estaremos aproximando o
aluno da convivência e preservação da natureza, ou seja, contribuindo para
que o aluno busque uma forma sustentável de qualidade de vida para ele e
para a sociedade.
As plantas a serem cultivadas na horta escolar são: Alecrim, Arruda,
Artemísia, Babosa, Boldo, Calêndula, Camomila, Capim-limão, Carqueja,
Carqueja, Cavalinha, Chapeú-de-couro, Coentro, Confrei, Dente-de-Leão,
Erva-cidreira, Erva-doce, Espinheira-santa, Guaco, Guiné, Hortelã, Losna,
Macela, Manjerona, Melissa, Poejo, Tanchagem e outras.
ATIVIDADE 7
CONFECÇÃO DA CARTILHA E APRESENTAÇÃO DO TRABALHO PARA A
COMUNIDADE
A partir da pesquisa bibliográfica, dos dados coletados e das práticas
realizadas pelos alunos será confeccionada uma cartilha, os textos serão
redigidos em grupos e depois organizados da seguinte maneira:
1) Introdução: onde será esclarecido sobre o objetivo do trabalho e a
importância de se fazer um estudo etnobotânico em uma determinada
região e ainda sobre a importância de se resgatar os valores culturais
dos povos que fizeram a história de nosso país.
2) Plantas medicinais na história humana: este item é resultado da
construção do mapa conceitual da atividade 2.
3) A História da plantas medicinais no Brasil: síntese da atividade 2, onde
foram abordados os dados referentes à cultura indígena, africana e
européia e também realizados pesquisa bibliográfica referente a estas
culturas.
4) Visão etnobotânica: apresentação do objeto de estudo da etnobotânica
na visão de vários autores, a exploração do termo etnobotânica será
constantemente abordado em todos os momentos do desenvolvimento
desta proposta especificando a importância da etnobotânica na pesquisa
de plantas medicinais; a importância da etnobotânica da conservação
das plantas medicinais e dos conhecimentos populares; ética e direito de
propriedade intelectual na pesquisa etnobotânica e métodos de pesquisa
em etnobotânica.
5) Princípios ativos das plantas medicinais: dados que os alunos irão
buscar através da pesquisa bibliográfica, que é resultado do
desenvolvimento da atividade 5.
6) Morfologia botânica das plantas medicinais: aqui será apresentada uma
síntese da atividade 3.
7) Seleção das plantas medicinais locais: resultado do questionário de
levantamento etnobotânico e da pesquisa da atividade 5.
8) Ação das plantas medicinais no organismo humano: resultado da
pesquisa bibliográfica da atividade 5.
9) Toxicologia das plantas medicinais: este item é resultado da pesquisa da
atividade 5, o diferencial é que as plantas com princípios tóxicos graves
estarão dispostos por família. E as plantas consideradas medicinais
citadas com uma maior freqüência no questionário de levantamento
etnobotânico estarão dispostas em ordem alfabética pelo nome
científico.
10) Processos básicos utilizados para o preparo das plantas medicinais;
resultado da pesquisa bibliográfica realizada pelos alunos na atividade 4.
11) Glossário de termos botânicos.
12) Glossário de termos farmacológicos.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino de. Introdução a Etnobotânica. 2 ed. Rio de Janeiro: Interciência; 2005. ALMASSY Jr. Alexandre A., LOPES, Reginalda C., ARMOND, Cintia., SILVA, Franciele da. CASALI, Vicente W. D. Folhas de Chá: Plantas medicinais na terapêutica humana. Viçosa: Ed. UFV, 2005. ALMEIDA, Maria Zélia. Plantas Medicinais. 2. Ed. Salvador: EDUFBA, 2003. AMABIS, José Mariano e MARTHO, Gilberto Rodrigues. Biologia. 2. Ed. São Paulo: Moderna, 2004. BALMÉ. Françóis. Plantas Medicinais. São Paulo: Hemus, 2004. BARRACA, Sergio Antonio. Manejo e produção de plantas medicinais e aromáticas. Relatório de Estágio Supervisionado de Produção Vegetal. Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz. Universidade de São Paulo. Piracicaba, 1999. CAMARGO, Maria Thereza Lemos de arruda. Plantas Medicinais e de rituais afro-brasileiros II: estudo etnofarmacológico. São Paulo: Ícone; 1998. DI STASI, Luiz Claudio e HIRUMA-LIMA, Clélia Akiko. Plantas Medicinais na Amazônia e na Mata Atlântica. 2. Ed. rev. e ampl. São Paulo: UNESP, 2002. FURLAN, M. R. Cultivo de plantas medicinais. Coleção Agroindústria, v.13. SEBRAE. Cuiabá/MT. 1998. HALL, Nina. Neoquímica: a química moderna e suas aplicações. Porto Alegre: Bookman, 2004. LORENZI, Harri e MATOS, Francisco José de Abreu. Plantas Medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2. Ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2008. MING, Lin Chau. Plantas medicinais na Reserva Extrativista Chico Mendes (Acre): uma visão etnobotânica. São Paulo: Ed. UNESP, 2005 SANTOS, Fernando Santiago dos. As plantas brasileiras, os jesuítas e os indígenas do Brasil: história e ciência na Triaga Brasílica (séc. XVII-XVIII), Casa do Novo autor Editora. SP, 2009. VIDAL, Waldomiro Nunes e VIDAL, Maria Rosária Rodrigues. Botânica- organografia; quadros sinóticos ilustrados de fanerógamas. 4 ed.rev.ampl. Viçosa: UFV, 2003.
ANEXO 1
QUESTIONÁRIO PARA LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO
NOME: ____________________________________________
IDADE:_________________ SÉRIE:_____________________
ENDEREÇO: __________________________________________
NOME DO PAI: ________________________________________
NOME DA MÃE:_______________________________________
1) Quanto tempo reside em Nova Cantu?
2) O que você entende por planta medicinal?
3) Na sua casa você já fez uso de alguma planta medicinal?
( ) Sim ( ) Não
4) Você melhorou após ter feito uso da planta medicinal?
( ) Sim ( ) Não
5) Através de quem (ou como) aprendeu a usar plantas medicinais?
( ) pais; ( ) avós; ( ) vizinhos; ( ) televisão ( ) profissionais de
saúde; ( ) livros; ( ) rádio; ( ) Internet ( ) Outro. Qual?
_________
6) Utiliza mais de uma planta por vez?
( ) Sim ( ) Não
7) Porque utiliza as plantas medicinais como remédio?
( ) é mais barato ( ) não faz mal à saúde ( ) outro.
Qual?______
8) Quando precisa de alguma planta para fazer remédio, onde
consegue?
( ) no próprio quintal
( ) no quintal de vizinhos ou parentes
( ) no mato
( ) outro________________________
9) Você acharia válido que se criasse em sua escola uma horta para o
cultivo de plantas medicinais?
( ) Sim ( ) Não
10) Das plantas abaixo, assinale a que você e sua família conhecem e
para que utilizam?
PLANTA PARA QUE VOCÊ
UTILIZA
QUEM ENSINOU
VOCÊ E SUA FAMÍLIA
PARTE DA
PLANTA QUE
VOCÊ USA
DE QUE FORMA VOCÊ
USA
Abacateiro
Agrião
Alecrim
Alho
Arruda
Artemísia
Babosa
Boldo
Calêndula
Camomila
Capim Limão ou Capim Santo
Carqueja
Cavalinha
Chapéu de Couro
Confrei
Dente-de-leão
Erva Cidreira
Erva doce
Espinheira santa
Guaco
Guine
Hortelã
Losna
Manjericão
Maracujá
Mil folhas
Macela
Pata de vaca
Picão Preto
Poejo
Pinhão
Quebra-pedra
Tanchagem
Urucum
Coentro
Salsa
Goiabeira
Rubim
Manjerona
Guanxuma
Outra Planta
ANEXO 2
TEXTO COMPLEMENTAR
IMPORTÂNCIA DE CONHECER A ETNOBOTÂNICA
Têm-se hoje um grande acervo de informações sobre plantas medicinais
é porque as sociedades anteriores desenvolveram pesquisas e estudos. O uso
das plantas medicinais como forma de tratar determinado tipo de enfermidade
vem desde os primórdios e este costume foi se perpetuando até nossos dias.
Um dos fatores que contribui de forma positiva nas pesquisas das
plantas medicinais no Brasil é o conhecimento e estudo da etnobotânica, tendo
em vista que o Brasil é um país com grande miscigenação. Negros e europeus
trouxeram para o Brasil o seu conhecimento sobre plantas, o que se somou
aos dos indígenas que já estavam habitando esta terra maravilhosa.
O Brasil é um país com uma grande diversidade de plantas medicinais, e
muitos conhecimentos ainda para serem estudados e comprovados, acerca
dos usos populares e tradicionais das plantas. A utilização de plantas em
remédios caseiros é uma prática que deve ser incentivada, mas infelizmente o
que se observa é a preferência por remédios sintéticos. A facilidade na
utilização dos medicamentos sintéticos contribuiu para um progressivo
afastamento da natureza, principalmente os mais jovens, que por vezes não
tem interesse em aprender os saberes ancestrais dos usos das plantas
medicinais, que ficam restritos somente entre as pessoas com maior idade. A
etnobotânica vem contribuir na preservação destes saberes, fazem parte do
patrimônio cultural de um povo ou de uma comunidade.
Os trabalhos dos Botânicos contribuíram para o desenvolvimento da
etnobotânica, porque além de catalogar as espécies e classificar eles
registravam dados relacionados às culturas e costumes de seus habitantes e o
modo como faziam uso das plantas.
De acordo com Albuquerque (2005) e Ming (2006), o termo etnobotânica
foi formalmente designado em 1896, pelo botânico norte americano John W.
Harshberger, ele considerava que a etnobotânica podia auxiliar na elucidação
da posição cultural das tribos que usavam plantas para alimentação. Pela
definição e pela influência de Harshberger a etnobotânica, inicialmente foi
entendida como o uso das plantas por aborígenes, implicando de certa forma
nas pesquisas. Mas a partir de meados do século XX a etnobotânica passou a
ter novas interpretações, pelo engajamento de antropólogos na pesquisa. O
estudo se estendeu do campo dos povos primitivos para o das populações
tradicionais. Com essa ampliação e com a colaboração de outras ciências
relacionadas (ecologia, fitoquímica, lingüística, biologia, botânica) a
diversificação dos objetivos da etnobotânica se ampliou.
O conhecimento botânico desenvolvido por qualquer sociedade se
relaciona na maioria das vezes a mitos, contos, divindades, espíritos, danças e
ritos, ocorrendo uma relação entre o simbólico, o natural e o cultural.
Albuquerque (2005), coloca que é muito importante no campo da
pesquisa etnobotânica o pesquisador diferenciar o êmico do ético. O êmico é
interno, sendo produzido e contemplado dentro da própria cultura, já o ético é
o externo, ou seja, o ponto de vista do pesquisado ou do cientista.
O desenvolvimento da pesquisa etnobotânica requer alguns cuidados,
por exemplo, não investigar somente a finalidade de uso da planta medicinal,
mas também realizar uma pesquisa que envolva o lado místico e religioso
daquela cultura ou região com as plantas. Pois é muito importante saber como
o conhecimento chegou até determinada região, como começaram a fazer uso
dessa planta, de onde veio essa informação. É imprescindível o registro do
nome científico da planta e dos nomes populares, pois cada região determina
para uma mesma planta vários nomes populares. Neste aspecto uma mesma
espécie pode receber diversos nomes populares dependendo da região em
que se encontra.
Xolocotzi (1982), apud Ming (2006), definiu a etnobotânica como o
campo científico que estuda as inter-relações que se estabelecem entre o
homem e as plantas através do tempo em diferentes ambientes. Jain (1987),
apud Ming (2006), amplia o conceito colocando que a etnobotânica abrange
todos os aspectos da relação direta das plantas com o homem, sejam de
ordem concreta ou abstrata. O autor ainda acrescenta que a etnobotânica
mantém uma colaboração interdisciplinar, tese confirmada por Elisabetsky
(1986), que a relaciona com áreas como a paleontologia, antropologia,
etnotaxonomia, etnoecologia, etnofarmacologia, etnoagricultura, etnomedicina
e outras. Prance (1991), apud Ming (2006) também reforça esta
interdisciplinaridade com a participação de botânicos, antropólogos, ecólogos,
químicos, engenheiros florestais e agrônomos no progresso dos trabalhos da
botânica.
Na maioria das vezes os estudos e pesquisas dentro do campo da
etnobotânica, são realizados com pessoas mais idosas, pois sabemos que as
mesmas detêm maiores informações sobre o uso e aplicações das plantas
medicinais, mas é interessante também realizarmos pesquisas com pessoas
mais jovens, para despertar nelas o interesse e a curiosidade em aprender
sobre a importância de fazermos usos das plantas como fitoterápico.
Entrevistando pessoas jovens também é uma forma de saber o conhecimento
está sendo repassado de geração a geração.
Os estudos etnobotânicos vem contribuir de forma significativa para que
os conhecimentos sobre as plantas medicinais, da população local, regional e
nacional sejam compreendidos e também preservados. Também é sabido que
para se realizar um estudo etnobotânico não basta somente realizar uma
pesquisa de campo, é necessário que se realizem pesquisas bibliográficas
sobre vários aspectos, principalmente os históricos, antropológicos, botânicos,
ecológicos e outros.
Ming (2006) coloca que dois pontos, a coleta de espécies vegetais e
coleta das informações sobre as mesmas, devem ser realizados durante a
pesquisa etnobotânica. Durante a coleta da planta é importante identificar
dados como seu nome científico, seu local de origem e ainda influências
interculturais do nome popular. Não se deve esquecer que para pesquisar
informações sobre as espécies, deve-se estabelecer uma metodologia
adequada para o tipo de cultura que está sendo pesquisada, a metodologia
utilizada para a cultura indígena se diferencia da que será utilizada para
caboclos e comunidades rurais.
Para Albuquerque (2005) devemos considerar algumas propostas e
implicações que envolvem a pesquisa etnobotânica, entre elas:
- a descoberta de novas substâncias de origem vegetal com aplicações
médicas e industriais;
- o conhecimento de novas aplicações de algumas plantas já
conhecidas;
- análise dos efeitos das plantas medicinais, no comportamento
individual e coletivo dos usuários, frente a determinados estímulos culturais ou
ambientais;
- reconhecimento e preservação das plantas potencialmente importantes
em seus respectivos ecossistemas;
- conservação da diversidade biológica e cultural da região estudada.
Após ser realizado um levantamento etnobotânico em uma determinada
região, a pesquisa não pode se transformar somente num trabalho acadêmico
de arquivo, mas, que venha servir de acervo de conhecimento para
comunidade de onde saíram todas as informações. É muito importante que o
trabalho seja devolvido para comunidade de alguma forma, essa devolução
pode servir como uma forma de incentivo para ampliação do uso de plantas
medicinais bem como para compreensão e sua valorização.
ANEXO 4
TEXTO COMPLEMENTAR
INFLUÊNCIA INDÍGENA, AFRICANA E EUROPÉIA NO USO DAS PLANTAS
MEDICINAIS NO BRASIL
Os registros históricos revelam que em todos os povos e em todas as
épocas houve o uso de plantas para aliviar o sofrimento humano provocado
pelas doenças, entre as civilizações mais antigas, reconhecem-se graus de
distintos de avanço das práticas com plantas medicinais.
No Brasil a utilização de plantas medicinais para tratamento de doenças
recebeu forte influência da cultura indígena, africana e européia, aliando-se o
bom senso, a ciência e o folclore. O Brasil tem uma das mais ricas
biodiversidades do planeta com milhares de espécies vegetais em sua flora.
Possivelmente a utilização das plantas, não só como alimento, mas
como fonte terapêutica começou com os primeiros habitantes, com os
paleoíndios brasileiros da Amazônia, dos quais derivaram as principais tribos
indígenas do país. Pouco, no entanto se conhece sobre esse período, além das
pinturas rupestres.
A influência européia iniciou-se com a chegada dos primeiros jesuítas
que vieram com a finalidade de catequizar os índios, mas trouxeram também
em sua bagagem várias plantas medicinais como: Camomila, Funcho, Malva,
Alecrim, Bardana e Dente-de-leão. Justificando-se um grande número de
plantas medicinais serem de origem européia.
Para Santos (2009), a presença do europeu em nosso território, trouxe a
introdução gradual e constante de novas plantas, alheias da cultura indígena. O
europeu também se beneficiou das práticas com as plantas medicinais
realizadas pelos indígenas. Pois os índios brasileiros tinham à sua disposição
um vasto “arsenal” de ervas, raízes, cipós, cascas, sementes e outras
substâncias vegetais encontradas na floresta.
Mesmo os indígenas não tendo deixado escrito uma linha sequer sobre
o uso das plantas, sabe-se que os jesuítas holandeses e demais europeus que
no Brasil se instalaram se aproveitaram desse conhecimento. Alguns
historiadores acrescentam que foi o conhecimento que o indígena possuía
sobre as plantas nativas que despertou o interesse estrangeiro pelo Brasil. Um
exemplo disso é o caso da planta Ipecacuanha ou Poaia, que era usada pelos
índios brasileiros para provocar vômito essa planta foi exportada para a Europa
em enormes quantidades tornando-se rara já no século XVII.
O contato constante com os indígenas proporcionou aos jesuítas a
oportunidade de conhecerem com maior riqueza de detalhes as propriedades
terapêuticas das plantas brasileiras. Sem dúvida para os jesuítas também foi
um desafio, conviver com essa diversidade, tanto no aspecto da natureza como
no humano, tendo em vista que os indígenas possuíam uma cultura muito
diferente, na maioria das vezes oposta a dos europeus.
Quando os portugueses aqui chegaram, se depararam com os índios
que usavam urucum para pintar e proteger o corpo das picadas dos insetos e
também para tingir seus objetos de cerâmica. Entre 1560 a 1580, o padre José
de Anchieta diferenciou as plantas comestíveis das plantas medicinais. Das
plantas medicinais, especificamente ele falou de uma “erva boa”, a hortelã-
pimenta, que era utilizada pelos índios contra indigestões, para aliviar
nevralgias e para os reumatismos e as doenças nervosas. Exaltou também as
qualidades do ruibarbo do brejo, da ipecacuanha-preta, que servia como
purgativo, do bálsamo-da-copaíba usado para curar feridas e da cabreúva-
vermelha para asma e catarro.
Santos (2009) acrescenta que a utilização de plantas medicinais pelas
diversas etnias indígenas é anterior ao início da colonização. Os índios já
utilizavam as plantas medicinais, não só para cura de seus males, mas também
com uma visão mística, em que o pajé ou feiticeiro da tribo, fazia uso de
plantas alucinógenas, para sonhar com os espíritos.
De acordo com Camargo (1998), os indígenas influenciaram de forma
valorosa a cultura dos colonos portugueses que vinham para o Brasil. A
influência portuguesa deixou marcas nas práticas médicas no âmbito da
patologia, além da anatomia, alguns termos ainda são utilizados como “bofe”,”
bucho”, “tripa” em lugar de pulmão, estômago e intestino. Essas denominações
decorreram porque Portugal estudava anatomia em corpos de carneiros, visto
que no período da Inquisição não era permitido à dissecação de cadáveres
para estudo.
A colonização portuguesa e de outros povos europeus trouxe as plantas,
Erva-cidreira e Erva-doce, essas plantas se adaptaram mais na região Sul do
Brasil tendo em vista que o clima da região sul é semelhante ao europeu.
No Paraná a medicina tradicional indígena teve como base o uso de
ervas. O uso da erva-mate, inclusive originou-se de hábitos indígenas. Os
índios a usavam como estimulante para vencer o cansaço das longas
caminhadas pela floresta em busca de comida durante a caça e a pesca. Os
índios da tribo Kaingang, praticavam sangrias na testa, tratamentos a base de
ervas curativa e massagens antecedidas por cataplasma.
Até hoje as técnicas empregadas pelos índios no tratamento de doenças
são bastante variadas, não se sabe se os índios de outrora utilizavam os
mesmos procedimentos que são observados nas tribos atuais, ou se havia
outras técnicas. Junto ao uso das plantas medicinais, os indígenas brasileiros,
valem-se de cirurgias, sucções, sopros, fumigações, banhos de imersão e
jejum.
Lorenzi e Matos (2008) colocam que os escravos africanos deram sua
contribuição com o uso de plantas trazidas da áfrica, muitas delas utilizadas em
rituais religiosos, mas também utilizadas por suas propriedades farmacológicas
empiricamente descobertas.
De acordo com levantamentos etnobotânicos, verifica-se a forte
influência da herança cultural africana na medicina popular do Brasil,
principalmente no norte, nordeste e sudeste do Brasil. Para manter essa
herança africana em vários âmbitos sócio-culturais brasileiros, devem-se
resgatar os costumes desses povos.
O sistema etnofarmacológico africano associa rituais religiosos ao uso
de plantas medicinais. É nas religiões de origem africana que acontece a maior
incidência do uso de plantas medicinais, em alguns rituais as plantas
desempenham um duplo papel: sacral e terapêutico. Através dos negros
africanos incorporamos plantas como a arruda, guiné e jambolão. Entre os
negros quando alguém adoecia era porque estava possuído por um espírito
mau, e o curandeiro se encarregava, então de expulsá-lo por meio do
exorcismo e pelo uso de plantas. O guiné e o melão-de-são-caetano foram
trazidos pelos africanos com esse fim.
De acordo com Almeida (2003), após a abolição, o chamado refluxo
migratório de africanos e seus descendentes levaram para a áfrica: milho,
guiné, batata doce, fumo e algumas espécies de frutas. Espécies africanas
como a mamona, dendê, quiabo, inhames e jaqueira se adaptaram bem no
Brasil.
Os imigrantes chineses e japoneses no final do século XIX e início do
século XX, também trouxeram para o Brasil, em especial para o estado do São
Paulo algumas espécies de plantas como, por exemplo, o gengibre. Outras
plantas de origem oriental também foram trazidas pelos portugueses durante
suas navegações até a Ásia, como a Canela e o Cravo.
O uso das plantas medicinais com finalidade fitoterápica ficou restrito
entre os anos de 50 e 60, devido ao grande desenvolvimento da indústria
farmacêutica. Recentemente o uso de produtos naturais voltou a crescer, tendo
em vista que foi possível ter maiores comprovações científicas dos benefícios
do uso das plantas medicinais e também pelo custo benefício. O Brasil tem um
enorme potencial, neste campo, pois possuí uma das maiores biodiversidades
do planeta, então cabe aos laboratórios, as universidades investirem mais nas
pesquisas sobre as plantas medicinais. O Brasil pode crescer e construir um
conhecimento científico baseado nas propriedades terapêuticas de suas
plantas nativas, e não ficar atrelado a um modelo de desenvolvimento científico
exclusivamente internacional.
ANEXO 5
TEXTO COMPLEMENTAR
CURIOSIDADE SOBRE AS PLANTAS MEDICINAIS PARA SEREM EXPLORADAS EM SALA DE AULA
A Idade Média foi um período em que se perderam muitos
conhecimentos sobre o uso de plantas medicinais adquiridos por povos
precedentes. Conta-se que Joana d’Arc, foi acusada de atormentar os ingleses
pela força e virtude mágica de uma raiz de mandrágora escondida sob a
couraça. O alecrim (Rosmarinus oficinalis L.) tinha prestígio entre os bruxos
europeus, conforme relatos do Santo Ofício.
Um aspecto a ser observado com relação à contribuição portuguesa liga-
se ao uso de plantas que trazem os nomes das espécies conhecidas desde os
primórdios do cristianismo e, mesmo, de tempos que o antecederam. Tais
plantas são mirra, incenso e estoraque, empregadas hoje também em rituais
afro-brasileiros.
Hall (2004) apud Staunfon e Weissman, colocam que os curandeiros e
curandeiras primitivos preparavam estranhas poções a partir de plantas e
pequenos animais, pois antiga sabedoria dizia que ingerir esses líquidos
grosseiros aliviaria a dor e curaria a doença.
Em muitas partes do mundo, tem-se o hábito de se preparar bebidas
contendo princípios ativos de plantas com propriedades medicinais. O café e o
chá são exemplos típicos. O café contém cafeína e o chá teína, ambos
alcalóides com propriedades estimulantes do coração e do sistema nervoso
central. O cacau contém teobromina, alcalóide muito semelhante à cafeína e a
teína. A Coca-Cola, uma das bebidas mais conhecidas em todo o mundo,
originalmente era um medicamento da linha popular, que pretendia ser um
produto estimulante do sistema nervoso. Por acaso verificou-se que se
adicionando água gaseificada ao xarope produzia uma bebida agradável ao
paladar, surgindo o protótipo do famoso produto.
Das plantas medicinais, especificamente, Anchieta falou muito em uma
“erva boa”, a hortelã-pimenta, que era utilizada pelos índios contra indigestões,
para aliviar nevralgias e para o reumatismo e as doenças nervosas. Exaltou
também as qualidades do capim-rei, do ruibarbo do brejo, da ipecacuanha-
preta, que servia como purgativo, do bálsamo-da-copaíba, usado para curar
feridas e da cabriúva-vermelha. Outro fato que chamou atenção do missionário
foi a utilização dos timbós pelos índios, especialmente da espécie Erytrina
speciosa. O timbó, de acordo com o dicionário é uma designação genérica para
leguminosas e sapindáceas que induzem efeitos narcóticos nos peixes, e por
isso são usadas para pescar. Maceradas, são lançadas na água, e logo os
peixes começam a boiar, podendo facilmente ser apanhados com a mão.
Deixados na água, os peixes se recuperam, podendo ser comidos sem
inconveniente em outra ocasião.
Um pouco mais tarde, entre 1560 a 1580, o padre José de Anchieta
detalhou melhor as plantas comestíveis e medicinais do Brasil em suas cartas
ao Superior Geral da Companhia de Jesus. Descreveu em detalhes alimentos
como o feijão, o trigo, a cevada, o milho, o grão-de-bico, a lentilha, o cará, o
palmito e a mandioca, que era o principal alimento dos índios. Anchieta citou
também verduras como a taioba-rosa, a mostarda, a alface, a couve, falou das
furtas nativas como a banana, o marmelo, a uva, o citrus e o melão, e mostrou
a importância que os índios davam às pinhas das araucárias.
De acordo com Santos (2009), entre os índios, o pajé ou feiticeiro
utilizava plantas entorpecentes para sonhar com o espírito que lhe revelaria a
erva ou o modo de curar o enfermo e também pela observação de animais que
procuram certas plantas quando doentes. Um exemplo é o uso da raiz de
ipecacuanha, pelos animais, para alívio de cólicas e diarréias. Os pajés
associavam o uso de plantas a rituais de magia e seus tratamentos eram,
assim, transmitidos oralmente de uma geração a outra. Ficou famosa a Triaga
Brasílica, que aplicava em várias doenças, e cuja fórmula era mantida em
segredo pelos jesuítas. As triagas são receitas à base de plantas, animais e
outras substâncias como minerais, sais, óleos, etc. utilizadas como
medicamento desde a antiguidade. A Tríaga Brasílica pode ter sido realmente o
medicamento mais famoso no Brasil do século XVIII.
Para os africanos, quando alguém adoecia é porque estava possuído
pelo espírito mau e um curandeiro se encarregava de expulsá-lo por meio de
exorcismo e uso de plantas.
Os europeus viram uma flora exuberante e perceberam que os índios
sabiam fazer uso da mesma. Levaram tudo que podiam e trouxeram ervas
como a camomila, calêndula e alfazema, que se aclimataram muito bem. Essas
influências constituem a base da medicina popular que há algum tempo vem
sendo retomada pela medicina natural, visando não só a cura de algumas
doenças, mas restituir o homem à vida natural.
Os atributos do alecrim são importantes datam do século XVII e vêm da
Europa Central. Diz-se que a rainha Isabel da Hungria, septuagenária e
depauperada pela doença, recuperou a saúde e rejuvenesceu graças ao
alecrim. A receita da água da juventude água da rainha da Hungria, que ela
própria preparava, está ao alcance de todos, pois para obter basta juntar e
misturar os alcoolatos de alfazema, alecrim e poejo. Com base na bibliografia
especializada consultada, não foi possível encontrar elementos que justifiquem
o uso do alecrim tal como é apresentado pela medicina popular. Porém esse
fato justifica maior aprofundamento na pesquisa científica para melhores
esclarecimentos.
Não é fácil determinar quando surgiu a fama da arruda (Ruta
graveolens) como erva protetora. O que se sabe é que em culturas muito
antigas, são encontradas referências sobre seus poderes contra as "más
vibrações" e seu uso na magia e religião. Na Grécia antiga, ela era usada para
tratar diversas enfermidades, mas seu ponto forte era mesmo contra as forças
do mal. Já as experientes mulheres romanas costumavam andar pelas ruas
sempre carregando um ramo de arruda na mão - diziam que era para se
defenderem contra doenças contagiosas mas, principalmente, para afastar
todos os males que iam além do corpo físico (e aí se incluíam as feitiçarias,
mau-olhado, sortilégios, etc.).Na Idade Média época em que se acreditava que
as bruxas só poderiam ser destruídas com grandes poderes como o do fogo a
arruda reafirmou sua fama, pois seus ramos eram usados como proteção
contra as feiticeiras e, ainda, serviam para aspergir água benta nos fiéis em
missas solenes.William Shakespeare, na obra Hamlet, se refere à arruda como
sendo "a erva sagrada dos domingos". Dizem que ela passou a ser chamada
assim, porque nos rituais de exorcismo, realizados aos domingos, costumava-
se fazer um preparado à base de vinho e arruda que era ingerido pelos
"possessos" antes de serem exorcizados pelos padres.
De acordo com Lorenzi e Matos (2008, p.105), a Babosa é uma das
plantas de uso tradicional mais antigo que se conhece, inclusive pelos judeus
que costumavam envolver os mortos em lençol embebido no sumo de aloé,
para retardar a putrefação e extrato de mirra, para encobrir o cheiro da morte,
como ocorreu com Jesus Cristo ao ser retirado da cruz. Personagens
importantes na história, como Cleópatra e Alexandre o Grande, faziam muito
uso da Babosa.
A ação emenagoga da Camomila foi descoberta empiricamente por
Dioscórides na Grécia antiga e comprovada cientificamente 2.000 anos mais
tarde. Diz-se que a camomila dá muita sorte e ajuda a atrair dinheiro, pó isso,
em tempos remotos, os jogadores costumavam lavar suas mãos com chá de
camomila antes de jogos importantes.
O nome Carqueja foi atribuído pelos primeiros colonos portugueses, que
assim denominaram diversas espécies de Baccharis. São plantas que crescem
abundantemente em pastos, nas encostas inclinadas e nos barrancos úmidos,
sem consideradas invasoras de pastagens. O primeiro registro de uso no País
data de 1931, informando o emprego da infusão para tratamento da
esterilidade feminina e da impotência masculina. Na Argentina a população
rural credita-lhe a capacidade de combater a impotência masculina e a
esterilidade feminina. Outra crença diz que a infusão dessa planta faz as
cabras conceberem mais rapidamente.
A Cavalinha é uma das plantas mais antigas do planeta, ela é mais
antiga ainda que as baratas, que surgiram na Terra há 300 milhões de anos.
Esta planta data do período Paleozóico, quando existiam bosques inteiros de
cavalinhas gigantes, medindo até 10 metros de altura por 2 metros de
diâmetro.
Em 1500 a.C a Erva-doce já era usada em alimentos e bebidas, além de
ser aproveitada por suas propriedades medicinais. Os romanos usavam no
preparo de um bolo que era servido ao final dos banquetes. Na Antiguidade,
esta erva era tão valiosa, que a Inglaterra pagava impostos sobre a sua
importação. Os faraós tinham um apego muito grande por suas sementes, e as
carregavam para seus sarcófagos. Já os romanos em seus bacanais usavam
o hidromel, que é uma mistura de água e mel fermentado onde era
aromatizado com a Erva-doce.
Conta-se que no Peru que quando certas aves são picadas por cobra,
alimentam-se das folhas de Guaco para contrabalançar a ação do veneno. Não
por acaso, no Brasil, um dos nomes populares da planta é erva-das-serpentes.
Segundo a mitologia grega, a ninfa Menthe, filha do deus rio, foi
responsável pela criação da Hortelã. Diz que Menthe era amada por Plutão, e
isso enfureceu Perséfone, esposa de Plutão. A ira de Perséfone transformou a
adorável Menthe numa planta condenada a se rastejar por todos os tempos.
Apresentamos abaixo alguns dados históricos sobre as plantas em
várias partes do mundo:
Oriente
Médio
Tratado médico escrito por Shen Wung, imperador sábio que fazia
experiências com plantas, nele estava escrito que para cada enfermidade
havia uma planta. Conforme a lenda, ele podia observar os efeitos de seus
preparados no organismo por ter o abdômen transparente.
Egito Utilizavam ervas aromáticas na medicina, cosmética, culinária e também no
embalsamento. Deixaram papiros preciosos que foram descobertos por
George Ebers.
Mesopotâmia Na Mesopotâmia os sumerianos foram os primeiros agricultores da
humanidade, possuíam muitas receitas preciosas. Costumavam guardar tudo
na memória e só transmitidos aos seus substitutos na velhice. Em seus
escritos fazem referência a erva-doce, beldroega e alcaçuz.
Grécia Na Grécia nasceu o Pai da Medicina por volta do ano 460 a.C. Ele pregava
que havia uma ligação entre a forma e a cor das flores com a doença a ser
tratada. Assim, as flores amarelas da calêndula e do dente-de-leão seriam
usadas para curar hepatite; os frutos e flores vermelhas, para os males da
circulação, e as raízes retorcidas e cheias de nós das figueiras seriam
remédio ideal para as varizes.
Roma Com o apogeu do Império Romano surgiu os dois maiores herbolários da era
cristã: Dioscórides e Galeno. Dioscórides foi médico de Nero e com ele e
seus soldados viajou por todo o mundo colecionando centenas de tipos de
plantas. Galeno foi médio do Imperador Marco Aurélio, foi ele quem
descobriu que a urina é secretada pelos rins e também descobriu métodos
para separar os princípios ativos das plantas. Após o declínio de Roma teve
Avicena Médico jovem e muito estudioso, usava lavanda, camomila e menta
em seus preparos.
Idade Média Nesse período os mosteiros tornaram-se centros importantes de estudo,
nesse período todos os manuscritos foram recolhidos pelos monges. Ao
redor das Igrejas, os mosteiros e conventos cultivavam plantas que eram
utilizadas como alimentos, bebidas e medicamentos.
Europa Nos primeiros anos do século XVI surge na Europa um suíço chamado
Philliphus Aurelius Theophrastros, mais tarde conhecido como Paracelso,
viajou por toda a Europa a procura de plantas e minerais, e, também ouvindo
curandeiros, feiticeiros e parteiras. No reinado de Elisabeth I algumas ervas
tinham tanto valor como o ouro e a prata. Os europeus se empenharam em
descobrir o caminho para as Índias para se apropriarem de plantas como:
babosa, cravo, canela, carambola, gergelim e outras.
América Consta-se que os primeiros registros sobre ervas americanas foram
realizados por um médico mexicano chamado Juan Badianus, tinha origem
índia e seus conhecimentos da cultura indígena foram muito procurados. Os
primeiros imigrantes trouxeram para a América mudas e sementes de Confrei
e Camomila. Thomas Jeferson plantava pessoalmente suas ervas medicinais
entre elas a menta, o tomilho, a lavanda e o alecrim.
Revolução
Industrial
Ainda no final do século XVIII Lineu o grande naturalista sueco, criou seu
famoso sistema de nomenclatura botânica, o que permitiu que os
pesquisadores fizessem um estudo mais metódico, complexo a abrangente
das plantas. No final do século XIX, o poder curativo das plantas passou a
ser considerado ultrapassado. Hoje, o mundo inteiro desenvolve pesquisas
para redescobrir o valor curativo das plantas.
ANEXO 6
TEXTO COMPLEMENTAR
INFORMATIVO SOBRE PRINCÍPIOS ATIVOS
Em síntese uma planta é classificada como medicinal por possuir
substâncias que tem ação farmacológica. Estas substâncias são denominadas
princípios ativos e, na maioria das vezes, não se sabe qual princípio está
atuando no organismo. Os princípios ativos são classificados de acordo com as
classes de substâncias que os constituem. A classe de maior amplitude é a dos
alcalóides pelo grande número de aplicações. Os fatores internos e externos
podem interferir no teor de princípio ativo de uma planta. Podem estar
concentrados nas raízes, rizomas, ramos, caules, folhas, flores ou sementes. O
teor pode variar de acordo com a época do ano, hora da coleta, sola e clima. É
muito importante que a planta seja coletada de forma que venha a preservar ao
máximo o teor dos princípios ativos.
ALCALÓIDES: Atuam no sistema nervoso central (calmante, sedativo,
estimulante, anestésico, analgésico). Nas células vegetais estão nos vacúolos.
Quando na forma de sais, encontram-se nas paredes celulares. Localizam-se
nas folhas, sementes, raízes e no caule. Não são bem definidas suas funções
dentro da plantas, mas acredita-se que os alcalóides sirvam como síntese de
proteínas; proteção contra insetos e animais herbívoros.
Exemplos:
- O Jaborandi contém a pilocarpina que é útil no tratamento do glaucoma.
- O Chondodendron tomentosum da família Menispermaceae, era utilizado
pelos índios para envenenar a ponta das flechas utilizadas na guerra e na
caça. O princípio ativo contém tubocurarina uma das substâncias conhecidas
como curare, que tem propriedade de paralisar os músculos esqueléticos. A
tubocurarina é utilizada juntamente com a anestesia nas cirurgias, paralisando
o diafragma e dando ao cirurgião em seu trabalho, sem a movimentação das
vísceras torácicas ou abdominais.
- Das cápsulas jovens de uma determinada espécie de papoula, obtém-se um
látex, que após seco e tratado contém uma grande variedade de alcalóides,
alguns importantes medicinalmente, como a morfina, a codeína e papaverina. A
morfina é um forte anestésico e hipnótico. Só é utilizada em casos terminais de
doenças, como o câncer, para aliviar a dor. A codeína é um antitússico muito
utilizado em xaropes. A papaverina é um relaxante da musculatura lisa, útil
portanto nos casos de cólicas intestinais e uterinas.
- A planta Ctharanthus roseus da família das Aplocynaceae, popularmente
conhecida como vinca ou maria-sem-vergonha, é uma erva ornamental. As
linhagens de Madagáscar de onde é nativa têm valor comercial, contém
substâncias para o tratamento do câncer. Essa planta apresenta mais de
setenta alcalóides, um deles é a Vimblastina muito útil no tratamento de uma
forma de câncer, chamada de mal de Hodgkin. Outro é a vincristina, utilizada
no tratamento da leucemia infantil.
- A Psychotria ipecacuanha da família Rubiaceae e nome popular ipeca é uma
planta que de suas raízes obtêm-se a emetina, um alcalóide que tem ação
amebicida. É uma espécie que corre o risco de extinção.
- A Chincona officinalis da família Rubiaceae conhecida como quinina tem uma
longa história no tratamento da malária. Este conhecimento foi passado pelos
Índios aos Jesuítas no começo do século XVII, os quais disseminaram este
produto por toda a Europa. Alguns compostos sintéticos como, por exemplo, a
cloroquina e primaquina têm sido produzidos e apresentando resultados
superiores aos da quinina na cura da malária.
GLICOSÍDEOS: São produtos do metabolismo secundário da planta.
Compõem-se de duas partes. Uma contém açúcar e a outra possuí um efeito
terapêutico designado aglícono. Existem vários grupos de glicosídeos cada um
é encontrado em determinado tipo de planta. A planta conhecida popularmente
como dedaleira do gênero Digitalis, D. lanata e D. purpúrea, são cultivadas no
Hemisfério Norte para extração de glicosídeos que são utilizados para doenças
cardíacas relacionadas ao baixo batimento cardíaco, ou seja, quando o volume
se sangue bombeado pelo coração é muito pequeno. Em doses maiores os
glicosídeos cardioativos paralisam o coração na fase de sístole, levando à
pessoa a morte. São vários os fármacos obtidos da dedaleira, como a
digitoxina, a digoxina, a gitoxina e outras substâncias, todas conhecidas em
farmacologia como digitálicos. Como medicamento é usado há séculos, sendo
a primeira descrição científica do uso na insuficiência cardíaca coube à William
Withering em 1785 sobre a eficácia terapêutica e a toxicidade da planta
Digitalis purpúrea. A digoxina e a digitoxina são derivados da Digitalis lanata.
Digoxina tornou-se o glicosídeo mais usado devido suas características
farmacológicas. A eliminação da digoxina é renal enquanto a digitoxina é
metabolizada pelo fígado, independentemente da função renal.
SAPONINAS: São muito comuns nas plantas medicinais. A sua propriedade
física principal é reduzir a tensão superficial da água. Todas as saponinas são
fortemente espumosas e constituem excelentes emulsionantes. Outra
propriedade característica é que algumas proporcionam a hemólise dos
glóbulos vermelhos (eritrócitos), isto é, libertam a sua hemoglobina, o que
explica o efeito tóxico de algumas delas, tornando-as impróprias para o
consumo. As saponinas quando tratadas com ácidos minerais, obtêm-se as
geninas esteroidais, que são utilizadas na produção da cortisona e substâncias
com ação contraceptiva.
PRINCÍPIOS AMARGOS: Várias plantas medicinais apresentam substâncias
de gosto amargo, excitam as células gustativas, estimulam o apetite e
aumentam a secreção dos sucos gástricos. Doses elevadas podem acarretar
problemas no fígado. Alcachofra e boldo são exemplos de plantas com
princípios amargos.
TANINOS: Tem natureza adstringente, possuí propriedade de coagular as
albuminas das mucosas e dos tecidos. Os taninos são encontrados em
diversos órgãos da planta. Na folha do abacate, confrei, espinheira-santa,
goiabeira, pitanga, tanchagem, quebra-pedra e chapéu-de-couro; nas flores da
melissa e erva-cidreira; no caule do cipó-mil-homens e frutos como a romã, a
nogueira, a banana verde e outros. Os taninos também podem proteger a
planta contra o ataque de microrganismos.
FLAVONÓIDES: São produtos do metabolismo secundário das plantas, que se
caracterizam pela sua diversidade estrutural. São encontrados principalmente
nas folhas e flores. Alguns são utilizados para produção de odores e sabores
de alimentos e bebidas de origem vegetal. Nas plantas os flavonóides podem
ter diversas funções como: proteção contra os insetos, fungos, vírus e
bactérias. São os responsáveis pela coloração das flores, frutos e algumas
cascas. Possuem propriedades antioxidantes, atrasa o envelhecimento celular.
MUCILAGENS: Nas plantas, estas substâncias servem de reservatórios,
sobretudo pela sua capacidade de reter água. Com água fria as mucilagens
engrossam e formam gel. São ricas em polissacarídeos. Plantas como a
babosa e o guaco são ricas em mucilagens.
ÓLEOS VOLÁTEIS: São misturas de substâncias que podem ser extraídos por
destilação com vapor de água. Podem ocorrer secretoras e especializadas,
como pelos glandulares, células parenquimáticas diferenciadas e canais
oleoíferos, podem estar ainda nas flores, folhas, cascas dos caules, madeiras,
raízes, rizomas, frutos e sementes. Mesmo os óleos estando presentes em
quase todos os órgãos da planta, eles podem varias quanto a sua localização,
por exemplo, o óleo da casca da canela é rico em aldeído cinêmico, e o das
suas folhas e o das raízes é rico em eugenol e cânfora. O uso da canela é
muito antigo encontrando-se menções nos livros bíblicos atribuídos a Moisés.
Algumas plantas que apresentam óleos voláteis como a Mentha spp. da família
das Lamiaceae, o óleo volátil da menta é utilizado principalmente em pastas
dentríficas e também na indústria de alimentos. Seu principal constituinte é o
mentol um terpenóide alcoólico. O mentol da uma sensação de frescor na
boca. A Eugenia caryophyllus da família Myrtaceae conhecido como Cravo foi
outra especiaria envolvida nos fatos que levaram à descoberta do Novo Mundo,
os seus botões florais fornecem um óleo que contém eugenol, com largo
emprego na odontologia, como forte antisséptico e suave analgésico. Do
eucalipto obtém-se o cineol um terpenóide ao qual se atribuí ação anti-séptica
e fluidificante das secreções brônquicas. Por essa razão emprega-se o cineol
em injetáveis usados para tratamento de gripes e outros males que afetam as
vias respiratórias.
O quadro abaixo apresenta uma síntese dos principais princípios ativos
de acordo com Furlan (1998):
Grupo de
princípio ativo
Função no
vegetal
Ação
farmacológica
Espécie Uso na
indústria
Mucilagens Translocação de
água e
nutrientes.
Cicatrizante,
laxante,
antiespasmódica
e
antiinflamatória.
Babosa,
Tanchagem,
Quiabo.
Fabricação de
geléias, gomas e
hidratantes.
Óleos essenciais Polinização e
proteção.
Anestésica,
antiséptica,
vermífuga e
Sálvia,
Camomila,
Hortelãs, Erva-
Alimentícia,
farmacêutica e
cosmética.
bactericida. Cidreira e
Alecrim.
Alcalóides Proteção contra
os predadores.
Calmante,
anestésica e
analgésica.
Guaraná.
Maracujá, Café,
Jaborandi e
Beladona.
Farmacêutica.
Taninos Proteção contra
fungos e
bactérias.
Cicatrizante,
adstringente,
antidiarréica.
Pitangueira,
Goiabeira, Romã
e Espinheira-
santa.
Farmacêutica e
curtume.
Glicosídeos Proteção contra
predadores
Cardiotônica,
tratamento de
doenças do
coração.
Mandioca,
Dedaleira e
Espirradeira.
Farmacêutica.
Bioflavonóides Dispersão de
sementes e
polinização.
Fortalecer os
vasos capilares,
circulação e
coração.
Macela,
Camomila,
Arruda e
Calêndula.
Alimentícia,
cosmética e
farmacêutica.
ANEXO 7
GALERIA DE IMAGENS
Abacateiro- Alecrim – Arruda – Artemísia – Babosa – Calêndula – Camomila –
Capim-Santo – Carqueja – Confrei – Cidró -
Erva-doce - Espinheira-santa - Guaco - Guiné - Hortelã - Losna - Maracujá – Melissa - Pata-de-vaca - Picão - Poejo - Quebra-pedra.
Rubim – Sálvia - Tanchagem