da escola pÚblica paranaense 2009 · alunos ao contato com a arte, ... manifestação artística e...

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

“A CONTEXTUALIZAÇÃO DA DANÇA COMO MEIO DE INTERAÇÃO E

COMUNICAÇÃO DO SER HUMANO NA SOCIEDADE”

TEREZINHA APAECIDA DE JESUS MAINARDES1

ORIENTADORA: KARINA DE TOLEDO ARAUJO2

RESUMO

O presente artigo tem por finalidade descrever a experiência decorrida com a aplicação do projeto de ensino do conteúdo dança desenvolvida durante o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE3 turma de 2009/2010; e aplicado no segundo semestre de 2010, nas 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio e Profissional do Colégio Estadual Machado de Assis no município de Sertanópolis – Pr. Este projeto teve como objetivo desenvolver o conteúdo dança por meio de uma prática pedagógica sistematizada, em consonância com as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (PARANÁ, 2008). A dança foi ensinada a partir das reflexões sobre o seu significado, sua origem, sua história, sua representação na sociedade contemporânea e como cultura do movimento humano, já que faz parte do processo sócio-histórico e cultural do homem. As estratégias de ação para a implementação deste projeto basearam-se nos métodos de ensino da dança de diferentes autores, entre os quais: a dança livre apresentados por Isadora Duncan, a dança criativa de Cunha, a dança-educação de Nanni, entre outros. Houve participação de todos os alunos com excelente resultado nas séries ministradas, mostrando um caminho possível para aplicação deste conteúdo.

Palavras-chave: Dança. Educação. Educação Física

ABSTRACT This article aims to describe the experience with the application of elapsed dance project developed at the Educational Development Program - PDE, 2009, instituted by the Secretary of State for Education of Parana, applied in the second semester of 1 Professora do Ensino Médio e Profissional do Colégio Estadual Machado de Assis de Sertanópolis – Pr. Licenciada em Educação Física e Pós Graduada em Metodologia de Ensino. 2 Professora Ms. Karina de Toledo Araújo. Docente do Depto. de Estudos do Movimento Humano do Curso de Educação Física – Licenciatura - Universidade Estadual de Londrina - UEL. e-mail: [email protected] 3 PDE - Resultado de parceria entre a Secretaria da Educação (SEED) e a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino

Superior (SETI), o PDE é uma política educacional pioneira de formação continuada para os professores com duração de dois anos. O PDE é um curso de aperfeiçoamento profissional a partir de imersões em novos conhecimentos que estimula a pesquisa e sua aplicação prática nas escolas. Cada professor do PDE elabora um Plano de Trabalho, uma proposta de intervenção prática na realidade escolar.

2010, the 1st, 2nd and 3rd levels of the State College Machado de Assis – Ensino Médio and Professional, Sertanópolis - Paraná. Project aimed to work the dance as pedagogical content systematically, in line with the Curriculum Guidelines of the State of Parana (Parana, Ministry of Education, Curriculum Guidelines for Basic Education, Curitiba: SEED, 2008). Content that has been developed by building the knowledge of the student from the reflections on the meaning of the dance, its origin, its history, its representation in contemporary society and culture as human movement, as part of the socio-historical process and man's cultural. The strategies for the implementation of this project were based on methods of teaching dance to different authors, among them: a free dance presented by Isadora Duncan, the creative dance Cunha, dance-education Nanni, among others. There was participation from all students with an excellent result given in the series, showing a possible way to implement this content.

.INTRODUÇÃO

Este texto relata a experiência adquirida com o desenvolvimento do projeto de

ensino da dança nas aulas de Educação Física no Ensino Médio como forma de

manifestação cultural, possibilitando sua contextualização, vivência e

experimentação por meio de suas expressões artísticas, sensuais, criativas e

técnicas. A dança tem propriedade para constituir-se numa rica experiência corporal,

que possibilita ao educando compreender e intervir na sociedade em que estamos

inseridos, reconhecendo seus movimentos de forma culta e crítica. Ela “é a

manifestação da cultura corporal responsável por tratar o corpo e suas expressões

artísticas, estéticas, sensuais, criativas e técnicas” (PARANÁ, 2008, p.70); libera a

imaginação; apresenta infinitas possibilidades de ampliação, de prática e de criação

de movimentos; dá mais energia e flexibilidade ao corpo, mais graça e leveza a vida.

Rompe barreiras, destrói preconceitos, integra e envolve pessoas, além de levar os

alunos ao contato com a arte, porque dança também é arte. É uma forma de

comunicação e produção do conhecimento; “contribui para a humanização dos

sentidos, ou seja, para a superação da condição de alienação e repressão a qual os

sentidos humanos foram submetidos” (PARANÁ, 2008 p.70) ajudando na formação

dos cidadãos. Precisa ser considerada como um meio de interação e comunicação

do homem na sociedade.

A dança existe desde o princípio da humanidade representando a cultura em

todas as civilizações. Ela é um dos conteúdos estruturantes da Educação Física

apresentados nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná (PARANÁ,

2008), mas na realidade sua aplicação no ensino médio não se concretiza como

conteúdo das aulas. É comum que a dança seja considerada apenas em eventos

sociais e em algumas comemorações. Essa relação teoria e prática é uma questão

muito discutida pelos educadores. Por que na prática, às vezes, não acontece o que

teorizamos? Gehres (1997, p.36) descreve a situação da dança nas escolas estatais

das redes de ensino da Educação Básica no Brasil, apresentando dados que

apontam para a predominância da dança como uma atividade extracurricular,

estabelecida de forma diversificada, com maior incidência em centro de arte para

escolares e em grupos de dança com apoio estrutural e pedagógico, e isso

prevalece ainda hoje. No contexto escolar, nota-se a ausência deste conteúdo como

prática pedagógica sistematizada.

Considerando a escola local de construção e socialização de conhecimento,

de valorização das relações sociais e ampliação cultural, a dança deve ser ensinada

para todos os alunos. Construindo o seu conhecimento a partir das reflexões sobre o

significado da dança, sua origem, sua história, sua representação na sociedade

contemporânea e, como cultura do movimento humano.

A dança também representa a possibilidade de diversificar conteúdos diante

da esportivização presente nas aulas de Educação Física, porque os alunos, pais de

alunos e até o colegiado da escola possuem uma visão da Educação Física que a

relaciona quase exclusivamente com o esporte.

A partir das idéias apresentadas anteriormente, o problema que norteou este

estudo e projeto de intervenção pedagógica é: Como a dança poderia encenar

novos papéis nos planejamentos anuais dos professores e passar a fazer parte

efetiva dos conteúdos de ensino, enquanto conhecimento a ser tratado nos espaços

escolares durante as aulas de Educação Física no ensino médio? O texto a seguir,

apresenta um pouco do que foi pesquisado sobre a história da dança.

1. A HISTÓRIA DA DANÇA

A pesquisa apresentada a seguir, sobre a história, evolução e utilização da

dança, aliado a um estudo sobre a definição de cultura corporal, serviram de

embasamento teórico para a metodologia utilizada e, para as estratégias de ação do

referido projeto.

Segundo Nanni (1995ª, apud RANGEL, 2002, p.51) “Em qualquer civilização

que se pretenda conhecer, seja ela uma sociedade atual ou primitiva, ter-se-á

sempre como expressão de uma cultura e como educação dos indivíduos, os jogos,

os desportos e a dança, entre outros”.

No que se refere à dança, mesmo entre os povos primitivos, é possível

encontrar essa atividade exercendo um papel educacional, de modo que sua prática

visasse possibilitar uma diversidade de experiências de movimentos. Portanto,

abordada como pré-requisitos para a educação do indivíduo na história da

humanidade, a dança pode ser observada na Grécia como um fator de influência em

sua cultura e educação da época (RANGEL, 2002, p.51), como observa.

A dança está presente desde o princípio da civilização como manifestação

instintiva dos seres humanos. Teve origem nos gestos e movimentos naturais do

corpo humano para expressar emoções e sentimentos, a partir da necessidade de

se comunicar. “Antes de polir a pedra e construir abrigo, produzir utensílios,

instrumentos e armas, antes de ter uma linguagem verbal definida, o homem já batia

os pés e as mãos ritmicamente para se comunicar e se aquecer.” (PORTINARI,

1989, apud RANGEL 2002, p. 40). “Manifestações verificadas através das

marcas de pinturas deixadas nas cavernas, rochas, paredes, vasos e pertences

domésticos, retrataram de maneira muito significativa, a presença da dança na

história da civilização.” (RANGEL, 2002, p.34). Estas evidências gravadas em

cavernas são, possivelmente, as comprovações de que a dança acompanha o

homem desde os tempos mais remotos: do período pré-histórico, até nossos dias.

Para Mendes (1987, apud RANGEL 2002, p.34), os primeiros registros que

se tem sobre a dança, datam do período paleolítico superior, época em que o

homem preocupava-se apenas em cultivar os alimentos e lutar pela sobrevivência,

onde o individualismo era ainda uma forte característica. Neste período, o homem

procurava vestir-se com a pele de um animal, incorporando suas características e

instintos selvagens, como forma de proteção, ludibriando o inimigo, ou com o intuito

de abatê-lo. “A dança imita os passos dos animais com o fim de atraí-los ao

perímetro de tiro e simula também seu acasalamento, para que se multipliquem as

espécies”. (OSSANA 1988, p.43 apud RANGEL 2002, p. 34).

Os homens neste período acreditavam no princípio de que o igual atrairia o

semelhante, portanto, a partir da imitação, imaginavam atingir seus objetivos ou

suas necessidades mais imediatas. “Por exemplo, imitavam o trovão com o intuito de

provocar chuva; dançavam ao redor da fogueira, para que o sol brilhasse mais

tempo, etc.” (OSSANA 1988 apud RANGEL 2002, p.34). Rangel (2002, p.35)

descreve que já no período neolítico; a dança passa a ser uma forma de adoração

aos espíritos, de culto a seus mortos, em substituição à magia e feitiçaria, isto é, as

cerimônias religiosas tinham papel predominante, sendo que a execução das

atividades dançantes eram relegadas apenas ao sexo masculino. Segundo

Fahlbusch (1990 apud RANGEL 2002 p. 35), em épocas longínquas, existiam

danças predominantemente masculinas ou femininas. As danças de caça,

guerreiras, solares, imitativas, de máscaras, dos espíritos, etc., eram eminentemente

masculinas, e as da fertilidade, da chuva, da plantação, da colheita, do nascimento,

iniciação à puberdade, as mudanças e momentos lunares, fúnebres, etc., eram

características das mulheres.

Enfim, “A Dança tem estado presente, na evolução da humanidade, para

invocar os Deuses, pedindo auxilio para a realização de boa caçada e pescaria, para

uma colheita abundante, para chamar chuva, para festejar um acontecimento e até

chorar seus mortos.” (NANNI, 1995b, p.8). Sagrada e profana, cultuada e

amaldiçoada, aplaudida ou proibida, a dança faz parte da história da humanidade. È

uma das mais simples e universal manifestação artística e uma das principais artes

cênicas da antiguidade, ao lado do teatro e da música. O estudo da sua história leva

a compreensão de que ela é uma produção humana gerada no contexto histórico-

social.

Cada povo desenvolveu suas próprias formas e estilos de dançar

caracterizando, assim, sua cultura. A evolução cronológica da dança, ou está ligada

aos aspectos econômicos e sociais, ou nasceu da necessidade do homem

expressar emoções, desejos e sonhos. Portanto, das cavernas a era tecnológica, a

dança fez e continua fazendo história.

Rangel (2002, p.35) descreve que já no período neolítico; a dança passa a ser

uma forma de adoração aos espíritos, de culto a seus mortos, em substituição à

magia e feitiçaria, isto é, as cerimônias religiosas tinham papel predominante, sendo

que a execução das atividades dançantes eram relegadas apenas ao sexo

masculino. Na antiga Grécia, segundo Ellmerich (1987) e Nanni (1995b) (apud

RANGEL 2002, p. 51) ao descrever que em meados de 146 a.C. já se tinha notícia

que bailarinos profissionais davam aulas de dança. “A dança integrava a vida do

indivíduo a partir dos cinco anos até o limiar da velhice,” sendo realizada de

inúmeras formas. (apud RANGEL 2002, p. 51). “A dança na educação da civilização

grega foi muito presente, onde a harmonia do corpo e espírito era muito valorizada,

assim como ter um corpo esbelto, e a dança era uma alternativa.” (RANGEL, 2002,

p.51)

Para Sócrates (469 a.C. – 399 a.C), os guerreiros vitoriosos eram sempre

aqueles que sabiam dançar. Para Platão (428 a.C. – 347 a.C), segundo RANGEL

(2002 p. 52) a dança consistia em duas fragmentações: A dança nobre: que deveria

ser ensinada às crianças, contribuindo para seu desenvolvimento harmônico entre

mente e espírito; e a dança ignóbil: que deveria ser excluída do processo de ensino

por representar o que era feio, repugnante, desonesto e torpe. Aristóteles (384 a.C

– 322 a.C) enfatizou que a dança, o canto e a musica poderiam favorecer o indivíduo

física e intelectualmente (RANGEL 2002, p. 52).

Entre os Romanos a educação também se apoderava da dança para atingir

os propósitos da sociedade, mas em menor intensidade e variabilidade. As mulheres

recebiam uma educação direcionada aos ofícios da casa, e algumas vezes,

aprendiam dança, música poesia e canto. Quanto aos jovens romanos, ao

ingressarem na escola, que tinha como finalidade a preparação militar, recebiam

aulas de música e dança. (NANNI, 1995b, apud RANGEL, 2002, p. 52)

O ensino institucionalizado da dança, segundo Nanni (1995 b, apud RANGEL,

2002, p. 52), data da época em que os romanos inconformados com sua

inferioridade diante da dança grega, contrataram professores exclusivos para

ensinarem a dança de outros povos à classe social denominada de patrícios, que

era a classe mais alta da sociedade romana, compunha a minoria da população,

possuíam muitas terras e escravos e ocupavam importantes cargos públicos.

Rangel (2002 p. 52) descreve que durante a idade média observa-se a

intervenção da igreja reprimindo a dança na sociedade daquela época. No entanto,

em algumas cerimônias religiosas, a dança era executada com caráter místico. Este

período oculto da dança, segundo Rangel (2002, p.53), perdurou por um longo

tempo, aproximadamente de 476 a.C. até meados de 1400 d.C.

Com o renascimento a dança vai ressurgindo, ainda com cunho religioso,

como forma de intervenção na educação. Segundo Ellmerich, (1987, apud RANGEL

2002 p. 53), iniciam-se então as danças camponesas e nobres, tornando perceptível

a distinção das danças ditas populares e as eruditas, praticadas pelos nobres e de

cunho educacional. Desta maneira evidencia-se a diferença entre dança espetáculo

(dança/arte), das conceituações desenvolvidas pela dança educação.”

2. A DANÇA NA EDUCAÇÃO, NA EDUCAÇÃO FÍSICA E A CULTURA

CORPORAL DE MOVIMENTO

Rangel (2002 p. 55) descreve que na atualidade “embora a educação venha

sempre com um discurso de formação e desenvolvimento do indivíduo, o ato de

ensinar nem sempre dá oportunidade à compreensão da ação para sua

emancipação enquanto ser que busca sua transcendência.” Na dança, isto acontece

quando o processo educativo não respeita o individuo que dança; quando o

indivíduo é podado por técnicas muito precisas e limitadas ao invés de explorar

infinitas possibilidades de se movimentar. Não se pode subestimar o trabalho

técnico, mas segundo Rangel (2002 p. 54), “há professores de dança que

preocupados com a apresentação da escola, atropelam os estudantes na evolução

de sua aprendizagem através de repetidas sequências de movimentos ou

coreografias que o aluno, na maioria das vezes, não incorporou no vocabulário

motor.” Esta forma de conduzir a dança pode alienar o indivíduo e faz com que

dançar perca seu caráter de liberdade, espontaneidade e completude que tanto

seduz o homem na sua mais pura compreensão de unidade; interfere no

desenvolvimento do indivíduo tirando sua liberdade de expressão e a descoberta do

próprio corpo com suas infinitas possibilidades de manifestação. “O trabalho

educacional, quando preocupado em deixar fluir dos educandos suas emoções,

seus anseios e desejos, através dos movimentos que não necessariamente

envolvam a técnica, permitirá que o sujeito se revele e desperte para o mundo numa

relação consigo e com os outros, de forma consciente.” (RANGEL 2002, p.56).

Na Educação Física, atualmente, a dança pode cooperar com o resgate da

corporeidade do indivíduo, e pode ser usada como estratégia que viabilize a

edificação de um ser na sua globalidade. Sob o olhar de Gonçalves (1994 p.134,

apud RANGEL 2002 p. 62) vislumbra a dança como parte do seu contexto onde:

“A Educação Física como ato educativo relaciona-se diretamente à corporalidade e ao movimento do ser humano. Implica, portanto, uma atuação intencional sobre o homem como corpóreo e motriz, abrangendo as formas de atividade física como a ginástica, o jogo, o desporto e a dança.”

Para Rangel (2002 p. 64), “na tentativa de olhar o homem como ser no

mundo, que se relaciona consigo, com os outros e com as coisas, a Educação Física

busca contribuir através de suas propostas de atuação, com atividades lúdicas que

envolvem desde o jogo, o esporte, a ginástica e a dança.”

Para Claro (1988, p.67 e 68, apud RANGEL 2002 p.64) “A dança e a

Educação Física se completam... Onde a Educação Física necessita de estratégia

de conhecimento do corpo e a dança das bases teóricas da Educação Física.” “A

Dança integra o corpo e mente, trazendo aos alunos relações entre o mundo que

existe dentro de si.” (BARRETO – 2005, p.102).

Para Marques (2005), a dança na Educação não existe somente para o

prazer de dançar, mas por meio do esforço criativo em dar forma estética à

expressão significativa, espera-se que os alunos desenvolvam sua forma criativa e

assim, melhorarem como pessoas.

Segundo Laban (1985, apud MARQUES, 2005) o objetivo da escola não é a

perfeição artística ou a criação e a performance de danças sensacionais, mas os

efeitos benéficos da atividade criativa na personalidade do aluno.

Em 1997, a Dança ganhou reconhecimento nacional ao ser tratada como

conhecimento a ser trabalhado nas aulas e Educação Física, e houve sua inclusão

em currículos de graduação e pós-graduação.

No entanto, existem no Brasil, como em várias partes do mundo, alguns

desentendimentos sobre a Dança na escola. As dúvidas são sobre qual profissional

deve ensiná-la, se ela deve se tornar disciplina, e qual modalidade e forma devem

ser priorizados (Balé, Dança de Salão, Dança da TV, Dança Folclórica), qual

proposta educativa deve ser utilizada, entre outros.

A Dança, no Estado do Paraná, faz parte das Diretrizes Curriculares da

Educação Básica como conteúdo estruturante da Educação Física e, é a

manifestação da Cultura Corporal responsável por apresentar as possibilidades de

superação dos limites e das diferenças corporais e por tratar o corpo e suas

expressões artísticas, estéticas, sensuais, criativas e técnicas que se concretizam

em diferentes práticas, como nas danças típicas (nacionais e regionais), danças

folclóricas, danças de rua, danças clássicas, entre outras. (PARANÁ, 2008)

Ainda segundo os DCEs, o professor oportunamente deverá aprofundar com

seus alunos uma consciência crítica e reflexiva a respeito das representações

simbólicas de vários tipos de dança, como estas se constituíram historicamente,

seus significados, suas características, as influências que sofreram pela sociedade.

Deve-se discutir o uso exacerbado da técnica, incentivando e mostrando que

qualquer um pode dançar; que as coreografias prontas servem como meio de

transmitir uma cultura, como é o caso das danças típicas, mas que não podem

impedir ninguém de dançar. Deve-se possibilitar a liberdade de criar e recriar

coreografias e incentivar a expressão livre de movimentos (PARANÁ, 2008). A

Dança criativa ou educativa propicia aos alunos o autoconhecimento, a vivência de

corporeidade, os relacionamentos estéticos com outras pessoas e com o mundo;

incentiva a expressividade artística e humana; libera a imaginação, a criatividade;

sendo uma forma de comunicação e conhecimento, ajudando na formação dos

cidadãos.

A dança está relacionada ao modo como compreendemos o corpo e, para ser

considerada educativa, os alunos tem que compreender, sentir, contextualizar e se

envolver no que estão fazendo.

Como a dança é uma manifestação da cultura corporal, a explanação a seguir

se faz necessária para melhor compreendê-la.

Segundo Daolio, (2009, p.3) a antropologia nos ensina a evitar qualquer tipo

de preconceito; uma vez que todo comportamento humano, por possuir uma

dimensão pública, não pode ser julgado por meio de conceitos implacáveis como

bom/mau ou certo/errado. O entendimento de qualquer atitude humana deve ser

buscado em referenciais culturais que dão sentido a essas atitudes (2009, p.30). A

Antropologia estuda tudo o que constitui uma sociedade. Consiste em estudar o

homem em todas as suas práticas e seus costumes, descobrindo quais são os

sentidos e as significações destes. Este conhecimento é necessário para

compreender o sentido de uma manifestação cultural e relacioná-la com a nossa

cultura nas dimensões sociológicas, psicológicas e filosóficas.

Ainda segundo Daolio (2009), o olhar antropológico é olhar para si mesmo

através do outro, pois a forma de olhar é também influenciada pela cultura. Essa

contribuição da antropologia, por si só, é útil para qualquer área do conhecimento e

também para a Educação Física que não tem o hábito de considerar as diferenças

existentes entre os alunos e grupos de alunos de forma não preconceituosa.

Estes pequenos esclarecimentos antropológicos objetivam clarear o

referencial que definirá o corpo como construção cultural e sede de signos sociais,

que são as influências que um indivíduo sofre do meio em que nasceu, cresceu, do

meio em que vive, do meio familiar, econômico, social e até geográfico. Estes

esclarecimentos facilitam a análise da Cultura Corporal na Educação Física e o

estudo da Dança.

Desde 1924, há estudos que alertam os seguimentos da Educação Física

que ainda tendem a considerar o corpo como primordialmente biológico. Nestes, o

corpo que se movimenta não é o mesmo corpo que representa aspectos da

sociedade, como se ele não fosse, ao mesmo tempo e indissociavelmente, biológico

e cultural. É exatamente neste ponto que o trabalho de Marcel Mauss (sociólogo e

antropólogo francês –1872 a 1950) intitulado “As Técnicas Corporais” descreve que

os gestos e os movimentos, criados pela cultura, possíveis de transmissão através

das gerações e que podem ser modificados no decorrer do tempo. Afirmou também

que “uma determinada forma de uso do corpo pode influenciar sua estrutura

fisiológica;” o próprio uso dos sapatos transforma a posição dos pés no andar, fato

que pode ser comprovado quando se anda descalço. Proferido como palestra em

1935, esse trabalho é até hoje útil para a compreensão da cultura do corpo humano,

compreensão esta que na Educação Física brasileira ainda é nascente. (DAOLIO,

1995, p. 45-46)

O homem tem capacidade biológica de sentir dor, mas o limite a partir do

qual o individuo reclamará e passará a gemer é variável de cultura para cultura. O

corpo é o meio de contato primário do indivíduo com o meio que o cerca. Kofes

(1985, apud DAOLIO, 1995 p. 38) afirma que o corpo é expressão da cultura,

portanto, cada cultura vai se expressar por meio de diferentes corpos que se

expressam de acordo com sua cultura. Os exemplos de diferenças culturais

expressas por meio do corpo são esclarecedores ao afirmar que distingui-se um

individuo observando sua forma de andar, sua gesticulação, sua postura corporal.

Observando as danças típicas, por exemplo, notam-se com clareza as diferenças

entre as sociedades, por meio dos movimentos corporais acompanhados pelo ritmo,

pela rigidez ou soltura dos movimentos e pelos trajes típicos.

Segundo Daolio (2009, p. 40), o homem, por meio de seu corpo, vai

assimilando e se apropriando de valores, normas e costumes sociais, num processo

de “inCORPOração”. Até mesmo uma palavra nova em seu vocabulário ou outro

aprendizado qualquer pode se instalar em seu corpo como um conteúdo cultural, no

conjunto de suas expressões. Em outros termos, o homem aprende a cultura por

meio de seu corpo. Para Daolio (1995), o que define o corpo é o fato de ele ser

produto da cultura, ser construído diferentemente por cada sociedade, e não as suas

semelhanças biológicas universais. Fica evidente, portanto, que o conjunto de

posturas e movimentos corporais representa valores e princípios culturais.

Consequentemente, atuar no corpo implica atuar sobre a sociedade na qual esse

corpo esta inserido.

Mais do que saber que os corpos se expressam diferentemente porque

representam culturas diferentes é necessário entender os valores, os princípios e

normas que os levam a se constituir daquela maneira. É preciso entender os signos

tatuados em seu corpo, para reconhecer e considerar as diferenças individuais. Os

valores, normas e costumes constituem tudo que o homem acredita por verdade, os

rege e os encaminha na vida. É a explicação do seu comportamento, da sua

individualidade, do modo de agir individual e socialmente. Os valores são

fundamentos éticos e espirituais que constitui a consciência humana e definem

princípios e propósitos valiosos e objetivam fins grandiosos. As normas são razões

ou motivos para agir, acreditar ou sentir; são regras constituídas de acordo com

seus valores.

Todas as práticas institucionais que envolvem o corpo humano,- “e a

Educação Física faz parte delas”- , sejam elas educativas, recreativas, reabilitadoras

ou expressivas, devem ser pensadas neste contexto, a fim de que não se conceba

sua realização de forma reducionista, mas considere o homem como sujeito da vida

social. (DAOLIO, 2009, p.42). Mesmo sendo fruto e representante de uma sociedade

o homem não age como uma máquina comandada por suas instituições, ele é

também um ser particular dotado de consciência que permite uma mediação entre o

nível social e o nível pessoal (MAUSS, 1974, apud DAOLIO1995, p.44).

Mauss (1979), ainda propõe que os comportamentos corporais sejam

compreendidos como parte de uma tradição social. Como toda tradição, esses

gestos são transmitidos de geração para geração, de pais para filhos, enfim, de

pessoas para pessoas num processo de Educação. Daolio (2009, 13 ed.) acrescenta

nesse processo de transmissão cultural a questão das classes sociais; as pessoas,

principalmente as crianças, imitam atos que obtiveram êxito e que foram bem

sucedidos em pessoas que detém prestígio e autoridade no grupo social.

Qualquer “Técnica Corporal” é transmitida como expressão simbólica de

valores aceitos e representados na sociedade. Quem transmite: acredita e pratica

aquele gesto. Quem recebe a transmissão: aceita, aprende e passa a imitar aquele

movimento. A tradição vai resistindo aos avanços tecnológicos e ao

desenvolvimento científico, mas é também o resultado desses avanços que vai se

incorporando às tradições sociais, num processo dinâmico (DAOLIO, 2009,13 ed.

p.47)

Os avanços tecnológicos e o desenvolvimento científico se referem a todo o

progresso que nos cerca, a velocidade na troca de informações; como a internet, o

celular; tudo que interfere diretamente na nossa cultura, na nossa vida, no nosso dia

a dia. O próprio corpo sofre influência dos meios de comunicação, da mídia e do

mercado de consumo. Atualmente é cobrado um corpo magro, esbelto, jovem, sem

defeitos, cada vez mais midiático, podendo ter como consequência doenças

emocionais como a bulimia e a anorexia. O desenvolvimento das ciências e das

técnicas oferece a possibilidade de mudar a aparência e a estrutura do corpo,

levando as pessoas a colocarem silicone, diminuir ou aumentar partes do corpo que

a mídia considera imperfeitas, como nariz, boca, seios, glúteos, etc. Pessoas levam

um tempo excessivo nas academias procurando modelar seu corpo de acordo com a

mídia, fazem regimes rigorosos, usam anabolizantes e outras drogas ilícitas, bombas

que destroem a capacidade regenerativa celular em busca do corpo “perfeito”.

Ao analisarmos a influência determinante da cultura, e o que ela representa

no corpo humano, vimos à importância da Educação Física ter claro essa concepção

de corpo, para utilizar nos seus conceitos, conteúdos e métodos de ensino. Segundo

Isabel A.Marques (2005, p. 135):

O movimento dos alunos esta ligado a imagem de corpo perfeito, da boa forma física; estar corporalmente no mundo (real ou virtual) traduz-se em ser visto, observado, apreciado como modelos preestabelecidos de corpo perfeito de acordo com a mídia. Por isso talvez estar no mundo corporalmente não seja sempre uma experiência plenamente satisfatória e positiva. Muitos jovens estão descontentes com seus corpos ou parte dele (nariz, pernas, gordurinhas, barriga, altura...) ou com as emoções que sentem e expressam por meio de seus corpos: preguiça, timidez, sensibilidade. Poderíamos relacionar a insatisfação com seus corpos a uma

busca que se assemelha muito a aquisição e construção de corpos ideais, de como o corpo deve ou não parecer. Há vários ideais de corpo, todos que fazem sucesso na mídia

.

O professor de Educação Física interfere na concepção e na representação

que os alunos têm do seu próprio corpo. Interfere por extensão na própria cultura

que dá suporte a essas representações. Um professor de Educação Física, atento

ao alcance cultural de sua prática, tem mais condições de realizar um trabalho

competente, por encontrar-se conectado com a realidade sociocultural em que vive.

Saberá reconhecer as diferenças não só físicas, mas também culturais expressas

pelos alunos, tornando-os iguais respeitando suas diferenças. (DAOLIO– 1995)

É sobre essa definição de Cultura corporal que deve incidir a prática do

professor de Educação Física, reconhecendo o repertório corporal que cada aluno

possui ao chegar à escola, porque independentemente da escola, durante toda vida

terão acesso a uma educação cultural repleta de significados.

3. A DANÇA, SUAS DEFINIÇÕES, CLASSIFICAÇÃO E ESTILOS

Apesar de parecer simples, o número de definições para a palavra “dança” é

muito amplo. Há inúmeros conceitos que se completam, mas não a definem de

maneira plena. As várias definições que se seguem objetivam apresentar alguns

conceitos e técnicas, básicos para entendê-la, para defini-la em traços gerais; sem a

pretensão de esgotar todos os enfoques mencionados pelos seus inúmeros

pesquisador.

Neves (1987, p.7, apud RANGEL 2002, p.21) descrevem que: “Apesar de

parecer simples o número de definições para a palavra “dança” é quase infinito”. Isto

mostra a complexidade e as divergências existentes nesta área. “Nanni (1995b,

p.168), investigando sobre a origem da palavra dança, encontrou: Danza, dança,

TANZ derivado da raiz TAN que em sânscrito significa linguagem”. Para esta autora,

os elementos coreográficos que compõem esta forma de linguagem celebram a

comunicação, pelo o qual o corpo “... tem uma linguagem que lhe é peculiar,

predecessora e complementar da linguagem oral”. (p.168)

A dança tem várias faces e é encarada de diversas maneiras. Algumas

pessoas estão interessadas nos seus aspectos psicológicos e emocionais; outras,

com uma visão mais mecânica, enfatizam os elementos funcionais. Existem ainda

aqueles que procuram analisar os elementos básicos e universais que a constituem.

Por isso, é difícil encontrar uma definição suficientemente abrangente e completa

sobre a dança. Segundo Rangel (2002 p. 22)

A dança possui definições relacionadas a vários enfoques, envolvendo sempre o movimento como: relação com os deuses, relação consigo, com os outros e com a natureza; transcendência, emoção expressão, sentimentos; símbolos linguagem e comunicação; interação entre os aspectos fisiológicos, psicológicos, intelectuais, emocionais; tempo, espaço ritmo: arte; educação.

Segundo Garaudy (1980 p. 14, apud RANGEL p. 23). ”Dançar é vivenciar e

exprimir, com o máximo de intensidade, a relação do homem com a natureza, com a

sociedade, com o futuro e com seus deuses”, ela é também, ”reflexão e

conhecimento, tanto no seu aspecto introspectivo e do mundo exterior”.

Enfatizando a dança como atividade que propicia autoconhecimento, Berge

(1981, p.25, apud RANGEL p.23) salienta que “a dança é o encontro profundo de si

mesmo” e suscita o que ela denomina de “sentido do ser”. A autora ressalta ainda

que: “nada está separado de nada, e o que não compreenderes em teu corpo, não

compreenderás em nenhuma outra parte”. Segundo Rangel (2002 p.24)

“Autoconhecimento, conhecimento do outro e homenagem às divindades através da

dança, denotam uma forma de manifestação que não se esgota com a definição de

que a dança é uma sequência de movimentos dentro de um determinado ritmo”, mas

amplia com a de Garaudy (1980), pois para ele “a dança é um modo de viver e

existir, onde as sequências exteriorizadas transcendem as palavras”.

A emoção é outro aspecto presente na dança e se constitui interna e

externamente. Para Rangel (2002, p. 24) “A dança possibilita também, vivenciar

diferentes sensações dando oportunidade ao indivíduo trabalhar e encontrar

situações suscetíveis de acontecerem na vida diária, e que por vezes, não

conseguimos aceitar, superar ou mesmo conviver com elas”.

Do ponto de vista psicológico, Le Bouch (apud MARQUES 1990 p. 7) diz que

a dança é “... gesto tradutor direto do estado emocional... “A dança é vivenciar,

através de movimentos, diferentes estados emocionais que podem ser

contemplados no cotidiano, ou mesmo serem criados em situações adversas e

pouco comuns” (RANGEL 2002 p. 24). Ainda segundo Rangel (2002 p. 24): “Na

dança, assim como no próprio homem, existe uma dinâmica de vida que provoca

constantes reflexões e reciclagens onde, dependendo do contexto em que o homem

está inserido, ele cria, analisa e transforma sua dança em reflexo da sua própria

realidade, ou no ideal de suas aspirações”. Temos como exemplo o Funck, no Rio

de Janeiro, que exprime o que acontece no momento a sua volta, pois são vivencias

que se projetam a partir de fatos da realidade para o universo dos movimentos

significativos. Segundo Garaudy (1980) a dança é “... a expressão através de

movimentos do corpo organizados em sequências significativas de experiências que

transcendem o poder das palavras e da mímica”. Nanni (1995 p. 1) complementa

que “a dança é a expressão da harmonia universal do movimento”.

Segundo Joos (apud GARAUDY p. 21, apud RANGEL 2002 p. 26). “A dança

é o dia a dia expresso em um nível de realização mais elaborado, onde a realidade é

canalizada para um contexto que o observa, o interpreta e o faz transcender, para

além de seu próprio significado. E a realidade é vivenciada numa forma mais

consciente e expressiva”.

Nanni (1995b, p.161) afirma que dança “é: ...” Harmonia dos movimentos em

identificação com o tempo, espaço e as energias fluídas da tensão ou da dinâmica

gerada pela coesão dos movimentos. “Tudo se estrutura num todo harmônico e

coerente pela interação de seus elementos naturais”. Ainda diz (p.168) que: “ela é

adequada para transmitir emoções, ideias, sentimentos, princípios filosóficos ou

éticos, chaves da linguagem corporal”.

Segundo Rangel (2002 p. 27):

A dança, então, não se realiza sem a presença dos elementos tempo, espaço, som, movimento, forma e energia. O movimento quando executado realiza-se, por exemplo, num determinado espaço, seja ele limitado ou não, apresenta-se esboçando uma forma arredondada ou retilínea, revela-se em cada ação muscular, impregnada de ritmo e energia, e acontece num período de tempo independente da nossa vontade.

Segundo Débora Barreto (2005, p. 79):

A Dança traz consigo, quase sempre, um sentimento de rebeldia e, consequentemente, estimula invenções e propostas de coisas novas. Estas características que lhe revela são manifestações dos descontentamentos e das insatisfações das pessoas diante da vida. Dançar como forma de lazer, celebrar ou fazer arte pode representar formas de tornar a vida mais leve e prazerosa. [...] A Dança como Arte, seja qual for seu estilo, traz ao público além de prazer, uma nova forma de ver a vida, o mundo real e irreal, traz ao expectador o quê as palavras não são capazes de dizer e o que somos capazes de sentir, a Dança em si tem o poder de criar um mundo diferente na mente de cada expectador, e este mundo é capaz de gerar novas informações e conhecimentos para uma vida. A dança como arte se expressa através dos signos do movimento.

A educação também está relacionada com as conceituações de dança. Fux,

(1983 apud NANNI, 1995a, apud RANGEL p.27) diz que a dança é o “...

aperfeiçoamento integral de todas as faculdades humanas”. E, para Ferreira (1996

p.169, apud RANGEL 2002, p. 29). “A educação é a própria dança e é a partir de

uma ação pedagógica e sistematizada que o indivíduo descobre, aprende e

exterioriza suas ideias, evidenciando a integralização dessas faculdades.” A dança

é, portanto, a efetivação da corporeidade através de uma experiência transcendente,

na qual se vivencia o processo de aprendizagem na educação.

Berge (1981 p. 25, apud RANGEL 2002 p. 29) demonstra que a dança

possui vinculação com a educação ao enfatizar que tal atividade: “Educa a

receptividade sensorial e suscita um sentido novo, que poderíamos chamar o

sentido do ser, e que implica não só a compreensão psicológica da vivência

corporal, mas também uma experiência física”.

Finalizando, Ferreira (1995, p.600 apud RANGEL 2002, p. 30) diz que “na

dança a efetivação dos movimentos, imerge em um tempo, ritmo e espaço; é

expressão, comunicação, arte e educação; é veículo de interação entre os aspectos

fisiológicos, psicológicos intelectuais e emocionais.”.

Observando a evolução histórica da dança, encontramos um número

diversificado de classificações ou etapas. Para Faro (1987, apud RANGEL, 2002,

p.35) esta evolução apresenta a seguinte trajetória: “O templo, a aldeia, a praça, o

salão e o palco”. Segundo estes autos, a dança divide se em três etapas

basicamente: “étnica, folclórica e teatral, apontando a dança de salão como elo que

liga a segunda e terceira etapa”.

A explanação que se faz a seguir das danças étnicas, folclóricas, de salão e teatral,

fundamenta-se mais especificamente, na obra de Faro (1987 apud RANGEL 2002).

A) DANÇA ÉTNICA: Dança tradicional de países ou regiões.

Tem vinculação com o ato religioso, onde a necessidade em se fazer um sincretismo das religiões de origem indígenas e africanas, com a igreja católica, por exemplo, no Brasil, possibilitou à sobrevivência das religiões e seus derivativos, como a umbanda, a quimbanda e o omolocô, em que a dança é parte indispensável das cerimônias religiosas. (FARO1987, apud RANGEL, 2002, p.36 e 37).

b) DANÇAS FOLCLÓRICAS: Assim como todas as manifestações folclóricas,

refletem a necessidade do homem em expressar os seus hábitos e costumes.

Independente do país ou região, essas danças possuem determinados aspectos em

comum, ou seja, íntima relação com algumas atitudes do cotidiano do indivíduo e

retratam determinados momentos da vida de suas sociedades.

Portanto, a dança folclórica é uma forma de expressão popular que perdura ao longo do tempo, pela tradição mantida pelas comunidades que, passando de geração a geração, procuram conservar suas raízes socioculturais e a essência de sua história, como por exemplo, as danças nordestinas como o frevo, o maracatu, o bumba meu boi: as gaúchas como o vanerão ou o chote e outras. (RANGEL, 2002, p.36).

Há também o fandango no Paraná. No cenário internacional temos como

exemplo a dança flamenca da Espanha, a tarantela da Itália, a dança indiana, a

dança japonesa, o vira em Portugal, etc. Segundo Rangel (2002, p.44) “A dança

folclórica é um meio de atuação na sociedade, como por exemplo, em festas

escolares, religiosas e típicas de cada época e lugar”. “A expressão de determinada

civilização pode ser entendida como reflexo dos sentimentos e pensamentos desta

comunidade, manifestada, também, através da dança folclórica”. (NANNI, 1995b

apud RANGEL, 2002, p.44). Entretanto, não se pode esquecer que elas recebem

influências das características étnicas e culturais, diversificadas de acordo com as

peculiaridades de cada região. Podemos citar como exemplo os indígenas, os

africanos, os colonizadores portugueses, italianos, alemães, japoneses, etc. que se

radicaram no Brasil e muito influenciaram com sua cultura o folclore brasileiro.C)

DANÇA DE SALÃO: A dança de salão, também denominada de dança social,

Segundo Rangel (2002 p.36) encontra sua origem nas danças populares realizadas nas praças das aldeias. Essas danças chegaram até os refinados salões dos castelos da realeza, de forma elitizada, onde os movimentos executados pelo povo simples das aldeias sofreram transformações e foram substituídos por outros com características de suavidade e elegância nos gestos. Presume-se ainda que esta dança tenha sido o vínculo de ligação com a dança teatral, ou dança espetacular, antecedendo o seu surgimento (FARO 1987 apud RANGEL 2002 p. 37).

A dança de salão atualmente voltou a ser destaque na mídia e muito

procurada nas academias de ginástica. É executada em festas, baile de formaturas,

comemorações, apresentações nas escolas, etc. Ela apresenta uma variedade muito

grande de estilos com diversas origens, podendo ser realizada aos pares, como é o

caso do bolero, do tango, da valsa, dentre outras; e individualmente, como a dança

Tecno (Techno Dance), ou mesmo em grupos como os bailes funks, muito difundido

no Rio de Janeiro e no Brasil.

Nas danças de salão, geralmente as coreografias criadas não são pré-

estabelecidas, ficando por conta da improvisação dos pares. A dança de salão,

também denominada de dança social, pode associar “técnica, história, criatividade,

lazer e educação” (POSEY apud VOLP 1994 p.14, apud RANGEL 2002 p.46). Por

não exigir aprimoramento técnico na execução, nem a performance do indivíduo, ela

pode ser praticada por qualquer idade e classe social e pode até representar uma

classe social ou uma “tribo”, é o caso dos Funks, que através dos seus gestos, estilo

de roupa , gírias e estilo de dança, refletem o mundo em que vivem.

d) DANÇA TEATRAL: Segundo Rangel (2002, p. 37):

“A dança teatral envolve uma gama imensa de estilos, como o ballet clássico que surgiu para agradar a corte e embelezar suas festas; o neoclássico: o moderno, nascendo para se opor ao clássico, refletindo a idéia de liberdade de movimentos e sentimentos preconizados por Izadora Duncan; o jazz, o sapateado e tantos outros que foram surgindo em busca de renovação, de melhor aperfeiçoamento técnico, de maior liberdade e, ou possibilidade de exploração de novos movimentos, buscando sempre formas inovadoras de expressão”.

Enfim, no mundo das manifestações artísticas, a dança teve conotação

rigorosa, seguindo sempre os padrões morais de cada época; o surgimento de cada

estilo ou tendência refletia o momento histórico-social. Estilos estes que Godoy

(1995, apud RANGEL, 2002 p. 38) classifica da seguinte forma: ”Dança clássica,

dança neoclássica, dança livre, dança moderna, dança a caráter, ballet

contemporâneo, dança contemporânea e dança prospectiva”. Trajetória que

representa a dança na sua evolução histórica.

Os estilos de Dança ou suas principais linhas: (RANGEL 2002)

a) Dança clássica: A dança clássica, com origem no século XVIII, buscava traduzir uma bela postura, leveza e rigor técnico na reprodução de seus movimentos, proporcionando um certo controle da fluência, exigindo dos bailarinos até mesmo um domínio de movimentos não muito comuns ao ser humano, como é o caso da posição “em dohors”(posição que exige rotação da articulação coxo-femural em abdução).

Foram criadas nesta época, as famosas cinco posições básicas dos pés, e a utilização de sapatilhas de ponta, dando o efeito de que as bailarinas flutuavam. As histórias desenvolvidas nas coreografias eram repletas de fantasias, envolvendo sempre fadas, ninfas e príncipes.

b) Dança neoclássica: No final do século XIX, surgem algumas tendências inovadoras, como a Dança neoclássica, que sem abandonar as características técnicas do clássico, procura explorar as formas abstratas como conteúdo de expressão, utilizando-se de mais espaço em suas execuções. O domínio da fluência controlada é ainda bastante valorizado.

c) A Dança livre: Assim denominada, surge por sua vez com Isadora Duncan no início do século XX. Apesar de possuir formação técnica clássica. Isadora não se rende aos princípios artificiais do clássico. Este estilo tinha o intuito de resgatar a essência da dança. Procurando atingir diretamente a alma e as emoções, fugindo do rigor e do virtuosismo técnico que a dança clássica propunha. Isadora buscava inspiração na natureza, observando os seus elementos, como o movimento dos pássaros ao alçar vôo, a exuberância da arrebentação das ondas do mar, a fúria do vento, ou mesmo a carícia deste nas folhagens e nos galhos das árvores, etc. Isadora observava também os detalhes contidos nos vasos gregos, e esses influenciaram na maneira significativa sua performance. Seus trajes eram leves, fazendo uso geralmente de túnicas transparentes e esvoaçantes, com os pés descalços, demonstrando assim o seu desejo e apreço pela liberdade. Seus movimentos eram rápidos e suaves, caracterizando uma fluência livre, valorizando a exploração do espaço e das figuras individuais. Enfatizou também nesta linha, a relação do ritmo interno do indivíduo com o movimento a ser executado, ou seja, a percepção do pulsar interior desencadeando o fluir do movimento pretendido. (RANGEL 2002 p. 38)

d) Dança moderna: Outro estilo que teve sua origem no século XX, tendo como característica básica movimentos de contração do tronco, braços e pernas, refletindo o sofrimento e a interiorização do homem. As qualidades de contração e expansão, utilizadas neste estilo, traduzem uma energia que tem origem na região umbilical, associando-se um trabalho respiratório para melhor domínio e execução dos mesmos. A fluência dos movimentos neste tipo de dança é alternada, variando entre o livre e o controlado, dando assim uma dinâmica mais expressiva a este estilo. (RANGEL 2002 p. 39)

e) Dança a caráter: Segundo Godoy (1995, apud Rangel 2002, p. 39) surgiu entre o século XVIII e séc. XX e tem como característica básica a conotação artística que se pretendeu abordar nas danças folclóricas. Para tanto, foi necessária a adaptação das formações, da utilização do espaço e dos próprios movimentos para que fosse possível a realização dessas danças em locais ou ambientes mais restritos, como o palco. Com isto, a valorização das formas e das figuras grupais ficou mais acentuada. Neste estilo de dança, procurou-se manter fielmente o vestuário e as características de costumes e hábitos do grupo social originário.

f) Ballet contemporâneo: como referenda Godoy (1995, apud RANGEL 2002, p 39), surgiu com a tentativa de se buscar novas possibilidades de movimentos, viabilizando o envolvimento de todas as técnicas já existentes. Originado no século XX, esta linha não tem a pretensão de excluir qualquer que seja a manifestação desejada pelo executante, pois ela dá grande ênfase à expressividade além do nível técnico.

g) Dança contemporânea: Emerge no final do século XX, a partir dos anos 60 até as últimas décadas, apresentando como diferença básica desta linha de ballet contemporâneo a preocupação de se relacionar a dança com temas que permeiam a realidade do homem na sociedade atual. Ou seja, a dança contemporânea, através de qualquer tipo de movimento, sejam elas técnicas ou não, busca expressar, relatar, criticar ou refletir sobre as idéias atuais, os problemas existentes e as tendências nas quais caminha nossa sociedade. Neste estilo, a fluência pode ser observada pela exploração de infinitas possibilidades de utilização do espaço, e pela alternância e variação de movimentos técnicos e livres (este último, no sentido do movimento ser desprendido de regras, e cuja execução remete à espontaneidade e naturalidade) que se evidenciam de forma mais expressiva. (GODOY 1995apud RANGEL 2002 p. 39).

h) Dança prospectiva: Finalizando a classificação das principais linhas ou estilos de dança, Godoy (1995 apud RANGEL 2002 p. 39) “apresenta a dança prospectiva, também do século XX, mas já com os olhos no século XXI. Esta dança busca identificar-se com a arte, buscando um convívio com o cinema, a pintura, a música, o teatro e a escultura”.

Enquanto essas linhas ou estilos de dança seguiam seu curso na história, a

dança em outros contextos, como a dança social e a dança folclórica dentre outras,

também descobria novas formas de se adaptar às transformações de cada época da

sociedade em que era muito requisitada.

4. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO NO ENSINO MÉDIO: A DANÇA COMO

CONTEÚDO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM

Após o conteúdo histórico sobre a dança descrito acima, descreveremos, a

seguir, sobre algumas atividades que foram desenvolvidas nas aulas de Educação

Física no Ensino Médio, que se basearam nos métodos de ensino da dança de

diferentes autores, entre os quais: a dança livre apresentados por Isadora Duncan, a

dança criativa de Cunha, a dança/educação de Nanni, entre outros. Estes métodos

valorizam o processo criativo dos alunos, pois estimulam novas explorações, e

exigem do professor uma renovação constante, a partir de um trabalho

circunstancial sob o qual as normas são suscetíveis a alterações e construídas de

acordo com a situação apresentada. Podem ser indicados para qualquer pessoa

independente de sexo, biótipo e faixa etária. Seus conteúdos podem ser adaptados

e desenvolvidos em qualquer nível de ensino, podendo a dança ser apreciada e

vivenciada por todos aqueles que sentem vontade de expressar seus desejos e

pensamentos ou pelo simples prazer de se movimentar. Possuir uma experiência

anterior na prática da dança pode facilitar o trabalho do profissional na escola, mas,

esta é uma proposta voltada para profissionais de Educação Física que não

possuem formação específica deste conteúdo.

ATIVIDADE I

Conteúdo: Questionário e debates

Objetivo: Num primeiro momento, o objetivo foi determinar o horizonte de

expectativa do aluno em relação à dança, sua realidade sócio-cultural, expressões

do seu cotidiano, suas crenças, modismos, preferências musicais e de lazer, seus

preconceitos de ordem moral e social.

Desenvolvimento: Os alunos responderam o questionário abaixo, contendo questões

referentes a esses assuntos e houve debates e discussões sobre os temas

abordados e ainda neste contexto, para instigar o debate, foram lançadas no quadro

frases como: “Homem não chora”, “Mulher não joga futebol”, “O trabalho de casa é

responsabilidade só da mulher”, e cada aluno foi convidado a dar sua opinião. Com

as respostas dadas pode ser trabalhados até casos de bulling, descobertos com as

respostas.

1ª) Questionário:

Nome:_______________________________________Nº____Série___________

1) Você gosta de dançar?

( ) Sim ( ) Não ( ) Nunca dancei

2) Você tem oportunidade de dançar em algum lugar que frequenta? Se a resposta

for sim, mencione o lugar.

3) O que é dança ?

4) Seus pais ou irmãos dançam?

5) Que tipo de música você gosta?

6) Você toca algum instrumento musical? Qual?

7) Alguém da sua família toca algum instrumento musical? Qual?

8) Seus pais tem o hábito de ouvir música?

9) Qual é a sua religião? Você vai à igreja semanalmente?

10) Você se considera uma pessoa do bem?

11) Você é preconceituoso (a)?

12) Você já sofreu algum tipo de preconceito?

13) Quais os preconceitos mais comuns no nosso dia a dia?

14) Você gosta de esporte? Pratica algum? Qual?

15) Qual a profissão que você pretende ter no futuro?

16) Que atitude você tem hoje para conquistar essa profissão?

ATIVIDADE II

Conteúdos: Movimentos rítmicos com material e definições de dança, segundo

alguns autores.

Desenvolvimento: cada aluno recebeu uma bexiga e um pequeno texto enroladinho

e numerado, para colocar dentro da bexiga depois de enchê-la. Ao som de uma

música os alunos caminharam livremente por um espaço determinado, batendo as

bexigas para cima e trocando com o companheiro. Quando a música parou, cada

aluno estourou a sua bexiga e pegou o texto enroladinho, de dentro da bexiga, e

formou grupos de acordo com o número do texto. Esses textos eram definições de

dança de vários autores. Cada grupo leu a sua definição, em voz alta para a turma,

e escreveu no quadro para que todos copiassem e refletissem sobre elas.

Definições escolhidas:

- Dançar é vivenciar através de movimentos, diferentes estados emocionais, que

podem ser contemplados no cotidiano. (Le Bouch)

- Dançar é... permitir ao corpo improvisação e expressão. Assim o corpo funciona

como uma orquestra. (Maria Eugenia Morato)

- Dançar é… expressar representativamente os diversos aspectos da vida do

homem. (Celi N.Z.Tafarel)

- A dança é a expressão através de movimentos do corpo organizados em

sequências significativas de experiências que transcendem o poder das palavras e

da mímica. (Garaudy)

- A dança teve origem nos gestos e movimentos naturais do corpo humano para

expressar emoções e sentimentos, a partir da necessidade de se comunicar. (Nanni)

- A dança tem estado presente na evolução da humanidade, para invocar os

Deuses, pedindo auxilio para realização de boa caçada e pescaria, para uma

colheita abundante, para chamar chuva, para festejar um acontecimento e até chorar

seus mortos. (Nanni)

- A dança é um conteúdo escolar que ajuda a nos conhecermos melhor; possibilita

que nos comuniquemos por meio do corpo sem a necessidade da fala; desenvolve a

sensibilidade das pessoas e instiga a apreciação estética. (BARRETO, 2005)

- Cada manifestação da dança está relacionada ao pensamento filosófico do

momento. (BARRETO, 2005)

Essa atividade fez com que os alunos tomassem conhecimento de algumas

definições de dança e já começassem a se movimentar ao som de um ritmo.

ATIVIDADE III

Conteúdo: Apresentação do Filme “Footlooze”

Objetivo: Oferecer aos alunos a visualização de um filme de época, para serem

observados alguns aspectos, tais como: músicas, ritmo, gestualidade, hábitos

culturais, preconceitos com a dança, etc.

Desenvolvimento: Os alunos assistiram ao filme “Footlooze” e em seguida se uniram

em grupos e discutiram sobre as seguintes questões do filme:

o O filme trata a dança com preconceito? A dança é vista como algo

positivo ou negativo? Explique

o Recalques, desilusões, tragédias que nos leva a ter certos

comportamentos sem enxergarmos a razão.

o A repressão como forma de conter comportamentos

o A dança como forma de extravasar sentimentos

o Quais as funções atribuídas aos homens? E as mulheres?

o Há uma organização social no povoado?

Em seguida cada grupo fez comentário de uma questão do filme e os demais

grupos complementaram. Houve a oportunidade de entender e trabalhar alguns

valores éticos e morais, tão em desuso pelos nossos alunos.

O filme apresentado é muito longo, não dando para apresentá-lo em uma

aula, isso, em algumas turmas, quebrou o encanto, ao ter que deixar para passar o

final em outra aula, o que às vezes, ocorreu até três dias após assistirem ao início.

Talvez um filme mais curto possa ser a solução para esse problema, mas é um filme

que vale a pena, porque leva os alunos a analisarem o porquê de alguns

preconceitos que existem sobre a dança.

ATIVIDADE IV

Conteúdo: História da dança, sua evolução, alguns estilos, as danças da mídia.

Objetivo: Oportunizar o conhecimento teórico sobre o tema.

Desenvolvimento: Os alunos divididos em grupos pesquisaram, no laboratório de

informática, na literatura e, ou apostilas oferecidas pela professora, sobre:

a) A história da dança - b) A evolução da dança e sua representação em algumas

civilizações antigas (Grécia, Roma, na idade média, no renascimento) - c) A dança

na terapia – d) Danças folclóricas – (definição e estilos) e) Danças de salão

(definição e estilos). f) Dança teatral (definição e estilos). g) As danças da mídia,

com apelos sexuais e fins lucrativos.

Cada grupo pesquisou sobre um tema e fez um pequeno resumo, ilustrando

com cartazes, banners e mini vídeos, e apresentou para os demais alunos da sala.

Foi dada a oportunidade para os alunos usarem recursos tecnológicos, o que

resultou em excelentes apresentações. Os cartazes e banners, posteriormente,

foram colocados no mural da escola.

ATIVIDADE V

Conteúdo: Apresentação de Vídeos com diferentes danças e ritmos.

Objetivo: Possibilitar, por meio de DVDs, a visualização de diferentes danças e

ritmos

Desenvolvimento:

Apresentação dos vídeos: You tube: http://www.youtube.com/watch?v=Z_i_IjL0BYU

(dança circular),

http://www.youtube.com/watch?v=lOzvi2lGNUA (VALSA), DVD Estrelas da dança(

Samba de Gafieira) , DVD Estrelas da Dança (Forró), DVD Estrelas da Dança

(Zouk), DVD Estrelas da dança ( Hip-Hop), DVD The Best of Michael Jackson.

Foi uma atividade que teve grande interesse pelos alunos. Muitos até pediam

que reprisassem alguns trechos dos vídeos e, às vezes, tentavam fazer alguns

passos apresentados nos vídeos.

ATIVIDADE VI

Conteúdo: Marcar tempos rítmicos com bastões.

Objetivo: Possibilitar aos alunos o aprendizado da marcação do tempo rítmico

Materal: dois bastõezinhos de 40 cm para cada aluno (feitos com cabos de

vassouras)

Desenvolvimento: Em circulo, o professor começa a contar até 4, depois pede para

os alunos contarem com ele, em seguida explica que : a) No primeiro tempo os

alunos deverão bater os bastões um no outro, na frente do corpo na altura do peito.

Repete por três vezes contando verbalmente e três vezes contando mentalmente.

b) Repetir o exercício anterior batendo os bastões no segundo tempo, repetindo por

três vezes contando verbalmente e três vezes contando mentalmente.

c) Repetir o exercício, batendo o bastão no terceiro tempo, o restante da atividade é

igual.

d) Repetir novamente o exercício batendo o bastão, agora no quarto tempo, o

restante é tudo igual aos anteriores.

e)Repete a sequência batendo os bastões nos tempos 1 e 2, o restante executando

igual aos anteriores.

f) Repete a sequência, agora batendo os bastões nos tempos 1, 2 e 3, o restante

executando igual aos anteriores.

g) 2 a 2, um aluno de frente para o outro, repetir as sequências, só que agora

batendo o bastão no bastão do colega, ora com o bastão da mão direita, ora com o

bastão da mão esquerda.

h) 2 a 2, um de frente para o outro, a um metro e meio de distância, repetir as

sequências só que para bater os bastões dá um passo em direção ao colega, bate e

volta.

i) Repetir as sequências de batidas, agora com locomoção para frente e para trás.

j) Repetir as sequências de batidas, só que agora ao bater os bastões muda de

direção.

Poderá ser contado mais rápido ou menos vezes, ou pular algumas sequências,

dependendo do grau de dificuldade dos alunos.

Os alunos se interessaram bastante por essa atividade e criaram,

expontaneamente, vários outros exercícios com novas sequências.

ATIVIDADE VII

Conteúdo: Movimentos rítmicos

Objetivos: Possibilitar práticas que levem os alunos a experimentarem diferentes

formas de movimentarem-se ritmicamente.

Formar fileiras de 4 ou 6 alunos e ao som de ritmos variados ( Valsa, axé, samba,

etc.) irão executar as formas básicas de locomoção : andar, correr, saltar e saltitar,

executar a polca,o passo-uni-passo, espacato.

Começar com 8 tempos, depois 4 tempos, depois 2 tempos.

Formação: fileiras de mãos dadas e fileiras aos pares.

Ao comando verbal do professor: andar em duplas, em trios, em grupos, num

mesmo ritmo musical.

- Dar dois passos mudando as direções (frente, trás, direita, esquerda, diagonais

direita e esquerda)

- Andar em diferentes velocidades (lenta, média, rápida) acompanhando um ritmo

musical com diferentes pulsações

- Andar mudando os planos (alto médio e baixo)

- Andar acompanhando o ritmo com palmas

- Andar em duplas, ao comando do professor, encostar os seguimentos iguais do

corpo mencionados pelo professor, Ex: Perna com perna, quadril com quadril, joelho

com joelho, pé com pé, etc.

- Andar com exagero de jogada de eixo ( centro de gravidade do corpo )

- Andar com formas expressivas:

. Súplica – surpresa

. Prece – agradecimento

. Medo – alegria – tristeza

- Andar alternando a forma pelas posições de braços ou coluna e cabeça

POLCA: Pular em 8 tempos, girar para o outro lado e pular mais 8 tempos.

o Fileira, cada um de frente para seu par, executar a polca 4 tempos de

cada lado. (ao mudar de lado ficará um de costas para o outro)

o Idem, segurando as mãos do companheiro com os braços abertos

abaixo da linha dos ombros e ao mudar de lado as mãos do lado de

dentro não se soltam.

o Idem, com 2 tempos. (ir e voltar, o mesmo espaço que usou para dar 8

tempos)

o Idem, só que um atrás do outro.

PASSO-UNE-PASSO:

Formação: em fileira de 4 ou 6 ( como a da polca)

o Executando no lugar

o Executando em locomoção, com 8 tempos

o Executando em locomoção, com 8 tempos, em fileira e aos pares de

mãos dadas.

o Executando em locomoção, com 8 tempos, em fileira e aos pares um

atrás do outro.( Esse exercício será iniciado com ritmo de valsa, depois

axé, depois de samba)

ESPACATO:

Formação: em fileiras de 4 ou 6 alunos

o Dar três passos caminhando ao som da música, no 3º passo saltar.

SALTITO:

Formação: em fileiras, em fileiras todos de mãos dadas, em fileiras e os pares de

mãos dadas.

o Saltitando no lugar e acompanhando com o movimento dos braços

o Saltitando com locomoção e acompanhando com movimentos de

braços

(obs.: os saltitos deverão ser feitos com, pelo menos, dois ritmos diferentes)

A variação e repetição das atividades acima seguiram o interesse das

diferentes turmas, e foram bem variados. Umas turmas gostaram mais da polca,

outras, dos saltitos ou das outras atividades. Mas foram atividades que agradaram

bastante fazendo com que participassem com bastante empolgação.

Finalizando essa atividade, foi feito o comentário de que os passos das

danças são nada mais que, formas mais elaboradas dos nossos meios de

locomoção e que serviria de exemplo para, nas próximas aulas, eles criarem suas

coreografias.

ATIVIDADE VIII

Conteúdo: Expressão e comunicação corporal

Objetivo: Oportunizar situações para que os alunos

expressem corporalmente seus sentimentos.

Desenvolvimento: Os alunos, em círculo, receberam a letra da música “A novidade”

dos Paralamas do Sucesso para que fizessem a leitura, em seguida, foi explicado o

texto comentando o paradoxo entre a riqueza e a pobreza, as diferenças e

desigualdades sociais a diferença de valores entre as pessoas. Dando continuidade,

foi colocada a música para que os alunos acompanhassem cantando. Prosseguindo,

cada aluno disse uma palavra que representava seu sentimento em relação à

música em questão. Depois de cada aluno se pronunciar foi formado grupos com

alunos que tiveram sentimentos iguais ou próximos, Ex: tristeza com tristeza ou com

algum sentimento que se aproxima desse. Formado os grupos, cada aluno de cada

grupo criou um movimento, uma expressão corporal que representava seu

sentimento e depois cada um fez seu movimento, colocando no ritmo da música,

formando uma sequência de movimentos com os movimentos de seus colegas de

grupo (uma pequena coreografia). Depois foram enumerados os grupos que

apresentaram o que foi criado no seu grupo para os demais colegas, de acordo com

a sequência numérica.

Finalizando, foi feito o fechamento da atividade, mostrando que o movimento

é uma forma de linguagem da cultura humana. Que o movimento na dança

representa o que a pessoa está sentindo e cada manifestação da dança está ligada

ao pensamento filosófico do momento.

Essa atividade também foi feita, em outras turmas, com as músicas “Que país

é esse” (Legião Urbana) e “Deixa a vida me levar” (Zeca Pagodinho) e notou-se que

os alunos evangélicos e alguns meninos que, ainda, estavam com algum

preconceito em relação à dança, participaram sem mais preconceito algum.

ATIVIDADE IX

Conteúdo: Coreografias

Objetivo: Possibilitar a criação de coreografias e a escolha dos ritmos musicais a

serem utilizados nas mesmas, de acordo com o que foi abordado até aqui sobre

dança.

Desenvolvimento: Os alunos se uniram em grupos e cada grupo teve que criar uma

coreografia, ensaiá-la e apresentá-la para os colegas.

Os alunos puderam, nas suas coreografias, representar um tema ou um estilo

musical, pode ser gospel, se preferissem, e utilizar materiais como: bolas, arcos,

bastões, cordas, etc.

Foram criadas coreografias lindíssimas com algumas deixando um pouco a desejar,

mas todos se empenharam e participaram do trabalho, atingindo dessa forma o

objetivo proposto

ATIVIDADE X

Conteúdo: Apresentação das coreografias.

Objetivo: Oportunizar a apresentação das coreografias criadas.

Desenvolvimento: As salas envolvidas deveriam se reunir na quadra e apresentarem

suas coreografias para os demais colegas e comunidade escolar. Houve muita

resistência, pela maioria dos alunos, em apresentar as coreografias criadas para as

outras turmas e para a comunidade escolar. Dessa forma, a apresentação das

coreografias se limitou na apresentação para os demais alunos da sala, apesar de

terem ficado lindas. Demonstraram muito empenho e criatividade. Nas semanas

seguintes, houve a “Semana Cultural e Esportiva” e um grupo de cada sala tinha que

apresentar uma coreografia. Todas as turmas apresentaram coreografias

lindíssimas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto teve como objetivo a construção de uma metodologia de ensino da

dança adequada à realidade e as exigências do contexto escolar, frente às novas

necessidades educacionais. Teve como pretensão o envolvimento, integração e a

participação de um maior número de alunos.

No início houve certa resistência de alguns alunos, mas com o decorrer das

atividades, o interesse foi aumentando. Deixar claro que as coreografias elaboradas

eram apenas conteúdos das aulas e que não tinham o objetivo de apresentação

pública posteriormente foi imprescindível para a aceitação do conteúdo, com mais

tranquilidade, pela maioria.

Acaso o trabalho fosse iniciado visando apresentações apoteóticas, muitos

se negariam a participar. Alguns por timidez, por se julgarem sem habilidade, atitude

típica da adolescência; outros, por preconceitos que envolvem a dança e, também,

há os alunos de determinadas religiões que são proibidos de dançar em público.

Os alunos participaram das aulas com interesse e aceitaram a dança da

mesma maneira que aceitam os demais conteúdos da disciplina. A fundamentação

teórica, usada como estratégia para o ensino desse conteúdo, foi importante para

que os alunos tomassem conhecimento da história da dança, percebendo sua

importância e presença constante na história e evolução do ser humano,

consequentemente, repensaram e destruíram os preconceitos apresentados no

início.

Durante as atividades experimentaram uma diversidade de experiências,

com possibilidades de criação, prática, ampliação de movimentos e socialização.

Assim, tiveram oportunidade de liberar a imaginação, despertar a criatividade, dar

mais flexibilidade ao corpo e oportunizar a liberdade de expressão e maior

valorização das relações sociais.

Dessa forma, as atividades propostas atingiram os objetivos preconizados e

se mostraram um caminho viável para o desenvolvimento da dança como um

conteúdo a ser utilizado de forma sistematizada e com a efetiva participação de

todos os alunos.

“Uma longa caminhada começa sempre pelo primeiro passo”

(provérbio chinês)

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