da escola pÚblica paranaense 2009 · o significado de experiência estética está dentro da...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - UEM
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE 2009
LUZIA DE QUEIROZ CASSIANO
SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
ÁREA DO PDE: Português
PROFESSORA PDE: Luzia de Queiroz Cassiano
ORIENTADORA: Prof. Drª. Luzia Aparecida Berloffa Tofalini
CONCEPÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA: Estética da Recepção
MARINGÁ
2009
UNIDADE DIDÁTICA – PDE 2009
1 IDENTIFICAÇÃO
1.1 ÁREA: Língua Portuguesa
1.2 PROFESSOR PDE: Luzia de Queiroz Cassiano
1.3 NRE: Umuarama
1.3 PROFESSORA ORIENTADORA: Drª. Luzia Aparecida Berloffa Tofalini
1.4 IES vinculada: Universidade Estadual de Maringá (UEM)
1.5 ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: Colégio Estadual Douradina Ensino Fundamental
e Médio
1.6 PÚBLICO OBJETO DA INTERVENÇÃO: 1ª, 2ª ou 3ª série do Ensino Médio
1.7 TEMA DE ESTUDO: Leitura dos romances Vidas Secas e Inocência
SEQUÊNCIA DIDÁTICA DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
GÊNERO TEXTUAL: romance
COLÉGIO: Colégio Estadual Douradina Ensino Fundamental e Médio
SÉRIE: 1ª, 2ª ou 3ª série do Ensino Médio
DURAÇÃO: 32 aulas
MARINGÁ
2009
2. INTRODUÇÃO
“A literatura pode dizer o quê, da sociedade?”
(Imagem do acervo pessoal da autora)
2.1 Leitura e leitor
A Literatura, segundo Cosson (2006, p.17), é uma experiência que permite ao
leitor saber, experimentar e ver a vida pelos olhos de outra pessoa, ou seja, é possível
enxergar uma realidade diferente da sua, a do autor. É exatamente na união da realidade do
escritor com a realidade do leitor, através do ato da leitura que se afirma: o leitor é coautor
do texto. Eis o motivo pelo qual, quando se trata de Literatura, o leitor é colocado na
posição de figura central da pesquisa literária.
O significado de experiência estética está dentro da concepção do observador, de
acordo com o repertório e capacidade de cada um, ou seja, o processo de produção de
sentido. O sentido realiza-se na junção desses dois momentos: o implicado pela obra e o
trazido pelo leitor de uma determinada sociedade. O leitor procura discernir, como
expectativa e experiência se encadeiam, pois são esses os motores do processo de
significação. É por isso que a obra nunca é a mesma, ou seja, cada vez que é lida, a leitura
do texto é outra.
O domínio dos conhecimentos básicos relacionados ao romance, ao conto, à
novela e a outros gêneros narrativos possibilita, ao leitor, uma análise mais crítica e mais
fundamentada. A ação faz parte dessa estrutura, isto é, faz parte do universo ficcional
evocado pelo texto narrativo. No romance, essa estrutura é vertical e aberta em todas as
direções. Há um drama principal e à sua volta podem aparecer outros dramas, ações
subsidiárias que, muitas vezes, formam o pano de fundo para que a história seja contada.
Diferentemente da novela, em que o escritor deixa a possibilidade de continuidade da ação
depois da última linha escrita, no romance, os dramas, principal ou secundários, têm um
encaminhamento para um final, mais ou menos, acabado ou resolvido. A ação pressupõe a
existência de personagem, que a desenvolve rumo a um desenlace ou desfecho.
Outro aspecto da estrutura da narrativa é o espaço, intimamente ligado à ação e
aos demais elementos da narrativa. É no espaço que as personagens circulam e onde se
desenvovem as ações. Sobre a categoria do espaço, Massaud Moisés (1978, p.103)
argumenta que
Contraindo-se o horizonte geográfico das personagens, urge propiciar
condições para que os dramas surjam. Não raro, vemos que esses nascem
de causas exteriores àquela circinstância: o atrito estabelece-se entre o
que as personagens trazem nas mentes, mais do que entre as razões de
momento.
Dessa forma, o cenário dos acontecimentos intensifica a importância dos fatos e
assume, inclusive, papel fundamental para a compreensão das personagens.
O romance comporta os mais variados assuntos: históricos, psicológicos,
experimentais, cientificistas, de aventuras e os sentimentais voltados para o sentimento
amoroso com um final quase sempre trágico (Cf. TAVARES, 1989, p.122). O romance, que
nos seus primórdios contava histórias de cavaleiros em luta com feiticeiros, gigantes e
dragões, passou a narrar conflitos amorosos de pastores e pastoras fornencendo uma ilusão
da realidade (SCHÜLER,1989, p.7). Mas se a espécie “romances bucólicos” despareceu ou
quase não existe mais, outras formas novas passaram a existir, como o romance da droga e
da contestação entre outros. Conforme Schüler (1989, p.7),
A ampliação dos leitores determinou a diversificação temática da produção
romanesca. Walter Scott reanimou episódios perdidos nos desvãos da
história; Goethe acompanhou as peripécias de um jovem, Wilhelm Meister,
na formação do caráter e nos embates da vida; Stendhal se deteve nos
conflitos dos que, numa sociedade competitiva, se atiram apaixonadamente
à ascensão social; Balzac construiu amplo painel de caracteres da sociedade
parisiense; Flaubert desvendou os sonhos dos que não se conformam com a
vida medíocre; Zola procurou em ambientes sórdidos a verdade da natureza
humana. Surge, assim, o romance histórico, o romance de formação, o
romance psicológico, o romance social, o romance realista, o romance
naturalista.
Observa-se, assim, uma proliferação de assuntos e temáticas, desdobrando-se em
muitas classificações tais como a seca, a cana-de-açúcar, o cacau, os costumes, a fome, a
cultura de uma determinada região, entre tantas outras.
2.2 Romance e Regionalismo
O iniciador do romance, no Brasil, foi Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, com
O Filho do Pescador, mas foi com a obra A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo
que o romance ganhou espaço e apreciação. Foi, todavia, a partir das primeiras
manifestações de 1926, quando se encontraram os escritores nordestinos, que surgiu o
desejo de se fazer uma prosa regional consistente e participativa. É dessas primeiras
manifestações que surgiria um dos momentos mais importantes e, pode-se dizer, o mais
“autêntico da literatura brasileira”, o Romance de 30.
Entende-se por Regionalismo o conjunto das particularidades linguísticas de uma
determinada região geográfica, as quais são decorrentes da cultura ali existente. Uma das
principais expressões é o dialeto. Aponta-se que as raízes do regionalismo na literatura
ocidental estão no romantismo, cujos padrões estéticos foram assimilados. Entre os
elementos do romantismo estavam a valorização da natureza, os temas patrióticos e as
viagens a terras distantes, que contribuíram para o aparecimento dos romances históricos,
dos temas exóticos e, mais tarde, do romance regionalista.
A tendência denominada “regionalista”, em literatura, está vinculada a obras que
expressam regiões rurais e nelas situam suas ações e personagens, procurando expressar seu
momento, lugar, bem como suas particularidades linguísticas. A principal característica do
regionalismo está na oposição entre o meio rural e o meio urbano.
No Brasil, o regionalismo tem tradição. Romances retratando os costumes,
pessoas e ambientes surgiram em meados do século XIX, com as obras de José de Alencar,
de Bernardo Guimarães, de Alfredo d'Escragnole Taunay e de Franklin Távora. O romance
regionalista percorreu extenso caminho desde o Romantismo, passando pelo Realismo e
chegando ao Modernismo com Érico Veríssimo, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa,
entre outros escritores.
As raízes do regionalismo brasileiro, porém, estão no Romantismo e figuram,
principalmente, nas obras de José de Alencar e Visconde de Taunay. Pode-se classificar
como regionalista a obra cujo foco esteja centrado em uma região do país e extraia, dessa
região, toda a sua substância.
No Brasil, os primeiros regionalistas foram chamados de sertanistas, pelo fato
de focalizar a vida do sertanejo, visto como um símbolo autêntico do brasileiro. Tratava-se
de uma afirmação do nacionalismo. Desse modo, é o homem, alheio às influências da
Europa, que protagoniza os romances de Bernardo Guimarães, Franklin Távora e Taunay.
A figura do sertanejo, homem do interior, entra em cena quando o mito do
nacionalismo brasileiro, idealizado no índio, enfraquece. Assim, é possível dizer que a
tradição regionalista no romance brasileiro teve seu início com as preocupações
nacionalistas dos autores românticos do século XIX.
O regionalismo literário, no dizer de Letícia Malard (1981, p.124),
consiste em apresentar o espírito humano, nos seus diversos aspectos, em
correlação com o seu ambiente imediato, em retratar o homem, a
linguagem, a paisagem e as riquezas culturais de uma região particular,
consideradas em relação às reações do indivíduo, herdeiro de certas
peculiaridades de raça e tradição.
Essa definição, de acordo com a autora, embora não tenha sido dita no século
XIX, traz, ao mesmo tempo, uma concepção do homem romântico e as contingências
sociológicas do século XX. Para ela, o regionalismo é determinado pela combinação de
diversos fatores como a retratação das riquezas culturais de uma região em obras centradas
na verossimilhança.
Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay foi um dos primeiros prosadores
brasileiros a usar a linguagem coloquial em suas obras. Inocência conferiu ao romancista
lugar na história literária como um dos marcos entre o Romantismo e o Realismo. Segundo
Alfredo Bosi (1970, p.145), no âmbito de regionalismo, romântico ou realista, nada supera
Inocência quanto à simplicidade e o bom gosto. E
por seu temperamento e cultura, o visconde de Taunay tinha condições de
dar ao regionalismo sua versão mais sóbria. Homem de pouca fantasia,
muito senso de observação, formado no hábito de pesar com a inteligência
as suas relações com a paisagem e o meio (era engenheiro, militar e
pintor), Taunay foi capaz de enquadrar a história de "Inocência" em um
cenário e em um conjunto de costumes sertanejos onde tudo é verossímil.
Sem que o cuidado de o ser turve a atmosfera agreste e idílica que até hoje
dá um renovado encanto à leitura.
De fato, Inocência pode ser considerada uma obra de importância singular. Essa
história, com final trágico, marcou a impressionante popularidade de Taunay, pelo fato de
apresentar uma descrição realista de hábitos e costumes, episódios e cenários da vida
sertaneja inédita na literatura brasileira. Percebe-se que a marca regional da narrativa é a
experiência das viagens do autor em campanhas militares, ou seja, embora haja idealização,
a marca maior do romance é a pintura regional (vide anexo 3).
Por sua vez, o romance de 30 abordou questões sociais bastante graves: a
desigualdade social; a vida cruel dos retirantes; os resquícios de escravidão; o coronelismo,
apoiado na posse das terras; os problemas sociopolíticos das várias regiões retratadas.
Graciliano Ramos focaliza a seca nordestina em Vidas Secas (vide anexo 2). O narrador
descreve a cena cruel dos retirantes exaustos sob o sol, faz com que o leitor se solidarize
com ele. Esse modo de narrar provoca no leitor uma reação de desconforto diante da
imagem de uma cena que embora fictícia, mostra o quanto os romances dessa época foram
fundamentais para o amadurecimento da consciência crítica social e humanizadora do leitor
brasileiro. Neste sentido, são pertinentes as palavras de Antonio Candido (1995, p. 249)
sobre a literatura como fator indispensável de humanização do leitor:
Entendo aqui por humanização [...] o processo que confirma no homem
aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a
aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das
emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da
beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do
humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida
em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a
sociedade, o semelhante.
2.3 Estética da Recepção e formação de leitor
Por isso é que, voltando às DCEs de Língua Portuguesa (2009, p.72) que
afirmam ser necessário propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno
a perceber o sujeito presente nos textos, e com base nas palavras e no pensamento de
escritores tão importantes no contexto literário brasileiro, entende-se que é preciso ensinar a
ler e mais, é preciso ensinar a ler literatura, visto que a palavra tem o poder de
encantamento. Importa muito que se entenda que a literatura, além de respaldar os fatos
históricos proporciona o amadurecimento da consciência crítica e social e humanizadora do
aluno, na sala de aula.
É preciso, ainda, fazer com que a literatura se abra para o saber cotidiano e
contemple atividades que envolvam o conhecimento prévio do aluno para que, além de
provocar experiências transformadoras nesse leitor, possa ainda ampliar seus horizontes,
considerando o contexto de produção sócio-histórico, a finalidade do texto, o interlocutor e
o gênero. Isso sem deixar de levar em conta que para o encaminhamento da prática da
leitura, é preciso considerar o texto que se quer trabalhar e, então, planejar as atividades.
Assim,
Do ponto de vista pedagógico, não se trata de ter no horizonte a leitura do
professor ou a leitura historicamente privilegiada como parâmetro de
ação; importa, diante de uma leitura do aluno, recuperar sua caminhada
interpretativa, ou seja, que pistas do texto o fizeram acionar outros
conhecimentos para que ele produzisse o sentido que produziu; é na
recuperação desta caminhada que cabe ao professor mostrar que alguns
dos mecanismos acionados pelo aluno podem ser irrelevantes para o
texto que se lê, e, portanto, sua “inadequada leitura” é consequência deste
processo e não porque se coaduna com a leitura desejada pelo professor
(GERALDI, 1997, p.188).
Levando-se em conta as teorias da recepção, entende-se que o sentido que o
leitor dá ao texto lido não pode ser algo rígido pretendido ou predeterminado pelo autor.
Sabe-se que o horizonte de expectativas varia de leitor para leitor, visto que cada um possui
reações variáveis e dinâmicas. O objeto literário, aqui entendido, realiza-se na interação
com o interlocutor, na medida em que esse leitor reage aos estímulos do texto e, assim,
passa a construir sentidos naquilo que lê e passa a estabelecer conexões, misturando o seu
universo ao universo textual. Na verdade, a “qualificação e a capacitação contínua dos
leitores ao longo das séries escolares colocam-se como uma garantia de acesso ao saber
sistematizado, aos conteúdos do conhecimento que a escola tem de tornar disponíveis aos
estudantes” (SILVA, 2002, p. 07).
Logo, trabalhar a formação do leitor precisa ser uma das principais
preocupações dos docentes e das atividades/propostas pedagógicas, pois priorizar as
leituras em vários níveis torna o processo mais eficiente, o que leva o leitor a ampliar suas
habilidades, tornando-se um sujeito ativo no processo de leitura, tendo voz em seu
contexto. É durante as leituras realizadas pelo aluno que se concretiza a obra literária, pois
lendo ele atribui significados à obra. Essa significação parte da experiência individual e das
influências cultural, social e histórica do momento em que o texto é recebido, propiciando
ao leitor o aprofundamento dos seus conhecimentos, fazendo com que ele se distancie do
senso comum.
É possível gostar/amar aquilo não conhece? Quando o aluno afirma ao
professor, de forma desafiadora, não gostar de ler, estaria ele dizendo que não desenvolveu
a capacidade de tirar prazer das leituras que faz? Esse aluno sabe o que a leitura implica?
Desenvolver estratégias de mobilização para um caminho, uma direção no processo de
saber ler pode aguçar a curiosidade dos leitores para a leitura literária das obras Vidas Secas
e Inocência?
O objeto literário, aqui entendido, realiza-se na interação com o interlocutor, na
medida em que esse leitor reage aos estímulos do texto e, assim, passa a construir sentidos
naquilo que lê e passa a estabelecer conexões, misturando o seu universo ao universo
textual. “A qualificação e a capacitação contínua dos leitores ao longo das séries escolares
colocam-se como uma garantia de acesso ao saber sistematizado, aos conteúdos do
conhecimento que a escola tem de tornar disponíveis aos estudantes” (SILVA, 2002, p. 07).
Assim, a teoria da Estética da Recepção está evidenciada como um caminho
para realizar o trabalho da leitura do texto literário em sala de aula, onde o professor poderá
abrir espaço para o aluno expor suas ideias, suas impressões e, por que não, suas decepções.
Permite também desenvolver suas habilidades de reflexão e interpretação e, com isso,
mostrar que a leitura pode iluminar a vida. Desse modo, a partir dos romances de
Graciliano Ramos e Visconde de Taunay, o estudo do Regionalismo brasileiro priorizará a
realização de leitura crítica desses romances e a reflexão sobre o regionalismo, além da
análise e interpretação desses textos.
Com esse trabalho pretende-se ampliar a cosmovisão do aluno no que concerne
ao ensino de literatura. O estudo terá por base os preceitos da teoria da Estética da
Recepção, promovendo, desse modo, o debate crítico com os alunos em sala de aula,
momento em que o professor orientará a discussão para que o leitor dialogue com o texto e
perceba que nele estão inseridas outras vozes sociais as quais expressam diferentes
conhecimentos.
De acordo com Iser (1996, p. 75), é nesse universo que o leitor pode entrar,
reproduzindo sua história de vida para, depois, somar ao texto lido. “Daí a impressão de
viver uma transformação durante a leitura” (ISER, 1999, p. 90). É por isso que a
“constituição do sentido que acontece na leitura, portanto, não só significa que criamos o
horizonte de sentido, tal como implicado pelos aspectos do texto” (ISER, 1999, p. 92), mas
são as vivências do leitor que, acrescidas às lacunas do texto literário, podem suscitar e dar
novos sentidos ao texto.
Para Jauss, é o leitor que pode dar continuidade à obra, tornando possível notar
sua qualidade estética. Segundo Jauss, “a experiência da leitura logra libertá-lo das
opressões dos dilemas de sua práxis de vida, na medida em que o obriga a uma nova
percepção das coisas” (JAUSS, 1994, p. 52). A proposta desta unidade didática é a leitura
do gênero romance com o objetivo de privilegiar o leitor no processo de ensino de literatura
a ser desenvolvido com alunos do Ensino Médio, do Colégio Estadual Douradina, do
município de Douradina, pois,
O acesso aos mais variados textos, informativos e literários,
proporciona, assim, a tessitura de um universo de informações
sobre a humanidade e o mundo que gera vínculos entre o leitor e os
outros homens. A socialização do indivíduo se faz, para além dos
contatos pessoais, também através da leitura, quando ele se
defronta com produções significantes provenientes de outros
indivíduos, por meio do código comum da linguagem escrita. No
diálogo que então se estabelece o sujeito obriga-se a descobrir
sentidos e tomar posições, o que o abre para o outro (BORDINI;
AGUIAR, 1993, p.10).
2.4 Método
Fundamentada nas teorias da Estética da Recepção, esta unidade didática foi
elaborada com o intuito de formar o leitor crítico, com mais competência para ler e
compreender obras literárias como Vidas Secas e Inocência.
Evidentemente, a participação do professor é fundamental nesse processo. É ele
quem proporcionará ao leitor, por meio de promoção de debates e discussões, a
possibilidade de compreensão dessas informações, para que as elas sejam interiorizadas e
fundidas com os conhecimentos de sua vivência e visão de mundo. Ao estabelecer esse
contato com o mundo do outro através do texto literário, o leitor passa a construir sentido
para o que lê. Quanto mais forem as leituras, mais interação haverá do leitor com o texto. O
trabalho visará, também, à cumplicidade entre alunos e professor para que o ambiente de
trabalho promova o surgimento da criatividade.
Na esteira das Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa e Literatura, esta
unidade didática segue, portanto, como encaminhamento metodológico, o Método
Recepcional proposto por Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar. Esse método
é dividido em cinco etapas, a saber:
- Determinação do horizonte de expectativas.
- Atendimento do horizonte de expectativas.
- Ruptura do horizonte de expectativas.
- Questionamento do horizonte de expectativas.
- Ampliação do horizonte de expectativas.
3.1 DETERMINANDO O HORIZONTE DE EXPECTATIVAS
Objetivos: - despertar e aguçar a curiosidade dos educandos para tema regionalismo;
- apresentar o projeto para os alunos.
O primeiro passo é aguçar a curiosidade dos discentes para a obra Vidas Secas.
O aluno será instigado com questões bem simples e claras a respeito das obras. A partir daí
as atividades estarão voltadas para a relação do tema ou para os tópicos relacionados com a
vida cotidiana.
Para determinar o horizonte de expectativas do leitor, serão feitos alguns
questionamentos (oralidade) com relação à experiência de leitura do mesmo, bem como,
será observado e analisado cada indivíduo segundo o seu comportamento, suas reações e
expressões durante os debates, ou outras atividades, como jogos, dramatizações praticados
em sala de aula. Esse proceder tem a função de despertar e aguçar a curiosidade dos
educandos para o tema regionalismo.
Na sequência, serão mostradas algumas imagens da seca, mesmo tema da
canção Asa branca para ilustrar a aula e oportunizar o envolvimento dos alunos no debate.
Seguem sugestões possíveis para o encaminhamento das atividades.
a) Você gosta de ler? Por quê?
b) Que tipos de texto você já leu? Cite alguns?
c) Você tem dificuldade para ler e compreender um texto? Há textos mais
difíceis ou mais fáceis de compreender? Você sabe o que quer dizer a palavra romance?
d) Você se lembra de algum texto ou história lida que você achou
incrível/engraçado? Qual? Por quê?
e) O que mais chama sua atenção em um texto? O assunto abordado? O
tamanho do texto, tamanho ou cor da letra? A maneira/forma como foi escrito?
A proposta para o início dessa etapa será descontrair a turma e determinar o
horizonte de expectativas do leitor. Para isso será apresentada a canção de Luís Gonzaga,
Asa Branca. O texto será o ponto de partida para o início das atividades. Os alunos serão
incentivados a interpretar a música.
Questionamentos serão feitos (oralidade) com relação à experiência de leitura do
gênero “canção popular” observando e analisando cada indivíduo segundo o seu
comportamento, suas reações e expressões durante os debates em sala de aula.
Em seguida serão mostradas algumas imagens com o mesmo tema da canção
para ilustrar a aula e oportunizar um debate mais rico.
a) Você gosta de música? Que gênero? A qual gênero você acha que
pertence essa canção?
b) Você teve dificuldades para ler e compreender a letra dessa música? Por
quê?
c) Você se lembra de alguma outra música ou texto que fala desse mesmo
assunto? Qual?
d) O que mais chamou sua atenção nesse texto? O assunto abordado? A
maneira/forma como foi escrito?
e) Como você classificaria a forma desse texto? Por quê?
f) O que a imagem retrata? É possível fazer uma previsão do lugar
representado nas imagens? Que elementos poderiam comprovar? Por quê?
g) O que retrata a terceira imagem? Há algo que a diferencia das outras
duas? O quê?
h) Comparando a letra da música com essas imagens, a que conclusão é
possível chegar?
f) Quando inicia a leitura de um texto mais longo ou difícil de entender, qual
é a sua atitude ou reação? Insiste na leitura? Pula partes? Desiste? Relê algumas partes?
Recurso Didático (material): letra da música Asa branca e três imagens
ilustrando o mesmo assunto.
A letra da música será distribuída aos alunos e será disponibilizado na TV
Multimídia (Tv pendrive), e um vídeo com a interpretação de Conzaguinha. Também serão
apresentadas imagens que abordam o tema da canção.
Composição: Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira
(choro regional popularmente conhecido como baião)
1-Quando oiei a terra ardendo
com a fogueira de São João
Eu perguntei, a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação(2x)
2-Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por falta d'água perdi meu gado
morreu de sede meu alazão(2x)
.................................................
4-Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Para mim vorta pro meu sertão(2x)
5-Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração(2x)
Disponível em: http://letras.terra.com.br/luiz-gonzaga/47081/ Acesso em 20/04/2010
Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Patagioenas
_picazuro_854.jpg Acesso em 20/04/2010
Disponível em: http://oliveirajunior2.zip.net/images/seca.jpg Acesso em 25/03/10
Disponível em: http://dvdvirgem.files.wordpress.com/2009/03/3095021.jpg
Acesso em 25/03/10
Disponível em http://revistadeletras.files.wordpress.com/2009/06/vidas-secas-capa-1c2aa-
edica.jpg Acesso em: 25/03/10
3.2. ATENDENDO AO HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Objetivos: - ler e interpretar o capítulo “Mudança” de Vidas Secas e promover
atividades de leitura e compreensão do texto;
- prender a atenção do leitor;
- debater o tema seca;
- estudar e identificar no texto narrativo ficcional os elementos da
narrativa (o narrador, o foco narrativo, a ação, o tempo, o espaço e as
personagens).
Nessa etapa, o professor precisa dar início à parte prática da atividade de
maneira adequada para cativar o aluno. A proposta consiste em o professor ler o capítulo
“Mudança” de Vidas Secas, para atrair a atenção para a importância da leitura e mostrar que
alguns livros ajudam o leitor a compreender a vida, a si mesmo e, acima de tudo, ajuda a
pessoa a ter mais liberdade político-cultural. Esse é um capítulo que prende a atenção dos
leitores pelo fato de as personagens passarem dificuldades no enfrentamento da seca no
sertão nordestino. A partir da leitura o professor vai promover atividades que auxiliem na
compreensão do texto como debates ou jogos competitivos.
Primeiro, será promovido um debate a partir de música, imagem, poemas, etc.,
abordando o tema. Em seguida, será lido pelo professor o capítulo “Mudança” de Vidas
Secas, para mostrar que a leitura de certos livros ajuda o leitor a compreender a vida, a si
mesmo e, sobretudo, leva a pessoa a tornar-se mais inteligente e livre da estagnação cultural
e política.
Serão feitos diversos questionamentos orais com relação à experiência de leitura.
Cada indivíduo será observado e analisado quanto ao seu comportamento, suas reações e
expressões durante os debates, ou outras atividades realizadas para despertar e aguçar a
curiosidade dos educandos.
Seguem sugestões possíveis para o encaminhamento das atividades.
a) O fato narrado no texto assemelha-se ao real, a algo que aconteceu ou é
mera ficção? Por quê?
b) Mesmo sabendo que, no texto, as personagens são pessoas de papel, ou
personagens ficcionais, é possível encontrar uma família como a de Fabiano? Comente.
c) Existe no texto um personagem que é o narrador ou há alguém de fora
contando a história?
d) O que você achou dessa história? O que ela provoca? Raiva, pena,
indiferença...
e) Quantas são as personagens deste texto? Todas representam pessoas?
Comente.
f) Você notou referências sobre tempo, espaço, ambiente, na história?
3.3 ROMPENDO O HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Objetivo: estudar acerca das questões de leitura do romance Vidas Secas.
Para esta etapa, o professor pode propor uma atividade instigante para que os
educandos rompam seus horizontes de expectativas. O professor deve partir para a leitura
da obra na íntegra, o que vai exigir dos leitores maior esforço. Porém, mesmo sabendo que
essa atividade vai demandar algum tempo, os alunos precisam, neste momento,
perceberem-se ingressando num campo desconhecido. É o momento do desafio e o
professor pode auxiliá-los com incentivos para que não se sintam incapazes e rejeitem a
experiência na busca de novos conhecimentos.
1. Como a obra é narrada? Primeira ou terceira pessoa? Comprove com
passagens do texto.
A narrativa é feita em terceira pessoa (vide anexo 1), é possível verificar a
predominância do discurso indireto livre. Há uma intimidade grande entre narrador e
personagem. Isso se dá através dos pensamentos, sonhos, lembranças de Fabiano com
monólogos interiores ou reflexões de pensamento, onde o narrador é percebido de forma
onisciente ou talvez como testemunha. A construção se faz através de frases curtas e
enxutas e na maioria das vezes os períodos são simples. (dar exemplos do livro)
2. Quantos capítulos compõem a obra? Quais? Como os capítulos se ligam? O
livro é uma só narrativa?
A ligação dos capítulos se dá pela repetição de alguns motivos e temas, como a
paisagem árida, a zoomorfização e antropomorfização das criaturas. Dessa forma, ao
desenvolver o conflito entre a Baleia e a família de Fabiano, o narrador acaba por nivelar
todos como se fossem animais. Baleia é humanizada e a família é animalizada.
3. Como são descritas? Como as personagens são apresentadas? Por quê?
As personagens são apresentadas uma de cada vez. O narrador descreve Fabiano
como a um bicho, espinhaço curvo, pés duros, cambaio, feio. Os pensamentos
fragmentados das personagens e seus problemas de linguagem. Em relação aos aspectos
físicos nada se tem de Sinhá Vitória e dos dois meninos. O que se sabe é que, o sonho dela
era ter uma cama de varas. Isso mostra um afastamento entre elas, acentuando uma vida
particular e a solidão em que vivem. Vidas Secas apresenta uma dramática descrição de
pessoas que não conseguem se comunicar. Estão juntas, mas não mantêm um diálogo. (ler
partes da obra, nas quais Fabiano se diz um bicho e a cachorra Baleia tem pensamentos
personificados).
4. Como se dá a comunicação entre empregador e empregado? Como é a
linguagem utilizada entre os membros da família? Aqui é possível entender o título? Por
quê?
Os opressores não se comunicam com os oprimidos. Os grupos não se
comunicam. Tem-se a impressão de um desencontro dos seres com raros diálogos. A
solidão, abandono! (Exemplificar com os xingamentos, insultos e grunhidos presentes no
texto).
5. Como se percebe o espaço dos acontecimentos? Como as personagens se
sentem em relação a Terra?
Na descrição do ambiente no romance, o autor embora superficialmente, realça
os símbolos regionais. A terra se mostra áspera, dura e cruel, mas em nenhum momento
deixa de ser amada por eles. Na verdade o espaço que se percebe na obra é o Nordeste
brasileiro, qualquer lugar onde haja seca. Em Vidas Secas, Graciliano não se distanciou da
tradição regionalista, apresentou a região do árido Nordestino com suas plantas regionais,
como o mandacaru.
6. Como se percebe o tempo? Comprove com passagem do texto.
O tempo da narrativa está entre duas secas. No primeiro capítulo “Mudança” o
grupo: Fabiano, a mulher Sinhá Vitória, os dois filhos (mais novo e mais velho), a cachorra
Baleia e o papagaio (Que foi morto para matar a fome da família) são retirantes e procuram
um lugar para ficar. No último capítulo, “Fuga”, acontece uma nova retirada quando eles
são tangidos pela seca em busca de um lugar no mundo.
7. Há um enredo encadeando as histórias de Vidas Secas?
Pode-se dizer que os capítulos de Vidas Secas, não revelam um enredo. O que se
vê é um painel composto por várias histórias autônomas. Mas levando em conta o primeiro
e o último capítulo percebe-se que há um enredo os quais dão um efeito cíclico em que a
vida sofrida nunca termina por causa da seca.
8. Como a denúncia social é percebida na obra?
Ao escrever o romance Graciliano Ramos faz penetrar no pensamento, na carne
e na alma do leitor cada um dos membros da família de Fabiano para mostrar de forma
brutal a discriminação, a cultura e a realidade do sertanejo nordestino. Os membros da
família são alegorias, ou seja, representam o sertanejo nordestino, ignorante e resignado
diante da realidade cruel.
9. Vidas Secas é uma obra regionalista. Como comprovar essa afirmativa?
Pode-se afirmar que Vidas Secas é uma obra que pertence ao gênero regionalista
porque descreve uma realidade social e um espaço tipicamente Nordestino na forma da
tradição. A presença de do uso de nomes e termos regionais pode comprovar a afirmativa.
A contextualização de Vidas Secas como romance de 30 apresenta elementos fortes do
regionalismo ao fazer um retrato real, cruel e brutal das relações sociais, claramente feudais
que imperavam no Nordeste do Brasil na época.
3.4. QUESTIONANDO O HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Objetivos: - debater acerca das questões de leitura de Vidas Secas;
- refletir sobre o regionalismo presente nessas obras;
- analisar e interpretar o universo diegético dos romances;
- promover o debate crítico.
A etapa do questionamento do horizonte de expectativas é o momento de
promover o debate (oralidade) a respeito da obra lida. Os alunos vão definir qual capítulo
foi o mais complexo. Os temas dos capítulos. Questionar quais capítulos proporcionaram os
melhores resultados de compreensão e reflexão. Os mais simples ou os mais difíceis? Nesse
momento o professor pode retomar partes do texto para uma leitura cuidadosa, para que os
alunos possam recuperar o “não dito”, momento em que o aluno/leitor passa a exercitar
novas articulações mentais.
Nesse questionamento do horizonte de expectativas é necessária a intervenção
do professor através da motivação e desenvolvimento de ações concretas para que o
aluno/leitor tenha atendido esse horizonte, para depois de romper partir para o e
questionamento desse mesmo horizonte. A proposta prevê também a leitura do romance
Inocência, de Taunay.
Nesse contexto, é importante levar em conta o pensamento de Jauss (1994), a
respeito das leituras realizadas pelos alunos. O pensador deixa explícito que o valor de uma
obra literária decorre da percepção estética que desperta no leitor, ao mesmo tempo em que
contraria a expectativa do leitor. É preciso acreditar que a leitura de obras literárias
possibilita a emancipação da sociedade ampliando os horizontes de expectativas dos
leitores.
A realização dos passos propostos por Bordini e Aguiar não é um ponto final,
mas o início de uma nova aplicação do método, que precisa evoluir como a um espiral de
forma a permitir ao aluno se perceber como leitor mais consciente em relação a uma obra
literária e à sua vida real. Abre-se então, um espaço para o debate das obras.
1. Por que o título Vidas secas?
O título da obra se refere à secura presente em todos os espaços, vegetal,
social e animal. Começando pela ambientação que revela a caatinga com sua
vegetação seca, amarelada e cinzenta. Do mesmo modo, percebe-se que as relações
sociais são limitadas, sendo flagrante nos pensamentos das personagens que quase
não se comunicam. Sofrem todas as agruras causadas pela seca que os
transformaram em seres à beira de bichos. Homem e natureza não se diferenciam:
ambos são secos, duros, espinhosos, fechados e magros.
Imagens disponíveis em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/mylinks/viewcat.php?cid=14
Acesso em 27/06/2010
2. Qual a importância da temática desenvolvida em Vidas Secas?
A temática da obra tem um ponto muito importante, pois nela Graciliano Ramos
apresenta a seca e suas consequências para o povo, A denúncia está voltada para a falta de
interesse político da nação e não apenas para um triste fenômeno da natureza. Até então, a
temática da seca era utilizada pela maioria dos autores como pano de fundo de suas
histórias, como O Quinze, de Rachel de Queiroz.
3. O que permite ao leitor o narrador onisciente?
Narrado em terceira pessoa, o livro permite que o narrador se interiorize nos
pensamentos dos personagens para revelá-los ao leitor. Assim, o texto fica estruturado com
predominância do discurso indireto livre. Com o narrador se apropriando do discurso das
personagens, deixa evidentes seus medos, desejos, raivas e frustrações através de
monólogos interiores.
4. Qual é o foco narrativo de Vidas Secas?
Em relação ao foco narrativo, nota-se que o narrador converte em palavras os
anseios e pensamentos das personagens. Com isso a narrativa fica mais evidente ao passo
que as personagens do livro quase não falam. Com a privação da fala das personagens
principais, o escritor deixa marcado o subjulgamento do ser humano como é evidente em
Fabiano. Esse recurso foi necessário para que fosse mantida a verossimilhança da obra, por
causa da paupérrima articulação verbal das personagens.
5. Qual seria a maior crítica social presente na obra Vidas secas?
A crítica social da obra está evidente na grande opressão sobre os retirantes que
lhes tira, inclusive, o direito de falar.
6. A partir do que foi lido, debatido e questionado, pode-se dizer que o livro
Vidas secas retrata fielmente a realidade brasileira?
O livro, Vidas secas, não só retrata fielmente a realidade brasileira da época em
que foi escrito, mas também a realidade de hoje. É possível observar a injustiça social, a
miséria, a fome, a desigualdade, a seca, o que remete à ideia de que o homem se animalizou
sob condições subumanas de sobrevivência.
7. No Romantismo, a natureza expressa o sentimento do eu-lírico, é quase como
a expressão mais pura do estado de espírito do poeta. O que representa para o homem a
natureza em Vidas Secas?
Em Vidas secas a natureza perde o tom romântico. A caatinga é uma ameaça à
sobrevivência transformando o homem num ser duro, grosso e calado. A experiência com a
seca trouxe a desgraça de ver a morte diariamente, além de ser expulso da sua terra.
8. Como se percebe o espaço dos acontecimentos? Como as personagens se
sentem em relação a Terra?
Na descrição do ambiente no romance, o autor, embora superficialmente, realça
os símbolos regionais. A terra mostra-se áspera, dura e cruel, mas em nenhum momento
deixa de ser amada por eles. Na verdade, o espaço que se percebe na obra é o Nordeste
brasileiro, qualquer lugar onde haja seca. Em Vidas Secas, Graciliano não se distanciou da
tradição regionalista, apresentou a região do árido Nordestino com suas plantas regionais,
como o mandacaru.
9. Em Vidas Secas o tempo é cronológico ou psicológico?
A opção do narrador de ocultar os marcadores temporais, valorizando o tempo
psicológico foi um recurso para evidenciar a exclusão dos personagens. Além disso, a
valorização do tempo psicológico na narrativa fez com que as angústias dos personagens
ficassem mais próximas do leitor, que as percebe com muito mais intensidade.
10. Levando em conta a falta de linearidade na obra, como fica o enredo?
A marca de linearidade temporal está marcada no primeiro capítulo “Mudança”
e no último capítulo da obra, “Fuga”. No primeiro, narra as agruras da família sertaneja na
caminhada difícil pela aridez da caatinga até chegar à fazenda abandonada. Em “Fuga”, os
retirantes partem da fazenda para uma nova busca por condições mais favoráveis de vida.
Desse modo, o romance está estruturado por meio da permanência e da retirada em terra
alheia. Os 11 capítulos intermediários, não exigem a necessidade de uma leitura linear. Isso
acontece pela ausência de sequência temporal marcada entre esses episódios no romance.
Pela leitura percebe-se que os dias passam, os anos transcorrem, mas ao leitor não é
permitido saber sequer a idade de qualquer personagem ou a duração exata da narrativa.
11. Qual seria a explicação para a cadela “Baleia”, diferentemente da maioria
dos outros personagens, ter nome próprio?
Se por um lado o autor apresenta a família degradada, chegando mesmo à
condição de animal, por outro, apresenta a cadela como um animal humanizado. Baleia,
muitas vezes, é solidária com os retirantes, isso é percebido no momento em que ela matou
o preá e não comeu sozinha, entregou-o a Fabiano. Desse modo, Baleia é uma metáfora que
Graciliano usou para individualizar um personagem que parece ter alma.
12. Vidas Secas é uma obra regionalista. Como comprovar essa afirmativa?
Pode-se afirmar que Vidas Secas é uma obra que pertence ao gênero regionalista
porque descreve uma realidade social e um espaço tipicamente Nordestino na forma da
tradição, além de retirar do local toda a substância para a história. A presença do uso de
nomes e termos regionais pode comprovar a afirmativa. A contextualização de Vidas Secas
como romance de 30 apresenta elementos fortes do regionalismo ao fazer um retrato real,
cruel e brutal das relações sociais, claramente feudais que imperavam no Nordeste do Brasil
na época.
13. Como a denúncia social é percebida na obra?
Ao escrever o romance, Graciliano Ramos faz penetrar no pensamento, na carne
e na alma do leitor cada um dos membros da família de Fabiano para mostrar, de forma
brutal, a discriminação, a cultura e a realidade do sertanejo nordestino. Os membros da
família são alegorias, ou seja, representam o sertanejo nordestino, ignorante e resignado
diante da realidade cruel.
14. Sintetize as principais ideias estudadas e debatidas em Vidas secas?
Biografia – Graciliano Ramos
A 1ª Imagem é do escritor Graciliano Ramos e José Olympio (por trás), Cândido
Portinari em sua casa, Rio de Janeiro, 1952, já a 2ª é uma tela de Cândido Portinari,
intitulada Criança Morta, que faz parte da série sobre os retirantes nordestinos.
Imagens disponíveis em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/mylinks/index.php Acesso em
27/06/2010
Graciliano Ramos viveu os primeiros anos em diversas cidades do Nordeste
brasileiro. Terminou o segundo grau em Maceió, seguiu para o Rio de Janeiro, onde passou
um tempo trabalhando como jornalista. Voltou para o Nordeste em setembro de 1915 e
fixou-se em Palmeira dos Índios, Alagoas. Nesse mesmo ano casou-se com Maria Augusta
de Barros, que morreu em 1920, deixando-lhe quatro filhos. Foi eleito prefeito de Palmeira
dos Índios em 1927. Ficou no cargo por dois anos, renunciando a 10 de abril de 1930. Os
relatórios da prefeitura que escreveu nesse período chamaram a atenção de Augusto
Schmidt, editor carioca que o animou a publicar Caetés (1933).
Entre 1930 e 1936 viveu em Maceió, trabalhando como diretor da Imprensa
Oficial e diretor da Instrução Pública do estado. Em 1934 publica São Bernardo, foi preso
em decorrência do pânico insuflado por Getúlio Vargas após a Intentona Comunista de
1935. Com ajuda de amigos, entre os quais José Lins do Rego, consegue publicar Angústia
(1936), considerada sua melhor obra.
Foi libertado em janeiro de 1937. As experiências da cadeia, ficariam gravadas
em uma obra publicada postumamente, Memórias do Cárcere (1953).
Em 1938 publicou Vidas Secas. Em seguida estabeleceu-se no Rio de Janeiro,
como inspetor federal de ensino. Em 1945 ingressou no antigo Partido Comunista do
Brasil. Realizaria algumas viagens a países europeus com a segunda esposa, Heloísa
Medeiros Ramos, retratada no livro Viagem (1954). Ainda em 1945, publicou Infância,
relato autobiográfico.
Adoeceu gravemente em 1952 e faleceu em 20 de março de 1953, aos 60 anos,
vítima de câncer do pulmão.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Graciliano_Ramos Acesso em
27/06/2010
3.5 AMPLIANDO O HORIZONTE DE EXPECTATIVA
Objetivos: - Discutir os romances regionalistas da Literatura Brasileira;
- incentivar os alunos à leitura da obra Inocência;
- estabelecer comparações entre a linguagem a linguagem literária e a
linguagem musical;
- saber reconhecer e diferenciar a linguagem coloquial da linguagem formal;
- contextualizar algumas das teses apresentadas no livro, comparando-as à
sociedade atual.
Serão distribuídas cópias de músicas sertanejas e textos que falem do caboclo. Serão
realizados análises e debates sobre a temática. Depois, para ampliar os conhecimentos
relacionados ao regionalismo, será pedido que os alunos leiam o romance Inocência, de
Visconde de Taunay.
Associe os aspectos temáticos da obra:
a) Escravidão
b) Amor impossível
c) Contradições
d) Honra
1 - Que músicas sertanejas falam das dores de amor e que sejam cantadas
em linguagem regional? Cite algumas.
2 - Vocês se lembram da mais famosa tragédia de amor da literatura
universal? Quem a escreveu? Você já leu essa obra? Comente.
3 - Quais telenovelas falam ou já falaram das dores de amor em linguagem
regionalizada?
4 - Como foi o enredo?
5 - Qual o horário em que essas telenovelas são transmitidas? Por quê?
6 - Alguns desses enredos se aproximam com o da obra Inocência?
7 - Você considera esses enredos verossímeis? Por quê?
8 - A mocinha da história tem semelhança com a personagem de Taunay?
e) Sofrimento
f) Simplicidade
g) Beleza
(......) A obra apresenta as dificuldades por que passava o sertanejo no
enfretamento das adversidades como as longas distâncias e a dificuldade de abrigo, na
busca dos objetivos.
(......) É observável no comportamento e nos diálogos que acontecem entre as
personagens típicas do sertão.
(......) Percebe-se uma comparação entre o jeito simplório de ser do homem do
sertão como Pereira e a forma avançada da Europa na figura de Meyer.
(......) A falta de condições da existência de um amor tão puro e verdadeiro faz
com que um morra de amor e o outro pelo amor.
(......) No contexto social daquela época, a palavra de um homem era tão valiosa
que tinha força de lei, tanto que o pai sacrificou sua própria filha.
(......) É perceptível na paisagem do sertão interiorano e na singularidade e
delicadeza de traços da jovem Inocência.
(.....) Percebe-se o domínio, poder sobre outros nas figuras de Tico de Maria
Conga.
Comente a partir do enxerto abaixo, a crítica do autor Taunay, ao
implacável patriarcalismo do mundo rural.
Foco narrativo
“Eu repito, isto de mulheres, não há que fiar. Bem faziam os nossos do
tempo antigo. As raparigas andavam direitinhas que nem um fuso... Uma piscadela de
olho mais duvidosa, era logo pau. (...) Cá no meu modo de pensar, entendo que não se
maltratem as coitadinhas, mas também é preciso não dar asas às formigas...”.
Na obra Inocência nota-se que o foco narrativo confere plenos poderes a uma só
focalização e tudo é apresentado a partir de um único ponto. Como é denominado esse tipo
narrador?
Cada personagem descrita por Taunay tem traços bastante diferenciados.
a) Pereira
b) Tico
c) Manecão
d) Cirino
e) Inocência
f) Meyer
g) Maria Conga
(......) Dona de grande beleza e delicadeza de traços, cabelos longos e pretos, nariz fino,
olhos matadores, beleza deslumbrante e incomparável, faces mimosas, cílios sedosos, boca
pequena e queixo admiravelmente torneado. Simples, humilde, meiga, carinhosa, indefesa e
apaixonada.
(......) Tinha mais ou menos 25 anos, presença agradável, olhos negros e bem rasgados,
barbas e cabelos cortados quase à escovinha. Era tão inteligente quanto decidido. Era
caridoso, bom doava a própria vida em defesa do amor. Prático de farmácia.
(.....) Vaqueiro bruto do sertão, rude, mas decente, trabalhador, sério. Alto, forte, pançudo e
usava bigode. Pessoa fria que matava se fosse preciso, em defesa de sua honra.
(.....) Guardião de Inocência, mudo. Vigiava e detinha profundo respeito e admiração por
Inocência, mas foi capaz de entregá-la ao pai. O fofoqueiro da história.
(......) Um naturalista muito dedicado à profissão que exercia, por isso precisava viajar
muito. Ao elogiar Inocência acabou sendo vigiado pelo pai da moça.
(......) Escura, idosa e mal vestida e sempre com um pano branco de algodão na cabeça. Era
quem cuidava dos afazeres domésticos.
(......) Senhor de mais ou menos 45 anos, durão e conservador. Homem gordo, bem
disposto, cabelos brancos, rosto expressivo e franco. Pessoa honesta, hospitaleira. Mas que
não voltava atrás naquilo que dizia, nem que isso lhe custasse a vida. Uma pessoa ingênua e
desconfiada.
No capítulo “O Sertão e o Sertanejo”, como se a caracterização da essência
deste homem? (Comentar como seriam vistos, hoje, esses padrões morais do homem do
sertão na sociedade).
Por que Inocência é uma obra romântica? Comentários sobre a morte por
amor.
Mesmo sendo uma obra romântica, como Taunay dá ao romance um tom
verossímil?
Comentários
(Ele evita o sentimentalismo exagerado de escritores românticos, enquadra a
história no contexto dos costumes sertanejos através de uma visão crítica dos antiquados
costumes sociais brasileiros, sobretudo do interior do país, e do autoritarismo desmedido
dos pais.)
Que outras obras você leu que trabalha a temática do amor? Comentários.
Como o autor introduz os capítulos? (Cada capítulo do romance é introduzido
por uma epígrafe.) O que é epígrafe?
Comentários
(Em literatura, epígrafe é um título ou frase curta colocado no início de uma
obra, ou capítulo de obra, serve como tema ou assunto para resumir ou apontar uma
introdução).
Que relação existe entre a epígrafe e o conteúdo do capítulo?
Em quais momentos da história, se percebe uma discussão a respeito das
diferenças entre a vida na cidade e a vida no sertão, sobretudo com relação ao
comportamento das mulheres? Citar e Comentar passagens do livro.
Qual foi a única possibilidade imaginada por Inocência para tentar romper seu
compromisso com Manecão e casar-se com Cirino?
Comentários
(Inocência diz ao pai que sonhou com a mãe e que esta lhe disse que o
casamento não deveria se realizar. Ela não conseguiu seus objetivos porque não conheceu a
mãe, portanto não sabia que ela tinha um sinal no rosto, então ela pede desculpas ao pai.
Este declara que prefere vê-la morta a vê-la desonrada.)
É válida a descrição de Inocência feita no capítulo 6 em relação à descrição
de outras heroínas dos autores românticos?
Que diferenças se podem perceber entre a linguagem do narrador e a
linguagem dos personagens?
A situação vivida por Inocência seria impossível nos dias atuais? Por quê?
Qual o papel social da mulher sertaneja?
Atualmente nós vivemos em uma sociedade despojada dos preconceitos
contra as mulheres?
Quais as discriminações a que as mulheres são submetidas ainda hoje?
Por que as obras Inocência, de Visconde de Taunay, e Vidas Secas, de
Graciliano Ramos, são consideradas regionalistas?
Que características essas obras apresentam para que sejam classificadas como
regionalistas?
Que diferenças podem ser percebidas no regionalismo de Inocência e de
Vidas Secas?
Biografia - Alfredo d'Escragnolle Taunay
Alfredo Taunay nasceu em uma família aristocrática
de origem francesa no Rio de Janeiro em 22 de fevereiro de
1843. Filho de Félix Emílio Taunay, pintor, professor e diretor
da Academia Imperial de Belas Artes e a mãe, Gabriela
Hermínia Robert d'Escragnolle Taunay, uma dama da alta
sociedade brasileira, irmã do barão d'Escragnolle e filha do conde d'Escragnolle.
Após obter seu bacharelado em literatura no Colégio Pedro II em 1858, aos
quinze anos de idade, Taunay estudou Física e Matemática no Colégio Militar do Rio de
Janeiro, tornando-se bacharel em Matemática e Ciências Naturais em 1863. Casou-se com
Cristina Teixeira Leite, filha do barão de Vassouras. Seu filho foi o historiador Afonso
d'Escragnolle Taunay, membro-fundador da Academia Brasileira de Letras. Taunay lutou
na Guerra do Paraguai como engenheiro militar, de 1864 a 1870. Desta experiência surgiu
seu livro A Retirada da Laguna. A obra Inocência foi ecrita em 1872. Após retornar ao Rio
de Janeiro, lecionou no Colégio Militar e iniciou sua carreira como político do Segundo
Império.
Capa original de Inocência (1872).
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Inoc%C3%AAncia_(livro) Acesso em
27/06/2010
Em 1876 foi nomeado presidente da província de Santa Catarina. Inconformado
com a queda do Partido Conservador, Taunay retirou-se da vida política em 1878 para
estudar na Europa. Em 1881 é eleito deputado pela província de Santa Catarina e, em 1885,
nomeado presidente da província do Paraná. Em Curitiba, foi um dos responsáveis pela
criação do primeiro parque da cidade, o Passeio Público, inaugurado em 2 de maio de 1886.
Recebeu o título nobiliárquico, “Viscode de Taunay” de D. Pedro II em 6 de setembro de
1889 e faleceu no dia 25 janeiro do ano seguinte.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfredo_d'Escragnolle_Taunay Acesso em
27/06/2010
Para as atividades práticas será proposta a utilização de vários recursos para
expor os resultados das pesquisas e as análises realizadas pelos grupos sobre os romances,
observando as marcas formais dos textos.
A proposta de avaliação para o fechamento do trabalho com a obra Inocência é
uma pesquisa sobre a história das relações familiares na sociedade brasileira para posterior
apresentação em sala de aula através de um painel ilustrativo com a síntese da pesquisa,
levando em conta participação e a realização das atividades propostas.
1. Painel: montar um painel com imagens de jornais, revistas, internet, que
abordem os fatos discutidos no romance, Vidas Secas e Inocência, os quais estão na
atualidade;
2. Literatura de Cordel: fazer uma pesquisa sobre Literatura de Cordel e
promover uma atividade de leitura na sala com os temas seca, sede, fome, cansaço, fuga,
desespero...
3. Música: selecionar letras músicas que tenham relação com temas seca e fome
e promover uma atividade de interpretação oral (cantar).
4. Dramatização: fazer uma dramatização tendo como base um dos capítulos do
livro.
5. Paródia: pesquisar sobre paródia bem como construir um texto com esse
gênero com a letra de uma das músicas cantadas em sala de aula.
6. Jornal Falado: pesquisar sobre jornal falado e criar notícias referentes às
questões sociais abordadas nos romances, destacando as notícias mais importantes em
forma de Manchetes.
4. RESULTADOS ESPERADOS
A leitura literária nos propósitos da Estética da Recepção e o confronto com os
textos possibilitarão aos alunos do ensino médio, um caminho na constituição de uma
experiência que pode produzir transformações de identidade fazendo com que os mesmos
se reconheçam como leitores e sejam instigados à reflexão e a fazer escolhas bem como
tomar decisões. Espera-se que, ao final desse processo os alunos possam fazer uma leitura
mais exigente que a inicial.
5. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Levando em conta o conteúdo Literatura Regionalista, deseja se desenvolver e,
portanto, avaliar os índices de envolvimento do aluno na atividade proposta. Para isso, será
levado em conta o desempenho em participar de cada um na realização das atividades.
Também serão avaliadas as questões voltadas à expressão oral e escrita e as atitudes de
reconhecimento da importância da diversidade de atividade realizada em sala de aula, bem
como a avaliação da escrita do aluno (coesão, concordância, coerência, ortografia,
pontuação) e consequentemente a leitura, na questão da fluência e da proficiência.
6. AVALIAÇÃO
A avaliação levará em conta o êxito as leituras sugeridas: “Mudança”, primeiro
capítulo/conto do romance Vidas Secas, além das obras da Literatura Regionalista,
Inocência e Vidas Secas. Observará, no educando, motivação e entusiasmo para ultrapassar
seus horizontes de expectativas no interesse por novas leituras e ampliação da sua
cosmovisão. E, ainda, será levado em conta se o aluno está apto para a leitura e
interpretação de outros textos literários. Se ele percebe o “não dito”, se busca, a partir daí, o
foco principal da obra no seu próprio contexto (social, econômico, histórico e cultural),
bem como se ele questiona e coloca seu ponto de vista aceitando ou não as ideias presentes.
E, ainda, se o leitor amplia suas habilidades, tornando-se um sujeito ativo no processo de
leitura, tendo voz em seu contexto.
Os estudantes serão avaliados levando em conta a sua participação nas
discussões em classe, participação na pesquisa nos pequenos grupos, nas atividades de
discussão no grande grupo, nas respostas escritas no caderno e no uso vocabulário.
7. REFERÊNCIAS
ARCO-VERDE, Yvelise Freitas de Souza. Introdução às Diretrizes Curriculares Estaduais.
2005
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura – a formação do
leitor: alternativas metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
http://oliveirajunior2.zip.net/images/seca.jpg Acesso em 25/03/10.
http://dvdvirgem.files.wordpress.com/2009/03/3095021.jpg Acesso em 25/03/10.
http://revistadeletras.files.wordpress.com/2009/06/vidas-secas-capa-1c2aa-edica.jpg Acesso
em 25/03/10.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Patagioenas_picazuro_854.jpg Acesso em 20/04/2010.
http://letras.terra.com.br/luiz-gonzaga/47081/ Acesso em 20/04/2010.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfredo_d'Escragnolle_Taunay Acesso em 27/06/2010.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Inoc%C3%AAncia_(livro) Acesso em 27/06/2010.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Graciliano_Ramos Acesso em 27/06/2010.
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/mylinks/index.php
Acesso em 27/06/2010.
http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/mylinks/viewcat.php?cid=14
Acesso em 27/06/2010
ISER, Wolfgang. O Ato da Leitura: uma teoria do Efeito Estético. V. 1 e 2. São Paulo,
Editora 34, 1996.
JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária:
tradução de Sérgio Telloroli. São Paulo: Ática, 1994.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 79ª ed. Record. São Paulo, 1998.
SILVA, Ezequiel Theodoro. A produção da leitura na escola (pesquisas X propostas).
Ática. São Paulo, 2002.
TAUNAY, Visconde de. Inocência. 19ª ed., Ática. São Paulo, 1991.
8. ANEXO
Para estudar e debater o gênero romance é importante conhecer alguns conceitos
ou categorias que possibilitam uma análise mais rigorosa da narrativa. Entender esses
elementos estruturais da narrativa fornece matéria para a argumentação possibilitando ao
aluno, na análise literária, a defesa de um ponto de vista. Se por um lado a análise literária é
importante por proporcionar ao leitor a desmontagem do texto, no sentido de explicar a sua
construção (as partes), também possibilita o entendimento da articulação do conjunto (o
todo). Esses são dois pontos importantes e fundamentais no estudo do texto. Para a análise
do romance, as categorias fundamentais são: personagens (quem participou ou observou o
ocorrido), tempo (quando o fato ocorreu), espaço (onde o fato se deu), ação/enredo (o que
se vai narrar), narrador (é o porta-voz do autor para contar a história, portanto o narrador
faz parte do universo ficcional da obra) e foco narrativo (ponto ou ângulo através do qual o
narrador conta a fato). Narrar é, portanto, contar um fato que pode ser real ou imaginário e
que ocorreu envolvendo determinados personagens, em local e tempo definidos. Um texto
narrativo conta um fato que se passou em um determinado tempo e lugar. A narração existe
na medida em que há uma ação a qual é praticada pelos personagens.
No romance Vidas Secas, Fabiano é nordestino, pobre, marido de Sinhá Vitória, pai
de dois filhos. Passa por grandes dificuldades a procura trabalho, bebe muito e perde
dinheiro no jogo. É um homem que possui grandes dificuldades linguísticas, mas tem
consciência dessas dificuldades. O fato de não se expressar bem faz com que ele se
identifique melhor com os animais. A narração nessa obra de Graciliano Ramos, se dá em
terceira pessoa, com narrador onisciente, com os discursos, na maioria das vezes, indiretos
livres. É através dos monólogos interiores que o narrador revela o interior dos personagens.
É dessa forma que o foco narrativo ganha destaque quando traduz em palavras os anseios e
pensamentos das personagens. Em relação ao tempo, a narrativa acontece entre duas secas.
A primeira é do primeiro capítulo “Mudança” que traz a família para a fazenda. Fuga, o
último capítulo, é quando acontece a segunda seca e que leva a família para o Sul. Quanto
ao tempo, pode-se dizer que, mesmo possuindo algumas referências cronológicas, o tempo
na obra é psicológico e circular. A personagem Sinhá Vitória assim como os filhos, é
personagem secundária, é saudosista e passa boa parte do tempo recordando de
acontecimentos antigos. No primeiro capítulo ela é despertada de seus sonhos pelo grito do
papagaio e tem a ideia de transformá-lo em comida para matar a fome da família. A
cachorra Baleia fica com os ossos e os pés. O espaço na narrativa refere-se ao sertão
nordestino, o qual é descrito com precisão pelo autor (a terra seca, a caatinga). O enredo
começa com a fuga de uma família nordestina fugindo da seca do sertão sem aspirações
nem esperanças de vida. Sinhá Vitória e Fabiano não se conformam com a situação
miserável. O sonho dela era ter uma cama de couro como a de Tomás de Bolandeira.
Também faz parte da família a cadela Baleia e os dois filhos, o mais novo que sonhava ser
como o pai e o mais velho que desejava ter um amigo. Depois da longa caminhada, a
família decide ficar em uma fazenda abandonada, onde Fabiano é contratado pelo dono da
fazenda como vaqueiro. Durante esse período, Fabiano vai ao comércio local comprar
mantimentos e acaba bebendo. É convidado por um policial para jogar baralho. Durante o
jogo acontece uma desavença e Fabiano é preso maltratado e humilhado. Isso faz aumentar
em Fabiano a insatisfação com o mundo e com sua própria condição de homem rude. Solto,
ele continua sua vida na fazenda. Sinhá Vitória, que é mais esperta do que o marido,
desconfia da honestidade do patrão nas contas do salário. Na festa de Natal na cidade, eles
se sentem humilhados por diversas pessoas. A cachorra Baleia adoece e Fabiano precisa
sacrificá-la. Sentindo-se enganado, Fabiano vai falar com o patrão, mas este o ameaça de
despejo. Fabiano fica indignado, mas se retira sem ação. Numa ida à venda Fabiano
encontra o Soldado Amarelo que o agrediu e o prendeu, Fabiano pensa em matá-lo, no
entanto não foi capaz da ação e acaba ajudando o soldado que estava perdido a voltar para a
cidade. No final da história, a seca volta a atingir a região e a família foge novamente.
Desta vez eles vão em direção ao Sul em busca da cidade grande. Partem sem destino e sem
esperança.
O enredo desta obra de Taunay conta a história de uma jovem cabocla órfã de
mãe de18 anos que vive numa fazenda no interior do Sertão de Santana do Paranaíba. O
romance leva o nome da personagem principal “Inocência” a qual fora criada pelo pai,
Martinho dos Santos Pereira um mineiro afetuoso, conservador, durão. Seus valores e
palavra dada eram a sua honra, mesmo que para isso sacrificasse a felicidade da filha que
amava. A jovem vivia reclusa, fora educada longe do mundo, não conhecia nada da vida, o
pai decidia tudo sobre sua vida. A jovem fora prometida a um homem do sertão, Manecão.
O noivo, escolhido pelo pai de Inocência, era um negociante de gado, de comportamento
rude e violento. Inocência ficou adoentada, tinha uma febre que não cessava, era malária. O
pai a procura de ajuda para curar a filha encontrou Cirino, um praticante de farmácia que
andava pela região e tratava as pessoas. Ele se dizia médico. No sertão, há uma carência
muito grande de hospedagens, então é comum os moradores darem hospedagem aos
viajantes. Cirino, o médico, e Meyer, um naturalista alemão que veio ao Brasil para
encontrar novas espécies de insetos, foram instalados por Pereira, mas em um galpão
isolado da casa. (A obra Inocência é considerada regionalista pelo fato de valorizar os
costumes típicos do mundo rural e as particularidades do meio natural, como a preservação
da honra familiar, o analfabetismo, os juramentos aos santos, o comportamento vingativo,
entre outros). São essas duas personagens, Cirino e Meyer, inseridas propositalmente
naquele contexto, por Taunay, que vão fazer com que os leitores compreendam os valores
das famílias do sertão. Inocência, com os cuidados do doutor foi curada, mas os dois se
apaixonaram. Mesmo sabendo que era um amor proibido, os dois encontravam-se às
escondidas no laranjal sem pensar que eram espionados pelo anãozinho Tico, o guardião de
Inocência. Era mudo, raquítico e esperto. Pereira sentindo a existência de algo estranho no
comportamento de Inocência começou a desconfiar do Dr. Guilherme Tembel Meyer a
partir de elogios que o cientista tinha feito à sua filha, principalmente depois que o
pesquisador batizou uma espécie rara de borboleta com o nome de Inocência, a Papilio
Innocentia. Mesmo depois de a moça estar curada, Pereira pede a Cirino que fique na
fazenda para ajudá-lo a cuidar dela. Semelhante a mais famosa obra de Shakespeare, Cirino
viaja, ele vai em busca de ajuda, procura Antônio Cesário, padrinho da moça e pede que
interceda em favor dos dois. Nesse meio tempo o naturalista conclui seus estudos e vai
embora. Isso fez com Pereira retirasse suas suspeitas contra ele. Mas Manecão chega para
se casar com Inocência e é rejeitado pela moça. O pai indignado aplica-lhe uma surra e fica
sabendo por Tico que era Cirino o reponsável pela mudança de comportamento da moça.
Manecão enfurecido vai atrás do rapaz e o mata. Inocência, fiel ao princípio amoroso,
morre de tristeza. Os dois tentaram viver um amor idealizado, mas a impossibilidade de
realização do mesmo levou os protagonistas à morte. Taunay criou em Inocência uma
técnica moderna no gênero romance, sendo inclusive, vinculada aos grandes clássicos da
literatura mundial. Isso se percebe no casamento visto como um de jogo de interesses, a
criação do triângulo amoroso e do amor impossível. Tanto que a obra Inocência já foi
muitas vezes associada ao grande clássico Romeu e Julieta. Assim, a partir de descrições do
modo de falar e de viver do sertanejo brasileiro, Taunay conta uma linda história de amor.