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Abstract

Da teoria do rizoma coexistncia: uma aplicao projetual The Concept of the Rhizome to coexistence: a projetual application

Camila Ferreira Guimares Instituto de Arquitetura e Urbanismo Universidade de So Paulo, Brasil Universidade de Uberaba, Brasil camilafguimaraes@usp.br

From the concept of rhizome, developed by philosophers Gilles Deleuze and Flix Guattari, the article presented here seeks to establish a relation between the development of a conceptual architectural project, with bases in the formulations of the Rhizome, in order to enable coexistence within an urban network. Considering for the effective of the theory, the technology in the construction of media and networks. For that, is made a reading of a project developed as Final Work Undergraduate Architecture and Urbanism of the University of Uberaba in 2011.

Keywords: Rhizome; Coexistence; Networks.

IntroduoO artigo aqui apresentado busca relacionar a Teoria do Rizoma de Gilles Deleuze e Flix Guattari com a construo de um modelo projetual terico passvel de aplicao em projetos de arquitetura e urbanismo. Introduzindo de forma conceitual os seis princpios que permeiam a teoria do rizoma usados pelos autores citados com a intenso de possibilitar situaes que permitam a coexistncia. Assim, podemos pensar a construo desde um edifcio no contexto da cidade uma lgica espacial de uma rede de prdios e espaos pblicos onde possam ocorrer a existncia simultnea de diferentes pessoas, convivendo umas com as outras, trocando e compartilhando experincias cotidianas.

A atual configurao das cidades brasileiras que baseada em um modelo exclusivo e segregativo das lgicas espaciais, tendo como resultado a diminuio, cada vez mais acentuada, da pluralidade dentro dos espaos pblicos do ambiente urbano. Considerando esse panorama, tem-se a urgente necessidade de repensar o significado dos espaos e das suas possveis interaes. A inteno de usar a Teoria do Rizoma para articular e abrir possibilidades de reverter essa situao fundamentada na exposio e aplicao dos princpios da teoria elaborados por Deleuze e Guattari. Os seis princpios da Teoria do Rizoma foram definidos como: princpios de conexo, heterogeneida-de, multiplicidade, ruptura a-significante, cartografia e decalconomia (Deleuze; Guattari, 1995). A partir dessa formulao pode-se entender, dentre muitos significados e interpretaes possveis, que em um sistema rizomtico todos os pontos podem ser conectados a outros, independente da sua natureza, e esse sistema pode ser rompido em

qualquer parte, sofrendo construes e mutaes constantemente, ilustrando processos de territorializao, desterritorializao e reter-ritorializao (Deleuze; Guattari, 1995).

Isso nos faz refletir sobre a possibilidade de pensar a cidade e o edifcio dessa maneira, fazendo uma livre interpretao dessa teoria aplicada na arquitetura e no urbanismo, encaro essa conceituao dos autores citados como uma possibilidade de projetar pensando nas relaes entre os habitantes de determinado local. Sendo assim, um projeto pensado para uma diversidade ilimitada de pessoas. Projetos que elaborados em conjuntos passam a constituir um sistema de redes. Como uma possibilidade da aplicao da teoria usado como exemplo um projeto conceitual de um edifcio para diferentes pessoas, que em algum momento de suas vidas possam estar desabrigadas, ou seja temporariamente sem um local fixo e definido para realizar suas atividades cotidianas. O projeto escolhido foi elaborado em um Trabalho Final de Graduao no ano de 20111 (figura 1) sob a orientao da professora Dra Varlete Aparecida Benevente. Alm de permitir a coexistncia, esse modelo conceitual usado como exemplo, ainda aborda a questes de adaptabilidade e mutao, permitindo que o projeto seja sempre uma edificao em constante processo de construo.

Assumindo a ideologia de uma possvel aplicao da teoria, esse artigo abre um espao para pensarmos como podemos articular e

1 Projeto desenvolvido como Trabalho Final de Graduao do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Uberaba, no ano de 2011, sob a orientao da professora Dra. Varlete Aparecida Benevenete.

Blucher Design ProceedingsDezembro de 2014, Volume 1, Nmero 8

www.proceedings.blucher.com.br/evento/sigradi2014

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Figura 1: Projeto desenvolvido como Trabalho Final de Graduao do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Uberaba Aplicao do conceito de Rizoma. Figura 2: Modelo rizomtico.

rearticular as mudanas da contemporaneidade com um ambiente urbano inclusivo e mltiplo. Diante da riqueza terica de Teoria do Rizoma, esse artigo tem o papel de resgatar sua utilizao e mostrar a amplitude de sua aplicao em diversas reas do conhecimento.

No chegar ao ponto em que no se diz mais EU, mas ao ponto em que j no tem qualquer importncia dizer ou no dizer EU. No somos mais ns mesmos. Cada um reconhecer os seus. Fomos ajustados, aspirados, multiplicados. (Deleuze; Guattari, 1995, p. 17)

Deleuze e Guatarri: o conceito de rizomaO conceito de Rizoma desenvolvido pelos filsofos Deleuze e Guattari, segundo Ferreira (2008), faz uma reflexo a respeito do conceito das redes, o rizoma seria a expresso da multiplicidade, que por meio de diversas ligaes pode transformar constantemente em novas formas. Sendo justamente por essa multiplicidade que a teoria foi escolhida para embasar este artigo. Assim, diante de toda a complexidade do mundo contemporneo podemos encontrar bases que possibilitam o desenho urbano e arquitetnico voltado para todos os habitantes e, ao mesmo tempo, considerando todas as variveis que levam as diferenas.

No livro Mil Plats, os autores, segundo Ferreira (2008), criaram um conceito com base em um sistema composto por multiplici-dades, o rizoma, contrastando com o sistema arborescente, onde h um tronco principal que guia todos os outros conceitos. No sistema rizomtico (figura 2), no existe esse elemento principal, os elementos so ao mesmo tempo nicos e mltiplos, Deleuze (1980) chama essa lgica de raiz fasciculada, a base para a Teoria do Rizoma. Importante destacar as inmeras possibilidades que podem resultar de um sistema construdo dentro desse conceito.

Para uma melhor definio do que seria essa teoria, Deleuze e Guattari estipularam seis princpios norteadores, so eles: 1 e 2: Princpios de conexo e heterogeneidade, que abordam a possibi-lidade da conexo de todos os pontos do rizoma; 3: Princpio da multiplicidade; 4: Princpio de ruptura a-significante, definindo a liberdade que o rizoma tem de se romper em qualquer um dos seus pontos, assim como poder retomar o seu processo; 5 e 6: Princpio de cartografia e decalconomia, onde o rizoma considerado um modelo transformacional e subjetivo, podendo gerar inmeros decalques com infinitas reprodues. (Deleuze; Guatarri, 1995)

Usando esses princpios da Teoria do Rizoma, podemos projetar espaos que definidos dentro de uma lgica de rede e em constante interao possam propiciar a coexistncia entre as pessoas que compem o ambiente urbano.

Coexistir e redesAssim, usando a Teoria do Rizoma no campo da Arquitetura e do Urbanismo podemos criar redes de edifcios e espaos pblicos,

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que por meio da tecnologia e da comunicao podem propiciar o estimulo coexistncia. Essas redes seriam possveis por meio da conexo entre os espaos, de forma que o todo constitua uma unidade, considerando todas suas multiplicidades.

As criaes de redes virtuais, que se estabeleceriam por meio da comunicao atravs de sistemas tecnolgicos, tambm estariam ligadas ao processo de reterritorializao das pessoas, que por meio do contato com os seus locais de origens, poderiam criar a sensao de reterritorializao virtual. (...) e h processos que devemos chamar de desterritorializao, o modo como samos do territrio. (Deleuze, 1989, p. 20)

Um importante ponto destacado no conceito de Rizoma a possibilidade da multiplicidade, da convivncia de diferentes pessoas em um mesmo local, o que nos leva ao conceito de coexistncia, afim de diminuir os conflitos gerados pelo o que possa ser desconhecido.

Esses conflitos aumentados pelas desigualdades sociais, fazem com que as pessoas no tolerem conviver com o que considerado diferente dos seus padres pr-estabelecidos, chamando ateno para a necessidade de criar espaos que estimulem a coexistncia de diferentes grupos e que proporcionem s pessoas novas experincias, aceitando e evidenciando a multiplicidade da cidade contempornea.

Coexistncia uma noo que est se consolidando sobre novas bases, associada existncia simultnea de opostos e, ainda, relacionada prioritariamente a situaes de conflitos, sejam eles, tnicos, religiosos, polticos, ideolgicos, culturais, de classe, de identidades, de gnero, entre outros. (Santos, 2011)

Aplicao projetualCom base na explorao dos conceitos de Rizoma, coexistncia e rede foi desenvolvido um projeto como Trabalho Final do curso de graduao em Arquitetura e Urbanismo (figura 3). Esse projeto segue os conceitos propostos pelos filsofos Deleuze e Guattari, na Teoria do Rizoma, publicada em 1980 na obra Mil Plats, fragmentada em cinco volumes.

Nessa proposta projetual de um edifcio destinado s pessoas sem um local definido para morar, independente do motivo que

as levaram a essa situao. Os seis princpios da Teoria do Rizoma foram usados da seguinte maneira:

Conexo: no rizoma h sempre possibilidade de conectar partes - Aplicao no projeto: fazer com que as unidades habitacionais possam ser conectadas criando interaes dentro do edifcio;

Heterogeneidade: possiblidade de conectar diferentes naturezas - Aplicao no projeto: juno de elementos distintos (unidades habitacionais, espaos pblicos, entre outros) formando um organismo;

Multiplicidade: Aplicao no projeto: est representada desde as diferenas dos usurios aos elementos empregados na constituio fsica do edifcio e nos mltiplos usos que so possveis das partes constituintes do edifcio;

Ruptura a-significante: Relacionada aos processos de territorializao, desterritorializao e reterritorializa-o - Aplicao no projeto: os processos pelos quais as pessoas que vo utilizar esse abrigo passam, at chegar a reterritorializao provisria gerada por esse equipamento;

Princpios de cartografia e decalconomia: corresponde aos mltiplos agenciamentos que configuram um mapa em constante mudana. Aplicao no projeto: possiblidades de mudana da configurao interna do projeto em con-sequncia das mudanas comportamentais. E a ligao desse projeto com outras construes na cidade por meio de uma rede de construes, ou at mesmo, uma rede virtual de comunicao.

A proposta projetual tenta trazer essas ideias desenvolvidas por esses filsofos. Assim, podemos perceber que a teoria desenvolvida nos anos 1980, possu um contedo completamente adequado para as questes contemporneas, no apenas da arquitetura, mas de diversos segmentos.

A definio de um objeto como resultado pode constituir um paradoxo, pois esse conceito filosfico engloba questes que vo alm de objetos definidos, portanto a proposta projetual se apresenta em forma de estudos e diagramas sugerindo um edifcio composto por unidades que permitam diversas alteraes.

O projeto se enquadra dentro do processo de reterritorializa-o provisria, visto que o local abrigar esses indivduos por um tempo determinado, ocorre tambm a reterritorializao por meio de funes que esse equipamento pode possuir, como unidades informatizadas, que visam uma reterritorializao virtual.

Como foi discutido ao longo desse trabalho, o projeto consiste em um edifcio composto por cpsulas que tem a funo de acomo-dar pessoas desabrigadas, fornecendo os itens bsicos cotidianos de uma casa como local para descanso, higiene, comer e alm desses itens, esse edifcio ter tambm, locais de recreao, de assistncia mdica, de informao, de educao.

Seguindo o conceito do Rizoma, que considera o tempo como um fator determinante, onde nada o que por muito tempo, tudo est em constante transformao, o programa desse edifcio pensado dessa maneira. Elaborou-se um programa bsico, que pode ser modificado a qualquer momento, j que pensamos em uma rede de unidades de abrigos e de moradores que usam provisoriamente Figura 3: Croqui do projeto.

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os espaos, aumentando ainda mais a instabilidade de um programa com nmeros definidos de cmodos e usos especficos.

O resultado final desse edifcio (figura 4) ser um mapa, um decalque instantneo de uma situao momentnea, a estrutura e a concepo do prdio permitir que ocorra essas mudanas.

Alm desse conceito, o projeto prope no o habitar, mas o co-habitar. Segundo Tiburi (2011), quando falamos em habitar nos referimos ao que conhecido e, de certa forma, negamos o que no nos habitual, portanto esse equipamento carrega a fun-o de permitir o que no habitual, onde as diferenas convivem. A proposta projetual cria locais onde mesmo as pessoas que no moram ali possam interagir com os moradores, permite que tenha a multiplicidade da cidade em um edifcio

Consideraes FinaisA riqueza de aplicaes da Teoria do Rizoma de Deleuze e Guattari na Arquitetura e no Urbanismo foi evidenciada nesse trabalho na sua aplicao em uma proposta projetual.

Figura 4: Uma das possveis configuraes do projeto com base no conceito de Rizoma

Pensar nas questes da arquitetura e da sociedade contem-porneas foi a essncia para chegar no conceito principal que embasa o projeto: a coexistncia, a arquitetura como meio de promover a convivncia de diferentes pessoas. Esse conceito que fez parte das premissas projetuais foi aliado a Teoria do Rizoma de Deleuze e Guattari e aplicados no projeto, fazendo com que este se enquadre dentro das necessidades do abrigo, que se alteram com o tempo.

AgradecimentosAgradeo professora Dra. Varlete Aparecida Benevente da Uni-versidade de Uberaba pela orientao no projeto analisado nesse trabalho e pela introduo ao conhecimento e compreenso do conceito de Rizoma de Deleuze e Guattari.

RefernciasDeleuze, G., Guattari, F. Mil Plats - Capitalismo e Esquizofrenia.

Ed. 34. Rio de Janeiro, 1997.Deleuze, G., Parnet, C. Abecedrio de Gilles Deleuze. ditions

Montparnasse, Paris. Filmado em 1988-1989. Publicado em: 1995.

Ferreira, F. T. Rizoma: um mtodo para as redes? In: Liinc em Revista, v.4, n.1, maro 2008, Rio de Janeiro, p.28-40.

SANTOS, D. M. Coexistncia: notas para um projeto de pesquisa. In:V!RUS, So Carlos, n. 4, dez. 2010. Disponvel em: . Acesso em: 2014.

Tiburi, M. Habitar como espao das diferenas. V!RUS, So Carlos, n. 5, jun. 2011. Disponvel em: . Acesso em: 2014.