das cristandades crioulas lusÓfonas do oriente...
TRANSCRIPT
1
DAS CRISTANDADES CRIOULAS LUSOacuteFONAS DO ORIENTE Agrave
LITERATURA ACcedilORIANA CONTEMPORAcircNEA
Em 1973 a caminho de Dili Timor Portuguecircs rumei por Banguecoque de ar irrespiraacutevel com mais de 40
ordmC e 95 de humidade Na pista ruminavam buacutefalos de aacutegua que era preciso afugentar agrave chegada de cada aviatildeo
Nesse tempo a capital do antigo reino do Siatildeo era uma pacata urbe que natildeo sofria da massificaccedilatildeo turiacutestica
nem de grandes confrontos armados Sobre ela escrevera
NO REINO DO SIAtildeO
eacute jaacute dia os arrozais me espreitam verde o paiacutes castanho eacute banguecoque em plena pista buacutefalos pachorrentos a banhos de lama camponeses debruccedilados nos pacircntanos colhem o arroz pequenas aacutervores dividem o asfalto chove laacute fora sob 42ordm C de sol lufadas de calor huacutemido nos penetram densa respiraccedilatildeo no ar por condicionar lentas formalidades num inglecircs arrevesado a vida possui aqui uma lenta ritmia todo o tempo nos espera nas autoestradas camionetas com jovens patrulhas militares todos os veiacuteculos se cruzam dos lados todos coloridos templos incrustados de pedrarias ouro maciccedilo de budas descalccedilos com cintos sagrados nos embasbacaacutemos este o paiacutes do misteacuterio igrejas e fortes portugueses memoacuterias de tratados reais siameses e lusitanos o mercado flutuante eacute uma cidade imensa longos canais puacutetridos nesta veneza oriental sente-se o aroma do doacutelar nas ruas por entre golpes de estado adiados a cem quiloacutemetros se combate eacute o apelo do futuro os thais satildeo simpaacuteticos e ardilosos milhares de anos de sabedoria a explorarem europeus os preccedilos funccedilatildeo da nacionalidade no faustoso erawan hotel o luxo grandiloquente oriental a sofisticada comodidade do ocidente uma volta raacutepida pela cidade dos mil-e-um-templos para laacute das faces mudas se encerra o misteacuterio o convite voltarei um dia
Ao lado ficava a Birmacircnia (Myanmar) por onde os Portugueses andaram embora poucos o saibam hoje e
mais a sul era a cidade mais desejada Malaca
Fernatildeo Mendes Pinto voltou para Malaca onde estava o seu capitatildeo e ao seu serviccedilo comeccedilou uma
nova aventura Tantos caminhos fez tantas guerras viu e tantos paiacuteses visitou que eacute impossiacutevel
contaacute-los Fora enviado a Martavatildeo no golfo de Bengala onde foi aprisionado e feito escravo com os
companheiros por um general do rei da Birmacircnia Subindo o Ganges e o Bramaputra acompanharam
2
o general ateacute agrave capital do Calaminhatildeo (Tibete) observando as suas extraordinaacuterias praacuteticas
religiosas Sucedem-se batalhas cercos marchas de exeacutercitos em que os soldados se contam agraves
centenas de milhar Haacute revoltas traiccedilotildees supliacutecios no paiacutes devastado pela Guerra Um dia na
confusatildeo da batalha os Portugueses escapam-se Descendo numa jangada os rios que correm para
o golfo de Bengalapara Goa (Excertos do prefaacutecio de Antoacutenio Joseacute Saraiva agrave Peregrinaccedilatildeo de Fernatildeo
Mendes Pinto ed Saacute da Costa 1961)
Fernatildeo Mendes Pinto regressou a Portugal pobre como um Job e apelidado de mentiroso Voltara do
Japatildeo e de Goa em 1557 Fixara-se numa quinta no Pragal perto de Almada e requerera uma tenccedila como preacutemio
dos seus serviccedilos no Oriente Esta foi-lhe concedida vinte e seis anos mais tarde em carta de Janeiro de 1583
mas em 8 de Julho seguinte falecia Quando estava apoquentado pela nostalgia do Oriente no fim da vida
sentava-se na margem do Tejo Esperava as caravelas com a Cruz de Cristo de velas desfraldadas ao vento
para que as tripulaccedilotildees lhe transmitissem coisas do Oriente Foi acusado de intrujatildeo pela retroacutegrada
mentalidade portuguesa da eacutepoca e acossado pela censura demolidora da Santa Inquisiccedilatildeo mas reportou a
realidade do Oriente como nenhum portuguecircs ateacute hoje na sua Obra em dois volumes A Peregrinaccedilatildeo
Os portugueses chegados ao Sudeste Asiaacutetico natildeo fugiram agrave regra da eacutepoca Satildeo humildes
ordeiros fieacuteis aos Reis que servem como soldados mercenaacuterios fossem estes do Siatildeo ou do Peguacute
(Birmacircnia) Lutaram homens lusos irmatildeos de sangue em campos adversos embrenhados na poeira
provocada pelas patas as bestas de guerra dos elefantesOs gemidos desses portugueses feridos
na peleja encontraram o apoio moral e espiritual do irmatildeo inimigo no campo de batalha em
Lampang Passados 450 anos da coragem dos soldados portugueses o feito ainda se encontra na
memoacuteria dos locais A seiscentos quiloacutemetros de Banguecoque os canhotildees portugueses estatildeo
expostos em um jardim puacuteblico na cidade de Lampang num fortim no templo Budista Prakaew
Dao Tao No museu do templo estatildeo duas armas ligeiras da grande peleja O templo foi murado
e no cimo foram montadas as tradicionais ameias portuguesas que foram trazidas para a
Banguecoque moderna imortalizadas no Grand Palace na Montanha Dourada e em outros
siacutetios Portugal transforma o mundo depois de 1500 como elo de ligaccedilatildeo entre o Ocidente e o
Oriente As armas as especiarias a cruz e o amor satildeo fatores importantes para a fixaccedilatildeo do homem
luso no Oriente Assimilou-se a outras etnias com facilidade Natildeo abandonou os filhos que as
mulheres lhe deram casara sob os preceitos da Igreja Catoacutelica Formara comunidades luso-
descendentes que ainda estatildeo vivas em Malaca e Singapura Adaptara-se ao meio que o acolheu
amado pela magia da submissa mulher oriental (Excertos Monumentos de Portugal na Tailacircndia Joseacute
Gomes Martins httpportugalnatailandiablogspotcom201006soldadosarmasa-cruz-e-o-amorhtml)
Da colonizaccedilatildeo britacircnica e da holandesa nasceram Estados mas da portuguesa nasceram
comunidades de afeto Praticamos o monopoacutelio destruindo a concorrecircncia mas contando com
fidelidades regionais que extravasavam o interesse diplomaacutetico comercial e poliacutetico da coroa A
liacutengua portuguesa era liacutengua franca ldquoportuguesesrdquo eram todos os que professassem a feacute catoacutelica
amigos e aliados todos os que aceitassem um quinhatildeo nessa comunidade As ldquolusotopiasrdquo natildeo eram
da Coroa mas das comunidades que se formavam cresciam e prosperavam na unidade religiosa
das igrejas e na entreajuda das misericoacuterdias Resistiram aos ventos e tempestades da histoacuteria
Teimosamente mantiveram a liacutengua os costumes a memoacuteria da linhagem Na Birmacircnia no Siatildeo
na Malaacutesia na Indoneacutesia haacute populaccedilotildees que orgulhosamente afivelam o nome de Portugal Os
outros passaram Ficaacutemos laacute sem apoios e sem estiacutemulo do Portugal distante abuacutelico e ldquoeuropeurdquo
que regrediu para a visatildeo tardo-medieval dos contactos internacionais a Bruxelas a costa da Guineacute
e pouco mais A ldquoAacutesia Portuguesardquo estaacute para aleacutem das Portas do Cerco do bazar de Diacuteli e dos limites
3
de Goa Pede-se que os decisores de Lisboa abram os olhos e tirem partido da imensa vantagem
que foi eacute e seraacute se o quisermos a grandeza em terras da Aacutesia copy Miguel Castelo Branco
httpwwwalamedadigitalcomptn1portugueses_orientephp
Em 1511 Malaca era um centro econoacutemico transbordante de riqueza
O Sultatildeo foi mandado para o exiacutelio depois de Albuquerque a conquistar facilmente pois sonha jaacute com
a fundaccedilatildeo do vasto impeacuterio portuguecircs na Aacutesia e conquista Ormuz no estreito que liga o Indico ao
Golfo Peacutersico (1507) e Goa (1510) O Mar Vermelho estaacute na posse da navegaccedilatildeo portuguesa com
o controlo mariacutetimo em direccedilatildeo ao Mediterracircneo As embarcaccedilotildees do Impeacuterio Otomano
transportando mercadoria de Malaca pelo Golfo Peacutersico e Mar Vermelho jaacute natildeo assustam
Albuquerque Pretende ir mais aleacutem o senhorio absoluto do comeacutercio da Costa do Coramandel na
Baiacutea de Bengala Reino do Peguacute Malaca Samatra e Siatildeo No pensamento do grande portuguecircs
estavam outras terras no sul dos mares da China estendendo-se ateacute ao Japatildeo
Albuquerque natildeo eacute soacute um guerreiro indomaacutevel eacute um diplomata negociador inteligente que prefere tratar
dos assuntos pacificamente que servir-se das armas Natildeo pretende conquistar paiacuteses deseja apoderar-se dos
grandes pontos estrateacutegicos de comeacutercio onde todos vivam na melhor das harmonias Falta para concretizar o
seu objetivo a administraccedilatildeo do empoacuterio de Malaca
Agrave peniacutensula malaia chegam tecircxteis da Iacutendia sedas e ceracircmicas da China cravo das Molucas noz-
moscada de Banda papel de arroz de Samatra cacircnfora do Brunei madeira de Sacircndalo de Timor
pau-santo benjoim chifres de Rinoceronte marfim peacuterolas carpetes adagas batiques de Java Os
mercadores aacuterabes do Cairo Meca Adeacuten Ormuz e da Aacutefrica Oriental chegavam carregados de
armas tapeccedilarias talheres de cobre oacutepio aacutegua de rosas e incenso Juncos chineses aportavam
com seda em bruto para manufaturar vestidos brocados drogas aromaacuteticas coralina e marfim Do
reino do Siatildeo aportam todos os anos 30 barcos com carregamentos de laca madeira de teca
pedras preciosas roupas pimenta e metais que permutam por escravos ou por mercadorias Da
Birmacircnia vinha arroz produtos agriacutecolas rubis estanho e prata De Palembanque (Samatra)
escravos ervas medicinais e produtos alimentares conservados A presenccedila portuguesa foi
particularmente forte na regiatildeo (seacutec XVI e XVII) Muitas palavras birmanesas satildeo de origem
portuguesa Lelain (Leilatildeo) Tauliya (Toalha) Natatu (Natal) Balon (Bola Balatildeo) Waranta (Varanda)
In Carlos Fontes httplusotopianosapoptindexOPhtml
Um interessante guia para a Birmacircnia eacute o Further India de Hugh Clifford (ed White Lotus Co Bangkok 1990)
Publicado pela primeira vez em 1904 o autor aceacuterrimo defensor do sistema colonial britacircnico
descreve de um modo isento para a eacutepoca a epopeia do desbravamento destes territoacuterios pelos
ocidentais desde os aacuterabes aos primeiros portugueses como Albuquerque e outros (the Filibusters)
Fala dos exploradores desconhecidos para os portugueses Antoacutenio de Faria Antoacutenio de Miranda
Duarte Fernandes Ruy de Arauacutejo Francisco Serrano Antoacutenio de Abreu Pedro Afonso de Loroso o
conhecido Fernatildeo Mendes Pinto dos franceses Mouhot e Garnier a quem se atribui erradamente a
descoberta dos templos de Angkor Vat dos holandeses e dos ingleses
O termo flibusteiros aplicado aos portugueses deve-se a serem de todos os que exploraram o sueste
asiaacutetico os uacutenicos que construiacuteram fortes impuseram a religiatildeo e comercializaram pela forccedila
Ateacute agrave sua chegada eram os aacuterabes os uacutenicos cuja influecircncia se alastrava ateacute ao oriente e nunca se
imiscuiacuteam na poliacutetica local O posterior sucesso dos holandeses e ingleses deveu-se ao facto de soacute
quererem o comeacutercio nunca as terras nem as almas das gentes A colonizaccedilatildeo veio depois Essa
4
perspetiva eacute nova para os que nasceram e cresceram no mundo paroquial da epopeia quinhentista
da Histoacuteria de Portugal de Adolfo Simotildees Mueller Muitos sentem-se afrontados ao lerem opiniotildees
sobre Vasco da Gama diferentes das que o ensino da Ditadura inculcou nos jovens portugueses
Como acontece com a Birmacircnia tambeacutem a religiatildeo predominante no Siatildeo (Tailacircndia) e o alfabeto servem
de prova da forte influecircncia cultural indiana durante o primeiro mileacutenio embora os primeiros relatos histoacutericos soacute
comecem no seacutec X A religiatildeo eacute a mesma os alfabetos satildeo distintos mas de inspiraccedilatildeo comum
No ano de 849 foi criado um reino Thai cuja capital era Pagan (hoje Bagan) O seu santuaacuterio fica na
China (Iunatildeo) de onde se deslocam para Sul (seacutec X e XII) desalojando o reino khmer para sudeste e
atual Camboja Um priacutencipe funda a capital em Ayuthia (1350) e ganha a supremacia no Siatildeo Foi um
reino com elevado grau de sofisticaccedilatildeo como os portugueses descobriram quando se tornaram vizinhos
ao conquistarem Malaca quando o Siatildeo esteve envolvido em luta eacutepica com os birmaneses
Do contacto ficou a norma que perdurou por mais de 300 anos da corte siamesa empregar o portuguecircs
como idioma diplomaacutetico para desconcerto do embaixador norte-americano que ali apresentou credenciais no
seacutec XIX Sob o tema da presenccedila portuguesa na Aacutesia Jorge Morbey (ex-Presidente do Instituto Cultural de
Macau) escreveu (Janordm 2006) ao entatildeo Presidente Jorge Sampaio longa missiva da qual se extraem excertos
Como referiu o descendente de portugueses Arcebispo Emeacuterito de Mandalay (Birmacircnia) U Than Aung
onde a maioria do clero catoacutelico eacute de origem portuguesa com origem em Peguacute (1600) quem nunca
recebeu a mais teacutenue manifestaccedilatildeo de solidariedade nada tem a esperar Que poderatildeo as Cristandades
Crioulas Lusoacutefonas do Oriente esperar de Portugal A sua incapacidade nesta mateacuteria tem sido uma
evidecircncia secular filha da ignoracircncia e do preconceito A pequena Cristandade Crioula Lusoacutefona de
Korlai [Chauacutel] na Iacutendia somente em 1982 seria revelada ao Mundo pelo etnoacutelogo romeno Laurentiu
Theban A Cristandade Crioula Lusoacutefona da Birmacircnia jaacute natildeo usa a liacutengua crioula e perdeu os nomes e
apelidos cristatildeos apesar de permanecer fiel agrave religiatildeo catoacutelica As Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do
Oriente mantidas na ignoracircncia dos conflitos entre Portugal e a Santa Seacute lutaram anos sem fim contra
as novas autoridades eclesiaacutesticas por as considerarem estrangeiras Clamaram sempre pelo envio de
clero de Portugal Goa ou Macau Em vatildeo A transferecircncia de domiacutenios entre paiacuteses europeus de
Portugal catoacutelico para a Holanda protestante constituiu o pano de fundo em que emergiram as
Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do Oriente Com a substituiccedilatildeo da dominaccedilatildeo portuguesa
permanecendo nas terras que as viram nascer deportadas para outras paragens ou forccediladas agrave
emigraccedilatildeo essas comunidades mesticcedilas talharam a sua identidade proacutepria que perdurou ateacute aos
nossos dias assente em dois pilares principais a religiatildeo catoacutelica e a liacutengua crioula A religiatildeo fora
trazida de Portugal ou de Goa Convertidos ou nascidos nela com ela haveriam de morrer geraccedilatildeo
apoacutes geraccedilatildeo A sua liacutengua o crioulo era a liacutengua portuguesa que lhe garantira o estatuto de liacutengua
franca no litoral da Aacutesia e da Oceacircnia desde o seacutec XVI ateacute agrave sua substituiccedilatildeo pelo inglecircs no seacutec XIX
Holandeses ingleses dinamarqueses e franceses natildeo podiam prescindir de um ldquoliacutengoardquo [inteacuterprete] a
bordo para poderem comerciar nos portos do Oriente na liacutengua que as Cristandades Crioulas Lusoacutefonas
do Oriente falavam e muitas ainda falam Tratados entre paiacuteses europeus e poderes locais foram
firmados nessa liacutengua por ser a uacutenica a que os europeus podiam recorrer para comunicar no Oriente
Hoje Cristatildeordquo [Kristang] e ldquoPortuguecircsrdquo [Portugis] satildeo sinoacutenimos A profanaccedilatildeo e a destruiccedilatildeo de igrejas
e mosteiros a expulsatildeo dos padres a proibiccedilatildeo do culto catoacutelico as deportaccedilotildees maciccedilas a reduccedilatildeo
de muitos agrave condiccedilatildeo de escravos compeliram os membros dessas cristandades agrave clandestinidade e agrave
emigraccedilatildeo Macau Iacutendia Insuliacutendia Siatildeo e Indochina Tais irmandades permaneceram ateacute aos nossos
dias e conservam determinadas prerrogativas que limitam a autoridade dos paacuterocos Perdida a
confianccedila que a Santa Seacute depositara desde o seacutec XV no Rei de Portugal na sequecircncia do corte de
relaccedilotildees diplomaacuteticas do Governo liberal em 1833 e a extinccedilatildeo das ordens religiosas por decreto de 31
5
de Maio de 1834 o Padroado Portuguecircs do Oriente sofreu um golpe mortal na Iacutendia no Ceilatildeo no
Sudeste Asiaacutetico na China e na Oceacircnia Os missionaacuterios do Padroado natildeo seriam substituiacutedos O clero
secular de Goa acorreu em socorro das Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do Oriente que iam ficando
sem religiosos A liacutengua crioula falava-se nas Cristandades Crioulas da Tailacircndia (AyuthiaAyutthaya) e
Banguecoque ateacute aos anos 50 do seacutec XX onde permanecem vocaacutebulos correntes no relacionamento
familiar e nas praacuteticas catoacutelicas Na Indoneacutesia aleacutem de Java nas Flores [Larantuka e Sikka] ilhas de
Ternate Tidore e Bali Em Timor [Lifau e Bidau] No Bangladesh - Chittagong e Daca ndash ateacute aos anos 20
do seacutec XX era muito viva a presenccedila da liacutengua crioula nas Cristandades locais copy Jorge Morbey
httpcombustoesblogspotcom200601os-crioulos-portugueses-no-orientehtml
O homem portuguecircs na Aacutesia nunca esqueceu a paacutetria Tomemos o exemplo de Venceslau Morais
Escondia as suas miseacuterias no exiacutelio nipoacutenico e tendo escrito e enviado dezenas de cartas e postais
ilustrados agrave irmatilde Francisca Pauacutel para Nelas (Beira Alta) nunca lhe referiu a intenccedilatildeo de regressar a
Portugal A memoacuteria do Cocircnsul de Portugal em Kobe no longiacutenquo Sol Nascente ficou nos anais das
relaccedilotildees culturais entre Portugal e o Japatildeo httpwwwportugal-linhaptlegadovorientepsiao3 Joseacute Gomes
Martins
Por tudo o que atraacutes ficou dito recorde-se o grande universalista portuguecircs No uacuteltimo canto de ldquoOs
Lusiacuteadasrdquo Vasco da Gama o almirante heroacutei eacute recebido pela deusa Teacutetis na Ilha dos Amores Laacute naquele
espaccedilo encantado ela lhe descortinou a Maacutequina do Mundo a visatildeo do Cosmo e dos continentes da terra receacutem-
descoberta pelos lusos cena que coloca o poeta portuguecircs como quem por primeiro no campo das letras
europeias percebeu os efeitos irreversiacuteveis da globalizaccedilatildeo que entatildeo dava os seus primeiros passos
Vecircs aqui a grande maacutequina do Mundo Eteacuterea elemental que fabricada Assim foi do Saber alto e profundo Quem eacute sem princiacutepio e mete limitada Quem cerca em derredor este rotundo Globo e superfiacutecie tatildeo limada Eacute Deus mas o que eacute Deus ningueacutem o entende Que a tanto o engenho humano natildeo se estende (Canto X 80)
Eacute entatildeo que a deusa abrindo os braccedilos para enfatizar a amplidatildeo a magnitude do reino augusto aponta
ao Gama as mais diversas regiotildees do mundo
Povoam-na ldquogente sem leirdquo a bruta multidatildeo ldquobando espesso e negro de estorninhosrdquo do impeacuterio do Benomotapa (Zimbabueacute) agrave Taprobana (Sri-Lanka) Todos agrave espera da chegada da cruz desenhada na vela principal da nau dos argonautas lusitanos Mostra-lhe o Mar Vermelho o Monte Sinai a secura dura e arenosa da Araacutebia o Tigre o Eufrates o planalto dos cavaleiros da Peacutersia o estreito de Ormuz o Sind a terra dos Bracircmanes onde S Tomeacute tentara a conversatildeo dos gentios o Ganges e o Indo a terra da Birmacircnia o impeacuterio do Siatildeo Sumatra a ponta estreita de Singapura o Camboja e o rio Mekong no qual Camotildees naufragou mas salvou os versos Em seguida margeando com os olhos a costa da Cochinchina (o Vietname) mostrou-lhe a China e mais longe o Japatildeo de onde vinha a maravilhosa seda e o ouro fino De tudo se desprendia o aroma do cravo da noz-moscada do licor perfumado do benjoim do coco do mar do incenso da mirra e do raro acircmbar de onde se extraem fragracircncias mil Teacutetis voltando-se para o outro lado da Terra apontou-lhe as partes recentemente conquistadas pelos castelhanos que lanccedilaram o seu rude colar sobre as gentes cativas do Novo Mundo Da Terra de Santa Cruz do litoral do Brasil o braccedilo lusitano jaacute carregava o tronco vermelho o Ibirapitanga dos nativos para dele extrair as tintas para os panos Re-embarcados os portugueses partindo da Ilha dos Amores aos adeuses no conveacutes velas soltas ao vento em mar tranquilo carregados de refrescos e iguarias deliciosas navegaram de volta agrave boca do Rio Tejo
De entatildeo em diante estavam todos convencidos de que os fados da Humanidade desde que Vasco da
Gama unira o Ocidente ao Oriente natildeo se prendiam a um soacute reino a uma soacute naccedilatildeo ou a um soacute hemisfeacuterio
6
Somente gente surda e endurecida fechada teimosa natildeo reconheceria que escancarado para sempre o
Caminho das Iacutendias o mundo se globalizaria cada vez mais tornando-se algo uacutenico entrelaccedilando para sempre
povos e continentes num destino em comum Ainda hoje estou rodeado dessa gente surda e empedernida
O mesmo se passou com os Coloacutequios Isto de Lusofonias e Lusotopias tem muito que se lhe diga
Falta aos Estados a visatildeo o amor e a dedicaccedilatildeo que soacute alguns indiviacuteduos conseguem ter pela liacutengua e cultura
de um povo Governos e governantes estatildeo de candeias agraves avessas para a defesa desses valores tal qual a
populaccedilatildeo de S Miguel estaacute sempre de costas para o mar enquanto outras natildeo vivem sem ele como no Pico
Falarei brevemente de dois autores que lutam contra os Fados da Humanidade mostrando a globalizaccedilatildeo da
liacutengua portuguesa atraveacutes da sua visatildeo accediloriana do mundo
Vozes criacuteticas ou arredadas dos estereoacutetipos natildeo abundam nem satildeo benquistas As elites dominantes e os
poderes caciqueiros logo se insurgem A ingratidatildeo vergonha e falta de patriotismo satildeo epiacutetetos comummente
usados para denegrir os que ousam Citam-se paacuteginas relevantes da heroica gesta accediloriana com destaque para
as guerras liberais e desventuras de emigrantes que triunfaram Surgem editorais e recensotildees violentas nos
jornais locais Os caixeiros-viajantes da cultura logo se arrogam o direito de defender a accedilorianidade ofendida
pois nela assenta exclusivamente o seu curriacuteculo Tais declaraccedilotildees de repuacutedio raramente extrapolam os cantos
do arquipeacutelago pois falar dos Accedilores ainda natildeo eacute moda na grande capital do Impeacuterio
Foi isto que por mais de uma vez aconteceu ao meu amigo escritor Cristoacutevatildeo de Aguiar Apodaram-no de
tudo e mais alguma coisa pois conveacutem sempre ser mais papista que o papa Em meios pequenos eacute consabida
a tendecircncia para apoucar aqueles que da leis do esquecimento se desembaraccedilaram como diria o vate enquanto
o imperador e seu seacutequito distribuem viagens e mordomias Eacute uma questatildeo de tempo ateacute comeccedilarem a zurzir
nos forasteiros que ousam opinar sobre o arquipeacutelago dos Accedilores Quando se perora sobre as nove ilhas filhas
de Zeus urge natildeo melindrar os interesses estabelecidos As visotildees criacuteticas ou natildeo conformadas aos cacircnones
podem acarretar seacuterios riscos para a sauacutede mental dos seus autores Terras pequenas invejas grandes ou a
reproduccedilatildeo literaacuteria do mote popular ldquoa minha festa eacute maior que a tuardquo Para o comum dos mortais a vida
prosseguiria o seu rumo mas os Accedilores satildeo uma reacuteplica miniatural da corte lisboeta As elites natildeo perdoam aos
que natildeo comungam da verdade uacutenica com forccedila de dogma que os sustenta e valida
Cristoacutevatildeo escreve com uma pluma incoacutemoda Reservou-se um papel de narrador que pensa fala e escreve
sem recorrer aos lugares comuns que tamanho gaacuteudio causam na populaccedilatildeo Natildeo reivindica verdades absolutas
ou duradouras limita-se a (d)escrever o que sente e vecirc Criaram-lhe a fama de irasciacutevel Quantas vezes com
justas e fundadas razotildees Recebi ldquoavisos amigosrdquo para tais perigos quando o convidei a estar na Lagoa (Marccedilo
2009) para o 4ordm encontro accediloriano Congratulo-me que relutantemente Cristoacutevatildeo tenha acedido Ao longo de
meses trocamos correios eletroacutenicos e telefonemas criando uma amizade saudavelmente aberta e criacutetica durante
a qual aprendi imenso com a personagem que tantos cuidados incutia aos arautos e defensores da paz podre
accediloriana
Cristoacutevatildeo eacute um permanente Passageiro Em Tracircnsito tiacutetulo do seu mais benquisto livro sempre na rota
do inconformismo Ele eacute a voz que se natildeo cala e tem o direito a tal Chama os bois pelo nome sem se deter nas
finuras das convenccedilotildees do parece bem ou mal Eacute criacutetico impiedoso dos destinos que alguns queriam que fosse
eterno o da subserviecircncia e submissatildeo aos senhores das ilhas descendentes diretos dos opressores da gleba
Grandes narrativas que se assemelham a uma teacutecnica de travelling em filmagem com grandes planos zooms
e paragens detalhadas nos rostos e nas mentes dos atores principais das suas croacutenicas e outros escritos A
cacircmara deteacutem-se e escalpeliza a alma daqueles que ele filma com as suas palavras aceradas como vento mata-
vacas que sopra do nordeste Cristoacutevatildeo de Aguiar jaacute o disse natildeo eacute um autor faacutecil nem facilita exige quase tanto
dos seus leitores como de si mesmo ele eacute o magma de que satildeo feitas as gentes de bem destas ilhas Tal como
as palavras sentidas gravadas fundo num granito que natildeo existe nas ilhas mas que encontro na Relaccedilatildeo de
Bordo I Verdade seja que ando imerso na sua escrita tateando como um receacutem-nascido agraves escuras fora do
ventre materno Ele eacute um escritor que se crecirc maldito porque outros o fizeram assim e porque eacute de si mesmo um
ser acossado por tudo e por todos mas sobretudo por si mesmo Para ele a escrita nunca seraacute catarse pois ela
7
eacute fruto de amores incompreendidos entre si e a sua ilha Psicanalisando as gentes e a terra que o viram nascer
adotou o Pico como nova ilha maacutetria em 1996 Como ele diz (Relaccedilatildeo de Bordo II pp 199-200) Primeiro foi a
ilha nunca mais a encontramos como a haviacuteamos deixadotrouxemos somente a imagem dela ou entatildeo foi
outra Ilha que connosco carregaacutemos
A escrita laacutevica de Cristoacutevatildeo fica a boiar no nosso imaginaacuterio Ningueacutem consegue escrever da forma uacutenica
e inimitaacutevel como soacute ele sabe e sente sobre os Accedilores Essa a sua forma de amar e de recompensar a terra que
o viu nascerpara que desate as grilhetas que a encarceram no passado e ele se desobrigue finalmente da
tarefa hercuacutelea de carregar a ilha como um fardo ou amor natildeo-correspondido que nisto de ilharias haacute muitas
paixotildees natildeo correspondidas Eacute um liacutedimo representante da mundividecircncia accediloriana na escrita contemporacircnea e
eacute tarefa dos Coloacutequios da Lusofonia tornaacute-lo benquisto e conhecido no mundo inteiro Com a literatura os autores
accedilorianos iam chegar mais longe Libertar-se Para isso teriam de mondar mercados novos e virgens como a
selva amazoacutenica antes dos novos bandeirantes Se natildeo chegassem agraves novas geraccedilotildees accedilorianas poderiam
alcanccedilar descendentes expatriados e os que aprendem o orgulho da naccedilatildeo accediloriana na sua cultura tradiccedilatildeo e
outros valores primordiais que tatildeo arredados das escolas andam hoje Mas os coloacutequios queriam levaacute-los a
mercados e leitores insuspeitos ateacute agrave velha Cortina de Ferro onde haacute apetecircncia para escritores lusoacutefonos
A ilha para Nataacutelia Correia eacute Matildee-Ilha para Cristoacutevatildeo de Aguiar Marilha para Daniel de Saacute Ilha-Matildee
para Vasco Pereira da Costa Ilha Menina para mim nem matildee nem madrasta nem Mariacutelia nem menina mas
Ilha-Filha que nunca enteada Para amar sem tocar ver engrandecer nas dores da adolescecircncia que satildeo sempre
partos difiacuteceis Toda a vida fui ilheacuteu perdi sotaques Ma natildeo malbaratei as minhas ilhas-filhas Trago-as a
reboque colar multifacetado de vivecircncias dos mundos e culturas distantes Primeiro em Portugal ilhota perdida
da Europa durante o Estado Novo seguidamente em mais um capiacutetulo naufragado da Histoacuteria Traacutegico-mariacutetima
nas ilhas de Timor e de Bali seguido da entatildeo (pen)iacutensula de Macau (fechada da China pelas Portas do Cerco)
da imensa ilha-continente denominada Austraacutelia e nesta ilhoa esquecida de Braganccedila no nordeste
transmontano antes de arribar agrave Atlacircntida Accedilores
Cumes de montanhas submersas que assomam a intervalos aqui no meio do Grande Mar Oceano onde
se mantecircm gentes orgulhosas e ciosas das suas tradiccedilotildees e costumes em torno da famiacutelia nuclear dizimada
pelo chamado progresso Os poliacuteticos ocupados na sua sobrevivecircncia sempre se olvidaram da presenccedila maacutegica
destas ilhas de reduzidas proporccedilotildees e populaccedilotildees Como se fosse uma espeacutecie de triacircngulo das Bermudas
onde tudo o que eacute relevante desaparece dos telejornais Jaacute era assim durante o Estado Novo e pouco mudou
quanto agrave visibilidade real destas iacutensulas apenas evocadas pelas cataacutestrofes naturais e pelo anticiclone do bom
ou mau tempo
Falemos da literatura Acolhemos nos Coloacutequios como premissa o conceito de accedilorianidade formulado
por Joseacute Martins Garcia que laquopor envolver domiacutenios muito mais vastos que o da simples literaturaraquo admite a
existecircncia de uma literatura accediloriana laquoenquanto superstrutura emanada dum habitat duma vivecircncia e duma
mundividecircnciaraquo1
No 4ordm Encontro Accediloriano da Lusofonia Cristoacutevatildeo de Aguiar rejeitou o roacutetulo de literatura accediloriana por
considerar que faz parte da produccedilatildeo literaacuteria lusoacutefona laquoO tiacutetulo (literatura accediloriana) eacute equiacutevoco porque pode
parecer que eacute uma literatura separada da literatura portuguesaraquo afirmou agrave agecircncia Lusa o escritor Machado
Pires sugeriu em tempos ldquoliteratura de significaccedilatildeo accedilorianardquo Outros preferem o termo ldquomatriz accedilorianardquo Haacute
vaacuterios tipos de autores os accedilorianos nascidos e vividos no arquipeacutelago (ausentes ou natildeo) os emigrados os
descendentes os insularizados ou ilhanizados e os estrangeiros que escrevem sobre os Accedilores Falta destrinccedilar
se os podemos incluir a todos nessa designaccedilatildeo accediloacuterica Lentamente todos encontraram o seu espaccedilo natildeo
havendo miacutengua de quantidade mas frequentemente sem projeccedilatildeo fora das ilhas com exceccedilotildees
contemporacircneas como as de Joatildeo de Melo Cristoacutevatildeo de Aguiar Daniel de Saacute Vasco Pereira da Costa e
Dias de Melo para citar alguns
1 httplusofoniacomsapoptacoresacorianidade_pavao_1988htm_ftn11_ftn11
8
Quedemo-nos doravante na perspicaz apreciaccedilatildeo que faz Cristoacutevatildeo de Aguiar da obra intitulada Nas
Escadas do Impeacuterio de Vasco Pereira da Costa autor que hoje eacute aqui homenageado
ldquoNatildeo eacute por acaso que Vasco Pereira da Costa poeta de meacuterito mas ainda no silecircncio da
gaveta se apresenta no mundo das letras sobraccedilando uma coletacircnea de contos Numa terra onde quase
todos sacrificam agraves (as) musas e se tornou quase regra a estreia com um livrinho de poemas a atitude
(ou opccedilatildeo) do autor de Nas Escadas do Impeacuterio natildeo deixa de ser de certo modo corajosa como
corajosos satildeo os contos que este livro integra Natildeo fora o receio de escorregar na casca do lugar-
comum e eu diria que esta mancheia de contos vivos arrancados com matildeos haacutebeis e um sentido
linguiacutestico apuradiacutessimo ao ventre uacutebere mas ainda mal conhecido da sua terra de origem vem agitar
as aacuteguas paradas onde se situa o panorama nebuloso e um tanto equiacutevoco da literatura de expressatildeo
accediloriana O conto que abre esta coletacircnea Faia da Terra eacute bem a prova do telurismo no sentido
torguiano do termo de que o jovem escritor (Angra do Heroiacutesmo Junho de 1948) estaacute imbuiacutedo sem
cair no pitoresco regionalista tatildeo do agrado de muitos escritores accedilorianos Natildeo resta a miacutenima duacutevida
de que o Gibicas A Fuga e outras peccedilas de antologia que aqui figuram vecircm contribuir para o
enriquecimento do conto portuguecircs de especificidade e carateriacutestica accediloriana Contudo Vasco Pereira
da Costa corre o risco (e ele mais do que ningueacutem disso estaacute consciente) de vir a ser queimado nas
labaredas inquisitoriais de certos meios ideoloacutegico-literaacuterios accedilorianos que tecircm tentado
oportunisticamente mas sem raiacutezes verdadeiras edificar [] uma literatura accediloriana em oposiccedilatildeo agrave
Literatura Portuguesa Nas Escadas do Impeacuterio quer queiram ou natildeo os arautos da mediocracia vem
dizer-nos exatamente o contraacuteriordquo
Com efeito natildeo podia deixar de ser mais justo o juiacutezo de valor supracitado
- Em primeiro lugar estreia-se Vasco Pereira da Costa em 1978 com a coletacircnea de contos Nas
Escadas do Impeacuterio agrave qual se seguiratildeo a novela Amanhece a Cidade (1979) a memoacuteria Venho caacute
mandado do Senhor Espiacuterito Santo (1980) os poemas de Ilhiacuteada (1981) Plantador de palavras
Vendedor de leacuterias antologia de novelas galardoada com o preacutemio Miguel Torga no ano de 1984
Memoacuteria Breve (1987) Risco de marear (Poemas em 1992) e por fim trecircs obras poeacuteticas a saber
Sobre Ripas Sobre Rimas Terras e My Californian Friends (respetivamente publicadas em 1994 1997
e 1999)
- Em segundo lugar urge referir a originalidade de Vasco Pereira da Costa evidente tanto na sua obra
poeacutetica como na sua prosa que vem segundo o Autor de Raiz Comovida agitar as letras accedilorianas
Assim sendo e numa perspetiva temaacutetica cumpre realccedilar o telurismo genuiacuteno patente em ldquoFaia da
Terrardquo histoacuteria do enamoramento de Teresa por um americano da Base da sua subsequente partida
para o Novo Mundo jaacute com o nome de Mrs Teresa Piel e da secagem da faia dois meses apoacutes a
descolagem do aviatildeo da Pan America Nesta novela inaugural perpassam vivamente como que
fotografadas ao vivo as rotineiras fainas insulares que pela via da repeticcedilatildeo regem o quotidiano do
ilheacuteu ldquoEra sexta-feira e a matildee amassava o crescente com a farinha de milho No forno estalavam a
rapa o eucalipto e o loiro [] Lavou depois as folhas de botar patildeo e veio sentar-se ao peacute dos meus
socos de milho ndash bois de veras espetados com palhitos queimados arremedando os galhos ndash no estrado
do meio-da-casa Arrumou as galochas no sobrado [] rdquo (1978 11)
Por vezes eacute a loucura insular que faz a sua apariccedilatildeo em cena na figura do poeta Vicente ldquoum Cocircrte-Real
impotente tacanho e degenerescenterdquo (1978 71) o qual volvido esse tempo em ldquoque escrevia coisas tatildeo
lindas de tanto sentimentordquo tem o despauteacuterio de acumular guarda-chuvas na falsa e de publicar no jornal
da Ilha desairosos alinhavos poeacuteticos ldquoPrometeu Prometeu Natildeo cumpriu A promessa Homessardquo (ldquoA
Fugardquo 1978 74)
- Em terceiro lugar e ainda na oacutetica de Cristoacutevatildeo de Aguiar a coragem de Vasco Pereira da Costa que
a saacutetira nas suas diversas vertentes revela agrave saciedade Assim sendo atente-se quer na criacutetica ao
9
salazarismo regime repressor totalitaacuterio e punitivo dos que ousam transgredir as regras impostas -
ldquoComo vim aqui [agrave ilha] parar Eacute simples por ser anarquista e natildeo peitear o Manholas de Santa Combardquo
(ldquoO Manel drsquoArriagardquo 1978 31) - quer na criacutetica agrave mentalidade mediacuteocre cuja pequenez
constrangedora se espraia em espaccedilo iacutentimo e puacuteblico pela vida de outrem tatildeo sigilosamente
resguardada quanto violada de supetatildeo - ldquo [] cada qual dava a sua sentenccedila todos em grande pensatildeo
e natildeo havia alcatra de couves que agrave hora da ceia natildeo fosse temperada com palpites de desenlacerdquo
(ldquoPrimaverardquo 1978 59) - quer na criacutetica ao jornalismo barato e ao provincianismo dos articulistas cujo
discurso pouco inovador se vai ritualizando - ldquoComeccedilou entatildeo o embaraccedilo No jornal de amanhatilde por
entre os aniversaacuterios da gente fina [] as partidas e as chegadas os partos e as notiacutecias do Paiacutes e do
Estrangeiro os casamentos e os pedidos de os horaacuterios de barcos e de aviotildees as oraccedilotildees ao Menino
Jesus de Praga e ao divino Espiacuterito Santo [] rdquo (ldquoA Fugardquo 1978 82-83) - quer por fim na criacutetica a uma
certa lsquocultura de superioridadersquo que lsquoMestrersquo Gibicas se apresta a denegar ldquo [] estaacutevamos de liacutengua
entre os dentes para sibilar o th O professor fazia empenho pois [] era uma vergonha virem por aiacute
abaixo os americanos e noacutes sem sabermos agradecer [] Ateacute que foi a tua vez [Gibicas] [] Agarraste
na caixinha vermelha azul e branca com as estrelinhas desse people para o nosso povo e sem esperar
o afago da farda grandalhona gritaste-lhes alto como ningueacutem ainda o fizera - SANABOBICHASrdquo
(ldquoGibicasrdquo 1978 137-138-141) Em asterisco de rodapeacute explica o Autor o neologismo ldquoSon of a bitchrdquo
- Em quarto lugar a variedade genoloacutegica em que se move o Escritor homenageado desde o conto e a
novela ateacute agrave memoacuteria e agrave ldquocroacutenicardquo breve passando pela Poesia E a este propoacutesito natildeo resistimos agrave
tentaccedilatildeo de transcrever dois excertos O primeiro de o Plantador de Palavras
ldquoAh meus senhores mas isto aqui natildeo eacute a Itaacutelia Eacute a mui nobre leal e sempre constante cidade de Angra
do Heroiacutesmo ao tempo em que o Autor nela carregava a sua adolescecircncia de amores temores e
rancores Como podem observar uma cidade espartilhada entre mar e mar com dois castelos a
estrangulaacute-la com suas casas nobres por fora e burguesiacutessimas por dentro praccedilas com estaacutetuas e
engraxadores lojas sonolentas comerciantes lentos e clientes ensonados automobilistas
imprevidentes nos seus vinte agrave hora que quase atropelam a distraccedilatildeo dos peotildees um governador civil
e trecircs governadores militares cinquenta e sete prostitutas dezanove bombeiros voluntaacuterios que
voluntariamente vatildeo de borla ao cinema vinte e cinco meninas que namoram agrave janela e estatiacutesticas de
ontem catorze desfloradas nos saguotildees um bispo dois monsenhores sete coacutenegos na sua Catedral
trecircs parvos oficiais que fornecem o riso oficial e obrigatoacuterio nos dias uacuteteis e inuacuteteis um Presidente para
a sua Cacircmara com o seu secretaacuterio e um contiacutenuo ndash que por ser funcionaacuterio puacuteblico natildeo estaacute incluiacutedo
no nuacutemero dos trecircs parvos oficiais que o quadro comporta Esta cidade tem trinta e quatro velhas de
lenccedilo e trecircs senhoras idosas de chapeacuteu quarenta e sete becircbados e oito senhores que andam agraves vezes
alegrinhos cento e vinte e nove rapazes cento e trinta e duas raparigas vinte e dois meninos e trinta e
uma meninas o nuacutemero de naiotildees ndash invertidos encartados e Soacutecios de Meacuterito da Corporaccedilatildeo das
Criadas de Servir ndash eacute de setenta e sete mas nunca foi feito o recenseamento dos homens com pitafe
quarenta e trecircs professores do Liceu dos quais vinte satildeo professores do Seminaacuterio Maior onde haacute
quinhentos e setenta e oito seminaristas menores dos quais oitenta e nove viacutergula seis por cento
oriundos da cristianiacutessima ilha de Satildeo Miguel o Arcanjo e do Senhor Santo Cristo dos Milagres e ainda
de outros Senhores que se passeiam no Jardim Duque da Terceira todas as quintas entre as duas
horas e sete minutos e as quatro horas e quarenta e oito da tarde em bandos de estorninhos quinze
chauferes um cauteleiro sessenta e nove caloteiros identificados com o indicador da matildeo direita
noventa e seis donas-de-casa e igual nuacutemero de maridos operacionais quarenta e sete viuacutevas
praticantes vinte e seis viuacutevas protestantes e oito viuacutevas de fresco ainda indecisas sessenta e oito
cavalheiros satildeo simultaneamente irmatildeos devotos da Confraria de Nossa Senhora do Monte Carmelo
da Irmandade do Senhor dos Passos e da Ordem Terceira de Satildeo Francisco quatro agiotas
dissimulados que vestem de preto e usam chapeacuteu e que se sentam para o negoacutecio na terceira
10
banqueta do Paacutetio da Alfacircndega cinquenta agentes da Poliacutecia de Seguranccedila Puacuteblica dos quais trecircs
satildeo da Secreta e por isso para natildeo serem conhecidos trajam agrave paisana o Cebola o Tombado e o
Zarolho dois vendedores de milho torrado pevides e caramelos sugardady duzentas e nove beatas de
novena quarenta e oito de terccedilo e mantilha vinte devotas de enfeitar capelas dezassete de sacristia
catorze irmatildes de padre e meia duacutezia de sobrinhas um batalhatildeo de soldados do Castelo que aparecem
agrave boquinha da noite triste arrastando as botas tristes pelo empedrado tristonho trecircs namoradas de
aspirantes que fazem todas as recrutas uma meacutedia de um viacutergula oito por mil de americanos da United
States Air Force Azores Pochugal por dia facilmente reconheciacuteveis pelo tamanho dos peacutes e por uma
garrafa de Matioacutes Rosseacute danccedilando na matildeo direita quarenta e trecircs indiviacuteduos usam gravata verde
porque satildeo adeptos do Lusitacircnia e trinta e nove potildeem gravata vermelha porque satildeo soacutecios do Angrense
havendo que mencionar ainda dois laccedilos ndash um poeta e um boticaacuterio A cidade tem dezoito tabernas
seis cafeacutes e duas pastelarias
Vamos agora mudar o cenaacuteriordquo
- transcreve-se o poema ldquoRose era o nome de Rosardquo
A matildee disse natildeo mais natildeo mais eu natildeo mais tu filha natildeo mais nomes na pedra do cais natildeo mais o cortinado da ilha natildeo mais Rosa sejas Rose agora natildeo mais neacutevoas roxos ais natildeo mais a sorte caipora natildeo mais a ilha natildeo mais Poreacutem Rose o natildeo mais natildeo quis e quis ver a ilha do natildeo mais o cortinado roxo infeliz os nomes na pedra dos cais Pegou em si e foi-se embora
Natildeo mais Rose Rosa outra vez agora (My Californian Friends 1999 25)
Natildeo estaremos perante a mais pura accedilorianidade na literatura
chrys chrystello lomba da maia accedilores agosto 2010
Bibliografia 1) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1978) Raiz Comovida (A Semente
e a Seiva) 1ordf ed Centelha Coimbra 1978 (Preacutemio Ricardo Malheiros da Academia das Ciecircncias de Lisboa) 2ordf ed Bertrand 1980 (esgotado)
2) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1979) Raiz Comovida II (Vindima
de Fogo) 1ordf ed Centelha Coimbra 1979 (esgotado)
3) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1981) Raiz Comovida III (O Fruto e
o Sonho) 1ordf ed Angra do Heroiacutesmo SREC 1981 (esgotado)
4) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1986) Com Paulo Quintela Agrave Mesa da Tertuacutelia noacutetulas biograacuteficas) 1ordf ed Serviccedilo de
Publicaccedilotildees da Universidade de Coimbra 1986 2ordf ed Revista e aumentada (no 1ordm centenaacuterio do seu
11
nascimento) Imprensa da Universidade de Coimbra 2005
5) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1987) Raiz Comovida (trilogia romanesca) ed Num soacute volume Editorial Caminho 1987 2ordf ed Revista e remodelada Publicaccedilotildees Dom
Quixote Lisboa 2003 6) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1988) Passageiro em Tracircnsito
novela em espiral ou o romance de um ponto a que se vai acrescentando mais um conto) 1ordm ed Editora Signo
Ponta Delgada 1988 7) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1990) O Braccedilo Tatuado (narrativa
militar aplicada) Editora Signo 8) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1994) Passageiro em tracircnsito
Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 9) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1999) Relaccedilatildeo de Bordo (1964-
1988) diaacuterio ou nem tanto ou talvez muito mais Campo das Letras Porto 1999 (Grande Preacutemio APE CMP
2000) 10) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2000) Relaccedilatildeo de Bordo II (1989-
1992) diaacuterio ou nem tantohellip Campo das Letras 11) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Raiz Comovida Trilogia
Romanesca Lisboa Publicaccedilotildees Dom Quixote (Ediccedilatildeo revista e remodelada)
12) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Trasfega casos e contos Publicaccedilotildees Dom Quixote Preacutemio Miguel Torga 2002 1ordf
ed 2003 2ordf ed 2003 13) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2004) Nova Relaccedilatildeo de Bordo (III
Volume) diaacuterio ou nem tantohellip Publicaccedilotildees Dom Quixote 14) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2005) Marilha sequecircncia narrativa
Publicaccedilotildees D Quixote 15) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) A Tabuada do Tempo a
lenta narrativa dos dias Preacutemio Miguel Torga 2006 Livraria Almedina Coimbra
16) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) Miguel Torga O Lavrador das Letras um percurso partilhado Livraria Almedina
17) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Braccedilo Tatuado ndash Retalhos da guerra colonial ndash Nova versatildeo P D Quixote 2008 2ordf
ed 2008 18) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Charlas Sobre a Liacutengua
Portuguesa Livraria Almedina 2008 19) Barcelos J M Soares de (2008) Dicionaacuterio de Falares
dos Accedilores ed Almedina 20) BETTENCOURT Urbano (2004) Joseacute Martins Garcia a
palavra o riso Separata da revista Arquipeacutelago -Liacutenguas e Literaturas XVII Ponta Delgada Universidade Accedilores
21) BRANDAtildeO Raul (sd) As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens Lisboa Perspetivas amp Realidades sd
22) BRASIL Luiacutes Antoacutenio de Assis (1994) ldquoA Narrativa Accediloriana poacutes-Vinte e Cinco de Abrilrdquo in Organon vol 8
nordm 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 23) Chrystello J Chrys (2009) ChroacutenicAccedilores uma circum-
navegaccedilatildeo (vol 1) De Timor a Macau Austraacutelia Brasil Braganccedila ateacute aos Accedilores Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
24) Da Costa Vasco Pereira (1978) Nas Escadas do Impeacuterio Contos Coimbra Centelha 1978
25) Da Costa Vasco Pereira (1979) Amanhece a Cidade romance Coimbra ed Centelha
26) Da Costa Vasco Pereira (1980) Venho caacute mandado do Senhor Espiacuterito Santo novela ed Banco Espiacuterito Santo c Comercial de Lisboa Lisboa
27) Da Costa Vasco Pereira (1981) Ilhiacuteada (poesia) Angra
do Heroiacutesmo SREC col ldquoGaivotardquo 28) Da Costa Vasco Pereira (1984) Plantador de Palavras
Vendedor de Leacuterias Coimbra Cacircmara Municipal 1ordm Preacutemio Miguel Torga 1984
29) Da Costa Vasco Pereira (1987) Memoacuteria Breve contos Angra do Heroiacutesmo Instituto Accediloriano de Cultura
30) Da Costa Vasco Pereira (1992) Riscos de Marear (poesia) Ponta Delgada Eurosigno
31) Da Costa Vasco Pereira (1994) Sobre ripas sobre rimas Coimbra Minerva 1994
32) Da Costa Vasco Pereira (1997) Terras (poesia) 1ordf ed Porto Campo das Letras
33) Da Costa Vasco Pereira (1999) My Californian Friends ed Gaacutevea Brown
34) Da Costa Vasco Pereira (2000) My Californian Friends (2ordf Ediccedilatildeo) Viseu Palimage Editores
35) Da Silveira Pedro (1977) ldquoAccediloresrdquo Grande Dicionaacuterio de Literatura Portuguesa e de Teoria Literaacuteria (coordenaccedilatildeo
Joatildeo Joseacute Cochofel) 1977 1ordm vol 36) Da Silveira Pedro (1999) Fui ao Mar Buscar Laranjas
Angra Direccedilatildeo Regional da Cultura 37) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1978) Ah Mogravenim dum
Corisco (Teatro) New Bedford - Providence Gaacutevea Chama 2ordf ed 1989 3ordf ed 1998 Lisboa ed Salamandra
38) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1983) laquo(Sapa)teia Americana Lisboa Vega 1983 1ordf ed 2ordf ed 2000
Lisboa Salamandra 39) De Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura
Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo [as diversas posiccedilotildees teoacutericas ao longo do tempo e algumas
posiccedilotildees poleacutemicas] Angra do Heroiacutesmo SREC (org) 40) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1986) Da Literatura
Accediloriana Subsiacutedios para um Balanccedilo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
41) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1987) ldquoO que eacute a L(USA)LAcircNDIArdquo in L(USA)LAcircNDIA A deacutecima Ilha Angra do Heroiacutesmo SREC
42) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1994) Que nome eacute
esse oacute Neacutezimo ndash E outros adveacuterbios de duacutevida 1ordf ed Lisboa ed Salamandra
43) De Jesus Eduiacuteno (sd) ldquoBreve notiacutecia histoacuterica da poesia accediloriana de 1915 agrave atualidaderdquo in Estrada Larga vol 3
Porto Editora [sd] pp 425-430 44) De Melo Joseacute Dias (1958) Mar Rubro 1958 2ordf ed 1980
Lisboa ed Salamandra 45) De Melo Joseacute Dias (1964) Pedras Negras 2ordf ed
Lisboa Vega 1985 traduccedilatildeo para inglecircs 1988 Dark Stones ed Gaacutevea-Brown 4ordf ed VerAccedilor 2008
46) De Melo Joseacute Dias (1973) Na noite silenciosa (poesia) 1973 2ordf ed VerAccedilor 2007
47) De Melo Joseacute Dias (1976) Mar pela proa 1976 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
48) De Melo Joseacute Dias (1979) Vinde e Vede Narrativas Lisboa Editorial Ilhas
49) De Melo Joseacute Dias (1983) Vida vivida em terra de baleeiros Angra SREC 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
50) De Melo Joseacute Dias (1990) Das velas de lona agraves asas de alumiacutenio Lisboa ed Salamandra col Garajau
51) De Melo Joseacute Dias (1990) O autoacutegrafo 1990 Lisboa ed Salamandra 2ordf ed 1999 col Garajau
52) De Melo Joseacute Dias (1992) O Menino deixou de ser menino Lisboa ed Salamandra col Garajau
53) De Melo Joseacute Dias (1993) A Viagem do medo maior Lisboa ed Salamandra col Garajau
54) De Melo Joseacute Dias (1994) Pena dela saudades de mim Lisboa ed Salamandra col Garajau
55) De Melo Joseacute Dias (1995) Croacutenicas do Alto da Rocha do Canto da Baiacutea Lisboa ed Salamandra
56) De Melo Joseacute Dias (1996) Inverno sem primavera Lisboa ed Salamandra
57) De Melo Joseacute Dias (2000) Reviver na Festa da Vida a Festa da Morte Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo
58) De Melo Joseacute Dias (2001) Agrave Boquinha da noite Lisboa ed Salamandra
59) De Melo Joseacute Dias (2002) Milhas contadas Lisboa ed Salamandra
60) De Melo Joseacute Dias (2003) Pedras Negras Lisboa Ediccedilotildees Salamandra 3ordf ediccedilatildeo portuguesa
61) De Melo Joseacute Dias de (2004) Poeira do caminho Reminiscecircncias do Passado vivecircncias do Presente Porto Campo das Letras ndash Editores col ldquoInstantes de Leiturardquo
62) De MELO Joseacute Dias de (2007) Na noite silenciada Poemas de Natal Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
63) De MELO Joseacute Dias (2008) Mar Rubro Baleeiros do Pico Ponta Delgada Ver Accedilor Lda Editores 3ordf ediccedilatildeo
64) De Melo Joatildeo (1982) - Haacute ou Natildeo Uma Literatura Accediloriana Lisboa ed Vega
65) De Melo Joatildeo (1983) O Meu Mundo Natildeo eacute Deste Reino Lisboa Publ D Quixote traduzido nos Estados Unidos e
em Espanha 66) De Melo Joatildeo (1988) Gente Feliz com Laacutegrimas
Lisboa Publ D Quixote 1988 Traduzido em Espanha Franccedila Holanda Itaacutelia Romeacutenia e Bulgaacuteria
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau
2
o general ateacute agrave capital do Calaminhatildeo (Tibete) observando as suas extraordinaacuterias praacuteticas
religiosas Sucedem-se batalhas cercos marchas de exeacutercitos em que os soldados se contam agraves
centenas de milhar Haacute revoltas traiccedilotildees supliacutecios no paiacutes devastado pela Guerra Um dia na
confusatildeo da batalha os Portugueses escapam-se Descendo numa jangada os rios que correm para
o golfo de Bengalapara Goa (Excertos do prefaacutecio de Antoacutenio Joseacute Saraiva agrave Peregrinaccedilatildeo de Fernatildeo
Mendes Pinto ed Saacute da Costa 1961)
Fernatildeo Mendes Pinto regressou a Portugal pobre como um Job e apelidado de mentiroso Voltara do
Japatildeo e de Goa em 1557 Fixara-se numa quinta no Pragal perto de Almada e requerera uma tenccedila como preacutemio
dos seus serviccedilos no Oriente Esta foi-lhe concedida vinte e seis anos mais tarde em carta de Janeiro de 1583
mas em 8 de Julho seguinte falecia Quando estava apoquentado pela nostalgia do Oriente no fim da vida
sentava-se na margem do Tejo Esperava as caravelas com a Cruz de Cristo de velas desfraldadas ao vento
para que as tripulaccedilotildees lhe transmitissem coisas do Oriente Foi acusado de intrujatildeo pela retroacutegrada
mentalidade portuguesa da eacutepoca e acossado pela censura demolidora da Santa Inquisiccedilatildeo mas reportou a
realidade do Oriente como nenhum portuguecircs ateacute hoje na sua Obra em dois volumes A Peregrinaccedilatildeo
Os portugueses chegados ao Sudeste Asiaacutetico natildeo fugiram agrave regra da eacutepoca Satildeo humildes
ordeiros fieacuteis aos Reis que servem como soldados mercenaacuterios fossem estes do Siatildeo ou do Peguacute
(Birmacircnia) Lutaram homens lusos irmatildeos de sangue em campos adversos embrenhados na poeira
provocada pelas patas as bestas de guerra dos elefantesOs gemidos desses portugueses feridos
na peleja encontraram o apoio moral e espiritual do irmatildeo inimigo no campo de batalha em
Lampang Passados 450 anos da coragem dos soldados portugueses o feito ainda se encontra na
memoacuteria dos locais A seiscentos quiloacutemetros de Banguecoque os canhotildees portugueses estatildeo
expostos em um jardim puacuteblico na cidade de Lampang num fortim no templo Budista Prakaew
Dao Tao No museu do templo estatildeo duas armas ligeiras da grande peleja O templo foi murado
e no cimo foram montadas as tradicionais ameias portuguesas que foram trazidas para a
Banguecoque moderna imortalizadas no Grand Palace na Montanha Dourada e em outros
siacutetios Portugal transforma o mundo depois de 1500 como elo de ligaccedilatildeo entre o Ocidente e o
Oriente As armas as especiarias a cruz e o amor satildeo fatores importantes para a fixaccedilatildeo do homem
luso no Oriente Assimilou-se a outras etnias com facilidade Natildeo abandonou os filhos que as
mulheres lhe deram casara sob os preceitos da Igreja Catoacutelica Formara comunidades luso-
descendentes que ainda estatildeo vivas em Malaca e Singapura Adaptara-se ao meio que o acolheu
amado pela magia da submissa mulher oriental (Excertos Monumentos de Portugal na Tailacircndia Joseacute
Gomes Martins httpportugalnatailandiablogspotcom201006soldadosarmasa-cruz-e-o-amorhtml)
Da colonizaccedilatildeo britacircnica e da holandesa nasceram Estados mas da portuguesa nasceram
comunidades de afeto Praticamos o monopoacutelio destruindo a concorrecircncia mas contando com
fidelidades regionais que extravasavam o interesse diplomaacutetico comercial e poliacutetico da coroa A
liacutengua portuguesa era liacutengua franca ldquoportuguesesrdquo eram todos os que professassem a feacute catoacutelica
amigos e aliados todos os que aceitassem um quinhatildeo nessa comunidade As ldquolusotopiasrdquo natildeo eram
da Coroa mas das comunidades que se formavam cresciam e prosperavam na unidade religiosa
das igrejas e na entreajuda das misericoacuterdias Resistiram aos ventos e tempestades da histoacuteria
Teimosamente mantiveram a liacutengua os costumes a memoacuteria da linhagem Na Birmacircnia no Siatildeo
na Malaacutesia na Indoneacutesia haacute populaccedilotildees que orgulhosamente afivelam o nome de Portugal Os
outros passaram Ficaacutemos laacute sem apoios e sem estiacutemulo do Portugal distante abuacutelico e ldquoeuropeurdquo
que regrediu para a visatildeo tardo-medieval dos contactos internacionais a Bruxelas a costa da Guineacute
e pouco mais A ldquoAacutesia Portuguesardquo estaacute para aleacutem das Portas do Cerco do bazar de Diacuteli e dos limites
3
de Goa Pede-se que os decisores de Lisboa abram os olhos e tirem partido da imensa vantagem
que foi eacute e seraacute se o quisermos a grandeza em terras da Aacutesia copy Miguel Castelo Branco
httpwwwalamedadigitalcomptn1portugueses_orientephp
Em 1511 Malaca era um centro econoacutemico transbordante de riqueza
O Sultatildeo foi mandado para o exiacutelio depois de Albuquerque a conquistar facilmente pois sonha jaacute com
a fundaccedilatildeo do vasto impeacuterio portuguecircs na Aacutesia e conquista Ormuz no estreito que liga o Indico ao
Golfo Peacutersico (1507) e Goa (1510) O Mar Vermelho estaacute na posse da navegaccedilatildeo portuguesa com
o controlo mariacutetimo em direccedilatildeo ao Mediterracircneo As embarcaccedilotildees do Impeacuterio Otomano
transportando mercadoria de Malaca pelo Golfo Peacutersico e Mar Vermelho jaacute natildeo assustam
Albuquerque Pretende ir mais aleacutem o senhorio absoluto do comeacutercio da Costa do Coramandel na
Baiacutea de Bengala Reino do Peguacute Malaca Samatra e Siatildeo No pensamento do grande portuguecircs
estavam outras terras no sul dos mares da China estendendo-se ateacute ao Japatildeo
Albuquerque natildeo eacute soacute um guerreiro indomaacutevel eacute um diplomata negociador inteligente que prefere tratar
dos assuntos pacificamente que servir-se das armas Natildeo pretende conquistar paiacuteses deseja apoderar-se dos
grandes pontos estrateacutegicos de comeacutercio onde todos vivam na melhor das harmonias Falta para concretizar o
seu objetivo a administraccedilatildeo do empoacuterio de Malaca
Agrave peniacutensula malaia chegam tecircxteis da Iacutendia sedas e ceracircmicas da China cravo das Molucas noz-
moscada de Banda papel de arroz de Samatra cacircnfora do Brunei madeira de Sacircndalo de Timor
pau-santo benjoim chifres de Rinoceronte marfim peacuterolas carpetes adagas batiques de Java Os
mercadores aacuterabes do Cairo Meca Adeacuten Ormuz e da Aacutefrica Oriental chegavam carregados de
armas tapeccedilarias talheres de cobre oacutepio aacutegua de rosas e incenso Juncos chineses aportavam
com seda em bruto para manufaturar vestidos brocados drogas aromaacuteticas coralina e marfim Do
reino do Siatildeo aportam todos os anos 30 barcos com carregamentos de laca madeira de teca
pedras preciosas roupas pimenta e metais que permutam por escravos ou por mercadorias Da
Birmacircnia vinha arroz produtos agriacutecolas rubis estanho e prata De Palembanque (Samatra)
escravos ervas medicinais e produtos alimentares conservados A presenccedila portuguesa foi
particularmente forte na regiatildeo (seacutec XVI e XVII) Muitas palavras birmanesas satildeo de origem
portuguesa Lelain (Leilatildeo) Tauliya (Toalha) Natatu (Natal) Balon (Bola Balatildeo) Waranta (Varanda)
In Carlos Fontes httplusotopianosapoptindexOPhtml
Um interessante guia para a Birmacircnia eacute o Further India de Hugh Clifford (ed White Lotus Co Bangkok 1990)
Publicado pela primeira vez em 1904 o autor aceacuterrimo defensor do sistema colonial britacircnico
descreve de um modo isento para a eacutepoca a epopeia do desbravamento destes territoacuterios pelos
ocidentais desde os aacuterabes aos primeiros portugueses como Albuquerque e outros (the Filibusters)
Fala dos exploradores desconhecidos para os portugueses Antoacutenio de Faria Antoacutenio de Miranda
Duarte Fernandes Ruy de Arauacutejo Francisco Serrano Antoacutenio de Abreu Pedro Afonso de Loroso o
conhecido Fernatildeo Mendes Pinto dos franceses Mouhot e Garnier a quem se atribui erradamente a
descoberta dos templos de Angkor Vat dos holandeses e dos ingleses
O termo flibusteiros aplicado aos portugueses deve-se a serem de todos os que exploraram o sueste
asiaacutetico os uacutenicos que construiacuteram fortes impuseram a religiatildeo e comercializaram pela forccedila
Ateacute agrave sua chegada eram os aacuterabes os uacutenicos cuja influecircncia se alastrava ateacute ao oriente e nunca se
imiscuiacuteam na poliacutetica local O posterior sucesso dos holandeses e ingleses deveu-se ao facto de soacute
quererem o comeacutercio nunca as terras nem as almas das gentes A colonizaccedilatildeo veio depois Essa
4
perspetiva eacute nova para os que nasceram e cresceram no mundo paroquial da epopeia quinhentista
da Histoacuteria de Portugal de Adolfo Simotildees Mueller Muitos sentem-se afrontados ao lerem opiniotildees
sobre Vasco da Gama diferentes das que o ensino da Ditadura inculcou nos jovens portugueses
Como acontece com a Birmacircnia tambeacutem a religiatildeo predominante no Siatildeo (Tailacircndia) e o alfabeto servem
de prova da forte influecircncia cultural indiana durante o primeiro mileacutenio embora os primeiros relatos histoacutericos soacute
comecem no seacutec X A religiatildeo eacute a mesma os alfabetos satildeo distintos mas de inspiraccedilatildeo comum
No ano de 849 foi criado um reino Thai cuja capital era Pagan (hoje Bagan) O seu santuaacuterio fica na
China (Iunatildeo) de onde se deslocam para Sul (seacutec X e XII) desalojando o reino khmer para sudeste e
atual Camboja Um priacutencipe funda a capital em Ayuthia (1350) e ganha a supremacia no Siatildeo Foi um
reino com elevado grau de sofisticaccedilatildeo como os portugueses descobriram quando se tornaram vizinhos
ao conquistarem Malaca quando o Siatildeo esteve envolvido em luta eacutepica com os birmaneses
Do contacto ficou a norma que perdurou por mais de 300 anos da corte siamesa empregar o portuguecircs
como idioma diplomaacutetico para desconcerto do embaixador norte-americano que ali apresentou credenciais no
seacutec XIX Sob o tema da presenccedila portuguesa na Aacutesia Jorge Morbey (ex-Presidente do Instituto Cultural de
Macau) escreveu (Janordm 2006) ao entatildeo Presidente Jorge Sampaio longa missiva da qual se extraem excertos
Como referiu o descendente de portugueses Arcebispo Emeacuterito de Mandalay (Birmacircnia) U Than Aung
onde a maioria do clero catoacutelico eacute de origem portuguesa com origem em Peguacute (1600) quem nunca
recebeu a mais teacutenue manifestaccedilatildeo de solidariedade nada tem a esperar Que poderatildeo as Cristandades
Crioulas Lusoacutefonas do Oriente esperar de Portugal A sua incapacidade nesta mateacuteria tem sido uma
evidecircncia secular filha da ignoracircncia e do preconceito A pequena Cristandade Crioula Lusoacutefona de
Korlai [Chauacutel] na Iacutendia somente em 1982 seria revelada ao Mundo pelo etnoacutelogo romeno Laurentiu
Theban A Cristandade Crioula Lusoacutefona da Birmacircnia jaacute natildeo usa a liacutengua crioula e perdeu os nomes e
apelidos cristatildeos apesar de permanecer fiel agrave religiatildeo catoacutelica As Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do
Oriente mantidas na ignoracircncia dos conflitos entre Portugal e a Santa Seacute lutaram anos sem fim contra
as novas autoridades eclesiaacutesticas por as considerarem estrangeiras Clamaram sempre pelo envio de
clero de Portugal Goa ou Macau Em vatildeo A transferecircncia de domiacutenios entre paiacuteses europeus de
Portugal catoacutelico para a Holanda protestante constituiu o pano de fundo em que emergiram as
Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do Oriente Com a substituiccedilatildeo da dominaccedilatildeo portuguesa
permanecendo nas terras que as viram nascer deportadas para outras paragens ou forccediladas agrave
emigraccedilatildeo essas comunidades mesticcedilas talharam a sua identidade proacutepria que perdurou ateacute aos
nossos dias assente em dois pilares principais a religiatildeo catoacutelica e a liacutengua crioula A religiatildeo fora
trazida de Portugal ou de Goa Convertidos ou nascidos nela com ela haveriam de morrer geraccedilatildeo
apoacutes geraccedilatildeo A sua liacutengua o crioulo era a liacutengua portuguesa que lhe garantira o estatuto de liacutengua
franca no litoral da Aacutesia e da Oceacircnia desde o seacutec XVI ateacute agrave sua substituiccedilatildeo pelo inglecircs no seacutec XIX
Holandeses ingleses dinamarqueses e franceses natildeo podiam prescindir de um ldquoliacutengoardquo [inteacuterprete] a
bordo para poderem comerciar nos portos do Oriente na liacutengua que as Cristandades Crioulas Lusoacutefonas
do Oriente falavam e muitas ainda falam Tratados entre paiacuteses europeus e poderes locais foram
firmados nessa liacutengua por ser a uacutenica a que os europeus podiam recorrer para comunicar no Oriente
Hoje Cristatildeordquo [Kristang] e ldquoPortuguecircsrdquo [Portugis] satildeo sinoacutenimos A profanaccedilatildeo e a destruiccedilatildeo de igrejas
e mosteiros a expulsatildeo dos padres a proibiccedilatildeo do culto catoacutelico as deportaccedilotildees maciccedilas a reduccedilatildeo
de muitos agrave condiccedilatildeo de escravos compeliram os membros dessas cristandades agrave clandestinidade e agrave
emigraccedilatildeo Macau Iacutendia Insuliacutendia Siatildeo e Indochina Tais irmandades permaneceram ateacute aos nossos
dias e conservam determinadas prerrogativas que limitam a autoridade dos paacuterocos Perdida a
confianccedila que a Santa Seacute depositara desde o seacutec XV no Rei de Portugal na sequecircncia do corte de
relaccedilotildees diplomaacuteticas do Governo liberal em 1833 e a extinccedilatildeo das ordens religiosas por decreto de 31
5
de Maio de 1834 o Padroado Portuguecircs do Oriente sofreu um golpe mortal na Iacutendia no Ceilatildeo no
Sudeste Asiaacutetico na China e na Oceacircnia Os missionaacuterios do Padroado natildeo seriam substituiacutedos O clero
secular de Goa acorreu em socorro das Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do Oriente que iam ficando
sem religiosos A liacutengua crioula falava-se nas Cristandades Crioulas da Tailacircndia (AyuthiaAyutthaya) e
Banguecoque ateacute aos anos 50 do seacutec XX onde permanecem vocaacutebulos correntes no relacionamento
familiar e nas praacuteticas catoacutelicas Na Indoneacutesia aleacutem de Java nas Flores [Larantuka e Sikka] ilhas de
Ternate Tidore e Bali Em Timor [Lifau e Bidau] No Bangladesh - Chittagong e Daca ndash ateacute aos anos 20
do seacutec XX era muito viva a presenccedila da liacutengua crioula nas Cristandades locais copy Jorge Morbey
httpcombustoesblogspotcom200601os-crioulos-portugueses-no-orientehtml
O homem portuguecircs na Aacutesia nunca esqueceu a paacutetria Tomemos o exemplo de Venceslau Morais
Escondia as suas miseacuterias no exiacutelio nipoacutenico e tendo escrito e enviado dezenas de cartas e postais
ilustrados agrave irmatilde Francisca Pauacutel para Nelas (Beira Alta) nunca lhe referiu a intenccedilatildeo de regressar a
Portugal A memoacuteria do Cocircnsul de Portugal em Kobe no longiacutenquo Sol Nascente ficou nos anais das
relaccedilotildees culturais entre Portugal e o Japatildeo httpwwwportugal-linhaptlegadovorientepsiao3 Joseacute Gomes
Martins
Por tudo o que atraacutes ficou dito recorde-se o grande universalista portuguecircs No uacuteltimo canto de ldquoOs
Lusiacuteadasrdquo Vasco da Gama o almirante heroacutei eacute recebido pela deusa Teacutetis na Ilha dos Amores Laacute naquele
espaccedilo encantado ela lhe descortinou a Maacutequina do Mundo a visatildeo do Cosmo e dos continentes da terra receacutem-
descoberta pelos lusos cena que coloca o poeta portuguecircs como quem por primeiro no campo das letras
europeias percebeu os efeitos irreversiacuteveis da globalizaccedilatildeo que entatildeo dava os seus primeiros passos
Vecircs aqui a grande maacutequina do Mundo Eteacuterea elemental que fabricada Assim foi do Saber alto e profundo Quem eacute sem princiacutepio e mete limitada Quem cerca em derredor este rotundo Globo e superfiacutecie tatildeo limada Eacute Deus mas o que eacute Deus ningueacutem o entende Que a tanto o engenho humano natildeo se estende (Canto X 80)
Eacute entatildeo que a deusa abrindo os braccedilos para enfatizar a amplidatildeo a magnitude do reino augusto aponta
ao Gama as mais diversas regiotildees do mundo
Povoam-na ldquogente sem leirdquo a bruta multidatildeo ldquobando espesso e negro de estorninhosrdquo do impeacuterio do Benomotapa (Zimbabueacute) agrave Taprobana (Sri-Lanka) Todos agrave espera da chegada da cruz desenhada na vela principal da nau dos argonautas lusitanos Mostra-lhe o Mar Vermelho o Monte Sinai a secura dura e arenosa da Araacutebia o Tigre o Eufrates o planalto dos cavaleiros da Peacutersia o estreito de Ormuz o Sind a terra dos Bracircmanes onde S Tomeacute tentara a conversatildeo dos gentios o Ganges e o Indo a terra da Birmacircnia o impeacuterio do Siatildeo Sumatra a ponta estreita de Singapura o Camboja e o rio Mekong no qual Camotildees naufragou mas salvou os versos Em seguida margeando com os olhos a costa da Cochinchina (o Vietname) mostrou-lhe a China e mais longe o Japatildeo de onde vinha a maravilhosa seda e o ouro fino De tudo se desprendia o aroma do cravo da noz-moscada do licor perfumado do benjoim do coco do mar do incenso da mirra e do raro acircmbar de onde se extraem fragracircncias mil Teacutetis voltando-se para o outro lado da Terra apontou-lhe as partes recentemente conquistadas pelos castelhanos que lanccedilaram o seu rude colar sobre as gentes cativas do Novo Mundo Da Terra de Santa Cruz do litoral do Brasil o braccedilo lusitano jaacute carregava o tronco vermelho o Ibirapitanga dos nativos para dele extrair as tintas para os panos Re-embarcados os portugueses partindo da Ilha dos Amores aos adeuses no conveacutes velas soltas ao vento em mar tranquilo carregados de refrescos e iguarias deliciosas navegaram de volta agrave boca do Rio Tejo
De entatildeo em diante estavam todos convencidos de que os fados da Humanidade desde que Vasco da
Gama unira o Ocidente ao Oriente natildeo se prendiam a um soacute reino a uma soacute naccedilatildeo ou a um soacute hemisfeacuterio
6
Somente gente surda e endurecida fechada teimosa natildeo reconheceria que escancarado para sempre o
Caminho das Iacutendias o mundo se globalizaria cada vez mais tornando-se algo uacutenico entrelaccedilando para sempre
povos e continentes num destino em comum Ainda hoje estou rodeado dessa gente surda e empedernida
O mesmo se passou com os Coloacutequios Isto de Lusofonias e Lusotopias tem muito que se lhe diga
Falta aos Estados a visatildeo o amor e a dedicaccedilatildeo que soacute alguns indiviacuteduos conseguem ter pela liacutengua e cultura
de um povo Governos e governantes estatildeo de candeias agraves avessas para a defesa desses valores tal qual a
populaccedilatildeo de S Miguel estaacute sempre de costas para o mar enquanto outras natildeo vivem sem ele como no Pico
Falarei brevemente de dois autores que lutam contra os Fados da Humanidade mostrando a globalizaccedilatildeo da
liacutengua portuguesa atraveacutes da sua visatildeo accediloriana do mundo
Vozes criacuteticas ou arredadas dos estereoacutetipos natildeo abundam nem satildeo benquistas As elites dominantes e os
poderes caciqueiros logo se insurgem A ingratidatildeo vergonha e falta de patriotismo satildeo epiacutetetos comummente
usados para denegrir os que ousam Citam-se paacuteginas relevantes da heroica gesta accediloriana com destaque para
as guerras liberais e desventuras de emigrantes que triunfaram Surgem editorais e recensotildees violentas nos
jornais locais Os caixeiros-viajantes da cultura logo se arrogam o direito de defender a accedilorianidade ofendida
pois nela assenta exclusivamente o seu curriacuteculo Tais declaraccedilotildees de repuacutedio raramente extrapolam os cantos
do arquipeacutelago pois falar dos Accedilores ainda natildeo eacute moda na grande capital do Impeacuterio
Foi isto que por mais de uma vez aconteceu ao meu amigo escritor Cristoacutevatildeo de Aguiar Apodaram-no de
tudo e mais alguma coisa pois conveacutem sempre ser mais papista que o papa Em meios pequenos eacute consabida
a tendecircncia para apoucar aqueles que da leis do esquecimento se desembaraccedilaram como diria o vate enquanto
o imperador e seu seacutequito distribuem viagens e mordomias Eacute uma questatildeo de tempo ateacute comeccedilarem a zurzir
nos forasteiros que ousam opinar sobre o arquipeacutelago dos Accedilores Quando se perora sobre as nove ilhas filhas
de Zeus urge natildeo melindrar os interesses estabelecidos As visotildees criacuteticas ou natildeo conformadas aos cacircnones
podem acarretar seacuterios riscos para a sauacutede mental dos seus autores Terras pequenas invejas grandes ou a
reproduccedilatildeo literaacuteria do mote popular ldquoa minha festa eacute maior que a tuardquo Para o comum dos mortais a vida
prosseguiria o seu rumo mas os Accedilores satildeo uma reacuteplica miniatural da corte lisboeta As elites natildeo perdoam aos
que natildeo comungam da verdade uacutenica com forccedila de dogma que os sustenta e valida
Cristoacutevatildeo escreve com uma pluma incoacutemoda Reservou-se um papel de narrador que pensa fala e escreve
sem recorrer aos lugares comuns que tamanho gaacuteudio causam na populaccedilatildeo Natildeo reivindica verdades absolutas
ou duradouras limita-se a (d)escrever o que sente e vecirc Criaram-lhe a fama de irasciacutevel Quantas vezes com
justas e fundadas razotildees Recebi ldquoavisos amigosrdquo para tais perigos quando o convidei a estar na Lagoa (Marccedilo
2009) para o 4ordm encontro accediloriano Congratulo-me que relutantemente Cristoacutevatildeo tenha acedido Ao longo de
meses trocamos correios eletroacutenicos e telefonemas criando uma amizade saudavelmente aberta e criacutetica durante
a qual aprendi imenso com a personagem que tantos cuidados incutia aos arautos e defensores da paz podre
accediloriana
Cristoacutevatildeo eacute um permanente Passageiro Em Tracircnsito tiacutetulo do seu mais benquisto livro sempre na rota
do inconformismo Ele eacute a voz que se natildeo cala e tem o direito a tal Chama os bois pelo nome sem se deter nas
finuras das convenccedilotildees do parece bem ou mal Eacute criacutetico impiedoso dos destinos que alguns queriam que fosse
eterno o da subserviecircncia e submissatildeo aos senhores das ilhas descendentes diretos dos opressores da gleba
Grandes narrativas que se assemelham a uma teacutecnica de travelling em filmagem com grandes planos zooms
e paragens detalhadas nos rostos e nas mentes dos atores principais das suas croacutenicas e outros escritos A
cacircmara deteacutem-se e escalpeliza a alma daqueles que ele filma com as suas palavras aceradas como vento mata-
vacas que sopra do nordeste Cristoacutevatildeo de Aguiar jaacute o disse natildeo eacute um autor faacutecil nem facilita exige quase tanto
dos seus leitores como de si mesmo ele eacute o magma de que satildeo feitas as gentes de bem destas ilhas Tal como
as palavras sentidas gravadas fundo num granito que natildeo existe nas ilhas mas que encontro na Relaccedilatildeo de
Bordo I Verdade seja que ando imerso na sua escrita tateando como um receacutem-nascido agraves escuras fora do
ventre materno Ele eacute um escritor que se crecirc maldito porque outros o fizeram assim e porque eacute de si mesmo um
ser acossado por tudo e por todos mas sobretudo por si mesmo Para ele a escrita nunca seraacute catarse pois ela
7
eacute fruto de amores incompreendidos entre si e a sua ilha Psicanalisando as gentes e a terra que o viram nascer
adotou o Pico como nova ilha maacutetria em 1996 Como ele diz (Relaccedilatildeo de Bordo II pp 199-200) Primeiro foi a
ilha nunca mais a encontramos como a haviacuteamos deixadotrouxemos somente a imagem dela ou entatildeo foi
outra Ilha que connosco carregaacutemos
A escrita laacutevica de Cristoacutevatildeo fica a boiar no nosso imaginaacuterio Ningueacutem consegue escrever da forma uacutenica
e inimitaacutevel como soacute ele sabe e sente sobre os Accedilores Essa a sua forma de amar e de recompensar a terra que
o viu nascerpara que desate as grilhetas que a encarceram no passado e ele se desobrigue finalmente da
tarefa hercuacutelea de carregar a ilha como um fardo ou amor natildeo-correspondido que nisto de ilharias haacute muitas
paixotildees natildeo correspondidas Eacute um liacutedimo representante da mundividecircncia accediloriana na escrita contemporacircnea e
eacute tarefa dos Coloacutequios da Lusofonia tornaacute-lo benquisto e conhecido no mundo inteiro Com a literatura os autores
accedilorianos iam chegar mais longe Libertar-se Para isso teriam de mondar mercados novos e virgens como a
selva amazoacutenica antes dos novos bandeirantes Se natildeo chegassem agraves novas geraccedilotildees accedilorianas poderiam
alcanccedilar descendentes expatriados e os que aprendem o orgulho da naccedilatildeo accediloriana na sua cultura tradiccedilatildeo e
outros valores primordiais que tatildeo arredados das escolas andam hoje Mas os coloacutequios queriam levaacute-los a
mercados e leitores insuspeitos ateacute agrave velha Cortina de Ferro onde haacute apetecircncia para escritores lusoacutefonos
A ilha para Nataacutelia Correia eacute Matildee-Ilha para Cristoacutevatildeo de Aguiar Marilha para Daniel de Saacute Ilha-Matildee
para Vasco Pereira da Costa Ilha Menina para mim nem matildee nem madrasta nem Mariacutelia nem menina mas
Ilha-Filha que nunca enteada Para amar sem tocar ver engrandecer nas dores da adolescecircncia que satildeo sempre
partos difiacuteceis Toda a vida fui ilheacuteu perdi sotaques Ma natildeo malbaratei as minhas ilhas-filhas Trago-as a
reboque colar multifacetado de vivecircncias dos mundos e culturas distantes Primeiro em Portugal ilhota perdida
da Europa durante o Estado Novo seguidamente em mais um capiacutetulo naufragado da Histoacuteria Traacutegico-mariacutetima
nas ilhas de Timor e de Bali seguido da entatildeo (pen)iacutensula de Macau (fechada da China pelas Portas do Cerco)
da imensa ilha-continente denominada Austraacutelia e nesta ilhoa esquecida de Braganccedila no nordeste
transmontano antes de arribar agrave Atlacircntida Accedilores
Cumes de montanhas submersas que assomam a intervalos aqui no meio do Grande Mar Oceano onde
se mantecircm gentes orgulhosas e ciosas das suas tradiccedilotildees e costumes em torno da famiacutelia nuclear dizimada
pelo chamado progresso Os poliacuteticos ocupados na sua sobrevivecircncia sempre se olvidaram da presenccedila maacutegica
destas ilhas de reduzidas proporccedilotildees e populaccedilotildees Como se fosse uma espeacutecie de triacircngulo das Bermudas
onde tudo o que eacute relevante desaparece dos telejornais Jaacute era assim durante o Estado Novo e pouco mudou
quanto agrave visibilidade real destas iacutensulas apenas evocadas pelas cataacutestrofes naturais e pelo anticiclone do bom
ou mau tempo
Falemos da literatura Acolhemos nos Coloacutequios como premissa o conceito de accedilorianidade formulado
por Joseacute Martins Garcia que laquopor envolver domiacutenios muito mais vastos que o da simples literaturaraquo admite a
existecircncia de uma literatura accediloriana laquoenquanto superstrutura emanada dum habitat duma vivecircncia e duma
mundividecircnciaraquo1
No 4ordm Encontro Accediloriano da Lusofonia Cristoacutevatildeo de Aguiar rejeitou o roacutetulo de literatura accediloriana por
considerar que faz parte da produccedilatildeo literaacuteria lusoacutefona laquoO tiacutetulo (literatura accediloriana) eacute equiacutevoco porque pode
parecer que eacute uma literatura separada da literatura portuguesaraquo afirmou agrave agecircncia Lusa o escritor Machado
Pires sugeriu em tempos ldquoliteratura de significaccedilatildeo accedilorianardquo Outros preferem o termo ldquomatriz accedilorianardquo Haacute
vaacuterios tipos de autores os accedilorianos nascidos e vividos no arquipeacutelago (ausentes ou natildeo) os emigrados os
descendentes os insularizados ou ilhanizados e os estrangeiros que escrevem sobre os Accedilores Falta destrinccedilar
se os podemos incluir a todos nessa designaccedilatildeo accediloacuterica Lentamente todos encontraram o seu espaccedilo natildeo
havendo miacutengua de quantidade mas frequentemente sem projeccedilatildeo fora das ilhas com exceccedilotildees
contemporacircneas como as de Joatildeo de Melo Cristoacutevatildeo de Aguiar Daniel de Saacute Vasco Pereira da Costa e
Dias de Melo para citar alguns
1 httplusofoniacomsapoptacoresacorianidade_pavao_1988htm_ftn11_ftn11
8
Quedemo-nos doravante na perspicaz apreciaccedilatildeo que faz Cristoacutevatildeo de Aguiar da obra intitulada Nas
Escadas do Impeacuterio de Vasco Pereira da Costa autor que hoje eacute aqui homenageado
ldquoNatildeo eacute por acaso que Vasco Pereira da Costa poeta de meacuterito mas ainda no silecircncio da
gaveta se apresenta no mundo das letras sobraccedilando uma coletacircnea de contos Numa terra onde quase
todos sacrificam agraves (as) musas e se tornou quase regra a estreia com um livrinho de poemas a atitude
(ou opccedilatildeo) do autor de Nas Escadas do Impeacuterio natildeo deixa de ser de certo modo corajosa como
corajosos satildeo os contos que este livro integra Natildeo fora o receio de escorregar na casca do lugar-
comum e eu diria que esta mancheia de contos vivos arrancados com matildeos haacutebeis e um sentido
linguiacutestico apuradiacutessimo ao ventre uacutebere mas ainda mal conhecido da sua terra de origem vem agitar
as aacuteguas paradas onde se situa o panorama nebuloso e um tanto equiacutevoco da literatura de expressatildeo
accediloriana O conto que abre esta coletacircnea Faia da Terra eacute bem a prova do telurismo no sentido
torguiano do termo de que o jovem escritor (Angra do Heroiacutesmo Junho de 1948) estaacute imbuiacutedo sem
cair no pitoresco regionalista tatildeo do agrado de muitos escritores accedilorianos Natildeo resta a miacutenima duacutevida
de que o Gibicas A Fuga e outras peccedilas de antologia que aqui figuram vecircm contribuir para o
enriquecimento do conto portuguecircs de especificidade e carateriacutestica accediloriana Contudo Vasco Pereira
da Costa corre o risco (e ele mais do que ningueacutem disso estaacute consciente) de vir a ser queimado nas
labaredas inquisitoriais de certos meios ideoloacutegico-literaacuterios accedilorianos que tecircm tentado
oportunisticamente mas sem raiacutezes verdadeiras edificar [] uma literatura accediloriana em oposiccedilatildeo agrave
Literatura Portuguesa Nas Escadas do Impeacuterio quer queiram ou natildeo os arautos da mediocracia vem
dizer-nos exatamente o contraacuteriordquo
Com efeito natildeo podia deixar de ser mais justo o juiacutezo de valor supracitado
- Em primeiro lugar estreia-se Vasco Pereira da Costa em 1978 com a coletacircnea de contos Nas
Escadas do Impeacuterio agrave qual se seguiratildeo a novela Amanhece a Cidade (1979) a memoacuteria Venho caacute
mandado do Senhor Espiacuterito Santo (1980) os poemas de Ilhiacuteada (1981) Plantador de palavras
Vendedor de leacuterias antologia de novelas galardoada com o preacutemio Miguel Torga no ano de 1984
Memoacuteria Breve (1987) Risco de marear (Poemas em 1992) e por fim trecircs obras poeacuteticas a saber
Sobre Ripas Sobre Rimas Terras e My Californian Friends (respetivamente publicadas em 1994 1997
e 1999)
- Em segundo lugar urge referir a originalidade de Vasco Pereira da Costa evidente tanto na sua obra
poeacutetica como na sua prosa que vem segundo o Autor de Raiz Comovida agitar as letras accedilorianas
Assim sendo e numa perspetiva temaacutetica cumpre realccedilar o telurismo genuiacuteno patente em ldquoFaia da
Terrardquo histoacuteria do enamoramento de Teresa por um americano da Base da sua subsequente partida
para o Novo Mundo jaacute com o nome de Mrs Teresa Piel e da secagem da faia dois meses apoacutes a
descolagem do aviatildeo da Pan America Nesta novela inaugural perpassam vivamente como que
fotografadas ao vivo as rotineiras fainas insulares que pela via da repeticcedilatildeo regem o quotidiano do
ilheacuteu ldquoEra sexta-feira e a matildee amassava o crescente com a farinha de milho No forno estalavam a
rapa o eucalipto e o loiro [] Lavou depois as folhas de botar patildeo e veio sentar-se ao peacute dos meus
socos de milho ndash bois de veras espetados com palhitos queimados arremedando os galhos ndash no estrado
do meio-da-casa Arrumou as galochas no sobrado [] rdquo (1978 11)
Por vezes eacute a loucura insular que faz a sua apariccedilatildeo em cena na figura do poeta Vicente ldquoum Cocircrte-Real
impotente tacanho e degenerescenterdquo (1978 71) o qual volvido esse tempo em ldquoque escrevia coisas tatildeo
lindas de tanto sentimentordquo tem o despauteacuterio de acumular guarda-chuvas na falsa e de publicar no jornal
da Ilha desairosos alinhavos poeacuteticos ldquoPrometeu Prometeu Natildeo cumpriu A promessa Homessardquo (ldquoA
Fugardquo 1978 74)
- Em terceiro lugar e ainda na oacutetica de Cristoacutevatildeo de Aguiar a coragem de Vasco Pereira da Costa que
a saacutetira nas suas diversas vertentes revela agrave saciedade Assim sendo atente-se quer na criacutetica ao
9
salazarismo regime repressor totalitaacuterio e punitivo dos que ousam transgredir as regras impostas -
ldquoComo vim aqui [agrave ilha] parar Eacute simples por ser anarquista e natildeo peitear o Manholas de Santa Combardquo
(ldquoO Manel drsquoArriagardquo 1978 31) - quer na criacutetica agrave mentalidade mediacuteocre cuja pequenez
constrangedora se espraia em espaccedilo iacutentimo e puacuteblico pela vida de outrem tatildeo sigilosamente
resguardada quanto violada de supetatildeo - ldquo [] cada qual dava a sua sentenccedila todos em grande pensatildeo
e natildeo havia alcatra de couves que agrave hora da ceia natildeo fosse temperada com palpites de desenlacerdquo
(ldquoPrimaverardquo 1978 59) - quer na criacutetica ao jornalismo barato e ao provincianismo dos articulistas cujo
discurso pouco inovador se vai ritualizando - ldquoComeccedilou entatildeo o embaraccedilo No jornal de amanhatilde por
entre os aniversaacuterios da gente fina [] as partidas e as chegadas os partos e as notiacutecias do Paiacutes e do
Estrangeiro os casamentos e os pedidos de os horaacuterios de barcos e de aviotildees as oraccedilotildees ao Menino
Jesus de Praga e ao divino Espiacuterito Santo [] rdquo (ldquoA Fugardquo 1978 82-83) - quer por fim na criacutetica a uma
certa lsquocultura de superioridadersquo que lsquoMestrersquo Gibicas se apresta a denegar ldquo [] estaacutevamos de liacutengua
entre os dentes para sibilar o th O professor fazia empenho pois [] era uma vergonha virem por aiacute
abaixo os americanos e noacutes sem sabermos agradecer [] Ateacute que foi a tua vez [Gibicas] [] Agarraste
na caixinha vermelha azul e branca com as estrelinhas desse people para o nosso povo e sem esperar
o afago da farda grandalhona gritaste-lhes alto como ningueacutem ainda o fizera - SANABOBICHASrdquo
(ldquoGibicasrdquo 1978 137-138-141) Em asterisco de rodapeacute explica o Autor o neologismo ldquoSon of a bitchrdquo
- Em quarto lugar a variedade genoloacutegica em que se move o Escritor homenageado desde o conto e a
novela ateacute agrave memoacuteria e agrave ldquocroacutenicardquo breve passando pela Poesia E a este propoacutesito natildeo resistimos agrave
tentaccedilatildeo de transcrever dois excertos O primeiro de o Plantador de Palavras
ldquoAh meus senhores mas isto aqui natildeo eacute a Itaacutelia Eacute a mui nobre leal e sempre constante cidade de Angra
do Heroiacutesmo ao tempo em que o Autor nela carregava a sua adolescecircncia de amores temores e
rancores Como podem observar uma cidade espartilhada entre mar e mar com dois castelos a
estrangulaacute-la com suas casas nobres por fora e burguesiacutessimas por dentro praccedilas com estaacutetuas e
engraxadores lojas sonolentas comerciantes lentos e clientes ensonados automobilistas
imprevidentes nos seus vinte agrave hora que quase atropelam a distraccedilatildeo dos peotildees um governador civil
e trecircs governadores militares cinquenta e sete prostitutas dezanove bombeiros voluntaacuterios que
voluntariamente vatildeo de borla ao cinema vinte e cinco meninas que namoram agrave janela e estatiacutesticas de
ontem catorze desfloradas nos saguotildees um bispo dois monsenhores sete coacutenegos na sua Catedral
trecircs parvos oficiais que fornecem o riso oficial e obrigatoacuterio nos dias uacuteteis e inuacuteteis um Presidente para
a sua Cacircmara com o seu secretaacuterio e um contiacutenuo ndash que por ser funcionaacuterio puacuteblico natildeo estaacute incluiacutedo
no nuacutemero dos trecircs parvos oficiais que o quadro comporta Esta cidade tem trinta e quatro velhas de
lenccedilo e trecircs senhoras idosas de chapeacuteu quarenta e sete becircbados e oito senhores que andam agraves vezes
alegrinhos cento e vinte e nove rapazes cento e trinta e duas raparigas vinte e dois meninos e trinta e
uma meninas o nuacutemero de naiotildees ndash invertidos encartados e Soacutecios de Meacuterito da Corporaccedilatildeo das
Criadas de Servir ndash eacute de setenta e sete mas nunca foi feito o recenseamento dos homens com pitafe
quarenta e trecircs professores do Liceu dos quais vinte satildeo professores do Seminaacuterio Maior onde haacute
quinhentos e setenta e oito seminaristas menores dos quais oitenta e nove viacutergula seis por cento
oriundos da cristianiacutessima ilha de Satildeo Miguel o Arcanjo e do Senhor Santo Cristo dos Milagres e ainda
de outros Senhores que se passeiam no Jardim Duque da Terceira todas as quintas entre as duas
horas e sete minutos e as quatro horas e quarenta e oito da tarde em bandos de estorninhos quinze
chauferes um cauteleiro sessenta e nove caloteiros identificados com o indicador da matildeo direita
noventa e seis donas-de-casa e igual nuacutemero de maridos operacionais quarenta e sete viuacutevas
praticantes vinte e seis viuacutevas protestantes e oito viuacutevas de fresco ainda indecisas sessenta e oito
cavalheiros satildeo simultaneamente irmatildeos devotos da Confraria de Nossa Senhora do Monte Carmelo
da Irmandade do Senhor dos Passos e da Ordem Terceira de Satildeo Francisco quatro agiotas
dissimulados que vestem de preto e usam chapeacuteu e que se sentam para o negoacutecio na terceira
10
banqueta do Paacutetio da Alfacircndega cinquenta agentes da Poliacutecia de Seguranccedila Puacuteblica dos quais trecircs
satildeo da Secreta e por isso para natildeo serem conhecidos trajam agrave paisana o Cebola o Tombado e o
Zarolho dois vendedores de milho torrado pevides e caramelos sugardady duzentas e nove beatas de
novena quarenta e oito de terccedilo e mantilha vinte devotas de enfeitar capelas dezassete de sacristia
catorze irmatildes de padre e meia duacutezia de sobrinhas um batalhatildeo de soldados do Castelo que aparecem
agrave boquinha da noite triste arrastando as botas tristes pelo empedrado tristonho trecircs namoradas de
aspirantes que fazem todas as recrutas uma meacutedia de um viacutergula oito por mil de americanos da United
States Air Force Azores Pochugal por dia facilmente reconheciacuteveis pelo tamanho dos peacutes e por uma
garrafa de Matioacutes Rosseacute danccedilando na matildeo direita quarenta e trecircs indiviacuteduos usam gravata verde
porque satildeo adeptos do Lusitacircnia e trinta e nove potildeem gravata vermelha porque satildeo soacutecios do Angrense
havendo que mencionar ainda dois laccedilos ndash um poeta e um boticaacuterio A cidade tem dezoito tabernas
seis cafeacutes e duas pastelarias
Vamos agora mudar o cenaacuteriordquo
- transcreve-se o poema ldquoRose era o nome de Rosardquo
A matildee disse natildeo mais natildeo mais eu natildeo mais tu filha natildeo mais nomes na pedra do cais natildeo mais o cortinado da ilha natildeo mais Rosa sejas Rose agora natildeo mais neacutevoas roxos ais natildeo mais a sorte caipora natildeo mais a ilha natildeo mais Poreacutem Rose o natildeo mais natildeo quis e quis ver a ilha do natildeo mais o cortinado roxo infeliz os nomes na pedra dos cais Pegou em si e foi-se embora
Natildeo mais Rose Rosa outra vez agora (My Californian Friends 1999 25)
Natildeo estaremos perante a mais pura accedilorianidade na literatura
chrys chrystello lomba da maia accedilores agosto 2010
Bibliografia 1) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1978) Raiz Comovida (A Semente
e a Seiva) 1ordf ed Centelha Coimbra 1978 (Preacutemio Ricardo Malheiros da Academia das Ciecircncias de Lisboa) 2ordf ed Bertrand 1980 (esgotado)
2) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1979) Raiz Comovida II (Vindima
de Fogo) 1ordf ed Centelha Coimbra 1979 (esgotado)
3) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1981) Raiz Comovida III (O Fruto e
o Sonho) 1ordf ed Angra do Heroiacutesmo SREC 1981 (esgotado)
4) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1986) Com Paulo Quintela Agrave Mesa da Tertuacutelia noacutetulas biograacuteficas) 1ordf ed Serviccedilo de
Publicaccedilotildees da Universidade de Coimbra 1986 2ordf ed Revista e aumentada (no 1ordm centenaacuterio do seu
11
nascimento) Imprensa da Universidade de Coimbra 2005
5) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1987) Raiz Comovida (trilogia romanesca) ed Num soacute volume Editorial Caminho 1987 2ordf ed Revista e remodelada Publicaccedilotildees Dom
Quixote Lisboa 2003 6) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1988) Passageiro em Tracircnsito
novela em espiral ou o romance de um ponto a que se vai acrescentando mais um conto) 1ordm ed Editora Signo
Ponta Delgada 1988 7) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1990) O Braccedilo Tatuado (narrativa
militar aplicada) Editora Signo 8) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1994) Passageiro em tracircnsito
Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 9) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1999) Relaccedilatildeo de Bordo (1964-
1988) diaacuterio ou nem tanto ou talvez muito mais Campo das Letras Porto 1999 (Grande Preacutemio APE CMP
2000) 10) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2000) Relaccedilatildeo de Bordo II (1989-
1992) diaacuterio ou nem tantohellip Campo das Letras 11) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Raiz Comovida Trilogia
Romanesca Lisboa Publicaccedilotildees Dom Quixote (Ediccedilatildeo revista e remodelada)
12) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Trasfega casos e contos Publicaccedilotildees Dom Quixote Preacutemio Miguel Torga 2002 1ordf
ed 2003 2ordf ed 2003 13) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2004) Nova Relaccedilatildeo de Bordo (III
Volume) diaacuterio ou nem tantohellip Publicaccedilotildees Dom Quixote 14) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2005) Marilha sequecircncia narrativa
Publicaccedilotildees D Quixote 15) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) A Tabuada do Tempo a
lenta narrativa dos dias Preacutemio Miguel Torga 2006 Livraria Almedina Coimbra
16) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) Miguel Torga O Lavrador das Letras um percurso partilhado Livraria Almedina
17) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Braccedilo Tatuado ndash Retalhos da guerra colonial ndash Nova versatildeo P D Quixote 2008 2ordf
ed 2008 18) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Charlas Sobre a Liacutengua
Portuguesa Livraria Almedina 2008 19) Barcelos J M Soares de (2008) Dicionaacuterio de Falares
dos Accedilores ed Almedina 20) BETTENCOURT Urbano (2004) Joseacute Martins Garcia a
palavra o riso Separata da revista Arquipeacutelago -Liacutenguas e Literaturas XVII Ponta Delgada Universidade Accedilores
21) BRANDAtildeO Raul (sd) As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens Lisboa Perspetivas amp Realidades sd
22) BRASIL Luiacutes Antoacutenio de Assis (1994) ldquoA Narrativa Accediloriana poacutes-Vinte e Cinco de Abrilrdquo in Organon vol 8
nordm 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 23) Chrystello J Chrys (2009) ChroacutenicAccedilores uma circum-
navegaccedilatildeo (vol 1) De Timor a Macau Austraacutelia Brasil Braganccedila ateacute aos Accedilores Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
24) Da Costa Vasco Pereira (1978) Nas Escadas do Impeacuterio Contos Coimbra Centelha 1978
25) Da Costa Vasco Pereira (1979) Amanhece a Cidade romance Coimbra ed Centelha
26) Da Costa Vasco Pereira (1980) Venho caacute mandado do Senhor Espiacuterito Santo novela ed Banco Espiacuterito Santo c Comercial de Lisboa Lisboa
27) Da Costa Vasco Pereira (1981) Ilhiacuteada (poesia) Angra
do Heroiacutesmo SREC col ldquoGaivotardquo 28) Da Costa Vasco Pereira (1984) Plantador de Palavras
Vendedor de Leacuterias Coimbra Cacircmara Municipal 1ordm Preacutemio Miguel Torga 1984
29) Da Costa Vasco Pereira (1987) Memoacuteria Breve contos Angra do Heroiacutesmo Instituto Accediloriano de Cultura
30) Da Costa Vasco Pereira (1992) Riscos de Marear (poesia) Ponta Delgada Eurosigno
31) Da Costa Vasco Pereira (1994) Sobre ripas sobre rimas Coimbra Minerva 1994
32) Da Costa Vasco Pereira (1997) Terras (poesia) 1ordf ed Porto Campo das Letras
33) Da Costa Vasco Pereira (1999) My Californian Friends ed Gaacutevea Brown
34) Da Costa Vasco Pereira (2000) My Californian Friends (2ordf Ediccedilatildeo) Viseu Palimage Editores
35) Da Silveira Pedro (1977) ldquoAccediloresrdquo Grande Dicionaacuterio de Literatura Portuguesa e de Teoria Literaacuteria (coordenaccedilatildeo
Joatildeo Joseacute Cochofel) 1977 1ordm vol 36) Da Silveira Pedro (1999) Fui ao Mar Buscar Laranjas
Angra Direccedilatildeo Regional da Cultura 37) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1978) Ah Mogravenim dum
Corisco (Teatro) New Bedford - Providence Gaacutevea Chama 2ordf ed 1989 3ordf ed 1998 Lisboa ed Salamandra
38) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1983) laquo(Sapa)teia Americana Lisboa Vega 1983 1ordf ed 2ordf ed 2000
Lisboa Salamandra 39) De Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura
Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo [as diversas posiccedilotildees teoacutericas ao longo do tempo e algumas
posiccedilotildees poleacutemicas] Angra do Heroiacutesmo SREC (org) 40) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1986) Da Literatura
Accediloriana Subsiacutedios para um Balanccedilo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
41) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1987) ldquoO que eacute a L(USA)LAcircNDIArdquo in L(USA)LAcircNDIA A deacutecima Ilha Angra do Heroiacutesmo SREC
42) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1994) Que nome eacute
esse oacute Neacutezimo ndash E outros adveacuterbios de duacutevida 1ordf ed Lisboa ed Salamandra
43) De Jesus Eduiacuteno (sd) ldquoBreve notiacutecia histoacuterica da poesia accediloriana de 1915 agrave atualidaderdquo in Estrada Larga vol 3
Porto Editora [sd] pp 425-430 44) De Melo Joseacute Dias (1958) Mar Rubro 1958 2ordf ed 1980
Lisboa ed Salamandra 45) De Melo Joseacute Dias (1964) Pedras Negras 2ordf ed
Lisboa Vega 1985 traduccedilatildeo para inglecircs 1988 Dark Stones ed Gaacutevea-Brown 4ordf ed VerAccedilor 2008
46) De Melo Joseacute Dias (1973) Na noite silenciosa (poesia) 1973 2ordf ed VerAccedilor 2007
47) De Melo Joseacute Dias (1976) Mar pela proa 1976 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
48) De Melo Joseacute Dias (1979) Vinde e Vede Narrativas Lisboa Editorial Ilhas
49) De Melo Joseacute Dias (1983) Vida vivida em terra de baleeiros Angra SREC 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
50) De Melo Joseacute Dias (1990) Das velas de lona agraves asas de alumiacutenio Lisboa ed Salamandra col Garajau
51) De Melo Joseacute Dias (1990) O autoacutegrafo 1990 Lisboa ed Salamandra 2ordf ed 1999 col Garajau
52) De Melo Joseacute Dias (1992) O Menino deixou de ser menino Lisboa ed Salamandra col Garajau
53) De Melo Joseacute Dias (1993) A Viagem do medo maior Lisboa ed Salamandra col Garajau
54) De Melo Joseacute Dias (1994) Pena dela saudades de mim Lisboa ed Salamandra col Garajau
55) De Melo Joseacute Dias (1995) Croacutenicas do Alto da Rocha do Canto da Baiacutea Lisboa ed Salamandra
56) De Melo Joseacute Dias (1996) Inverno sem primavera Lisboa ed Salamandra
57) De Melo Joseacute Dias (2000) Reviver na Festa da Vida a Festa da Morte Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo
58) De Melo Joseacute Dias (2001) Agrave Boquinha da noite Lisboa ed Salamandra
59) De Melo Joseacute Dias (2002) Milhas contadas Lisboa ed Salamandra
60) De Melo Joseacute Dias (2003) Pedras Negras Lisboa Ediccedilotildees Salamandra 3ordf ediccedilatildeo portuguesa
61) De Melo Joseacute Dias de (2004) Poeira do caminho Reminiscecircncias do Passado vivecircncias do Presente Porto Campo das Letras ndash Editores col ldquoInstantes de Leiturardquo
62) De MELO Joseacute Dias de (2007) Na noite silenciada Poemas de Natal Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
63) De MELO Joseacute Dias (2008) Mar Rubro Baleeiros do Pico Ponta Delgada Ver Accedilor Lda Editores 3ordf ediccedilatildeo
64) De Melo Joatildeo (1982) - Haacute ou Natildeo Uma Literatura Accediloriana Lisboa ed Vega
65) De Melo Joatildeo (1983) O Meu Mundo Natildeo eacute Deste Reino Lisboa Publ D Quixote traduzido nos Estados Unidos e
em Espanha 66) De Melo Joatildeo (1988) Gente Feliz com Laacutegrimas
Lisboa Publ D Quixote 1988 Traduzido em Espanha Franccedila Holanda Itaacutelia Romeacutenia e Bulgaacuteria
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau
3
de Goa Pede-se que os decisores de Lisboa abram os olhos e tirem partido da imensa vantagem
que foi eacute e seraacute se o quisermos a grandeza em terras da Aacutesia copy Miguel Castelo Branco
httpwwwalamedadigitalcomptn1portugueses_orientephp
Em 1511 Malaca era um centro econoacutemico transbordante de riqueza
O Sultatildeo foi mandado para o exiacutelio depois de Albuquerque a conquistar facilmente pois sonha jaacute com
a fundaccedilatildeo do vasto impeacuterio portuguecircs na Aacutesia e conquista Ormuz no estreito que liga o Indico ao
Golfo Peacutersico (1507) e Goa (1510) O Mar Vermelho estaacute na posse da navegaccedilatildeo portuguesa com
o controlo mariacutetimo em direccedilatildeo ao Mediterracircneo As embarcaccedilotildees do Impeacuterio Otomano
transportando mercadoria de Malaca pelo Golfo Peacutersico e Mar Vermelho jaacute natildeo assustam
Albuquerque Pretende ir mais aleacutem o senhorio absoluto do comeacutercio da Costa do Coramandel na
Baiacutea de Bengala Reino do Peguacute Malaca Samatra e Siatildeo No pensamento do grande portuguecircs
estavam outras terras no sul dos mares da China estendendo-se ateacute ao Japatildeo
Albuquerque natildeo eacute soacute um guerreiro indomaacutevel eacute um diplomata negociador inteligente que prefere tratar
dos assuntos pacificamente que servir-se das armas Natildeo pretende conquistar paiacuteses deseja apoderar-se dos
grandes pontos estrateacutegicos de comeacutercio onde todos vivam na melhor das harmonias Falta para concretizar o
seu objetivo a administraccedilatildeo do empoacuterio de Malaca
Agrave peniacutensula malaia chegam tecircxteis da Iacutendia sedas e ceracircmicas da China cravo das Molucas noz-
moscada de Banda papel de arroz de Samatra cacircnfora do Brunei madeira de Sacircndalo de Timor
pau-santo benjoim chifres de Rinoceronte marfim peacuterolas carpetes adagas batiques de Java Os
mercadores aacuterabes do Cairo Meca Adeacuten Ormuz e da Aacutefrica Oriental chegavam carregados de
armas tapeccedilarias talheres de cobre oacutepio aacutegua de rosas e incenso Juncos chineses aportavam
com seda em bruto para manufaturar vestidos brocados drogas aromaacuteticas coralina e marfim Do
reino do Siatildeo aportam todos os anos 30 barcos com carregamentos de laca madeira de teca
pedras preciosas roupas pimenta e metais que permutam por escravos ou por mercadorias Da
Birmacircnia vinha arroz produtos agriacutecolas rubis estanho e prata De Palembanque (Samatra)
escravos ervas medicinais e produtos alimentares conservados A presenccedila portuguesa foi
particularmente forte na regiatildeo (seacutec XVI e XVII) Muitas palavras birmanesas satildeo de origem
portuguesa Lelain (Leilatildeo) Tauliya (Toalha) Natatu (Natal) Balon (Bola Balatildeo) Waranta (Varanda)
In Carlos Fontes httplusotopianosapoptindexOPhtml
Um interessante guia para a Birmacircnia eacute o Further India de Hugh Clifford (ed White Lotus Co Bangkok 1990)
Publicado pela primeira vez em 1904 o autor aceacuterrimo defensor do sistema colonial britacircnico
descreve de um modo isento para a eacutepoca a epopeia do desbravamento destes territoacuterios pelos
ocidentais desde os aacuterabes aos primeiros portugueses como Albuquerque e outros (the Filibusters)
Fala dos exploradores desconhecidos para os portugueses Antoacutenio de Faria Antoacutenio de Miranda
Duarte Fernandes Ruy de Arauacutejo Francisco Serrano Antoacutenio de Abreu Pedro Afonso de Loroso o
conhecido Fernatildeo Mendes Pinto dos franceses Mouhot e Garnier a quem se atribui erradamente a
descoberta dos templos de Angkor Vat dos holandeses e dos ingleses
O termo flibusteiros aplicado aos portugueses deve-se a serem de todos os que exploraram o sueste
asiaacutetico os uacutenicos que construiacuteram fortes impuseram a religiatildeo e comercializaram pela forccedila
Ateacute agrave sua chegada eram os aacuterabes os uacutenicos cuja influecircncia se alastrava ateacute ao oriente e nunca se
imiscuiacuteam na poliacutetica local O posterior sucesso dos holandeses e ingleses deveu-se ao facto de soacute
quererem o comeacutercio nunca as terras nem as almas das gentes A colonizaccedilatildeo veio depois Essa
4
perspetiva eacute nova para os que nasceram e cresceram no mundo paroquial da epopeia quinhentista
da Histoacuteria de Portugal de Adolfo Simotildees Mueller Muitos sentem-se afrontados ao lerem opiniotildees
sobre Vasco da Gama diferentes das que o ensino da Ditadura inculcou nos jovens portugueses
Como acontece com a Birmacircnia tambeacutem a religiatildeo predominante no Siatildeo (Tailacircndia) e o alfabeto servem
de prova da forte influecircncia cultural indiana durante o primeiro mileacutenio embora os primeiros relatos histoacutericos soacute
comecem no seacutec X A religiatildeo eacute a mesma os alfabetos satildeo distintos mas de inspiraccedilatildeo comum
No ano de 849 foi criado um reino Thai cuja capital era Pagan (hoje Bagan) O seu santuaacuterio fica na
China (Iunatildeo) de onde se deslocam para Sul (seacutec X e XII) desalojando o reino khmer para sudeste e
atual Camboja Um priacutencipe funda a capital em Ayuthia (1350) e ganha a supremacia no Siatildeo Foi um
reino com elevado grau de sofisticaccedilatildeo como os portugueses descobriram quando se tornaram vizinhos
ao conquistarem Malaca quando o Siatildeo esteve envolvido em luta eacutepica com os birmaneses
Do contacto ficou a norma que perdurou por mais de 300 anos da corte siamesa empregar o portuguecircs
como idioma diplomaacutetico para desconcerto do embaixador norte-americano que ali apresentou credenciais no
seacutec XIX Sob o tema da presenccedila portuguesa na Aacutesia Jorge Morbey (ex-Presidente do Instituto Cultural de
Macau) escreveu (Janordm 2006) ao entatildeo Presidente Jorge Sampaio longa missiva da qual se extraem excertos
Como referiu o descendente de portugueses Arcebispo Emeacuterito de Mandalay (Birmacircnia) U Than Aung
onde a maioria do clero catoacutelico eacute de origem portuguesa com origem em Peguacute (1600) quem nunca
recebeu a mais teacutenue manifestaccedilatildeo de solidariedade nada tem a esperar Que poderatildeo as Cristandades
Crioulas Lusoacutefonas do Oriente esperar de Portugal A sua incapacidade nesta mateacuteria tem sido uma
evidecircncia secular filha da ignoracircncia e do preconceito A pequena Cristandade Crioula Lusoacutefona de
Korlai [Chauacutel] na Iacutendia somente em 1982 seria revelada ao Mundo pelo etnoacutelogo romeno Laurentiu
Theban A Cristandade Crioula Lusoacutefona da Birmacircnia jaacute natildeo usa a liacutengua crioula e perdeu os nomes e
apelidos cristatildeos apesar de permanecer fiel agrave religiatildeo catoacutelica As Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do
Oriente mantidas na ignoracircncia dos conflitos entre Portugal e a Santa Seacute lutaram anos sem fim contra
as novas autoridades eclesiaacutesticas por as considerarem estrangeiras Clamaram sempre pelo envio de
clero de Portugal Goa ou Macau Em vatildeo A transferecircncia de domiacutenios entre paiacuteses europeus de
Portugal catoacutelico para a Holanda protestante constituiu o pano de fundo em que emergiram as
Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do Oriente Com a substituiccedilatildeo da dominaccedilatildeo portuguesa
permanecendo nas terras que as viram nascer deportadas para outras paragens ou forccediladas agrave
emigraccedilatildeo essas comunidades mesticcedilas talharam a sua identidade proacutepria que perdurou ateacute aos
nossos dias assente em dois pilares principais a religiatildeo catoacutelica e a liacutengua crioula A religiatildeo fora
trazida de Portugal ou de Goa Convertidos ou nascidos nela com ela haveriam de morrer geraccedilatildeo
apoacutes geraccedilatildeo A sua liacutengua o crioulo era a liacutengua portuguesa que lhe garantira o estatuto de liacutengua
franca no litoral da Aacutesia e da Oceacircnia desde o seacutec XVI ateacute agrave sua substituiccedilatildeo pelo inglecircs no seacutec XIX
Holandeses ingleses dinamarqueses e franceses natildeo podiam prescindir de um ldquoliacutengoardquo [inteacuterprete] a
bordo para poderem comerciar nos portos do Oriente na liacutengua que as Cristandades Crioulas Lusoacutefonas
do Oriente falavam e muitas ainda falam Tratados entre paiacuteses europeus e poderes locais foram
firmados nessa liacutengua por ser a uacutenica a que os europeus podiam recorrer para comunicar no Oriente
Hoje Cristatildeordquo [Kristang] e ldquoPortuguecircsrdquo [Portugis] satildeo sinoacutenimos A profanaccedilatildeo e a destruiccedilatildeo de igrejas
e mosteiros a expulsatildeo dos padres a proibiccedilatildeo do culto catoacutelico as deportaccedilotildees maciccedilas a reduccedilatildeo
de muitos agrave condiccedilatildeo de escravos compeliram os membros dessas cristandades agrave clandestinidade e agrave
emigraccedilatildeo Macau Iacutendia Insuliacutendia Siatildeo e Indochina Tais irmandades permaneceram ateacute aos nossos
dias e conservam determinadas prerrogativas que limitam a autoridade dos paacuterocos Perdida a
confianccedila que a Santa Seacute depositara desde o seacutec XV no Rei de Portugal na sequecircncia do corte de
relaccedilotildees diplomaacuteticas do Governo liberal em 1833 e a extinccedilatildeo das ordens religiosas por decreto de 31
5
de Maio de 1834 o Padroado Portuguecircs do Oriente sofreu um golpe mortal na Iacutendia no Ceilatildeo no
Sudeste Asiaacutetico na China e na Oceacircnia Os missionaacuterios do Padroado natildeo seriam substituiacutedos O clero
secular de Goa acorreu em socorro das Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do Oriente que iam ficando
sem religiosos A liacutengua crioula falava-se nas Cristandades Crioulas da Tailacircndia (AyuthiaAyutthaya) e
Banguecoque ateacute aos anos 50 do seacutec XX onde permanecem vocaacutebulos correntes no relacionamento
familiar e nas praacuteticas catoacutelicas Na Indoneacutesia aleacutem de Java nas Flores [Larantuka e Sikka] ilhas de
Ternate Tidore e Bali Em Timor [Lifau e Bidau] No Bangladesh - Chittagong e Daca ndash ateacute aos anos 20
do seacutec XX era muito viva a presenccedila da liacutengua crioula nas Cristandades locais copy Jorge Morbey
httpcombustoesblogspotcom200601os-crioulos-portugueses-no-orientehtml
O homem portuguecircs na Aacutesia nunca esqueceu a paacutetria Tomemos o exemplo de Venceslau Morais
Escondia as suas miseacuterias no exiacutelio nipoacutenico e tendo escrito e enviado dezenas de cartas e postais
ilustrados agrave irmatilde Francisca Pauacutel para Nelas (Beira Alta) nunca lhe referiu a intenccedilatildeo de regressar a
Portugal A memoacuteria do Cocircnsul de Portugal em Kobe no longiacutenquo Sol Nascente ficou nos anais das
relaccedilotildees culturais entre Portugal e o Japatildeo httpwwwportugal-linhaptlegadovorientepsiao3 Joseacute Gomes
Martins
Por tudo o que atraacutes ficou dito recorde-se o grande universalista portuguecircs No uacuteltimo canto de ldquoOs
Lusiacuteadasrdquo Vasco da Gama o almirante heroacutei eacute recebido pela deusa Teacutetis na Ilha dos Amores Laacute naquele
espaccedilo encantado ela lhe descortinou a Maacutequina do Mundo a visatildeo do Cosmo e dos continentes da terra receacutem-
descoberta pelos lusos cena que coloca o poeta portuguecircs como quem por primeiro no campo das letras
europeias percebeu os efeitos irreversiacuteveis da globalizaccedilatildeo que entatildeo dava os seus primeiros passos
Vecircs aqui a grande maacutequina do Mundo Eteacuterea elemental que fabricada Assim foi do Saber alto e profundo Quem eacute sem princiacutepio e mete limitada Quem cerca em derredor este rotundo Globo e superfiacutecie tatildeo limada Eacute Deus mas o que eacute Deus ningueacutem o entende Que a tanto o engenho humano natildeo se estende (Canto X 80)
Eacute entatildeo que a deusa abrindo os braccedilos para enfatizar a amplidatildeo a magnitude do reino augusto aponta
ao Gama as mais diversas regiotildees do mundo
Povoam-na ldquogente sem leirdquo a bruta multidatildeo ldquobando espesso e negro de estorninhosrdquo do impeacuterio do Benomotapa (Zimbabueacute) agrave Taprobana (Sri-Lanka) Todos agrave espera da chegada da cruz desenhada na vela principal da nau dos argonautas lusitanos Mostra-lhe o Mar Vermelho o Monte Sinai a secura dura e arenosa da Araacutebia o Tigre o Eufrates o planalto dos cavaleiros da Peacutersia o estreito de Ormuz o Sind a terra dos Bracircmanes onde S Tomeacute tentara a conversatildeo dos gentios o Ganges e o Indo a terra da Birmacircnia o impeacuterio do Siatildeo Sumatra a ponta estreita de Singapura o Camboja e o rio Mekong no qual Camotildees naufragou mas salvou os versos Em seguida margeando com os olhos a costa da Cochinchina (o Vietname) mostrou-lhe a China e mais longe o Japatildeo de onde vinha a maravilhosa seda e o ouro fino De tudo se desprendia o aroma do cravo da noz-moscada do licor perfumado do benjoim do coco do mar do incenso da mirra e do raro acircmbar de onde se extraem fragracircncias mil Teacutetis voltando-se para o outro lado da Terra apontou-lhe as partes recentemente conquistadas pelos castelhanos que lanccedilaram o seu rude colar sobre as gentes cativas do Novo Mundo Da Terra de Santa Cruz do litoral do Brasil o braccedilo lusitano jaacute carregava o tronco vermelho o Ibirapitanga dos nativos para dele extrair as tintas para os panos Re-embarcados os portugueses partindo da Ilha dos Amores aos adeuses no conveacutes velas soltas ao vento em mar tranquilo carregados de refrescos e iguarias deliciosas navegaram de volta agrave boca do Rio Tejo
De entatildeo em diante estavam todos convencidos de que os fados da Humanidade desde que Vasco da
Gama unira o Ocidente ao Oriente natildeo se prendiam a um soacute reino a uma soacute naccedilatildeo ou a um soacute hemisfeacuterio
6
Somente gente surda e endurecida fechada teimosa natildeo reconheceria que escancarado para sempre o
Caminho das Iacutendias o mundo se globalizaria cada vez mais tornando-se algo uacutenico entrelaccedilando para sempre
povos e continentes num destino em comum Ainda hoje estou rodeado dessa gente surda e empedernida
O mesmo se passou com os Coloacutequios Isto de Lusofonias e Lusotopias tem muito que se lhe diga
Falta aos Estados a visatildeo o amor e a dedicaccedilatildeo que soacute alguns indiviacuteduos conseguem ter pela liacutengua e cultura
de um povo Governos e governantes estatildeo de candeias agraves avessas para a defesa desses valores tal qual a
populaccedilatildeo de S Miguel estaacute sempre de costas para o mar enquanto outras natildeo vivem sem ele como no Pico
Falarei brevemente de dois autores que lutam contra os Fados da Humanidade mostrando a globalizaccedilatildeo da
liacutengua portuguesa atraveacutes da sua visatildeo accediloriana do mundo
Vozes criacuteticas ou arredadas dos estereoacutetipos natildeo abundam nem satildeo benquistas As elites dominantes e os
poderes caciqueiros logo se insurgem A ingratidatildeo vergonha e falta de patriotismo satildeo epiacutetetos comummente
usados para denegrir os que ousam Citam-se paacuteginas relevantes da heroica gesta accediloriana com destaque para
as guerras liberais e desventuras de emigrantes que triunfaram Surgem editorais e recensotildees violentas nos
jornais locais Os caixeiros-viajantes da cultura logo se arrogam o direito de defender a accedilorianidade ofendida
pois nela assenta exclusivamente o seu curriacuteculo Tais declaraccedilotildees de repuacutedio raramente extrapolam os cantos
do arquipeacutelago pois falar dos Accedilores ainda natildeo eacute moda na grande capital do Impeacuterio
Foi isto que por mais de uma vez aconteceu ao meu amigo escritor Cristoacutevatildeo de Aguiar Apodaram-no de
tudo e mais alguma coisa pois conveacutem sempre ser mais papista que o papa Em meios pequenos eacute consabida
a tendecircncia para apoucar aqueles que da leis do esquecimento se desembaraccedilaram como diria o vate enquanto
o imperador e seu seacutequito distribuem viagens e mordomias Eacute uma questatildeo de tempo ateacute comeccedilarem a zurzir
nos forasteiros que ousam opinar sobre o arquipeacutelago dos Accedilores Quando se perora sobre as nove ilhas filhas
de Zeus urge natildeo melindrar os interesses estabelecidos As visotildees criacuteticas ou natildeo conformadas aos cacircnones
podem acarretar seacuterios riscos para a sauacutede mental dos seus autores Terras pequenas invejas grandes ou a
reproduccedilatildeo literaacuteria do mote popular ldquoa minha festa eacute maior que a tuardquo Para o comum dos mortais a vida
prosseguiria o seu rumo mas os Accedilores satildeo uma reacuteplica miniatural da corte lisboeta As elites natildeo perdoam aos
que natildeo comungam da verdade uacutenica com forccedila de dogma que os sustenta e valida
Cristoacutevatildeo escreve com uma pluma incoacutemoda Reservou-se um papel de narrador que pensa fala e escreve
sem recorrer aos lugares comuns que tamanho gaacuteudio causam na populaccedilatildeo Natildeo reivindica verdades absolutas
ou duradouras limita-se a (d)escrever o que sente e vecirc Criaram-lhe a fama de irasciacutevel Quantas vezes com
justas e fundadas razotildees Recebi ldquoavisos amigosrdquo para tais perigos quando o convidei a estar na Lagoa (Marccedilo
2009) para o 4ordm encontro accediloriano Congratulo-me que relutantemente Cristoacutevatildeo tenha acedido Ao longo de
meses trocamos correios eletroacutenicos e telefonemas criando uma amizade saudavelmente aberta e criacutetica durante
a qual aprendi imenso com a personagem que tantos cuidados incutia aos arautos e defensores da paz podre
accediloriana
Cristoacutevatildeo eacute um permanente Passageiro Em Tracircnsito tiacutetulo do seu mais benquisto livro sempre na rota
do inconformismo Ele eacute a voz que se natildeo cala e tem o direito a tal Chama os bois pelo nome sem se deter nas
finuras das convenccedilotildees do parece bem ou mal Eacute criacutetico impiedoso dos destinos que alguns queriam que fosse
eterno o da subserviecircncia e submissatildeo aos senhores das ilhas descendentes diretos dos opressores da gleba
Grandes narrativas que se assemelham a uma teacutecnica de travelling em filmagem com grandes planos zooms
e paragens detalhadas nos rostos e nas mentes dos atores principais das suas croacutenicas e outros escritos A
cacircmara deteacutem-se e escalpeliza a alma daqueles que ele filma com as suas palavras aceradas como vento mata-
vacas que sopra do nordeste Cristoacutevatildeo de Aguiar jaacute o disse natildeo eacute um autor faacutecil nem facilita exige quase tanto
dos seus leitores como de si mesmo ele eacute o magma de que satildeo feitas as gentes de bem destas ilhas Tal como
as palavras sentidas gravadas fundo num granito que natildeo existe nas ilhas mas que encontro na Relaccedilatildeo de
Bordo I Verdade seja que ando imerso na sua escrita tateando como um receacutem-nascido agraves escuras fora do
ventre materno Ele eacute um escritor que se crecirc maldito porque outros o fizeram assim e porque eacute de si mesmo um
ser acossado por tudo e por todos mas sobretudo por si mesmo Para ele a escrita nunca seraacute catarse pois ela
7
eacute fruto de amores incompreendidos entre si e a sua ilha Psicanalisando as gentes e a terra que o viram nascer
adotou o Pico como nova ilha maacutetria em 1996 Como ele diz (Relaccedilatildeo de Bordo II pp 199-200) Primeiro foi a
ilha nunca mais a encontramos como a haviacuteamos deixadotrouxemos somente a imagem dela ou entatildeo foi
outra Ilha que connosco carregaacutemos
A escrita laacutevica de Cristoacutevatildeo fica a boiar no nosso imaginaacuterio Ningueacutem consegue escrever da forma uacutenica
e inimitaacutevel como soacute ele sabe e sente sobre os Accedilores Essa a sua forma de amar e de recompensar a terra que
o viu nascerpara que desate as grilhetas que a encarceram no passado e ele se desobrigue finalmente da
tarefa hercuacutelea de carregar a ilha como um fardo ou amor natildeo-correspondido que nisto de ilharias haacute muitas
paixotildees natildeo correspondidas Eacute um liacutedimo representante da mundividecircncia accediloriana na escrita contemporacircnea e
eacute tarefa dos Coloacutequios da Lusofonia tornaacute-lo benquisto e conhecido no mundo inteiro Com a literatura os autores
accedilorianos iam chegar mais longe Libertar-se Para isso teriam de mondar mercados novos e virgens como a
selva amazoacutenica antes dos novos bandeirantes Se natildeo chegassem agraves novas geraccedilotildees accedilorianas poderiam
alcanccedilar descendentes expatriados e os que aprendem o orgulho da naccedilatildeo accediloriana na sua cultura tradiccedilatildeo e
outros valores primordiais que tatildeo arredados das escolas andam hoje Mas os coloacutequios queriam levaacute-los a
mercados e leitores insuspeitos ateacute agrave velha Cortina de Ferro onde haacute apetecircncia para escritores lusoacutefonos
A ilha para Nataacutelia Correia eacute Matildee-Ilha para Cristoacutevatildeo de Aguiar Marilha para Daniel de Saacute Ilha-Matildee
para Vasco Pereira da Costa Ilha Menina para mim nem matildee nem madrasta nem Mariacutelia nem menina mas
Ilha-Filha que nunca enteada Para amar sem tocar ver engrandecer nas dores da adolescecircncia que satildeo sempre
partos difiacuteceis Toda a vida fui ilheacuteu perdi sotaques Ma natildeo malbaratei as minhas ilhas-filhas Trago-as a
reboque colar multifacetado de vivecircncias dos mundos e culturas distantes Primeiro em Portugal ilhota perdida
da Europa durante o Estado Novo seguidamente em mais um capiacutetulo naufragado da Histoacuteria Traacutegico-mariacutetima
nas ilhas de Timor e de Bali seguido da entatildeo (pen)iacutensula de Macau (fechada da China pelas Portas do Cerco)
da imensa ilha-continente denominada Austraacutelia e nesta ilhoa esquecida de Braganccedila no nordeste
transmontano antes de arribar agrave Atlacircntida Accedilores
Cumes de montanhas submersas que assomam a intervalos aqui no meio do Grande Mar Oceano onde
se mantecircm gentes orgulhosas e ciosas das suas tradiccedilotildees e costumes em torno da famiacutelia nuclear dizimada
pelo chamado progresso Os poliacuteticos ocupados na sua sobrevivecircncia sempre se olvidaram da presenccedila maacutegica
destas ilhas de reduzidas proporccedilotildees e populaccedilotildees Como se fosse uma espeacutecie de triacircngulo das Bermudas
onde tudo o que eacute relevante desaparece dos telejornais Jaacute era assim durante o Estado Novo e pouco mudou
quanto agrave visibilidade real destas iacutensulas apenas evocadas pelas cataacutestrofes naturais e pelo anticiclone do bom
ou mau tempo
Falemos da literatura Acolhemos nos Coloacutequios como premissa o conceito de accedilorianidade formulado
por Joseacute Martins Garcia que laquopor envolver domiacutenios muito mais vastos que o da simples literaturaraquo admite a
existecircncia de uma literatura accediloriana laquoenquanto superstrutura emanada dum habitat duma vivecircncia e duma
mundividecircnciaraquo1
No 4ordm Encontro Accediloriano da Lusofonia Cristoacutevatildeo de Aguiar rejeitou o roacutetulo de literatura accediloriana por
considerar que faz parte da produccedilatildeo literaacuteria lusoacutefona laquoO tiacutetulo (literatura accediloriana) eacute equiacutevoco porque pode
parecer que eacute uma literatura separada da literatura portuguesaraquo afirmou agrave agecircncia Lusa o escritor Machado
Pires sugeriu em tempos ldquoliteratura de significaccedilatildeo accedilorianardquo Outros preferem o termo ldquomatriz accedilorianardquo Haacute
vaacuterios tipos de autores os accedilorianos nascidos e vividos no arquipeacutelago (ausentes ou natildeo) os emigrados os
descendentes os insularizados ou ilhanizados e os estrangeiros que escrevem sobre os Accedilores Falta destrinccedilar
se os podemos incluir a todos nessa designaccedilatildeo accediloacuterica Lentamente todos encontraram o seu espaccedilo natildeo
havendo miacutengua de quantidade mas frequentemente sem projeccedilatildeo fora das ilhas com exceccedilotildees
contemporacircneas como as de Joatildeo de Melo Cristoacutevatildeo de Aguiar Daniel de Saacute Vasco Pereira da Costa e
Dias de Melo para citar alguns
1 httplusofoniacomsapoptacoresacorianidade_pavao_1988htm_ftn11_ftn11
8
Quedemo-nos doravante na perspicaz apreciaccedilatildeo que faz Cristoacutevatildeo de Aguiar da obra intitulada Nas
Escadas do Impeacuterio de Vasco Pereira da Costa autor que hoje eacute aqui homenageado
ldquoNatildeo eacute por acaso que Vasco Pereira da Costa poeta de meacuterito mas ainda no silecircncio da
gaveta se apresenta no mundo das letras sobraccedilando uma coletacircnea de contos Numa terra onde quase
todos sacrificam agraves (as) musas e se tornou quase regra a estreia com um livrinho de poemas a atitude
(ou opccedilatildeo) do autor de Nas Escadas do Impeacuterio natildeo deixa de ser de certo modo corajosa como
corajosos satildeo os contos que este livro integra Natildeo fora o receio de escorregar na casca do lugar-
comum e eu diria que esta mancheia de contos vivos arrancados com matildeos haacutebeis e um sentido
linguiacutestico apuradiacutessimo ao ventre uacutebere mas ainda mal conhecido da sua terra de origem vem agitar
as aacuteguas paradas onde se situa o panorama nebuloso e um tanto equiacutevoco da literatura de expressatildeo
accediloriana O conto que abre esta coletacircnea Faia da Terra eacute bem a prova do telurismo no sentido
torguiano do termo de que o jovem escritor (Angra do Heroiacutesmo Junho de 1948) estaacute imbuiacutedo sem
cair no pitoresco regionalista tatildeo do agrado de muitos escritores accedilorianos Natildeo resta a miacutenima duacutevida
de que o Gibicas A Fuga e outras peccedilas de antologia que aqui figuram vecircm contribuir para o
enriquecimento do conto portuguecircs de especificidade e carateriacutestica accediloriana Contudo Vasco Pereira
da Costa corre o risco (e ele mais do que ningueacutem disso estaacute consciente) de vir a ser queimado nas
labaredas inquisitoriais de certos meios ideoloacutegico-literaacuterios accedilorianos que tecircm tentado
oportunisticamente mas sem raiacutezes verdadeiras edificar [] uma literatura accediloriana em oposiccedilatildeo agrave
Literatura Portuguesa Nas Escadas do Impeacuterio quer queiram ou natildeo os arautos da mediocracia vem
dizer-nos exatamente o contraacuteriordquo
Com efeito natildeo podia deixar de ser mais justo o juiacutezo de valor supracitado
- Em primeiro lugar estreia-se Vasco Pereira da Costa em 1978 com a coletacircnea de contos Nas
Escadas do Impeacuterio agrave qual se seguiratildeo a novela Amanhece a Cidade (1979) a memoacuteria Venho caacute
mandado do Senhor Espiacuterito Santo (1980) os poemas de Ilhiacuteada (1981) Plantador de palavras
Vendedor de leacuterias antologia de novelas galardoada com o preacutemio Miguel Torga no ano de 1984
Memoacuteria Breve (1987) Risco de marear (Poemas em 1992) e por fim trecircs obras poeacuteticas a saber
Sobre Ripas Sobre Rimas Terras e My Californian Friends (respetivamente publicadas em 1994 1997
e 1999)
- Em segundo lugar urge referir a originalidade de Vasco Pereira da Costa evidente tanto na sua obra
poeacutetica como na sua prosa que vem segundo o Autor de Raiz Comovida agitar as letras accedilorianas
Assim sendo e numa perspetiva temaacutetica cumpre realccedilar o telurismo genuiacuteno patente em ldquoFaia da
Terrardquo histoacuteria do enamoramento de Teresa por um americano da Base da sua subsequente partida
para o Novo Mundo jaacute com o nome de Mrs Teresa Piel e da secagem da faia dois meses apoacutes a
descolagem do aviatildeo da Pan America Nesta novela inaugural perpassam vivamente como que
fotografadas ao vivo as rotineiras fainas insulares que pela via da repeticcedilatildeo regem o quotidiano do
ilheacuteu ldquoEra sexta-feira e a matildee amassava o crescente com a farinha de milho No forno estalavam a
rapa o eucalipto e o loiro [] Lavou depois as folhas de botar patildeo e veio sentar-se ao peacute dos meus
socos de milho ndash bois de veras espetados com palhitos queimados arremedando os galhos ndash no estrado
do meio-da-casa Arrumou as galochas no sobrado [] rdquo (1978 11)
Por vezes eacute a loucura insular que faz a sua apariccedilatildeo em cena na figura do poeta Vicente ldquoum Cocircrte-Real
impotente tacanho e degenerescenterdquo (1978 71) o qual volvido esse tempo em ldquoque escrevia coisas tatildeo
lindas de tanto sentimentordquo tem o despauteacuterio de acumular guarda-chuvas na falsa e de publicar no jornal
da Ilha desairosos alinhavos poeacuteticos ldquoPrometeu Prometeu Natildeo cumpriu A promessa Homessardquo (ldquoA
Fugardquo 1978 74)
- Em terceiro lugar e ainda na oacutetica de Cristoacutevatildeo de Aguiar a coragem de Vasco Pereira da Costa que
a saacutetira nas suas diversas vertentes revela agrave saciedade Assim sendo atente-se quer na criacutetica ao
9
salazarismo regime repressor totalitaacuterio e punitivo dos que ousam transgredir as regras impostas -
ldquoComo vim aqui [agrave ilha] parar Eacute simples por ser anarquista e natildeo peitear o Manholas de Santa Combardquo
(ldquoO Manel drsquoArriagardquo 1978 31) - quer na criacutetica agrave mentalidade mediacuteocre cuja pequenez
constrangedora se espraia em espaccedilo iacutentimo e puacuteblico pela vida de outrem tatildeo sigilosamente
resguardada quanto violada de supetatildeo - ldquo [] cada qual dava a sua sentenccedila todos em grande pensatildeo
e natildeo havia alcatra de couves que agrave hora da ceia natildeo fosse temperada com palpites de desenlacerdquo
(ldquoPrimaverardquo 1978 59) - quer na criacutetica ao jornalismo barato e ao provincianismo dos articulistas cujo
discurso pouco inovador se vai ritualizando - ldquoComeccedilou entatildeo o embaraccedilo No jornal de amanhatilde por
entre os aniversaacuterios da gente fina [] as partidas e as chegadas os partos e as notiacutecias do Paiacutes e do
Estrangeiro os casamentos e os pedidos de os horaacuterios de barcos e de aviotildees as oraccedilotildees ao Menino
Jesus de Praga e ao divino Espiacuterito Santo [] rdquo (ldquoA Fugardquo 1978 82-83) - quer por fim na criacutetica a uma
certa lsquocultura de superioridadersquo que lsquoMestrersquo Gibicas se apresta a denegar ldquo [] estaacutevamos de liacutengua
entre os dentes para sibilar o th O professor fazia empenho pois [] era uma vergonha virem por aiacute
abaixo os americanos e noacutes sem sabermos agradecer [] Ateacute que foi a tua vez [Gibicas] [] Agarraste
na caixinha vermelha azul e branca com as estrelinhas desse people para o nosso povo e sem esperar
o afago da farda grandalhona gritaste-lhes alto como ningueacutem ainda o fizera - SANABOBICHASrdquo
(ldquoGibicasrdquo 1978 137-138-141) Em asterisco de rodapeacute explica o Autor o neologismo ldquoSon of a bitchrdquo
- Em quarto lugar a variedade genoloacutegica em que se move o Escritor homenageado desde o conto e a
novela ateacute agrave memoacuteria e agrave ldquocroacutenicardquo breve passando pela Poesia E a este propoacutesito natildeo resistimos agrave
tentaccedilatildeo de transcrever dois excertos O primeiro de o Plantador de Palavras
ldquoAh meus senhores mas isto aqui natildeo eacute a Itaacutelia Eacute a mui nobre leal e sempre constante cidade de Angra
do Heroiacutesmo ao tempo em que o Autor nela carregava a sua adolescecircncia de amores temores e
rancores Como podem observar uma cidade espartilhada entre mar e mar com dois castelos a
estrangulaacute-la com suas casas nobres por fora e burguesiacutessimas por dentro praccedilas com estaacutetuas e
engraxadores lojas sonolentas comerciantes lentos e clientes ensonados automobilistas
imprevidentes nos seus vinte agrave hora que quase atropelam a distraccedilatildeo dos peotildees um governador civil
e trecircs governadores militares cinquenta e sete prostitutas dezanove bombeiros voluntaacuterios que
voluntariamente vatildeo de borla ao cinema vinte e cinco meninas que namoram agrave janela e estatiacutesticas de
ontem catorze desfloradas nos saguotildees um bispo dois monsenhores sete coacutenegos na sua Catedral
trecircs parvos oficiais que fornecem o riso oficial e obrigatoacuterio nos dias uacuteteis e inuacuteteis um Presidente para
a sua Cacircmara com o seu secretaacuterio e um contiacutenuo ndash que por ser funcionaacuterio puacuteblico natildeo estaacute incluiacutedo
no nuacutemero dos trecircs parvos oficiais que o quadro comporta Esta cidade tem trinta e quatro velhas de
lenccedilo e trecircs senhoras idosas de chapeacuteu quarenta e sete becircbados e oito senhores que andam agraves vezes
alegrinhos cento e vinte e nove rapazes cento e trinta e duas raparigas vinte e dois meninos e trinta e
uma meninas o nuacutemero de naiotildees ndash invertidos encartados e Soacutecios de Meacuterito da Corporaccedilatildeo das
Criadas de Servir ndash eacute de setenta e sete mas nunca foi feito o recenseamento dos homens com pitafe
quarenta e trecircs professores do Liceu dos quais vinte satildeo professores do Seminaacuterio Maior onde haacute
quinhentos e setenta e oito seminaristas menores dos quais oitenta e nove viacutergula seis por cento
oriundos da cristianiacutessima ilha de Satildeo Miguel o Arcanjo e do Senhor Santo Cristo dos Milagres e ainda
de outros Senhores que se passeiam no Jardim Duque da Terceira todas as quintas entre as duas
horas e sete minutos e as quatro horas e quarenta e oito da tarde em bandos de estorninhos quinze
chauferes um cauteleiro sessenta e nove caloteiros identificados com o indicador da matildeo direita
noventa e seis donas-de-casa e igual nuacutemero de maridos operacionais quarenta e sete viuacutevas
praticantes vinte e seis viuacutevas protestantes e oito viuacutevas de fresco ainda indecisas sessenta e oito
cavalheiros satildeo simultaneamente irmatildeos devotos da Confraria de Nossa Senhora do Monte Carmelo
da Irmandade do Senhor dos Passos e da Ordem Terceira de Satildeo Francisco quatro agiotas
dissimulados que vestem de preto e usam chapeacuteu e que se sentam para o negoacutecio na terceira
10
banqueta do Paacutetio da Alfacircndega cinquenta agentes da Poliacutecia de Seguranccedila Puacuteblica dos quais trecircs
satildeo da Secreta e por isso para natildeo serem conhecidos trajam agrave paisana o Cebola o Tombado e o
Zarolho dois vendedores de milho torrado pevides e caramelos sugardady duzentas e nove beatas de
novena quarenta e oito de terccedilo e mantilha vinte devotas de enfeitar capelas dezassete de sacristia
catorze irmatildes de padre e meia duacutezia de sobrinhas um batalhatildeo de soldados do Castelo que aparecem
agrave boquinha da noite triste arrastando as botas tristes pelo empedrado tristonho trecircs namoradas de
aspirantes que fazem todas as recrutas uma meacutedia de um viacutergula oito por mil de americanos da United
States Air Force Azores Pochugal por dia facilmente reconheciacuteveis pelo tamanho dos peacutes e por uma
garrafa de Matioacutes Rosseacute danccedilando na matildeo direita quarenta e trecircs indiviacuteduos usam gravata verde
porque satildeo adeptos do Lusitacircnia e trinta e nove potildeem gravata vermelha porque satildeo soacutecios do Angrense
havendo que mencionar ainda dois laccedilos ndash um poeta e um boticaacuterio A cidade tem dezoito tabernas
seis cafeacutes e duas pastelarias
Vamos agora mudar o cenaacuteriordquo
- transcreve-se o poema ldquoRose era o nome de Rosardquo
A matildee disse natildeo mais natildeo mais eu natildeo mais tu filha natildeo mais nomes na pedra do cais natildeo mais o cortinado da ilha natildeo mais Rosa sejas Rose agora natildeo mais neacutevoas roxos ais natildeo mais a sorte caipora natildeo mais a ilha natildeo mais Poreacutem Rose o natildeo mais natildeo quis e quis ver a ilha do natildeo mais o cortinado roxo infeliz os nomes na pedra dos cais Pegou em si e foi-se embora
Natildeo mais Rose Rosa outra vez agora (My Californian Friends 1999 25)
Natildeo estaremos perante a mais pura accedilorianidade na literatura
chrys chrystello lomba da maia accedilores agosto 2010
Bibliografia 1) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1978) Raiz Comovida (A Semente
e a Seiva) 1ordf ed Centelha Coimbra 1978 (Preacutemio Ricardo Malheiros da Academia das Ciecircncias de Lisboa) 2ordf ed Bertrand 1980 (esgotado)
2) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1979) Raiz Comovida II (Vindima
de Fogo) 1ordf ed Centelha Coimbra 1979 (esgotado)
3) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1981) Raiz Comovida III (O Fruto e
o Sonho) 1ordf ed Angra do Heroiacutesmo SREC 1981 (esgotado)
4) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1986) Com Paulo Quintela Agrave Mesa da Tertuacutelia noacutetulas biograacuteficas) 1ordf ed Serviccedilo de
Publicaccedilotildees da Universidade de Coimbra 1986 2ordf ed Revista e aumentada (no 1ordm centenaacuterio do seu
11
nascimento) Imprensa da Universidade de Coimbra 2005
5) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1987) Raiz Comovida (trilogia romanesca) ed Num soacute volume Editorial Caminho 1987 2ordf ed Revista e remodelada Publicaccedilotildees Dom
Quixote Lisboa 2003 6) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1988) Passageiro em Tracircnsito
novela em espiral ou o romance de um ponto a que se vai acrescentando mais um conto) 1ordm ed Editora Signo
Ponta Delgada 1988 7) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1990) O Braccedilo Tatuado (narrativa
militar aplicada) Editora Signo 8) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1994) Passageiro em tracircnsito
Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 9) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1999) Relaccedilatildeo de Bordo (1964-
1988) diaacuterio ou nem tanto ou talvez muito mais Campo das Letras Porto 1999 (Grande Preacutemio APE CMP
2000) 10) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2000) Relaccedilatildeo de Bordo II (1989-
1992) diaacuterio ou nem tantohellip Campo das Letras 11) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Raiz Comovida Trilogia
Romanesca Lisboa Publicaccedilotildees Dom Quixote (Ediccedilatildeo revista e remodelada)
12) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Trasfega casos e contos Publicaccedilotildees Dom Quixote Preacutemio Miguel Torga 2002 1ordf
ed 2003 2ordf ed 2003 13) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2004) Nova Relaccedilatildeo de Bordo (III
Volume) diaacuterio ou nem tantohellip Publicaccedilotildees Dom Quixote 14) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2005) Marilha sequecircncia narrativa
Publicaccedilotildees D Quixote 15) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) A Tabuada do Tempo a
lenta narrativa dos dias Preacutemio Miguel Torga 2006 Livraria Almedina Coimbra
16) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) Miguel Torga O Lavrador das Letras um percurso partilhado Livraria Almedina
17) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Braccedilo Tatuado ndash Retalhos da guerra colonial ndash Nova versatildeo P D Quixote 2008 2ordf
ed 2008 18) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Charlas Sobre a Liacutengua
Portuguesa Livraria Almedina 2008 19) Barcelos J M Soares de (2008) Dicionaacuterio de Falares
dos Accedilores ed Almedina 20) BETTENCOURT Urbano (2004) Joseacute Martins Garcia a
palavra o riso Separata da revista Arquipeacutelago -Liacutenguas e Literaturas XVII Ponta Delgada Universidade Accedilores
21) BRANDAtildeO Raul (sd) As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens Lisboa Perspetivas amp Realidades sd
22) BRASIL Luiacutes Antoacutenio de Assis (1994) ldquoA Narrativa Accediloriana poacutes-Vinte e Cinco de Abrilrdquo in Organon vol 8
nordm 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 23) Chrystello J Chrys (2009) ChroacutenicAccedilores uma circum-
navegaccedilatildeo (vol 1) De Timor a Macau Austraacutelia Brasil Braganccedila ateacute aos Accedilores Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
24) Da Costa Vasco Pereira (1978) Nas Escadas do Impeacuterio Contos Coimbra Centelha 1978
25) Da Costa Vasco Pereira (1979) Amanhece a Cidade romance Coimbra ed Centelha
26) Da Costa Vasco Pereira (1980) Venho caacute mandado do Senhor Espiacuterito Santo novela ed Banco Espiacuterito Santo c Comercial de Lisboa Lisboa
27) Da Costa Vasco Pereira (1981) Ilhiacuteada (poesia) Angra
do Heroiacutesmo SREC col ldquoGaivotardquo 28) Da Costa Vasco Pereira (1984) Plantador de Palavras
Vendedor de Leacuterias Coimbra Cacircmara Municipal 1ordm Preacutemio Miguel Torga 1984
29) Da Costa Vasco Pereira (1987) Memoacuteria Breve contos Angra do Heroiacutesmo Instituto Accediloriano de Cultura
30) Da Costa Vasco Pereira (1992) Riscos de Marear (poesia) Ponta Delgada Eurosigno
31) Da Costa Vasco Pereira (1994) Sobre ripas sobre rimas Coimbra Minerva 1994
32) Da Costa Vasco Pereira (1997) Terras (poesia) 1ordf ed Porto Campo das Letras
33) Da Costa Vasco Pereira (1999) My Californian Friends ed Gaacutevea Brown
34) Da Costa Vasco Pereira (2000) My Californian Friends (2ordf Ediccedilatildeo) Viseu Palimage Editores
35) Da Silveira Pedro (1977) ldquoAccediloresrdquo Grande Dicionaacuterio de Literatura Portuguesa e de Teoria Literaacuteria (coordenaccedilatildeo
Joatildeo Joseacute Cochofel) 1977 1ordm vol 36) Da Silveira Pedro (1999) Fui ao Mar Buscar Laranjas
Angra Direccedilatildeo Regional da Cultura 37) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1978) Ah Mogravenim dum
Corisco (Teatro) New Bedford - Providence Gaacutevea Chama 2ordf ed 1989 3ordf ed 1998 Lisboa ed Salamandra
38) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1983) laquo(Sapa)teia Americana Lisboa Vega 1983 1ordf ed 2ordf ed 2000
Lisboa Salamandra 39) De Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura
Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo [as diversas posiccedilotildees teoacutericas ao longo do tempo e algumas
posiccedilotildees poleacutemicas] Angra do Heroiacutesmo SREC (org) 40) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1986) Da Literatura
Accediloriana Subsiacutedios para um Balanccedilo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
41) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1987) ldquoO que eacute a L(USA)LAcircNDIArdquo in L(USA)LAcircNDIA A deacutecima Ilha Angra do Heroiacutesmo SREC
42) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1994) Que nome eacute
esse oacute Neacutezimo ndash E outros adveacuterbios de duacutevida 1ordf ed Lisboa ed Salamandra
43) De Jesus Eduiacuteno (sd) ldquoBreve notiacutecia histoacuterica da poesia accediloriana de 1915 agrave atualidaderdquo in Estrada Larga vol 3
Porto Editora [sd] pp 425-430 44) De Melo Joseacute Dias (1958) Mar Rubro 1958 2ordf ed 1980
Lisboa ed Salamandra 45) De Melo Joseacute Dias (1964) Pedras Negras 2ordf ed
Lisboa Vega 1985 traduccedilatildeo para inglecircs 1988 Dark Stones ed Gaacutevea-Brown 4ordf ed VerAccedilor 2008
46) De Melo Joseacute Dias (1973) Na noite silenciosa (poesia) 1973 2ordf ed VerAccedilor 2007
47) De Melo Joseacute Dias (1976) Mar pela proa 1976 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
48) De Melo Joseacute Dias (1979) Vinde e Vede Narrativas Lisboa Editorial Ilhas
49) De Melo Joseacute Dias (1983) Vida vivida em terra de baleeiros Angra SREC 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
50) De Melo Joseacute Dias (1990) Das velas de lona agraves asas de alumiacutenio Lisboa ed Salamandra col Garajau
51) De Melo Joseacute Dias (1990) O autoacutegrafo 1990 Lisboa ed Salamandra 2ordf ed 1999 col Garajau
52) De Melo Joseacute Dias (1992) O Menino deixou de ser menino Lisboa ed Salamandra col Garajau
53) De Melo Joseacute Dias (1993) A Viagem do medo maior Lisboa ed Salamandra col Garajau
54) De Melo Joseacute Dias (1994) Pena dela saudades de mim Lisboa ed Salamandra col Garajau
55) De Melo Joseacute Dias (1995) Croacutenicas do Alto da Rocha do Canto da Baiacutea Lisboa ed Salamandra
56) De Melo Joseacute Dias (1996) Inverno sem primavera Lisboa ed Salamandra
57) De Melo Joseacute Dias (2000) Reviver na Festa da Vida a Festa da Morte Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo
58) De Melo Joseacute Dias (2001) Agrave Boquinha da noite Lisboa ed Salamandra
59) De Melo Joseacute Dias (2002) Milhas contadas Lisboa ed Salamandra
60) De Melo Joseacute Dias (2003) Pedras Negras Lisboa Ediccedilotildees Salamandra 3ordf ediccedilatildeo portuguesa
61) De Melo Joseacute Dias de (2004) Poeira do caminho Reminiscecircncias do Passado vivecircncias do Presente Porto Campo das Letras ndash Editores col ldquoInstantes de Leiturardquo
62) De MELO Joseacute Dias de (2007) Na noite silenciada Poemas de Natal Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
63) De MELO Joseacute Dias (2008) Mar Rubro Baleeiros do Pico Ponta Delgada Ver Accedilor Lda Editores 3ordf ediccedilatildeo
64) De Melo Joatildeo (1982) - Haacute ou Natildeo Uma Literatura Accediloriana Lisboa ed Vega
65) De Melo Joatildeo (1983) O Meu Mundo Natildeo eacute Deste Reino Lisboa Publ D Quixote traduzido nos Estados Unidos e
em Espanha 66) De Melo Joatildeo (1988) Gente Feliz com Laacutegrimas
Lisboa Publ D Quixote 1988 Traduzido em Espanha Franccedila Holanda Itaacutelia Romeacutenia e Bulgaacuteria
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau
4
perspetiva eacute nova para os que nasceram e cresceram no mundo paroquial da epopeia quinhentista
da Histoacuteria de Portugal de Adolfo Simotildees Mueller Muitos sentem-se afrontados ao lerem opiniotildees
sobre Vasco da Gama diferentes das que o ensino da Ditadura inculcou nos jovens portugueses
Como acontece com a Birmacircnia tambeacutem a religiatildeo predominante no Siatildeo (Tailacircndia) e o alfabeto servem
de prova da forte influecircncia cultural indiana durante o primeiro mileacutenio embora os primeiros relatos histoacutericos soacute
comecem no seacutec X A religiatildeo eacute a mesma os alfabetos satildeo distintos mas de inspiraccedilatildeo comum
No ano de 849 foi criado um reino Thai cuja capital era Pagan (hoje Bagan) O seu santuaacuterio fica na
China (Iunatildeo) de onde se deslocam para Sul (seacutec X e XII) desalojando o reino khmer para sudeste e
atual Camboja Um priacutencipe funda a capital em Ayuthia (1350) e ganha a supremacia no Siatildeo Foi um
reino com elevado grau de sofisticaccedilatildeo como os portugueses descobriram quando se tornaram vizinhos
ao conquistarem Malaca quando o Siatildeo esteve envolvido em luta eacutepica com os birmaneses
Do contacto ficou a norma que perdurou por mais de 300 anos da corte siamesa empregar o portuguecircs
como idioma diplomaacutetico para desconcerto do embaixador norte-americano que ali apresentou credenciais no
seacutec XIX Sob o tema da presenccedila portuguesa na Aacutesia Jorge Morbey (ex-Presidente do Instituto Cultural de
Macau) escreveu (Janordm 2006) ao entatildeo Presidente Jorge Sampaio longa missiva da qual se extraem excertos
Como referiu o descendente de portugueses Arcebispo Emeacuterito de Mandalay (Birmacircnia) U Than Aung
onde a maioria do clero catoacutelico eacute de origem portuguesa com origem em Peguacute (1600) quem nunca
recebeu a mais teacutenue manifestaccedilatildeo de solidariedade nada tem a esperar Que poderatildeo as Cristandades
Crioulas Lusoacutefonas do Oriente esperar de Portugal A sua incapacidade nesta mateacuteria tem sido uma
evidecircncia secular filha da ignoracircncia e do preconceito A pequena Cristandade Crioula Lusoacutefona de
Korlai [Chauacutel] na Iacutendia somente em 1982 seria revelada ao Mundo pelo etnoacutelogo romeno Laurentiu
Theban A Cristandade Crioula Lusoacutefona da Birmacircnia jaacute natildeo usa a liacutengua crioula e perdeu os nomes e
apelidos cristatildeos apesar de permanecer fiel agrave religiatildeo catoacutelica As Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do
Oriente mantidas na ignoracircncia dos conflitos entre Portugal e a Santa Seacute lutaram anos sem fim contra
as novas autoridades eclesiaacutesticas por as considerarem estrangeiras Clamaram sempre pelo envio de
clero de Portugal Goa ou Macau Em vatildeo A transferecircncia de domiacutenios entre paiacuteses europeus de
Portugal catoacutelico para a Holanda protestante constituiu o pano de fundo em que emergiram as
Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do Oriente Com a substituiccedilatildeo da dominaccedilatildeo portuguesa
permanecendo nas terras que as viram nascer deportadas para outras paragens ou forccediladas agrave
emigraccedilatildeo essas comunidades mesticcedilas talharam a sua identidade proacutepria que perdurou ateacute aos
nossos dias assente em dois pilares principais a religiatildeo catoacutelica e a liacutengua crioula A religiatildeo fora
trazida de Portugal ou de Goa Convertidos ou nascidos nela com ela haveriam de morrer geraccedilatildeo
apoacutes geraccedilatildeo A sua liacutengua o crioulo era a liacutengua portuguesa que lhe garantira o estatuto de liacutengua
franca no litoral da Aacutesia e da Oceacircnia desde o seacutec XVI ateacute agrave sua substituiccedilatildeo pelo inglecircs no seacutec XIX
Holandeses ingleses dinamarqueses e franceses natildeo podiam prescindir de um ldquoliacutengoardquo [inteacuterprete] a
bordo para poderem comerciar nos portos do Oriente na liacutengua que as Cristandades Crioulas Lusoacutefonas
do Oriente falavam e muitas ainda falam Tratados entre paiacuteses europeus e poderes locais foram
firmados nessa liacutengua por ser a uacutenica a que os europeus podiam recorrer para comunicar no Oriente
Hoje Cristatildeordquo [Kristang] e ldquoPortuguecircsrdquo [Portugis] satildeo sinoacutenimos A profanaccedilatildeo e a destruiccedilatildeo de igrejas
e mosteiros a expulsatildeo dos padres a proibiccedilatildeo do culto catoacutelico as deportaccedilotildees maciccedilas a reduccedilatildeo
de muitos agrave condiccedilatildeo de escravos compeliram os membros dessas cristandades agrave clandestinidade e agrave
emigraccedilatildeo Macau Iacutendia Insuliacutendia Siatildeo e Indochina Tais irmandades permaneceram ateacute aos nossos
dias e conservam determinadas prerrogativas que limitam a autoridade dos paacuterocos Perdida a
confianccedila que a Santa Seacute depositara desde o seacutec XV no Rei de Portugal na sequecircncia do corte de
relaccedilotildees diplomaacuteticas do Governo liberal em 1833 e a extinccedilatildeo das ordens religiosas por decreto de 31
5
de Maio de 1834 o Padroado Portuguecircs do Oriente sofreu um golpe mortal na Iacutendia no Ceilatildeo no
Sudeste Asiaacutetico na China e na Oceacircnia Os missionaacuterios do Padroado natildeo seriam substituiacutedos O clero
secular de Goa acorreu em socorro das Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do Oriente que iam ficando
sem religiosos A liacutengua crioula falava-se nas Cristandades Crioulas da Tailacircndia (AyuthiaAyutthaya) e
Banguecoque ateacute aos anos 50 do seacutec XX onde permanecem vocaacutebulos correntes no relacionamento
familiar e nas praacuteticas catoacutelicas Na Indoneacutesia aleacutem de Java nas Flores [Larantuka e Sikka] ilhas de
Ternate Tidore e Bali Em Timor [Lifau e Bidau] No Bangladesh - Chittagong e Daca ndash ateacute aos anos 20
do seacutec XX era muito viva a presenccedila da liacutengua crioula nas Cristandades locais copy Jorge Morbey
httpcombustoesblogspotcom200601os-crioulos-portugueses-no-orientehtml
O homem portuguecircs na Aacutesia nunca esqueceu a paacutetria Tomemos o exemplo de Venceslau Morais
Escondia as suas miseacuterias no exiacutelio nipoacutenico e tendo escrito e enviado dezenas de cartas e postais
ilustrados agrave irmatilde Francisca Pauacutel para Nelas (Beira Alta) nunca lhe referiu a intenccedilatildeo de regressar a
Portugal A memoacuteria do Cocircnsul de Portugal em Kobe no longiacutenquo Sol Nascente ficou nos anais das
relaccedilotildees culturais entre Portugal e o Japatildeo httpwwwportugal-linhaptlegadovorientepsiao3 Joseacute Gomes
Martins
Por tudo o que atraacutes ficou dito recorde-se o grande universalista portuguecircs No uacuteltimo canto de ldquoOs
Lusiacuteadasrdquo Vasco da Gama o almirante heroacutei eacute recebido pela deusa Teacutetis na Ilha dos Amores Laacute naquele
espaccedilo encantado ela lhe descortinou a Maacutequina do Mundo a visatildeo do Cosmo e dos continentes da terra receacutem-
descoberta pelos lusos cena que coloca o poeta portuguecircs como quem por primeiro no campo das letras
europeias percebeu os efeitos irreversiacuteveis da globalizaccedilatildeo que entatildeo dava os seus primeiros passos
Vecircs aqui a grande maacutequina do Mundo Eteacuterea elemental que fabricada Assim foi do Saber alto e profundo Quem eacute sem princiacutepio e mete limitada Quem cerca em derredor este rotundo Globo e superfiacutecie tatildeo limada Eacute Deus mas o que eacute Deus ningueacutem o entende Que a tanto o engenho humano natildeo se estende (Canto X 80)
Eacute entatildeo que a deusa abrindo os braccedilos para enfatizar a amplidatildeo a magnitude do reino augusto aponta
ao Gama as mais diversas regiotildees do mundo
Povoam-na ldquogente sem leirdquo a bruta multidatildeo ldquobando espesso e negro de estorninhosrdquo do impeacuterio do Benomotapa (Zimbabueacute) agrave Taprobana (Sri-Lanka) Todos agrave espera da chegada da cruz desenhada na vela principal da nau dos argonautas lusitanos Mostra-lhe o Mar Vermelho o Monte Sinai a secura dura e arenosa da Araacutebia o Tigre o Eufrates o planalto dos cavaleiros da Peacutersia o estreito de Ormuz o Sind a terra dos Bracircmanes onde S Tomeacute tentara a conversatildeo dos gentios o Ganges e o Indo a terra da Birmacircnia o impeacuterio do Siatildeo Sumatra a ponta estreita de Singapura o Camboja e o rio Mekong no qual Camotildees naufragou mas salvou os versos Em seguida margeando com os olhos a costa da Cochinchina (o Vietname) mostrou-lhe a China e mais longe o Japatildeo de onde vinha a maravilhosa seda e o ouro fino De tudo se desprendia o aroma do cravo da noz-moscada do licor perfumado do benjoim do coco do mar do incenso da mirra e do raro acircmbar de onde se extraem fragracircncias mil Teacutetis voltando-se para o outro lado da Terra apontou-lhe as partes recentemente conquistadas pelos castelhanos que lanccedilaram o seu rude colar sobre as gentes cativas do Novo Mundo Da Terra de Santa Cruz do litoral do Brasil o braccedilo lusitano jaacute carregava o tronco vermelho o Ibirapitanga dos nativos para dele extrair as tintas para os panos Re-embarcados os portugueses partindo da Ilha dos Amores aos adeuses no conveacutes velas soltas ao vento em mar tranquilo carregados de refrescos e iguarias deliciosas navegaram de volta agrave boca do Rio Tejo
De entatildeo em diante estavam todos convencidos de que os fados da Humanidade desde que Vasco da
Gama unira o Ocidente ao Oriente natildeo se prendiam a um soacute reino a uma soacute naccedilatildeo ou a um soacute hemisfeacuterio
6
Somente gente surda e endurecida fechada teimosa natildeo reconheceria que escancarado para sempre o
Caminho das Iacutendias o mundo se globalizaria cada vez mais tornando-se algo uacutenico entrelaccedilando para sempre
povos e continentes num destino em comum Ainda hoje estou rodeado dessa gente surda e empedernida
O mesmo se passou com os Coloacutequios Isto de Lusofonias e Lusotopias tem muito que se lhe diga
Falta aos Estados a visatildeo o amor e a dedicaccedilatildeo que soacute alguns indiviacuteduos conseguem ter pela liacutengua e cultura
de um povo Governos e governantes estatildeo de candeias agraves avessas para a defesa desses valores tal qual a
populaccedilatildeo de S Miguel estaacute sempre de costas para o mar enquanto outras natildeo vivem sem ele como no Pico
Falarei brevemente de dois autores que lutam contra os Fados da Humanidade mostrando a globalizaccedilatildeo da
liacutengua portuguesa atraveacutes da sua visatildeo accediloriana do mundo
Vozes criacuteticas ou arredadas dos estereoacutetipos natildeo abundam nem satildeo benquistas As elites dominantes e os
poderes caciqueiros logo se insurgem A ingratidatildeo vergonha e falta de patriotismo satildeo epiacutetetos comummente
usados para denegrir os que ousam Citam-se paacuteginas relevantes da heroica gesta accediloriana com destaque para
as guerras liberais e desventuras de emigrantes que triunfaram Surgem editorais e recensotildees violentas nos
jornais locais Os caixeiros-viajantes da cultura logo se arrogam o direito de defender a accedilorianidade ofendida
pois nela assenta exclusivamente o seu curriacuteculo Tais declaraccedilotildees de repuacutedio raramente extrapolam os cantos
do arquipeacutelago pois falar dos Accedilores ainda natildeo eacute moda na grande capital do Impeacuterio
Foi isto que por mais de uma vez aconteceu ao meu amigo escritor Cristoacutevatildeo de Aguiar Apodaram-no de
tudo e mais alguma coisa pois conveacutem sempre ser mais papista que o papa Em meios pequenos eacute consabida
a tendecircncia para apoucar aqueles que da leis do esquecimento se desembaraccedilaram como diria o vate enquanto
o imperador e seu seacutequito distribuem viagens e mordomias Eacute uma questatildeo de tempo ateacute comeccedilarem a zurzir
nos forasteiros que ousam opinar sobre o arquipeacutelago dos Accedilores Quando se perora sobre as nove ilhas filhas
de Zeus urge natildeo melindrar os interesses estabelecidos As visotildees criacuteticas ou natildeo conformadas aos cacircnones
podem acarretar seacuterios riscos para a sauacutede mental dos seus autores Terras pequenas invejas grandes ou a
reproduccedilatildeo literaacuteria do mote popular ldquoa minha festa eacute maior que a tuardquo Para o comum dos mortais a vida
prosseguiria o seu rumo mas os Accedilores satildeo uma reacuteplica miniatural da corte lisboeta As elites natildeo perdoam aos
que natildeo comungam da verdade uacutenica com forccedila de dogma que os sustenta e valida
Cristoacutevatildeo escreve com uma pluma incoacutemoda Reservou-se um papel de narrador que pensa fala e escreve
sem recorrer aos lugares comuns que tamanho gaacuteudio causam na populaccedilatildeo Natildeo reivindica verdades absolutas
ou duradouras limita-se a (d)escrever o que sente e vecirc Criaram-lhe a fama de irasciacutevel Quantas vezes com
justas e fundadas razotildees Recebi ldquoavisos amigosrdquo para tais perigos quando o convidei a estar na Lagoa (Marccedilo
2009) para o 4ordm encontro accediloriano Congratulo-me que relutantemente Cristoacutevatildeo tenha acedido Ao longo de
meses trocamos correios eletroacutenicos e telefonemas criando uma amizade saudavelmente aberta e criacutetica durante
a qual aprendi imenso com a personagem que tantos cuidados incutia aos arautos e defensores da paz podre
accediloriana
Cristoacutevatildeo eacute um permanente Passageiro Em Tracircnsito tiacutetulo do seu mais benquisto livro sempre na rota
do inconformismo Ele eacute a voz que se natildeo cala e tem o direito a tal Chama os bois pelo nome sem se deter nas
finuras das convenccedilotildees do parece bem ou mal Eacute criacutetico impiedoso dos destinos que alguns queriam que fosse
eterno o da subserviecircncia e submissatildeo aos senhores das ilhas descendentes diretos dos opressores da gleba
Grandes narrativas que se assemelham a uma teacutecnica de travelling em filmagem com grandes planos zooms
e paragens detalhadas nos rostos e nas mentes dos atores principais das suas croacutenicas e outros escritos A
cacircmara deteacutem-se e escalpeliza a alma daqueles que ele filma com as suas palavras aceradas como vento mata-
vacas que sopra do nordeste Cristoacutevatildeo de Aguiar jaacute o disse natildeo eacute um autor faacutecil nem facilita exige quase tanto
dos seus leitores como de si mesmo ele eacute o magma de que satildeo feitas as gentes de bem destas ilhas Tal como
as palavras sentidas gravadas fundo num granito que natildeo existe nas ilhas mas que encontro na Relaccedilatildeo de
Bordo I Verdade seja que ando imerso na sua escrita tateando como um receacutem-nascido agraves escuras fora do
ventre materno Ele eacute um escritor que se crecirc maldito porque outros o fizeram assim e porque eacute de si mesmo um
ser acossado por tudo e por todos mas sobretudo por si mesmo Para ele a escrita nunca seraacute catarse pois ela
7
eacute fruto de amores incompreendidos entre si e a sua ilha Psicanalisando as gentes e a terra que o viram nascer
adotou o Pico como nova ilha maacutetria em 1996 Como ele diz (Relaccedilatildeo de Bordo II pp 199-200) Primeiro foi a
ilha nunca mais a encontramos como a haviacuteamos deixadotrouxemos somente a imagem dela ou entatildeo foi
outra Ilha que connosco carregaacutemos
A escrita laacutevica de Cristoacutevatildeo fica a boiar no nosso imaginaacuterio Ningueacutem consegue escrever da forma uacutenica
e inimitaacutevel como soacute ele sabe e sente sobre os Accedilores Essa a sua forma de amar e de recompensar a terra que
o viu nascerpara que desate as grilhetas que a encarceram no passado e ele se desobrigue finalmente da
tarefa hercuacutelea de carregar a ilha como um fardo ou amor natildeo-correspondido que nisto de ilharias haacute muitas
paixotildees natildeo correspondidas Eacute um liacutedimo representante da mundividecircncia accediloriana na escrita contemporacircnea e
eacute tarefa dos Coloacutequios da Lusofonia tornaacute-lo benquisto e conhecido no mundo inteiro Com a literatura os autores
accedilorianos iam chegar mais longe Libertar-se Para isso teriam de mondar mercados novos e virgens como a
selva amazoacutenica antes dos novos bandeirantes Se natildeo chegassem agraves novas geraccedilotildees accedilorianas poderiam
alcanccedilar descendentes expatriados e os que aprendem o orgulho da naccedilatildeo accediloriana na sua cultura tradiccedilatildeo e
outros valores primordiais que tatildeo arredados das escolas andam hoje Mas os coloacutequios queriam levaacute-los a
mercados e leitores insuspeitos ateacute agrave velha Cortina de Ferro onde haacute apetecircncia para escritores lusoacutefonos
A ilha para Nataacutelia Correia eacute Matildee-Ilha para Cristoacutevatildeo de Aguiar Marilha para Daniel de Saacute Ilha-Matildee
para Vasco Pereira da Costa Ilha Menina para mim nem matildee nem madrasta nem Mariacutelia nem menina mas
Ilha-Filha que nunca enteada Para amar sem tocar ver engrandecer nas dores da adolescecircncia que satildeo sempre
partos difiacuteceis Toda a vida fui ilheacuteu perdi sotaques Ma natildeo malbaratei as minhas ilhas-filhas Trago-as a
reboque colar multifacetado de vivecircncias dos mundos e culturas distantes Primeiro em Portugal ilhota perdida
da Europa durante o Estado Novo seguidamente em mais um capiacutetulo naufragado da Histoacuteria Traacutegico-mariacutetima
nas ilhas de Timor e de Bali seguido da entatildeo (pen)iacutensula de Macau (fechada da China pelas Portas do Cerco)
da imensa ilha-continente denominada Austraacutelia e nesta ilhoa esquecida de Braganccedila no nordeste
transmontano antes de arribar agrave Atlacircntida Accedilores
Cumes de montanhas submersas que assomam a intervalos aqui no meio do Grande Mar Oceano onde
se mantecircm gentes orgulhosas e ciosas das suas tradiccedilotildees e costumes em torno da famiacutelia nuclear dizimada
pelo chamado progresso Os poliacuteticos ocupados na sua sobrevivecircncia sempre se olvidaram da presenccedila maacutegica
destas ilhas de reduzidas proporccedilotildees e populaccedilotildees Como se fosse uma espeacutecie de triacircngulo das Bermudas
onde tudo o que eacute relevante desaparece dos telejornais Jaacute era assim durante o Estado Novo e pouco mudou
quanto agrave visibilidade real destas iacutensulas apenas evocadas pelas cataacutestrofes naturais e pelo anticiclone do bom
ou mau tempo
Falemos da literatura Acolhemos nos Coloacutequios como premissa o conceito de accedilorianidade formulado
por Joseacute Martins Garcia que laquopor envolver domiacutenios muito mais vastos que o da simples literaturaraquo admite a
existecircncia de uma literatura accediloriana laquoenquanto superstrutura emanada dum habitat duma vivecircncia e duma
mundividecircnciaraquo1
No 4ordm Encontro Accediloriano da Lusofonia Cristoacutevatildeo de Aguiar rejeitou o roacutetulo de literatura accediloriana por
considerar que faz parte da produccedilatildeo literaacuteria lusoacutefona laquoO tiacutetulo (literatura accediloriana) eacute equiacutevoco porque pode
parecer que eacute uma literatura separada da literatura portuguesaraquo afirmou agrave agecircncia Lusa o escritor Machado
Pires sugeriu em tempos ldquoliteratura de significaccedilatildeo accedilorianardquo Outros preferem o termo ldquomatriz accedilorianardquo Haacute
vaacuterios tipos de autores os accedilorianos nascidos e vividos no arquipeacutelago (ausentes ou natildeo) os emigrados os
descendentes os insularizados ou ilhanizados e os estrangeiros que escrevem sobre os Accedilores Falta destrinccedilar
se os podemos incluir a todos nessa designaccedilatildeo accediloacuterica Lentamente todos encontraram o seu espaccedilo natildeo
havendo miacutengua de quantidade mas frequentemente sem projeccedilatildeo fora das ilhas com exceccedilotildees
contemporacircneas como as de Joatildeo de Melo Cristoacutevatildeo de Aguiar Daniel de Saacute Vasco Pereira da Costa e
Dias de Melo para citar alguns
1 httplusofoniacomsapoptacoresacorianidade_pavao_1988htm_ftn11_ftn11
8
Quedemo-nos doravante na perspicaz apreciaccedilatildeo que faz Cristoacutevatildeo de Aguiar da obra intitulada Nas
Escadas do Impeacuterio de Vasco Pereira da Costa autor que hoje eacute aqui homenageado
ldquoNatildeo eacute por acaso que Vasco Pereira da Costa poeta de meacuterito mas ainda no silecircncio da
gaveta se apresenta no mundo das letras sobraccedilando uma coletacircnea de contos Numa terra onde quase
todos sacrificam agraves (as) musas e se tornou quase regra a estreia com um livrinho de poemas a atitude
(ou opccedilatildeo) do autor de Nas Escadas do Impeacuterio natildeo deixa de ser de certo modo corajosa como
corajosos satildeo os contos que este livro integra Natildeo fora o receio de escorregar na casca do lugar-
comum e eu diria que esta mancheia de contos vivos arrancados com matildeos haacutebeis e um sentido
linguiacutestico apuradiacutessimo ao ventre uacutebere mas ainda mal conhecido da sua terra de origem vem agitar
as aacuteguas paradas onde se situa o panorama nebuloso e um tanto equiacutevoco da literatura de expressatildeo
accediloriana O conto que abre esta coletacircnea Faia da Terra eacute bem a prova do telurismo no sentido
torguiano do termo de que o jovem escritor (Angra do Heroiacutesmo Junho de 1948) estaacute imbuiacutedo sem
cair no pitoresco regionalista tatildeo do agrado de muitos escritores accedilorianos Natildeo resta a miacutenima duacutevida
de que o Gibicas A Fuga e outras peccedilas de antologia que aqui figuram vecircm contribuir para o
enriquecimento do conto portuguecircs de especificidade e carateriacutestica accediloriana Contudo Vasco Pereira
da Costa corre o risco (e ele mais do que ningueacutem disso estaacute consciente) de vir a ser queimado nas
labaredas inquisitoriais de certos meios ideoloacutegico-literaacuterios accedilorianos que tecircm tentado
oportunisticamente mas sem raiacutezes verdadeiras edificar [] uma literatura accediloriana em oposiccedilatildeo agrave
Literatura Portuguesa Nas Escadas do Impeacuterio quer queiram ou natildeo os arautos da mediocracia vem
dizer-nos exatamente o contraacuteriordquo
Com efeito natildeo podia deixar de ser mais justo o juiacutezo de valor supracitado
- Em primeiro lugar estreia-se Vasco Pereira da Costa em 1978 com a coletacircnea de contos Nas
Escadas do Impeacuterio agrave qual se seguiratildeo a novela Amanhece a Cidade (1979) a memoacuteria Venho caacute
mandado do Senhor Espiacuterito Santo (1980) os poemas de Ilhiacuteada (1981) Plantador de palavras
Vendedor de leacuterias antologia de novelas galardoada com o preacutemio Miguel Torga no ano de 1984
Memoacuteria Breve (1987) Risco de marear (Poemas em 1992) e por fim trecircs obras poeacuteticas a saber
Sobre Ripas Sobre Rimas Terras e My Californian Friends (respetivamente publicadas em 1994 1997
e 1999)
- Em segundo lugar urge referir a originalidade de Vasco Pereira da Costa evidente tanto na sua obra
poeacutetica como na sua prosa que vem segundo o Autor de Raiz Comovida agitar as letras accedilorianas
Assim sendo e numa perspetiva temaacutetica cumpre realccedilar o telurismo genuiacuteno patente em ldquoFaia da
Terrardquo histoacuteria do enamoramento de Teresa por um americano da Base da sua subsequente partida
para o Novo Mundo jaacute com o nome de Mrs Teresa Piel e da secagem da faia dois meses apoacutes a
descolagem do aviatildeo da Pan America Nesta novela inaugural perpassam vivamente como que
fotografadas ao vivo as rotineiras fainas insulares que pela via da repeticcedilatildeo regem o quotidiano do
ilheacuteu ldquoEra sexta-feira e a matildee amassava o crescente com a farinha de milho No forno estalavam a
rapa o eucalipto e o loiro [] Lavou depois as folhas de botar patildeo e veio sentar-se ao peacute dos meus
socos de milho ndash bois de veras espetados com palhitos queimados arremedando os galhos ndash no estrado
do meio-da-casa Arrumou as galochas no sobrado [] rdquo (1978 11)
Por vezes eacute a loucura insular que faz a sua apariccedilatildeo em cena na figura do poeta Vicente ldquoum Cocircrte-Real
impotente tacanho e degenerescenterdquo (1978 71) o qual volvido esse tempo em ldquoque escrevia coisas tatildeo
lindas de tanto sentimentordquo tem o despauteacuterio de acumular guarda-chuvas na falsa e de publicar no jornal
da Ilha desairosos alinhavos poeacuteticos ldquoPrometeu Prometeu Natildeo cumpriu A promessa Homessardquo (ldquoA
Fugardquo 1978 74)
- Em terceiro lugar e ainda na oacutetica de Cristoacutevatildeo de Aguiar a coragem de Vasco Pereira da Costa que
a saacutetira nas suas diversas vertentes revela agrave saciedade Assim sendo atente-se quer na criacutetica ao
9
salazarismo regime repressor totalitaacuterio e punitivo dos que ousam transgredir as regras impostas -
ldquoComo vim aqui [agrave ilha] parar Eacute simples por ser anarquista e natildeo peitear o Manholas de Santa Combardquo
(ldquoO Manel drsquoArriagardquo 1978 31) - quer na criacutetica agrave mentalidade mediacuteocre cuja pequenez
constrangedora se espraia em espaccedilo iacutentimo e puacuteblico pela vida de outrem tatildeo sigilosamente
resguardada quanto violada de supetatildeo - ldquo [] cada qual dava a sua sentenccedila todos em grande pensatildeo
e natildeo havia alcatra de couves que agrave hora da ceia natildeo fosse temperada com palpites de desenlacerdquo
(ldquoPrimaverardquo 1978 59) - quer na criacutetica ao jornalismo barato e ao provincianismo dos articulistas cujo
discurso pouco inovador se vai ritualizando - ldquoComeccedilou entatildeo o embaraccedilo No jornal de amanhatilde por
entre os aniversaacuterios da gente fina [] as partidas e as chegadas os partos e as notiacutecias do Paiacutes e do
Estrangeiro os casamentos e os pedidos de os horaacuterios de barcos e de aviotildees as oraccedilotildees ao Menino
Jesus de Praga e ao divino Espiacuterito Santo [] rdquo (ldquoA Fugardquo 1978 82-83) - quer por fim na criacutetica a uma
certa lsquocultura de superioridadersquo que lsquoMestrersquo Gibicas se apresta a denegar ldquo [] estaacutevamos de liacutengua
entre os dentes para sibilar o th O professor fazia empenho pois [] era uma vergonha virem por aiacute
abaixo os americanos e noacutes sem sabermos agradecer [] Ateacute que foi a tua vez [Gibicas] [] Agarraste
na caixinha vermelha azul e branca com as estrelinhas desse people para o nosso povo e sem esperar
o afago da farda grandalhona gritaste-lhes alto como ningueacutem ainda o fizera - SANABOBICHASrdquo
(ldquoGibicasrdquo 1978 137-138-141) Em asterisco de rodapeacute explica o Autor o neologismo ldquoSon of a bitchrdquo
- Em quarto lugar a variedade genoloacutegica em que se move o Escritor homenageado desde o conto e a
novela ateacute agrave memoacuteria e agrave ldquocroacutenicardquo breve passando pela Poesia E a este propoacutesito natildeo resistimos agrave
tentaccedilatildeo de transcrever dois excertos O primeiro de o Plantador de Palavras
ldquoAh meus senhores mas isto aqui natildeo eacute a Itaacutelia Eacute a mui nobre leal e sempre constante cidade de Angra
do Heroiacutesmo ao tempo em que o Autor nela carregava a sua adolescecircncia de amores temores e
rancores Como podem observar uma cidade espartilhada entre mar e mar com dois castelos a
estrangulaacute-la com suas casas nobres por fora e burguesiacutessimas por dentro praccedilas com estaacutetuas e
engraxadores lojas sonolentas comerciantes lentos e clientes ensonados automobilistas
imprevidentes nos seus vinte agrave hora que quase atropelam a distraccedilatildeo dos peotildees um governador civil
e trecircs governadores militares cinquenta e sete prostitutas dezanove bombeiros voluntaacuterios que
voluntariamente vatildeo de borla ao cinema vinte e cinco meninas que namoram agrave janela e estatiacutesticas de
ontem catorze desfloradas nos saguotildees um bispo dois monsenhores sete coacutenegos na sua Catedral
trecircs parvos oficiais que fornecem o riso oficial e obrigatoacuterio nos dias uacuteteis e inuacuteteis um Presidente para
a sua Cacircmara com o seu secretaacuterio e um contiacutenuo ndash que por ser funcionaacuterio puacuteblico natildeo estaacute incluiacutedo
no nuacutemero dos trecircs parvos oficiais que o quadro comporta Esta cidade tem trinta e quatro velhas de
lenccedilo e trecircs senhoras idosas de chapeacuteu quarenta e sete becircbados e oito senhores que andam agraves vezes
alegrinhos cento e vinte e nove rapazes cento e trinta e duas raparigas vinte e dois meninos e trinta e
uma meninas o nuacutemero de naiotildees ndash invertidos encartados e Soacutecios de Meacuterito da Corporaccedilatildeo das
Criadas de Servir ndash eacute de setenta e sete mas nunca foi feito o recenseamento dos homens com pitafe
quarenta e trecircs professores do Liceu dos quais vinte satildeo professores do Seminaacuterio Maior onde haacute
quinhentos e setenta e oito seminaristas menores dos quais oitenta e nove viacutergula seis por cento
oriundos da cristianiacutessima ilha de Satildeo Miguel o Arcanjo e do Senhor Santo Cristo dos Milagres e ainda
de outros Senhores que se passeiam no Jardim Duque da Terceira todas as quintas entre as duas
horas e sete minutos e as quatro horas e quarenta e oito da tarde em bandos de estorninhos quinze
chauferes um cauteleiro sessenta e nove caloteiros identificados com o indicador da matildeo direita
noventa e seis donas-de-casa e igual nuacutemero de maridos operacionais quarenta e sete viuacutevas
praticantes vinte e seis viuacutevas protestantes e oito viuacutevas de fresco ainda indecisas sessenta e oito
cavalheiros satildeo simultaneamente irmatildeos devotos da Confraria de Nossa Senhora do Monte Carmelo
da Irmandade do Senhor dos Passos e da Ordem Terceira de Satildeo Francisco quatro agiotas
dissimulados que vestem de preto e usam chapeacuteu e que se sentam para o negoacutecio na terceira
10
banqueta do Paacutetio da Alfacircndega cinquenta agentes da Poliacutecia de Seguranccedila Puacuteblica dos quais trecircs
satildeo da Secreta e por isso para natildeo serem conhecidos trajam agrave paisana o Cebola o Tombado e o
Zarolho dois vendedores de milho torrado pevides e caramelos sugardady duzentas e nove beatas de
novena quarenta e oito de terccedilo e mantilha vinte devotas de enfeitar capelas dezassete de sacristia
catorze irmatildes de padre e meia duacutezia de sobrinhas um batalhatildeo de soldados do Castelo que aparecem
agrave boquinha da noite triste arrastando as botas tristes pelo empedrado tristonho trecircs namoradas de
aspirantes que fazem todas as recrutas uma meacutedia de um viacutergula oito por mil de americanos da United
States Air Force Azores Pochugal por dia facilmente reconheciacuteveis pelo tamanho dos peacutes e por uma
garrafa de Matioacutes Rosseacute danccedilando na matildeo direita quarenta e trecircs indiviacuteduos usam gravata verde
porque satildeo adeptos do Lusitacircnia e trinta e nove potildeem gravata vermelha porque satildeo soacutecios do Angrense
havendo que mencionar ainda dois laccedilos ndash um poeta e um boticaacuterio A cidade tem dezoito tabernas
seis cafeacutes e duas pastelarias
Vamos agora mudar o cenaacuteriordquo
- transcreve-se o poema ldquoRose era o nome de Rosardquo
A matildee disse natildeo mais natildeo mais eu natildeo mais tu filha natildeo mais nomes na pedra do cais natildeo mais o cortinado da ilha natildeo mais Rosa sejas Rose agora natildeo mais neacutevoas roxos ais natildeo mais a sorte caipora natildeo mais a ilha natildeo mais Poreacutem Rose o natildeo mais natildeo quis e quis ver a ilha do natildeo mais o cortinado roxo infeliz os nomes na pedra dos cais Pegou em si e foi-se embora
Natildeo mais Rose Rosa outra vez agora (My Californian Friends 1999 25)
Natildeo estaremos perante a mais pura accedilorianidade na literatura
chrys chrystello lomba da maia accedilores agosto 2010
Bibliografia 1) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1978) Raiz Comovida (A Semente
e a Seiva) 1ordf ed Centelha Coimbra 1978 (Preacutemio Ricardo Malheiros da Academia das Ciecircncias de Lisboa) 2ordf ed Bertrand 1980 (esgotado)
2) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1979) Raiz Comovida II (Vindima
de Fogo) 1ordf ed Centelha Coimbra 1979 (esgotado)
3) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1981) Raiz Comovida III (O Fruto e
o Sonho) 1ordf ed Angra do Heroiacutesmo SREC 1981 (esgotado)
4) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1986) Com Paulo Quintela Agrave Mesa da Tertuacutelia noacutetulas biograacuteficas) 1ordf ed Serviccedilo de
Publicaccedilotildees da Universidade de Coimbra 1986 2ordf ed Revista e aumentada (no 1ordm centenaacuterio do seu
11
nascimento) Imprensa da Universidade de Coimbra 2005
5) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1987) Raiz Comovida (trilogia romanesca) ed Num soacute volume Editorial Caminho 1987 2ordf ed Revista e remodelada Publicaccedilotildees Dom
Quixote Lisboa 2003 6) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1988) Passageiro em Tracircnsito
novela em espiral ou o romance de um ponto a que se vai acrescentando mais um conto) 1ordm ed Editora Signo
Ponta Delgada 1988 7) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1990) O Braccedilo Tatuado (narrativa
militar aplicada) Editora Signo 8) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1994) Passageiro em tracircnsito
Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 9) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1999) Relaccedilatildeo de Bordo (1964-
1988) diaacuterio ou nem tanto ou talvez muito mais Campo das Letras Porto 1999 (Grande Preacutemio APE CMP
2000) 10) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2000) Relaccedilatildeo de Bordo II (1989-
1992) diaacuterio ou nem tantohellip Campo das Letras 11) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Raiz Comovida Trilogia
Romanesca Lisboa Publicaccedilotildees Dom Quixote (Ediccedilatildeo revista e remodelada)
12) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Trasfega casos e contos Publicaccedilotildees Dom Quixote Preacutemio Miguel Torga 2002 1ordf
ed 2003 2ordf ed 2003 13) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2004) Nova Relaccedilatildeo de Bordo (III
Volume) diaacuterio ou nem tantohellip Publicaccedilotildees Dom Quixote 14) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2005) Marilha sequecircncia narrativa
Publicaccedilotildees D Quixote 15) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) A Tabuada do Tempo a
lenta narrativa dos dias Preacutemio Miguel Torga 2006 Livraria Almedina Coimbra
16) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) Miguel Torga O Lavrador das Letras um percurso partilhado Livraria Almedina
17) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Braccedilo Tatuado ndash Retalhos da guerra colonial ndash Nova versatildeo P D Quixote 2008 2ordf
ed 2008 18) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Charlas Sobre a Liacutengua
Portuguesa Livraria Almedina 2008 19) Barcelos J M Soares de (2008) Dicionaacuterio de Falares
dos Accedilores ed Almedina 20) BETTENCOURT Urbano (2004) Joseacute Martins Garcia a
palavra o riso Separata da revista Arquipeacutelago -Liacutenguas e Literaturas XVII Ponta Delgada Universidade Accedilores
21) BRANDAtildeO Raul (sd) As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens Lisboa Perspetivas amp Realidades sd
22) BRASIL Luiacutes Antoacutenio de Assis (1994) ldquoA Narrativa Accediloriana poacutes-Vinte e Cinco de Abrilrdquo in Organon vol 8
nordm 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 23) Chrystello J Chrys (2009) ChroacutenicAccedilores uma circum-
navegaccedilatildeo (vol 1) De Timor a Macau Austraacutelia Brasil Braganccedila ateacute aos Accedilores Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
24) Da Costa Vasco Pereira (1978) Nas Escadas do Impeacuterio Contos Coimbra Centelha 1978
25) Da Costa Vasco Pereira (1979) Amanhece a Cidade romance Coimbra ed Centelha
26) Da Costa Vasco Pereira (1980) Venho caacute mandado do Senhor Espiacuterito Santo novela ed Banco Espiacuterito Santo c Comercial de Lisboa Lisboa
27) Da Costa Vasco Pereira (1981) Ilhiacuteada (poesia) Angra
do Heroiacutesmo SREC col ldquoGaivotardquo 28) Da Costa Vasco Pereira (1984) Plantador de Palavras
Vendedor de Leacuterias Coimbra Cacircmara Municipal 1ordm Preacutemio Miguel Torga 1984
29) Da Costa Vasco Pereira (1987) Memoacuteria Breve contos Angra do Heroiacutesmo Instituto Accediloriano de Cultura
30) Da Costa Vasco Pereira (1992) Riscos de Marear (poesia) Ponta Delgada Eurosigno
31) Da Costa Vasco Pereira (1994) Sobre ripas sobre rimas Coimbra Minerva 1994
32) Da Costa Vasco Pereira (1997) Terras (poesia) 1ordf ed Porto Campo das Letras
33) Da Costa Vasco Pereira (1999) My Californian Friends ed Gaacutevea Brown
34) Da Costa Vasco Pereira (2000) My Californian Friends (2ordf Ediccedilatildeo) Viseu Palimage Editores
35) Da Silveira Pedro (1977) ldquoAccediloresrdquo Grande Dicionaacuterio de Literatura Portuguesa e de Teoria Literaacuteria (coordenaccedilatildeo
Joatildeo Joseacute Cochofel) 1977 1ordm vol 36) Da Silveira Pedro (1999) Fui ao Mar Buscar Laranjas
Angra Direccedilatildeo Regional da Cultura 37) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1978) Ah Mogravenim dum
Corisco (Teatro) New Bedford - Providence Gaacutevea Chama 2ordf ed 1989 3ordf ed 1998 Lisboa ed Salamandra
38) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1983) laquo(Sapa)teia Americana Lisboa Vega 1983 1ordf ed 2ordf ed 2000
Lisboa Salamandra 39) De Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura
Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo [as diversas posiccedilotildees teoacutericas ao longo do tempo e algumas
posiccedilotildees poleacutemicas] Angra do Heroiacutesmo SREC (org) 40) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1986) Da Literatura
Accediloriana Subsiacutedios para um Balanccedilo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
41) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1987) ldquoO que eacute a L(USA)LAcircNDIArdquo in L(USA)LAcircNDIA A deacutecima Ilha Angra do Heroiacutesmo SREC
42) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1994) Que nome eacute
esse oacute Neacutezimo ndash E outros adveacuterbios de duacutevida 1ordf ed Lisboa ed Salamandra
43) De Jesus Eduiacuteno (sd) ldquoBreve notiacutecia histoacuterica da poesia accediloriana de 1915 agrave atualidaderdquo in Estrada Larga vol 3
Porto Editora [sd] pp 425-430 44) De Melo Joseacute Dias (1958) Mar Rubro 1958 2ordf ed 1980
Lisboa ed Salamandra 45) De Melo Joseacute Dias (1964) Pedras Negras 2ordf ed
Lisboa Vega 1985 traduccedilatildeo para inglecircs 1988 Dark Stones ed Gaacutevea-Brown 4ordf ed VerAccedilor 2008
46) De Melo Joseacute Dias (1973) Na noite silenciosa (poesia) 1973 2ordf ed VerAccedilor 2007
47) De Melo Joseacute Dias (1976) Mar pela proa 1976 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
48) De Melo Joseacute Dias (1979) Vinde e Vede Narrativas Lisboa Editorial Ilhas
49) De Melo Joseacute Dias (1983) Vida vivida em terra de baleeiros Angra SREC 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
50) De Melo Joseacute Dias (1990) Das velas de lona agraves asas de alumiacutenio Lisboa ed Salamandra col Garajau
51) De Melo Joseacute Dias (1990) O autoacutegrafo 1990 Lisboa ed Salamandra 2ordf ed 1999 col Garajau
52) De Melo Joseacute Dias (1992) O Menino deixou de ser menino Lisboa ed Salamandra col Garajau
53) De Melo Joseacute Dias (1993) A Viagem do medo maior Lisboa ed Salamandra col Garajau
54) De Melo Joseacute Dias (1994) Pena dela saudades de mim Lisboa ed Salamandra col Garajau
55) De Melo Joseacute Dias (1995) Croacutenicas do Alto da Rocha do Canto da Baiacutea Lisboa ed Salamandra
56) De Melo Joseacute Dias (1996) Inverno sem primavera Lisboa ed Salamandra
57) De Melo Joseacute Dias (2000) Reviver na Festa da Vida a Festa da Morte Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo
58) De Melo Joseacute Dias (2001) Agrave Boquinha da noite Lisboa ed Salamandra
59) De Melo Joseacute Dias (2002) Milhas contadas Lisboa ed Salamandra
60) De Melo Joseacute Dias (2003) Pedras Negras Lisboa Ediccedilotildees Salamandra 3ordf ediccedilatildeo portuguesa
61) De Melo Joseacute Dias de (2004) Poeira do caminho Reminiscecircncias do Passado vivecircncias do Presente Porto Campo das Letras ndash Editores col ldquoInstantes de Leiturardquo
62) De MELO Joseacute Dias de (2007) Na noite silenciada Poemas de Natal Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
63) De MELO Joseacute Dias (2008) Mar Rubro Baleeiros do Pico Ponta Delgada Ver Accedilor Lda Editores 3ordf ediccedilatildeo
64) De Melo Joatildeo (1982) - Haacute ou Natildeo Uma Literatura Accediloriana Lisboa ed Vega
65) De Melo Joatildeo (1983) O Meu Mundo Natildeo eacute Deste Reino Lisboa Publ D Quixote traduzido nos Estados Unidos e
em Espanha 66) De Melo Joatildeo (1988) Gente Feliz com Laacutegrimas
Lisboa Publ D Quixote 1988 Traduzido em Espanha Franccedila Holanda Itaacutelia Romeacutenia e Bulgaacuteria
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau
5
de Maio de 1834 o Padroado Portuguecircs do Oriente sofreu um golpe mortal na Iacutendia no Ceilatildeo no
Sudeste Asiaacutetico na China e na Oceacircnia Os missionaacuterios do Padroado natildeo seriam substituiacutedos O clero
secular de Goa acorreu em socorro das Cristandades Crioulas Lusoacutefonas do Oriente que iam ficando
sem religiosos A liacutengua crioula falava-se nas Cristandades Crioulas da Tailacircndia (AyuthiaAyutthaya) e
Banguecoque ateacute aos anos 50 do seacutec XX onde permanecem vocaacutebulos correntes no relacionamento
familiar e nas praacuteticas catoacutelicas Na Indoneacutesia aleacutem de Java nas Flores [Larantuka e Sikka] ilhas de
Ternate Tidore e Bali Em Timor [Lifau e Bidau] No Bangladesh - Chittagong e Daca ndash ateacute aos anos 20
do seacutec XX era muito viva a presenccedila da liacutengua crioula nas Cristandades locais copy Jorge Morbey
httpcombustoesblogspotcom200601os-crioulos-portugueses-no-orientehtml
O homem portuguecircs na Aacutesia nunca esqueceu a paacutetria Tomemos o exemplo de Venceslau Morais
Escondia as suas miseacuterias no exiacutelio nipoacutenico e tendo escrito e enviado dezenas de cartas e postais
ilustrados agrave irmatilde Francisca Pauacutel para Nelas (Beira Alta) nunca lhe referiu a intenccedilatildeo de regressar a
Portugal A memoacuteria do Cocircnsul de Portugal em Kobe no longiacutenquo Sol Nascente ficou nos anais das
relaccedilotildees culturais entre Portugal e o Japatildeo httpwwwportugal-linhaptlegadovorientepsiao3 Joseacute Gomes
Martins
Por tudo o que atraacutes ficou dito recorde-se o grande universalista portuguecircs No uacuteltimo canto de ldquoOs
Lusiacuteadasrdquo Vasco da Gama o almirante heroacutei eacute recebido pela deusa Teacutetis na Ilha dos Amores Laacute naquele
espaccedilo encantado ela lhe descortinou a Maacutequina do Mundo a visatildeo do Cosmo e dos continentes da terra receacutem-
descoberta pelos lusos cena que coloca o poeta portuguecircs como quem por primeiro no campo das letras
europeias percebeu os efeitos irreversiacuteveis da globalizaccedilatildeo que entatildeo dava os seus primeiros passos
Vecircs aqui a grande maacutequina do Mundo Eteacuterea elemental que fabricada Assim foi do Saber alto e profundo Quem eacute sem princiacutepio e mete limitada Quem cerca em derredor este rotundo Globo e superfiacutecie tatildeo limada Eacute Deus mas o que eacute Deus ningueacutem o entende Que a tanto o engenho humano natildeo se estende (Canto X 80)
Eacute entatildeo que a deusa abrindo os braccedilos para enfatizar a amplidatildeo a magnitude do reino augusto aponta
ao Gama as mais diversas regiotildees do mundo
Povoam-na ldquogente sem leirdquo a bruta multidatildeo ldquobando espesso e negro de estorninhosrdquo do impeacuterio do Benomotapa (Zimbabueacute) agrave Taprobana (Sri-Lanka) Todos agrave espera da chegada da cruz desenhada na vela principal da nau dos argonautas lusitanos Mostra-lhe o Mar Vermelho o Monte Sinai a secura dura e arenosa da Araacutebia o Tigre o Eufrates o planalto dos cavaleiros da Peacutersia o estreito de Ormuz o Sind a terra dos Bracircmanes onde S Tomeacute tentara a conversatildeo dos gentios o Ganges e o Indo a terra da Birmacircnia o impeacuterio do Siatildeo Sumatra a ponta estreita de Singapura o Camboja e o rio Mekong no qual Camotildees naufragou mas salvou os versos Em seguida margeando com os olhos a costa da Cochinchina (o Vietname) mostrou-lhe a China e mais longe o Japatildeo de onde vinha a maravilhosa seda e o ouro fino De tudo se desprendia o aroma do cravo da noz-moscada do licor perfumado do benjoim do coco do mar do incenso da mirra e do raro acircmbar de onde se extraem fragracircncias mil Teacutetis voltando-se para o outro lado da Terra apontou-lhe as partes recentemente conquistadas pelos castelhanos que lanccedilaram o seu rude colar sobre as gentes cativas do Novo Mundo Da Terra de Santa Cruz do litoral do Brasil o braccedilo lusitano jaacute carregava o tronco vermelho o Ibirapitanga dos nativos para dele extrair as tintas para os panos Re-embarcados os portugueses partindo da Ilha dos Amores aos adeuses no conveacutes velas soltas ao vento em mar tranquilo carregados de refrescos e iguarias deliciosas navegaram de volta agrave boca do Rio Tejo
De entatildeo em diante estavam todos convencidos de que os fados da Humanidade desde que Vasco da
Gama unira o Ocidente ao Oriente natildeo se prendiam a um soacute reino a uma soacute naccedilatildeo ou a um soacute hemisfeacuterio
6
Somente gente surda e endurecida fechada teimosa natildeo reconheceria que escancarado para sempre o
Caminho das Iacutendias o mundo se globalizaria cada vez mais tornando-se algo uacutenico entrelaccedilando para sempre
povos e continentes num destino em comum Ainda hoje estou rodeado dessa gente surda e empedernida
O mesmo se passou com os Coloacutequios Isto de Lusofonias e Lusotopias tem muito que se lhe diga
Falta aos Estados a visatildeo o amor e a dedicaccedilatildeo que soacute alguns indiviacuteduos conseguem ter pela liacutengua e cultura
de um povo Governos e governantes estatildeo de candeias agraves avessas para a defesa desses valores tal qual a
populaccedilatildeo de S Miguel estaacute sempre de costas para o mar enquanto outras natildeo vivem sem ele como no Pico
Falarei brevemente de dois autores que lutam contra os Fados da Humanidade mostrando a globalizaccedilatildeo da
liacutengua portuguesa atraveacutes da sua visatildeo accediloriana do mundo
Vozes criacuteticas ou arredadas dos estereoacutetipos natildeo abundam nem satildeo benquistas As elites dominantes e os
poderes caciqueiros logo se insurgem A ingratidatildeo vergonha e falta de patriotismo satildeo epiacutetetos comummente
usados para denegrir os que ousam Citam-se paacuteginas relevantes da heroica gesta accediloriana com destaque para
as guerras liberais e desventuras de emigrantes que triunfaram Surgem editorais e recensotildees violentas nos
jornais locais Os caixeiros-viajantes da cultura logo se arrogam o direito de defender a accedilorianidade ofendida
pois nela assenta exclusivamente o seu curriacuteculo Tais declaraccedilotildees de repuacutedio raramente extrapolam os cantos
do arquipeacutelago pois falar dos Accedilores ainda natildeo eacute moda na grande capital do Impeacuterio
Foi isto que por mais de uma vez aconteceu ao meu amigo escritor Cristoacutevatildeo de Aguiar Apodaram-no de
tudo e mais alguma coisa pois conveacutem sempre ser mais papista que o papa Em meios pequenos eacute consabida
a tendecircncia para apoucar aqueles que da leis do esquecimento se desembaraccedilaram como diria o vate enquanto
o imperador e seu seacutequito distribuem viagens e mordomias Eacute uma questatildeo de tempo ateacute comeccedilarem a zurzir
nos forasteiros que ousam opinar sobre o arquipeacutelago dos Accedilores Quando se perora sobre as nove ilhas filhas
de Zeus urge natildeo melindrar os interesses estabelecidos As visotildees criacuteticas ou natildeo conformadas aos cacircnones
podem acarretar seacuterios riscos para a sauacutede mental dos seus autores Terras pequenas invejas grandes ou a
reproduccedilatildeo literaacuteria do mote popular ldquoa minha festa eacute maior que a tuardquo Para o comum dos mortais a vida
prosseguiria o seu rumo mas os Accedilores satildeo uma reacuteplica miniatural da corte lisboeta As elites natildeo perdoam aos
que natildeo comungam da verdade uacutenica com forccedila de dogma que os sustenta e valida
Cristoacutevatildeo escreve com uma pluma incoacutemoda Reservou-se um papel de narrador que pensa fala e escreve
sem recorrer aos lugares comuns que tamanho gaacuteudio causam na populaccedilatildeo Natildeo reivindica verdades absolutas
ou duradouras limita-se a (d)escrever o que sente e vecirc Criaram-lhe a fama de irasciacutevel Quantas vezes com
justas e fundadas razotildees Recebi ldquoavisos amigosrdquo para tais perigos quando o convidei a estar na Lagoa (Marccedilo
2009) para o 4ordm encontro accediloriano Congratulo-me que relutantemente Cristoacutevatildeo tenha acedido Ao longo de
meses trocamos correios eletroacutenicos e telefonemas criando uma amizade saudavelmente aberta e criacutetica durante
a qual aprendi imenso com a personagem que tantos cuidados incutia aos arautos e defensores da paz podre
accediloriana
Cristoacutevatildeo eacute um permanente Passageiro Em Tracircnsito tiacutetulo do seu mais benquisto livro sempre na rota
do inconformismo Ele eacute a voz que se natildeo cala e tem o direito a tal Chama os bois pelo nome sem se deter nas
finuras das convenccedilotildees do parece bem ou mal Eacute criacutetico impiedoso dos destinos que alguns queriam que fosse
eterno o da subserviecircncia e submissatildeo aos senhores das ilhas descendentes diretos dos opressores da gleba
Grandes narrativas que se assemelham a uma teacutecnica de travelling em filmagem com grandes planos zooms
e paragens detalhadas nos rostos e nas mentes dos atores principais das suas croacutenicas e outros escritos A
cacircmara deteacutem-se e escalpeliza a alma daqueles que ele filma com as suas palavras aceradas como vento mata-
vacas que sopra do nordeste Cristoacutevatildeo de Aguiar jaacute o disse natildeo eacute um autor faacutecil nem facilita exige quase tanto
dos seus leitores como de si mesmo ele eacute o magma de que satildeo feitas as gentes de bem destas ilhas Tal como
as palavras sentidas gravadas fundo num granito que natildeo existe nas ilhas mas que encontro na Relaccedilatildeo de
Bordo I Verdade seja que ando imerso na sua escrita tateando como um receacutem-nascido agraves escuras fora do
ventre materno Ele eacute um escritor que se crecirc maldito porque outros o fizeram assim e porque eacute de si mesmo um
ser acossado por tudo e por todos mas sobretudo por si mesmo Para ele a escrita nunca seraacute catarse pois ela
7
eacute fruto de amores incompreendidos entre si e a sua ilha Psicanalisando as gentes e a terra que o viram nascer
adotou o Pico como nova ilha maacutetria em 1996 Como ele diz (Relaccedilatildeo de Bordo II pp 199-200) Primeiro foi a
ilha nunca mais a encontramos como a haviacuteamos deixadotrouxemos somente a imagem dela ou entatildeo foi
outra Ilha que connosco carregaacutemos
A escrita laacutevica de Cristoacutevatildeo fica a boiar no nosso imaginaacuterio Ningueacutem consegue escrever da forma uacutenica
e inimitaacutevel como soacute ele sabe e sente sobre os Accedilores Essa a sua forma de amar e de recompensar a terra que
o viu nascerpara que desate as grilhetas que a encarceram no passado e ele se desobrigue finalmente da
tarefa hercuacutelea de carregar a ilha como um fardo ou amor natildeo-correspondido que nisto de ilharias haacute muitas
paixotildees natildeo correspondidas Eacute um liacutedimo representante da mundividecircncia accediloriana na escrita contemporacircnea e
eacute tarefa dos Coloacutequios da Lusofonia tornaacute-lo benquisto e conhecido no mundo inteiro Com a literatura os autores
accedilorianos iam chegar mais longe Libertar-se Para isso teriam de mondar mercados novos e virgens como a
selva amazoacutenica antes dos novos bandeirantes Se natildeo chegassem agraves novas geraccedilotildees accedilorianas poderiam
alcanccedilar descendentes expatriados e os que aprendem o orgulho da naccedilatildeo accediloriana na sua cultura tradiccedilatildeo e
outros valores primordiais que tatildeo arredados das escolas andam hoje Mas os coloacutequios queriam levaacute-los a
mercados e leitores insuspeitos ateacute agrave velha Cortina de Ferro onde haacute apetecircncia para escritores lusoacutefonos
A ilha para Nataacutelia Correia eacute Matildee-Ilha para Cristoacutevatildeo de Aguiar Marilha para Daniel de Saacute Ilha-Matildee
para Vasco Pereira da Costa Ilha Menina para mim nem matildee nem madrasta nem Mariacutelia nem menina mas
Ilha-Filha que nunca enteada Para amar sem tocar ver engrandecer nas dores da adolescecircncia que satildeo sempre
partos difiacuteceis Toda a vida fui ilheacuteu perdi sotaques Ma natildeo malbaratei as minhas ilhas-filhas Trago-as a
reboque colar multifacetado de vivecircncias dos mundos e culturas distantes Primeiro em Portugal ilhota perdida
da Europa durante o Estado Novo seguidamente em mais um capiacutetulo naufragado da Histoacuteria Traacutegico-mariacutetima
nas ilhas de Timor e de Bali seguido da entatildeo (pen)iacutensula de Macau (fechada da China pelas Portas do Cerco)
da imensa ilha-continente denominada Austraacutelia e nesta ilhoa esquecida de Braganccedila no nordeste
transmontano antes de arribar agrave Atlacircntida Accedilores
Cumes de montanhas submersas que assomam a intervalos aqui no meio do Grande Mar Oceano onde
se mantecircm gentes orgulhosas e ciosas das suas tradiccedilotildees e costumes em torno da famiacutelia nuclear dizimada
pelo chamado progresso Os poliacuteticos ocupados na sua sobrevivecircncia sempre se olvidaram da presenccedila maacutegica
destas ilhas de reduzidas proporccedilotildees e populaccedilotildees Como se fosse uma espeacutecie de triacircngulo das Bermudas
onde tudo o que eacute relevante desaparece dos telejornais Jaacute era assim durante o Estado Novo e pouco mudou
quanto agrave visibilidade real destas iacutensulas apenas evocadas pelas cataacutestrofes naturais e pelo anticiclone do bom
ou mau tempo
Falemos da literatura Acolhemos nos Coloacutequios como premissa o conceito de accedilorianidade formulado
por Joseacute Martins Garcia que laquopor envolver domiacutenios muito mais vastos que o da simples literaturaraquo admite a
existecircncia de uma literatura accediloriana laquoenquanto superstrutura emanada dum habitat duma vivecircncia e duma
mundividecircnciaraquo1
No 4ordm Encontro Accediloriano da Lusofonia Cristoacutevatildeo de Aguiar rejeitou o roacutetulo de literatura accediloriana por
considerar que faz parte da produccedilatildeo literaacuteria lusoacutefona laquoO tiacutetulo (literatura accediloriana) eacute equiacutevoco porque pode
parecer que eacute uma literatura separada da literatura portuguesaraquo afirmou agrave agecircncia Lusa o escritor Machado
Pires sugeriu em tempos ldquoliteratura de significaccedilatildeo accedilorianardquo Outros preferem o termo ldquomatriz accedilorianardquo Haacute
vaacuterios tipos de autores os accedilorianos nascidos e vividos no arquipeacutelago (ausentes ou natildeo) os emigrados os
descendentes os insularizados ou ilhanizados e os estrangeiros que escrevem sobre os Accedilores Falta destrinccedilar
se os podemos incluir a todos nessa designaccedilatildeo accediloacuterica Lentamente todos encontraram o seu espaccedilo natildeo
havendo miacutengua de quantidade mas frequentemente sem projeccedilatildeo fora das ilhas com exceccedilotildees
contemporacircneas como as de Joatildeo de Melo Cristoacutevatildeo de Aguiar Daniel de Saacute Vasco Pereira da Costa e
Dias de Melo para citar alguns
1 httplusofoniacomsapoptacoresacorianidade_pavao_1988htm_ftn11_ftn11
8
Quedemo-nos doravante na perspicaz apreciaccedilatildeo que faz Cristoacutevatildeo de Aguiar da obra intitulada Nas
Escadas do Impeacuterio de Vasco Pereira da Costa autor que hoje eacute aqui homenageado
ldquoNatildeo eacute por acaso que Vasco Pereira da Costa poeta de meacuterito mas ainda no silecircncio da
gaveta se apresenta no mundo das letras sobraccedilando uma coletacircnea de contos Numa terra onde quase
todos sacrificam agraves (as) musas e se tornou quase regra a estreia com um livrinho de poemas a atitude
(ou opccedilatildeo) do autor de Nas Escadas do Impeacuterio natildeo deixa de ser de certo modo corajosa como
corajosos satildeo os contos que este livro integra Natildeo fora o receio de escorregar na casca do lugar-
comum e eu diria que esta mancheia de contos vivos arrancados com matildeos haacutebeis e um sentido
linguiacutestico apuradiacutessimo ao ventre uacutebere mas ainda mal conhecido da sua terra de origem vem agitar
as aacuteguas paradas onde se situa o panorama nebuloso e um tanto equiacutevoco da literatura de expressatildeo
accediloriana O conto que abre esta coletacircnea Faia da Terra eacute bem a prova do telurismo no sentido
torguiano do termo de que o jovem escritor (Angra do Heroiacutesmo Junho de 1948) estaacute imbuiacutedo sem
cair no pitoresco regionalista tatildeo do agrado de muitos escritores accedilorianos Natildeo resta a miacutenima duacutevida
de que o Gibicas A Fuga e outras peccedilas de antologia que aqui figuram vecircm contribuir para o
enriquecimento do conto portuguecircs de especificidade e carateriacutestica accediloriana Contudo Vasco Pereira
da Costa corre o risco (e ele mais do que ningueacutem disso estaacute consciente) de vir a ser queimado nas
labaredas inquisitoriais de certos meios ideoloacutegico-literaacuterios accedilorianos que tecircm tentado
oportunisticamente mas sem raiacutezes verdadeiras edificar [] uma literatura accediloriana em oposiccedilatildeo agrave
Literatura Portuguesa Nas Escadas do Impeacuterio quer queiram ou natildeo os arautos da mediocracia vem
dizer-nos exatamente o contraacuteriordquo
Com efeito natildeo podia deixar de ser mais justo o juiacutezo de valor supracitado
- Em primeiro lugar estreia-se Vasco Pereira da Costa em 1978 com a coletacircnea de contos Nas
Escadas do Impeacuterio agrave qual se seguiratildeo a novela Amanhece a Cidade (1979) a memoacuteria Venho caacute
mandado do Senhor Espiacuterito Santo (1980) os poemas de Ilhiacuteada (1981) Plantador de palavras
Vendedor de leacuterias antologia de novelas galardoada com o preacutemio Miguel Torga no ano de 1984
Memoacuteria Breve (1987) Risco de marear (Poemas em 1992) e por fim trecircs obras poeacuteticas a saber
Sobre Ripas Sobre Rimas Terras e My Californian Friends (respetivamente publicadas em 1994 1997
e 1999)
- Em segundo lugar urge referir a originalidade de Vasco Pereira da Costa evidente tanto na sua obra
poeacutetica como na sua prosa que vem segundo o Autor de Raiz Comovida agitar as letras accedilorianas
Assim sendo e numa perspetiva temaacutetica cumpre realccedilar o telurismo genuiacuteno patente em ldquoFaia da
Terrardquo histoacuteria do enamoramento de Teresa por um americano da Base da sua subsequente partida
para o Novo Mundo jaacute com o nome de Mrs Teresa Piel e da secagem da faia dois meses apoacutes a
descolagem do aviatildeo da Pan America Nesta novela inaugural perpassam vivamente como que
fotografadas ao vivo as rotineiras fainas insulares que pela via da repeticcedilatildeo regem o quotidiano do
ilheacuteu ldquoEra sexta-feira e a matildee amassava o crescente com a farinha de milho No forno estalavam a
rapa o eucalipto e o loiro [] Lavou depois as folhas de botar patildeo e veio sentar-se ao peacute dos meus
socos de milho ndash bois de veras espetados com palhitos queimados arremedando os galhos ndash no estrado
do meio-da-casa Arrumou as galochas no sobrado [] rdquo (1978 11)
Por vezes eacute a loucura insular que faz a sua apariccedilatildeo em cena na figura do poeta Vicente ldquoum Cocircrte-Real
impotente tacanho e degenerescenterdquo (1978 71) o qual volvido esse tempo em ldquoque escrevia coisas tatildeo
lindas de tanto sentimentordquo tem o despauteacuterio de acumular guarda-chuvas na falsa e de publicar no jornal
da Ilha desairosos alinhavos poeacuteticos ldquoPrometeu Prometeu Natildeo cumpriu A promessa Homessardquo (ldquoA
Fugardquo 1978 74)
- Em terceiro lugar e ainda na oacutetica de Cristoacutevatildeo de Aguiar a coragem de Vasco Pereira da Costa que
a saacutetira nas suas diversas vertentes revela agrave saciedade Assim sendo atente-se quer na criacutetica ao
9
salazarismo regime repressor totalitaacuterio e punitivo dos que ousam transgredir as regras impostas -
ldquoComo vim aqui [agrave ilha] parar Eacute simples por ser anarquista e natildeo peitear o Manholas de Santa Combardquo
(ldquoO Manel drsquoArriagardquo 1978 31) - quer na criacutetica agrave mentalidade mediacuteocre cuja pequenez
constrangedora se espraia em espaccedilo iacutentimo e puacuteblico pela vida de outrem tatildeo sigilosamente
resguardada quanto violada de supetatildeo - ldquo [] cada qual dava a sua sentenccedila todos em grande pensatildeo
e natildeo havia alcatra de couves que agrave hora da ceia natildeo fosse temperada com palpites de desenlacerdquo
(ldquoPrimaverardquo 1978 59) - quer na criacutetica ao jornalismo barato e ao provincianismo dos articulistas cujo
discurso pouco inovador se vai ritualizando - ldquoComeccedilou entatildeo o embaraccedilo No jornal de amanhatilde por
entre os aniversaacuterios da gente fina [] as partidas e as chegadas os partos e as notiacutecias do Paiacutes e do
Estrangeiro os casamentos e os pedidos de os horaacuterios de barcos e de aviotildees as oraccedilotildees ao Menino
Jesus de Praga e ao divino Espiacuterito Santo [] rdquo (ldquoA Fugardquo 1978 82-83) - quer por fim na criacutetica a uma
certa lsquocultura de superioridadersquo que lsquoMestrersquo Gibicas se apresta a denegar ldquo [] estaacutevamos de liacutengua
entre os dentes para sibilar o th O professor fazia empenho pois [] era uma vergonha virem por aiacute
abaixo os americanos e noacutes sem sabermos agradecer [] Ateacute que foi a tua vez [Gibicas] [] Agarraste
na caixinha vermelha azul e branca com as estrelinhas desse people para o nosso povo e sem esperar
o afago da farda grandalhona gritaste-lhes alto como ningueacutem ainda o fizera - SANABOBICHASrdquo
(ldquoGibicasrdquo 1978 137-138-141) Em asterisco de rodapeacute explica o Autor o neologismo ldquoSon of a bitchrdquo
- Em quarto lugar a variedade genoloacutegica em que se move o Escritor homenageado desde o conto e a
novela ateacute agrave memoacuteria e agrave ldquocroacutenicardquo breve passando pela Poesia E a este propoacutesito natildeo resistimos agrave
tentaccedilatildeo de transcrever dois excertos O primeiro de o Plantador de Palavras
ldquoAh meus senhores mas isto aqui natildeo eacute a Itaacutelia Eacute a mui nobre leal e sempre constante cidade de Angra
do Heroiacutesmo ao tempo em que o Autor nela carregava a sua adolescecircncia de amores temores e
rancores Como podem observar uma cidade espartilhada entre mar e mar com dois castelos a
estrangulaacute-la com suas casas nobres por fora e burguesiacutessimas por dentro praccedilas com estaacutetuas e
engraxadores lojas sonolentas comerciantes lentos e clientes ensonados automobilistas
imprevidentes nos seus vinte agrave hora que quase atropelam a distraccedilatildeo dos peotildees um governador civil
e trecircs governadores militares cinquenta e sete prostitutas dezanove bombeiros voluntaacuterios que
voluntariamente vatildeo de borla ao cinema vinte e cinco meninas que namoram agrave janela e estatiacutesticas de
ontem catorze desfloradas nos saguotildees um bispo dois monsenhores sete coacutenegos na sua Catedral
trecircs parvos oficiais que fornecem o riso oficial e obrigatoacuterio nos dias uacuteteis e inuacuteteis um Presidente para
a sua Cacircmara com o seu secretaacuterio e um contiacutenuo ndash que por ser funcionaacuterio puacuteblico natildeo estaacute incluiacutedo
no nuacutemero dos trecircs parvos oficiais que o quadro comporta Esta cidade tem trinta e quatro velhas de
lenccedilo e trecircs senhoras idosas de chapeacuteu quarenta e sete becircbados e oito senhores que andam agraves vezes
alegrinhos cento e vinte e nove rapazes cento e trinta e duas raparigas vinte e dois meninos e trinta e
uma meninas o nuacutemero de naiotildees ndash invertidos encartados e Soacutecios de Meacuterito da Corporaccedilatildeo das
Criadas de Servir ndash eacute de setenta e sete mas nunca foi feito o recenseamento dos homens com pitafe
quarenta e trecircs professores do Liceu dos quais vinte satildeo professores do Seminaacuterio Maior onde haacute
quinhentos e setenta e oito seminaristas menores dos quais oitenta e nove viacutergula seis por cento
oriundos da cristianiacutessima ilha de Satildeo Miguel o Arcanjo e do Senhor Santo Cristo dos Milagres e ainda
de outros Senhores que se passeiam no Jardim Duque da Terceira todas as quintas entre as duas
horas e sete minutos e as quatro horas e quarenta e oito da tarde em bandos de estorninhos quinze
chauferes um cauteleiro sessenta e nove caloteiros identificados com o indicador da matildeo direita
noventa e seis donas-de-casa e igual nuacutemero de maridos operacionais quarenta e sete viuacutevas
praticantes vinte e seis viuacutevas protestantes e oito viuacutevas de fresco ainda indecisas sessenta e oito
cavalheiros satildeo simultaneamente irmatildeos devotos da Confraria de Nossa Senhora do Monte Carmelo
da Irmandade do Senhor dos Passos e da Ordem Terceira de Satildeo Francisco quatro agiotas
dissimulados que vestem de preto e usam chapeacuteu e que se sentam para o negoacutecio na terceira
10
banqueta do Paacutetio da Alfacircndega cinquenta agentes da Poliacutecia de Seguranccedila Puacuteblica dos quais trecircs
satildeo da Secreta e por isso para natildeo serem conhecidos trajam agrave paisana o Cebola o Tombado e o
Zarolho dois vendedores de milho torrado pevides e caramelos sugardady duzentas e nove beatas de
novena quarenta e oito de terccedilo e mantilha vinte devotas de enfeitar capelas dezassete de sacristia
catorze irmatildes de padre e meia duacutezia de sobrinhas um batalhatildeo de soldados do Castelo que aparecem
agrave boquinha da noite triste arrastando as botas tristes pelo empedrado tristonho trecircs namoradas de
aspirantes que fazem todas as recrutas uma meacutedia de um viacutergula oito por mil de americanos da United
States Air Force Azores Pochugal por dia facilmente reconheciacuteveis pelo tamanho dos peacutes e por uma
garrafa de Matioacutes Rosseacute danccedilando na matildeo direita quarenta e trecircs indiviacuteduos usam gravata verde
porque satildeo adeptos do Lusitacircnia e trinta e nove potildeem gravata vermelha porque satildeo soacutecios do Angrense
havendo que mencionar ainda dois laccedilos ndash um poeta e um boticaacuterio A cidade tem dezoito tabernas
seis cafeacutes e duas pastelarias
Vamos agora mudar o cenaacuteriordquo
- transcreve-se o poema ldquoRose era o nome de Rosardquo
A matildee disse natildeo mais natildeo mais eu natildeo mais tu filha natildeo mais nomes na pedra do cais natildeo mais o cortinado da ilha natildeo mais Rosa sejas Rose agora natildeo mais neacutevoas roxos ais natildeo mais a sorte caipora natildeo mais a ilha natildeo mais Poreacutem Rose o natildeo mais natildeo quis e quis ver a ilha do natildeo mais o cortinado roxo infeliz os nomes na pedra dos cais Pegou em si e foi-se embora
Natildeo mais Rose Rosa outra vez agora (My Californian Friends 1999 25)
Natildeo estaremos perante a mais pura accedilorianidade na literatura
chrys chrystello lomba da maia accedilores agosto 2010
Bibliografia 1) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1978) Raiz Comovida (A Semente
e a Seiva) 1ordf ed Centelha Coimbra 1978 (Preacutemio Ricardo Malheiros da Academia das Ciecircncias de Lisboa) 2ordf ed Bertrand 1980 (esgotado)
2) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1979) Raiz Comovida II (Vindima
de Fogo) 1ordf ed Centelha Coimbra 1979 (esgotado)
3) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1981) Raiz Comovida III (O Fruto e
o Sonho) 1ordf ed Angra do Heroiacutesmo SREC 1981 (esgotado)
4) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1986) Com Paulo Quintela Agrave Mesa da Tertuacutelia noacutetulas biograacuteficas) 1ordf ed Serviccedilo de
Publicaccedilotildees da Universidade de Coimbra 1986 2ordf ed Revista e aumentada (no 1ordm centenaacuterio do seu
11
nascimento) Imprensa da Universidade de Coimbra 2005
5) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1987) Raiz Comovida (trilogia romanesca) ed Num soacute volume Editorial Caminho 1987 2ordf ed Revista e remodelada Publicaccedilotildees Dom
Quixote Lisboa 2003 6) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1988) Passageiro em Tracircnsito
novela em espiral ou o romance de um ponto a que se vai acrescentando mais um conto) 1ordm ed Editora Signo
Ponta Delgada 1988 7) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1990) O Braccedilo Tatuado (narrativa
militar aplicada) Editora Signo 8) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1994) Passageiro em tracircnsito
Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 9) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1999) Relaccedilatildeo de Bordo (1964-
1988) diaacuterio ou nem tanto ou talvez muito mais Campo das Letras Porto 1999 (Grande Preacutemio APE CMP
2000) 10) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2000) Relaccedilatildeo de Bordo II (1989-
1992) diaacuterio ou nem tantohellip Campo das Letras 11) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Raiz Comovida Trilogia
Romanesca Lisboa Publicaccedilotildees Dom Quixote (Ediccedilatildeo revista e remodelada)
12) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Trasfega casos e contos Publicaccedilotildees Dom Quixote Preacutemio Miguel Torga 2002 1ordf
ed 2003 2ordf ed 2003 13) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2004) Nova Relaccedilatildeo de Bordo (III
Volume) diaacuterio ou nem tantohellip Publicaccedilotildees Dom Quixote 14) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2005) Marilha sequecircncia narrativa
Publicaccedilotildees D Quixote 15) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) A Tabuada do Tempo a
lenta narrativa dos dias Preacutemio Miguel Torga 2006 Livraria Almedina Coimbra
16) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) Miguel Torga O Lavrador das Letras um percurso partilhado Livraria Almedina
17) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Braccedilo Tatuado ndash Retalhos da guerra colonial ndash Nova versatildeo P D Quixote 2008 2ordf
ed 2008 18) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Charlas Sobre a Liacutengua
Portuguesa Livraria Almedina 2008 19) Barcelos J M Soares de (2008) Dicionaacuterio de Falares
dos Accedilores ed Almedina 20) BETTENCOURT Urbano (2004) Joseacute Martins Garcia a
palavra o riso Separata da revista Arquipeacutelago -Liacutenguas e Literaturas XVII Ponta Delgada Universidade Accedilores
21) BRANDAtildeO Raul (sd) As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens Lisboa Perspetivas amp Realidades sd
22) BRASIL Luiacutes Antoacutenio de Assis (1994) ldquoA Narrativa Accediloriana poacutes-Vinte e Cinco de Abrilrdquo in Organon vol 8
nordm 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 23) Chrystello J Chrys (2009) ChroacutenicAccedilores uma circum-
navegaccedilatildeo (vol 1) De Timor a Macau Austraacutelia Brasil Braganccedila ateacute aos Accedilores Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
24) Da Costa Vasco Pereira (1978) Nas Escadas do Impeacuterio Contos Coimbra Centelha 1978
25) Da Costa Vasco Pereira (1979) Amanhece a Cidade romance Coimbra ed Centelha
26) Da Costa Vasco Pereira (1980) Venho caacute mandado do Senhor Espiacuterito Santo novela ed Banco Espiacuterito Santo c Comercial de Lisboa Lisboa
27) Da Costa Vasco Pereira (1981) Ilhiacuteada (poesia) Angra
do Heroiacutesmo SREC col ldquoGaivotardquo 28) Da Costa Vasco Pereira (1984) Plantador de Palavras
Vendedor de Leacuterias Coimbra Cacircmara Municipal 1ordm Preacutemio Miguel Torga 1984
29) Da Costa Vasco Pereira (1987) Memoacuteria Breve contos Angra do Heroiacutesmo Instituto Accediloriano de Cultura
30) Da Costa Vasco Pereira (1992) Riscos de Marear (poesia) Ponta Delgada Eurosigno
31) Da Costa Vasco Pereira (1994) Sobre ripas sobre rimas Coimbra Minerva 1994
32) Da Costa Vasco Pereira (1997) Terras (poesia) 1ordf ed Porto Campo das Letras
33) Da Costa Vasco Pereira (1999) My Californian Friends ed Gaacutevea Brown
34) Da Costa Vasco Pereira (2000) My Californian Friends (2ordf Ediccedilatildeo) Viseu Palimage Editores
35) Da Silveira Pedro (1977) ldquoAccediloresrdquo Grande Dicionaacuterio de Literatura Portuguesa e de Teoria Literaacuteria (coordenaccedilatildeo
Joatildeo Joseacute Cochofel) 1977 1ordm vol 36) Da Silveira Pedro (1999) Fui ao Mar Buscar Laranjas
Angra Direccedilatildeo Regional da Cultura 37) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1978) Ah Mogravenim dum
Corisco (Teatro) New Bedford - Providence Gaacutevea Chama 2ordf ed 1989 3ordf ed 1998 Lisboa ed Salamandra
38) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1983) laquo(Sapa)teia Americana Lisboa Vega 1983 1ordf ed 2ordf ed 2000
Lisboa Salamandra 39) De Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura
Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo [as diversas posiccedilotildees teoacutericas ao longo do tempo e algumas
posiccedilotildees poleacutemicas] Angra do Heroiacutesmo SREC (org) 40) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1986) Da Literatura
Accediloriana Subsiacutedios para um Balanccedilo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
41) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1987) ldquoO que eacute a L(USA)LAcircNDIArdquo in L(USA)LAcircNDIA A deacutecima Ilha Angra do Heroiacutesmo SREC
42) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1994) Que nome eacute
esse oacute Neacutezimo ndash E outros adveacuterbios de duacutevida 1ordf ed Lisboa ed Salamandra
43) De Jesus Eduiacuteno (sd) ldquoBreve notiacutecia histoacuterica da poesia accediloriana de 1915 agrave atualidaderdquo in Estrada Larga vol 3
Porto Editora [sd] pp 425-430 44) De Melo Joseacute Dias (1958) Mar Rubro 1958 2ordf ed 1980
Lisboa ed Salamandra 45) De Melo Joseacute Dias (1964) Pedras Negras 2ordf ed
Lisboa Vega 1985 traduccedilatildeo para inglecircs 1988 Dark Stones ed Gaacutevea-Brown 4ordf ed VerAccedilor 2008
46) De Melo Joseacute Dias (1973) Na noite silenciosa (poesia) 1973 2ordf ed VerAccedilor 2007
47) De Melo Joseacute Dias (1976) Mar pela proa 1976 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
48) De Melo Joseacute Dias (1979) Vinde e Vede Narrativas Lisboa Editorial Ilhas
49) De Melo Joseacute Dias (1983) Vida vivida em terra de baleeiros Angra SREC 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
50) De Melo Joseacute Dias (1990) Das velas de lona agraves asas de alumiacutenio Lisboa ed Salamandra col Garajau
51) De Melo Joseacute Dias (1990) O autoacutegrafo 1990 Lisboa ed Salamandra 2ordf ed 1999 col Garajau
52) De Melo Joseacute Dias (1992) O Menino deixou de ser menino Lisboa ed Salamandra col Garajau
53) De Melo Joseacute Dias (1993) A Viagem do medo maior Lisboa ed Salamandra col Garajau
54) De Melo Joseacute Dias (1994) Pena dela saudades de mim Lisboa ed Salamandra col Garajau
55) De Melo Joseacute Dias (1995) Croacutenicas do Alto da Rocha do Canto da Baiacutea Lisboa ed Salamandra
56) De Melo Joseacute Dias (1996) Inverno sem primavera Lisboa ed Salamandra
57) De Melo Joseacute Dias (2000) Reviver na Festa da Vida a Festa da Morte Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo
58) De Melo Joseacute Dias (2001) Agrave Boquinha da noite Lisboa ed Salamandra
59) De Melo Joseacute Dias (2002) Milhas contadas Lisboa ed Salamandra
60) De Melo Joseacute Dias (2003) Pedras Negras Lisboa Ediccedilotildees Salamandra 3ordf ediccedilatildeo portuguesa
61) De Melo Joseacute Dias de (2004) Poeira do caminho Reminiscecircncias do Passado vivecircncias do Presente Porto Campo das Letras ndash Editores col ldquoInstantes de Leiturardquo
62) De MELO Joseacute Dias de (2007) Na noite silenciada Poemas de Natal Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
63) De MELO Joseacute Dias (2008) Mar Rubro Baleeiros do Pico Ponta Delgada Ver Accedilor Lda Editores 3ordf ediccedilatildeo
64) De Melo Joatildeo (1982) - Haacute ou Natildeo Uma Literatura Accediloriana Lisboa ed Vega
65) De Melo Joatildeo (1983) O Meu Mundo Natildeo eacute Deste Reino Lisboa Publ D Quixote traduzido nos Estados Unidos e
em Espanha 66) De Melo Joatildeo (1988) Gente Feliz com Laacutegrimas
Lisboa Publ D Quixote 1988 Traduzido em Espanha Franccedila Holanda Itaacutelia Romeacutenia e Bulgaacuteria
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau
6
Somente gente surda e endurecida fechada teimosa natildeo reconheceria que escancarado para sempre o
Caminho das Iacutendias o mundo se globalizaria cada vez mais tornando-se algo uacutenico entrelaccedilando para sempre
povos e continentes num destino em comum Ainda hoje estou rodeado dessa gente surda e empedernida
O mesmo se passou com os Coloacutequios Isto de Lusofonias e Lusotopias tem muito que se lhe diga
Falta aos Estados a visatildeo o amor e a dedicaccedilatildeo que soacute alguns indiviacuteduos conseguem ter pela liacutengua e cultura
de um povo Governos e governantes estatildeo de candeias agraves avessas para a defesa desses valores tal qual a
populaccedilatildeo de S Miguel estaacute sempre de costas para o mar enquanto outras natildeo vivem sem ele como no Pico
Falarei brevemente de dois autores que lutam contra os Fados da Humanidade mostrando a globalizaccedilatildeo da
liacutengua portuguesa atraveacutes da sua visatildeo accediloriana do mundo
Vozes criacuteticas ou arredadas dos estereoacutetipos natildeo abundam nem satildeo benquistas As elites dominantes e os
poderes caciqueiros logo se insurgem A ingratidatildeo vergonha e falta de patriotismo satildeo epiacutetetos comummente
usados para denegrir os que ousam Citam-se paacuteginas relevantes da heroica gesta accediloriana com destaque para
as guerras liberais e desventuras de emigrantes que triunfaram Surgem editorais e recensotildees violentas nos
jornais locais Os caixeiros-viajantes da cultura logo se arrogam o direito de defender a accedilorianidade ofendida
pois nela assenta exclusivamente o seu curriacuteculo Tais declaraccedilotildees de repuacutedio raramente extrapolam os cantos
do arquipeacutelago pois falar dos Accedilores ainda natildeo eacute moda na grande capital do Impeacuterio
Foi isto que por mais de uma vez aconteceu ao meu amigo escritor Cristoacutevatildeo de Aguiar Apodaram-no de
tudo e mais alguma coisa pois conveacutem sempre ser mais papista que o papa Em meios pequenos eacute consabida
a tendecircncia para apoucar aqueles que da leis do esquecimento se desembaraccedilaram como diria o vate enquanto
o imperador e seu seacutequito distribuem viagens e mordomias Eacute uma questatildeo de tempo ateacute comeccedilarem a zurzir
nos forasteiros que ousam opinar sobre o arquipeacutelago dos Accedilores Quando se perora sobre as nove ilhas filhas
de Zeus urge natildeo melindrar os interesses estabelecidos As visotildees criacuteticas ou natildeo conformadas aos cacircnones
podem acarretar seacuterios riscos para a sauacutede mental dos seus autores Terras pequenas invejas grandes ou a
reproduccedilatildeo literaacuteria do mote popular ldquoa minha festa eacute maior que a tuardquo Para o comum dos mortais a vida
prosseguiria o seu rumo mas os Accedilores satildeo uma reacuteplica miniatural da corte lisboeta As elites natildeo perdoam aos
que natildeo comungam da verdade uacutenica com forccedila de dogma que os sustenta e valida
Cristoacutevatildeo escreve com uma pluma incoacutemoda Reservou-se um papel de narrador que pensa fala e escreve
sem recorrer aos lugares comuns que tamanho gaacuteudio causam na populaccedilatildeo Natildeo reivindica verdades absolutas
ou duradouras limita-se a (d)escrever o que sente e vecirc Criaram-lhe a fama de irasciacutevel Quantas vezes com
justas e fundadas razotildees Recebi ldquoavisos amigosrdquo para tais perigos quando o convidei a estar na Lagoa (Marccedilo
2009) para o 4ordm encontro accediloriano Congratulo-me que relutantemente Cristoacutevatildeo tenha acedido Ao longo de
meses trocamos correios eletroacutenicos e telefonemas criando uma amizade saudavelmente aberta e criacutetica durante
a qual aprendi imenso com a personagem que tantos cuidados incutia aos arautos e defensores da paz podre
accediloriana
Cristoacutevatildeo eacute um permanente Passageiro Em Tracircnsito tiacutetulo do seu mais benquisto livro sempre na rota
do inconformismo Ele eacute a voz que se natildeo cala e tem o direito a tal Chama os bois pelo nome sem se deter nas
finuras das convenccedilotildees do parece bem ou mal Eacute criacutetico impiedoso dos destinos que alguns queriam que fosse
eterno o da subserviecircncia e submissatildeo aos senhores das ilhas descendentes diretos dos opressores da gleba
Grandes narrativas que se assemelham a uma teacutecnica de travelling em filmagem com grandes planos zooms
e paragens detalhadas nos rostos e nas mentes dos atores principais das suas croacutenicas e outros escritos A
cacircmara deteacutem-se e escalpeliza a alma daqueles que ele filma com as suas palavras aceradas como vento mata-
vacas que sopra do nordeste Cristoacutevatildeo de Aguiar jaacute o disse natildeo eacute um autor faacutecil nem facilita exige quase tanto
dos seus leitores como de si mesmo ele eacute o magma de que satildeo feitas as gentes de bem destas ilhas Tal como
as palavras sentidas gravadas fundo num granito que natildeo existe nas ilhas mas que encontro na Relaccedilatildeo de
Bordo I Verdade seja que ando imerso na sua escrita tateando como um receacutem-nascido agraves escuras fora do
ventre materno Ele eacute um escritor que se crecirc maldito porque outros o fizeram assim e porque eacute de si mesmo um
ser acossado por tudo e por todos mas sobretudo por si mesmo Para ele a escrita nunca seraacute catarse pois ela
7
eacute fruto de amores incompreendidos entre si e a sua ilha Psicanalisando as gentes e a terra que o viram nascer
adotou o Pico como nova ilha maacutetria em 1996 Como ele diz (Relaccedilatildeo de Bordo II pp 199-200) Primeiro foi a
ilha nunca mais a encontramos como a haviacuteamos deixadotrouxemos somente a imagem dela ou entatildeo foi
outra Ilha que connosco carregaacutemos
A escrita laacutevica de Cristoacutevatildeo fica a boiar no nosso imaginaacuterio Ningueacutem consegue escrever da forma uacutenica
e inimitaacutevel como soacute ele sabe e sente sobre os Accedilores Essa a sua forma de amar e de recompensar a terra que
o viu nascerpara que desate as grilhetas que a encarceram no passado e ele se desobrigue finalmente da
tarefa hercuacutelea de carregar a ilha como um fardo ou amor natildeo-correspondido que nisto de ilharias haacute muitas
paixotildees natildeo correspondidas Eacute um liacutedimo representante da mundividecircncia accediloriana na escrita contemporacircnea e
eacute tarefa dos Coloacutequios da Lusofonia tornaacute-lo benquisto e conhecido no mundo inteiro Com a literatura os autores
accedilorianos iam chegar mais longe Libertar-se Para isso teriam de mondar mercados novos e virgens como a
selva amazoacutenica antes dos novos bandeirantes Se natildeo chegassem agraves novas geraccedilotildees accedilorianas poderiam
alcanccedilar descendentes expatriados e os que aprendem o orgulho da naccedilatildeo accediloriana na sua cultura tradiccedilatildeo e
outros valores primordiais que tatildeo arredados das escolas andam hoje Mas os coloacutequios queriam levaacute-los a
mercados e leitores insuspeitos ateacute agrave velha Cortina de Ferro onde haacute apetecircncia para escritores lusoacutefonos
A ilha para Nataacutelia Correia eacute Matildee-Ilha para Cristoacutevatildeo de Aguiar Marilha para Daniel de Saacute Ilha-Matildee
para Vasco Pereira da Costa Ilha Menina para mim nem matildee nem madrasta nem Mariacutelia nem menina mas
Ilha-Filha que nunca enteada Para amar sem tocar ver engrandecer nas dores da adolescecircncia que satildeo sempre
partos difiacuteceis Toda a vida fui ilheacuteu perdi sotaques Ma natildeo malbaratei as minhas ilhas-filhas Trago-as a
reboque colar multifacetado de vivecircncias dos mundos e culturas distantes Primeiro em Portugal ilhota perdida
da Europa durante o Estado Novo seguidamente em mais um capiacutetulo naufragado da Histoacuteria Traacutegico-mariacutetima
nas ilhas de Timor e de Bali seguido da entatildeo (pen)iacutensula de Macau (fechada da China pelas Portas do Cerco)
da imensa ilha-continente denominada Austraacutelia e nesta ilhoa esquecida de Braganccedila no nordeste
transmontano antes de arribar agrave Atlacircntida Accedilores
Cumes de montanhas submersas que assomam a intervalos aqui no meio do Grande Mar Oceano onde
se mantecircm gentes orgulhosas e ciosas das suas tradiccedilotildees e costumes em torno da famiacutelia nuclear dizimada
pelo chamado progresso Os poliacuteticos ocupados na sua sobrevivecircncia sempre se olvidaram da presenccedila maacutegica
destas ilhas de reduzidas proporccedilotildees e populaccedilotildees Como se fosse uma espeacutecie de triacircngulo das Bermudas
onde tudo o que eacute relevante desaparece dos telejornais Jaacute era assim durante o Estado Novo e pouco mudou
quanto agrave visibilidade real destas iacutensulas apenas evocadas pelas cataacutestrofes naturais e pelo anticiclone do bom
ou mau tempo
Falemos da literatura Acolhemos nos Coloacutequios como premissa o conceito de accedilorianidade formulado
por Joseacute Martins Garcia que laquopor envolver domiacutenios muito mais vastos que o da simples literaturaraquo admite a
existecircncia de uma literatura accediloriana laquoenquanto superstrutura emanada dum habitat duma vivecircncia e duma
mundividecircnciaraquo1
No 4ordm Encontro Accediloriano da Lusofonia Cristoacutevatildeo de Aguiar rejeitou o roacutetulo de literatura accediloriana por
considerar que faz parte da produccedilatildeo literaacuteria lusoacutefona laquoO tiacutetulo (literatura accediloriana) eacute equiacutevoco porque pode
parecer que eacute uma literatura separada da literatura portuguesaraquo afirmou agrave agecircncia Lusa o escritor Machado
Pires sugeriu em tempos ldquoliteratura de significaccedilatildeo accedilorianardquo Outros preferem o termo ldquomatriz accedilorianardquo Haacute
vaacuterios tipos de autores os accedilorianos nascidos e vividos no arquipeacutelago (ausentes ou natildeo) os emigrados os
descendentes os insularizados ou ilhanizados e os estrangeiros que escrevem sobre os Accedilores Falta destrinccedilar
se os podemos incluir a todos nessa designaccedilatildeo accediloacuterica Lentamente todos encontraram o seu espaccedilo natildeo
havendo miacutengua de quantidade mas frequentemente sem projeccedilatildeo fora das ilhas com exceccedilotildees
contemporacircneas como as de Joatildeo de Melo Cristoacutevatildeo de Aguiar Daniel de Saacute Vasco Pereira da Costa e
Dias de Melo para citar alguns
1 httplusofoniacomsapoptacoresacorianidade_pavao_1988htm_ftn11_ftn11
8
Quedemo-nos doravante na perspicaz apreciaccedilatildeo que faz Cristoacutevatildeo de Aguiar da obra intitulada Nas
Escadas do Impeacuterio de Vasco Pereira da Costa autor que hoje eacute aqui homenageado
ldquoNatildeo eacute por acaso que Vasco Pereira da Costa poeta de meacuterito mas ainda no silecircncio da
gaveta se apresenta no mundo das letras sobraccedilando uma coletacircnea de contos Numa terra onde quase
todos sacrificam agraves (as) musas e se tornou quase regra a estreia com um livrinho de poemas a atitude
(ou opccedilatildeo) do autor de Nas Escadas do Impeacuterio natildeo deixa de ser de certo modo corajosa como
corajosos satildeo os contos que este livro integra Natildeo fora o receio de escorregar na casca do lugar-
comum e eu diria que esta mancheia de contos vivos arrancados com matildeos haacutebeis e um sentido
linguiacutestico apuradiacutessimo ao ventre uacutebere mas ainda mal conhecido da sua terra de origem vem agitar
as aacuteguas paradas onde se situa o panorama nebuloso e um tanto equiacutevoco da literatura de expressatildeo
accediloriana O conto que abre esta coletacircnea Faia da Terra eacute bem a prova do telurismo no sentido
torguiano do termo de que o jovem escritor (Angra do Heroiacutesmo Junho de 1948) estaacute imbuiacutedo sem
cair no pitoresco regionalista tatildeo do agrado de muitos escritores accedilorianos Natildeo resta a miacutenima duacutevida
de que o Gibicas A Fuga e outras peccedilas de antologia que aqui figuram vecircm contribuir para o
enriquecimento do conto portuguecircs de especificidade e carateriacutestica accediloriana Contudo Vasco Pereira
da Costa corre o risco (e ele mais do que ningueacutem disso estaacute consciente) de vir a ser queimado nas
labaredas inquisitoriais de certos meios ideoloacutegico-literaacuterios accedilorianos que tecircm tentado
oportunisticamente mas sem raiacutezes verdadeiras edificar [] uma literatura accediloriana em oposiccedilatildeo agrave
Literatura Portuguesa Nas Escadas do Impeacuterio quer queiram ou natildeo os arautos da mediocracia vem
dizer-nos exatamente o contraacuteriordquo
Com efeito natildeo podia deixar de ser mais justo o juiacutezo de valor supracitado
- Em primeiro lugar estreia-se Vasco Pereira da Costa em 1978 com a coletacircnea de contos Nas
Escadas do Impeacuterio agrave qual se seguiratildeo a novela Amanhece a Cidade (1979) a memoacuteria Venho caacute
mandado do Senhor Espiacuterito Santo (1980) os poemas de Ilhiacuteada (1981) Plantador de palavras
Vendedor de leacuterias antologia de novelas galardoada com o preacutemio Miguel Torga no ano de 1984
Memoacuteria Breve (1987) Risco de marear (Poemas em 1992) e por fim trecircs obras poeacuteticas a saber
Sobre Ripas Sobre Rimas Terras e My Californian Friends (respetivamente publicadas em 1994 1997
e 1999)
- Em segundo lugar urge referir a originalidade de Vasco Pereira da Costa evidente tanto na sua obra
poeacutetica como na sua prosa que vem segundo o Autor de Raiz Comovida agitar as letras accedilorianas
Assim sendo e numa perspetiva temaacutetica cumpre realccedilar o telurismo genuiacuteno patente em ldquoFaia da
Terrardquo histoacuteria do enamoramento de Teresa por um americano da Base da sua subsequente partida
para o Novo Mundo jaacute com o nome de Mrs Teresa Piel e da secagem da faia dois meses apoacutes a
descolagem do aviatildeo da Pan America Nesta novela inaugural perpassam vivamente como que
fotografadas ao vivo as rotineiras fainas insulares que pela via da repeticcedilatildeo regem o quotidiano do
ilheacuteu ldquoEra sexta-feira e a matildee amassava o crescente com a farinha de milho No forno estalavam a
rapa o eucalipto e o loiro [] Lavou depois as folhas de botar patildeo e veio sentar-se ao peacute dos meus
socos de milho ndash bois de veras espetados com palhitos queimados arremedando os galhos ndash no estrado
do meio-da-casa Arrumou as galochas no sobrado [] rdquo (1978 11)
Por vezes eacute a loucura insular que faz a sua apariccedilatildeo em cena na figura do poeta Vicente ldquoum Cocircrte-Real
impotente tacanho e degenerescenterdquo (1978 71) o qual volvido esse tempo em ldquoque escrevia coisas tatildeo
lindas de tanto sentimentordquo tem o despauteacuterio de acumular guarda-chuvas na falsa e de publicar no jornal
da Ilha desairosos alinhavos poeacuteticos ldquoPrometeu Prometeu Natildeo cumpriu A promessa Homessardquo (ldquoA
Fugardquo 1978 74)
- Em terceiro lugar e ainda na oacutetica de Cristoacutevatildeo de Aguiar a coragem de Vasco Pereira da Costa que
a saacutetira nas suas diversas vertentes revela agrave saciedade Assim sendo atente-se quer na criacutetica ao
9
salazarismo regime repressor totalitaacuterio e punitivo dos que ousam transgredir as regras impostas -
ldquoComo vim aqui [agrave ilha] parar Eacute simples por ser anarquista e natildeo peitear o Manholas de Santa Combardquo
(ldquoO Manel drsquoArriagardquo 1978 31) - quer na criacutetica agrave mentalidade mediacuteocre cuja pequenez
constrangedora se espraia em espaccedilo iacutentimo e puacuteblico pela vida de outrem tatildeo sigilosamente
resguardada quanto violada de supetatildeo - ldquo [] cada qual dava a sua sentenccedila todos em grande pensatildeo
e natildeo havia alcatra de couves que agrave hora da ceia natildeo fosse temperada com palpites de desenlacerdquo
(ldquoPrimaverardquo 1978 59) - quer na criacutetica ao jornalismo barato e ao provincianismo dos articulistas cujo
discurso pouco inovador se vai ritualizando - ldquoComeccedilou entatildeo o embaraccedilo No jornal de amanhatilde por
entre os aniversaacuterios da gente fina [] as partidas e as chegadas os partos e as notiacutecias do Paiacutes e do
Estrangeiro os casamentos e os pedidos de os horaacuterios de barcos e de aviotildees as oraccedilotildees ao Menino
Jesus de Praga e ao divino Espiacuterito Santo [] rdquo (ldquoA Fugardquo 1978 82-83) - quer por fim na criacutetica a uma
certa lsquocultura de superioridadersquo que lsquoMestrersquo Gibicas se apresta a denegar ldquo [] estaacutevamos de liacutengua
entre os dentes para sibilar o th O professor fazia empenho pois [] era uma vergonha virem por aiacute
abaixo os americanos e noacutes sem sabermos agradecer [] Ateacute que foi a tua vez [Gibicas] [] Agarraste
na caixinha vermelha azul e branca com as estrelinhas desse people para o nosso povo e sem esperar
o afago da farda grandalhona gritaste-lhes alto como ningueacutem ainda o fizera - SANABOBICHASrdquo
(ldquoGibicasrdquo 1978 137-138-141) Em asterisco de rodapeacute explica o Autor o neologismo ldquoSon of a bitchrdquo
- Em quarto lugar a variedade genoloacutegica em que se move o Escritor homenageado desde o conto e a
novela ateacute agrave memoacuteria e agrave ldquocroacutenicardquo breve passando pela Poesia E a este propoacutesito natildeo resistimos agrave
tentaccedilatildeo de transcrever dois excertos O primeiro de o Plantador de Palavras
ldquoAh meus senhores mas isto aqui natildeo eacute a Itaacutelia Eacute a mui nobre leal e sempre constante cidade de Angra
do Heroiacutesmo ao tempo em que o Autor nela carregava a sua adolescecircncia de amores temores e
rancores Como podem observar uma cidade espartilhada entre mar e mar com dois castelos a
estrangulaacute-la com suas casas nobres por fora e burguesiacutessimas por dentro praccedilas com estaacutetuas e
engraxadores lojas sonolentas comerciantes lentos e clientes ensonados automobilistas
imprevidentes nos seus vinte agrave hora que quase atropelam a distraccedilatildeo dos peotildees um governador civil
e trecircs governadores militares cinquenta e sete prostitutas dezanove bombeiros voluntaacuterios que
voluntariamente vatildeo de borla ao cinema vinte e cinco meninas que namoram agrave janela e estatiacutesticas de
ontem catorze desfloradas nos saguotildees um bispo dois monsenhores sete coacutenegos na sua Catedral
trecircs parvos oficiais que fornecem o riso oficial e obrigatoacuterio nos dias uacuteteis e inuacuteteis um Presidente para
a sua Cacircmara com o seu secretaacuterio e um contiacutenuo ndash que por ser funcionaacuterio puacuteblico natildeo estaacute incluiacutedo
no nuacutemero dos trecircs parvos oficiais que o quadro comporta Esta cidade tem trinta e quatro velhas de
lenccedilo e trecircs senhoras idosas de chapeacuteu quarenta e sete becircbados e oito senhores que andam agraves vezes
alegrinhos cento e vinte e nove rapazes cento e trinta e duas raparigas vinte e dois meninos e trinta e
uma meninas o nuacutemero de naiotildees ndash invertidos encartados e Soacutecios de Meacuterito da Corporaccedilatildeo das
Criadas de Servir ndash eacute de setenta e sete mas nunca foi feito o recenseamento dos homens com pitafe
quarenta e trecircs professores do Liceu dos quais vinte satildeo professores do Seminaacuterio Maior onde haacute
quinhentos e setenta e oito seminaristas menores dos quais oitenta e nove viacutergula seis por cento
oriundos da cristianiacutessima ilha de Satildeo Miguel o Arcanjo e do Senhor Santo Cristo dos Milagres e ainda
de outros Senhores que se passeiam no Jardim Duque da Terceira todas as quintas entre as duas
horas e sete minutos e as quatro horas e quarenta e oito da tarde em bandos de estorninhos quinze
chauferes um cauteleiro sessenta e nove caloteiros identificados com o indicador da matildeo direita
noventa e seis donas-de-casa e igual nuacutemero de maridos operacionais quarenta e sete viuacutevas
praticantes vinte e seis viuacutevas protestantes e oito viuacutevas de fresco ainda indecisas sessenta e oito
cavalheiros satildeo simultaneamente irmatildeos devotos da Confraria de Nossa Senhora do Monte Carmelo
da Irmandade do Senhor dos Passos e da Ordem Terceira de Satildeo Francisco quatro agiotas
dissimulados que vestem de preto e usam chapeacuteu e que se sentam para o negoacutecio na terceira
10
banqueta do Paacutetio da Alfacircndega cinquenta agentes da Poliacutecia de Seguranccedila Puacuteblica dos quais trecircs
satildeo da Secreta e por isso para natildeo serem conhecidos trajam agrave paisana o Cebola o Tombado e o
Zarolho dois vendedores de milho torrado pevides e caramelos sugardady duzentas e nove beatas de
novena quarenta e oito de terccedilo e mantilha vinte devotas de enfeitar capelas dezassete de sacristia
catorze irmatildes de padre e meia duacutezia de sobrinhas um batalhatildeo de soldados do Castelo que aparecem
agrave boquinha da noite triste arrastando as botas tristes pelo empedrado tristonho trecircs namoradas de
aspirantes que fazem todas as recrutas uma meacutedia de um viacutergula oito por mil de americanos da United
States Air Force Azores Pochugal por dia facilmente reconheciacuteveis pelo tamanho dos peacutes e por uma
garrafa de Matioacutes Rosseacute danccedilando na matildeo direita quarenta e trecircs indiviacuteduos usam gravata verde
porque satildeo adeptos do Lusitacircnia e trinta e nove potildeem gravata vermelha porque satildeo soacutecios do Angrense
havendo que mencionar ainda dois laccedilos ndash um poeta e um boticaacuterio A cidade tem dezoito tabernas
seis cafeacutes e duas pastelarias
Vamos agora mudar o cenaacuteriordquo
- transcreve-se o poema ldquoRose era o nome de Rosardquo
A matildee disse natildeo mais natildeo mais eu natildeo mais tu filha natildeo mais nomes na pedra do cais natildeo mais o cortinado da ilha natildeo mais Rosa sejas Rose agora natildeo mais neacutevoas roxos ais natildeo mais a sorte caipora natildeo mais a ilha natildeo mais Poreacutem Rose o natildeo mais natildeo quis e quis ver a ilha do natildeo mais o cortinado roxo infeliz os nomes na pedra dos cais Pegou em si e foi-se embora
Natildeo mais Rose Rosa outra vez agora (My Californian Friends 1999 25)
Natildeo estaremos perante a mais pura accedilorianidade na literatura
chrys chrystello lomba da maia accedilores agosto 2010
Bibliografia 1) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1978) Raiz Comovida (A Semente
e a Seiva) 1ordf ed Centelha Coimbra 1978 (Preacutemio Ricardo Malheiros da Academia das Ciecircncias de Lisboa) 2ordf ed Bertrand 1980 (esgotado)
2) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1979) Raiz Comovida II (Vindima
de Fogo) 1ordf ed Centelha Coimbra 1979 (esgotado)
3) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1981) Raiz Comovida III (O Fruto e
o Sonho) 1ordf ed Angra do Heroiacutesmo SREC 1981 (esgotado)
4) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1986) Com Paulo Quintela Agrave Mesa da Tertuacutelia noacutetulas biograacuteficas) 1ordf ed Serviccedilo de
Publicaccedilotildees da Universidade de Coimbra 1986 2ordf ed Revista e aumentada (no 1ordm centenaacuterio do seu
11
nascimento) Imprensa da Universidade de Coimbra 2005
5) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1987) Raiz Comovida (trilogia romanesca) ed Num soacute volume Editorial Caminho 1987 2ordf ed Revista e remodelada Publicaccedilotildees Dom
Quixote Lisboa 2003 6) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1988) Passageiro em Tracircnsito
novela em espiral ou o romance de um ponto a que se vai acrescentando mais um conto) 1ordm ed Editora Signo
Ponta Delgada 1988 7) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1990) O Braccedilo Tatuado (narrativa
militar aplicada) Editora Signo 8) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1994) Passageiro em tracircnsito
Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 9) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1999) Relaccedilatildeo de Bordo (1964-
1988) diaacuterio ou nem tanto ou talvez muito mais Campo das Letras Porto 1999 (Grande Preacutemio APE CMP
2000) 10) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2000) Relaccedilatildeo de Bordo II (1989-
1992) diaacuterio ou nem tantohellip Campo das Letras 11) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Raiz Comovida Trilogia
Romanesca Lisboa Publicaccedilotildees Dom Quixote (Ediccedilatildeo revista e remodelada)
12) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Trasfega casos e contos Publicaccedilotildees Dom Quixote Preacutemio Miguel Torga 2002 1ordf
ed 2003 2ordf ed 2003 13) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2004) Nova Relaccedilatildeo de Bordo (III
Volume) diaacuterio ou nem tantohellip Publicaccedilotildees Dom Quixote 14) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2005) Marilha sequecircncia narrativa
Publicaccedilotildees D Quixote 15) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) A Tabuada do Tempo a
lenta narrativa dos dias Preacutemio Miguel Torga 2006 Livraria Almedina Coimbra
16) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) Miguel Torga O Lavrador das Letras um percurso partilhado Livraria Almedina
17) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Braccedilo Tatuado ndash Retalhos da guerra colonial ndash Nova versatildeo P D Quixote 2008 2ordf
ed 2008 18) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Charlas Sobre a Liacutengua
Portuguesa Livraria Almedina 2008 19) Barcelos J M Soares de (2008) Dicionaacuterio de Falares
dos Accedilores ed Almedina 20) BETTENCOURT Urbano (2004) Joseacute Martins Garcia a
palavra o riso Separata da revista Arquipeacutelago -Liacutenguas e Literaturas XVII Ponta Delgada Universidade Accedilores
21) BRANDAtildeO Raul (sd) As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens Lisboa Perspetivas amp Realidades sd
22) BRASIL Luiacutes Antoacutenio de Assis (1994) ldquoA Narrativa Accediloriana poacutes-Vinte e Cinco de Abrilrdquo in Organon vol 8
nordm 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 23) Chrystello J Chrys (2009) ChroacutenicAccedilores uma circum-
navegaccedilatildeo (vol 1) De Timor a Macau Austraacutelia Brasil Braganccedila ateacute aos Accedilores Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
24) Da Costa Vasco Pereira (1978) Nas Escadas do Impeacuterio Contos Coimbra Centelha 1978
25) Da Costa Vasco Pereira (1979) Amanhece a Cidade romance Coimbra ed Centelha
26) Da Costa Vasco Pereira (1980) Venho caacute mandado do Senhor Espiacuterito Santo novela ed Banco Espiacuterito Santo c Comercial de Lisboa Lisboa
27) Da Costa Vasco Pereira (1981) Ilhiacuteada (poesia) Angra
do Heroiacutesmo SREC col ldquoGaivotardquo 28) Da Costa Vasco Pereira (1984) Plantador de Palavras
Vendedor de Leacuterias Coimbra Cacircmara Municipal 1ordm Preacutemio Miguel Torga 1984
29) Da Costa Vasco Pereira (1987) Memoacuteria Breve contos Angra do Heroiacutesmo Instituto Accediloriano de Cultura
30) Da Costa Vasco Pereira (1992) Riscos de Marear (poesia) Ponta Delgada Eurosigno
31) Da Costa Vasco Pereira (1994) Sobre ripas sobre rimas Coimbra Minerva 1994
32) Da Costa Vasco Pereira (1997) Terras (poesia) 1ordf ed Porto Campo das Letras
33) Da Costa Vasco Pereira (1999) My Californian Friends ed Gaacutevea Brown
34) Da Costa Vasco Pereira (2000) My Californian Friends (2ordf Ediccedilatildeo) Viseu Palimage Editores
35) Da Silveira Pedro (1977) ldquoAccediloresrdquo Grande Dicionaacuterio de Literatura Portuguesa e de Teoria Literaacuteria (coordenaccedilatildeo
Joatildeo Joseacute Cochofel) 1977 1ordm vol 36) Da Silveira Pedro (1999) Fui ao Mar Buscar Laranjas
Angra Direccedilatildeo Regional da Cultura 37) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1978) Ah Mogravenim dum
Corisco (Teatro) New Bedford - Providence Gaacutevea Chama 2ordf ed 1989 3ordf ed 1998 Lisboa ed Salamandra
38) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1983) laquo(Sapa)teia Americana Lisboa Vega 1983 1ordf ed 2ordf ed 2000
Lisboa Salamandra 39) De Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura
Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo [as diversas posiccedilotildees teoacutericas ao longo do tempo e algumas
posiccedilotildees poleacutemicas] Angra do Heroiacutesmo SREC (org) 40) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1986) Da Literatura
Accediloriana Subsiacutedios para um Balanccedilo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
41) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1987) ldquoO que eacute a L(USA)LAcircNDIArdquo in L(USA)LAcircNDIA A deacutecima Ilha Angra do Heroiacutesmo SREC
42) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1994) Que nome eacute
esse oacute Neacutezimo ndash E outros adveacuterbios de duacutevida 1ordf ed Lisboa ed Salamandra
43) De Jesus Eduiacuteno (sd) ldquoBreve notiacutecia histoacuterica da poesia accediloriana de 1915 agrave atualidaderdquo in Estrada Larga vol 3
Porto Editora [sd] pp 425-430 44) De Melo Joseacute Dias (1958) Mar Rubro 1958 2ordf ed 1980
Lisboa ed Salamandra 45) De Melo Joseacute Dias (1964) Pedras Negras 2ordf ed
Lisboa Vega 1985 traduccedilatildeo para inglecircs 1988 Dark Stones ed Gaacutevea-Brown 4ordf ed VerAccedilor 2008
46) De Melo Joseacute Dias (1973) Na noite silenciosa (poesia) 1973 2ordf ed VerAccedilor 2007
47) De Melo Joseacute Dias (1976) Mar pela proa 1976 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
48) De Melo Joseacute Dias (1979) Vinde e Vede Narrativas Lisboa Editorial Ilhas
49) De Melo Joseacute Dias (1983) Vida vivida em terra de baleeiros Angra SREC 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
50) De Melo Joseacute Dias (1990) Das velas de lona agraves asas de alumiacutenio Lisboa ed Salamandra col Garajau
51) De Melo Joseacute Dias (1990) O autoacutegrafo 1990 Lisboa ed Salamandra 2ordf ed 1999 col Garajau
52) De Melo Joseacute Dias (1992) O Menino deixou de ser menino Lisboa ed Salamandra col Garajau
53) De Melo Joseacute Dias (1993) A Viagem do medo maior Lisboa ed Salamandra col Garajau
54) De Melo Joseacute Dias (1994) Pena dela saudades de mim Lisboa ed Salamandra col Garajau
55) De Melo Joseacute Dias (1995) Croacutenicas do Alto da Rocha do Canto da Baiacutea Lisboa ed Salamandra
56) De Melo Joseacute Dias (1996) Inverno sem primavera Lisboa ed Salamandra
57) De Melo Joseacute Dias (2000) Reviver na Festa da Vida a Festa da Morte Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo
58) De Melo Joseacute Dias (2001) Agrave Boquinha da noite Lisboa ed Salamandra
59) De Melo Joseacute Dias (2002) Milhas contadas Lisboa ed Salamandra
60) De Melo Joseacute Dias (2003) Pedras Negras Lisboa Ediccedilotildees Salamandra 3ordf ediccedilatildeo portuguesa
61) De Melo Joseacute Dias de (2004) Poeira do caminho Reminiscecircncias do Passado vivecircncias do Presente Porto Campo das Letras ndash Editores col ldquoInstantes de Leiturardquo
62) De MELO Joseacute Dias de (2007) Na noite silenciada Poemas de Natal Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
63) De MELO Joseacute Dias (2008) Mar Rubro Baleeiros do Pico Ponta Delgada Ver Accedilor Lda Editores 3ordf ediccedilatildeo
64) De Melo Joatildeo (1982) - Haacute ou Natildeo Uma Literatura Accediloriana Lisboa ed Vega
65) De Melo Joatildeo (1983) O Meu Mundo Natildeo eacute Deste Reino Lisboa Publ D Quixote traduzido nos Estados Unidos e
em Espanha 66) De Melo Joatildeo (1988) Gente Feliz com Laacutegrimas
Lisboa Publ D Quixote 1988 Traduzido em Espanha Franccedila Holanda Itaacutelia Romeacutenia e Bulgaacuteria
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau
7
eacute fruto de amores incompreendidos entre si e a sua ilha Psicanalisando as gentes e a terra que o viram nascer
adotou o Pico como nova ilha maacutetria em 1996 Como ele diz (Relaccedilatildeo de Bordo II pp 199-200) Primeiro foi a
ilha nunca mais a encontramos como a haviacuteamos deixadotrouxemos somente a imagem dela ou entatildeo foi
outra Ilha que connosco carregaacutemos
A escrita laacutevica de Cristoacutevatildeo fica a boiar no nosso imaginaacuterio Ningueacutem consegue escrever da forma uacutenica
e inimitaacutevel como soacute ele sabe e sente sobre os Accedilores Essa a sua forma de amar e de recompensar a terra que
o viu nascerpara que desate as grilhetas que a encarceram no passado e ele se desobrigue finalmente da
tarefa hercuacutelea de carregar a ilha como um fardo ou amor natildeo-correspondido que nisto de ilharias haacute muitas
paixotildees natildeo correspondidas Eacute um liacutedimo representante da mundividecircncia accediloriana na escrita contemporacircnea e
eacute tarefa dos Coloacutequios da Lusofonia tornaacute-lo benquisto e conhecido no mundo inteiro Com a literatura os autores
accedilorianos iam chegar mais longe Libertar-se Para isso teriam de mondar mercados novos e virgens como a
selva amazoacutenica antes dos novos bandeirantes Se natildeo chegassem agraves novas geraccedilotildees accedilorianas poderiam
alcanccedilar descendentes expatriados e os que aprendem o orgulho da naccedilatildeo accediloriana na sua cultura tradiccedilatildeo e
outros valores primordiais que tatildeo arredados das escolas andam hoje Mas os coloacutequios queriam levaacute-los a
mercados e leitores insuspeitos ateacute agrave velha Cortina de Ferro onde haacute apetecircncia para escritores lusoacutefonos
A ilha para Nataacutelia Correia eacute Matildee-Ilha para Cristoacutevatildeo de Aguiar Marilha para Daniel de Saacute Ilha-Matildee
para Vasco Pereira da Costa Ilha Menina para mim nem matildee nem madrasta nem Mariacutelia nem menina mas
Ilha-Filha que nunca enteada Para amar sem tocar ver engrandecer nas dores da adolescecircncia que satildeo sempre
partos difiacuteceis Toda a vida fui ilheacuteu perdi sotaques Ma natildeo malbaratei as minhas ilhas-filhas Trago-as a
reboque colar multifacetado de vivecircncias dos mundos e culturas distantes Primeiro em Portugal ilhota perdida
da Europa durante o Estado Novo seguidamente em mais um capiacutetulo naufragado da Histoacuteria Traacutegico-mariacutetima
nas ilhas de Timor e de Bali seguido da entatildeo (pen)iacutensula de Macau (fechada da China pelas Portas do Cerco)
da imensa ilha-continente denominada Austraacutelia e nesta ilhoa esquecida de Braganccedila no nordeste
transmontano antes de arribar agrave Atlacircntida Accedilores
Cumes de montanhas submersas que assomam a intervalos aqui no meio do Grande Mar Oceano onde
se mantecircm gentes orgulhosas e ciosas das suas tradiccedilotildees e costumes em torno da famiacutelia nuclear dizimada
pelo chamado progresso Os poliacuteticos ocupados na sua sobrevivecircncia sempre se olvidaram da presenccedila maacutegica
destas ilhas de reduzidas proporccedilotildees e populaccedilotildees Como se fosse uma espeacutecie de triacircngulo das Bermudas
onde tudo o que eacute relevante desaparece dos telejornais Jaacute era assim durante o Estado Novo e pouco mudou
quanto agrave visibilidade real destas iacutensulas apenas evocadas pelas cataacutestrofes naturais e pelo anticiclone do bom
ou mau tempo
Falemos da literatura Acolhemos nos Coloacutequios como premissa o conceito de accedilorianidade formulado
por Joseacute Martins Garcia que laquopor envolver domiacutenios muito mais vastos que o da simples literaturaraquo admite a
existecircncia de uma literatura accediloriana laquoenquanto superstrutura emanada dum habitat duma vivecircncia e duma
mundividecircnciaraquo1
No 4ordm Encontro Accediloriano da Lusofonia Cristoacutevatildeo de Aguiar rejeitou o roacutetulo de literatura accediloriana por
considerar que faz parte da produccedilatildeo literaacuteria lusoacutefona laquoO tiacutetulo (literatura accediloriana) eacute equiacutevoco porque pode
parecer que eacute uma literatura separada da literatura portuguesaraquo afirmou agrave agecircncia Lusa o escritor Machado
Pires sugeriu em tempos ldquoliteratura de significaccedilatildeo accedilorianardquo Outros preferem o termo ldquomatriz accedilorianardquo Haacute
vaacuterios tipos de autores os accedilorianos nascidos e vividos no arquipeacutelago (ausentes ou natildeo) os emigrados os
descendentes os insularizados ou ilhanizados e os estrangeiros que escrevem sobre os Accedilores Falta destrinccedilar
se os podemos incluir a todos nessa designaccedilatildeo accediloacuterica Lentamente todos encontraram o seu espaccedilo natildeo
havendo miacutengua de quantidade mas frequentemente sem projeccedilatildeo fora das ilhas com exceccedilotildees
contemporacircneas como as de Joatildeo de Melo Cristoacutevatildeo de Aguiar Daniel de Saacute Vasco Pereira da Costa e
Dias de Melo para citar alguns
1 httplusofoniacomsapoptacoresacorianidade_pavao_1988htm_ftn11_ftn11
8
Quedemo-nos doravante na perspicaz apreciaccedilatildeo que faz Cristoacutevatildeo de Aguiar da obra intitulada Nas
Escadas do Impeacuterio de Vasco Pereira da Costa autor que hoje eacute aqui homenageado
ldquoNatildeo eacute por acaso que Vasco Pereira da Costa poeta de meacuterito mas ainda no silecircncio da
gaveta se apresenta no mundo das letras sobraccedilando uma coletacircnea de contos Numa terra onde quase
todos sacrificam agraves (as) musas e se tornou quase regra a estreia com um livrinho de poemas a atitude
(ou opccedilatildeo) do autor de Nas Escadas do Impeacuterio natildeo deixa de ser de certo modo corajosa como
corajosos satildeo os contos que este livro integra Natildeo fora o receio de escorregar na casca do lugar-
comum e eu diria que esta mancheia de contos vivos arrancados com matildeos haacutebeis e um sentido
linguiacutestico apuradiacutessimo ao ventre uacutebere mas ainda mal conhecido da sua terra de origem vem agitar
as aacuteguas paradas onde se situa o panorama nebuloso e um tanto equiacutevoco da literatura de expressatildeo
accediloriana O conto que abre esta coletacircnea Faia da Terra eacute bem a prova do telurismo no sentido
torguiano do termo de que o jovem escritor (Angra do Heroiacutesmo Junho de 1948) estaacute imbuiacutedo sem
cair no pitoresco regionalista tatildeo do agrado de muitos escritores accedilorianos Natildeo resta a miacutenima duacutevida
de que o Gibicas A Fuga e outras peccedilas de antologia que aqui figuram vecircm contribuir para o
enriquecimento do conto portuguecircs de especificidade e carateriacutestica accediloriana Contudo Vasco Pereira
da Costa corre o risco (e ele mais do que ningueacutem disso estaacute consciente) de vir a ser queimado nas
labaredas inquisitoriais de certos meios ideoloacutegico-literaacuterios accedilorianos que tecircm tentado
oportunisticamente mas sem raiacutezes verdadeiras edificar [] uma literatura accediloriana em oposiccedilatildeo agrave
Literatura Portuguesa Nas Escadas do Impeacuterio quer queiram ou natildeo os arautos da mediocracia vem
dizer-nos exatamente o contraacuteriordquo
Com efeito natildeo podia deixar de ser mais justo o juiacutezo de valor supracitado
- Em primeiro lugar estreia-se Vasco Pereira da Costa em 1978 com a coletacircnea de contos Nas
Escadas do Impeacuterio agrave qual se seguiratildeo a novela Amanhece a Cidade (1979) a memoacuteria Venho caacute
mandado do Senhor Espiacuterito Santo (1980) os poemas de Ilhiacuteada (1981) Plantador de palavras
Vendedor de leacuterias antologia de novelas galardoada com o preacutemio Miguel Torga no ano de 1984
Memoacuteria Breve (1987) Risco de marear (Poemas em 1992) e por fim trecircs obras poeacuteticas a saber
Sobre Ripas Sobre Rimas Terras e My Californian Friends (respetivamente publicadas em 1994 1997
e 1999)
- Em segundo lugar urge referir a originalidade de Vasco Pereira da Costa evidente tanto na sua obra
poeacutetica como na sua prosa que vem segundo o Autor de Raiz Comovida agitar as letras accedilorianas
Assim sendo e numa perspetiva temaacutetica cumpre realccedilar o telurismo genuiacuteno patente em ldquoFaia da
Terrardquo histoacuteria do enamoramento de Teresa por um americano da Base da sua subsequente partida
para o Novo Mundo jaacute com o nome de Mrs Teresa Piel e da secagem da faia dois meses apoacutes a
descolagem do aviatildeo da Pan America Nesta novela inaugural perpassam vivamente como que
fotografadas ao vivo as rotineiras fainas insulares que pela via da repeticcedilatildeo regem o quotidiano do
ilheacuteu ldquoEra sexta-feira e a matildee amassava o crescente com a farinha de milho No forno estalavam a
rapa o eucalipto e o loiro [] Lavou depois as folhas de botar patildeo e veio sentar-se ao peacute dos meus
socos de milho ndash bois de veras espetados com palhitos queimados arremedando os galhos ndash no estrado
do meio-da-casa Arrumou as galochas no sobrado [] rdquo (1978 11)
Por vezes eacute a loucura insular que faz a sua apariccedilatildeo em cena na figura do poeta Vicente ldquoum Cocircrte-Real
impotente tacanho e degenerescenterdquo (1978 71) o qual volvido esse tempo em ldquoque escrevia coisas tatildeo
lindas de tanto sentimentordquo tem o despauteacuterio de acumular guarda-chuvas na falsa e de publicar no jornal
da Ilha desairosos alinhavos poeacuteticos ldquoPrometeu Prometeu Natildeo cumpriu A promessa Homessardquo (ldquoA
Fugardquo 1978 74)
- Em terceiro lugar e ainda na oacutetica de Cristoacutevatildeo de Aguiar a coragem de Vasco Pereira da Costa que
a saacutetira nas suas diversas vertentes revela agrave saciedade Assim sendo atente-se quer na criacutetica ao
9
salazarismo regime repressor totalitaacuterio e punitivo dos que ousam transgredir as regras impostas -
ldquoComo vim aqui [agrave ilha] parar Eacute simples por ser anarquista e natildeo peitear o Manholas de Santa Combardquo
(ldquoO Manel drsquoArriagardquo 1978 31) - quer na criacutetica agrave mentalidade mediacuteocre cuja pequenez
constrangedora se espraia em espaccedilo iacutentimo e puacuteblico pela vida de outrem tatildeo sigilosamente
resguardada quanto violada de supetatildeo - ldquo [] cada qual dava a sua sentenccedila todos em grande pensatildeo
e natildeo havia alcatra de couves que agrave hora da ceia natildeo fosse temperada com palpites de desenlacerdquo
(ldquoPrimaverardquo 1978 59) - quer na criacutetica ao jornalismo barato e ao provincianismo dos articulistas cujo
discurso pouco inovador se vai ritualizando - ldquoComeccedilou entatildeo o embaraccedilo No jornal de amanhatilde por
entre os aniversaacuterios da gente fina [] as partidas e as chegadas os partos e as notiacutecias do Paiacutes e do
Estrangeiro os casamentos e os pedidos de os horaacuterios de barcos e de aviotildees as oraccedilotildees ao Menino
Jesus de Praga e ao divino Espiacuterito Santo [] rdquo (ldquoA Fugardquo 1978 82-83) - quer por fim na criacutetica a uma
certa lsquocultura de superioridadersquo que lsquoMestrersquo Gibicas se apresta a denegar ldquo [] estaacutevamos de liacutengua
entre os dentes para sibilar o th O professor fazia empenho pois [] era uma vergonha virem por aiacute
abaixo os americanos e noacutes sem sabermos agradecer [] Ateacute que foi a tua vez [Gibicas] [] Agarraste
na caixinha vermelha azul e branca com as estrelinhas desse people para o nosso povo e sem esperar
o afago da farda grandalhona gritaste-lhes alto como ningueacutem ainda o fizera - SANABOBICHASrdquo
(ldquoGibicasrdquo 1978 137-138-141) Em asterisco de rodapeacute explica o Autor o neologismo ldquoSon of a bitchrdquo
- Em quarto lugar a variedade genoloacutegica em que se move o Escritor homenageado desde o conto e a
novela ateacute agrave memoacuteria e agrave ldquocroacutenicardquo breve passando pela Poesia E a este propoacutesito natildeo resistimos agrave
tentaccedilatildeo de transcrever dois excertos O primeiro de o Plantador de Palavras
ldquoAh meus senhores mas isto aqui natildeo eacute a Itaacutelia Eacute a mui nobre leal e sempre constante cidade de Angra
do Heroiacutesmo ao tempo em que o Autor nela carregava a sua adolescecircncia de amores temores e
rancores Como podem observar uma cidade espartilhada entre mar e mar com dois castelos a
estrangulaacute-la com suas casas nobres por fora e burguesiacutessimas por dentro praccedilas com estaacutetuas e
engraxadores lojas sonolentas comerciantes lentos e clientes ensonados automobilistas
imprevidentes nos seus vinte agrave hora que quase atropelam a distraccedilatildeo dos peotildees um governador civil
e trecircs governadores militares cinquenta e sete prostitutas dezanove bombeiros voluntaacuterios que
voluntariamente vatildeo de borla ao cinema vinte e cinco meninas que namoram agrave janela e estatiacutesticas de
ontem catorze desfloradas nos saguotildees um bispo dois monsenhores sete coacutenegos na sua Catedral
trecircs parvos oficiais que fornecem o riso oficial e obrigatoacuterio nos dias uacuteteis e inuacuteteis um Presidente para
a sua Cacircmara com o seu secretaacuterio e um contiacutenuo ndash que por ser funcionaacuterio puacuteblico natildeo estaacute incluiacutedo
no nuacutemero dos trecircs parvos oficiais que o quadro comporta Esta cidade tem trinta e quatro velhas de
lenccedilo e trecircs senhoras idosas de chapeacuteu quarenta e sete becircbados e oito senhores que andam agraves vezes
alegrinhos cento e vinte e nove rapazes cento e trinta e duas raparigas vinte e dois meninos e trinta e
uma meninas o nuacutemero de naiotildees ndash invertidos encartados e Soacutecios de Meacuterito da Corporaccedilatildeo das
Criadas de Servir ndash eacute de setenta e sete mas nunca foi feito o recenseamento dos homens com pitafe
quarenta e trecircs professores do Liceu dos quais vinte satildeo professores do Seminaacuterio Maior onde haacute
quinhentos e setenta e oito seminaristas menores dos quais oitenta e nove viacutergula seis por cento
oriundos da cristianiacutessima ilha de Satildeo Miguel o Arcanjo e do Senhor Santo Cristo dos Milagres e ainda
de outros Senhores que se passeiam no Jardim Duque da Terceira todas as quintas entre as duas
horas e sete minutos e as quatro horas e quarenta e oito da tarde em bandos de estorninhos quinze
chauferes um cauteleiro sessenta e nove caloteiros identificados com o indicador da matildeo direita
noventa e seis donas-de-casa e igual nuacutemero de maridos operacionais quarenta e sete viuacutevas
praticantes vinte e seis viuacutevas protestantes e oito viuacutevas de fresco ainda indecisas sessenta e oito
cavalheiros satildeo simultaneamente irmatildeos devotos da Confraria de Nossa Senhora do Monte Carmelo
da Irmandade do Senhor dos Passos e da Ordem Terceira de Satildeo Francisco quatro agiotas
dissimulados que vestem de preto e usam chapeacuteu e que se sentam para o negoacutecio na terceira
10
banqueta do Paacutetio da Alfacircndega cinquenta agentes da Poliacutecia de Seguranccedila Puacuteblica dos quais trecircs
satildeo da Secreta e por isso para natildeo serem conhecidos trajam agrave paisana o Cebola o Tombado e o
Zarolho dois vendedores de milho torrado pevides e caramelos sugardady duzentas e nove beatas de
novena quarenta e oito de terccedilo e mantilha vinte devotas de enfeitar capelas dezassete de sacristia
catorze irmatildes de padre e meia duacutezia de sobrinhas um batalhatildeo de soldados do Castelo que aparecem
agrave boquinha da noite triste arrastando as botas tristes pelo empedrado tristonho trecircs namoradas de
aspirantes que fazem todas as recrutas uma meacutedia de um viacutergula oito por mil de americanos da United
States Air Force Azores Pochugal por dia facilmente reconheciacuteveis pelo tamanho dos peacutes e por uma
garrafa de Matioacutes Rosseacute danccedilando na matildeo direita quarenta e trecircs indiviacuteduos usam gravata verde
porque satildeo adeptos do Lusitacircnia e trinta e nove potildeem gravata vermelha porque satildeo soacutecios do Angrense
havendo que mencionar ainda dois laccedilos ndash um poeta e um boticaacuterio A cidade tem dezoito tabernas
seis cafeacutes e duas pastelarias
Vamos agora mudar o cenaacuteriordquo
- transcreve-se o poema ldquoRose era o nome de Rosardquo
A matildee disse natildeo mais natildeo mais eu natildeo mais tu filha natildeo mais nomes na pedra do cais natildeo mais o cortinado da ilha natildeo mais Rosa sejas Rose agora natildeo mais neacutevoas roxos ais natildeo mais a sorte caipora natildeo mais a ilha natildeo mais Poreacutem Rose o natildeo mais natildeo quis e quis ver a ilha do natildeo mais o cortinado roxo infeliz os nomes na pedra dos cais Pegou em si e foi-se embora
Natildeo mais Rose Rosa outra vez agora (My Californian Friends 1999 25)
Natildeo estaremos perante a mais pura accedilorianidade na literatura
chrys chrystello lomba da maia accedilores agosto 2010
Bibliografia 1) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1978) Raiz Comovida (A Semente
e a Seiva) 1ordf ed Centelha Coimbra 1978 (Preacutemio Ricardo Malheiros da Academia das Ciecircncias de Lisboa) 2ordf ed Bertrand 1980 (esgotado)
2) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1979) Raiz Comovida II (Vindima
de Fogo) 1ordf ed Centelha Coimbra 1979 (esgotado)
3) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1981) Raiz Comovida III (O Fruto e
o Sonho) 1ordf ed Angra do Heroiacutesmo SREC 1981 (esgotado)
4) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1986) Com Paulo Quintela Agrave Mesa da Tertuacutelia noacutetulas biograacuteficas) 1ordf ed Serviccedilo de
Publicaccedilotildees da Universidade de Coimbra 1986 2ordf ed Revista e aumentada (no 1ordm centenaacuterio do seu
11
nascimento) Imprensa da Universidade de Coimbra 2005
5) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1987) Raiz Comovida (trilogia romanesca) ed Num soacute volume Editorial Caminho 1987 2ordf ed Revista e remodelada Publicaccedilotildees Dom
Quixote Lisboa 2003 6) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1988) Passageiro em Tracircnsito
novela em espiral ou o romance de um ponto a que se vai acrescentando mais um conto) 1ordm ed Editora Signo
Ponta Delgada 1988 7) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1990) O Braccedilo Tatuado (narrativa
militar aplicada) Editora Signo 8) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1994) Passageiro em tracircnsito
Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 9) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1999) Relaccedilatildeo de Bordo (1964-
1988) diaacuterio ou nem tanto ou talvez muito mais Campo das Letras Porto 1999 (Grande Preacutemio APE CMP
2000) 10) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2000) Relaccedilatildeo de Bordo II (1989-
1992) diaacuterio ou nem tantohellip Campo das Letras 11) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Raiz Comovida Trilogia
Romanesca Lisboa Publicaccedilotildees Dom Quixote (Ediccedilatildeo revista e remodelada)
12) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Trasfega casos e contos Publicaccedilotildees Dom Quixote Preacutemio Miguel Torga 2002 1ordf
ed 2003 2ordf ed 2003 13) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2004) Nova Relaccedilatildeo de Bordo (III
Volume) diaacuterio ou nem tantohellip Publicaccedilotildees Dom Quixote 14) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2005) Marilha sequecircncia narrativa
Publicaccedilotildees D Quixote 15) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) A Tabuada do Tempo a
lenta narrativa dos dias Preacutemio Miguel Torga 2006 Livraria Almedina Coimbra
16) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) Miguel Torga O Lavrador das Letras um percurso partilhado Livraria Almedina
17) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Braccedilo Tatuado ndash Retalhos da guerra colonial ndash Nova versatildeo P D Quixote 2008 2ordf
ed 2008 18) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Charlas Sobre a Liacutengua
Portuguesa Livraria Almedina 2008 19) Barcelos J M Soares de (2008) Dicionaacuterio de Falares
dos Accedilores ed Almedina 20) BETTENCOURT Urbano (2004) Joseacute Martins Garcia a
palavra o riso Separata da revista Arquipeacutelago -Liacutenguas e Literaturas XVII Ponta Delgada Universidade Accedilores
21) BRANDAtildeO Raul (sd) As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens Lisboa Perspetivas amp Realidades sd
22) BRASIL Luiacutes Antoacutenio de Assis (1994) ldquoA Narrativa Accediloriana poacutes-Vinte e Cinco de Abrilrdquo in Organon vol 8
nordm 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 23) Chrystello J Chrys (2009) ChroacutenicAccedilores uma circum-
navegaccedilatildeo (vol 1) De Timor a Macau Austraacutelia Brasil Braganccedila ateacute aos Accedilores Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
24) Da Costa Vasco Pereira (1978) Nas Escadas do Impeacuterio Contos Coimbra Centelha 1978
25) Da Costa Vasco Pereira (1979) Amanhece a Cidade romance Coimbra ed Centelha
26) Da Costa Vasco Pereira (1980) Venho caacute mandado do Senhor Espiacuterito Santo novela ed Banco Espiacuterito Santo c Comercial de Lisboa Lisboa
27) Da Costa Vasco Pereira (1981) Ilhiacuteada (poesia) Angra
do Heroiacutesmo SREC col ldquoGaivotardquo 28) Da Costa Vasco Pereira (1984) Plantador de Palavras
Vendedor de Leacuterias Coimbra Cacircmara Municipal 1ordm Preacutemio Miguel Torga 1984
29) Da Costa Vasco Pereira (1987) Memoacuteria Breve contos Angra do Heroiacutesmo Instituto Accediloriano de Cultura
30) Da Costa Vasco Pereira (1992) Riscos de Marear (poesia) Ponta Delgada Eurosigno
31) Da Costa Vasco Pereira (1994) Sobre ripas sobre rimas Coimbra Minerva 1994
32) Da Costa Vasco Pereira (1997) Terras (poesia) 1ordf ed Porto Campo das Letras
33) Da Costa Vasco Pereira (1999) My Californian Friends ed Gaacutevea Brown
34) Da Costa Vasco Pereira (2000) My Californian Friends (2ordf Ediccedilatildeo) Viseu Palimage Editores
35) Da Silveira Pedro (1977) ldquoAccediloresrdquo Grande Dicionaacuterio de Literatura Portuguesa e de Teoria Literaacuteria (coordenaccedilatildeo
Joatildeo Joseacute Cochofel) 1977 1ordm vol 36) Da Silveira Pedro (1999) Fui ao Mar Buscar Laranjas
Angra Direccedilatildeo Regional da Cultura 37) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1978) Ah Mogravenim dum
Corisco (Teatro) New Bedford - Providence Gaacutevea Chama 2ordf ed 1989 3ordf ed 1998 Lisboa ed Salamandra
38) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1983) laquo(Sapa)teia Americana Lisboa Vega 1983 1ordf ed 2ordf ed 2000
Lisboa Salamandra 39) De Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura
Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo [as diversas posiccedilotildees teoacutericas ao longo do tempo e algumas
posiccedilotildees poleacutemicas] Angra do Heroiacutesmo SREC (org) 40) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1986) Da Literatura
Accediloriana Subsiacutedios para um Balanccedilo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
41) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1987) ldquoO que eacute a L(USA)LAcircNDIArdquo in L(USA)LAcircNDIA A deacutecima Ilha Angra do Heroiacutesmo SREC
42) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1994) Que nome eacute
esse oacute Neacutezimo ndash E outros adveacuterbios de duacutevida 1ordf ed Lisboa ed Salamandra
43) De Jesus Eduiacuteno (sd) ldquoBreve notiacutecia histoacuterica da poesia accediloriana de 1915 agrave atualidaderdquo in Estrada Larga vol 3
Porto Editora [sd] pp 425-430 44) De Melo Joseacute Dias (1958) Mar Rubro 1958 2ordf ed 1980
Lisboa ed Salamandra 45) De Melo Joseacute Dias (1964) Pedras Negras 2ordf ed
Lisboa Vega 1985 traduccedilatildeo para inglecircs 1988 Dark Stones ed Gaacutevea-Brown 4ordf ed VerAccedilor 2008
46) De Melo Joseacute Dias (1973) Na noite silenciosa (poesia) 1973 2ordf ed VerAccedilor 2007
47) De Melo Joseacute Dias (1976) Mar pela proa 1976 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
48) De Melo Joseacute Dias (1979) Vinde e Vede Narrativas Lisboa Editorial Ilhas
49) De Melo Joseacute Dias (1983) Vida vivida em terra de baleeiros Angra SREC 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
50) De Melo Joseacute Dias (1990) Das velas de lona agraves asas de alumiacutenio Lisboa ed Salamandra col Garajau
51) De Melo Joseacute Dias (1990) O autoacutegrafo 1990 Lisboa ed Salamandra 2ordf ed 1999 col Garajau
52) De Melo Joseacute Dias (1992) O Menino deixou de ser menino Lisboa ed Salamandra col Garajau
53) De Melo Joseacute Dias (1993) A Viagem do medo maior Lisboa ed Salamandra col Garajau
54) De Melo Joseacute Dias (1994) Pena dela saudades de mim Lisboa ed Salamandra col Garajau
55) De Melo Joseacute Dias (1995) Croacutenicas do Alto da Rocha do Canto da Baiacutea Lisboa ed Salamandra
56) De Melo Joseacute Dias (1996) Inverno sem primavera Lisboa ed Salamandra
57) De Melo Joseacute Dias (2000) Reviver na Festa da Vida a Festa da Morte Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo
58) De Melo Joseacute Dias (2001) Agrave Boquinha da noite Lisboa ed Salamandra
59) De Melo Joseacute Dias (2002) Milhas contadas Lisboa ed Salamandra
60) De Melo Joseacute Dias (2003) Pedras Negras Lisboa Ediccedilotildees Salamandra 3ordf ediccedilatildeo portuguesa
61) De Melo Joseacute Dias de (2004) Poeira do caminho Reminiscecircncias do Passado vivecircncias do Presente Porto Campo das Letras ndash Editores col ldquoInstantes de Leiturardquo
62) De MELO Joseacute Dias de (2007) Na noite silenciada Poemas de Natal Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
63) De MELO Joseacute Dias (2008) Mar Rubro Baleeiros do Pico Ponta Delgada Ver Accedilor Lda Editores 3ordf ediccedilatildeo
64) De Melo Joatildeo (1982) - Haacute ou Natildeo Uma Literatura Accediloriana Lisboa ed Vega
65) De Melo Joatildeo (1983) O Meu Mundo Natildeo eacute Deste Reino Lisboa Publ D Quixote traduzido nos Estados Unidos e
em Espanha 66) De Melo Joatildeo (1988) Gente Feliz com Laacutegrimas
Lisboa Publ D Quixote 1988 Traduzido em Espanha Franccedila Holanda Itaacutelia Romeacutenia e Bulgaacuteria
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau
8
Quedemo-nos doravante na perspicaz apreciaccedilatildeo que faz Cristoacutevatildeo de Aguiar da obra intitulada Nas
Escadas do Impeacuterio de Vasco Pereira da Costa autor que hoje eacute aqui homenageado
ldquoNatildeo eacute por acaso que Vasco Pereira da Costa poeta de meacuterito mas ainda no silecircncio da
gaveta se apresenta no mundo das letras sobraccedilando uma coletacircnea de contos Numa terra onde quase
todos sacrificam agraves (as) musas e se tornou quase regra a estreia com um livrinho de poemas a atitude
(ou opccedilatildeo) do autor de Nas Escadas do Impeacuterio natildeo deixa de ser de certo modo corajosa como
corajosos satildeo os contos que este livro integra Natildeo fora o receio de escorregar na casca do lugar-
comum e eu diria que esta mancheia de contos vivos arrancados com matildeos haacutebeis e um sentido
linguiacutestico apuradiacutessimo ao ventre uacutebere mas ainda mal conhecido da sua terra de origem vem agitar
as aacuteguas paradas onde se situa o panorama nebuloso e um tanto equiacutevoco da literatura de expressatildeo
accediloriana O conto que abre esta coletacircnea Faia da Terra eacute bem a prova do telurismo no sentido
torguiano do termo de que o jovem escritor (Angra do Heroiacutesmo Junho de 1948) estaacute imbuiacutedo sem
cair no pitoresco regionalista tatildeo do agrado de muitos escritores accedilorianos Natildeo resta a miacutenima duacutevida
de que o Gibicas A Fuga e outras peccedilas de antologia que aqui figuram vecircm contribuir para o
enriquecimento do conto portuguecircs de especificidade e carateriacutestica accediloriana Contudo Vasco Pereira
da Costa corre o risco (e ele mais do que ningueacutem disso estaacute consciente) de vir a ser queimado nas
labaredas inquisitoriais de certos meios ideoloacutegico-literaacuterios accedilorianos que tecircm tentado
oportunisticamente mas sem raiacutezes verdadeiras edificar [] uma literatura accediloriana em oposiccedilatildeo agrave
Literatura Portuguesa Nas Escadas do Impeacuterio quer queiram ou natildeo os arautos da mediocracia vem
dizer-nos exatamente o contraacuteriordquo
Com efeito natildeo podia deixar de ser mais justo o juiacutezo de valor supracitado
- Em primeiro lugar estreia-se Vasco Pereira da Costa em 1978 com a coletacircnea de contos Nas
Escadas do Impeacuterio agrave qual se seguiratildeo a novela Amanhece a Cidade (1979) a memoacuteria Venho caacute
mandado do Senhor Espiacuterito Santo (1980) os poemas de Ilhiacuteada (1981) Plantador de palavras
Vendedor de leacuterias antologia de novelas galardoada com o preacutemio Miguel Torga no ano de 1984
Memoacuteria Breve (1987) Risco de marear (Poemas em 1992) e por fim trecircs obras poeacuteticas a saber
Sobre Ripas Sobre Rimas Terras e My Californian Friends (respetivamente publicadas em 1994 1997
e 1999)
- Em segundo lugar urge referir a originalidade de Vasco Pereira da Costa evidente tanto na sua obra
poeacutetica como na sua prosa que vem segundo o Autor de Raiz Comovida agitar as letras accedilorianas
Assim sendo e numa perspetiva temaacutetica cumpre realccedilar o telurismo genuiacuteno patente em ldquoFaia da
Terrardquo histoacuteria do enamoramento de Teresa por um americano da Base da sua subsequente partida
para o Novo Mundo jaacute com o nome de Mrs Teresa Piel e da secagem da faia dois meses apoacutes a
descolagem do aviatildeo da Pan America Nesta novela inaugural perpassam vivamente como que
fotografadas ao vivo as rotineiras fainas insulares que pela via da repeticcedilatildeo regem o quotidiano do
ilheacuteu ldquoEra sexta-feira e a matildee amassava o crescente com a farinha de milho No forno estalavam a
rapa o eucalipto e o loiro [] Lavou depois as folhas de botar patildeo e veio sentar-se ao peacute dos meus
socos de milho ndash bois de veras espetados com palhitos queimados arremedando os galhos ndash no estrado
do meio-da-casa Arrumou as galochas no sobrado [] rdquo (1978 11)
Por vezes eacute a loucura insular que faz a sua apariccedilatildeo em cena na figura do poeta Vicente ldquoum Cocircrte-Real
impotente tacanho e degenerescenterdquo (1978 71) o qual volvido esse tempo em ldquoque escrevia coisas tatildeo
lindas de tanto sentimentordquo tem o despauteacuterio de acumular guarda-chuvas na falsa e de publicar no jornal
da Ilha desairosos alinhavos poeacuteticos ldquoPrometeu Prometeu Natildeo cumpriu A promessa Homessardquo (ldquoA
Fugardquo 1978 74)
- Em terceiro lugar e ainda na oacutetica de Cristoacutevatildeo de Aguiar a coragem de Vasco Pereira da Costa que
a saacutetira nas suas diversas vertentes revela agrave saciedade Assim sendo atente-se quer na criacutetica ao
9
salazarismo regime repressor totalitaacuterio e punitivo dos que ousam transgredir as regras impostas -
ldquoComo vim aqui [agrave ilha] parar Eacute simples por ser anarquista e natildeo peitear o Manholas de Santa Combardquo
(ldquoO Manel drsquoArriagardquo 1978 31) - quer na criacutetica agrave mentalidade mediacuteocre cuja pequenez
constrangedora se espraia em espaccedilo iacutentimo e puacuteblico pela vida de outrem tatildeo sigilosamente
resguardada quanto violada de supetatildeo - ldquo [] cada qual dava a sua sentenccedila todos em grande pensatildeo
e natildeo havia alcatra de couves que agrave hora da ceia natildeo fosse temperada com palpites de desenlacerdquo
(ldquoPrimaverardquo 1978 59) - quer na criacutetica ao jornalismo barato e ao provincianismo dos articulistas cujo
discurso pouco inovador se vai ritualizando - ldquoComeccedilou entatildeo o embaraccedilo No jornal de amanhatilde por
entre os aniversaacuterios da gente fina [] as partidas e as chegadas os partos e as notiacutecias do Paiacutes e do
Estrangeiro os casamentos e os pedidos de os horaacuterios de barcos e de aviotildees as oraccedilotildees ao Menino
Jesus de Praga e ao divino Espiacuterito Santo [] rdquo (ldquoA Fugardquo 1978 82-83) - quer por fim na criacutetica a uma
certa lsquocultura de superioridadersquo que lsquoMestrersquo Gibicas se apresta a denegar ldquo [] estaacutevamos de liacutengua
entre os dentes para sibilar o th O professor fazia empenho pois [] era uma vergonha virem por aiacute
abaixo os americanos e noacutes sem sabermos agradecer [] Ateacute que foi a tua vez [Gibicas] [] Agarraste
na caixinha vermelha azul e branca com as estrelinhas desse people para o nosso povo e sem esperar
o afago da farda grandalhona gritaste-lhes alto como ningueacutem ainda o fizera - SANABOBICHASrdquo
(ldquoGibicasrdquo 1978 137-138-141) Em asterisco de rodapeacute explica o Autor o neologismo ldquoSon of a bitchrdquo
- Em quarto lugar a variedade genoloacutegica em que se move o Escritor homenageado desde o conto e a
novela ateacute agrave memoacuteria e agrave ldquocroacutenicardquo breve passando pela Poesia E a este propoacutesito natildeo resistimos agrave
tentaccedilatildeo de transcrever dois excertos O primeiro de o Plantador de Palavras
ldquoAh meus senhores mas isto aqui natildeo eacute a Itaacutelia Eacute a mui nobre leal e sempre constante cidade de Angra
do Heroiacutesmo ao tempo em que o Autor nela carregava a sua adolescecircncia de amores temores e
rancores Como podem observar uma cidade espartilhada entre mar e mar com dois castelos a
estrangulaacute-la com suas casas nobres por fora e burguesiacutessimas por dentro praccedilas com estaacutetuas e
engraxadores lojas sonolentas comerciantes lentos e clientes ensonados automobilistas
imprevidentes nos seus vinte agrave hora que quase atropelam a distraccedilatildeo dos peotildees um governador civil
e trecircs governadores militares cinquenta e sete prostitutas dezanove bombeiros voluntaacuterios que
voluntariamente vatildeo de borla ao cinema vinte e cinco meninas que namoram agrave janela e estatiacutesticas de
ontem catorze desfloradas nos saguotildees um bispo dois monsenhores sete coacutenegos na sua Catedral
trecircs parvos oficiais que fornecem o riso oficial e obrigatoacuterio nos dias uacuteteis e inuacuteteis um Presidente para
a sua Cacircmara com o seu secretaacuterio e um contiacutenuo ndash que por ser funcionaacuterio puacuteblico natildeo estaacute incluiacutedo
no nuacutemero dos trecircs parvos oficiais que o quadro comporta Esta cidade tem trinta e quatro velhas de
lenccedilo e trecircs senhoras idosas de chapeacuteu quarenta e sete becircbados e oito senhores que andam agraves vezes
alegrinhos cento e vinte e nove rapazes cento e trinta e duas raparigas vinte e dois meninos e trinta e
uma meninas o nuacutemero de naiotildees ndash invertidos encartados e Soacutecios de Meacuterito da Corporaccedilatildeo das
Criadas de Servir ndash eacute de setenta e sete mas nunca foi feito o recenseamento dos homens com pitafe
quarenta e trecircs professores do Liceu dos quais vinte satildeo professores do Seminaacuterio Maior onde haacute
quinhentos e setenta e oito seminaristas menores dos quais oitenta e nove viacutergula seis por cento
oriundos da cristianiacutessima ilha de Satildeo Miguel o Arcanjo e do Senhor Santo Cristo dos Milagres e ainda
de outros Senhores que se passeiam no Jardim Duque da Terceira todas as quintas entre as duas
horas e sete minutos e as quatro horas e quarenta e oito da tarde em bandos de estorninhos quinze
chauferes um cauteleiro sessenta e nove caloteiros identificados com o indicador da matildeo direita
noventa e seis donas-de-casa e igual nuacutemero de maridos operacionais quarenta e sete viuacutevas
praticantes vinte e seis viuacutevas protestantes e oito viuacutevas de fresco ainda indecisas sessenta e oito
cavalheiros satildeo simultaneamente irmatildeos devotos da Confraria de Nossa Senhora do Monte Carmelo
da Irmandade do Senhor dos Passos e da Ordem Terceira de Satildeo Francisco quatro agiotas
dissimulados que vestem de preto e usam chapeacuteu e que se sentam para o negoacutecio na terceira
10
banqueta do Paacutetio da Alfacircndega cinquenta agentes da Poliacutecia de Seguranccedila Puacuteblica dos quais trecircs
satildeo da Secreta e por isso para natildeo serem conhecidos trajam agrave paisana o Cebola o Tombado e o
Zarolho dois vendedores de milho torrado pevides e caramelos sugardady duzentas e nove beatas de
novena quarenta e oito de terccedilo e mantilha vinte devotas de enfeitar capelas dezassete de sacristia
catorze irmatildes de padre e meia duacutezia de sobrinhas um batalhatildeo de soldados do Castelo que aparecem
agrave boquinha da noite triste arrastando as botas tristes pelo empedrado tristonho trecircs namoradas de
aspirantes que fazem todas as recrutas uma meacutedia de um viacutergula oito por mil de americanos da United
States Air Force Azores Pochugal por dia facilmente reconheciacuteveis pelo tamanho dos peacutes e por uma
garrafa de Matioacutes Rosseacute danccedilando na matildeo direita quarenta e trecircs indiviacuteduos usam gravata verde
porque satildeo adeptos do Lusitacircnia e trinta e nove potildeem gravata vermelha porque satildeo soacutecios do Angrense
havendo que mencionar ainda dois laccedilos ndash um poeta e um boticaacuterio A cidade tem dezoito tabernas
seis cafeacutes e duas pastelarias
Vamos agora mudar o cenaacuteriordquo
- transcreve-se o poema ldquoRose era o nome de Rosardquo
A matildee disse natildeo mais natildeo mais eu natildeo mais tu filha natildeo mais nomes na pedra do cais natildeo mais o cortinado da ilha natildeo mais Rosa sejas Rose agora natildeo mais neacutevoas roxos ais natildeo mais a sorte caipora natildeo mais a ilha natildeo mais Poreacutem Rose o natildeo mais natildeo quis e quis ver a ilha do natildeo mais o cortinado roxo infeliz os nomes na pedra dos cais Pegou em si e foi-se embora
Natildeo mais Rose Rosa outra vez agora (My Californian Friends 1999 25)
Natildeo estaremos perante a mais pura accedilorianidade na literatura
chrys chrystello lomba da maia accedilores agosto 2010
Bibliografia 1) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1978) Raiz Comovida (A Semente
e a Seiva) 1ordf ed Centelha Coimbra 1978 (Preacutemio Ricardo Malheiros da Academia das Ciecircncias de Lisboa) 2ordf ed Bertrand 1980 (esgotado)
2) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1979) Raiz Comovida II (Vindima
de Fogo) 1ordf ed Centelha Coimbra 1979 (esgotado)
3) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1981) Raiz Comovida III (O Fruto e
o Sonho) 1ordf ed Angra do Heroiacutesmo SREC 1981 (esgotado)
4) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1986) Com Paulo Quintela Agrave Mesa da Tertuacutelia noacutetulas biograacuteficas) 1ordf ed Serviccedilo de
Publicaccedilotildees da Universidade de Coimbra 1986 2ordf ed Revista e aumentada (no 1ordm centenaacuterio do seu
11
nascimento) Imprensa da Universidade de Coimbra 2005
5) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1987) Raiz Comovida (trilogia romanesca) ed Num soacute volume Editorial Caminho 1987 2ordf ed Revista e remodelada Publicaccedilotildees Dom
Quixote Lisboa 2003 6) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1988) Passageiro em Tracircnsito
novela em espiral ou o romance de um ponto a que se vai acrescentando mais um conto) 1ordm ed Editora Signo
Ponta Delgada 1988 7) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1990) O Braccedilo Tatuado (narrativa
militar aplicada) Editora Signo 8) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1994) Passageiro em tracircnsito
Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 9) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1999) Relaccedilatildeo de Bordo (1964-
1988) diaacuterio ou nem tanto ou talvez muito mais Campo das Letras Porto 1999 (Grande Preacutemio APE CMP
2000) 10) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2000) Relaccedilatildeo de Bordo II (1989-
1992) diaacuterio ou nem tantohellip Campo das Letras 11) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Raiz Comovida Trilogia
Romanesca Lisboa Publicaccedilotildees Dom Quixote (Ediccedilatildeo revista e remodelada)
12) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Trasfega casos e contos Publicaccedilotildees Dom Quixote Preacutemio Miguel Torga 2002 1ordf
ed 2003 2ordf ed 2003 13) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2004) Nova Relaccedilatildeo de Bordo (III
Volume) diaacuterio ou nem tantohellip Publicaccedilotildees Dom Quixote 14) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2005) Marilha sequecircncia narrativa
Publicaccedilotildees D Quixote 15) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) A Tabuada do Tempo a
lenta narrativa dos dias Preacutemio Miguel Torga 2006 Livraria Almedina Coimbra
16) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) Miguel Torga O Lavrador das Letras um percurso partilhado Livraria Almedina
17) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Braccedilo Tatuado ndash Retalhos da guerra colonial ndash Nova versatildeo P D Quixote 2008 2ordf
ed 2008 18) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Charlas Sobre a Liacutengua
Portuguesa Livraria Almedina 2008 19) Barcelos J M Soares de (2008) Dicionaacuterio de Falares
dos Accedilores ed Almedina 20) BETTENCOURT Urbano (2004) Joseacute Martins Garcia a
palavra o riso Separata da revista Arquipeacutelago -Liacutenguas e Literaturas XVII Ponta Delgada Universidade Accedilores
21) BRANDAtildeO Raul (sd) As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens Lisboa Perspetivas amp Realidades sd
22) BRASIL Luiacutes Antoacutenio de Assis (1994) ldquoA Narrativa Accediloriana poacutes-Vinte e Cinco de Abrilrdquo in Organon vol 8
nordm 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 23) Chrystello J Chrys (2009) ChroacutenicAccedilores uma circum-
navegaccedilatildeo (vol 1) De Timor a Macau Austraacutelia Brasil Braganccedila ateacute aos Accedilores Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
24) Da Costa Vasco Pereira (1978) Nas Escadas do Impeacuterio Contos Coimbra Centelha 1978
25) Da Costa Vasco Pereira (1979) Amanhece a Cidade romance Coimbra ed Centelha
26) Da Costa Vasco Pereira (1980) Venho caacute mandado do Senhor Espiacuterito Santo novela ed Banco Espiacuterito Santo c Comercial de Lisboa Lisboa
27) Da Costa Vasco Pereira (1981) Ilhiacuteada (poesia) Angra
do Heroiacutesmo SREC col ldquoGaivotardquo 28) Da Costa Vasco Pereira (1984) Plantador de Palavras
Vendedor de Leacuterias Coimbra Cacircmara Municipal 1ordm Preacutemio Miguel Torga 1984
29) Da Costa Vasco Pereira (1987) Memoacuteria Breve contos Angra do Heroiacutesmo Instituto Accediloriano de Cultura
30) Da Costa Vasco Pereira (1992) Riscos de Marear (poesia) Ponta Delgada Eurosigno
31) Da Costa Vasco Pereira (1994) Sobre ripas sobre rimas Coimbra Minerva 1994
32) Da Costa Vasco Pereira (1997) Terras (poesia) 1ordf ed Porto Campo das Letras
33) Da Costa Vasco Pereira (1999) My Californian Friends ed Gaacutevea Brown
34) Da Costa Vasco Pereira (2000) My Californian Friends (2ordf Ediccedilatildeo) Viseu Palimage Editores
35) Da Silveira Pedro (1977) ldquoAccediloresrdquo Grande Dicionaacuterio de Literatura Portuguesa e de Teoria Literaacuteria (coordenaccedilatildeo
Joatildeo Joseacute Cochofel) 1977 1ordm vol 36) Da Silveira Pedro (1999) Fui ao Mar Buscar Laranjas
Angra Direccedilatildeo Regional da Cultura 37) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1978) Ah Mogravenim dum
Corisco (Teatro) New Bedford - Providence Gaacutevea Chama 2ordf ed 1989 3ordf ed 1998 Lisboa ed Salamandra
38) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1983) laquo(Sapa)teia Americana Lisboa Vega 1983 1ordf ed 2ordf ed 2000
Lisboa Salamandra 39) De Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura
Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo [as diversas posiccedilotildees teoacutericas ao longo do tempo e algumas
posiccedilotildees poleacutemicas] Angra do Heroiacutesmo SREC (org) 40) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1986) Da Literatura
Accediloriana Subsiacutedios para um Balanccedilo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
41) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1987) ldquoO que eacute a L(USA)LAcircNDIArdquo in L(USA)LAcircNDIA A deacutecima Ilha Angra do Heroiacutesmo SREC
42) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1994) Que nome eacute
esse oacute Neacutezimo ndash E outros adveacuterbios de duacutevida 1ordf ed Lisboa ed Salamandra
43) De Jesus Eduiacuteno (sd) ldquoBreve notiacutecia histoacuterica da poesia accediloriana de 1915 agrave atualidaderdquo in Estrada Larga vol 3
Porto Editora [sd] pp 425-430 44) De Melo Joseacute Dias (1958) Mar Rubro 1958 2ordf ed 1980
Lisboa ed Salamandra 45) De Melo Joseacute Dias (1964) Pedras Negras 2ordf ed
Lisboa Vega 1985 traduccedilatildeo para inglecircs 1988 Dark Stones ed Gaacutevea-Brown 4ordf ed VerAccedilor 2008
46) De Melo Joseacute Dias (1973) Na noite silenciosa (poesia) 1973 2ordf ed VerAccedilor 2007
47) De Melo Joseacute Dias (1976) Mar pela proa 1976 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
48) De Melo Joseacute Dias (1979) Vinde e Vede Narrativas Lisboa Editorial Ilhas
49) De Melo Joseacute Dias (1983) Vida vivida em terra de baleeiros Angra SREC 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
50) De Melo Joseacute Dias (1990) Das velas de lona agraves asas de alumiacutenio Lisboa ed Salamandra col Garajau
51) De Melo Joseacute Dias (1990) O autoacutegrafo 1990 Lisboa ed Salamandra 2ordf ed 1999 col Garajau
52) De Melo Joseacute Dias (1992) O Menino deixou de ser menino Lisboa ed Salamandra col Garajau
53) De Melo Joseacute Dias (1993) A Viagem do medo maior Lisboa ed Salamandra col Garajau
54) De Melo Joseacute Dias (1994) Pena dela saudades de mim Lisboa ed Salamandra col Garajau
55) De Melo Joseacute Dias (1995) Croacutenicas do Alto da Rocha do Canto da Baiacutea Lisboa ed Salamandra
56) De Melo Joseacute Dias (1996) Inverno sem primavera Lisboa ed Salamandra
57) De Melo Joseacute Dias (2000) Reviver na Festa da Vida a Festa da Morte Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo
58) De Melo Joseacute Dias (2001) Agrave Boquinha da noite Lisboa ed Salamandra
59) De Melo Joseacute Dias (2002) Milhas contadas Lisboa ed Salamandra
60) De Melo Joseacute Dias (2003) Pedras Negras Lisboa Ediccedilotildees Salamandra 3ordf ediccedilatildeo portuguesa
61) De Melo Joseacute Dias de (2004) Poeira do caminho Reminiscecircncias do Passado vivecircncias do Presente Porto Campo das Letras ndash Editores col ldquoInstantes de Leiturardquo
62) De MELO Joseacute Dias de (2007) Na noite silenciada Poemas de Natal Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
63) De MELO Joseacute Dias (2008) Mar Rubro Baleeiros do Pico Ponta Delgada Ver Accedilor Lda Editores 3ordf ediccedilatildeo
64) De Melo Joatildeo (1982) - Haacute ou Natildeo Uma Literatura Accediloriana Lisboa ed Vega
65) De Melo Joatildeo (1983) O Meu Mundo Natildeo eacute Deste Reino Lisboa Publ D Quixote traduzido nos Estados Unidos e
em Espanha 66) De Melo Joatildeo (1988) Gente Feliz com Laacutegrimas
Lisboa Publ D Quixote 1988 Traduzido em Espanha Franccedila Holanda Itaacutelia Romeacutenia e Bulgaacuteria
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau
9
salazarismo regime repressor totalitaacuterio e punitivo dos que ousam transgredir as regras impostas -
ldquoComo vim aqui [agrave ilha] parar Eacute simples por ser anarquista e natildeo peitear o Manholas de Santa Combardquo
(ldquoO Manel drsquoArriagardquo 1978 31) - quer na criacutetica agrave mentalidade mediacuteocre cuja pequenez
constrangedora se espraia em espaccedilo iacutentimo e puacuteblico pela vida de outrem tatildeo sigilosamente
resguardada quanto violada de supetatildeo - ldquo [] cada qual dava a sua sentenccedila todos em grande pensatildeo
e natildeo havia alcatra de couves que agrave hora da ceia natildeo fosse temperada com palpites de desenlacerdquo
(ldquoPrimaverardquo 1978 59) - quer na criacutetica ao jornalismo barato e ao provincianismo dos articulistas cujo
discurso pouco inovador se vai ritualizando - ldquoComeccedilou entatildeo o embaraccedilo No jornal de amanhatilde por
entre os aniversaacuterios da gente fina [] as partidas e as chegadas os partos e as notiacutecias do Paiacutes e do
Estrangeiro os casamentos e os pedidos de os horaacuterios de barcos e de aviotildees as oraccedilotildees ao Menino
Jesus de Praga e ao divino Espiacuterito Santo [] rdquo (ldquoA Fugardquo 1978 82-83) - quer por fim na criacutetica a uma
certa lsquocultura de superioridadersquo que lsquoMestrersquo Gibicas se apresta a denegar ldquo [] estaacutevamos de liacutengua
entre os dentes para sibilar o th O professor fazia empenho pois [] era uma vergonha virem por aiacute
abaixo os americanos e noacutes sem sabermos agradecer [] Ateacute que foi a tua vez [Gibicas] [] Agarraste
na caixinha vermelha azul e branca com as estrelinhas desse people para o nosso povo e sem esperar
o afago da farda grandalhona gritaste-lhes alto como ningueacutem ainda o fizera - SANABOBICHASrdquo
(ldquoGibicasrdquo 1978 137-138-141) Em asterisco de rodapeacute explica o Autor o neologismo ldquoSon of a bitchrdquo
- Em quarto lugar a variedade genoloacutegica em que se move o Escritor homenageado desde o conto e a
novela ateacute agrave memoacuteria e agrave ldquocroacutenicardquo breve passando pela Poesia E a este propoacutesito natildeo resistimos agrave
tentaccedilatildeo de transcrever dois excertos O primeiro de o Plantador de Palavras
ldquoAh meus senhores mas isto aqui natildeo eacute a Itaacutelia Eacute a mui nobre leal e sempre constante cidade de Angra
do Heroiacutesmo ao tempo em que o Autor nela carregava a sua adolescecircncia de amores temores e
rancores Como podem observar uma cidade espartilhada entre mar e mar com dois castelos a
estrangulaacute-la com suas casas nobres por fora e burguesiacutessimas por dentro praccedilas com estaacutetuas e
engraxadores lojas sonolentas comerciantes lentos e clientes ensonados automobilistas
imprevidentes nos seus vinte agrave hora que quase atropelam a distraccedilatildeo dos peotildees um governador civil
e trecircs governadores militares cinquenta e sete prostitutas dezanove bombeiros voluntaacuterios que
voluntariamente vatildeo de borla ao cinema vinte e cinco meninas que namoram agrave janela e estatiacutesticas de
ontem catorze desfloradas nos saguotildees um bispo dois monsenhores sete coacutenegos na sua Catedral
trecircs parvos oficiais que fornecem o riso oficial e obrigatoacuterio nos dias uacuteteis e inuacuteteis um Presidente para
a sua Cacircmara com o seu secretaacuterio e um contiacutenuo ndash que por ser funcionaacuterio puacuteblico natildeo estaacute incluiacutedo
no nuacutemero dos trecircs parvos oficiais que o quadro comporta Esta cidade tem trinta e quatro velhas de
lenccedilo e trecircs senhoras idosas de chapeacuteu quarenta e sete becircbados e oito senhores que andam agraves vezes
alegrinhos cento e vinte e nove rapazes cento e trinta e duas raparigas vinte e dois meninos e trinta e
uma meninas o nuacutemero de naiotildees ndash invertidos encartados e Soacutecios de Meacuterito da Corporaccedilatildeo das
Criadas de Servir ndash eacute de setenta e sete mas nunca foi feito o recenseamento dos homens com pitafe
quarenta e trecircs professores do Liceu dos quais vinte satildeo professores do Seminaacuterio Maior onde haacute
quinhentos e setenta e oito seminaristas menores dos quais oitenta e nove viacutergula seis por cento
oriundos da cristianiacutessima ilha de Satildeo Miguel o Arcanjo e do Senhor Santo Cristo dos Milagres e ainda
de outros Senhores que se passeiam no Jardim Duque da Terceira todas as quintas entre as duas
horas e sete minutos e as quatro horas e quarenta e oito da tarde em bandos de estorninhos quinze
chauferes um cauteleiro sessenta e nove caloteiros identificados com o indicador da matildeo direita
noventa e seis donas-de-casa e igual nuacutemero de maridos operacionais quarenta e sete viuacutevas
praticantes vinte e seis viuacutevas protestantes e oito viuacutevas de fresco ainda indecisas sessenta e oito
cavalheiros satildeo simultaneamente irmatildeos devotos da Confraria de Nossa Senhora do Monte Carmelo
da Irmandade do Senhor dos Passos e da Ordem Terceira de Satildeo Francisco quatro agiotas
dissimulados que vestem de preto e usam chapeacuteu e que se sentam para o negoacutecio na terceira
10
banqueta do Paacutetio da Alfacircndega cinquenta agentes da Poliacutecia de Seguranccedila Puacuteblica dos quais trecircs
satildeo da Secreta e por isso para natildeo serem conhecidos trajam agrave paisana o Cebola o Tombado e o
Zarolho dois vendedores de milho torrado pevides e caramelos sugardady duzentas e nove beatas de
novena quarenta e oito de terccedilo e mantilha vinte devotas de enfeitar capelas dezassete de sacristia
catorze irmatildes de padre e meia duacutezia de sobrinhas um batalhatildeo de soldados do Castelo que aparecem
agrave boquinha da noite triste arrastando as botas tristes pelo empedrado tristonho trecircs namoradas de
aspirantes que fazem todas as recrutas uma meacutedia de um viacutergula oito por mil de americanos da United
States Air Force Azores Pochugal por dia facilmente reconheciacuteveis pelo tamanho dos peacutes e por uma
garrafa de Matioacutes Rosseacute danccedilando na matildeo direita quarenta e trecircs indiviacuteduos usam gravata verde
porque satildeo adeptos do Lusitacircnia e trinta e nove potildeem gravata vermelha porque satildeo soacutecios do Angrense
havendo que mencionar ainda dois laccedilos ndash um poeta e um boticaacuterio A cidade tem dezoito tabernas
seis cafeacutes e duas pastelarias
Vamos agora mudar o cenaacuteriordquo
- transcreve-se o poema ldquoRose era o nome de Rosardquo
A matildee disse natildeo mais natildeo mais eu natildeo mais tu filha natildeo mais nomes na pedra do cais natildeo mais o cortinado da ilha natildeo mais Rosa sejas Rose agora natildeo mais neacutevoas roxos ais natildeo mais a sorte caipora natildeo mais a ilha natildeo mais Poreacutem Rose o natildeo mais natildeo quis e quis ver a ilha do natildeo mais o cortinado roxo infeliz os nomes na pedra dos cais Pegou em si e foi-se embora
Natildeo mais Rose Rosa outra vez agora (My Californian Friends 1999 25)
Natildeo estaremos perante a mais pura accedilorianidade na literatura
chrys chrystello lomba da maia accedilores agosto 2010
Bibliografia 1) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1978) Raiz Comovida (A Semente
e a Seiva) 1ordf ed Centelha Coimbra 1978 (Preacutemio Ricardo Malheiros da Academia das Ciecircncias de Lisboa) 2ordf ed Bertrand 1980 (esgotado)
2) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1979) Raiz Comovida II (Vindima
de Fogo) 1ordf ed Centelha Coimbra 1979 (esgotado)
3) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1981) Raiz Comovida III (O Fruto e
o Sonho) 1ordf ed Angra do Heroiacutesmo SREC 1981 (esgotado)
4) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1986) Com Paulo Quintela Agrave Mesa da Tertuacutelia noacutetulas biograacuteficas) 1ordf ed Serviccedilo de
Publicaccedilotildees da Universidade de Coimbra 1986 2ordf ed Revista e aumentada (no 1ordm centenaacuterio do seu
11
nascimento) Imprensa da Universidade de Coimbra 2005
5) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1987) Raiz Comovida (trilogia romanesca) ed Num soacute volume Editorial Caminho 1987 2ordf ed Revista e remodelada Publicaccedilotildees Dom
Quixote Lisboa 2003 6) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1988) Passageiro em Tracircnsito
novela em espiral ou o romance de um ponto a que se vai acrescentando mais um conto) 1ordm ed Editora Signo
Ponta Delgada 1988 7) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1990) O Braccedilo Tatuado (narrativa
militar aplicada) Editora Signo 8) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1994) Passageiro em tracircnsito
Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 9) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1999) Relaccedilatildeo de Bordo (1964-
1988) diaacuterio ou nem tanto ou talvez muito mais Campo das Letras Porto 1999 (Grande Preacutemio APE CMP
2000) 10) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2000) Relaccedilatildeo de Bordo II (1989-
1992) diaacuterio ou nem tantohellip Campo das Letras 11) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Raiz Comovida Trilogia
Romanesca Lisboa Publicaccedilotildees Dom Quixote (Ediccedilatildeo revista e remodelada)
12) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Trasfega casos e contos Publicaccedilotildees Dom Quixote Preacutemio Miguel Torga 2002 1ordf
ed 2003 2ordf ed 2003 13) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2004) Nova Relaccedilatildeo de Bordo (III
Volume) diaacuterio ou nem tantohellip Publicaccedilotildees Dom Quixote 14) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2005) Marilha sequecircncia narrativa
Publicaccedilotildees D Quixote 15) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) A Tabuada do Tempo a
lenta narrativa dos dias Preacutemio Miguel Torga 2006 Livraria Almedina Coimbra
16) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) Miguel Torga O Lavrador das Letras um percurso partilhado Livraria Almedina
17) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Braccedilo Tatuado ndash Retalhos da guerra colonial ndash Nova versatildeo P D Quixote 2008 2ordf
ed 2008 18) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Charlas Sobre a Liacutengua
Portuguesa Livraria Almedina 2008 19) Barcelos J M Soares de (2008) Dicionaacuterio de Falares
dos Accedilores ed Almedina 20) BETTENCOURT Urbano (2004) Joseacute Martins Garcia a
palavra o riso Separata da revista Arquipeacutelago -Liacutenguas e Literaturas XVII Ponta Delgada Universidade Accedilores
21) BRANDAtildeO Raul (sd) As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens Lisboa Perspetivas amp Realidades sd
22) BRASIL Luiacutes Antoacutenio de Assis (1994) ldquoA Narrativa Accediloriana poacutes-Vinte e Cinco de Abrilrdquo in Organon vol 8
nordm 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 23) Chrystello J Chrys (2009) ChroacutenicAccedilores uma circum-
navegaccedilatildeo (vol 1) De Timor a Macau Austraacutelia Brasil Braganccedila ateacute aos Accedilores Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
24) Da Costa Vasco Pereira (1978) Nas Escadas do Impeacuterio Contos Coimbra Centelha 1978
25) Da Costa Vasco Pereira (1979) Amanhece a Cidade romance Coimbra ed Centelha
26) Da Costa Vasco Pereira (1980) Venho caacute mandado do Senhor Espiacuterito Santo novela ed Banco Espiacuterito Santo c Comercial de Lisboa Lisboa
27) Da Costa Vasco Pereira (1981) Ilhiacuteada (poesia) Angra
do Heroiacutesmo SREC col ldquoGaivotardquo 28) Da Costa Vasco Pereira (1984) Plantador de Palavras
Vendedor de Leacuterias Coimbra Cacircmara Municipal 1ordm Preacutemio Miguel Torga 1984
29) Da Costa Vasco Pereira (1987) Memoacuteria Breve contos Angra do Heroiacutesmo Instituto Accediloriano de Cultura
30) Da Costa Vasco Pereira (1992) Riscos de Marear (poesia) Ponta Delgada Eurosigno
31) Da Costa Vasco Pereira (1994) Sobre ripas sobre rimas Coimbra Minerva 1994
32) Da Costa Vasco Pereira (1997) Terras (poesia) 1ordf ed Porto Campo das Letras
33) Da Costa Vasco Pereira (1999) My Californian Friends ed Gaacutevea Brown
34) Da Costa Vasco Pereira (2000) My Californian Friends (2ordf Ediccedilatildeo) Viseu Palimage Editores
35) Da Silveira Pedro (1977) ldquoAccediloresrdquo Grande Dicionaacuterio de Literatura Portuguesa e de Teoria Literaacuteria (coordenaccedilatildeo
Joatildeo Joseacute Cochofel) 1977 1ordm vol 36) Da Silveira Pedro (1999) Fui ao Mar Buscar Laranjas
Angra Direccedilatildeo Regional da Cultura 37) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1978) Ah Mogravenim dum
Corisco (Teatro) New Bedford - Providence Gaacutevea Chama 2ordf ed 1989 3ordf ed 1998 Lisboa ed Salamandra
38) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1983) laquo(Sapa)teia Americana Lisboa Vega 1983 1ordf ed 2ordf ed 2000
Lisboa Salamandra 39) De Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura
Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo [as diversas posiccedilotildees teoacutericas ao longo do tempo e algumas
posiccedilotildees poleacutemicas] Angra do Heroiacutesmo SREC (org) 40) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1986) Da Literatura
Accediloriana Subsiacutedios para um Balanccedilo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
41) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1987) ldquoO que eacute a L(USA)LAcircNDIArdquo in L(USA)LAcircNDIA A deacutecima Ilha Angra do Heroiacutesmo SREC
42) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1994) Que nome eacute
esse oacute Neacutezimo ndash E outros adveacuterbios de duacutevida 1ordf ed Lisboa ed Salamandra
43) De Jesus Eduiacuteno (sd) ldquoBreve notiacutecia histoacuterica da poesia accediloriana de 1915 agrave atualidaderdquo in Estrada Larga vol 3
Porto Editora [sd] pp 425-430 44) De Melo Joseacute Dias (1958) Mar Rubro 1958 2ordf ed 1980
Lisboa ed Salamandra 45) De Melo Joseacute Dias (1964) Pedras Negras 2ordf ed
Lisboa Vega 1985 traduccedilatildeo para inglecircs 1988 Dark Stones ed Gaacutevea-Brown 4ordf ed VerAccedilor 2008
46) De Melo Joseacute Dias (1973) Na noite silenciosa (poesia) 1973 2ordf ed VerAccedilor 2007
47) De Melo Joseacute Dias (1976) Mar pela proa 1976 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
48) De Melo Joseacute Dias (1979) Vinde e Vede Narrativas Lisboa Editorial Ilhas
49) De Melo Joseacute Dias (1983) Vida vivida em terra de baleeiros Angra SREC 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
50) De Melo Joseacute Dias (1990) Das velas de lona agraves asas de alumiacutenio Lisboa ed Salamandra col Garajau
51) De Melo Joseacute Dias (1990) O autoacutegrafo 1990 Lisboa ed Salamandra 2ordf ed 1999 col Garajau
52) De Melo Joseacute Dias (1992) O Menino deixou de ser menino Lisboa ed Salamandra col Garajau
53) De Melo Joseacute Dias (1993) A Viagem do medo maior Lisboa ed Salamandra col Garajau
54) De Melo Joseacute Dias (1994) Pena dela saudades de mim Lisboa ed Salamandra col Garajau
55) De Melo Joseacute Dias (1995) Croacutenicas do Alto da Rocha do Canto da Baiacutea Lisboa ed Salamandra
56) De Melo Joseacute Dias (1996) Inverno sem primavera Lisboa ed Salamandra
57) De Melo Joseacute Dias (2000) Reviver na Festa da Vida a Festa da Morte Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo
58) De Melo Joseacute Dias (2001) Agrave Boquinha da noite Lisboa ed Salamandra
59) De Melo Joseacute Dias (2002) Milhas contadas Lisboa ed Salamandra
60) De Melo Joseacute Dias (2003) Pedras Negras Lisboa Ediccedilotildees Salamandra 3ordf ediccedilatildeo portuguesa
61) De Melo Joseacute Dias de (2004) Poeira do caminho Reminiscecircncias do Passado vivecircncias do Presente Porto Campo das Letras ndash Editores col ldquoInstantes de Leiturardquo
62) De MELO Joseacute Dias de (2007) Na noite silenciada Poemas de Natal Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
63) De MELO Joseacute Dias (2008) Mar Rubro Baleeiros do Pico Ponta Delgada Ver Accedilor Lda Editores 3ordf ediccedilatildeo
64) De Melo Joatildeo (1982) - Haacute ou Natildeo Uma Literatura Accediloriana Lisboa ed Vega
65) De Melo Joatildeo (1983) O Meu Mundo Natildeo eacute Deste Reino Lisboa Publ D Quixote traduzido nos Estados Unidos e
em Espanha 66) De Melo Joatildeo (1988) Gente Feliz com Laacutegrimas
Lisboa Publ D Quixote 1988 Traduzido em Espanha Franccedila Holanda Itaacutelia Romeacutenia e Bulgaacuteria
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau
10
banqueta do Paacutetio da Alfacircndega cinquenta agentes da Poliacutecia de Seguranccedila Puacuteblica dos quais trecircs
satildeo da Secreta e por isso para natildeo serem conhecidos trajam agrave paisana o Cebola o Tombado e o
Zarolho dois vendedores de milho torrado pevides e caramelos sugardady duzentas e nove beatas de
novena quarenta e oito de terccedilo e mantilha vinte devotas de enfeitar capelas dezassete de sacristia
catorze irmatildes de padre e meia duacutezia de sobrinhas um batalhatildeo de soldados do Castelo que aparecem
agrave boquinha da noite triste arrastando as botas tristes pelo empedrado tristonho trecircs namoradas de
aspirantes que fazem todas as recrutas uma meacutedia de um viacutergula oito por mil de americanos da United
States Air Force Azores Pochugal por dia facilmente reconheciacuteveis pelo tamanho dos peacutes e por uma
garrafa de Matioacutes Rosseacute danccedilando na matildeo direita quarenta e trecircs indiviacuteduos usam gravata verde
porque satildeo adeptos do Lusitacircnia e trinta e nove potildeem gravata vermelha porque satildeo soacutecios do Angrense
havendo que mencionar ainda dois laccedilos ndash um poeta e um boticaacuterio A cidade tem dezoito tabernas
seis cafeacutes e duas pastelarias
Vamos agora mudar o cenaacuteriordquo
- transcreve-se o poema ldquoRose era o nome de Rosardquo
A matildee disse natildeo mais natildeo mais eu natildeo mais tu filha natildeo mais nomes na pedra do cais natildeo mais o cortinado da ilha natildeo mais Rosa sejas Rose agora natildeo mais neacutevoas roxos ais natildeo mais a sorte caipora natildeo mais a ilha natildeo mais Poreacutem Rose o natildeo mais natildeo quis e quis ver a ilha do natildeo mais o cortinado roxo infeliz os nomes na pedra dos cais Pegou em si e foi-se embora
Natildeo mais Rose Rosa outra vez agora (My Californian Friends 1999 25)
Natildeo estaremos perante a mais pura accedilorianidade na literatura
chrys chrystello lomba da maia accedilores agosto 2010
Bibliografia 1) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1978) Raiz Comovida (A Semente
e a Seiva) 1ordf ed Centelha Coimbra 1978 (Preacutemio Ricardo Malheiros da Academia das Ciecircncias de Lisboa) 2ordf ed Bertrand 1980 (esgotado)
2) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1979) Raiz Comovida II (Vindima
de Fogo) 1ordf ed Centelha Coimbra 1979 (esgotado)
3) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1981) Raiz Comovida III (O Fruto e
o Sonho) 1ordf ed Angra do Heroiacutesmo SREC 1981 (esgotado)
4) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1986) Com Paulo Quintela Agrave Mesa da Tertuacutelia noacutetulas biograacuteficas) 1ordf ed Serviccedilo de
Publicaccedilotildees da Universidade de Coimbra 1986 2ordf ed Revista e aumentada (no 1ordm centenaacuterio do seu
11
nascimento) Imprensa da Universidade de Coimbra 2005
5) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1987) Raiz Comovida (trilogia romanesca) ed Num soacute volume Editorial Caminho 1987 2ordf ed Revista e remodelada Publicaccedilotildees Dom
Quixote Lisboa 2003 6) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1988) Passageiro em Tracircnsito
novela em espiral ou o romance de um ponto a que se vai acrescentando mais um conto) 1ordm ed Editora Signo
Ponta Delgada 1988 7) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1990) O Braccedilo Tatuado (narrativa
militar aplicada) Editora Signo 8) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1994) Passageiro em tracircnsito
Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 9) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1999) Relaccedilatildeo de Bordo (1964-
1988) diaacuterio ou nem tanto ou talvez muito mais Campo das Letras Porto 1999 (Grande Preacutemio APE CMP
2000) 10) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2000) Relaccedilatildeo de Bordo II (1989-
1992) diaacuterio ou nem tantohellip Campo das Letras 11) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Raiz Comovida Trilogia
Romanesca Lisboa Publicaccedilotildees Dom Quixote (Ediccedilatildeo revista e remodelada)
12) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Trasfega casos e contos Publicaccedilotildees Dom Quixote Preacutemio Miguel Torga 2002 1ordf
ed 2003 2ordf ed 2003 13) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2004) Nova Relaccedilatildeo de Bordo (III
Volume) diaacuterio ou nem tantohellip Publicaccedilotildees Dom Quixote 14) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2005) Marilha sequecircncia narrativa
Publicaccedilotildees D Quixote 15) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) A Tabuada do Tempo a
lenta narrativa dos dias Preacutemio Miguel Torga 2006 Livraria Almedina Coimbra
16) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) Miguel Torga O Lavrador das Letras um percurso partilhado Livraria Almedina
17) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Braccedilo Tatuado ndash Retalhos da guerra colonial ndash Nova versatildeo P D Quixote 2008 2ordf
ed 2008 18) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Charlas Sobre a Liacutengua
Portuguesa Livraria Almedina 2008 19) Barcelos J M Soares de (2008) Dicionaacuterio de Falares
dos Accedilores ed Almedina 20) BETTENCOURT Urbano (2004) Joseacute Martins Garcia a
palavra o riso Separata da revista Arquipeacutelago -Liacutenguas e Literaturas XVII Ponta Delgada Universidade Accedilores
21) BRANDAtildeO Raul (sd) As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens Lisboa Perspetivas amp Realidades sd
22) BRASIL Luiacutes Antoacutenio de Assis (1994) ldquoA Narrativa Accediloriana poacutes-Vinte e Cinco de Abrilrdquo in Organon vol 8
nordm 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 23) Chrystello J Chrys (2009) ChroacutenicAccedilores uma circum-
navegaccedilatildeo (vol 1) De Timor a Macau Austraacutelia Brasil Braganccedila ateacute aos Accedilores Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
24) Da Costa Vasco Pereira (1978) Nas Escadas do Impeacuterio Contos Coimbra Centelha 1978
25) Da Costa Vasco Pereira (1979) Amanhece a Cidade romance Coimbra ed Centelha
26) Da Costa Vasco Pereira (1980) Venho caacute mandado do Senhor Espiacuterito Santo novela ed Banco Espiacuterito Santo c Comercial de Lisboa Lisboa
27) Da Costa Vasco Pereira (1981) Ilhiacuteada (poesia) Angra
do Heroiacutesmo SREC col ldquoGaivotardquo 28) Da Costa Vasco Pereira (1984) Plantador de Palavras
Vendedor de Leacuterias Coimbra Cacircmara Municipal 1ordm Preacutemio Miguel Torga 1984
29) Da Costa Vasco Pereira (1987) Memoacuteria Breve contos Angra do Heroiacutesmo Instituto Accediloriano de Cultura
30) Da Costa Vasco Pereira (1992) Riscos de Marear (poesia) Ponta Delgada Eurosigno
31) Da Costa Vasco Pereira (1994) Sobre ripas sobre rimas Coimbra Minerva 1994
32) Da Costa Vasco Pereira (1997) Terras (poesia) 1ordf ed Porto Campo das Letras
33) Da Costa Vasco Pereira (1999) My Californian Friends ed Gaacutevea Brown
34) Da Costa Vasco Pereira (2000) My Californian Friends (2ordf Ediccedilatildeo) Viseu Palimage Editores
35) Da Silveira Pedro (1977) ldquoAccediloresrdquo Grande Dicionaacuterio de Literatura Portuguesa e de Teoria Literaacuteria (coordenaccedilatildeo
Joatildeo Joseacute Cochofel) 1977 1ordm vol 36) Da Silveira Pedro (1999) Fui ao Mar Buscar Laranjas
Angra Direccedilatildeo Regional da Cultura 37) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1978) Ah Mogravenim dum
Corisco (Teatro) New Bedford - Providence Gaacutevea Chama 2ordf ed 1989 3ordf ed 1998 Lisboa ed Salamandra
38) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1983) laquo(Sapa)teia Americana Lisboa Vega 1983 1ordf ed 2ordf ed 2000
Lisboa Salamandra 39) De Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura
Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo [as diversas posiccedilotildees teoacutericas ao longo do tempo e algumas
posiccedilotildees poleacutemicas] Angra do Heroiacutesmo SREC (org) 40) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1986) Da Literatura
Accediloriana Subsiacutedios para um Balanccedilo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
41) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1987) ldquoO que eacute a L(USA)LAcircNDIArdquo in L(USA)LAcircNDIA A deacutecima Ilha Angra do Heroiacutesmo SREC
42) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1994) Que nome eacute
esse oacute Neacutezimo ndash E outros adveacuterbios de duacutevida 1ordf ed Lisboa ed Salamandra
43) De Jesus Eduiacuteno (sd) ldquoBreve notiacutecia histoacuterica da poesia accediloriana de 1915 agrave atualidaderdquo in Estrada Larga vol 3
Porto Editora [sd] pp 425-430 44) De Melo Joseacute Dias (1958) Mar Rubro 1958 2ordf ed 1980
Lisboa ed Salamandra 45) De Melo Joseacute Dias (1964) Pedras Negras 2ordf ed
Lisboa Vega 1985 traduccedilatildeo para inglecircs 1988 Dark Stones ed Gaacutevea-Brown 4ordf ed VerAccedilor 2008
46) De Melo Joseacute Dias (1973) Na noite silenciosa (poesia) 1973 2ordf ed VerAccedilor 2007
47) De Melo Joseacute Dias (1976) Mar pela proa 1976 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
48) De Melo Joseacute Dias (1979) Vinde e Vede Narrativas Lisboa Editorial Ilhas
49) De Melo Joseacute Dias (1983) Vida vivida em terra de baleeiros Angra SREC 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
50) De Melo Joseacute Dias (1990) Das velas de lona agraves asas de alumiacutenio Lisboa ed Salamandra col Garajau
51) De Melo Joseacute Dias (1990) O autoacutegrafo 1990 Lisboa ed Salamandra 2ordf ed 1999 col Garajau
52) De Melo Joseacute Dias (1992) O Menino deixou de ser menino Lisboa ed Salamandra col Garajau
53) De Melo Joseacute Dias (1993) A Viagem do medo maior Lisboa ed Salamandra col Garajau
54) De Melo Joseacute Dias (1994) Pena dela saudades de mim Lisboa ed Salamandra col Garajau
55) De Melo Joseacute Dias (1995) Croacutenicas do Alto da Rocha do Canto da Baiacutea Lisboa ed Salamandra
56) De Melo Joseacute Dias (1996) Inverno sem primavera Lisboa ed Salamandra
57) De Melo Joseacute Dias (2000) Reviver na Festa da Vida a Festa da Morte Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo
58) De Melo Joseacute Dias (2001) Agrave Boquinha da noite Lisboa ed Salamandra
59) De Melo Joseacute Dias (2002) Milhas contadas Lisboa ed Salamandra
60) De Melo Joseacute Dias (2003) Pedras Negras Lisboa Ediccedilotildees Salamandra 3ordf ediccedilatildeo portuguesa
61) De Melo Joseacute Dias de (2004) Poeira do caminho Reminiscecircncias do Passado vivecircncias do Presente Porto Campo das Letras ndash Editores col ldquoInstantes de Leiturardquo
62) De MELO Joseacute Dias de (2007) Na noite silenciada Poemas de Natal Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
63) De MELO Joseacute Dias (2008) Mar Rubro Baleeiros do Pico Ponta Delgada Ver Accedilor Lda Editores 3ordf ediccedilatildeo
64) De Melo Joatildeo (1982) - Haacute ou Natildeo Uma Literatura Accediloriana Lisboa ed Vega
65) De Melo Joatildeo (1983) O Meu Mundo Natildeo eacute Deste Reino Lisboa Publ D Quixote traduzido nos Estados Unidos e
em Espanha 66) De Melo Joatildeo (1988) Gente Feliz com Laacutegrimas
Lisboa Publ D Quixote 1988 Traduzido em Espanha Franccedila Holanda Itaacutelia Romeacutenia e Bulgaacuteria
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau
11
nascimento) Imprensa da Universidade de Coimbra 2005
5) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1987) Raiz Comovida (trilogia romanesca) ed Num soacute volume Editorial Caminho 1987 2ordf ed Revista e remodelada Publicaccedilotildees Dom
Quixote Lisboa 2003 6) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1988) Passageiro em Tracircnsito
novela em espiral ou o romance de um ponto a que se vai acrescentando mais um conto) 1ordm ed Editora Signo
Ponta Delgada 1988 7) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1990) O Braccedilo Tatuado (narrativa
militar aplicada) Editora Signo 8) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1994) Passageiro em tracircnsito
Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 9) Aguiar Cristoacutevatildeo de (1999) Relaccedilatildeo de Bordo (1964-
1988) diaacuterio ou nem tanto ou talvez muito mais Campo das Letras Porto 1999 (Grande Preacutemio APE CMP
2000) 10) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2000) Relaccedilatildeo de Bordo II (1989-
1992) diaacuterio ou nem tantohellip Campo das Letras 11) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Raiz Comovida Trilogia
Romanesca Lisboa Publicaccedilotildees Dom Quixote (Ediccedilatildeo revista e remodelada)
12) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2003) Trasfega casos e contos Publicaccedilotildees Dom Quixote Preacutemio Miguel Torga 2002 1ordf
ed 2003 2ordf ed 2003 13) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2004) Nova Relaccedilatildeo de Bordo (III
Volume) diaacuterio ou nem tantohellip Publicaccedilotildees Dom Quixote 14) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2005) Marilha sequecircncia narrativa
Publicaccedilotildees D Quixote 15) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) A Tabuada do Tempo a
lenta narrativa dos dias Preacutemio Miguel Torga 2006 Livraria Almedina Coimbra
16) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2007) Miguel Torga O Lavrador das Letras um percurso partilhado Livraria Almedina
17) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Braccedilo Tatuado ndash Retalhos da guerra colonial ndash Nova versatildeo P D Quixote 2008 2ordf
ed 2008 18) Aguiar Cristoacutevatildeo de (2008) Charlas Sobre a Liacutengua
Portuguesa Livraria Almedina 2008 19) Barcelos J M Soares de (2008) Dicionaacuterio de Falares
dos Accedilores ed Almedina 20) BETTENCOURT Urbano (2004) Joseacute Martins Garcia a
palavra o riso Separata da revista Arquipeacutelago -Liacutenguas e Literaturas XVII Ponta Delgada Universidade Accedilores
21) BRANDAtildeO Raul (sd) As Ilhas Desconhecidas Notas e Paisagens Lisboa Perspetivas amp Realidades sd
22) BRASIL Luiacutes Antoacutenio de Assis (1994) ldquoA Narrativa Accediloriana poacutes-Vinte e Cinco de Abrilrdquo in Organon vol 8
nordm 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul 23) Chrystello J Chrys (2009) ChroacutenicAccedilores uma circum-
navegaccedilatildeo (vol 1) De Timor a Macau Austraacutelia Brasil Braganccedila ateacute aos Accedilores Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
24) Da Costa Vasco Pereira (1978) Nas Escadas do Impeacuterio Contos Coimbra Centelha 1978
25) Da Costa Vasco Pereira (1979) Amanhece a Cidade romance Coimbra ed Centelha
26) Da Costa Vasco Pereira (1980) Venho caacute mandado do Senhor Espiacuterito Santo novela ed Banco Espiacuterito Santo c Comercial de Lisboa Lisboa
27) Da Costa Vasco Pereira (1981) Ilhiacuteada (poesia) Angra
do Heroiacutesmo SREC col ldquoGaivotardquo 28) Da Costa Vasco Pereira (1984) Plantador de Palavras
Vendedor de Leacuterias Coimbra Cacircmara Municipal 1ordm Preacutemio Miguel Torga 1984
29) Da Costa Vasco Pereira (1987) Memoacuteria Breve contos Angra do Heroiacutesmo Instituto Accediloriano de Cultura
30) Da Costa Vasco Pereira (1992) Riscos de Marear (poesia) Ponta Delgada Eurosigno
31) Da Costa Vasco Pereira (1994) Sobre ripas sobre rimas Coimbra Minerva 1994
32) Da Costa Vasco Pereira (1997) Terras (poesia) 1ordf ed Porto Campo das Letras
33) Da Costa Vasco Pereira (1999) My Californian Friends ed Gaacutevea Brown
34) Da Costa Vasco Pereira (2000) My Californian Friends (2ordf Ediccedilatildeo) Viseu Palimage Editores
35) Da Silveira Pedro (1977) ldquoAccediloresrdquo Grande Dicionaacuterio de Literatura Portuguesa e de Teoria Literaacuteria (coordenaccedilatildeo
Joatildeo Joseacute Cochofel) 1977 1ordm vol 36) Da Silveira Pedro (1999) Fui ao Mar Buscar Laranjas
Angra Direccedilatildeo Regional da Cultura 37) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1978) Ah Mogravenim dum
Corisco (Teatro) New Bedford - Providence Gaacutevea Chama 2ordf ed 1989 3ordf ed 1998 Lisboa ed Salamandra
38) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1983) laquo(Sapa)teia Americana Lisboa Vega 1983 1ordf ed 2ordf ed 2000
Lisboa Salamandra 39) De Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura
Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo [as diversas posiccedilotildees teoacutericas ao longo do tempo e algumas
posiccedilotildees poleacutemicas] Angra do Heroiacutesmo SREC (org) 40) De ALMEIDA Oneacutesimo Teotoacutenio (1986) Da Literatura
Accediloriana Subsiacutedios para um Balanccedilo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
41) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1987) ldquoO que eacute a L(USA)LAcircNDIArdquo in L(USA)LAcircNDIA A deacutecima Ilha Angra do Heroiacutesmo SREC
42) De Almeida Oneacutesimo Teotoacutenio (1994) Que nome eacute
esse oacute Neacutezimo ndash E outros adveacuterbios de duacutevida 1ordf ed Lisboa ed Salamandra
43) De Jesus Eduiacuteno (sd) ldquoBreve notiacutecia histoacuterica da poesia accediloriana de 1915 agrave atualidaderdquo in Estrada Larga vol 3
Porto Editora [sd] pp 425-430 44) De Melo Joseacute Dias (1958) Mar Rubro 1958 2ordf ed 1980
Lisboa ed Salamandra 45) De Melo Joseacute Dias (1964) Pedras Negras 2ordf ed
Lisboa Vega 1985 traduccedilatildeo para inglecircs 1988 Dark Stones ed Gaacutevea-Brown 4ordf ed VerAccedilor 2008
46) De Melo Joseacute Dias (1973) Na noite silenciosa (poesia) 1973 2ordf ed VerAccedilor 2007
47) De Melo Joseacute Dias (1976) Mar pela proa 1976 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
48) De Melo Joseacute Dias (1979) Vinde e Vede Narrativas Lisboa Editorial Ilhas
49) De Melo Joseacute Dias (1983) Vida vivida em terra de baleeiros Angra SREC 2ordf ed Lisboa ed Salamandra
50) De Melo Joseacute Dias (1990) Das velas de lona agraves asas de alumiacutenio Lisboa ed Salamandra col Garajau
51) De Melo Joseacute Dias (1990) O autoacutegrafo 1990 Lisboa ed Salamandra 2ordf ed 1999 col Garajau
52) De Melo Joseacute Dias (1992) O Menino deixou de ser menino Lisboa ed Salamandra col Garajau
53) De Melo Joseacute Dias (1993) A Viagem do medo maior Lisboa ed Salamandra col Garajau
54) De Melo Joseacute Dias (1994) Pena dela saudades de mim Lisboa ed Salamandra col Garajau
55) De Melo Joseacute Dias (1995) Croacutenicas do Alto da Rocha do Canto da Baiacutea Lisboa ed Salamandra
56) De Melo Joseacute Dias (1996) Inverno sem primavera Lisboa ed Salamandra
57) De Melo Joseacute Dias (2000) Reviver na Festa da Vida a Festa da Morte Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo
58) De Melo Joseacute Dias (2001) Agrave Boquinha da noite Lisboa ed Salamandra
59) De Melo Joseacute Dias (2002) Milhas contadas Lisboa ed Salamandra
60) De Melo Joseacute Dias (2003) Pedras Negras Lisboa Ediccedilotildees Salamandra 3ordf ediccedilatildeo portuguesa
61) De Melo Joseacute Dias de (2004) Poeira do caminho Reminiscecircncias do Passado vivecircncias do Presente Porto Campo das Letras ndash Editores col ldquoInstantes de Leiturardquo
62) De MELO Joseacute Dias de (2007) Na noite silenciada Poemas de Natal Ponta Delgada Ver Accedilor Lda
63) De MELO Joseacute Dias (2008) Mar Rubro Baleeiros do Pico Ponta Delgada Ver Accedilor Lda Editores 3ordf ediccedilatildeo
64) De Melo Joatildeo (1982) - Haacute ou Natildeo Uma Literatura Accediloriana Lisboa ed Vega
65) De Melo Joatildeo (1983) O Meu Mundo Natildeo eacute Deste Reino Lisboa Publ D Quixote traduzido nos Estados Unidos e
em Espanha 66) De Melo Joatildeo (1988) Gente Feliz com Laacutegrimas
Lisboa Publ D Quixote 1988 Traduzido em Espanha Franccedila Holanda Itaacutelia Romeacutenia e Bulgaacuteria
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau
12
67) De OLIVEIRA Aacutelamo (1978) Almeida Firmino Poeta dos Accedilores ed DRAC (esgotado)
68) De SAacute Daniel (1988) Bartolomeu (teatro) ed DRAC Angra do Heroiacutesmo SREC
69) De SAacute Daniel (1992) Ilha Grande Fechada (romance) Lisboa ed Salamandra
70) De Saacute Daniel (1995) Croacutenica do Despovoamento das Ilhas (e Outras Cartas de El-Rei) (croacutenicas histoacutericas) Lisboa ed Salamandra
71) De Saacute Daniel (2007) O Pastor das Casa Mortas Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007 72) De Saacute Daniel (2007) Santa Maria Ilha-Matildee Ponta
Delgada ed VerAccedilor 2007
73) De Saacute Daniel (sd) Um trovador na corte de D Sancho
74) Dias Eduardo Mayone (1989) Falares Emigreses 1ordf ed Lisboa Amadora Portugal Instituto de Cultura e Liacutengua Portuguesa Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Distribuiccedilatildeo
comercial Livraria Bertrand 75) Dores Victor Rui (1991) Sobre Alguns Nomes Proacuteprios
Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio) Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa
76) Dores Victor Rui (no prelo) Ilhas do Triacircngulo - coraccedilatildeo dos Accedilores (ed VerAccedilor)
77) FIRMINO Almeida (1982) Narcose Angra do Heroiacutesmo SREC
78) Garcia Joseacute Martins (1973) Feldegato Cantabile (poesia) Antologia Poeacutetica dos Accedilores Angra do Heroiacutesmo SREC 2ordf ed 1979
79) Garcia Joseacute Martins (1974) Katafaraum eacute uma Naccedilatildeo
col Peninsulares Literatura Editor Assiacuterio amp Alvim 80) Garcia Joseacute Martins (1987) Ainda a questatildeo da
Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Universidade dos Accedilores 9-32
81) Garcia Joseacute Martins (1987) Atualidade da Literatura Accediloriana In Para uma Literatura Accediloriana Ponta Delgada Univ dos Accedilores 111-124
82) Garcia Joseacute Martins (1992) Katafaraum ressurreto
Ediccedilatildeo do Autor
83) Garcia Joseacute Martins (1997) Contrabando original Lisboa ed Salamandra col ldquoGarajaurdquo 2ordf ed
84) Kinsella John M (2007) Voices from the islands (An anthology of Azorean Poetry) ed Gaacutevea-Brown USA
85) Nemeacutesio Vitorino (1923) Por que natildeo temos Literatura Accediloriana [entrevista com Vitorino Nemeacutesio por Rebelo de
Bettencourt] In Almeida O T (org) (1983) A Questatildeo da Literatura Accediloriana Recolha de Intervenccedilotildees e Revisitaccedilatildeo Angra do Heroiacutesmo Secretaria Regional da Educaccedilatildeo e Cultura
86) NEMEacuteSIO Vitorino (1932) ldquoAccedilorianidaderdquo in Insula nordm 7-8 Ponta Delgada Julho 1932
87) Nemeacutesio Vitorino (1949) Mau Tempo no Canal Lisboa Livraria Bertrand e Livros Unibolso ed Associados col
laquoBiblioteca Universalraquo 88) NEMEacuteSIO Vitorino (1994) Mau Tempo no Canal 7ordf ed
Lisboa Imprensa Nacional 1994 89) ORRICO Maria (1994) Terra de Liacutedia Lisboa ed
Salamandra 1994 90) Pavatildeo J Almeida (1991) Constantes da insularidade
numa definiccedilatildeo de Literatura Accediloriana In Caminheiros da Cultura Ponta Delgada Instituto Cultural de Ponta
Delgada 133-152 91) Petri Romana (1997) O Baleeiro dos montes Lisboa ed
Salamandra 92) Pires A M B Machado (1983) Para a Discussatildeo de um
Conceito de Literatura Accediloriana Boletim do Instituto Histoacuterico da Ilha Terceira XLI 842-858
93) Pires A M B Machado (1987) A Identidade Cultural dos Accedilores Sep De Arquipeacutelago (seacuterie Liacutenguas e
Literaturas) IX 94) TABUCCHI Antoacutenio (1998) Mulher de Porto Pim ed
Difel 5ordf ed 1998 95) Valadatildeo Serpa Caetano (1978) A Gente dos Accedilores ed
Prelo 1978 96) Valadatildeo Serpa Caetano (2000) Um Pessoa soacute eacute pouca
gente Lisboa ed Salamandra col Garajau