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189 Rev. Bras. Farm., 89(3), 2008 Contribuiªo ao estudo farmacobotnico de Alternanthera sessilis (L.) DC e Althernanthera tenella Colla (Amaranthaceae) Farmacognostic study contribution from Alternanthera sessilis (L.) DC and Althernanthera tenella Colla (Amaranthaceae) Rosilda Mara Mussury 1 ; Magaiver Andrade Silva 2 ; Roseli Betoni 1 ; Silvana de Paula Quintªo Scalon 1 & Adriana M. M. M. Felipe de Melo 2 Recebido em 14/01/2008 1 Biloga, Universidade Federal da Grande Dourados (Rodovia Dourados-Itahum, Km 12 Dourados/MS - 798000 Brasil 2 FarmacŒutico, Centro UniversitÆrio da Grande Dourados - UNIGRAN Rua Balbina Vieira de Matos, 2121 - Jardim UniversitÆrio - Dourados/MS 79824-900 SUMMARY The species Alternanthera sessilis (L.) DC. and Alternanthera tenella Colla were collected in Dourados-MS and their leaf anatomies were investigated aiming to collect their characteristics. The petiole presents plan-convex form in A. sessilis and concave-convex in A. tenella; the dermis and basic system were similar. The vascular supply consists of three bigger bundles placed in the center of the organ and a smaller bundle in each portion of the lateral A. sessilis petiole In A. tenella, it was observed four to five bigger collateral bundles which were opened and centered and two smaller ones in each lateral portion of the petiole. In the transverse section of the leaf, epidermis was unisseriated with ano- mocytic stomata predominance in both species, paracytics in A. sessilis and diacytics in A. tenella. Glan- dular trichomes and pluricellular, unisseriated tectores and dorsiventral mesophylls were observed. In the A. sessilis internerval region occurs palisade parenchyma layer and three to four incomplete ones. In A. tenella, one or two layers of palisade parenchyma and four to five incomplete ones. The collateral vascular bundles of the species are surrounded by a sheath with parenchymatic cells. A. sessilis primary vein was plan-convex and biconvex in A.tenella. Below the epidermis of both species, it was observed some layers angular colenchyma followed by several parenchymatous cells. The vascular system in A. tenella and A. sessilis primary vein consists of a collateral bundle. KEYWORDS Alternanthera sessilis, Alternanthera tenella, medicinal plants, leaf anatomy. RESUMO As espØcies Alternanthera sessilis (L.) DC e Alternanthera tenella Colla foram coletados na regiªo de Dourados-MS e tiveram sua anatomia foliar investigada com o objetivo de levantar caracteres que auxiliem a identificaªo. A folha de A. sessilis possui forma espatulada diferindo da folha de A. tenella que Ø de forma elptica. O pecolo apresenta formato plano-convexo em A. sessilis e cncavo- convexo em A. tenella, sendo o sistema dØrmico e fundamental semelhantes. Em A. sessilis o suprimento vascular formado de trŒs feixes maiores situados no centro do rgªo, entremeados por cØlulas parenqui- mÆticas pouco volumosas e um feixe menor em cada porªo lateral do pecolo. Em A. tenella foi registrada a presena de 4 a 5 feixes colaterais abertos maiores no centro do rgªo e dois menores em cada porªo lateral do pecolo. Em secªo transversal do limbo, o sistema dØrmico das espØcies consta de epiderme unisseriada com predominncia de estmatos do tipo anomocticos em ambas as espØcies, paracticos em A. sessilis e diacticos em A. tenella. Nas duas espØcies observam-se tricomas glandulares e tectores pluricelulares, unisseriados e mesofilo dorsiventral. Na regiªo internervural de A. sessilis ocorre uma camada de parŒnquima paliÆdico e 3 a 4 de lacunoso; em A. tenella ocorre 1 a 2 camadas de parŒnquima paliÆdico e 4 a 5 de lacunoso. Os feixes vasculares colaterais das espØcies estªo rodeados por uma bainha de cØlulas parenquimÆticas. A nervura primÆria de A. sessilis Ø plano-convexa e a de A. tenella biconvexa. Nessa regiªo, abaixo da epiderme de ambas as espØcies, observam-se camadas de colŒnquima angular, seguida de vÆrias camadas de cØlulas parenquimÆticas. O sistema vascular na nervura primÆria em A. tenella e A. sessilis consta de um feixe colateral. PALAVRAS-CHAVE Alternanthera sessilis, Alternanthera tenella, planta medicinal, anatomia foliar. INTRODU˙ˆO P armetros morfoanatmicos possibilitam o controle botnico de qualidade de insumos farmacŒuticos auxiliando a autenticidade de drogas e seus adulte- rantes, identificando e separando uma determinada es- pØcie vegetal de outras (ZANETTI & et al., 2004). DI STASI (1996) assinala a importncia da anÆlise morfo- anatmica para o controle de qualidade da matØria- prima vegetal na indœstria farmacŒutica, justificando que essa anÆlise fornece subsdios que contribuem na padronizaªo dos insumos, permitindo a diferenciaªo inclusive, entre espØcies botanicamente prximas. A co- mercializaªo de espØcies medicinais realizada por 133/437 Farmacobotnica Pesquisa Rev. Bras. Farm., 89(3): 189-193, 2008

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189Rev. Bras. Farm., 89(3), 2008

Contribuição ao estudo farmacobotânicode Alternanthera sessilis (L.) DC

e Althernanthera tenella Colla (Amaranthaceae)Farmacognostic study contribution from Alternanthera sessilis (L.) DC and

Althernanthera tenella Colla (Amaranthaceae)

Rosilda Mara Mussury1; Magaiver Andrade Silva2; Roseli Betoni1;Silvana de Paula Quintão Scalon1 & Adriana M. M. M. Felipe de Melo2

Recebido em 14/01/20081Bióloga, Universidade Federal da Grande Dourados (Rodovia Dourados-Itahum, Km 12 � Dourados/MS - 798000 � Brasil

2Farmacêutico, Centro Universitário da Grande Dourados - UNIGRANRua Balbina Vieira de Matos, 2121 - Jardim Universitário - Dourados/MS 79824-900

SUMMARY � The species Alternanthera sessilis (L.) DC. and Alternanthera tenella Colla were collected inDourados-MS and their leaf anatomies were investigated aiming to collect their characteristics. Thepetiole presents plan-convex form in A. sessilis and concave-convex in A. tenella; the dermis and basicsystem were similar. The vascular supply consists of three bigger bundles placed in the center of theorgan and a smaller bundle in each portion of the lateral A. sessilis petiole In A. tenella, it was observedfour to five bigger collateral bundles which were opened and centered and two smaller ones in eachlateral portion of the petiole. In the transverse section of the leaf, epidermis was unisseriated with ano-mocytic stomata predominance in both species, paracytics in A. sessilis and diacytics in A. tenella. Glan-dular trichomes and pluricellular, unisseriated tectores and dorsiventral mesophylls were observed. Inthe A. sessilis internerval region occurs palisade parenchyma layer and three to four incomplete ones. InA. tenella, one or two layers of palisade parenchyma and four to five incomplete ones. The collateralvascular bundles of the species are surrounded by a sheath with parenchymatic cells. A. sessilis primaryvein was plan-convex and biconvex in A.tenella. Below the epidermis of both species, it was observedsome layers angular colenchyma followed by several parenchymatous cells. The vascular system in A.tenella and A. sessilis primary vein consists of a collateral bundle.

KEYWORDS � Alternanthera sessilis, Alternanthera tenella, medicinal plants, leaf anatomy.

RESUMO � As espécies Alternanthera sessilis (L.) DC e Alternanthera tenella Colla foram coletados naregião de Dourados-MS e tiveram sua anatomia foliar investigada com o objetivo de levantar caracteresque auxiliem a identificação. A folha de A. sessilis possui forma espatulada diferindo da folha de A.tenella que é de forma elíptica. O pecíolo apresenta formato plano-convexo em A. sessilis e côncavo-convexo em A. tenella, sendo o sistema dérmico e fundamental semelhantes. Em A. sessilis o suprimentovascular formado de três feixes maiores situados no centro do órgão, entremeados por células parenqui-máticas pouco volumosas e um feixe menor em cada porção lateral do pecíolo. Em A. tenella foi registradaa presença de 4 a 5 feixes colaterais abertos maiores no centro do órgão e dois menores em cada porçãolateral do pecíolo. Em secção transversal do limbo, o sistema dérmico das espécies consta de epidermeunisseriada com predominância de estômatos do tipo anomocíticos em ambas as espécies, paracíticos emA. sessilis e diacíticos em A. tenella. Nas duas espécies observam-se tricomas glandulares e tectorespluricelulares, unisseriados e mesofilo dorsiventral. Na região internervural de A. sessilis ocorre umacamada de parênquima paliçádico e 3 a 4 de lacunoso; em A. tenella ocorre 1 a 2 camadas de parênquimapaliçádico e 4 a 5 de lacunoso. Os feixes vasculares colaterais das espécies estão rodeados por umabainha de células parenquimáticas. A nervura primária de A. sessilis é plano-convexa e a de A. tenellabiconvexa. Nessa região, abaixo da epiderme de ambas as espécies, observam-se camadas de colênquimaangular, seguida de várias camadas de células parenquimáticas. O sistema vascular na nervura primáriaem A. tenella e A. sessilis consta de um feixe colateral.

PALAVRAS-CHAVE � Alternanthera sessilis, Alternanthera tenella, planta medicinal, anatomia foliar.

INTRODUÇÃO

Parâmetros morfoanatômicos possibilitam o controle botânico de qualidade de insumos farmacêuticosauxiliando a autenticidade de drogas e seus adulte-rantes, identificando e separando uma determinada es-pécie vegetal de outras (ZANETTI & et al., 2004). DI

STASI (1996) assinala a importância da análise morfo-anatômica para o controle de qualidade da matéria-prima vegetal na indústria farmacêutica, justificandoque essa análise fornece subsídios que contribuem napadronização dos insumos, permitindo a diferenciaçãoinclusive, entre espécies botanicamente próximas. A co-mercialização de espécies medicinais realizada por

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pessoas pouco especializadas, os �mateiros� ou �rai-zeiros� é livre e promove muitas vezes, trocas ou subs-tituições, contribuindo para a adulteração da matéria-prima vegetal (DELAPORTE & et al., 2002).

As características morfoanatômicas e farmacológicasdas Amaranthaceae vêm sendo estudadas por diversosautores: BONA & MORRETES (1997) DELAPORTE &et al., (2002) MUSSURY (2003); MUSSURY & et al.,(2006), sendo muitas das espécies comercializadas eutilizadas pela população da cidade de Dourados/MS,para o tratamento de diversas patologias. Althernan-thera sessilis (L.) DC. conhecida popularmente porperiquito-séssil (SMITH & DOWNS, 1972) vem sendoutilizada para fins medicinais e, facilmente, no estágiovegetativo, é confundida com Althernanthera tenellaColla, conhecida como apaga-fogo (FERREIRA & et al,.2003), a espécie mais freqüente de todo o gênero. Deacordo com a população rural de Dourados/MS, A. ses-silis tem sido utilizada na cura de pedras na vesícula enos rins e A. tenella, a infusão de folhas, é usada comodiurético (SIQUEIRA, 1987). Os órgãos aéreos de A.tenella são utilizados na medicina popular brasileiraem forma de extrato aquoso como antiinflamatório, an-tibiótico, no tratamento de febres, infecções e inflama-ções genitais (FERREIRA & et al., 2003). Os estudosmorfoanatômicos de espécies medicinais utilizadas naFitoterapia, fundamentais para o estabelecimento docontrole de qualidade, têm sido relatados por DELA-PORTE & et al., (2002), BROCHADO & et al., (2003),MUSSURY (2003), FANK-DE-CARVALHO & GRACI-ANO-RIBEIRO, (2005); MUSSURY & et al., (2006);MUSSURY& et al., (2007); MUSSURY & SCALON(2007). No entanto, visando à distinção entre Alternan-thera sessilis e Althernanthera tenella, não há relatosna literatura.

Assim, a presente pesquisa objetivou a caracteriza-ção morfoanatômica das folhas de Alternanthera sessi-lis e Althernanthera tenella visando levantar caracte-res que possam ser imprescindíveis na sua identifica-ção, no controle de qualidade da droga vegetal e aná-lise farmacognóstica, principalmente, por serem as es-pécies facilmente utilizadas por suas propriedades me-dicinais pela população local.

MATERIAL E MÉTODOS

Plantas de Alternanthera sessilis (L.) DC. (periqui-to-séssil) e Althernanthera tenella Colla (apaga fogo)� Amaranthaceae estão depositadas no Herbário daCidade de Dourados sob o número 196 e 199, respecti-vamente.

Folhas de ambas as espécies foram coletadas no hortode plantas medicinais do Centro Universitário da Gran-de Dourados e trazidas para o Laboratório de Botânicapara serem analisadas posteriormente. Dez folhas to-talmente expandidas de cada espécie, situadas no quin-to nó, contando a partir da gema apical foram seccio-nadas à mão-livre na região mediana do limbo e pecío-lo em secções transversais. As secções transversais ob-tidas à mão-livre foram clarificadas com hipoclorito desódio a 20% e, após serem lavadas em água acética 2%,foram submetidas à dupla coloração com azul de astrae safranina (BUKATSCH, 1972), montadas em gelatinaglicerinada (DOP & GAUTIÉ, 1928) e lutadas com es-malte, segundo técnicas usuais descritas em KRAUS &ARDUIN (1997). Paralelamente, efetuaram-se cortes pa-

radérmicos na região mediana do limbo na face ada-xial e abaxial à mão-livre, com lâmina de aço. Tambémfoi realizada a técnica de dissociação pelo método demaceração de Jeffrey (JOHANSEN, 1940), utilizando-se safranina aquosa para coloração.

Testes histoquímicos foram realizados com as solu-ções de Sudan III para substâncias lipofílicas (SASS,1951) e, para a verificação da composição química doscristais (CHAMBERLAIN, 1932). Os resultados obti-dos foram documentados através de desenhos com au-xílio de câmara clara, adaptada a microscópio Colle-man e fotografias da planta inteira com máquina Ni-kon à qual se adaptou uma objetiva de macro. Após aanálise do laminário, foram realizadas fotomicrogra-fias em microscópico trinocular Labomed CXRII, aco-plado à câmera fotográfica Sony Cyber Shot 4.1.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

� MorfologiaO porte de Alternanthera sessilis (L.) DC. é herbá-

ceo, caule prostrado, ramosos, estriados e levementepilosos. As folhas são simples (Fig. 1 e 3), peninér-veas, curto-pecioladas e com filotaxia oposta-cruzada(Fig. 5), a forma do limbo é espatulada com ápice agu-do, base obtusa e margem inteira. Em A. tenella Colla,o porte é herbáceo, as folhas são simples (Fig. 2 e 4),curto-pecioladas e com filotaxia oposta-cruzada (Fig.6), forma do limbo elíptica, ápice agudo, base obtusa emargem inteira.

Em A. brasiliana, DELAPORTE & et al., (2002) ob-servaram que as folhas são simples, peninérvias, opos-tas cruzadas e levemente pilosas em ambas as faces.O limbo é oval-lancelado, de margem inteira levemente

FIG. 1-6 � Aspecto geral de Alternanthera sessilis e Alternanthera tenella. 1. Aspectogeral de A. sessilis. 2. Aspecto geral de A. tenella. 3. Detalhe de A. sessilis. 4. Detalhe deA. tenella. 5. Ramo de A. sessilis. 6. Ramo de A. tenella. Barras = 1cm.

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ondulada, base atenuada, ápice agudo e levementeacuminado. O contorno da secção transversal do pe-cíolo (Fig. 7 e 8) é um caráter macromorfológico útilna distinção das espécies de Alternanthera. Em A.sessilis o pecíolo apresenta aspecto plano-convexo,tendendo a plano na face adaxial e convexo na faceabaxial (Fig. 7); em A. tenella (Fig. 8) o formato écôncavo-convexo sendo a face adaxial côncava e aba-xial convexa.

� Anatomia do pecíoloEm secção transversal mediana, o pecíolo de A. ses-

silis e A. tenella constitui-se de epiderme unisseriadacom células de paredes delgadas recobertas por cutí-cula delgada (Fig. 9, 10, 11 e 12) Tricomas tectores plu-ricelulares, unisseriados e tricomas glandulares apa-recem em A. sessilis (Fig. 13, 14 e 15) e A. tenella(Fig. 16 e 17). Na espécie A. sessilis ocorrem tricomasglandulares pluricelulares e unisseriados com célulaapical rica em compostos lipídicos (Fig. 13 e 14) e tec-tores pluricelulares unisseriados e não ramificados (Fig.15). A Alternanthera tenella apresenta tricomas tecto-res pluricelulares e unisseriados (Fig. 16 e 17) e glan-dulares pluricelulares e não ramificados idênticos aosde A. sessilis. Em A. sessilis e A. tenella foram obser-vadas ornamentações em toda extensão dos tricomastectores (Fig. 15 e 17) e, em A. tenella, saliências nas

paredes anticlinais nas células do tricoma tector sãobem evidentes acompanhadas de �plicaduras� nas pa-redes transversais (Fig. 16).

MENEZES & et al., (1969) relata as ornamentaçõesnos tricomas em P. jubata Mart. e CHODAT & REHFOUS(1926), observando paredes transversais providas deplicaduras nos tricomas do caule de Alternanthera aquati(Parodi) CHODAT, comentando que os tricomas se cons-tituem num importante reforço para mantê-los em posi-ção perpendicular à superfície do caule.

DELAPORTE & et al., (2002) define os tricomas fo-liares de A. brasiliana como tectores pluricelulares or-namentados em função das papilas encontradas. Deacordo com SOLEREDER, (1908) e METCALFE &CHALK (1950), os tricomas pluricelulares unisseria-dos são os mais comuns nas Amaranthaceae.

Os resultados obtidos no presente trabalho condi-zem com as descrições de HANDRO (1967) que obser-vou nas Alternanthera esse mesmo tipo. As duas espé-cies estudadas apresentaram de 3 a 5 faixas descontí-nuas de colênquima angular em posição subepidérmi-ca. O parênquima fundamental é constituído por célu-las isodiamétricas, paredes delgadas e espaços inter-celulares. Observa-se a presença de drusas nessa re-gião. O suprimento vascular consta de três feixesmaiores situados no centro do órgão, entremeados porcélulas parenquimáticas pouco volumosas e um feixemenor, em cada porção lateral do pecíolo em A. sessilis(Fig. 7). Em A. tenella foi registrada a presença de 4a 5 feixes colaterais abertos maiores no centro do ór-gão e, dois menores, em cada porção lateral do pecíolo(Fig. 8).

� Lâmina foliarEm secção paradérmica observa-se que, em ambas

as espécies, o limbo é anfiestomático, sendo os estôma-tos de A. sessilis do tipo anomocítico e paracítico (Fig.18 e 19) e, em A. tenella, anomocítico e diacítico, sen-do estes últimos visualmente em maior número (Fig.20 e 21). Em ambas as espécies ocorrem tricomas tecto-res e glandulares pluricelulares não ramificados, idên-ticos aos do pecíolo. As células epidérmicas da faceadaxial (Fig. 18 e 20) apresentam contorno menos si-nuoso do que as da face adaxial (Fig. 19 e 21). Talcaracterística foi também observada em outros gênerosde Amaranthaceae dos cerrados: Froelichia Vahl, Gom-phrena L. e Pfaffia Mart. (HANDRO, 1964; 1967),

FIG. 9-17 � Pecíolo de Alternanthera sessilis e Alternanthera tenella. 9. Face adaxial daepiderme de A. sessilis.10. Face abaxial da epider me de A. sessilis. 11. Face adaxial daepiderme de A. tenella. 12. Face abaxial da epiderme de A. tenella. 13 e 14. Tricomaglandular de A. sessilis.15. Tricoma tector de A. sessilis. 16 e 17. Tricoma tector de A.tenella. (Sinuosidade nas paredes transversais seta). (EP=epiderme, CO=colênquima,TG=tricoma glandular, TT=tricoma tector). Barras=50µm

FIG. 18-21 � Diagrama da secção paradérmica da epiderme. 18. Face adaxial da epidermede Alternanthera sessilis. 19. Face abaxial da epiderme de A. sessilis 20. Face adaxial daepiderme de A. tenella. 21. Face abaxial da epiderme de A. tenella. Barras = 50µm.

FIG. 7-8 � Diagrama da secção transversal do pecíolo. 7. Alternathera sessilis. 8.Alternanthera tenella. Barras =1cm.

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Amaranthus viridis L., por VIANA (1992), Alternan-thera brasiliana (L.) Kuntze (DELAPORTE & et al.,2002), Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen (MUS-SURY, 2003) e em folhas jovens de Gomphrena ele-gans Mart., por MUSSURY & et al., (2006).

MORAES & PAOLI, (1999) restringem o uso da si-nuosidade das células epidérmicas para fins taxonô-micos e, de acordo com PYYKKÖ (1979), tal caracterís-tica é variável em plantas submetidas a diferentes am-bientes.

Em secção transversal mediana observa-se que anervura primária em A. sessilis apresenta formato pla-no convexo (Fig. 22) e em A. tenella, biconvexo (Fig.23). Nas duas espécies, as células epidérmicas de am-bas as faces apresentam tamanho reduzido e estão co-bertas por cutícula delgada.

O limbo de A. sessilis e A. tenella apresenta epi-derme unisseriada, constituída por células de tamanhosvariados e parede periclinal externa recoberta por cutí-cula delgada. De acordo com METCALFE &CHALK(1950) e HANDRO (1964, 1967), as Amaran-thaceae apresentam ambas as faces da epiderme mo-noestratificada. Em A. sessilis, na região subepidérmi-ca da face abaxia, ocorre uma a duas camadas de co-lênquima angular, não ocorrendo na face adaxial. EmA. tenella, observa-se duas camadas de colênquimaangular na face abaxial e 3 a 4 na face adaxial. O teci-do vascular é formado por um feixe colateral em A. ses-silis e A. tenella (Fig. 24 e 25). Na região internervu-ral, observa-se que o mesofilo é dorsiventral nas duasespécies. O tecido paliçádico é composto de um só es-trato de células alongadas. O parênquima lacunoso éconstituído por 3 a 4 estratos celulares em A. sessilis.Em A. tenella, o parênquima paliçádico constitui-se deuma, ocasionalmente, duas camadas de células alon-

gadas e o parênquima lacunoso é constituído por 4 a 5estratos celulares frouxamente dispostos. Drusas sãocomuns no mesofilo das duas espécies. Os feixes vas-culares de menor calibre apresentam bainha de célulasparenquimáticas (Fig. 26 e 27). Essa bainha ao redordos feixes com células parenquimáticas com cloroplas-tos foi observada por BONA(1993) em A. philoxeroides(Mart.) Griseb e em A. aquatica.

As análises morfoanatômicas foliares realizadas con-tribuem para a identificação correta dessas espéciesvisando o controle de qualidade e análise farmacog-nóstica. Inúmeros parâmetros descritos para as espé-cies são de grande valor, entre eles, os mais relevantesobservados, nas folhas de A sessilis e A. tenella foram:forma do limbo e do pecíolo, formato da nervura primá-ria e distribuição do colênquima angular. Na regiãointernervural, diferenças no número de camadas decélulas do parênquima paliçádico e lacunoso e dife-rença no tipo de estômatos.

CONCLUSÃO

As espécies do gênero Althernanthera analisadasapresentam características em comum ao gênero, comoa presença de idioblastos contendo drusas, tricomas tec-tores e glandulares, bainha de células parenquimáticasrodeando os feixes. Porém, é possível através do estudoanatômico distinguir as duas espécies pela forma do lim-bo e do pecíolo, formato da nervura primária e distribui-ção do colênquima angular. Na região internervural,diferenças no número de camadas de células do parên-quima paliçádico e lacunoso e no tipo de estômatos.Dessa forma a anatomia mostrou-se como um importan-te parâmetro para a identificação da espécie, visando ocontrole de qualidade e análise farmacognóstica.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq (Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelabolsa concedida e à FUNDECT-MS (Fundação de Apoioao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologiado Estado de Mato Grosso do Sul) o apoio financeiro.Ao Prof. Dr. Josafá Carlos de Siqueira, da PontifíciaUniversidade Católica do Rio de Janeiro, pela identifi-cação botânica das espécies.

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FIG. 22-27 � Metafilo de Alternanthera sessilis e Alternanthera tenella. 22. Visão geralda nervura central de A. sessilis. 23. Visão geral da nervura central de A. tenella. 24.Nervura primária de A. sessilis. 25. Nervura primária de A. tenella. 26 e 27. Regiãointernervural de A. sessilis e A. tenella. (EP=epiderme, BA=bainha do feixe, FV=feixevascular), PP=parênquima paliçádico, PL= parênquima lacunoso). Barras=50µm.

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Endereço para correspondênciaRosilda Mara MussuryE-mail: [email protected] Antônio de Carvalho 2620 � BNH - 3º planoDourados-MS79800-000