demodicose canina: tratamento e controle aline lemos pimenta

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FEAD Aline Lemos Pimenta DEMODICOSE CANINA: TRATAMENTO E CONTROLE Belo Horizonte 2012

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Page 1: Demodicose canina:  Tratamento e Controle Aline Lemos Pimenta

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FEAD

Aline Lemos Pimenta

DEMODICOSE CANINA:

TRATAMENTO E CONTROLE

Belo Horizonte

2012

Page 2: Demodicose canina:  Tratamento e Controle Aline Lemos Pimenta

1

Aline Lemos Pimenta

DEMODICOSE CANINA: TRATAMENTO E CONTROLE

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado a FEAD como requisito

parcial para obtenção do título de

Médica Veterinária

Orientadora: Dra. RONIZE ANDRÉIA FERREIRA

Belo Horizonte

2012

Page 3: Demodicose canina:  Tratamento e Controle Aline Lemos Pimenta

2

Pimenta, Aline Lemos.

P644d Demodicose canina: Tratamento e controle. / Aline

Lemos Pimenta - Belo Horizonte: 2012.

21f.

Orientador: Ronize Andréia Ferreira.

Bibliografia: 19-21f

I.Ferreira, Ronize Andréia II. Título 1. Cães

2. Demodicose – Tratamento 3. Lactonas macrocíclicas.

CDU: 636.7

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me guiar e dar forças em mais esta etapa da minha vida.

Aos meus pais Liani e Marconi pelo apoio, pois não mediram esforços para que esse sonho se

tornasse realidade e me ampararam em todos os momentos de incertezas e dificuldades.

À minha irmã Lívia que sempre me conforta e dá apoio quando eu mais preciso.

Aos amigos e parentes Geralda de Almeida, Vera Lúcia, Marcelo Telles Gontijo, Tio

Augustinho que de alguma forma estiveram presentes nesse momento de conquista.

À professora e doutora Ronize Andréia Ferreira que me orientou, sempre foi atenciosa e é um

grande exemplo a ser seguido.

À minha querida Belinha que é parte da família e uma fonte especial de inspiração.

Page 5: Demodicose canina:  Tratamento e Controle Aline Lemos Pimenta

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RESUMO

A demodicose conhecida também como sarna demodécica, sarna folicular ou sarna negra é

uma doença parasitária inflamatória de cães caracterizada pela proliferação exacerbada de

ácaros demodécicos. A infecção possui duas formas, a localizada e a generalizada, sendo que

o tratamento deverá consistir de um acaricida eficaz como também de antibacterianos e

antiparasiticidas. O uso tópico do amitraz era a terapia de escolha para o tratamento da

demodicose canina. Atualmente, as lactonas macrocíclicas, uma nova classe de fármacos de

ação sistêmica tem sido eficiente no combate desta doença. Porém, os protocolos de

tratamentos devem ser mais bem avaliados para se chegar ao consenso de qual terapia possui

melhores resultados.

Palavras-chave: sarna, demodicose, acaricida, amitraz, lactonas macrocíclicas.

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ABSTRACT

The demodicosis also known as demodectic mange, follicular mange or scabies black is an

inflammatory parasitic disease of dogs characterized by the proliferation of mites

demodécicos exacerbated. The demodicosis has two forms, localized and generalized, and the

treatment should consist of an effective acaricide but also antibacterial and antiparasiticidas.

Today, after more than 20 years of topical amitraz as a more appropriate drug for treatment of

canine demodicosis, a new class of drugs for systemic action has been effective in combating

this disease, are the macrocyclic lactones. However, treatment protocols should be better

evaluated to arrive at consensus on which therapy has better results.

Keywords: mange, demodicosis, acaricide, amitraz, macrocyclic lactones.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Formas imatura e adulta de Demodex canis.................................................................9

Figura 2 Cão com forma localizada de demodicose na região facial........................................12

Figura 3 Fotografia de um cão com demodicose severa...........................................................16

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

® Marca registrada

% Porcentagem

cm Centímetros

MDR1 Multidrug resistance

mg/kg Miligrama por quilo

ml/kg Mililitros por quilo

IM Intramuscular

IV Intravenosa

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SUMÁRIO

1 Introdução...............................................................................................................................9

2 Revisão de Literatura...........................................................................................................10

2.1 Tratamento da Demodicose Canina Localizada........................................................11

2.2 Tratamento da Demodicose Canina Generalizada....................................................12

2.3 Controle da Demodicose Canina.................................................................................17

3 Considerações Finais............................................................................................................18

Referências Bibliográficas .....................................................................................................19

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1 - INTRODUÇÃO

A demodicose conhecida também como sarna demodécica, sarna folicular ou sarna negra é

uma doença parasitária inflamatória de cães caracterizada pela proliferação exacerbada de

ácaros demodécicos (SCOTT et al., 1996). Inicialmente, a doença pode ser devido a distúrbio

do sistema imunológico ou à genética do animal. Outros fatores que podem desencadear o

distúrbio são idade, tipo de pelo, má nutrição, estro, parto, estresse, tratamentos

imunossupressores, endoparasitas e doenças debilitantes (FOSTER; SHAW, 2000).

É causada por um desequilíbrio na microbiota da pele dos cães, pois a presença do Demodex

canis (Figura 1) em pequena quantidade no hospedeiro não é capaz de causar doença. Esses

ácaros estão presentes no folículo piloso, glândulas sebáceas e sudoríparas de animais normais

(NICOLUCCI, 2010). O diagnóstico pode ser feito através de raspado profundo de pele.

Apesar de ser uma patologia comum, é objeto de debate em reuniões em vários países, pois o

tratamento é trabalhoso e às vezes não consegue combater a doença de forma eficaz fazendo

com que muitos cães sejam submetidos à eutanásia em função de consecutivas recidivas

(MUELLER et al., 2012a).

Figura 1 – Formas imatura e adulta de Demodex canis.

Fonte: leicesterskinvet.com/wp-content/uploads/2010/09/Demodex3.jpg

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A transmissão pode ocorrer durante a amamentação com o contato direto da cadela e seus

filhotes. A patogenia ocorre quando há proliferação excessiva, e lesões primárias poderão ser

a porta de entrada para infecções secundárias que mudarão o curso do tratamento. Desta

forma a terapia deve ser mais abrangente e capaz de combater além dos ácaros também

bactérias e outros microorganismos oportunistas como os fungos. Além disso, a demodicose é

uma dermatopatia influenciada por fatores ligados ao hospedeiro como os raciais, sendo que

algumas raças puras como Basset hound, Beagle, Boxer, Buldog Inglês, Chihuahua,

Dachshund, Pug, Dobermans, Pinchers, Border Collie e Sharpei são mais predisponentes.

(NICOLUCCI et al., 2010; SANTARÉM, 2007; SILVA et al., 2008).

A demodicose possui duas formas, a localizada e a generalizada, sendo que o tratamento

deverá consistir de antibacterianos, antiparasiticidas, acaricidas além de combater doenças

sistêmicas em alguns casos, principalmente em animais adultos, como hiperadrenocorticismo,

neoplasias e hipotireoidismo. A terapia para ser eficaz não depende somente do fármaco

utilizado, mas também do comprometimento do proprietário que deverá seguir

minuciosamente todas as recomendações e ser bem informado sobre o prognóstico da doença

(MUELLER et al., 2012a; SILVA et al., 2008).

O uso tópico do amitraz era a terapia de escolha para o tratamento da demodicose canina,

entretanto, atualmente, as lactonas macrocíclicas, uma nova classe de fármacos de ação

sistêmica tem sido eficiente no combate desta doença. Porém, os protocolos de tratamentos

devem ser mais bem avaliados para se chegar ao consenso de qual terapia possui melhores

resultados (SILVA et al., 2008).

2 – REVISÃO DE LITERATURA

Atualmente temos disponíveis variados medicamentos para o combate de agentes causadores

de sarna em cães, mas muitas vezes não se consegue o resultado esperado em um curto

prazo. Esta revisão permite inferir quais são os tratamentos administrados atualmente, assim

como as vias de administração.

Alguns medicamentos se administrados indiscriminadamente em pequenos animais podem

causar intoxicação e levar à sedação, hipotermia, bradicardia, bradiarritmias, hipotensão,

bradipnéia, midríase e hiperglicemia transitória (ANDRADE et al., 2008).

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Muitas vezes devem ser observados fatores referentes ao hospedeiro antes mesmo de se

escolher e iniciar o tratamento. Episódios de vômitos e diarreia também são observados

(SCHNABL et al., 2010). Os cães com sinais de toxicidade por amitraz podem ser tratados

com antagonistas α2 adrenérgicos como o cloridrato de ioimbina (0,1mg/kg, IV, IM) ou

atipamezole (0,1 a 0,2mg/kg, IV, IM) associado à fluidoterapia parenteral e não há indicação

para o uso de atropina (SILVA et al., 2008). Algumas raças são mais predisponentes à

intoxicação por determinados fármacos, por isso deve-se ter um enorme cuidado na escolha

do tratamento que deve ser eficaz, mas sem causar efeitos colaterais graves ao animal.

Para um controle eficaz das infestações desses parasitas é indispensável não utilizar os

animais acometidos pela sarna demodécica como reprodutores, por ser uma doença de fator

hereditário, sendo importante proceder com a castração quando constatada a doença.

2.1 - TRATAMENTO DA DEMODICOSE CANINA LOCALIZADA

A demodicose localizada (Figura 2) é caracterizada por alguns autores quando há no máximo

quatro lesões que não ultrapassam 2,5 cm (MEDLEAU; HNILICA, 2003). A sarna

demodécica é uma doença que em geral se cura espontaneamente em seis a oito semanas,

porém recidivas podem ocorrer (DELAYTE et al., 2006).

Caso seja indicado algum tratamento deve-se utilizar um shampoo à base de peróxido de

benzoíla (2-3%) que é desengordurante, e que contenha glicerina em sua formulação por ser

um emoliente que diminui as chances de ocorrer a piora das lesões devido à ação irritante do

peróxido de benzoíla. Após molhar o pelo deve-se aplicar o produto e massagear até obter

espuma, logo após enxaguar e repetir a aplicação deixando agir por dez minutos e enxaguar

novamente. A frequência da terapia, poderá ser 1 aplicação a cada 5 dias durante 1 a 2

semanas (DELAYTE et al., 2006; MUELLER et al.,2012a).

Outro produto utilizado é o shampoo à base de clorexidina a 4% que agirá como

antibacteriano por tempo prolongado no caso de piodermites e os banhos devem ser feitos da

mesma forma que os feitos com peróxido de benzoíla, porém pode ser utilizado até duas vezes

por semana (GUERRA, et al., 2010). O proprietário deverá controlar o estado de saúde

fornecendo uma dieta apropriada, resolver problemas com endoparasitas.

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Vacinar o animal contra viroses e leptospirose também é importante, pois qualquer doença

que cause debilidade imunológica pode predispor o animal à demodicose. Após quatro

semanas o clínico deve determinar se houve evolução para a demodicose

generalizada ao observar se no novo raspado de pele há aumento de ácaros e da relação

de imaturos para adultos (SCOTT et al., 1996).

Figura 2 – Cão com forma localizada de demodicose na região facial.

Fonte: anaquevedodicasvet.blogspot.com.br

2.2 – TRATAMENTO DA DEMODICOSE CANINA GENERALIZADA

Um dos tratamentos para a demodicose generalizada é feito ao administrar banhos com

solução tópica à base de peróxido de benzoíla a 2,5%, a cada cinco dias (DELAYTE et al.,

2006), para remover crostas e outros debris (SCOTT et al., 1996). Os animais acometidos por

piodermite são tratados com antibioticoterapia, podendo usar a cefalexina (30mg/kg, via oral,

a cada 12 horas, por três a quatro semanas), ou ainda a enrofloxacina 10%, na dose de 5mg/kg

(MORAES et al., 2008).

A influência da combinação do tratamento acaricida com a terapia antibacteriana foi estudada

recentemente para avaliar a duração do tratamento quando a antibioticoterapia é feita

concomitantemente, e com isso verificou-se que os antibióticos sistêmicos não interferem

negativamente na eficiência do tratamento para demodicose canina generalizada

(KUZNETSOVA et al., 2012).

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Dos acaricidas disponíveis, o mais amplamente usado é o amitraz que por vezes deve ter sua

aplicação repetida devido à dificuldade em atingir os ácaros de localização mais profunda na

derme o que impossibilita resultados rápidos. Deve ser utilizado em concentrações entre 0,025

a 0,06%, uma vez por semana, sendo que o sucesso terapêutico aumenta conforme diminuem

os intervalos e aumenta a concentração. Em cães que não respondem bem ao tratamento com

a dosagem recomendada pode-se aumentá-la de 1,25 a 3,7%, mas deve-se administrar

medicamentos que diminuam os efeitos colaterais como atipamezol 0,1mg/kg por via

intramuscular e cloridrato de ioimbina 0,1mg/kg por via oral uma vez ao dia durantes 3 dias.

As lavagens de amitraz devem ser feitas após cortar o pelo dos animais, a droga deve ser

aplicada com uma esponja e espera-se secar à sombra. Recomenda-se que nenhum banho seja

realizado entre as aplicações semanais. Os efeitos colaterais incluem sonolência, ataxia,

vômitos, diarreia, polifagia e polidipsia e pode ser tóxico para quem fizer as lavagens

causando dores de cabeça e asma, por isso é recomendado fazer os banhos em local bem

arejado. A utilização do amitraz é contraindicada em animais que tenham diabetes mellitus

pelo seu efeito hiperglicêmico (ANDRADE et al., 2008; MUELLER et al., 2012a; SILVA et

al., 2008).

Para o tratamento local é relevante ressaltar que ao longo de duas décadas de uso do amitraz

no tratamento da demodicose generalizada foi possível observar indícios de resistência

parasitária, sendo que provavelmente a seleção de ácaros resistentes decorreu da

administração incorreta do produto (BURROWS, 2000). Muitos proprietários abandonam o

tratamento pelo longo período que deve ser feito, pelo custo e pela dificuldade de aplicação

(SANTARÉM, 2007), com isso tem-se a seleção de ácaros resistentes, sendo necessário o

tratamento sistêmico para complementar o tratamento local com as lactonas macrocíclicas que

são a ivermectina, milbemicina, moxidectina e doramectina (SILVA et al., 2008).

A ivermectina, é utilizada atualmente para uso contra demodicose generalizada em pequenos

animais a uma concentração de 0,3-0,6mg/kg por via oral diariamente. Um estudo por

Mueller (2004) feito com 120 animais mostrou que essa avermectina foi eficiente levando à

cura clínica de 81 cães (MOTA, 2010). Porém esse medicamento pode causar severos efeitos

colaterais neurológicos como letargia, tremores, midríase e morte em raças mais sensíveis

para a mutação do gene MDR1 como os Collies, Whippet de pelo comprido, Pastor

Australiano, Old English Sheepdog, Pastor Alemão de pelagem branca, Pastor Australiano

miniatura, Pastor de Shetland, Silken Windhound, Pastor Inglês e Pastor McNab, por isso é

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importante tratá-las com drogas alternativas. Outras raças também poderão apresentar efeitos

adversos, desta forma, a dosagem deve ser aumentada gradualmente a partir de 0,05 mg/kg no

primeiro dia, 0,1 mg/kg no segundo dia, 0,15 mg / kg no terceiro dia, 0,2 mg/kg no quarto e

0,3 mg/kg no quinto dia. Alguns medicamentos como cetoconazol ou ciclosporina não podem

ser administrados durante o tratamento com a ivermectina, pois tendem a aumentar as chances

dos animais apresentarem efeitos colaterais (MUELLER et al., 2012a).

Milbemicina oxima está autorizada para o tratamento de demodicose canina. Recentemente

foi realizado um estudo com 20 Collies adultos homozigóticos ou heterozigóticos para a

mutação do gene MDR1 que após a administração oral de ivermectina tiveram sinais de

toxicidade. Os resultados indicaram que os cães homozigotos para o gene MDR1 toleraram

milbemicina oxima em dose até 10mg/kg conjugada com espinosad 300mg/kg em doses

únicas durante 5 dias consecutivos como também a repetição do tratamento após 28 dias de

descanso (SHERMAN et al., 2010). A Milbemicina oxima é mais eficiente na demodicose

generalizada juvenil e a dosagem recomendada é de 0,5-2,5mg/kg/dia via oral durante 3

meses, mas cães com menos de 12 semanas de idade e Collies devem ser monitorados para a

ocorrência de toxicidade (GAMITO, 2009) e o tratamento deve ser continuado até 4 semanas

após a segunda raspagem negativa (MUELLER et al., 2008).

A doramectina também foi relatada como sendo uma droga eficiente no combate à sarna

demodécica, porém não existe representação comercial no Brasil. Utilizada na dosagem de

0,6mg/kg via subcutânea semanalmente ou na mesma dosagem duas vezes por semana via

oral para aqueles que não tiverem melhora clínica, mas deve ser feito acompanhamento para

identificar possíveis efeitos adversos. É recomendável aumentar a dose gradualmente para

detectar cães sensíveis a ela (MUELLER et al., 2012a).

Outro medicamento que tem sido amplamente utilizado no combate à demodicose canina é a

moxidectina que por via oral é utilizada na dosagem de 0,05ml/kg (Cydectin 1%)

administrada uma vez ao dia durante sessenta dias. Em um estudo experimental com 16

animais divididos em 2 grupos foram comparados dois protocolos de tratamento com uma

conjugação tópica de imidacloprid 10% e moxidectina 2,5% (Advocate), sendo que um dos

grupos foi tratado com uma aplicação por mês durante 3 meses, e o outro grupo tratado uma

vez por semana durante 4 meses. Os animais tratados com o protocolo semanal durante 4

meses apresentaram maior diminuição de sinais clínicos e maior regeneração de pelos com

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aumento de peso do que os tratados mensalmente. Foi ainda avaliada a segurança das

aplicações semanais com dose cinco vezes maior à recomendada por um período de 4 meses e

apesar de causar eritema em um cão e descamação no local da aplicação em outro animal, não

houve ocorrência de toxicidade grave (FOURIE et al., 2009). Em um estudo piloto realizado

recentemente verificou-se que a terapia com moxidectina a 2,5% e imidacloprid 10% spot-on

pode ser eficaz no combate de recidivas de demodicose generalizada quando administrada

mensalmente durante doze meses após tratamento prévio (COLOMBO et al., 2012).

Desde sua introdução há aproximadamente sete anos atrás, a selamectina

(Stronghold®/Revolution

®, Pfizer) tem sido utilizada para tratamento de ectoparasitas de cães

e gatos mostrando-se eficaz como profilático contra Dirofilaria repens e como uma opção de

tratamento para Aelurostrongylus abstrusus em gatos. Relata-se também sua utilização para o

combate da sarna notoédrica, infestação pelos parasitas Pneumonyssoides caninum,

Cheyletiella spp e por Neotrombicula autumnalis além da infecção pela forma larval de

Cordylobia anthropophaga . Entretanto, dados relacionados especificamente à utilização da

selamectina como uma opção terapêutica para a demodicose canina generalizada revelam que

o tratamento não tem sido bem sucedido (FISHER; SHANKS, 2008).

Recentemente foi feito um estudo para avaliar a eficácia do uso da selamectina spot-on

administrada à 44 cães por via oral depositada no pão em doses de 24-48mg/kg semanalmente

ou quinzenalmente. Não houve diferença significativa de regressão dos sintomas entre o

grupo tratado a cada 7 dias e o tratado a cada 15 dias, sendo que a melhora clínica da

demodicose ocorreu em 20% dos animais. Alguns efeitos tóxicos foram observados como

urticária, irritabilidade, midríase, ataxia, diarreia, vômito. Alguns proprietários tiveram

dificuldade em administrar o medicamento, pois os animais não gostaram do sabor. Portanto

esse estudo mostrou que a selamectina spot-on por via oral também teve uma baixa taxa de

sucesso no combate à demodicose canina generalizada (SCHNABL et al.,2010).

A forma generalizada da demodicose é grave e de difícil tratamento e o proprietário deve ser

informado da duração como também sobre o custo estimado do tratamento (SCOTT et al.,

1996), sendo que a forma pustular generalizada (Figura 3 A e B) tem o prognóstico reservado

e a recuperação poderá ocorrer em pelo menos 3 meses (NICOLUCCI et al., 2010).

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A B

Figura 3 A e B - Fotografia de um cão com demodicose severa, apresentando alopécia, erosões e

úlceras na região facial (A) e na área prepucial demonstra eritema, pápulas, pústulas e crostas (B).

Fonte: Mueller, 2012a

De acordo com vários autores há muitos protocolos diferenciados de dosagens e vias de

administração. Em outubro de 2010 houve a criação de uma comissão internacional para

estabelecer diretrizes para o tratamento da demodicose canina na prática baseando em

evidências publicadas de eficácia. As lavagens semanais de amitraz e administrações orais

diárias de milbemicina oxima, ivermectina e moxidectina possuem evidências de eficácia,

como também a aplicação semanal de moxidectina tópica em cães com formas mais

moderadas da doença. Há também evidências da eficácia da utilização semanal via subcutânea

de doramectina ou duas vezes por semana por via oral (MUELLER et al., 2012a).

Muitas opções de tratamento diferentes para demodicose foram relatados e analisados, mas os

que mostraram ser efetivos em uma série de casos estão listados na tabela 1 (MUELLER et

al., 2012b).

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Tabela 1 – Opções de drogas para o tratamento da demodicose canina.

DROGA

DOSAGEM

EFEITOS COLATERAIS

OBSERVAÇÃO

Amitraz

0,025 – 3,7%

em lavagens a

cada 7 dias

Hiperglicemia,

bradicardia, depressão,

sonolência, polidpsia,

poliúria, êmese e diarreia

Cortar a pelagem média ou

longa.

Ivermectin

0,3 - 0,6

mg/kg/dia via

oral

Letargia, tremores,

midríase, ataxia, coma e

morte

Aumentar a dosagem

gradualmente de 0,05mg/kg

no primeiro dia até o final

da dose no quinto dia.

Moxidectina

Oral

(Cydectin

1%)

0,05ml/kg/dia

Anorexia, letargia e

êmese

É recomendado continuar o

tratamento por 2 a 3 meses

após os raspados negativos

em casos crônicos.

Moxidectina

com

Imidacloprid

Spot-on

Moxidectina a

2,5% por

semana

Inflamação no local da

aplicação

Cortar a pelagem pelo

menos no local da

aplicação de cães com

médio ou longo pelo.

Milbemicina

oxima

1-2 mg/kg/dia

via oral

Letargia, ataxia

Efeitos adversos são raros

com altas doses.

Fonte: Adaptado de Mueller, 2012b.

2.3 - CONTROLE DA DEMODICOSE CANINA

A aparência clínica com o decorrer do tratamento não é suficiente para indicar a cura e o final

do tratamento, pois é importante verificar se ainda apresentam ácaros nos raspados de pele

profundos e após 5 negativos, com intervalo de trinta dias, pode-se considerar a cura. É

necessário continuar o tratamento por 1 mês após e por mais de 1 mês em animais que

responderam muito lentamente ao tratamento (MUELLER et al., 2012b). Exames para avaliar

a função hepática também são necessários. Segundo Caswell et al. (1997) a resposta ao

tratamento demora de 2 a 16 semanas, dependendo da raça do animal acometido e da extensão

das lesões, ou seja, se a sarna demodécica é generalizada ou localizada.

Vale ressaltar que a demodicose generalizada é hereditária em cães jovens e se a doença tiver

um modo recessivo de herança alguns cãezinhos normais na ninhada serão verdadeiramente

normais, mas os filhotes afetados serão carreadores e poderão passar a doença à sua prole.

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Considerando que nenhum teste está disponível para separar os animais normais dos

carreadores, todos os filhotes de ninhadas nas quais um ou mais filhotes estejam clinicamente

acometidos devem ser eliminados de programas de cruzamento para conseguir um controle

mais preciso. Os cães tratados para a demodicose generalizada não podem ser usados para

reprodução e a aceitação geral desta política eventualmente erradicará a doença (SCOTT et

al., 1996).

3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A demodicose canina apesar de ainda ser uma dermatopatia muito frequente na clínica de

pequenos animais possui tratamento com um curso muitas vezes improvável, devido aos

vários fatores que podem propiciar o aparecimento e a evolução da doença ou por poder

apresentar causa idiopática. É muito importante o animal ser acompanhado pelo médico

veterinário mesmo com a melhora clínica, sendo que o tratamento deve ser continuado

durante um período após os raspados negativos para confirmar a cura parasitológica. Os

vários protocolos de dosagens e vias de administrações existentes tornam grande a

necessidade de estudos para a formulação de novas terapias que sejam mais eficazes, com

menores recidivas e efeitos colaterais.

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Page 20: Demodicose canina:  Tratamento e Controle Aline Lemos Pimenta

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Silvia Franco, et al. Estudo comparativo da intoxicação experimental

por amitraz entre cães e gatos. Brazilian Journal of Veterinary Research

and Animal Science, São Paulo, v. 45, n. 1, p. 17-23, 2008. Disponível em:

<www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1413&script=sci>. Acesso em: 19 abr. 2012.

BURROWS, A. K. Generalized demodicosis in the dog: the unresponsive or recurrente case.

Australia Veterinary Journal, Melbourne, v. 78, p. 244-246, 2000. Disponível em:

<citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=1.pdf>. Acesso em: 27 mar. 2012.

CASWELL, J. L. et al. A Prospective Study of the Immunophenotype and Temporal Changes

in the Histologic Lesions of Canine Demodicosis. Veterinary Pathology. Saskatonn, v. 34, p.

279 – 287, 1997. Disponivel em: <vet.sagepub.com/content/34/4/279.full.pdf+html>. Acesso

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COLOMBO, S. et al. Monthly application of 2,5% moxidectin and 10% imidacloprid spot-on

to prevent relapses in generalised demodicosis: a pilot study. The Veterinary Record,

Legnano, 2012. Disponível em: <www.ncbi.nlm.nih.gov.elis.tmu.edu.tw/pubmed/2279152>.

Acesso em: 30 ago. 2012.

DELAYTE, E. H. et al. Eficácia das lactonas macrocíclicas sistêmicas (ivermectina e

moxidectina) na terapia da demodicidose canina generalizada. Arquivo Brasileiro de

Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 58, n. 1, p. 31-38, 2006. Disponível em:

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FISHER, M. A; SHANKS, D. J. A review of the off-label use of selamectin

(Stronghold®/Revolution

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50, n. 46, 2008. Disponível em: <www.actavetscand.com/content/50/1/46>. Acesso em: 03

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FOURIE, J. J. et al. Comparative efficacy and safety of two treatment regimens with a

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