denis e gafe - walcir carrasco

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O goleiro Dênis e minha gafe dom , 30/10/2011 Walcyr Carrasco Eu estava no aeroporto de Congonhas, em Sampa. Lotadíssimo. Tanto que a escada rolante chegou a ser parada, devido ao número de pessoas que tentava subir. Havia um grupo de rapazes com a camisa do São Paulo e eu pensei: –Devem ser alunos fazendo uma excursão. Quando fui passar pelo detector de metais, um deles estava à minha frente. Notei que era bem alto. Caiu a ficha. Perguntei: – O aeroporto está nessa confusão porque o time do São Paulo está embarcando? O rapaz sorriu. A mocinha no detector de metais explicou que não. O time embarcava sim, mas o motivo do tumulto era outro. Havia vôos fretados de grupos para Porto Seguro. Passei peloe detector. Fui pra banca de revistas. Quando ia pagar, o rapaz passou e me cumprimentou sem jeito, enquanto escolhia algumas balas. Esperei pelo vôo que, é claro, mudou de portão. Tinha que descer pelas escadas rolantes. Novamente por acaso, o

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Texto de Walcir carras

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Page 1: Denis e Gafe - Walcir Carrasco

O goleiro Dênis e minha gafe

dom , 30/10/2011 Walcyr Carrasco

Eu estava no aeroporto de Congonhas, em Sampa. Lotadíssimo. Tanto que a escada rolante chegou a ser parada, devido ao número de pessoas que tentava subir. Havia um grupo de rapazes com a camisa do São Paulo e eu pensei:

–Devem ser alunos fazendo uma excursão.

Quando fui passar pelo detector de metais, um deles estava à minha frente. Notei que era bem alto. Caiu a ficha. Perguntei:

– O aeroporto está nessa confusão porque o time do São Paulo está embarcando?

O rapaz sorriu. A mocinha no detector de metais explicou que não. O time embarcava sim, mas o motivo do tumulto era outro. Havia vôos fretados de grupos para Porto Seguro. Passei peloe detector. Fui pra banca de revistas. Quando ia pagar, o rapaz passou e me cumprimentou sem jeito, enquanto escolhia algumas balas. Esperei pelo vôo que, é claro, mudou de portão. Tinha que descer pelas escadas rolantes. Novamente por acaso, o rapaz também aproximou-se para descer. Sorri, fazendo o social.

– Que coincidência, já nos encontramos três vezes! Vai pro Rio?

– Vou sim.

Page 2: Denis e Gafe - Walcir Carrasco

– Você é jogador do São Paulo?

– Sou.

Sorriu ainda mais sem jeito. O caso é que não vejo futebol. Não tenho a menor idéia de quem seja quem.

– E joga em que posição?

– Sou goleiro. Meu nome é Dênis.

Ele me encarou como se eu fosse um ET. Como alguém, neste país, é capaz de não reconhecer um goleiro de um time importante? Eu não deixei por menos.

– Você joga bem?

Acho que o Dênis deve ser um bom sujeito. Qualquer outro teria me empurrado escada abaixo. Seria a mesma coisa que alguém me perguntar se escrevo bem novelas. Para um profissional com uma carreira, é um horror. Pacientemente, ele respondeu:

– Para estar num time importante como o São Paulo a gente tem que jogar bem.

Page 3: Denis e Gafe - Walcir Carrasco

Um lorde, não é? Eu podia ter ficado satisfeito. Mas não. Ainda me atrevi:

–E ganhar bem, você ganha?

Mais sem jeito ainda, Dênis respondeu.

– Ganho sim. Estou contente.

Chegamos a nosso embarque.Sentei-me para reler “Gabriela”, que é só o que faço ultimamente. Ele foi para junto dos outros jogadores. Deve ter pensado que sou maluco.

Depois comentei o encontro com amigos. Todos surpresos.

– Mas como você não reconheceu o Dênis? Tá besta?

Pois é, Dênis. Mas aposto que você também não me reconheceu. Não deve acompanhar as novelas. Em todo caso, desculpe a gafe!