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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE MEDICINA VETERINRIA E ZOOTECNIA
DEPARTAMENTO DE REPRODUO ANIMAL
MARIANA DE PAULA RODRIGUES
Perfil oxidativo e avaliao funcional de smen
criopreservado de touros (Bos taurus taurus e Bos taurus
indicus) criados em clima tropical
So Paulo 2009
MARIANA DE PAULA RODRIGUES
Perfil oxidativo e avaliao funcional de smen
criopreservado de touros (Bos taurus taurus e Bos taurus
indicus) criados em clima tropical
So Paulo 2009
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Reproduo Animal da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Medicina Veterinria Departamento: Reproduo Animal rea de concentrao: Reproduo Animal Orientadora: Prof. Dra. Valquiria Hyppolito Barnabe
Autorizo a reproduo parcial ou total desta obra, para fins acadmicos, desde que citada a fonte.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO-NA-PUBLICAO
(Biblioteca Virginie Buff Dpice da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo)
T.2177 Rodrigues, Mariana de Paula FMVZ Perfil oxidativo e avaliao funcional de smen criopreservado de touros (Bos
taurus taurus e Bos taurus indicus) criados em clima tropical / Mariana de Paula Rodrigues. So Paulo : M. P. Rodrigues, 2009.
144 f. : il.
Dissertao (mestrado) - Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia. Departamento de Reproduo Animal, 2009.
Programa de Ps-Graduao: Reproduo Animal. rea de concentrao: Reproduo Animal.
Orientadora: Profa. Dra. Valquiria Hyppolito Barnabe.
1. Bovino. 2. Smen criopreservado. 3. Clima tropical. 4. Perfil oxidativo.
5. Testes funcionais. I. Ttulo.
FOLHA DE AVALIAO
Nome: RODRIGUES, Mariana de Paula.
Ttulo: Perfil oxidativo e avaliao funcional de smen criopreservado de touros (Bos taurus taurus e Bos taurus indicus) criados em clima tropical
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Reproduo Animal da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Medicina Veterinria
Data:____/____/____
Banca Examinadora
Prof. Dr. _______________________ Instituio: ______________________
Assinatura: _______________________ Julgamento:______________________
Prof. Dr. _______________________ Instituio: ______________________
Assinatura: _______________________ Julgamento:______________________
Prof. Dr. _______________________ Instituio: ______________________
Assinatura: _______________________ Julgamento:______________________
DEDICATRIA
As grandes caminhadas sempre comeam com o primeiro passo
Lembram disso? Pois , outro passo foi dado e mais uma vez vocs estavam
aqui do meu lado. Confiaram em mim, apoiaram minhas decises, deram
conselhos, construram uma base forte para que tudo isso pudesse
acontecer e fizeram o possvel e o impossvel para me ajudar.
Por isso, dedico este trabalho, esta conquista e todas que esto por
vir minha FAMLIA que, no fosse o que fizeram por mim durante
meus 25 anos, eu no estariam aqui, na verdade, eu no seria
ningum.
AGRADECIMENTOS
Agradeo de todo meu corao:
Deus, por me dar a vida, por me abenoar com sade, com uma famlia
maravilhosa, amigos incomparveis e pessoas inesquecveis, pelas oportunidades,
pelo fato de poder acordar todas as manhs, pelas janelas fechadas e portas
abertas.
Aos meus pais Manuel e Elizabeth, primeiramente pela criao com tanto amor e
carinho, pela educao, por todo apoio em todos os momentos, pela compreenso,
pelos conselhos, pelos sacrifcios, pelas abdicaes, por me ensinarem o significado
das palavras persistncia e esforo, agradeo todas as broncas e puxes de orelha,
para que hoje eu pudesse ser quem sou, e estar onde estou. difcil colocar o
quanto sou grata em apenas, algumas linhas. Simplesmente, agradeo, por serem
pessoas to maravilhosas, verdadeiros exemplos de vida, quem dera eu conseguir
retribuir, pelo menos, um pouco o que fizeram por mim. OBRIGADA!!!
minha av Maria, pela pacincia, pelos ensinamentos, pelas oraes dirias, por
acordar cedinho s para preparar o caf da manh e o almoo, pelas preocupaes,
pelo esforo em me ajudar no que precisei.
s minhas irms Juliana e Fernanda, por estarem ao meu lado em todos os
momentos, por compartilharem no apenas roupas, mas tambm palavras e gestos
de carinho.
Dra. Valquria, uma mulher de fibra, que atravessou tantos momentos
turbulentos sem perder o bom humor. Muito obrigada por ter aceitado me orientar
sem mesmo conhecer meu trabalho, por depositar toda sua confiana em mim.
Espero no ter decepcionado.
Ao Dr. Renato, pela pacincia, pelas conversas, por todas as contribuies, no
apenas ao meu experimento, mas tambm vida da Reproduo Animal. O
senhor um verdadeiro exemplo para ns que ainda engatinhamos.
Maria Amlia, por estar sempre ao meu lado nas horas mais desesperadoras que
aconteceram dentro da sala do HPLC, por se desdobrar e correr atrs de ajuda
para nosso experimento, pelos conselhos, conversas, risadas, uma verdadeira
AMIGA!
Ao Marclio por ter me ajudado desde o comecinho, por ter me ensinado tantas
coisas, pela pacincia em explicar milhes de vezes a reao da peroxidao
lipdica, pelas estatsticas, pelos churrascos, pelas reunies em casa com pratos
variados (hummm!!!!). Obrigada M, espero que seja uma amizade para sempre.
Ao Du e Paty, por compartilharem momentos bons e ruins, por me ouvirem
quando eu precisei desabafar, pelos conselhos, pelo apoio, pela ajuda, pelas
risadas, por compartilhar diversos assuntos profissionais (e outros nem tanto
assim) enfim por estarem sempre ao meu lado. Amigos, Amigos, Amigos.....
Paola, por ajudar tantas vezes com FAPESP, congresso, experimento, por ser
sincera, alegre e realista.
Aos membros do Laboratrio de Urologia da UNIFESP: Ricardo, Brbara, Paulinha,
Thiesa, por me receberem to bem no laboratrio, pela loooooooonga ajuda com o
cometa, pela ateno, pelos almoos, pelas horas de descontrao. Sem vocs no
teria conseguido.
Ao Prof. Pietro, por ter aberto as portas do VRA para mim quando deu a
oportunidade e o privilgio de estagiar em sua equipe, e pelos ensinamentos em
aula.
Ao Prof. Claudio, por ter me aceitado como monitora em suas aulas de graduao.
Espero ter feito tudo certinho.
Ao Prof. Rubens, por ter permitido que eu acompanhasse trabalhos no Laboratrio
de Biotecnologia do Smen e Andrologia e pelos ensinamentos passados, tanto
dentro da sala de aula, como fora dela.
Ao Prof. Marcelo, pela serenidade e pacincia e pelo timo trabalho que faz com a
ps-graduao do nosso departamento.
Profa. Mayra e Marcela, pelas empolgantes aulas na ps graduao, que me
fizeram at gostar de biologia molecular.
Profa. Aneliese, por passar tantos conhecimentos sobre pequenos ruminantes e
por se preocupar com o aprendizado dos alunos.
Ao Prof. Visintin, sempre amvel e alegre. Um grande homem, exemplo de esforo
e competncia.
Ao Prof. Ed, Profa. Camila, Profa. Carla, pelo convvio, pelo aprendizado e por
estarem sempre dispostos a colaborar.
Suzana, colega de monitoria, por ter apoiado e acompanhado todas as
turbulncias do trabalho. S a gente sabe n Su...
Ao Miguel, por ter me ensinado, com toda pacincia do mundo, a coletar smen dos
touros e dos carneiros e a ser uma pessoa mais organizada.
Aos meninos Ira, Belau e Luis por disponibilizarem seu tempo para preparar os
animais para as coletas.
Harumi, Thais e Alice pela competncia, por ajudarem com tantos papis (que s
vezes nem sabia que eram necessrios), por nunca deixarem que perdesse os
prazos e pela amabilidade com que atendem.
D. Silvia, pelo cafezinho, pelo ch, por manter sempre limpo o laboratrio e todo
o departamento.
Ana Paula Mantovani, ex-professora e agora colega, por ter despertado em mim o
gosto pela reproduo animal e por ter me ajudado tanto quando eu no sabia que
rumo seguir.
famlia Bao muito obrigada por me receberem to bem em casa e na famlia, pela
hospitalidade, por me ensinarem uma cultura diferente, pela pacincia em tentarem
se comunicar com quem mal entende a lngua (um dia eu consigo). Aos cunhados
por emprestarem o carro e at o quarto.
Ao Fabin (Morsitooo!!), por ter me dado tanta fora no experimento, na clnica e
na vida, por ter me mudado para melhor, por ter me mostrado tantas
oportunidades e tambm, por ter feito ver que EU dirijo bem melhor!!! (rsrsrs)
TQM!!!
Ao Paulo Holanda, pelas conversas e por me ensinar todas as tcnicas que utilizei
nesse experimento.
Aos veterinrios Marli e Giuseppe, por me aceitarem apesar de todas minhas
limitaes, pela pacincia, por tanto conhecimento que passaram e pela confiana
que depositaram em mim.
Aos colegas de VRA: Lindsay, Andrs, Gabriel, Z Nlio, Alessandra, Henderson,
Roberta, Rogrio, Rodrigo(S), Taty, Lilian, Marina, Marrie, Priscila, Cinthia,
Dominique, Paulo, Zeca, Flavia, Feben, Renata, Adriano, Cris, Liege...... So
tantos!!! Muito obrigada todos (inclusive os que eu no citei o nome).
Universidade de So Paulo, Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia e ao
Departamento de Reproduo Animal.
Com certeza aprendi muitas coisas nos 32 meses em que passei nesse
departamento. Convivi com tantas pessoas diferentes, me deparei com diversas
situaes, algumas delas bem difceis, fiz muitos amigos, muitos colegas,
infelizmente, alguns eu nem tive a oportunidade de conhecer. Enfim, foram alguns
meses que me fizeram evoluir anos, no apenas no mbito profissional, mas,
principalmente, na vida pessoal.
RESUMO
RODRIGUES, M. P. Perfil oxidativo e avaliao funcional de smen criopreservado de touros (Bos taurus taurus e Bos taurus indicus) criados em clima tropical. [Oxidative status and functional evaluation of cryopreserved semen, collected from bulls (Bos taurus taurus and Bos taurus indicus) raised under tropical conditions]. 2009. 144 f. Dissertao (Mestrado em Medicina Veterinria) - Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2009.
A necessidade de criopreservao seminal vem aumentando cada vez mais,
concomitantemente evoluo das biotecnologias aplicadas reproduo animal.
Sabe-se que a principal causa da diminuio do desempenho reprodutivo de um
touro, criado em clima tropical, o estresse trmico. Raas de origem europia
(Bos taurus taurus) so consideravelmente mais sensveis essas condies
climticas quando comparadas aos animais de origem indiana (Bos taurus indicus).
Esses animais no adaptados podem apresentar decrscimo na qualidade
espermtica, como alteraes estruturais, funcionais e maior suscetibilidade ao
estresse oxidativo, aps a descongelao do smen. Para avaliar essa hiptese,
foram utilizadas amostras criopreservadas de 40 touros, sendo 20 da raa Nelore
(Bos taurus indicus) e 20 da raa Simental (Bos taurus taurus), criados em clima
tropical, dessas, 10 amostras seminais de cada raa foram coletadas durante
inverno e 10 durante o vero. Aps a descongelao das amostras, foram
realizados os testes espermticos convencionais como motilidade progressiva, vigor
e ndice de motilidade espermtica, e os testes funcionais tais como integridade de
membrana plasmtica (Eosina/Nigrosina), integridade acrossomal (POPE),
integridade de DNA (Ensaio Cometa) e atividade citoqumica mitocondrial (33
diaminobenzidina DAB). Tambm foi avaliada a suscetibilidade das clulas
espermticas peroxidao lipdica induzida, atravs da mensurao da
concentrao de substncias reativas ao cido tiobarbitrico (TBARS). Os dados
foram analisados levando em conta as classes: raa (Nelore e Simental) ou estao
do ano (vero e inverno), atravs do programa SPSS 13.0 para Windows. A
varivel DAB I foi maior (p=0,04) nas amostras dos touros Nelore em comparao
com Simentais (17,85 2,38 vs 11,4 1,84). Observou-se o efeito das estaes do
ano sobre as variveis motilidade progressiva (26,50% inverno e 13,30% vero;
p=0,02), DAB I (22,32% inverno e 13,30% vero; p=0,04) e DAB III (13,88%
inverno e 22,10% vero; p=0,01), somente no smen dos touros Nelore, e o efeito
das raas (p=0,03) sobre as variveis DAB I (22,34% Nelore e 11,60% Simental) e
DAB III (13,88% Nelore e 21,19% Simental), apenas durante o inverno, quanto ao
nvel de TBARS, no foi verificado diferena entre nenhum grupo. Houve correlao
entre alguns testes funcionais e convencionais, porm a varivel integridade de
DNA no correlacionou com nenhum teste convencional. Esses resultados podem
indicar que a peroxidao lipdica sofrida, espontaneamente, pelos touros Europeus,
devido ao estresse trmico, selecionou espermatozides mais resistentes
criopreservao.
Palavras-chave: Bovino. Smen criopreservado. Clima tropical. Perfil oxidativo.
Testes funcionais.
ABSTRACT
RODRIGUES, M. P. Oxidative status and functional evaluation of cryopreserved semen, collected from bulls (Bos taurus taurus and Bos taurus indicus) raised under tropical conditions. [Perfil oxidativo e avaliao funcional de smen criopreservado de touros (Bos taurus taurus e Bos taurus indicus) criados em clima tropical]. 2009. 144 f. Dissertao (Mestrado em Medicina Veterinria) - Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2009.
Seminal cryopreservation technique has been increasing concomitant reproductive
biotechnologies. It is known that heat stress is the main cause that affects bulls
reproductive performance under tropical environment. European breeds (Bos taurus
taurus) are much more sensible to these conditions than Indian breeds (Bos taurus
indicus). These non-adapted animals present a fast decrease in sperm quality as
structural and functional parameters and higher oxidative stress susceptibility. In
order to test this hypothesis, cryoprotected semen samples of twenty Nelore (Bos
taurus indicus) and twenty Simmental (Bos taurus taurus) bulls, raised under
tropical conditions, were analyzed; ten samples of each breed were collected during
summer and ten during winter. After thawing, semen samples were submitted to
following conventional tests: progressive motility, vigor and sperm motility index
(IME), and following functional tests: plasmatic membrane integrity (eosin-
nigrosin), acrosomal membrane integrity (POPE), DNA fragmentation (Comet
Assay) and mitochondrial activity (33 diaminobenzidine - DAB). The spermatozoa
susceptibility to the induced lipid peroxidation followed by measurement of
thiobarbituric acid reactive substances concentration (TBARS), was used as an
oxidative stress index. Statistical analysis were performed for breed (Nelore and
Simmental) and season (summer and winter), using SPSS 13.0 for Windows.
Comparing Nelore and Simmental, DAB I was higher (p=0,04) in the first group
(17,85 2,38 and 11,4 1,84, respectively). Season effect was observed only in
Nelore samples on: progressive motility (26,50% winter and 13,30% summer;
p=0,02), DAB I (22,32% winter and 13,30% sumer; p=0,04) and DAB III (13,88%
winter and 22,10% summer; p=0,01); and breed effect (p=0,03) was observed
only during winter on: DAB I (22,34% Nelore and 11,60% Simmental) and DAB III
(13,88% Nelore and 21,19% Simmental). TBARS index, did not differ in breed or
season. Correlations were observed between some of functional and conventional
tests, however, the DNA integrity did not correlate with any conventional test.
These results may indicate that probably, the spontaneous peroxidation that
European bulls suffer due to the heat stress may have selected sperm more
resistant to the cryopreservation.
Keywords: Bovine. Cryopreserved semen. Tropical conditions. Oxidative status.
Functional tests.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Esquema da clula espermtica e seus componentes ........................ 39
Figura 2 - Touro da raa Nelore (Bos taurus indicus) ....................................... 66
Figura 3 - Touro da raa Simental (Bos taurus taurus) ..................................... 67
Figura 4 - Ilustrao esquemtica dos procedimentos experimentais.................. 69
Figura 5 - Eosina-Nigrosina. Espermatozide com a membrana plasmtica ntegra
(a cima) e no ntegra (abaixo).Obj. 100x ...................................... 72
Figura 6 - Colorao simples de POPE. Espermatozide com acrossomo ntegro.
Obj. 100x .................................................................................. 73
Figura 7- Colorao simples de POPE. Espermatozide com acrossomo no ntegro.
Obj. 100x .................................................................................. 73
Figura 8 - Fracionamento do smen in natura e com mitocndrias inativas ......... 74
Figura 9 - Diaminobenzidina. Espermatozide DAB I (esquerda) e DAB III (direita).
Obj. 100x .................................................................................. 75
Figura 10 - Diaminobenzidina. Espermatozide DAB II (direita) e DAB IV
(esquerda). Obj. 100x ................................................................. 75
Figura 11 - Espermatozide Cometa I. Obj. 100x ............................................ 78
Figura 12 - Espermatozides Cometa II. Obj. 100x.......................................... 78
Figura 13 - Espermatozide Cometa III. Obj. 100x.......................................... 78
Figura 14 - Espermatozide Cometa IV. Obj. 100x .......................................... 78
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Efeito das raas e das estaes climticas [mdia erro padro, (IC
95%)] sobre a motilidade (%), vigor (0-5) e ndice de motilidade
espermtica (IME), de amostras seminais criopreservadas, de touros das
raas Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas em inverno
e vero. .................................................................................... 84
Tabela 2 - Efeito das estaes climticas em funo das raas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre a motilidade (%), vigor (0-5) e ndice de
motilidade espermtica (IME), de amostras seminais criopreservadas, de
touros das raas Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas
em inverno e vero. .................................................................... 85
Tabela 3 - Efeito das raas em funo das estaes climticas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre a motilidade (%), vigor (0-5) e ndice de
motilidade espermtica (IME), de amostras seminais criopreservadas, de
touros das raas Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas
em inverno e vero. .................................................................... 85
Tabela 4 - Efeito das raas e das estaes climticas [mdia erro padro, (IC
95%)] sobre a porcentagem de espermatozides com a membrana
plasmtica ntegra (E/N), de amostras seminais criopreservadas, de
touros das raas Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas
em inverno e vero. ................................................................... 89
Tabela 5 - Efeito das estaes climticas em funo das raas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre a porcentagem de espermatozides com a
membrana plasmtica ntegra (E/N), de amostras seminais
criopreservadas, de touros das raas Nelore e Simental, criados em
clima tropical, coletadas em inverno e vero. ................................. 90
Tabela 6 - Efeito das raas em funo das estaes climticas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre a porcentagem de espermatozides com a
membrana plasmtica ntegra (E/N), de amostras seminais
criopreservadas, de touros das raas Nelore e Simental, criados em
clima tropical, coletadas em inverno e vero. ................................. 90
Tabela 7 - Efeito das raas e das estaes climticas [mdia erro padro, (IC
95%)] sobre a porcentagem de espermatozides com a membrana
acrossomal ntegra (POPE), de amostras seminais criopreservadas, de
touros das raas Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas
em inverno e vero . ................................................................... 92
Tabela 8 - Efeito das estaes climticas em funo das raas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre a porcentagem de espermatozides com a
membrana acrossomal ntegra (POPE), de amostras seminais
criopreservadas, de touros das raas Nelore e Simental, criados em
clima tropical, coletadas em inverno e vero................................... 92
Tabela 9 - Efeito das raas em funo das estaes climticas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre a porcentagem de espermatozides com a
membrana acrossomal ntegra (POPE), de amostras seminais
criopreservadas, de touros das raas Nelore e Simental, criados em
clima tropical, coletadas em inverno e vero................................... 92
Tabela 10 - Efeito das raas e das estaes climticas [mdia erro padro, (IC
95%)] sobre a porcentagem de espermatozides classes I, II, III e IV
na avaliao da atividade mitocondrial (DAB I, DAB II, DAB III, DAB IV),
de amostras seminais criopreservadas, de touros das raas Nelore e
Simental, criados em clima tropical, coletadas em inverno e vero..... 94
Tabela 11 - Efeito das estaes climticas em funo das raas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre a porcentagem de espermatozides classes I,
II, III e IV na avaliao da atividade mitocondrial (DAB I, DAB II, DAB
III, DAB IV), de amostras seminais criopreservadas, de touros das raas
Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas em inverno e
vero. ....................................................................................... 95
Tabela 12 - Efeito das raas em funo das estaes climticas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre a porcentagem de espermatozides classes I,
II, III e IV na avaliao da atividade mitocondrial (DAB I, DAB II, DAB
III, DAB IV), de amostras seminais criopreservadas, de touros das raas
Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas em inverno e
vero. ....................................................................................... 95
Tabela 13 - Efeito das raas e das estaes climticas [mdia erro padro, (IC
95%)] sobre a porcentagem de espermatozides classes I, II, III e IV
na avaliao da integridade de DNA (COMETA I, COMETA II, COMETA III
e COMETA IV), de amostras seminais criopreservadas, de touros das
raas Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas em inverno
e vero. .................................................................................... 98
Tabela 14 - Efeito das estaes climticas em funo das raas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre a porcentagem de espermatozides classes I,
II, III e IV na avaliao da integridade de DNA (COMETA I, COMETA II,
COMETA III e COMETA IV), de amostras seminais criopreservadas, de
touros das raas Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas
em inverno e vero . ................................................................... 98
Tabela 15 - Efeito das raas em funo das estaes climticas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre a porcentagem de espermatozides classes I,
II, III e IV na avaliao da integridade de DNA (COMETA I, COMETA II,
COMETA III e COMETA IV), de amostras seminais criopreservadas, de
touros das raas Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas
em inverno e vero . ................................................................... 99
Tabela 16 - Efeito das raas e das estaes climticas [mdia erro padro, (IC
95%)] sobre as concentraes de substncias reativas ao cido
tiobarbitrico (TBARS), de amostras seminais criopreservadas, de touros
das raas Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas em
inverno e vero. ........................................................................101
Tabela 17 - Efeito das estaes climticas em funo das raas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre as concentraes de substncias reativas ao
cido tiobarbitrico (TBARS), de amostras seminais criopreservadas, de
touros das raas Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas
em inverno e vero. ...................................................................101
Tabela 18 - Efeito das raas em funo das estaes climticas [mdia erro
padro, (IC 95%)] sobre as concentraes de substncias reativas ao
cido tiobarbitrico (TBARS), de amostras seminais criopreservadas, de
touros das raas Nelore e Simental, criados em clima tropical, coletadas
em inverno e vero. ...................................................................101
Tabela 19 - Coeficientes de correlao (significncia), entre todas as variveis
respostas estudadas, de amostras seminais criopreservadas, de touros
da raa Nelore (Bos taurus indicus), criados em clima tropical, coletadas
durante o inverno. .....................................................................105
Tabela 20 - Coeficientes de correlao (significncia), entre todas as variveis
respostas estudadas, de amostras seminais criopreservadas, de touros
da raa Nelore (Bos taurus indicus), criados em clima tropical, coletadas
durante o vero . .....................................................................106
Tabela 21 - Coeficientes de correlao (significncia), entre todas as variveis
respostas estudadas, de amostras seminais criopreservadas, de touros
da raa Simental (Bos taurus taurus), criados em clima tropical,
coletadas durante o inverno. .......................................................107
Tabela 22 Coeficientes de correlao (significncia), entre todas as variveis
respostas estudadas, de amostras seminais criopreservadas, de touros
da raa Simental (Bos taurus taurus), criados em clima tropical,
coletadas durante o vero . ........................................................108
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 - Porcentagem de espermatozides com alto potencial de atividade
mitocondrial, pela diluio seminal (Smen fresco). ....................... 83
Grfico 2 - Valores das mdias, das variveis estudadas em amostras seminais
criopreservadas de touros das raas Nelore e Simental, criados em
clima tropical, coletadas em inverno e vero. ...............................112
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABCRSS Associao Brasileira dos Criadores de Simental e Simbrasil
ABIEC Associao Brasileira das Indstrias Exportadoras de Carne
ACBN Associao Brasileira dos Criadores de Nelore
AMPc adenosina monofosfato cclica
ASBIA Associao Brasileira de Inseminao Artificial
ATP adenosina trifosfato
B. indicus Bos taurus indicus
B. taurus Bos taurus taurus
CASA Computer Assisted Semen Analisys
CCO citocromo C oxidase
CEPEA Centro de estudos de pesquisa aplicada em economia avanada
cm centmetro
DAB 33 diaminobenzidina
DHA cido docosahexaenico
DNA cido desoxirribonuclico
E/N eosina-nigrosina
EC Ensaio Cometa
EUA Estados Unidos da Amrica
Fe ferro
FeSO4 sulfato de ferro
g gravidade
GPx glutationa peroxidase
GSH glutationa
H2O gua
H2O2 perxido de hidrgnio
IA inseminao artificial
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IC intervalo de confiana
IME ndice de motilidade espermtica
JC-1 iodeto de 5,5',6,6' tetracloro 1,1',3,3' tetraetilbenzimidazolicarbocycanina
LMPA Low melting point agarose
LPO peroxidao lipdica/lipoperoxidao
M molar
mA miliampere
MDA malondialdedo
g microgramas
L microlitros
mL mililitros
mM milimolar
NaOH hidrxido de sdio
nm nanmetro
NMPA Normal melting point agarose
NO xido ntrico
O- 2 nion superxido
Obj objetiva
OH- radical hidroxila
PBS Phosphate buffered saline
p nvel de significncia
pH potencial hidrogeninico
r coeficiente de correlao
ROS espcies reativas de oxignio
SCSA Sperm Chromatin Structure Assay
Seg segundos
SOD superxido dismutase
Sptz espermatozide
TBA cido tiobarbitrico
TBARS substncias reativas ao cido tiobarbitrico
TCA cido tricloroactico
TUNEL Terminal Uridine Nick End Labelling
V volts
VS versus
LISTA DE SMBOLOS
Alfa
+ mais
mais ou menos
> maior que
< menor que
% porcentagem
C graus Celsius
x vezes
106 milhes
: para (1:100)
= igual
SUMRIO
1 INTRODUO ..................................................................................... 28
2 HIPTESE........................................................................................... 32
3 OBJETIVOS......................................................................................... 34
4 REVISO DE LITERATURA .................................................................. 36
4.1 COMPOSIO DO SMEN E ESPERMATOZIDES.................................... 36
4.2 EFEITOS DA CRIOPRESERVAO......................................................... 40
4.3 MECANISMOS DA TERMORREGULAO TESTICULAR .............................. 43
4.4 CLIMA TROPICAL E ALTERAES REPRODUTIVAS: BOS TAURUS TAURUS VS BOS TAURUS INDICUS ...................................................................... 45
4.5 ESTRESSE OXIDATIVO....................................................................... 47 4.5.1 Espcies Reativas de Oxignio na fertilidade do macho ........................ 49 4.5.2 Mensurao do estresse oxidativo..................................................... 52
4.6 AVALIAO SEMINAL......................................................................... 54 4.6.1 Testes convencionais ...................................................................... 54 4.6.2 Testes funcionais............................................................................ 56 4.6.2.1 Integridade da membrana plasmtica.......................................... 57 4.6.2.2 Integridade da membrana acrossomal ......................................... 59 4.6.2.3 Atividade citoqumica mitocondrial .............................................. 60 4.6.2.4 Integridade de DNA .................................................................. 61
5 MATERIAIS E MTODOS...................................................................... 66
5.1 LOCAL ............................................................................................. 66
5.2 AMOSTRAS SEMINAIS........................................................................ 66
5.3 COLETA E CRIOPRESERVAO DE SMEN............................................. 67
5.4 PROCESSAMENTO E AVALIAO DO SMEN.......................................... 68 5.4.1 Testes convencionais ...................................................................... 70 5.4.1.1 Avaliao da motilidade espermtica ........................................... 70 5.4.1.2 Avaliao do vigor espermtico .................................................. 70 5.4.1.3 ndice de motilidade espermtica................................................ 71 5.4.2 Testes funcionais............................................................................ 71 5.4.2.1 Avaliao da Integridade da Membrana Plasmtica........................ 71 5.4.2.2 Avaliao da Integridade da Membrana Acrossomal....................... 72 5.4.2.3 Avaliao da Atividade Citoqumica Mitocondrial............................ 73
5.4.2.4 Avaliao da Integridade de DNA................................................ 75 5.4.3 Avaliao do ndice de Resistncia ao Estresse Oxidativo ..................... 79 5.4.4 Anlise Estatstica .......................................................................... 80
6 RESULTADOS E DISCUSSO................................................................ 83
6.1 TESTES CONVENCIONAIS................................................................... 84
6.2 TESTES FUNCIONAIS ......................................................................... 89 6.2.1 Integridade da membrana plasmtica................................................ 89 6.2.2 Integridade da membrana acrossomal ............................................... 91 6.2.3 Atividade citoqumica mitocondrial .................................................... 94 6.2.4 Integridade de DNA ........................................................................ 97
6.3 SUBSTNCIAS REATIVAS AO CIDO TIOBARBITRICO..........................100
6.4 CORRELAES.................................................................................104
6.5 RESUMO DOS RESULTADOS...............................................................112
6.6 CONSIDERAES FINAIS ..................................................................113
7 CONCLUSO ..................................................................................... 116
REFERNCIAS......................................................................................... 118
ANEXOS.................................................................................................. 138
Mariana de Paula Rodrigues
28
1 INTRODUO
A crescente demanda por protena animal tem exigido que os sistemas de
produo sejam cada vez mais eficientes. Dentre os diversos fatores que influenciam a
eficincia econmica dos sistemas, pode-se destacar a reproduo como sendo o mais
bsico de todos, pois sem ela no h a gerao de produtos. Assim, quanto mais
eficiente for o desempenho reprodutivo, maior ser a possibilidade de retorno econmico
positivo.
A pecuria tem uma grande importncia econmica para o Brasil, principalmente a
pecuria de corte; j que, o pas est posicionado como o maior rebanho comercial do
mundo, em torno de 200 milhes de cabeas de gado, ou seja, quase 1(uma) cabea de
gado para cada habitante (Anexo A- a) (IBGE, 2007).
Em 2004, alcanou a condio de maior exportador de carne bovina (Anexo A- b)
e no primeiro trimestre de 2007 exportou 1,363 milhes de toneladas de carne.
Encontra-se como o segundo maior produtor mundial de carne bovina (cerca de 9
milhes de toneladas), sendo inferior apenas aos Estados Unidos (ABIEC 2007, 2009).
Segundo a Pesquisa Trimestral do Abate, no ano de 2008 foram abatidas 28,691
milhes de cabeas de bovinos, deste abate nacional, 35,1% foi proveniente da regio
Centro-Oeste do Brasil; apesar da queda de 6,6% em relao ao ano anterior, devido
crise mundial (IBGE, 2009). Por possuir uma grande extenso de terra, existe ainda
potencial para aumentar cada vez mais a produo de carne brasileira, para isso, basta
empregar biotecnologias que aperfeioem o sistema de produo, sendo possvel, dessa
forma, prognosticar um significativo aumento na demanda interna de carne bovina.
A pecuria de corte brasileira responsvel por cerca de 8% do Produto Interno
Bruto (CEPEA, 2007), sendo que a regio central do pas engloba, aproximadamente,
40% do rebanho bovino de corte brasileiro (Anexo A- c) (IBGE, 2007), rebanho este
constitudo, em sua maioria, por animais de origem zebuna (Bos taurus indicus),
especialmente da raa Nelore, originria da ndia e famosa por se adaptar s condies
tropicais brasileiras, mostrando tima capacidade de aproveitar alimentos grosseiros,
resistncia natural aos parasitas e fertilidade mesmo em temperaturas elevadas (ACNB,
2009).
Os bovinos de origem europia (Bos taurus taurus), quando criados em clima
temperado so excelentes na precocidade produtiva e reprodutiva, ganho de peso e
Mariana de Paula Rodrigues
29
idade ao abate (ABCRSS, 2009), no entanto, quando encontram-se em climas como o
apresentado na regio central do Brasil, passam a mostrar menores ndices de fertilidade
(GABALDI, 2000; NICHI, 2003).
Essa menor fertilidade apresentada pelos touros de origem europia em condies
tropicais vem sendo bastante estudada, porm, as causas da menor resistncia em
relao aos animais zebunos, apesar de bem conhecidas, ainda no foram
completamente desvendadas. Estas condies, em especial no caso dos machos,
culminam em um quadro de infertilidade por degenerao testicular, estresse oxidativo e
alteraes espermticas.
O estresse trmico pode alterar quaisquer caractersticas seminais, tais como
motilidade, concentrao, membrana plasmtica, membrana acrossomal, potencial de
mitocndria e at mesmo integridade de DNA, visto tanto em amostras frescas, como em
criopreservadas (ZGE, 2002).
de grande importncia econmica na produo animal, a resposta seminal
criopreservao, j que a manuteno da qualidade espermtica estratgica para a
disseminao de material gentico e conseqente melhoria do rebanho brasileiro.
Dessa maneira, as biotecnologias da reproduo tem possibilitado um verdadeiro
avano qualitativo na produo bovina, em especial, por facilitar a seleo e
multiplicao de animais geneticamente superiores e possibilitar maior diversidade
gentica entre as populaes. Devido a isso, de suma importncia maximizar os
mtodos de avaliao espermtica e conseqentemente o potencial fecundante da
amostra, garantindo o sucesso em um programa de reproduo, tanto natural quanto
assistida.
A inseminao artificial (IA) uma potente biotecnologia, de custos mais
acessveis, que permite aos produtores usarem raas superiores em suas criaes,
promovendo um rpido aumento na qualidade gentica e produtividade.
Trabalhos realizados nos Estados Unidos reportam que com o advento da IA foi
possvel a implantao dos testes de prognie e conseqentemente, o uso dos touros
provados passou a ser uma rotina nos rebanhos. O grande aumento das mdias de
produo nos rebanhos de gado holands nos EUA, por exemplo, em parte devido
melhoria gentica obtida na IA. esse mesmo fator que tem sido o precursor do
melhoramento dos rebanhos em todos os pases de pecuria desenvolvida (ASBIA,
2008).
Todavia, para sua ampla aplicao, indispensvel o uso de smen congelado.
Em 1999, foram vendidas no Brasil, aproximadamente 6 milhes de doses de smen
criopreservado de touros, e em 2008 esse nmero aumentou para mais de 8 milhes de
Mariana de Paula Rodrigues
30
doses, ou seja, a comercializao de doses de smen criopreservado de bovinos mostrou
uma significativa evoluo de 47,35% nos ltimos 10 anos, mas, infelizmente, no Brasil o
uso desta tcnica tem sido muito limitado, onde somente 5% dos gados so inseminados artificialmente, indicando a oportunidade de crescimento na produo e no uso das doses
de smen criopreservado (Anexo A- d) (ASBIA, 2008). Sendo assim, para suprir essa
demanda, necessrio conhecer os fatores que afetam a produo espermtica e
qualidade seminal.
Dentro desta perspectiva, h uma grande necessidade de se estudar mais sobre
as espcies bovinas e suas condies de manejo e reproduo, visando um aumento e
melhora da qualidade dos rebanhos, alm do que a determinao dos aspectos
qualitativos do smen constitui um processo crtico na tomada de decises para a seleo
de reprodutores. Isso tem permitido um verdadeiro progresso, especialmente nas ltimas
dcadas, na adaptao de testes laboratoriais mais especficos com o objetivo de elucidar
a funcionalidade espermtica, a partir da relao entre os testes convencionais e
funcionais.
A avaliao da integridade do material gentico, atividade mitocondrial,
integridade de membranas plasmtica e acrossomal e resistncia ao estresse oxidativo
das clulas espermticas criopreservadas, iro nos proporcionar a oportunidade de
decifrar causas de infertilidade ou baixa fertilidade entre os animais.
Mariana de Paula Rodrigues
32
2 HIPTESE
A hiptese central deste experimento a de que amostras seminais criopreservadas,
provenientes de touros no adaptados a ambientes tropicais (Bos taurus taurus -
Simental) e coletadas em duas estaes climticas distintas (inverno e vero),
apresentariam, aps a descongelao:
Alteraes espermticas estruturais e funcionais, tais como: alterao de
membranas plasmtica e acrossomal, diminuio da atividade citoqumica
mitocondrial, alto grau de fragmentao do material gentico.
Maior suscetibilidade celular ao estresse oxidativo.
Quando comparadas s caractersticas seminais de amostras, nas mesmas
condies, coletadas de touros adaptados (Bos taurus indicus - Nelore).
Mariana de Paula Rodrigues
34
3 OBJETIVOS
Com base na literatura apresentada, na hiptese formulada e sabendo da
suscetibilidade dos animais de origem europia s condies tropicais, e da ao danosa
dos radicais livres sobre as caractersticas funcionais e estruturais espermticas que afeta
a fertilidade dos animais; este estudo foi realizado com os seguintes objetivos:
Avaliar as diferenas do smen criopreservado de animais adaptados e no
adaptados ao clima tropical, coletados durante inverno e vero, atravs da
avaliao de motilidade, vigor, integridade de membrana plasmtica, integridade
de membrana acrossomal, atividade citoqumica mitocondrial, ndice de
fragmentao de DNA e suscetibilidade celular ao estresse oxidativo;
Correlacionar os resultados obtidos entre ambas as subespcies utilizadas (Bos
taurus taurus - Simental e Bos taurus indicus Nelore), bem como entre as duas
estaes climticas (inverno e vero).
Mariana de Paula Rodrigues
36
4 REVISO DE LITERATURA
4.1 COMPOSIO DO SMEN E ESPERMATOZIDES
Smen
Smen a suspenso celular lquida contendo espermatozides e secrees das
glndulas acessrias do trato genital masculino. A poro fluida dessa suspenso
chamada de plasma seminal (MIES FILHO; BARRETO, 1949).
Essa frao lquida do smen apresenta vrias funes, atuando como diluente e
veculo para os espermatozides, controlador de osmolaridade, fornecedor de energia,
agente antioxidante de compostos bioqumicos, alm de exercer um efeito estimulante
na motilidade. Participa na modulao da capacitao espermtica, possui efeito imuno-
modulatrio e age tambm como agente bactericida (LACKEY; GRAY; HENRICKS, 2002;
PESCH; BERGMANN; BOSTEDT, 2006).
O plasma seminal uma mistura envolvendo secrees provenientes do epitlio
seminfero, epiddimos, ductos deferentes, ampolas, prstata, vesculas seminais,
glndula bulbouretral e, em algumas espcies, glndulas uretrais (AMANN;
SCHANBACHER, 1983), composto basicamente de cido ctrico, cido ltico, ergotionena,
frutose, glicerilfosforilcolina, sorbitol, cido ascrbico, aminocidos, peptdeos, lipdeos,
cidos graxos, enzimas e protenas (GARNER; HAFEZ, 2004). Essas ltimas so
encontradas livres no plasma seminal ou adsorvidas em diferentes regies do
espermatozide e so responsveis por funes especficas como integridade estrutural
da membrana plasmtica, organizao da matriz perinuclear, inibio da capacitao
espermtica e reao acrossomal, sinalizaes trans-membrana e habilidade fecundante
(FOLTZ, 1995; FOUCHCOURT et al., 2002; MTAYER; DACHEUX; GATTI, 2002).
O ambiente que circunda o espermatozide caracterizado por mudanas
contnuas e progressivas na composio e concentrao proticas, desde o fludo
testicular at a secreo do epitlio das vesculas seminais. O papel primordial desta
atividade secretora possibilitar um ambiente favorvel para a maturao e manuteno
da estrutura do espermatozide, incluindo a organizao molecular de suas membranas.
Isso possvel, a partir da exposio das clulas espermticas protenas, secretadas
Mariana de Paula Rodrigues
37
em diferentes segmentos do aparelho reprodutivo, especialmente no epitlio seminfero,
a partir das clulas de Sertoli, cabea, corpo e cauda do epiddimo e, finalmente, pelas
glndulas vesiculares (HERMO; OKO; MORALES, 1994).
No decorrer do trnsito epididimrio, grande parte das protenas secretadas para
o lmen aderem-se membrana espermtica e so responsveis por vrias modificaes
em sua estrutura, conferindo um carter protetor funo celular (DACHEUX; GATTI;
DACHEUX, 2003).
Na composio lipdica do plasma seminal esto presentes os cidos:
docosahexaenico (DHA), palmtico, olico, linolico, araquidnico, linolnico e esterico
(TAVILANI et al., 2006). Esses cidos graxos desempenham um importante papel na
atividade funcional do espermatozide e, consequentemente, na fertilidade masculina
(GULAYA et al., 2001), assim como na proteo celular ao choque trmico e manuteno
da motilidade espermtica (GRAHAM, 1994). No entanto, por outro lado, essa variedade
lipdica encontrada no plasma seminal, tambm responsvel, pelo ataque das espcies
reativas de oxignio (ROS), tornando a amostra seminal mais susceptvel peroxidao
lipdica, comprometendo, assim, sua habilidade fertilizante (DE LAMIRANDE; GAGNON,
1992; BECONI et al., 1991).
O plasma seminal dotado de uma gama de antioxidantes que atuam como
neutralizadores de radicais livres para a proteo dos espermatozides contra o estresse
oxidativo. Contem, no apenas os antioxidantes enzimticos como a catalase, a
glutationa peroxidase (GPx) e a superxido dismutase (SOD), mas tambm os no-
enzimticos como o - tocoferol (vitamina E), ascorbato (vitamina C), glutationa (GSH),
urato, piruvato, taurina e hipotaurina (AGARWAL; PRABAKARAN, 2005; AGARWAL,
2006), cujas atividades permitem manter o balano entre a produo e destruio das
ROS.
Khosrowbeygi e Zarghami em 2007 reportaram que os nveis de catalase no
plasma seminal de homens subfrteis foram menores do que naqueles do grupo controle,
mostrando que a ao dos antioxidantes, tambm est relacionada s caractersticas
seminais.
Mariana de Paula Rodrigues
38
Espermatozide
O espermatozide uma clula haplide, alongada, produzida dentro dos tbulos
seminferos dos testculos, atravs da diviso e transformao das clulas tronco
germinativas, em um processo chamado espermatognese (EDDY; OBRIEN; MRUCK;
CHENG, 2004). Seus principais componentes qumicos so os cidos nuclicos, as
protenas e os lipdeos. Esta clula formada por regies altamente especializadas, tais
como cabea, colo, e flagelo (SANTOS, 2003), envoltos, em sua totalidade, pela
membrana plasmtica (URA; TOSHIMORI, 1990).
A membrana plasmtica composta basicamente de uma bicamada de lipdeos,
principalmente os cidos graxos poliinsaturados, em especial o cido docosahexaenico
(DHA) (FLESCH; GADELLA, 2000). Por um lado, esses cidos graxos so de grande
importncia celular, pois conferem as caractersticas de fluidez e permeabilidade
membrana; no entanto, por outro lado, devido s insaturaes, servem como substrato
aos radicais livres para que ocorra a peroxidao lipdica, tornando os espermatozides
extremamente suscetveis ao estresse oxidativo (TAVILANI et al., 2006).
Na cabea do espermatozide esto contidos: o DNA, uma pequena quantidade de
citoplasma e, no seu extremo apical, o acrossomo; sua principal caracterstica o ncleo
achatado de forma oval, contendo cromatina altamente condensada (YANAGIMACHI,
1994). A extremidade anterior do ncleo espermtico recoberta pelo acrossomo, uma
camada delgada, composta de dupla membrana que envolve intimamente o ncleo
durante os ltimos estgios da formao celular. Essa estrutura, semelhante a uma
vescula, contem acrosina, hialuronidase e outras enzimas hidrolticas vitais para a
interao espermatozide-ocito (URA; TOSHIMORI,1990; GARNER; HAFEZ, 2004).
O colo ou pea de conexo forma uma placa basal que se ajusta dentro de uma
depresso na superfcie posterior do ncleo, cuja funo conectar a cabea do
espermatozide ao flagelo (GARNER; HAFEZ, 2004).
O flagelo ou cauda subdividido em: pea intermediria, pea principal e pea
terminal; est envolvido com a motilidade celular, sendo constitudo internamente pelo
axonema, uma estrutura especializada do citoesqueleto. O axonema formado por um
anel de nove microtbulos duplos envolvendo um par central. As dinenas e nexinas
realizam a ligao entre os pares de microtbulos. As dinenas apresentam projees
chamadas braos de dinena, que so responsveis pela gerao da fora motora do
flagelo. A dinena um complexo de multisubunidades de ATPase (GIBBONS, 1965) que
traduzem energia qumica (ATP) em energia cintica, permitindo que pares de
microtbulos adjacentes deslizem um sobre o outro, causando uma curvatura do
Mariana de Paula Rodrigues
39
axonema e ento o movimento flagelar (MORTIMER, 1997; TURNER, 2006). Nele, ainda,
esto presentes as mitocndrias, cuja funo fisiolgica realizar a fosforilao oxidativa
e produzir o ATP como fonte de energia metablica (FREY; MANNELLA, 2000), a posio
das mitocndrias ao redor da poro proximal do axonema sugere que elas so
necessrias para o suprimento de ATP usado para a motilidade flagelar (Figura 1)
(MORTIMER, 1997).
A habilidade do espermatozide de fertilizar um ocito e garantir o
desenvolvimento embrionrio est relacionada s variveis como motilidade,
metabolismo, integridade de membrana plasmtica, acrossomal e de DNA (FOOTE,
2003). A criopreservao conhecida por afetar, em 50%, todos esses parmetros,
reduzindo a quantidade de espermatozides aptos para a fertilizao (JANUSKAUSKAS et
al., 1996; WATSON, 2000).
Toda caracterstica estrutural especializada do espermatozide est voltada para
sua atividade funcional nica, ou seja, assegurar a liberao do material gentico,
contido em seu ncleo, para o interior do ocito, onde ocorre a unio dos pr-ncleos
masculino e feminino, produzindo o zigoto (EDDY; OBRIEN, 1994). Resumindo, a
Fonte: HAFEZ; HAFEZ, 2004
Figura 1 - Esquema da clula espermtica e seus componentes
Mariana de Paula Rodrigues
40
principal funo da cabea do espermatozide liberar um conjunto haplide de
cromossomos para o ocito, e a do flagelo promover motilidade clula para permitir a
sua passagem pelo trato genital feminino e a penetrao atravs da zona pelcida do
ocito (MORTMER, 1997).
A dinmica das transformaes celulares, ao longo da espermatognese, pode
sofrer o efeito da regulao endcrina (HALL, 1994), da termorregulao testicular e
temperatura ambiental (KASTELIC et al., 1997), h outros fatores que contribuem para
esses distrbios, como o nvel srico de corticides (BARTH; BOWMAN, 1994), ruptura da
barreira hemato-testicular, leses no parnquima testicular (VAN CAMP, 1997) e
alteraes genticas (STEFFEN, 1997).
Assim sendo, caso haja qualquer alterao no ambiente espermtico, seja ela por
aumento de temperatura, criopreservao, excesso de radicais livres ou at mesmo
escassez de antioxidantes, toda caracterstica estrutural e funcional dos espermatozides
ser afetada, resultando em alteraes estruturais do espermatozide e comprometendo
profundamente o potencial fertilizante destas clulas.
4.2 EFEITOS DA CRIOPRESERVAO
A disponibilidade de gametas viveis e funcionalmente normais um pr-requisito
para uma fertilizao bem sucedida em mamferos, tanto in vivo quanto in-vitro e, por
isso, um ponto crtico para a implementao de uma grande variedade de tecnologias
reprodutivas, tais como a inseminao artificial, fertilizao in-vitro, transferncia de
embries e engenharia gentica. Devido a isto, a criopreservao de gametas e embries
tornou-se um procedimento complementar essencial para a aplicao destas tecnologias,
j que eliminam as limitaes de tempo e espao (PARKS, 1997).
Sendo assim, a criopreservao possui um papel fundamental na fertilidade
masculina, tanto para preservao dos gametas por um perodo indeterminado, como
para utilizao desses em um tratamento de reproduo assistida (SHEENA; ISHOLA,
2008).
Dessa forma, essa tcnica foi estabelecida para suspender o metabolismo
espermtico, preservar suas caractersticas por um perodo de tempo prolongado,
mantendo o potencial fertilizante dos espermatozides (AMANN; PICKETT, 1987).
Mariana de Paula Rodrigues
41
Os espermatozides devem reter pelo menos quatro atributos bsicos aps a
congelao e descongelao: 1. Integridade do flagelo, que garante produo de ATP e
motilidade; 2. Integridade do ncleo, que mantm estvel o armazenamento do DNA; 3.
Integridade do acrossomo, j que possui enzimas responsveis pela fecundao; 4.
Integridade de membrana plasmtica, importante para a sobrevivncia do
espermatozide dentro do trato reprodutivo feminino e para a ligao do mesmo com a
membrana do ocito durante a fertilizao (AMANN; PICKETT, 1987; HAMMERSTEDT;
GRAHAM; NOLAN, 1990).
O processo de criopreservao constitudo de diluio, refrigerao, congelao,
armazenamento e descongelao. Cada um desses passos tem sua relao com a
estrutura funcional das membranas e metabolismo celular (HAMMERSTEDT; GRAHAM;
NOLAN, 1990).
No entanto, a exposio da clula temperaturas abaixo da fisiolgica, mesmo
antes de ocorrer a congelao, responsvel por mudanas na organizao
bidimensional dos lipdeos de membrana, diminuindo a longevidade espermtica (HOLT,
2000).
Apesar da interao entre diluidor, crioprotetor, curvas de refrigerao, congelao
e descongelao ser responsvel pela preservao das estruturas espermticas e buscar
minimizar os danos causados pelo choque frio, formao de cristais de gelo e
desidratao celular (YOSHIDA, 2000), a criopreservao, ainda um tanto quanto
prejudicial s funes espermticas, visto que a qualidade de amostras aps a
descongelao se mantm inferior qualidade de amostras frescas (HOLT, 1997; PERIS
et al., 2007).
claro, que a clula espermtica no est adaptada para passar pelas variaes de
temperatura envolvidas no processo de criopreservao, sofrendo, dessa forma,
alteraes na motilidade, estrutura e no material gentico, simultaneamente nas
diferentes etapas de congelao e descongelao (PARKS; GRAHAM, 1992).
A explicao para tais efeitos deletrios clula est relacionada com a fase de
transio dos lipdeos de membrana, resultando na perda de seletividade, caracterstica
das membranas biolgicas de clulas vivas (WATSON; MORRIS, 1987), alm da pequena
quantidade de citoplasma e consequentemente de antioxidantes dos espermatozides
(HOLT, 2000).
A permeabilidade da membrana aumenta aps refrigerao, podendo ser devido a
mudanas nos canais proticos, ainda, a regulao do clcio tambm afetada por esse
processo, tendo conseqncias srias em termos de funo celular (BAILEY; BURH,
1994).
Mariana de Paula Rodrigues
42
A sensibilidade ao choque frio varia de acordo com o grau de maturao do
espermatozide, espcie, variao individual e quantidade de plasma seminal, e pode ser
determinada pelo contedo de colesterol da membrana e o grau de saturao dos cidos
graxos, os quais influenciam na fluidez da membrana plasmtica (WATSON, 1981;
COTTORELLO, 2002).
Parks e Graham (1992) detectaram em seu estudo que o tipo de fosfolipdio
predominante na membrana tambm influenciava na sensibilidade ao choque frio, e
espcies com maior proporo de fosfatidilcolina/ fosfatidiletanolamina eram mais
resistentes. Esses autores observaram ainda que quanto maior o contedo de protena
da membrana, mais baixa a resistncia ao choque frio.
Frente isso, leses irreversveis ocorrem na membrana plasmtica espermtica
durante resfriamento, congelao e aps descongelao, indicativa de separao de fase,
induzida por transio na fase lipdica (HOLT; NORTH, 1984), com mudanas srias em
sua fluidez (BUHR; CURTIS; KAKUDA, 1994).
Alteraes acrossomais tambm foram encontradas em pesquisa realizada por
Alvarenga et al. (1998), onde houve espessamento de segmento apical, ruptura de
membrana acrossomal, contedo menos denso e homogneo, e at mesmo ausncia de
tal estrutura.
Foi sugerido por Henry et al. (1993), que a membrana plasmtica e a mitocndria,
em espermatozides humanos, foram igualmente afetadas pela criopreservao,
concordando com esse resultado, Bollwein, Fuchs e Koess (2007), encontraram em
amostras de bovinos, que a mitocndria e a membrana espermtica so igualmente
vulnerveis esse processo, j o DNA se mostrou um pouco mais resistente, onde
ocorreu fragmentao somente aps um longo perodo de incubao.
Outros estudos em bovinos demonstraram que a criopreservao espermtica est
associada ao aumento da gerao de ROS, bem como a diluio do plasma seminal, uma
importante fonte de antioxidantes, predispem as clulas ao estresse oxidativo
(BILODEAU et al., 2000; CHATTERGEE; GAGNON, 2001).
Apoiando essa idia, Peris et al. em 2007 investigaram o efeito da criopreservao
na funo espermtica de carneiros, avaliando estabilidade de DNA (SCSA), peroxidao
lipdica de membranas (LPO) e caractersticas funcionais, como motilidade (CASA),
viabilidade (eosina/nigrosina) e integridade de acrossomo (CTC); depararam-se com a
diminuio na qualidade espermtica em todas as caractersticas avaliadas quando se
tratava de smen criopreservado.
Mariana de Paula Rodrigues
43
O grupo de pesquisas de Donnelly (2001) encontrou que a criopreservao
provocou diminuio de 50% da motilidade progressiva (CASA) do smen humano, alm
da diminuio em 20% da integridade do DNA (Ensaio Cometa).
Ainda relacionando-se aos danos espermticos, as dimenses morfolgicas da
cabea de espermatozides eqinos foram, estatisticamente, menores em amostras
criopreservadas, provavelmente causada por danos acrossomais ou pela
hipercondensao do material gentico sofrido pelas clulas espermticas durante a
congelao (ARRUDA et al., 2002).
Segundo Slowinska, Karol e Ciereszko (2008), os espermatozides bovinos
possuem um ponto importante de resistncia criopreservao, j que a porcentagem
de fragmentao de DNA (Ensaio Cometa), mesmo sendo significante (P
Mariana de Paula Rodrigues
44
estimulados, enviam informaes para que haja uma resposta de todo o organismo,
diminuindo a temperatura atravs da taquicardia e transpirao (WAITES, 1970).
Alm disso, a pele escrotal possui maior nmero de glndulas sudorparas, as
quais produzem maior quantidade de suor por unidade de rea quando comparadas com
glndulas da pele de outra regio corprea. Em trabalho realizado por Waites e
Voglymayr em 1963, foi verificado que ao elevar a temperatura escrotal, de carneiros,
houve descarga das glndulas sudorparas em intervalos de at 17 minutos, assim como
a queda e subsequente elevao da temperatura testicular, alm disso, foi visto que a
atividade dessas glndulas foi independente da temperatura corporal, a qual se manteve
constante.
Ainda, seu componente muscular permite alterao da espessura e da rea superficial do escroto, e tambm garante a mobilidade testicular. Frente temperaturas
elevadas, este msculo, o Cremster, relaxa totalmente, afastando as gnadas da parede
abdominal e aumentando a superfcie de contato entre o testculo e o escroto. J em
baixas temperaturas, esse msculo se contrai, aproximando os testculos do abdmen.
No entanto, por se tratar de um msculo estriado, essa contratura no se mantem por
perodos muito longos (KASTELIC; COULTER; COOK, 1995).
Dessa maneira, concomitante a esses mecanismos e como componente
fundamental para a termorregulao, est a ao do plexo pampiniforme, estrutura
constituda pela veia e artria testiculares, e juntamente com os vasos linfticos, ducto
deferente e artria e veia diferenciais, formam o funculo espermtico (WAITES, 1970).
No plexo pampiniforme de todos as animais domsticos, a artria testicular uma
estrutura extremamente sinuosa, cuja espessura maior na poro superior, conferindo
a caracterstica cnica do funculo espermtico (SEALFON; ZORGNIOTTI, 1991).
No mecanismo de contracorrente, o sangue arterial que est entrando no testculo
resfriado pelo sangue venoso que est partindo em menores temperaturas. Esse
sistema expressa a propriedade de transferncia de calor, e sua eficincia depende das
diferenas de temperatura entre os fluidos (SETCHELL, 1978, 1998)
Portanto, falhas em qualquer um desses processos de termorregulao ou ainda
temperaturas ambientais extremamente elevadas, resultaro no comprometimento
reprodutivo animal, j que o estresse trmico certamente resultar em degenerao
testicular.
Mariana de Paula Rodrigues
45
4.4 CLIMA TROPICAL E ALTERAES REPRODUTIVAS: BOS TAURUS TAURUS VS BOS TAURUS INDICUS
Os componentes fisiolgicos e biolgicos animais so afetados por fatores
climticos que incluem temperatura, umidade, radiao solar e vento. Temperaturas
extremas aumentam ou diminuem os requerimentos normais de mantena devido a
interrupo da homeostase durante a termorregulao, interferindo na troca de calor
entre animal e ambiente, culminando em alteraes deletreis na reproduo
(GWAZDAUSKAS, 1985).
Maior parte dos rebanhos bovinos mundiais criada nos trpicos, nessas
condies climticas, a reproduo bovina pode ser afetada pelo estresse trmico; em
altas temperaturas ambientais, os mecanismos da termorregulao corprea so
incapazes de promover a perda de calor, havendo um aumento da temperatura interna
acima dos limites fisiolgicos (CHEMINEAU, 1994), alm de resultar em um quadro de
degenerao testicular, caracterizado por alteraes histolgicas do epitlio seminfero
(VANDEMARK; FREE, 1970).
O estresse trmico pode diminuir taxas de concepo, aumentar mortalidade
embrionria em vacas (WOLFENSON et al., 2000) e diminuir a qualidade seminal de
touros (BRITO et al., 2002). Estudos tem mostrado que o aumento da temperatura
testicular, causada pela insulao escrotal resulta em diminuio da motilidade
progressiva e concentrao espermticas, aumento das anormalidades morfolgicas, na
porcentagem de leso acrossomal, bem como alteraes das caractersticas do plasma
seminal (VOGLER et al., 1993; BRITO et al., 2002).
A variao das caractersticas seminais, durante as quatro estaes do ano j foi
bem descrita por alguns autores (REKWOT et al., 1987; KOIVISTO et al., 1996). Em
centrais de inseminao artificial situadas na Nigria, uma grande quantidade de doses
de smen criopreservado foi descartada aps verificarem que a qualidade seminal, aps
descongelao, variou conforme a estao do ano, sendo menor durante as estaes
quentes (REKWOT et al., 1987), deixando claro que, mesmo um curto perodo e uma
pequena insulao escrotal j so suficientes para afetar a viabilidade espermtica aps
a descongelao (VOGLER et al., 1993; JANUSKAUSKAS et al., 2007).
Achados de Casady et al. (1953) indicaram que a temperatura ambiental entre
27C e 32C crtica para ocorrer o estresse trmico testicular e a exposio contnua
temperaturas superiores a 30C so prejudiciais espermatogneses.
Fonseca e Chow (1995) induziram o processo degenerativo em touros zebunos
(insulao escrotal), por 7 dias, e verificaram profundas alteraes morfolgicas,
Mariana de Paula Rodrigues
46
decrscimo na concentrao e motilidade espermticas. Em concordncia, recentemente,
Brito et al. (2003a) descreveram aspectos importantes da induo da degenerao
testicular, tambm em touros Bos taurus indicus, verificaram que as alteraes de ncleo
espermtico, caracterizadas pela presena de vacolos nucleares, foram bem
proeminentes. Provavelmente, aparecimento desses defeitos morfolgicos est associado
sensibilidade das espermtides, nas fases finais da espermiognese (VOGLER et al., 1993).
Meyerhoeffer, em 1985 verificou que a exposio de touros Bos taurus taurus
elevada temperatura resultou em diminuio da qualidade seminal, com base nesse
resultado, Koivisto e colaboradores, em 2008, avaliaram as caractersticas seminais de
touros de origem europeia (Bos taurus taurus) e touros de origem indiana (Bos taurus
indicus) sob efeito das estaes do ano, criados na regio sudeste do Brasil, notando que
a tolerncia ao calor foi maior em touros zebus, j que apresentaram melhor motilidade,
vigor e morfologia espermticas, quando comparados s caractersticas seminais dos
touros europeus, alm de que a congelabilidade seminal desses ltimos variou
consideravelmente ao longo do ano, mas nos ambos gentipos, a congelabilidade foi
melhor no inverno do que no vero.
Os animais de origem indiana so conhecidos por se adaptarem melhor s
condies tropicais, sendo mais resistentes ao stress trmico quando comparado aos de
origem europeia nestas mesmas condies (OHASHI et al., 1998; HANSEN, 2004), pois
os zebunos diferem quanto s caractersticas anatmicas e de termorregulao
testicular; nesses animais, o escroto e a subtnica testicular facilitam o gradiente de
temperatura (troca positiva), em contraste com touros europeus, cujo gradiente
negativo. Alm disso, a espessura da artria testicular significativamente inferior em
diferentes regies do parnquima testicular, em relao aos touros europeus, facilitando
a troca ou perda de calor gerado pelo aumento do fluxo sangneo e metabolismo celular
(BRITO et al., 2004), outra caracterstica importante, que possuem menor
conformao, maior relao superfcie de pele e tamanho corporal, mais glndulas
sudorparas e menor termognese (TURNER, 1980).
Estudos de Lopes (2005), demonstram que as raas Bramhan e Senepol (Bos
taurus indicus) conseguem mostrar uma adaptao s altas temperaturas incluindo
funes celulares de termorregulao coordenadas por mecanismos de controle gnico.
Em particular embries de gado indiano (raa Bramhan) foram capazes de sobreviver a
temperaturas altas (41C por 6 horas) quando comparados a embries da raa Angus ou
Holandeses (Bos taurus taurus) submetidos ao mesmo tratamento.
possvel que tais caractersticas confiram um aspecto diferenciado na resposta
seminal frente ao choque trmico testicular. Devido isso, os bovinos de origem europia,
Mariana de Paula Rodrigues
47
utilizados em cruzamentos industriais, apresentam menores ndices de fertilidade em
relao aos bovinos zebunos (OHASHI et al., 1998).
O mecanismo de estresse trmico que afeta os touros no est restrito apenas ao
testculo. Alm do estresse testicular, ocorre um mecanismo sistmico hormonal.
Concentraes altas de testosterona so necessrias para as funes testiculares e
epididimrias normais. Com o estresse, h o aumento das concentraes de cortisol, que
afetam negativamente a produo de testosterona, interferindo na espermatognese
(BARTH; BOWMAN, 1994).
Porm, a hiptese mais clara para explicar a menor fertilidade dos touros
europeus, seria o maior ndice de estresse oxidativo sofrido em nvel testicular (NICHI et
al., 2006).
No Brasil, a qualidade do smen de touros de raas zebunas foi considerada
inferior aos de raas taurinas, especialmente no perodo de seca, por Silva (1981),
enquanto Koivisto et al. (1998) associaram a qualidade do smen (porcentagem de
espermatozides anormais) das duas subespcies com altas temperaturas e umidade
relativa do ar, presentes nas estaes de primavera e vero. Em Cuba, ambas as
subespcies apresentaram smen de melhor qualidade (motilidade, concentrao,
percentagem de espermatozides vivos) no perodo frio (MENENDEZ-BUXADERA et al.,
1983). Na ndia, as raas zebunas apresentaram smen de melhor qualidade (volume,
pH, concentrao, movimento de massa, motilidade) na estao quente-chuvosa e as
raas taurinas na estao quente-seca (DJIMDE; WENIGER, 1984).
Em geral, quando se compara a qualidade seminal de touros de origem europeia e
indiana, fica claro que os primeiros so os que mais sofrem com o estresse trmico
(MEYERHOEFFER et al., 1985, NICHI et al., 2006), porm, importante ressaltar que at
mesmo os touros zebus demonstraram alteraes seminais devido a variabilidade
sazonal (REKWOT et al., 1987).
4.5 ESTRESSE OXIDATIVO
O oxignio, uma molcula essencial s plantas e animais que, atravs da oxidao
de molculas biolgicas, produz a energia necessria para sua sobrevivncia e
manuteno do metabolismo celular, tambm pode ser potencialmente txico s clulas.
De modo que em certas condies, o oxignio pode reagir com determinadas molculas e
Mariana de Paula Rodrigues
48
culminar na formao de espcies reativas de oxignio, dentre elas esto os radicais
livres (IWASAKI; GAGNON, 1992).
O radical livre qualquer espcie qumica, tomo, on ou molcula que contem um
nmero de eltrons no pareado na camada de valncia, e pode reagir com qualquer
molcula que esteja prxima ao seu local de formao (SINGH; JAISWAL, 1992).
Mesmo uma pequena quantidade de oxignio consumida reduzida por vias
especficas fornecendo uma variedade de substncias qumicas altamente reativas tais
como o xido ntrico (NO), o nion superxido (O2-), o radical hidroxila (OH-), e perxido
de hidrognio (H2O2), substncias essas chamadas de espcies reativas de oxignio (ROS
Reactive Oxygen Species) (CHAN et al., 1999), sendo assim, sua produo uma
conseqncia inevitvel desde que haja oxignio no metabolismo celular (IWASAKI;
GAGNON, 1992). A ROS mais reativa e prejudicial o radical hidroxila (OH-), que pode
ser formado atravs do H2O2 e do O2- (HALLIWELL, 1991).
As ROS desempenham dupla funo no organismo celular (fisiolgica e
patolgica). Essa funo depender no somente da natureza das ROS, mas tambm do
momento em que produzida, de sua concentrao, do tempo de exposio (AITKEN et
al, 1993a; GRIVEAU et al., 1995), e da eficcia dos mecanismos antioxidantes.
Normalmente h certo equilbrio entre a formao e a proteo contra os radicais livres,
caso contrrio, as ROS causariam estresse oxidativo e leso em macromolculas como
lipdeos, protenas e DNA (BIESALSKY, 2002).
O efeito das ROS, tanto daquelas produzidas endogenamente, como daquelas por
agentes contaminantes, limitado pela presena de vrios sistemas regulatrios. Esses
sistemas de defesa, no apenas os enzimticos, mas tambm os no-enzimticos
mantem o balano entre a produo e o metabolismo dessas substncias e ainda agem
em todas as etapas no processo de peroxidao (NISSEN; KREYSEL, 1983).
Trs enzimas constituem um dos sistemas de proteo: 1. Catalase, a qual
permite a degradao do perxido de hidrognio (JEULIN et al., 1989); 2. Glutationa
Peroxidase, que catalisa a degradao do perxido de hidrognio e lipoperxidos
(ALVAREZ; STOREY, 1989); 3. Superxido Desmutase, a qual acelera a dismutao do
nion superxido (NISSEN; KREYSEL, 1983). Do outro sistema de proteo, o no-
enzimtico, fazem parte: a Vitamina E ( -tocoferol), que interrompe a reao em cadeia
da peroxidao lipdica (CHOW, 1991); a Vitamina C (ascorbato), que regenera a
Vitamina E, de oxidada para ativa, e neutraliza o nion superxido e oxignios livres
(DAWSON et al., 1992) 1; a glutationa (GSH), urato, piruvato, taurina e hipotaurina
(AGARWAL, 2006).
Mariana de Paula Rodrigues
49
Ao longo do processo de maturao espermtica, a clula perde citoplasma, dessa
forma, perde tambm parte dos mecanismos antioxidantes que so observadas nos
outros tipos celulares (DONNELLY; MCCLURE; LEWIS, 1999). Contudo, o plasma
seminal que o protege do ataque oxidativo pela presena de enzimas e molculas
antioxidantes (LEWIS et al., 1997; HSU et al., 1998).
De acordo com estudos feitos por Lewis em 1995, Pasqualotto em 2000 e seus
respectivos colaboradores, os nveis de antioxidantes, como vitamina C e E, tanto no
espermatozide como no plasma seminal, so reduzidos nos homens infrteis, quando
comparados ao grupo de homens frteis, alm disso, foi mostrado, em outro trabalho, os
efeitos benficos desses antioxidantes, quando adicionados durante a preparao
espermtica para um tratamento de reproduo assistida (HUGHES et al., 1998).
4.5.1 Espcies Reativas de Oxignio na fertilidade do macho
As espcies reativas de oxignio exercem dupla influncia sobre espermatozides
de mamferos, por um lado, a adio de antioxidantes em diluidores para criopreservao
melhora a qualidade e funo espermticas aps a descongelao (BILODEAU et al.,
2000), por outro lado, pequenas concentraes de ROS exgenas ou endgenas fazem
um papel estimulatrio sobre os espermatozides (AITKEN et al., 1998).
A fonte de maior produo de ROS nos ejaculados de mamferos so leuccitos e
espermatozides anormais, presentes na maioria do smen (AITKEN; WST; BUCKINGHAM,
1994), alm da prpria mitocndria, na cadeia de transporte de eltrons, ao realizar o
processo de respirao celular.
O fato de que, fisiologicamente, a prpria clula espermtica produz ROS
apoiado por estudos que comprovam que essas espcies reativas esto envolvidas em
funes espermticas essenciais, tais como sua funo cintica, o que permite a
movimentao espermtica atravs do aparelho reprodutivo da fmea, sua funo
fusognica, que promove a capacitao, hiperativao, reao acrossmica e a ligao
espermtica zona pelcida (AITKEN et al., 1989a; KODAMA; KURIBAYASHI; GAGNON,
1996).
No entanto, em um estudo de Iwasaki e Gagnon (1992), foi verificado que as ROS
so rotineiramente detectadas em 25% das amostras seminais provenientes de homens
infrteis.
Mariana de Paula Rodrigues
50
O espermatozide particularmente susceptvel ao das ROS (JONES; MANN,
1977). Acredita-se que tal fato deve-se pequena quantidade de citoplasma na clula
espermtica normal, o que limita a quantidade de antioxidantes, principalmente os
enzimticos (VERNET; AITKEN; DREVET, 2004), alm de serem ricos em cidos graxos
poliinsaturados em sua membrana plasmtica, principalmente o DHA (JONES; MANN;
SHERINS, 1979). Esses cidos graxos so essenciais para propiciar a fluidez necessria
para que os espermatozides atinjam o ocito, promovam a fuso e posteriormente, a
fertilizao (AITIKEN; KRAUSZ, 2001).
Desde a primeira metade da dcada de 40 h relatos de que o excesso de ROS
diminui a motilidade espermtica, e mais adiante, que os radicais livres so produzidos
tanto por espermatozides normais quanto por anormais, entretanto os normais
possuem mecanismos de defesa que previnem o dano celular (SULEIMAN et al., 1996), e
os anormais, principalmente pela presena de mitocndrias inativas, produzem mais
radicais livres.
Outro aspecto do excesso de produo de ROS pelos espermatozides anormais
parece estar envolvido com defeitos da pea intermediria, associado reteno do
citoplasma, mais especificamente da gota citoplasmtica (AITKEN et al., 1994). Nichi et
al. (2007), em estudo realizado em smen bovino proveniente de epiddimo, clulas que
possuam gota citoplasmtica proximal (defeito maior) apresentaram maior
suscetibilidade ao estresse oxidativo quando comparadas s clulas com gota
citoplasmtica distal (evento normal em clulas provenientes de epiddimo).
Para que o espermatozide seja considerado qualitativamente vivel e
potencialmente frtil necessrio que possua morfologia, atividade metablica e
membranas normais (JOBIM et al., 2002). Fatores externos s clulas espermticas, tais
como, alteraes na composio, pH, temperatura e osmolaridade do meio que as
circunda, podem provocar alteraes irreversveis em suas membranas, limitando a
funo fertilizante dos das clulas espermticas (WATSON, 2000), um exemplo a
peroxidao lipdica, que pode modificar estruturas proticas, inativar hormnios e
enzimas, aumentar a permeabilidade celular, resultando em perda da integridade da
membrana e ruptura da clula (LI; SHANG; CHEN, 2004).
As espcies reativas de oxignio podem atacar qualquer componente celular,
porm, os cidos graxos poliinsaturados so os principais alvos, j que possuem grandes
quantidades de duplas ligaes (insaturaes) (IWASAKI; GAGNON, 1992).
O processo de peroxidao lipdica inicia-se na presena de ROS, que ao ter
contato com os cidos graxos poliinsaturados da membrana plasmtica, em especial o
DHA, retiram uma molcula de hidrognio de uma dupla ligao, transformando-o em
radical livre, que por sua vez, ir agir em outro cido graxo poliinsaturado. Este
Mariana de Paula Rodrigues
51
mecanismo desencadeia a cascata de peroxidao, causando alteraes estruturais
espermticas, alm da perda de fluidez e da capacidade de regular a concentrao
intracelular de ons envolvidos no controle do movimento espermtico e mudanas no
metabolismo celular (AITKEN; KRAUSZ, 2001; MARQUES et al., 2002).
Segundo Ohyashiki, Tsuka, Mohri (1988) e Block (1991) e colaboradores, o
ataque dos cidos graxos poliinsaturados e a reao em cadeia da peroxidao lipdica,
causam desorganizao na arquitetura da membrana plasmtica, que faz com que haja
perda da funo celular, comprometendo a habilidade do espermatozide em iniciar os
eventos de fuso, reao acrossmica e penetrao no ocito, o que resulta na perda da
capacidade de fertilizao do espermatozide.
Sustentando essa idia, a adio de cido araquidnico, um cido graxo
poliinsaturado, em suspenso de smen humano estimulou a gerao dose-dependente
de ROS e perda de motilidade espermtica (AITKEN; BAKER, 2006).
O estresse oxidativo , dessa maneira, considerado como uma das causas mais
freqentes da disfuno espermtica (ATIKEN et al., 1998); alm de ser um dos
principais fatores associados perda na fertilidade de amostras de smen durante sua
manipulao e armazenamento, principalmente quando utilizadas tcnicas que
necessitam da retirada do plasma seminal (WATSON, 2000; BALL et al., 2001;
CALAMERA et al., 2001; AITKEN; BAKER, 2002), ainda, estudos indicam que a perda de
qualidade de amostras espermticas criopreservadas ou sob refrigerao, tambm pode
estar relacionada ao estresse oxidativo (AURICH et al., 1997; BAUMBER et al., 2000), j
que, aps a descongelao, os processos metablicos das clulas voltam a acontecer,
dentre eles a produo de espcies reativas de oxignio (BALL et al., 1999, 2001).
Em pesquisa realizada por Tavilani, Doosty e Salidi (2005), foi mostrado que a
concentrao de malondialdedo (MDA), produto da peroxidao lipdica, foi quase duas
vezes maior em amostras seminais de homens astenozoosprmicos do que em smen de
homens normozoosprmicos.
Portanto, alteraes mitocondriais, danos estruturais do DNA, perda da
integridade de membrana e inativao de enzimas tm sido correlacionadas com a
formao de lipoperxido (ATIKEN et al., 1998; SIKKA, 2004), dessa forma, o estresse
oxidativo causado pelo acmulo de ROS afeta, no somente a fluidez da membrana
plasmtica do espermatozide, mas tambm promove danos celulares, que induzem a
apoptose das clulas germinativas culminando em perda da sua funo de fertilizao
(OLLERO; POWERS; ALVAREZ, 2000). Neste sentido, o grupo de pesquisa de
Kasimanickam em 2006 verificou que os parmetros seminais normais de carneiros
foram negativamente relacionados ao ndice de fragmentao de DNA e peroxidao
lipdica.
Mariana de Paula Rodrigues
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4.5.2 Mensurao do estresse oxidativo
Muitas pesquisas tm sido feitas a fim de desenvolver ndices de estresse oxidativo
que possam identificar e quantificar, com acurcia, os efeitos desse processo sobre a
infertilidade. Uma vez que, o estresse oxidativo corresponde a um desequilbrio entre a
produo de ROS e a proteo oxidativa no smen, torna-se concebvel que a avaliao
do estresse oxidativo seja feita atravs da mensurao dos nveis de ROS e/ou seus
metablitos, assim como, dos nveis de antioxidante no smen (NICHI, 2003).
Para a dosagem de ROS em amostras seminais so necessrias tcnicas muito
sensveis, visto que a produo destes no smen relativamente baixa quando
comparada com a produzida por leuccitos, por exemplo, e, alm disso, a meia-vida das
espcies reativas de oxignio muito curta (LUNEC, 1989; KESSOPOULO et al., 1994).
A deteco da peroxidao lipdica do espermatozide pode ser feita atravs da
utilizao de sondas fluorescentes lipoflicas ou mesmo pela cromatografia para avaliao
dos lipdeos de membrana, porm estes mtodos, apesar de serem sensveis, so
trabalhosos e possuem um custo muito elevado (SHEKARRIZ; THOMAS JR.; AGARWAL,
1995; SHEKARRIZ et al., 1995).
A degradao peroxidativa dos cidos graxos poliinsaturados leva formao de
produtos finais txicos como o 4-hidroxilnonenal e o malondialdedo (MDA) (JONES;
MANN; SHERINS, 1979), dessa forma, uma alternativa para a verificao da peroxidao
lipdica a dosagem de produtos finais deste processo que se mantm nos fluidos
corporais, como, por exemplo, o (MDA) (AITKEN; HARKISS; BUCKINGHAM, 1993a;
SIDHU et al., 1998), cujas concentraes apresentam correlao negativa com a
motilidade espermtica e com a penetrao em ocito de hamster (AITKEN et al., 1989;
1993a,b).
A ocorrncia da peroxidao lipdica em espermatozides leva a um acmulo
progressivo de hidroperxidos lipdicos na membrana plasmtica espermtica que
posteriormente se decompem para formar o MDA (SLATER, 1984; JANERO, 1990). A
avaliao dos nveis de MDA tem sido extensivamente utilizada como marcador da
peroxidao lipdica (SLATER, 1984; JANERO, 1990; NICHI, 2003).
Entre os diferentes mtodos analticos estabelecidos, a reao com o cido 2-
tiobarbitrico (TBA) o mais utilizado, sendo que nesta reao, o composto formado pela
reao entre o MDA e o TBA pode ser mensurado atravs de sua absorbncia ou
fluorescncia. Estes produtos so ento chamados de substncias reativas ao cido
tiobarbitrico (TBARS) (JANERO, 1990).
Mariana de Paula Rodrigues
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Em trabalho de Zalata et al., em 1998, estudaram o efeito do estresse oxidativo
induzido, atravs da peroxidao lipdica dos cidos graxos que compe os
espermatozides, e encontraram que o aumento da produo de TBARS estava associado
com uma diminuio significativa dos cidos graxos poliinsaturados.
Um ano mais tarde, Zabludovky et al. (1999), verificaram que os nveis de TBARS
em amostras seminais humanas foram inversamente correlacionados (r = -0,59, p<
0.01) com as taxas de fertilizao in vitro. Alm disso, os nveis de TBARS foram
significativamente maiores nas amostras que possuam taxa de fertilizao igual a zero,
quando comparadas com as amostras com taxa de fertilizao maior que zero. Neste
mesmo estudo, foram verificadas correlaes entre os nveis de TBARS e volume
espermtico, nmero total de espermatozides no ejaculado e morfologia espermtica
normal (r = -0,48, p< 0,01; r = -0,42, p< 0,01; r = -0,35, p< 0,04; respectivamente).
O ferro o metal mais envolvido nas reaes de peroxidao lipdica, como, por
exemplo, na reao de Fenton. Em condies fisiolgicas do organismo, o Fe 3+ no tem
a capacidade de induzir, significativamente, a formao do radical hidroxila, j que est
associado protenas, no entanto, se esse existir em seu estado livre no plasma seminal,
apoiar a reao em cadeia da peroxidao lipdica (KWENANG et al., 1987; AITKEN et
al., 1993).
A adio de metais (ferro ou cobre) no smen de humanos resulta em uma
acelerao dose dependente da peroxidao lipdica e uma diminuio na motilidade e
potencial fertilizante dessas clulas (AITKEN et al., 1989).
Sendo assim, uma ferramenta importante e muito utilizada para a avaliao dos
nveis de proteo antioxidante e de peroxidao lipdica a gerao artificial de ROS, o
que permite avaliar dois aspectos: a peroxidao lipdica espermtica e a disponibilidade
de hidroperxidos lipdicos na membrana plasmtica do espermatozide, pelos quais iria
se iniciar a reao peroxidativa em cadeia; e a habilidade do espermatozide em inibir a
propagao deste processo atravs de mecanismos antioxidantes (AITKEN; HARKISS;
BUCKINGHAM, 1993a).
Uma das formas de se induzir a produo de ROS atravs da reao entre a
hipoxantina e a xantina oxidase, que resultaria em uma reduo univalente e bivalente
da molcula de oxignio para gerar nion superxido, e do perxido de hidrognio
respectivamente. Estes radicais iro dar origem ao radical hidroxila, que altamente
reativo e especialmente deletrio ao espermatozide (AITKEN; HARKISS; BUCKINGHAM,
1993 a, b; SIKKA, 1996).
Outra tcnica frequentemente utilizada para provocar a peroxidao lipdica, a
induo pelo sistema sulfato de ferro (FeSO4) + cido ascrbico (AITKEN; HARKISS;
Mariana de Paula Rodrigues
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BUCKINGHAM, 1993b; GRIVEAU et al., 1995). Esta tcnica se baseia na formao de
metais de transio (Ferro e Cobre) que iro catalisar a quebra de hidroperxidos pr-
existentes iniciando a propagao da reao em cadeia da peroxidao lipdica promovida
pelo ferro atravs da reao de Fenton. O cido ascrbico, por sua vez, provocaria a
reduo do Fe3+ para Fe2+, alimentando novamente a reao (AITKEN; HARKISS;
BUCKINGHAM, 1993b; ENGEL; SCHREINER; PETZOLDT, 1999).
4.6 AVALIAO SEMINAL
A avaliao da qualidade seminal apresenta como objetivos principais predizer o
potencial de fertilidade em indivduos desc