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Introdução O aumento acentuado do nú- mero de pessoas afetadas por desastres naturais (furacões, enchentes, terremotos, maremotos) e desastres provocados pelo homem (atentados terroristas e guerra) tem requerido maiores esforços de or- ganizações de ajuda humanitária e operações emergenciais. Diversos epi- sódios recentes têm demonstrado a vulnerabilidade das sociedades atuais e evidenciam a necessidade de um tra- tamento logístico diferenciado para estes eventos. Pode-se citar o tsunami e o terremoto na Ásia em 2004 e no Japão em 2011; os furacões no Caribe; os terremotos no Paquistão em 2005, na China em 2008, no Haiti e no Chi- le em 2010, e na Nova Zelândia em 2011; no Brasil, há as enchentes ocor- ridas no Sul em 2008, no Nordeste em 2009, e no Sudeste em 2011, além dos catastróficos deslizamentos na região serrana do Rio em 2011. Enquanto, em média, 500 desas- tres em grande escala matam cerca de 75 mil pessoas e afetam uma po- pulação de 200 milhões de pessoas a cada ano, esses números parecem insignificantes em comparação com as expectativas futuras. As previsões estimam que, ao longo dos próximos 50 anos, os desastres naturais ou pro- vocados pelo homem vão aumentar cinco vezes em número e impacto. Como consequência desse au- mento, a necessidade de alívio de desastres (a ajuda humanitária pres- tada) deve crescer na mesma pro- porção. A inaptidão de organizações de ajuda humanitária em desen- volver a capacidade adequada para fazer face a necessidades cada vez maiores, no entanto, tem levado à escassez generalizada de recursos e à pressão para melhorar a eficiência operacional dos esforços de socorro em catástrofes. Muitas organizações humanitárias hoje têm recursos li- mitados distribuídos entre opera- ções simultâneas ao redor do mun- do. Além disso, doadores cada vez mais exigentes pressionando pela obtenção de melhores resultados e dados que demonstrem o impacto do auxílio recebido têm submeti- do as organizações de ajuda a um maior controle e maior direciona- mento para transparência operacio- nal e orientação para resultados. A logística humanitária tem sido objeto de maior estudo e atenção por parte de acadêmicos devido à com- plexidade da cadeia logística global que é acionada por entidades, geral- mente não governamentais, quan- do da ocorrência de catástrofes em qualquer parte do mundo. O caráter imprevisível, dinâmico e caótico do ambiente no qual a cadeia de assis- tência humanitária está inserida é único e tem características próprias. O gerenciamento de uma cadeia de suprimentos em um ambiente de total imprevisibilidade de demanda e elevado risco requer um planeja- ARTIGO POLI / CISLOG Desafios da Logística de Operações Humanitárias Ricardo Maizza Ricardo Maizza ARTIGO POLI/CISLOG 114 - Revista Tecnologística - Setembro/2011 Adriana Leiras, Irineu de Brito Junior e Hugo Yoshizaki Divulgação

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Page 1: Desafi os da Logística de Operações Humanitárias...são eventos causados por seres hu-manos e ocorrem em assentamentos humanos. Isso pode incluir degrada-ção ambiental, poluição

Introdução

O aumento acentuado do nú-mero de pessoas afetadas por desastres naturais (furacões,

enchentes, terremotos, maremotos) e desastres provocados pelo homem (atentados terroristas e guerra) tem requerido maiores esforços de or-ganizações de ajuda humanitária e operações emergenciais. Diversos epi-sódios recentes têm demonstrado a vulnerabilidade das sociedades atuais e evidenciam a necessidade de um tra-tamento logístico diferenciado para estes eventos. Pode-se citar o tsunami e o terremoto na Ásia em 2004 e no Japão em 2011; os furacões no Caribe; os terremotos no Paquistão em 2005, na China em 2008, no Haiti e no Chi-le em 2010, e na Nova Zelândia em 2011; no Brasil, há as enchentes ocor-ridas no Sul em 2008, no Nordeste em 2009, e no Sudeste em 2011, além dos catastrófi cos deslizamentos na região serrana do Rio em 2011.

Enquanto, em média, 500 desas-tres em grande escala matam cerca de 75 mil pessoas e afetam uma po-pulação de 200 milhões de pessoas a cada ano, esses números parecem insignifi cantes em comparação com as expectativas futuras. As previsões estimam que, ao longo dos próximos 50 anos, os desastres naturais ou pro-vocados pelo homem vão aumentar cinco vezes em número e impacto.

Como consequência desse au-mento, a necessidade de alívio de desastres (a ajuda humanitária pres-tada) deve crescer na mesma pro-porção. A inaptidão de organizações de ajuda humanitária em desen-volver a capacidade adequada para fazer face a necessidades cada vez maiores, no entanto, tem levado à escassez generalizada de recursos e à pressão para melhorar a eficiência operacional dos esforços de socorro em catástrofes. Muitas organizações humanitárias hoje têm recursos li-mitados distribuídos entre opera-

ções simultâneas ao redor do mun-do. Além disso, doadores cada vez mais exigentes pressionando pela obtenção de melhores resultados e dados que demonstrem o impacto do auxílio recebido têm submeti-do as organizações de ajuda a um maior controle e maior direciona-mento para transparência operacio-nal e orientação para resultados.

A logística humanitária tem sido objeto de maior estudo e atenção por parte de acadêmicos devido à com-plexidade da cadeia logística global que é acionada por entidades, geral-mente não governamentais, quan-do da ocorrência de catástrofes em qualquer parte do mundo. O caráter imprevisível, dinâmico e caótico do ambiente no qual a cadeia de assis-tência humanitária está inserida é único e tem características próprias.

O gerenciamento de uma cadeia de suprimentos em um ambiente de total imprevisibilidade de demanda e elevado risco requer um planeja-

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mento logístico eficaz, de forma a otimizar o uso de recursos, não só para a preparação para situações de emergência, como também para o socorro durante a catástrofe e para ajuda às vítimas após a ocorrência do evento. Para assegurar que recur-sos limitados sejam alocados eficien-temente, organizações humanitárias ainda devem ter operações mais efe-tivas em custo. Neste sentido, a lo-gística humanitária pode, então, ser definida como os processos e siste-mas envolvidos na mobilização das pessoas, recursos, habilidades e co-nhecimento para ajudar as pessoas vulneráveis afetadas por um desastre (Van Wassenhove, 2006).

Neste contexto, o presente artigo apresenta os desafi os atuais da logística humanitária, à luz do conhecimento de logística empresarial. Este trabalho é parte de projeto de pesquisa sobre Logística de Operações Humanitárias no Centro de Inovação em Sistemas Logísticos (CISLog) da Universidade de São Paulo, realizado pelos autores.

Desastres e Logística Humanitária

Um desastre pode ser definido como uma ruptura grave do fun-cionamento da socieda-de que representa uma ameaça significativa e generalizada para a vida humana, saúde, propriedade ou ao meio ambiente. Decorre de acidentes naturais ou de origem humana. Pode ocorrer subitamente ou como resultado de pro-cessos de longo prazo, excluindo-se as guerras (IFRC – International Federation of Red Cross and Red Crescent Socie-ties, 2008).

Desastres naturais são fenômenos físicos causados por eventos de iní-cio rápido ou lento, que podem ser: geofísicos (terremotos, deslizamen-tos de terra, tsunamis e atividade vulcânica); hidrológicos (avalanches e inundações); climatológicos (tem-peraturas extremas, seca e incêndios florestais); meteorológicos (furacões, ciclones e tempestades); ou biológi-cos (epidemias de doenças, insetos e pragas animais).

Desastres de origem humana ou riscos tecnológicos (emergências

complexas, conflitos, fome, desloca-mentos populacionais, acidentes in-dustriais e acidentes de transporte) são eventos causados por seres hu-manos e ocorrem em assentamentos humanos. Isso pode incluir degrada-ção ambiental, poluição e riscos.

Os desastres podem ainda ser avaliados conforme seus ciclos e suas fases. Esta forma de avaliação é relevante para a compreensão das necessidades da cadeia de supri-mentos humanitária (Marcelino, 2007). O ciclo de gerenciamento de desastres envolve três fases (antes, durante e depois) que demandam diferentes esforços, conforme ilus-tra a Figura 1.

Os desastres variam em tipos e níveis de intensidade, exigindo di-ferentes respostas. A Logística Hu-manitária engloba atividades de preparação, planejamento, aquisi-ção, transporte, armazenagem, ras-treamento, localização, alfândega e desembaraço aduaneiro. A Figura 2 apresenta os desafios gerenciais de alocação de recursos nas diferentes fases do desastre. Quando um aci-

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O ciclo de gestão dedesastres envolve trêsfases – antes, durante

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dente ocorre, a procura por grandes quantidades de uma grande varie-dade de suprimentos ocorre de for-ma inesperada.

O fl uxo de recursos enviados para a área afetada pode ser descrito como:

• Avaliação: o mínimo de recur-sos é necessário para identificar a necessidade em geral;

• Implantação: corresponde aos primeiros dias da ajuda. A demanda de recursos cresce para atender às necessidades. Nesta etapa, a priori-dade da cadeia de suprimentos deve ser a rapidez para que as operações sejam iniciadas;

• Operações de sustentação: as operações são sustentadas por um pe-ríodo de tempo e o foco é na implan-tação dos programas. Nesta etapa, custo e efi ciência passam a ser consi-derados na cadeia de suprimentos;

• Reconfi guração: são reduzidas as quantidades de recursos mobilizadas para a área. As organizações e/ou Es-tados focam na estratégia de saída.

A duração de cada etapa do ciclo de vida varia de acordo com as carac-

terísticas dos desastres. No entanto, a velocidade das operações de socorro durante os primeiros momentos após o desastre afeta signifi cativamente a vida de muitas pessoas ameaçadas. Assim, a capacidade de um Estado ou de uma organização de ajuda de mobilizar os seus recursos na avaliação e implanta-ção das fases é fundamental para o su-cesso da resposta a catástrofes.

A coordenação de muitas agências de ajuda, Estados, forças militares e fornecedores locais e regionais, todos

com suas próprias maneiras e estrutu-ras operacionais, pode ser muito desa-fi adora. A defi ciência nessa coordena-ção e no fl uxo de informação ao longo da rede muitas vezes leva a problemas na distribuição fi nal dos materiais. Portanto, a fase de preparação é o mo-mento em que organizações de ajuda podem desenvolver plataformas de colaboração e estabelecer bases confi á-veis para o fl uxo de informações em casos de desastres. Várias empresas de transporte e/ou operadores logísticos de renome já iniciaram a participação estruturada em operações de socorro a desastres, estabelecendo parcerias com a ONU (Organização das Nações Unidas) (Kovács e Spens, 2007), tra-zendo recursos e tecnologias logísti-cas ao setor.

Logística Humanitária e Logística Empresarial

Existem claras similaridades entre a Logística Empresarial e a Logística Humanitária, como os processos de compras, transporte e distribuição,

relacionamento com for-necedor e foco na mi-nimização de tempo e desperdícios, mas a de-sejável transferência de conhecimento tem sido bastante limitada.

A cadeia de suprimen-tos empresarial abrange desde a produção e aqui-sição de matérias-primas até a entrega ao consu-midor final. Na Figura 3 é possível visualizar uma cadeia de suprimentos empresarial, desde os for-necedores até o consumi-dor final.

A cadeia de suprimen-tos humanitária possui características próprias adaptadas às especifi ci-

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Figura 2: Ciclo de vida da missão de socorro

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dades da cadeia de assistência hu-manitária. De acordo com Thomas e Kopczak (2005) e van Wassenhove (2006), as características que trazem complexidade e desafi os únicos para o projeto da cadeia humanitária são:

• Elevada imprevisibilidade da demanda;

• Demanda súbita, acarretando gran-des quantidades e prazos curtos para uma ampla variedade de suprimentos;

• Altos riscos, associados com a distribuição adequada e oportuna;

• Falta de recursos (pessoas, tec-nologia, capacidade de transporte e dinheiro);

• Instalações permanentes e/ou temporárias ao longo da cadeia.

Pode-se acrescentar à lista acima a possibilidade de danos em maior ou menor grau à infraestrutura ne-cessária para executar as operações de logística humanitária.

Nesta cadeia, os suprimentos, ob-tidos a partir de doadores e/ou for-necedores, provêm inicialmente de estoques pré-posicionados. Em ge-ral, os suprimentos são transporta-dos de vários locais para uma central de distribuição, normalmente em instalações permanentes localizadas em pontos estratégicos, podendo es-

ses pontos ser próximos ao local do evento ou em outras regiões mais es-táveis e seguras. A partir desses depó-sitos, os suprimentos são transporta-dos até outro centro de distribuição localizado mais próximo ao evento, instalado para o atendimento.

Nesse centro de distribuição, os suprimentos são separados, classi-ficados e transferidos para centros de distribuição locais, conforme as necessidades. Finalmente, os supri-mentos de auxílio humanitário são entregues aos beneficiários. Alguns itens são adquiridos de fontes lo-cais, devido à proximidade ou para

manter a atividade econômica do lugar. A aquisição de supri-mentos dessas fontes deve ser avaliada para não causar desabaste-cimento no mercado local. Esses materiais são também envia-dos para os centros de distribuição lo-cais, ou diretamente distribuídos aos be-neficiários, conforme mostra a Figura 4.

Em contraste com a característica mar-cante do setor em-presarial, de foco em redução de custos to-tais, as organizações humanitárias obje-tivam um equilíbrio entre velocidade e custos em sua cadeia. Uma característica na avaliação de uma ca-deia de suprimentos humanitária é a resi-liência, que pode ser defi nida como a pro-priedade de um siste-ma de se recuperar ou se ajustar prontamen-

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Figura 4: Estrutura de uma cadeia de suprimentos de assistência humanitária

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te a um infortúnio ou alteração sem ocorrer ruptura. Em operações hu-manitárias, a estrutura logística (de-pósitos, terminais, vias ou veículos) pode ser vulnerável e deixar de exis-tir repentinamente, o que demonstra a relevância de se avaliar a resiliência de uma cadeia humanitária.

Desafios da Logística Humanitária

As características específicas da Logística Humanitária trazem gran-des desafios, no sentido do desen-volvimento de modelos que possam levar em conta essas especificidades. Assim, é importante considerar as-pectos como a descrição e estrutura-ção dos canais de assistência huma-nitária, a configuração da rede para situações emergenciais, bem como o controle de estoque e sua relação com o alto grau de customização e incerteza da demanda.

Neto (2000) apresenta algumas ações práticas a serem executadas no gerenciamento de desastres. Dentre elas, pode-se destacar: desen-volvimento de sistemas de previsão, monitoramento e alerta; análises de custo/benefício sobre medidas es-truturais de mitigação de desastres naturais; análise de áreas de risco e de possíveis danos; elaboração de planos emergenciais; determinação de espaços para abrigo de vítimas e evacuação de habitantes; planeja-mento de políticas de controle de construções, educação e legislação; simulação de crescimento urbano e análise de efeitos; desenvolvimento de planos de mobilização; desenvol-vimento de políticas de planejamen-to e apoio logístico.

Dentre os objetivos principais da logística humanitária estão: atender ao maior número de pessoas possí-vel; evitar tanto a falta quanto o desperdício de materiais; organizar

as diversas doações que são recebi-das; e atuar dentro de um orçamento limitado. Portanto, não é suficiente ser eficiente, é necessário ser efi-caz. O atendimento e a assistência devem chegar a seu destino de ma-neira correta e em tempo oportuno, vencendo tempo e distância na mo-vimentação de materiais e serviços, focando no alívio do sofrimento e na preservação da vida (Nogueira et al., 2009).

As prioridades da Logística Hu-manitária são o transporte de ma-teriais de primeiros socorros, ali-mentos, equipamentos e pessoal de resgate, dos locais de suprimentos para os diversos destinos dentro da região de desastre, além da eva-cuação e transferência das pessoas afetadas para hospitais ou centros ambulatoriais de maneira segura e rápida. Os processos devem ser pre-viamente preparados para que per-mitam minimizar a improvisação, maximizar a eficiência das ativida-des prestadas e o tempo de resposta às necessidades das pessoas afeta-das. Os desafios considerados para implementação de processos logís-ticos no contexto de ajuda huma-nitária são:

• Imprevisibilidade da ocorrên-cia e demanda decorrente: o supri-mento aos danos gerados por con-sequências de um evento adverso natural diminui a possibilidade de previsão das necessidades;

• Infraestrutura: quando atingida ou destruída, difi culta o acesso, a che-gada de recursos e a saída de pessoas;

• Recursos humanos: falta de trei-namento adequado dos voluntários sobre os procedimentos necessários e falta de informação dos doadores no acondicionamento/organização das doações;

• Materiais: defi nição de itens prioritários para as necessidades em cada fase, locais para envio e direções

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para acomodações em embalagens. Alguns itens devem ser embalados se-paradamente por questões de higiene ou com a fi nalidade de evitar perdas por avaria devido à inadequação de manuseio ou armazenamento;

• Fluxo e compartilhamento de informações: durante os primeiros estágios do desastre, velocidade e precisão no fluxo de informações são fatores de extrema relevância para o prosseguimento;

• Ausência de processos coorde-nados: refere-se à gestão eficaz dos itens anteriores de forma integrada.

Apesar dessas especificidades, muitas das premissas básicas da ca-deia de suprimentos empresarial po-derão ser adaptadas no gerenciamen-to dos desastres. A utilização desses

conceitos é possível, pois ambas as atividades apresentam um objeti-vo final comum: a otimização dos processos, minimizando os esforços desnecessários que se materializa-

riam em desperdícios de tempo e re-cursos (material e financeiro).

Conclusões

A Logística Humanitária vem ga-nhando importância nos últimos anos, passando a fazer parte de es-tudos acadêmicos e empresariais. Fatores como mudanças climáticas e aquecimento global alertam para a necessidade de se desenvolverem estudos que possam colaborar para o aprimoramento de soluções.

Atividades logísticas executa-das em uma situação caótica, com ruptura de instalações e vias, e di-ficuldades no fluxo de informações trazem desafios que aumentam a complexidade dessa área de estudo.

Durante os primeirosestágios do desastre,velocidade e precisão

no fl uxo deinformações são

fatores de extremarelevância

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Elaborar uma cadeia humanitária eficiente e resiliente passa a ser um desafio aos profissionais e acadêmi-cos de logística.

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Adriana Leiras, pós-doutoranda em Engenharia de Sistemas Logísticos, Escola

Politécnica da USP, e professora da [email protected]

Irineu de Brito Junior, doutorando em Engenharia de Produção, Escola Politécnica da USP, e professor da Fatec – São José dos

[email protected]

Hugo Tsugunobu Yoshida Yoshizaki, professor do Departamento de Engenharia de

Produção, Escola Politécnica da [email protected]

O CISLog (Centro de Inovação em Sistemas Logísticos) é um grupo de pesquisa que tem a finalidade de congregar, integrar, organizar e consolidar diferentes competências e capacidades em logística no âmbito da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – Poli/USP. O Centro é coordenado pelos professores Hugo Yoshizaki e Cláudio Barbieri da Cunha.

CISLog: (11) 3091-5450, ramal 489