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Desastre do Vale do Itajaí-Açu: uma visão geotécnica dos acidentes Luiz A. Bressani, PhD Departamento de Engenharia Civil UFRGS Deslizamentos em SC - causas, consequências, medidas emergenciais e ações futuras – Joinville – SC 12/02/2009

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Desastre do Vale do Itajaí-Açu:uma visão geotécnica dos acidentes

Luiz A. Bressani, PhDDepartamento de Engenharia Civil

UFRGS

Deslizamentos em SC - causas, consequências, medidas emergenciais e ações futuras – Joinville – SC 12/02/2009

ROTEIRO BÁSICO

• Uma visão geral dos acidentes mais importantes• Mecanismos de ruptura

Rotacionais e corridas• Fotos das rupturas com danos associados• Enxurradas e efeitos nas vias de acesso, pontes e bueiros• Discussão sobre semelhanças e diferenças com outros locais• O fenômeno da liquefação (na imprensa o “derretimento”) e velocidade dos acidentes

(Baseada em apresentação pública feita na Câmara de Vereadores de Gaspar, SC, em 04 de dezembro)

ANTECEDENTES: um período de 56 dias de chuva seguido de um fim de semana com chuva torrencial (quase 800mm em 4 dias – dados da EPAGRI)

Nas áreas urbanas de Gaspar e Blumenau• enchente• deslizamentos de cortes de terreno• deslizamentos de morros • deslizamentos de barrancas de rio• cerca de 1000 casas destruídas em Gaspar (com 55

mil habitantes)• diversas obras que tinham problemas romperam,

MAS algumas, aparentemente bem feitas, também sofreram

DESLIZAMENTOS ROTACIONAIS EM SOLOS ESPESSOS

Escorregamento sobre escola, com destruição parcial Sertão Verde, Gaspar (ocorreu antes das maiores chuvas)

Diversos escorregamentos sobre casasrua Leopoldo A. Chiram

Escorregamento que destruiu 5 casas de uma mesma família

Um dos exemplos na área urbana de Blumenau

Escorregamentos em vias e ruas da região

Escorregamentos das margens de rios

erosão

ruptura

Danos a diversas estruturas nas margens do Rio Itajaí-Açu

Danos às vias de tráfego e destruição de canalizações próximas – diversos casos ao longo do rio

Escorregamentos translacionais( em geral ocorrem sob chuvas intensas)

Inclinações variáveisGradientes hidráulicos=f(inclin.)Permeabil. fortemente anisotrópicaResistência variável com profundidade

detritos do escorregamento

“lençol” freático

Escorregamento do morro do SAMUSA (no topo havia torre de telefonia e há tanques de água potável para abastecimento Gaspar)

O EFEITO DA CHUVA TORRENCIAL NA ÁREA RURAL DA REGIÃO

(Blumenau, Gaspar, Ilhota, Luis Alves)• rupturas de morros• corridas de detritos• enxurradas e inundações• destruição de pontes• deslizamentos de cortes de terreno

Nuvem carregada sobre B.Camboriu (autor desconhecido)

Foto de um dos muitos escorregamentos que ocorreram nos morros cobertos de mata nativa.Região de Belchior Alto, Gaspar

Escorregamentos profundos e extensos em morros de alta declividade, formando corridas de detritos.

Região de Gaspar.

Escorregamentos similares próximos ao gasoduto Bolívia-Brasil, levando-o à ruptura e explosão no domingo, 23 nov 08. Gaspar, SC.

Velocidades altas (km/h) e grandes danos (em alguns casos, danos enormes)

Região do Braço do Baú – 06 de dezembro, foto Defesa Civil

Região do Baú (município de Ilhota), a mais atingida.

Alguns movimentos envolveram volumes extraordinários de material. Belchior Alto, área alta da Rua Nova Biguaçu,Gaspar.

A destruição de casa e morte de ocupantes no sábado 22 nov 08 (casa ficava na região circundada) - Vale da Fumaça, Gaspar.

Os grandes acidentes : Corridas de lama – Alto do Baú, Ilhota, SC

Corrida de lama – Alto do Baú, Ilhota, SC

O difícil resgate de vítimas pelos bombeiros.

Os danos causados pelas enxurradas foram também muito grandes (observ.: água, lodo, blocos e troncos, além de detritos de todo tamanho, movendo-se com grande velocidade e poder erosivo).

Foto de Santana (L.Alves) tirada no dia 03 de dezembro (10 dias após principais chuvas) pelo responsável pela Defesa Civil do município.

Alteração do curso do arroio e estragos da enxurrada no núcleo habitado da rua Nova Biguaçu, Gaspar.

Destruição de caminhos e acessos das áreas baixas, Gaspar.

Obstrução de bueiros, inundações e deposição de lama (aspecto logo após desobstrução) – BR470, Gaspar.

Inundação por enxurrada das áreas baixas, Arraial Baixo -Gaspar.

Escorregamento em solo residual de arenito Botucatu por aumento da poro-pressão de água (com liquefação) – Estância Velha, RS

Características dos acidentes de novembro 08 em SC

1. Diversos tipos de ocorrências (rupturas de cortes, aterros, encostas naturais

2. Muitos casos com fenômeno de liquefação dos solos (escorregamentos rápidos de solos)

3. Grandes volumes de água no solo e em superfície4. Rupturas podem ter sido agravadas pelo provável

enchimento de trincas e consequente empuxo hidráulico (evidências no campo)

5. Evidências testemunhais de fluxo subterrâneo muito acentuado (água saindo de orifícios nos cortes)

Pontos a discutir

1. Mapeamento da região, montado em etapas (geologia, mecanismos, processos)

2. Direcionado aos tipos de problemas encontrados:

• enchentes

• escorregamentos ‘simples’ como cortes urbanos

• áreas sujeitas a erosão de rio

• áreas sujeitas a corridas de detritos

• casos especiais: complexidade de intervenções urbanas

3. Recuperação da infra‐estrutura• emergencial (acessos)

• permanente (revisão dos critérios de projeto e avaliação das causas da ruptura)

4. Reocupação de áreas atingidas• áreas urbanas (processo de ruptura, 

interferência com vizinhos, acessos urbanos, restrições legais, valor econômico)

• áreas  rurais ( processo de ruptura, depósitos de solos, estabilidade atual, acessos, valor econômico) 

Rupturas adicionais “convencionais” – fluxo de água tardio, processos mais lentos

Processos de instabilidade potenciais – trincas remanescentes

5. Proteção contra cheias e enxurradas (fora do escopo desta apresentação)

• qual é a chuva de projeto?

• qual é a vazão (de água e detritos) que deve passar na ponte/ bueiro?

COMENTÁRIOS /conclusões1. O que aconteceu no vale do Itajaí‐Açu foi um desastre 

natural de grande porte, com algumas semelhanças a outros locais do Brasil e do mundo

2. Causas principais a. chuva extraordinária (~800mm/4 dias – medido, 

provavelmente mais na serra)  depois de período longo de chuvas

b. tipo de solo/rocha e declividades dos morros (fenômeno de liquefação, estrutura dos solos residuais)

c. ocupação humana inadequada em muitas áreas urbanas, mas ambiente equilibrado na área rural

d. experiência construtiva anterior foi insuficiente (dimensionamento de estruturas e drenagens) 

3. Recuperação das áreas – avaliação de Risco (inclui avaliação econômica) – diferentes mecanismos, diferentes soluções. 

4. Necessidade de revisão do planejamento urbano, e rural, de toda a região do vale.

5. Necessidade de fiscalização das construções futuras nas cidades – mudaram alguns parâmetros fundamentais (mudou a situação e a expectativa futura).

6. Trabalho integrado: encostas, hidrologia /rios, acessos e rodovias, bueiros e pontes.

Há muito a fazer e agradeço a oportunidade de contribuir. AgradecimentosDel. Paulo Koerich, GasparTécnico Luis Mario Silva (Def. Civil de Gaspar)Cap. Luis Fernando Santos, Def.Civil-RSSecret. Duda, Luis AlvesTécnicos da Defesa Civil-SC

Principais fontes de informaçãoArquivos fotográficos da Centro de comando da Defesa Civil em Navegantes, SCFotos do IPT e do Instituto Geológico (IG-SP)

OBRIGADO PELA ATENÇÃO!

Luiz A. BressaniEng. Civil, PhD em GeotecniaDepartamento de Eng. Civil – [email protected]