descolamento estudo caso

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III Congresso Internacional na Recuperação, Manutenção e Restauração de Edifícios 12, 13 e 14 de Maio de 2010 Rio de Janeiro RJ - Brasil DESCOLAMENTO EM REVESTIMENTO CERÂMICO DE FACHADA DISCUSSÃO DE FATORES DE INFLUÊNCIA E APRESENTAÇÃO DE ESTUDO DE CASO Angelo Just da Costa e Silva (1); Alberto Casado Lordsleem Júnior (2) (1) Prof. Dr., Universidade Católica de Pernambuco, Rua Serra da Canastra, nº 391, Cordeiro, +81.3366.6444, 50640-310, Recife, Pernambuco. e-mail:[email protected] (2) Prof. Dr., Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco, Rua Benfica, 455. Sala I-01, Madalena, 50750-470 Recife, Pernambuco. e-mail: [email protected] Tema: Manutenção - Vida Útil e Patologias em Edificações. RESUMO (12 PTS NEGRITO) O emprego de procedimentos executivos deficientes, o não cumprimento das recomendações normativas referentes ao projeto executivo, e falhas nas especificações dos materiais utilizados, em geral, são responsáveis pela ocorrência de patologias diversas em edificações. Notadamente no caso dos revestimentos de fachada, esses fatores se tornam ainda mais evidentes em face das condições adversas às quais esses elementos permanecem submetidos ao longo dos anos, agravado pelas naturais adversidades existentes para a execução das atividades de manutenção. O presente estudo discute alguns aspectos concorrentes para o problema de descolamento em revestimentos cerâmicos de fachada, culminando com a apresentação de estudo de caso num edifício de múltiplos pavimentos, no qual foi elaborado o diagnóstico das causas para as patologias surgidas, a partir da realização de vistorias, ensaios de aderência e análise dos projetos, seguido de um procedimento indicado para as intervenções necessárias de manutenção. Em situações dessa natureza, é comum a ocorrência simultânea dos fatores anteriormente citados, atuando de forma concorrente, o que obriga a realização de um preciso diagnóstico para permitir adequada solução do problema, como observado no estudo de caso apresentado. PALAVRAS-CHAVE: cerâmica, fachada, patologia. ABSTRACT The employment of disabled executives procedures, failure to follow the normative recommendations regarding the project executive, and flaws in the specifications of the materials used are generally responsible for the occurrence of diseases in various buildings. Notably in the case of façades, these factors become even more pronounced by the adverse conditions to which these elements remain subject over the years, compounded by natural adversities that exist for the execution of maintenance activities. This study discusses some aspects competing for the problem of displacement in ceramic used in façades, culminating with the presentation of a case study in a building of multiple floors, which was established diagnosis of the causes for the diseases that arise from the conduct of surveys, adherence tests and analysis of projects, followed by a recommended procedure for the interventions necessary maintenance. In such situations, it is common to the simultaneous occurrence of the factors mentioned above, acting concurrently, which requires completion of an accurate diagnosis to allow adequate solution to the problem, as noted in the case study presented. KEY-WORDS: ceramic, façade, patologies.

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Descolamento Estudo Caso

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Page 1: Descolamento Estudo Caso

III Congresso Internacional na Recuperação, Manutenção e Restauração de Edifícios

12, 13 e 14 de Maio de 2010 – Rio de Janeiro – RJ - Brasil

DESCOLAMENTO EM REVESTIMENTO CERÂMICO DE FACHADA

– DISCUSSÃO DE FATORES DE INFLUÊNCIA E APRESENTAÇÃO DE

ESTUDO DE CASO

Angelo Just da Costa e Silva (1); Alberto Casado Lordsleem Júnior (2) (1) Prof. Dr., Universidade Católica de Pernambuco, Rua Serra da Canastra, nº 391, Cordeiro,

+81.3366.6444, 50640-310, Recife, Pernambuco.

e-mail:[email protected]

(2) Prof. Dr., Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco, Rua Benfica, 455. Sala I-01,

Madalena, 50750-470 – Recife, Pernambuco.

e-mail: [email protected]

Tema: Manutenção - Vida Útil e Patologias em Edificações.

RESUMO (12 PTS NEGRITO)

O emprego de procedimentos executivos deficientes, o não cumprimento das recomendações

normativas referentes ao projeto executivo, e falhas nas especificações dos materiais utilizados, em

geral, são responsáveis pela ocorrência de patologias diversas em edificações. Notadamente no caso

dos revestimentos de fachada, esses fatores se tornam ainda mais evidentes em face das condições

adversas às quais esses elementos permanecem submetidos ao longo dos anos, agravado pelas naturais

adversidades existentes para a execução das atividades de manutenção. O presente estudo discute

alguns aspectos concorrentes para o problema de descolamento em revestimentos cerâmicos de

fachada, culminando com a apresentação de estudo de caso num edifício de múltiplos pavimentos, no

qual foi elaborado o diagnóstico das causas para as patologias surgidas, a partir da realização de

vistorias, ensaios de aderência e análise dos projetos, seguido de um procedimento indicado para as

intervenções necessárias de manutenção. Em situações dessa natureza, é comum a ocorrência

simultânea dos fatores anteriormente citados, atuando de forma concorrente, o que obriga a realização

de um preciso diagnóstico para permitir adequada solução do problema, como observado no estudo de

caso apresentado.

PALAVRAS-CHAVE: cerâmica, fachada, patologia.

ABSTRACT

The employment of disabled executives procedures, failure to follow the normative recommendations

regarding the project executive, and flaws in the specifications of the materials used are generally

responsible for the occurrence of diseases in various buildings. Notably in the case of façades, these

factors become even more pronounced by the adverse conditions to which these elements remain

subject over the years, compounded by natural adversities that exist for the execution of maintenance

activities. This study discusses some aspects competing for the problem of displacement in ceramic

used in façades, culminating with the presentation of a case study in a building of multiple floors,

which was established diagnosis of the causes for the diseases that arise from the conduct of surveys,

adherence tests and analysis of projects, followed by a recommended procedure for the interventions

necessary maintenance. In such situations, it is common to the simultaneous occurrence of the factors

mentioned above, acting concurrently, which requires completion of an accurate diagnosis to allow

adequate solution to the problem, as noted in the case study presented.

KEY-WORDS: ceramic, façade, patologies.

Page 2: Descolamento Estudo Caso

III Congresso Internacional na Recuperação, Manutenção e Restauração de Edifícios

12, 13 e 14 de Maio de 2010 – Rio de Janeiro – RJ - Brasil

1. INTRODUÇÃO

A queda de revestimentos verticais aplicados em fachadas, e mesmo em áreas internas, pode causar

sérios problemas materiais e pessoais. Vários artigos e trabalhos científicos são constantemente

apresentados relatando estudos de casos de descolamento e queda de revestimentos aderidos de

fachada, tais como Costa e Silva (2001), Mansur et al. (2006), entre outros.

Os acidentes ocorridos em elementos diversos de fachada, incluídos ainda quedas de marquises,

elementos decorativos, entre outros, têm causado preocupação junto aos órgãos competentes das

grandes cidades. Em Pernambuco, por exemplo, a Lei nº 13.032 (Pernambuco, 2006) obriga a

realização de vistorias periciais e manutenções periódicas de todos os aspectos afetos à solidez e

segurança da edificação, contemplando elementos estruturais (fundação, pilares), instalações prediais e

fachadas.

Os problemas ocorridos em fachadas, a despeito do risco quanto à segurança, demandam alto custo

para recomposição por conta da necessidade de equipamentos especiais de apoio, telas de proteção,

mão-de-obra especializada (e mais cara), dependência das condições ambientais locais (intempéries,

ventilação), além do desconforto estético e desvalorização comercial do imóvel.

As origens para a ocorrência dos problemas de descolamentos, em linhas gerais, podem ser devidas à

inadequação dos materiais empregados, a deficiências ocorridas durante a etapa de produção, a falhas

ou inexistência de manutenção durante o uso, ou por conta de movimentações da base sobre a qual o

revestimento está assentado, cujas magnitudes devem ser previstas durante a etapa de projeto.

2. REVISTA TEÓRICA

Dentre todas as patologias observadas nos revestimentos cerâmicos de fachadas, sem dúvidas aquela

que apresenta preocupação é o descolamento ou perda de aderência entre a peça cerâmica e o suporte.

Essa é a manifestação mais perigosa e que exige maior atenção, devido aos riscos causados aos

usuários.

Nos prédios de alto e médio porte, onde é mais comum esse tipo de revestimento, normalmente são

projetadas lajes com mezanino para áreas comuns (salão de festas, playground), ou garagem para

automóveis, as quais permanecem diretamente expostas a todo tipo de problema nas fachadas. Assim,

a queda de uma peça cerâmica, de alturas de 3,0 a 40 ou 50 metros, pode causar enormes danos

materiais e, principalmente, riscos à segurança das pessoas.

Segundo Campante e Sabbatini (1999), a perda de aderência é um fenômeno causado por falhas ou

rupturas na interface da cerâmica com a argamassa adesiva, ou mesmo desta com o substrato, devido a

tensões surgidas que ultrapassam a capacidade resistente das ligações.

2.1 Fatores de influência para a ocorrência de problemas de descolamento em fachadas

Os problemas patológicos observados nas edificações, independente das suas formas de manifestação,

podem ter origem em uma enorme gama de fatores, em função da grande complexidade dos vários

sistemas envolvidos, inerente aos processos construtivos. Geralmente, as falhas não ocorrem devido a

apenas uma razão, mas provavelmente decorre de uma combinação delas (CASIMIR, 1994). Isso

justifica a necessidade de se sistematizar, nem que seja de maneira genérica, as origens dos problemas

patológicos nas edificações.

Como enfatiza Aranha (1994), a causa de uma patologia pode ser entendida como o procedimento

inadequado, adotado durante o processo construtivo, que provocou alteração no desempenho esperado

de um elemento ou componente da edificação.

Entendidas as causas para o surgimento do problema, é importante se determinar as suas origens, o

que pode ser difícil em algumas situações. Quando, por exemplo, o descolamento do revestimento

cerâmico ocorre na camada de argamassa colante, a origem dessa deficiência pode ser atribuída à

produção, por conta de falhas de aplicação do operário (devido à abertura de panos de argamassa

muito extensos, por exemplo), ou ao próprio material, em decorrência da sua capacidade de aderência

insuficiente.

Page 3: Descolamento Estudo Caso

Estudos desenvolvidos por Garcia e Libório (1998) apresentaram como principais origens para

problemas patológicos em edificações os aspectos relacionados a execução (52%), projeto (18%),

utilização (14%), materiais (6%) e outros (10%).

Especialmente para os revestimentos de fachada, Cozza (1996) afirma que é preciso conhecer as

características dos materiais e sua adequação ao local, projetar juntas, dosar adequadamente a

argamassa, e dispor de uma excelente mão-de-obra e controle do produto que chega ao canteiro para se

prevenir quanto ao surgimento de patologias.

Medeiros (2000), com base em 17 casos estudados, apresenta três causas consideradas mais

importantes e encontradas em problemas de descolamento nos revestimentos cerâmicos de fachada:

ausência de juntas de movimentação, preenchimento deficiente do tardoz da cerâmica com argamassa

adesiva e inadequada especificação desse material. Para ele, a origens dessas causas está ligada a

aspectos de projeto, técnicas de aplicação, e definição de materiais e procedimentos de controle.

Em trabalho apresentado por Campante e Sabbatini (2000), foram analisados 4 casos patológicos, os

quais tiveram como origens principais deficiências relacionadas com projeto (ausência de juntas),

materiais (especificação inadequada da placa cerâmica e argamassa adesiva) e processo de produção

(falha de preenchimento). Para Casimir (1994), as origens para o surgimento desses problemas podem

ser sintetizadas em falhas no projeto e deficiências do construtor.

Assim, de acordo com o observado, pode-se sintetizar as origens para o aparecimento de

manifestações patológicas nas edificações, salientando os aspectos relacionados aos revestimentos

cerâmicos de fachada, da seguinte forma:

Materiais: Utilização de componentes (cerâmica, juntas, rejuntes, argamassa de assentamento,

cimento, cal, areia e suas misturas) em desacordo com as especificações e recomendações da

normalização brasileira, ou, quando da sua inexistência, de normas internacionais e pesquisas já

realizadas;

Projeto: Todos os aspectos ligados à concepção da edificação, desde a falta de coordenação entre

projetos, escolha de materiais inadequados, até a negligência quanto a aspectos básicos como o

posicionamento de juntas de dilatação e telas metálicas;

Produção: Envolve o controle de recebimento dos materiais, preparação das misturas, obediência

aos prazos mínimos para a liberação dos serviços e, principalmente, o acompanhamento da

execução de todas as camadas do sistema, sobretudo o assentamento das cerâmicas;

Uso: Trata dos fatores ligados à operação durante a vida do componente e, fundamentalmente, às

atividades de manutenção requeridas para um desempenho adequado do conjunto com o decorrer

dos anos.

3. ESTUDO DE CASO

3.1 Descrição do edifício

A edificação em análise, cuja construção foi concluída em 1990, apresenta dois blocos independentes

com 15 pavimentos, cada qual com dois apartamentos, mais dois andares de cobertura, totalizando 64

unidades.

O prédio foi executado no sistema estrutural reticulado em concreto armado e apresenta configuração

arquitetônica tradicional, com os cômodos principais de conforto voltados para o lado leste (nascente)

e os cômodos de serviço (caixas de escada, cozinha etc.) para oeste.

No revestimento vertical externo, objeto do estudo, podem ser observadas três diferentes acabamentos

superficiais: placas cerâmicas esmaltadas, placas cerâmicas não esmaltadas e quartzo pigmentado.

A julgar pelos trechos vistoriados, as camadas do revestimento foram executadas da seguinte forma

(Foto 1):

base: blocos cerâmicos de vedação e estrutura de concreto armado, com resistência característica à

compressão de 20MPa.

preparação da base: argamassa de chapisco com cimento e areia grossa, com espessura de 5mm.

Page 4: Descolamento Estudo Caso

camada de regularização: argamassa de emboço composta por cimento, areia e material argiloso,

com espessura variável.

assentamento das placas cerâmicas: argamassa mista convencional à base de cimento aplicada no

sistema tradicional com colher de pedreiro, caracterizado pela colocação da argamassa no tardoz de

cada placa cerâmica, seguido da sua aplicação na parede.

placas cerâmicas: possui dimensões de (24x11)cm e espessura média de 9mm, apresentando,

ainda, reentrâncias no seu tardoz de 4mm no formato “rabo de andorinha” (Foto 2). As placas

esmaltadas apresentam coloração branca no vidrado.

rejuntamento: argamassa de cimento e areia média aplicada com largura média de 15mm entre as

placas (Foto 3).

quartzo pigmentado: argamassa de cimento, agregado pigmentado e resina, em geral aplicado

com espátula e espessura média de 3mm.

Nos trechos do quartzo pigmentado são observados, ao longo dos pavimentos, frisos similares ao que

seriam juntas de movimentação horizontais, posicionadas na altura do encontro entre o fundo das

vigas e a alvenaria de vedação, o que não ocorre nos trechos das placas cerâmicas (Foto 4).

Ao que indica a avaliação visual, as placas cerâmicas foram aplicadas sobre uma base com argamassa

mista composta por cimento Portland, areia e material argiloso, utilizando o sistema tradicional de

assentamento por meio do espalhamento da argamassa na cerâmica com colher de pedreiro,

procedimento largamente empregado na época da construção.

3.2 Vistorias realizadas e anamnese do problema

Ao longo do mês de setembro de 2007 foram realizadas vistorias ao local da obra para investigação

dos problemas relacionados ao descolamento de placas cerâmicas do revestimento de fachada.

Segundo informações colhidas junto aos moradores, esses problemas começaram a surgir desde a

entrega dos prédios, inicialmente ocorrendo de forma espaçada, e com evidente processo evolutivo nos

últimos 10 anos.

Na maioria dos casos, o descolamento ocorre nas placas cerâmicas não esmaltadas, nas quatro faces de

exposição da fachada (norte, sul, leste e oeste). Nas cerâmicas esmaltadas a incidência do problema é

bastante pequena.

Dentre as placas cerâmicas descoladas da fachada, não se consegue observar uma predominância

quanto ao local de fragilidade do sistema, ou seja, o descolamento ocorre tanto na interface entre a

placa e a argamassa como no corpo da argamassa de emboço e, até mesmo, na ligação entre o chapisco

e a estrutura de concreto (Foto 5).

Em trecho situado na fachada oeste (poente), destaca-se no primeiro pavimento a acentuada espessura

do emboço (na ordem de 15cm) e, além disso, a utilização de blocos cerâmicos inseridos na argamassa

com o objetivo de atenuar esse problema (Foto 6). Cabe ressaltar que esses blocos foram utilizados

com a exclusiva função de enchimento, objetivando minimizar a espessura final da argamassa de

emboço.

Nesses locais foram verificados pedaços descolados da fachada onde a ruptura ocorreu na ligação

entre esses blocos “adicionais” e a base em alvenaria, evidenciando a inadequação desse procedimento

executivo.

Na fachada norte também puderam ser verificados pontos onde a argamassa de emboço foi removida

com descolamento na ligação com a estrutura de concreto (pilares e vigas), indicando deficiência na

ligação desses componentes com o chapisco e o sistema de revestimento como um todo.

Outro ponto a ser destacado refere-se à utilização de argamassa de emboço mista de cimento, areia,

argila com a adição de isopor, especialmente nos locais de grande espessura, provavelmente no intuito

de se reduzir o peso adicional devido ao desaprumo da fachada.

Por conta desses problemas, há cerca de 3 anos foi efetuada remoção completa das placas cerâmicas da

fachada das caixas de elevadores de ambos os blocos, as quais foram substituídas por novas cerâmicas

com as especificações semelhantes às originais.

Page 5: Descolamento Estudo Caso

Foto 1 - Camadas do sistema de revestimento.

Foto 2 - Detalhe do tardoz da placa cerâmica.

Foto 3 - Espessura de rejunte - 15mm.

Foto 4 - Aspecto do trecho em quartzo pigmentado.

Foto 5 – Aspecto de descolamento no encontro

chapisco x concreto.

Foto 6 – Detalhe de trecho de espessura grossa de

emboço no 1º andar.

Na ocasião, a remoção contemplou não apenas as placas cerâmicas, mas também a argamassa de

emboço com sinais de pulverulência e problemas de aderência, preservando-se apenas a base em

blocos cerâmicos e estrutura de concreto.

Outra manifestação patológica recente aconteceu em trecho da fachada oeste, onde a ocorrência do

descolamento de placas cerâmicas provocou danos em um automóvel no estacionamento.

Em função do quadro apresentado, foram efetuados ensaios de resistência de aderência à tração direta

em pontos diversos distribuídos pelas fachadas para avaliação das condições de aderência à base. A

apresentação e a análise dos resultados obtidos dos ensaios de resistência de aderência à tração direta

estão a seguir descritas.

Page 6: Descolamento Estudo Caso

3.3 Resultados e discussões dos ensaios realizados

Para uma melhor caracterização do problema, foram realizados testes de resistência de aderência à

tração direta em pontos distribuídos pelas fachadas, com auxílio de equipamentos e pessoal

especializado.

Durante a avaliação foram efetuados ensaios em 50 (cinqüenta) pontos distribuídos pelo térreo e

também em pavimentos alternados na fachada, realizados em duas situações distintas, conforme

explicado a seguir:

avaliação de todo o sistema, ou seja, com o arrancamento executado com a cerâmica original

aplicada. Os pontos escolhidos para ensaio foram selecionados aleatoriamente dentre aquelas

placas que não apresentem som cavo quando percutidas, as quais apresentariam resultados baixos,

invalidando a amostra.

análise exclusiva do emboço, a fim de identificar a sua capacidade resistente. Neste caso, a

cerâmica original havia sido removida da fachada antes da execução do ensaio, limitando-o, com

isso, apenas à camada de emboço.

A normalização brasileira pertinente ao assunto NBR 13.755 (ABNT, 1996) determina que, dentre 6

(seis) pontos ensaiados em um mesmo pano, pelo menos 4 (quatro) devem apresentar resultados acima

de 0,30MPa.

A Figura 1 indica de forma sumarizada os valores encontrados para os casos do revestimento com

placas cerâmicas (original e nova, aplicada após intervenção de recuperação), com quartzo

pigmentado, e apenas com a argamassa de emboço.

Os resultados obtidos dentre aqueles realizados com a cerâmica nova, aplicada após a intervenção de

recuperação, apresentaram 2 pontos abaixo do mínimo indicado pela normalização brasileira

(0,30MPa). Já no caso das placas cerâmicas originais, em 13 dos 26 pontos ensaiados os resultados

foram reprovados, o que caracteriza inadequação do sistema como um todo. Tal comportamento,

porém, não foi verificado nos trechos revestidos com quartzo pigmentado, onde apenas 2 dos 6 pontos

analisados resultaram em valores baixos.

Quanto à análise da argamassa de emboço, foi observado desempenho semelhante em comparação

com os dados obtidos apenas nas placas cerâmicas, com grande variação, destacando-se que apenas

1/3 dos valores encontrados atendem ao mínimo normalizado, o que caracteriza inadequação dessa

camada para uso em fachadas.

Figura 1 - Gráfico indicativo dos resultados obtidos nos ensaios de aderência.

Page 7: Descolamento Estudo Caso

Conforme já comentado, durante a interpretação dos ensaios de aderência é importante também avaliar

a tipo de ruptura ocorrido, que indica qual das camadas do revestimento apresenta pior desempenho.

Nesse aspecto observa-se, novamente, uma grande variação de resultados, desde casos com ruptura

entre a placa cerâmica e a argamassa até falhas na própria argamassa de emboço, não se podendo

definir um tipo predominante de deficiência (Foto 7 e Foto 8).

Foto 7 – Detalhe de placa para ensaio.

Foto 8 – Ruptura observada no ensaio de

aderência.

3.4 Diagnóstico das causas prováveis e discussão de alternativas para recuperação

Com base nas características das patologias observadas e nas informações obtidas, pode-se

diagnosticar as causas prováveis para os problemas apresentados. É importante ressaltar que a

produção de um revestimento externo de fachada envolve uma grande complexidade de fatores que

interferem no seu desempenho, desde a qualidade e correta especificação dos materiais, a análise dos

aspectos relacionados aos projetos envolvidos, até os procedimentos empregados na execução.

Em relação aos materiais, a utilização de produtos inadequados pode gerar tensões tais que não

consigam ser absorvidas pelo sistema, provocando assim o surgimento de problemas de descolamento,

fissuras, manchamentos, etc.

Quanto à produção, devem ser tomados cuidados especiais para a execução de revestimentos em

superfícies externas, sujeitas aos mais diversos agentes agressivos, sobretudo nas fachadas com

insolação e ventilação direta, uma vez que tais condicionantes são favoráveis à secagem prematura

tanto do emboço como da argamassa colante, comprometendo, com isso, a aderência entre as camadas.

No que se refere aos aspectos relacionados ao projeto, a NBR 13755 (ABNT, 1996) recomenda o

emprego de juntas de movimentação horizontais (a cada pé direito) e verticais (pelo menos a cada 6

metros).

No caso do prédio em questão, foram observadas algumas dessas variáveis que podem estar

contribuindo para o surgimento do problema.

No tocante aos materiais, cabe destacar que as placas cerâmicas utilizadas na obra são do tipo

extrudadas, e possuem absorção de água de acordo com a classificação das normas NBR 13817

(ABNT, 1997) e 13818 (ABNT, 1997) como sendo do grupo AIa (0% a 3%) e grupo AIIa (3% a 6%).

Essa baixa absorção de água pelas placas cerâmicas dificulta a ocorrência da aderência, visto que não é

possível promover adequadamente a formação da ancoragem mecânica. Para tanto, essas placas

cerâmicas são dotadas de reentrâncias no tardoz superiores a 1mm, com o objetivo de minimizar a

característica mencionada anteriormente.

De acordo com a norma NBR 13755 (ABNT, 1996), considerando as placas cerâmicas com

reentrâncias no tardoz superiores a 1mm, deve ser realizado o preenchimento prévio do mesmo com

argamassa colante.

Quanto à argamassa utilizada para o assentamento das placas cerâmicas, cabe ressaltar que não há

ensaios de caracterização previstos pela normalização brasileira para avaliar a sua adequação após a

Page 8: Descolamento Estudo Caso

aplicação. De todo modo é possível fazer avaliações estimativas da sua resistência a partir dos testes

de aderência à tração direta executados no local.

Os valores encontrados nos ensaios e a ruptura predominante das placas originais descoladas de prédio

e daquelas removidas durante os ensaios, em boa parte ocorrida na a própria argamassa, indicam que

esse componente se comporta como o elo mais frágil do sistema. Esse dado não é suficiente para

assegurar que a argamassa adesiva utilizada é inadequada ao uso, porém as rupturas obtidas com

valores abaixo do mínimo estipulado pela norma podem ser indicativas de deficiência no seu

comportamento.

Os resultados dos ensaios realizados com a argamassa de emboço também indicam que esse

componente não apresenta desempenho adequado para o seu uso, salientando também que já

ocorreram descolamentos nos locais de contato entre a argamassa e a base de concreto. De toda forma,

a avaliação foi realizada amostralmente, de modo que tal comportamento pode ser confirmado com a

realização de novos ensaios de caracterização.

No tocante à produção do revestimento, a ocorrência de vazios de preenchimento da argamassa no

tardoz das placas cerâmicas é um indicativo característico de falhas existentes durante o processo de

execução. Estes vazios reduzem a extensão de aderência, ou área de contato, entre a argamassa adesiva

e a placa, o que impossibilita a ancoragem, seja física ou química, entre estes componentes nestas

regiões.

Para a execução da argamassa de emboço, a NBR 13755 (ABNT, 1996) estabelece que devem ser

executadas camadas sucessivas respeitando o limite máximo de 25mm de espessura, sendo ainda

indicada a necessidade de inclusão de telas metálicas inseridas no corpo da argamassa a fim de evitar

problemas diversos de retração e aderência. Como já comentado anteriormente, foram observados na

fachada desaprumos de até 15cm, corrigidos com a inclusão de blocos cerâmicos e agregados leves

(isopor) para confecção da argamassa.

Quanto aos aspectos de projeto, um dos condicionantes considerado significativo para a ocorrência do

problema é a ausência das juntas de movimentação na edificação, as quais serviriam para promover o

alívio das solicitações provocadas por movimentações naturais entre os componentes (bases de

alvenaria e concreto, emboço, cerâmica).

Sinteticamente, de acordo com as características citadas, pode-se concluir que os fatores considerados

mais significativos para o descolamento das placas cerâmicas, nesse caso, foram as falhas ocorridas

durante o processo de produção, a ausência das juntas de movimentação, e o provável

desempenho insatisfatório na resistência de aderência da argamassa empregada para o

assentamento das placas cerâmicas.

Como se pode observar, o sistema de revestimento cerâmico de fachada é bastante complexo, o que

nos faz concluir, na grande maioria dos casos, que não há uma única causa para o surgimento de

problemas, mas sim uma série de fatores.

Num caso como esse, com o prédio já com algum tempo de concluído, a indicação de apenas uma

causa pode ser ainda menos precisa, em face da desinformação acerca de características fundamentais

para o diagnóstico, como o tipo de argamassa de assentamento utilizada, os ensaios eventualmente

realizados na época, as condições de exposição durante a produção (insolação, ventilação, chuva), as

características de execução, etc.

3.5 Discussão de alternativas para recuperação

Em função dos dados anteriormente discutidos, dos valores encontrados nos ensaios de aderência

efetuados na fachada, e dos índices percentuais de placas identificadas com som cavo quando

percutidas, apresentam-se a seguir alternativas para condução do problema.

3.5.1 Alternativa 01: Remoção e substituição completa das placas

Nesse caso todas as placas cerâmicas da fachada devem ser removidas e substituídas, mesmo nos

locais onde ainda não apresentam nenhum tipo de problema.

Page 9: Descolamento Estudo Caso

De acordo com o observado na vistoria e diagnóstico do problema, essa é a alternativa mais indicada

para intervenção, sendo ainda necessária também a substituição da argamassa de emboço.

Alguns aspectos importantes devem ser levados em consideração:

trata-se de uma solução definitiva, de modo que ao condomínio deverá caber apenas a

responsabilidade das atividades de manutenção periódicas a cada 5 anos, prazo em que expira a

garantia dada pela empresa executante;

é possível uma remodelagem estética do prédio, servindo como elemento de valorização comercial

do imóvel;

normalmente, é uma solução de custo mais elevado, além de proporcionar transtornos aos

condôminos de ordem operacional, uma vez que o prazo da obra também aumenta.

3.5.2 Alternativa 02: Recomposição das placas identificadas com som cavo

Para essa atividade prevê-se a remoção e substituição de todas as placas da fachada identificadas com

som cavo em inspeção efetuada por meio da percussão.

Importante ressaltar que esse tipo de intervenção seria necessário mesmo que não tivesse ocorrido

descolamento de qualquer placa, caracterizando-se, portanto, como uma atividade de manutenção

preventiva.

Normalmente, essa alternativa permite a realização de uma intervenção com menor custo e menor

prazo de execução dos serviços. Por outro lado, algumas dificuldades podem ser encontradas,

conforme segue:

provavelmente, a empresa executante não deverá dar garantia para as placas cerâmicas originais

remanescentes na fachada, apenas naquelas substituídas.

por mais idêntica que seja, a placa cerâmica que será aplicada em substituição à original certamente

apresentará alguma diferença estética, passível de ser notada, o mesmo no que se refere à

argamassa de rejunte;

uma vez concluídos os serviços, é imperativo que o condomínio elabore e execute um plano de

manutenção preventiva, com periodicidade anual, para verificação do surgimento de eventuais

novas placas soltas (conforme estabelecem as normas NBR 5674 e 14037). Tal serviço pode ser

efetuado por meio de inspeção por percussão das placas com martelo de borracha para identificação

e substituição das placas com som cavo.

A execução de serviços de recuperação demanda um investimento alto e é, em geral, bastante

traumática para os usuários do imóvel, devido às exigências diversas como: isolamento de veículos na

garagem, impossibilidade de passagem de pessoas por determinados locais do prédio, disponibilização

de área do condomínio para apoio à empresa executante, riscos diversos inerentes à contratação de

pessoal (segurança, causas trabalhistas, etc.), sujeira, barulho, entre outros.

Por conta disso, é recomendável que seja efetuada uma rigorosa escolha para contratação da empresa

executante, momento em que devem estar bem definidas questões críticas como prazos e sanções,

medições e pagamentos, responsabilidades, escopo e quantidades dos serviços a realizar, condições de

higiene e segurança dos funcionários e das áreas de circulação, entre outros.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A execução de serviços de recuperação demanda um investimento alto e é, em geral, bastante

traumática para os usuários do imóvel, devido às exigências diversas como: isolamento de veículos na

garagem, impossibilidade de passagem de pessoas por determinados locais do prédio, disponibilização

de área do condomínio para apoio à empresa executante, riscos diversos inerentes à contratação de

pessoal (segurança, causas trabalhistas, etc.), sujeira, barulho, entre outros.

Por conta disso, é recomendável que seja efetuada uma rigorosa escolha para contratação da empresa

executante, momento em que devem estar bem definidas questões críticas como prazos e sanções,

medições e pagamentos, responsabilidades, escopo e quantidades dos serviços a realizar, condições de

higiene e segurança dos funcionários e das áreas de circulação, entre outros.

Page 10: Descolamento Estudo Caso

5. REFERÊNCIAS

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concreto armado na região amazônica. Porto Alegre, 1994. Dissertação (Mestrado). Universidade

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