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III Congresso Internacional na Recuperação, Manutenção e Restauração de Edifícios
12, 13 e 14 de Maio de 2010 – Rio de Janeiro – RJ - Brasil
DESCOLAMENTO EM REVESTIMENTO CERÂMICO DE FACHADA
– DISCUSSÃO DE FATORES DE INFLUÊNCIA E APRESENTAÇÃO DE
ESTUDO DE CASO
Angelo Just da Costa e Silva (1); Alberto Casado Lordsleem Júnior (2) (1) Prof. Dr., Universidade Católica de Pernambuco, Rua Serra da Canastra, nº 391, Cordeiro,
+81.3366.6444, 50640-310, Recife, Pernambuco.
e-mail:[email protected]
(2) Prof. Dr., Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco, Rua Benfica, 455. Sala I-01,
Madalena, 50750-470 – Recife, Pernambuco.
e-mail: [email protected]
Tema: Manutenção - Vida Útil e Patologias em Edificações.
RESUMO (12 PTS NEGRITO)
O emprego de procedimentos executivos deficientes, o não cumprimento das recomendações
normativas referentes ao projeto executivo, e falhas nas especificações dos materiais utilizados, em
geral, são responsáveis pela ocorrência de patologias diversas em edificações. Notadamente no caso
dos revestimentos de fachada, esses fatores se tornam ainda mais evidentes em face das condições
adversas às quais esses elementos permanecem submetidos ao longo dos anos, agravado pelas naturais
adversidades existentes para a execução das atividades de manutenção. O presente estudo discute
alguns aspectos concorrentes para o problema de descolamento em revestimentos cerâmicos de
fachada, culminando com a apresentação de estudo de caso num edifício de múltiplos pavimentos, no
qual foi elaborado o diagnóstico das causas para as patologias surgidas, a partir da realização de
vistorias, ensaios de aderência e análise dos projetos, seguido de um procedimento indicado para as
intervenções necessárias de manutenção. Em situações dessa natureza, é comum a ocorrência
simultânea dos fatores anteriormente citados, atuando de forma concorrente, o que obriga a realização
de um preciso diagnóstico para permitir adequada solução do problema, como observado no estudo de
caso apresentado.
PALAVRAS-CHAVE: cerâmica, fachada, patologia.
ABSTRACT
The employment of disabled executives procedures, failure to follow the normative recommendations
regarding the project executive, and flaws in the specifications of the materials used are generally
responsible for the occurrence of diseases in various buildings. Notably in the case of façades, these
factors become even more pronounced by the adverse conditions to which these elements remain
subject over the years, compounded by natural adversities that exist for the execution of maintenance
activities. This study discusses some aspects competing for the problem of displacement in ceramic
used in façades, culminating with the presentation of a case study in a building of multiple floors,
which was established diagnosis of the causes for the diseases that arise from the conduct of surveys,
adherence tests and analysis of projects, followed by a recommended procedure for the interventions
necessary maintenance. In such situations, it is common to the simultaneous occurrence of the factors
mentioned above, acting concurrently, which requires completion of an accurate diagnosis to allow
adequate solution to the problem, as noted in the case study presented.
KEY-WORDS: ceramic, façade, patologies.
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III Congresso Internacional na Recuperação, Manutenção e Restauração de Edifícios
12, 13 e 14 de Maio de 2010 – Rio de Janeiro – RJ - Brasil
1. INTRODUÇÃO
A queda de revestimentos verticais aplicados em fachadas, e mesmo em áreas internas, pode causar
sérios problemas materiais e pessoais. Vários artigos e trabalhos científicos são constantemente
apresentados relatando estudos de casos de descolamento e queda de revestimentos aderidos de
fachada, tais como Costa e Silva (2001), Mansur et al. (2006), entre outros.
Os acidentes ocorridos em elementos diversos de fachada, incluídos ainda quedas de marquises,
elementos decorativos, entre outros, têm causado preocupação junto aos órgãos competentes das
grandes cidades. Em Pernambuco, por exemplo, a Lei nº 13.032 (Pernambuco, 2006) obriga a
realização de vistorias periciais e manutenções periódicas de todos os aspectos afetos à solidez e
segurança da edificação, contemplando elementos estruturais (fundação, pilares), instalações prediais e
fachadas.
Os problemas ocorridos em fachadas, a despeito do risco quanto à segurança, demandam alto custo
para recomposição por conta da necessidade de equipamentos especiais de apoio, telas de proteção,
mão-de-obra especializada (e mais cara), dependência das condições ambientais locais (intempéries,
ventilação), além do desconforto estético e desvalorização comercial do imóvel.
As origens para a ocorrência dos problemas de descolamentos, em linhas gerais, podem ser devidas à
inadequação dos materiais empregados, a deficiências ocorridas durante a etapa de produção, a falhas
ou inexistência de manutenção durante o uso, ou por conta de movimentações da base sobre a qual o
revestimento está assentado, cujas magnitudes devem ser previstas durante a etapa de projeto.
2. REVISTA TEÓRICA
Dentre todas as patologias observadas nos revestimentos cerâmicos de fachadas, sem dúvidas aquela
que apresenta preocupação é o descolamento ou perda de aderência entre a peça cerâmica e o suporte.
Essa é a manifestação mais perigosa e que exige maior atenção, devido aos riscos causados aos
usuários.
Nos prédios de alto e médio porte, onde é mais comum esse tipo de revestimento, normalmente são
projetadas lajes com mezanino para áreas comuns (salão de festas, playground), ou garagem para
automóveis, as quais permanecem diretamente expostas a todo tipo de problema nas fachadas. Assim,
a queda de uma peça cerâmica, de alturas de 3,0 a 40 ou 50 metros, pode causar enormes danos
materiais e, principalmente, riscos à segurança das pessoas.
Segundo Campante e Sabbatini (1999), a perda de aderência é um fenômeno causado por falhas ou
rupturas na interface da cerâmica com a argamassa adesiva, ou mesmo desta com o substrato, devido a
tensões surgidas que ultrapassam a capacidade resistente das ligações.
2.1 Fatores de influência para a ocorrência de problemas de descolamento em fachadas
Os problemas patológicos observados nas edificações, independente das suas formas de manifestação,
podem ter origem em uma enorme gama de fatores, em função da grande complexidade dos vários
sistemas envolvidos, inerente aos processos construtivos. Geralmente, as falhas não ocorrem devido a
apenas uma razão, mas provavelmente decorre de uma combinação delas (CASIMIR, 1994). Isso
justifica a necessidade de se sistematizar, nem que seja de maneira genérica, as origens dos problemas
patológicos nas edificações.
Como enfatiza Aranha (1994), a causa de uma patologia pode ser entendida como o procedimento
inadequado, adotado durante o processo construtivo, que provocou alteração no desempenho esperado
de um elemento ou componente da edificação.
Entendidas as causas para o surgimento do problema, é importante se determinar as suas origens, o
que pode ser difícil em algumas situações. Quando, por exemplo, o descolamento do revestimento
cerâmico ocorre na camada de argamassa colante, a origem dessa deficiência pode ser atribuída à
produção, por conta de falhas de aplicação do operário (devido à abertura de panos de argamassa
muito extensos, por exemplo), ou ao próprio material, em decorrência da sua capacidade de aderência
insuficiente.
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Estudos desenvolvidos por Garcia e Libório (1998) apresentaram como principais origens para
problemas patológicos em edificações os aspectos relacionados a execução (52%), projeto (18%),
utilização (14%), materiais (6%) e outros (10%).
Especialmente para os revestimentos de fachada, Cozza (1996) afirma que é preciso conhecer as
características dos materiais e sua adequação ao local, projetar juntas, dosar adequadamente a
argamassa, e dispor de uma excelente mão-de-obra e controle do produto que chega ao canteiro para se
prevenir quanto ao surgimento de patologias.
Medeiros (2000), com base em 17 casos estudados, apresenta três causas consideradas mais
importantes e encontradas em problemas de descolamento nos revestimentos cerâmicos de fachada:
ausência de juntas de movimentação, preenchimento deficiente do tardoz da cerâmica com argamassa
adesiva e inadequada especificação desse material. Para ele, a origens dessas causas está ligada a
aspectos de projeto, técnicas de aplicação, e definição de materiais e procedimentos de controle.
Em trabalho apresentado por Campante e Sabbatini (2000), foram analisados 4 casos patológicos, os
quais tiveram como origens principais deficiências relacionadas com projeto (ausência de juntas),
materiais (especificação inadequada da placa cerâmica e argamassa adesiva) e processo de produção
(falha de preenchimento). Para Casimir (1994), as origens para o surgimento desses problemas podem
ser sintetizadas em falhas no projeto e deficiências do construtor.
Assim, de acordo com o observado, pode-se sintetizar as origens para o aparecimento de
manifestações patológicas nas edificações, salientando os aspectos relacionados aos revestimentos
cerâmicos de fachada, da seguinte forma:
Materiais: Utilização de componentes (cerâmica, juntas, rejuntes, argamassa de assentamento,
cimento, cal, areia e suas misturas) em desacordo com as especificações e recomendações da
normalização brasileira, ou, quando da sua inexistência, de normas internacionais e pesquisas já
realizadas;
Projeto: Todos os aspectos ligados à concepção da edificação, desde a falta de coordenação entre
projetos, escolha de materiais inadequados, até a negligência quanto a aspectos básicos como o
posicionamento de juntas de dilatação e telas metálicas;
Produção: Envolve o controle de recebimento dos materiais, preparação das misturas, obediência
aos prazos mínimos para a liberação dos serviços e, principalmente, o acompanhamento da
execução de todas as camadas do sistema, sobretudo o assentamento das cerâmicas;
Uso: Trata dos fatores ligados à operação durante a vida do componente e, fundamentalmente, às
atividades de manutenção requeridas para um desempenho adequado do conjunto com o decorrer
dos anos.
3. ESTUDO DE CASO
3.1 Descrição do edifício
A edificação em análise, cuja construção foi concluída em 1990, apresenta dois blocos independentes
com 15 pavimentos, cada qual com dois apartamentos, mais dois andares de cobertura, totalizando 64
unidades.
O prédio foi executado no sistema estrutural reticulado em concreto armado e apresenta configuração
arquitetônica tradicional, com os cômodos principais de conforto voltados para o lado leste (nascente)
e os cômodos de serviço (caixas de escada, cozinha etc.) para oeste.
No revestimento vertical externo, objeto do estudo, podem ser observadas três diferentes acabamentos
superficiais: placas cerâmicas esmaltadas, placas cerâmicas não esmaltadas e quartzo pigmentado.
A julgar pelos trechos vistoriados, as camadas do revestimento foram executadas da seguinte forma
(Foto 1):
base: blocos cerâmicos de vedação e estrutura de concreto armado, com resistência característica à
compressão de 20MPa.
preparação da base: argamassa de chapisco com cimento e areia grossa, com espessura de 5mm.
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camada de regularização: argamassa de emboço composta por cimento, areia e material argiloso,
com espessura variável.
assentamento das placas cerâmicas: argamassa mista convencional à base de cimento aplicada no
sistema tradicional com colher de pedreiro, caracterizado pela colocação da argamassa no tardoz de
cada placa cerâmica, seguido da sua aplicação na parede.
placas cerâmicas: possui dimensões de (24x11)cm e espessura média de 9mm, apresentando,
ainda, reentrâncias no seu tardoz de 4mm no formato “rabo de andorinha” (Foto 2). As placas
esmaltadas apresentam coloração branca no vidrado.
rejuntamento: argamassa de cimento e areia média aplicada com largura média de 15mm entre as
placas (Foto 3).
quartzo pigmentado: argamassa de cimento, agregado pigmentado e resina, em geral aplicado
com espátula e espessura média de 3mm.
Nos trechos do quartzo pigmentado são observados, ao longo dos pavimentos, frisos similares ao que
seriam juntas de movimentação horizontais, posicionadas na altura do encontro entre o fundo das
vigas e a alvenaria de vedação, o que não ocorre nos trechos das placas cerâmicas (Foto 4).
Ao que indica a avaliação visual, as placas cerâmicas foram aplicadas sobre uma base com argamassa
mista composta por cimento Portland, areia e material argiloso, utilizando o sistema tradicional de
assentamento por meio do espalhamento da argamassa na cerâmica com colher de pedreiro,
procedimento largamente empregado na época da construção.
3.2 Vistorias realizadas e anamnese do problema
Ao longo do mês de setembro de 2007 foram realizadas vistorias ao local da obra para investigação
dos problemas relacionados ao descolamento de placas cerâmicas do revestimento de fachada.
Segundo informações colhidas junto aos moradores, esses problemas começaram a surgir desde a
entrega dos prédios, inicialmente ocorrendo de forma espaçada, e com evidente processo evolutivo nos
últimos 10 anos.
Na maioria dos casos, o descolamento ocorre nas placas cerâmicas não esmaltadas, nas quatro faces de
exposição da fachada (norte, sul, leste e oeste). Nas cerâmicas esmaltadas a incidência do problema é
bastante pequena.
Dentre as placas cerâmicas descoladas da fachada, não se consegue observar uma predominância
quanto ao local de fragilidade do sistema, ou seja, o descolamento ocorre tanto na interface entre a
placa e a argamassa como no corpo da argamassa de emboço e, até mesmo, na ligação entre o chapisco
e a estrutura de concreto (Foto 5).
Em trecho situado na fachada oeste (poente), destaca-se no primeiro pavimento a acentuada espessura
do emboço (na ordem de 15cm) e, além disso, a utilização de blocos cerâmicos inseridos na argamassa
com o objetivo de atenuar esse problema (Foto 6). Cabe ressaltar que esses blocos foram utilizados
com a exclusiva função de enchimento, objetivando minimizar a espessura final da argamassa de
emboço.
Nesses locais foram verificados pedaços descolados da fachada onde a ruptura ocorreu na ligação
entre esses blocos “adicionais” e a base em alvenaria, evidenciando a inadequação desse procedimento
executivo.
Na fachada norte também puderam ser verificados pontos onde a argamassa de emboço foi removida
com descolamento na ligação com a estrutura de concreto (pilares e vigas), indicando deficiência na
ligação desses componentes com o chapisco e o sistema de revestimento como um todo.
Outro ponto a ser destacado refere-se à utilização de argamassa de emboço mista de cimento, areia,
argila com a adição de isopor, especialmente nos locais de grande espessura, provavelmente no intuito
de se reduzir o peso adicional devido ao desaprumo da fachada.
Por conta desses problemas, há cerca de 3 anos foi efetuada remoção completa das placas cerâmicas da
fachada das caixas de elevadores de ambos os blocos, as quais foram substituídas por novas cerâmicas
com as especificações semelhantes às originais.
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Foto 1 - Camadas do sistema de revestimento.
Foto 2 - Detalhe do tardoz da placa cerâmica.
Foto 3 - Espessura de rejunte - 15mm.
Foto 4 - Aspecto do trecho em quartzo pigmentado.
Foto 5 – Aspecto de descolamento no encontro
chapisco x concreto.
Foto 6 – Detalhe de trecho de espessura grossa de
emboço no 1º andar.
Na ocasião, a remoção contemplou não apenas as placas cerâmicas, mas também a argamassa de
emboço com sinais de pulverulência e problemas de aderência, preservando-se apenas a base em
blocos cerâmicos e estrutura de concreto.
Outra manifestação patológica recente aconteceu em trecho da fachada oeste, onde a ocorrência do
descolamento de placas cerâmicas provocou danos em um automóvel no estacionamento.
Em função do quadro apresentado, foram efetuados ensaios de resistência de aderência à tração direta
em pontos diversos distribuídos pelas fachadas para avaliação das condições de aderência à base. A
apresentação e a análise dos resultados obtidos dos ensaios de resistência de aderência à tração direta
estão a seguir descritas.
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3.3 Resultados e discussões dos ensaios realizados
Para uma melhor caracterização do problema, foram realizados testes de resistência de aderência à
tração direta em pontos distribuídos pelas fachadas, com auxílio de equipamentos e pessoal
especializado.
Durante a avaliação foram efetuados ensaios em 50 (cinqüenta) pontos distribuídos pelo térreo e
também em pavimentos alternados na fachada, realizados em duas situações distintas, conforme
explicado a seguir:
avaliação de todo o sistema, ou seja, com o arrancamento executado com a cerâmica original
aplicada. Os pontos escolhidos para ensaio foram selecionados aleatoriamente dentre aquelas
placas que não apresentem som cavo quando percutidas, as quais apresentariam resultados baixos,
invalidando a amostra.
análise exclusiva do emboço, a fim de identificar a sua capacidade resistente. Neste caso, a
cerâmica original havia sido removida da fachada antes da execução do ensaio, limitando-o, com
isso, apenas à camada de emboço.
A normalização brasileira pertinente ao assunto NBR 13.755 (ABNT, 1996) determina que, dentre 6
(seis) pontos ensaiados em um mesmo pano, pelo menos 4 (quatro) devem apresentar resultados acima
de 0,30MPa.
A Figura 1 indica de forma sumarizada os valores encontrados para os casos do revestimento com
placas cerâmicas (original e nova, aplicada após intervenção de recuperação), com quartzo
pigmentado, e apenas com a argamassa de emboço.
Os resultados obtidos dentre aqueles realizados com a cerâmica nova, aplicada após a intervenção de
recuperação, apresentaram 2 pontos abaixo do mínimo indicado pela normalização brasileira
(0,30MPa). Já no caso das placas cerâmicas originais, em 13 dos 26 pontos ensaiados os resultados
foram reprovados, o que caracteriza inadequação do sistema como um todo. Tal comportamento,
porém, não foi verificado nos trechos revestidos com quartzo pigmentado, onde apenas 2 dos 6 pontos
analisados resultaram em valores baixos.
Quanto à análise da argamassa de emboço, foi observado desempenho semelhante em comparação
com os dados obtidos apenas nas placas cerâmicas, com grande variação, destacando-se que apenas
1/3 dos valores encontrados atendem ao mínimo normalizado, o que caracteriza inadequação dessa
camada para uso em fachadas.
Figura 1 - Gráfico indicativo dos resultados obtidos nos ensaios de aderência.
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Conforme já comentado, durante a interpretação dos ensaios de aderência é importante também avaliar
a tipo de ruptura ocorrido, que indica qual das camadas do revestimento apresenta pior desempenho.
Nesse aspecto observa-se, novamente, uma grande variação de resultados, desde casos com ruptura
entre a placa cerâmica e a argamassa até falhas na própria argamassa de emboço, não se podendo
definir um tipo predominante de deficiência (Foto 7 e Foto 8).
Foto 7 – Detalhe de placa para ensaio.
Foto 8 – Ruptura observada no ensaio de
aderência.
3.4 Diagnóstico das causas prováveis e discussão de alternativas para recuperação
Com base nas características das patologias observadas e nas informações obtidas, pode-se
diagnosticar as causas prováveis para os problemas apresentados. É importante ressaltar que a
produção de um revestimento externo de fachada envolve uma grande complexidade de fatores que
interferem no seu desempenho, desde a qualidade e correta especificação dos materiais, a análise dos
aspectos relacionados aos projetos envolvidos, até os procedimentos empregados na execução.
Em relação aos materiais, a utilização de produtos inadequados pode gerar tensões tais que não
consigam ser absorvidas pelo sistema, provocando assim o surgimento de problemas de descolamento,
fissuras, manchamentos, etc.
Quanto à produção, devem ser tomados cuidados especiais para a execução de revestimentos em
superfícies externas, sujeitas aos mais diversos agentes agressivos, sobretudo nas fachadas com
insolação e ventilação direta, uma vez que tais condicionantes são favoráveis à secagem prematura
tanto do emboço como da argamassa colante, comprometendo, com isso, a aderência entre as camadas.
No que se refere aos aspectos relacionados ao projeto, a NBR 13755 (ABNT, 1996) recomenda o
emprego de juntas de movimentação horizontais (a cada pé direito) e verticais (pelo menos a cada 6
metros).
No caso do prédio em questão, foram observadas algumas dessas variáveis que podem estar
contribuindo para o surgimento do problema.
No tocante aos materiais, cabe destacar que as placas cerâmicas utilizadas na obra são do tipo
extrudadas, e possuem absorção de água de acordo com a classificação das normas NBR 13817
(ABNT, 1997) e 13818 (ABNT, 1997) como sendo do grupo AIa (0% a 3%) e grupo AIIa (3% a 6%).
Essa baixa absorção de água pelas placas cerâmicas dificulta a ocorrência da aderência, visto que não é
possível promover adequadamente a formação da ancoragem mecânica. Para tanto, essas placas
cerâmicas são dotadas de reentrâncias no tardoz superiores a 1mm, com o objetivo de minimizar a
característica mencionada anteriormente.
De acordo com a norma NBR 13755 (ABNT, 1996), considerando as placas cerâmicas com
reentrâncias no tardoz superiores a 1mm, deve ser realizado o preenchimento prévio do mesmo com
argamassa colante.
Quanto à argamassa utilizada para o assentamento das placas cerâmicas, cabe ressaltar que não há
ensaios de caracterização previstos pela normalização brasileira para avaliar a sua adequação após a
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aplicação. De todo modo é possível fazer avaliações estimativas da sua resistência a partir dos testes
de aderência à tração direta executados no local.
Os valores encontrados nos ensaios e a ruptura predominante das placas originais descoladas de prédio
e daquelas removidas durante os ensaios, em boa parte ocorrida na a própria argamassa, indicam que
esse componente se comporta como o elo mais frágil do sistema. Esse dado não é suficiente para
assegurar que a argamassa adesiva utilizada é inadequada ao uso, porém as rupturas obtidas com
valores abaixo do mínimo estipulado pela norma podem ser indicativas de deficiência no seu
comportamento.
Os resultados dos ensaios realizados com a argamassa de emboço também indicam que esse
componente não apresenta desempenho adequado para o seu uso, salientando também que já
ocorreram descolamentos nos locais de contato entre a argamassa e a base de concreto. De toda forma,
a avaliação foi realizada amostralmente, de modo que tal comportamento pode ser confirmado com a
realização de novos ensaios de caracterização.
No tocante à produção do revestimento, a ocorrência de vazios de preenchimento da argamassa no
tardoz das placas cerâmicas é um indicativo característico de falhas existentes durante o processo de
execução. Estes vazios reduzem a extensão de aderência, ou área de contato, entre a argamassa adesiva
e a placa, o que impossibilita a ancoragem, seja física ou química, entre estes componentes nestas
regiões.
Para a execução da argamassa de emboço, a NBR 13755 (ABNT, 1996) estabelece que devem ser
executadas camadas sucessivas respeitando o limite máximo de 25mm de espessura, sendo ainda
indicada a necessidade de inclusão de telas metálicas inseridas no corpo da argamassa a fim de evitar
problemas diversos de retração e aderência. Como já comentado anteriormente, foram observados na
fachada desaprumos de até 15cm, corrigidos com a inclusão de blocos cerâmicos e agregados leves
(isopor) para confecção da argamassa.
Quanto aos aspectos de projeto, um dos condicionantes considerado significativo para a ocorrência do
problema é a ausência das juntas de movimentação na edificação, as quais serviriam para promover o
alívio das solicitações provocadas por movimentações naturais entre os componentes (bases de
alvenaria e concreto, emboço, cerâmica).
Sinteticamente, de acordo com as características citadas, pode-se concluir que os fatores considerados
mais significativos para o descolamento das placas cerâmicas, nesse caso, foram as falhas ocorridas
durante o processo de produção, a ausência das juntas de movimentação, e o provável
desempenho insatisfatório na resistência de aderência da argamassa empregada para o
assentamento das placas cerâmicas.
Como se pode observar, o sistema de revestimento cerâmico de fachada é bastante complexo, o que
nos faz concluir, na grande maioria dos casos, que não há uma única causa para o surgimento de
problemas, mas sim uma série de fatores.
Num caso como esse, com o prédio já com algum tempo de concluído, a indicação de apenas uma
causa pode ser ainda menos precisa, em face da desinformação acerca de características fundamentais
para o diagnóstico, como o tipo de argamassa de assentamento utilizada, os ensaios eventualmente
realizados na época, as condições de exposição durante a produção (insolação, ventilação, chuva), as
características de execução, etc.
3.5 Discussão de alternativas para recuperação
Em função dos dados anteriormente discutidos, dos valores encontrados nos ensaios de aderência
efetuados na fachada, e dos índices percentuais de placas identificadas com som cavo quando
percutidas, apresentam-se a seguir alternativas para condução do problema.
3.5.1 Alternativa 01: Remoção e substituição completa das placas
Nesse caso todas as placas cerâmicas da fachada devem ser removidas e substituídas, mesmo nos
locais onde ainda não apresentam nenhum tipo de problema.
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De acordo com o observado na vistoria e diagnóstico do problema, essa é a alternativa mais indicada
para intervenção, sendo ainda necessária também a substituição da argamassa de emboço.
Alguns aspectos importantes devem ser levados em consideração:
trata-se de uma solução definitiva, de modo que ao condomínio deverá caber apenas a
responsabilidade das atividades de manutenção periódicas a cada 5 anos, prazo em que expira a
garantia dada pela empresa executante;
é possível uma remodelagem estética do prédio, servindo como elemento de valorização comercial
do imóvel;
normalmente, é uma solução de custo mais elevado, além de proporcionar transtornos aos
condôminos de ordem operacional, uma vez que o prazo da obra também aumenta.
3.5.2 Alternativa 02: Recomposição das placas identificadas com som cavo
Para essa atividade prevê-se a remoção e substituição de todas as placas da fachada identificadas com
som cavo em inspeção efetuada por meio da percussão.
Importante ressaltar que esse tipo de intervenção seria necessário mesmo que não tivesse ocorrido
descolamento de qualquer placa, caracterizando-se, portanto, como uma atividade de manutenção
preventiva.
Normalmente, essa alternativa permite a realização de uma intervenção com menor custo e menor
prazo de execução dos serviços. Por outro lado, algumas dificuldades podem ser encontradas,
conforme segue:
provavelmente, a empresa executante não deverá dar garantia para as placas cerâmicas originais
remanescentes na fachada, apenas naquelas substituídas.
por mais idêntica que seja, a placa cerâmica que será aplicada em substituição à original certamente
apresentará alguma diferença estética, passível de ser notada, o mesmo no que se refere à
argamassa de rejunte;
uma vez concluídos os serviços, é imperativo que o condomínio elabore e execute um plano de
manutenção preventiva, com periodicidade anual, para verificação do surgimento de eventuais
novas placas soltas (conforme estabelecem as normas NBR 5674 e 14037). Tal serviço pode ser
efetuado por meio de inspeção por percussão das placas com martelo de borracha para identificação
e substituição das placas com som cavo.
A execução de serviços de recuperação demanda um investimento alto e é, em geral, bastante
traumática para os usuários do imóvel, devido às exigências diversas como: isolamento de veículos na
garagem, impossibilidade de passagem de pessoas por determinados locais do prédio, disponibilização
de área do condomínio para apoio à empresa executante, riscos diversos inerentes à contratação de
pessoal (segurança, causas trabalhistas, etc.), sujeira, barulho, entre outros.
Por conta disso, é recomendável que seja efetuada uma rigorosa escolha para contratação da empresa
executante, momento em que devem estar bem definidas questões críticas como prazos e sanções,
medições e pagamentos, responsabilidades, escopo e quantidades dos serviços a realizar, condições de
higiene e segurança dos funcionários e das áreas de circulação, entre outros.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A execução de serviços de recuperação demanda um investimento alto e é, em geral, bastante
traumática para os usuários do imóvel, devido às exigências diversas como: isolamento de veículos na
garagem, impossibilidade de passagem de pessoas por determinados locais do prédio, disponibilização
de área do condomínio para apoio à empresa executante, riscos diversos inerentes à contratação de
pessoal (segurança, causas trabalhistas, etc.), sujeira, barulho, entre outros.
Por conta disso, é recomendável que seja efetuada uma rigorosa escolha para contratação da empresa
executante, momento em que devem estar bem definidas questões críticas como prazos e sanções,
medições e pagamentos, responsabilidades, escopo e quantidades dos serviços a realizar, condições de
higiene e segurança dos funcionários e das áreas de circulação, entre outros.
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5. REFERÊNCIAS
ARANHA, P.M.S. Contribuição ao estudo das manifestações patológicas em estruturas de
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