desenvolvimento de sorgo sacarino (sorghum bicolor … · significado atual da água e a sua...
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Revista Expansão Acadêmica. Ano 1, n. 1, jul./dez. 2015
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DESENVOLVIMENTO DE SORGO SACARINO (Sorghum bicolor L. Moench)
IRRIGADO COM EFLUENTE SINTÉTICO DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE
ESGOTO DOMÉSTICO DE PETROLINA-PE1
Kellison Lima Cavalcante2
Magnus Dall’Igna Deon3
Hélida Karla Philippini da Silva4
RESUMO: O reuso de água constitui uma alternativa potencial de racionalização na
agricultura, assim, este trabalho objetivou discutir a técnica como instrumento de gestão
ambiental e sustentabilidade na irrigação, a partir do desempenho produtivo do sorgo sacarino
irrigado com efluente sintético similar ao Efluente das Estações de Tratamento de Esgoto
(EETE) de Petrolina-PE. Em experimento em ambiente protegido de casa de vegetação foram
analisadas as variáveis morfológicas de altura da planta, diâmetro e comprimento dos colmos,
quantidade de folhas e perfilhamentos. O reuso de água na agricultura consiste em um
instrumento ambientalmente viável que possibilita o aumento da produtividade,
racionalização da água e minimização de impactos ambientais. Os EETE são fontes de
nutrientes e água que garantiram produtividade satisfatória do sorgo sacarino. O tratamento
irrigado com solução similar a média dos EETE estudados proporcionou a produtividade
máxima nas condições do experimento, de acordo com as características vegetativas
estudadas e em comparação com os demais tratamentos. Foi observado que o
desenvolvimento vegetativo da cultura não foi afetado com a irrigação com efluente sintético,
proporcionando características satisfatórias. Assim, a irrigação de culturas com efluentes de
estações de tratamento de esgoto doméstico tem se apresentado como uma solução promissora
e sustentável, eliminando riscos de possíveis impactos ambientais nos recursos hídricos.
PALAVRAS-CHAVE: Reuso de água, efluentes, agricultura irrigada.
INTRODUÇÃO
A água é um recurso natural essencial como componente e meio de vida de várias
espécies vegetais e animais ou como valor econômico para produção de bens de consumo e
nas atividades agrícolas em larga escala. Porém, a água doce disponível para uso constitui
uma fração mínima do total de água existente na Terra, observando-se que este é um recurso
1 Trabalho extraído da Dissertação de Mestrado do primeiro autor;
2 Tecnólogo em Irrigação e Drenagem, Mestre em Tecnologia Ambiental – Técnico Administrativo do IF Sertão-
PE, Petrolina-PE, (87) 2101-4300, [email protected]; 3 Doutor em Agronomia, Embrapa Semiárido, [email protected];
4 Doutora em Oceanografia, Instituto Senai de Tecnologias, [email protected].
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cada vez mais escasso, seja pelos processos de urbanização, com aumento da demanda, seja
pela redução da oferta de água de boa qualidade, condicionada pela poluição dos mananciais.
O crescente processo de urbanização, o aumento populacional e as mudanças de
hábitos que ocasionam principalmente as mudanças climáticas contradizem o princípio que a
disponibilidade hídrica é ilimitada e de fácil acessibilidade. Nesse contexto, a água é um
recurso natural finito e essencial à vida que, segundo Mainier, Correia Neto e Monteiro (2011,
p. 169) tornar-se-á, ao longo do século XXI, tão importante e disputado do ponto de vista
econômico, social, ambiental e político, quanto foi o carvão e o petróleo para a economia
mundial ao longo dos últimos 150 anos.
Sob o reflexo da evolução da humanidade, a água representa elemento significativo
de valores sociais e culturais, como fator determinante na produção e desenvolvimento das
atividades agrícolas. A agricultura é reconhecidamente a atividade humana que mais consome
água, em média 70% de todo o volume captado, destacando-se a irrigação como atividade de
maior demanda (CHRISTOFODIS, 2001, p. 8). De acordo com Bassoi e Guazelli (2004, p.
63), o consumo e a necessidade de água exigida para atender o desenvolvimento da
agricultura têm aumentado nos últimos anos, sobretudo com as práticas da irrigação, tornando
o setor agrícola como o maior consumidor da totalidade de água.
Conforme Mantovani, Bernardo e Palaretti (2009, p. 33), é preciso saber o
significado atual da água e a sua importância no futuro da agricultura irrigada, destacando a
produtividade e a rentabilidade, com eficiência no uso da água, da energia e dos insumos e
com respeito ao meio ambiente. O equilíbrio ocorre quando se implementam estratégias de
uso racional da água na agricultura irrigada, que permitam sustentabilidade (MANTOVANI;
BERNARDO; PALARETTI, 2009, p. 48).
Para Monte e Albuquerque (2010, p. 340) é importante uma gestão sustentável dos
recursos hídricos, na qual a reutilização de águas residuais tratadas representa um componente
estrategicamente importante. Assim, é preciso equacionar a distribuição de água necessária
que atenda a demanda humana e suas atividades de desenvolvimento.
Como alternativa a irrigação de culturas com efluentes de estações de tratamento de
esgoto doméstico tem se apresentado como uma solução promissora em várias partes do
mundo, entre estes, Israel utiliza 70% dessas águas na irrigação de 19.000 ha (FOLEGATTI;
DUARTE; GONÇALVES, 2005, p. 153). Além da preservação dos recursos hídricos, a
aplicação de águas residuárias provenientes de Estações de Tratamento de Efluentes (ETE) na
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agricultura apresenta-se como fonte de água e nutrientes às culturas. Estudos têm revelado
benefícios na produtividade das culturas irrigadas com efluente de ETE (FONSECA et al.,
2007, p. 195; LEAL, 2007, p. 65; AZEVEDO; OLIVEIRA, 2005, p. 254) e redução de até
50% na dose de fertilizante nitrogenado com reposição de 100% da evapotranspiração da
cultura (GOMES et. al., 2009, p. 20).
Como instrumento efetivo na gestão dos recursos hídricos, Nobre et al. (2010, p.
749) destacam que o uso de água residuária na produção agrícola visa promover a
sustentabilidade da agricultura irrigada, economizando águas superficiais não poluídas,
mantendo a qualidade ambiental e servindo como fonte nutritiva às plantas. Tornando
essenciais as reflexões sobre a qualidade desse recurso cada vez mais importante no âmbito da
gestão ambiental. Entretanto, não é uma prática isenta de riscos, principalmente devido à
presença de determinados constituintes no pós-tratamento do efluente e organismos
patogênicos, que podem ser prejudiciais ao desenvolvimento da cultura, à contaminação do
solo e consequentemente às águas superficiais através da lixiviação desses contaminantes.
Nobre et al. (2010, p. 748) destacam que o uso de efluentes de estações de tratamento
de esgoto na produção agrícola visa promover a sustentabilidade da agricultura irrigada,
economizando águas superficiais não poluídas, mantendo a qualidade ambiental e servindo
como fonte nutritiva às plantas. Nesse sentido, as reflexões sobre a qualidade desse recurso
tornam-se essenciais e cada vez mais importantes no âmbito da gestão ambiental. Entretanto,
não é uma prática isenta de riscos, principalmente devido à presença de determinados
constituintes no pós-tratamento do efluente e organismos patogênicos, que podem ser
prejudiciais ao desenvolvimento da cultura, à contaminação do solo e consequentemente às
águas superficiais através da lixiviação desses contaminantes.
Os nutrientes contidos nos efluentes de estações de tratamento de esgoto têm valor
potencial para produções agrícolas. Verifica-se que com a utilização de corpos d’água,
contendo esgoto sanitário, poderá não haver falta de nutrientes, possibilitando boa
produtividade agrícola, sem gastos com fertilizantes (TELLES, 2011, p. 520). Um dos
nutrientes encontrados em efluentes tratados é o nitrogênio, que de acordo com Fageria, Stone
e Santos (1999, p. 53), desempenha papel importante no crescimento da planta, aumenta o
número e o peso de grãos, aumenta o uso eficiente da água na planta e melhora a qualidade
dos grãos pelo aumento do teor de proteínas. Para a maioria das culturas, o nitrogênio é o
nutriente absorvido em maiores quantidades, daí sua exigência (RAIJ et al., 1996, p. 152).
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Conforme Santos et al. (2006, p. 20), o tratamento de esgoto e a posterior utilização
do efluente tratado na agricultura são medidas que se apresentam como forma de combate à
poluição e incentivo à produção agrícola. Incentivar a agricultura é fundamental para a
atualidade, principalmente, quando associado à fertirrigação com nutrientes advindos do
próprio esgoto. Com isso, o desenvolvimento de pesquisas e tecnologias que visem promover
o aumento da produtividade agrícola, consiste em uma alternativa que favorece o
desenvolvimento local sustentável.
Dessa forma, este trabalho teve como objetivo discutir a técnica do reuso de água
como um instrumento de gestão ambiental na agricultura através do desempenho produtivo de
experimento com sorgo sacarino irrigado com efluente sintético similar ao Efluente das
Estações de Tratamento de Esgoto (EETE) de Petrolina-PE.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida em ambiente protegido de casa de vegetação na
Embrapa Semiárido, no município de Petrolina-PE (Latitude 09° 23' 55" Sul e Longitude 40°
30' 03" Oeste) com sorgo sacarino irrigado (Sorghum bicolor L. Moench) com efluente
sintético baseado na composição média dos Efluentes das Estações de Tratamento de Esgoto
(EETE). As plantas foram dispostas em vasos sobre bancadas, contendo solo coletado no
horizonte superficial de um Argissolo Amarelo, textura argilosa, proveniente do Campo
Experimental de Bebedouro.
O experimento foi arranjado em esquema fatorial (4 x 4) + 1, constituindo 16
tratamentos e 1 testemunha, com 3 repetições, totalizando 51 unidades experimentais.
Distribuídos em 4 níveis de salinidade (CE – dS.m-1
) e 4 concentrações de nitrogênio
produzidos pela alteração do efluente sintético e uma testemunha (T) com água de
abastecimento. Foram utilizadas as Condutividades Elétricas (CE) da solução iguais a 50,
100, 150 e 200% da encontrada nos efluentes e concentrações de nitrogênio iguais a 50, 100,
150 e 200% da encontrada nos efluentes.
O efluente sintético teve sua composição orgânica obtida a partir da concentração de
4,8 g de preparado industrializado de caldo de carne, 1 g de amido solúvel (C6H10O5), 0,56 g
de cloreto de amônio (NH4Cl), 0,1 mL de ácido fosfórico (H3PO4) e 0,3 mL de detergente
líquido e dissolvido em 100 mL de água destilada previamente aquecida a 100°C. Em
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seguida, foi utilizado 3,3 mL.L-1
de efluente para obter-se uma DQO média de 80 mg de O2.L-
1. A DQO foi analisada através da oxidação com K2Cr2O7 (refluxo fechado) e leitura em
espectrofotômetro de absorção molecular. A composição química foi obtida a partir de
soluções estoque de KH2PO4 (1,0 mol.L-1
), NaH2PO4 (1,0 mol.L-1
), NH4H2PO4 (1,0 mol.L-1
),
MgSO4 (1,0 mol.L-1
), CaSO4 (0,01 mol.L-1
), (NH4)2SO4 (1,0 mol.L-1
), NH4NO3 (1,0 mol.L-1
),
KCl (1,0 mol.L-1
), CaCl2 (1,0 mol.L-1
), NaCl (1,0 mol.L-1
) e MgCl2 (1,0 mol.L-1
) conforme os
tratamentos na Tabela 1.
Tabela 1 – Composição química do efluente sintético
TR
AT
AM
EN
TO
S SOLUÇÃO ESTOQUE (mL/L)
KH
2P
O4
NaH
2P
O4
NH
4H
2P
O4
Mg
SO
4
CaS
O4
(NH
4) 2
SO
4
NH
4N
O3
KC
l
CaC
l 2
NaC
l
Mg
Cl 2
S1N1 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 - - - - -
S1N2 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 1,98 - - - -
S1N3 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 3,96 - - - -
S1N4 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 5,93 - - - -
S2N1 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 - 1,16 1,47 4,06 1,80
S2N2 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 1,98 1,16 1,47 4,06 1,80
S2N3 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 3,96 1,16 1,47 4,06 1,80
S2N4 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 5,93 1,16 1,47 4,06 1,80
S3N1 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 - 2,32 2,94 8,11 3,59
S3N2 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 1,98 2,32 2,94 8,11 3,59
S3N3 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 3,96 2,32 2,94 8,11 3,59
S3N4 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 5,93 2,32 2,94 8,11 3,59
S4N1 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 - 3,48 4,41 12,17 5,39
S4N2 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 1,98 3,48 4,41 12,17 5,39
S4N3 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 3,96 3,48 4,41 12,17 5,39
S4N4 1,16 4,06 2,51 1,80 1,47 0,72 5,93 3,48 4,41 12,17 5,39
Fonte: elaborada pelo autor.
As variáveis morfológicas de altura, diâmetro e comprimento dos colmos, número de
folhas e de perfilhamentos foram analisadas no final do estádio da maturidade fisiológica (80
dias após a emergência), ou seja, quando estava iniciando o ponto de colheita de acordo com
as descrições de Fornasieri Filho e Fornasieri (2009, p. 110), atingindo o ponto máximo de
desenvolvimento vegetativo. A altura das plantas foi determinada do solo até o final da
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panícula com o uso de uma trena graduada em milímetros, bem como para o comprimento dos
colmos, que foi do solo ao início da inflorescência da panícula. O diâmetro dos colmos foi
obtido com um paquímetro digital, 30 cm acima do solo, de acordo com recomendações de
Raij et al. (1996, p. 35). A contagem do número de folhas considerou apenas as folhas ativas,
bem como o número dos perfilhos.
Os testes estatísticos foram realizados através do software estatístico SPSS for
Windows Evaluation Edition – 14.0 (SPSS. INC., 2005), considerando a probabilidade de
erro (p) menor ou igual (≤) a 5 %.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Sorgo Sacarino vem despontando como uma alternativa técnica para as diversas
regiões do Brasil, principalmente devido a sua tolerância a períodos de estiagem durante seu
ciclo e a produção de biomassa economicamente compensadora, com destaque nos sistemas
de rotação de culturas com a cana-de-açúcar. Nesse sentido, devido ao seu aumento de cultivo
na região Semiárida brasileira, estratégias para aumentar sua produção juntamente com a
conservação dos recursos hídricos existentes são necessárias, como a técnica de reuso de
água. Assim, é de fundamental importância o conhecimento do desenvolvimento de suas
características morfológicas, que são fatores determinantes no seu rendimento produtivo.
As características morfológicas das cultivares de sorgo sacarino são fatores de estudo
para o desenvolvimento vegetativo quando se utiliza essa cultura na produção de etanol.
Dessa forma, a produtividade de etanol das cultivares de sorgo sacarino está associada ao
desenvolvimento das suas características. No entanto, as principais características
apresentadas na Tabela 2, foram mensuradas para avaliar o desenvolvimento das plantas com
aplicação de efluente das estações de tratamento de esgoto.
O sorgo sacarino é uma planta de grande porte e sistema radicular bastante
desenvolvido, e que a restrição de espaço para o desenvolvimento do sistema radicular, como
o plantio em vasos na pesquisa, pode limitar o crescimento da cultura. Porém, não afeta a
obtenção de resultados satisfatórios, como defendem Moreira et al. (2010, 2012), que
estudaram as características de diâmetro do colmo e altura da planta com plantio em vasos
com diferentes níveis de água no solo.
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Tabela 2 – Características morfológicas do desenvolvimento das cultivares de sorgo sacarino
TRATA-
MENTOS
COLMO
ALTURA DA
PLANTA (cm)
QUANTIDADE
DE FOLHAS
(und)
PERFILHOS / PLANTA
DIÂMETRO
(mm)
COMPRI-
MENTO
(cm)
QUANTIDADE
(und)
ALTURA
(cm)
T 9,08 d 117,33 a 140,33 a 7 a 0 0
S1N1 10,64 d 122,33 a 145,33 a 8 a 3 49,67
S1N2 12,07 c 114,33 a 137,33 a 8 a 4 44,33
S1N3 12,04 c 114,00 a 137,00 a 8 a 3 64,67
S1N4 12,31 c 99,33 b 122,33 b 8 a 3 77,00
S2N1 12,29 c 112,00 a 135,00 a 8 a 2 67,00
S2N2 11,88 d 113,67 a 136,67 a 8 a 2 66,00
S2N3 13,99 c 115,33 a 138,33 a 8 a 3 72,33
S2N4 12,52 c 114,00 a 137,00 a 8 a 3 64,33
S3N1 11,16 d 118,33 a 141,33 a 8 a 2 45,33
S3N2 11,80 d 118,33 a 141,33 a 8 a 2 37,67
S3N3 12,39 c 113,67 a 136,67 a 8 a 2 29,67
S3N4 10,46 d 118,33 a 141,33 a 9 a 2 23,33
S4N1 15,11 b 113,67 a 136,67 a 8 a 0 0
S4N2 12,61 c 120,67 a 143,67 a 8 a 2 18,33
S4N3 15,33 b 116,33 a 139,33 a 8 a 2 21,67
S4N4 17,01 a 104,3 ab 127,33 a 8 a 2 25,33
DP
(±) 1,35 3,67 3,67 0,11 0,69 20,77
CV
(%) 10,0306 4,8383 4,0280 6,3834 18,5754 22,4921
TESTE F 18,75** 2,61** 2,73** 0,009** - -
Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey.
*; **: significativo a 5% e 1% de probabilidade respectivamente.
Fonte: dados da pesquisa.
O desenvolvimento dos colmos é uma das principais características, quando
processados resultam no bagaço que vai gerar a produção de etanol em destilaria. Dessa
forma, o desenvolvimento dos colmos acompanhou o aumento do nível de salinidade e dos
teores de nitrogênio dos efluentes, como observamos na superfície de resposta da Figura 1. As
plantas submetidas aos maiores níveis de salinidade apresentaram colmos mais desenvolvidos
e o mesmo pode ser observado com os maiores teores de nitrogênio. Os valores de diâmetro
foram parecidos com os encontrados por Moreira et al. (2010, p. 121), que foram de 8,3; 14,0;
16,1 e 19,1 mm para os níveis de 20, 40, 60 e 80% da capacidade de campo.
Figura 1 – Interação dos níveis de salinidade e teores de nitrogênio para as características dos
colmos: (a) diâmetro (mm) e (b) altura (cm)
T = Testemunha. DP = Desvio padrão; CV = Coeficiente de variação.
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15
14
14
13
13
13
13
12
12
12
12
12
12
11
11
Nitrogênio (mg L-1
)
60 80 100 120 140 160 180 200 220
Sa
linid
ad
e (
dS
m-1
)
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
Diâmetro de colmo (mm)
110
110108
106
112
112
112
112
114
114
114
114
116
116
116
116
116
118
118
118
118
118
116
Nitrogênio (mg L-1
)
60 80 100 120 140 160 180 200 220
Sa
linid
ad
e (
dS
m-1
)
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
Altura de colmos (cm)
Fonte: dados da pesquisa.
A altura das plantas apresentou variância de 2,73 no Teste F, com significância a
<0,001 em relação as diferenças dos tratamentos aplicados. A quantidade de folhas ativas não
sofreu variância nos diferentes tratamentos, apenas com acréscimo de uma folha em relação a
testemunha, irrigada apenas com água de abastecimento. Dessa forma, a altura das plantas e a
quantidade de folhas, não foram afetadas com a irrigação com efluente sintético, como
demonstrado na Figura 2. No entanto, Moreira et al. (2010, p. 125) em seu trabalho com
diferentes níveis de água no solo em vasos, observaram plantas mais baixas na maturidade
fisiológica, apresentando a mais alta com 109,3 cm de altura e encontrou quantidade média
superior de folhas por planta (12,83), podendo ter explicação nos nutrientes absorvidos.
No estudo da capacidade de perfilhamento das plantas, apenas as plantas irrigadas com
água de abastecimento e o tratamento com elevado nível de salinidade (200%) e baixo teor de
N (50%) não apresentaram perfilhos, sem alterações significativas nos demais tratamentos
aplicados por planta, observando-se apenas decrescimento no número e nas suas alturas nos
tratamentos com maiores níveis de salinidade, como demonstrado na Figura 3. Moreira et al.
(2012, p. 89) observaram valores médios 2,83 e 0,67 do número de perfilhos para as cultivares
BRS 501 e BRS 506, respectivamente, submetidas a diferentes níveis de água.
Estação do Manoel dos Arroz
Estação do João de Deus
Estação do Rio Corrente
Estação da Cohab VI
Estação da Embrapa
♦
▲ □ ■ ●
♦
▲ ● □ ■
♦ □ ▲ ● ■
a b
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Figura 2 – Interação dos níveis de salinidade e teores de nitrogênio para as características das
plantas: (a) altura (cm) e (b) quantidade de folhas por planta (und)
134
134
134
132
132
130136
136
136
136
138
138
138
138140
140
140
140
140
140
Nitrogênio (mg L-1
)
60 80 100 120 140 160 180 200 220
Sa
linid
ad
e (
dS
m-1
)
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
Altura de plantas (cm)
8,2
8,2
8,2
8,2
8,0
8,0
8,0
8,0
8,0
7,8
7,8
7,8
7,6
Nitrogênio (mg L-1
)
60 80 100 120 140 160 180 200 220
Sa
linid
ad
e (
dS
m-1
)
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
Quantidade de folhas por planta
Fonte: dados da pesquisa.
Figura 3 – Interação dos níveis de salinidade e teores de nitrogênio para as características de
perfilhamento: (a) quantidade (und) e (b) altura (cm)
2,2
2,2
2,22,2
2,4
2,4 2,4
2,4
2,62,6 2,6
2,6
2,8 2,8 2,8
2,8
3,0 3,03,0
3,0
2,0
2,0
3,2
1,8
Nitrogênio (mg L-1
)
60 80 100 120 140 160 180 200 220
Salin
idade (
dS
m-1
)
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
Quantidade de perfilhos por planta
2020
3030
30
30
40
40
40 40
50
50 50
50
60
60
60
70
Nitrogênio (mg L-1
)
60 80 100 120 140 160 180 200 220
Salin
idade (
dS
m-1
)
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
Altura de perfilhos (cm)
Estação do Manoel dos Arroz
Estação do João de Deus
Estação do Rio Corrente
Estação da Cohab VI
Estação da Embrapa
Estação do Manoel dos Arroz
Estação do João de Deus
Estação do Rio Corrente
Estação da Cohab VI
Estação da Embrapa
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b a
b a
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Fonte: dados da pesquisa.
A partir da avaliação das regressões apresentadas na Tabela 3, pode-se descrever a
interação das variáveis de acordo com os parâmetros dos tratamentos aplicados. A estatística
para o diâmetro do colmo teve influência significativa para as componentes linear e
quadrática da salinidade e os demais parâmetros não foram significativos, podendo afirmar
que a salinidade foi fator determinante no desenvolvimento da espessura dos colmos.
Destacando que o aumento nos níveis de salinidade intensificou o desenvolvimento dessa
característica, que confirma a tolerância do sorgo aos solos salinos sob irrigação controlada.
Tabela 3 – Superfície de resposta para a interação dos níveis de salinidade e teores de
nitrogênio
COMPONENTE
DO MODELO
CARACTERÍSTICA AVALIADA
COLMO PLANTA FOLHAS PERFILHOS
DIÂMETRO ALTURA ALTURA QUANTIDADE QUANTIDADE ALTURA
Intercepto 12,91219** 111,400** 134,400** 8,56879** 4,20917** 39,2803**
Salinidade -6,24069* 10,0193ns
10,0193ns
-1,04296ns
-2,8532** 46,7099*
Nitrogênio 0,01603ns
0,04237ns
0,04237ns
-0,00261ns
0,0011ns
0,03312ns
Salinidade2 2,68974* -6,12744
ns -6,12744
ns 0,16485
ns 0,74576
ns -25,089**
Interação 0,01418ns
0,03625ns
0,03625ns
0,00332ns
0,0024ns
-0,1846**
Nitrogênio2 -0,00007
ns -0,00046
ns -0,00046
ns 0,000009
ns -0,00001
ns 0,0006
ns
R2 0,5137 0,3500 0,3500 0,1921 0,5240 0,7515
ns, *; **: não significativo e significativo a 5% e 1% de probabilidade, respectivamente.
Fonte: dados da pesquisa.
No entanto, para a altura dos colmos, altura das plantas e quantidade de folhas, a
estatística não obteve significância para os valores encontrados nos tratamentos aplicados.
Isso indica que os tratamentos aplicados não influenciaram significativamente nos resultados
obtidos. Com a superfície de resposta é possível estimar a equação da interação das
características vegetais em função dos tratamentos aplicados na pesquisa, para compreensão e
avaliação da aplicação de solução de irrigação similar ao efluente das estações de tratamento
de Petrolina-PE.
CONCLUSÕES
Revista Expansão Acadêmica. Ano 1, n. 1, jul./dez. 2015
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Foi possível observar que os EETE são fontes de nutrientes e água que garantiram
uma produtividade satisfatória do sorgo sacarino. O desenvolvimento dos colmos
acompanhou o aumento do nível de salinidade e dos teores de nitrogênio dos efluentes; já a
altura das plantas e a quantidade de folhas, submetidas a níveis variados de salinidade e de
nitrogênio não sofreu influência com a irrigação com EETE, diferentemente da característica
de perfilhamento que foi inibida pelo aumento da salinidade e redução de nitrogênio.
O reuso de água na agricultura consiste em um instrumento ambientalmente viável
que possibilita o aumento da produtividade, racionalização da água e minimização de
impactos ambientais.
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