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MARINO CASTILLO LACAY
DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NO ESPAÇO RURAL NAS
ROTAS DO PINHÃO, REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA:
CONVERGÊNCIAS E CONFLITOS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
Dissertação apresentada como requisitoparcial à obtenção do grau de Mestre emGeografia, do Programa de Pós-Graduaçãoem Geografia da UFPR - PPGGEOGRAFIA,Setor de Ciências da Terra, UniversidadeFederal do Paraná.
Área de concentração: Produção e Transfor-mação do Espaço Urbano e Regional.
Orientador: Prof. Dr. Marcos AurélioTarlombani da Silveira.
CURITIBA
MAIO 2012
Lacay, Marino CastilloDesenvolvimento do turismo no espaço rural nas rotas do pinhão,
Região Metropolitana de Curitiba: convergências e conflitos das políticaspúblicas / Marino Castillo Lacay. - Curitiba, 2012.
361 f., ilus., graf., tabs. + mapas
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Paraná, Setorde Ciências da Terra, Programa de Pós-Graduação em Geografia.
Orientador: Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira
1. Turismo rural – Politicas públicas. 2. Turismo - Curitiba, RegiãoMetropolitana de (PR). I. Silveira, Marco Aurélio Tarlombani da.II. Título.
CDD 306.4819098162
Para Dona Francisca, heroína anônima como tantas,
minha humilde homenagem para a saga do migrante
na Região Metropolitana de Curitiba.
A todos os que se já foram, meu tributo (In Memoriam)
AGRADECIMENTOS
O fazer do técnico e pesquisador é por vezes um contínuo ir e vir sob
escrupuloso olhar do método científico, sob a condição que molda o ofício de fazer
ciência. Mas também com o olhar daquele que confere à política pública um status
de verdade incontestável. Foi nessa trama do setor público que tive a sorte de tecer
meu espaço profissional, tanto na minha terra de origem como no Brasil, e, ainda,
beber das fontes de uma economia estruturalista logo na minha formação inicial na
década de 1970. Na trajetória dos diversos portos onde fiz ancoragem, o desenvol-
vimento foi sempre meu tema recorrente como profissional e principalmente como
ser humano. Grato sou à vida por manter viva a chama dessa preocupação.
Ao amigo, hoje na condição de orientador, professor Dr. Marcos Aurélio
Tarlombani da Silveira, devo a ele seu entusiasmo do meu retorno à sala de aula
depois de 20 anos dela afastado. Agradeço ainda por toda sua dedicação nesse
período de orientação, e pelo respeito profissional demonstrado nesta caminhada. À
Rosa e ao Claudião, instigantes geógrafos, companheiros de toda hora que me
ensinaram a decifrar o paradigma da Geografia e com ele um significado ainda maior
da palavra solidariedade.
À banca examinadora, composta pelas professoras Dr.ª Margarete Teles da
UFPR e Dr.ª Rosa Moura, do IPARDES, por aceitarem o convite para o tema que
suscita naturalmente interesse, sinto-me confortável na escolha e acredito que serão
de grande valia todas as observações e sugestões.
Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade
Federal do Paraná, ao corpo docente, e em especial ao secretário Luiz Carlos Zem.
Aos colegas que apimentaram os debates em sala de aula.
Cabe agradecer ainda aos que nesta travessia me acompanham. De início
ao IPARDES, e com ele tudo o que consegui apreender, discutir, analisar e defender
com todas e todos os meus companheiros de trabalho nestes 25 anos de casa:
desde o aprendizado de uma língua ao entendimento de complexos sistemas de
saberes holísticos que incentivaram e ampliaram a visão que hoje tenho do mundo.
A toda a equipe de Turismo do IPARDES com quem juntos foi construída uma nova
forma de olhar a atividade no Estado.
Os novos colegas e amigos da Secretaria de Estado do Turismo, da Paraná
Turismo e da Ecoparaná, que me acolheram, me abriram seus corações e a
entusiasmada visão do turismo rural para contrapor com os pontos de vista que ora
se expressam nesta pesquisa, mencionar um deles faria com que faltasse com todos
e todas. Aos colegas e defensores do desenvolvimento rural da SEAB e da EMATER,
em especial a Ednei Nascimento e Clarice Bastarz, Antonio Miglioransa e João
Lazinho Neto. Aos técnicos gestores municipais do Fórum Metropolitano com quem
descobri que o exército do bem é muito maior daquilo que pensava.
À nonna Julia, por ser fonte de inspiração. Aos meus irmãos Arturo, Magaly
y Juana Alicia e com eles os meus irmãos de opção Adelar, Cleide e Jorge, Larry e
Berna, que resistem na batalha cotidiana de conjugar em todos os tempos verbais
nossa amizade.
Ao Jose Arthur e ao Victor Miguel, o amor que me prezam é o meu leme.
Dou graças a Deus a cada dia por tê-los, por sabê-los homens que partilham como
eu do desejo de um mundo melhor.
À Iara, a cada dia que acordo, fico feliz por saber-te a meu lado. De ti admiro
o empenho e a entrega profunda como ser humano e companheira. Admiro teu
amoroso desejo de crescer e me fazer crescer desafiando o tempo, os percalços da
vida, estimulando o que há de melhor em mim para romper barreiras. Eu sei que
amar você é meu bem maior. Meu prêmio.
A Deus, porque não me alcança a vida para agradecer o que sou.
RESUMO
Na visão do espaço rural, o turismo vem sendo cada vez mais utilizado como uma dasocupações não agrícolas dentro do chamado novo rural, passando a formar parte daspolíticas públicas para o desenvolvimento rural. Também vem sendo pauta daspolíticas públicas para o desenvolvimento do turismo a partir das políticas deregionalização e segmentação do turismo implementadas pelo Ministério do Turismo.Com base nos conceitos de região, apresentam-se algumas das visões dos autoresque fundamentaram a análise das políticas públicas de regionalização do turismo;políticas que foram aplicadas no estudo de caso da organização do espaço turísticorural na Região Metropolitana de Curitiba, chamado de Região Turística das Rotas doPinhão. A seguir, faz-se a revisão de conceitos do rural, ruralidade, dodesenvolvimento e do desenvolvimento rural e o papel do turismo rural nessecontexto. Foram identificados os principais agentes envolvidos na implementação daspolíticas do turismo e do desenvolvimento rural na Região Metropolitana de Curitiba eo papel que desempenharam na construção do turismo rural recuperando a linha dotempo, resgatando a análise do espaço rural metropolitano onde interagem elementosde contraste da realidade econômica, social e ambiental dos municípios da Regiãoque acumulam fortes assimetrias no desenvolvimento territorial. Complementou-seesse quadro com o resultado das pesquisas realizadas entre os gestores. Umaquantitativa, com questionário fechado dirigido para os extensionistas rurais quetrabalharam na Região Metropolitana de Curitiba e que declararam seu envolvimentocom as práticas de ocupações rurais não agrícolas, dentre das quais o turismo rural.Outra pesquisa foi qualitativa, com os agentes das esferas federal, estadual emunicipal envolvidos com o planejamento, a gestão e a implementação das políticaspúblicas do turismo rural na RMC. Conclui-se com um balanço da organização egestão institucional das políticas públicas para o turismo rural metropolitano, e seaponta que boa parte das distorções e assimetrias entre municípios é reforçada peloviés fortemente setorial do gestor da política in loco e pela falta de integração entreentidades que disputam projetos, recursos e atores. As considerações finais dotrabalho destacam que, além dos vieses setoriais, a falta de articulação doplanejamento e gestão das políticas públicas no espaço rural metropolitano foiresultado da limitada atuação do Estado. Faltou uma ação mais efetiva quepermeasse as diversas escalas na organização territorial segundo a definição dosobjetivos propostos de implementação das políticas do turismo rural em torno de umavisão do desenvolvimento e não apenas na produção de circuitos e produtos.
Palavras-chave: Região. Regionalização. Desenvolvimento. Turismo Rural. NovoRural. Políticas Públicas.
RESUMEN
En la visión del espacio rural, el turismo cada vez más es utilizado como una de lasocupaciones no agrícolas dentro del llamado nuevo rural pasando a formar parte delas políticas públicas para el desarrollo rural. A partir de las políticas de regionalizacióny segmentación de turismo implementadas por el Ministerio del Turismo, también sepautan las políticas públicas para el desarrollo del turismo. Con base en los conceptosde región, se presentan algunas visiones de los autores que fundamentaran el análisisde las políticas públicas de regionalización del turismo, políticas que fueron aplicadasen el estudio de caso de la organización del espacio turístico rural en la RegiónMetropolitana de Curitiba, llamado de Región Turística de las Rutas del Piñon. Aseguir, se hizo la revisión de conceptos como: rural, ruralidad, desarrollo y deldesarrollo rural y el papel del turismo rural en ese contexto. Fueron identificados losprincipales agentes involucrados en la implementación de las políticas de turismo y dedesarrollo rural en la Región Metropolitana de Curitiba y el rol que desempeñan en laconstrucción del turismo rural recuperando la línea del tiempo, rescatando el análisisdel espacio rural metropolitano, donde interactúan elementos de contraste de larealidad económica, social y ambiental de los municipios de la Región que acumulanfuertes asimetrías en el desarrollo territorial. Se complementó ese cuadro con elresultado de las encuestas realizadas entre los gestores. Una cuantitativa, concuestionario cerrado dirigido a los extensionistas rurales que trabajan en la RegiónMetropolitana de Curitiba y que declararan su compromiso con las prácticas deocupaciones rurales no agrícolas, entre la cuales el turismo rural. Una otra encuestafue cualitativa con los agentes de las esferas federal, estadual y municipalinvolucrados con la planificación, gestión e implementación de las políticas públicasdel turismo rural en la Región Metropolitana de Curitiba. Se concluye con un balancede la organización y gestión institucional de las políticas públicas para el turismo ruralmetropolitano donde se apunta que gran parte de las distorsiones y asimetrías entremunicipios son reforzadas por el fuerte sesgo sectorial del gestor de la política in locoy por la falta de integración entre entidades que disputan proyectos, recursos yactores. Las consideraciones finales del trabajo destacan que además de los viesessectoriales, la falta de articulación de la planificación y gestión de las políticas públicasen el espacio rural metropolitano fue resultado de la limitada actuación del Estado. Hafaltado una acción más efectiva que permease las distintas escalas en la organizaciónterritorial, segundo la definición de los objetivos propuestos de implementación de laspolíticas del turismo rural en torno de una visión del desarrollo y no solo en laproducción de circuitos y productos.
Palabras-clave: Región. Regionalización. Desarrollo. Turismo Rural. Nuevo Rural.Políticas Públicas.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS .......................... 73
FIGURA 2 - CICLO DE IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS.............................. 77
FIGURA 3 - PROGRAMAS E FUNÇÕES NO PLANEJAMENTO DO TURISMO
DO BRASIL .......................................................................................................... 95
FIGURA 4 - DIRETRIZES OPERACIONAIS DO PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO
DO TURISMO NO BRASIL .................................................................................. 98
FIGURA 5 - TURISMO NO ESPAÇO RURAL, SEGUNDO MTUR .......................................... 110
FIGURA 6 - IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS TOP-DOWN (DE CIMA
PARA BAIXO)....................................................................................................... 120
FIGURA 7 - IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS BOTTOM-UP (DE BAIXO
PARA CIMA) ........................................................................................................ 121
FIGURA 8 - LINHA DO TEMPO DO MARCO NORMATIVO DO TURISMO PARANAENSE...... 129
FIGURA 9 - ORGANOGRAMA DO SISTEMA PÚBLICO DO TURISMO DO ESTADO
DO PARANA ........................................................................................................ 131
FIGURA 10 - ÁREAS ESTRATÉGICAS E MACROPROGRAMAS DO TURISMO DO
ESTADO PARANÁ - 2007-2010........................................................................... 137
FIGURA 11 - REGIÕES TURÍSTICAS DO ESTADO DO PARANÁ - 2004-2011....................... 139
FIGURA 12 - MATERIAL DE APOIO PRODUZIDO PARA O TURISMO RURAL...................... 145
FIGURA 13 - ECOPARANÁ - IV ENCONTRO ESTADUAL DE TURISMO RURAL NA
AGRICULTURA FAMILIAR 1 E 2 ......................................................................... 145
FIGURA 14 - CAPA DO PROGRAMA DO TURISMO RURAL DO PARANÁ ............................ 153
FIGURA 15 - ROTAS DO PINHÃO - LOGOMARCA E PROPOSTA DE TRABALHO................... 161
FIGURA 16 - ROTAS DO PINHÃO - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS, SEBRAE/PR.................. 164
FIGURA 17 - ROTAS DE PINHÃO - PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS ...................................... 165
FIGURA 18 - EIXOS DO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO RURAL NA RMC ................... 179
FIGURA 19 - MODELO DE LUNDGREN DE EXPANSÃO URBANA E AS SEGUNDAS
RESIDÊNCIAS - 1974 .......................................................................................... 191
LISTA DE MAPAS
MAPA 1 - LOCALIZAÇÃO DO PARANÁ, A REGIÃO METROPOLITANA DE
CURITIBA E O NÚCLEO URBANO CENTRAL (NUC)............................................. 45
MAPA 2 - MAPEAMENTO DO TURISMO RURAL NO ESTADO DO PARANÁ, 2006................. 144
MAPA 3 - PARANÁ E REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA ......................................... 178
MAPA 4 - MANCHA URBANA E ADENSAMENTO URBANO METROPOLITANO NO
NÚCLEO URBANO CENTRAL DA RMC.................................................................. 181
MAPA 5 - NÚCLEO URBANO CENTRAL E MUNICÍPIOS PESQUISADOS NA
CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO NA RMC ....................................................... 201
MAPA 6 - ROTEIROS TURÍSTICOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA................ 218
MAPA 7 - CIRCUITOS DE TURISMO RURAL NA RMC, EMATER/PR ................................... 219
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DOS INVESTIMENTOS PÚBLICOS
DO ESTADO DO PARANÁ SOBRE O TOTAL GERAL INVESTIDO NAS
UNIDADES DA FEDERAÇÃO........................................................................... 170
GRÁFICO 2 - TAXA DE CRESCIMENTO CURITIBA, RMC, PARANÁ, BRASIL - 2010.......... 183
GRÁFICO 3 - DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO SEGUNDO REGIÕES METROPOLI-
TANAS DO PARANÁ - 2010 ............................................................................. 184
GRAFICO 4 - ÍNDICE IPARDES DE DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL E LINHA DE
TENDÊNCIA DOS MUNICIPIOS DA ROTAS DO PINHÃO - RMC,
PARANÁ - 2008................................................................................................. 185
GRÁFICO 5 - PESSOAL OCUPADO NOS EMPREENDIMENTOS RURAIS
PESQUISADOS NA ROTAS DO PINHÃO - 2006 ............................................. 203
GRÁFICO 6 - FORMAS DE ADMINISTRAÇÃO E CONDIÇÃO DE POSSE DOS
EMPREENDIMENTOS RURAIS DA ROTAS DO PINHÃO - 2006 .................... 204
GRÁFICO 7 - ANO DE INÍCIO DAS ATIVIDADES NOS EMPREENDIMENTOS
RURAIS PESQUISADOS NA ROTAS DO PINHÃO - 2006............................... 205
GRÁFICO 8 - DIFICULDADES NA ADMINISTRAÇÃO NOS EMPRENDIMENTOS
RURAIS DA ROTAS DO PINHÃO - 2006.......................................................... 206
GRÁFICO 9 - ATIVIDADES DO SEGMENTO NÃO REGULAMENTADAS ............................. 226
GRÁFICO 10 - INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO................................................................... 227
GRÁFICO 11 - ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL..................................................................... 228
GRÁFICO 12 - FALTA DE INCENTIVOS AO TURISMO RURAL.............................................. 229
GRÁFICO 13 - PERCEPÇÃO SOBRE A CAPACITAÇÃO PARA O TURISMO RURAL............ 229
GRAFICO 14 - NÍVEL DE ENVOLVIMENTO DAS COMUNIDADES LOCAIS........................... 230
GRÁFICO 15 - PRECARIEDADE DA INFRAESTRUTURA DA REGIÃO ROTAS DOS
TROPEIROS ..................................................................................................... 231
GRÁFICO 16 - POLITICA PUBLICA DE INFRAESTRUTURA .................................................. 232
GRÁFICO 17 - PROMOÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO .............................................................. 233
GRÁFICO 18 - PROGRAMAS QUE ALAVANCAM TURISMO RURAL..................................... 234
GRÁFICO 19 - O QUE SE ESPERA DO FUTURO DO TURISMO RURAL (%) ........................ 234
GRÁFICO 20 - PRINCÍCPIOS DO DESENVOLVIMENTO RECONHECIDO PELOS
GESTORES DOS MUNICÍPIOS PESQUISADOS............................................. 251
GRÁFICO 21 - ABORDAGEM DO TURISMO RURAL NOS MUNICIPIOS, SEGUNDO
RESPOSTA DOS GESTORES PESQUISADOS, RMC ................................... 259
GRÁFICO 22 - PROGRAMAS QUE ALAVANCARAM O TURISMO RURAL NAS
ROTAS DO PINHÃO, SEGUNDO GESTORES MUNICIPAIS
ENTREVISTADOS ............................................................................................ 263
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - EVOLUÇÃO DO PROJETO TURISMO RURAL DA EMATER/PR NA
RMC - 2004-2011 ................................................................................................. 148
TABELA 2 - PERFIL DO ATENDIMENTO DO TURISMO RURAL NAS PROPRIE-
DADES DA RMC, ANO AGRÍCOLA - 2010/2011................................................. 149
TABELA 3 - PÚBLICO DO PROJETO TURISMO DA EMATER/PR POR CATEGORIA
ATENDIDA, RMC - 2010-2011............................................................................. 150
TABELA 4 - SÍNTESE DO ACOMPANHAMENTO DO PROJETO TURISMO RURAL
DA EMATER/PR - RMC - 2010-2011 ................................................................... 151
TABELA 5 - DESPESAS REALIZADAS POR FUNÇÕES - ESTADO DO PARANÁ -
2002/2006/2010.................................................................................................... 168
TABELA 6 - PARTICIPAÇÃO DA SETU NO TOTAL DAS DESPESAS REALIZADAS -
ESTADO DO PARANÁ - 2003/2006/2010............................................................ 169
TABELA 7 - RANKING DO PIB DO ESTADO DO PARANÁ - 2009......................................... 186
TABELA 8 - EVOLUÇÃO E PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DO PRODUTO INTERNO
BRUTO A PREÇOS CORRENTES - PARANÁ E RMC - 2002-2009 ................... 187
TABELA 9 - RESUMO DOS MUNICÍPIOS CLASSIFICADOS, SEGUNDO TAMANHO
DA POPULAÇÃO E DENSIDADE DEMOGRÁFICA NA REGIÃO
TURÍSTICA DA RMC, 2010 ................................................................................. 189
TABELA 10 -DOMICÍLIOS PARTICULARES NÃO OCUPADOS, DE USO OCASIONAL,
TOTAL E NA ÁREA RURAL DA RMC - 1991/2000/2010..................................... 190
TABELA 11 -NÚMERO E VARIAÇÃO PERCENTUAL DOS CONSUMIDORES RURAIS
DE ENERGIA ELÉTRICA, ROTAS DO PINHÃO, RMC, PARANA -
2002/2010 ............................................................................................................ 193
TABELA 12 -NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS, SEGUNDO
CONDIÇÃO DO PRODUTOR EM RELAÇÃO À AGRICULTURA
FAMILIAR - BRASIL, REGIÃO SUL E PARANÁ - 2006 ....................................... 196
TABELA 13 -NÚMERO E PERCENTUAL DE ESTABELECIMENTOS AGROPE-
CUÁRIOS DA AGRICULTURA FAMILIAR E NÃO FAMILIAR QUE
OBTIVERAM RECEITAS NO TURISMO RURAL - 2006 ..................................... 197
TABELA 14 -NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS, SEGUNDO
CONDIÇÃO DO PRODUTOR EM RELAÇÃO À AGRICULTURA
FAMILIAR, PARANÁ E MESORREGIÃO GEOGRÁFICA
METROPOLITANA DE CURITIBA - 2006 ............................................................ 197
TABELA 15 -NÚMERO E PARTICIPAÇÃO PORCENTUAL DE ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS QUE OBTIVERAM RECEITAS NO ANO, TOTAL E
DA ATIVIDADE, DE TURISMO RURAL - PARANÁ - 2006 .................................. 198
TABELA 16 -PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS NOS ESTABELECIMENTOS
PESQUISADOS DE MEIOS DE HOSPEDAGEM E SERVIÇOS DE
ALIMENTAÇÃO - CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO - ROTAS DO
PINHÃO, RMC PARANÁ - 2006........................................................................... 202
TABELA 17 -NÚMERO DE PROPRIEDADES ATENDIDAS PELOS EXTENSIONISTAS
DA EMATER/PR NA RMC, SEGUNDO TIPO DE ATIVIDADE
DEMANDADA - 2010 ........................................................................................... 223
TABELA 18 -PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DO NÚMERO DE PROPRIEDADES
ATENDIDAS PELOS EXTENSIONISTAS DA EMATER /PR NA RMC,
SEGUNDO TIPO DE ATIVIDADE DEMANDADA - 2010 ..................................... 224
TABELA 19 -MATRIZ DAS AÇÕES DO MDA NO VALE DO RIBEIRA, ESTADO DO
PARANÁ, 2009..................................................................................................... 242
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - LINHA DO TEMPO DAS INSTÂNCIAS DE GESTÃO DO TURISMO
NO BRASIL........................................................................................................ 85
QUADRO 2 - CARATERÍSTICAS DOS SISTEMAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS DO
TURISMO NO BRASIL ...................................................................................... 87
QUADRO 3 - CARACTERÍSTICAS DE PROCESSOS DE GESTÃO DAS POLÍTICAS
PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL......................................... 119
QUADRO 4 - LINHA DO TEMPO DAS INSTÂNCIAS DE GESTÃO DO TURISMO NO
ESTADO DO PARANÁ ...................................................................................... 130
QUADRO 5 - POLÍTICAS E PROGRAMAS DA SECRETARIA DO TURISMO DO
ESTADO DO PARANÁ - 2003-2006 E 2007-2010 ............................................ 137
QUADRO 6 - LINHA DO TEMPO DO TRAF(1) NACIONAL E AÇÕES DA ECOPARANA ....... 140
QUADRO 7 - RESULTADOS DO PROJETO TURISMO RURAL NA AGRICULTURA
FAMILIAR NO PARANÁ - 2010 ......................................................................... 142
QUADRO 8 - EMATER AÇÕES REALIZADAS DO TURISMO RURAL ATÉ O ANO DE
2007................................................................................................................... 151
QUADRO 9 - PROJETOS E PROPOSTAS A SEREM DESENVOLVIDAS PELA
COMEC/EMATER/PR........................................................................................ 158
QUADRO 10 - RESULTADOS COMPARATIVOS DA ROTAS DO PINHÃO............................. 164
QUADRO 11 - AGENTES E INSTITUIÇÕES PROMOTORAS DO DESENVOL-
VIMENTO REGIONAL E LOCAL....................................................................... 214
QUADRO 12 - VELHOS E NOVOS PARADIGMAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
DE TURISMO NO BRASIL: PROPOSTA DE TRABALHO COM
FOCO NA RMC ................................................................................................. 215
QUADRO 13 - RELAÇÃO DOS MUNICÍPIOS QUE PARTICIPAM ATIVAMENTE NA
ROTAS DO PINHÃO - RMC - 2011 ................................................................... 266
LISTA SIGLAS
ABAV - Associação Brasileira de Agências de Viagens
ABBTUR - Associação Brasileira de Bacharéis em Turismo
ABEOC - Associação Brasileira de Empresas de Eventos
ABETA - Associação Brasileira das Empresas de Turismo de Aventura
ABIH - Associação Brasileira da Indústria Hoteleira
ABRACCEF - Associação Brasileira de Centros de Convenções e Feiras
ABRASEL - Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
ABRATURR - Associação Brasileira de Turismo Rural
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BRAZTOA - Associação Brasileira das Operadoras de Turismo
CCVB - Curitiba Convention and Visitors Bureau
CEPAL - Comissão Econômica para América Latina e Caribe
CMDR - Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural
CNC - Confederação Nacional do Comércio
CNM - Confederação Nacional dos Municípios
CNT - Conselho Nacional de Turismo
CONDRAF - Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável
DESER - Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais
DTR - Desenvolvimento territorial rural
ECOPARANA - Serviço Social Autônomo
EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo
FBAJ - Federação Brasileira dos Albergues da Juventude
FBC&VB - Federação Brasileira de Convention & Visitors Bureaux
FENACTUR - Federação Nacional de Turismo
FENAGTUR - Federação Nacional dos Guias de Turismo
FNHRBS - Federação Nacional de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares
FOHB - Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil
FORNATUR - Fórum Nacional dos Secretários e Dirigentes Estaduais de Turismo
INFRAERO - Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária
IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
MAPA - Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento
MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário
MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
MI - Ministério da Integração Nacional
MINC - Ministério da Cultura
MMA - Ministério do Meio Ambiente
MPOG - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
MRE - Ministério das Relações Exteriores
MT - Ministério dos Transportes
MTE - Ministério do Trabalho e do Emprego
MTUR - Ministério do Turismo
MTur - Ministério do Turismo
OMT - Organização Mundial de Turismo
PDITS - Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PRONAT - Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de
Territórios Rurais
PTDRS - Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável
ROP - Regulamento Operacional do Programa
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SENAC - Serviço Nacional do Comércio
SETU - Secretaria de Estado do Turismo do Paraná
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 20
1 REGIÃO, REGIONALIZAÇÃO NO TURISMO RURAL E A IMPLEMENTAÇÃO
DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA CONSTRUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO .......... 27
1.1 ALGUMAS PROPOSTAS DE ANÁLISE DE REGIÃO E REGIONALIZAÇÃO ............ 29
1.1.1 Regionalização......................................................................................................... 38
1.1.2 Região e regionalização no Paraná ......................................................................... 42
1.2 DESENVOLVIMENTO, DESENVOLVIMENTO RURAL E TURISMO NO
ESPAÇO RURAL......................................................................................................... 46
1.2.1 Desenvolvimento...................................................................................................... 46
1.2.2 Desenvolvimento rural.............................................................................................. 60
1.3 POLÍTICAS PÚBLICAS DO TURISMO ....................................................................... 70
1.3.1 Uma revisão da literatura sobre as políticas públicas e o turismo ........................... 72
1.3.2 O processo de formulação da política pública do turismo no Brasil......................... 81
1.3.3 A implementação das políticas públicas do turismo................................................. 84
1.3.3.1 Os Planos Nacionais do Turismo - PNT: período 2003-2006, 2007-2011 ............ 94
1.3.3.2 O Programa nacional de regionalização do turismo - 2003-2010 ......................... 97
1.3.3.3 O turismo rural na política de regionalização turística........................................... 106
1.3.3.4 O turismo nas diretrizes do desenvolvimento rural: dicotomia rural-urbano
e a pluriatividade ................................................................................................... 111
1.3.4 Da agricultura para a política pública do turismo rural ............................................. 114
1.3.5 Conclusões do capítulo ............................................................................................ 127
2 POLÍTICAS DE TURISMO RURAL NO PARANÁ E NA RMC .................................... 129
2.1 O TURISMO NO ESTADO DO PARANÁ: OS AGENTES DA POLÍTICA PÚBLICA
DO TURISMO RURAL E A DESCENTRALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS ....................... 129
2.1.1 Sistema Secretaria de Estado do Turismo - SETU .................................................. 129
2.1.2 Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER............ 146
2.1.3 Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná (SEAB) ............................... 152
2.1.4 Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba - COMEC................................. 154
2.1.5 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) ................ 159
2.2 COORDENAÇÃO E COOPERAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS ........................... 166
2.3 BALANÇO DA POLÍTICA PÚBLICA DO TURISMO RURAL METROPOLITANO
NA REGIÃO ROTAS DO PINHÃO .............................................................................. 171
2.4 DESENVOLVIMENTO (TERRITORIAL) E TURISMO RURAL NO ESPAÇO
METROPOLITANO - ROTAS DO PINHÃO................................................................. 174
2.4.1 A modernização conservadora na RMC e as rotas do pinhão................................. 177
2.4.2 Assimetrias e heterogeneidades da região turística rotas do pinhão....................... 182
2.4.3 O turismo no rural metropolitano segundo os dados do censo agropecuário.......... 194
2.4.4 A cadeia produtiva do turismo nas rotas do pinhão: os estabelecimentos de
meios de hospedagem e serviços de alimentação no espaço rural metropolitano ......... 200
2.5 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO ................................................................................... 207
3 RESULTADOS DA PESQUISA: LEITURA E AVALIAÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO
DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DO TURISMO RURAL NA RMC A PARTIR
DOS GESTORES ......................................................................................................... 211
3.1 METODOLOGIA DA PESQUISA DE CAMPO ............................................................ 211
3.1.1 Análise comparativa de dados e levantamento de campo....................................... 211
3.2 VISITAS DE CAMPO: A REPRESENTATIVIDADE DO TURISMO NO ESPAÇO
RURAL NO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA... 216
3.3 PESQUISA DE CAMPO COM EXTENSIONISTAS DA EMATER............................... 225
3.4 ANÁLISE DO RESULTADO DAS ENTREVISTAS QUALITATIVAS ........................... 237
3.4.1 Região e regionalização no turismo rural e o desenvolvimento (regional,
territorial) - uma visão desde as esferas federal e estadual..................................... 239
3.4.2 A visão dos gestores municipais em torno do desenvolvimento e do turismo rural ... 250
3.4.3 A gestão institucional e a dimensão espacial. a governança e o turismo rural
vista pelos agentes federais e estaduais ................................................................. 254
3.4.4 A gestão institucional e integrada do anel de turismo rural na RMC: a visão
dos gestores municipais........................................................................................... 256
3.4.5 Infraestrutura, mercado e identidade local: o descompasso.................................... 260
3.5 BALANÇO DA GESTÃO DO TURISMO NA REGIÃO TURÌSTICA DAS ROTAS
DO PINHÃO NOS MUNICÍPIOS DO NÚCLEO URBANO CENTRAL......................... 263
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 268
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 288
APÊNDICE 1 - TABELAS REGIÃO METROPOLITANA .................................................. 321
APÊNDICE 2 - FORMULÁRIOS DE PESQUISA............................................................... 345
ANEXO 1 - LEGISLAÇÃO E NORMATIZAÇÃO DO TURISMO RURAL NO BRASIL ..... 355
20
INTRODUÇÃO
Esta dissertação tem como objeto de estudo o turismo rural no desenvol-
vimento do espaço metropolitano, com ênfase na análise da implementação das
políticas públicas na Região Turística das Rotas do Pinhão na Região Metropolitana
de Curitiba - RMC, no período entre 2003 e 2010. A Região Turística Rotas do
Pinhão abrange uma área de 16.578 km2, que corresponde a perto de 8,3% do
território estadual, fazendo divisa com as regiões turísticas Litoral, Campos Gerais e
Centro-Sul sendo constituída por 29 municípios1.
A dissertação buscou analisar categorias básicas de análise capazes de
expressar o fenômeno turístico na área rural metropolitana como um instrumento
para o desenvolvimento, dentro da política pública do turismo e das políticas para o
desenvolvimento rural, e assim entender o papel exercido pelos agentes em suas
múltiplas escalas no fortalecimento da região e da regionalização do turismo.
A partir da década de 1990, o turismo rural veio a reboque das novas
ruralidades que se conformaram em torno da pluriatividade na agricultura familiar
(SILVA, 2000), incentivado por programas específicos no Estado (COMEC, 1996). Os
processos de esvaziamento demográfico do campo, a proletarização da mão de obra
e a diminuição da participação da agricultura no Produto Interno Bruto-PIB
(FERREIRA, 1999) levaram muitas instituições de pesquisa e centros acadêmicos a
1 Esta dissertação usará indistintamente como equivalente o nome Rotas do Pinhão e Região
Metropolitana de Curitiba – RMC. A Região Metropolitana de Curitiba está quase totalmente
localizada no Primeiro Planalto Paranaense composta pelos municípios de Adrianópolis, Agudos do
Sul, Almirante Tamandaré, Araucária, Balsa Nova, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul,
Campo do Tenente, Campo Largo, Campo Magro, Cerro Azul, Colombo, Contenda, Curitiba, Doutor
Ulysses, Fazenda Rio Grande, Itaperuçu, Lapa, Mandirituba, Piên, Pinhais, Piraquara, Quatro
Barras, Quitandinha, Rio Branco do Sul, Rio Negro, São José dos Pinhais, Tijucas do Sul e Tunas
do Paraná. A RMC apresenta como principais divisores naturais geográficos; a sudoeste a Serra da
Escarpa Devoniana, alcançando as bordas do Segundo Planalto Paranaense, e a leste a Serra do
Mar, divisor com a planície litorânea. Faz fronteira ao norte com o Estado de São Paulo e ao sul
com o de Santa Catarina. Mais detalhes sobre as Rotas do Pinhão, consultar SETU (2008), Plano
Estratégico de Desenvolvimento do Turismo Regional 2008-2011 em: http://www.setu.pr.gov.br/
arquivos/File/Planos/PlanoRotasdoPinhaoCuritibaeRegiaoMetropolitana.pdf
21
enxergar esses fatos como o fim da pequena produção familiar no Brasil. No caso
específico da RMC, o êxodo de grandes contingentes de população, notadamente do
rural para as cidades da RMC provocou o governo da época, a desenhar propostas
para sistematizar o uso e a ocupação do solo no entorno geográfico e, ao mesmo
tempo, promover um sistema de proteção das bacias hidrográficas que abastecem
de água a metrópole (COMEC, 1978, 1982, 2002, 2006).
A análise do turismo no espaço rural da Região Metropolitana de Curitiba ilustra
a relevância adquirida pela atividade ao longo dos últimos anos, como alternativa de
renda nas pequenas propriedades da agricultura familiar da região, e a capacidade de
incorporar mão de obra, acomodados na complementação de renda da pluriatividade.
Segundo o Censo Demográfico de 2010, os 29 municípios da Região Metropolitana de
Curitiba, com uma população total de 3.223.836 habitantes, representam 30,8% da
população urbana do Estado do Paraná. A RMC apresenta contrastes que combinam o
aglomerado urbano mais importante do Estado (Curitiba) com os municípios de maior
pobreza (Vale do Ribeira). Desses habitantes, 2.9 milhões estão nas cidades, que
representam uma taxa de urbanização de 92%. Há uma combinação de espacialidades
socialmente críticas com outras de extrema relevância econômica e institucional; entre
seus municípios, há alguns com elevado grau de desenvolvimento enquanto outros
caminham para descobrir a sua vocação (IPARDES, 2004). Na década de 1991-2000, o
crescimento da população da RMC foi acima de 3%, enquanto nos últimos dez anos,
entre 2000 e 2010, a taxa diminuiu para 1,36% (IPEA, 2011).
Esta dissertação buscou identificar se o turismo rural representa uma
oportunidade para o desenvolvimento de pequenos produtores rurais na RMC. Parte-se
da tese defendida por alguns autores (ALMEIDA e RIEDL, 2000; SILVEIRA, 2009) de que
a defesa do segmento não pode ser encarada como panaceia do desenvolvimento, em
localidades onde nenhum outro segmento econômico é capaz de produzir excedente
econômico para a reprodução do capital. Essa relação não é possível ser generalizada
como uma verdade tautológica na RMC, onde a relação com o espaço regional
assume contornos mais complexos, por isso a gestão institucional, o desenvolvimento
22
de modelos de gestão local e a formatação de produtos não garantem individualmente
o desenvolvimento de mercados turísticos, como base para o desenvolvimento da
atividade na região.
O alcance dos objetivos a que os processos de desenvolvimento se propõem,
está relacionado ao empoderamento dos atores que usam e atuam sobre o território,
e isso se dá em diferentes escalas, o que é definido por Brandão (2007) como ação
transescalar. O desenvolvimento deve ser visto como um conjunto de ações,
mecanismos, estratégias e políticas endógenas, desencadeadas por atores local-
regionais em interação com as demais escalas de poder e gestão, reforçando e
constituindo articulações por meio de novos usos políticos e econômicos do espaço
regional. É neste cenário de multidimensionalidade de agentes, atores e escalas que se
analisará a Região Turística Rotas do Pinhão onde são identificáveis diversos tipos de
comportamentos de mercado na atividade da cadeia produtiva do turismo (IPARDES,
2008, 2008a), estabelecendo relações diretas e configurando o espaço regional.
Como objetivo geral se propôs caracterizar a relação entre turismo, políticas
públicas e o desenvolvimento na Região Metropolitana de Curitiba (Região Turística –
Rotas do Pinhão), a partir da avaliação da política de regionalização para o turismo
rural no Estado do Paraná.
Como desdobramento do objetivo geral, foram traçados os seguintes
objetivos específicos:
1. Em primeiro lugar, analisar e avaliar a produção e as práticas de desenvol–
vimento do turismo rural por meio das políticas públicas setoriais do turismo
rural do Ministério do Turismo - MTUR, e da visão dos agentes nas escalas
estadual e municipal, identificando pontos de convergência e fragilidade no
desenvolvimento da regionalização do turismo rural metropolitano;
2. Em segundo lugar, decompor a implementação das políticas públicas
para o turismo rural a partir da visão dos agentes nas escalas federal,
estadual e municipal, e conhecer o papel que os agentes exerceram no
incentivo à pluriatividade por meio das políticas públicas setoriais do
meio rural e do turismo. E,
23
3. Em terceiro lugar, identificar o papel do Estado e dos agentes regionais
no turismo rural das Rotas do Pinhão, o papel das escalas de
participação e o processo de regionalização à luz do desenvolvimento
(territorial) mediante as práticas de turismo rural.
As hipóteses de trabalho buscaram focalizar principalmente o papel dos
agentes do processo e a influência que estes tiveram na forma de implementação
das políticas públicas para o turismo rural na região turística Rotas do Pinhão. Na
produção e implementação das políticas públicas para o turismo rural por parte dos
agentes federais, estaduais e municipais, não houve integração dos objetivos
pautados para o desenvolvimento rural, mas tampouco para o desenvolvimento do
turismo no espaço rural.
Para entender melhor os diversos percalços desse processo, os atores
(empreendedores e a comunidade) foram apenas identificados sempre que necessário,
não se adentrando na formatação dos roteiros turísticos, tampouco em como os proprie-
tários rurais e empreendedores participaram ativamente desses roteiros turísticos.
O Programa de Regionalização do Turismo (MTUR, 2004) da atual Política
Nacional do Turismo contemplou a consecução do desenvolvimento local e regional
mediante a regionalização com foco no "planejamento coordenado e participativo".
Dessa forma, a proposta adotou o conceito de região turística como referência
espacial, na qual se inserem os produtos turísticos, para superar a visão setorial,
segmentada, unidimensional. A região se integra ao olhar sistêmico que foca as
inter-relações entre os setores (turismo e os demais), as relações entre as diferentes
partes do território (dentro da mesma região) na procura de dar oportunidade de se
desenvolverem em todas as partes.
No período de análise da implementação da política pública para o turismo
rural, entre 2003 e 2010 nas Rotas do Pinhão, considerou-se que os propósitos
estabelecidos na política nacional do turismo não foram devidamente entendidos
pelos agentes das políticas públicas no Estado do Paraná. Houve um descompasso
24
entre as políticas públicas setoriais para o desenvolvimento do turismo rural, princi-
palmente aquelas dirigidas para a agricultura familiar e amparadas pelo programa
nacional da agricultura familiar - PRONAF e a implementação (ou não) das políticas
públicas do MTUR, do turismo no espaço rural.
Mesmo sendo um dos estados pioneiros no desenvolvimento do turismo
rural do Brasil, o turismo rural não obteve o resultado esperado. No caso específico
da Região Metropolitana de Curitiba e das Rotas do Pinhão, o papel exercido pelos
agentes na região turística durante o processo de consolidação das redes e roteiros
turísticos e as intervenções (escalar) na implementação da política pública do
turismo rural foi pontual ficando assentadas em questões setoriais, econômicas e
mantendo a desarticulação nos resultados alcançados.
A metodologia adotada pela pesquisa foi de estudo de caso com análise
exploratória do processo de desenvolvimento do turismo rural na RMC, buscando
identificar os instrumentos das políticas foram realizadas as seguintes etapas:
Levantamento das informações secundárias. Análise das fontes secundárias
disponíveis referentes a algumas variáveis espaciais como: a população e migração;
a infraestrutura; o sistema produtivo; os diagnósticos do Plano de Desenvolvimento
Institucional (PDI) da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC).
Foram também considerados os dados do IPARDES relativos às leituras regionais, à
cadeia produtiva do turismo e os dados do censo agropecuário do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), que contribuíram na construção do ponto de
partida necessário para aprofundar a análise qualitativa.
Outro grupo de informações secundárias foram os dados do planejamento
monitorados pela SETU, e o último levantamento permitiu a comparação entre os
anos de 2005, 2008 e 2010. Embora não utilizados, também foram analisados os
planos diretores e os resultados da conferência metropolitana promovida pelo
Ministério das Cidades e Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano (SEDU).
Análise Comparativa de Dados. Levantamento dos dados oficiais da
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), anos 2009 e 2010.
25
Dados de consumo de energia elétrica na área rural - Companhia Paranaense de
Energia (COPEL). Censo Agropecuário 2006, do IBGE. Tabulações especiais para
estabelecimentos do turismo rural; pesquisa da Cadeia Produtiva do Turismo do
Estado do Paraná, para a RMC (IPARDES, 2008b).
O levantamento de campo se iniciou com visita aos municípios prelimi-
narmente demarcados com base no critério de distância dos centros turísticos. Este
trabalho foi realizado em dois momentos, março e novembro de 2010, com a
identificação dos elementos turísticos nos municípios contemplados na pesquisa.
Nas entrevistas, os instrumentos de coleta foram de dois tipos: questionários e
entrevistas, que serão relacionados no capítulo correspondente.
Partindo dessa metodologia, os resultados dos estudos realizados estão
estruturados em quatro capítulos. O primeiro capítulo trata dos conceitos de região,
delimitando a problemática, salientando a importância da formulação do conceito e
apresentando algumas das concepções mais conhecidas e que serviram de base
para a definição das políticas públicas de regionalização do turismo, políticas que
foram aplicadas na organização do espaço turístico rural na RMC.
No segundo capítulo são apresentados os dados que identificam a oferta
turística e os equipamentos do espaço rural metropolitano para contrastar com a
realidade econômica, social e ambiental dos municípios da Região que acumulam
fortes assimetrias no desenvolvimento territorial. Complementa-se o capítulo com um
resumo da observação de campo e a tabulação especial dos dados relativos aos
empreendimentos turísticos periurbanos e rurais na RMC da pesquisa da cadeia
produtiva do turismo (IPARDES, 2008b).
O terceiro capítulo recolhe o resultado das duas pesquisas realizadas, uma
quantitativa, com questionário fechado dirigido para os extensionistas rurais que
trabalharam na Região Metropolitana de Curitiba e que estiveram envolvidos com as
práticas de ocupações rurais não agrícolas, dentre elas, o turismo rural. A outra
pesquisa foi qualitativa com os agentes das esferas federal, estadual e municipal
envolvidos com o planejamento, gestão e implementação das políticas públicas do
26
turismo rural na RMC. Este capítulo conclui com um balanço das hipóteses de
trabalho em torno da organização e gestão institucional das políticas públicas para o
turismo rural metropolitano.
O último capítulo traz as considerações finais do trabalho; nele se tecem
argumentos sobre o planejamento e a gestão das políticas públicas no espaço rural
metropolitano, concentrando-se especificamente na atuação do Estado, em suas
diversas escalas, na organização territorial segundo a definição dos objetivos propostos.
27
1 REGIÃO, REGIONALIZAÇÃO NO TURISMO RURAL E A IMPLEMENTAÇÃO
DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA CONSTRUÇÃO DO DESENVOLVIMENTO
A compreensão e a análise da proposta desta dissertação tiveram como
marco uma discussão sobre o desenvolvimento (territorial) e o papel do turismo na
construção desse processo no mundo rural metropolitano. Os conceitos do turismo
no espaço rural discutido a partir da escala metropolitana visam identificar a partir
da história e das relações dos sujeitos do campo as famílias e suas identidades, a
cultura e as tradições, e o que esse fenômeno sintetiza para o espaço rural. As
questões sociais e econômicas marcadas pelo desenvolvimento, a dinâmica das
diversas manifestações do turismo rural marcada pelo uso do espaço, a territo-
rialização e fragmentação decorrentes do uso desse espaço como prática oposta
aos objetivos que se propõe de levar sustentabilidade nos territórios onde se pratica.
Vale alertar que este trabalho não contempla o papel do turista no uso do espaço,
nem a interação deste com o modo de vida, o trabalho e saberes, tampouco a
apropriação das formas desses sujeitos do campo e os possíveis conflitos e
dicotomias que a atividade coloca em pauta.
Os estudos das regiões geográficas ou das chamadas regiões naturais
passam a receber maior atenção após a Segunda Grande Guerra, seja pelas análises
da Economia, seja pelas pesquisas das Ciências Políticas. Gomes (2007) resgata o
conceito de Região a partir de sua raiz latina: regere... ragione nos tempos do Império
Romano. As regiões são o suporte e a condição de relações globais que de outra
forma não se realizariam. Lencioni (2009) argumenta que a região se apresenta como
particularidade, como mediação entre o universal e o singular, como mediação entre o
global e o local. "A Região é parte de uma totalidade, tanto quanto o conhecimento
geográfico, esta presente em todas as sociedades." (LENCIONI, 2009, p.198).
Conceitos como região e território e a definição das escalas de cada um deles
passaram a ser utilizados recorrentemente nos estudos do turismo. Na segunda
28
metade do século XX, a procura por modelos sistêmicos, tão em moda no turismo,
deparou com modelos similares na geografia (a exemplo de Christaller e as
localidades centrais). As diversas funções e hierarquias dos territórios na organização
espacial do turismo e as políticas públicas vigentes reforçaram o enquadramento da
oferta e da demanda turística nesses patamares, e impõem a organização e
exploração do turismo em formas de redes. A fim de introduzir essa perspectiva,
analisam-se os conceitos que serão mais utilizados no trabalho de pesquisa.
É no debate sobre o desenvolvimento que recuperam importância os
conceitos que são fundamentais na estrutura da Geografia, tais como região,
território, lugar. No âmbito deste capítulo se discute apenas o conceito de região.
Nesta discussão há, contudo, pontos de convergência entre os diversos conceitos
geográficos, em especial na formação e diferenciação de região e do território. Não
há conceitos puros, contextos diferentes e realidades e escalas mutantes fazem
parte do sistema explicativo do conceito de Região.
A revisão sobre o conceito Região põe em evidência os parâmetros do
debate da regionalização do turismo e busca identificar fatores determinantes das
mudanças conceituais que impõem limites à implementação das políticas públicas. A
região, como conceito, tem uma escala de solução variável que transcende desde o
âmbito global, até o subnacional e estadual, razão pela qual, numa primeira
precisão, é importante insistir que o debate regional proposto fica dentro dos limites
do espaço estadual. Em segundo lugar, independentemente da multiescalaridade do
debate, o papel da região é dinâmico, assim como as relações que nela se
estabelecem, o que faz com que a construção regional seja sempre diferente uma da
outra, assim como as relações espaciais, sociais e econômicas são também
diferenciadas e assimétricas, o ordenamento territorial que se estabelece é fruto do
confronto das forças sociais, econômicas e espaciais que nela se congregam.
Finalmente, o conceito sugere, além dos pontos anteriores, mais uma valoração e
um papel político, com um determinado contexto histórico e com uma
institucionalidade própria. A região, assim como o território, é a produção social que
29
contempla os conflitos que se estruturam e as lutas que se travam em torno deste
ambiente construído socialmente. Nenhum recorte espacial poderá mais ser visto
como passivo, mero receptáculo sem contexto institucional e moldura histórica
(BRANDÃO, 2007).
1.1 ALGUMAS PROPOSTAS DE ANÁLISE DE REGIÃO E REGIONALIZAÇÃO
Para compreender o debate sobre a dimensão regional e mais
apropriadamente sobre a região, deve-se voltar às últimas décadas do século XIX,
caracterizado por dois processos extremamente importantes para a Europa e para a
geografia: o novo momento da expansão territorial na fase do capitalismo monopolista
e a sistematização da Geografia como ciência, com a abertura de inúmeros cursos
nas universidades europeias e norte-americanas. Esses dois processos formataram a
linha clássica da Geografia do final do século XIX, em que se destacaram dois
conceitos de região. O primeiro deles, o da região natural influenciada pela escola
geográfica francesa cuja corrente determinista caracterizava a região pela uniformi-
dade geológica ou geomorfológica e da combinação e integração em áreas dos
elementos da natureza, justificando a exploração dos recursos naturais por interesses
econômicos; e a região geográfica, decorrente da visão positivista de Vidal de La
Blache, que vem sendo empregada para designar uma unidade de atividade, de
povoamento homogêneo, de cultura, que confere a seu quadro, homogêneo ou não,
certa coesão e personalidade (GEORGE, 1978) em que os componentes humanos
e naturais da paisagem conferem uma combinação específica à diversidade,
singularizando o espaço regional (CORRÊA, 1987; GOMES, 2007).
A região como categoria de análise é explorada por diversos autores cujas
análises serão sucintamente enfocadas na sequência. Santos (1988) permite
compreender como uma mesma forma de produção ocorre em diversas partes do
mundo, reproduzindo-se conforme suas especificidades locais. Porém, "compreender
30
uma região passa pelo entendimento do funcionamento da economia ao nível mundial
e seu rebatimento no território de um país, com a intermediação do Estado, das
demais instituições e do conjunto de agentes da economia, a começar pelos seus
atores hegemônicos." (2008, p.52). Ou seja, entender a região em sua história, seus
funcionamentos específicos, suas relações, seus arranjos particulares, sempre em
movimento. Santos (2008) define o espaço como totalidade e como instância social.
Discute como as heranças (rugosidades) podem jogar papel ativo na atual divisão
territorial do trabalho. Mais recentemente (SANTOS, 1994) dirigiu suas pesquisas
para o papel do meio técnico-científico informacional na estruturação do espaço.
Santos (1994, p.18) analisa o conceito de região no quadro da globalização e define
que "[...] as regiões são subdivisões do espaço: do espaço total, nacional e mesmo do
local, são espaços de conveniência, lugares funcionais do todo, um produto social".
Doris Massey (1981) dedica seu esforço em compreender as formas como o
capitalismo as organiza e desorganiza. As regiões podem ser consideradas como
uma entidade espacial coerente em termos de relações sociais ou como uma
desagregação geográfica baseada numa singular variação econômica. Massey
liderou uma corrente de explicações mais empírica de conhecimento do espaço
econômico no capitalismo, distanciando-se de modelos marxistas, para melhor
entender a diferenciação regional-local (GONZALEZ, 2005).
Para Ann Markusen2 (1981, apud CARLIAL, 1993), a região é uma realidade
empírica, uma questão concreta, porém, não constitui numa categoria que possa ser
elaborada teoricamente. A região é importante como objeto de luta humana, cujo
significado encontra-se nas lutas que nela ocorrem e não na entidade per se. Cabe
buscar as causas de tais conflitos, nas relações sociais. Aproxima o conceito do de
"regionalismo", que traduz como a adoção de uma reivindicação territorial por um
grupo social, ou uma dinâmica social objetiva, que causa diferenças territoriais em
formações sociais. Markusen (1981, apud CARLIAL, 1993) descarta a possibilidade
2 MARKUSSSEN, A. Região e regionalismo: um enfoque marxista. Espaço e Debates - Revista de
Estudos Regionais e Urbanos, v.1, n.2, maio 1981.
31
de uma conceituação marxista de região, afirmando que seria mais apropriado se
discutir "regionalismo" como organização de lutas políticas referidas a determinado
espaço. Massey3 (apud HEIDRICH, 2000) considera que o processo de acumulação
capitalista engendra continuamente o abandono de algumas áreas e a criação nelas
de reservas de força de trabalho, e a inserção de outras áreas para novos ramos de
produção e a restauração da divisão territorial do trabalho e das relações de classe
em seu conjunto. Há uma histórica desigual distribuição geográfica do capital nos
diversos setores da produção que fortalecem a diferenciação regional. A relação do
regionalismo com o poder é denotada, mas como modo de compreensão do
fenômeno (HEIDRICH, 2000).
Carlial (1993, p.45) resume para o Brasil o debate regional levantando a
contradição presente no seio da articulação Espaço – Região, expressa
historicamente nos projetos de regionalização, a imbricação dos dois conceitos e a
diferença que se estabelece em função da conformação da divisão social do
trabalho, característica de cada região. Citando Coraggio4 (1980 apud CARLEIAL,
1993), a autora reforça que a região aparece ao evidenciar formas de inserção
específicas na matriz produtiva com as diferenças em nível da organização da
produção e das relações de trabalho cuja essência decorre da regionalização
efetiva. A regionalização forma parte do projeto de atuação do Estado e, em
consequência, a prática se contrapõe aos regionalismos existentes, tornando-se um
dos elementos que o debate regional coloca na pauta. Ainda, a autora citando Diniz
e Lemos5 (1990 apud CARLEIAL,1993) considera que existem outros caminhos para
a regionalização, dependendo do marco analítico e dos objetivos a serem atingidos,
3 MASSEY, D. Regionalismo: alguns problemas atuais. Espaço e Debates - Revista de Estudos
Regionais e Urbanos, v.1, n.2, maio 1981.
4 CORAGGIO, J. L. On social spacenes and the concept of region. Texto apresentado no First
World Regional Science Congress. Cambridge, Mass. 1980. Mimeo.
5 DINIZ, C. C.; LEMOS, M. B. Dinâmica regional e suas perspectivas no Brasil. In: Prioridades e
perspectivas de políticas públicas para a década de 90. Brasília: IPEA/IPLAN, 1990. p.161-199.
32
No Brasil, a relativa acomodação ao uso das informações disponíveis para
as regiões definidas pelo IBGE tem sido parcialmente responsável pela
reduzida discussão desse tema. Felizmente as alterações concretas no
território brasileiro começam a inquietar e a gerar um interessante
movimento de pensar e propor novas regionalizações.
Gomes (2007), a partir de um histórico sobre o conceito de região, chega a
três grandes conclusões: o conceito de região permitiu, em grande parte, o
surgimento das discussões políticas sobre a dinâmica do Estado, a organização da
cultura e o estatuto da diversidade espacial; o debate sobre o conceito permitiu
também a incorporação da dimensão espacial nas discussões relativas à política,
cultura e economia, e no que se refere às noções de autonomia, soberania, direitos
etc.; e, por último, foi na Geografia que as discussões atingiram maior importância, já
que região é um conceito-chave desta ciência.
Gomes conseguiu distinguir também três grandes domínios nos quais a noção
de região está presente. O primeiro é a própria "linguagem cotidiana do senso
comum". Aqui os princípios fundamentais são o de localização e extensão. O segundo
domínio é o administrativo, ou seja, a região é vista como uma unidade administrativa,
nesse caso, a divisão regional é a base para a definição e o exercício do controle na
administração dos Estados e de suas subunidades, quando for o caso. O terceiro
domínio é o das "ciências em geral" nas quais o emprego da noção de região associa-
se também à ideia de localização de determinados fenômenos (p.53-54).
Nos últimos dois séculos surgiram os conceitos de região natural, região
geográfica, região homogênea etc. As discussões que passam a ser travadas sobre
esses conceitos acabaram provocando debates nos quais o tema predominante passou
a ser "a natureza, o alcance e o estatuto do conhecimento geográfico" (GOMES, 2007).
Gomes (2007) afirma que no mundo globalizado onde as trocas são intensas
e constantes, a forma e o conteúdo das regiões mudam rapidamente. Ao tratar esse
conceito a partir das determinações políticas e econômicas que formam e definem a
longevidade das regiões, a análise rompe a abordagem tradicional que apresenta
uma divisão regional cristalizada, muitas vezes ultrapassada, que não corresponde à
33
dinâmica atual da constante (re)organização dos espaços regionais. A análise
regional ganha fôlego em sua relação com a economia que a adota na organização
da política econômica e ainda fortemente compartimentada pela organização política
de alguns estados nacionais como ocorre no Brasil de hoje6.
Castro7 (1994 apud CUNHA 2000), a partir de sua análise das duas grandes
vertentes que lideravam nas pesquisas nas quais o conceito de região foi considerado
de formas diferentes na Geografia, propõe uma "alternativa metodológica para a
região e para o lugar", centrada em três premissas principais: a superação dos
determinismos; o reconhecimento, como questão central, da complexidade dos
fenômenos; e a consideração da escala como problema fenomenológico e não
matemático. Isto porque, para ela, "a realidade, que é complexa, coloca-nos diante do
particular que se articula com o geral, da unidade contida no todo e do singular que se
multiplica" (CASTRO, p.47).
A abrangência do debate regional é ampla, o que suscita a impressão de que
tudo (todos os processos e ações) seria regionalizado. Tratado como variável acabou
tendo sua análise banalizada por muitos autores e práticas e caiu em desuso dentro
da geografia sendo retomada na metade da década de 1950 quando se experimentou
uma transição da ortodoxia reinante e o fim da Segunda Grande Guerra, quando a
consolidação do Welfare State trouxe à tona a região como problema (GONZALEZ,
2005). O desenvolvimento da ciência regional coincidiu com a vontade política de
equilibrar o desenvolvimento em nível nacional e mundial. O problema regional se
6 A construção de regiões no Brasil obedece aos recortes da divisão territorial brasileira mediante
diferentes dinâmicas de atualização, sendo constituídos para atender a objetivos específicos. São
recortes territoriais legais (aqueles determinados por legislação federal, estadual ou municipal) e
alguns deles estabelecidos pelo IBGE para realização de sua missão institucional, porém nenhum,
com exceção das grandes regiões (Norte, Nordeste, Sudeste, Sul, Centro Oeste e Amazônia), tem
caráter de identidade. Por isso, é motivo de grandes conflitos e embates teóricos entre geógrafos e
teóricos do desenvolvimento regional.
7 CASTRO, I. E. de. Problemas e alternativas metodológicas para a região e para o lugar. In:
SOUZA, M. A. A. de. Natureza e sociedade de hoje: uma leitura geográfica. 2.ed. São Paulo:
Hucitec, 1994.
34
remetia inicialmente a noção de disparidades econômicas, na estrutura institucional,
no nível de renda e produção, entre as regiões de um espaço nacional, e mais tarde
se estendeu para o nível mundial, colocando de manifesto a dicotomia entre os países
desenvolvidos e subdesenvolvidos (BENKO8, 1998, apud GONZALEZ, 2005).
Na América Latina de pós-guerra o enfoque neoclássico da economia e da
geografia teve menor predominância, convivendo com visões heterodoxas e com o
estruturalismo da Comissão Econômica para a America Latina (CEPAL), e junto
desses, os enfoques marxistas. Esses enfoques tiveram um peso importante no
pensamento regional e urbano latino-americano (GONZALEZ, 2005) e emolduraram
de alguma forma as diferenças e os conflitos agrários. Interpretando trabalhos de
Smith Gonzalez (2005) observa a existência de forte relação entre as escalas, além
da dicotomia local-global, e suas construções intermediárias:
Las escalas [...] se (re)crean a través de los procesos capitalistas y se
organizan en torno a una jerarquía sistemática que mantiene y facilita
diferentes procesos involucrados en la acumulación y circulación del capital.
Generalmente, de acuerdo con N Smith (1984), las principales escalas para
la reproducción del capitalismo son la urbana, la regional, la global y la del
estado-nación. En otras palabras, estas son las escalas principales
alrededor de las cuales el capitalismo encuentra una cierta coherencia, un
cierto consenso entre los actores principales para llevar a cabo su proyecto
alrededor de este espacio. (GONZÁLEZ, 2005, p.06)
Gonzalez (2005, p.11) afirma que a política das escalas tem como princípios
o fato de: a) não serem determinadas de antemão, são construções sociais; b) as
relações escalares são inevitavelmente relações de poder, portanto são arenas de
mobilização onde se manifesta o conflito socioeconômico em nível de região; c) as
escalas não devem ser entendidas como espécies de níveis ou capas do mundo
social, mas como tramas que se enredam, se mesclam e hibridizam; d) as escalas
devem ser entendidas em termos dinâmicos e relacionais, além de flexíveis; e f) as
escalas emolduram e dão coerência à mobilização política das forças sociais.
8 BENKO, G. La science régionale, que sai-je? Paris: Presses Universitaires de France (PUF), 1998.
35
Egler (2007) resume para o Brasil o debate regional, levantando a contradição
presente no seio da articulação Estado-Sociedade civil, expressa historicamente nos
projetos de regionalização, como projeção do espaço de atuação do Estado sobre o
território, e nas diversas formas de regionalismos existentes, frutos da expressão de
ajustes contraditórios perante a questão nacional. Chama-se a atenção ao fato de o
autor considerar a regionalização como parte do projeto de atuação do Estado e, em
consequência, contrapor essa prática com os regionalismos existentes. Na verdade, é
apenas um dos elementos que o debate regional coloca na pauta.
Pela reflexão exposta, observa-se então que a escala regional é uma visão
em constante mutação onde convivem a cultura, como sistema de valores, e o
processo de acumulação econômica, que está na base da expansão da sociedade na
forma de forças produtivas. O permanente contraste entre a lógica dos meios da
acumulação econômica com a lógica dos fins que rege a cultura nesses espaços
regionais é a base da criação dos grandes mercados e ao mesmo tempo causa da
crescente exclusão social (FURTADO, 2002). O desenho da regionalização turística no
Brasil sobrepôs a transformação de bens culturais em negócios e a uniformização de
padrões de comportamento, com o fomento indiscriminado desses produtos; o
processo, contraditório em si próprio, frustrou formas de criatividade e descaracterizou
a cultura do povo. Ao Estado caberia o incentivo às forças criativas da sociedade com
o objetivo de promover o progresso e não apenas o desenho e monitoramento da
política. Caberia, ainda, o fortalecimento da cultura da força criativa para abrir espaço
para seu florescimento.
Como se observará adiante, a abordagem regional que fez o Plano Nacional
do Turismo se restringiu, a princípio, à escala regional das macrorregiões: ora
coincidentes com as macrorregiões político-administrativas, ora com as regiões
econômicas ou fisiográficas (conforme aparece no Programa de Desenvolvimento
Regional, no Macroprograma 3 - Infraestrutura, que menciona como exemplos o
PRODETUR Nordeste II, Sul, Centro, PROECOTUR Amazônia e Programa Pantanal).
36
A propósito do turismo, Pearce (2003) trata do tema regional quando
enfatiza a importância de uma abordagem microeconômica de modelos de viagem.
Numa visão mais funcionalista, Pearce defende os fluxos entre localidades e os
transportes entre as chamadas "regiões de serviço" integradas como variáveis de
destaque e como elo dinâmico das relações entre os nódulos das redes de
localidades urbanas. Baseadas nas desigualdades dos fatores de produção do
turismo no espaço, os modelos de Pearce dependem de cálculos que regulam a
eficiência do deslocamento para sua vantagem locacional, assim como da
proximidade e acessibilidade da infraestrutura.
Nesses modelos cabe destacar que a região tem status similar à empresa na
teoria neoclássica, para a qual a distribuição espacial das estruturas do turismo se dá
a partir de pontos ordenados de produção e zonas de mercado de consumo
(BRANDÃO, 2007). A discussão sobre o tamanho do mercado e as distâncias se torna
fundamental e indica as escolhas de produção e de consumo turístico; a distância do
mercado hierarquiza a região que se estrutura em rede a partir dos centros urbanos e
de pontos de alta centralidade (BRANDÃO, 2007). Entende-se válido indicar que esse
tipo de proposta orientou o desenvolvimento de grandes programas e projetos do
turismo mundial impulsionados por organismos internacionais, como o Banco Mundial
(BIRD) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), financiadores dos
programas de desenvolvimento do turismo (PRODETUR) no Brasil9. Diante dos
modelos difundidos por esses organismos nacionais e internacionais, coincidem
algumas críticas que bem sintetiza Cruz (2005).
9 Frente aos modelos difundidos por esses organismos nacionais e internacionais, coincidem
algumas críticas que bem sintetiza Cruz (2005). A estratégia estabelecida pelo BID para o
desenvolvimento do turismo no Brasil, chamado de sustentável, foi focalizada em paradigmas de
competitividade do produto brasileiro, na modernização da atividade, e na proteção do ecossistema
e gerenciamento dos recursos naturais para reduzir as desigualdades sociais.Contudo, essa
estratégia teria um papel importante: promover melhores condições de desenvolvimento do turismo
sustentável e valorizar e destacar o relevante papel da participação da sociedade na construção
desses destinos turísticos (BID: PDITS, 2004).
37
Partindo do pressuposto de que a região não existe a priori, ou seja, não é
um dado da natureza, mas sim uma construção humana, é fato que o planejamento
regional do turismo (como é a proposta do Programa de Roteiros Integrados do
Plano Nacional), como processo de racionalização do uso de um dado espaço, já no
ato de regionalizar exprime posicionamentos ideológicos e opções políticas daqueles
que o fazem. Além disso, com os progressos da técnica, da ciência e da informação,
base do processo de globalização, há profundas transformações nos sentidos e nos
significados do conceito de região. Uma dessas transformações diz respeito à
reelaboração do próprio sentido de contiguidade territorial da região em face da
constituição dos chamados territórios-rede. Em função disso, questiona-se: como
podem ser hoje delimitadas as regiões para um planejamento regional diante do
desmantelamento de paradigmas tão arraigados em nossas mentes?
Bahl (2004) afirma que a delimitação de regiões turísticas como proposta
preliminar para o encadeamento de ações norteadas ao desenvolvimento do turismo
regional é de grande valia. O autor pondera que nem todos os municípios possuem
atrativos turísticos em quantidade suficiente para se desenvolver como centros de
recepção tendo que trabalhar com a ampliação de oferta de opções das localidades
do entorno. Assim, colocam-se como elementos a considerar numa análise de
regionalização a divisão político-administrativa, baseada em estados e municípios, a
variação das superfícies das áreas de influência municipais, normalmente projetadas
a partir das sedes urbanas, e a necessidade de inventariar atrativos e equipamentos
de instalações disponíveis na infraestrutura (BAHL, 2004).
A visão defendida por Bahl (2004) do planejamento regional do turismo
perpassa por vários enfoques, o geográfico, o econômico, o administrativo, o
sociológico, o enfoque turístico. A visão do autor, contudo, é reforçada pela visão de
Corrêa10, quando afirma que a organização espacial é um reflexo social (CORRÊA,
apud BAHL, p.42-43). Chama-se a atenção a que existe, porém, discrepâncias entre a
racionalidade do mercado da organização espacial e regional e o interesse social
10 CORREA, R. L. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1986.
38
levantada pelos autores citados (FURTADO, 2002, HAESBAERT, 2005, GONZALEZ,
2005, GOMES, 2007, entre outros citados) e é ainda uma questão a ser debatida na
arena regional do desenvolvimento turístico e do turismo rural da RMC.
Silveira (2009) faz referência à estratégia adotada por países de se valer do
turismo para combater as chamadas disparidades regionais e as desigualdades
sociais existentes dentro das próprias regiões afirmando que
o incremento do turismo não deve ser visto como uma panacéia que vem a
resolver todos os problemas decorrentes de um modelo de desenvolvimento
regional marcado por desigualdades, que se caracteriza pela falta de
complementaridades onde áreas dinâmicas tornam-se cada vez mais
autônomas e as demais áreas cada vez mais abandonadas (SILVEIRA, 2009).
O argumento reforça a defesa de estratégias de implantação geográfica que
tomem em consideração a diferenciação regional, a diversidade de paisagens a
serem preservadas e a história, pois as estratégias de desenvolvimento nem sempre
poderiam ser transferidas de uma região para outra como se todas fossem
homogêneas no sentido geográfico (SILVEIRA, 2009).
1.1.1 Regionalização
É a tarefa de dividir o espaço segundo critérios explícitos que variam
segundo intencionalidades. "Não são definitivas, tornam-se um meio, não um
produto". (HAESBAERT, 2010, p.20). Esse autor considera a região um conceito
polissêmico que compreende a esfera de domínio (regere) ou o espaço ocupado por
alguma coisa, ou a relação de uma parte com ou um todo, mas também ligado às
relações de poder e hierarquia na esfera política. Na visão do autor,
[...] pensar região é pensar, antes de tudo, nos processos de regionalização,
seja focalizando-os como simples procedimento metodológico ou instrumento
de análise proposto pelo pesquisador, seja como dinâmicas efetivamente
vividas e produzidas pelos grupos sociais. Incorporar como dimensão primeira o
espaço não significa [...]que se trate de um espaço separado ou separável dos
sujeitos que o constroem. (HEAESBAERT, 2010, p.25).
39
Haesbaert (2005, p.11) levanta pontos de interesse no debate da escala
regional e a regionalização, entre os quais, destaca: (i) o acirramento das desigual-
dades econômicas, nas mais diferentes escalas, o que implica discutir, apesar da
polêmica que o termo envolve os níveis de "exclusão" inter-regional; (ii) a reconstrução
permanente das diferenças culturais no e através do espaço, com sua (re)produção e
(ou) (re)invenção não só para fortalecer movimentos sociais (como os regionalismos) e
reafirmar identidades, mas também para inserir regiões de modo mais enfático no
"mercado global de regiões"; (iii) a crise de gestão à escala nacional e a consequente
recolocação do problema das autonomias regionais, refazendo-se as relações entre os
níveis local, regional em sentido estrito, estatal-nacional e global; (iv) a dificuldade de
estabelecer "recortes" ou delimitações regionais claras num mundo que sobrepõe ou
alterna distintas lógicas espaciais, ordenamentos e desordenamentos, desde os
territórios num sentido mais tradicional, mais estáveis ("territórios-zona"), até as redes
de conexão prioritariamente global (implicando debates como o das "cidades-regiões
globais") e fluxos extremamente instáveis e de mais difícil mapeamento (como os
acampamentos de refugiados ao redor do mundo).
O autor propõe ainda a reunião dos diferentes momentos do conceito de
região e a sua permanente reelaboração ao longo da história da geografia em três
grandes fases: uma primeira pautada pelo determinismo físico-natural, que rejeita
divisões político-administrativas como base para a regionalização das unidades
fisiográficas, a regionalização natural; uma segunda fase em que se identifica uma
transição da região de bases naturais para uma região definida pela ação humana, e
da relação do homem com meio; e, uma terceira fase, que intruduz a concepção de
região econômica, e de forma implícita a região funcional (HAESBAERT, 2010, p.35).
Diversos autores brasileiros como Correa (1986), Gomes (2007), Lencioni
(1999) e Heaesbaert (1988, 1999, 2003, 2004, 2005) realizaram uma síntese do
processo de construção, destruição e reconstrução do conceito e seu percurso
conceitual (HAESBAERT, 2010, p.39).
40
Em uma reflexão sobre processos de regionalização, Limonad (2004, p.58)
lembra que, a despeito das adjetivações que acompanham a discussão de região
como categoria de análise, ela é antes de qualquer coisa uma construção social que
atende a interesses precisos. A autora destaca que a região "[...] constrói-se a partir
da ação de distintos agentes em múltiplas escalas articuladas que de certa forma
encontram um rebatimento em práticas e processos socioespaciais histórica e
geograficamente localizados." Nesse sentido, uma regionalização fundamenta uma
reflexão teórica ou atende a necessidades impostas por políticas setoriais, práticas
de planejamento ou processos de desenvolvimento regional. Assim, as regionalizações
possíveis para um determinado território podem apresentar variações em razão da
finalidade, às quais se propõe atender.
Limonad (2004) indaga sobre a essência e intencionalidade da regionalização,
para exorcizar, desse modo, o risco de naturalizar a escolha das variáveis e a
aplicação das políticas. Assinalando a inexistência de limites precisos da história e da
geografia e de outras disciplinas territoriais, a autora se pergunta como definir a região
e como regionalizar. Pelo seu conteúdo, considerado intencional, as regionalizações
possíveis para um espaço são muitas e cabe ao pesquisador desvendar os propósitos
que cada uma delas desenha. A reflexão da autora sugere que, no Brasil contem-
porâneo, a regionalização é funcional à atual divisão internacional do trabalho, que
orienta o planejamento a reforçar a globalização.
A regionalização é datada como movimento paralelo da sociedade e do
território, produtor de diferenciações e, ao mesmo tempo, como critério (político) de
divisão do espaço. É por isso que são reconhecidos os múltiplos eventos que, nos
dias de hoje, impactam as regiões e complicam a sua definição, tanto para a
interpretação como para a ação. (LIMONAD, HAESBAERT e MOREIRA, 2004). Na
afirmação de uma regionalização há sempre uma proposição política, vista sob um
ângulo territorial, para controle e gestão do território. Na globalização, sob domínio
de centros hegemônicos, e áreas de influência, são grupos de Estados (Comunidade
Europeia, Nafta, Alca, Mercosul), parcelas nacionais, e unidades supranacionais
com forte identidade cultural (mundo árabe) etc.
41
É nesse sentido que Haesbaert (2010, p.104 e segs.) reforça que a
concepção de regiões/regionalizações, visando à intervenção política, buscando uma
mudança regional em termos de descentralização política, redução das desigualdades
socioeconômicas ou resolução de questões ambientais e de disseminação político-
cultural, implica não apenas conhecer "o que é" região ou "como" "vem a ser o que é",
pela ação de seus habitantes, e dominar os instrumentais teórico-metodológicos que
permitiriam identificar recortes ou parcelas regionais, mas também estar consciente
dos constrangimentos e dos requisitos específicos a que está sujeita a ação prático-
política, concluindo que os requisitos do próprio planejamento estatal já colocam a
priori alguns limites à proposição conceitual11.
É sob essa concepção multifacetada que o autor apresenta que a
regionalização pode variar, num sentido amplo, de acordo com as questões e os
objetivos que estão em jogo, em quatro formas distintas (HAESBAERT, 2005): a) uma
regionalização como instrumento de análise (denominada região como artifício,
centrada na figura do pesquisador, da investigação; b) uma regionalização como
instrumento da prática dos sujeitos sociais em seus espaços vividos, com seus
regionalismos e identidades regionais. c) uma regionalização como instrumento de
intervenção (ou região plano, normativa) centrada na perspectiva do planejamento e
que pode desenhar cenários de futuro; e d) uma regionalização como processo ao
mesmo tempo teórico e prático que responde às articulações sociedade-espaço em
suas múltiplas dimensões, historicamente contextualizadas.
Na visão do autor, a opção por uma dessas regionalizações não implica,
portanto, ser mais ou menos verdadeiro, tendo em vista que se responde a
problemáticas distintas. Depreende-se dessas considerações que a definição das
políticas públicas em torno da regionalização deve ser encarada como uma
opção política.
11 Haesbaert (op. cit., p.105) comenta trabalho de planejamento regional realizado pela UFRJ junto
ao Ministério de Integração Nacional no ano de 2005, em que os vetores econômico e cultural
foram priorizados. Contudo, o autor afirma que trata-se de um caminho de mão dupla, ao mesmo
tempo em que constrange teoricamente, constitui experiência muito rica porque pode apontar
limitações das investidas teórico-conceituais.
42
1.1.2 Região e regionalização no Paraná
Sendo a região um espaço socialmente constituído, aquela que examina a
unidade regional em suas relações com o modo de produção, aquela que não tem
como preocupação fundamental e única delimitar rigidamente um território, mas
compreender essa realidade à luz de sua dimensão histórica, a importância do
conceito de região pode ser examinada por dois ângulos diferentes: de um lado, a
necessidade de precisar adequadamente o objeto de trabalho, principalmente
quando se trata de atividades de planejamento regional; e, de outro, o papel dos
conceitos no processo de desenvolvimento da ciência, na elaboração de teorias.
A utilização indiscriminada e subjetiva do conceito de região e da regiona-
lização se faz sentir principalmente quando se trata de implementar o planejamento
regional. Frequentemente, o conceito de região, subjacente a planos e programas
normalmente disponíveis, não ultrapassa em muito as abordagens geográficas e
administrativas no sentido estrito, ou indicadas pelo IBGE, que partem da delimitação
meramente territorial do espaço. Tal noção não contempla a realidade social em seu
conjunto, nem as relações dessa com o espaço, prejudicando a percepção da realidade
e comprometendo a qualidade dos diagnósticos a partir daí elaborados.
No Paraná, as frentes de ocupação econômica definiram e caracterizaram os
espaços regionais de acordo com o momento histórico e a atividade econômica
predominante12, bem como a área de origem desses movimentos (PADIS, 2006), sem
seguir uma divisão natural ou geográfica do espaço regional. Durante o século XX, o
12 Padis (2006), na sua análise histórico-econômica do desenvolvimento econômico do Paraná,
distingue três ocupações segmentadas, espacialmente e temporalmente: a ocupação do "Paraná
Tradicional", a ocupação do "Norte paranaense" e a ocupação do "Oeste e Sudoeste paranaenses".
O interessante é observar que não se trata aqui de uma regionalização administrativa oficial, mas de
um recorte definido pela espacialidade do processo histórico de povoamento e ocupação econômica
do território, que até pouco tempo atrás ainda eram referências na pesquisa social no Estado.
43
Paraná concluiu seu processo de ocupação econômica num contexto de desigualdade
regional, com o esgotamento da fronteira agrícola, passando de um Estado com forte
poder atrativo de população no período auge da cafeicultura, por exemplo, para uma
das unidades da federação brasileira que tiveram menor crescimento populacional
entre os anos 1980 e 1990 (MAGALHÃES; KLEINKE, 2000).
Os planejadores do Estado se deparam, então, com a necessidade de
"controlar" as desigualdades regionais num contexto capitalista em que a sociedade
brasileira está inserida, a qual, devido à sua própria natureza, se reproduz
sistematicamente, como condição essencial de sua sobrevivência como sistema no
espaço regional. A percepção dos agentes das políticas públicas, principalmente
daqueles que planejam e executam a ação regional, tem perdido profundidade na
medida em que, além de não se controlar as variáveis sociais, espaciais e históricas
para as quais planejam, não se dispõe de instrumentos adequados de medição para
as variáveis sobre as quais visam intervir.
Analisar a regionalização dos agentes da política pública envolvidos na
produção do turismo rural na RMC implicou também analisar a organização territorial
da reprodução da força de trabalho e, mais amplamente, a organização territorial da
população. Na regionalização há setores da população rural que não estiveram, nem
estão diretamente ligados à produção de e para o mercado (turístico), seja pela sua
integração como mão de obra formal e informal, seja pela produção de valores de
uso e serviços importantes, em especial para as atividades turísticas.
Há também peculiaridades regionais que têm surgido ao longo desses anos
de forma natural, mas têm se fortalecido e se diferenciado pela forma com que se
articulam as relações sociais e econômicas na região. A constatação de uma
fragmentação regional na construção de uma regionalização, neste caso, na
regionalização turística, não pode ser mais do que o reflexo das formas sociais e da
produção que se impõem em nível regional, e para a qual a região em estudo está
subordinada na gestão do território.
44
Ao analisar a regionalização do turismo na proposta da política pública nacional
dos documentos denominados Diretrizes Políticas e Diretrizes Operacionais do referido
programa (BRASIL, 2004a, 2004b), observou-se a noção de que o turismo é um
subsistema inserido em um sistema social maior. Além disso, quiçá um elemento
adicional para análise, os documentos enfatizam que a regionalização turística não
deveria pautar-se nas tradicionais divisões geográficas. Assim, no âmbito do referido
programa, a regionalização é entendida como "[...] a organização de um espaço
geográfico em regiões para fins de planejamento, gestão, promoção e comercialização
integrada e compartilhada da atividade turística." (BRASIL, 2004a, p.11).
Contudo, a avaliação que se fez a posteriori mostra as discrepâncias entre
os pressupostos teóricos que orientaram a formulação da política nacional e a sua
execução nos estados do Brasil (BRASIL, 2010) e sua aplicabilidade nas diversas
regiões turísticas no Estado do Paraná.
Ao se referir à regionalização, a princípio, privilegiou-se o uso da divisão
espacial designada pela Secretaria de Estado de Turismo, e, segundo classificação
realizada em 2006 adotada pelo programa de regionalização turística no Estado, o
Paraná tem dez regiões. Coincidentemente, a região turística das Rotas do Pinhão,
corresponde aos municípios da Metropolitana de Curitiba. Os vinte e seis municípios
que, em 2006, compunham a RMC definida pelo IBGE, tal como legalmente instituída,
pertencem à região turística Rotas do Pinhão, que, por sua vez, já incorporava a
época outros municípios não metropolitanos(Campo do Tenente, Rio Negro e Piên).
Com a entrada desses três novos municípios para a RMC, as Rotas do Pinhão e a
RMC adquirem a mesma identidade espacial. Diante isso, decidiu-se trabalhar todos
os dados da RMC e, na pesquisa de campo, restringir-se ao Núcleo Urbano Central da
RMC oficial, perfazendo, no total, treze unidades regionais de análise.
Para não estabelecer conflitos de entendimento com a nomenclatura territorial
definida pelo IBGE e amenizar a tarefa analítica, quando denominada, a região
metropolitana de Curitiba com seu núcleo central pode ser chamada indistintamente de
45
região; região turística será denominada aquela que composta pelos 29 municípios da
RMC e pelo fórum metropolitano, ou Rotas do Pinhão será indicação para os circuitos
turísticos e municípios que participam ativamente do processo de construção das
Rotas do Pinhão.
Essa regionalização impôs a execução de compatibilização das fontes
censitárias adotadas. Assim, considerou-se, como base, a composição municipal
das regiões, adotada no Censo de 2010 (Apêndice 1). No caso dos municípios que
sofreram desmembramentos ao longo do tempo, foi respeitada a alocação regional
dos municípios de origem, deixando equivalente a informação não disponível no
período para tornar comparáveis os períodos analisados.
MAPA 1 - LOCALIZAÇÃO DO PARANÁ, A REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA E O NÚCLEO URBANO
CENTRAL (NUC)
FONTE: IPARDES (2012)
46
1.2 DESENVOLVIMENTO, DESENVOLVIMENTO RURAL E TURISMO NO
ESPAÇO RURAL
1.2.1 Desenvolvimento
Entendendo que o desenvolvimento é um processo permanente de
crescimento e mudança estrutural de uma sociedade que permita a melhoria da
qualidade de vida intergerações, o trabalho realizado analisou o que o turismo rural
tem aportado para esse desenvolvimento. No debate do desenvolvimento (regional
mundial), o estímulo à reflexão sobre a ação em seu favor é de suma importância.
Qualquer estratégia de desenvolvimento que desconsidere uma ação traduzida pelo
conjunto de interesses de indivíduos ou grupos sociais numa determinada base
territorial, pode responder apenas parcialmente aos dilemas do desenvolvimento de
uma região. Para discutir esse tema, e de acordo com o enfoque dado por Cruz
(2006), estabeleceram-se algumas relações entre planejamento e as políticas públicas
do desenvolvimento no turismo rural como parte do leque de opções na RMC.
No mundo todo e, em particular, na América Latina, a relação entre
desenvolvimento regional, planejamento e políticas públicas vem passando nos
últimos anos por um processo complexo de revisão e de redefinições, tanto nas suas
concepções teóricas como no que diz respeito às experiências que vêm sendo
executadas. O processo de globalização, em particular a diferenciação espacial que
este fenômeno trouxe, exige rediscutir velhos temas com novos elementos, a partir
da consideração de novos marcos teóricos interpretativos para a análise do
desenvolvimento regional e da construção das políticas públicas.
O conceito de desenvolvimento vem sofrendo modificações e tem sua origem
nas discussões efetuadas no pós-guerra e está inseparavelmente ligado à
Organização das Nações Unidas (ONU), com a Carta do Atlântico (1941) e a Carta
das Nações Unidas (1945). Em um primeiro momento, o conceito de desenvolvimento
47
foi atrelado ao crescimento econômico, em termos pragmáticos, o desenvolvimento
partia do enfoque do crescimento econômico dual, de cima para baixo, segundo o
qual haveria uma evolução gradual das formas de produção com a passagem de uma
sociedade tradicional para uma sociedade moderna.
A ideia central de desenvolvimento se encontra implícita desde os primeiros
trabalhos dos economistas clássicos que procuraram entender as causas e a
evolução das riquezas das nações, assim com a relação desta com o crescimento
da população.
No intento de responder as interrogantes sobre o desenvolvimento, há uma
série conhecida de autores que têm realizado algumas abordagens analíticas
diversas, aportes para a compreensão dos fatores que condicionam o processo de
transformação social em cada território singular. O termo desenvolvimento trouxe à
tona uma polissemia sobre os tipos de desenvolvimento vinculados a diversas
correntes do pensamento econômico. Apesar de prestarem-se principalmente aos
seus objetivos, essas definições podem contribuir para esclarecer algumas ideias
sobre os novos paradigmas acerca do tema, sendo necessário salientar que esses
são tipos ideais e que quando se pensa o desenvolvimento deve ser visto de
maneira abrangente, entrecruzando todas as ideias.
A verdade é que a configuração e as dinâmicas do mundo atual têm apontado
para enfoques complexos, holísticos sobre o desenvolvimento e justamente essa
compreensão se revela como uma atualização dos eixos fundamentais do debate
contemporâneo sobre o tema para colocar em discussão a experiência concreta do
desenvolvimento no Brasil e explorar posteriormente as questões que remetem ao
desenvolvimento rural e ao turismo rural no Estado do Paraná. Salienta-se que não se
buscou fazer uma revisão exaustiva de literatura, apenas identificar a obra de alguns
autores cujos conceitos sobre o desenvolvimento caracterizavam uma abordagem
mais espacial13. Entre os autores, escolhemos os mais notáveis, Boisier (1995, 1996,
13 Há autores não citados de importância para o tema do desenvolvimento por uma questão de
opções, ou porque os pontos relevantes estão contidos nos elementos elencados a seguir. Alerta-
se que o mesmo dilema se apresenta no tópico sobre desenvolvimento rural.
48
1999, 2001, 2005), Arocena (2001), Vazquez Barquero (2000), Albuquerque et al.
(2002) para finalizar com as ponderações de Brandão (2007).
Arocena (2001) propõe um olhar para a relação local/global não em termos
de oposição, mas como um binômio articulado no interior de uma tensão. Assume
que o tratamento do tema do desenvolvimento deve necessariamente ser vinculado
com fenômenos associados à globalização e sugere que a análise dos processos
locais apresenta a dicotomia de manter a capacidade de conhecer cada realidade
específica a partir dos processos globais. Na assunção desse desafio é possível
realizar uma leitura do desenvolvimento local mediante a capacidade de distanciar
as chamadas euforias localistas utópicas, bem como as criticas inspiradas dos
determinismos estruturalistas (AROCENA, 2001, p.19).
O autor utiliza dois conceitos-chave para a releitura desse processo, o ator
local e o modelo de acumulação. O modelo de acumulação define o marco
conceitual que permite identificar as regularidades estruturais que condicionam as
iniciativas de desenvolvimento (local), que não se esgotam na definição. O ator local
introduz a noção de oportunidades ao alcance de estratégias possíveis de utilização.
A partir dessas hipóteses conclui que a construção de um marco conceitual fundado
na compreensão não reducionista dos processos e tendências contemporâneas
constitui um desafio fundamental do mundo globalizado onde ao mesmo tempo em
que se afirmam tendências planetárias se evidenciam o papel e a vigência das
pequenas vilas e cidades.
Arocena (2001), por sua vez, vincula a geração de oportunidades e atividades
produtivas com a dimensão cultural. Propõe a necessidade de gerar emprego, riqueza
e atender às necessidades mais urgentes da população, levando em conta, para isso,
as particularidades, as capacidades e a história e identidade da comunidade, o que
implica a formatação de um sistema de atores segundo a capacidade de respostas
locais onde os processos promovam uma ativa participação cidadã e de atores
conscientes e ativos na busca do desenvolvimento. Além disso, a dinâmica de
desenvolvimento supõe espaços de conciliação das diferentes lógicas de ação entre
49
os distintos atores para o desenho das estratégias "la relación entre producción y
distribución de la riqueza adquiere un sentido relevante cuando se convierte en una
condición de las políticas que se orientan a generar condiciones de seguridad social
para todos los ciudadanos" (AROCENA, 2001).
Boisier (1995, 1996, 1999, 2001, 2005) reflete sobre as crescentes nomen-
claturas do Desenvolvimento, ao analisar a gênese do conceito e sua crescente
adjetivação associada aos diversos debates contemporâneos: territorial, regional,
local, endógeno, descentralizado, de baixo para cima. Ao longo dos seus diversos
estudos, aborda aspectos conceituais e históricos, ordenando-os para uma reflexão
epistemológica. Ao confirmar que o conceito de desenvolvimento é complexo,
axiológico e multidimensional, "qualitativo em sua essência e intangível por
conseqüência", o autor defende que deve haver uma transição de paradigmas e um
retreinamento mental para que seja alcançado o verdadeiro desenvolvimento.
Segundo o autor, entender o desenvolvimento e, por consequência, intervir no
fomento ao desenvolvimento com alguma possibilidade de êxito, requer enfoques
sistêmicos e recursivos que permitam apreender sua verdadeira natureza. Conforme
Boisier, trata-se de reconhecer que o desenvolvimento é um processo, e que, embora
precise de uma base material, é de natureza intangível; sendo assim, também serão
intangíveis os fatores que o determinem. Assim se utiliza o conceito de capital
intangível, o qual deve ser articulado e potencializado com vistas a direcioná-lo a uma
forma superior de capital, chamado de capital sinérgico. O ponto crucial e talvez o
corolário mais importante da reflexão e que os capitais intangíveis e em geral o capital
sinérgico são mais frequentemente mobilizáveis em espaços sociais e territórios
pequenos, de natureza proscênica, onde as relações se estabelecem cara a cara e os
costumes e as tradições constituem elementos de grande valor.
Dentre os autores que adota uma visão mais otimista do desenvolvimento
podemos citar a Vázquez Barquero (2000), o qual propõe como fatores-chave para
processos de desenvolvimento endógeno, o progresso técnico e a acumulação do
capital (VAZQUEZ BARQUEIRO, 2000). Além disso, identifica que o caráter endógeno
50
só se reforça na existência de rendimentos crescentes dos fatores e pelo papel dos
atores econômicos, privados e públicos, nas decisões de inversão e localização. Isto
é, pela capacidade empreendedora local, as ações de capacitação de potenciais
criadores de empresas, as políticas de formação de empregos mediante a
cooperação entre os agentes públicos e privados tornam-se elementos-chave para a
geração de economias externas e internas de escala que reduzem o custo e
melhoram a produção do excedente (econômico). O Desenvolvimento Endógeno
tem como expressão-chave a convergência e a interação. É um processo em que o
território – no sentido amplo do termo – atua ativamente na formação de estratégias
que influenciam sua dinâmica econômica. Ele não é apenas um receptor passivo das
determinações de grandes empresas, por exemplo. A interação entre os atores
públicos e privados é fundamental para gerar a sinergia necessária para o processo
de desenvolvimento. Adicionalmente, o papel dos atores locais e as formas de
capital intangível também têm importância relevante. É um projeto coletivo de
desenvolvimento, que se articula dentro de um território, daí a ideia de endogenia.
O modelo de interpretação da dinâmica econômica das cidades e dos territórios
acontece num cenário caracterizado pelo incremento crescente da competição. O autor
realiza um esforço de reflexão conceitual em que sustenta que a difusão de inovações e
o conhecimento entre empresas e organizações, a adoção de formas flexíveis para
organizar a produção, o desenvolvimento urbano do território e a complexidade do
tecido institucional constituem fatores-chave que condicionam a acumulação do capital
nas cidades e nos territórios. Diferente dos modelos neoclássicos, a teoria do
desenvolvimento endógeno entende que cada fator e o conjunto deles, criam um
entorno no qual os processos de transformação e desenvolvimento da economia e do
espaço formam parte. Os fatores de acumulação assinalados formam um sistema
denominado "efeito de eficiência", que permite multiplicar o efeito de cada um dos
fatores que intervêm nos processos de acumulação do capital. Os processos de
desenvolvimento local são gerados quando um desses fatores atua positivamente sobre
os demais. Esse movimento permite explicar a diferença entre os processos de
51
desenvolvimento que se produz nas cidades e regiões em relação a outras, no contexto
de uma interpretação complexa e dinâmica.
O Desenvolvimento Territorial é uma das acepções de mais amplo uso na
economia e geografia agrária para discutir o desenvolvimento rural. Dentro das três
possíveis características de complexidade – território natural, território intervindo e
território organizado – apenas o terceiro tipo é passível de intervenções promotoras
do desenvolvimento. O território organizado possui atividades mais complexas, tem
uma comunidade que se reconhece a partir dele, apresenta um tecido político,
administrativo e institucional.
"Desarrollo territorial" se refiere a la escala geográfica de un proceso y no
a su sustancia. Es una escala continua en la que es posible reconocer los
siguientes "cortes": mundo, continente, país, región, estado o provincia o
departamento, comuna, y en ciertos casos, "veredas", "corregimientos" u
otras categorías menores". "Así que la expresión ´desarrollo territorial` se
refiere a la escala geográfica de un proceso y no a su sustância"
(BOISIER, 2001, p.6).
Coloca-se a ideia, portanto, de que o território contém e não a de que ele
está contido. É uma parte dele que interessa quando olhamos o desenvolvimento,
apenas a parte organizada. O desenvolvimento regional se dá pela combinação das
dimensões espacial, social e individual. O desenvolvimento de uma região se deve,
então, à transformação do território em sujeito coletivo, um processo de
fortalecimento da sociedade civil, entendida como comunidade, indivíduos e região.
A noção de Desenvolvimento local é colocada quando olhamos de cima e
em oposição ao sistema global. Por exemplo, um Estado pode ser olhado como local
se visto desde um país, ou um Município é local se olhado desde um Estado. Nesse
caso, ao invés de a localidade conter, como ocorre com o território, ela está contida.
Há várias dúvidas sobre o conceito, sua noção pode muitas vezes passar mais pelo
intuitivo do que pela definição em si. E a confusão sobre esse termo não se esgota
aí. Há mais dois motivos pelos quais o conceito de desenvolvimento local é confuso:
por ser considerado uma "prática sem teoria", pois o termo já é usado na prática,
sem antes ser um substantivo teórico propriamente dito e pelo fato de o conceito
abarcar três matrizes de origem distintas:
52
a) Da lógica de regulação horizontal: onde o território tem como origem um
sistema fechado, que encontra em si mesmo fontes para sua reprodução.
b) Da resposta à crise macroeconômica e ao ajuste: que causou a decadência
industrial e as deslocalizações da produção. Esse problema está ligado à
esfera institucional, pois o Estado nacional se debilita e a esfera local passa
a assumir as responsabilidades consoantes ao desenvolvimento.
c) Do processo de globalização estimulado pela dialética global/local: pois
o desenvolvimento local está inscrito na racionalidade globalizante do
mercado, onde as capacidades locais se estruturam e se mobilizam para
esse mercado.
Cabe aqui fazer uma distinção entre o local e o regional. Essa diferença
reside em dois pontos. O primeiro é a "dupla questão escalar" visto que na escala
territorial os conceitos se permeiam e a diferença é relativa, como já explicado. Na
escala funcional há uma distinção de funções, por exemplo, a promoção do emprego
pode ser uma política local e a pesquisa e o desenvolvimento, com características
amplas, podem ser de cunho regional. A segunda questão, a mais clara, diz respeito
às relações estabelecidas, pois no âmbito local elas são mais próximas, entre atores
individuais, e no âmbito regional são mais corporativas, entre instituições.
Albuquerque, Del Castillo e Llorens (2002), na visão do BID, ao analisar
algumas iniciativas de desenvolvimento local na América Latina, constatam que:
A inclusão do enfoque de desenvolvimento local não é patrimônio de nenhuma
ideologia política se bem pareceria mais lógico que se incluísse entre as
propostas mais sensíveis até a melhoria das condições de vida da população, a
qual pode encontrar-se, desde logo, em um amplo espectro de formações
políticas não somente interessadas em facilitar os negócios dos grandes grupos
empresariais e financeiros internacionais ou vinculados aos negócios da
exportação. A fantasia criada em torno do tema globalização, como se não
existisse mais mercado que o do núcleo globalizado, não ajuda muito a
incorporar uma visão mais complexa, porém mais real como é a de que nossas
economias se compõem de uma variedade heterogênea de atores, territórios,
mercados e segmentos de capital cuja lógica não pode ser reduzida a do
funcionamento monopolista em um só mercado global. Igualmente, a
dificuldade ideológica de uma parte da esquerda para reconhecer a importância
de trabalhar conjuntamente com os micro, pequenos e médios empresários
acaba explicando a lentidão do avanço das propostas e políticas de
desenvolvimento local (ALBUQUERQUE et al., 2002).
53
Entre outros aspectos, Albuquerque assinala que iniciativas de desenvol-
vimento local na América Latina também têm como pontos comuns:
a) O fato de preocupar-se muito mais com o fomento do desenvolvimento
produtivo e do emprego em nível local como parte da nova agenda da
gestão pública local;
b) As políticas têm um projeto setorial e não territorial. Qual é a diferença?
Em que as políticas públicas setoriais não levam em consideração o
efeito que produzem no espaço – urbano ou rural – nem o meio
ambiente, nem as minorias étnicas, nem o gênero?
c) Grande parte das experiências exitosas surge de ambientes de conflito e
situações críticas que mereçam a intervenção do poder público;
d) A maior parte dos processos exitosos possui um projeto "desde baixo"
(bottom up) e envolve processos de conciliação entre diferentes atores
como forma de responder às tensões que introduzem dois processos
paralelos e distintos: de um lado, a necessidade de enfrentar os desafios
da reestruturação econômica e tecnológica e, de outro, as mudanças
estruturais que a eleição democrática introduz nas comunidades, que
passam a exigir respostas substantivas às aspirações de emprego e
melhoria do nível e qualidade de vida.
Outras interpretações a respeito do conceito de desenvolvimento local
podem ser colocadas a seguir.
O desenvolvimento econômico local é aquele processo reativador e
dinamizador da economia local, que mediante o aproveitamento eficiente dos recursos
endógenos existentes de uma determinada zona, é capaz de estimular o crescimento
econômico, criar emprego e melhorar a qualidade de vida (ILPES, 1998).
É um processo participativo e equitativo que promove o aproveitamento
sustentável dos recursos locais e externos, no qual se articulam os atores-chave do
território para gerar emprego, renda para melhorar a qualidade de vida da população
(GTZ, ZOOP/1998).
54
Outro grupo de técnicos da Comissão Econômica para América Latina e o
Caribe (CEPAL-ILPES, 2004) defende o desenvolvimento local, pois, ao identificar a
existência de heterogeneidade estrutural, é possível privilegiar processos de produção
e acumulação que impliquem o desenvolvimento de inovações tecnológicas para
construir, dessa maneira, a competitividade sistêmica natural. Apesar das possíveis
discrepâncias entre os autores que tratam o desenvolvimento local, é possível
destacar elementos comuns no processo (SILVA, 2004):
a) são processos de natureza endógena: (re)valorizam o conjunto de
recursos locais e buscam uma utilização ótima de seu potencial;
b) embasam sua estratégia em uma solidariedade com o território: é uma
modalidade de desenvolvimento que pode tomar forma em territórios de
vários tamanhos, mas, não em todos, dada a complexidade intrínseca
do processo de desenvolvimento;
c) respondem a uma vontade de gestão de parceria ou associativa entre
representantes públicos e privados;
d) liderança e animação do processo: papel que o município deve assumir,
pois não existe a mão invisível, nem o mercado ajusta oferta e demanda
(BOISIER, 2000; HADDAD, 2004);
e) a originalidade das experiências locais consiste em recolher e estimular
todos os elementos endógenos dinâmicos desde uma perspectiva integral;
f) dificilmente se encaixam em modelos ou estruturas de gestão muito
rígidas ou fechadas;
g) as ações podem ser empreendidas e transformadas em características
específicas desses processos (AROCENA, 1997, 2001; BOISIER, 2000;
BUARQUE,1999; ALBUQUERQUE et. al., 1998; VAZQUEZ-BARQUERO, 2000).
O desenvolvimento local, como conceito, foi uma das primeiras políticas que
surgiu na década de 1980 na Europa ante a crise de Estado de Bem-Estar, a crise do
modelo de acumulação fordista. A coexistência de zonas amplas, dinâmicas e de
desenvolvimento industrial com regiões fragmentadas e o aumento considerável dos
55
indicadores de pobreza e desemprego em regiões e cidades latino-americanas
fizeram com que este conceito extrapolasse o continente a partir da década de 1990,
adquirindo relevância no marco da globalização e das políticas de Reforma do Estado.
Os processos de modernização e reforma da administração pública e dos
Estados nacionais que se reproduziram em toda América Latina ao longo da década
de 1990, impulsionaram mecanismos e medidas de descentralização para o
fortalecimento do papel do poder local (LOURENÇO, 2000, 2003). O processo de
descentralização converteu-se na resposta ao fracasso dos governos centralizados,
ou produto de ditaduras, que mantinham na época uma preocupação maior com a
administração e as formas de gestão do que com as demandas da sociedade civil.
Carlos de Mattos (2002) adotou uma visão sem esperanças sobre o
desenvolvimento local. Sustenta que as posturas que propõem os defensores do
desenvolvimento local também são levantadas pelos teóricos do neoliberalismo, que
mais que pretender melhorar as condições de vida da população buscavam manter
as condições econômicas e sociais aplicando as receitas para a estabilização
macroeconômica que recomendavam a abertura comercial e financeira, privatização,
desburocratização, descentralização e redução do Estado. Segundo Mattos, a
descentralização por si só não mudou as condições estruturais nas quais se inseria
a sociedade local nem melhorou a situação da população, porque a existência de
heterogeneidade estrutural consolidou os sistemas de vulnerabilidade social em
conflito com as condições mínimas de cidadania e colocou boa parte da população
da periferia das grandes metrópoles à margem dos mercados globais.
Brandão (2007, 2004, 2005), ao abordar a temática do desenvolvimento,
critica a adoção de forma mecânica da literatura internacional contemporânea na
orientação das ações públicas em âmbito subnacional. Para o autor, tem havido uma
revalorização da dimensão espacial do processo de desenvolvimento, porém, junto
com essa visão de revalorização tem se apresentado outra, quase hegemônica, a de
que o desenvolvimento ocorre por meio do voluntarismo local. Na visão do autor,
essa abordagem do desenvolvimento
56
[...] sugere que estaríamos vivendo a possibilidade de consolidar um novo
padrão de desenvolvimento, construído totalmente no âmbito local, dependente
apenas da força de vontade dos agentes empreendedores que mobilizariam as
potências endógenas de qualquer localidade. (BRANDÃO, 2007, p.36).
Nessa condição, essa forma de pensar nega a natureza das hierarquias de
geração e apropriação de riqueza, as quais são impostas em variadas escalas. O
autor defende que deveria ocorrer uma reflexão crítica sobre essa visão,
incorporando na análise o tratamento adequado da articulação de todas as escalas
geográficas. Ao afirmar que nenhuma escala é boa ou ruim por si, pondera que seria
necessário discutir a espacialidade dos problemas e elaborar políticas adequadas à
escala específica destas, mas em um contexto em que esteja presente um projeto
nacional de desenvolvimento (BRANDÃO, 2007). De acordo com esse autor, ao
desconsiderar as escalas intermediárias, que na atual fase do capitalismo ganham
novo sentido e importância, se estabelece um paradoxo na maioria dessas
formulações teóricas, pois, de um lado, o espaço local é tratado como um mero nó
entrelaçado em uma imensa rede e submisso em um conjunto gigantesco; de outro,
aparece como um recorte singular, dotado de vantagens únicas, capaz de
autopropulsão, identidade e autonomia.
O autor entende que o enfrentamento dessa visão demanda propostas
alternativas que precisam envolver adequadamente a articulação de todas as escalas
geográficas. Para estudar as heterogeneidades, hierarquias e especializações em
qualquer escala (regional, nacional, internacional), o autor propõe como categoria
explicativa básica para a investigação da dimensão espacial do desenvolvimento a
divisão social do trabalho.
Para Brandão (2007), essa categoria corresponde à expressão do estágio
atingido pelo desenvolvimento das forças produtivas, capaz de revelar as mediações
e as formas concretas de reprodução social no espaço, expressando a constituição
socioprodutiva interna e suas possibilidades de inserção no contexto maior, ou seja,
sua posição em uma relação hierárquica superior. Para complementar, o autor indica
a compreensão do movimento desigual da acumulação de capital no espaço
afirmando a necessidade da verificação de forma articulada os processos de
homogeneização, integração, polarização e hegemonia nos recortes territoriais.
57
Brandão (2007) conduz a reflexão no sentido de destacar as insuficiências
da análise regional (e urbana) desconstruindo a espacialidade do desenvolvimento
no sistema capitalista, a partir de quatro processos sociais fundamentais; processos
estes que ele define e analisa no contexto das escalas territoriais no Brasil
(BRANDÃO, 2007, p.27):
a) homogeneização das condições de reprodução do capital em geral, que
elimina alguma das principais diferenças na fronteira de alguns espaços,
preparando-os para certa lógica do movimento de uniformização do
processo de valorização; assim, o capital busca valorizar-se sem
confinamentos regionais/espaciais (Ibidem, p.72);
b) integração de espaços territoriais econômicos, estimulado e imposto
pela concorrência da pluralidade dos capitais e que permite criticar a
vulgarização da globalização; mas reforça relações centro dinâmico-
periferia, embora nunca possa ser encarado como unidirecional; em
decorrência, a integração pode provocar o aumento das potencialidades
e vulnerabilidades regionais (Ibidem, p.76);
c) polarização, síntese da hierarquização dos espaços que decorre dos
mecanismos ativos de natureza espacial, desigual e combinada do
desenvolvimento capitalista; centralidades desigualmente distribuídas no
espaço e concentradas nos núcleos urbanos centrais. Refletem
estruturas de dominação fundadas na assimetria (Ibidem, p81); e
d) o da hegemonia, por meio do qual as diferentes frações do capital se
confrontam e acomodam para atender aos interesses (regionais), ou a
chamada coerção e consentimento ativo (Ibidem, p.83).
Brandão (2004, p.9), na direção da desconstrução dos conceitos dos autores
citados anteriormente, fez uma análise importante sobre o que chama de
"localismos, mitos e banalizações no debate sobre o desenvolvimento" (BRANDÃO,
2004), desmitifica os excessos que cometem alguns autores que defendem a
abrupta necessidade de que as comunidades, cidades pequenas e pobres de todo o
58
mundo, deveriam despertar e se integrar aos fluxos de correntes empreendedoras
que podem levá-las a um grau de desenvolvimento e equidade nunca antes
alcançados. O autor defende uma visão crítica do chamado Desenvolvimento.
O desenvolvimento capitalista é intrinsecamente marcado por rupturas,
conflitos, desequilíbrios e assimetrias, e apresenta uma peculiar espaciali-
dade de sua riqueza, sob a forma de mercadorias, que requer instrumentos
analíticos e conceituais bastante precisos para seu estudo (BRANDÃO,
2007, p.70).
Chama a atenção a respeito dos diversos vocábulos de uso comum pelas
correntes que defendem o "endogenismo excessivo", isto é, "o local pode tudo" e nos
contrapõe com a realidade de que classes sociais dominantes e dominadas, mercados
oligopólicos e hegemonias são mais responsáveis por eficiência e competitividade de
uma cidade do que qualquer "sistema de governança local" com atitude cooperativa.
As críticas do autor, com as que se dialoga ao longo deste trabalho, destacam
que aqueles que defendem as microiniciativas de capital social e de coletivos
empoderados, esquecem-se de como as cidades se inserem no espaço regional e
que a atividade econômica obedece a marcos e referências socioespaciais, nacionais
e internacionais, como vimos anteriormente graças à globalização.
O perigo apontado por Brandão (2004, p.16) é que as teorias que defendem
exacerbadamente o local como ponto de partida para o desenvolvimento endógeno
das cidades esquecem e abandonam a perspectiva crítica da sociedade e orientam as
ações pelo repartir solidário de valores de autoidentidade e de pertença das cidades.
Desse modo, considera que se há forças endógenas que podem e devem ser
acionadas, há também hierarquia de poderes, decisões estratégicas, macroeconomia
e macroprocessos, que se encontram muitas vezes em outras escalas, exógena a(s)
localidade(s) e que não podem ser negligenciadas. Segundo o autor, no Brasil, a
defesa do desenvolvimento a partir do poder local tem desconsiderado o grave quadro
de exclusão e seletividade de um crescimento apropriado pelo pedaço mais moderno
da população num quadro de desigualdades sociais que se vivencia em todas as
regiões metropolitanas.
59
Apesar do pessimismo expresso a respeito do desenvolvimento, em outro
trabalho, Brandão (2005) aponta para:
O grande desafio que uma proposta de desenvolvimento trans-escalar
(governo central, estados e municípios frente à globalização) é aprender a
tratar dialeticamente às heterogeneidades estruturais (produtivas, sociais e
regionais) de um país continental, periférico e subdesenvolvido como o
Brasil, a fim de fazer operar essa imensa diversidade e criatividade no
sentido de avanço social, político e produtivo [...] É fundamental construir
táticas e estratégias que envolvam um processo delicado de aprendizado
conflituoso que irá requerer o resgate da lógica de projeto e do
planejamento, participativo e politizado. (BRANDÃO, 2005, p.5)
Tais desafios, dados seu vulto e complexidade, devem estar amparados por
teorias críticas ao desenvolvimento vigente. Brandão defende que a análise deve
buscar determinações profundas e realizar um balanço permanente entre a ruptura e
as continuidades históricas e espaciais, isto é, entre o que é novo e o que é recorrente
no momento atual; nessa visão há um novo conjunto de condições sociais, políticas e
tecnológicas que modificam de maneira significativa o modo como o desenvolvimento
é produzido e reproduzido. Esse processo envolve o reconhecimento da existência de
escalas que se sobrepõem ao território e que dão sentido (ou a essência) ao jogo
do local e do global; ao mesmo tempo em que busca um redirecionamento visando
fortalecer agentes e atores conforme um projeto, nem sempre comum, de controle
do espaço.
Bacellar (2009), ao comentar as constatações de Brandão (2007) em relação
ao desenvolvimento, sustenta que o Brasil tem aprendido de forma dura que a entrega
da dinâmica regional às decisões do mercado tem contribuído para exacerbar o caráter
seletivo da sociedade, ampliando fraturas herdadas. Quanto às políticas públicas, a
autora defende que esse processo é evidenciado quando argumenta que há
[...] políticas públicas que tendem em sua concepção e prática, apenas a
reforçar e consolidar as forças de mercado; que, sem levar em conta a
presença de um contexto heterogêneo e desigual pode dar lugar a impactos
negativos sobre as condições de vida e trabalho em amplos segmentos da
população, notadamente das regiões e sub-regiões mais atrasadas, tradicionais
e de menor capacidade de competição e inserção competitiva". (BACELLAR,
2009, p.20) [...] No Brasil continental, heterogêneo, diverso e desigual não serve
nem as soluções centralizadas nem o localismo atomizante. Temos que
construir políticas que articulem ações descentralizadas (Ibidem, p.22).
60
Bacellar (2007) observa que a visão teórica de Brandão sobre o
desenvolvimento no Brasil é correta. Na opinião da autora, a intervenção do Estado
deve ser para dinamizar a economia dos territórios sem agredir suas identidades e
articulando propostas que venham de baixo para cima, porém articuladas a uma
política em escala nacional. O reconhecimento de desigualdades inter e intra-
regionais é um caminho, tal como assinala Brandão (2007), já que não há uma
escala relevante nem uma única escala no caminho do desenvolvimento. A busca de
soluções deve estar em trabalhar o grande potencial que gira em torno da "magnífica
diversidade regional", pois mesmo naquelas regiões onde a base material
(econômica) é pobre, há uma riqueza cultural enorme.
1.2.2 Desenvolvimento rural
O Desenvolvimento rural é um conceito ancorado no tempo e no espaço
(KAYEYAMA, 2008). Tem ocupado extensa literatura acadêmica e documentos de
organizações sociais e políticas do mundo todo nas últimas décadas. Até pouco
tempo atrás, no Brasil o debate girava em torno de economia agrícola, do agrone-
gócio e de seus mercados. Recentemente, os conceitos de desenvolvimento rural e
ruralidade adquiriram uma identidade territorial ao serem introduzidos pelo principal
órgão das políticas públicas para o meio rural no Brasil, o Ministério de Desenvol-
vimento Agrário (MDA).14
O desenvolvimento rural tampouco é identificado com o crescimento
econômico, ao contrário é visto como um processo que envolve múltiplas
14 Segundo o MDA, o rural não se resume ao agrícola. Mais do que um setor econômico, o que
define as áreas rurais enquanto tal são suas características espaciais: o menor grau de
artificialização do ambiente quando comparado com áreas urbanas, a menor densidade
populacional, o maior peso dos fatores naturais (Portal da SDT/MDA - http://www.mda.gov.br/sdt)
61
dimensões: dimensão econômica, sociocultural, política, institucional e ambiental
(IICA, 2005, 2008; FAO, 1994, 2000).15
O desenvolvimento rural teve duas grandes fases na América Latina, e
especialmente no Brasil. A primeira contou com três fases reconhecidas, como a
modernização da agricultura, industrialização da agricultura e formação dos complexos
agroindustriais (KAGEYAMA, 1999). As bases para a modernização da agricultura
brasileira foram lançadas na década de 1950, quando se instalaram no país várias
indústrias produtoras de insumos, tratores e máquinas. O paradigma dominante era o
desenvolvimento rural como modelo exógeno: a modernização da agricultura, pautada
na revolução verde, como uma resposta do rural para as necessidades da economia
urbana, o resultado dos benefícios desse modelo era exportado para outras regiões.
O rural era sinônimo de atraso, e a incorporação de produtos, serviços e pesquisas
ocorria a partir do espaço urbano. Segundo Ellis e Biggs16 (2001 apud ALVES;
GUIVANT, 2010, p.92) estabelece-se uma dicotomia entre o rural e o urbano,
enquanto o rural dava a segurança alimentar para o urbano, o urbano produzia
insumos e melhorava tecnicamente a produção e distribuição mundiais.
As políticas desenvolvidas e que afetaram diretamente o setor foram
dirigidas à sustentação da modernização agrícola, tendo em vista que uma grande
massa de agricultores possuía atraso tecnológico, baixa produtividade e, alguns
casos, eles estavam marginalizados do mercado. O foco do desenvolvimento rural,
portanto, era o estímulo à mobilidade do capital e do trabalho agrícolas e a
monocultura. O resultado do desenvolvimento rural chamado de exógeno foram,
além da modernização, economias de escala e concentração, e o desenho espacial
15 O estudo foi um dos pioneiros: FAO/INCRA Diretrizes de Política Agrária e Desenvolvimento
Sustentável. Brasília, Versão resumida do Relatório Final do Projeto UTF/BRA/036, março, 1994. O
INCRA atualizou o mesmo estudo, chamando-o de Novo retrato da agricultura familiar: o Brasil
redescoberto. Brasília, 2000.
16 ELLIS, F.; BIGGS, S. Evolving themes in rural development 1950s-2000s Development Policy
Review, v.19, n.4, 2001.
62
de polos de crescimento rural diferenciado a partir dos produtos primários que
promoviam a sua expansão (se commodities para exportação ou alimentos de
consumo doméstico).
Todas essas tecnologias foram difundidas, sem levar em consideração as
diferenças de clima, solo, topografia, presentes nas várias regiões do país. Além
desses fatores, foram negligenciadas as realidades sociais, econômicas e culturais,
necessárias para uma efetiva adoção e a boa utilização. O êxodo rural provocado
pelo modelo adotado, também o inchaço das cidades agravaram o desemprego e a
violência urbana, além da elevação dos preços dos alimentos, tendo em vista a
prioridade dada às culturas de exportação. A modernização agrícola acabou
aumentando a concentração da renda e da propriedade da terra (FAJARDO, 2008).
Além do incentivo ao pacote tecnológico, com sistemas de créditos
subsidiados, disseminou-se a lógica da organização espacial das grandes fazendas
com monoculturas, onde haveria uma relação direta entre a dimensão das
explorações agrícolas e a eficiência econômica. Até a década de 1980 houve um
recuo do Estado no desenho de políticas voltadas para a agricultura, e boa parte dos
esforços centralizou-se na diminuição de conflitos agrícolas versus conflitos agrários.
No Brasil, o complexo agroindustrial fundou o "agronegócio", deixando na
paisagem rurais elementos estruturais inerentes a esse quadro agroindustrial: redes
de transporte rodoviário e ferroviário, armazéns, unidades industriais e cidades que
constituíram verdadeiros polos agroindustriais (FAJARDO, 2008).
O segundo grupo de explicações sobre o desenvolvimento rural Terluin17
(2003 apud KAGEYAMA, 2008, p.80; ELLIS; BIGGS, 2001, apud ALVES; GUIVANT,
2010, p.93) surge da explicação de um novo paradigma, chamado de abordagem
endógena do desenvolvimento rural que se assenta nos modelos de crescimento
endógeno, com políticas de suporte a diversificação rural e apoio às iniciativas
17 TERLUIN, I. J. Differences in economic development in rural regions of advanced countries: na
overview and critical anlyss of thories. Journal of Rural Studies, v.19, p.327-344, 2003.
63
locais. Em geral, as propostas se caracterizam pela alteração na forma de propor a
tomada de decisões que nas décadas anteriores eram, principalmente, de cima para
baixo (top-down) para sugerir abordagens de baixo para cima (bottom-up),
valorizando o conhecimento e os atores locais. As teorias de desenvolvimento rural
salientaram as especificidades locais e os enfoques microssociológicos e espaciais,
dando importância a temas transversais como gênero e juventude, além da
preocupação maior com o desenvolvimento da agricultura familiar e sua inserção no
mercado (ALVES e GUIVANT, op. cit. p.93).
Na visão de Schneider (2008), o quadro analítico e interpretativo que vem
sendo utilizado é relativamente difuso e polissêmico, não obstante tenha sido capaz
de influenciar e desempenhar um papel importante na própria elaboração da agenda
temática para o desenvolvimento rural. Ainda na visão desse autor, os principais
fatores que contribuíram para que a discussão do tema ganhasse legitimidade
foram, em primeiro lugar, o papel do Estado e das políticas públicas que focalizaram
os agricultores familiares e a reforma agrária tiveram um papel decisivo, pois foi por
meio delas que se instaurou um debate entre estudiosos e pesquisadores que
passaram a alimentar o próprio tema do desenvolvimento rural.
O primeiro, e talvez o mais importante, fator a ser destacado está relacionado
à trajetória das discussões em torno da agricultura familiar e de seu potencial como
modelo social, econômico e produtivo para a sociedade brasileira. Em segundo lugar,
porque a discussão sobre desenvolvimento rural no Brasil foi impregnada por um
sentido político que se alimentou e fortaleceu à medida que a polarização entre os
defensores do agronegócio e da agricultura familiar se cristaliza como discurso
político. O fator mais importante para emergência do debate sobre o desenvolvimento
rural no Brasil foi produto da crescente influência e ação do Estado no meio rural, que
se deu tanto por meio das políticas para a agricultura familiar e da criação do PRONAF
(Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), em 1996 – tornando-se
a principal política pública destinada aos pequenos agricultores no Brasil – como
das ações relacionadas à reforma agrária, segurança alimentar, entre outras, numa
retomada estratégica das políticas setoriais na agricultura.
64
E, por último, pela emergência de temas relacionados às questões ambientais e
à sustentabilidade que foram incorporadas ao tema mais geral do desenvolvimento.
Esse debate em torno desta questão já vinha extrapolando o espaço rural porque a
própria discussão sobre a sustentabilidade é anterior à retomada da discussão sobre o
desenvolvimento rural (Comissão Brutland).
Por outro lado, Schneider (2008) salienta que o debate sobre o desenvol-
vimento rural no Brasil emergiu e se consolidou como uma questão e um tema de
interesse à medida que os estudiosos e mediadores foram produzindo interpretações
e leituras sobre os processos sociais transcorridos desde o princípio da década
de 1990. Em geral, foram estes estudos e documentos que serviram aos agentes,
mediadores e formuladores de políticas como inspiração para elaboração de formas
de intervenção e planejamento.
Entre os argumentos comuns resumidos pelo autor a partir de uma visão de
conjunto, podem ser extraídos alguns consensos entre as propostas, dentre as quais
se destacaram os apresentados a seguir.
Os estudiosos parecem concordar que a usual redução do espaço rural às
atividades agropecuárias perdeu sentido na atualidade, colocando-se o desafio de
pensar as interfaces e os atributos que caracterizam o espaço e seu conteúdo como um
todo. Há um relativo consenso sobre a dimensão multidimensional da sustentabilidade
do desenvolvimento rural, assim como em relação ao papel da agricultura familiar e das
formas heterogêneas de sua inserção na dinâmica da economia capitalista.
Mesmo que de forma difusa, as abordagens parecem concordar que no
Brasil o foco das ações do desenvolvimento rural deve ser o combate à pobreza e às
múltiplas vulnerabilidades das populações rurais.
Apesar dos consensos, uma apreciação comparativa também permitiu
constatar que os estudiosos raramente coincidem em relação às perspectivas e
tendências para o meio rural e menos ainda no que se refere às estratégias de
intervenção a serem seguidas.
65
As dificuldades, na visão de Schneider (2008), aparecem porque, sob a
noção de desenvolvimento rural, parece existir uma discussão sobre temas e
questões que afetam as populações rurais, a agricultura e o espaço, que são
submetidos à análise, reflexão e à avaliação pelos estudiosos a partir de demandas
externas, em geral formuladas pelo Estado, pelos mediadores e outros organismos,
mas não um corpo conceitual que o contenha. Revisar-se-ão a seguir as três
correntes principais com seus expositores18.
A perspectiva do desenvolvimento rural que se encontra nos trabalhos de
Abromovay e Veiga constitui-se em uma das propostas mais férteis e de amplo
escopo temático e teórico. Ao longo de vários anos de pesquisa dos temas rurais, a
trajetória articula-se em torno de uma matriz multidisciplinar em que se destacam a
economia, a ecologia e a sociologia econômica. (VEIGA, 2002; ABROMOVAY, 2003;
2006). Para ambos, a valorização da agricultura familiar e o reconhecimento de seu
potencial dinamizador das economias locais talvez seja o principal ponto de consenso.
Em maior ou menor medida, sustentam o argumento de que a capacidade
de inovação dos agricultores familiares e sua interação com as instituições locais
são fundamentais para que possam ampliar a geração e agregação de valor, assim
como reduzir custos de transação e estimular economias de escopo.
Em geral, consideram os agricultores familiares como "empreendedores",
sendo sua capacidade de inovação uma característica herdada de seu passado
camponês. Mas camponeses e agricultores são distinguidos, sendo o traço diferen-
ciador a integração aos mercados e sua reprodução em um ambiente que estimula o
agricultor a tornar-se produtor de mercadorias.
Como pequenos proprietários, donos de seus meios de produção, os autores
sustentam que a reprodução dos agricultores familiares depende de sua capacidade
de fazer escolhas e desenvolver habilidades em face dos desafios que lhe são
colocados pelo ambiente social e econômico em que vivem. Nesse ambiente, são
18 A seguir, serão feitas algumas referências aos trabalhos publicados pelos autores. Alguns deles
lidos em contextos de trabalho e pesquisa do autor desta dissertação, não sendo exaustiva sua
síntese, apenas utilizando alguns elementos de interesse para o escopo do trabalho adiante.
66
compelidos a inovar constantemente (por meio da interação territorial) e a se
tornarem pluriativos. Veiga utiliza os conceitos de empreendedorismo (VEIGA, 2002)
enquanto Abromovay sugere uma releitura do capital social de Putnam19 (apud
ABROMOVAY, 2003; 2006) para discorrer sobre os fatores que geram cooperação,
reciprocidade e solidariedade, que seriam elementos fundamentais para ativar as
economias de proximidades e relativizar os conflitos locais.
Embora percorrendo agendas de pesquisa próprias, ambos os autores
compartilham um consenso em relação ao papel das instituições no meio rural.
Enquanto nos trabalhos de Veiga as instituições aparecem associadas ao próprio
Estado (empresas públicas, políticas governamentais) ou a organismos paraestatais
(consórcios intermunicipais, agências de desenvolvimento, universidades), os estudos
de Abramovay focalizam as organizações dos agricultores, as suas formas de
cooperação e as regras e normas tácitas (o capital social) existentes nos territórios.
O segundo grupo de pesquisadores oriundos da UNICAMP tornou-se
conhecidos no âmbito acadêmico e institucional desde o final da década de 1990
por trabalhar as hipóteses de que o meio rural já não poderia ser considerado
essencialmente agrícola. Na visão dos pesquisadores20, o surgimento do novo rural
brasileiro decorre do próprio processo de modernização conservadora da base
19 PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro:
FGV, 2006.
20 A partir da divulgação pelo IBGE dos microdados das Pesquisas Nacionais por Amostra de
Domicílios (PNADs) de 1992, um grupo de 25 pesquisadores, coordenados pelos professores José
Graziano da Silva e Rodolfo Hoffmann do Instituto de Economia da Unicamp, iniciaram uma
pesquisa multidisciplinar, com a finalidade de caracterizar a população residente no meio rural
brasileiro e do paulista em particular. Tal pesquisa, denominada de Projeto Rurbano, que visava
basicamente à reconstrução das séries históricas a partir dos microdados das PNADs para o
período 1981/95, relativos à população ocupada, emprego e renda e com eles identificar o
comportamento do novo rural que se configurava no Censo Agropecuário, porém impossível de ser
captado pelos dados colhidos em campo. A principal conclusão obtida do Projeto Rurbano foi
constatar o crescimento da população rural economicamente ativa, embora o emprego agrícola
venha caindo desde meados dos anos 80. Para explicar esse fato, a pesquisa sugeriu que a
compensação das perdas de postos de trabalho no setor agrícola tem sido feita com o aumento de
número de atividades não agrícolas no meio rural, chamado de Novo Rural.
67
tecnológica da agropecuária. Quando esse processo se completa, no final da década
de 1980, especialmente nas regiões Centro e Sul do Brasil, emergiu no meio rural
uma nova conformação econômica e demográfica que possuía como característica
fundamental uma redução crescente das diferenças entre o urbano e o rural,
especialmente no que se refere ao mercado de trabalho, e as demandas urbanas no
meio rural, devido ao crescimento da população ocupada em atividades não agrícolas.
O rural deixou de ser "sinônimo de atraso" ao se desconectar da agricultura,
que passou a ser apenas uma de suas atividades. Segundo Graziano da Silva e Del
Grossi (1999), a erosão das diferenças entre o rural e o urbano levou ao aparecimento
de um continuum entre ambos, que na visão dos autores, poderia ser chamado de
rurbanização apropriando o conceito do G. Freire21 (1982 apud GRAZIANO; DEL
GROSSI, 1996), e que serve para descrever a etapa do processo de mudança espacial
e demográfica que ocorre nesse espaço.
Em "O novo rural Brasileiro", Graziano da Silva (2000) destaca o crescimento
de três setores não relacionados a nenhuma atividade agrícola, a saber: atividades
relacionadas às indústrias no meio rural, em particular, as agroindústrias; atividades
relacionadas à crescente urbanização do meio rural, desde a forma de moradias,
turismo, lazer e até mesmo a preservação ambiental; crescimento das residências
secundárias no meio rural, as chamadas chácaras ou sítios de recreio, destinadas
ao lazer de famílias de classe média urbana. As principais atividades desses três
subsetores se organizaram em novos arranjos espaciais: uma agropecuária moderna
(agronegócio) baseada em commodities e intimamente ligada às agroindústrias;
um conjunto de atividades não agrícolas ligadas à moradia, ao lazer e a várias
atividades industriais e de prestação de serviços; e, por último, um conjunto de
novas atividades agropecuárias, impulsionadas por nichos de mercado.
21 FREYRE, Gilberto. Rurbanização: o que é? Recife: Massangana, 1982.
68
O lado atrasado do rural persistiria por meio da manutenção da pobreza e da
vulnerabilidade de ampla gama da população, identificada com o grupo social que
Graziano da Silva denominou "sem-sem" – formado pelos excluídos e desorganizados
que, além de não terem terra, emprego, educação, saúde e renda, não teriam sequer
uma organização social que os mobilizasse (GRAZIANO DA SILVA, 2001). O traço
principal deste novo rural seriam as famílias pluriativas, aquelas que combinam
atividades agrícolas e não agrícolas e promovem a integração intersetorial (agricultura
com comércio e serviços) e interespacial (rural com urbano).
Outro grupo temático foi desenvolvido em torno dos condicionantes e das
potencialidades dos processos de mudança social no meio rural do Brasil fundamentados
nas mudanças socioculturais e políticas das transformações no território.
O grupo de pesquisadores não tinha uma agenda de pesquisa, mas partia
do pressuposto das dificuldades na formação do tecido social que impediram no
Brasil mudanças gerais nas instituições, organizações sociais e no próprio Estado
em favor do desenvolvimento rural.
A abordagem per se é difusa e polissêmica; os temas tratados perpassam
pelo estudo do clientelismo, capital social, formas de dominação e as possibilidades
do desenvolvimento e alteração das condições de vida das populações mais pobres
no meio rural, elites locais e formas de dominação, sendo seus principais expoentes
Jose de Souza Martins e Zander Navarro.
Esses autores ressaltaram a necessidade da promoção de processos radicais
de democratização, em que os grupos sociais deixariam de ser tutelados e controlados
pelas elites e pelos mediadores (agentes da Igreja, do Estado, dos partidos políticos,
dos movimentos sociais). Sustentaram que as próprias populações rurais deveriam
organizar instâncias de gestão cuja institucionalização e legitimação passariam pelo
Estado por uma via de mão dupla: de um lado, mediante a concessão de recursos
(financiamentos, infraestrutura) e por meio do reconhecimento de direitos (cidadania,
acesso à terra) e, de outro lado, por meio da exigência de contrapartidas que se
materializariam em melhorias nos indicadores de qualidade de vida e bem-estar
social (escolarização, por exemplo). Estudos como os de Navarro (1999; 2002);
69
Martins (1999; 2003) e Fox22 (1990 apud SCHNEIDER, 2009) indicavam que os
processos de desenvolvimento poderiam e deveriam contribuir, efetivamente,
para estimular a "emancipação social", criar mecanismos de responsabilização
(accountability) e, desse modo, promover a democratização da sociedade.
A quarta abordagem com foco no desenvolvimento rural possui uma relação
fluida e pouco identificada com as questões mais gerais do desenvolvimento. Talvez
alguns de seus autores até mesmo nem se coloquem esta questão ou qualquer
preocupação com o tema do desenvolvimento rural per se.
Em linhas gerais, trata-se de uma vertente de estudos que focalizou o
agronegócio e as cadeias agroalimentares sob uma perspectiva que, em geral, não era
aquela que subscrevia a teoria econômica convencional. São autores que analisaram
as formas de integração dos pequenos produtores (embora não apenas destes) nas
cadeias agroindustriais ou agroalimentares, revelando uma preocupação consequente
com os aspectos sociais deste processo. Ou seja, não se tratava apenas de examinar
as formas de gestão, administração, tomada de decisão, formas de inovação, acesso a
mercados e comercialização, que são usualmente os temas de interesse dos
estudiosos do agronegócio, mas também de entender em que condições os pequenos
produtores e suas organizações podiam fazer frente aos desafios colocados pela forma
como o capitalismo opera na agricultura e na produção de alimentos.
A questão mais geral que perpassa os trabalhos dos autores desta corrente
concentra-se em dois pontos do diagnóstico. O primeiro, de que na fase atual do
capitalismo, as possibilidades de sobrevivência e reprodução social dos agricultores
familiares como produtores de alimentos, fibras e matérias-prima dependeriam,
fundamentalmente, da capacidade de inserção em um ambiente em que sejam capazes
de inovar (progresso técnico), adquirir um domínio relativo sobre os mercados e
desenvolver formas de gestão e planejamento da propriedade. Outro ponto de
consenso entre os autores desta abordagem é o fato de que, em geral, eles analisaram
22 FOX, J. Democratic Rural Development: leadership accountability in regional peasant organizations.
Development and Change, v.23, n.2, 1990. In: SCHNEIDER, S. A economia política dos estudos
sobre desenvolvimento rural no Brasil. Trabalho apresentado no SOBER - XLVI Congresso
Brasileiro da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 2009.
70
um tipo de agricultura familiar mais "capitalizada", com acesso aos mercados e às
tecnologias mais modernas, não raro localizadas nas regiões dinâmicas das economias
rurais. Tomam-se como referência os trabalhos de Wilkinson (1999; 2000; 2003) e os
autores das coletâneas organizadas por Lima e Wilkinson (2002) e Souza Filho e
Batalha (2005). Acredita-se que os trabalhos de Wilkinson ilustrem melhor as questões
e os desafios que esta perspectiva lança sobre a temática do desenvolvimento rural.
Em suma, o debate sobre o desenvolvimento rural na perspectiva territorial
procurou a combinação de estratégias de crescimento produtivo com a solução de
problemas sociais e agrários numa visão de concertação e empoderamento de
atores que transcenda o território.
A mudança nas formas de ocupação do meio rural foi um elemento de vital
importância para explicar o crescimento produtivo e a pluriatividade, dentre os quais
destacam-se os seguintes fatores: a) a própria modernização técnico-produtiva, pela
intensificação da técnica em processos produtivos; b) a queda das rendas agrícolas,
decorrência principalmente do aumento dos custos de produção agrícola, da
dependência tecnológica e das políticas protecionistas; c) o crescente estímulo para
as atividades rurais não agrícolas como forma de contenção das migrações; d)
mudanças no mercado de trabalho não agrícola; e, e) a importância crescente da
agricultura familiar no meio rural como forma de solucionar os conflitos sociais
(agrários) ainda existentes.
1.3 POLÍTICAS PÚBLICAS DO TURISMO
Este item tem como objetivo apresentar um diagnóstico sobre as atuais
Instituições, as Políticas Públicas de Turismo e a forma de implementação destas no
que tange ao turismo rural no Estado do Paraná. Inicialmente, as atenções do governo
federal para o turismo no período de análise foram crescentes, pois a atividade
caracteriza-se por um grande potencial de geração de renda e empregos que a coloca
como fundamental em qualquer estratégia de crescimento econômico regional.
71
Em abril de 2003, foi lançado o "Plano Nacional de Turismo", que colocava,
para o período 2003-2007, metas como; a geração de 1.200.000 novos postos de
empregos e ocupações; o aumento do número de turistas estrangeiros para nove
milhões; a geração de oito bilhões de dólares em divisas; o aumento da carga de
passageiros para 65 milhões de passageiros; e o desenvolvimento de, pelo menos,
três produtos turísticos23 em cada unidade da federação, com qualidade.
Para captar o desenho das instituições e das políticas com que o país passa
a contar no governo, assim como ter alguma noção da capilaridade com que se
contava para levar adiante as pretensões das metas estabelecidas desde o ano de
2003, o presente capítulo buscou responder à seguinte questão: como descrever o
"sistema de instituições políticas públicas do turismo" no Brasil e como esse sistema
se traduz no Estado do Paraná?
Este item divide-se em quatro partes. A primeira faz uma revisão necessária,
a partir de alguns autores escolhidos, dos conceitos de política pública tentando
atrelar o sistema à reconstrução histórica das políticas do turismo no Brasil. Um
segundo ponto explica como se dá o processo de formulação da política pública de
turismo brasileira; no terceiro, procura-se sintetizar os principais objetivos dos planos
nacionais do turismo (PNT): período 2003-2006, 2007-2011; e no quarto se discute o
programa nacional de regionalização do turismo - 2003-2010. Finalmente se avança
sobre o sistema público do turismo no Paraná para analisar a organização da
governança do turismo na Região Metropolitana apontando alguns comentários
finais a respeito do desenvolvimento do ciclo de políticas públicas no Estado.
23 Produto turístico no jargão do turismo refere-se àquele destino ou roteiro turístico que pode ser
comercializado, sendo colocado na prateleira (virtual ou real) do agente de viagens ou na internet.
Nem todos os destinos turísticos por excelência são considerados, portanto, "produtos turísticos".
72
1.3.1 Uma revisão da literatura sobre as políticas públicas e o turismo
A política pública é um campo do conhecimento que busca analisar "o
governo em ação". Numa situação ideal, a formulação de políticas públicas constitui
um estágio importante dos governos efetivar seus propósitos (Programas de
governo) em programas, planos e ações que produzirão as mudanças almejadas no
espaço e escalas de atuação.
Rua (1998) nos lembra que a política pública é definida como o conjunto de
procedimentos formais e informais que expressam relações de poder e que se destinam
à resolução pacífica de conflitos, e são públicas quando envolvem a alocação de
valores ou bens públicos e se revestem de autoridade soberana do poder público (RUA,
1998). Na visão de Souza (2006, p.26): "Pode-se resumir política pública como o campo
do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, colocar o governo em ação": analisar
essa ação e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações.
"A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos
democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações
que produzirão resultados ou mudanças no mundo real."
O interesse da análise de políticas públicas não se restringe meramente a
aumentar o conhecimento sobre planos, programas e projetos desenvolvidos e
implementados pelas políticas setoriais e sim, "a inter-relação entre as instituições
políticas, o processo político e os conteúdos de política com o arcabouço dos
questionamentos ‘tradicionais’ da ciência política" (FREY, 2000, p.214).
Assim, é preciso lembrar que a análise da política pública deve distinguir
entre o que o governo pretende fazer e o que de fato faz. Ademais, é apenas o início
de um processo que envolve esferas de governo, União, Estados e Municípios,
sendo abrangente, não se limitando a leis e regras, além disso, é intencional por
sempre ter presente os objetivos a serem alcançados e que, embora tenha impactos
no curto prazo, as políticas sempre almejam objetivos de longo prazo (SOUZA, 2006).
Para Souza (2006, p.36), das diversas definições e modelos sobre políticas públicas,
podem-se extrair e sintetizar seus elementos principais:
73
a) a política pública permite distinguir entre o que o governo pretende fazer
e o que, de fato, faz;
b) a política pública envolve vários atores e níveis de decisão, embora seja
materializada por meio dos governos, e não necessariamente se restringe
a participantes formais, já que os informais são também importantes;
c) a política pública é abrangente e não se limita a leis e regras;
d) a política pública é uma ação intencional, com objetivos a serem
alcançados;
e) a política pública, embora tenha impactos no curto prazo, é uma política
de longo prazo;
f) a política pública envolve processos subsequentes após sua decisão e
proposição, ou seja, implica também implementação, execução e
avaliação.
O campo do conhecimento da política pública busca integrar quatro
elementos na sua construção (SOUZA, 2006): a própria política pública, a política
(politics), a sociedade política (polity) e as instituições onde as políticas públicas são
decididas, desenhadas e implementadas (figura 1).
FIGURA 1 - PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FONTE: Adaptado de Rua (1998), Souza (2003, 2006), Frey (2000), Arretche (1999), e Lazzaroti (2004)
74
Disso pode-se concluir que o principal foco analítico da política pública está
na identificação do tipo de problema que a política pública visa corrigir, na chegada
desse problema ao sistema político (politics) e à sociedade política (polity), e nas
instituições/regras que irão modelar a decisão e a implementação da política pública.
As políticas públicas são um fator comum da política e das decisões do
governo e da oposição. Assim, a política pode ser analisada como a busca para
estabelecer políticas públicas sobre determinados temas, ou de influenciá-las. Um
elemento-chave das políticas se refere à concepção, gestão e avaliação (PARADA,
2006, KINGDON24 (1984 apud FARIA, 2003, p.25) destacando-se no processo de
produção de políticas públicas: 1) o dos problemas – formado por informações sobre
as questões problemáticas, atores que propõem definições diversas para os
problemas; 2) o das políticas (policies) – formados por aqueles que propõem as
soluções para os problemas distintos; e 3) o da política (politics) – que agrega a
movimentação dos grupos de pressão, mudanças no Legislativo e nas agências de
administração e national mood (tendência de significativa parte do país em pensar e
fazer escolhas segundo os parâmetros daquele momento específico).
A construção de uma política pública sofre, portanto, da ambiguidade que a
própria atividade gera. Tal é o caso do turismo, pretende-se uma política setorial
como política econômica, pela intervenção deliberada do governo na economia para
alcançar determinados objetivos (HERSCHEL, 1989), mas é também considerada
uma política pública social quando procura resolver conflitos.
Ao analisar a política pública do turismo, Cruz e Sansolo (2003) consideram
que ela faz parte do processo de planejamento governamental e envolve tudo aquilo
que um governo decide fazer ou não relativamente a um dado setor da vida social.
Na visão dos autores, vista de forma tão abrangente, "a política pública funde-se ao
próprio processo de planejamento, com a diferença de que o planejamento é o
processo e a política pública é o posicionamento da administração pública frente a
24 KINDGOM, J. Agendas, alternatives and public policies. Boston: Little Brown, 1984.
75
um aspecto da vida social em um dado momento. Este posicionamento pode ser
exposto na forma de um documento – tal como o plano – e ter, conseqüentemente, a
visibilidade que se espera de uma política pública ou não"25.
Para fazer escolhas entre os modelos de análise e formulação de Políticas
Públicas seria necessário, entretanto, aprofundar mais a análise dos processos de
construção das políticas do turismo. Contudo, é importante destacar que a análise
que segue aproveita muito dos elementos de T. Lowi26 (1964 apud SOUZA, 2003;
2006), quem desenvolveu uma entre as mais conhecidas tipologias sobre política
pública, elaborada a partir de uma máxima: a política pública faz a política27. Na
visão de Souza (2006), o autor quis dar a entender que cada tipo de política pública
encontra formas diferentes de apoio e rejeição que são manifestas numa trajetória
que passa pelas arenas sociais e cuja decisão final gira em torno de disputas para a
solução de controvérsias e o encontro de consensos capazes de minimizar conflitos.
25 Cruz e Sansolo (2003) avançam na análise das políticas públicas do turismo ao afirmar que: "A
política pública pode ser mais ou menos generalizante: no que se refere ao turismo, por exemplo,
podem desdobrar-se de uma política de turismo outras políticas específicas como uma política de
marketing turístico, de capacitação de mão-de-obra para o turismo, de apoio ao artesanato
local/regional etc." Evidentemente, os desdobramentos a que os autores fazem referência vêm ao
encontro de outro aspecto da atividade turística. É um serviço cuja produção e consumo se
materializam no lugar, no território, no espaço, não havendo formas de estocar ou de transferir.
26 LOWI, T. American Business, Public Policy, Case Studies and Political Theory. World Politics,
v.16, p.677-715, 1964; Four Systems of Policy, Politics, and Choice. Public Administration
Review, v.32, p.298-310, 1972. Mais detalhes ver Souza, C. (2003, 2006).
27 Segundo Lowi (1964, 1972, apud SOUZA, 2006), cada tipo de política pública vai encontrar
diferentes formas de apoio e de rejeição onde as disputas em torno de sua decisão passam por
arenas diferenciadas. Assim, a política pública pode assumir quatro formatos: Políticas
distributivas, decisões tomadas pelo governo, que desconsideram a questão dos recursos limitados,
gerando impactos mais individuais do que universais, ao privilegiar certos grupos sociais ou regiões,
em detrimento do todo. Políticas regulatórias, que são mais visíveis ao público, envolvendo
burocracia, políticos e grupos de interesse. Políticas redistributivas, que atingem maior número de
pessoas e impõem perdas concretas e no curto prazo para certos grupos sociais, e ganhos incertos e
futuro para outros; são, em geral, as políticas sociais universais, o sistema tributário, o sistema
previdenciário e são as de mais difícil encaminhamento. Como se observa mais adiante, a partir
desta tipologia pode-se afirmar que as políticas públicas do turismo não envolvem conflitos
distributivos, nem redistributivos, isso tem um resultado particular no envolvimento das governanças
regionais e na implementação e consecução dos objetivos.
76
O debate sobre políticas públicas também tem sido influenciado pelas
premissas advindas de outros campos teóricos, em especial do chamado neo
institucionalismo28, que enfatiza a importância crucial das instituições/regras para a
decisão, formulação e implementação de políticas públicas (SOUZA, 2006). Assim,
também para análise das políticas publicas do turismo rural se aproveitaram as
ferramentas da análise neoinstitucional das políticas públicas, tendo em vista que as
instituições definem as regras que são utilizadas pelos indivíduos para determinar
quem e o que foi incluído nas situações de decisão, como se estruturou a
informação, quais as ações que poderiam ser executadas e em que sequência, e
como as ações individuais poderiam ser agregadas e transformadas em ações
coletivas, as quais geraram políticas públicas, que, em suma, foram implementadas
nas diversas escalas do espaço metropolitano.
Para Frey (2000), no que concerne à análise de políticas públicas, deve se
levar em consideração não apenas a tendência a uma crescente fragmentação e
setorização do processo político e a correspondente formação de "policy networks" e
"policy arenas", mas acima de tudo a interferência de padrões peculiares de
comportamento político. Ao subdividir o agir público em fases parciais do processo
político-administrativo de resolução de problemas, o "policy cycle" acaba se
revelando um modelo heurístico interessante para a análise da vida de uma política
pública (figura 2).
28 A teoria neoinstitucional contesta que o processo decisório sobre políticas públicas resulta apenas
de barganhas negociadas entre indivíduos que perseguem seu autointeresse, afirmando que
interesses (ou preferências) são mobilizados não só pelo autointeresse, mas também por
processos institucionais de socialização, por novas ideias e por processos gerados pela história de
cada país. Os dirigentes agem e se organizam de acordo com regras e práticas socialmente
construídas, conhecidas antecipadamente e aceitas (MARCH; OLSEN, 1995, p.28-29 apud
SOUZA, 2006). Tais visões sobre o processo político são importantes para entender melhor as
mudanças nas políticas públicas em situações de relativa estabilidade, como no caso do turismo
no Brasil, dentro do período de análise.
77
FIGURA 2 - CICLO DE IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
FONTE: Adaptado de Frey (2000)
As várias fases correspondem a uma sequência de elementos do processo
político-administrativo e podem ser investigadas no que diz respeito às constelações
de poder, às redes políticas e sociais e às práticas político-administrativas que se
encontram em cada fase. As tradicionais divisões do ciclo político nas várias
propostas na bibliografia se diferenciam apenas gradualmente. Comum a todas as
propostas são as fases da formulação, da implementação e do controle dos
impactos das políticas (FREY, 2000).
A seleção dos temas e o controle da agenda ocorrem num processo de
enfrentamento entre os atores envolvidos; nem sempre há uma seleção "positiva"
das demandas que se referem às funções que são necessárias para a manutenção
de formas de dominação na organização econômica (como a propriedade privada,
ou a reforma agrária), selecionando os que entram ou não na agenda por meio de
mecanismos que filtram ideologicamente os temas e os problemas. Melo e Silva
(2000) definem o processo de implementação como sendo uma das fases do
policy cycle, que corresponde à execução de atividades que permitem que ações
Planos, Programase Projetos
78
sejam implementadas com vistas à obtenção de metas definidas no processo de
formulação das políticas.
As políticas públicas, depois de desenhadas e formuladas, se desdobram em
planos, programas, projetos, bases de dados ou sistema de informação e pesquisas.
Quando postas em ação, são implementadas, ficando então submetidas a sistemas
de acompanhamento e avaliação, e à análise dos agentes (SOUZA, 2003).
No sentido de identificar como foram sistematizadas as demandas regionais do
turismo rural e sobre que base as políticas públicas foram implementadas, discorre esta
dissertação. É na implementação das políticas públicas que os aspectos teóricos e
conceituais de questões que afetam as relações intergovernamentais se tornam
explícitos. Especialmente em relação aos limites e às possibilidades de construção,
reconstrução e aplicação das ações das políticas, pela falta de capacidades
administrativas, institucionais e até políticas dos municípios (SOUZA, 1998). Como
Souza (1998) reforça na sua análise da descentralização e as relações intragover-
namentais, no Brasil como resultado da redemocratização e da descentralização
ocorreu um fortalecimento do poder político e dos recursos financeiros dos governos
subnacionais, especialmente dos estados e suas capitais. Apesar desse fortalecimento,
isso não significou que as unidades subnacionais fossem homogêneas na sua
capacidade de cumprir uma segunda geração de reformas.
Os processos deflagrados a partir da Constituição Federal de 1988 e que
influenciaram de forma radical o papel do Estado (federalismo, descentralização,
pacto federativo), com a descentralização passaram a pautar a elaboração de planos
e de políticas públicas, com uma participação maior das governanças regionais e dos
municípios e em algumas políticas das comunidades, introduzindo novos agentes
e atores para a configuração de uma nova ordem econômica e social no País. A
Constituição Federal do Brasil, chamada também de "Constituição Cidadã", prega
três grandes princípios para a colocação em prática das políticas, quais sejam: a
necessidade de descentralização política entre as distintas escalas do governo, a
descentralização das políticas públicas e a correspondente municipalização; e o
79
atendimento às demandas de articulação e coordenação intra e intergovernamentais
com o redesenho de competências e responsabilidades entre as três esferas de
governo (BUCCI, 2006).
Em alguns casos, contudo, o fortalecimento dos municípios via descentra-
lização das políticas públicas também não significou que os benefícios da descentra-
lização se distribuíssem uniformemente. No que se refere à Região Metropolitana de
Curitiba não tem sido diferente: o espaço regional metropolitano e os municípios
que o integram têm recebido e executado as políticas públicas filtrados pelas
desigualdades sociais e regionais, as relações intergovernamentais, o grau de
autonomia financeira local o que faz com que os efeitos da descentralização sejam
substancialmente variáveis e seus resultados dependam das forças políticas locais
(IPARDES, 2010; IPEA, 2011).
Na fase da avaliação de políticas e da correção de ação, ainda na figura 2,
apreciam-se os programas já implementados no tocante aos seus impactos efetivos
(PRITTWITZ29 1994, p.60 apud FREY, 2000). Trata-se de investigar os déficits de
impacto e os efeitos colaterais indesejados para poder deduzir consequências para
ações e programas futuros. A avaliação ou o controle de impacto podem ter sido
alcançados, e no caso de os objetivos do programa, levar à suspensão ou ao fim do
ciclo político, ou, caso contrário, à iniciação de um novo ciclo. Com isso, a fase da
avaliação é imprescindível para o desenvolvimento e a adaptação contínua das formas
e dos instrumentos de ação pública: processo denominado aprendizagem política.30
29 PRITTWITZ, V. von. Politikanalyse. Opladen: Leske + Budrich, 1994.
30 Arretche (1998, 2001), em artigo sobre as tendências de estudos sobre avaliação de políticas
públicas, afirma que a análise de uma dada Política Pública relaciona a um determinado desenho
institucional alguns resultados prováveis, aos quais somente a avaliação desta política poderá
atribuir uma relação de casualidade entre um programa x e um resultado y. Segundo a autora, a
análise de Políticas Públicas busca reconstituir as diversas características específicas de forma a
apreendê-las em um todo coerente; costuma-se distingui-las em termos de EFETIVIDADE,
EFICÁCIA e EFICIÊNCIA, distinção que é basicamente um recurso analítico. Na construção da
avaliação da política pública do turismo esgotaremos apenas um desses elementos.
80
Em diversos trabalhos de M. Arretche (1995, 1996, 1998, 1999, 2001, 2002),
ao analisar o Federalismo e as relações intergovernamentais (ARRETCHE, 2002),
ou a descentralização das políticas sociais no Brasil (ARRETCHE, 1999), a autora
sistematiza que, na linguagem de avaliação de políticas, tem se convencionado dizer
que a eficiência de uma política está associada à relação entre o esforço para
implementá-la e os resultados alcançados. Também defende a tese de que as
técnicas estatísticas de avaliação de eficiência permitem estimar essa relação, mas
essas estimativas dependem em grande parte da confiabilidade das informações e
dados com os quais se conta31. Por outro lado, a própria autora reconhece em
trabalhos posteriores (ARRETCHE, 2003) e declarações à imprensa virtual32
(COMCIENCIA, 2010) e escrita (VALOR, 2011) que não há qualquer garantia intrínseca
à gestão local que promova responsabilidade, eficiência, acesso universal e
patamares equitativos de implementação de uma política pública, e enfatiza que a
qualidade da ação dos governos locais depende, em grande medida, dos incentivos e
controles a que estes estão submetidos.
A partir da revisão da literatura apresentada, há um consenso sobre o tema
da descentralização no sentido da necessidade de superação de conflitos de
distribuição de poder, de serviços e recursos entre as diversas escalas de governos
e/com os setores da sociedade. Acrescem-se a isso as dificuldades da sua
implementação tendo em vista a forte carga simbólica da descentralização, que
permite discursos e usos inadequados na prática. Entretanto, na visão de Souza
(2004), a questão do desenho institucional da descentralização das políticas
públicas para sua correta implementação tem recebido atenção crescente quanto ao
31 A confiabilidade e disponibilidade dos dados, por sua vez, variam muito em função da política
pública em questão. Nas áreas de saúde e educação e habitação, por exemplo, há muito mais
informação disponível com possibilidade de analisá-la do que no turismo.
32 Mais detalhes sobre as entrevistas ver ComCiência, Revista Eletrônica de Jornalismo Científico
publicada pela UNICAMP desde 2002. http://www.comciencia.br/entrevistas/ppublicas/arretche.htm,
Acesso em Outubro de 2010. Também o jornal Valor Econômico, 26 de dezembro 2011, p.A5:
Cenários 2012: "Escândalos prejudicam oposição".
81
seu papel no campo de estudos. Dependendo das características das políticas, o
desenho institucional pode ser decisivo no incentivo ou no constrangimento à
descentralização. Em outro artigo (SOUZA, 1996), a autora foi mais enfática ao
concluir que no Brasil,
As evidências apontam para o fato de que a descentralização e a
democratização trazem uma fragmentação do poder sem necessariamente
mudar qualitativamente a alocação dos recursos públicos locais (... e
regionais; grifo do autor). Pode-se afirmar a partir daí, que existem vários
fatores políticos e econômicos que influenciam os resultados da
descentralização e que afetam o pacto federativo, reforçando, assim, o
argumento desenvolvido inicialmente neste artigo sobre a importância de
tais fatores nos resultados das políticas públicas, aspecto em geral pouco
considerado na literatura (SOUZA, 1996, p.112).
Desses argumentos se depreende que não há uma distribuição regional
uniforme dos benefícios da descentralização, o que significa que, no Brasil, país de
vasta dimensão territorial e marcado por desigualdades sociais e regionais, o
compromisso com a implementação da descentralização pode variar substancialmente
e pode depender, em muitos casos, das forças políticas locais. A diversidade política,
econômica e social do Brasil pode provocar grandes diferenças entre os municípios,
que acabam prejudicando os próprios objetivos da descentralização. (SOUZA, 1996).
O desenho e a implementação das políticas de regionalização do turismo têm sofrido,
assim, pela omissão dessa premissa no sistema das políticas públicas, concorrendo
com setores e estratégias locais e regionais.
1.3.2 O processo de formulação da política pública do turismo no Brasil
Para a compreensão do processo de formulação de uma política é
necessário entender que toda política envolve sujeitos, instituições e recursos, o que
significa dizer que sua formulação demanda negociação, com a explicitação de
objetivos de todas as partes e dos recursos a serem distribuídos na construção da
política proposta (recursos humanos, físicos, financeiros e outros). Um bom
82
processo de negociação pode ser o fator decisivo na formulação de uma política e
no encaminhamento de sua operacionalização/implementação.
Dentro do policy cycle, o processo de negociação de uma política pode
envolver um número maior ou menor de sujeitos, instituições e recursos, o que
variará conforme o regime de governo e a política proposta. Um regime de governo
democrático, como o que vive o Brasil nos dias de hoje, contará com uma
participação mais ampla de atores e agentes sociais, podendo qualquer indivíduo
se manifestar. Um regime centralizado implementa seus próprios projetos e as
decisões são tomadas pela tecnocracia, em consulta a poucos interlocutores
privilegiados, e a expressão da opinião pública pode ser controlada.
O processo de formulação de uma política não é simples ou rápido, ao
contrário, explicita conflitos e interesses, e sofre reformulações constantes, a cada
etapa da política, exigindo novas negociações. Em um processo completo de tomada
de decisão, como aquele que envolve a elaboração e a promulgação de uma lei e,
portanto, todos os poderes constituídos, podem-se distinguir as seguintes fases:
a) surgimento de um problema que inquieta a sociedade ou o governo;
b) inclusão da questão na agenda de governo para sua solução;
c) formulação da política em questão;
d) implementação da política; seguimento, avaliação e correção de rumos.
As primeiras três fases da política (do surgimento do problema à formulação
da política propriamente dita) são de intensa politização e nelas são expostos os
mais diversos interesses para fazer avançar ou bloquear uma proposta. Quando a
política pública começa a ser implementada, da fase quatro em diante, outra ordem
de conflitos surge e novas negociações entram em curso, provocando, na maior
parte das vezes, reformulações na proposta original.
Algumas arenas de negociação são mais evidentes no processo de
formulação de uma política. A primeira arena a se destacar é o Congresso Nacional
(Senado e Câmara dos Deputados) e as demais instâncias legislativas, como as
Assembleias Legislativas nos estados e as Câmaras dos Vereadores nos
83
municípios. A arena legislativa é onde chegam as demandas sociais e onde se
discute e negocia o encaminhamento delas. Quando uma demanda chega ao
Legislativo, ela já passou por alguns outros fóruns de discussão (no âmbito do
próprio governo, nas associações de bairro, organizações não governamentais,
partidos políticos, sindicatos, associações de profissionais e outros) e se mostrou
como de relevância política e pública para ser discutida nesse contexto. A demanda
pode apresentar como finalização a proposta de uma lei ou mesmo emenda
constitucional e se constitui em uma peça da política pública, se aprovada.
No Legislativo existe uma série de regras que determinam a participação dos
seus representantes (regras eleitorais e regimento interno de participação e
apresentação de projetos), e estes sofrem influência e pressão da sociedade e do
governo no processo de negociação dos projetos. A maior ou menor influência dos
grupos de pressão no processo de formulação de uma política é o que determinará o
produto final do processo. Por esse motivo, a transparência de informações e o
acompanhamento sistemático das negociações no legislativo constituem uma prática
salutar no processo democrático, pois é a única forma de reconhecer o que os
políticos ("representantes do povo") fazem com o poder a eles atribuído e que
encaminhamentos são dados em cada setor.
Outra arena de negociação da política é o Executivo. No caso do turismo,
atuam mais diretamente o Ministério do Turismo, as Secretarias Estaduais e
Municipais de Turismo, por intermédio de seus representantes – o Ministro, os
secretários de turismo, os técnicos. O Executivo e o Legislativo se relacionam na
definição dos projetos, seja com a apresentação de uma demanda específica para o
Legislativo, solicitando sua apreciação (por exemplo: o Executivo demonstrou a
necessidade de maior aporte de recursos para a turismo num momento específico
da política de turismo por conta dos megaeventos desportivos, conseguindo aprovar
um recurso a mais para a turismo)33.
33 Há dentro do poder Executivo outras arenas de negociação como os conselhos, os fóruns e as
comissões, das quais devem ser tratadas na hora de analisar o Estado do Paraná.
84
1.3.3 A implementação das políticas públicas do turismo
Parte-se da constatação de Arretche (2002), sobre a transferência de
responsabilidade intergovernamental, para analisar o contexto da implementação
das políticas de turismo, em especial o de regionalização turística: constata-se que a
construção das agendas das políticas passa pelos mesmos problemas em todas as
áreas. Arretche (2002) demonstra que o êxito no processo de transferência no Brasil
tem dependido de estratégias indutivas desenhadas para delegar a implementação
de uma dada política a outro nível de governo, de forma a superar os obstáculos à
descentralização, que derivam de fatores estruturais e institucionais. Na visão de
Souza (2004, p.37), a municipalização de algumas políticas gerou novas institucio-
nalidades na governança local, não se limitando apenas à transferência de sua
implementação, mas também, em alguns casos como na saúde e educação,
significando o envolvimento das comunidades locais no processo decisório e de
controle da implementação das políticas.
No turismo Becker (2001) aponta que no âmbito federal a transição se
manifestou no conflito entre as políticas setoriais, em que por vezes se estabelece um
embate de diretrizes desenvolvimentistas (mercado) e ambientalistas (sustentabilidade).
Por outro lado, destaca a autora (BECKER, 2001, p.6), que as políticas em si mesmas
são bastante ambíguas, e muitas vezes mantêm um discurso que não corresponde à
pratica. Reforça a autora que há também uma tentativa de o Estado definir seu papel
numa estratégia de descentralização controlada ou seletiva. Sintetiza a autora que, ao
tentar implementar uma política integrada para acabar com conflitos setoriais que se
criaram no Brasil, "se multiplicaram agências, empresas e cada um faz a sua política,
gerando insustentabilidade e desordem institucional. Há uma necessidade mínima de
integração, de articulação entre as políticas".
A primeira intervenção do Estado na regulamentação turística do país
aconteceu em 1938, com o Decreto n.º 406/38, que dispunha sobre autorização do
Estado para a comercialização de passagens aéreas marítimas ou terrestres.
Porém, foi o Decreto n.º 55/66 que marcou o "salto" para a nova organização
85
turística brasileira: pela primeira vez, foram criadas diretrizes para uma política
nacional de turismo, além da criação da EMBRATUR, na época denominada
Empresa Brasileira de Turismo, e do CNTUR - Conselho Nacional de Turismo. Este é
o principal antecedente histórico do sistema organizado da atividade turística, pois
com ele surge no Brasil uma estrutura federal de administração do turismo,
complementada por uma política nacional de turismo, com atribuições e objetivos
estabelecidos de forma genérica (quadro 1).
PERÍODO INSTÂNCIAS DO TURISMO
1939 - 1945 Divisão de Turismo, do Departamento de Imprensa e Propaganda, vinculado à Presidência da República
1945 - 1946 Departamento Nacional de Informação, do Ministério da Justiça e Negócios Interiores
1951 - 1958 Departamento Nacional de Imigração (posterior Instituto Nacional de Imigração e Colonização) do
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio
1958 - 1962 Comissão Brasileira de Turismo - Combratur vinculada à Presidência da República
1961 - 1966 Divisão de Turismo e Certames, do Departamento Nacional do Comércio do Ministério da Indústria e do
Comércio
1966 - 1990 Ministério da Indústria e do Comércio (diversos órgãos internos)
EMBRATUR - Criação da Empresa Brasileira de Turismo
Conselho Nacional de Turismo - CNTUR
1990 - 1992 Secretaria de Desenvolvimento Regional da Presidência da República
EMBRATUR
1992 - 1996 Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo
EMBRATUR
1996 - 2002 Ministério de Esportes e do Turismo
EMBRATUR
2003 - 2007 Ministério do Turismo
EMBRATUR
Conselho Nacional de Turismo - Governanças Regionais
2007-2011 Ministério do Turismo
EMBRATUR
Conselho Nacional de Turismo - Governanças Regionais
QUADRO 1 - LINHA DO TEMPO DAS INSTÂNCIAS DE GESTÃO DO TURISMO NO BRASIL
FONTE: Adaptado de Fratucci (2006)
De acordo com vários autores (BEZERRA, 2003; SANTOS FILHO, 2004; BENI,
2003) a partir do Decreto-lei nº 55, de 18 de novembro de 1966, e apesar da
existência de diplomas legais anteriores que legitimavam algumas políticas públicas
para o turismo no Brasil e que contribuíram para a organização do setor, é criada
uma estrutura federal para a administração do turismo: EMBRATUR e CNTUR -
Conselho Nacional de Turismo. Ali estavam estabelecidos, de maneira genérica,
objetivos e atribuições dos operadores do setor no país. A criação da EMBRATUR e
86
do CNTUR, compondo o Sistema Nacional de Turismo, definiu a primeira estrutura
institucional pública para o turismo. Ambos estavam vinculados ao então Ministério
da Atividade e Comércio.
A criação da EMBRATUR em 1966 foi um marco positivo na história das
regulamentações, em seguida a criação do FUNGETUR - Fundo Geral do Turismo, que,
como Dias (2003) coloca, tinha como objetivo prover recursos para o financiamento
de empreendimentos, obras e serviços de finalidade e interesses turísticos e seria
administrado pela EMBRATUR. Foi o primeiro fundo especialmente criado para
financiar o desenvolvimento turístico do país. Porém não marcou o fim das políticas
errôneas e do mau entendimento do governo sobre como melhor aproveitar o turismo.
O Decreto n.º 2.294/86 torna a atividade turística livre no país, o que implicava a
liberação de necessidade de registro, mantendo apenas fiscalização e classificação
sob controle da EMBRATUR; com isso, na prática, qualquer um poderia dedicar-se ao
turismo, mesmo que de maneira fraudulenta, ilegal ou apenas como empresa de
fachada para outros serviços que não o turismo34.
A década de 1980 foi marcada pelo processo de abertura do regime político
anterior, decretos e portarias são editados a fim de consolidar e ampliar o
desenvolvimento do turismo. Foi um período de transição. Principalmente por conta
da nova Constituição, que proporcionou um momento de ampla discussão nacional.
Em 1983, a EMBRATUR já definira o turismo social por meio da deliberação
normativa que, com a Política Nacional do Meio Ambiente, deveria lançar as bases
efetivas para o cenário de sustentabilidade ambiental e social. Até o final dessa
década, acreditava-se que a melhor forma de organizar a política de turismo no
Brasil seria por meio do estabelecimento de um colegiado do setor, o Sistema
34 Tal e como aconteceu com as agências de viagens nas décadas de 1980 e 1990 utilizadas como
empresas de comércio ilegal de divisas, ou, como o caso das empresas autoclassificadas no
Ministério do Trabalho como "transportadoras de passageiros". A avaliação que se faz desse
decreto é, que em vez de criar uma mudança de percepção no quadro do aprimoramento da
prestação de serviços, foi o início de um verdadeiro "caos" da organização do setor turístico
implantado no país.
87
Nacional de Turismo, composto pela EMBRATUR, CNTUR e Ministério da Indústria e
Comércio (BENI, 2006).
O governo Collor promoveu em 1991 por meio da Lei n.º 8.181, mudanças
na atividade turística revogando o Decreto n.º 55/66 do Governo Federal: a primeira
modificação sem dúvida alguma foi a nova denominação da EMBRATUR agora
Instituto Brasileiro de Turismo e que também passou a ter sede e foro na capital
federal. Caberia então formular a política nacional de turismo, coordenando sua
execução seja propondo normas e medidas ao Governo Federal ou cumprindo com
as determinações estabelecidas (quadro 2). Um Plano Nacional de Turismo no Brasil
só aconteceu de fato, em 1995 no governo de Fernando Henrique Cardoso. Foi
nesse mesmo governo que aconteceu a implantação do PNMT - Programa Nacional
de Municipalização do Turismo, do então Ministério da Indústria, Comércio e
Turismo, que tinha como objetivo fomentar o desenvolvimento dos municípios com
bases para a sustentabilidade econômica, social, ambiental, cultural e política. Até a
data, o Brasil, como país de potencialidades turísticas, mantinha um comportamento
tímido no mercado mundial do turismo.
PERÍODO INSTÂNCIAS DO TURISMO
Até 1966 Políticas desagregadas, direcionadas apenas ao controle da venda de passagens
1966 - 1986 Conselho Nacional de Turismo + EMBRATUR
Estado mais presente no fornecimento de infraestrutura turística, na concessão de incentivos fiscais e no
estabelecimento de marcos regulatórios (leis, normas etc.)
1986 -1994 Desregulamentação do setor; transferência da EMBRATUR para Brasília; instituição do Plano Nacional
de Turismo; Estado com o papel de fornecedor e financiador de infraestrutura de apoio ao setor.
Recursos BNDES para grandes cadeias internacionais.
1994 -2002 Governo FHC: descentralização da gestão do turismo;
PNMT = municipalização; ênfase no marketing externo;
desenvolvimento de parcerias público-privadas;
Estímulo ao mercado interno
2003 - 2010 Governo Lula: criação do Ministério do Turismo;
PRT = ênfase na regionalização de produtos turísticos e na criação das instâncias de governanças
regionais;
Turismo visto como gerador de emprego e renda e agente para diminuir as desigualdades regionais;
Projeto Marca "Brasil": Plano Aquarela e Plano Cores;
QUADRO 2 - CARATERÍSTICAS DOS SISTEMAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS DO TURISMO NO BRASIL
FONTE: Adaptado de Fratucci (2006)
88
Um primeiro ensaio de planejamento estratégico para o turismo nacional foi
provocado pelo Plano de Governo de FHC – então candidato. O plano apontava o
crescimento econômico do país e detalhava um perfil de desenvolvimento, em que o
turismo era elevado à prioridade nacional (pelo menos no discurso). O processo
iniciado em 1996 cria as bases das mudanças substanciais do sistema turístico
como hoje se conhece: o turismo ganha status de ministério e de atividade
econômica (Ministério de Indústria Comércio e Turismo) e, a partir de 1999, foi dada
a incumbência ao Ministério do Esporte e Turismo de levar adiante as manifestações
e os eventos dos 500 anos do Brasil. No entanto, coube à EMBRATUR35 a
elaboração e execução da Política Nacional do Turismo.
Como atividade econômica de importância para alavancagem do crescimento
econômico e do desenvolvimento do país, a atividade teve seus investimentos
programados no Plano Plurianual "Brasil em Ação" (PPA 1996-1999). O governo
federal enfatizou a necessidade de investimentos em infraestrutura, capacitação,
modernização da legislação e marketing, destinando recursos para cada uma
dessas áreas.36
Em concomitância com as grandes mudanças da política pública provocadas
na educação e no trabalho, o turismo, que até então vivia à margem das políticas
35 Quanto à EMBRATUR, durante o período descrito, sofreu alterações no seu quadro administrativo-financeiro, bem como houve a mudança de sua sede do Rio de Janeiro para Brasília. Esse períodomarca também uma fase de investimentos em modernização tecnológica, logística e treinamento,na capacitação e formação do quadro de pessoal.
36 O Programa Brasil em Ação foi lançado em agosto de 1996 para dar prioridade a um conjunto de42 empreendimentos (que posteriormente aumentaram para 58 ao longo dos quatro anos doprojeto) voltados para a promoção do turismo sustentável do País e estrategicamente escolhidospela capacidade de induzir novos investimentos produtivos reduzindo as desigualdades regionais esociais. Na verdade, além do discurso oficial, a proposta procurou corrigir os rumos dosinvestimentos realizados no PRODETUR 1 no Nordeste brasileiro que recebeu críticas tanto doBanco Interamericano de Desenvolvimento-BID, financiador internacional do programa, como daacademia pelo caráter de enclave que os investimentos privados desenvolveram fortalecendoainda mais a exclusão social existente na região e limitando o uso de práticas sustentáveis efavoráveis ao meio ambiente. Ao longo dos quatro anos, esses projetos absorveram investimentospúblicos e privados da ordem de R$70 bilhões espalhados e. Fonte: Ministério do Esporte eTurismo, Relatório de Gestão 1995-2002.
89
públicas, foi tratado como setor de interesse, pelo menos no discurso, dada a
capacidade que representava de geração emprego e renda, além da possibilidade que
representou de dar continuidade à negociação e contratação de novos empréstimos
internacionais para o desenvolvimento da Região Nordeste. O Ministério da Indústria,
Comércio e Turismo criou câmaras técnicas para o desenvolvimento de cadeias
produtivas, uma das quais era a do turismo, em que sentaram lado a lado, o setor
público e os principais representantes do setor, suas associações e sindicatos para
discutir estratégias de crescimento para o setor (MDIC, 1993). Isso tendo em vista que:
a) o Brasil passara para o 46º lugar no ranking mundial dos países receptores de
turistas estrangeiros; b) a atividade do turismo incidia em toda a economia, com
impacto econômico em diferentes segmentos da agricultura, da indústria e do
comércio (52 segmentos), segundo cálculos realizados pela FIPE-USP a partir da
matriz de insumo-produto de 1980 e publicados na época; c) a atividade apresenta um
grande potencial para a criação rápida de empregos comparativamente a outros
setores econômicos; d) diversidade qualitativa dos empregos capazes de serem
gerados; empregos especialmente e principalmente para os jovens; empregos nas
micro e pequenas empresas; empregos em regiões determinadas seja pelas ações de
promoção do turismo, seja pela construção de obras de infraestrutura para o turismo;
e) uma alta proporção de empregos relacionados com os setores exportadores.
Essas recomendações iniciais dos grupos de trabalho das câmaras técnicas
originaram a Política Nacional do Turismo (1996-1999). Evidentemente, muito além
da conjuntura internacional favorável ao crescimento do turismo, houve uma espécie
de boom sustentado principalmente pelo fluxo de turistas do MERCOSUL ao Brasil,
assim como um ensaio da saída de mais brasileiros para o exterior. Já em 1999, o
Brasil recebeu 4,8 milhões de turistas internacionais.
O crescimento inesperado do fluxo de turistas (superando as expectativas
projetadas no programa) colocou em evidência algumas falhas do sistema turístico
que se gestava. Uma pesquisa realizada em 1995 pela Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas - FIPE da USP, para cinco capitais metropolitanas, apontava
como importantes entre outras deficiências as seguintes:
90
Estados e municípios com mais potencialidades para o turismo receptivo
apresentavam um escasso número de cursos de turismo em todos os seus níveis
(ensino fundamental, médio, técnico e profissionalizante e superior); falta de
docentes capacitados para o magistério na área; mais de 70% dos cursos de turismo
existentes não ofereciam aulas de idiomas (inglês e/ou espanhol), tampouco
contavam com laboratórios de turismo.
Outros estudos menores como o do Instituto Hospitalidade, ONG que atua no
âmbito dos certificados de qualidade para o turismo, citados por Saab (2001)
indicavam que a maior parte dos profissionais da área possuía uma formação
empírica. Segundo o Instituto, para cada 100 trabalhadores empregados na
hotelaria, 63 ocupavam funções cujos atributos eram de natureza estritamente
operacional, constatando uma carência muito grande de mão de obra especializada,
qualificada e bem preparada37.
Nesse período, a EMBRATUR destinou mais de R$150 milhões para
divulgação e marketing do turismo. Coube a essa instituição nesse mesmo período
promover programas e campanhas educativas, muitas delas reconhecidas
posteriormente pela Organização Mundial do Turismo - OMT. Destacam-se a
campanha de combate à exploração sexual infanto-juvenil, lançada junto ao
Ministério da Justiça; o programa Embarque Nessa, junto ao Ministério da Educação,
distribuindo um milhão de cartilhas em todo o território nacional, cujo objetivo era
enfatizar a necessidade de valorização e proteção do patrimônio natural e cultural do
37 O W. Saab no seu artigo estava preocupado com os níveis de qualidade da "indústria hoteleira" no
Brasil. Para detalhes ver: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/
Galerias/Arquivos/conhecimento/setorial/get4is23.pdf. Somada a essas observações, o Ministério
do Trabalho organizou através do Fundo do Amparo ao Trabalhador - FAT, alguns diagnósticos
para financiamento da qualificação da mão de obra. No caso do plano de qualificação do turismo, o
diagnóstico apontava que "apesar de existir numerosas instituições, escolas públicas e privadas
que ofereciam cursos e programas de formação profissional, livres e regulares para o turismo e a
hotelaria (quadro 2)... não existia um planejamento conjunto e integrado das ações por parte dos
ministérios e as pessoas qualificadas não são suficientes para suprir as necessidades do mercado
de trabalho" (MTE: Plano de Qualificação do Turismo).
91
Brasil, além de destacar a importância do turismo para o desenvolvimento social e
econômico das comunidades; o Plano Nacional de Municipalização do Turismo,
PNMT, cujo trabalho, ao sabor da onda descentralizante que a promulgação da
Constituição trouxe, propôs o desenvolvimento do turismo nos municípios como a
base do destino turístico.
O PNMT como modelo de gestão da atividade turística atuou junto aos
agentes locais utilizando uma metodologia de agentes multiplicadores e participação
democrática. Foi lançado oficialmente em março de 1994, por meio da Portaria n.º
130 do então Ministério da Indústria, Comércio e Turismo. O PNMT estimulou a
participação comunitária na elaboração dos planos municipais de desenvolvimento
sustentável do turismo.
Para alcançar os objetivos propostos, o PNMT organizou-se em torno de cinco
grandes ações estratégicas: definir e difundir, por todos os meios que estivessem
ao seu alcance, os princípios básicos norteadores do processo de municipalização
do turismo; elaborar e aplicar metodologia, apropriada à realidade brasileira para
o desenvolvimento do turismo sustentável; estabelecer uma rede de agentes
multiplicadores e instituições parceiras para a operacionalização do programa; envolver
as comunidades locais mediante a realização de oficinas e encontros, com aplicação de
técnicas de enfoque participativo; e apoiar os municípios nas iniciativas que tinham por
finalidade o fortalecimento institucional e na elaboração de planejamento estratégico
para o desenvolvimento do turismo sustentável.
Os objetivos específicos do PNMT esclarecem os cinco princípios propostos
como norteadores das ações do plano, descentralização, sustentabilidade, parcerias,
mobilização e capacitação38.
38 A municipalização proposta pelo programa partia da proposta de construção de um processo de
desenvolvimento turístico por meio da conscientização da população beneficiada pelas ações
realizadas, buscando despertar a sensibilização dos residentes para o fato de que apenas possuir
atrativos ou potenciais turísticos não é suficiente para que a atividade cresça e se desenvolva.
Assim, o setor só poderia produzir benefícios se fosse planejado dentro do contexto local e com a
participação da comunidade (PNMT: Diretrizes, 1994).
92
Com a mudança em 1998 para o recém-criado Ministério do Esporte e
Turismo, cria-se um Comitê Executivo composto inicialmente por dez entidades: a
EMBRATUR, o Banco de Brasil, a Associação dos Municípios Brasileiros de Potencial
Turístico (AMPTUR- BR), o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE),
Serviço Nacional do Comércio (SENAC), a Associação Brasileira dos Bacharéis em
Turismo (ABBTUR), Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF), Caixa Econômica Federal (CEF), Comunidade Solidária (CS), e a
Associação Brasileira dos Organismos Municipais de Turismo (ABOMTUR). É a
primeira iniciativa de gestão compartilhada, e a composição de entidades público-
privadas multiplicou-se na esfera municipal mediante a criação dos primeiros
conselhos municipais de turismo, cuja premissa básica era a comunidade como
elemento de sustentação do desenvolvimento do turismo. A partir do planejamento do
turismo com a participação comunitária, foram dados os primeiros passos para criar
as condições para o empoderamento, a elevação da autoestima, do orgulho pelo
lugar, elementos essenciais para o fortalecimento da cidadania39.
Coube à esfera federal oferecer suporte técnico, de informação e
capacitação. A fase da implantação nos municípios aconteceu na forma de oficinas
de capacitação sobre turismo sustentável, gestão turística e planejamento
estratégico. Além das oficinas de capacitação, o PNMT realizou outras atividades
para a promoção do desenvolvimento em nível local em alguns municípios, tais
como oficinas de artesanato, oficinas em parceria com o PRONAF, procurando
valorizar a agricultura familiar e as tradições culturais locais, campanhas educativas
e de conscientização. Também foi realizado o programa de Desenvolvimento
Gerencial na Administração do Turismo (PDG Turismo), dirigido aos profissionais de
chefia e gerência média de órgãos de turismo, com o intuito de aprimorá-los e torná-
los multiplicadores da metodologia ZOOP, aplicada no processo.
39 Bezerra (2004, p.47 e segs.) relata como a experiência se desenvolveu por meio da metodologiaZOPP, (Planejamento de Projetos orientados por Objetivos) da GTZ: nas palavras de Bezerra, "ametodologia empregada nessas oficinas teve como referencia os instrumentos operacionaiselaborados pela OMT adaptados para o Brasil dentro do enfoque participativo, em que todos osparticipantes, com base em perguntas ou em documentos orientadores, iam propondo a construçãodo conhecimento a partir da realidade individual". O mais importante dessa construção recai noprocesso de revisão constante mediante ajustes, sugestões e correções que o Moderador provoca.
93
O plano proposto e executado durante o governo FHC, ao transferir para os
governos municipais a responsabilidade de acreditar e investir no turismo, criou
outro tipo de restrições: de um lado, nem todos os municípios turísticos ou com
potencial contavam com uma estrutura destinada a atender às demandas do setor.
Por outro lado, havia um compromisso tácito de que recursos para infraestrutura e
de fomento da atividade seriam de responsabilidade dos governos municipais: o que
em teoria pode até parecer ter sido bom, na prática foi a base de novos conflitos,
pois a grande maioria dos municípios brasileiros tinha (e ainda têm) dificuldades
para manter suas estruturas básicas sociais (saúde, educação, moradia) e não
disponibilizariam recursos orçamentários para o fortalecimento de uma atividade em
que o poder da execução é quase exclusivamente do setor privado.
Em seis anos de implementação, o PNMT quadruplicou sua área de atuação
com recursos advindos do FAT, contudo, as avaliações feitas pela EMBRATUR
(2002) se abstêm de avançar aos efeitos nos municípios: conta entre seus feitos a
criação de mais de 250 novos roteiros turísticos com serviços qualificados, preços
competitivos e infraestrutura compatível; abertura de potencial de negócios e
oportunidades jamais vistas internamente e que começaram a ser descobertas pelo
mercado (op. cit., p.33).
A década de 1990 foi marcada por uma evolução nas políticas públicas de
turismo com a ampliação do debate entre governo, iniciativa privada, academia e
sociedade. Nesse período foi criado o PNMT - Plano Nacional de Municipalização do
Turismo e se ensaiaram os primeiros passos da descentralização das atividades
de planejamento e as primeiras organizações institucionais do turismo em esferas
distintas das do governo central. O município passa a ser um componente importante
do produto turístico, e a conscientização dos municípios e de suas comunidades
acerca dos benefícios econômicos que o turismo poderia aportar torna-se o
instrumental fundamental do processo de implementação da política pública.
94
1.3.3.1 Os Planos Nacionais do Turismo - PNT: período 2003-2006, 2007-2011
O MTur foi instituído, segundo o Plano Nacional de Turismo, com a missão
de promover o desenvolvimento do turismo como agente de transformação, fonte de
riqueza econômica e de desenvolvimento social, por meio da qualidade e competi-
tividade dos produtos turísticos, da ampliação e melhoria de sua infraestrutura e da
promoção comercial do produto turístico brasileiro no mercado nacional e no exterior
(BRASIL, 2003).
O Plano Nacional de Turismo concebeu um modelo de gestão pública
descentralizada e participativa, integrando as diversas instâncias da gestão pública e
da iniciativa privada, por meio da criação de ambientes de reflexão, discussão e
definição das diretrizes gerais para o desenvolvimento da atividade nas diversas
escalas territoriais e de gestão do País, alcançando todas as regiões brasileiras e
todos os setores representativos do turismo, de modo a legitimar e a subsidiar a
ação ministerial e dos seus parceiros (BRASIL, 2003).
Com a estrutura organizacional do MTUR, caberia ao órgão a função de
elaborar as políticas e de disponibilizar os recursos tanto de capital quanto de
informação e gestão, auxiliado pelo CNTUR, pelo Fórum dos Secretários Estaduais
de Turismo e dividido em duas secretarias, a de políticas e a de programas, além da
EMBRATUR. Ainda, mesmo com essa nova estrutura funcional e organizacional para
o turismo, Beni (2006) aponta:
A produção de cenários estratégicos para a redução de riscos era o objetivo
implícito do MTUR40, pois essas dificuldades apresentavam-se de duas
formas: a primeira estaria relacionada à falta de recursos humanos
qualificados para absorver, entender e interpretar a metodologia adotada,
no sentido de harmonizar e compatibilizar a realidade local as políticas
públicas, bem como os instrumentos operacionais disponíveis. A segunda
estaria na grande incapacidade institucional para a gestão e o planejamento
do turismo. A qualificação de recursos humanos é um tema que se torna um
gargalo a ser solucionado rapidamente com a dedicação dos poderes e com
o crescimento dos estudos e pesquisa em turismo. (BENI, 2006, p.50)
40 Turismo no Brasil - 2007/2010, elaborado com a colaboração das entidades participantes do
Conselho Nacional de Turismo.
95
A partir de 2003, com a criação do Ministério do Turismo como órgão
governamental independente, temos no Brasil, considerando o âmbito federal, a
configuração institucional que segue. O Ministério do Turismo organizou como
principais pilares de atuação três instituições, a saber: a Secretaria Nacional de
Políticas do Turismo, a Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do
Turismo e o Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR).
A Secretaria Nacional de Políticas do Turismo é composta, por sua vez, de:
a) Departamento de Planejamento e Avaliação do Turismo; b) Departamento de
Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico; c) Departamento de Promoção e
Marketing Nacional; d) Departamento de Relações Internacionais do Turismo. Já a
Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo abriga os seguintes
departamentos: a) Infraestrutura; b) Financiamento e Promoção de Investimentos;
c) Programas Regionais de Desenvolvimento; d) Qualificação, Certificação e Produção
ligada ao Turismo. A EMBRATUR concentra sua divisão operacional fundamental nas
divisões de Turismo de Negócio e Turismo de Lazer. As funções de cada uma dessas
três macroestruturas institucionais seriam, portanto, distintas e não sobrepostas (figura 3).
FIGURA 3 - PROGRAMAS E FUNÇÕES NO PLANEJAMENTO DO TURISMO DO BRASIL
FONTE: MTUR, Ministério do Turismo (2003) Plano Nacional do Turismo 2003 - 2007
96
Chama a atenção na figura 3 a importância dada ao denominado núcleo
estratégico do turismo, composto pelo conselho nacional, as câmaras técnicas e os
fóruns regionais que completariam o sistema turístico e dariam o "tom" do
relacionamento da política pública com o setor privado, o terceiro setor e a sociedade
civil organizada. A página web do Ministério do Turismo (www.turismo.gov.br)
distingue que a Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo
se responsabiliza por: 1) Subsidiar a formulação dos planos, programas e ações
destinados ao desenvolvimento e fortalecimento do turismo nacional, necessários à
consecução da Política Nacional de Turismo; 2) Subsidiar a formulação e acompanhar
os programas de desenvolvimento regional de turismo e a promoção do apoio técnico,
institucional e financeiro necessário ao fortalecimento da execução e participação dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios, nesses programas; 3) Subsidiar o
desenvolvimento de planos, projetos e ações para a captação e estímulo aos
investimentos privados nacionais e internacionais, em conformidade com as diretrizes
da Política Nacional de Turismo; 4) Promover a cooperação e a articulação dos
instrumentos da Administração Pública para financiamento, apoio e promoção da
atividade turística; 5) Regulamentar e apoiar a certificação das atividades,
empreendimentos e equipamentos dos prestadores de serviços e fixar os critérios de
avaliação dos organismos de certificação de conformidade; 6) Apoiar a qualificação
profissional e a melhoria da qualidade da prestação de serviços para o turista;
7) Apoiar a diversificação da oferta turística, mediante o incentivo à produção
associada ao turismo; 8) Propor diretrizes e prioridades para aplicação do Fundo
Geral de Turismo (FUNGETUR); 9) Orientar, acompanhar e supervisionar a execução
dos projetos e programas regionais de desenvolvimento do turismo, de capacitação,
de infraestrutura, de financiamento, e de fomento e captação de investimento nacional
e estrangeiro para o setor do turismo.
Adicionalmente, às três macroestruturas citadas, foi criado o Conselho
Nacional de Turismo, vinculado ao ministro, que ficou responsável pela coordenação
entre as Unidades da Federação, a iniciativa privada e o chamado terceiro setor
(figura 3). Segundo o MTUR, o CONTUR trata-se da formação de um Núcleo
97
Estratégico, formado de Câmaras Temáticas, o Fórum Nacional de Secretários e
Dirigentes Estaduais de Turismo (FORNATUR), e os fóruns/conselhos estaduais de
turismo. Quiçá foi esta a estrutura mais importante do novo modelo que se perfilou
na política pública do turismo, tendo em vista o papel de filtro das demandas dos
grupos empresariais que atuam no turismo (o Trade Turístico), dos governos
estaduais e dos territórios e regiões turísticas. Esse núcleo, por sua vez, reforçou a
criação de estruturas similares nos sistemas regionais de governança do turismo,
como será analisado no caso do Paraná mais adiante.
1.3.3.2 O programa nacional de regionalização do turismo - 2003-201041
O Programa de Regionalização do turismo ("Roteiros do Brasil") foi o desenho
de um modelo normativo de gestão descentralizada, coordenada e integrada, com base
nos princípios da flexibilidade, articulação, mobilização, cooperação intersetorial e
interinstitucional e na sinergia de decisões. Embora seu caráter normativo, ele não tinha
nenhum exigia dos governos estaduais e (ou) das regiões a sua adesão.
As diretrizes operacionais do Programa de Regionalização foram apresentadas
em nove módulos: Sensibilização; Mobilização; Institucionalização da Instância de
Governança Regional; Elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do
Turismo Regional; Implementação do Plano Estratégico de Desenvolvimento do
Turismo Regional; Sistema de Informações Turísticas do Programa; Roteirização
Turística; Promoção e Apoio à Comercialização; Sistema de Monitoria e Avaliação do
Programa (figura 4).
41 A seguir, de acordo com informações disponibilizadas em sítios de internet oficiais, se apresenta
uma breve descrição de um dos dois programas de maior destaque em âmbito federal a cargo da
Secretaria de Programas de Desenvolvimento e o "Roteiros do Brasil", a cargo da Secretaria
Nacional de Políticas. Por questões de foco, não se comenta aqui o PRODETUR, programa de
desenvolvimento do turismo financiado inicialmente pelo BID e que agora tem outras modalidades
de financiamento.
98
Diretrizes Operacionais do Programa
SENSIBILIZAÇÃO
MOBILIZAÇÃO
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA INSTÂNCIA DE
GOVERNANÇAREGIONAL
ELABORAÇÂO DO PLANO
ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO
REGIONAL
IMPLEMENTAÇÃODO PLANO
ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO
REGIONAL
SISTEMA DEINFORMAÇÕES
TURÍSTICASDO PROGRAMA
ROTEIRIZAÇÃOTURÍSTICA
PROMOÇÃOE APOIO À
COMERCIALIZAÇÃO
SISTEMA DE MONITORIA
E AVALIAÇÃO DO PROGRAMA
FIGURA 4 - DIRETRIZES OPERACIONAIS DO PROGRAMA DE REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO NO BRASIL
FONTE: MTUR (2004)
As regiões turísticas ainda teriam a possibilidade de resgatar ou aprimorar
as ações já realizadas em seus municípios por outros planos, programas, projetos e
instituições relacionados com a atividade turística, incluindo ações necessárias e
(ou) ausentes. Em princípio, o aspecto fundamental do processo foram a defesa da
valorização e o respeito às peculiaridades locais e o envolvimento de todos os
segmentos ligados ao setor do turismo, que deveriam funcionar como agentes de
mudança. Apresenta-se uma breve descrição dos principais módulos.
A sensibilização é um processo permanente que deve permear todos os
outros Módulos. Por meio desta ação, propõe-se despertar o interesse e o
comprometimento necessários dos atores locais, propiciando a disseminação dos
conceitos adotados pelo Programa.
A mobilização também deve estar presente em todos os Módulos do
Programa, pois é a forma de manter os envolvidos motivados em torno do
desenvolvimento da região e, consequentemente, dos atores que fazem parte desta.
99
O objetivo principal da mobilização é "promover, articular e integrar os atores para
obter maior envolvimento e participação destes na busca dos objetivos comuns no
processo de regionalização do turismo" (BRASIL, 2007). Uma das formas eficazes de
mobilização é combinar discussões com ações concretas – o aprender e o fazer –
desenvolvendo as capacidades de compartilhar pensamentos, conhecimentos,
interesses e tomadas de decisão.
Quanto à organização, o programa se propõe a respeitar a autonomia e o
estágio de desenvolvimento de cada unidade federal. Por isso, recomenda que
sejam resgatadas e levantadas informações sobre as Instâncias de Governança já
existentes nas regiões turísticas, encarregadas de executar ou gerir outros projetos
governamentais. A partir daí sugere-se analisar a possibilidade de essa Instância
assumir o papel da coordenação regional do Programa.
O Plano Estratégico se perfila como principal instrumento de orientação,
diálogo e negociação entre o órgão executor e os demais envolvidos. Porém, antes de
iniciar as discussões do planejamento estratégico, devem ser mencionados, pelo
menos, dois pré-requisitos essenciais para o estabelecimento do Programa de
Regionalização do Turismo. O primeiro deles diz respeito ao real interesse da iniciativa
privada em participar do processo de regionalização do turismo. Isso se aplica não
apenas aos participantes da cadeia produtiva do turismo, mas àqueles pertencentes a
setores complementares da atividade. O segundo pré-requisito refere-se à disposição
favorável e ao interesse da comunidade local em participar do processo.
No desenho do processo, a implementação das definições do Plano
Estratégico constitui parte fundamental para o sucesso do Projeto. Já o sistema de
informações turísticas deveria abranger todas as áreas do Ministério do Turismo e se
pretendia estruturar como um Centro de Informação Nacional - CIN, alimentado por
instâncias estaduais, regionais e municipais. O objetivo do centro seria resgatar e
reunir dados confiáveis e atualizados sobre os municípios e as regiões turísticas do
país, permitindo sua efetiva circulação entre as diversas instâncias e composto por
outros sistemas correspondentes às diversas áreas e programas do Ministério.
100
A proposta normativa indica que no processo de roteirização deveriam
participar os mais diversos atores, incluindo o setor governamental, organizações
não governamentais, empresas e outros. No entanto, ressalta-se que a essa
proposta se opõe a prática da elaboração dos roteiros turísticos, que fica a cargo da
iniciativa privada, com raras incursões dos agentes públicos. A elaboração de um
roteiro turístico se realiza com base na oferta turística existente e na demanda real e
(ou) potencial. Já a operacionalização desse roteiro deve ocorrer por meio da
promoção e comercialização.
Em síntese, os passos do processo de roteirização são: i) Envolvimento dos
atores; ii) Definição de competências e funções; iii) Avaliação e hierarquização dos
atrativos turísticos; iv) Análise de mercado e definição de segmentos; v) Identificação
de possíveis impactos socioculturais, ambientais e econômicos; vi) Elaboração de
roteiro específico; vii) Levantamento das ações necessárias para implementação do
roteiro turístico; viii) Precificação e teste do roteiro turístico; ix) Qualificação dos
serviços turísticos; x) Promoção e comercialização; xi) Monitoria e avaliação42.
Uma das estratégias de promoção utilizadas pelo Programa foi a realização
anual do Salão do Turismo - Roteiros do Brasil. O Salão é uma estratégia de apre-
sentação, promoção e comercialização dos novos produtos turísticos desenvolvidos
de acordo com as diretrizes e os princípios do Programa43.
Por fim, o processo de elaboração, estruturação, montagem e implementação
do sistema de monitoramento e avaliação que deveria ser implantado num período
de seis a 12 meses no Brasil ficou atrelado à falta de técnicos e de recursos
42 Como reconhece Souza (1998), esses passos são apenas as normas definidas pelos manuais de
capacitação e as diretrizes dos departamentos e programas do MTUR. Não há referências à
punição ou ao não reconhecimento de algum dos roteiros comercializados hoje no Brasil que não
tenha seguido esses passos. Outra questão que não fica clara refere-se à denominação dos
atores. A universalização do termo leva crer que congrega toda a comunidade local ou regional,
mas o entendimento varia para formas mais limitadas, como o trade turístico, empresas e
empreendimentos da cadeia de valor e (ou) da cadeia produtiva.
43 O Salão do Turismo brasileiro tornou-se a grande vitrine dos estados e municípios com roteiros
comercializáveis por e para operadoras turísticas.
101
orçamentários44. O processo de formatação da política pública prevê uma permanente
alimentação do banco de dados no qual se atualizariam os resultados das pesquisas,
avaliações e consultas focados nos aspectos prioritários dos processos em cada
unidade da federação. O programa nacional disponibiliza documentos específicos de
monitoria e avaliação para as três esferas com o intuito de dar orientações aos órgãos
oficiais de turismo - OOTs, e as instâncias de governança regional45.
Grosso modo, o Plano de regionalização do turismo trouxe entre outras
premissas positivas a de descentralização da política pública nos seguintes quesitos:
a) assimila-se como válida a noção de região turística como espaço e lugar
de interação entre o homem e o ambiente;
b) entende-se como estratégicas a importância de arranjos regionais
promovidos por outras políticas setoriais do governo federal, principalmente
no segmento do turismo rural pela importância dos vínculos de parceria,
integração e cooperação entre os setores como geradores de produtos e
serviços capazes de incorporar as unidades produtivas de base familiar;
c) promove-se a cooperação e a parceria dos segmentos envolvidos,
organizações da sociedade, instâncias de governo, empresários e a
comunidade, quando os casos são bem-sucedidos para a integração de
circuitos e roteiros, bem como a procura de melhoria da qualidade do
"produto turístico", com a diversificação da oferta turística e a estruturação
dos destinos turísticos.
44 Houve concursos públicos para preenchimento das vagas, mas, uma vez preenchidas, os técnicos
se preparam para outros concursos e esvaziam o projeto, pela falta de perspectivas de
crescimento profissional no departamento. O departamento recorre então aos departamentos
estaduais para auxiliar na concepção e realização de pesquisas regionais enquanto limita o
trabalho de monitoramento e avaliação das políticas implementadas.
45 O MTUR nunca falou, mas o processo de monitoramento e avaliação é um complexo sistema de
consultorias dominadas por fundações com "notória especialidade" da academia (FGV, FIPE-USP,
Fundação da UNB) direcionadas a avaliar por amostragem determinados programas. Junto com
essas instituições atua regionalmente também o SEBRAE. Os processos de avaliação e
monitoramento são irregulares e raramente mostram os resultados para a melhoria das ações
executadas.
102
A continuidade no uso dos instrumentos municipais mais utilizados dentro das
práticas do PNMT foi um suporte importante. Os órgãos oficiais do turismo - OOTs,
chamados assim os agentes públicos que desenvolvem a atividade dentro do município,
e o conselho municipal, que até então era exclusivo de cada cidade, passaram a
integrar como representantes da cadeia produtiva do turismo nas regiões e na
proposta ganhavam o status de governança regional e (ou) fórum regional de turismo.
A proposta da municipalização do turismo foi de importância para a
regionalização, principalmente naqueles lugares onde havia amadurecido cada um
dos municípios turísticos, os instrumentos do PNMT foram essenciais para a
migração de uma visão estratégica focada no município para uma visão de
construção de roteiros regionais, olhando para o mercado e a formatação de
instâncias de governança regional. Porém houve pontos fracos nessa mudança: a
política de municipalização para um sistema de regionalização foi um dos gargalos
da implementação da política em municípios e regiões onde a realidade apresentava
assimetrias e fortes diferenciações regionais.
"A Instância de Governança Regional é uma organização com participação do
poder público e dos atores privados dos municípios componentes das regiões turísticas,
com o papel de coordenar o Programa em âmbito regional". (BRASIL, PRT, 2007)
Longe de demonstrar uma maior ou menor eficiência da administração do
turismo em relação às políticas públicas que antecederam e tendo em vista que o
ano de 2003 foi de rearranjo institucional, o processo de regionalização e a
construção das instâncias de governança que se promoveu a partir de 2004, tornou
evidente o que percalços da implementação existentes noutras políticas públicas
(sociais e setoriais): as diferenças entre as unidades da federação representam
exatamente a natureza do problema da descentralização no Brasil, na qual, as
políticas se sobrepõem à realidade de desigualdades regionais e aos sistemas
concentrados de aferição de lucros já existentes, reforçando-os.
103
É muito provável que um dos pontos que levaram ao MTUR para a mudança
da política nacional de municipalização do turismo para uma política de desenvo-
lvimento regional fora o fato de a escala federal ter que atender a 2.500 municípios,
um a um, avaliados como municípios turísticos. A pressão e movimentação de
prefeitos e assessores parlamentares em torno de verbas para as mais diversas
atividades autodefinidas como "turísticas" seriam diminuídas de forma radical
tomando essa medida.
Por outro lado, a solução intermediária de agrupamento em roteiros turísticos
em 2004 (mais de 250 em todo o Brasil) e posteriormente a estratégia de seleção dos
municípios indutores em 2006 (65 no total), com um papel claramente keynesiano de
multiplicadores de investimentos e indutores da demanda efetiva em nível regional,
podia fortalecer a concentração de investimentos nas áreas reconhecidamente
turísticas em nível internacional. O dilema da implementação multiescalar da política
se fez evidente, pois concentraram os parcos recursos destinados às políticas de
investimento, disponibilizando os recursos restantes na capacitação dos roteiros
turísticos já existentes ou em formatação num esforço concentrado, porém se
carregou o ônus de manter e perpetuar hierarquias de municípios e roteiros turísticos
já existentes, o que o mercado já fazia de forma natural.
Além disso, a mudança de rumo das políticas públicas para o turismo distinguia
o caráter eminentemente econômico territorial da atividade turística que o MTUR queria
estimular nos estados e municípios: a atividade turística se torna uma atividade
dependente do estágio de desenvolvimento da região (historicamente definido), da
localização do espaço geográfico e da infraestrutura (que, na maioria dos casos, é
herdada dos processos econômicos ligados à Agricultura, Indústria e demais Serviços).
O formato da política de regionalização exigia uma preocupação não apenas com fluxos
de demanda, mas também com a análise da oferta turística e o preparo de lugares,
comunidades e territórios inteiros para serem apropriados pelas suas práticas e à
adequação daquelas infraestruturas antes já existentes com um caráter puramente
comunitário para uma apropriação turística de forma mais intensa mediante a injeção de
financiamento internacional, como no caso do PRODETUR (BID).
104
Sarti e Coutinho (2005) reforçam a constatação anterior. Segundo os
autores, as principais dificuldades na coordenação e na conformação de um sistema
de políticas públicas para o turismo têm origem nos desequilíbrios regionais
acumulados pelo Brasil ao longo do processo histórico de formação de sua
economia, sendo assim,
os estados em que a atividade econômica menos avança, ou seja, os de
menor quantidade de produtos turísticos e/ou que colocam seu território à
disposição de atividades de menor valor agregado têm a priori, um problema
de insuficiência de recursos para a adição de uma estratégia local à definida
em instância federal. Mais, ao gerar menor renda, essas unidades da
federação ficam condenadas a um menor fluxo de turistas e, portanto, a
uma menor oferta de produtos (SARTI; COUTINHO, 2005 p.26).
Do ponto de vista econômico regional, a relevância do setor turismo
acontece motivada por e mediante as demandas dos demais setores da economia e
isso faz com que o funcionamento de um sistema de políticas públicas só tenha
sentido se observado em uma perspectiva de transversalidade, em que as iniciativas
desses outros setores possam induzir predominantemente o seu crescimento,
porque, mediante esse crescimento, são geradas as externalidades (obras públicas,
infraestrutura) que dinamizam a renda e os empregos locais, e geram efeitos
multiplicadores no próprio território.
Afora a questão econômica, encontra-se a emergência do turismo para a
agenda das políticas públicas com a criação de um ministério. Pode-se concordar com
a visão de Cruz e Sansolo (2003) quando afirmam que a criação do Ministério do
Turismo foi no mínimo paradoxal: pois ao lado de sugerir que o setor foi elevado a um
alto patamar de importância na administração pública; fez pensar que o fato de criar
um Ministério só para o turismo deve-se ao fato de ser um tema inexistente ou
periférico nos ministérios que têm ingerência direta sobre seu desempenho, sendo a
única alternativa para tentar reverter este quadro na administração pública federal.
Esses autores garantem que no Brasil a construção de uma cultura da valorização do
turismo pode demorar mesmo reconhecendo-se por parte da administração federal
certa importância, no discurso e em algumas práticas (CRUZ; SANSOLO, 2003).
105
A verdade é que até então o turismo não fora tratado como atividade relevante,
o que reforça o legado que se encontra hoje nas diversas escalas territoriais e esferas
da administração e o tratamento dos temas relativos ao desenvolvimento do turismo
tenham sido mantidos fora das agendas das políticas públicas e das arenas onde há
conflito distributivo46.
Não há dúvidas de que no modelo de turismo que se desenha para o Brasil
é somente o poder público que tem legitimidade para representar os interesses da
coletividade. E essa coordenação se faz necessária dentro e entre diferentes esferas
de governo. Ressalte-se, ainda, que, embora não se tenham elementos suficientes
para a avaliação dos resultados, o processo em construção no Brasil permite
visualizar que está definido um embrião de um sistema nacional de políticas
públicas, entendido como um sistema de políticas top-down, a partir da esfera
federal com a colaboração das demais esferas, adicionado de estratégias locais,
executado com uma proposta de otimização de recursos, dentro dos prazos
estabelecidos pelos planejadores de política.
O modelo top-down remete ao modelo canadense analisado por Hall (2001,
p.184), que ao discutir o papel do Estado no turismo do Canadá, identifica cinco áreas
de envolvimento direto do setor público, o da coordenação, o planejamento, a legislação
e a regulamentação, empreendimentos e incentivo. A esses papéis podem ser
acrescentados outras duas funções, a do turismo social (como direito ao lazer) e a de
proteção de interesses. É esse papel do Estado brasileiro, o da coordenação do
processo de organização do turismo, dentro e entre esferas diferentes de governo "a fim
de evitar duplicação de recursos entre as várias entidades turísticas governamentais e o
setor privado, e para desenvolver estratégias eficientes para o setor" (op. cit., p.185).
46 Essa discussão pode ser um elemento de importância num futuro trabalho de tese. A análise da
emergência do turismo a partir dos orçamentos federal e estadual e de como se reflete a
emergência do tema na distribuição do bolo orçamentário. Cabe agora lembrar o fato, por ser
importante para as análises futuras da implementação das políticas em nível regional e do controle
que as instâncias de governanças possam exercer num futuro sobre investimentos para o turismo.
106
1.3.3.3 O turismo rural na política de regionalização turística
Ao verificar a evolução subsequente dos planos nacionais do turismo e dos
programas e diretrizes desenhados para amparar as práticas do segmento Turismo
Rural no Brasil, faz-se necessário acoplar três questões como pano de fundo: uma
primeira questão que deve ser levada em conta é que a arena da construção da
política pública do turismo rural (DRAIBE, 1988; SOUZA, 1996, 1998; ARRETCHE,
2000; FARIA, 2005) foi condicionada: a) pelos objetivos da construção de uma política
pública para o turismo, propriamente dita, ou pelas políticas de desenvolvimento rural
e suas sucessivas reformas ao longo do processo de conformação da agricultura no
Brasil, o que provocou as diversas intencionalidades; b) pelo modo em que foram
estruturadas as relações intergovernamentais (condicionadas pelas regras da
ditadura, de um lado, e posteriormente pela abertura e promulgação da Constituição
Federal de 1988, que modelaram práticas de descentralização nas políticas públicas
vigentes na época); c) pelo legado das políticas anteriormente estabelecidas; e d) pelo
ciclo da política pública do turismo e o grau de adesão, formas de implementação e
controle dos governos regionais e locais.
Uma segunda questão refere-se à implementação das políticas públicas no
turismo que tem tido uma baixa integração vertical dos estados federativos, e muito
em particular no Estado do Paraná (IPARDES, 2008). Sendo políticas do tipo top-
down, e dado o limitado poder de persuasão do governo federal, a subordinação a
estratégias da política nacional acontece de forma paradoxalmente direta, sem que
sejam necessários meios de persuasão ostensivos. Não é bem o caso do Paraná
como Estado, mas sim de alguns municípios do interior que optaram por não
considerar o turismo como parte das políticas públicas (IPARDES, 2008).
A terceira questão, nos moldes levantados pela M. Arretche (1998) e motivo
de pesquisa para outras políticas públicas, se dirige a entender como os processos
de distinta natureza têm sido responsáveis pela fragmentação do planejamento e
107
gestão do setor público (ARRETCHE, 1998). O turismo é uma política setorial (com
viés fortemente econômico), considerada dentro dos programas de desenvolvimento,
mas o orçamento liberado e suas ações parecem ter mais um cunho social. No caso
do Paraná, como se elucidará mais adiante, na partilha orçamentária que o Estado
tem realizado no período de estudo, o turismo opera como uma política setorial das
mais limitadas. Nesse texto, parte-se da visão de que o tipo de conflito que se dá
no interno na implementação não é um conflito distributivo, nem redistributivo, é
sim normativo na visão de T. Lowi47 (1974 apud SOUZA, 1998). O planejamento e
a implementação das políticas públicas, que passam por esse tipo de conflito,
tendem a esvaziar o sentido da própria política pelo acúmulo de desgaste e falta de
interesse expresso dos atores, dos agentes e das comunidades para o
fortalecimento da atividade nas distintas regiões onde acontece.
Vários autores destacam que os pioneiros do turismo rural surgiram no Estado
de Santa Catarina, mais especificamente no município de Lages (ZIMMERMAN, 1996,
TULIK, 1997). Em 1986 alguns produtores desse município, diante da crise do
setor agropecuário, resolveram diversificar sua área de atuação, abrindo as suas
propriedades para visitação nos finais de semana e para vivenciar o dia a dia na
fazenda (RODRIGUES, 2000). Isso permitiu, em muitos casos, que diversas proprie-
dades da região mantivessem sua atividade produtiva, de forma ativa e fortalecida,
tanto pela agregação de valores a seus produtos como pela renda extra oferecida
por essa atividade. Em algumas regiões brasileiras, são os próprios produtores
rurais que se configuram como estrategistas e criam programas e projetos originais
para o seu desenvolvimento48.
47 LOWI, T. American Business, Public Policy, Case Studies and Political Theory. World Politics,
v.16, p.677-715, 1964; Four Systems of Policy, Politics, and Choice. Public Administration
Review, v.32, p.298-310, 1972.
48 Todavia, a criação desses produtos turísticos, de acordo com Tulik (1997), acontece não só
quando o poder público cria ou apoia políticas integradas de desenvolvimento, mas quando os
empreendedores se unem em associações, ou quando ambos, poder público e empreendedores,
elaboram estratégias conjuntas para o desenvolvimento do turismo rural.
108
Tendo como referência as recomendações da Carta de Santa Maria de "que
as instituições governamentais estabeleçam, em parceria com a iniciativa privada,
políticas e diretrizes voltadas para o segmento do turismo rural", o MTUR promoveu
vários encontros, debates e estudos acerca do tema Turismo Rural, que envolveram
os setores organizados, organismos e entidades públicas e privadas, entre os mais
importantes destacam-se (BRASIL, 2008)49:
a) I Oficina de Planejamento do Turismo Rural. Brasília/DF - 15 a 17 de
julho de 1998;
b) II Oficina de Planejamento do Turismo Rural. Brasília/DF - 17 e 18 de
novembro de 1998, denominada "fase marco conceitual"50;
c) Audiência Pública na Câmara dos Deputados para validação do conceito
e da proposta das diretrizes. Brasília/DF - 14 de março de 2000;
d) Oficina Nacional de Turismo Rural. Brasília/DF - 2 a 4 de abril de 2001;
e) Oficinas Regionais de Turismo Rural;
f) Região Sudeste: São Paulo/SP - 22 a 24 de setembro de 2001;
g) Região Sul: Curitiba/PR - 22 e 23 de outubro de 2001;
h) Região Nordeste: Fortaleza/CE - 22 e 23 de novembro de 2001;
i) Região Centro-Oeste e Região Norte: Brasília/DF - 21 a 23 de março
de 2002;
j) Estudos e proposições em parceria com o Serviço Nacional de
Aprendizagem do Cooperativismo - SESCOOP: Brasília/DF - 2001 a 2003.
49 A Carta de Santa Maria foi o ponto de partida para a mobilização institucional via Ministério do
Esporte e Turismo que, no período de 199 a 2003 e em parceria com técnicos, agentes e atores
das atividades turística no meio rural passou a trabalhar em função do desenvolvimento de
diretrizes para o turismo rural no Brasil (SANTOS; PIRES, 2010).
50 A Oficina contou com 43 participantes das seguintes instituições: EMBRATUR, SDR/MA,
Representantes de produtores e empresários rurais, SEBRAE, SENAR, IICA, EMATER-PR, UnB,
EMBRAPA, UNICAMP, ABRATUR, SETUR/RS, SETUR/DF, PUC/RS, Banco do Nordeste/PNUD,
EPAGRI/SC, CEPAGRO/SC, Faculdade de Turismo da Bahia, TURMINAS/MG, e consultores.
109
Com base nos resultados foram desenvolvidos alguns manuais, diretrizes
operacionais e documentos que propunham estratégias norteadoras para a
convergência de políticas e de ações no processo de ordenamento do Turismo Rural
no País como atividade capaz de agregar valor a produtos e serviços no meio rural e
contribuir para a conservação do meio ambiente e valorização da ruralidade brasileira.
No Programa de Turismo Rural Brasileiro, o intercâmbio entre o homem, a
cidade e o meio rural enfatiza a consciência da necessidade de proteger o meio rural
e todo seu patrimônio cultural, traçando como estratégias: a) a compatibilização da
conservação e o desenvolvimento dos recursos turísticos; b) a criação de uma oferta
de alojamento e recreação não concentrada e de pequena escala; c) o contato com
a natureza; e d) um turismo organizado e administrado pela população rural.
O problema inicial detectado foi que as atividades de turismo no meio rural
aconteciam de forma desordenada e pouco desenvolvida. Foram apontadas como
principais causas desse problema: atividades do segmento não regulamentadas,
informação e comunicação deficientes, incentivos ao turismo no meio rural insuficientes,
pouca articulação institucional, infraestrutura precária, comunidades locais pouco
envolvidas, pessoal pouco capacitado, e promoção e comercialização ineficientes. Com
base nessas causas foram estabelecidos os resultados a serem buscados e as
atividades necessárias para tal (CAMPANHOLA; GRAZIANO DA SILVA, 2000).
A primeira versão do documento resultante em 2004 foi esforço conjunto do
então MTUR com o MDA para a convergência de políticas e de ações no processo de
conhecimento e ordenamento do turismo rural no país, com considerações de suma
importância sobre o envolvimento da sociedade civil organizada, do poder público e
da iniciativa privada, além de enfatizar a participação de associações, cooperativas,
conselhos de turismo e instituições de ensino, pesquisa e extensão. A proposta de
diretriz do turismo rural do MTur converge, então, para definir o turismo no espaço
rural defendendo que, naquele espaço, turismo na agricultura familiar, o agroturismo,
110
o consumo da paisagem e as manifestações e festas populares do rural estariam
contidos na proposta geral da segmentação turística oficial, conforme a figura 551.
FIGURA 5 - TURISMO NO ESPAÇO RURAL, SEGUNDO MTUR
FONTE: MTUR (2004)
Quanto ao desenvolvimento do turismo rural nos municípios, Campanhola e
Graziano da Silva (2000) são enfáticos ao considerar que cabe às prefeituras se
tornarem agentes promotores e mediadores de todo o processo, prezando pela
participação não somente das representações dos pequenos produtores, mas
também de todos os outros setores integrados ao turismo52.
Já em relação às políticas públicas de apoio ao agroturismo, os autores
propõem que deve ser considerada a flexibilização dessas políticas em função do
espaço local. Na visão dos autores, as políticas nacionais devem ser diretivas e as
51 Há um grande número de trabalhos acadêmicos, anais de eventos e pesquisadores que tratam do
assunto. Não se questiona a proposta do MTUR neste trabalho, apenas se utiliza como ponto de
inflexão para discutir a construção e implementação das políticas públicas especialmente
desenhadas para o segmento.
52 Nesse sentido, segue-se a linha do Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT),
cujo papel de animadores de processo é potencializado.
111
locais/regionais devem ser de caráter operacional podendo existir algumas políticas
específicas para o agroturismo, mas sem desviar da ideia de que o agroturismo deve
ser um componente de políticas mais amplas de apoio a muitas das atividades não
agrícolas. Nessa linha, tampouco essas políticas devem estimular o abandono das
atividades agrícolas. Assim, o agroturismo pode vir a se constituir em alternativa de
geração de renda complementar, mas não exclusiva, para os produtores
agropecuários (CAMPANHOLA; GRAZIANO DA SILVA, 2000).
1.3.3.4 O turismo nas diretrizes do desenvolvimento rural: dicotomia rural-urbano
e a pluriatividade
Como visto no item 1.2.2, a partir de meados dos anos 80 e por conta das
transformações vividas pelo Brasil no meio rural, assistiu-se ao surgimento de uma
nova conformação denominada Novo Rural que se organizou em torno de três
grandes grupos de atividades: um grupo baseado na agropecuária moderna,
excludente de mão de obra fonte do êxodo rural, baseada na produção de
commodities e intimamente ligada às agroindústrias (IPARDES, 1984; KAGEYAMA,
1995; GRAZIANO, 1996); um segundo grupo de um conjunto de atividades não
agrícolas, ligadas à moradia, ao lazer e a várias atividades industriais e de prestação
de serviços; e, finalmente, um conjunto de "novas" atividades agropecuárias,
localizadas em nichos especiais de mercado. As atividades desse último grupo, de
origem secular, não tinham importância econômica na propriedade familiar, sendo
consideradas atividades de fundo de quintal, hobbies pessoais ou pequenos
negócios temporários dos pequenos produtores, entre as quais se encaixavam as
atividades de piscicultura, horticultura, floricultura, fruticultura de mesa, criação de
pequenos animais etc. (GRAZIANO DA SILVA; DEL GROSSI, 2002).
112
Essas atividades, antes pouco valorizadas e dispersas, passaram a integrar
verdadeiras cadeias produtivas envolvendo, na maioria dos casos, não apenas transfor-
mações agroindustriais, mas também serviços pessoais, distribuição, comunicação e
embalagens. Ademais, provocaram uma diversificação das atividades rurais não
agrícolas derivadas da crescente urbanização do meio rural, com atividades
decorrentes da preservação do meio ambiente, além do turismo, lazer e prestação
de serviços, até então pouco considerados53.
Outro fenômeno, crescente na área rural, foi o aumento dos inativos e
aposentados residentes no campo, que indicava um movimento de retorno ao
campo, e do uso do rural como local de residência dissociado do local de trabalho de
53 Como mencionada na nota n° 9, o Projeto Rurbano, realizado com o apoio da Financiadora de
Estudos e Projetos (PRONEX-FINEP), e da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP), teve como objetivo reconstruir as séries históricas, para o período 1981/97, relativas às
pessoas ocupadas na agricultura, às ocupações das famílias, e às rendas agrícolas e não agrícolas,
tomando por base os microdados das Pesquisas Nacionais por Amostras de Domicílios (PNADs).
Como seu nome indica a pesquisa é feita por amostra com rigor estatístico de forma a garantir a
representatividade de toda a população, tem um caráter demográfico, pois levanta as informações
dos domicílios, não ficando restritas às informações sobre a produção das áreas rurais, como no
Censo Agropecuário. Como exemplo, a PNAD levanta as informações de milhares de chácaras e
residentes rurais sem produção e de outros que se dedicam a novas atividades não consideradas
agrícolas. Os dados levantaram a mesma base cartográfica definida no Censo Demográfico de 1991,
sendo que um morador da periferia da cidade podia ser considerado rural, tendo em vista que o
perímetro urbano era definido pela lei orgânica do município. Sobre a situação do domicílio, o IBGE
não levou em consideração se um domicílio era de periferia, de povoados ou distritos, considerando
todos estes como rurais. O projeto demonstrou que houve uma redução na participação de pessoas
ocupadas na agricultura no período 1992/97. Por outro lado, nesse mesmo período, observou-se um
crescimento do número de pessoas ocupadas em atividades não agrícolas. No que se refere a ramos
de atividades, a prestação de serviços pessoais, a indústria de transformação, o comércio de
mercadorias, os serviços sociais, e a indústria da construção civil foram os mais relevantes quanto à
geração de ocupações não agrícolas para a população residente no meio rural, demonstrando haver
um contingente expressivo de famílias pluriativas que residem no meio rural. Em resumo, o resultado
dessa pesquisa publicada em quatro volumes foi que, "o que segurou gente no campo brasileiro não
foram as atividades agropecuárias, mas sim as ocupações não-agrícolas: cerca de um milhão meio de
pessoas residentes em áreas rurais encontraram em ocupações diversas das atividades agrícolas,
novos postos de trabalho entre 1981 e 1999 no País". Para mais detalhes ver CAMPANHOLA,
Clayton; GRAZIANO DA SILVA, José (Org.). O novo rural brasileiro. Jaguariúna (SP): EMBRAPA
Meio Ambiente, 2000.
113
um contingente populacional que passa a depender da previdência social54. Essa
visão rompeu com a velha dicotomia que considerava o urbano como "lócus" das
atividades não agrícolas e que atribuía ao rural as atividades agrícolas. Sob a óptica
socioeconômica e política, a ênfase passou para as relações de troca, a divisão do
trabalho, as relações sociais e as novas dinâmicas originadas na interface rural-
urbano. E fez com que essa separação deixasse de ter relevância, perdendo a sua
importância histórica e geográfica.
O rural passa a ter características antes próprias do meio urbano, inclusive
ofertando muitos atrativos de lazer, turismo e moradia para uma população
majoritariamente urbana (CAMPANHOLA; GRAZIANO DA SILVA, 2000). O projeto
Rurbano propôs uma nova forma de observar a ruralidade a partir da ocupação das
pessoas. Se, por um lado, o progresso técnico na produção agropecuária provocou
o êxodo maciço de contingentes populacionais para outros estados e para as
cidades, também é verdade que o progresso técnico levou a uma simplificação das
tarefas agrícolas, principalmente com a terceirização das operações mecanizadas.
Os estabelecimentos, que antes necessitavam de famílias numerosas para dar conta
das tarefas, passaram a precisar de um menor número de pessoas para as várias
atividades agrícolas.
54 Segundo G. Delgado (1997), a previdência rural representou uma fonte importante de renda para
os municípios pequenos e notadamente rurais do Brasil. A política social teve a) um aumento
significativo na taxa de cobertura do sistema, medido pelo público assistido em relação ao público
potencial; b) a inclusão das mulheres rurais em condições mais favoráveis, compensando os
limites excludentes das regras precedentes do Funrural; e c) a elevação significativa da renda
domiciliar do público beneficiário, incidindo tais efeitos sobre uma população em geral muito pobre,
residente na zona rural ou microurbana contígua (municípios com até 50 mil habitantes). H.
Schwarzer (2000, p72) aponta para o papel relevante pelo seu componente redistributivo no
combate à pobreza rural. Outros detalhes, ver DELGADO, G. C. Previdência rural: relatório de
avaliação socioeconômica. Brasília: IPEA, 1997 (Texto para Discussão, 477); e Schwarzer, H.
Previdência rural e combate à pobreza no Brasil: resultados de um estudo de caso no Pará.
Estudos Sociedade e Agricultura, v.14, p.72-102, abr. 2000.
114
1.3.4 Da agricultura para a política pública do turismo rural
As políticas públicas para a agricultura, até meados da primeira metade da
década de 1990, eram quase exclusivamente para o setor patronal, restringindo
significativamente o acesso a recursos financeiros para produção do segmento
identificado, hoje, como agricultura familiar. Até a época, o importante era obter
ganhos de escala e produtividade para atingir o desenvolvimento agrícola55.
As políticas públicas para o desenvolvimento agrícola se sintetizavam num
conjunto de ações voltadas para o planejamento, o financiamento e o seguro da
produção, e constituíram a base da Política Agrícola do Ministério da Agricultura,
com estudos na área de gestão de risco, linhas de créditos, subvenções econômicas
e levantamentos de dados. Com essas informações, o governo federal acompanha
todas as fases do ciclo produtivo Tendo em vista que o setor primário brasileiro
aparece como o principal gerador de divisas e, em alguns momentos, como
fomentador do processo de industrialização do país56 (BRASIL, 2010a).
O êxodo rural e as tensões que começaram a mudar a estrutura de poder no
campo dos interesses político e econômico no setor agrícola foram resultado da
crescente visibilidade dos segmentos da agricultura de base familiar (FIALHO;
WAQUIL, 2008). Na visão dos autores, talvez o segmento tenha conquistado espaço,
no âmbito social e econômico, mas também houve um esforço do setor patronal da
55 A expressão é desenvolvimento agrícola (ou agropecuário) faz referência às condições da
produção agrícola e (ou) agropecuária, suas características, no sentido estritamente produtivo,
identificando suas tendências em um período de tempo dado. Diz respeito, portanto, à base
propriamente material da produção agropecuária, suas facetas e evolução – tais como área
plantada, produtividade, formatos tecnológicos, uso do trabalho como fator de produção,
economias de escala entre outros aspectos produtivos.
56 Entre os instrumentos mais importantes da política agrícola foram desenhados o Plano agrícola e
pecuário, o apoio à comercialização e abastecimento, crédito rural, seguro rural, zoneamento
agrícola, todos estes divididos em grandes linhas de atuação: a gestão do risco rural, a gestão do
crédito e a gestão da comercialização. Ver site do MAPA, 2011 (http://www.agricultura.gov.br/
POLÍTICAS-agricola).
115
agricultura, já que os crescentes problemas sociais na área urbana estiveram
diretamente relacionados ao êxodo rural. A partir das últimas três décadas, as
tensões no campo, embora não resolvidas, começaram a dar sinais de mudança,
iniciando uma reestruturação nas disputas de poder no plano das prioridades do
governo federal na arena legislativa.
As disputas promoveram a reestruturação do sistema agrícola brasileiro que
se fez evidente pela segmentação de um ministério que anteriormente tratava das
questões relacionadas à agricultura e pecuária para dois ministérios cuidando do
mesmo espaço rural. O primeiro, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA), e o segundo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). O MAPA tinha por
missão "promover o desenvolvimento sustentável e a competitividade do agronegócio
em benefício da sociedade brasileira". O MDA teve como área de competência
assuntos relacionados ao desenvolvimento agrário57, à reforma agrária, à promoção
do desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos agricultores
familiares, e à identificação, ao reconhecimento, à delimitação, demarcação e titulação
das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos (BRASIL,
2010a, 2010b). Dentro desse contexto, a porção marginalizada do setor primário, hoje
identificada como agricultura familiar, esteve submetida a uma crônica invisibilidade,
apesar de contribuir significativamente para o abastecimento do mercado interno.
57 Segundo Navarro (2001), a expressão de desenvolvimento agrário reflete, não sem enormes
controvérsias, o mundo rural e suas relações com a sociedade em todas as suas dimensões,
incluindo aí a agricultura familiar. O autor enfatiza que a expressão é ambiciosa analiticamente,
pois procura interpretar não apenas a estrutura agrícola, mas também as mudanças sociais e
econômicas no longo prazo, reivindicando a aplicação de modelos teóricos entre países e regiões.
(NAVARRO, 2001, p.87). Na visão de Navarro (2001), sob tal expressão, as condições próprias da
produção (o desenvolvimento agrícola) constituem apenas uma faceta, mas a análise centra-se
usualmente também nas instituições, nas políticas do período, nas disputas entre classes, nas
condições de acesso e uso da terra, nas relações de trabalho e suas mudanças, nos conflitos
sociais, nos mercados, para citar alguns aspectos. Lembra-se ainda a condição dos "sem-sem"
definidos por Graziano da Silva e mencionados anteriormente. Portanto, a "vida social rural" e sua
evolução adentram tais análises em todos os seus aspectos. (NAVARRO, 2001). Embora não
ignorados, a sua análise não é considerada neste contexto.
116
Segundo Belik (2000), até 1993 não se tinham notícias de uso do conceito
da agricultura familiar, nem recursos específicos para o financiamento. Apenas se
considerava um miniprodutor para os efeitos de enquadramento no manual do crédito
rural. Com a criação do PRONAF, Programa Nacional da Agricultura Familiar, em 1994
assume-se a visão distinta do agricultor familiar para a liberação dos empréstimos e em
1996 uma resolução do Banco Central modifica os procedimentos, passando a incluir
associações de produtores, e cooperativas para o repasse do crédito e ampliando o
público beneficiário58.
Nesses termos, a agricultura familiar começa a ser apreendida como
sinônimo de pluriatividade, sempre positiva, como tipo ideal específico, que, na visão
de Carneiro (2000), acabaria por desviar o foco de análise das práticas ou atividades
realizadas de forma isolada por essas famílias. A rigor, essas práticas não
conseguiriam substanciar o fenômeno em curso, pois a forma de organização social
e da produção no mundo rural era muito mais complexa59.
58 Os critérios de comprovação do agricultor familiar eram seis: possuir 80% da renda originária na
agropecuária, deter ou explorar imóvel rural em área de ate quatro módulos fiscais (em média 12 ha
na RMC); explorar a parcela de terra na condição de proprietário, parceiro, arrendatário ou posseiro;
utilizar Mao de obra exclusivamente familiar ou manter até dois empregados permanentes; residir na
propriedade ou em aglomerado rural ou urbano próximo; possuir faturamento máximo anual de
R$27mil e quinhentos. A taxa de juros foi o grande entrave inicial, a praticada inicialmente era de
16% a.a. para custeio e investimento, sendo reduzida para 9% a.a. para custeio e TJLP mais 6%
para investimento (BELIK, 2000, p.94). É importante ressaltar que o dimensionamento do módulo
rural muda conforme o município,e é fixado a partir do estabelecido pelo Estatuto da Terra (Lei n.º
4.504, de 30 de Novembro de 1964) para cada zona de características ecológicas e econômicas
homogêneas e para os diversos tipos de exploração, tomando em consideração a localização e os
meios de acesso do imóvel em relação aos grandes mercados; às características ecológicas das
áreas em que se situam; e dos tipos de exploração predominantes na respectiva zona. A origem dos
recursos é do Tesouro, e do FAT - Fundo do Amparo ao Trabalhador, oriundo das contribuições de
todos os trabalhadores com carteira assinada.
59 Na visão de Carneiro (2000), a construção das políticas públicas partia da perspectiva de que a
família rural era apenas uma unidade de produção fixa, quando na verdade o núcleo familiar era
que dava sentido às relações sociais, sendo a unidade social onde se manifestam os processos de
individuação "que pode negar, romper, modificar e até mesmo recriar valores num espaço de
negociação e tensões" pelo que não pode ser concebido como uma estrutura rígida e cristalizada,
mas sim como uma estrutura flexível, plástica, que pode incorporar novos valores e criar novas
percepções e práticas. (CARNEIRO, 2000, p.129)
117
O debate acerca agricultura familiar e as políticas públicas dirigidas a ela,
notadamente o PRONAF, foram intensificados pela necessidade de o governo eleger
naqueles anos um protagonista para o desenvolvimento rural que amainasse as
pressões pelas demandas sociais no campo60 (VEIGA, 1994; FAO-INCRA, 1994, apud
CARNEIRO, 2000). Embora a definição do público-meta do PRONAF mostrasse certa
eficiência nas lavouras, havia uma visão naturalizada da agricultura familiar como
"agricultura atrasada", mas com "potencialidade", cujas visões procuravam justificar as
propostas de modernização tecnológica, formas modernas de produção e
diversificação de atividades (incluído aí o turismo rural) como formas de superação do
atraso (CARNEIRO, 2000). Essa abordagem pressupunha, portanto, a integração das
unidades da agricultura familiar ao mercado, tendo em vista a possibilidade de acesso
a melhores condições materiais e subjetivas de produção. Além de partir de atores
estáticos, sem vida, a política pública foi desenhada com um claro objetivo de
integração ao mercado.
Nesse sentido, Kageyama61 (1999 apud CAMPANHOLA; GRAZIANO DA SILVA,
2000) avança na proposta de organizar tipologias para identificar e promover políticas
específicas para os grupos sociais no mundo rural. Em estudo sobre a tipologia dos
domicílios agrícolas paulistas, a autora conclui que os domicílios pluriativos tendem
a ter melhores condições de renda, habitação e educação daqueles dedicados exclusi-
vamente à agricultura, e propõe três grupos de políticas prioritárias, quais sejam, as
políticas de emprego e salário, as políticas de desenvolvimento da agricultura familiar e
as políticas sociais e regionais de assistência e complementação de renda.
O primeiro grupo diz respeito às políticas de emprego, salário e educação
combinado com incentivos ao desenvolvimento das atividades não agrícolas, para
domicílios com alta inserção nos mercados de trabalho; o segundo refere-se a
60 FAO/INCRA. Diretrizes de Política Agrária e Desenvolvimento Sustentável. Versão Resumida
do Relatório Final do Projeto UTF/BRA/036. Brasília,1994.
61 KAGEYAMA, A. Tipologia dos domicílios agrícolas no Brasil em 1995. Campinas: UNICAMP, 1999.
118
políticas da agricultura familiar, para os núcleos familiares com baixa inserção no
mercado de trabalho; e o terceiro, a políticas sociais e regionais de assistência, renda
e educação, tendo como público-alvo os milhares de domicílios agrícolas formados
pelas camadas mais baixas da população no campo - que não tem inserção no
mercado de trabalho, são muito pobres e com baixa instrução e qualidade de vida
precária – provavelmente, tais domicílios em sua maioria, não têm inserção produtiva,
e representavam na época do estudo 43% dos domicílios agrícolas do país.
Note-se que, mesmo sendo uma proposta, já sinalizava a necessidade de
atender às novas tendências do meio rural brasileiro de forma mais abrangente e
eclética, reclamando o uso de outros instrumentos de política pública oriundos de
outros setores que não o rural, para solução de problemas próprios, com vistas a
oportunizar as possibilidades de emprego e renda. Em segundo lugar, que todos
esses debates acadêmicos surgiram ao calor das grandes mudanças que a
Constituição da República trazia da necessidade de descentralização das políticas
públicas num ambiente mais democrático e participativo. Campanhola e Graziano da
Silva (2000) reconheciam essas limitações ao considerar que o local (em referência
ao espaço, território, microrregião ou comunidade) sugeriria constância de inércia,
quando na verdade deve ser visto como:
a arena onde as diferenças e conflitos entre os diversos grupos sociais se
manifestam, permitindo a construção de novas relações sociais que assuma
como premissa que os interesses comuns sejam respeitados, discutidos e
compatibilizados. O limite físico do espaço pode ser estabelecido com base
naquele que os atores de uma comunidade conseguem se organizar e
participar em defesa de objetivos e interesses comuns (CAMPANHOLA;
GRAZIANO DA SILVA, 2000 p.64).
As políticas públicas para o desenvolvimento rural são classificadas por
esses autores como instrumentos que permitem as novas formas de integração e
troca entre os diferentes segmentos espaciais e setores de atividades. Nesse
contexto, cabe ao Estado assumir um papel relevante como agente facilitador do
processo de descentralização das políticas públicas, garantir a representação dos
atores sociais e manter a transparência de suas instituições (ibidem).
119
No quadro 3, a partir da proposta dos autores, se resumem as diferenças entre
as concepções distintas de formulação e planejamento das políticas públicas no meio
rural, centro das controvérsias e dos conflitos inerentes ao uso turístico do espaço rural.
CARACTERÍSTICASDE CIMA PARA BAIXO
"TOP DOWN"
DE BAIXO PARA CIMA
"BOTTOM UP"
Princípio Centralização/Rigidez Descentralização/Flexibilidade
Planejamento Ênfase nos controles Ênfase na negociação
Metas Preestabelecidas Reformuladas passo a passo
ProcessoBurocrático, sem estímulo à
participação
Construído socialmente com estímulo à participação
Instrumento"Pacotes" prontos
Emendas parlamentares
Mobilização de experiências e do conhecimento local
Método de DecisãoAutoritário, atores principais são
externos
Articulação de interesses com participação relevante
dos atores internos
Relação com o Estado
Mantém o clientelismo e a cultura
paternalista – lideranças negativas
Aumenta o comprometimento das comunidades
locais para a realização e o acompanhamento das
ações propostas – empoderamento – O estado como
agente facilitador do processo de descentralização
ImplementaçãoAções essencialmente setoriais Favorece e busca ações inter setoriais e
interregionais
Relação com o Poder
Local e Regional
Contraditório e excludente Relação de cooperação, parcerias e associativismo
Meio AmbienteAção de controle e restrições de
caráter punitivo
Colaboração necessária, parcerias, viabilidade local
e regional. Ação educacional.
ResultadosMacroeconômicos, eficiência e
eficácia do setor, competitividade.
Diminuição das desigualdades socioeconômicas,
propósito de integração inter e intrarregional
QUADRO 3 - CARACTERÍSTICAS DE PROCESSOS DE GESTÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O
DESENVOLVIMENTO RURAL
FONTE: Adaptado de Campanhola e Graziano (2000)
Nessa visão partilha-se dos estudos desenvolvidos por autores das ciências
políticas (SOUZA, 1996, 1998; ARRETCHE, 2000; DRAIBE, 1988; FARIA, 2003), no
tocante ao ciclo de instrumentalização das políticas: as políticas top down, ou de cima
para baixo como mostra a figura 6, não se preocupam em tratar das diferenças locais
e regionais, mas estão mais voltadas para resultados macroeconômicos, nelas o
social quase sempre tem apenas um caráter coadjuvante (op. cit. p.64). Já as políticas
Bottom up (de baixo para cima), exibidas também na figura 7, além de levarem em
conta as diferenças físicas, tratam das diferenças econômicas e sociais entre as
diversas regiões dando prioridade aos problemas locais; têm como pano de fundo a
diminuição das desigualdades socioeconômicas, tanto intra como inter-regionais.
120
FIGURA 6 - IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS TOP-DOWN (DE CIMA PARA BAIXO)
FONTE: Adaptado de Campanhola (2000)
Os autores concluem que o desenvolvimento deve ser acima de tudo "um
processo de reconstrução social, que se processe de baixo para cima, com a
participação efetiva dos atores sociais" (op. cit. p.65). A figura 6 ainda esquematiza a
forma como ocorrem os processos de implementação das políticas de baixo para cima
e a atuação das instituições públicas no processo. Contudo, o apelo ao envolvimento
dos atores sociais só vem se fortalecer, não sem o enfrentamento de dificuldades,
após 200362. Nessa linha de ideias, Abromovay63 (2000 apud KAGEYAMA, 2008)
argumenta que na evolução das políticas públicas no meio rural se reforçam as
tendências de definição espacial e não apenas setorial da ruralidade, e reitera que,
62 As políticas públicas do combate à pobreza rural foram gestadas nesse período junto à
Comunidade solidária, com 20 programas públicos, somados aos programas de outros setores
estratégicos que incidiam no meio rural, no total 45, tais como aqueles voltados para a Previdência
Social, Saúde e Assistência Social, Educação, Habitação e Saneamento Básico (DRAIBE, 2003).
Insiste-se em que o turismo rural não foi considerado um programa social, era mais uma
possibilidade no bojo dessas políticas, não tendo nenhum instrumento específico que a
amparasse. Na época, já existiam algumas manifestações de reconhecimento por parte da
EMBRATUR para promover a atividade e fortalecer a demanda doméstica, principalmente nos
estados do Sul e em Minas Gerais (SANTOS, 2010).
63 ABROMOVAY, R. O capital social dos territórios: repensando o desenvolvimento rural. Economia
Aplicada, v.14, n.2, p.379-397, abr./jun. 2000.
121
embora existissem traços comuns dessa ruralidade, o meio rural brasileiro apresenta
uma imensa diversidade, que constitui uma importante agenda de pesquisa sobre o
tema. (ABROMOVAY, 2000).
FIGURA 7 - IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS BOTTOM-UP (DE BAIXO PARA CIMA)
FONTE: Adaptado de Campanhola e Graziano (2000)
Como se discutirá adiante, enquanto a construção das políticas públicas no
meio rural avançou na descentralização e organização de baixo para cima, as
políticas públicas do turismo rural ficaram restritas ao sistema informal de intenções
(rede Traf) para seu desenvolvimento. Kageyama (2008) aponta que os estudos
rurais recentes cada vez mais têm em comum considerar que o meio rural só pode
ser compreendido em suas relações com as cidades, principalmente os pequenos
centros em torno dos quais se organiza a vida local (KAGEYAMA, 2010). Quiçá, seja
essa uma das dificuldades de estabelecer critérios únicos das políticas públicas para
o turismo rural desenhadas de cima para baixo.
A partir dos trabalhos do grupo Rurbano não restam dúvidas que há um
contingente expressivo de famílias pluriativas que residem no meio rural. Não pode
ser mais considerado o urbano como "locus" das atividades não agrícolas atribuindo
ao rural exclusivamente as atividades agrícolas, essa divisão social e espacial perde
122
a sua importância histórica e limita a compreensão e aplicação de políticas públicas.
O rural passa a ter características antes próprias do meio urbano, inclusive ofertando
muitos atrativos de lazer, turismo e moradia para uma população majoritariamente
urbana (CAMPANHOLA; GRAZIANO DA SILVA, 2000, p.61).
Na visão de Lauro Mattei (2003), com o objetivo de se adequarem ao novo
contexto socioeconômico, as políticas públicas para a agricultura passaram por
constantes reformulações nesse período, embora prevalecessem distorções que
privilegiaram um sistema agroalimentar comandado por grandes empresas que
operavam a escala mundial. Contudo, a questão ambiental, salienta o autor, passa a
ser um elemento decisivo no âmbito das políticas de desenvolvimento rural
promovendo uma ruptura na harmonia reinante entre explorações agrícolas e a
(falta) de preservação dos recursos naturais. Nesse novo cenário, a pluriatividade
reforça o reposicionamento do processo de desenvolvimento rural numa perspectiva
que redefine as políticas públicas visando atender aos segmentos marginalizados e
excluídos do processo produtivo e rompe com a concepção produtivista determinada
pela modernização agrícola incorporando na agenda de trabalho das políticas
públicas os novos temas acima citados.
No obstante os argumentos desenhados a favor do novo contexto, Mattei
(2004, p.4) dá pistas de uma postura crítica em relação às políticas públicas do
turismo rural quando afirma que a atividade foi fonte da "mercantilização" do espaço
agrícola64, em determinadas regiões estudadas em Santa Catarina, ao aparecer
como "um novo elemento no panorama econômico do mundo rural, sendo consi-
64 Ao falar em mercantilização do espaço agrícola, o autor faz referência à visão do Wallerstein
(1985, p10-13), que explica que "o desenvolvimento histórico do capitalismo implicou o impulso
para a mercantilização de todas as coisas". Sendo um processo autodirigido, os processos de
produção ligam-se uns aos outros em complexas cadeias de mercadorias que mercantilizam
também os processos sociais. O autor (MATTEI, 2003, p.4), ao se referir à mercantilização do
espaço agrícola, não faz mais que reforçar a chamada turistificação (KNAFOU,1998), em que o
turismo, como processo social, também se mercantiliza e, sob um outro prisma, há apropriação do
espaço pelo turismo. Wallerstein (ibidem, p.13) reforça que quanto mais se acumula capital, mais
se mercantilizam os processos e mais se produzem novas mercadorias, sendo o requisito-chave
para manter fluxos o de haver mais e mais consumidores. Em extremo, essa mercantilização leva
ao abandono da produção familiar para se dedicar à exploração (bem-sucedida) do turismo.
123
derado, inclusive, como uma atividade econômica relevante na busca de melhorias
nas condições de vida dos agricultores familiares, os quais diversificam suas formas
de trabalho visando ampliar seus níveis de renda". (MATTEI, 2004).
[...] o turismo rural passou a ganhar um grande destaque nas discussões
sobre alternativas para a agricultura familiar, principalmente quando se
procura atacar o problema da renda e do emprego. Esta visão acabou
influenciando as próprias políticas públicas, de tal modo que no mês de
setembro de 2003, o Governo Federal lançou, através do Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), uma linha de
crédito, chamada de "PRONAF Turismo Rural", para apoiar os agricultores
familiares que pretendem implementar atividades turísticas no âmbito das
unidades familiares de produção (MATTEI, 2003, p.4).
Apesar dos esforços realizados, ora pela EMBRATUR, ora pelos técnicos das
ATER nos estados, ora pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário, não houve uma
orientação, uma diretriz ou um plano específico para o segmento do turismo rural no
Brasil até 2003, quando lançado o PRONAF para o turismo rural na agricultura familiar.
Cada estado foi detentor de caminhos e alternativas segundo as experiências
acumuladas setorialmente e organizou-se conforme as possibilidades que as suas
instituições dessem suporte, o que fez surgir a partir das práticas colhidas uma
variedade de tipologias que reflete os padrões regionais e a heterogeneidade da própria
ruralidade do Brasil. Embora a prática do turismo fosse crescente em número de
propriedades e na procura de potencialidades, a falta de diretrizes básicas e a ausência
de normatizações para o seu eficaz gerenciamento e legislações inadequadas com a
realidade rural frustraram uma possível gestão para o desenvolvimento, e seu apelo
maior foi o da prática voltada para o mercado (SEBRAE, 2003, 2007, 2010).
Além disso, a condição do turismo como atividade econômica, transversal a
um sem-número de setores e atividades, se sobrepôs à construção de um marco
legal específico para dar suporte à prática da atividade e fez com que restasse
relevância, pelo menos juridicamente, ao tratamento dado à segmentação da
atividade, notadamente do turismo rural.
Ao resumir boa parte das normas, leis e decretos afetos ao turismo rural,
percebe-se que as principais leis que amparam o desenvolvimento e a prática
124
remetem à formalização da atividade, que pela sua natureza não se ampara nos
moldes legais existentes. O segmento do turismo rural envolve uma alta
concentração de informalidade na sua formatação, pois a grande maioria dos
empreendedores do turismo no espaço rural, e não apenas a agricultura familiar,
sofre com a inadequação das leis – ora urbanas, ora rurais – e parte de um perfil de
homogeneidade inexistente no meio rural brasileiro.
Os principais entraves legais para a criação dos "produtos turísticos", espe-
cialmente para os agricultores familiares, são relativos às legislações fiscal, tributária,
trabalhista, sanitária e previdenciária. Porém, a atividade também está exposta a
legislações que contemplam aspectos ambientais, de sanidade, culturais, comerciais,
turísticos, fundiários e agrícolas, no âmbito federal, estadual e municipal. Alguns
projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional tentam modificar esta realidade65.
Em artigo publicado sobre as políticas públicas do turismo rural, Santos e
Pires (2010, p.62) traçam a linha do tempo das políticas públicas do turismo rural
no Brasil e observam que entre a década de 1970 e meados da década de 1990
"não se destina nenhuma ação específica para o turismo rural". Do ponto de vista do
turismo, seria pouco compreensível essa situação, tendo em vista o trabalho da
EMBRATUR em estados e municípios em torno do programa nacional de municipa-
lização do turismo, cuja proposta exigia a organização interna e o planejamento das
atividades do turismo municipal e de onde surgiram as primeiras práticas de turismo
rural, haveria uma efervescência e ambientes favoráveis para a organização da
atividade. Porém, do ponto de vista da agricultura, como já foi explicado anteriormente,
o embate entre as políticas destinadas à agricultura familiar e as políticas destinadas
à agricultura de exportação exigiu tempos, periodicidade e institucionalidades
diferentes para solucionar os conflitos, o que negligenciou o papel do turismo rural
como instrumento do desenvolvimento rural.
65 No Congresso tramitam ao menos duas grandes propostas para o turismo rural (Anexo 1).
125
Já foi destacado o argumento de C. Souza (2000) quando afirma que a
ausência de política é também uma política pública, o que pode ser entendido no
processo de construção de tais políticas para as novas ruralidades. Na evolução das
relações rurais e das novas ruralidades, Favaretto (2010, p.1) observa "a convivência
– conflituosa, é verdade – de duas formas sociais de produção: a agricultura patronal
e a agricultura familiar", tendência essa que foi confirmada no Censo Agropecuário de
200666, cujas categorias de apreensão e mesmo as instituições voltadas ao
desenvolvimento rural, não foram modificadas em uma direção condizente com o
estatuto desta nova etapa (op. cit. p.1).
Outros dois elementos contribuíram para uma substancial modificação das
ruralidades afetando qualquer possibilidade de construir políticas públicas coerentes
com a realidade. Uma delas foi a ruptura da relativa homogeneidade que marcava as
comunidades rurais dando lugar a uma crescente heterogeneização e certo
esgarçamento, na concepção de Favaretto (2009, 2010), dos laços de solidariedade
que eram a marca da ruralidade pretérita. A expressão territorial desse processo é
evidente nos processos de regionalização turística.
O segundo elemento, não menos importante para esta análise, refere-se às
modificações permanentes da relação campo-cidade, que deixam de se basear
exclusivamente na exportação de produtos primários para dar origem a tramas
territoriais complexas e multifacetadas, com diferentes mecanismos de composição
entre os dois polos, agora baseados em novas formas de integração entre os
mercados de trabalho, de produtos físicos e serviços, e também de bens simbólicos
(FAVARETO, 2010).
No atual contexto percebe-se, pela ausência de políticas de turismo rural e
do precário esforço para concretizá-las desde a agricultura, que, embora o MDA
tivesse uma retórica de políticas emancipatórias para o território, não tratadas neste
trabalho, a lógica das políticas implementadas foi eminentemente setorial e sua ação
66 Dados do Censo Agropecuário de 2006 são analisados no próximo capítulo.
126
territorial-setorial se assentava sobre a legislação e marcos legais ultrapassados
(FAVARETO; VEIGA, 2007, apud FAVARETO, 2010). Isso reforçou outros problemas
para a descentralização da política pública no período, ao considerar que o governo
federal optou por promover a descentralização Top-down de muitas de suas
atribuições, mas não o fez em igual proporção com os recursos e competências,
nem tampouco se instituíram mecanismos de contratualidade entre níveis e escalas
de governo capazes de levar ao cumprimento das políticas67.
A ausência de mecanismos de obrigatoriedade contratual reforçou a
racionalidade limitada dos agentes das políticas em estados e municípios. Ainda, cabe
reconhecer que um desenho das políticas de alcance territorial do MDA na opção por
políticas públicas de baixo para cima também apresentaria, como de fato apresentou,
problemas similares: os agentes locais já trabalhavam com vieses de leitura sobre onde
e como fazer aplicações e investimentos, que não necessariamente foram guiados
pelas possibilidades de melhor aplicação de recursos (FAVARETO, 2010).
Do ponto de vista do desenvolvimento da atividade, a expansão relaciona-se
a uma série de fatores que vão além da unidade de produção e que envolve uma
consciência maior dos gestores para organizar as demandas e possam ser expandidos
os efeitos multiplicadores das experiências (MATTEI, 2004). O autor reforça que a
política não pode prescindir da agricultura familiar como ponto de partida e base de
apoio, num caráter apenas complementar; a política pública deve envolver os diversos
67 Souza (2006) lembra que os processos de municipalização de políticas como a saúde e educação
podem ser considerados um sucesso nacional em termos quantitativos, enquanto saneamento,
habitação e assistência social não obtiveram o mesmo resultado. Citando a Arretche (2000, apud
SOUZA, 2006) relembra que a falência dessas últimas políticas podia ser explicada pelos altos
custos envolvidos na descentralização, tanto para Estados como para municípios, seja pela
escassez de recursos (caso do saneamento), pelo alto débito acumulado (caso da habitação) ou
pela ausência de repasses regulares de recursos (caso da assistência social). Além disso, nessas
políticas, o desenho institucional não contemplou mecanismos de recompensas e sanções caso os
governos subnacionais não aderissem a elas. No caso da agricultura familiar, como no primeiro
grupo, o tratamento foi diferenciado; mas nas políticas de desenvolvimento do território, ainda se
transita na areia nebulosa do segundo grupo, onde não há repasses regulares de recursos, são
parcos os recursos destinados para as políticas e não há claros mecanismos de repasse.
127
agentes públicos e privados de desenvolvimento rural, criando espaços de expressão e
instâncias locais e regionais, e ainda deve evitar ao máximo que a liberação dos
recursos financeiros passem por intermediações que tradicionalmente reduzem os
montantes de recursos que efetivamente chegam aos agricultores..."Esses pontos
colocam alguns desafios para as políticas públicas que visam fortalecer a atividade do
turismo rural no âmbito da agricultura familiar" (MATTEI, 2004, p.260). O quadro que
diverge do ideal proposto para as políticas públicas do turismo rural, e frequentemente
discutido pelos acadêmicos, deve remeter para essas questões ao considerar que o
objetivo maior é o desenvolvimento68. (TULIK, 2003; PORTUGUEZ, 1999).
1.3.5 Conclusões do capítulo
O sistema de políticas públicas para o desenvolvimento rural é fundamental,
assim como o desenvolvimento de políticas para o turismo. Porém, ele torna-se
inócuo se não há horizonte de estratégias conjuntas, de redução das desigualdades e
de desenvolvimento com um claro ganho das populações locais, e, mais do que isso,
se os agentes públicos não definem como estratégia principal o desenvolvimento rural
e de uso do turismo rural como instrumento para o desenvolvimento territorial. Esse
ponto ficará mais evidente quando for analisado no próximo capítulo o papel dos
agentes no turismo rural metropolitano.
O presente capítulo buscou, ademais, fazer uma revisão de conceitos e
mapear um ainda incipiente sistema de políticas públicas do turismo no Brasil e de
como as suas mudanças se refletiram no Estado do Paraná. Mediante a construção
da linha do tempo, observou-se que a reformulação da institucionalidade federal foi o
68 Segundo Portuguez (1999, p.65), o Programa de Agroturismo organizado em Espírito Santo esteve
bastante descaracterizado em virtude da rápida popularização, que não foi acompanhada e
devidamente regulamentada pelo poder público. Outro detalhe levantado em pesquisa conta que
"embora contraditório com a ideologia do "turismo alternativo", a população visitante tende a exigir o
conforto típico dos lugares de origem o que atesta seu caráter urbano massificado" (ibidem, p.61).
128
principal avanço da política multiescalar do turismo na conformação de um sistema
de políticas públicas que busca a competitividade e inclusão ao sistema turístico
brasileiro; resultado esse que perpassa pelo Estado, onde também se convive com
sérias diferenças regionais.
Outro objetivo deste capítulo consistiu em apontar conflitos inerentes à
aplicação das políticas públicas: as políticas desenhadas de cima para baixo (top-
down) embora os esforços realizados pelos ministérios de Desenvolvimento Agrário
e do Turismo para estabelecer uma norma única para os empreendimentos turísticos
no meio rural, as políticas públicas do PRONAF não cumpriram a mesma função das
políticas do turismo rural defendidos pelos Ministérios de Agricultura e Pecuária e do
Ministério do Turismo, fortemente setoriais e pautadas pela elaboração de produtos
com padrões de "qualidade dos serviços e de competitividade" da cadeia de valores
do turismo, similar aos empreendimentos turísticos urbanos. Essa divergência se
refletiu no espaço rural e nos diversos tipos de turismos praticados nele. Como se
analisa no próximo capítulo, esse problema é detectado também na região turística
Rotas do Pinhão.
Apoiados na conclusão de autores como Mattei (2004) e Favaretto (2010),
verificou-se também que o sistema de políticas públicas para o turismo rural deve
corrigir distorções na busca do desenvolvimento rural das regiões onde o turismo
constitui elemento de importância para agregação de valor das propriedades rurais e
elo entre agentes das políticas e atores locais. No próximo capítulo se analisa com
detalhes como isso ocorre na arena da Região turística Rotas do Pinhão da RMC.
129
2 POLÍTICAS DE TURISMO RURAL NO PARANÁ E NA RMC
2.1 O TURISMO NO ESTADO DO PARANÁ: OS AGENTES DA POLÍTICA PÚBLICA
DO TURISMO RURAL E A DESCENTRALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS
2.1.1 Sistema Secretaria de Estado do Turismo - SETU
Embora as Unidades da Federação possuam uma autonomia relativa para a
elaboração de políticas públicas e, portanto, para a implantação de instituições,
muitas vezes seguem apenas os modelos dos ministérios para organizar a gestão
nas reformas administrativas como forma de facilitar a entrada dos recursos federais
no Estado. Esse fato se reflete plenamente na definição de diferentes estratégias de
desenvolvimento e, também, na definição da política de turismo no âmbito do Estado
de Paraná. O turismo como setor ganha espaço na política pública desde a década
de 1940, quando se inicia o primeiro processo institucional (figura 8) e que pode ser
dividido em cinco fases com marcos normativos definidos.
FIGURA 8 - LINHA DO TEMPO DO MARCO NORMATIVO DO TURISMO PARANAENSE
FONTE: O autor (2011)
Criada pela Lei n.º 5.948, de 27 de maio de 1969, alterado pela Lei n.º
8.388/1986 e pelos Decretos n.º 3.624, de 06 de junho de 1994 e n.º 3.403, de 11 de
janeiro de 2001. Previsto na Lei de criação da Secretaria do Estado do Turismo -
SETU – n.º 13.986, de 30 de dezembro de 2002. A Secretaria de Turismo do Estado
do Paraná é apoiada em suas ações pelo:
a) Paraná Turismo (PRTUR);
b) Centro de Convenções de Curitiba;
c) Serviço Social autônomo (ECOPARANÁ).
130
A Secretaria de Turismo do Estado do Paraná - SETU e os órgãos de apoio
citados dividem as responsabilidades pelo turismo no Estado, segundo a divisão que
segue: a SETU tem por finalidade as atividades relativas à definição de diretrizes, à
proposição e à implementação da política pública na área do turismo, em todas as
suas modalidades de promoção, bem como a normatização, a fiscalização, a promoção
e o incentivo ao turismo, como fator de desenvolvimento econômico e social.
PERÍODO FASES OBSERVAÇÕES
1943-1966
Departamento de Imprensa e
Propaganda do
Estado (DEIP)
Gov. Manoel Ribas.Ilha do Mel- Club Náutico
Construção do Hotel Casino de Foz do Iguaçu.
Mudou para a Câmara de Expansão Econômica, subordinada à Secretaria
de Governo
1966Departamento de Turismo e
Divulgação
Subordinado a Secretaria de Viação e Obras Públicas. Primeiro Plano
Geral do Turismo. Com a criação da secretaria extraordinária de Indústria e
Comércio, passa a ser vinculada a mesma até 1969
1969 a 1989 Empresa ParanaturCriada pela Lei n.º 5.948, de 27 de maio de 1969,alterado pela
Lei n.º 8.388/1986.
1973 Reforma Administrativa
Governo Jaime Canet - Definição dos primeiros roteiros turísticos do
Estado, segundo eixos viários: CWB – Foz; CWB - Bandeirantes via
Guaíra; CWB - Praias; CWB - Lapa e CWB - Bocaiúva e o Turismo rural
com propostas de melhoria das fazendas para receber turistas
Linhas de financiamento BADEP-EMBRATUR
1989 a 1995Fundação de Esporte e
Turismo - FESTUR
Gov. Alvaro Dias
Gov. Roberto Requião - Escritórios Regionais
1995-....Autarquia Paraná Turismo -
PRTUR
Gov. Jaime Lerner - Decretos n.º 3.624, de 06 de junho de 1994 modificado
pelo Decreto nº 3.403, de 11 de janeiro de 2001
Lei de criação da Secretaria do Estado do Turismo -SETU - n.º 13.986,
de 30 de dezembro de 2002.
Vinculados à SETU, a PRTUR, o CCC e a ECOPARANÁ Decreto n.º 578
de 14/02/20032003 - 2010
Secretaria de Estado do
Turismo do Paraná - SETU.
Serviço Social Autônomo -
ECOPARANÁ, Centro de
Convenções de Curitiba -
CCC; Paraná Turismo -
PRTUR.
Vínculo dos Escritórios Regionais à Coordenadoria de Planejamento
Resolução 2, do 01/10/2003
QUADRO 4 - LINHA DO TEMPO DAS INSTÂNCIAS DE GESTÃO DO TURISMO NO ESTADO DO PARANÁ
FONTE: Adaptado de Pires (1973), SETU (2011)
A Paraná Turismo tinha como objetivos o planejamento e a execução da
Política Estadual de Turismo e a implantação de programas e projetos de incentivo,
de desenvolvimento e de fomento ao turismo, executando ações que buscassem
promover o turismo no estado.
131
O Centro de Convenções de Curitiba tem como meta proporcionar à comuni-
dade o acesso à cultura, à arte e ao conhecimento científico e tecnológico, por meio
de infraestrutura adequada e equipada, fomentando o turismo de eventos e movimen-
tando a economia local. A ECOPARANÁ busca desenvolver produtos turísticos e
culturais, que promovam o desenvolvimento sustentável e a decorrente inclusão
social (figura 9).
FIGURA 9 - ORGANOGRAMA DO SISTEMA PÚBLICO DO TURISMO DO ESTADO DO PARANA
FONTE: SEPL (2010)
132
O turismo no Paraná tem constituído também o chamado Trade Turístico.
O Trade é a instituição que representa todas as entidades de planejamento e gestão do
turismo, tanto públicas como privadas, porém com uma maior atividade de cunho privado.
O conselho estadual, por outro lado, faz parte da estrutura de responsabi-
lidades compartilhadas que o governo federal trata de incentivar a partir dos planos
nacionais de turismo que nasceram junto com o Ministério em 2003. O conselho de
turismo, definido como fórum de discussão, planejamento e monitoramento das
políticas públicas do turismo, e similar aos já existentes em outras áreas de abran-
gência das políticas públicas69, como na saúde ou na educação, e tem como objetivo
precípuo o de legitimar as ações, os projetos e programas do turismo nos estados e
municípios. Embora não haja um limite mínimo nem máximo estabelecido para a
distribuição dos recursos orçamentários, nem existam leis para tal efeito, o Ministério
vem qualificando a distribuição de tais recursos a partir de metas de trabalho70.
No Paraná participam no conselho consultivo de turismo outros órgãos
municipais e estaduais na construção da política pública, como a Secretaria do Meio
Ambiente do Estado, o Conselho do Litoral (COLIT) e o Instituto Ambiental do Paraná
(IAP), o Serviço de Assistência Pública para o Agricultor do Estado do Paraná
(EMATER-PR), o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
69 Interessante observar trabalho do Tribunal de Contas da União sobre os conselhos do Estado do
Paraná (2009), publicado na internet. Criados para permitir a participação popular na elaboração
de políticas públicas e fiscalizar as ações do governo do estado, os conselhos estaduais do Paraná
segundo o relatório do Tribunal de Contas, não conseguiram, até agora, mobilizar o cidadão
comum. A adesão da comunidade é baixa, apenas 5% dos 518 membros de 45 conselhos
existentes representam realmente a população, ou seja, não pertencem a movimentos sociais,
sindicatos ou ONGs. Outro problema é que 16 das 45 entidades – mais de um terço – estão
oficialmente inativos ou sem atividades recentes. Ver mais detalhes em: http://www.tce.pr.gov.br/
contasdogoverno2009/conselhos_estaduais/conselhos_estaduais.pdf. O tema, dada sua diversi-
dade e abrangência e importância, merecerá um tratamento detalhado no contexto da dissertação,
com vistas a identificar elementos comuns aos da política rural no turismo.
70 Por exemplo, no caso dos recursos de promoção, a cada ano o nível de exigência para os estados
e municípios vem aumentando e, nos dias de hoje, os recursos vêm atrelado ao número de empresas
privadas que estão cadastradas no cadastro geral do turismo (CADASTUR).
133
(IPARDES), os coordenadores dos cursos de turismo do Estado e um representante
das instâncias de governança regional, para só citar alguns dos mais atuantes,
embora existam outros tão importantes como os já mencionados.71 O conselho evoluiu
em quantidade de sócios, pelo decreto deveria ter apenas 24 entidades, hoje já
conta com 46, sendo 41% públicas e 59% privadas. Durante alguns anos, o conselho
teve como suporte as câmaras temáticas que operacionalizavam as discussões e os
trabalhos técnicos e levavam o resultado para as reuniões regulares do conselho:
com um total de cinco câmaras temáticas (Segmentação turística, Qualificação do
Produto turístico, Infraestrutura e Financiamento; Apoio a comercialização do
produto turístico).
A promulgação da Constituição de 1988 estimulou em todo o Brasil a imple-
mentação de governança como um novo paradigma de gestão das políticas públicas
que promoveu a descentralização das decisões e ampliou o espaço de participação
da sociedade. A criação nos municípios paranaenses de mecanismos de inserção de
segmentos da cadeia produtiva nos processos decisórios nos Conselhos Municipais
e nas governanças regionais que reuniam, de acordo com suas respectivas especi-
ficidades, entidades representativas do poder público, associações de moradores,
associações profissionais, entidades de representação de trabalhadores, entidades
religiosas e organizações ambientalistas, veio no sentido de reforçar regionalmente
os processos de organização do turismo em redes, para uma melhor implementação
das políticas públicas. Assim:
A implementação passa a estar fortemente imbricada em estruturas de
governança (governance). Governança entendida enquanto regras do jogo
e arranjos institucionais que dão sustentação à cooperação, à coordenação
e a negociação. Quando o policy cycle ocorre em um ambiente organizacional
em que agentes de mercado, atores estatais e instituições não-governamentais
interagem fortemente as noções de hierarquia e controle fazem pouco sentido.
Eles dão lugar à negociação, barganha e troca enquanto princípios organi-
zadores da implementação (MELO; SILVA, 2000, p.16).
71 Para complementar a lista, podem ser citados os núcleos regionais de Educação e Saúde, a COPEL e
a SANEPAR.
134
No Estado do Paraná, além do conselho do turismo, as novas redes de gover-
nança foram estimuladas a partir de 2004, nas quais as comunidades, as associações
da sociedade civil e as empresas privadas passam a desempenhar um papel cada
vez mais decisivo na implementação das políticas públicas.
Como em toda atividade de natureza humana, na política pública é impor-
tante garantir a participação e o controle sociais no processo, a fim de legitimá-lo
perante a sociedade: garantir o compromisso dos agentes implementadores é alcançar
a efetividade social almejada pelas políticas públicas (DRUMMOND; MATTOS, 2005).
Visto que o processo de governança, organizada em conselhos e governanças regio-
nais, é multifacetado, a avaliação da política pública deve levar em conta a participação
destas várias facetas que, por sua vez, são resultado de uma interação cada vez
mais dinâmica entre elementos institucionais, processuais e os conteúdos das políticas
(FREY, 2000).
Institucionalmente, o turismo do Paraná se desenvolveu num ambiente cujo
consenso girou em torno da descentralização. Passou-se a supor que, por definição,
as formas descentralizadas de organização do turismo seriam mais democráticas e
que, além disso, fortaleceriam as redes regionais dotando-as de autonomia. Essa
autonomia deveria legitimar o papel de cada instância de governança intermediária
entre o Estado e o município e consolidaria o empoderamento das regiões.
Da mesma forma, tal consenso supunha que formas descentralizadas de
organizações regionais de turismo seriam mais eficientes ao provocar efeitos indutores
do crescimento da atividade e elevar os níveis emprego e renda (direta e indire-
tamente, formais e informais), contribuindo, assim, para um possível aumento do
bem-estar da população e da sua qualidade de vida. Se esses elementos são encon-
trados em algumas instâncias regionais72, não foi bem o percurso do conselho estadual
do turismo como órgão consultivo.
72 Mais adiante se apresenta a instância de governança regional da RMC, antítese de todo o comentado
anteriormente.
135
O desenvolvimento do turismo regional foi definido a partir desse novo padrão
de relacionamento entre os parceiros sociais e o governo do estado. Essas alterações
ficaram atreladas à perspectiva de dar ênfase para a articulação dos agentes locais,
como base para a sustentabilidade e estabelecendo assim uma participação
institucional na política pública. No planejamento de 2003-2006, a SETU colocou
como meta a formulação de um documento denominado "Política Estadual do
Turismo" que originaria um "Plano Diretor" do Turismo. No Plano se estabeleceram
três linhas de ação setoriais (PARANA, 2003).
a) Fortalecimento da Estrutura Pública de Turismo. Segundo a Secretaria,
essa diretriz tem como alvo a articulação do Governo Estadual e Muni-
cípios. Com o objetivo de criar e implementar os documentos Política e
Plano Diretor, que possibilitem uma atuação mais planejada do estado
em prol do Turismo, bem como criar e fortalecer instrumentos organiza-
cionais que reúnam os segmentos que atuam no Turismo, buscando a
articulação institucional, tanto no âmbito estadual como municipal, a
minimização de esforços e multiplicação de recursos.
b) Desenvolvimento e Fomento ao Turismo. Segundo a Secretaria, essa
orientação tem como alvo a articulação do Setor Público e Privado. Com a
meta de desenvolver projetos e ações que promovam e estimulem a área
pública do turismo; os empreendimentos da iniciativa privada; a capaci-
tação de recursos humanos; a gestão das áreas naturais; a conscienti-
zação da comunidade e a implementação de instrumentos de manutenção,
valorização e estímulos à oferta turística; estudos da demanda turística e
desenvolvimento de programas do Ministério do Turismo que contribuam
para a formatação de novos produtos turísticos nos diferentes tipos de
turismo com consequências no incremento do Turismo estadual.
c) Promoção e Divulgação do Turismo. Propõe a movimentação de Institui-
ções e Comércio para a promoção do turismo paranaense no mercado
estadual, nacional e internacional, mediante a participação em eventos
136
referenciais do setor, confecção de material técnico-promocional, apoio
a eventos e negócios turísticos e outras ações que visem atrair fluxo
turístico para o Estado, bem como divulgar seus produtos e potenciais.
Os objetivos propostos em tais eixos foram os seguintes: a) Geração de
emprego e renda; b) Ampliação da oferta de produtos turísticos de qualidade, que
valorizem os conteúdos locais; c) Aumento do fluxo turístico; d) Aumento do período
de permanência do turista; d) Aumento da receita gerada com a atividade; e)
Incremento no PIB estadual.
Em 2003, estabeleceram-se, portanto, as seguintes metas para o ano de
2006: aumentar o fluxo de turistas em 20% a 25% (O fluxo turístico estadual em
2002 foi de 5.552.244 demandantes, em sua maioria [48%] oriunda do próprio
Estado do Paraná. Com ações de fomento ao turismo estadual e uma efetiva divul-
gação e diversificação do produto Paraná, nos mercados internacional, com destaque
para o Mercosul, nacional, regional e estadual, espera-se um incremento entre 20 e
25% no nacional e ampliar para 30% a participação no mercado internacional);
aumentar a permanência média para 4,5 dias (a permanência média atual é de três
dias); aumentar o gasto per capita dia em 30 % (em 2002 o gasto médio per capita
foi de US$ 45); aumentar a receita gerada em 25%; aumentar o número de produtos
turísticos comercializados por agências de turismo do Brasil e do Estado em 50%.
Para isso, estabeleceram-se as ações seguintes resumidas no quadro 5.
A versão do plano estadual 2007-2010 passou por algumas mudanças que
robusteceram a ação regional e a revisão do papel das instâncias de governança
regional. O atendimento às demandas dos municípios, por meio da Paraná Turismo e
ECOPARANÁ, teve uma fase de crescimento a partir do volume das emendas parla-
mentares e movimentos políticos das eleições municipais. A alteração de governos
municipais via processo eleitoral desmontou muitos dos órgãos oficiais de turismo e das
governanças regionais que já vinham funcionando de forma regular (figura 10).
137
POLÍTICAS/INICIATIVAS DESCRIÇÃO
· Planejamento Estratégico do Turismo Estadual
· Gestão do Turismo Estadual
· Cadeia Produtiva do Turismo
· Parcerias para o Turismo
1) Gestão Pública e Articulação Institucionalpara o Turismo
· Associativismo no Turismo
· Educação para o Turismo2) Envolvimento da Sociedade com o Turismo
· Turismo Social
· Municipalização do Turismo
· Inventário da Oferta Turística Estadual
· Estudo do Espaço Turístico Paranaense
· Diversificação da Oferta Turística
3) Municipalização e Regionalização do Turismo
· Regionalização Turística Estadual
· Legislação Turística
· Controle de Qualidade
4) Qualidade do Produto Turístico
· Recursos Humanos
· Estudo da Demanda Turística5) Estatísticas do Turismo
· Indicadores de Turismo
· Turismo em Áreas Naturais
· Resgate e Valorização da Cultura e História Local
6) Proteção ao Patrimônio Natural/Histórico/Cultural
· Gerenciamento de Áreas Naturais
· Microcrédito para o Turismo
· PRODETUR- Sul
7) Financiamentos e Investimentos
· Bolsa de Oportunidades de Investimentos Turísticos
· Comercialização do Produto Turístico Paraná
· Comunicação
· Participação em Eventos Técnico-Promocionais
· Eventos e Negócios Turísticos
8) Promoção e Divulgação do Produto TurísticoParanaense
· Sistema de Informações Turísticas
QUADRO 5 - POLÍTICAS E PROGRAMAS DA SECRETARIA DO TURISMO DO ESTADO DO PARANÁ - 2003-2006 E2007-2010
FONTE: SETU - Plano Estadual do Turismo, 2003-2006 (2003)
FIGURA 10 - ÁREAS ESTRATÉGICAS E MACROPROGRAMAS DO TURISMO DO ESTADO PARANÁ -
2007-2010
FONTE: Adaptado de SETU - Plano de Desenvolvimento do Turismo (2008)
138
Dentro do marco de descentralização promovida desde o MTUR, as discussões
sobre a Regionalização do Turismo no Paraná tiveram início com a criação da
Câmara Temática de Regionalização e o Conselho Consultivo de Turismo do Paraná,
no início de 2003, ano em que também foram definidas as nove regiões turísticas do
estado. Em 2008 foi criada mais uma região turística, institucionalizando-se, dessa
forma, a décima representação regional de turismo. As dez regiões turísticas
vigentes até atualidade no Estado são: Litoral do Paraná, Rotas do Pinhão – Curitiba
e Região Metropolitana, Cataratas de Iguaçu e Municípios lindeiros ao Lago de
Itaipu, Cenários do Tempo, Vales do Iguaçu, Riquezas do Oeste, Norte do Paraná,
Terra dos Pinheirais, Corredores das Águas, Estradas e Caminhos (figura 11).
Nesse cenário regional, as Instâncias de Governança Regional do Paraná
se estabeleceram como organizações articuladoras do processo de planejamento
descentralizado e participativo do turismo, o que garante a participação de diversos
atores e entidades no desenvolvimento da atividade. No Paraná, ainda que existam
dez regiões turísticas, foram institucionalizadas nove Instâncias de Governança, uma
vez que a representação da região Estradas & Caminhos se encontra no momento
em fase de estruturação.
À época de sua criação, foram priorizadas como tarefas a organização de
fóruns regionais, responsáveis pela articulação institucional entre as diversas regiões
e o estado, como a elaboração de planos estratégicos de desenvolvimento com
caráter participativo para o desenvolvimento do turismo; a promoção de articulação
dos roteiros turísticos identificando a infraestrutura básica e a implementação de
ações de apoio ao desenvolvimento das cadeias produtiva (no qual a Secretaria
assumiu o compromisso de levantar as informações em pesquisa de campo).
ECOPARANA - O Serviço Social Autônomo Ecoparaná foi instituído em 1998,
por meio da Lei Estadual n.º 12.215/98, na qualidade de pessoa jurídica de direito
privado, sem fins lucrativos e de interesse coletivo. Vincula-se, por cooperação, à
Secretaria de Estado do Turismo - SETU, órgão responsável pela supervisão organi-
zacional e administrativa, em conformidade com o contrato de gestão que mantém
com o Governo do Estado do Paraná.
139
REGIÕES TURÍSTICAS DO PARANÁ - 2004-2008
REGIÕES TURÍSTICAS DO PARANÁ - 2008-2011
FIGURA 11 - REGIÕES TURÍSTICAS DO ESTADO DO PARANÁ - 2004-2011
FONTES: SETU (2005), SEBRAE (2009)
140
A missão estratégica definida pela instituição é a de desenvolver e executar
programas de assessoramento à administração pública e iniciativa privada no
desenvolvimento, implementação e gestão de ações em turismo que objetivam
promover o desenvolvimento local, a preservação do meio ambiente, o crescimento
econômico e a justiça social.
ANO NACIONAL ECOPARANÁ
1998 a 2004 Diretrizes para o Desenvolvimento do
Turismo Rural no Brasil, Ministério do
Turismo - MTur
Participação no planejamento do Anel de Turismo
Rural na RMC: roteiros de turismo rural no entorno
de Curitiba (Emater, Comec e Ecoparaná)
2003 Formação da Rede
TRAF Criação do Pronaf Turismo Rural,
Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA
2003
2004
Programa Nacional do Turismo Rural na
Agricultura Familiar – PNTRAF, MDA
Programa de Regionalização do Turismo,
MTur
Realização do "Mapeamento do Turismo Rural no
Paraná": levantamento da situação atual do Turismo
Rural no estado, destacando iniciativas e potenciais
TRAF nos municípios.
2003 a 2005
2005-2008
Realização de 05 Oficinas Nacionais da Rede
TRAF – MDA e MTur
CONVÊNIO MDA 055/2005
MDA/EMATER/ECOPARANA (Executora)
Ecoparaná – Ministério do Desenvolvimento
Agrário, Secretaria da Agricultura Familiar
Lançamento do programa Territórios da
Cidadania.
Participação em publicações: Livreto de Turismo
Rural, Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo
Rural no Brasil (MTur),
Participação na promoção e organização do I, II e III
Encontro Regional de Turismo Rural da RMC.
Participação no Curso TRAF Região Sul, em
Joinville/SC
Promoção do I Curso em Turismo Rural na
Agricultura Familiar - TRAF do Paraná, para
técnicos
Apresentação do Projeto TRAF ao Conselho
Consultivo de Turismo do Estado, equivalente ao
Fórum Estadual de Turismo, e promoção de
palestras e eventos sobre o TRAF
Mobilização de técnicos no Estado do Paraná,
sobre o TRAF promovendo:
a) Reuniões técnicas com agricultores;
b) Reuniões com técnicos que atuam no TRAF;
c) Curso para 170 técnicos da EMATER e
prefeituras;
d) 4.o Encontro Regional do Turismo Rural RMC
2008 a 2009 DVD de capacitação para o turismo rural na
agricultura familiar
Ações na RMC em projetos específicos
Promoção de parceria em pesquisa para a RMC
(SETU/IPARDES/COMEC/
EMATER e SEPL)
QUADRO 6 - LINHA DO TEMPO DO TRAF(1) NACIONAL E AÇÕES DA ECOPARANA
FONTE: ECOPARANÁ - Relatório de Atividades (1998/2009)
(1) Rede TRAF - Turismo Rural na Agricultura Familiar.
141
A Ecoparaná atuou no fortalecimento de destinos turísticos mediante a arti-
culação e orientação no desenvolvimento de projetos regionais, em parceria com
instituições afins, públicas ou privadas, das esferas municipal, estadual e federal.
Detalham-se alguns dos projetos mais importantes para a Região Metropolitana.
PROJETO TRAF - Os objetivos do projeto indicavam a necessidade de
promover o turismo rural na agricultura familiar no Paraná como uma alternativa
de geração de renda e resgate da cultura da vida no campo, possibilitando a valori-
zação dos produtos oriundos desta pequena agricultura.
Foi o projeto mais importante do ponto de vista estratégico para o turismo
rural na agricultura familiar do Estado do Paraná. Seu escopo ficou limitado pela
ausência de continuidade nas ações programadas e em grande medida pela desarti-
culação de programas estaduais com os orçamentos locais para o desenvolvimento
de ações para atingir o grande problema que se diagnosticava, a ausência de
mecanismos claros de comercialização do produto turismo rural.
Entre os parceiros, a EMATER se concentrou em ações que eram mais
valorizadas mídia, como as Caminhadas da Natureza, e parte dos recursos advindos
do MDA foi dedicada a grandes eventos e visitas técnicas de grupos de produtores
da agricultura familiar para conhecer as atividades (similares) e boas práticas em
outros estados do Brasil. Outros parceiros, como ONGs e universidades, serviram de
suporte nesse processo, aportando técnicos e estudantes para acompanhar as
atividades: porém não renderam retornos específicos ao desenvolvimento regional
do turismo rural.
O projeto com o MDA atendeu a demandas de 94 municípios, incluídos os da
RMC, com ações de reuniões de motivação, cursos, encontros regionais, excursões
técnicas e produção de material informativo.
142
DESCRIÇÃO QUANTIDADE BENEFICIÁRIOS
1.1 Reuniões técnicas com agricultores 12 3601. Reuniões
1.2 Reuniões técnicas com técnicos 6 120
2.1 Cursos para agricultores 12 2402. Cursos
2.2 Cursos para técnicos 01 40
3.1 Encontro Estadual do TRAF 1 250
3.2 Encontro Regional do Vale do Ribeira 1 200
3. Eventos
3.3 Encontro Regional do Turismo Rural (4.o Edição 1 200
4.1 Excursões técnicas para agricultores 3 1204. Excursões técnicas
4.2 Excursões técnicas para universitários 3 120
5. Produção de material gráfico 5.1 Material informativo e promocional --- ---
QUADRO 7 - RESULTADOS DO PROJETO TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR NO PARANÁ - 2010
FONTE: ECOPARANÁ - Relatórios técnicos
O conteúdo de um DVD foi pensado de forma a integrar grande parte das
temáticas referentes ao turismo rural na agricultura familiar e enriquecido, ao final de
cada módulo, com depoimentos de produtores rurais da Região Metropolitana de
Curitiba, que relatam suas experiências com a atividade.
Além de aspectos turísticos, são abordadas questões da cultura como
maneira de homenagear e valorizar as diversas etnias que colonizaram o Estado do
Paraná. Embora os assuntos sejam reais, alguns personagens foram idealizados
tendo como base as diferentes etnias. O DVD encontra-se segmentado em sete
módulos: O que é turismo? Serviços, Cultura, Atendimento, Organização da proprie-
dade, Meio Ambiente e Relacionamento com empreendedores.
Os módulos podem ser trabalhados de acordo com as necessidades locais,
sendo agrupados em maior ou menor carga horária, pois o instrutor tem liberdade de
apresentar o conteúdo da forma que achar propícia, dando pausa no DVD sempre
que for necessário, intercalando a apresentação com comentários, reflexões e (ou)
dinâmicas. Ao final do trabalho de cada módulo, sugere-se que seja feito um fecha-
mento, podendo o técnico utilizar de uma das dinâmicas (que se encontram disponíveis
na apostila, ou outras que considerar conveniente) ou uma reflexão, para que o
conteúdo seja alcançado de maneira satisfatória.
143
As dinâmicas funcionam como formas alternativas de aprendizado, utilizadas
para fixar determinados conteúdos de maneira participativa, proporcionando a oportuni-
dade de integrantes dos grupos se relacionarem e buscarem conclusões juntos,
despertando o respeito, a compreensão e a união entre eles.
RMC - Objetivos: consolidar o turismo na RM de Curitiba como atividade
econômica, respeitando as restrições ambientais, apoiando e incentivando a conser-
vação dos patrimônios históricos e culturais, bem como a melhoria da infraestrutura
turística mediante a proposição de usos adequados para áreas de interesse
ambiental, colaborando com os municípios no que diz respeito à integração regional.
Um exemplo foi o esforço de trabalho realizado em Almirante Tamandaré: Desenvol-
vimento de planejamento e estudos arquitetônicos voltados ao turismo no Município
de Almirante Tamandaré, com ênfase no "Circuito da Natureza". O trabalho realizado
no município consistiu na elaboração de propostas que incrementem o circuito
existente e o torne mais atrativo. Incluiu-se o projeto do Parque Linear Anibal
Khoury, intervenção feita a pedido do governador do Estado.
Além da disseminação dos conceitos da Rede TRAF, entre os trabalhos mais
importantes que a ECOPARANÁ desenvolveu esteve o chamado mapeamento do
turismo rural no Estado do Paraná. Nesse trabalho realizado por correio e com o
apoio de visitas técnicas, foram enviados formulários de pesquisa para preenchimento
pelas 399 prefeituras do estado. Mais de 240 responderam obtendo-se uma primeira
ideia dos diversos segmentos de turismo explorados na área rural, a saber: Áreas
naturais, rural, TRAF, Eventos e Religioso (ver mapa 1).
Os técnicos da ECOPARANÁ também foram um importante suporte para os
trabalhos de desenho e formatação das diretrizes da Rede TRAF nacional. Essa rede
não saiu do papel, mas produziu alguns documentos de relevância que o MDA
utilizou para rearranjos do PRONAF, com a inclusão da atividade de turismo rural no
financiamento agrícola para a pequena produção familiar.
MAPA 2 - MAPEAMENTO DO TURISMO RURAL NO ESTADO DO PARANÁ, 2006
FONTE: ECOPARANA (2006)
145
FIGURA 12 - MATERIAL DE APOIO PRODUZIDO PARA O TURISMO RURAL
FONTE: ECOPARANÁ - Apresentação ao Conselho Estadual do Turismo (2008)
FIGURA 13 - ECOPARANÁ - IV ENCONTRO ESTADUAL DE TURISMO RURAL NA AGRICULTURA FAMILIAR 1 E 2
FONTE: ECOPARANÁ - Apresentação ao Conselho Estadual do Turismo (2008)
146
2.1.2 Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMATER
O Serviço de Extensão Rural, no Paraná, foi criado em 1956, em decorrência
de convênio entre os governos do Brasil e Estados Unidos. Era então denominado
Escritório Técnico de Agricultura - ETA Projeto15, com poucos técnicos instalados
em escritórios do interior do estado (Foz do Iguaçu, Campo Largo, Prudentópolis,
Rebouças, São Mateus do Sul e União da Vitória). O objetivo consistia em executar
programas de cooperação agrícola, atuando nos campos de educação, pesquisa,
conservação de recursos naturais, produção agrícola e pecuária, economia
doméstica e extensão rural (PARANA, 2011). Os cerca de 850 extensionistas, "[...]
atuam em todos os 399 municípios paranaenses, percorrendo os caminhos do
interior, onde um agricultor precisar da orientação de um técnico" (PARANA, 2011).
Em 1959 foi criada a Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná
(ACARPA) com vínculo na SEAB. Em 1977 (Lei n.º 6969) foi criada a Empresa
Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) que absorveu a
ACARPA. Já em 2005, a EMATER tem modificado seu regime jurídico, passando de
empresa pública para autarquia e sendo denominada como Instituto Paranaense de
Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER). Entre 1977 e 2005 se consolida no
estado o movimento cooperativista para a produção agropecuária, para o qual a
ação dos extensionistas da EMATER foi fundamental no fomento do associativismo
formal e informal.
Na crise do café, por meio da então ACARPA, a extensão rural fomentou a
expansão de explorações alternativas, como a soja, que se transformou no principal
produto da produção rural paranaense. A extensão rural concentrou também seus
esforços em programas restauradores como o Programa Integrado de Conser-
vação de Solos e Águas (PROICS), que se transformou num grande trabalho de
Microbacias Hidrográficas.
147
A extensão rural teve a responsabilidade ainda de executar ações de
interesse dos agricultores e suas famílias, dos pescadores, dos assentados, dos
trabalhadores, das mulheres e dos jovens rurais, sempre em atuação conjunta com
as lideranças, articulando e mobilizando instituições ligadas ao setor. São ações em
projetos com influência direta no aumento de produção, da produtividade e da renda
das propriedades. Os extensionistas têm desenvolvido trabalhos nas mais variadas
áreas do conhecimento, tais como bem-estar social, nutrição, saúde, saneamento,
educação e cidadania. Presta orientações aos agricultores para o uso correto do
crédito agrícola, em dezenas de programas de âmbito federal, estadual e regional.
Entre esses, mais recentemente, o PRONAF, o Paraná 12 Meses e o Biodiversidade
têm sido programas que oferecem recursos para custeio e investimento da atividade
agrícola, para a conservação e recuperação do meio ambiente e para a manutenção
da assistência ao homem do campo.
A EMATER conta com uma unidade estadual, cuja sede é Curitiba, e 22
regionais, uma delas a regional da RMC. Possui uma subdivisão interna equivalente às
microrregiões, chamadas de ADIs, ou áreas de desenvolvimento integrado, que servem
apenas como subdivisão interna, visto que na prática essa subdivisão não existe.
Os projetos dessa instituição são estruturantes. O turismo pode estar em
vários projetos ao mesmo tempo em que mantém uma área específica do turismo.
Os resultados apurados nas ações do turismo rural não contemplam as ações de
turismo rural de outros projetos com financiamento que sejam desenvolvidos pela
extensão rural (tabela 1). De tal forma que, embora não tenha recursos específicos
para o turismo rural por projetos conveniados com o MDA, por exemplo, há ações de
turismo rural sendo executadas por outros projetos da EMATER, também isso é um
fator pelo qual os extensionistas não comuniquem ações específicas de turismo
rural. Na tabela o número de extensionistas que informaram ter atividades de turismo
rural foi diminuindo no período em estudo. Nos anos de 2010 e 2011 tem sido assim,
embora o implementador do projeto tenha informado que não houve mais ações do
turismo rural do MDA no estado (LAZINHO NETO, 2011).
148
TABELA 1 - EVOLUÇÃO DO PROJETO TURISMO RURAL DA EMATER/PR NA RMC - 2004-2011
ANO
NÚMERO
DE EXTEN-
SIONISTAS
NÚMERO DE
MUNICÍPIOS
ATENDIDOS
EQUIPE
TÉCNICA
PÚBLICO
BENEFICIADO(1) EVOLUÇÃOVARIAÇÃO
%
2004 20 13 3,8 28
2005 17 12 3,4 91 63 325,0
2006 3 3 0,7 101 10 360,7
2007 6 5 1,7 118 17 421,4
2008 8 8 2,5 170 52 607,1
2009 4 5 1,7 76 -94 271,4
2010 6 5 1,6 255 179 910,7
2011 5 3 1,1 203 -52 725,0
FONTE: EMATER - Relatórios de Planejamento (2010)
(1) Agricultores beneficiados.
A divisão territorial dos técnicos extensionistas na RMC tem três subdivisões
em três ADIs: Curitiba sul, Contenda Lapa, Rio Negro; do Vale do Iguaçu, e a do
Vale do Ribeira. O Vale tem sido "olhado com carinho porque é uma região um
pouco menos dinâmica que tem que dedicar um pouco mais de força de trabalho"
(LAZINHO NETO, 2011). Chama a atenção na tabela 1 que em 2004, ano de início da
política de regionalização do turismo, 13 municípios da RMC desenvolviam ações de
turismo rural atendidas por 20 extensionistas. Desse número restaram apenas três
municípios em 2011 (safra 2010).
O perfil do atendimento (tabela 2) muda também conforme as subdivisões e
os municípios, no ano de 2010 foram declarados para fins de relatório, os dados
contidos no quadro a seguir, onde boa parte das atividades são ocupações rurais
não agrícolas (GRAZIANO E CAMPANHOLA, 2000), embora a venda de produtos in
natura apareça com uma participação relevante. Outro marco importante se refere
às questões atinentes à agricultura familiar, cujo peso é muito grande em todas as
atividades de atendimento relacionadas.
149
TABELA 2 - PERFIL DO ATENDIMENTO DO TURISMO RURAL NAS PROPRIEDADES DA RMC, ANO AGRÍCOLA -
2010/2011(1)
ATIVIDADES
NÚMERO TOTAL DE
PROPRIEDADES
A
PROPRIEDADES DA
AGRICULTURA
FAMILIAR
B
PARTICIPAÇÃO %
B/A
Comércio de Artesanato Rural 27 12 44,4
Comércio de Produtos In Natura 19 16 84,2
Comércio e visitação a Unidade Agroindustrial 12 3 25
Comércio e Visitação a Unidade Artesanal 36 28 77,8
Educação Ambiental 13 4 30,8
Espaço para Eventos 38 11 28,9
Pesque-Pague 45 18 40
Serviços de Alimentação 39 7 17,9
Serviços de Hospedagem 9 3 33,3
Serviços de Lazer 18 3 16,7
Visitação ao Patrimônio Cultural 5 0 0
Visitação ao Patrimônio Natural 4 1 25
Visitação à produção Agropecuária 12 11 91,7
FONTE: EMATER - Relatório de Planejamento
(1) Levantamento realizado em 2011 considerando a Região de Curitiba equivalente à Região Turística e à RMC
definida pela COMEC.
Na visão do coordenador de Planejamento da EMATER, os programas
nacionais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e outros do MDA e em
menor volume, do Ministério da Agricultura e Pecuária, são considerados ações
transversais da EMATER, de tal forma que todos os projetos podem demandar ações
(e recursos) desses programas nacionais. PRONAF é um caso específico que
qualquer cadeia produtiva tem ações transversais do PRONAF. Não tem um único
extensionista implementador73. O turismo cresce bastante no estado, a gente pode
estimular, o Estado pode fazer (IBIDEM, 2011).
Quanto ao desenvolvimento dos trabalhos nos municípios, não houve uma
diretriz única, mas sim uma orientação da cadeia de produtos em cada município.
O extensionista, porém tinha poder de decisão e de articulação com os demais
projetos da EMATER.
73 Implementador é chamado o coordenador de área o da cadeia produtiva de determinados
produtos, que procura discutir com seu grupo de trabalho as diretrizes e o planejamento regional e
estadual. Muitas vezes os implementadores estaduais têm mais um auxiliar na região, que
funciona como coordenador regional e ajuda na coordenação da região quando a região é muito
importante. No caso da RMC, essa figura não existe, por estar muito perto da sede central.
150
O extensionista tem como diretriz se envolver com a comunidade, sentir a
comunidade e ajudar a construir os planos de desenvolvimento rural. Os planos
municipais com ações gerais voltadas ao desenvolvimento rural têm como público
prioritário o agricultor familiar, como pessoa e sua família, o desenvolvimento da
família rural. Outros públicos recebem a atenção da EMATER, pois essa não nos
exclui. No caso da RMC, hoje 90% é agricultura familiar.
TABELA 3 - PÚBLICO DO PROJETO TURISMO DA EMATER/PR POR CATEGORIA ATENDIDA,
RMC - 2010-2011
2010 2011ATENDIMENTOS
Absoluto % Absoluto %
Agricultor familiar (lei Federal) 80 31,37 58 28,57
Agricultor Patronal 9 3,53 10 4,93
Trabalhador Rural 3 1,18 3 1,48
Jovem rural 11 4,31 24 11,82
Mulher 63 24,71 58 28,57
Assentado 0 0,00 1 0,49
Outros 89 34,90 49 24,14
TOTAL 255 100,00 203 100,00
FONTE: EMATER - Relatório de Planejamento
NOTA: Região de Curitiba é equivalente à Região Turística e à RMC definida pela COMEC.
O extensionista estabelece um plano de trabalho integrado entre a Prefeitura e
a EMATER. A prefeitura via de regra é a principal parceira das ações de EMATER no
município. O técnico tem toda a liberdade de fazer as articulações com as instituições
parceiras e a previsão (em cronograma) das ações a serem desenvolvidas no ano
seguinte, assim como a previsão dentro do plano de trabalho (LAZINHO NETO, 2010).
Na visão do coordenador de planejamento, há liberdade plena dentro do
escopo (seguindo as orientações do implementador dentro do estado) e a
negociação com as entidades parceiras para alcançar o desenvolvimento dentro de
nossas capacidades com orientação dos implementadores. É assim que o turismo se
insere na realidade metropolitana. Além das atividades de ocupações rurais de
origem não agrícolas, os extensionistas acompanharam a produção de olericultura,
fruticultura, leite e grãos e a agroindústria de pequeno porte.
Finalmente, durante os anos de 2009 e 2010, o processo de desgaste do
programa é evidente (tabela 4), diminuem o público atendido, as metodologias e
principalmente as articulações com entidades, essenciais para a construção de
processos participativos.
151
TABELA 4 - SÍNTESE DO ACOMPANHAMENTO DO PROJETO TURISMO RURAL DA EMATER/PR -
RMC - 2010-2011(1)
ATENDIMENTOS 2010 2011VARIAÇÃO
%
Por categoria de público 255 203 -20,4
Por metodologia (de abordagem) utilizada 343 318 -7,3
Assessorias e articulações com entidades 17 12 -29,4
Relação público atendido/público previsto 134 183 36,6
Ações de Meio Ambiente em turismo rural - educação ambiental 5 17 240,0
Eventos no projeto Turismo rural 31 36 16,1
FONTE: EMATER - Relatório de Planejamento
(1) Valores referentes a safra do ano anterior.
Como complemento a esse quadro institucional, em oficina de turismo rural
realizada em 2007, os representantes da EMATER repassaram as seguintes
informações sobre o andamento de projetos e as fontes de recursos disponíveis para
tais (resumidas no quadro a seguir). No quadro observa-se que boa parte da fonte
pagadora dos recursos para o turismo rural eram projetos estruturantes para a
agricultura do Estado do Paraná, como o PRORURAL e o PARANÁ 12 MESES.
AÇÕES REALIZADAS FONTES DE RECURSOS
- PNMT (1.a, 2.a e 3.a fases com 72 técnicos) - Prorural, PR 12 meses
- Oficinas e encontros TRAF (6)
- Encontro Estadual TRAF (Cascavel)
- MDA, Pronaf, parceria Ecoparaná
- Sensibilização e mobilização em nível municipal - Recursos próprios
- Organização de visitas técnicas e excursões - PR 12 meses, MDA, recursos próprios,
agricultores, prefeituras
- Participação em feiras e eventos técnicos - Recursos próprios, MDA, PR 12 meses, prefeituras
- Assistência técnica e extensão rural nas propriedades envolvidas
(agro-indústria/rotulagem, artesanato, gastronomia, crédito,
agropecuária/meio ambiente)
- Recursos próprios / governo estadual
- Assessoria e articulação na elaboração dos planos e propostas
municipais
- Recursos próprios, prefeituras
- Participação na elaboração de material de divulgação e de apoio - Comec, PR 12 meses, recursos próprios,
prefeituras, privado
- Cursos de capacitação para empreendedores - Comec, Ecoparaná / MDA, recursos próprios,
prefeituras, universidades
- Participação e articulação de Conselhos (regional, municipal) - PR 12 meses, MDA
- Participação na estruturação de circuitos e roteiros - Comec, Emater, Prorural, municipal, privado
- Reunião com técnicos, agricultores e parceiros - MDA, PR 12 meses, Emater
- Participação e articulação para criação dos fundos e organizações
de turismo
- Recursos municipais, privados
QUADRO 8 - EMATER AÇÕES REALIZADAS DO TURISMO RURAL ATÉ O ANO DE 2007
FONTE: SETU (2007)
152
As informações correspondem ainda ao fato de que projetos estruturantes
são parte do dia a dia dos extensionistas, a ponto de a participação e articulação de
conselhos de desenvolvimento rural e a assessoria de planos e projetos municipais
fazerem parte da lista de ações da instituição nos municípios.
2.1.3 Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná (SEAB)
A Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do PARANÁ (SEAB) é o
órgão que coordena e executa programas de melhoria da qualidade de vida das
populações rurais e do manejo adequado dos recursos naturais. Conta, em sua
estrutura, com 20 núcleos regionais e 120 unidades veterinárias (SEAB, 2011).
Mantém desde 2003 o turismo como uma atividade em desenvolvimento em todo o
território estadual apoiados pela EMATER.
A SEAB é membro efetivo do Conselho do Turismo do Paraná, o qual se
vincula diretamente ao Secretário de Estado do Turismo e busca auxiliar na formu-
lação, no acompanhamento e na avaliação dos planos, programas, projetos e
atividades derivados da Política Estadual de Turismo. Dentro do conselho, a SEAB
participou ativamente da Câmara Temática de Segmentação do Turismo, que, a
partir de discussão e produção técnica, planejou, organizou e desenvolveu algumas
das ações do segmento de Turismo Rural no Paraná.
Em 2006, a SEAB, a SETU e a EMATER esboçaram o projeto de lei para o
desenvolvimento do turismo rural na agricultura familiar. O Governo do Estado do
Paraná promulgou no ano de 2006 a chamada Lei Estadual do Turismo Rural na
Agricultura Familiar, que conceitua a atividade turística desenvolvida pelos agri-
cultores familiares. A partir desse fato, no início de 2007, a SEAB e a SETU assinaram
um Termo de Cooperação Técnica para trabalhar em conjunto na elaboração e exe-
cução do Programa de Turismo Rural do Paraná (figura 14).
153
FIGURA 14 - CAPA DO PROGRAMA DO TURISMO RURAL DO PARANÁ
FONTE: SEAB (2011)
Desde 2008, a SEAB, em conjunto com a EMATER, coordena o Projeto
Caminhadas na Natureza no Paraná, com o apoio da Confederação Brasileira de
Caminhadas, Esportes Populares e Inclusão Social - Anda Brasil, que realiza
eventos de caminhadas no meio rural, em padrões internacionais, como estratégia
de aproximação dos caminhantes com os agricultores familiares, promovendo o
entorno e a compra e venda de produtos locais e "valorizando a cultura e espaço
rural" (SEAB, 2011). Esse projeto conta com um turismólogo na sede da secretaria
que coordena os trabalhos.
A SEAB, contudo, sofre com a dicotomia das políticas públicas no meio rural,
o que se reflete tanto no ambiente interno, onde há resistência e processos descon-
tínuos na gestão das políticas, quanto na estrutura deficitária e orçamento também
reduzido o que obriga a manter um vínculo estreito com o agronegócio e limita sua
ação na agricultura familiar (SEAB, 2011).
154
2.1.4 Coordenação da região metropolitana de Curitiba - COMEC
A COMEC nasceu da visão do Governo Federal, junto com outras oito
regiões metropolitanas no pais74, sem discussões quanto a sua formação e atribuições
e sem levar em consideração particularidades regionais. A Lei Complementar n.º 14
/1973 estabelece no seu artigo 2.o e 3.o a necessidade de instaurar em cada área
metropolitana um conselho consultivo e um deliberativo, que deveriam ser criados
por lei estadual, definindo as atividades específicas para cada conselho.
Ao Conselho Deliberativo compete promover a elaboração de um plano de
desenvolvimento integrado com a programação de serviços comuns, assim como
coordenar a execução de programas e projetos de interesse da região, objetivando a
unificação dos serviços sempre que possível. Já ao conselho consultivo caberia
opinar sobre questões de interesse da região metropolitana, sugerindo ao conselho
deliberativo a elaboração de planos regionais e adoção de providências relativas aos
serviços comuns (Art 4.o, LC 14/1973).
Em dezembro de 1994, a COMEC foi transformada em autarquia, ligada à
Secretaria de Planejamento do Estado. Poucas modificações foram introduzidas,
sendo a maior delas a determinação de que o presidente do conselho deliberativo
fosse o secretário de planejamento. O conselho é nomeado pelo governador e de
seus cinco membros, somente dois são indicados pelas cidades da RMC, sendo um
desses municípios, o município polo. O outro município representa os 28 municípios
que agora compõem a RMC.
Após a promulgação da Constituição de 1988, muitas mudanças ocorreram
em nível nacional no que se refere à legislação urbana, mas poucas em torno da
gestão das regiões metropolitanas. As entidades metropolitanas passaram por
74 Na lei complementar 14 de 1973, a RMC foi constituída dos Municípios de: Curitiba, Almirante
Tamandaré, Araucária, Bocaiúva do Sul, Campo Largo, Colombo, Contenda, Piraquara, São José
dos Pinhais, Rio Branco do Sul, Campina Grande do Sul, Quatro Barras, Mandirituba e Balsa Nova.
155
alterações substantivas em suas funções, e a participação mais efetiva da sociedade
junto ao poder público tem criado condições para um processo mais interativo de
gestão do espaço metropolitano.
O processo decisório ficou assentado sobre os Conselhos Deliberativo e
Consultivo. O Conselho Deliberativo, como instância superior de decisão, era formado
pelo Secretário de Estado de Planejamento, representando o Governo do Estado do
Paraná, na presidência, e mais cinco membros, dos quais um indicado pelo prefeito
da capital e um indicado pelos demais prefeitos da região, com funções delegadas
de planejamento, controle e avaliação75.
Essa Secretaria Administrativa foi criada no âmbito da administração direta
do Estado, como órgão de regime especial vinculado à Secretaria de Estado do
Planejamento. Observa-se aqui um aspecto peculiar da lei paranaense de criação do
órgão metropolitano, ao definir que, para contribuir com as responsabilidades dos
Conselhos "fosse contratado o Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC
para desenvolver as atividades de planejamento regional e de assentamento dos
Conselhos, o que na prática acabou não acontecendo" (COMEC, 2010).
Em 2003, cria-se, por meio do Decreto Estadual n.º 22, o cargo de Secretário
Especial para Assuntos da Região Metropolitana de Curitiba para assessorar o
Governador do Estado do Paraná na coordenação das ações relativas ao planejamento
75 Tais como a de I. promover a elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado da Região
Metropolitana; II. promover a programação dos serviços comuns aos Municípios da Região; III.
coordenar a execução de programas e projetos de interesse da Região Metropolitana, objetivando
sempre que possível, a unificação quantos aos serviços; IV. formular as diretrizes da política de
desenvolvimento da Região; V. aprovar o Plano de Desenvolvimento Integrado da Região
Metropolitana, bem como os planos setoriais e relativos aos serviços comuns;VI. propor alterações
na área territorial da Região;VII. aprovar os critérios de contratação de serviços técnicos
especializados; VIII. deliberar sobre a criação de empresa de âmbito metropolitano; enquanto que
o conselho consultivo tinha como função: I. opinar, por solicitação do Conselho Deliberativo, sobre
questões de interesse da Região Metropolitana; II. sugerir ao Conselho Deliberativo a elaboração
de planos regionais e a adoção de providências relativas à execução de serviços comuns;III. opinar
sobre qualquer matéria que lhe for submetida pelo Conselho Deliberativo; IV. opinar sobre os
planos de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana bem como os planos setoriais
decorrentes e relativos aos serviços comuns. Mais detalhes ver Comec: Histórico institucional. In:
http://www.comec.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=28 (COMEC, 2010).
156
e à execução de funções públicas de interesse comum, tendo a COMEC como suporte
técnico-administrativo. E a partir de 2006, passa a vigorar o Decreto Estadual n.º 6.384
que revoga o Decreto Estadual n.º 22, e vincula a COMEC à Secretaria de
Desenvolvimento Urbano (SEDU).
Entre suas atividades estão o planejamento territorial e a coordenação das
funções públicas de interesse comum aos seus municípios, tais como transporte
público de passageiros, sistema viário, habitação, saneamento e elaboração e
estabelecimento de diretrizes para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental.
Também controla o uso e a ocupação do solo.
Como envolve um contingente de mais de 3 milhões de pessoas, a RMC
ainda tem muitos desafios a superar, como a questão demográfica, a
desigualdade econômica entre os municípios, o desemprego, a necessidade
de saneamento básico em algumas cidades, a carência de mão de obra
especializada, a ocupação irregular, a proteção dos mananciais e o espaço
para crescimento. Para orientar e fomentar o desenvolvimento metropolitano, a
COMEC apresentou pela primeira vez, em 1978, o "Plano de Desenvolvimento
Integrado da Região Metropolitana de Curitiba – PDI/RMC" que abordou, de
modo global, os problemas dos diferentes municípios da região (COMEC,
site institucional).
Foi com essa preocupação que a COMEC, junto com a EMATER, trabalhou
na organização de circuitos rurais desde 1996 respondendo a uma demanda inicial
dos programas de proteção de mananciais metropolitanos (quadro 6). Inicialmente, a
proposta de organização desses circuitos tinha como objetivos primordiais:
1. Estabelecer uma proposta para o desenvolvimento sustentável em áreas
rurais dos mananciais.
2. Contemplar as Áreas de Proteção Ambiental, com um conjunto de ações
sistematizadas que promovam a geração de emprego e renda.
3. Recuperação de valores éticos/culturais das populações que promoveram
a colonização destas áreas.
4. Ampliar as propostas em andamento, conjugando o Turismo Rural, como
uma alternativa aos modelos de desenvolvimento existentes. (NASCIMENTO
E BELTRÃO, 2004).
157
Como pode ser observado, a principal preocupação, além do cuidado com
os mananciais que abastecem as cidades de Curitiba e da região, era preponderan-
temente com a questão ambiental que levasse ao desenvolvimento da região. A Secre-
taria esteve envolvida na época com a organização institucional do turismo nas
prefeituras com o programa de municipalização do turismo PNMT. O programa de
turismo rural da EMATER/COMEC foi pioneiro em aliar a preocupação ambiental (até
hoje presente) com o turismo rural:
Aliado aos recursos naturais, as características predominantemente rurais da
população, possibilitam a exploração do Turismo Rural em propriedades de
agricultura familiar, onde o visitante tem a oportunidade de conhecer as
atividades típicas do trabalho no campo, a cultura local (com seu artesanato,
festas, arquitetura) e principalmente a gastronomia, que além de ser um
atrativo também é um serviço necessário (NASCIMENTO e BELTRÃO, 2004).
O desenvolvimento do turismo na região enfrentou problemas de ordem
institucional. Um deles foi a mudança de governo estadual, seguido pelas mudanças
de autoridades municipais, o que representou obstáculos na continuidade para o
desenvolvimento dos projetos e ações iniciados na década de 1990. Outro fator que
limitou o desenvolvimento foi o término do contrato de financiamento que deu origem
ao PROSAM (Programa de Saneamento Ambiental). Além desses, contribuíram para
que municípios menores abandonassem o projeto o fato do difícil acesso que limita o
incentivo ao desenvolvimento da atividade turística como a distância do mercado
consumidor de Curitiba76. Como já foi configurado na análise da construção das
políticas públicas, neste mesmo capítulo, as propostas de política de estado ficaram
entendidas como orientações programáticas de governo e abandonadas na mesma
velocidade com que se estruturava um ministério que defendia orientações de
POLÍTICAS pública de regionalização.
76 O trabalho de Teles e Ribeiro (2010) apresenta um resumo e uma interessante reflexão a respeito
da construção dos circuitos turísticos e dos espaços de governança que se seguiram desde 1998
na RMC. Teles ainda aprofunda essa discussão na sua tese. Mais detalhes, ver Teles (2011).
158
PROJETOPROPOSTA DE AÇÕES DE TURISMO A
SEREM DESENVOLVIDASOBSERVAÇÕES E CONTEXTUALIZAÇÃO
1. Circuito Trentino de turismo rural É formada a partir de rodovias municipais e estaduais,
com extensão de aproximadamente 35 km, atendendo
aos municípios de São José dos Pinhais, Piraquara,
Quatro Barras, Campina Grande do Sul e Colombo.
2. Núcleo urbano de Piraquara Neste segmento, ocorre a interligação da rodovia Federal BR
277, com rodovia Federal BR 476, e contempla os projetos.
3. Caminhos do mar pela graciosa
1 - Rota dos
Mananciais
4. Polo de turismo rural da colônia roseira
1. Circuito italiano de turismo rural
2. Circuito Tamandaré de turismo rural
2 - Região do Karst
3. Circuito verde que te quero verde
A região é contemplada por vários circuitos de Turismo rural,
localizada na porção norte de Curitiba, contemplando os
municípios de Colombo, Almirante Tamandaré, Campo
Magro e Campo Largo. Possui atrativos naturais, como
grutas, montanhas e rios, nascentes do Rio Passaúna, o
Morro da Palha
1. Circuitos de turismo rural do município
de Campo Largo
2. Circuito estrada do Mato Grosso
3. Circuito de turismo rural de Bateias
4. Circuitos de turismo rural município de
Araucária
3 - Circuito da
Região Oeste
5. Caminhos do Guajuvira
Abrange as represas do Rio Passaúna e Rio Verde, onde
o solo é trabalhado intensamente com agricultura. Esta
região também é caracterizada predominantemente pela
cultura Polonesa, que se reflete na arquitetura, na
gastronomia, no artesanato e nos produtos oferecidos
1. Represas do Rio Iraí.- Outorga
Sanepar. Estudos já realizados
2. Represa do Rio Passaúna - Outorga
Sanepar Estudos já realizados
3. Represa do Rio Verde-Outorga
Petrobras. Estudos já realizados
4. Represa do Rio Capivari. Outorga
Copel
5. Represa Vossoroca, Outorga Copel
4 - Anel Metropolitano
de Turismo
6. Represa do Caigava. Outorga
Sanepar.Estudos já realizados
Anel Metropolitano de Turismo, o aproveitamento do
Potencial Turísticos das represas construídas ao longo
dos últimos anos para o abastecimento Publico da
Região Metropolitano de Curitiba, deve ser implementado
a partir dos Estudos técnicos já implementados pelas
entidades outorgadas os seguintes projetos turísticos:
esportes náuticos a vela, pescaria esportiva de barranco,
parques públicos no entorno, podem ser incentivados
considerando o atual estágio de planejamento
A) Elaboração da potencialidade local
para as atividades de ecoturismo
B) Elaboração de um Plano Gestão e
Capacitação de técnicos e lideranças
C) Elaboração de projetos de engenharia
para demarcação das atividades
esportivas;
D) Negociação com fundos de
financiamentos
5 - Áreas Naturai
no Vale do Ribeira
(proposta)
E) Produção de materiais
Em face das condições naturais existentes,
compreendido na região do Vale do Ribeira, e as
condições geoeconômicas apresentadas, se propõe a
produzir as condições necessárias para a implantação de
Polos de turismo em Áreas naturais nos municípios de
Adrianópolis e Cerro Azul.
QUADRO 9 - PROJETOS E PROPOSTAS A SEREM DESENVOLVIDAS PELA COMEC/EMATER/PR
FONTE: Nascimento e Beltrão (2004)
159
Em 2006, com a colaboração de outras instituições, a COMEC publicou um
novo PDI/RMC com propostas de ordenamento territorial e de um novo arranjo
institucional. Este PDI tem princípios baseados na competitividade, sustentabilidade,
solidariedade, parceria e participação pública e mantém propostas para o turismo
nas áreas de mananciais, mas não indica formas de operacionalização. Na mesma
época, o governo estadual incentiva a realização de planos diretores em todos os
municípios do estado.77
Atualmente vinculada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano
do Paraná (SEDU), a COMEC é responsável pelo planejamento e pela gestão do
desenvolvimento integrado dos 29 municípios que compõem a região metropolitana.
Entre suas atividades estão o planejamento territorial e a coordenação das
funções públicas de interesse comum aos seus municípios, tais como transporte
público de passageiros, sistema viário, habitação, saneamento e elaboração e estabe-
lecimento de diretrizes para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental. Também
controla o uso e a ocupação do solo.
2.1.5 Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas é uma
entidade civil sem fins lucrativos que funciona como serviço social autônomo e
trabalha majoritariamente com a captação de recursos públicos para projetos
técnicos voltados ao desenvolvimento das micro e pequenas empresas e sua
participação mais ativa no mercado. Para tanto, trabalha com o fomento e a difusão
de programas e projetos que visam à promoção e ao fortalecimento em vários
setores que podem mudar conforme o estado e região.
77 Para fins de avaliação, foi organizada uma planilha com os planos diretores da RMC. Desconcer-
tadamente e descobriu-se que poucos têm um capítulo dedicado ao turismo e menos ainda ao
turismo rural metropolitano.
160
O SEBRAE-PR tem como missão a promoção da competitividade e o desen-
volvimento sustentável das micro e pequenas empresas e fomentar o empreende-
dorismo e se coloca como objetivo precípuo o apoio, a orientação e ao sucesso para
as empresas crescerem e evoluírem, com acesso à informação e ao conhecimento.
No caso do Estado do Paraná, os setores nos quais o SEBRAE investe estão:
Tecnologia de informação/Software; Vestuário; Varejo; Construção Civil; Agronegócio e
o Turismo. No Turismo do Paraná atua exclusivamente como entidade parceira e
alinhada com a Política Pública Programa Nacional de Regionalização do Turismo
(CARVALHO, 2008).
Assim, o objetivo do SEBRAE-PR no turismo é o de promover a melhoria da
competitividade e sustentabilidade do setor de turismo e das empresas da cadeia do
turismo do Paraná, focando como estratégias a profissionalização da gestão dos
empreendimentos dos projetos; a ampliação, qualificação e inovação da oferta de
produtos turísticos e associados; a promoção, divulgação e comercialização dos
produtos turísticos e associados e a sinergia e articulação entre os elos e atores
(CARVALHO, 2008).
Nesse processo, o público-alvo do SEBRAE se constitui das empresas formais
e informais dos elos da cadeia produtiva do turismo no Paraná concentradas nas
atividades de meios de hospedagem, gastronomia, agências de viagens, transporte,
entretenimento e lazer, atrativos, empresas de eventos, artesanato e produtos
associados ao turismo. Dessa maneira, no espaço rural o SEBRAE procura interagir
não com o produtor da agricultura familiar, mas com o empreendedor que existe nele.
A ideia do Projeto Turismo na Rotas do Pinhão surgiu da necessidade de
comercializar de forma conjunta o produto turístico da Região Metropolitana. Em
sucessivas reuniões do Conselho Estadual do Turismo entre 2006 e 2007 foi apresen-
tada uma proposta geral, que seria financiada com recursos do MTUR e executada por
meio do SEBRAE para a promoção conjunta dos roteiros. O projeto previa o desenho de
logomarcas que seriam incorporadas na promoção e venda dos mesmos.
161
Além disso, o projeto recomendava a melhoria da competitividade e susten-
tabilidade das empresas do setor e do destino turístico como um todo, sendo
implementado dentro dos princípios da regionalização do turismo e desenvolvendo
ações coletivas com parceiros e instâncias de governança regionais (SEBRAE,
2009). Iniciado em 2007 procurou-se articular um esforço conjunto de diversas
entidades: SEBRAE-PR, SETU, prefeituras municipais e OOTs, municípios, associações
comerciais e de turismo, iniciativa privada e diversos outros parceiros com ações
alinhadas às políticas públicas de turismo e às diretrizes do Plano de Desenvol-
vimento do Turismo do Paraná 2008-2011,
Já em 2006 surgiu o propósito do SEBRAE começar a trabalhar os grupos
de empresas que existiam na região. Para não ficar apenas na estratégia de
desenvolvimento dos territórios foi mapeada no SEBRAE, reconhecendo
que o turismo é uma atividade econômica, quais seriam as empresas que
estão na rota do pinhão que poderiam ser alvo formar parte de um projeto
especifico regional (SEBRAE, 2012).
A região precisava ter um movimento, com a economia local, ter produtos
turísticos e atrativos em potencial. A realização do acordo de parceria entre as
instituições, a construção das logomarcas e os investimentos em capacitação e
organização das rotas numa concepção única fortaleceriam o destino Rotas do
Pinhão na visão do SEBRAE (figura 15).
FIGURA 15 - ROTAS DO PINHÃO - LOGOMARCA E PROPOSTA DE TRABALHO
FONTE: SEBRAE-PR
162
Foi decidido centrar o fortalecimento em quatros passos (ver figura 15) num
por quatro produtos prioritários que na época eram roteiros: o convite e envolvimento
das diversas entidades da região; identificação dos investimentos públicos e
privados na região; o fortalecimento das Rotas do Pinhão como região turística
prioritária e por último, o fortalecimento do destino indutor para seu posicionamento
no mercado internacional.
A proposta do nome em plural pretendia preservar a identidade dos roteiros,
ora oriundos de etnias diferentes da RMC, ora pequenos produtores familiares
periurbanos, ora pequenos empreendedores urbanos que não se encaixavam em
nenhum dos grupos sociais descritos. Além disso, mantinha o sentido lúdico, pois,
como observou Albanez (SEBRAE, 2012), "observado no mapa de Curitiba Caminho
Trentino, os Caminho da Natureza, o Verde que te quero Verde, propusemos uma
formação específica em quatro frutos do pinhão na logomarca, como se o pinhão
com seus frutos se abrisse em quatro".
O SEBRAE foi além no processo com a proposta (inédita) de contratualização
do processo. O contrato promovia uma espécie de compromisso "formal" num
processo de obtenção de resultados ao final de cada ano, como apresentado em
reunião de avaliação das atividades da Rotas do Pinhão e do Fórum Metropolitano
em 2008. Assim se estabeleceram como objetivos:
a) Para efeito de planejamento, visualizar ações x parcerias x prazos x
prioridades;
b) Consolidar um documento tendo em vista a materialização das principais
ações para 2009;
c) Sistema do Turismo depende das partes para o resultado final;
d) Sistema de Gestão Estratégica www.sigeor.sebrae.com.br com acom-
panhamento em linha.
163
Foram signatários do acordo de resultados:
PARCEIROS DO ACORDO DE RESULTADOS
São as entidades que poderão ser envolvidos nas ações do Acordo de Resultados
Prefeituras Municipais dos municípios
Sistema FECOMÉRCIO – Federação do Comércio do Paraná
SESC-PR - Serviço Social do Comercio
SENAC-PR - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
MTUR - Ministério do Turismo
Instituições financeiras
COMEC
SEAB/EMATER
SEMA
SENAR
CVB - Curitiba Convention & Visitours Bureaux
ACAVIM - Associação Caminho do Vinho - Colônia Mergulhão
ATCM - Associação de Turismo Rural de Campo Magro
AECITUR - Associação dos Empreendedores do Circuito Italiano de
Turismo Rural de Colombo
Conselhos Municipais de Turismo
IES - Instituições de Ensino Superior
IPARDES
MINEROPAR
ASSOMEC - Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba
164
Núcleos Setoriais e apoio aos roteiros rurais:
32 empresas atendidas de um total de 400
prospectadas na região (8 %)
Verde que te quero Verde
(Campo Magro)
Caminho do Vinho
(São José dos Pinhais)
Agências de Turismo Receptivo
Assinatura do Acordo de Resultados 2009
Capacitações 8
Consultorias especializadas 80
Participação em feiras 3
Missões e caravanas 2
Rodadas de Negócios 3
FIGURA 16 - ROTAS DO PINHÃO - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS, SEBRAE/PR
FONTE: SEBRAE-PR
A assinatura do acordo de resultados era, na visão do SEBRAE, a forma de
garantir o compromisso, um instrumento para articulação dessas partes (poder público,
iniciativa privada e entidades) tendo em vista o cumprimento de objetivos comuns
(SEBRAE, 2008). Os resultados, medidos nos anos seguintes ficaram aquém do espe-
rado, embora a avaliação feita mascare esse resultado, como se apresenta a seguir.
RESULTADOS ESPERADOS RESULTADOS OBSERVADOS
Aumento do Fluxo Turístico em 5% Aumento da competitividade da região no mercado de turismo
Faturamento em 10% Incremento na oferta de equipamentos e serviços turísticos
Oferta de Produtos Turísticos em 5% Elevação da qualidade dos serviços
Ocupação em 5% Aumento do fluxo de demanda turística
Soluções de Inovação e Tecnologia em 50%Investimentos e o incremento na infraestrutura de apoio ao turismo
em alguns municípios
Um Novo Mercado para cada Empresa em 50% Crescente participação da iniciativa privada
QUADRO 10 - RESULTADOS COMPARATIVOS DA ROTAS DO PINHÃO
FONTE: SEBRAE (2009)
165
FIGURA 17 - ROTAS DE PINHÃO - PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS
FONTE: SEBRAE-PR
A estratégia do SEBRAE já mudou de rumo, porém nunca foi avaliada de
forma aberta entre os parceiros quais têm sido os acertos e os erros das estratégias
passadas. Isto é, com a flexibilidade que possui de administrar recursos públicos em
projetos, e diante do fracasso de os objetivos não cumpridos, não se observa o
principio básico da transparência para comunicar as causas.
Especificamente no caso dos roteiros na Região Metropolitana de Curitiba
foram assinalados vagamente os possíveis motivos conflituosos do fracasso dos
roteiros, promoveu-se um grupo interagências para mobilizar os empreendedores e
se lhes apresentou um cardápio de soluções exitosas, ilhas de êxito pontuais como
iscas atrativas para incentivar uma mobilização desses empreendedores.
Com isso, evitou-se discutir qualquer mudança estrutural e se fortaleceu a
ideia de que o desenvolvimento local e regional é o produto do esforço individual
numa corrente que se reproduz num ambiente favorável aos negócios, e com a
participação de uma governança que, respeitando os principais manuais de gestão e
administração moderna, pode atingir mercados nunca antes sonhados.
166
2.2 COORDENAÇÃO E COOPERAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
O aparelhamento do Estado do Paraná para a implementação das políticas
públicas de turismo estabelecido no planejamento nacional não passou por uma
mudança: a equipe técnica que pensava as estratégias em função da própria
dinâmica da atividade, reforçada desde a esfera federal, era também a que promovia
a formatação das governanças regionais e, evidentemente, também capacitava os
municípios. Foi natural um alinhamento da política pública estadual com o desenvol-
vimento da política pública federal: a implementação do programa de regionalização
do turismo (PRT) foi realizada de forma direta, tendo em vista a demanda nacional.
A oficina de regionalização realizada em 2004 e a construção de um plano
foram frutos da implementação desse processo. Outra vertente da política pública foi o
fortalecimento da atividade e a integração de produtos em roteiros e regiões para
aquecer a economia regional e principalmente contribuir com o desenvolvimento local
de forma integrada. Nessa fase, o grande parceiro da Secretaria foi o SEBRAE-PR78.
A política realizada pelo Ministério do Turismo, e seguida pela SETU no
estado, promoveu a criação de conselhos de desenvolvimento da atividade nos
municípios. Porém, mesmo com a criação de um ministério e de uma secretaria
específica, o turismo foi pouco relevante do ponto de vista social, sendo mantido fora
das agendas de políticas públicas setoriais com orçamentos muito limitados ou
sendo, na mais das vezes, moeda de troca de parlamentares para com seu reduto
eleitoral nas regiões de origem e onde atuam politicamente. Além disso, considerando
que a atividade turística tem o espaço como principal objeto de consumo, o PNT do
governo federal, além de ter privilegiado a abordagem do turismo como negócio,
estimulando a formatação de "produtos", negligenciou outro elemento fundamental: o
78 Durante vários anos, a SETU não tinha condições de acessar recursos mediante convênios diretos
com a MTUR, tendo em vista a falta de certidões negativas (nada consta) do governo do Estado. O
caminho sempre foi o de repassar os recursos via SEBRAE-PR. Por outro lado, houve adiamento
do repasse de recursos advindos do PRODETUR-SUL.
167
planejamento do território. Se a cadeia produtiva devia ser normalizada e orientada
pelo poder público, estas ações não contaram com instrumentos que permitissem
uma ação eficaz no território.
Destacar dificuldades e obstáculos à ação integrada e inter-setorial do sistema
oficial e público do Turismo forma parte importante do processo de implementação
da política pública e da forma como o ciclo da política se ajusta às realidades
regionais. No Paraná tem sido pouco comum conciliar diversidades territoriais e
rivalidades municipais, esse fato comprometeu os objetivos precípuos da própria
política pública que lhe deu origem a de construção da competitividade do turismo
regional (BRASIL, 2003). A implementação da política de regionalização distanciou a
possibilidade de desvincular a aplicação de investimentos públicos de infraestrutura
turística, mediante o PRODETUR, com o investimento planejado em outras áreas
como o desenvolvimento urbano e o controle do meio ambiente; arrefeceu rivalidades
veladas, entre comunidades, e entre governanças, afetando também o comportamento
de cooperação para o desenvolvimento local do turismo.
Contudo, coube ao sistema SETU um esforço por angariar recursos mediante o
agrupamento das emendas parlamentares por regiões turísticas, tentando evitar
distorções e, que recursos advindos do orçamento geral da união (OGU) fossem
destinados a municípios que não tinham vocação turística e tampouco participavam
dos programas de desenvolvimento da atividade em nível regional. Por outro lado,
houve esforços, porém improdutivos, para a melhoria do quadro institucional e do
orçamento do órgão estadual79.
79 A Secretaria de Turismo do Estado do Paraná nasce posteriormente às suas empresas vinculadas.
Dessa forma, nasce fragilizada e com o orçamento mais pobre de todas as secretarias do novo
governo, só perdia para aquelas secretarias especiais sem nenhum funcionário. Contudo, o
trabalho de assessoramento direto entre os 34 deputados da bancada estadual, visitas assíduas
aos assessores de gabinetes dos deputados em Brasília, com distribuição de materiais do
marketing turístico do Estado e orientações sobre os projetos prioritários de cada região turística
constituiu parte da rotina da coordenadoria de Relações Institucionais da SETU. Foi elaborada uma
cartilha com explicações do tipo de projetos que o Ministério financia, a fundo perdido, e quais tipos
de emenda poderiam ser incluídos (se de bancada ou emenda individual). Ainda esse material
ficou à disposição de municípios interessados em entregar projetos para os deputados "da região".
(PARANÁ. SETU, 2010).
168
Embora o ambiente de descentralização das políticas públicas permeasse o
Brasil, o Paraná mostrou-se na contramão do discurso: criou-se a secretaria, sem
uma estrutura específica para ela e, ainda, sem reconhecer a função programática
no orçamento do estado (tabela 5)80.
TABELA 5 - DESPESAS REALIZADAS POR FUNÇÕES - ESTADO DO PARANÁ - 2002/2006/2010
DESPESAS REALIZADAS (R$ 1,00)
2002 2006 2010FUNÇÃO
Abs. % Abs. % Abs. %
Legislativa 161.582.186 2,26 252.710.059 2,33 356.524.712 2,18
Judiciária 367.685.832 5,14 663.265.100 6,11 970.242.984 5,93
Administração 178.251.409 2,49 215.252.746 1,98 198.289.422 1,21
Seguranca Pública 479.609.492 6,70 749.209.351 6,91 1.064.428.326 6,51
Assistência Social 7.381.794 0,10 15.910.627 0,15 138.481.618 0,85
Previdência Social 1.407.184.513 19,67 2.192.061.519 20,21 2.113.667.330 12,93
Saúde 86.554.522 1,21 187.403.796 1,73 8.487.969 0,05
Trabalho 27.258.820 0,38 35.473.055 0,33 37.954.866 0,23
Educação 1.135.968.225 15,88 2.024.198.989 18,66 4.798.000.580 29,34
Cultura 9.797.743 0,14 30.370.689 0,28 42.760.538 0,26
Direitos da Cidadania 71.626.137 1,00 196.447.112 1,81 301.029.195 1,84
Urbanismo 215.669.656 3,01 132.447.311 1,22 91.800.787 0,56
Habitação 23.035.702 0,32 32.195.533 0,30 149.344.818 0,91
Saneamento 86.283.469 1,21 0 0,00 2.642.342 0,02
Gestão Ambiental 10.719.438 0,15 15.479.829 0,14 10.379.335 0,06
Ciência e Tecnologia 73.839.723 1,03 49.382 0,00 0 0,00
Agricultura 39.543.990 0,55 46.998.727 0,43 85.265.485 0,52
Indústria 8.802.907 0,12 2.646.368 0,02 2.629.420 0,02
Comércio e Serviços 1.475.000 0,02 3.417.408 0,03 152.651.290 0,93
Transporte 12.897.524 0,18 9.647.577 0,09 20.103.634 0,12
Encargos Especiais 2.749.532.059 38,43 4.043.828.198 37,27 5.806.210.565 35,51
Reserva de Contigência - 0,00 0 0,00 0 0,00
TOTAL 7.154.700.141 100,00 10.849.013.376 100,00 16.350.895.216 100,00
FONTE: Adaptado de SEFA - Balanço Geral (2002/2006/2010)
Dessa forma, o turismo apareceu no orçamento estadual durante todos os
anos do período 2003-2010 junto com outras atividades vinculadas ao comércio e
80 Reportagem publicada pela Gazeta do Povo (GP 22.02.2012) mostrou que, ao contrário dos
demais estados, o Paraná tem reduzido os valores de investimentos públicos. O levantamento feito
pelo Dieese e pelo Sindicato dos Engenheiros do Paraná (SENGE-PR) e que abrange o período de
2000 a 2010 mostra que, nos três últimos anos de Lerner, o estado já era um dos que menos
investia, em comparação ao Produto Interno Bruto (PIB). Em 2000 e 2001, ficamos na 21.ª posição
e, em 2002, melhoramos um pouco e subimos para o 19.º lugar. O investimento variou de 0,76%
do PIB a 0,95%.
169
serviços, numa subfunção orçamentária que vinculava a atividade ao esporte, como
foi de fato em anos anteriores à criação da secretaria, com um orçamento que não
ultrapassou um montante de 0,02% do orçamento total do estado e muito menor do
que o valor designado no ano de 2002 (tabela 6).
TABELA 6 - PARTICIPAÇÃO DA SETU NO TOTAL DAS DESPESAS REALIZADAS -
ESTADO DO PARANÁ - 2003/2006/2010
PARTICIPAÇÃO (R$)ANO
SETU TOTAL
SETU/TOTAL
(%)
2003 1.532.533 8.233.372.391 0,019
2006 3.293.140 11.973.646.454 0,028
2010 2.651.290 16.350.895.224 0,016
FONTE: Adaptado de SEFA - Balanço Geral (2003/2006/2010)
Coube à Secretaria e seus agentes o papel de criar espaço próprio e driblar a
falta de recursos, mediante convênios diretos com o MTUR e emendas parlamentares,
além do papel de desenhar a formulação de políticas, orçamentos e programas
apropriados à distribuição dos recursos federais nas regiões, bem como desenvolver
uma publicidade institucional focalizada para determinadas regiões dentro do Brasil81.
Somada a diminuição cada vez maior dos recursos destinados e efetivamente
gastos com o turismo regional, a SETU passou a depender principalmente das
principais arenas de decisão do Ministério, mediante a localização e identificação
dos mecanismos de articulação e intermediação dos interesses junto com o
SEBRAE. A própria falta de capacidade de pagamento do Estado onerou convênios
de repasses de recursos negociados diretamente com secretaria, que vinha fazendo
a sua lição de casa. Embora o Conselho Estadual do Turismo fosse consultivo, foi
nele que os agentes dos órgãos do Estado vinculados ao turismo encontraram
respaldo para dar seguimento à política pública, e se fortaleceram nos processos de
articulação com a esfera federal, mediante o controle da capacidade de gasto à
81 Alguns trabalhos analisam historicamente a política pública do turismo estadual com bastante
elucidação e neste momento não é o objetivo aprofundarmo-nos na discussão sobre o tema. Para
mais detalhes, ver Silveira (2001) e Massukado e Teixeira (2006).
170
disposição do Ministério; e com as governanças regionais em torno da manutenção
e (ou) ampliação dos seus respectivos espaços.
Julga-se que muitos dos espaços conquistados foi produto da própria
descentralização das políticas públicas em curso em todos os âmbitos do governo
federal e de uma sistemática que, fortalecida pelos municípios inicialmente, encontrou
em algumas das instâncias de governança regional um espaço para seu crescimento.
Levantamento feito pelo Dieese e pelo Sindicato dos Engenheiros do Paraná
(Senge-PR) para o período de 2000 a 2010, e publicado na Gazeta do Povo (GP,
22.02.2012), mostrou que, nos três últimos anos do Governo de Lerner, o estado já
era um dos que menos investia, no Brasil, em comparação ao Produto Interno Bruto
(PIB). Em 2000 e 2001, ficamos na 21.ª posição e, em 2002, melhoramos um pouco
e subimos para o 19.º lugar. O investimento variou de 0,76% do PIB a 0,95%.
GRÁFICO 1 - PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DOS INVESTIMENTOS PÚBLICOS DO
ESTADO DO PARANÁ SOBRE O TOTAL GERAL INVESTIDO NAS UNIDADES
DA FEDERAÇÃO
FONTE: DIEESE/SENGE-PR, extraído da Gazeta do Povo
Entretanto, em 2003, primeiro ano da gestão de Requião, o Paraná ocupava
a posição 19.º no ranking nacional, mas caiu para 21.º entre 2004 e 2006. De lá para
cá a situação foi piorando: de 25.º, para a última colocação em 2010. O melhor ano
foi 2006, quando o investimento ficou em 0,97% do PIB. O governo da época elevou
um pouco o gasto com pessoal, que havia sido reduzido na gestão anterior. Em
2010, quando o vice-governador Orlando Pessuti assumiu, as despesas com a folha
de pagamento correspondiam a 55% das despesas totais.
171
Na visão do Dieese, o problema está na falta de planejamento dos governos
paranaenses, independentemente do partido. "Os investimentos estão relegados a
um segundo plano porque não há política nesse sentido". O técnico entrevistado
pela reportagem afirma que "poderia se falar do período de 2003 a 2010 [gestão
Requião], mas o início de 2011 segue o padrão". Nessa visão, embora sua impor-
tância, os investimentos são cortados do orçamento por não existir exigência legal
para tal: "Normalmente, existe preocupação com os recursos obrigatórios de saúde,
educação e recursos humanos. Se sobrar, investe-se" (GAZETA DO POVO, 2012).
2.3 BALANÇO DA POLÍTICA PÚBLICA DO TURISMO RURAL METROPOLITANO
NA REGIÃO ROTAS DO PINHÃO
Como visto ao longo do capítulo, os recursos e sua alocação eficiente para
atingir a sustentabilidade de um sistema de governança regional do turismo dependem
de articulações e negociações que se produzem ao redor das prioridades e partilhas
de Estados e municípios, tanto com seus representantes no Congresso Nacional em
concomitância com o Ministério do Turismo como com o orçamento estadual. O
caminho da institucionalidade do turismo perpassa a cada ano pelo desafio de
conhecer quais os sistemas de distribuição de responsabilidades e (ou) compe-
tências compartilhadas que podem ser estabelecidas, e, qual é o modelo de turismo
que em grande medida o setor privado e os municípios são capazes de desenvolver,
com ou sem orientação do Estado.
Pode-se finalizar que uma análise sobre o turismo rural que realmente encontre
nos pilares competitividade e inclusão social como objetivos de um sistema de
políticas públicas precisa considerar alguns pontos. Um deles é que o turismo não é
e não pode ser entendido como uma panaceia, mas é recomendável e até certo
ponto indispensável atuar no sentido de "adequar proporções": adequar o crescimento
172
do turismo ao crescimento econômico do Brasil, adequar o crescimento da atividade
a elementos que fortaleçam o tamanho de nossas expectativas regionais ao do
mercado turístico local (CAMPANHOLA e GRAZIANO DA SILVA, 2000) e direcionar o
turismo na perspectiva do desenvolvimento territorial.
Uma condição indispensável para isso é a existência de uma estrutura de
planejamento articulada nos pilares da agricultura e do turismo, bem como de políticas
públicas razoavelmente articuladas para o turismo, com recursos suficientes para
que o ciclo das políticas públicas seja completado. De nada adiantaria fortalecer
instâncias de governança se não houver uma clara prática de monitoramento e
avaliação das políticas implementadas, se há fragilidade dos gestores e, sobretudo,
se não são resolvidas as desigualdades e hetoregeneidades regionais82.
Em segundo lugar, as políticas públicas são um elemento importante, mas
não suficiente para criar competitividade nos destinos turísticos. Se há competitividade,
é evidente que não é suficiente. Mesmo observadas as condições externas, de
competitividade da produção agropecuária, e internas, da implementação das políticas
públicas para o desenvolvimento rural, capazes de influenciar o crescimento e o
desenvolvimento da atividade turística numa região, isso não deve induzir a pensar
que o desenvolvimento local e regional possa ser sustentando exclusivamente pela
atividade turística rural, e embora seja parte da estratégia de primeira ordem para o
setor, tampouco resolvem a questão social (YAZIGI, 2009). Na defesa desse argu-
mento Yázigi (2009, p.208-210) afirma que
resulta fácil entender esse corolário quando a realidade rural, de repente, se
depara com sofisticados projetos de turismo [...] As municipalidades
turísticas, coniventes com agentes privados, promovem qualquer produto
que direta ou indiretamente traga dividendos. Trucida-se a alma do lugar,
criando locais públicos ou não, de alta vazão sonora. Os planos nacionais
de turismo ignoram olimpicamente que a qualidade e atributos dos lugares
(dentre as quais a paisagística) é inseparável da questão social e cultural
lato sensu: é também a incapacidade oficial de integrar políticas setoriais.
82 Assunto que deve ser tratado mais adiante na abordagem da RMC como espaço rural metropolitano.
173
É necessário acoplar ainda três questões como pano de fundo para discutir a
política pública do Turismo rural: uma primeira questão que deve ser levada em conta
é que a arena da construção da política pública (DRAIBE, 1988; SOUZA, 2006;
ARRETCHE, 1998; FARIA, 2005) do turismo é condicionada por: a) objetivos da
construção de uma política pública, propriamente dita, e suas sucessivas reformas ao
longo do processo de conformação do turismo no Brasil; b) pelo modo em que foram
estruturadas as relações intergovernamentais (condicionadas pelas regras da ditadura
de um lado e pela reforma constitucional de 1988, que modelaram práticas de descen-
tralização nas políticas públicas vigentes na época); c) pelo legado das políticas
anteriormente estabelecidas; e d) pelo ciclo da política pública do turismo e o grau de
adesão, formas de implementação e controle dos governos regionais e locais.
Uma segunda questão refere-se à implementação das políticas públicas no
turismo, que tem tido uma baixa integração vertical dos estados federativos. Sendo
uma política do tipo top-down, e dado o limitado poder de persuasão do governo
federal, a subordinação a estratégias da política nacional acontece de forma parado-
xalmente direta, sem que sejam necessários meios de persuasão ostensivos. Não é
bem o caso do Paraná como estado, mas sim de alguns municípios do interior que
optaram por não considerar o turismo como parte das políticas públicas.
A terceira questão, nos moldes levantados pela M. Arretche e motivo de
pesquisa para outras políticas públicas, se dirige a entender como os processos de
distinta natureza têm sido responsáveis pela fragmentação do planejamento e da
gestão do setor público (ARRETCHE, 1998, p.3). O turismo e o turismo rural podem
ser considerados ao final, uma política setorial (com viés fortemente econômico) ou
uma política pública social? Pela divisão e partilha que o estado faz no seu
orçamento, o turismo opera como uma política setorial. O que se vislumbra a partir
da análise dos gestores, das políticas existentes, é que há um conflito que se dá no
interno da implementação não é um conflito distributivo, nem redistributivo, é sim
normativo (LOWI, apud SOUZA, 1998): esse tipo de conflitos tende a esvaziar o
sentido da própria política pelo acúmulo de desgaste e falta de interesse expresso
dos atores, dos agentes e das comunidades, para o fortalecimento da atividade nas
distintas regiões onde acontece.
174
Finalmente, é tentador falar no turismo rural sem mencionar as questões
econômicas, sociais, ambientais e culturais ligadas a ele, principalmente no que se
refere aos processos de globalização e de como eles vêm alterando a prática
turística, no Brasil e no Paraná, lembra-se, contudo, que esse processo não está
isento de ser influenciado pela mundialização em curso.
2.4 DESENVOLVIMENTO (TERRITORIAL) E TURISMO RURAL NO ESPAÇO
METROPOLITANO - ROTAS DO PINHÃO
Na análise das fontes secundárias disponíveis realizou-se uma primeira
aproximação descritiva referente a RMC e as Rotas do Pinhão com algumas variáveis
espaciais: a população e migração; a infraestrutura; o sistema produtivo; os diag-
nósticos do Plano de Desenvolvimento Institucional - PDI da Coordenação da Região
Metropolitana de Curitiba - COMEC. Foram também considerados os dados do IPARDES
referentes às leituras regionais, à cadeia produtiva do turismo e os dados do censo
agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE que contribuíram
na construção do ponto de partida necessário para aprofundar a análise qualitativa.
Boa parte das fontes de acesso para a análise da região turística Metropolitana
de Curitiba se obteve das informações depositadas na Base de Dados do Estado do
Paraná - BDE WEB, disponível na internet. No caso do número de postos de trabalho
e estabelecimentos das atividades características do turismo utilizou-se a base de
dados da RAIS-MTE (Relação Anual de Informações Sociais - Ministério do Trabalho
e Emprego). Informações adicionais do Produto Interno Bruto - PIB e do IPDM foram
consideradas. Os dados da COPEL de consumo de energia elétrica também foram
analisados, com a diferença de não poder abrir, como de fato era o interesse, a base
de dados que compõe o número de ligações por tipo de atividade classificados pela
CNAE-2.0. Apesar desse pequeno percalço, a publicação dos dados do Censo 2010
175
do IBGE serviu para aliviar e atualizar os diagnósticos e identificar com maior clareza
comportamentos da população total, do fenômeno das segundas residências, e
permitiu, como já visto, alargar o horizonte para as constatações do processo dos
espaços regionais complexos como o da RMC.
Outro grupo de informações secundárias, de importância para a construção
do diagnóstico foram os dados do planejamento monitorados pela SETU. O último
levantamento permitiu a comparação entre os anos de 2005, 2008 e 2010 (data do
primeiro e do último levantamento coletado em 2011). Dentro da revisão e análise do
acervo documental foi realizada uma coleta previa de documentos de programas,
relatórios e publicações associados à construção da regionalização e das gover-
nanças para o turismo, elaborados tanto pelo Governo Federal como pelo Estadual.83 A
análise documental focada na RMC – Rotas do Pinhão permitiu complementar a
análise e balizar certas informações obtidas durante as entrevistas, do ponto de vista
quantitativo (obtendo o máximo de informação possível) e qualitativa (com o máximo
de pertinência) sobre o turismo rural. Além disso, essas informações ajudaram na
reconstrução da linha do tempo dos processos ocorridos na implementação das
políticas públicas na região em estudo.
Dados colhidos na COMEC dão conta de existência de planos diretores,
instrumentos e legislações sobre o uso do solo urbano, instrumentos de proteção
ambiental municipais, estaduais e federais que afetam a região, planos de desenvol-
vimento turísticos assim como, os resultados da conferência metropolitana promovida
pelo Ministério das Cidades e Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano-
SEDU. Muitos desses dados foram utilizados apenas para verificar o uso de outros
instrumentos que indicassem alguma regulamentação para o turismo nos municípios,
83 Essa informação faz parte do acervo documental da Secretaria de Turismo do Estado do Paraná à
qual o autor teve acesso. Os planos diretores foram cedidos pela COMEC, e sintetizados na busca
de caminhos alternativos de comprovação das hipóteses da pesquisa. Contudo, os planos
diretores foram deixados de lado, servindo apenas para verificar a existência ou não de diretrizes
para o turismo rural dentro dos mesmos.
176
não sendo utilizados no relatório final, apenas ajudaram a pautar os roteiros das
entrevistas realizadas com os agentes municipais.
Os processos deflagrados a partir da Constituição do Brasil de 1988 e que
influenciaram de forma radical o papel do Estado (federalismo, descentralização, pacto
federativo) com a descentralização, passaram a pautar a elaboração de planos e de
políticas públicas, com uma participação cada vez maior de governanças regionais e
das comunidades, introduzindo novos atores e novos agentes na configuração de uma
nova ordem econômica e social no país. Daí porque se dedica um espaço para discutir
as escalas institucionais no desenvolvimento do turismo metropolitano e alguns conflitos
inerentes do processo de turistificação do espaço metropolitano.
Baseados nas tabulações dos dados do Censo de 2010, do Censo Agrope-
cuário de 2006 e de tabulações especiais da pesquisa da Cadeia Produtiva do
Turismo realizada pelo IPARDES (2008) em torno dos estabelecimentos de meios de
hospedagem e serviços de alimentação que autodeclararam estar localizados no
meio rural metropolitano, estabeleceram-se nexos entre as políticas públicas e as
formas e escalas de aplicação dessas políticas públicas do turismo no território rural
da região turística Rotas do Pinhão. O apoio das políticas públicas e o envolvimento
ou não das escalas local (municipal) mostram-se definidoras do êxito ou fracasso
dos circuitos e roteiros existentes, principalmente no caso da agricultura familiar;
porém não ocorre o mesmo no agroturismo ou turismo no espaço rural de
empreendimentos tipicamente urbanos.
Nas seções deste capítulo se descrevem as características das dimensões
sociais, econômicas e ambientais encontradas nos dados secundários dos censos
demográfico (IBGE, 2010) e agropecuário (IBGE, 2006). Detalhes sobre comportamento
de mercado e formas de ação da cadeia produtiva nos estabelecimentos rurais de
hospedagem e gastronomia são também analisados a partir do resultado das
tabulações especiais da pesquisa de campo da Cadeia Produtiva do Turismo
(IPARDES, 2008).
177
2.4.1 A modernização conservadora na RMC e as rotas do pinhão
A Região Turística Rotas do Pinhão - Curitiba e Região Metropolitana está
localizada no Primeiro Planalto Paranaense. Apresenta como principais divisores
naturais geográficos; a sudoeste a Serra da Escarpa Devoniana, alcançando as
bordas do Segundo Planalto Paranaense, e a leste a Serra do Mar, divisor com a
planície litorânea. Faz fronteira ao norte com o Estado de São Paulo e ao sul com o
de Santa Catarina (mapa 3).
Abrange uma área de 16.578 km2, que corresponde a cerca de 8% do território
estadual, fazendo divisa com as regiões turísticas Litoral, Campos Gerais e Centro-Sul.
A região é constituída por 29 municípios: Adrianópolis, Agudos do Sul, Almirante
Tamandaré, Araucária, Balsa Nova, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul, Campo
do Tenente, Campo Largo, Campo Magro, Cerro Azul, Colombo, Contenda, Curitiba,
Doutor Ulysses, Fazenda Rio Grande, Itaperuçu, Lapa, Mandirituba, Piên, Pinhais,
Piraquara, Quatro Barras, Quitandinha, Rio Branco do Sul, Rio Negro, São José dos
Pinhais, Tijucas do Sul e Tunas do Paraná.
Os municípios da RMC apresentam diferenças na quantidade de população,
nos níveis de renda; nos níveis de escolaridade; na densidade habitacional; em
infraestrutura urbana; em equipamentos e serviços urbanos, assim como noutras
ações oriundas de políticas públicas setoriais como agricultura e o turismo. Se, de
um lado, há extremos de concentração populacional, de outro há municípios onde o
esvaziamento persiste em aparecer (MOURA, 2009; ARAUJO, 2004).
MAPA 3 - PARANÁ E REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
FONTE: IPARDES (2012)
179
A existência de unidades de conservação é uma séria restrição ao crescimento
urbano do entorno metropolitano. Aproximadamente 41% do território dos municípios
na RMC abrigam mananciais para abastecimento público em uso e potenciais, os quais
estão constantemente sob forte pressão da ocupação urbana e industrial. A preser-
vação dos mananciais desempenha um papel relevante na formulação das
estratégias de desenvolvimento para a RMC (COMEC, 1999). Nesse sentido, a maiorias
das Unidades de Conservação Estaduais existentes na RMC está voltada à conser-
vação e à proteção de recursos hídricos, principalmente as Áreas de Proteção
Ambiental, determinando que elas não apresentem potencial de uso turístico.
Distantes a mais de 100 km da capital, e com acessos recentemente melho-
rados, a presença na região dos municípios do Vale do Ribeira (Adrianópolis,
Bocaiúva do Sul, Rio Branco do Sul, Itaperuçu, Cerro Azul, Doutor Ulysses e Tunas
do Paraná) Campina Grande do Sul, Quatro Barras, apresentam um cenário cujas
características são semelhantes em torno do que há de pior nos indicadores sociais
do estado pelo que vêm organizando-se como território da cidadania, e recebendo
um tratamento especial das políticas públicas dedicadas à agricultura e à pequena
produção rural (figura 18).
FIGURA 18 - EIXOS DO DESENVOLVIMENTO DO TURISMO RURAL NA RMC
FONTE: ECOPARANA (2010)
180
O clima predominante é o Subtropical Úmido Mesotérmico e sua altitude média
é de 782 metros. Cortada por várias rodovias federais e estaduais é passagem para o
interior e também ao litoral do Paraná, bem como para outros estados. Como principais
rodovias têm-se as BRs 116, 277, 376, 476 e as PRs 415, 417, 092, 090 e 421.
O rural metropolitano é marcado pela década de 1970 quando acontece o
arrefecimento do processo de concentração fundiária (PEREIRA, 2010) e de
urbanização do Sul do Brasil e especialmente da metropolização nacional (MOURA e
KLEINKE, 1999; MAGALHAES, 1996, 2003). A agricultura tradicional paranaense
modernizou-se com a adoção de técnicas poupadoras de mão de obra que
aumentaram a produtividade e elevavam as condições de produção e competitividade
no mercado internacional, com produtos como a soja, milho e derivados: também
ocorre a ampliação da pecuária e da produção agroindustrial de proteína animal em
larga escala. A produção agroindustrial elevou a renda da produção capitalista do
setor de 40% na década de 1970 para mais de 50%, nos anos 90, do total da riqueza
gerada no Paraná.
Como resultado desse processo desde os anos 70, 82% dos 399 municípios
paranaenses passaram por um esvaziamento populacional. Grande contingente dessa
população foi expulsa do Estado do Paraná, migrando para regiões chamadas de novas
fronteiras agrícolas, locais distantes como o Estado de Rondônia ou para o Estado do
Mato Grosso, ou ainda se aventuraram em países vizinhos como o Paraguai e Bolívia
em busca de opções para atividades ligadas à agricultura (mapa 4).
A Região Metropolitana de Curitiba, em especial, transformou-se significati-
vamente em termos econômicos, com impactos sociais e crescimento populacional
(SILVA, LOPEZ e MICHON JR, 2009). Os habitantes paranaenses de menos condições
ficaram marginalizados na RMC, bem como se direcionou a descentralização do
crescimento econômico da cidade polo de Curitiba para os municípios como Araucária,
Campo Largo, Colombo, Piraquara, Quatro Barras e São José dos Pinhais, todos
situados no núcleo urbano central (MOURA e KLEINKE, 1999; MAGALHAES, 1996,
2003; SILVA e MICHON JR, 2008).
181
MAPA 4 - MANCHA URBANA E ADENSAMENTO URBANO METROPOLITANO NO NÚCLEO URBANO CENTRAL DA RMC
FONTE: COMEC, PDI (2006)
Foi também na década de 1990 que se instalaram indústrias do segmento
metal-mecânico na RMC, com destaque para multinacionais montadoras de automó-
veis como Audi e Renault (LOURENÇO, 2000; SILVA, LOPEZ e MICHON JR, 2009).
Esse fato provocou transformações diversas, inclusive na estrutura de uso e ocupação
do solo, valorização dos imóveis, além de aumentar as pressões por demandas de
serviços públicos e infraestrutura ao atrair população de vários locais do país e do
interior do estado em busca de oportunidades de emprego. O polo automotivo que
182
se constituiu na região metropolitana foi viabilizado graças ao provimento de
infraestrutura e recursos como energia elétrica, além de generosos estímulos fiscais.
Os municípios do entorno metropolitano tornaram-se ainda mais densos,
reproduzindo um padrão de concentração similar ao que já vinha ocorrendo noutras
cidades capitais do Sul e Sudeste do Brasil (DESCHAMPS, 2004, FIRKOWSKY,
2002)84. Curitiba, a Região Metropolitana acumula 30,4% da população, com altos
contrastes que combinam o aglomerado urbano mais importante do estado (Curitiba)
com os de maior pobreza (Vale do Ribeira). Há, portanto, uma combinação de
espacialidades socialmente críticas com outras de extrema relevância econômica e
institucional; entre seus municípios, há alguns com elevado grau de desenvolvimento
enquanto outros caminham para descobrir a sua vocação (IPARDES, 2006,
MACEDO; MEINERS, 2002). Entretanto, o crescimento conjunto vem enfrentando o
padrão de diferenciação e heterogeneidade entre todos os municípios que compõem
a região, precisando de ajustes em cada uma das questões ao desenvolvimento
regional de interesse comum.
2.4.2 Assimetrias e heterogeneidades da região turística rotas do pinhão
A Região Metropolitana de Curitiba concentra 30,4% da população para-
naense (ver tabela 1) e tem participação significativa no Valor Adicionado do Estado
- 42,25% (ver tabela 3). Atualmente, a RMC é constituída por 29 municípios com uma
população de 3.174, 201 habitantes (IBGE, 2010)85.
84 Não dá para negar alguns aspectos positivos, tais como o aumento da produção industrial. Se em
1996 a indústria da Região Metropolitana de Curitiba era 7,8 vezes menor que a indústria instalada
na cidade de São Paulo – polo industrial nacional e maior cidade da América Latina – em 2000
essa proporção diminui para 5,3 vezes (DESCHAMPS, 2004).
85 Em anexo dados da população total, urbano e rural de 1991, 2000 e 2010, elaborada a partir dos
dados do IBGE, mostra, para cada um dos municípios da RMC, a variação e as taxas de crescimento
de cada uma das variáveis citadas (Apêndice 1).
183
GRÁFICO 2 - TAXA DE CRESCIMENTO CURITIBA, RMC, PARANÁ, BRASIL - 2010
FONTE: IBGE - Censo Demográfico (2010)
Desses, apenas 252.356 habitantes são residentes rurais, esse número
pouco representaria, se não fosse porque de forma curiosa vem crescendo positi-
vamente desde 1991, a taxas superiores às do crescimento da população total do
estado e da população urbana. Esse crescimento pode ser explicado por dois
motivos diferentes, o primeiro, pela tendência crescente do uso urbano de áreas
rurais, fenômeno que vem crescendo como se detalha mais adiante; e também, pela
incorporação de novos municípios com características rurais à região (como são os
municípios de Campo do Tenente, Piên e Rio Negro).
As Rotas do Pinhão, enquanto região é a segunda maior região metropolitana
do Brasil em território e oitava em população e cresce com uma dinâmica de
crescimento mais intensa que a brasileira (1,36 % a.a versus 1,17 % a.a.); dinâmica
essa que, se observada sem o município de Curitiba (gráfico 2), fortalece as evidências
de um adensamento urbano regional em torno do núcleo urbano da capital (1,87% a.a.)
e observando-se diferenças entre os municípios que a compõem, especialmente quanto
se trata de identificar a dinâmica de interação de produtos e atividades, de pessoas e
serviços e nas formas de apropriação do território. Nota-se, ainda, um extraordinário
esforço das políticas públicas do meio rural se inserirem nos municípios, pelas disputas
do uso do solo em áreas de preservação ambiental (PARANA, PDI, 2006).
184
Resto Paraná57%
RM de Curitiba29,9%
RM de Londrina7,3%
RM de Maringá5,9%
GRÁFICO 3 - DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO SEGUNDO REGIÕES METROPOLI-
TANAS DO PARANÁ - 2010
FONTE: IBGE - Censo Demográfico (2010)
A maioria do território da RMC apresenta um dado comum, pois 89% do total
do território é constituído por áreas com algum grau de urbanização – desde suas
vilas até a metrópole. (IBGE, 2010)86.
Na tabela A.1.1 apresentam-se alguns indicadores relevantes para identificar
as dissonâncias regionais (Apêndice 1). Com o indicador Índice Paranaense de
Desenvolvimento Municipal (IPDM) pode-se observar que a realidade dos municípios
da região é bastante diversa e vem se transformando também de forma heterogênea.
O índice, calculado a partir da metodologia do FIRJAN87, envolve três variáveis:
emprego e geração de renda, educação e saúde. Alguns municípios, em 2008,
estavam abaixo da linha 0,5 (50% do total do índice) e conseguiram evoluir nesse
período, quais sejam: Almirante Tamandaré, Cerro Azul, Lapa, e Piraquara. Ou seja,
86 No Apêndice 1 se apresentam uma série de tabelas com indicadores da RMC que dão conta de
explicar a heterogeneidade e diferenciação regional, fazendo referência a elas sempre que necessário
no texto.
87 O Índice Ipardes de Desempenho Municipal (IPDM) avalia a situação dos municípios paranaenses,
considerando, com igual ponderação, as três principais áreas de desenvolvimento econômico e
social, a saber: a) emprego, renda e produção agropecuária; b) educação; e c) saúde. O desempenho
municipal é expresso por um índice cujo valor varia entre 0 e 1, sendo que, quanto mais próximo
de 1, maior o nível de desempenho do município com relação ao referido indicador ou o índice final.
Com base no valor do índice, os municípios foram classificados em quatro grupos: baixo desempenho
(0 a < 0,4); médio baixo desempenho (0,4 a < 0,6); médio desempenho (0,6 a < 0,8); e alto
desempenho (0,8 a 1). O único município do estado com baixo desempenho se encontra na RMC.
185
quatro municípios no total. Houve no período evolução no índice de educação, mas
pouco evoluíram os componentes do índice da renda e emprego.
GRAFICO 4 - ÍNDICE IPARDES DE DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL E LINHA DE TENDÊNCIA DOS
MUNICIPIOS DA ROTAS DO PINHÃO - RMC, PARANÁ - 2008
FONTE: IPARDES/BDE-WEB
Curitiba desponta com índice acima de 0,8, assentado no crescimento dos
indicadores da educação. Em geral, a maioria dos índices teve evolução positiva no
período de análise, comparativamente ao primeiro ano de cálculo (2002). Apesar
dessa evolução do IPDM de alguns municípios, muitos ainda se encontram abaixo da
média na região turística e classificados com índice médio baixo de desempenho
(0,4 a 0,6).
Municípios como Almirante Tamandaré, Campo Magro, Cerro Azul, Lapa,
Fazenda Rio Grande, Itaperuçu, Rio Branco do Sul e Tijucas do Sul apresentaram
problemas em todas as áreas comparativamente. Ressalta-se que a melhora da
renda média é uma peremptória necessidade em quase todos esses municípios e
pode estar indicando que a concentração de atividades econômicas no aglomerado
não signifique necessariamente uma melhora da condição da região. Tais indicadores
demonstram que ainda há muito por fazer para diminuir as desigualdades regionais
na região e principalmente dentro de cada município.
186
Além dos indicadores socioeconômicos, entre os municípios da RMC se
apresentam, como já visto, diferenças na quantidade de população, na densidade
habitacional; em infraestrutura urbana; em equipamentos e serviços urbanos, muitas
dessas ações oriundas de políticas públicas, segundo MOURA (1994, 1998, 2003),
configuradas sobre três pontos: ordenamento do uso do solo, sistema viário e
transporte coletivo88. Após 40 anos, o contexto urbano curitibano continua sendo
privilegiado em relação aos municípios vizinhos, sendo que quatro municípios da
RMC (Curitiba, Araucária, São José dos Pinhais e Pinhais) estão entre os dez
primeiros do PIB do estado (tabela 7).
TABELA 7 - RANKING DO PIB DO ESTADO DO PARANÁ - 2009
MUNICÍPIOPIB
(R$ mil correntes)
PARTICIPAÇÃO
(%)
Curitiba 45.762.418 24,09
Araucária 11.962.877 6,30
São José dos Pinhais 11.511.811 6,06
Londrina 8.884.459 4,68
Maringá 7.284.401 3,83
Foz do Iguaçu 6.702.200 3,53
Paranaguá(1) 5.443.256 2,86
Ponta Grossa 5.072.749 2,67
Cascavel 4.991.770 2,63
Toledo(2) 2.426.512 1,28
Outros municípios 79.949.501 42,08
PARANÁ 189.991.954 100,00
FONTE: IPARDES/BDE-WEB
(1) Em 2008 o município de Paranaguá ocupava a 4.a posição, sendo
ultrapassado por Maringá e Foz do Iguaçu.
(2) Em 2008 Pinhais, da RMC, ocupava a 10.a posição no ranking.
Em 2009 Curitiba representou sozinha 24,1% do PIB paranaense e 57% do
PIB regional, seguida de Araucária (14,9%) e São José dos Pinhais (14,3%)
Apêndice 1. Essas diferenças mostram o resultado de distintos vetores econômicos
88 FONTES: IBGE, IPARDES. Quanto ao uso do solo, a COMEC e a PARANA CIDADE trabalharam
no período para que todos os municípios da então RMC (26 até então) tivessem seus planos
diretores. Em revisão realizada pelo autor, poucos fazem referência ao turismo rural, embora a
questão ambiental esteja presente em todos eles. Quanto ao sistema viário e o transporte coletivo,
constituem-se em os grandes gargalos da metropolização de Curitiba. Ver COMEC: PDI, 2006
(http://www.comec.pr.gov.br/arquivos/File/PDI_2006.pdf).
187
de desenvolvimento na região, surgindo o turismo como uma atividade de destaque,
mas cujo resultado se dilui dada a concentrada dinâmica regional.
TABELA 8 - EVOLUÇÃO E PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DO PRODUTO INTERNO BRUTO A PREÇOS CORRENTES -
PARANÁ E RMC - 2002-2009
ANO (R$ 1.000.000,00 correntes)ESTADO/REGIÃO
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Estado do Paraná 88.407 109.459 122.434 126.677 136.615 161.582 179.263 189.992
Região Metropolitana de Curitiba 34.486 41.645 46.850 50.798 55.778 65.561 74.900 80.281
% da RMC no total do Estado 39,0 38,1 38,3 40,1 40,8 40,6 41,8 42,3
FONTE: IBGE/IPARDES BDE-WEB
Por outro lado, chama-se a atenção para dois fatos. O primeiro o que indica na
tabela A.1.1 (Apêndice 1), do PIB per capita. Observados os valores, há 20 municípios
com um PIB per capita abaixo da média do estado, sendo que três deles (Piraquara,
Almirante Tamandaré e Fazenda Rio Grande) representam cada um 1/3 do valor da
média do estado, que equivale a R$ 17 mil aproximadamente. O outro fato é que, no
caso de Piraquara e Almirante Tamandaré, já houve esforços em desenvolver a
atividade turística por causa do passivo ambiental existente, que carregam pelos
assentamentos humanos precários em áreas de preservação de mananciais que
abastecem toda a região metropolitana (COMEC, 2006).
Outro indicador de relevância para a análise é a densidade demográfica.
Quando se observa a evolução da densidade demográfica conforme diminui o
tamanho populacional dos municípios, verificam-se dois movimentos distintos na
Região Metropolitana. O primeiro refere-se a municípios de natureza reconheci-
damente urbana e periurbana, onde a densidade geográfica (habitante/km2) alcança
três dígitos ou mais (Curitiba, Colombo, Pinhais, Piraquara, Almirante Tamandaré e
Quatro Barras), num movimento em que o urbano avança sobre o espaço rural,
inicialmente com infraestrutura, seguido pela moradia (pressão antrôpica). Outro
movimento é o da queda da densidade demográfica em municípios (Adrianópolis,
Fazenda Rio Grande).
188
Quanto ao índice de desenvolvimento demográfico, Veiga (2004a, p.4-5),
apoiado na experiência dos Estados Unidos e da OCDE (1996), analisou o Censo
Demográfico de 2000 e confirma que o Brasil inequivocamente urbano se concentra
nas regiões metropolitanas:
Não há habitantes mais urbanos do que os residentes nas 12 aglomerações
metropolitanas, nas 37 demais aglomerações e nos outros 77 centros
urbanos identificados pela pesquisa [do IPEA] que juntou excelentes equipes
do IPEA, do IBGE e da Unicamp (Nesur) [IPARDES] para produzir a Série
Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil (1999 e 2002).
O autor (2004a, p.13) propõe uma tipologia que leve em consideração três
critérios: a densidade demográfica, a localização do município e o tamanho. Da
combinação desses critérios se obteriam municípios essencialmente rurais (que têm
simultaneamente menos de 50 mil habitantes e menos de 10 hab/km²); os interme-
diários (periurbanos, de 20 mil a 100 mil hab. com densidade de ate 80 hab/km²) e os
essencialmente urbanos (com mais de 100 mil hab. e densidade maior a 80 hab/km²).
Ao fazer as contas da RMC concluiu-se que dos 29 municípios observou-se
treze municípios com menos de 20 habitantes na RMC, dos quais três são essen-
cialmente rurais por possuir uma densidade demográfica menor a 10 habitantes/Km²
(tabela 9)89. Observou-se também que esses municípios concentram 54,8% da
população rural da RMC. Os municípios periurbanos somam nove em total, com
29,5% da população rural da RMC e uma densidade demográfica até 80 hab/km². Já
sete municípios são essencialmente urbanos, concentrando apenas 2,6% da população
rural, com uma densidade demográfica maior de 80hab/Km².
89 São estes: Adrianópolis, Agudos do Sul, Balsa Nova, Bocaiúva do Sul, Campo do Tenente, Cerro
Azul, Contenda, Doutor Ulysses, Piên, Quatro Barras, Quitandinha, Tijucas do Sul e Tunas do Paraná
(tabela A.1.5).
189
TABELA 9 - RESUMO DOS MUNICÍPIOS CLASSIFICADOS, SEGUNDO TAMANHO DA POPULAÇÃO E DENSIDADE
DEMOGRÁFICA NA REGIÃO TURÍSTICA DA RMC, 2010
CUMPREMNÃO
CUMPREMCLASSIFICAÇÃO/FAIXA
<10 hab/km² >10 hab/km²
POPULAÇÃO
TOTAL
POPULAÇÃO
RURAL
(%)
Rurais - Até 20 mil e Densidade Demográfica <10 hab/km2 3 10 151.583 54,83
Periurbanos - De 20 -100 mil Densidade ate 80 hab/km2 6 3 341.822 29,47
Urbanos - >100 mil hab e Densidade >80 hab/km2 7 0 2.680.796 2,56
TOTAL RMC 16 13 3.174.201
FONTE: Cálculos do Autor apud VEIGA (2004)
Na tabela A.1.3 do apêndice, a diferença fundamental entre o cálculo de
municípios urbanos e os essencialmente rurais na RMC é que a densidade demográfica
de ambos é maior. Enquanto em municípios com mais de 100 mil habitantes, consi-
derados centros urbanos, a densidade média é superior a mais de um mil hab/km²,
nos municípios essencialmente rurais essa média alcança 40 hab/km². Áreas de
descanso, lazer e turismo são demandas da população urbana e periurbana dos sete
municípios da área essencialmente urbana e confirmam tendências que se apre-
sentaram em regiões metropolitanas de outros países (PEARCE, 2003). O exercício
da classificação reflete a necessidade de manter uma rede de municípios rurais com
uma função social e econômica a serviço do grande núcleo urbano central.
Essas diferenças podem estar refletindo também outros fenômenos que
ocorrem no rural metropolitano como o é o da segunda residência e o uso de
atividades eminentemente urbanas no espaço rural. Por definição do IBGE (2010), o
domicílio particular não ocupado, de uso ocasional, na área rural foi caracterizado
como aquela residência de uso ocasional o domicílio particular permanente, na zona
rural, que, na data de referência, servia ocasionalmente de moradia, ou seja, era o
domicílio usado para descanso de fins de semana, férias ou outro fim, mesmo que
seus ocupantes ocasionais estivessem presentes. O turismo também determina seu
espaço, com uma mescla de indicadores citados anteriormente, e os atrativos de
paisagem que são promovidos pelos agentes da região como forma de induzir os
visitantes a fixarem sua residência secundária.
190
Na região turística, os dados apresentam outra situação de concentração
curiosa, pois em 1991 esse tipo de habitação na RMC correspondia a apenas 16,4% e
já em 2010 soma um quarto dos domicílios em todo o Estado do Paraná. Logo, cresceu
a uma taxa media de 5,4% a.a., triplicando o número das segundas residências no
período (tabela 10), numa velocidade maior do que acontece em todo o estado.
TABELA 10 - DOMICÍLIOS PARTICULARES NÃO OCUPADOS, DE USO OCASIONAL, TOTAL E NA ÁREA RURAL DA
RMC - 1991/2000/2010
TOTAL (B) RURAL (A) % A/B VARIAÇÃO % RURALREGIÃO
1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991/2000 2000/2010
RMC 10.630 21.668 28.834 3.847 8.198 12.304 36,19 37,83 42,67 113,10 50,09
Paraná 64.956 115.400 155.323 20.086 33.801 51.388 30,92 29,29 33,08 68,28 52,03
FONTE: IBGE/IPARDES BDE-WEB
Por outro lado, a variação do número de residências secundárias, analisadas
por município (tabela A.1.4), está concentrada nos 13 municípios classificados como
rurais90 (VEIGA, 2004). Outros municípios, como Almirante Tamandaré, Colombo,
Campo Largo, Piraquara e São José dos Pinhais, crescem em ritmo mais lento, quiçá
pelas restrições ambientais neles existentes, o que lhes permite uma expansão maior.
Segundo Assis (2003, p.112), a segunda residência foge de qualquer enten-
dimento de natureza de habitação, abrigo ou moradia, pois pressupõe a disponibilidade
de uma renda excedente para a compra ou construção de um imóvel, pagamento de
impostos, manutenção e meio de transporte para o deslocamento pendular, sendo uma
modalidade de alojamento turístico elitista, símbolo de status social (ASSIS, 2003).
Ainda o mesmo autor (ASSIS, 2003), ao analisar o fenômeno das segundas
residências, confirma que quando muito distantes acabam por fazer com que seus
proprietários as visitem apenas no período de férias, quando se torna possível a
visitação por um período maior. Por isso, é comum que elas se encontrem em locais
90 São estes: Adrianópolis, Agudos do Sul, Balsa Nova, Bocaiúva do Sul, Campo do Tenente, Cerro
Azul, Contenda, Doutor Ulysses, Piên, Quatro Barras, Quitandinha, Tijucas do Sul e Tunas do
Paraná (tabela A.1.4 - Apêndice 1).
191
relativamente próximas às primeiras residências, por questão de dispêndio de custo
e tempo91.
No Canadá, Lundgren92 (1974, apud PEARCE, 2003 p.311) produziu um
modelo de três fases que procura explicar as relações espaciais entre centro e
periferia, e ilustra como se dá o processo de expansão urbana, desde centros de
tamanho médio até áreas metropolitanas, bem como de que maneira essa expansão
inicialmente gera o fenômeno de segundas residências e numa etapa posterior
acaba por inseri-las nos espaços urbanos, passando assim a uma opção de primeira
residência – e criando novos espaços de segunda residência (figura 19).
FIGURA 19 - MODELO DE LUNDGREN DE EXPANSÃO URBANA E AS SEGUNDAS RESIDÊNCIAS - 1974
FONTE: Adaptado de Pearce (2003, p.311), Assis (2003)
91 Assis (2003), ao comentar o trabalho de Pearce (1991), afirma que esses trabalhos partem dos
estudos de Christaller (1963). Pesquisadores como Pearce (1991, 2003), Boyer (2003) (PEARCE,
1991, apud ASSIS, 2003) e Tulik (1995) no Brasil, analisam o fenômeno para distintas realidades e
países, todas elas coincidindo com as áreas metropolitanas (de Paris, Sidney, São Paulo) e
cidades litorâneas, como o analisado pelo Assis (2003) e Seabra (1979).
92 LUNDGREN J.O.J. On Access to recreational lands in dynamic metropolitan hinterlands. Tourist
Review, 29(4), p124-131. Canada. 1974.
192
Assis (2003, p.118) adverte para o uso de modelos de ciclo de vida das
segundas residências, pois estes "modelos nos ajudam a refletir sobre as realidades
locais, a formular proposições sobre o futuro; mas não podemos, a partir de pressu-
postos deterministas, desconsiderar as diferenças espaciais e culturais dos lugares".
As distintas realidades geradas ratificam a complexidade do tema e a necessidade
de estudos mais completos sobre ele.
Na RMC a descrição do modelo de Lundgren (1974) é coerente com o uso
identificado no espaço metropolitano. A COMEC, visto que não tem poder de inter-
venção sobre o território metropolitano, tem promovido uma política de conciliação
entre governo estadual e prefeituras, para a promoção de parcerias com a sociedade
civil no intuito de incentivar novos desenhos das vocações e potencialidades locais na
área de mananciais localizadas no entorno metropolitano93. Tulik94 (1995, apud
ASSIS, 2003) considera que os fatores de localização de segundas residências
podem contribuir para a valorização de recursos naturais e culturais próximos aos
93 A gestão dos mananciais, embora seja emergencial, não conta com recursos suficientes para
favorecer a defesa dessas áreas pelo valor que agregam, e muitas vezes as prefeituras,
submetidas a pressões imobiliárias, tendem a favorecer a sua ocupação pelo potencial que
representa, quer para um uso turístico e de consumo da paisagem, quer para a ampliação do uso
urbano de uma metrópole que cresce. Há estudos da RMSP (www.negowat.org) que vincula o
turismo e o lazer em áreas periurbanas de proteção de mananciais. França et al. (2005) apontam
para possível multifuncionalidade do território e do uso da paisagem para a exploração turística em
algumas cidades da RMSP.Quanto à área de mananciais, deve ser lembrado que o processo de
processo de ocupação da região curitibana, estudiosos do tema e os próprios planos de
desenvolvimento integrado da COMEC têm verificado que a ação do mercado imobiliário não
favoreceu as diretrizes do planejamento urbano regional. A aprovação de loteamentos até os anos
40 estava focada em Curitiba, porém a partir dessa época passou a haver oferta de grande número
de loteamentos aprovados à venda em áreas desconectadas aos núcleos urbanos já existentes.
Esses loteamentos foram aprovados pelas prefeituras dos pequenos núcleos urbanos, as antigas
sedes de colônias, em áreas rurais, sendo sua principal característica o fato de serem vizinhos a
Curitiba, local de trabalho e renda (ARAUJO, 2004 apud LIMA, 2000). A partir de 1990, vários
desses lotes foram ocupados num contexto de crise econômica e social no país. Esse
adensamento e as áreas urbanas estruturadas se consolidaram como o primeiro anel Curitiba.
94 TULIK, O. Residências secundárias: presença, dimensão e expressividade do fenômeno no Estado
de São Paulo.Tese (Livre-docência) – Escola de Comunicações e Artes, USP. SP. 1995.
193
centros emissores; essa afirmação é partilhada pelos dirigentes da COMEC, contudo,
não descarta também uma possível valorização imobiliária do entorno.
Silveira (2002, p.186) confere para o Litoral essa situação, pois,
o crescimento desenfreado da segunda residência, a presença marcante de
loteamentos sem o necessário controle e planejamento, e a implantação de
empreendimentos nem sempre adequados à paisagem local [...] preocupam
pelos problemas de degradação ambiental que provocam.
Repercussões espaciais à parte95 (quer positivas, quer negativas), a expansão
do uso turístico das áreas rurais metropolitanas vem ao encontro da expansão de
serviços urbanos no meio rural e do processo de especulação imobiliária; e, devido à
lógica do mercado, seus efeitos podem ser perversos e autofágicos, pois tendem à
degradação da paisagem e consequentemente à saída da população nativa do
entorno (ASSIS, 2003).
Outro dos efeitos da ocupação do espaço rural, além dos citados, é o aumento
do número de consumidores de energia elétrica (tabela 11).
TABELA 11 - NÚMERO E VARIAÇÃO PERCENTUAL DOS CONSUMIDORES RURAIS DE
ENERGIA ELÉTRICA, ROTAS DO PINHÃO, RMC, PARANA - 2002/2010
CONSUMIDORES RURAISMUNICÍPIO
2002 2010
VARIAÇÃO %
2002/2010
Região Metropolitana de Curitiba 37.368 44.300 18,55
PARANÁ 317.370 373.113 17,56
FONTE: IPARDES/BDE-WEB
95 Silveira (2002, p.148 e seguintes), citando Firkowski (2001), faz um interessante resumo das
mazelas sociais que passaram a ser motivo de preocupação na RMC, e que ainda hoje persistem,
somados aos muitos problemas sociais que já existiam antes, como a desigual distribuição
territorial da população paranaense, a concentração da atividade industrial na RMC, déficit
habitacional, saturação do transporte coletivo, aumento da violência, e problemas ambientais com
a invasão de reservas ecológicas, ocupação de áreas de mananciais, falta de saneamento básico
e destruição ambiental entre outros. Esses aspectos, atrelados ainda à baixa qualificação profissional
daqueles que migraram em busca de melhores condições de vida e a insuficiência de empregos
para essa camada da população, pressionaram qualquer estratégia de desenvolvimento do estado.
194
O número absoluto de consumidores rurais na RMC aumentou de 37 mil
ligações para 44 mil no período (18,5% de variação). O número de 7 mil novas ligações
seria pouco relevante se não fosse pelo fato de que o número de consumidores
contém uma série de atividades industriais, comerciais e de serviços instalados no
espaço rural.96 Entre os municípios que promoveram esse aumento de ligações
rurais esta Campo Magro (193%), Campo Largo (102%), Dr. Ulisses (60%) e Cerro
Azul (58,9%). Dos quatro, só Dr. Ulisses não tem registro de nenhum tipo de atividade
vinculada ao turismo rural (tabela A.1.5 - Apêndice 1).
2.4.3 O turismo no rural metropolitano segundo os dados do censo agropecuário97
O turismo, como atividade típica da modernidade capitalista (BAUMAN, 2006), é uma
combinação complexa de inter-relacionamentos entre produção e serviços, em cuja
composição integram-se uma prática social com base cultural, com herança
histórica, e um meio ambiente diverso com uma cartografia natural, com relações
sociais de hospitalidade numa troca de informações interculturais. O somatório
dessa dinâmica sociocultural gera um fenômeno, repleto de objetividade/
subjetividade, consumido por milhões de pessoas, como síntese: o produto turístico98.
No espaço rural, a análise do turismo na RMC demonstra a relevância que a
atividade adquiriu ao longo dos últimos anos, principalmente naqueles municípios do
96 A COPEL cedeu para o IPARDES em 2010 o banco de dados, diferenciados por atividades (CNAE
2.0) dos consumidores rurais da RMC. Não possível a utilização da informação neste trabalho,
apenas os dados publicados e apresentados em tabelas no relatório da dissertação e do Apêndice 1.
97 Chama-se a atenção, nesta parte do diagnóstico, que se trabalha com a divisão do IBGE das
mesorregiões. No momento de elaboração das tabelas, o IBGE não tinha publicado ainda os dados
desagregados. Considerando que pouco mudaria a redução para a área metropolitana, o autor
optou por utilizar a informação como indicativa de tendências na RMC.
98 Bauman (op. cit, p.104-105) afirma que a sociedade pós-moderna é uma sociedade que
compromete a seus membros como consumidores, o que introduziu diferenças enormes em quase
todos os aspectos da sociedade, da cultura e da vida individual.
195
núcleo urbano central agregados em circuitos de visitação periódica, o que trouxe a
capacidade de gerar ocupações não agrícolas no entorno local e uma alternativa de
renda nas propriedades rurais da região (L. NITSCHE, SZUCHMAN, 2007; SILVEIRA 2008).
As controvérsias que contornam a possibilidade de alavancar o desenvol-
vimento da agricultura familiar em volta do turismo rural são relevadas pelos defensores
da atividade, enquanto os que propõem discutir o desenvolvimento rural de maneira
mais profunda questionam essa prática. Uma leitura dos dados do censo agropecuário
2006 serviu aos objetivos deste trabalho para identificar na RMC uma próxi dos
estabelecimentos que obtiveram receita com a atividade de turismo rural. Por outro
lado, estudos de caso como o realizado em Santa Catarina (MATTEI, 2003) já
questionam a capacidade do turismo rural de gerar renda o suficiente para tornar
empreendimentos rurais sustentados.99
A posteriori, analisam-se os dados da pesquisa da cadeia produtiva do turismo
na RMC100, apresentadas em tabulações especiais para os empreendimentos rurais
pesquisados. A identificação no espaço rural dos empreendimentos de meios de
hospedagem e serviços de alimentação respondeu ao interesse de verificar que o
espaço rural vem sendo apropriado de forma lenta, porém continua, pelo uso turístico,
não correspondendo apenas ao apelo das famílias rurais, mas ao investimento em
atividades associadas ao lazer da população do entorno urbano.
99 Além do estudo de MATTEI (2003), em entrevista realizada pelo autor ao Delegado Regional do
MDA, observou que as propriedades rurais da agricultura familiar que se dedicam ao turismo rural
e à agroecologia no Paraná não chegam a 5%. (Entrevista, dez. 2010).
100 A pesquisa da Cadeia Produtiva do Turismo foi realizada pelo IPARDES durante o ano de 2006.
Tabulada e publicada no ano de 2008, foi realizada pelo autor uma tabulação especial dos
empreendimentos autoclassificados como rurais e periurbanos na Região Metropolitana de
Curitiba. O resultado da tabulação se encontra no anexo desta dissertação (Apêndice 1). No intuito
de observar o comportamento de ambos os grupos (o propriamente rural e o de empreendimentos
rurais ou urbanos no meio rural), os dados coletados no mesmo ano de pesquisa dão elementos
dessa configuração para ajudar a entender a sua dinâmica regional.
196
O Censo Agropecuário 2006 trouxe como novidade a divulgação dos resul-
tados específicos para a agricultura familiar e não familiar, atendendo nessa nova
tipologia aos critérios estabelecidos na Lei da Agricultura Familiar (Lei n.º 11.326/2006 -
Anexo 1), numa nova leitura da condição do produtor. Os dados analisados são o
número dos estabelecimentos, a área, o valor da produção e pessoal ocupado,
assim como estabelecimentos que declararam obter alguma receita, no ano da
pesquisa, com turismo rural.
O Paraná representa apenas 7% do total de mais de 5 milhões de estabe-
lecimentos agropecuários do Brasil (tabela 12). Desse total dos estabelecimentos
paranaenses, 85% é agricultura familiar.
TABELA 12 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS, SEGUNDO CONDIÇÃO DO PRODUTOR EM
RELAÇÃO À AGRICULTURA FAMILIAR - BRASIL, REGIÃO SUL E PARANÁ - 2006
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS (Abs.)
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS (%)
Agricultura AgriculturaÁREA
TotalNão Familiar Familiar
TotalNão Familiar Familiar
Brasil 5 175 489 807 587 4 367 902 100,0 15,6 84,4
Sul 1 006 181 156 184 849 997 100,0 15,52 84,48
Paraná 371 051 68 144 302 907 100,0 18,37 81,63
Paraná, que obtiveram receitas 286,450 52,910 233,540 100,0 18,5 81,5
Paraná, Receitas com Turismo Rural 279 115 164 100,0 41,2 58,8
FONTE: IBGE - Censo Agropecuário
Da mesma forma, na tabela 13, os dados demonstram que o Estado do
Paraná teve 26,5% dos estabelecimentos da região Sul que obtiveram alguma
receita com turismo rural, sendo que os empreendimentos da agricultura familiar
foram mais bem-sucedidos (26,9%). O Paraná, entretanto representou apenas 7,9%
dos estabelecimentos agropecuários do Brasil.
197
TABELA 13 - NÚMERO E PERCENTUAL DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS DA AGRICULTURA FAMILIAR
E NÃO FAMILIAR QUE OBTIVERAM RECEITAS NO TURISMO RURAL - 2006
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS
ATIVIDADES DE TURISMO RURAL NO
ESTABELECIMENTOÁREA
TotalAgricultura
Não Familiar
Agricultura
FamiliarTotal
Agricultura
Não Familiar
Agricultura
Familiar
Brasil 3.620.670 589.5 3.031.170 3.551 1.363 2.188
Sul 805.401 123.618 681.783 942 354 588
Paraná 286.450 52.910 233.540 279 115 164
Brasil % 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Sul % 22,2 21,0 22,5 26,5 26,0 26,9
Paraná % 7,9 9,0 7,7 7,9 8,4 7,5
FONTE: IBGE/Censo Agropecuário (2006)
Ao desagregar por mesorregiões geográficas do IBGE, esses dados apontam
claras especificidades regionais (IPARDES, 2010) convertendo-se numa das múltiplas
dimensões que definem as espacialidades próprias ou específicas para o conjunto
do Estado (IPARDES, 2006).
Do total de 371 mil estabelecimentos no Paraná, 303 mil estabelecimentos
agropecuários se enquadram na condição de agricultura familiar, para um total de
81,6% do total (tabela 14). Do total dos 371 mil estabelecimentos, em torno de
77,0% obtiveram receitas na exploração da propriedade. Contudo, apenas 279
declararam ter obtido receitas com a atividade de turismo rural nesse ano.
TABELA 14 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS, SEGUNDO CONDIÇÃO DO PRODUTOR EM
RELAÇÃO À AGRICULTURA FAMILIAR, PARANÁ E MESORREGIÃO GEOGRÁFICA METROPOLITANA DE
CURITIBA - 2006
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS (Abs.)
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS (%)
ÁREA GEOGRÁFICA
TotalTAgricultura
Não Familiar
Agricultura
FamiliarTotal
Agricultura
Não Familiar
Agricultura
Familiar
Outras Regiões 340.593 63.575 277.018 91,8 93,3 91,5
Metropolitana de Curitiba 30.458 4.569 25.889 8,2 6,7 8,5
Paraná 371.051 68.144 302. 907 100.0 18,4 81,6
Paraná, que obtiveram receitas 286.450 52.910 233.540 100,0 18,5 81,5
Paraná que obtiveram receitas com turismo rural 279 115 164 100,0 41,2 58,8
FONTE: IBGE/Censo Agropecuário (2006)
Na Mesorregião Metropolitana, 8,5% do total dos estabelecimentos obteve
receitas pela atividade de turismo rural de um total de 30,8 mil estabelecimentos que
obtiveram receitas nesse ano.
198
Do total dos estabelecimentos agropecuários que obtiveram receitas no ano
de 2006, a Mesorregião Metropolitana de Curitiba é a que mais se destaca, com
24,7%, seguido do Oeste e do Norte Central, cada uma com 15,8% (tabela 15).
TABELA 15 - NÚMERO E PARTICIPAÇÃO PORCENTUAL DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS QUE
OBTIVERAM RECEITAS NO ANO, TOTAL E DA ATIVIDADE, DE TURISMO RURAL - PARANÁ - 2006
TOTALATIVIDADES DE TURISMO RURAL NO
ESTABELECIMENTOUNIDADE DA FEDERAÇÃO
E MESORREGIÃO
GEOGRÁFICA Total Não familiarAgricultura
familiarTotal Não familiar
Agricultura
familiar
Paraná 286,450 52,910 233,540 279 115 164
Paraná 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Noroeste Paranaense 8,3 10,8 7,8 5,4 0,9 8,5
Centro Ocidental Paranaense 6,1 7,1 5,9 4,3 6,1 3,0
Norte Central Paranaense 14,7 19,3 13,6 15,8 21,7 11,6
Norte Pioneiro Paranaense 7,7 9,1 7,4 4,7 3,5 5,5
Centro Oriental Paranaense 4,5 6,2 4,1 7,2 13,0 3,0
Oeste Paranaense 15,9 15,5 16,0 15,8 8,7 20,7
Sudoeste Paranaense 13,1 7,8 14,3 7,9 4,3 10,4
Centro-Sul Paranaense 11,1 11,1 11,2 5,0 4,3 5,5
Sudeste Paranaense 11,3 7,1 12,2 9,3 6,1 11,6
Metropolitana de Curitiba 7,3 6,0 7,6 24,7 31,3 20,1
FONTE: IBGE/Censo Agropecuário, 2006
Na análise daqueles que declararam obter receitas com o turismo rural na
agricultura familiar no Estado, dos 279 estabelecimentos no Paraná, 69 estavam na
Região Metropolitana, o que representa um quarto dos estabelecimentos rurais de
todo o Estado. Número este significativo, tendo em vista que o valor agregado da
agricultura na mesorregião é muito pequeno se comparado com outras atividades
concentradas na área. Isso também implica que, para cada cinco empreendimentos
do estado que trabalha com turismo rural na agricultura familiar, um está situado
espacialmente na Mesorregião Metropolitana de Curitiba.
É muito provável que seja ocorrência de fatores como a facilidade a acesso
de informações e as novas alternativas de exploração da unidade familiar, bem
como fazer parte da facilidade com que os técnicos extensionistas dão incentivo à
atividade, graças às expectativas de mercado regional.
Ora, esse comportamento não foi exclusivo das unidades familiares, tendo em
vista que o número de proprietários não enquadrados na agricultura familiar que
declarou ter aferido algum tipo de renda com o turismo rural foi maior (33 contra 31 da
199
agricultura familiar). Se a busca por melhoria da renda agrícola no caso de proprietários
não familiares perpassa pelo turismo, então é muito provável que a atividade realmente
gere renda complementar, porém devem haver algumas barreiras à entrada desse
mercado (qualidade, gestão, preços e principalmente uma adaptação urbana do meio
rural) às quais o agricultor familiar não teria condições de atender facilmente.
Outra leitura desses dados pode estar relacionada à informalidade da atividade
dentro da agricultura familiar, a ponto de, mesmo realizando algum tipo de atividade
vinculada ao turismo, essa atividade não tenha sido declarada pelo seu proprietário.
Uma última consideração pode ser produto de que quem declara no censo é o
responsável pela propriedade101. FERREIRA (2002) destaca para o novo rural que,
Essa outra face do rural é uma tendência em expansão, porém aindarestrita. O rural e as pequenas cidades passaram a ser espaço residencialpara uma faixa da população que trabalha nos centros maiores e tambémpara aposentados. No entanto, por uma questão de mobilidade cotidiana ede acesso a serviços, esse fenômeno se restringe às áreas mais próximasdas grandes e médias cidades. A precariedade do nosso meio rural constituium freio para que se consolide como espaço residencial nos moldes dasexperiências europeias e norte-americanas. Em algumas regiões, crescenos espaços rurais periurbanos, o número de citadinos que se lançam emempreendimentos agrícolas ou rurais com finalidades não agrícolas,desenvolvendo um contínuo intercâmbio com as cidades e otimizando asoportunidades disponíveis nos dois espaços (FERREIRA, 2002).
Os números do censo agropecuário, embora pouco representativos quanto à
quantidade de estabelecimentos que declararam aferir rendimentos da atividade do
turismo rural, são um claro indicativo da utilização do espaço rural como lugar de lazer e
de consumo da paisagem que tem um valor em si e que pode se tornar um recurso
importante para atrair atividades de desenvolvimento local naqueles municípios
particularmente dotados de recursos naturais atraentes e mais distantes do entorno
metropolitano. Embora o processo não seja incipiente, ele ainda enfrenta vários
101 Lembra-se que, neste caso, é muito comum que a atividade de café colonial, fabricação de pão,
compotas e geleias está mais identificada com a mão de obra feminina. O estudo da Cadeia
Produtiva do Turismo (IPARDES, 2009) constatou que na gastronomia há predominância da mão
de obra feminina nos roteiros das Rotas do Pinhão. Autores como KARAM, 2001; CORONA,
1999; DAROLT, 2000 e FERREIRA são oriundos do doutorado em Meio Ambiente na década de
1990. As teses defendidas por eles tiveram como foco a Região Metropolitana de Curitiba, e
ajudaram a maior produção de estudos.
200
obstáculos, como a existência de conflitos entre os desenhos de políticas públicas e sua
aplicação nos territórios, e a ausência de boas estradas, serviços e infraestrutura que
propiciem uma base às atividades turísticas no meio rural e em pequenas cidades102.
2.4.4 A cadeia produtiva do turismo nas rotas do pinhão: os estabelecimentos de
meios de hospedagem e serviços de alimentação no espaço rural metropolitano103
O perfil dos estabelecimentos dedicados ao turismo rural na RMC é composto
por micro e pequenas empresas, muitas delas de caráter familiar, com escassa
capacidade financeira e com pessoal ocupado e de gestão pouco preparados, portanto
pouco diferente do que ocorre na área urbana (IPARDES, 2008).
Localizados principalmente no Núcleo Urbano Central (NUC), os estabele-
cimentos pesquisados no rural metropolitano, a partir dos dados da tabulação
especial das atividades de Meios de Hospedagem e dos Serviços de Alimentação,
obteve-se um perfil das práticas e formas de exploração do espaço (mapa 5). Em
geral, dos equipamentos turísticos do espaço rural metropolitano pesquisados, 19
estabelecimentos de meios de hospedagem se autoclassificaram como rurais e 32
serviços de alimentação.
102 Trabalho recentemente publicado pelo IPARDES (2010), analisando o Censo Agropecuário,
levanta outras informações da mudança de padrões de vida do meio rural, quando destaca o uso
de meios de transportes, televisões, computadores e informática nas propriedades rurais. Ver
Nota Técnica sobre o Censo Agropecuário de 2006.
103 A metodologia do Estudo da Cadeia Produtiva do Turismo foi realizada por amostra estratificada
para todos os municípios do Estado do Paraná utilizando-se como base as regiões turísticas do
Estado e o cálculo da amostra seguiu critérios de cálculo com base a uma série de informações
nas que foram incluídos o IDH, a quantidade de estabelecimentos e número de atrativos e a
segmentação turística Na Região Turística Rotas do Pinhão houve municípios que aderiram ao
processo por interesse em obter posteriormente tabulações especiais dos empreendimentos
pesquisados. Coube a cada município a responsabilidade do levantamento sob a orientação da
equipe do IPARDES e da SETU (Apêndice 1 - tabelas A.1.8 a A.1.30).
201
MAPA 5 - NÚCLEO URBANO CENTRAL E MUNICÍPIOS PESQUISADOS NA
CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO NA RMC
FONTES: IPARDES (2008, 2012)
202
A seguir se apresenta uma tabela resumo dos resultados obtidos em campo.
TABELA 16 - PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS NOS ESTABELECIMENTOS PESQUISADOS DE MEIOS DE
HOSPEDAGEM E SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO - CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO - ROTAS DO
PINHÃO, RMC PARANÁ - 2006
continua
ATIVIDADES(1)
ITEM PESQUISADOMeios de Hospedagem Serviços de Alimentação
Número de estabelecimentos pesquisados 19 32
Número de pessoas ocupadas 276 360
Número médio de pessoal ocupado/estabelecimento pesquisado 15,0 11,3
Condição de posse do imóvel
Próprio 78,9 81,3
Forma de administração
Proprietário 84,2 90,9
Forma de divulgação
Não faz 24,5 25,0
Impressos 53,1 68,8
Mídia 40,0 31,3
Internet 12,2 0,0
Origem dos frequentadores
Da capital ... 87,5
De outros municípios do PR ... 84,4
Público local ... 68,8
Ano de início de atividade
Até 1989 21,1 21,9
1990 a 1999 26,3 21,9
2000 a 2006 47,4 46,9
Não respondeu 5,3 9,4
Forma de pagamento
Cartão de débito (2) 31,3
Cartão de crédito (2) 25,0
Características da mão de obra
Sexo feminino 56,2 55,6
Sexo masculino 43,5 43,6
Não informado 0,4 0,8
Tipo de vínculo
Formal 52,9 54,2
Mão de obra temporária
Sim, contrata 57,9 37,5
Eventualmente 31,6 21,9
Experiência de trabalho
Sim, exige 47,4 40,6
Treinamento da mão de obra
Sim, a empresa oferece 63,2 59,4
Financiamento
Sim, já utilizou 26,3 18,8
Projetos de melhoria
Ampliação da estrutura 13,2 65,6
Reforma 65,1 56,3
Capacitação 16,0 25,0
Tecnologia e equipamentos 35,8 28,0
Dificuldades para executar o projeto
Sim 71,7 84,5
203
TABELA 16 - PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS NOS ESTABELECIMENTOS PESQUISADOS DE MEIOS DE
HOSPEDAGEM E SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO - CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO - ROTAS DO
PINHÃO, RMC PARANÁ - 2006
conclusão
ATIVIDADES(1)
ITEM PESQUISADOMeios de Hospedagem Serviços de Alimentação
Parcerias ou atividades cooperadas
Sim 10,5 19,3
Dificuldades na administração
Falta de empregados qualificados 73,7 56,3
Fluxo limitado clientes 36,8 43,8
Impostos e taxas 57,9 50,0
Entidade de classe
Sim, participa 68,4 62,5
Gestão ambiental
Faz coleta seletiva 84,2 90,6
Tem Plano de Gerenciamento de Resíduos 68,4 50,0
Faz controle de desperdício de água e luz 84,2 78,1
Possui sinalização turística 22,0 46,4
Transações realizadas na região
Uso de mão de obra local 89,5 81,3
Compra de produtos 73,7 90,6
Compra de serviços 63,2 40,6
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES
NOTA: Os percentuais foram calculados em relação ao total de estabelecimentos, com exceção dos itens relativos às
características da mão de obra e ao tipo de vínculo, os quais representam o percentual em relação ao número de
pessoas ocupadas.
(1) Número de estabelecimentos das atividades pesquisadas foi aleatório, em função da amostra calculada para a RMC,
incluída a condição urbana e rural.
(2) Este item não foi tabulado para esta atividade.
No ano da pesquisa esses estabelecimentos ocuparam 636 pessoas, equi-
valentes a uma média de 16,1 empregados por estabelecimento nos meios de
Hospedagem e 11,5 pessoas/estabelecimento nos serviços de alimentação.
GRÁFICO 5 - PESSOAL OCUPADO NOS EMPREENDIMENTOS RURAIS
PESQUISADOS NA ROTAS DO PINHÃO - 2006
FONTE: IPARDES, Pesquisa de Campo CPT - Tabulações especiais
204
Na opinião dos administradores ou donos dos estabelecimentos que respon-
deram os questionários a partir de diversos temas que envolviam a análise da
cooperação e dos entraves para o desenvolvimento da atividade, via de regra, esses
equipamentos apresentaram as seguintes características: a condição de posse do
imóvel é própria para 79% dos estabelecimentos de meios de hospedagem, contra-
riamente à tendência no urbano; 81,3% dos imóveis dos serviços de alimentação
são próprios; 81% dos estabelecimentos são próprios e 91% administrados pelo
proprietário (IPARDES, 2008a e b).
GRÁFICO 6 - FORMAS DE ADMINISTRAÇÃO E CONDIÇÃO DE
POSSE DOS EMPREENDIMENTOS RURAIS DA ROTAS
DO PINHÃO - 2006
FONTE: IPARDES, Pesquisa de Campo CPT - Tabulações especiais
Das formas de divulgação, mídia e propaganda, a Rotas do Pinhão segue a
tendência dos estabelecimentos do estado, tendo em vista que os meios de hospe-
dagem se utilizam da internet (12,2%) enquanto os serviços de alimentação não se
utilizam desse veículo. Por outro lado, a distribuição de impressos é majoritária
(tabela A.1.6). Entretanto, 25% desses estabelecimentos não fazem nenhum tipo de
divulgação, o que faz depender do "boca a boca".
A origem dos frequentadores é essencialmente da capital (Curitiba), de outros
municípios do estado e, no caso dos serviços de alimentação, do público local.
Quanto ao tempo de operação, ou de inicio das atividades, chama a atenção que boa
parte dos equipamentos entrevistados iniciou suas operações na década de 1990.
205
Em referência ao ano de início das atividades, observou-se que a maioria
dos empreendimentos autodeclarados turísticos na área rural se instalou a partir da
década de 1990, coincidindo com as primeiras propostas de implantação de roteiros
e circuitos turísticos na região e no estado. A partir do ano 2000 esse processo se vê
duplicado pela crescente demanda.
GRÁFICO 7 - ANO DE INÍCIO DAS ATIVIDADES NOS EMPREENDIMENTOS RURAIS PESQUISADOS
NA ROTAS DO PINHÃO - 2006
FONTE: IPARDES, Pesquisa de Campo CPT - Tabulações especiais
Há uma predominância da mão de obra feminina e, embora exista vínculo
formal de trabalho, também se contrata eventualmente de forma esporádica, sendo
similar em ambas atividades, isto é, em torno de 56% da mão de obra que trabalha
nesses estabelecimentos é feminina.
Dos Meios de Hospedagem, dos 166 estabelecimentos pesquisados 19
estabelecimentos da RMC se autodeclararam rurais (11,4%), sendo 05 hotéis
fazenda, 01 SPA/resort, 08 pousadas e 01 camping, com um total de 700 leitos: 48%
deles operava antes do ano 2000 (26% destes entre 1990 e 2000), se somados aos
que iniciaram suas operações após esse ano, o porcentual aumenta para 73,7%
(tabela A.1.8); e 85% é atendido pelo proprietário.
A média de escolaridade está concentrada no ensino médio completo 31% e
superior 13%, uma das médias mais altas do estado. Dos entrevistados, 48% dizem
206
não exigir experiência de trabalho para contratação; só 27% realiza treinamento da
mão de obra o que reflete processos de terceirização.
Quanto à articulação com outros elos, 40% dos entrevistados compram
serviços na região, porém 84% afirmam comprar produtos da região; 76% contratam
mão de obra local; 82% não utilizam financiamento e dos que utilizam, só 9% usam
para investimento; baixo uso do capital (crédito como instrumento de crescimento da
atividade), a questão não discriminava se o financiamento era PRONAF ou outra
fonte de crédito.
A melhor média de participação tem-se nas associações de classe; 77%
delas fazem parte. Porém, 78% não fazem parcerias ou atividades cooperadas. Não
há tradição da região em trabalho cooperativo; deve ser incentivado pela governança
para melhorar a eficiência coletiva.
Contratar empregados qualificados está entre uma das principais dificuldades
que enfrentam os estabelecimentos (61%), junto com Impostos e taxas (65%) e manter
os preços dos serviços (50%). Contraditório com a não capacitação.
Na pauta das questões ambientais, 84% dos entrevistados fazem coleta
seletiva; 75% fazem controle de desperdício de água e eletricidade, porém 12%
deles desconhecem o plano de gerenciamento de resíduos (obrigatório para meios
de hospedagem).
GRÁFICO 8 - DIFICULDADES NA ADMINISTRAÇÃO NOS EMPRENDIMENTOS RURAIS
DA ROTAS DO PINHÃO - 2006
FONTE: IPARDES, Pesquisa de Campo -Tabulações especiais
207
Na Gastronomia Rural Metropolitana, dos 32 estabelecimentos pesquisados,
7% estão na zona rural, 18% no urbano-periférico. Dos que estão no espaço rural,
mais da metade (51%) se instalou após o ano 2000.
Sobre a autoavaliação de categoria, 56% deles se consideram de categoria
média. Há, no entanto, 14% luxo ou superluxo, o dobro da média do Paraná.
O tipo de gastronomia mais comum é 54% comida caseira, 26% cozinha
internacional; 20% churrasco; 19% comida regional; não depende exclusivamente do
turismo para crescer (92% clientes da própria cidade); 53% oferecem marmitex. A
divulgação depende predominantemente dos impressos (67%) e do "boca a boca",
pois 25% desses estabelecimentos não fazem divulgação.
A origem dos clientes é de Curitiba nos finais de semana (87,5%), durante a
semana, quem trabalha, atende a própria cidade.
Dos estabelecimentos, 78% informaram não utilizar linha de crédito e 81%
do total afirma não ter problemas para obter crédito; entre as dificuldades apontadas
para "tocar o negócio" foram elencadas questões referentes à qualidade da mão de
obra, sugerindo como política pública a capacitação em nível médio para a região
(72%) e a melhoria da infraestrutura (estradas, 59%). Há uma maior participação em
associações e sindicatos nesta atividade (62,5%).
2.5 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO
No Estado do Paraná os movimentos migratórios foram o ponto de inflexão do
fenômeno de deslocamento da população rural em direção aos centros urbanos ao
longo dos anos 70. Desde então, registrou-se nos municípios paranaenses um processo
de esvaziamento populacional para regiões chamadas de fronteiras agrícolas em outros
208
estados ou, ainda, para os aglomerados urbanos em torno das regiões metropolitanas
do Estado, reforçando as heterogeneidades estruturais existentes (BRANDÃO, 2007),
bem como as desigualdades em torno de uma possível unidade regional.
De fato, o turismo representa uma oportunidade para o desenvolvimento
socioeconômico de um território, porém é impossível generalizar esse fato como
uma verdade tautológica. Esse tem sido o pecado dos que defendem o desenvolvi-
mento do fenômeno turístico como panaceia do desenvolvimento regional em
localidades onde nenhum outro segmento econômico é capaz de produzir excedente
econômico para a reprodução do capital, nem consegue fortalecer redes locais para
a criação de sinergias. No caso da RMC, o processo de desenvolvimento turístico
começou com uma matriz regional, mas com pouca dimensão das escalas e dos
processos de turistificação em andamento. Nasceu pela preocupação do uso dos
espaços rurais e de preservação para avançar numa vertente mais afinada com a
chamada sustentabilidade, sem identificar qual o relacionamento entre as escalas de
poder: Federação, o Estado e os Municípios, na construção dos chamados produtos
e roteiros turísticos.
Quanto à construção das sinergias, convergências e os conflitos inerentes
às relações entre agentes e atores na produção dos espaços turísticos produto da
especialização produtiva regional, saliente-se a existência de uma ampla bibliografia
trabalhada nas diversas tessituras da RMC e que tratam o espaço a partir das transfor-
mações socioeconômicas e espaciais ocorridas na RMC. A intenção desta análise foi
identificar como se inseriu o turismo e quais foram os pontos de convergência e
entender os já constatados conflitos da apropriação do espaço pelo turismo na RMC.
Ficou claro que há sim muitas disparidades dentro da região em termos turísticos,
herdadas dos ciclos de acumulação capitalista e pelos problemas decorrentes
desses ciclos, que provocaram o crescimento demográfico no aglomerado urbano de
Curitiba e a expressiva canalização de recursos.
As instituições que defendem o turismo no planejamento e na implemen-
tação das políticas públicas aparecem ora presentes, ora ausentes da própria reali-
dade metropolitana. Como lembra Silveira (2002, p189), "aos problemas ambientais e
209
sociais acrescente a ineficiência, a não efetividade e, em certos casos, a ausência
das chamadas políticas públicas". Para o turismo rural metropolitano, foi reservado
um enxoval de descontinuidade das ações.
Porém, a intenção desta reflexão foi a de buscar evidenciar em que termos
os conceitos de desenvolvimento e do turismo rural mantém alguma inter-relação no
espaço metropolitano. A primeira questão perpassa por entender o que é a RMC e
qual a relação do espaço rural periurbano como fenômeno que sintetiza as contra-
dições de processos das múltiplas territorialidades que nele convergem. O modelo
de Lundgren (1974) verteu alguns indicativos desse processo, do qual outros autores
são recorrentes e agregam novas práticas. Em tese, pois nem todos participam desse
processo tendo em vista os dados do Censo Agropecuário, o rural metropolitano
vem jogando um duplo papel social, ao integrar propriedades da pequena produção
familiar no circuito da comercialização de um turismo rural que valoriza a propriedade e
permite ganhos de renda adicionais em atividades de serviços prestados em
atividades de lazer.
Ainda, no caso específico da RMC, tem servido para amortizar uma compen-
sação ambiental, porque muitas das propriedades estão encurraladas às restrições de
uso a tecnologias que permitiriam um ganho adicional de produtividade para a limitada
atividade agrícola e hoje conflitam com as bacias hidrográficas nas áreas de mananciais
que abastecem o urbano. Embora uma questão emblemática, esse tema tem sido
objeto de análise por especialistas (ARAUJO, 2000; HART, 2004, DESCHAMPS, 2004),
que têm avaliado a importância como variável que pressiona tanto os assentamentos
humanos na área periurbana como o mundo rural na RMC.
Esses são apenas alguns dos reflexos do grande anacronismo que compõe
os processos de turistificação de territórios (KNAFOU, 2001), onde o importante é
capitalização e auferição de lucros e não a sustentabilidade e o desenvolvimento das
populações locais. E assim, "o planejamento imposto em escala federal, baseado na
racionalidade e na funcionalidade, necessitando de infraestrutura pesada a cargo de
setor publico [...] causa um grande ônus social às comunidades locais, tanto de
forma indireta, como de forma direta" (RODRIGUES, 2006, p.308).
210
A turistificação dos lugares ocorre por uma cada vez maior pressão pelo
consumo, pois, como bem estabelece Knafou (2001), há três formas possíveis de
que esse consumo se realize e o resultado dos processos de territorialização do
turismo é medido pela integração das novas regiões no consumo global.
Os dados da pesquisa de campo da Cadeia Produtiva, na tabulação especial
dos empreendimentos entrevistados na área periurbana e rural da Região Turística
Rotas do Pinhão apresentados aqui, vão delineando um rápido perfil de como se
constrói a lógica dos agentes e como repercute nos atores e comunidade: é nas
suas representações do real, nos seus comportamentos singulares e nos seus
sistemas de valores, todos estes imbricados no território, que se formatam as novas
territorialidades e se consolida o processo de turistificação, com a consequente
deturpação de valores intrínsecos das comunidades que representam, pela ausência
de orientação da política específica para o turismo rural.
Os resultados apresentados da cadeia produtiva do turismo nas atividades
de meios de hospedagem e de serviços de alimentação, tabuladas especialmente
para este trabalho, mostram proprietários de meios de produção agropecuários,
lançados ao sistema de produção de serviços para o mercado turístico, que formam
sistemas híbridos de ocupação não agrícola, cuja origem e destino final não são
exclusivos do lugar, pois atendem às demandas urbanas no meio rural e com sistemas
de compras e vendas (de insumos) que, na maioria das vezes, os beneficiários
diretos dessas longas cadeias de serviços se encontram concentrados em empresas
da metrópole (redes de atacadistas, ou serviços especializados).
Como foi visto acima, a dinâmica institucional dos agentes na região
apresentou graves problemas para a implantação de uma política pública do turismo
rural mais eficiente. Notou-se, porém, a necessidade de compreender o campo de
ação dos agentes envolvidos no processo. Assim, no próximo capítulo pretende-se
aprofundar a compreensão dos dilemas do turismo rural na Região turística das
Rotas do Pinhão,a partir das observações de campo e confrontando os resultados
obtidos entre os vários tipos de instrumentos de pesquisa realizados para atualizar
as informações secundárias aqui apresentadas.
211
3 RESULTADOS DA PESQUISA: LEITURA E AVALIAÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO
DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DO TURISMO RURAL NA RMC A PARTIR
DOS GESTORES
3.1 METODOLOGIA DA PESQUISA DE CAMPO
A metodologia adotada foi de análise exploratória do processo de desen-
volvimento do turismo rural na RMC, buscando identificar os instrumentos utilizados
na implementação das políticas públicas e convalidar as pesquisas com as entrevistas
semiestruturadas (Apêndice 2).
3.1.1 Análise comparativa de dados e levantamento de campo
Serviram para o diagnóstico da Região Turística Rotas do Pinhão as seguintes
informações: i) Dados da internet foram checados posteriormente, por duas formas
diversas, pesquisas documentais na SETU, e por pesquisa direta nos sites das prefeituras
municipais; ii) Levantamento dos dados oficiais da Empresa de Assistência Técnica
e Extensão Rural - EMATER. (Anos 2009 e 2010); iii) Censo Agropecuário 2006 -
IBGE, tabulações especiais da RMC. Considerando a RMC com e sem o Litoral do
Paraná; iv) Tabulações especiais da pesquisa da Cadeia Produtiva do Turismo do
Estado do Paraná, para a RMC. Municípios da amostra do NUC.
O levantamento de campo iniciou-se por três ações diferentes. A primeira, o
da visita de campo dos roteiros que conformam os diversos projetos implementados ou
propostos do Anel Metropolitano do Turismo, percorrendo os municípios preliminarmente
demarcados com base no critério distância dos centros turísticos.
Este trabalho foi realizado em dois momentos, o primeiro período, entre março
e novembro de 2010, com a identificação dos elementos turísticos nos municípios
212
contemplados na pesquisa. Foi facilitada pelo coordenador do Turismo Rural da
Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento - SEAB e, um dos mentores
dos circuitos (assim chamados na década de 1990) e roteiros do turismo rural da
RMC. Foram visitadas propriedades rurais que ainda mantinham as características
rurais e outras, que ao longo dos anos evoluíram para atividades de serviço e lazer
periurbanos, como no caso de um parque das águas na região entre Almirante
Tamandaré e Campo Magro. Realizaram-se três percursos com essa dinâmica: o
circuito norte, visitando os municípios de Pinhais, Piraquara, Almirante Tamandaré, e
Colombo. O Circuito Oeste, começando com Campo Magro e fechando em Campo
Largo e São José dos Pinhais; e o Circuito Sul, com as cidades de Araucária, Fazenda
Rio Grande, Lapa e Tijucas do Sul. Os contatos iniciais foram aleatórios, ora com
representantes da EMATER, ora com representantes de turismo dos municípios.
No segundo período, em 2011, foram realizadas visitas de pesquisa
observacional, na microrregião do Vale do Ribeira (em especial, Bocaiúva do Sul e
Tunas do Paraná), onde houve contato com quilombolas e propriedades rurais com
pequenas práticas de turismo rural e agricultura orgânica. Nessa ocasião, o trabalho
de observação contou com o acompanhamento do grupo de pesquisa da Universidade
Federal do Paraná - UFPR - Litoral, na aplicação de formulários em propriedades
rurais que participam do programa dos Territórios da Cidadania.
Quanto ao desenvolvimento, à discussão sobre o tema não se esgotou na
escala, se local ou regional, mas também pela necessidade de entender, como bem
destaca Brandão (2007), as construções sociais do espaço e da região e identificar
sobre que bases as novas relações de desenvolvimento se apoiaram.
Pesquisa direta e Entrevistas. Os instrumentos de coleta direta foram de dois
tipos: o questionário e as entrevistas. Um segundo momento foi aplicado uma pesquisa
direta, de questionário estruturado, com perguntas fechadas e uma única pergunta
aberta, com os extensionistas da Região Metropolitana de Curitiba que historicamente
vem atendendo às propostas de desenvolvimento do turismo rural na Região. O processo
de pesquisa foi eletrônico, com preenchimento direto no computador e tabulação
213
sequencial. O processo foi aberto e encerrado no mês de dezembro de 2011 e
procurou identificar quais dos percalços identificados no início do processo de
construção das políticas para o turismo no espaço rural – realizado pela então
EMBRATUR e o MAPA, junto com a ATER nacional – persistem na RMC na visão dos
técnicos que trabalham na orientação de propriedades rurais da RMC.
Em paralelo, foram agendadas e realizadas entrevistas com os diferentes
agentes da política pública do turismo rural, focados nas suas distintas escalas.
O diagnóstico geral foi balizado pelas entrevistas semiestruturadas. No caso dessas
entrevistas foi realizado um roteiro de temas semiestruturado com blocos de
perguntas similares (GOMEZ, 1999, p.66), conforme a escala de atuação na região
metropolitana, sendo aplicado de forma direta. Ao todo, ouviram-se 15 instituições,
sendo 10 prefeituras, um órgão federal, três estaduais, uma instituição de ensino, um
serviço social autônomo e uma instituição do sistema S. Também foram entrevistados
consultores locais. Ao final de cada entrevista foram solicitados registros institucionais
escritos (GIL, 1999, p.162).
Uma rica fonte de informações secundárias foram as entrevistas veiculadas
em jornais e reportagens sobre a Região Metropolitana de Curitiba que se tem
publicado regularmente nos jornais locais, por meio dos quais se buscou conhecer
as opiniões dos dirigentes de órgãos federais, e instituições estaduais, assim como
da conjuntura econômica que afetaram ao setor turismo no período em estudo e que
ocorreram no decurso deste trabalho.
Quanto à entrevista, o procedimento foi aplicado da seguinte forma: o primeiro
um contato foi via email e após o retorno, por um contato telefônico era agendado
um horário. No dia e hora do encontro marcado, fazia-se uma exposição preliminar
do assunto explicando o objetivo do trabalho de dissertação, o roteiro da entrevista e
o porquê da gravação da entrevista. Em alguns casos, entregou-se o roteiro da
entrevista para que, com calma, o respondente pudesse acompanhar a evolução da
entrevista e refletisse sobre sua resposta. O tempo médio das entrevistas foi de duas
horas. Não foram encontradas dificuldades em relação ao atendimento do pesquisador,
214
nem argumentações quanto ao objetivo da pesquisa proposta. O número de entrevistas
inicialmente proposto foi de 25 no total e foram realizadas 15 entrevistas.
Os agentes foram entrevistados em relação a eventos concretos da
aplicabilidade e implementação da política pública; pertinência e conhecimento sobre
a regionalização e a governança turística; planejamento e orçamento destinado à
política pública do turismo e do desenvolvimento regional através da execução de
atividades do segmento turismo rural. Outras questões foram direcionadas a entender
o envolvimento desses agentes com o mercado e de seu relacionamento com a
política pública do desenvolvimento rural.
Para a realização do questionário foram definidas três categorias de agentes:
os agentes do sistema político-administrativo (ou os chamados agentes implementadores
da política pública do desenvolvimento rural e do turismo). Outro grupo de agentes
do sistema da cadeia produtiva do turismo atuantes na região e, um terceiro grupo
que envolve a comunidade local que atua no território e na região, envolvidos ou não
com a atividade do turismo rural no seu município (quadro 11).
POLÍTICAS PÚBLICAS
SETORIAIS E ESCALAS DE
ATUAÇÃO
DESENVOLVIMENTO DA
AGRICULTURADESENVOLVIMENTO DO TURISMO
Federal
Ministério do Desenvolvimento Agrário -
MDA (entrevistado)
UFPR - ITCP (entrevistado)
Ministério do Turismo -MTUR
Estadual
Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural - EMATER-PR
(entrevistado)
Secretaria de Estado do Turismo -
SETU ECOPARANA (entrevistado)
Regional /Municipal
Coordenação da Região Metropolitana
de Curitiba - COMEC(entrevistado)
Conselho de Desenvolvimento Rural -
CDRsEscritório Regional da Agricultura
Secretarias Municipais
Associação dos Municípios da Região
Metropolitana de Curitiba - ASSOMEC
Fórum Metropolitano
Secretarias Municipais (selecionados e
entrevistados)
QUADRO 11 - AGENTES E INSTITUIÇÕES PROMOTORAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL
FONTE: Pesquisa Qualitativa (2011)
Note-se que, como recorte metodológico, não foram identificados atores do
processo da comunidade, produtores rurais, donos de estabelecimentos que trabalhem
com turismo rural; tampouco foram procurados empreendedores urbanos que
215
trabalham no turismo rural ou nas áreas periurbanas, assim como não se incluíram
associações ou representantes comunitários. No caso dos empreendedores e seu
mercado, levou-se em consideração a análise dos estabelecimentos da Cadeia
produtiva do turismo (IPARDES, 2008b).
As entrevistas aconteceram com uma pauta de análise que envolveu três
grupos de variáveis, dimensionadas por Cruz (quadro 12), a saber: a) O modo de
desenvolvimento; b) A infraestrutura e mercado (identidade local?); c) A gestão
Institucional104.
DIMENSÕESPASSADO
(até final dos anos 90)
POLÍTICA Vigente
(2003-2010)
HIPÓTESES DOS CONFLITOS
NA RMC
(2003-2010)
Desenvolvimento
Econômico Regional e
Local
Geração de riqueza
(desenvolvimento econômico a
qualquer preço)
Geração de emprego e renda/
desenvolvimento sustentável
Segue a política pública
nacional - Avaliação
Infra-estrutura
Criação de facilidades para a
implementação de
infraestruturas turísticas
Implementação/melhoria de
infra-estrutura básica e de
transporte
Plano de desenvolvimento do
turismo Pr e PDITS-BID
Gestão institucional
(Política pública)Centralização - descentralização
Descentralização/cooperação/
gestão participativa
Segue a política pública
nacional – Avaliação e
percepção
Mercado
Estado passa de regulador/
interventor a Liberalização/
Desregulamentação
Estado regulador (agencias)/
interventor, PPP (parcerias) e
orçamento público (LOA,
emenda parlamentar)
Segue a política nacional –
Avaliação e percepção
Escala Nacional Regional Regional LocalRegional municipal vs
regional territorial
Natureza Objeto de atração Objeto de atração e de proteçãoCriação de produtos e roteiros
turísticos – O papel dos agentes
Espaço/ Região/
TerritórioPalco de ações deliberadas
Receptáculo de ações
planejadas (espaço-objeto)
Conflitos na construção do
Território e das territorialidades –
o papel dos atores.
A turistificação do espaço
QUADRO 12 - VELHOS E NOVOS PARADIGMAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE TURISMO NO BRASIL: PROPOSTA DE
TRABALHO COM FOCO NA RMC
FONTE: Adaptado de Cruz (2006, p.345)
As dimensões propostas foram desenvolvidas nas entrevistas em blocos de
perguntas que permitiram avaliar melhor o papel institucional dos agentes, as agências
e a sua integração e interação com as políticas públicas do turismo rural na RMC.
104 Tópicos de mercado, infraestrutura e gestão foram analisados nos capítulos precedentes, tratando
de identificar as hipóteses defendidas pelo autor.
216
Finalmente, o roteiro de entrevista teve algumas áreas de sombra, para poder
identificar respostas comuns para os mesmos problemas. Uma dessas áreas colocou
em pauta conceitos sobre o desenvolvimento, conforme sugerido por Brandão (2007).
Durante a pesquisa de campo, a rede social funcionou como suporte para
identificar pessoas chaves a serem entrevistadas, inclusive, aquelas que participaram
do processo no período em estudo e já não se encontrava nas entidades e (ou)
prefeituras, onde dirigiram o trabalho de desenvolvimento da regionalização do turismo.
A seguir se apresentam os principais resultados das pesquisas.
3.2 VISITAS DE CAMPO: A REPRESENTATIVIDADE DO TURISMO
NO ESPAÇO RURAL NO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO
METROPOLITANA DE CURITIBA
Com base nas tabulações dos dados do censo agropecuário de 2006, dos
estabelecimentos que declararam aferir algum tipo de renda com a atividade de
turismo rural e na pesquisa de campo da Cadeia Produtiva do Turismo, realizada
pelo IPARDES no ano de 2006, com tabulações especiais feitas para esta dissertação
em torno dos empreendimentos autodeclarados rurais, estabeleceram-se nexos
entre as políticas públicas, as escalas de aplicação dessas políticas públicas do
turismo na região turística da Rotas do Pinhão. O apoio das políticas públicas sejam
elas de planejamento urbano (pautadas pela COMEC) do âmbito rural (pautadas pela
ação dos técnicos da EMATER) ou o envolvimento ou não das escalas local (na escala
municipal) foram definidoras para o êxito e continuidade dos circuitos e roteiros
existentes e para o maior ou menor grau de envolvimento da agricultura familiar.
Assim também ocorre uma notada ascendência de novos empreendedores,
rurais ou urbanos que procuram o rural como local de investimentos no espaço rural.
Pode ser chamado de turismo no espaço rural, ou de agroturismo, pois são
empreendimentos tipicamente urbanos na área rural. Complementarmente, durante
217
os meses de julho e agosto de 2010 foram realizadas duas visitas técnicas aos 10
circuitos turísticos estabelecidos entre 1998 e 2004 para reavaliar o "estado da arte"
onde a agricultura familiar foi preponderante na RMC105. Muitos desses circuitos
funcionam sem estruturas de apoio institucional ou só permanecem vigentes nas
placas de sinalização turística (mapa 6).
A linha de raciocínio das visitas foi a de entender como se deu a organização
espacial do turismo na RMC e se ela é coerente com o que vem acontecendo com
outras grandes regiões no processo de turistificação, obedecendo a regras e
contrarregras de atuação ditadas a partir desse sistema espacial global, que tem
como um dos agentes dinamizadores desse processo o Banco Interamericano de
Desenvolvimento - BID106.
Em visita técnica realizada nas ultimas semanas do mês de agosto de 2010,
foi constatada a existência de pequenos produtores rurais pertencentes a circuitos
turísticos desenhados no século passado e que hoje lamentam o fato das prefeituras não
dar seguimento ao processo. Foi constatada, entretanto, a convivência de algumas
grandes propriedades com SPAs, bistrôs, restaurantes de grande porte que só
abrem nos finais de semana, assim como a existência de pesques-pague de estilo
mais popular até restaurantes-haras107. A mercantilização do espaço rural se generaliza
e se banaliza: os processos de troca, produção, distribuição e investimento passam
a exaltar o urbano dentro do espaço rural. O mapa 7 apresenta a proposta dos
circuitos realizados pela EMATER-PR.
105 Os municípios visitados foram Pinhais, Piraquara, Quatro Barras, Campina Grande do Sul, Colombo e
Almirante Tamandaré na primeira. Almirante Tamandaré (Mergulhão), Campo Magro, Campo Largo
e Araucária na segunda. Todos, municípios pertencentes ao primeiro anel metropolitano.
106 É o BID que pauta mediante a imposição de planos de desenvolvimento e orientando a forma de
utilização dos financiamentos a dinâmica na construção do turismo no Brasil e a inserção da
região metropolitana de Curitiba (RMC). Ver também termo de referência do PRODETUR - BID
(2004), disponível no site do MTUR.
107 Donos de cavalos que colocam à disposição do público seus animais para cavalgadas, com
orientação técnica. Um deles funciona como uma marinha ou hotel de animais, os curitibanos
donos de cavalos podem deixar seu animal bem cuidado por uma taxa de aluguel, com
atendimento médico e tratamento adequado durante a semana. O restaurante de chef de cozinha
especializado em França.
218
MAPA 6 - ROTEIROS TURÍSTICOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
FONTES: IPARDES (2011); Szchuman (2006 apud NITSCHE, 2007)
219
MAPA 7 - CIRCUITOS DE TURISMO RURAL NA RMC, EMATER/PR
FONTE: EMATER-PR/COMEC (2008)
Nas visitas observou-se que as estratégias de reprodução social das famílias
rurais da região contêm práticas que reforçam a condição de pequeno produtor rural
constituído pelas referências da vida camponesa oriunda de seus antepassados de
colonização europeia. Alguns deles, como constatado no município de Piraquara,
Colombo e na Colônia Mergulhão em Almirante Tamandaré já adaptaram seus
220
empreendimentos rurais para o aproveitamento do fluxo de excursionistas e visitantes
da região nos finais de semana, com o agravante de ter abandonado a atividade
rural por completo ao longo dos 10 a 12 anos de atividade. Essas mudanças
surgiram como forma de sobrevivência no mercado turístico abonados pelos esforços
de "formatação de produtos" no território que a entrada de parcerias da Secretaria
de Turismo junto ao SEBRAE tem desenvolvido na região108.
Por outro lado, esses produtores lidam, também, com as pressões que
surgem da ampliação do urbano pelas políticas públicas municipais de expansão do
perímetro urbano e instalação de indústrias, algumas altamente poluidoras, demandantes
em larga escala de recursos naturais (terra, água e infraestrutura de esgotamento
sanitário e energia elétrica). Essas indústrias recebem de forma indireta um
tratamento diferenciado (captação de água própria, impostos pagos são vinculados
ao ITR e não ao IPTU, o pagamento de eletricidade consta como empreendimento
rural, e há certas liberalidades no tratamento do lixo e do esgotamento sanitário) que,
no entanto, representam oportunidades de emprego para as novas gerações das
famílias na região e que os coloca em estreita relação com o urbano e a indústria.
Constatações similares foram já elencadas por vários trabalhos referidos
(como os de NASCIMENTO; BELTRÃO, 2004; CORONA, 2006, 2010; HORA, 2007;
NITSCHE, 2007; NITSCHE; NERI; BAHL, 2007; CANDIOTTO, 2008; SILVEIRA, 2008; e
TELES, 2008). Na região metropolitana ainda coexistem tessituras e diversos contextos
de ruralidades (WANDERLEY, 1997, 1999, 2001). quer na produção agropecuária
para o mercado, quer na forte produção tradicional para o consumo em feiras
tradicionais de Curitiba, quer na venda de excedentes e a pluriatividade.
Também, no atendimento às demandas de alimento e mão de obra locais, ou
nas respostas às políticas públicas de modernização do campo que, mais recentemente,
disputam acirradamente o espaço com as preocupações de conservação dos mananciais
108 No afã de formatar produtos, a apropriação do espaço pelo turismo acaba fortalecendo a turistificação
do espaço, na forma apontada por Silveira (2001) e definida por Knafou (2001).
221
de água e dos remanescentes florestais decorrente das políticas para o desenvolvimento
sustentável e da agroecologia (mapa 7).
Nas visitas se percebeu o continuum rural-urbano. Posição defendida por
Wanderley (2001) que considera o contínuo rural urbano como uma relação que
aproxima e integra dois polos extremos e, nessa perspectiva, as relações entre o
campo e a cidade não destroem as particularidades dos dois polos e, por conseguinte,
não representam o fim do rural, mas que, ao contrário, revalorizam as representações
do rural e do urbano, representações estas que "...reiteram diferenças significativas,
que têm repercussão direta sobre as identidades sociais, os direitos e as posições
sociais de indivíduos e grupos, tanto no campo quanto na cidade" (WANDERLEY,
2001, p.33).
Outros autores trabalham com o continuum de forma diferenciada (KAGEYAMA,
2008, p.115). A autora reconhece que é grande a heterogeneidade dos territórios
rurais no Brasil, colocando como exemplo da RM de Campinas, pelo que reclama a
necessidade de uso das estatísticas disponíveis para identificar as regiões109. A posição
assumida neste trabalho é que o espaço rural de RMC, na Região Turística das
Rotas do Pinhão, não podia ser analisado apenas como um transbordamento do
aglomerado urbano – mesmo que esse seja um dos processos mais intensos e a
mancha urbana avance sobre todo o núcleo urbano central –, nem como atrasado
em relação à modernidade do urbano.
109 Analisando a RMC de Campinas, a autora destaca a existência de: a) um rural em extinção, com
predomínio de áreas improdutivas e loteamentos urbanos; b) uma área de predomínio da agricultura
familiar, área marcada pela imigração europeia e atividades não agrícolas de lazer; c) outra área
de predomínio de pequena propriedade rural familiar, com agricultura dinâmica combinada com
atividades não agrícolas; d) áreas rurais de grande diversidade, com propriedades improdutivas,
clubes, atividades de lazer, ao lado de uma outra de agricultura moderna e intensiva; e) áreas de
proteção ambiental (APAs), não produtiva, com a presença de loteamentos, especulação imobiliária e
lazer (gastronomia e haras); e d) com menor expressão área de pequenos produtores hortifrutícolas,
orgânicos com atividades de turismo e preservação ambiental. Como pode ser observado, o
descritivo realizado ajusta-se bem à Região Metropolitana de Curitiba.
222
A proposta perpassa pela identificação com o lugar de convergência entre
urbano e o rural, com um modo de vida local, resultado do encontro entre o modo de
vida rural e o modo de vida urbano – que se transforma e sobrevive sob diversas
práticas, dentre as quais o turismo rural é das mais importantes.
O rural metropolitano não é sinônimo de agrícola (GRAZIANO DA SILVA, 2002),
há uma crescente influência da sua condição de periurbanidade e do movimento
pendular da população e, embora o mercado seja um ponto de convergência, é ao
mesmo tempo a arena de disputa dos recursos públicos disponibilizados pelas
políticas ou do fluxo de visitantes que cresce sem qualquer monitoramento: as
lógicas do rural ali manifestadas vão servindo de marco referencial para estudos
mais abrangentes de seus efeitos no desenvolvimento do território.
As informações do banco de dados da EMATER, apresentadas no capítulo
anterior e nas tabelas 17 e 18 a seguir, reforçam a ideia de continuum na área
periurbana do aglomerado urbano de Curitiba. Desagregado por município se apresenta
um resumo do total dos produtores atendidos, dos sistemas de produção, dos
processos de comercialização e seus atividades principais foram resumidas a seguir,
num total de 1964 propriedades, 187 das unidades são atendidas dentro da
atividade estruturante do turismo rural.
Segundo informações da EMATER (ENTREVISTA, 2011), até o momento, a
metodologia utilizada para atendimento varia entre atendimento no escritório, visitas,
caminhadas, reuniões de dinamização, excursões de acolhida e receptivas, encontros,
reuniões práticas e cursos (EMATER, 2012). E as categorias de público atendido pelo
projeto turismo rural variam entre agricultor familiar (lei federal), agricultor patronal,
trabalhador rural, jovem rural, mulheres, assentados e outros (para um total de 187
atendidos em 2010/11). Um total de oito técnicos. Ressalte-se o alto número de
propriedades com meio ambiente concentradas em áreas florestais e reservas de
mananciais dos municípios periurbanos, o que converge com a descrição feita pela
autora (KAGEYAMA, 2008).
223
TABELA 17 - NÚMERO DE PROPRIEDADES ATENDIDAS PELOS EXTENSIONISTAS DA EMATER/PR NA RMC,
SEGUNDO TIPO DE ATIVIDADE DEMANDADA - 2010
MUNICÍPIO
TOTAL
PROPRIE-
DADES
ATENDIDAS(1)
TOTAL
TURISMO
RURAL(2)
AGROIN-
DUSTRIA
ARTESANATO
LOCAL NO
TURISMO
RURAL
AQUICULTURA
E PESCA
MEIO
AMBIENTE(3)
Adrianópolis ...
Agudos do Sul ... ... ... ... ...
Almirante Tamandaré 151 ... 8,0 ... ... 147
Araucária 191 ... 4 9 ... 185
Balsa Nova 83 58 12 12 ... 20
Bocaiúva do Sul 61 4 20 12 36
Campina Grande do Sul 144 4 2 17 111 13
Campo Largo 35 ... 5 18 1 11
Campo Magro 135 ... 3 ... 60 83
Campo do Tenente 11 ... ... ... 11
Cerro Azul 18 1 17
Colombo 88 2 14 ... ... 72
Contenda 4 ... ... ... ... 4
Curitiba ... ... ... ... ...
Doutor Ulysses 36 ... ... ... ... 36
Fazenda Rio Grande 14 ... ... ... 14
Itaperuçu 4 ... ... ... 4
Lapa 67 ... 17 2 ... 49
Mandirituba 37 9 3 22 ... 6
Pién 369 ... ... ... ... 350
Pinhais 1 ... ... ... ... ...
Piraquara 1 ... ... ... ... ...
Quatro Barras 56 47 2 3 1 1
Quitandinha 51 ... 5 49 ... 26
Rio Branco do Sul 3 ... 1 ... ... 1
Rio Negro 47 ... ... ... ... 36
São José dos Pinhais 267 37 4 ... 84 144
Tijucas do Sul 90 30 61 ... ...
Tunas do Paraná ... ... ... ... ... ...
TOTAL(4) 1.964 187 85 198 276 1.249
FONTE: EMATER (2010)
(1) Refere-se ao total das propriedades atendidas pelos extensionistas em cada um dos municípios da RMC; existem
municípios sem atendimento.
(2) O atendimento a propriedades do turismo rural pela EMATER é dividido em subgrupos como Mulheres, Jovens, Cooperativas,
Outros, em razão de focar na implementação das políticas públicas e não nos atores que a recebem nas comunidades,
optou-se por apresentar o total apenas.
(3) Em função da localização geográfica dos estabelecimentos rurais o atendimento à atividade de meio ambiente pode
derivar em práticas e manejo agroflorestais (Piên, Lapa) educação ambiental ou produção olerícola orgânica, para evitar a
contaminação ambiental dos mananciais (Araucária, Almirante Tamandaré, Colombo, Campo Magro, São José dos Pinhais).
(4) O total da soma das colunas não é igual, necessariamente, ao total geral. Há propriedades que são atendidas por mais de
uma combinação de atividades, como, por exemplo, meio ambiente a aquicultura e pesca; ou agroindústria e artesanato
local; ou, ainda, turismo rural e artesanato, o que de fato demonstra a possibilidade de combinações das ocupações agrícolas
com as não agrícolas.
224
TABELA 18 - PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DO NÚMERO DE PROPRIEDADES ATENDIDAS PELOS EXTENSIONISTAS
DA EMATER /PR NA RMC, SEGUNDO TIPO DE ATIVIDADE DEMANDADA - 2010
MUNICÍPIO
TOTAL
PROPRIE-
DADES
ATENDIDAS(1)
TOTAL
TURISMO
RURAL(2)
AGROIN-
DUSTRIA
ARTESANATO
LOCAL NO
TURISMO
RURAL
AQUICUL-
TURA E
PESCA
MEIO
AMBIENTE(3)
Adrianópolis ... ... ... ... ... ...
Agudos do Sul ... ... ... ... ... ...
Almirante Tamandaré 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 97,35
Araucária 100,00 0,00 2,09 4,71 0,00 96,86
Balsa Nova 100,00 69,88 14,46 0,00 0,00 24,10
Bocaiúva do Sul 100,00 0,00 6,56 0,00 19,67 59,02
Campina Grande do Sul 100,00 2,78 1,39 11,81 77,08 9,03
Campo Largo 100,00 0,00 14,29 51,43 2,86 31,43
Campo Magro 100,00 0,00 2,22 0,00 44,44 61,48
Campo do Tenente 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00
Cerro Azul 100,00 0,00 5,56 94,44 0,00 0,00
Colombo 100,00 2,27 15,91 0,00 0,00 81,82
Contenda 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00
Curitiba ... ... ... ... ... ...
Doutor Ulysses 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00
Fazenda Rio Grande 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00
Itaperuçu 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00
Lapa 100,00 0,00 25,37 2,99 0,00 73,13
Mandirituba 100,00 24,32 8,11 59,46 0,00 16,22
Piên 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 94,85
Pinhais 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Piraquara 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Quatro Barras 100,00 83,93 3,57 5,36 1,79 1,79
Quitandinha 100,00 0,00 9,80 0,00 0,00 50,98
Rio Branco do Sul 100,00 0,00 33,33 0,00 0,00 33,33
Rio Negro 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 76,60
São José dos Pinhais 100,00 13,86 1,50 0,00 31,46 53,93
Tijucas do Sul 100,00 33,33 0,00 67,78 0,00 0,00
Tunas do Paraná ... ... ... ... ... ...
TOTAL(4) 100,00 9,52 4,33 10,08 14,05 63,59
FONTE: EMATER (2010)
(1) Refere-se ao total das propriedades atendidas pelos extensionistas em cada um dos municípios da RMC, existem
municípios sem atendimento.
(2) O atendimento a propriedades do turismo rural pela EMATER é dividido em subgrupos como Mulheres, Jovens,
Cooperativas, Outros, em razão de focar na implementação das políticas públicas e não nos atores que a recebem nas
comunidades, optou-se por apresentar o total apenas.
(3) Em função da localização geográfica dos estabelecimentos rurais o atendimento à atividade de meio ambiente pode
derivar em práticas e manejo agroflorestais (Piên, Lapa) educação ambiental ou produção olerícola orgânica, para evitar a
contaminação ambiental dos mananciais (Araucária, Almirante Tamandaré, Colombo, Campo Magro, São José dos Pinhais).
(4) O total da soma das colunas não é igual, necessariamente, ao total geral. Há propriedades que são atendidas por mais de
uma combinação de atividades, como, por exemplo, meio ambiente a aquicultura e pesca; ou agroindústria e artesanato local;
ou, ainda, turismo rural e artesanato, o que de fato demonstra a possibilidade de combinações das ocupações agrícolas
com a as não agrícolas.
225
3.3 PESQUISA DE CAMPO COM EXTENSIONISTAS DA EMATER
A aplicação do questionário (Apêndice 2), elaborado a partir da Oficina de
Planejamento Subsídios ao Plano Nacional de Turismo Rural (EMBRATUR, 1998),
permitiu o mapeamento e visualização da situação atual das políticas públicas para o
turismo rural na Região Rotas do Pinhão a partir levantamento dos obstáculos
encontrados na sua implementação. Naquela época foram avaliados nove itens, aos
quais se agregaram outros dois. As áreas avaliadas foram: a) a falta de regulamentação
das atividades do segmento; b) a informação e comunicação deficientes; c) pouca e
nenhuma articulação institucional; d) incentivos insuficientes ao turismo rural; e) pessoal
ocupado pouco capacitado; f) o pouco envolvimento das comunidades locais;
g) precariedade da infraestrutura; h) política pública de infraestrutura básica pouco
representativa; i) promoção e comercialização ineficiente do produto turismo rural;
j) programas que serviram de alavanca para o turismo rural no período; k) o futuro do
turismo rural na RMC.
A estrutura do questionário foi com perguntas fechadas e de múltipla escolha
sem valoração. No caso do questionário, foi aplicado via internet para os técnicos
extensionistas da EMATER na RMC, sendo uma amostra intencional. Houve certa
demora na resposta dos extensionistas à pesquisa, pois os formulários foram
enviados em data que coincidiu com o fechamento dos relatórios anuais da EMATER.
O formulário foi elaborado pelo GOOGLE DOCs. Foram enviados 29 questionários,
considerando os atuais técnicos e os antigos, muito dos quais ocupam posições fora
do trabalho de extensão, nas prefeituras ou em outras escalas da própria instituição.
Desses responderam 09 e 04 formulários ficaram invalidados110.
110 Checando os dados do Planejamento da EMATER, os técnicos respondentes foram os que
atuaram ativamente desde a década dos anos 90 nos primórdios da implementação dos trabalhos
do turismo rural na Região Metropolitana.
226
A vantagem do sistema na aplicação de questionários dirigidos com perguntas
fechadas é seu rápido manuseio e posterior tabulação, embora represente inicialmente
a necessidade de domínio das ferramentas da internet e de conhecimentos mínimos
de informática para quem preenche o formulário. O resultado já vem tabulado e seu
resultado em gráficos, o que permite uma rápida visualização. Os dados coletados nas
pesquisas de campo foram analisados por meio da Estatística descritiva, utilizando-se,
em alguns casos, o programa Excell e, apresentados em tabelas, figuras e gráficos
a seguir.
a) Falta de regulamentação das atividades do segmento. No gráfico 1, a
articulação das ações do Turismo com as demais políticas e órgãos governamentais
é percebida pelos técnicos extensionistas. Ainda se dá de maneira limitada diante
das necessidades e da característica multidimensionalidade e interdisciplinaridade
que envolve a atividade. Assim 60% das respostas acusaram a falta de interação
das diferentes legislações vigentes, seja para agricultura, seja para desenvolvimento
rural e turismo no espaço rural (gráfico 9).
GRÁFICO 9 - ATIVIDADES DO SEGMENTO NÃO REGULAMENTADAS
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
227
b) A informação e comunicação deficientes. Embora a existência de programas
de trabalho, diretrizes e normativas que amparam o turismo rural (ver Anexo 1), o
processo de comunicação e de informação sofre com a falta de uniformização da
linguagem para o turismo rural e com a falta de mapeamento do que se faz e quem
faz (40%, respectivamente). E isso é indicativo de que as agências e os agentes
tomam decisões a partir de seus planos de trabalho ou não tomam pela falta de
definições, mas também porque não interatuam (gráfico 10).
GRÁFICO 10 - INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
c) Pouca e nenhuma articulação institucional. Analisando as políticas públicas
do turismo nacional, Santos Filho (2008) já alertava para os riscos e as fragilidades
implicadas na parcialidade de programas isolados dentro de um segmento tão
complexo como o turismo. No turismo rural a falta de articulação dos atores exigiria
um alinhamento estratégico de todos os planos, programas e projetos já estabelecidos
para a região, que possa impactar diretamente o setor turístico e toda sua cadeia
produtiva, com objetivo de sistematizar o processo de gestão destas informações,
monitorar os resultados e retroalimentar os próprios programas e planos estabelecidos
(gráfico 11).
228
GRÁFICO 11 - ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
Os técnicos alertam para a falta de tradição de trabalho em parceria intra e
interinstitucional (40%); para a pouca ou nenhuma eficácia do papel da governança
metropolitana do turismo na região, na inexistência de uma estrutura gerencial de
fomento à atividade, e para a desconfiança mútua entre o setor público e o setor
privado (20% cada uma, respectivamente).
d) Incentivos insuficientes ao turismo rural. Há na atividade turística um
processo natural de informalidade no tratamento e organização do estabelecimento
no Paraná (IPARDES, 2008). Essa característica é exacerbada no turismo rural das
Rotas do Pinhão, e é uma realidade com a qual lidam diretamente os extensionistas
rurais, daí porque a maioria indica como um sério obstáculo a ser enfrentado pela
rigidez das normativas vigentes. As exigências de garantias que demandam ao
produtor rural a formalização da atividade é um empecilho não só para o dono de
uma pousada, ou de um restaurante rural, mas também para aquele que produz
produtos agroindustriais para consumo (gráfico 12).
229
GRÁFICO 12 - FALTA DE INCENTIVOS AO TURISMO RURAL
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
e) Pessoal ocupado pouco capacitado. A atividade de turismo rural exige,
além da informação necessária para interagir com os demais elos das políticas para
o desenvolvimento de regiões, que os agentes estejam preparados para ajudar a
enfrentar desafios comuns dos produtores rurais, numa atividade que por sua natureza
impõe certos cuidados. Assim, os técnicos extensionistas numa visão autocrítica
reconhecem que os agentes não estão preparados ou motivados o suficiente para o
incentivo à atividade (40%) (gráfico 13).
GRÁFICO 13 - PERCEPÇÃO SOBRE A CAPACITAÇÃO PARA O TURISMO RURAL
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
230
Somam-se a essa visão crítica, o fato que a capacitação ocorre de forma
dissociada e descontínua (20%), o desconhecimento dos técnicos locais do turismo
das peculiaridades da atividade rural (20%) e do pouco ou nenhum conhecimento
gerencial dos próprios técnicos (20%).
f) Pouco envolvimento das comunidades locais. Chama a atenção da avaliação
dos técnicos para a falta de visão sistêmica existente na região. Quarenta por cento
deles apontam que há desconhecimento do turismo rural e das possíveis manifestações
culturais, sociais e ambientais. Se não é crítico, é importante sublinhar que esse
desconhecimento pode abrir espaço para a descaracterização, do produtor, da atividade,
da cultura e dos cuidados com o meio ambiente que estão contidos no discurso e
nos programas e políticas para o setor.
Persistem, ainda, a desarticulação entre os segmentos produtivos locais
(serviços e produtos para o turismo) e a falta de conhecimento técnico geral sobre a
atividade (20% cada uma das respostas, respectivamente) (gráfico 14).
GRÁFICO 14 - NÍVEL DE ENVOLVIMENTO DAS COMUNIDADES LOCAIS
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
g) Precariedade da infraestrutura. Enquanto o item capacitação avaliava o
técnico extensionista e seu relacionamento com a implementação das políticas de
suporte para as propriedades rurais, neste item são avaliadas as propriedades da
231
RMC. Das respostas, uma ampla concentração aponta a informalidade do produtor
rural no tratamento de questões como segurança, higiene, conforto e privacidade
(80%) como o principal obstáculo que persiste no meio rural para o desenvolvimento
da atividade (gráfico 15).
GRÁFICO 15 - PRECARIEDADE DA INFRAESTRUTURA DA REGIÃO ROTAS DOS TROPEIROS
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
Já em menor grau, mostra que há proprietários com interesse, porém a
infraestrutura da propriedade é limitada para o desenvolvimento da atividade (20%).
h) Política pública de infraestrutura básica pouco representativa. Embora já
ocorram investimentos na sinalização turística do espaço rural metropolitano, esse
aspecto é ainda considerado um problema. A sinalização existente é adequada aos
produtores rurais, porém não aos turistas (gráfico16).
232
GRÁFICO 16 - POLITICA PUBLICA DE INFRAESTRUTURA
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
As dificuldades naturais de falta de serviços de saúde e segurança aparecem
elencadas, diferentemente da eletrificação rural, o que foi superado com o investimento
nos programas de eletrificação rural do Estado.
i) Promoção e comercialização ineficiente do produto turismo rural.
A comercialização é um tema tabu dentro da porteira dos empreendimentos rurais e
fora dela. Somada à preocupação permanente de formatação de produtos turísticos,
essa preocupação se torna inibidor de processo. As preocupações dos agentes
extensionistas são múltiplas e atendem ao compromisso de serem eles os incentivadores
da melhoria da qualidade de vida e da sustentabilidade das pequenas propriedades
atendidas. Parte do sistema de comercialização rural já está estabelecida, com centrais
de abastecimento regionais no aglomerado urbano de Curitiba, com as feiras organizadas
na cidade de Curitiba onde participam muitos produtores (gráfico 17).
233
GRÁFICO 17 - PROMOÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
O grande entrave no turismo rural metropolitano na visão dos extensionistas
gira em torna das dificuldades dos produtores rurais em entender como funciona o
sistema de comercialização do turismo para disponibilizar os produtos turísticos (60%).
Todas as alternativas foram pontuadas, ressalte-se que os extensionistas
reconhecem que o mercado consumidor do turismo rural metropolitano é conhecido,
ao ser a alternativa que menos pontuação obteve.
j) Programas que serviram de alavanca para o turismo rural no período111.
A questão quis verificar o uso dos programas, nacionais e estaduais, por parte das
propriedades rurais metropolitanas e o incentivo dado pelos técnicos para participar
dessa atividade, que requer um mínimo de envolvimento na organização dos produtos
a serem oferecidos. Na visão dos extensionistas, as caminhadas da natureza vêm
exercendo esse papel de forma mais ativa (40%) (gráfico 18).
111 A mesma pergunta foi realizada nas entrevistas, cujo resultado se apresentará mais adiante.
234
GRÁFICO 18 - PROGRAMAS QUE ALAVANCAM TURISMO RURAL
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
k) O futuro do turismo rural na RMC. Da mesma forma, houve o interesse de
conhecer a preocupação com o futuro do turismo rural desses agentes da política
pública de extensão rural. A maior parte espera uma ação mais efetiva no envolvimento
da comunidade para o desenvolvimento do turismo rural (40%) (gráfico 19).
GRÁFICO 19 - O QUE SE ESPERA DO FUTURO DO TURISMO RURAL (%)
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
Não obstante, há certa consciência de que na região outros problemas são
aviltantes, tais como a organização da governança regional que atenda às demandas
do turismo rural (20%), melhoria do entendimento dos agentes do turismo rural como
parte da política pública do desenvolvimento rural e da pluriatividade (20%) e que a
formatação de produtos ganhe autonomia (20%).
235
Pelos resultados alcançados na pesquisa, pode-se chegar a algumas conclusões
a respeito do das relações do turismo rural e o possível papel que ele venha a
exercer na condição de atividade não agrícola. Uma delas é que na Região Turística
Rotas do Pinhão, o transbordamento de atividades não agrícolas para o meio rural,
geridas por proprietários majoritariamente vinculados à pequena produção familiar e
praticadas por empreendedores que residem na área urbana, pode ser indicativo do
uma crescente urbanização do rural, mas não por isso, sinal de uma integração
sistêmica dos distintos setores da economia, muito menos, de uma abertura para o
desenvolvimento regional como induz a pensar a proposta do Novo Rural de Graziano
da Silva e Del Grossi (1999).
Há um ar de romantismo na proposta do Novo Rural que remete a estabelecer
uma relação direta entre o tempo livre das famílias rurais e a vontade de gerar outras
rendas não agrícolas. Pelas respostas dos extensionista se repara que há resistências
de ambos os lados, tanto dos agentes que não tem interesse em conhecer essas
formas (novas) de geração e gestão da propriedade rural que o turismo e outras
atividades não agrícolas podem trazer. Foram mencionadas também a falta de
integração interagências e a necessidade de agir regionalmente de forma integrada,
além da falta do entendimento da atividade rural pelos técnicos do turismo, o implica
desconhecer os ciclos produtivos, os valores culturais e de patrimônio que eles
representam e que muitas vezes são deturpados pela imperiosa necessidade de
colocar produtos na prateleira do supermercado do turismo112.
Também há resistência dos por parte dos produtores rurais, que inicialmente
induzidos a fazer mais uma atividade (permanente), muitas vezes abandonam o
processo, seja porque não recebem o suporte devido para o início de uma atividade
nova e desconhecida, seja pela falta de interesse de renunciar ao ócio ou ao desfrute
112 Em alusão ao salão do turismo de 2011, cuja propaganda maior era uma prateleira de supermercado
com um carrinho cheio de "produtos" turísticos.
236
da sua aposentadoria113. Há, contudo, potencialidades que não podem descartar as
heterogeneidades sobre as quais se iniciou o processo na década de 1990 e que
tem permitido, no período em análise, alongar até com resignação os problemas
já existentes.
Silveira (2008) sublinha que no plano econômico, essas formas alternativas de
turismo seriam vistas como uma opção para o desenvolvimento de regiões e localidades,
cujas características as identificam como espaços rurais ou espaços naturais protegidos,
ou simplesmente lugares que possuem recursos naturais e culturais não degradados
e potencialmente exploráveis para fins turísticos. Outro aspecto destacado é que
esses tipos de turismo foram apresentados com uma formatação diferenciada do
produto turístico convencional ou de massa, na medida em que eram planejados
como turismos especializados, geralmente praticados em pequena escala, assim
como seu desenvolvimento, pois, além de ser economicamente viável, deve ter como
princípios a preservação do meio ambiente e a promoção do bem-estar das populações
locais114 (WHELAN, 1991; LINDBERG; HAWKINS, 1995; WAHAB; PIGRAN, 1997;
RODRIGUES, 1997; RUSCHMANN, 1997; PERES DE LAS HERAS, 1999; SWARBROOKE,
2000, apud SILVEIRA, 2008). Sobre esse ponto e sobre a base das entrevistas
realizadas vamos discorrer e analisar na próxima secção.
Apesar do lapso temporal entre o primeiro diagnóstico realizado pela EMBRATUR
e as ATER em 1999 e a data de realização da pesquisa (2011), ainda persistem na
RMC os mesmos problemas diagnosticados para o desenvolvimento do turismo no
espaço rural. Desse fato se deduz que esforços realizados no período para tentar
113 Em entrevista realizada com o técnico Gil Polidoro (2012), um dos personagens da primeira proposta
da proposta dos circuitos turísticos da Região Metropolitana, menciona do constrangimento
alguns donos de chácaras que entusiasmados com a proposta inicial abriram inicialmente para
visitação e que depois de um tempo abandonaram a ideia de participar pelo incômodo que gerava
na família a visitação de "estranhos" (POLIDORO, 2012).
114 Para detalhes, ver LINDBERG, K.; HAWKINS, D. E. Ecoturismo: um guia para planejamento e
gestão. São Paulo: SENAC, 1995; PIGRAN, J.J.; WAHAB. S. Tourism, development and growth:
the challenge of sustainability. Londres: Routledge, 1997.
237
fortalecer produtos turísticos em torno dos empreendedores rurais, ou dos pequenos
produtores da agricultura familiar que conformariam o chamado capital social regional,
ficaram limitados sem a devida cobertura e implementação integrada das políticas
públicas por parte dos agentes. O esfacelamento das políticas entre os distintos
setores atuantes em suas diversas escalas, as limitações de integração interagências
e a falta de continuidade (por as mais diversas causas na qual a orçamentária é
preponderante) fizeram com que o quadro de precariedade desenhado na década
de 1990 para todo o país ainda persistisse em 2011 nas Rotas do Pinhão - RMC,
mostrando a ineficácia de esforços isolados no fortalecimento da atividade que
prometia ser uma alternativa para o desenvolvimento.
3.4 ANÁLISE DO RESULTADO DAS ENTREVISTAS QUALITATIVAS
Para as entrevistas, foram implementadas algumas formas de formulários
direcionados a discernir entre as diversas escalas de aplicação das políticas públicas
do turismo rural, dos distintos agentes, das instituições vinculadas ao sistema da
agricultura no Estado, bem como por parte dos departamentos e (ou) unidades de
gestão do turismo das prefeituras do NUC, fundamentais na construção dos circuitos
turísticos e no fortalecimento da regionalização do turismo nas Rotas do Pinhão -
RMC. Algumas perguntas foram comuns em todas as modalidades (entrevistas e
questionários) tentando identificar as áreas de sombreamento na arena da execução
de tais políticas para tentar identificar os gargalos da sua implementação, conforme
os referenciais teóricos da multifuncionalidade da propriedade rural, e do
desenvolvimento (territorial) de regiões turísticas no Brasil, como relacionado no
quadro 7, antes apresentado.
238
Os agentes foram entrevistados em relação a eventos concretos sobre o
desenvolvimento, usando como pano de fundo os tópicos levantados no diagnóstico,
quais sejam:
a) A existência de assimetrias e heterogeneidades no desenvolvimento dos
municípios da Região Metropolitana. Essa heterogeneidade se expressa
também nas formas de apropriação do espaço para o turismo rural
(PEARCE, 2003; CRUZ, 1999, 2006, 2007; RODRIGUES, 1996, 2006;
SILVEIRA, 2002, 2009).
b) A percepção de um descolamento das formas de tratamento do turismo
rural quer seja na agricultura familiar, quer na agricultura patronal, chamada
também de agricultura não familiar. Pode ser um sintoma da falta de
conhecimento dos agentes envolvidos na implementação do arcabouço
teórico e das normas de planejamento e gestão; mas, também, que a
fragmentação seja um efeito da forma como as políticas públicas vêm
sendo desenhadas e implementadas (SOUZA, 1998) (normativas, de
forma setorial com orçamentos limitados para ações específicas desde e
para determinadas parcelas da população local). Também pode ser
produto da falta de articulação entre os agentes que em suas diversas
escalas atuam no espaço rural metropolitano.
c) A existência de conflitos interagências não fortaleceu a regionalização
turística, nem os arranjos institucionais em torno de instâncias de
governança turística; tampouco a implementação das política públicas
para o desenvolvimento rural. Outras questões foram direcionadas a
entender o envolvimento desses agentes com o mercado e de seu
relacionamento com a política pública do desenvolvimento rural (BRANDÃO,
2007; AROCENA, 2001; BOISIER, 1992). As entrevistas aconteceram com
uma pauta de análise que envolveu três blocos com grupos de variáveis,
dimensionadas a partir de Cruz (2006, p.345) apresentadas no quadro 8
deste trabalho, e que se detalham a seguir.
239
3.4.1 Região e regionalização no turismo rural e o desenvolvimento (regional,
territorial) - uma visão desde as esferas federal e estadual
O interesse neste bloco foi o de identificar as lógicas que pautaram as
transformações da região e geração de riqueza, e o interesse pela atividade turística
no meio rural metropolitano. Opiniões sobre conceitos desenhados e aplicados na
regionalização turística, vínculo das políticas públicas federais de regionalização
turística e do turismo rural (MTUR) e do desenvolvimento e do turismo rural na
agricultura familiar (MDA) identificando práticas e conflitos gerados a partir da
implementação das políticas setoriais. Grau de interesse, metodologias e divergências
práticas e o envolvimento institucional e as escalas ou também chamada ação
transescalar (CRUZ, 2006; BRANDÃO, 2007).
A posição dos agentes (02 do governo federal, 03 do governo estadual)
variou em torno de um leque que iniciava no desconhecimento total da política pública
de regionalização turística, até aqueles que, mesmo reconhecendo a política,
argumentaram que ela veio a reforçar as práticas já existentes no Estado
(ENTREVISTAS, 2011)
"A gente não lidou diretamente com o turismo. Eu sei assim, en passant da
POLÍTICAS Nacional do Turismo porque de fato o Brasil tem múltiplas
situações (de turismo) como no Nordeste, de clima, de atrativos, mas não
sabia da regionalização." (AGENTE DO MDA, 2011).
"A discussão de região, e em particular, da RMC é uma discussão de
conveniência. Veja só, é uma influencia da política pública, será que o Vale
do Ribeira se identifica com a Região Metropolitana? Não. Talvez ela tenha
mais identidade como território de cidadania, isso é uma grande forçada da
política pública, eu não entendo qual seja a vantagem desses municípios
estarem na RMC, do Vale até o Rio Negro [...] a pergunta é se as pessoas
se identificam? Se reconhecem?, não tem identidade nem sequer nas
formas de vida. Em Tunas chegou o telefone celular o ano passado (2010)".
"Meu conhecimento sobre regionalização é muito superficial, já li alguns
documentos, conheço basicamente a questão dos destinos indutores... e
volto a falar, visões unilaterais, economicistas falando de potencialidade do
turismo, três destinos que vão desenvolver regiões." (AGENTE DA UFPR-
ITCP, 2011).
240
"Mesmo sem ter uma política de regionalização do turismo a gente antevia a
regionalização... porque esses roteiros iriam se consolidar com os curitibanos
que não necessariamente iriam dormir no roteiro. Foi pensada até a possibilidade
de diferenciar os risotos, os risotos dos italianos de Santa Felicidade são
diferentes dos (risotos dos) italianos de Colombo" [...] "O governo que
entrou não entendeu, alguns municípios conseguiram dar continuidade, a
Secretaria de Assuntos Metropolitanos (de Curitiba) tentou segurar a onda e
congregou um grupo de técnicos que organizou o Fórum Metropolitano."
(COMEC, 2012).
"A propósito da regionalização devo reforçar que a ação da EMATER no
estado foi sempre regionalizada, defendendo as características das regiões,
tanto é que no nosso processo de planejamento, o primeiro trabalho que o
técnico deve fazer é um levantamento da realidade municipal e a análise da
região com base às características socioeconômicas encontradas. É com
base nesse diagnóstico que ele vai propor as ações e estimular atividades."
(AGENTE DA EMATER, 2012b). (Seleção de respostas às entrevistas
organizadas pelo autor, 2012).
Entre as críticas dos entrevistados em relação à regionalização turística,
podem ser destacadas algumas como a de ter ocorrido um distanciamento entre o
turismo (MTUR) e o MDA (PRONAF). Na visão do delegado regional do MDA esse
distanciamento ocorreu pela sobreposição do turismo na política dos territórios rurais
em regiões como Amazonas, Norte e Nordeste, mas isso não ocorreu no Sul e Sudeste.
Inicialmente o desenho da política foi focado na agricultura familiar nos municípios com
a proposta de integrar uma série de instrumentos obrigatórios para todos os municípios
que aderirem à proposta, portanto "nosso foco sempre foi a agricultura familiar. A gente
olha onde tem agricultura familiar e estabelece alguns convênios e contratos; no Paraná
com a Fundação Terra, com a UNIOESTE, com a ECOPARANÁ, sem olhar diretamente
(se os recursos eram direcionados). para a RMC" (ENTREVISTA MDA, 2011).
Por força dos agentes da escala federal um ponto de inflexão na análise da
regionalização o foi o Vale do Ribeira. Assim, das formas que os agentes implementaram
as políticas no território, afloraram conflitos institucionais pela desarticulação das
políticas por não poder enfrentar o peso da estrutura socioeconômica local nem a
sua influência no desenvolvimento da atividade turística (BRANDÃO, 2007).
241
"O Vale do Ribeira na RMC não significa praticamente nada politicamente
falando, no colegiado do territorial do Vale aflorou como um assunto
importante a discussão do turismo, estão numa situação muitíssimo precária...
a gente sabe que o turismo exige um certo nível de capital e bastante
conhecimento, e sobre tudo capacidade empreendedora, por isso que não
surgiu nenhum projeto de turismo que a gente tenha apoiado. Diferente do
Oeste, onde a agricultura familiar tal vez tenha menos precisão de outro
estado mas esta mais estruturado e poderia agregar valor ao ganha pão de
alguns produtores, e onde tem um grupo de atores que acompanham o
processo e movimentam a atividade [...] A gente acompanhou várias
iniciativas dos circuitos da RMC, em São Jose dos Pinhais, Araucária, e tal.
Não foi um apoio estruturante, mas apoio a organização da rede TRAF para
que o estado pudesse dialogar nacionalmente, trocar experiências, construir
conceitos como o do turismo rural, e do turismo rural na agricultura familiar"
(AGENTE DO MDA, 2011). (No Vale do Ribeira)... "Nos estamos falando de
outros laços. Para discutir (a região) tem muito mais do que simplesmente
espaço geográfico, ela tem pessoas, ela tem cultura, ela tem costumes,
relações sociais, fala-se muito em capital social (BOURDIEU, 1996)... ela
tem um conjunto de temas, natureza, que esta tudo imbricado [...] Tal vez na
diversidade do Vale do Ribeira esta presente essa diversidade, mas
estamos trabalhando (na política publica dos territórios) com um elemento
único, eles não se reconhecem pelo IDH, nem tampouco por ser bacia do
Vale do Ribeira, tem que procurar novos elementos aglutinadores... Temos
que partir do principio da equidade, ou eu reconheço as diferenças e tento
resolvé-las tratando do fator cultural de cada um dos municípios, ou a
discussão de região e território pode ser perdida. Temos que buscar outros
elementos aglutinadores do Vale, a riqueza esta na diversidade."... "E estou
trabalhando na região desde 2000. A temática do turismo desapareceu do
conselho de desenvolvimento territorial do Vale do Ribeira (e só retornou
agora em 2011). Porque não se fortaleceu?... porque a fragmentação do
conselho esta posta... a COMEC não participava ate 2010. Mal e mal o
Conselho de Desenvolvimento dos Territórios Rurais - CDRT dos prefeitos,
participa... Não existe unicidade para trabalhar o território. Até o trabalho da
unicidade do território, tem descontinuidade, no plano de desenvolvimento.
Citrus e reflorestamento vai aparecer no plano de desenvolvimento? Minério
ficou de fora? Pode? Empresas multinacionais explorando o reflorestamento
e não participam no conselho." (AGENTE DA UFPR-ITCP, 2011). (Seleção
de respostas à entrevistas organizadas pelo Autor, 2012).
Além das contradições quanto ao possível desenvolvimento do turismo rural
no Vale do Ribeira por parte dos agentes federais e estaduais, informações obtidas
sobre os investimentos do MDA no Vale do Ribeira no Paraná no ano de 2009
(primeiro ano do investimento) demonstram que o Vale do Ribeira em primeiro lugar,
mesmo recebendo apenas 49% do valor programado para investimento naquele
ano, obteve mais recursos do governo federal do que todos os recursos colocados
242
no orçamento do turismo no estado para o fortalecimento do turismo na agricultura
familiar; e segundo, que o Vale do Ribeira não dedicou recursos especificamente
para o grupo de atividades para o desenvolvimento do turismo rural.
TABELA 19 - MATRIZ DAS AÇÕES DO MDA NO VALE DO RIBEIRA, ESTADO DO
PARANÁ, 2009
GRUPO AÇÕESVALORES
(em R$)
Ações Fundiárias 0 0,00
Apóio à Gestão Territorial 1 800.000,00
Direitos e Desenvolvimento Social 8 15.197.504,15
Educação e Cultura 10 8.935.677,34
Infraestrutura 1 4.611.600,00
Organização Sustentável da Produção 7 10.454.111,81
Saúde, Saneamento e Acesso à Água 8 9.275.038,75
Total pago 35 49.273.932,05
Total Programado 85 100.024.912,97
Participação 41,2% 49,3%
FONTE: BRASIL. MDA (2010)
NOTA: O projeto iniciou no ano de 2008.
Quanto ao desenvolvimento, a discussão sobre o tema não se esgota na
escala, se local ou regional, mas perpassa também pela necessidade de identificar
e entender, como bem destaca Brandão (2007), que a nova construção do
desenvolvimento se apoia na dificuldade do dissenso e não na lógica do fim do
conflito. O sistema de agentes que se estabelece na região para a promoção do
desenvolvimento, e muito em particular do turismo rural, intervém de forma descontínua
e se impõe com soluções centralizadas, ignorando as construções sociais do espaço e
da região. É nesse cenário que emerge o poder da sociedade civil, da comunidade,
como um ator central nos processos de desenvolvimento regional e territorial.
Em dois momentos é mencionada nas entrevistas, lembrando o capital social e a
necessidade de mudar o caráter centralizador do Estado para uma forma mais
suscetível e permeável à participação das diversas instâncias e organizações da
sociedade civil (SCHNEIDER; TARTARUGA, 2004). Daí que nas regiões onde predomina
a agricultura familiar, como no Vale do Ribeira, a participação e o protagonismo da
sociedade civil e demais atores locais em ações voltadas para o desenvolvimento,
243
se colocam como essenciais para que este processo atenda às especificidades, às
demandas e às necessidades territoriais.
Na visão do delegado do MDA, houve avanços nos últimos anos, as
desigualdades sociais nos municípios diminuíram no período 2003-2010, mas
também diminuíram as desigualdades regionais, mas em menor escala do que as
desigualdades sociais acumulada nos municípios. Com certeza tem a ver com a
aposentadoria rural como fonte de renda e com os programas de combate à pobreza
(bolsa família) e o PRONAF do governo federal. Segundo o delegado do MDA, de 20
a 30% dos estabelecimentos rurais do Estado do Paraná têm como principal fonte de
renda a aposentadoria rural. Na Região Metropolitana não é a principal fonte de
renda, mas o seu aporte não deixa de ser considerável. Sendo assim, para um
produtor viver da produção rural exclusivamente precisa acumular uma estrutura e
conhecimento razoáveis. "Agora bem, turismo como atividade geradora de renda é
coisa para poucos. O dia que tiver 1% dos produtores rurais que agreguem o turismo
como parte de seu sistema de produção, trabalho e renda, que no máximo chegaria
a 3 mil produtores em todo o Estado, então estaremos chegando a um bom número"
(ENTREVISTA MDA, 2011). O agente federal partilha da opinião que se o Estado não
entrar com um investimento importante, o turismo rural não vai acontecer, pois o
papel do Estado não será apenas indutor, mas terá de arcar com uma parcela
da infraestrutura.
Já o ITCP sugere que as políticas públicas do turismo rural estão atreladas
ao modelo de desenvolvimento e estão cheias de "armadilhas", pois dependem de
como são implementadas e de quem as implementam. Ainda se tornam armadilhas
no momento de ser desenhadas. O modelo de desenvolvimento...
"é fragmentado. Começa na nossa estrutura de formação a fragmentação
do conhecimento... o modelo fragmentado de educação, onde nos fomos
ensinados a separar o conhecimento, é fordista, esta ai para quem quiser ver.
As pessoas não percebem que os ambientes não se dissociam. O ambiente
econômico não se dissocia em setores, isso aqui turismo, isso aqui e meio
ambiente, isso aqui é agricultura, isso aqui é saúde, isso aqui é
educação...as pessoas não se dissociam dessa discussão...vamos lá, e a
244
agroecologia o que é? Elas vão mudando de nome falando a mesma
coisa.... Depois que mergulhei mais no turismo eu sou muito crítico de
algumas coisas, como da segmentação (no turismo) eu cheguei a ver um
negócio, como é que é?... segmentação?... turismo de saúde, turismo
hospitalar?... se o cara fica doente vira turismo?... Meu amigo, significa que
os caras consideram que ir fazer um tratamento num outro centro de uma outra
cidade...isso ai é considerado turismo? Isso é demais!" (AGENTE DA UFPR-
ITCP, Seleção de respostas à entrevistas organizadas pelo Autor, 2012).
Todas essas políticas, assim como o PRONAF, deveriam em tese, aparecer
no espaço rural e promovendo o desenvolvimento daquele espaço, não para se
conectar com o global. Diante dessa realidade, o conceito de turismo rural torna-se
um dos focos da questão, no sentido de identificar se ele é um elemento importante
para o desenvolvimento o se ele apenas é um elo de integração com o mercado
(global). É quase unanimidade dos agentes de que o a atividade esta muitíssimo
ligada àquilo que pode ofertar: um pouco de paisagem, daquilo que a economia da
agricultura familiar pode oferecer produtos, agroindústria, gastronomia etc... e nenhum
proprietário consegue fazer isso sozinho (AGENTE DO MDA, 2011). O conceito do
turismo rural é um conceito em tensão com outros conceitos.
"Discutir uma tipologia do turismo rural sempre levará a interpretações, uma
Secretaria de Cultura terá uma visão, a SEMA (Secretaria do Meio Ambiente)
vai ter outra, é um desafio grande, visões distintas e parciais numa proposta
de política pública, é muito mais válido trabalhar com conceitos como
território e desenvolvimento territorial." (MDA, 2011).
"Deve ser uma atividade agregada, não a atividade principal, não de
grandes empreendimentos, mas de forma e ritmo rurais. O turismo rural
deve ser um agregador do meio urbano e o meio rural, porque tem apelo do
ritmo, de outro ambiente: um restaurante rural não é uma de Santa
Felicidade, se vai ter de esperar três horas para comer?... vai, faz parte do
ritual." (AGENTE DA UFPR-ITCP, 2011).
"Vou colocar o exemplo do Vale do Ribeira. Um recurso específico para a
região. Foram selecionados um grupo de 42 possíveis empreendedores
(produtores rurais) da região para viabilizar o turismo nos 07 municípios do
Vale. Primeira coisa que foi feito pelos colegas extensionistas, foi conhecer
os sete municípios do vale entre eles mesmos. A estratégia das reuniões
aconteciam em cada um e depois visitas técnicas das propriedades.
Posteriormente foram levados para a cidade de Araucária, conhecer o
circuito de Guajuvira e o da Acolhida da Colônia em Santa Rosa de Lima
245
Santa Catarina. Por que lá? Porque o relevo acidentado e a pobreza da
região eram similares, o clima a dificuldade de estrada, embora a etnia é um
pouco diferente. Tinha que acontecer a seguir, era que o conselho gestor do
Vale do Ribeira definisse um plano para discutir que tipo de turismo poderia
ser explorado (aventura, asa delta, rafting, e paisagismo)... Que tipo poderia
ser explorado.?.. contando com a dificuldade de chegada.... mas acabou o
dinheiro do projeto e acabou a motivação desse pessoal. Na verdade faltou
gente que tocasse o projeto, se tivesse mais um prazo. Acabou o recurso,
que veio para a EMATER, o que restou foi um recurso de capacitação
ampliando um pouco o processo de sensibilização; fizemos uma parceria
boa (com o SENAR) na região. Mas a realidade é que não temos
turismologos na EMATER." (AGENTE DA EMATER, 2011a). (Seleção de
respostas à entrevistas organizadas pelo Autor, 2012).
Na visão do ITCP, falar em tipologias é assumir a lógica do mercado. A tipologia
de turismo não deve ser pautada pela lógica do produto (turístico), pois tem uma
grande estrutura (capitalista) do turismo com uma lógica organizativa que está posta
no mercado. E, de outro lado, há o surgimento de outro turismo em que essa lógica
não está clara e que se manifesta de várias formas, pela cultura, pela agricultura,
pela dança e folclore, na pesca, na contemplação de determinados espaços etc., e
são atividades que se tornam atrativos (turísticos) pela forma diferenciada que se
estabelecem (no mercado), mas que o MTUR acaba estimulando alguma coisa que
não é natural... "se abre edital para recursos de festa religiosa, o município coloca
um santo no meio do espaço para poder meter a mão no dinheiro" (AGENTE DA
UFPR-ITCP, 2011). Isto é, as políticas públicas tendem, querendo ou não, a reforçar
e consolidar as forças do mercado, sem levar em conta a presença de um contexto
heterogêneo e desigual que pode dar lugar a impactos negativos sobre as condições de
vida e trabalho da população local e cuja relação com a região é tradicional, atrasada e
sem a menor capacidade de competição (BACELLAR, apud BRANDÃO, 2007).
Além do desenvolvimento e da produção de produtos, tem-se na outra ponta
os gestores das políticas, que "não estão preparados para trabalhar em conjunto,
eles também trabalham de forma fragmentada, não de forma agregada e estão mais
preocupados com o desenvolvimento setorial e de gestão da sua política" (AGENTE
DA UFPR-ITCP, 2011). Gestores, na opinião da COMEC, devem entender que as políticas
são políticas de Estado, não de governos, portanto propõem continuidades.
246
Os agentes tendem a promover que o produtor rural entre na atividade
turística sem ter resolvida sua condição primeira, como produtor rural, como cidadão,
com educação, saúde etc. Nesses casos o turismo torna-se uma consequência, por
mais que se queira, não é um produto. Antes da potencialidade de uma propriedade
deveriam existir a vontade e a condição, às vezes o pequeno agricultor familiar não
tem nenhuma coisa nem outra (AGENTE DA UFPR-ITCP, 2011). A crítica pertinente
remete à necessidade de distinguir que a ação pública deve atuar como animador e
sensibilizador, construindo e (ou) fortalecendo um sistema de confiança e de consenso
em torno da proposta de desenvolvimento (BRANDÃO, 2007).
A avaliação dessa situação feita pelos agentes da EMATER se relaciona com
a forma de atuação: o extensionista estabelece um plano de trabalho integrado entre
a Prefeitura e a EMATER, como principal parceiro das ações. O técnico tem toda a
liberdade de fazer a articulação com as instituições parceiras e a previsão (em
cronograma) das ações a serem desenvolvidas no ano seguinte, assim como a
previsão dentro do plano de trabalho. Tem liberdade plena dentro do escopo (seguindo
as orientações do implementador ou coordenador da atividade dentro do Estado),
negociando com as entidades parceiras dentro das capacidades da empresa sob a
orientação dos implementadores115. Quando o implementador não comunica, fica a
critério do extensionista. [...] Não há uma diretriz. Orientação, planejamento
dependem do técnico, incentivando ou não a atividade (EMATER, 2012). A grande
crítica é colocada quando a reflexão do coordenador da área lembra que todo o
trabalho foi perdido por causa da eleição, o que reforça os processos de
descontinuidade da política (SILVEIRA, 2001, p.247):
"Em 2003-2004...Fomos encarregados de coordenar o trabalho do turismo
rural na EMATER. Mas a diretoria da EMATER considerava fraca a ação do
turismo rural no Estado e o turismo de forma geral e o que funcionava
melhor foi um convenio entre o MDA (secretaria da Agricultura Familiar) e a
ECOPARANA para o desenvolvimento do turismo rural. Para esse convenio
115 Implementadores atuam como coordenadores setoriais dos projetos chamados estruturantes da
EMATER. Se tiver implementador, então o projeto ganha status. É o caso do turismo rural que
desde 2003 tem implementadores.
247
foi traçado um plano de trabalho principalmente para sensibilizar técnicos e
agricultores sobre as possibilidades de desenvolver o turismo rural fosse mais
uma fonte de renda para as propriedades e unidades. E daí a ECOPARANA
nos procurou a EMATER e começou a traçar algumas estratégias em
conjunto. [...] nós fizemos algumas ações primeiro a gente chamou o pessoal
aqui em São Luis de Purunã, os técnicos das secretarias municipais de
agricultura e técnicos (da EMATER) em São Luis de Purunã (Balsa Nova),
150 pessoas, e foi dado um curso expondo a estratégia que se pretendia
fazer, sobre a estratégia que queria fazer: um esquema de rede. Nós
pensávamos que esses técnicos após o conhecimento e um disquete, na
época, cd de instruções, foi oferecido material com um cd de instruções e
que esses técnicos quando voltassem aos seus municípios fizessem uma
reunião com os agricultores expondo o que seria esse trabalho do turismo
rural. Foi mandado fazer banner, CDs e reproduzido material foi organizada
uma logística para que os técnicos iniciassem o trabalho nos seus
municípios. Hoje, creio que a data de saída da estratégia foi errada. Foram
150 técnicos de todo o Estado... não sei quantos eram da RMC mas foi uma
ação bem pensada, como nós com poucas pernas como podíamos agilizar
(2007). Foi uma ação bem pensada, mas percebeu-se lá na frente que
houve uma eleição municipal (2008) e muitos desses técnicos de prefeituras
saíram das prefeituras" [...] "Os colegas de EMATER que se dedicam ao
turismo rural o fazem por interesse próprio, são da área de Bem estar, de
Agronomia, Pedagogas, Técnicos extensionistas, mas parte do interesse
deles, é uma coisa que não esta bem institucionalizada dentro da empresa."
(AGENTE DA EMATER, 2011a). (Seleção de respostas à entrevistas
organizadas pelo autor, 2012).
Outra crítica, interagências, foi levantada pelo MDA ao afirmar que no Estado,
além do desafio de mudar a estrutura operacional, há outra barreira a ser rompida para
que a agricultura familiar possa desenvolver sistemas de produção mais sustentáveis;
na visão do delegado regional, essa barreira está na cabeça dos técnicos das
ciências agrárias e demais agentes de desenvolvimento rural, que não mostram
interesse em novas ideias e processos, como a agroecologia e o turismo rural. Já na
visão dos técnicos da EMATER, é possível que aconteçam distorções, porém não é
o desejável.
"A visão da companherada da EMATER é uma visão setorial, diferente da
França (o país) onde eles enxergam o território, eles se preocupam com o
desenvolvimento territorial, onde se perguntam que tipo de atividade pode
gerar renda, e que pode reter a população e promover o desenvolvimento?
Ai não importa se é comércio, se é serviço, se é agricultura, o que tiver. Por
isso nas regiões mais dinâmicas do Brasil, mesmo nas RM penso que
deveria ter um pouco dessa abordagem territorial, tem gente em cidades
como São José dos Pinhais, Colombo, Campo Magro que esta vivendo de
um conjunto de coisas." (AGENTE DO MDA, 2011).
248
"EMATER tem um planejamento para dentro que transborda no município,
com algumas instituições do Estado e a partir dos projetos. Seu planejamento
setorial é implementado pelo extensionista que também recebe demandas de
outros setores (outras secretarias, incluída o turismo) e que em determinados
momentos não consegue dar conta de atender a todas as demandas que
surgem do planejamento setorial do Estado no meio rural. Tudo o que tem
de bacia hidrográfica, agenda 21, passa pela EMATER. Tem determinada
ação do turismo que pode não ser prioritária (na região e/ou município) para
a EMATER e ai o extensionista não assuma por estar com outras prioridades
(para a região e/ou município), isso pode acontecer, só que nesse caso, a
costura deve ser feita pelo implementador (do projeto)". (AGENTE EMATER,
2011b). "Outra variável: o técnico não enxerga o turismo como uma atividade
essencial para o desenvolvimento, fonte de renda para o município. E mais,
as secretarias de turismo estejam bastante avançadas nesses municípios
respeito de trabalho no meio rural e se avalia que a nossa ação seria
insignificante frente a essa realidade. Tal vez seja essa uma justificativa.
Não que o técnico não queira, mas não enxerga o turismo com esse papel."
(AGENTE EMATER, 2011b). (Seleção de respostas à entrevistas organizadas
pelo Autor, 2012).
Entendendo que o desenvolvimento é um processo permanente de crescimento
e mudança estrutural de uma sociedade que permita a melhoria da qualidade de
vida de intergerações, o debate do desenvolvimento (regional mundial) e o estímulo
à reflexão sobre a ação em prol do desenvolvimento são de suma importância.
Qualquer estratégia de desenvolvimento que desconsidere uma ação traduzida pelo
conjunto de interesses de indivíduos ou grupos sociais numa base territorial, pode
responder apenas parcialmente aos dilemas do desenvolvimento de uma região.
A análise do desenvolvimento territorial deve estar pautada pela espacialidade onde
está inserida e pelas transformações estruturais que pode desencadear (BRANDÃO,
2007). As opiniões dos entrevistados reforçam que, mesmo havendo um esforço de
planejamento setorial do turismo, por parte dos órgãos vinculados ao setor como a
ECOPARANÁ e num momento anterior da COMEC, ou do desenvolvimento rural por
parte da EMATER, as relações entre planejamento e as políticas públicas do
desenvolvimento no turismo rural ficaram aquém das reais possibilidades da região
(CRUZ, 2006).
249
Os argumentos levantados nas entrevistas mostraram que, além das
heterogeneidades oriundas da diferenciação regional, houve um descompasso entre
as políticas públicas setoriais para o desenvolvimento rural, como lançado na hipótese
de trabalho. As políticas do programa nacional da agricultura familiar – PRONAF – já
atuavam com certo desenvolvimento no estado e em particular na Região Metropolitana
quando as políticas do desenvolvimento do turismo no espaço rural foram incorporadas
no leque de opções para a região pela EMATER e posteriormente pela ação da COMEC
e da ECOPARANA. Esse descompasso se refletiu, de um lado, na falta de entendimento
do papel do turismo rural como parte da pluriatividade e da multifuncionalidade da
agricultura familiar, bem como pela falta de integração entre os agentes que
promoveram a atividade inter e intra-agências. Na confusão de escopos, o espaço
ficou aberto para uma ação de acoplada a soluções advindas de cima para baixo por
parte da Secretaria de Turismo, e da falta de controle dos atores privados –
empreendedores urbanos – para o mercado.
Outro ponto crítico para os fins de uma ação de desenvolvimento (regional
ou territorial) foi o fato de as políticas terem sido pensadas de forma setorial e,
mesmo sendo direcionadas ao espaço rural e territórios da cidadania, existir uma
forte pressão para a consolidação de circuitos e roteiros turísticos em espaços não
preparados para agir de forma reticular. A implementação inadequada de ações
desenhadas de cima para baixo para a região com municípios de estruturas e
peculiaridades distintas, a falta de recursos orçamentários e a falta de capacitação
de agentes responsáveis nos municípios responsáveis em traduzir as ações da política
pública em ações para o desenvolvimento foram pontos fundamentais para entender
os excessos ou a inércia, em alguns casos, na implementação da regionalização do
turismo e do crescimento dos circuitos turísticos nas Rotas do Pinhão.
Como região, ou instância de governança regional, confrontou-se ainda com
o problema de que, sendo uma política regional, descansava nas condições que a
escala municipal podia dar de suporte à atividade:
250
"Se não houver a participação majoritária do Estado (união, Estado, municípios)
quiçá a intensidade deveria ser o diferencial. O mesmo acontece com a
comunidade, ela deve saber o que ela quer... se ela deseja o turismo. Não
temos uma cultura do turismo como no caso de Santa Catarina e se o
governo não der o primeiro passo para o fomento, não vai funcionar."
(AGENTE DA COMEC, 2011). (Seleção de respostas à entrevistas
organizadas pelo Autor, 2012).
A desarticulação na implementação das políticas de regionalização e
segmentação na RMC reforçou comportamentos de exclusão ante a não participação
de representantes da EMATER no Foro Metropolitano de Turismo e deixando às
comunidades rurais apenas uma participação nos conselhos municipais. É possível
que o fenômeno de exclusão tenha sido um dos elementos que motivara a saída de
proprietários rurais de circuitos, outra razão constatada nas entrevistas, pela falta de
motivação perante a nova atividade.
A esse respeito, quiçá a organização de uma governança representativa que
fortalecesse a construção de consórcios poderia ter sido uma solução em médio prazo,
mas optou-se pela organização de governança regional a partir dos representantes
oficiais do turismo regional, reproduzindo os hiatos de poder e a relação de hierarquia
que perpassam pela cidade de Curitiba. A cidade de Curitiba, principal consumidora do
espaço do aglomerado do núcleo central onde se situam a maioria dos circuitos
turísticos, polariza essa relação e excluiu dela os municípios que não representariam
uma uniformização no processo de valorização do turismo rural metropolitano.
3.4.2 A visão dos gestores municipais em torno do desenvolvimento e do turismo rural
Ao serem questionados sobre quais princípios do desenvolvimento permearam
as ações no município, os dirigentes do turismo forma unânimes ao responder que o
princípio da transparência foi limitado. Quanto à participação, embora tenha havido
processos participativos, estes foram considerados incipientes, porém, sementes do
que hoje vem sendo produzido. A abordagem sistêmica e a preocupação com o
251
futuro foram as principais motivações dos gestores, mas sempre tentando articular o
desenvolvimento do turismo rural como uma forma de promover a equidade e a
justiça social (gráfico 20).
GRÁFICO 20 - PRINCÍCPIOS DO DESENVOLVIMENTO RECONHECIDO PELOS GESTORES
DOS MUNICÍPIOS PESQUISADOS
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
Chama a atenção o fato de não terem sido pontuados princípios de transparência
e de participação. Ao que todo indica, os gestores municipais têm claro que
minimamente devem ser cumpridas algumas exigências para o desenvolvimento no
meio rural metropolitano, mas não ficou claro pelas respostas se os mecanismos de
participação e transparência são inerentes ao processo.
À falta de clareza quanto aos princípios a serem seguidos na atividade,
conjuga-se a falta de prioridade tácita ou declarada da atividade dentro das prioridades
das políticas implementadas pelo governo municipal. Se na primeira parte do processo
iniciada na década de 1990 era forte a sinergia em torno do desenvolvimento do
turismo rural e do turismo rural, a partir das mudanças de gestão em 2004, com
exceção de São José dos Pinhais, todos os gestores entrevistados apontaram para
uma falta de prioridade da atividade, avaliada na entrevista a partir dos orçamentos,
da importância dada pela gestão municipal e (ou) pelo envolvimento e interação com
o turismo da estrutura municipal. Assim,
252
"O turismo rural para Araucária não é prioridade, embora é mais forte que
cultura, trabalha separado da agricultura. Quem trata de turismo é cultura.
"Particularmente eu acho que o viés do turismo rural é meio equivocado...
porque ao mesmo tempo que se estimula o TRAF para ajudar, os
empreendimentos rurais não foram vem direcionados. Se quando foi aberto
o parque aquático pudesse ser um excelente chamariz para o turismo rural.
O turismo rural não precisa ser exclusivamente da agricultura familiar, e sim
alguém forte atraindo demanda que iria usufruir de demanda. O agricultor
familiar, ele esta um passo antes daquilo que a gente deseja, você quer que
ele se experte para o turismo, tem que entender princípios básicos da
comercialização, pois para você saber vender uma broa tem que ter broas,
um dia ele faz, não vem ninguém, outro dia não faz e ai aparecem os
visitantes e não tem. E não se preocupa. De repente se tivesse o espelho
de um empreendimento maior seria mais fácil." (AGENTE MUNCIPAL DE
ARAUCARIA, 2011).
"Nós temos visitas técnicas todos os anos. Então (o turismo rural) é
prioridade. Influencia a proximidade com Curitiba. Não houve descontinuidade
do processo, nunca foi abandonado o caminho. O primeiro racha foi
comentado agora (10 anos). A aplicação, o link com a política estadual, a
organização da política publica estadual com a nacional, não é igual, mas
ajudou a visualizar o que esta acontecendo nacionalmente. Havia muitas
ações sobrepostas anos atrás. No caminho do Taquaral estamos trabalhando
hoje sete secretarias". "Problemas ambientais muito sérios (podiam ser
evitados), fizemos 37 reuniões para legalização das cantinas de vinho,
alguns foram autuadas porque houve coisas (cobranças) que nunca foram
levantadas. A visão de que fazer as coisas corretamente pode tirar votos. Lá
trás tudo o que fosse fazer que mexesse com moradores, parentes uns de
outros, que tivesse algum contato com a prefeitura era considerado
problemático. Assim era evitado. Hoje não, hoje vamos trabalhando com os
técnicos da vigilância sanitária para orientar a gestão sanitária, assim
também com a gestão ambiental, os técnicos participam na organização dos
cadernos de normas para trabalhar de forma conjunta." (AGENTE MUNICIPAL
DE SÃO JOSE DOS PINHAIS, 2011).
"Tinha envolvimento bacana do rural, mas não era a prioridade. Andava
junto, com a educação ambiental, com orgânicos, com os projetos rurais
atrelados à prática rural. A produção de hortaliças na região para CEASA e
para as férias de Curitiba, (tinha) um vereador produtor de frutas, peixes,
etc.Era prioridade a agricultura. Dentro da agricultura tinha políticas publicas
interessantes que eram implementadas no município (inseminação, leite,
PRONAF, etc)". "Vou te falar, como a gente estava iniciando nessa época,
era bem complicado essa visão que ate hoje ainda perdura... que as vezes
o estado como (na condição de) poder público (tanto o federal, como o
municipal), vinha com a cartilha meia pronta e esquece que existem
pessoas, comunidades diferentes envolvidas nesse processo, por isso a
gente ia, escutava o empreendedor e tratava de ver como acontecia na
realidade, porque tinha que dar conta, eu poderia colocar a preocupação
com o futuro, porém (a construção) foi meio de gabinete."
253
"Ao vislumbrar o turismo no município comecei trabalhar junto com umaDiretora que trabalhava com turismo, era arquiteta, tinha uma visão daplástica e eu ia a campo, buscar informações. [...] Íamos a campo buscar asinformações, fazendo o trabalho juntos e apreendendo no trabalho, comprodutores. Na prática sendo participativos na construção do turismo. Fizemoso primeiro fórum chamado Pensando a cidade. Conseguimos trazer (á mesa)as empresas, os produtores, os empreendedores. O ruim desses processosé que as vezes para na parte política, você tem um evento bacana, compontos interessantes abordados, envolve a comunidade, com uma visão decurto, médio e longo prazo, mas com propostas que depois não conseguefazer a execução e não é tomado em consideração." (AGENTE MUNICÍPALDE PIRAQUARA, 2011).
"A historia de Quatro Barras foi diferente. Os recursos existentes nãoatenderam a todas as demandas do turismo rural. Era bem diferenciado..industria, comercio e turismo o orçamento era flexível. E foi convencido oprefeito para fazer projetos para apresentar... e conseguimos 300mil derecursos próprios, mas em contrapartida de 19 milhões para a Estrada daGraciosa. Ate hoje me pergunto como conseguimos. o município tem 12 mileleitores, e pouca expressão política, porém nos estivemos no lugar certo,no momento certo com o projeto na mão. Enquanto os outros tinhaminteresse não tinham projetos, nos tínhamos projetos e foi o diferencial"."Não tinha orçamento, mas foi atrás...Montamos o programa descobrindoquatro barras -conhecendo Quatro Barras (gestores não o conheciam).Gastei R$5 mil (primeiro escalão, convidado com segundo escalão evereadores... O prefeito participou plenamente) terceira idade com almoço,alunos com lanche [...] Eu estruturei em fases esse projeto, um DVD domunicípio, mapa do município... ate um livro (já esta na 3ª. edição do livro).Para poder desenvolver o turismo na comunidade quem tem que tomar pé éa própria comunidade, é a localidade quem deve estar ciente. esse é umtrabalho de base a ser feito por todos. Se essa comunidade não sabe o queesta acontecendo como é que vai se desenvolver? Esse trabalho de baseque poucos estão fazendo... estou voltando lá no PNMT, nos primeirosmomentos onde são envolvidas as comunidades para que o turismo aconteça.E outra, essa comunidade não é igual a outra comunidade (Piraquara), epor isso o planejamento quando feito pelo marketing fica tudo igual."(AGENTE MUNICIPAL DE QUATRO BARRAS, 2011).
"Tivemos que cuidar da questão ambiental por causa do Karsten...tivemosbriga com os vereadores, tivemos que mudar a forma de produção, deinsumos químicos para uma mais natural, orgânica[...]Mas nós começamoscom o Ambiente, saúde tinha problemas no município e nós fomentamos aparticipação da sociedade na construção do processo[...] O conselho dedesenvolvimento rural de lá trás ganhou uma credibilidade! Os ativistas (dehoje) são os filhos dos que iniciaram há 18 anos atrás. O turismo eraPRIORIDADE, embora misturado com o ambiental e o agrícola. Alias nãotrabalhamos nunca o agrícola sozinho... a intenção com o CREA ou com oCEASA era uma participação da comunidade. Inserir na sociedade econhecer seus instrumentos". Hoje não sei mais como foi que ficou, essagestão esta acabando com tudo. (AGENTE MUNICIPAL DE COLOMBO,2011). (Seleção de respostas à entrevistas organizadas pelo Autor, 2012).
254
3.4.3 A gestão institucional e a dimensão espacial. a governança e o turismo rural
vista pelos agentes federais e estaduais
O propósito deste bloco foi identificar o grau de conhecimento sobre a
governança do turismo, introduzindo o tema da Região Rotas do Pinhão na RMC e
identificar vínculos com o desenvolvimento rural e o turismo rural e o grau de
identidade do sistema de agentes e atores regional para o desenvolvimento da atividade
turística nos municípios do Núcleo Urbano Central. Poucas foram as respostas, além
da confessada falta de conhecimento dos gestores, o tema pareceu irrelevante
diante da discussão dos territórios da cidadania na RMC abordado anteriormente.
O interesse foi o de conhecer e perceber dos agentes que intervieram no
processo de desenvolvimento da atividade na região o papel no processo de construção
e implementação da política pública do turismo rural na RMC. Além disso, dar
especial atenção às formas de articulação (ou a falta de articulação) das instituições
que atuavam com os outros agentes na região e com a governança do turismo local
e regional. Perceber e descrever as relações de poder que pautaram o desenvolvimento
turístico rural.
A política realizada pelo Ministério do Turismo, e seguida pela Secretaria de
Estado do Turismo, advogou pela criação de instâncias de governanças regionais e
conselhos de desenvolvimento da atividade em estados e municípios. Porém, mesmo
com a criação de um ministério e de uma secretaria específica, o turismo tem sido
pouco relevante do ponto de vista social, e mesmo dentro das agendas de políticas
públicas setoriais ele funciona com orçamento muito limitado, sendo, na maioria das
vezes, uma moeda de troca de parlamentares para com seu reduto municipal.
"Se o papel da política publica é enxergar o potencial, problematizar e começar
a trabalhar esse potencial e fazer com que o individuo que esta na região se
integre e aproveite desse processo, a governança é o animador do processo...
e ente único... se não voltamos a fragmentação... vejo isso, as pessoas são
as mesmas, hoje se discute educação, amanhã segurança, depois de amanhã
turismo... as pessoas são as mesmas. Não precisa ter uma governança
255
para cada setor. Mas é um processo de longo prazo, não diz o prazo... sem
segurança não há turismo, sem meio ambiente não há turismo, etc. Vamos
evoluir para isso? Eu espero que sim, as políticas estão se desenhando
para issso. Na verdade, a constituição nos remete para as práticas da
descentralização e de conselhos na administração e implementação das
políticas publicas, mas corre-se o risco de haver diferenciações fortalecidas
pelas desigualdades regionais, sociais, econômicas e de poder político."
(Art.180 da Constituição Federal). (AGENTE UFPR- ITCP, 2011).
"Governança para mim, eu não vejo resultados, porque o gestão da
governança ele pensa muito em fazer ações para ele pegar o dinheiro,
vamos observar, não é companheira. A governança não é companheira,
mas é a gente que depende de recursos para funcionar, colca um gestor.
Qual é a governança que hoje esta trabalhando direitinho e que possa
funcionar e resolva os problemas do turismo regional?... a moça do circuito
de Colombo quis mudar o nome do circuito porque ela não é italiana...
como? Vc quer mudar ode nome?" (AGENTE DA EMATER, 2011a). (Seleção
de resposta à entrevista organizada pelo Autor, 2012).
O MTur partiu de uma visão uniforme das regiões, sem conflitos e com
idealizada autonomia para o desenvolvimento (endógeno) reproduzindo essa visão
nos estados. Considerando que a região é um produto das relações sociais e um
condicionador dessas relações, significa que a região promove um condicionamento
não somente da objetividade material do espaço regional, mas também das imagens
e representações a ele atribuídas. Além disso, há que considerar que a atividade
turística tendo o espaço como principal objeto de consumo, o Programa Nacional de
Regionalização de Turismo e o subproduto da segmentação turística onde se insere
o turismo rural, além de privilegiar a abordagem do turismo como negócio, estimulou
a formatação de "produtos" e incentivou de forma contraditória práticas divergentes
do desenvolvimento de regiões e territórios. Se a cadeia produtiva turística tem de
ser normalizada e orientada pelo poder público, a região deve ser olhada de outro
prisma e tem de ser abordada como elemento fundamental do processo, muito mais
ainda se o elemento central desse território é a pequena agricultura familiar.
Silveira (2002) lembra que o modelo de planejamento na Região Metropolitana
foi um modelo físico-territorial que enfatizou uma configuração arquitetônica para a
ocupação e uso do solo pelo turismo, onde a intervenção privilegiava a formatação
256
de equipamentos turísticos copiados do design urbano, de áreas de recreação e lazer
construídas e do aproveitamento de espaços subtilizados no entorno de grandes
obras de infraestrutura como as represas formadas pelas usinas hidrelétricas com a
proposta de transformá-las em "produtos turísticos", mas desconsiderou outros
sistemas territoriais responsáveis por uma maior integração funcional do território
(SILVEIRA, 2002, p.248).
3.4.4 A gestão institucional e integrada do anel de turismo rural na RMC: a visão
dos gestores municipais116
O acomodamento de estruturas especializadas para atender ao turismo nos
municípios das Rotas do Pinhão por parte das prefeituras veio a reboque do
envolvimento da COMEC pelo desenvolvimento de atividades de lazer e turismo nas
áreas de preservação ambiental dos mananciais da região. O setor, no entanto,
nasceu ora atrelado a secretarias de Cultura, ora a secretarias vinculadas à agricultura,
ora ao meio ambiente. O PNMT, o programa nacional de municipalização do turismo
também colaborou para a popularização dos chamados órgãos oficiais do turismo
(OOTs), como parte da receita para alcançar a maturidade na gestão do turismo.
Com eles, havia a necessidade de estruturar um fundo municipal de turismo e o
conselho municipal.
Conflitos gerados dessa divisão esbarraram nos recursos destinados para o
desenvolvimento da atividade organizacional interna e externa, pois o conselho e o
fundo, um ou outro, ou os dois precisariam de recursos e um plano para seu
gerenciamento, coisa que foi limitada. O PNMT distribuiu certificados aos municípios
116 O trabalho de M. A. Telles e R. Ribeiro (2010) apresenta um resumo euma interessante reflexão a
respeito da construção dos circuitos turísticos e dos espaços de governança que se seguiram
desde 1998 na RMC.
257
que atingiam as metas e os declarava municípios turísticos. Mas a mudança da
política de municipalização para a política de regionalização deixou um vácuo inicial de
acomodação e poucas explicações sobre as possíveis diretrizes da regionalização.
Esse vácuo institucional só não foi maior porque boa parte dos técnicos envolvidos
no turismo dos municípios do NUC metropolitano acreditava na proposta e defendeu
a atividade.
"A gente entende enquanto secretaria que a existência do turismo é
importante. muito importante para o município, pois em seus primórdios era
agricultura, embora a Petrobras esteja desde 1975. Mercosul, e grandes
industrias vieram para cá. Abriu-se um leque, uma grande transformação.
O turismo é importante por outros motivos. O turismo rural quebra uma
imagem de cidade poluente, com mais de 500km de estrada de chão.
A poluição no centro da cidade de Araucária é extremamente poluído, mais
do que Curitiba, com enxofre e monóxido de carbono. Trabalhando turismo
rural a imagem muda. A outra vertente é o produtor, que tem particularidades
(dos nossos empreendedores) como a de ser agricultores familiares,
pessoas extremamente humildes, que estão na labuta o dia inteiro e que
precisam desse recurso, para eles era importante essa agregação de
renda". (AGENTE MUNICIPIO DE ARAUCÁRIA, 2011).
"Trabalhei 06 anos na EMATER em Colombo. Focando mais no rural, em
1986. Assumi em 1993 na prefeitura... ou você assume ou some, me foi
dito. Foi para a prefeitura com um viés rural, com a visão de extensionista,
você tem comprometimento, você é um agente, você esta inserido na
comunidade e vive sendo questionado, sobre a prefeitura, etc. Fomos
pegando a experiência e trazendo para dentro da prefeitura, junto com o
ambiental-urbano e o social, a gente poderia ter feito muito mais? se
pensasse somente no econômico, mas a gente queria incluir socialmente. E
ai (nós) começamos tratar de plano diretor e levando toda essa experiência
para dentro do Plano. Não caiu do céu, fomos atrás de saber, conhecer, no
Estado fora dele, saber de águas subterrâneas, do turismo rural, trazendo
parceiros para construir o desenvolvimento... 17 km da rodoviária, de
conhecer o produtor rural há mais de 40 anos produtores de 60 litros de
vinho por semana. Foi minha primeira briga com a Paraná Turismo, que não
conhecia, era muito difícil, não sabia como entender, já nos disseram de
cara." (AGENTE MUNICÍPIO DE COLOMBO, 2011).
"Acredito que a data (de criação) do departamento era de 1995 ou 1996. Eu
conheci o município pelo trabalho organizado pela universidade (UFPR) e o
SEBRAE, o grupo era da Prof. Omara e eu, e a Zulmeia (consultora do
Sebrae então professora da UFPR) foi contratada posteriormente para dar
seguimento. Em 1998 entregamos dois documentos com um inventário e
diagnostico e outro com anexos e fotos. A proposta e o desafio do SEBRAE
foi de fazer algumas propostas, de onde surgiou o Caminho do Vinho, outra
258
foi a capacitação e outra foi a utilização de uma pedreira – a coisa mais
linda –, com um bosque, mas essa não vingou. Também o Passeio da
memória, com roteiro urbano, etc. Foi criado em 1998 o conselho de turismo
e o fundo municipal (parte da receita do bolo do PNMT)." (AGENTE DE
SÃO JOSE DOS PINHAIS, 2011).
"Eu trabalho com turismo desde 2001 quando foi trabalhar em projetosespecíficos na cidade de Piraquara. De lá para cá peguei gosto e continuoestudando e trabalhando no turismo. Em 2005 fui como diretor de turismo agente desenvolveu alguns projetos dentro desse viés de região eregionalização para o município de Quatro Barras, sempre naquela ópticade trabalhar a região, e buscando o convívio principalmente com os municípiosvizinhos, buscando se aprimorar, se bem que a RMC é muito extensa e ficamuito difícil trabalhar o conceito da região dentro da metropolitana... e de lápara cá trabalhando turismo vendo as mudanças e as vezes a estagnaçãodos processos do turismo. Tive bastante contato com meio ambiente nacidade de Piraquara, onde a secretaria era meio ambiente, agricultura eturismo. Sou formado em publicidade e hoje terminando o curso de turismo.Existia uma área de Agricultura, Meio ambiente e turismo. Era umdepartamento. Essa estrutura vinha funcionando desde 1996." (AGENTEDOS MUNICÍPIOS DE PIRAQUARA E QUATRO BARRAS). (Seleção derespostas à entrevistas organizadas pelo autor, 2012).
O desenvolvimento do turismo na região enfrentou outros problemas de
ordem institucional, as mudanças de autoridades na esfera do governo e
posteriormente na esfera municipal representaram motivos para o distanciamento de
alguns municípios de incentivar o desenvolvimento da atividade turística. Também
no atendimento aos municípios, enquanto era exigido o plano diretor para todos os
municípios, outras áreas ficaram sem uma ação correspondente no território, a
pressão por diminuição da área rural e a possível especulação imobiliária.
"Plano diretor? Tinha. Contempla diretrizes para o desenvolvimento do turismo.Ele tem menos de 5 anos e já tem desenhado o uso para as APAs, Passaúna eRio Verde, pois você sabe que a APA do Passaúna esta quase toda ela nacidade de Araucária, só o parque fica do lado de Curitiba e dividimos a do RioVerde com Campo Largo." (AGENTE DO MUNICÍPIO DE ARAUCARIA, 2011).
"O nosso plano diretor não contempla o uso turístico de bacias hidrográficas enão contempla o turismo rural. Eles (do Planejamento) sempre falam que estáindiretamente contemplado... na verdade só consta por ser uma campanha quefizemos nas três audiências públicas que foram realizadas uma trás da outraem três dias seguidos. Juntamos os vereadores e alguns proprietários ruraispara que participassem das audiências. Fizemos uma proposta de pranchas deáreas especiais de interesse turístico... conseguimos essa brecha. Tinha umconselho de bacias hidrográficas (no município) e o conselho foi extinto."(AGENTE DO MUNICIPIO DE SÃO JOSE DOS PINHAIS, 2011).
259
"Sim, ambos os municípios que trabalhei tinham planos diretores. No
município de Piraquara não contemplava diretrizes para o desenvolvimento
do turismo. No município de Quatro Barras contempla o turismo." (AGENTE
DOS MUNICIPIOS DE PIRAQUARA, QUATRO BARRAS, 2011).
"Sim, tinha, mas era um remendo. Lei de uso e ocupação do solo. Em 2002
saiu o novo plano que contemplou diretrizes para o desenvolvimento do
turismo, sim. Estava atrelado à cultura. Tinha interfases nas quais a gente
trabalhava de forma conjunta. Já tem 10 (20) anos e deveria ser atualizado.
O plano contemplou todos os programas existentes no Estado: Agenda 21,
bacias hidrográficas, plantas medicinais, etc. Tina um trabalho muito forte
em educação ambiental. A grande discussão do plano diretor foi manter o
perímetro de área rural (desde a Associação Banestado) obtendo um ganho
ambiental muito grande, com projeto de parque temático e manutenção do
verde urbano colindando com Curitiba. (AGENTE DO MUNICIPIO DE
COLOMBO, 2011). (Seleção de respostas à entrevistas organizadas pelo
Autor, 2012).
Contudo, houve discrepância entre os gestores municipais do turismo
metropolitano entrevistados quando questionados sobre a frase que descreveria
melhor as ações destes no turismo rural (gráfico 21).
GRÁFICO 21 - ABORDAGEM DO TURISMO RURAL NOS MUNICIPIOS, SEGUNDO
RESPOSTA DOS GESTORES PESQUISADOS, RMC
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
260
Há, portanto, a constatação de que as diversas respostas foram motivadas
pela diferenciação e heterogeneidade já estabelecidas nos municípios e para as
quais seria imprescindível assegurar qualquer proposta de gestão compartilhada.
3.4.5 Infraestrutura, mercado e identidade local: o descompasso
Identificou-se a história dos lugares – circuitos turísticos, a forma em que se
desenvolveu a região e os trabalhos que permitiram a construção dos roteiros
turísticos rurais (identidade local). Se houve apropriação dos circuitos turísticos por
parte da comunidade. Se os investimentos públicos fizeram parte do crescimento da
atividade no período em análise (2003-2010); se o processo cultural, que considera
o capital humano e intelectual de uma região, garantiu atividades de associativismo
e cooperação que rompessem com as estruturas individuais contribuindo ao
desenvolvimento local. Se a origem das microempresas locais e dos empreendedores
rurais existentes na região era a mesma do início dos circuitos.
"Essa é a mesma discussão de produção para o mercado, ah, o cara produz,
o problema é comercializar, mas comercializar o qué, não vai... o mesmo
com o artesanato, qual é o produto? Ah eu faço pano de prato, fuxico (vai ter
louça para lavar e enxugar com a produção de pano de prato!) e artesanato
de papel?... o que tudo mundo faz... Mas quem é que compra? assim não se
resolve o problema da comercialização nunca... isso, vc acaba comprando...
mas isso é caridade não é comercializar. Outra questão é (o segundo
problema que eu vejo) é o de igualar esse turismo com o turismo de massa,
homogeneizar. Fazer que o cara tenha a estrutura do urbano, ah tem de ter
acessibilidade. E ai quer discutir acessibilidade no turismo rural... tem de ir
devagar... é importante, claro que é, mas colocar essas condições para
entrar no mercado, tem que ir devagar. As condições são levadas ao
extremo. O que Nos temos que exigir o que? Higiene, segurança, mas não
descaracterizar... são exigências mínimas. Se for para as agencias vai
terminar sendo customizado... isso acontece com todos os setores, o
problema não são as agencias, (o problema é o mercado capitalista)...
As exigências, a legislação, as estruturas do mercado são feitas para os
grandes, não da para esquecer isso." (AGENTE UFPR-ITCP, 2011).
261
"O trabalho da EMATER na RMC é um trabalho diferenciado. Ele acumula
um outro público diferenciado da RMC é um público periurbano, que não
chega ser um rural, nem urbano, e não temos condições de retribuir a altura.
É um trabalho mais delicado, uma população de transição, de uma
agricultura um pouco mais dedicada voltada para a olericultura
(hortifrutigranjeiros), e em donde o turismo rural por essa ligação direta com
o urbano, é uma área que deva ser estimulada, com mais ênfase. é
importante. Não sei pode ser feito quiçá uma ação mais direta com as
prefeituras[...] e uma interação mais direta com o público urbano de
Curitiba." (AGENTE DA EMATER, 2012b).
"A demanda é regional ou local? O valor agregado efetivo é muito pouco?...
tem de trabalhar para organizar esses pontos que são iguais na França.
O que importa o queijo, não o selo de qualidade. Pode vir a ser visitado por
estrangeiros... pode. Mas não deve ser o foco. Esse tipo de empreendimento
deve ser orientado com uma outra lógica, o capitalista tem isso, arruma
dinheiro tem de ter lucro." (AGENTE DA UFPR-ITCP, 2011).
"Tem que chamar a atenção dos jovens e jovens adultos, e das crianças
que levam os pais e alargam o processo de uso do turismo no espaço
rural... sempre as mesmas coisas, como o carrinho do Papai Noel (SJP).
Por que os hotéis não utilizam das produções orgânicas da região?"
(AGENTE DA EMATER, 2011a). (Seleção de respostas à entrevistas
organizadas pelo Autor, 2012).
Além dos conflitos inerentes à falta de comercialização do turismo rural,
colocada na pesquisa de campo com os extensionistas, a coordenação vê as
contradições que a normatização impõe às práticas de turismo rural realizadas pela
agricultura familiar. Contradições como as colocadas acima ou outras mencionadas
pela prefeitura de São Jose dos Pinhais, onde a Vigilância Sanitária promoveu numa
lógica industrial, as condições de exigência de uma vinícola. "Ameaças de multas,
exigências e ainda depois de tudo isso, sai do estabelecimento comprando os
produtos do pequeno produtor. Ora, se ele compra, sabe que tem condições de
higiene, só que ele não tem cacife para ter o SIF ou SIM. Com as exigências tenta-se
descaracterizar ele, pior é que conseguem" (AGENTE DA UFPR-ITCP, 2011).
Somando-se a isso, potencialmente o mercado a que se destina toda a
organização do turismo rural é para quem mora em Curitiba. O conflito de mercado,
pois vêm crescendo os municípios com empreendimentos turísticos no espaço rural
fortemente aparelhados por atividades de lazer e (ou) urbanas no espaço rural
262
(TULIK, 2003), a convivência de micro e pequenas empreendimentos de origem urbana
no espaço que atuam conforme sinais mercado dos grandes grupos concorrentes no
Paraná (IPARDES, 2008a).
"Falta de associativismo, falta de cultura associativista, ela foi forçada pela
prefeitura, porque os recursos que vem precisava de organização dos
produtores. Falta de agencias comercializando. O que foi um ponto forte no
inicio (ponto de partida e de chegada com sinalização, ficou limitado por
produtores que saíram do circuito e com a entrada de outros restringiu
demais a atuação desse município... Teve muitas trocas... roteiros tem um
só, a gente estimula outros pontos, a gente tem três regiões com atividade
turística mais intensa, mas o roteiro de Guajuvira é de 06 horas, quando os
visitantes ou a agência do SESC faz demanda do dia todo se aproveita
outra região com almoço e coloca outra região e aproveitando atrativos
culturais. O roteiro começou com dezesseis propriedades, hoje tem apenas
seis. Alguns saíram porque acharam que o retorno seria mais imediato.
Outros saíram porque não estavam vencendo atender a demanda. Outros
tiveram motivos de depressão, só isso. Do ponto de vista econômico foi
benéfico para os empreendedores. O impacto do turismo rural é pequeno, é
quase imperceptível para a prefeitura. Não tem nota, não tem impostos que
rebatam na prefeitura." (AGENTE DO MUNICÍPIO DE ARAUCARIA, 2011).
"Houve, um fluxo no caminho do vinho que a circulação era de 80 pessoas
mês (livro de presença)... não temos controle de fluxo, mas pelo numero de
atendimento de restaurantes mais o que circula por semana hoje falamos
em torno de 8 a 10 mil pessoas mês [...] Não tinha restaurante, embora
tivesse cantinas, e hoje tem 9 restaurantes no caminho do Vinho, tem três
cafés coloniais mais um fora da associação, que esta sugando o movimento
dos outros, que entrou com investimentos mais oportunismo. Cadê a tutela
da área?. Nos tentamos montar fazer a tutela, mas não houve espaço para
tal, com isso vem gente de fora querendo investir... ai se perdeu a ideia no
caminho. A mesma situação poderia no Caminho do Taquaral. A prefeitura
não tem interesse de tutela. Há um problema de SJP de exploração
imobiliária que não é só de São Jose. No Caminho do Taquaral metade é
rural e a outra metade é urbana, a nossa proposta prevista no plano é de
transformar tudo em parque, vamos ver o que passa." (AGENTE DE SÃO
JOSE DOS PINHAIS, 2011).
"Problemas constatados na comercialização e divulgação. Falta de integração
entre os empreendedores e entre os empreendedores e prefeituras. Muita
expectativa e pouca ação do PNMT e da Regionalização. Enquanto o PNMT
trabalhou muito com a comunidade, o foco da regionalização era o público,
o turista, mas quantos turistas? ... Queremos aumentar em 50%, de quê?
Se não tem conhecimento de eixos norteadores, não têm parâmetros que
possam direcionar o turismo." (AGENTE DE QUATRO BARRAS, 2011).
263
"Aconteceram problemas de sinalização. Colombo foi usado como modelopara outros municípios para estimular o trabalho no Estado, fomos conhecerexperiências em RGS, em SP e recebemos de varias cidades para Colombo.Tivemos cidades irmãs, Bento, Farropilha e Caxias. Recebiam produtores eenviávamos muitos para fora. Descontinuidade do trabalho (de comercialização).O planejamento foi deixado de lado porque acharam que era do fulano ouda prefeita, os candidatos se comprometeram com o planejamento (o prefeito)com a comunidade e depois abandonaram." (AGENTE DE COLOMBO, 2011)(Seleção de respostas à entrevistas organizadas pelo autor, 2012).
A questão sobre o uso dos programas, nacionais e estaduais por parte das
propriedades rurais metropolitanas e o incentivo dado pelos técnicos para participar
dessa atividade, foi feita também aos gestores municipais entrevistados. Na visão
destes, as Feiras dos Sabores (66,7%) seguidos da Rede TRAF (50%), que se iniciou
depois de 2003, e caminhadas da natureza (33,3%) vêm exercendo o papel de incentivo
na comercialização de produtos e promovendo o turismo rural metropolitano.
GRÁFICO 22 - PROGRAMAS QUE ALAVANCARAM O TURISMO RURAL NAS ROTAS DO
PINHÃO, SEGUNDO GESTORES MUNICIPAIS ENTREVISTADOS
FONTE: Pesquisa de Campo (2011)
3.5 BALANÇO DA GESTÃO DO TURISMO NA REGIÃO TURÌSTICA DAS ROTAS
DO PINHÃO NOS MUNICÍPIOS DO NÚCLEO URBANO CENTRAL
A questão das escalas institucionais não transita apenas pela União e pelo
Estado. Na visão de Bercovici (2008), os debates fundamentais da participação na
construção e subsidiaridade (complementaridade) das políticas públicas pelo Estado
264
remetem também à análise da descentralização e participação nos municípios e
estão contidas na Constituição Federal (Art. 23 e 24). A materialização da coordenação
na repartição de poderes são as competências concorrentes, previstas no artigo 24
da Constituição de 1988117. A União e os Estados e os municípios concorrem em uma
mesma função (o turismo), mas com âmbito e intensidade distintos. (BERCOVICI,
2008, p.3). Não é plausível um Estado Federal em que não haja um mínimo de
colaboração entre os diversos níveis de governo. Faz parte da própria concepção de
federalismo esta colaboração mútua.
A concepção de Estado federado pressupõe a diferenciação escalar entre
processos de coordenação e processos de cooperação (entre a União, estados e
municípios) e essa falta de diferenciação é outra fonte de conflitos que gera tensão
na aplicação das políticas públicas. A coordenação é um procedimento que busca
um resultado comum e do interesse de todos. A vontade das partes é livre e igual,
com a manutenção integral de suas competências: os entes federados sempre podem
atuar de maneira isolada ou autônoma (BERCOVICI, 2008). Mas também pressupõe
que não há nem se faz necessária a homogeneização da aplicação das políticas
públicas, pois, como afirma Bercovici (p.6), a crescente homogeneização pode
desembocar na centralização.
Na Região Rotas do Pinhão, a fragmentação da gestão foi alimentada pelas
diversas visões que se sobrepõem ao desenvolvimento do turismo rural. Sobreposições
que perpassam pela cultura individual e hábitos familiares que incidem na estruturação
de um trabalho cooperativo necessário para construção de roteiros regionalizados: a
gestão do município de Curitiba, que detém o mercado, prezou por manter a
hegemonia do processo, enquanto o Estado, de sua parte, trabalhou em função de
demandas, desenvolvendo oficinas de planejamento e de avaliação regional, assim
117 Da Constituição Federal, Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislarconcorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;II - orçamento; III - juntas comerciais; IV - custas dos serviços forenses;V - produção e consumo;VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursosnaturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico,cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, aoconsumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;IX - educação, cultura, ensino e desporto.
265
"A etnia predominante não permite trabalhar em parceiros. Não sentam
entre eles para discutir coisas comuns, essas práticas não existem, não tem
iniciativas próprias, parcerias acontecem de boca, há pouco tempo ... isso
não e entendido como agregação de valores, deve estar vinculado ao grau
de instrução muito baixo, peculiar a agricultura familiar." (GESTOR DE
ARAUCÁRIA, 2011).
"As parcerias se estabelecem encima dos golpes da realidade. Embora hoje se
uniram para a questão de segurança, o aprendizado foi paulatino, não houve
muito espaço outras alternativas novas. Parcerias institucionais aconteceram
muitas nos eventos." (GESTORA DE SÃO JOSE DOS PINHAIS, 2011).
"Outro trabalho de cooperação era o da capacitação. a capacitação era
definida pela demanda realizada pela programação dos interesses das
instituições, porém podia ate sugerir, desde que tivesse bem fundamentada.
Na região, os temas dos cursos do SENAR eram definidos por eles, mas vc
podia se adequar. Com a mudança do PNMT para a Regionalização, o setor
privado pulou fora da capacitação. Acontece que o turismo precisa do privado,
a capacitação caiu no descrédito e a regionalização no setor privado é
novo... Minha visão é que sem parceria não se chega a lugar nenhum.
A minha experiência me leva a crer que mesmo sendo a idéia tua tem que
ter o auxilio do projeto e de parcerias. Em Piraquara, para o turismo e pra o
turismo rural foi assim que avançou" [...] Como diretor de turismo a gente
desenvolveu alguns projetos dentro desse viés de região e regionalização
para o município de Quatro Barras, sempre naquela óptica de trabalhar a
região, e buscando o convívio principalmente com os municípios vizinhos,
buscando se aprimorar, se bem que a RMC é muito extensa e fica muito
difícil trabalhar o conceito da região dentro da metropolitana... e de lá para
cá trabalhando turismo vendo as mudanças e as vezes a estagnação
dos processos do turismo. (GESTORES DE PIRAQUARA, QUATRO
BARRAS, 2011).
É o trabalho coletivo. Tem que ter uma educação cooperativa antes e depois
ter repensado esse processo do desenvolvimento do turismo rural. Processo
e as metodologias construídas pela EMATER e pelo agronegócio é para
grandes cooperativas. . Tudo é parceria. Você tem que fazer parceria em
tudo, na amizade, com os filhos, até com a mulher. (GESTOR DE
COLOMBO, 2011).
O resultado desses impasses não se explica dentro do desenvolvimento
rural, ou na falta de capital social sinérgico (BOISIER, 2002), mas fora dele. A pressão
que a internacionalização da metrópole apresenta, envolve também os serviços
turísticos (MOURA; KORNING, 2002). Em concomitância com o desaparelhamento do
Estado, se não fosse pelas políticas federais do PRONAF seria muito provável que a
dinamização da dimensão econômica que acontece na cidade de Curitiba e
266
almejada por todos os municípios da Região Metropolitana provocaria um rápido
abandono das populações assentadas nas práticas da agricultura familiar e de ouras
práticas de ocupações não agrícolas onde o turismo rural está inserido.
Embora todos os 29 municípios estivessem, em tese, dentro das Rotas do
Pinhão, só uns quantos participam ativamente, coincidentemente ou não, são praticamente
os mesmos municípios do Núcleo Urbano Central, como mostra o quadro 13, e se
movimentam de forma inversa ao atendimento dado pela EMATER.
MUNICÍPIOS ROTAS DO PINHÃO PARTICIPAÇÃORMC (EMATER/
COMEC)
ASSOMEC(1)/
AMSULEP/VALE DO
RIBEIRA
1 Adrianópolis Sim Não participa Adrianópolis Vale do Ribeira
2 Agudos do Sul Sim Não participa Agudos do Sul AMSULEP
3 Almirante Tamandaré Sim Não participa Almirante Tamandaré ASSOMEC
4 Araucária Sim Araucária Araucária ASSOMEC
5 Balsa Nova Sim Não participa Balsa Nova ASSOMEC
6 Bocaiúva do Sul Sim Não participa Bocaiúva do Sul Vale do Ribeira
7 Campina Grande do Sul Sim Não participa Campina Grande do Sul ASSOMEC
8 Campo do Tenente Sim Não participa Campo do Tenente AMSULEP
9 Campo Largo Sim Campo Largo Campo Largo ASSOMEC
10 Campo Magro Sim Campo Magro Campo Magro ASSOMEC
11 Cerro Azul Sim Cerro Azul Cerro Azul Cerro Azul
12 Colombo Sim Colombo Colombo ASSOMEC
13 Contenda Sim Não participa Contenda ASSOMEC
14 Curitiba Sim Curitiba Curitiba ASSOMEC
15 Dr. Ulysses Sim Não participa Dr. Ulysses Vale do Ribeira
16 Fazenda Rio Grande Sim Não participa Fazenda Rio Grande AMSULEP
17 Itaperuçu Sim Não participa Itaperuçu Vale do Ribeira
18 Lapa Sim Não participa Lapa AMSULEP
19 Mandirituba Sim Não participa Mandirituba AMSULEP
20 Piên Sim Não participa AMSULEP
21 Pinhais Sim Pinhais Pinhais ASSOMEC
22 Piraquara Sim Piraquara ASSOMEC
23 Quatro Barras Sim Quatro Barras Quatro Barras ASSOMEC
24 Quitandinha Sim Não participa Quitandinha ASSOMEC
25 Rio Branco do Sul Sim Não participa Rio Branco do Sul Vale do Ribeira
26 Rio Negro Sim Rio Negro AMSULEP
27 São José dos Pinhais Sim São José dos Pinhais São José dos Pinhais ASSOMEC
28 Tijucas do Sul Sim Tijucas do Sul Tijucas do Sul AMSULEP
29 Tunas do Paraná Sim Não participa Tunas do Paraná Vale do Ribeira
QUADRO 13 - RELAÇÃO DOS MUNICÍPIOS QUE PARTICIPAM ATIVAMENTE NA ROTAS DO PINHÃO - RMC - 2011
FONTE: Fórum Metropolitano (2011)
(1) Todos os municípios pertencem a ASSOMEC.
267
O resultado das pesquisas fortalece a predominância da fragmentação das
ações comprometida pelo grau de profissionalização em relação à atividade do turismo
rural. Mas também é preocupante a ênfase que se outorga ao desenho de produtos
vis- a-vis o processo de institucionalização que as políticas públicas requerem, em
especial do turismo rural com o fortalecimento de instrumentos especiais que deem
uma maior atenção à maior participação das comunidades e à conservação dos
mananciais. Foi tratado, ainda que de forma tangencial, como a falta de uma governança
regional forte esfacela a possibilidade de construção de uma identidade regional.
A questão sobre o uso dos programas, nacionais e estaduais por parte das
propriedades rurais metropolitanas e o incentivo dado pelos técnicos para participar
dessa atividade, foi realizada também aos gestores municipais entrevistados. Na
visão destes, as Feiras dos Sabores (66,7%) seguidos da Rede TRAF (50%), que se
iniciou depois de 2003, e caminhadas da natureza (33,3%) vêm exercendo o papel de
incentivo na comercialização de produtos e promovendo o turismo rural metropolitano.
268
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises realizadas sintetizam um esforço de compreensão da Região
turística Rotas do Pinhão situada na Região Metropolitana de Curitiba. A dissertação
buscou mapear no, ainda incipiente, sistema de políticas públicas do turismo no
Brasil, como a evolução da gestão pública e a criação do ministério em 2003
serviram de marco para o setor e refletiram-se no Estado do Paraná e muito em
particular na RMC ao longo do período de 2003 e 2010, fazendo uma revisão inicial
das bases desse processo anteriores. A reformulação da institucionalidade federal,
que mostrou avanços consideráveis no turismo, ainda convive com um sistema do
desenvolvimento do turismo rural desarticulado das políticas de desenvolvimento
rural e que mantém fragilidades em torno do escopo do desenvolvimento (territorial).
Outros setores da economia convivem com sistemas de políticas públicas
setoriais já obsoletas e com objetivos que se distanciam do real objetivo do
desenvolvimento pelo que não é uma prerrogativa exclusiva do turismo. Diante
dessa realidade o que se obteve das análises que precederam giram em torno dos
seguintes temas:
No capitulo 1 a necessidade de discutir região, regionalização, desenvolvimento
e desenvolvimento rural, turismo no espaço rural e na agricultura familiar, ruralidade
e identidade num recorte que destacou não os atores, nem a cadeia produtiva desse
turismo, mas a análise das políticas públicas, seu ciclo, a implementação e os
agentes das políticas para o turismo rural na RMC no momento em que acontecia a
discussão da descentralização das políticas públicas do turismo que fortalecia a
participação, embora limitada, aos atores do setor na construção do turismo regional.
Essas principais questões teóricas desenvolvidas no capítulo 1 foram testadas
na pesquisa de campo exposto no resumo das entrevistas do capítulo 4. Entre as
questões apuradas identificou-se a falta de entendimento do que a região significa e
da sua importância no desenvolvimento de valores, princípios e identidades para o
turismo rural. Uma região é um elemento espacial vivo portanto a estruturação de
269
governanças, conselhos e sistemas de representação deveria obedecer às relações
sociais e econômicas preponderantes na região e não a modelos predeterminados
pelos agentes. O entendimento das instituições envolvidas na implementação das
políticas públicas a respeito do que significavam as regiões e o papel que estas
podiam desempenhar no desenvolvimento territorial foi limitado à interpretação de
um conceito administrativo.
A compreensão partiu da visão de territórios unidos e identificados pela sua
pobreza e miséria (os territórios da cidadania do MDA), regiões administrativas (SETU
com equivalências às Mesorregiões), e microrregiões homogêneas (as ADIs da
EMATER). Essas diferenças esconderam uma fonte de conflitos que essas divisões
trazem para o entendimento dos agentes e para a própria identidade local e regional.
Todavia, os agentes municipais entrevistados reconheciam a região como a
proposta de síntese de processo de autorreconhecimento entre as cidades, seus
territórios e espaços produto da própria regionalização. Esses agentes municipais,
quando mais afinados com os conceitos, mais tinham consciência da existência
de assimetrias – sociais e econômicas – e de poderes constituídos em torno
dessas assimetrias levando-os a questionar a regionalização turística. Com exceção
dos técnicos municipais entrevistados, as outras escalas de gestão (estadual e
federal) desconheciam totalmente ou em parte a existências de regiões turísticas no
Estado. As pesquisas e entrevistas apontaram, também, desconhecimento em torno
da regionalização.
Com raras exceções também se consideraram eles próprios parte do poder
local ou regional instituído, pelo fato de serem eles os implementadores das diretrizes
da política para o turismo rural nos seus municípios. Em alguns casos foi detectado
que a falta de conhecimento em torno dos instrumentos com os quais se trabalha,
como o é a região, levou a interpretações equivocadas da realidade, com diagnósticos
e soluções utópicas nas formas de implementar as políticas públicas para o turismo
rural. Em alguns casos, os esforços realizados na gestão ficaram perdidos pela falta de
uma unificação de critérios anterior ao próprio processo de gestão de planejamento
270
e políticas públicas. Também ocorreu falta de compreensão do que se buscava com
o desenvolvimento do turismo rural.
No capítulo 2 apresentou-se a desconstrução dos diversos recortes
utilizados do ponto de vista teórico. Dentro de um amplo leque de informações
secundarias oriundas de diversas fontes, foram respondidas questões formuladas
nos objetivos deste trabalho sintetizados na necessidade de conhecer e analisar a
produção e as práticas do desenvolvimento e do turismo rural e da implementação
das políticas públicas identificando as fragilidades no desenvolvimento local e regional.
Os dados do Censo Demográfico, do Censo Agropecuário e da pesquisa da
Cadeia Produtiva do Turismo realizada pelo IPARDES (2008, 2008a, 2009), bem
como dados de pesquisas junto a municípios da RMC realizada por essa instituição
para conhecer aspectos da gestão municipal, corroboram com a forte diferenciação
regional, acúmulo de assimetrias de riqueza, produção e mercado, e posições de
hierarquia que o arranjo institucional do aglomerado urbano reproduz em todas as
relações e que fazem parte do modelo de desenvolvimento que prevalece na região
administrativa. Os dados atualizados do PIB regional comparativamente aos dados
do Estado e o Censo Demográfico 2010, ajudaram a estabelecer que a implementação
de qualquer política pública, inclusive as do turismo e do turismo rural, se assenta
sobre a base de disparidades regionais. A RMC aglutina boa parte dos municípios
com maior renda do Estado, ao mesmo tempo em que agrega alguns com os piores
indicadores do Estado.
Os números do Censo Agropecuário, com base 2006, apresentaram a novidade
de dados sobre a agricultura familiar e com eles propriedades rurais que declararam
ter o turismo como aferidor de renda no Estado e na Região Metropolitana de Curitiba.
Os dados, entretanto, serviram de próxi para o tema em questão por não apresentar
detalhamento maior e aparecer no bojo de outras atividades não agrícolas realizadas na
propriedade. Os dados do censo confirmaram a crença de que o principal beneficiário
da atividade é sim o agricultor familiar, classificado pela lei federal.
271
Outros fenômenos que reforçam a importância de estudar o turismo rural
como parte do desenvolvimento rural nas Rotas do Pinhão foram analisados à luz de
informações da base de dados do Estado. O aumento do uso da energia elétrica
rural e uso do espaço rural para acomodar atividades urbanas vêm despontando.
Também o aumento das segundas residências nos municípios com restrições ambientais
e mesmo naqueles em que predomina a atividade rural. Além disso, a crescente
ampliação, em áreas periurbanas, de atividades de serviços do turismo, como
hospedagem e serviços de alimentação detectados pelos dados da pesquisa da
cadeia produtiva do turismo, mostrou indícios da mobilidade do capital em investimentos
de grande e médio porte para se apropriar do espaço rural metropolitano.
Em paralelo, os relatórios e as estatísticas da EMATER-PR apontaram para
um número bem maior de estabelecimentos no turismo rural em comparação com os
dados do Censo. Em torno de 10% de estabelecimentos agropecuários, da agricultura
familiar ou não, envolvidos com a atividade do turismo rural somente na RMC. Essa
classificação, entretanto, não toma em consideração outras que conjugam ou não
atividades de artesanato, agroindústria e pesque-pague; tampouco aquelas de atividades
agroflorestais, o que pode vir a indicar que o número pode estar subestimado, o que
mereceria uma análise mais aprofundada por outros estudos.
Discutiu-se, ainda, a partir dos relatórios e documentos oficiais, o papel
exercido pelas instituições na implementação das políticas para o desenvolvimento
rural, a agricultura familiar e o turismo rural. A visão dos principais agentes a partir
das formulações apontou para ideias que indicavam um processo de homogeneização
no tratamento de regiões, territórios e as necessidades destes.
Concluiu-se neste capitulo que houve fortes mudanças institucionais de peso
no período em estudo (2003-2010). De um lado, a criação do MTur e a criação de
uma secretaria de turismo que assumiu a responsabilidade de normatizar processos
já existentes, indicar e pôr em prática novas estruturas para o desenvolvimento do
turismo e do turismo rural no Estado. Nasce, porém, esvaziada de técnicos que
pudessem trabalhar em (com o campo?) campo e com outras estruturas que já
272
atuavam na atividade. Do outro lado, são definidos os critérios para o PRONAF, são
criados novos instrumentos do PRONAF para o fortalecimento do turismo rural e a
chamada Rede TRAF, que se assenta como embrião de uma rede nacional de turismo
rural. Querendo ou não, o processo de reacomodação institucional, os entendimentos
dos papéis a serem assumidos por cada uma das instituições tornaram-se palco de
conflitos de interesse regionais muito vivenciados na RMC.
No Estado, sai de cena a COMEC, e entram a secretaria de Assuntos
Metropolitanos, a Secretaria de Turismo do Estado do Paraná - SETU, a EMATER e a
ECOPARANA na busca de articulações. Inicialmente entre as secretarias do Estado
entre 2003 e 2004, depois da ECOPARANA e a EMATER com o MDA. O MDA por sua
vez dedica a maior parte de seu esforço em consubstanciar os Territórios da
Cidadania, missão para todo o Brasil, que tinha para essa atividade recursos
orçamentários da União. No cenário também surge o SEBRAE como parte do leque
de interessados, fortalecendo a necessidade de construir produtos turísticos no
espaço rural, a imagem e semelhança do que já vinha sendo feito em outros estados
do Brasil.
Analisaram-se os orçamentos e balanços oficiais para identificar os recursos
apropriados de e para a atividade chamada turismo rural. Ela não é contemplada
como tal. Lamentavelmente comprovou-se que o orçamento do Estado para o
turismo é o menor no período, perdendo apenas para uma secretaria especial, sem
estrutura. Assim mesmo, observou-se que os investimentos em infraestrutura com
exceção da energia elétrica recuaram a cada ano. Diante desse quadro, a região
turística Rotas do Pinhão se organiza em 2003 com o nome de Fórum Metropolitano
do Turismo, denominação que recebe por meio das diversas oficinas, mecanismo
instaurado como prática participativa desde o Programa Nacional de Municipalização
do Turismo, pela então EMBRATUR.
Um dos pontos propostos como hipóteses na dissertação foi se as políticas
publicas foram colocadas em pratica. Demonstrou-se que sim, ainda que parcialmente.
Em primeiro lugar, as definições de recursos e sua colocação eficiente para atingir as
273
regiões turísticas, numa proposta de descentralização que promovesse a sustentabilidade
de um sistema de governança regional do turismo, dependiam de articulações e
negociações que se produziam ao redor das prioridades e partilhas de Estados e
municípios com seus representantes no Congresso Nacional em concomitância com
o Ministério do Turismo, das chamadas emendas parlamentares. O Estado limitou
seu orçamento com cada vez menores os recursos alocados para investimentos,
programas e projetos, a liberação foi sempre diminuindo até o final de 2010. Vale
ressaltar que a partir de 2008 não se fez mais pesquisa em turismo. O turismo rural
só não foi pior porque obteve recursos para capacitação advindos do MDA numa
parceria com a EMATER e a ECOPARANA.
Apesar dos esforços e movimentações de agentes locais, e ainda que com
representantes do Estado no Ministério, o Estado do Paraná conseguiu no período
emplacar apenas um projeto a favor do turismo rural. Ao contrário do que poderia se
supor, as instituições não tinham projetos e as atividades ficaram limitadas às visitas
técnicas, espécie de excursões pagas com recursos a fundo perdido do MDA para
visitação de técnicos e produtores da agricultura familiar em propriedades com boas
práticas em turismo rural. Dessa forma, percorreu-se um caminho inverso da
institucionalidade do turismo rural criada no governo federal, fortalecendo laços de
dependência de recursos externos para o desenvolvimento da atividade. Ainda,
promoveu uma espécie de movimento por emendas parlamentares que a cada ano
perpassava pelo desafio de conhecer quais os sistemas de distribuição de
responsabilidades e (ou) competências que podiam ser estabelecidos, e quais
dessas responsabilidades os deputados federais estariam dispostos a negociar em
seu nome, em emendas parlamentares individuais e (ou) coletivas, que atendesse a
municípios do estado, nem sempre da sua base eleitoral. Nesse espectro o modelo
de desenvolvimento do turismo que se impulsionou foi o pior possível, sem orientação
nenhuma do Estado e ao sabor das demandas e expectativas dos prefeitos.
Por outro lado, houve um jogo de poder sobre quem levaria a maior fatia dos
recursos disponíveis de custeio ou investimento do orçamento federal e estadual
274
entre as diversas regiões e segmentos da governança turística. Esse jogo se
desdobra no grau de comprometimento e de força política efetiva por parte do setor
privado e do envolvimento que o setor tenha na organização das instâncias de
governança. As maiores fatias de emendas parlamentares do período foram destinadas
aos municípios indutores (Curitiba, Foz do Iguaçu e Paranaguá).
Já no capítulo 3 foram sistematizadas as diversas pesquisas de campo: as
pesquisas realizadas em nível institucional; as dirigidas aos atores do governo
federal atuantes no turismo rural do Paraná (de forma direta na região, ou indireta
via financiamentos); dos implementadores das políticas públicas no Estado (em
especial da EMATER e da ECOPARANA); e dos agentes municipais (diretores de
turismo em exercício no período da pesquisa ou anterior a ele). A compreensão
escalar do fenômeno turístico e do turismo rural foi uma das preocupações
esboçadas nas hipóteses de trabalho. A identificação do papel exercido pelo Estado
(nas suas múltiplas escalas) em torno do processo de consolidação de redes e roteiros
turísticos e os resultados esperados desse esforço multiescalar. Identificação de
possíveis desarticulações, não entendimento adequado das ações e políticas
implementadas, e aplicação total ou parcial das políticas de cima para baixo (Top down)
sem a devida leitura das peculiaridades e estruturas da região vieram a reforçar
movimentos de exclusão e isolamento de comunidades rurais. As entrevistas com
pontos comuns entre elas, sintetizados em blocos, iniciaram-se com o entendimento
de Região, seguidos pela noção de desenvolvimento e desenvolvimento rural,
entendimento do que seria a governança do turismo para finalizar com o discurso em
torno das práticas participativas e de cooperação interagentes e intra-agências.
O contraditório paira nas respostas dadas em entrevistas e para os quais
apresentamos uma síntese final a seguir. No processo de pesquisa chamou a
atenção que a escala federal representada pela delegacia regional no estado não
conhece a política pública do turismo, nem a lei estadual e menos ainda o programa
de turismo rural no estado. Apenas apoiava atividades que julgou convenientes para
o desenvolvimento rural, podendo se encontrar o turismo dentro desse leque, como
275
de fato aconteceu em algumas regiões como Oeste e Metropolitana. O estado por
sua vez, como ficou demonstrado, trabalhou com a política setorial de fortalecimento
das propriedades rurais.
O turismo podia participar do processo de forma transversal, estruturante.
Cabia aos técnicos extensionistas promover a participação ou não, e o relacionamento
com as estruturas municipais dependia de motivações pessoais, sendo um
relacionamento direto com as secretarias de agricultura municipais e não as de
turismo. Já os gestores municipais do turismo esperavam uma articulação plena de
seus pares e da capital, bem como dos técnicos da EMATER. Em suma trabalhava-se
em compartimentos estanques para o mesmo propósito e com prioridades variáveis
conforme o município. As mudanças na descentralização das políticas públicas não
foram acompanhadas da compreensão e de reformas na gestão e partilha das
responsabilidades nas escalas estadual e municipal. A partir das análises
precedentes nas entrevistas, e da evolução dos dados intercensitários, e considerando
como foram concebidas e implementadas as políticas para o segmento do turismo
rural na RMC, as análises levaram a concluir que não houve desenvolvimento
(territorial) nos moldes dos autores citados. Houve, sim, um esforço de desenvolvimento
do turismo e do turismo rural a partir da organização da gestão. Essa organização
seguiu modelos estáticos não condizentes com a evolução das regiões turísticas.
Como resultado, poucos foram os agentes que interagem na região que reconheceram
a região turística Rotas do Pinhão. Ela não vem sendo percebida como uma região.
Entre o primeiro desenho da regionalização turística ocorrido em 2004 e 2010, os
municípios que participam das Rotas do Pinhão foram abordados de diversas
formas, porém integrados de forma administrativa fortalecer a construção. É muito
provável que diante dos prementes problemas que enfrentam alguns municípios
tenha sido o motivo da reduzida participação, também outra causa pode ter sido a
falta de interesse em criar novas frentes de atuação local sem possibilidades de
melhorar condições de vida da população local.
276
À pressão exercida pela EMATER sobre os extensionistas para se preocuparem
com o aumento da produção, da produtividade, da capacidade das ocupações não
agrícolas de gerar renda adicional para as famílias, num foco que é eminentemente
setorial, em torno da cadeia produtiva desenhada pelos agentes extensionistas
calcada encima da propriedade rural, se opunha à produção do turismo atrelada
àquilo que a propriedade individual podia oferecer para a conformação em "produto".
Por outro lado, o conflito não foi exclusivo dos agentes extensionistas. Os
agentes municipais do turismo, aqueles que formam parte do município nos órgãos
de ordenamento turístico local (OOTs), muitas vezes desconheciam a realidade local,
por falta de orientação ou por mera falta de entendimento, enfrentaram o entorno do
município onde já trabalham, com pouco ou nenhum domínio do que acontecia no
rural e sem preocupação em construir diagnósticos mais acabados sobre a
realidade. Os agentes municipais entrevistados foram exceção à regra, o que se
converteu mais tarde numa das fortalezas para a continuidade do turismo rural nos
municípios onde atuaram.
Assim, os poucos técnicos em turismo contratados construíram propostas
para o desenvolvimento da atividade, além da realidade, em torno das políticas
normativas disseminadas pelo MTur e pela SETU, ou pelos manuais de difundidos
para a organização municipal, propostas que ficaram engessadas perante todo tipo
de percalços encontrados: orçamentários, técnicos, relacionais, sociais e principalmente
políticos pela falta de conhecimento que os dirigentes municipais professam sobre o
que o turismo pode vir a contribuir na redução de desigualdades regionais. Sem
recursos e sem redes de estimulo locais ou regionais, foram desconsiderados e
alienados do processo de construção das cidades, não foram levados a sério quando
tentaram, em vão, criar instâncias de governança local para o turismo (às vezes
ignorando que já existiam outras nas quais poderiam participar e até criar o próprio
espaço, sabendo-se que a convivência é salutar para ambos os lados).
Não menos importante, o desenho institucional das políticas advindas do
MTur não foi suficientemente discutido e apropriado ao interno das regiões, não por
277
uma falta de interesse, mas pela ausência de exigências de obrigatoriedade no
cumprimento das mesmas. Os diversos momentos de oficinas de planejamento
propunham incorporar as diretrizes vindas das escalas nacional e estadual e não se
procurou a criação de espaços comuns com o desenvolvimento dos territórios, nem
do espaço rural.
Ausência de entendimento sobre a flexibilidade que a implementação das
políticas públicas para o turismo foi detectada pelas respostas dos extensionistas na
pesquisa, e pelas entrevistas com dirigentes. Faltou também um diálogo maior entre
o setor agrícola municipal e o turismo municipal, uma integração maior entre os
agentes do próprio município. Foi aí onde as resistências ou sinergias se fortaleceram
ou debilitaram processos que se constatou falta de orientação do desenvolvimento
da atividade do turismo rural como instrumento da regionalização, integrando roteiros
intermunicipais e fortalecendo circuitos; isso toma corpo com maior intensidade
naqueles municípios onde a pressão econômica e política foi mais forte. Quando
perguntados sobre os melhores programas para o desenvolvimento do turismo, houve
disparidade entre ambos os grupos, dos extensionistas e dos técnicos do turismo.
Quando questionados sobre uma definição do desenvolvimento aplicado no município,
a compreensão da situação foi diferenciada ainda entre os técnicos do turismo.
Pode-se afirmar que o maior esforço do setor foi realizado em torno do
planejamento e da gestão. Os esforços, contudo, não renderam o suficiente ao ficar
abafados pela descontinuidade. A descontinuidade de processos foi apontada por todos,
tanto pelos agentes federais como pelos estaduais, e os municipais. A descontinuidade
ocorreu por várias razões, uma delas é falta de alinhamento nos períodos eleitorais
que não permite uma implementação de forma coerente com o médio e longo prazos
em suas diversas escalas.
Outra razão o constitui a falta de entendimento de que políticas públicas,
uma vez apropriadas pela comunidade tornam-se políticas de Estado (municipais,
estaduais, federais) e não são políticas de governo (de turno). O próprio estado incorreu
nesse erro, pois a COMEC não se dispôs a discutir seriamente o desenvolvimento da
278
atividade com os seus pares. Em 2005, a secretaria de Assuntos Metropolitanos
(criada em 2003) assumiu um papel relevante na construção de uma proposta
geral (Mutirão Metropolitano), mas que foi esvaziada em 2006 por falta de
recursos orçamentários.
No tema da gestão, outro agente institucional, a EMATER atendeu a mais de
um mil propriedades na região metropolitana, das quais 210 mantêm atividades de
turismo rural. Houve no mesmo período um número de propriedades rurais que
produziu artesanato, que trabalhou com agroindústria e (ou) manteve pesque-pague,
e na visão dos técnicos, nenhuma dessas atividades foi considerada turismo rural.
Essa visão cartesiana limitou em mais uma fase do processo a essência de integração
regional em circuitos de municípios diferentes numa proposta regional. Insiste-se em
resolver problemas de gestão enquanto se continuou compartimentando processos,
por falta de visão sistêmica.
Isso conduz para uma dupla preocupação ainda pouco contemplada na
estruturação e implementação das políticas: ainda que existam claros avanços, a
dimensão social sempre deve ser colocada como desafio, que se soma às dificuldades
regionais em uma economia subdesenvolvida.
Se no âmbito federal a reformulação da institucionalidade para a conformação
de um sistema de políticas públicas para o turismo (com a criação do MTUR) foi o
principal avanço; também o foi para o turismo rural (com a consolidação do PRONAF
e da rede TRAF), que consolidou conceitos e processos e proporcionou proposta de
competitividade e inclusão social ao sistema turístico na área rural. Já na escala
estadual, houve um claro retrocesso pelo permanente redução dos recursos alocados
para a atividade, pela falta de entendimento entre os agentes para o desenvolvimento
da atividade e pelo desperdício de recursos em atividades de capacitação que nada
agregavam as propriedades rurais. O esforço maior girou em torno da construção de
sistema de normas e programas para o turismo rural e uma legislação que deixou de
fora as práticas vigentes na época pouco difundida para os agentes que interagiam
com o setor no espaço rural.
279
Nessas condições, as sementes do turismo no rural metropolitano esparsas
durante o final da década 1990 com o desenho de circuitos e roteiros que atendiam
a determinados padrões de desenvolvimento ficaram invernando no período de
análise. Em alguns municípios da região essas sementes secaram, como no caso de
Almirante Tamandaré. Noutros, ganhou contornos diferenciados e tratamentos que se
identificaram com políticas de cunho social, mais do que com políticas do desenvolvimento.
No caso de São José dos Pinhais, novos conflitos se estabeleceram com a especulação
imobiliária e entrada de investidores urbanos na área de eventos para a região onde
circulam os visitantes dos circuitos.
Decorrente do anterior, encarar o turismo como uma política social, levaria a
pensar na sua possibilidade de atender não somente os atores locais, mas a
totalidade dos que participam da atividade, isto é as comunidades; e ir além na
organização de contraprestação, orçamentária, técnica, de infraestrutura por parte
das escalas municipal, estadual e federal. Seria uma forma de "popularizar" a atividade
promovendo uma ação permanente de incentivo a essas estruturas e prêmios de
ação local evitaria o esvaziamento das estruturas. Esse seria o sonho de consumo
da política pública que remete ao comparativo das políticas de educação e saúde
nos municípios, tão estudadas por autores citados no capítulo 1 desta dissertação.
Um conflito adicional para o desenvolvimento do turismo rural nas Rotas do
Pinhão constituiu a lista de municípios rurais na Região Metropolitana e na região
turística Rotas do Pinhão. Embora o ensaio no diagnóstico tivesse sido feito a partir
de Veiga (2000) uma tipologia dos municípios urbanos, periurbanos e rurais, obedecendo
os critérios de população e densidade demográfica como o autor defende. Essa
separação foi realizada como uma provocação para entender as hierarquias politico-
institucionais que emergem da organização e gestão desses municípios. É muito
provável que os conselhos de desenvolvimento (municipal ou regional) tenham muito
mais poder dentro desses municípios. Foram visitados alguns dos municípios do
Vale do Ribeira e comprovado que mesmo nessas instâncias aparecem contradições
sobre formas de promoção do desenvolvimento. Constatou-se ainda em contatos
280
com os técnicos da EMATER da região, que há grandes empresas regionais que não
participam desses conselhos, porém definem formas de governanças paralelas
diretamente com as prefeituras. Uma vez constatado, atenta-se para a necessidade
de conhecer essas realidades, seu capital social numa visão mais simbólica, para a
promoção de formas alternativas do fazer turístico. Processos desse tipo devem ser
entendidos como de longo prazo e de resultado limitado em termos de mercado,
mas garantiriam uma força e coesão social para a construção de valores sociais
mais homogêneos nesses municípios predominantemente rurais. De nada serve
impor propostas de política que não atendem à realidade local e que os distancia de
seus valores e práticas rurais. Não se trata de construir novas ruralidades, já tão
diversificadas no âmbito brasileiro, mas de fortalecer as existentes interagindo com o
visitante que consome o turismo rural.
Cabe apontar aqui que a descoberta do crescimento do fenômeno das segundas
residências na região apontada pelos dados do censo demográfico, crescente nos
municípios do Núcleo Urbano Central - NUC, mas muito mais dinâmico nos municípios
predominantemente rurais. Conhecer o fenômeno não basta, é preciso identificar as
suas causas e propor regras que permitam um crescimento equilibrado para as
regiões onde se estabelece. Veiga (VALOR, dez. 2011) aponta para esse fenômeno
como pernicioso, já na sua defesa está o fato de ele vir atrelado ao lazer e à
exploração turística da paisagem.
Um dos objetivos deste trabalho foi apontar os conflitos inerentes à aplicação
das políticas públicas: apesar dos esforços iniciais realizados pelos ministérios de
Desenvolvimento Agrário e do Turismo para estabelecer uma linha de ação estratégica
única para os empreendimentos turísticos no meio rural, as políticas públicas do
PRONAF, aplicadas com zelo pela SEAB e suas empresas vinculadas (EMATER,
IAPAR), não cumprem a mesma função das políticas do turismo rural defendidos
pelos Ministérios de Agricultura e Pecuária - MAPA e do Turismo - MTUR, que
pautam padrões de "qualidade dos serviços" e de competitividade da cadeia de
valores do turismo similar aos empreendimentos turísticos urbanos, padrão esse que
281
vem sendo monitorado pela SETU (SEBRAE e governanças regionais) no Estado.
Essa divergência se reflete no espaço rural metropolitano e nos diversos turismos
praticados nele. E esse é apenas um espelho das grandes dicotomias que compõem
os processos de turistificação de territórios, onde o importante é capitalização e
aferição de lucros e não a sustentabilidade e o desenvolvimento das populações locais.
Não há duvidas de que o relacionamento entre as estruturas do Estado se
fragilizou pela perda de princípios norteadores da atividade turística no espaço rural
metropolitano. Não houve correspondências entre as fragilidades existentes e as
atitudes para superá-las. Os resultados obtidos também apontaram que houve
poucos indícios de parcerias efetivas de cooperação incentivadas pelos agentes
entre o produtor da agricultura familiar, entre o empreendedor urbano no meio rural e
o mercado, o que tem sido repetido por todos esses mesmos agentes como um dos
entraves que se interpõem ao desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Turismo no
espaço rural. Se a proposta busca o desenvolvimento das famílias rurais, urge
pactuar esses princípios sob o comando de todas as ações para o espaço rural.
Em síntese, não há formas únicas de resolver o problema das políticas
públicas do turismo rural na RMC, nem este esforço de análise pretendeu dar todas
as respostas para os problemas levantados.
Certamente, os valores e princípios do desenvolvimento demoram muito
mais para mudar do que os comportamentos, o que resulta numa ambiguidade para
os agentes promotores dessa mudança. Constatou-se que o comportamento dos
agentes é tradicional, obedece a uma estrutura setorial e a políticas públicas de
cunho setorial, fortalecidas pelos recursos disponibilizados para sua implementação.
Hoje há muito mais escolhas que 15 ou 20 anos atrás. A essa estrutura setorial
confrontam-se velhos agentes com comportamentos aparentemente modernizados
pelas políticas públicas, mas que em termos de valores (princípios) em nada se
diferenciam daqueles que apenas atendiam à política agrícola setorial, o que os
torna uma fonte de conflitos, um contraditório na base e na definição de prioridades.
282
Tem ainda a pressão de entrega de produtos para a empresa, medidos em resultados
quantitativos de produtividade e competitividade da propriedade rural.
Trilhar caminhos alternativos implica enfrentar cobranças, principalmente de
outros agentes com os quais deveria interagir para fortalecer o desenvolvimento da
região. Caberia a esses agentes estimular novas escolhas e assumir essas escolhas.
O empoderamento das comunidades se enfrenta com uma série de regulações
invisíveis. Não se trata de uma pressão direta, violenta, mas há uma violência simbólica
que reside em ignorar a visão do outro, no enfraquecimento das escolhas do outro.
Por outro lado, qual política confere mais status ao técnico? Aquela que tem projeto
e uma estrutura hierárquica rizomática, que permite chegar às escalas superiores, e
com recursos orçamentários disponíveis, ou emendas parlamentares para projetos
preestabelecidos? Ou aquelas nas quais deve enfrentar as práticas e os discursos
de melhoria e capacitação para uma demanda que não se sabe ao certo qual é? Ou
ainda enfrentar a ansiedade e o medo de pequenos produtores familiares de que no
amanhã tudo o que se investe possa não mais existir? O inevitável é testemunhar a
decadência da implementação das políticas pela falta de visão de futuro. Na verdade,
esqueceram-se de incentivar a escolha de oportunidades entre as várias escolhas.
A construção de alicerces é uma garantia para o desenvolvimento da atividade
turística no meio rural de forma sustentável e exige menos preocupação com a
decadência da atenção ao núcleo central do aglomerado de Curitiba e mais com a
participação de grande parcela dos proprietários da agricultura familiar que se
tornaram invisíveis. Abandonar os signos obrigatórios do mercado (capitalista) para
passar a buscar a integridade desses produtores e ai sim, a sustentabilidade que o
turismo pode promover como ocupação não agrícola.
A discussão sobre o Turismo Rural deve encontrar nos pilares competitividade
e inclusão social os objetivos de um sistema de políticas públicas para a atividade na
RMC. Em primeiro lugar, o turismo rural não é e não pode ser considerado uma
panaceia, mas é recomendável e até certo ponto indispensável atuar no sentido de
"adequar proporções": adequar o crescimento do turismo ao crescimento econômico
283
da região para os anos à frente e principalmente o tamanho de nossas expectativas
regionais ao do mercado turístico local. Em segundo lugar, o turismo rural se coloca
ante uma série de elementos que envolvem um ajuste estrutural da política pública
para o Estado. Estruturas públicas estaduais e municipais devem reencontrar caminhos
de convergência para direcionar o processo, abrir as portas para um debate amplo e
reconhecer o papel fundamental das comunidades rurais e dos pequenos municípios
na construção desse turismo que deve constituir uma alternativa de jovens, mulheres
e idosos que têm na ruralidade o seu modo de vida e seu sustento.
Erro seria apontar culpados nesse contexto. Quiçá o maior erro esteja em
que o turismo não encara o entorno local e regional, ficando isolado das outras
atividades econômicas no território. Em termos de gestão na escala local, o turismo
não pode ficar atrelado ao turismo, deve se inserir no contexto de construção do
desenvolvimento econômico e social do município ou da região. Além do mais, a
incipiente estruturação das políticas públicas no Paraná vem sofrendo pela falta de
investimentos, como visto anteriormente. O discurso da gestão dada pelo governo
no período foi de prioridade, na ação ficou no adereço.
Como defendido pelos autores citados no capítulo sobre políticas públicas, o
que fortalece a implementação das políticas é sua estrita observância e a possibilidade
de contrapartida das escalas superiores, não o seu caráter normativo. Nenhum
município aplicará recursos sem a respectiva retribuição federal. Nenhum município
definirá prioridades sem o necessário investimento estadual. Por último, deve-se
evitar o imediatismo da patológica relação entre produtos e mercados. A construção
de turismos só pode emergir na medida em que essa construção de produtos se
apoie na convincente participação da comunidade. Muito mais ainda se essa
comunidade é uma comunidade rural.
Assim, as soluções deverão partir das comunidades e chegar ao turismo
associado às políticas de desenvolvimento rural e percorrendo o caminho inverso
voltar para a agricultura familiar, passando pela comunidade e seus anseios até chegar
ao município e os espaços regionais, só assim haverá formas de tratar os problemas
284
ambientais, sociais e econômicos sem desmerecer nenhuma das pontas, a partir das
realidades existentes e não das potencialidades diagnosticadas. A política pública
nada mais é do que o exercício de governar com metas dadas por um planejamento
e um programa de governo, fugir das molduras que orçamentos e enquadramento
financeiros que o Governo Federal e os estados e municípios têm, é limitar a
capacidade de atuar de forma oportuna e concreta na atividade, tornando a ausência
a marca da política de governo no desenvolvimento do segmento.
A propósito de governar o prof. Belmiro Castor coloca que todas as vezes
em que se tenta governar por aproximações sucessivas, com soluções parciais para
problemas ou para categorias isoladas, o problema reaparece imediatamente em
outras categorias e outras situações. Na visão do professor, "governar, atualmente,
se parece com uma partida de sinuca [...] uma sucessão de sinucas de bico, das
quais o governante sai com enorme dificuldade apenas para se ver às voltas com
outra" (GAZETA DO POVO, 04/03/ 2012).
A crítica é pertinente quando se trata de avaliar no longo prazo qual é o
projeto de desenvolvimento que se pretende para as comunidades, os municípios e
as regiões que depositam a esperança numa política pública para o turismo rural que
chega até eles como uma colcha de retalhos e interpretada ao sabor dos agentes
que se aprimoram em esquecer qual é o objetivo da mesma: fortalecer o emprego e
a renda de municípios e regiões.
O turismo, como prática econômica, é um processo reticular que participa
dos fluxos do mercado internacional e nacional. Faz parte da chamada modernidade
flexível, é dominada pela ficção, pela fantasia, pelo imaterial, pelas imagens, pela
efemeridade, pelo acaso, ao ser partilhada por diversos atores que conformam o
"produto turístico" que estão sujeitos às lógicas de ação ditadas pelo mercado,
muitas vezes impostas desde fora.
O processo de construção do turismo é muito mais complexo do que saber
"bem receber". O turismo traz à tona a necessidade de questionar se a política
pública deve se esforçar em manter e preservar a identidade e as singularidades do
285
rural, a sua ruralidade, mesmo a revelia do crescimento do fenômeno pelo estímulo
do consumo como "produto", ou, se seria necessário conter, antes que seja tarde
demais, as influências do mercado capitalista.
No caso específico da região Rotas do Pinhão na RMC, o turismo ainda pode
ser um eficiente instrumento para amortizar uma compensação ambiental, porque
muitas das propriedades estão encurraladas às restrições de uso a tecnologias que
permitiriam um ganho adicional de produtividade para a limitada atividade agrícola e
hoje conflitam com as bacias hidrográficas nas áreas de mananciais que abastecem
o urbano. Embora uma questão emblemática, esse tema não foi objeto de análise
neste momento, resgatando apenas a sua condição de importância como variável
que pressiona o mundo rural na RMC.
Uma condição indispensável para uma melhor implementação das políticas
publicas do turismo rural com vistas ao desenvolvimento seria a existência de uma
estrutura de planejamento e de políticas públicas razoavelmente articuladas para o
turismo, e em decorrência para o turismo rural, e recursos suficientes para que o
ciclo das políticas públicas seja completado. De nada adiantaria promover uma
descentralização das políticas fortalecendo instâncias de governança se não houver
uma clara prática de monitoramento e avaliação das políticas implementadas.
As políticas públicas são um elemento importante, mas não suficiente para criar
competitividade nos destinos turísticos. Se há competitividade, é evidente que não
é suficiente.
Observadas as condições externas, de competitividade, e internas, da
implementação das políticas públicas, capazes de influenciar o crescimento e o
desenvolvimento da atividade turística na região, pode-se pensar então num
desenvolvimento local e regional sustentando pela atividade turística que se some
às propostas de desenvolvimento sustentável em curso.
Assim, para que o desenvolvimento (territorial) rural supere a condição de
um conceito da moda, vazio de conteúdo e elemento bem aproveitado dos discursos
286
políticos para se tornar realidade concreta na RMC seria necessário aceitar uma
série de critérios básicos:
a) Uma visão concertada a respeito do futuro desejável para a RMC, não
necessariamente isenta de dissensos. Reconhecer que o tecido social e
econômico da região metropolitana não é homogêneo, nem o é a
distribuição das riquezas e dos serviços que o Estado oferece. Portanto,
reconhecer que tensões são inevitáveis, mas constituem os elementos
fundamentais da cultura democrática e o desafio do Estado é levar ao
consenso pontos de intervenção que atendam às necessidades locais e
fortaleçam a identidade regional. O encadeamento simbólico da consistência
ao desejo de transformação e construção coletiva, fundamentais para o
desenvolvimento da atividade do turismo rural;
b) Uma participação ampliada da população local e dos grupos sociais.
É um esforço para o exercício de escutar, prestando atenção não somente
naqueles que têm algo a dizer em relação ao desenvolvimento da atividade
do turismo rural, mas também naqueles que estão envolvidos indiretamente
e o recepcionam. Não significa, de um lado, fazer valer todas as
opiniões, nem tampouco teria o propósito de legitimar a visão técnica.
Trata-se de promover caminhos de convergência que deem legitimidade
social aos agentes de um lado, mas também promova a corresponsabilidade
social e política da comunidade e da população local na construção de
projetos (produtos);
c) A corresponsabilidade pelos projetos empodera e legitima a comunidade,
descompatibiliza estruturas estanques e populariza a atividade do turismo
rural no seio da sociedade, como fonte de renda e trabalho para todos,
não para uns poucos. Sem empoderamento, diminui a perspectiva de
participação e com ela a capacidade de incentivar transformações na
construção do turismo regional;
287
d) Permanente exercício de controle social. Entender a construção do
turismo rural como processo promovendo espaços de discussão e
prestação de contas daquilo que o Município, a região e o Estado fazem;
e) Transparência e Solidariedade. Gerar processos de comunicação e
informação que permeiem de claridade e difundam os procedimentos de
quem decide, como decide e para que ou quem decide. Essa contabilidade
(social e territorial) permitiria um balanço essencial para envolvimento de
todos os grupos sociais e para o fortalecimento de uma instância de
governança regional; e
f) Para que o turismo rural integre um enfoque de desenvolvimento (territorial)
rural é fundamental identificar e enfrentar os conflitos de interesses entre
os atores sociais, entre as dimensões locais e regionais que permeiam a
região (econômico, social, ambiental e política) e entre os custos e
benefícios das decisões socioespaciais presentes. É sobre essa base
que deve ser assentada a promoção de qualquer parceria, consórcio,
para possibilitar que o desenvolvimento seja percebido legitimamente
como parte integrante da vida de todos e todas.
Cidades turísticas, onde o patrimônio natural, o patrimônio histórico cultural e
as próprias restrições ambientais tornam-se elementos para o fazer turístico, podem
compor um elemento na agenda positiva do desenvolvimento dos municípios que
acomode interesses em conflito com a metrópole que avança e pode ser o palco de
processos de informação, sensibilização e convergência técnica, social e política
para a construção de um futuro desejável.
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Itaipu Binacionalhttp://www.itaipu.gov.br/?q=pt/node/435&id_noticia=3018http://www.itaipu.gov.br/?q=pt/turismo
Programa de qualificação e certificação em turismo de aventurahttp://www.abeta.com.br/aventura-segura/pgn.asp?id_pg=68&nivel=2&n1id=1&n2id=68
Portal da RPCJornal Gazeta do Povo. Caderno Vida e Cidadaniahttp://www.gazetadopovo.com.br/
320
Observatório do turismo de aventurahttp://www.observatoriodaaventura.com.br/home/?pag=documentos
GTZ GTZ/DDM/PROMOCAP, 2001http://planificacionestrategicamunicipal.blogspot.com.br/2011/10/que-es-el-desarrollo-economico-local.html
REDE TRAF. A Rede TRAF.http://www.redetraf.com.br/r-redetraf. asp
321
APÊNDICE 1 - TABELAS REGIÃO METROPOLITANA
322
TABELA A.1.1 - RESUMO GERAL DE INDICADORES SOCIAIS DA RMC
MUNICÍPIOIDH-M(1)
(2000)
TAXA DE
POBREZA
(2000)
AGÊNCIA
BANCÁRIA
(2010)
IDEB REDE
MUNICIPAL(2)
(2009)
IPDM(3)
(2008)
COEFICIENTE
MORTALIDADE
INFANTIL
(2010)
COEFICIENTE
MORTALIDADE
GERAL
(2010)
ÍNDICE DE
IDOSOS
(2010)
ÍNDICE
DE GINI
(2000)
PIB
PER
CAPITA
(R$1,00)
(2009)
Adrianópolis 0,683 43,44 1 4,9 0,5018 - 7,84 37,99 0,590 9.860
Agudos do Sul 0,712 38,91 1 4,1 0,5439 - 5,56 31,36 0,560 6.039
Almirante Tamandaré 0,728 22,17 4 4,2 0,5841 7,58 6,32 15,82 0,480 5.926
Araucária 0,801 17,71 8 4,8 0,7879 10,06 5,84 18,26 0,480 101.411
Balsa Nova 0,781 21,57 2 5,2 0,6294 17,14 7,96 27,79 0,490 23.717
Bocaiúva do Sul 0,719 29,02 2 3,9 0,4881 27,59 5,55 25,05 0,550 8.433
Campina Grande do Sul 0,761 21,35 2 5,0 0,6596 24,10 6,32 18,43 0,500 12.876
Campo do Tenente 0,687 38,07 1 4,8 0,6086 20,41 4,49 20,86 0,530 9.616
Campo Largo 0,774 15,91 6 5,2 0,7078 17,09 6,10 26,12 0,500 11.922
Campo Magro 0,74 21,46 1 4,9 0,6947 12,56 6,08 19,39 0,500 7.483
Cerro Azul 0,684 48,66 2 4,0 0,472 25,51 6,91 25,43 0,620 9.772
Colombo 0,764 17,34 10 5,0 0,6358 12,50 6,12 17,42 0,470 7.547
Contenda 0,761 28,29 3 4,8 0,6334 20,00 6,92 26,88 0,560 9.384
Curitiba 0,856 8,61 348 5,7 0,8509 9,11 5,62 37,80 0,590 24.720
Doutor Ulysses 0,627 57,29 - 3,9 0,3584 15,87 4,71 22,67 0,570 13.662
Fazenda Rio Grande 0,763 20,11 5 4,7 0,6164 14,06 5,67 13,31 0,450 5.968
Itaperuçu 0,675 35,64 - 4,3 0,4821 26,55 6,15 14,30 0,510 7.418
Lapa 0,754 31,54 5 5,4 0,6519 15,53 7,30 30,75 0,640 13.840
Mandirituba 0,76 26,56 2 5,1 0,6465 11,36 6,80 26,28 0,600 10.044
Piên 0,753 27,95 2 5,4 0,7041 20,00 5,25 21,26 0,580 23.789
Pinhais 0,815 14,18 8 5,3 0,7371 12,45 6,56 21,54 0,490 20.129
Piraquara 0,744 23,17 3 4,6 0,6116 14,63 6,29 15,01 0,500 5.489
Quatro Barras 0,774 17,46 3 5,1 0,759 9,40 6,20 21,64 0,540 27.510
Quitandinha 0,715 41,50 2 4,9 0,562 6,37 6,73 33,21 0,620 6.923
Rio Branco do Sul 0,702 31,87 3 4,4 0,5673 11,72 7,18 19,05 0,550 16.613
Rio Negro 0,801 19,22 4 6,0 0,75 33,08 6,52 29,80 0,540 18.327
São José dos Pinhais 0,796 14,03 21 5,1 0,7536 11,87 5,79 18,34 0,520 41.217
Tijucas do Sul 0,716 32,21 1 4,7 0,6667 35,93 7,77 30,36 0,540 10.944
Tunas do Paraná 0,686 35,35 - 3,9 0,5353 20,98 6,39 12,63 0,570 6.465
PARANÁ 0,787 20,87 1.337 12,07 6,38 32,98 0,607 17.779
FONTE: BDE -WEB, IPARDES
(1) Índice de Desenvolvimento Humano (PNUD).
(2) Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - INEP.
(3) Índice Ipardes de Desempenho Municipal - IPDM.
323
TABELA A.1.2 - EVOLUÇÃO DO PIB MUNICIPAL EM VALORES CORRENTES, ESTADO DO PARANÁ E MUNICIPIOS DA RMC - 2002-2009
EVOLUÇÃO DO PIB MUNICIPAL (Em R$)LOCALIDADE
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Estado do Paraná 88.407.068 109.458.874 122.433.727 126.676.843 136.614.633 161.581.846 179.263.190 189.991.954
Adrianópolis 18.480 24.101 25.132 27.050 29.901 64.620 57.820 67.601
Agudos do Sul 23.796 32.230 33.209 39.691 40.947 44.074 50.882 52.751
Almirante Tamandaré 379.290 428.117 458.749 480.893 443.793 516.528 479.840 577.882
Araucária 4.646.285 6.246.533 6.884.911 7.082.490 8.436.380 9.547.958 11.019.940 11.962.877
Balsa Nova 131.552 170.797 189.962 177.248 194.980 210.349 243.552 266.859
Bocaiúva do Sul 30.716 43.485 41.474 55.420 63.711 70.890 71.176 84.239
Campina Grande do Sul 180.667 209.534 240.508 294.233 342.407 342.319 400.033 474.162
Campo Largo 722.179 967.275 1.043.994 1.114.213 1.193.618 1.286.810 1.192.945 1.341.770
Campo Magro 67.038 85.407 88.477 102.815 117.086 138.501 160.222 176.645
Cerro Azul 68.305 90.061 76.524 132.987 119.681 141.657 138.929 182.354
Colombo 819.497 954.491 1.055.792 1.173.268 1.302.037 1.515.176 1.632.287 1.866.143
Contenda 62.088 89.914 103.639 102.811 125.793 132.939 141.929 147.588
Curitiba 20.239.876 23.828.224 26.755.257 29.672.565 32.182.599 38.124.861 43.354.307 45.762.418
Doutor Ulysses 22.687 31.441 31.982 76.258 64.016 67.350 63.936 83.953
Fazenda Rio Grande 229.595 291.078 349.281 370.281 405.659 420.718 426.808 482.596
Itaperuçu 60.540 73.409 83.261 91.840 91.284 121.682 159.960 174.329
Lapa 278.603 432.433 447.612 442.885 473.483 569.685 652.016 594.211
Mandirituba 112.299 137.448 152.392 158.972 167.375 179.805 213.122 219.810
Piên 146.265 177.021 217.941 222.784 254.947 263.417 287.797 280.972
Pinhais 999.752 1.162.856 1.394.415 1.454.940 1.681.171 2.088.958 2.453.262 2.381.653
Piraquara 211.826 266.707 291.566 349.307 318.417 362.948 389.927 479.122
Quatro Barras 218.516 272.218 342.486 324.586 335.486 383.558 438.219 530.301
Quitandinha 41.028 55.662 58.800 66.641 85.832 92.460 127.867 114.977
Rio Branco do Sul 297.490 360.694 388.458 377.398 389.760 454.972 467.218 550.603
Rio Negro 255.985 299.860 370.030 384.703 424.431 443.733 559.664 571.634
São José dos Pinhais 4.547.380 5.271.805 6.207.951 6.469.185 7.029.321 8.524.230 10.397.115 11.511.811
Tijucas do Sul 65.349 84.510 81.722 89.533 92.822 110.253 125.337 150.605
Tunas do Paraná 11.509 34.786 22.122 70.939 50.196 47.597 41.767 43.656
Região Metropolitana de Curitiba 34.486.343 41.645.216 46.849.676 50.798.449 55.777.755 65.560.898 74.900.416 80.280.916
FONTE: BDE-WEB, IPARDES (2011)
324
TABELA A.1.3 - DENSIDADE DEMOGRÁFICA E VARIAÇÃO NOS MUNICÍPIOS, DO PARANÁ E DA RMC - 2000/2010
1991 2000 2010DENSIDADE GEOGRÁFICA
(Hab./Km2)
LOCALIDADE População
Censitária -
Total
População
Censitária
Urbana -
Total
População -
Contagem
Rural -
Total
População
Censitária -
Total
População
Censitária
Urbana -
Total
População -
Contagem
Rural -
Total
População
Censitária -
Total
População
Censitária
Urbana -
Total
Pop. -
Contagem
Rural -
Total
2000 2010
Variação
%
2000/2010
Estado do Paraná 8.448.713 6.197.953 2.250.760 9.563.458 7.786.084 1.777.374 10.444.526 8.912.692 1.531.834 47,85 52,25 9,20
Região Metropolitana de Curitiba 2.140.982 1.930.093 210.889 2.813.237 2.552.969 260.268 3.221.608 2.953.889 267.719 131,91 150,94 14,43
Adrianópolis 8.935 1.589 7.346 7.007 1.613 5.394 6.376 2.060 4.316 5,22 4,75 -9,00
Agudos do Sul 6.076 779 5.297 7.221 1.466 5.755 8.270 2.822 5.448 37,28 43,23 15,96
Almirante Tamandaré 66.159 59.080 7.079 88.277 84.755 3.522 103.204 98.892 4.312 467,93 540,01 15,40
Araucária 61.889 54.262 7.627 94.258 86.111 8.147 119.123 110.205 8.918 198,92 252,73 27,05
Balsa Nova 7.515 2.430 5.085 10.153 3.186 6.967 11.300 6.870 4.430 26,02 32,83 26,17
Bocaiúva do Sul 10.657 3.242 7.415 9.050 3.562 5.488 10.987 5.128 5.859 10,97 13,31 21,33
Campina Grande do Sul 19.343 12.722 6.621 34.566 25.973 8.593 38.769 31.961 6.808 63,51 71,71 12,91
Campo do Tenente 5.241 2.043 3.198 6.335 3.451 2.884 112.377 94.171 18.206 20,79 23,42 12,65
Campo Largo 72.523 53.892 18.631 92.782 77.223 15.559 24.843 19.547 5.296 68,24 87,62 28,40
Campo Magro 0 20.409 2.501 17.908 6.335 3.451 2.884 78,87 89,29 13,21
Cerro Azul 21.073 3.599 17.474 16.352 3.916 12.436 16.938 4.808 12.130 12,18 12,63 3,69
Colombo 117.767 110.273 7.494 183.329 174.962 8.367 212.967 203.203 9.764 918 1.076,65 17,28
Contenda 8.941 4.823 4.118 13.241 6.320 6.921 15.891 9.231 6.660 43,71 52,87 20,96
Curitiba 1.315.035 1.315.035 0 1.587.315 1.587.315 0 1.751.907 1.751.907 0 3.636,50 4.022,79 10,62
Doutor Ulysses 0 6.003 701 5.302 5.727 929 4.798 7,64 7,27 -4,84
Fazenda Rio Grande 0 62.877 59.196 3.681 81.675 75.928 5.747 534,22 707,9 32,51
Itaperuçu 0 19.344 16.234 3.110 23.887 19.956 3.931 60,46 74,61 23,40
Lapa 40.150 19.472 20.678 41.838 24.070 17.768 44.932 27.222 17.710 20,44 21,42 4,79
Mandirituba 38.336 26.237 12.099 17.540 6.268 11.272 22.220 7.414 14.806 46,22 58,26 26,05
Piên 7.745 1.432 6.313 9.798 2.883 6.915 9.798 2.883 6.915 38,54 43,73 13,47
Pinhais 0 102.985 100.726 2.259 117.008 117.008 0 1.690,37 1.913,87 13,22
Piraquara 106.882 91.438 15.444 72.886 33.829 39.057 93.207 45.738 47.469 322,03 413,84 28,51
Quatro Barras 10.007 8.132 1.875 16.161 14.520 1.641 19.851 17.941 1.910 89,95 109,51 21,75
Quitandinha 14.418 2.476 11.942 15.272 3.046 12.226 17.089 4.887 12.202 34,21 38,28 11,90
Rio Branco do Sul 38.296 23.714 14.582 29.341 20.049 9.292 30.650 22.045 8.605 35,9 37,53 4,54
Rio Negro 26.315 20.200 6.115 28.710 22.460 6.250 31.274 25.710 5.564 47,56 51,8 8,92
São José dos Pinhais 127.455 111.952 15.503 204.316 183.366 20.950 264.210 236.895 27.315 216,07 279,8 29,50
Tijucas do Sul 10.224 1.271 8.953 12.260 1.846 10.414 14.537 2.285 12.252 18,21 21,63 18,78
Tunas do Paraná 0 0 3.611 1.421 2.190 6.256 2.792 3.464 5,38 9,31 73,05
FONTE: BDE-WEB IPARDES (2011)
NOTA: RMC como Região Turística com seus 29 municípios.
325
TABELA A.1.4 - DOMICÍLIOS PARTICULARES NÃO COUPADOS, DE USO OCASIONAL - ÁREA RURAL DA RMC - 1991/2000/2010
TOTAL (B) RURAL (A) % A/B VARIAÇÃO % RURALMUNICÍPIOS
1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991/2000 2000/2010
Adrianópolis 106 166 269 93 151 221 87,74 90,96 82,16 62,37 46,36
Agudos do Sul 121 190 385 118 156 347 97,52 82,11 90,13 32,20 122,44
Almirante Tamandaré 252 372 361 115 107 149 45,63 28,76 41,27 -6,96 39,25
Araucária 195 428 675 102 218 405 52,31 50,93 60,00 113,73 85,78
Balsa Nova 176 301 510 154 265 413 87,50 88,04 80,98 72,08 55,85
Bocaiúva do Sul 216 481 372 204 460 347 94,44 95,63 93,28 125,49 -24,57
Campina Grande do Sul 384 547 677 325 460 417 84,64 84,10 61,60 41,54 -9,35
Campo do Tenente 113 101 145 82 82 115 72,57 81,19 79,31 0,00 40,24
Campo Largo 499 793 1.432 333 525 842 66,73 66,20 58,80 57,66 60,38
Campo Magro 309 471 253 326 81,88 69,21 28,85
Cerro Azul 162 313 628 111 275 553 68,52 87,86 88,06 147,75 101,09
Colombo 351 666 780 123 259 35,04 38,89 34,74 110,57 4,63
Contenda 45 147 297 31 122 248 68,89 82,99 83,50 293,55 103,28
Curitiba 5.321 10.454 11.429 - - - - - - - -
Doutor Ulysses 173 288 157 237 90,75 82,29 50,96
Fazenda Rio Grande 224 651 70 196 31,25 30,11 180,00
Itaperuçu 97 128 83 102 85,57 79,69 22,89
Lapa 422 776 1.201 325 633 978 77,01 81,57 81,43 94,77 54,50
Mandirituba 172 610 1.170 133 561 1.072 77,33 91,97 91,62 321,80 91,09
Piên 24 116 168 20 92 138 83,33 79,31 82,14 360,00 50,00
Pinhais 218 245 58 - 26,61
Piraquara 320 616 897 210 502 637 65,63 81,49 71,01 139,05 26,89
Quatro Barras 214 269 379 116 139 223 54,21 51,67 58,84 19,83 60,43
Quitandinha 187 413 887 173 378 810 92,51 91,53 91,32 118,50 114,29
Rio Branco do Sul 209 436 702 171 390 576 81,82 89,45 82,05 128,07 47,69
Rio Negro 169 256 407 122 165 248 72,19 64,45 60,93 35,25 50,30
São José dos Pinhais 699 1.484 2.142 514 963 1.409 73,53 64,89 65,78 87,35 46,31
Tijucas do Sul 273 652 910 272 628 888 99,63 96,32 97,58 130,88 41,40
Tunas do Paraná 60 228 46 136 76,67 59,65 195,65
Paraná 64.956 115.400 155.323 20.086 33.801 51.388 30,92 29,29 33,08 68,28 52,03
FONTE: BDE-WEB IPARDES, IBGE (2011)
326
TABELA A.1.5 - VARIAÇÃO PERCENTUAL CONSUMIDORES RURAIS DE ENERGIA ELÉTRICA -
2002 E 2010
CONSUMIDORES RURAISMUNICÍPIO
2002 2010
VARIAÇÃO %
2002/2010
Adrianópolis 471 488 3,61
Agudos do Sul 1.268 1.408 11,04
Almirante Tamandaré 1.274 981 -23,00
Araucária 1.993 2.276 14,20
Balsa Nova 1.153 1.274 10,49
Bocaiúva do Sul 1.113 1.275 14,56
Campina Grande do Sul 1.025 1.150 12,20
Campo do Tenente 598 657 9,87
Campo Largo 686 1.388 102,33
Campo Magro 343 1.008 193,88
Cerro Azul 1.208 1.920 58,94
Colombo 1.534 1.963 27,97
Contenda 1.719 1.846 7,39
Curitiba 89 74 -16,85
Doutor Ulysses 533 853 60,04
Fazenda Rio Grande 426 521 22,30
Itaperuçu 456 640 40,35
Lapa 3.805 4.599 20,87
Mandirituba 2.798 3.370 20,44
Piên 1.141 1.532 34,27
Pinhais 23 23 0,00
Piraquara 573 533 -6,98
Quatro Barras 339 356 5,01
Quitandinha 2.507 3.287 31,11
Rio Branco do Sul 1.402 1.367 -2,50
Rio Negro 1.788 1.894 5,93
São José dos Pinhais 4.414 4.615 4,55
Tijucas do Sul 2.572 2.870 11,59
Tunas do Paraná 117 132 12,82
PARANÁ 317.370 373.113 17,56
FONTE: BDE-web, IPARDES (2011)
TABELA A.1.6 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS
DE MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA
DO TURISMO, SEGUNDO TIPO DE LOCALIZAÇÃO - REGIÃO
TURÍSTICA METROPOLITANA DE CURITIBA - 2006
LOCALIZAÇÃO Abs. %
Urbano central 125 75,3
Urbano periférico 19 11,4
Praia/ilha 0 0,0
Rural 19 11,4
Não respondeu 3 1,8
TOTAL 166 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
327
TABELA A.1.7 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS
DE MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA
DO TURISMO, SEGUNDO TIPO DE LOCALIZAÇÃO - REGIÃO
TURÍSTICA METROPOLITANA DE CURITIBA - 2006
LOCALIZAÇÃO Abs. %
Urbano central 125 75,3
Urbano periférico 19 11,4
Praia/ilha 0 0,0
Rural 19 11,4
Não respondeu 3 1,8
TOTAL 166 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
TABELA A.1.8 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS E LEITOS DOS
MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO,
LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO TIPO DE ESTABELECIMENTOS - REGIÃO
TURÍSTICA METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOS LEITOSTIPO DE ESTABELECIMENTO
Abs. % Abs. %
Hotel
PeriUrbano 4 21,1 130 12,7
Fazenda 5 26,3 284 27,7
Lazer/resort 1 5,3 61 6,0
Apart-hotel/flat 0 0,0 0 0,0
Motel 0 0,0 0 0,0
Pousada 8 42,1 369 36,0
Pensão/ Hospedaria 0 0,0 0 0,0
Albergue 0 0,0 0 0,0
Camping 1 5,3 180 17,6
TOTAL 19 100,0 1.024 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
TABELA A.1.9 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS
DE MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA
DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO ANO DE
INÍCIO DA ATIVIDADE - REGIÃO TURÍSTICA METROPOLITANA DE
CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSCARACTERÍSTICAS
Abs. %
Ano de início de atividade
Até 1989 4 21,1
1990 a 1999 5 26,3
2000 a 2006 9 47,4
Não respondeu 1 5,3
TOTAL 19 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
328
TABELA A.1.10 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS
DE MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA
DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO FORMA
DE ADMINISTRAÇÃO - REGIÃO TURÍSTICA METROPOLITANA DE
CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSFORMAS DE ADMINISTRAÇÃO(1)
Abs. %
Proprietário 16 84,2
Gerente 1 5,3
Administrador 4 21,1
TOTAL DE ESTABELECIMENTOS 19 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
(1) Questão de múltipla resposta, podendo totalizar mais de 100%.
TABELA A.1.11 - NÚMERO E DISTRIBUIÇAO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS DE MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA
CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO TEMPO MÉDIO DE PERMANÊNCIA DOS
HÓSPEDES POR TEMPORADA - REGIÃO TURÍSTICA METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
TEMPO MÉDIO DE PERMANÊNCIA (dias)
De 0 a 1 De 2 a 3 De 4 a 5 De 6 a 10 11 ou Mais Não respondeu TOTALTEMPORADA
Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. %
Alta 2 10,5 7 36,8 4 21,1 3 15,8 1 5,3 2 10,5 19 100,0
Média 3 15,8 8 42,1 1 5,3 2 10,5 0 0,0 5 26,3 19 100,0
Baixa 7 36,8 4 21,1 1 5,3 1 5,3 0 0,0 6 31,6 19 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
TABELA A.1.12 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DO PESSOAL OCUPADO NOS ESTABELECIMENTOS
MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO, LOCALIZADOS
NA ZONA RURAL, SEGUNDO SEXO E TIPO DE ESTABELECIMENTO - REGIÃO TURÍSTICA
METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
PESSOAS OCUPADAS
Feminino Masculino Não respondeu FEM/TOTALTIPO DE
ESTABELECIMENTO
Abs. % Abs. % Abs. % Abs. %
Hotel Peri-Urbano 16 10,3 7 5,8 0 0,0 23 69,6
Hotel Fazenda 39 25,2 44 36,7 0 0,0 83 47,0
Lazer/Resort 65 41,9 35 29,2 0 0,0 100 65,0
Pousada 33 21,3 31 25,8 1 100,0 65 50,8
Camping 2 1,3 3 2,5 0 0,0 5 40,0
TOTAL 155 100,0 120 100,0 1 100,0 276 56,2
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
329
TABELA A.1.13 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DO PESSOAL OCUPADO
NOS ESTABELECIMENTOS DE MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS
NA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA
RURAL, SEGUNDO CARACTERÍSTICAS DA MÃO DE OBRA - REGIÃO
TURÍSTICA METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
PESSOAL OCUPADOCARACTERÍSTICAS
Abs. %
Tipo de vínculo
Sócio proprietário 26 9,4
Contratos formais 146 52,9
Estagiários/aprendizes 6 2,2
Serviços temporários 42 15,2
Terceirizados 40 14,5
Comissionados 1 0,4
Familiares 15 5,4
Outros/não respondeu 0 0,0
TOTAL 276 100,0
Escolaridade
Analfabeto 2 0,7
Fundamental incompleto 54 19,6
Fundamental completo 24 8,7
Médio incompleto 46 16,7
Médio completo 62 22,5
Superior incompleto 3 1,1
Superior completo 50 18,1
Pós-graduação 13 4,7
Não respondeu 22 8,0
TOTAL 276 100,0
Sexo
Feminino 155 56,2
Masculino 120 43,5
Não respondeu 1 0,4
TOTAL 276 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
330
TABELA A.1.14 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS
DE MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA
DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO RELAÇÃO
COM A MÃO DE OBRA - REGIÃO TURÍSTICA METROPOLITANA DE
CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSRELAÇÃO COM A MÃO DE OBRA
Abs. %
Contratação de mão de obra temporária
Sim 11 57,9
Eventualmente 6 31,6
Não 2 10,5
Não respondeu 0 0,0
TOTAL 19 100,0
Exigência de experiência de trabalho
Sim 9 47,4
Não 10 52,6
Não respondeu 0 0,0
TOTAL 19 100,0
Realização de treinamento da mão de obra
Sim 12 63,2
Não 6 31,6
Não respondeu 1 5,3
TOTAL 19 100
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
TABELA A.1.15 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS
DE MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA
DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO UTILIZAÇÃO
DE FINANCIAMENTO E EXISTÊNCIA DE PROJETOS DE MELHORIA -
REGIÃO TURÍSTICA METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSFINANCIAMENTO/INVESTIMENTO(1)
Abs. %
Utilização de linhas de crédito
Para capital de giro 4 21,1
Para investimento 3 15,8
Não utiliza 14 73,7
Utilização de linhas de crédito 5 26,3
Projetos de melhoria do estabelecimento
Ampliação 14 73,7
Capacitação 5 26,3
Reforma e Modificação 11 57,9
Tecnologia e Equipamentos 4 21,1
Não existe 0 0,0
TOTAL DE ESTABELECIMENTOS 19
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
(1) Questões de múltipla resposta, podendo totalizar mais de 100%.
331
TABELA A.1.16 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS
DE MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA
DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO TRANSAÇÕES
REALIZADAS NA REGIÃO, PARTICIPAÇÃO EM ENTIDADES DE
CLASSE E PARCERIA OU ATIVIDADES COOPERADAS - REGIÃO
TURÍSTICA METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSRELAÇÃO COM A REGIÃO/ASSOCIATIVISMO Abs. %
Transações realizadas na região(¹)Compra de produtos 14 73,7Compra de equipamentos 7 36,8Uso de mão de obra local 17 89,5Compra de componentes e peças 9 47,4Compra de serviços 12 63,2Programas de apoio e promoção 3 15,8Venda de produtos ou serviços 8 42,1
Participação em entidades de classe(¹)Não faz parte 8 42,1Associação 8 42,1Sindicato 4 21,1Outras 1 5,3Não respondeu 1 5,3
Parcerias/atividades cooperadasSim 2 10,5Não 17 89,5Não respondeu 0 0,0
TOTAL 19 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial(1) Questões de múltipla resposta, podendo totalizar mais de 100%.
TABELA A.1.17 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS
DE MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA
DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO COLETA
SELETIVA DE LIXO, PLANO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS E
CONTROLE DE DESPERDÍCIO DE ÁGUA E ELETRICIDADE - REGIÃO
TURÍSTICA METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSCUIDADOS AMBIENTAIS
Abs. %
Faz coleta seletiva lixoSim 16 84,2Não 3 15,8Não respondeu 0 0,0
TOTAL 19 100,0Plano de gerenciamento de resíduos
Sim 13 68,4Não 5 26,3Desconhece 1 5,3Não respondeu 19 100,0
TOTALControle de desperdício de água e eletricidade
Sim 16 84,2Não 3 15,8Não respondeu 0 0,0
TOTAL 19 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
332
TABELA A.1.18 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS
DE MEIOS DE HOSPEDAGEM PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA
DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO PRINCIPAIS
DIFICULDADES ADMINISTRATIVAS E SUGESTÕES DE POLÍTICAS
PÚBLICAS - REGIÃO TURÍSTICA METROPOLITANA DE CURITIBA -
PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSDIFICULDADES ADMINISTRATIVAS/
SUGESTÕES DE POLÍTICAS(1)Abs. %
Principais dificuldades administrativas
Contratar empregados qualificados 14 73,7
Manter o preço dos serviços 5 26,3
Impostos e taxas 11 57,9
Fluxo limitado de clientes 7 36,8
Manter ou melhorar a qualidade de serviços 5 26,3
Falta de capital de giro ou investimento 11 57,9
Juros elevados de financiamento 3 15,8
Outras 0 0,0
Não existem dificuldades 0 0,0
Sugestões de políticas públicas
Capacitação profissional 16 84,2
Educação básica 14 73,7
Créditos especiais 11 57,9
Incentivos fiscais 9 47,4
Estímulo a investimentos 11 57,9
Melhoria de infraestrutura 13 68,4
Redução de taxas e impostos 10 52,6
Outras 1 5,3
TOTAL DE ESTABELECIMENTOS 19 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
(¹) Questões de múltipla resposta, podendo totalizar mais de 100%.
TABELA A.1.19 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS
ESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO,
LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO
CATEGORIAS - REGIÃO TURÍSTICA METROPOLITANA
DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSCATEGORIAS
Abs. %
Simples 12 37,5
Médio 19 59,4
Luxo 1 3,1
Super luxo 0 0,0
TOTAL 32 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
333
TABELA A.1.20 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DE
ALIMENTAÇÃO POR MUNICÍPIOS PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO,
LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO CATEGORIAS - REGIÃO TURÍSTICA
METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
CATEGORIASMUNICÍPIOS
Simples Médio Luxo Super Luxo Total
Almirante Tamandaré 0 2 0 0 2
Araucária 1 1 0 0 2
Balsa Nova 0 4 0 0 4
Campina Grande do Sul 3 0 0 0 3
Campo Magro 3 1 1 0 5
Colombo 1 4 0 0 5
Quatro Barras 1 1 0 0 2
Rio Negro 1 0 0 0 1
São José dos Pinhais 2 2 0 0 4
Tijucas do Sul 0 4 0 0 4
TOTAL 12 19 1 0 32
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
TABELA A.1.21 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS
ESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO,
LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO CONDIÇÃO
DE POSSE, LOCAL DE INSTALAÇÃO E ESTRATO DE ÁREA
CONSTRUÍDA - REGIÃO TURÍSTICA METROPOLITANA DE
CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSCARACTERÍSTICAS
Abs. %
Condição de Posse do Imóvel
Próprio 26 81,3
Arrendado 2 6,3
Alugado 3 9,4
Outro 0 0,0
Não respondeu 1 3,1
TOTAL 32 100,0
Local de Instalação
Meio de hospedagem 0 0,0
Estrutura comercial 2 6,3
Aeroporto 0 0,0
Rodoviária 0 0,0
Local exclusivo 10 31,3
Atrativo turístico 7 21,9
À margem da estrada 13 40,6
Outro 0 0,0
Não respondeu 0 0,0
TOTAL 32 100,0
Estrato de área construída
0 - 235 11 34,4
236 - 470 6 18,8
471 - 940 7 21,9
941 - 1880 2 6,3
Mais de 1880 1 3,1
Não respondeu 5 15,6
TOTAL 32 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
334
TABELA A.1.22 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS
ESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO,
LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO ANO DE
INÍCIO DE ATIVIDADE - REGIÃO TURÍSTICA
METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSCARACTERÍSTICAS
Abs. %
Ano de início de atividade
Até 1989 7 21,9
1990 a 1999 7 21,9
2000 a 2006 15 46,9
Não respondeu 3 9,4
TOTAL 32 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
TABELA A.1.23 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS
ESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO
PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO,
LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO FORMAS
DE PAGAMENTO E DE DIVULGAÇÃO E TIPOS DE
SERVIÇOS - REGIÃO TURÍSTICA METROPOLITANA DE
CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSCARACTERÍSTICAS
Abs. %
Formas de pagamento(¹)
Dinheiro 32 100,0
Cartão de débito 10 31,3
Cheque 20 62,5
Cartão de crédito 8 25,0
Outras 3 9,4
Não respondeu 0 0,0
Formas de divulgação(¹)
Não há divulgação 8 25,0
Agências de turismo 2 6,3
Mídia 10 31,3
Impressos 22 68,8
Hotéis, restaurantes 5 15,6
Outros 3 9,4
Não respondeu 0 0,0
Tipos de Serviço(1)
A la carte 9 28,1
Rodízio 7 21,9
Por peso 3 9,4
Self service 21 65,6
Refeição do dia 7 21,9
Outros 0 0,0
Não respondeu 4 12,5
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
(1) Questões de múltipla resposta, podendo totalizar mais de 100%.
335
TABELA A.1.24 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOSESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃOPESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO,LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO ORIGEM DOSCLIENTES E FORMAS DE RESERVAS - REGIÃO TURÍSTICAMETROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSORIGEM E FORMAS DE RESERVAS(¹)
Abs. %
Origem dos clientes Oriundos da própria cidade 22 68,8 Da capital 28 87,5 Outras cidades do Paraná 27 84,4 Outros Estados 24 75,0 Estrangeiros 13 40,6 Não respondeu 1 3,1Formas de reservas Não faz 10 31,3 Direta no balcão 13 40,6 Telefone/fax 21 65,6 Operadora de turismo 5 15,6 Internet 4 12,5TOTAL DE ESTABELECMENTOS 32
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial(1) Questões de múltipla resposta, podendo totalizar mais de 100%.
TABELA A.1.25 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DO PESSOALOCUPADO NOS ESTABELECIMENTOS DE SERVIÇOS DEALIMENTAÇÃO PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVA DOTURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDOCARACTERÍSITICAS DA MÃO DE OBRA - REGIÃO TURÍSITICAMETROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
PESSOAL OCUPADOCARACTERÍSTICAS DA MÃO-DE-OBRA
Abs. %
Tipo de vínculoSócio-proprietário 58 16,1Contratos formais 195 54,2Estagiários/aprendizes 11 3,1Serviços temporários 53 14,7Terceirizados 0 0,0Familiares 40 11,1Outro/não respondeu 3 0,8
TOTAL 360 100,0Escolaridade
Analfabeto 2 0,6Fundamental incompleto 47 13,1Fundamental completo 92 25,6Médio incompleto 40 11,1Médio completo 119 33,1Superior incompleto 11 3,1Superior completo 25 6,9Pós-graduação 2 0,6Não respondeu 22 6,1
TOTAL 360 100,0Sexo
Feminino 200 55,6Masculino 157 43,6Não respondeu 3 0,8
TOTAL 360 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
336
TABELA A.1.26 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS
DE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO PESQUISADOS NA CADEIA
PRODUTIVA DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL,
SEGUNDO RELAÇÃO COM A MÃO DE OBRA - REGIÃO TURÍSTICA
METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSRELAÇÃO COM A MÃO DE OBRA
Abs. %
Contratação de mão de obra temporária
Sim 12 37,5
Eventualmente 7 21,9
Não 12 37,5
Não respondeu 1 3,1
TOTAL 32 100,0
Exigência de experiência de trabalho
Sim 13 40,6
Não 18 56,3
Não respondeu 1 3,1
TOTAL 32 100,0
Realização de treinamento da mão de obra
Sim 19 59,4
Não 11 34,4
Não respondeu 2 6,3
TOTAL 32 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
TABELA A.1.27 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS
DE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO PESQUISADOS NA CADEIA
PRODUTIVA DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL,
SEGUNDO UTILIZAÇÃO DE LINHAS DE CRÉDITO, DIFICULDADES
PARA OBTENÇÃO DE FINANCIAMENTO E EXISTÊNCIA DE
PROJETOS DE MELHORIA - REGIÃO TURÍSTICA METROPOLITANA
DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSFINANCIAMENTO/INVESTIMENTO
Abs. %
Utilização de linhas de crédito
Sim 6 18,8
Não 25 78,1
Não respondeu 1 3,1
TOTAL 32 100,0
Dificuldades para obtenção de financiamento
Sim 6 18,8
Não 26 81,3
Não respondeu 0 0,0
TOTAL 32 100,0
Projetos de melhoria do estabelecimento(¹)
Não existe 5 15,6
Ampliação 21 65,6
Capacitação 8 25,0
Reforma e decoração 18 56,3
Tecnologia e equipamento 9 28,1
Não respondeu 0 0,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
(1) Questão de múltipla resposta, podendo totalizar mais de 100%.
337
TABELA A.1.28 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS DESERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVADO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDO PRINCIPAISDIFICULDADES ADMINISTRATIVAS E SUGESTÕES DE POLÍTICASPÚBLICAS - REGIÃO TURÍSTICA METROPOLITANA DE CURITIBA -PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSDIFICULDADES ADMINISTRATIVAS/SUGESTÕES DE POLÍTICAS PÚBLICAS(1)
Abs. %
Principais dificuldades administrativas Contratar empregados qualificados 18 56,3 Manter o preço dos serviços 9 28,1 Impostos e taxas 16 50,0 Fluxo limitado de clientes 14 43,8 Manter ou melhorar a qualidade de serviços 8 25,0 Falta de capital de giro ou investimento 14 43,8 Juros elevados de financiamento 6 18,8 Outras 0 0,0 Não Respondeu 1 3,1Sugestões de políticas públicas Capacitação profissional 23 71,9 Educação básica 17 53,1 Créditos especiais 17 53,1 Incentivos fiscais 13 40,6 Estímulo a investimentos 16 50,0 Melhoria de infra-estrutura 19 59,4 Redução de taxas e impostos 19 59,4 Outras 0 0,0TOTAL DE ESTABELECMENTOS 32
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial(1) Questões de múltipla resposta, podendo totalizar mais de 100%.
TABELA A.1.29 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOS DESERVIÇOS DE ALIMENTAÇAO PESQUISADOS NA CADEIA PRODUTIVADO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDOASSOCIATIVISMO E TRANSAÇÕES REALIZADAS NA REGIÃO - REGIÃOTURÍSTICA METROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSASSOCIATIVISMO/TRANSAÇÕES NA REGIÃO(¹)
Abs. %
Participação em entidades de classe Não faz parte 14 43,8 Associação 13 40,6 Sindicato 4 12,5 Outras 3 9,4 Não respondeu 1 3,1Transações realizadas na região Compra de produtos 29 90,6 Compra de equipamentos 11 34,4 Uso de mão-de-obra local 26 81,3 Compra de componentes e peças 7 21,9 Compra de serviços 13 40,6 Programas de apoio e promoção 5 15,6 Venda de produtos ou serviços 20 62,5 Não respondeu 0 0,0TOTAL DE ESTABELECIMENTOS 32
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial(1) Questões de múltipla resposta, podendo totalizar mais de 100%.
338
TABELA A.1.30 - NÚMERO E DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DOS ESTABELECIMENTOSDE SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO PESQUISADOS NA CADEIAPRODUTIVA DO TURISMO, LOCALIZADOS NA ZONA RURAL, SEGUNDOEXISTÊNCIA DE COLETA SELETIVA DE LIXO, PLANO DEGERENCIAMENTO DE RESÍDUOS, LICENÇA AMBIENTAL E CONTROLEDE DESPERDÍCIO DE ÁGUA E ELETRICIDADE - REGIÃO TURÍSTICAMETROPOLITANA DE CURITIBA - PARANÁ - 2006
ESTABELECIMENTOSCUIDADOS AMBIENTAIS
Abs. %
Coleta seletiva de lixo
Sim 29 90,6
Não 2 6,3
Não respondeu 1 3,1
TOTAL 32 100,0
Plano de gerenciamento de resíduos
Sim 16 50,0
Não 9 28,1
Desconhece 7 21,9
Não respondeu 0 0,0
TOTAL 32 100,0
Licença ambiental
Sim 15 46,9
Não 11 34,4
Em processo 1 3,1
Não respondeu 5 15,6
TOTAL 32 100,0
Controle de desperdício de água e eletricidade
Sim 25 78,1
Não 7 21,9
Não respondeu 0 0,0
TOTAL 32 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo - IPARDES. Tabulação Especial
TABELA A.1.31 - POPULAÇÃO CENSITARIA TOTAL, URBANA E RURAL, PARTICIPAÇÃO % DA POPULAÇÃO METROPOLITANA E TAXAS DE CRESCIMENTO -
PARANA E RMC - 1991/2010
1991 2000 2010VARIÁVEL
Paraná RMC Part.. % Paraná RMC Part.. % Paraná RMC Part.. %
População Total 8.448.713 2.101.681 24,88 9.563.458 2.768.394 28,95 10.444.526 3.174.201 30,39
População Urbana - Total 6.197.953 1.906.418 30,76 7.786.084 2.524.175 32,42 8.912.692 2.921.845 32,78
População Rural - Total 2.250.760 195263 8,68 2.250.760 244219 10,85 1.531.834 252356 16,47
TX de Crescimento População - Total (%) 0,93 0,43 … 1,4 2,54 … 0,89 0,33 …
Taxa de Crescimento - Urbana (%) 2,59 2,91 … 2,59 3,14 … 1,36 1,38 …
Taxa de Crescimento - Rural (%) -3,03 3,22 … -2,61 3,2 … -1,48 1,47 …
FONTE: IBGE/IPARDES - BDE WEB
339
TABELA A.1.32 - POPULAÇÃO E TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL DE CURITIBA, REGIÃO METROPOLITANA COM E SEM CURITIBA - PARANÁ E BRASIL -
1970/2010
POPULAÇÃOLOCAL
1970 Taxa(1) 1980 Taxa(1) 1991 Taxa(1) 1996 Taxa(1) 2000 Taxa(1) 2010
CURITIBA 609.026 5,34 1.024.980 2,29 1.315.035 2,34 1.476.253 1,83 1.587.315 0,99 1.751.907
RMC 907.391 5,38 1.532.383 2,90 2.099.558 3,32 2.471.771 2,87 2.768.394 1,38 3.174.201
RMC sem Curitiba 298.365 5,45 507.403 4,04 784.523 4,88 995.518 4,37 1.181.079 1,87 1.421.811
PARANÁ 6.929.821 0,97 7.629.849 0,93 8.448.713 1,28 9.003.804 1,52 9.563.458 0,89 10.444.526
BRASIL 93.134.846 2,48 119.011.052 1,93 146.825.475 1,36 157.070.163 1,97 169.799.170 1,17 190.755.799
FONTE: IBGE - Censos Demográficos 1970, 1980, 1991, 1996 a 2000, Contagem Populacional 1996 e 2007, Estimativas Populacionais 2008 e 2009
(1) Taxa Média Geométrica de Incremento Anual, representa a evolução anual no período.
TABELA A.1.33 - PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DA POPULAÇÃO CENSITÁRIA TOTAL, URBANA E RURAL, MUNICÍPIOS DA RMC - 1991/2000/2010
1991 2000 2010
LOCALIDADE População
Censitária -
Total
População
Censitária
Urbana -
Total
População -
Contagem
Rural - Total
População
Censitária -
Total
População
Censitária
Urbana -
Total
População -
Contagem
Rural - Total
População
Censitária -
Total
População
Censitária
Urbana -
Total
População -
Contagem
Rural - Total
Estado do Paraná 100,00 73,36 26,64 100,00 81,41 18,59 100,00 85,33 14,67
Região Metropolitana de Curitiba 100,00 90,15 9,85 100,00 90,75 9,25 100,00 91,69 8,31
Adrianópolis 100,00 17,78 82,22 100,00 23,02 76,98 100,00 32,31 67,69
Agudos do Sul 100,00 12,82 87,18 100,00 20,30 79,70 100,00 34,12 65,88
Almirante Tamandaré 100,00 89,30 10,70 100,00 96,01 3,99 100,00 95,82 4,18
Araucária 100,00 87,68 12,32 100,00 91,36 8,64 100,00 92,51 7,49
Balsa Nova 100,00 32,34 67,66 100,00 31,38 68,62 100,00 60,80 39,20
Bocaiúva do Sul 100,00 30,42 69,58 100,00 39,36 60,64 100,00 46,67 53,33
Campina Grande do Sul 100,00 65,77 34,23 100,00 75,14 24,86 100,00 82,44 17,56
Campo do Tenente 100,00 38,98 61,02 100,00 54,48 45,52 100,00 83,80 16,20
Campo Largo 100,00 74,31 25,69 100,00 83,23 16,77 100,00 78,68 21,32
Campo Magro 100,00 12,25 87,75 100,00 54,48 45,52
Cerro Azul 100,00 17,08 82,92 100,00 23,95 76,05 100,00 28,39 71,61
Colombo 100,00 93,64 6,36 100,00 95,44 4,56 100,00 95,42 4,58
Contenda 100,00 53,94 46,06 100,00 47,73 52,27 100,00 58,09 41,91
Curitiba 100,00 100,00 0,00 100,00 100,00 0,00 100,00 100,00 0,00
Doutor Ulysses 100,00 11,68 88,32 100,00 16,22 83,78
Fazenda Rio Grande 100,00 94,15 5,85 100,00 92,96 7,04
Itaperuçu 100,00 83,92 16,08 100,00 83,54 16,46
Lapa 100,00 48,50 51,50 100,00 57,53 42,47 100,00 60,58 39,42
Mandirituba 100,00 68,44 31,56 100,00 35,74 64,26 100,00 33,37 66,63
Piên 100,00 18,49 81,51 100,00 29,42 70,58 100,00 29,42 70,58
Pinhais 100,00 97,81 2,19 100,00 44,63 55,37
Piraquara 100,00 85,55 14,45 100,00 46,41 53,59 100,00 49,07 50,93
Quatro Barras 100,00 81,26 18,74 100,00 89,85 10,15 100,00 90,38 9,62
Quitandinha 100,00 17,17 82,83 100,00 19,94 80,06 100,00 28,60 71,40
Rio Branco do Sul 100,00 61,92 38,08 100,00 68,33 31,67 100,00 71,92 28,08
Rio Negro 100,00 76,76 23,24 100,00 78,23 21,77 100,00 82,21 17,79
São José dos Pinhais 100,00 87,84 12,16 100,00 89,75 10,25 100,00 89,66 10,34
Tijucas do Sul 100,00 12,43 87,57 100,00 15,06 84,94 100,00 15,72 84,28
Tunas do Paraná 100,00 39,35 60,65 100,00 44,63 55,37
FONTE: IBGE/IPARDES - BDE WEB
340
TABELA A.1.34 - MUNICIPIOS PERIURBANOS
2000 2010
MUNICÍPIO Densidade
Demográfica
(hab./km²)
População
Censitária -
Total
Densidade
Demográfica
(hab./km²)
População
Censitária -
Total
Campina Grande do Sul 63,51 34.566 71,71 38.769
Campo Magro 78,87 20.409 89,29 24.843
Fazenda Rio Grande 534,22 62.877 707,9 81.675
Itaperuçu 60,46 19.344 74,61 23.887
Lapa 20,44 41.838 21,42 44.932
Mandirituba 46,22 17.540 58,26 22.220
Piraquara 322,03 72.886 413,84 93.207
Rio Branco do Sul 35,9 29.341 37,53 30.650
Rio Negro 47,56 28710 51,8 31274
FONTE: IBGE/IPARDES - BDE WEB
TABELA A.1.35 - MUNICÍPIOS URBANOS DA RMC
2000 2010
MUNICÍPIO Densidade
Demográfica
(hab./km²)
População
Censitária -
Total
Densidade
Demográfica
(hab./km²)
População
Censitária -
Total
Almirante 467,93 88.277 540,01 103.204
Araucária 198,92 94.258 252,73 119.123
Campo Largo 68,24 92.782 87,62 112.377
Colombo 918 183.329 1.076,65 212.967
Curitiba 3.636,50 1.587.315 4.022,79 1.751.907
Pinhais 1.690,37 102.985 1.913,87 117.008
São José dos Pinhais 216,07 204.316 279,8 264.210
Região Metropolitana de Curitiba 179,04 2.768.394 205,29 3.174.201
Paraná 31,65 5.599.542 33,31 5.893.432
FONTE: IBGE/IPARDES - BDE WEB
TABELA A.1.36 - MUNICÍPIOS RURAIS
2000 2010
MUNICÍPIO Densidade
Demográfica
(hab./km²)
População
Censitária -
Total
Densidade
Demográfica
(hab./km²)
População
Censitária -
Total
Adrianópolis 5,22 7007 4,75 6376
Agudos do Sul 37,28 7221 43,23 8270
Balsa Nova 26,02 10153 32,83 11300
Bocaiúva do Sul 10,97 9050 13,31 10987
Campo do Tenente 20,79 6335 23,42 7125
Cerro Azul 12,18 16352 12,63 16938
Contenda 43,71 13241 52,87 15891
Doutor Ulysses 7,64 6003 7,27 5727
Piên 38,54 9798 43,73 11236
Quatro Barras 89,95 16161 109,51 19851
Quitandinha 34,21 15272 38,28 17089
Tijucas do Sul 18,21 12260 21,63 14537
Tunas do Paraná 5,38 3611 9,31 6256
FONTE: IBGE/IPARDES - BDE WEB
341
TABELA A.1.37 - TAXA DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO TOTAL E URBANA, ESTADO DO PARANÁ, RMC EMUNICÍPIOS DA RMC, 1980/1991, 1991/2000 E 2000/2010
1980/1991 1991/2000 2000/2010
LOCALIDADE Taxa de
Crescimento
Total (%)
Taxa de
Crescimento
Urbana (%)
Taxa de
Crescimento
Total (%)
Taxa de
Crescimento
Urbana (%)
Taxa de
Crescimento
Total (%)
Taxa de
Crescimento
Urbana (%)
Estado do Paraná 0,93 3,01 1,4 2,59 0,89 1,36
Região Metropolitana de Curitiba 2,91 3,22 3,14 3,2 1,38 1,47
Adrianópolis -1,95 3,83 -2,69 0,17 -0,94 2,48
Agudos do Sul 1,43 1,62 1,96 7,35 1,37 6,77
Almirante Tamandaré 6,19 7,36 5,66 5,8 1,57 1,55
Araucária 5,37 6,51 4,83 5,32 2,37 2,5
Balsa Nova 3,25 6,14 3,43 3,08 1,08 7,99
Bocaiúva do Sul -1,16 3,02 1,68 4,19 1,96 3,71
Campina Grande do Sul 0,93 3,01 1,4 2,59 1,15 2,1
Campo do Tenente 2,81 6,16 2,15 6,06 1,18 1,97
Campo Largo 2,57 3,38 2,8 4,12 1,93 2
Campo Magro 5,99 -11,97 1,99 22,83
Cerro Azul 0,47 4,55 0,18 2,26 0,35 2,07
Colombo 5,87 6,53 5,09 5,31 1,51 1,51
Contenda 1,54 2,96 4,5 3,08 1,84 3,86
Curitiba 2,29 2,29 2,13 2,13 0,99 0,99
Doutor Ulysses 2,12 6,77 -0,47 2,86
Fazenda Rio Grande 10,91 11,83 2,65 2,52
Itaperuçu 6,83 14,8 2,13 2,09
Lapa 1,25 2,8 0,46 2,41 0,72 1,24
Mandirituba 8,61 12,45 3,1 4,08 2,39 1,69
Piên 2,36 16,7 2,67 8,16 1,38 4,61
Pinhais 3,55 3,84 1,28 1,51
Piraquara 3,84 3,76 9,89 6,39 2,49 3,06
Quatro Barras 5,23 7,99 5,52 6,72 2,08 2,14
Quitandinha 1,39 4,13 0,65 2,35 1,13 4,84
Rio Branco do Sul 1,71 4,63 0,7 0,62 0,44 0,95
Rio Negro 1,78 2,24 0,98 1,2 0,86 1,36
São José dos Pinhais 5,51 6,36 5,43 5,69 2,6 2,59
Tijucas do Sul 2,26 4,01 2,06 4,27 1,72 2,16
Tunas do Paraná 2,67 7,1 5,65 6,99
FONTE: IPARDES - BDE WEB
TABELA A.1.38 - PRODUTO INTERNO BRUTO - 2002-2009
Preços correntes
(R$ milhão)ANO
Paraná Brasil
PARTICIPAÇÃO
PARANÁ/BRASIL
(%)
2002 88.407 1.477.822 6
2003 109.459 1.699.948 6,4
2004 122.434 1.941.498 6,3
2005 126.677 2.147.239 5,9
2006 136.615 2.369.484 5,8
2007 161.582 2.661.345 6,1
2008 179.270 3.031.864 5,9
2009(1) 189.269 3.185.125 5,9
FONTES: IBGE, IPARDES
(1) Estimativa do IPARDES para o PIB do Paraná.
342
TABELA A.1.39 - PIB MUNICIPAL EVOLUÇÃO
Localidade 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Estado do Paraná 88.407.068 109.458.874 122.433.727 126.676.843 136.614.633 161.581.846 179.263.190 189.991.954
Adrianópolis 18.480 24.101 25.132 27.050 29.901 64.620 57.820 67.601
Agudos do Sul 23.796 32.230 33.209 39.691 40.947 44.074 50.882 52.751
Almirante Tamandaré 379.290 428.117 458.749 480.893 443.793 516.528 479.840 577.882
Araucária 4.646.285 6.246.533 6.884.911 7.082.490 8.436.380 9.547.958 11.019.940 11.962.877
Balsa Nova 131.552 170.797 189.962 177.248 194.980 210.349 243.552 266.859
Bocaiúva do Sul 30.716 43.485 41.474 55.420 63.711 70.890 71.176 84.239
Campina Grande do Sul 180.667 209.534 240.508 294.233 342.407 342.319 400.033 474.162
Campo Largo 722.179 967.275 1.043.994 1.114.213 1.193.618 1.286.810 1.192.945 1.341.770
Campo Magro 67.038 85.407 88.477 102.815 117.086 138.501 160.222 176.645
Cerro Azul 68.305 90.061 76.524 132.987 119.681 141.657 138.929 182.354
Colombo 819.497 954.491 1.055.792 1.173.268 1.302.037 1.515.176 1.632.287 1.866.143
Contenda 62.088 89.914 103.639 102.811 125.793 132.939 141.929 147.588
Curitiba 20.239.876 23.828.224 26.755.257 29.672.565 32.182.599 38.124.861 43.354.307 45.762.418
Doutor Ulysses 22.687 31.441 31.982 76.258 64.016 67.350 63.936 83.953
Fazenda Rio Grande 229.595 291.078 349.281 370.281 405.659 420.718 426.808 482.596
Itaperuçu 60.540 73.409 83.261 91.840 91.284 121.682 159.960 174.329
Lapa 278.603 432.433 447.612 442.885 473.483 569.685 652.016 594.211
Mandirituba 112.299 137.448 152.392 158.972 167.375 179.805 213.122 219.810
Pinhais 999.752 1.162.856 1.394.415 1.454.940 1.681.171 2.088.958 2.453.262 2.381.653
Piraquara 211.826 266.707 291.566 349.307 318.417 362.948 389.927 479.122
Quatro Barras 218.516 272.218 342.486 324.586 335.486 383.558 438.219 530.301
Quitandinha 41.028 55.662 58.800 66.641 85.832 92.460 127.867 114.977
Rio Branco do Sul 297.490 360.694 388.458 377.398 389.760 454.972 467.218 550.603
São José dos Pinhais 4.547.380 5.271.805 6.207.951 6.469.185 7.029.321 8.524.230 10.397.115 11.511.811
Tijucas do Sul 65.349 84.510 81.722 89.533 92.822 110.253 125.337 150.605
Tunas do Paraná 11.509 34.786 22.122 70.939 50.196 47.597 41.767 43.656
Região Metropolitana de Curitiba 34.486.343 41.645.216 46.849.676 50.798.449 55.777.755 65.560.898 74.900.416 80.280.916
FONTE: IBGE, IPARDES
TABELA A.1.40 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS SEGUNDO CONDIÇÃO DO PRODUTOR EM
RELAÇÃO À AGRICULTURA FAMILIAR E MESORREGIÃO GEOGRÁFICA - PARANÁ - 2006
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS (Abs.)
NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS
AGROPECUÁRIOS (%)
AgriculturaAgricultura
FamiliarAgricultura
Agricultura
Familiar
MESORREGIÃO GEOGRÁFICA
Total
Não Familiar
Total
Não Familiar
Outras Regiões 340 593 63 575 277 018 91,8 93,3 91,5
Metropolitana de Curitiba 30 458 4 569 25 889 8,2 6,7 8,5
Paraná 371 051 68 144 302 907 100,0 100,0 100,0
FONTE: IBGE - Censo Agropecuário
343
TABELA A.1.41 - NÚMERO E PARTICIPAÇÃO PORCENTUAL DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS, TOTAL E
DA AGRICULTURA FAMILIAR QUE OBTIVERAM RECEITAS NO ANO (UNIDADES)
TOTALATIVIDADES DE TURISMO RURAL NO
ESTABELECIMENTOUNIDADE DA FEDERAÇÃO E
MESORREGIÃO GEOGRÁFICATotal
Não
familiar
Agricultura
familiarTotal Não familiar
Agricultura
familiar
Paraná 286.450 52.910 233.540 279 115 164
Paraná 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Noroeste Paranaense 8,3 10,8 7,8 5,4 0,9 8,5
Centro Ocidental Paranaense 6,1 7,1 5,9 4,3 6,1 3,0
Norte Central Paranaense 14,7 19,3 13,6 15,8 21,7 11,6
Norte Pioneiro Paranaense 7,7 9,1 7,4 4,7 3,5 5,5
Centro Oriental Paranaense 4,5 6,2 4,1 7,2 13,0 3,0
Oeste Paranaense 15,9 15,5 16,0 15,8 8,7 20,7
Sudoeste Paranaense 13,1 7,8 14,3 7,9 4,3 10,4
Centro-Sul Paranaense 11,1 11,1 11,2 5,0 4,3 5,5
Sudeste Paranaense 11,3 7,1 12,2 9,3 6,1 11,6
Metropolitana de Curitiba 7,3 6,0 7,6 24,7 31,3 20,1
FONTE: Censo Agropecuario (2006)
TABELA A.1.42 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS (UNIDADES) POR CONDIÇÃO DE PRODUTOR,
TOTAL, NÃO FAMILIAR E DA AGRICULTURA FAMILIAR - 2006
NÚMEROS ABSOLUTOS %BRASIL, UNIDADE DA FEDERAÇÃO,
MESORREGIÃO GEOGRÁFICA Total Não familiarAgricultura
familiarTotal Não familiar
Agricultura
familiar
Brasil 5.175.489 807.587 4.367.902 100 100 100
Sul 1.006.181 156.184 849.997 19,44 19,34 19,46
Paraná 371.051 68.144 302.907 7,17 8,44 6,93
100,00 100,00 100,00
Noroeste Paranaense 37.723 8.400 29.323 10,17 12,33 9,68
Centro Ocidental Paranaense 21.310 4.540 16.770 5,74 6,66 5,54
Norte Central Paranaense 54.272 12.865 41.407 14,63 18,88 13,67
Norte Pioneiro Paranaense 29.661 6.305 23.356 7,99 9,25 7,71
Centro Oriental Paranaense 19.174 4.549 14.625 5,17 6,68 4,83
Oeste Paranaense 53.216 9.464 43.752 14,34 13,89 14,44
Sudoeste Paranaense 44.479 4.947 39.532 11,99 7,26 13,05
Centro-Sul Paranaense 41.368 7.780 33.588 11,15 11,42 11,09
Sudeste Paranaense 39.390 4.725 34.665 10,62 6,93 11,44
Metropolitana de Curitiba 30.458 4.569 25.889 8,21 6,70 8,55
FONTE:IBGE/Censo Agropecuário
344
QUADRO A.1.1 - ATRATIVOS RURAIS NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA PESQUISADOS NA CADEIA
PRODUTIVA DO TURISMO DO PARANÁ, 2006
SEGMENTO MUNICÍPIO NOME
São José dos Pinhais Pesk Pag Cachimbo
São José dos Pinhais Recanto Inspiração
São José dos Pinhais Pesk Pag Beijoca
São José dos Pinhais Pesk Pague Beira Rio
Quatro Barras Caminho Do Itupava
Quatro Barras Equus Haras – Centro Hípico Equus
Colombo Pesque e Pague Gasparim
Colombo Pesque Pague Frutos da Terra
Campina Grande do Sul Pesque e Pague Crozetto
Colombo Parque Nacional Bocaitava
Bocaiúva do Sul Bocaiúva Adventure
Campina Grande do Sul Pesque Pague Estância Vale do Sol
Balsa Nova Chácara de Vinhos Marula
Araucária Chácara São Pedro
Araucária Fazenda Outro Branco
Araucária Chácara Panik
Araucária Silvestre Wainga
Araucária Chácara Santa Rita
Almirante Tamandaré Clube 21 de Abril
Atrativos Naturais e Planejados
Almirante Tamandaré Águas de Valverde
Colombo Vinho
Bocaiúva Igreja Bom Jesus Cedrinho
Balsa Nova Igreja do Tamanduá
Balsa Nova Espaço Cultural/Acampamento
Colombo Igreja do Capivari
Piraquara Colônia Santa Maria Novo Tirol
Quatro Barras Oratório
Quatro Barras Capela São Pedro
São José dos Pinhais Casa da Cultura
Araucária Luiz Paulo Wojcik
Campo Magro Mercearia
Patrimônio Cultural, Histórico e Religioso
Campo Magro Mercearia
Lapa SPA Lapinha
Quatro Barras Eco Pousada Brumas da Serra
Campo Magro Recanto Nativo
Bocaiúva do Sul Pousada Ribeirão das Pedras
Balsa Nova Pousada Crystal do Horizonte
Meios de Hospedagem
Araucária Acampamento Bethel
Tijucas do Sul Estação dos Sabores
Tijucas do Sul Restaurante Vô João
Colombo Restaurante Rural Bosque Italiano
Colombo Vinícula Pasargada
Colombo Casa Nostra
Colombo Cantina Busato – Restaurante Colonial Ltda
5666/Campo Magro Lanchonete Mirante do Palha
5669 Bar e Mercearia Dambrat
Colombo Ristorante Grande Famiglia
Campo Magro Dona Ana Bistrô Café do Campo
Colombo Café Colonial é da Pani
Colombo Armazém Bom Garoto
Araucária Comercial Iguaçu
Serviços de Alimentação
Almirante Tamandaré Gaspa Restaurante
TOTAL DE EMPREENDIMENTOS RURAIS 52
FONTE: IPARDES - Tabulação especial da pesquisa
345
APÊNDICE 2 - FORMULÁRIOS DE PESQUISA
346
FORMULÁRIO PESQUISA 1 – GOOGLE DOCs
VALIDAÇÃO DA AVALIAÇÃO INICIAL DO TURISMO RURALREALIZADA PELO PRONAF E A EMBRATUR NO ANO DE 1999
Prezado respondente:
Desde o encontro realizado em Brasília em 1999 sobre o turismo rural entre técnicos da EMBRATUR, doMinistério de Agricultura e das ATER em todo o país, assim como de Secretarias de turismo dos estadosque já trabalhavam com esse tipo de segmentação, foram levantados alguns pontos fortes e fracos dodesenvolvimento rural e do turismo que trazemos a seguir.
Objetivo. Por que estamos pedindo a sua colaboração no preenchimento do seguinte questionário? Emprimeiro lugar, porque este é parte do trabalho de dissertação de mestrado que pretende avaliar aimplementação das políticas públicas do turismo rural na RMC. Em segundo lugar, o propósito, oraexplicito, é de constatar se ainda persistem na RMC temas considerados entraves para o desenvolvimentodo turismo rural na Região Metropolitana de Curitiba e qual tem sido o papel dos gestores
Metodologia. Cada um dos itens colocados no questionário traz os aspectos avaliados na época. Cada umdos comentários realizados (cinco na maioria dos casos) são afirmações realizadas a partir da avaliaçãorealizada naquela oficina em 1999. Aqui colocadas como opções de escolha, sugerimos que marquem comum “X” todas as opções que na sua avaliação estão vigentes na RMC até o dia de hoje segundo a práticarealizada entre o período de 2003 e 2010, sempre considerando a sua área de atendimento como técnicoda EMATER nos municípios da RMC.
Finalmente, peço-lhe informar também quais dos municípios atendidos por vc mantinham propriedadesrurais com práticas de turismo rural.
Obrigado pela colaboração! E deixo em aberto este espaço e meu email para vc expressar qualquer outraopinião que considere importante para o desenvolvimento rural no âmbito local, territorial e/ou regionalatravés do turismo rural.
Atenciosamente,
Marino Castillo Lacay EconomistaMestrando em Geografia [email protected] 2011
MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR CIÊNCIAS DA TERRAPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
347
MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁSETOR CIÊNCIAS DA TERRA
*Obrigatório
1. Atividades do segmento não regulamentadas *
Ausência de politica pública para o "turismo rural"
Falta de interação das diferentes legislações vigentes (agricultura, desenvolvimento rural e turismo no
espaço rural)
Inadequação das normatizações ambientais/ culturais para o turismo rural
Politicas educacionais inadequadas ao turismo rural
Ausência de critérios e normas que definam o segmento e apontem uma tipologia
2. Informação/ Comunicação deficiente *
Inexistencia de conceituação do turismo rural
Redes de informações inexistentes
Pesquisas insuficientes
Falta de divulgação das pesquisas e informações existentes
Falta de uniformização da linguagem em turismo rural
Não há um mapeamento do que se faz, quem faz
3. Pouca articulação Institucional *
Papeis institucionais indefinidos
Falta de tradição de trabalho em parceria intra e interinstitucional
Desconfiança mútua entre setor público e privado
Desarticulação entre instituições públicas da União, Estado e município
Falta de articulação dentro do próprio município (Agricultura e Turismo)
Inexistencia de uma estrutura gerencial de fomento à atividade
Pouca ou nenhuma eficacia do papel da governança metropolitana do turismo da RMC no turismo rural
4.Incentivos ao turismo rural insuficientes *
Dificil acesso ao crédito
Juros altos
Recursos para financiamento de infraestrutura para o turismo rural inadequada para a atividade
Desconhecimento de opções de microcrédito
Exigencias de garantia que demandam ao produtor rural a formalização da atividade
348
5. Pessoal pouco capacitado *
Capacitação dissociada e descontínua
Pesquisas insuficientes e pouco divulgadas
Ausência de diretriz nacional / área de capacitação
Pouco cultura de emprendedor (produtor rural - empresario)
Baixa escolaridade dos produtores rurais e prestadores de serviços
Pouco ou nenhum conhecimento gerencial
Técnicos atuantes no meio rural não estão preparados e/ou motivados para o incentivo à atividade
Técnicos do turismo desconhecem as peculiaridades da atividade rural
6. Comunidades locais pouco envolvidas *
Proprietarios e comunidade não enxerga o turismo rural como negócio
Falta de visão sistemica: descocnhecimento do turismo rural e suas possiveis manifestações culturais,
sociais e ambientais
Pouco reconhecimento da atividade como tal, pouco conhecimento técnico e geral
Modelos individualistas preservados
Modelo cooperativista inadequado (integração parcial ou falta de integração, etc)
Desarticulação entre os segmentos produtivos locais (serviços e produtos para o turismo)
Carência de planos de desenvolvimento municipal e/ou regional
Segmento do turismo rural não contemplado no plano
Descontinuidade das politicas públicas (união, estado, município)
A não participação dos atores da área rural nas decisões
7. Precariedade na infraestrutura *
Embora interesse, infraestrutura da propriedade limitada para o desenvolvimento da atividade
Acessos existentes adequados à produção rural e não ao turismo
Edificações rurais inadequadas a atividade turística
Informalidade por parte do produtor (empreendedor) rural nas questões de segurança, higieiene,
conforto e privacidade
8. Politica pública de melhoria da infraestrutura básica pouco representativa *
Eletrificação rural insuficiente
sinalização existente adequada aos produtores rurais, porém não aos turistas
Segurança precária para as atividades
Descomprometimento das autoridades com programas de saneamento ambiental rural
Dificuldades na oferta de serviços de saúde e segurança
atendimento médico precário
349
9. Promoção e comercialização ineficientes *
Desconhecimento da capacidade real do produto turístico ofertado
Expectativas dos clientes pouco consideradas
Desinteresse das agências e operadoras locais na venda do produto "Rotas do Pinhão"
Desconhecimento do custo e/ou custo elevado
Dificuldades do produtor (proprietario) em entender como funciona o sistema de comercialização do
turismo para disponibilizar o produto turismo rural
Baixa qualidade dos produtos ofertados
Inexistencia de distribuidor especializado(agencias) no segmento "turismo rural"
Demanda desconhecida
Desconhecimento dos instrumentos de promoção e marketing turístico por parte dos agentes publicos
10. Qual dos programas a seguir servem de alvanca para o turismo rural nos municípios sob suaarea de cobertura *
Combate à pobreza
Territórios da Cidadania
Rede TRAF
Feira dos Sabores
Programa de Aquisição de alimentos - PAA
Caminhadas da Natureza
Turismo de Base Comunitária
Economia solidária e produção associada (ao turismo)
Outro:
11. Das propriedades atendidas na sua área de cobertura, responda qual é o número de propriedadescom atividades de turismo rural? * Quantas dessas propriedades estão classificadas dentro dos
módulos do PRONAF
12. O futuro do turismo rural na RMC *
No futuro, espera-se recursos financeiros para os programas de desenvolvimento do turismo rural que
promovam o desenvolvimento rural do município e do território
No futuro , espera-se uma ação mais integrada entre o Estado e os municípios
Espera-se um entendimento dos agentes quanto ao turismo rural como parte da politica pública do
desenvolvimento rural e da pluriatividade
No futuro, espera-se que a organização da governança regional do turismo possa contribuir com todas
as manifestações do turismo, em especial do turismo rural
Espera-se que os planos de desenvolvimento rural e do turismo rural trabalhem de forma conjunta
dentro da prefeitura
Espera-se uma ação mais efetiva no envolvimento da comunidade para o desenvolvimento do turismo rural
350
Espera-se que a formatação de produtos turísticos no espaço rural ganhe autonomia ,
independentemente das politicas das prefeturasdos e prefeitos
No futuro espera-se uma ação mais integradado Estado
Outro:
13. POR FAVOR, identifique sua cobertura de trabalho, indicando seu nome, municípios atendidos,número de propriedades atendidas e número de propriedades com turismo rural * Quantasdessas propriedades não são agricultura familiar?
14. OBSERVAÇÕES FINAIS E COMENTÁRIOS *
Enviar
351
MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR CIÊNCIAS DA TERRAPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
PROPOSTA DE ENTREVISTA AGENTES FEDERAIS E ESTADUAIS NA
IMPLEMENTAÇÃO DAS POLITCAS DE TURISMO RURAL NA RMC
INFORMANTE ________________________________________________________
LOCAL ______________________________________________________________
DATA________________________ HORÁRIO ______________________________
HORÁRIO TÉRMINO ____________________ ENTREVISTA Nº ________________
BLOCO 1 - REGIÃO E REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO
1. O que é Região?2. O que é Regionalização? Regionalização turística é diferente?3. Quando começou a Regionalização turística no Paraná?4. Como se organizou a regionalização turística no estado do Paraná?5. Qual é o objetivo da regionalização?6. Houve uma definição metodológica única por parte da política nacional de
regionalização do MTUR?7. Qual é o grau de importância do programa de regionalização no Estado?8. Houve uma contrapartida orçamentária do governo federal para a formatação das
regiões?9. E do governo estadual?10. Se houve, o que representou em termos percentuais do total executado nos anos da
posta em prática da política pública de regionalização?11. Há regiões prioritárias a serem atendidas?12. Quais foram os critérios para a seleção dessas regiões?13. Quais são essas regiões?14. A segmentação turística é um critério para a definição das regiões prioritárias?15. Qual é o critério de formação das governanças das regiões turísticas?16. É tomada em consideração a segmentação turística da região?
BLOCO 2 - TURISMO RURAL E GOVERNANÇA
17. O que é o turismo rural?18. Há diferenças entre turismo em áreas naturais , turismo no espaço rural, turismo rural
na agricultura familiar, turismo em áreas rurais?19. Qual dos turismos acima (ou outros não mencionados) se identifica com o turismo rural
praticado no Estado? E na RMC?20. Como avalia o grau de importância de uma atividade turística numa região? Qual tem
sido o peso do turismo rural?
352
21. O turismo rural é representativo na RMC?22. Como surgiu a proposta do desenvolvimento do Turismo Rural do Estado do Paraná?23. A sua instituição participa desenvolvimento do Turismo Rural do Estado do Paraná na
RMC?24. A sua instituição participa desenvolvimento de outros fóruns da RMC? Quais?25. Quem foram os parceiros do primeiro momento no Turismo Rural da RMC?26. Quem são os parceiros hoje?27. Quais atividades compõe o mix do turismo rural hoje na RMC?28. Quais dessas atividades são atendidas pela sua instituição?29. Existe um orçamento dedicado para o segmento do turismo rural? ou30. Atende a demandas que surgem dos municípios e regiões da RMC?31. Sabe informar quais dessas demandas ou atividades foram atendidas por outros órgãos
na RMC?32. Quais demandas ou atividades não foram atendidas entre 2003-2010?33. Na sua opinião, a governança regional do turismo reconhece a atividade do turismo
rural?34. Qual é a dificuldade que vc avalia ter a organização dos municípios na instancia de
governança regional?35. Qual tem sido o papel das câmaras temáticas (REGIONALIZAÇÃO, SEGMENTAÇÃO E
INFRAESTRUTURA E CAPACITAÇÃO) na estruturação do turismo rural?36. Qual seria o papel da IGR na RMC?
BLOCO 3 - DESENVOLVIMENTO e DESENVOLVIMENTO RURAL:RESULTADOS DO TURISMO RURAL NA RMC
37. Conhece algum resultado prático do turismo rural a partir da intervenção dos órgãoscitados anteriormente (produtos, serviços, pesquisas, organização de espaços, etc),Cite locais, data e novos elementos que se somaram?
38. Os resultados são conhecidos pela instancia de governança?39. Os resultados são conhecidos pelos municípios das RMC?40. Os resultados pautaram a intervenção do estado na política pública do turismo rural na
RMC?41. Qual destes programas servem de alavanca para o turismo rural na RMC?
Combate a pobreza
Territórios da Cidadania
Rede TRAF
Feira dos Sabores
PAA
Caminhadas da Natureza
Turismo de Base comunitária
Economia solidária e turismo (programas deprodução associada)
42. Como avalia o envolvimento da sua instituição no desenvolvimento do segmento doturismo rural no Estado do Paraná? E na RMC?
43. Tem contribuído aos objetivos traçados de desenvolvimento rural na RMC?
353
MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR CIÊNCIAS DA TERRAPROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
PROPOSTA DE ENTREVISTA TURISMO RURAL
PARA OS AGENTES MUNICIPAIS DO NUC DA RMC
INFORMANTE ________________________________________________________
LOCAL ______________________________________________________________
DATA________________________ HORÁRIO ______________________________
HORÁRIO TÉRMINO ____________________ ENTREVISTA Nº ________________
BLOCO 1 - REGIÃO E REGIONALIZAÇÃO DO TURISMO
1. que é Região?2. que é Regionalização? Regionalização turística é diferente?3. Quando começou a Regionalização turística no Paraná?4. Como se organizou a regionalização turística no estado do Paraná?5. Qual é o objetivo da regionalização?6. Houve uma definição metodológica única por parte da política nacional de
regionalização do MTUR?7. Qual é o grau de importância do programa de regionalização no Estado?8. Houve uma contrapartida orçamentária do governo federal para a formatação das
regiões?9. E do governo estadual?10. Se houve, o que representou em termos percentuais do total executado nos anos da
posta em prática da política pública de regionalização?11. Há regiões prioritárias a serem atendidas?12. Quais foram os critérios para a seleção dessas regiões?13. Quais são essas regiões?14. A segmentação turística é um critério para a definição das regiões prioritárias?15. Qual é o critério de formação das governanças das regiões turísticas?16. É tomada em consideração a segmentação turística da região?
BLOCO 2 - TURISMO RURAL E GOVERNANÇA
17. O que é o turismo rural?18. Há diferenças entre turismo em áreas naturais , turismo no espaço rural, turismo rural
na agricultura familiar, turismo em áreas rurais?19. Qual dos turismos acima (ou outros não mencionados) se identifica com o turismo rural
praticado no Estado? E na RMC?20. Como avalia o grau de importância de uma atividade turística numa região? Qual tem
sido o peso do turismo rural?
354
21. O turismo rural é representativo na RMC?22. Como surgiu a proposta do desenvolvimento do Turismo Rural do Estado do Paraná?23. A sua instituição participa desenvolvimento do Turismo Rural do Estado do Paraná na
RMC?24. A sua instituição participa desenvolvimento de outros fóruns da RMC? Quais?25. Quem foram os parceiros do primeiro momento no Turismo Rural da RMC?26. Quem são os parceiros hoje?27. Quais atividades compõe o mix do turismo rural hoje na RMC?28. Quais dessas atividades são atendidas pela sua instituição?29. Existe um orçamento dedicado para o segmento do turismo rural? ou30. Atende a demandas que surgem dos municípios e regiões da RMC?31. Sabe informar quais dessas demandas ou atividades foram atendidas por outros órgãos
na RMC?32. Quais demandas ou atividades não foram atendidas entre 2003-2010?33. Na sua opinião, a governança regional do turismo reconhece a atividade do turismo
rural?34. Qual é a dificuldade que vc avalia ter a organização dos municípios na instancia de
governança regional?35. Qual tem sido o papel das câmaras temáticas (REGIONALIZAÇÃO, SEGMENTAÇÃO E
INFRAESTRUTURA E CAPACITAÇÃO) na estruturação do turismo rural?36. Qual seria o papel da IGR na RMC?
BLOCO 3 - DESENVOLVIMENTO e DESENVOLVIMENTO RURAL:RESULTADOS DO TURISMO RURAL NA RMC
37. Conhece algum resultado prático do turismo rural a partir da intervenção dos órgãoscitados anteriormente (produtos, serviços, pesquisas, organização de espaços, etc),Cite locais, data e novos elementos que se somaram?
38. Os resultados são conhecidos pela instancia de governança?39. Os resultados são conhecidos pelos municípios das RMC?40. Os resultados pautaram a intervenção do estado na política pública do turismo rural na
RMC?41. Qual destes programas servem de alavanca para o turismo rural na RMC?
Combate a pobreza
Territórios da Cidadania
Rede TRAF
Feira dos Sabores
PAA
Caminhadas da Natureza
Turismo de Base comunitária
Economia solidária e turismo (programas de
produção associada)
42. Como avalia o envolvimento da sua instituição no desenvolvimento do segmento doturismo rural no Estado do Paraná? E na RMC?
43. Tem contribuído aos objetivos traçados de desenvolvimento rural na RMC?
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ANEXO 1 - LEGISLAÇÃO E NORMATIZAÇÃO DO TURISMO RURAL NO BRASIL
I. MATRIZ LEGISLAÇÃO E NORMATIZAÇÃO DO TURISMO RURAL
Legislação
CorrelataAssunto Entraves Instrumentos e Soluções Responsável
Parceiros
EnvolvidosSituação
1.1 LEGISLAÇÃO
LEGISLAÇÃO TURÍSTICA
Legislação
específica do
setor do turismo.
Lei do Turismo - no
11.771, de 17 de
Setembro de 2008
Decreto no 7.381, de
2 de
dezembro de 2010
Diferenciação regional no Brasil é
muito grande, limita a destinação
de recursos específicos para
projetos de desenvolvimento
mediante a descentralização do
atividade nos estados e municípios.
Politicas públicas desenhadas Top
Down, com participação limitada
das comunidades.
Define as normas sobre a Política Nacional
de Turismo, dispõe sobre o Plano Nacional
de Turismo (PNT), institui o Sistema Nacional
de Turismo, o Comitê Interministerial de
Facilitação Turística, trata sobre o fomento de
atividades turísticas com suporte financeiro
do Fundo Geral de Turismo (FUNGETUR),
das atribuições do Governo
Federal no planejamento, desenvolvimento e
estímulo ao setor turístico
MTUR, MDA,
MAPA, ATER
Politica pública do turismo é
desconhecida dos parceiros
principais dos ministérios nos
Estados. Atividade transversal,
entra como suporte de outros
programas desenhados para o
desenvolvimento no Mundo
Rural.
LEGISLAÇÃO E NORMATIZAÇÃO
LEGISLAÇÃO FISCAL E TRIBUTARIA
A constituição regular de empresa
e adesão ao SIMPLES, embora
haja carga tributária menor,
inviabilizam atividades de turismo
rural para os pequenos
agricultores, pois a renda mensal
bruta e a receita com o turismo não
justificam os gastos decorrentes de
constituição de empresa.
Duas Alternativas:
- Elaborar legislação federal ou estaduais que
normatizem o uso da nota fiscal do produtor
rural para atividades turísticas.
- Estabelecer carga tributária diferente para
prestação de serviço turístico por produtor
rural.
MTur e MAPA
Conf.
Nacional de
Agricultura,
MDA
Consultar Parceiros e a
Comissão de Agricultura e de
Turismo da Câmara dos
Deputados para identificar a
alternativa mais viável.LEGISLAÇÃO
FISCAL E
TRIBUTÁRIA
Sistema Integrado de
Pagamento de
Impostos e
Contribuições das
Microempresas e das
Empresas de
pequeno Porte -
SIMPLES
Proprietários rurais que atuam
como pessoa física, desenvolvendo
informalmente a atividade turística.
Não há tratamento do SIMPLES
para elas.
Realizar registro de Produtor Rural. Produtor Rural MDA, MAPA
Não representa um entrave,
mas cumprimento da legislação
vigente.
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA
- Dupla Jornada de Trabalho
- Contratação temporária usual de
parentes/ vizinhos.
Elaborar legislação que regulamente o
Turismo Rural, enquadrada dentro da Política
Agrária.
MTur MDA, MAPA Proposta
Lei nº. 5.889/73Relações
Trabalhistas Rurais
Diferença de interpretação, que não
considera como trabalhador rural
aquele que presta serviços em
propriedades turísticas rurais.
Verificar situação do Projeto de Lei PLV 8-
2008, Dep. Assis de Couto – PT/PR,
apresentado a Câmara dos Deputados em
abril/2008.
MTur MDA, MAPA
PLV 8-2008: Acrescenta artigo
à Lei nº 5.889, de 8/6/1973,
criando o contrato de
trabalhador rural por pequeno
prazo, estabelece normas
transitórias sobre a
aposentadoria do trabalhador
rural, prorroga o prazo de
contratação de financiamentos
rurais de que trata o § 6º do art.
1º da Lei nº 11.524, de
24/09/2007, e altera as Leis nº
8.212 e nº 8.213, ambas de
24/07/1991.
Lei nº. 8.941/99Estatuto de Micro e
Pequena Empresa
- Setor rural tratado da mesma
forma que o setor industrial e
comercial de natureza urbana.
- Piso salarial do trabalhador rural
diferente do piso do trabalhador de
Turismo Rural.
MTur MDA, MAPA
95% das empresas que atuam
no setor turístico do estado são
micro e pequenas empresas.
LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA
Lei nº. 8.212, de
24 de Julho de
1994.
Lei Orgânica da
Seguridade Social
Leis nº. 8.213, de
24 de julho de
1991, alterada
pela Lei nº.
11.430, de
26/12/2006.
Lei de Benefícios
Previdenciários
Decreto nº.
3.048, 06 de
maio de 1999,
Republicado em
12/05/1999.
Regulamento da
Previdência Social
O pequeno produtor rural que
passa a desenvolver atividades de
Turismo Rural perde a condição de
Segurado Especial junto à
Previdência Social.
A Lei nº. 11.718, de 20 Junho de 2008 - DOU
de 23/6/2008 resolveu este entrave,
alterando o art. 9º da Lei nº. 8.212, de 24 de
julho de 1991 e o art. 10º da Lei no 8.213, de
24 de julho de 1991.
MTur MDA, MAPA
Na nova lei, o produtor rural
não perde a condição de
Segurado Especial quando
explora a atividade turística em
sua propriedade, inclusive com
hospedagem, por não mais de
120 dias ao ano, ou se possuir
outra fonte de renda, sendo
proveniente de: exercício de
atividade remunerada em
período de entressafra ou do
defeso, não superior a 120
dias, e/ou atividade artesanal
desenvolvida com matéria-
prima produzida pelo respectivo
grupo familiar, podendo ser
utilizada matéria-prima de outra
origem, desde que a renda
mensal obtida na atividade não
exceda ao menor benefício de
prestação continuada da
Previdência Social. Todos
estes itens integram a Receita
Bruta do produtor rural.
DIREITO CIVIL
ResponsabilidadeCivil sobre ocorrênciade acidentes comturistas.
Ausência de mecanismos que oseximam dos Custos dos Riscos osinibe em relação à atividade.
- Apoiar iniciativas de conscientização dosprodutores rurais sobre suasresponsabilidades.Uma opção a curto prazo representa a vendade serviços por meio de receptivos, que seco-responsabilizariam por possíveisacidentes. O produtor não precisariaconstituir empresa turística, mas também nãoteria autonomia para trabalhar o turismo. Oreceptivo não exima o produtor dos riscos,mas se responsabiliza em conjunto.
MTur
Na realidade não representaum entrave, mas éresponsabilidade de qualquerpessoa que presta um serviço.Ou seja, o problema não serefere à legislação, mas a faltade informação.
POLÍTICA AGRÍCOLA
Lei nº. 8.171, de17 de janeiro de1991, alteradapela Leis nº.8.870, de 15 deabril de 1994.
Dispõe sobre aPolítica Agrícola.
Projeto de Lei nº. 5797/2001, da ex-DeputadaMarisa Serrano, inclui o turismo rural entre asatividades da legislação que fixafundamentos da política agrícola, alterandoas Leis nº. 8.171/1991 e 8.870/1994.
MTur Arquivada em 2003
LEGISLAÇÃO SANITÁRIA
Decreto nº.5.741, de 30 deMarço de 2006Regulamenta osarts. 27-A, 28-A e29-A da Lei nº.8.171, de17/01/1991.
Sistema Unificado deAtenção à SanidadeAgropecuária –SUASA.
- Desconhecimento das normassanitárias.- Exigências das normassanitárias não condizem com otipo de serviço prestado e aescala de produção.
- Promover ações de articulação e informaçãodos governos estaduais e municipais para aadesão ao SUASA.- Verificar na legislação do SUASA o nível dedetalhamento dos critérios para pequenoprodutor rural. – qual seu impacto pro pequenoprodutor.
MDA, MAPA(carimbo)
MTur,DCPAT/CGPA
Adesão do Estado ao SUASApossibilita a venda de seusprodutos em todo o Brasil.O SUASA representa umsistema que suaviza o cumpri-mento da legislação sanitária,no entanto, esta não pode servista como um entrave, maslegislação a ser cumprida.
Legislações relacionadas ao Segmento Turismo Rural
1. Lei nº. 9.712, de 20 de Novembro de 1998 - Altera a Lei nº. 8.171/1991, acrescentando-lhe dispositivos referentes à defesa agropecuária.
2. Lei nº. 11.326, de 24 de Julho de 2006 - Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Lei Nº Lei da Agricultura Familiar
3. Decreto 6.040 de 07 de fevereiro de 2007 - Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais
4. Decreto Nº 6.672 de 02 de dezembro de 2008 - Programa Nacional de Crédito Fundiário; Lei 12.188 de 11 de janeiro de 2010 – DOU – Institui a Política Nacional de ATER e o Programa
Nacional de ATER;
5. Decreto 7.215 de 15 de junho de 2010 – Regulamenta a Lei 12.188/2010;
II. MATRIZ SITUACIONAL DO TURISMO RURAL
2.1 ASPECTOS GERAIS, POR DIRETRIZ , DO TURISMO RURAL
Priorização de Ações para o Desenvolvimento da Segmentação
Diretriz - Ordenamento
Ações Instrumentos e Soluções (estratégias, como operacionalizar?) Responsável Parceiros Envolvidos Situação
Atualizar os estudos das legislações
existentes e articular para resolver seus
entraves.
Levantar as últimas legislações instituídas referente ao produtor rural e a
atividade turística (federais, estaduais e municipais).MTur MAPA, MDA
Levantar e classificar os empreendimentos de
Turismo Rural (oferta turística).
Levantar as experiências e produtos de Turismo Rural existentes e
comercializados atualmente no Brasil.MTur
ONG, Secretarias Estaduais,
entre outros.
Diretriz - Informação e Comunicação
Ações Instrumentos e Soluções (estratégias, como operacionalizar?) Responsável Parceiros Envolvidos Situação
Organizar Banco de Dados Estratégico. Levantar estudos e publicações sobre Turismo Rural. MTurMAPA, MDA, IICA, IDESTUR,
ABRATUR, REDETRAF.
Diretriz - Articulação
Ações Instrumentos e Soluções (estratégias, como operacionalizar?) Responsável Parceiros Envolvidos Situação
Atualizar a lista de representantes do Turismo Rural no Brasil (federal,
regional, estadual, municipal).MTur
MAPA, MDA, IICA, IDESTUR,
ABRATUR, REDETRAF.Promover articulações interinstitucionais e
intersetoriais. Criar discussão dentro do GTT com os diversos nichos de mercado do
Turismo Rural.MTur Membros do GTTTR.
Diretriz - Incentivo
Ações Instrumentos e Soluções (estratégias, como operacionalizar?) Responsável Parceiros Envolvidos Situação
Apoiar a divulgação dos incentivos de crédito
existentes.
Apoiar a divulgação do Programa Nacional de Turismo na Agricultura
Familiar (PRONAF, 2003).MTur MDA
Diretriz - Capacitação
Ações Instrumentos e Soluções (estratégias, como operacionalizar?) Responsável Parceiros Envolvidos Situação
Estabelecer um projeto piloto de capacitação
em uma região turística.
Elaborar metodologia de capacitação de produtores rurais que lidam com
turismo em uma região turística específica.MTur Instituição executora
Diretriz - Envolvimento Comunitário e /ou Parcerias
Ações Instrumentos e Soluções (estratégias, como operacionalizar?) Responsável Parceiros Envolvidos Situação
Promover o envolvimento comunitário de
regiões turísticas
Realizar encontros em destinos turísticos focos dos programas de
Segmentação e Regionalização.MTur
Órgãos oficiais de turismo,
comunidade dos destinos
prioritários.
Diretriz - Infra-Estrutura
Instrumentos e Soluções (estratégias, como operacionalizar?) Responsável Parceiros Envolvidos Situação
Verificar os diversos modelos de sinalização já propostos. MTurMDA, IDESTUR, Órgãos
oficiais de Turismo.Apoiar projetos de sinalização e
acessibilidade para o segmento.Criar modelo de sinalização padrão para o Turismo Rural. MTur Órgãos oficiais de Turismo.
Diretriz - Promoção / Comercialização
Instrumentos e Soluções (estratégias, como operacionalizar?) Responsável Parceiros Envolvidos Situação
Incentivar a venda de produtos e serviços de
Turismo Rural pelos receptivos existentes no
mercado.
Capacitar receptivos locais em destinos de Turismo Rural para a
operacionalização/comercialização de produtos específicos.MTur
SEBRAE, MDA, Órgãos
oficiais de Turismo.
Estimular a criação de receptivos
especializados em Turismo Rural.
Fomentar a criação de receptivos locais em regiões turísticas sem
receptivos especializados.MTur
Instituições atuantes na
região.