diagnÓstico e aplicabilidade de ferramentas...
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EDUARDO MITKE BRANDÃO REIS
DIAGNÓSTICO E APLICABILIDADE DE FERRAMENTAS
DE GESTÃO EM PROPRIEDADES LEITEIRAS DE
ECONOMIA FAMILIAR NA MESORREGIÃO DO VALE DO
ACRE
LAVRAS - MG
2017
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EDUARDO MITKE BRANDÃO REIS
DIAGNÓSTICO E APLICABILIDADE DE FERRAMENTAS DE GESTÃO EM
PROPRIEDADES LEITEIRAS DE ECONOMIA FAMILIAR NA MESORREGIÃO
DO VALE DO ACRE
Tese apresentada à Universidade Federal de
Lavras, como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em Ciências
Veterinárias, área de concentração em
Produção e Reprodução animal, para a
obtenção do título de Doutor.
Prof. Dr. Marcos Aurélio Lopes
Orientador
Dr. Djalma Ferreira Pelegrini
Coorientador
Prof. Dr. Gideon Carvalho de Benedicto
Coorientador
LAVRAS - MG
2017
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Reis, Eduardo Mitke Brandão.
Diagnóstico e aplicabilidade de ferramentas de gestão em
propriedades leiteiras de economia familiar na mesorregião do
Vale do Acre / Eduardo Mitke Brandão Reis. - 2017.
151 p.
Orientador(a): Marcos Aurélio Lopes.
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Tese (doutorado) - Universidade Federal de Lavras, 2017.
Bibliografia.
1. Amazônia. 2. Extensão Rural. 3. Gerenciamento. I. Lopes,
Marcos Aurélio. II. Título.
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Geração de Ficha
Catalográfica da Biblioteca Universitária da UFLA, com dados
informados pelo(a) próprio(a) autor(a).
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EDUARDO MITKE BRANDÃO REIS
DIAGNÓSTICO E APLICABILIDADE DE FERRAMENTAS DE GESTÃO EM
PROPRIEDADES LEITEIRAS DE ECONOMIA FAMILIAR NA MESORREGIÃO
DO VALE DO ACRE
Tese apresentada à Universidade Federal de
Lavras como parte das exigências do Programa
de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias,
área de concentração em Produção e
Reprodução animal, para a obtenção do título
de Doutor.
APROVADA em 25 de julho de 2017.
Dr. Fábio Raphael Pascotti Bruhn Universidade Federal de Pelotas
Dr. Geraldo Marcio da Costa Universidade Federal de Lavras
Dr. André Luis Ribeiro Lima Universidade Federal de Lavras
Dr. Felipe Berbari Neto Universidade Federal do Espírito Santo
Prof. Dr. Marcos Aurélio Lopes
Orientador
Dr. Djalma Ferreira Pelegrini
Coorientador
Prof. Dr. Gideon Carvalho de Benedicto
Coorientador
LAVRAS - MG
2017
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AGRADECIMENTOS
Ao Professor Marcos Aurélio Lopes por me dar a oportunidade, pela paciência, amizade e por me
transformar numa pessoa melhor, tanto na parte técnica como na pessoal. Tenha certeza que todos os
aprendizados estarão guardados para sempre. Uma pessoa que Deus olha de maneira especial e que
gostaria de ter em minha vida eternamente. Muito obrigado por tudo.
A minha esposa Caroline, por me aturar, por ter paciência e entender as minhas ausências, angústias e
mudanças de humor. Muito obrigado, você faz parte dessa conquista. Amo você.
A minha mãe Leilá, que às vezes não entende meus sumiços e minhas ausências. Que às vezes acha
que não estou com saudades ou que não ligo para ela. Tenho que lhe dizer que está completamente
errada. Tudo isso é por um objetivo e tenho que lhe agradecer por tudo. Por ser minha mãe e meu pai,
e por todo o seu sacrifício desde os meus 9 anos de idade. Muito obrigado por tudo. Amo você.
A minha irmã Kátia, meu eterno porto seguro, para onde eu sempre vou correr com a certeza absoluta
de que terei ali tudo que preciso, hoje e para o resto de nossas vidas. Muito obrigado por tudo que já
fez, faz e fará por mim. Você sabe que a nossa relação é diferente de tudo. Amo você.
A minha irmã Fernanda, minha madrinha, nossa “matriarca”. Muito obrigado por tudo que fez por
mim desde que me entendo por gente. Mais uma parte concluída. Amo você.
Aos meus sobrinhos, Julia, Luiza e Pedro, que já não são mais os meus pequeninos, o tempo passa.
Que seu tio sirva de exemplo para vocês, pois agradeço a vocês por existirem em minha vida. Contem
comigo sempre. Amo vocês.
Ao meu padrinho, Paulo Cesar Gesualdi, que foi e é fundamental em minha vida, e muito responsável
por eu ter chegado onde cheguei. Muito obrigado. Amo você.
Ao Professor André Lima, por sempre estar disposto a ajudar, pela grande contribuição no trabalho e
pela amizade construída. Muito obrigado.
Ao Professor Fábio Bruhn, pela imensa paciência e pela grande ajuda durante todo o tempo em que
estive na UFLA, Muito Obrigado.
Aos Professores Gideon Benedicto, Djalma Pelegrini, Geraldo Marcio e Felipe Berbari pelas valiosas
contribuições e pela disposição em participar.
Aos grandes amigos construídos nessa fase de minha vida: Alan e Fabiana. Muito obrigado por tudo,
contem comigo para o que precisarem.
Aos Professores da UFLA, Jerry Borges, Marcio Zangeronimo, Christiane Maria Barcellos Magalhães
da Rocha e José Camisão de Souza, obrigado pelo conhecimento passado, pela ajuda e pelas aulas
ministradas.
A Universidade Federal de Lavras, por me recepcionar tão bem e pelo grande aprendizado no tempo
em que foi seu discente.
A Universidade Federal do Acre, por me proporcionar a capacitação e pela bolsa concedida.
A FAPAC – Fundação de Amparo a Pesquisa do Acre, pela bolsa concedida e pelo apoio à pesquisa
realizada.
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RESUMO
Objetivou-se analisar a aplicabilidade das ferramentas de gestão associada à assistência
técnica, assim como as suas potencialidades e limitações na atividade leiteira de propriedades
de economia familiar na Mesorregião do Vale do Acre, na Amazônia Ocidental.
Especificamente, pretendeu-se, ainda: a) realizar um diagnóstico das propriedades rurais
leiteiras; b) diagnosticar o perfil socioeconômico dos pecuaristas de leite; c) validar um
formulário para diagnóstico de sistemas de produção de leite; d) aplicar ferramentas de gestão
visando a sustentabilidade das propriedades. A pesquisa foi realizada entre os meses de
março de 2016 e de 2017, em 100 propriedades rurais. Os dados foram coletados utilizando-se
um formulário de diagnóstico de propriedades leiteiras e um formulário socioeconômico. A
partir destes, foram definidos os fracos de cada uma das propriedades por meio das
ferramentas de gestão Brainstorming e Matriz GUT. Em posse dos pontos fracos, foram
escolhidas 30 propriedades, por meio de amostragem não probabilística por julgamento, para
utilizar ferramentas de gestão tais como: Diagrama de Ishikawa, 5W2H, PDCA, MASP e
Diagrama de Pareto, visando à correção dos pontos fracos e auxiliar o produtor rural na
melhor gestão de sua propriedade. Quanto à organização e análise dos dados foi utilizado o
software SPSS® e o teste estatístico McNemar. Entre os 20 pontos fracos mais pontuados, as
ferramentas de gestão 5W2H, PDCA e o Diagrama de Ishikawa geraram resultados
expressivos na resolução dos problemas, juntamente com o acompanhamento do técnico
extensionista. Concluiu-se que é possível adequar e aplicar as ferramentas de gestão à
pecuária leiteira e que os fatores produtivos, reprodutivos e sanitários encontrados nas
propriedades pesquisadas evidenciam a necessidade de melhorias no manejo. Além disso, são
necessárias ações que visem à melhoria da educação da população rural.
Palavras-chave: Amazônia. Extensão Rural. Gerenciamento. Pecuária leiteira. Região Norte.
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ABSTRACT
The scope of this work was to analyze the applicability of management tools associated with
technical assistance, as well as its potentials and limitations in the dairy activity of family
economy properties in Vale do Acre, in the Western Amazon. Specifically, it was intended
to: a) perform a diagnosis of dairy farms; b) diagnosing the socio-economic profile of the
ranchers of milk; c) validate a diagnostic form of milk production systems; d) apply
management tools aiming at sustainability of properties. The survey was conducted between
the months of March 2016 and 2017, in 100 rural properties. The data were collected using a
diagnostic form of dairy properties and a socio-economic form. From these, were defined the
weaknesses of each of the properties through management tools Brainstorming and Array
GUT. In possession of the weaknesses, 30 properties were selected, through non-probability
sampling for trial, to use management tools such as: Ishikawa diagram, 5W2H, MASP and
PDCA, Pareto diagram, in order to fix weaknesses and assist rural producers on better
management of your property. Regarding the Organization and analysis of the data was used
SPSS®
software and McNemar statistical test. Among the 20 most rated weaknesses,
management tools, 5W2H PDCA and the Ishikawa diagram generated significant results in
addressing the problems, along with the accompanying technical advisory officers. It was
concluded that it is possible to adapt and apply management tools for dairy farming and the
productive factors, reproductive rights and health found on the crawled properties show the
need for improvement in management. In addition, there is a need for actions aimed at
improving the education of the rural population.
Keywords: Amazon. Dairy farming. Management. North region. Rural extension.
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LISTA DE FIGURAS
PRIMEIRA PARTE
Figura 1 - Matriz SWOT. ........................................................................................................ 28
Figura 2 - Etapas do Ciclo PDCA. .......................................................................................... 35
Figura 3 - MASP. ..................................................................................................................... 38
Figura 4 - Diagrama de Ishikawa. ........................................................................................... 40
Figura 5 - Diagrama de Ishikawa como proposta para resolução do ponto fraco descarte de
matrizes. .................................................................................................................. 40
Figura 6 - Gráfico de Pareto. ................................................................................................... 45
Figura 7 - Mapa do estado do Acre. ........................................................................................ 53
SEGUNDA PARTE
ARTIGO 1
Figura 1 - Diagrama de Ishikawa como proposta para resolução do ponto fraco condição
corporal inadequada (magra) das vacas ao parto. ................................................... 85
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LISTA DE QUADROS
PRIMEIRA PARTE
Quadro 1 - Questões potenciais a considerar em uma análise SWOT. .................................... 31
Quadro 2 - Método do 5W2H. .................................................................................................. 33
Quadro 3 - Matriz GUT, gravidade, urgência e tendência. ...................................................... 43
Quadro 4 - Modelo de matriz GUT. ......................................................................................... 43
Quadro 5 - Folha de verificação. .............................................................................................. 47
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LISTA DE TABELAS
SEGUNDA PARTE
ARTIGO 1
Tabela 1 - Pontuação atribuída, por meio da Matriz GUT, a cada ponto fraco identificado
nas 100 propriedades leiteiras estudadas na Mesorregião do Vale do Acre, de
março de 2016 a março de 2017. ............................................................................ 93
Tabela 2 - Resultados da aplicabilidade das ferramentas de gestão na correção de pontos
das propriedades leiteiras estudadas na Mesorregião do Vale do Acre, de março
a julho de 2017. ....................................................................................................... 94
ARTIGO 2
Tabela 1 - Estatística descritiva das características produtivas das 100 propriedades
estudadas, na Mesorregião do Vale do Acre, de março a junho de 2016, em
função da produtividade de leite. .......................................................................... 102
Tabela 2 - Caracterização do rebanho e sistema de produção das 100 propriedades
estudadas, na Mesorregião do Vale do Acre, de março a junho de 2016, em
função da produtividade de leite. .......................................................................... 106
Tabela 3 - Caracterização de alguns aspectos zootécnicos e reprodutivos nas 100
propriedades estudadas, na Mesorregião do Vale do Acre, de março a junho de
2016, em função da produtividade de leite. .......................................................... 108
ARTIGO 3
Tabela 1 - Caracterização dos aspectos relacionados à qualidade da produção de leite nas
100 propriedades estudadas, na Mesorregião do Vale do Acre, de março a
junho de 2016, em função da produtividade. ........................................................ 124
Tabela 2 - Caracterização de alguns aspectos relacionados à sanidade dos rebanhos das
100 propriedades estudadas, na Mesorregião do Vale do Acre, de março a
junho de 2016, em função da produtividade de leite. ........................................... 127
ARTIGO 4
Tabela 1 - Perfil dos 100 produtores entrevistados e das propriedades estudadas, na
Mesorregião do Vale do Acre, de março a junho de 2016. .................................. 149
Tabela 2 - Estatística descritiva da caracterização de produtores da Mesorregião do Vale
do Acre em função da produtividade de leite, de março a junho de 2016. ........... 150
Tabela 3 - Fatores que dificultam a produção de leite na Mesorregião do Vale do Acre de
março a junho de 2016. ......................................................................................... 151
Tabela 4 - Infraestrutura das propriedades estudadas, agrupadas em clusters, na
Mesorregião do Vale do Acre, de março a junho de 2016. .................................. 152
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SUMÁRIO
PRIMEIRA PARTE ................................................................................................ 11
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 11
2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 12
2.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 12
2.2 Objetivos específicos ................................................................................................ 13
3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 13
5 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................. 15
5.1 Cenário da pecuária de leite nacional .................................................................... 15
5.2 Cenário da pecuária leiteira na região Norte e no estado do Acre ...................... 17
5.3 Agricultura familiar no Brasil e no Acre ............................................................... 20
5.4 Gerenciamento de empresas rurais ........................................................................ 22
5.5 Diagnóstico de empresas rurais .............................................................................. 25
5.6 Ferramentas de gestão ............................................................................................. 26
5.6.1 Matriz SWOT ........................................................................................................... 27
5.6.2 5W2H ........................................................................................................................ 32
5.6.3 PDCA ........................................................................................................................ 33
5.6.4 MASP ........................................................................................................................ 36
5.6.5 Diagrama de Ishikawa ............................................................................................. 39
5.6.6 Matriz GUT .............................................................................................................. 42
5.6.7 Gráfico de Pareto ..................................................................................................... 44
5.6.8 Folha de verificação ................................................................................................. 45
5.6.9 Brainstorming ........................................................................................................... 47
5.7 Ferramentas de gestão utilizadas no agronegócio ................................................ 49
6 METODOLOGIA .................................................................................................... 52
6.1 Tipos de pesquisa ..................................................................................................... 52
6.2 Local e data da pesquisa .......................................................................................... 52
6.3 Execução do trabalho .............................................................................................. 53
6.3.1 Formulários .............................................................................................................. 54
6.3.2 Metodologia: Realização do diagnóstico ................................................................ 55
6.3.3 Análises estatísticas .................................................................................................. 56
6.3.3.1 Análises estatísticas referentes ao objetivo geral .................................................. 56
6.3.3.2 Análises estatísticas referentes aos objetivos específicos ...................................... 57
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 58
8 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR ........................................................................... 59
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 60
SEGUNDA PARTE - ARTIGOS ............................................................................ 75
ARTIGO 1 - APLICABILIDADE DE FERRAMENTAS DE GESTÃO NA
CORREÇÃO DE PONTOS FRACOS EM PROPRIEDADES LEITEIRAS
DE AGRICULTURA FAMILIAR NA AMAZÔNIA OCIDENTAL ................ 75
ARTIGO 2 - ASPECTOS PRODUTIVOS E REPRODUTIVOS DE
REBANHOS LEITEIROS DE PROPRIEDADES DE AGRICULTURA
FAMILIAR NA AMAZÔNIA OCIDENTAL ....................................................... 95
ARTIGO 3 - ASPECTOS SANITÁRIOS DO REBANHO E DA
QUALIDADE DO LEITE EM PROPRIEDADES DE AGRICULTURA
FAMILIAR NA AMAZÔNIA OCIDENTAL ..................................................... 116
ARTIGO 4 - PERFIL SOCIOECONÔMICO DE PECUARISTAS DE
LEITE DE AGRICULTURA FAMILIAR NA AMAZÔNIA OCIDENTAL .. 134
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11
PRIMEIRA PARTE
1 INTRODUÇÃO
A bovinocultura de leite é uma das atividades mais importantes da agropecuária
brasileira, e é de extrema importância para o desenvolvimento econômico nacional, pois, além
de reduzir o êxodo rural, minimiza as pressões sociais nas áreas urbanas e colabora para a
minimização do desemprego e da exclusão social (SABBAG; COSTA, 2015).
Nas áreas rurais, os agricultores familiares detêm um número significativo na
produção do campo, representando 74% da mão de obra empregada (JUNIOR; SEABRA,
2012). Sabe-se, também, que grande parte dos produtores de leite do Brasil produz menos de
50 litros de leite por dia, o que é considerado pouco; e desses, a maioria faz uso da mão de
obra familiar (AQUINO, LACERDA, 2014). Na Região Norte, e no Estado do Acre, esses
índices são ainda maiores, pois são locais, ainda, considerados extrativistas (ANDRADE; SÁ,
2014). Assim sendo, torna-se necessário o melhor gerenciamento das propriedades de
agricultura familiar, com intuito de facilitar a gestão rural e aumentar a percepção dos
produtores para os pontos fortes e pontos fracos da produção leiteira; pontos esses
estritamente relacionados com a rentabilidade da propriedade (BATALHA; SCARPELLI,
2002).
Em termos de desenvolvimento de técnicas de gestão que contemplem as
particularidades da agricultura familiar muito pouco tem sido feito, fato esse que impede que
haja a inserção dessas propriedades de forma competitiva e sustentável no agronegócio
nacional (BATALHA et al. 2005). A agricultura familiar, mesmo inserida em lógicas
produtivas locais e circunscrita a territórios determinados, se vê apresentada a paradigmas
globais, independente dos mercados aos quais se destina a sua produção ou da forma de
comercialização que utilizam. Assim, o segmento de agricultores familiares deve contar com
ferramentas de gestão, para que essas sirvam de apoio à decisão, pautadas e adequadas,
sempre, à sua cultura organizacional e limitações em termos de educação formal e condições
gerais do meio no qual estão inseridos (LISBOA et al., 2015). As ferramentas de gestão não
são consideradas simplesmente úteis, estão se tornando, a cada dia, mais indispensáveis para a
competitividade e produtividade das empresas rurais (GODINHO; CARVALHO, 2009).
Diante do exposto, percebe-se que o principal problema não se encontra somente nas técnicas
agropecuárias, mas, sobretudo, nas práticas de gestão do processo produtivo.
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12
Este cenário mostra que existe uma grande distância entre o que é tratado nos centros
de pesquisa e no campo. Não há uma preocupação com a necessidade do uso de ferramentas
gerenciais na integração da gestão administrativa à zootécnica; porém, sem isso diminui-se a
competitividade da atividade, pois não há como destacar os indicadores de desempenho. Por
isso, se faz necessário disponibilizar ao produtor de leite um sistema de gerenciamento de
fácil aplicação e manuseio, podendo ser realizado por meio do uso de ferramentas de gestão.
Propõe-se que a utilização dessas ferramentas melhore a compreensão da atividade como um
todo e que seja capaz de desenvolver os sistemas de produção de leite, com redução nas taxas
de mortalidade de bezerras, melhorar os índices de qualidade do leite, minimizar as doenças
reprodutivas e melhorar o manejo nutricional, tendo como consequência a possibilidade do
aumento de lucratividade e da rentabilidade.
Existem diversas ferramentas de gestão aplicáveis em propriedades leiteiras, tais
como: Brainstorming (tempestade de ideias), Matriz GUT (gravidade, urgência e tendência),
matriz SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças), diagrama de Ishikawa, diagrama
de Pareto, PDCA (Planejar, Executar, Verificar e Agir), MASP (Método de análise de solução
de problemas), dentre outras, isso entanto, são raros estudos sobre esse tema na literatura.
Nenhum dos estudos pesquisados refere-se à avaliação do uso de ferramentas de gestão na
atividade bovinocultura leiteira familiar, quiçá na Região Norte e no Estado do Acre. A
maioria dos trabalhos encontrados, que utiliza as ferramentas de gestão, aborda
empreendimentos do setor secundário e terciário, sendo raros os que as utilizam no setor
primário.
Acredita-se, com o presente estudo, que o uso de ferramentas de gestão é capaz de
priorizar ações, auxiliar a gestão e minimizar os pontos fracos das propriedades rurais
leiteiras. Considerando-se os aspectos apresentados, bem como a importância do assunto,
realizou-se esta pesquisa.
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Analisar o uso de ferramentas de gestão, assim como as suas potencialidades e
limitações, na atividade leiteira de propriedades em regime de economia familiar na
Amazônia Ocidental, visando auxiliar na gestão.
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13
2.2 Objetivos específicos
Especificamente, pretende-se, ainda:
a) Realizar um diagnóstico das propriedades rurais leiteiras de agricultura familiar,
visando elencar os pontos fracos;
b) Caracterizar propriedades rurais de leite de agricultura familiar da Mesorregião do
Vale do Acre;
c) Analisar o perfil socioeconômico de pecuaristas de leite de agricultura familiar da
Mesorregião do Vale do Acre.
d) Aplicar e avaliar algumas ferramentas de gestão na mesorregião do Vale do Acre;
e) Validar um formulário para diagnóstico de sistemas de produção de leite.
3 JUSTIFICATIVA
Ao longo das últimas décadas ferramentas de gestão se tornaram comuns em empresas
do setor secundário e terciário (SOUZA et al., 2014); porém, são muito pouco utilizadas no
setor primário e raríssimos são os estudos na pecuária de leite. As ferramentas de gestão têm
por função auxiliar os gestores a atingirem seus objetivos, seja para aumentar receitas, reduzir
custos, inovar, melhorar a qualidade ou se planejar para o futuro. Sendo assim, percebeu-se a
possibilidade da aplicação dessas ferramentas nos sistemas de produção de leite e acredita-se
que, com a aplicação correta e a sua adaptação à pecuária de leite, pode-se auxiliar a resolver
diversos problemas encontrados nas propriedades rurais.
O uso de ferramentas de gestão na pecuária leiteira em pequenas propriedades rurais
de economia familiar na Mesorregião do Vale do Acre justifica-se pela importância do
gerenciamento em um sistema de produção, o qual ainda auxilia na tomada de decisões, fato
esse fundamental para a correção de problemas. Acredita-se que o uso das ferramentas de
gestão será capaz de contribuir para resolver os problemas diagnosticados. Além disso, tal
estudo poderá despertar nos técnicos das ciências agrárias e nos gestores dos sistemas de
produção a necessidade de fazerem uso dessas ferramentas.
Sabe-se que as propriedades rurais trabalham visando maior lucro e menor custo. Por
isso, torna-se necessário uma adequação e maior controle gerencial. Na literatura científica
poucos são os pesquisadores que se preocupam em utilizar ferramentas de gestão no processo
decisório, quando se trata da atividade agropecuária., porém emrelação à Amazônia
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14
Ocidental, inexistem pesquisas relacionadas ao tema.Contudo , os sistemas de produção que
as utilizam obtêm uma melhor performance e, consequentemente, melhores resultados,
quando comparados com aqueles que não as utilizam, pois conseguem ter um maior
conhecimento de onde está o problema. Para tal afirmação parte-se da hipótese de que quanto
mais eficientes e fidedignas são as informações utilizadas pelos técnicos e gestores do sistema
de produção, melhores serão os resultados obtidos, pois se acredita que uma propriedade
rural que faz uso de processos de gestão possui mais possibilidade de conhecer seus pontos
fracos e suas ameaças, tornando-se menos susceptível a perdas econômicas, pois não lhe
faltará condições para a tomada de decisões.
Diante disso, acredita-se que a política de comunicação de tecnologia, em que se inclui
a aplicação de ferramentas de gestão, como parte do processo de inovação, tem o objetivo de
contribuir para a solução de problemas e a transformação de sistemas produtivos do Acre
(PEREIRA et al., 2013). Neste sentido, e diante da inexistência de pesquisas relacionadas ao
tema na região, justifica-se a realização desta pesquisa.
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15
5 REFERENCIAL TEÓRICO
Visando melhor compreensão deste capítulo, optou-se por dividi-lo nos seguintes
tópicos: cenário da pecuária de leite nacional, na região Norte e no estado do Acre, agricultura
familiar no Brasil e no Acre, gerenciamento de empresas rurais, diagnóstico de empresas
rurais e ferramentas de gestão e ferramentas de gestão utilizadas no agronegócio.
5.1 Cenário da pecuária de leite nacional
De modo geral, de todos os itens que existem na cadeia produtiva do agronegócio, a
produção agropecuária é aquele com menor profissionalização. O principal problema não se
encontra nas técnicas agropecuárias ou no manejo zootécnico. Ele reside, sobretudo, na
administração e na compreensão do funcionamento dos mercados, que impõe articulação com
os segmentos pré e pós-porteira, impondo necessidades de novas formas de negociação e
práticas de gestão do processo produtivo. Tal incapacidade provoca impactos negativos no
desenvolvimento desse segmento e, consequentemente, na sua cadeia agroindustrial
(LOUREZANI et al., 2008).
O Brasil possui uma população formada por 205.728.038 de pessoas (IBGE, 2016) e
um consumo de leite per capita de 174 litros/ano (IBGE, 2015). Segundo Zoccal; Dusi
(2012), 1.350.809 estabelecimentos trabalham com leite e 931.215 comercializam o produto.
A predominância é de pequenos produtores, com 1,2 milhão de estabelecimentos com volume
diário menor que 100 litros, os quais somavam 91,5% do total e produziam 47% do leite. As
propriedades com mais de 500 litros por dia não chegam a 1% e o volume de leite é de
aproximadamente 16% da produção total.
A pecuária de leite brasileira apresenta algumas características marcantes. Entre elas
salienta-se: a produção existe em todo o país e não há padrão de produção. Existem
propriedades de subsistência, com baixa tecnificação e propriedades comparáveis às mais
competitivas do mundo, usando tecnologias avançadas e com produção diária superior a 50
mil litros (EMBRAPA, 2012).
Como quarto maior produtor de leite do mundo e primeiro da América do Sul, o Brasil
tem, continuamente, ampliado sua produção (SIQUEIRA et al., 2013). A produção nacional
saltou de 26 para 35,2 bilhões de litros de leite de 2013 para 2014 (IBGE, 2014). Porém, a
produção leiteira brasileira ainda é caracterizada por grande heterogeneidade, tanto nas
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16
técnicas de produção quanto no rebanho e perfil dos produtores. Aproximadamente 80,0% dos
produtores de leite do Brasil são pequenos e respondem por apenas 27,0% da produção,
enquanto que 20,0% dos produtores são classificados como grandes e respondem por 73,00%
da produção (SIQUEIRA et al., 2010).
De acordo com o Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite - CNPGL (2012), a
produtividade de leite no Brasil cresceu 12% no período de 2005 a 2010. Ocorreram aumentos
significativos de produtividade em todas as regiões, mas merecem destaques os crescimentos
vistos na região Sul (19,1%) e na região Norte (12,5%) do país. De acordo com o IBGE
(2014), a produtividade média do rebanho leiteiro no Brasil (1.525 kg/vaca/ano) ainda é
abaixo da produtividade média mundial (2.133 kg/vaca/ano). Se houver comparação com a da
União Europeia (5.579 litros/vaca/ano) e Estados Unidos (7.559 litros/vaca/ano) a situação se
mostra ainda pior (JUNIOR; SANTOS, 2013).
Com o decorrer do tempo, a atividade leiteira está cada vez mais especializada; devido
a isso, os produtores passam a ter a necessidade de administrarem bem, para se tornarem uma
realidade se tornarão mais eficientes e competitivos, tornando-se um empresário rural,
independentemente do tamanho do seu sistema de produção (LOPES et al., 2015).
O produtor que pretende se perpetuar na atividade deve buscar maior competitividade
e lucratividade dentro do sistema de produção de leite e procurar, cada vez mais, obter o
máximo de aproveitamento dos recursos disponíveis dentro e fora da sua propriedade. Para
que isso ocorra, é fundamental a conscientização da importância da coleta de dados, sua
análise e a transformação em indicadores ou índices zootécnicos, para monitorar a
bovinocultura de leite, auxiliando o pecuarista em tomada de decisão mais racional
(CAMARGO et al., 2006).
Nesse contexto, há necessidade de os produtores rurais se adaptarem à evolução e ao
ambiente socioeconômico em que estão inseridos. Mudanças no modelo de gestão são
necessárias para que estas possam acompanhar o ritmo de desenvolvimento. Justamente por
isso, é que as ferramentas de gestão podem auxiliar nas organizações e no alcance das
melhorias das condições socioeconômicas, sejam nas decisões estratégicas, na melhoria dos
sistemas de produção ou na distribuição de seus produtos (FARIAS et al., 2013).
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17
5.2 Cenário da pecuária leiteira na região Norte e no estado do Acre
A Região Norte do país correspondia no Censo Agropecuário de 2006 a 6,65% da
produção de leite nacional (IBGE, 2007). Segundo o IBGE, por meio da produção da
pecuária municipal (2014), a produção de leite na região Norte aumentou, porém pouco, pois
passou de 1.846.419 milhões de litros em 2013 para 1.946.149 milhões de litros em 2014,
sendo que em estados como Pará e Acre houve decréscimo da produção em cerca de 0,042% e
0,16%, respectivamente. Diante disso, Maia et al. (2013) relataram que a região produz cerca
de 5,5% da produção nacional, pois como a produção pouco aumentou, e outras regiões
aumentaram mais a produção, a participação da região Norte no aspecto nacional foi
diminuída.
De acordo com Zoccal et al. (2011), houve razoável evolução da atividade leiteira na
região entre os anos de 1990 e 2006, onde passou-se de 4% da produção leiteira nacional para
6%. Porém, após a esse período, apresentou estagnação ou baixo crescimento da produção até
chegar aos índices atuais. Uma informação relevante para se analisar a bovinocultura leiteira
da região é que grande parte das propriedades, se encontra produzindo entre 20 a 200L/dia,
obtendo média 42L/dia/estabelecimento (EMBRAPA, 2012). Tal fato mostra a necessidade
em aumentar a escala de produção.
O Estado de Rondônia é o que apresentou o melhor desempenho entre os estados
nortistas quanto à produção de leite, atingindo a 9º posição nacional em 2011, com a produção
de 802.969 mil litros de leite, obtendo aumento de 5% da produção quando comparado a 2010
(EMBRAPA, 2012).
Quando se analisa o quesito produtividade também se percebe grande diferença entre
os estados da Região Norte quando comparados a estados de outras regiões. Aqueles
possuem média de 526 L/vaca/ano, quando comparados com a média do Brasil, que é de
1.525 L/vaca/ano (IBGE, 2014). Mesmo quando se compara a média nacional com a melhor
produtividade da Região Norte (681 L/vaca/ano no estado de Rondônia) a diferença ainda é
grande. O estado do Acre possui índices de produtividade de 592,14 L/vaca/ano (IBGE,
2014).
O modelo de produção de leite utilizado pelos produtores em praticamente toda a
Região Norte é o sistema extensivo a pasto, no qual são utilizados os animais de “dupla
aptidão”, com baixa produção e produtividade. Os reprodutores utilizados são, na grande
maioria, os de raças zebuínas de corte e há, historicamente, o baixo preço do leite pago aos
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produtores. O resultado econômico disso é normalmente negativo (REIS; SILVA, 2013).
Diante desse cenário entende-se que em médio prazo a atividade leiteira parece ser
insustentável, ainda mais quando, segundo Valentim (2009), há um alto grau de degradação
de pastagens nas áreas onde a bovinocultura leiteira é explorada há mais tempo.
Os problemas estruturais encontrados para a produção leiteira na região Norte são
grandes, tais como: a distribuição de energia elétrica e as condições de trafegabilidade das
estradas, que dificultam o acesso durante todo o ano. Além disso, a oferta de assistência
técnica é outra limitação aos pequenos produtores, segmento representativo no contexto
regional, que se caracteriza por perfil de produtores com pouca especialização na atividade e
baixo uso de tecnologias, este apontado como um dos principais problemas da região
(MARTINS et al., 2008).
O Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2011)
aponta como um dos principais entraves à pecuária leiteira na região Norte o baixo nível
tecnológico. Pequenos produtores de leite que não dispõem de tecnologias apropriadas obtêm
baixa produtividade e, consequentemente, apresentam renda bastante reduzida. Esse cenário
causa desestruturação da família que, em muitos casos, leva ao abandono da atividade e ao
êxodo rural (BONADIO et al., 2005). Para minimizar essa situação há necessidade de
transferir tecnologias e conhecimentos aos produtores e extensionistas, para que esses
adequem os conhecimentos técnicos adquiridos às circunstâncias de limitação de capital e às
adversidades físicas e produtivas das propriedades (CAMARGO et al., 2006). Fatores, como
baixa escolaridade, recursos físicos e financeiros limitados, falta de informação, inadequação
de tecnologias a seus recursos naturais, pequena capacidade de organizar-se em cooperativas e
limitações de ordem econômica caracterizam ainda o pequeno produtor da região Norte, fatos
que dificultam ainda mais o seu desenvolvimento (BONADIO et al., 2005; SANTOS, 1986).
Quando houve investimentos e políticas públicas voltadas para o setor da
bovinocultura de leite, entre os anos 1990 e 2006, a região Norte obteve desenvolvimento, e
o estado que apresentou maior variação percentual na produção leiteira foi o Estado do Acre,
com um aumento de produção de 385%, seguido em ordem decrescente pelos estados de
Rondônia e Pará com taxas de 306% e 149%, respectivamente (IBGE, 2007).
No Estado do Acre o modelo de desenvolvimento econômico baseia-se,
primordialmente, no extrativismo. A pecuária ganhou espaço a partir dos anos 1980 e até hoje
está sob a responsabilidade dos pequenos produtores (ANDRADE et al., 2014). O atual
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plantel acreano é contabilizado em 2,634 milhões de bovinos, com 99.289 pessoas envolvidas
com a atividade agropecuária (IBGE, 2012).
Segundo Reis et al. (2010), a pecuária é a principal atividade econômica do setor
primário, sendo responsável por 40% do PIB agropecuário do Estado do Acre. Esta atividade
é desenvolvida em cerca de 23.000 propriedades rurais, sendo que 83% são de pequenos
produtores com rebanho bovino de até 100 cabeças. Cerca de 45% da população rural se
ocupa com atividades pecuárias ou em sistemas mistos de pecuária, agricultura e extrativismo
(IBGE, 2006).
A característica principal da bovinocultura de leite no estado do Acre é ser
predominantemente realizada por agricultores familiares. Dificilmente encontra-se
propriedade cuja atividade seja realizada de maneira empresarial. É necessário destacar que o
desenvolvimento da pecuária leiteira no estado é muito importante para a geração de renda e
contribui para a sobrevivência da agricultura familiar (BRAGA et al., 2014). Entretanto, para
se atingir esse desenvolvimento, são necessárias diversas adequações, tais como: minimizar a
capacidade ociosa dos laticínios, fato que gera instabilidade no setor industrial, pois há
aumento do custo de produção da empresa fazendo com que haja diminuição do valor pago ao
produtor rural; necessidade de capacitação de técnicos e produtores, visando o aumento do
nível de tecnologias adotadas; mudança do perfil do sistema de produção predominante
(sistema extensivo), pois este apresenta baixa efetividade (SÁ et al., 2002). Essas adequações
são de grande importância para que os produtores que utilizam a mão de obra familiar possam
melhorar a sua produtividade, gerenciar melhor sua propriedade e elevar a renda (SOUZA;
BUAINAIN, 2013).
Devido a utilização dos sistemas pecuários extensivos, surgem novos problemas, como
a degradação de pastagens e o superpastejo, que resultam em baixos índices zootécnicos os
quais comprometem a rentabilidade. Como consequência, verifica-se o uso frequente do fogo
no manejo dos pastos; uma pressão crescente de desmatamento de novas áreas de florestas
para a expansão das pastagens (REIS; SILVA, 2013).
O Estado do Acre possui um dos piores índices para a pecuária do país, à frente apenas
de Roraima e Amapá (IBGE, 2011). De acordo com Zoccal (2012), a produção de leite no
Acre em 2011 foi apenas 30% do que era em 2004, ou seja, em 08 anos houve queda de 70%
na produção, devido principalmente à redução dos investimentos na atividade leiteira. A
maior parte dos animais possui baixa produtividade com persistência de lactação de sete
meses, devido ao rebanho ser, quase sua totalidade, mestiço, atingindo produção média de
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2,5 litros vaca/dia (ANDRADE et al., 2014). Ainda de acordo com Andrade et al. (2014), do
total de 2,3 milhões de cabeças, 75,4% do rebanho estadual estão em propriedades com
menos de 100 cabeças.
Os baixos índices de produtividade e rentabilidade relatados fazem com que o Acre
possua mais de 1,9 milhão de hectares de áreas desmatadas; desse total apenas 41% são bem
manejadas, e o restante ou está degradado ou em processo de degradação (ARAÚJO, 2013).
Isso ocorre porque diante da baixa renda aumenta-se a pressão sobre a floresta, pois o
produtor rural necessita de mais área para tentar elevar a renda familiar (VALENTIM, 2011).
As melhores alternativas para a recuperação de áreas degradadas é o uso intensivo destas. A
pecuária intensiva é colocada com a forma sustentável de desenvolvimento, sem necessidade
de desmatamentos e queimadas (ANDRADE et al., 2014).
Grande parte dos desmatamentos e das queimadas no Acre são causados por pequenos
produtores que praticam a agricultura e a pecuária tradicional, como tradição familiar, mas
principalmente porque não têm acesso a alternativas (TUPY et al., 2003) para modificar essa
questão. Pelo menos em médio prazo acredita-se que somente a assistência técnica
qualificada, comprometida e constante seja capaz de realizar a mudança cultural necessária.
Além disso, os pequenos produtores têm nos animais a sua reserva econômica, sem risco de
confisco e com alta liquidez (VALENTIM, 2003). Por esses motivos a agropecuária na região
amazônica vem sendo questionada há muitos anos, pois a floresta é considerada a região de
maior biodiversidade do planeta e não se pode separar a questão ambiental do problema
social na Amazônia. As nuances sociais do processo de ocupação da fronteira agrícola têm
impacto no meio ambiente e merecem ser estudadas (PICANÇO, 2010).
Segundo Dale et al., (1994) conciliar soluções ambientais e sociais na Amazônia é um
grande desafio. Assim, há necessidade de se estudar a importância da pecuária na região e na
geração de renda das propriedades leiteiras locais. Enquanto os grandes produtores dedicam-
se exclusivamente à pecuária de corte, a venda de leite é feita em geral pelos pequenos
criadores que aproveitaram oportunidades determinadas pela proximidade de núcleos urbanos
ou da instalação de laticínios (FEITOSA, 2003).
5.3 Agricultura familiar no Brasil e no Acre
Somente a partir da década de 1990 foi que o termo agricultura familiar passou a ser
utilizado no Brasil e, desde então, vários conceitos foram desenvolvidos para a categoria,
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porém é notório que, em todos, há consenso sobre o uso majoritário de mão de obra familiar e
a gestão do estabelecimento agrícola ser realizada pela família (CARVALHO et al., 2012).
Além disso, a agricultura familiar deve reunir aspectos importantes, tais como: o trabalho, a
produção e as tradições culturais; portanto, é aquela que, ao mesmo tempo, é proprietária e
assume os trabalhos na propriedade rural. Isso independente do tamanho da área de cada
produtor, da renda, do nível tecnológico ou do destino da produção agropecuária
(EMBRAPA, 2005).
A agricultura familiar é uma categoria social bem específica e portadora de uma
tradição que se caracteriza por alguns pilares, tais como: centralidade na família, forma de
produzir e pelo modo de vida, considerados traços oriundos do campesinato (CORREA;
ALVES, 2016). De acordo com a Lei nº 11326 de julho de 2006, consideram-se agricultor
familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo,
simultaneamente, aos seguintes requisitos: não detenha, a qualquer título, área maior do que 4
(quatro) módulos fiscais; utilize predominantemente mão de obra da própria família; tenha
percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu
estabelecimento e dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.
Wanderley (2003) ressalta que mesmo sendo moderno e inserido no mercado, esse
produtor rural preserva seus traços camponeses, tendo ainda que enfrentar problemas
específicos relacionados à modernização brasileira, dependendo em muitos casos de seus
próprios esforços.
A agricultura familiar vem sendo objeto de estudo há muitos anos, tanto em países
desenvolvidos quanto de países em desenvolvimento, no intuito de desenvolvê-la, pois não há
mais questionamentos sobre a sua importância no desenvolvimento social e no crescimento
equilibrado do país (BUAINAIN, 2003). Ainda segundo esse autor, o debate nos países em
desenvolvimento é pautado na viabilidade da agricultura familiar, pois são marcados pela
forte desigualdade social. Diante disso, buscam-se formulações políticas e técnicas,
procurando associar a ideia da eficiência com a equidade, para que haja, realmente, efetiva
participação da agricultura familiar na geração de emprego e renda.
Cerca de 1,8 milhões de propriedades rurais compõem a agricultura familiar e fazem
dela setor em expansão e de vital importância para o país. Anualmente, movimenta bilhões de
reais representando grande incremento de renda, pois, gera receita mensal para os
agricultores, além de produzir grande parte dos alimentos que são consumidos pelas famílias
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brasileiras. Além disso, contribui para a geração de empregos e renda e redução do êxodo
rural (DAMASCENO, 2011).
É importante salientar que agricultura familiar não é sinônimo de pobreza. É uma
forma de produção em que as decisões são tomadas pela família. Claro que, devido a poucas
oportunidades, a maioria desses produtores possui baixo nível de escolaridade, sendo que
estes diversificam as atividades para aproveitar as potencialidades da propriedade, visando
ocupar melhor a mão de obra disponível e aumentar a renda (ZOCCAL, 2005).
No estado do Acre, a produção familiar rural representa importante papel no
desenvolvimento da sociedade acreana. Sabe-se que esse tipo de produção precisa aumentar a
produtividade da terra e da mão de obra para manter a competitividade no longo prazo
(HOMMA et al., 2014). Percebe-se, atualmente, que apenas reconhecer a importância da
agricultura familiar para o desenvolvimento econômico do estado do Acre não basta, é
necessário o emprego de tecnologias na produção agropecuária (MACIEL; LIMA JUNIOR,
2014). Porém, Marchiori et al. (2013) alertam que para o desenvolvimento de inovações
tecnológicas é preciso levar em consideração que os agricultores familiares normalmente são
muito apegados às formas tradicionais de cultivo. Diante disso, acredita-se que a política de
comunicação de tecnologia, em que se inclui a aplicação de ferramentas de gestão, como parte
do processo de inovação, tem o objetivo de contribuir para a solução de problemas e a
transformação de sistemas produtivos do Acre (PEREIRA et al., 2013).
5.4 Gerenciamento de empresas rurais
De acordo com o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola do Estado de
Santa Catarina (2010) o insucesso na gestão agrícola familiar é um dos fatores que
contribuem com o êxodo rural. Sendo assim, para se evitar o caos social, é necessário obter
sucesso na gestão agrícola, e não basta saber o que, quanto e como produzir, nem
disponibilizar grandes quantias de recursos para o fomento da atividade rural. É fundamental
que haja, em paralelo, preocupação em controlar e gerenciar os investimentos, sejam eles
aplicados antes, durante ou depois da produção. Também é necessário avaliar os resultados
alcançados, comparando-os com as metas iniciais, e com os obtidos em safras anteriores, além
de comparar os resultados obtidos pelos demais produtores (CREPALDI, 1998).
A função da administração é a de interpretar as metas propostas e transformá-las em
atos, porém sempre dentro da realidade. O planejamento, organização, direção e controle de
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indicadores de desempenho são fundamentais para a ação proposta (MINTZBERG;
GOSLING, 2003). Quando se analisa a administração rural a situação é parecida. Todavia, no
campo, falta aos administradores informações que lhes assegurem meios eficazes para tomar
decisões, sejam elas de curto, médio ou longo prazo. Tal fato mostra a grande importância que
tem as anotações dos dados da propriedade rural (SALUME et al., 2015)
Segundo Huender (2004), a administração rural é o conjunto de atividades que facilita
aos produtores rurais a tomada de decisões em nível de empresa agrícola, com o intuito de
atingir melhores resultados econômicos e zootécnicos, aumentando a produtividade.
A nomenclatura gestão de propriedades rurais pode ser colocada de acordo com
Nagaoka et al. (2011): “a administração dos recursos disponíveis e potenciais visando o
melhor uso da terra, água, máquinas e equipamentos e pessoal em uma propriedade rural
específica”. Porém, para se gerenciar uma empresa rural, há necessidade de se conhecer todas
as variáveis existentes no processo, como: produção animal e vegetal, clima, planejamento de
tarefas de campo e administrativas, uso de máquinas, quais culturas a serem trabalhadas,
análise de custos, legislação ambiental, regulamentos a respeito da segurança dos
trabalhadores (PAVLOVIC et. al., 2008), situação essa que deve ser levada ao trabalhador
rural por meio da assistência técnica constante e capacitada, denominada comunicação de
tecnologias. Sistema esse que integra o processo de produção de soluções tecnológicas
disponibilizando para a sociedade as informações sobre os resultados de pesquisa e as
tecnologias disponíveis para o incremento da agropecuária brasileira.
De acordo com Garrido; Sehnem (2006), a gestão de uma empresa rural compreende
coleta de dados, geração de informações, tomada de decisão e as ações decorrentes. Também
colocam que a cultura do produtor, que privilegia os investimentos para a produção, é o
primeiro obstáculo à implantação de um sistema de gestão.
Tem se tornado claro para a comunidade científica, empresarial e para os gestores das
políticas públicas, que a competitividade da agropecuária nacional – e porque não incluir a
agricultura familiar – somente será sustentável se houver a adoção de práticas que estimulem
a cooperação entre os agentes econômicos da cadeia produtiva e, complementarmente, entre
esses e os poderes governamentais (BATALHA et al., 2005). Ter um processo decisório
competitivo é uma segurança para garantir a sustentabilidade de uma propriedade rural
(NAGOAKA, et al., 2011).
Na literatura, nota-se que as primeiras referências ao uso da administração rural
tiveram origem nos Estados Unidos e na Inglaterra, devido ao processo de modernização
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agrícola, denominado Farm Management (LIMA et al., 2005). No Brasil, o desenvolvimento
teórico e prático da administração rural é baseado em duas abordagens: a primeira advinda da
economia rural, representada pela obra de Hoffman et al. (1976). De acordo com esse autor,
administração rural é o estudo que considera a organização juntamente com a operação
agrícola, visando o uso mais eficiente dos recursos para obter resultados compensadores e
contínuos. A segunda define a administração rural como ramo da ciência administrativa que
contempla os diferentes elementos do processo administrativo (LIMA et al., 2005).
Outros autores também se especializaram na administração e gestão rural, inserindo
assim, cada vez mais conceitos ao debate. Segundo Gonçalves et al. (2014), administrar é a
atividade de dirigir uma empresa por meio de técnicas de gestão que visam alcançar os
objetivos de forma eficiente com responsabilidade social e ambiental. A administração é um
ajuste de recursos organizacionais, humanos, materiais, financeiros, informação e tecnologia,
visando atingir desempenho adequado (MINTZBERG; GOSLING, 2003).
Para Wright (2000), administrar de forma eficaz exige entendimento e conhecimento
do ambiente, além do enfoque na missão, e no contexto de seus pontos fortes e fracos. Para
atingir tal objetivo é fundamental estabelecer metas, pois as empresas com sentido definido
são capazes de determinar com maior precisão quais atividades se encaixam na orientação
estratégica e quais não. A administração eficiente de uma empresa rural não é diferente, e tem
o mesmo objetivo, que é obter resultados compensadores. Assim, de forma econômica, para
que uma empresa rural possa obter competitividade é necessário práticas de gestão que
tenham por objetivos a ampliação das margens de lucro, a redução dos custos e dos riscos de
produção e de mercado (CANZIANI, 2001).
Segundo Mendes (2008), muito pouco se tem estudado no Brasil sobre aplicações de
ferramentas gerenciais no agronegócio, quiçá na atividade da bovinocultura. O mesmo autor
ainda cita que os produtores rurais, obedecendo a uma característica própria de gestão, tomam
decisões baseadas no conhecimento empírico e na grande maioria das vezes perdem
lucratividade, reduzindo o retorno de sua propriedade.
O gerenciamento é uma das ferramentas mais importantes e indispensáveis para se
buscar desenvolvimento sustentável da propriedade como um todo, independentemente do seu
tamanho (FERRAZZA et al., 2015). Entretanto, Lima (2004) atenta sobre a necessidade de
considerar que o gerenciamento das empresas rurais enfrenta dificuldades específicas, tendo
em vista que os sistemas de produção do setor rural são dotados de especificidades que os
diferenciam dos demais, tais como o clima, a sazonalidade e a perecibilidade dos produtos e a
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baixa qualificação da mão de obra. Desta forma é imprescindível adequar a questão gerencial
com a questão técnica.
Para Krug et al. (2001), em cadeias de produção agropecuárias complexas, a
especialização das atividades para “dentro da porteira” parece ser fator que leva a unidade
produtiva a maior ou menor sucesso. Segundo Ferrazza et al. (2015), o produtor rural
necessita se ver como administrador profissional que deve focar na produção, na
produtividade e na lucratividade, situação essa difícil de emplacar, devido muito mais às
questões culturais que às questões técnicas.
Diante da complexidade de um sistema de produção agropecuária e da maior
competição que vem ocorrendo, o processo gerencial necessita de adequações, visando obter
maior agilidade e possuir critérios para cumprir os objetivos e obter sucesso, superando as
restrições inerentes ao sistema produtivo (FERRAZZA et al., 2015).
Para se atingir tal objetivo deve-se investigar e analisar as ferramentas de gestão
existentes, detectar em quais aspectos as mesmas são incompatíveis às necessidades do
produtor e propor novo sistema de gestão, de planejamento e custeio adequado à realidade
regional (MARION; SEGATTI, 2006).
5.5 Diagnóstico de empresas rurais
O conceito de diagnóstico tem origem na palavra grega diagnõstikós, que significa
discernimento, faculdade de conhecer. Porém, vem sendo utilizado como estudo aprofundado,
para conhecer determinado fenômeno ou realidade (ARAÚJO, 2007). Segundo Rezende et al.
(2010), entende-se por diagnóstico situacional o resultado de um processo de coleta,
tratamento e análise dos dados colhidos no local onde se deseja realizá-lo. O diagnóstico pode
e deve ser considerado como uma das mais importantes ferramentas de gestão, pois caso ele
não seja fidedigno todos os resultados não serão confiáveis. Diante dessa importância,
instrumentos padronizados para diagnóstico têm sido cada vez mais utilizados como
auxiliares na avaliação de diferentes aspectos de qualquer atividade econômica. Na prática,
tais instrumentos permitem a documentação e são fundamentais na avaliação da eficácia da
decisão tomada (DUARTE; BORDIN, 2000).
Muitos pesquisadores recomendam o uso de formulários, pois esses contribuem para
identificar pontos fracos e fortes, oportunidades de descentralização, informatização e perfil
de profissionais. Porém, deve-se ter cuidado ao utilizá-los, pois os levantamentos refletem as
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opiniões baseadas nas percepções que as pessoas têm; desse modo, é necessário se resguardar
para que os dados sejam fidedignos à realidade da atividade pesquisada. Outro ponto
importante é evitar fugir da metodologia definida, facilitando a coleta e análise de dados e
informações (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2007).
Adotar sistema de gestão implica, na maioria das vezes, na padronização dos métodos
e práticas (ABREU, 2007). Ambos também são importantes para se realizar análise crítica e a
consequente melhoria dos procedimentos da propriedade (MARSHALL JUNIOR et al.,
2010).
No que tange aos sistemas de produção leiteira apresenta-se uma complexidade ainda
maior, em particular no gerenciamento de custos, com diferentes centros produtivos, os quais
se interligam. Diante disso é nítido que se exija uma maior habilidade gerencial dos
responsáveis pela atividade. Desta forma, para se chegar ao resultado desejado, é importante
realizar o diagnóstico de sistema de produção e de todos os elementos que compõem a
atividade (CASELLI; ASSIS, 2011).
5.6 Ferramentas de gestão
As ferramentas de gestão são técnicas utilizadas em instituições públicas ou privadas
com a função de solucionar problemas gerenciais. São usadas para identificar, observar e
analisar a atual conjuntura da empresa. Cada problema encontrado é resultado indesejado ou
desafio a suplantar (MEIRELES, 2001). Conforme Oakland (1993), ferramentas de gestão,
tais como o Diagrama de Ishikawa, Brainstorming e Gráfico de Pareto devem ser usadas para
interpretação e maximização do uso de dados. O principal objetivo é identificar os maiores
problemas pela análise adequada e procurar a melhor solução. Essas ferramentas de gestão
devem ser do conhecimento de todos os envolvidos no processo e devem fazer parte do
programa básico de treinamento da qualidade.
Deve-se atentar para aspectos importantes, como conhecer a ferramenta. E saber
discernir onde e quando usá-la. Segundo Kume (1993), 94% de todos os problemas
administrativos ocorrem por causas comuns que podem ser atribuídas aos processos e seus
métodos; e apenas 6% podem ser atribuídas aos empregados da empresa. Para Ishikawa
(1985), 65% a 80% dos problemas que afetam uma empresa são de responsabilidade da
gerência. A maior parte dos problemas existentes em uma empresa pode ser resolvida com o
auxílio das ferramentas de gestão. Para Sousa et al. (2011), cada ferramenta tem sua própria
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utilização, sendo que não existe regra adequada para saber qual a ferramenta deve ser
utilizada. Segundo Silva e Peso (2001), os maiores problemas são provocados por poucas
causas, ou seja, 20% das causas provocam 80% dos problemas; tal fato é importante, pois
possibilita priorizar as ações de acordo com a importância que esses problemas têm para a
organização.
Para que o uso de ferramentas de gestão tenha resultados duradouros é necessário que
seja associado a uma cultura adequada (MEIRELES, 2001). Sashkin; Kiser (1994) afirmam
que a maior importância das ferramentas é que elas ensinam duas lições importantes: o
significado da qualidade total e aprender a controlar a sua variabilidade; e o controle da
variação é considerado o caminho técnico para a qualidade total.
As ferramentas utilizadas nos processos de gestão foram sendo estruturadas,
principalmente a partir de 1950, com base em conceitos e práticas existentes para diversas
áreas da administração (ASSEN et al., 2010). Porém, poucos estudos existem na literatura
quando nos trazem a matéria para a agropecuária, quiçá a pecuária leiteira.
Muito se comenta sobre a necessidade de aplicação de tecnologias nas propriedades
rurais; porém, segundo Santos et al. (2002), a aplicação de ferramentas gerenciais são tão
importantes quanto. São fundamentais para a competitividade da atividade, pois mostram e
analisam os indicadores de desempenho; com isso aumentam-se as chances de sucesso e a
sustentabilidade das empresas rurais (SANTOS et al., 2002).
A implantação do sistema de ferramentas de gestão na pecuária de leite preconiza a
aplicação de medidas preventivas e corretivas e o comprometimento da equipe para seu êxito,
passando por uma série de etapas, de acordo com a ferramenta utilizada, que devem ser
desenvolvidas e constantemente reavaliadas (LOVATTI, 2004).
5.6.1 Matriz SWOT
A sigla SWOT (Strengths, Weakness, Opportunities and Threats) que traduzido para a
língua portuguesa significa ”Pontos fortes e fracos, Oportunidades e ameaças” foi
desenvolvida, entre as décadas de 1960 e 1970, pelo pesquisador Albert Humprey, da
Universidade de Stanford. Entretanto, muitos autores creditam a autoria da análise SWOT a
Kenneth Andrews e Roland Christensen, à época, professores da Harvard Business School.
Porém, não existem referências na literatura sobre o assunto anterior às de Albert Humprey.
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Posteriormente a ele, a Matriz SWOT (Figura 1) foi aplicada por inúmeros pesquisadores e
passou a ser utilizada pela comunidade acadêmica (MEIRELES, 2001).
Essa ferramenta estuda a competitividade de uma organização, levando em
consideração quatro variáveis em que, por meio dessas, poderá se fazer o diagnóstico das
forças e fraquezas da empresa, e das oportunidades e ameaças. Quando pontos fortes de uma
organização estão alinhados com os fatores de sucesso, facilitará a condição de satisfazer as
oportunidades de mercado, com isso a empresa será competitiva em médio e longo prazo
(RODRIGUES et al., 2005).
Figura 1 - Matriz SWOT.
Segundo Shariatmadari et al. (2013), a análise SWOT pode ser aplicada tanto de
forma qualitativa quanto de forma quantitativa. Tem como objetivo apontar os principais
fatores internos e externos em ambiente específico, visando auxiliar a organização na
compreensão da situação atual. Após tal feito, a ferramenta auxilia também na formulação de
estratégias de acompanhamento e desenvolvimento da empresa (RACHID; EL-FADEL,
2013).
Essa matriz é capaz de agregar a análise ambiental e a análise organizacional da
empresa em momento específico. Neste sentido, compatibiliza os aspectos internos
(endógenos) com os aspectos externos (exógenos), caracterizando-se como adequação
estratégica das organizações (VASCONCELOS FILHO; PAGNONCELLI, 2001). A
correlação evidenciada na matriz de análise SWOT pode e deve orientar os empresários nas
tomadas de decisões que levem à composição de “boas estratégias” (BARNEY; HESTERLY,
2007).
Fonte: Adaptado de Silva et al. (2009)
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As oportunidades e ameaças são variáveis do meio externo e não controláveis, e os
pontos fortes e fracos são variáveis internas e, desta forma, controláveis. As oportunidades
podem criar condições favoráveis para a empresa, desde que a mesma tenha condições de
utilizá-las; já as ameaças criam condições desfavoráveis para a organização. Os pontos fortes
propiciam uma condição favorável em relação ao seu ambiente, enquanto que os pontos
fracos provocam uma situação desfavorável. Diante disso, os pontos fortes devem ser
amplamente explorados pela organização (OLIVEIRA, 1999).
A partir da matriz SWOT é realizada uma avaliação estratégica visando uma gestão
competitiva. Torna-se necessário então relacionar as oportunidades e ameaças presentes no
ambiente externo com as forças e fraquezas mapeadas no ambiente interno da empresa.
Deve-se ter ciência de que a escolha dos pontos fortes, fracos, ameaças e
oportunidades são independentes uns dos outros. Todavia, deve-se levar em consideração a
relação existente entre eles. Dessa forma, qualquer mudança pode ocasionar alteração na
prioridade das estratégias (SHARIATMADARI et al., 2013; YAVUZ; BAYCAN, 2013).
Ferrell; Hartline (2009) apontam que o gestor deve começar a pensar no que a
empresa pode fazer de melhor e saber onde estão suas deficiências. Forças e fraquezas
existem e dificilmente deixarão de existir, muito por causa de recursos possuídos (ou não
possuídos) ou pelo seu relacionamento com os consumidores, empregados, parceiros e
fornecedores. Sabe-se que o planejamento tem difícil conceituação, já que sua função muitas
vezes é confundida com previsão, projeção, predição, resolução de problemas e planos;
contudo, planejar é um processo que deve ser desenvolvido para promover o alcance de
objetivos propostos (VASCONCELLOS FILHO; PAGNONCELLI, 2001).
O uso da análise da Matriz SWOT em um empreendimento faz com que se consiga ter
visão mais clara e objetiva sobre quais são suas forças e fraquezas no ambiente interno e suas
oportunidades e ameaças no ambiente externo (SILVA et al., 2009). Empresas em que as
fraquezas são consideradas deficiências e essas inibam a capacidade de desempenho devem
ser superadas para evitar as perdas econômicas e até mesmo a falência (MATOS et al., 2007).
Para Martins (2007), existem alguns aspectos positivos nos pontos fortes de uma
empresa, porém o mais importante é o serviço exercido, que está intimamente relacionado ao
produto; e esse fator pode ser controlado internamente, além de ser relevante para o
planejamento estratégico.
As oportunidades que a empresa tem para atender seus clientes são únicas, ainda mais
quando está suprindo uma necessidade do mercado. Diante disso, Martins (2006) afirma que
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as possibilidades de êxito diante das oportunidades ligadas a lucratividade podem ampliar sua
receita. O autor enfatiza também que as ameaças podem levar a empresa para redução de
receita. Para Martins (2007), as ameaças também estão ligadas aos concorrentes e aos novos
cenários, desafiando a gestão estratégica do empreendimento. As quatro variáveis utilizadas
na matriz SWOT estão exemplificadas no quadro 1.
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Quadro 1 - Questões potenciais a considerar em uma análise SWOT.
Forças internas potenciais
Fraquezas internas potenciais
Recursos financeiros abundantes; Recursos financeiros limitados;
Nome de marca bem conhecido; Falta de orientação;
Líder do mercado; Pouco investimento em pesquisa e
desenvolvimento;
Economia de escala; Linha de produtos muito limitada;
Tecnologia própria; Produtos ou tecnologia desatualizados;
Processos parenteados Distribuição limitada;
Custos baixos; Custos elevados;
Imagem da companhia/ marca respeitada; Problemas operacionais internos;
Talento gerencial elevado; Problemas políticos internos;
Melhor habilidade de marketing; Imagem de mercado fraca;
Produto de qualidade superior; Pouca habilidade de marketing;
Alianças com outras empresas; Alianças com empresas fracas e habilidades
gerenciais limitadas;
Boa capacidade de distribuição. Empregados mal treinados.
Oportunidades externas potenciais
Ameaças externas potenciais
Rápido crescimento do mercado; Entrada de concorrentes estrangeiros;
Empresas rivais são complacentes; Introdução de novos produtos substitutos;
Mudanças das necessidades do consumidor; Ciclo de vida do produto em declínio;
Abertura de mercados externos; Mudanças nas necessidades/gestos do
consumidor;
Revés da empresa rival; Declínio da confiança do consumidor;
Novas descobertas de produtos; Empresas rivais adotam novas estratégias;
Boom econômico; Maior regulamentação governamental;
Desregulamentação governamental; Queda na atividade econômica;
Nova tecnologia; Mudança na política do Banco Central;
Mudanças demográficas; Nova tecnologia;
Outras empresas buscam alianças; Mudanças demográficas;
Grande alteração de marca; Barreiras no comercio exterior;
Queda de vendas de produtos substitutos; Fraco desempenho de empresa aliada;
Mudanças nos métodos de distribuição. Tumulto na política internacional;
Enfraquecimento da taxa de câmbio.
Fonte: Ferrell; Hartline (2009)
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5.6.2 5W2H
A ferramenta 5W2H foi criada pela indústria automobilística do Japão para
complementar o ciclo PDCA Plan (Planejar), Do (Executar), Check (Verificar), Action
(Agir)), principalmente na fase de planejamento, e utilizada na década de 1980 pelo professor
Joseph M. Juran (CHENG; MELI FILHO, 2007).
Polacinski et al. (2012) descrevem que a ferramenta nada mais é do que um plano de
ação para qualquer atividade pré-estabelecida que precise ser desenvolvida, além de funcionar
como gerenciamento dessa atividade. Os autores ressaltam que o objetivo central da
ferramenta 5W2H é responder a sete questões e organizá-las.
A 5W2H é bastante utilizada no ramo administrativo, pois auxilia no registro da
atividade e planeja as ações, assim como quem, quando, onde, por que e quanto irá custar o
trabalho a ser realizado (DIAS, 2012). É considerada uma ferramenta de ação
(MASSARONI; SCAVARDA, 2015). A técnica permite identificar dados e rotinas
importantes, a qualquer momento, de um projeto ou de uma unidade de produção (LISBOA;
GODOY, 2012). Também, de acordo com os mesmos autores, ainda possibilita identificar
quem é quem dentro da empresa, qual a sua função e porque a realiza. O método é constituído
de sete perguntas (SIQUEIRA et al., 2014):
a) O quê (What)? Qual a atividade? Qual é o assunto? O que deve ser medido? Quais os
resultados dessa atividade?
b) Quem? (Who?) Quem conduz a operação? Qual a equipe responsável? Quem
executará determinada atividade?
c) Onde? (Where?) Onde a operação será conduzida? Em que lugar? Onde a atividade
será executada?
d) Por quê? (Why?) Por que a operação é necessária? Por que a atividade é necessária?
Por que a atividade não pode fundir-se com outra atividade?
e) Quando? (When?) Quando será feito? Quando será o início da atividade? Quando será
o término?
f) Como? (How?) Como conduzir a operação? Como a atividade será executada? Como
acompanhar o desenvolvimento dessa atividade?
g) Quanto custa realizar a mudança? (How Much?) Quanto custa a operação atual? Qual
é a relação custo / benefício?
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Quadro 2 - Método do 5W2H. Monitoramento de atividade 5W2H
Responsável:
WHAT WHEN WHO WHERE WHY HOW HOW
MUCH
O que
será feito?
Quando
será feito?
Quem
fará?
Onde será
feito?
Por que será
feito?
Como será
feito?
Quanto
custará para
fazer?
Implantar
banco de
colostro
Até dia
30/07/17
João Bezerreiro Foi identificado
que as bezerras
não estão sendo
bem alimentadas
nas primeiras
horas de vida e
deseja-se reduzir
a mortalidade
Seguindo as
instruções que
estão
registradas no
caderno de
anotações
Menos de
R$15,00
Fonte: Adaptado de Lisboa; Godoy (2012)
Essa ferramenta atua como referência para sustentar as decisões tomadas pela
empresa, além de permitir a realização do acompanhamento dessas. A 5W2H é ferramenta de
caráter gerencial, e se aplica muito bem à realidade das equipes de aprimoramento no
planejamento e condução de suas atividades (OLIVEIRA, 1996). Muitos gestores analisam
essa ferramenta como um plano de ação, como um documento que, de forma organizada,
identifica e orienta nas ações que devem ser tomadas para adequar os itens não conformes e,
também, as responsabilidades pela execução, entre outros aspectos (FIEG, 2002).
5.6.3 PDCA
O Ciclo PDCA, também conhecido como Ciclo de Shewhart, Ciclo da qualidade ou
Ciclo de Deming, possui a função básica de auxiliar no diagnóstico, análise e prognóstico de
problemas organizacionais, sendo útil e bastante utilizado na resolução de problemas. É uma
ferramenta de aperfeiçoamento e de melhoria contínua, ou seja, sempre necessita ser
atualizada. Quando bem utilizada, leva a uma série de ações capazes de obter melhores
resultados, no intuito de garantir o desenvolvimento e o crescimento das empresas
(QUINQUIOLO, 2002).
Foi desenvolvida por Walter A. Shewhart, nos anos de 1930, e consagrada por Willian
Edwards Deming, a partir da década de 1950, que a utilizou nas empresas japonesas para o
aumento da qualidade de seus processos (CICLO PDCA, 2005).
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Segundo Antunes; Engel (1999) e Aguiar (2006), o ciclo PDCA tem por princípio
tornar mais claras e ágeis as etapas no processo de gerenciamento, que se dividem em quatro
fases:
Plan (Planejamento): consiste em estabelecer a meta ou objetivo a ser alcançado, e
do método (plano) para se atingir esse objetivo. É a fase caracterizada pela criação de um
plano de ação e está dividida em duas etapas:
a) definir o que se deseja, onde se visa planejar o que será feito. Esse planejamento visa a
definição de objetivos, estratégias, ações e metas;
b) estabelecer quais métodos serão utilizados para se atingir os objetivos traçados.
Do (Execução): é o trabalho de explicação da meta e do planejamento para atingi-los.
É importante que todos os envolvidos entendam e concordem com o que foi planejado e
decidido. A partir daí executa-se o que foi planejado. E, assim como a fase de planejamento,
também está dividida em duas etapas:
a) capacitação e organização, para que o planejado possa ocorrer sem problemas;
portanto, tal etapa envolve aprendizagem individual e organizacional;
b) executar o que foi planejado.
Check (Verificação): fase que deve comparar os dados obtidos com a meta planejada,
durante e após a execução. Responsável por verificar, comparando os dados obtidos na
execução com o que foi estabelecido no plano de ação, visando saber se o que está ocorrendo
condiz com o que foi planejado. Se for diagnosticado alguma diferença entre o planejado e o
resultado real alcançado isso constituirá um problema que deverá ser resolvido rapidamente.
Diante disso, percebe-se que essa etapa envolve: coleta de dados do processo; comparação
destes e a análise dos dados do processo.
Action (Ação): é a etapa que deve transformar o plano que deu certo na nova maneira
de fazer as coisas. Visa correções necessárias com o intuito de evitar que haja repetição de
problemas que tenham ocorrido. As ações dessa fase são corretivas ou de melhorias de acordo
com o que tiver sido constatado. Essa etapa busca melhoramento contínuo até se atingir o
padrão desejado. Porém, para isso é necessário: capacitação e preenchimento das lacunas de
conhecimentos necessários à solução dos problemas. As etapas do PDCA, também, podem ser
visualizadas na Figura 2.
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Figura 2 - Etapas do Ciclo PDCA.
Fonte: Aguiar (2006)
PDCA é um método que busca a melhoria da organização por meio da repetição
corretiva, sendo um sistema retroativo de informações e ações que buscam a efetividade
(MARTINS et al., 2013). Segundo BEHR et al. (2008), é considerada uma ferramenta de
organização.
Deming (2003) enfatiza que a aplicação do método PDCA e de ferramentas da
qualidade beneficiam não só as empresas, mas a sociedade como um todo criando uma reação
em cadeia, isso porque auxiliam as empresas a produzirem itens de melhor qualidade, fazendo
com que os custos caiam devido a menos erros cometidos, menos defeitos e retrabalho. Sendo
assim, a produtividade aumenta e os produtos se destacam no mercado, pois possuem mais
qualidade e podem ter menores preços e, ao mesmo tempo, proporciona à empresa
longevidade e crescimento. Em consequência aumenta-se a geração de empregos. Shigunov
Neto; Campos (2004) e Vieira Filho (2007) apresentam o ciclo PDCA como um método
gerencial de tomada de decisões para garantir o alcance das metas. Segundo Roberti; Santana
(2013) é possível que o ciclo PDCA tenha inúmeras ferramentas da qualidade que contribuam
com ele, visando a aplicabilidade integrada e estruturada.
Segundo Shiba et al. (1997), o ciclo PDCA é um método de gerenciamento de
processos e representa o ciclo eficiente na resolução de problemas, pois além de necessitar de
monitoramento contínuo é capaz de realizar melhorias por etapas e repetir o ciclo de melhoria
várias vezes.
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5.6.4 MASP
O primeiro esboço dessa ferramenta foi criado na década de 1930, pelo americano
Walter Shewhart (PARKER, 1995). Esse primeiro modelo, denominado ciclo de Shewhart,
foi levado por William Edwards Deming ao Japão em 1950 e embora bem recebido, foi alvo
de críticas e questionamentos. Diante disso os japoneses adaptaram o ciclo de Shewhart e
criaram o ciclo MASP (DEMING, 1990).
Oribe (2012) relata que na década de 1980, gestores preocupados com o
desenvolvimento de suas organizações e também com o aprendizado de funcionários, criaram
um roteiro para a documentação e apresentação do histórico do trabalho, denominado QC-
Story.
O método QC-Story, segundo Campos (2004), foi apresentado como um componente
do Controle da Qualidade Total, que é um processo muito mais amplo; porém, devido a
objeções, o método apresentado foi adaptado e denominado de MSP – Método de Solução de
Problemas, que se popularizou como MASP - Método de Análise e Solução de Problemas.
Essa ferramenta é o mais difundido método de solução de problemas em organizações e o
mais utilizado no Brasil. Não se sabe ao certo os motivos para tal, porém acredita-se que
fatores históricos, culturais e gerenciais possam ter influenciado (ALVAREZ, 1996).
A ferramenta MASP utiliza-se do ciclo PDCA e de outras ferramentas de qualidade
para efetuar a identificação, análise e a solução de possíveis problemas, sendo considerada
uma ferramenta de organização (BARRETO, 2013). O método, que pode ser aplicado tanto
na manutenção como na melhoria do padrão de qualidade de empresas, possui oito fases: (1)
Identificação do problema, (2) observação (investigação das características do problema), (3)
análise (identificação das causas do problema), (4) planejamento da ação (planejar soluções
para anular as causas do problema), ação (executar as soluções do problema), (5) verificação
(verificar o desempenho proporcionado pelas soluções), (6) padronização (definição de
padrões de controle, (7) estabilização do sistema com o problema solucionado e (8) conclusão
(revisão de todo o processo e reinício para proposição de melhoria continuada).
Segundo Eliana (2011), a ferramenta de gestão MASP pode ser explicada da seguinte
forma: é uma ferramenta sistêmica utilizada para solucionar uma situação de insatisfação que
pode acontecer devido a desvio de padrão ou objetivo, que leva a diversas alternativas de ação
e é fundamental para controlar a qualidade. Pode e deve ser utilizada para minimizar erros da
empresa, direcionando processos e colaborando com a melhoria da qualidade. Um fator de
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grande importância é que a ferramenta trabalha por meio de dados coletados e fatos e não
apenas de “bom senso” ou “intuição”, tornando esse processo de decisão mais racional
evitando-se perdas econômicas. O maior objetivo do MASP é aprimorar os serviços e,
consequentemente, os produtos. Além disso, pode ser utilizada em um setor, em vários deles
ou individualmente, dependendo da necessidade dos gestores.
Barreto (2013) afirma que para se aplicar o MASP e aproveitar todos os benefícios
dessa ferramenta administrativa é preciso conhecê-la e também o seu funcionamento, etapa
por etapa, a fim de se obter o melhor resultado. São elas:
Etapa 1 – Identificação do problema
Segundo Eliana (2011) e Barreto (2013) a etapa um do MASP identifica e determina
qual o problema existente. Para que isso ocorra com exatidão deve ser feito um detalhamento
do que vem ocorrendo na organização, se possível até com uso de dados que ajudem a
verificar a falha de um equipamento ou processo.
Após a identificação é necessário definir metas e quais serão os indicadores que
ajudarão na conclusão e avaliação dos resultados.
Etapa 2 – Observação
Essa etapa, como o próprio nome diz, é o momento de observar o problema visando
coletar o maior número de informações. Esse momento auxilia muito na solução do problema.
Para isso podem ser utilizadas outras ferramentas de gestão nesta etapa, tais como: diagrama
de Pareto, Brainstorming, histogramas e gráficos de controle.
Etapa 3 – Análise
Nesta fase, as informações e dados coletados na etapa anterior devem ser analisados
detalhadamente, principalmente deve-se comparar se o problema acontece sempre nas
mesmas épocas, horários ou em situações parecidas.
Etapa 4 – Plano de ação
É a etapa em que se deve planejar as ações. E normalmente nesta fase os gestores
utilizam outra ferramenta de gestão, o 5W2H, que auxilia na montagem de um melhor plano
de ação para a resolução do problema.
Etapa 5 – Ação
É nesta etapa que se deve agir e executar o plano de ação que foi definido
anteriormente.
É de suma importância que as pessoas envolvidas no programa MASP estejam
treinadas e capacitadas. Se o gestor considerar que a equipe não está suficientemente
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preparada, recomenda-se, antes de executar qualquer coisa, que se faça a capacitação dos
profissionais envolvidos.
Etapa 6 – Verificação
É a fase em que se verifica se tudo ocorreu de acordo com o planejado, desde prazos,
custos e resultados. É uma fase muito importante para analisar se todo o plano de ação e todo
o planejamento estão sendo realizados corretamente.
Etapa 7 – Padronização
Como se entende que já houve verificação, nessa fase é possível perceber se as ações
tomadas trouxeram ganhos para a empresa. Se s