digitalis-dsp.uc.pt · 2018. 10. 31. · a navegação consulta e descarregamento dos títulos...
TRANSCRIPT
A navegaccedilatildeo consulta e descarregamento dos tiacutetulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis
UC Pombalina e UC Impactum pressupotildeem a aceitaccedilatildeo plena e sem reservas dos Termos e
Condiccedilotildees de Uso destas Bibliotecas Digitais disponiacuteveis em httpsdigitalisucptpt-pttermos
Conforme exposto nos referidos Termos e Condiccedilotildees de Uso o descarregamento de tiacutetulos de
acesso restrito requer uma licenccedila vaacutelida de autorizaccedilatildeo devendo o utilizador aceder ao(s)
documento(s) a partir de um endereccedilo de IP da instituiccedilatildeo detentora da supramencionada licenccedila
Ao utilizador eacute apenas permitido o descarregamento para uso pessoal pelo que o emprego do(s)
tiacutetulo(s) descarregado(s) para outro fim designadamente comercial carece de autorizaccedilatildeo do
respetivo autor ou editor da obra
Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Coacutedigo do Direito
de Autor e Direitos Conexos e demais legislaccedilatildeo aplicaacutevel toda a coacutepia parcial ou total deste
documento nos casos em que eacute legalmente admitida deveraacute conter ou fazer-se acompanhar por
este aviso
Termos filosoacuteficos de Epicuro
Autor(es) Silva Markus Figueira da
Publicado por Imprensa da Universidade de Coimbra
URLpersistente URIhttphdlhandlenet10316244390
DOI DOIhttpsdoiorg1014195978-989-26-1612-4
Accessed 18-May-2021 021316
digitalisucptpombalinaucpt
Autores Gregos e Latinos ndash Seacuterie Ensaios
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
Markus Figueira da Silva
Autores Gregos e Latinos ndash Seacuterie Ensaios
Apresentaccedilatildeo Os volumes desta seacuterie privilegiam a pu-blicaccedilatildeo de estudos curtos tanto monograacuteficos como escritos em colaboraccedilatildeo que apresentem ao grande puacute-blico aspetos variados da Antiguidade Claacutessica (obras literaacuterias eventos histoacutericos figuras importantes ou grandes debates) Preparados por consagrados especia-listas de niacutevel internacional procuram atraveacutes do re-curso a uma linguagem de apreensatildeo mais transversal favorecer a disseminaccedilatildeo da cultura cientiacutefica
Breve nota curricular sobre a autor
Professor titular de Histoacuteria da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia (PPGFIL) da UFRN Pesquisador do PRAGMAUFRJ
Coleccedilatildeo Autores Gregos e Latinos - Seacuterie Ensaios
Estruturas EditoriaisSeacuterie Autores Gregos e Latinos
ISSN 2184-1543
Diretores Principais Main Editors
Francisco de OliveiraUniversidade de Coimbra
Nair Castro SoaresUniversidade de Coimbra
Assistentes Editoriais Editoral Assistants
Nelson Ferreira Universidade de Coimbra
Comissatildeo Cientiacutefica Editorial Board
Ana Claacuteudia Ribeiro Universidade Federal de Satildeo Paulo
Joaquim Brasil Fontes Universidade de Campinas - UNICAMP
Joseacute Augusto RamosUniversidade de Lisboa
Maria Ceciacutelia CoelhoUniversidade Federal de Minas Gerais
Santiago Loacutepez Moreda Universidad de Extremadura
Tomaacutes Gonzaacutelez Rolaacuten Universidad Complutense de Madrid
Virgiacutenia Soares Pereira Universidade do Minho
Todos os volumes desta seacuterie satildeo submetidos a arbitragem cientiacutefica independente
Autores Gregos e Latinos ndash Seacuterie Ensaios
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
Markus Figueira da Silva
Seacuterie Autores Gregos e Latinos - Ensaios
Trabalho publicado ao abrigo da Licenccedila This work is licensed underCreative Commons CC-BY (httpcreativecommonsorglicensesby30ptlegalcode)
POCI2010
Tiacutetulo Title Termos Filosoacuteficos de EpicuroPhilosophical Terms in Epicurus
Autor AuthorMarkus Figueira da Silva
Orcidhttpsorcidorg0000-0003-3036-6575
Editores PublishersImprensa da Universidade de CoimbraCoimbra University Press
wwwucptimprensa_uc
Contacto Contact imprensaucpt
Vendas online Online Saleshttplivrariadaimprensaucpt
Coordenaccedilatildeo Editorial Editorial CoordinationImprensa da Universidade de Coimbra
Conceccedilatildeo Graacutefica GraphicsRodolfo Lopes
Infografia InfographicsNelson Ferreira
Impressatildeo e Acabamento Printed byKDP
ISBN978-989-26-1611-7
ISBN Digital978-989-26-1612-4
DOIhttpsdoiorg1014195978-989-26-1612-4
Depoacutesito Legal Legal Deposit44659618
Imprensa da Universidade de CoimbraClassica Digitalia Vniversitatis Conimbrigensis httpclassicadigitaliaucptCentro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra
copy setembro 2018
Obra publicada no acircmbito do projeto - UIDELT001962013
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
Philosophical Terms in Epicurus
Markus Figueira da SilvaFiliaccedilatildeo AffiliationUniversidade Federal do Rio Grande do Norte
ResumoO livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais im-portantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanes-centes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Palavras-chaveEpicuro terminologia grega filosofia antiga eacutetica conhecimento natureza
Abstract The book ldquoPhilosophical Terms in Epicurusrdquo brings together all major concepts found in the works of this Greek thinker of the end of the IV century and beginning of the III century BC Taken from the surviving texts of Epicurus the terms were grouped in three sections those being physiology gnosiology and physiology and ethics The glossary of terms will be a valuable research tool to aid in the approach to the surviving texts of the works of Epicurus a Hellenistic philosopher not much studied in the Portuguese language despite the fact that he is one of the fundamental ancient Greek philosophers
KeywordsEpicurus Greek terminology ancient Greek philosophy ethics knowledge nature
Autor
Professor titular de Histoacuteria da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia (PPGFIL) da UFRN Pesquisador do PRAGMAUFRJ
Author
Full Professor of History of Ancient Philosophy at Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Faculty member of the Graduate Program in Philoso-phy (PPGFIL) at UFRN Member of the Research Program in Ancient Philosophy - PRAGMAUFRJ
Sumaacuterio
Prefaacutecio 9
Apresentaccedilatildeo 11
Introduccedilatildeo 15
Auxiacutelio ao leitor 26
Primeira parte 29Physiologiacutea
Segunda parte 69Physiologiacutea
Terceira parte 101Ethicaacute
Referecircncias bibliograacuteficas 159
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Prefaacutecio
8 9
Prefaacutecio
A elaboraccedilatildeo de um vocabulaacuterio comentado sobre a termi-nologia filosoacutefica de Epicuro eacute para a comunidade cientiacutefica tarefa de reconhecido meacuterito e utilidade Embora ela assente de forma inevitaacutevel na consulta dos melhores dicionaacuterios de grego disponiacuteveis permite por um lado uma visatildeo sistemaacutetica de conjunto sobre uma terminologia especiacutefica e por outro uma reflexatildeo sobre os pressupostos que justificam as traduccedilotildees que os diversos dicionaacuterios propotildeem Natildeo se limita portanto a fornecer sinoacutenimos precisos mdash o que em si mesmo jaacute seria um meacuterito apreciaacutevel mdash mas comenta ou historia o percurso de determinados vocaacutebulos o que ultrapassa a convenccedilatildeo de um di-cionaacuterio A esta perspetiva de base o autor do volume propocircs-se acrescentar comentaacuterios elucidativos sobre a sinoniacutemia estabele-cida Para isso foi tida tambeacutem em conta a informaccedilatildeo fornecida por inuacutemeras publicaccedilotildees sob forma de livros ou perioacutedicos que tecircm dedicado ao pensamento de Epicuro e sobretudo ao estudo de aacutereas semacircnticas particulares da liacutengua grega como eacute o caso da filosoacutefica a sua atenccedilatildeo Destes materiais o presente estudo eacute tambeacutem devedor e transmissor na listagem bibliograacutefica que integra Eacute portanto como um elemento de seleccedilatildeo e de precisatildeo de um certo campo semacircntico a linguagem filosoacutefica centrado num autor especiacutefico Epicuro que este volume se apresenta
Natildeo eacute talvez Epicuro pela proacutepria fragilidade e dimensatildeo pequena do corpus que o representa aos olhos da contempora-neidade um autor sobre que a bibliografia disponiacutevel seja mais ampla Aleacutem de muito reduzido esse corpus eacute na sua maioria transmitido de forma indireta o que condiciona de modo
10 11
Prefaacutecio
10 11
evidente o acesso agrave terminologia que poderiacuteamos atribuir a Epicuro Apesar dessas limitaccedilotildees este vocabulaacuterio reuacutene um nuacutemero significativo de termos em parte vindos numa linha de continuidade em relaccedilatildeo a uma terminologia que a filosofia grega foi sedimentando ao longo dos seacuteculos Neste caso o comentaacuterio a incluir valoriza a perspetiva diacroacutenica e procura sobretudo em relaccedilatildeo aos vocaacutebulos com tradiccedilatildeo reconhecida definir nuances inovadoras que testemunhem o proacuteprio fluir do pensamento filosoacutefico Mas sem duacutevida mais expressivos satildeo os casos de haacutepax mdash palavras de ocorrecircncia uacutenica nos textos em anaacutelise mdash ainda que condicionados pela magreza dos testemunhos Estes termos conferem a Epicuro e ao seu pensamento uma identidade proacutepria e destacam nele a capacidade de contribuir para o voca-bulaacuterio especiacutefico da filosofia com palavras novas
Um manual desta natureza seraacute sempre uma proposta em aber-to a ser retocada ou ampliada agrave medida que a proacutepria discussatildeo fi-losoacutefica for prosseguindo ou na hipoacutetese de que novos testemunhos se possam vir a juntar aos atualmente disponiacuteveis Mas o resultado a que neste momento se chegou resulta de anos de recolha e de investigaccedilatildeo e constitui jaacute uma contribuiccedilatildeo a ser publicitada com utilidade entre os especialistas e acadeacutemicos em geral
Deste lsquoVocabulaacuterio filosoacutefico de Epicurorsquo poderatildeo tirar provei-to evidente todos os que se dedicam natildeo apenas ao estudo deste autor concreto mas ao da evoluccedilatildeo do pensamento filosoacutefico e respetiva terminologia investigadores docentes e estudantes Por-que sem pretender ser exaustiva no que respeita ao comentaacuterio dos termos alistados esta proposta eacute mesmo assim um documento de valor inestimaacutevel para a clarificaccedilatildeo das nuances subjacentes a um vocabulaacuterio tatildeo lsquosensiacutevelrsquo como eacute o filosoacutefico
Maria de Faacutetima SilvaUniversidade de Coimbra
Apresentaccedilatildeo
10 1110 11
APreSentAccedilatildeo
Os ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo satildeo o resultado de um projeto de pesquisa que desenvolvi ao longo de vaacuterios anos como atividade paralela a outras produccedilotildees acadecircmicas por mim realizadas no acircm-bito do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Pude contar nesta pesquisa com a colaboraccedilatildeo de quatro bolsistas de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica um bolsista de Mestrado e um outro de Doutorado Devo mencionar os no-mes de Everton da Silva Rocha e Renato dos Santos Barbosa que participaram efetivamente do resultado final deste trabalho Everton colaborou na organizaccedilatildeo e digitaccedilatildeo dos verbetes em grego e Rena-to colaborou na organizaccedilatildeo do livro e na redaccedilatildeo de alguns verbetes a partir da sua pesquisa de mestrado por mim orientada Eles fazem parte deste percurso e do produto final que vem agora a puacuteblico No nome deles eu agradeccedilo os demais alunos que se iniciaram no estu-do da Filosofia de Epicuro mediante a participaccedilatildeo nesta pesquisa
Foi um longo aacuterduo mas prazeiroso caminho que culminou com um estaacutegio de pesquisa que realizei no Centro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra em setembro e outubro de 2016 sob a supervisatildeo da Doutora Maria de Faacutetima Sousa e Silva
O conjunto dos verbetes que aqui se encontra foi dividido em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Reuni desta maneira os termos mais importantes1 para
1 Considero que haacute um grupo de termos que satildeo os conceitos mais traba-lhados no pensamento de Epicuro e os verbetes que lhes satildeo correspondentes apresentam um estudo resumido do papel que desempenham para a originali-dade da sua Filosofia os demais termos satildeo tambeacutem relevantes no que toca ao uso que deles se pode fazer para a traduccedilatildeo direta dos textos gregos
Apresentaccedilatildeo
12 13
um estudo interpretativo de cada uma das partes respeitando a ordem dos textos apresentados no livro X da obra Vidas e Doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres de Dioacutegenes Laeacutercio bem como as Sentenccedilas Vaticanas que foram descobertas posteriormente por Karl Votke em 1888 no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Papiro 1950 Aleacutem destas fontes aproveitei alguns vocaacutebulos extraiacutedos da doxografia antiga e acrescentados por Hermman Usener na sua obra Epicurea Basicamente satildeo estes os textos que constituem a espinha dorsal do pensamento de Epicuro que se mantiveram ao longo dos seacuteculos e satildeo o cerne de toda a pesquisa realizada pelos estudiosos ateacute hoje No seacuteculo XIX com as escavaccedilotildees feitas na Vila dos Papiros em Herculano no Sul da Itaacutelia um conjunto de textos fragmentados a maioria atribuiacuteda a Filodemo de Gadara e outros atribuiacutedos a Epicuro tecircm sido objeto de estudo de diversos especialistas em filologia mas que para o objetivo deste trabalho natildeo acrescentariam muito agrave base sobre a qual se define a filosofia de Epicuro
Eacute sempre difiacutecil reconstituir o todo de um pensamento mantendo a sua clareza e a sua coerecircncia quando a imensa maioria dos textos que foram escritos submergiu agraves vicissitudes do tempo e agraves armadilhas da histoacuteria Entretanto eacute preciso ter apreccedilo pelo teor deste pensamento e pela influecircncia que teve Epicuro sobre as geraccedilotildees que o sucederam ateacute agrave nossa eacutepoca A grande voz latina que fez ecoar a filosofia epicurista por mais de dois milecircnios foi sem duacutevida a do poeta romano Tito Lucreacutecio Caro que escreveu o De Rerum Natura ou Da natureza das Coisas poema em seis livros inacabado Este poema eacute uma fonte preciosa para o estudo do epicurismoPor isso quando existir correspondecircncia entre o termo grego utilizado por Epicuro e o termo latino utilizado por Lucreacutecio ressaltarei sobretudo nos verbetes expandidos esta correspondecircncia Outro fator importante num manual desta natureza eacute fornecer ao leitor a
Apresentaccedilatildeo
12 13
localizaccedilatildeo exata das ocorrecircncias de cada termo nos textos de Epicuro Aleacutem disso ele encontraraacute o termo grafado em carac-teres gregos seguido da transliteraccedilatildeo para caracteres latinos e a sua definiccedilatildeo ou significado Nos termos considerados de maior relevacircncia a definiccedilatildeo seraacute expandida na forma de um pequeno artigo acerca daquela noccedilatildeo Ocorreraacute tambeacutem em alguns termos a observaccedilatildeo ou informaccedilatildeo complementar que indica quando o termo eacute de uso exclusivo em Epicuro ou quando o termo passa a ser utilizado a partir de Epicuro ou quando eacute um termo de uso filosoacutefico apenas ou quando eacute de uso comum a Aristoacuteteles e a Epicuro ou ainda quando recebe um significado metafoacuterico para realccedilar o sentido inovador do seu pensamento Satildeo caracte-riacutesticas da linguagem grega utilizada por Epicuro o que tambeacutem o diferencia dos demais pensadores e inaugura muitas vezes um novo vocaacutebulo ou linha conceitual no acircmbito da filosofia antiga
Achei por bem elencar os termos mais importantes de cada um dos trecircs assuntos da sua obra na parte que lhe eacute correspon-dente Assim na Physiologiacutea estatildeo dispostos os termos referentes ao estudo da phyacutesis Na Gnoseologiacutea e Physiologiacutea pode-se en-contrar os termos que aparecem no iacuteniacutecio da Carta a Heroacutedoto e que correspondem agrave canocircnica ou teoria do conhecimento Na Eacutethica aqueles que correspondem agrave Carta a Meneceu agraves Maacutexi-mas Principais e agraves Sentenccedilas Vaticanas Contudo devo advertir de que muitos termos apareceratildeo repetidamente em mais de uma parte isto porque apresentam um sentido diferente que corresponde agrave funccedilatildeo desempenhada no contexto das frases onde aparecem A minha intenccedilatildeo ao propor esta divisatildeo eacute facilitar o manuseio deste breviaacuterio de termos Assim o usuaacuterio que estiver estudando a Carta a Heroacutedoto por exemplo encontraraacute na parte dedicada agrave Physiologiacutea eou na parte dedicada agrave Gnoseologiacutea e Physiologiacutea (se for o caso da canocircnica) os termos que interessam agrave sua anaacutelise
14 15
Apresentaccedilatildeo
14 15
Espero sinceramente que este vocabulaacuterio de termos filosoacuteficos gregos de Epicuro possa contribuir para a instrumen-talizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra deste pensador que pode ser considerado ainda pouco estudado sobretudo nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Introduccedilatildeo
14 1514 15
introduccedilatildeo
Epicuro filoacutesofo da natureza em busca do equiliacute-brio da liberdade e do prazer
O interesse que me moveu e que certamente move um estu-dante para se aprofundar na leitura dos textos de Epicuro eacute o de esclarecer o sentido maior deste pensamento isto eacute separar o que eacute genuiacuteno de tudo o que foi dito ao longo da histoacuteria em termos de opiniatildeo com forte matiz ideoloacutegico acerca da sua visatildeo de mundo e do seu modo de vida Natildeo haacute como fugir da polecircmica em torno da figura de Epicuro e do que a sua filosofia representou e ainda representa para o desenvolvimento da filosofia ocidental Quem estiver de fato interessado em interpretar para compreender o pensamento em questatildeo precisaraacute ir aos textos gregos originais e a partir daiacute comparar as inuacutemeras traduccedilotildees em diversas liacutenguas que se fizeram e ainda se fazem dos escritos deste pensador Tendo em vista as trecircs cartas as maacuteximas e as sentenccedilas que constituem o cerne da obra epicuacuterea trabalhada pela maioria dos especialistas uma interpretaccedilatildeo criteriosa destes textos produziraacute uma visatildeo sistecircmica do seu pensamento Soma-se a isso os fragmentos dos Papiros Herculaneses a Escrita Sobre Pedra de Dioacutegenes de Enoan-da e o poema De Rerum Natura de Lucreacutecio
Todos estes elementos satildeo imprescindiacuteveis para se obter uma visatildeo orgacircnica do conjunto do pensamento de Epicuro a fim de tornar exequumliacutevel a tarefa do pesquisador que eacute a de produzir uma coerente associaccedilatildeo destes conteuacutedos
Antes de apresentar um comentaacuterio geral dos textos aqui utilizados urge reproduzir um resumo cronoloacutegico da vida de
Markus Figueira da Silva
16 17
Epicuro para que se possa situaacute-lo no contexto do pensamento grego antigo
Cronologia
Epicuro filho de famiacutelia ateniense que pertencia ao demos de Gargeto nasceu em 341 aC em Samos e laacute viveu desde a infacircn-cia ateacute os 18 anos quando em 323 vai a Atenas prestar o serviccedilo militar Quando retornou de Atenas em 322 sua famiacutelia havia sido expulsa de Samos e Epicuro vai encontraacute-la em Coacutelofon Nos anos seguintes parece ter seguido as liccedilotildees de Praxiacutefanes um filoacutesofo peripateacutetico em Rodes Depois estudou com Nausiacute-fanes disciacutepulo de Demoacutecrito de Abdera e possivelmente aluno de Pirro de Eacutelis2 que ensinava em Teacuteos proacuteximo a Coacutelofon3
Em 311 Epicuro comeccedila a ensinar Filosofia em Mitilene na ilha de Lesbos No ano seguinte transfere-se para Lacircmpsa-co onde reuacutene alguns dos mais importantes disciacutepulos que o acompanharatildeo ao longo da sua trajetoacuteria ateacute que em 306 com a idade de 35 anos volta a Atenas e funda o Kecircpos o Jardim que daraacute nome a sua escola e caracterizaraacute a sua filosofia naturalista Em 270 a C Epicuro morre aos 72 anos de idade Cerca de quatorze escolarcas sucederam a Epicuro na direccedilatildeo do Jardim ateacute 44 a C4
A filosofia de Epicuro
Epicuro desenvolveu o seu pensamento a partir de influecircncias que marcaram a sua formaccedilatildeo e moldaram o seu ideal de vida Em primeiro lugar a Physiologiacutea ou a sua compreensatildeo da phyacutesis
2 Filoacutesofo grego do seacutec IV aC contemporacircneo de Epicuro e conside-rado o precursor do Ceticismo
3 Estas cidades satildeo ilhas proacuteximas a Samos na costa da Aacutesia menor4 Brun J Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Introduccedilatildeo
16 17
que teve no atomismo de Demoacutecrito de Abdera5 o seu ponto de partida Apesar de tecirc-lo modificado em determinados pontos em linhas gerais a constituiccedilatildeo da phyacutesis permaneceu inalterada ou seja toda a natureza eacute constituiacuteda de aacutetomos e vazio Na Carta a Heroacutedoto pode-se ver um resumo desta physiologiacutea Tambeacutem nesta Carta logo no iniacutecio encontra-se uma teoria do conhecimento que define os criteacuterios da percepccedilatildeo sensiacutevel que define a sua Gnoseologiacutea Por outro lado Epicuro voltou o seu pensamento para a investigaccedilatildeo do eacutethos do homem grego da sua eacutepoca e buscou tecer uma compreensatildeo do agir humano com a perspectiva de oferecer com a sua filosofia uma praacutetica de vida alternativa aos modelos que se apresentavam naquela altura do iniacutecio do seacuteculo III aC A sua investigaccedilatildeo permitiu que ele assimilasse traccedilos importantes do pensamento eacutetico grego dos seus antecessores A comeccedilar pelo modelo filosoacutefico socraacutetico e o seu desdobramento no pensamento de Platatildeo e Aristoacuteteles mas tambeacutem no confronto da criacutetica platocircnica e aristoteacutelica com a eacutetica de Demoacutecrito de Abdera Aristipo de Cirene e Pirro de Eacutelis os dois primeiros contemporacircneos de Soacutecrates e este uacuteltimo de Epicuro Partindo do entendimento de que toda a filosofia eacute de certo modo tributaacuteria das suas influecircncias e de que todo o pensamento traz em seu bojo elementos daquilo que jaacute fora pensado por outros filoacutesofos Epicuro manteacutem esta dinacircmica de refletir sobre as ideacuteias marcantes dos seus predecessores
Qual eacute entatildeo a originalidade de Epicuro e o que o torna um pensador singular da Histoacuteria da Filosofia
Para responder a isso indico a coerecircncia e a originalidade que se mostra nos textos remanescentes da sua obra Em outras
5 Filoacutesofo grego do seacutec V a C considerado um preacute-socraacutetico pela tradicional divisatildeo da Histoacuteria da Filosofia embora tenha sido contem-poracircneo de Soacutecrates Eacute considerado juntamente com Leucipo de Eleacuteia o precursor do atomismo grego
Markus Figueira da Silva
18 19
palavras a inteireza ou a inseparabilidade entre a physiologiacutea e a eacutethica Mais que isso o seu modus vivendi filosoacutefico Epicuro foi um pensador que procurou a todo o instante viver de acordo com o que pensava ou seja a partir do que inteligia quando pensava a phyacutesis sendo o estudo da natureza a base da sua conduta e a compreensatildeo de si mesmo como natureza o modelo para o exer-ciacutecio da sua filosofia e a expressatildeo dos seus atos Conhecer a vida e viver este conhecimento eacute um todo contiacutenuo que caracteriza a sua relevacircncia e a sua originalidade como physiologoacutes e pensador eacutetico concomitantemente
Neste sentido apresento a Filosofia de Epicuro em dois toacutepi-cos distintos e complementares a saber a physiologiacutea e aethicaacute
Physiologiacutea
No livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio encontram-se duas cartas de Epicuro que satildeo epiacutetomes ou resumos de temas li-gados agrave natureza (phyacutesis) Na Carta a Heroacutedoto estatildeo contidas as proposiccedilotildees fundamentais da sua filosofia da natureza e que tratam dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis O objetivo desta carta eacute apresentar aos que se iniciam na Filosofia os conceitos fundamentais sobre a natureza do todo dos mundos dos cor-pos compostos dos aacutetomos e do vazio bem como mostrar o processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo das coisas na natureza Epicuro deixa claro logo no iniacutecio que o estudo destes funda-mentos serve tambeacutem agravequeles jaacute instruiacutedos pois eles o podem utilizar para exercitarem-se nas discussotildees sobre as questotildees da natureza e como forma de aprimorarem a memoacuteria Ele cuida especialmente da linguagem que emprega a fim de facilitar a aprendizagem e promover uma faacutecil memorizaccedilatildeo Afirma que a clareza a objetividade e a simplicidade devem caracterizar o estilo e a linguagem filosoacutefica
Introduccedilatildeo
18 19
A canocircnica como meacutetodo gnosioloacutegico
A partir do passo 37 da Carta a Heroacutedoto Epicuro inicia a exposiccedilatildeo dos criteacuterios para o conhecimento da natureza des-de os fenocircmenos sensiacuteveis ou seja aqueles que satildeo objetos da percepccedilatildeo ateacute onde pode alcanccedilar o pensamento quando este procede por analogia isto eacute por contiguumlidade ou comparaccedilatildeo Para ele o pensamento pode conjecturar acerca dos fenocircmenos microcoacutesmicos e tambeacutem macrocoacutesmicos o que justifica as suas assertivas sobre o comportamento dos aacutetomos e noutro plano dos corpos celestes Epicuro utiliza este meacutetodo para expor a noccedilatildeo de aacutetomo e o seu movimento no vazio e em decorrecircncia disso explica o processo de agregaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo dos corpos sensiacuteveis a formaccedilatildeo e dissoluccedilatildeo dos mundos e a proacutepria noccedilatildeo de infinitude
Em seguida apresenta a sua teoria sobre o processo de conhe-cimento a formaccedilatildeo do pensamento e da imaginaccedilatildeo a partir do delineamento de quatro noccedilotildees capitais do sensualismo que ele inaugura a saber a sensaccedilatildeo (aiacutesthesis) a afecccedilatildeo (paacutethos) a impressatildeo sensiacutevel ou preacute-noccedilatildeo (proacutelepsis) e a projeccedilatildeo imaginaacute-ria do pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) Tais noccedilotildees visam explicar o processo gnoseoloacutegico desde que o oacutergatildeo sen-siacutevel eacute afetado gerando a sensaccedilatildeo que por sua vez se imprime na alma (psycheacute) gerando a memoacuteria (mneacuteme) sensitiva que eacute a fonte das imagens articuladas pelo pensamento quando as reuacutene e daacute sentido e representaccedilatildeo agrave realidade fenomecircnica Satildeo estas imagens sensiacuteveis que seratildeo usadas quando o pensamento por analogia a elas constroacutei explicaccedilotildees para os objetos natildeo perceptiacute-veis aos sentidos mas imaginados pelo pensamento em projeccedilatildeo
Nos passos 46 a 53 Epicuro investiga os mecanismos de produccedilatildeo das imagens (eiacutedola) e como se produz a imaginaccedilatildeo (phantasiacutea) como parte do movimento de transformaccedilatildeo das
Markus Figueira da Silva
20 21
sensaccedilotildees em sentimentos (impressotildees sensiacuteveis) e destes em memoacuteria operada pelo pensamento Esta eacute de fato uma das mais inovadoras teorias de Epicuro e que influenciaraacute diversos teoacutericos do conhecimento na modernidade
A partir do passo 54 tecircm-se analisadas as caracteriacutesticas do aacutetomo isto eacute a forma a figura o tamanho e o peso que por sua vez estatildeo intimamente relacionados agraves qualidades dos corpos sensiacuteveis (soacutemata) A anaacutelise do vazio e espaccedilo (kenograven kaigrave choacuteran) ocorre jaacute no passo 61 Sobre a importacircncia destas noccedilotildees Epicuro defende que sem o vazio eou espaccedilo natildeo pode haver movimento
A alma (psycheacute) que eacute corpoacuterea ou seja um corpo consti-tuiacutedo por aacutetomos mais sutis que os da carne (saacuterx) eacute objeto de investigaccedilatildeo no passo 67 Epicuro a define como sendo princiacutepio de movimento e sede do pensamento Na continuaccedilatildeo da Carta (passo 68) daacute-se iniacutecio agrave explicaccedilatildeo dos corpos compostos e do processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo dos corpos a partir da agregaccedilatildeo dos aacutetomos
Haacute tambeacutem uma breve anaacutelise sobre o tempo (khroacutenos) nos passos 72 e 73 e em seguida a teoria sobre os mega corpos ou os mundos (koacutesmoi) que tambeacutem satildeo formados pela agregaccedilatildeo dos aacutetomos e tecircm duraccedilatildeo limitada
Epicuro acena para uma breve histoacuteria antropoloacutegica apre-sentada na anaacutelise do conceito de praacutegmata que diz respeito a uma teoria da accedilatildeo humana e tem lugar no passo 75 e se pro-longa no passo 76 onde ele apresenta indiacutecios de uma teoria da linguagem bastante original No final da Carta a Heroacutedoto isto eacute nos passos 80 e 81 haacute uma apresentaccedilatildeo sumaacuteria do tema dos corpos celestes que seraacute desenvolvido na Carta a Piacutetocles Os passos 82 e 83 trazem as consideraccedilotildees finais da Carta onde Epicuro exorta os seus alunos a exercitarem-se sempre no estudo da natureza para que deste modo possam fugir da ignoracircncia
Introduccedilatildeo
20 21
A Carta a Piacutetocles se inicia com a afirmaccedilatildeo de que o conhe-cimento dos fenocircmenos celestes (meteacuteora) quer sejam conside-rados em conexatildeo com outros fenocircmenos ou neles mesmos tem como finalidade a tranquumlilidade da alma bem como afirmar a confianccedila nas explicaccedilotildees ldquofisioloacutegicasrdquo Em seguida passase ao meacutetodo de investigaccedilatildeo dos fenocircmenos celestes evidenciando o pluralismo da explicaccedilatildeo onde se aceita para um determinado fenocircmeno mais de uma causa desde que nenhuma delas possa ser contraditada pela evidecircncia da sensaccedilatildeo ou seja enquanto natildeo for refutada a explicaccedilatildeo se manteacutem vaacutelida Assim eacute pre-feriacutevel manter a pluralidade das causas em vez de ater-se a uma crenccedila que remeta a uma explicaccedilatildeo sobrenatural baseada por exemplo nos desiacutegnios dos deuses
Tem-se na continuaccedilatildeo uma definiccedilatildeo de mundo (koacutesmos) bem como dos meteacuteora os mais variados que leva a uma especulaccedilatildeo acerca do movimento dos astros das nuvens da chuva das tormentas dos raios e trovotildees das tempestades dos ciclones dos terremotos dos ventos das geleiras da neve do arco-iacuteris da lua dos cometas das estrelas cadentes e das mudanccedilas dos ventos
A ethicaacute
Ao longo de toda a Histoacuteria da Filosofia Epicuro seraacute lem-brado muito mais pelas suas proposiccedilotildees eacuteticas do que pelas fiacutesicas o que tem a sua explicaccedilatildeo com o desenvolvimento das ciecircncias o atomismo e as demais teorias desenvolvidas pelos filoacutesofos gregos antigos sofreram muitas variaccedilotildees atualizaccedilotildees e ateacute inovaccedilotildees graccedilas ao aprimoramento tecnoloacutegico das pesqui-sas contudo a eacutetica seguiu um outro percurso e o conteuacutedo do pensamento eacutetico epicuacutereo foi alvo das apropriaccedilotildees tiacutepicas da fi-losofia daqueles que buscaram construir uma eacutetica do bem viver
Markus Figueira da Silva
22 23
Neste caso especiacutefico uma eacutetica ao mesmo tempo naturalista e sensualista Por outro lado haacute os criacuteticos deste pensamento que na maioria das vezes o detrataram Como consequumlecircncia disso uma enorme controveacutersia interpretativa acerca da eacutetica de Epicuro tem sido frequumlente nos meios acadecircmicos e nos escritos publicados a este respeito Entretanto o que interessa agravequeles que desejam estudar o epicurismo seraacute entender como eacute possiacute-vel pensar uma eacutetica desvinculada tanto da poliacutetica quanto da religiatildeo Em outras palavras seraacute que a eacutetica epicurista eacute uma eacutetica sem matrizes ideoloacutegicas Penso que este foi o objetivo de Epicuro ao afastar-se da poliacutetica e da religiatildeo
Em Epicuro encontra-se a definiccedilatildeo da Filosofia como um saber em torno da vida cujo uso praacutetico se realiza constan-temente como um conhecimento que edifica a proacutepria vida como um exerciacutecio filosoacutefico cotidiano A fundamentaccedilatildeo do agir filosoacutefico eacute pois o conhecimento adquirido no processo de investigaccedilatildeo da natureza que prima pela desmistificaccedilatildeo da phyacutesis e daacute ao indiviacuteduo as reacutedeas da sua proacutepria vida e a autonomia para agir a partir de si mesmo Eacute neste sentido que Epicuro se distingue de outros pensadores da sua eacutepoca isto eacute o seu pensamento natildeo eacute tributaacuterio de nenhuma ideologia seja poliacutetica ou religiosa
Dioacutegenes Laeacutercio tambeacutem publicou em sua obra a Carta a Meneceu e quarenta Maacuteximas Principais de Epicuro Estes satildeo os textos eacuteticos por ele preservados e sobre os quais tecircm se debruccedilado os estudiosos Contudo haacute tambeacutem um conjunto de oitenta e uma sentenccedilas que foram descobertas muito mais tarde em 1888 por Karl Wotke no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Manuscrito 1950 ou GnomologioVaticano6 A maioria das sentenccedilas satildeo reflexotildees eacuteticas de Epicuro Outros textos
6 Gual CG 1981 p 133
Introduccedilatildeo
22 23
muito fragmentados e com muitas lacunas foram descobertos nas escavaccedilotildees de Herculano uma vila no Sul da Itaacutelia que foi soterrada pelas lavas do vulcatildeo Vesuacutevio no seacutec I aC como jaacute havia assinalado Este material tem sido objeto de pesquisa e poderaacute vir a acrescentar novas informaccedilotildees sobre o pensamento epicurista tanto quanto a chamada ldquoescrita sobre pedrardquo des-coberta nas escavaccedilotildees em Enoanda onde existiu uma extensa muralha construiacuteda por um adepto do epicurismo de nome Dioacutegenes que mandou talhar sobre ela diversos ensinamentos eacuteticos de Epicuro para que fossem lidos e servissem agrave reflexatildeo daqueles que por laacute passassem Felizmente estes textos foram em parte reconstituiacutedos e corroboram os publicados no livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio
Os inteacuterpretes da filosofia de Epicuro trabalham efetivamen-te sobre estes textos na busca de explicitar cada vez mais este pensamento que influenciou inuacutemeros pensadores e ainda hoje influencia tais como Giordano Bruno Michel de Montaigne Pierre Gassendi Baruch Espinoza Thomas Hobbes John Stuart Mill Karl Marx Michel Foucault entre outros
Assim para que sirva de referecircncia para o leitor indico os te-mas principais apresentados na Carta a Meneceu e nas Maacuteximas Principais
A Carta comeccedila com um protreacuteptico ou uma exortaccedilatildeo ao filosofar no passo 122 Em seguida estaacute o tetraphaacutermakon ou quaacutedruplo remeacutedio que reflete acerca dos deuses (passos 123 e 124) sobre a morte e os verdadeiros males da vida (entre os passos 124 e 127) sobreo futuro ou porvir (ainda no 127) sobre o prazer e os desejos (do 127 ao 132) e sobre a necessidade e o acaso (passos 132 a 135) Na conclusatildeo da Carta Epicuro convida o destinataacuterio e os seus amigos a refletirem sobre os pre-ceitos nela contidos pois estes ensinamentos conduzem a uma praacutetica de vida feliz ou bem aventurada
Markus Figueira da Silva
24 25
Com relaccedilatildeo agraves Maacuteximas Principais as primeiras (I a IV) tratam tambeacutem do tetraphaacutermakon em seguida haacute uma seacuterie de consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees necessaacuterias suficientes para se realizar uma vida feliz (makaacuterioszecircn) bem como sobre a relaccedilatildeo entre prazeres e virtudes (V a XXI) Haacute depois uma ilaccedilatildeo en-tre os criteacuterios para o conhecimento e o agir filosoacutefico (XXII a XXVI) sobre a amizade (philiacutea) e a classificaccedilatildeo dos desejos (XXVII a XXX) e finalmente sobre a justiccedila (dikaiosyacutene) e o modo como o saacutebio (sophoacutes) se relaciona com ela (XXXI a XL) Estas uacuteltimas ensejam uma reflexatildeo antropoloacutegica em torno das relaccedilotildees juriacutedico-sociais
Embora as Sentenccedilas Vaticanas natildeo faccedilam parte da obra laerciana tecircm o seu conteuacutedo associado ao das Maacuteximas Prin-cipais pois trazem reflexotildees em torno da conduta humana e em diversos aspectos aprofundam ou vecircm corroborar o sentido inerente agraves Maacuteximas
No conjunto das 81 sentenccedilas sobressaem aquelas dedicadas agrave amizade Pode-se dizer que Epicuro confere agrave amizade um papel fundamental na sua concepccedilatildeo de sabedoria ou filosofia A amizade gera confianccedila solidifica as relaccedilotildees sociais estimula a praacutetica das virtudes eacute responsaacutevel pelo bem estar dos indiviacuteduos e engendra a liberdade no agir Em Epicuro a amizade difere das praacuteticas comuns de relaccedilotildees sociais dos homens atrelados agraves cidades decadentes da sua eacutepoca Trata-se portanto de outro modelo de conduta privado molecular afastado da multidatildeo insensata Ela fundamenta a accedilatildeo e a liberta da dependecircncia e da cumplicidade que forccedila o indiviacuteduo a suportar o mal estar em sociedade A amizade simboliza o poder inerente a cada um de escolher o que lhe aprouver e evitar o que o perturba e o enfra-quece em seu iacutentimo em uma palavra o que o despotencializa Viver entre amigos eacute alcanccedilar e exercer a filosofia em toda a sua plenitude A amizade existe porque eacute natural mas a sua praacutetica
Introduccedilatildeo
24 25
exige o discernimento e a liberdade de poder escolher e poder evitar
Satildeo estas em linhas gerais as informaccedilotildees referentes aos textos de Epicuro aqui utilizados cujo vocabulaacuterio serviraacute de instrumento de leitura agravequeles que se interessarem pela Filosofia da Natureza e pela Eacutetica do Jardim
Markus Figueira da Silva
26 27
Auxiacutelio Ao leitor
A) lista de abreviaturas
DL - Dioacutegenes Laeacutercio Vidas e doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres SV - Sentenccedilas Vaticanas EpicuroMP - Maacuteximas Principais EpicuroDRN - De Rerum Natura LucreacutecioUs - USENER EpicureaNatSobre a Natureza Perigrave phyacuteseos Epicuro Pap HercPapiros Herculanesesm - masculinof - femininoad - adjetivoadv - adveacuterbioinf - infinitivolat latimpl - pluralprep - preposiccedilatildeosf - substantivo femininosm - substantivo masculinosn - substantivo neutrov - verbo
B) meacutetodos de referecircncia
Os algarismos araacutebicos agrave direita dos termos gregos trans-literados se referem aos paraacutegrafos em que cada termo ocorre no livro X de Dioacutegenes Laeacutercio por exemplo ldquoἀδιάλυτος adiaacutelytos- 54rdquo eacute uma palavra que estaacute localizada na passagem
Auxiacutelio ao leitor
26 27
de nuacutemero 54 do deacutecimo livro das Vidas e doutrinas dos Filoacute-sofos Ilustres obra escrita pelo doxoacutegrafo Dioacutegenes Laeacutercio que dedicou o deacutecimo livro agrave exposiccedilatildeo da vida e obra de Epicuro No entanto quando os algarismos araacutebicos estiverem precedidos pela abreviaccedilatildeo ldquoSVrdquo significa que eles remetem agraves Sentenccedilas Vaticanas por exemplo ldquoεὐδαιμονία eudaimoniacutea - 116 122 127 SV 33rdquo esta uacuteltima ocorrecircncia estaacute indicando que o termo eudaimoniacutea aparece na sentenccedila de nuacutemero 33 Por sua vez esses algarismos seguidos de ldquoUsrdquo fazem referecircncia aos fragmentos compilados por Usener em sua obra intitulada Epicurea como no termo ldquoἀκατονόμαστον akatonoacutemaston- 314 Us 315 Usrdquo Os algarismos romanos foram reservados agraves Maacuteximas Principais de Epicuro como em ldquoπαντελής panteleacutes- 116 XX XXIrdquo cujas duas uacuteltimas ocorrecircncias se referem agraves maacuteximas 20 e 21 dentre as Maacuteximas Principais
C) alfabeto grego
Αα- aacutelpha Bβ - beacutetaΓγ - gaacutemaΔδ - deacuteltaΕε - e psiloacuten7
Ζζ - dzeacutetaΗη - eacutetaΘθ - theacutetaΙι - ioacutetaΚκ - kaacutepaΛλ - laacutembdaΜμ - mucirc
7 Cf Murachco 2007 p 36 para compreender o modo de nomear as letras ε ο υ ω
Markus Figueira da Silva
28 29
Νν - nucircΞξ - ksicircΟο - o mikroacutenΠπ - piΡρ - rhocircΣσς- sicircgma sicircgma finalΤτ - tauΥυ - y psilonΦφ - phicircΧχ - khicircΨψ -psicircΩω - o meacutega
Auxiacutelio ao leitor
28 29
PrimeirA PArte
Physiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea
30 3130 31
ἀδιάλυτος adiaacutelytos (ad)- 54
Indissoluacutevel indestrutiacutevel
ἀθροίσμα athroiacutesma (sn)- 62 63 64 65 69 100 108 IX
Agregado organismo acumulaccedilatildeo Athroiacutesma eacute o termo que nomeia o agregado de aacutetomos que constitui o organismo humano No interior deste agregado se disseminam os aacuteto-mos da alma Athroiacutesma tambeacutem pode significar qualquer agregaccedilatildeo de aacutetomos existente na natureza
ἀθρόος athroacuteos (ad)- 35 56 69 70 104
Reuniatildeo concentraccedilatildeo inteireza
αἴδιος aiacutedios (ad)- 69 70 71
Eterno permanente
αἰτιολογεῖν aitiologeacutein (vinf) - 80 82
Processo de inferecircncia ou investigaccedilatildeo das causas Segundo o Greek-english lexicon de Liddell-Scott (1996) eacute a primeira ocorrecircncia deste termo nos textos gregos
αἰτιολογία aitiologiacutea (sf)- 97
Estudo ou investigaccedilatildeo das causas
ακατονόμαστον akatonoacutemaston (ad)- 314 Us 315 Us
O que natildeo eacute nomeado Trata-se de uma parte ou elemento da alma Epicuro distingue duas partes no corpo alma o aacutelogon que eacute geralmente traduzido por ldquoparte irracionalrdquo e
Primeira parte
32 33
que se encontra espalhada por todo corpo (organismo) e o logikoacuten cuja traduccedilatildeo eacute ldquoparte racionalrdquo e se concentra no peito Tanto em Epicuro quanto em Lucreacutecio estas duas partes estatildeo intimamente ligadas pois haacute uma ldquocontinui-daderdquo entre os aacutetomos concentrados no peito e os demais disseminados atraveacutes do corpo Esta continuidade se expli-ca pelo movimento voluntaacuterio que a alma imprime a todo organismo movimento este que daacute origem agraves sensaccedilotildees e agraves voliccedilotildees O problema reside entatildeo na impossibilidade de explicar os movimento da sensibilidade e os movimentos do pensamento que satildeo os mais ligeiros pois envolvem aacutetomos menores e mais redondos segundo o raciociacutenio de Epicuro
A dificuldade do problema que se impotildee estaacute na caracte-rizaccedilatildeo deste quarto elemento ou elemento sem nome (akatonoacutemaston) ou ainda como nomeou o poeta Lucreacutecio (DRN III241 e III275) a quarta natura que natildeo se pode comparar ou mesmo aproximar de nada do que encontra-mos no universo fiacutesico da natureza estudada ou seja natildeo existe termos de comparaccedilatildeo para justificar a tenacidade e a velocidade do pensamento nem a mobilidade da alma na ldquoprojeccedilatildeordquo ou ldquosaltordquo do pensamento (vide infra ἐπιβολή τῆς διανοίας -epiboleacute tegraves diaacutenoias na segunda parte) natildeo que possamos negar por isso a existecircncia de tal elemento contu-do natildeo podemos aferi-lo mediante o poder de percepccedilatildeo dos sentidos
ἄκρον aacutekron (sn)- 41 57 107
Extremidade altura
Physiologiacutea
32 33
ἀλειτούργητος aleituacutergetos (ad)- 97
Livre de isento Palavra de uso corrente que Epicuro usa metaforicamente no sentido de isentar os fenocircmenos de toda e qualquer causalidade divina
ἀλλόφυλος alloacutephylos (ad)- 106
Estrangeiro de outra tribo ou lugarVide infra Homoacutephylos - ὁμόφυλος (na terceira parte)
ἀμερής amereacutes (ad)- 59
Impartiacutevel indivisiacutevel Este eacute um termo utilizado apenas pelos filoacutesofos atomistas gregos
ἀμετάβατος ametaacutebatos (ad)- 59
Que natildeo admite passagem que natildeo muda de lugar estacio-nado Em sua ocorrecircncia as versotildees do texto grego apresen-tam uma diferenccedila Na versatildeo de Hicks (1925) a palavra eacute ἀμετάβολα ametaacutebola (ad) que significa imutaacutevel
ἀμετάβλητος ametaacutebletos (ad)- 41
Imutaacutevel A imutabilidade eacute caracteriacutestica apenas do corpo do aacutetomo e do Todo
ἀμύθητος amyacutethetos (ad)- 115
Que natildeo recorre ao mito Indiziacutevel Neste sentido mythos signi-fica a expressatildeo isto eacute a capacidade de dizer algo por palavras
Primeira parte
34 35
ἀνάγκη anaacutenke (sf)-74 77 90 92 115 133 134 SV 9 SV 40
Necessidade Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem finalidade (teacutelos)rdquo (vide infra τέλος na segunda parte) E somente o termo anaacutenke pode signifi-car necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo pronoacuteia para designar necessidade de qual-quer maneira a necessidade nuca foi enunciada por Epi-curo num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
ἀνακοπή anakopeacute (sf)- 42
Impedimento suspensatildeo parada resistecircncia Neste caso impedimento devido agrave colisatildeo com outro corpo O Greek--english lexicondaacute como primeira ocorrecircncia deste termo a Carta a Heroacutedoto de Epicuro
ἀναφής anapheacutes (ad)- 40 86
Intangiacutevel impalpaacutevel Termo de uso exclusivo da physiolo-giacutea grega
ἀνταναπλήρωσις antanapleacuterosis (sf)- 48
Reposicionamento substituiccedilatildeo compensaccedilatildeo A uacutenica ocor-recircncia deste termo se daacute na carta a Heroacutedoto de Epicuro
Physiologiacutea
34 35
ἀντικοπή antikopeacute (sf)- 46 47
Resistecircncia A primeira ocorrecircncia deste termo se daacute em Epicuro
ἀπάντησις apaacutentesis (sf)- 46
Encontro choque
ἀπειρία apeiriacutea (sf)- 45 116
Infinidade ilimitabilidade Palavra proacutepria da physiologiacutea grega
ἀπεὶρων (τό) apeigraveron (toacute) (ad) 47 60 73 75 88 XIII XV
Ilimitado infinito
ἀπερίληπτος aperiacuteleptos (ad)- 42
Incompreensiacutevel inacessiacutevel (ao pensamento)
ἀπερινόητος aperinoacuteetos (ad)- 46
Inconcebiacutevel Segundo Liddell-Scott (1996) Epicuro daacute a este termo um sentido diferente de outros usos da palavra
ἀποκατάστασις apokataacutestasis (sf)- 44
Retorno ao movimento ou posiccedilatildeo inicial
ἀποπαλμός apopalmoacutes (sm)- 44 280 Us
Aquele que ressalta e repercute Termo de uso exclusivo de Epicuro
Primeira parte
36 37
ἀπόπαλσις apoacutepalsis (sf)- 108
Choque impacto
ἀπόρροια apoacuterroia (sf)- 46
Efluacutevio fluxo corrente emanaccedilatildeo
ἀπόστασις apoacutestasis (sf)- 46
Afastamento distanciamento
ἀρχή archeacute (sf)- 30 41 44 116 128 132 134 138 SV 23
Princiacutepio origem comeccedilo fundamento A questatildeo do princiacutepio de realidade (archeacute) eacute explicitada pelo axioma baacute-sico do atomismo segundo o qual o todo eacute composto de aacutetomos e vazio Os aacutetomos satildeo elementos constitutivos de todas as coisas gecircnese dos corpos compostos e fundamento do atomismo cujo princiacutepio eacute assim formulado na Carta a Heroacutedoto
Primeiramente nada nasce do nada (natildeo-ser) Se natildeo fosse assim tudo nasceria de tudo e nada teria necessidade de seu proacuteprio germe (DL X 38)
ldquoNada nasce do nadardquo eacute um princiacutepio que surge jaacute no pensamento de Demoacutecrito (DL IX 44) e mais tarde no pensamento de Epicuro como ponto de partida para o co-nhecimento sensiacutevel Contudo foi Lucreacutecio (DRN I 174-224) quem traduziu este princiacutepio em imagens que podem ser comprovadas pela experiecircncia e assim manifestados para cada coisa animal ou planta faz-se necessaacuteria a sua proacutepria semente em condiccedilotildees favoraacuteveis a sua germinaccedilatildeo Em razatildeo disso eacute plausiacutevel dizer que a Carta a Heroacutedoto
Physiologiacutea
36 37
comeccedila indicando que o pensamento brota da experiecircncia mediante a qual surge a possibilidade de se estabelecer as analogias que levam ao ldquosaltordquo do pensamento Este salto se caracteriza por efetuar analogias entre a realidade apre-endida imediatamente pelas sensaccedilotildees as microestruturas corpoacutereas e o macrocosmos permitindo a inteligibilidade dos niacuteveis que escapam ao alcance da sensibilidade Desse modo o pensamento pode postular que na natureza os cor-pos vecircm a ser a partir dos aacutetomos e se dissolvem espalhando os elementos que os constituem dado que a todo instante os corpos se formam e se decompotildeem no universo infinito sem nada acrescentar ou subtrair ao todo A consequecircncia loacutegica deste princiacutepio revela que a constituiccedilatildeo total do ser ou do todo permanece a mesma
ἀσθένεια astheacuteneia (sf)- 77
Fraqueza debilidade
ἀστρολογία astrologiacutea (sf)- 113
Astronomia
ἀστρολόγος astroloacutegos (sm)- 93
Astrocircnomo
ἀσχολία askholiacutea (sf)- 85
Ocupaccedilatildeo empenho
ἀσώματος asoacutematos (ad)- 67 69 70
Incorpoacutereo Termo exclusivamente filosoacutefico
Primeira parte
38 39
ἄτομος aacutetomos (ad substantivadolatatomus)- 4142 43 44 45 48 50 54 55 56 58 59 61 62 65 86 99 102 110 115
Aacutetomo indivisiacutevel Os termos gregos aacutetomos (nominativo singular) aacutetomoi (nominativovocativo pl) ou aacutetomon (acusativo singular) constam em vinte passagens dos textos de Epicuro Na maioriadas vezes os tradutores optam por aacutetomo em suas traduccedilotildees embora em alguns casos tambeacutem se traduza por indivisiacutevel
O adjetivoaacute-tomosse substantiva em aacutetomos ldquoque quer dizer natildeo-cortado indivisiacutevelrdquo (GOBRY 2007 p 115) Os aacuteto-mos satildeo literalmente partiacuteculas indivisiacuteveis que por serem assim satildeo razatildeo explicativa da realidade Eacute a ideia que deu origem ao atomismo assim como foi teorizado inicialmente por Leucipo e Demoacutecrito8 e depois por Epicuro Este legado foi espalhado pelo mundo romano entatildeo recebendo a deno-minaccedilatildeo latina de atomus (aacutetomo) ou indivisum (indivisiacutevel) como traduz Ciacutecero ou ainda semina (sementes) na lingua-gem poeacutetica do epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro Os aacutetomos satildeo elementos (stoicheiacuteon)em quantidade infini-ta que constituem os corpos compostos (synkriacuteseis) Satildeo ca-racterizados na Carta a Heroacutedoto9como partiacuteculas corpoacutereas maciccedilas indissoluacuteveis imutaacuteveis indivisiacuteveis e impenetraacute-veis portanto resistindo agrave corrupccedilatildeo dos corpos compostos desde a eternidade
Esses elementos satildeo os aacutetomos indivisiacuteveis e imutaacuteveis se eacute verdade que nem todas as coisas poderatildeo perecer e resolver--se no natildeo-ser Com efeito os aacutetomos satildeo dotados da forccedila necessaacuteria para permanecerem intactos e para resistirem enquanto os compostos se dissolvem pois satildeo impenetraacuteveis
8 Cf DL IX 449 Cf DL X 35-83
Physiologiacutea
38 39
por sua proacutepria natureza e natildeo estatildeo sujeitos a uma eventual dissoluccedilatildeo Consequentemente os princiacutepios das coisas satildeo indivisiacuteveis e de natureza corpoacuterea (DL X 41)
O objetivo de Epicuro e seus disciacutepulos nunca fora o de explorar detidamente ou ldquocientificamenterdquo as caracteriacutesticas dos aacutetomos antes operavam analogias inferecircncias induti-vas e deduccedilotildees atribuindo aos aacutetomos propriedades neces-saacuterias para a explicaccedilatildeo da realidade sensiacutevel Nas palavras de Gigandet ldquoo aacutetomo eacute princiacutepio de inteligibilidade natildeo objeto de estudo mas pelo contraacuterio eacute o ponto de partida da explicaccedilatildeordquo (2001 p40) Sementes eternas de toda a rea-lidade os aacutetomos satildeo naturezas inteiras (hoacutelas phyacuteseis)10 sem qualidades acidentais (symptoacutemata)(vide infra σύμπτωμα na segunda parte) passiacuteveis de mudanccedila no entanto pos-suindo propriedades (symbebekoacuteta)(vide infra συμβεβηκός na segunda parte) ou qualidades (poioacutetes) necessariamente permanentes (anankaiacuteon hipomeacutenein) Constituintes de to-dos os corpos compostos (visiacuteveis e invisiacuteveis) os aacutetomos natildeo tecircm outras propriedades aleacutem da formafigura (schematoacutes) do tamanho (megeacutethous) e do peso (baacuterous)11
αὔξησις ayacutexesis (sf)- 90
Crescimento desenvolvimento
10 Cf DL X 4011 Neste ponto haacute uma diferenccedila do atomismo de Demoacutecrito e Leucipo
tal como Aristoacuteteles o apresenta na Metafiacutesica A 985b e o atomismo de Epicuro pois este acrescenta o peso (baacuteros) como uma das propriedades atocircmicas aleacutem de aglutinar a propriedade da ordem (taacutexis) agrave formafigura (schecircma) J Salem cita o doxoacutegrafo Aeacutecio para documentar este acreacutescimo da filosofia epicurista ldquoDemoacutecrito pensou que existe duas propriedades do aacutetomo a grandeza e a figura enquanto que Epicuro acrescentava uma ter-ceira o peso (baacuteros) de fato declara este uacuteltimo eacute necessaacuterio que os corpos recebam a impulsatildeo do peso para se moverrdquo (Cf SALEM 1997 p 28)
Primeira parte
40 41
αὐτοθελός autotheloacutes (ad)- 85
O que tem fim em si mesmo independente completo
ἀφανής aphaneacutes (ad)- 104
Inaparente obscuro
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (ad)- 76 123
Incorruptibilidade imortalidade
ἄφοδος aacutephodos (sf)- 54
Partida retirada
βάρος baacuteros (sn)- 4454 61 68
PesoDemoacutecrito natildeo havia introduzido o peso entre as qua-lidades dos aacutetomos poreacutem Epicuro contrariamente a ele conferiu ao peso a propriedade de ser causa do movimento dos aacutetomos no vazio movimento esse que por ser constante explica a mecacircnica do devir nos diversos niacuteveis de realizaccedilatildeo da phyacutesis O peso sendo causa primeira do movimento de transformaccedilatildeo das coisas eacute necessaacuterio para a coerecircncia do sistema de exposiccedilatildeo da phyacutesis embora natildeo determine de maneira alguma as afecccedilotildees entre os corpos
βέβαιος beacutebaios (ad)- 6385 XL
Seguro soacutelido firme
βράδος braacutedos (sn)- 46
Lentidatildeo lerdeza morosidade Palavra muito rara Soacute apare-ce em Xenofonte e Epicuro
Physiologiacutea
40 41
γένεσις geacutenesis (sf)- 48 77 86 SV 42
Nascimento origem produccedilatildeo gecircnese geraccedilatildeo
διάκρισις (sf)diaacutekrisis- 78
Conflito divergecircncia divisatildeo Estes soacute podem ocorrer no niacute-vel dos fenocircmenos fiacutesicos sejam eles celestes ou subterracircneos Contudo assevera Epicuro isso deve ser evitado Por outro lado natildeo se deve em nenhuma hipoacutetese atribuir agrave natureza divina a causa do conflito da divergecircncia ou da divisatildeo
διαλύω dialyacuteo (v)- 39 41 42 73 91 II SV 37
Dissolver
διάλυσις diaacutelysis (sf)- 4154
Dissoluccedilatildeo
διαμονή diamoneacute (sf)- 89
Estabilidade continuidade
διάρθρωσις diaacuterthrosis (sf)- 89
Articulaccedilatildeo
διάστημα diaacutestema (sn)- 89 91 110
Distacircncia intervalo Palavra oriunda da linguagem musical grega Provavelmente de origem pitagoacuterica
διαφορά diaforaacute (sf)- 42 55 56 75
Diferenccedila diversidade variedade
Primeira parte
42 43
δίνη diacutene (sf)- 92 93 112 113 114
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo
δίνησις diacutenesis (sf)- 90
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo Esta outra forma da palavra diacutene eacute mais teacutecnica e eacute de uso restrito de Aristoacuteteles e Epicuro
δυνατόν (τὸ) dynatoacuten (tograve) (ad substantivado)- 93
O possiacutevel
εἰλικρινής eilikrineacutes- (ad) 89 XIV
Puro absoluto completo
ἐκπύρωσις ekpyacuterosis (sf)- 101 103 115
Conflagraccedilatildeo combustatildeo
ἐμπεριλαμβάνω emperilambaacuteno (v)- 90 105
Captar englobar apreender compreender
ἔμπτωσις eacutemptosis (sf)- 102 SV 24
Incidecircncia impacto cair sobre
ἐναπόλεψις enapoacutelepsis (sf)- 77
Intercepccedilatildeo aprisionamento Este termo eacute usado por Epicu-ro num sentido inovador que diz respeito agrave teoria epicuacuterea do nascimento dos mundos
Physiologiacutea
42 43
ἐνδέχεσθαι endeacutechesthai (v)- 78 80 87 88 90 93 94 97 100 103 104105 107 108 113
Ser possiacutevel haver a possibilidade de
ἐνέργημα eneacutergema (sn)- 37
Exerciacutecio atividade
ἐξακριβοῦν exakribucircn (v)- 35 36 68 78 83
Precisar fazer com exatidatildeo detalhar Palavra de uso filosoacute-fico apenas
ἐπάρδευσις epaacuterdeysis (sf)- 89 100
Torrente corrente Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐπίβλεψις epiacuteblepsis (sf)- 35
Visatildeo consideraccedilatildeo
ἐπισημασία episemasiacutea (sf)- 98 115
Prognoacutestico sinal indiacutecio
ἐπιτήδειος epiteacutedeios (ad)- 93 99 100 107 111 112
Adequado adaptado apropriado
εὐκινησία eukinesiacutea (sf)- 63
Mobilidade facilidade de movimento
Primeira parte
44 45
θάμβος thaacutembos (sn)- 79
Perplexidade espanto admiraccedilatildeo
θεῖος theicircos (ad)- 97 113 115 SV 24
Divino
θέσις theacutesis (sf)- 44 46 48 75 30 Us
Posiccedilatildeo
ἰσοταχής isotacheacutes (ad)- 61 62
O que possui velocidade equivalente ou a mesma rapidez Os aacutetomos de acordo com o passo 61 da Carta a Heroacutedoto ldquotecircm necessariamente a mesma velocidaderdquo Aacutetomos pesa-dos grandes pequenos ou leves em movimento ascendente obliacutequo ou descendente percorrem o espaccedilo com a mesma rapidez12 Epicuro assemelha ainda a rapidez do aacutetomo agravequela do pensamento ou seja os aacutetomos se movem com a mesma rapidez com que operamos com o loacutegos na apreensatildeo de sentidos Para que a natureza se expresse da maneira que se apresenta aos homens eacute preciso que os aacutetomos natildeo apenas se movimentem mas que se movimentem com celeridade pois os elementos que se desprendem dos corpos devem ser imediatamente repostos para que a continuidade provisoacuteria dos compostos possa ser explicada pelo atomismo de manei-ra coerente Tendo em vista que os elementos que compotildeem
12 Cf DRN II 225-229 A sensibilidade parece atestar o contraacuterio quando se trata da rapidez dos corpos em queda mas eacute preciso considerar que a trajetoacuteria dos aacutetomos se daacute no vazio onde natildeo haacute resistecircncia nem por parte do ar nem da aacutegua meios em que vemos corpos mais pesados serem mais raacutepidos que corpos leves
Physiologiacutea
44 45
os corpos tecircm figuras diversas um aacutetomo com figura ldquoZrdquo natildeo pode ser substituiacutedo por um aacutetomo de figura ldquoOrdquo mas apenas por aacutetomos de figura ldquoZrdquo13 Isso significa que algu-mas reposiccedilotildees satildeo efetuadas por aacutetomos que se encontravam a grandes distacircncias mas que por possuiacuterem uma ligeireza comparaacutevel agravequela do pensamento alcanccedilam aglutinar-se ao corpo agregado que deles precisava para persistir na confi-guraccedilatildeo corpoacuterea que assumia A velocidade uniforme dos aacutetomos tambeacutem propicia a formaccedilatildeo das imagens pois estas guardam a posiccedilatildeo e estrutura que os aacutetomos componentes assuniam no corpo do qual se desprenderam tornando pos-siacutevel o ato perceptivo Eacute necessaacuterio agrave fiacutesica epicurista que os aacutetomos percorram espaccedilos vazios de modo igualmente veloz
ἱστορία historiacutea (sf)- 79
Investigaccedilatildeo estudo Epicuro critica o tipo de erudiccedilatildeo daqueles que fazem a historiacutea isto eacute a investigaccedilatildeo dos fenocirc-menos fiacutesicos mas natildeo demonstram o valor ou a utilidade deste conhecimento para a vida praacutetica
κάθαρσις kaacutetharsis (sf)- 86
Soluccedilatildeo Diz respeito ao modo proacuteprio de Epicuro pensar a natureza segundo o qual a physiologiacutea deve encontrar uma
13 Lucreacutecio (DRN I 167-172) explica que cada corpo tem sementes especiacuteficas ou seja os corpos compostos satildeo formados por aacutetomos de figuras particulares sem os quais o corpo composto natildeo se apresentaria da mesma maneira e aleacutem disso qualquer coisa poderia gerar-se de qualquer coisa um absurdo que natildeo constatamos ocorrer na natureza Nas palavras do poeta epicurista ldquoMas como todos (os seres e as coisas) se formam por sementes certas soacute nascem e chegam agraves margens da luz no lugar em que existam a mateacuteria e os corpos elementares que lhe satildeo proacuteprios por isso natildeo pode tudo nascer de tudo cada ser determinado tem em si possibili-dades proacutepriasrdquo
Primeira parte
46 47
soluccedilatildeo para os problemas fiacutesicos sem no entanto recorrer agrave sobrenaturalidade (explicaccedilotildees miacuteticas)
κατάστημα kataacutestema (sn)- 68 Us
Condiccedilatildeo estaacutevel
κενόν (τὸ) kenoacuten (tograve) (ad substantivado)- 40 41 42 44 46 67 89 90 74 Us 75 Us
O Vazio
Se aquilo que chamamos vazio e espaccedilo ou aquilo que por natureza eacute intangiacutevel natildeo tivesse uma existecircncia real nada haveria em que os corpos pudessem estar e nada atraveacutes de que eles pudessem se mover como parece que se movem (DL X 40)
O vazio eacute definido em primeiro lugar de modo simples e fundamental como aquilo que por natureza eacute intangiacutevel e dotado de uma existecircncia real em segundo lugar ele eacute apresentado como a condiccedilatildeo necessaacuteria aos movimentos dos corpos Com relaccedilatildeo aos corpos o vazio possui carac-teriacutesticas essencialmente opostas como por exemplo os corpos satildeo passiacuteveis de afecccedilatildeo o vazio natildeo os aacutetomos tecircm o limite delineado pela figura e podem ser comparados uns aos outros devido sobretudo ao fato de serem muacuteltiplos e diversos ao passo que o vazio eacute somente vazio ou algo anaacute-logo ao natildeo-ser Entretanto a sua existecircncia possibilita quer a compreensatildeo do vir-a-ser ou agregaccedilatildeo que a do movimen-to ou devir dos corpos Na afirmaccedilatildeo acima o vazio eacute ainda por definiccedilatildeo espaccedilo de livre constituiccedilatildeo e deslocamento dos corpos sendo o meio no qual emergem os agregados atocircmicos e onde se formam desenvolvem e corrompem as
Physiologiacutea
46 47
muacuteltiplas coisas da natureza Por estas razotildees parece justifi-car-se o caraacuteter fundamental atribuiacutedo por Epicuro ao vazio uma vez que eacute tatildeo necessaacuterio quanto os aacutetomos e o infinito para seu sistema de compreensatildeo da realidade
O vazio eacute tambeacutem aquilo que diferencia essencialmente um aacutetomo de um corpo composto Podemos recorrer aos atomis-tas para justificar esta diferenccedila Para eles o aacutetomo eacute imutaacutevel por ser pleno o corpo ao contraacuterio eacute passiacutevel de mudanccedilas visto que eacute um misto de aacutetomos e vazio a diferenccedila entatildeo explica-se pelo fato mesmo de se conceber os aacutetomos em cons-tante movimento e de se admitir que a existecircncia do vazio viabiliza os deslocamentos dos aacutetomos no interior dos corpos
κίνησις kiacutenesis (sf)- 50 51 59 64 66 67 73 77 92 98 101 105 106 111 112 115 136 2 Us 191 Us 280 Us
Movimento O termo grego kiacutenesis pode ser compreendido num sentido geral e num sentido estrito sendo todavia necessaacuterio concebecirc-lo inicialmente como expressatildeo dos pro-cessos de geraccedilatildeo e corrupccedilatildeo o que soacute eacute possiacutevel nas esferas dos corpos e dos mundos Num sentido geral kiacutenesis eacute presu-posto na realizaccedilatildeo de phyacutesis pois dele resultam as afecccedilotildees que datildeo origem aos agregados e aquelas que satildeo responsaacuteveis pela desagregaccedilatildeo dos compostos
Em virtude de os aacutetomos terem em si o princiacutepio do movimen-to a mudanccedila apresenta-se como uma necessidade Destarte cabe afirmar que compreender kiacutenesis como mudanccedila signifi-ca estabelecer que a realidade (fiacutesica) dos corpos compostos soacute eacute alterada em funccedilatildeo do movimento dos aacutetomos
Num sentido estrito eacute possiacutevel o emprego de kiacutenesis para designar apenas o deslocamento dos aacutetomos no vazio
Primeira parte
48 49
κοίλωμα koiacuteloma (sn)- 46 100 106
Cavidade profundidade concavidade
κόσμος koacutesmos (sm)- 45 73 74 77 88 89 90 112
Mundo Epicuro compreende que os mundos satildeo infinitos em nuacutemero e estatildeo espalhados por todo o universo que eacute tambeacutem infinito Alguns satildeo esfeacutericos outros podem ter outras formas Um mundo como um megacorpo recebe elementos que vem de fora e tambeacutem perdem elementos Na Carta a Heroacutedoto podemos ler as seguintes definiccedilotildees
Aleacutem disso existe um nuacutemero infinito de mundos tanto semelhantes ao nosso como diferntes dele pois os aacutetomos cujo nuacutemero eacute infinito como acabamos de demonstrar satildeo levados em seu curso a uma distacircncia cada vez maior E os aacutetomos dos quais poderia se formar um mundo natildeo foram todos consumidos na formaccedilatildeo de um mundo soacute nem de um nuacutemero limitado de mundos nem de quantos mundos sejam semelhantes a este ou diferentes deste Nada impede que se admita um nuacutemero infinito de mundos (DL X 42)
Um mundo eacute uma porccedilatildeo circunscrita do universo compre-endendo astros e terra e todas as coisas visiacuteveis destacado do infinito () cuja dissoluccedilatildeo levaraacute aacute ruiacutena tudo que estaacute nele (DL X 88)
κοῦφος kucircphos (ad)- 43 61
Leve ligeiro
κρᾶσις kraacutesis (sf)- 63
Mistura uniatildeo
Physiologiacutea
48 49
κροῦσις kruacutesis (sf)- 61
Choque golpe colisatildeo
κυριώτατος kyrioacutetatos (ad)- 35 36 78 79 81 82 83 IX XII XVI
Fundamental capital o mais importante
λειτουργέω leiturgeacuteo (v)- 76
Desempenhar uma funccedilatildeo cargo serviccedilo
λειτουργία leiturgiacutea (sf)- 113
Funccedilatildeo cargo serviccedilo
λεπτομέρεια leptomeacutereia (sf)- 63 355 Us
Um composto de partiacuteculas sutis A sutileza eacute caracteriacutestica dos aacutetomos do composto aniacutemico
λεπτομερής leptomereacutes (ad)- 63 90101
Composto de partiacuteculas sutis A alma eacute para Epicuro um corpo dentro do corpo-carne A diferenccedila estaacute na sutileza dos aacutetomos que compotildeem a alma
λόξωσις loacutexosis (sf)- 93
Inclinaccedilatildeo obliquidade Palavra utilizada na explicaccedilatildeo do movimento dos astros
λύσις lyacutesis (sf)- 79
Soluccedilatildeo liberaccedilatildeo
Primeira parte
50 51
μεστός mestoacutes (ad)- 42
Pleno cheio
μετάβασις metaacutebasis (sf)- 56 58
Passagem dum lugar a outro extensatildeo percorriacutevel
μεταβολή metaboleacute (sf)- 39 54 98
Mudanccedila transformaccedilatildeo Um dos tipos de movimento uti-lizados por Epicuro Neste caso significa o movimento de transformaccedilatildeo de um corpo
μετάθεσις metaacutethesis (sf)- 54
Transposiccedilatildeo deslocamento Outro tipo de movimento Neste caso significa a mudanccedila de lugar ou o deslocamento de um aacutetomo ou de um corpo composto (agregado)
μετακόσμιον metakoacutesmion (sn)- 89
Intermuacutendio Espaccedilo entre os mundos onde Epicuro situa os deuses
μετάστασις metaacutestasis (sf)- 89
Mundanccedila de posiccedilatildeo Termo que define o movimento dos aacutetomos no interior dos corpos
μετέωρα meteacuteora (ad) - 76 78 80 82 84 85 86 87 95 96 97 98 111 X XI
Qualificativo de fenocircmenos ou corpos celestes
Physiologiacutea
50 51
μορφή morpheacute (sf)-33 (255 Us) 49 50
Forma figura aspecto Relativo agrave forma dos objetos perce-bidos pelos sentidos ou imaginados pelo pensamento
ὅγκος hoacutenkos (sm)- 52 53 54 56 57 69 105
Corpuacutesculo partiacutecula massa
οἰκονομία oikonomiacutea (sf)- 79
Gestatildeo ordenamento
ὅλος hoacutelos (ad)- 36 70 71 82 IX XXI XXVII
Todo inteiro universal Epicuro usa este adjetivo para des-crever a totalidade de um corpo ou de sensaccedilotildees ou ainda a completude da vida Natildeo confundir com τό πᾶν toacute pacircn - O todo
ὁλοσχερής holoschereacutes (ad)- 35 36
Geral completo
ὁμογενές homogeneacutes (ad)- 32 (36 Us) 53 116 XVIII
Mesmo gecircnero (tipo espeacutecie) homogecircneo congecircnere
ὀξυγώνιος oksygoacutenios (ad)- 109
Anguloso acircngulos agudos
ὁπηλίκος hopeliacutekos (ad)- 56 57
Grandeza tamanho
Primeira parte
52 53
ὁρμή hormeacute (sf)- 115
Impulso
οὐρανός uranoacutes (sm)- 88 92 93 96 111
Ceacuteu
οὐσία usiacutea (sf)- 72 86
Essecircncia O uso deste termo diz respeito agrave investigaccedilatildeo acerca do tempo na Carta a Heroacutedoto (72) e agraves causas dos fenocircmenos celestes na Carta a Piacutetocles (86)
παλμός palmoacutes (sm)- 43
Vibraccedilatildeo pulsaccedilatildeo Os aacutetomos estatildeo em movimento cons-tante e palmoacutes eacute o termo que define o movimento vibratoacuterio (oscilatoacuterio) dos aacutetomos no interior dos corpos
πᾶν (τό) pacircn (toacute) (ad substantivado)- 39
O todo
παντελής panteleacutes (ad)- 116 XX XXI
Perfeito completo
παραλλαγή parallageacute (sf)- 55 63 95 113
Variaccedilatildeo diferenccedila
παρέγκλισις pareacutenklisis (sf lat clinamen)- 280 Us 351 Us
Declinaccedilatildeo Pareacutenklisis eacute um termo que natildeo consta nos tex-
Physiologiacutea
52 53
tos atribuiacutedos agrave Epicuro no entantoeacute possiacutevel lecirc-lo nas ins-criccedilotildees em perdra do epicurista Dioacutegenes de Enoanda(frg 54 II 3 III 14 Smith)Este termo tambeacutem aparece em Aeacute-cio I 12 5 (280 Us) em texto cujo autor enumera os tipos de movimento dos aacutetomos A versatildeo latina deste termo eacute mais conhecida clinamen14 As teorias a respeito da declinaccedilatildeo dos aacutetomos foram anunciadaspelo epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro no segundo canto de seu poema De Rerum Natura
Quando os corpos satildeo levados em linha reta atraveacutes do vazio e de cima para baixo pelo seu proacuteprio peso afastam-se um pouco (depellere paulum) da sua trajetoacuteria em altura incerta e em incerto lugar e tatildeo somente o necessaacuterio para que se possa dizer que se mudou o movimento (DRN II 216-220)
A declinaccedilatildeo se coloca como mais uma causa do movi-mento dos aacutetomos aleacutem das causas puramente mecacircnicas colisotildees ausecircncia de resistecircncia do vazio ou o proacuteprio peso dos aacutetomos15 A declinaccedilatildeo natildeo tem causa externa mas eacute um princiacutepio interno assim como o peso mas que diferente deste natildeo promove o percurso dos aacutetomos em uma direccedilatildeo constante antes luta contra toda determinaccedilatildeo introduzin-do na phyacutesis o acaso como causa de ser O elemento casual se encontra nas ocasiotildees em que os aacutetomos tendem a desviar de sua trajetoacuteria descendente ldquoem altura incerta e em incerto
14 Lucreacutecio tambeacutem usa outros termos para designar o des-vio do aacutetomo tais quais depellere declinare inclinare (DRN II 219221250253259243) O termo clinamen aparece apenas uma vez no verso 292 do livro II (Cf GIGANDET 2001 p 24 n3) ldquoClinamen parece ter sido criado por Lucreacutecio para evitar clinatio que natildeo podia entrar em seus versos hexacircmetros (SALEM 1997 p 67)
15 O doxoacutegrafo Aeacutecio afirma que ldquoOs aacutetomos se movem ora segundo a reta ora segundo o desvio (katagrave pareacutenklisin) os movimentos para cima ocorrem segundo o choque e a rebatidardquo (280 Us) cf DRN II 285-286
Primeira parte
54 55
lugarrdquo somente ldquoum poucordquo (paulum) sem causa aparente sem choques que constranjam seu deslocamento e indo de encontro agraves determinaccedilotildees do peso
Satildeo dois os argumentos usados por Lucreacutecio para defender a tese do clinamen (nos versos II 216-293) 1) Se natildeo ocor-ressem desvios atocircmicos a natureza permaneceria esteacuteril ldquoo mundo natildeo poderia nascer a necessidade seria infecundardquo (GUYAU 1927 p 77) uma vez que natildeo haveria colisotildees atocircmicas nem consequentemente corpos compostos mun-dos seres etc 2) Somos livres e para tanto eacute necessaacuterio que as ldquocausas natildeo se sigam perpetuamente agraves causasrdquo (DRN II 255) antes deve haver movimentos atocircmicos que natildeo podem ser remetidos agrave causas exteriores ldquoA existecircncia desta curiosa propriedade dos corpos primevos pode ser deduzida da ob-servaccedilatildeo dos fenocircmenos imputaacuteveis agrave vontade dos seres vi-vosrdquo (SALEM 1997 p 167) Lucreacutecio para justificar o mo-vimento de declinaccedilatildeo dos aacutetomos propotildee primeiramente imaginar um ldquomomentordquo hipoteacutetico da eternidade em que nenhum agregado atocircmico existisse mas apenas aacutetomos iso-lados percorressem seu trajeto descendente ldquocomo gotas de chuvardquo16 Se assim fosse jamais um aacutetomo se encontraria ou colidiria com outro natildeo haveria corpos compostos mundos ou seres viventes
πέρας peacuteras (sn)- 41 59 88 133 X XVIII XIX XX XXI SV 48
Limite termo
16 Como esclarece Gigandet ldquoa queda primitiva e esteacuteril eacute colocada como uma ficccedilatildeo um simples momento abstrato permitindo reconstruir o movimento caoacutetico efetivordquo (2001 p 29)
Physiologiacutea
54 55
περιαίρεσις periaiacuteresis (sf)- 55
Suprimir retirar remover
περίληψις periacutelepsis (sf)- 56
Circunscriccedilatildeo
περιοχή periocheacute (sf)- 88
Envoltoacuterio invoacutelucro
περιπλοχή periplocheacute (sf)- 43 44 99
Entrelaccedilamento
περίστασις periacutestasis (sf)- 92 102 104 106 107 109 111
Estado disposiccedilatildeo circunstacircncia entorno
περιφέρεια peripheacutereia (sf)- 107 110
Periferia circunferecircncia forma circular
περιφερής periphereacutes (ad)- 109
Redondo circular
πηλίκος peliacutekos (ad)- 57
De uma certa grandeza
πύκνωμα pyacuteknoma (sn)- 36 50 105 115
Densidade compacidade consistecircncia
Primeira parte
56 57
πλεκτικός plektikoacutes (ad)- 43
Entrelaccedilado
πλεοναχός pleonachoacutes (ad)- 86 87 95
Diverso muacuteltiplo
πληγή plegeacute (sf)- 53 103102 280 Us
Golpe choque impacto Eacute o termo utilizado por Epicuro para nomear o choque entre os aacutetomos e os oacutergatildeos sensiacuteveis Eacute o modo de explicar como se produz a audiccedilatildeo o olfato e a visatildeo por exemplo
πλῆθος plecircthos (sn)- 41 65 89
Nuacutemero quantidade
πλήρης pleacuteres (ad)- 41 XL
Pleno compacto
πνεῦμα pneucircma (sn)- 63 100 101 102 103 104 105 106 107 115
Sopro vento respiraccedilatildeo focirclego
πνευματώδης pneumatoacutedes (ad)- 53 106 107
Semelhante agrave respiraccedilatildeo anaacutelogo ao vento
ποιότης poioacutetes (sf)- 43 44 54 55 56
Qualidade
Physiologiacutea
56 57
πόρος poacuteros (sm)- 47 61 107 111
Passagem
πρόβλημα proacuteblema (sn)- 86
Problema
προσδοχή prosdocheacute (sf)- 89
Recepccedilatildeo
προσκατανόησις proskatanoacuteesis (sf)- 79
Conhecimento adicional consideraccedilatildeo aprofundada
πρόσκρισιςproacuteskrisis(sf)- 90 109
Acrescento agregaccedilatildeo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto
πύκνωμαpyacuteknoma(sn)- 3650 105 115
Massa densa concentraccedilatildeo
πυκνῶς pyknocircs(adv)- 73
De modo compacto forte constante
ῥεῦμα rheyacutema (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo Termo utilizado para nomear o deslocamento dos aacutetomos atraveacutes do espaccedilo para afetar os oacutergatildeos sensiacuteveis e produzir as sensaccedilotildees
Primeira parte
58 59
ῥύσις rhyacutesis (sf)- 104
Fluxo
σάρξ saacuterx (sf)- 137 IV XVIII XX SV 4 SV 33
Carne corpo Na physiologia o corpo eacute pensado como um agregado (vide supraathroiacutesma- ἀθροίσμα) constituiacutedo de aacutetomos e vazio ou seja como um ente fiacutesico (soacutema) Num segundo sentido o corpo eacute pensado como uma estrutura orgacircnica viva o que tambeacutem quer dizer phyacutesis O saber acerca do corpo humano se faz atraveacutes do contato corpomundo e chamamos mundo o conjunto de coisas que satildeo fenocircmenos manifestos no mundo-realidade Segundo Epi-curo conhecemos as coisas quando sentimos sua expressatildeo em noacutes E neste sentido buscamos naturalmente afec-ccedilotildees que produzam sensaccedilotildees constitutivas e agradaacuteveis De certa maneira o corpo se comunica com as coisas do mundo provando-as e tendo como criteacuterio de escolha e rejeiccedilatildeo das afecccedilotildees possiacuteveis o prazer e a dor O corpo eacute um modo do conhecimento Epicuro pensa neste mesmo corpo a alma que eacute tambeacutem corpo mas distingue-se da carne por suas propriedades fiacutesicas e por sua funccedilatildeo ra-cional e imaginativa que articula as impressotildees sensiacuteveis e projeta-as enquanto pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) A perfeita interaccedilatildeo entre carne e alma transfor-ma as sensaccedilotildees em sentimentos ou ainda o que afeta a carne em compreensatildeo ou pensamento Neste contexto carne e alma natildeo podem ser pensados separadamente pois satildeo apenas um e as afecccedilotildees (paacutethe) (vide infra πάθος na segunda parte) soacute se expressam como prazer ou dor na in-teraccedilatildeo carnealma
Physiologiacutea
58 59
σέμνωμα seacutemnoma (sn)- 77
Majestade Palavra encontrada nos textos de Epicuro e de poucas ocorrecircncias depois dele
σκαληνός skalenoacutes (ad)- 109
Irregular
σπέρμα speacuterma (sn)- 38 66 74 89
Semente esperma Este eacute um termo importante da physio-logiacutea que ressalta a ideacuteia de que para cada coisa animal ou planta eacute necessaacuterio a sua semente (esperma) proacutepria e das condiccedilotildees favoraacuteveis agrave sua germinaccedilatildeo
στάσις staacutesis (sf)- 73 88 92
Repouso imoacutevel
στεγάζωstegaacutedzo (v)- 43 64 65 66
Recobrir proteger
στερεότης stereoacutetes (ad)- 44
Solidez firmeza
στοιχεῖον stoicheiacuteon(sn)- 36 37 44 47 86 128
Elemento princiacutepio
συγγενής syngeneacutes(ad)- 78 79 98 116 135
Congecircnere similar afim
60 61
Primeira parte
60 61
συγγένησις syngeacutenesis (sf)- SV 61
Reuniatildeo
συγγενικός syngenikoacutes (ad)- 129
Congecircnito Este termo caracteriza a relaccedilatildeo do homem com o prazer (vide infrahedoneacute-ἡδονή na terceira parte)ldquoO pra-zer eacute nosso bem primordial e congecircnito (syngenikoacutes)rdquo (DL X 129) O prazer possibilita ao epicurista uma vida de acordo com a natureza constituindo-se como uma evidecircncia praacuteti-ca a guiar o homem para a felicidade
σύγκρισις syacutenkrisis(sf)- 40 41 42 54 55 62 66 73 110
Composiccedilatildeo condensaccedilatildeo
σύγκρουσις syacutenkrusis(sf)-44 101
Colisatildeo choque Este termo ocorre pela primeira vez em Epicuro
συγκύρησις synkyacuteresis (sf)- 96 98115
Concurso coincidecircncia
σύγκυσις syacutenchysis (sf)- 88
Ruiacutena mistura
συλλογή syllogeacute (sf)- 99 103 106 115
Reuniatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
60 6160 61
συμπαθής sympatheacutes (ad)- 63
Co-afecccedilatildeo Palavra que explica a ligaccedilatildeo ou conexatildeo das partiacuteculas (aacutetomos) com o resto do agregado (corpo)
συμφόρησις symphoacuteresis (sf)- 59 69
Agrupar reunir O primeiro a utilizar este termo foi Epicu-ro
συμφυλία symphyliacutea (sf)- 115
Da mesma tribo ou raccedila apropriado apto Neste caso o termo refere-se agrave compatibilidade existente entre os aacutetomos na formaccedilatildeo de um composto (agregadocorpo) O termo tambeacutem pode ser usado por Epicuro e entendido metafo-ricamente no sentido das relaccedilotildees humanas praticadas na comunidade do Jardim
συνφωνία symphoniacutea (sf)- 86 87 98
Acordo concordacircncia consonacircncia
σύντονος syacutentonos(ad)- 102 XXX SV 4
Intenso tenso veemente
σύστασις syacutestasis (sf)- 48 99 107
Combinaccedilatildeo uniatildeo
σύστημα siacutestema (sn)- 66
Complexo associaccedilatildeo
Primeira parte
62 63
συστροφή systropheacute (sf)- 73 77 XXXIII
Concentraccedilatildeo amontoado
σχῆμα schecircma(sn)- 42 44 54 55 68 74
Forma figura Uma das propriedades dos aacutetomos
σχηματισμός schematismoacutes(sm)- 54 74 94 101 102 109
Configuraccedilatildeo maneira forma
σῶμα socircma (sn)- 39 40 41 42 47 48 55 56 63 66 68 69 70 71 86 94 101 127 128 131 SV 73 221 Us
Corpo Socircma traduz tanto a ideia de um aacutetomo isolado quan-to a de compostos atocircmicosEpicuro tambeacutem denomina os compostos de athroiacutesmaou syacutenkrisis(Vide supra nesta mesma parte) O que diferencia fundamentalmente o corpo atocircmico singular do corpo composto eacute a presenccedila de vazio entre os aacutetomos reunidos em composiccedilatildeo Um corpo composto se diferencia tambeacutem da unidade atocircmica pela emissatildeo de simu-lacros (Vide supra leptomereacutes λεπτομερής nesta mesma parte) fina camada de aacutetomos que se desprende dos corpos compos-tos permitindo assim o processo perceptivo De acordo com Morel ldquoa categoria fundamental da fiacutesica epicurista eacute a de lsquocorporsquo antes mesmo que a de aacutetomordquo (2013 p 57) Dioacutegenes Laeacutercio nos informa que os corpos compostos eram objeto de estudo de trecircs livros do Perigrave Phyacuteseos (Sobre a natureza) e tam-beacutem do seu Megaacutele Epitomeacute (Grande Compecircndio)
τάγμα taacutegma (sn)- 71
Status classe
Physiologiacutea
62 63
τάξις taacutexis (sf)- 48 97
Ordem disposiccedilatildeo regularidade
τάχος taacutechos (sn)- 46 102
Rapidez velocidade
ταχύς tachyacutes (ad)- 62 98
Veloz raacutepido
τελείωσις teleiacuteosis (sf)- 89
Cumprimento realizaccedilatildeo conclusatildeo
τελεσιουργέω telesiurgeacuteo (v)- 36
Realizar acabar perfazer
τομή tomeacute (sf)- 43 56
Divisatildeo
τροπή tropeacute (sf)- 76 79 93
Revoluccedilatildeo solstiacutecio
ὑδατοιειδής hydatoeideacutes (ad) - 106 107 109
Aquoso
φορά phoraacute (sf)- 46 47 49 60 61 62 70 76 101 107 115
Movimento deslocamento translado
Primeira parte
64 65
φυσικός physikoacutes (ad)- 86 90 127 130 134 XXIX XXX SV 21
Natural fiacutesico
φυσιολογία physiologiacutea (sf)- 37 78 85 XI XII SV 45
Investigaccedilatildeo da natureza A physiologiacutea eacute descrita por Epi-curo como o procedimento de investigaccedilatildeo da natureza ou de toda realidade fenomecircnica que se nos apresenta Mantendo-se fiel a uma tradiccedilatildeo que remonta aos primeiros pensadores da Jocircnia Epicuro define a physiologiacutea como um exerciacutecio constante de compreensatildeo dessa realidade que eacute para ele a phyacutesis Eis a razatildeo de fazer derivar a eacutetica de um saber para a vida que deve se constituir necessariamente num modo de ser de acordo com a natureza Deste modo o exerciacutecio de pensar a phyacutesis configura o modo de ser do filoacutesofo que percebe neste aprendizado o sentido proacuteprio da sua situaccedilatildeo no mundo enquanto ser dotado da capacidade do logismoacutes(vide infra λογισμός na segunda parte) ou seja de ser capaz de utilizar-se do pensamento para escolher e recusar tudo o que necessita ou natildeo respectivamente Mas este exerciacutecio de pensar a phyacutesis soacute seraacute possiacutevel porque para Epicuro a natureza eacute a fonte ou o princiacutepio da vida fiacutesica psiacutequica e eacutetica Pois ele revela ao pensamento em si indiacutecios que tornam possiacutevel a medida de realizaccedilatildeo de cada coisa e dentre elas do proacuteprio homem que emerge em seu proacuteprio seio e tem a necessidade de viver de acordo com ela (katagrave phyacutesin)
φύσις phyacutesis (sf)- 35 40 45 48 49 54 68 69 70 71 75 78 79 82 83 86 90 91 97 113 115 129 133 VI VII
Physiologiacutea
64 65
IX XII XV XXV XXX XXXI XXXVII SV 21 SV 24 SV 25 SV 37
Natureza A Carta a Heroacutedoto apresenta proposiccedilotildees fun-damentais acerca dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis Nela articulam-se aacutetomos corpos compostos mundos e o todo a fimde possibilitar a compreensatildeo da natureza das coisas desde a microestrutura do aacutetomo ateacute a noccedilatildeo de infinito Percebe-se que nesta carta Epicuro buscou tornar clara e ob-jetiva a possibilidade de conhecimento da realidade como podemos ver no primeiro momento que revelou a primeira questatildeo ou seja ldquocomo as coisas se realizamrdquo Neste sentido podemos afirmar metafisicamente que na Carta a Heroacutedo-to o olhar tornou-se indagaccedilatildeo e o pensamento estendeu a dimensatildeo deste olhar ao mais minuacutesculo dos limites e ao mesmo tempo ao absoluto ilimitado
Agrave busca desta compreensatildeo Epicuro chamou de physiologiacutea definindo com isso o procedimento reflexivo que enseja a filosofia Eis a razatildeo de ser phyacutesis o germe de seu pensamento pois a origem do filosofar coincide com a origem da phy-siologiacutea Ele faz emergir desta maneira no cerne do pen-samento helecircnico o problema originaacuterio da filosofia Mais que isso o expotildee como propedecircutico ao desenvolvimento de uma ldquovisatildeo de mundordquo ou realidade Assim ele sugere que a construccedilatildeo de um pensamento filosoacutefico tem um princiacutepio sendo este princiacutepio a phyacutesis
Para alcanccedilar estes objetivos voltou-se entatildeo para a estru-turaccedilatildeo dos modos de compreensatildeo dos fenocircmenos natu-rais elaborando explicaccedilotildees que evidenciassem o sentido fiacutesico e material das geraccedilotildees dos desenvolvimentos das corrupccedilotildees enfim das mutaccedilotildees ocorridas na natureza enfatizando a possibilidade mesma de compreensatildeo de tudo
Primeira parte
66 67
isso Com isso buscou desestruturar completamente as ex-plicaccedilotildees fundadas em imaginaacuterias causas sobrenaturais insurgindo-se contra a arrogacircncia das insistentes ldquoopiniotildees vaziasrdquo que as postulavam como origem da realidade Por-que sua ocupaccedilatildeo era a realizaccedilatildeo efetiva de pensar o sublime vir-a-ser e fazecirc-lo aparecer apenas como sublime e natildeo mais como misterioso17
Eacute verdade que nem tudo que pocircde compreender sobre a natureza das coisas coube na epiacutestola que escreveu ao dis-ciacutepulo Heroacutedoto Contudo guardadas as limitaccedilotildees de um compecircndio encontra-se ali a autecircntica e genuiacutena disposiccedilatildeo do conhecimento que insiste em ver o filoacutesofo como um descobridor Natildeo de uma parte mas do ldquotodordquo cuja inquie-taccedilatildeo inicial jaacute eacute a finalidade do conhecimento ou seja a compreensatildeo da realidade
Phyacutesis eacute segundo a etimologia da palavra o processo de cres-cimento ou gecircnese de alguma coisa e neste sentido Epicuro somente a utiliza quando se refere aos corpos compostos e aos mundos Num segundo sentido phyacutesis eacute princiacutepio (ar-cheacute) porque eacute aacutetomos e vazio e num terceiro sentido phyacutesis eacute o modo de ser do todo ilimitado
χρόνος chroacutenos (sm)- 47 62 7273 75 93 106 111 124 126 129 130 133 III IV IX XVI XIX XX XXXVII SV 4 SV 42 SV 46 Pap Herc 1418
Tempo duraccedilatildeo Quando percebido numa relaccedilatildeo sensiacutevel o tempo aparece associado agraves manifestaccedilotildees de movimento Haacute o tempo de transformaccedilatildeo do dia em noite do quente
17 Lucreacutecio no livro I do seu poema De Rerum Natura (62-80) diz que Epicuro buscou explicar ldquocientiacuteficamenterdquo as coisas da natureza e com isso tem livrado a humanidade das falsas crenccedilas e temores
Physiologiacutea
66 67
em frio do crescimento e das degeneraccedilotildees dos seres vivos etc A compreensatildeo da natureza do tempo definida por Epi-curo como ldquoo acidente dos acidentesrdquo (syacutemptoma symptoacutema-tos) (vide infra σύμπτωμα na segunda parte) pressupotildee uma relaccedilatildeo de acontecimentos diversos e sucessivos que podem ser identificados somente na constataccedilatildeo das alteraccedilotildees so-fridas pelos corpos O tempo eacute compreendido numa relaccedilatildeo entre o acidente ou a mudanccedila de propriedades de um corpo e o movimento geral de transformaccedilatildeo das coisas O tempo do todo e de cada aacutetomo eacute um tempo infinito o tempo soacute eacute quantificaacutevel em relaccedilatildeo aos corpos passiacuteveis de observaccedilatildeo cujas alteraccedilotildees de posiccedilatildeo peso tamanho e forma satildeo evi-dentes aos sentidos Atraveacutes da analogia estabelecida entre as mudanccedilas observadas e a projeccedilatildeo do pensamento ao niacutevel macroscoacutepico podem-se criar hipoacuteteses acerca da duraccedilatildeo dos seres
Devemos refletir atentamente nas percepccedilotildees elementares a partir das quais constituiacutemos essa essecircncia (tempo) no que ela tem de proacuteprio e de que partimos para medir o tempo De fato natildeo haacute necessidade de demonstrar pois a reflexatildeo nos basta para compreender que compomos o tempo com os dias e as noites com os nossos estados de paixatildeo ou impassi-bilidade com os movimentos e os repousos concebendo em tudo isso certo acidente comum que nos leva a pronunciar a palavra tempo (DL X 73)
O tempo natildeo tem existecircncia proacutepria como o espaccedilo ou a mateacuteria ele eacute intuiacutedo apreendido percebido nas modifi-caccedilotildees das coisas por isso a Epicuro bastou a reflexatildeo de tempo sendo desnecessaacuterio demonstraacute-la ou defini-la apenas pareceu-lhe importante apresentaacute-la articulada ao movimento Lucreacutecio sintetiza de modo brilhante o que seu
68 69
Primeira parte
68 69
mestre grego pensou sobre o tempo
O tempo natildeo existe em si mesmo mas eacute das proacuteprias coisas que proveacutem o sentimento do que se passou do que eacute pre-sente daquilo que viraacute Ningueacutem pode sentir o tempo em si exteriormente ao movimento ou ao repouso das coisas (DRN I 459 - 463)
Assim a compreensatildeo epicuacuterea de tempo apresenta-o como unidade de medida de duraccedilatildeo Esta duraccedilatildeo pode ser a de um corpo ou do estado de um determinado corpo por exemplo a duraccedilatildeo da dor pode ser percebida e dessa per-cepccedilatildeo infere-se uma medida que quantifica sua duraccedilatildeo Se a dor eacute um acidente do corpo a duraccedilatildeo da dor eacute um acidente do acidente que eacute a dor E aleacutem da dor o prazer e todas as coisas que ora permanecem ora se modificam satildeo experiecircncias que possibilitam a apreensatildeo do tempo como unidade de medida de duraccedilatildeo
Ao considerar o tempo desta maneira Epicuro admite que as noccedilotildees de infinito e finito indicam respectivamente a na-tureza imutaacutevel dos aacutetomos e do todo e a natureza mutaacutevel dos corpos e mundos pois soacute estes uacuteltimos possibilitam a percepccedilatildeo do tempo
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
χώρα choacutera (sf) - 40 XXXVI XXXVII
Espaccedilo lugar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
68 6968 69
SegundA PArte
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
70 71
ἄδηλος aacutedelos (ad)- 32 38 39 80 XXXV
Imperceptiacutevel invisiacutevel oculto incerto desconhecido Aacutedelos expressao que natildeo pode ser apreendido por meio dos sentidos mas que natildeo obstante pode ser inferido atraveacutes de analogias que partem dos dados sensoriais Vide infra analogiacutea-ἀναλογία (nesta mesma parte)
αἴσθησις aiacutesthesis (sf)- 31 32 38 39 44 48 55 58 59 62 63 64 65 68 71 82 90 91 124 XXIII XXIV 422 Us
Sensaccedilatildeo sentido sensibilidade percepccedilatildeo A sensaccedilatildeo eacute a base do conhecimento e da opiniatildeo Eacute o efeito imediato da afecccedilatildeo e tambeacutem o que eacute impresso na alma quando se transforma em proleacutepsis (impressatildeo sensiacutevel) Todo pen-samento que opera por analogia agraves coisas sensiacuteveis o faz sempre tendo em vista a sensaccedilatildeo
αἰσθητήριον aistheteacuterion (sn)- 50 53
Oacutergatildeo sensorial sentido
αἰσθετικός aisthetikoacutes (ad)- 64
Sensiacutevel perceptiacutevel
αἰσθητός aisthetoacutes (ad)- 47 244 Us 261 Us
Sensiacutevel perceptiacutevel
ἀκρίβεια akriacutebeia (sf)- 78 80 83
Exatidatildeo precisatildeo rigor
Segunda parte
72 73
ἀκρίβωμα akriacuteboma (sn)- 36 83
Exatidatildeo precisatildeo conhecer exatamente investigar com exatidatildeo Este termo soacute ocorre nos textos de Epicuro
ἀκρισία akrisiacutea (sf)- XXII
Incerteza confusatildeo inseguranccedila do ldquojuiacutezordquo Este termo se justifica pela indeterminaccedilatildeo do acaso com relaccedilatildeo aos aacutetomos que explica a transformaccedilatildeo do mundo sensiacutevel que pelo movimento causa os inuacutemeros juiacutezos E por natildeo conse-guir determinar o que ocorre no mundo eacute preciso manter-se tranquumlilo na busca do necessaacuterio e nas respostas que a razatildeo encontra
ἀλήθεια aleacutetheia (sf)- 31 S54
Verdade realidade Compreensatildeo ou busca desse conheci-mento da phyacutesis Segundo Epicuro tudo eacute sensiacutevel e a sensa-ccedilatildeo sempre eacute verdadeira Os aacutetomos estatildeo em constantes e diferentes configuraccedilotildees e natildeo haacute como imobilizar a verdade de um fenocircmeno porque ela estaacute no todo de acordo com uma resposta subjetiva que pretende natildeo se amedrontar diante do que natildeo sabe
ἀληθής aletheacutes (ad)- 51 62 244 Us
Verdadeiro Aquele que possui o controle dos seus juiacutezos e eacute conduzido pela razatildeo Eacute capaz da philiacutea(vide infra φιλία na terceira parte) pois possui condiccedilotildees de agir com justiccedila em relaccedilatildeo a outros e as suas proacuteprias escolhas natildeo privilegiando apenas a aparecircncia do prazer mas sim o que eacute considerado qualitativamente bom
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
72 73
ἀλογία alogiacutea (sf)-87 SV 62
Irracionalidade desrazatildeo
ἀλογίστως alogiacutestos (adv)- 135
Contra a razatildeo de modo irracional insensato
ἄλογος aacutelogos (ad)- 31 66 81 SV 62
Irracional privado de razatildeo ininteligiacutevel
ἀμφισβήτησις amphisbeacutetesis (sf)- XXIV
Incerteza duacutevida ambiguidade
ἀναγωγή anagogeacute (sf)- XXIII
Referecircncia
ἀναισθησία anaisthesiacutea (sf)- 81
Insensibilidade
ἀναλογία analogiacutea (sf)- 32 58 59
Analogia proporccedilatildeo A analogia se daacute quando o pensamento procede a comparaccedilatildeo entre o que eacute percebido pela sensaccedilatildeo e o que soacute pode ser pensado (ou inteligido) pois ocorre no niacutevel microcoacutesmico ou macrocoacutesmico A analogia torna possiacutevel a expansatildeo maacutexima da physiologiacutea
ἀναλόγως analoacutegos (adv)- 40
Analogamente
Segunda parte
74 75
ἀνεπιλόγιστος anepiloacutegistos (ad) SV 63
Natildeo calculado Este termo estaacute sempre associado a Epicuro nas suas ocorrecircncias
ἀντιμαρτυρέω antimartyreacuteo (v)- 34 47 48 50 51 55 88 92
Infirmar testificar contra receber prova contraacuteria contra-ditar As teorias que natildeo podem ser confirmadas (epimar-tyacuteresis) sensorialmente podem entretanto receber prova contraacuteria A infirmaccedilatildeo ou pelo contraacuterio a confirmaccedilatildeo de uma teoria eacute possiacutevel por meio da comparaccedilatildeo com os fenocircmenos observaacuteveis
ἀνυπέρβλητος anypeacuterbletos (ad)- 47
Insuperaacutevel enorme
ἀξίωμα axiacuteoma (sn)- 86
Axioma enunciado princiacutepio
ἀπάθεια apaacutetheia (sf)- 73
Apatia natildeo-afecccedilatildeo No sentido de que a natildeo-afecccedilatildeo resul-ta para Epicuro na impossibilidade de conhecer
ἀπιστία apistiacutea(sf)- SV 57
Incerteza incredulidade infidelidade Em Epicuro este termo estaacute relacionado agrave incerteza ou falta de confianccedila que resulta na ignoracircncia e na incapacidade de agir Natildeo haacute registro nos textos remanescentes de Epicuro das noccedilotildees de crenccedila (religiosa) ou fidelidade
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
74 75
ἀπόδειξις apoacutedeixis (sf)- 3873
Demonstraccedilatildeo explicaccedilatildeo definiccedilatildeo prova
ἀπόφασις apoacutephasis (sf)- 124
Declaraccedilatildeo afirmaccedilatildeo
ἀσύμβλητος asyacutembletos (ad)- 83
Incomparaacutevel muito superior a Palavra de uso restrito a Aristoacuteteles e Epicuro
βάσις baacutesis (sf)- 46
Cadecircncia ritmo movimento e estrutura Os aacutetomos que se destacam dos corpos e viajam no espaccedilo conservando a mesma cadecircncia (baacutesis) e disposiccedilatildeo (teacutesis)possibilitam as imagens
βλέψις bleacutepsis (sf)- 130
Exame olhar
γνῶσις gnoacutesis (sf)- 78 79 85 123 SV 27
Conhecimento ciecircncia Como Epicuro natildeo utiliza o termo episteacuteme a canocircnica ou teoria do conhecimento pode ser considerada uma gnoseologiacutea Assim todo conhecimento fenomecircnico da realidade que eacute a base da physiologiacutea eacute com-preendido como gnoacutesis
γνωστός gnostoacutes (ad)- 68
Conheciacutevel compreensiacutevel conhecido
Segunda parte
76 77
δήλωσις deacutelosis (sf)- 76
Designaccedilatildeo manifestaccedilatildeo declaraccedilatildeo indicaccedilatildeo prova
διαλαμβάνω dialambaacuteno (v)- 38 58 67 85 123 133
Distinguir compreender apreender
διαληπτός dialeptoacutes (ad)- 57
Dinstinguiacutevel concebiacutevel
διάληψις diaacutelepsis (sf)- 50 51 58 69
Distinccedilatildeo discernimento
διαλογισμός dialogismoacutes (sm)- 2284 138 Us
Consideraccedilatildeo raciociacutenio conversaccedilatildeo caacutelculo argumentaccedilatildeo
διανόησις dianoacuteesis (sf)- 63
Exerciacutecio da inteligecircncia atividade do pensamento
διάνοια diaacutenoia (sf)- 31 38 49 50 51 62 78 X XVIII XX XXIV
Inteligecircncia reflexatildeo pensamento mente
διαπίπτω diapiacutepto (v)- 98
Falhar escapar errar
διαχέω diacheacuteo (v)- XXX
Dissipar dispersar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
76 77
δόξα doacutexa (sf)- 33 34 35 37 52 77 81 123 132 XV XXIV XXIX XXX SV29 SV59 202 Us 247 Us 471 Us
Opiniatildeo doutrina crenccedila teoria convicccedilatildeo Em Epicuro a opiniatildeo concerne ao que pode ser percebido e que resulta da investigaccedilatildeo empiacuterica ou do que eacute imperceptiacutevel isto eacute natildeo suscetiacutevel de investigaccedilatildeo direta
δοξάζω doxaacutedzo (v)-37 38 90 XXII XXIV 247 Us
Opinar crer
δοξαστικός doxastikoacutes (ad)- XXIV
Apto a formar uma opiniatildeo o que conjectura
ἐγκατάλειμμα enkataacuteleimma (sn)- 50
Resiacuteduo resto
εἴδωλον eiacutedolon(sn)- 46 47 48 50 I SV 24 355 Us
Simulacro imagem iacutedolos Epicuro usa diversos termos para caracterizar as imagens Alguns dizem respeito agraves ima-gens como aquilo que emana dos corpos soacutelidos Assim ele chama de simulacros (eiacutedola) as imagens das formas que satildeo similares aos objetos soacutelidos Ele tambeacutem chama de tyacutepoi (reacuteplicas) (Vide infra τύπος nesta mesma parte) as imagens emanadas dos objetos e que atingem os oacutergatildeos da percepccedilatildeo Lecirc-se no passo 46 da Carta a Heroacutedoto
Assim existem as reacuteplicas (tiacutepoi) da mesma maneira que existem os soacutelidos mas que por sua fineza diferenciam-se dos corpos aparentes Com efeito nada impede que se for-mem no envoltoacuterio (meio em torno dos corpos) destacamen-
Segunda parte
78 79
tos que sejam de tal tipo nem que se encontrem as condiccedilotildees proacuteprias que permitam a produccedilatildeo de espaccedilos ocos (cavados) e finos (tecircnues) nem os efluacutevios que conservem exatamente a posiccedilatildeo e a base (estrutura) que eles tinham sucessivamente nos corpos soacutelidos Essas reacuteplicas noacutes as chamamos de iacutedolos ou simulacros (eiacutedola)
Epicuro utiliza o termo tyacutepoi para mostrar que tais imagens imprimem-se na alma atraveacutes dos oacutergatildeos sensiacuteveis e utili-za eiacutedola para estabelecer a diferenccedila entre as imagens que destacam-se dos compostos e os proacuteprios corpos compostos Entretanto os dois termos satildeo utilizados para caracterizar as finas camadas de aacutetomos mais sutis que se destacam dos corpos e atingem os sentidos Epicuro quer dizer ainda que a experiecircncia natildeo pode desmentir sua proposiccedilatildeo pois natildeo eacute possiacutevel discernir essas imagens que natildeo afetaram ainda o oacutergatildeo sensiacutevel O processo eacute muito raacutepido e soacute depois eacute que se pode pensar na maneira como tudo ocorreu O que estaacute posto aqui eacute que o simulacro conserva o mesmo arranjo (theacute-sin) ou disposiccedilatildeo dos aacutetomos tal qual figura nos corpos soacute-lidos (tocircn somaacuteton ti) Os simulacros satildeo caracterizados como efluacutevios (aporroaiacute) ou emanaccedilotildees (reuacutesis) que se destacam dos corpos e atingem os oacutergatildeos sensiacuteveis Aleacutem disso o fluxo pode conservar por algum tempo a disposiccedilatildeo e a ordem dos aacutetomos (theacutesin kaigrave taacutexin tocircn atoacutemon) Sem profundidade ou volume a imagem eacute formalmente idecircntica ao corpo do qual foi emanada poreacutem eacute reduzida agraves duas dimensotildees do plano Os simulacros podem ser entendidos como substitutos das coisas que permitem ao pensamento representaacute-las O que eacute pensado natildeo satildeo as coisas elas mesmas mas seus simulacros que natildeo tecircm realidade plena isto eacute natildeo satildeo corpos soacutelidos como as coisas mas satildeo reais porque satildeo constituiacutedos por
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
78 79
aacutetomos e vazios como qualquer corpo soacutelido A diferenccedila estaacute na sutileza (fineza) dos aacutetomos que os compotildeem
Os simulacros mantecircm a figura (skheacutema) dos corpos dando forma agrave imagem e os aacutetomos que compotildeem esta imagem possuem sutileza (leptoacutetes) (vide infra ληπτότης nesta mesma parte) e ligeireza (kouraacute) Isso explica porque os simulacros tecircm uma sutileza inconcebiacutevel pelo pensamento e inapreen-siacutevel aos sentidos As imagens que se pode perceber resul-tam da afecccedilatildeo dos simulacros sobre os oacutergatildeos sensiacuteveis As sensaccedilotildees satildeo efeitos da penetraccedilatildeo dos aacutetomos arranjados numa imagem-simulacro no corpo que as recebe
Assim as afecccedilotildees geram imediatamente as sensaccedilotildees que a princiacutepio podem ser de dois tipos ou agradaacuteveis ou desa-gradaacuteveis Epicuro usa o termo energeiacuteas(vide infra ἐνέργεια nesta mesma parte)para nomear o processo de produccedilatildeo das imagens e chama de sympatheiacuteas(vide supra συμπαθής na primeira parte) os estados perceptivos dos corpos afetados pelas imagens Continua Epicuro ainda no passo 46
Assim (ocorre) o movimento que se produz atraveacutes do vazio sem que nenhum choque com os corpos imponha resistecircncia aos simulacros que se movem numa velocidade inconcebiacutevel pelo pensamento
Como a emanaccedilatildeo de simulacros dos corpos eacute contiacutenua a imagem que percorre o espaccedilo perde algumas propriedades que satildeo logo supridas com a continuidade das emanaccedilotildees Este processo de regeneraccedilatildeo ou recomposiccedilatildeo compensa-toacuteria eacute chamado de antanaplerosis Epicuro a todo instante alerta para o fato de que os sentidos natildeo podem contradizer sua hipoacutetese explicativa porque trata-se de imagens im-perceptiacuteveis por dois motivos a saber primeiro porque as imagens satildeo compostas por aacutetomos de natureza mais sutil
Segunda parte
80 81
que os aacutetomos dos corpos concretos segundo porque a velocidade do movimento dos simulacros eacute inconcebiacutevel e incomensuraacutevel Toda a realidade compotildee-se de aacutetomos e vazio mas os aacutetomos satildeo qualitativamente diferentes sendo uns mais densos e outros mais sutis Os aacutetomos que formam as imagens satildeo de natureza sutiliacutessima
εἰκών eikoacuten (sf)- 51
Imagem reproduccedilatildeo iacutecone similitude
ἔκθλίψις eacutekthlipsis (sf)- 53 109
Expulsatildeo deslocamento
ἐλάχιστον (τὸ) elaacutechiston (tograve) (ad substantivado)- 58 281 Us
O miacutenimo
ἔμφασις eacutemphasis (sf)- 95
Aparecircncia aspecto
ἐναργής enargeacutes (ad)- 33 123
Evidente claro manifesto Eacute aquilo que se apresenta claramente ao pensamento e que portanto natildeo poder ser contradito nem pela percepccedilatildeo nem pelo pensamento (ou opiniatildeo)
ἐναργῶς enargocircs (adv)- 67
Evidentemente visivelmente claramente
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
80 81
ἔνδηλος eacutendelos (ad)- 52
Manifesto presente
ἐνέργεια eneacutergeia (sf)- 48 136 2 Us 219 Us
Forccedila (em accedilatildeo) atividade energia Haacute uma diferenccedila en-tre a versatildeo do texto grego utilizada por M Conche (1977) (ἐνέργειας) e a utilizada por Hicks (1925) (ἐνάργεια versatildeo de Gassendi) Para ver a definiccedilatildeo de ἐνάργεια vide supra enargocircs-ἐναργῶς (nesta mesma parte)
ἐννόῃμα ennoacuteema (sn)- 38
Noccedilatildeo ideia conceito significaccedilatildeo
ἔννοια eacutennoia (sf)- 33 576977 XXIV
Pensamento noccedilatildeo concepccedilatildeo ideia
ἐνότης enoacutetes (sf)- 52
Unidade
ἔνστημα eacutenstema (sn)- 91
Obstaacuteculo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto e significa aquilo que se interpotildee ao deslocamento dos aacutetomos no vazio
ἐξαιτιολογεῖν exaitiologeicircn (v inf)- 82
Buscar a causa ou explicaccedilatildeo de algo Primeira apariccedilatildeo do termo ocorre na Carta a Heroacutedoto
Segunda parte
82 83
ἐπαίσθησις epaiacutesthesis (sf)- 52 53
Sensaccedilatildeo percepccedilatildeo
ἐπιβλετικῶς epibletikoacutes (adv)-50
Por apreensatildeo (direta) por impressatildeo (direta)
ἐπιβολή epiboleacute (sf)- 31 35 36 38 50 51 62 69 70 83 XXIV
Apreensatildeo (intuitiva) projeccedilatildeo Pode ser traduzido por salto no sentido de alcance promovido pelo pensamento
ἐπιβολή τῆς διανοίας epibolegrave tecircs dianoiacuteas- 31 38 51 XXIV
Projeccedilatildeo (salto) do pensamento Expressatildeo fundamental que indica a operaccedilatildeo do pensamento quando este articula a expo-siccedilatildeo da realidade Epicuro postula que esta operaccedilatildeo eacute ime-diata e por isso ele utiliza a imagem de um ldquosaltordquo ou de uma ldquoprojeccedilatildeordquo do pensamento para caracterizar a formulaccedilatildeo ou apreensatildeo de uma explicaccedilatildeo acerca da realidade sensiacutevel ou no procedimento de pensar por analogia ao sensiacutevel
ἐπίδηλος epiacutedelos (ad)- 48
Perceptiacutevel visiacutevel
ἐπικρίνειν epikriacutenein (v inf)- 37
Distinguir decidir julgar
ἐπιλογίζεσθαι epilogiacutezesthai (v inf)- 72 133 XXII SV 35
Considerar refletir ter em conta
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
82 83
ἐπιλογισμός epilogismoacutes (sm)- 73 XX
Reflexatildeo caacutelculo
ἐπιμαρτυρεῖν epimartyreicircn (v inf)- 34 50 51 XXXVII
Confirmar testemunhar atestar Vide supra antimartyreacuteo -ἀντιμαρτυρέω verbo de sentido oposto (nesta mesma par-te)
ἐπιμαρτύρεσις epimartyacuteresis (sf)- XXIV 247 Us
Confirmaccedilatildeo Termo utilizado pela primeira vez por Epicu-ro
ἐπίνοια epiacutenoia (sf)- 32 45
Concepccedilatildeo noccedilatildeo doutrina
ἐπιπολή epipoleacute (sf) - 48
Superfiacutecie No texto utilizado por Bollack (1971) o termo aparece diferente ἐπὶ πολλή
ἐπίρρυσις epiacuterrysis (sf)- I
Afluxo influxo fluxo
ἐπιτηδειότης epitedeioacutetes (sf)- 46
Condiccedilotildees proacuteprias propriedade materiais
θεωρητός theoretoacutes (ad)- 47 57 62 I 355 Us
Visiacutevel discerniacutevel perceptiacutevel observaacutevel Pelo nuacutemero de
Segunda parte
84 85
ocorrecircncias da expressatildeo ldquoτοὺς διὰ λόγου θεωρητοὺςrdquo vecirc-se a importacircncia da conexatildeo que realccedila a noccedilatildeo de ldquovista pelo pensamentordquo Elas se datildeo principalmente na Carta a Heroacutedoto Quando associada a logos a expressatildeo adquire o sentido de ldquovisatildeo do pensamentordquo isto eacute aquela capaz de perscrutar as coisas invisiacuteveis Portanto o pensamento que estabelece a realidade e a constituiccedilatildeo dos corpos pela aglomeraccedilatildeo dos aacutetomos se remete agrave uma ldquovisatildeordquo dos corpos elementares
θεωρία theoriacutea (sf) - 35 59 86 116 128
Estudo visatildeo contemplaccedilatildeo
ἰδιότης idioacutetes (sf)- 5871
Particularidade caraacuteter proacuteprio singularidade individuali-dade
ἰδιότροπος idioacutetropos (ad)- 52
Caracteriacutestico distintivo especiacutefico Termo usado pela pri-meira vez por Epicuro
ἰδίωμα idiacuteoma (sn)-72 109
Qualidade particular caraacuteter proacuteprio
κανών kanoacuten (sm)-129
Canocircn criteacuterio regras O comentaacuterio feito por Dioacutege-nes Laeacutercio que se inicia no passo 29 do Livro X tem por objetivo expor a doutrina de Epicuro de modo resumido dividindo-a em trecircs partes e caracterizando o que ele con-
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
84 85
sidera elementar para o leitor Para comeccedilar ele jaacute interfere na compreensatildeo que o leitor pode ter do pensamento em questatildeo quando subdivide a filosofia em canocircnica fiacutesica e eacutetica Eacute preciso discordar dessa subdivisatildeo Note-se que em nenhum momento na Carta a Heroacutedoto Epicuro faz menccedilatildeo a esta divisatildeo estabelecida por Dioacutegenes Laeacutercio Ao con-traacuterio eacute este uacuteltimo que afirma no final desse passo que os epicuristas satildeo os autores de tal divisatildeo Ele natildeo diz de quais epicuristas estaacute falando nem que eacute de Epicuro essa divisatildeo Esse eacute um problema tiacutepico da doxografia e mais do que isso das apropriaccedilotildees que foram feitas dos textos da filosofia an-tiga em geral
Na leitura interpretativa aqui pretendida desconfia-se desta triparticcedilatildeo da filosofia de Epicuro e postula-se que a filosofia eacute um todo que integra a physiologiacutea agrave eacutetica e entende os cri-teacuterios para o conhecimento (tograven kaacutenon) como parte introdu-toacuteria da physiologiacutea ou ainda um meacutetodo explicativo acerca do modo como se produz o conhecimento considerando-o como efeito da natureza O homem produz conhecimentos como modo proacuteprio de se realizar e o conhecimento que ele produz eacute efeito da sua relaccedilatildeo afetiva com a natureza Assim Epicuro tenta recuperar aspectos do pensamento grego18 in-tegrando-os ao seu exerciacutecio de pensar a realidade e o modo como se pode conhececirc-la
κατάληψις kataacutelepsis (sf)- 33
Apreensatildeo
18 Notadamente os pensadores ditos ldquopluralistasrdquo do seacutec V aC como Empeacutedocles Anaxaacutegoras e Demoacutecrito Neste sentido acredita-se que Epi-curo manteacutem-se como um physiologoacutes
Segunda parte
86 87
καταμετρέω katametreacuteo (v)- 58 XIX
Medir calcular
κατεργασία katergasiacutea (sf)- 46
Produccedilatildeo confecccedilatildeo
κρίσις kriacutesis (sf)- XXIV
Discriminaccedilatildeo juiacutezo julgamento
κριτήριον kriteacuterion (sn)- 30 31 38 51 52 82 116 XXIV
Criteacuterio padratildeo de julgamento
ληπτότης leptoacutetes (sf)- 46 47
Fineza sutileza
λογισμός logismoacutes (sm)- 32 39 75 76 117 132 144 145 XVI XIX 517 Us
Raciociacutenio caacutelculo O logismoacutes ou caacutelculo raciociacutenio ou ainda ldquomecanismordquo ou ldquoinstrumentordquo do pensar eacute para Epicuro o que torna possiacutevel a elaboraccedilatildeo do pensamen-to (diaacutenoia) Eacute tambeacutem o que possibilita as analogias que conduzem o pensamento desde as impressotildees sensiacuteveis agraves elaboraccedilotildees de explicaccedilotildees sobre tudo o que natildeo eacute percebido pelos sentidos
Trata-se portanto de um conceito fundamental para enten-der o papel do pensamento na deliberaccedilatildeo acerca do modo de vida do homem no mundo uma vez que ele calcula ou mensura o alcance e o limite da accedilatildeo humana ou seja eacute
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
86 87
atraveacutes da reflexatildeo que se daacute a medida do agir
Sempre que Epicuro se refere ao exerciacutecio do pensamento ou reflexatildeo o termo utilizado eacute logismoacutes pois entende o exerciacute-cio como ato de pensamento ou operaccedilatildeo do pensamento Eacute sempre a partir do logismoacutes que se julga ou delibera e a accedilatildeo subsequente expressa uma sabedoria (vide infraphroacutenesis φρόνησις na terceira parte) que eacute na praacutetica capacidade de discernir de escolher e de recusar Podemos identificar em diversas passagens do texto de Epicuro o uso deste termo com efeitos de caacutelculo direcionamento da accedilatildeo operaccedilatildeo com analogias etc As seis passagens a seguir mostram es-tes usos ldquoCom efeito a existecircncia de corpos eacute atestada em toda a ocasiatildeo pelos sentidos e eacute neles que o logismoacutes deve basear-se para conjecturar acerca do sensiacutevelrdquo (DL X 39) ldquoEacute preciso ainda compreender que a natureza tem recebido ainda das realidades mesmas um ensinamento muacuteltiplo e variado e que mais tarde o logismoacutes introduziu precisotildees e acrescentou descobertas ao que a natureza transmitiu em certos casos mais rapidamente em outros mais lentamen-te em certos periacuteodos e momentos alcanccedilando progressos maiores em outros menoresrdquo (DL X 75) ldquoAs causas dos males praticados pelos homens satildeo o oacutedio a inveja e o des-prezo que o saacutebio domina por meio do logismoacutes Aquele que se torna saacutebio uma vez nunca mais assumiraacute nem fingiraacute as-sumir voluntariamente uma atitude contraacuteriardquo (DL X 117) ldquoNatildeo eacute a sucessatildeo ininterrupta de banquetes e festas nem o prazer sexual com meninos e mulheres nem a degustaccedilatildeo de peixes e outras iguarias oferecidas por uma mesa suntuosa que proporciona a vida agradaacutevel e sim o nephroacuten logismoacutes (caacutelculo soacutebrio) que investigue as causas de toda a escolha e de toda a rejeiccedilatildeo e elimine as opiniotildees vatildes por obra das
Segunda parte
88 89
quais um imenso tumulto se apossa das almasrdquo (DL X 132) ldquoRaramente o acaso atinge o saacutebio pois as coisas principais e fundamentais tecircm sido governadas pelo logismoacutes e por todo o curso da vida o governa e o governaraacuterdquo (DL X 144) ldquoO tempo infinito conteacutem o mesmo prazer que o tempo finito se os limites deste prazer satildeo calculados (com o logismoacutes)rdquo (DL X 145)
O uso do termo logismoacutes daacute sentido e linearidade agrave psicologia epicuacuterea na medida em que busca explicitar os agenciamentos das imagens discursivas que representam tanto as realidades aprendidas pelos sentidos quanto agraves apreendidas pelo pensamento A tentativa de mostrar como a alma opera o conhecimento ou o modo como o pensamento eacute elaborado denota a relevacircncia dessas explicaccedilotildees para uma physiologiacutea da alma
λόγος loacutegos (sm)- 32 47 59 62 83 86 I XXV SV 26 36 Us 221 Us 355 Us
Discurso pensamento argumento razatildeo Epicuro utiliza vaacuterias vezes este termo com sentidos diversos por isso ele pode ser traduzido dependendo da ocasiatildeo por todas as palavras aqui elencadas
μαντική mantikeacute (ad)- SV 24
(Arte) Divinatoacuteria profeacutetica
μάθησις maacutethesis (sf)- SV 27
Accedilatildeo de aprender desenvolver instruir conhecimento ins-truccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
88 89
μέγεθος meacutegethos (sn)- 41 43 44 49 54 55 56 57 58 59 68 69 91 III
Grandeza magnitude tamanho
μεταβατός metabatoacutes (ad)- 58
Passiacutevel de ser atravessadas que admite passagem Palavra de uso exclusivo de Epicuro
μῆκος mecirckos (sn)- 46 59 98
Extenccedilatildeo longitude
μνήμη mneacuteme (sf)- 31 35 36 82 83 85 95 255 Us
Memoacuteria Nos textos remanescentes de Epicuro identifi-camos onze ocorrecircncias de termos relacionados agrave memoacuteria (mneacuteme) que evidenciam a importacircncia dada pelo filoacutesofo aos exerciacutecios de memorizaccedilatildeo Exemplo disso eacute o iniacutecio da Carta a Heroacutedoto onde podemos ler
Para os incapazes de estudar acuradamente cada um dos meus escritos sobre a natureza Heroacutedoto ou de percorrer detidamente os tratados mais longos preparei uma epiacutetome de todo o meu sistema a fim de que possa conservar bem gravado na memoacuteria o essencial dos princiacutepios mais impor-tantes e estejam em condiccedilotildees de sustenta-los em quaisquer circunstacircncias desde que se dediquem ao estudo da natureza Aqueles que progredirem suficientemente na contemplaccedilatildeo do universo devem ter na memoacuteria os elementos fundamen-tais de todo o sistema pois necessitamos frequentemente de uma visatildeo de conjunto embora natildeo aconteccedila o mesmo com os detalhes (DL X 35 p 291)
Segunda parte
90 91
Nessa passagem Epicuro utiliza duas vezes a noccedilatildeo de me-moacuteria a primeira quando sugere que os disciacutepulos receacutem iniciados no estudo da phyacutesis devem gravar na memoacuteria (Eacuten te mneacuteme) o essencial dos princiacutepios da physiologiacutea a se-gunda quando adverte que eles devem estar sempre prontos para expor uma visatildeo de conjunto (athroacuteas epiboleacutes) de toda a physiologiacutea e para isso devem guardar na memoacuteria (mnemo-neuein) o sistema
Na passagem seguinte (36) ele utiliza duas vezes o termo memoacuteria para enfatizar que os recursos mnemocircnicos devem ser utilizados em todo momento para evitar as crenccedilas e as opiniotildees vazias (kenoacuten doxai) (vide supradoacutexa δόξα nesta mesma parte) uma vez que quando fixadas na memoacuteria as explicaccedilotildees acerca da natureza das coisas a conduta do saacutebio jamais seraacute perturbada por imagens discursivas fantasiosas imaginativas que apontem para causas sobrenaturais Eacute ne-cessaacuterio lembrarmos sempre que o propoacutesito da filosofia de Epicuro eacute o exerciacutecio da vida feliz (makaacuterios zeacuten) e que como escreveu Jean Salem ldquoo caminho que conduz agrave felicidade leva em conta o aniquilamento das perturbaccedilotildees causadas em noacutes pelas opiniotildees vazias o que soacute eacute possiacutevel quando haacute a memorizaccedilatildeo dos princiacutepios da physiologiacutea19
μοναχῇ monachecirci (ad f)- 94
Uacutenica
μοναχός monachoacutes (ad)- 86 95
Uacutenico
19 SALEM J p 40
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
90 91
μοναχῶς monakhocircs (adv)- 80
Unicamente
μονοειδῶς monoeidocircs (adv)- 109
De um soacute tipo ou aspecto
μῦθος myacutethos (sm)- 81 87 104 116 134 XII
Mito lenda faacutebula
νομοθεσία nomothesiacutea (sf)- 86
Atos ldquolegiferantesrdquo leis impostas leis convenciondas arbitra-riamente princiacutepios arbitraacuterios
νόημα noacuteema (sn)- 48 61 83
Pensamento o que foi inteligido
νόησις noacuteesis (sf)- 33 (255Us) 123
Faculdade de pensar inteligecircncia
ὁμοιομερής homoiomereacutes (ad)- 52
Partes semelhantes partiacuteculas homogecircneas
ὁμοιόμορφος homoioacutemorphos (ad)- 49
Mesma forma contorno similar
ὁμοιοσχήμων homoioscheacutemon (ad)- 46
Com forma semelhante
Segunda parte
92 93
ὁμοιότης homoioacutetes (sf)- 32(36 Us) 51
Semelhanccedila parecenccedila
ὁμοίωμα homoiacuteoma (sn)- 46
Equivalente similar correspondente
ὁμούρησις homuacuteresis (sf)- 64
Contiacuteguidade vizinhanccedila Esta eacute uma versatildeo dialetal do iocircnico-aacutetico correspondendo agrave comum homoacuteresis palavra usada a partir de Epicuro
ὁμόχροος homoacutechroos (ad)- 49
Que tem a mesma cor que tem cor semelhante
ὀξύς oxyacutes (ad)- 48
Raacutepido
ὅρος hoacuteros (sm)- III XI
Limite Epicuro usa dois termos para se referir agrave ideia de limite peacuteras e hoacuteros (vide supra πέρας na primeira parte) Ambos satildeo utilizados indiscriminadamente com o sentido de limite Eles se referem sobretudo aos limites dos desejos e dos prazeres Epicuro deixa claro que o prazer tem por natureza limites determinados
πάθος paacutethos (sn)- 31 34 38 52 55 63 73 75 82 116 129 XXIV SV 18 191 221 241 Us
Afecccedilatildeo sentimento estado paixatildeo Epicuro preconiza que
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
92 93
todo conhecimento sensiacutevel tem iniacutecio na afecccedilatildeo que ocor-re quando o oacutergatildeo sensiente entra em contato com um ob-jeto externo Desta maneira o paacutethos eacute o que gera em noacutes a sensaccedilatildeo (vide supraaiacutesthesis - αἴσθησις nesta mesma parte) que eacute retida na memoacuteria transformando-se em sentimento ou impressatildeo sensiacutevel (Vide infraproleacutepsis πρόληψις nesta mesma parte) O movimento do pensar decorre das impre-esotildees rememoradas e operadas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias (phantastikeacute epiboleacute) do pensamento (tegraves diaacutenoias) (Vide su-pra ἐπιβολή τῆς διανοίας nesta mesma parte)
παρὸν (τό) parograven (toacute) (v substantivado)- XXIV 247 Us
O presente O verbo πάρειμι se substantiva em τὸ παρόν
περὶεχον (τό) perigraveechon (toacute) (v substantivado)- 46 48
O que circunda rodeia envolve cerca
περιληπτός perileptoacutes (ad)- 40 46
O que apreende abarca compreende
περιοιδεία periodeiacutea (sf)- 36 83 85
Percorrer (com o pensamento)
περίοδος periacuteodos (sm)- 75 77 83 97
Periacuteodo revoluccedilatildeo oacuterbita
πιθανολογοὺμενον (τό) pithanologugravemenon (toacute) (v substantivado)- 87
Alegaccedilatildeo plausiacutevel opiniatildeo verossiacutemil ou provaacutevel
Segunda parte
94 95
πίστις piacutestis(sf)- 63 85 SV 7 S34
Crenccedila convicccedilatildeo certeza
πρόληψις proacutelepsis (sf)- 31(35 Us) 33 (255 Us) 72 124 XXXVII XXXVIII
Prenoccedilatildeo antecipaccedilatildeo preconcepccedilatildeo representaccedilatildeo no sentido de impressatildeo na alma As proacutelepsis satildeo as noccedilotildees que estruturam a realidade no pensamento Elas podem representar os objetos que estatildeo fora dos indiviacuteduos e satildeo apreendidos pelos sentidos quando os simulacros neles penetram ou podem ser efeitos dos processos operacionais do pensamento tais como as analogias as compraraccedilotildees e as combinaccedilotildees Elas constituem imagens conceituais que satildeo articuladas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento (phantastikaacutei epibolaigrave tegraves dianoiacuteas) Com isso Epicuro quer explicitar a capacidade do pensamento de pensar o que eacute invisiacutevel (aacutedelon) mediante analogia com o que se tornou visiacutevel pela sensibilidade Mais que isso ele tenta expor os mecanismos internos do pensa-mento quando se produz a opiniatildeo o conhecimento o reconhecimento a articulaccedilatildeo das informaccedilotildees retidas na memoacuteria sob a forma de imaginaccedilatildeo criaccedilatildeo etc O que estaacute sendo construiacutedo eacute um invisiacutevel a partir do visiacutevel e este invisiacutevel conecta associa integra os corpos visiacuteveis numa rede loacutegica ou discursiva Trata-se da representa-ccedilatildeo ou do pensamento como representaccedilatildeo imageacutetica da realidade
προδοξάζω prodoxaacutedzo (v)- 50 62
Pressuposiccedilatildeo presunccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
94 95
προσμένον (τὸ) prosmeacutenon (tograve) (v substantivado)- 34 38 50 XXIV
A espera
ῥεῦμα rheŷma (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo
σημεῖον semeicircon (sn)- 87 97 183 Us
Sinal indiacutecio
στερέμνιον stereacutemnion (ad)- 46 48 50
Soacutelido
συμβεβηκός symbebekoacutes (sn)- 40 50 68 71
Propriedade atributo Em alguns casos pode ser traduzido por ldquoacidenterdquo Epicuro diferencia entre as propriedades permanentes (symbebekoacutes) e as propriedades acidentais (syacutemptoma)20 Todas as qualidades acidentais estatildeo sujeitas agrave mudanccedila poreacutem as propriedades permantes satildeo necessaacuterias e imutaacuteveis Forma tamanho e peso satildeo propriedades per-manentes do aacutetomo (ver supraaacutetomos - ἄτομος na primeira parte)
σύμμετρος syacutemmetros (ad)- 47 50 53 61 91
Simeacutetrico proporcional comensuraacutevel
20 Cf Morel 2013 p 57
Segunda parte
96 97
συμμέτρως symmeacutetros (adv)- 110
Simetricamente proporcionalmente
συμπάθεια sympaacutetheia (sf)- 48 50 52 53 64
Simpatia afinidade correspondecircncia Eacute o modo como os objetos exteriores nos afeta causando uma correspondecircncia entre os objetos neles mesmos e como os sentimos ou perce-bemos A sympaacutetheia ocorre quando haacute uma afinidade entre os aacutetomos do corpo ou de uma imagem que nos afeta e o oacutergatildeo por ele afetado Este acordo gera uma correspondecircn-cia natural entre os corpos que se afetam mutuamente
συμπλήρωμα sympleacuteroma (sn)- 48
Completude inteireza plenitude Palavra rara encontrada somente em Aristoacuteteles e Epicuro
σύμπτωμα syacutemptoma (sn)- 40 64 67 70 71 73
Acidente incidecircncia sintoma
συνεχής synecheacutes (ad)- 36 48 50 62 82 105 I XVI SV67
Contiacutenuo constante incessante
σύνθεσις syacutenthesis (sf)- 32 (36 Us)
Siacutentese composiccedilatildeo uniatildeo
συνθεωρεῖν syntheoreicircn (v inf)- 96 102 116
Considerar em conjunto ter uma visatildeo geral
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
96 97
σύντομος syacutentomos (ad)- 76 84 SV4
Breve conciso
σύστοιχος syacutestoichos (ad)- 76
Que eacute do mesmo tipo
σχηματίζειν schematiacutezein (v inf)- 53
Moldar
τεκμαίρω tekmaiacutero (v)- 39
Inferir formar um juiacutezo
τέλος teacutelos (sn)- 85 128 131 133 XX XXII XXV SV 25 SV 75
Fim finalidade objetivo
τόπος toacutepos (sm)- 47 60 62 75 89 98 103 105 108 111 112 113 115 XXXIII
Lugar regiatildeo
τρόπος troacutepos (sm)- 87 94 95 96 97 99 101 102 104 106 108 112 115 SV 62
Modo maneira meacutetodo
τύπος tyacutepos (sm)- 33(255 Us)35 36 45 46 49 68
Modelo esquema impressatildeo reacuteplica figura imagem Vide supraeiacutedolon-εἴδωλον (nesta mesma parte)
Segunda parte
98 99
ὑπεναναντίος hypenantiacuteos (ad)- 77 81
Contraacuterio incompatiacutevel inconsistente
ὑπεξαίρεσις hypexaiacuteresis (sf)- III
Remoccedilatildeo eliminaccedilatildeo supressatildeo
ὑπόθεσις hypoacutethesis- 95
Hipoacutetese
ὑπόληψις - hypoacutelepsis (sf)- 34 124
Suposiccedilatildeo conjectura O termo hypoacutelepsis eacute equivante ao ter-mo doacutexa Epicuro diz que a crenccedila nos deuses satildeo hipoleacutepseis pseudecircis ie suposiccedilotildees falsas As hypoleacutepseis satildeo suposiccedilotildees que natildeo necessariamente correspondem agrave realidade Diferente de proacutelepsis(vide supra proacutelepsis-πρόληψις nesta mesma par-te) este termo indica uma ideia que natildeo passou pelo crivo da sensibilidade ou pelos outros meios de confirmaccedilatildeo ou natildeo--infirmaccedilatildeo constituintes do meacutetodo gnosioloacutegico de Epicuro
φαινὸμενα (τά) phainogravemena (taacute) (v substantivado) - 32(36 Us) 46 47 54 55 60 71 86 87 88 90 92 93 95 97 98 100 102 104 112 113
Fenocircmenos aparecircncias o que eacute visiacutevel manifesto
φαντασία phantasiacutea (sf)- 50 80 247 Us
Representaccedilatildeo imagem
φάντασμα phaacutentasma (sn)- 32 (36 Us) 75 88 102 110
Visatildeo sonho apariccedilatildeo aparecircncia
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
98 99
φθόγγος phthoacutengos (sm)- 37 38 76 83
Som fala palavra
φωνή phoneacute (sf)- 36 45 53 XXXVII SV 33 SV 41 SV 45 SV 75
Voz expressatildeo palavra
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
ψεῦδος pseucircdos (sn)- 5051
Falsidade erro engano
ψυχή psycheacute (sf)- 63 64 65 66 67 68 77 81 122 128 131 132 SV 69 SV81 812 Us 314 Us 315 Us
Alma A compreensatildeo da alma como um corpo (soacutema) ou ainda como um agregado (aacutethroisma) de aacutetomos mais sutis que os componentes das realidades sensiacuteveis (corpossoacutemata) sefundamenta no pressuposto baacutesico da physiologiacutea atomista segundo o qual tudo o que existe eacute composto de aacutetomos e vazio A materialidade da alma eacute portanto uma consequecircncia loacutegica desse pressuposto Contudo o que ca-racteriza especificamente a mateacuteria da alma permanece um problema no contexto do pensamento atomista antigo de Demoacutecrito a Lucreacutecio uma vez que se manteacutem o caraacuteter metafiacutesico da questatildeo Ainda que a loacutegica seja inabalaacutevel do ponto de vista do discurso a impossibilidade de uma de-monstraccedilatildeo fiacutesica resguarda a alma no cerne da obscuridade Epicuro entretanto tentou agrave sua maneira fugir agraves represen-
Segunda parte
100 101
taccedilotildees miacuteticas e ousou talvez mais que qualquer outro ateacute entatildeo perscrutar a natureza fiacutesica da alma tomando-a num corpo substancialmente ligado ao corpo-carne Tal ligaccedilatildeo enquanto questatildeo constituiraacute doravante um imenso campo de investigaccedilatildeo cujas propriedades e possibilidades chegam ateacute os nossos dias sem entretanto mostrar-se completa e solucionada Apesar de todas as crenccedilas propagadas mun-do a fora sobre a imortalidade da alma e mesmo apesar dos discursos filosoacuteficos ancorados nesta crenccedila Epicuro viu-se capaz de enxergar um caminho para expor a sua physiologiacutea da alma enquanto uma ldquopsicologiardquo que pensa a psycheacute como um princiacutepio corporal energeacutetico unificador do corpo A alma seraacute pensada tambeacutem a partir de Epicuro e ateacute hoje como um corpo dentro do corpo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
100 101
terceirA PArte
ethicaacute
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Ethicaacute
102 103102 103
ἀβέβαιος abeacutebaios (ad)- 134
Inseguro incerto
ἀδέσποτος adeacutespotos (ad)- 133
Sem senhor sem governo Epicuro usa este termo no contex-to da criacutetica agraves teses que desconsideram a liberdade e respon-sabilidade dos homens Adeacutespotos eacute umadjetivo relacionado agrave expressatildeo parrsquo hemacircsVide infra parrsquo hemacircs-παρ᾿ἡμᾶς (nesta mesma parte)
ἀδικία adikiacutea (sf)- XXXIV
Injusticcedila
ἀδιόριστος adioacuteristos (ad)- 81
Natildeo fixo indeterminado indefinido
ἀδροτής adroteacutes (sf)- 83
Vigor forccedila
ἀθανασία athanasiacutea (sf)- 124
Imortalidade Na Carta a Meneceu Epicuro considera que o desejo de imortalidade eacute um desejo vatildeo assim como consi-dera que natildeo haacute nada a temer em relaccedilatildeo a morte
ἀθάνατος athaacutenatos (ad)- 135 SV78
Imortal Epicuro utiliza o termo imortal no sentido de qua-lificar o bem que resulta de uma vida sem perturbaccedilotildees que ele identifica com o bem maior que eacute o prazer
Terceira parte
104 105
ἀθορύβως athoryacutebos (adv)- 87
De modo impassivo tranquilo
αἵρεσις haiacuteresis (sf)- 128129132
Escolha eleiccedilatildeo
αἱρετός hairetoacutes (ad)- 30129
Escolhido
ἀκέραιος akeacuteraios (ad)- XII
Puro natildeo-misturado
ἀλγηδών algedoacuten (sf)- 129 137 XI SV 4 SV 3773
Dor sofrimento Diz-se da dor que antecede ou sucede o prazer ou ainda quando algo que parece prazeiroso acaba resultando em dor pelo uso desmedido que dele se faz E tambeacutem a ausecircncia de felicidade causada por dores do corpo Os desejos encontram-se sem controle e difiacuteceis de serem saciados onde o corpo encontra-se desesperado atraacutes de enormes prazeres e apavorado por fugir do que lhe causa medo
ἀνάπαυσις anaacutepausis (sf)- 125
Cessaccedilatildeo repouso
ἀνυπεύθυνος anypeuacutethynos (ad)- 133
Irresponsaacutevel
Ethicaacute
104 105
ἀόριστος aoacuteristos (ad)- SV 59
Natildeo limitado ilimitado
ἀοχλησία aochlesiacutea (sf)- 127
Tranquumlilidade natildeo interrompida Refere-se a tranquilidade do corpo
ἀόχλητος aoacutechletos (ad)- SV 79
Natildeo agitado tranquumlilo Palavra rara usada a partir de Epicu-ro
ἅπαξ haacutepax(adv)57 128 XVIII 222 Us
Uma vez de uma vez Em Epicuro este adveacuterbio se presta a evidenciar o limite temporal dos prazeres e dores ldquoUma vez (haacutepax) este estado realizado em noacutes (ausecircncia de sofrimento e termor) toda a tempestade da alma desaparecerdquo (DL X 128) Isso significa que eacute impossiacutevel haver simultaneidade de dores e prazeresldquoO prazer na carne natildeo cresce uma vez (haacutepax) suprimida a dor da necessidaderdquo (XVIII) Epicuro tambeacutem critica a opiniatildeo de que o prazer pode se intensifi-car ao infinito No entanto quando o prazer estaacute presente eacute possiacutevel apenas uma variaccedilatildeo do estado de prazer
ἀπογεγεννημένα apogegennemeacutena(sn)-Nat34 21-2 3426-30 (livro XXV)
Desenvolvimentos produtos Este termo aparece apenas no Perigrave phyacuteseos (Sobre a Natureza) Autores como Sedley (1987) Arrighetti (1960) Laursen (1991) e Orsquokeefe (2005) analisaram e propuseram traduccedilotildees para tagrave apogegenemeacutena
Terceira parte
106 107
das quais se destacam ldquodesenvolvimentosrdquo e ldquoprodutosrdquo O livro XXV do Perigrave phyacuteseos cujo tema principal eacute a liberdade aprofunda as resumidas explicaccedilotildees epistolares a respeito da relaccedilatildeo entre necessidade (anaacutenke) e liberdade assegurando que o homem pode desenvolver seu proacuteprio caraacuteter ainda que existam influecircncias necessaacuterias do meio ambiente (peri-eacutechon) Assim o que o homem desenvolve em relaccedilatildeo ao seu modo de ser eacute de sua inteira responsabilidade
ἀπόλαυσις apoacutelaysis (sf)- 131 132 SV 27
Gozo utilidade proveito
ἀπολαυστός apolaustoacutes (ad)- 124
Agradaacutevel Palavra usada a partir de Epicuro
ἀπονία aponiacutea (sf)- 136
Ausecircncia de dor ou sofrimento Assim como a ataraxiacutea eacute a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na alma a aponiacutea eacute ausecircncia de dor no corpo Isto quer dizer que o corpo encontra-se em equiliacutebrio ou experimenta um prazer katastemaacutetico
ἀρετή areteacute (sf)- 124 132 138
Excelecircncia virtude
ἀσεβής asebeacutes (ad)- 123 SV 43
Iacutempio
ἀσείστως aseiacutestos (adv)- 87
Ethicaacute
106 107
Inabalavelmente Adveacuterbio raro usado a partir de Epicuro
ἄστατος aacutestatos (ad)- 133
Instaacutevel inconstante
ἀσύμφορος asyacutemphoros (ad)- 130
Inconveniente desvantajoso
ἀσφάλεια asphaacuteleia (sf)- VIIXIII XIVXXVIII SV 31
Seguranccedila A asphaacuteleia estaacute relacionada agrave tranquumlilidade de uma vida equilibrada livre dos tormentos e dos pesares que resultam dos desejos desmesurados e da ignoracircncia
ἄσωτος aacutesotos (ad)- 131X
Dissoluto
ἀτάκτως ataacutectos (adv)- 134
Desordenadamente
ἀταράκτος ataraacutektos (ad)- XVII
Imperturbado
ἀταραξία ataraxiacutea (sf)- 82 85 96 128 2 Us
Imperturbabilidade equiliacutebrio tranquilidade da alma O termo grego ataraxiacutea pode ser traduzido por imperturbabili-dade equiliacutebrio e tranquilidade da alma Etimologicamente a melhor traduccedilatildeo eacute imperturbabilidade Este termo foi
Terceira parte
108 109
utilizado no sentido que iremos expor primeiramente por Demoacutecrito (Dem ap Estob273) e por Epicuro O que haacute de comum entre diversos pensadores do periacuteodo heleniacutestico eacute a relaccedilatildeo estabelecida por eles entre o ldquomodo de serrdquo (eacutethos) e a imperturbabilidade da alma Isso porque o estado da alma define o caraacuteter do indiviacuteduo e o que passa a interessar neste periacuteodo eacute a salvaguarda do bem estar do indiviacuteduo seja mediante a suspensatildeo do juiacutezo (epocheacute) entre os ceacuteticos seja como ausecircncia de paixotildees (apaacutetheia) entre os estoicos ou com o constante cuidado com a sauacutede (hygiacuteeia) da alma ou com a sua imperturbabilidade (ataraxiacutea) com Epicuro
Uma alma satilde tem o poder de ser princiacutepio de accedilatildeo (archeacute) de um indiviacuteduo dela deriva a sua altivez e simplicidade Este estado de alma caracteriza o que Epicuro chama makaacuterios zecircn (vida feliz) isto eacute ela eacute princiacutepio e fim da realizaccedilatildeo da proacutepria vida Por outro lado uma alma ldquoperturbadardquo que traz em si o peso das doenccedilas aniacutemicas caracteriza um modo de ser enfraquecido cujo poder de determinaccedilatildeo jaacute se esvaiu em meio a temores anguacutestias e desesperos O cuidado com a alma eacute para Epicuro um exerciacutecio constante inerente agrave praacutetica filosoacutefica
ἀτάραχος ataacuterachos (ad)- 80 SV 79
Ataraacutexico imperturbado
αὐτάρκεια autaacuterkeia (sf)- 130 SV 44 SV 77
Autarquia autossuficiecircncia ter o princiacutepio da accedilatildeo em si mesmo Existem diversas possiacuteveis traduccedilotildees do termo gre-go autaacuterkeia utilizado por Epicuro entre as quais as mais frequentes satildeo ldquoindependecircnciardquo ldquoautossuficiecircnciardquo ldquocapaci-
Ethicaacute
108 109
dade de bastar-se a si mesmordquo Estas noccedilotildees aludem a uma noccedilatildeo baacutesica de domiacutenio e princiacutepio- archeacute que estaacute em poder de quem age - autoacute - (a partir de) si mesmo Assim o sophoacutes eacute autaacuterkes porque age a partir de si mesmo Mas em que consiste esta autaacuterkeia e como eacute possiacutevel obtecirc-la Tais questotildees encetam para o princiacutepio da accedilatildeo tal como fora concebido no pensamento em questatildeo que implica em sua raiz a compreensatildeo do sentido de liberdade - eleutheriacutea - que a justifica ao mesmo tempo em que a fundamenta
Literalmente autaacuterkeia eacute uma qualidade de quem se basta a si mesmo Daiacute podermos pensar em algueacutem que exista ou subsista por si mesmo e isto soacute eacute possiacutevel quando sua accedilatildeo tem o princiacutepio nele mesmo ou ainda quando a causa da accedilatildeo esteja nele mesmo Para Epicuro a autaacuterkeia eacute o que caracteriza fundamentalmente a accedilatildeo saacutebia que por defi-niccedilatildeo exclui tanto a inatividade quanto a reatividade bem como a accedilatildeo cujo princiacutepio e o teacutelos natildeo estatildeo nela mesma A sabedoria enquanto accedilatildeo tem o sentido embutido nela isto eacute no seu exerciacutecio que chamamos de accedilatildeo autaacuterquica ou simplesmente autaacuterkeia Sendo assim a autaacuterkeia expressa uma condiccedilatildeo de vida no mundo em que o conjunto das accedilotildees tende naturalmente agrave repleccedilatildeo e portanto ao equiliacute-brio Viver em equiliacutebrio por sua vez natildeo depende senatildeo do modo como o homem vivencia a sua situaccedilatildeo real de existir independente de qualquer outro ldquopoderrdquo que transcenda a sua dyacutenamis de accedilatildeo desde que esse ldquopoderrdquo possa ser per-mitido ou evitado A autaacuterkeia eacute a expressatildeo da vida tornada independente das necessidades que a negam e a fazem re--agir ou sofrer
Para que a autaacuterkeiaseja alcanccedilada e cultivada eacute necessaacuterio agir segundo o logismoacutes e a phroacutenesis Dessa maneira esses
Terceira parte
110 111
trecircs conceitos definem a possibilidade de ponderaccedilatildeo de se estabelecer uma medida para o agir e atraveacutes do exerciacutecio da autaacuterkeia o sophoacutes define por si mesmo o bastante para a realizaccedilatildeo dos seus desejos naturais e necessaacuterios
E noacutes estimamos que a autaacuterkeia eacute um grande bem natildeo para que faccedilamos uso de pouco de um modo geral mas afim de que faccedilamos uso de pouco se natildeo temos a abundacircncia verdadeiramente persuadidos de que gozam a magnificecircncia com mais prazer aqueles que menos necessitam dela e que tudo o que eacute fundado na natureza se adquire facilmente e o que eacute vazio (vatildeo) eacute difiacutecil se obter (DL X 130)
O termo em questatildeo significa nesta passagem ldquocontenta-mentordquo medida exata de repleccedilatildeo suficiecircncia dada pela proacutepria natureza Epicuro recolhe no modo como o sophoacutes interage com a natureza a medida da satisfaccedilatildeo a mesma que nortearaacute a accedilatildeo saacutebia Por isso a accedilatildeo deve corresponder aos desejos naturais e necessaacuterios jaacute que agindo de acordo com a natureza onde o transito eacute imediato torna-se possiacutevel ao sophoacutes evitar desafetos que quase sempre forccedilam a sua rea-ccedilatildeo ou o seu desequiliacutebrio Toda a accedilatildeo contraacuteria agrave natureza eacute difiacutecil e acaba sendo tambeacutem vatilde vazia para quem procura realizaacute-la porque eacute fruto de desejos de diversos matizes que entretanto satildeo oriundos das opiniotildees vazias (kenaigrave doxaacutei) disseminadas entre os insensatos A filosofia eacute para Epicuro o ldquoantiacutedotordquo para essas opiniotildees e por isso mesmo a efetiva-ccedilatildeo da autaacuterkeia
Agir de acordo com a natureza (katagrave phyacutesin) define a relaccedilatildeo entre a physiologiacutea e a eacutetica na medida em que explicita o sentido do proceder filosoacutefico em busca da compreensatildeo necessaacuteria agrave fundamentaccedilatildeo da accedilatildeo saacutebia Este modo de agir revela tambeacutem o sentido real do prazer enquanto repleccedilatildeo
Ethicaacute
110 111
isto eacute da accedilatildeo que engendra serenidade (galenismoacutes) Neste sentido o sophoacutes age de modo prazeiroso e o conjunto das suas accedilotildees perfaz a realizaccedilatildeo plena da vida Trata-se de um estado de contentamento no qual ele se sente inteiramente integrado ao meio natural onde as adversidades existen-tes podem ser em alguns casos previstas e na medida do possiacutevel evitadas A accedilatildeo fundada na natureza eacute fruto da deliberaccedilatildeo do sophoacutes que busca a todo instante realizar os bens que realmente importam agrave sabedoria que se traduz pela manutenccedilatildeo de uma vida equilibrada Esta accedilatildeo eacute modulada pela physiologiacutea que eacute por assim dizer o seu fundamento ontoloacutegico Epicuro opotildee aos desejos difiacuteceis de serem re-alizados e que tecircm origem nas opiniotildees vazias a noccedilatildeo de simplicidade que quer dizer rigorosamente neste contexto a medida dada pela natureza proacutepria de cada um cabendo ao sophoacutes descobrir a sua mediante a economia dos desejos que poderia tambeacutem ser chamada de ldquodieteacuteticardquo dos desejos Esta eacute uma alternativa proposta por Epicuro para responder aos desmesurados valores vigentes em sua eacutepoca
O estudo da natureza prepara natildeo os jactanciosos nem os fazedores de expressotildees nem os exibidores de educaccedilatildeo mui-to valorizada junto agrave maioria mas aacutegeis e autaacuterquicos e que pensam grande sobre os seus proacuteprios bens e natildeo sobre os bens das coisas (SV 45)
Podemos perceber com relativa clareza que a noccedilatildeo de vir-tude (excelecircncia) tal como eacute aqui apresentada natildeo estaacute atre-lada agrave vida repleta de falsos valores e inserida nos domiacutenios puacuteblicos mas ao agir privado particular O saacutebio eacute aquele que age sempre a partir do seu poder de escolha e rejeiccedilatildeo e jamais de sujeiccedilatildeo Sua referecircncia uacutenica eacute a compreensatildeo dos limites e das possibilidades da natureza-realidade na
Terceira parte
112 113
qual vive e exercita-se na realizaccedilatildeo de uma vida apraziacutevel em cada ato ou deliberaccedilatildeo que dele dependa Fundando o eacutethos na phyacutesis ou fazendo que ele derive da physiologiacutea o sophoacutes legitima a autaacuterkeia como condiccedilatildeo para pensar a eacutetica fora do domiacutenio puacuteblico Com isso ele intenta resgatar antigos princiacutepios presentes na natureza para desapropriaacute-los das convenccedilotildees estabelecidas e entatildeovivenclaacute-losno espaccedilo no tempo que satildeo seus e daqueles que lhes satildeo afins (phiacuteloi)
O saacutebio depois de julgar as coisas em funccedilatildeo da necessida-de sabe mais dar em partilha do que tomar em partilha Tatildeo grande tesouro da autarquia ele encontrou(SV 44)
Conseguir o bastante para si mesmo natildeo exclui a possibilida-de de compatilhar o contentamento que expressa a autaacuterkeia-com aqueles que vivem uma muacutetua conveniecircncia (opheacuteleia) Na verdade o homem saacutebio natildeo projeta valores imaginaacuterios sobre as coisas da natureza antes pelo contraacuterio ele asseme-lha o seu modo de agir ao modo como as coisas interagem na natureza A medida mais conveniente eacute aquela que o faz se sentir bem no meio natural e natildeo o excesso de poder sobre as coisas naturais Assim o sophoacutesnatildeo espera receber o que precisa de outro homem porque ele mesmo pode facilmente ter o suficiente para natildeo sentir sede fome ou frio no proacuteprio meio onde vive por conveniecircncia e contentamento O ideal de sabedoria em questatildeo natildeo prevecirc qualquer tipo de sujeiccedilatildeo obrigaccedilatildeo diacutevida ou favor uma vez que entre saacutebios natildeo prevalecem as mesmas convenccedilotildees originadas nas sociedades poliacuteticas O saacutebio se afastaraacute das situaccedilotildees lugares e pessoas que possam constrangecirc-lo a reagir agraves ldquoconvenccedilotildeesrdquo de uma maioria insensata
A fonte mais pura de proteccedilatildeo diante dos homens assegu-rada ateacute certo ponto por uma determinada forccedila de rejeiccedilatildeo
Ethicaacute
112 113
eacute de fato a imunidade resultante de urna vida tranquila e distante da multidatildeo (DL X 143)
Natildeo haacute um objeto poliacutetico expliacutecito nas proposiccedilotildees eacuteticas de Epicuro Existe de uma certa maneira a transposiccedilatildeo do poliacutetico para fundar sobre outras bases uma eacutetica Recusar o conviacutevio com a multidatildeo pode significar compreender a multidatildeo como produto da necessidade e vivendo segundo a necessidade O sophoacutesbuscaraacute entatildeo construir um cami-nho alternativo para seguir Este caminho natildeo constituiraacute um conflito com o mundo poliacutetico mas pelo contraacuterio se formaraacute independentemente dele Epicuro opta pela sabe-doria e agir a partir de si mesmo e em prol de si mesmo Este comportamento eacute plenamente justificaacutevel se levarmos em conta a miserabilidade humana alimentada pelas falsas crenccedilas e pelos falsos valores de sua eacutepoca ldquoA necessidade eacute um mal mas natildeo haacute nenhuma necessidade de viver com a necessidaderdquo (SV 9)
Recolher-se agrave filosofia ao inveacutes de filosofar para a Heacutelade eis o que proclamava Epicuro A frugalidade eacutetica se opotildee ao desperdiacutecio poliacutetico pois natildeo haacute como obter a ataraxiacuteaem meio agrave multidatildeo insensata Aleacutem disso jamais o saacutebio po-deria modificar todo o quadro que a ele se apresentava um mundo corrompido pela miseacuteria e esquecido do bem-viver ldquoO saacutebio natildeo deve pois ocupar-se da poliacuteticardquo ldquoVive obscu-rordquo (3278 Us) Somente na solidatildeo dos seus pensamentos o saacutebio poderia finalmente encontrar o real sentido da liber-dade uma vez que ao menos aos olhos de Epicuro a liber-dade natildeo se coaduna com os valores soacutecio-poliacuteticos em voga A liberdade proveacutem das reflexotildees que satildeo a mateacuteria da filoso-fia Natildeo a encontraremos no meio poliacutetico na dependecircncia de acordos ou convenccedilotildees nutridas de opiniotildees conflitantes
Terceira parte
114 115
e sim nas accedilotildees que tecircm em si o seu proacuteprio princiacutepio pois nascem da solidatildeo reflexiva A vida autaacuterquica talvez tenha sido o posicionamento filosoacutefico por excelecircncia de Epicuro ao ponto de Hermarco seu disciacutepulo e sucessor agrave frente do Jardim tecirc-lo definido assim ldquoA vida de Epicuro comparada a de outros passaria por um mito por sua doccedilura e sua au-tarquiardquo (SV 36 101 Us)
A vida autaacuterquica estaacute totalmente desincompatibilizada da vida puacuteblica dos valores que a sustentam e de vaacuterias ma-neiras a determinam O saacutebio realiza um movimento de descentramento em relaccedilatildeo agrave vida puacuteblica e outro movimen-to de situar-se sempre em direccedilatildeo agraves relaccedilotildees equilibradas privadas lsquomolecularesrdquo Satildeo notoacuterias as diferenccedilas entre Epicuro e as ldquoinstituiccedilotildees poliacuteticasrdquo das quais ele se recusa a participar por compreender a quase impossibilidade de coexistirem harmonicamente sob um mesmo ideal homens de caraacuteter tatildeo distintos O sophoacutes assentiraacute nas discussotildees poliacuteticas apenas agrave medida que estas for em convenientes ou imprescindiacuteveis jaacute que acredita na possibilidade de cultivar a liberdade de conviver com aqueles que tecircm urna natureza realmente semelhante e que comungam as mesmas ideias Natildeo ausentar-se da trajetoacuteria que projeta a vida saacutebia pode significar o exerciacutecio de um modo de ser de um eacutethos filo-soacutefico ao mesmo tempo que a realizaccedilatildeo de um estado de ser physioloacutegico equilibrado Para tanto cumpre escolher o local e a situaccedilatildeo de vida onde se torne possiacutevel o pleno exer-ciacutecio da vida filosoacutefica o que vale dizer ter a autaacuterkeia ou o princiacutepio das suas accedilotildees em si mesmo Soacute daiacute pode emergir o sentido epicuacutereo da liberdade ldquoO mais importante fruto da autaacuterkeia eacute a liberdade (eleutheriacutea)rdquo (SV 77)
Ethicaacute
114 115
αὐτάρκης autaacuterkes(ad)- SV 45
Autaacuterquico aquele que tem o princiacutepio de sua accedilatildeo em si mesmo
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (sf)76 123
Incorruptibilidade imortalidade Palavra utilizada a partir de Epicuro
ἀφοβία aphobiacutea (sf)- 122
Destemor
ἀχάριστος achaacuteristos (ad)- SV 69 SV 75
Ingrato
βίος biacuteos (sm)- 86
Vida
βούλεσις buacutelesis (sf)- 7781
Vontade deliberaccedilatildeo
γαληνισμός galenismoacutes (sm)- 83
Serenidade Palavra rara filosoacutefica Usada por Epicuro num sentido metafoacutericoA imagem utilizada por Epicuro para definir o equiliacutebrio da alma expresso na ataraxiacutea (tranqui-lidade imperturbabilidade) eacute o que o grego denominava galenismoacutes que significa a superfiacutecie do mar quando estaacute tranquilo assim podemos traduzi-la por serenidade
Terceira parte
116 117
δαψίλεια dapsiacuteleia (sf)- SV 67
Abundacircncia
δεινός deinoacutes (ad)- 81 125 XXVIII
Temiacutevel terriacutevel O uso deste termo se daacute sempre no sentido de evitar os temores infundados Os temores satildeo projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento mas podem ser evitados com o exerciacutecio da physiologiacutea
διάθεσις diaacutethesis (sf)- 117 (222 Us)
Disposiccedilatildeo
δίαιτα diacuteaite (sf)- 130131 SV 69
Dieta regime modo de viver
δίκαιος diacutekaios(ad)- 132 XVII XXXI XXXII XXXVI XXXVII XXXVIII SV 43
Justo Para Epicuro natildeo haacute justiccedila independente das conven-ccedilotildees humanas isto eacute natildeo haacute uma justiccedila preacute-legislativa que existiria em si mesmo De acordo com Epicuro ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacute-procas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto (syntheacuteke) no sentido de natildeo prejudicar nem ser prejudicadordquo (MP XXXIII) Sendo assim o que eacute considerado justo num tempo x e num lugar y eacute diferente do que eacute considerado justo num tempo xrsquo e num lugar yrsquo Nas palavras de Epicuro ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) A justiccedila eacute portanto ldquouma invenccedilatildeo humanardquo (OrsquoKEEFE 2010 p 139) e como tal eacute do domiacute-
Ethicaacute
116 117
nio dos homens daquilo que cabe aos homens realizar ou seja eacute do acircmbito do parrsquo hemacircs (o que nos cabe) Em termos da physiologiacutea poderiacuteamos dizer que a justiccedila eacute um acidente (symptoacutema) da agregaccedilatildeo de indiviacuteduos Assim a justiccedila natildeo tem uma realidade independente dos pactos particulares realizados em tempo e espaccedilo determinados Por isso que Epicuro prefere utilizar na grande maioria de seus textos o termo diacutekaios (justo) e natildeo dikaiosyacutene (justiccedila) pois o primeiro remete sempre a um evento singular enquanto o uacuteltimo sugere ldquouma noccedilatildeo abstrata que os filoacutesofos essencia-listas nomeadamente os platocircnicos consideram uma ideia em sirdquo (MORAES 2010 p 55)21 O justo e o injusto satildeo determinados pelos pactos realizados aqui e alhures
No entanto uma das maacuteximas de Epicuro parece agrave primei-ra vista entrar em contradiccedilatildeo com esse caraacuteter convencio-nal da justiccedila ldquoO justo da natureza simboliza (tograve tecircs phyacuteseos diacutekaioacuten estigrave syacutembolon) a vantagem reciacuteproca de impedir os homens de prejudicarem os outros e os livra de serem pre-judicadosrdquo (MP XXXI) A expressatildeo ldquoo justo da naturezardquo parece contradizer a expressatildeo ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) Eacute preciso considerar aqui como diz Morel que essas reflexotildees de Epicuro estatildeo ldquono centro da problemaacutetica tornada claacutessica a partir da expansatildeo do movimento sofiacutestico no seacuteculo V da oposiccedilatildeo entre natureza (phyacutesis) e convenccedilatildeo (noacutemos)rdquo (2011 p 208) Tentar definir a justiccedila como natural ou convencional natildeo foi o caminho
21 De acordo com Bulhotildees ldquoEmbora a expressatildeo lsquoo justorsquo seja um substantivo refere-se ao adjetivo que qualifica por exemplo um acordo uma lei um indiviacuteduo ou um comportamento isto eacute um acordo pode ser dito justo uma lei justa um individuo e um comportamento justos Por outro lado a expressatildeo de gecircnero neutro tograve diacutekaion diferencia-se intencio-nalmente do feminino lsquoa justiccedilarsquo heacute dikaiosyacutene Esta indica uma realidade em sirdquo (Bulhotildees 2009 p 100)
Terceira parte
118 119
escolhido por Epicuro Para ele a justiccedila eacute convencional e natural ao mesmo tempo ldquovariaacutevel em suas manifestaccedilotildees e natural em seu princiacutepiordquo (Morel 2011 p 217) Na Maacutexima XXXVI estaacute escrito que ldquoem seu aspecto geral a justiccedila eacute a mesma para todos pois representa uma espeacutecie de vantagem reciacuteproca nas relaccedilotildees dos homens uns com os outros mas com referecircncia agraves peculiaridades locais e outras circusntacircn-cias quaisquer a mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo O aspecto geral da justiccedila (tograve koinograven) eacute natural e universal enquanto que o justo expresso nas peculiaridades locais (tograve iacutedion choacuteras) eacute convencional Epicuro diz portanto que a justiccedila pode ser identificada (e compreendida) em qualquer lugar como a conveniecircncia (syacutempheron) muacutetua estabelecida sob a forma de um pacto No entanto este mesmo pacto se apresenta de diversas maneiras dependendo das necessida-des que se apresentem na comunidade em que o pacto foi firmado
A justiccedila natildeo eacute a uacutenica noccedilatildeo considerada ao mesmo tempo natural e convencional na filosofia de Epicuro a linguagem humana tambeacutem pode ser qualificada assim Sobre as ori-gens da linguagem diz Epicuro
Por isso os nomes das coisas tambeacutem natildeo foram originaria-mente postos por convenccedilatildeo mas a natureza dos homens de conformidade com as vaacuterias raccedilas os criou () Mais tarde as raccedilas isoladas chegaram a um consenso e deram assim nomes peculiares a cada coisa a fim de que as comunicaccedilotildees entre elas fossem menos ambiacuteguas e as expressotildees fossem mais breves (DL 75-76)22
Assim como a linguagem finca suas raiacutezes na natureza e
22 ldquoQuanto aos vaacuterios sons da linguagem foi a natureza que obrigou a emiti-los e foi a utilidade que levou a dar nomes agraves coisasrdquo (DRN V 103)
Ethicaacute
118 119
depois a conveniecircncia entra em cena desenvolvendo esta ca-pacidade que a natureza legou ao homem da mesma forma pois acontece com a justiccedila porque temos uma preacute-noccedilatildeo desta que eacute passiacutevel de ser desenvolvida pelo uacutetil ou conve-niente (syacutempheron) A justiccedila tem um aspecto geral e outro especiacutefico O primeiro eacute natural e portanto universalmente compreendido de acordo com a preacute-noccedilatildeo que temos da justiccedila o uacuteltimo eacute pelo contraacuterio variaacutevel convencional determinado uacutetil e conveniente em cada comunidade em particular Assim a justiccedila eacute ao mesmo tempo natural e convencional da ordem da phyacutesis e tambeacutem da ordem do noacutemos23
Por proacutelepsin (preacute-noccedilatildeo) eles [os epicuristas]entendem uma espeacutecie de cogniccedilatildeo ou apreensatildeo imediata do real ou uma opiniatildeo correta ou um pensamento ou uma ideia universal iacutensita na mente ou seja a memorizaccedilatildeo de um objeto ex-terno que apareceu frequentemente como quando dizemos ldquoisto aqui eacute um homemrdquo De fato logo que se pronuncia a palavra ldquohomemrdquo sua figura se apresenta imediatamente ao nosso pensamento por via de antecipaccedilatildeo guiada prelimi-narmente pelo sentido (DL X 33)
As preacute-noccedilotildees satildeo a mateacuteria do pensamento As preacute-noccedilotildees satildeo as marcas deixadas nas almas em cada interaccedilatildeo sensiacutevel Eacute por via dessas marcas ou impressotildees que reconhecemos
23 Vemos nessas passagens que a linguagem teve sua origem na natu-reza mas seu desenvolvimento dependeu dos acordos realizados entre os homens Do mesmo modo a justiccedila tem seu ldquoladordquo natural na utilidade na manutenccedilatildeo da vida e do prazer Pois sem pactos para utilidade muacutetua os homens viveriam agrave mercecirc dos piores males Jaacute o caraacuteter convencional da justiccedila reside nas muacuteltiplas formas de se preservar a vida e o prazer Esses satildeo aspectos das agregaccedilotildees humanas inicialmente o processo de agrupamento se deu naturalmente posteriormente as relaccedilotildees se tornaram complexas
Terceira parte
120 121
uma sensaccedilatildeo figura ou atitude uma vez experienciada Haacute um conjunto enorme de proleacutepseis nas almas e elas satildeo ar-ranjadas e rearranjadas pelos mecanismos do pensamento A justiccedila tambeacutem provoca uma preacute-noccedilatildeo pela qual reconhe-cemos e podemos realizar atos justos Na MP XXXVII Epi-curo nos fala de uma proacutelepsis (preacute-noccedilatildeo) da utilidade (syacutem-pheron) inerente agrave justiccedila Sabemos o que eacute justo por termos a preacute-noccedilatildeo da utilidade ou conveniecircncia ou seja porque temos uma representaccedilatildeo imageacutetica do que eacute conveniente ou em outras palavras do que nos impede de prejudicar ou de ser prejudicado pelos outros Mas isso natildeo garante que as leis uma vez promulgadas seratildeo justas em todo o tempo e qualquer lugar pois o que define o justo eacute a conveniecircncia que eacute passiacutevel de variaccedilatildeo
Das disposiccedilotildees codificadas no direito vigente aquelas con-firmadas como uacuteteis nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comu-nitaacuteria apresentam o requisito do justo sejam ou natildeo sejam as mesmas para todos Mas se for promulgada uma lei que natildeo se mostre uacutetil nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comunitaacute-ria essa lei natildeo teraacute mais a natureza do justo E tambeacutem se aquilo que eacute uacutetil de conformidade com o direito vigente vier a cessar embora tenha correspondido durante um certo pe-riacuteodo de tempo agrave preacute-noccedilatildeo24 do justo apesar disso durante aquele periacuteodo foi justo desde que natildeo nos preocupemos com palavras vatildes e tenhamos em vista simplesmente os fatos (MP XXXVII)
Nem toda lei acordada deve ser considerada justa mera-mente por ter resultado de um pacto ou acordo25 pois a
24 G Kury traduz o termo proacutelepsis dessa passagem por ldquonoccedilatildeo pri-mordialrdquo Preferimos traduzir por preacutenoccedilatildeo por manter a unidade desse termo que foi provavelmente cunhado pelo proacuteprio Epicuro
25 ldquoAs accedilotildees natildeo satildeo justas ou injustas meramente porque algueacutem diz
Ethicaacute
120 121
justiccedila da lei eacute determinada pela confirmaccedilatildeo (epimarturouacute-menon) de sua utilidade para a comunidade Assim como vemos uma torre no horizonte e natildeo temos certeza se ela eacute arredondada ou retangular e esperamos pela confirmaccedilatildeo sensorial26 uma lei precisa ser confirmada por sua utilida-de ou conveniecircncia para a comunidade Se uma lei natildeo for uacutetil entatildeo natildeo eacute justa Uma lei portanto confirmada como justa pode entretanto natildeo ser justa em outro contexto A justiccedila se fundamenta na utilidade (syacutempheron) se uma lei deixa de ser uacutetil ela deixa de ser justa e se por exemplo numa comunidade eacute proibido pescar garoupas natildeo significa que em outra comunidade onde esse peixe eacute abundante se deva proibir tambeacutem O justo estaacute delimitado a um tempo e espaccedilo e condicionado pelo que se faz uacutetil nesse mesmo tempo e espaccedilo Natildeo haacute absolutamente no epicurismo a ideia de justiccedila em si Mas o justo depende de um pacto conveniente
O que impede portanto um membro da comunidade de natildeo cometer injusticcedilas eacute a puniccedilatildeo e o castigo Possivelmente cometeria ldquoinjusticcedilasrdquo se considerasse que natildeo seria punido ao cabo de sua accedilatildeo Por outro lado um membro saacutebio natildeo cogita a possibilidade de transgredir o pacto e permanecer impune pois seria punido imediatamente natildeo pelas penas cabiacuteveis acordadas no pacto mas pela perda de sua ataraxiacutea (imperturbabilidade)
δικαιοσύνη dikaiosyacutene (sf)- XXXIII
Justiccedila
que elas satildeordquo (BROWN 2009 p 192) 26 Cf DL X 34
Terceira parte
122 123
δυσπόριστος dyspoacuteristos (ad)- 130 XXVI
Difiacutecil de obter Palavra usada a partir de Epicuro
ἐγγαληνίζω engaleniacutedzo (v)- 37
Viver com tranquilidade Epicuro eacute o uacutenico a utilizar este termo
εἱμαρμένη heimarmeacutene (sf)- 134
Aquela que recebeu por destino
ἐκλόγισις ekloacutegisis (sf)- XVIII
Caacutelculo Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐκχώρησις ekchoacuteresis (sf)- XIV
Distanciamento apartamento
ἐλευθερία eleutheriacutea (sf)- SV 77
Liberdade A noccedilatildeo grega de liberdade natildeo eacute uniacutevoca Desde suas origens o termo eleutheriacutea passou por muitos desdo-bramentos Epicuro apresenta uma noccedilatildeo de liberdade que participa do processo de interiorizaccedilatildeo do homem Devemos a Soacutecrates o raciociacutenio que equipara a liberdade da cidade agrave liberdade interna ao homem expressa sob a noccedilatildeo de auto-domiacutenio e que veio a influenciar toda a filosofia posterior A ideia de liberdade interior eacute comum agraves diferentes escolas de filosofia do periacuteodo heleniacutestico poreacutem o epicurismo a apro-funda fazendo com que o sentido de eleutheriacutea se submeta ao de autaacuterkeia(Vide supra αὐτάρκεια nesta mesma parte)
Ethicaacute
122 123
Segundo Benveniste27 o termo latino liber e o grego eleuacutethe-ros28satildeo derivados da mesma raiz indo-europeia leudh- que significa ldquocrescer se desenvolverrdquo Essa imagem do ldquocresci-mentordquo e de sua completude na formaccedilatildeo de um homem levou agrave compreensatildeo socializada de leudh- como fonte ldquodo conjunto daqueles que satildeo nascidos e desenvolvidos conjun-tamenterdquo (Benveniste 1969 p 323) A ideia de liberdade pois se relaciona com o pertencimento a uma linhagem a um povo ldquoA liberdade do homem grego consiste em se sentir subordinado como membro agrave totalidade da polis e das suas leisrdquo (Jaeger 1995 p 228) Toda a liberdade que os gregos poderiam gozar advinha de seu pertencimento agrave polis natildeo apenas por habitarem a cidade mas por serem cidadatildeos Es-panto agrave parte o sentido original de liberdade natildeo tem a ver com emancipaccedilatildeo mas pelo contraacuterio com pertencimento Nas palavras de Benveniste
O primeiro sentido natildeo eacute como seria tentador imaginar ldquoli-berto de alguma coisardquo e sim eacute este de um pertencimento a uma fonte eacutetnica designada por uma metaacutefora de crescimen-to vegetal Este pertencimento confere um privileacutegio que o estrangeiro e escravo jamais conhecem (Benveniste 1969 p 324)
O exemplo das Guerras Peacutersicas no iniacutecio do seacuteculo V aC representa esta diferenccedila radical entre os gregos e os estrangeiros persas que natildeo gozavam dos privileacutegios da liberdade (eleutheriacutea) Os invasores persas tinham mestres diante dos quais se curvavam e aos quais obedeciam enquanto que os cidadatildeos gregos os eleuacutetheroi ldquonatildeo tinham um chefe uacutenico nem para cada cidade um homem que as
27 Cf 1969 p 322-323 28 Ambos os termos tecircm o significado de ldquolivrerdquo
Terceira parte
124 125
comanderdquo (Romilly 1989 p40) Essa diferenccedila de postura eacute representada na trageacutedia de Eacutesquilo Persas a partir da perspectiva dos baacuterbaros
Rainha Quem eacute o seu senhor Quem comanda o seu exeacuterci-to Corifeu Eles (os gregos) natildeo satildeo escravos (doucircloi) de nin-gueacutem nem satildeo suacuteditos (Eacutesquilo Persas linhas 241 242)29
Essa eacute a diferenccedila poliacutetica fundamental entre os gregos e os baacuterbaros30 Enquanto estes tecircm mestres os gregos devem obediecircncia apenas agrave lei sem a qual natildeo haveria polis nem liberdade Assim a noccedilatildeo de eleutheriacutea enquanto oposta agrave servidatildeo se define a partir da diferenccedila fundamental entre gregos e baacuterbaros Esse sentido que podemos chamar de liberdade poliacutetica depende do regime e se opotildee agrave opressatildeo31
Entretanto no fim do seacuteculo V aC surge um novo aspec-to da eleutheriacutea a liberdade democraacutetica A liberdade e a igualdade (isonomiacutea) se confundem Estaacute aberta a possibili-dade de todos os cidadatildeos intervirem na poliacutetica da cidade Todos tecircm direito de falar (isegoriacutea) e a justiccedila eacute a mesma para todos Poreacutem a influecircncia funesta dos demagogos e as arbitrariedades populares acabaram implodindo a liberdade democraacutetica32 A partir daiacute desponta outra forma de liberda-de a liberdade interior
Eacute atraveacutes das palavras de Soacutecrates que Xenofonte transmite a nova ideia da liberdade interior33
29 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo de David Grene ampRichmond Lattimore The Complete Greek Tragedies of AeschylusThe University of Chicago Press 1959 p 229
30 Cf Romilly 1989 p 4731 Cf Novaes (Org) 2002 p 1632 Cf Ibid p 11733 Eacute importante ressaltar que W Jaeger jaacute identificava a liberdade
interior nos textos de Soacutelon (Cf 1995 p 247)
Ethicaacute
124 125
- Ora diz-me laacute Eutidemo acreditas que haja um bem mais belo e bom para o homem e para a cidade do que a liberdade (eleutheriacutean)
- Natildeo E esse eacute de fato o maior dos bens
- E acreditas que eacute livre (eleuacutetheron) o homem que eacute domi-nado pelos prazeres do corpo e que por causa deles natildeo consegue agir bem
-De modo nenhum (Memoraacuteveis IV 5 2-3)34
Soacutecrates coloca lado a lado a liberdade da cidade e a liberda-de interior Esta se evidencia pelo autodomiacutenio ou domiacutenio das paixotildees Sem o autodomiacutenio (enkraacuteteia) o homem natildeo pode ser considerado realmente livre mesmo que viva sob um regime de liberdade poliacutetica
Essas noccedilotildees de autodomiacutenio e liberdade interior foram fundamentais para o desenvolvimento das filosofias heleniacutes-ticas uma vez que a vida poliacutetica se esfacelara sob o domiacutenio do impeacuterio macedocircnico ldquoA aacutegora apresenta-se agora fechada nos quatro lados como que para proclamar atraveacutes desta simples evocaccedilatildeo arquitetocircnica que a livre movimentaccedilatildeo e reuniatildeo do povo eram coisas do passadordquo (FINLEY 2002 p135) E quando Dioacutegenes o ciacutenico proclamou seu cosmo-politismo condenou o conceito de cidadania agrave falta de sen-tido35 O que interessa a partir de agora eacute o indiviacuteduo e sua busca interior de liberdade sabedoria e virtudes para uma vida bela A sociedade eacute apenas um acidente no percurso de melhoramento do indiviacuteduo E eacute como herdeira das noccedilotildees socraacuteticas de liberdade interior e autodomiacutenio que aparece
34 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Elias Pinheiro Coimbra CECH 2009
35 Cf Finley 2002 p116
Terceira parte
126 127
a noccedilatildeo epicurista de eleutheriacutea36 fruto mais precioso da autarquia e resultado do exerciacutecio da sabedoria
As ocorrecircncias dos termos eleutheriacutea e eleuacutetheros aparecem ambos nas Sentenccedilas Vaticanas
O fruto maior do bastar-se a si mesmo eacute a liberdade(SV 77)
Uma vida livre natildeo pode adquirir bens numerosos pelo fato de a coisa natildeo ser faacutecil fora da sujeiccedilatildeo agraves multidotildees e aos poderosos mas ela adquire tudo por uma abundacircncia contiacute-nua Se por acaso em algum lugar ela encontra muitos bens tambeacutem essas coisas satildeo faacuteceis de distribuir em favor da boa disposiccedilatildeo do proacuteximo (SV 67)
A liberdade de que se trata aqui tem a ver com aquela pro-blematizada por Soacutecrates no citado texto de Xenofonte ou seja aqui tambeacutem se trata de um tipo de liberdade interior No entanto as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia socraacuteticas ainda estatildeo segundo Jaeger ligadas agrave poacutelis ldquoSoacutecrates vive ainda dentro da poacutelisrdquo (JAEGER 1995 p552-553) e suas noccedilotildees de autaacuterkeia e eleutheriacutea natildeo tecircm ainda os traccedilos individualistas que os ciacutenicos primeiro depois estoacuteicos e epicuristas vatildeo lhes dar
A autaacuterkeia eacute condiccedilatildeo para a eleutheriacutea Se pensarmos em qualquer sentido para esta liberdade interior que prescinda da autaacuterkeia estaremos cometendo um erro de interpreta-ccedilatildeo Portanto natildeo podemos subsumir sob a noccedilatildeo de eleu-theriacutea o repertoacuterio de assuntos que se relacionam com o tema da liberdade no Epicurismo o pareacutenklisis ou clinamen(vide supra παρέγκλισις na primeira parte) a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs a criacutetica aos fiacutesicos da necessidade a criacutetica agraves supersticcedilotildees
36 ldquoAleacutem de fundar sua filosofia escavando o antes de Soacutecrates a dou-trina epicurista edificou sua arquitetocircnica a partir de Soacutecratesrdquo (Spinelli 2009 p51)
Ethicaacute
126 127
fatalistas e agrave ideia de destino etc pois todos esses assuntos excedem o sentido de eleutheriacutea Por isso falamos em um sentido de liberdade geral que passa por todos os objetos de estudo do epicurismo e um sentido de liberdade especiacutefica que por sua vez se identifica com a noccedilatildeo de eleutheriacutea Esta eacute a noccedilatildeo de liberdade em seu sentido positivo natildeo mais apenas o reconhecimento de um espaccedilo para a liberdade mas uma tomada de posiccedilatildeo diante da vida
Propomos que o sentido de eleutheriacutea estaacute para aquele de aacutetomo assim como o sentido de parrsquo hemacircs estaacute para aquele de vazio O aacutetomo natildeo existiria sem o vazio mas a existecircncia do vazio por si soacute natildeo garante a existecircncia do aacutetomo Do mesmo modo o espaccedilo para construccedilatildeo dos homens ou o acircmbito das accedilotildees livres natildeo garante a existecircncia efetiva des-sas mesmas accedilotildees A eacutetica de Epicuro tem por isso a esco-lha e a recusa como tema principal Agir com eleutheriacutea eacute construir no espaccedilo deixado vago pela natureza eacute escolher e recusar sem indiferenccedila eacute sentir prazer e sentir a dor quando convier
Epicuro segundo Secircneca diz que ldquoa liberdade consiste pre-cisamente em servir a filosofiardquo e ainda ldquoaquele que se lhe submete e a ela se entrega jaacute natildeo tem que esperar eacute ime-diatamente emancipadordquo (Epistolae ad Lucilium VIII 7 Us 199) O sentido do termo latino libertas corresponde ao de eleutheriacutea empregado por Epicuro nas Sentenccedilas Vaticanas A eleutheriacutea soacute eacute alcanccedilada por quem uma vez dedicado ao serviccedilo da filosofia e agrave compreensatildeo da natureza potildee-se ao exerciacutecio da autaacuterkeia A vida livre natildeo eacute uma vida de oacutecio e sim de exerciacutecio filosoacutefico de praacutette kaigrave meleacuteta (praacutetica e reflexatildeo) O homem autaacuterquico e livre natildeo depende de ri-quezas fama ou honrarias para ser feliz pois entendeu que o
Terceira parte
128 129
bem primordial o prazer lhe eacute congecircnito e que basta calcu-lar por si mesmo os limites dos prazeres e das dores para que seus objetivos mais importantes que satildeo ao mesmo tempo os mais simples e naturais sejam alcanccedilados A filosofia epi-curista eacute libertadora
ἐλεύθερος eleuacutetheros (ad)- SV 67
Livre
ἐλπίς elpiacutes (sf)- 84 134
Esperanccedila expectativa
ἔνδεια eacutendeia (sf)- 53 130 XVIII XXI
Falta necessidade
ἔνδοξος eacutendoxos (ad)- VII
Ceacutelebre famoso renomado
ἐνοχλέω enochleacuteo (v)- 125 XI
Desassossegar
ἐξαγωγή exagogeacute (sf)- XX SV 38
Abandono afastamento
ἐπιθυμία epithymiacutea(sf)- 127 X XI XXVI XXIX XXX SV 21 SV 35 SV 71 SV 80
Desejo apetite Os desejos satildeo fenocircmenos do corpo Neste
Ethicaacute
128 129
sentido Epicuro os classifica em trecircs categorias que definem o que importa agrave aquisiccedilatildeo do bem-estar e agrave manutenccedilatildeo de um corpo bem disposto (eusthaacutetes) e o que pode ser nocivo ou causa o seu desequiliacutebrio 1) desejos naturais e neces-saacuterios 2) desejos naturais e desnecessaacuterios 3) desejos nem naturais e nem necessaacuterios
ἐργαστικός ergastikoacutes (ad)- SV 45
Trabalhador laborioso
ἔργον eacutergon (sn)- 78 XXXVIII
Funccedilatildeo praacutetica tarefa obra
ἐτεροφρονεῖν heterophroneicircn (v inf)- SV 17
Estar em demecircncia Verbo de uso exclusivo de Epicuro
εὐδαιμονία eudaimoniacutea (sf)- 116122 127 SV 33
Felicidade
εὐδιάχυτος eudiaacutekhytos (ad)- XXVI
Facilmente dissipaacutevel
εὐελπιστία euelpistiacutea (sf)- SV 39
Boa expectativa esperanccedila
εὐκαταφρόνητος eukataphroacutenetos (ad)- SV 4
Facilmente despreziacutevel desdenhaacutevel
Terceira parte
130 131
εὐκταῖος euktaicircos (ad)- SV 35
Desejaacutevel
εὐλογίστως eulogiacutestos (adv)- 135
De modo bem pensado
εὔλογος eacuteulogos (ad)- SV 38
Razoaacutevel
εὔνοια eacuteunoia (sf)- SV 67
Benevolecircncia favor
εὐπορία euporiacutea (sf)- XIV
Riqueza abundacircncia prosperidade
εὐπόριστος eupoacuteristos (ad)- 130133 XV XXI
Faacutecil de conseguir
εὐστάθεια eustaacutetheia (sf) 68 Us
Boa disposiccedilatildeo O termo grego eustaacutetheia siginifica literalmen-te boa disposiccedilatildeo e foi definido por J Brun por ldquoequiliacutebrio das diversas partes do corpo vivordquo37 Este termo natildeo foi encontrado dentre as proposiccedilotildees das Cartas nem tampouco nas Maacuteximas Encontramo-lo citado por H Usener no fragmento de nuacutemero 68 da sua obra Epicurea Nela o autor revela sua fonte trata-se de Plutarco38 que atribui a Epicuro a seguinte proposiccedilatildeo
37 BrunJ Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978 p 16838 Plutarco Contra Epic Beat 1089d
Ethicaacute
130 131
() O gozo mais alto e mais soacutelido resulta da condiccedilatildeo de equiliacutebrio (boa disposiccedilatildeo) da carne e a esperanccedila fundada de a conservar para quem saiba consideraacute-la proporciona (conteacutem) a mais alta e segura alegria () (Us 68 p 185)
G Arrighetti traduz o termo em questatildeo por benessere que facilmente pode ser traduzido por bem estar Contudo vi-mos na expressatildeo ldquoboa disposiccedilatildeordquo a melhor traduccedilatildeo para o termo eustatheiacutea tendo em vista o fato de que se tomado literalmente encontramos imediatamente a ideia de um es-tado equilibrado no sentido fiacutesico do posicionamento deste corpo em relaccedilatildeo ao meio em que se encontra Queremos com isso chamar a atenccedilatildeo para as constantes relaccedilotildees esta-belecidas entre o corpo que age e sofre e as coisas sobre as quais age e sofre afecccedilotildees A boa proporccedilatildeo a harmonia e a estabilidade fiacutesica do corpo satildeo definiccedilotildees anaacutelogas do termo equiliacutebrio Este termo entretanto eacute pensado pela Fiacutesica par-ticularmente pela Mecacircnica- como o estado de um corpo em repouso em que as forccedilas que o solicitam se contrabalanccedilam exatamente Podemos entatildeo pensar tais forccedilas como expres-sotildees da natureza que podem ou natildeo afetar o corpo e neste sentido eacute igualmente possiacutevel pensar que este equiliacutebrio natildeo eacute absoluto mas oscilatoacuterio uma vez que afetos e desafetos ocorrem casualmente na natureza ainda que a nossa con-duta disponha-se ao exerciacutecio da phroacutenesis e da autaacuterkeia Eacute preciso que se esclareccedila que na natureza o movimento de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos eacute constante e inevitaacutevel mas no que diz respeito agrave conduta do homem esta tambeacutem depende da sua vontade ou deliberaccedilatildeo
εὐσυμπλήρωτος eusympleacuterotos (ad)- 133
Plenamente atingido Palavra de uso exclusivo de Epicuro
Terceira parte
132 133
εὐφροσύνη euphrosyacutene (sf)- 2Us
Deleite
ἡδονή hedoneacute (sf)- 128 129 130 131 136 137 138 III VIII IX X XII XVIII XIX XX XXIX SV 37 2 Us 116 Us 181 Us
Prazer gozo O prazer eacute o que nos realiza e nos faz bem Escolhemos de preferecircncia aquilo que nos agrada ou o que eacute prazeiroso e fugimos (de) ou evitamos aquilo que nos agride ou nos deixa vulneraacuteveis agrave dor
Escolher o prazer como o bem eacute viver intensamente os sentidos mas o que eacute intenso natildeo precisa ser imoderado Epicuro naturaliza o prazer mas natildeo o neutraliza Acredita numa medida natural de realizaccedilatildeo do prazer como estado de equiliacutebrio ou bem-estar O prazer tem um fim em si mesmo isto eacute no ato prazeiroso a finalidade eacute imanente agrave accedilatildeo Natildeo deve ser passiacutevel de censura aquele que admitir e propagar que o que eacute agradaacutevel eacute bom e o que eacute desagradaacutevel eacute ruim A sabedoria estaacute em natildeo ter opiniotildees vatildes sobre o que eacute agradaacutevel pois nesse caso natildeo se sabe o prazer pois deixar-se mover pela opiniatildeo vatilde eacute agir ignorando a natureza do objeto da accedilatildeo O problema reside na ignoracircncia pois o prazer obtido a partir do discernimento eacute o maior dos bens ou o bem por excelecircncia As criacuteticas epicuacutereas aos cirenaicos estatildeo centradas na desmesura com que estes buscavam e idealizavam o prazer Mais uma vez a phroacutenesis(Vide infra φρόνησις) eacute moderadora dos apetites (desejos) e esclarece-dora das medidas de realizaccedilatildeo plena dos prazeres A phroacutene-sis se opotildee a hamartiacutea e a hyacutebris assim como o prazer se opotildee agraves opiniotildees falsas sobre o que eacute agradaacutevel Diz Epicuro
Ethicaacute
132 133
E assim como em seu alimento (o saacutebio) natildeo escolhe o maior quantitativamente mas o mais agradaacutevel assim tambeacutem do tempo (de viver) natildeo escolhe o maior fruto mas o mais prazeroso O prazer eacute o princiacutepio e o fim da vida feliz O prazer eacute o nosso bem primordial e congecircnito e partindo dele movemo-nos para qualquer escolha e qualquer rejeiccedilatildeo e a ele voltamos usando como criteacuterio de discriminaccedilatildeo de todos os bens as sensaccedilotildees de prazer e de dor (DL X 128-29)
O que fez Epicuro quando elegeu o prazer como o Bem por excelecircncia foi atribuir agrave sensaccedilatildeo o primado sobre a com-preensatildeo da realidade e mais ainda definir o prazer como medida plena de realizaccedilatildeo do homem no mundo poreacutem eacute preciso explicitar como se daacute esta compreensatildeo e a que medida o prazer responde positivamente
Em primeiro lugar o pensamento eacute um efeito das relaccedilotildees sensiacuteveis e das analogias que nos fazem perscrutar o que eacute aacutedelon (invisiacutevel) mas pode ser inteligiacutevel Epicuro nos fala de he phantastikegrave epiboleacute tecircs dianoiacuteas que satildeo projeccedilotildees (saltos) imaginativa(o)s do pensamento Elas se datildeo por analogia agraves operaccedilotildees com os dados sensiacuteveis mas nos remetem a pensar nos niacuteveis microfiacutesicos e macrofiacutesicos Haacute uma relaccedilatildeo direta entre sentir pensar e agir que estabelece a continuidade en-tre a physiologiacuteae a eacutetica nos textos aqui examinados Assim as sensaccedilotildees datildeo origem ao pensamento que por sua vez eacute o princiacutepio do agir isso faz pensar que as deliberaccedilotildees mo-vidas pelo pensamento objetivam a realizaccedilatildeo do bem-estar experimentado pelos sentidos Epicuro natildeo distingue bem--estar (eustaacutetheia) de estado de prazer duradouro (hedonegrave ka-tastematikeacute) A manutenccedilatildeo do equiliacutebrio interno e externo do homem estaacute diretamente relacionada agrave deliberaccedilatildeo e agrave
Terceira parte
134 135
consequente accedilatildeo realizada por cada um Tendo em vista o prazer Epicuro busca um modo de vida no qual os desejos e apetites que movem natural e necessariamente os indiviacuteduos tenham uma medida que realize a vida de modo satisfatoacuterio e equilibrado Ele considera desejaacutevel e exequiacutevel este estado sem perturbaccedilatildeo e sem sofrimento Este estado eacute buscado como modo de realizaccedilatildeo do prazer o que faz com que a vida filosoacutefica seja a via preferencial para a realizaccedilatildeo dos desejos naturais e necessaacuterios e para a obtenccedilatildeo de prazeres que natildeo tecircm como consequecircncia a dor Para tal parte do princiacutepio segundo o qual prazer e dor se excluem e mais que isso natildeo haacute estado intermediaacuterio entre eles ou estado neutro no qual natildeo se sente prazer nem dor
O prazer e o movimento que o realiza fez com que Epicuro estabelecesse uma diferenccedila em relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo cirenai-ca de hedoneacute Para eles nem a ausecircncia de dor a aponiacutea nem a imperturbabilidade da alma a ataraxia podem ser considerados estados de prazer O prazer eacute um estado que se opotildee agrave dor e difere da neutralidade Dioacutegenes Laeacutercio comenta ldquoNo que concerne agrave ausecircncia de dor pleiteada por Epicuro eles (os cirenaicos) declaram que isto natildeo eacute prazer assim como a ausecircncia de prazer natildeo pode ser considerada dorrdquo (DL II 89)
Outro ponto de discordacircncia de Epicuro em relaccedilatildeo agrave Aristi-po eacute a admissatildeo da diferenccedila entre os prazeres pela distinccedilatildeo que faz entre opiniotildees vatildes sobre o prazer e o pensamento em que se sabe discernir ponderar e moderar o prazer para que ele natildeo tenha como consequecircncia a dor esta tambeacutem ignorada quando se age a partir das kenaigrave doacutexai
Epicuro centraraacute a sua criacutetica na demonstraccedilatildeo de que o prazer eacute constitutivo isto eacute que se inicia como movimento
Ethicaacute
134 135
mas a sua finalidade eacute tornar-se estaacutevel Hedonegrave kinetikeacute e hedonegrave Katastematikeacute configuram um mesmo movimento de prazer que tende naturalmente a uma espeacutecie de sere-nidade de apaziguamento das voliccedilotildees Quando inicia o movimento de suplantar a dor o corpo produz o seu proacuteprio prazer que depois seraacute rememorado pela alma Eacute o prazer em movimento que depois de saciado o desejo torna-se se-reno alcanccedilando a eustaacutetheia o bem-estar ao mesmo tempo no corpo e na alma contudo a alma guardaraacute as sensaccedilotildees prazeirosas transformando-as em sentimentos (proleacutepseis) ou impressotildees sensiacuteveis A rememoraccedilatildeo dos prazeres vividos produz um estado de alegria de seguranccedila e de bem-estar Dizemos nestes momentos que estamos bem e que tudo eacute muito agradaacutevel Satildeo os prazeres da alma Aleacutem disso esses prazeres jaacute sentidos e agora rememorados invadem a imagi-naccedilatildeo e projetam os prazeres vindouros tornados possiacuteveis pela memoacuteria Eacute uma maneira afirmativa de viver esperar (projetar) gozar no futuro
ἡσυχία hesychiacutea (sf)- XIV
Quietude
θάνατος thaacutenatos (sm)- 124125 133 II X XI SV 31
Morte
ldquoa morte nada eacute para noacutes pois o que se decompotildee eacute insensiacute-vel e o que eacute insensiacutevel nada eacute para noacutesrdquo (Maacuteximas Princi-pais II)
θαρρεῖν tharrecircin(v inf)- VIXXVIII XXXIX XL 207 Us
Confianccedila seguranccedila
Terceira parte
136 137
θεός theoacutes (sm)- 123 124 133 134 135 I SV 65 355 Us
Divindade deus A crenccedila vulgar nos deuses eacute formada por ldquosuposiccedilotildees falsasrdquo (hypoleacutepseis pseudeicircs) (DL X 124) Epi-curo afirma que essas crenccedilas natildeo satildeo baseadas em proleacutepseis (impressotildees) mas apenas em hypoleacutepseis (suposiccedilotildees)Vide suprahypoacutelepsis - ὑπόληψις etproacutelepsis πρόληψις (na segunda parte) A diferenccedila acentuada entre proacutelepsis e hypoacutelepsis nesse contexto demarca que embora Epicuro admita a existecircncia dos deuses a crenccedila vulgar natildeo condiz com a vida corpoacuterea e feliz das divindades
As hypoleacutepseis da religiatildeo grega tecircm o poder de produzir como consequecircncia da opiniatildeo de que eacute possiacutevel interagir com as divindadesa suposiccedilatildeo de que ldquodos deuses deri-vam os maiores males e bensrdquo (DL X 124) O culto dos tempos de Epicuro de acordo com Salem (1994 p 181) se expressava de uma maneira quase mercantil Acreditava-se que oferendas e sacrifiacutecios podiam aplacar a ira e alcanccedilar o favor dos deuses bem como maacutes oferendas ou a negligecircncia delas podiam suscitar penas e castigos Epicuro natildeo preten-de persuadir as pessoas que os deuses natildeo existem antes quer demonstrar que suas crenccedilas satildeo contraditoacuterias com a noccedilatildeo de divindade que expressam ldquoSe um deus obedece agraves preces dos homens muito rapidamente todos os homens teriam perecido continuamente eles pedem muitas coisas prejudi-ciais uns aos outrosrdquo (Us 388) Deuses satildeo seres imortais e sumamente felizes e enquanto tais natildeo se envolvem com a vida humana Epicuro evidencia a contradiccedilatildeo entre a noccedilatildeo de divindade e a expectativa de ser beneficiado ou castigado por um deus
Esperar por favores divinos torna o homem indolente esperar por castigos o torna temeroso O temor perturba e impede a
Ethicaacute
136 137
felicidade dos homens A imagem de deuses castigadores in-troduz nos espiacuteritos o medo do futuro e da morte O homem cultua por sacrifiacutecios e oferendas esperando que deuses guiem sua vida mas esses seres em contrapartida satildeo indiferentes ldquoEacute estuacutepido pedir aos deuses o que se pode procurar por si mesmordquo (SV 65) diz Epicuro Supor que seres indiferentes governam e guiam a vida humana nada mais eacute que se deixar ao acaso resignando-se aos desiacutegnios de pretensas divindades Pior que ser escravo de senhores reais eacute ser escravo de senhores inexistentes Esses homens vivem ao sabor da sorte levados pela inconstacircncia do acaso negligenciando seu poder de es-colha e decisatildeo A estes Epicuro convoca a tomar as reacutedeas da vida nas matildeos incitando-os agrave autarquia e a exercer ativamente sua liberdade ldquoO infortuacutenio do saacutebio eacute melhor que a prospe-ridade do insensato pois acha melhor numa accedilatildeo humana o fracasso daquilo que eacute bem escolhido que o sucesso por obra do acaso daquilo que eacute mal escolhidordquo (DL X 135)
O primeiro componente do ldquoquaacutedruplo remeacutediordquo (tetra-phaacutermakos) diz respeito aos deuses ldquosua opiniatildeo [do saacutebio] em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosardquo (DL X 133) Uma opiniatildeo piedosa segundo Epicuro eacute a de quem rejeita os deuses acei-tos pela maioria Esta opiniatildeo segundo a noccedilatildeo impressa (noacuteesis hypegraacutefe) em noacutes pela natureza considera a divin-dade ldquoum ser vivo e felizrdquo (DL X 123) Sobretudo natildeo se deve atribuir agrave divindade qualquer atributo que contradiga sua imortalidade e felicidade
ldquoOs deuses realmente existem e o conhecimento de sua exis-tecircncia eacute manifestordquo (DL X 123) Essa afirmaccedilatildeo inviabiliza a caracterizaccedilatildeo de Epicuro como ateu Lactacircncio39 em seu
39 Lactacircncio viveu entre 240-320 dC e seu comentaacuterio sobre Epicuro foi catalogado por H Usener em Epicurea (1887)
Terceira parte
138 139
De Ira Dei (A Ira de Deus) certamente desejava acentuar ainda mais as diferenccedilas entre o epicurismo e o cristianismo quando atribuiu a Epicuro o famoso argumento
Ou bem diz Epicuro Deus quer suprimir o mal e natildeo pode ou ele pode e natildeo quer ou ele nem quer e nem pode ou ele quer e pode Se ele quer e natildeo pode entatildeo eacute impotente e isso natildeo convecircm agrave Deus se ele pode e natildeo quer ele eacute invejoso mas isso natildeo pode conferir vantagem a Deus se ele nem quer nem pode ele eacute de uma soacute vez invejoso e impotente sendo assim ele natildeo pode ser Deus se ele quer e pode so-mente o que convecircm agrave Deus entatildeo de onde vem o mal Ou porque Deus natildeo o suprime (Us 374)
No entanto o texto da Carta a Meneceu natildeo sugere que Epicuro se referisse a um deus singular nem tampouco a um deus de que se esperasse a expurgaccedilatildeo do mal do mundo Pelo contraacuterio Epicuro se refere a muacuteltiplas divindades que a despeito dos problemas humanos sossegadamente habitam os intermundos (metakoacutesmion) Desse modo que esperar que a prova da existecircncia de Deus seja derivada da intervenccedilatildeo do mesmo no mundo vai totalmente de encontro com os textos de Epicuro que nos restaram
Os deuses de Epicuro natildeo se preocupam com bens ou males A perfeita felicidade desses seres se compreende exatamente na medida em que natildeo se preocupam com os afazeres dos homens Satildeo livres autossuficientes felizes imortais e por isso satildeo modelo para o saacutebio epicurista ldquoSeraacutes como um deus entre os homensrdquo (DL X 135) diz Epicuro a seu dis-ciacutepulo Meneceu O epicurista natildeo espera dos deuses nada aleacutem de um exemplo perfeito pelo qual moldar sua vida Os deuses expressam ideais de liberdade e autarquia eles tecircm tudo o que desejam e realizam sua vontade como querem Se
Ethicaacute
138 139
aos homens natildeo cabe ter tudo que desejam podem no en-tanto administrar-se com vistas a desejar somente o que po-dem realizar independentemente das circunstacircncias Eacute com este fim que Epicuro adverte ldquoA pobreza medida segundo o fim da natureza eacute uma grande riqueza a riqueza sem limite eacute grande pobrezardquo (SV 25) Eacute este tambeacutem o grande bem da autaacuterkeia pois o saacutebio autaacuterquico natildeo depende de ban-quetes sofisticados nem precisa variar seus prazeres cons-tantemente tampouco considera que o fim da vida eacute a soma irrestrita de prazeres nem cultiva riquezas pois encontrou na autaacuterkeia um grande tesouro Ter deuses como modelo de autossuficiecircncia natildeo significa desejar espraiar nosso domiacutenio para aleacutem das fronteiras de nosso ser antes eacute ter o domiacutenio irrestrito daquilo que nos compete Natildeo eacute desejar ardente-mente a Lua e os astros inalcanccedilaacuteveis mas eacute querer apenas o limite da satisfaccedilatildeo da carne
θητεία theteiacutea (sf)- SV 67
Serviccedilo
θόρυβος thoacuterybos (sm)- 132
Tumulto
ἰατρεία iatreiacutea (sf)- S64
Cura cuidado
ἰατρική iatrikeacute (teacutechne) (sf)- 138 221 Us
Medicina
Eacute o impeacuterio exclusivo (monarchiacutee) de uma soacute forccedila no orga-
Terceira parte
140 141
nismo a causa das doenccedilas e o equiliacutebrio (isonomiacutee) das for-ccedilas a causa da sauacutede (Alcmeacuteon de Croacutetona frag 4 - Diels)
A possiacutevel compreensatildeo epicuacuterea acerca da medicina de sua eacutepoca pode ser ldquointuiacutedardquo em algumas raras passagens dos seus textos mas natildeo se encontram nelas elementos que venham a demonstrar suficientemente um saber meacutedico ine-rente aos discursos epicuacutereos nem tampouco temos notiacutecias de algum disciacutepulo de sua eacutepoca que tivesse sido meacutedico Entretanto pelo que vimos ateacute aqui a anaacutelise de saacuterx envolve um conjunto de reflexotildees em torno do cuidado com o corpo
Sabemos de diversas interseccedilotildees entre medicina e filosofia no pensamento antigo desde Alcmeacuteon de Croacutetona e Em-peacutedocles de Agrigento passando por Soacutecrates ateacute Platatildeo e Aristoacuteteles em cujos textos encontramos as mais numerosas referecircncias as analogias que tomam ora a medicina ora o meacutedico como um dos termos e do outro lado encontramos agraves vezes a poacutelis agraves vezes o poliacutetico agraves vezes o filoacutesofo Neste sentido podemos estabelecer analogias entre a medida do agir e a medida do cuidar ambas tendendo sempre a um equiliacutebrio seja como ldquojusta medidardquo seja como ldquomeio--termordquo
Quando afirmamos a pertinecircncia dessas analogias temos presente que tanto a filosofia quanto a medicina buscam ex-plicitar o cuidado de si tendo em vista que a accedilatildeo de cuidar eacute proacutepria do ser do homem ldquoA medicina eacute a arte de curar as enfermidades por seus contraacuterios A arte de curar e de seguir o caminho pelo qual cura espontaneamente a nature-zardquo (Hip Afor 2 p 1 8) Compreendemos aqui o sentido real de agir conforme a natureza ou seja de agirmos de um modo tal que os nossos atos coincidam com o modo proacuteprio da natureza se realizar Neste sentido podemos entender a
Ethicaacute
140 141
teacutechne como complemento da natureza
Epicuro concebe a filosofia como o exerciacutecio de uma sabedo-ria para a vida e pensa ser este o caminho para a realizaccedilatildeo da natureza do sophoacutes com vigor e potecircncia Ora o saber meacutedico parece tambeacutem buscar auxiliar o corpo a realizar--se plenamente de acordo com o modo de ser da proacutepria natureza A cura auxiliada pelo saber eacute para a medicina um modo de accedilatildeo do meacutedico de acordo com a natureza o que quer dizer que em uacuteltima anaacutelise eacute a natureza que cura pois eacute ela mesma que se restabelece e a partir de si mesma Vemos aqui que a medicina em consonacircncia com a filosofia compotildee um saber acerca da natureza que Epicuro chamou Physiologiacutea Mediante isto percebemos que tanto para a fi-losofia epicuacuterea quanto para a medicina antiga a phyacutesis eacute a questatildeo fundamental que enseja toda e qualquer busca pelo conhecimento sendo por isso ao mesmo tempo princiacutepio e finalidade do conhecimento meacutedico e do conhecimento filosoacutefico E eacute desde a compreensatildeo da phyacutesis que se pode estruturar a accedilatildeo do meacutedico ou filoacutesofo Esta accedilatildeo traduz o sentido de um agir ldquode acordo com a naturezardquo que significa ter a sua archeacute mdash que eacute princiacutepio e comando mdash na natureza ao mesmo tempo que o teacutelos mdash que eacute a finalidade da accedilatildeo do homem no mundo e especificamente finalidade do conhe-cer tambeacutem na natureza
ἱκανός hikanoacutes (ad)- 45 55 59 SV 65 SV 68
Suficiente capaz
ἰσονομία isonomiacutea (sf)- 352 Us
Igualdade perante a lei
Terceira parte
142 143
καθαριότης katharioacutetes (sf)- SV 63
Pureza simplicidade frugalidade
καιρός kairoacutes (sm)- 35 98 115 XXV
Circunstacircncia tempo ocasiatildeo
καταπυκνόω katapyknoacuteo (v)- IX
Tornar-se espesso ganhar espessura
καταστηματικός katastematikoacutes (ad)- 136 2 Us
Repousante estaacutevel Adjetivo aplicado a certos prazeres
καταστροφή katastropheacute (sf)- 126 XX XXXV
Fim (da vida) ruiacutena desaparecimento
κενοσοξία kenodoxiacutea (sf)- XXX
Opiniatildeo vazia
κοινωνία koinoniacutea (sf)- XXXVI XXXVII XXXVIII
Comunidade vida em comum
μακάριος makaacuterios (ad)- 78 79 80 81 84 123 134 I
Feliz bem aventurado
μακαριότης makarioacutetes (sf)- 76 77 97 123 XXVII
Bem aventuranccedila felicidade
Ethicaacute
142 143
μακαρισμός makarismoacutes (sm)- SV 52
Accedilatildeo de louvar ou de invejar a felicidade alheia
μακαριστός makaristoacutes (ad)- SV 17
Considerado feliz
μελέτη meleacutete (sf)- 126
Meditaccedilatildeo
νόμος noacutemos (sm)- XXXVII
Lei
οἰκειότης oikeioacutetes (sf)- XL
Familiaridade amizade
ὁμόφυλος homoacutephylos (ad)- XXXIX
Aliado da mesma tribo Vide supra alloacutephylos-ἀλλόφυλος (na primeira parte)
ὄρεξις oacuterexis (sf)- XXVI 202 422 Us
Apetite
ὄχλησις oacutechlesis (sf)- VIII
Aborrecimento perturbaccedilatildeo
παιδεία paideiacutea (sf)- SV 45 117 163 Us
Cultura educaccedilatildeo
Terceira parte
144 145
παράστασις paraacutestasis (sf)- 81 138 Us
Deliacuterio
παρ᾿ἡμᾶς parrsquo hemacircs (prep παρά + 1ordf pessoa pl ἡμᾶς) - 133 27 Us (135)
Cabe-nos (cabe a noacutes) Parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo grega composta por dois vocaacutebulos unidos por elisatildeo paraacute e he-macircs Segundo Murarcho (2007 p 532) ldquoparaacute significa exa-tamente ao lado derdquo Por sua vez hemacircs eacute o pronome plural da primeira pessoa no acusativo traduzido pelo pronome obliacutequo aacutetono ldquonosrdquo Assim sendo a expressatildeo parrsquo hemacircsse descreve como a junccedilatildeo da preposiccedilatildeo paraacute (ao lado de) e do pronome hemacircs (nos) A expressatildeo tem sentido conotativo significando o que estaacute em poder do homem
Gama Kury (2008 p 314) traduz a expressatildeo parrsquo hemacircs por ldquodepende de noacutesrdquo diferente de Hicks (1925 p659) que traduz por ldquoour own action40rdquo Por sua vez Bollack (1975 p 81) traduz parrsquo hemacircs por ldquoce que tient agrave nous41rdquo Apesar das diferentes traduccedilotildees disponiacuteveis a melhor maneira de entender a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute pelo contexto do passo 133 da Carta a Meneceu
Crecirc entatildeo Meneceu que ningueacutem eacute superior a tal homem Sua opiniatildeo em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosa e ele se mostra sempre destemeroso diante da morte Ele reflete intensa-mente sobre a finalidade da natureza e tem uma concepccedilatildeo clara de que o bem supremo pode ser facilmente atingido e facilmente conquistado e que o mau supremo dura pouco e causa sofrimentos passageiros Finalmente ele proclama
40 ldquonossa proacutepria accedilatildeordquo41 ldquoo que nos concernerdquo
Ethicaacute
144 145
que o destino introduzido por alguns filoacutesofos como se-nhor de tudo eacute uma crenccedila vatilde e afirma que algumas coisas acontecem necessariamente outras por acaso e outras nos cabe fazer porque para ele eacute evidente que a necessidade gera a irresponsabilidade e que o acaso eacute inconstante e as coisas que cabe-nos fazer satildeo livremente escolhidas e satildeo naturalmente acompanhadas de censura e louvor (DL X 133)
Nessa passagem da carta haacute uma descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do homem que assimilou os preceitos baacutesicos do epicurismo Nela estaacute resumido aquilo que os epicuristas chamaram de tetraphaacutermakos (o quaacutedruplo remeacutedio42) O homem modelo como ldquoum deus entre os homensrdquo (DL X 135) natildeo teme a morte eacute feliz e traccedila seus proacuteprios caminhos Desdenha qualquer possibilidade de intervenccedilatildeo divina e defende que noacutes somos livres Investigou a natureza (phyacutesis) conhece seus princiacutepios e encontrou no prazer o fim (teacutelos) de todo homem
Epicuro natildeo diz expressamente a quem se refere ao afir-mar ldquoningueacutem eacute superior a tal homemrdquo ou como traduz Conche ldquoQuem estimas tu superior agravequelerdquo No entanto a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do saacutebio e do que se deve fazer para ter uma vida saacutebia comeccedila no passo 126 que diz ldquoo saacutebio (hoacute degrave sophoacutes) natildeo renuncia agrave vida nem teme a cessaccedilatildeo da vidardquo O saacutebio considera vatilde a crenccedila dos que apresentam o destino como um tirano Esta uacuteltima carac-teriacutestica do sophoacutes eacute determinante para a compreensatildeo de parrsquo hemacircs pois negar a crenccedila no domiacutenio irrestrito do destino (heimarmeacutene) implica em considerar a liberdade da accedilatildeo humana Segue-se pois na ordem do texto a afirma-
42 Cf MP II
Terceira parte
146 147
ccedilatildeo que anuncia o poder do homem expresso sob a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs ldquoalgumas coisas acontecem necessariamente (anaacutenke) outras por acaso (tyacuteche) e outras nos cabe fazerrdquo (parrsquo hemacircs)
A natureza eacute portanto neutra naquilo que cabe aos homens realizar O acaso (vide supra τύχη tyacuteche na pri-meira parte) limita a extensatildeo da necessidade (vide supra ἀνάγκη anaacutenke na primeira parte) e abre as portas para novas cadeias causais serem iniciadas A tradiccedilatildeo epicu-rista relaciona parrsquo hemacircs ao pareacutenklisis ou clinamen (Vide supra παρέγκλισις na primeira parte) Embora Epicuro natildeo tenha mencionado nada a respeito do desvio aleatoacuterio dos aacutetomos (pelo menos natildeo em seus textos remanescen-tes) percebe-se que a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute possibilitada pelo acaso sob a forma dos desvios bem como sua vigecircncia envolve a vontade deliberaccedilatildeo autarquia e escolha dos viventes Enfim parrsquo hemacircs se relaciona com a noccedilatildeo de li-berdade em sentido amplo Jaacute Filodemo aproxima a noccedilatildeo de pareacutenklisis da noccedilatildeo de parrsquo hemaacutes
Natildeo eacute suficiente admitir iacutenfimas declinaccedilotildees dos aacutetomos por causa do acaso e da liberdade (tograve tycherograven kaigrave tograve parrsquo hemacircs) mas eacute necessaacuterio provar que esta declinaccedilatildeo natildeo combate nenhum fato evidente (enargoacuten) (De Signis XXXVI 7-17 apud SALEM 1997 p 68)
Apesar do problema epistemoloacutegico levantado por Filodemo em relaccedilatildeo a natildeo-contradiccedilatildeo do clinamen ou pareacutenklisis fica claro que parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo utilizada para falar de liberdade de maneira geral ou seja de todas as possibilida-des abertas pelo desvio aleatoacuterio dos aacutetomos A expressatildeo parrsquo hemacircs abrange um conjunto de coisas que se relacionam com o agir livre do homem
Ethicaacute
146 147
περίβλεπτος periacutebletos (ad)- VII
Renomado famoso
περίβλεψις periacuteblepsis (sf)- SV 81
Observaccedilatildeo vigilacircncia
περίπτωσις periacuteptosis (sf)- 36 Us
Acaso desgraccedila
πίστωμα piacutestoma (sn)- XL
Garantia
πλήρωμα pleacuteroma (sn)- SV 59
Repleccedilatildeo satisfaccedilatildeo plenitude
ποιητικός poietikoacutes (ad)- VIIIX
Produtivo
ποικίλλειν poikiacutellein(v inf)- XVIIIXXIX
Variar diversificar Este termo se refere agrave possibilidade de variaccedilatildeo dos prazeres O prazer natildeo aumenta infinitamente apenas variaVide supra haacutepax-ἄπαξ (nessa mesma parte)
ποίκιλμα poiacutekilma(sn)- SV 69
Variedade
πολιτικός politikoacutes (ad)- SV 58
Puacuteblico
Terceira parte
148 149
πολυτελεία politeleiacutea (sf)- 130 181 Us
Despesa extravagacircncia
πόνος poacutenos (sm)- 133 137 (66 Us) SV 4
Sofrimento afliccedilatildeo
πρᾶγμα praacutegma (sn)- 36 39 49 53 75 76 IXX XXI XXXVII XXXVIII SV 45 SV 67
Coisa acontecimento fato circunstacircncia realidade
πραγματεία pragmateiacutea (sf)- 35 7783
Sistema doutrina
πρᾶξις praacutexis (sf)-81135 XXV
Accedilatildeo ato
προκαταστροφή prokatastropheacute (sf)- XL
Morte prematura
σεβασμός sebasmoacutes (sm)-SV 32
Adoraccedilatildeo veneraccedilatildeo
σοβαρός sobaroacutes (ad)- SV 45
Destemido
σοφία sophia(sf)-117XXVII SV 78
Sabedoriacutea
Ethicaacute
148 149
σοφός sophoacutes (ad)-117 125 XVI SV 32 S44 SV56
Saacutebio
σπουδή spudeacute (sf)- 84XXX SV 61
Esforccedilo ardor
στέρησις steacuteresis (sf)- 124
Privaccedilatildeo
συζήτησις syzeacutetesis (sf)- SV74
Discussatildeo disputa pesquisa em conjunto Termo utilizado pela primeira vez por Epicuro
σύμβολον syacutembolon (sn)- XXXI
Garantia contrapartida
συμμέτρησις symmeacutetresis (sf)-130
Comparaccedilatildeo
σύνφυτος syacutemphytos (ad)- 129
Inato
συναναστροφή synanastropheacute (sf)- SV 18
Convivecircncia
συνήθεια syneacutetheia (sf)- SV 46
Haacutebito
Terceira parte
150 151
συνθήκη syntheacuteke (sf)- XXXIIXXXIII
Acordo pacto contrato
σωτηρία soteriacutea (sf) SV 80
Salvaccedilatildeo
ταραχή taracheacute (sf)- 81 XVII XXII SV 81
Perturbaccedilatildeo
ταραχώδης tarachoacutedes (ad)- 116 Us
Perturbado
τιμή timeacute (sf) (- 134 SV 81
Honra
τύχη tyacuteche (sf)- 120 (584 Us) 131 133 134 XVI SV 17
Acaso sorte fortuna As noccedilotildees de acaso (tyacuteche) e necessida-de (anaacutenke) satildeo compatibilizadas por Epicuro em sua visatildeo geral da phyacutesis Nela alguns axiomas satildeo apresentados como necessaacuterios por exemplo todos os aacutetomos estatildeo em cons-tante movimento Esta afirmaccedilatildeo eacute axiomaacutetica por revelar o que necessariamente eacute intuiacutedo na anaacutelise dos modos de ser de phyacutesis Em consequecircncia disso o constante movimento dos aacutetomos supotildee a declinaccedilatildeo casuiacutestica de alguns aacutetomos pois soacute assim eacute possiacutevel explicar a diversidade dos corpos e as muacuteltiplas configuraccedilotildees pelas quais eles passam no decorrer de suas existecircncias individuais enquanto corpos Visto de outro modo a totalidade dos aacutetomos e do vazio existentes
Ethicaacute
150 151
permanece a mesma ainda que os aacutetomos e o vazio sejam ilimitados Entretanto quando analisados os mundos e os demais corpos particularizados no interior do todo se mos-tram vulneraacuteveis agraves mudanccedilas e acabam por expressar en-quanto existecircncias dissemelhantes a atuaccedilatildeo do acaso como elemento diferenciador
Portanto os diversos niacuteveis de alteraccedilatildeo dos corpos que ocorrem necessariamente satildeo consequecircncias dos desloca-mentos dos aacutetomos portadores do princiacutepio de movimento expresso nas trajetoacuterias oriundas dos deslocamentos e nas casuiacutesticas declinaccedilotildees que sofrem quando desviam O acaso pode ser concebido tendo em vista a pluralidade dos corpos e a indeterminaccedilatildeo absoluta do todo Poreacutem uma anaacutelise mais detalhada das implicaccedilotildees entre os termos aca-so e necessidade nos textos de Epicuro sobretudo do modo em que coexistem em seu sistema requer a explicitaccedilatildeo do sentido fiacutesico da concepccedilatildeo de necessidade
Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem fi-nalidade (teacutelos)rdquo E somente o termo anaacutenke pode significar necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo proacutenoia para designar necessidade de qualquer ma-neira a necessidade nunca foi enunciada por Epicuro num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
No mesmo contexto o termo tyacuteche traz em si a negaccedilatildeo de toda a finalidade que poderia existir no movimento necessaacute-rio de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos e mundos
Terceira parte
152 153
ou seja natildeo eacute cabiacutevel falar de teleologia no pensamento de Epicuro porque ele evidencia a presenccedila do acaso na realizaccedilatildeo do movimento como ausecircncia de finalidade na explicaccedilatildeo dos corpos e mundos Dessa maneira tudo o que acontece a geraccedilatildeo o desenvolvimento e a corrupccedilatildeo dos corpos acontece por necessidade poreacutem a diversificaccedilatildeo dos acontecimentos eacute resultado da interferecircncia do acaso ou dos desvios nas trajetoacuterias dos aacutetomos Contudo ldquoEacute neces-saacuterio que algo de imutaacutevel subsista para que as coisas natildeo recaiam totalmente no nadardquo (DRN II 751 752) Como eacute necessaacuterio pela proacutepria natureza do acaso que os corpos e mundo sejam diferentes e sujeitos agrave geraccedilatildeo e agrave corrupccedilatildeo bem como as modificaccedilotildees ocorridas durante o periacuteodo de desenvolvimento isto eacute durante o movimento ininterrupto de suas existecircncias A compreensatildeo de phyacutesis nos seus diver-sos modos de realizaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel para um sistema de pensamento que trabalha positivamente as noccedilotildees de tyacuteche e anaacutenke
ὑγιαίνειν hyguiaiacutenein (v inf)- SV 54
Ter sauacutede
ὑγίεια hyguiacuteeia (sf)- 128 131 138 (504 Us)
Sauacutede
φιλία philiacutea (sf)- 120 XXVIIXXVIII SV 23 S28S34 S39 S52 S78
Amizade A philiacutea eacute uma forma voluntaacuteria e prazeirosa de se relacionar com os outros Cada indiviacuteduo busca agrupar--se num conjunto ou seja agregar-se segundo a natureza
Ethicaacute
152 153
Mas o saacutebio busca o conviacutevio com afins por natureza mas tambeacutem por conveniecircncia (opheacuteleia) O que conveacutem a todos eacute natildeo sofrer danos mas para o saacutebio eacute preciso tambeacutem livrar--se da ignoracircncia e das crenccedilas vazias que levam os homens a cometerem injusticcedilas uns aos outros Desse modo a amiza-de filosoacutefica eacute diferente das relaccedilotildees que comportam atitudes que levam ao desconforto e produzem o desequiliacutebrio O que eacute conveniente (syacutempheron) eacute semelhante na atitude e na reflexatildeo Haacute uma medida um caacutelculo um sentido de harmonia para realizar a amizade A amizade eacute na praacutetica a sabedoria de viver em conjunto A amizade resulta do equi-liacutebrio de interesses daqueles implicados na relaccedilatildeo Ela nasce de maneira espontacircnea mas se consolida pela reflexatildeo acerca da naturalidade da vida em conjunto e do comedimento que equilibra os modos de agir esta eacute uma possiacutevel interpretaccedilatildeo do que Demoacutecrito pensou sobre a amizade ldquoAcordo no pen-sar engendra a amizaderdquo (DK B II 33 9)
A philia supotildee uma afinidade de pensamento e tambeacutem de accedilatildeo uma vez que as relaccedilotildees se efetivam na busca em conjunto da physiologiacutea da compreensatildeo da realidade Neste sentido a praacutetica de vida eacute saacutebia e o saber se faz em torno da vida Epicuro manteacutem a naturalidade da amizade e faz dela a base do movimento de agregaccedilatildeo social Sendo possiacutevel a amizade tambeacutem seraacute o direito e a poliacutetica O direito eacute fruto da relaccedilatildeo entre phyacutesis e noacutemos e a poliacutetica se realizaraacute no acordo entre semelhantes Na praacutetica Epicuro pensou em comunidades de pensamento e accedilatildeo De alguma manei-ra ele buscou tornar possiacutevel uma comunidade de amigos estabelecendo uma descontinuidade com o espaccedilo puacuteblico das cidades A philiacutea que eacute a base das relaccedilotildees existentes na comunidade natildeo eacute a priori fruto de um contrato uma vez
Terceira parte
154 155
que eacute imanente agrave natureza O contrato eacute uma consequecircn-cia eacute um acordo entre modos de pensar Mas o que move o pensamento na realizaccedilatildeo do acordo eacute o sentimento de equi-liacutebrio seguranccedila e a tranquilidade que a amizade produz Portanto a amizade brota de desejos naturais e necessaacuterios e se expressa no loacutegos sob a forma de acordos que satildeo estabe-lecidos segundo a conveniecircncia muacutetua (opheacuteleia) Pensar-se a si proacuteprio e ter o princiacutepio de suas accedilotildees em si mesmo qua-lifica o homem para a aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo da amizade De outra maneira no vazio das reflexotildees satildeo projetadas as falsas opiniotildees ou opiniotildees vazias que alimentam crenccedilas e desejos imoderados agraves vezes naturais agraves vezes natildeo mas quase sempre desnecessaacuterios Esses desejos crenccedilas e falsas opiniotildees cumulam em injustas agressotildees disputas pelo po-der desconfianccedila insensatez e anguacutestia ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacuteprocas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto no sentido de natildeo prejudicar nem de ser prejudicadordquo (DL X 150) E tambeacutem ldquoPara todos os seres vivos incapazes de estabelecer pactos com o intuito de natildeo prejudicar os outros e de natildeo ser prejudicados nada era justo ou injusto Acontece o mesmo em relaccedilatildeo aos povos que natildeo podiam ou natildeo queriam estabelecer pactos destinados a natildeo prejudicar e natildeo ser prejudicadosrdquo (DL X 150)
Eacute preciso entretanto atentar para o que assevera Epicuro que natildeo foi nem pretendeu ser um pensador poliacutetico Ele orientou o modo de vida filosoacutefico pela philiacutea A conveni-ecircncia muacutetua aleacutem de propiciar o pacto de natildeo sofrer nem cometer danos uns aos outros daacute sentido agrave uniatildeo entre os homens que se caracteriza pela afinidade e natildeo pela simples contenccedilatildeo das diferenccedilas ldquoToda a amizade deve ser buscada
Ethicaacute
154 155
por ela mesma mesmo que ela tenha sua origem na necessi-dade de uma ajudardquo (SV 23)
Epicuro mais uma vez marcando uma diferenccedila em relaccedilatildeo aos cirenaicos natildeo reduz a amizade ao seu caraacuteter utilitaacuterio mas afirma a conveniecircncia inerente agrave busca e manutenccedilatildeo da amizade Para ele que concorda com Aristoacuteteles o saacutebio pode proporcionar ao outro homem uma amizade digna dos me-lhores homens ou daqueles dotados de logismoacutes e de phroacutenesis pois a amizade que nasce da conveniecircncia tambeacutem se ali-menta dela ou seja ela produz acordo entre ideias e atitudes Tambeacutem para Epicuro o propoacutesito da amizade eacute o de ser na praacutetica a comunhatildeo de uma mesma filosofia Neste sentido eacute iacutentima a relaccedilatildeo entre a amizade e o bem que eacute o prazer pois dentre outras coisas a amizade mostra-se isenta de pai-xotildees tais como o oacutedio o rancor e a veneraccedilatildeo Aleacutem disso a amizade natildeo cumula em reaccedilatildeo pois eacute a expressatildeo de uniatildeo e equiliacutebrio entre aqueles que se afinam mutuamente pela natureza de caraacuteter e sabedoria ldquoAquele que eacute bem-nascido se dedica principalmente agrave sabedoria e agrave amizade dois bens dos quais um eacute mortal e o outro imortalrdquo (SV 78)
φιλόλογος philoacutelogos (ad)- S74
Aquele que busca argumentos ou raciociacutenios
φιλοσοφία philosophiacutea (sf) 22(138 Us) 132 SV 27 S41 117 Us219 Us 221 Us
Filosofia Na maacutexima 41 Epicuro utiliza este termo associa-do agrave oacuterthes (reta) com a intenccedilatildeo clara de mostrar que esta ldquoreta filosofiardquo deve ser praticada em todo momento para que a vida se torne justa bela e saacutebia A filosofia eacute definida
Terceira parte
156 157
como um saber em torno da vida no sentido de ser um exer-ciacutecio de bem viver
φιλόσοφος philoacutesophos (sm)- 221 Us
Filoacutesofo
φρόνησις phroacutenesis (sf)- 132
Sensatez sabedoria praacutetica Epicuro utiliza o termo phroacutenesis num sentido muito similar agravequele desenvolvido por Aristoacuteteles ou seja como sabedoria praacutetica Ele atribui agrave phroacutenesis a prima-zia na realizaccedilatildeo da vida filosoacutefica ou saacutebia A teacutechne eacute o modo de accedilatildeo e a filosofia eacute o exerciacutecio desse saber em torno da vida (techne tis perigrave tograven biacuteon) Assim a phroacutenesis eacute o exerciacutecio praacutetico da sabedoria (epigrave degrave philosophiacuteas) e num sentido abrangente da atividade filosoacutefica coincide com a proacutepria filosofia
Haacute uma passagem na Carta a Meneceu (DL X 132) onde Epicuro utiliza o termo phroacutenimos para significar aquele que deteacutem uma sabedoria no agir Eacute um momento em que fica clara a influecircncia socraacutetico-platocircnica pois aproxima e faz co--pertencer a um mesmo acorde phroacutenimos kaloacutes ediacutekaios (o saacutebio o bom e o justo)(vide supra δίκαιος nesta mesma parte) Tais noccedilotildees fundam uma seacuterie de relaccedilotildees no pensamento antigo e se mantecircm coesas no texto de Epicuro Eacute ao mesmo tempo uma dyacutenamis e uma possibilidade do pensamento quando este exerce o seu poder de escolha e de recusa Epi-curo considera que se pode escolher o que eacute ponderadamente refletido e recusar o que natildeo eacute necessaacuterio nem conveniente (syacutempheron) A condiccedilatildeo da autaacuterkeia eacute agir aliando o logismoacutes e a phroacutenesis pois a phroacutenesis age na triagem dos desejos que se quer e que se pode realizar na medida em que confere uma
Ethicaacute
156 157
medida natural para o bem-estar e para o prazer A phroacutenesis eacute moduladora das accedilotildees e dos desejos naturais e necessaacuterios que nos conduzem aos prazeres
Outra consequecircncia da primazia da phroacutenesis no exerciacutecio da sabedoria eacute que o esforccedilo para pensar a phyacutesis e o equiliacutebrio sereno diante do que pode causar temores provoca a agradaacute-vel ataraxiacutea um bem-estar (eustaacutetheiavide supra εὐστάθεια nesta mesma parte) Epicuro traccedila a imagem da vida filosoacutefica como vida autaacuterquica e daacute ao pensamento uma dyacutenamis a realizaccedilatildeo da conduta de acordo com a natureza ou do que se adquire com a physiologiacutea O que perturba enfraquece escraviza eacute a ignoracircncia que gera temores e opiniotildees vazias Viver segundo a natureza aqui quer dizer viver segundo a compreensatildeo que se pode ter da phyacutesis A physiologiacutea eacute um exerciacutecio para escapar agrave ignoracircncia e natildeo a substantivaccedilatildeo da natureza como uma noccedilatildeo estaacutetica cientificista ldquoEacute pela ignoracircncia dos bens e dos males que a vida dos homens eacute em grande escala perturbada e por causa desta erracircncia eles frequentemente se privam dos prazeres e se torturam com as mais crueacuteis dores da almardquo43 ldquoUm entendimento correto dessa teoria permitir-nos-aacute dirigir toda a escolha e toda a rejeiccedilatildeo com vistas agrave sauacutede do corpo e agrave tranquumlilidade da alma pois isso eacute o que se pode supremamente realizar na vidardquo (DL X 128) ldquoQuando entatildeo dizemos que o prazer eacute o fim () por prazer ltentendemosgt a ausecircncia de sofrimentos no corpo e a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na almardquo (DL X 131)
φρονίμως phroniacutemos (adv)- 132 V
Sabiamente sensatamente
43 Ciacutecero De Finibus I 13 42
158 159
Terceira parte
158 159
φυγή phygeacute (sf) - 128 129 132 XXV
Rejeiccedilatildeo recusa fuga
χαρά charaacute (sf)- 66 SV 81 2 Us
Gozo alegria
χάρις charis (sf)- 77 122 I SV 17 SV39 SV55
Benevolecircncia graccedila
χρεία chreiacutea (sf)- 120 87 128 XXXVII SV 34
Necessidade precisatildeo uacutetil
χρῆσις chreacutesis (sf)- 131
Ocupaccedilatildeo
χυλός chyloacutes (sm) 130
Frugal
ὠφέλεια opheacuteleia (sf)- 124 SV 23
Conveniecircncia muacutetua benefiacutecio utilidade No pensamento de Epicuro este termo estaacute relacionado agrave philiacutea (amizade) (vide supra φιλία nesta mesma parte) e pode ser traduzido em determinadas passagens por ldquoconveniecircncia muacutetuardquo Por outro lado pode ser traduzido por ldquoutilidaderdquo no sentido de algo que devas ser buscado ou praticado com a finalidade de viver
Referecircncias Bibliograacuteficas
158 159158 159
referecircnciAS BiBliograacuteficAS
Textos de Epicuro
Arrighetti G Epicuro Opere Torino Giulio Einaude 1960
Bignone E Opere frammenti testimonianze sulla sua vita Roma LrsquoEr-ma di Bretscheider 1964
Bollack J amp Wismann H La lettre d`Eacutepicure Paris Les Editions de Minuit 1971
mdashmdashmdash amp Laks A Eacutepicure agrave Pythoclegraves Cahiers de Philologie Paris Les Editions de Minuit 1975
mdashmdashmdash La penseeacute du plaisir Eacutepicure textes moraux commentaires Paris Les Editions de Minuit 1975
Conche M Epicure lettres et maximes Paris eacuted De Megare1977
Epicuro Antologia de textos In Epicuro et al Satildeo Paulo Abril Cul-tural1980
mdashmdashmdash The works of Epicurus The extant remains of the greek text trans-lated by Cyril Bailey with an introduction by Irwin Edman Nova Iorque The Limited Edition 1947
mdashmdashmdash Obras Completas 2ordf ed Trad Joseacute Vara Madri Ediccedilotildees Caacutet-edra 1996
Laursen S The summary of Epicurus On Nature Book 25 Papyrologia Lupiensia Lecce 1 1991 142-154
Parente M I Opere di Epicuro Torino Unione Tipografico-Editrice Torinese 1974
Salem J laquo Commentaire de la lettre drsquoEpicure agrave Heacuterodote raquoCahiers de Philosophie ancienne nordm9 Bruxelles Editions Ousia 1993
Solovine M Epicure doctrine et maxims Paris 1965
Wotke K amp Usener H Epikureische Spruchsammlung Wierner Stu-dien fuumlr Klassiche philologie 10 1888 p 175-201
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Outros autores antigos
Aristoacuteteles De anima Trad Maria Ceciacutelia Gomes dos Reis Satildeo Paulo Editora 34 2006
mdashmdashmdash De la geacuteneacuteration des animauxTrad P Louis Paris Les Belles Lesttres 1901
mdashmdashmdash Eacutethique agrave Nicomaque Trad J Voilquin Paris Garnier 1961
mdashmdashmdash Nicomachean Ethics Londres Ed Willian Meinemann Har-vard University Press 1939
mdashmdashmdash Histoire des Animaux Trad P Louis Paris Les Belles Lettres 1964
mdashmdashmdash Petits traiteacutes drsquohistoire naturelle Trad R Mugnier Paris Les Belles Lettres 1953
Lucreacutecio Da Natureza In Epicuro et al Trad Agostinho da Silva Satildeo Paulo Abril Cultural1980
Cicero De finibus bonorum et malorum Trad H Rackham MA Lon-dresNova Iorque William HeinemannThe Macmillan CO 1914
Ciceacuteron De La Natura des Dieux Trad Nouv notes par C Appuhn Paris Garniersd
mdashmdashmdash Lrsquoamitieacute Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 1952
mdashmdashmdash Les Devoirs Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 196570
Diocircgenes Laecircrtios Vidas e doutrinas dos filoacutesofos ilustresTrad Gama Kury Brasiacutelia UNB 1988
Diogenes Laertius Lives of eminent philosophers Vol 2 Trad R Hicks Cambridge Havard University Press1925
Filodemo Agli amici di scuola Naacutepoles Bibliopolis 1988
mdashmdashmdash Memorie Epicuree Naacutepolis Bibliopolis 1997
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Hippocrates Works (I VII) London Harvard University Press 1988
Lucreacutece De la Nature Paris Garnier 1954
Grene D amp Lattimore R The Complete Greek Tragedies of Aeschylus The University of Chicago Press 1959
Philodemus On the frank criticism Trad David Konstan et al Atlanta Society of Biblical Literature 1998
mdashmdashmdash On the methods of inference Naacutepoles Bibliopolis 1978
Platatildeo As Leis ou da legislaccedilatildeo e Epinomis Trad de Edson Bini 2ordf ediccedilatildeo Bauru SP Edipro 2010
Plutarque Du stoicisme et lrsquoepicurisme Trad Ricard Didier Apresenta-ccedilatildeo e notas Jean Salem Paris Eacuteditions Sand 1996
mdashmdashmdash Contre Colotes In Ouvres morales et ouvres diverses IV Paris Manchete 1970
Sextus Empiricus Contre les professeurs Editions du Seuil 2002
Seneca AD Lucilium Epistulae Morales Trad Richard M Gummere LondresNova Iorque William Heinemann G P Putnamrsquos sons 1925
Smith MF Fragments of Diogenes of Oenoanda Discovered and Redis-covered American Journal of Archaeology Vol 74 nordm1 (Jan 1970) p 51-72
Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Ellias Pinheiro Coimbra CECH 2009
Estudos modernos
Baudry J Le problem de lrsquoorigine et de lrsquoeterniteacute du monde dans la philo-sophie grecque de Platon agrave lrsquoegravere chreacutetienne Paris Les Belle Lettres 1931
Bayley C Epicurus the extant remains Oxford 1926
mdashmdashmdash The Greek atomists and Epicurus Oxford 1928
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Bignone H LrsquoAristotele perdugraveto e la formazione filosofica di Epicuro Flo-renccedila 1936
Bergson H L Extraits de Lucreacutece avec notes et une eacutetude sur la poeacutesie la philosophie la physique le texte et la langue de Lucregravece 10 ed Paris De La Grave sd
Bnobzie S Did Epicurus discover the free will problem In Sedley D (Org) Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Oxford University Press 19 287-337 2000
Boyanceacute P Lucregravece et lrsquoeacutepicurisme Collection ldquoLes grands penseursrdquo (dirigeacutee par P-M Schuhl) Paris PUF 1963
Brown E Politcs and society In WARREN J (Org) The Cambridge companion to epicureanism Cambridge Cambrigde University Press 2009
Brun J O Epicurismo Lisboa 70 1989
mdashmdashmdash Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Conche M La mort et la penseacutee Editons de Meacutegare 1973
Dewitt N St Paul and Epicurus Mineaacutepolis University of Minnesota Press 1954
mdashmdashmdash Epicurus and his philosophy Mineaacutepolis University of Minne-sota Press 1954
Diogini I Lucrezio le parole e le cose Bolonha Ed Paacutetron 1988
Duvernoy J-F O Epicurismo e sua tradiccedilatildeo antiga Satildeo Paulo Zahar 1990
Etienne A Dominic O La philosophie eacutepicurienne sur Pierre Fribur-goParisEacutedition Universitaires Fribourg Suisse Eacutedition du Cerf Paris 1996
Farrington B A doutrina de Epicuro Trad de Edmond JorgeRio de Janeiro Zahar Editores 1967
mdashmdashmdash The faith of Epicurus Londres Weidenfeld and Nicholson 1967
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Festugieacutere A-J Eacutepicure et ses dieux Paris Presses Universitaires de France 1946
Finley M I Os Gregos antigos Trad Artur Mouratildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2002
Furley D J Two studies in greek atomists Princeton University Press 1967
Gigandet A Morel P-M (Orgs) Ler Epicuro e os epicuristas Satildeo Paulo Loyola 2011
Gigante M Studisull`epicureismo greco-romano Naacutepoles 1983
mdashmdashmdash La bibliothegraveque de Philodegraveme et lrsquoepicurisme romain Paris Soci-eacuteteacute DrsquoEacutedition Les Belle Lettres 1987
Goldschmidt V La Doctrine drsquoEpicure et le droit Paris Vrin 1977
Gual C G Epicuro Madrid Alianza Editorial 1981
Guyau J -M La morale drsquoEacutepicure et ses rapports avec les doctrines con-temporaines Paris Librairie Feacutelix Alcan 1927
Jaeger W Paideacuteia a Formaccedilatildeo do Homem Grego Trad Artur M Par-reira Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
Long A A Sedley D N The Hellenistic philosophers v1 Cambridge Cambridge University Press 1987
Konstan D Some aspects of Epicurean psychology Leiden Brill 1973
Laks A Edition critique et commenteacutee de la ldquoVierdquo drsquoEpicure das Diogegravene Laerce Cahiers de Philologie 1 Eacutetudes sur lrsquoepicurisme AntiquePublications de lrsquoUniversiteacute de Lille III 1976
Marx K Diferenccedila entre as filosofias da Natureza em Demoacutecrito e Epicuro Satildeo Paulo Globalsd
Masi F G Epicuro e la filosofia della mente il XXV libro dellrsquoopera Sulla Natura Sankt Augustin Academia Verlag 2006
Mewaldt J O Pensamento de Epicuro Satildeo Paulo Iacuteris 1960
Mondolfo R O homem na cultura antiga a compreensatildeo do sujeito humano na cultura antiga Trad Luiz Caruso Satildeo Paulo Edi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
tora Mestre Jou 1968
mdashmdashmdash O infinito no pensamento da antiguidade claacutessica Trad Luiz Da-roacutes Satildeo Paulo Editora Mestre Jou 1968
Morel P-M Deacutemocrite et la recherche des causes Langres Klincksieck 1996
mdashmdashmdash Eacutepicure Paris Librarie philosophique J Vrin 2013
mdashmdashmdash Atome et neacutecessiteacute Deacutemocrite Eacutepicure Lucregravece Paris Presses Universitaires de France 2000
Nizan P Les Mateacuterialistes de lrsquoAntiquiteacute Deacutemocriteacute Eacutepicure Lucregravece Paris Eacuted Sociales Internationales 1938
Nussbaum M The therapy of desire theory and practice in hellenistic ethics Princeton Princeton University Press 1994
Orsquokeefe T Epicurus on Freedom Nova Iorque Cambridge University Press 2005
mdashmdashmdash Epicurianism Durham Acumen 2010
Paratore E Lrsquoepicureismo e la sua diffusione nel mondo latino Roma Ed dellrsquoAteneo 1960
Pessanha J A M As deliacutecias do jardim In Eacutetica Satildeo Paulo Cia Le-tras 1992 pag 57-85
Pesce D Introduzione a Epicuro Bari Editori Laterza 1981
mdashmdashmdash Saggio su Epicuro Bari Editori Laterza 1974
Pigeuad J La Maladie de Lrsquoame Paris Les Belles Lettres 1989
Quevedo F Defesa de Epicuro contra la comuacuten opinioacuten Madrid Tec-nos1986
Ridder A Lrsquoideacutee de la mort en Gregravece a lrsquoepoque classique Paris Librarie Thorin et Fils 1897
Risst John Epicurus an introduction Cambridge University Press 1972
Robin Leon La penseacutee grecque Paris Eacuteditions Albin Michel 1948
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
(Livre IV chapitre II Lrsquoeacutepicurism p 387-408)
Romilly J La Gregravece antique a La deacutecouverte de la liberteacute Paris LGF Livre de Poche 1989
Salem J Lucregravece et lrsquoeacutethique la mort nrsquoest rien pour nous Paris J Vrin 1997
mdashmdashmdash Deacutemocrite EacutepicureLucreacutece la veacuteriteacute du minuscule Paris Encre Marine 1998
mdashmdashmdash Tel un dieu parmi les hommes Lrsquoethique drsquoEacutepicure Paris Librai-rie Philosophique J Vrin 1994
Santayana G Three philosophical poets Cambridge Harvard University Press 1947
Silva M F Epicuro Sabedoria e Jardim Rio de Janeiro Relume Du-maraacute 1998
mdashmdashmdash Pensamento e imagem na Carta a Heroacutedoto de Epicuro In Pimenta MTeorias da Imagem na Antiguidade Satildeo Paulo Paulus 2012
mdashmdashmdash Prazer e vida feliz em Epicuro In Costa A A Hadad A B Azar Filho C M (Org) Filosofia e Prazer diaacutelogos com a tradiccedilatildeo hedonista 1ed Seropedica Edur 2012 v 01 p 87-92
mdashmdashmdash Sensaccedilotildees impressotildees projeccedilotildees as afecccedilotildees do pensamento In Conte J Bauchwitz O F (Org) O que eacute Metafiacutesica atas do III Coloacutequio internacional de metafiacutesica 1ordf ed Natal Edufrn 2011 v 01 p 261-266
mdashmdashmdash Lathe Biacuteosas autaacutekeia libertagrave e amicizia in Epicuro In Cor-nelli G Casertano G (Org) Pensare la cittagrave antica categorie e representazioni 1ordf ed Naacutepoles Loffredo Editore 2010 v 1 p 163-174
mdashmdashmdash O atomismo antigo e o legado de Parmecircnides In Santoro F Cairus H F Ribeiro T O (Org) Parmecircnides 1 acerca do poema de Parmecircnides 1edRio de Janeiro Azougue 2009 v
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
1 p 165-174
mdashmdashmdash Sabedoria e sauacutede do corpo em Epicuro In Peixoto M C D (Org) A sauacutede dos antigos reflexotildees gregas e romanas 1ordf ed Satildeo Paulo Loyola 2009 v 1 p 153-162
mdashmdashmdash Do equiliacutebrio do corpo ou de como o corpo eacute pensado enquanto questatildeo filosoacutefica In Peixoto M C D (Org) Sauacutede do ho-mem e da cidade na antiguidade grecoromana 1ordf ed Belo Ho-rizonte UFMG 2007 v 01 p 189-198
mdashmdashmdash Demoacutecrito Esquecido In Bezerra C C (Org) Anais do I En-contro Nacional de Estudos Neoplatocircnicos- Ontologia e Liber-dade 1ordf ed Aracaju UFS 2006 v 1 p 74-80
mdashmdashmdash Epicuro e a physiologiacutea In Bonaccini J A Medeiros M P N Silva M F Bauchwits O F (Org) Metafisica Histoacuteria e Problemas 1ordf ed Natal EDUFRN 2006 v 01 p 219-230
mdashmdashmdash Acerca de uma Eacutetica do Agradaacutevel In Silva MF(Org) Cafeacute Filosoacutefico 1ordf ed Natal EDUFRN 2005 v 3 p 47-64
mdashmdashmdash Amizade Prazer e Filosofia In Bauchwitz O F (Org) Cafeacute Filosoacutefico Natal Argos 2001 v 1 p 131-136
Silvestre M L Democrito e Epicuro il senso di una polemica Napoli Lofredo Editore 1985
Stirner Max LrsquoUnique et sa proprieteacute Paris 1900
Strozier RM Epicurus and Hellenistic philosophy Lanham Md Ed University Press of America 1985
Ullmann R Epicuro O filoacutesofo da alegria Porto Alegre Epipucrs 1966
Usener H Glossarium Epicureum Cura de M Gigante e W Schmid Roma Edizioni DellrsquoAteneo e Bizarr 1977
Voelke A-J La Philosophie comme theacuterapie de lrsquoame FriburgoEditions Universitaires de Fribourg 1993
Warren J (Org) The Cambridge Companion to Epicureanism Nova Iorque Cambridge University Press 2009
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
Usener H Epicurea Estugarda E G Teubner 1966
Teses e dissertaccedilotildees
Barbosa RS A relaccedilatildeo entre as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia na filosofia de Epicuro 2014 117 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2014
Braatz J O pensamento eacutetico em Epicuro 2007 113 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2007
Freire A J G A natureza da alma e o clinamen accedilatildeo e liberdade em Lucreacutecio 2014 191 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal-RN 2014
Nascimento R V O corpo no pensamento de Epicuro limites e possi-bilidades 2011 154f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rocha E S A morte pode ser conhecida percurso em torno da compre-ensatildeo da mortalidade na filosofia de Epicuro 2011 162 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rovaris T R O projeto epicurista antiaristoteacutelico de Pierre Gassendi Sal-vador Universidade Federal da Bahia 2007
Artigos
Arrighetti Graziano - Filodemo Περὶ θεῶν III fr 74-82 Pap Herc 157 Sul problema dei tipi divini nellrsquoepicureismo La Parola del Passato 10 (1955) p 322-356 et 404-415
Bastide G Lrsquoestheacutetisme de Lucregravece Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 143-161
Bulhotildees I C Tograve Dikaioacuten Epicuro acerca do justo Hypnos Satildeo Paulo nuacutemero 22 1ordm semestre 2009 p 98-119
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
Breacutescia C Contributo allo studio linguistico dei testi epicurei Athenaeum NS 27 (1949) 281-298
Caujolle-Zaslawsky F Le temps eacutepicurien est-il atomiqueLes Eacutetudes Phi-losophiques 3 julho-setembro de 1980 pag 285-306
Clay D A lost Epicurean Community Greek Roman and Byzantine Studies volume 30 nordm 2 1989 313-335
Diano C Epicuri Ethica Aedibius Sansionanis Florenccedila 1966
mdashmdashmdash Epiacutecure la philosophie du plaisir et la socieacuteteacute des amis Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril-junho de 1967 pag173-186
DI Vona P Per una storia dellrsquo epicureismo La parola del passato 34 (1979) 313-320
Escoubas E Asceacutetisme eacutepicurien Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 163-172
Fernaacutendez E M Acerca de una eacutetica epicuacutereo-sartriana Pensamiento 169 vol 43 1987 37-51
Flaceliegravere R Les Eacutepicuriens et lrsquoamour Revue des Eacutetudes Grecques tome 67 fascicule 314-315 Janvier-juin 1954 pp 69-81
Gabaude J-M Sur Epicure et lrsquoepicurisme (l) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 4 abril-maio de 1975 pag 11-17
mdashmdashmdash Le jeune Karl Marx lecteur drsquoEpicure (ll) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 5 junho-julho de 1975 pag 01-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 6 agosto-setembro de 1975 pag 23-29
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lV) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 1 outubro-novembro de 1975 pag 10-20
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (V) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 2 dezembro de 1975 - janeiro de 1976 pag 03-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vl) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 3 fevereiro-marccedilo de 1976 pag 03-10
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
losophique 4 abril-maio de 1976 pag 19-37
Giesecke A L Beyond the garden of Epicurus the utopics of the ideal roman village Utopian Studies Vol 12 (2) 2001 pag 13-32
Gobry I La sagesse drsquoEpicure Les Eacutetudes Philosophiques 1 janeiro-mar-ccedilo de 1976 pag 79-90
Kleve K The Epicurean Isonomia and its Sceptical Refutation Symbolae Osloenses Vol LIV 1979 pp 27-35
mdashmdashmdash Empiricism and Theology in Epicureanism Symbolae Osloenses 52 no 1 (1977) 39-51
Maurice P Epicureanism and the atomic swerve Symbolae Osloenses 50 LXI 1986 77-98
Mazzeo J A Dante e Epicuro Comparative Literature vol 10 2 pri-mavera de 1958 pag 106-120
Moreau J Le meacutecanisme eacutepicurien et lrsquoordre de la nature Les Eacutetudes Phi-losophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 467-486
Renault A Eacutepicure et le probleacuteme de lrsquoecirctre Les Eacutetudes Philosophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 435-465
Rodis-Lewis G Nature et civilization das lrsquoepicurisme Les Eacutetudes Philo-sophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 415-433
Rosenbaun S Epicurus and anihilation The philosophical Quartely vol39 154 janeiro de 1989pag 81-90
Salem J Commentaire de la lettre drsquoEpicure a Meacuteneacuteceacutee Revue philosophi-que 3 julho-setembro 1993 pag 513-549
Sedley D Epicurus refutation of determinism SydzetesisStudi sullrsquo epicu-reiacutesmo greco e romano offerti a Marcello Gigante Naacutepoles 1983 11-51
mdashmdashmdash Lrsquoanti-reacuteductionnisme eacutepicurien Trad Dao A amp Morant CLes Cahiers Philosophiques de Strasbourg Paris Librarie J Vrin phi-losophique 2003 321-359
Silva M F A morte como perda da subjetividade Revista Princiacutepios
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
UFRN 3 julho-dezembro de 1995 140-146
mdashmdashmdash Um Banquete Frugal a Influecircncia Socraacutetico-Platocircnica em Epi-curo Revista ARCHAI As origens do pensamento ocidental v 9 p 117-122 2012
mdashmdashmdash Alma e movimento ou sobre a physiologia da alma Perspectiva Filosoacutefica (UFPE) v II p 167-176 2010
mdashmdashmdash Seduccedilatildeo e persuasatildeo os ldquodeliciososrdquo perigos da sofiacutestica Ca-dernos do CEDES (UNICAMP) Campinas v 64 2004
mdashmdashmdashLoacutegos peri hedoneacute Hodos Estudos de Cultura Claacutessica v 1 n 1 p 9-25 2000
mdashmdashmdash A noccedilatildeo Epicuacuterea de Eustatheacuteia e a tegravechne heacute ietrikeacute Revista Princiacutepios UFRN v 5 n 6 p 14-154 1998
mdashmdashmdash A Compreensatildeo de Physis no Pensamento de Epicuro Iacutetaca Cadernos de Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
mdashmdashmdash Epicuro e a morte como perda da subjetividade Revista Prin-ciacutepios UFRN v 2 n 3 p 140-146 1995 116
mdashmdashmdash O eacutethos do equiliacutebrio ou do exerciacutecio da sabedoria Kleos-Re-vista de Filosofia Antiga 1ordf ed Rio de Janeiro 2000 v 4 p 183-188
Silveira P F A medicina da alma de Epicuro a medicina como forma de terapia Psykhecirc Satildeo Paulo 10 200521-27 Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
Spinelli M De Narciso a Epicuro do emergir ao resgate da individua-lidade Hypnos nordm 25 Satildeo Paulo 2010 p 194-210
Surtz E L Epicurus in utopia ELH vol 16 2 junho de 1949 pag 89-103
Ullmann R A teologia de Epicuro Textos de cultura claacutessica 2 1987
Vander Waerdt P The Justice of the Epicurean Wise Man Classical Quar-terly ns 1987 37 40222
Vianna S Sobre o epicurismo e suas origens Kriterion 65 janeiro-
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
-dezembro 1965 pag 47-64
Waggle L J Epicurus phisichological or ethical hedonistRevista de Filo-sofiacutea vol 25 57 dezembro de 2007
Dicionaacuterios e Manuais
Balaudeacute J-F Le vocabulaire des Preacutesocratiques Paris Ellipses 2011
mdashmdashmdash Le vocabulaire drsquoEacutepicure Paris Ellipses 2012
Benveniste Le vocabulaire des instituitions indo-europeacuteenes I Economie parenteacute socieacuteteacute II pouvoir droit religion Paris Les Eacuteditions de Minuit 1969
Chantraine P Dictionnaire Eacutetymologique de la langue grecque Paris Klincksieck 1999
Gobry I Vocabulaacuterio grego da filosofia Trad Ivone C Benedetti Satildeo Paulo WMFMartins Fontes 2007
Isidro Pereira SJ Dicionaacuterio grego-portuguecircs e portuguecircs-grego Bra-ga Livraria AI 1998
Lidell HG amp Scott R Greek-english lexicon with a revised supplement Oxford Clarendon Express 1996
Murachco H Liacutengua grega visatildeo semacircntica loacutegica orgacircnica e funcional 3ordf ediccedilatildeo Satildeo PauloPetroacutepolis Discurso EditorialEditora Vo-zes 2007
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
172 173172 173
coleccedilatildeo autores gregos e latinos ndash seacuterie ensaios
1 Carmen Soares Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Eacutetica e Paideia em Plutarco (Coimbra CECH 2008)
2 Joaquim Pinheiro Joseacute Ribeiro Ferreira e Rita Marnoto Caminhos de Plutarco na Europa (Coimbra CECH 2008)
3 Claacuteudia Teixeira Delfim F Leatildeo and Paulo Seacutergio Ferreira The Satyricon of Petronius Genre Wandering and Style (Coimbra CECH 2008)
4 Teresa Carvalho Carlos A Martins de Jesus Fragmentos de um Fasciacutenio Sete ensaios sobre a poesia de Joseacute Jorge Letria (Coimbra CECH 2009)
5 Delfim Ferreira Leatildeo Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Cidadania e Paideia na Greacutecia Antiga (Coimbra CECH 2010)
6 Maria de Faacutetima Silva and Susana Hora Marques Tragic Heroines on Ancient and Modern Stage (Coimbra CECH 2010)
7 Aacutelia Rosa Rodrigues Carlos A Martins de Jesus Rodolfo Lopes Intervenientes Discussatildeo e Entretenimento No Banquete de Plutarco (Coimbra CECH 2010)
8 Luiacutesa de Nazareacute Ferreira Paulo Simotildees Rodrigues e Nuno Simotildees Rodrigues Plutarco e as Artes Pintura Cinema e Artes Decorativas (Coimbra CECH 2010)
9 Nair Castro Soares Margarida Miranda Carlota Miranda Urbano (Coord) Homo eloquens homo politicus A retoacuterica e a construccedilatildeo da cidade na Idade Meacutedia e no Renascimento (Coimbra CECH 2011)
10 Claacuteudia Teixeira Estrutura personagens e enganos introduccedilatildeo agrave leitura de As Baacutequides de Plauto (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2016)
11 Gregory Nagy O Heroacutei Eacutepico (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2017)
174 PB
12 Markus Figueira da Silva Termos Filosoacuteficos de Epicuro (Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 2018)
O livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais importantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
OBRA PUBLICADA COM A COORDENACcedilAtildeO CIENTIacuteFICA
bull
- Termos Filosoacuteficos de Epicuro
-
- Sumaacuterio
- Prefaacutecio
- Apresentaccedilatildeo
- Introduccedilatildeo
- Auxiacutelio ao leitor
- Primeira parte - Physiologiacutea
- Segunda parte - Physiologiacutea
- Terceira parte - Ethicaacute
- Referecircncias bibliograacuteficas
-
Autores Gregos e Latinos ndash Seacuterie Ensaios
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
Markus Figueira da Silva
Autores Gregos e Latinos ndash Seacuterie Ensaios
Apresentaccedilatildeo Os volumes desta seacuterie privilegiam a pu-blicaccedilatildeo de estudos curtos tanto monograacuteficos como escritos em colaboraccedilatildeo que apresentem ao grande puacute-blico aspetos variados da Antiguidade Claacutessica (obras literaacuterias eventos histoacutericos figuras importantes ou grandes debates) Preparados por consagrados especia-listas de niacutevel internacional procuram atraveacutes do re-curso a uma linguagem de apreensatildeo mais transversal favorecer a disseminaccedilatildeo da cultura cientiacutefica
Breve nota curricular sobre a autor
Professor titular de Histoacuteria da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia (PPGFIL) da UFRN Pesquisador do PRAGMAUFRJ
Coleccedilatildeo Autores Gregos e Latinos - Seacuterie Ensaios
Estruturas EditoriaisSeacuterie Autores Gregos e Latinos
ISSN 2184-1543
Diretores Principais Main Editors
Francisco de OliveiraUniversidade de Coimbra
Nair Castro SoaresUniversidade de Coimbra
Assistentes Editoriais Editoral Assistants
Nelson Ferreira Universidade de Coimbra
Comissatildeo Cientiacutefica Editorial Board
Ana Claacuteudia Ribeiro Universidade Federal de Satildeo Paulo
Joaquim Brasil Fontes Universidade de Campinas - UNICAMP
Joseacute Augusto RamosUniversidade de Lisboa
Maria Ceciacutelia CoelhoUniversidade Federal de Minas Gerais
Santiago Loacutepez Moreda Universidad de Extremadura
Tomaacutes Gonzaacutelez Rolaacuten Universidad Complutense de Madrid
Virgiacutenia Soares Pereira Universidade do Minho
Todos os volumes desta seacuterie satildeo submetidos a arbitragem cientiacutefica independente
Autores Gregos e Latinos ndash Seacuterie Ensaios
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
Markus Figueira da Silva
Seacuterie Autores Gregos e Latinos - Ensaios
Trabalho publicado ao abrigo da Licenccedila This work is licensed underCreative Commons CC-BY (httpcreativecommonsorglicensesby30ptlegalcode)
POCI2010
Tiacutetulo Title Termos Filosoacuteficos de EpicuroPhilosophical Terms in Epicurus
Autor AuthorMarkus Figueira da Silva
Orcidhttpsorcidorg0000-0003-3036-6575
Editores PublishersImprensa da Universidade de CoimbraCoimbra University Press
wwwucptimprensa_uc
Contacto Contact imprensaucpt
Vendas online Online Saleshttplivrariadaimprensaucpt
Coordenaccedilatildeo Editorial Editorial CoordinationImprensa da Universidade de Coimbra
Conceccedilatildeo Graacutefica GraphicsRodolfo Lopes
Infografia InfographicsNelson Ferreira
Impressatildeo e Acabamento Printed byKDP
ISBN978-989-26-1611-7
ISBN Digital978-989-26-1612-4
DOIhttpsdoiorg1014195978-989-26-1612-4
Depoacutesito Legal Legal Deposit44659618
Imprensa da Universidade de CoimbraClassica Digitalia Vniversitatis Conimbrigensis httpclassicadigitaliaucptCentro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra
copy setembro 2018
Obra publicada no acircmbito do projeto - UIDELT001962013
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
Philosophical Terms in Epicurus
Markus Figueira da SilvaFiliaccedilatildeo AffiliationUniversidade Federal do Rio Grande do Norte
ResumoO livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais im-portantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanes-centes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Palavras-chaveEpicuro terminologia grega filosofia antiga eacutetica conhecimento natureza
Abstract The book ldquoPhilosophical Terms in Epicurusrdquo brings together all major concepts found in the works of this Greek thinker of the end of the IV century and beginning of the III century BC Taken from the surviving texts of Epicurus the terms were grouped in three sections those being physiology gnosiology and physiology and ethics The glossary of terms will be a valuable research tool to aid in the approach to the surviving texts of the works of Epicurus a Hellenistic philosopher not much studied in the Portuguese language despite the fact that he is one of the fundamental ancient Greek philosophers
KeywordsEpicurus Greek terminology ancient Greek philosophy ethics knowledge nature
Autor
Professor titular de Histoacuteria da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia (PPGFIL) da UFRN Pesquisador do PRAGMAUFRJ
Author
Full Professor of History of Ancient Philosophy at Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Faculty member of the Graduate Program in Philoso-phy (PPGFIL) at UFRN Member of the Research Program in Ancient Philosophy - PRAGMAUFRJ
Sumaacuterio
Prefaacutecio 9
Apresentaccedilatildeo 11
Introduccedilatildeo 15
Auxiacutelio ao leitor 26
Primeira parte 29Physiologiacutea
Segunda parte 69Physiologiacutea
Terceira parte 101Ethicaacute
Referecircncias bibliograacuteficas 159
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Prefaacutecio
8 9
Prefaacutecio
A elaboraccedilatildeo de um vocabulaacuterio comentado sobre a termi-nologia filosoacutefica de Epicuro eacute para a comunidade cientiacutefica tarefa de reconhecido meacuterito e utilidade Embora ela assente de forma inevitaacutevel na consulta dos melhores dicionaacuterios de grego disponiacuteveis permite por um lado uma visatildeo sistemaacutetica de conjunto sobre uma terminologia especiacutefica e por outro uma reflexatildeo sobre os pressupostos que justificam as traduccedilotildees que os diversos dicionaacuterios propotildeem Natildeo se limita portanto a fornecer sinoacutenimos precisos mdash o que em si mesmo jaacute seria um meacuterito apreciaacutevel mdash mas comenta ou historia o percurso de determinados vocaacutebulos o que ultrapassa a convenccedilatildeo de um di-cionaacuterio A esta perspetiva de base o autor do volume propocircs-se acrescentar comentaacuterios elucidativos sobre a sinoniacutemia estabele-cida Para isso foi tida tambeacutem em conta a informaccedilatildeo fornecida por inuacutemeras publicaccedilotildees sob forma de livros ou perioacutedicos que tecircm dedicado ao pensamento de Epicuro e sobretudo ao estudo de aacutereas semacircnticas particulares da liacutengua grega como eacute o caso da filosoacutefica a sua atenccedilatildeo Destes materiais o presente estudo eacute tambeacutem devedor e transmissor na listagem bibliograacutefica que integra Eacute portanto como um elemento de seleccedilatildeo e de precisatildeo de um certo campo semacircntico a linguagem filosoacutefica centrado num autor especiacutefico Epicuro que este volume se apresenta
Natildeo eacute talvez Epicuro pela proacutepria fragilidade e dimensatildeo pequena do corpus que o representa aos olhos da contempora-neidade um autor sobre que a bibliografia disponiacutevel seja mais ampla Aleacutem de muito reduzido esse corpus eacute na sua maioria transmitido de forma indireta o que condiciona de modo
10 11
Prefaacutecio
10 11
evidente o acesso agrave terminologia que poderiacuteamos atribuir a Epicuro Apesar dessas limitaccedilotildees este vocabulaacuterio reuacutene um nuacutemero significativo de termos em parte vindos numa linha de continuidade em relaccedilatildeo a uma terminologia que a filosofia grega foi sedimentando ao longo dos seacuteculos Neste caso o comentaacuterio a incluir valoriza a perspetiva diacroacutenica e procura sobretudo em relaccedilatildeo aos vocaacutebulos com tradiccedilatildeo reconhecida definir nuances inovadoras que testemunhem o proacuteprio fluir do pensamento filosoacutefico Mas sem duacutevida mais expressivos satildeo os casos de haacutepax mdash palavras de ocorrecircncia uacutenica nos textos em anaacutelise mdash ainda que condicionados pela magreza dos testemunhos Estes termos conferem a Epicuro e ao seu pensamento uma identidade proacutepria e destacam nele a capacidade de contribuir para o voca-bulaacuterio especiacutefico da filosofia com palavras novas
Um manual desta natureza seraacute sempre uma proposta em aber-to a ser retocada ou ampliada agrave medida que a proacutepria discussatildeo fi-losoacutefica for prosseguindo ou na hipoacutetese de que novos testemunhos se possam vir a juntar aos atualmente disponiacuteveis Mas o resultado a que neste momento se chegou resulta de anos de recolha e de investigaccedilatildeo e constitui jaacute uma contribuiccedilatildeo a ser publicitada com utilidade entre os especialistas e acadeacutemicos em geral
Deste lsquoVocabulaacuterio filosoacutefico de Epicurorsquo poderatildeo tirar provei-to evidente todos os que se dedicam natildeo apenas ao estudo deste autor concreto mas ao da evoluccedilatildeo do pensamento filosoacutefico e respetiva terminologia investigadores docentes e estudantes Por-que sem pretender ser exaustiva no que respeita ao comentaacuterio dos termos alistados esta proposta eacute mesmo assim um documento de valor inestimaacutevel para a clarificaccedilatildeo das nuances subjacentes a um vocabulaacuterio tatildeo lsquosensiacutevelrsquo como eacute o filosoacutefico
Maria de Faacutetima SilvaUniversidade de Coimbra
Apresentaccedilatildeo
10 1110 11
APreSentAccedilatildeo
Os ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo satildeo o resultado de um projeto de pesquisa que desenvolvi ao longo de vaacuterios anos como atividade paralela a outras produccedilotildees acadecircmicas por mim realizadas no acircm-bito do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Pude contar nesta pesquisa com a colaboraccedilatildeo de quatro bolsistas de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica um bolsista de Mestrado e um outro de Doutorado Devo mencionar os no-mes de Everton da Silva Rocha e Renato dos Santos Barbosa que participaram efetivamente do resultado final deste trabalho Everton colaborou na organizaccedilatildeo e digitaccedilatildeo dos verbetes em grego e Rena-to colaborou na organizaccedilatildeo do livro e na redaccedilatildeo de alguns verbetes a partir da sua pesquisa de mestrado por mim orientada Eles fazem parte deste percurso e do produto final que vem agora a puacuteblico No nome deles eu agradeccedilo os demais alunos que se iniciaram no estu-do da Filosofia de Epicuro mediante a participaccedilatildeo nesta pesquisa
Foi um longo aacuterduo mas prazeiroso caminho que culminou com um estaacutegio de pesquisa que realizei no Centro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra em setembro e outubro de 2016 sob a supervisatildeo da Doutora Maria de Faacutetima Sousa e Silva
O conjunto dos verbetes que aqui se encontra foi dividido em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Reuni desta maneira os termos mais importantes1 para
1 Considero que haacute um grupo de termos que satildeo os conceitos mais traba-lhados no pensamento de Epicuro e os verbetes que lhes satildeo correspondentes apresentam um estudo resumido do papel que desempenham para a originali-dade da sua Filosofia os demais termos satildeo tambeacutem relevantes no que toca ao uso que deles se pode fazer para a traduccedilatildeo direta dos textos gregos
Apresentaccedilatildeo
12 13
um estudo interpretativo de cada uma das partes respeitando a ordem dos textos apresentados no livro X da obra Vidas e Doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres de Dioacutegenes Laeacutercio bem como as Sentenccedilas Vaticanas que foram descobertas posteriormente por Karl Votke em 1888 no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Papiro 1950 Aleacutem destas fontes aproveitei alguns vocaacutebulos extraiacutedos da doxografia antiga e acrescentados por Hermman Usener na sua obra Epicurea Basicamente satildeo estes os textos que constituem a espinha dorsal do pensamento de Epicuro que se mantiveram ao longo dos seacuteculos e satildeo o cerne de toda a pesquisa realizada pelos estudiosos ateacute hoje No seacuteculo XIX com as escavaccedilotildees feitas na Vila dos Papiros em Herculano no Sul da Itaacutelia um conjunto de textos fragmentados a maioria atribuiacuteda a Filodemo de Gadara e outros atribuiacutedos a Epicuro tecircm sido objeto de estudo de diversos especialistas em filologia mas que para o objetivo deste trabalho natildeo acrescentariam muito agrave base sobre a qual se define a filosofia de Epicuro
Eacute sempre difiacutecil reconstituir o todo de um pensamento mantendo a sua clareza e a sua coerecircncia quando a imensa maioria dos textos que foram escritos submergiu agraves vicissitudes do tempo e agraves armadilhas da histoacuteria Entretanto eacute preciso ter apreccedilo pelo teor deste pensamento e pela influecircncia que teve Epicuro sobre as geraccedilotildees que o sucederam ateacute agrave nossa eacutepoca A grande voz latina que fez ecoar a filosofia epicurista por mais de dois milecircnios foi sem duacutevida a do poeta romano Tito Lucreacutecio Caro que escreveu o De Rerum Natura ou Da natureza das Coisas poema em seis livros inacabado Este poema eacute uma fonte preciosa para o estudo do epicurismoPor isso quando existir correspondecircncia entre o termo grego utilizado por Epicuro e o termo latino utilizado por Lucreacutecio ressaltarei sobretudo nos verbetes expandidos esta correspondecircncia Outro fator importante num manual desta natureza eacute fornecer ao leitor a
Apresentaccedilatildeo
12 13
localizaccedilatildeo exata das ocorrecircncias de cada termo nos textos de Epicuro Aleacutem disso ele encontraraacute o termo grafado em carac-teres gregos seguido da transliteraccedilatildeo para caracteres latinos e a sua definiccedilatildeo ou significado Nos termos considerados de maior relevacircncia a definiccedilatildeo seraacute expandida na forma de um pequeno artigo acerca daquela noccedilatildeo Ocorreraacute tambeacutem em alguns termos a observaccedilatildeo ou informaccedilatildeo complementar que indica quando o termo eacute de uso exclusivo em Epicuro ou quando o termo passa a ser utilizado a partir de Epicuro ou quando eacute um termo de uso filosoacutefico apenas ou quando eacute de uso comum a Aristoacuteteles e a Epicuro ou ainda quando recebe um significado metafoacuterico para realccedilar o sentido inovador do seu pensamento Satildeo caracte-riacutesticas da linguagem grega utilizada por Epicuro o que tambeacutem o diferencia dos demais pensadores e inaugura muitas vezes um novo vocaacutebulo ou linha conceitual no acircmbito da filosofia antiga
Achei por bem elencar os termos mais importantes de cada um dos trecircs assuntos da sua obra na parte que lhe eacute correspon-dente Assim na Physiologiacutea estatildeo dispostos os termos referentes ao estudo da phyacutesis Na Gnoseologiacutea e Physiologiacutea pode-se en-contrar os termos que aparecem no iacuteniacutecio da Carta a Heroacutedoto e que correspondem agrave canocircnica ou teoria do conhecimento Na Eacutethica aqueles que correspondem agrave Carta a Meneceu agraves Maacutexi-mas Principais e agraves Sentenccedilas Vaticanas Contudo devo advertir de que muitos termos apareceratildeo repetidamente em mais de uma parte isto porque apresentam um sentido diferente que corresponde agrave funccedilatildeo desempenhada no contexto das frases onde aparecem A minha intenccedilatildeo ao propor esta divisatildeo eacute facilitar o manuseio deste breviaacuterio de termos Assim o usuaacuterio que estiver estudando a Carta a Heroacutedoto por exemplo encontraraacute na parte dedicada agrave Physiologiacutea eou na parte dedicada agrave Gnoseologiacutea e Physiologiacutea (se for o caso da canocircnica) os termos que interessam agrave sua anaacutelise
14 15
Apresentaccedilatildeo
14 15
Espero sinceramente que este vocabulaacuterio de termos filosoacuteficos gregos de Epicuro possa contribuir para a instrumen-talizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra deste pensador que pode ser considerado ainda pouco estudado sobretudo nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Introduccedilatildeo
14 1514 15
introduccedilatildeo
Epicuro filoacutesofo da natureza em busca do equiliacute-brio da liberdade e do prazer
O interesse que me moveu e que certamente move um estu-dante para se aprofundar na leitura dos textos de Epicuro eacute o de esclarecer o sentido maior deste pensamento isto eacute separar o que eacute genuiacuteno de tudo o que foi dito ao longo da histoacuteria em termos de opiniatildeo com forte matiz ideoloacutegico acerca da sua visatildeo de mundo e do seu modo de vida Natildeo haacute como fugir da polecircmica em torno da figura de Epicuro e do que a sua filosofia representou e ainda representa para o desenvolvimento da filosofia ocidental Quem estiver de fato interessado em interpretar para compreender o pensamento em questatildeo precisaraacute ir aos textos gregos originais e a partir daiacute comparar as inuacutemeras traduccedilotildees em diversas liacutenguas que se fizeram e ainda se fazem dos escritos deste pensador Tendo em vista as trecircs cartas as maacuteximas e as sentenccedilas que constituem o cerne da obra epicuacuterea trabalhada pela maioria dos especialistas uma interpretaccedilatildeo criteriosa destes textos produziraacute uma visatildeo sistecircmica do seu pensamento Soma-se a isso os fragmentos dos Papiros Herculaneses a Escrita Sobre Pedra de Dioacutegenes de Enoan-da e o poema De Rerum Natura de Lucreacutecio
Todos estes elementos satildeo imprescindiacuteveis para se obter uma visatildeo orgacircnica do conjunto do pensamento de Epicuro a fim de tornar exequumliacutevel a tarefa do pesquisador que eacute a de produzir uma coerente associaccedilatildeo destes conteuacutedos
Antes de apresentar um comentaacuterio geral dos textos aqui utilizados urge reproduzir um resumo cronoloacutegico da vida de
Markus Figueira da Silva
16 17
Epicuro para que se possa situaacute-lo no contexto do pensamento grego antigo
Cronologia
Epicuro filho de famiacutelia ateniense que pertencia ao demos de Gargeto nasceu em 341 aC em Samos e laacute viveu desde a infacircn-cia ateacute os 18 anos quando em 323 vai a Atenas prestar o serviccedilo militar Quando retornou de Atenas em 322 sua famiacutelia havia sido expulsa de Samos e Epicuro vai encontraacute-la em Coacutelofon Nos anos seguintes parece ter seguido as liccedilotildees de Praxiacutefanes um filoacutesofo peripateacutetico em Rodes Depois estudou com Nausiacute-fanes disciacutepulo de Demoacutecrito de Abdera e possivelmente aluno de Pirro de Eacutelis2 que ensinava em Teacuteos proacuteximo a Coacutelofon3
Em 311 Epicuro comeccedila a ensinar Filosofia em Mitilene na ilha de Lesbos No ano seguinte transfere-se para Lacircmpsa-co onde reuacutene alguns dos mais importantes disciacutepulos que o acompanharatildeo ao longo da sua trajetoacuteria ateacute que em 306 com a idade de 35 anos volta a Atenas e funda o Kecircpos o Jardim que daraacute nome a sua escola e caracterizaraacute a sua filosofia naturalista Em 270 a C Epicuro morre aos 72 anos de idade Cerca de quatorze escolarcas sucederam a Epicuro na direccedilatildeo do Jardim ateacute 44 a C4
A filosofia de Epicuro
Epicuro desenvolveu o seu pensamento a partir de influecircncias que marcaram a sua formaccedilatildeo e moldaram o seu ideal de vida Em primeiro lugar a Physiologiacutea ou a sua compreensatildeo da phyacutesis
2 Filoacutesofo grego do seacutec IV aC contemporacircneo de Epicuro e conside-rado o precursor do Ceticismo
3 Estas cidades satildeo ilhas proacuteximas a Samos na costa da Aacutesia menor4 Brun J Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Introduccedilatildeo
16 17
que teve no atomismo de Demoacutecrito de Abdera5 o seu ponto de partida Apesar de tecirc-lo modificado em determinados pontos em linhas gerais a constituiccedilatildeo da phyacutesis permaneceu inalterada ou seja toda a natureza eacute constituiacuteda de aacutetomos e vazio Na Carta a Heroacutedoto pode-se ver um resumo desta physiologiacutea Tambeacutem nesta Carta logo no iniacutecio encontra-se uma teoria do conhecimento que define os criteacuterios da percepccedilatildeo sensiacutevel que define a sua Gnoseologiacutea Por outro lado Epicuro voltou o seu pensamento para a investigaccedilatildeo do eacutethos do homem grego da sua eacutepoca e buscou tecer uma compreensatildeo do agir humano com a perspectiva de oferecer com a sua filosofia uma praacutetica de vida alternativa aos modelos que se apresentavam naquela altura do iniacutecio do seacuteculo III aC A sua investigaccedilatildeo permitiu que ele assimilasse traccedilos importantes do pensamento eacutetico grego dos seus antecessores A comeccedilar pelo modelo filosoacutefico socraacutetico e o seu desdobramento no pensamento de Platatildeo e Aristoacuteteles mas tambeacutem no confronto da criacutetica platocircnica e aristoteacutelica com a eacutetica de Demoacutecrito de Abdera Aristipo de Cirene e Pirro de Eacutelis os dois primeiros contemporacircneos de Soacutecrates e este uacuteltimo de Epicuro Partindo do entendimento de que toda a filosofia eacute de certo modo tributaacuteria das suas influecircncias e de que todo o pensamento traz em seu bojo elementos daquilo que jaacute fora pensado por outros filoacutesofos Epicuro manteacutem esta dinacircmica de refletir sobre as ideacuteias marcantes dos seus predecessores
Qual eacute entatildeo a originalidade de Epicuro e o que o torna um pensador singular da Histoacuteria da Filosofia
Para responder a isso indico a coerecircncia e a originalidade que se mostra nos textos remanescentes da sua obra Em outras
5 Filoacutesofo grego do seacutec V a C considerado um preacute-socraacutetico pela tradicional divisatildeo da Histoacuteria da Filosofia embora tenha sido contem-poracircneo de Soacutecrates Eacute considerado juntamente com Leucipo de Eleacuteia o precursor do atomismo grego
Markus Figueira da Silva
18 19
palavras a inteireza ou a inseparabilidade entre a physiologiacutea e a eacutethica Mais que isso o seu modus vivendi filosoacutefico Epicuro foi um pensador que procurou a todo o instante viver de acordo com o que pensava ou seja a partir do que inteligia quando pensava a phyacutesis sendo o estudo da natureza a base da sua conduta e a compreensatildeo de si mesmo como natureza o modelo para o exer-ciacutecio da sua filosofia e a expressatildeo dos seus atos Conhecer a vida e viver este conhecimento eacute um todo contiacutenuo que caracteriza a sua relevacircncia e a sua originalidade como physiologoacutes e pensador eacutetico concomitantemente
Neste sentido apresento a Filosofia de Epicuro em dois toacutepi-cos distintos e complementares a saber a physiologiacutea e aethicaacute
Physiologiacutea
No livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio encontram-se duas cartas de Epicuro que satildeo epiacutetomes ou resumos de temas li-gados agrave natureza (phyacutesis) Na Carta a Heroacutedoto estatildeo contidas as proposiccedilotildees fundamentais da sua filosofia da natureza e que tratam dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis O objetivo desta carta eacute apresentar aos que se iniciam na Filosofia os conceitos fundamentais sobre a natureza do todo dos mundos dos cor-pos compostos dos aacutetomos e do vazio bem como mostrar o processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo das coisas na natureza Epicuro deixa claro logo no iniacutecio que o estudo destes funda-mentos serve tambeacutem agravequeles jaacute instruiacutedos pois eles o podem utilizar para exercitarem-se nas discussotildees sobre as questotildees da natureza e como forma de aprimorarem a memoacuteria Ele cuida especialmente da linguagem que emprega a fim de facilitar a aprendizagem e promover uma faacutecil memorizaccedilatildeo Afirma que a clareza a objetividade e a simplicidade devem caracterizar o estilo e a linguagem filosoacutefica
Introduccedilatildeo
18 19
A canocircnica como meacutetodo gnosioloacutegico
A partir do passo 37 da Carta a Heroacutedoto Epicuro inicia a exposiccedilatildeo dos criteacuterios para o conhecimento da natureza des-de os fenocircmenos sensiacuteveis ou seja aqueles que satildeo objetos da percepccedilatildeo ateacute onde pode alcanccedilar o pensamento quando este procede por analogia isto eacute por contiguumlidade ou comparaccedilatildeo Para ele o pensamento pode conjecturar acerca dos fenocircmenos microcoacutesmicos e tambeacutem macrocoacutesmicos o que justifica as suas assertivas sobre o comportamento dos aacutetomos e noutro plano dos corpos celestes Epicuro utiliza este meacutetodo para expor a noccedilatildeo de aacutetomo e o seu movimento no vazio e em decorrecircncia disso explica o processo de agregaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo dos corpos sensiacuteveis a formaccedilatildeo e dissoluccedilatildeo dos mundos e a proacutepria noccedilatildeo de infinitude
Em seguida apresenta a sua teoria sobre o processo de conhe-cimento a formaccedilatildeo do pensamento e da imaginaccedilatildeo a partir do delineamento de quatro noccedilotildees capitais do sensualismo que ele inaugura a saber a sensaccedilatildeo (aiacutesthesis) a afecccedilatildeo (paacutethos) a impressatildeo sensiacutevel ou preacute-noccedilatildeo (proacutelepsis) e a projeccedilatildeo imaginaacute-ria do pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) Tais noccedilotildees visam explicar o processo gnoseoloacutegico desde que o oacutergatildeo sen-siacutevel eacute afetado gerando a sensaccedilatildeo que por sua vez se imprime na alma (psycheacute) gerando a memoacuteria (mneacuteme) sensitiva que eacute a fonte das imagens articuladas pelo pensamento quando as reuacutene e daacute sentido e representaccedilatildeo agrave realidade fenomecircnica Satildeo estas imagens sensiacuteveis que seratildeo usadas quando o pensamento por analogia a elas constroacutei explicaccedilotildees para os objetos natildeo perceptiacute-veis aos sentidos mas imaginados pelo pensamento em projeccedilatildeo
Nos passos 46 a 53 Epicuro investiga os mecanismos de produccedilatildeo das imagens (eiacutedola) e como se produz a imaginaccedilatildeo (phantasiacutea) como parte do movimento de transformaccedilatildeo das
Markus Figueira da Silva
20 21
sensaccedilotildees em sentimentos (impressotildees sensiacuteveis) e destes em memoacuteria operada pelo pensamento Esta eacute de fato uma das mais inovadoras teorias de Epicuro e que influenciaraacute diversos teoacutericos do conhecimento na modernidade
A partir do passo 54 tecircm-se analisadas as caracteriacutesticas do aacutetomo isto eacute a forma a figura o tamanho e o peso que por sua vez estatildeo intimamente relacionados agraves qualidades dos corpos sensiacuteveis (soacutemata) A anaacutelise do vazio e espaccedilo (kenograven kaigrave choacuteran) ocorre jaacute no passo 61 Sobre a importacircncia destas noccedilotildees Epicuro defende que sem o vazio eou espaccedilo natildeo pode haver movimento
A alma (psycheacute) que eacute corpoacuterea ou seja um corpo consti-tuiacutedo por aacutetomos mais sutis que os da carne (saacuterx) eacute objeto de investigaccedilatildeo no passo 67 Epicuro a define como sendo princiacutepio de movimento e sede do pensamento Na continuaccedilatildeo da Carta (passo 68) daacute-se iniacutecio agrave explicaccedilatildeo dos corpos compostos e do processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo dos corpos a partir da agregaccedilatildeo dos aacutetomos
Haacute tambeacutem uma breve anaacutelise sobre o tempo (khroacutenos) nos passos 72 e 73 e em seguida a teoria sobre os mega corpos ou os mundos (koacutesmoi) que tambeacutem satildeo formados pela agregaccedilatildeo dos aacutetomos e tecircm duraccedilatildeo limitada
Epicuro acena para uma breve histoacuteria antropoloacutegica apre-sentada na anaacutelise do conceito de praacutegmata que diz respeito a uma teoria da accedilatildeo humana e tem lugar no passo 75 e se pro-longa no passo 76 onde ele apresenta indiacutecios de uma teoria da linguagem bastante original No final da Carta a Heroacutedoto isto eacute nos passos 80 e 81 haacute uma apresentaccedilatildeo sumaacuteria do tema dos corpos celestes que seraacute desenvolvido na Carta a Piacutetocles Os passos 82 e 83 trazem as consideraccedilotildees finais da Carta onde Epicuro exorta os seus alunos a exercitarem-se sempre no estudo da natureza para que deste modo possam fugir da ignoracircncia
Introduccedilatildeo
20 21
A Carta a Piacutetocles se inicia com a afirmaccedilatildeo de que o conhe-cimento dos fenocircmenos celestes (meteacuteora) quer sejam conside-rados em conexatildeo com outros fenocircmenos ou neles mesmos tem como finalidade a tranquumlilidade da alma bem como afirmar a confianccedila nas explicaccedilotildees ldquofisioloacutegicasrdquo Em seguida passase ao meacutetodo de investigaccedilatildeo dos fenocircmenos celestes evidenciando o pluralismo da explicaccedilatildeo onde se aceita para um determinado fenocircmeno mais de uma causa desde que nenhuma delas possa ser contraditada pela evidecircncia da sensaccedilatildeo ou seja enquanto natildeo for refutada a explicaccedilatildeo se manteacutem vaacutelida Assim eacute pre-feriacutevel manter a pluralidade das causas em vez de ater-se a uma crenccedila que remeta a uma explicaccedilatildeo sobrenatural baseada por exemplo nos desiacutegnios dos deuses
Tem-se na continuaccedilatildeo uma definiccedilatildeo de mundo (koacutesmos) bem como dos meteacuteora os mais variados que leva a uma especulaccedilatildeo acerca do movimento dos astros das nuvens da chuva das tormentas dos raios e trovotildees das tempestades dos ciclones dos terremotos dos ventos das geleiras da neve do arco-iacuteris da lua dos cometas das estrelas cadentes e das mudanccedilas dos ventos
A ethicaacute
Ao longo de toda a Histoacuteria da Filosofia Epicuro seraacute lem-brado muito mais pelas suas proposiccedilotildees eacuteticas do que pelas fiacutesicas o que tem a sua explicaccedilatildeo com o desenvolvimento das ciecircncias o atomismo e as demais teorias desenvolvidas pelos filoacutesofos gregos antigos sofreram muitas variaccedilotildees atualizaccedilotildees e ateacute inovaccedilotildees graccedilas ao aprimoramento tecnoloacutegico das pesqui-sas contudo a eacutetica seguiu um outro percurso e o conteuacutedo do pensamento eacutetico epicuacutereo foi alvo das apropriaccedilotildees tiacutepicas da fi-losofia daqueles que buscaram construir uma eacutetica do bem viver
Markus Figueira da Silva
22 23
Neste caso especiacutefico uma eacutetica ao mesmo tempo naturalista e sensualista Por outro lado haacute os criacuteticos deste pensamento que na maioria das vezes o detrataram Como consequumlecircncia disso uma enorme controveacutersia interpretativa acerca da eacutetica de Epicuro tem sido frequumlente nos meios acadecircmicos e nos escritos publicados a este respeito Entretanto o que interessa agravequeles que desejam estudar o epicurismo seraacute entender como eacute possiacute-vel pensar uma eacutetica desvinculada tanto da poliacutetica quanto da religiatildeo Em outras palavras seraacute que a eacutetica epicurista eacute uma eacutetica sem matrizes ideoloacutegicas Penso que este foi o objetivo de Epicuro ao afastar-se da poliacutetica e da religiatildeo
Em Epicuro encontra-se a definiccedilatildeo da Filosofia como um saber em torno da vida cujo uso praacutetico se realiza constan-temente como um conhecimento que edifica a proacutepria vida como um exerciacutecio filosoacutefico cotidiano A fundamentaccedilatildeo do agir filosoacutefico eacute pois o conhecimento adquirido no processo de investigaccedilatildeo da natureza que prima pela desmistificaccedilatildeo da phyacutesis e daacute ao indiviacuteduo as reacutedeas da sua proacutepria vida e a autonomia para agir a partir de si mesmo Eacute neste sentido que Epicuro se distingue de outros pensadores da sua eacutepoca isto eacute o seu pensamento natildeo eacute tributaacuterio de nenhuma ideologia seja poliacutetica ou religiosa
Dioacutegenes Laeacutercio tambeacutem publicou em sua obra a Carta a Meneceu e quarenta Maacuteximas Principais de Epicuro Estes satildeo os textos eacuteticos por ele preservados e sobre os quais tecircm se debruccedilado os estudiosos Contudo haacute tambeacutem um conjunto de oitenta e uma sentenccedilas que foram descobertas muito mais tarde em 1888 por Karl Wotke no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Manuscrito 1950 ou GnomologioVaticano6 A maioria das sentenccedilas satildeo reflexotildees eacuteticas de Epicuro Outros textos
6 Gual CG 1981 p 133
Introduccedilatildeo
22 23
muito fragmentados e com muitas lacunas foram descobertos nas escavaccedilotildees de Herculano uma vila no Sul da Itaacutelia que foi soterrada pelas lavas do vulcatildeo Vesuacutevio no seacutec I aC como jaacute havia assinalado Este material tem sido objeto de pesquisa e poderaacute vir a acrescentar novas informaccedilotildees sobre o pensamento epicurista tanto quanto a chamada ldquoescrita sobre pedrardquo des-coberta nas escavaccedilotildees em Enoanda onde existiu uma extensa muralha construiacuteda por um adepto do epicurismo de nome Dioacutegenes que mandou talhar sobre ela diversos ensinamentos eacuteticos de Epicuro para que fossem lidos e servissem agrave reflexatildeo daqueles que por laacute passassem Felizmente estes textos foram em parte reconstituiacutedos e corroboram os publicados no livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio
Os inteacuterpretes da filosofia de Epicuro trabalham efetivamen-te sobre estes textos na busca de explicitar cada vez mais este pensamento que influenciou inuacutemeros pensadores e ainda hoje influencia tais como Giordano Bruno Michel de Montaigne Pierre Gassendi Baruch Espinoza Thomas Hobbes John Stuart Mill Karl Marx Michel Foucault entre outros
Assim para que sirva de referecircncia para o leitor indico os te-mas principais apresentados na Carta a Meneceu e nas Maacuteximas Principais
A Carta comeccedila com um protreacuteptico ou uma exortaccedilatildeo ao filosofar no passo 122 Em seguida estaacute o tetraphaacutermakon ou quaacutedruplo remeacutedio que reflete acerca dos deuses (passos 123 e 124) sobre a morte e os verdadeiros males da vida (entre os passos 124 e 127) sobreo futuro ou porvir (ainda no 127) sobre o prazer e os desejos (do 127 ao 132) e sobre a necessidade e o acaso (passos 132 a 135) Na conclusatildeo da Carta Epicuro convida o destinataacuterio e os seus amigos a refletirem sobre os pre-ceitos nela contidos pois estes ensinamentos conduzem a uma praacutetica de vida feliz ou bem aventurada
Markus Figueira da Silva
24 25
Com relaccedilatildeo agraves Maacuteximas Principais as primeiras (I a IV) tratam tambeacutem do tetraphaacutermakon em seguida haacute uma seacuterie de consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees necessaacuterias suficientes para se realizar uma vida feliz (makaacuterioszecircn) bem como sobre a relaccedilatildeo entre prazeres e virtudes (V a XXI) Haacute depois uma ilaccedilatildeo en-tre os criteacuterios para o conhecimento e o agir filosoacutefico (XXII a XXVI) sobre a amizade (philiacutea) e a classificaccedilatildeo dos desejos (XXVII a XXX) e finalmente sobre a justiccedila (dikaiosyacutene) e o modo como o saacutebio (sophoacutes) se relaciona com ela (XXXI a XL) Estas uacuteltimas ensejam uma reflexatildeo antropoloacutegica em torno das relaccedilotildees juriacutedico-sociais
Embora as Sentenccedilas Vaticanas natildeo faccedilam parte da obra laerciana tecircm o seu conteuacutedo associado ao das Maacuteximas Prin-cipais pois trazem reflexotildees em torno da conduta humana e em diversos aspectos aprofundam ou vecircm corroborar o sentido inerente agraves Maacuteximas
No conjunto das 81 sentenccedilas sobressaem aquelas dedicadas agrave amizade Pode-se dizer que Epicuro confere agrave amizade um papel fundamental na sua concepccedilatildeo de sabedoria ou filosofia A amizade gera confianccedila solidifica as relaccedilotildees sociais estimula a praacutetica das virtudes eacute responsaacutevel pelo bem estar dos indiviacuteduos e engendra a liberdade no agir Em Epicuro a amizade difere das praacuteticas comuns de relaccedilotildees sociais dos homens atrelados agraves cidades decadentes da sua eacutepoca Trata-se portanto de outro modelo de conduta privado molecular afastado da multidatildeo insensata Ela fundamenta a accedilatildeo e a liberta da dependecircncia e da cumplicidade que forccedila o indiviacuteduo a suportar o mal estar em sociedade A amizade simboliza o poder inerente a cada um de escolher o que lhe aprouver e evitar o que o perturba e o enfra-quece em seu iacutentimo em uma palavra o que o despotencializa Viver entre amigos eacute alcanccedilar e exercer a filosofia em toda a sua plenitude A amizade existe porque eacute natural mas a sua praacutetica
Introduccedilatildeo
24 25
exige o discernimento e a liberdade de poder escolher e poder evitar
Satildeo estas em linhas gerais as informaccedilotildees referentes aos textos de Epicuro aqui utilizados cujo vocabulaacuterio serviraacute de instrumento de leitura agravequeles que se interessarem pela Filosofia da Natureza e pela Eacutetica do Jardim
Markus Figueira da Silva
26 27
Auxiacutelio Ao leitor
A) lista de abreviaturas
DL - Dioacutegenes Laeacutercio Vidas e doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres SV - Sentenccedilas Vaticanas EpicuroMP - Maacuteximas Principais EpicuroDRN - De Rerum Natura LucreacutecioUs - USENER EpicureaNatSobre a Natureza Perigrave phyacuteseos Epicuro Pap HercPapiros Herculanesesm - masculinof - femininoad - adjetivoadv - adveacuterbioinf - infinitivolat latimpl - pluralprep - preposiccedilatildeosf - substantivo femininosm - substantivo masculinosn - substantivo neutrov - verbo
B) meacutetodos de referecircncia
Os algarismos araacutebicos agrave direita dos termos gregos trans-literados se referem aos paraacutegrafos em que cada termo ocorre no livro X de Dioacutegenes Laeacutercio por exemplo ldquoἀδιάλυτος adiaacutelytos- 54rdquo eacute uma palavra que estaacute localizada na passagem
Auxiacutelio ao leitor
26 27
de nuacutemero 54 do deacutecimo livro das Vidas e doutrinas dos Filoacute-sofos Ilustres obra escrita pelo doxoacutegrafo Dioacutegenes Laeacutercio que dedicou o deacutecimo livro agrave exposiccedilatildeo da vida e obra de Epicuro No entanto quando os algarismos araacutebicos estiverem precedidos pela abreviaccedilatildeo ldquoSVrdquo significa que eles remetem agraves Sentenccedilas Vaticanas por exemplo ldquoεὐδαιμονία eudaimoniacutea - 116 122 127 SV 33rdquo esta uacuteltima ocorrecircncia estaacute indicando que o termo eudaimoniacutea aparece na sentenccedila de nuacutemero 33 Por sua vez esses algarismos seguidos de ldquoUsrdquo fazem referecircncia aos fragmentos compilados por Usener em sua obra intitulada Epicurea como no termo ldquoἀκατονόμαστον akatonoacutemaston- 314 Us 315 Usrdquo Os algarismos romanos foram reservados agraves Maacuteximas Principais de Epicuro como em ldquoπαντελής panteleacutes- 116 XX XXIrdquo cujas duas uacuteltimas ocorrecircncias se referem agraves maacuteximas 20 e 21 dentre as Maacuteximas Principais
C) alfabeto grego
Αα- aacutelpha Bβ - beacutetaΓγ - gaacutemaΔδ - deacuteltaΕε - e psiloacuten7
Ζζ - dzeacutetaΗη - eacutetaΘθ - theacutetaΙι - ioacutetaΚκ - kaacutepaΛλ - laacutembdaΜμ - mucirc
7 Cf Murachco 2007 p 36 para compreender o modo de nomear as letras ε ο υ ω
Markus Figueira da Silva
28 29
Νν - nucircΞξ - ksicircΟο - o mikroacutenΠπ - piΡρ - rhocircΣσς- sicircgma sicircgma finalΤτ - tauΥυ - y psilonΦφ - phicircΧχ - khicircΨψ -psicircΩω - o meacutega
Auxiacutelio ao leitor
28 29
PrimeirA PArte
Physiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea
30 3130 31
ἀδιάλυτος adiaacutelytos (ad)- 54
Indissoluacutevel indestrutiacutevel
ἀθροίσμα athroiacutesma (sn)- 62 63 64 65 69 100 108 IX
Agregado organismo acumulaccedilatildeo Athroiacutesma eacute o termo que nomeia o agregado de aacutetomos que constitui o organismo humano No interior deste agregado se disseminam os aacuteto-mos da alma Athroiacutesma tambeacutem pode significar qualquer agregaccedilatildeo de aacutetomos existente na natureza
ἀθρόος athroacuteos (ad)- 35 56 69 70 104
Reuniatildeo concentraccedilatildeo inteireza
αἴδιος aiacutedios (ad)- 69 70 71
Eterno permanente
αἰτιολογεῖν aitiologeacutein (vinf) - 80 82
Processo de inferecircncia ou investigaccedilatildeo das causas Segundo o Greek-english lexicon de Liddell-Scott (1996) eacute a primeira ocorrecircncia deste termo nos textos gregos
αἰτιολογία aitiologiacutea (sf)- 97
Estudo ou investigaccedilatildeo das causas
ακατονόμαστον akatonoacutemaston (ad)- 314 Us 315 Us
O que natildeo eacute nomeado Trata-se de uma parte ou elemento da alma Epicuro distingue duas partes no corpo alma o aacutelogon que eacute geralmente traduzido por ldquoparte irracionalrdquo e
Primeira parte
32 33
que se encontra espalhada por todo corpo (organismo) e o logikoacuten cuja traduccedilatildeo eacute ldquoparte racionalrdquo e se concentra no peito Tanto em Epicuro quanto em Lucreacutecio estas duas partes estatildeo intimamente ligadas pois haacute uma ldquocontinui-daderdquo entre os aacutetomos concentrados no peito e os demais disseminados atraveacutes do corpo Esta continuidade se expli-ca pelo movimento voluntaacuterio que a alma imprime a todo organismo movimento este que daacute origem agraves sensaccedilotildees e agraves voliccedilotildees O problema reside entatildeo na impossibilidade de explicar os movimento da sensibilidade e os movimentos do pensamento que satildeo os mais ligeiros pois envolvem aacutetomos menores e mais redondos segundo o raciociacutenio de Epicuro
A dificuldade do problema que se impotildee estaacute na caracte-rizaccedilatildeo deste quarto elemento ou elemento sem nome (akatonoacutemaston) ou ainda como nomeou o poeta Lucreacutecio (DRN III241 e III275) a quarta natura que natildeo se pode comparar ou mesmo aproximar de nada do que encontra-mos no universo fiacutesico da natureza estudada ou seja natildeo existe termos de comparaccedilatildeo para justificar a tenacidade e a velocidade do pensamento nem a mobilidade da alma na ldquoprojeccedilatildeordquo ou ldquosaltordquo do pensamento (vide infra ἐπιβολή τῆς διανοίας -epiboleacute tegraves diaacutenoias na segunda parte) natildeo que possamos negar por isso a existecircncia de tal elemento contu-do natildeo podemos aferi-lo mediante o poder de percepccedilatildeo dos sentidos
ἄκρον aacutekron (sn)- 41 57 107
Extremidade altura
Physiologiacutea
32 33
ἀλειτούργητος aleituacutergetos (ad)- 97
Livre de isento Palavra de uso corrente que Epicuro usa metaforicamente no sentido de isentar os fenocircmenos de toda e qualquer causalidade divina
ἀλλόφυλος alloacutephylos (ad)- 106
Estrangeiro de outra tribo ou lugarVide infra Homoacutephylos - ὁμόφυλος (na terceira parte)
ἀμερής amereacutes (ad)- 59
Impartiacutevel indivisiacutevel Este eacute um termo utilizado apenas pelos filoacutesofos atomistas gregos
ἀμετάβατος ametaacutebatos (ad)- 59
Que natildeo admite passagem que natildeo muda de lugar estacio-nado Em sua ocorrecircncia as versotildees do texto grego apresen-tam uma diferenccedila Na versatildeo de Hicks (1925) a palavra eacute ἀμετάβολα ametaacutebola (ad) que significa imutaacutevel
ἀμετάβλητος ametaacutebletos (ad)- 41
Imutaacutevel A imutabilidade eacute caracteriacutestica apenas do corpo do aacutetomo e do Todo
ἀμύθητος amyacutethetos (ad)- 115
Que natildeo recorre ao mito Indiziacutevel Neste sentido mythos signi-fica a expressatildeo isto eacute a capacidade de dizer algo por palavras
Primeira parte
34 35
ἀνάγκη anaacutenke (sf)-74 77 90 92 115 133 134 SV 9 SV 40
Necessidade Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem finalidade (teacutelos)rdquo (vide infra τέλος na segunda parte) E somente o termo anaacutenke pode signifi-car necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo pronoacuteia para designar necessidade de qual-quer maneira a necessidade nuca foi enunciada por Epi-curo num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
ἀνακοπή anakopeacute (sf)- 42
Impedimento suspensatildeo parada resistecircncia Neste caso impedimento devido agrave colisatildeo com outro corpo O Greek--english lexicondaacute como primeira ocorrecircncia deste termo a Carta a Heroacutedoto de Epicuro
ἀναφής anapheacutes (ad)- 40 86
Intangiacutevel impalpaacutevel Termo de uso exclusivo da physiolo-giacutea grega
ἀνταναπλήρωσις antanapleacuterosis (sf)- 48
Reposicionamento substituiccedilatildeo compensaccedilatildeo A uacutenica ocor-recircncia deste termo se daacute na carta a Heroacutedoto de Epicuro
Physiologiacutea
34 35
ἀντικοπή antikopeacute (sf)- 46 47
Resistecircncia A primeira ocorrecircncia deste termo se daacute em Epicuro
ἀπάντησις apaacutentesis (sf)- 46
Encontro choque
ἀπειρία apeiriacutea (sf)- 45 116
Infinidade ilimitabilidade Palavra proacutepria da physiologiacutea grega
ἀπεὶρων (τό) apeigraveron (toacute) (ad) 47 60 73 75 88 XIII XV
Ilimitado infinito
ἀπερίληπτος aperiacuteleptos (ad)- 42
Incompreensiacutevel inacessiacutevel (ao pensamento)
ἀπερινόητος aperinoacuteetos (ad)- 46
Inconcebiacutevel Segundo Liddell-Scott (1996) Epicuro daacute a este termo um sentido diferente de outros usos da palavra
ἀποκατάστασις apokataacutestasis (sf)- 44
Retorno ao movimento ou posiccedilatildeo inicial
ἀποπαλμός apopalmoacutes (sm)- 44 280 Us
Aquele que ressalta e repercute Termo de uso exclusivo de Epicuro
Primeira parte
36 37
ἀπόπαλσις apoacutepalsis (sf)- 108
Choque impacto
ἀπόρροια apoacuterroia (sf)- 46
Efluacutevio fluxo corrente emanaccedilatildeo
ἀπόστασις apoacutestasis (sf)- 46
Afastamento distanciamento
ἀρχή archeacute (sf)- 30 41 44 116 128 132 134 138 SV 23
Princiacutepio origem comeccedilo fundamento A questatildeo do princiacutepio de realidade (archeacute) eacute explicitada pelo axioma baacute-sico do atomismo segundo o qual o todo eacute composto de aacutetomos e vazio Os aacutetomos satildeo elementos constitutivos de todas as coisas gecircnese dos corpos compostos e fundamento do atomismo cujo princiacutepio eacute assim formulado na Carta a Heroacutedoto
Primeiramente nada nasce do nada (natildeo-ser) Se natildeo fosse assim tudo nasceria de tudo e nada teria necessidade de seu proacuteprio germe (DL X 38)
ldquoNada nasce do nadardquo eacute um princiacutepio que surge jaacute no pensamento de Demoacutecrito (DL IX 44) e mais tarde no pensamento de Epicuro como ponto de partida para o co-nhecimento sensiacutevel Contudo foi Lucreacutecio (DRN I 174-224) quem traduziu este princiacutepio em imagens que podem ser comprovadas pela experiecircncia e assim manifestados para cada coisa animal ou planta faz-se necessaacuteria a sua proacutepria semente em condiccedilotildees favoraacuteveis a sua germinaccedilatildeo Em razatildeo disso eacute plausiacutevel dizer que a Carta a Heroacutedoto
Physiologiacutea
36 37
comeccedila indicando que o pensamento brota da experiecircncia mediante a qual surge a possibilidade de se estabelecer as analogias que levam ao ldquosaltordquo do pensamento Este salto se caracteriza por efetuar analogias entre a realidade apre-endida imediatamente pelas sensaccedilotildees as microestruturas corpoacutereas e o macrocosmos permitindo a inteligibilidade dos niacuteveis que escapam ao alcance da sensibilidade Desse modo o pensamento pode postular que na natureza os cor-pos vecircm a ser a partir dos aacutetomos e se dissolvem espalhando os elementos que os constituem dado que a todo instante os corpos se formam e se decompotildeem no universo infinito sem nada acrescentar ou subtrair ao todo A consequecircncia loacutegica deste princiacutepio revela que a constituiccedilatildeo total do ser ou do todo permanece a mesma
ἀσθένεια astheacuteneia (sf)- 77
Fraqueza debilidade
ἀστρολογία astrologiacutea (sf)- 113
Astronomia
ἀστρολόγος astroloacutegos (sm)- 93
Astrocircnomo
ἀσχολία askholiacutea (sf)- 85
Ocupaccedilatildeo empenho
ἀσώματος asoacutematos (ad)- 67 69 70
Incorpoacutereo Termo exclusivamente filosoacutefico
Primeira parte
38 39
ἄτομος aacutetomos (ad substantivadolatatomus)- 4142 43 44 45 48 50 54 55 56 58 59 61 62 65 86 99 102 110 115
Aacutetomo indivisiacutevel Os termos gregos aacutetomos (nominativo singular) aacutetomoi (nominativovocativo pl) ou aacutetomon (acusativo singular) constam em vinte passagens dos textos de Epicuro Na maioriadas vezes os tradutores optam por aacutetomo em suas traduccedilotildees embora em alguns casos tambeacutem se traduza por indivisiacutevel
O adjetivoaacute-tomosse substantiva em aacutetomos ldquoque quer dizer natildeo-cortado indivisiacutevelrdquo (GOBRY 2007 p 115) Os aacuteto-mos satildeo literalmente partiacuteculas indivisiacuteveis que por serem assim satildeo razatildeo explicativa da realidade Eacute a ideia que deu origem ao atomismo assim como foi teorizado inicialmente por Leucipo e Demoacutecrito8 e depois por Epicuro Este legado foi espalhado pelo mundo romano entatildeo recebendo a deno-minaccedilatildeo latina de atomus (aacutetomo) ou indivisum (indivisiacutevel) como traduz Ciacutecero ou ainda semina (sementes) na lingua-gem poeacutetica do epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro Os aacutetomos satildeo elementos (stoicheiacuteon)em quantidade infini-ta que constituem os corpos compostos (synkriacuteseis) Satildeo ca-racterizados na Carta a Heroacutedoto9como partiacuteculas corpoacutereas maciccedilas indissoluacuteveis imutaacuteveis indivisiacuteveis e impenetraacute-veis portanto resistindo agrave corrupccedilatildeo dos corpos compostos desde a eternidade
Esses elementos satildeo os aacutetomos indivisiacuteveis e imutaacuteveis se eacute verdade que nem todas as coisas poderatildeo perecer e resolver--se no natildeo-ser Com efeito os aacutetomos satildeo dotados da forccedila necessaacuteria para permanecerem intactos e para resistirem enquanto os compostos se dissolvem pois satildeo impenetraacuteveis
8 Cf DL IX 449 Cf DL X 35-83
Physiologiacutea
38 39
por sua proacutepria natureza e natildeo estatildeo sujeitos a uma eventual dissoluccedilatildeo Consequentemente os princiacutepios das coisas satildeo indivisiacuteveis e de natureza corpoacuterea (DL X 41)
O objetivo de Epicuro e seus disciacutepulos nunca fora o de explorar detidamente ou ldquocientificamenterdquo as caracteriacutesticas dos aacutetomos antes operavam analogias inferecircncias induti-vas e deduccedilotildees atribuindo aos aacutetomos propriedades neces-saacuterias para a explicaccedilatildeo da realidade sensiacutevel Nas palavras de Gigandet ldquoo aacutetomo eacute princiacutepio de inteligibilidade natildeo objeto de estudo mas pelo contraacuterio eacute o ponto de partida da explicaccedilatildeordquo (2001 p40) Sementes eternas de toda a rea-lidade os aacutetomos satildeo naturezas inteiras (hoacutelas phyacuteseis)10 sem qualidades acidentais (symptoacutemata)(vide infra σύμπτωμα na segunda parte) passiacuteveis de mudanccedila no entanto pos-suindo propriedades (symbebekoacuteta)(vide infra συμβεβηκός na segunda parte) ou qualidades (poioacutetes) necessariamente permanentes (anankaiacuteon hipomeacutenein) Constituintes de to-dos os corpos compostos (visiacuteveis e invisiacuteveis) os aacutetomos natildeo tecircm outras propriedades aleacutem da formafigura (schematoacutes) do tamanho (megeacutethous) e do peso (baacuterous)11
αὔξησις ayacutexesis (sf)- 90
Crescimento desenvolvimento
10 Cf DL X 4011 Neste ponto haacute uma diferenccedila do atomismo de Demoacutecrito e Leucipo
tal como Aristoacuteteles o apresenta na Metafiacutesica A 985b e o atomismo de Epicuro pois este acrescenta o peso (baacuteros) como uma das propriedades atocircmicas aleacutem de aglutinar a propriedade da ordem (taacutexis) agrave formafigura (schecircma) J Salem cita o doxoacutegrafo Aeacutecio para documentar este acreacutescimo da filosofia epicurista ldquoDemoacutecrito pensou que existe duas propriedades do aacutetomo a grandeza e a figura enquanto que Epicuro acrescentava uma ter-ceira o peso (baacuteros) de fato declara este uacuteltimo eacute necessaacuterio que os corpos recebam a impulsatildeo do peso para se moverrdquo (Cf SALEM 1997 p 28)
Primeira parte
40 41
αὐτοθελός autotheloacutes (ad)- 85
O que tem fim em si mesmo independente completo
ἀφανής aphaneacutes (ad)- 104
Inaparente obscuro
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (ad)- 76 123
Incorruptibilidade imortalidade
ἄφοδος aacutephodos (sf)- 54
Partida retirada
βάρος baacuteros (sn)- 4454 61 68
PesoDemoacutecrito natildeo havia introduzido o peso entre as qua-lidades dos aacutetomos poreacutem Epicuro contrariamente a ele conferiu ao peso a propriedade de ser causa do movimento dos aacutetomos no vazio movimento esse que por ser constante explica a mecacircnica do devir nos diversos niacuteveis de realizaccedilatildeo da phyacutesis O peso sendo causa primeira do movimento de transformaccedilatildeo das coisas eacute necessaacuterio para a coerecircncia do sistema de exposiccedilatildeo da phyacutesis embora natildeo determine de maneira alguma as afecccedilotildees entre os corpos
βέβαιος beacutebaios (ad)- 6385 XL
Seguro soacutelido firme
βράδος braacutedos (sn)- 46
Lentidatildeo lerdeza morosidade Palavra muito rara Soacute apare-ce em Xenofonte e Epicuro
Physiologiacutea
40 41
γένεσις geacutenesis (sf)- 48 77 86 SV 42
Nascimento origem produccedilatildeo gecircnese geraccedilatildeo
διάκρισις (sf)diaacutekrisis- 78
Conflito divergecircncia divisatildeo Estes soacute podem ocorrer no niacute-vel dos fenocircmenos fiacutesicos sejam eles celestes ou subterracircneos Contudo assevera Epicuro isso deve ser evitado Por outro lado natildeo se deve em nenhuma hipoacutetese atribuir agrave natureza divina a causa do conflito da divergecircncia ou da divisatildeo
διαλύω dialyacuteo (v)- 39 41 42 73 91 II SV 37
Dissolver
διάλυσις diaacutelysis (sf)- 4154
Dissoluccedilatildeo
διαμονή diamoneacute (sf)- 89
Estabilidade continuidade
διάρθρωσις diaacuterthrosis (sf)- 89
Articulaccedilatildeo
διάστημα diaacutestema (sn)- 89 91 110
Distacircncia intervalo Palavra oriunda da linguagem musical grega Provavelmente de origem pitagoacuterica
διαφορά diaforaacute (sf)- 42 55 56 75
Diferenccedila diversidade variedade
Primeira parte
42 43
δίνη diacutene (sf)- 92 93 112 113 114
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo
δίνησις diacutenesis (sf)- 90
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo Esta outra forma da palavra diacutene eacute mais teacutecnica e eacute de uso restrito de Aristoacuteteles e Epicuro
δυνατόν (τὸ) dynatoacuten (tograve) (ad substantivado)- 93
O possiacutevel
εἰλικρινής eilikrineacutes- (ad) 89 XIV
Puro absoluto completo
ἐκπύρωσις ekpyacuterosis (sf)- 101 103 115
Conflagraccedilatildeo combustatildeo
ἐμπεριλαμβάνω emperilambaacuteno (v)- 90 105
Captar englobar apreender compreender
ἔμπτωσις eacutemptosis (sf)- 102 SV 24
Incidecircncia impacto cair sobre
ἐναπόλεψις enapoacutelepsis (sf)- 77
Intercepccedilatildeo aprisionamento Este termo eacute usado por Epicu-ro num sentido inovador que diz respeito agrave teoria epicuacuterea do nascimento dos mundos
Physiologiacutea
42 43
ἐνδέχεσθαι endeacutechesthai (v)- 78 80 87 88 90 93 94 97 100 103 104105 107 108 113
Ser possiacutevel haver a possibilidade de
ἐνέργημα eneacutergema (sn)- 37
Exerciacutecio atividade
ἐξακριβοῦν exakribucircn (v)- 35 36 68 78 83
Precisar fazer com exatidatildeo detalhar Palavra de uso filosoacute-fico apenas
ἐπάρδευσις epaacuterdeysis (sf)- 89 100
Torrente corrente Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐπίβλεψις epiacuteblepsis (sf)- 35
Visatildeo consideraccedilatildeo
ἐπισημασία episemasiacutea (sf)- 98 115
Prognoacutestico sinal indiacutecio
ἐπιτήδειος epiteacutedeios (ad)- 93 99 100 107 111 112
Adequado adaptado apropriado
εὐκινησία eukinesiacutea (sf)- 63
Mobilidade facilidade de movimento
Primeira parte
44 45
θάμβος thaacutembos (sn)- 79
Perplexidade espanto admiraccedilatildeo
θεῖος theicircos (ad)- 97 113 115 SV 24
Divino
θέσις theacutesis (sf)- 44 46 48 75 30 Us
Posiccedilatildeo
ἰσοταχής isotacheacutes (ad)- 61 62
O que possui velocidade equivalente ou a mesma rapidez Os aacutetomos de acordo com o passo 61 da Carta a Heroacutedoto ldquotecircm necessariamente a mesma velocidaderdquo Aacutetomos pesa-dos grandes pequenos ou leves em movimento ascendente obliacutequo ou descendente percorrem o espaccedilo com a mesma rapidez12 Epicuro assemelha ainda a rapidez do aacutetomo agravequela do pensamento ou seja os aacutetomos se movem com a mesma rapidez com que operamos com o loacutegos na apreensatildeo de sentidos Para que a natureza se expresse da maneira que se apresenta aos homens eacute preciso que os aacutetomos natildeo apenas se movimentem mas que se movimentem com celeridade pois os elementos que se desprendem dos corpos devem ser imediatamente repostos para que a continuidade provisoacuteria dos compostos possa ser explicada pelo atomismo de manei-ra coerente Tendo em vista que os elementos que compotildeem
12 Cf DRN II 225-229 A sensibilidade parece atestar o contraacuterio quando se trata da rapidez dos corpos em queda mas eacute preciso considerar que a trajetoacuteria dos aacutetomos se daacute no vazio onde natildeo haacute resistecircncia nem por parte do ar nem da aacutegua meios em que vemos corpos mais pesados serem mais raacutepidos que corpos leves
Physiologiacutea
44 45
os corpos tecircm figuras diversas um aacutetomo com figura ldquoZrdquo natildeo pode ser substituiacutedo por um aacutetomo de figura ldquoOrdquo mas apenas por aacutetomos de figura ldquoZrdquo13 Isso significa que algu-mas reposiccedilotildees satildeo efetuadas por aacutetomos que se encontravam a grandes distacircncias mas que por possuiacuterem uma ligeireza comparaacutevel agravequela do pensamento alcanccedilam aglutinar-se ao corpo agregado que deles precisava para persistir na confi-guraccedilatildeo corpoacuterea que assumia A velocidade uniforme dos aacutetomos tambeacutem propicia a formaccedilatildeo das imagens pois estas guardam a posiccedilatildeo e estrutura que os aacutetomos componentes assuniam no corpo do qual se desprenderam tornando pos-siacutevel o ato perceptivo Eacute necessaacuterio agrave fiacutesica epicurista que os aacutetomos percorram espaccedilos vazios de modo igualmente veloz
ἱστορία historiacutea (sf)- 79
Investigaccedilatildeo estudo Epicuro critica o tipo de erudiccedilatildeo daqueles que fazem a historiacutea isto eacute a investigaccedilatildeo dos fenocirc-menos fiacutesicos mas natildeo demonstram o valor ou a utilidade deste conhecimento para a vida praacutetica
κάθαρσις kaacutetharsis (sf)- 86
Soluccedilatildeo Diz respeito ao modo proacuteprio de Epicuro pensar a natureza segundo o qual a physiologiacutea deve encontrar uma
13 Lucreacutecio (DRN I 167-172) explica que cada corpo tem sementes especiacuteficas ou seja os corpos compostos satildeo formados por aacutetomos de figuras particulares sem os quais o corpo composto natildeo se apresentaria da mesma maneira e aleacutem disso qualquer coisa poderia gerar-se de qualquer coisa um absurdo que natildeo constatamos ocorrer na natureza Nas palavras do poeta epicurista ldquoMas como todos (os seres e as coisas) se formam por sementes certas soacute nascem e chegam agraves margens da luz no lugar em que existam a mateacuteria e os corpos elementares que lhe satildeo proacuteprios por isso natildeo pode tudo nascer de tudo cada ser determinado tem em si possibili-dades proacutepriasrdquo
Primeira parte
46 47
soluccedilatildeo para os problemas fiacutesicos sem no entanto recorrer agrave sobrenaturalidade (explicaccedilotildees miacuteticas)
κατάστημα kataacutestema (sn)- 68 Us
Condiccedilatildeo estaacutevel
κενόν (τὸ) kenoacuten (tograve) (ad substantivado)- 40 41 42 44 46 67 89 90 74 Us 75 Us
O Vazio
Se aquilo que chamamos vazio e espaccedilo ou aquilo que por natureza eacute intangiacutevel natildeo tivesse uma existecircncia real nada haveria em que os corpos pudessem estar e nada atraveacutes de que eles pudessem se mover como parece que se movem (DL X 40)
O vazio eacute definido em primeiro lugar de modo simples e fundamental como aquilo que por natureza eacute intangiacutevel e dotado de uma existecircncia real em segundo lugar ele eacute apresentado como a condiccedilatildeo necessaacuteria aos movimentos dos corpos Com relaccedilatildeo aos corpos o vazio possui carac-teriacutesticas essencialmente opostas como por exemplo os corpos satildeo passiacuteveis de afecccedilatildeo o vazio natildeo os aacutetomos tecircm o limite delineado pela figura e podem ser comparados uns aos outros devido sobretudo ao fato de serem muacuteltiplos e diversos ao passo que o vazio eacute somente vazio ou algo anaacute-logo ao natildeo-ser Entretanto a sua existecircncia possibilita quer a compreensatildeo do vir-a-ser ou agregaccedilatildeo que a do movimen-to ou devir dos corpos Na afirmaccedilatildeo acima o vazio eacute ainda por definiccedilatildeo espaccedilo de livre constituiccedilatildeo e deslocamento dos corpos sendo o meio no qual emergem os agregados atocircmicos e onde se formam desenvolvem e corrompem as
Physiologiacutea
46 47
muacuteltiplas coisas da natureza Por estas razotildees parece justifi-car-se o caraacuteter fundamental atribuiacutedo por Epicuro ao vazio uma vez que eacute tatildeo necessaacuterio quanto os aacutetomos e o infinito para seu sistema de compreensatildeo da realidade
O vazio eacute tambeacutem aquilo que diferencia essencialmente um aacutetomo de um corpo composto Podemos recorrer aos atomis-tas para justificar esta diferenccedila Para eles o aacutetomo eacute imutaacutevel por ser pleno o corpo ao contraacuterio eacute passiacutevel de mudanccedilas visto que eacute um misto de aacutetomos e vazio a diferenccedila entatildeo explica-se pelo fato mesmo de se conceber os aacutetomos em cons-tante movimento e de se admitir que a existecircncia do vazio viabiliza os deslocamentos dos aacutetomos no interior dos corpos
κίνησις kiacutenesis (sf)- 50 51 59 64 66 67 73 77 92 98 101 105 106 111 112 115 136 2 Us 191 Us 280 Us
Movimento O termo grego kiacutenesis pode ser compreendido num sentido geral e num sentido estrito sendo todavia necessaacuterio concebecirc-lo inicialmente como expressatildeo dos pro-cessos de geraccedilatildeo e corrupccedilatildeo o que soacute eacute possiacutevel nas esferas dos corpos e dos mundos Num sentido geral kiacutenesis eacute presu-posto na realizaccedilatildeo de phyacutesis pois dele resultam as afecccedilotildees que datildeo origem aos agregados e aquelas que satildeo responsaacuteveis pela desagregaccedilatildeo dos compostos
Em virtude de os aacutetomos terem em si o princiacutepio do movimen-to a mudanccedila apresenta-se como uma necessidade Destarte cabe afirmar que compreender kiacutenesis como mudanccedila signifi-ca estabelecer que a realidade (fiacutesica) dos corpos compostos soacute eacute alterada em funccedilatildeo do movimento dos aacutetomos
Num sentido estrito eacute possiacutevel o emprego de kiacutenesis para designar apenas o deslocamento dos aacutetomos no vazio
Primeira parte
48 49
κοίλωμα koiacuteloma (sn)- 46 100 106
Cavidade profundidade concavidade
κόσμος koacutesmos (sm)- 45 73 74 77 88 89 90 112
Mundo Epicuro compreende que os mundos satildeo infinitos em nuacutemero e estatildeo espalhados por todo o universo que eacute tambeacutem infinito Alguns satildeo esfeacutericos outros podem ter outras formas Um mundo como um megacorpo recebe elementos que vem de fora e tambeacutem perdem elementos Na Carta a Heroacutedoto podemos ler as seguintes definiccedilotildees
Aleacutem disso existe um nuacutemero infinito de mundos tanto semelhantes ao nosso como diferntes dele pois os aacutetomos cujo nuacutemero eacute infinito como acabamos de demonstrar satildeo levados em seu curso a uma distacircncia cada vez maior E os aacutetomos dos quais poderia se formar um mundo natildeo foram todos consumidos na formaccedilatildeo de um mundo soacute nem de um nuacutemero limitado de mundos nem de quantos mundos sejam semelhantes a este ou diferentes deste Nada impede que se admita um nuacutemero infinito de mundos (DL X 42)
Um mundo eacute uma porccedilatildeo circunscrita do universo compre-endendo astros e terra e todas as coisas visiacuteveis destacado do infinito () cuja dissoluccedilatildeo levaraacute aacute ruiacutena tudo que estaacute nele (DL X 88)
κοῦφος kucircphos (ad)- 43 61
Leve ligeiro
κρᾶσις kraacutesis (sf)- 63
Mistura uniatildeo
Physiologiacutea
48 49
κροῦσις kruacutesis (sf)- 61
Choque golpe colisatildeo
κυριώτατος kyrioacutetatos (ad)- 35 36 78 79 81 82 83 IX XII XVI
Fundamental capital o mais importante
λειτουργέω leiturgeacuteo (v)- 76
Desempenhar uma funccedilatildeo cargo serviccedilo
λειτουργία leiturgiacutea (sf)- 113
Funccedilatildeo cargo serviccedilo
λεπτομέρεια leptomeacutereia (sf)- 63 355 Us
Um composto de partiacuteculas sutis A sutileza eacute caracteriacutestica dos aacutetomos do composto aniacutemico
λεπτομερής leptomereacutes (ad)- 63 90101
Composto de partiacuteculas sutis A alma eacute para Epicuro um corpo dentro do corpo-carne A diferenccedila estaacute na sutileza dos aacutetomos que compotildeem a alma
λόξωσις loacutexosis (sf)- 93
Inclinaccedilatildeo obliquidade Palavra utilizada na explicaccedilatildeo do movimento dos astros
λύσις lyacutesis (sf)- 79
Soluccedilatildeo liberaccedilatildeo
Primeira parte
50 51
μεστός mestoacutes (ad)- 42
Pleno cheio
μετάβασις metaacutebasis (sf)- 56 58
Passagem dum lugar a outro extensatildeo percorriacutevel
μεταβολή metaboleacute (sf)- 39 54 98
Mudanccedila transformaccedilatildeo Um dos tipos de movimento uti-lizados por Epicuro Neste caso significa o movimento de transformaccedilatildeo de um corpo
μετάθεσις metaacutethesis (sf)- 54
Transposiccedilatildeo deslocamento Outro tipo de movimento Neste caso significa a mudanccedila de lugar ou o deslocamento de um aacutetomo ou de um corpo composto (agregado)
μετακόσμιον metakoacutesmion (sn)- 89
Intermuacutendio Espaccedilo entre os mundos onde Epicuro situa os deuses
μετάστασις metaacutestasis (sf)- 89
Mundanccedila de posiccedilatildeo Termo que define o movimento dos aacutetomos no interior dos corpos
μετέωρα meteacuteora (ad) - 76 78 80 82 84 85 86 87 95 96 97 98 111 X XI
Qualificativo de fenocircmenos ou corpos celestes
Physiologiacutea
50 51
μορφή morpheacute (sf)-33 (255 Us) 49 50
Forma figura aspecto Relativo agrave forma dos objetos perce-bidos pelos sentidos ou imaginados pelo pensamento
ὅγκος hoacutenkos (sm)- 52 53 54 56 57 69 105
Corpuacutesculo partiacutecula massa
οἰκονομία oikonomiacutea (sf)- 79
Gestatildeo ordenamento
ὅλος hoacutelos (ad)- 36 70 71 82 IX XXI XXVII
Todo inteiro universal Epicuro usa este adjetivo para des-crever a totalidade de um corpo ou de sensaccedilotildees ou ainda a completude da vida Natildeo confundir com τό πᾶν toacute pacircn - O todo
ὁλοσχερής holoschereacutes (ad)- 35 36
Geral completo
ὁμογενές homogeneacutes (ad)- 32 (36 Us) 53 116 XVIII
Mesmo gecircnero (tipo espeacutecie) homogecircneo congecircnere
ὀξυγώνιος oksygoacutenios (ad)- 109
Anguloso acircngulos agudos
ὁπηλίκος hopeliacutekos (ad)- 56 57
Grandeza tamanho
Primeira parte
52 53
ὁρμή hormeacute (sf)- 115
Impulso
οὐρανός uranoacutes (sm)- 88 92 93 96 111
Ceacuteu
οὐσία usiacutea (sf)- 72 86
Essecircncia O uso deste termo diz respeito agrave investigaccedilatildeo acerca do tempo na Carta a Heroacutedoto (72) e agraves causas dos fenocircmenos celestes na Carta a Piacutetocles (86)
παλμός palmoacutes (sm)- 43
Vibraccedilatildeo pulsaccedilatildeo Os aacutetomos estatildeo em movimento cons-tante e palmoacutes eacute o termo que define o movimento vibratoacuterio (oscilatoacuterio) dos aacutetomos no interior dos corpos
πᾶν (τό) pacircn (toacute) (ad substantivado)- 39
O todo
παντελής panteleacutes (ad)- 116 XX XXI
Perfeito completo
παραλλαγή parallageacute (sf)- 55 63 95 113
Variaccedilatildeo diferenccedila
παρέγκλισις pareacutenklisis (sf lat clinamen)- 280 Us 351 Us
Declinaccedilatildeo Pareacutenklisis eacute um termo que natildeo consta nos tex-
Physiologiacutea
52 53
tos atribuiacutedos agrave Epicuro no entantoeacute possiacutevel lecirc-lo nas ins-criccedilotildees em perdra do epicurista Dioacutegenes de Enoanda(frg 54 II 3 III 14 Smith)Este termo tambeacutem aparece em Aeacute-cio I 12 5 (280 Us) em texto cujo autor enumera os tipos de movimento dos aacutetomos A versatildeo latina deste termo eacute mais conhecida clinamen14 As teorias a respeito da declinaccedilatildeo dos aacutetomos foram anunciadaspelo epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro no segundo canto de seu poema De Rerum Natura
Quando os corpos satildeo levados em linha reta atraveacutes do vazio e de cima para baixo pelo seu proacuteprio peso afastam-se um pouco (depellere paulum) da sua trajetoacuteria em altura incerta e em incerto lugar e tatildeo somente o necessaacuterio para que se possa dizer que se mudou o movimento (DRN II 216-220)
A declinaccedilatildeo se coloca como mais uma causa do movi-mento dos aacutetomos aleacutem das causas puramente mecacircnicas colisotildees ausecircncia de resistecircncia do vazio ou o proacuteprio peso dos aacutetomos15 A declinaccedilatildeo natildeo tem causa externa mas eacute um princiacutepio interno assim como o peso mas que diferente deste natildeo promove o percurso dos aacutetomos em uma direccedilatildeo constante antes luta contra toda determinaccedilatildeo introduzin-do na phyacutesis o acaso como causa de ser O elemento casual se encontra nas ocasiotildees em que os aacutetomos tendem a desviar de sua trajetoacuteria descendente ldquoem altura incerta e em incerto
14 Lucreacutecio tambeacutem usa outros termos para designar o des-vio do aacutetomo tais quais depellere declinare inclinare (DRN II 219221250253259243) O termo clinamen aparece apenas uma vez no verso 292 do livro II (Cf GIGANDET 2001 p 24 n3) ldquoClinamen parece ter sido criado por Lucreacutecio para evitar clinatio que natildeo podia entrar em seus versos hexacircmetros (SALEM 1997 p 67)
15 O doxoacutegrafo Aeacutecio afirma que ldquoOs aacutetomos se movem ora segundo a reta ora segundo o desvio (katagrave pareacutenklisin) os movimentos para cima ocorrem segundo o choque e a rebatidardquo (280 Us) cf DRN II 285-286
Primeira parte
54 55
lugarrdquo somente ldquoum poucordquo (paulum) sem causa aparente sem choques que constranjam seu deslocamento e indo de encontro agraves determinaccedilotildees do peso
Satildeo dois os argumentos usados por Lucreacutecio para defender a tese do clinamen (nos versos II 216-293) 1) Se natildeo ocor-ressem desvios atocircmicos a natureza permaneceria esteacuteril ldquoo mundo natildeo poderia nascer a necessidade seria infecundardquo (GUYAU 1927 p 77) uma vez que natildeo haveria colisotildees atocircmicas nem consequentemente corpos compostos mun-dos seres etc 2) Somos livres e para tanto eacute necessaacuterio que as ldquocausas natildeo se sigam perpetuamente agraves causasrdquo (DRN II 255) antes deve haver movimentos atocircmicos que natildeo podem ser remetidos agrave causas exteriores ldquoA existecircncia desta curiosa propriedade dos corpos primevos pode ser deduzida da ob-servaccedilatildeo dos fenocircmenos imputaacuteveis agrave vontade dos seres vi-vosrdquo (SALEM 1997 p 167) Lucreacutecio para justificar o mo-vimento de declinaccedilatildeo dos aacutetomos propotildee primeiramente imaginar um ldquomomentordquo hipoteacutetico da eternidade em que nenhum agregado atocircmico existisse mas apenas aacutetomos iso-lados percorressem seu trajeto descendente ldquocomo gotas de chuvardquo16 Se assim fosse jamais um aacutetomo se encontraria ou colidiria com outro natildeo haveria corpos compostos mundos ou seres viventes
πέρας peacuteras (sn)- 41 59 88 133 X XVIII XIX XX XXI SV 48
Limite termo
16 Como esclarece Gigandet ldquoa queda primitiva e esteacuteril eacute colocada como uma ficccedilatildeo um simples momento abstrato permitindo reconstruir o movimento caoacutetico efetivordquo (2001 p 29)
Physiologiacutea
54 55
περιαίρεσις periaiacuteresis (sf)- 55
Suprimir retirar remover
περίληψις periacutelepsis (sf)- 56
Circunscriccedilatildeo
περιοχή periocheacute (sf)- 88
Envoltoacuterio invoacutelucro
περιπλοχή periplocheacute (sf)- 43 44 99
Entrelaccedilamento
περίστασις periacutestasis (sf)- 92 102 104 106 107 109 111
Estado disposiccedilatildeo circunstacircncia entorno
περιφέρεια peripheacutereia (sf)- 107 110
Periferia circunferecircncia forma circular
περιφερής periphereacutes (ad)- 109
Redondo circular
πηλίκος peliacutekos (ad)- 57
De uma certa grandeza
πύκνωμα pyacuteknoma (sn)- 36 50 105 115
Densidade compacidade consistecircncia
Primeira parte
56 57
πλεκτικός plektikoacutes (ad)- 43
Entrelaccedilado
πλεοναχός pleonachoacutes (ad)- 86 87 95
Diverso muacuteltiplo
πληγή plegeacute (sf)- 53 103102 280 Us
Golpe choque impacto Eacute o termo utilizado por Epicuro para nomear o choque entre os aacutetomos e os oacutergatildeos sensiacuteveis Eacute o modo de explicar como se produz a audiccedilatildeo o olfato e a visatildeo por exemplo
πλῆθος plecircthos (sn)- 41 65 89
Nuacutemero quantidade
πλήρης pleacuteres (ad)- 41 XL
Pleno compacto
πνεῦμα pneucircma (sn)- 63 100 101 102 103 104 105 106 107 115
Sopro vento respiraccedilatildeo focirclego
πνευματώδης pneumatoacutedes (ad)- 53 106 107
Semelhante agrave respiraccedilatildeo anaacutelogo ao vento
ποιότης poioacutetes (sf)- 43 44 54 55 56
Qualidade
Physiologiacutea
56 57
πόρος poacuteros (sm)- 47 61 107 111
Passagem
πρόβλημα proacuteblema (sn)- 86
Problema
προσδοχή prosdocheacute (sf)- 89
Recepccedilatildeo
προσκατανόησις proskatanoacuteesis (sf)- 79
Conhecimento adicional consideraccedilatildeo aprofundada
πρόσκρισιςproacuteskrisis(sf)- 90 109
Acrescento agregaccedilatildeo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto
πύκνωμαpyacuteknoma(sn)- 3650 105 115
Massa densa concentraccedilatildeo
πυκνῶς pyknocircs(adv)- 73
De modo compacto forte constante
ῥεῦμα rheyacutema (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo Termo utilizado para nomear o deslocamento dos aacutetomos atraveacutes do espaccedilo para afetar os oacutergatildeos sensiacuteveis e produzir as sensaccedilotildees
Primeira parte
58 59
ῥύσις rhyacutesis (sf)- 104
Fluxo
σάρξ saacuterx (sf)- 137 IV XVIII XX SV 4 SV 33
Carne corpo Na physiologia o corpo eacute pensado como um agregado (vide supraathroiacutesma- ἀθροίσμα) constituiacutedo de aacutetomos e vazio ou seja como um ente fiacutesico (soacutema) Num segundo sentido o corpo eacute pensado como uma estrutura orgacircnica viva o que tambeacutem quer dizer phyacutesis O saber acerca do corpo humano se faz atraveacutes do contato corpomundo e chamamos mundo o conjunto de coisas que satildeo fenocircmenos manifestos no mundo-realidade Segundo Epi-curo conhecemos as coisas quando sentimos sua expressatildeo em noacutes E neste sentido buscamos naturalmente afec-ccedilotildees que produzam sensaccedilotildees constitutivas e agradaacuteveis De certa maneira o corpo se comunica com as coisas do mundo provando-as e tendo como criteacuterio de escolha e rejeiccedilatildeo das afecccedilotildees possiacuteveis o prazer e a dor O corpo eacute um modo do conhecimento Epicuro pensa neste mesmo corpo a alma que eacute tambeacutem corpo mas distingue-se da carne por suas propriedades fiacutesicas e por sua funccedilatildeo ra-cional e imaginativa que articula as impressotildees sensiacuteveis e projeta-as enquanto pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) A perfeita interaccedilatildeo entre carne e alma transfor-ma as sensaccedilotildees em sentimentos ou ainda o que afeta a carne em compreensatildeo ou pensamento Neste contexto carne e alma natildeo podem ser pensados separadamente pois satildeo apenas um e as afecccedilotildees (paacutethe) (vide infra πάθος na segunda parte) soacute se expressam como prazer ou dor na in-teraccedilatildeo carnealma
Physiologiacutea
58 59
σέμνωμα seacutemnoma (sn)- 77
Majestade Palavra encontrada nos textos de Epicuro e de poucas ocorrecircncias depois dele
σκαληνός skalenoacutes (ad)- 109
Irregular
σπέρμα speacuterma (sn)- 38 66 74 89
Semente esperma Este eacute um termo importante da physio-logiacutea que ressalta a ideacuteia de que para cada coisa animal ou planta eacute necessaacuterio a sua semente (esperma) proacutepria e das condiccedilotildees favoraacuteveis agrave sua germinaccedilatildeo
στάσις staacutesis (sf)- 73 88 92
Repouso imoacutevel
στεγάζωstegaacutedzo (v)- 43 64 65 66
Recobrir proteger
στερεότης stereoacutetes (ad)- 44
Solidez firmeza
στοιχεῖον stoicheiacuteon(sn)- 36 37 44 47 86 128
Elemento princiacutepio
συγγενής syngeneacutes(ad)- 78 79 98 116 135
Congecircnere similar afim
60 61
Primeira parte
60 61
συγγένησις syngeacutenesis (sf)- SV 61
Reuniatildeo
συγγενικός syngenikoacutes (ad)- 129
Congecircnito Este termo caracteriza a relaccedilatildeo do homem com o prazer (vide infrahedoneacute-ἡδονή na terceira parte)ldquoO pra-zer eacute nosso bem primordial e congecircnito (syngenikoacutes)rdquo (DL X 129) O prazer possibilita ao epicurista uma vida de acordo com a natureza constituindo-se como uma evidecircncia praacuteti-ca a guiar o homem para a felicidade
σύγκρισις syacutenkrisis(sf)- 40 41 42 54 55 62 66 73 110
Composiccedilatildeo condensaccedilatildeo
σύγκρουσις syacutenkrusis(sf)-44 101
Colisatildeo choque Este termo ocorre pela primeira vez em Epicuro
συγκύρησις synkyacuteresis (sf)- 96 98115
Concurso coincidecircncia
σύγκυσις syacutenchysis (sf)- 88
Ruiacutena mistura
συλλογή syllogeacute (sf)- 99 103 106 115
Reuniatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
60 6160 61
συμπαθής sympatheacutes (ad)- 63
Co-afecccedilatildeo Palavra que explica a ligaccedilatildeo ou conexatildeo das partiacuteculas (aacutetomos) com o resto do agregado (corpo)
συμφόρησις symphoacuteresis (sf)- 59 69
Agrupar reunir O primeiro a utilizar este termo foi Epicu-ro
συμφυλία symphyliacutea (sf)- 115
Da mesma tribo ou raccedila apropriado apto Neste caso o termo refere-se agrave compatibilidade existente entre os aacutetomos na formaccedilatildeo de um composto (agregadocorpo) O termo tambeacutem pode ser usado por Epicuro e entendido metafo-ricamente no sentido das relaccedilotildees humanas praticadas na comunidade do Jardim
συνφωνία symphoniacutea (sf)- 86 87 98
Acordo concordacircncia consonacircncia
σύντονος syacutentonos(ad)- 102 XXX SV 4
Intenso tenso veemente
σύστασις syacutestasis (sf)- 48 99 107
Combinaccedilatildeo uniatildeo
σύστημα siacutestema (sn)- 66
Complexo associaccedilatildeo
Primeira parte
62 63
συστροφή systropheacute (sf)- 73 77 XXXIII
Concentraccedilatildeo amontoado
σχῆμα schecircma(sn)- 42 44 54 55 68 74
Forma figura Uma das propriedades dos aacutetomos
σχηματισμός schematismoacutes(sm)- 54 74 94 101 102 109
Configuraccedilatildeo maneira forma
σῶμα socircma (sn)- 39 40 41 42 47 48 55 56 63 66 68 69 70 71 86 94 101 127 128 131 SV 73 221 Us
Corpo Socircma traduz tanto a ideia de um aacutetomo isolado quan-to a de compostos atocircmicosEpicuro tambeacutem denomina os compostos de athroiacutesmaou syacutenkrisis(Vide supra nesta mesma parte) O que diferencia fundamentalmente o corpo atocircmico singular do corpo composto eacute a presenccedila de vazio entre os aacutetomos reunidos em composiccedilatildeo Um corpo composto se diferencia tambeacutem da unidade atocircmica pela emissatildeo de simu-lacros (Vide supra leptomereacutes λεπτομερής nesta mesma parte) fina camada de aacutetomos que se desprende dos corpos compos-tos permitindo assim o processo perceptivo De acordo com Morel ldquoa categoria fundamental da fiacutesica epicurista eacute a de lsquocorporsquo antes mesmo que a de aacutetomordquo (2013 p 57) Dioacutegenes Laeacutercio nos informa que os corpos compostos eram objeto de estudo de trecircs livros do Perigrave Phyacuteseos (Sobre a natureza) e tam-beacutem do seu Megaacutele Epitomeacute (Grande Compecircndio)
τάγμα taacutegma (sn)- 71
Status classe
Physiologiacutea
62 63
τάξις taacutexis (sf)- 48 97
Ordem disposiccedilatildeo regularidade
τάχος taacutechos (sn)- 46 102
Rapidez velocidade
ταχύς tachyacutes (ad)- 62 98
Veloz raacutepido
τελείωσις teleiacuteosis (sf)- 89
Cumprimento realizaccedilatildeo conclusatildeo
τελεσιουργέω telesiurgeacuteo (v)- 36
Realizar acabar perfazer
τομή tomeacute (sf)- 43 56
Divisatildeo
τροπή tropeacute (sf)- 76 79 93
Revoluccedilatildeo solstiacutecio
ὑδατοιειδής hydatoeideacutes (ad) - 106 107 109
Aquoso
φορά phoraacute (sf)- 46 47 49 60 61 62 70 76 101 107 115
Movimento deslocamento translado
Primeira parte
64 65
φυσικός physikoacutes (ad)- 86 90 127 130 134 XXIX XXX SV 21
Natural fiacutesico
φυσιολογία physiologiacutea (sf)- 37 78 85 XI XII SV 45
Investigaccedilatildeo da natureza A physiologiacutea eacute descrita por Epi-curo como o procedimento de investigaccedilatildeo da natureza ou de toda realidade fenomecircnica que se nos apresenta Mantendo-se fiel a uma tradiccedilatildeo que remonta aos primeiros pensadores da Jocircnia Epicuro define a physiologiacutea como um exerciacutecio constante de compreensatildeo dessa realidade que eacute para ele a phyacutesis Eis a razatildeo de fazer derivar a eacutetica de um saber para a vida que deve se constituir necessariamente num modo de ser de acordo com a natureza Deste modo o exerciacutecio de pensar a phyacutesis configura o modo de ser do filoacutesofo que percebe neste aprendizado o sentido proacuteprio da sua situaccedilatildeo no mundo enquanto ser dotado da capacidade do logismoacutes(vide infra λογισμός na segunda parte) ou seja de ser capaz de utilizar-se do pensamento para escolher e recusar tudo o que necessita ou natildeo respectivamente Mas este exerciacutecio de pensar a phyacutesis soacute seraacute possiacutevel porque para Epicuro a natureza eacute a fonte ou o princiacutepio da vida fiacutesica psiacutequica e eacutetica Pois ele revela ao pensamento em si indiacutecios que tornam possiacutevel a medida de realizaccedilatildeo de cada coisa e dentre elas do proacuteprio homem que emerge em seu proacuteprio seio e tem a necessidade de viver de acordo com ela (katagrave phyacutesin)
φύσις phyacutesis (sf)- 35 40 45 48 49 54 68 69 70 71 75 78 79 82 83 86 90 91 97 113 115 129 133 VI VII
Physiologiacutea
64 65
IX XII XV XXV XXX XXXI XXXVII SV 21 SV 24 SV 25 SV 37
Natureza A Carta a Heroacutedoto apresenta proposiccedilotildees fun-damentais acerca dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis Nela articulam-se aacutetomos corpos compostos mundos e o todo a fimde possibilitar a compreensatildeo da natureza das coisas desde a microestrutura do aacutetomo ateacute a noccedilatildeo de infinito Percebe-se que nesta carta Epicuro buscou tornar clara e ob-jetiva a possibilidade de conhecimento da realidade como podemos ver no primeiro momento que revelou a primeira questatildeo ou seja ldquocomo as coisas se realizamrdquo Neste sentido podemos afirmar metafisicamente que na Carta a Heroacutedo-to o olhar tornou-se indagaccedilatildeo e o pensamento estendeu a dimensatildeo deste olhar ao mais minuacutesculo dos limites e ao mesmo tempo ao absoluto ilimitado
Agrave busca desta compreensatildeo Epicuro chamou de physiologiacutea definindo com isso o procedimento reflexivo que enseja a filosofia Eis a razatildeo de ser phyacutesis o germe de seu pensamento pois a origem do filosofar coincide com a origem da phy-siologiacutea Ele faz emergir desta maneira no cerne do pen-samento helecircnico o problema originaacuterio da filosofia Mais que isso o expotildee como propedecircutico ao desenvolvimento de uma ldquovisatildeo de mundordquo ou realidade Assim ele sugere que a construccedilatildeo de um pensamento filosoacutefico tem um princiacutepio sendo este princiacutepio a phyacutesis
Para alcanccedilar estes objetivos voltou-se entatildeo para a estru-turaccedilatildeo dos modos de compreensatildeo dos fenocircmenos natu-rais elaborando explicaccedilotildees que evidenciassem o sentido fiacutesico e material das geraccedilotildees dos desenvolvimentos das corrupccedilotildees enfim das mutaccedilotildees ocorridas na natureza enfatizando a possibilidade mesma de compreensatildeo de tudo
Primeira parte
66 67
isso Com isso buscou desestruturar completamente as ex-plicaccedilotildees fundadas em imaginaacuterias causas sobrenaturais insurgindo-se contra a arrogacircncia das insistentes ldquoopiniotildees vaziasrdquo que as postulavam como origem da realidade Por-que sua ocupaccedilatildeo era a realizaccedilatildeo efetiva de pensar o sublime vir-a-ser e fazecirc-lo aparecer apenas como sublime e natildeo mais como misterioso17
Eacute verdade que nem tudo que pocircde compreender sobre a natureza das coisas coube na epiacutestola que escreveu ao dis-ciacutepulo Heroacutedoto Contudo guardadas as limitaccedilotildees de um compecircndio encontra-se ali a autecircntica e genuiacutena disposiccedilatildeo do conhecimento que insiste em ver o filoacutesofo como um descobridor Natildeo de uma parte mas do ldquotodordquo cuja inquie-taccedilatildeo inicial jaacute eacute a finalidade do conhecimento ou seja a compreensatildeo da realidade
Phyacutesis eacute segundo a etimologia da palavra o processo de cres-cimento ou gecircnese de alguma coisa e neste sentido Epicuro somente a utiliza quando se refere aos corpos compostos e aos mundos Num segundo sentido phyacutesis eacute princiacutepio (ar-cheacute) porque eacute aacutetomos e vazio e num terceiro sentido phyacutesis eacute o modo de ser do todo ilimitado
χρόνος chroacutenos (sm)- 47 62 7273 75 93 106 111 124 126 129 130 133 III IV IX XVI XIX XX XXXVII SV 4 SV 42 SV 46 Pap Herc 1418
Tempo duraccedilatildeo Quando percebido numa relaccedilatildeo sensiacutevel o tempo aparece associado agraves manifestaccedilotildees de movimento Haacute o tempo de transformaccedilatildeo do dia em noite do quente
17 Lucreacutecio no livro I do seu poema De Rerum Natura (62-80) diz que Epicuro buscou explicar ldquocientiacuteficamenterdquo as coisas da natureza e com isso tem livrado a humanidade das falsas crenccedilas e temores
Physiologiacutea
66 67
em frio do crescimento e das degeneraccedilotildees dos seres vivos etc A compreensatildeo da natureza do tempo definida por Epi-curo como ldquoo acidente dos acidentesrdquo (syacutemptoma symptoacutema-tos) (vide infra σύμπτωμα na segunda parte) pressupotildee uma relaccedilatildeo de acontecimentos diversos e sucessivos que podem ser identificados somente na constataccedilatildeo das alteraccedilotildees so-fridas pelos corpos O tempo eacute compreendido numa relaccedilatildeo entre o acidente ou a mudanccedila de propriedades de um corpo e o movimento geral de transformaccedilatildeo das coisas O tempo do todo e de cada aacutetomo eacute um tempo infinito o tempo soacute eacute quantificaacutevel em relaccedilatildeo aos corpos passiacuteveis de observaccedilatildeo cujas alteraccedilotildees de posiccedilatildeo peso tamanho e forma satildeo evi-dentes aos sentidos Atraveacutes da analogia estabelecida entre as mudanccedilas observadas e a projeccedilatildeo do pensamento ao niacutevel macroscoacutepico podem-se criar hipoacuteteses acerca da duraccedilatildeo dos seres
Devemos refletir atentamente nas percepccedilotildees elementares a partir das quais constituiacutemos essa essecircncia (tempo) no que ela tem de proacuteprio e de que partimos para medir o tempo De fato natildeo haacute necessidade de demonstrar pois a reflexatildeo nos basta para compreender que compomos o tempo com os dias e as noites com os nossos estados de paixatildeo ou impassi-bilidade com os movimentos e os repousos concebendo em tudo isso certo acidente comum que nos leva a pronunciar a palavra tempo (DL X 73)
O tempo natildeo tem existecircncia proacutepria como o espaccedilo ou a mateacuteria ele eacute intuiacutedo apreendido percebido nas modifi-caccedilotildees das coisas por isso a Epicuro bastou a reflexatildeo de tempo sendo desnecessaacuterio demonstraacute-la ou defini-la apenas pareceu-lhe importante apresentaacute-la articulada ao movimento Lucreacutecio sintetiza de modo brilhante o que seu
68 69
Primeira parte
68 69
mestre grego pensou sobre o tempo
O tempo natildeo existe em si mesmo mas eacute das proacuteprias coisas que proveacutem o sentimento do que se passou do que eacute pre-sente daquilo que viraacute Ningueacutem pode sentir o tempo em si exteriormente ao movimento ou ao repouso das coisas (DRN I 459 - 463)
Assim a compreensatildeo epicuacuterea de tempo apresenta-o como unidade de medida de duraccedilatildeo Esta duraccedilatildeo pode ser a de um corpo ou do estado de um determinado corpo por exemplo a duraccedilatildeo da dor pode ser percebida e dessa per-cepccedilatildeo infere-se uma medida que quantifica sua duraccedilatildeo Se a dor eacute um acidente do corpo a duraccedilatildeo da dor eacute um acidente do acidente que eacute a dor E aleacutem da dor o prazer e todas as coisas que ora permanecem ora se modificam satildeo experiecircncias que possibilitam a apreensatildeo do tempo como unidade de medida de duraccedilatildeo
Ao considerar o tempo desta maneira Epicuro admite que as noccedilotildees de infinito e finito indicam respectivamente a na-tureza imutaacutevel dos aacutetomos e do todo e a natureza mutaacutevel dos corpos e mundos pois soacute estes uacuteltimos possibilitam a percepccedilatildeo do tempo
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
χώρα choacutera (sf) - 40 XXXVI XXXVII
Espaccedilo lugar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
68 6968 69
SegundA PArte
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
70 71
ἄδηλος aacutedelos (ad)- 32 38 39 80 XXXV
Imperceptiacutevel invisiacutevel oculto incerto desconhecido Aacutedelos expressao que natildeo pode ser apreendido por meio dos sentidos mas que natildeo obstante pode ser inferido atraveacutes de analogias que partem dos dados sensoriais Vide infra analogiacutea-ἀναλογία (nesta mesma parte)
αἴσθησις aiacutesthesis (sf)- 31 32 38 39 44 48 55 58 59 62 63 64 65 68 71 82 90 91 124 XXIII XXIV 422 Us
Sensaccedilatildeo sentido sensibilidade percepccedilatildeo A sensaccedilatildeo eacute a base do conhecimento e da opiniatildeo Eacute o efeito imediato da afecccedilatildeo e tambeacutem o que eacute impresso na alma quando se transforma em proleacutepsis (impressatildeo sensiacutevel) Todo pen-samento que opera por analogia agraves coisas sensiacuteveis o faz sempre tendo em vista a sensaccedilatildeo
αἰσθητήριον aistheteacuterion (sn)- 50 53
Oacutergatildeo sensorial sentido
αἰσθετικός aisthetikoacutes (ad)- 64
Sensiacutevel perceptiacutevel
αἰσθητός aisthetoacutes (ad)- 47 244 Us 261 Us
Sensiacutevel perceptiacutevel
ἀκρίβεια akriacutebeia (sf)- 78 80 83
Exatidatildeo precisatildeo rigor
Segunda parte
72 73
ἀκρίβωμα akriacuteboma (sn)- 36 83
Exatidatildeo precisatildeo conhecer exatamente investigar com exatidatildeo Este termo soacute ocorre nos textos de Epicuro
ἀκρισία akrisiacutea (sf)- XXII
Incerteza confusatildeo inseguranccedila do ldquojuiacutezordquo Este termo se justifica pela indeterminaccedilatildeo do acaso com relaccedilatildeo aos aacutetomos que explica a transformaccedilatildeo do mundo sensiacutevel que pelo movimento causa os inuacutemeros juiacutezos E por natildeo conse-guir determinar o que ocorre no mundo eacute preciso manter-se tranquumlilo na busca do necessaacuterio e nas respostas que a razatildeo encontra
ἀλήθεια aleacutetheia (sf)- 31 S54
Verdade realidade Compreensatildeo ou busca desse conheci-mento da phyacutesis Segundo Epicuro tudo eacute sensiacutevel e a sensa-ccedilatildeo sempre eacute verdadeira Os aacutetomos estatildeo em constantes e diferentes configuraccedilotildees e natildeo haacute como imobilizar a verdade de um fenocircmeno porque ela estaacute no todo de acordo com uma resposta subjetiva que pretende natildeo se amedrontar diante do que natildeo sabe
ἀληθής aletheacutes (ad)- 51 62 244 Us
Verdadeiro Aquele que possui o controle dos seus juiacutezos e eacute conduzido pela razatildeo Eacute capaz da philiacutea(vide infra φιλία na terceira parte) pois possui condiccedilotildees de agir com justiccedila em relaccedilatildeo a outros e as suas proacuteprias escolhas natildeo privilegiando apenas a aparecircncia do prazer mas sim o que eacute considerado qualitativamente bom
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
72 73
ἀλογία alogiacutea (sf)-87 SV 62
Irracionalidade desrazatildeo
ἀλογίστως alogiacutestos (adv)- 135
Contra a razatildeo de modo irracional insensato
ἄλογος aacutelogos (ad)- 31 66 81 SV 62
Irracional privado de razatildeo ininteligiacutevel
ἀμφισβήτησις amphisbeacutetesis (sf)- XXIV
Incerteza duacutevida ambiguidade
ἀναγωγή anagogeacute (sf)- XXIII
Referecircncia
ἀναισθησία anaisthesiacutea (sf)- 81
Insensibilidade
ἀναλογία analogiacutea (sf)- 32 58 59
Analogia proporccedilatildeo A analogia se daacute quando o pensamento procede a comparaccedilatildeo entre o que eacute percebido pela sensaccedilatildeo e o que soacute pode ser pensado (ou inteligido) pois ocorre no niacutevel microcoacutesmico ou macrocoacutesmico A analogia torna possiacutevel a expansatildeo maacutexima da physiologiacutea
ἀναλόγως analoacutegos (adv)- 40
Analogamente
Segunda parte
74 75
ἀνεπιλόγιστος anepiloacutegistos (ad) SV 63
Natildeo calculado Este termo estaacute sempre associado a Epicuro nas suas ocorrecircncias
ἀντιμαρτυρέω antimartyreacuteo (v)- 34 47 48 50 51 55 88 92
Infirmar testificar contra receber prova contraacuteria contra-ditar As teorias que natildeo podem ser confirmadas (epimar-tyacuteresis) sensorialmente podem entretanto receber prova contraacuteria A infirmaccedilatildeo ou pelo contraacuterio a confirmaccedilatildeo de uma teoria eacute possiacutevel por meio da comparaccedilatildeo com os fenocircmenos observaacuteveis
ἀνυπέρβλητος anypeacuterbletos (ad)- 47
Insuperaacutevel enorme
ἀξίωμα axiacuteoma (sn)- 86
Axioma enunciado princiacutepio
ἀπάθεια apaacutetheia (sf)- 73
Apatia natildeo-afecccedilatildeo No sentido de que a natildeo-afecccedilatildeo resul-ta para Epicuro na impossibilidade de conhecer
ἀπιστία apistiacutea(sf)- SV 57
Incerteza incredulidade infidelidade Em Epicuro este termo estaacute relacionado agrave incerteza ou falta de confianccedila que resulta na ignoracircncia e na incapacidade de agir Natildeo haacute registro nos textos remanescentes de Epicuro das noccedilotildees de crenccedila (religiosa) ou fidelidade
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
74 75
ἀπόδειξις apoacutedeixis (sf)- 3873
Demonstraccedilatildeo explicaccedilatildeo definiccedilatildeo prova
ἀπόφασις apoacutephasis (sf)- 124
Declaraccedilatildeo afirmaccedilatildeo
ἀσύμβλητος asyacutembletos (ad)- 83
Incomparaacutevel muito superior a Palavra de uso restrito a Aristoacuteteles e Epicuro
βάσις baacutesis (sf)- 46
Cadecircncia ritmo movimento e estrutura Os aacutetomos que se destacam dos corpos e viajam no espaccedilo conservando a mesma cadecircncia (baacutesis) e disposiccedilatildeo (teacutesis)possibilitam as imagens
βλέψις bleacutepsis (sf)- 130
Exame olhar
γνῶσις gnoacutesis (sf)- 78 79 85 123 SV 27
Conhecimento ciecircncia Como Epicuro natildeo utiliza o termo episteacuteme a canocircnica ou teoria do conhecimento pode ser considerada uma gnoseologiacutea Assim todo conhecimento fenomecircnico da realidade que eacute a base da physiologiacutea eacute com-preendido como gnoacutesis
γνωστός gnostoacutes (ad)- 68
Conheciacutevel compreensiacutevel conhecido
Segunda parte
76 77
δήλωσις deacutelosis (sf)- 76
Designaccedilatildeo manifestaccedilatildeo declaraccedilatildeo indicaccedilatildeo prova
διαλαμβάνω dialambaacuteno (v)- 38 58 67 85 123 133
Distinguir compreender apreender
διαληπτός dialeptoacutes (ad)- 57
Dinstinguiacutevel concebiacutevel
διάληψις diaacutelepsis (sf)- 50 51 58 69
Distinccedilatildeo discernimento
διαλογισμός dialogismoacutes (sm)- 2284 138 Us
Consideraccedilatildeo raciociacutenio conversaccedilatildeo caacutelculo argumentaccedilatildeo
διανόησις dianoacuteesis (sf)- 63
Exerciacutecio da inteligecircncia atividade do pensamento
διάνοια diaacutenoia (sf)- 31 38 49 50 51 62 78 X XVIII XX XXIV
Inteligecircncia reflexatildeo pensamento mente
διαπίπτω diapiacutepto (v)- 98
Falhar escapar errar
διαχέω diacheacuteo (v)- XXX
Dissipar dispersar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
76 77
δόξα doacutexa (sf)- 33 34 35 37 52 77 81 123 132 XV XXIV XXIX XXX SV29 SV59 202 Us 247 Us 471 Us
Opiniatildeo doutrina crenccedila teoria convicccedilatildeo Em Epicuro a opiniatildeo concerne ao que pode ser percebido e que resulta da investigaccedilatildeo empiacuterica ou do que eacute imperceptiacutevel isto eacute natildeo suscetiacutevel de investigaccedilatildeo direta
δοξάζω doxaacutedzo (v)-37 38 90 XXII XXIV 247 Us
Opinar crer
δοξαστικός doxastikoacutes (ad)- XXIV
Apto a formar uma opiniatildeo o que conjectura
ἐγκατάλειμμα enkataacuteleimma (sn)- 50
Resiacuteduo resto
εἴδωλον eiacutedolon(sn)- 46 47 48 50 I SV 24 355 Us
Simulacro imagem iacutedolos Epicuro usa diversos termos para caracterizar as imagens Alguns dizem respeito agraves ima-gens como aquilo que emana dos corpos soacutelidos Assim ele chama de simulacros (eiacutedola) as imagens das formas que satildeo similares aos objetos soacutelidos Ele tambeacutem chama de tyacutepoi (reacuteplicas) (Vide infra τύπος nesta mesma parte) as imagens emanadas dos objetos e que atingem os oacutergatildeos da percepccedilatildeo Lecirc-se no passo 46 da Carta a Heroacutedoto
Assim existem as reacuteplicas (tiacutepoi) da mesma maneira que existem os soacutelidos mas que por sua fineza diferenciam-se dos corpos aparentes Com efeito nada impede que se for-mem no envoltoacuterio (meio em torno dos corpos) destacamen-
Segunda parte
78 79
tos que sejam de tal tipo nem que se encontrem as condiccedilotildees proacuteprias que permitam a produccedilatildeo de espaccedilos ocos (cavados) e finos (tecircnues) nem os efluacutevios que conservem exatamente a posiccedilatildeo e a base (estrutura) que eles tinham sucessivamente nos corpos soacutelidos Essas reacuteplicas noacutes as chamamos de iacutedolos ou simulacros (eiacutedola)
Epicuro utiliza o termo tyacutepoi para mostrar que tais imagens imprimem-se na alma atraveacutes dos oacutergatildeos sensiacuteveis e utili-za eiacutedola para estabelecer a diferenccedila entre as imagens que destacam-se dos compostos e os proacuteprios corpos compostos Entretanto os dois termos satildeo utilizados para caracterizar as finas camadas de aacutetomos mais sutis que se destacam dos corpos e atingem os sentidos Epicuro quer dizer ainda que a experiecircncia natildeo pode desmentir sua proposiccedilatildeo pois natildeo eacute possiacutevel discernir essas imagens que natildeo afetaram ainda o oacutergatildeo sensiacutevel O processo eacute muito raacutepido e soacute depois eacute que se pode pensar na maneira como tudo ocorreu O que estaacute posto aqui eacute que o simulacro conserva o mesmo arranjo (theacute-sin) ou disposiccedilatildeo dos aacutetomos tal qual figura nos corpos soacute-lidos (tocircn somaacuteton ti) Os simulacros satildeo caracterizados como efluacutevios (aporroaiacute) ou emanaccedilotildees (reuacutesis) que se destacam dos corpos e atingem os oacutergatildeos sensiacuteveis Aleacutem disso o fluxo pode conservar por algum tempo a disposiccedilatildeo e a ordem dos aacutetomos (theacutesin kaigrave taacutexin tocircn atoacutemon) Sem profundidade ou volume a imagem eacute formalmente idecircntica ao corpo do qual foi emanada poreacutem eacute reduzida agraves duas dimensotildees do plano Os simulacros podem ser entendidos como substitutos das coisas que permitem ao pensamento representaacute-las O que eacute pensado natildeo satildeo as coisas elas mesmas mas seus simulacros que natildeo tecircm realidade plena isto eacute natildeo satildeo corpos soacutelidos como as coisas mas satildeo reais porque satildeo constituiacutedos por
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
78 79
aacutetomos e vazios como qualquer corpo soacutelido A diferenccedila estaacute na sutileza (fineza) dos aacutetomos que os compotildeem
Os simulacros mantecircm a figura (skheacutema) dos corpos dando forma agrave imagem e os aacutetomos que compotildeem esta imagem possuem sutileza (leptoacutetes) (vide infra ληπτότης nesta mesma parte) e ligeireza (kouraacute) Isso explica porque os simulacros tecircm uma sutileza inconcebiacutevel pelo pensamento e inapreen-siacutevel aos sentidos As imagens que se pode perceber resul-tam da afecccedilatildeo dos simulacros sobre os oacutergatildeos sensiacuteveis As sensaccedilotildees satildeo efeitos da penetraccedilatildeo dos aacutetomos arranjados numa imagem-simulacro no corpo que as recebe
Assim as afecccedilotildees geram imediatamente as sensaccedilotildees que a princiacutepio podem ser de dois tipos ou agradaacuteveis ou desa-gradaacuteveis Epicuro usa o termo energeiacuteas(vide infra ἐνέργεια nesta mesma parte)para nomear o processo de produccedilatildeo das imagens e chama de sympatheiacuteas(vide supra συμπαθής na primeira parte) os estados perceptivos dos corpos afetados pelas imagens Continua Epicuro ainda no passo 46
Assim (ocorre) o movimento que se produz atraveacutes do vazio sem que nenhum choque com os corpos imponha resistecircncia aos simulacros que se movem numa velocidade inconcebiacutevel pelo pensamento
Como a emanaccedilatildeo de simulacros dos corpos eacute contiacutenua a imagem que percorre o espaccedilo perde algumas propriedades que satildeo logo supridas com a continuidade das emanaccedilotildees Este processo de regeneraccedilatildeo ou recomposiccedilatildeo compensa-toacuteria eacute chamado de antanaplerosis Epicuro a todo instante alerta para o fato de que os sentidos natildeo podem contradizer sua hipoacutetese explicativa porque trata-se de imagens im-perceptiacuteveis por dois motivos a saber primeiro porque as imagens satildeo compostas por aacutetomos de natureza mais sutil
Segunda parte
80 81
que os aacutetomos dos corpos concretos segundo porque a velocidade do movimento dos simulacros eacute inconcebiacutevel e incomensuraacutevel Toda a realidade compotildee-se de aacutetomos e vazio mas os aacutetomos satildeo qualitativamente diferentes sendo uns mais densos e outros mais sutis Os aacutetomos que formam as imagens satildeo de natureza sutiliacutessima
εἰκών eikoacuten (sf)- 51
Imagem reproduccedilatildeo iacutecone similitude
ἔκθλίψις eacutekthlipsis (sf)- 53 109
Expulsatildeo deslocamento
ἐλάχιστον (τὸ) elaacutechiston (tograve) (ad substantivado)- 58 281 Us
O miacutenimo
ἔμφασις eacutemphasis (sf)- 95
Aparecircncia aspecto
ἐναργής enargeacutes (ad)- 33 123
Evidente claro manifesto Eacute aquilo que se apresenta claramente ao pensamento e que portanto natildeo poder ser contradito nem pela percepccedilatildeo nem pelo pensamento (ou opiniatildeo)
ἐναργῶς enargocircs (adv)- 67
Evidentemente visivelmente claramente
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
80 81
ἔνδηλος eacutendelos (ad)- 52
Manifesto presente
ἐνέργεια eneacutergeia (sf)- 48 136 2 Us 219 Us
Forccedila (em accedilatildeo) atividade energia Haacute uma diferenccedila en-tre a versatildeo do texto grego utilizada por M Conche (1977) (ἐνέργειας) e a utilizada por Hicks (1925) (ἐνάργεια versatildeo de Gassendi) Para ver a definiccedilatildeo de ἐνάργεια vide supra enargocircs-ἐναργῶς (nesta mesma parte)
ἐννόῃμα ennoacuteema (sn)- 38
Noccedilatildeo ideia conceito significaccedilatildeo
ἔννοια eacutennoia (sf)- 33 576977 XXIV
Pensamento noccedilatildeo concepccedilatildeo ideia
ἐνότης enoacutetes (sf)- 52
Unidade
ἔνστημα eacutenstema (sn)- 91
Obstaacuteculo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto e significa aquilo que se interpotildee ao deslocamento dos aacutetomos no vazio
ἐξαιτιολογεῖν exaitiologeicircn (v inf)- 82
Buscar a causa ou explicaccedilatildeo de algo Primeira apariccedilatildeo do termo ocorre na Carta a Heroacutedoto
Segunda parte
82 83
ἐπαίσθησις epaiacutesthesis (sf)- 52 53
Sensaccedilatildeo percepccedilatildeo
ἐπιβλετικῶς epibletikoacutes (adv)-50
Por apreensatildeo (direta) por impressatildeo (direta)
ἐπιβολή epiboleacute (sf)- 31 35 36 38 50 51 62 69 70 83 XXIV
Apreensatildeo (intuitiva) projeccedilatildeo Pode ser traduzido por salto no sentido de alcance promovido pelo pensamento
ἐπιβολή τῆς διανοίας epibolegrave tecircs dianoiacuteas- 31 38 51 XXIV
Projeccedilatildeo (salto) do pensamento Expressatildeo fundamental que indica a operaccedilatildeo do pensamento quando este articula a expo-siccedilatildeo da realidade Epicuro postula que esta operaccedilatildeo eacute ime-diata e por isso ele utiliza a imagem de um ldquosaltordquo ou de uma ldquoprojeccedilatildeordquo do pensamento para caracterizar a formulaccedilatildeo ou apreensatildeo de uma explicaccedilatildeo acerca da realidade sensiacutevel ou no procedimento de pensar por analogia ao sensiacutevel
ἐπίδηλος epiacutedelos (ad)- 48
Perceptiacutevel visiacutevel
ἐπικρίνειν epikriacutenein (v inf)- 37
Distinguir decidir julgar
ἐπιλογίζεσθαι epilogiacutezesthai (v inf)- 72 133 XXII SV 35
Considerar refletir ter em conta
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
82 83
ἐπιλογισμός epilogismoacutes (sm)- 73 XX
Reflexatildeo caacutelculo
ἐπιμαρτυρεῖν epimartyreicircn (v inf)- 34 50 51 XXXVII
Confirmar testemunhar atestar Vide supra antimartyreacuteo -ἀντιμαρτυρέω verbo de sentido oposto (nesta mesma par-te)
ἐπιμαρτύρεσις epimartyacuteresis (sf)- XXIV 247 Us
Confirmaccedilatildeo Termo utilizado pela primeira vez por Epicu-ro
ἐπίνοια epiacutenoia (sf)- 32 45
Concepccedilatildeo noccedilatildeo doutrina
ἐπιπολή epipoleacute (sf) - 48
Superfiacutecie No texto utilizado por Bollack (1971) o termo aparece diferente ἐπὶ πολλή
ἐπίρρυσις epiacuterrysis (sf)- I
Afluxo influxo fluxo
ἐπιτηδειότης epitedeioacutetes (sf)- 46
Condiccedilotildees proacuteprias propriedade materiais
θεωρητός theoretoacutes (ad)- 47 57 62 I 355 Us
Visiacutevel discerniacutevel perceptiacutevel observaacutevel Pelo nuacutemero de
Segunda parte
84 85
ocorrecircncias da expressatildeo ldquoτοὺς διὰ λόγου θεωρητοὺςrdquo vecirc-se a importacircncia da conexatildeo que realccedila a noccedilatildeo de ldquovista pelo pensamentordquo Elas se datildeo principalmente na Carta a Heroacutedoto Quando associada a logos a expressatildeo adquire o sentido de ldquovisatildeo do pensamentordquo isto eacute aquela capaz de perscrutar as coisas invisiacuteveis Portanto o pensamento que estabelece a realidade e a constituiccedilatildeo dos corpos pela aglomeraccedilatildeo dos aacutetomos se remete agrave uma ldquovisatildeordquo dos corpos elementares
θεωρία theoriacutea (sf) - 35 59 86 116 128
Estudo visatildeo contemplaccedilatildeo
ἰδιότης idioacutetes (sf)- 5871
Particularidade caraacuteter proacuteprio singularidade individuali-dade
ἰδιότροπος idioacutetropos (ad)- 52
Caracteriacutestico distintivo especiacutefico Termo usado pela pri-meira vez por Epicuro
ἰδίωμα idiacuteoma (sn)-72 109
Qualidade particular caraacuteter proacuteprio
κανών kanoacuten (sm)-129
Canocircn criteacuterio regras O comentaacuterio feito por Dioacutege-nes Laeacutercio que se inicia no passo 29 do Livro X tem por objetivo expor a doutrina de Epicuro de modo resumido dividindo-a em trecircs partes e caracterizando o que ele con-
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
84 85
sidera elementar para o leitor Para comeccedilar ele jaacute interfere na compreensatildeo que o leitor pode ter do pensamento em questatildeo quando subdivide a filosofia em canocircnica fiacutesica e eacutetica Eacute preciso discordar dessa subdivisatildeo Note-se que em nenhum momento na Carta a Heroacutedoto Epicuro faz menccedilatildeo a esta divisatildeo estabelecida por Dioacutegenes Laeacutercio Ao con-traacuterio eacute este uacuteltimo que afirma no final desse passo que os epicuristas satildeo os autores de tal divisatildeo Ele natildeo diz de quais epicuristas estaacute falando nem que eacute de Epicuro essa divisatildeo Esse eacute um problema tiacutepico da doxografia e mais do que isso das apropriaccedilotildees que foram feitas dos textos da filosofia an-tiga em geral
Na leitura interpretativa aqui pretendida desconfia-se desta triparticcedilatildeo da filosofia de Epicuro e postula-se que a filosofia eacute um todo que integra a physiologiacutea agrave eacutetica e entende os cri-teacuterios para o conhecimento (tograven kaacutenon) como parte introdu-toacuteria da physiologiacutea ou ainda um meacutetodo explicativo acerca do modo como se produz o conhecimento considerando-o como efeito da natureza O homem produz conhecimentos como modo proacuteprio de se realizar e o conhecimento que ele produz eacute efeito da sua relaccedilatildeo afetiva com a natureza Assim Epicuro tenta recuperar aspectos do pensamento grego18 in-tegrando-os ao seu exerciacutecio de pensar a realidade e o modo como se pode conhececirc-la
κατάληψις kataacutelepsis (sf)- 33
Apreensatildeo
18 Notadamente os pensadores ditos ldquopluralistasrdquo do seacutec V aC como Empeacutedocles Anaxaacutegoras e Demoacutecrito Neste sentido acredita-se que Epi-curo manteacutem-se como um physiologoacutes
Segunda parte
86 87
καταμετρέω katametreacuteo (v)- 58 XIX
Medir calcular
κατεργασία katergasiacutea (sf)- 46
Produccedilatildeo confecccedilatildeo
κρίσις kriacutesis (sf)- XXIV
Discriminaccedilatildeo juiacutezo julgamento
κριτήριον kriteacuterion (sn)- 30 31 38 51 52 82 116 XXIV
Criteacuterio padratildeo de julgamento
ληπτότης leptoacutetes (sf)- 46 47
Fineza sutileza
λογισμός logismoacutes (sm)- 32 39 75 76 117 132 144 145 XVI XIX 517 Us
Raciociacutenio caacutelculo O logismoacutes ou caacutelculo raciociacutenio ou ainda ldquomecanismordquo ou ldquoinstrumentordquo do pensar eacute para Epicuro o que torna possiacutevel a elaboraccedilatildeo do pensamen-to (diaacutenoia) Eacute tambeacutem o que possibilita as analogias que conduzem o pensamento desde as impressotildees sensiacuteveis agraves elaboraccedilotildees de explicaccedilotildees sobre tudo o que natildeo eacute percebido pelos sentidos
Trata-se portanto de um conceito fundamental para enten-der o papel do pensamento na deliberaccedilatildeo acerca do modo de vida do homem no mundo uma vez que ele calcula ou mensura o alcance e o limite da accedilatildeo humana ou seja eacute
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
86 87
atraveacutes da reflexatildeo que se daacute a medida do agir
Sempre que Epicuro se refere ao exerciacutecio do pensamento ou reflexatildeo o termo utilizado eacute logismoacutes pois entende o exerciacute-cio como ato de pensamento ou operaccedilatildeo do pensamento Eacute sempre a partir do logismoacutes que se julga ou delibera e a accedilatildeo subsequente expressa uma sabedoria (vide infraphroacutenesis φρόνησις na terceira parte) que eacute na praacutetica capacidade de discernir de escolher e de recusar Podemos identificar em diversas passagens do texto de Epicuro o uso deste termo com efeitos de caacutelculo direcionamento da accedilatildeo operaccedilatildeo com analogias etc As seis passagens a seguir mostram es-tes usos ldquoCom efeito a existecircncia de corpos eacute atestada em toda a ocasiatildeo pelos sentidos e eacute neles que o logismoacutes deve basear-se para conjecturar acerca do sensiacutevelrdquo (DL X 39) ldquoEacute preciso ainda compreender que a natureza tem recebido ainda das realidades mesmas um ensinamento muacuteltiplo e variado e que mais tarde o logismoacutes introduziu precisotildees e acrescentou descobertas ao que a natureza transmitiu em certos casos mais rapidamente em outros mais lentamen-te em certos periacuteodos e momentos alcanccedilando progressos maiores em outros menoresrdquo (DL X 75) ldquoAs causas dos males praticados pelos homens satildeo o oacutedio a inveja e o des-prezo que o saacutebio domina por meio do logismoacutes Aquele que se torna saacutebio uma vez nunca mais assumiraacute nem fingiraacute as-sumir voluntariamente uma atitude contraacuteriardquo (DL X 117) ldquoNatildeo eacute a sucessatildeo ininterrupta de banquetes e festas nem o prazer sexual com meninos e mulheres nem a degustaccedilatildeo de peixes e outras iguarias oferecidas por uma mesa suntuosa que proporciona a vida agradaacutevel e sim o nephroacuten logismoacutes (caacutelculo soacutebrio) que investigue as causas de toda a escolha e de toda a rejeiccedilatildeo e elimine as opiniotildees vatildes por obra das
Segunda parte
88 89
quais um imenso tumulto se apossa das almasrdquo (DL X 132) ldquoRaramente o acaso atinge o saacutebio pois as coisas principais e fundamentais tecircm sido governadas pelo logismoacutes e por todo o curso da vida o governa e o governaraacuterdquo (DL X 144) ldquoO tempo infinito conteacutem o mesmo prazer que o tempo finito se os limites deste prazer satildeo calculados (com o logismoacutes)rdquo (DL X 145)
O uso do termo logismoacutes daacute sentido e linearidade agrave psicologia epicuacuterea na medida em que busca explicitar os agenciamentos das imagens discursivas que representam tanto as realidades aprendidas pelos sentidos quanto agraves apreendidas pelo pensamento A tentativa de mostrar como a alma opera o conhecimento ou o modo como o pensamento eacute elaborado denota a relevacircncia dessas explicaccedilotildees para uma physiologiacutea da alma
λόγος loacutegos (sm)- 32 47 59 62 83 86 I XXV SV 26 36 Us 221 Us 355 Us
Discurso pensamento argumento razatildeo Epicuro utiliza vaacuterias vezes este termo com sentidos diversos por isso ele pode ser traduzido dependendo da ocasiatildeo por todas as palavras aqui elencadas
μαντική mantikeacute (ad)- SV 24
(Arte) Divinatoacuteria profeacutetica
μάθησις maacutethesis (sf)- SV 27
Accedilatildeo de aprender desenvolver instruir conhecimento ins-truccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
88 89
μέγεθος meacutegethos (sn)- 41 43 44 49 54 55 56 57 58 59 68 69 91 III
Grandeza magnitude tamanho
μεταβατός metabatoacutes (ad)- 58
Passiacutevel de ser atravessadas que admite passagem Palavra de uso exclusivo de Epicuro
μῆκος mecirckos (sn)- 46 59 98
Extenccedilatildeo longitude
μνήμη mneacuteme (sf)- 31 35 36 82 83 85 95 255 Us
Memoacuteria Nos textos remanescentes de Epicuro identifi-camos onze ocorrecircncias de termos relacionados agrave memoacuteria (mneacuteme) que evidenciam a importacircncia dada pelo filoacutesofo aos exerciacutecios de memorizaccedilatildeo Exemplo disso eacute o iniacutecio da Carta a Heroacutedoto onde podemos ler
Para os incapazes de estudar acuradamente cada um dos meus escritos sobre a natureza Heroacutedoto ou de percorrer detidamente os tratados mais longos preparei uma epiacutetome de todo o meu sistema a fim de que possa conservar bem gravado na memoacuteria o essencial dos princiacutepios mais impor-tantes e estejam em condiccedilotildees de sustenta-los em quaisquer circunstacircncias desde que se dediquem ao estudo da natureza Aqueles que progredirem suficientemente na contemplaccedilatildeo do universo devem ter na memoacuteria os elementos fundamen-tais de todo o sistema pois necessitamos frequentemente de uma visatildeo de conjunto embora natildeo aconteccedila o mesmo com os detalhes (DL X 35 p 291)
Segunda parte
90 91
Nessa passagem Epicuro utiliza duas vezes a noccedilatildeo de me-moacuteria a primeira quando sugere que os disciacutepulos receacutem iniciados no estudo da phyacutesis devem gravar na memoacuteria (Eacuten te mneacuteme) o essencial dos princiacutepios da physiologiacutea a se-gunda quando adverte que eles devem estar sempre prontos para expor uma visatildeo de conjunto (athroacuteas epiboleacutes) de toda a physiologiacutea e para isso devem guardar na memoacuteria (mnemo-neuein) o sistema
Na passagem seguinte (36) ele utiliza duas vezes o termo memoacuteria para enfatizar que os recursos mnemocircnicos devem ser utilizados em todo momento para evitar as crenccedilas e as opiniotildees vazias (kenoacuten doxai) (vide supradoacutexa δόξα nesta mesma parte) uma vez que quando fixadas na memoacuteria as explicaccedilotildees acerca da natureza das coisas a conduta do saacutebio jamais seraacute perturbada por imagens discursivas fantasiosas imaginativas que apontem para causas sobrenaturais Eacute ne-cessaacuterio lembrarmos sempre que o propoacutesito da filosofia de Epicuro eacute o exerciacutecio da vida feliz (makaacuterios zeacuten) e que como escreveu Jean Salem ldquoo caminho que conduz agrave felicidade leva em conta o aniquilamento das perturbaccedilotildees causadas em noacutes pelas opiniotildees vazias o que soacute eacute possiacutevel quando haacute a memorizaccedilatildeo dos princiacutepios da physiologiacutea19
μοναχῇ monachecirci (ad f)- 94
Uacutenica
μοναχός monachoacutes (ad)- 86 95
Uacutenico
19 SALEM J p 40
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
90 91
μοναχῶς monakhocircs (adv)- 80
Unicamente
μονοειδῶς monoeidocircs (adv)- 109
De um soacute tipo ou aspecto
μῦθος myacutethos (sm)- 81 87 104 116 134 XII
Mito lenda faacutebula
νομοθεσία nomothesiacutea (sf)- 86
Atos ldquolegiferantesrdquo leis impostas leis convenciondas arbitra-riamente princiacutepios arbitraacuterios
νόημα noacuteema (sn)- 48 61 83
Pensamento o que foi inteligido
νόησις noacuteesis (sf)- 33 (255Us) 123
Faculdade de pensar inteligecircncia
ὁμοιομερής homoiomereacutes (ad)- 52
Partes semelhantes partiacuteculas homogecircneas
ὁμοιόμορφος homoioacutemorphos (ad)- 49
Mesma forma contorno similar
ὁμοιοσχήμων homoioscheacutemon (ad)- 46
Com forma semelhante
Segunda parte
92 93
ὁμοιότης homoioacutetes (sf)- 32(36 Us) 51
Semelhanccedila parecenccedila
ὁμοίωμα homoiacuteoma (sn)- 46
Equivalente similar correspondente
ὁμούρησις homuacuteresis (sf)- 64
Contiacuteguidade vizinhanccedila Esta eacute uma versatildeo dialetal do iocircnico-aacutetico correspondendo agrave comum homoacuteresis palavra usada a partir de Epicuro
ὁμόχροος homoacutechroos (ad)- 49
Que tem a mesma cor que tem cor semelhante
ὀξύς oxyacutes (ad)- 48
Raacutepido
ὅρος hoacuteros (sm)- III XI
Limite Epicuro usa dois termos para se referir agrave ideia de limite peacuteras e hoacuteros (vide supra πέρας na primeira parte) Ambos satildeo utilizados indiscriminadamente com o sentido de limite Eles se referem sobretudo aos limites dos desejos e dos prazeres Epicuro deixa claro que o prazer tem por natureza limites determinados
πάθος paacutethos (sn)- 31 34 38 52 55 63 73 75 82 116 129 XXIV SV 18 191 221 241 Us
Afecccedilatildeo sentimento estado paixatildeo Epicuro preconiza que
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
92 93
todo conhecimento sensiacutevel tem iniacutecio na afecccedilatildeo que ocor-re quando o oacutergatildeo sensiente entra em contato com um ob-jeto externo Desta maneira o paacutethos eacute o que gera em noacutes a sensaccedilatildeo (vide supraaiacutesthesis - αἴσθησις nesta mesma parte) que eacute retida na memoacuteria transformando-se em sentimento ou impressatildeo sensiacutevel (Vide infraproleacutepsis πρόληψις nesta mesma parte) O movimento do pensar decorre das impre-esotildees rememoradas e operadas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias (phantastikeacute epiboleacute) do pensamento (tegraves diaacutenoias) (Vide su-pra ἐπιβολή τῆς διανοίας nesta mesma parte)
παρὸν (τό) parograven (toacute) (v substantivado)- XXIV 247 Us
O presente O verbo πάρειμι se substantiva em τὸ παρόν
περὶεχον (τό) perigraveechon (toacute) (v substantivado)- 46 48
O que circunda rodeia envolve cerca
περιληπτός perileptoacutes (ad)- 40 46
O que apreende abarca compreende
περιοιδεία periodeiacutea (sf)- 36 83 85
Percorrer (com o pensamento)
περίοδος periacuteodos (sm)- 75 77 83 97
Periacuteodo revoluccedilatildeo oacuterbita
πιθανολογοὺμενον (τό) pithanologugravemenon (toacute) (v substantivado)- 87
Alegaccedilatildeo plausiacutevel opiniatildeo verossiacutemil ou provaacutevel
Segunda parte
94 95
πίστις piacutestis(sf)- 63 85 SV 7 S34
Crenccedila convicccedilatildeo certeza
πρόληψις proacutelepsis (sf)- 31(35 Us) 33 (255 Us) 72 124 XXXVII XXXVIII
Prenoccedilatildeo antecipaccedilatildeo preconcepccedilatildeo representaccedilatildeo no sentido de impressatildeo na alma As proacutelepsis satildeo as noccedilotildees que estruturam a realidade no pensamento Elas podem representar os objetos que estatildeo fora dos indiviacuteduos e satildeo apreendidos pelos sentidos quando os simulacros neles penetram ou podem ser efeitos dos processos operacionais do pensamento tais como as analogias as compraraccedilotildees e as combinaccedilotildees Elas constituem imagens conceituais que satildeo articuladas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento (phantastikaacutei epibolaigrave tegraves dianoiacuteas) Com isso Epicuro quer explicitar a capacidade do pensamento de pensar o que eacute invisiacutevel (aacutedelon) mediante analogia com o que se tornou visiacutevel pela sensibilidade Mais que isso ele tenta expor os mecanismos internos do pensa-mento quando se produz a opiniatildeo o conhecimento o reconhecimento a articulaccedilatildeo das informaccedilotildees retidas na memoacuteria sob a forma de imaginaccedilatildeo criaccedilatildeo etc O que estaacute sendo construiacutedo eacute um invisiacutevel a partir do visiacutevel e este invisiacutevel conecta associa integra os corpos visiacuteveis numa rede loacutegica ou discursiva Trata-se da representa-ccedilatildeo ou do pensamento como representaccedilatildeo imageacutetica da realidade
προδοξάζω prodoxaacutedzo (v)- 50 62
Pressuposiccedilatildeo presunccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
94 95
προσμένον (τὸ) prosmeacutenon (tograve) (v substantivado)- 34 38 50 XXIV
A espera
ῥεῦμα rheŷma (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo
σημεῖον semeicircon (sn)- 87 97 183 Us
Sinal indiacutecio
στερέμνιον stereacutemnion (ad)- 46 48 50
Soacutelido
συμβεβηκός symbebekoacutes (sn)- 40 50 68 71
Propriedade atributo Em alguns casos pode ser traduzido por ldquoacidenterdquo Epicuro diferencia entre as propriedades permanentes (symbebekoacutes) e as propriedades acidentais (syacutemptoma)20 Todas as qualidades acidentais estatildeo sujeitas agrave mudanccedila poreacutem as propriedades permantes satildeo necessaacuterias e imutaacuteveis Forma tamanho e peso satildeo propriedades per-manentes do aacutetomo (ver supraaacutetomos - ἄτομος na primeira parte)
σύμμετρος syacutemmetros (ad)- 47 50 53 61 91
Simeacutetrico proporcional comensuraacutevel
20 Cf Morel 2013 p 57
Segunda parte
96 97
συμμέτρως symmeacutetros (adv)- 110
Simetricamente proporcionalmente
συμπάθεια sympaacutetheia (sf)- 48 50 52 53 64
Simpatia afinidade correspondecircncia Eacute o modo como os objetos exteriores nos afeta causando uma correspondecircncia entre os objetos neles mesmos e como os sentimos ou perce-bemos A sympaacutetheia ocorre quando haacute uma afinidade entre os aacutetomos do corpo ou de uma imagem que nos afeta e o oacutergatildeo por ele afetado Este acordo gera uma correspondecircn-cia natural entre os corpos que se afetam mutuamente
συμπλήρωμα sympleacuteroma (sn)- 48
Completude inteireza plenitude Palavra rara encontrada somente em Aristoacuteteles e Epicuro
σύμπτωμα syacutemptoma (sn)- 40 64 67 70 71 73
Acidente incidecircncia sintoma
συνεχής synecheacutes (ad)- 36 48 50 62 82 105 I XVI SV67
Contiacutenuo constante incessante
σύνθεσις syacutenthesis (sf)- 32 (36 Us)
Siacutentese composiccedilatildeo uniatildeo
συνθεωρεῖν syntheoreicircn (v inf)- 96 102 116
Considerar em conjunto ter uma visatildeo geral
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
96 97
σύντομος syacutentomos (ad)- 76 84 SV4
Breve conciso
σύστοιχος syacutestoichos (ad)- 76
Que eacute do mesmo tipo
σχηματίζειν schematiacutezein (v inf)- 53
Moldar
τεκμαίρω tekmaiacutero (v)- 39
Inferir formar um juiacutezo
τέλος teacutelos (sn)- 85 128 131 133 XX XXII XXV SV 25 SV 75
Fim finalidade objetivo
τόπος toacutepos (sm)- 47 60 62 75 89 98 103 105 108 111 112 113 115 XXXIII
Lugar regiatildeo
τρόπος troacutepos (sm)- 87 94 95 96 97 99 101 102 104 106 108 112 115 SV 62
Modo maneira meacutetodo
τύπος tyacutepos (sm)- 33(255 Us)35 36 45 46 49 68
Modelo esquema impressatildeo reacuteplica figura imagem Vide supraeiacutedolon-εἴδωλον (nesta mesma parte)
Segunda parte
98 99
ὑπεναναντίος hypenantiacuteos (ad)- 77 81
Contraacuterio incompatiacutevel inconsistente
ὑπεξαίρεσις hypexaiacuteresis (sf)- III
Remoccedilatildeo eliminaccedilatildeo supressatildeo
ὑπόθεσις hypoacutethesis- 95
Hipoacutetese
ὑπόληψις - hypoacutelepsis (sf)- 34 124
Suposiccedilatildeo conjectura O termo hypoacutelepsis eacute equivante ao ter-mo doacutexa Epicuro diz que a crenccedila nos deuses satildeo hipoleacutepseis pseudecircis ie suposiccedilotildees falsas As hypoleacutepseis satildeo suposiccedilotildees que natildeo necessariamente correspondem agrave realidade Diferente de proacutelepsis(vide supra proacutelepsis-πρόληψις nesta mesma par-te) este termo indica uma ideia que natildeo passou pelo crivo da sensibilidade ou pelos outros meios de confirmaccedilatildeo ou natildeo--infirmaccedilatildeo constituintes do meacutetodo gnosioloacutegico de Epicuro
φαινὸμενα (τά) phainogravemena (taacute) (v substantivado) - 32(36 Us) 46 47 54 55 60 71 86 87 88 90 92 93 95 97 98 100 102 104 112 113
Fenocircmenos aparecircncias o que eacute visiacutevel manifesto
φαντασία phantasiacutea (sf)- 50 80 247 Us
Representaccedilatildeo imagem
φάντασμα phaacutentasma (sn)- 32 (36 Us) 75 88 102 110
Visatildeo sonho apariccedilatildeo aparecircncia
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
98 99
φθόγγος phthoacutengos (sm)- 37 38 76 83
Som fala palavra
φωνή phoneacute (sf)- 36 45 53 XXXVII SV 33 SV 41 SV 45 SV 75
Voz expressatildeo palavra
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
ψεῦδος pseucircdos (sn)- 5051
Falsidade erro engano
ψυχή psycheacute (sf)- 63 64 65 66 67 68 77 81 122 128 131 132 SV 69 SV81 812 Us 314 Us 315 Us
Alma A compreensatildeo da alma como um corpo (soacutema) ou ainda como um agregado (aacutethroisma) de aacutetomos mais sutis que os componentes das realidades sensiacuteveis (corpossoacutemata) sefundamenta no pressuposto baacutesico da physiologiacutea atomista segundo o qual tudo o que existe eacute composto de aacutetomos e vazio A materialidade da alma eacute portanto uma consequecircncia loacutegica desse pressuposto Contudo o que ca-racteriza especificamente a mateacuteria da alma permanece um problema no contexto do pensamento atomista antigo de Demoacutecrito a Lucreacutecio uma vez que se manteacutem o caraacuteter metafiacutesico da questatildeo Ainda que a loacutegica seja inabalaacutevel do ponto de vista do discurso a impossibilidade de uma de-monstraccedilatildeo fiacutesica resguarda a alma no cerne da obscuridade Epicuro entretanto tentou agrave sua maneira fugir agraves represen-
Segunda parte
100 101
taccedilotildees miacuteticas e ousou talvez mais que qualquer outro ateacute entatildeo perscrutar a natureza fiacutesica da alma tomando-a num corpo substancialmente ligado ao corpo-carne Tal ligaccedilatildeo enquanto questatildeo constituiraacute doravante um imenso campo de investigaccedilatildeo cujas propriedades e possibilidades chegam ateacute os nossos dias sem entretanto mostrar-se completa e solucionada Apesar de todas as crenccedilas propagadas mun-do a fora sobre a imortalidade da alma e mesmo apesar dos discursos filosoacuteficos ancorados nesta crenccedila Epicuro viu-se capaz de enxergar um caminho para expor a sua physiologiacutea da alma enquanto uma ldquopsicologiardquo que pensa a psycheacute como um princiacutepio corporal energeacutetico unificador do corpo A alma seraacute pensada tambeacutem a partir de Epicuro e ateacute hoje como um corpo dentro do corpo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
100 101
terceirA PArte
ethicaacute
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Ethicaacute
102 103102 103
ἀβέβαιος abeacutebaios (ad)- 134
Inseguro incerto
ἀδέσποτος adeacutespotos (ad)- 133
Sem senhor sem governo Epicuro usa este termo no contex-to da criacutetica agraves teses que desconsideram a liberdade e respon-sabilidade dos homens Adeacutespotos eacute umadjetivo relacionado agrave expressatildeo parrsquo hemacircsVide infra parrsquo hemacircs-παρ᾿ἡμᾶς (nesta mesma parte)
ἀδικία adikiacutea (sf)- XXXIV
Injusticcedila
ἀδιόριστος adioacuteristos (ad)- 81
Natildeo fixo indeterminado indefinido
ἀδροτής adroteacutes (sf)- 83
Vigor forccedila
ἀθανασία athanasiacutea (sf)- 124
Imortalidade Na Carta a Meneceu Epicuro considera que o desejo de imortalidade eacute um desejo vatildeo assim como consi-dera que natildeo haacute nada a temer em relaccedilatildeo a morte
ἀθάνατος athaacutenatos (ad)- 135 SV78
Imortal Epicuro utiliza o termo imortal no sentido de qua-lificar o bem que resulta de uma vida sem perturbaccedilotildees que ele identifica com o bem maior que eacute o prazer
Terceira parte
104 105
ἀθορύβως athoryacutebos (adv)- 87
De modo impassivo tranquilo
αἵρεσις haiacuteresis (sf)- 128129132
Escolha eleiccedilatildeo
αἱρετός hairetoacutes (ad)- 30129
Escolhido
ἀκέραιος akeacuteraios (ad)- XII
Puro natildeo-misturado
ἀλγηδών algedoacuten (sf)- 129 137 XI SV 4 SV 3773
Dor sofrimento Diz-se da dor que antecede ou sucede o prazer ou ainda quando algo que parece prazeiroso acaba resultando em dor pelo uso desmedido que dele se faz E tambeacutem a ausecircncia de felicidade causada por dores do corpo Os desejos encontram-se sem controle e difiacuteceis de serem saciados onde o corpo encontra-se desesperado atraacutes de enormes prazeres e apavorado por fugir do que lhe causa medo
ἀνάπαυσις anaacutepausis (sf)- 125
Cessaccedilatildeo repouso
ἀνυπεύθυνος anypeuacutethynos (ad)- 133
Irresponsaacutevel
Ethicaacute
104 105
ἀόριστος aoacuteristos (ad)- SV 59
Natildeo limitado ilimitado
ἀοχλησία aochlesiacutea (sf)- 127
Tranquumlilidade natildeo interrompida Refere-se a tranquilidade do corpo
ἀόχλητος aoacutechletos (ad)- SV 79
Natildeo agitado tranquumlilo Palavra rara usada a partir de Epicu-ro
ἅπαξ haacutepax(adv)57 128 XVIII 222 Us
Uma vez de uma vez Em Epicuro este adveacuterbio se presta a evidenciar o limite temporal dos prazeres e dores ldquoUma vez (haacutepax) este estado realizado em noacutes (ausecircncia de sofrimento e termor) toda a tempestade da alma desaparecerdquo (DL X 128) Isso significa que eacute impossiacutevel haver simultaneidade de dores e prazeresldquoO prazer na carne natildeo cresce uma vez (haacutepax) suprimida a dor da necessidaderdquo (XVIII) Epicuro tambeacutem critica a opiniatildeo de que o prazer pode se intensifi-car ao infinito No entanto quando o prazer estaacute presente eacute possiacutevel apenas uma variaccedilatildeo do estado de prazer
ἀπογεγεννημένα apogegennemeacutena(sn)-Nat34 21-2 3426-30 (livro XXV)
Desenvolvimentos produtos Este termo aparece apenas no Perigrave phyacuteseos (Sobre a Natureza) Autores como Sedley (1987) Arrighetti (1960) Laursen (1991) e Orsquokeefe (2005) analisaram e propuseram traduccedilotildees para tagrave apogegenemeacutena
Terceira parte
106 107
das quais se destacam ldquodesenvolvimentosrdquo e ldquoprodutosrdquo O livro XXV do Perigrave phyacuteseos cujo tema principal eacute a liberdade aprofunda as resumidas explicaccedilotildees epistolares a respeito da relaccedilatildeo entre necessidade (anaacutenke) e liberdade assegurando que o homem pode desenvolver seu proacuteprio caraacuteter ainda que existam influecircncias necessaacuterias do meio ambiente (peri-eacutechon) Assim o que o homem desenvolve em relaccedilatildeo ao seu modo de ser eacute de sua inteira responsabilidade
ἀπόλαυσις apoacutelaysis (sf)- 131 132 SV 27
Gozo utilidade proveito
ἀπολαυστός apolaustoacutes (ad)- 124
Agradaacutevel Palavra usada a partir de Epicuro
ἀπονία aponiacutea (sf)- 136
Ausecircncia de dor ou sofrimento Assim como a ataraxiacutea eacute a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na alma a aponiacutea eacute ausecircncia de dor no corpo Isto quer dizer que o corpo encontra-se em equiliacutebrio ou experimenta um prazer katastemaacutetico
ἀρετή areteacute (sf)- 124 132 138
Excelecircncia virtude
ἀσεβής asebeacutes (ad)- 123 SV 43
Iacutempio
ἀσείστως aseiacutestos (adv)- 87
Ethicaacute
106 107
Inabalavelmente Adveacuterbio raro usado a partir de Epicuro
ἄστατος aacutestatos (ad)- 133
Instaacutevel inconstante
ἀσύμφορος asyacutemphoros (ad)- 130
Inconveniente desvantajoso
ἀσφάλεια asphaacuteleia (sf)- VIIXIII XIVXXVIII SV 31
Seguranccedila A asphaacuteleia estaacute relacionada agrave tranquumlilidade de uma vida equilibrada livre dos tormentos e dos pesares que resultam dos desejos desmesurados e da ignoracircncia
ἄσωτος aacutesotos (ad)- 131X
Dissoluto
ἀτάκτως ataacutectos (adv)- 134
Desordenadamente
ἀταράκτος ataraacutektos (ad)- XVII
Imperturbado
ἀταραξία ataraxiacutea (sf)- 82 85 96 128 2 Us
Imperturbabilidade equiliacutebrio tranquilidade da alma O termo grego ataraxiacutea pode ser traduzido por imperturbabili-dade equiliacutebrio e tranquilidade da alma Etimologicamente a melhor traduccedilatildeo eacute imperturbabilidade Este termo foi
Terceira parte
108 109
utilizado no sentido que iremos expor primeiramente por Demoacutecrito (Dem ap Estob273) e por Epicuro O que haacute de comum entre diversos pensadores do periacuteodo heleniacutestico eacute a relaccedilatildeo estabelecida por eles entre o ldquomodo de serrdquo (eacutethos) e a imperturbabilidade da alma Isso porque o estado da alma define o caraacuteter do indiviacuteduo e o que passa a interessar neste periacuteodo eacute a salvaguarda do bem estar do indiviacuteduo seja mediante a suspensatildeo do juiacutezo (epocheacute) entre os ceacuteticos seja como ausecircncia de paixotildees (apaacutetheia) entre os estoicos ou com o constante cuidado com a sauacutede (hygiacuteeia) da alma ou com a sua imperturbabilidade (ataraxiacutea) com Epicuro
Uma alma satilde tem o poder de ser princiacutepio de accedilatildeo (archeacute) de um indiviacuteduo dela deriva a sua altivez e simplicidade Este estado de alma caracteriza o que Epicuro chama makaacuterios zecircn (vida feliz) isto eacute ela eacute princiacutepio e fim da realizaccedilatildeo da proacutepria vida Por outro lado uma alma ldquoperturbadardquo que traz em si o peso das doenccedilas aniacutemicas caracteriza um modo de ser enfraquecido cujo poder de determinaccedilatildeo jaacute se esvaiu em meio a temores anguacutestias e desesperos O cuidado com a alma eacute para Epicuro um exerciacutecio constante inerente agrave praacutetica filosoacutefica
ἀτάραχος ataacuterachos (ad)- 80 SV 79
Ataraacutexico imperturbado
αὐτάρκεια autaacuterkeia (sf)- 130 SV 44 SV 77
Autarquia autossuficiecircncia ter o princiacutepio da accedilatildeo em si mesmo Existem diversas possiacuteveis traduccedilotildees do termo gre-go autaacuterkeia utilizado por Epicuro entre as quais as mais frequentes satildeo ldquoindependecircnciardquo ldquoautossuficiecircnciardquo ldquocapaci-
Ethicaacute
108 109
dade de bastar-se a si mesmordquo Estas noccedilotildees aludem a uma noccedilatildeo baacutesica de domiacutenio e princiacutepio- archeacute que estaacute em poder de quem age - autoacute - (a partir de) si mesmo Assim o sophoacutes eacute autaacuterkes porque age a partir de si mesmo Mas em que consiste esta autaacuterkeia e como eacute possiacutevel obtecirc-la Tais questotildees encetam para o princiacutepio da accedilatildeo tal como fora concebido no pensamento em questatildeo que implica em sua raiz a compreensatildeo do sentido de liberdade - eleutheriacutea - que a justifica ao mesmo tempo em que a fundamenta
Literalmente autaacuterkeia eacute uma qualidade de quem se basta a si mesmo Daiacute podermos pensar em algueacutem que exista ou subsista por si mesmo e isto soacute eacute possiacutevel quando sua accedilatildeo tem o princiacutepio nele mesmo ou ainda quando a causa da accedilatildeo esteja nele mesmo Para Epicuro a autaacuterkeia eacute o que caracteriza fundamentalmente a accedilatildeo saacutebia que por defi-niccedilatildeo exclui tanto a inatividade quanto a reatividade bem como a accedilatildeo cujo princiacutepio e o teacutelos natildeo estatildeo nela mesma A sabedoria enquanto accedilatildeo tem o sentido embutido nela isto eacute no seu exerciacutecio que chamamos de accedilatildeo autaacuterquica ou simplesmente autaacuterkeia Sendo assim a autaacuterkeia expressa uma condiccedilatildeo de vida no mundo em que o conjunto das accedilotildees tende naturalmente agrave repleccedilatildeo e portanto ao equiliacute-brio Viver em equiliacutebrio por sua vez natildeo depende senatildeo do modo como o homem vivencia a sua situaccedilatildeo real de existir independente de qualquer outro ldquopoderrdquo que transcenda a sua dyacutenamis de accedilatildeo desde que esse ldquopoderrdquo possa ser per-mitido ou evitado A autaacuterkeia eacute a expressatildeo da vida tornada independente das necessidades que a negam e a fazem re--agir ou sofrer
Para que a autaacuterkeiaseja alcanccedilada e cultivada eacute necessaacuterio agir segundo o logismoacutes e a phroacutenesis Dessa maneira esses
Terceira parte
110 111
trecircs conceitos definem a possibilidade de ponderaccedilatildeo de se estabelecer uma medida para o agir e atraveacutes do exerciacutecio da autaacuterkeia o sophoacutes define por si mesmo o bastante para a realizaccedilatildeo dos seus desejos naturais e necessaacuterios
E noacutes estimamos que a autaacuterkeia eacute um grande bem natildeo para que faccedilamos uso de pouco de um modo geral mas afim de que faccedilamos uso de pouco se natildeo temos a abundacircncia verdadeiramente persuadidos de que gozam a magnificecircncia com mais prazer aqueles que menos necessitam dela e que tudo o que eacute fundado na natureza se adquire facilmente e o que eacute vazio (vatildeo) eacute difiacutecil se obter (DL X 130)
O termo em questatildeo significa nesta passagem ldquocontenta-mentordquo medida exata de repleccedilatildeo suficiecircncia dada pela proacutepria natureza Epicuro recolhe no modo como o sophoacutes interage com a natureza a medida da satisfaccedilatildeo a mesma que nortearaacute a accedilatildeo saacutebia Por isso a accedilatildeo deve corresponder aos desejos naturais e necessaacuterios jaacute que agindo de acordo com a natureza onde o transito eacute imediato torna-se possiacutevel ao sophoacutes evitar desafetos que quase sempre forccedilam a sua rea-ccedilatildeo ou o seu desequiliacutebrio Toda a accedilatildeo contraacuteria agrave natureza eacute difiacutecil e acaba sendo tambeacutem vatilde vazia para quem procura realizaacute-la porque eacute fruto de desejos de diversos matizes que entretanto satildeo oriundos das opiniotildees vazias (kenaigrave doxaacutei) disseminadas entre os insensatos A filosofia eacute para Epicuro o ldquoantiacutedotordquo para essas opiniotildees e por isso mesmo a efetiva-ccedilatildeo da autaacuterkeia
Agir de acordo com a natureza (katagrave phyacutesin) define a relaccedilatildeo entre a physiologiacutea e a eacutetica na medida em que explicita o sentido do proceder filosoacutefico em busca da compreensatildeo necessaacuteria agrave fundamentaccedilatildeo da accedilatildeo saacutebia Este modo de agir revela tambeacutem o sentido real do prazer enquanto repleccedilatildeo
Ethicaacute
110 111
isto eacute da accedilatildeo que engendra serenidade (galenismoacutes) Neste sentido o sophoacutes age de modo prazeiroso e o conjunto das suas accedilotildees perfaz a realizaccedilatildeo plena da vida Trata-se de um estado de contentamento no qual ele se sente inteiramente integrado ao meio natural onde as adversidades existen-tes podem ser em alguns casos previstas e na medida do possiacutevel evitadas A accedilatildeo fundada na natureza eacute fruto da deliberaccedilatildeo do sophoacutes que busca a todo instante realizar os bens que realmente importam agrave sabedoria que se traduz pela manutenccedilatildeo de uma vida equilibrada Esta accedilatildeo eacute modulada pela physiologiacutea que eacute por assim dizer o seu fundamento ontoloacutegico Epicuro opotildee aos desejos difiacuteceis de serem re-alizados e que tecircm origem nas opiniotildees vazias a noccedilatildeo de simplicidade que quer dizer rigorosamente neste contexto a medida dada pela natureza proacutepria de cada um cabendo ao sophoacutes descobrir a sua mediante a economia dos desejos que poderia tambeacutem ser chamada de ldquodieteacuteticardquo dos desejos Esta eacute uma alternativa proposta por Epicuro para responder aos desmesurados valores vigentes em sua eacutepoca
O estudo da natureza prepara natildeo os jactanciosos nem os fazedores de expressotildees nem os exibidores de educaccedilatildeo mui-to valorizada junto agrave maioria mas aacutegeis e autaacuterquicos e que pensam grande sobre os seus proacuteprios bens e natildeo sobre os bens das coisas (SV 45)
Podemos perceber com relativa clareza que a noccedilatildeo de vir-tude (excelecircncia) tal como eacute aqui apresentada natildeo estaacute atre-lada agrave vida repleta de falsos valores e inserida nos domiacutenios puacuteblicos mas ao agir privado particular O saacutebio eacute aquele que age sempre a partir do seu poder de escolha e rejeiccedilatildeo e jamais de sujeiccedilatildeo Sua referecircncia uacutenica eacute a compreensatildeo dos limites e das possibilidades da natureza-realidade na
Terceira parte
112 113
qual vive e exercita-se na realizaccedilatildeo de uma vida apraziacutevel em cada ato ou deliberaccedilatildeo que dele dependa Fundando o eacutethos na phyacutesis ou fazendo que ele derive da physiologiacutea o sophoacutes legitima a autaacuterkeia como condiccedilatildeo para pensar a eacutetica fora do domiacutenio puacuteblico Com isso ele intenta resgatar antigos princiacutepios presentes na natureza para desapropriaacute-los das convenccedilotildees estabelecidas e entatildeovivenclaacute-losno espaccedilo no tempo que satildeo seus e daqueles que lhes satildeo afins (phiacuteloi)
O saacutebio depois de julgar as coisas em funccedilatildeo da necessida-de sabe mais dar em partilha do que tomar em partilha Tatildeo grande tesouro da autarquia ele encontrou(SV 44)
Conseguir o bastante para si mesmo natildeo exclui a possibilida-de de compatilhar o contentamento que expressa a autaacuterkeia-com aqueles que vivem uma muacutetua conveniecircncia (opheacuteleia) Na verdade o homem saacutebio natildeo projeta valores imaginaacuterios sobre as coisas da natureza antes pelo contraacuterio ele asseme-lha o seu modo de agir ao modo como as coisas interagem na natureza A medida mais conveniente eacute aquela que o faz se sentir bem no meio natural e natildeo o excesso de poder sobre as coisas naturais Assim o sophoacutesnatildeo espera receber o que precisa de outro homem porque ele mesmo pode facilmente ter o suficiente para natildeo sentir sede fome ou frio no proacuteprio meio onde vive por conveniecircncia e contentamento O ideal de sabedoria em questatildeo natildeo prevecirc qualquer tipo de sujeiccedilatildeo obrigaccedilatildeo diacutevida ou favor uma vez que entre saacutebios natildeo prevalecem as mesmas convenccedilotildees originadas nas sociedades poliacuteticas O saacutebio se afastaraacute das situaccedilotildees lugares e pessoas que possam constrangecirc-lo a reagir agraves ldquoconvenccedilotildeesrdquo de uma maioria insensata
A fonte mais pura de proteccedilatildeo diante dos homens assegu-rada ateacute certo ponto por uma determinada forccedila de rejeiccedilatildeo
Ethicaacute
112 113
eacute de fato a imunidade resultante de urna vida tranquila e distante da multidatildeo (DL X 143)
Natildeo haacute um objeto poliacutetico expliacutecito nas proposiccedilotildees eacuteticas de Epicuro Existe de uma certa maneira a transposiccedilatildeo do poliacutetico para fundar sobre outras bases uma eacutetica Recusar o conviacutevio com a multidatildeo pode significar compreender a multidatildeo como produto da necessidade e vivendo segundo a necessidade O sophoacutesbuscaraacute entatildeo construir um cami-nho alternativo para seguir Este caminho natildeo constituiraacute um conflito com o mundo poliacutetico mas pelo contraacuterio se formaraacute independentemente dele Epicuro opta pela sabe-doria e agir a partir de si mesmo e em prol de si mesmo Este comportamento eacute plenamente justificaacutevel se levarmos em conta a miserabilidade humana alimentada pelas falsas crenccedilas e pelos falsos valores de sua eacutepoca ldquoA necessidade eacute um mal mas natildeo haacute nenhuma necessidade de viver com a necessidaderdquo (SV 9)
Recolher-se agrave filosofia ao inveacutes de filosofar para a Heacutelade eis o que proclamava Epicuro A frugalidade eacutetica se opotildee ao desperdiacutecio poliacutetico pois natildeo haacute como obter a ataraxiacuteaem meio agrave multidatildeo insensata Aleacutem disso jamais o saacutebio po-deria modificar todo o quadro que a ele se apresentava um mundo corrompido pela miseacuteria e esquecido do bem-viver ldquoO saacutebio natildeo deve pois ocupar-se da poliacuteticardquo ldquoVive obscu-rordquo (3278 Us) Somente na solidatildeo dos seus pensamentos o saacutebio poderia finalmente encontrar o real sentido da liber-dade uma vez que ao menos aos olhos de Epicuro a liber-dade natildeo se coaduna com os valores soacutecio-poliacuteticos em voga A liberdade proveacutem das reflexotildees que satildeo a mateacuteria da filoso-fia Natildeo a encontraremos no meio poliacutetico na dependecircncia de acordos ou convenccedilotildees nutridas de opiniotildees conflitantes
Terceira parte
114 115
e sim nas accedilotildees que tecircm em si o seu proacuteprio princiacutepio pois nascem da solidatildeo reflexiva A vida autaacuterquica talvez tenha sido o posicionamento filosoacutefico por excelecircncia de Epicuro ao ponto de Hermarco seu disciacutepulo e sucessor agrave frente do Jardim tecirc-lo definido assim ldquoA vida de Epicuro comparada a de outros passaria por um mito por sua doccedilura e sua au-tarquiardquo (SV 36 101 Us)
A vida autaacuterquica estaacute totalmente desincompatibilizada da vida puacuteblica dos valores que a sustentam e de vaacuterias ma-neiras a determinam O saacutebio realiza um movimento de descentramento em relaccedilatildeo agrave vida puacuteblica e outro movimen-to de situar-se sempre em direccedilatildeo agraves relaccedilotildees equilibradas privadas lsquomolecularesrdquo Satildeo notoacuterias as diferenccedilas entre Epicuro e as ldquoinstituiccedilotildees poliacuteticasrdquo das quais ele se recusa a participar por compreender a quase impossibilidade de coexistirem harmonicamente sob um mesmo ideal homens de caraacuteter tatildeo distintos O sophoacutes assentiraacute nas discussotildees poliacuteticas apenas agrave medida que estas for em convenientes ou imprescindiacuteveis jaacute que acredita na possibilidade de cultivar a liberdade de conviver com aqueles que tecircm urna natureza realmente semelhante e que comungam as mesmas ideias Natildeo ausentar-se da trajetoacuteria que projeta a vida saacutebia pode significar o exerciacutecio de um modo de ser de um eacutethos filo-soacutefico ao mesmo tempo que a realizaccedilatildeo de um estado de ser physioloacutegico equilibrado Para tanto cumpre escolher o local e a situaccedilatildeo de vida onde se torne possiacutevel o pleno exer-ciacutecio da vida filosoacutefica o que vale dizer ter a autaacuterkeia ou o princiacutepio das suas accedilotildees em si mesmo Soacute daiacute pode emergir o sentido epicuacutereo da liberdade ldquoO mais importante fruto da autaacuterkeia eacute a liberdade (eleutheriacutea)rdquo (SV 77)
Ethicaacute
114 115
αὐτάρκης autaacuterkes(ad)- SV 45
Autaacuterquico aquele que tem o princiacutepio de sua accedilatildeo em si mesmo
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (sf)76 123
Incorruptibilidade imortalidade Palavra utilizada a partir de Epicuro
ἀφοβία aphobiacutea (sf)- 122
Destemor
ἀχάριστος achaacuteristos (ad)- SV 69 SV 75
Ingrato
βίος biacuteos (sm)- 86
Vida
βούλεσις buacutelesis (sf)- 7781
Vontade deliberaccedilatildeo
γαληνισμός galenismoacutes (sm)- 83
Serenidade Palavra rara filosoacutefica Usada por Epicuro num sentido metafoacutericoA imagem utilizada por Epicuro para definir o equiliacutebrio da alma expresso na ataraxiacutea (tranqui-lidade imperturbabilidade) eacute o que o grego denominava galenismoacutes que significa a superfiacutecie do mar quando estaacute tranquilo assim podemos traduzi-la por serenidade
Terceira parte
116 117
δαψίλεια dapsiacuteleia (sf)- SV 67
Abundacircncia
δεινός deinoacutes (ad)- 81 125 XXVIII
Temiacutevel terriacutevel O uso deste termo se daacute sempre no sentido de evitar os temores infundados Os temores satildeo projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento mas podem ser evitados com o exerciacutecio da physiologiacutea
διάθεσις diaacutethesis (sf)- 117 (222 Us)
Disposiccedilatildeo
δίαιτα diacuteaite (sf)- 130131 SV 69
Dieta regime modo de viver
δίκαιος diacutekaios(ad)- 132 XVII XXXI XXXII XXXVI XXXVII XXXVIII SV 43
Justo Para Epicuro natildeo haacute justiccedila independente das conven-ccedilotildees humanas isto eacute natildeo haacute uma justiccedila preacute-legislativa que existiria em si mesmo De acordo com Epicuro ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacute-procas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto (syntheacuteke) no sentido de natildeo prejudicar nem ser prejudicadordquo (MP XXXIII) Sendo assim o que eacute considerado justo num tempo x e num lugar y eacute diferente do que eacute considerado justo num tempo xrsquo e num lugar yrsquo Nas palavras de Epicuro ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) A justiccedila eacute portanto ldquouma invenccedilatildeo humanardquo (OrsquoKEEFE 2010 p 139) e como tal eacute do domiacute-
Ethicaacute
116 117
nio dos homens daquilo que cabe aos homens realizar ou seja eacute do acircmbito do parrsquo hemacircs (o que nos cabe) Em termos da physiologiacutea poderiacuteamos dizer que a justiccedila eacute um acidente (symptoacutema) da agregaccedilatildeo de indiviacuteduos Assim a justiccedila natildeo tem uma realidade independente dos pactos particulares realizados em tempo e espaccedilo determinados Por isso que Epicuro prefere utilizar na grande maioria de seus textos o termo diacutekaios (justo) e natildeo dikaiosyacutene (justiccedila) pois o primeiro remete sempre a um evento singular enquanto o uacuteltimo sugere ldquouma noccedilatildeo abstrata que os filoacutesofos essencia-listas nomeadamente os platocircnicos consideram uma ideia em sirdquo (MORAES 2010 p 55)21 O justo e o injusto satildeo determinados pelos pactos realizados aqui e alhures
No entanto uma das maacuteximas de Epicuro parece agrave primei-ra vista entrar em contradiccedilatildeo com esse caraacuteter convencio-nal da justiccedila ldquoO justo da natureza simboliza (tograve tecircs phyacuteseos diacutekaioacuten estigrave syacutembolon) a vantagem reciacuteproca de impedir os homens de prejudicarem os outros e os livra de serem pre-judicadosrdquo (MP XXXI) A expressatildeo ldquoo justo da naturezardquo parece contradizer a expressatildeo ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) Eacute preciso considerar aqui como diz Morel que essas reflexotildees de Epicuro estatildeo ldquono centro da problemaacutetica tornada claacutessica a partir da expansatildeo do movimento sofiacutestico no seacuteculo V da oposiccedilatildeo entre natureza (phyacutesis) e convenccedilatildeo (noacutemos)rdquo (2011 p 208) Tentar definir a justiccedila como natural ou convencional natildeo foi o caminho
21 De acordo com Bulhotildees ldquoEmbora a expressatildeo lsquoo justorsquo seja um substantivo refere-se ao adjetivo que qualifica por exemplo um acordo uma lei um indiviacuteduo ou um comportamento isto eacute um acordo pode ser dito justo uma lei justa um individuo e um comportamento justos Por outro lado a expressatildeo de gecircnero neutro tograve diacutekaion diferencia-se intencio-nalmente do feminino lsquoa justiccedilarsquo heacute dikaiosyacutene Esta indica uma realidade em sirdquo (Bulhotildees 2009 p 100)
Terceira parte
118 119
escolhido por Epicuro Para ele a justiccedila eacute convencional e natural ao mesmo tempo ldquovariaacutevel em suas manifestaccedilotildees e natural em seu princiacutepiordquo (Morel 2011 p 217) Na Maacutexima XXXVI estaacute escrito que ldquoem seu aspecto geral a justiccedila eacute a mesma para todos pois representa uma espeacutecie de vantagem reciacuteproca nas relaccedilotildees dos homens uns com os outros mas com referecircncia agraves peculiaridades locais e outras circusntacircn-cias quaisquer a mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo O aspecto geral da justiccedila (tograve koinograven) eacute natural e universal enquanto que o justo expresso nas peculiaridades locais (tograve iacutedion choacuteras) eacute convencional Epicuro diz portanto que a justiccedila pode ser identificada (e compreendida) em qualquer lugar como a conveniecircncia (syacutempheron) muacutetua estabelecida sob a forma de um pacto No entanto este mesmo pacto se apresenta de diversas maneiras dependendo das necessida-des que se apresentem na comunidade em que o pacto foi firmado
A justiccedila natildeo eacute a uacutenica noccedilatildeo considerada ao mesmo tempo natural e convencional na filosofia de Epicuro a linguagem humana tambeacutem pode ser qualificada assim Sobre as ori-gens da linguagem diz Epicuro
Por isso os nomes das coisas tambeacutem natildeo foram originaria-mente postos por convenccedilatildeo mas a natureza dos homens de conformidade com as vaacuterias raccedilas os criou () Mais tarde as raccedilas isoladas chegaram a um consenso e deram assim nomes peculiares a cada coisa a fim de que as comunicaccedilotildees entre elas fossem menos ambiacuteguas e as expressotildees fossem mais breves (DL 75-76)22
Assim como a linguagem finca suas raiacutezes na natureza e
22 ldquoQuanto aos vaacuterios sons da linguagem foi a natureza que obrigou a emiti-los e foi a utilidade que levou a dar nomes agraves coisasrdquo (DRN V 103)
Ethicaacute
118 119
depois a conveniecircncia entra em cena desenvolvendo esta ca-pacidade que a natureza legou ao homem da mesma forma pois acontece com a justiccedila porque temos uma preacute-noccedilatildeo desta que eacute passiacutevel de ser desenvolvida pelo uacutetil ou conve-niente (syacutempheron) A justiccedila tem um aspecto geral e outro especiacutefico O primeiro eacute natural e portanto universalmente compreendido de acordo com a preacute-noccedilatildeo que temos da justiccedila o uacuteltimo eacute pelo contraacuterio variaacutevel convencional determinado uacutetil e conveniente em cada comunidade em particular Assim a justiccedila eacute ao mesmo tempo natural e convencional da ordem da phyacutesis e tambeacutem da ordem do noacutemos23
Por proacutelepsin (preacute-noccedilatildeo) eles [os epicuristas]entendem uma espeacutecie de cogniccedilatildeo ou apreensatildeo imediata do real ou uma opiniatildeo correta ou um pensamento ou uma ideia universal iacutensita na mente ou seja a memorizaccedilatildeo de um objeto ex-terno que apareceu frequentemente como quando dizemos ldquoisto aqui eacute um homemrdquo De fato logo que se pronuncia a palavra ldquohomemrdquo sua figura se apresenta imediatamente ao nosso pensamento por via de antecipaccedilatildeo guiada prelimi-narmente pelo sentido (DL X 33)
As preacute-noccedilotildees satildeo a mateacuteria do pensamento As preacute-noccedilotildees satildeo as marcas deixadas nas almas em cada interaccedilatildeo sensiacutevel Eacute por via dessas marcas ou impressotildees que reconhecemos
23 Vemos nessas passagens que a linguagem teve sua origem na natu-reza mas seu desenvolvimento dependeu dos acordos realizados entre os homens Do mesmo modo a justiccedila tem seu ldquoladordquo natural na utilidade na manutenccedilatildeo da vida e do prazer Pois sem pactos para utilidade muacutetua os homens viveriam agrave mercecirc dos piores males Jaacute o caraacuteter convencional da justiccedila reside nas muacuteltiplas formas de se preservar a vida e o prazer Esses satildeo aspectos das agregaccedilotildees humanas inicialmente o processo de agrupamento se deu naturalmente posteriormente as relaccedilotildees se tornaram complexas
Terceira parte
120 121
uma sensaccedilatildeo figura ou atitude uma vez experienciada Haacute um conjunto enorme de proleacutepseis nas almas e elas satildeo ar-ranjadas e rearranjadas pelos mecanismos do pensamento A justiccedila tambeacutem provoca uma preacute-noccedilatildeo pela qual reconhe-cemos e podemos realizar atos justos Na MP XXXVII Epi-curo nos fala de uma proacutelepsis (preacute-noccedilatildeo) da utilidade (syacutem-pheron) inerente agrave justiccedila Sabemos o que eacute justo por termos a preacute-noccedilatildeo da utilidade ou conveniecircncia ou seja porque temos uma representaccedilatildeo imageacutetica do que eacute conveniente ou em outras palavras do que nos impede de prejudicar ou de ser prejudicado pelos outros Mas isso natildeo garante que as leis uma vez promulgadas seratildeo justas em todo o tempo e qualquer lugar pois o que define o justo eacute a conveniecircncia que eacute passiacutevel de variaccedilatildeo
Das disposiccedilotildees codificadas no direito vigente aquelas con-firmadas como uacuteteis nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comu-nitaacuteria apresentam o requisito do justo sejam ou natildeo sejam as mesmas para todos Mas se for promulgada uma lei que natildeo se mostre uacutetil nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comunitaacute-ria essa lei natildeo teraacute mais a natureza do justo E tambeacutem se aquilo que eacute uacutetil de conformidade com o direito vigente vier a cessar embora tenha correspondido durante um certo pe-riacuteodo de tempo agrave preacute-noccedilatildeo24 do justo apesar disso durante aquele periacuteodo foi justo desde que natildeo nos preocupemos com palavras vatildes e tenhamos em vista simplesmente os fatos (MP XXXVII)
Nem toda lei acordada deve ser considerada justa mera-mente por ter resultado de um pacto ou acordo25 pois a
24 G Kury traduz o termo proacutelepsis dessa passagem por ldquonoccedilatildeo pri-mordialrdquo Preferimos traduzir por preacutenoccedilatildeo por manter a unidade desse termo que foi provavelmente cunhado pelo proacuteprio Epicuro
25 ldquoAs accedilotildees natildeo satildeo justas ou injustas meramente porque algueacutem diz
Ethicaacute
120 121
justiccedila da lei eacute determinada pela confirmaccedilatildeo (epimarturouacute-menon) de sua utilidade para a comunidade Assim como vemos uma torre no horizonte e natildeo temos certeza se ela eacute arredondada ou retangular e esperamos pela confirmaccedilatildeo sensorial26 uma lei precisa ser confirmada por sua utilida-de ou conveniecircncia para a comunidade Se uma lei natildeo for uacutetil entatildeo natildeo eacute justa Uma lei portanto confirmada como justa pode entretanto natildeo ser justa em outro contexto A justiccedila se fundamenta na utilidade (syacutempheron) se uma lei deixa de ser uacutetil ela deixa de ser justa e se por exemplo numa comunidade eacute proibido pescar garoupas natildeo significa que em outra comunidade onde esse peixe eacute abundante se deva proibir tambeacutem O justo estaacute delimitado a um tempo e espaccedilo e condicionado pelo que se faz uacutetil nesse mesmo tempo e espaccedilo Natildeo haacute absolutamente no epicurismo a ideia de justiccedila em si Mas o justo depende de um pacto conveniente
O que impede portanto um membro da comunidade de natildeo cometer injusticcedilas eacute a puniccedilatildeo e o castigo Possivelmente cometeria ldquoinjusticcedilasrdquo se considerasse que natildeo seria punido ao cabo de sua accedilatildeo Por outro lado um membro saacutebio natildeo cogita a possibilidade de transgredir o pacto e permanecer impune pois seria punido imediatamente natildeo pelas penas cabiacuteveis acordadas no pacto mas pela perda de sua ataraxiacutea (imperturbabilidade)
δικαιοσύνη dikaiosyacutene (sf)- XXXIII
Justiccedila
que elas satildeordquo (BROWN 2009 p 192) 26 Cf DL X 34
Terceira parte
122 123
δυσπόριστος dyspoacuteristos (ad)- 130 XXVI
Difiacutecil de obter Palavra usada a partir de Epicuro
ἐγγαληνίζω engaleniacutedzo (v)- 37
Viver com tranquilidade Epicuro eacute o uacutenico a utilizar este termo
εἱμαρμένη heimarmeacutene (sf)- 134
Aquela que recebeu por destino
ἐκλόγισις ekloacutegisis (sf)- XVIII
Caacutelculo Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐκχώρησις ekchoacuteresis (sf)- XIV
Distanciamento apartamento
ἐλευθερία eleutheriacutea (sf)- SV 77
Liberdade A noccedilatildeo grega de liberdade natildeo eacute uniacutevoca Desde suas origens o termo eleutheriacutea passou por muitos desdo-bramentos Epicuro apresenta uma noccedilatildeo de liberdade que participa do processo de interiorizaccedilatildeo do homem Devemos a Soacutecrates o raciociacutenio que equipara a liberdade da cidade agrave liberdade interna ao homem expressa sob a noccedilatildeo de auto-domiacutenio e que veio a influenciar toda a filosofia posterior A ideia de liberdade interior eacute comum agraves diferentes escolas de filosofia do periacuteodo heleniacutestico poreacutem o epicurismo a apro-funda fazendo com que o sentido de eleutheriacutea se submeta ao de autaacuterkeia(Vide supra αὐτάρκεια nesta mesma parte)
Ethicaacute
122 123
Segundo Benveniste27 o termo latino liber e o grego eleuacutethe-ros28satildeo derivados da mesma raiz indo-europeia leudh- que significa ldquocrescer se desenvolverrdquo Essa imagem do ldquocresci-mentordquo e de sua completude na formaccedilatildeo de um homem levou agrave compreensatildeo socializada de leudh- como fonte ldquodo conjunto daqueles que satildeo nascidos e desenvolvidos conjun-tamenterdquo (Benveniste 1969 p 323) A ideia de liberdade pois se relaciona com o pertencimento a uma linhagem a um povo ldquoA liberdade do homem grego consiste em se sentir subordinado como membro agrave totalidade da polis e das suas leisrdquo (Jaeger 1995 p 228) Toda a liberdade que os gregos poderiam gozar advinha de seu pertencimento agrave polis natildeo apenas por habitarem a cidade mas por serem cidadatildeos Es-panto agrave parte o sentido original de liberdade natildeo tem a ver com emancipaccedilatildeo mas pelo contraacuterio com pertencimento Nas palavras de Benveniste
O primeiro sentido natildeo eacute como seria tentador imaginar ldquoli-berto de alguma coisardquo e sim eacute este de um pertencimento a uma fonte eacutetnica designada por uma metaacutefora de crescimen-to vegetal Este pertencimento confere um privileacutegio que o estrangeiro e escravo jamais conhecem (Benveniste 1969 p 324)
O exemplo das Guerras Peacutersicas no iniacutecio do seacuteculo V aC representa esta diferenccedila radical entre os gregos e os estrangeiros persas que natildeo gozavam dos privileacutegios da liberdade (eleutheriacutea) Os invasores persas tinham mestres diante dos quais se curvavam e aos quais obedeciam enquanto que os cidadatildeos gregos os eleuacutetheroi ldquonatildeo tinham um chefe uacutenico nem para cada cidade um homem que as
27 Cf 1969 p 322-323 28 Ambos os termos tecircm o significado de ldquolivrerdquo
Terceira parte
124 125
comanderdquo (Romilly 1989 p40) Essa diferenccedila de postura eacute representada na trageacutedia de Eacutesquilo Persas a partir da perspectiva dos baacuterbaros
Rainha Quem eacute o seu senhor Quem comanda o seu exeacuterci-to Corifeu Eles (os gregos) natildeo satildeo escravos (doucircloi) de nin-gueacutem nem satildeo suacuteditos (Eacutesquilo Persas linhas 241 242)29
Essa eacute a diferenccedila poliacutetica fundamental entre os gregos e os baacuterbaros30 Enquanto estes tecircm mestres os gregos devem obediecircncia apenas agrave lei sem a qual natildeo haveria polis nem liberdade Assim a noccedilatildeo de eleutheriacutea enquanto oposta agrave servidatildeo se define a partir da diferenccedila fundamental entre gregos e baacuterbaros Esse sentido que podemos chamar de liberdade poliacutetica depende do regime e se opotildee agrave opressatildeo31
Entretanto no fim do seacuteculo V aC surge um novo aspec-to da eleutheriacutea a liberdade democraacutetica A liberdade e a igualdade (isonomiacutea) se confundem Estaacute aberta a possibili-dade de todos os cidadatildeos intervirem na poliacutetica da cidade Todos tecircm direito de falar (isegoriacutea) e a justiccedila eacute a mesma para todos Poreacutem a influecircncia funesta dos demagogos e as arbitrariedades populares acabaram implodindo a liberdade democraacutetica32 A partir daiacute desponta outra forma de liberda-de a liberdade interior
Eacute atraveacutes das palavras de Soacutecrates que Xenofonte transmite a nova ideia da liberdade interior33
29 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo de David Grene ampRichmond Lattimore The Complete Greek Tragedies of AeschylusThe University of Chicago Press 1959 p 229
30 Cf Romilly 1989 p 4731 Cf Novaes (Org) 2002 p 1632 Cf Ibid p 11733 Eacute importante ressaltar que W Jaeger jaacute identificava a liberdade
interior nos textos de Soacutelon (Cf 1995 p 247)
Ethicaacute
124 125
- Ora diz-me laacute Eutidemo acreditas que haja um bem mais belo e bom para o homem e para a cidade do que a liberdade (eleutheriacutean)
- Natildeo E esse eacute de fato o maior dos bens
- E acreditas que eacute livre (eleuacutetheron) o homem que eacute domi-nado pelos prazeres do corpo e que por causa deles natildeo consegue agir bem
-De modo nenhum (Memoraacuteveis IV 5 2-3)34
Soacutecrates coloca lado a lado a liberdade da cidade e a liberda-de interior Esta se evidencia pelo autodomiacutenio ou domiacutenio das paixotildees Sem o autodomiacutenio (enkraacuteteia) o homem natildeo pode ser considerado realmente livre mesmo que viva sob um regime de liberdade poliacutetica
Essas noccedilotildees de autodomiacutenio e liberdade interior foram fundamentais para o desenvolvimento das filosofias heleniacutes-ticas uma vez que a vida poliacutetica se esfacelara sob o domiacutenio do impeacuterio macedocircnico ldquoA aacutegora apresenta-se agora fechada nos quatro lados como que para proclamar atraveacutes desta simples evocaccedilatildeo arquitetocircnica que a livre movimentaccedilatildeo e reuniatildeo do povo eram coisas do passadordquo (FINLEY 2002 p135) E quando Dioacutegenes o ciacutenico proclamou seu cosmo-politismo condenou o conceito de cidadania agrave falta de sen-tido35 O que interessa a partir de agora eacute o indiviacuteduo e sua busca interior de liberdade sabedoria e virtudes para uma vida bela A sociedade eacute apenas um acidente no percurso de melhoramento do indiviacuteduo E eacute como herdeira das noccedilotildees socraacuteticas de liberdade interior e autodomiacutenio que aparece
34 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Elias Pinheiro Coimbra CECH 2009
35 Cf Finley 2002 p116
Terceira parte
126 127
a noccedilatildeo epicurista de eleutheriacutea36 fruto mais precioso da autarquia e resultado do exerciacutecio da sabedoria
As ocorrecircncias dos termos eleutheriacutea e eleuacutetheros aparecem ambos nas Sentenccedilas Vaticanas
O fruto maior do bastar-se a si mesmo eacute a liberdade(SV 77)
Uma vida livre natildeo pode adquirir bens numerosos pelo fato de a coisa natildeo ser faacutecil fora da sujeiccedilatildeo agraves multidotildees e aos poderosos mas ela adquire tudo por uma abundacircncia contiacute-nua Se por acaso em algum lugar ela encontra muitos bens tambeacutem essas coisas satildeo faacuteceis de distribuir em favor da boa disposiccedilatildeo do proacuteximo (SV 67)
A liberdade de que se trata aqui tem a ver com aquela pro-blematizada por Soacutecrates no citado texto de Xenofonte ou seja aqui tambeacutem se trata de um tipo de liberdade interior No entanto as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia socraacuteticas ainda estatildeo segundo Jaeger ligadas agrave poacutelis ldquoSoacutecrates vive ainda dentro da poacutelisrdquo (JAEGER 1995 p552-553) e suas noccedilotildees de autaacuterkeia e eleutheriacutea natildeo tecircm ainda os traccedilos individualistas que os ciacutenicos primeiro depois estoacuteicos e epicuristas vatildeo lhes dar
A autaacuterkeia eacute condiccedilatildeo para a eleutheriacutea Se pensarmos em qualquer sentido para esta liberdade interior que prescinda da autaacuterkeia estaremos cometendo um erro de interpreta-ccedilatildeo Portanto natildeo podemos subsumir sob a noccedilatildeo de eleu-theriacutea o repertoacuterio de assuntos que se relacionam com o tema da liberdade no Epicurismo o pareacutenklisis ou clinamen(vide supra παρέγκλισις na primeira parte) a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs a criacutetica aos fiacutesicos da necessidade a criacutetica agraves supersticcedilotildees
36 ldquoAleacutem de fundar sua filosofia escavando o antes de Soacutecrates a dou-trina epicurista edificou sua arquitetocircnica a partir de Soacutecratesrdquo (Spinelli 2009 p51)
Ethicaacute
126 127
fatalistas e agrave ideia de destino etc pois todos esses assuntos excedem o sentido de eleutheriacutea Por isso falamos em um sentido de liberdade geral que passa por todos os objetos de estudo do epicurismo e um sentido de liberdade especiacutefica que por sua vez se identifica com a noccedilatildeo de eleutheriacutea Esta eacute a noccedilatildeo de liberdade em seu sentido positivo natildeo mais apenas o reconhecimento de um espaccedilo para a liberdade mas uma tomada de posiccedilatildeo diante da vida
Propomos que o sentido de eleutheriacutea estaacute para aquele de aacutetomo assim como o sentido de parrsquo hemacircs estaacute para aquele de vazio O aacutetomo natildeo existiria sem o vazio mas a existecircncia do vazio por si soacute natildeo garante a existecircncia do aacutetomo Do mesmo modo o espaccedilo para construccedilatildeo dos homens ou o acircmbito das accedilotildees livres natildeo garante a existecircncia efetiva des-sas mesmas accedilotildees A eacutetica de Epicuro tem por isso a esco-lha e a recusa como tema principal Agir com eleutheriacutea eacute construir no espaccedilo deixado vago pela natureza eacute escolher e recusar sem indiferenccedila eacute sentir prazer e sentir a dor quando convier
Epicuro segundo Secircneca diz que ldquoa liberdade consiste pre-cisamente em servir a filosofiardquo e ainda ldquoaquele que se lhe submete e a ela se entrega jaacute natildeo tem que esperar eacute ime-diatamente emancipadordquo (Epistolae ad Lucilium VIII 7 Us 199) O sentido do termo latino libertas corresponde ao de eleutheriacutea empregado por Epicuro nas Sentenccedilas Vaticanas A eleutheriacutea soacute eacute alcanccedilada por quem uma vez dedicado ao serviccedilo da filosofia e agrave compreensatildeo da natureza potildee-se ao exerciacutecio da autaacuterkeia A vida livre natildeo eacute uma vida de oacutecio e sim de exerciacutecio filosoacutefico de praacutette kaigrave meleacuteta (praacutetica e reflexatildeo) O homem autaacuterquico e livre natildeo depende de ri-quezas fama ou honrarias para ser feliz pois entendeu que o
Terceira parte
128 129
bem primordial o prazer lhe eacute congecircnito e que basta calcu-lar por si mesmo os limites dos prazeres e das dores para que seus objetivos mais importantes que satildeo ao mesmo tempo os mais simples e naturais sejam alcanccedilados A filosofia epi-curista eacute libertadora
ἐλεύθερος eleuacutetheros (ad)- SV 67
Livre
ἐλπίς elpiacutes (sf)- 84 134
Esperanccedila expectativa
ἔνδεια eacutendeia (sf)- 53 130 XVIII XXI
Falta necessidade
ἔνδοξος eacutendoxos (ad)- VII
Ceacutelebre famoso renomado
ἐνοχλέω enochleacuteo (v)- 125 XI
Desassossegar
ἐξαγωγή exagogeacute (sf)- XX SV 38
Abandono afastamento
ἐπιθυμία epithymiacutea(sf)- 127 X XI XXVI XXIX XXX SV 21 SV 35 SV 71 SV 80
Desejo apetite Os desejos satildeo fenocircmenos do corpo Neste
Ethicaacute
128 129
sentido Epicuro os classifica em trecircs categorias que definem o que importa agrave aquisiccedilatildeo do bem-estar e agrave manutenccedilatildeo de um corpo bem disposto (eusthaacutetes) e o que pode ser nocivo ou causa o seu desequiliacutebrio 1) desejos naturais e neces-saacuterios 2) desejos naturais e desnecessaacuterios 3) desejos nem naturais e nem necessaacuterios
ἐργαστικός ergastikoacutes (ad)- SV 45
Trabalhador laborioso
ἔργον eacutergon (sn)- 78 XXXVIII
Funccedilatildeo praacutetica tarefa obra
ἐτεροφρονεῖν heterophroneicircn (v inf)- SV 17
Estar em demecircncia Verbo de uso exclusivo de Epicuro
εὐδαιμονία eudaimoniacutea (sf)- 116122 127 SV 33
Felicidade
εὐδιάχυτος eudiaacutekhytos (ad)- XXVI
Facilmente dissipaacutevel
εὐελπιστία euelpistiacutea (sf)- SV 39
Boa expectativa esperanccedila
εὐκαταφρόνητος eukataphroacutenetos (ad)- SV 4
Facilmente despreziacutevel desdenhaacutevel
Terceira parte
130 131
εὐκταῖος euktaicircos (ad)- SV 35
Desejaacutevel
εὐλογίστως eulogiacutestos (adv)- 135
De modo bem pensado
εὔλογος eacuteulogos (ad)- SV 38
Razoaacutevel
εὔνοια eacuteunoia (sf)- SV 67
Benevolecircncia favor
εὐπορία euporiacutea (sf)- XIV
Riqueza abundacircncia prosperidade
εὐπόριστος eupoacuteristos (ad)- 130133 XV XXI
Faacutecil de conseguir
εὐστάθεια eustaacutetheia (sf) 68 Us
Boa disposiccedilatildeo O termo grego eustaacutetheia siginifica literalmen-te boa disposiccedilatildeo e foi definido por J Brun por ldquoequiliacutebrio das diversas partes do corpo vivordquo37 Este termo natildeo foi encontrado dentre as proposiccedilotildees das Cartas nem tampouco nas Maacuteximas Encontramo-lo citado por H Usener no fragmento de nuacutemero 68 da sua obra Epicurea Nela o autor revela sua fonte trata-se de Plutarco38 que atribui a Epicuro a seguinte proposiccedilatildeo
37 BrunJ Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978 p 16838 Plutarco Contra Epic Beat 1089d
Ethicaacute
130 131
() O gozo mais alto e mais soacutelido resulta da condiccedilatildeo de equiliacutebrio (boa disposiccedilatildeo) da carne e a esperanccedila fundada de a conservar para quem saiba consideraacute-la proporciona (conteacutem) a mais alta e segura alegria () (Us 68 p 185)
G Arrighetti traduz o termo em questatildeo por benessere que facilmente pode ser traduzido por bem estar Contudo vi-mos na expressatildeo ldquoboa disposiccedilatildeordquo a melhor traduccedilatildeo para o termo eustatheiacutea tendo em vista o fato de que se tomado literalmente encontramos imediatamente a ideia de um es-tado equilibrado no sentido fiacutesico do posicionamento deste corpo em relaccedilatildeo ao meio em que se encontra Queremos com isso chamar a atenccedilatildeo para as constantes relaccedilotildees esta-belecidas entre o corpo que age e sofre e as coisas sobre as quais age e sofre afecccedilotildees A boa proporccedilatildeo a harmonia e a estabilidade fiacutesica do corpo satildeo definiccedilotildees anaacutelogas do termo equiliacutebrio Este termo entretanto eacute pensado pela Fiacutesica par-ticularmente pela Mecacircnica- como o estado de um corpo em repouso em que as forccedilas que o solicitam se contrabalanccedilam exatamente Podemos entatildeo pensar tais forccedilas como expres-sotildees da natureza que podem ou natildeo afetar o corpo e neste sentido eacute igualmente possiacutevel pensar que este equiliacutebrio natildeo eacute absoluto mas oscilatoacuterio uma vez que afetos e desafetos ocorrem casualmente na natureza ainda que a nossa con-duta disponha-se ao exerciacutecio da phroacutenesis e da autaacuterkeia Eacute preciso que se esclareccedila que na natureza o movimento de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos eacute constante e inevitaacutevel mas no que diz respeito agrave conduta do homem esta tambeacutem depende da sua vontade ou deliberaccedilatildeo
εὐσυμπλήρωτος eusympleacuterotos (ad)- 133
Plenamente atingido Palavra de uso exclusivo de Epicuro
Terceira parte
132 133
εὐφροσύνη euphrosyacutene (sf)- 2Us
Deleite
ἡδονή hedoneacute (sf)- 128 129 130 131 136 137 138 III VIII IX X XII XVIII XIX XX XXIX SV 37 2 Us 116 Us 181 Us
Prazer gozo O prazer eacute o que nos realiza e nos faz bem Escolhemos de preferecircncia aquilo que nos agrada ou o que eacute prazeiroso e fugimos (de) ou evitamos aquilo que nos agride ou nos deixa vulneraacuteveis agrave dor
Escolher o prazer como o bem eacute viver intensamente os sentidos mas o que eacute intenso natildeo precisa ser imoderado Epicuro naturaliza o prazer mas natildeo o neutraliza Acredita numa medida natural de realizaccedilatildeo do prazer como estado de equiliacutebrio ou bem-estar O prazer tem um fim em si mesmo isto eacute no ato prazeiroso a finalidade eacute imanente agrave accedilatildeo Natildeo deve ser passiacutevel de censura aquele que admitir e propagar que o que eacute agradaacutevel eacute bom e o que eacute desagradaacutevel eacute ruim A sabedoria estaacute em natildeo ter opiniotildees vatildes sobre o que eacute agradaacutevel pois nesse caso natildeo se sabe o prazer pois deixar-se mover pela opiniatildeo vatilde eacute agir ignorando a natureza do objeto da accedilatildeo O problema reside na ignoracircncia pois o prazer obtido a partir do discernimento eacute o maior dos bens ou o bem por excelecircncia As criacuteticas epicuacutereas aos cirenaicos estatildeo centradas na desmesura com que estes buscavam e idealizavam o prazer Mais uma vez a phroacutenesis(Vide infra φρόνησις) eacute moderadora dos apetites (desejos) e esclarece-dora das medidas de realizaccedilatildeo plena dos prazeres A phroacutene-sis se opotildee a hamartiacutea e a hyacutebris assim como o prazer se opotildee agraves opiniotildees falsas sobre o que eacute agradaacutevel Diz Epicuro
Ethicaacute
132 133
E assim como em seu alimento (o saacutebio) natildeo escolhe o maior quantitativamente mas o mais agradaacutevel assim tambeacutem do tempo (de viver) natildeo escolhe o maior fruto mas o mais prazeroso O prazer eacute o princiacutepio e o fim da vida feliz O prazer eacute o nosso bem primordial e congecircnito e partindo dele movemo-nos para qualquer escolha e qualquer rejeiccedilatildeo e a ele voltamos usando como criteacuterio de discriminaccedilatildeo de todos os bens as sensaccedilotildees de prazer e de dor (DL X 128-29)
O que fez Epicuro quando elegeu o prazer como o Bem por excelecircncia foi atribuir agrave sensaccedilatildeo o primado sobre a com-preensatildeo da realidade e mais ainda definir o prazer como medida plena de realizaccedilatildeo do homem no mundo poreacutem eacute preciso explicitar como se daacute esta compreensatildeo e a que medida o prazer responde positivamente
Em primeiro lugar o pensamento eacute um efeito das relaccedilotildees sensiacuteveis e das analogias que nos fazem perscrutar o que eacute aacutedelon (invisiacutevel) mas pode ser inteligiacutevel Epicuro nos fala de he phantastikegrave epiboleacute tecircs dianoiacuteas que satildeo projeccedilotildees (saltos) imaginativa(o)s do pensamento Elas se datildeo por analogia agraves operaccedilotildees com os dados sensiacuteveis mas nos remetem a pensar nos niacuteveis microfiacutesicos e macrofiacutesicos Haacute uma relaccedilatildeo direta entre sentir pensar e agir que estabelece a continuidade en-tre a physiologiacuteae a eacutetica nos textos aqui examinados Assim as sensaccedilotildees datildeo origem ao pensamento que por sua vez eacute o princiacutepio do agir isso faz pensar que as deliberaccedilotildees mo-vidas pelo pensamento objetivam a realizaccedilatildeo do bem-estar experimentado pelos sentidos Epicuro natildeo distingue bem--estar (eustaacutetheia) de estado de prazer duradouro (hedonegrave ka-tastematikeacute) A manutenccedilatildeo do equiliacutebrio interno e externo do homem estaacute diretamente relacionada agrave deliberaccedilatildeo e agrave
Terceira parte
134 135
consequente accedilatildeo realizada por cada um Tendo em vista o prazer Epicuro busca um modo de vida no qual os desejos e apetites que movem natural e necessariamente os indiviacuteduos tenham uma medida que realize a vida de modo satisfatoacuterio e equilibrado Ele considera desejaacutevel e exequiacutevel este estado sem perturbaccedilatildeo e sem sofrimento Este estado eacute buscado como modo de realizaccedilatildeo do prazer o que faz com que a vida filosoacutefica seja a via preferencial para a realizaccedilatildeo dos desejos naturais e necessaacuterios e para a obtenccedilatildeo de prazeres que natildeo tecircm como consequecircncia a dor Para tal parte do princiacutepio segundo o qual prazer e dor se excluem e mais que isso natildeo haacute estado intermediaacuterio entre eles ou estado neutro no qual natildeo se sente prazer nem dor
O prazer e o movimento que o realiza fez com que Epicuro estabelecesse uma diferenccedila em relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo cirenai-ca de hedoneacute Para eles nem a ausecircncia de dor a aponiacutea nem a imperturbabilidade da alma a ataraxia podem ser considerados estados de prazer O prazer eacute um estado que se opotildee agrave dor e difere da neutralidade Dioacutegenes Laeacutercio comenta ldquoNo que concerne agrave ausecircncia de dor pleiteada por Epicuro eles (os cirenaicos) declaram que isto natildeo eacute prazer assim como a ausecircncia de prazer natildeo pode ser considerada dorrdquo (DL II 89)
Outro ponto de discordacircncia de Epicuro em relaccedilatildeo agrave Aristi-po eacute a admissatildeo da diferenccedila entre os prazeres pela distinccedilatildeo que faz entre opiniotildees vatildes sobre o prazer e o pensamento em que se sabe discernir ponderar e moderar o prazer para que ele natildeo tenha como consequecircncia a dor esta tambeacutem ignorada quando se age a partir das kenaigrave doacutexai
Epicuro centraraacute a sua criacutetica na demonstraccedilatildeo de que o prazer eacute constitutivo isto eacute que se inicia como movimento
Ethicaacute
134 135
mas a sua finalidade eacute tornar-se estaacutevel Hedonegrave kinetikeacute e hedonegrave Katastematikeacute configuram um mesmo movimento de prazer que tende naturalmente a uma espeacutecie de sere-nidade de apaziguamento das voliccedilotildees Quando inicia o movimento de suplantar a dor o corpo produz o seu proacuteprio prazer que depois seraacute rememorado pela alma Eacute o prazer em movimento que depois de saciado o desejo torna-se se-reno alcanccedilando a eustaacutetheia o bem-estar ao mesmo tempo no corpo e na alma contudo a alma guardaraacute as sensaccedilotildees prazeirosas transformando-as em sentimentos (proleacutepseis) ou impressotildees sensiacuteveis A rememoraccedilatildeo dos prazeres vividos produz um estado de alegria de seguranccedila e de bem-estar Dizemos nestes momentos que estamos bem e que tudo eacute muito agradaacutevel Satildeo os prazeres da alma Aleacutem disso esses prazeres jaacute sentidos e agora rememorados invadem a imagi-naccedilatildeo e projetam os prazeres vindouros tornados possiacuteveis pela memoacuteria Eacute uma maneira afirmativa de viver esperar (projetar) gozar no futuro
ἡσυχία hesychiacutea (sf)- XIV
Quietude
θάνατος thaacutenatos (sm)- 124125 133 II X XI SV 31
Morte
ldquoa morte nada eacute para noacutes pois o que se decompotildee eacute insensiacute-vel e o que eacute insensiacutevel nada eacute para noacutesrdquo (Maacuteximas Princi-pais II)
θαρρεῖν tharrecircin(v inf)- VIXXVIII XXXIX XL 207 Us
Confianccedila seguranccedila
Terceira parte
136 137
θεός theoacutes (sm)- 123 124 133 134 135 I SV 65 355 Us
Divindade deus A crenccedila vulgar nos deuses eacute formada por ldquosuposiccedilotildees falsasrdquo (hypoleacutepseis pseudeicircs) (DL X 124) Epi-curo afirma que essas crenccedilas natildeo satildeo baseadas em proleacutepseis (impressotildees) mas apenas em hypoleacutepseis (suposiccedilotildees)Vide suprahypoacutelepsis - ὑπόληψις etproacutelepsis πρόληψις (na segunda parte) A diferenccedila acentuada entre proacutelepsis e hypoacutelepsis nesse contexto demarca que embora Epicuro admita a existecircncia dos deuses a crenccedila vulgar natildeo condiz com a vida corpoacuterea e feliz das divindades
As hypoleacutepseis da religiatildeo grega tecircm o poder de produzir como consequecircncia da opiniatildeo de que eacute possiacutevel interagir com as divindadesa suposiccedilatildeo de que ldquodos deuses deri-vam os maiores males e bensrdquo (DL X 124) O culto dos tempos de Epicuro de acordo com Salem (1994 p 181) se expressava de uma maneira quase mercantil Acreditava-se que oferendas e sacrifiacutecios podiam aplacar a ira e alcanccedilar o favor dos deuses bem como maacutes oferendas ou a negligecircncia delas podiam suscitar penas e castigos Epicuro natildeo preten-de persuadir as pessoas que os deuses natildeo existem antes quer demonstrar que suas crenccedilas satildeo contraditoacuterias com a noccedilatildeo de divindade que expressam ldquoSe um deus obedece agraves preces dos homens muito rapidamente todos os homens teriam perecido continuamente eles pedem muitas coisas prejudi-ciais uns aos outrosrdquo (Us 388) Deuses satildeo seres imortais e sumamente felizes e enquanto tais natildeo se envolvem com a vida humana Epicuro evidencia a contradiccedilatildeo entre a noccedilatildeo de divindade e a expectativa de ser beneficiado ou castigado por um deus
Esperar por favores divinos torna o homem indolente esperar por castigos o torna temeroso O temor perturba e impede a
Ethicaacute
136 137
felicidade dos homens A imagem de deuses castigadores in-troduz nos espiacuteritos o medo do futuro e da morte O homem cultua por sacrifiacutecios e oferendas esperando que deuses guiem sua vida mas esses seres em contrapartida satildeo indiferentes ldquoEacute estuacutepido pedir aos deuses o que se pode procurar por si mesmordquo (SV 65) diz Epicuro Supor que seres indiferentes governam e guiam a vida humana nada mais eacute que se deixar ao acaso resignando-se aos desiacutegnios de pretensas divindades Pior que ser escravo de senhores reais eacute ser escravo de senhores inexistentes Esses homens vivem ao sabor da sorte levados pela inconstacircncia do acaso negligenciando seu poder de es-colha e decisatildeo A estes Epicuro convoca a tomar as reacutedeas da vida nas matildeos incitando-os agrave autarquia e a exercer ativamente sua liberdade ldquoO infortuacutenio do saacutebio eacute melhor que a prospe-ridade do insensato pois acha melhor numa accedilatildeo humana o fracasso daquilo que eacute bem escolhido que o sucesso por obra do acaso daquilo que eacute mal escolhidordquo (DL X 135)
O primeiro componente do ldquoquaacutedruplo remeacutediordquo (tetra-phaacutermakos) diz respeito aos deuses ldquosua opiniatildeo [do saacutebio] em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosardquo (DL X 133) Uma opiniatildeo piedosa segundo Epicuro eacute a de quem rejeita os deuses acei-tos pela maioria Esta opiniatildeo segundo a noccedilatildeo impressa (noacuteesis hypegraacutefe) em noacutes pela natureza considera a divin-dade ldquoum ser vivo e felizrdquo (DL X 123) Sobretudo natildeo se deve atribuir agrave divindade qualquer atributo que contradiga sua imortalidade e felicidade
ldquoOs deuses realmente existem e o conhecimento de sua exis-tecircncia eacute manifestordquo (DL X 123) Essa afirmaccedilatildeo inviabiliza a caracterizaccedilatildeo de Epicuro como ateu Lactacircncio39 em seu
39 Lactacircncio viveu entre 240-320 dC e seu comentaacuterio sobre Epicuro foi catalogado por H Usener em Epicurea (1887)
Terceira parte
138 139
De Ira Dei (A Ira de Deus) certamente desejava acentuar ainda mais as diferenccedilas entre o epicurismo e o cristianismo quando atribuiu a Epicuro o famoso argumento
Ou bem diz Epicuro Deus quer suprimir o mal e natildeo pode ou ele pode e natildeo quer ou ele nem quer e nem pode ou ele quer e pode Se ele quer e natildeo pode entatildeo eacute impotente e isso natildeo convecircm agrave Deus se ele pode e natildeo quer ele eacute invejoso mas isso natildeo pode conferir vantagem a Deus se ele nem quer nem pode ele eacute de uma soacute vez invejoso e impotente sendo assim ele natildeo pode ser Deus se ele quer e pode so-mente o que convecircm agrave Deus entatildeo de onde vem o mal Ou porque Deus natildeo o suprime (Us 374)
No entanto o texto da Carta a Meneceu natildeo sugere que Epicuro se referisse a um deus singular nem tampouco a um deus de que se esperasse a expurgaccedilatildeo do mal do mundo Pelo contraacuterio Epicuro se refere a muacuteltiplas divindades que a despeito dos problemas humanos sossegadamente habitam os intermundos (metakoacutesmion) Desse modo que esperar que a prova da existecircncia de Deus seja derivada da intervenccedilatildeo do mesmo no mundo vai totalmente de encontro com os textos de Epicuro que nos restaram
Os deuses de Epicuro natildeo se preocupam com bens ou males A perfeita felicidade desses seres se compreende exatamente na medida em que natildeo se preocupam com os afazeres dos homens Satildeo livres autossuficientes felizes imortais e por isso satildeo modelo para o saacutebio epicurista ldquoSeraacutes como um deus entre os homensrdquo (DL X 135) diz Epicuro a seu dis-ciacutepulo Meneceu O epicurista natildeo espera dos deuses nada aleacutem de um exemplo perfeito pelo qual moldar sua vida Os deuses expressam ideais de liberdade e autarquia eles tecircm tudo o que desejam e realizam sua vontade como querem Se
Ethicaacute
138 139
aos homens natildeo cabe ter tudo que desejam podem no en-tanto administrar-se com vistas a desejar somente o que po-dem realizar independentemente das circunstacircncias Eacute com este fim que Epicuro adverte ldquoA pobreza medida segundo o fim da natureza eacute uma grande riqueza a riqueza sem limite eacute grande pobrezardquo (SV 25) Eacute este tambeacutem o grande bem da autaacuterkeia pois o saacutebio autaacuterquico natildeo depende de ban-quetes sofisticados nem precisa variar seus prazeres cons-tantemente tampouco considera que o fim da vida eacute a soma irrestrita de prazeres nem cultiva riquezas pois encontrou na autaacuterkeia um grande tesouro Ter deuses como modelo de autossuficiecircncia natildeo significa desejar espraiar nosso domiacutenio para aleacutem das fronteiras de nosso ser antes eacute ter o domiacutenio irrestrito daquilo que nos compete Natildeo eacute desejar ardente-mente a Lua e os astros inalcanccedilaacuteveis mas eacute querer apenas o limite da satisfaccedilatildeo da carne
θητεία theteiacutea (sf)- SV 67
Serviccedilo
θόρυβος thoacuterybos (sm)- 132
Tumulto
ἰατρεία iatreiacutea (sf)- S64
Cura cuidado
ἰατρική iatrikeacute (teacutechne) (sf)- 138 221 Us
Medicina
Eacute o impeacuterio exclusivo (monarchiacutee) de uma soacute forccedila no orga-
Terceira parte
140 141
nismo a causa das doenccedilas e o equiliacutebrio (isonomiacutee) das for-ccedilas a causa da sauacutede (Alcmeacuteon de Croacutetona frag 4 - Diels)
A possiacutevel compreensatildeo epicuacuterea acerca da medicina de sua eacutepoca pode ser ldquointuiacutedardquo em algumas raras passagens dos seus textos mas natildeo se encontram nelas elementos que venham a demonstrar suficientemente um saber meacutedico ine-rente aos discursos epicuacutereos nem tampouco temos notiacutecias de algum disciacutepulo de sua eacutepoca que tivesse sido meacutedico Entretanto pelo que vimos ateacute aqui a anaacutelise de saacuterx envolve um conjunto de reflexotildees em torno do cuidado com o corpo
Sabemos de diversas interseccedilotildees entre medicina e filosofia no pensamento antigo desde Alcmeacuteon de Croacutetona e Em-peacutedocles de Agrigento passando por Soacutecrates ateacute Platatildeo e Aristoacuteteles em cujos textos encontramos as mais numerosas referecircncias as analogias que tomam ora a medicina ora o meacutedico como um dos termos e do outro lado encontramos agraves vezes a poacutelis agraves vezes o poliacutetico agraves vezes o filoacutesofo Neste sentido podemos estabelecer analogias entre a medida do agir e a medida do cuidar ambas tendendo sempre a um equiliacutebrio seja como ldquojusta medidardquo seja como ldquomeio--termordquo
Quando afirmamos a pertinecircncia dessas analogias temos presente que tanto a filosofia quanto a medicina buscam ex-plicitar o cuidado de si tendo em vista que a accedilatildeo de cuidar eacute proacutepria do ser do homem ldquoA medicina eacute a arte de curar as enfermidades por seus contraacuterios A arte de curar e de seguir o caminho pelo qual cura espontaneamente a nature-zardquo (Hip Afor 2 p 1 8) Compreendemos aqui o sentido real de agir conforme a natureza ou seja de agirmos de um modo tal que os nossos atos coincidam com o modo proacuteprio da natureza se realizar Neste sentido podemos entender a
Ethicaacute
140 141
teacutechne como complemento da natureza
Epicuro concebe a filosofia como o exerciacutecio de uma sabedo-ria para a vida e pensa ser este o caminho para a realizaccedilatildeo da natureza do sophoacutes com vigor e potecircncia Ora o saber meacutedico parece tambeacutem buscar auxiliar o corpo a realizar--se plenamente de acordo com o modo de ser da proacutepria natureza A cura auxiliada pelo saber eacute para a medicina um modo de accedilatildeo do meacutedico de acordo com a natureza o que quer dizer que em uacuteltima anaacutelise eacute a natureza que cura pois eacute ela mesma que se restabelece e a partir de si mesma Vemos aqui que a medicina em consonacircncia com a filosofia compotildee um saber acerca da natureza que Epicuro chamou Physiologiacutea Mediante isto percebemos que tanto para a fi-losofia epicuacuterea quanto para a medicina antiga a phyacutesis eacute a questatildeo fundamental que enseja toda e qualquer busca pelo conhecimento sendo por isso ao mesmo tempo princiacutepio e finalidade do conhecimento meacutedico e do conhecimento filosoacutefico E eacute desde a compreensatildeo da phyacutesis que se pode estruturar a accedilatildeo do meacutedico ou filoacutesofo Esta accedilatildeo traduz o sentido de um agir ldquode acordo com a naturezardquo que significa ter a sua archeacute mdash que eacute princiacutepio e comando mdash na natureza ao mesmo tempo que o teacutelos mdash que eacute a finalidade da accedilatildeo do homem no mundo e especificamente finalidade do conhe-cer tambeacutem na natureza
ἱκανός hikanoacutes (ad)- 45 55 59 SV 65 SV 68
Suficiente capaz
ἰσονομία isonomiacutea (sf)- 352 Us
Igualdade perante a lei
Terceira parte
142 143
καθαριότης katharioacutetes (sf)- SV 63
Pureza simplicidade frugalidade
καιρός kairoacutes (sm)- 35 98 115 XXV
Circunstacircncia tempo ocasiatildeo
καταπυκνόω katapyknoacuteo (v)- IX
Tornar-se espesso ganhar espessura
καταστηματικός katastematikoacutes (ad)- 136 2 Us
Repousante estaacutevel Adjetivo aplicado a certos prazeres
καταστροφή katastropheacute (sf)- 126 XX XXXV
Fim (da vida) ruiacutena desaparecimento
κενοσοξία kenodoxiacutea (sf)- XXX
Opiniatildeo vazia
κοινωνία koinoniacutea (sf)- XXXVI XXXVII XXXVIII
Comunidade vida em comum
μακάριος makaacuterios (ad)- 78 79 80 81 84 123 134 I
Feliz bem aventurado
μακαριότης makarioacutetes (sf)- 76 77 97 123 XXVII
Bem aventuranccedila felicidade
Ethicaacute
142 143
μακαρισμός makarismoacutes (sm)- SV 52
Accedilatildeo de louvar ou de invejar a felicidade alheia
μακαριστός makaristoacutes (ad)- SV 17
Considerado feliz
μελέτη meleacutete (sf)- 126
Meditaccedilatildeo
νόμος noacutemos (sm)- XXXVII
Lei
οἰκειότης oikeioacutetes (sf)- XL
Familiaridade amizade
ὁμόφυλος homoacutephylos (ad)- XXXIX
Aliado da mesma tribo Vide supra alloacutephylos-ἀλλόφυλος (na primeira parte)
ὄρεξις oacuterexis (sf)- XXVI 202 422 Us
Apetite
ὄχλησις oacutechlesis (sf)- VIII
Aborrecimento perturbaccedilatildeo
παιδεία paideiacutea (sf)- SV 45 117 163 Us
Cultura educaccedilatildeo
Terceira parte
144 145
παράστασις paraacutestasis (sf)- 81 138 Us
Deliacuterio
παρ᾿ἡμᾶς parrsquo hemacircs (prep παρά + 1ordf pessoa pl ἡμᾶς) - 133 27 Us (135)
Cabe-nos (cabe a noacutes) Parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo grega composta por dois vocaacutebulos unidos por elisatildeo paraacute e he-macircs Segundo Murarcho (2007 p 532) ldquoparaacute significa exa-tamente ao lado derdquo Por sua vez hemacircs eacute o pronome plural da primeira pessoa no acusativo traduzido pelo pronome obliacutequo aacutetono ldquonosrdquo Assim sendo a expressatildeo parrsquo hemacircsse descreve como a junccedilatildeo da preposiccedilatildeo paraacute (ao lado de) e do pronome hemacircs (nos) A expressatildeo tem sentido conotativo significando o que estaacute em poder do homem
Gama Kury (2008 p 314) traduz a expressatildeo parrsquo hemacircs por ldquodepende de noacutesrdquo diferente de Hicks (1925 p659) que traduz por ldquoour own action40rdquo Por sua vez Bollack (1975 p 81) traduz parrsquo hemacircs por ldquoce que tient agrave nous41rdquo Apesar das diferentes traduccedilotildees disponiacuteveis a melhor maneira de entender a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute pelo contexto do passo 133 da Carta a Meneceu
Crecirc entatildeo Meneceu que ningueacutem eacute superior a tal homem Sua opiniatildeo em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosa e ele se mostra sempre destemeroso diante da morte Ele reflete intensa-mente sobre a finalidade da natureza e tem uma concepccedilatildeo clara de que o bem supremo pode ser facilmente atingido e facilmente conquistado e que o mau supremo dura pouco e causa sofrimentos passageiros Finalmente ele proclama
40 ldquonossa proacutepria accedilatildeordquo41 ldquoo que nos concernerdquo
Ethicaacute
144 145
que o destino introduzido por alguns filoacutesofos como se-nhor de tudo eacute uma crenccedila vatilde e afirma que algumas coisas acontecem necessariamente outras por acaso e outras nos cabe fazer porque para ele eacute evidente que a necessidade gera a irresponsabilidade e que o acaso eacute inconstante e as coisas que cabe-nos fazer satildeo livremente escolhidas e satildeo naturalmente acompanhadas de censura e louvor (DL X 133)
Nessa passagem da carta haacute uma descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do homem que assimilou os preceitos baacutesicos do epicurismo Nela estaacute resumido aquilo que os epicuristas chamaram de tetraphaacutermakos (o quaacutedruplo remeacutedio42) O homem modelo como ldquoum deus entre os homensrdquo (DL X 135) natildeo teme a morte eacute feliz e traccedila seus proacuteprios caminhos Desdenha qualquer possibilidade de intervenccedilatildeo divina e defende que noacutes somos livres Investigou a natureza (phyacutesis) conhece seus princiacutepios e encontrou no prazer o fim (teacutelos) de todo homem
Epicuro natildeo diz expressamente a quem se refere ao afir-mar ldquoningueacutem eacute superior a tal homemrdquo ou como traduz Conche ldquoQuem estimas tu superior agravequelerdquo No entanto a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do saacutebio e do que se deve fazer para ter uma vida saacutebia comeccedila no passo 126 que diz ldquoo saacutebio (hoacute degrave sophoacutes) natildeo renuncia agrave vida nem teme a cessaccedilatildeo da vidardquo O saacutebio considera vatilde a crenccedila dos que apresentam o destino como um tirano Esta uacuteltima carac-teriacutestica do sophoacutes eacute determinante para a compreensatildeo de parrsquo hemacircs pois negar a crenccedila no domiacutenio irrestrito do destino (heimarmeacutene) implica em considerar a liberdade da accedilatildeo humana Segue-se pois na ordem do texto a afirma-
42 Cf MP II
Terceira parte
146 147
ccedilatildeo que anuncia o poder do homem expresso sob a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs ldquoalgumas coisas acontecem necessariamente (anaacutenke) outras por acaso (tyacuteche) e outras nos cabe fazerrdquo (parrsquo hemacircs)
A natureza eacute portanto neutra naquilo que cabe aos homens realizar O acaso (vide supra τύχη tyacuteche na pri-meira parte) limita a extensatildeo da necessidade (vide supra ἀνάγκη anaacutenke na primeira parte) e abre as portas para novas cadeias causais serem iniciadas A tradiccedilatildeo epicu-rista relaciona parrsquo hemacircs ao pareacutenklisis ou clinamen (Vide supra παρέγκλισις na primeira parte) Embora Epicuro natildeo tenha mencionado nada a respeito do desvio aleatoacuterio dos aacutetomos (pelo menos natildeo em seus textos remanescen-tes) percebe-se que a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute possibilitada pelo acaso sob a forma dos desvios bem como sua vigecircncia envolve a vontade deliberaccedilatildeo autarquia e escolha dos viventes Enfim parrsquo hemacircs se relaciona com a noccedilatildeo de li-berdade em sentido amplo Jaacute Filodemo aproxima a noccedilatildeo de pareacutenklisis da noccedilatildeo de parrsquo hemaacutes
Natildeo eacute suficiente admitir iacutenfimas declinaccedilotildees dos aacutetomos por causa do acaso e da liberdade (tograve tycherograven kaigrave tograve parrsquo hemacircs) mas eacute necessaacuterio provar que esta declinaccedilatildeo natildeo combate nenhum fato evidente (enargoacuten) (De Signis XXXVI 7-17 apud SALEM 1997 p 68)
Apesar do problema epistemoloacutegico levantado por Filodemo em relaccedilatildeo a natildeo-contradiccedilatildeo do clinamen ou pareacutenklisis fica claro que parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo utilizada para falar de liberdade de maneira geral ou seja de todas as possibilida-des abertas pelo desvio aleatoacuterio dos aacutetomos A expressatildeo parrsquo hemacircs abrange um conjunto de coisas que se relacionam com o agir livre do homem
Ethicaacute
146 147
περίβλεπτος periacutebletos (ad)- VII
Renomado famoso
περίβλεψις periacuteblepsis (sf)- SV 81
Observaccedilatildeo vigilacircncia
περίπτωσις periacuteptosis (sf)- 36 Us
Acaso desgraccedila
πίστωμα piacutestoma (sn)- XL
Garantia
πλήρωμα pleacuteroma (sn)- SV 59
Repleccedilatildeo satisfaccedilatildeo plenitude
ποιητικός poietikoacutes (ad)- VIIIX
Produtivo
ποικίλλειν poikiacutellein(v inf)- XVIIIXXIX
Variar diversificar Este termo se refere agrave possibilidade de variaccedilatildeo dos prazeres O prazer natildeo aumenta infinitamente apenas variaVide supra haacutepax-ἄπαξ (nessa mesma parte)
ποίκιλμα poiacutekilma(sn)- SV 69
Variedade
πολιτικός politikoacutes (ad)- SV 58
Puacuteblico
Terceira parte
148 149
πολυτελεία politeleiacutea (sf)- 130 181 Us
Despesa extravagacircncia
πόνος poacutenos (sm)- 133 137 (66 Us) SV 4
Sofrimento afliccedilatildeo
πρᾶγμα praacutegma (sn)- 36 39 49 53 75 76 IXX XXI XXXVII XXXVIII SV 45 SV 67
Coisa acontecimento fato circunstacircncia realidade
πραγματεία pragmateiacutea (sf)- 35 7783
Sistema doutrina
πρᾶξις praacutexis (sf)-81135 XXV
Accedilatildeo ato
προκαταστροφή prokatastropheacute (sf)- XL
Morte prematura
σεβασμός sebasmoacutes (sm)-SV 32
Adoraccedilatildeo veneraccedilatildeo
σοβαρός sobaroacutes (ad)- SV 45
Destemido
σοφία sophia(sf)-117XXVII SV 78
Sabedoriacutea
Ethicaacute
148 149
σοφός sophoacutes (ad)-117 125 XVI SV 32 S44 SV56
Saacutebio
σπουδή spudeacute (sf)- 84XXX SV 61
Esforccedilo ardor
στέρησις steacuteresis (sf)- 124
Privaccedilatildeo
συζήτησις syzeacutetesis (sf)- SV74
Discussatildeo disputa pesquisa em conjunto Termo utilizado pela primeira vez por Epicuro
σύμβολον syacutembolon (sn)- XXXI
Garantia contrapartida
συμμέτρησις symmeacutetresis (sf)-130
Comparaccedilatildeo
σύνφυτος syacutemphytos (ad)- 129
Inato
συναναστροφή synanastropheacute (sf)- SV 18
Convivecircncia
συνήθεια syneacutetheia (sf)- SV 46
Haacutebito
Terceira parte
150 151
συνθήκη syntheacuteke (sf)- XXXIIXXXIII
Acordo pacto contrato
σωτηρία soteriacutea (sf) SV 80
Salvaccedilatildeo
ταραχή taracheacute (sf)- 81 XVII XXII SV 81
Perturbaccedilatildeo
ταραχώδης tarachoacutedes (ad)- 116 Us
Perturbado
τιμή timeacute (sf) (- 134 SV 81
Honra
τύχη tyacuteche (sf)- 120 (584 Us) 131 133 134 XVI SV 17
Acaso sorte fortuna As noccedilotildees de acaso (tyacuteche) e necessida-de (anaacutenke) satildeo compatibilizadas por Epicuro em sua visatildeo geral da phyacutesis Nela alguns axiomas satildeo apresentados como necessaacuterios por exemplo todos os aacutetomos estatildeo em cons-tante movimento Esta afirmaccedilatildeo eacute axiomaacutetica por revelar o que necessariamente eacute intuiacutedo na anaacutelise dos modos de ser de phyacutesis Em consequecircncia disso o constante movimento dos aacutetomos supotildee a declinaccedilatildeo casuiacutestica de alguns aacutetomos pois soacute assim eacute possiacutevel explicar a diversidade dos corpos e as muacuteltiplas configuraccedilotildees pelas quais eles passam no decorrer de suas existecircncias individuais enquanto corpos Visto de outro modo a totalidade dos aacutetomos e do vazio existentes
Ethicaacute
150 151
permanece a mesma ainda que os aacutetomos e o vazio sejam ilimitados Entretanto quando analisados os mundos e os demais corpos particularizados no interior do todo se mos-tram vulneraacuteveis agraves mudanccedilas e acabam por expressar en-quanto existecircncias dissemelhantes a atuaccedilatildeo do acaso como elemento diferenciador
Portanto os diversos niacuteveis de alteraccedilatildeo dos corpos que ocorrem necessariamente satildeo consequecircncias dos desloca-mentos dos aacutetomos portadores do princiacutepio de movimento expresso nas trajetoacuterias oriundas dos deslocamentos e nas casuiacutesticas declinaccedilotildees que sofrem quando desviam O acaso pode ser concebido tendo em vista a pluralidade dos corpos e a indeterminaccedilatildeo absoluta do todo Poreacutem uma anaacutelise mais detalhada das implicaccedilotildees entre os termos aca-so e necessidade nos textos de Epicuro sobretudo do modo em que coexistem em seu sistema requer a explicitaccedilatildeo do sentido fiacutesico da concepccedilatildeo de necessidade
Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem fi-nalidade (teacutelos)rdquo E somente o termo anaacutenke pode significar necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo proacutenoia para designar necessidade de qualquer ma-neira a necessidade nunca foi enunciada por Epicuro num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
No mesmo contexto o termo tyacuteche traz em si a negaccedilatildeo de toda a finalidade que poderia existir no movimento necessaacute-rio de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos e mundos
Terceira parte
152 153
ou seja natildeo eacute cabiacutevel falar de teleologia no pensamento de Epicuro porque ele evidencia a presenccedila do acaso na realizaccedilatildeo do movimento como ausecircncia de finalidade na explicaccedilatildeo dos corpos e mundos Dessa maneira tudo o que acontece a geraccedilatildeo o desenvolvimento e a corrupccedilatildeo dos corpos acontece por necessidade poreacutem a diversificaccedilatildeo dos acontecimentos eacute resultado da interferecircncia do acaso ou dos desvios nas trajetoacuterias dos aacutetomos Contudo ldquoEacute neces-saacuterio que algo de imutaacutevel subsista para que as coisas natildeo recaiam totalmente no nadardquo (DRN II 751 752) Como eacute necessaacuterio pela proacutepria natureza do acaso que os corpos e mundo sejam diferentes e sujeitos agrave geraccedilatildeo e agrave corrupccedilatildeo bem como as modificaccedilotildees ocorridas durante o periacuteodo de desenvolvimento isto eacute durante o movimento ininterrupto de suas existecircncias A compreensatildeo de phyacutesis nos seus diver-sos modos de realizaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel para um sistema de pensamento que trabalha positivamente as noccedilotildees de tyacuteche e anaacutenke
ὑγιαίνειν hyguiaiacutenein (v inf)- SV 54
Ter sauacutede
ὑγίεια hyguiacuteeia (sf)- 128 131 138 (504 Us)
Sauacutede
φιλία philiacutea (sf)- 120 XXVIIXXVIII SV 23 S28S34 S39 S52 S78
Amizade A philiacutea eacute uma forma voluntaacuteria e prazeirosa de se relacionar com os outros Cada indiviacuteduo busca agrupar--se num conjunto ou seja agregar-se segundo a natureza
Ethicaacute
152 153
Mas o saacutebio busca o conviacutevio com afins por natureza mas tambeacutem por conveniecircncia (opheacuteleia) O que conveacutem a todos eacute natildeo sofrer danos mas para o saacutebio eacute preciso tambeacutem livrar--se da ignoracircncia e das crenccedilas vazias que levam os homens a cometerem injusticcedilas uns aos outros Desse modo a amiza-de filosoacutefica eacute diferente das relaccedilotildees que comportam atitudes que levam ao desconforto e produzem o desequiliacutebrio O que eacute conveniente (syacutempheron) eacute semelhante na atitude e na reflexatildeo Haacute uma medida um caacutelculo um sentido de harmonia para realizar a amizade A amizade eacute na praacutetica a sabedoria de viver em conjunto A amizade resulta do equi-liacutebrio de interesses daqueles implicados na relaccedilatildeo Ela nasce de maneira espontacircnea mas se consolida pela reflexatildeo acerca da naturalidade da vida em conjunto e do comedimento que equilibra os modos de agir esta eacute uma possiacutevel interpretaccedilatildeo do que Demoacutecrito pensou sobre a amizade ldquoAcordo no pen-sar engendra a amizaderdquo (DK B II 33 9)
A philia supotildee uma afinidade de pensamento e tambeacutem de accedilatildeo uma vez que as relaccedilotildees se efetivam na busca em conjunto da physiologiacutea da compreensatildeo da realidade Neste sentido a praacutetica de vida eacute saacutebia e o saber se faz em torno da vida Epicuro manteacutem a naturalidade da amizade e faz dela a base do movimento de agregaccedilatildeo social Sendo possiacutevel a amizade tambeacutem seraacute o direito e a poliacutetica O direito eacute fruto da relaccedilatildeo entre phyacutesis e noacutemos e a poliacutetica se realizaraacute no acordo entre semelhantes Na praacutetica Epicuro pensou em comunidades de pensamento e accedilatildeo De alguma manei-ra ele buscou tornar possiacutevel uma comunidade de amigos estabelecendo uma descontinuidade com o espaccedilo puacuteblico das cidades A philiacutea que eacute a base das relaccedilotildees existentes na comunidade natildeo eacute a priori fruto de um contrato uma vez
Terceira parte
154 155
que eacute imanente agrave natureza O contrato eacute uma consequecircn-cia eacute um acordo entre modos de pensar Mas o que move o pensamento na realizaccedilatildeo do acordo eacute o sentimento de equi-liacutebrio seguranccedila e a tranquilidade que a amizade produz Portanto a amizade brota de desejos naturais e necessaacuterios e se expressa no loacutegos sob a forma de acordos que satildeo estabe-lecidos segundo a conveniecircncia muacutetua (opheacuteleia) Pensar-se a si proacuteprio e ter o princiacutepio de suas accedilotildees em si mesmo qua-lifica o homem para a aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo da amizade De outra maneira no vazio das reflexotildees satildeo projetadas as falsas opiniotildees ou opiniotildees vazias que alimentam crenccedilas e desejos imoderados agraves vezes naturais agraves vezes natildeo mas quase sempre desnecessaacuterios Esses desejos crenccedilas e falsas opiniotildees cumulam em injustas agressotildees disputas pelo po-der desconfianccedila insensatez e anguacutestia ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacuteprocas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto no sentido de natildeo prejudicar nem de ser prejudicadordquo (DL X 150) E tambeacutem ldquoPara todos os seres vivos incapazes de estabelecer pactos com o intuito de natildeo prejudicar os outros e de natildeo ser prejudicados nada era justo ou injusto Acontece o mesmo em relaccedilatildeo aos povos que natildeo podiam ou natildeo queriam estabelecer pactos destinados a natildeo prejudicar e natildeo ser prejudicadosrdquo (DL X 150)
Eacute preciso entretanto atentar para o que assevera Epicuro que natildeo foi nem pretendeu ser um pensador poliacutetico Ele orientou o modo de vida filosoacutefico pela philiacutea A conveni-ecircncia muacutetua aleacutem de propiciar o pacto de natildeo sofrer nem cometer danos uns aos outros daacute sentido agrave uniatildeo entre os homens que se caracteriza pela afinidade e natildeo pela simples contenccedilatildeo das diferenccedilas ldquoToda a amizade deve ser buscada
Ethicaacute
154 155
por ela mesma mesmo que ela tenha sua origem na necessi-dade de uma ajudardquo (SV 23)
Epicuro mais uma vez marcando uma diferenccedila em relaccedilatildeo aos cirenaicos natildeo reduz a amizade ao seu caraacuteter utilitaacuterio mas afirma a conveniecircncia inerente agrave busca e manutenccedilatildeo da amizade Para ele que concorda com Aristoacuteteles o saacutebio pode proporcionar ao outro homem uma amizade digna dos me-lhores homens ou daqueles dotados de logismoacutes e de phroacutenesis pois a amizade que nasce da conveniecircncia tambeacutem se ali-menta dela ou seja ela produz acordo entre ideias e atitudes Tambeacutem para Epicuro o propoacutesito da amizade eacute o de ser na praacutetica a comunhatildeo de uma mesma filosofia Neste sentido eacute iacutentima a relaccedilatildeo entre a amizade e o bem que eacute o prazer pois dentre outras coisas a amizade mostra-se isenta de pai-xotildees tais como o oacutedio o rancor e a veneraccedilatildeo Aleacutem disso a amizade natildeo cumula em reaccedilatildeo pois eacute a expressatildeo de uniatildeo e equiliacutebrio entre aqueles que se afinam mutuamente pela natureza de caraacuteter e sabedoria ldquoAquele que eacute bem-nascido se dedica principalmente agrave sabedoria e agrave amizade dois bens dos quais um eacute mortal e o outro imortalrdquo (SV 78)
φιλόλογος philoacutelogos (ad)- S74
Aquele que busca argumentos ou raciociacutenios
φιλοσοφία philosophiacutea (sf) 22(138 Us) 132 SV 27 S41 117 Us219 Us 221 Us
Filosofia Na maacutexima 41 Epicuro utiliza este termo associa-do agrave oacuterthes (reta) com a intenccedilatildeo clara de mostrar que esta ldquoreta filosofiardquo deve ser praticada em todo momento para que a vida se torne justa bela e saacutebia A filosofia eacute definida
Terceira parte
156 157
como um saber em torno da vida no sentido de ser um exer-ciacutecio de bem viver
φιλόσοφος philoacutesophos (sm)- 221 Us
Filoacutesofo
φρόνησις phroacutenesis (sf)- 132
Sensatez sabedoria praacutetica Epicuro utiliza o termo phroacutenesis num sentido muito similar agravequele desenvolvido por Aristoacuteteles ou seja como sabedoria praacutetica Ele atribui agrave phroacutenesis a prima-zia na realizaccedilatildeo da vida filosoacutefica ou saacutebia A teacutechne eacute o modo de accedilatildeo e a filosofia eacute o exerciacutecio desse saber em torno da vida (techne tis perigrave tograven biacuteon) Assim a phroacutenesis eacute o exerciacutecio praacutetico da sabedoria (epigrave degrave philosophiacuteas) e num sentido abrangente da atividade filosoacutefica coincide com a proacutepria filosofia
Haacute uma passagem na Carta a Meneceu (DL X 132) onde Epicuro utiliza o termo phroacutenimos para significar aquele que deteacutem uma sabedoria no agir Eacute um momento em que fica clara a influecircncia socraacutetico-platocircnica pois aproxima e faz co--pertencer a um mesmo acorde phroacutenimos kaloacutes ediacutekaios (o saacutebio o bom e o justo)(vide supra δίκαιος nesta mesma parte) Tais noccedilotildees fundam uma seacuterie de relaccedilotildees no pensamento antigo e se mantecircm coesas no texto de Epicuro Eacute ao mesmo tempo uma dyacutenamis e uma possibilidade do pensamento quando este exerce o seu poder de escolha e de recusa Epi-curo considera que se pode escolher o que eacute ponderadamente refletido e recusar o que natildeo eacute necessaacuterio nem conveniente (syacutempheron) A condiccedilatildeo da autaacuterkeia eacute agir aliando o logismoacutes e a phroacutenesis pois a phroacutenesis age na triagem dos desejos que se quer e que se pode realizar na medida em que confere uma
Ethicaacute
156 157
medida natural para o bem-estar e para o prazer A phroacutenesis eacute moduladora das accedilotildees e dos desejos naturais e necessaacuterios que nos conduzem aos prazeres
Outra consequecircncia da primazia da phroacutenesis no exerciacutecio da sabedoria eacute que o esforccedilo para pensar a phyacutesis e o equiliacutebrio sereno diante do que pode causar temores provoca a agradaacute-vel ataraxiacutea um bem-estar (eustaacutetheiavide supra εὐστάθεια nesta mesma parte) Epicuro traccedila a imagem da vida filosoacutefica como vida autaacuterquica e daacute ao pensamento uma dyacutenamis a realizaccedilatildeo da conduta de acordo com a natureza ou do que se adquire com a physiologiacutea O que perturba enfraquece escraviza eacute a ignoracircncia que gera temores e opiniotildees vazias Viver segundo a natureza aqui quer dizer viver segundo a compreensatildeo que se pode ter da phyacutesis A physiologiacutea eacute um exerciacutecio para escapar agrave ignoracircncia e natildeo a substantivaccedilatildeo da natureza como uma noccedilatildeo estaacutetica cientificista ldquoEacute pela ignoracircncia dos bens e dos males que a vida dos homens eacute em grande escala perturbada e por causa desta erracircncia eles frequentemente se privam dos prazeres e se torturam com as mais crueacuteis dores da almardquo43 ldquoUm entendimento correto dessa teoria permitir-nos-aacute dirigir toda a escolha e toda a rejeiccedilatildeo com vistas agrave sauacutede do corpo e agrave tranquumlilidade da alma pois isso eacute o que se pode supremamente realizar na vidardquo (DL X 128) ldquoQuando entatildeo dizemos que o prazer eacute o fim () por prazer ltentendemosgt a ausecircncia de sofrimentos no corpo e a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na almardquo (DL X 131)
φρονίμως phroniacutemos (adv)- 132 V
Sabiamente sensatamente
43 Ciacutecero De Finibus I 13 42
158 159
Terceira parte
158 159
φυγή phygeacute (sf) - 128 129 132 XXV
Rejeiccedilatildeo recusa fuga
χαρά charaacute (sf)- 66 SV 81 2 Us
Gozo alegria
χάρις charis (sf)- 77 122 I SV 17 SV39 SV55
Benevolecircncia graccedila
χρεία chreiacutea (sf)- 120 87 128 XXXVII SV 34
Necessidade precisatildeo uacutetil
χρῆσις chreacutesis (sf)- 131
Ocupaccedilatildeo
χυλός chyloacutes (sm) 130
Frugal
ὠφέλεια opheacuteleia (sf)- 124 SV 23
Conveniecircncia muacutetua benefiacutecio utilidade No pensamento de Epicuro este termo estaacute relacionado agrave philiacutea (amizade) (vide supra φιλία nesta mesma parte) e pode ser traduzido em determinadas passagens por ldquoconveniecircncia muacutetuardquo Por outro lado pode ser traduzido por ldquoutilidaderdquo no sentido de algo que devas ser buscado ou praticado com a finalidade de viver
Referecircncias Bibliograacuteficas
158 159158 159
referecircnciAS BiBliograacuteficAS
Textos de Epicuro
Arrighetti G Epicuro Opere Torino Giulio Einaude 1960
Bignone E Opere frammenti testimonianze sulla sua vita Roma LrsquoEr-ma di Bretscheider 1964
Bollack J amp Wismann H La lettre d`Eacutepicure Paris Les Editions de Minuit 1971
mdashmdashmdash amp Laks A Eacutepicure agrave Pythoclegraves Cahiers de Philologie Paris Les Editions de Minuit 1975
mdashmdashmdash La penseeacute du plaisir Eacutepicure textes moraux commentaires Paris Les Editions de Minuit 1975
Conche M Epicure lettres et maximes Paris eacuted De Megare1977
Epicuro Antologia de textos In Epicuro et al Satildeo Paulo Abril Cul-tural1980
mdashmdashmdash The works of Epicurus The extant remains of the greek text trans-lated by Cyril Bailey with an introduction by Irwin Edman Nova Iorque The Limited Edition 1947
mdashmdashmdash Obras Completas 2ordf ed Trad Joseacute Vara Madri Ediccedilotildees Caacutet-edra 1996
Laursen S The summary of Epicurus On Nature Book 25 Papyrologia Lupiensia Lecce 1 1991 142-154
Parente M I Opere di Epicuro Torino Unione Tipografico-Editrice Torinese 1974
Salem J laquo Commentaire de la lettre drsquoEpicure agrave Heacuterodote raquoCahiers de Philosophie ancienne nordm9 Bruxelles Editions Ousia 1993
Solovine M Epicure doctrine et maxims Paris 1965
Wotke K amp Usener H Epikureische Spruchsammlung Wierner Stu-dien fuumlr Klassiche philologie 10 1888 p 175-201
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Outros autores antigos
Aristoacuteteles De anima Trad Maria Ceciacutelia Gomes dos Reis Satildeo Paulo Editora 34 2006
mdashmdashmdash De la geacuteneacuteration des animauxTrad P Louis Paris Les Belles Lesttres 1901
mdashmdashmdash Eacutethique agrave Nicomaque Trad J Voilquin Paris Garnier 1961
mdashmdashmdash Nicomachean Ethics Londres Ed Willian Meinemann Har-vard University Press 1939
mdashmdashmdash Histoire des Animaux Trad P Louis Paris Les Belles Lettres 1964
mdashmdashmdash Petits traiteacutes drsquohistoire naturelle Trad R Mugnier Paris Les Belles Lettres 1953
Lucreacutecio Da Natureza In Epicuro et al Trad Agostinho da Silva Satildeo Paulo Abril Cultural1980
Cicero De finibus bonorum et malorum Trad H Rackham MA Lon-dresNova Iorque William HeinemannThe Macmillan CO 1914
Ciceacuteron De La Natura des Dieux Trad Nouv notes par C Appuhn Paris Garniersd
mdashmdashmdash Lrsquoamitieacute Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 1952
mdashmdashmdash Les Devoirs Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 196570
Diocircgenes Laecircrtios Vidas e doutrinas dos filoacutesofos ilustresTrad Gama Kury Brasiacutelia UNB 1988
Diogenes Laertius Lives of eminent philosophers Vol 2 Trad R Hicks Cambridge Havard University Press1925
Filodemo Agli amici di scuola Naacutepoles Bibliopolis 1988
mdashmdashmdash Memorie Epicuree Naacutepolis Bibliopolis 1997
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Hippocrates Works (I VII) London Harvard University Press 1988
Lucreacutece De la Nature Paris Garnier 1954
Grene D amp Lattimore R The Complete Greek Tragedies of Aeschylus The University of Chicago Press 1959
Philodemus On the frank criticism Trad David Konstan et al Atlanta Society of Biblical Literature 1998
mdashmdashmdash On the methods of inference Naacutepoles Bibliopolis 1978
Platatildeo As Leis ou da legislaccedilatildeo e Epinomis Trad de Edson Bini 2ordf ediccedilatildeo Bauru SP Edipro 2010
Plutarque Du stoicisme et lrsquoepicurisme Trad Ricard Didier Apresenta-ccedilatildeo e notas Jean Salem Paris Eacuteditions Sand 1996
mdashmdashmdash Contre Colotes In Ouvres morales et ouvres diverses IV Paris Manchete 1970
Sextus Empiricus Contre les professeurs Editions du Seuil 2002
Seneca AD Lucilium Epistulae Morales Trad Richard M Gummere LondresNova Iorque William Heinemann G P Putnamrsquos sons 1925
Smith MF Fragments of Diogenes of Oenoanda Discovered and Redis-covered American Journal of Archaeology Vol 74 nordm1 (Jan 1970) p 51-72
Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Ellias Pinheiro Coimbra CECH 2009
Estudos modernos
Baudry J Le problem de lrsquoorigine et de lrsquoeterniteacute du monde dans la philo-sophie grecque de Platon agrave lrsquoegravere chreacutetienne Paris Les Belle Lettres 1931
Bayley C Epicurus the extant remains Oxford 1926
mdashmdashmdash The Greek atomists and Epicurus Oxford 1928
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Bignone H LrsquoAristotele perdugraveto e la formazione filosofica di Epicuro Flo-renccedila 1936
Bergson H L Extraits de Lucreacutece avec notes et une eacutetude sur la poeacutesie la philosophie la physique le texte et la langue de Lucregravece 10 ed Paris De La Grave sd
Bnobzie S Did Epicurus discover the free will problem In Sedley D (Org) Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Oxford University Press 19 287-337 2000
Boyanceacute P Lucregravece et lrsquoeacutepicurisme Collection ldquoLes grands penseursrdquo (dirigeacutee par P-M Schuhl) Paris PUF 1963
Brown E Politcs and society In WARREN J (Org) The Cambridge companion to epicureanism Cambridge Cambrigde University Press 2009
Brun J O Epicurismo Lisboa 70 1989
mdashmdashmdash Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Conche M La mort et la penseacutee Editons de Meacutegare 1973
Dewitt N St Paul and Epicurus Mineaacutepolis University of Minnesota Press 1954
mdashmdashmdash Epicurus and his philosophy Mineaacutepolis University of Minne-sota Press 1954
Diogini I Lucrezio le parole e le cose Bolonha Ed Paacutetron 1988
Duvernoy J-F O Epicurismo e sua tradiccedilatildeo antiga Satildeo Paulo Zahar 1990
Etienne A Dominic O La philosophie eacutepicurienne sur Pierre Fribur-goParisEacutedition Universitaires Fribourg Suisse Eacutedition du Cerf Paris 1996
Farrington B A doutrina de Epicuro Trad de Edmond JorgeRio de Janeiro Zahar Editores 1967
mdashmdashmdash The faith of Epicurus Londres Weidenfeld and Nicholson 1967
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Festugieacutere A-J Eacutepicure et ses dieux Paris Presses Universitaires de France 1946
Finley M I Os Gregos antigos Trad Artur Mouratildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2002
Furley D J Two studies in greek atomists Princeton University Press 1967
Gigandet A Morel P-M (Orgs) Ler Epicuro e os epicuristas Satildeo Paulo Loyola 2011
Gigante M Studisull`epicureismo greco-romano Naacutepoles 1983
mdashmdashmdash La bibliothegraveque de Philodegraveme et lrsquoepicurisme romain Paris Soci-eacuteteacute DrsquoEacutedition Les Belle Lettres 1987
Goldschmidt V La Doctrine drsquoEpicure et le droit Paris Vrin 1977
Gual C G Epicuro Madrid Alianza Editorial 1981
Guyau J -M La morale drsquoEacutepicure et ses rapports avec les doctrines con-temporaines Paris Librairie Feacutelix Alcan 1927
Jaeger W Paideacuteia a Formaccedilatildeo do Homem Grego Trad Artur M Par-reira Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
Long A A Sedley D N The Hellenistic philosophers v1 Cambridge Cambridge University Press 1987
Konstan D Some aspects of Epicurean psychology Leiden Brill 1973
Laks A Edition critique et commenteacutee de la ldquoVierdquo drsquoEpicure das Diogegravene Laerce Cahiers de Philologie 1 Eacutetudes sur lrsquoepicurisme AntiquePublications de lrsquoUniversiteacute de Lille III 1976
Marx K Diferenccedila entre as filosofias da Natureza em Demoacutecrito e Epicuro Satildeo Paulo Globalsd
Masi F G Epicuro e la filosofia della mente il XXV libro dellrsquoopera Sulla Natura Sankt Augustin Academia Verlag 2006
Mewaldt J O Pensamento de Epicuro Satildeo Paulo Iacuteris 1960
Mondolfo R O homem na cultura antiga a compreensatildeo do sujeito humano na cultura antiga Trad Luiz Caruso Satildeo Paulo Edi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
tora Mestre Jou 1968
mdashmdashmdash O infinito no pensamento da antiguidade claacutessica Trad Luiz Da-roacutes Satildeo Paulo Editora Mestre Jou 1968
Morel P-M Deacutemocrite et la recherche des causes Langres Klincksieck 1996
mdashmdashmdash Eacutepicure Paris Librarie philosophique J Vrin 2013
mdashmdashmdash Atome et neacutecessiteacute Deacutemocrite Eacutepicure Lucregravece Paris Presses Universitaires de France 2000
Nizan P Les Mateacuterialistes de lrsquoAntiquiteacute Deacutemocriteacute Eacutepicure Lucregravece Paris Eacuted Sociales Internationales 1938
Nussbaum M The therapy of desire theory and practice in hellenistic ethics Princeton Princeton University Press 1994
Orsquokeefe T Epicurus on Freedom Nova Iorque Cambridge University Press 2005
mdashmdashmdash Epicurianism Durham Acumen 2010
Paratore E Lrsquoepicureismo e la sua diffusione nel mondo latino Roma Ed dellrsquoAteneo 1960
Pessanha J A M As deliacutecias do jardim In Eacutetica Satildeo Paulo Cia Le-tras 1992 pag 57-85
Pesce D Introduzione a Epicuro Bari Editori Laterza 1981
mdashmdashmdash Saggio su Epicuro Bari Editori Laterza 1974
Pigeuad J La Maladie de Lrsquoame Paris Les Belles Lettres 1989
Quevedo F Defesa de Epicuro contra la comuacuten opinioacuten Madrid Tec-nos1986
Ridder A Lrsquoideacutee de la mort en Gregravece a lrsquoepoque classique Paris Librarie Thorin et Fils 1897
Risst John Epicurus an introduction Cambridge University Press 1972
Robin Leon La penseacutee grecque Paris Eacuteditions Albin Michel 1948
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
(Livre IV chapitre II Lrsquoeacutepicurism p 387-408)
Romilly J La Gregravece antique a La deacutecouverte de la liberteacute Paris LGF Livre de Poche 1989
Salem J Lucregravece et lrsquoeacutethique la mort nrsquoest rien pour nous Paris J Vrin 1997
mdashmdashmdash Deacutemocrite EacutepicureLucreacutece la veacuteriteacute du minuscule Paris Encre Marine 1998
mdashmdashmdash Tel un dieu parmi les hommes Lrsquoethique drsquoEacutepicure Paris Librai-rie Philosophique J Vrin 1994
Santayana G Three philosophical poets Cambridge Harvard University Press 1947
Silva M F Epicuro Sabedoria e Jardim Rio de Janeiro Relume Du-maraacute 1998
mdashmdashmdash Pensamento e imagem na Carta a Heroacutedoto de Epicuro In Pimenta MTeorias da Imagem na Antiguidade Satildeo Paulo Paulus 2012
mdashmdashmdash Prazer e vida feliz em Epicuro In Costa A A Hadad A B Azar Filho C M (Org) Filosofia e Prazer diaacutelogos com a tradiccedilatildeo hedonista 1ed Seropedica Edur 2012 v 01 p 87-92
mdashmdashmdash Sensaccedilotildees impressotildees projeccedilotildees as afecccedilotildees do pensamento In Conte J Bauchwitz O F (Org) O que eacute Metafiacutesica atas do III Coloacutequio internacional de metafiacutesica 1ordf ed Natal Edufrn 2011 v 01 p 261-266
mdashmdashmdash Lathe Biacuteosas autaacutekeia libertagrave e amicizia in Epicuro In Cor-nelli G Casertano G (Org) Pensare la cittagrave antica categorie e representazioni 1ordf ed Naacutepoles Loffredo Editore 2010 v 1 p 163-174
mdashmdashmdash O atomismo antigo e o legado de Parmecircnides In Santoro F Cairus H F Ribeiro T O (Org) Parmecircnides 1 acerca do poema de Parmecircnides 1edRio de Janeiro Azougue 2009 v
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
1 p 165-174
mdashmdashmdash Sabedoria e sauacutede do corpo em Epicuro In Peixoto M C D (Org) A sauacutede dos antigos reflexotildees gregas e romanas 1ordf ed Satildeo Paulo Loyola 2009 v 1 p 153-162
mdashmdashmdash Do equiliacutebrio do corpo ou de como o corpo eacute pensado enquanto questatildeo filosoacutefica In Peixoto M C D (Org) Sauacutede do ho-mem e da cidade na antiguidade grecoromana 1ordf ed Belo Ho-rizonte UFMG 2007 v 01 p 189-198
mdashmdashmdash Demoacutecrito Esquecido In Bezerra C C (Org) Anais do I En-contro Nacional de Estudos Neoplatocircnicos- Ontologia e Liber-dade 1ordf ed Aracaju UFS 2006 v 1 p 74-80
mdashmdashmdash Epicuro e a physiologiacutea In Bonaccini J A Medeiros M P N Silva M F Bauchwits O F (Org) Metafisica Histoacuteria e Problemas 1ordf ed Natal EDUFRN 2006 v 01 p 219-230
mdashmdashmdash Acerca de uma Eacutetica do Agradaacutevel In Silva MF(Org) Cafeacute Filosoacutefico 1ordf ed Natal EDUFRN 2005 v 3 p 47-64
mdashmdashmdash Amizade Prazer e Filosofia In Bauchwitz O F (Org) Cafeacute Filosoacutefico Natal Argos 2001 v 1 p 131-136
Silvestre M L Democrito e Epicuro il senso di una polemica Napoli Lofredo Editore 1985
Stirner Max LrsquoUnique et sa proprieteacute Paris 1900
Strozier RM Epicurus and Hellenistic philosophy Lanham Md Ed University Press of America 1985
Ullmann R Epicuro O filoacutesofo da alegria Porto Alegre Epipucrs 1966
Usener H Glossarium Epicureum Cura de M Gigante e W Schmid Roma Edizioni DellrsquoAteneo e Bizarr 1977
Voelke A-J La Philosophie comme theacuterapie de lrsquoame FriburgoEditions Universitaires de Fribourg 1993
Warren J (Org) The Cambridge Companion to Epicureanism Nova Iorque Cambridge University Press 2009
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
Usener H Epicurea Estugarda E G Teubner 1966
Teses e dissertaccedilotildees
Barbosa RS A relaccedilatildeo entre as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia na filosofia de Epicuro 2014 117 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2014
Braatz J O pensamento eacutetico em Epicuro 2007 113 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2007
Freire A J G A natureza da alma e o clinamen accedilatildeo e liberdade em Lucreacutecio 2014 191 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal-RN 2014
Nascimento R V O corpo no pensamento de Epicuro limites e possi-bilidades 2011 154f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rocha E S A morte pode ser conhecida percurso em torno da compre-ensatildeo da mortalidade na filosofia de Epicuro 2011 162 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rovaris T R O projeto epicurista antiaristoteacutelico de Pierre Gassendi Sal-vador Universidade Federal da Bahia 2007
Artigos
Arrighetti Graziano - Filodemo Περὶ θεῶν III fr 74-82 Pap Herc 157 Sul problema dei tipi divini nellrsquoepicureismo La Parola del Passato 10 (1955) p 322-356 et 404-415
Bastide G Lrsquoestheacutetisme de Lucregravece Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 143-161
Bulhotildees I C Tograve Dikaioacuten Epicuro acerca do justo Hypnos Satildeo Paulo nuacutemero 22 1ordm semestre 2009 p 98-119
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
Breacutescia C Contributo allo studio linguistico dei testi epicurei Athenaeum NS 27 (1949) 281-298
Caujolle-Zaslawsky F Le temps eacutepicurien est-il atomiqueLes Eacutetudes Phi-losophiques 3 julho-setembro de 1980 pag 285-306
Clay D A lost Epicurean Community Greek Roman and Byzantine Studies volume 30 nordm 2 1989 313-335
Diano C Epicuri Ethica Aedibius Sansionanis Florenccedila 1966
mdashmdashmdash Epiacutecure la philosophie du plaisir et la socieacuteteacute des amis Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril-junho de 1967 pag173-186
DI Vona P Per una storia dellrsquo epicureismo La parola del passato 34 (1979) 313-320
Escoubas E Asceacutetisme eacutepicurien Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 163-172
Fernaacutendez E M Acerca de una eacutetica epicuacutereo-sartriana Pensamiento 169 vol 43 1987 37-51
Flaceliegravere R Les Eacutepicuriens et lrsquoamour Revue des Eacutetudes Grecques tome 67 fascicule 314-315 Janvier-juin 1954 pp 69-81
Gabaude J-M Sur Epicure et lrsquoepicurisme (l) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 4 abril-maio de 1975 pag 11-17
mdashmdashmdash Le jeune Karl Marx lecteur drsquoEpicure (ll) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 5 junho-julho de 1975 pag 01-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 6 agosto-setembro de 1975 pag 23-29
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lV) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 1 outubro-novembro de 1975 pag 10-20
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (V) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 2 dezembro de 1975 - janeiro de 1976 pag 03-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vl) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 3 fevereiro-marccedilo de 1976 pag 03-10
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
losophique 4 abril-maio de 1976 pag 19-37
Giesecke A L Beyond the garden of Epicurus the utopics of the ideal roman village Utopian Studies Vol 12 (2) 2001 pag 13-32
Gobry I La sagesse drsquoEpicure Les Eacutetudes Philosophiques 1 janeiro-mar-ccedilo de 1976 pag 79-90
Kleve K The Epicurean Isonomia and its Sceptical Refutation Symbolae Osloenses Vol LIV 1979 pp 27-35
mdashmdashmdash Empiricism and Theology in Epicureanism Symbolae Osloenses 52 no 1 (1977) 39-51
Maurice P Epicureanism and the atomic swerve Symbolae Osloenses 50 LXI 1986 77-98
Mazzeo J A Dante e Epicuro Comparative Literature vol 10 2 pri-mavera de 1958 pag 106-120
Moreau J Le meacutecanisme eacutepicurien et lrsquoordre de la nature Les Eacutetudes Phi-losophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 467-486
Renault A Eacutepicure et le probleacuteme de lrsquoecirctre Les Eacutetudes Philosophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 435-465
Rodis-Lewis G Nature et civilization das lrsquoepicurisme Les Eacutetudes Philo-sophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 415-433
Rosenbaun S Epicurus and anihilation The philosophical Quartely vol39 154 janeiro de 1989pag 81-90
Salem J Commentaire de la lettre drsquoEpicure a Meacuteneacuteceacutee Revue philosophi-que 3 julho-setembro 1993 pag 513-549
Sedley D Epicurus refutation of determinism SydzetesisStudi sullrsquo epicu-reiacutesmo greco e romano offerti a Marcello Gigante Naacutepoles 1983 11-51
mdashmdashmdash Lrsquoanti-reacuteductionnisme eacutepicurien Trad Dao A amp Morant CLes Cahiers Philosophiques de Strasbourg Paris Librarie J Vrin phi-losophique 2003 321-359
Silva M F A morte como perda da subjetividade Revista Princiacutepios
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
UFRN 3 julho-dezembro de 1995 140-146
mdashmdashmdash Um Banquete Frugal a Influecircncia Socraacutetico-Platocircnica em Epi-curo Revista ARCHAI As origens do pensamento ocidental v 9 p 117-122 2012
mdashmdashmdash Alma e movimento ou sobre a physiologia da alma Perspectiva Filosoacutefica (UFPE) v II p 167-176 2010
mdashmdashmdash Seduccedilatildeo e persuasatildeo os ldquodeliciososrdquo perigos da sofiacutestica Ca-dernos do CEDES (UNICAMP) Campinas v 64 2004
mdashmdashmdashLoacutegos peri hedoneacute Hodos Estudos de Cultura Claacutessica v 1 n 1 p 9-25 2000
mdashmdashmdash A noccedilatildeo Epicuacuterea de Eustatheacuteia e a tegravechne heacute ietrikeacute Revista Princiacutepios UFRN v 5 n 6 p 14-154 1998
mdashmdashmdash A Compreensatildeo de Physis no Pensamento de Epicuro Iacutetaca Cadernos de Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
mdashmdashmdash Epicuro e a morte como perda da subjetividade Revista Prin-ciacutepios UFRN v 2 n 3 p 140-146 1995 116
mdashmdashmdash O eacutethos do equiliacutebrio ou do exerciacutecio da sabedoria Kleos-Re-vista de Filosofia Antiga 1ordf ed Rio de Janeiro 2000 v 4 p 183-188
Silveira P F A medicina da alma de Epicuro a medicina como forma de terapia Psykhecirc Satildeo Paulo 10 200521-27 Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
Spinelli M De Narciso a Epicuro do emergir ao resgate da individua-lidade Hypnos nordm 25 Satildeo Paulo 2010 p 194-210
Surtz E L Epicurus in utopia ELH vol 16 2 junho de 1949 pag 89-103
Ullmann R A teologia de Epicuro Textos de cultura claacutessica 2 1987
Vander Waerdt P The Justice of the Epicurean Wise Man Classical Quar-terly ns 1987 37 40222
Vianna S Sobre o epicurismo e suas origens Kriterion 65 janeiro-
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
-dezembro 1965 pag 47-64
Waggle L J Epicurus phisichological or ethical hedonistRevista de Filo-sofiacutea vol 25 57 dezembro de 2007
Dicionaacuterios e Manuais
Balaudeacute J-F Le vocabulaire des Preacutesocratiques Paris Ellipses 2011
mdashmdashmdash Le vocabulaire drsquoEacutepicure Paris Ellipses 2012
Benveniste Le vocabulaire des instituitions indo-europeacuteenes I Economie parenteacute socieacuteteacute II pouvoir droit religion Paris Les Eacuteditions de Minuit 1969
Chantraine P Dictionnaire Eacutetymologique de la langue grecque Paris Klincksieck 1999
Gobry I Vocabulaacuterio grego da filosofia Trad Ivone C Benedetti Satildeo Paulo WMFMartins Fontes 2007
Isidro Pereira SJ Dicionaacuterio grego-portuguecircs e portuguecircs-grego Bra-ga Livraria AI 1998
Lidell HG amp Scott R Greek-english lexicon with a revised supplement Oxford Clarendon Express 1996
Murachco H Liacutengua grega visatildeo semacircntica loacutegica orgacircnica e funcional 3ordf ediccedilatildeo Satildeo PauloPetroacutepolis Discurso EditorialEditora Vo-zes 2007
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
172 173172 173
coleccedilatildeo autores gregos e latinos ndash seacuterie ensaios
1 Carmen Soares Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Eacutetica e Paideia em Plutarco (Coimbra CECH 2008)
2 Joaquim Pinheiro Joseacute Ribeiro Ferreira e Rita Marnoto Caminhos de Plutarco na Europa (Coimbra CECH 2008)
3 Claacuteudia Teixeira Delfim F Leatildeo and Paulo Seacutergio Ferreira The Satyricon of Petronius Genre Wandering and Style (Coimbra CECH 2008)
4 Teresa Carvalho Carlos A Martins de Jesus Fragmentos de um Fasciacutenio Sete ensaios sobre a poesia de Joseacute Jorge Letria (Coimbra CECH 2009)
5 Delfim Ferreira Leatildeo Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Cidadania e Paideia na Greacutecia Antiga (Coimbra CECH 2010)
6 Maria de Faacutetima Silva and Susana Hora Marques Tragic Heroines on Ancient and Modern Stage (Coimbra CECH 2010)
7 Aacutelia Rosa Rodrigues Carlos A Martins de Jesus Rodolfo Lopes Intervenientes Discussatildeo e Entretenimento No Banquete de Plutarco (Coimbra CECH 2010)
8 Luiacutesa de Nazareacute Ferreira Paulo Simotildees Rodrigues e Nuno Simotildees Rodrigues Plutarco e as Artes Pintura Cinema e Artes Decorativas (Coimbra CECH 2010)
9 Nair Castro Soares Margarida Miranda Carlota Miranda Urbano (Coord) Homo eloquens homo politicus A retoacuterica e a construccedilatildeo da cidade na Idade Meacutedia e no Renascimento (Coimbra CECH 2011)
10 Claacuteudia Teixeira Estrutura personagens e enganos introduccedilatildeo agrave leitura de As Baacutequides de Plauto (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2016)
11 Gregory Nagy O Heroacutei Eacutepico (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2017)
174 PB
12 Markus Figueira da Silva Termos Filosoacuteficos de Epicuro (Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 2018)
O livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais importantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
OBRA PUBLICADA COM A COORDENACcedilAtildeO CIENTIacuteFICA
bull
- Termos Filosoacuteficos de Epicuro
-
- Sumaacuterio
- Prefaacutecio
- Apresentaccedilatildeo
- Introduccedilatildeo
- Auxiacutelio ao leitor
- Primeira parte - Physiologiacutea
- Segunda parte - Physiologiacutea
- Terceira parte - Ethicaacute
- Referecircncias bibliograacuteficas
-
Autores Gregos e Latinos ndash Seacuterie Ensaios
Apresentaccedilatildeo Os volumes desta seacuterie privilegiam a pu-blicaccedilatildeo de estudos curtos tanto monograacuteficos como escritos em colaboraccedilatildeo que apresentem ao grande puacute-blico aspetos variados da Antiguidade Claacutessica (obras literaacuterias eventos histoacutericos figuras importantes ou grandes debates) Preparados por consagrados especia-listas de niacutevel internacional procuram atraveacutes do re-curso a uma linguagem de apreensatildeo mais transversal favorecer a disseminaccedilatildeo da cultura cientiacutefica
Breve nota curricular sobre a autor
Professor titular de Histoacuteria da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia (PPGFIL) da UFRN Pesquisador do PRAGMAUFRJ
Coleccedilatildeo Autores Gregos e Latinos - Seacuterie Ensaios
Estruturas EditoriaisSeacuterie Autores Gregos e Latinos
ISSN 2184-1543
Diretores Principais Main Editors
Francisco de OliveiraUniversidade de Coimbra
Nair Castro SoaresUniversidade de Coimbra
Assistentes Editoriais Editoral Assistants
Nelson Ferreira Universidade de Coimbra
Comissatildeo Cientiacutefica Editorial Board
Ana Claacuteudia Ribeiro Universidade Federal de Satildeo Paulo
Joaquim Brasil Fontes Universidade de Campinas - UNICAMP
Joseacute Augusto RamosUniversidade de Lisboa
Maria Ceciacutelia CoelhoUniversidade Federal de Minas Gerais
Santiago Loacutepez Moreda Universidad de Extremadura
Tomaacutes Gonzaacutelez Rolaacuten Universidad Complutense de Madrid
Virgiacutenia Soares Pereira Universidade do Minho
Todos os volumes desta seacuterie satildeo submetidos a arbitragem cientiacutefica independente
Autores Gregos e Latinos ndash Seacuterie Ensaios
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
Markus Figueira da Silva
Seacuterie Autores Gregos e Latinos - Ensaios
Trabalho publicado ao abrigo da Licenccedila This work is licensed underCreative Commons CC-BY (httpcreativecommonsorglicensesby30ptlegalcode)
POCI2010
Tiacutetulo Title Termos Filosoacuteficos de EpicuroPhilosophical Terms in Epicurus
Autor AuthorMarkus Figueira da Silva
Orcidhttpsorcidorg0000-0003-3036-6575
Editores PublishersImprensa da Universidade de CoimbraCoimbra University Press
wwwucptimprensa_uc
Contacto Contact imprensaucpt
Vendas online Online Saleshttplivrariadaimprensaucpt
Coordenaccedilatildeo Editorial Editorial CoordinationImprensa da Universidade de Coimbra
Conceccedilatildeo Graacutefica GraphicsRodolfo Lopes
Infografia InfographicsNelson Ferreira
Impressatildeo e Acabamento Printed byKDP
ISBN978-989-26-1611-7
ISBN Digital978-989-26-1612-4
DOIhttpsdoiorg1014195978-989-26-1612-4
Depoacutesito Legal Legal Deposit44659618
Imprensa da Universidade de CoimbraClassica Digitalia Vniversitatis Conimbrigensis httpclassicadigitaliaucptCentro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra
copy setembro 2018
Obra publicada no acircmbito do projeto - UIDELT001962013
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
Philosophical Terms in Epicurus
Markus Figueira da SilvaFiliaccedilatildeo AffiliationUniversidade Federal do Rio Grande do Norte
ResumoO livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais im-portantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanes-centes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Palavras-chaveEpicuro terminologia grega filosofia antiga eacutetica conhecimento natureza
Abstract The book ldquoPhilosophical Terms in Epicurusrdquo brings together all major concepts found in the works of this Greek thinker of the end of the IV century and beginning of the III century BC Taken from the surviving texts of Epicurus the terms were grouped in three sections those being physiology gnosiology and physiology and ethics The glossary of terms will be a valuable research tool to aid in the approach to the surviving texts of the works of Epicurus a Hellenistic philosopher not much studied in the Portuguese language despite the fact that he is one of the fundamental ancient Greek philosophers
KeywordsEpicurus Greek terminology ancient Greek philosophy ethics knowledge nature
Autor
Professor titular de Histoacuteria da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia (PPGFIL) da UFRN Pesquisador do PRAGMAUFRJ
Author
Full Professor of History of Ancient Philosophy at Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Faculty member of the Graduate Program in Philoso-phy (PPGFIL) at UFRN Member of the Research Program in Ancient Philosophy - PRAGMAUFRJ
Sumaacuterio
Prefaacutecio 9
Apresentaccedilatildeo 11
Introduccedilatildeo 15
Auxiacutelio ao leitor 26
Primeira parte 29Physiologiacutea
Segunda parte 69Physiologiacutea
Terceira parte 101Ethicaacute
Referecircncias bibliograacuteficas 159
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Prefaacutecio
8 9
Prefaacutecio
A elaboraccedilatildeo de um vocabulaacuterio comentado sobre a termi-nologia filosoacutefica de Epicuro eacute para a comunidade cientiacutefica tarefa de reconhecido meacuterito e utilidade Embora ela assente de forma inevitaacutevel na consulta dos melhores dicionaacuterios de grego disponiacuteveis permite por um lado uma visatildeo sistemaacutetica de conjunto sobre uma terminologia especiacutefica e por outro uma reflexatildeo sobre os pressupostos que justificam as traduccedilotildees que os diversos dicionaacuterios propotildeem Natildeo se limita portanto a fornecer sinoacutenimos precisos mdash o que em si mesmo jaacute seria um meacuterito apreciaacutevel mdash mas comenta ou historia o percurso de determinados vocaacutebulos o que ultrapassa a convenccedilatildeo de um di-cionaacuterio A esta perspetiva de base o autor do volume propocircs-se acrescentar comentaacuterios elucidativos sobre a sinoniacutemia estabele-cida Para isso foi tida tambeacutem em conta a informaccedilatildeo fornecida por inuacutemeras publicaccedilotildees sob forma de livros ou perioacutedicos que tecircm dedicado ao pensamento de Epicuro e sobretudo ao estudo de aacutereas semacircnticas particulares da liacutengua grega como eacute o caso da filosoacutefica a sua atenccedilatildeo Destes materiais o presente estudo eacute tambeacutem devedor e transmissor na listagem bibliograacutefica que integra Eacute portanto como um elemento de seleccedilatildeo e de precisatildeo de um certo campo semacircntico a linguagem filosoacutefica centrado num autor especiacutefico Epicuro que este volume se apresenta
Natildeo eacute talvez Epicuro pela proacutepria fragilidade e dimensatildeo pequena do corpus que o representa aos olhos da contempora-neidade um autor sobre que a bibliografia disponiacutevel seja mais ampla Aleacutem de muito reduzido esse corpus eacute na sua maioria transmitido de forma indireta o que condiciona de modo
10 11
Prefaacutecio
10 11
evidente o acesso agrave terminologia que poderiacuteamos atribuir a Epicuro Apesar dessas limitaccedilotildees este vocabulaacuterio reuacutene um nuacutemero significativo de termos em parte vindos numa linha de continuidade em relaccedilatildeo a uma terminologia que a filosofia grega foi sedimentando ao longo dos seacuteculos Neste caso o comentaacuterio a incluir valoriza a perspetiva diacroacutenica e procura sobretudo em relaccedilatildeo aos vocaacutebulos com tradiccedilatildeo reconhecida definir nuances inovadoras que testemunhem o proacuteprio fluir do pensamento filosoacutefico Mas sem duacutevida mais expressivos satildeo os casos de haacutepax mdash palavras de ocorrecircncia uacutenica nos textos em anaacutelise mdash ainda que condicionados pela magreza dos testemunhos Estes termos conferem a Epicuro e ao seu pensamento uma identidade proacutepria e destacam nele a capacidade de contribuir para o voca-bulaacuterio especiacutefico da filosofia com palavras novas
Um manual desta natureza seraacute sempre uma proposta em aber-to a ser retocada ou ampliada agrave medida que a proacutepria discussatildeo fi-losoacutefica for prosseguindo ou na hipoacutetese de que novos testemunhos se possam vir a juntar aos atualmente disponiacuteveis Mas o resultado a que neste momento se chegou resulta de anos de recolha e de investigaccedilatildeo e constitui jaacute uma contribuiccedilatildeo a ser publicitada com utilidade entre os especialistas e acadeacutemicos em geral
Deste lsquoVocabulaacuterio filosoacutefico de Epicurorsquo poderatildeo tirar provei-to evidente todos os que se dedicam natildeo apenas ao estudo deste autor concreto mas ao da evoluccedilatildeo do pensamento filosoacutefico e respetiva terminologia investigadores docentes e estudantes Por-que sem pretender ser exaustiva no que respeita ao comentaacuterio dos termos alistados esta proposta eacute mesmo assim um documento de valor inestimaacutevel para a clarificaccedilatildeo das nuances subjacentes a um vocabulaacuterio tatildeo lsquosensiacutevelrsquo como eacute o filosoacutefico
Maria de Faacutetima SilvaUniversidade de Coimbra
Apresentaccedilatildeo
10 1110 11
APreSentAccedilatildeo
Os ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo satildeo o resultado de um projeto de pesquisa que desenvolvi ao longo de vaacuterios anos como atividade paralela a outras produccedilotildees acadecircmicas por mim realizadas no acircm-bito do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Pude contar nesta pesquisa com a colaboraccedilatildeo de quatro bolsistas de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica um bolsista de Mestrado e um outro de Doutorado Devo mencionar os no-mes de Everton da Silva Rocha e Renato dos Santos Barbosa que participaram efetivamente do resultado final deste trabalho Everton colaborou na organizaccedilatildeo e digitaccedilatildeo dos verbetes em grego e Rena-to colaborou na organizaccedilatildeo do livro e na redaccedilatildeo de alguns verbetes a partir da sua pesquisa de mestrado por mim orientada Eles fazem parte deste percurso e do produto final que vem agora a puacuteblico No nome deles eu agradeccedilo os demais alunos que se iniciaram no estu-do da Filosofia de Epicuro mediante a participaccedilatildeo nesta pesquisa
Foi um longo aacuterduo mas prazeiroso caminho que culminou com um estaacutegio de pesquisa que realizei no Centro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra em setembro e outubro de 2016 sob a supervisatildeo da Doutora Maria de Faacutetima Sousa e Silva
O conjunto dos verbetes que aqui se encontra foi dividido em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Reuni desta maneira os termos mais importantes1 para
1 Considero que haacute um grupo de termos que satildeo os conceitos mais traba-lhados no pensamento de Epicuro e os verbetes que lhes satildeo correspondentes apresentam um estudo resumido do papel que desempenham para a originali-dade da sua Filosofia os demais termos satildeo tambeacutem relevantes no que toca ao uso que deles se pode fazer para a traduccedilatildeo direta dos textos gregos
Apresentaccedilatildeo
12 13
um estudo interpretativo de cada uma das partes respeitando a ordem dos textos apresentados no livro X da obra Vidas e Doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres de Dioacutegenes Laeacutercio bem como as Sentenccedilas Vaticanas que foram descobertas posteriormente por Karl Votke em 1888 no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Papiro 1950 Aleacutem destas fontes aproveitei alguns vocaacutebulos extraiacutedos da doxografia antiga e acrescentados por Hermman Usener na sua obra Epicurea Basicamente satildeo estes os textos que constituem a espinha dorsal do pensamento de Epicuro que se mantiveram ao longo dos seacuteculos e satildeo o cerne de toda a pesquisa realizada pelos estudiosos ateacute hoje No seacuteculo XIX com as escavaccedilotildees feitas na Vila dos Papiros em Herculano no Sul da Itaacutelia um conjunto de textos fragmentados a maioria atribuiacuteda a Filodemo de Gadara e outros atribuiacutedos a Epicuro tecircm sido objeto de estudo de diversos especialistas em filologia mas que para o objetivo deste trabalho natildeo acrescentariam muito agrave base sobre a qual se define a filosofia de Epicuro
Eacute sempre difiacutecil reconstituir o todo de um pensamento mantendo a sua clareza e a sua coerecircncia quando a imensa maioria dos textos que foram escritos submergiu agraves vicissitudes do tempo e agraves armadilhas da histoacuteria Entretanto eacute preciso ter apreccedilo pelo teor deste pensamento e pela influecircncia que teve Epicuro sobre as geraccedilotildees que o sucederam ateacute agrave nossa eacutepoca A grande voz latina que fez ecoar a filosofia epicurista por mais de dois milecircnios foi sem duacutevida a do poeta romano Tito Lucreacutecio Caro que escreveu o De Rerum Natura ou Da natureza das Coisas poema em seis livros inacabado Este poema eacute uma fonte preciosa para o estudo do epicurismoPor isso quando existir correspondecircncia entre o termo grego utilizado por Epicuro e o termo latino utilizado por Lucreacutecio ressaltarei sobretudo nos verbetes expandidos esta correspondecircncia Outro fator importante num manual desta natureza eacute fornecer ao leitor a
Apresentaccedilatildeo
12 13
localizaccedilatildeo exata das ocorrecircncias de cada termo nos textos de Epicuro Aleacutem disso ele encontraraacute o termo grafado em carac-teres gregos seguido da transliteraccedilatildeo para caracteres latinos e a sua definiccedilatildeo ou significado Nos termos considerados de maior relevacircncia a definiccedilatildeo seraacute expandida na forma de um pequeno artigo acerca daquela noccedilatildeo Ocorreraacute tambeacutem em alguns termos a observaccedilatildeo ou informaccedilatildeo complementar que indica quando o termo eacute de uso exclusivo em Epicuro ou quando o termo passa a ser utilizado a partir de Epicuro ou quando eacute um termo de uso filosoacutefico apenas ou quando eacute de uso comum a Aristoacuteteles e a Epicuro ou ainda quando recebe um significado metafoacuterico para realccedilar o sentido inovador do seu pensamento Satildeo caracte-riacutesticas da linguagem grega utilizada por Epicuro o que tambeacutem o diferencia dos demais pensadores e inaugura muitas vezes um novo vocaacutebulo ou linha conceitual no acircmbito da filosofia antiga
Achei por bem elencar os termos mais importantes de cada um dos trecircs assuntos da sua obra na parte que lhe eacute correspon-dente Assim na Physiologiacutea estatildeo dispostos os termos referentes ao estudo da phyacutesis Na Gnoseologiacutea e Physiologiacutea pode-se en-contrar os termos que aparecem no iacuteniacutecio da Carta a Heroacutedoto e que correspondem agrave canocircnica ou teoria do conhecimento Na Eacutethica aqueles que correspondem agrave Carta a Meneceu agraves Maacutexi-mas Principais e agraves Sentenccedilas Vaticanas Contudo devo advertir de que muitos termos apareceratildeo repetidamente em mais de uma parte isto porque apresentam um sentido diferente que corresponde agrave funccedilatildeo desempenhada no contexto das frases onde aparecem A minha intenccedilatildeo ao propor esta divisatildeo eacute facilitar o manuseio deste breviaacuterio de termos Assim o usuaacuterio que estiver estudando a Carta a Heroacutedoto por exemplo encontraraacute na parte dedicada agrave Physiologiacutea eou na parte dedicada agrave Gnoseologiacutea e Physiologiacutea (se for o caso da canocircnica) os termos que interessam agrave sua anaacutelise
14 15
Apresentaccedilatildeo
14 15
Espero sinceramente que este vocabulaacuterio de termos filosoacuteficos gregos de Epicuro possa contribuir para a instrumen-talizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra deste pensador que pode ser considerado ainda pouco estudado sobretudo nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Introduccedilatildeo
14 1514 15
introduccedilatildeo
Epicuro filoacutesofo da natureza em busca do equiliacute-brio da liberdade e do prazer
O interesse que me moveu e que certamente move um estu-dante para se aprofundar na leitura dos textos de Epicuro eacute o de esclarecer o sentido maior deste pensamento isto eacute separar o que eacute genuiacuteno de tudo o que foi dito ao longo da histoacuteria em termos de opiniatildeo com forte matiz ideoloacutegico acerca da sua visatildeo de mundo e do seu modo de vida Natildeo haacute como fugir da polecircmica em torno da figura de Epicuro e do que a sua filosofia representou e ainda representa para o desenvolvimento da filosofia ocidental Quem estiver de fato interessado em interpretar para compreender o pensamento em questatildeo precisaraacute ir aos textos gregos originais e a partir daiacute comparar as inuacutemeras traduccedilotildees em diversas liacutenguas que se fizeram e ainda se fazem dos escritos deste pensador Tendo em vista as trecircs cartas as maacuteximas e as sentenccedilas que constituem o cerne da obra epicuacuterea trabalhada pela maioria dos especialistas uma interpretaccedilatildeo criteriosa destes textos produziraacute uma visatildeo sistecircmica do seu pensamento Soma-se a isso os fragmentos dos Papiros Herculaneses a Escrita Sobre Pedra de Dioacutegenes de Enoan-da e o poema De Rerum Natura de Lucreacutecio
Todos estes elementos satildeo imprescindiacuteveis para se obter uma visatildeo orgacircnica do conjunto do pensamento de Epicuro a fim de tornar exequumliacutevel a tarefa do pesquisador que eacute a de produzir uma coerente associaccedilatildeo destes conteuacutedos
Antes de apresentar um comentaacuterio geral dos textos aqui utilizados urge reproduzir um resumo cronoloacutegico da vida de
Markus Figueira da Silva
16 17
Epicuro para que se possa situaacute-lo no contexto do pensamento grego antigo
Cronologia
Epicuro filho de famiacutelia ateniense que pertencia ao demos de Gargeto nasceu em 341 aC em Samos e laacute viveu desde a infacircn-cia ateacute os 18 anos quando em 323 vai a Atenas prestar o serviccedilo militar Quando retornou de Atenas em 322 sua famiacutelia havia sido expulsa de Samos e Epicuro vai encontraacute-la em Coacutelofon Nos anos seguintes parece ter seguido as liccedilotildees de Praxiacutefanes um filoacutesofo peripateacutetico em Rodes Depois estudou com Nausiacute-fanes disciacutepulo de Demoacutecrito de Abdera e possivelmente aluno de Pirro de Eacutelis2 que ensinava em Teacuteos proacuteximo a Coacutelofon3
Em 311 Epicuro comeccedila a ensinar Filosofia em Mitilene na ilha de Lesbos No ano seguinte transfere-se para Lacircmpsa-co onde reuacutene alguns dos mais importantes disciacutepulos que o acompanharatildeo ao longo da sua trajetoacuteria ateacute que em 306 com a idade de 35 anos volta a Atenas e funda o Kecircpos o Jardim que daraacute nome a sua escola e caracterizaraacute a sua filosofia naturalista Em 270 a C Epicuro morre aos 72 anos de idade Cerca de quatorze escolarcas sucederam a Epicuro na direccedilatildeo do Jardim ateacute 44 a C4
A filosofia de Epicuro
Epicuro desenvolveu o seu pensamento a partir de influecircncias que marcaram a sua formaccedilatildeo e moldaram o seu ideal de vida Em primeiro lugar a Physiologiacutea ou a sua compreensatildeo da phyacutesis
2 Filoacutesofo grego do seacutec IV aC contemporacircneo de Epicuro e conside-rado o precursor do Ceticismo
3 Estas cidades satildeo ilhas proacuteximas a Samos na costa da Aacutesia menor4 Brun J Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Introduccedilatildeo
16 17
que teve no atomismo de Demoacutecrito de Abdera5 o seu ponto de partida Apesar de tecirc-lo modificado em determinados pontos em linhas gerais a constituiccedilatildeo da phyacutesis permaneceu inalterada ou seja toda a natureza eacute constituiacuteda de aacutetomos e vazio Na Carta a Heroacutedoto pode-se ver um resumo desta physiologiacutea Tambeacutem nesta Carta logo no iniacutecio encontra-se uma teoria do conhecimento que define os criteacuterios da percepccedilatildeo sensiacutevel que define a sua Gnoseologiacutea Por outro lado Epicuro voltou o seu pensamento para a investigaccedilatildeo do eacutethos do homem grego da sua eacutepoca e buscou tecer uma compreensatildeo do agir humano com a perspectiva de oferecer com a sua filosofia uma praacutetica de vida alternativa aos modelos que se apresentavam naquela altura do iniacutecio do seacuteculo III aC A sua investigaccedilatildeo permitiu que ele assimilasse traccedilos importantes do pensamento eacutetico grego dos seus antecessores A comeccedilar pelo modelo filosoacutefico socraacutetico e o seu desdobramento no pensamento de Platatildeo e Aristoacuteteles mas tambeacutem no confronto da criacutetica platocircnica e aristoteacutelica com a eacutetica de Demoacutecrito de Abdera Aristipo de Cirene e Pirro de Eacutelis os dois primeiros contemporacircneos de Soacutecrates e este uacuteltimo de Epicuro Partindo do entendimento de que toda a filosofia eacute de certo modo tributaacuteria das suas influecircncias e de que todo o pensamento traz em seu bojo elementos daquilo que jaacute fora pensado por outros filoacutesofos Epicuro manteacutem esta dinacircmica de refletir sobre as ideacuteias marcantes dos seus predecessores
Qual eacute entatildeo a originalidade de Epicuro e o que o torna um pensador singular da Histoacuteria da Filosofia
Para responder a isso indico a coerecircncia e a originalidade que se mostra nos textos remanescentes da sua obra Em outras
5 Filoacutesofo grego do seacutec V a C considerado um preacute-socraacutetico pela tradicional divisatildeo da Histoacuteria da Filosofia embora tenha sido contem-poracircneo de Soacutecrates Eacute considerado juntamente com Leucipo de Eleacuteia o precursor do atomismo grego
Markus Figueira da Silva
18 19
palavras a inteireza ou a inseparabilidade entre a physiologiacutea e a eacutethica Mais que isso o seu modus vivendi filosoacutefico Epicuro foi um pensador que procurou a todo o instante viver de acordo com o que pensava ou seja a partir do que inteligia quando pensava a phyacutesis sendo o estudo da natureza a base da sua conduta e a compreensatildeo de si mesmo como natureza o modelo para o exer-ciacutecio da sua filosofia e a expressatildeo dos seus atos Conhecer a vida e viver este conhecimento eacute um todo contiacutenuo que caracteriza a sua relevacircncia e a sua originalidade como physiologoacutes e pensador eacutetico concomitantemente
Neste sentido apresento a Filosofia de Epicuro em dois toacutepi-cos distintos e complementares a saber a physiologiacutea e aethicaacute
Physiologiacutea
No livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio encontram-se duas cartas de Epicuro que satildeo epiacutetomes ou resumos de temas li-gados agrave natureza (phyacutesis) Na Carta a Heroacutedoto estatildeo contidas as proposiccedilotildees fundamentais da sua filosofia da natureza e que tratam dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis O objetivo desta carta eacute apresentar aos que se iniciam na Filosofia os conceitos fundamentais sobre a natureza do todo dos mundos dos cor-pos compostos dos aacutetomos e do vazio bem como mostrar o processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo das coisas na natureza Epicuro deixa claro logo no iniacutecio que o estudo destes funda-mentos serve tambeacutem agravequeles jaacute instruiacutedos pois eles o podem utilizar para exercitarem-se nas discussotildees sobre as questotildees da natureza e como forma de aprimorarem a memoacuteria Ele cuida especialmente da linguagem que emprega a fim de facilitar a aprendizagem e promover uma faacutecil memorizaccedilatildeo Afirma que a clareza a objetividade e a simplicidade devem caracterizar o estilo e a linguagem filosoacutefica
Introduccedilatildeo
18 19
A canocircnica como meacutetodo gnosioloacutegico
A partir do passo 37 da Carta a Heroacutedoto Epicuro inicia a exposiccedilatildeo dos criteacuterios para o conhecimento da natureza des-de os fenocircmenos sensiacuteveis ou seja aqueles que satildeo objetos da percepccedilatildeo ateacute onde pode alcanccedilar o pensamento quando este procede por analogia isto eacute por contiguumlidade ou comparaccedilatildeo Para ele o pensamento pode conjecturar acerca dos fenocircmenos microcoacutesmicos e tambeacutem macrocoacutesmicos o que justifica as suas assertivas sobre o comportamento dos aacutetomos e noutro plano dos corpos celestes Epicuro utiliza este meacutetodo para expor a noccedilatildeo de aacutetomo e o seu movimento no vazio e em decorrecircncia disso explica o processo de agregaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo dos corpos sensiacuteveis a formaccedilatildeo e dissoluccedilatildeo dos mundos e a proacutepria noccedilatildeo de infinitude
Em seguida apresenta a sua teoria sobre o processo de conhe-cimento a formaccedilatildeo do pensamento e da imaginaccedilatildeo a partir do delineamento de quatro noccedilotildees capitais do sensualismo que ele inaugura a saber a sensaccedilatildeo (aiacutesthesis) a afecccedilatildeo (paacutethos) a impressatildeo sensiacutevel ou preacute-noccedilatildeo (proacutelepsis) e a projeccedilatildeo imaginaacute-ria do pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) Tais noccedilotildees visam explicar o processo gnoseoloacutegico desde que o oacutergatildeo sen-siacutevel eacute afetado gerando a sensaccedilatildeo que por sua vez se imprime na alma (psycheacute) gerando a memoacuteria (mneacuteme) sensitiva que eacute a fonte das imagens articuladas pelo pensamento quando as reuacutene e daacute sentido e representaccedilatildeo agrave realidade fenomecircnica Satildeo estas imagens sensiacuteveis que seratildeo usadas quando o pensamento por analogia a elas constroacutei explicaccedilotildees para os objetos natildeo perceptiacute-veis aos sentidos mas imaginados pelo pensamento em projeccedilatildeo
Nos passos 46 a 53 Epicuro investiga os mecanismos de produccedilatildeo das imagens (eiacutedola) e como se produz a imaginaccedilatildeo (phantasiacutea) como parte do movimento de transformaccedilatildeo das
Markus Figueira da Silva
20 21
sensaccedilotildees em sentimentos (impressotildees sensiacuteveis) e destes em memoacuteria operada pelo pensamento Esta eacute de fato uma das mais inovadoras teorias de Epicuro e que influenciaraacute diversos teoacutericos do conhecimento na modernidade
A partir do passo 54 tecircm-se analisadas as caracteriacutesticas do aacutetomo isto eacute a forma a figura o tamanho e o peso que por sua vez estatildeo intimamente relacionados agraves qualidades dos corpos sensiacuteveis (soacutemata) A anaacutelise do vazio e espaccedilo (kenograven kaigrave choacuteran) ocorre jaacute no passo 61 Sobre a importacircncia destas noccedilotildees Epicuro defende que sem o vazio eou espaccedilo natildeo pode haver movimento
A alma (psycheacute) que eacute corpoacuterea ou seja um corpo consti-tuiacutedo por aacutetomos mais sutis que os da carne (saacuterx) eacute objeto de investigaccedilatildeo no passo 67 Epicuro a define como sendo princiacutepio de movimento e sede do pensamento Na continuaccedilatildeo da Carta (passo 68) daacute-se iniacutecio agrave explicaccedilatildeo dos corpos compostos e do processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo dos corpos a partir da agregaccedilatildeo dos aacutetomos
Haacute tambeacutem uma breve anaacutelise sobre o tempo (khroacutenos) nos passos 72 e 73 e em seguida a teoria sobre os mega corpos ou os mundos (koacutesmoi) que tambeacutem satildeo formados pela agregaccedilatildeo dos aacutetomos e tecircm duraccedilatildeo limitada
Epicuro acena para uma breve histoacuteria antropoloacutegica apre-sentada na anaacutelise do conceito de praacutegmata que diz respeito a uma teoria da accedilatildeo humana e tem lugar no passo 75 e se pro-longa no passo 76 onde ele apresenta indiacutecios de uma teoria da linguagem bastante original No final da Carta a Heroacutedoto isto eacute nos passos 80 e 81 haacute uma apresentaccedilatildeo sumaacuteria do tema dos corpos celestes que seraacute desenvolvido na Carta a Piacutetocles Os passos 82 e 83 trazem as consideraccedilotildees finais da Carta onde Epicuro exorta os seus alunos a exercitarem-se sempre no estudo da natureza para que deste modo possam fugir da ignoracircncia
Introduccedilatildeo
20 21
A Carta a Piacutetocles se inicia com a afirmaccedilatildeo de que o conhe-cimento dos fenocircmenos celestes (meteacuteora) quer sejam conside-rados em conexatildeo com outros fenocircmenos ou neles mesmos tem como finalidade a tranquumlilidade da alma bem como afirmar a confianccedila nas explicaccedilotildees ldquofisioloacutegicasrdquo Em seguida passase ao meacutetodo de investigaccedilatildeo dos fenocircmenos celestes evidenciando o pluralismo da explicaccedilatildeo onde se aceita para um determinado fenocircmeno mais de uma causa desde que nenhuma delas possa ser contraditada pela evidecircncia da sensaccedilatildeo ou seja enquanto natildeo for refutada a explicaccedilatildeo se manteacutem vaacutelida Assim eacute pre-feriacutevel manter a pluralidade das causas em vez de ater-se a uma crenccedila que remeta a uma explicaccedilatildeo sobrenatural baseada por exemplo nos desiacutegnios dos deuses
Tem-se na continuaccedilatildeo uma definiccedilatildeo de mundo (koacutesmos) bem como dos meteacuteora os mais variados que leva a uma especulaccedilatildeo acerca do movimento dos astros das nuvens da chuva das tormentas dos raios e trovotildees das tempestades dos ciclones dos terremotos dos ventos das geleiras da neve do arco-iacuteris da lua dos cometas das estrelas cadentes e das mudanccedilas dos ventos
A ethicaacute
Ao longo de toda a Histoacuteria da Filosofia Epicuro seraacute lem-brado muito mais pelas suas proposiccedilotildees eacuteticas do que pelas fiacutesicas o que tem a sua explicaccedilatildeo com o desenvolvimento das ciecircncias o atomismo e as demais teorias desenvolvidas pelos filoacutesofos gregos antigos sofreram muitas variaccedilotildees atualizaccedilotildees e ateacute inovaccedilotildees graccedilas ao aprimoramento tecnoloacutegico das pesqui-sas contudo a eacutetica seguiu um outro percurso e o conteuacutedo do pensamento eacutetico epicuacutereo foi alvo das apropriaccedilotildees tiacutepicas da fi-losofia daqueles que buscaram construir uma eacutetica do bem viver
Markus Figueira da Silva
22 23
Neste caso especiacutefico uma eacutetica ao mesmo tempo naturalista e sensualista Por outro lado haacute os criacuteticos deste pensamento que na maioria das vezes o detrataram Como consequumlecircncia disso uma enorme controveacutersia interpretativa acerca da eacutetica de Epicuro tem sido frequumlente nos meios acadecircmicos e nos escritos publicados a este respeito Entretanto o que interessa agravequeles que desejam estudar o epicurismo seraacute entender como eacute possiacute-vel pensar uma eacutetica desvinculada tanto da poliacutetica quanto da religiatildeo Em outras palavras seraacute que a eacutetica epicurista eacute uma eacutetica sem matrizes ideoloacutegicas Penso que este foi o objetivo de Epicuro ao afastar-se da poliacutetica e da religiatildeo
Em Epicuro encontra-se a definiccedilatildeo da Filosofia como um saber em torno da vida cujo uso praacutetico se realiza constan-temente como um conhecimento que edifica a proacutepria vida como um exerciacutecio filosoacutefico cotidiano A fundamentaccedilatildeo do agir filosoacutefico eacute pois o conhecimento adquirido no processo de investigaccedilatildeo da natureza que prima pela desmistificaccedilatildeo da phyacutesis e daacute ao indiviacuteduo as reacutedeas da sua proacutepria vida e a autonomia para agir a partir de si mesmo Eacute neste sentido que Epicuro se distingue de outros pensadores da sua eacutepoca isto eacute o seu pensamento natildeo eacute tributaacuterio de nenhuma ideologia seja poliacutetica ou religiosa
Dioacutegenes Laeacutercio tambeacutem publicou em sua obra a Carta a Meneceu e quarenta Maacuteximas Principais de Epicuro Estes satildeo os textos eacuteticos por ele preservados e sobre os quais tecircm se debruccedilado os estudiosos Contudo haacute tambeacutem um conjunto de oitenta e uma sentenccedilas que foram descobertas muito mais tarde em 1888 por Karl Wotke no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Manuscrito 1950 ou GnomologioVaticano6 A maioria das sentenccedilas satildeo reflexotildees eacuteticas de Epicuro Outros textos
6 Gual CG 1981 p 133
Introduccedilatildeo
22 23
muito fragmentados e com muitas lacunas foram descobertos nas escavaccedilotildees de Herculano uma vila no Sul da Itaacutelia que foi soterrada pelas lavas do vulcatildeo Vesuacutevio no seacutec I aC como jaacute havia assinalado Este material tem sido objeto de pesquisa e poderaacute vir a acrescentar novas informaccedilotildees sobre o pensamento epicurista tanto quanto a chamada ldquoescrita sobre pedrardquo des-coberta nas escavaccedilotildees em Enoanda onde existiu uma extensa muralha construiacuteda por um adepto do epicurismo de nome Dioacutegenes que mandou talhar sobre ela diversos ensinamentos eacuteticos de Epicuro para que fossem lidos e servissem agrave reflexatildeo daqueles que por laacute passassem Felizmente estes textos foram em parte reconstituiacutedos e corroboram os publicados no livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio
Os inteacuterpretes da filosofia de Epicuro trabalham efetivamen-te sobre estes textos na busca de explicitar cada vez mais este pensamento que influenciou inuacutemeros pensadores e ainda hoje influencia tais como Giordano Bruno Michel de Montaigne Pierre Gassendi Baruch Espinoza Thomas Hobbes John Stuart Mill Karl Marx Michel Foucault entre outros
Assim para que sirva de referecircncia para o leitor indico os te-mas principais apresentados na Carta a Meneceu e nas Maacuteximas Principais
A Carta comeccedila com um protreacuteptico ou uma exortaccedilatildeo ao filosofar no passo 122 Em seguida estaacute o tetraphaacutermakon ou quaacutedruplo remeacutedio que reflete acerca dos deuses (passos 123 e 124) sobre a morte e os verdadeiros males da vida (entre os passos 124 e 127) sobreo futuro ou porvir (ainda no 127) sobre o prazer e os desejos (do 127 ao 132) e sobre a necessidade e o acaso (passos 132 a 135) Na conclusatildeo da Carta Epicuro convida o destinataacuterio e os seus amigos a refletirem sobre os pre-ceitos nela contidos pois estes ensinamentos conduzem a uma praacutetica de vida feliz ou bem aventurada
Markus Figueira da Silva
24 25
Com relaccedilatildeo agraves Maacuteximas Principais as primeiras (I a IV) tratam tambeacutem do tetraphaacutermakon em seguida haacute uma seacuterie de consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees necessaacuterias suficientes para se realizar uma vida feliz (makaacuterioszecircn) bem como sobre a relaccedilatildeo entre prazeres e virtudes (V a XXI) Haacute depois uma ilaccedilatildeo en-tre os criteacuterios para o conhecimento e o agir filosoacutefico (XXII a XXVI) sobre a amizade (philiacutea) e a classificaccedilatildeo dos desejos (XXVII a XXX) e finalmente sobre a justiccedila (dikaiosyacutene) e o modo como o saacutebio (sophoacutes) se relaciona com ela (XXXI a XL) Estas uacuteltimas ensejam uma reflexatildeo antropoloacutegica em torno das relaccedilotildees juriacutedico-sociais
Embora as Sentenccedilas Vaticanas natildeo faccedilam parte da obra laerciana tecircm o seu conteuacutedo associado ao das Maacuteximas Prin-cipais pois trazem reflexotildees em torno da conduta humana e em diversos aspectos aprofundam ou vecircm corroborar o sentido inerente agraves Maacuteximas
No conjunto das 81 sentenccedilas sobressaem aquelas dedicadas agrave amizade Pode-se dizer que Epicuro confere agrave amizade um papel fundamental na sua concepccedilatildeo de sabedoria ou filosofia A amizade gera confianccedila solidifica as relaccedilotildees sociais estimula a praacutetica das virtudes eacute responsaacutevel pelo bem estar dos indiviacuteduos e engendra a liberdade no agir Em Epicuro a amizade difere das praacuteticas comuns de relaccedilotildees sociais dos homens atrelados agraves cidades decadentes da sua eacutepoca Trata-se portanto de outro modelo de conduta privado molecular afastado da multidatildeo insensata Ela fundamenta a accedilatildeo e a liberta da dependecircncia e da cumplicidade que forccedila o indiviacuteduo a suportar o mal estar em sociedade A amizade simboliza o poder inerente a cada um de escolher o que lhe aprouver e evitar o que o perturba e o enfra-quece em seu iacutentimo em uma palavra o que o despotencializa Viver entre amigos eacute alcanccedilar e exercer a filosofia em toda a sua plenitude A amizade existe porque eacute natural mas a sua praacutetica
Introduccedilatildeo
24 25
exige o discernimento e a liberdade de poder escolher e poder evitar
Satildeo estas em linhas gerais as informaccedilotildees referentes aos textos de Epicuro aqui utilizados cujo vocabulaacuterio serviraacute de instrumento de leitura agravequeles que se interessarem pela Filosofia da Natureza e pela Eacutetica do Jardim
Markus Figueira da Silva
26 27
Auxiacutelio Ao leitor
A) lista de abreviaturas
DL - Dioacutegenes Laeacutercio Vidas e doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres SV - Sentenccedilas Vaticanas EpicuroMP - Maacuteximas Principais EpicuroDRN - De Rerum Natura LucreacutecioUs - USENER EpicureaNatSobre a Natureza Perigrave phyacuteseos Epicuro Pap HercPapiros Herculanesesm - masculinof - femininoad - adjetivoadv - adveacuterbioinf - infinitivolat latimpl - pluralprep - preposiccedilatildeosf - substantivo femininosm - substantivo masculinosn - substantivo neutrov - verbo
B) meacutetodos de referecircncia
Os algarismos araacutebicos agrave direita dos termos gregos trans-literados se referem aos paraacutegrafos em que cada termo ocorre no livro X de Dioacutegenes Laeacutercio por exemplo ldquoἀδιάλυτος adiaacutelytos- 54rdquo eacute uma palavra que estaacute localizada na passagem
Auxiacutelio ao leitor
26 27
de nuacutemero 54 do deacutecimo livro das Vidas e doutrinas dos Filoacute-sofos Ilustres obra escrita pelo doxoacutegrafo Dioacutegenes Laeacutercio que dedicou o deacutecimo livro agrave exposiccedilatildeo da vida e obra de Epicuro No entanto quando os algarismos araacutebicos estiverem precedidos pela abreviaccedilatildeo ldquoSVrdquo significa que eles remetem agraves Sentenccedilas Vaticanas por exemplo ldquoεὐδαιμονία eudaimoniacutea - 116 122 127 SV 33rdquo esta uacuteltima ocorrecircncia estaacute indicando que o termo eudaimoniacutea aparece na sentenccedila de nuacutemero 33 Por sua vez esses algarismos seguidos de ldquoUsrdquo fazem referecircncia aos fragmentos compilados por Usener em sua obra intitulada Epicurea como no termo ldquoἀκατονόμαστον akatonoacutemaston- 314 Us 315 Usrdquo Os algarismos romanos foram reservados agraves Maacuteximas Principais de Epicuro como em ldquoπαντελής panteleacutes- 116 XX XXIrdquo cujas duas uacuteltimas ocorrecircncias se referem agraves maacuteximas 20 e 21 dentre as Maacuteximas Principais
C) alfabeto grego
Αα- aacutelpha Bβ - beacutetaΓγ - gaacutemaΔδ - deacuteltaΕε - e psiloacuten7
Ζζ - dzeacutetaΗη - eacutetaΘθ - theacutetaΙι - ioacutetaΚκ - kaacutepaΛλ - laacutembdaΜμ - mucirc
7 Cf Murachco 2007 p 36 para compreender o modo de nomear as letras ε ο υ ω
Markus Figueira da Silva
28 29
Νν - nucircΞξ - ksicircΟο - o mikroacutenΠπ - piΡρ - rhocircΣσς- sicircgma sicircgma finalΤτ - tauΥυ - y psilonΦφ - phicircΧχ - khicircΨψ -psicircΩω - o meacutega
Auxiacutelio ao leitor
28 29
PrimeirA PArte
Physiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea
30 3130 31
ἀδιάλυτος adiaacutelytos (ad)- 54
Indissoluacutevel indestrutiacutevel
ἀθροίσμα athroiacutesma (sn)- 62 63 64 65 69 100 108 IX
Agregado organismo acumulaccedilatildeo Athroiacutesma eacute o termo que nomeia o agregado de aacutetomos que constitui o organismo humano No interior deste agregado se disseminam os aacuteto-mos da alma Athroiacutesma tambeacutem pode significar qualquer agregaccedilatildeo de aacutetomos existente na natureza
ἀθρόος athroacuteos (ad)- 35 56 69 70 104
Reuniatildeo concentraccedilatildeo inteireza
αἴδιος aiacutedios (ad)- 69 70 71
Eterno permanente
αἰτιολογεῖν aitiologeacutein (vinf) - 80 82
Processo de inferecircncia ou investigaccedilatildeo das causas Segundo o Greek-english lexicon de Liddell-Scott (1996) eacute a primeira ocorrecircncia deste termo nos textos gregos
αἰτιολογία aitiologiacutea (sf)- 97
Estudo ou investigaccedilatildeo das causas
ακατονόμαστον akatonoacutemaston (ad)- 314 Us 315 Us
O que natildeo eacute nomeado Trata-se de uma parte ou elemento da alma Epicuro distingue duas partes no corpo alma o aacutelogon que eacute geralmente traduzido por ldquoparte irracionalrdquo e
Primeira parte
32 33
que se encontra espalhada por todo corpo (organismo) e o logikoacuten cuja traduccedilatildeo eacute ldquoparte racionalrdquo e se concentra no peito Tanto em Epicuro quanto em Lucreacutecio estas duas partes estatildeo intimamente ligadas pois haacute uma ldquocontinui-daderdquo entre os aacutetomos concentrados no peito e os demais disseminados atraveacutes do corpo Esta continuidade se expli-ca pelo movimento voluntaacuterio que a alma imprime a todo organismo movimento este que daacute origem agraves sensaccedilotildees e agraves voliccedilotildees O problema reside entatildeo na impossibilidade de explicar os movimento da sensibilidade e os movimentos do pensamento que satildeo os mais ligeiros pois envolvem aacutetomos menores e mais redondos segundo o raciociacutenio de Epicuro
A dificuldade do problema que se impotildee estaacute na caracte-rizaccedilatildeo deste quarto elemento ou elemento sem nome (akatonoacutemaston) ou ainda como nomeou o poeta Lucreacutecio (DRN III241 e III275) a quarta natura que natildeo se pode comparar ou mesmo aproximar de nada do que encontra-mos no universo fiacutesico da natureza estudada ou seja natildeo existe termos de comparaccedilatildeo para justificar a tenacidade e a velocidade do pensamento nem a mobilidade da alma na ldquoprojeccedilatildeordquo ou ldquosaltordquo do pensamento (vide infra ἐπιβολή τῆς διανοίας -epiboleacute tegraves diaacutenoias na segunda parte) natildeo que possamos negar por isso a existecircncia de tal elemento contu-do natildeo podemos aferi-lo mediante o poder de percepccedilatildeo dos sentidos
ἄκρον aacutekron (sn)- 41 57 107
Extremidade altura
Physiologiacutea
32 33
ἀλειτούργητος aleituacutergetos (ad)- 97
Livre de isento Palavra de uso corrente que Epicuro usa metaforicamente no sentido de isentar os fenocircmenos de toda e qualquer causalidade divina
ἀλλόφυλος alloacutephylos (ad)- 106
Estrangeiro de outra tribo ou lugarVide infra Homoacutephylos - ὁμόφυλος (na terceira parte)
ἀμερής amereacutes (ad)- 59
Impartiacutevel indivisiacutevel Este eacute um termo utilizado apenas pelos filoacutesofos atomistas gregos
ἀμετάβατος ametaacutebatos (ad)- 59
Que natildeo admite passagem que natildeo muda de lugar estacio-nado Em sua ocorrecircncia as versotildees do texto grego apresen-tam uma diferenccedila Na versatildeo de Hicks (1925) a palavra eacute ἀμετάβολα ametaacutebola (ad) que significa imutaacutevel
ἀμετάβλητος ametaacutebletos (ad)- 41
Imutaacutevel A imutabilidade eacute caracteriacutestica apenas do corpo do aacutetomo e do Todo
ἀμύθητος amyacutethetos (ad)- 115
Que natildeo recorre ao mito Indiziacutevel Neste sentido mythos signi-fica a expressatildeo isto eacute a capacidade de dizer algo por palavras
Primeira parte
34 35
ἀνάγκη anaacutenke (sf)-74 77 90 92 115 133 134 SV 9 SV 40
Necessidade Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem finalidade (teacutelos)rdquo (vide infra τέλος na segunda parte) E somente o termo anaacutenke pode signifi-car necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo pronoacuteia para designar necessidade de qual-quer maneira a necessidade nuca foi enunciada por Epi-curo num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
ἀνακοπή anakopeacute (sf)- 42
Impedimento suspensatildeo parada resistecircncia Neste caso impedimento devido agrave colisatildeo com outro corpo O Greek--english lexicondaacute como primeira ocorrecircncia deste termo a Carta a Heroacutedoto de Epicuro
ἀναφής anapheacutes (ad)- 40 86
Intangiacutevel impalpaacutevel Termo de uso exclusivo da physiolo-giacutea grega
ἀνταναπλήρωσις antanapleacuterosis (sf)- 48
Reposicionamento substituiccedilatildeo compensaccedilatildeo A uacutenica ocor-recircncia deste termo se daacute na carta a Heroacutedoto de Epicuro
Physiologiacutea
34 35
ἀντικοπή antikopeacute (sf)- 46 47
Resistecircncia A primeira ocorrecircncia deste termo se daacute em Epicuro
ἀπάντησις apaacutentesis (sf)- 46
Encontro choque
ἀπειρία apeiriacutea (sf)- 45 116
Infinidade ilimitabilidade Palavra proacutepria da physiologiacutea grega
ἀπεὶρων (τό) apeigraveron (toacute) (ad) 47 60 73 75 88 XIII XV
Ilimitado infinito
ἀπερίληπτος aperiacuteleptos (ad)- 42
Incompreensiacutevel inacessiacutevel (ao pensamento)
ἀπερινόητος aperinoacuteetos (ad)- 46
Inconcebiacutevel Segundo Liddell-Scott (1996) Epicuro daacute a este termo um sentido diferente de outros usos da palavra
ἀποκατάστασις apokataacutestasis (sf)- 44
Retorno ao movimento ou posiccedilatildeo inicial
ἀποπαλμός apopalmoacutes (sm)- 44 280 Us
Aquele que ressalta e repercute Termo de uso exclusivo de Epicuro
Primeira parte
36 37
ἀπόπαλσις apoacutepalsis (sf)- 108
Choque impacto
ἀπόρροια apoacuterroia (sf)- 46
Efluacutevio fluxo corrente emanaccedilatildeo
ἀπόστασις apoacutestasis (sf)- 46
Afastamento distanciamento
ἀρχή archeacute (sf)- 30 41 44 116 128 132 134 138 SV 23
Princiacutepio origem comeccedilo fundamento A questatildeo do princiacutepio de realidade (archeacute) eacute explicitada pelo axioma baacute-sico do atomismo segundo o qual o todo eacute composto de aacutetomos e vazio Os aacutetomos satildeo elementos constitutivos de todas as coisas gecircnese dos corpos compostos e fundamento do atomismo cujo princiacutepio eacute assim formulado na Carta a Heroacutedoto
Primeiramente nada nasce do nada (natildeo-ser) Se natildeo fosse assim tudo nasceria de tudo e nada teria necessidade de seu proacuteprio germe (DL X 38)
ldquoNada nasce do nadardquo eacute um princiacutepio que surge jaacute no pensamento de Demoacutecrito (DL IX 44) e mais tarde no pensamento de Epicuro como ponto de partida para o co-nhecimento sensiacutevel Contudo foi Lucreacutecio (DRN I 174-224) quem traduziu este princiacutepio em imagens que podem ser comprovadas pela experiecircncia e assim manifestados para cada coisa animal ou planta faz-se necessaacuteria a sua proacutepria semente em condiccedilotildees favoraacuteveis a sua germinaccedilatildeo Em razatildeo disso eacute plausiacutevel dizer que a Carta a Heroacutedoto
Physiologiacutea
36 37
comeccedila indicando que o pensamento brota da experiecircncia mediante a qual surge a possibilidade de se estabelecer as analogias que levam ao ldquosaltordquo do pensamento Este salto se caracteriza por efetuar analogias entre a realidade apre-endida imediatamente pelas sensaccedilotildees as microestruturas corpoacutereas e o macrocosmos permitindo a inteligibilidade dos niacuteveis que escapam ao alcance da sensibilidade Desse modo o pensamento pode postular que na natureza os cor-pos vecircm a ser a partir dos aacutetomos e se dissolvem espalhando os elementos que os constituem dado que a todo instante os corpos se formam e se decompotildeem no universo infinito sem nada acrescentar ou subtrair ao todo A consequecircncia loacutegica deste princiacutepio revela que a constituiccedilatildeo total do ser ou do todo permanece a mesma
ἀσθένεια astheacuteneia (sf)- 77
Fraqueza debilidade
ἀστρολογία astrologiacutea (sf)- 113
Astronomia
ἀστρολόγος astroloacutegos (sm)- 93
Astrocircnomo
ἀσχολία askholiacutea (sf)- 85
Ocupaccedilatildeo empenho
ἀσώματος asoacutematos (ad)- 67 69 70
Incorpoacutereo Termo exclusivamente filosoacutefico
Primeira parte
38 39
ἄτομος aacutetomos (ad substantivadolatatomus)- 4142 43 44 45 48 50 54 55 56 58 59 61 62 65 86 99 102 110 115
Aacutetomo indivisiacutevel Os termos gregos aacutetomos (nominativo singular) aacutetomoi (nominativovocativo pl) ou aacutetomon (acusativo singular) constam em vinte passagens dos textos de Epicuro Na maioriadas vezes os tradutores optam por aacutetomo em suas traduccedilotildees embora em alguns casos tambeacutem se traduza por indivisiacutevel
O adjetivoaacute-tomosse substantiva em aacutetomos ldquoque quer dizer natildeo-cortado indivisiacutevelrdquo (GOBRY 2007 p 115) Os aacuteto-mos satildeo literalmente partiacuteculas indivisiacuteveis que por serem assim satildeo razatildeo explicativa da realidade Eacute a ideia que deu origem ao atomismo assim como foi teorizado inicialmente por Leucipo e Demoacutecrito8 e depois por Epicuro Este legado foi espalhado pelo mundo romano entatildeo recebendo a deno-minaccedilatildeo latina de atomus (aacutetomo) ou indivisum (indivisiacutevel) como traduz Ciacutecero ou ainda semina (sementes) na lingua-gem poeacutetica do epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro Os aacutetomos satildeo elementos (stoicheiacuteon)em quantidade infini-ta que constituem os corpos compostos (synkriacuteseis) Satildeo ca-racterizados na Carta a Heroacutedoto9como partiacuteculas corpoacutereas maciccedilas indissoluacuteveis imutaacuteveis indivisiacuteveis e impenetraacute-veis portanto resistindo agrave corrupccedilatildeo dos corpos compostos desde a eternidade
Esses elementos satildeo os aacutetomos indivisiacuteveis e imutaacuteveis se eacute verdade que nem todas as coisas poderatildeo perecer e resolver--se no natildeo-ser Com efeito os aacutetomos satildeo dotados da forccedila necessaacuteria para permanecerem intactos e para resistirem enquanto os compostos se dissolvem pois satildeo impenetraacuteveis
8 Cf DL IX 449 Cf DL X 35-83
Physiologiacutea
38 39
por sua proacutepria natureza e natildeo estatildeo sujeitos a uma eventual dissoluccedilatildeo Consequentemente os princiacutepios das coisas satildeo indivisiacuteveis e de natureza corpoacuterea (DL X 41)
O objetivo de Epicuro e seus disciacutepulos nunca fora o de explorar detidamente ou ldquocientificamenterdquo as caracteriacutesticas dos aacutetomos antes operavam analogias inferecircncias induti-vas e deduccedilotildees atribuindo aos aacutetomos propriedades neces-saacuterias para a explicaccedilatildeo da realidade sensiacutevel Nas palavras de Gigandet ldquoo aacutetomo eacute princiacutepio de inteligibilidade natildeo objeto de estudo mas pelo contraacuterio eacute o ponto de partida da explicaccedilatildeordquo (2001 p40) Sementes eternas de toda a rea-lidade os aacutetomos satildeo naturezas inteiras (hoacutelas phyacuteseis)10 sem qualidades acidentais (symptoacutemata)(vide infra σύμπτωμα na segunda parte) passiacuteveis de mudanccedila no entanto pos-suindo propriedades (symbebekoacuteta)(vide infra συμβεβηκός na segunda parte) ou qualidades (poioacutetes) necessariamente permanentes (anankaiacuteon hipomeacutenein) Constituintes de to-dos os corpos compostos (visiacuteveis e invisiacuteveis) os aacutetomos natildeo tecircm outras propriedades aleacutem da formafigura (schematoacutes) do tamanho (megeacutethous) e do peso (baacuterous)11
αὔξησις ayacutexesis (sf)- 90
Crescimento desenvolvimento
10 Cf DL X 4011 Neste ponto haacute uma diferenccedila do atomismo de Demoacutecrito e Leucipo
tal como Aristoacuteteles o apresenta na Metafiacutesica A 985b e o atomismo de Epicuro pois este acrescenta o peso (baacuteros) como uma das propriedades atocircmicas aleacutem de aglutinar a propriedade da ordem (taacutexis) agrave formafigura (schecircma) J Salem cita o doxoacutegrafo Aeacutecio para documentar este acreacutescimo da filosofia epicurista ldquoDemoacutecrito pensou que existe duas propriedades do aacutetomo a grandeza e a figura enquanto que Epicuro acrescentava uma ter-ceira o peso (baacuteros) de fato declara este uacuteltimo eacute necessaacuterio que os corpos recebam a impulsatildeo do peso para se moverrdquo (Cf SALEM 1997 p 28)
Primeira parte
40 41
αὐτοθελός autotheloacutes (ad)- 85
O que tem fim em si mesmo independente completo
ἀφανής aphaneacutes (ad)- 104
Inaparente obscuro
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (ad)- 76 123
Incorruptibilidade imortalidade
ἄφοδος aacutephodos (sf)- 54
Partida retirada
βάρος baacuteros (sn)- 4454 61 68
PesoDemoacutecrito natildeo havia introduzido o peso entre as qua-lidades dos aacutetomos poreacutem Epicuro contrariamente a ele conferiu ao peso a propriedade de ser causa do movimento dos aacutetomos no vazio movimento esse que por ser constante explica a mecacircnica do devir nos diversos niacuteveis de realizaccedilatildeo da phyacutesis O peso sendo causa primeira do movimento de transformaccedilatildeo das coisas eacute necessaacuterio para a coerecircncia do sistema de exposiccedilatildeo da phyacutesis embora natildeo determine de maneira alguma as afecccedilotildees entre os corpos
βέβαιος beacutebaios (ad)- 6385 XL
Seguro soacutelido firme
βράδος braacutedos (sn)- 46
Lentidatildeo lerdeza morosidade Palavra muito rara Soacute apare-ce em Xenofonte e Epicuro
Physiologiacutea
40 41
γένεσις geacutenesis (sf)- 48 77 86 SV 42
Nascimento origem produccedilatildeo gecircnese geraccedilatildeo
διάκρισις (sf)diaacutekrisis- 78
Conflito divergecircncia divisatildeo Estes soacute podem ocorrer no niacute-vel dos fenocircmenos fiacutesicos sejam eles celestes ou subterracircneos Contudo assevera Epicuro isso deve ser evitado Por outro lado natildeo se deve em nenhuma hipoacutetese atribuir agrave natureza divina a causa do conflito da divergecircncia ou da divisatildeo
διαλύω dialyacuteo (v)- 39 41 42 73 91 II SV 37
Dissolver
διάλυσις diaacutelysis (sf)- 4154
Dissoluccedilatildeo
διαμονή diamoneacute (sf)- 89
Estabilidade continuidade
διάρθρωσις diaacuterthrosis (sf)- 89
Articulaccedilatildeo
διάστημα diaacutestema (sn)- 89 91 110
Distacircncia intervalo Palavra oriunda da linguagem musical grega Provavelmente de origem pitagoacuterica
διαφορά diaforaacute (sf)- 42 55 56 75
Diferenccedila diversidade variedade
Primeira parte
42 43
δίνη diacutene (sf)- 92 93 112 113 114
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo
δίνησις diacutenesis (sf)- 90
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo Esta outra forma da palavra diacutene eacute mais teacutecnica e eacute de uso restrito de Aristoacuteteles e Epicuro
δυνατόν (τὸ) dynatoacuten (tograve) (ad substantivado)- 93
O possiacutevel
εἰλικρινής eilikrineacutes- (ad) 89 XIV
Puro absoluto completo
ἐκπύρωσις ekpyacuterosis (sf)- 101 103 115
Conflagraccedilatildeo combustatildeo
ἐμπεριλαμβάνω emperilambaacuteno (v)- 90 105
Captar englobar apreender compreender
ἔμπτωσις eacutemptosis (sf)- 102 SV 24
Incidecircncia impacto cair sobre
ἐναπόλεψις enapoacutelepsis (sf)- 77
Intercepccedilatildeo aprisionamento Este termo eacute usado por Epicu-ro num sentido inovador que diz respeito agrave teoria epicuacuterea do nascimento dos mundos
Physiologiacutea
42 43
ἐνδέχεσθαι endeacutechesthai (v)- 78 80 87 88 90 93 94 97 100 103 104105 107 108 113
Ser possiacutevel haver a possibilidade de
ἐνέργημα eneacutergema (sn)- 37
Exerciacutecio atividade
ἐξακριβοῦν exakribucircn (v)- 35 36 68 78 83
Precisar fazer com exatidatildeo detalhar Palavra de uso filosoacute-fico apenas
ἐπάρδευσις epaacuterdeysis (sf)- 89 100
Torrente corrente Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐπίβλεψις epiacuteblepsis (sf)- 35
Visatildeo consideraccedilatildeo
ἐπισημασία episemasiacutea (sf)- 98 115
Prognoacutestico sinal indiacutecio
ἐπιτήδειος epiteacutedeios (ad)- 93 99 100 107 111 112
Adequado adaptado apropriado
εὐκινησία eukinesiacutea (sf)- 63
Mobilidade facilidade de movimento
Primeira parte
44 45
θάμβος thaacutembos (sn)- 79
Perplexidade espanto admiraccedilatildeo
θεῖος theicircos (ad)- 97 113 115 SV 24
Divino
θέσις theacutesis (sf)- 44 46 48 75 30 Us
Posiccedilatildeo
ἰσοταχής isotacheacutes (ad)- 61 62
O que possui velocidade equivalente ou a mesma rapidez Os aacutetomos de acordo com o passo 61 da Carta a Heroacutedoto ldquotecircm necessariamente a mesma velocidaderdquo Aacutetomos pesa-dos grandes pequenos ou leves em movimento ascendente obliacutequo ou descendente percorrem o espaccedilo com a mesma rapidez12 Epicuro assemelha ainda a rapidez do aacutetomo agravequela do pensamento ou seja os aacutetomos se movem com a mesma rapidez com que operamos com o loacutegos na apreensatildeo de sentidos Para que a natureza se expresse da maneira que se apresenta aos homens eacute preciso que os aacutetomos natildeo apenas se movimentem mas que se movimentem com celeridade pois os elementos que se desprendem dos corpos devem ser imediatamente repostos para que a continuidade provisoacuteria dos compostos possa ser explicada pelo atomismo de manei-ra coerente Tendo em vista que os elementos que compotildeem
12 Cf DRN II 225-229 A sensibilidade parece atestar o contraacuterio quando se trata da rapidez dos corpos em queda mas eacute preciso considerar que a trajetoacuteria dos aacutetomos se daacute no vazio onde natildeo haacute resistecircncia nem por parte do ar nem da aacutegua meios em que vemos corpos mais pesados serem mais raacutepidos que corpos leves
Physiologiacutea
44 45
os corpos tecircm figuras diversas um aacutetomo com figura ldquoZrdquo natildeo pode ser substituiacutedo por um aacutetomo de figura ldquoOrdquo mas apenas por aacutetomos de figura ldquoZrdquo13 Isso significa que algu-mas reposiccedilotildees satildeo efetuadas por aacutetomos que se encontravam a grandes distacircncias mas que por possuiacuterem uma ligeireza comparaacutevel agravequela do pensamento alcanccedilam aglutinar-se ao corpo agregado que deles precisava para persistir na confi-guraccedilatildeo corpoacuterea que assumia A velocidade uniforme dos aacutetomos tambeacutem propicia a formaccedilatildeo das imagens pois estas guardam a posiccedilatildeo e estrutura que os aacutetomos componentes assuniam no corpo do qual se desprenderam tornando pos-siacutevel o ato perceptivo Eacute necessaacuterio agrave fiacutesica epicurista que os aacutetomos percorram espaccedilos vazios de modo igualmente veloz
ἱστορία historiacutea (sf)- 79
Investigaccedilatildeo estudo Epicuro critica o tipo de erudiccedilatildeo daqueles que fazem a historiacutea isto eacute a investigaccedilatildeo dos fenocirc-menos fiacutesicos mas natildeo demonstram o valor ou a utilidade deste conhecimento para a vida praacutetica
κάθαρσις kaacutetharsis (sf)- 86
Soluccedilatildeo Diz respeito ao modo proacuteprio de Epicuro pensar a natureza segundo o qual a physiologiacutea deve encontrar uma
13 Lucreacutecio (DRN I 167-172) explica que cada corpo tem sementes especiacuteficas ou seja os corpos compostos satildeo formados por aacutetomos de figuras particulares sem os quais o corpo composto natildeo se apresentaria da mesma maneira e aleacutem disso qualquer coisa poderia gerar-se de qualquer coisa um absurdo que natildeo constatamos ocorrer na natureza Nas palavras do poeta epicurista ldquoMas como todos (os seres e as coisas) se formam por sementes certas soacute nascem e chegam agraves margens da luz no lugar em que existam a mateacuteria e os corpos elementares que lhe satildeo proacuteprios por isso natildeo pode tudo nascer de tudo cada ser determinado tem em si possibili-dades proacutepriasrdquo
Primeira parte
46 47
soluccedilatildeo para os problemas fiacutesicos sem no entanto recorrer agrave sobrenaturalidade (explicaccedilotildees miacuteticas)
κατάστημα kataacutestema (sn)- 68 Us
Condiccedilatildeo estaacutevel
κενόν (τὸ) kenoacuten (tograve) (ad substantivado)- 40 41 42 44 46 67 89 90 74 Us 75 Us
O Vazio
Se aquilo que chamamos vazio e espaccedilo ou aquilo que por natureza eacute intangiacutevel natildeo tivesse uma existecircncia real nada haveria em que os corpos pudessem estar e nada atraveacutes de que eles pudessem se mover como parece que se movem (DL X 40)
O vazio eacute definido em primeiro lugar de modo simples e fundamental como aquilo que por natureza eacute intangiacutevel e dotado de uma existecircncia real em segundo lugar ele eacute apresentado como a condiccedilatildeo necessaacuteria aos movimentos dos corpos Com relaccedilatildeo aos corpos o vazio possui carac-teriacutesticas essencialmente opostas como por exemplo os corpos satildeo passiacuteveis de afecccedilatildeo o vazio natildeo os aacutetomos tecircm o limite delineado pela figura e podem ser comparados uns aos outros devido sobretudo ao fato de serem muacuteltiplos e diversos ao passo que o vazio eacute somente vazio ou algo anaacute-logo ao natildeo-ser Entretanto a sua existecircncia possibilita quer a compreensatildeo do vir-a-ser ou agregaccedilatildeo que a do movimen-to ou devir dos corpos Na afirmaccedilatildeo acima o vazio eacute ainda por definiccedilatildeo espaccedilo de livre constituiccedilatildeo e deslocamento dos corpos sendo o meio no qual emergem os agregados atocircmicos e onde se formam desenvolvem e corrompem as
Physiologiacutea
46 47
muacuteltiplas coisas da natureza Por estas razotildees parece justifi-car-se o caraacuteter fundamental atribuiacutedo por Epicuro ao vazio uma vez que eacute tatildeo necessaacuterio quanto os aacutetomos e o infinito para seu sistema de compreensatildeo da realidade
O vazio eacute tambeacutem aquilo que diferencia essencialmente um aacutetomo de um corpo composto Podemos recorrer aos atomis-tas para justificar esta diferenccedila Para eles o aacutetomo eacute imutaacutevel por ser pleno o corpo ao contraacuterio eacute passiacutevel de mudanccedilas visto que eacute um misto de aacutetomos e vazio a diferenccedila entatildeo explica-se pelo fato mesmo de se conceber os aacutetomos em cons-tante movimento e de se admitir que a existecircncia do vazio viabiliza os deslocamentos dos aacutetomos no interior dos corpos
κίνησις kiacutenesis (sf)- 50 51 59 64 66 67 73 77 92 98 101 105 106 111 112 115 136 2 Us 191 Us 280 Us
Movimento O termo grego kiacutenesis pode ser compreendido num sentido geral e num sentido estrito sendo todavia necessaacuterio concebecirc-lo inicialmente como expressatildeo dos pro-cessos de geraccedilatildeo e corrupccedilatildeo o que soacute eacute possiacutevel nas esferas dos corpos e dos mundos Num sentido geral kiacutenesis eacute presu-posto na realizaccedilatildeo de phyacutesis pois dele resultam as afecccedilotildees que datildeo origem aos agregados e aquelas que satildeo responsaacuteveis pela desagregaccedilatildeo dos compostos
Em virtude de os aacutetomos terem em si o princiacutepio do movimen-to a mudanccedila apresenta-se como uma necessidade Destarte cabe afirmar que compreender kiacutenesis como mudanccedila signifi-ca estabelecer que a realidade (fiacutesica) dos corpos compostos soacute eacute alterada em funccedilatildeo do movimento dos aacutetomos
Num sentido estrito eacute possiacutevel o emprego de kiacutenesis para designar apenas o deslocamento dos aacutetomos no vazio
Primeira parte
48 49
κοίλωμα koiacuteloma (sn)- 46 100 106
Cavidade profundidade concavidade
κόσμος koacutesmos (sm)- 45 73 74 77 88 89 90 112
Mundo Epicuro compreende que os mundos satildeo infinitos em nuacutemero e estatildeo espalhados por todo o universo que eacute tambeacutem infinito Alguns satildeo esfeacutericos outros podem ter outras formas Um mundo como um megacorpo recebe elementos que vem de fora e tambeacutem perdem elementos Na Carta a Heroacutedoto podemos ler as seguintes definiccedilotildees
Aleacutem disso existe um nuacutemero infinito de mundos tanto semelhantes ao nosso como diferntes dele pois os aacutetomos cujo nuacutemero eacute infinito como acabamos de demonstrar satildeo levados em seu curso a uma distacircncia cada vez maior E os aacutetomos dos quais poderia se formar um mundo natildeo foram todos consumidos na formaccedilatildeo de um mundo soacute nem de um nuacutemero limitado de mundos nem de quantos mundos sejam semelhantes a este ou diferentes deste Nada impede que se admita um nuacutemero infinito de mundos (DL X 42)
Um mundo eacute uma porccedilatildeo circunscrita do universo compre-endendo astros e terra e todas as coisas visiacuteveis destacado do infinito () cuja dissoluccedilatildeo levaraacute aacute ruiacutena tudo que estaacute nele (DL X 88)
κοῦφος kucircphos (ad)- 43 61
Leve ligeiro
κρᾶσις kraacutesis (sf)- 63
Mistura uniatildeo
Physiologiacutea
48 49
κροῦσις kruacutesis (sf)- 61
Choque golpe colisatildeo
κυριώτατος kyrioacutetatos (ad)- 35 36 78 79 81 82 83 IX XII XVI
Fundamental capital o mais importante
λειτουργέω leiturgeacuteo (v)- 76
Desempenhar uma funccedilatildeo cargo serviccedilo
λειτουργία leiturgiacutea (sf)- 113
Funccedilatildeo cargo serviccedilo
λεπτομέρεια leptomeacutereia (sf)- 63 355 Us
Um composto de partiacuteculas sutis A sutileza eacute caracteriacutestica dos aacutetomos do composto aniacutemico
λεπτομερής leptomereacutes (ad)- 63 90101
Composto de partiacuteculas sutis A alma eacute para Epicuro um corpo dentro do corpo-carne A diferenccedila estaacute na sutileza dos aacutetomos que compotildeem a alma
λόξωσις loacutexosis (sf)- 93
Inclinaccedilatildeo obliquidade Palavra utilizada na explicaccedilatildeo do movimento dos astros
λύσις lyacutesis (sf)- 79
Soluccedilatildeo liberaccedilatildeo
Primeira parte
50 51
μεστός mestoacutes (ad)- 42
Pleno cheio
μετάβασις metaacutebasis (sf)- 56 58
Passagem dum lugar a outro extensatildeo percorriacutevel
μεταβολή metaboleacute (sf)- 39 54 98
Mudanccedila transformaccedilatildeo Um dos tipos de movimento uti-lizados por Epicuro Neste caso significa o movimento de transformaccedilatildeo de um corpo
μετάθεσις metaacutethesis (sf)- 54
Transposiccedilatildeo deslocamento Outro tipo de movimento Neste caso significa a mudanccedila de lugar ou o deslocamento de um aacutetomo ou de um corpo composto (agregado)
μετακόσμιον metakoacutesmion (sn)- 89
Intermuacutendio Espaccedilo entre os mundos onde Epicuro situa os deuses
μετάστασις metaacutestasis (sf)- 89
Mundanccedila de posiccedilatildeo Termo que define o movimento dos aacutetomos no interior dos corpos
μετέωρα meteacuteora (ad) - 76 78 80 82 84 85 86 87 95 96 97 98 111 X XI
Qualificativo de fenocircmenos ou corpos celestes
Physiologiacutea
50 51
μορφή morpheacute (sf)-33 (255 Us) 49 50
Forma figura aspecto Relativo agrave forma dos objetos perce-bidos pelos sentidos ou imaginados pelo pensamento
ὅγκος hoacutenkos (sm)- 52 53 54 56 57 69 105
Corpuacutesculo partiacutecula massa
οἰκονομία oikonomiacutea (sf)- 79
Gestatildeo ordenamento
ὅλος hoacutelos (ad)- 36 70 71 82 IX XXI XXVII
Todo inteiro universal Epicuro usa este adjetivo para des-crever a totalidade de um corpo ou de sensaccedilotildees ou ainda a completude da vida Natildeo confundir com τό πᾶν toacute pacircn - O todo
ὁλοσχερής holoschereacutes (ad)- 35 36
Geral completo
ὁμογενές homogeneacutes (ad)- 32 (36 Us) 53 116 XVIII
Mesmo gecircnero (tipo espeacutecie) homogecircneo congecircnere
ὀξυγώνιος oksygoacutenios (ad)- 109
Anguloso acircngulos agudos
ὁπηλίκος hopeliacutekos (ad)- 56 57
Grandeza tamanho
Primeira parte
52 53
ὁρμή hormeacute (sf)- 115
Impulso
οὐρανός uranoacutes (sm)- 88 92 93 96 111
Ceacuteu
οὐσία usiacutea (sf)- 72 86
Essecircncia O uso deste termo diz respeito agrave investigaccedilatildeo acerca do tempo na Carta a Heroacutedoto (72) e agraves causas dos fenocircmenos celestes na Carta a Piacutetocles (86)
παλμός palmoacutes (sm)- 43
Vibraccedilatildeo pulsaccedilatildeo Os aacutetomos estatildeo em movimento cons-tante e palmoacutes eacute o termo que define o movimento vibratoacuterio (oscilatoacuterio) dos aacutetomos no interior dos corpos
πᾶν (τό) pacircn (toacute) (ad substantivado)- 39
O todo
παντελής panteleacutes (ad)- 116 XX XXI
Perfeito completo
παραλλαγή parallageacute (sf)- 55 63 95 113
Variaccedilatildeo diferenccedila
παρέγκλισις pareacutenklisis (sf lat clinamen)- 280 Us 351 Us
Declinaccedilatildeo Pareacutenklisis eacute um termo que natildeo consta nos tex-
Physiologiacutea
52 53
tos atribuiacutedos agrave Epicuro no entantoeacute possiacutevel lecirc-lo nas ins-criccedilotildees em perdra do epicurista Dioacutegenes de Enoanda(frg 54 II 3 III 14 Smith)Este termo tambeacutem aparece em Aeacute-cio I 12 5 (280 Us) em texto cujo autor enumera os tipos de movimento dos aacutetomos A versatildeo latina deste termo eacute mais conhecida clinamen14 As teorias a respeito da declinaccedilatildeo dos aacutetomos foram anunciadaspelo epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro no segundo canto de seu poema De Rerum Natura
Quando os corpos satildeo levados em linha reta atraveacutes do vazio e de cima para baixo pelo seu proacuteprio peso afastam-se um pouco (depellere paulum) da sua trajetoacuteria em altura incerta e em incerto lugar e tatildeo somente o necessaacuterio para que se possa dizer que se mudou o movimento (DRN II 216-220)
A declinaccedilatildeo se coloca como mais uma causa do movi-mento dos aacutetomos aleacutem das causas puramente mecacircnicas colisotildees ausecircncia de resistecircncia do vazio ou o proacuteprio peso dos aacutetomos15 A declinaccedilatildeo natildeo tem causa externa mas eacute um princiacutepio interno assim como o peso mas que diferente deste natildeo promove o percurso dos aacutetomos em uma direccedilatildeo constante antes luta contra toda determinaccedilatildeo introduzin-do na phyacutesis o acaso como causa de ser O elemento casual se encontra nas ocasiotildees em que os aacutetomos tendem a desviar de sua trajetoacuteria descendente ldquoem altura incerta e em incerto
14 Lucreacutecio tambeacutem usa outros termos para designar o des-vio do aacutetomo tais quais depellere declinare inclinare (DRN II 219221250253259243) O termo clinamen aparece apenas uma vez no verso 292 do livro II (Cf GIGANDET 2001 p 24 n3) ldquoClinamen parece ter sido criado por Lucreacutecio para evitar clinatio que natildeo podia entrar em seus versos hexacircmetros (SALEM 1997 p 67)
15 O doxoacutegrafo Aeacutecio afirma que ldquoOs aacutetomos se movem ora segundo a reta ora segundo o desvio (katagrave pareacutenklisin) os movimentos para cima ocorrem segundo o choque e a rebatidardquo (280 Us) cf DRN II 285-286
Primeira parte
54 55
lugarrdquo somente ldquoum poucordquo (paulum) sem causa aparente sem choques que constranjam seu deslocamento e indo de encontro agraves determinaccedilotildees do peso
Satildeo dois os argumentos usados por Lucreacutecio para defender a tese do clinamen (nos versos II 216-293) 1) Se natildeo ocor-ressem desvios atocircmicos a natureza permaneceria esteacuteril ldquoo mundo natildeo poderia nascer a necessidade seria infecundardquo (GUYAU 1927 p 77) uma vez que natildeo haveria colisotildees atocircmicas nem consequentemente corpos compostos mun-dos seres etc 2) Somos livres e para tanto eacute necessaacuterio que as ldquocausas natildeo se sigam perpetuamente agraves causasrdquo (DRN II 255) antes deve haver movimentos atocircmicos que natildeo podem ser remetidos agrave causas exteriores ldquoA existecircncia desta curiosa propriedade dos corpos primevos pode ser deduzida da ob-servaccedilatildeo dos fenocircmenos imputaacuteveis agrave vontade dos seres vi-vosrdquo (SALEM 1997 p 167) Lucreacutecio para justificar o mo-vimento de declinaccedilatildeo dos aacutetomos propotildee primeiramente imaginar um ldquomomentordquo hipoteacutetico da eternidade em que nenhum agregado atocircmico existisse mas apenas aacutetomos iso-lados percorressem seu trajeto descendente ldquocomo gotas de chuvardquo16 Se assim fosse jamais um aacutetomo se encontraria ou colidiria com outro natildeo haveria corpos compostos mundos ou seres viventes
πέρας peacuteras (sn)- 41 59 88 133 X XVIII XIX XX XXI SV 48
Limite termo
16 Como esclarece Gigandet ldquoa queda primitiva e esteacuteril eacute colocada como uma ficccedilatildeo um simples momento abstrato permitindo reconstruir o movimento caoacutetico efetivordquo (2001 p 29)
Physiologiacutea
54 55
περιαίρεσις periaiacuteresis (sf)- 55
Suprimir retirar remover
περίληψις periacutelepsis (sf)- 56
Circunscriccedilatildeo
περιοχή periocheacute (sf)- 88
Envoltoacuterio invoacutelucro
περιπλοχή periplocheacute (sf)- 43 44 99
Entrelaccedilamento
περίστασις periacutestasis (sf)- 92 102 104 106 107 109 111
Estado disposiccedilatildeo circunstacircncia entorno
περιφέρεια peripheacutereia (sf)- 107 110
Periferia circunferecircncia forma circular
περιφερής periphereacutes (ad)- 109
Redondo circular
πηλίκος peliacutekos (ad)- 57
De uma certa grandeza
πύκνωμα pyacuteknoma (sn)- 36 50 105 115
Densidade compacidade consistecircncia
Primeira parte
56 57
πλεκτικός plektikoacutes (ad)- 43
Entrelaccedilado
πλεοναχός pleonachoacutes (ad)- 86 87 95
Diverso muacuteltiplo
πληγή plegeacute (sf)- 53 103102 280 Us
Golpe choque impacto Eacute o termo utilizado por Epicuro para nomear o choque entre os aacutetomos e os oacutergatildeos sensiacuteveis Eacute o modo de explicar como se produz a audiccedilatildeo o olfato e a visatildeo por exemplo
πλῆθος plecircthos (sn)- 41 65 89
Nuacutemero quantidade
πλήρης pleacuteres (ad)- 41 XL
Pleno compacto
πνεῦμα pneucircma (sn)- 63 100 101 102 103 104 105 106 107 115
Sopro vento respiraccedilatildeo focirclego
πνευματώδης pneumatoacutedes (ad)- 53 106 107
Semelhante agrave respiraccedilatildeo anaacutelogo ao vento
ποιότης poioacutetes (sf)- 43 44 54 55 56
Qualidade
Physiologiacutea
56 57
πόρος poacuteros (sm)- 47 61 107 111
Passagem
πρόβλημα proacuteblema (sn)- 86
Problema
προσδοχή prosdocheacute (sf)- 89
Recepccedilatildeo
προσκατανόησις proskatanoacuteesis (sf)- 79
Conhecimento adicional consideraccedilatildeo aprofundada
πρόσκρισιςproacuteskrisis(sf)- 90 109
Acrescento agregaccedilatildeo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto
πύκνωμαpyacuteknoma(sn)- 3650 105 115
Massa densa concentraccedilatildeo
πυκνῶς pyknocircs(adv)- 73
De modo compacto forte constante
ῥεῦμα rheyacutema (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo Termo utilizado para nomear o deslocamento dos aacutetomos atraveacutes do espaccedilo para afetar os oacutergatildeos sensiacuteveis e produzir as sensaccedilotildees
Primeira parte
58 59
ῥύσις rhyacutesis (sf)- 104
Fluxo
σάρξ saacuterx (sf)- 137 IV XVIII XX SV 4 SV 33
Carne corpo Na physiologia o corpo eacute pensado como um agregado (vide supraathroiacutesma- ἀθροίσμα) constituiacutedo de aacutetomos e vazio ou seja como um ente fiacutesico (soacutema) Num segundo sentido o corpo eacute pensado como uma estrutura orgacircnica viva o que tambeacutem quer dizer phyacutesis O saber acerca do corpo humano se faz atraveacutes do contato corpomundo e chamamos mundo o conjunto de coisas que satildeo fenocircmenos manifestos no mundo-realidade Segundo Epi-curo conhecemos as coisas quando sentimos sua expressatildeo em noacutes E neste sentido buscamos naturalmente afec-ccedilotildees que produzam sensaccedilotildees constitutivas e agradaacuteveis De certa maneira o corpo se comunica com as coisas do mundo provando-as e tendo como criteacuterio de escolha e rejeiccedilatildeo das afecccedilotildees possiacuteveis o prazer e a dor O corpo eacute um modo do conhecimento Epicuro pensa neste mesmo corpo a alma que eacute tambeacutem corpo mas distingue-se da carne por suas propriedades fiacutesicas e por sua funccedilatildeo ra-cional e imaginativa que articula as impressotildees sensiacuteveis e projeta-as enquanto pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) A perfeita interaccedilatildeo entre carne e alma transfor-ma as sensaccedilotildees em sentimentos ou ainda o que afeta a carne em compreensatildeo ou pensamento Neste contexto carne e alma natildeo podem ser pensados separadamente pois satildeo apenas um e as afecccedilotildees (paacutethe) (vide infra πάθος na segunda parte) soacute se expressam como prazer ou dor na in-teraccedilatildeo carnealma
Physiologiacutea
58 59
σέμνωμα seacutemnoma (sn)- 77
Majestade Palavra encontrada nos textos de Epicuro e de poucas ocorrecircncias depois dele
σκαληνός skalenoacutes (ad)- 109
Irregular
σπέρμα speacuterma (sn)- 38 66 74 89
Semente esperma Este eacute um termo importante da physio-logiacutea que ressalta a ideacuteia de que para cada coisa animal ou planta eacute necessaacuterio a sua semente (esperma) proacutepria e das condiccedilotildees favoraacuteveis agrave sua germinaccedilatildeo
στάσις staacutesis (sf)- 73 88 92
Repouso imoacutevel
στεγάζωstegaacutedzo (v)- 43 64 65 66
Recobrir proteger
στερεότης stereoacutetes (ad)- 44
Solidez firmeza
στοιχεῖον stoicheiacuteon(sn)- 36 37 44 47 86 128
Elemento princiacutepio
συγγενής syngeneacutes(ad)- 78 79 98 116 135
Congecircnere similar afim
60 61
Primeira parte
60 61
συγγένησις syngeacutenesis (sf)- SV 61
Reuniatildeo
συγγενικός syngenikoacutes (ad)- 129
Congecircnito Este termo caracteriza a relaccedilatildeo do homem com o prazer (vide infrahedoneacute-ἡδονή na terceira parte)ldquoO pra-zer eacute nosso bem primordial e congecircnito (syngenikoacutes)rdquo (DL X 129) O prazer possibilita ao epicurista uma vida de acordo com a natureza constituindo-se como uma evidecircncia praacuteti-ca a guiar o homem para a felicidade
σύγκρισις syacutenkrisis(sf)- 40 41 42 54 55 62 66 73 110
Composiccedilatildeo condensaccedilatildeo
σύγκρουσις syacutenkrusis(sf)-44 101
Colisatildeo choque Este termo ocorre pela primeira vez em Epicuro
συγκύρησις synkyacuteresis (sf)- 96 98115
Concurso coincidecircncia
σύγκυσις syacutenchysis (sf)- 88
Ruiacutena mistura
συλλογή syllogeacute (sf)- 99 103 106 115
Reuniatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
60 6160 61
συμπαθής sympatheacutes (ad)- 63
Co-afecccedilatildeo Palavra que explica a ligaccedilatildeo ou conexatildeo das partiacuteculas (aacutetomos) com o resto do agregado (corpo)
συμφόρησις symphoacuteresis (sf)- 59 69
Agrupar reunir O primeiro a utilizar este termo foi Epicu-ro
συμφυλία symphyliacutea (sf)- 115
Da mesma tribo ou raccedila apropriado apto Neste caso o termo refere-se agrave compatibilidade existente entre os aacutetomos na formaccedilatildeo de um composto (agregadocorpo) O termo tambeacutem pode ser usado por Epicuro e entendido metafo-ricamente no sentido das relaccedilotildees humanas praticadas na comunidade do Jardim
συνφωνία symphoniacutea (sf)- 86 87 98
Acordo concordacircncia consonacircncia
σύντονος syacutentonos(ad)- 102 XXX SV 4
Intenso tenso veemente
σύστασις syacutestasis (sf)- 48 99 107
Combinaccedilatildeo uniatildeo
σύστημα siacutestema (sn)- 66
Complexo associaccedilatildeo
Primeira parte
62 63
συστροφή systropheacute (sf)- 73 77 XXXIII
Concentraccedilatildeo amontoado
σχῆμα schecircma(sn)- 42 44 54 55 68 74
Forma figura Uma das propriedades dos aacutetomos
σχηματισμός schematismoacutes(sm)- 54 74 94 101 102 109
Configuraccedilatildeo maneira forma
σῶμα socircma (sn)- 39 40 41 42 47 48 55 56 63 66 68 69 70 71 86 94 101 127 128 131 SV 73 221 Us
Corpo Socircma traduz tanto a ideia de um aacutetomo isolado quan-to a de compostos atocircmicosEpicuro tambeacutem denomina os compostos de athroiacutesmaou syacutenkrisis(Vide supra nesta mesma parte) O que diferencia fundamentalmente o corpo atocircmico singular do corpo composto eacute a presenccedila de vazio entre os aacutetomos reunidos em composiccedilatildeo Um corpo composto se diferencia tambeacutem da unidade atocircmica pela emissatildeo de simu-lacros (Vide supra leptomereacutes λεπτομερής nesta mesma parte) fina camada de aacutetomos que se desprende dos corpos compos-tos permitindo assim o processo perceptivo De acordo com Morel ldquoa categoria fundamental da fiacutesica epicurista eacute a de lsquocorporsquo antes mesmo que a de aacutetomordquo (2013 p 57) Dioacutegenes Laeacutercio nos informa que os corpos compostos eram objeto de estudo de trecircs livros do Perigrave Phyacuteseos (Sobre a natureza) e tam-beacutem do seu Megaacutele Epitomeacute (Grande Compecircndio)
τάγμα taacutegma (sn)- 71
Status classe
Physiologiacutea
62 63
τάξις taacutexis (sf)- 48 97
Ordem disposiccedilatildeo regularidade
τάχος taacutechos (sn)- 46 102
Rapidez velocidade
ταχύς tachyacutes (ad)- 62 98
Veloz raacutepido
τελείωσις teleiacuteosis (sf)- 89
Cumprimento realizaccedilatildeo conclusatildeo
τελεσιουργέω telesiurgeacuteo (v)- 36
Realizar acabar perfazer
τομή tomeacute (sf)- 43 56
Divisatildeo
τροπή tropeacute (sf)- 76 79 93
Revoluccedilatildeo solstiacutecio
ὑδατοιειδής hydatoeideacutes (ad) - 106 107 109
Aquoso
φορά phoraacute (sf)- 46 47 49 60 61 62 70 76 101 107 115
Movimento deslocamento translado
Primeira parte
64 65
φυσικός physikoacutes (ad)- 86 90 127 130 134 XXIX XXX SV 21
Natural fiacutesico
φυσιολογία physiologiacutea (sf)- 37 78 85 XI XII SV 45
Investigaccedilatildeo da natureza A physiologiacutea eacute descrita por Epi-curo como o procedimento de investigaccedilatildeo da natureza ou de toda realidade fenomecircnica que se nos apresenta Mantendo-se fiel a uma tradiccedilatildeo que remonta aos primeiros pensadores da Jocircnia Epicuro define a physiologiacutea como um exerciacutecio constante de compreensatildeo dessa realidade que eacute para ele a phyacutesis Eis a razatildeo de fazer derivar a eacutetica de um saber para a vida que deve se constituir necessariamente num modo de ser de acordo com a natureza Deste modo o exerciacutecio de pensar a phyacutesis configura o modo de ser do filoacutesofo que percebe neste aprendizado o sentido proacuteprio da sua situaccedilatildeo no mundo enquanto ser dotado da capacidade do logismoacutes(vide infra λογισμός na segunda parte) ou seja de ser capaz de utilizar-se do pensamento para escolher e recusar tudo o que necessita ou natildeo respectivamente Mas este exerciacutecio de pensar a phyacutesis soacute seraacute possiacutevel porque para Epicuro a natureza eacute a fonte ou o princiacutepio da vida fiacutesica psiacutequica e eacutetica Pois ele revela ao pensamento em si indiacutecios que tornam possiacutevel a medida de realizaccedilatildeo de cada coisa e dentre elas do proacuteprio homem que emerge em seu proacuteprio seio e tem a necessidade de viver de acordo com ela (katagrave phyacutesin)
φύσις phyacutesis (sf)- 35 40 45 48 49 54 68 69 70 71 75 78 79 82 83 86 90 91 97 113 115 129 133 VI VII
Physiologiacutea
64 65
IX XII XV XXV XXX XXXI XXXVII SV 21 SV 24 SV 25 SV 37
Natureza A Carta a Heroacutedoto apresenta proposiccedilotildees fun-damentais acerca dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis Nela articulam-se aacutetomos corpos compostos mundos e o todo a fimde possibilitar a compreensatildeo da natureza das coisas desde a microestrutura do aacutetomo ateacute a noccedilatildeo de infinito Percebe-se que nesta carta Epicuro buscou tornar clara e ob-jetiva a possibilidade de conhecimento da realidade como podemos ver no primeiro momento que revelou a primeira questatildeo ou seja ldquocomo as coisas se realizamrdquo Neste sentido podemos afirmar metafisicamente que na Carta a Heroacutedo-to o olhar tornou-se indagaccedilatildeo e o pensamento estendeu a dimensatildeo deste olhar ao mais minuacutesculo dos limites e ao mesmo tempo ao absoluto ilimitado
Agrave busca desta compreensatildeo Epicuro chamou de physiologiacutea definindo com isso o procedimento reflexivo que enseja a filosofia Eis a razatildeo de ser phyacutesis o germe de seu pensamento pois a origem do filosofar coincide com a origem da phy-siologiacutea Ele faz emergir desta maneira no cerne do pen-samento helecircnico o problema originaacuterio da filosofia Mais que isso o expotildee como propedecircutico ao desenvolvimento de uma ldquovisatildeo de mundordquo ou realidade Assim ele sugere que a construccedilatildeo de um pensamento filosoacutefico tem um princiacutepio sendo este princiacutepio a phyacutesis
Para alcanccedilar estes objetivos voltou-se entatildeo para a estru-turaccedilatildeo dos modos de compreensatildeo dos fenocircmenos natu-rais elaborando explicaccedilotildees que evidenciassem o sentido fiacutesico e material das geraccedilotildees dos desenvolvimentos das corrupccedilotildees enfim das mutaccedilotildees ocorridas na natureza enfatizando a possibilidade mesma de compreensatildeo de tudo
Primeira parte
66 67
isso Com isso buscou desestruturar completamente as ex-plicaccedilotildees fundadas em imaginaacuterias causas sobrenaturais insurgindo-se contra a arrogacircncia das insistentes ldquoopiniotildees vaziasrdquo que as postulavam como origem da realidade Por-que sua ocupaccedilatildeo era a realizaccedilatildeo efetiva de pensar o sublime vir-a-ser e fazecirc-lo aparecer apenas como sublime e natildeo mais como misterioso17
Eacute verdade que nem tudo que pocircde compreender sobre a natureza das coisas coube na epiacutestola que escreveu ao dis-ciacutepulo Heroacutedoto Contudo guardadas as limitaccedilotildees de um compecircndio encontra-se ali a autecircntica e genuiacutena disposiccedilatildeo do conhecimento que insiste em ver o filoacutesofo como um descobridor Natildeo de uma parte mas do ldquotodordquo cuja inquie-taccedilatildeo inicial jaacute eacute a finalidade do conhecimento ou seja a compreensatildeo da realidade
Phyacutesis eacute segundo a etimologia da palavra o processo de cres-cimento ou gecircnese de alguma coisa e neste sentido Epicuro somente a utiliza quando se refere aos corpos compostos e aos mundos Num segundo sentido phyacutesis eacute princiacutepio (ar-cheacute) porque eacute aacutetomos e vazio e num terceiro sentido phyacutesis eacute o modo de ser do todo ilimitado
χρόνος chroacutenos (sm)- 47 62 7273 75 93 106 111 124 126 129 130 133 III IV IX XVI XIX XX XXXVII SV 4 SV 42 SV 46 Pap Herc 1418
Tempo duraccedilatildeo Quando percebido numa relaccedilatildeo sensiacutevel o tempo aparece associado agraves manifestaccedilotildees de movimento Haacute o tempo de transformaccedilatildeo do dia em noite do quente
17 Lucreacutecio no livro I do seu poema De Rerum Natura (62-80) diz que Epicuro buscou explicar ldquocientiacuteficamenterdquo as coisas da natureza e com isso tem livrado a humanidade das falsas crenccedilas e temores
Physiologiacutea
66 67
em frio do crescimento e das degeneraccedilotildees dos seres vivos etc A compreensatildeo da natureza do tempo definida por Epi-curo como ldquoo acidente dos acidentesrdquo (syacutemptoma symptoacutema-tos) (vide infra σύμπτωμα na segunda parte) pressupotildee uma relaccedilatildeo de acontecimentos diversos e sucessivos que podem ser identificados somente na constataccedilatildeo das alteraccedilotildees so-fridas pelos corpos O tempo eacute compreendido numa relaccedilatildeo entre o acidente ou a mudanccedila de propriedades de um corpo e o movimento geral de transformaccedilatildeo das coisas O tempo do todo e de cada aacutetomo eacute um tempo infinito o tempo soacute eacute quantificaacutevel em relaccedilatildeo aos corpos passiacuteveis de observaccedilatildeo cujas alteraccedilotildees de posiccedilatildeo peso tamanho e forma satildeo evi-dentes aos sentidos Atraveacutes da analogia estabelecida entre as mudanccedilas observadas e a projeccedilatildeo do pensamento ao niacutevel macroscoacutepico podem-se criar hipoacuteteses acerca da duraccedilatildeo dos seres
Devemos refletir atentamente nas percepccedilotildees elementares a partir das quais constituiacutemos essa essecircncia (tempo) no que ela tem de proacuteprio e de que partimos para medir o tempo De fato natildeo haacute necessidade de demonstrar pois a reflexatildeo nos basta para compreender que compomos o tempo com os dias e as noites com os nossos estados de paixatildeo ou impassi-bilidade com os movimentos e os repousos concebendo em tudo isso certo acidente comum que nos leva a pronunciar a palavra tempo (DL X 73)
O tempo natildeo tem existecircncia proacutepria como o espaccedilo ou a mateacuteria ele eacute intuiacutedo apreendido percebido nas modifi-caccedilotildees das coisas por isso a Epicuro bastou a reflexatildeo de tempo sendo desnecessaacuterio demonstraacute-la ou defini-la apenas pareceu-lhe importante apresentaacute-la articulada ao movimento Lucreacutecio sintetiza de modo brilhante o que seu
68 69
Primeira parte
68 69
mestre grego pensou sobre o tempo
O tempo natildeo existe em si mesmo mas eacute das proacuteprias coisas que proveacutem o sentimento do que se passou do que eacute pre-sente daquilo que viraacute Ningueacutem pode sentir o tempo em si exteriormente ao movimento ou ao repouso das coisas (DRN I 459 - 463)
Assim a compreensatildeo epicuacuterea de tempo apresenta-o como unidade de medida de duraccedilatildeo Esta duraccedilatildeo pode ser a de um corpo ou do estado de um determinado corpo por exemplo a duraccedilatildeo da dor pode ser percebida e dessa per-cepccedilatildeo infere-se uma medida que quantifica sua duraccedilatildeo Se a dor eacute um acidente do corpo a duraccedilatildeo da dor eacute um acidente do acidente que eacute a dor E aleacutem da dor o prazer e todas as coisas que ora permanecem ora se modificam satildeo experiecircncias que possibilitam a apreensatildeo do tempo como unidade de medida de duraccedilatildeo
Ao considerar o tempo desta maneira Epicuro admite que as noccedilotildees de infinito e finito indicam respectivamente a na-tureza imutaacutevel dos aacutetomos e do todo e a natureza mutaacutevel dos corpos e mundos pois soacute estes uacuteltimos possibilitam a percepccedilatildeo do tempo
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
χώρα choacutera (sf) - 40 XXXVI XXXVII
Espaccedilo lugar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
68 6968 69
SegundA PArte
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
70 71
ἄδηλος aacutedelos (ad)- 32 38 39 80 XXXV
Imperceptiacutevel invisiacutevel oculto incerto desconhecido Aacutedelos expressao que natildeo pode ser apreendido por meio dos sentidos mas que natildeo obstante pode ser inferido atraveacutes de analogias que partem dos dados sensoriais Vide infra analogiacutea-ἀναλογία (nesta mesma parte)
αἴσθησις aiacutesthesis (sf)- 31 32 38 39 44 48 55 58 59 62 63 64 65 68 71 82 90 91 124 XXIII XXIV 422 Us
Sensaccedilatildeo sentido sensibilidade percepccedilatildeo A sensaccedilatildeo eacute a base do conhecimento e da opiniatildeo Eacute o efeito imediato da afecccedilatildeo e tambeacutem o que eacute impresso na alma quando se transforma em proleacutepsis (impressatildeo sensiacutevel) Todo pen-samento que opera por analogia agraves coisas sensiacuteveis o faz sempre tendo em vista a sensaccedilatildeo
αἰσθητήριον aistheteacuterion (sn)- 50 53
Oacutergatildeo sensorial sentido
αἰσθετικός aisthetikoacutes (ad)- 64
Sensiacutevel perceptiacutevel
αἰσθητός aisthetoacutes (ad)- 47 244 Us 261 Us
Sensiacutevel perceptiacutevel
ἀκρίβεια akriacutebeia (sf)- 78 80 83
Exatidatildeo precisatildeo rigor
Segunda parte
72 73
ἀκρίβωμα akriacuteboma (sn)- 36 83
Exatidatildeo precisatildeo conhecer exatamente investigar com exatidatildeo Este termo soacute ocorre nos textos de Epicuro
ἀκρισία akrisiacutea (sf)- XXII
Incerteza confusatildeo inseguranccedila do ldquojuiacutezordquo Este termo se justifica pela indeterminaccedilatildeo do acaso com relaccedilatildeo aos aacutetomos que explica a transformaccedilatildeo do mundo sensiacutevel que pelo movimento causa os inuacutemeros juiacutezos E por natildeo conse-guir determinar o que ocorre no mundo eacute preciso manter-se tranquumlilo na busca do necessaacuterio e nas respostas que a razatildeo encontra
ἀλήθεια aleacutetheia (sf)- 31 S54
Verdade realidade Compreensatildeo ou busca desse conheci-mento da phyacutesis Segundo Epicuro tudo eacute sensiacutevel e a sensa-ccedilatildeo sempre eacute verdadeira Os aacutetomos estatildeo em constantes e diferentes configuraccedilotildees e natildeo haacute como imobilizar a verdade de um fenocircmeno porque ela estaacute no todo de acordo com uma resposta subjetiva que pretende natildeo se amedrontar diante do que natildeo sabe
ἀληθής aletheacutes (ad)- 51 62 244 Us
Verdadeiro Aquele que possui o controle dos seus juiacutezos e eacute conduzido pela razatildeo Eacute capaz da philiacutea(vide infra φιλία na terceira parte) pois possui condiccedilotildees de agir com justiccedila em relaccedilatildeo a outros e as suas proacuteprias escolhas natildeo privilegiando apenas a aparecircncia do prazer mas sim o que eacute considerado qualitativamente bom
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
72 73
ἀλογία alogiacutea (sf)-87 SV 62
Irracionalidade desrazatildeo
ἀλογίστως alogiacutestos (adv)- 135
Contra a razatildeo de modo irracional insensato
ἄλογος aacutelogos (ad)- 31 66 81 SV 62
Irracional privado de razatildeo ininteligiacutevel
ἀμφισβήτησις amphisbeacutetesis (sf)- XXIV
Incerteza duacutevida ambiguidade
ἀναγωγή anagogeacute (sf)- XXIII
Referecircncia
ἀναισθησία anaisthesiacutea (sf)- 81
Insensibilidade
ἀναλογία analogiacutea (sf)- 32 58 59
Analogia proporccedilatildeo A analogia se daacute quando o pensamento procede a comparaccedilatildeo entre o que eacute percebido pela sensaccedilatildeo e o que soacute pode ser pensado (ou inteligido) pois ocorre no niacutevel microcoacutesmico ou macrocoacutesmico A analogia torna possiacutevel a expansatildeo maacutexima da physiologiacutea
ἀναλόγως analoacutegos (adv)- 40
Analogamente
Segunda parte
74 75
ἀνεπιλόγιστος anepiloacutegistos (ad) SV 63
Natildeo calculado Este termo estaacute sempre associado a Epicuro nas suas ocorrecircncias
ἀντιμαρτυρέω antimartyreacuteo (v)- 34 47 48 50 51 55 88 92
Infirmar testificar contra receber prova contraacuteria contra-ditar As teorias que natildeo podem ser confirmadas (epimar-tyacuteresis) sensorialmente podem entretanto receber prova contraacuteria A infirmaccedilatildeo ou pelo contraacuterio a confirmaccedilatildeo de uma teoria eacute possiacutevel por meio da comparaccedilatildeo com os fenocircmenos observaacuteveis
ἀνυπέρβλητος anypeacuterbletos (ad)- 47
Insuperaacutevel enorme
ἀξίωμα axiacuteoma (sn)- 86
Axioma enunciado princiacutepio
ἀπάθεια apaacutetheia (sf)- 73
Apatia natildeo-afecccedilatildeo No sentido de que a natildeo-afecccedilatildeo resul-ta para Epicuro na impossibilidade de conhecer
ἀπιστία apistiacutea(sf)- SV 57
Incerteza incredulidade infidelidade Em Epicuro este termo estaacute relacionado agrave incerteza ou falta de confianccedila que resulta na ignoracircncia e na incapacidade de agir Natildeo haacute registro nos textos remanescentes de Epicuro das noccedilotildees de crenccedila (religiosa) ou fidelidade
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
74 75
ἀπόδειξις apoacutedeixis (sf)- 3873
Demonstraccedilatildeo explicaccedilatildeo definiccedilatildeo prova
ἀπόφασις apoacutephasis (sf)- 124
Declaraccedilatildeo afirmaccedilatildeo
ἀσύμβλητος asyacutembletos (ad)- 83
Incomparaacutevel muito superior a Palavra de uso restrito a Aristoacuteteles e Epicuro
βάσις baacutesis (sf)- 46
Cadecircncia ritmo movimento e estrutura Os aacutetomos que se destacam dos corpos e viajam no espaccedilo conservando a mesma cadecircncia (baacutesis) e disposiccedilatildeo (teacutesis)possibilitam as imagens
βλέψις bleacutepsis (sf)- 130
Exame olhar
γνῶσις gnoacutesis (sf)- 78 79 85 123 SV 27
Conhecimento ciecircncia Como Epicuro natildeo utiliza o termo episteacuteme a canocircnica ou teoria do conhecimento pode ser considerada uma gnoseologiacutea Assim todo conhecimento fenomecircnico da realidade que eacute a base da physiologiacutea eacute com-preendido como gnoacutesis
γνωστός gnostoacutes (ad)- 68
Conheciacutevel compreensiacutevel conhecido
Segunda parte
76 77
δήλωσις deacutelosis (sf)- 76
Designaccedilatildeo manifestaccedilatildeo declaraccedilatildeo indicaccedilatildeo prova
διαλαμβάνω dialambaacuteno (v)- 38 58 67 85 123 133
Distinguir compreender apreender
διαληπτός dialeptoacutes (ad)- 57
Dinstinguiacutevel concebiacutevel
διάληψις diaacutelepsis (sf)- 50 51 58 69
Distinccedilatildeo discernimento
διαλογισμός dialogismoacutes (sm)- 2284 138 Us
Consideraccedilatildeo raciociacutenio conversaccedilatildeo caacutelculo argumentaccedilatildeo
διανόησις dianoacuteesis (sf)- 63
Exerciacutecio da inteligecircncia atividade do pensamento
διάνοια diaacutenoia (sf)- 31 38 49 50 51 62 78 X XVIII XX XXIV
Inteligecircncia reflexatildeo pensamento mente
διαπίπτω diapiacutepto (v)- 98
Falhar escapar errar
διαχέω diacheacuteo (v)- XXX
Dissipar dispersar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
76 77
δόξα doacutexa (sf)- 33 34 35 37 52 77 81 123 132 XV XXIV XXIX XXX SV29 SV59 202 Us 247 Us 471 Us
Opiniatildeo doutrina crenccedila teoria convicccedilatildeo Em Epicuro a opiniatildeo concerne ao que pode ser percebido e que resulta da investigaccedilatildeo empiacuterica ou do que eacute imperceptiacutevel isto eacute natildeo suscetiacutevel de investigaccedilatildeo direta
δοξάζω doxaacutedzo (v)-37 38 90 XXII XXIV 247 Us
Opinar crer
δοξαστικός doxastikoacutes (ad)- XXIV
Apto a formar uma opiniatildeo o que conjectura
ἐγκατάλειμμα enkataacuteleimma (sn)- 50
Resiacuteduo resto
εἴδωλον eiacutedolon(sn)- 46 47 48 50 I SV 24 355 Us
Simulacro imagem iacutedolos Epicuro usa diversos termos para caracterizar as imagens Alguns dizem respeito agraves ima-gens como aquilo que emana dos corpos soacutelidos Assim ele chama de simulacros (eiacutedola) as imagens das formas que satildeo similares aos objetos soacutelidos Ele tambeacutem chama de tyacutepoi (reacuteplicas) (Vide infra τύπος nesta mesma parte) as imagens emanadas dos objetos e que atingem os oacutergatildeos da percepccedilatildeo Lecirc-se no passo 46 da Carta a Heroacutedoto
Assim existem as reacuteplicas (tiacutepoi) da mesma maneira que existem os soacutelidos mas que por sua fineza diferenciam-se dos corpos aparentes Com efeito nada impede que se for-mem no envoltoacuterio (meio em torno dos corpos) destacamen-
Segunda parte
78 79
tos que sejam de tal tipo nem que se encontrem as condiccedilotildees proacuteprias que permitam a produccedilatildeo de espaccedilos ocos (cavados) e finos (tecircnues) nem os efluacutevios que conservem exatamente a posiccedilatildeo e a base (estrutura) que eles tinham sucessivamente nos corpos soacutelidos Essas reacuteplicas noacutes as chamamos de iacutedolos ou simulacros (eiacutedola)
Epicuro utiliza o termo tyacutepoi para mostrar que tais imagens imprimem-se na alma atraveacutes dos oacutergatildeos sensiacuteveis e utili-za eiacutedola para estabelecer a diferenccedila entre as imagens que destacam-se dos compostos e os proacuteprios corpos compostos Entretanto os dois termos satildeo utilizados para caracterizar as finas camadas de aacutetomos mais sutis que se destacam dos corpos e atingem os sentidos Epicuro quer dizer ainda que a experiecircncia natildeo pode desmentir sua proposiccedilatildeo pois natildeo eacute possiacutevel discernir essas imagens que natildeo afetaram ainda o oacutergatildeo sensiacutevel O processo eacute muito raacutepido e soacute depois eacute que se pode pensar na maneira como tudo ocorreu O que estaacute posto aqui eacute que o simulacro conserva o mesmo arranjo (theacute-sin) ou disposiccedilatildeo dos aacutetomos tal qual figura nos corpos soacute-lidos (tocircn somaacuteton ti) Os simulacros satildeo caracterizados como efluacutevios (aporroaiacute) ou emanaccedilotildees (reuacutesis) que se destacam dos corpos e atingem os oacutergatildeos sensiacuteveis Aleacutem disso o fluxo pode conservar por algum tempo a disposiccedilatildeo e a ordem dos aacutetomos (theacutesin kaigrave taacutexin tocircn atoacutemon) Sem profundidade ou volume a imagem eacute formalmente idecircntica ao corpo do qual foi emanada poreacutem eacute reduzida agraves duas dimensotildees do plano Os simulacros podem ser entendidos como substitutos das coisas que permitem ao pensamento representaacute-las O que eacute pensado natildeo satildeo as coisas elas mesmas mas seus simulacros que natildeo tecircm realidade plena isto eacute natildeo satildeo corpos soacutelidos como as coisas mas satildeo reais porque satildeo constituiacutedos por
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
78 79
aacutetomos e vazios como qualquer corpo soacutelido A diferenccedila estaacute na sutileza (fineza) dos aacutetomos que os compotildeem
Os simulacros mantecircm a figura (skheacutema) dos corpos dando forma agrave imagem e os aacutetomos que compotildeem esta imagem possuem sutileza (leptoacutetes) (vide infra ληπτότης nesta mesma parte) e ligeireza (kouraacute) Isso explica porque os simulacros tecircm uma sutileza inconcebiacutevel pelo pensamento e inapreen-siacutevel aos sentidos As imagens que se pode perceber resul-tam da afecccedilatildeo dos simulacros sobre os oacutergatildeos sensiacuteveis As sensaccedilotildees satildeo efeitos da penetraccedilatildeo dos aacutetomos arranjados numa imagem-simulacro no corpo que as recebe
Assim as afecccedilotildees geram imediatamente as sensaccedilotildees que a princiacutepio podem ser de dois tipos ou agradaacuteveis ou desa-gradaacuteveis Epicuro usa o termo energeiacuteas(vide infra ἐνέργεια nesta mesma parte)para nomear o processo de produccedilatildeo das imagens e chama de sympatheiacuteas(vide supra συμπαθής na primeira parte) os estados perceptivos dos corpos afetados pelas imagens Continua Epicuro ainda no passo 46
Assim (ocorre) o movimento que se produz atraveacutes do vazio sem que nenhum choque com os corpos imponha resistecircncia aos simulacros que se movem numa velocidade inconcebiacutevel pelo pensamento
Como a emanaccedilatildeo de simulacros dos corpos eacute contiacutenua a imagem que percorre o espaccedilo perde algumas propriedades que satildeo logo supridas com a continuidade das emanaccedilotildees Este processo de regeneraccedilatildeo ou recomposiccedilatildeo compensa-toacuteria eacute chamado de antanaplerosis Epicuro a todo instante alerta para o fato de que os sentidos natildeo podem contradizer sua hipoacutetese explicativa porque trata-se de imagens im-perceptiacuteveis por dois motivos a saber primeiro porque as imagens satildeo compostas por aacutetomos de natureza mais sutil
Segunda parte
80 81
que os aacutetomos dos corpos concretos segundo porque a velocidade do movimento dos simulacros eacute inconcebiacutevel e incomensuraacutevel Toda a realidade compotildee-se de aacutetomos e vazio mas os aacutetomos satildeo qualitativamente diferentes sendo uns mais densos e outros mais sutis Os aacutetomos que formam as imagens satildeo de natureza sutiliacutessima
εἰκών eikoacuten (sf)- 51
Imagem reproduccedilatildeo iacutecone similitude
ἔκθλίψις eacutekthlipsis (sf)- 53 109
Expulsatildeo deslocamento
ἐλάχιστον (τὸ) elaacutechiston (tograve) (ad substantivado)- 58 281 Us
O miacutenimo
ἔμφασις eacutemphasis (sf)- 95
Aparecircncia aspecto
ἐναργής enargeacutes (ad)- 33 123
Evidente claro manifesto Eacute aquilo que se apresenta claramente ao pensamento e que portanto natildeo poder ser contradito nem pela percepccedilatildeo nem pelo pensamento (ou opiniatildeo)
ἐναργῶς enargocircs (adv)- 67
Evidentemente visivelmente claramente
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
80 81
ἔνδηλος eacutendelos (ad)- 52
Manifesto presente
ἐνέργεια eneacutergeia (sf)- 48 136 2 Us 219 Us
Forccedila (em accedilatildeo) atividade energia Haacute uma diferenccedila en-tre a versatildeo do texto grego utilizada por M Conche (1977) (ἐνέργειας) e a utilizada por Hicks (1925) (ἐνάργεια versatildeo de Gassendi) Para ver a definiccedilatildeo de ἐνάργεια vide supra enargocircs-ἐναργῶς (nesta mesma parte)
ἐννόῃμα ennoacuteema (sn)- 38
Noccedilatildeo ideia conceito significaccedilatildeo
ἔννοια eacutennoia (sf)- 33 576977 XXIV
Pensamento noccedilatildeo concepccedilatildeo ideia
ἐνότης enoacutetes (sf)- 52
Unidade
ἔνστημα eacutenstema (sn)- 91
Obstaacuteculo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto e significa aquilo que se interpotildee ao deslocamento dos aacutetomos no vazio
ἐξαιτιολογεῖν exaitiologeicircn (v inf)- 82
Buscar a causa ou explicaccedilatildeo de algo Primeira apariccedilatildeo do termo ocorre na Carta a Heroacutedoto
Segunda parte
82 83
ἐπαίσθησις epaiacutesthesis (sf)- 52 53
Sensaccedilatildeo percepccedilatildeo
ἐπιβλετικῶς epibletikoacutes (adv)-50
Por apreensatildeo (direta) por impressatildeo (direta)
ἐπιβολή epiboleacute (sf)- 31 35 36 38 50 51 62 69 70 83 XXIV
Apreensatildeo (intuitiva) projeccedilatildeo Pode ser traduzido por salto no sentido de alcance promovido pelo pensamento
ἐπιβολή τῆς διανοίας epibolegrave tecircs dianoiacuteas- 31 38 51 XXIV
Projeccedilatildeo (salto) do pensamento Expressatildeo fundamental que indica a operaccedilatildeo do pensamento quando este articula a expo-siccedilatildeo da realidade Epicuro postula que esta operaccedilatildeo eacute ime-diata e por isso ele utiliza a imagem de um ldquosaltordquo ou de uma ldquoprojeccedilatildeordquo do pensamento para caracterizar a formulaccedilatildeo ou apreensatildeo de uma explicaccedilatildeo acerca da realidade sensiacutevel ou no procedimento de pensar por analogia ao sensiacutevel
ἐπίδηλος epiacutedelos (ad)- 48
Perceptiacutevel visiacutevel
ἐπικρίνειν epikriacutenein (v inf)- 37
Distinguir decidir julgar
ἐπιλογίζεσθαι epilogiacutezesthai (v inf)- 72 133 XXII SV 35
Considerar refletir ter em conta
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
82 83
ἐπιλογισμός epilogismoacutes (sm)- 73 XX
Reflexatildeo caacutelculo
ἐπιμαρτυρεῖν epimartyreicircn (v inf)- 34 50 51 XXXVII
Confirmar testemunhar atestar Vide supra antimartyreacuteo -ἀντιμαρτυρέω verbo de sentido oposto (nesta mesma par-te)
ἐπιμαρτύρεσις epimartyacuteresis (sf)- XXIV 247 Us
Confirmaccedilatildeo Termo utilizado pela primeira vez por Epicu-ro
ἐπίνοια epiacutenoia (sf)- 32 45
Concepccedilatildeo noccedilatildeo doutrina
ἐπιπολή epipoleacute (sf) - 48
Superfiacutecie No texto utilizado por Bollack (1971) o termo aparece diferente ἐπὶ πολλή
ἐπίρρυσις epiacuterrysis (sf)- I
Afluxo influxo fluxo
ἐπιτηδειότης epitedeioacutetes (sf)- 46
Condiccedilotildees proacuteprias propriedade materiais
θεωρητός theoretoacutes (ad)- 47 57 62 I 355 Us
Visiacutevel discerniacutevel perceptiacutevel observaacutevel Pelo nuacutemero de
Segunda parte
84 85
ocorrecircncias da expressatildeo ldquoτοὺς διὰ λόγου θεωρητοὺςrdquo vecirc-se a importacircncia da conexatildeo que realccedila a noccedilatildeo de ldquovista pelo pensamentordquo Elas se datildeo principalmente na Carta a Heroacutedoto Quando associada a logos a expressatildeo adquire o sentido de ldquovisatildeo do pensamentordquo isto eacute aquela capaz de perscrutar as coisas invisiacuteveis Portanto o pensamento que estabelece a realidade e a constituiccedilatildeo dos corpos pela aglomeraccedilatildeo dos aacutetomos se remete agrave uma ldquovisatildeordquo dos corpos elementares
θεωρία theoriacutea (sf) - 35 59 86 116 128
Estudo visatildeo contemplaccedilatildeo
ἰδιότης idioacutetes (sf)- 5871
Particularidade caraacuteter proacuteprio singularidade individuali-dade
ἰδιότροπος idioacutetropos (ad)- 52
Caracteriacutestico distintivo especiacutefico Termo usado pela pri-meira vez por Epicuro
ἰδίωμα idiacuteoma (sn)-72 109
Qualidade particular caraacuteter proacuteprio
κανών kanoacuten (sm)-129
Canocircn criteacuterio regras O comentaacuterio feito por Dioacutege-nes Laeacutercio que se inicia no passo 29 do Livro X tem por objetivo expor a doutrina de Epicuro de modo resumido dividindo-a em trecircs partes e caracterizando o que ele con-
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
84 85
sidera elementar para o leitor Para comeccedilar ele jaacute interfere na compreensatildeo que o leitor pode ter do pensamento em questatildeo quando subdivide a filosofia em canocircnica fiacutesica e eacutetica Eacute preciso discordar dessa subdivisatildeo Note-se que em nenhum momento na Carta a Heroacutedoto Epicuro faz menccedilatildeo a esta divisatildeo estabelecida por Dioacutegenes Laeacutercio Ao con-traacuterio eacute este uacuteltimo que afirma no final desse passo que os epicuristas satildeo os autores de tal divisatildeo Ele natildeo diz de quais epicuristas estaacute falando nem que eacute de Epicuro essa divisatildeo Esse eacute um problema tiacutepico da doxografia e mais do que isso das apropriaccedilotildees que foram feitas dos textos da filosofia an-tiga em geral
Na leitura interpretativa aqui pretendida desconfia-se desta triparticcedilatildeo da filosofia de Epicuro e postula-se que a filosofia eacute um todo que integra a physiologiacutea agrave eacutetica e entende os cri-teacuterios para o conhecimento (tograven kaacutenon) como parte introdu-toacuteria da physiologiacutea ou ainda um meacutetodo explicativo acerca do modo como se produz o conhecimento considerando-o como efeito da natureza O homem produz conhecimentos como modo proacuteprio de se realizar e o conhecimento que ele produz eacute efeito da sua relaccedilatildeo afetiva com a natureza Assim Epicuro tenta recuperar aspectos do pensamento grego18 in-tegrando-os ao seu exerciacutecio de pensar a realidade e o modo como se pode conhececirc-la
κατάληψις kataacutelepsis (sf)- 33
Apreensatildeo
18 Notadamente os pensadores ditos ldquopluralistasrdquo do seacutec V aC como Empeacutedocles Anaxaacutegoras e Demoacutecrito Neste sentido acredita-se que Epi-curo manteacutem-se como um physiologoacutes
Segunda parte
86 87
καταμετρέω katametreacuteo (v)- 58 XIX
Medir calcular
κατεργασία katergasiacutea (sf)- 46
Produccedilatildeo confecccedilatildeo
κρίσις kriacutesis (sf)- XXIV
Discriminaccedilatildeo juiacutezo julgamento
κριτήριον kriteacuterion (sn)- 30 31 38 51 52 82 116 XXIV
Criteacuterio padratildeo de julgamento
ληπτότης leptoacutetes (sf)- 46 47
Fineza sutileza
λογισμός logismoacutes (sm)- 32 39 75 76 117 132 144 145 XVI XIX 517 Us
Raciociacutenio caacutelculo O logismoacutes ou caacutelculo raciociacutenio ou ainda ldquomecanismordquo ou ldquoinstrumentordquo do pensar eacute para Epicuro o que torna possiacutevel a elaboraccedilatildeo do pensamen-to (diaacutenoia) Eacute tambeacutem o que possibilita as analogias que conduzem o pensamento desde as impressotildees sensiacuteveis agraves elaboraccedilotildees de explicaccedilotildees sobre tudo o que natildeo eacute percebido pelos sentidos
Trata-se portanto de um conceito fundamental para enten-der o papel do pensamento na deliberaccedilatildeo acerca do modo de vida do homem no mundo uma vez que ele calcula ou mensura o alcance e o limite da accedilatildeo humana ou seja eacute
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
86 87
atraveacutes da reflexatildeo que se daacute a medida do agir
Sempre que Epicuro se refere ao exerciacutecio do pensamento ou reflexatildeo o termo utilizado eacute logismoacutes pois entende o exerciacute-cio como ato de pensamento ou operaccedilatildeo do pensamento Eacute sempre a partir do logismoacutes que se julga ou delibera e a accedilatildeo subsequente expressa uma sabedoria (vide infraphroacutenesis φρόνησις na terceira parte) que eacute na praacutetica capacidade de discernir de escolher e de recusar Podemos identificar em diversas passagens do texto de Epicuro o uso deste termo com efeitos de caacutelculo direcionamento da accedilatildeo operaccedilatildeo com analogias etc As seis passagens a seguir mostram es-tes usos ldquoCom efeito a existecircncia de corpos eacute atestada em toda a ocasiatildeo pelos sentidos e eacute neles que o logismoacutes deve basear-se para conjecturar acerca do sensiacutevelrdquo (DL X 39) ldquoEacute preciso ainda compreender que a natureza tem recebido ainda das realidades mesmas um ensinamento muacuteltiplo e variado e que mais tarde o logismoacutes introduziu precisotildees e acrescentou descobertas ao que a natureza transmitiu em certos casos mais rapidamente em outros mais lentamen-te em certos periacuteodos e momentos alcanccedilando progressos maiores em outros menoresrdquo (DL X 75) ldquoAs causas dos males praticados pelos homens satildeo o oacutedio a inveja e o des-prezo que o saacutebio domina por meio do logismoacutes Aquele que se torna saacutebio uma vez nunca mais assumiraacute nem fingiraacute as-sumir voluntariamente uma atitude contraacuteriardquo (DL X 117) ldquoNatildeo eacute a sucessatildeo ininterrupta de banquetes e festas nem o prazer sexual com meninos e mulheres nem a degustaccedilatildeo de peixes e outras iguarias oferecidas por uma mesa suntuosa que proporciona a vida agradaacutevel e sim o nephroacuten logismoacutes (caacutelculo soacutebrio) que investigue as causas de toda a escolha e de toda a rejeiccedilatildeo e elimine as opiniotildees vatildes por obra das
Segunda parte
88 89
quais um imenso tumulto se apossa das almasrdquo (DL X 132) ldquoRaramente o acaso atinge o saacutebio pois as coisas principais e fundamentais tecircm sido governadas pelo logismoacutes e por todo o curso da vida o governa e o governaraacuterdquo (DL X 144) ldquoO tempo infinito conteacutem o mesmo prazer que o tempo finito se os limites deste prazer satildeo calculados (com o logismoacutes)rdquo (DL X 145)
O uso do termo logismoacutes daacute sentido e linearidade agrave psicologia epicuacuterea na medida em que busca explicitar os agenciamentos das imagens discursivas que representam tanto as realidades aprendidas pelos sentidos quanto agraves apreendidas pelo pensamento A tentativa de mostrar como a alma opera o conhecimento ou o modo como o pensamento eacute elaborado denota a relevacircncia dessas explicaccedilotildees para uma physiologiacutea da alma
λόγος loacutegos (sm)- 32 47 59 62 83 86 I XXV SV 26 36 Us 221 Us 355 Us
Discurso pensamento argumento razatildeo Epicuro utiliza vaacuterias vezes este termo com sentidos diversos por isso ele pode ser traduzido dependendo da ocasiatildeo por todas as palavras aqui elencadas
μαντική mantikeacute (ad)- SV 24
(Arte) Divinatoacuteria profeacutetica
μάθησις maacutethesis (sf)- SV 27
Accedilatildeo de aprender desenvolver instruir conhecimento ins-truccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
88 89
μέγεθος meacutegethos (sn)- 41 43 44 49 54 55 56 57 58 59 68 69 91 III
Grandeza magnitude tamanho
μεταβατός metabatoacutes (ad)- 58
Passiacutevel de ser atravessadas que admite passagem Palavra de uso exclusivo de Epicuro
μῆκος mecirckos (sn)- 46 59 98
Extenccedilatildeo longitude
μνήμη mneacuteme (sf)- 31 35 36 82 83 85 95 255 Us
Memoacuteria Nos textos remanescentes de Epicuro identifi-camos onze ocorrecircncias de termos relacionados agrave memoacuteria (mneacuteme) que evidenciam a importacircncia dada pelo filoacutesofo aos exerciacutecios de memorizaccedilatildeo Exemplo disso eacute o iniacutecio da Carta a Heroacutedoto onde podemos ler
Para os incapazes de estudar acuradamente cada um dos meus escritos sobre a natureza Heroacutedoto ou de percorrer detidamente os tratados mais longos preparei uma epiacutetome de todo o meu sistema a fim de que possa conservar bem gravado na memoacuteria o essencial dos princiacutepios mais impor-tantes e estejam em condiccedilotildees de sustenta-los em quaisquer circunstacircncias desde que se dediquem ao estudo da natureza Aqueles que progredirem suficientemente na contemplaccedilatildeo do universo devem ter na memoacuteria os elementos fundamen-tais de todo o sistema pois necessitamos frequentemente de uma visatildeo de conjunto embora natildeo aconteccedila o mesmo com os detalhes (DL X 35 p 291)
Segunda parte
90 91
Nessa passagem Epicuro utiliza duas vezes a noccedilatildeo de me-moacuteria a primeira quando sugere que os disciacutepulos receacutem iniciados no estudo da phyacutesis devem gravar na memoacuteria (Eacuten te mneacuteme) o essencial dos princiacutepios da physiologiacutea a se-gunda quando adverte que eles devem estar sempre prontos para expor uma visatildeo de conjunto (athroacuteas epiboleacutes) de toda a physiologiacutea e para isso devem guardar na memoacuteria (mnemo-neuein) o sistema
Na passagem seguinte (36) ele utiliza duas vezes o termo memoacuteria para enfatizar que os recursos mnemocircnicos devem ser utilizados em todo momento para evitar as crenccedilas e as opiniotildees vazias (kenoacuten doxai) (vide supradoacutexa δόξα nesta mesma parte) uma vez que quando fixadas na memoacuteria as explicaccedilotildees acerca da natureza das coisas a conduta do saacutebio jamais seraacute perturbada por imagens discursivas fantasiosas imaginativas que apontem para causas sobrenaturais Eacute ne-cessaacuterio lembrarmos sempre que o propoacutesito da filosofia de Epicuro eacute o exerciacutecio da vida feliz (makaacuterios zeacuten) e que como escreveu Jean Salem ldquoo caminho que conduz agrave felicidade leva em conta o aniquilamento das perturbaccedilotildees causadas em noacutes pelas opiniotildees vazias o que soacute eacute possiacutevel quando haacute a memorizaccedilatildeo dos princiacutepios da physiologiacutea19
μοναχῇ monachecirci (ad f)- 94
Uacutenica
μοναχός monachoacutes (ad)- 86 95
Uacutenico
19 SALEM J p 40
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
90 91
μοναχῶς monakhocircs (adv)- 80
Unicamente
μονοειδῶς monoeidocircs (adv)- 109
De um soacute tipo ou aspecto
μῦθος myacutethos (sm)- 81 87 104 116 134 XII
Mito lenda faacutebula
νομοθεσία nomothesiacutea (sf)- 86
Atos ldquolegiferantesrdquo leis impostas leis convenciondas arbitra-riamente princiacutepios arbitraacuterios
νόημα noacuteema (sn)- 48 61 83
Pensamento o que foi inteligido
νόησις noacuteesis (sf)- 33 (255Us) 123
Faculdade de pensar inteligecircncia
ὁμοιομερής homoiomereacutes (ad)- 52
Partes semelhantes partiacuteculas homogecircneas
ὁμοιόμορφος homoioacutemorphos (ad)- 49
Mesma forma contorno similar
ὁμοιοσχήμων homoioscheacutemon (ad)- 46
Com forma semelhante
Segunda parte
92 93
ὁμοιότης homoioacutetes (sf)- 32(36 Us) 51
Semelhanccedila parecenccedila
ὁμοίωμα homoiacuteoma (sn)- 46
Equivalente similar correspondente
ὁμούρησις homuacuteresis (sf)- 64
Contiacuteguidade vizinhanccedila Esta eacute uma versatildeo dialetal do iocircnico-aacutetico correspondendo agrave comum homoacuteresis palavra usada a partir de Epicuro
ὁμόχροος homoacutechroos (ad)- 49
Que tem a mesma cor que tem cor semelhante
ὀξύς oxyacutes (ad)- 48
Raacutepido
ὅρος hoacuteros (sm)- III XI
Limite Epicuro usa dois termos para se referir agrave ideia de limite peacuteras e hoacuteros (vide supra πέρας na primeira parte) Ambos satildeo utilizados indiscriminadamente com o sentido de limite Eles se referem sobretudo aos limites dos desejos e dos prazeres Epicuro deixa claro que o prazer tem por natureza limites determinados
πάθος paacutethos (sn)- 31 34 38 52 55 63 73 75 82 116 129 XXIV SV 18 191 221 241 Us
Afecccedilatildeo sentimento estado paixatildeo Epicuro preconiza que
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
92 93
todo conhecimento sensiacutevel tem iniacutecio na afecccedilatildeo que ocor-re quando o oacutergatildeo sensiente entra em contato com um ob-jeto externo Desta maneira o paacutethos eacute o que gera em noacutes a sensaccedilatildeo (vide supraaiacutesthesis - αἴσθησις nesta mesma parte) que eacute retida na memoacuteria transformando-se em sentimento ou impressatildeo sensiacutevel (Vide infraproleacutepsis πρόληψις nesta mesma parte) O movimento do pensar decorre das impre-esotildees rememoradas e operadas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias (phantastikeacute epiboleacute) do pensamento (tegraves diaacutenoias) (Vide su-pra ἐπιβολή τῆς διανοίας nesta mesma parte)
παρὸν (τό) parograven (toacute) (v substantivado)- XXIV 247 Us
O presente O verbo πάρειμι se substantiva em τὸ παρόν
περὶεχον (τό) perigraveechon (toacute) (v substantivado)- 46 48
O que circunda rodeia envolve cerca
περιληπτός perileptoacutes (ad)- 40 46
O que apreende abarca compreende
περιοιδεία periodeiacutea (sf)- 36 83 85
Percorrer (com o pensamento)
περίοδος periacuteodos (sm)- 75 77 83 97
Periacuteodo revoluccedilatildeo oacuterbita
πιθανολογοὺμενον (τό) pithanologugravemenon (toacute) (v substantivado)- 87
Alegaccedilatildeo plausiacutevel opiniatildeo verossiacutemil ou provaacutevel
Segunda parte
94 95
πίστις piacutestis(sf)- 63 85 SV 7 S34
Crenccedila convicccedilatildeo certeza
πρόληψις proacutelepsis (sf)- 31(35 Us) 33 (255 Us) 72 124 XXXVII XXXVIII
Prenoccedilatildeo antecipaccedilatildeo preconcepccedilatildeo representaccedilatildeo no sentido de impressatildeo na alma As proacutelepsis satildeo as noccedilotildees que estruturam a realidade no pensamento Elas podem representar os objetos que estatildeo fora dos indiviacuteduos e satildeo apreendidos pelos sentidos quando os simulacros neles penetram ou podem ser efeitos dos processos operacionais do pensamento tais como as analogias as compraraccedilotildees e as combinaccedilotildees Elas constituem imagens conceituais que satildeo articuladas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento (phantastikaacutei epibolaigrave tegraves dianoiacuteas) Com isso Epicuro quer explicitar a capacidade do pensamento de pensar o que eacute invisiacutevel (aacutedelon) mediante analogia com o que se tornou visiacutevel pela sensibilidade Mais que isso ele tenta expor os mecanismos internos do pensa-mento quando se produz a opiniatildeo o conhecimento o reconhecimento a articulaccedilatildeo das informaccedilotildees retidas na memoacuteria sob a forma de imaginaccedilatildeo criaccedilatildeo etc O que estaacute sendo construiacutedo eacute um invisiacutevel a partir do visiacutevel e este invisiacutevel conecta associa integra os corpos visiacuteveis numa rede loacutegica ou discursiva Trata-se da representa-ccedilatildeo ou do pensamento como representaccedilatildeo imageacutetica da realidade
προδοξάζω prodoxaacutedzo (v)- 50 62
Pressuposiccedilatildeo presunccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
94 95
προσμένον (τὸ) prosmeacutenon (tograve) (v substantivado)- 34 38 50 XXIV
A espera
ῥεῦμα rheŷma (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo
σημεῖον semeicircon (sn)- 87 97 183 Us
Sinal indiacutecio
στερέμνιον stereacutemnion (ad)- 46 48 50
Soacutelido
συμβεβηκός symbebekoacutes (sn)- 40 50 68 71
Propriedade atributo Em alguns casos pode ser traduzido por ldquoacidenterdquo Epicuro diferencia entre as propriedades permanentes (symbebekoacutes) e as propriedades acidentais (syacutemptoma)20 Todas as qualidades acidentais estatildeo sujeitas agrave mudanccedila poreacutem as propriedades permantes satildeo necessaacuterias e imutaacuteveis Forma tamanho e peso satildeo propriedades per-manentes do aacutetomo (ver supraaacutetomos - ἄτομος na primeira parte)
σύμμετρος syacutemmetros (ad)- 47 50 53 61 91
Simeacutetrico proporcional comensuraacutevel
20 Cf Morel 2013 p 57
Segunda parte
96 97
συμμέτρως symmeacutetros (adv)- 110
Simetricamente proporcionalmente
συμπάθεια sympaacutetheia (sf)- 48 50 52 53 64
Simpatia afinidade correspondecircncia Eacute o modo como os objetos exteriores nos afeta causando uma correspondecircncia entre os objetos neles mesmos e como os sentimos ou perce-bemos A sympaacutetheia ocorre quando haacute uma afinidade entre os aacutetomos do corpo ou de uma imagem que nos afeta e o oacutergatildeo por ele afetado Este acordo gera uma correspondecircn-cia natural entre os corpos que se afetam mutuamente
συμπλήρωμα sympleacuteroma (sn)- 48
Completude inteireza plenitude Palavra rara encontrada somente em Aristoacuteteles e Epicuro
σύμπτωμα syacutemptoma (sn)- 40 64 67 70 71 73
Acidente incidecircncia sintoma
συνεχής synecheacutes (ad)- 36 48 50 62 82 105 I XVI SV67
Contiacutenuo constante incessante
σύνθεσις syacutenthesis (sf)- 32 (36 Us)
Siacutentese composiccedilatildeo uniatildeo
συνθεωρεῖν syntheoreicircn (v inf)- 96 102 116
Considerar em conjunto ter uma visatildeo geral
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
96 97
σύντομος syacutentomos (ad)- 76 84 SV4
Breve conciso
σύστοιχος syacutestoichos (ad)- 76
Que eacute do mesmo tipo
σχηματίζειν schematiacutezein (v inf)- 53
Moldar
τεκμαίρω tekmaiacutero (v)- 39
Inferir formar um juiacutezo
τέλος teacutelos (sn)- 85 128 131 133 XX XXII XXV SV 25 SV 75
Fim finalidade objetivo
τόπος toacutepos (sm)- 47 60 62 75 89 98 103 105 108 111 112 113 115 XXXIII
Lugar regiatildeo
τρόπος troacutepos (sm)- 87 94 95 96 97 99 101 102 104 106 108 112 115 SV 62
Modo maneira meacutetodo
τύπος tyacutepos (sm)- 33(255 Us)35 36 45 46 49 68
Modelo esquema impressatildeo reacuteplica figura imagem Vide supraeiacutedolon-εἴδωλον (nesta mesma parte)
Segunda parte
98 99
ὑπεναναντίος hypenantiacuteos (ad)- 77 81
Contraacuterio incompatiacutevel inconsistente
ὑπεξαίρεσις hypexaiacuteresis (sf)- III
Remoccedilatildeo eliminaccedilatildeo supressatildeo
ὑπόθεσις hypoacutethesis- 95
Hipoacutetese
ὑπόληψις - hypoacutelepsis (sf)- 34 124
Suposiccedilatildeo conjectura O termo hypoacutelepsis eacute equivante ao ter-mo doacutexa Epicuro diz que a crenccedila nos deuses satildeo hipoleacutepseis pseudecircis ie suposiccedilotildees falsas As hypoleacutepseis satildeo suposiccedilotildees que natildeo necessariamente correspondem agrave realidade Diferente de proacutelepsis(vide supra proacutelepsis-πρόληψις nesta mesma par-te) este termo indica uma ideia que natildeo passou pelo crivo da sensibilidade ou pelos outros meios de confirmaccedilatildeo ou natildeo--infirmaccedilatildeo constituintes do meacutetodo gnosioloacutegico de Epicuro
φαινὸμενα (τά) phainogravemena (taacute) (v substantivado) - 32(36 Us) 46 47 54 55 60 71 86 87 88 90 92 93 95 97 98 100 102 104 112 113
Fenocircmenos aparecircncias o que eacute visiacutevel manifesto
φαντασία phantasiacutea (sf)- 50 80 247 Us
Representaccedilatildeo imagem
φάντασμα phaacutentasma (sn)- 32 (36 Us) 75 88 102 110
Visatildeo sonho apariccedilatildeo aparecircncia
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
98 99
φθόγγος phthoacutengos (sm)- 37 38 76 83
Som fala palavra
φωνή phoneacute (sf)- 36 45 53 XXXVII SV 33 SV 41 SV 45 SV 75
Voz expressatildeo palavra
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
ψεῦδος pseucircdos (sn)- 5051
Falsidade erro engano
ψυχή psycheacute (sf)- 63 64 65 66 67 68 77 81 122 128 131 132 SV 69 SV81 812 Us 314 Us 315 Us
Alma A compreensatildeo da alma como um corpo (soacutema) ou ainda como um agregado (aacutethroisma) de aacutetomos mais sutis que os componentes das realidades sensiacuteveis (corpossoacutemata) sefundamenta no pressuposto baacutesico da physiologiacutea atomista segundo o qual tudo o que existe eacute composto de aacutetomos e vazio A materialidade da alma eacute portanto uma consequecircncia loacutegica desse pressuposto Contudo o que ca-racteriza especificamente a mateacuteria da alma permanece um problema no contexto do pensamento atomista antigo de Demoacutecrito a Lucreacutecio uma vez que se manteacutem o caraacuteter metafiacutesico da questatildeo Ainda que a loacutegica seja inabalaacutevel do ponto de vista do discurso a impossibilidade de uma de-monstraccedilatildeo fiacutesica resguarda a alma no cerne da obscuridade Epicuro entretanto tentou agrave sua maneira fugir agraves represen-
Segunda parte
100 101
taccedilotildees miacuteticas e ousou talvez mais que qualquer outro ateacute entatildeo perscrutar a natureza fiacutesica da alma tomando-a num corpo substancialmente ligado ao corpo-carne Tal ligaccedilatildeo enquanto questatildeo constituiraacute doravante um imenso campo de investigaccedilatildeo cujas propriedades e possibilidades chegam ateacute os nossos dias sem entretanto mostrar-se completa e solucionada Apesar de todas as crenccedilas propagadas mun-do a fora sobre a imortalidade da alma e mesmo apesar dos discursos filosoacuteficos ancorados nesta crenccedila Epicuro viu-se capaz de enxergar um caminho para expor a sua physiologiacutea da alma enquanto uma ldquopsicologiardquo que pensa a psycheacute como um princiacutepio corporal energeacutetico unificador do corpo A alma seraacute pensada tambeacutem a partir de Epicuro e ateacute hoje como um corpo dentro do corpo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
100 101
terceirA PArte
ethicaacute
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Ethicaacute
102 103102 103
ἀβέβαιος abeacutebaios (ad)- 134
Inseguro incerto
ἀδέσποτος adeacutespotos (ad)- 133
Sem senhor sem governo Epicuro usa este termo no contex-to da criacutetica agraves teses que desconsideram a liberdade e respon-sabilidade dos homens Adeacutespotos eacute umadjetivo relacionado agrave expressatildeo parrsquo hemacircsVide infra parrsquo hemacircs-παρ᾿ἡμᾶς (nesta mesma parte)
ἀδικία adikiacutea (sf)- XXXIV
Injusticcedila
ἀδιόριστος adioacuteristos (ad)- 81
Natildeo fixo indeterminado indefinido
ἀδροτής adroteacutes (sf)- 83
Vigor forccedila
ἀθανασία athanasiacutea (sf)- 124
Imortalidade Na Carta a Meneceu Epicuro considera que o desejo de imortalidade eacute um desejo vatildeo assim como consi-dera que natildeo haacute nada a temer em relaccedilatildeo a morte
ἀθάνατος athaacutenatos (ad)- 135 SV78
Imortal Epicuro utiliza o termo imortal no sentido de qua-lificar o bem que resulta de uma vida sem perturbaccedilotildees que ele identifica com o bem maior que eacute o prazer
Terceira parte
104 105
ἀθορύβως athoryacutebos (adv)- 87
De modo impassivo tranquilo
αἵρεσις haiacuteresis (sf)- 128129132
Escolha eleiccedilatildeo
αἱρετός hairetoacutes (ad)- 30129
Escolhido
ἀκέραιος akeacuteraios (ad)- XII
Puro natildeo-misturado
ἀλγηδών algedoacuten (sf)- 129 137 XI SV 4 SV 3773
Dor sofrimento Diz-se da dor que antecede ou sucede o prazer ou ainda quando algo que parece prazeiroso acaba resultando em dor pelo uso desmedido que dele se faz E tambeacutem a ausecircncia de felicidade causada por dores do corpo Os desejos encontram-se sem controle e difiacuteceis de serem saciados onde o corpo encontra-se desesperado atraacutes de enormes prazeres e apavorado por fugir do que lhe causa medo
ἀνάπαυσις anaacutepausis (sf)- 125
Cessaccedilatildeo repouso
ἀνυπεύθυνος anypeuacutethynos (ad)- 133
Irresponsaacutevel
Ethicaacute
104 105
ἀόριστος aoacuteristos (ad)- SV 59
Natildeo limitado ilimitado
ἀοχλησία aochlesiacutea (sf)- 127
Tranquumlilidade natildeo interrompida Refere-se a tranquilidade do corpo
ἀόχλητος aoacutechletos (ad)- SV 79
Natildeo agitado tranquumlilo Palavra rara usada a partir de Epicu-ro
ἅπαξ haacutepax(adv)57 128 XVIII 222 Us
Uma vez de uma vez Em Epicuro este adveacuterbio se presta a evidenciar o limite temporal dos prazeres e dores ldquoUma vez (haacutepax) este estado realizado em noacutes (ausecircncia de sofrimento e termor) toda a tempestade da alma desaparecerdquo (DL X 128) Isso significa que eacute impossiacutevel haver simultaneidade de dores e prazeresldquoO prazer na carne natildeo cresce uma vez (haacutepax) suprimida a dor da necessidaderdquo (XVIII) Epicuro tambeacutem critica a opiniatildeo de que o prazer pode se intensifi-car ao infinito No entanto quando o prazer estaacute presente eacute possiacutevel apenas uma variaccedilatildeo do estado de prazer
ἀπογεγεννημένα apogegennemeacutena(sn)-Nat34 21-2 3426-30 (livro XXV)
Desenvolvimentos produtos Este termo aparece apenas no Perigrave phyacuteseos (Sobre a Natureza) Autores como Sedley (1987) Arrighetti (1960) Laursen (1991) e Orsquokeefe (2005) analisaram e propuseram traduccedilotildees para tagrave apogegenemeacutena
Terceira parte
106 107
das quais se destacam ldquodesenvolvimentosrdquo e ldquoprodutosrdquo O livro XXV do Perigrave phyacuteseos cujo tema principal eacute a liberdade aprofunda as resumidas explicaccedilotildees epistolares a respeito da relaccedilatildeo entre necessidade (anaacutenke) e liberdade assegurando que o homem pode desenvolver seu proacuteprio caraacuteter ainda que existam influecircncias necessaacuterias do meio ambiente (peri-eacutechon) Assim o que o homem desenvolve em relaccedilatildeo ao seu modo de ser eacute de sua inteira responsabilidade
ἀπόλαυσις apoacutelaysis (sf)- 131 132 SV 27
Gozo utilidade proveito
ἀπολαυστός apolaustoacutes (ad)- 124
Agradaacutevel Palavra usada a partir de Epicuro
ἀπονία aponiacutea (sf)- 136
Ausecircncia de dor ou sofrimento Assim como a ataraxiacutea eacute a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na alma a aponiacutea eacute ausecircncia de dor no corpo Isto quer dizer que o corpo encontra-se em equiliacutebrio ou experimenta um prazer katastemaacutetico
ἀρετή areteacute (sf)- 124 132 138
Excelecircncia virtude
ἀσεβής asebeacutes (ad)- 123 SV 43
Iacutempio
ἀσείστως aseiacutestos (adv)- 87
Ethicaacute
106 107
Inabalavelmente Adveacuterbio raro usado a partir de Epicuro
ἄστατος aacutestatos (ad)- 133
Instaacutevel inconstante
ἀσύμφορος asyacutemphoros (ad)- 130
Inconveniente desvantajoso
ἀσφάλεια asphaacuteleia (sf)- VIIXIII XIVXXVIII SV 31
Seguranccedila A asphaacuteleia estaacute relacionada agrave tranquumlilidade de uma vida equilibrada livre dos tormentos e dos pesares que resultam dos desejos desmesurados e da ignoracircncia
ἄσωτος aacutesotos (ad)- 131X
Dissoluto
ἀτάκτως ataacutectos (adv)- 134
Desordenadamente
ἀταράκτος ataraacutektos (ad)- XVII
Imperturbado
ἀταραξία ataraxiacutea (sf)- 82 85 96 128 2 Us
Imperturbabilidade equiliacutebrio tranquilidade da alma O termo grego ataraxiacutea pode ser traduzido por imperturbabili-dade equiliacutebrio e tranquilidade da alma Etimologicamente a melhor traduccedilatildeo eacute imperturbabilidade Este termo foi
Terceira parte
108 109
utilizado no sentido que iremos expor primeiramente por Demoacutecrito (Dem ap Estob273) e por Epicuro O que haacute de comum entre diversos pensadores do periacuteodo heleniacutestico eacute a relaccedilatildeo estabelecida por eles entre o ldquomodo de serrdquo (eacutethos) e a imperturbabilidade da alma Isso porque o estado da alma define o caraacuteter do indiviacuteduo e o que passa a interessar neste periacuteodo eacute a salvaguarda do bem estar do indiviacuteduo seja mediante a suspensatildeo do juiacutezo (epocheacute) entre os ceacuteticos seja como ausecircncia de paixotildees (apaacutetheia) entre os estoicos ou com o constante cuidado com a sauacutede (hygiacuteeia) da alma ou com a sua imperturbabilidade (ataraxiacutea) com Epicuro
Uma alma satilde tem o poder de ser princiacutepio de accedilatildeo (archeacute) de um indiviacuteduo dela deriva a sua altivez e simplicidade Este estado de alma caracteriza o que Epicuro chama makaacuterios zecircn (vida feliz) isto eacute ela eacute princiacutepio e fim da realizaccedilatildeo da proacutepria vida Por outro lado uma alma ldquoperturbadardquo que traz em si o peso das doenccedilas aniacutemicas caracteriza um modo de ser enfraquecido cujo poder de determinaccedilatildeo jaacute se esvaiu em meio a temores anguacutestias e desesperos O cuidado com a alma eacute para Epicuro um exerciacutecio constante inerente agrave praacutetica filosoacutefica
ἀτάραχος ataacuterachos (ad)- 80 SV 79
Ataraacutexico imperturbado
αὐτάρκεια autaacuterkeia (sf)- 130 SV 44 SV 77
Autarquia autossuficiecircncia ter o princiacutepio da accedilatildeo em si mesmo Existem diversas possiacuteveis traduccedilotildees do termo gre-go autaacuterkeia utilizado por Epicuro entre as quais as mais frequentes satildeo ldquoindependecircnciardquo ldquoautossuficiecircnciardquo ldquocapaci-
Ethicaacute
108 109
dade de bastar-se a si mesmordquo Estas noccedilotildees aludem a uma noccedilatildeo baacutesica de domiacutenio e princiacutepio- archeacute que estaacute em poder de quem age - autoacute - (a partir de) si mesmo Assim o sophoacutes eacute autaacuterkes porque age a partir de si mesmo Mas em que consiste esta autaacuterkeia e como eacute possiacutevel obtecirc-la Tais questotildees encetam para o princiacutepio da accedilatildeo tal como fora concebido no pensamento em questatildeo que implica em sua raiz a compreensatildeo do sentido de liberdade - eleutheriacutea - que a justifica ao mesmo tempo em que a fundamenta
Literalmente autaacuterkeia eacute uma qualidade de quem se basta a si mesmo Daiacute podermos pensar em algueacutem que exista ou subsista por si mesmo e isto soacute eacute possiacutevel quando sua accedilatildeo tem o princiacutepio nele mesmo ou ainda quando a causa da accedilatildeo esteja nele mesmo Para Epicuro a autaacuterkeia eacute o que caracteriza fundamentalmente a accedilatildeo saacutebia que por defi-niccedilatildeo exclui tanto a inatividade quanto a reatividade bem como a accedilatildeo cujo princiacutepio e o teacutelos natildeo estatildeo nela mesma A sabedoria enquanto accedilatildeo tem o sentido embutido nela isto eacute no seu exerciacutecio que chamamos de accedilatildeo autaacuterquica ou simplesmente autaacuterkeia Sendo assim a autaacuterkeia expressa uma condiccedilatildeo de vida no mundo em que o conjunto das accedilotildees tende naturalmente agrave repleccedilatildeo e portanto ao equiliacute-brio Viver em equiliacutebrio por sua vez natildeo depende senatildeo do modo como o homem vivencia a sua situaccedilatildeo real de existir independente de qualquer outro ldquopoderrdquo que transcenda a sua dyacutenamis de accedilatildeo desde que esse ldquopoderrdquo possa ser per-mitido ou evitado A autaacuterkeia eacute a expressatildeo da vida tornada independente das necessidades que a negam e a fazem re--agir ou sofrer
Para que a autaacuterkeiaseja alcanccedilada e cultivada eacute necessaacuterio agir segundo o logismoacutes e a phroacutenesis Dessa maneira esses
Terceira parte
110 111
trecircs conceitos definem a possibilidade de ponderaccedilatildeo de se estabelecer uma medida para o agir e atraveacutes do exerciacutecio da autaacuterkeia o sophoacutes define por si mesmo o bastante para a realizaccedilatildeo dos seus desejos naturais e necessaacuterios
E noacutes estimamos que a autaacuterkeia eacute um grande bem natildeo para que faccedilamos uso de pouco de um modo geral mas afim de que faccedilamos uso de pouco se natildeo temos a abundacircncia verdadeiramente persuadidos de que gozam a magnificecircncia com mais prazer aqueles que menos necessitam dela e que tudo o que eacute fundado na natureza se adquire facilmente e o que eacute vazio (vatildeo) eacute difiacutecil se obter (DL X 130)
O termo em questatildeo significa nesta passagem ldquocontenta-mentordquo medida exata de repleccedilatildeo suficiecircncia dada pela proacutepria natureza Epicuro recolhe no modo como o sophoacutes interage com a natureza a medida da satisfaccedilatildeo a mesma que nortearaacute a accedilatildeo saacutebia Por isso a accedilatildeo deve corresponder aos desejos naturais e necessaacuterios jaacute que agindo de acordo com a natureza onde o transito eacute imediato torna-se possiacutevel ao sophoacutes evitar desafetos que quase sempre forccedilam a sua rea-ccedilatildeo ou o seu desequiliacutebrio Toda a accedilatildeo contraacuteria agrave natureza eacute difiacutecil e acaba sendo tambeacutem vatilde vazia para quem procura realizaacute-la porque eacute fruto de desejos de diversos matizes que entretanto satildeo oriundos das opiniotildees vazias (kenaigrave doxaacutei) disseminadas entre os insensatos A filosofia eacute para Epicuro o ldquoantiacutedotordquo para essas opiniotildees e por isso mesmo a efetiva-ccedilatildeo da autaacuterkeia
Agir de acordo com a natureza (katagrave phyacutesin) define a relaccedilatildeo entre a physiologiacutea e a eacutetica na medida em que explicita o sentido do proceder filosoacutefico em busca da compreensatildeo necessaacuteria agrave fundamentaccedilatildeo da accedilatildeo saacutebia Este modo de agir revela tambeacutem o sentido real do prazer enquanto repleccedilatildeo
Ethicaacute
110 111
isto eacute da accedilatildeo que engendra serenidade (galenismoacutes) Neste sentido o sophoacutes age de modo prazeiroso e o conjunto das suas accedilotildees perfaz a realizaccedilatildeo plena da vida Trata-se de um estado de contentamento no qual ele se sente inteiramente integrado ao meio natural onde as adversidades existen-tes podem ser em alguns casos previstas e na medida do possiacutevel evitadas A accedilatildeo fundada na natureza eacute fruto da deliberaccedilatildeo do sophoacutes que busca a todo instante realizar os bens que realmente importam agrave sabedoria que se traduz pela manutenccedilatildeo de uma vida equilibrada Esta accedilatildeo eacute modulada pela physiologiacutea que eacute por assim dizer o seu fundamento ontoloacutegico Epicuro opotildee aos desejos difiacuteceis de serem re-alizados e que tecircm origem nas opiniotildees vazias a noccedilatildeo de simplicidade que quer dizer rigorosamente neste contexto a medida dada pela natureza proacutepria de cada um cabendo ao sophoacutes descobrir a sua mediante a economia dos desejos que poderia tambeacutem ser chamada de ldquodieteacuteticardquo dos desejos Esta eacute uma alternativa proposta por Epicuro para responder aos desmesurados valores vigentes em sua eacutepoca
O estudo da natureza prepara natildeo os jactanciosos nem os fazedores de expressotildees nem os exibidores de educaccedilatildeo mui-to valorizada junto agrave maioria mas aacutegeis e autaacuterquicos e que pensam grande sobre os seus proacuteprios bens e natildeo sobre os bens das coisas (SV 45)
Podemos perceber com relativa clareza que a noccedilatildeo de vir-tude (excelecircncia) tal como eacute aqui apresentada natildeo estaacute atre-lada agrave vida repleta de falsos valores e inserida nos domiacutenios puacuteblicos mas ao agir privado particular O saacutebio eacute aquele que age sempre a partir do seu poder de escolha e rejeiccedilatildeo e jamais de sujeiccedilatildeo Sua referecircncia uacutenica eacute a compreensatildeo dos limites e das possibilidades da natureza-realidade na
Terceira parte
112 113
qual vive e exercita-se na realizaccedilatildeo de uma vida apraziacutevel em cada ato ou deliberaccedilatildeo que dele dependa Fundando o eacutethos na phyacutesis ou fazendo que ele derive da physiologiacutea o sophoacutes legitima a autaacuterkeia como condiccedilatildeo para pensar a eacutetica fora do domiacutenio puacuteblico Com isso ele intenta resgatar antigos princiacutepios presentes na natureza para desapropriaacute-los das convenccedilotildees estabelecidas e entatildeovivenclaacute-losno espaccedilo no tempo que satildeo seus e daqueles que lhes satildeo afins (phiacuteloi)
O saacutebio depois de julgar as coisas em funccedilatildeo da necessida-de sabe mais dar em partilha do que tomar em partilha Tatildeo grande tesouro da autarquia ele encontrou(SV 44)
Conseguir o bastante para si mesmo natildeo exclui a possibilida-de de compatilhar o contentamento que expressa a autaacuterkeia-com aqueles que vivem uma muacutetua conveniecircncia (opheacuteleia) Na verdade o homem saacutebio natildeo projeta valores imaginaacuterios sobre as coisas da natureza antes pelo contraacuterio ele asseme-lha o seu modo de agir ao modo como as coisas interagem na natureza A medida mais conveniente eacute aquela que o faz se sentir bem no meio natural e natildeo o excesso de poder sobre as coisas naturais Assim o sophoacutesnatildeo espera receber o que precisa de outro homem porque ele mesmo pode facilmente ter o suficiente para natildeo sentir sede fome ou frio no proacuteprio meio onde vive por conveniecircncia e contentamento O ideal de sabedoria em questatildeo natildeo prevecirc qualquer tipo de sujeiccedilatildeo obrigaccedilatildeo diacutevida ou favor uma vez que entre saacutebios natildeo prevalecem as mesmas convenccedilotildees originadas nas sociedades poliacuteticas O saacutebio se afastaraacute das situaccedilotildees lugares e pessoas que possam constrangecirc-lo a reagir agraves ldquoconvenccedilotildeesrdquo de uma maioria insensata
A fonte mais pura de proteccedilatildeo diante dos homens assegu-rada ateacute certo ponto por uma determinada forccedila de rejeiccedilatildeo
Ethicaacute
112 113
eacute de fato a imunidade resultante de urna vida tranquila e distante da multidatildeo (DL X 143)
Natildeo haacute um objeto poliacutetico expliacutecito nas proposiccedilotildees eacuteticas de Epicuro Existe de uma certa maneira a transposiccedilatildeo do poliacutetico para fundar sobre outras bases uma eacutetica Recusar o conviacutevio com a multidatildeo pode significar compreender a multidatildeo como produto da necessidade e vivendo segundo a necessidade O sophoacutesbuscaraacute entatildeo construir um cami-nho alternativo para seguir Este caminho natildeo constituiraacute um conflito com o mundo poliacutetico mas pelo contraacuterio se formaraacute independentemente dele Epicuro opta pela sabe-doria e agir a partir de si mesmo e em prol de si mesmo Este comportamento eacute plenamente justificaacutevel se levarmos em conta a miserabilidade humana alimentada pelas falsas crenccedilas e pelos falsos valores de sua eacutepoca ldquoA necessidade eacute um mal mas natildeo haacute nenhuma necessidade de viver com a necessidaderdquo (SV 9)
Recolher-se agrave filosofia ao inveacutes de filosofar para a Heacutelade eis o que proclamava Epicuro A frugalidade eacutetica se opotildee ao desperdiacutecio poliacutetico pois natildeo haacute como obter a ataraxiacuteaem meio agrave multidatildeo insensata Aleacutem disso jamais o saacutebio po-deria modificar todo o quadro que a ele se apresentava um mundo corrompido pela miseacuteria e esquecido do bem-viver ldquoO saacutebio natildeo deve pois ocupar-se da poliacuteticardquo ldquoVive obscu-rordquo (3278 Us) Somente na solidatildeo dos seus pensamentos o saacutebio poderia finalmente encontrar o real sentido da liber-dade uma vez que ao menos aos olhos de Epicuro a liber-dade natildeo se coaduna com os valores soacutecio-poliacuteticos em voga A liberdade proveacutem das reflexotildees que satildeo a mateacuteria da filoso-fia Natildeo a encontraremos no meio poliacutetico na dependecircncia de acordos ou convenccedilotildees nutridas de opiniotildees conflitantes
Terceira parte
114 115
e sim nas accedilotildees que tecircm em si o seu proacuteprio princiacutepio pois nascem da solidatildeo reflexiva A vida autaacuterquica talvez tenha sido o posicionamento filosoacutefico por excelecircncia de Epicuro ao ponto de Hermarco seu disciacutepulo e sucessor agrave frente do Jardim tecirc-lo definido assim ldquoA vida de Epicuro comparada a de outros passaria por um mito por sua doccedilura e sua au-tarquiardquo (SV 36 101 Us)
A vida autaacuterquica estaacute totalmente desincompatibilizada da vida puacuteblica dos valores que a sustentam e de vaacuterias ma-neiras a determinam O saacutebio realiza um movimento de descentramento em relaccedilatildeo agrave vida puacuteblica e outro movimen-to de situar-se sempre em direccedilatildeo agraves relaccedilotildees equilibradas privadas lsquomolecularesrdquo Satildeo notoacuterias as diferenccedilas entre Epicuro e as ldquoinstituiccedilotildees poliacuteticasrdquo das quais ele se recusa a participar por compreender a quase impossibilidade de coexistirem harmonicamente sob um mesmo ideal homens de caraacuteter tatildeo distintos O sophoacutes assentiraacute nas discussotildees poliacuteticas apenas agrave medida que estas for em convenientes ou imprescindiacuteveis jaacute que acredita na possibilidade de cultivar a liberdade de conviver com aqueles que tecircm urna natureza realmente semelhante e que comungam as mesmas ideias Natildeo ausentar-se da trajetoacuteria que projeta a vida saacutebia pode significar o exerciacutecio de um modo de ser de um eacutethos filo-soacutefico ao mesmo tempo que a realizaccedilatildeo de um estado de ser physioloacutegico equilibrado Para tanto cumpre escolher o local e a situaccedilatildeo de vida onde se torne possiacutevel o pleno exer-ciacutecio da vida filosoacutefica o que vale dizer ter a autaacuterkeia ou o princiacutepio das suas accedilotildees em si mesmo Soacute daiacute pode emergir o sentido epicuacutereo da liberdade ldquoO mais importante fruto da autaacuterkeia eacute a liberdade (eleutheriacutea)rdquo (SV 77)
Ethicaacute
114 115
αὐτάρκης autaacuterkes(ad)- SV 45
Autaacuterquico aquele que tem o princiacutepio de sua accedilatildeo em si mesmo
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (sf)76 123
Incorruptibilidade imortalidade Palavra utilizada a partir de Epicuro
ἀφοβία aphobiacutea (sf)- 122
Destemor
ἀχάριστος achaacuteristos (ad)- SV 69 SV 75
Ingrato
βίος biacuteos (sm)- 86
Vida
βούλεσις buacutelesis (sf)- 7781
Vontade deliberaccedilatildeo
γαληνισμός galenismoacutes (sm)- 83
Serenidade Palavra rara filosoacutefica Usada por Epicuro num sentido metafoacutericoA imagem utilizada por Epicuro para definir o equiliacutebrio da alma expresso na ataraxiacutea (tranqui-lidade imperturbabilidade) eacute o que o grego denominava galenismoacutes que significa a superfiacutecie do mar quando estaacute tranquilo assim podemos traduzi-la por serenidade
Terceira parte
116 117
δαψίλεια dapsiacuteleia (sf)- SV 67
Abundacircncia
δεινός deinoacutes (ad)- 81 125 XXVIII
Temiacutevel terriacutevel O uso deste termo se daacute sempre no sentido de evitar os temores infundados Os temores satildeo projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento mas podem ser evitados com o exerciacutecio da physiologiacutea
διάθεσις diaacutethesis (sf)- 117 (222 Us)
Disposiccedilatildeo
δίαιτα diacuteaite (sf)- 130131 SV 69
Dieta regime modo de viver
δίκαιος diacutekaios(ad)- 132 XVII XXXI XXXII XXXVI XXXVII XXXVIII SV 43
Justo Para Epicuro natildeo haacute justiccedila independente das conven-ccedilotildees humanas isto eacute natildeo haacute uma justiccedila preacute-legislativa que existiria em si mesmo De acordo com Epicuro ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacute-procas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto (syntheacuteke) no sentido de natildeo prejudicar nem ser prejudicadordquo (MP XXXIII) Sendo assim o que eacute considerado justo num tempo x e num lugar y eacute diferente do que eacute considerado justo num tempo xrsquo e num lugar yrsquo Nas palavras de Epicuro ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) A justiccedila eacute portanto ldquouma invenccedilatildeo humanardquo (OrsquoKEEFE 2010 p 139) e como tal eacute do domiacute-
Ethicaacute
116 117
nio dos homens daquilo que cabe aos homens realizar ou seja eacute do acircmbito do parrsquo hemacircs (o que nos cabe) Em termos da physiologiacutea poderiacuteamos dizer que a justiccedila eacute um acidente (symptoacutema) da agregaccedilatildeo de indiviacuteduos Assim a justiccedila natildeo tem uma realidade independente dos pactos particulares realizados em tempo e espaccedilo determinados Por isso que Epicuro prefere utilizar na grande maioria de seus textos o termo diacutekaios (justo) e natildeo dikaiosyacutene (justiccedila) pois o primeiro remete sempre a um evento singular enquanto o uacuteltimo sugere ldquouma noccedilatildeo abstrata que os filoacutesofos essencia-listas nomeadamente os platocircnicos consideram uma ideia em sirdquo (MORAES 2010 p 55)21 O justo e o injusto satildeo determinados pelos pactos realizados aqui e alhures
No entanto uma das maacuteximas de Epicuro parece agrave primei-ra vista entrar em contradiccedilatildeo com esse caraacuteter convencio-nal da justiccedila ldquoO justo da natureza simboliza (tograve tecircs phyacuteseos diacutekaioacuten estigrave syacutembolon) a vantagem reciacuteproca de impedir os homens de prejudicarem os outros e os livra de serem pre-judicadosrdquo (MP XXXI) A expressatildeo ldquoo justo da naturezardquo parece contradizer a expressatildeo ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) Eacute preciso considerar aqui como diz Morel que essas reflexotildees de Epicuro estatildeo ldquono centro da problemaacutetica tornada claacutessica a partir da expansatildeo do movimento sofiacutestico no seacuteculo V da oposiccedilatildeo entre natureza (phyacutesis) e convenccedilatildeo (noacutemos)rdquo (2011 p 208) Tentar definir a justiccedila como natural ou convencional natildeo foi o caminho
21 De acordo com Bulhotildees ldquoEmbora a expressatildeo lsquoo justorsquo seja um substantivo refere-se ao adjetivo que qualifica por exemplo um acordo uma lei um indiviacuteduo ou um comportamento isto eacute um acordo pode ser dito justo uma lei justa um individuo e um comportamento justos Por outro lado a expressatildeo de gecircnero neutro tograve diacutekaion diferencia-se intencio-nalmente do feminino lsquoa justiccedilarsquo heacute dikaiosyacutene Esta indica uma realidade em sirdquo (Bulhotildees 2009 p 100)
Terceira parte
118 119
escolhido por Epicuro Para ele a justiccedila eacute convencional e natural ao mesmo tempo ldquovariaacutevel em suas manifestaccedilotildees e natural em seu princiacutepiordquo (Morel 2011 p 217) Na Maacutexima XXXVI estaacute escrito que ldquoem seu aspecto geral a justiccedila eacute a mesma para todos pois representa uma espeacutecie de vantagem reciacuteproca nas relaccedilotildees dos homens uns com os outros mas com referecircncia agraves peculiaridades locais e outras circusntacircn-cias quaisquer a mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo O aspecto geral da justiccedila (tograve koinograven) eacute natural e universal enquanto que o justo expresso nas peculiaridades locais (tograve iacutedion choacuteras) eacute convencional Epicuro diz portanto que a justiccedila pode ser identificada (e compreendida) em qualquer lugar como a conveniecircncia (syacutempheron) muacutetua estabelecida sob a forma de um pacto No entanto este mesmo pacto se apresenta de diversas maneiras dependendo das necessida-des que se apresentem na comunidade em que o pacto foi firmado
A justiccedila natildeo eacute a uacutenica noccedilatildeo considerada ao mesmo tempo natural e convencional na filosofia de Epicuro a linguagem humana tambeacutem pode ser qualificada assim Sobre as ori-gens da linguagem diz Epicuro
Por isso os nomes das coisas tambeacutem natildeo foram originaria-mente postos por convenccedilatildeo mas a natureza dos homens de conformidade com as vaacuterias raccedilas os criou () Mais tarde as raccedilas isoladas chegaram a um consenso e deram assim nomes peculiares a cada coisa a fim de que as comunicaccedilotildees entre elas fossem menos ambiacuteguas e as expressotildees fossem mais breves (DL 75-76)22
Assim como a linguagem finca suas raiacutezes na natureza e
22 ldquoQuanto aos vaacuterios sons da linguagem foi a natureza que obrigou a emiti-los e foi a utilidade que levou a dar nomes agraves coisasrdquo (DRN V 103)
Ethicaacute
118 119
depois a conveniecircncia entra em cena desenvolvendo esta ca-pacidade que a natureza legou ao homem da mesma forma pois acontece com a justiccedila porque temos uma preacute-noccedilatildeo desta que eacute passiacutevel de ser desenvolvida pelo uacutetil ou conve-niente (syacutempheron) A justiccedila tem um aspecto geral e outro especiacutefico O primeiro eacute natural e portanto universalmente compreendido de acordo com a preacute-noccedilatildeo que temos da justiccedila o uacuteltimo eacute pelo contraacuterio variaacutevel convencional determinado uacutetil e conveniente em cada comunidade em particular Assim a justiccedila eacute ao mesmo tempo natural e convencional da ordem da phyacutesis e tambeacutem da ordem do noacutemos23
Por proacutelepsin (preacute-noccedilatildeo) eles [os epicuristas]entendem uma espeacutecie de cogniccedilatildeo ou apreensatildeo imediata do real ou uma opiniatildeo correta ou um pensamento ou uma ideia universal iacutensita na mente ou seja a memorizaccedilatildeo de um objeto ex-terno que apareceu frequentemente como quando dizemos ldquoisto aqui eacute um homemrdquo De fato logo que se pronuncia a palavra ldquohomemrdquo sua figura se apresenta imediatamente ao nosso pensamento por via de antecipaccedilatildeo guiada prelimi-narmente pelo sentido (DL X 33)
As preacute-noccedilotildees satildeo a mateacuteria do pensamento As preacute-noccedilotildees satildeo as marcas deixadas nas almas em cada interaccedilatildeo sensiacutevel Eacute por via dessas marcas ou impressotildees que reconhecemos
23 Vemos nessas passagens que a linguagem teve sua origem na natu-reza mas seu desenvolvimento dependeu dos acordos realizados entre os homens Do mesmo modo a justiccedila tem seu ldquoladordquo natural na utilidade na manutenccedilatildeo da vida e do prazer Pois sem pactos para utilidade muacutetua os homens viveriam agrave mercecirc dos piores males Jaacute o caraacuteter convencional da justiccedila reside nas muacuteltiplas formas de se preservar a vida e o prazer Esses satildeo aspectos das agregaccedilotildees humanas inicialmente o processo de agrupamento se deu naturalmente posteriormente as relaccedilotildees se tornaram complexas
Terceira parte
120 121
uma sensaccedilatildeo figura ou atitude uma vez experienciada Haacute um conjunto enorme de proleacutepseis nas almas e elas satildeo ar-ranjadas e rearranjadas pelos mecanismos do pensamento A justiccedila tambeacutem provoca uma preacute-noccedilatildeo pela qual reconhe-cemos e podemos realizar atos justos Na MP XXXVII Epi-curo nos fala de uma proacutelepsis (preacute-noccedilatildeo) da utilidade (syacutem-pheron) inerente agrave justiccedila Sabemos o que eacute justo por termos a preacute-noccedilatildeo da utilidade ou conveniecircncia ou seja porque temos uma representaccedilatildeo imageacutetica do que eacute conveniente ou em outras palavras do que nos impede de prejudicar ou de ser prejudicado pelos outros Mas isso natildeo garante que as leis uma vez promulgadas seratildeo justas em todo o tempo e qualquer lugar pois o que define o justo eacute a conveniecircncia que eacute passiacutevel de variaccedilatildeo
Das disposiccedilotildees codificadas no direito vigente aquelas con-firmadas como uacuteteis nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comu-nitaacuteria apresentam o requisito do justo sejam ou natildeo sejam as mesmas para todos Mas se for promulgada uma lei que natildeo se mostre uacutetil nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comunitaacute-ria essa lei natildeo teraacute mais a natureza do justo E tambeacutem se aquilo que eacute uacutetil de conformidade com o direito vigente vier a cessar embora tenha correspondido durante um certo pe-riacuteodo de tempo agrave preacute-noccedilatildeo24 do justo apesar disso durante aquele periacuteodo foi justo desde que natildeo nos preocupemos com palavras vatildes e tenhamos em vista simplesmente os fatos (MP XXXVII)
Nem toda lei acordada deve ser considerada justa mera-mente por ter resultado de um pacto ou acordo25 pois a
24 G Kury traduz o termo proacutelepsis dessa passagem por ldquonoccedilatildeo pri-mordialrdquo Preferimos traduzir por preacutenoccedilatildeo por manter a unidade desse termo que foi provavelmente cunhado pelo proacuteprio Epicuro
25 ldquoAs accedilotildees natildeo satildeo justas ou injustas meramente porque algueacutem diz
Ethicaacute
120 121
justiccedila da lei eacute determinada pela confirmaccedilatildeo (epimarturouacute-menon) de sua utilidade para a comunidade Assim como vemos uma torre no horizonte e natildeo temos certeza se ela eacute arredondada ou retangular e esperamos pela confirmaccedilatildeo sensorial26 uma lei precisa ser confirmada por sua utilida-de ou conveniecircncia para a comunidade Se uma lei natildeo for uacutetil entatildeo natildeo eacute justa Uma lei portanto confirmada como justa pode entretanto natildeo ser justa em outro contexto A justiccedila se fundamenta na utilidade (syacutempheron) se uma lei deixa de ser uacutetil ela deixa de ser justa e se por exemplo numa comunidade eacute proibido pescar garoupas natildeo significa que em outra comunidade onde esse peixe eacute abundante se deva proibir tambeacutem O justo estaacute delimitado a um tempo e espaccedilo e condicionado pelo que se faz uacutetil nesse mesmo tempo e espaccedilo Natildeo haacute absolutamente no epicurismo a ideia de justiccedila em si Mas o justo depende de um pacto conveniente
O que impede portanto um membro da comunidade de natildeo cometer injusticcedilas eacute a puniccedilatildeo e o castigo Possivelmente cometeria ldquoinjusticcedilasrdquo se considerasse que natildeo seria punido ao cabo de sua accedilatildeo Por outro lado um membro saacutebio natildeo cogita a possibilidade de transgredir o pacto e permanecer impune pois seria punido imediatamente natildeo pelas penas cabiacuteveis acordadas no pacto mas pela perda de sua ataraxiacutea (imperturbabilidade)
δικαιοσύνη dikaiosyacutene (sf)- XXXIII
Justiccedila
que elas satildeordquo (BROWN 2009 p 192) 26 Cf DL X 34
Terceira parte
122 123
δυσπόριστος dyspoacuteristos (ad)- 130 XXVI
Difiacutecil de obter Palavra usada a partir de Epicuro
ἐγγαληνίζω engaleniacutedzo (v)- 37
Viver com tranquilidade Epicuro eacute o uacutenico a utilizar este termo
εἱμαρμένη heimarmeacutene (sf)- 134
Aquela que recebeu por destino
ἐκλόγισις ekloacutegisis (sf)- XVIII
Caacutelculo Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐκχώρησις ekchoacuteresis (sf)- XIV
Distanciamento apartamento
ἐλευθερία eleutheriacutea (sf)- SV 77
Liberdade A noccedilatildeo grega de liberdade natildeo eacute uniacutevoca Desde suas origens o termo eleutheriacutea passou por muitos desdo-bramentos Epicuro apresenta uma noccedilatildeo de liberdade que participa do processo de interiorizaccedilatildeo do homem Devemos a Soacutecrates o raciociacutenio que equipara a liberdade da cidade agrave liberdade interna ao homem expressa sob a noccedilatildeo de auto-domiacutenio e que veio a influenciar toda a filosofia posterior A ideia de liberdade interior eacute comum agraves diferentes escolas de filosofia do periacuteodo heleniacutestico poreacutem o epicurismo a apro-funda fazendo com que o sentido de eleutheriacutea se submeta ao de autaacuterkeia(Vide supra αὐτάρκεια nesta mesma parte)
Ethicaacute
122 123
Segundo Benveniste27 o termo latino liber e o grego eleuacutethe-ros28satildeo derivados da mesma raiz indo-europeia leudh- que significa ldquocrescer se desenvolverrdquo Essa imagem do ldquocresci-mentordquo e de sua completude na formaccedilatildeo de um homem levou agrave compreensatildeo socializada de leudh- como fonte ldquodo conjunto daqueles que satildeo nascidos e desenvolvidos conjun-tamenterdquo (Benveniste 1969 p 323) A ideia de liberdade pois se relaciona com o pertencimento a uma linhagem a um povo ldquoA liberdade do homem grego consiste em se sentir subordinado como membro agrave totalidade da polis e das suas leisrdquo (Jaeger 1995 p 228) Toda a liberdade que os gregos poderiam gozar advinha de seu pertencimento agrave polis natildeo apenas por habitarem a cidade mas por serem cidadatildeos Es-panto agrave parte o sentido original de liberdade natildeo tem a ver com emancipaccedilatildeo mas pelo contraacuterio com pertencimento Nas palavras de Benveniste
O primeiro sentido natildeo eacute como seria tentador imaginar ldquoli-berto de alguma coisardquo e sim eacute este de um pertencimento a uma fonte eacutetnica designada por uma metaacutefora de crescimen-to vegetal Este pertencimento confere um privileacutegio que o estrangeiro e escravo jamais conhecem (Benveniste 1969 p 324)
O exemplo das Guerras Peacutersicas no iniacutecio do seacuteculo V aC representa esta diferenccedila radical entre os gregos e os estrangeiros persas que natildeo gozavam dos privileacutegios da liberdade (eleutheriacutea) Os invasores persas tinham mestres diante dos quais se curvavam e aos quais obedeciam enquanto que os cidadatildeos gregos os eleuacutetheroi ldquonatildeo tinham um chefe uacutenico nem para cada cidade um homem que as
27 Cf 1969 p 322-323 28 Ambos os termos tecircm o significado de ldquolivrerdquo
Terceira parte
124 125
comanderdquo (Romilly 1989 p40) Essa diferenccedila de postura eacute representada na trageacutedia de Eacutesquilo Persas a partir da perspectiva dos baacuterbaros
Rainha Quem eacute o seu senhor Quem comanda o seu exeacuterci-to Corifeu Eles (os gregos) natildeo satildeo escravos (doucircloi) de nin-gueacutem nem satildeo suacuteditos (Eacutesquilo Persas linhas 241 242)29
Essa eacute a diferenccedila poliacutetica fundamental entre os gregos e os baacuterbaros30 Enquanto estes tecircm mestres os gregos devem obediecircncia apenas agrave lei sem a qual natildeo haveria polis nem liberdade Assim a noccedilatildeo de eleutheriacutea enquanto oposta agrave servidatildeo se define a partir da diferenccedila fundamental entre gregos e baacuterbaros Esse sentido que podemos chamar de liberdade poliacutetica depende do regime e se opotildee agrave opressatildeo31
Entretanto no fim do seacuteculo V aC surge um novo aspec-to da eleutheriacutea a liberdade democraacutetica A liberdade e a igualdade (isonomiacutea) se confundem Estaacute aberta a possibili-dade de todos os cidadatildeos intervirem na poliacutetica da cidade Todos tecircm direito de falar (isegoriacutea) e a justiccedila eacute a mesma para todos Poreacutem a influecircncia funesta dos demagogos e as arbitrariedades populares acabaram implodindo a liberdade democraacutetica32 A partir daiacute desponta outra forma de liberda-de a liberdade interior
Eacute atraveacutes das palavras de Soacutecrates que Xenofonte transmite a nova ideia da liberdade interior33
29 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo de David Grene ampRichmond Lattimore The Complete Greek Tragedies of AeschylusThe University of Chicago Press 1959 p 229
30 Cf Romilly 1989 p 4731 Cf Novaes (Org) 2002 p 1632 Cf Ibid p 11733 Eacute importante ressaltar que W Jaeger jaacute identificava a liberdade
interior nos textos de Soacutelon (Cf 1995 p 247)
Ethicaacute
124 125
- Ora diz-me laacute Eutidemo acreditas que haja um bem mais belo e bom para o homem e para a cidade do que a liberdade (eleutheriacutean)
- Natildeo E esse eacute de fato o maior dos bens
- E acreditas que eacute livre (eleuacutetheron) o homem que eacute domi-nado pelos prazeres do corpo e que por causa deles natildeo consegue agir bem
-De modo nenhum (Memoraacuteveis IV 5 2-3)34
Soacutecrates coloca lado a lado a liberdade da cidade e a liberda-de interior Esta se evidencia pelo autodomiacutenio ou domiacutenio das paixotildees Sem o autodomiacutenio (enkraacuteteia) o homem natildeo pode ser considerado realmente livre mesmo que viva sob um regime de liberdade poliacutetica
Essas noccedilotildees de autodomiacutenio e liberdade interior foram fundamentais para o desenvolvimento das filosofias heleniacutes-ticas uma vez que a vida poliacutetica se esfacelara sob o domiacutenio do impeacuterio macedocircnico ldquoA aacutegora apresenta-se agora fechada nos quatro lados como que para proclamar atraveacutes desta simples evocaccedilatildeo arquitetocircnica que a livre movimentaccedilatildeo e reuniatildeo do povo eram coisas do passadordquo (FINLEY 2002 p135) E quando Dioacutegenes o ciacutenico proclamou seu cosmo-politismo condenou o conceito de cidadania agrave falta de sen-tido35 O que interessa a partir de agora eacute o indiviacuteduo e sua busca interior de liberdade sabedoria e virtudes para uma vida bela A sociedade eacute apenas um acidente no percurso de melhoramento do indiviacuteduo E eacute como herdeira das noccedilotildees socraacuteticas de liberdade interior e autodomiacutenio que aparece
34 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Elias Pinheiro Coimbra CECH 2009
35 Cf Finley 2002 p116
Terceira parte
126 127
a noccedilatildeo epicurista de eleutheriacutea36 fruto mais precioso da autarquia e resultado do exerciacutecio da sabedoria
As ocorrecircncias dos termos eleutheriacutea e eleuacutetheros aparecem ambos nas Sentenccedilas Vaticanas
O fruto maior do bastar-se a si mesmo eacute a liberdade(SV 77)
Uma vida livre natildeo pode adquirir bens numerosos pelo fato de a coisa natildeo ser faacutecil fora da sujeiccedilatildeo agraves multidotildees e aos poderosos mas ela adquire tudo por uma abundacircncia contiacute-nua Se por acaso em algum lugar ela encontra muitos bens tambeacutem essas coisas satildeo faacuteceis de distribuir em favor da boa disposiccedilatildeo do proacuteximo (SV 67)
A liberdade de que se trata aqui tem a ver com aquela pro-blematizada por Soacutecrates no citado texto de Xenofonte ou seja aqui tambeacutem se trata de um tipo de liberdade interior No entanto as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia socraacuteticas ainda estatildeo segundo Jaeger ligadas agrave poacutelis ldquoSoacutecrates vive ainda dentro da poacutelisrdquo (JAEGER 1995 p552-553) e suas noccedilotildees de autaacuterkeia e eleutheriacutea natildeo tecircm ainda os traccedilos individualistas que os ciacutenicos primeiro depois estoacuteicos e epicuristas vatildeo lhes dar
A autaacuterkeia eacute condiccedilatildeo para a eleutheriacutea Se pensarmos em qualquer sentido para esta liberdade interior que prescinda da autaacuterkeia estaremos cometendo um erro de interpreta-ccedilatildeo Portanto natildeo podemos subsumir sob a noccedilatildeo de eleu-theriacutea o repertoacuterio de assuntos que se relacionam com o tema da liberdade no Epicurismo o pareacutenklisis ou clinamen(vide supra παρέγκλισις na primeira parte) a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs a criacutetica aos fiacutesicos da necessidade a criacutetica agraves supersticcedilotildees
36 ldquoAleacutem de fundar sua filosofia escavando o antes de Soacutecrates a dou-trina epicurista edificou sua arquitetocircnica a partir de Soacutecratesrdquo (Spinelli 2009 p51)
Ethicaacute
126 127
fatalistas e agrave ideia de destino etc pois todos esses assuntos excedem o sentido de eleutheriacutea Por isso falamos em um sentido de liberdade geral que passa por todos os objetos de estudo do epicurismo e um sentido de liberdade especiacutefica que por sua vez se identifica com a noccedilatildeo de eleutheriacutea Esta eacute a noccedilatildeo de liberdade em seu sentido positivo natildeo mais apenas o reconhecimento de um espaccedilo para a liberdade mas uma tomada de posiccedilatildeo diante da vida
Propomos que o sentido de eleutheriacutea estaacute para aquele de aacutetomo assim como o sentido de parrsquo hemacircs estaacute para aquele de vazio O aacutetomo natildeo existiria sem o vazio mas a existecircncia do vazio por si soacute natildeo garante a existecircncia do aacutetomo Do mesmo modo o espaccedilo para construccedilatildeo dos homens ou o acircmbito das accedilotildees livres natildeo garante a existecircncia efetiva des-sas mesmas accedilotildees A eacutetica de Epicuro tem por isso a esco-lha e a recusa como tema principal Agir com eleutheriacutea eacute construir no espaccedilo deixado vago pela natureza eacute escolher e recusar sem indiferenccedila eacute sentir prazer e sentir a dor quando convier
Epicuro segundo Secircneca diz que ldquoa liberdade consiste pre-cisamente em servir a filosofiardquo e ainda ldquoaquele que se lhe submete e a ela se entrega jaacute natildeo tem que esperar eacute ime-diatamente emancipadordquo (Epistolae ad Lucilium VIII 7 Us 199) O sentido do termo latino libertas corresponde ao de eleutheriacutea empregado por Epicuro nas Sentenccedilas Vaticanas A eleutheriacutea soacute eacute alcanccedilada por quem uma vez dedicado ao serviccedilo da filosofia e agrave compreensatildeo da natureza potildee-se ao exerciacutecio da autaacuterkeia A vida livre natildeo eacute uma vida de oacutecio e sim de exerciacutecio filosoacutefico de praacutette kaigrave meleacuteta (praacutetica e reflexatildeo) O homem autaacuterquico e livre natildeo depende de ri-quezas fama ou honrarias para ser feliz pois entendeu que o
Terceira parte
128 129
bem primordial o prazer lhe eacute congecircnito e que basta calcu-lar por si mesmo os limites dos prazeres e das dores para que seus objetivos mais importantes que satildeo ao mesmo tempo os mais simples e naturais sejam alcanccedilados A filosofia epi-curista eacute libertadora
ἐλεύθερος eleuacutetheros (ad)- SV 67
Livre
ἐλπίς elpiacutes (sf)- 84 134
Esperanccedila expectativa
ἔνδεια eacutendeia (sf)- 53 130 XVIII XXI
Falta necessidade
ἔνδοξος eacutendoxos (ad)- VII
Ceacutelebre famoso renomado
ἐνοχλέω enochleacuteo (v)- 125 XI
Desassossegar
ἐξαγωγή exagogeacute (sf)- XX SV 38
Abandono afastamento
ἐπιθυμία epithymiacutea(sf)- 127 X XI XXVI XXIX XXX SV 21 SV 35 SV 71 SV 80
Desejo apetite Os desejos satildeo fenocircmenos do corpo Neste
Ethicaacute
128 129
sentido Epicuro os classifica em trecircs categorias que definem o que importa agrave aquisiccedilatildeo do bem-estar e agrave manutenccedilatildeo de um corpo bem disposto (eusthaacutetes) e o que pode ser nocivo ou causa o seu desequiliacutebrio 1) desejos naturais e neces-saacuterios 2) desejos naturais e desnecessaacuterios 3) desejos nem naturais e nem necessaacuterios
ἐργαστικός ergastikoacutes (ad)- SV 45
Trabalhador laborioso
ἔργον eacutergon (sn)- 78 XXXVIII
Funccedilatildeo praacutetica tarefa obra
ἐτεροφρονεῖν heterophroneicircn (v inf)- SV 17
Estar em demecircncia Verbo de uso exclusivo de Epicuro
εὐδαιμονία eudaimoniacutea (sf)- 116122 127 SV 33
Felicidade
εὐδιάχυτος eudiaacutekhytos (ad)- XXVI
Facilmente dissipaacutevel
εὐελπιστία euelpistiacutea (sf)- SV 39
Boa expectativa esperanccedila
εὐκαταφρόνητος eukataphroacutenetos (ad)- SV 4
Facilmente despreziacutevel desdenhaacutevel
Terceira parte
130 131
εὐκταῖος euktaicircos (ad)- SV 35
Desejaacutevel
εὐλογίστως eulogiacutestos (adv)- 135
De modo bem pensado
εὔλογος eacuteulogos (ad)- SV 38
Razoaacutevel
εὔνοια eacuteunoia (sf)- SV 67
Benevolecircncia favor
εὐπορία euporiacutea (sf)- XIV
Riqueza abundacircncia prosperidade
εὐπόριστος eupoacuteristos (ad)- 130133 XV XXI
Faacutecil de conseguir
εὐστάθεια eustaacutetheia (sf) 68 Us
Boa disposiccedilatildeo O termo grego eustaacutetheia siginifica literalmen-te boa disposiccedilatildeo e foi definido por J Brun por ldquoequiliacutebrio das diversas partes do corpo vivordquo37 Este termo natildeo foi encontrado dentre as proposiccedilotildees das Cartas nem tampouco nas Maacuteximas Encontramo-lo citado por H Usener no fragmento de nuacutemero 68 da sua obra Epicurea Nela o autor revela sua fonte trata-se de Plutarco38 que atribui a Epicuro a seguinte proposiccedilatildeo
37 BrunJ Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978 p 16838 Plutarco Contra Epic Beat 1089d
Ethicaacute
130 131
() O gozo mais alto e mais soacutelido resulta da condiccedilatildeo de equiliacutebrio (boa disposiccedilatildeo) da carne e a esperanccedila fundada de a conservar para quem saiba consideraacute-la proporciona (conteacutem) a mais alta e segura alegria () (Us 68 p 185)
G Arrighetti traduz o termo em questatildeo por benessere que facilmente pode ser traduzido por bem estar Contudo vi-mos na expressatildeo ldquoboa disposiccedilatildeordquo a melhor traduccedilatildeo para o termo eustatheiacutea tendo em vista o fato de que se tomado literalmente encontramos imediatamente a ideia de um es-tado equilibrado no sentido fiacutesico do posicionamento deste corpo em relaccedilatildeo ao meio em que se encontra Queremos com isso chamar a atenccedilatildeo para as constantes relaccedilotildees esta-belecidas entre o corpo que age e sofre e as coisas sobre as quais age e sofre afecccedilotildees A boa proporccedilatildeo a harmonia e a estabilidade fiacutesica do corpo satildeo definiccedilotildees anaacutelogas do termo equiliacutebrio Este termo entretanto eacute pensado pela Fiacutesica par-ticularmente pela Mecacircnica- como o estado de um corpo em repouso em que as forccedilas que o solicitam se contrabalanccedilam exatamente Podemos entatildeo pensar tais forccedilas como expres-sotildees da natureza que podem ou natildeo afetar o corpo e neste sentido eacute igualmente possiacutevel pensar que este equiliacutebrio natildeo eacute absoluto mas oscilatoacuterio uma vez que afetos e desafetos ocorrem casualmente na natureza ainda que a nossa con-duta disponha-se ao exerciacutecio da phroacutenesis e da autaacuterkeia Eacute preciso que se esclareccedila que na natureza o movimento de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos eacute constante e inevitaacutevel mas no que diz respeito agrave conduta do homem esta tambeacutem depende da sua vontade ou deliberaccedilatildeo
εὐσυμπλήρωτος eusympleacuterotos (ad)- 133
Plenamente atingido Palavra de uso exclusivo de Epicuro
Terceira parte
132 133
εὐφροσύνη euphrosyacutene (sf)- 2Us
Deleite
ἡδονή hedoneacute (sf)- 128 129 130 131 136 137 138 III VIII IX X XII XVIII XIX XX XXIX SV 37 2 Us 116 Us 181 Us
Prazer gozo O prazer eacute o que nos realiza e nos faz bem Escolhemos de preferecircncia aquilo que nos agrada ou o que eacute prazeiroso e fugimos (de) ou evitamos aquilo que nos agride ou nos deixa vulneraacuteveis agrave dor
Escolher o prazer como o bem eacute viver intensamente os sentidos mas o que eacute intenso natildeo precisa ser imoderado Epicuro naturaliza o prazer mas natildeo o neutraliza Acredita numa medida natural de realizaccedilatildeo do prazer como estado de equiliacutebrio ou bem-estar O prazer tem um fim em si mesmo isto eacute no ato prazeiroso a finalidade eacute imanente agrave accedilatildeo Natildeo deve ser passiacutevel de censura aquele que admitir e propagar que o que eacute agradaacutevel eacute bom e o que eacute desagradaacutevel eacute ruim A sabedoria estaacute em natildeo ter opiniotildees vatildes sobre o que eacute agradaacutevel pois nesse caso natildeo se sabe o prazer pois deixar-se mover pela opiniatildeo vatilde eacute agir ignorando a natureza do objeto da accedilatildeo O problema reside na ignoracircncia pois o prazer obtido a partir do discernimento eacute o maior dos bens ou o bem por excelecircncia As criacuteticas epicuacutereas aos cirenaicos estatildeo centradas na desmesura com que estes buscavam e idealizavam o prazer Mais uma vez a phroacutenesis(Vide infra φρόνησις) eacute moderadora dos apetites (desejos) e esclarece-dora das medidas de realizaccedilatildeo plena dos prazeres A phroacutene-sis se opotildee a hamartiacutea e a hyacutebris assim como o prazer se opotildee agraves opiniotildees falsas sobre o que eacute agradaacutevel Diz Epicuro
Ethicaacute
132 133
E assim como em seu alimento (o saacutebio) natildeo escolhe o maior quantitativamente mas o mais agradaacutevel assim tambeacutem do tempo (de viver) natildeo escolhe o maior fruto mas o mais prazeroso O prazer eacute o princiacutepio e o fim da vida feliz O prazer eacute o nosso bem primordial e congecircnito e partindo dele movemo-nos para qualquer escolha e qualquer rejeiccedilatildeo e a ele voltamos usando como criteacuterio de discriminaccedilatildeo de todos os bens as sensaccedilotildees de prazer e de dor (DL X 128-29)
O que fez Epicuro quando elegeu o prazer como o Bem por excelecircncia foi atribuir agrave sensaccedilatildeo o primado sobre a com-preensatildeo da realidade e mais ainda definir o prazer como medida plena de realizaccedilatildeo do homem no mundo poreacutem eacute preciso explicitar como se daacute esta compreensatildeo e a que medida o prazer responde positivamente
Em primeiro lugar o pensamento eacute um efeito das relaccedilotildees sensiacuteveis e das analogias que nos fazem perscrutar o que eacute aacutedelon (invisiacutevel) mas pode ser inteligiacutevel Epicuro nos fala de he phantastikegrave epiboleacute tecircs dianoiacuteas que satildeo projeccedilotildees (saltos) imaginativa(o)s do pensamento Elas se datildeo por analogia agraves operaccedilotildees com os dados sensiacuteveis mas nos remetem a pensar nos niacuteveis microfiacutesicos e macrofiacutesicos Haacute uma relaccedilatildeo direta entre sentir pensar e agir que estabelece a continuidade en-tre a physiologiacuteae a eacutetica nos textos aqui examinados Assim as sensaccedilotildees datildeo origem ao pensamento que por sua vez eacute o princiacutepio do agir isso faz pensar que as deliberaccedilotildees mo-vidas pelo pensamento objetivam a realizaccedilatildeo do bem-estar experimentado pelos sentidos Epicuro natildeo distingue bem--estar (eustaacutetheia) de estado de prazer duradouro (hedonegrave ka-tastematikeacute) A manutenccedilatildeo do equiliacutebrio interno e externo do homem estaacute diretamente relacionada agrave deliberaccedilatildeo e agrave
Terceira parte
134 135
consequente accedilatildeo realizada por cada um Tendo em vista o prazer Epicuro busca um modo de vida no qual os desejos e apetites que movem natural e necessariamente os indiviacuteduos tenham uma medida que realize a vida de modo satisfatoacuterio e equilibrado Ele considera desejaacutevel e exequiacutevel este estado sem perturbaccedilatildeo e sem sofrimento Este estado eacute buscado como modo de realizaccedilatildeo do prazer o que faz com que a vida filosoacutefica seja a via preferencial para a realizaccedilatildeo dos desejos naturais e necessaacuterios e para a obtenccedilatildeo de prazeres que natildeo tecircm como consequecircncia a dor Para tal parte do princiacutepio segundo o qual prazer e dor se excluem e mais que isso natildeo haacute estado intermediaacuterio entre eles ou estado neutro no qual natildeo se sente prazer nem dor
O prazer e o movimento que o realiza fez com que Epicuro estabelecesse uma diferenccedila em relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo cirenai-ca de hedoneacute Para eles nem a ausecircncia de dor a aponiacutea nem a imperturbabilidade da alma a ataraxia podem ser considerados estados de prazer O prazer eacute um estado que se opotildee agrave dor e difere da neutralidade Dioacutegenes Laeacutercio comenta ldquoNo que concerne agrave ausecircncia de dor pleiteada por Epicuro eles (os cirenaicos) declaram que isto natildeo eacute prazer assim como a ausecircncia de prazer natildeo pode ser considerada dorrdquo (DL II 89)
Outro ponto de discordacircncia de Epicuro em relaccedilatildeo agrave Aristi-po eacute a admissatildeo da diferenccedila entre os prazeres pela distinccedilatildeo que faz entre opiniotildees vatildes sobre o prazer e o pensamento em que se sabe discernir ponderar e moderar o prazer para que ele natildeo tenha como consequecircncia a dor esta tambeacutem ignorada quando se age a partir das kenaigrave doacutexai
Epicuro centraraacute a sua criacutetica na demonstraccedilatildeo de que o prazer eacute constitutivo isto eacute que se inicia como movimento
Ethicaacute
134 135
mas a sua finalidade eacute tornar-se estaacutevel Hedonegrave kinetikeacute e hedonegrave Katastematikeacute configuram um mesmo movimento de prazer que tende naturalmente a uma espeacutecie de sere-nidade de apaziguamento das voliccedilotildees Quando inicia o movimento de suplantar a dor o corpo produz o seu proacuteprio prazer que depois seraacute rememorado pela alma Eacute o prazer em movimento que depois de saciado o desejo torna-se se-reno alcanccedilando a eustaacutetheia o bem-estar ao mesmo tempo no corpo e na alma contudo a alma guardaraacute as sensaccedilotildees prazeirosas transformando-as em sentimentos (proleacutepseis) ou impressotildees sensiacuteveis A rememoraccedilatildeo dos prazeres vividos produz um estado de alegria de seguranccedila e de bem-estar Dizemos nestes momentos que estamos bem e que tudo eacute muito agradaacutevel Satildeo os prazeres da alma Aleacutem disso esses prazeres jaacute sentidos e agora rememorados invadem a imagi-naccedilatildeo e projetam os prazeres vindouros tornados possiacuteveis pela memoacuteria Eacute uma maneira afirmativa de viver esperar (projetar) gozar no futuro
ἡσυχία hesychiacutea (sf)- XIV
Quietude
θάνατος thaacutenatos (sm)- 124125 133 II X XI SV 31
Morte
ldquoa morte nada eacute para noacutes pois o que se decompotildee eacute insensiacute-vel e o que eacute insensiacutevel nada eacute para noacutesrdquo (Maacuteximas Princi-pais II)
θαρρεῖν tharrecircin(v inf)- VIXXVIII XXXIX XL 207 Us
Confianccedila seguranccedila
Terceira parte
136 137
θεός theoacutes (sm)- 123 124 133 134 135 I SV 65 355 Us
Divindade deus A crenccedila vulgar nos deuses eacute formada por ldquosuposiccedilotildees falsasrdquo (hypoleacutepseis pseudeicircs) (DL X 124) Epi-curo afirma que essas crenccedilas natildeo satildeo baseadas em proleacutepseis (impressotildees) mas apenas em hypoleacutepseis (suposiccedilotildees)Vide suprahypoacutelepsis - ὑπόληψις etproacutelepsis πρόληψις (na segunda parte) A diferenccedila acentuada entre proacutelepsis e hypoacutelepsis nesse contexto demarca que embora Epicuro admita a existecircncia dos deuses a crenccedila vulgar natildeo condiz com a vida corpoacuterea e feliz das divindades
As hypoleacutepseis da religiatildeo grega tecircm o poder de produzir como consequecircncia da opiniatildeo de que eacute possiacutevel interagir com as divindadesa suposiccedilatildeo de que ldquodos deuses deri-vam os maiores males e bensrdquo (DL X 124) O culto dos tempos de Epicuro de acordo com Salem (1994 p 181) se expressava de uma maneira quase mercantil Acreditava-se que oferendas e sacrifiacutecios podiam aplacar a ira e alcanccedilar o favor dos deuses bem como maacutes oferendas ou a negligecircncia delas podiam suscitar penas e castigos Epicuro natildeo preten-de persuadir as pessoas que os deuses natildeo existem antes quer demonstrar que suas crenccedilas satildeo contraditoacuterias com a noccedilatildeo de divindade que expressam ldquoSe um deus obedece agraves preces dos homens muito rapidamente todos os homens teriam perecido continuamente eles pedem muitas coisas prejudi-ciais uns aos outrosrdquo (Us 388) Deuses satildeo seres imortais e sumamente felizes e enquanto tais natildeo se envolvem com a vida humana Epicuro evidencia a contradiccedilatildeo entre a noccedilatildeo de divindade e a expectativa de ser beneficiado ou castigado por um deus
Esperar por favores divinos torna o homem indolente esperar por castigos o torna temeroso O temor perturba e impede a
Ethicaacute
136 137
felicidade dos homens A imagem de deuses castigadores in-troduz nos espiacuteritos o medo do futuro e da morte O homem cultua por sacrifiacutecios e oferendas esperando que deuses guiem sua vida mas esses seres em contrapartida satildeo indiferentes ldquoEacute estuacutepido pedir aos deuses o que se pode procurar por si mesmordquo (SV 65) diz Epicuro Supor que seres indiferentes governam e guiam a vida humana nada mais eacute que se deixar ao acaso resignando-se aos desiacutegnios de pretensas divindades Pior que ser escravo de senhores reais eacute ser escravo de senhores inexistentes Esses homens vivem ao sabor da sorte levados pela inconstacircncia do acaso negligenciando seu poder de es-colha e decisatildeo A estes Epicuro convoca a tomar as reacutedeas da vida nas matildeos incitando-os agrave autarquia e a exercer ativamente sua liberdade ldquoO infortuacutenio do saacutebio eacute melhor que a prospe-ridade do insensato pois acha melhor numa accedilatildeo humana o fracasso daquilo que eacute bem escolhido que o sucesso por obra do acaso daquilo que eacute mal escolhidordquo (DL X 135)
O primeiro componente do ldquoquaacutedruplo remeacutediordquo (tetra-phaacutermakos) diz respeito aos deuses ldquosua opiniatildeo [do saacutebio] em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosardquo (DL X 133) Uma opiniatildeo piedosa segundo Epicuro eacute a de quem rejeita os deuses acei-tos pela maioria Esta opiniatildeo segundo a noccedilatildeo impressa (noacuteesis hypegraacutefe) em noacutes pela natureza considera a divin-dade ldquoum ser vivo e felizrdquo (DL X 123) Sobretudo natildeo se deve atribuir agrave divindade qualquer atributo que contradiga sua imortalidade e felicidade
ldquoOs deuses realmente existem e o conhecimento de sua exis-tecircncia eacute manifestordquo (DL X 123) Essa afirmaccedilatildeo inviabiliza a caracterizaccedilatildeo de Epicuro como ateu Lactacircncio39 em seu
39 Lactacircncio viveu entre 240-320 dC e seu comentaacuterio sobre Epicuro foi catalogado por H Usener em Epicurea (1887)
Terceira parte
138 139
De Ira Dei (A Ira de Deus) certamente desejava acentuar ainda mais as diferenccedilas entre o epicurismo e o cristianismo quando atribuiu a Epicuro o famoso argumento
Ou bem diz Epicuro Deus quer suprimir o mal e natildeo pode ou ele pode e natildeo quer ou ele nem quer e nem pode ou ele quer e pode Se ele quer e natildeo pode entatildeo eacute impotente e isso natildeo convecircm agrave Deus se ele pode e natildeo quer ele eacute invejoso mas isso natildeo pode conferir vantagem a Deus se ele nem quer nem pode ele eacute de uma soacute vez invejoso e impotente sendo assim ele natildeo pode ser Deus se ele quer e pode so-mente o que convecircm agrave Deus entatildeo de onde vem o mal Ou porque Deus natildeo o suprime (Us 374)
No entanto o texto da Carta a Meneceu natildeo sugere que Epicuro se referisse a um deus singular nem tampouco a um deus de que se esperasse a expurgaccedilatildeo do mal do mundo Pelo contraacuterio Epicuro se refere a muacuteltiplas divindades que a despeito dos problemas humanos sossegadamente habitam os intermundos (metakoacutesmion) Desse modo que esperar que a prova da existecircncia de Deus seja derivada da intervenccedilatildeo do mesmo no mundo vai totalmente de encontro com os textos de Epicuro que nos restaram
Os deuses de Epicuro natildeo se preocupam com bens ou males A perfeita felicidade desses seres se compreende exatamente na medida em que natildeo se preocupam com os afazeres dos homens Satildeo livres autossuficientes felizes imortais e por isso satildeo modelo para o saacutebio epicurista ldquoSeraacutes como um deus entre os homensrdquo (DL X 135) diz Epicuro a seu dis-ciacutepulo Meneceu O epicurista natildeo espera dos deuses nada aleacutem de um exemplo perfeito pelo qual moldar sua vida Os deuses expressam ideais de liberdade e autarquia eles tecircm tudo o que desejam e realizam sua vontade como querem Se
Ethicaacute
138 139
aos homens natildeo cabe ter tudo que desejam podem no en-tanto administrar-se com vistas a desejar somente o que po-dem realizar independentemente das circunstacircncias Eacute com este fim que Epicuro adverte ldquoA pobreza medida segundo o fim da natureza eacute uma grande riqueza a riqueza sem limite eacute grande pobrezardquo (SV 25) Eacute este tambeacutem o grande bem da autaacuterkeia pois o saacutebio autaacuterquico natildeo depende de ban-quetes sofisticados nem precisa variar seus prazeres cons-tantemente tampouco considera que o fim da vida eacute a soma irrestrita de prazeres nem cultiva riquezas pois encontrou na autaacuterkeia um grande tesouro Ter deuses como modelo de autossuficiecircncia natildeo significa desejar espraiar nosso domiacutenio para aleacutem das fronteiras de nosso ser antes eacute ter o domiacutenio irrestrito daquilo que nos compete Natildeo eacute desejar ardente-mente a Lua e os astros inalcanccedilaacuteveis mas eacute querer apenas o limite da satisfaccedilatildeo da carne
θητεία theteiacutea (sf)- SV 67
Serviccedilo
θόρυβος thoacuterybos (sm)- 132
Tumulto
ἰατρεία iatreiacutea (sf)- S64
Cura cuidado
ἰατρική iatrikeacute (teacutechne) (sf)- 138 221 Us
Medicina
Eacute o impeacuterio exclusivo (monarchiacutee) de uma soacute forccedila no orga-
Terceira parte
140 141
nismo a causa das doenccedilas e o equiliacutebrio (isonomiacutee) das for-ccedilas a causa da sauacutede (Alcmeacuteon de Croacutetona frag 4 - Diels)
A possiacutevel compreensatildeo epicuacuterea acerca da medicina de sua eacutepoca pode ser ldquointuiacutedardquo em algumas raras passagens dos seus textos mas natildeo se encontram nelas elementos que venham a demonstrar suficientemente um saber meacutedico ine-rente aos discursos epicuacutereos nem tampouco temos notiacutecias de algum disciacutepulo de sua eacutepoca que tivesse sido meacutedico Entretanto pelo que vimos ateacute aqui a anaacutelise de saacuterx envolve um conjunto de reflexotildees em torno do cuidado com o corpo
Sabemos de diversas interseccedilotildees entre medicina e filosofia no pensamento antigo desde Alcmeacuteon de Croacutetona e Em-peacutedocles de Agrigento passando por Soacutecrates ateacute Platatildeo e Aristoacuteteles em cujos textos encontramos as mais numerosas referecircncias as analogias que tomam ora a medicina ora o meacutedico como um dos termos e do outro lado encontramos agraves vezes a poacutelis agraves vezes o poliacutetico agraves vezes o filoacutesofo Neste sentido podemos estabelecer analogias entre a medida do agir e a medida do cuidar ambas tendendo sempre a um equiliacutebrio seja como ldquojusta medidardquo seja como ldquomeio--termordquo
Quando afirmamos a pertinecircncia dessas analogias temos presente que tanto a filosofia quanto a medicina buscam ex-plicitar o cuidado de si tendo em vista que a accedilatildeo de cuidar eacute proacutepria do ser do homem ldquoA medicina eacute a arte de curar as enfermidades por seus contraacuterios A arte de curar e de seguir o caminho pelo qual cura espontaneamente a nature-zardquo (Hip Afor 2 p 1 8) Compreendemos aqui o sentido real de agir conforme a natureza ou seja de agirmos de um modo tal que os nossos atos coincidam com o modo proacuteprio da natureza se realizar Neste sentido podemos entender a
Ethicaacute
140 141
teacutechne como complemento da natureza
Epicuro concebe a filosofia como o exerciacutecio de uma sabedo-ria para a vida e pensa ser este o caminho para a realizaccedilatildeo da natureza do sophoacutes com vigor e potecircncia Ora o saber meacutedico parece tambeacutem buscar auxiliar o corpo a realizar--se plenamente de acordo com o modo de ser da proacutepria natureza A cura auxiliada pelo saber eacute para a medicina um modo de accedilatildeo do meacutedico de acordo com a natureza o que quer dizer que em uacuteltima anaacutelise eacute a natureza que cura pois eacute ela mesma que se restabelece e a partir de si mesma Vemos aqui que a medicina em consonacircncia com a filosofia compotildee um saber acerca da natureza que Epicuro chamou Physiologiacutea Mediante isto percebemos que tanto para a fi-losofia epicuacuterea quanto para a medicina antiga a phyacutesis eacute a questatildeo fundamental que enseja toda e qualquer busca pelo conhecimento sendo por isso ao mesmo tempo princiacutepio e finalidade do conhecimento meacutedico e do conhecimento filosoacutefico E eacute desde a compreensatildeo da phyacutesis que se pode estruturar a accedilatildeo do meacutedico ou filoacutesofo Esta accedilatildeo traduz o sentido de um agir ldquode acordo com a naturezardquo que significa ter a sua archeacute mdash que eacute princiacutepio e comando mdash na natureza ao mesmo tempo que o teacutelos mdash que eacute a finalidade da accedilatildeo do homem no mundo e especificamente finalidade do conhe-cer tambeacutem na natureza
ἱκανός hikanoacutes (ad)- 45 55 59 SV 65 SV 68
Suficiente capaz
ἰσονομία isonomiacutea (sf)- 352 Us
Igualdade perante a lei
Terceira parte
142 143
καθαριότης katharioacutetes (sf)- SV 63
Pureza simplicidade frugalidade
καιρός kairoacutes (sm)- 35 98 115 XXV
Circunstacircncia tempo ocasiatildeo
καταπυκνόω katapyknoacuteo (v)- IX
Tornar-se espesso ganhar espessura
καταστηματικός katastematikoacutes (ad)- 136 2 Us
Repousante estaacutevel Adjetivo aplicado a certos prazeres
καταστροφή katastropheacute (sf)- 126 XX XXXV
Fim (da vida) ruiacutena desaparecimento
κενοσοξία kenodoxiacutea (sf)- XXX
Opiniatildeo vazia
κοινωνία koinoniacutea (sf)- XXXVI XXXVII XXXVIII
Comunidade vida em comum
μακάριος makaacuterios (ad)- 78 79 80 81 84 123 134 I
Feliz bem aventurado
μακαριότης makarioacutetes (sf)- 76 77 97 123 XXVII
Bem aventuranccedila felicidade
Ethicaacute
142 143
μακαρισμός makarismoacutes (sm)- SV 52
Accedilatildeo de louvar ou de invejar a felicidade alheia
μακαριστός makaristoacutes (ad)- SV 17
Considerado feliz
μελέτη meleacutete (sf)- 126
Meditaccedilatildeo
νόμος noacutemos (sm)- XXXVII
Lei
οἰκειότης oikeioacutetes (sf)- XL
Familiaridade amizade
ὁμόφυλος homoacutephylos (ad)- XXXIX
Aliado da mesma tribo Vide supra alloacutephylos-ἀλλόφυλος (na primeira parte)
ὄρεξις oacuterexis (sf)- XXVI 202 422 Us
Apetite
ὄχλησις oacutechlesis (sf)- VIII
Aborrecimento perturbaccedilatildeo
παιδεία paideiacutea (sf)- SV 45 117 163 Us
Cultura educaccedilatildeo
Terceira parte
144 145
παράστασις paraacutestasis (sf)- 81 138 Us
Deliacuterio
παρ᾿ἡμᾶς parrsquo hemacircs (prep παρά + 1ordf pessoa pl ἡμᾶς) - 133 27 Us (135)
Cabe-nos (cabe a noacutes) Parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo grega composta por dois vocaacutebulos unidos por elisatildeo paraacute e he-macircs Segundo Murarcho (2007 p 532) ldquoparaacute significa exa-tamente ao lado derdquo Por sua vez hemacircs eacute o pronome plural da primeira pessoa no acusativo traduzido pelo pronome obliacutequo aacutetono ldquonosrdquo Assim sendo a expressatildeo parrsquo hemacircsse descreve como a junccedilatildeo da preposiccedilatildeo paraacute (ao lado de) e do pronome hemacircs (nos) A expressatildeo tem sentido conotativo significando o que estaacute em poder do homem
Gama Kury (2008 p 314) traduz a expressatildeo parrsquo hemacircs por ldquodepende de noacutesrdquo diferente de Hicks (1925 p659) que traduz por ldquoour own action40rdquo Por sua vez Bollack (1975 p 81) traduz parrsquo hemacircs por ldquoce que tient agrave nous41rdquo Apesar das diferentes traduccedilotildees disponiacuteveis a melhor maneira de entender a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute pelo contexto do passo 133 da Carta a Meneceu
Crecirc entatildeo Meneceu que ningueacutem eacute superior a tal homem Sua opiniatildeo em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosa e ele se mostra sempre destemeroso diante da morte Ele reflete intensa-mente sobre a finalidade da natureza e tem uma concepccedilatildeo clara de que o bem supremo pode ser facilmente atingido e facilmente conquistado e que o mau supremo dura pouco e causa sofrimentos passageiros Finalmente ele proclama
40 ldquonossa proacutepria accedilatildeordquo41 ldquoo que nos concernerdquo
Ethicaacute
144 145
que o destino introduzido por alguns filoacutesofos como se-nhor de tudo eacute uma crenccedila vatilde e afirma que algumas coisas acontecem necessariamente outras por acaso e outras nos cabe fazer porque para ele eacute evidente que a necessidade gera a irresponsabilidade e que o acaso eacute inconstante e as coisas que cabe-nos fazer satildeo livremente escolhidas e satildeo naturalmente acompanhadas de censura e louvor (DL X 133)
Nessa passagem da carta haacute uma descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do homem que assimilou os preceitos baacutesicos do epicurismo Nela estaacute resumido aquilo que os epicuristas chamaram de tetraphaacutermakos (o quaacutedruplo remeacutedio42) O homem modelo como ldquoum deus entre os homensrdquo (DL X 135) natildeo teme a morte eacute feliz e traccedila seus proacuteprios caminhos Desdenha qualquer possibilidade de intervenccedilatildeo divina e defende que noacutes somos livres Investigou a natureza (phyacutesis) conhece seus princiacutepios e encontrou no prazer o fim (teacutelos) de todo homem
Epicuro natildeo diz expressamente a quem se refere ao afir-mar ldquoningueacutem eacute superior a tal homemrdquo ou como traduz Conche ldquoQuem estimas tu superior agravequelerdquo No entanto a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do saacutebio e do que se deve fazer para ter uma vida saacutebia comeccedila no passo 126 que diz ldquoo saacutebio (hoacute degrave sophoacutes) natildeo renuncia agrave vida nem teme a cessaccedilatildeo da vidardquo O saacutebio considera vatilde a crenccedila dos que apresentam o destino como um tirano Esta uacuteltima carac-teriacutestica do sophoacutes eacute determinante para a compreensatildeo de parrsquo hemacircs pois negar a crenccedila no domiacutenio irrestrito do destino (heimarmeacutene) implica em considerar a liberdade da accedilatildeo humana Segue-se pois na ordem do texto a afirma-
42 Cf MP II
Terceira parte
146 147
ccedilatildeo que anuncia o poder do homem expresso sob a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs ldquoalgumas coisas acontecem necessariamente (anaacutenke) outras por acaso (tyacuteche) e outras nos cabe fazerrdquo (parrsquo hemacircs)
A natureza eacute portanto neutra naquilo que cabe aos homens realizar O acaso (vide supra τύχη tyacuteche na pri-meira parte) limita a extensatildeo da necessidade (vide supra ἀνάγκη anaacutenke na primeira parte) e abre as portas para novas cadeias causais serem iniciadas A tradiccedilatildeo epicu-rista relaciona parrsquo hemacircs ao pareacutenklisis ou clinamen (Vide supra παρέγκλισις na primeira parte) Embora Epicuro natildeo tenha mencionado nada a respeito do desvio aleatoacuterio dos aacutetomos (pelo menos natildeo em seus textos remanescen-tes) percebe-se que a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute possibilitada pelo acaso sob a forma dos desvios bem como sua vigecircncia envolve a vontade deliberaccedilatildeo autarquia e escolha dos viventes Enfim parrsquo hemacircs se relaciona com a noccedilatildeo de li-berdade em sentido amplo Jaacute Filodemo aproxima a noccedilatildeo de pareacutenklisis da noccedilatildeo de parrsquo hemaacutes
Natildeo eacute suficiente admitir iacutenfimas declinaccedilotildees dos aacutetomos por causa do acaso e da liberdade (tograve tycherograven kaigrave tograve parrsquo hemacircs) mas eacute necessaacuterio provar que esta declinaccedilatildeo natildeo combate nenhum fato evidente (enargoacuten) (De Signis XXXVI 7-17 apud SALEM 1997 p 68)
Apesar do problema epistemoloacutegico levantado por Filodemo em relaccedilatildeo a natildeo-contradiccedilatildeo do clinamen ou pareacutenklisis fica claro que parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo utilizada para falar de liberdade de maneira geral ou seja de todas as possibilida-des abertas pelo desvio aleatoacuterio dos aacutetomos A expressatildeo parrsquo hemacircs abrange um conjunto de coisas que se relacionam com o agir livre do homem
Ethicaacute
146 147
περίβλεπτος periacutebletos (ad)- VII
Renomado famoso
περίβλεψις periacuteblepsis (sf)- SV 81
Observaccedilatildeo vigilacircncia
περίπτωσις periacuteptosis (sf)- 36 Us
Acaso desgraccedila
πίστωμα piacutestoma (sn)- XL
Garantia
πλήρωμα pleacuteroma (sn)- SV 59
Repleccedilatildeo satisfaccedilatildeo plenitude
ποιητικός poietikoacutes (ad)- VIIIX
Produtivo
ποικίλλειν poikiacutellein(v inf)- XVIIIXXIX
Variar diversificar Este termo se refere agrave possibilidade de variaccedilatildeo dos prazeres O prazer natildeo aumenta infinitamente apenas variaVide supra haacutepax-ἄπαξ (nessa mesma parte)
ποίκιλμα poiacutekilma(sn)- SV 69
Variedade
πολιτικός politikoacutes (ad)- SV 58
Puacuteblico
Terceira parte
148 149
πολυτελεία politeleiacutea (sf)- 130 181 Us
Despesa extravagacircncia
πόνος poacutenos (sm)- 133 137 (66 Us) SV 4
Sofrimento afliccedilatildeo
πρᾶγμα praacutegma (sn)- 36 39 49 53 75 76 IXX XXI XXXVII XXXVIII SV 45 SV 67
Coisa acontecimento fato circunstacircncia realidade
πραγματεία pragmateiacutea (sf)- 35 7783
Sistema doutrina
πρᾶξις praacutexis (sf)-81135 XXV
Accedilatildeo ato
προκαταστροφή prokatastropheacute (sf)- XL
Morte prematura
σεβασμός sebasmoacutes (sm)-SV 32
Adoraccedilatildeo veneraccedilatildeo
σοβαρός sobaroacutes (ad)- SV 45
Destemido
σοφία sophia(sf)-117XXVII SV 78
Sabedoriacutea
Ethicaacute
148 149
σοφός sophoacutes (ad)-117 125 XVI SV 32 S44 SV56
Saacutebio
σπουδή spudeacute (sf)- 84XXX SV 61
Esforccedilo ardor
στέρησις steacuteresis (sf)- 124
Privaccedilatildeo
συζήτησις syzeacutetesis (sf)- SV74
Discussatildeo disputa pesquisa em conjunto Termo utilizado pela primeira vez por Epicuro
σύμβολον syacutembolon (sn)- XXXI
Garantia contrapartida
συμμέτρησις symmeacutetresis (sf)-130
Comparaccedilatildeo
σύνφυτος syacutemphytos (ad)- 129
Inato
συναναστροφή synanastropheacute (sf)- SV 18
Convivecircncia
συνήθεια syneacutetheia (sf)- SV 46
Haacutebito
Terceira parte
150 151
συνθήκη syntheacuteke (sf)- XXXIIXXXIII
Acordo pacto contrato
σωτηρία soteriacutea (sf) SV 80
Salvaccedilatildeo
ταραχή taracheacute (sf)- 81 XVII XXII SV 81
Perturbaccedilatildeo
ταραχώδης tarachoacutedes (ad)- 116 Us
Perturbado
τιμή timeacute (sf) (- 134 SV 81
Honra
τύχη tyacuteche (sf)- 120 (584 Us) 131 133 134 XVI SV 17
Acaso sorte fortuna As noccedilotildees de acaso (tyacuteche) e necessida-de (anaacutenke) satildeo compatibilizadas por Epicuro em sua visatildeo geral da phyacutesis Nela alguns axiomas satildeo apresentados como necessaacuterios por exemplo todos os aacutetomos estatildeo em cons-tante movimento Esta afirmaccedilatildeo eacute axiomaacutetica por revelar o que necessariamente eacute intuiacutedo na anaacutelise dos modos de ser de phyacutesis Em consequecircncia disso o constante movimento dos aacutetomos supotildee a declinaccedilatildeo casuiacutestica de alguns aacutetomos pois soacute assim eacute possiacutevel explicar a diversidade dos corpos e as muacuteltiplas configuraccedilotildees pelas quais eles passam no decorrer de suas existecircncias individuais enquanto corpos Visto de outro modo a totalidade dos aacutetomos e do vazio existentes
Ethicaacute
150 151
permanece a mesma ainda que os aacutetomos e o vazio sejam ilimitados Entretanto quando analisados os mundos e os demais corpos particularizados no interior do todo se mos-tram vulneraacuteveis agraves mudanccedilas e acabam por expressar en-quanto existecircncias dissemelhantes a atuaccedilatildeo do acaso como elemento diferenciador
Portanto os diversos niacuteveis de alteraccedilatildeo dos corpos que ocorrem necessariamente satildeo consequecircncias dos desloca-mentos dos aacutetomos portadores do princiacutepio de movimento expresso nas trajetoacuterias oriundas dos deslocamentos e nas casuiacutesticas declinaccedilotildees que sofrem quando desviam O acaso pode ser concebido tendo em vista a pluralidade dos corpos e a indeterminaccedilatildeo absoluta do todo Poreacutem uma anaacutelise mais detalhada das implicaccedilotildees entre os termos aca-so e necessidade nos textos de Epicuro sobretudo do modo em que coexistem em seu sistema requer a explicitaccedilatildeo do sentido fiacutesico da concepccedilatildeo de necessidade
Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem fi-nalidade (teacutelos)rdquo E somente o termo anaacutenke pode significar necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo proacutenoia para designar necessidade de qualquer ma-neira a necessidade nunca foi enunciada por Epicuro num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
No mesmo contexto o termo tyacuteche traz em si a negaccedilatildeo de toda a finalidade que poderia existir no movimento necessaacute-rio de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos e mundos
Terceira parte
152 153
ou seja natildeo eacute cabiacutevel falar de teleologia no pensamento de Epicuro porque ele evidencia a presenccedila do acaso na realizaccedilatildeo do movimento como ausecircncia de finalidade na explicaccedilatildeo dos corpos e mundos Dessa maneira tudo o que acontece a geraccedilatildeo o desenvolvimento e a corrupccedilatildeo dos corpos acontece por necessidade poreacutem a diversificaccedilatildeo dos acontecimentos eacute resultado da interferecircncia do acaso ou dos desvios nas trajetoacuterias dos aacutetomos Contudo ldquoEacute neces-saacuterio que algo de imutaacutevel subsista para que as coisas natildeo recaiam totalmente no nadardquo (DRN II 751 752) Como eacute necessaacuterio pela proacutepria natureza do acaso que os corpos e mundo sejam diferentes e sujeitos agrave geraccedilatildeo e agrave corrupccedilatildeo bem como as modificaccedilotildees ocorridas durante o periacuteodo de desenvolvimento isto eacute durante o movimento ininterrupto de suas existecircncias A compreensatildeo de phyacutesis nos seus diver-sos modos de realizaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel para um sistema de pensamento que trabalha positivamente as noccedilotildees de tyacuteche e anaacutenke
ὑγιαίνειν hyguiaiacutenein (v inf)- SV 54
Ter sauacutede
ὑγίεια hyguiacuteeia (sf)- 128 131 138 (504 Us)
Sauacutede
φιλία philiacutea (sf)- 120 XXVIIXXVIII SV 23 S28S34 S39 S52 S78
Amizade A philiacutea eacute uma forma voluntaacuteria e prazeirosa de se relacionar com os outros Cada indiviacuteduo busca agrupar--se num conjunto ou seja agregar-se segundo a natureza
Ethicaacute
152 153
Mas o saacutebio busca o conviacutevio com afins por natureza mas tambeacutem por conveniecircncia (opheacuteleia) O que conveacutem a todos eacute natildeo sofrer danos mas para o saacutebio eacute preciso tambeacutem livrar--se da ignoracircncia e das crenccedilas vazias que levam os homens a cometerem injusticcedilas uns aos outros Desse modo a amiza-de filosoacutefica eacute diferente das relaccedilotildees que comportam atitudes que levam ao desconforto e produzem o desequiliacutebrio O que eacute conveniente (syacutempheron) eacute semelhante na atitude e na reflexatildeo Haacute uma medida um caacutelculo um sentido de harmonia para realizar a amizade A amizade eacute na praacutetica a sabedoria de viver em conjunto A amizade resulta do equi-liacutebrio de interesses daqueles implicados na relaccedilatildeo Ela nasce de maneira espontacircnea mas se consolida pela reflexatildeo acerca da naturalidade da vida em conjunto e do comedimento que equilibra os modos de agir esta eacute uma possiacutevel interpretaccedilatildeo do que Demoacutecrito pensou sobre a amizade ldquoAcordo no pen-sar engendra a amizaderdquo (DK B II 33 9)
A philia supotildee uma afinidade de pensamento e tambeacutem de accedilatildeo uma vez que as relaccedilotildees se efetivam na busca em conjunto da physiologiacutea da compreensatildeo da realidade Neste sentido a praacutetica de vida eacute saacutebia e o saber se faz em torno da vida Epicuro manteacutem a naturalidade da amizade e faz dela a base do movimento de agregaccedilatildeo social Sendo possiacutevel a amizade tambeacutem seraacute o direito e a poliacutetica O direito eacute fruto da relaccedilatildeo entre phyacutesis e noacutemos e a poliacutetica se realizaraacute no acordo entre semelhantes Na praacutetica Epicuro pensou em comunidades de pensamento e accedilatildeo De alguma manei-ra ele buscou tornar possiacutevel uma comunidade de amigos estabelecendo uma descontinuidade com o espaccedilo puacuteblico das cidades A philiacutea que eacute a base das relaccedilotildees existentes na comunidade natildeo eacute a priori fruto de um contrato uma vez
Terceira parte
154 155
que eacute imanente agrave natureza O contrato eacute uma consequecircn-cia eacute um acordo entre modos de pensar Mas o que move o pensamento na realizaccedilatildeo do acordo eacute o sentimento de equi-liacutebrio seguranccedila e a tranquilidade que a amizade produz Portanto a amizade brota de desejos naturais e necessaacuterios e se expressa no loacutegos sob a forma de acordos que satildeo estabe-lecidos segundo a conveniecircncia muacutetua (opheacuteleia) Pensar-se a si proacuteprio e ter o princiacutepio de suas accedilotildees em si mesmo qua-lifica o homem para a aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo da amizade De outra maneira no vazio das reflexotildees satildeo projetadas as falsas opiniotildees ou opiniotildees vazias que alimentam crenccedilas e desejos imoderados agraves vezes naturais agraves vezes natildeo mas quase sempre desnecessaacuterios Esses desejos crenccedilas e falsas opiniotildees cumulam em injustas agressotildees disputas pelo po-der desconfianccedila insensatez e anguacutestia ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacuteprocas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto no sentido de natildeo prejudicar nem de ser prejudicadordquo (DL X 150) E tambeacutem ldquoPara todos os seres vivos incapazes de estabelecer pactos com o intuito de natildeo prejudicar os outros e de natildeo ser prejudicados nada era justo ou injusto Acontece o mesmo em relaccedilatildeo aos povos que natildeo podiam ou natildeo queriam estabelecer pactos destinados a natildeo prejudicar e natildeo ser prejudicadosrdquo (DL X 150)
Eacute preciso entretanto atentar para o que assevera Epicuro que natildeo foi nem pretendeu ser um pensador poliacutetico Ele orientou o modo de vida filosoacutefico pela philiacutea A conveni-ecircncia muacutetua aleacutem de propiciar o pacto de natildeo sofrer nem cometer danos uns aos outros daacute sentido agrave uniatildeo entre os homens que se caracteriza pela afinidade e natildeo pela simples contenccedilatildeo das diferenccedilas ldquoToda a amizade deve ser buscada
Ethicaacute
154 155
por ela mesma mesmo que ela tenha sua origem na necessi-dade de uma ajudardquo (SV 23)
Epicuro mais uma vez marcando uma diferenccedila em relaccedilatildeo aos cirenaicos natildeo reduz a amizade ao seu caraacuteter utilitaacuterio mas afirma a conveniecircncia inerente agrave busca e manutenccedilatildeo da amizade Para ele que concorda com Aristoacuteteles o saacutebio pode proporcionar ao outro homem uma amizade digna dos me-lhores homens ou daqueles dotados de logismoacutes e de phroacutenesis pois a amizade que nasce da conveniecircncia tambeacutem se ali-menta dela ou seja ela produz acordo entre ideias e atitudes Tambeacutem para Epicuro o propoacutesito da amizade eacute o de ser na praacutetica a comunhatildeo de uma mesma filosofia Neste sentido eacute iacutentima a relaccedilatildeo entre a amizade e o bem que eacute o prazer pois dentre outras coisas a amizade mostra-se isenta de pai-xotildees tais como o oacutedio o rancor e a veneraccedilatildeo Aleacutem disso a amizade natildeo cumula em reaccedilatildeo pois eacute a expressatildeo de uniatildeo e equiliacutebrio entre aqueles que se afinam mutuamente pela natureza de caraacuteter e sabedoria ldquoAquele que eacute bem-nascido se dedica principalmente agrave sabedoria e agrave amizade dois bens dos quais um eacute mortal e o outro imortalrdquo (SV 78)
φιλόλογος philoacutelogos (ad)- S74
Aquele que busca argumentos ou raciociacutenios
φιλοσοφία philosophiacutea (sf) 22(138 Us) 132 SV 27 S41 117 Us219 Us 221 Us
Filosofia Na maacutexima 41 Epicuro utiliza este termo associa-do agrave oacuterthes (reta) com a intenccedilatildeo clara de mostrar que esta ldquoreta filosofiardquo deve ser praticada em todo momento para que a vida se torne justa bela e saacutebia A filosofia eacute definida
Terceira parte
156 157
como um saber em torno da vida no sentido de ser um exer-ciacutecio de bem viver
φιλόσοφος philoacutesophos (sm)- 221 Us
Filoacutesofo
φρόνησις phroacutenesis (sf)- 132
Sensatez sabedoria praacutetica Epicuro utiliza o termo phroacutenesis num sentido muito similar agravequele desenvolvido por Aristoacuteteles ou seja como sabedoria praacutetica Ele atribui agrave phroacutenesis a prima-zia na realizaccedilatildeo da vida filosoacutefica ou saacutebia A teacutechne eacute o modo de accedilatildeo e a filosofia eacute o exerciacutecio desse saber em torno da vida (techne tis perigrave tograven biacuteon) Assim a phroacutenesis eacute o exerciacutecio praacutetico da sabedoria (epigrave degrave philosophiacuteas) e num sentido abrangente da atividade filosoacutefica coincide com a proacutepria filosofia
Haacute uma passagem na Carta a Meneceu (DL X 132) onde Epicuro utiliza o termo phroacutenimos para significar aquele que deteacutem uma sabedoria no agir Eacute um momento em que fica clara a influecircncia socraacutetico-platocircnica pois aproxima e faz co--pertencer a um mesmo acorde phroacutenimos kaloacutes ediacutekaios (o saacutebio o bom e o justo)(vide supra δίκαιος nesta mesma parte) Tais noccedilotildees fundam uma seacuterie de relaccedilotildees no pensamento antigo e se mantecircm coesas no texto de Epicuro Eacute ao mesmo tempo uma dyacutenamis e uma possibilidade do pensamento quando este exerce o seu poder de escolha e de recusa Epi-curo considera que se pode escolher o que eacute ponderadamente refletido e recusar o que natildeo eacute necessaacuterio nem conveniente (syacutempheron) A condiccedilatildeo da autaacuterkeia eacute agir aliando o logismoacutes e a phroacutenesis pois a phroacutenesis age na triagem dos desejos que se quer e que se pode realizar na medida em que confere uma
Ethicaacute
156 157
medida natural para o bem-estar e para o prazer A phroacutenesis eacute moduladora das accedilotildees e dos desejos naturais e necessaacuterios que nos conduzem aos prazeres
Outra consequecircncia da primazia da phroacutenesis no exerciacutecio da sabedoria eacute que o esforccedilo para pensar a phyacutesis e o equiliacutebrio sereno diante do que pode causar temores provoca a agradaacute-vel ataraxiacutea um bem-estar (eustaacutetheiavide supra εὐστάθεια nesta mesma parte) Epicuro traccedila a imagem da vida filosoacutefica como vida autaacuterquica e daacute ao pensamento uma dyacutenamis a realizaccedilatildeo da conduta de acordo com a natureza ou do que se adquire com a physiologiacutea O que perturba enfraquece escraviza eacute a ignoracircncia que gera temores e opiniotildees vazias Viver segundo a natureza aqui quer dizer viver segundo a compreensatildeo que se pode ter da phyacutesis A physiologiacutea eacute um exerciacutecio para escapar agrave ignoracircncia e natildeo a substantivaccedilatildeo da natureza como uma noccedilatildeo estaacutetica cientificista ldquoEacute pela ignoracircncia dos bens e dos males que a vida dos homens eacute em grande escala perturbada e por causa desta erracircncia eles frequentemente se privam dos prazeres e se torturam com as mais crueacuteis dores da almardquo43 ldquoUm entendimento correto dessa teoria permitir-nos-aacute dirigir toda a escolha e toda a rejeiccedilatildeo com vistas agrave sauacutede do corpo e agrave tranquumlilidade da alma pois isso eacute o que se pode supremamente realizar na vidardquo (DL X 128) ldquoQuando entatildeo dizemos que o prazer eacute o fim () por prazer ltentendemosgt a ausecircncia de sofrimentos no corpo e a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na almardquo (DL X 131)
φρονίμως phroniacutemos (adv)- 132 V
Sabiamente sensatamente
43 Ciacutecero De Finibus I 13 42
158 159
Terceira parte
158 159
φυγή phygeacute (sf) - 128 129 132 XXV
Rejeiccedilatildeo recusa fuga
χαρά charaacute (sf)- 66 SV 81 2 Us
Gozo alegria
χάρις charis (sf)- 77 122 I SV 17 SV39 SV55
Benevolecircncia graccedila
χρεία chreiacutea (sf)- 120 87 128 XXXVII SV 34
Necessidade precisatildeo uacutetil
χρῆσις chreacutesis (sf)- 131
Ocupaccedilatildeo
χυλός chyloacutes (sm) 130
Frugal
ὠφέλεια opheacuteleia (sf)- 124 SV 23
Conveniecircncia muacutetua benefiacutecio utilidade No pensamento de Epicuro este termo estaacute relacionado agrave philiacutea (amizade) (vide supra φιλία nesta mesma parte) e pode ser traduzido em determinadas passagens por ldquoconveniecircncia muacutetuardquo Por outro lado pode ser traduzido por ldquoutilidaderdquo no sentido de algo que devas ser buscado ou praticado com a finalidade de viver
Referecircncias Bibliograacuteficas
158 159158 159
referecircnciAS BiBliograacuteficAS
Textos de Epicuro
Arrighetti G Epicuro Opere Torino Giulio Einaude 1960
Bignone E Opere frammenti testimonianze sulla sua vita Roma LrsquoEr-ma di Bretscheider 1964
Bollack J amp Wismann H La lettre d`Eacutepicure Paris Les Editions de Minuit 1971
mdashmdashmdash amp Laks A Eacutepicure agrave Pythoclegraves Cahiers de Philologie Paris Les Editions de Minuit 1975
mdashmdashmdash La penseeacute du plaisir Eacutepicure textes moraux commentaires Paris Les Editions de Minuit 1975
Conche M Epicure lettres et maximes Paris eacuted De Megare1977
Epicuro Antologia de textos In Epicuro et al Satildeo Paulo Abril Cul-tural1980
mdashmdashmdash The works of Epicurus The extant remains of the greek text trans-lated by Cyril Bailey with an introduction by Irwin Edman Nova Iorque The Limited Edition 1947
mdashmdashmdash Obras Completas 2ordf ed Trad Joseacute Vara Madri Ediccedilotildees Caacutet-edra 1996
Laursen S The summary of Epicurus On Nature Book 25 Papyrologia Lupiensia Lecce 1 1991 142-154
Parente M I Opere di Epicuro Torino Unione Tipografico-Editrice Torinese 1974
Salem J laquo Commentaire de la lettre drsquoEpicure agrave Heacuterodote raquoCahiers de Philosophie ancienne nordm9 Bruxelles Editions Ousia 1993
Solovine M Epicure doctrine et maxims Paris 1965
Wotke K amp Usener H Epikureische Spruchsammlung Wierner Stu-dien fuumlr Klassiche philologie 10 1888 p 175-201
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Outros autores antigos
Aristoacuteteles De anima Trad Maria Ceciacutelia Gomes dos Reis Satildeo Paulo Editora 34 2006
mdashmdashmdash De la geacuteneacuteration des animauxTrad P Louis Paris Les Belles Lesttres 1901
mdashmdashmdash Eacutethique agrave Nicomaque Trad J Voilquin Paris Garnier 1961
mdashmdashmdash Nicomachean Ethics Londres Ed Willian Meinemann Har-vard University Press 1939
mdashmdashmdash Histoire des Animaux Trad P Louis Paris Les Belles Lettres 1964
mdashmdashmdash Petits traiteacutes drsquohistoire naturelle Trad R Mugnier Paris Les Belles Lettres 1953
Lucreacutecio Da Natureza In Epicuro et al Trad Agostinho da Silva Satildeo Paulo Abril Cultural1980
Cicero De finibus bonorum et malorum Trad H Rackham MA Lon-dresNova Iorque William HeinemannThe Macmillan CO 1914
Ciceacuteron De La Natura des Dieux Trad Nouv notes par C Appuhn Paris Garniersd
mdashmdashmdash Lrsquoamitieacute Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 1952
mdashmdashmdash Les Devoirs Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 196570
Diocircgenes Laecircrtios Vidas e doutrinas dos filoacutesofos ilustresTrad Gama Kury Brasiacutelia UNB 1988
Diogenes Laertius Lives of eminent philosophers Vol 2 Trad R Hicks Cambridge Havard University Press1925
Filodemo Agli amici di scuola Naacutepoles Bibliopolis 1988
mdashmdashmdash Memorie Epicuree Naacutepolis Bibliopolis 1997
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Hippocrates Works (I VII) London Harvard University Press 1988
Lucreacutece De la Nature Paris Garnier 1954
Grene D amp Lattimore R The Complete Greek Tragedies of Aeschylus The University of Chicago Press 1959
Philodemus On the frank criticism Trad David Konstan et al Atlanta Society of Biblical Literature 1998
mdashmdashmdash On the methods of inference Naacutepoles Bibliopolis 1978
Platatildeo As Leis ou da legislaccedilatildeo e Epinomis Trad de Edson Bini 2ordf ediccedilatildeo Bauru SP Edipro 2010
Plutarque Du stoicisme et lrsquoepicurisme Trad Ricard Didier Apresenta-ccedilatildeo e notas Jean Salem Paris Eacuteditions Sand 1996
mdashmdashmdash Contre Colotes In Ouvres morales et ouvres diverses IV Paris Manchete 1970
Sextus Empiricus Contre les professeurs Editions du Seuil 2002
Seneca AD Lucilium Epistulae Morales Trad Richard M Gummere LondresNova Iorque William Heinemann G P Putnamrsquos sons 1925
Smith MF Fragments of Diogenes of Oenoanda Discovered and Redis-covered American Journal of Archaeology Vol 74 nordm1 (Jan 1970) p 51-72
Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Ellias Pinheiro Coimbra CECH 2009
Estudos modernos
Baudry J Le problem de lrsquoorigine et de lrsquoeterniteacute du monde dans la philo-sophie grecque de Platon agrave lrsquoegravere chreacutetienne Paris Les Belle Lettres 1931
Bayley C Epicurus the extant remains Oxford 1926
mdashmdashmdash The Greek atomists and Epicurus Oxford 1928
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Bignone H LrsquoAristotele perdugraveto e la formazione filosofica di Epicuro Flo-renccedila 1936
Bergson H L Extraits de Lucreacutece avec notes et une eacutetude sur la poeacutesie la philosophie la physique le texte et la langue de Lucregravece 10 ed Paris De La Grave sd
Bnobzie S Did Epicurus discover the free will problem In Sedley D (Org) Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Oxford University Press 19 287-337 2000
Boyanceacute P Lucregravece et lrsquoeacutepicurisme Collection ldquoLes grands penseursrdquo (dirigeacutee par P-M Schuhl) Paris PUF 1963
Brown E Politcs and society In WARREN J (Org) The Cambridge companion to epicureanism Cambridge Cambrigde University Press 2009
Brun J O Epicurismo Lisboa 70 1989
mdashmdashmdash Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Conche M La mort et la penseacutee Editons de Meacutegare 1973
Dewitt N St Paul and Epicurus Mineaacutepolis University of Minnesota Press 1954
mdashmdashmdash Epicurus and his philosophy Mineaacutepolis University of Minne-sota Press 1954
Diogini I Lucrezio le parole e le cose Bolonha Ed Paacutetron 1988
Duvernoy J-F O Epicurismo e sua tradiccedilatildeo antiga Satildeo Paulo Zahar 1990
Etienne A Dominic O La philosophie eacutepicurienne sur Pierre Fribur-goParisEacutedition Universitaires Fribourg Suisse Eacutedition du Cerf Paris 1996
Farrington B A doutrina de Epicuro Trad de Edmond JorgeRio de Janeiro Zahar Editores 1967
mdashmdashmdash The faith of Epicurus Londres Weidenfeld and Nicholson 1967
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Festugieacutere A-J Eacutepicure et ses dieux Paris Presses Universitaires de France 1946
Finley M I Os Gregos antigos Trad Artur Mouratildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2002
Furley D J Two studies in greek atomists Princeton University Press 1967
Gigandet A Morel P-M (Orgs) Ler Epicuro e os epicuristas Satildeo Paulo Loyola 2011
Gigante M Studisull`epicureismo greco-romano Naacutepoles 1983
mdashmdashmdash La bibliothegraveque de Philodegraveme et lrsquoepicurisme romain Paris Soci-eacuteteacute DrsquoEacutedition Les Belle Lettres 1987
Goldschmidt V La Doctrine drsquoEpicure et le droit Paris Vrin 1977
Gual C G Epicuro Madrid Alianza Editorial 1981
Guyau J -M La morale drsquoEacutepicure et ses rapports avec les doctrines con-temporaines Paris Librairie Feacutelix Alcan 1927
Jaeger W Paideacuteia a Formaccedilatildeo do Homem Grego Trad Artur M Par-reira Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
Long A A Sedley D N The Hellenistic philosophers v1 Cambridge Cambridge University Press 1987
Konstan D Some aspects of Epicurean psychology Leiden Brill 1973
Laks A Edition critique et commenteacutee de la ldquoVierdquo drsquoEpicure das Diogegravene Laerce Cahiers de Philologie 1 Eacutetudes sur lrsquoepicurisme AntiquePublications de lrsquoUniversiteacute de Lille III 1976
Marx K Diferenccedila entre as filosofias da Natureza em Demoacutecrito e Epicuro Satildeo Paulo Globalsd
Masi F G Epicuro e la filosofia della mente il XXV libro dellrsquoopera Sulla Natura Sankt Augustin Academia Verlag 2006
Mewaldt J O Pensamento de Epicuro Satildeo Paulo Iacuteris 1960
Mondolfo R O homem na cultura antiga a compreensatildeo do sujeito humano na cultura antiga Trad Luiz Caruso Satildeo Paulo Edi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
tora Mestre Jou 1968
mdashmdashmdash O infinito no pensamento da antiguidade claacutessica Trad Luiz Da-roacutes Satildeo Paulo Editora Mestre Jou 1968
Morel P-M Deacutemocrite et la recherche des causes Langres Klincksieck 1996
mdashmdashmdash Eacutepicure Paris Librarie philosophique J Vrin 2013
mdashmdashmdash Atome et neacutecessiteacute Deacutemocrite Eacutepicure Lucregravece Paris Presses Universitaires de France 2000
Nizan P Les Mateacuterialistes de lrsquoAntiquiteacute Deacutemocriteacute Eacutepicure Lucregravece Paris Eacuted Sociales Internationales 1938
Nussbaum M The therapy of desire theory and practice in hellenistic ethics Princeton Princeton University Press 1994
Orsquokeefe T Epicurus on Freedom Nova Iorque Cambridge University Press 2005
mdashmdashmdash Epicurianism Durham Acumen 2010
Paratore E Lrsquoepicureismo e la sua diffusione nel mondo latino Roma Ed dellrsquoAteneo 1960
Pessanha J A M As deliacutecias do jardim In Eacutetica Satildeo Paulo Cia Le-tras 1992 pag 57-85
Pesce D Introduzione a Epicuro Bari Editori Laterza 1981
mdashmdashmdash Saggio su Epicuro Bari Editori Laterza 1974
Pigeuad J La Maladie de Lrsquoame Paris Les Belles Lettres 1989
Quevedo F Defesa de Epicuro contra la comuacuten opinioacuten Madrid Tec-nos1986
Ridder A Lrsquoideacutee de la mort en Gregravece a lrsquoepoque classique Paris Librarie Thorin et Fils 1897
Risst John Epicurus an introduction Cambridge University Press 1972
Robin Leon La penseacutee grecque Paris Eacuteditions Albin Michel 1948
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
(Livre IV chapitre II Lrsquoeacutepicurism p 387-408)
Romilly J La Gregravece antique a La deacutecouverte de la liberteacute Paris LGF Livre de Poche 1989
Salem J Lucregravece et lrsquoeacutethique la mort nrsquoest rien pour nous Paris J Vrin 1997
mdashmdashmdash Deacutemocrite EacutepicureLucreacutece la veacuteriteacute du minuscule Paris Encre Marine 1998
mdashmdashmdash Tel un dieu parmi les hommes Lrsquoethique drsquoEacutepicure Paris Librai-rie Philosophique J Vrin 1994
Santayana G Three philosophical poets Cambridge Harvard University Press 1947
Silva M F Epicuro Sabedoria e Jardim Rio de Janeiro Relume Du-maraacute 1998
mdashmdashmdash Pensamento e imagem na Carta a Heroacutedoto de Epicuro In Pimenta MTeorias da Imagem na Antiguidade Satildeo Paulo Paulus 2012
mdashmdashmdash Prazer e vida feliz em Epicuro In Costa A A Hadad A B Azar Filho C M (Org) Filosofia e Prazer diaacutelogos com a tradiccedilatildeo hedonista 1ed Seropedica Edur 2012 v 01 p 87-92
mdashmdashmdash Sensaccedilotildees impressotildees projeccedilotildees as afecccedilotildees do pensamento In Conte J Bauchwitz O F (Org) O que eacute Metafiacutesica atas do III Coloacutequio internacional de metafiacutesica 1ordf ed Natal Edufrn 2011 v 01 p 261-266
mdashmdashmdash Lathe Biacuteosas autaacutekeia libertagrave e amicizia in Epicuro In Cor-nelli G Casertano G (Org) Pensare la cittagrave antica categorie e representazioni 1ordf ed Naacutepoles Loffredo Editore 2010 v 1 p 163-174
mdashmdashmdash O atomismo antigo e o legado de Parmecircnides In Santoro F Cairus H F Ribeiro T O (Org) Parmecircnides 1 acerca do poema de Parmecircnides 1edRio de Janeiro Azougue 2009 v
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
1 p 165-174
mdashmdashmdash Sabedoria e sauacutede do corpo em Epicuro In Peixoto M C D (Org) A sauacutede dos antigos reflexotildees gregas e romanas 1ordf ed Satildeo Paulo Loyola 2009 v 1 p 153-162
mdashmdashmdash Do equiliacutebrio do corpo ou de como o corpo eacute pensado enquanto questatildeo filosoacutefica In Peixoto M C D (Org) Sauacutede do ho-mem e da cidade na antiguidade grecoromana 1ordf ed Belo Ho-rizonte UFMG 2007 v 01 p 189-198
mdashmdashmdash Demoacutecrito Esquecido In Bezerra C C (Org) Anais do I En-contro Nacional de Estudos Neoplatocircnicos- Ontologia e Liber-dade 1ordf ed Aracaju UFS 2006 v 1 p 74-80
mdashmdashmdash Epicuro e a physiologiacutea In Bonaccini J A Medeiros M P N Silva M F Bauchwits O F (Org) Metafisica Histoacuteria e Problemas 1ordf ed Natal EDUFRN 2006 v 01 p 219-230
mdashmdashmdash Acerca de uma Eacutetica do Agradaacutevel In Silva MF(Org) Cafeacute Filosoacutefico 1ordf ed Natal EDUFRN 2005 v 3 p 47-64
mdashmdashmdash Amizade Prazer e Filosofia In Bauchwitz O F (Org) Cafeacute Filosoacutefico Natal Argos 2001 v 1 p 131-136
Silvestre M L Democrito e Epicuro il senso di una polemica Napoli Lofredo Editore 1985
Stirner Max LrsquoUnique et sa proprieteacute Paris 1900
Strozier RM Epicurus and Hellenistic philosophy Lanham Md Ed University Press of America 1985
Ullmann R Epicuro O filoacutesofo da alegria Porto Alegre Epipucrs 1966
Usener H Glossarium Epicureum Cura de M Gigante e W Schmid Roma Edizioni DellrsquoAteneo e Bizarr 1977
Voelke A-J La Philosophie comme theacuterapie de lrsquoame FriburgoEditions Universitaires de Fribourg 1993
Warren J (Org) The Cambridge Companion to Epicureanism Nova Iorque Cambridge University Press 2009
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
Usener H Epicurea Estugarda E G Teubner 1966
Teses e dissertaccedilotildees
Barbosa RS A relaccedilatildeo entre as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia na filosofia de Epicuro 2014 117 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2014
Braatz J O pensamento eacutetico em Epicuro 2007 113 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2007
Freire A J G A natureza da alma e o clinamen accedilatildeo e liberdade em Lucreacutecio 2014 191 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal-RN 2014
Nascimento R V O corpo no pensamento de Epicuro limites e possi-bilidades 2011 154f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rocha E S A morte pode ser conhecida percurso em torno da compre-ensatildeo da mortalidade na filosofia de Epicuro 2011 162 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rovaris T R O projeto epicurista antiaristoteacutelico de Pierre Gassendi Sal-vador Universidade Federal da Bahia 2007
Artigos
Arrighetti Graziano - Filodemo Περὶ θεῶν III fr 74-82 Pap Herc 157 Sul problema dei tipi divini nellrsquoepicureismo La Parola del Passato 10 (1955) p 322-356 et 404-415
Bastide G Lrsquoestheacutetisme de Lucregravece Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 143-161
Bulhotildees I C Tograve Dikaioacuten Epicuro acerca do justo Hypnos Satildeo Paulo nuacutemero 22 1ordm semestre 2009 p 98-119
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
Breacutescia C Contributo allo studio linguistico dei testi epicurei Athenaeum NS 27 (1949) 281-298
Caujolle-Zaslawsky F Le temps eacutepicurien est-il atomiqueLes Eacutetudes Phi-losophiques 3 julho-setembro de 1980 pag 285-306
Clay D A lost Epicurean Community Greek Roman and Byzantine Studies volume 30 nordm 2 1989 313-335
Diano C Epicuri Ethica Aedibius Sansionanis Florenccedila 1966
mdashmdashmdash Epiacutecure la philosophie du plaisir et la socieacuteteacute des amis Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril-junho de 1967 pag173-186
DI Vona P Per una storia dellrsquo epicureismo La parola del passato 34 (1979) 313-320
Escoubas E Asceacutetisme eacutepicurien Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 163-172
Fernaacutendez E M Acerca de una eacutetica epicuacutereo-sartriana Pensamiento 169 vol 43 1987 37-51
Flaceliegravere R Les Eacutepicuriens et lrsquoamour Revue des Eacutetudes Grecques tome 67 fascicule 314-315 Janvier-juin 1954 pp 69-81
Gabaude J-M Sur Epicure et lrsquoepicurisme (l) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 4 abril-maio de 1975 pag 11-17
mdashmdashmdash Le jeune Karl Marx lecteur drsquoEpicure (ll) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 5 junho-julho de 1975 pag 01-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 6 agosto-setembro de 1975 pag 23-29
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lV) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 1 outubro-novembro de 1975 pag 10-20
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (V) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 2 dezembro de 1975 - janeiro de 1976 pag 03-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vl) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 3 fevereiro-marccedilo de 1976 pag 03-10
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
losophique 4 abril-maio de 1976 pag 19-37
Giesecke A L Beyond the garden of Epicurus the utopics of the ideal roman village Utopian Studies Vol 12 (2) 2001 pag 13-32
Gobry I La sagesse drsquoEpicure Les Eacutetudes Philosophiques 1 janeiro-mar-ccedilo de 1976 pag 79-90
Kleve K The Epicurean Isonomia and its Sceptical Refutation Symbolae Osloenses Vol LIV 1979 pp 27-35
mdashmdashmdash Empiricism and Theology in Epicureanism Symbolae Osloenses 52 no 1 (1977) 39-51
Maurice P Epicureanism and the atomic swerve Symbolae Osloenses 50 LXI 1986 77-98
Mazzeo J A Dante e Epicuro Comparative Literature vol 10 2 pri-mavera de 1958 pag 106-120
Moreau J Le meacutecanisme eacutepicurien et lrsquoordre de la nature Les Eacutetudes Phi-losophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 467-486
Renault A Eacutepicure et le probleacuteme de lrsquoecirctre Les Eacutetudes Philosophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 435-465
Rodis-Lewis G Nature et civilization das lrsquoepicurisme Les Eacutetudes Philo-sophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 415-433
Rosenbaun S Epicurus and anihilation The philosophical Quartely vol39 154 janeiro de 1989pag 81-90
Salem J Commentaire de la lettre drsquoEpicure a Meacuteneacuteceacutee Revue philosophi-que 3 julho-setembro 1993 pag 513-549
Sedley D Epicurus refutation of determinism SydzetesisStudi sullrsquo epicu-reiacutesmo greco e romano offerti a Marcello Gigante Naacutepoles 1983 11-51
mdashmdashmdash Lrsquoanti-reacuteductionnisme eacutepicurien Trad Dao A amp Morant CLes Cahiers Philosophiques de Strasbourg Paris Librarie J Vrin phi-losophique 2003 321-359
Silva M F A morte como perda da subjetividade Revista Princiacutepios
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
UFRN 3 julho-dezembro de 1995 140-146
mdashmdashmdash Um Banquete Frugal a Influecircncia Socraacutetico-Platocircnica em Epi-curo Revista ARCHAI As origens do pensamento ocidental v 9 p 117-122 2012
mdashmdashmdash Alma e movimento ou sobre a physiologia da alma Perspectiva Filosoacutefica (UFPE) v II p 167-176 2010
mdashmdashmdash Seduccedilatildeo e persuasatildeo os ldquodeliciososrdquo perigos da sofiacutestica Ca-dernos do CEDES (UNICAMP) Campinas v 64 2004
mdashmdashmdashLoacutegos peri hedoneacute Hodos Estudos de Cultura Claacutessica v 1 n 1 p 9-25 2000
mdashmdashmdash A noccedilatildeo Epicuacuterea de Eustatheacuteia e a tegravechne heacute ietrikeacute Revista Princiacutepios UFRN v 5 n 6 p 14-154 1998
mdashmdashmdash A Compreensatildeo de Physis no Pensamento de Epicuro Iacutetaca Cadernos de Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
mdashmdashmdash Epicuro e a morte como perda da subjetividade Revista Prin-ciacutepios UFRN v 2 n 3 p 140-146 1995 116
mdashmdashmdash O eacutethos do equiliacutebrio ou do exerciacutecio da sabedoria Kleos-Re-vista de Filosofia Antiga 1ordf ed Rio de Janeiro 2000 v 4 p 183-188
Silveira P F A medicina da alma de Epicuro a medicina como forma de terapia Psykhecirc Satildeo Paulo 10 200521-27 Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
Spinelli M De Narciso a Epicuro do emergir ao resgate da individua-lidade Hypnos nordm 25 Satildeo Paulo 2010 p 194-210
Surtz E L Epicurus in utopia ELH vol 16 2 junho de 1949 pag 89-103
Ullmann R A teologia de Epicuro Textos de cultura claacutessica 2 1987
Vander Waerdt P The Justice of the Epicurean Wise Man Classical Quar-terly ns 1987 37 40222
Vianna S Sobre o epicurismo e suas origens Kriterion 65 janeiro-
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
-dezembro 1965 pag 47-64
Waggle L J Epicurus phisichological or ethical hedonistRevista de Filo-sofiacutea vol 25 57 dezembro de 2007
Dicionaacuterios e Manuais
Balaudeacute J-F Le vocabulaire des Preacutesocratiques Paris Ellipses 2011
mdashmdashmdash Le vocabulaire drsquoEacutepicure Paris Ellipses 2012
Benveniste Le vocabulaire des instituitions indo-europeacuteenes I Economie parenteacute socieacuteteacute II pouvoir droit religion Paris Les Eacuteditions de Minuit 1969
Chantraine P Dictionnaire Eacutetymologique de la langue grecque Paris Klincksieck 1999
Gobry I Vocabulaacuterio grego da filosofia Trad Ivone C Benedetti Satildeo Paulo WMFMartins Fontes 2007
Isidro Pereira SJ Dicionaacuterio grego-portuguecircs e portuguecircs-grego Bra-ga Livraria AI 1998
Lidell HG amp Scott R Greek-english lexicon with a revised supplement Oxford Clarendon Express 1996
Murachco H Liacutengua grega visatildeo semacircntica loacutegica orgacircnica e funcional 3ordf ediccedilatildeo Satildeo PauloPetroacutepolis Discurso EditorialEditora Vo-zes 2007
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
172 173172 173
coleccedilatildeo autores gregos e latinos ndash seacuterie ensaios
1 Carmen Soares Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Eacutetica e Paideia em Plutarco (Coimbra CECH 2008)
2 Joaquim Pinheiro Joseacute Ribeiro Ferreira e Rita Marnoto Caminhos de Plutarco na Europa (Coimbra CECH 2008)
3 Claacuteudia Teixeira Delfim F Leatildeo and Paulo Seacutergio Ferreira The Satyricon of Petronius Genre Wandering and Style (Coimbra CECH 2008)
4 Teresa Carvalho Carlos A Martins de Jesus Fragmentos de um Fasciacutenio Sete ensaios sobre a poesia de Joseacute Jorge Letria (Coimbra CECH 2009)
5 Delfim Ferreira Leatildeo Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Cidadania e Paideia na Greacutecia Antiga (Coimbra CECH 2010)
6 Maria de Faacutetima Silva and Susana Hora Marques Tragic Heroines on Ancient and Modern Stage (Coimbra CECH 2010)
7 Aacutelia Rosa Rodrigues Carlos A Martins de Jesus Rodolfo Lopes Intervenientes Discussatildeo e Entretenimento No Banquete de Plutarco (Coimbra CECH 2010)
8 Luiacutesa de Nazareacute Ferreira Paulo Simotildees Rodrigues e Nuno Simotildees Rodrigues Plutarco e as Artes Pintura Cinema e Artes Decorativas (Coimbra CECH 2010)
9 Nair Castro Soares Margarida Miranda Carlota Miranda Urbano (Coord) Homo eloquens homo politicus A retoacuterica e a construccedilatildeo da cidade na Idade Meacutedia e no Renascimento (Coimbra CECH 2011)
10 Claacuteudia Teixeira Estrutura personagens e enganos introduccedilatildeo agrave leitura de As Baacutequides de Plauto (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2016)
11 Gregory Nagy O Heroacutei Eacutepico (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2017)
174 PB
12 Markus Figueira da Silva Termos Filosoacuteficos de Epicuro (Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 2018)
O livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais importantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
OBRA PUBLICADA COM A COORDENACcedilAtildeO CIENTIacuteFICA
bull
- Termos Filosoacuteficos de Epicuro
-
- Sumaacuterio
- Prefaacutecio
- Apresentaccedilatildeo
- Introduccedilatildeo
- Auxiacutelio ao leitor
- Primeira parte - Physiologiacutea
- Segunda parte - Physiologiacutea
- Terceira parte - Ethicaacute
- Referecircncias bibliograacuteficas
-
Coleccedilatildeo Autores Gregos e Latinos - Seacuterie Ensaios
Estruturas EditoriaisSeacuterie Autores Gregos e Latinos
ISSN 2184-1543
Diretores Principais Main Editors
Francisco de OliveiraUniversidade de Coimbra
Nair Castro SoaresUniversidade de Coimbra
Assistentes Editoriais Editoral Assistants
Nelson Ferreira Universidade de Coimbra
Comissatildeo Cientiacutefica Editorial Board
Ana Claacuteudia Ribeiro Universidade Federal de Satildeo Paulo
Joaquim Brasil Fontes Universidade de Campinas - UNICAMP
Joseacute Augusto RamosUniversidade de Lisboa
Maria Ceciacutelia CoelhoUniversidade Federal de Minas Gerais
Santiago Loacutepez Moreda Universidad de Extremadura
Tomaacutes Gonzaacutelez Rolaacuten Universidad Complutense de Madrid
Virgiacutenia Soares Pereira Universidade do Minho
Todos os volumes desta seacuterie satildeo submetidos a arbitragem cientiacutefica independente
Autores Gregos e Latinos ndash Seacuterie Ensaios
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
Markus Figueira da Silva
Seacuterie Autores Gregos e Latinos - Ensaios
Trabalho publicado ao abrigo da Licenccedila This work is licensed underCreative Commons CC-BY (httpcreativecommonsorglicensesby30ptlegalcode)
POCI2010
Tiacutetulo Title Termos Filosoacuteficos de EpicuroPhilosophical Terms in Epicurus
Autor AuthorMarkus Figueira da Silva
Orcidhttpsorcidorg0000-0003-3036-6575
Editores PublishersImprensa da Universidade de CoimbraCoimbra University Press
wwwucptimprensa_uc
Contacto Contact imprensaucpt
Vendas online Online Saleshttplivrariadaimprensaucpt
Coordenaccedilatildeo Editorial Editorial CoordinationImprensa da Universidade de Coimbra
Conceccedilatildeo Graacutefica GraphicsRodolfo Lopes
Infografia InfographicsNelson Ferreira
Impressatildeo e Acabamento Printed byKDP
ISBN978-989-26-1611-7
ISBN Digital978-989-26-1612-4
DOIhttpsdoiorg1014195978-989-26-1612-4
Depoacutesito Legal Legal Deposit44659618
Imprensa da Universidade de CoimbraClassica Digitalia Vniversitatis Conimbrigensis httpclassicadigitaliaucptCentro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra
copy setembro 2018
Obra publicada no acircmbito do projeto - UIDELT001962013
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
Philosophical Terms in Epicurus
Markus Figueira da SilvaFiliaccedilatildeo AffiliationUniversidade Federal do Rio Grande do Norte
ResumoO livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais im-portantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanes-centes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Palavras-chaveEpicuro terminologia grega filosofia antiga eacutetica conhecimento natureza
Abstract The book ldquoPhilosophical Terms in Epicurusrdquo brings together all major concepts found in the works of this Greek thinker of the end of the IV century and beginning of the III century BC Taken from the surviving texts of Epicurus the terms were grouped in three sections those being physiology gnosiology and physiology and ethics The glossary of terms will be a valuable research tool to aid in the approach to the surviving texts of the works of Epicurus a Hellenistic philosopher not much studied in the Portuguese language despite the fact that he is one of the fundamental ancient Greek philosophers
KeywordsEpicurus Greek terminology ancient Greek philosophy ethics knowledge nature
Autor
Professor titular de Histoacuteria da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia (PPGFIL) da UFRN Pesquisador do PRAGMAUFRJ
Author
Full Professor of History of Ancient Philosophy at Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Faculty member of the Graduate Program in Philoso-phy (PPGFIL) at UFRN Member of the Research Program in Ancient Philosophy - PRAGMAUFRJ
Sumaacuterio
Prefaacutecio 9
Apresentaccedilatildeo 11
Introduccedilatildeo 15
Auxiacutelio ao leitor 26
Primeira parte 29Physiologiacutea
Segunda parte 69Physiologiacutea
Terceira parte 101Ethicaacute
Referecircncias bibliograacuteficas 159
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Prefaacutecio
8 9
Prefaacutecio
A elaboraccedilatildeo de um vocabulaacuterio comentado sobre a termi-nologia filosoacutefica de Epicuro eacute para a comunidade cientiacutefica tarefa de reconhecido meacuterito e utilidade Embora ela assente de forma inevitaacutevel na consulta dos melhores dicionaacuterios de grego disponiacuteveis permite por um lado uma visatildeo sistemaacutetica de conjunto sobre uma terminologia especiacutefica e por outro uma reflexatildeo sobre os pressupostos que justificam as traduccedilotildees que os diversos dicionaacuterios propotildeem Natildeo se limita portanto a fornecer sinoacutenimos precisos mdash o que em si mesmo jaacute seria um meacuterito apreciaacutevel mdash mas comenta ou historia o percurso de determinados vocaacutebulos o que ultrapassa a convenccedilatildeo de um di-cionaacuterio A esta perspetiva de base o autor do volume propocircs-se acrescentar comentaacuterios elucidativos sobre a sinoniacutemia estabele-cida Para isso foi tida tambeacutem em conta a informaccedilatildeo fornecida por inuacutemeras publicaccedilotildees sob forma de livros ou perioacutedicos que tecircm dedicado ao pensamento de Epicuro e sobretudo ao estudo de aacutereas semacircnticas particulares da liacutengua grega como eacute o caso da filosoacutefica a sua atenccedilatildeo Destes materiais o presente estudo eacute tambeacutem devedor e transmissor na listagem bibliograacutefica que integra Eacute portanto como um elemento de seleccedilatildeo e de precisatildeo de um certo campo semacircntico a linguagem filosoacutefica centrado num autor especiacutefico Epicuro que este volume se apresenta
Natildeo eacute talvez Epicuro pela proacutepria fragilidade e dimensatildeo pequena do corpus que o representa aos olhos da contempora-neidade um autor sobre que a bibliografia disponiacutevel seja mais ampla Aleacutem de muito reduzido esse corpus eacute na sua maioria transmitido de forma indireta o que condiciona de modo
10 11
Prefaacutecio
10 11
evidente o acesso agrave terminologia que poderiacuteamos atribuir a Epicuro Apesar dessas limitaccedilotildees este vocabulaacuterio reuacutene um nuacutemero significativo de termos em parte vindos numa linha de continuidade em relaccedilatildeo a uma terminologia que a filosofia grega foi sedimentando ao longo dos seacuteculos Neste caso o comentaacuterio a incluir valoriza a perspetiva diacroacutenica e procura sobretudo em relaccedilatildeo aos vocaacutebulos com tradiccedilatildeo reconhecida definir nuances inovadoras que testemunhem o proacuteprio fluir do pensamento filosoacutefico Mas sem duacutevida mais expressivos satildeo os casos de haacutepax mdash palavras de ocorrecircncia uacutenica nos textos em anaacutelise mdash ainda que condicionados pela magreza dos testemunhos Estes termos conferem a Epicuro e ao seu pensamento uma identidade proacutepria e destacam nele a capacidade de contribuir para o voca-bulaacuterio especiacutefico da filosofia com palavras novas
Um manual desta natureza seraacute sempre uma proposta em aber-to a ser retocada ou ampliada agrave medida que a proacutepria discussatildeo fi-losoacutefica for prosseguindo ou na hipoacutetese de que novos testemunhos se possam vir a juntar aos atualmente disponiacuteveis Mas o resultado a que neste momento se chegou resulta de anos de recolha e de investigaccedilatildeo e constitui jaacute uma contribuiccedilatildeo a ser publicitada com utilidade entre os especialistas e acadeacutemicos em geral
Deste lsquoVocabulaacuterio filosoacutefico de Epicurorsquo poderatildeo tirar provei-to evidente todos os que se dedicam natildeo apenas ao estudo deste autor concreto mas ao da evoluccedilatildeo do pensamento filosoacutefico e respetiva terminologia investigadores docentes e estudantes Por-que sem pretender ser exaustiva no que respeita ao comentaacuterio dos termos alistados esta proposta eacute mesmo assim um documento de valor inestimaacutevel para a clarificaccedilatildeo das nuances subjacentes a um vocabulaacuterio tatildeo lsquosensiacutevelrsquo como eacute o filosoacutefico
Maria de Faacutetima SilvaUniversidade de Coimbra
Apresentaccedilatildeo
10 1110 11
APreSentAccedilatildeo
Os ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo satildeo o resultado de um projeto de pesquisa que desenvolvi ao longo de vaacuterios anos como atividade paralela a outras produccedilotildees acadecircmicas por mim realizadas no acircm-bito do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Pude contar nesta pesquisa com a colaboraccedilatildeo de quatro bolsistas de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica um bolsista de Mestrado e um outro de Doutorado Devo mencionar os no-mes de Everton da Silva Rocha e Renato dos Santos Barbosa que participaram efetivamente do resultado final deste trabalho Everton colaborou na organizaccedilatildeo e digitaccedilatildeo dos verbetes em grego e Rena-to colaborou na organizaccedilatildeo do livro e na redaccedilatildeo de alguns verbetes a partir da sua pesquisa de mestrado por mim orientada Eles fazem parte deste percurso e do produto final que vem agora a puacuteblico No nome deles eu agradeccedilo os demais alunos que se iniciaram no estu-do da Filosofia de Epicuro mediante a participaccedilatildeo nesta pesquisa
Foi um longo aacuterduo mas prazeiroso caminho que culminou com um estaacutegio de pesquisa que realizei no Centro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra em setembro e outubro de 2016 sob a supervisatildeo da Doutora Maria de Faacutetima Sousa e Silva
O conjunto dos verbetes que aqui se encontra foi dividido em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Reuni desta maneira os termos mais importantes1 para
1 Considero que haacute um grupo de termos que satildeo os conceitos mais traba-lhados no pensamento de Epicuro e os verbetes que lhes satildeo correspondentes apresentam um estudo resumido do papel que desempenham para a originali-dade da sua Filosofia os demais termos satildeo tambeacutem relevantes no que toca ao uso que deles se pode fazer para a traduccedilatildeo direta dos textos gregos
Apresentaccedilatildeo
12 13
um estudo interpretativo de cada uma das partes respeitando a ordem dos textos apresentados no livro X da obra Vidas e Doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres de Dioacutegenes Laeacutercio bem como as Sentenccedilas Vaticanas que foram descobertas posteriormente por Karl Votke em 1888 no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Papiro 1950 Aleacutem destas fontes aproveitei alguns vocaacutebulos extraiacutedos da doxografia antiga e acrescentados por Hermman Usener na sua obra Epicurea Basicamente satildeo estes os textos que constituem a espinha dorsal do pensamento de Epicuro que se mantiveram ao longo dos seacuteculos e satildeo o cerne de toda a pesquisa realizada pelos estudiosos ateacute hoje No seacuteculo XIX com as escavaccedilotildees feitas na Vila dos Papiros em Herculano no Sul da Itaacutelia um conjunto de textos fragmentados a maioria atribuiacuteda a Filodemo de Gadara e outros atribuiacutedos a Epicuro tecircm sido objeto de estudo de diversos especialistas em filologia mas que para o objetivo deste trabalho natildeo acrescentariam muito agrave base sobre a qual se define a filosofia de Epicuro
Eacute sempre difiacutecil reconstituir o todo de um pensamento mantendo a sua clareza e a sua coerecircncia quando a imensa maioria dos textos que foram escritos submergiu agraves vicissitudes do tempo e agraves armadilhas da histoacuteria Entretanto eacute preciso ter apreccedilo pelo teor deste pensamento e pela influecircncia que teve Epicuro sobre as geraccedilotildees que o sucederam ateacute agrave nossa eacutepoca A grande voz latina que fez ecoar a filosofia epicurista por mais de dois milecircnios foi sem duacutevida a do poeta romano Tito Lucreacutecio Caro que escreveu o De Rerum Natura ou Da natureza das Coisas poema em seis livros inacabado Este poema eacute uma fonte preciosa para o estudo do epicurismoPor isso quando existir correspondecircncia entre o termo grego utilizado por Epicuro e o termo latino utilizado por Lucreacutecio ressaltarei sobretudo nos verbetes expandidos esta correspondecircncia Outro fator importante num manual desta natureza eacute fornecer ao leitor a
Apresentaccedilatildeo
12 13
localizaccedilatildeo exata das ocorrecircncias de cada termo nos textos de Epicuro Aleacutem disso ele encontraraacute o termo grafado em carac-teres gregos seguido da transliteraccedilatildeo para caracteres latinos e a sua definiccedilatildeo ou significado Nos termos considerados de maior relevacircncia a definiccedilatildeo seraacute expandida na forma de um pequeno artigo acerca daquela noccedilatildeo Ocorreraacute tambeacutem em alguns termos a observaccedilatildeo ou informaccedilatildeo complementar que indica quando o termo eacute de uso exclusivo em Epicuro ou quando o termo passa a ser utilizado a partir de Epicuro ou quando eacute um termo de uso filosoacutefico apenas ou quando eacute de uso comum a Aristoacuteteles e a Epicuro ou ainda quando recebe um significado metafoacuterico para realccedilar o sentido inovador do seu pensamento Satildeo caracte-riacutesticas da linguagem grega utilizada por Epicuro o que tambeacutem o diferencia dos demais pensadores e inaugura muitas vezes um novo vocaacutebulo ou linha conceitual no acircmbito da filosofia antiga
Achei por bem elencar os termos mais importantes de cada um dos trecircs assuntos da sua obra na parte que lhe eacute correspon-dente Assim na Physiologiacutea estatildeo dispostos os termos referentes ao estudo da phyacutesis Na Gnoseologiacutea e Physiologiacutea pode-se en-contrar os termos que aparecem no iacuteniacutecio da Carta a Heroacutedoto e que correspondem agrave canocircnica ou teoria do conhecimento Na Eacutethica aqueles que correspondem agrave Carta a Meneceu agraves Maacutexi-mas Principais e agraves Sentenccedilas Vaticanas Contudo devo advertir de que muitos termos apareceratildeo repetidamente em mais de uma parte isto porque apresentam um sentido diferente que corresponde agrave funccedilatildeo desempenhada no contexto das frases onde aparecem A minha intenccedilatildeo ao propor esta divisatildeo eacute facilitar o manuseio deste breviaacuterio de termos Assim o usuaacuterio que estiver estudando a Carta a Heroacutedoto por exemplo encontraraacute na parte dedicada agrave Physiologiacutea eou na parte dedicada agrave Gnoseologiacutea e Physiologiacutea (se for o caso da canocircnica) os termos que interessam agrave sua anaacutelise
14 15
Apresentaccedilatildeo
14 15
Espero sinceramente que este vocabulaacuterio de termos filosoacuteficos gregos de Epicuro possa contribuir para a instrumen-talizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra deste pensador que pode ser considerado ainda pouco estudado sobretudo nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Introduccedilatildeo
14 1514 15
introduccedilatildeo
Epicuro filoacutesofo da natureza em busca do equiliacute-brio da liberdade e do prazer
O interesse que me moveu e que certamente move um estu-dante para se aprofundar na leitura dos textos de Epicuro eacute o de esclarecer o sentido maior deste pensamento isto eacute separar o que eacute genuiacuteno de tudo o que foi dito ao longo da histoacuteria em termos de opiniatildeo com forte matiz ideoloacutegico acerca da sua visatildeo de mundo e do seu modo de vida Natildeo haacute como fugir da polecircmica em torno da figura de Epicuro e do que a sua filosofia representou e ainda representa para o desenvolvimento da filosofia ocidental Quem estiver de fato interessado em interpretar para compreender o pensamento em questatildeo precisaraacute ir aos textos gregos originais e a partir daiacute comparar as inuacutemeras traduccedilotildees em diversas liacutenguas que se fizeram e ainda se fazem dos escritos deste pensador Tendo em vista as trecircs cartas as maacuteximas e as sentenccedilas que constituem o cerne da obra epicuacuterea trabalhada pela maioria dos especialistas uma interpretaccedilatildeo criteriosa destes textos produziraacute uma visatildeo sistecircmica do seu pensamento Soma-se a isso os fragmentos dos Papiros Herculaneses a Escrita Sobre Pedra de Dioacutegenes de Enoan-da e o poema De Rerum Natura de Lucreacutecio
Todos estes elementos satildeo imprescindiacuteveis para se obter uma visatildeo orgacircnica do conjunto do pensamento de Epicuro a fim de tornar exequumliacutevel a tarefa do pesquisador que eacute a de produzir uma coerente associaccedilatildeo destes conteuacutedos
Antes de apresentar um comentaacuterio geral dos textos aqui utilizados urge reproduzir um resumo cronoloacutegico da vida de
Markus Figueira da Silva
16 17
Epicuro para que se possa situaacute-lo no contexto do pensamento grego antigo
Cronologia
Epicuro filho de famiacutelia ateniense que pertencia ao demos de Gargeto nasceu em 341 aC em Samos e laacute viveu desde a infacircn-cia ateacute os 18 anos quando em 323 vai a Atenas prestar o serviccedilo militar Quando retornou de Atenas em 322 sua famiacutelia havia sido expulsa de Samos e Epicuro vai encontraacute-la em Coacutelofon Nos anos seguintes parece ter seguido as liccedilotildees de Praxiacutefanes um filoacutesofo peripateacutetico em Rodes Depois estudou com Nausiacute-fanes disciacutepulo de Demoacutecrito de Abdera e possivelmente aluno de Pirro de Eacutelis2 que ensinava em Teacuteos proacuteximo a Coacutelofon3
Em 311 Epicuro comeccedila a ensinar Filosofia em Mitilene na ilha de Lesbos No ano seguinte transfere-se para Lacircmpsa-co onde reuacutene alguns dos mais importantes disciacutepulos que o acompanharatildeo ao longo da sua trajetoacuteria ateacute que em 306 com a idade de 35 anos volta a Atenas e funda o Kecircpos o Jardim que daraacute nome a sua escola e caracterizaraacute a sua filosofia naturalista Em 270 a C Epicuro morre aos 72 anos de idade Cerca de quatorze escolarcas sucederam a Epicuro na direccedilatildeo do Jardim ateacute 44 a C4
A filosofia de Epicuro
Epicuro desenvolveu o seu pensamento a partir de influecircncias que marcaram a sua formaccedilatildeo e moldaram o seu ideal de vida Em primeiro lugar a Physiologiacutea ou a sua compreensatildeo da phyacutesis
2 Filoacutesofo grego do seacutec IV aC contemporacircneo de Epicuro e conside-rado o precursor do Ceticismo
3 Estas cidades satildeo ilhas proacuteximas a Samos na costa da Aacutesia menor4 Brun J Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Introduccedilatildeo
16 17
que teve no atomismo de Demoacutecrito de Abdera5 o seu ponto de partida Apesar de tecirc-lo modificado em determinados pontos em linhas gerais a constituiccedilatildeo da phyacutesis permaneceu inalterada ou seja toda a natureza eacute constituiacuteda de aacutetomos e vazio Na Carta a Heroacutedoto pode-se ver um resumo desta physiologiacutea Tambeacutem nesta Carta logo no iniacutecio encontra-se uma teoria do conhecimento que define os criteacuterios da percepccedilatildeo sensiacutevel que define a sua Gnoseologiacutea Por outro lado Epicuro voltou o seu pensamento para a investigaccedilatildeo do eacutethos do homem grego da sua eacutepoca e buscou tecer uma compreensatildeo do agir humano com a perspectiva de oferecer com a sua filosofia uma praacutetica de vida alternativa aos modelos que se apresentavam naquela altura do iniacutecio do seacuteculo III aC A sua investigaccedilatildeo permitiu que ele assimilasse traccedilos importantes do pensamento eacutetico grego dos seus antecessores A comeccedilar pelo modelo filosoacutefico socraacutetico e o seu desdobramento no pensamento de Platatildeo e Aristoacuteteles mas tambeacutem no confronto da criacutetica platocircnica e aristoteacutelica com a eacutetica de Demoacutecrito de Abdera Aristipo de Cirene e Pirro de Eacutelis os dois primeiros contemporacircneos de Soacutecrates e este uacuteltimo de Epicuro Partindo do entendimento de que toda a filosofia eacute de certo modo tributaacuteria das suas influecircncias e de que todo o pensamento traz em seu bojo elementos daquilo que jaacute fora pensado por outros filoacutesofos Epicuro manteacutem esta dinacircmica de refletir sobre as ideacuteias marcantes dos seus predecessores
Qual eacute entatildeo a originalidade de Epicuro e o que o torna um pensador singular da Histoacuteria da Filosofia
Para responder a isso indico a coerecircncia e a originalidade que se mostra nos textos remanescentes da sua obra Em outras
5 Filoacutesofo grego do seacutec V a C considerado um preacute-socraacutetico pela tradicional divisatildeo da Histoacuteria da Filosofia embora tenha sido contem-poracircneo de Soacutecrates Eacute considerado juntamente com Leucipo de Eleacuteia o precursor do atomismo grego
Markus Figueira da Silva
18 19
palavras a inteireza ou a inseparabilidade entre a physiologiacutea e a eacutethica Mais que isso o seu modus vivendi filosoacutefico Epicuro foi um pensador que procurou a todo o instante viver de acordo com o que pensava ou seja a partir do que inteligia quando pensava a phyacutesis sendo o estudo da natureza a base da sua conduta e a compreensatildeo de si mesmo como natureza o modelo para o exer-ciacutecio da sua filosofia e a expressatildeo dos seus atos Conhecer a vida e viver este conhecimento eacute um todo contiacutenuo que caracteriza a sua relevacircncia e a sua originalidade como physiologoacutes e pensador eacutetico concomitantemente
Neste sentido apresento a Filosofia de Epicuro em dois toacutepi-cos distintos e complementares a saber a physiologiacutea e aethicaacute
Physiologiacutea
No livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio encontram-se duas cartas de Epicuro que satildeo epiacutetomes ou resumos de temas li-gados agrave natureza (phyacutesis) Na Carta a Heroacutedoto estatildeo contidas as proposiccedilotildees fundamentais da sua filosofia da natureza e que tratam dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis O objetivo desta carta eacute apresentar aos que se iniciam na Filosofia os conceitos fundamentais sobre a natureza do todo dos mundos dos cor-pos compostos dos aacutetomos e do vazio bem como mostrar o processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo das coisas na natureza Epicuro deixa claro logo no iniacutecio que o estudo destes funda-mentos serve tambeacutem agravequeles jaacute instruiacutedos pois eles o podem utilizar para exercitarem-se nas discussotildees sobre as questotildees da natureza e como forma de aprimorarem a memoacuteria Ele cuida especialmente da linguagem que emprega a fim de facilitar a aprendizagem e promover uma faacutecil memorizaccedilatildeo Afirma que a clareza a objetividade e a simplicidade devem caracterizar o estilo e a linguagem filosoacutefica
Introduccedilatildeo
18 19
A canocircnica como meacutetodo gnosioloacutegico
A partir do passo 37 da Carta a Heroacutedoto Epicuro inicia a exposiccedilatildeo dos criteacuterios para o conhecimento da natureza des-de os fenocircmenos sensiacuteveis ou seja aqueles que satildeo objetos da percepccedilatildeo ateacute onde pode alcanccedilar o pensamento quando este procede por analogia isto eacute por contiguumlidade ou comparaccedilatildeo Para ele o pensamento pode conjecturar acerca dos fenocircmenos microcoacutesmicos e tambeacutem macrocoacutesmicos o que justifica as suas assertivas sobre o comportamento dos aacutetomos e noutro plano dos corpos celestes Epicuro utiliza este meacutetodo para expor a noccedilatildeo de aacutetomo e o seu movimento no vazio e em decorrecircncia disso explica o processo de agregaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo dos corpos sensiacuteveis a formaccedilatildeo e dissoluccedilatildeo dos mundos e a proacutepria noccedilatildeo de infinitude
Em seguida apresenta a sua teoria sobre o processo de conhe-cimento a formaccedilatildeo do pensamento e da imaginaccedilatildeo a partir do delineamento de quatro noccedilotildees capitais do sensualismo que ele inaugura a saber a sensaccedilatildeo (aiacutesthesis) a afecccedilatildeo (paacutethos) a impressatildeo sensiacutevel ou preacute-noccedilatildeo (proacutelepsis) e a projeccedilatildeo imaginaacute-ria do pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) Tais noccedilotildees visam explicar o processo gnoseoloacutegico desde que o oacutergatildeo sen-siacutevel eacute afetado gerando a sensaccedilatildeo que por sua vez se imprime na alma (psycheacute) gerando a memoacuteria (mneacuteme) sensitiva que eacute a fonte das imagens articuladas pelo pensamento quando as reuacutene e daacute sentido e representaccedilatildeo agrave realidade fenomecircnica Satildeo estas imagens sensiacuteveis que seratildeo usadas quando o pensamento por analogia a elas constroacutei explicaccedilotildees para os objetos natildeo perceptiacute-veis aos sentidos mas imaginados pelo pensamento em projeccedilatildeo
Nos passos 46 a 53 Epicuro investiga os mecanismos de produccedilatildeo das imagens (eiacutedola) e como se produz a imaginaccedilatildeo (phantasiacutea) como parte do movimento de transformaccedilatildeo das
Markus Figueira da Silva
20 21
sensaccedilotildees em sentimentos (impressotildees sensiacuteveis) e destes em memoacuteria operada pelo pensamento Esta eacute de fato uma das mais inovadoras teorias de Epicuro e que influenciaraacute diversos teoacutericos do conhecimento na modernidade
A partir do passo 54 tecircm-se analisadas as caracteriacutesticas do aacutetomo isto eacute a forma a figura o tamanho e o peso que por sua vez estatildeo intimamente relacionados agraves qualidades dos corpos sensiacuteveis (soacutemata) A anaacutelise do vazio e espaccedilo (kenograven kaigrave choacuteran) ocorre jaacute no passo 61 Sobre a importacircncia destas noccedilotildees Epicuro defende que sem o vazio eou espaccedilo natildeo pode haver movimento
A alma (psycheacute) que eacute corpoacuterea ou seja um corpo consti-tuiacutedo por aacutetomos mais sutis que os da carne (saacuterx) eacute objeto de investigaccedilatildeo no passo 67 Epicuro a define como sendo princiacutepio de movimento e sede do pensamento Na continuaccedilatildeo da Carta (passo 68) daacute-se iniacutecio agrave explicaccedilatildeo dos corpos compostos e do processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo dos corpos a partir da agregaccedilatildeo dos aacutetomos
Haacute tambeacutem uma breve anaacutelise sobre o tempo (khroacutenos) nos passos 72 e 73 e em seguida a teoria sobre os mega corpos ou os mundos (koacutesmoi) que tambeacutem satildeo formados pela agregaccedilatildeo dos aacutetomos e tecircm duraccedilatildeo limitada
Epicuro acena para uma breve histoacuteria antropoloacutegica apre-sentada na anaacutelise do conceito de praacutegmata que diz respeito a uma teoria da accedilatildeo humana e tem lugar no passo 75 e se pro-longa no passo 76 onde ele apresenta indiacutecios de uma teoria da linguagem bastante original No final da Carta a Heroacutedoto isto eacute nos passos 80 e 81 haacute uma apresentaccedilatildeo sumaacuteria do tema dos corpos celestes que seraacute desenvolvido na Carta a Piacutetocles Os passos 82 e 83 trazem as consideraccedilotildees finais da Carta onde Epicuro exorta os seus alunos a exercitarem-se sempre no estudo da natureza para que deste modo possam fugir da ignoracircncia
Introduccedilatildeo
20 21
A Carta a Piacutetocles se inicia com a afirmaccedilatildeo de que o conhe-cimento dos fenocircmenos celestes (meteacuteora) quer sejam conside-rados em conexatildeo com outros fenocircmenos ou neles mesmos tem como finalidade a tranquumlilidade da alma bem como afirmar a confianccedila nas explicaccedilotildees ldquofisioloacutegicasrdquo Em seguida passase ao meacutetodo de investigaccedilatildeo dos fenocircmenos celestes evidenciando o pluralismo da explicaccedilatildeo onde se aceita para um determinado fenocircmeno mais de uma causa desde que nenhuma delas possa ser contraditada pela evidecircncia da sensaccedilatildeo ou seja enquanto natildeo for refutada a explicaccedilatildeo se manteacutem vaacutelida Assim eacute pre-feriacutevel manter a pluralidade das causas em vez de ater-se a uma crenccedila que remeta a uma explicaccedilatildeo sobrenatural baseada por exemplo nos desiacutegnios dos deuses
Tem-se na continuaccedilatildeo uma definiccedilatildeo de mundo (koacutesmos) bem como dos meteacuteora os mais variados que leva a uma especulaccedilatildeo acerca do movimento dos astros das nuvens da chuva das tormentas dos raios e trovotildees das tempestades dos ciclones dos terremotos dos ventos das geleiras da neve do arco-iacuteris da lua dos cometas das estrelas cadentes e das mudanccedilas dos ventos
A ethicaacute
Ao longo de toda a Histoacuteria da Filosofia Epicuro seraacute lem-brado muito mais pelas suas proposiccedilotildees eacuteticas do que pelas fiacutesicas o que tem a sua explicaccedilatildeo com o desenvolvimento das ciecircncias o atomismo e as demais teorias desenvolvidas pelos filoacutesofos gregos antigos sofreram muitas variaccedilotildees atualizaccedilotildees e ateacute inovaccedilotildees graccedilas ao aprimoramento tecnoloacutegico das pesqui-sas contudo a eacutetica seguiu um outro percurso e o conteuacutedo do pensamento eacutetico epicuacutereo foi alvo das apropriaccedilotildees tiacutepicas da fi-losofia daqueles que buscaram construir uma eacutetica do bem viver
Markus Figueira da Silva
22 23
Neste caso especiacutefico uma eacutetica ao mesmo tempo naturalista e sensualista Por outro lado haacute os criacuteticos deste pensamento que na maioria das vezes o detrataram Como consequumlecircncia disso uma enorme controveacutersia interpretativa acerca da eacutetica de Epicuro tem sido frequumlente nos meios acadecircmicos e nos escritos publicados a este respeito Entretanto o que interessa agravequeles que desejam estudar o epicurismo seraacute entender como eacute possiacute-vel pensar uma eacutetica desvinculada tanto da poliacutetica quanto da religiatildeo Em outras palavras seraacute que a eacutetica epicurista eacute uma eacutetica sem matrizes ideoloacutegicas Penso que este foi o objetivo de Epicuro ao afastar-se da poliacutetica e da religiatildeo
Em Epicuro encontra-se a definiccedilatildeo da Filosofia como um saber em torno da vida cujo uso praacutetico se realiza constan-temente como um conhecimento que edifica a proacutepria vida como um exerciacutecio filosoacutefico cotidiano A fundamentaccedilatildeo do agir filosoacutefico eacute pois o conhecimento adquirido no processo de investigaccedilatildeo da natureza que prima pela desmistificaccedilatildeo da phyacutesis e daacute ao indiviacuteduo as reacutedeas da sua proacutepria vida e a autonomia para agir a partir de si mesmo Eacute neste sentido que Epicuro se distingue de outros pensadores da sua eacutepoca isto eacute o seu pensamento natildeo eacute tributaacuterio de nenhuma ideologia seja poliacutetica ou religiosa
Dioacutegenes Laeacutercio tambeacutem publicou em sua obra a Carta a Meneceu e quarenta Maacuteximas Principais de Epicuro Estes satildeo os textos eacuteticos por ele preservados e sobre os quais tecircm se debruccedilado os estudiosos Contudo haacute tambeacutem um conjunto de oitenta e uma sentenccedilas que foram descobertas muito mais tarde em 1888 por Karl Wotke no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Manuscrito 1950 ou GnomologioVaticano6 A maioria das sentenccedilas satildeo reflexotildees eacuteticas de Epicuro Outros textos
6 Gual CG 1981 p 133
Introduccedilatildeo
22 23
muito fragmentados e com muitas lacunas foram descobertos nas escavaccedilotildees de Herculano uma vila no Sul da Itaacutelia que foi soterrada pelas lavas do vulcatildeo Vesuacutevio no seacutec I aC como jaacute havia assinalado Este material tem sido objeto de pesquisa e poderaacute vir a acrescentar novas informaccedilotildees sobre o pensamento epicurista tanto quanto a chamada ldquoescrita sobre pedrardquo des-coberta nas escavaccedilotildees em Enoanda onde existiu uma extensa muralha construiacuteda por um adepto do epicurismo de nome Dioacutegenes que mandou talhar sobre ela diversos ensinamentos eacuteticos de Epicuro para que fossem lidos e servissem agrave reflexatildeo daqueles que por laacute passassem Felizmente estes textos foram em parte reconstituiacutedos e corroboram os publicados no livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio
Os inteacuterpretes da filosofia de Epicuro trabalham efetivamen-te sobre estes textos na busca de explicitar cada vez mais este pensamento que influenciou inuacutemeros pensadores e ainda hoje influencia tais como Giordano Bruno Michel de Montaigne Pierre Gassendi Baruch Espinoza Thomas Hobbes John Stuart Mill Karl Marx Michel Foucault entre outros
Assim para que sirva de referecircncia para o leitor indico os te-mas principais apresentados na Carta a Meneceu e nas Maacuteximas Principais
A Carta comeccedila com um protreacuteptico ou uma exortaccedilatildeo ao filosofar no passo 122 Em seguida estaacute o tetraphaacutermakon ou quaacutedruplo remeacutedio que reflete acerca dos deuses (passos 123 e 124) sobre a morte e os verdadeiros males da vida (entre os passos 124 e 127) sobreo futuro ou porvir (ainda no 127) sobre o prazer e os desejos (do 127 ao 132) e sobre a necessidade e o acaso (passos 132 a 135) Na conclusatildeo da Carta Epicuro convida o destinataacuterio e os seus amigos a refletirem sobre os pre-ceitos nela contidos pois estes ensinamentos conduzem a uma praacutetica de vida feliz ou bem aventurada
Markus Figueira da Silva
24 25
Com relaccedilatildeo agraves Maacuteximas Principais as primeiras (I a IV) tratam tambeacutem do tetraphaacutermakon em seguida haacute uma seacuterie de consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees necessaacuterias suficientes para se realizar uma vida feliz (makaacuterioszecircn) bem como sobre a relaccedilatildeo entre prazeres e virtudes (V a XXI) Haacute depois uma ilaccedilatildeo en-tre os criteacuterios para o conhecimento e o agir filosoacutefico (XXII a XXVI) sobre a amizade (philiacutea) e a classificaccedilatildeo dos desejos (XXVII a XXX) e finalmente sobre a justiccedila (dikaiosyacutene) e o modo como o saacutebio (sophoacutes) se relaciona com ela (XXXI a XL) Estas uacuteltimas ensejam uma reflexatildeo antropoloacutegica em torno das relaccedilotildees juriacutedico-sociais
Embora as Sentenccedilas Vaticanas natildeo faccedilam parte da obra laerciana tecircm o seu conteuacutedo associado ao das Maacuteximas Prin-cipais pois trazem reflexotildees em torno da conduta humana e em diversos aspectos aprofundam ou vecircm corroborar o sentido inerente agraves Maacuteximas
No conjunto das 81 sentenccedilas sobressaem aquelas dedicadas agrave amizade Pode-se dizer que Epicuro confere agrave amizade um papel fundamental na sua concepccedilatildeo de sabedoria ou filosofia A amizade gera confianccedila solidifica as relaccedilotildees sociais estimula a praacutetica das virtudes eacute responsaacutevel pelo bem estar dos indiviacuteduos e engendra a liberdade no agir Em Epicuro a amizade difere das praacuteticas comuns de relaccedilotildees sociais dos homens atrelados agraves cidades decadentes da sua eacutepoca Trata-se portanto de outro modelo de conduta privado molecular afastado da multidatildeo insensata Ela fundamenta a accedilatildeo e a liberta da dependecircncia e da cumplicidade que forccedila o indiviacuteduo a suportar o mal estar em sociedade A amizade simboliza o poder inerente a cada um de escolher o que lhe aprouver e evitar o que o perturba e o enfra-quece em seu iacutentimo em uma palavra o que o despotencializa Viver entre amigos eacute alcanccedilar e exercer a filosofia em toda a sua plenitude A amizade existe porque eacute natural mas a sua praacutetica
Introduccedilatildeo
24 25
exige o discernimento e a liberdade de poder escolher e poder evitar
Satildeo estas em linhas gerais as informaccedilotildees referentes aos textos de Epicuro aqui utilizados cujo vocabulaacuterio serviraacute de instrumento de leitura agravequeles que se interessarem pela Filosofia da Natureza e pela Eacutetica do Jardim
Markus Figueira da Silva
26 27
Auxiacutelio Ao leitor
A) lista de abreviaturas
DL - Dioacutegenes Laeacutercio Vidas e doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres SV - Sentenccedilas Vaticanas EpicuroMP - Maacuteximas Principais EpicuroDRN - De Rerum Natura LucreacutecioUs - USENER EpicureaNatSobre a Natureza Perigrave phyacuteseos Epicuro Pap HercPapiros Herculanesesm - masculinof - femininoad - adjetivoadv - adveacuterbioinf - infinitivolat latimpl - pluralprep - preposiccedilatildeosf - substantivo femininosm - substantivo masculinosn - substantivo neutrov - verbo
B) meacutetodos de referecircncia
Os algarismos araacutebicos agrave direita dos termos gregos trans-literados se referem aos paraacutegrafos em que cada termo ocorre no livro X de Dioacutegenes Laeacutercio por exemplo ldquoἀδιάλυτος adiaacutelytos- 54rdquo eacute uma palavra que estaacute localizada na passagem
Auxiacutelio ao leitor
26 27
de nuacutemero 54 do deacutecimo livro das Vidas e doutrinas dos Filoacute-sofos Ilustres obra escrita pelo doxoacutegrafo Dioacutegenes Laeacutercio que dedicou o deacutecimo livro agrave exposiccedilatildeo da vida e obra de Epicuro No entanto quando os algarismos araacutebicos estiverem precedidos pela abreviaccedilatildeo ldquoSVrdquo significa que eles remetem agraves Sentenccedilas Vaticanas por exemplo ldquoεὐδαιμονία eudaimoniacutea - 116 122 127 SV 33rdquo esta uacuteltima ocorrecircncia estaacute indicando que o termo eudaimoniacutea aparece na sentenccedila de nuacutemero 33 Por sua vez esses algarismos seguidos de ldquoUsrdquo fazem referecircncia aos fragmentos compilados por Usener em sua obra intitulada Epicurea como no termo ldquoἀκατονόμαστον akatonoacutemaston- 314 Us 315 Usrdquo Os algarismos romanos foram reservados agraves Maacuteximas Principais de Epicuro como em ldquoπαντελής panteleacutes- 116 XX XXIrdquo cujas duas uacuteltimas ocorrecircncias se referem agraves maacuteximas 20 e 21 dentre as Maacuteximas Principais
C) alfabeto grego
Αα- aacutelpha Bβ - beacutetaΓγ - gaacutemaΔδ - deacuteltaΕε - e psiloacuten7
Ζζ - dzeacutetaΗη - eacutetaΘθ - theacutetaΙι - ioacutetaΚκ - kaacutepaΛλ - laacutembdaΜμ - mucirc
7 Cf Murachco 2007 p 36 para compreender o modo de nomear as letras ε ο υ ω
Markus Figueira da Silva
28 29
Νν - nucircΞξ - ksicircΟο - o mikroacutenΠπ - piΡρ - rhocircΣσς- sicircgma sicircgma finalΤτ - tauΥυ - y psilonΦφ - phicircΧχ - khicircΨψ -psicircΩω - o meacutega
Auxiacutelio ao leitor
28 29
PrimeirA PArte
Physiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea
30 3130 31
ἀδιάλυτος adiaacutelytos (ad)- 54
Indissoluacutevel indestrutiacutevel
ἀθροίσμα athroiacutesma (sn)- 62 63 64 65 69 100 108 IX
Agregado organismo acumulaccedilatildeo Athroiacutesma eacute o termo que nomeia o agregado de aacutetomos que constitui o organismo humano No interior deste agregado se disseminam os aacuteto-mos da alma Athroiacutesma tambeacutem pode significar qualquer agregaccedilatildeo de aacutetomos existente na natureza
ἀθρόος athroacuteos (ad)- 35 56 69 70 104
Reuniatildeo concentraccedilatildeo inteireza
αἴδιος aiacutedios (ad)- 69 70 71
Eterno permanente
αἰτιολογεῖν aitiologeacutein (vinf) - 80 82
Processo de inferecircncia ou investigaccedilatildeo das causas Segundo o Greek-english lexicon de Liddell-Scott (1996) eacute a primeira ocorrecircncia deste termo nos textos gregos
αἰτιολογία aitiologiacutea (sf)- 97
Estudo ou investigaccedilatildeo das causas
ακατονόμαστον akatonoacutemaston (ad)- 314 Us 315 Us
O que natildeo eacute nomeado Trata-se de uma parte ou elemento da alma Epicuro distingue duas partes no corpo alma o aacutelogon que eacute geralmente traduzido por ldquoparte irracionalrdquo e
Primeira parte
32 33
que se encontra espalhada por todo corpo (organismo) e o logikoacuten cuja traduccedilatildeo eacute ldquoparte racionalrdquo e se concentra no peito Tanto em Epicuro quanto em Lucreacutecio estas duas partes estatildeo intimamente ligadas pois haacute uma ldquocontinui-daderdquo entre os aacutetomos concentrados no peito e os demais disseminados atraveacutes do corpo Esta continuidade se expli-ca pelo movimento voluntaacuterio que a alma imprime a todo organismo movimento este que daacute origem agraves sensaccedilotildees e agraves voliccedilotildees O problema reside entatildeo na impossibilidade de explicar os movimento da sensibilidade e os movimentos do pensamento que satildeo os mais ligeiros pois envolvem aacutetomos menores e mais redondos segundo o raciociacutenio de Epicuro
A dificuldade do problema que se impotildee estaacute na caracte-rizaccedilatildeo deste quarto elemento ou elemento sem nome (akatonoacutemaston) ou ainda como nomeou o poeta Lucreacutecio (DRN III241 e III275) a quarta natura que natildeo se pode comparar ou mesmo aproximar de nada do que encontra-mos no universo fiacutesico da natureza estudada ou seja natildeo existe termos de comparaccedilatildeo para justificar a tenacidade e a velocidade do pensamento nem a mobilidade da alma na ldquoprojeccedilatildeordquo ou ldquosaltordquo do pensamento (vide infra ἐπιβολή τῆς διανοίας -epiboleacute tegraves diaacutenoias na segunda parte) natildeo que possamos negar por isso a existecircncia de tal elemento contu-do natildeo podemos aferi-lo mediante o poder de percepccedilatildeo dos sentidos
ἄκρον aacutekron (sn)- 41 57 107
Extremidade altura
Physiologiacutea
32 33
ἀλειτούργητος aleituacutergetos (ad)- 97
Livre de isento Palavra de uso corrente que Epicuro usa metaforicamente no sentido de isentar os fenocircmenos de toda e qualquer causalidade divina
ἀλλόφυλος alloacutephylos (ad)- 106
Estrangeiro de outra tribo ou lugarVide infra Homoacutephylos - ὁμόφυλος (na terceira parte)
ἀμερής amereacutes (ad)- 59
Impartiacutevel indivisiacutevel Este eacute um termo utilizado apenas pelos filoacutesofos atomistas gregos
ἀμετάβατος ametaacutebatos (ad)- 59
Que natildeo admite passagem que natildeo muda de lugar estacio-nado Em sua ocorrecircncia as versotildees do texto grego apresen-tam uma diferenccedila Na versatildeo de Hicks (1925) a palavra eacute ἀμετάβολα ametaacutebola (ad) que significa imutaacutevel
ἀμετάβλητος ametaacutebletos (ad)- 41
Imutaacutevel A imutabilidade eacute caracteriacutestica apenas do corpo do aacutetomo e do Todo
ἀμύθητος amyacutethetos (ad)- 115
Que natildeo recorre ao mito Indiziacutevel Neste sentido mythos signi-fica a expressatildeo isto eacute a capacidade de dizer algo por palavras
Primeira parte
34 35
ἀνάγκη anaacutenke (sf)-74 77 90 92 115 133 134 SV 9 SV 40
Necessidade Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem finalidade (teacutelos)rdquo (vide infra τέλος na segunda parte) E somente o termo anaacutenke pode signifi-car necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo pronoacuteia para designar necessidade de qual-quer maneira a necessidade nuca foi enunciada por Epi-curo num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
ἀνακοπή anakopeacute (sf)- 42
Impedimento suspensatildeo parada resistecircncia Neste caso impedimento devido agrave colisatildeo com outro corpo O Greek--english lexicondaacute como primeira ocorrecircncia deste termo a Carta a Heroacutedoto de Epicuro
ἀναφής anapheacutes (ad)- 40 86
Intangiacutevel impalpaacutevel Termo de uso exclusivo da physiolo-giacutea grega
ἀνταναπλήρωσις antanapleacuterosis (sf)- 48
Reposicionamento substituiccedilatildeo compensaccedilatildeo A uacutenica ocor-recircncia deste termo se daacute na carta a Heroacutedoto de Epicuro
Physiologiacutea
34 35
ἀντικοπή antikopeacute (sf)- 46 47
Resistecircncia A primeira ocorrecircncia deste termo se daacute em Epicuro
ἀπάντησις apaacutentesis (sf)- 46
Encontro choque
ἀπειρία apeiriacutea (sf)- 45 116
Infinidade ilimitabilidade Palavra proacutepria da physiologiacutea grega
ἀπεὶρων (τό) apeigraveron (toacute) (ad) 47 60 73 75 88 XIII XV
Ilimitado infinito
ἀπερίληπτος aperiacuteleptos (ad)- 42
Incompreensiacutevel inacessiacutevel (ao pensamento)
ἀπερινόητος aperinoacuteetos (ad)- 46
Inconcebiacutevel Segundo Liddell-Scott (1996) Epicuro daacute a este termo um sentido diferente de outros usos da palavra
ἀποκατάστασις apokataacutestasis (sf)- 44
Retorno ao movimento ou posiccedilatildeo inicial
ἀποπαλμός apopalmoacutes (sm)- 44 280 Us
Aquele que ressalta e repercute Termo de uso exclusivo de Epicuro
Primeira parte
36 37
ἀπόπαλσις apoacutepalsis (sf)- 108
Choque impacto
ἀπόρροια apoacuterroia (sf)- 46
Efluacutevio fluxo corrente emanaccedilatildeo
ἀπόστασις apoacutestasis (sf)- 46
Afastamento distanciamento
ἀρχή archeacute (sf)- 30 41 44 116 128 132 134 138 SV 23
Princiacutepio origem comeccedilo fundamento A questatildeo do princiacutepio de realidade (archeacute) eacute explicitada pelo axioma baacute-sico do atomismo segundo o qual o todo eacute composto de aacutetomos e vazio Os aacutetomos satildeo elementos constitutivos de todas as coisas gecircnese dos corpos compostos e fundamento do atomismo cujo princiacutepio eacute assim formulado na Carta a Heroacutedoto
Primeiramente nada nasce do nada (natildeo-ser) Se natildeo fosse assim tudo nasceria de tudo e nada teria necessidade de seu proacuteprio germe (DL X 38)
ldquoNada nasce do nadardquo eacute um princiacutepio que surge jaacute no pensamento de Demoacutecrito (DL IX 44) e mais tarde no pensamento de Epicuro como ponto de partida para o co-nhecimento sensiacutevel Contudo foi Lucreacutecio (DRN I 174-224) quem traduziu este princiacutepio em imagens que podem ser comprovadas pela experiecircncia e assim manifestados para cada coisa animal ou planta faz-se necessaacuteria a sua proacutepria semente em condiccedilotildees favoraacuteveis a sua germinaccedilatildeo Em razatildeo disso eacute plausiacutevel dizer que a Carta a Heroacutedoto
Physiologiacutea
36 37
comeccedila indicando que o pensamento brota da experiecircncia mediante a qual surge a possibilidade de se estabelecer as analogias que levam ao ldquosaltordquo do pensamento Este salto se caracteriza por efetuar analogias entre a realidade apre-endida imediatamente pelas sensaccedilotildees as microestruturas corpoacutereas e o macrocosmos permitindo a inteligibilidade dos niacuteveis que escapam ao alcance da sensibilidade Desse modo o pensamento pode postular que na natureza os cor-pos vecircm a ser a partir dos aacutetomos e se dissolvem espalhando os elementos que os constituem dado que a todo instante os corpos se formam e se decompotildeem no universo infinito sem nada acrescentar ou subtrair ao todo A consequecircncia loacutegica deste princiacutepio revela que a constituiccedilatildeo total do ser ou do todo permanece a mesma
ἀσθένεια astheacuteneia (sf)- 77
Fraqueza debilidade
ἀστρολογία astrologiacutea (sf)- 113
Astronomia
ἀστρολόγος astroloacutegos (sm)- 93
Astrocircnomo
ἀσχολία askholiacutea (sf)- 85
Ocupaccedilatildeo empenho
ἀσώματος asoacutematos (ad)- 67 69 70
Incorpoacutereo Termo exclusivamente filosoacutefico
Primeira parte
38 39
ἄτομος aacutetomos (ad substantivadolatatomus)- 4142 43 44 45 48 50 54 55 56 58 59 61 62 65 86 99 102 110 115
Aacutetomo indivisiacutevel Os termos gregos aacutetomos (nominativo singular) aacutetomoi (nominativovocativo pl) ou aacutetomon (acusativo singular) constam em vinte passagens dos textos de Epicuro Na maioriadas vezes os tradutores optam por aacutetomo em suas traduccedilotildees embora em alguns casos tambeacutem se traduza por indivisiacutevel
O adjetivoaacute-tomosse substantiva em aacutetomos ldquoque quer dizer natildeo-cortado indivisiacutevelrdquo (GOBRY 2007 p 115) Os aacuteto-mos satildeo literalmente partiacuteculas indivisiacuteveis que por serem assim satildeo razatildeo explicativa da realidade Eacute a ideia que deu origem ao atomismo assim como foi teorizado inicialmente por Leucipo e Demoacutecrito8 e depois por Epicuro Este legado foi espalhado pelo mundo romano entatildeo recebendo a deno-minaccedilatildeo latina de atomus (aacutetomo) ou indivisum (indivisiacutevel) como traduz Ciacutecero ou ainda semina (sementes) na lingua-gem poeacutetica do epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro Os aacutetomos satildeo elementos (stoicheiacuteon)em quantidade infini-ta que constituem os corpos compostos (synkriacuteseis) Satildeo ca-racterizados na Carta a Heroacutedoto9como partiacuteculas corpoacutereas maciccedilas indissoluacuteveis imutaacuteveis indivisiacuteveis e impenetraacute-veis portanto resistindo agrave corrupccedilatildeo dos corpos compostos desde a eternidade
Esses elementos satildeo os aacutetomos indivisiacuteveis e imutaacuteveis se eacute verdade que nem todas as coisas poderatildeo perecer e resolver--se no natildeo-ser Com efeito os aacutetomos satildeo dotados da forccedila necessaacuteria para permanecerem intactos e para resistirem enquanto os compostos se dissolvem pois satildeo impenetraacuteveis
8 Cf DL IX 449 Cf DL X 35-83
Physiologiacutea
38 39
por sua proacutepria natureza e natildeo estatildeo sujeitos a uma eventual dissoluccedilatildeo Consequentemente os princiacutepios das coisas satildeo indivisiacuteveis e de natureza corpoacuterea (DL X 41)
O objetivo de Epicuro e seus disciacutepulos nunca fora o de explorar detidamente ou ldquocientificamenterdquo as caracteriacutesticas dos aacutetomos antes operavam analogias inferecircncias induti-vas e deduccedilotildees atribuindo aos aacutetomos propriedades neces-saacuterias para a explicaccedilatildeo da realidade sensiacutevel Nas palavras de Gigandet ldquoo aacutetomo eacute princiacutepio de inteligibilidade natildeo objeto de estudo mas pelo contraacuterio eacute o ponto de partida da explicaccedilatildeordquo (2001 p40) Sementes eternas de toda a rea-lidade os aacutetomos satildeo naturezas inteiras (hoacutelas phyacuteseis)10 sem qualidades acidentais (symptoacutemata)(vide infra σύμπτωμα na segunda parte) passiacuteveis de mudanccedila no entanto pos-suindo propriedades (symbebekoacuteta)(vide infra συμβεβηκός na segunda parte) ou qualidades (poioacutetes) necessariamente permanentes (anankaiacuteon hipomeacutenein) Constituintes de to-dos os corpos compostos (visiacuteveis e invisiacuteveis) os aacutetomos natildeo tecircm outras propriedades aleacutem da formafigura (schematoacutes) do tamanho (megeacutethous) e do peso (baacuterous)11
αὔξησις ayacutexesis (sf)- 90
Crescimento desenvolvimento
10 Cf DL X 4011 Neste ponto haacute uma diferenccedila do atomismo de Demoacutecrito e Leucipo
tal como Aristoacuteteles o apresenta na Metafiacutesica A 985b e o atomismo de Epicuro pois este acrescenta o peso (baacuteros) como uma das propriedades atocircmicas aleacutem de aglutinar a propriedade da ordem (taacutexis) agrave formafigura (schecircma) J Salem cita o doxoacutegrafo Aeacutecio para documentar este acreacutescimo da filosofia epicurista ldquoDemoacutecrito pensou que existe duas propriedades do aacutetomo a grandeza e a figura enquanto que Epicuro acrescentava uma ter-ceira o peso (baacuteros) de fato declara este uacuteltimo eacute necessaacuterio que os corpos recebam a impulsatildeo do peso para se moverrdquo (Cf SALEM 1997 p 28)
Primeira parte
40 41
αὐτοθελός autotheloacutes (ad)- 85
O que tem fim em si mesmo independente completo
ἀφανής aphaneacutes (ad)- 104
Inaparente obscuro
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (ad)- 76 123
Incorruptibilidade imortalidade
ἄφοδος aacutephodos (sf)- 54
Partida retirada
βάρος baacuteros (sn)- 4454 61 68
PesoDemoacutecrito natildeo havia introduzido o peso entre as qua-lidades dos aacutetomos poreacutem Epicuro contrariamente a ele conferiu ao peso a propriedade de ser causa do movimento dos aacutetomos no vazio movimento esse que por ser constante explica a mecacircnica do devir nos diversos niacuteveis de realizaccedilatildeo da phyacutesis O peso sendo causa primeira do movimento de transformaccedilatildeo das coisas eacute necessaacuterio para a coerecircncia do sistema de exposiccedilatildeo da phyacutesis embora natildeo determine de maneira alguma as afecccedilotildees entre os corpos
βέβαιος beacutebaios (ad)- 6385 XL
Seguro soacutelido firme
βράδος braacutedos (sn)- 46
Lentidatildeo lerdeza morosidade Palavra muito rara Soacute apare-ce em Xenofonte e Epicuro
Physiologiacutea
40 41
γένεσις geacutenesis (sf)- 48 77 86 SV 42
Nascimento origem produccedilatildeo gecircnese geraccedilatildeo
διάκρισις (sf)diaacutekrisis- 78
Conflito divergecircncia divisatildeo Estes soacute podem ocorrer no niacute-vel dos fenocircmenos fiacutesicos sejam eles celestes ou subterracircneos Contudo assevera Epicuro isso deve ser evitado Por outro lado natildeo se deve em nenhuma hipoacutetese atribuir agrave natureza divina a causa do conflito da divergecircncia ou da divisatildeo
διαλύω dialyacuteo (v)- 39 41 42 73 91 II SV 37
Dissolver
διάλυσις diaacutelysis (sf)- 4154
Dissoluccedilatildeo
διαμονή diamoneacute (sf)- 89
Estabilidade continuidade
διάρθρωσις diaacuterthrosis (sf)- 89
Articulaccedilatildeo
διάστημα diaacutestema (sn)- 89 91 110
Distacircncia intervalo Palavra oriunda da linguagem musical grega Provavelmente de origem pitagoacuterica
διαφορά diaforaacute (sf)- 42 55 56 75
Diferenccedila diversidade variedade
Primeira parte
42 43
δίνη diacutene (sf)- 92 93 112 113 114
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo
δίνησις diacutenesis (sf)- 90
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo Esta outra forma da palavra diacutene eacute mais teacutecnica e eacute de uso restrito de Aristoacuteteles e Epicuro
δυνατόν (τὸ) dynatoacuten (tograve) (ad substantivado)- 93
O possiacutevel
εἰλικρινής eilikrineacutes- (ad) 89 XIV
Puro absoluto completo
ἐκπύρωσις ekpyacuterosis (sf)- 101 103 115
Conflagraccedilatildeo combustatildeo
ἐμπεριλαμβάνω emperilambaacuteno (v)- 90 105
Captar englobar apreender compreender
ἔμπτωσις eacutemptosis (sf)- 102 SV 24
Incidecircncia impacto cair sobre
ἐναπόλεψις enapoacutelepsis (sf)- 77
Intercepccedilatildeo aprisionamento Este termo eacute usado por Epicu-ro num sentido inovador que diz respeito agrave teoria epicuacuterea do nascimento dos mundos
Physiologiacutea
42 43
ἐνδέχεσθαι endeacutechesthai (v)- 78 80 87 88 90 93 94 97 100 103 104105 107 108 113
Ser possiacutevel haver a possibilidade de
ἐνέργημα eneacutergema (sn)- 37
Exerciacutecio atividade
ἐξακριβοῦν exakribucircn (v)- 35 36 68 78 83
Precisar fazer com exatidatildeo detalhar Palavra de uso filosoacute-fico apenas
ἐπάρδευσις epaacuterdeysis (sf)- 89 100
Torrente corrente Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐπίβλεψις epiacuteblepsis (sf)- 35
Visatildeo consideraccedilatildeo
ἐπισημασία episemasiacutea (sf)- 98 115
Prognoacutestico sinal indiacutecio
ἐπιτήδειος epiteacutedeios (ad)- 93 99 100 107 111 112
Adequado adaptado apropriado
εὐκινησία eukinesiacutea (sf)- 63
Mobilidade facilidade de movimento
Primeira parte
44 45
θάμβος thaacutembos (sn)- 79
Perplexidade espanto admiraccedilatildeo
θεῖος theicircos (ad)- 97 113 115 SV 24
Divino
θέσις theacutesis (sf)- 44 46 48 75 30 Us
Posiccedilatildeo
ἰσοταχής isotacheacutes (ad)- 61 62
O que possui velocidade equivalente ou a mesma rapidez Os aacutetomos de acordo com o passo 61 da Carta a Heroacutedoto ldquotecircm necessariamente a mesma velocidaderdquo Aacutetomos pesa-dos grandes pequenos ou leves em movimento ascendente obliacutequo ou descendente percorrem o espaccedilo com a mesma rapidez12 Epicuro assemelha ainda a rapidez do aacutetomo agravequela do pensamento ou seja os aacutetomos se movem com a mesma rapidez com que operamos com o loacutegos na apreensatildeo de sentidos Para que a natureza se expresse da maneira que se apresenta aos homens eacute preciso que os aacutetomos natildeo apenas se movimentem mas que se movimentem com celeridade pois os elementos que se desprendem dos corpos devem ser imediatamente repostos para que a continuidade provisoacuteria dos compostos possa ser explicada pelo atomismo de manei-ra coerente Tendo em vista que os elementos que compotildeem
12 Cf DRN II 225-229 A sensibilidade parece atestar o contraacuterio quando se trata da rapidez dos corpos em queda mas eacute preciso considerar que a trajetoacuteria dos aacutetomos se daacute no vazio onde natildeo haacute resistecircncia nem por parte do ar nem da aacutegua meios em que vemos corpos mais pesados serem mais raacutepidos que corpos leves
Physiologiacutea
44 45
os corpos tecircm figuras diversas um aacutetomo com figura ldquoZrdquo natildeo pode ser substituiacutedo por um aacutetomo de figura ldquoOrdquo mas apenas por aacutetomos de figura ldquoZrdquo13 Isso significa que algu-mas reposiccedilotildees satildeo efetuadas por aacutetomos que se encontravam a grandes distacircncias mas que por possuiacuterem uma ligeireza comparaacutevel agravequela do pensamento alcanccedilam aglutinar-se ao corpo agregado que deles precisava para persistir na confi-guraccedilatildeo corpoacuterea que assumia A velocidade uniforme dos aacutetomos tambeacutem propicia a formaccedilatildeo das imagens pois estas guardam a posiccedilatildeo e estrutura que os aacutetomos componentes assuniam no corpo do qual se desprenderam tornando pos-siacutevel o ato perceptivo Eacute necessaacuterio agrave fiacutesica epicurista que os aacutetomos percorram espaccedilos vazios de modo igualmente veloz
ἱστορία historiacutea (sf)- 79
Investigaccedilatildeo estudo Epicuro critica o tipo de erudiccedilatildeo daqueles que fazem a historiacutea isto eacute a investigaccedilatildeo dos fenocirc-menos fiacutesicos mas natildeo demonstram o valor ou a utilidade deste conhecimento para a vida praacutetica
κάθαρσις kaacutetharsis (sf)- 86
Soluccedilatildeo Diz respeito ao modo proacuteprio de Epicuro pensar a natureza segundo o qual a physiologiacutea deve encontrar uma
13 Lucreacutecio (DRN I 167-172) explica que cada corpo tem sementes especiacuteficas ou seja os corpos compostos satildeo formados por aacutetomos de figuras particulares sem os quais o corpo composto natildeo se apresentaria da mesma maneira e aleacutem disso qualquer coisa poderia gerar-se de qualquer coisa um absurdo que natildeo constatamos ocorrer na natureza Nas palavras do poeta epicurista ldquoMas como todos (os seres e as coisas) se formam por sementes certas soacute nascem e chegam agraves margens da luz no lugar em que existam a mateacuteria e os corpos elementares que lhe satildeo proacuteprios por isso natildeo pode tudo nascer de tudo cada ser determinado tem em si possibili-dades proacutepriasrdquo
Primeira parte
46 47
soluccedilatildeo para os problemas fiacutesicos sem no entanto recorrer agrave sobrenaturalidade (explicaccedilotildees miacuteticas)
κατάστημα kataacutestema (sn)- 68 Us
Condiccedilatildeo estaacutevel
κενόν (τὸ) kenoacuten (tograve) (ad substantivado)- 40 41 42 44 46 67 89 90 74 Us 75 Us
O Vazio
Se aquilo que chamamos vazio e espaccedilo ou aquilo que por natureza eacute intangiacutevel natildeo tivesse uma existecircncia real nada haveria em que os corpos pudessem estar e nada atraveacutes de que eles pudessem se mover como parece que se movem (DL X 40)
O vazio eacute definido em primeiro lugar de modo simples e fundamental como aquilo que por natureza eacute intangiacutevel e dotado de uma existecircncia real em segundo lugar ele eacute apresentado como a condiccedilatildeo necessaacuteria aos movimentos dos corpos Com relaccedilatildeo aos corpos o vazio possui carac-teriacutesticas essencialmente opostas como por exemplo os corpos satildeo passiacuteveis de afecccedilatildeo o vazio natildeo os aacutetomos tecircm o limite delineado pela figura e podem ser comparados uns aos outros devido sobretudo ao fato de serem muacuteltiplos e diversos ao passo que o vazio eacute somente vazio ou algo anaacute-logo ao natildeo-ser Entretanto a sua existecircncia possibilita quer a compreensatildeo do vir-a-ser ou agregaccedilatildeo que a do movimen-to ou devir dos corpos Na afirmaccedilatildeo acima o vazio eacute ainda por definiccedilatildeo espaccedilo de livre constituiccedilatildeo e deslocamento dos corpos sendo o meio no qual emergem os agregados atocircmicos e onde se formam desenvolvem e corrompem as
Physiologiacutea
46 47
muacuteltiplas coisas da natureza Por estas razotildees parece justifi-car-se o caraacuteter fundamental atribuiacutedo por Epicuro ao vazio uma vez que eacute tatildeo necessaacuterio quanto os aacutetomos e o infinito para seu sistema de compreensatildeo da realidade
O vazio eacute tambeacutem aquilo que diferencia essencialmente um aacutetomo de um corpo composto Podemos recorrer aos atomis-tas para justificar esta diferenccedila Para eles o aacutetomo eacute imutaacutevel por ser pleno o corpo ao contraacuterio eacute passiacutevel de mudanccedilas visto que eacute um misto de aacutetomos e vazio a diferenccedila entatildeo explica-se pelo fato mesmo de se conceber os aacutetomos em cons-tante movimento e de se admitir que a existecircncia do vazio viabiliza os deslocamentos dos aacutetomos no interior dos corpos
κίνησις kiacutenesis (sf)- 50 51 59 64 66 67 73 77 92 98 101 105 106 111 112 115 136 2 Us 191 Us 280 Us
Movimento O termo grego kiacutenesis pode ser compreendido num sentido geral e num sentido estrito sendo todavia necessaacuterio concebecirc-lo inicialmente como expressatildeo dos pro-cessos de geraccedilatildeo e corrupccedilatildeo o que soacute eacute possiacutevel nas esferas dos corpos e dos mundos Num sentido geral kiacutenesis eacute presu-posto na realizaccedilatildeo de phyacutesis pois dele resultam as afecccedilotildees que datildeo origem aos agregados e aquelas que satildeo responsaacuteveis pela desagregaccedilatildeo dos compostos
Em virtude de os aacutetomos terem em si o princiacutepio do movimen-to a mudanccedila apresenta-se como uma necessidade Destarte cabe afirmar que compreender kiacutenesis como mudanccedila signifi-ca estabelecer que a realidade (fiacutesica) dos corpos compostos soacute eacute alterada em funccedilatildeo do movimento dos aacutetomos
Num sentido estrito eacute possiacutevel o emprego de kiacutenesis para designar apenas o deslocamento dos aacutetomos no vazio
Primeira parte
48 49
κοίλωμα koiacuteloma (sn)- 46 100 106
Cavidade profundidade concavidade
κόσμος koacutesmos (sm)- 45 73 74 77 88 89 90 112
Mundo Epicuro compreende que os mundos satildeo infinitos em nuacutemero e estatildeo espalhados por todo o universo que eacute tambeacutem infinito Alguns satildeo esfeacutericos outros podem ter outras formas Um mundo como um megacorpo recebe elementos que vem de fora e tambeacutem perdem elementos Na Carta a Heroacutedoto podemos ler as seguintes definiccedilotildees
Aleacutem disso existe um nuacutemero infinito de mundos tanto semelhantes ao nosso como diferntes dele pois os aacutetomos cujo nuacutemero eacute infinito como acabamos de demonstrar satildeo levados em seu curso a uma distacircncia cada vez maior E os aacutetomos dos quais poderia se formar um mundo natildeo foram todos consumidos na formaccedilatildeo de um mundo soacute nem de um nuacutemero limitado de mundos nem de quantos mundos sejam semelhantes a este ou diferentes deste Nada impede que se admita um nuacutemero infinito de mundos (DL X 42)
Um mundo eacute uma porccedilatildeo circunscrita do universo compre-endendo astros e terra e todas as coisas visiacuteveis destacado do infinito () cuja dissoluccedilatildeo levaraacute aacute ruiacutena tudo que estaacute nele (DL X 88)
κοῦφος kucircphos (ad)- 43 61
Leve ligeiro
κρᾶσις kraacutesis (sf)- 63
Mistura uniatildeo
Physiologiacutea
48 49
κροῦσις kruacutesis (sf)- 61
Choque golpe colisatildeo
κυριώτατος kyrioacutetatos (ad)- 35 36 78 79 81 82 83 IX XII XVI
Fundamental capital o mais importante
λειτουργέω leiturgeacuteo (v)- 76
Desempenhar uma funccedilatildeo cargo serviccedilo
λειτουργία leiturgiacutea (sf)- 113
Funccedilatildeo cargo serviccedilo
λεπτομέρεια leptomeacutereia (sf)- 63 355 Us
Um composto de partiacuteculas sutis A sutileza eacute caracteriacutestica dos aacutetomos do composto aniacutemico
λεπτομερής leptomereacutes (ad)- 63 90101
Composto de partiacuteculas sutis A alma eacute para Epicuro um corpo dentro do corpo-carne A diferenccedila estaacute na sutileza dos aacutetomos que compotildeem a alma
λόξωσις loacutexosis (sf)- 93
Inclinaccedilatildeo obliquidade Palavra utilizada na explicaccedilatildeo do movimento dos astros
λύσις lyacutesis (sf)- 79
Soluccedilatildeo liberaccedilatildeo
Primeira parte
50 51
μεστός mestoacutes (ad)- 42
Pleno cheio
μετάβασις metaacutebasis (sf)- 56 58
Passagem dum lugar a outro extensatildeo percorriacutevel
μεταβολή metaboleacute (sf)- 39 54 98
Mudanccedila transformaccedilatildeo Um dos tipos de movimento uti-lizados por Epicuro Neste caso significa o movimento de transformaccedilatildeo de um corpo
μετάθεσις metaacutethesis (sf)- 54
Transposiccedilatildeo deslocamento Outro tipo de movimento Neste caso significa a mudanccedila de lugar ou o deslocamento de um aacutetomo ou de um corpo composto (agregado)
μετακόσμιον metakoacutesmion (sn)- 89
Intermuacutendio Espaccedilo entre os mundos onde Epicuro situa os deuses
μετάστασις metaacutestasis (sf)- 89
Mundanccedila de posiccedilatildeo Termo que define o movimento dos aacutetomos no interior dos corpos
μετέωρα meteacuteora (ad) - 76 78 80 82 84 85 86 87 95 96 97 98 111 X XI
Qualificativo de fenocircmenos ou corpos celestes
Physiologiacutea
50 51
μορφή morpheacute (sf)-33 (255 Us) 49 50
Forma figura aspecto Relativo agrave forma dos objetos perce-bidos pelos sentidos ou imaginados pelo pensamento
ὅγκος hoacutenkos (sm)- 52 53 54 56 57 69 105
Corpuacutesculo partiacutecula massa
οἰκονομία oikonomiacutea (sf)- 79
Gestatildeo ordenamento
ὅλος hoacutelos (ad)- 36 70 71 82 IX XXI XXVII
Todo inteiro universal Epicuro usa este adjetivo para des-crever a totalidade de um corpo ou de sensaccedilotildees ou ainda a completude da vida Natildeo confundir com τό πᾶν toacute pacircn - O todo
ὁλοσχερής holoschereacutes (ad)- 35 36
Geral completo
ὁμογενές homogeneacutes (ad)- 32 (36 Us) 53 116 XVIII
Mesmo gecircnero (tipo espeacutecie) homogecircneo congecircnere
ὀξυγώνιος oksygoacutenios (ad)- 109
Anguloso acircngulos agudos
ὁπηλίκος hopeliacutekos (ad)- 56 57
Grandeza tamanho
Primeira parte
52 53
ὁρμή hormeacute (sf)- 115
Impulso
οὐρανός uranoacutes (sm)- 88 92 93 96 111
Ceacuteu
οὐσία usiacutea (sf)- 72 86
Essecircncia O uso deste termo diz respeito agrave investigaccedilatildeo acerca do tempo na Carta a Heroacutedoto (72) e agraves causas dos fenocircmenos celestes na Carta a Piacutetocles (86)
παλμός palmoacutes (sm)- 43
Vibraccedilatildeo pulsaccedilatildeo Os aacutetomos estatildeo em movimento cons-tante e palmoacutes eacute o termo que define o movimento vibratoacuterio (oscilatoacuterio) dos aacutetomos no interior dos corpos
πᾶν (τό) pacircn (toacute) (ad substantivado)- 39
O todo
παντελής panteleacutes (ad)- 116 XX XXI
Perfeito completo
παραλλαγή parallageacute (sf)- 55 63 95 113
Variaccedilatildeo diferenccedila
παρέγκλισις pareacutenklisis (sf lat clinamen)- 280 Us 351 Us
Declinaccedilatildeo Pareacutenklisis eacute um termo que natildeo consta nos tex-
Physiologiacutea
52 53
tos atribuiacutedos agrave Epicuro no entantoeacute possiacutevel lecirc-lo nas ins-criccedilotildees em perdra do epicurista Dioacutegenes de Enoanda(frg 54 II 3 III 14 Smith)Este termo tambeacutem aparece em Aeacute-cio I 12 5 (280 Us) em texto cujo autor enumera os tipos de movimento dos aacutetomos A versatildeo latina deste termo eacute mais conhecida clinamen14 As teorias a respeito da declinaccedilatildeo dos aacutetomos foram anunciadaspelo epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro no segundo canto de seu poema De Rerum Natura
Quando os corpos satildeo levados em linha reta atraveacutes do vazio e de cima para baixo pelo seu proacuteprio peso afastam-se um pouco (depellere paulum) da sua trajetoacuteria em altura incerta e em incerto lugar e tatildeo somente o necessaacuterio para que se possa dizer que se mudou o movimento (DRN II 216-220)
A declinaccedilatildeo se coloca como mais uma causa do movi-mento dos aacutetomos aleacutem das causas puramente mecacircnicas colisotildees ausecircncia de resistecircncia do vazio ou o proacuteprio peso dos aacutetomos15 A declinaccedilatildeo natildeo tem causa externa mas eacute um princiacutepio interno assim como o peso mas que diferente deste natildeo promove o percurso dos aacutetomos em uma direccedilatildeo constante antes luta contra toda determinaccedilatildeo introduzin-do na phyacutesis o acaso como causa de ser O elemento casual se encontra nas ocasiotildees em que os aacutetomos tendem a desviar de sua trajetoacuteria descendente ldquoem altura incerta e em incerto
14 Lucreacutecio tambeacutem usa outros termos para designar o des-vio do aacutetomo tais quais depellere declinare inclinare (DRN II 219221250253259243) O termo clinamen aparece apenas uma vez no verso 292 do livro II (Cf GIGANDET 2001 p 24 n3) ldquoClinamen parece ter sido criado por Lucreacutecio para evitar clinatio que natildeo podia entrar em seus versos hexacircmetros (SALEM 1997 p 67)
15 O doxoacutegrafo Aeacutecio afirma que ldquoOs aacutetomos se movem ora segundo a reta ora segundo o desvio (katagrave pareacutenklisin) os movimentos para cima ocorrem segundo o choque e a rebatidardquo (280 Us) cf DRN II 285-286
Primeira parte
54 55
lugarrdquo somente ldquoum poucordquo (paulum) sem causa aparente sem choques que constranjam seu deslocamento e indo de encontro agraves determinaccedilotildees do peso
Satildeo dois os argumentos usados por Lucreacutecio para defender a tese do clinamen (nos versos II 216-293) 1) Se natildeo ocor-ressem desvios atocircmicos a natureza permaneceria esteacuteril ldquoo mundo natildeo poderia nascer a necessidade seria infecundardquo (GUYAU 1927 p 77) uma vez que natildeo haveria colisotildees atocircmicas nem consequentemente corpos compostos mun-dos seres etc 2) Somos livres e para tanto eacute necessaacuterio que as ldquocausas natildeo se sigam perpetuamente agraves causasrdquo (DRN II 255) antes deve haver movimentos atocircmicos que natildeo podem ser remetidos agrave causas exteriores ldquoA existecircncia desta curiosa propriedade dos corpos primevos pode ser deduzida da ob-servaccedilatildeo dos fenocircmenos imputaacuteveis agrave vontade dos seres vi-vosrdquo (SALEM 1997 p 167) Lucreacutecio para justificar o mo-vimento de declinaccedilatildeo dos aacutetomos propotildee primeiramente imaginar um ldquomomentordquo hipoteacutetico da eternidade em que nenhum agregado atocircmico existisse mas apenas aacutetomos iso-lados percorressem seu trajeto descendente ldquocomo gotas de chuvardquo16 Se assim fosse jamais um aacutetomo se encontraria ou colidiria com outro natildeo haveria corpos compostos mundos ou seres viventes
πέρας peacuteras (sn)- 41 59 88 133 X XVIII XIX XX XXI SV 48
Limite termo
16 Como esclarece Gigandet ldquoa queda primitiva e esteacuteril eacute colocada como uma ficccedilatildeo um simples momento abstrato permitindo reconstruir o movimento caoacutetico efetivordquo (2001 p 29)
Physiologiacutea
54 55
περιαίρεσις periaiacuteresis (sf)- 55
Suprimir retirar remover
περίληψις periacutelepsis (sf)- 56
Circunscriccedilatildeo
περιοχή periocheacute (sf)- 88
Envoltoacuterio invoacutelucro
περιπλοχή periplocheacute (sf)- 43 44 99
Entrelaccedilamento
περίστασις periacutestasis (sf)- 92 102 104 106 107 109 111
Estado disposiccedilatildeo circunstacircncia entorno
περιφέρεια peripheacutereia (sf)- 107 110
Periferia circunferecircncia forma circular
περιφερής periphereacutes (ad)- 109
Redondo circular
πηλίκος peliacutekos (ad)- 57
De uma certa grandeza
πύκνωμα pyacuteknoma (sn)- 36 50 105 115
Densidade compacidade consistecircncia
Primeira parte
56 57
πλεκτικός plektikoacutes (ad)- 43
Entrelaccedilado
πλεοναχός pleonachoacutes (ad)- 86 87 95
Diverso muacuteltiplo
πληγή plegeacute (sf)- 53 103102 280 Us
Golpe choque impacto Eacute o termo utilizado por Epicuro para nomear o choque entre os aacutetomos e os oacutergatildeos sensiacuteveis Eacute o modo de explicar como se produz a audiccedilatildeo o olfato e a visatildeo por exemplo
πλῆθος plecircthos (sn)- 41 65 89
Nuacutemero quantidade
πλήρης pleacuteres (ad)- 41 XL
Pleno compacto
πνεῦμα pneucircma (sn)- 63 100 101 102 103 104 105 106 107 115
Sopro vento respiraccedilatildeo focirclego
πνευματώδης pneumatoacutedes (ad)- 53 106 107
Semelhante agrave respiraccedilatildeo anaacutelogo ao vento
ποιότης poioacutetes (sf)- 43 44 54 55 56
Qualidade
Physiologiacutea
56 57
πόρος poacuteros (sm)- 47 61 107 111
Passagem
πρόβλημα proacuteblema (sn)- 86
Problema
προσδοχή prosdocheacute (sf)- 89
Recepccedilatildeo
προσκατανόησις proskatanoacuteesis (sf)- 79
Conhecimento adicional consideraccedilatildeo aprofundada
πρόσκρισιςproacuteskrisis(sf)- 90 109
Acrescento agregaccedilatildeo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto
πύκνωμαpyacuteknoma(sn)- 3650 105 115
Massa densa concentraccedilatildeo
πυκνῶς pyknocircs(adv)- 73
De modo compacto forte constante
ῥεῦμα rheyacutema (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo Termo utilizado para nomear o deslocamento dos aacutetomos atraveacutes do espaccedilo para afetar os oacutergatildeos sensiacuteveis e produzir as sensaccedilotildees
Primeira parte
58 59
ῥύσις rhyacutesis (sf)- 104
Fluxo
σάρξ saacuterx (sf)- 137 IV XVIII XX SV 4 SV 33
Carne corpo Na physiologia o corpo eacute pensado como um agregado (vide supraathroiacutesma- ἀθροίσμα) constituiacutedo de aacutetomos e vazio ou seja como um ente fiacutesico (soacutema) Num segundo sentido o corpo eacute pensado como uma estrutura orgacircnica viva o que tambeacutem quer dizer phyacutesis O saber acerca do corpo humano se faz atraveacutes do contato corpomundo e chamamos mundo o conjunto de coisas que satildeo fenocircmenos manifestos no mundo-realidade Segundo Epi-curo conhecemos as coisas quando sentimos sua expressatildeo em noacutes E neste sentido buscamos naturalmente afec-ccedilotildees que produzam sensaccedilotildees constitutivas e agradaacuteveis De certa maneira o corpo se comunica com as coisas do mundo provando-as e tendo como criteacuterio de escolha e rejeiccedilatildeo das afecccedilotildees possiacuteveis o prazer e a dor O corpo eacute um modo do conhecimento Epicuro pensa neste mesmo corpo a alma que eacute tambeacutem corpo mas distingue-se da carne por suas propriedades fiacutesicas e por sua funccedilatildeo ra-cional e imaginativa que articula as impressotildees sensiacuteveis e projeta-as enquanto pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) A perfeita interaccedilatildeo entre carne e alma transfor-ma as sensaccedilotildees em sentimentos ou ainda o que afeta a carne em compreensatildeo ou pensamento Neste contexto carne e alma natildeo podem ser pensados separadamente pois satildeo apenas um e as afecccedilotildees (paacutethe) (vide infra πάθος na segunda parte) soacute se expressam como prazer ou dor na in-teraccedilatildeo carnealma
Physiologiacutea
58 59
σέμνωμα seacutemnoma (sn)- 77
Majestade Palavra encontrada nos textos de Epicuro e de poucas ocorrecircncias depois dele
σκαληνός skalenoacutes (ad)- 109
Irregular
σπέρμα speacuterma (sn)- 38 66 74 89
Semente esperma Este eacute um termo importante da physio-logiacutea que ressalta a ideacuteia de que para cada coisa animal ou planta eacute necessaacuterio a sua semente (esperma) proacutepria e das condiccedilotildees favoraacuteveis agrave sua germinaccedilatildeo
στάσις staacutesis (sf)- 73 88 92
Repouso imoacutevel
στεγάζωstegaacutedzo (v)- 43 64 65 66
Recobrir proteger
στερεότης stereoacutetes (ad)- 44
Solidez firmeza
στοιχεῖον stoicheiacuteon(sn)- 36 37 44 47 86 128
Elemento princiacutepio
συγγενής syngeneacutes(ad)- 78 79 98 116 135
Congecircnere similar afim
60 61
Primeira parte
60 61
συγγένησις syngeacutenesis (sf)- SV 61
Reuniatildeo
συγγενικός syngenikoacutes (ad)- 129
Congecircnito Este termo caracteriza a relaccedilatildeo do homem com o prazer (vide infrahedoneacute-ἡδονή na terceira parte)ldquoO pra-zer eacute nosso bem primordial e congecircnito (syngenikoacutes)rdquo (DL X 129) O prazer possibilita ao epicurista uma vida de acordo com a natureza constituindo-se como uma evidecircncia praacuteti-ca a guiar o homem para a felicidade
σύγκρισις syacutenkrisis(sf)- 40 41 42 54 55 62 66 73 110
Composiccedilatildeo condensaccedilatildeo
σύγκρουσις syacutenkrusis(sf)-44 101
Colisatildeo choque Este termo ocorre pela primeira vez em Epicuro
συγκύρησις synkyacuteresis (sf)- 96 98115
Concurso coincidecircncia
σύγκυσις syacutenchysis (sf)- 88
Ruiacutena mistura
συλλογή syllogeacute (sf)- 99 103 106 115
Reuniatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
60 6160 61
συμπαθής sympatheacutes (ad)- 63
Co-afecccedilatildeo Palavra que explica a ligaccedilatildeo ou conexatildeo das partiacuteculas (aacutetomos) com o resto do agregado (corpo)
συμφόρησις symphoacuteresis (sf)- 59 69
Agrupar reunir O primeiro a utilizar este termo foi Epicu-ro
συμφυλία symphyliacutea (sf)- 115
Da mesma tribo ou raccedila apropriado apto Neste caso o termo refere-se agrave compatibilidade existente entre os aacutetomos na formaccedilatildeo de um composto (agregadocorpo) O termo tambeacutem pode ser usado por Epicuro e entendido metafo-ricamente no sentido das relaccedilotildees humanas praticadas na comunidade do Jardim
συνφωνία symphoniacutea (sf)- 86 87 98
Acordo concordacircncia consonacircncia
σύντονος syacutentonos(ad)- 102 XXX SV 4
Intenso tenso veemente
σύστασις syacutestasis (sf)- 48 99 107
Combinaccedilatildeo uniatildeo
σύστημα siacutestema (sn)- 66
Complexo associaccedilatildeo
Primeira parte
62 63
συστροφή systropheacute (sf)- 73 77 XXXIII
Concentraccedilatildeo amontoado
σχῆμα schecircma(sn)- 42 44 54 55 68 74
Forma figura Uma das propriedades dos aacutetomos
σχηματισμός schematismoacutes(sm)- 54 74 94 101 102 109
Configuraccedilatildeo maneira forma
σῶμα socircma (sn)- 39 40 41 42 47 48 55 56 63 66 68 69 70 71 86 94 101 127 128 131 SV 73 221 Us
Corpo Socircma traduz tanto a ideia de um aacutetomo isolado quan-to a de compostos atocircmicosEpicuro tambeacutem denomina os compostos de athroiacutesmaou syacutenkrisis(Vide supra nesta mesma parte) O que diferencia fundamentalmente o corpo atocircmico singular do corpo composto eacute a presenccedila de vazio entre os aacutetomos reunidos em composiccedilatildeo Um corpo composto se diferencia tambeacutem da unidade atocircmica pela emissatildeo de simu-lacros (Vide supra leptomereacutes λεπτομερής nesta mesma parte) fina camada de aacutetomos que se desprende dos corpos compos-tos permitindo assim o processo perceptivo De acordo com Morel ldquoa categoria fundamental da fiacutesica epicurista eacute a de lsquocorporsquo antes mesmo que a de aacutetomordquo (2013 p 57) Dioacutegenes Laeacutercio nos informa que os corpos compostos eram objeto de estudo de trecircs livros do Perigrave Phyacuteseos (Sobre a natureza) e tam-beacutem do seu Megaacutele Epitomeacute (Grande Compecircndio)
τάγμα taacutegma (sn)- 71
Status classe
Physiologiacutea
62 63
τάξις taacutexis (sf)- 48 97
Ordem disposiccedilatildeo regularidade
τάχος taacutechos (sn)- 46 102
Rapidez velocidade
ταχύς tachyacutes (ad)- 62 98
Veloz raacutepido
τελείωσις teleiacuteosis (sf)- 89
Cumprimento realizaccedilatildeo conclusatildeo
τελεσιουργέω telesiurgeacuteo (v)- 36
Realizar acabar perfazer
τομή tomeacute (sf)- 43 56
Divisatildeo
τροπή tropeacute (sf)- 76 79 93
Revoluccedilatildeo solstiacutecio
ὑδατοιειδής hydatoeideacutes (ad) - 106 107 109
Aquoso
φορά phoraacute (sf)- 46 47 49 60 61 62 70 76 101 107 115
Movimento deslocamento translado
Primeira parte
64 65
φυσικός physikoacutes (ad)- 86 90 127 130 134 XXIX XXX SV 21
Natural fiacutesico
φυσιολογία physiologiacutea (sf)- 37 78 85 XI XII SV 45
Investigaccedilatildeo da natureza A physiologiacutea eacute descrita por Epi-curo como o procedimento de investigaccedilatildeo da natureza ou de toda realidade fenomecircnica que se nos apresenta Mantendo-se fiel a uma tradiccedilatildeo que remonta aos primeiros pensadores da Jocircnia Epicuro define a physiologiacutea como um exerciacutecio constante de compreensatildeo dessa realidade que eacute para ele a phyacutesis Eis a razatildeo de fazer derivar a eacutetica de um saber para a vida que deve se constituir necessariamente num modo de ser de acordo com a natureza Deste modo o exerciacutecio de pensar a phyacutesis configura o modo de ser do filoacutesofo que percebe neste aprendizado o sentido proacuteprio da sua situaccedilatildeo no mundo enquanto ser dotado da capacidade do logismoacutes(vide infra λογισμός na segunda parte) ou seja de ser capaz de utilizar-se do pensamento para escolher e recusar tudo o que necessita ou natildeo respectivamente Mas este exerciacutecio de pensar a phyacutesis soacute seraacute possiacutevel porque para Epicuro a natureza eacute a fonte ou o princiacutepio da vida fiacutesica psiacutequica e eacutetica Pois ele revela ao pensamento em si indiacutecios que tornam possiacutevel a medida de realizaccedilatildeo de cada coisa e dentre elas do proacuteprio homem que emerge em seu proacuteprio seio e tem a necessidade de viver de acordo com ela (katagrave phyacutesin)
φύσις phyacutesis (sf)- 35 40 45 48 49 54 68 69 70 71 75 78 79 82 83 86 90 91 97 113 115 129 133 VI VII
Physiologiacutea
64 65
IX XII XV XXV XXX XXXI XXXVII SV 21 SV 24 SV 25 SV 37
Natureza A Carta a Heroacutedoto apresenta proposiccedilotildees fun-damentais acerca dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis Nela articulam-se aacutetomos corpos compostos mundos e o todo a fimde possibilitar a compreensatildeo da natureza das coisas desde a microestrutura do aacutetomo ateacute a noccedilatildeo de infinito Percebe-se que nesta carta Epicuro buscou tornar clara e ob-jetiva a possibilidade de conhecimento da realidade como podemos ver no primeiro momento que revelou a primeira questatildeo ou seja ldquocomo as coisas se realizamrdquo Neste sentido podemos afirmar metafisicamente que na Carta a Heroacutedo-to o olhar tornou-se indagaccedilatildeo e o pensamento estendeu a dimensatildeo deste olhar ao mais minuacutesculo dos limites e ao mesmo tempo ao absoluto ilimitado
Agrave busca desta compreensatildeo Epicuro chamou de physiologiacutea definindo com isso o procedimento reflexivo que enseja a filosofia Eis a razatildeo de ser phyacutesis o germe de seu pensamento pois a origem do filosofar coincide com a origem da phy-siologiacutea Ele faz emergir desta maneira no cerne do pen-samento helecircnico o problema originaacuterio da filosofia Mais que isso o expotildee como propedecircutico ao desenvolvimento de uma ldquovisatildeo de mundordquo ou realidade Assim ele sugere que a construccedilatildeo de um pensamento filosoacutefico tem um princiacutepio sendo este princiacutepio a phyacutesis
Para alcanccedilar estes objetivos voltou-se entatildeo para a estru-turaccedilatildeo dos modos de compreensatildeo dos fenocircmenos natu-rais elaborando explicaccedilotildees que evidenciassem o sentido fiacutesico e material das geraccedilotildees dos desenvolvimentos das corrupccedilotildees enfim das mutaccedilotildees ocorridas na natureza enfatizando a possibilidade mesma de compreensatildeo de tudo
Primeira parte
66 67
isso Com isso buscou desestruturar completamente as ex-plicaccedilotildees fundadas em imaginaacuterias causas sobrenaturais insurgindo-se contra a arrogacircncia das insistentes ldquoopiniotildees vaziasrdquo que as postulavam como origem da realidade Por-que sua ocupaccedilatildeo era a realizaccedilatildeo efetiva de pensar o sublime vir-a-ser e fazecirc-lo aparecer apenas como sublime e natildeo mais como misterioso17
Eacute verdade que nem tudo que pocircde compreender sobre a natureza das coisas coube na epiacutestola que escreveu ao dis-ciacutepulo Heroacutedoto Contudo guardadas as limitaccedilotildees de um compecircndio encontra-se ali a autecircntica e genuiacutena disposiccedilatildeo do conhecimento que insiste em ver o filoacutesofo como um descobridor Natildeo de uma parte mas do ldquotodordquo cuja inquie-taccedilatildeo inicial jaacute eacute a finalidade do conhecimento ou seja a compreensatildeo da realidade
Phyacutesis eacute segundo a etimologia da palavra o processo de cres-cimento ou gecircnese de alguma coisa e neste sentido Epicuro somente a utiliza quando se refere aos corpos compostos e aos mundos Num segundo sentido phyacutesis eacute princiacutepio (ar-cheacute) porque eacute aacutetomos e vazio e num terceiro sentido phyacutesis eacute o modo de ser do todo ilimitado
χρόνος chroacutenos (sm)- 47 62 7273 75 93 106 111 124 126 129 130 133 III IV IX XVI XIX XX XXXVII SV 4 SV 42 SV 46 Pap Herc 1418
Tempo duraccedilatildeo Quando percebido numa relaccedilatildeo sensiacutevel o tempo aparece associado agraves manifestaccedilotildees de movimento Haacute o tempo de transformaccedilatildeo do dia em noite do quente
17 Lucreacutecio no livro I do seu poema De Rerum Natura (62-80) diz que Epicuro buscou explicar ldquocientiacuteficamenterdquo as coisas da natureza e com isso tem livrado a humanidade das falsas crenccedilas e temores
Physiologiacutea
66 67
em frio do crescimento e das degeneraccedilotildees dos seres vivos etc A compreensatildeo da natureza do tempo definida por Epi-curo como ldquoo acidente dos acidentesrdquo (syacutemptoma symptoacutema-tos) (vide infra σύμπτωμα na segunda parte) pressupotildee uma relaccedilatildeo de acontecimentos diversos e sucessivos que podem ser identificados somente na constataccedilatildeo das alteraccedilotildees so-fridas pelos corpos O tempo eacute compreendido numa relaccedilatildeo entre o acidente ou a mudanccedila de propriedades de um corpo e o movimento geral de transformaccedilatildeo das coisas O tempo do todo e de cada aacutetomo eacute um tempo infinito o tempo soacute eacute quantificaacutevel em relaccedilatildeo aos corpos passiacuteveis de observaccedilatildeo cujas alteraccedilotildees de posiccedilatildeo peso tamanho e forma satildeo evi-dentes aos sentidos Atraveacutes da analogia estabelecida entre as mudanccedilas observadas e a projeccedilatildeo do pensamento ao niacutevel macroscoacutepico podem-se criar hipoacuteteses acerca da duraccedilatildeo dos seres
Devemos refletir atentamente nas percepccedilotildees elementares a partir das quais constituiacutemos essa essecircncia (tempo) no que ela tem de proacuteprio e de que partimos para medir o tempo De fato natildeo haacute necessidade de demonstrar pois a reflexatildeo nos basta para compreender que compomos o tempo com os dias e as noites com os nossos estados de paixatildeo ou impassi-bilidade com os movimentos e os repousos concebendo em tudo isso certo acidente comum que nos leva a pronunciar a palavra tempo (DL X 73)
O tempo natildeo tem existecircncia proacutepria como o espaccedilo ou a mateacuteria ele eacute intuiacutedo apreendido percebido nas modifi-caccedilotildees das coisas por isso a Epicuro bastou a reflexatildeo de tempo sendo desnecessaacuterio demonstraacute-la ou defini-la apenas pareceu-lhe importante apresentaacute-la articulada ao movimento Lucreacutecio sintetiza de modo brilhante o que seu
68 69
Primeira parte
68 69
mestre grego pensou sobre o tempo
O tempo natildeo existe em si mesmo mas eacute das proacuteprias coisas que proveacutem o sentimento do que se passou do que eacute pre-sente daquilo que viraacute Ningueacutem pode sentir o tempo em si exteriormente ao movimento ou ao repouso das coisas (DRN I 459 - 463)
Assim a compreensatildeo epicuacuterea de tempo apresenta-o como unidade de medida de duraccedilatildeo Esta duraccedilatildeo pode ser a de um corpo ou do estado de um determinado corpo por exemplo a duraccedilatildeo da dor pode ser percebida e dessa per-cepccedilatildeo infere-se uma medida que quantifica sua duraccedilatildeo Se a dor eacute um acidente do corpo a duraccedilatildeo da dor eacute um acidente do acidente que eacute a dor E aleacutem da dor o prazer e todas as coisas que ora permanecem ora se modificam satildeo experiecircncias que possibilitam a apreensatildeo do tempo como unidade de medida de duraccedilatildeo
Ao considerar o tempo desta maneira Epicuro admite que as noccedilotildees de infinito e finito indicam respectivamente a na-tureza imutaacutevel dos aacutetomos e do todo e a natureza mutaacutevel dos corpos e mundos pois soacute estes uacuteltimos possibilitam a percepccedilatildeo do tempo
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
χώρα choacutera (sf) - 40 XXXVI XXXVII
Espaccedilo lugar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
68 6968 69
SegundA PArte
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
70 71
ἄδηλος aacutedelos (ad)- 32 38 39 80 XXXV
Imperceptiacutevel invisiacutevel oculto incerto desconhecido Aacutedelos expressao que natildeo pode ser apreendido por meio dos sentidos mas que natildeo obstante pode ser inferido atraveacutes de analogias que partem dos dados sensoriais Vide infra analogiacutea-ἀναλογία (nesta mesma parte)
αἴσθησις aiacutesthesis (sf)- 31 32 38 39 44 48 55 58 59 62 63 64 65 68 71 82 90 91 124 XXIII XXIV 422 Us
Sensaccedilatildeo sentido sensibilidade percepccedilatildeo A sensaccedilatildeo eacute a base do conhecimento e da opiniatildeo Eacute o efeito imediato da afecccedilatildeo e tambeacutem o que eacute impresso na alma quando se transforma em proleacutepsis (impressatildeo sensiacutevel) Todo pen-samento que opera por analogia agraves coisas sensiacuteveis o faz sempre tendo em vista a sensaccedilatildeo
αἰσθητήριον aistheteacuterion (sn)- 50 53
Oacutergatildeo sensorial sentido
αἰσθετικός aisthetikoacutes (ad)- 64
Sensiacutevel perceptiacutevel
αἰσθητός aisthetoacutes (ad)- 47 244 Us 261 Us
Sensiacutevel perceptiacutevel
ἀκρίβεια akriacutebeia (sf)- 78 80 83
Exatidatildeo precisatildeo rigor
Segunda parte
72 73
ἀκρίβωμα akriacuteboma (sn)- 36 83
Exatidatildeo precisatildeo conhecer exatamente investigar com exatidatildeo Este termo soacute ocorre nos textos de Epicuro
ἀκρισία akrisiacutea (sf)- XXII
Incerteza confusatildeo inseguranccedila do ldquojuiacutezordquo Este termo se justifica pela indeterminaccedilatildeo do acaso com relaccedilatildeo aos aacutetomos que explica a transformaccedilatildeo do mundo sensiacutevel que pelo movimento causa os inuacutemeros juiacutezos E por natildeo conse-guir determinar o que ocorre no mundo eacute preciso manter-se tranquumlilo na busca do necessaacuterio e nas respostas que a razatildeo encontra
ἀλήθεια aleacutetheia (sf)- 31 S54
Verdade realidade Compreensatildeo ou busca desse conheci-mento da phyacutesis Segundo Epicuro tudo eacute sensiacutevel e a sensa-ccedilatildeo sempre eacute verdadeira Os aacutetomos estatildeo em constantes e diferentes configuraccedilotildees e natildeo haacute como imobilizar a verdade de um fenocircmeno porque ela estaacute no todo de acordo com uma resposta subjetiva que pretende natildeo se amedrontar diante do que natildeo sabe
ἀληθής aletheacutes (ad)- 51 62 244 Us
Verdadeiro Aquele que possui o controle dos seus juiacutezos e eacute conduzido pela razatildeo Eacute capaz da philiacutea(vide infra φιλία na terceira parte) pois possui condiccedilotildees de agir com justiccedila em relaccedilatildeo a outros e as suas proacuteprias escolhas natildeo privilegiando apenas a aparecircncia do prazer mas sim o que eacute considerado qualitativamente bom
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
72 73
ἀλογία alogiacutea (sf)-87 SV 62
Irracionalidade desrazatildeo
ἀλογίστως alogiacutestos (adv)- 135
Contra a razatildeo de modo irracional insensato
ἄλογος aacutelogos (ad)- 31 66 81 SV 62
Irracional privado de razatildeo ininteligiacutevel
ἀμφισβήτησις amphisbeacutetesis (sf)- XXIV
Incerteza duacutevida ambiguidade
ἀναγωγή anagogeacute (sf)- XXIII
Referecircncia
ἀναισθησία anaisthesiacutea (sf)- 81
Insensibilidade
ἀναλογία analogiacutea (sf)- 32 58 59
Analogia proporccedilatildeo A analogia se daacute quando o pensamento procede a comparaccedilatildeo entre o que eacute percebido pela sensaccedilatildeo e o que soacute pode ser pensado (ou inteligido) pois ocorre no niacutevel microcoacutesmico ou macrocoacutesmico A analogia torna possiacutevel a expansatildeo maacutexima da physiologiacutea
ἀναλόγως analoacutegos (adv)- 40
Analogamente
Segunda parte
74 75
ἀνεπιλόγιστος anepiloacutegistos (ad) SV 63
Natildeo calculado Este termo estaacute sempre associado a Epicuro nas suas ocorrecircncias
ἀντιμαρτυρέω antimartyreacuteo (v)- 34 47 48 50 51 55 88 92
Infirmar testificar contra receber prova contraacuteria contra-ditar As teorias que natildeo podem ser confirmadas (epimar-tyacuteresis) sensorialmente podem entretanto receber prova contraacuteria A infirmaccedilatildeo ou pelo contraacuterio a confirmaccedilatildeo de uma teoria eacute possiacutevel por meio da comparaccedilatildeo com os fenocircmenos observaacuteveis
ἀνυπέρβλητος anypeacuterbletos (ad)- 47
Insuperaacutevel enorme
ἀξίωμα axiacuteoma (sn)- 86
Axioma enunciado princiacutepio
ἀπάθεια apaacutetheia (sf)- 73
Apatia natildeo-afecccedilatildeo No sentido de que a natildeo-afecccedilatildeo resul-ta para Epicuro na impossibilidade de conhecer
ἀπιστία apistiacutea(sf)- SV 57
Incerteza incredulidade infidelidade Em Epicuro este termo estaacute relacionado agrave incerteza ou falta de confianccedila que resulta na ignoracircncia e na incapacidade de agir Natildeo haacute registro nos textos remanescentes de Epicuro das noccedilotildees de crenccedila (religiosa) ou fidelidade
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
74 75
ἀπόδειξις apoacutedeixis (sf)- 3873
Demonstraccedilatildeo explicaccedilatildeo definiccedilatildeo prova
ἀπόφασις apoacutephasis (sf)- 124
Declaraccedilatildeo afirmaccedilatildeo
ἀσύμβλητος asyacutembletos (ad)- 83
Incomparaacutevel muito superior a Palavra de uso restrito a Aristoacuteteles e Epicuro
βάσις baacutesis (sf)- 46
Cadecircncia ritmo movimento e estrutura Os aacutetomos que se destacam dos corpos e viajam no espaccedilo conservando a mesma cadecircncia (baacutesis) e disposiccedilatildeo (teacutesis)possibilitam as imagens
βλέψις bleacutepsis (sf)- 130
Exame olhar
γνῶσις gnoacutesis (sf)- 78 79 85 123 SV 27
Conhecimento ciecircncia Como Epicuro natildeo utiliza o termo episteacuteme a canocircnica ou teoria do conhecimento pode ser considerada uma gnoseologiacutea Assim todo conhecimento fenomecircnico da realidade que eacute a base da physiologiacutea eacute com-preendido como gnoacutesis
γνωστός gnostoacutes (ad)- 68
Conheciacutevel compreensiacutevel conhecido
Segunda parte
76 77
δήλωσις deacutelosis (sf)- 76
Designaccedilatildeo manifestaccedilatildeo declaraccedilatildeo indicaccedilatildeo prova
διαλαμβάνω dialambaacuteno (v)- 38 58 67 85 123 133
Distinguir compreender apreender
διαληπτός dialeptoacutes (ad)- 57
Dinstinguiacutevel concebiacutevel
διάληψις diaacutelepsis (sf)- 50 51 58 69
Distinccedilatildeo discernimento
διαλογισμός dialogismoacutes (sm)- 2284 138 Us
Consideraccedilatildeo raciociacutenio conversaccedilatildeo caacutelculo argumentaccedilatildeo
διανόησις dianoacuteesis (sf)- 63
Exerciacutecio da inteligecircncia atividade do pensamento
διάνοια diaacutenoia (sf)- 31 38 49 50 51 62 78 X XVIII XX XXIV
Inteligecircncia reflexatildeo pensamento mente
διαπίπτω diapiacutepto (v)- 98
Falhar escapar errar
διαχέω diacheacuteo (v)- XXX
Dissipar dispersar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
76 77
δόξα doacutexa (sf)- 33 34 35 37 52 77 81 123 132 XV XXIV XXIX XXX SV29 SV59 202 Us 247 Us 471 Us
Opiniatildeo doutrina crenccedila teoria convicccedilatildeo Em Epicuro a opiniatildeo concerne ao que pode ser percebido e que resulta da investigaccedilatildeo empiacuterica ou do que eacute imperceptiacutevel isto eacute natildeo suscetiacutevel de investigaccedilatildeo direta
δοξάζω doxaacutedzo (v)-37 38 90 XXII XXIV 247 Us
Opinar crer
δοξαστικός doxastikoacutes (ad)- XXIV
Apto a formar uma opiniatildeo o que conjectura
ἐγκατάλειμμα enkataacuteleimma (sn)- 50
Resiacuteduo resto
εἴδωλον eiacutedolon(sn)- 46 47 48 50 I SV 24 355 Us
Simulacro imagem iacutedolos Epicuro usa diversos termos para caracterizar as imagens Alguns dizem respeito agraves ima-gens como aquilo que emana dos corpos soacutelidos Assim ele chama de simulacros (eiacutedola) as imagens das formas que satildeo similares aos objetos soacutelidos Ele tambeacutem chama de tyacutepoi (reacuteplicas) (Vide infra τύπος nesta mesma parte) as imagens emanadas dos objetos e que atingem os oacutergatildeos da percepccedilatildeo Lecirc-se no passo 46 da Carta a Heroacutedoto
Assim existem as reacuteplicas (tiacutepoi) da mesma maneira que existem os soacutelidos mas que por sua fineza diferenciam-se dos corpos aparentes Com efeito nada impede que se for-mem no envoltoacuterio (meio em torno dos corpos) destacamen-
Segunda parte
78 79
tos que sejam de tal tipo nem que se encontrem as condiccedilotildees proacuteprias que permitam a produccedilatildeo de espaccedilos ocos (cavados) e finos (tecircnues) nem os efluacutevios que conservem exatamente a posiccedilatildeo e a base (estrutura) que eles tinham sucessivamente nos corpos soacutelidos Essas reacuteplicas noacutes as chamamos de iacutedolos ou simulacros (eiacutedola)
Epicuro utiliza o termo tyacutepoi para mostrar que tais imagens imprimem-se na alma atraveacutes dos oacutergatildeos sensiacuteveis e utili-za eiacutedola para estabelecer a diferenccedila entre as imagens que destacam-se dos compostos e os proacuteprios corpos compostos Entretanto os dois termos satildeo utilizados para caracterizar as finas camadas de aacutetomos mais sutis que se destacam dos corpos e atingem os sentidos Epicuro quer dizer ainda que a experiecircncia natildeo pode desmentir sua proposiccedilatildeo pois natildeo eacute possiacutevel discernir essas imagens que natildeo afetaram ainda o oacutergatildeo sensiacutevel O processo eacute muito raacutepido e soacute depois eacute que se pode pensar na maneira como tudo ocorreu O que estaacute posto aqui eacute que o simulacro conserva o mesmo arranjo (theacute-sin) ou disposiccedilatildeo dos aacutetomos tal qual figura nos corpos soacute-lidos (tocircn somaacuteton ti) Os simulacros satildeo caracterizados como efluacutevios (aporroaiacute) ou emanaccedilotildees (reuacutesis) que se destacam dos corpos e atingem os oacutergatildeos sensiacuteveis Aleacutem disso o fluxo pode conservar por algum tempo a disposiccedilatildeo e a ordem dos aacutetomos (theacutesin kaigrave taacutexin tocircn atoacutemon) Sem profundidade ou volume a imagem eacute formalmente idecircntica ao corpo do qual foi emanada poreacutem eacute reduzida agraves duas dimensotildees do plano Os simulacros podem ser entendidos como substitutos das coisas que permitem ao pensamento representaacute-las O que eacute pensado natildeo satildeo as coisas elas mesmas mas seus simulacros que natildeo tecircm realidade plena isto eacute natildeo satildeo corpos soacutelidos como as coisas mas satildeo reais porque satildeo constituiacutedos por
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
78 79
aacutetomos e vazios como qualquer corpo soacutelido A diferenccedila estaacute na sutileza (fineza) dos aacutetomos que os compotildeem
Os simulacros mantecircm a figura (skheacutema) dos corpos dando forma agrave imagem e os aacutetomos que compotildeem esta imagem possuem sutileza (leptoacutetes) (vide infra ληπτότης nesta mesma parte) e ligeireza (kouraacute) Isso explica porque os simulacros tecircm uma sutileza inconcebiacutevel pelo pensamento e inapreen-siacutevel aos sentidos As imagens que se pode perceber resul-tam da afecccedilatildeo dos simulacros sobre os oacutergatildeos sensiacuteveis As sensaccedilotildees satildeo efeitos da penetraccedilatildeo dos aacutetomos arranjados numa imagem-simulacro no corpo que as recebe
Assim as afecccedilotildees geram imediatamente as sensaccedilotildees que a princiacutepio podem ser de dois tipos ou agradaacuteveis ou desa-gradaacuteveis Epicuro usa o termo energeiacuteas(vide infra ἐνέργεια nesta mesma parte)para nomear o processo de produccedilatildeo das imagens e chama de sympatheiacuteas(vide supra συμπαθής na primeira parte) os estados perceptivos dos corpos afetados pelas imagens Continua Epicuro ainda no passo 46
Assim (ocorre) o movimento que se produz atraveacutes do vazio sem que nenhum choque com os corpos imponha resistecircncia aos simulacros que se movem numa velocidade inconcebiacutevel pelo pensamento
Como a emanaccedilatildeo de simulacros dos corpos eacute contiacutenua a imagem que percorre o espaccedilo perde algumas propriedades que satildeo logo supridas com a continuidade das emanaccedilotildees Este processo de regeneraccedilatildeo ou recomposiccedilatildeo compensa-toacuteria eacute chamado de antanaplerosis Epicuro a todo instante alerta para o fato de que os sentidos natildeo podem contradizer sua hipoacutetese explicativa porque trata-se de imagens im-perceptiacuteveis por dois motivos a saber primeiro porque as imagens satildeo compostas por aacutetomos de natureza mais sutil
Segunda parte
80 81
que os aacutetomos dos corpos concretos segundo porque a velocidade do movimento dos simulacros eacute inconcebiacutevel e incomensuraacutevel Toda a realidade compotildee-se de aacutetomos e vazio mas os aacutetomos satildeo qualitativamente diferentes sendo uns mais densos e outros mais sutis Os aacutetomos que formam as imagens satildeo de natureza sutiliacutessima
εἰκών eikoacuten (sf)- 51
Imagem reproduccedilatildeo iacutecone similitude
ἔκθλίψις eacutekthlipsis (sf)- 53 109
Expulsatildeo deslocamento
ἐλάχιστον (τὸ) elaacutechiston (tograve) (ad substantivado)- 58 281 Us
O miacutenimo
ἔμφασις eacutemphasis (sf)- 95
Aparecircncia aspecto
ἐναργής enargeacutes (ad)- 33 123
Evidente claro manifesto Eacute aquilo que se apresenta claramente ao pensamento e que portanto natildeo poder ser contradito nem pela percepccedilatildeo nem pelo pensamento (ou opiniatildeo)
ἐναργῶς enargocircs (adv)- 67
Evidentemente visivelmente claramente
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
80 81
ἔνδηλος eacutendelos (ad)- 52
Manifesto presente
ἐνέργεια eneacutergeia (sf)- 48 136 2 Us 219 Us
Forccedila (em accedilatildeo) atividade energia Haacute uma diferenccedila en-tre a versatildeo do texto grego utilizada por M Conche (1977) (ἐνέργειας) e a utilizada por Hicks (1925) (ἐνάργεια versatildeo de Gassendi) Para ver a definiccedilatildeo de ἐνάργεια vide supra enargocircs-ἐναργῶς (nesta mesma parte)
ἐννόῃμα ennoacuteema (sn)- 38
Noccedilatildeo ideia conceito significaccedilatildeo
ἔννοια eacutennoia (sf)- 33 576977 XXIV
Pensamento noccedilatildeo concepccedilatildeo ideia
ἐνότης enoacutetes (sf)- 52
Unidade
ἔνστημα eacutenstema (sn)- 91
Obstaacuteculo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto e significa aquilo que se interpotildee ao deslocamento dos aacutetomos no vazio
ἐξαιτιολογεῖν exaitiologeicircn (v inf)- 82
Buscar a causa ou explicaccedilatildeo de algo Primeira apariccedilatildeo do termo ocorre na Carta a Heroacutedoto
Segunda parte
82 83
ἐπαίσθησις epaiacutesthesis (sf)- 52 53
Sensaccedilatildeo percepccedilatildeo
ἐπιβλετικῶς epibletikoacutes (adv)-50
Por apreensatildeo (direta) por impressatildeo (direta)
ἐπιβολή epiboleacute (sf)- 31 35 36 38 50 51 62 69 70 83 XXIV
Apreensatildeo (intuitiva) projeccedilatildeo Pode ser traduzido por salto no sentido de alcance promovido pelo pensamento
ἐπιβολή τῆς διανοίας epibolegrave tecircs dianoiacuteas- 31 38 51 XXIV
Projeccedilatildeo (salto) do pensamento Expressatildeo fundamental que indica a operaccedilatildeo do pensamento quando este articula a expo-siccedilatildeo da realidade Epicuro postula que esta operaccedilatildeo eacute ime-diata e por isso ele utiliza a imagem de um ldquosaltordquo ou de uma ldquoprojeccedilatildeordquo do pensamento para caracterizar a formulaccedilatildeo ou apreensatildeo de uma explicaccedilatildeo acerca da realidade sensiacutevel ou no procedimento de pensar por analogia ao sensiacutevel
ἐπίδηλος epiacutedelos (ad)- 48
Perceptiacutevel visiacutevel
ἐπικρίνειν epikriacutenein (v inf)- 37
Distinguir decidir julgar
ἐπιλογίζεσθαι epilogiacutezesthai (v inf)- 72 133 XXII SV 35
Considerar refletir ter em conta
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
82 83
ἐπιλογισμός epilogismoacutes (sm)- 73 XX
Reflexatildeo caacutelculo
ἐπιμαρτυρεῖν epimartyreicircn (v inf)- 34 50 51 XXXVII
Confirmar testemunhar atestar Vide supra antimartyreacuteo -ἀντιμαρτυρέω verbo de sentido oposto (nesta mesma par-te)
ἐπιμαρτύρεσις epimartyacuteresis (sf)- XXIV 247 Us
Confirmaccedilatildeo Termo utilizado pela primeira vez por Epicu-ro
ἐπίνοια epiacutenoia (sf)- 32 45
Concepccedilatildeo noccedilatildeo doutrina
ἐπιπολή epipoleacute (sf) - 48
Superfiacutecie No texto utilizado por Bollack (1971) o termo aparece diferente ἐπὶ πολλή
ἐπίρρυσις epiacuterrysis (sf)- I
Afluxo influxo fluxo
ἐπιτηδειότης epitedeioacutetes (sf)- 46
Condiccedilotildees proacuteprias propriedade materiais
θεωρητός theoretoacutes (ad)- 47 57 62 I 355 Us
Visiacutevel discerniacutevel perceptiacutevel observaacutevel Pelo nuacutemero de
Segunda parte
84 85
ocorrecircncias da expressatildeo ldquoτοὺς διὰ λόγου θεωρητοὺςrdquo vecirc-se a importacircncia da conexatildeo que realccedila a noccedilatildeo de ldquovista pelo pensamentordquo Elas se datildeo principalmente na Carta a Heroacutedoto Quando associada a logos a expressatildeo adquire o sentido de ldquovisatildeo do pensamentordquo isto eacute aquela capaz de perscrutar as coisas invisiacuteveis Portanto o pensamento que estabelece a realidade e a constituiccedilatildeo dos corpos pela aglomeraccedilatildeo dos aacutetomos se remete agrave uma ldquovisatildeordquo dos corpos elementares
θεωρία theoriacutea (sf) - 35 59 86 116 128
Estudo visatildeo contemplaccedilatildeo
ἰδιότης idioacutetes (sf)- 5871
Particularidade caraacuteter proacuteprio singularidade individuali-dade
ἰδιότροπος idioacutetropos (ad)- 52
Caracteriacutestico distintivo especiacutefico Termo usado pela pri-meira vez por Epicuro
ἰδίωμα idiacuteoma (sn)-72 109
Qualidade particular caraacuteter proacuteprio
κανών kanoacuten (sm)-129
Canocircn criteacuterio regras O comentaacuterio feito por Dioacutege-nes Laeacutercio que se inicia no passo 29 do Livro X tem por objetivo expor a doutrina de Epicuro de modo resumido dividindo-a em trecircs partes e caracterizando o que ele con-
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
84 85
sidera elementar para o leitor Para comeccedilar ele jaacute interfere na compreensatildeo que o leitor pode ter do pensamento em questatildeo quando subdivide a filosofia em canocircnica fiacutesica e eacutetica Eacute preciso discordar dessa subdivisatildeo Note-se que em nenhum momento na Carta a Heroacutedoto Epicuro faz menccedilatildeo a esta divisatildeo estabelecida por Dioacutegenes Laeacutercio Ao con-traacuterio eacute este uacuteltimo que afirma no final desse passo que os epicuristas satildeo os autores de tal divisatildeo Ele natildeo diz de quais epicuristas estaacute falando nem que eacute de Epicuro essa divisatildeo Esse eacute um problema tiacutepico da doxografia e mais do que isso das apropriaccedilotildees que foram feitas dos textos da filosofia an-tiga em geral
Na leitura interpretativa aqui pretendida desconfia-se desta triparticcedilatildeo da filosofia de Epicuro e postula-se que a filosofia eacute um todo que integra a physiologiacutea agrave eacutetica e entende os cri-teacuterios para o conhecimento (tograven kaacutenon) como parte introdu-toacuteria da physiologiacutea ou ainda um meacutetodo explicativo acerca do modo como se produz o conhecimento considerando-o como efeito da natureza O homem produz conhecimentos como modo proacuteprio de se realizar e o conhecimento que ele produz eacute efeito da sua relaccedilatildeo afetiva com a natureza Assim Epicuro tenta recuperar aspectos do pensamento grego18 in-tegrando-os ao seu exerciacutecio de pensar a realidade e o modo como se pode conhececirc-la
κατάληψις kataacutelepsis (sf)- 33
Apreensatildeo
18 Notadamente os pensadores ditos ldquopluralistasrdquo do seacutec V aC como Empeacutedocles Anaxaacutegoras e Demoacutecrito Neste sentido acredita-se que Epi-curo manteacutem-se como um physiologoacutes
Segunda parte
86 87
καταμετρέω katametreacuteo (v)- 58 XIX
Medir calcular
κατεργασία katergasiacutea (sf)- 46
Produccedilatildeo confecccedilatildeo
κρίσις kriacutesis (sf)- XXIV
Discriminaccedilatildeo juiacutezo julgamento
κριτήριον kriteacuterion (sn)- 30 31 38 51 52 82 116 XXIV
Criteacuterio padratildeo de julgamento
ληπτότης leptoacutetes (sf)- 46 47
Fineza sutileza
λογισμός logismoacutes (sm)- 32 39 75 76 117 132 144 145 XVI XIX 517 Us
Raciociacutenio caacutelculo O logismoacutes ou caacutelculo raciociacutenio ou ainda ldquomecanismordquo ou ldquoinstrumentordquo do pensar eacute para Epicuro o que torna possiacutevel a elaboraccedilatildeo do pensamen-to (diaacutenoia) Eacute tambeacutem o que possibilita as analogias que conduzem o pensamento desde as impressotildees sensiacuteveis agraves elaboraccedilotildees de explicaccedilotildees sobre tudo o que natildeo eacute percebido pelos sentidos
Trata-se portanto de um conceito fundamental para enten-der o papel do pensamento na deliberaccedilatildeo acerca do modo de vida do homem no mundo uma vez que ele calcula ou mensura o alcance e o limite da accedilatildeo humana ou seja eacute
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
86 87
atraveacutes da reflexatildeo que se daacute a medida do agir
Sempre que Epicuro se refere ao exerciacutecio do pensamento ou reflexatildeo o termo utilizado eacute logismoacutes pois entende o exerciacute-cio como ato de pensamento ou operaccedilatildeo do pensamento Eacute sempre a partir do logismoacutes que se julga ou delibera e a accedilatildeo subsequente expressa uma sabedoria (vide infraphroacutenesis φρόνησις na terceira parte) que eacute na praacutetica capacidade de discernir de escolher e de recusar Podemos identificar em diversas passagens do texto de Epicuro o uso deste termo com efeitos de caacutelculo direcionamento da accedilatildeo operaccedilatildeo com analogias etc As seis passagens a seguir mostram es-tes usos ldquoCom efeito a existecircncia de corpos eacute atestada em toda a ocasiatildeo pelos sentidos e eacute neles que o logismoacutes deve basear-se para conjecturar acerca do sensiacutevelrdquo (DL X 39) ldquoEacute preciso ainda compreender que a natureza tem recebido ainda das realidades mesmas um ensinamento muacuteltiplo e variado e que mais tarde o logismoacutes introduziu precisotildees e acrescentou descobertas ao que a natureza transmitiu em certos casos mais rapidamente em outros mais lentamen-te em certos periacuteodos e momentos alcanccedilando progressos maiores em outros menoresrdquo (DL X 75) ldquoAs causas dos males praticados pelos homens satildeo o oacutedio a inveja e o des-prezo que o saacutebio domina por meio do logismoacutes Aquele que se torna saacutebio uma vez nunca mais assumiraacute nem fingiraacute as-sumir voluntariamente uma atitude contraacuteriardquo (DL X 117) ldquoNatildeo eacute a sucessatildeo ininterrupta de banquetes e festas nem o prazer sexual com meninos e mulheres nem a degustaccedilatildeo de peixes e outras iguarias oferecidas por uma mesa suntuosa que proporciona a vida agradaacutevel e sim o nephroacuten logismoacutes (caacutelculo soacutebrio) que investigue as causas de toda a escolha e de toda a rejeiccedilatildeo e elimine as opiniotildees vatildes por obra das
Segunda parte
88 89
quais um imenso tumulto se apossa das almasrdquo (DL X 132) ldquoRaramente o acaso atinge o saacutebio pois as coisas principais e fundamentais tecircm sido governadas pelo logismoacutes e por todo o curso da vida o governa e o governaraacuterdquo (DL X 144) ldquoO tempo infinito conteacutem o mesmo prazer que o tempo finito se os limites deste prazer satildeo calculados (com o logismoacutes)rdquo (DL X 145)
O uso do termo logismoacutes daacute sentido e linearidade agrave psicologia epicuacuterea na medida em que busca explicitar os agenciamentos das imagens discursivas que representam tanto as realidades aprendidas pelos sentidos quanto agraves apreendidas pelo pensamento A tentativa de mostrar como a alma opera o conhecimento ou o modo como o pensamento eacute elaborado denota a relevacircncia dessas explicaccedilotildees para uma physiologiacutea da alma
λόγος loacutegos (sm)- 32 47 59 62 83 86 I XXV SV 26 36 Us 221 Us 355 Us
Discurso pensamento argumento razatildeo Epicuro utiliza vaacuterias vezes este termo com sentidos diversos por isso ele pode ser traduzido dependendo da ocasiatildeo por todas as palavras aqui elencadas
μαντική mantikeacute (ad)- SV 24
(Arte) Divinatoacuteria profeacutetica
μάθησις maacutethesis (sf)- SV 27
Accedilatildeo de aprender desenvolver instruir conhecimento ins-truccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
88 89
μέγεθος meacutegethos (sn)- 41 43 44 49 54 55 56 57 58 59 68 69 91 III
Grandeza magnitude tamanho
μεταβατός metabatoacutes (ad)- 58
Passiacutevel de ser atravessadas que admite passagem Palavra de uso exclusivo de Epicuro
μῆκος mecirckos (sn)- 46 59 98
Extenccedilatildeo longitude
μνήμη mneacuteme (sf)- 31 35 36 82 83 85 95 255 Us
Memoacuteria Nos textos remanescentes de Epicuro identifi-camos onze ocorrecircncias de termos relacionados agrave memoacuteria (mneacuteme) que evidenciam a importacircncia dada pelo filoacutesofo aos exerciacutecios de memorizaccedilatildeo Exemplo disso eacute o iniacutecio da Carta a Heroacutedoto onde podemos ler
Para os incapazes de estudar acuradamente cada um dos meus escritos sobre a natureza Heroacutedoto ou de percorrer detidamente os tratados mais longos preparei uma epiacutetome de todo o meu sistema a fim de que possa conservar bem gravado na memoacuteria o essencial dos princiacutepios mais impor-tantes e estejam em condiccedilotildees de sustenta-los em quaisquer circunstacircncias desde que se dediquem ao estudo da natureza Aqueles que progredirem suficientemente na contemplaccedilatildeo do universo devem ter na memoacuteria os elementos fundamen-tais de todo o sistema pois necessitamos frequentemente de uma visatildeo de conjunto embora natildeo aconteccedila o mesmo com os detalhes (DL X 35 p 291)
Segunda parte
90 91
Nessa passagem Epicuro utiliza duas vezes a noccedilatildeo de me-moacuteria a primeira quando sugere que os disciacutepulos receacutem iniciados no estudo da phyacutesis devem gravar na memoacuteria (Eacuten te mneacuteme) o essencial dos princiacutepios da physiologiacutea a se-gunda quando adverte que eles devem estar sempre prontos para expor uma visatildeo de conjunto (athroacuteas epiboleacutes) de toda a physiologiacutea e para isso devem guardar na memoacuteria (mnemo-neuein) o sistema
Na passagem seguinte (36) ele utiliza duas vezes o termo memoacuteria para enfatizar que os recursos mnemocircnicos devem ser utilizados em todo momento para evitar as crenccedilas e as opiniotildees vazias (kenoacuten doxai) (vide supradoacutexa δόξα nesta mesma parte) uma vez que quando fixadas na memoacuteria as explicaccedilotildees acerca da natureza das coisas a conduta do saacutebio jamais seraacute perturbada por imagens discursivas fantasiosas imaginativas que apontem para causas sobrenaturais Eacute ne-cessaacuterio lembrarmos sempre que o propoacutesito da filosofia de Epicuro eacute o exerciacutecio da vida feliz (makaacuterios zeacuten) e que como escreveu Jean Salem ldquoo caminho que conduz agrave felicidade leva em conta o aniquilamento das perturbaccedilotildees causadas em noacutes pelas opiniotildees vazias o que soacute eacute possiacutevel quando haacute a memorizaccedilatildeo dos princiacutepios da physiologiacutea19
μοναχῇ monachecirci (ad f)- 94
Uacutenica
μοναχός monachoacutes (ad)- 86 95
Uacutenico
19 SALEM J p 40
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
90 91
μοναχῶς monakhocircs (adv)- 80
Unicamente
μονοειδῶς monoeidocircs (adv)- 109
De um soacute tipo ou aspecto
μῦθος myacutethos (sm)- 81 87 104 116 134 XII
Mito lenda faacutebula
νομοθεσία nomothesiacutea (sf)- 86
Atos ldquolegiferantesrdquo leis impostas leis convenciondas arbitra-riamente princiacutepios arbitraacuterios
νόημα noacuteema (sn)- 48 61 83
Pensamento o que foi inteligido
νόησις noacuteesis (sf)- 33 (255Us) 123
Faculdade de pensar inteligecircncia
ὁμοιομερής homoiomereacutes (ad)- 52
Partes semelhantes partiacuteculas homogecircneas
ὁμοιόμορφος homoioacutemorphos (ad)- 49
Mesma forma contorno similar
ὁμοιοσχήμων homoioscheacutemon (ad)- 46
Com forma semelhante
Segunda parte
92 93
ὁμοιότης homoioacutetes (sf)- 32(36 Us) 51
Semelhanccedila parecenccedila
ὁμοίωμα homoiacuteoma (sn)- 46
Equivalente similar correspondente
ὁμούρησις homuacuteresis (sf)- 64
Contiacuteguidade vizinhanccedila Esta eacute uma versatildeo dialetal do iocircnico-aacutetico correspondendo agrave comum homoacuteresis palavra usada a partir de Epicuro
ὁμόχροος homoacutechroos (ad)- 49
Que tem a mesma cor que tem cor semelhante
ὀξύς oxyacutes (ad)- 48
Raacutepido
ὅρος hoacuteros (sm)- III XI
Limite Epicuro usa dois termos para se referir agrave ideia de limite peacuteras e hoacuteros (vide supra πέρας na primeira parte) Ambos satildeo utilizados indiscriminadamente com o sentido de limite Eles se referem sobretudo aos limites dos desejos e dos prazeres Epicuro deixa claro que o prazer tem por natureza limites determinados
πάθος paacutethos (sn)- 31 34 38 52 55 63 73 75 82 116 129 XXIV SV 18 191 221 241 Us
Afecccedilatildeo sentimento estado paixatildeo Epicuro preconiza que
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
92 93
todo conhecimento sensiacutevel tem iniacutecio na afecccedilatildeo que ocor-re quando o oacutergatildeo sensiente entra em contato com um ob-jeto externo Desta maneira o paacutethos eacute o que gera em noacutes a sensaccedilatildeo (vide supraaiacutesthesis - αἴσθησις nesta mesma parte) que eacute retida na memoacuteria transformando-se em sentimento ou impressatildeo sensiacutevel (Vide infraproleacutepsis πρόληψις nesta mesma parte) O movimento do pensar decorre das impre-esotildees rememoradas e operadas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias (phantastikeacute epiboleacute) do pensamento (tegraves diaacutenoias) (Vide su-pra ἐπιβολή τῆς διανοίας nesta mesma parte)
παρὸν (τό) parograven (toacute) (v substantivado)- XXIV 247 Us
O presente O verbo πάρειμι se substantiva em τὸ παρόν
περὶεχον (τό) perigraveechon (toacute) (v substantivado)- 46 48
O que circunda rodeia envolve cerca
περιληπτός perileptoacutes (ad)- 40 46
O que apreende abarca compreende
περιοιδεία periodeiacutea (sf)- 36 83 85
Percorrer (com o pensamento)
περίοδος periacuteodos (sm)- 75 77 83 97
Periacuteodo revoluccedilatildeo oacuterbita
πιθανολογοὺμενον (τό) pithanologugravemenon (toacute) (v substantivado)- 87
Alegaccedilatildeo plausiacutevel opiniatildeo verossiacutemil ou provaacutevel
Segunda parte
94 95
πίστις piacutestis(sf)- 63 85 SV 7 S34
Crenccedila convicccedilatildeo certeza
πρόληψις proacutelepsis (sf)- 31(35 Us) 33 (255 Us) 72 124 XXXVII XXXVIII
Prenoccedilatildeo antecipaccedilatildeo preconcepccedilatildeo representaccedilatildeo no sentido de impressatildeo na alma As proacutelepsis satildeo as noccedilotildees que estruturam a realidade no pensamento Elas podem representar os objetos que estatildeo fora dos indiviacuteduos e satildeo apreendidos pelos sentidos quando os simulacros neles penetram ou podem ser efeitos dos processos operacionais do pensamento tais como as analogias as compraraccedilotildees e as combinaccedilotildees Elas constituem imagens conceituais que satildeo articuladas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento (phantastikaacutei epibolaigrave tegraves dianoiacuteas) Com isso Epicuro quer explicitar a capacidade do pensamento de pensar o que eacute invisiacutevel (aacutedelon) mediante analogia com o que se tornou visiacutevel pela sensibilidade Mais que isso ele tenta expor os mecanismos internos do pensa-mento quando se produz a opiniatildeo o conhecimento o reconhecimento a articulaccedilatildeo das informaccedilotildees retidas na memoacuteria sob a forma de imaginaccedilatildeo criaccedilatildeo etc O que estaacute sendo construiacutedo eacute um invisiacutevel a partir do visiacutevel e este invisiacutevel conecta associa integra os corpos visiacuteveis numa rede loacutegica ou discursiva Trata-se da representa-ccedilatildeo ou do pensamento como representaccedilatildeo imageacutetica da realidade
προδοξάζω prodoxaacutedzo (v)- 50 62
Pressuposiccedilatildeo presunccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
94 95
προσμένον (τὸ) prosmeacutenon (tograve) (v substantivado)- 34 38 50 XXIV
A espera
ῥεῦμα rheŷma (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo
σημεῖον semeicircon (sn)- 87 97 183 Us
Sinal indiacutecio
στερέμνιον stereacutemnion (ad)- 46 48 50
Soacutelido
συμβεβηκός symbebekoacutes (sn)- 40 50 68 71
Propriedade atributo Em alguns casos pode ser traduzido por ldquoacidenterdquo Epicuro diferencia entre as propriedades permanentes (symbebekoacutes) e as propriedades acidentais (syacutemptoma)20 Todas as qualidades acidentais estatildeo sujeitas agrave mudanccedila poreacutem as propriedades permantes satildeo necessaacuterias e imutaacuteveis Forma tamanho e peso satildeo propriedades per-manentes do aacutetomo (ver supraaacutetomos - ἄτομος na primeira parte)
σύμμετρος syacutemmetros (ad)- 47 50 53 61 91
Simeacutetrico proporcional comensuraacutevel
20 Cf Morel 2013 p 57
Segunda parte
96 97
συμμέτρως symmeacutetros (adv)- 110
Simetricamente proporcionalmente
συμπάθεια sympaacutetheia (sf)- 48 50 52 53 64
Simpatia afinidade correspondecircncia Eacute o modo como os objetos exteriores nos afeta causando uma correspondecircncia entre os objetos neles mesmos e como os sentimos ou perce-bemos A sympaacutetheia ocorre quando haacute uma afinidade entre os aacutetomos do corpo ou de uma imagem que nos afeta e o oacutergatildeo por ele afetado Este acordo gera uma correspondecircn-cia natural entre os corpos que se afetam mutuamente
συμπλήρωμα sympleacuteroma (sn)- 48
Completude inteireza plenitude Palavra rara encontrada somente em Aristoacuteteles e Epicuro
σύμπτωμα syacutemptoma (sn)- 40 64 67 70 71 73
Acidente incidecircncia sintoma
συνεχής synecheacutes (ad)- 36 48 50 62 82 105 I XVI SV67
Contiacutenuo constante incessante
σύνθεσις syacutenthesis (sf)- 32 (36 Us)
Siacutentese composiccedilatildeo uniatildeo
συνθεωρεῖν syntheoreicircn (v inf)- 96 102 116
Considerar em conjunto ter uma visatildeo geral
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
96 97
σύντομος syacutentomos (ad)- 76 84 SV4
Breve conciso
σύστοιχος syacutestoichos (ad)- 76
Que eacute do mesmo tipo
σχηματίζειν schematiacutezein (v inf)- 53
Moldar
τεκμαίρω tekmaiacutero (v)- 39
Inferir formar um juiacutezo
τέλος teacutelos (sn)- 85 128 131 133 XX XXII XXV SV 25 SV 75
Fim finalidade objetivo
τόπος toacutepos (sm)- 47 60 62 75 89 98 103 105 108 111 112 113 115 XXXIII
Lugar regiatildeo
τρόπος troacutepos (sm)- 87 94 95 96 97 99 101 102 104 106 108 112 115 SV 62
Modo maneira meacutetodo
τύπος tyacutepos (sm)- 33(255 Us)35 36 45 46 49 68
Modelo esquema impressatildeo reacuteplica figura imagem Vide supraeiacutedolon-εἴδωλον (nesta mesma parte)
Segunda parte
98 99
ὑπεναναντίος hypenantiacuteos (ad)- 77 81
Contraacuterio incompatiacutevel inconsistente
ὑπεξαίρεσις hypexaiacuteresis (sf)- III
Remoccedilatildeo eliminaccedilatildeo supressatildeo
ὑπόθεσις hypoacutethesis- 95
Hipoacutetese
ὑπόληψις - hypoacutelepsis (sf)- 34 124
Suposiccedilatildeo conjectura O termo hypoacutelepsis eacute equivante ao ter-mo doacutexa Epicuro diz que a crenccedila nos deuses satildeo hipoleacutepseis pseudecircis ie suposiccedilotildees falsas As hypoleacutepseis satildeo suposiccedilotildees que natildeo necessariamente correspondem agrave realidade Diferente de proacutelepsis(vide supra proacutelepsis-πρόληψις nesta mesma par-te) este termo indica uma ideia que natildeo passou pelo crivo da sensibilidade ou pelos outros meios de confirmaccedilatildeo ou natildeo--infirmaccedilatildeo constituintes do meacutetodo gnosioloacutegico de Epicuro
φαινὸμενα (τά) phainogravemena (taacute) (v substantivado) - 32(36 Us) 46 47 54 55 60 71 86 87 88 90 92 93 95 97 98 100 102 104 112 113
Fenocircmenos aparecircncias o que eacute visiacutevel manifesto
φαντασία phantasiacutea (sf)- 50 80 247 Us
Representaccedilatildeo imagem
φάντασμα phaacutentasma (sn)- 32 (36 Us) 75 88 102 110
Visatildeo sonho apariccedilatildeo aparecircncia
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
98 99
φθόγγος phthoacutengos (sm)- 37 38 76 83
Som fala palavra
φωνή phoneacute (sf)- 36 45 53 XXXVII SV 33 SV 41 SV 45 SV 75
Voz expressatildeo palavra
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
ψεῦδος pseucircdos (sn)- 5051
Falsidade erro engano
ψυχή psycheacute (sf)- 63 64 65 66 67 68 77 81 122 128 131 132 SV 69 SV81 812 Us 314 Us 315 Us
Alma A compreensatildeo da alma como um corpo (soacutema) ou ainda como um agregado (aacutethroisma) de aacutetomos mais sutis que os componentes das realidades sensiacuteveis (corpossoacutemata) sefundamenta no pressuposto baacutesico da physiologiacutea atomista segundo o qual tudo o que existe eacute composto de aacutetomos e vazio A materialidade da alma eacute portanto uma consequecircncia loacutegica desse pressuposto Contudo o que ca-racteriza especificamente a mateacuteria da alma permanece um problema no contexto do pensamento atomista antigo de Demoacutecrito a Lucreacutecio uma vez que se manteacutem o caraacuteter metafiacutesico da questatildeo Ainda que a loacutegica seja inabalaacutevel do ponto de vista do discurso a impossibilidade de uma de-monstraccedilatildeo fiacutesica resguarda a alma no cerne da obscuridade Epicuro entretanto tentou agrave sua maneira fugir agraves represen-
Segunda parte
100 101
taccedilotildees miacuteticas e ousou talvez mais que qualquer outro ateacute entatildeo perscrutar a natureza fiacutesica da alma tomando-a num corpo substancialmente ligado ao corpo-carne Tal ligaccedilatildeo enquanto questatildeo constituiraacute doravante um imenso campo de investigaccedilatildeo cujas propriedades e possibilidades chegam ateacute os nossos dias sem entretanto mostrar-se completa e solucionada Apesar de todas as crenccedilas propagadas mun-do a fora sobre a imortalidade da alma e mesmo apesar dos discursos filosoacuteficos ancorados nesta crenccedila Epicuro viu-se capaz de enxergar um caminho para expor a sua physiologiacutea da alma enquanto uma ldquopsicologiardquo que pensa a psycheacute como um princiacutepio corporal energeacutetico unificador do corpo A alma seraacute pensada tambeacutem a partir de Epicuro e ateacute hoje como um corpo dentro do corpo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
100 101
terceirA PArte
ethicaacute
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Ethicaacute
102 103102 103
ἀβέβαιος abeacutebaios (ad)- 134
Inseguro incerto
ἀδέσποτος adeacutespotos (ad)- 133
Sem senhor sem governo Epicuro usa este termo no contex-to da criacutetica agraves teses que desconsideram a liberdade e respon-sabilidade dos homens Adeacutespotos eacute umadjetivo relacionado agrave expressatildeo parrsquo hemacircsVide infra parrsquo hemacircs-παρ᾿ἡμᾶς (nesta mesma parte)
ἀδικία adikiacutea (sf)- XXXIV
Injusticcedila
ἀδιόριστος adioacuteristos (ad)- 81
Natildeo fixo indeterminado indefinido
ἀδροτής adroteacutes (sf)- 83
Vigor forccedila
ἀθανασία athanasiacutea (sf)- 124
Imortalidade Na Carta a Meneceu Epicuro considera que o desejo de imortalidade eacute um desejo vatildeo assim como consi-dera que natildeo haacute nada a temer em relaccedilatildeo a morte
ἀθάνατος athaacutenatos (ad)- 135 SV78
Imortal Epicuro utiliza o termo imortal no sentido de qua-lificar o bem que resulta de uma vida sem perturbaccedilotildees que ele identifica com o bem maior que eacute o prazer
Terceira parte
104 105
ἀθορύβως athoryacutebos (adv)- 87
De modo impassivo tranquilo
αἵρεσις haiacuteresis (sf)- 128129132
Escolha eleiccedilatildeo
αἱρετός hairetoacutes (ad)- 30129
Escolhido
ἀκέραιος akeacuteraios (ad)- XII
Puro natildeo-misturado
ἀλγηδών algedoacuten (sf)- 129 137 XI SV 4 SV 3773
Dor sofrimento Diz-se da dor que antecede ou sucede o prazer ou ainda quando algo que parece prazeiroso acaba resultando em dor pelo uso desmedido que dele se faz E tambeacutem a ausecircncia de felicidade causada por dores do corpo Os desejos encontram-se sem controle e difiacuteceis de serem saciados onde o corpo encontra-se desesperado atraacutes de enormes prazeres e apavorado por fugir do que lhe causa medo
ἀνάπαυσις anaacutepausis (sf)- 125
Cessaccedilatildeo repouso
ἀνυπεύθυνος anypeuacutethynos (ad)- 133
Irresponsaacutevel
Ethicaacute
104 105
ἀόριστος aoacuteristos (ad)- SV 59
Natildeo limitado ilimitado
ἀοχλησία aochlesiacutea (sf)- 127
Tranquumlilidade natildeo interrompida Refere-se a tranquilidade do corpo
ἀόχλητος aoacutechletos (ad)- SV 79
Natildeo agitado tranquumlilo Palavra rara usada a partir de Epicu-ro
ἅπαξ haacutepax(adv)57 128 XVIII 222 Us
Uma vez de uma vez Em Epicuro este adveacuterbio se presta a evidenciar o limite temporal dos prazeres e dores ldquoUma vez (haacutepax) este estado realizado em noacutes (ausecircncia de sofrimento e termor) toda a tempestade da alma desaparecerdquo (DL X 128) Isso significa que eacute impossiacutevel haver simultaneidade de dores e prazeresldquoO prazer na carne natildeo cresce uma vez (haacutepax) suprimida a dor da necessidaderdquo (XVIII) Epicuro tambeacutem critica a opiniatildeo de que o prazer pode se intensifi-car ao infinito No entanto quando o prazer estaacute presente eacute possiacutevel apenas uma variaccedilatildeo do estado de prazer
ἀπογεγεννημένα apogegennemeacutena(sn)-Nat34 21-2 3426-30 (livro XXV)
Desenvolvimentos produtos Este termo aparece apenas no Perigrave phyacuteseos (Sobre a Natureza) Autores como Sedley (1987) Arrighetti (1960) Laursen (1991) e Orsquokeefe (2005) analisaram e propuseram traduccedilotildees para tagrave apogegenemeacutena
Terceira parte
106 107
das quais se destacam ldquodesenvolvimentosrdquo e ldquoprodutosrdquo O livro XXV do Perigrave phyacuteseos cujo tema principal eacute a liberdade aprofunda as resumidas explicaccedilotildees epistolares a respeito da relaccedilatildeo entre necessidade (anaacutenke) e liberdade assegurando que o homem pode desenvolver seu proacuteprio caraacuteter ainda que existam influecircncias necessaacuterias do meio ambiente (peri-eacutechon) Assim o que o homem desenvolve em relaccedilatildeo ao seu modo de ser eacute de sua inteira responsabilidade
ἀπόλαυσις apoacutelaysis (sf)- 131 132 SV 27
Gozo utilidade proveito
ἀπολαυστός apolaustoacutes (ad)- 124
Agradaacutevel Palavra usada a partir de Epicuro
ἀπονία aponiacutea (sf)- 136
Ausecircncia de dor ou sofrimento Assim como a ataraxiacutea eacute a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na alma a aponiacutea eacute ausecircncia de dor no corpo Isto quer dizer que o corpo encontra-se em equiliacutebrio ou experimenta um prazer katastemaacutetico
ἀρετή areteacute (sf)- 124 132 138
Excelecircncia virtude
ἀσεβής asebeacutes (ad)- 123 SV 43
Iacutempio
ἀσείστως aseiacutestos (adv)- 87
Ethicaacute
106 107
Inabalavelmente Adveacuterbio raro usado a partir de Epicuro
ἄστατος aacutestatos (ad)- 133
Instaacutevel inconstante
ἀσύμφορος asyacutemphoros (ad)- 130
Inconveniente desvantajoso
ἀσφάλεια asphaacuteleia (sf)- VIIXIII XIVXXVIII SV 31
Seguranccedila A asphaacuteleia estaacute relacionada agrave tranquumlilidade de uma vida equilibrada livre dos tormentos e dos pesares que resultam dos desejos desmesurados e da ignoracircncia
ἄσωτος aacutesotos (ad)- 131X
Dissoluto
ἀτάκτως ataacutectos (adv)- 134
Desordenadamente
ἀταράκτος ataraacutektos (ad)- XVII
Imperturbado
ἀταραξία ataraxiacutea (sf)- 82 85 96 128 2 Us
Imperturbabilidade equiliacutebrio tranquilidade da alma O termo grego ataraxiacutea pode ser traduzido por imperturbabili-dade equiliacutebrio e tranquilidade da alma Etimologicamente a melhor traduccedilatildeo eacute imperturbabilidade Este termo foi
Terceira parte
108 109
utilizado no sentido que iremos expor primeiramente por Demoacutecrito (Dem ap Estob273) e por Epicuro O que haacute de comum entre diversos pensadores do periacuteodo heleniacutestico eacute a relaccedilatildeo estabelecida por eles entre o ldquomodo de serrdquo (eacutethos) e a imperturbabilidade da alma Isso porque o estado da alma define o caraacuteter do indiviacuteduo e o que passa a interessar neste periacuteodo eacute a salvaguarda do bem estar do indiviacuteduo seja mediante a suspensatildeo do juiacutezo (epocheacute) entre os ceacuteticos seja como ausecircncia de paixotildees (apaacutetheia) entre os estoicos ou com o constante cuidado com a sauacutede (hygiacuteeia) da alma ou com a sua imperturbabilidade (ataraxiacutea) com Epicuro
Uma alma satilde tem o poder de ser princiacutepio de accedilatildeo (archeacute) de um indiviacuteduo dela deriva a sua altivez e simplicidade Este estado de alma caracteriza o que Epicuro chama makaacuterios zecircn (vida feliz) isto eacute ela eacute princiacutepio e fim da realizaccedilatildeo da proacutepria vida Por outro lado uma alma ldquoperturbadardquo que traz em si o peso das doenccedilas aniacutemicas caracteriza um modo de ser enfraquecido cujo poder de determinaccedilatildeo jaacute se esvaiu em meio a temores anguacutestias e desesperos O cuidado com a alma eacute para Epicuro um exerciacutecio constante inerente agrave praacutetica filosoacutefica
ἀτάραχος ataacuterachos (ad)- 80 SV 79
Ataraacutexico imperturbado
αὐτάρκεια autaacuterkeia (sf)- 130 SV 44 SV 77
Autarquia autossuficiecircncia ter o princiacutepio da accedilatildeo em si mesmo Existem diversas possiacuteveis traduccedilotildees do termo gre-go autaacuterkeia utilizado por Epicuro entre as quais as mais frequentes satildeo ldquoindependecircnciardquo ldquoautossuficiecircnciardquo ldquocapaci-
Ethicaacute
108 109
dade de bastar-se a si mesmordquo Estas noccedilotildees aludem a uma noccedilatildeo baacutesica de domiacutenio e princiacutepio- archeacute que estaacute em poder de quem age - autoacute - (a partir de) si mesmo Assim o sophoacutes eacute autaacuterkes porque age a partir de si mesmo Mas em que consiste esta autaacuterkeia e como eacute possiacutevel obtecirc-la Tais questotildees encetam para o princiacutepio da accedilatildeo tal como fora concebido no pensamento em questatildeo que implica em sua raiz a compreensatildeo do sentido de liberdade - eleutheriacutea - que a justifica ao mesmo tempo em que a fundamenta
Literalmente autaacuterkeia eacute uma qualidade de quem se basta a si mesmo Daiacute podermos pensar em algueacutem que exista ou subsista por si mesmo e isto soacute eacute possiacutevel quando sua accedilatildeo tem o princiacutepio nele mesmo ou ainda quando a causa da accedilatildeo esteja nele mesmo Para Epicuro a autaacuterkeia eacute o que caracteriza fundamentalmente a accedilatildeo saacutebia que por defi-niccedilatildeo exclui tanto a inatividade quanto a reatividade bem como a accedilatildeo cujo princiacutepio e o teacutelos natildeo estatildeo nela mesma A sabedoria enquanto accedilatildeo tem o sentido embutido nela isto eacute no seu exerciacutecio que chamamos de accedilatildeo autaacuterquica ou simplesmente autaacuterkeia Sendo assim a autaacuterkeia expressa uma condiccedilatildeo de vida no mundo em que o conjunto das accedilotildees tende naturalmente agrave repleccedilatildeo e portanto ao equiliacute-brio Viver em equiliacutebrio por sua vez natildeo depende senatildeo do modo como o homem vivencia a sua situaccedilatildeo real de existir independente de qualquer outro ldquopoderrdquo que transcenda a sua dyacutenamis de accedilatildeo desde que esse ldquopoderrdquo possa ser per-mitido ou evitado A autaacuterkeia eacute a expressatildeo da vida tornada independente das necessidades que a negam e a fazem re--agir ou sofrer
Para que a autaacuterkeiaseja alcanccedilada e cultivada eacute necessaacuterio agir segundo o logismoacutes e a phroacutenesis Dessa maneira esses
Terceira parte
110 111
trecircs conceitos definem a possibilidade de ponderaccedilatildeo de se estabelecer uma medida para o agir e atraveacutes do exerciacutecio da autaacuterkeia o sophoacutes define por si mesmo o bastante para a realizaccedilatildeo dos seus desejos naturais e necessaacuterios
E noacutes estimamos que a autaacuterkeia eacute um grande bem natildeo para que faccedilamos uso de pouco de um modo geral mas afim de que faccedilamos uso de pouco se natildeo temos a abundacircncia verdadeiramente persuadidos de que gozam a magnificecircncia com mais prazer aqueles que menos necessitam dela e que tudo o que eacute fundado na natureza se adquire facilmente e o que eacute vazio (vatildeo) eacute difiacutecil se obter (DL X 130)
O termo em questatildeo significa nesta passagem ldquocontenta-mentordquo medida exata de repleccedilatildeo suficiecircncia dada pela proacutepria natureza Epicuro recolhe no modo como o sophoacutes interage com a natureza a medida da satisfaccedilatildeo a mesma que nortearaacute a accedilatildeo saacutebia Por isso a accedilatildeo deve corresponder aos desejos naturais e necessaacuterios jaacute que agindo de acordo com a natureza onde o transito eacute imediato torna-se possiacutevel ao sophoacutes evitar desafetos que quase sempre forccedilam a sua rea-ccedilatildeo ou o seu desequiliacutebrio Toda a accedilatildeo contraacuteria agrave natureza eacute difiacutecil e acaba sendo tambeacutem vatilde vazia para quem procura realizaacute-la porque eacute fruto de desejos de diversos matizes que entretanto satildeo oriundos das opiniotildees vazias (kenaigrave doxaacutei) disseminadas entre os insensatos A filosofia eacute para Epicuro o ldquoantiacutedotordquo para essas opiniotildees e por isso mesmo a efetiva-ccedilatildeo da autaacuterkeia
Agir de acordo com a natureza (katagrave phyacutesin) define a relaccedilatildeo entre a physiologiacutea e a eacutetica na medida em que explicita o sentido do proceder filosoacutefico em busca da compreensatildeo necessaacuteria agrave fundamentaccedilatildeo da accedilatildeo saacutebia Este modo de agir revela tambeacutem o sentido real do prazer enquanto repleccedilatildeo
Ethicaacute
110 111
isto eacute da accedilatildeo que engendra serenidade (galenismoacutes) Neste sentido o sophoacutes age de modo prazeiroso e o conjunto das suas accedilotildees perfaz a realizaccedilatildeo plena da vida Trata-se de um estado de contentamento no qual ele se sente inteiramente integrado ao meio natural onde as adversidades existen-tes podem ser em alguns casos previstas e na medida do possiacutevel evitadas A accedilatildeo fundada na natureza eacute fruto da deliberaccedilatildeo do sophoacutes que busca a todo instante realizar os bens que realmente importam agrave sabedoria que se traduz pela manutenccedilatildeo de uma vida equilibrada Esta accedilatildeo eacute modulada pela physiologiacutea que eacute por assim dizer o seu fundamento ontoloacutegico Epicuro opotildee aos desejos difiacuteceis de serem re-alizados e que tecircm origem nas opiniotildees vazias a noccedilatildeo de simplicidade que quer dizer rigorosamente neste contexto a medida dada pela natureza proacutepria de cada um cabendo ao sophoacutes descobrir a sua mediante a economia dos desejos que poderia tambeacutem ser chamada de ldquodieteacuteticardquo dos desejos Esta eacute uma alternativa proposta por Epicuro para responder aos desmesurados valores vigentes em sua eacutepoca
O estudo da natureza prepara natildeo os jactanciosos nem os fazedores de expressotildees nem os exibidores de educaccedilatildeo mui-to valorizada junto agrave maioria mas aacutegeis e autaacuterquicos e que pensam grande sobre os seus proacuteprios bens e natildeo sobre os bens das coisas (SV 45)
Podemos perceber com relativa clareza que a noccedilatildeo de vir-tude (excelecircncia) tal como eacute aqui apresentada natildeo estaacute atre-lada agrave vida repleta de falsos valores e inserida nos domiacutenios puacuteblicos mas ao agir privado particular O saacutebio eacute aquele que age sempre a partir do seu poder de escolha e rejeiccedilatildeo e jamais de sujeiccedilatildeo Sua referecircncia uacutenica eacute a compreensatildeo dos limites e das possibilidades da natureza-realidade na
Terceira parte
112 113
qual vive e exercita-se na realizaccedilatildeo de uma vida apraziacutevel em cada ato ou deliberaccedilatildeo que dele dependa Fundando o eacutethos na phyacutesis ou fazendo que ele derive da physiologiacutea o sophoacutes legitima a autaacuterkeia como condiccedilatildeo para pensar a eacutetica fora do domiacutenio puacuteblico Com isso ele intenta resgatar antigos princiacutepios presentes na natureza para desapropriaacute-los das convenccedilotildees estabelecidas e entatildeovivenclaacute-losno espaccedilo no tempo que satildeo seus e daqueles que lhes satildeo afins (phiacuteloi)
O saacutebio depois de julgar as coisas em funccedilatildeo da necessida-de sabe mais dar em partilha do que tomar em partilha Tatildeo grande tesouro da autarquia ele encontrou(SV 44)
Conseguir o bastante para si mesmo natildeo exclui a possibilida-de de compatilhar o contentamento que expressa a autaacuterkeia-com aqueles que vivem uma muacutetua conveniecircncia (opheacuteleia) Na verdade o homem saacutebio natildeo projeta valores imaginaacuterios sobre as coisas da natureza antes pelo contraacuterio ele asseme-lha o seu modo de agir ao modo como as coisas interagem na natureza A medida mais conveniente eacute aquela que o faz se sentir bem no meio natural e natildeo o excesso de poder sobre as coisas naturais Assim o sophoacutesnatildeo espera receber o que precisa de outro homem porque ele mesmo pode facilmente ter o suficiente para natildeo sentir sede fome ou frio no proacuteprio meio onde vive por conveniecircncia e contentamento O ideal de sabedoria em questatildeo natildeo prevecirc qualquer tipo de sujeiccedilatildeo obrigaccedilatildeo diacutevida ou favor uma vez que entre saacutebios natildeo prevalecem as mesmas convenccedilotildees originadas nas sociedades poliacuteticas O saacutebio se afastaraacute das situaccedilotildees lugares e pessoas que possam constrangecirc-lo a reagir agraves ldquoconvenccedilotildeesrdquo de uma maioria insensata
A fonte mais pura de proteccedilatildeo diante dos homens assegu-rada ateacute certo ponto por uma determinada forccedila de rejeiccedilatildeo
Ethicaacute
112 113
eacute de fato a imunidade resultante de urna vida tranquila e distante da multidatildeo (DL X 143)
Natildeo haacute um objeto poliacutetico expliacutecito nas proposiccedilotildees eacuteticas de Epicuro Existe de uma certa maneira a transposiccedilatildeo do poliacutetico para fundar sobre outras bases uma eacutetica Recusar o conviacutevio com a multidatildeo pode significar compreender a multidatildeo como produto da necessidade e vivendo segundo a necessidade O sophoacutesbuscaraacute entatildeo construir um cami-nho alternativo para seguir Este caminho natildeo constituiraacute um conflito com o mundo poliacutetico mas pelo contraacuterio se formaraacute independentemente dele Epicuro opta pela sabe-doria e agir a partir de si mesmo e em prol de si mesmo Este comportamento eacute plenamente justificaacutevel se levarmos em conta a miserabilidade humana alimentada pelas falsas crenccedilas e pelos falsos valores de sua eacutepoca ldquoA necessidade eacute um mal mas natildeo haacute nenhuma necessidade de viver com a necessidaderdquo (SV 9)
Recolher-se agrave filosofia ao inveacutes de filosofar para a Heacutelade eis o que proclamava Epicuro A frugalidade eacutetica se opotildee ao desperdiacutecio poliacutetico pois natildeo haacute como obter a ataraxiacuteaem meio agrave multidatildeo insensata Aleacutem disso jamais o saacutebio po-deria modificar todo o quadro que a ele se apresentava um mundo corrompido pela miseacuteria e esquecido do bem-viver ldquoO saacutebio natildeo deve pois ocupar-se da poliacuteticardquo ldquoVive obscu-rordquo (3278 Us) Somente na solidatildeo dos seus pensamentos o saacutebio poderia finalmente encontrar o real sentido da liber-dade uma vez que ao menos aos olhos de Epicuro a liber-dade natildeo se coaduna com os valores soacutecio-poliacuteticos em voga A liberdade proveacutem das reflexotildees que satildeo a mateacuteria da filoso-fia Natildeo a encontraremos no meio poliacutetico na dependecircncia de acordos ou convenccedilotildees nutridas de opiniotildees conflitantes
Terceira parte
114 115
e sim nas accedilotildees que tecircm em si o seu proacuteprio princiacutepio pois nascem da solidatildeo reflexiva A vida autaacuterquica talvez tenha sido o posicionamento filosoacutefico por excelecircncia de Epicuro ao ponto de Hermarco seu disciacutepulo e sucessor agrave frente do Jardim tecirc-lo definido assim ldquoA vida de Epicuro comparada a de outros passaria por um mito por sua doccedilura e sua au-tarquiardquo (SV 36 101 Us)
A vida autaacuterquica estaacute totalmente desincompatibilizada da vida puacuteblica dos valores que a sustentam e de vaacuterias ma-neiras a determinam O saacutebio realiza um movimento de descentramento em relaccedilatildeo agrave vida puacuteblica e outro movimen-to de situar-se sempre em direccedilatildeo agraves relaccedilotildees equilibradas privadas lsquomolecularesrdquo Satildeo notoacuterias as diferenccedilas entre Epicuro e as ldquoinstituiccedilotildees poliacuteticasrdquo das quais ele se recusa a participar por compreender a quase impossibilidade de coexistirem harmonicamente sob um mesmo ideal homens de caraacuteter tatildeo distintos O sophoacutes assentiraacute nas discussotildees poliacuteticas apenas agrave medida que estas for em convenientes ou imprescindiacuteveis jaacute que acredita na possibilidade de cultivar a liberdade de conviver com aqueles que tecircm urna natureza realmente semelhante e que comungam as mesmas ideias Natildeo ausentar-se da trajetoacuteria que projeta a vida saacutebia pode significar o exerciacutecio de um modo de ser de um eacutethos filo-soacutefico ao mesmo tempo que a realizaccedilatildeo de um estado de ser physioloacutegico equilibrado Para tanto cumpre escolher o local e a situaccedilatildeo de vida onde se torne possiacutevel o pleno exer-ciacutecio da vida filosoacutefica o que vale dizer ter a autaacuterkeia ou o princiacutepio das suas accedilotildees em si mesmo Soacute daiacute pode emergir o sentido epicuacutereo da liberdade ldquoO mais importante fruto da autaacuterkeia eacute a liberdade (eleutheriacutea)rdquo (SV 77)
Ethicaacute
114 115
αὐτάρκης autaacuterkes(ad)- SV 45
Autaacuterquico aquele que tem o princiacutepio de sua accedilatildeo em si mesmo
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (sf)76 123
Incorruptibilidade imortalidade Palavra utilizada a partir de Epicuro
ἀφοβία aphobiacutea (sf)- 122
Destemor
ἀχάριστος achaacuteristos (ad)- SV 69 SV 75
Ingrato
βίος biacuteos (sm)- 86
Vida
βούλεσις buacutelesis (sf)- 7781
Vontade deliberaccedilatildeo
γαληνισμός galenismoacutes (sm)- 83
Serenidade Palavra rara filosoacutefica Usada por Epicuro num sentido metafoacutericoA imagem utilizada por Epicuro para definir o equiliacutebrio da alma expresso na ataraxiacutea (tranqui-lidade imperturbabilidade) eacute o que o grego denominava galenismoacutes que significa a superfiacutecie do mar quando estaacute tranquilo assim podemos traduzi-la por serenidade
Terceira parte
116 117
δαψίλεια dapsiacuteleia (sf)- SV 67
Abundacircncia
δεινός deinoacutes (ad)- 81 125 XXVIII
Temiacutevel terriacutevel O uso deste termo se daacute sempre no sentido de evitar os temores infundados Os temores satildeo projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento mas podem ser evitados com o exerciacutecio da physiologiacutea
διάθεσις diaacutethesis (sf)- 117 (222 Us)
Disposiccedilatildeo
δίαιτα diacuteaite (sf)- 130131 SV 69
Dieta regime modo de viver
δίκαιος diacutekaios(ad)- 132 XVII XXXI XXXII XXXVI XXXVII XXXVIII SV 43
Justo Para Epicuro natildeo haacute justiccedila independente das conven-ccedilotildees humanas isto eacute natildeo haacute uma justiccedila preacute-legislativa que existiria em si mesmo De acordo com Epicuro ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacute-procas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto (syntheacuteke) no sentido de natildeo prejudicar nem ser prejudicadordquo (MP XXXIII) Sendo assim o que eacute considerado justo num tempo x e num lugar y eacute diferente do que eacute considerado justo num tempo xrsquo e num lugar yrsquo Nas palavras de Epicuro ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) A justiccedila eacute portanto ldquouma invenccedilatildeo humanardquo (OrsquoKEEFE 2010 p 139) e como tal eacute do domiacute-
Ethicaacute
116 117
nio dos homens daquilo que cabe aos homens realizar ou seja eacute do acircmbito do parrsquo hemacircs (o que nos cabe) Em termos da physiologiacutea poderiacuteamos dizer que a justiccedila eacute um acidente (symptoacutema) da agregaccedilatildeo de indiviacuteduos Assim a justiccedila natildeo tem uma realidade independente dos pactos particulares realizados em tempo e espaccedilo determinados Por isso que Epicuro prefere utilizar na grande maioria de seus textos o termo diacutekaios (justo) e natildeo dikaiosyacutene (justiccedila) pois o primeiro remete sempre a um evento singular enquanto o uacuteltimo sugere ldquouma noccedilatildeo abstrata que os filoacutesofos essencia-listas nomeadamente os platocircnicos consideram uma ideia em sirdquo (MORAES 2010 p 55)21 O justo e o injusto satildeo determinados pelos pactos realizados aqui e alhures
No entanto uma das maacuteximas de Epicuro parece agrave primei-ra vista entrar em contradiccedilatildeo com esse caraacuteter convencio-nal da justiccedila ldquoO justo da natureza simboliza (tograve tecircs phyacuteseos diacutekaioacuten estigrave syacutembolon) a vantagem reciacuteproca de impedir os homens de prejudicarem os outros e os livra de serem pre-judicadosrdquo (MP XXXI) A expressatildeo ldquoo justo da naturezardquo parece contradizer a expressatildeo ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) Eacute preciso considerar aqui como diz Morel que essas reflexotildees de Epicuro estatildeo ldquono centro da problemaacutetica tornada claacutessica a partir da expansatildeo do movimento sofiacutestico no seacuteculo V da oposiccedilatildeo entre natureza (phyacutesis) e convenccedilatildeo (noacutemos)rdquo (2011 p 208) Tentar definir a justiccedila como natural ou convencional natildeo foi o caminho
21 De acordo com Bulhotildees ldquoEmbora a expressatildeo lsquoo justorsquo seja um substantivo refere-se ao adjetivo que qualifica por exemplo um acordo uma lei um indiviacuteduo ou um comportamento isto eacute um acordo pode ser dito justo uma lei justa um individuo e um comportamento justos Por outro lado a expressatildeo de gecircnero neutro tograve diacutekaion diferencia-se intencio-nalmente do feminino lsquoa justiccedilarsquo heacute dikaiosyacutene Esta indica uma realidade em sirdquo (Bulhotildees 2009 p 100)
Terceira parte
118 119
escolhido por Epicuro Para ele a justiccedila eacute convencional e natural ao mesmo tempo ldquovariaacutevel em suas manifestaccedilotildees e natural em seu princiacutepiordquo (Morel 2011 p 217) Na Maacutexima XXXVI estaacute escrito que ldquoem seu aspecto geral a justiccedila eacute a mesma para todos pois representa uma espeacutecie de vantagem reciacuteproca nas relaccedilotildees dos homens uns com os outros mas com referecircncia agraves peculiaridades locais e outras circusntacircn-cias quaisquer a mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo O aspecto geral da justiccedila (tograve koinograven) eacute natural e universal enquanto que o justo expresso nas peculiaridades locais (tograve iacutedion choacuteras) eacute convencional Epicuro diz portanto que a justiccedila pode ser identificada (e compreendida) em qualquer lugar como a conveniecircncia (syacutempheron) muacutetua estabelecida sob a forma de um pacto No entanto este mesmo pacto se apresenta de diversas maneiras dependendo das necessida-des que se apresentem na comunidade em que o pacto foi firmado
A justiccedila natildeo eacute a uacutenica noccedilatildeo considerada ao mesmo tempo natural e convencional na filosofia de Epicuro a linguagem humana tambeacutem pode ser qualificada assim Sobre as ori-gens da linguagem diz Epicuro
Por isso os nomes das coisas tambeacutem natildeo foram originaria-mente postos por convenccedilatildeo mas a natureza dos homens de conformidade com as vaacuterias raccedilas os criou () Mais tarde as raccedilas isoladas chegaram a um consenso e deram assim nomes peculiares a cada coisa a fim de que as comunicaccedilotildees entre elas fossem menos ambiacuteguas e as expressotildees fossem mais breves (DL 75-76)22
Assim como a linguagem finca suas raiacutezes na natureza e
22 ldquoQuanto aos vaacuterios sons da linguagem foi a natureza que obrigou a emiti-los e foi a utilidade que levou a dar nomes agraves coisasrdquo (DRN V 103)
Ethicaacute
118 119
depois a conveniecircncia entra em cena desenvolvendo esta ca-pacidade que a natureza legou ao homem da mesma forma pois acontece com a justiccedila porque temos uma preacute-noccedilatildeo desta que eacute passiacutevel de ser desenvolvida pelo uacutetil ou conve-niente (syacutempheron) A justiccedila tem um aspecto geral e outro especiacutefico O primeiro eacute natural e portanto universalmente compreendido de acordo com a preacute-noccedilatildeo que temos da justiccedila o uacuteltimo eacute pelo contraacuterio variaacutevel convencional determinado uacutetil e conveniente em cada comunidade em particular Assim a justiccedila eacute ao mesmo tempo natural e convencional da ordem da phyacutesis e tambeacutem da ordem do noacutemos23
Por proacutelepsin (preacute-noccedilatildeo) eles [os epicuristas]entendem uma espeacutecie de cogniccedilatildeo ou apreensatildeo imediata do real ou uma opiniatildeo correta ou um pensamento ou uma ideia universal iacutensita na mente ou seja a memorizaccedilatildeo de um objeto ex-terno que apareceu frequentemente como quando dizemos ldquoisto aqui eacute um homemrdquo De fato logo que se pronuncia a palavra ldquohomemrdquo sua figura se apresenta imediatamente ao nosso pensamento por via de antecipaccedilatildeo guiada prelimi-narmente pelo sentido (DL X 33)
As preacute-noccedilotildees satildeo a mateacuteria do pensamento As preacute-noccedilotildees satildeo as marcas deixadas nas almas em cada interaccedilatildeo sensiacutevel Eacute por via dessas marcas ou impressotildees que reconhecemos
23 Vemos nessas passagens que a linguagem teve sua origem na natu-reza mas seu desenvolvimento dependeu dos acordos realizados entre os homens Do mesmo modo a justiccedila tem seu ldquoladordquo natural na utilidade na manutenccedilatildeo da vida e do prazer Pois sem pactos para utilidade muacutetua os homens viveriam agrave mercecirc dos piores males Jaacute o caraacuteter convencional da justiccedila reside nas muacuteltiplas formas de se preservar a vida e o prazer Esses satildeo aspectos das agregaccedilotildees humanas inicialmente o processo de agrupamento se deu naturalmente posteriormente as relaccedilotildees se tornaram complexas
Terceira parte
120 121
uma sensaccedilatildeo figura ou atitude uma vez experienciada Haacute um conjunto enorme de proleacutepseis nas almas e elas satildeo ar-ranjadas e rearranjadas pelos mecanismos do pensamento A justiccedila tambeacutem provoca uma preacute-noccedilatildeo pela qual reconhe-cemos e podemos realizar atos justos Na MP XXXVII Epi-curo nos fala de uma proacutelepsis (preacute-noccedilatildeo) da utilidade (syacutem-pheron) inerente agrave justiccedila Sabemos o que eacute justo por termos a preacute-noccedilatildeo da utilidade ou conveniecircncia ou seja porque temos uma representaccedilatildeo imageacutetica do que eacute conveniente ou em outras palavras do que nos impede de prejudicar ou de ser prejudicado pelos outros Mas isso natildeo garante que as leis uma vez promulgadas seratildeo justas em todo o tempo e qualquer lugar pois o que define o justo eacute a conveniecircncia que eacute passiacutevel de variaccedilatildeo
Das disposiccedilotildees codificadas no direito vigente aquelas con-firmadas como uacuteteis nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comu-nitaacuteria apresentam o requisito do justo sejam ou natildeo sejam as mesmas para todos Mas se for promulgada uma lei que natildeo se mostre uacutetil nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comunitaacute-ria essa lei natildeo teraacute mais a natureza do justo E tambeacutem se aquilo que eacute uacutetil de conformidade com o direito vigente vier a cessar embora tenha correspondido durante um certo pe-riacuteodo de tempo agrave preacute-noccedilatildeo24 do justo apesar disso durante aquele periacuteodo foi justo desde que natildeo nos preocupemos com palavras vatildes e tenhamos em vista simplesmente os fatos (MP XXXVII)
Nem toda lei acordada deve ser considerada justa mera-mente por ter resultado de um pacto ou acordo25 pois a
24 G Kury traduz o termo proacutelepsis dessa passagem por ldquonoccedilatildeo pri-mordialrdquo Preferimos traduzir por preacutenoccedilatildeo por manter a unidade desse termo que foi provavelmente cunhado pelo proacuteprio Epicuro
25 ldquoAs accedilotildees natildeo satildeo justas ou injustas meramente porque algueacutem diz
Ethicaacute
120 121
justiccedila da lei eacute determinada pela confirmaccedilatildeo (epimarturouacute-menon) de sua utilidade para a comunidade Assim como vemos uma torre no horizonte e natildeo temos certeza se ela eacute arredondada ou retangular e esperamos pela confirmaccedilatildeo sensorial26 uma lei precisa ser confirmada por sua utilida-de ou conveniecircncia para a comunidade Se uma lei natildeo for uacutetil entatildeo natildeo eacute justa Uma lei portanto confirmada como justa pode entretanto natildeo ser justa em outro contexto A justiccedila se fundamenta na utilidade (syacutempheron) se uma lei deixa de ser uacutetil ela deixa de ser justa e se por exemplo numa comunidade eacute proibido pescar garoupas natildeo significa que em outra comunidade onde esse peixe eacute abundante se deva proibir tambeacutem O justo estaacute delimitado a um tempo e espaccedilo e condicionado pelo que se faz uacutetil nesse mesmo tempo e espaccedilo Natildeo haacute absolutamente no epicurismo a ideia de justiccedila em si Mas o justo depende de um pacto conveniente
O que impede portanto um membro da comunidade de natildeo cometer injusticcedilas eacute a puniccedilatildeo e o castigo Possivelmente cometeria ldquoinjusticcedilasrdquo se considerasse que natildeo seria punido ao cabo de sua accedilatildeo Por outro lado um membro saacutebio natildeo cogita a possibilidade de transgredir o pacto e permanecer impune pois seria punido imediatamente natildeo pelas penas cabiacuteveis acordadas no pacto mas pela perda de sua ataraxiacutea (imperturbabilidade)
δικαιοσύνη dikaiosyacutene (sf)- XXXIII
Justiccedila
que elas satildeordquo (BROWN 2009 p 192) 26 Cf DL X 34
Terceira parte
122 123
δυσπόριστος dyspoacuteristos (ad)- 130 XXVI
Difiacutecil de obter Palavra usada a partir de Epicuro
ἐγγαληνίζω engaleniacutedzo (v)- 37
Viver com tranquilidade Epicuro eacute o uacutenico a utilizar este termo
εἱμαρμένη heimarmeacutene (sf)- 134
Aquela que recebeu por destino
ἐκλόγισις ekloacutegisis (sf)- XVIII
Caacutelculo Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐκχώρησις ekchoacuteresis (sf)- XIV
Distanciamento apartamento
ἐλευθερία eleutheriacutea (sf)- SV 77
Liberdade A noccedilatildeo grega de liberdade natildeo eacute uniacutevoca Desde suas origens o termo eleutheriacutea passou por muitos desdo-bramentos Epicuro apresenta uma noccedilatildeo de liberdade que participa do processo de interiorizaccedilatildeo do homem Devemos a Soacutecrates o raciociacutenio que equipara a liberdade da cidade agrave liberdade interna ao homem expressa sob a noccedilatildeo de auto-domiacutenio e que veio a influenciar toda a filosofia posterior A ideia de liberdade interior eacute comum agraves diferentes escolas de filosofia do periacuteodo heleniacutestico poreacutem o epicurismo a apro-funda fazendo com que o sentido de eleutheriacutea se submeta ao de autaacuterkeia(Vide supra αὐτάρκεια nesta mesma parte)
Ethicaacute
122 123
Segundo Benveniste27 o termo latino liber e o grego eleuacutethe-ros28satildeo derivados da mesma raiz indo-europeia leudh- que significa ldquocrescer se desenvolverrdquo Essa imagem do ldquocresci-mentordquo e de sua completude na formaccedilatildeo de um homem levou agrave compreensatildeo socializada de leudh- como fonte ldquodo conjunto daqueles que satildeo nascidos e desenvolvidos conjun-tamenterdquo (Benveniste 1969 p 323) A ideia de liberdade pois se relaciona com o pertencimento a uma linhagem a um povo ldquoA liberdade do homem grego consiste em se sentir subordinado como membro agrave totalidade da polis e das suas leisrdquo (Jaeger 1995 p 228) Toda a liberdade que os gregos poderiam gozar advinha de seu pertencimento agrave polis natildeo apenas por habitarem a cidade mas por serem cidadatildeos Es-panto agrave parte o sentido original de liberdade natildeo tem a ver com emancipaccedilatildeo mas pelo contraacuterio com pertencimento Nas palavras de Benveniste
O primeiro sentido natildeo eacute como seria tentador imaginar ldquoli-berto de alguma coisardquo e sim eacute este de um pertencimento a uma fonte eacutetnica designada por uma metaacutefora de crescimen-to vegetal Este pertencimento confere um privileacutegio que o estrangeiro e escravo jamais conhecem (Benveniste 1969 p 324)
O exemplo das Guerras Peacutersicas no iniacutecio do seacuteculo V aC representa esta diferenccedila radical entre os gregos e os estrangeiros persas que natildeo gozavam dos privileacutegios da liberdade (eleutheriacutea) Os invasores persas tinham mestres diante dos quais se curvavam e aos quais obedeciam enquanto que os cidadatildeos gregos os eleuacutetheroi ldquonatildeo tinham um chefe uacutenico nem para cada cidade um homem que as
27 Cf 1969 p 322-323 28 Ambos os termos tecircm o significado de ldquolivrerdquo
Terceira parte
124 125
comanderdquo (Romilly 1989 p40) Essa diferenccedila de postura eacute representada na trageacutedia de Eacutesquilo Persas a partir da perspectiva dos baacuterbaros
Rainha Quem eacute o seu senhor Quem comanda o seu exeacuterci-to Corifeu Eles (os gregos) natildeo satildeo escravos (doucircloi) de nin-gueacutem nem satildeo suacuteditos (Eacutesquilo Persas linhas 241 242)29
Essa eacute a diferenccedila poliacutetica fundamental entre os gregos e os baacuterbaros30 Enquanto estes tecircm mestres os gregos devem obediecircncia apenas agrave lei sem a qual natildeo haveria polis nem liberdade Assim a noccedilatildeo de eleutheriacutea enquanto oposta agrave servidatildeo se define a partir da diferenccedila fundamental entre gregos e baacuterbaros Esse sentido que podemos chamar de liberdade poliacutetica depende do regime e se opotildee agrave opressatildeo31
Entretanto no fim do seacuteculo V aC surge um novo aspec-to da eleutheriacutea a liberdade democraacutetica A liberdade e a igualdade (isonomiacutea) se confundem Estaacute aberta a possibili-dade de todos os cidadatildeos intervirem na poliacutetica da cidade Todos tecircm direito de falar (isegoriacutea) e a justiccedila eacute a mesma para todos Poreacutem a influecircncia funesta dos demagogos e as arbitrariedades populares acabaram implodindo a liberdade democraacutetica32 A partir daiacute desponta outra forma de liberda-de a liberdade interior
Eacute atraveacutes das palavras de Soacutecrates que Xenofonte transmite a nova ideia da liberdade interior33
29 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo de David Grene ampRichmond Lattimore The Complete Greek Tragedies of AeschylusThe University of Chicago Press 1959 p 229
30 Cf Romilly 1989 p 4731 Cf Novaes (Org) 2002 p 1632 Cf Ibid p 11733 Eacute importante ressaltar que W Jaeger jaacute identificava a liberdade
interior nos textos de Soacutelon (Cf 1995 p 247)
Ethicaacute
124 125
- Ora diz-me laacute Eutidemo acreditas que haja um bem mais belo e bom para o homem e para a cidade do que a liberdade (eleutheriacutean)
- Natildeo E esse eacute de fato o maior dos bens
- E acreditas que eacute livre (eleuacutetheron) o homem que eacute domi-nado pelos prazeres do corpo e que por causa deles natildeo consegue agir bem
-De modo nenhum (Memoraacuteveis IV 5 2-3)34
Soacutecrates coloca lado a lado a liberdade da cidade e a liberda-de interior Esta se evidencia pelo autodomiacutenio ou domiacutenio das paixotildees Sem o autodomiacutenio (enkraacuteteia) o homem natildeo pode ser considerado realmente livre mesmo que viva sob um regime de liberdade poliacutetica
Essas noccedilotildees de autodomiacutenio e liberdade interior foram fundamentais para o desenvolvimento das filosofias heleniacutes-ticas uma vez que a vida poliacutetica se esfacelara sob o domiacutenio do impeacuterio macedocircnico ldquoA aacutegora apresenta-se agora fechada nos quatro lados como que para proclamar atraveacutes desta simples evocaccedilatildeo arquitetocircnica que a livre movimentaccedilatildeo e reuniatildeo do povo eram coisas do passadordquo (FINLEY 2002 p135) E quando Dioacutegenes o ciacutenico proclamou seu cosmo-politismo condenou o conceito de cidadania agrave falta de sen-tido35 O que interessa a partir de agora eacute o indiviacuteduo e sua busca interior de liberdade sabedoria e virtudes para uma vida bela A sociedade eacute apenas um acidente no percurso de melhoramento do indiviacuteduo E eacute como herdeira das noccedilotildees socraacuteticas de liberdade interior e autodomiacutenio que aparece
34 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Elias Pinheiro Coimbra CECH 2009
35 Cf Finley 2002 p116
Terceira parte
126 127
a noccedilatildeo epicurista de eleutheriacutea36 fruto mais precioso da autarquia e resultado do exerciacutecio da sabedoria
As ocorrecircncias dos termos eleutheriacutea e eleuacutetheros aparecem ambos nas Sentenccedilas Vaticanas
O fruto maior do bastar-se a si mesmo eacute a liberdade(SV 77)
Uma vida livre natildeo pode adquirir bens numerosos pelo fato de a coisa natildeo ser faacutecil fora da sujeiccedilatildeo agraves multidotildees e aos poderosos mas ela adquire tudo por uma abundacircncia contiacute-nua Se por acaso em algum lugar ela encontra muitos bens tambeacutem essas coisas satildeo faacuteceis de distribuir em favor da boa disposiccedilatildeo do proacuteximo (SV 67)
A liberdade de que se trata aqui tem a ver com aquela pro-blematizada por Soacutecrates no citado texto de Xenofonte ou seja aqui tambeacutem se trata de um tipo de liberdade interior No entanto as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia socraacuteticas ainda estatildeo segundo Jaeger ligadas agrave poacutelis ldquoSoacutecrates vive ainda dentro da poacutelisrdquo (JAEGER 1995 p552-553) e suas noccedilotildees de autaacuterkeia e eleutheriacutea natildeo tecircm ainda os traccedilos individualistas que os ciacutenicos primeiro depois estoacuteicos e epicuristas vatildeo lhes dar
A autaacuterkeia eacute condiccedilatildeo para a eleutheriacutea Se pensarmos em qualquer sentido para esta liberdade interior que prescinda da autaacuterkeia estaremos cometendo um erro de interpreta-ccedilatildeo Portanto natildeo podemos subsumir sob a noccedilatildeo de eleu-theriacutea o repertoacuterio de assuntos que se relacionam com o tema da liberdade no Epicurismo o pareacutenklisis ou clinamen(vide supra παρέγκλισις na primeira parte) a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs a criacutetica aos fiacutesicos da necessidade a criacutetica agraves supersticcedilotildees
36 ldquoAleacutem de fundar sua filosofia escavando o antes de Soacutecrates a dou-trina epicurista edificou sua arquitetocircnica a partir de Soacutecratesrdquo (Spinelli 2009 p51)
Ethicaacute
126 127
fatalistas e agrave ideia de destino etc pois todos esses assuntos excedem o sentido de eleutheriacutea Por isso falamos em um sentido de liberdade geral que passa por todos os objetos de estudo do epicurismo e um sentido de liberdade especiacutefica que por sua vez se identifica com a noccedilatildeo de eleutheriacutea Esta eacute a noccedilatildeo de liberdade em seu sentido positivo natildeo mais apenas o reconhecimento de um espaccedilo para a liberdade mas uma tomada de posiccedilatildeo diante da vida
Propomos que o sentido de eleutheriacutea estaacute para aquele de aacutetomo assim como o sentido de parrsquo hemacircs estaacute para aquele de vazio O aacutetomo natildeo existiria sem o vazio mas a existecircncia do vazio por si soacute natildeo garante a existecircncia do aacutetomo Do mesmo modo o espaccedilo para construccedilatildeo dos homens ou o acircmbito das accedilotildees livres natildeo garante a existecircncia efetiva des-sas mesmas accedilotildees A eacutetica de Epicuro tem por isso a esco-lha e a recusa como tema principal Agir com eleutheriacutea eacute construir no espaccedilo deixado vago pela natureza eacute escolher e recusar sem indiferenccedila eacute sentir prazer e sentir a dor quando convier
Epicuro segundo Secircneca diz que ldquoa liberdade consiste pre-cisamente em servir a filosofiardquo e ainda ldquoaquele que se lhe submete e a ela se entrega jaacute natildeo tem que esperar eacute ime-diatamente emancipadordquo (Epistolae ad Lucilium VIII 7 Us 199) O sentido do termo latino libertas corresponde ao de eleutheriacutea empregado por Epicuro nas Sentenccedilas Vaticanas A eleutheriacutea soacute eacute alcanccedilada por quem uma vez dedicado ao serviccedilo da filosofia e agrave compreensatildeo da natureza potildee-se ao exerciacutecio da autaacuterkeia A vida livre natildeo eacute uma vida de oacutecio e sim de exerciacutecio filosoacutefico de praacutette kaigrave meleacuteta (praacutetica e reflexatildeo) O homem autaacuterquico e livre natildeo depende de ri-quezas fama ou honrarias para ser feliz pois entendeu que o
Terceira parte
128 129
bem primordial o prazer lhe eacute congecircnito e que basta calcu-lar por si mesmo os limites dos prazeres e das dores para que seus objetivos mais importantes que satildeo ao mesmo tempo os mais simples e naturais sejam alcanccedilados A filosofia epi-curista eacute libertadora
ἐλεύθερος eleuacutetheros (ad)- SV 67
Livre
ἐλπίς elpiacutes (sf)- 84 134
Esperanccedila expectativa
ἔνδεια eacutendeia (sf)- 53 130 XVIII XXI
Falta necessidade
ἔνδοξος eacutendoxos (ad)- VII
Ceacutelebre famoso renomado
ἐνοχλέω enochleacuteo (v)- 125 XI
Desassossegar
ἐξαγωγή exagogeacute (sf)- XX SV 38
Abandono afastamento
ἐπιθυμία epithymiacutea(sf)- 127 X XI XXVI XXIX XXX SV 21 SV 35 SV 71 SV 80
Desejo apetite Os desejos satildeo fenocircmenos do corpo Neste
Ethicaacute
128 129
sentido Epicuro os classifica em trecircs categorias que definem o que importa agrave aquisiccedilatildeo do bem-estar e agrave manutenccedilatildeo de um corpo bem disposto (eusthaacutetes) e o que pode ser nocivo ou causa o seu desequiliacutebrio 1) desejos naturais e neces-saacuterios 2) desejos naturais e desnecessaacuterios 3) desejos nem naturais e nem necessaacuterios
ἐργαστικός ergastikoacutes (ad)- SV 45
Trabalhador laborioso
ἔργον eacutergon (sn)- 78 XXXVIII
Funccedilatildeo praacutetica tarefa obra
ἐτεροφρονεῖν heterophroneicircn (v inf)- SV 17
Estar em demecircncia Verbo de uso exclusivo de Epicuro
εὐδαιμονία eudaimoniacutea (sf)- 116122 127 SV 33
Felicidade
εὐδιάχυτος eudiaacutekhytos (ad)- XXVI
Facilmente dissipaacutevel
εὐελπιστία euelpistiacutea (sf)- SV 39
Boa expectativa esperanccedila
εὐκαταφρόνητος eukataphroacutenetos (ad)- SV 4
Facilmente despreziacutevel desdenhaacutevel
Terceira parte
130 131
εὐκταῖος euktaicircos (ad)- SV 35
Desejaacutevel
εὐλογίστως eulogiacutestos (adv)- 135
De modo bem pensado
εὔλογος eacuteulogos (ad)- SV 38
Razoaacutevel
εὔνοια eacuteunoia (sf)- SV 67
Benevolecircncia favor
εὐπορία euporiacutea (sf)- XIV
Riqueza abundacircncia prosperidade
εὐπόριστος eupoacuteristos (ad)- 130133 XV XXI
Faacutecil de conseguir
εὐστάθεια eustaacutetheia (sf) 68 Us
Boa disposiccedilatildeo O termo grego eustaacutetheia siginifica literalmen-te boa disposiccedilatildeo e foi definido por J Brun por ldquoequiliacutebrio das diversas partes do corpo vivordquo37 Este termo natildeo foi encontrado dentre as proposiccedilotildees das Cartas nem tampouco nas Maacuteximas Encontramo-lo citado por H Usener no fragmento de nuacutemero 68 da sua obra Epicurea Nela o autor revela sua fonte trata-se de Plutarco38 que atribui a Epicuro a seguinte proposiccedilatildeo
37 BrunJ Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978 p 16838 Plutarco Contra Epic Beat 1089d
Ethicaacute
130 131
() O gozo mais alto e mais soacutelido resulta da condiccedilatildeo de equiliacutebrio (boa disposiccedilatildeo) da carne e a esperanccedila fundada de a conservar para quem saiba consideraacute-la proporciona (conteacutem) a mais alta e segura alegria () (Us 68 p 185)
G Arrighetti traduz o termo em questatildeo por benessere que facilmente pode ser traduzido por bem estar Contudo vi-mos na expressatildeo ldquoboa disposiccedilatildeordquo a melhor traduccedilatildeo para o termo eustatheiacutea tendo em vista o fato de que se tomado literalmente encontramos imediatamente a ideia de um es-tado equilibrado no sentido fiacutesico do posicionamento deste corpo em relaccedilatildeo ao meio em que se encontra Queremos com isso chamar a atenccedilatildeo para as constantes relaccedilotildees esta-belecidas entre o corpo que age e sofre e as coisas sobre as quais age e sofre afecccedilotildees A boa proporccedilatildeo a harmonia e a estabilidade fiacutesica do corpo satildeo definiccedilotildees anaacutelogas do termo equiliacutebrio Este termo entretanto eacute pensado pela Fiacutesica par-ticularmente pela Mecacircnica- como o estado de um corpo em repouso em que as forccedilas que o solicitam se contrabalanccedilam exatamente Podemos entatildeo pensar tais forccedilas como expres-sotildees da natureza que podem ou natildeo afetar o corpo e neste sentido eacute igualmente possiacutevel pensar que este equiliacutebrio natildeo eacute absoluto mas oscilatoacuterio uma vez que afetos e desafetos ocorrem casualmente na natureza ainda que a nossa con-duta disponha-se ao exerciacutecio da phroacutenesis e da autaacuterkeia Eacute preciso que se esclareccedila que na natureza o movimento de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos eacute constante e inevitaacutevel mas no que diz respeito agrave conduta do homem esta tambeacutem depende da sua vontade ou deliberaccedilatildeo
εὐσυμπλήρωτος eusympleacuterotos (ad)- 133
Plenamente atingido Palavra de uso exclusivo de Epicuro
Terceira parte
132 133
εὐφροσύνη euphrosyacutene (sf)- 2Us
Deleite
ἡδονή hedoneacute (sf)- 128 129 130 131 136 137 138 III VIII IX X XII XVIII XIX XX XXIX SV 37 2 Us 116 Us 181 Us
Prazer gozo O prazer eacute o que nos realiza e nos faz bem Escolhemos de preferecircncia aquilo que nos agrada ou o que eacute prazeiroso e fugimos (de) ou evitamos aquilo que nos agride ou nos deixa vulneraacuteveis agrave dor
Escolher o prazer como o bem eacute viver intensamente os sentidos mas o que eacute intenso natildeo precisa ser imoderado Epicuro naturaliza o prazer mas natildeo o neutraliza Acredita numa medida natural de realizaccedilatildeo do prazer como estado de equiliacutebrio ou bem-estar O prazer tem um fim em si mesmo isto eacute no ato prazeiroso a finalidade eacute imanente agrave accedilatildeo Natildeo deve ser passiacutevel de censura aquele que admitir e propagar que o que eacute agradaacutevel eacute bom e o que eacute desagradaacutevel eacute ruim A sabedoria estaacute em natildeo ter opiniotildees vatildes sobre o que eacute agradaacutevel pois nesse caso natildeo se sabe o prazer pois deixar-se mover pela opiniatildeo vatilde eacute agir ignorando a natureza do objeto da accedilatildeo O problema reside na ignoracircncia pois o prazer obtido a partir do discernimento eacute o maior dos bens ou o bem por excelecircncia As criacuteticas epicuacutereas aos cirenaicos estatildeo centradas na desmesura com que estes buscavam e idealizavam o prazer Mais uma vez a phroacutenesis(Vide infra φρόνησις) eacute moderadora dos apetites (desejos) e esclarece-dora das medidas de realizaccedilatildeo plena dos prazeres A phroacutene-sis se opotildee a hamartiacutea e a hyacutebris assim como o prazer se opotildee agraves opiniotildees falsas sobre o que eacute agradaacutevel Diz Epicuro
Ethicaacute
132 133
E assim como em seu alimento (o saacutebio) natildeo escolhe o maior quantitativamente mas o mais agradaacutevel assim tambeacutem do tempo (de viver) natildeo escolhe o maior fruto mas o mais prazeroso O prazer eacute o princiacutepio e o fim da vida feliz O prazer eacute o nosso bem primordial e congecircnito e partindo dele movemo-nos para qualquer escolha e qualquer rejeiccedilatildeo e a ele voltamos usando como criteacuterio de discriminaccedilatildeo de todos os bens as sensaccedilotildees de prazer e de dor (DL X 128-29)
O que fez Epicuro quando elegeu o prazer como o Bem por excelecircncia foi atribuir agrave sensaccedilatildeo o primado sobre a com-preensatildeo da realidade e mais ainda definir o prazer como medida plena de realizaccedilatildeo do homem no mundo poreacutem eacute preciso explicitar como se daacute esta compreensatildeo e a que medida o prazer responde positivamente
Em primeiro lugar o pensamento eacute um efeito das relaccedilotildees sensiacuteveis e das analogias que nos fazem perscrutar o que eacute aacutedelon (invisiacutevel) mas pode ser inteligiacutevel Epicuro nos fala de he phantastikegrave epiboleacute tecircs dianoiacuteas que satildeo projeccedilotildees (saltos) imaginativa(o)s do pensamento Elas se datildeo por analogia agraves operaccedilotildees com os dados sensiacuteveis mas nos remetem a pensar nos niacuteveis microfiacutesicos e macrofiacutesicos Haacute uma relaccedilatildeo direta entre sentir pensar e agir que estabelece a continuidade en-tre a physiologiacuteae a eacutetica nos textos aqui examinados Assim as sensaccedilotildees datildeo origem ao pensamento que por sua vez eacute o princiacutepio do agir isso faz pensar que as deliberaccedilotildees mo-vidas pelo pensamento objetivam a realizaccedilatildeo do bem-estar experimentado pelos sentidos Epicuro natildeo distingue bem--estar (eustaacutetheia) de estado de prazer duradouro (hedonegrave ka-tastematikeacute) A manutenccedilatildeo do equiliacutebrio interno e externo do homem estaacute diretamente relacionada agrave deliberaccedilatildeo e agrave
Terceira parte
134 135
consequente accedilatildeo realizada por cada um Tendo em vista o prazer Epicuro busca um modo de vida no qual os desejos e apetites que movem natural e necessariamente os indiviacuteduos tenham uma medida que realize a vida de modo satisfatoacuterio e equilibrado Ele considera desejaacutevel e exequiacutevel este estado sem perturbaccedilatildeo e sem sofrimento Este estado eacute buscado como modo de realizaccedilatildeo do prazer o que faz com que a vida filosoacutefica seja a via preferencial para a realizaccedilatildeo dos desejos naturais e necessaacuterios e para a obtenccedilatildeo de prazeres que natildeo tecircm como consequecircncia a dor Para tal parte do princiacutepio segundo o qual prazer e dor se excluem e mais que isso natildeo haacute estado intermediaacuterio entre eles ou estado neutro no qual natildeo se sente prazer nem dor
O prazer e o movimento que o realiza fez com que Epicuro estabelecesse uma diferenccedila em relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo cirenai-ca de hedoneacute Para eles nem a ausecircncia de dor a aponiacutea nem a imperturbabilidade da alma a ataraxia podem ser considerados estados de prazer O prazer eacute um estado que se opotildee agrave dor e difere da neutralidade Dioacutegenes Laeacutercio comenta ldquoNo que concerne agrave ausecircncia de dor pleiteada por Epicuro eles (os cirenaicos) declaram que isto natildeo eacute prazer assim como a ausecircncia de prazer natildeo pode ser considerada dorrdquo (DL II 89)
Outro ponto de discordacircncia de Epicuro em relaccedilatildeo agrave Aristi-po eacute a admissatildeo da diferenccedila entre os prazeres pela distinccedilatildeo que faz entre opiniotildees vatildes sobre o prazer e o pensamento em que se sabe discernir ponderar e moderar o prazer para que ele natildeo tenha como consequecircncia a dor esta tambeacutem ignorada quando se age a partir das kenaigrave doacutexai
Epicuro centraraacute a sua criacutetica na demonstraccedilatildeo de que o prazer eacute constitutivo isto eacute que se inicia como movimento
Ethicaacute
134 135
mas a sua finalidade eacute tornar-se estaacutevel Hedonegrave kinetikeacute e hedonegrave Katastematikeacute configuram um mesmo movimento de prazer que tende naturalmente a uma espeacutecie de sere-nidade de apaziguamento das voliccedilotildees Quando inicia o movimento de suplantar a dor o corpo produz o seu proacuteprio prazer que depois seraacute rememorado pela alma Eacute o prazer em movimento que depois de saciado o desejo torna-se se-reno alcanccedilando a eustaacutetheia o bem-estar ao mesmo tempo no corpo e na alma contudo a alma guardaraacute as sensaccedilotildees prazeirosas transformando-as em sentimentos (proleacutepseis) ou impressotildees sensiacuteveis A rememoraccedilatildeo dos prazeres vividos produz um estado de alegria de seguranccedila e de bem-estar Dizemos nestes momentos que estamos bem e que tudo eacute muito agradaacutevel Satildeo os prazeres da alma Aleacutem disso esses prazeres jaacute sentidos e agora rememorados invadem a imagi-naccedilatildeo e projetam os prazeres vindouros tornados possiacuteveis pela memoacuteria Eacute uma maneira afirmativa de viver esperar (projetar) gozar no futuro
ἡσυχία hesychiacutea (sf)- XIV
Quietude
θάνατος thaacutenatos (sm)- 124125 133 II X XI SV 31
Morte
ldquoa morte nada eacute para noacutes pois o que se decompotildee eacute insensiacute-vel e o que eacute insensiacutevel nada eacute para noacutesrdquo (Maacuteximas Princi-pais II)
θαρρεῖν tharrecircin(v inf)- VIXXVIII XXXIX XL 207 Us
Confianccedila seguranccedila
Terceira parte
136 137
θεός theoacutes (sm)- 123 124 133 134 135 I SV 65 355 Us
Divindade deus A crenccedila vulgar nos deuses eacute formada por ldquosuposiccedilotildees falsasrdquo (hypoleacutepseis pseudeicircs) (DL X 124) Epi-curo afirma que essas crenccedilas natildeo satildeo baseadas em proleacutepseis (impressotildees) mas apenas em hypoleacutepseis (suposiccedilotildees)Vide suprahypoacutelepsis - ὑπόληψις etproacutelepsis πρόληψις (na segunda parte) A diferenccedila acentuada entre proacutelepsis e hypoacutelepsis nesse contexto demarca que embora Epicuro admita a existecircncia dos deuses a crenccedila vulgar natildeo condiz com a vida corpoacuterea e feliz das divindades
As hypoleacutepseis da religiatildeo grega tecircm o poder de produzir como consequecircncia da opiniatildeo de que eacute possiacutevel interagir com as divindadesa suposiccedilatildeo de que ldquodos deuses deri-vam os maiores males e bensrdquo (DL X 124) O culto dos tempos de Epicuro de acordo com Salem (1994 p 181) se expressava de uma maneira quase mercantil Acreditava-se que oferendas e sacrifiacutecios podiam aplacar a ira e alcanccedilar o favor dos deuses bem como maacutes oferendas ou a negligecircncia delas podiam suscitar penas e castigos Epicuro natildeo preten-de persuadir as pessoas que os deuses natildeo existem antes quer demonstrar que suas crenccedilas satildeo contraditoacuterias com a noccedilatildeo de divindade que expressam ldquoSe um deus obedece agraves preces dos homens muito rapidamente todos os homens teriam perecido continuamente eles pedem muitas coisas prejudi-ciais uns aos outrosrdquo (Us 388) Deuses satildeo seres imortais e sumamente felizes e enquanto tais natildeo se envolvem com a vida humana Epicuro evidencia a contradiccedilatildeo entre a noccedilatildeo de divindade e a expectativa de ser beneficiado ou castigado por um deus
Esperar por favores divinos torna o homem indolente esperar por castigos o torna temeroso O temor perturba e impede a
Ethicaacute
136 137
felicidade dos homens A imagem de deuses castigadores in-troduz nos espiacuteritos o medo do futuro e da morte O homem cultua por sacrifiacutecios e oferendas esperando que deuses guiem sua vida mas esses seres em contrapartida satildeo indiferentes ldquoEacute estuacutepido pedir aos deuses o que se pode procurar por si mesmordquo (SV 65) diz Epicuro Supor que seres indiferentes governam e guiam a vida humana nada mais eacute que se deixar ao acaso resignando-se aos desiacutegnios de pretensas divindades Pior que ser escravo de senhores reais eacute ser escravo de senhores inexistentes Esses homens vivem ao sabor da sorte levados pela inconstacircncia do acaso negligenciando seu poder de es-colha e decisatildeo A estes Epicuro convoca a tomar as reacutedeas da vida nas matildeos incitando-os agrave autarquia e a exercer ativamente sua liberdade ldquoO infortuacutenio do saacutebio eacute melhor que a prospe-ridade do insensato pois acha melhor numa accedilatildeo humana o fracasso daquilo que eacute bem escolhido que o sucesso por obra do acaso daquilo que eacute mal escolhidordquo (DL X 135)
O primeiro componente do ldquoquaacutedruplo remeacutediordquo (tetra-phaacutermakos) diz respeito aos deuses ldquosua opiniatildeo [do saacutebio] em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosardquo (DL X 133) Uma opiniatildeo piedosa segundo Epicuro eacute a de quem rejeita os deuses acei-tos pela maioria Esta opiniatildeo segundo a noccedilatildeo impressa (noacuteesis hypegraacutefe) em noacutes pela natureza considera a divin-dade ldquoum ser vivo e felizrdquo (DL X 123) Sobretudo natildeo se deve atribuir agrave divindade qualquer atributo que contradiga sua imortalidade e felicidade
ldquoOs deuses realmente existem e o conhecimento de sua exis-tecircncia eacute manifestordquo (DL X 123) Essa afirmaccedilatildeo inviabiliza a caracterizaccedilatildeo de Epicuro como ateu Lactacircncio39 em seu
39 Lactacircncio viveu entre 240-320 dC e seu comentaacuterio sobre Epicuro foi catalogado por H Usener em Epicurea (1887)
Terceira parte
138 139
De Ira Dei (A Ira de Deus) certamente desejava acentuar ainda mais as diferenccedilas entre o epicurismo e o cristianismo quando atribuiu a Epicuro o famoso argumento
Ou bem diz Epicuro Deus quer suprimir o mal e natildeo pode ou ele pode e natildeo quer ou ele nem quer e nem pode ou ele quer e pode Se ele quer e natildeo pode entatildeo eacute impotente e isso natildeo convecircm agrave Deus se ele pode e natildeo quer ele eacute invejoso mas isso natildeo pode conferir vantagem a Deus se ele nem quer nem pode ele eacute de uma soacute vez invejoso e impotente sendo assim ele natildeo pode ser Deus se ele quer e pode so-mente o que convecircm agrave Deus entatildeo de onde vem o mal Ou porque Deus natildeo o suprime (Us 374)
No entanto o texto da Carta a Meneceu natildeo sugere que Epicuro se referisse a um deus singular nem tampouco a um deus de que se esperasse a expurgaccedilatildeo do mal do mundo Pelo contraacuterio Epicuro se refere a muacuteltiplas divindades que a despeito dos problemas humanos sossegadamente habitam os intermundos (metakoacutesmion) Desse modo que esperar que a prova da existecircncia de Deus seja derivada da intervenccedilatildeo do mesmo no mundo vai totalmente de encontro com os textos de Epicuro que nos restaram
Os deuses de Epicuro natildeo se preocupam com bens ou males A perfeita felicidade desses seres se compreende exatamente na medida em que natildeo se preocupam com os afazeres dos homens Satildeo livres autossuficientes felizes imortais e por isso satildeo modelo para o saacutebio epicurista ldquoSeraacutes como um deus entre os homensrdquo (DL X 135) diz Epicuro a seu dis-ciacutepulo Meneceu O epicurista natildeo espera dos deuses nada aleacutem de um exemplo perfeito pelo qual moldar sua vida Os deuses expressam ideais de liberdade e autarquia eles tecircm tudo o que desejam e realizam sua vontade como querem Se
Ethicaacute
138 139
aos homens natildeo cabe ter tudo que desejam podem no en-tanto administrar-se com vistas a desejar somente o que po-dem realizar independentemente das circunstacircncias Eacute com este fim que Epicuro adverte ldquoA pobreza medida segundo o fim da natureza eacute uma grande riqueza a riqueza sem limite eacute grande pobrezardquo (SV 25) Eacute este tambeacutem o grande bem da autaacuterkeia pois o saacutebio autaacuterquico natildeo depende de ban-quetes sofisticados nem precisa variar seus prazeres cons-tantemente tampouco considera que o fim da vida eacute a soma irrestrita de prazeres nem cultiva riquezas pois encontrou na autaacuterkeia um grande tesouro Ter deuses como modelo de autossuficiecircncia natildeo significa desejar espraiar nosso domiacutenio para aleacutem das fronteiras de nosso ser antes eacute ter o domiacutenio irrestrito daquilo que nos compete Natildeo eacute desejar ardente-mente a Lua e os astros inalcanccedilaacuteveis mas eacute querer apenas o limite da satisfaccedilatildeo da carne
θητεία theteiacutea (sf)- SV 67
Serviccedilo
θόρυβος thoacuterybos (sm)- 132
Tumulto
ἰατρεία iatreiacutea (sf)- S64
Cura cuidado
ἰατρική iatrikeacute (teacutechne) (sf)- 138 221 Us
Medicina
Eacute o impeacuterio exclusivo (monarchiacutee) de uma soacute forccedila no orga-
Terceira parte
140 141
nismo a causa das doenccedilas e o equiliacutebrio (isonomiacutee) das for-ccedilas a causa da sauacutede (Alcmeacuteon de Croacutetona frag 4 - Diels)
A possiacutevel compreensatildeo epicuacuterea acerca da medicina de sua eacutepoca pode ser ldquointuiacutedardquo em algumas raras passagens dos seus textos mas natildeo se encontram nelas elementos que venham a demonstrar suficientemente um saber meacutedico ine-rente aos discursos epicuacutereos nem tampouco temos notiacutecias de algum disciacutepulo de sua eacutepoca que tivesse sido meacutedico Entretanto pelo que vimos ateacute aqui a anaacutelise de saacuterx envolve um conjunto de reflexotildees em torno do cuidado com o corpo
Sabemos de diversas interseccedilotildees entre medicina e filosofia no pensamento antigo desde Alcmeacuteon de Croacutetona e Em-peacutedocles de Agrigento passando por Soacutecrates ateacute Platatildeo e Aristoacuteteles em cujos textos encontramos as mais numerosas referecircncias as analogias que tomam ora a medicina ora o meacutedico como um dos termos e do outro lado encontramos agraves vezes a poacutelis agraves vezes o poliacutetico agraves vezes o filoacutesofo Neste sentido podemos estabelecer analogias entre a medida do agir e a medida do cuidar ambas tendendo sempre a um equiliacutebrio seja como ldquojusta medidardquo seja como ldquomeio--termordquo
Quando afirmamos a pertinecircncia dessas analogias temos presente que tanto a filosofia quanto a medicina buscam ex-plicitar o cuidado de si tendo em vista que a accedilatildeo de cuidar eacute proacutepria do ser do homem ldquoA medicina eacute a arte de curar as enfermidades por seus contraacuterios A arte de curar e de seguir o caminho pelo qual cura espontaneamente a nature-zardquo (Hip Afor 2 p 1 8) Compreendemos aqui o sentido real de agir conforme a natureza ou seja de agirmos de um modo tal que os nossos atos coincidam com o modo proacuteprio da natureza se realizar Neste sentido podemos entender a
Ethicaacute
140 141
teacutechne como complemento da natureza
Epicuro concebe a filosofia como o exerciacutecio de uma sabedo-ria para a vida e pensa ser este o caminho para a realizaccedilatildeo da natureza do sophoacutes com vigor e potecircncia Ora o saber meacutedico parece tambeacutem buscar auxiliar o corpo a realizar--se plenamente de acordo com o modo de ser da proacutepria natureza A cura auxiliada pelo saber eacute para a medicina um modo de accedilatildeo do meacutedico de acordo com a natureza o que quer dizer que em uacuteltima anaacutelise eacute a natureza que cura pois eacute ela mesma que se restabelece e a partir de si mesma Vemos aqui que a medicina em consonacircncia com a filosofia compotildee um saber acerca da natureza que Epicuro chamou Physiologiacutea Mediante isto percebemos que tanto para a fi-losofia epicuacuterea quanto para a medicina antiga a phyacutesis eacute a questatildeo fundamental que enseja toda e qualquer busca pelo conhecimento sendo por isso ao mesmo tempo princiacutepio e finalidade do conhecimento meacutedico e do conhecimento filosoacutefico E eacute desde a compreensatildeo da phyacutesis que se pode estruturar a accedilatildeo do meacutedico ou filoacutesofo Esta accedilatildeo traduz o sentido de um agir ldquode acordo com a naturezardquo que significa ter a sua archeacute mdash que eacute princiacutepio e comando mdash na natureza ao mesmo tempo que o teacutelos mdash que eacute a finalidade da accedilatildeo do homem no mundo e especificamente finalidade do conhe-cer tambeacutem na natureza
ἱκανός hikanoacutes (ad)- 45 55 59 SV 65 SV 68
Suficiente capaz
ἰσονομία isonomiacutea (sf)- 352 Us
Igualdade perante a lei
Terceira parte
142 143
καθαριότης katharioacutetes (sf)- SV 63
Pureza simplicidade frugalidade
καιρός kairoacutes (sm)- 35 98 115 XXV
Circunstacircncia tempo ocasiatildeo
καταπυκνόω katapyknoacuteo (v)- IX
Tornar-se espesso ganhar espessura
καταστηματικός katastematikoacutes (ad)- 136 2 Us
Repousante estaacutevel Adjetivo aplicado a certos prazeres
καταστροφή katastropheacute (sf)- 126 XX XXXV
Fim (da vida) ruiacutena desaparecimento
κενοσοξία kenodoxiacutea (sf)- XXX
Opiniatildeo vazia
κοινωνία koinoniacutea (sf)- XXXVI XXXVII XXXVIII
Comunidade vida em comum
μακάριος makaacuterios (ad)- 78 79 80 81 84 123 134 I
Feliz bem aventurado
μακαριότης makarioacutetes (sf)- 76 77 97 123 XXVII
Bem aventuranccedila felicidade
Ethicaacute
142 143
μακαρισμός makarismoacutes (sm)- SV 52
Accedilatildeo de louvar ou de invejar a felicidade alheia
μακαριστός makaristoacutes (ad)- SV 17
Considerado feliz
μελέτη meleacutete (sf)- 126
Meditaccedilatildeo
νόμος noacutemos (sm)- XXXVII
Lei
οἰκειότης oikeioacutetes (sf)- XL
Familiaridade amizade
ὁμόφυλος homoacutephylos (ad)- XXXIX
Aliado da mesma tribo Vide supra alloacutephylos-ἀλλόφυλος (na primeira parte)
ὄρεξις oacuterexis (sf)- XXVI 202 422 Us
Apetite
ὄχλησις oacutechlesis (sf)- VIII
Aborrecimento perturbaccedilatildeo
παιδεία paideiacutea (sf)- SV 45 117 163 Us
Cultura educaccedilatildeo
Terceira parte
144 145
παράστασις paraacutestasis (sf)- 81 138 Us
Deliacuterio
παρ᾿ἡμᾶς parrsquo hemacircs (prep παρά + 1ordf pessoa pl ἡμᾶς) - 133 27 Us (135)
Cabe-nos (cabe a noacutes) Parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo grega composta por dois vocaacutebulos unidos por elisatildeo paraacute e he-macircs Segundo Murarcho (2007 p 532) ldquoparaacute significa exa-tamente ao lado derdquo Por sua vez hemacircs eacute o pronome plural da primeira pessoa no acusativo traduzido pelo pronome obliacutequo aacutetono ldquonosrdquo Assim sendo a expressatildeo parrsquo hemacircsse descreve como a junccedilatildeo da preposiccedilatildeo paraacute (ao lado de) e do pronome hemacircs (nos) A expressatildeo tem sentido conotativo significando o que estaacute em poder do homem
Gama Kury (2008 p 314) traduz a expressatildeo parrsquo hemacircs por ldquodepende de noacutesrdquo diferente de Hicks (1925 p659) que traduz por ldquoour own action40rdquo Por sua vez Bollack (1975 p 81) traduz parrsquo hemacircs por ldquoce que tient agrave nous41rdquo Apesar das diferentes traduccedilotildees disponiacuteveis a melhor maneira de entender a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute pelo contexto do passo 133 da Carta a Meneceu
Crecirc entatildeo Meneceu que ningueacutem eacute superior a tal homem Sua opiniatildeo em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosa e ele se mostra sempre destemeroso diante da morte Ele reflete intensa-mente sobre a finalidade da natureza e tem uma concepccedilatildeo clara de que o bem supremo pode ser facilmente atingido e facilmente conquistado e que o mau supremo dura pouco e causa sofrimentos passageiros Finalmente ele proclama
40 ldquonossa proacutepria accedilatildeordquo41 ldquoo que nos concernerdquo
Ethicaacute
144 145
que o destino introduzido por alguns filoacutesofos como se-nhor de tudo eacute uma crenccedila vatilde e afirma que algumas coisas acontecem necessariamente outras por acaso e outras nos cabe fazer porque para ele eacute evidente que a necessidade gera a irresponsabilidade e que o acaso eacute inconstante e as coisas que cabe-nos fazer satildeo livremente escolhidas e satildeo naturalmente acompanhadas de censura e louvor (DL X 133)
Nessa passagem da carta haacute uma descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do homem que assimilou os preceitos baacutesicos do epicurismo Nela estaacute resumido aquilo que os epicuristas chamaram de tetraphaacutermakos (o quaacutedruplo remeacutedio42) O homem modelo como ldquoum deus entre os homensrdquo (DL X 135) natildeo teme a morte eacute feliz e traccedila seus proacuteprios caminhos Desdenha qualquer possibilidade de intervenccedilatildeo divina e defende que noacutes somos livres Investigou a natureza (phyacutesis) conhece seus princiacutepios e encontrou no prazer o fim (teacutelos) de todo homem
Epicuro natildeo diz expressamente a quem se refere ao afir-mar ldquoningueacutem eacute superior a tal homemrdquo ou como traduz Conche ldquoQuem estimas tu superior agravequelerdquo No entanto a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do saacutebio e do que se deve fazer para ter uma vida saacutebia comeccedila no passo 126 que diz ldquoo saacutebio (hoacute degrave sophoacutes) natildeo renuncia agrave vida nem teme a cessaccedilatildeo da vidardquo O saacutebio considera vatilde a crenccedila dos que apresentam o destino como um tirano Esta uacuteltima carac-teriacutestica do sophoacutes eacute determinante para a compreensatildeo de parrsquo hemacircs pois negar a crenccedila no domiacutenio irrestrito do destino (heimarmeacutene) implica em considerar a liberdade da accedilatildeo humana Segue-se pois na ordem do texto a afirma-
42 Cf MP II
Terceira parte
146 147
ccedilatildeo que anuncia o poder do homem expresso sob a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs ldquoalgumas coisas acontecem necessariamente (anaacutenke) outras por acaso (tyacuteche) e outras nos cabe fazerrdquo (parrsquo hemacircs)
A natureza eacute portanto neutra naquilo que cabe aos homens realizar O acaso (vide supra τύχη tyacuteche na pri-meira parte) limita a extensatildeo da necessidade (vide supra ἀνάγκη anaacutenke na primeira parte) e abre as portas para novas cadeias causais serem iniciadas A tradiccedilatildeo epicu-rista relaciona parrsquo hemacircs ao pareacutenklisis ou clinamen (Vide supra παρέγκλισις na primeira parte) Embora Epicuro natildeo tenha mencionado nada a respeito do desvio aleatoacuterio dos aacutetomos (pelo menos natildeo em seus textos remanescen-tes) percebe-se que a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute possibilitada pelo acaso sob a forma dos desvios bem como sua vigecircncia envolve a vontade deliberaccedilatildeo autarquia e escolha dos viventes Enfim parrsquo hemacircs se relaciona com a noccedilatildeo de li-berdade em sentido amplo Jaacute Filodemo aproxima a noccedilatildeo de pareacutenklisis da noccedilatildeo de parrsquo hemaacutes
Natildeo eacute suficiente admitir iacutenfimas declinaccedilotildees dos aacutetomos por causa do acaso e da liberdade (tograve tycherograven kaigrave tograve parrsquo hemacircs) mas eacute necessaacuterio provar que esta declinaccedilatildeo natildeo combate nenhum fato evidente (enargoacuten) (De Signis XXXVI 7-17 apud SALEM 1997 p 68)
Apesar do problema epistemoloacutegico levantado por Filodemo em relaccedilatildeo a natildeo-contradiccedilatildeo do clinamen ou pareacutenklisis fica claro que parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo utilizada para falar de liberdade de maneira geral ou seja de todas as possibilida-des abertas pelo desvio aleatoacuterio dos aacutetomos A expressatildeo parrsquo hemacircs abrange um conjunto de coisas que se relacionam com o agir livre do homem
Ethicaacute
146 147
περίβλεπτος periacutebletos (ad)- VII
Renomado famoso
περίβλεψις periacuteblepsis (sf)- SV 81
Observaccedilatildeo vigilacircncia
περίπτωσις periacuteptosis (sf)- 36 Us
Acaso desgraccedila
πίστωμα piacutestoma (sn)- XL
Garantia
πλήρωμα pleacuteroma (sn)- SV 59
Repleccedilatildeo satisfaccedilatildeo plenitude
ποιητικός poietikoacutes (ad)- VIIIX
Produtivo
ποικίλλειν poikiacutellein(v inf)- XVIIIXXIX
Variar diversificar Este termo se refere agrave possibilidade de variaccedilatildeo dos prazeres O prazer natildeo aumenta infinitamente apenas variaVide supra haacutepax-ἄπαξ (nessa mesma parte)
ποίκιλμα poiacutekilma(sn)- SV 69
Variedade
πολιτικός politikoacutes (ad)- SV 58
Puacuteblico
Terceira parte
148 149
πολυτελεία politeleiacutea (sf)- 130 181 Us
Despesa extravagacircncia
πόνος poacutenos (sm)- 133 137 (66 Us) SV 4
Sofrimento afliccedilatildeo
πρᾶγμα praacutegma (sn)- 36 39 49 53 75 76 IXX XXI XXXVII XXXVIII SV 45 SV 67
Coisa acontecimento fato circunstacircncia realidade
πραγματεία pragmateiacutea (sf)- 35 7783
Sistema doutrina
πρᾶξις praacutexis (sf)-81135 XXV
Accedilatildeo ato
προκαταστροφή prokatastropheacute (sf)- XL
Morte prematura
σεβασμός sebasmoacutes (sm)-SV 32
Adoraccedilatildeo veneraccedilatildeo
σοβαρός sobaroacutes (ad)- SV 45
Destemido
σοφία sophia(sf)-117XXVII SV 78
Sabedoriacutea
Ethicaacute
148 149
σοφός sophoacutes (ad)-117 125 XVI SV 32 S44 SV56
Saacutebio
σπουδή spudeacute (sf)- 84XXX SV 61
Esforccedilo ardor
στέρησις steacuteresis (sf)- 124
Privaccedilatildeo
συζήτησις syzeacutetesis (sf)- SV74
Discussatildeo disputa pesquisa em conjunto Termo utilizado pela primeira vez por Epicuro
σύμβολον syacutembolon (sn)- XXXI
Garantia contrapartida
συμμέτρησις symmeacutetresis (sf)-130
Comparaccedilatildeo
σύνφυτος syacutemphytos (ad)- 129
Inato
συναναστροφή synanastropheacute (sf)- SV 18
Convivecircncia
συνήθεια syneacutetheia (sf)- SV 46
Haacutebito
Terceira parte
150 151
συνθήκη syntheacuteke (sf)- XXXIIXXXIII
Acordo pacto contrato
σωτηρία soteriacutea (sf) SV 80
Salvaccedilatildeo
ταραχή taracheacute (sf)- 81 XVII XXII SV 81
Perturbaccedilatildeo
ταραχώδης tarachoacutedes (ad)- 116 Us
Perturbado
τιμή timeacute (sf) (- 134 SV 81
Honra
τύχη tyacuteche (sf)- 120 (584 Us) 131 133 134 XVI SV 17
Acaso sorte fortuna As noccedilotildees de acaso (tyacuteche) e necessida-de (anaacutenke) satildeo compatibilizadas por Epicuro em sua visatildeo geral da phyacutesis Nela alguns axiomas satildeo apresentados como necessaacuterios por exemplo todos os aacutetomos estatildeo em cons-tante movimento Esta afirmaccedilatildeo eacute axiomaacutetica por revelar o que necessariamente eacute intuiacutedo na anaacutelise dos modos de ser de phyacutesis Em consequecircncia disso o constante movimento dos aacutetomos supotildee a declinaccedilatildeo casuiacutestica de alguns aacutetomos pois soacute assim eacute possiacutevel explicar a diversidade dos corpos e as muacuteltiplas configuraccedilotildees pelas quais eles passam no decorrer de suas existecircncias individuais enquanto corpos Visto de outro modo a totalidade dos aacutetomos e do vazio existentes
Ethicaacute
150 151
permanece a mesma ainda que os aacutetomos e o vazio sejam ilimitados Entretanto quando analisados os mundos e os demais corpos particularizados no interior do todo se mos-tram vulneraacuteveis agraves mudanccedilas e acabam por expressar en-quanto existecircncias dissemelhantes a atuaccedilatildeo do acaso como elemento diferenciador
Portanto os diversos niacuteveis de alteraccedilatildeo dos corpos que ocorrem necessariamente satildeo consequecircncias dos desloca-mentos dos aacutetomos portadores do princiacutepio de movimento expresso nas trajetoacuterias oriundas dos deslocamentos e nas casuiacutesticas declinaccedilotildees que sofrem quando desviam O acaso pode ser concebido tendo em vista a pluralidade dos corpos e a indeterminaccedilatildeo absoluta do todo Poreacutem uma anaacutelise mais detalhada das implicaccedilotildees entre os termos aca-so e necessidade nos textos de Epicuro sobretudo do modo em que coexistem em seu sistema requer a explicitaccedilatildeo do sentido fiacutesico da concepccedilatildeo de necessidade
Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem fi-nalidade (teacutelos)rdquo E somente o termo anaacutenke pode significar necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo proacutenoia para designar necessidade de qualquer ma-neira a necessidade nunca foi enunciada por Epicuro num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
No mesmo contexto o termo tyacuteche traz em si a negaccedilatildeo de toda a finalidade que poderia existir no movimento necessaacute-rio de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos e mundos
Terceira parte
152 153
ou seja natildeo eacute cabiacutevel falar de teleologia no pensamento de Epicuro porque ele evidencia a presenccedila do acaso na realizaccedilatildeo do movimento como ausecircncia de finalidade na explicaccedilatildeo dos corpos e mundos Dessa maneira tudo o que acontece a geraccedilatildeo o desenvolvimento e a corrupccedilatildeo dos corpos acontece por necessidade poreacutem a diversificaccedilatildeo dos acontecimentos eacute resultado da interferecircncia do acaso ou dos desvios nas trajetoacuterias dos aacutetomos Contudo ldquoEacute neces-saacuterio que algo de imutaacutevel subsista para que as coisas natildeo recaiam totalmente no nadardquo (DRN II 751 752) Como eacute necessaacuterio pela proacutepria natureza do acaso que os corpos e mundo sejam diferentes e sujeitos agrave geraccedilatildeo e agrave corrupccedilatildeo bem como as modificaccedilotildees ocorridas durante o periacuteodo de desenvolvimento isto eacute durante o movimento ininterrupto de suas existecircncias A compreensatildeo de phyacutesis nos seus diver-sos modos de realizaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel para um sistema de pensamento que trabalha positivamente as noccedilotildees de tyacuteche e anaacutenke
ὑγιαίνειν hyguiaiacutenein (v inf)- SV 54
Ter sauacutede
ὑγίεια hyguiacuteeia (sf)- 128 131 138 (504 Us)
Sauacutede
φιλία philiacutea (sf)- 120 XXVIIXXVIII SV 23 S28S34 S39 S52 S78
Amizade A philiacutea eacute uma forma voluntaacuteria e prazeirosa de se relacionar com os outros Cada indiviacuteduo busca agrupar--se num conjunto ou seja agregar-se segundo a natureza
Ethicaacute
152 153
Mas o saacutebio busca o conviacutevio com afins por natureza mas tambeacutem por conveniecircncia (opheacuteleia) O que conveacutem a todos eacute natildeo sofrer danos mas para o saacutebio eacute preciso tambeacutem livrar--se da ignoracircncia e das crenccedilas vazias que levam os homens a cometerem injusticcedilas uns aos outros Desse modo a amiza-de filosoacutefica eacute diferente das relaccedilotildees que comportam atitudes que levam ao desconforto e produzem o desequiliacutebrio O que eacute conveniente (syacutempheron) eacute semelhante na atitude e na reflexatildeo Haacute uma medida um caacutelculo um sentido de harmonia para realizar a amizade A amizade eacute na praacutetica a sabedoria de viver em conjunto A amizade resulta do equi-liacutebrio de interesses daqueles implicados na relaccedilatildeo Ela nasce de maneira espontacircnea mas se consolida pela reflexatildeo acerca da naturalidade da vida em conjunto e do comedimento que equilibra os modos de agir esta eacute uma possiacutevel interpretaccedilatildeo do que Demoacutecrito pensou sobre a amizade ldquoAcordo no pen-sar engendra a amizaderdquo (DK B II 33 9)
A philia supotildee uma afinidade de pensamento e tambeacutem de accedilatildeo uma vez que as relaccedilotildees se efetivam na busca em conjunto da physiologiacutea da compreensatildeo da realidade Neste sentido a praacutetica de vida eacute saacutebia e o saber se faz em torno da vida Epicuro manteacutem a naturalidade da amizade e faz dela a base do movimento de agregaccedilatildeo social Sendo possiacutevel a amizade tambeacutem seraacute o direito e a poliacutetica O direito eacute fruto da relaccedilatildeo entre phyacutesis e noacutemos e a poliacutetica se realizaraacute no acordo entre semelhantes Na praacutetica Epicuro pensou em comunidades de pensamento e accedilatildeo De alguma manei-ra ele buscou tornar possiacutevel uma comunidade de amigos estabelecendo uma descontinuidade com o espaccedilo puacuteblico das cidades A philiacutea que eacute a base das relaccedilotildees existentes na comunidade natildeo eacute a priori fruto de um contrato uma vez
Terceira parte
154 155
que eacute imanente agrave natureza O contrato eacute uma consequecircn-cia eacute um acordo entre modos de pensar Mas o que move o pensamento na realizaccedilatildeo do acordo eacute o sentimento de equi-liacutebrio seguranccedila e a tranquilidade que a amizade produz Portanto a amizade brota de desejos naturais e necessaacuterios e se expressa no loacutegos sob a forma de acordos que satildeo estabe-lecidos segundo a conveniecircncia muacutetua (opheacuteleia) Pensar-se a si proacuteprio e ter o princiacutepio de suas accedilotildees em si mesmo qua-lifica o homem para a aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo da amizade De outra maneira no vazio das reflexotildees satildeo projetadas as falsas opiniotildees ou opiniotildees vazias que alimentam crenccedilas e desejos imoderados agraves vezes naturais agraves vezes natildeo mas quase sempre desnecessaacuterios Esses desejos crenccedilas e falsas opiniotildees cumulam em injustas agressotildees disputas pelo po-der desconfianccedila insensatez e anguacutestia ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacuteprocas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto no sentido de natildeo prejudicar nem de ser prejudicadordquo (DL X 150) E tambeacutem ldquoPara todos os seres vivos incapazes de estabelecer pactos com o intuito de natildeo prejudicar os outros e de natildeo ser prejudicados nada era justo ou injusto Acontece o mesmo em relaccedilatildeo aos povos que natildeo podiam ou natildeo queriam estabelecer pactos destinados a natildeo prejudicar e natildeo ser prejudicadosrdquo (DL X 150)
Eacute preciso entretanto atentar para o que assevera Epicuro que natildeo foi nem pretendeu ser um pensador poliacutetico Ele orientou o modo de vida filosoacutefico pela philiacutea A conveni-ecircncia muacutetua aleacutem de propiciar o pacto de natildeo sofrer nem cometer danos uns aos outros daacute sentido agrave uniatildeo entre os homens que se caracteriza pela afinidade e natildeo pela simples contenccedilatildeo das diferenccedilas ldquoToda a amizade deve ser buscada
Ethicaacute
154 155
por ela mesma mesmo que ela tenha sua origem na necessi-dade de uma ajudardquo (SV 23)
Epicuro mais uma vez marcando uma diferenccedila em relaccedilatildeo aos cirenaicos natildeo reduz a amizade ao seu caraacuteter utilitaacuterio mas afirma a conveniecircncia inerente agrave busca e manutenccedilatildeo da amizade Para ele que concorda com Aristoacuteteles o saacutebio pode proporcionar ao outro homem uma amizade digna dos me-lhores homens ou daqueles dotados de logismoacutes e de phroacutenesis pois a amizade que nasce da conveniecircncia tambeacutem se ali-menta dela ou seja ela produz acordo entre ideias e atitudes Tambeacutem para Epicuro o propoacutesito da amizade eacute o de ser na praacutetica a comunhatildeo de uma mesma filosofia Neste sentido eacute iacutentima a relaccedilatildeo entre a amizade e o bem que eacute o prazer pois dentre outras coisas a amizade mostra-se isenta de pai-xotildees tais como o oacutedio o rancor e a veneraccedilatildeo Aleacutem disso a amizade natildeo cumula em reaccedilatildeo pois eacute a expressatildeo de uniatildeo e equiliacutebrio entre aqueles que se afinam mutuamente pela natureza de caraacuteter e sabedoria ldquoAquele que eacute bem-nascido se dedica principalmente agrave sabedoria e agrave amizade dois bens dos quais um eacute mortal e o outro imortalrdquo (SV 78)
φιλόλογος philoacutelogos (ad)- S74
Aquele que busca argumentos ou raciociacutenios
φιλοσοφία philosophiacutea (sf) 22(138 Us) 132 SV 27 S41 117 Us219 Us 221 Us
Filosofia Na maacutexima 41 Epicuro utiliza este termo associa-do agrave oacuterthes (reta) com a intenccedilatildeo clara de mostrar que esta ldquoreta filosofiardquo deve ser praticada em todo momento para que a vida se torne justa bela e saacutebia A filosofia eacute definida
Terceira parte
156 157
como um saber em torno da vida no sentido de ser um exer-ciacutecio de bem viver
φιλόσοφος philoacutesophos (sm)- 221 Us
Filoacutesofo
φρόνησις phroacutenesis (sf)- 132
Sensatez sabedoria praacutetica Epicuro utiliza o termo phroacutenesis num sentido muito similar agravequele desenvolvido por Aristoacuteteles ou seja como sabedoria praacutetica Ele atribui agrave phroacutenesis a prima-zia na realizaccedilatildeo da vida filosoacutefica ou saacutebia A teacutechne eacute o modo de accedilatildeo e a filosofia eacute o exerciacutecio desse saber em torno da vida (techne tis perigrave tograven biacuteon) Assim a phroacutenesis eacute o exerciacutecio praacutetico da sabedoria (epigrave degrave philosophiacuteas) e num sentido abrangente da atividade filosoacutefica coincide com a proacutepria filosofia
Haacute uma passagem na Carta a Meneceu (DL X 132) onde Epicuro utiliza o termo phroacutenimos para significar aquele que deteacutem uma sabedoria no agir Eacute um momento em que fica clara a influecircncia socraacutetico-platocircnica pois aproxima e faz co--pertencer a um mesmo acorde phroacutenimos kaloacutes ediacutekaios (o saacutebio o bom e o justo)(vide supra δίκαιος nesta mesma parte) Tais noccedilotildees fundam uma seacuterie de relaccedilotildees no pensamento antigo e se mantecircm coesas no texto de Epicuro Eacute ao mesmo tempo uma dyacutenamis e uma possibilidade do pensamento quando este exerce o seu poder de escolha e de recusa Epi-curo considera que se pode escolher o que eacute ponderadamente refletido e recusar o que natildeo eacute necessaacuterio nem conveniente (syacutempheron) A condiccedilatildeo da autaacuterkeia eacute agir aliando o logismoacutes e a phroacutenesis pois a phroacutenesis age na triagem dos desejos que se quer e que se pode realizar na medida em que confere uma
Ethicaacute
156 157
medida natural para o bem-estar e para o prazer A phroacutenesis eacute moduladora das accedilotildees e dos desejos naturais e necessaacuterios que nos conduzem aos prazeres
Outra consequecircncia da primazia da phroacutenesis no exerciacutecio da sabedoria eacute que o esforccedilo para pensar a phyacutesis e o equiliacutebrio sereno diante do que pode causar temores provoca a agradaacute-vel ataraxiacutea um bem-estar (eustaacutetheiavide supra εὐστάθεια nesta mesma parte) Epicuro traccedila a imagem da vida filosoacutefica como vida autaacuterquica e daacute ao pensamento uma dyacutenamis a realizaccedilatildeo da conduta de acordo com a natureza ou do que se adquire com a physiologiacutea O que perturba enfraquece escraviza eacute a ignoracircncia que gera temores e opiniotildees vazias Viver segundo a natureza aqui quer dizer viver segundo a compreensatildeo que se pode ter da phyacutesis A physiologiacutea eacute um exerciacutecio para escapar agrave ignoracircncia e natildeo a substantivaccedilatildeo da natureza como uma noccedilatildeo estaacutetica cientificista ldquoEacute pela ignoracircncia dos bens e dos males que a vida dos homens eacute em grande escala perturbada e por causa desta erracircncia eles frequentemente se privam dos prazeres e se torturam com as mais crueacuteis dores da almardquo43 ldquoUm entendimento correto dessa teoria permitir-nos-aacute dirigir toda a escolha e toda a rejeiccedilatildeo com vistas agrave sauacutede do corpo e agrave tranquumlilidade da alma pois isso eacute o que se pode supremamente realizar na vidardquo (DL X 128) ldquoQuando entatildeo dizemos que o prazer eacute o fim () por prazer ltentendemosgt a ausecircncia de sofrimentos no corpo e a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na almardquo (DL X 131)
φρονίμως phroniacutemos (adv)- 132 V
Sabiamente sensatamente
43 Ciacutecero De Finibus I 13 42
158 159
Terceira parte
158 159
φυγή phygeacute (sf) - 128 129 132 XXV
Rejeiccedilatildeo recusa fuga
χαρά charaacute (sf)- 66 SV 81 2 Us
Gozo alegria
χάρις charis (sf)- 77 122 I SV 17 SV39 SV55
Benevolecircncia graccedila
χρεία chreiacutea (sf)- 120 87 128 XXXVII SV 34
Necessidade precisatildeo uacutetil
χρῆσις chreacutesis (sf)- 131
Ocupaccedilatildeo
χυλός chyloacutes (sm) 130
Frugal
ὠφέλεια opheacuteleia (sf)- 124 SV 23
Conveniecircncia muacutetua benefiacutecio utilidade No pensamento de Epicuro este termo estaacute relacionado agrave philiacutea (amizade) (vide supra φιλία nesta mesma parte) e pode ser traduzido em determinadas passagens por ldquoconveniecircncia muacutetuardquo Por outro lado pode ser traduzido por ldquoutilidaderdquo no sentido de algo que devas ser buscado ou praticado com a finalidade de viver
Referecircncias Bibliograacuteficas
158 159158 159
referecircnciAS BiBliograacuteficAS
Textos de Epicuro
Arrighetti G Epicuro Opere Torino Giulio Einaude 1960
Bignone E Opere frammenti testimonianze sulla sua vita Roma LrsquoEr-ma di Bretscheider 1964
Bollack J amp Wismann H La lettre d`Eacutepicure Paris Les Editions de Minuit 1971
mdashmdashmdash amp Laks A Eacutepicure agrave Pythoclegraves Cahiers de Philologie Paris Les Editions de Minuit 1975
mdashmdashmdash La penseeacute du plaisir Eacutepicure textes moraux commentaires Paris Les Editions de Minuit 1975
Conche M Epicure lettres et maximes Paris eacuted De Megare1977
Epicuro Antologia de textos In Epicuro et al Satildeo Paulo Abril Cul-tural1980
mdashmdashmdash The works of Epicurus The extant remains of the greek text trans-lated by Cyril Bailey with an introduction by Irwin Edman Nova Iorque The Limited Edition 1947
mdashmdashmdash Obras Completas 2ordf ed Trad Joseacute Vara Madri Ediccedilotildees Caacutet-edra 1996
Laursen S The summary of Epicurus On Nature Book 25 Papyrologia Lupiensia Lecce 1 1991 142-154
Parente M I Opere di Epicuro Torino Unione Tipografico-Editrice Torinese 1974
Salem J laquo Commentaire de la lettre drsquoEpicure agrave Heacuterodote raquoCahiers de Philosophie ancienne nordm9 Bruxelles Editions Ousia 1993
Solovine M Epicure doctrine et maxims Paris 1965
Wotke K amp Usener H Epikureische Spruchsammlung Wierner Stu-dien fuumlr Klassiche philologie 10 1888 p 175-201
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Outros autores antigos
Aristoacuteteles De anima Trad Maria Ceciacutelia Gomes dos Reis Satildeo Paulo Editora 34 2006
mdashmdashmdash De la geacuteneacuteration des animauxTrad P Louis Paris Les Belles Lesttres 1901
mdashmdashmdash Eacutethique agrave Nicomaque Trad J Voilquin Paris Garnier 1961
mdashmdashmdash Nicomachean Ethics Londres Ed Willian Meinemann Har-vard University Press 1939
mdashmdashmdash Histoire des Animaux Trad P Louis Paris Les Belles Lettres 1964
mdashmdashmdash Petits traiteacutes drsquohistoire naturelle Trad R Mugnier Paris Les Belles Lettres 1953
Lucreacutecio Da Natureza In Epicuro et al Trad Agostinho da Silva Satildeo Paulo Abril Cultural1980
Cicero De finibus bonorum et malorum Trad H Rackham MA Lon-dresNova Iorque William HeinemannThe Macmillan CO 1914
Ciceacuteron De La Natura des Dieux Trad Nouv notes par C Appuhn Paris Garniersd
mdashmdashmdash Lrsquoamitieacute Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 1952
mdashmdashmdash Les Devoirs Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 196570
Diocircgenes Laecircrtios Vidas e doutrinas dos filoacutesofos ilustresTrad Gama Kury Brasiacutelia UNB 1988
Diogenes Laertius Lives of eminent philosophers Vol 2 Trad R Hicks Cambridge Havard University Press1925
Filodemo Agli amici di scuola Naacutepoles Bibliopolis 1988
mdashmdashmdash Memorie Epicuree Naacutepolis Bibliopolis 1997
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Hippocrates Works (I VII) London Harvard University Press 1988
Lucreacutece De la Nature Paris Garnier 1954
Grene D amp Lattimore R The Complete Greek Tragedies of Aeschylus The University of Chicago Press 1959
Philodemus On the frank criticism Trad David Konstan et al Atlanta Society of Biblical Literature 1998
mdashmdashmdash On the methods of inference Naacutepoles Bibliopolis 1978
Platatildeo As Leis ou da legislaccedilatildeo e Epinomis Trad de Edson Bini 2ordf ediccedilatildeo Bauru SP Edipro 2010
Plutarque Du stoicisme et lrsquoepicurisme Trad Ricard Didier Apresenta-ccedilatildeo e notas Jean Salem Paris Eacuteditions Sand 1996
mdashmdashmdash Contre Colotes In Ouvres morales et ouvres diverses IV Paris Manchete 1970
Sextus Empiricus Contre les professeurs Editions du Seuil 2002
Seneca AD Lucilium Epistulae Morales Trad Richard M Gummere LondresNova Iorque William Heinemann G P Putnamrsquos sons 1925
Smith MF Fragments of Diogenes of Oenoanda Discovered and Redis-covered American Journal of Archaeology Vol 74 nordm1 (Jan 1970) p 51-72
Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Ellias Pinheiro Coimbra CECH 2009
Estudos modernos
Baudry J Le problem de lrsquoorigine et de lrsquoeterniteacute du monde dans la philo-sophie grecque de Platon agrave lrsquoegravere chreacutetienne Paris Les Belle Lettres 1931
Bayley C Epicurus the extant remains Oxford 1926
mdashmdashmdash The Greek atomists and Epicurus Oxford 1928
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Bignone H LrsquoAristotele perdugraveto e la formazione filosofica di Epicuro Flo-renccedila 1936
Bergson H L Extraits de Lucreacutece avec notes et une eacutetude sur la poeacutesie la philosophie la physique le texte et la langue de Lucregravece 10 ed Paris De La Grave sd
Bnobzie S Did Epicurus discover the free will problem In Sedley D (Org) Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Oxford University Press 19 287-337 2000
Boyanceacute P Lucregravece et lrsquoeacutepicurisme Collection ldquoLes grands penseursrdquo (dirigeacutee par P-M Schuhl) Paris PUF 1963
Brown E Politcs and society In WARREN J (Org) The Cambridge companion to epicureanism Cambridge Cambrigde University Press 2009
Brun J O Epicurismo Lisboa 70 1989
mdashmdashmdash Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Conche M La mort et la penseacutee Editons de Meacutegare 1973
Dewitt N St Paul and Epicurus Mineaacutepolis University of Minnesota Press 1954
mdashmdashmdash Epicurus and his philosophy Mineaacutepolis University of Minne-sota Press 1954
Diogini I Lucrezio le parole e le cose Bolonha Ed Paacutetron 1988
Duvernoy J-F O Epicurismo e sua tradiccedilatildeo antiga Satildeo Paulo Zahar 1990
Etienne A Dominic O La philosophie eacutepicurienne sur Pierre Fribur-goParisEacutedition Universitaires Fribourg Suisse Eacutedition du Cerf Paris 1996
Farrington B A doutrina de Epicuro Trad de Edmond JorgeRio de Janeiro Zahar Editores 1967
mdashmdashmdash The faith of Epicurus Londres Weidenfeld and Nicholson 1967
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Festugieacutere A-J Eacutepicure et ses dieux Paris Presses Universitaires de France 1946
Finley M I Os Gregos antigos Trad Artur Mouratildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2002
Furley D J Two studies in greek atomists Princeton University Press 1967
Gigandet A Morel P-M (Orgs) Ler Epicuro e os epicuristas Satildeo Paulo Loyola 2011
Gigante M Studisull`epicureismo greco-romano Naacutepoles 1983
mdashmdashmdash La bibliothegraveque de Philodegraveme et lrsquoepicurisme romain Paris Soci-eacuteteacute DrsquoEacutedition Les Belle Lettres 1987
Goldschmidt V La Doctrine drsquoEpicure et le droit Paris Vrin 1977
Gual C G Epicuro Madrid Alianza Editorial 1981
Guyau J -M La morale drsquoEacutepicure et ses rapports avec les doctrines con-temporaines Paris Librairie Feacutelix Alcan 1927
Jaeger W Paideacuteia a Formaccedilatildeo do Homem Grego Trad Artur M Par-reira Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
Long A A Sedley D N The Hellenistic philosophers v1 Cambridge Cambridge University Press 1987
Konstan D Some aspects of Epicurean psychology Leiden Brill 1973
Laks A Edition critique et commenteacutee de la ldquoVierdquo drsquoEpicure das Diogegravene Laerce Cahiers de Philologie 1 Eacutetudes sur lrsquoepicurisme AntiquePublications de lrsquoUniversiteacute de Lille III 1976
Marx K Diferenccedila entre as filosofias da Natureza em Demoacutecrito e Epicuro Satildeo Paulo Globalsd
Masi F G Epicuro e la filosofia della mente il XXV libro dellrsquoopera Sulla Natura Sankt Augustin Academia Verlag 2006
Mewaldt J O Pensamento de Epicuro Satildeo Paulo Iacuteris 1960
Mondolfo R O homem na cultura antiga a compreensatildeo do sujeito humano na cultura antiga Trad Luiz Caruso Satildeo Paulo Edi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
tora Mestre Jou 1968
mdashmdashmdash O infinito no pensamento da antiguidade claacutessica Trad Luiz Da-roacutes Satildeo Paulo Editora Mestre Jou 1968
Morel P-M Deacutemocrite et la recherche des causes Langres Klincksieck 1996
mdashmdashmdash Eacutepicure Paris Librarie philosophique J Vrin 2013
mdashmdashmdash Atome et neacutecessiteacute Deacutemocrite Eacutepicure Lucregravece Paris Presses Universitaires de France 2000
Nizan P Les Mateacuterialistes de lrsquoAntiquiteacute Deacutemocriteacute Eacutepicure Lucregravece Paris Eacuted Sociales Internationales 1938
Nussbaum M The therapy of desire theory and practice in hellenistic ethics Princeton Princeton University Press 1994
Orsquokeefe T Epicurus on Freedom Nova Iorque Cambridge University Press 2005
mdashmdashmdash Epicurianism Durham Acumen 2010
Paratore E Lrsquoepicureismo e la sua diffusione nel mondo latino Roma Ed dellrsquoAteneo 1960
Pessanha J A M As deliacutecias do jardim In Eacutetica Satildeo Paulo Cia Le-tras 1992 pag 57-85
Pesce D Introduzione a Epicuro Bari Editori Laterza 1981
mdashmdashmdash Saggio su Epicuro Bari Editori Laterza 1974
Pigeuad J La Maladie de Lrsquoame Paris Les Belles Lettres 1989
Quevedo F Defesa de Epicuro contra la comuacuten opinioacuten Madrid Tec-nos1986
Ridder A Lrsquoideacutee de la mort en Gregravece a lrsquoepoque classique Paris Librarie Thorin et Fils 1897
Risst John Epicurus an introduction Cambridge University Press 1972
Robin Leon La penseacutee grecque Paris Eacuteditions Albin Michel 1948
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
(Livre IV chapitre II Lrsquoeacutepicurism p 387-408)
Romilly J La Gregravece antique a La deacutecouverte de la liberteacute Paris LGF Livre de Poche 1989
Salem J Lucregravece et lrsquoeacutethique la mort nrsquoest rien pour nous Paris J Vrin 1997
mdashmdashmdash Deacutemocrite EacutepicureLucreacutece la veacuteriteacute du minuscule Paris Encre Marine 1998
mdashmdashmdash Tel un dieu parmi les hommes Lrsquoethique drsquoEacutepicure Paris Librai-rie Philosophique J Vrin 1994
Santayana G Three philosophical poets Cambridge Harvard University Press 1947
Silva M F Epicuro Sabedoria e Jardim Rio de Janeiro Relume Du-maraacute 1998
mdashmdashmdash Pensamento e imagem na Carta a Heroacutedoto de Epicuro In Pimenta MTeorias da Imagem na Antiguidade Satildeo Paulo Paulus 2012
mdashmdashmdash Prazer e vida feliz em Epicuro In Costa A A Hadad A B Azar Filho C M (Org) Filosofia e Prazer diaacutelogos com a tradiccedilatildeo hedonista 1ed Seropedica Edur 2012 v 01 p 87-92
mdashmdashmdash Sensaccedilotildees impressotildees projeccedilotildees as afecccedilotildees do pensamento In Conte J Bauchwitz O F (Org) O que eacute Metafiacutesica atas do III Coloacutequio internacional de metafiacutesica 1ordf ed Natal Edufrn 2011 v 01 p 261-266
mdashmdashmdash Lathe Biacuteosas autaacutekeia libertagrave e amicizia in Epicuro In Cor-nelli G Casertano G (Org) Pensare la cittagrave antica categorie e representazioni 1ordf ed Naacutepoles Loffredo Editore 2010 v 1 p 163-174
mdashmdashmdash O atomismo antigo e o legado de Parmecircnides In Santoro F Cairus H F Ribeiro T O (Org) Parmecircnides 1 acerca do poema de Parmecircnides 1edRio de Janeiro Azougue 2009 v
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
1 p 165-174
mdashmdashmdash Sabedoria e sauacutede do corpo em Epicuro In Peixoto M C D (Org) A sauacutede dos antigos reflexotildees gregas e romanas 1ordf ed Satildeo Paulo Loyola 2009 v 1 p 153-162
mdashmdashmdash Do equiliacutebrio do corpo ou de como o corpo eacute pensado enquanto questatildeo filosoacutefica In Peixoto M C D (Org) Sauacutede do ho-mem e da cidade na antiguidade grecoromana 1ordf ed Belo Ho-rizonte UFMG 2007 v 01 p 189-198
mdashmdashmdash Demoacutecrito Esquecido In Bezerra C C (Org) Anais do I En-contro Nacional de Estudos Neoplatocircnicos- Ontologia e Liber-dade 1ordf ed Aracaju UFS 2006 v 1 p 74-80
mdashmdashmdash Epicuro e a physiologiacutea In Bonaccini J A Medeiros M P N Silva M F Bauchwits O F (Org) Metafisica Histoacuteria e Problemas 1ordf ed Natal EDUFRN 2006 v 01 p 219-230
mdashmdashmdash Acerca de uma Eacutetica do Agradaacutevel In Silva MF(Org) Cafeacute Filosoacutefico 1ordf ed Natal EDUFRN 2005 v 3 p 47-64
mdashmdashmdash Amizade Prazer e Filosofia In Bauchwitz O F (Org) Cafeacute Filosoacutefico Natal Argos 2001 v 1 p 131-136
Silvestre M L Democrito e Epicuro il senso di una polemica Napoli Lofredo Editore 1985
Stirner Max LrsquoUnique et sa proprieteacute Paris 1900
Strozier RM Epicurus and Hellenistic philosophy Lanham Md Ed University Press of America 1985
Ullmann R Epicuro O filoacutesofo da alegria Porto Alegre Epipucrs 1966
Usener H Glossarium Epicureum Cura de M Gigante e W Schmid Roma Edizioni DellrsquoAteneo e Bizarr 1977
Voelke A-J La Philosophie comme theacuterapie de lrsquoame FriburgoEditions Universitaires de Fribourg 1993
Warren J (Org) The Cambridge Companion to Epicureanism Nova Iorque Cambridge University Press 2009
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
Usener H Epicurea Estugarda E G Teubner 1966
Teses e dissertaccedilotildees
Barbosa RS A relaccedilatildeo entre as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia na filosofia de Epicuro 2014 117 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2014
Braatz J O pensamento eacutetico em Epicuro 2007 113 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2007
Freire A J G A natureza da alma e o clinamen accedilatildeo e liberdade em Lucreacutecio 2014 191 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal-RN 2014
Nascimento R V O corpo no pensamento de Epicuro limites e possi-bilidades 2011 154f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rocha E S A morte pode ser conhecida percurso em torno da compre-ensatildeo da mortalidade na filosofia de Epicuro 2011 162 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rovaris T R O projeto epicurista antiaristoteacutelico de Pierre Gassendi Sal-vador Universidade Federal da Bahia 2007
Artigos
Arrighetti Graziano - Filodemo Περὶ θεῶν III fr 74-82 Pap Herc 157 Sul problema dei tipi divini nellrsquoepicureismo La Parola del Passato 10 (1955) p 322-356 et 404-415
Bastide G Lrsquoestheacutetisme de Lucregravece Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 143-161
Bulhotildees I C Tograve Dikaioacuten Epicuro acerca do justo Hypnos Satildeo Paulo nuacutemero 22 1ordm semestre 2009 p 98-119
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
Breacutescia C Contributo allo studio linguistico dei testi epicurei Athenaeum NS 27 (1949) 281-298
Caujolle-Zaslawsky F Le temps eacutepicurien est-il atomiqueLes Eacutetudes Phi-losophiques 3 julho-setembro de 1980 pag 285-306
Clay D A lost Epicurean Community Greek Roman and Byzantine Studies volume 30 nordm 2 1989 313-335
Diano C Epicuri Ethica Aedibius Sansionanis Florenccedila 1966
mdashmdashmdash Epiacutecure la philosophie du plaisir et la socieacuteteacute des amis Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril-junho de 1967 pag173-186
DI Vona P Per una storia dellrsquo epicureismo La parola del passato 34 (1979) 313-320
Escoubas E Asceacutetisme eacutepicurien Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 163-172
Fernaacutendez E M Acerca de una eacutetica epicuacutereo-sartriana Pensamiento 169 vol 43 1987 37-51
Flaceliegravere R Les Eacutepicuriens et lrsquoamour Revue des Eacutetudes Grecques tome 67 fascicule 314-315 Janvier-juin 1954 pp 69-81
Gabaude J-M Sur Epicure et lrsquoepicurisme (l) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 4 abril-maio de 1975 pag 11-17
mdashmdashmdash Le jeune Karl Marx lecteur drsquoEpicure (ll) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 5 junho-julho de 1975 pag 01-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 6 agosto-setembro de 1975 pag 23-29
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lV) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 1 outubro-novembro de 1975 pag 10-20
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (V) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 2 dezembro de 1975 - janeiro de 1976 pag 03-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vl) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 3 fevereiro-marccedilo de 1976 pag 03-10
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
losophique 4 abril-maio de 1976 pag 19-37
Giesecke A L Beyond the garden of Epicurus the utopics of the ideal roman village Utopian Studies Vol 12 (2) 2001 pag 13-32
Gobry I La sagesse drsquoEpicure Les Eacutetudes Philosophiques 1 janeiro-mar-ccedilo de 1976 pag 79-90
Kleve K The Epicurean Isonomia and its Sceptical Refutation Symbolae Osloenses Vol LIV 1979 pp 27-35
mdashmdashmdash Empiricism and Theology in Epicureanism Symbolae Osloenses 52 no 1 (1977) 39-51
Maurice P Epicureanism and the atomic swerve Symbolae Osloenses 50 LXI 1986 77-98
Mazzeo J A Dante e Epicuro Comparative Literature vol 10 2 pri-mavera de 1958 pag 106-120
Moreau J Le meacutecanisme eacutepicurien et lrsquoordre de la nature Les Eacutetudes Phi-losophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 467-486
Renault A Eacutepicure et le probleacuteme de lrsquoecirctre Les Eacutetudes Philosophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 435-465
Rodis-Lewis G Nature et civilization das lrsquoepicurisme Les Eacutetudes Philo-sophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 415-433
Rosenbaun S Epicurus and anihilation The philosophical Quartely vol39 154 janeiro de 1989pag 81-90
Salem J Commentaire de la lettre drsquoEpicure a Meacuteneacuteceacutee Revue philosophi-que 3 julho-setembro 1993 pag 513-549
Sedley D Epicurus refutation of determinism SydzetesisStudi sullrsquo epicu-reiacutesmo greco e romano offerti a Marcello Gigante Naacutepoles 1983 11-51
mdashmdashmdash Lrsquoanti-reacuteductionnisme eacutepicurien Trad Dao A amp Morant CLes Cahiers Philosophiques de Strasbourg Paris Librarie J Vrin phi-losophique 2003 321-359
Silva M F A morte como perda da subjetividade Revista Princiacutepios
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
UFRN 3 julho-dezembro de 1995 140-146
mdashmdashmdash Um Banquete Frugal a Influecircncia Socraacutetico-Platocircnica em Epi-curo Revista ARCHAI As origens do pensamento ocidental v 9 p 117-122 2012
mdashmdashmdash Alma e movimento ou sobre a physiologia da alma Perspectiva Filosoacutefica (UFPE) v II p 167-176 2010
mdashmdashmdash Seduccedilatildeo e persuasatildeo os ldquodeliciososrdquo perigos da sofiacutestica Ca-dernos do CEDES (UNICAMP) Campinas v 64 2004
mdashmdashmdashLoacutegos peri hedoneacute Hodos Estudos de Cultura Claacutessica v 1 n 1 p 9-25 2000
mdashmdashmdash A noccedilatildeo Epicuacuterea de Eustatheacuteia e a tegravechne heacute ietrikeacute Revista Princiacutepios UFRN v 5 n 6 p 14-154 1998
mdashmdashmdash A Compreensatildeo de Physis no Pensamento de Epicuro Iacutetaca Cadernos de Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
mdashmdashmdash Epicuro e a morte como perda da subjetividade Revista Prin-ciacutepios UFRN v 2 n 3 p 140-146 1995 116
mdashmdashmdash O eacutethos do equiliacutebrio ou do exerciacutecio da sabedoria Kleos-Re-vista de Filosofia Antiga 1ordf ed Rio de Janeiro 2000 v 4 p 183-188
Silveira P F A medicina da alma de Epicuro a medicina como forma de terapia Psykhecirc Satildeo Paulo 10 200521-27 Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
Spinelli M De Narciso a Epicuro do emergir ao resgate da individua-lidade Hypnos nordm 25 Satildeo Paulo 2010 p 194-210
Surtz E L Epicurus in utopia ELH vol 16 2 junho de 1949 pag 89-103
Ullmann R A teologia de Epicuro Textos de cultura claacutessica 2 1987
Vander Waerdt P The Justice of the Epicurean Wise Man Classical Quar-terly ns 1987 37 40222
Vianna S Sobre o epicurismo e suas origens Kriterion 65 janeiro-
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
-dezembro 1965 pag 47-64
Waggle L J Epicurus phisichological or ethical hedonistRevista de Filo-sofiacutea vol 25 57 dezembro de 2007
Dicionaacuterios e Manuais
Balaudeacute J-F Le vocabulaire des Preacutesocratiques Paris Ellipses 2011
mdashmdashmdash Le vocabulaire drsquoEacutepicure Paris Ellipses 2012
Benveniste Le vocabulaire des instituitions indo-europeacuteenes I Economie parenteacute socieacuteteacute II pouvoir droit religion Paris Les Eacuteditions de Minuit 1969
Chantraine P Dictionnaire Eacutetymologique de la langue grecque Paris Klincksieck 1999
Gobry I Vocabulaacuterio grego da filosofia Trad Ivone C Benedetti Satildeo Paulo WMFMartins Fontes 2007
Isidro Pereira SJ Dicionaacuterio grego-portuguecircs e portuguecircs-grego Bra-ga Livraria AI 1998
Lidell HG amp Scott R Greek-english lexicon with a revised supplement Oxford Clarendon Express 1996
Murachco H Liacutengua grega visatildeo semacircntica loacutegica orgacircnica e funcional 3ordf ediccedilatildeo Satildeo PauloPetroacutepolis Discurso EditorialEditora Vo-zes 2007
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
172 173172 173
coleccedilatildeo autores gregos e latinos ndash seacuterie ensaios
1 Carmen Soares Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Eacutetica e Paideia em Plutarco (Coimbra CECH 2008)
2 Joaquim Pinheiro Joseacute Ribeiro Ferreira e Rita Marnoto Caminhos de Plutarco na Europa (Coimbra CECH 2008)
3 Claacuteudia Teixeira Delfim F Leatildeo and Paulo Seacutergio Ferreira The Satyricon of Petronius Genre Wandering and Style (Coimbra CECH 2008)
4 Teresa Carvalho Carlos A Martins de Jesus Fragmentos de um Fasciacutenio Sete ensaios sobre a poesia de Joseacute Jorge Letria (Coimbra CECH 2009)
5 Delfim Ferreira Leatildeo Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Cidadania e Paideia na Greacutecia Antiga (Coimbra CECH 2010)
6 Maria de Faacutetima Silva and Susana Hora Marques Tragic Heroines on Ancient and Modern Stage (Coimbra CECH 2010)
7 Aacutelia Rosa Rodrigues Carlos A Martins de Jesus Rodolfo Lopes Intervenientes Discussatildeo e Entretenimento No Banquete de Plutarco (Coimbra CECH 2010)
8 Luiacutesa de Nazareacute Ferreira Paulo Simotildees Rodrigues e Nuno Simotildees Rodrigues Plutarco e as Artes Pintura Cinema e Artes Decorativas (Coimbra CECH 2010)
9 Nair Castro Soares Margarida Miranda Carlota Miranda Urbano (Coord) Homo eloquens homo politicus A retoacuterica e a construccedilatildeo da cidade na Idade Meacutedia e no Renascimento (Coimbra CECH 2011)
10 Claacuteudia Teixeira Estrutura personagens e enganos introduccedilatildeo agrave leitura de As Baacutequides de Plauto (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2016)
11 Gregory Nagy O Heroacutei Eacutepico (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2017)
174 PB
12 Markus Figueira da Silva Termos Filosoacuteficos de Epicuro (Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 2018)
O livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais importantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
OBRA PUBLICADA COM A COORDENACcedilAtildeO CIENTIacuteFICA
bull
- Termos Filosoacuteficos de Epicuro
-
- Sumaacuterio
- Prefaacutecio
- Apresentaccedilatildeo
- Introduccedilatildeo
- Auxiacutelio ao leitor
- Primeira parte - Physiologiacutea
- Segunda parte - Physiologiacutea
- Terceira parte - Ethicaacute
- Referecircncias bibliograacuteficas
-
Estruturas EditoriaisSeacuterie Autores Gregos e Latinos
ISSN 2184-1543
Diretores Principais Main Editors
Francisco de OliveiraUniversidade de Coimbra
Nair Castro SoaresUniversidade de Coimbra
Assistentes Editoriais Editoral Assistants
Nelson Ferreira Universidade de Coimbra
Comissatildeo Cientiacutefica Editorial Board
Ana Claacuteudia Ribeiro Universidade Federal de Satildeo Paulo
Joaquim Brasil Fontes Universidade de Campinas - UNICAMP
Joseacute Augusto RamosUniversidade de Lisboa
Maria Ceciacutelia CoelhoUniversidade Federal de Minas Gerais
Santiago Loacutepez Moreda Universidad de Extremadura
Tomaacutes Gonzaacutelez Rolaacuten Universidad Complutense de Madrid
Virgiacutenia Soares Pereira Universidade do Minho
Todos os volumes desta seacuterie satildeo submetidos a arbitragem cientiacutefica independente
Autores Gregos e Latinos ndash Seacuterie Ensaios
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
Markus Figueira da Silva
Seacuterie Autores Gregos e Latinos - Ensaios
Trabalho publicado ao abrigo da Licenccedila This work is licensed underCreative Commons CC-BY (httpcreativecommonsorglicensesby30ptlegalcode)
POCI2010
Tiacutetulo Title Termos Filosoacuteficos de EpicuroPhilosophical Terms in Epicurus
Autor AuthorMarkus Figueira da Silva
Orcidhttpsorcidorg0000-0003-3036-6575
Editores PublishersImprensa da Universidade de CoimbraCoimbra University Press
wwwucptimprensa_uc
Contacto Contact imprensaucpt
Vendas online Online Saleshttplivrariadaimprensaucpt
Coordenaccedilatildeo Editorial Editorial CoordinationImprensa da Universidade de Coimbra
Conceccedilatildeo Graacutefica GraphicsRodolfo Lopes
Infografia InfographicsNelson Ferreira
Impressatildeo e Acabamento Printed byKDP
ISBN978-989-26-1611-7
ISBN Digital978-989-26-1612-4
DOIhttpsdoiorg1014195978-989-26-1612-4
Depoacutesito Legal Legal Deposit44659618
Imprensa da Universidade de CoimbraClassica Digitalia Vniversitatis Conimbrigensis httpclassicadigitaliaucptCentro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra
copy setembro 2018
Obra publicada no acircmbito do projeto - UIDELT001962013
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
Philosophical Terms in Epicurus
Markus Figueira da SilvaFiliaccedilatildeo AffiliationUniversidade Federal do Rio Grande do Norte
ResumoO livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais im-portantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanes-centes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Palavras-chaveEpicuro terminologia grega filosofia antiga eacutetica conhecimento natureza
Abstract The book ldquoPhilosophical Terms in Epicurusrdquo brings together all major concepts found in the works of this Greek thinker of the end of the IV century and beginning of the III century BC Taken from the surviving texts of Epicurus the terms were grouped in three sections those being physiology gnosiology and physiology and ethics The glossary of terms will be a valuable research tool to aid in the approach to the surviving texts of the works of Epicurus a Hellenistic philosopher not much studied in the Portuguese language despite the fact that he is one of the fundamental ancient Greek philosophers
KeywordsEpicurus Greek terminology ancient Greek philosophy ethics knowledge nature
Autor
Professor titular de Histoacuteria da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia (PPGFIL) da UFRN Pesquisador do PRAGMAUFRJ
Author
Full Professor of History of Ancient Philosophy at Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Faculty member of the Graduate Program in Philoso-phy (PPGFIL) at UFRN Member of the Research Program in Ancient Philosophy - PRAGMAUFRJ
Sumaacuterio
Prefaacutecio 9
Apresentaccedilatildeo 11
Introduccedilatildeo 15
Auxiacutelio ao leitor 26
Primeira parte 29Physiologiacutea
Segunda parte 69Physiologiacutea
Terceira parte 101Ethicaacute
Referecircncias bibliograacuteficas 159
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Prefaacutecio
8 9
Prefaacutecio
A elaboraccedilatildeo de um vocabulaacuterio comentado sobre a termi-nologia filosoacutefica de Epicuro eacute para a comunidade cientiacutefica tarefa de reconhecido meacuterito e utilidade Embora ela assente de forma inevitaacutevel na consulta dos melhores dicionaacuterios de grego disponiacuteveis permite por um lado uma visatildeo sistemaacutetica de conjunto sobre uma terminologia especiacutefica e por outro uma reflexatildeo sobre os pressupostos que justificam as traduccedilotildees que os diversos dicionaacuterios propotildeem Natildeo se limita portanto a fornecer sinoacutenimos precisos mdash o que em si mesmo jaacute seria um meacuterito apreciaacutevel mdash mas comenta ou historia o percurso de determinados vocaacutebulos o que ultrapassa a convenccedilatildeo de um di-cionaacuterio A esta perspetiva de base o autor do volume propocircs-se acrescentar comentaacuterios elucidativos sobre a sinoniacutemia estabele-cida Para isso foi tida tambeacutem em conta a informaccedilatildeo fornecida por inuacutemeras publicaccedilotildees sob forma de livros ou perioacutedicos que tecircm dedicado ao pensamento de Epicuro e sobretudo ao estudo de aacutereas semacircnticas particulares da liacutengua grega como eacute o caso da filosoacutefica a sua atenccedilatildeo Destes materiais o presente estudo eacute tambeacutem devedor e transmissor na listagem bibliograacutefica que integra Eacute portanto como um elemento de seleccedilatildeo e de precisatildeo de um certo campo semacircntico a linguagem filosoacutefica centrado num autor especiacutefico Epicuro que este volume se apresenta
Natildeo eacute talvez Epicuro pela proacutepria fragilidade e dimensatildeo pequena do corpus que o representa aos olhos da contempora-neidade um autor sobre que a bibliografia disponiacutevel seja mais ampla Aleacutem de muito reduzido esse corpus eacute na sua maioria transmitido de forma indireta o que condiciona de modo
10 11
Prefaacutecio
10 11
evidente o acesso agrave terminologia que poderiacuteamos atribuir a Epicuro Apesar dessas limitaccedilotildees este vocabulaacuterio reuacutene um nuacutemero significativo de termos em parte vindos numa linha de continuidade em relaccedilatildeo a uma terminologia que a filosofia grega foi sedimentando ao longo dos seacuteculos Neste caso o comentaacuterio a incluir valoriza a perspetiva diacroacutenica e procura sobretudo em relaccedilatildeo aos vocaacutebulos com tradiccedilatildeo reconhecida definir nuances inovadoras que testemunhem o proacuteprio fluir do pensamento filosoacutefico Mas sem duacutevida mais expressivos satildeo os casos de haacutepax mdash palavras de ocorrecircncia uacutenica nos textos em anaacutelise mdash ainda que condicionados pela magreza dos testemunhos Estes termos conferem a Epicuro e ao seu pensamento uma identidade proacutepria e destacam nele a capacidade de contribuir para o voca-bulaacuterio especiacutefico da filosofia com palavras novas
Um manual desta natureza seraacute sempre uma proposta em aber-to a ser retocada ou ampliada agrave medida que a proacutepria discussatildeo fi-losoacutefica for prosseguindo ou na hipoacutetese de que novos testemunhos se possam vir a juntar aos atualmente disponiacuteveis Mas o resultado a que neste momento se chegou resulta de anos de recolha e de investigaccedilatildeo e constitui jaacute uma contribuiccedilatildeo a ser publicitada com utilidade entre os especialistas e acadeacutemicos em geral
Deste lsquoVocabulaacuterio filosoacutefico de Epicurorsquo poderatildeo tirar provei-to evidente todos os que se dedicam natildeo apenas ao estudo deste autor concreto mas ao da evoluccedilatildeo do pensamento filosoacutefico e respetiva terminologia investigadores docentes e estudantes Por-que sem pretender ser exaustiva no que respeita ao comentaacuterio dos termos alistados esta proposta eacute mesmo assim um documento de valor inestimaacutevel para a clarificaccedilatildeo das nuances subjacentes a um vocabulaacuterio tatildeo lsquosensiacutevelrsquo como eacute o filosoacutefico
Maria de Faacutetima SilvaUniversidade de Coimbra
Apresentaccedilatildeo
10 1110 11
APreSentAccedilatildeo
Os ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo satildeo o resultado de um projeto de pesquisa que desenvolvi ao longo de vaacuterios anos como atividade paralela a outras produccedilotildees acadecircmicas por mim realizadas no acircm-bito do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Pude contar nesta pesquisa com a colaboraccedilatildeo de quatro bolsistas de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica um bolsista de Mestrado e um outro de Doutorado Devo mencionar os no-mes de Everton da Silva Rocha e Renato dos Santos Barbosa que participaram efetivamente do resultado final deste trabalho Everton colaborou na organizaccedilatildeo e digitaccedilatildeo dos verbetes em grego e Rena-to colaborou na organizaccedilatildeo do livro e na redaccedilatildeo de alguns verbetes a partir da sua pesquisa de mestrado por mim orientada Eles fazem parte deste percurso e do produto final que vem agora a puacuteblico No nome deles eu agradeccedilo os demais alunos que se iniciaram no estu-do da Filosofia de Epicuro mediante a participaccedilatildeo nesta pesquisa
Foi um longo aacuterduo mas prazeiroso caminho que culminou com um estaacutegio de pesquisa que realizei no Centro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra em setembro e outubro de 2016 sob a supervisatildeo da Doutora Maria de Faacutetima Sousa e Silva
O conjunto dos verbetes que aqui se encontra foi dividido em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Reuni desta maneira os termos mais importantes1 para
1 Considero que haacute um grupo de termos que satildeo os conceitos mais traba-lhados no pensamento de Epicuro e os verbetes que lhes satildeo correspondentes apresentam um estudo resumido do papel que desempenham para a originali-dade da sua Filosofia os demais termos satildeo tambeacutem relevantes no que toca ao uso que deles se pode fazer para a traduccedilatildeo direta dos textos gregos
Apresentaccedilatildeo
12 13
um estudo interpretativo de cada uma das partes respeitando a ordem dos textos apresentados no livro X da obra Vidas e Doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres de Dioacutegenes Laeacutercio bem como as Sentenccedilas Vaticanas que foram descobertas posteriormente por Karl Votke em 1888 no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Papiro 1950 Aleacutem destas fontes aproveitei alguns vocaacutebulos extraiacutedos da doxografia antiga e acrescentados por Hermman Usener na sua obra Epicurea Basicamente satildeo estes os textos que constituem a espinha dorsal do pensamento de Epicuro que se mantiveram ao longo dos seacuteculos e satildeo o cerne de toda a pesquisa realizada pelos estudiosos ateacute hoje No seacuteculo XIX com as escavaccedilotildees feitas na Vila dos Papiros em Herculano no Sul da Itaacutelia um conjunto de textos fragmentados a maioria atribuiacuteda a Filodemo de Gadara e outros atribuiacutedos a Epicuro tecircm sido objeto de estudo de diversos especialistas em filologia mas que para o objetivo deste trabalho natildeo acrescentariam muito agrave base sobre a qual se define a filosofia de Epicuro
Eacute sempre difiacutecil reconstituir o todo de um pensamento mantendo a sua clareza e a sua coerecircncia quando a imensa maioria dos textos que foram escritos submergiu agraves vicissitudes do tempo e agraves armadilhas da histoacuteria Entretanto eacute preciso ter apreccedilo pelo teor deste pensamento e pela influecircncia que teve Epicuro sobre as geraccedilotildees que o sucederam ateacute agrave nossa eacutepoca A grande voz latina que fez ecoar a filosofia epicurista por mais de dois milecircnios foi sem duacutevida a do poeta romano Tito Lucreacutecio Caro que escreveu o De Rerum Natura ou Da natureza das Coisas poema em seis livros inacabado Este poema eacute uma fonte preciosa para o estudo do epicurismoPor isso quando existir correspondecircncia entre o termo grego utilizado por Epicuro e o termo latino utilizado por Lucreacutecio ressaltarei sobretudo nos verbetes expandidos esta correspondecircncia Outro fator importante num manual desta natureza eacute fornecer ao leitor a
Apresentaccedilatildeo
12 13
localizaccedilatildeo exata das ocorrecircncias de cada termo nos textos de Epicuro Aleacutem disso ele encontraraacute o termo grafado em carac-teres gregos seguido da transliteraccedilatildeo para caracteres latinos e a sua definiccedilatildeo ou significado Nos termos considerados de maior relevacircncia a definiccedilatildeo seraacute expandida na forma de um pequeno artigo acerca daquela noccedilatildeo Ocorreraacute tambeacutem em alguns termos a observaccedilatildeo ou informaccedilatildeo complementar que indica quando o termo eacute de uso exclusivo em Epicuro ou quando o termo passa a ser utilizado a partir de Epicuro ou quando eacute um termo de uso filosoacutefico apenas ou quando eacute de uso comum a Aristoacuteteles e a Epicuro ou ainda quando recebe um significado metafoacuterico para realccedilar o sentido inovador do seu pensamento Satildeo caracte-riacutesticas da linguagem grega utilizada por Epicuro o que tambeacutem o diferencia dos demais pensadores e inaugura muitas vezes um novo vocaacutebulo ou linha conceitual no acircmbito da filosofia antiga
Achei por bem elencar os termos mais importantes de cada um dos trecircs assuntos da sua obra na parte que lhe eacute correspon-dente Assim na Physiologiacutea estatildeo dispostos os termos referentes ao estudo da phyacutesis Na Gnoseologiacutea e Physiologiacutea pode-se en-contrar os termos que aparecem no iacuteniacutecio da Carta a Heroacutedoto e que correspondem agrave canocircnica ou teoria do conhecimento Na Eacutethica aqueles que correspondem agrave Carta a Meneceu agraves Maacutexi-mas Principais e agraves Sentenccedilas Vaticanas Contudo devo advertir de que muitos termos apareceratildeo repetidamente em mais de uma parte isto porque apresentam um sentido diferente que corresponde agrave funccedilatildeo desempenhada no contexto das frases onde aparecem A minha intenccedilatildeo ao propor esta divisatildeo eacute facilitar o manuseio deste breviaacuterio de termos Assim o usuaacuterio que estiver estudando a Carta a Heroacutedoto por exemplo encontraraacute na parte dedicada agrave Physiologiacutea eou na parte dedicada agrave Gnoseologiacutea e Physiologiacutea (se for o caso da canocircnica) os termos que interessam agrave sua anaacutelise
14 15
Apresentaccedilatildeo
14 15
Espero sinceramente que este vocabulaacuterio de termos filosoacuteficos gregos de Epicuro possa contribuir para a instrumen-talizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra deste pensador que pode ser considerado ainda pouco estudado sobretudo nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Introduccedilatildeo
14 1514 15
introduccedilatildeo
Epicuro filoacutesofo da natureza em busca do equiliacute-brio da liberdade e do prazer
O interesse que me moveu e que certamente move um estu-dante para se aprofundar na leitura dos textos de Epicuro eacute o de esclarecer o sentido maior deste pensamento isto eacute separar o que eacute genuiacuteno de tudo o que foi dito ao longo da histoacuteria em termos de opiniatildeo com forte matiz ideoloacutegico acerca da sua visatildeo de mundo e do seu modo de vida Natildeo haacute como fugir da polecircmica em torno da figura de Epicuro e do que a sua filosofia representou e ainda representa para o desenvolvimento da filosofia ocidental Quem estiver de fato interessado em interpretar para compreender o pensamento em questatildeo precisaraacute ir aos textos gregos originais e a partir daiacute comparar as inuacutemeras traduccedilotildees em diversas liacutenguas que se fizeram e ainda se fazem dos escritos deste pensador Tendo em vista as trecircs cartas as maacuteximas e as sentenccedilas que constituem o cerne da obra epicuacuterea trabalhada pela maioria dos especialistas uma interpretaccedilatildeo criteriosa destes textos produziraacute uma visatildeo sistecircmica do seu pensamento Soma-se a isso os fragmentos dos Papiros Herculaneses a Escrita Sobre Pedra de Dioacutegenes de Enoan-da e o poema De Rerum Natura de Lucreacutecio
Todos estes elementos satildeo imprescindiacuteveis para se obter uma visatildeo orgacircnica do conjunto do pensamento de Epicuro a fim de tornar exequumliacutevel a tarefa do pesquisador que eacute a de produzir uma coerente associaccedilatildeo destes conteuacutedos
Antes de apresentar um comentaacuterio geral dos textos aqui utilizados urge reproduzir um resumo cronoloacutegico da vida de
Markus Figueira da Silva
16 17
Epicuro para que se possa situaacute-lo no contexto do pensamento grego antigo
Cronologia
Epicuro filho de famiacutelia ateniense que pertencia ao demos de Gargeto nasceu em 341 aC em Samos e laacute viveu desde a infacircn-cia ateacute os 18 anos quando em 323 vai a Atenas prestar o serviccedilo militar Quando retornou de Atenas em 322 sua famiacutelia havia sido expulsa de Samos e Epicuro vai encontraacute-la em Coacutelofon Nos anos seguintes parece ter seguido as liccedilotildees de Praxiacutefanes um filoacutesofo peripateacutetico em Rodes Depois estudou com Nausiacute-fanes disciacutepulo de Demoacutecrito de Abdera e possivelmente aluno de Pirro de Eacutelis2 que ensinava em Teacuteos proacuteximo a Coacutelofon3
Em 311 Epicuro comeccedila a ensinar Filosofia em Mitilene na ilha de Lesbos No ano seguinte transfere-se para Lacircmpsa-co onde reuacutene alguns dos mais importantes disciacutepulos que o acompanharatildeo ao longo da sua trajetoacuteria ateacute que em 306 com a idade de 35 anos volta a Atenas e funda o Kecircpos o Jardim que daraacute nome a sua escola e caracterizaraacute a sua filosofia naturalista Em 270 a C Epicuro morre aos 72 anos de idade Cerca de quatorze escolarcas sucederam a Epicuro na direccedilatildeo do Jardim ateacute 44 a C4
A filosofia de Epicuro
Epicuro desenvolveu o seu pensamento a partir de influecircncias que marcaram a sua formaccedilatildeo e moldaram o seu ideal de vida Em primeiro lugar a Physiologiacutea ou a sua compreensatildeo da phyacutesis
2 Filoacutesofo grego do seacutec IV aC contemporacircneo de Epicuro e conside-rado o precursor do Ceticismo
3 Estas cidades satildeo ilhas proacuteximas a Samos na costa da Aacutesia menor4 Brun J Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Introduccedilatildeo
16 17
que teve no atomismo de Demoacutecrito de Abdera5 o seu ponto de partida Apesar de tecirc-lo modificado em determinados pontos em linhas gerais a constituiccedilatildeo da phyacutesis permaneceu inalterada ou seja toda a natureza eacute constituiacuteda de aacutetomos e vazio Na Carta a Heroacutedoto pode-se ver um resumo desta physiologiacutea Tambeacutem nesta Carta logo no iniacutecio encontra-se uma teoria do conhecimento que define os criteacuterios da percepccedilatildeo sensiacutevel que define a sua Gnoseologiacutea Por outro lado Epicuro voltou o seu pensamento para a investigaccedilatildeo do eacutethos do homem grego da sua eacutepoca e buscou tecer uma compreensatildeo do agir humano com a perspectiva de oferecer com a sua filosofia uma praacutetica de vida alternativa aos modelos que se apresentavam naquela altura do iniacutecio do seacuteculo III aC A sua investigaccedilatildeo permitiu que ele assimilasse traccedilos importantes do pensamento eacutetico grego dos seus antecessores A comeccedilar pelo modelo filosoacutefico socraacutetico e o seu desdobramento no pensamento de Platatildeo e Aristoacuteteles mas tambeacutem no confronto da criacutetica platocircnica e aristoteacutelica com a eacutetica de Demoacutecrito de Abdera Aristipo de Cirene e Pirro de Eacutelis os dois primeiros contemporacircneos de Soacutecrates e este uacuteltimo de Epicuro Partindo do entendimento de que toda a filosofia eacute de certo modo tributaacuteria das suas influecircncias e de que todo o pensamento traz em seu bojo elementos daquilo que jaacute fora pensado por outros filoacutesofos Epicuro manteacutem esta dinacircmica de refletir sobre as ideacuteias marcantes dos seus predecessores
Qual eacute entatildeo a originalidade de Epicuro e o que o torna um pensador singular da Histoacuteria da Filosofia
Para responder a isso indico a coerecircncia e a originalidade que se mostra nos textos remanescentes da sua obra Em outras
5 Filoacutesofo grego do seacutec V a C considerado um preacute-socraacutetico pela tradicional divisatildeo da Histoacuteria da Filosofia embora tenha sido contem-poracircneo de Soacutecrates Eacute considerado juntamente com Leucipo de Eleacuteia o precursor do atomismo grego
Markus Figueira da Silva
18 19
palavras a inteireza ou a inseparabilidade entre a physiologiacutea e a eacutethica Mais que isso o seu modus vivendi filosoacutefico Epicuro foi um pensador que procurou a todo o instante viver de acordo com o que pensava ou seja a partir do que inteligia quando pensava a phyacutesis sendo o estudo da natureza a base da sua conduta e a compreensatildeo de si mesmo como natureza o modelo para o exer-ciacutecio da sua filosofia e a expressatildeo dos seus atos Conhecer a vida e viver este conhecimento eacute um todo contiacutenuo que caracteriza a sua relevacircncia e a sua originalidade como physiologoacutes e pensador eacutetico concomitantemente
Neste sentido apresento a Filosofia de Epicuro em dois toacutepi-cos distintos e complementares a saber a physiologiacutea e aethicaacute
Physiologiacutea
No livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio encontram-se duas cartas de Epicuro que satildeo epiacutetomes ou resumos de temas li-gados agrave natureza (phyacutesis) Na Carta a Heroacutedoto estatildeo contidas as proposiccedilotildees fundamentais da sua filosofia da natureza e que tratam dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis O objetivo desta carta eacute apresentar aos que se iniciam na Filosofia os conceitos fundamentais sobre a natureza do todo dos mundos dos cor-pos compostos dos aacutetomos e do vazio bem como mostrar o processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo das coisas na natureza Epicuro deixa claro logo no iniacutecio que o estudo destes funda-mentos serve tambeacutem agravequeles jaacute instruiacutedos pois eles o podem utilizar para exercitarem-se nas discussotildees sobre as questotildees da natureza e como forma de aprimorarem a memoacuteria Ele cuida especialmente da linguagem que emprega a fim de facilitar a aprendizagem e promover uma faacutecil memorizaccedilatildeo Afirma que a clareza a objetividade e a simplicidade devem caracterizar o estilo e a linguagem filosoacutefica
Introduccedilatildeo
18 19
A canocircnica como meacutetodo gnosioloacutegico
A partir do passo 37 da Carta a Heroacutedoto Epicuro inicia a exposiccedilatildeo dos criteacuterios para o conhecimento da natureza des-de os fenocircmenos sensiacuteveis ou seja aqueles que satildeo objetos da percepccedilatildeo ateacute onde pode alcanccedilar o pensamento quando este procede por analogia isto eacute por contiguumlidade ou comparaccedilatildeo Para ele o pensamento pode conjecturar acerca dos fenocircmenos microcoacutesmicos e tambeacutem macrocoacutesmicos o que justifica as suas assertivas sobre o comportamento dos aacutetomos e noutro plano dos corpos celestes Epicuro utiliza este meacutetodo para expor a noccedilatildeo de aacutetomo e o seu movimento no vazio e em decorrecircncia disso explica o processo de agregaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo dos corpos sensiacuteveis a formaccedilatildeo e dissoluccedilatildeo dos mundos e a proacutepria noccedilatildeo de infinitude
Em seguida apresenta a sua teoria sobre o processo de conhe-cimento a formaccedilatildeo do pensamento e da imaginaccedilatildeo a partir do delineamento de quatro noccedilotildees capitais do sensualismo que ele inaugura a saber a sensaccedilatildeo (aiacutesthesis) a afecccedilatildeo (paacutethos) a impressatildeo sensiacutevel ou preacute-noccedilatildeo (proacutelepsis) e a projeccedilatildeo imaginaacute-ria do pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) Tais noccedilotildees visam explicar o processo gnoseoloacutegico desde que o oacutergatildeo sen-siacutevel eacute afetado gerando a sensaccedilatildeo que por sua vez se imprime na alma (psycheacute) gerando a memoacuteria (mneacuteme) sensitiva que eacute a fonte das imagens articuladas pelo pensamento quando as reuacutene e daacute sentido e representaccedilatildeo agrave realidade fenomecircnica Satildeo estas imagens sensiacuteveis que seratildeo usadas quando o pensamento por analogia a elas constroacutei explicaccedilotildees para os objetos natildeo perceptiacute-veis aos sentidos mas imaginados pelo pensamento em projeccedilatildeo
Nos passos 46 a 53 Epicuro investiga os mecanismos de produccedilatildeo das imagens (eiacutedola) e como se produz a imaginaccedilatildeo (phantasiacutea) como parte do movimento de transformaccedilatildeo das
Markus Figueira da Silva
20 21
sensaccedilotildees em sentimentos (impressotildees sensiacuteveis) e destes em memoacuteria operada pelo pensamento Esta eacute de fato uma das mais inovadoras teorias de Epicuro e que influenciaraacute diversos teoacutericos do conhecimento na modernidade
A partir do passo 54 tecircm-se analisadas as caracteriacutesticas do aacutetomo isto eacute a forma a figura o tamanho e o peso que por sua vez estatildeo intimamente relacionados agraves qualidades dos corpos sensiacuteveis (soacutemata) A anaacutelise do vazio e espaccedilo (kenograven kaigrave choacuteran) ocorre jaacute no passo 61 Sobre a importacircncia destas noccedilotildees Epicuro defende que sem o vazio eou espaccedilo natildeo pode haver movimento
A alma (psycheacute) que eacute corpoacuterea ou seja um corpo consti-tuiacutedo por aacutetomos mais sutis que os da carne (saacuterx) eacute objeto de investigaccedilatildeo no passo 67 Epicuro a define como sendo princiacutepio de movimento e sede do pensamento Na continuaccedilatildeo da Carta (passo 68) daacute-se iniacutecio agrave explicaccedilatildeo dos corpos compostos e do processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo dos corpos a partir da agregaccedilatildeo dos aacutetomos
Haacute tambeacutem uma breve anaacutelise sobre o tempo (khroacutenos) nos passos 72 e 73 e em seguida a teoria sobre os mega corpos ou os mundos (koacutesmoi) que tambeacutem satildeo formados pela agregaccedilatildeo dos aacutetomos e tecircm duraccedilatildeo limitada
Epicuro acena para uma breve histoacuteria antropoloacutegica apre-sentada na anaacutelise do conceito de praacutegmata que diz respeito a uma teoria da accedilatildeo humana e tem lugar no passo 75 e se pro-longa no passo 76 onde ele apresenta indiacutecios de uma teoria da linguagem bastante original No final da Carta a Heroacutedoto isto eacute nos passos 80 e 81 haacute uma apresentaccedilatildeo sumaacuteria do tema dos corpos celestes que seraacute desenvolvido na Carta a Piacutetocles Os passos 82 e 83 trazem as consideraccedilotildees finais da Carta onde Epicuro exorta os seus alunos a exercitarem-se sempre no estudo da natureza para que deste modo possam fugir da ignoracircncia
Introduccedilatildeo
20 21
A Carta a Piacutetocles se inicia com a afirmaccedilatildeo de que o conhe-cimento dos fenocircmenos celestes (meteacuteora) quer sejam conside-rados em conexatildeo com outros fenocircmenos ou neles mesmos tem como finalidade a tranquumlilidade da alma bem como afirmar a confianccedila nas explicaccedilotildees ldquofisioloacutegicasrdquo Em seguida passase ao meacutetodo de investigaccedilatildeo dos fenocircmenos celestes evidenciando o pluralismo da explicaccedilatildeo onde se aceita para um determinado fenocircmeno mais de uma causa desde que nenhuma delas possa ser contraditada pela evidecircncia da sensaccedilatildeo ou seja enquanto natildeo for refutada a explicaccedilatildeo se manteacutem vaacutelida Assim eacute pre-feriacutevel manter a pluralidade das causas em vez de ater-se a uma crenccedila que remeta a uma explicaccedilatildeo sobrenatural baseada por exemplo nos desiacutegnios dos deuses
Tem-se na continuaccedilatildeo uma definiccedilatildeo de mundo (koacutesmos) bem como dos meteacuteora os mais variados que leva a uma especulaccedilatildeo acerca do movimento dos astros das nuvens da chuva das tormentas dos raios e trovotildees das tempestades dos ciclones dos terremotos dos ventos das geleiras da neve do arco-iacuteris da lua dos cometas das estrelas cadentes e das mudanccedilas dos ventos
A ethicaacute
Ao longo de toda a Histoacuteria da Filosofia Epicuro seraacute lem-brado muito mais pelas suas proposiccedilotildees eacuteticas do que pelas fiacutesicas o que tem a sua explicaccedilatildeo com o desenvolvimento das ciecircncias o atomismo e as demais teorias desenvolvidas pelos filoacutesofos gregos antigos sofreram muitas variaccedilotildees atualizaccedilotildees e ateacute inovaccedilotildees graccedilas ao aprimoramento tecnoloacutegico das pesqui-sas contudo a eacutetica seguiu um outro percurso e o conteuacutedo do pensamento eacutetico epicuacutereo foi alvo das apropriaccedilotildees tiacutepicas da fi-losofia daqueles que buscaram construir uma eacutetica do bem viver
Markus Figueira da Silva
22 23
Neste caso especiacutefico uma eacutetica ao mesmo tempo naturalista e sensualista Por outro lado haacute os criacuteticos deste pensamento que na maioria das vezes o detrataram Como consequumlecircncia disso uma enorme controveacutersia interpretativa acerca da eacutetica de Epicuro tem sido frequumlente nos meios acadecircmicos e nos escritos publicados a este respeito Entretanto o que interessa agravequeles que desejam estudar o epicurismo seraacute entender como eacute possiacute-vel pensar uma eacutetica desvinculada tanto da poliacutetica quanto da religiatildeo Em outras palavras seraacute que a eacutetica epicurista eacute uma eacutetica sem matrizes ideoloacutegicas Penso que este foi o objetivo de Epicuro ao afastar-se da poliacutetica e da religiatildeo
Em Epicuro encontra-se a definiccedilatildeo da Filosofia como um saber em torno da vida cujo uso praacutetico se realiza constan-temente como um conhecimento que edifica a proacutepria vida como um exerciacutecio filosoacutefico cotidiano A fundamentaccedilatildeo do agir filosoacutefico eacute pois o conhecimento adquirido no processo de investigaccedilatildeo da natureza que prima pela desmistificaccedilatildeo da phyacutesis e daacute ao indiviacuteduo as reacutedeas da sua proacutepria vida e a autonomia para agir a partir de si mesmo Eacute neste sentido que Epicuro se distingue de outros pensadores da sua eacutepoca isto eacute o seu pensamento natildeo eacute tributaacuterio de nenhuma ideologia seja poliacutetica ou religiosa
Dioacutegenes Laeacutercio tambeacutem publicou em sua obra a Carta a Meneceu e quarenta Maacuteximas Principais de Epicuro Estes satildeo os textos eacuteticos por ele preservados e sobre os quais tecircm se debruccedilado os estudiosos Contudo haacute tambeacutem um conjunto de oitenta e uma sentenccedilas que foram descobertas muito mais tarde em 1888 por Karl Wotke no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Manuscrito 1950 ou GnomologioVaticano6 A maioria das sentenccedilas satildeo reflexotildees eacuteticas de Epicuro Outros textos
6 Gual CG 1981 p 133
Introduccedilatildeo
22 23
muito fragmentados e com muitas lacunas foram descobertos nas escavaccedilotildees de Herculano uma vila no Sul da Itaacutelia que foi soterrada pelas lavas do vulcatildeo Vesuacutevio no seacutec I aC como jaacute havia assinalado Este material tem sido objeto de pesquisa e poderaacute vir a acrescentar novas informaccedilotildees sobre o pensamento epicurista tanto quanto a chamada ldquoescrita sobre pedrardquo des-coberta nas escavaccedilotildees em Enoanda onde existiu uma extensa muralha construiacuteda por um adepto do epicurismo de nome Dioacutegenes que mandou talhar sobre ela diversos ensinamentos eacuteticos de Epicuro para que fossem lidos e servissem agrave reflexatildeo daqueles que por laacute passassem Felizmente estes textos foram em parte reconstituiacutedos e corroboram os publicados no livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio
Os inteacuterpretes da filosofia de Epicuro trabalham efetivamen-te sobre estes textos na busca de explicitar cada vez mais este pensamento que influenciou inuacutemeros pensadores e ainda hoje influencia tais como Giordano Bruno Michel de Montaigne Pierre Gassendi Baruch Espinoza Thomas Hobbes John Stuart Mill Karl Marx Michel Foucault entre outros
Assim para que sirva de referecircncia para o leitor indico os te-mas principais apresentados na Carta a Meneceu e nas Maacuteximas Principais
A Carta comeccedila com um protreacuteptico ou uma exortaccedilatildeo ao filosofar no passo 122 Em seguida estaacute o tetraphaacutermakon ou quaacutedruplo remeacutedio que reflete acerca dos deuses (passos 123 e 124) sobre a morte e os verdadeiros males da vida (entre os passos 124 e 127) sobreo futuro ou porvir (ainda no 127) sobre o prazer e os desejos (do 127 ao 132) e sobre a necessidade e o acaso (passos 132 a 135) Na conclusatildeo da Carta Epicuro convida o destinataacuterio e os seus amigos a refletirem sobre os pre-ceitos nela contidos pois estes ensinamentos conduzem a uma praacutetica de vida feliz ou bem aventurada
Markus Figueira da Silva
24 25
Com relaccedilatildeo agraves Maacuteximas Principais as primeiras (I a IV) tratam tambeacutem do tetraphaacutermakon em seguida haacute uma seacuterie de consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees necessaacuterias suficientes para se realizar uma vida feliz (makaacuterioszecircn) bem como sobre a relaccedilatildeo entre prazeres e virtudes (V a XXI) Haacute depois uma ilaccedilatildeo en-tre os criteacuterios para o conhecimento e o agir filosoacutefico (XXII a XXVI) sobre a amizade (philiacutea) e a classificaccedilatildeo dos desejos (XXVII a XXX) e finalmente sobre a justiccedila (dikaiosyacutene) e o modo como o saacutebio (sophoacutes) se relaciona com ela (XXXI a XL) Estas uacuteltimas ensejam uma reflexatildeo antropoloacutegica em torno das relaccedilotildees juriacutedico-sociais
Embora as Sentenccedilas Vaticanas natildeo faccedilam parte da obra laerciana tecircm o seu conteuacutedo associado ao das Maacuteximas Prin-cipais pois trazem reflexotildees em torno da conduta humana e em diversos aspectos aprofundam ou vecircm corroborar o sentido inerente agraves Maacuteximas
No conjunto das 81 sentenccedilas sobressaem aquelas dedicadas agrave amizade Pode-se dizer que Epicuro confere agrave amizade um papel fundamental na sua concepccedilatildeo de sabedoria ou filosofia A amizade gera confianccedila solidifica as relaccedilotildees sociais estimula a praacutetica das virtudes eacute responsaacutevel pelo bem estar dos indiviacuteduos e engendra a liberdade no agir Em Epicuro a amizade difere das praacuteticas comuns de relaccedilotildees sociais dos homens atrelados agraves cidades decadentes da sua eacutepoca Trata-se portanto de outro modelo de conduta privado molecular afastado da multidatildeo insensata Ela fundamenta a accedilatildeo e a liberta da dependecircncia e da cumplicidade que forccedila o indiviacuteduo a suportar o mal estar em sociedade A amizade simboliza o poder inerente a cada um de escolher o que lhe aprouver e evitar o que o perturba e o enfra-quece em seu iacutentimo em uma palavra o que o despotencializa Viver entre amigos eacute alcanccedilar e exercer a filosofia em toda a sua plenitude A amizade existe porque eacute natural mas a sua praacutetica
Introduccedilatildeo
24 25
exige o discernimento e a liberdade de poder escolher e poder evitar
Satildeo estas em linhas gerais as informaccedilotildees referentes aos textos de Epicuro aqui utilizados cujo vocabulaacuterio serviraacute de instrumento de leitura agravequeles que se interessarem pela Filosofia da Natureza e pela Eacutetica do Jardim
Markus Figueira da Silva
26 27
Auxiacutelio Ao leitor
A) lista de abreviaturas
DL - Dioacutegenes Laeacutercio Vidas e doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres SV - Sentenccedilas Vaticanas EpicuroMP - Maacuteximas Principais EpicuroDRN - De Rerum Natura LucreacutecioUs - USENER EpicureaNatSobre a Natureza Perigrave phyacuteseos Epicuro Pap HercPapiros Herculanesesm - masculinof - femininoad - adjetivoadv - adveacuterbioinf - infinitivolat latimpl - pluralprep - preposiccedilatildeosf - substantivo femininosm - substantivo masculinosn - substantivo neutrov - verbo
B) meacutetodos de referecircncia
Os algarismos araacutebicos agrave direita dos termos gregos trans-literados se referem aos paraacutegrafos em que cada termo ocorre no livro X de Dioacutegenes Laeacutercio por exemplo ldquoἀδιάλυτος adiaacutelytos- 54rdquo eacute uma palavra que estaacute localizada na passagem
Auxiacutelio ao leitor
26 27
de nuacutemero 54 do deacutecimo livro das Vidas e doutrinas dos Filoacute-sofos Ilustres obra escrita pelo doxoacutegrafo Dioacutegenes Laeacutercio que dedicou o deacutecimo livro agrave exposiccedilatildeo da vida e obra de Epicuro No entanto quando os algarismos araacutebicos estiverem precedidos pela abreviaccedilatildeo ldquoSVrdquo significa que eles remetem agraves Sentenccedilas Vaticanas por exemplo ldquoεὐδαιμονία eudaimoniacutea - 116 122 127 SV 33rdquo esta uacuteltima ocorrecircncia estaacute indicando que o termo eudaimoniacutea aparece na sentenccedila de nuacutemero 33 Por sua vez esses algarismos seguidos de ldquoUsrdquo fazem referecircncia aos fragmentos compilados por Usener em sua obra intitulada Epicurea como no termo ldquoἀκατονόμαστον akatonoacutemaston- 314 Us 315 Usrdquo Os algarismos romanos foram reservados agraves Maacuteximas Principais de Epicuro como em ldquoπαντελής panteleacutes- 116 XX XXIrdquo cujas duas uacuteltimas ocorrecircncias se referem agraves maacuteximas 20 e 21 dentre as Maacuteximas Principais
C) alfabeto grego
Αα- aacutelpha Bβ - beacutetaΓγ - gaacutemaΔδ - deacuteltaΕε - e psiloacuten7
Ζζ - dzeacutetaΗη - eacutetaΘθ - theacutetaΙι - ioacutetaΚκ - kaacutepaΛλ - laacutembdaΜμ - mucirc
7 Cf Murachco 2007 p 36 para compreender o modo de nomear as letras ε ο υ ω
Markus Figueira da Silva
28 29
Νν - nucircΞξ - ksicircΟο - o mikroacutenΠπ - piΡρ - rhocircΣσς- sicircgma sicircgma finalΤτ - tauΥυ - y psilonΦφ - phicircΧχ - khicircΨψ -psicircΩω - o meacutega
Auxiacutelio ao leitor
28 29
PrimeirA PArte
Physiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea
30 3130 31
ἀδιάλυτος adiaacutelytos (ad)- 54
Indissoluacutevel indestrutiacutevel
ἀθροίσμα athroiacutesma (sn)- 62 63 64 65 69 100 108 IX
Agregado organismo acumulaccedilatildeo Athroiacutesma eacute o termo que nomeia o agregado de aacutetomos que constitui o organismo humano No interior deste agregado se disseminam os aacuteto-mos da alma Athroiacutesma tambeacutem pode significar qualquer agregaccedilatildeo de aacutetomos existente na natureza
ἀθρόος athroacuteos (ad)- 35 56 69 70 104
Reuniatildeo concentraccedilatildeo inteireza
αἴδιος aiacutedios (ad)- 69 70 71
Eterno permanente
αἰτιολογεῖν aitiologeacutein (vinf) - 80 82
Processo de inferecircncia ou investigaccedilatildeo das causas Segundo o Greek-english lexicon de Liddell-Scott (1996) eacute a primeira ocorrecircncia deste termo nos textos gregos
αἰτιολογία aitiologiacutea (sf)- 97
Estudo ou investigaccedilatildeo das causas
ακατονόμαστον akatonoacutemaston (ad)- 314 Us 315 Us
O que natildeo eacute nomeado Trata-se de uma parte ou elemento da alma Epicuro distingue duas partes no corpo alma o aacutelogon que eacute geralmente traduzido por ldquoparte irracionalrdquo e
Primeira parte
32 33
que se encontra espalhada por todo corpo (organismo) e o logikoacuten cuja traduccedilatildeo eacute ldquoparte racionalrdquo e se concentra no peito Tanto em Epicuro quanto em Lucreacutecio estas duas partes estatildeo intimamente ligadas pois haacute uma ldquocontinui-daderdquo entre os aacutetomos concentrados no peito e os demais disseminados atraveacutes do corpo Esta continuidade se expli-ca pelo movimento voluntaacuterio que a alma imprime a todo organismo movimento este que daacute origem agraves sensaccedilotildees e agraves voliccedilotildees O problema reside entatildeo na impossibilidade de explicar os movimento da sensibilidade e os movimentos do pensamento que satildeo os mais ligeiros pois envolvem aacutetomos menores e mais redondos segundo o raciociacutenio de Epicuro
A dificuldade do problema que se impotildee estaacute na caracte-rizaccedilatildeo deste quarto elemento ou elemento sem nome (akatonoacutemaston) ou ainda como nomeou o poeta Lucreacutecio (DRN III241 e III275) a quarta natura que natildeo se pode comparar ou mesmo aproximar de nada do que encontra-mos no universo fiacutesico da natureza estudada ou seja natildeo existe termos de comparaccedilatildeo para justificar a tenacidade e a velocidade do pensamento nem a mobilidade da alma na ldquoprojeccedilatildeordquo ou ldquosaltordquo do pensamento (vide infra ἐπιβολή τῆς διανοίας -epiboleacute tegraves diaacutenoias na segunda parte) natildeo que possamos negar por isso a existecircncia de tal elemento contu-do natildeo podemos aferi-lo mediante o poder de percepccedilatildeo dos sentidos
ἄκρον aacutekron (sn)- 41 57 107
Extremidade altura
Physiologiacutea
32 33
ἀλειτούργητος aleituacutergetos (ad)- 97
Livre de isento Palavra de uso corrente que Epicuro usa metaforicamente no sentido de isentar os fenocircmenos de toda e qualquer causalidade divina
ἀλλόφυλος alloacutephylos (ad)- 106
Estrangeiro de outra tribo ou lugarVide infra Homoacutephylos - ὁμόφυλος (na terceira parte)
ἀμερής amereacutes (ad)- 59
Impartiacutevel indivisiacutevel Este eacute um termo utilizado apenas pelos filoacutesofos atomistas gregos
ἀμετάβατος ametaacutebatos (ad)- 59
Que natildeo admite passagem que natildeo muda de lugar estacio-nado Em sua ocorrecircncia as versotildees do texto grego apresen-tam uma diferenccedila Na versatildeo de Hicks (1925) a palavra eacute ἀμετάβολα ametaacutebola (ad) que significa imutaacutevel
ἀμετάβλητος ametaacutebletos (ad)- 41
Imutaacutevel A imutabilidade eacute caracteriacutestica apenas do corpo do aacutetomo e do Todo
ἀμύθητος amyacutethetos (ad)- 115
Que natildeo recorre ao mito Indiziacutevel Neste sentido mythos signi-fica a expressatildeo isto eacute a capacidade de dizer algo por palavras
Primeira parte
34 35
ἀνάγκη anaacutenke (sf)-74 77 90 92 115 133 134 SV 9 SV 40
Necessidade Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem finalidade (teacutelos)rdquo (vide infra τέλος na segunda parte) E somente o termo anaacutenke pode signifi-car necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo pronoacuteia para designar necessidade de qual-quer maneira a necessidade nuca foi enunciada por Epi-curo num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
ἀνακοπή anakopeacute (sf)- 42
Impedimento suspensatildeo parada resistecircncia Neste caso impedimento devido agrave colisatildeo com outro corpo O Greek--english lexicondaacute como primeira ocorrecircncia deste termo a Carta a Heroacutedoto de Epicuro
ἀναφής anapheacutes (ad)- 40 86
Intangiacutevel impalpaacutevel Termo de uso exclusivo da physiolo-giacutea grega
ἀνταναπλήρωσις antanapleacuterosis (sf)- 48
Reposicionamento substituiccedilatildeo compensaccedilatildeo A uacutenica ocor-recircncia deste termo se daacute na carta a Heroacutedoto de Epicuro
Physiologiacutea
34 35
ἀντικοπή antikopeacute (sf)- 46 47
Resistecircncia A primeira ocorrecircncia deste termo se daacute em Epicuro
ἀπάντησις apaacutentesis (sf)- 46
Encontro choque
ἀπειρία apeiriacutea (sf)- 45 116
Infinidade ilimitabilidade Palavra proacutepria da physiologiacutea grega
ἀπεὶρων (τό) apeigraveron (toacute) (ad) 47 60 73 75 88 XIII XV
Ilimitado infinito
ἀπερίληπτος aperiacuteleptos (ad)- 42
Incompreensiacutevel inacessiacutevel (ao pensamento)
ἀπερινόητος aperinoacuteetos (ad)- 46
Inconcebiacutevel Segundo Liddell-Scott (1996) Epicuro daacute a este termo um sentido diferente de outros usos da palavra
ἀποκατάστασις apokataacutestasis (sf)- 44
Retorno ao movimento ou posiccedilatildeo inicial
ἀποπαλμός apopalmoacutes (sm)- 44 280 Us
Aquele que ressalta e repercute Termo de uso exclusivo de Epicuro
Primeira parte
36 37
ἀπόπαλσις apoacutepalsis (sf)- 108
Choque impacto
ἀπόρροια apoacuterroia (sf)- 46
Efluacutevio fluxo corrente emanaccedilatildeo
ἀπόστασις apoacutestasis (sf)- 46
Afastamento distanciamento
ἀρχή archeacute (sf)- 30 41 44 116 128 132 134 138 SV 23
Princiacutepio origem comeccedilo fundamento A questatildeo do princiacutepio de realidade (archeacute) eacute explicitada pelo axioma baacute-sico do atomismo segundo o qual o todo eacute composto de aacutetomos e vazio Os aacutetomos satildeo elementos constitutivos de todas as coisas gecircnese dos corpos compostos e fundamento do atomismo cujo princiacutepio eacute assim formulado na Carta a Heroacutedoto
Primeiramente nada nasce do nada (natildeo-ser) Se natildeo fosse assim tudo nasceria de tudo e nada teria necessidade de seu proacuteprio germe (DL X 38)
ldquoNada nasce do nadardquo eacute um princiacutepio que surge jaacute no pensamento de Demoacutecrito (DL IX 44) e mais tarde no pensamento de Epicuro como ponto de partida para o co-nhecimento sensiacutevel Contudo foi Lucreacutecio (DRN I 174-224) quem traduziu este princiacutepio em imagens que podem ser comprovadas pela experiecircncia e assim manifestados para cada coisa animal ou planta faz-se necessaacuteria a sua proacutepria semente em condiccedilotildees favoraacuteveis a sua germinaccedilatildeo Em razatildeo disso eacute plausiacutevel dizer que a Carta a Heroacutedoto
Physiologiacutea
36 37
comeccedila indicando que o pensamento brota da experiecircncia mediante a qual surge a possibilidade de se estabelecer as analogias que levam ao ldquosaltordquo do pensamento Este salto se caracteriza por efetuar analogias entre a realidade apre-endida imediatamente pelas sensaccedilotildees as microestruturas corpoacutereas e o macrocosmos permitindo a inteligibilidade dos niacuteveis que escapam ao alcance da sensibilidade Desse modo o pensamento pode postular que na natureza os cor-pos vecircm a ser a partir dos aacutetomos e se dissolvem espalhando os elementos que os constituem dado que a todo instante os corpos se formam e se decompotildeem no universo infinito sem nada acrescentar ou subtrair ao todo A consequecircncia loacutegica deste princiacutepio revela que a constituiccedilatildeo total do ser ou do todo permanece a mesma
ἀσθένεια astheacuteneia (sf)- 77
Fraqueza debilidade
ἀστρολογία astrologiacutea (sf)- 113
Astronomia
ἀστρολόγος astroloacutegos (sm)- 93
Astrocircnomo
ἀσχολία askholiacutea (sf)- 85
Ocupaccedilatildeo empenho
ἀσώματος asoacutematos (ad)- 67 69 70
Incorpoacutereo Termo exclusivamente filosoacutefico
Primeira parte
38 39
ἄτομος aacutetomos (ad substantivadolatatomus)- 4142 43 44 45 48 50 54 55 56 58 59 61 62 65 86 99 102 110 115
Aacutetomo indivisiacutevel Os termos gregos aacutetomos (nominativo singular) aacutetomoi (nominativovocativo pl) ou aacutetomon (acusativo singular) constam em vinte passagens dos textos de Epicuro Na maioriadas vezes os tradutores optam por aacutetomo em suas traduccedilotildees embora em alguns casos tambeacutem se traduza por indivisiacutevel
O adjetivoaacute-tomosse substantiva em aacutetomos ldquoque quer dizer natildeo-cortado indivisiacutevelrdquo (GOBRY 2007 p 115) Os aacuteto-mos satildeo literalmente partiacuteculas indivisiacuteveis que por serem assim satildeo razatildeo explicativa da realidade Eacute a ideia que deu origem ao atomismo assim como foi teorizado inicialmente por Leucipo e Demoacutecrito8 e depois por Epicuro Este legado foi espalhado pelo mundo romano entatildeo recebendo a deno-minaccedilatildeo latina de atomus (aacutetomo) ou indivisum (indivisiacutevel) como traduz Ciacutecero ou ainda semina (sementes) na lingua-gem poeacutetica do epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro Os aacutetomos satildeo elementos (stoicheiacuteon)em quantidade infini-ta que constituem os corpos compostos (synkriacuteseis) Satildeo ca-racterizados na Carta a Heroacutedoto9como partiacuteculas corpoacutereas maciccedilas indissoluacuteveis imutaacuteveis indivisiacuteveis e impenetraacute-veis portanto resistindo agrave corrupccedilatildeo dos corpos compostos desde a eternidade
Esses elementos satildeo os aacutetomos indivisiacuteveis e imutaacuteveis se eacute verdade que nem todas as coisas poderatildeo perecer e resolver--se no natildeo-ser Com efeito os aacutetomos satildeo dotados da forccedila necessaacuteria para permanecerem intactos e para resistirem enquanto os compostos se dissolvem pois satildeo impenetraacuteveis
8 Cf DL IX 449 Cf DL X 35-83
Physiologiacutea
38 39
por sua proacutepria natureza e natildeo estatildeo sujeitos a uma eventual dissoluccedilatildeo Consequentemente os princiacutepios das coisas satildeo indivisiacuteveis e de natureza corpoacuterea (DL X 41)
O objetivo de Epicuro e seus disciacutepulos nunca fora o de explorar detidamente ou ldquocientificamenterdquo as caracteriacutesticas dos aacutetomos antes operavam analogias inferecircncias induti-vas e deduccedilotildees atribuindo aos aacutetomos propriedades neces-saacuterias para a explicaccedilatildeo da realidade sensiacutevel Nas palavras de Gigandet ldquoo aacutetomo eacute princiacutepio de inteligibilidade natildeo objeto de estudo mas pelo contraacuterio eacute o ponto de partida da explicaccedilatildeordquo (2001 p40) Sementes eternas de toda a rea-lidade os aacutetomos satildeo naturezas inteiras (hoacutelas phyacuteseis)10 sem qualidades acidentais (symptoacutemata)(vide infra σύμπτωμα na segunda parte) passiacuteveis de mudanccedila no entanto pos-suindo propriedades (symbebekoacuteta)(vide infra συμβεβηκός na segunda parte) ou qualidades (poioacutetes) necessariamente permanentes (anankaiacuteon hipomeacutenein) Constituintes de to-dos os corpos compostos (visiacuteveis e invisiacuteveis) os aacutetomos natildeo tecircm outras propriedades aleacutem da formafigura (schematoacutes) do tamanho (megeacutethous) e do peso (baacuterous)11
αὔξησις ayacutexesis (sf)- 90
Crescimento desenvolvimento
10 Cf DL X 4011 Neste ponto haacute uma diferenccedila do atomismo de Demoacutecrito e Leucipo
tal como Aristoacuteteles o apresenta na Metafiacutesica A 985b e o atomismo de Epicuro pois este acrescenta o peso (baacuteros) como uma das propriedades atocircmicas aleacutem de aglutinar a propriedade da ordem (taacutexis) agrave formafigura (schecircma) J Salem cita o doxoacutegrafo Aeacutecio para documentar este acreacutescimo da filosofia epicurista ldquoDemoacutecrito pensou que existe duas propriedades do aacutetomo a grandeza e a figura enquanto que Epicuro acrescentava uma ter-ceira o peso (baacuteros) de fato declara este uacuteltimo eacute necessaacuterio que os corpos recebam a impulsatildeo do peso para se moverrdquo (Cf SALEM 1997 p 28)
Primeira parte
40 41
αὐτοθελός autotheloacutes (ad)- 85
O que tem fim em si mesmo independente completo
ἀφανής aphaneacutes (ad)- 104
Inaparente obscuro
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (ad)- 76 123
Incorruptibilidade imortalidade
ἄφοδος aacutephodos (sf)- 54
Partida retirada
βάρος baacuteros (sn)- 4454 61 68
PesoDemoacutecrito natildeo havia introduzido o peso entre as qua-lidades dos aacutetomos poreacutem Epicuro contrariamente a ele conferiu ao peso a propriedade de ser causa do movimento dos aacutetomos no vazio movimento esse que por ser constante explica a mecacircnica do devir nos diversos niacuteveis de realizaccedilatildeo da phyacutesis O peso sendo causa primeira do movimento de transformaccedilatildeo das coisas eacute necessaacuterio para a coerecircncia do sistema de exposiccedilatildeo da phyacutesis embora natildeo determine de maneira alguma as afecccedilotildees entre os corpos
βέβαιος beacutebaios (ad)- 6385 XL
Seguro soacutelido firme
βράδος braacutedos (sn)- 46
Lentidatildeo lerdeza morosidade Palavra muito rara Soacute apare-ce em Xenofonte e Epicuro
Physiologiacutea
40 41
γένεσις geacutenesis (sf)- 48 77 86 SV 42
Nascimento origem produccedilatildeo gecircnese geraccedilatildeo
διάκρισις (sf)diaacutekrisis- 78
Conflito divergecircncia divisatildeo Estes soacute podem ocorrer no niacute-vel dos fenocircmenos fiacutesicos sejam eles celestes ou subterracircneos Contudo assevera Epicuro isso deve ser evitado Por outro lado natildeo se deve em nenhuma hipoacutetese atribuir agrave natureza divina a causa do conflito da divergecircncia ou da divisatildeo
διαλύω dialyacuteo (v)- 39 41 42 73 91 II SV 37
Dissolver
διάλυσις diaacutelysis (sf)- 4154
Dissoluccedilatildeo
διαμονή diamoneacute (sf)- 89
Estabilidade continuidade
διάρθρωσις diaacuterthrosis (sf)- 89
Articulaccedilatildeo
διάστημα diaacutestema (sn)- 89 91 110
Distacircncia intervalo Palavra oriunda da linguagem musical grega Provavelmente de origem pitagoacuterica
διαφορά diaforaacute (sf)- 42 55 56 75
Diferenccedila diversidade variedade
Primeira parte
42 43
δίνη diacutene (sf)- 92 93 112 113 114
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo
δίνησις diacutenesis (sf)- 90
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo Esta outra forma da palavra diacutene eacute mais teacutecnica e eacute de uso restrito de Aristoacuteteles e Epicuro
δυνατόν (τὸ) dynatoacuten (tograve) (ad substantivado)- 93
O possiacutevel
εἰλικρινής eilikrineacutes- (ad) 89 XIV
Puro absoluto completo
ἐκπύρωσις ekpyacuterosis (sf)- 101 103 115
Conflagraccedilatildeo combustatildeo
ἐμπεριλαμβάνω emperilambaacuteno (v)- 90 105
Captar englobar apreender compreender
ἔμπτωσις eacutemptosis (sf)- 102 SV 24
Incidecircncia impacto cair sobre
ἐναπόλεψις enapoacutelepsis (sf)- 77
Intercepccedilatildeo aprisionamento Este termo eacute usado por Epicu-ro num sentido inovador que diz respeito agrave teoria epicuacuterea do nascimento dos mundos
Physiologiacutea
42 43
ἐνδέχεσθαι endeacutechesthai (v)- 78 80 87 88 90 93 94 97 100 103 104105 107 108 113
Ser possiacutevel haver a possibilidade de
ἐνέργημα eneacutergema (sn)- 37
Exerciacutecio atividade
ἐξακριβοῦν exakribucircn (v)- 35 36 68 78 83
Precisar fazer com exatidatildeo detalhar Palavra de uso filosoacute-fico apenas
ἐπάρδευσις epaacuterdeysis (sf)- 89 100
Torrente corrente Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐπίβλεψις epiacuteblepsis (sf)- 35
Visatildeo consideraccedilatildeo
ἐπισημασία episemasiacutea (sf)- 98 115
Prognoacutestico sinal indiacutecio
ἐπιτήδειος epiteacutedeios (ad)- 93 99 100 107 111 112
Adequado adaptado apropriado
εὐκινησία eukinesiacutea (sf)- 63
Mobilidade facilidade de movimento
Primeira parte
44 45
θάμβος thaacutembos (sn)- 79
Perplexidade espanto admiraccedilatildeo
θεῖος theicircos (ad)- 97 113 115 SV 24
Divino
θέσις theacutesis (sf)- 44 46 48 75 30 Us
Posiccedilatildeo
ἰσοταχής isotacheacutes (ad)- 61 62
O que possui velocidade equivalente ou a mesma rapidez Os aacutetomos de acordo com o passo 61 da Carta a Heroacutedoto ldquotecircm necessariamente a mesma velocidaderdquo Aacutetomos pesa-dos grandes pequenos ou leves em movimento ascendente obliacutequo ou descendente percorrem o espaccedilo com a mesma rapidez12 Epicuro assemelha ainda a rapidez do aacutetomo agravequela do pensamento ou seja os aacutetomos se movem com a mesma rapidez com que operamos com o loacutegos na apreensatildeo de sentidos Para que a natureza se expresse da maneira que se apresenta aos homens eacute preciso que os aacutetomos natildeo apenas se movimentem mas que se movimentem com celeridade pois os elementos que se desprendem dos corpos devem ser imediatamente repostos para que a continuidade provisoacuteria dos compostos possa ser explicada pelo atomismo de manei-ra coerente Tendo em vista que os elementos que compotildeem
12 Cf DRN II 225-229 A sensibilidade parece atestar o contraacuterio quando se trata da rapidez dos corpos em queda mas eacute preciso considerar que a trajetoacuteria dos aacutetomos se daacute no vazio onde natildeo haacute resistecircncia nem por parte do ar nem da aacutegua meios em que vemos corpos mais pesados serem mais raacutepidos que corpos leves
Physiologiacutea
44 45
os corpos tecircm figuras diversas um aacutetomo com figura ldquoZrdquo natildeo pode ser substituiacutedo por um aacutetomo de figura ldquoOrdquo mas apenas por aacutetomos de figura ldquoZrdquo13 Isso significa que algu-mas reposiccedilotildees satildeo efetuadas por aacutetomos que se encontravam a grandes distacircncias mas que por possuiacuterem uma ligeireza comparaacutevel agravequela do pensamento alcanccedilam aglutinar-se ao corpo agregado que deles precisava para persistir na confi-guraccedilatildeo corpoacuterea que assumia A velocidade uniforme dos aacutetomos tambeacutem propicia a formaccedilatildeo das imagens pois estas guardam a posiccedilatildeo e estrutura que os aacutetomos componentes assuniam no corpo do qual se desprenderam tornando pos-siacutevel o ato perceptivo Eacute necessaacuterio agrave fiacutesica epicurista que os aacutetomos percorram espaccedilos vazios de modo igualmente veloz
ἱστορία historiacutea (sf)- 79
Investigaccedilatildeo estudo Epicuro critica o tipo de erudiccedilatildeo daqueles que fazem a historiacutea isto eacute a investigaccedilatildeo dos fenocirc-menos fiacutesicos mas natildeo demonstram o valor ou a utilidade deste conhecimento para a vida praacutetica
κάθαρσις kaacutetharsis (sf)- 86
Soluccedilatildeo Diz respeito ao modo proacuteprio de Epicuro pensar a natureza segundo o qual a physiologiacutea deve encontrar uma
13 Lucreacutecio (DRN I 167-172) explica que cada corpo tem sementes especiacuteficas ou seja os corpos compostos satildeo formados por aacutetomos de figuras particulares sem os quais o corpo composto natildeo se apresentaria da mesma maneira e aleacutem disso qualquer coisa poderia gerar-se de qualquer coisa um absurdo que natildeo constatamos ocorrer na natureza Nas palavras do poeta epicurista ldquoMas como todos (os seres e as coisas) se formam por sementes certas soacute nascem e chegam agraves margens da luz no lugar em que existam a mateacuteria e os corpos elementares que lhe satildeo proacuteprios por isso natildeo pode tudo nascer de tudo cada ser determinado tem em si possibili-dades proacutepriasrdquo
Primeira parte
46 47
soluccedilatildeo para os problemas fiacutesicos sem no entanto recorrer agrave sobrenaturalidade (explicaccedilotildees miacuteticas)
κατάστημα kataacutestema (sn)- 68 Us
Condiccedilatildeo estaacutevel
κενόν (τὸ) kenoacuten (tograve) (ad substantivado)- 40 41 42 44 46 67 89 90 74 Us 75 Us
O Vazio
Se aquilo que chamamos vazio e espaccedilo ou aquilo que por natureza eacute intangiacutevel natildeo tivesse uma existecircncia real nada haveria em que os corpos pudessem estar e nada atraveacutes de que eles pudessem se mover como parece que se movem (DL X 40)
O vazio eacute definido em primeiro lugar de modo simples e fundamental como aquilo que por natureza eacute intangiacutevel e dotado de uma existecircncia real em segundo lugar ele eacute apresentado como a condiccedilatildeo necessaacuteria aos movimentos dos corpos Com relaccedilatildeo aos corpos o vazio possui carac-teriacutesticas essencialmente opostas como por exemplo os corpos satildeo passiacuteveis de afecccedilatildeo o vazio natildeo os aacutetomos tecircm o limite delineado pela figura e podem ser comparados uns aos outros devido sobretudo ao fato de serem muacuteltiplos e diversos ao passo que o vazio eacute somente vazio ou algo anaacute-logo ao natildeo-ser Entretanto a sua existecircncia possibilita quer a compreensatildeo do vir-a-ser ou agregaccedilatildeo que a do movimen-to ou devir dos corpos Na afirmaccedilatildeo acima o vazio eacute ainda por definiccedilatildeo espaccedilo de livre constituiccedilatildeo e deslocamento dos corpos sendo o meio no qual emergem os agregados atocircmicos e onde se formam desenvolvem e corrompem as
Physiologiacutea
46 47
muacuteltiplas coisas da natureza Por estas razotildees parece justifi-car-se o caraacuteter fundamental atribuiacutedo por Epicuro ao vazio uma vez que eacute tatildeo necessaacuterio quanto os aacutetomos e o infinito para seu sistema de compreensatildeo da realidade
O vazio eacute tambeacutem aquilo que diferencia essencialmente um aacutetomo de um corpo composto Podemos recorrer aos atomis-tas para justificar esta diferenccedila Para eles o aacutetomo eacute imutaacutevel por ser pleno o corpo ao contraacuterio eacute passiacutevel de mudanccedilas visto que eacute um misto de aacutetomos e vazio a diferenccedila entatildeo explica-se pelo fato mesmo de se conceber os aacutetomos em cons-tante movimento e de se admitir que a existecircncia do vazio viabiliza os deslocamentos dos aacutetomos no interior dos corpos
κίνησις kiacutenesis (sf)- 50 51 59 64 66 67 73 77 92 98 101 105 106 111 112 115 136 2 Us 191 Us 280 Us
Movimento O termo grego kiacutenesis pode ser compreendido num sentido geral e num sentido estrito sendo todavia necessaacuterio concebecirc-lo inicialmente como expressatildeo dos pro-cessos de geraccedilatildeo e corrupccedilatildeo o que soacute eacute possiacutevel nas esferas dos corpos e dos mundos Num sentido geral kiacutenesis eacute presu-posto na realizaccedilatildeo de phyacutesis pois dele resultam as afecccedilotildees que datildeo origem aos agregados e aquelas que satildeo responsaacuteveis pela desagregaccedilatildeo dos compostos
Em virtude de os aacutetomos terem em si o princiacutepio do movimen-to a mudanccedila apresenta-se como uma necessidade Destarte cabe afirmar que compreender kiacutenesis como mudanccedila signifi-ca estabelecer que a realidade (fiacutesica) dos corpos compostos soacute eacute alterada em funccedilatildeo do movimento dos aacutetomos
Num sentido estrito eacute possiacutevel o emprego de kiacutenesis para designar apenas o deslocamento dos aacutetomos no vazio
Primeira parte
48 49
κοίλωμα koiacuteloma (sn)- 46 100 106
Cavidade profundidade concavidade
κόσμος koacutesmos (sm)- 45 73 74 77 88 89 90 112
Mundo Epicuro compreende que os mundos satildeo infinitos em nuacutemero e estatildeo espalhados por todo o universo que eacute tambeacutem infinito Alguns satildeo esfeacutericos outros podem ter outras formas Um mundo como um megacorpo recebe elementos que vem de fora e tambeacutem perdem elementos Na Carta a Heroacutedoto podemos ler as seguintes definiccedilotildees
Aleacutem disso existe um nuacutemero infinito de mundos tanto semelhantes ao nosso como diferntes dele pois os aacutetomos cujo nuacutemero eacute infinito como acabamos de demonstrar satildeo levados em seu curso a uma distacircncia cada vez maior E os aacutetomos dos quais poderia se formar um mundo natildeo foram todos consumidos na formaccedilatildeo de um mundo soacute nem de um nuacutemero limitado de mundos nem de quantos mundos sejam semelhantes a este ou diferentes deste Nada impede que se admita um nuacutemero infinito de mundos (DL X 42)
Um mundo eacute uma porccedilatildeo circunscrita do universo compre-endendo astros e terra e todas as coisas visiacuteveis destacado do infinito () cuja dissoluccedilatildeo levaraacute aacute ruiacutena tudo que estaacute nele (DL X 88)
κοῦφος kucircphos (ad)- 43 61
Leve ligeiro
κρᾶσις kraacutesis (sf)- 63
Mistura uniatildeo
Physiologiacutea
48 49
κροῦσις kruacutesis (sf)- 61
Choque golpe colisatildeo
κυριώτατος kyrioacutetatos (ad)- 35 36 78 79 81 82 83 IX XII XVI
Fundamental capital o mais importante
λειτουργέω leiturgeacuteo (v)- 76
Desempenhar uma funccedilatildeo cargo serviccedilo
λειτουργία leiturgiacutea (sf)- 113
Funccedilatildeo cargo serviccedilo
λεπτομέρεια leptomeacutereia (sf)- 63 355 Us
Um composto de partiacuteculas sutis A sutileza eacute caracteriacutestica dos aacutetomos do composto aniacutemico
λεπτομερής leptomereacutes (ad)- 63 90101
Composto de partiacuteculas sutis A alma eacute para Epicuro um corpo dentro do corpo-carne A diferenccedila estaacute na sutileza dos aacutetomos que compotildeem a alma
λόξωσις loacutexosis (sf)- 93
Inclinaccedilatildeo obliquidade Palavra utilizada na explicaccedilatildeo do movimento dos astros
λύσις lyacutesis (sf)- 79
Soluccedilatildeo liberaccedilatildeo
Primeira parte
50 51
μεστός mestoacutes (ad)- 42
Pleno cheio
μετάβασις metaacutebasis (sf)- 56 58
Passagem dum lugar a outro extensatildeo percorriacutevel
μεταβολή metaboleacute (sf)- 39 54 98
Mudanccedila transformaccedilatildeo Um dos tipos de movimento uti-lizados por Epicuro Neste caso significa o movimento de transformaccedilatildeo de um corpo
μετάθεσις metaacutethesis (sf)- 54
Transposiccedilatildeo deslocamento Outro tipo de movimento Neste caso significa a mudanccedila de lugar ou o deslocamento de um aacutetomo ou de um corpo composto (agregado)
μετακόσμιον metakoacutesmion (sn)- 89
Intermuacutendio Espaccedilo entre os mundos onde Epicuro situa os deuses
μετάστασις metaacutestasis (sf)- 89
Mundanccedila de posiccedilatildeo Termo que define o movimento dos aacutetomos no interior dos corpos
μετέωρα meteacuteora (ad) - 76 78 80 82 84 85 86 87 95 96 97 98 111 X XI
Qualificativo de fenocircmenos ou corpos celestes
Physiologiacutea
50 51
μορφή morpheacute (sf)-33 (255 Us) 49 50
Forma figura aspecto Relativo agrave forma dos objetos perce-bidos pelos sentidos ou imaginados pelo pensamento
ὅγκος hoacutenkos (sm)- 52 53 54 56 57 69 105
Corpuacutesculo partiacutecula massa
οἰκονομία oikonomiacutea (sf)- 79
Gestatildeo ordenamento
ὅλος hoacutelos (ad)- 36 70 71 82 IX XXI XXVII
Todo inteiro universal Epicuro usa este adjetivo para des-crever a totalidade de um corpo ou de sensaccedilotildees ou ainda a completude da vida Natildeo confundir com τό πᾶν toacute pacircn - O todo
ὁλοσχερής holoschereacutes (ad)- 35 36
Geral completo
ὁμογενές homogeneacutes (ad)- 32 (36 Us) 53 116 XVIII
Mesmo gecircnero (tipo espeacutecie) homogecircneo congecircnere
ὀξυγώνιος oksygoacutenios (ad)- 109
Anguloso acircngulos agudos
ὁπηλίκος hopeliacutekos (ad)- 56 57
Grandeza tamanho
Primeira parte
52 53
ὁρμή hormeacute (sf)- 115
Impulso
οὐρανός uranoacutes (sm)- 88 92 93 96 111
Ceacuteu
οὐσία usiacutea (sf)- 72 86
Essecircncia O uso deste termo diz respeito agrave investigaccedilatildeo acerca do tempo na Carta a Heroacutedoto (72) e agraves causas dos fenocircmenos celestes na Carta a Piacutetocles (86)
παλμός palmoacutes (sm)- 43
Vibraccedilatildeo pulsaccedilatildeo Os aacutetomos estatildeo em movimento cons-tante e palmoacutes eacute o termo que define o movimento vibratoacuterio (oscilatoacuterio) dos aacutetomos no interior dos corpos
πᾶν (τό) pacircn (toacute) (ad substantivado)- 39
O todo
παντελής panteleacutes (ad)- 116 XX XXI
Perfeito completo
παραλλαγή parallageacute (sf)- 55 63 95 113
Variaccedilatildeo diferenccedila
παρέγκλισις pareacutenklisis (sf lat clinamen)- 280 Us 351 Us
Declinaccedilatildeo Pareacutenklisis eacute um termo que natildeo consta nos tex-
Physiologiacutea
52 53
tos atribuiacutedos agrave Epicuro no entantoeacute possiacutevel lecirc-lo nas ins-criccedilotildees em perdra do epicurista Dioacutegenes de Enoanda(frg 54 II 3 III 14 Smith)Este termo tambeacutem aparece em Aeacute-cio I 12 5 (280 Us) em texto cujo autor enumera os tipos de movimento dos aacutetomos A versatildeo latina deste termo eacute mais conhecida clinamen14 As teorias a respeito da declinaccedilatildeo dos aacutetomos foram anunciadaspelo epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro no segundo canto de seu poema De Rerum Natura
Quando os corpos satildeo levados em linha reta atraveacutes do vazio e de cima para baixo pelo seu proacuteprio peso afastam-se um pouco (depellere paulum) da sua trajetoacuteria em altura incerta e em incerto lugar e tatildeo somente o necessaacuterio para que se possa dizer que se mudou o movimento (DRN II 216-220)
A declinaccedilatildeo se coloca como mais uma causa do movi-mento dos aacutetomos aleacutem das causas puramente mecacircnicas colisotildees ausecircncia de resistecircncia do vazio ou o proacuteprio peso dos aacutetomos15 A declinaccedilatildeo natildeo tem causa externa mas eacute um princiacutepio interno assim como o peso mas que diferente deste natildeo promove o percurso dos aacutetomos em uma direccedilatildeo constante antes luta contra toda determinaccedilatildeo introduzin-do na phyacutesis o acaso como causa de ser O elemento casual se encontra nas ocasiotildees em que os aacutetomos tendem a desviar de sua trajetoacuteria descendente ldquoem altura incerta e em incerto
14 Lucreacutecio tambeacutem usa outros termos para designar o des-vio do aacutetomo tais quais depellere declinare inclinare (DRN II 219221250253259243) O termo clinamen aparece apenas uma vez no verso 292 do livro II (Cf GIGANDET 2001 p 24 n3) ldquoClinamen parece ter sido criado por Lucreacutecio para evitar clinatio que natildeo podia entrar em seus versos hexacircmetros (SALEM 1997 p 67)
15 O doxoacutegrafo Aeacutecio afirma que ldquoOs aacutetomos se movem ora segundo a reta ora segundo o desvio (katagrave pareacutenklisin) os movimentos para cima ocorrem segundo o choque e a rebatidardquo (280 Us) cf DRN II 285-286
Primeira parte
54 55
lugarrdquo somente ldquoum poucordquo (paulum) sem causa aparente sem choques que constranjam seu deslocamento e indo de encontro agraves determinaccedilotildees do peso
Satildeo dois os argumentos usados por Lucreacutecio para defender a tese do clinamen (nos versos II 216-293) 1) Se natildeo ocor-ressem desvios atocircmicos a natureza permaneceria esteacuteril ldquoo mundo natildeo poderia nascer a necessidade seria infecundardquo (GUYAU 1927 p 77) uma vez que natildeo haveria colisotildees atocircmicas nem consequentemente corpos compostos mun-dos seres etc 2) Somos livres e para tanto eacute necessaacuterio que as ldquocausas natildeo se sigam perpetuamente agraves causasrdquo (DRN II 255) antes deve haver movimentos atocircmicos que natildeo podem ser remetidos agrave causas exteriores ldquoA existecircncia desta curiosa propriedade dos corpos primevos pode ser deduzida da ob-servaccedilatildeo dos fenocircmenos imputaacuteveis agrave vontade dos seres vi-vosrdquo (SALEM 1997 p 167) Lucreacutecio para justificar o mo-vimento de declinaccedilatildeo dos aacutetomos propotildee primeiramente imaginar um ldquomomentordquo hipoteacutetico da eternidade em que nenhum agregado atocircmico existisse mas apenas aacutetomos iso-lados percorressem seu trajeto descendente ldquocomo gotas de chuvardquo16 Se assim fosse jamais um aacutetomo se encontraria ou colidiria com outro natildeo haveria corpos compostos mundos ou seres viventes
πέρας peacuteras (sn)- 41 59 88 133 X XVIII XIX XX XXI SV 48
Limite termo
16 Como esclarece Gigandet ldquoa queda primitiva e esteacuteril eacute colocada como uma ficccedilatildeo um simples momento abstrato permitindo reconstruir o movimento caoacutetico efetivordquo (2001 p 29)
Physiologiacutea
54 55
περιαίρεσις periaiacuteresis (sf)- 55
Suprimir retirar remover
περίληψις periacutelepsis (sf)- 56
Circunscriccedilatildeo
περιοχή periocheacute (sf)- 88
Envoltoacuterio invoacutelucro
περιπλοχή periplocheacute (sf)- 43 44 99
Entrelaccedilamento
περίστασις periacutestasis (sf)- 92 102 104 106 107 109 111
Estado disposiccedilatildeo circunstacircncia entorno
περιφέρεια peripheacutereia (sf)- 107 110
Periferia circunferecircncia forma circular
περιφερής periphereacutes (ad)- 109
Redondo circular
πηλίκος peliacutekos (ad)- 57
De uma certa grandeza
πύκνωμα pyacuteknoma (sn)- 36 50 105 115
Densidade compacidade consistecircncia
Primeira parte
56 57
πλεκτικός plektikoacutes (ad)- 43
Entrelaccedilado
πλεοναχός pleonachoacutes (ad)- 86 87 95
Diverso muacuteltiplo
πληγή plegeacute (sf)- 53 103102 280 Us
Golpe choque impacto Eacute o termo utilizado por Epicuro para nomear o choque entre os aacutetomos e os oacutergatildeos sensiacuteveis Eacute o modo de explicar como se produz a audiccedilatildeo o olfato e a visatildeo por exemplo
πλῆθος plecircthos (sn)- 41 65 89
Nuacutemero quantidade
πλήρης pleacuteres (ad)- 41 XL
Pleno compacto
πνεῦμα pneucircma (sn)- 63 100 101 102 103 104 105 106 107 115
Sopro vento respiraccedilatildeo focirclego
πνευματώδης pneumatoacutedes (ad)- 53 106 107
Semelhante agrave respiraccedilatildeo anaacutelogo ao vento
ποιότης poioacutetes (sf)- 43 44 54 55 56
Qualidade
Physiologiacutea
56 57
πόρος poacuteros (sm)- 47 61 107 111
Passagem
πρόβλημα proacuteblema (sn)- 86
Problema
προσδοχή prosdocheacute (sf)- 89
Recepccedilatildeo
προσκατανόησις proskatanoacuteesis (sf)- 79
Conhecimento adicional consideraccedilatildeo aprofundada
πρόσκρισιςproacuteskrisis(sf)- 90 109
Acrescento agregaccedilatildeo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto
πύκνωμαpyacuteknoma(sn)- 3650 105 115
Massa densa concentraccedilatildeo
πυκνῶς pyknocircs(adv)- 73
De modo compacto forte constante
ῥεῦμα rheyacutema (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo Termo utilizado para nomear o deslocamento dos aacutetomos atraveacutes do espaccedilo para afetar os oacutergatildeos sensiacuteveis e produzir as sensaccedilotildees
Primeira parte
58 59
ῥύσις rhyacutesis (sf)- 104
Fluxo
σάρξ saacuterx (sf)- 137 IV XVIII XX SV 4 SV 33
Carne corpo Na physiologia o corpo eacute pensado como um agregado (vide supraathroiacutesma- ἀθροίσμα) constituiacutedo de aacutetomos e vazio ou seja como um ente fiacutesico (soacutema) Num segundo sentido o corpo eacute pensado como uma estrutura orgacircnica viva o que tambeacutem quer dizer phyacutesis O saber acerca do corpo humano se faz atraveacutes do contato corpomundo e chamamos mundo o conjunto de coisas que satildeo fenocircmenos manifestos no mundo-realidade Segundo Epi-curo conhecemos as coisas quando sentimos sua expressatildeo em noacutes E neste sentido buscamos naturalmente afec-ccedilotildees que produzam sensaccedilotildees constitutivas e agradaacuteveis De certa maneira o corpo se comunica com as coisas do mundo provando-as e tendo como criteacuterio de escolha e rejeiccedilatildeo das afecccedilotildees possiacuteveis o prazer e a dor O corpo eacute um modo do conhecimento Epicuro pensa neste mesmo corpo a alma que eacute tambeacutem corpo mas distingue-se da carne por suas propriedades fiacutesicas e por sua funccedilatildeo ra-cional e imaginativa que articula as impressotildees sensiacuteveis e projeta-as enquanto pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) A perfeita interaccedilatildeo entre carne e alma transfor-ma as sensaccedilotildees em sentimentos ou ainda o que afeta a carne em compreensatildeo ou pensamento Neste contexto carne e alma natildeo podem ser pensados separadamente pois satildeo apenas um e as afecccedilotildees (paacutethe) (vide infra πάθος na segunda parte) soacute se expressam como prazer ou dor na in-teraccedilatildeo carnealma
Physiologiacutea
58 59
σέμνωμα seacutemnoma (sn)- 77
Majestade Palavra encontrada nos textos de Epicuro e de poucas ocorrecircncias depois dele
σκαληνός skalenoacutes (ad)- 109
Irregular
σπέρμα speacuterma (sn)- 38 66 74 89
Semente esperma Este eacute um termo importante da physio-logiacutea que ressalta a ideacuteia de que para cada coisa animal ou planta eacute necessaacuterio a sua semente (esperma) proacutepria e das condiccedilotildees favoraacuteveis agrave sua germinaccedilatildeo
στάσις staacutesis (sf)- 73 88 92
Repouso imoacutevel
στεγάζωstegaacutedzo (v)- 43 64 65 66
Recobrir proteger
στερεότης stereoacutetes (ad)- 44
Solidez firmeza
στοιχεῖον stoicheiacuteon(sn)- 36 37 44 47 86 128
Elemento princiacutepio
συγγενής syngeneacutes(ad)- 78 79 98 116 135
Congecircnere similar afim
60 61
Primeira parte
60 61
συγγένησις syngeacutenesis (sf)- SV 61
Reuniatildeo
συγγενικός syngenikoacutes (ad)- 129
Congecircnito Este termo caracteriza a relaccedilatildeo do homem com o prazer (vide infrahedoneacute-ἡδονή na terceira parte)ldquoO pra-zer eacute nosso bem primordial e congecircnito (syngenikoacutes)rdquo (DL X 129) O prazer possibilita ao epicurista uma vida de acordo com a natureza constituindo-se como uma evidecircncia praacuteti-ca a guiar o homem para a felicidade
σύγκρισις syacutenkrisis(sf)- 40 41 42 54 55 62 66 73 110
Composiccedilatildeo condensaccedilatildeo
σύγκρουσις syacutenkrusis(sf)-44 101
Colisatildeo choque Este termo ocorre pela primeira vez em Epicuro
συγκύρησις synkyacuteresis (sf)- 96 98115
Concurso coincidecircncia
σύγκυσις syacutenchysis (sf)- 88
Ruiacutena mistura
συλλογή syllogeacute (sf)- 99 103 106 115
Reuniatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
60 6160 61
συμπαθής sympatheacutes (ad)- 63
Co-afecccedilatildeo Palavra que explica a ligaccedilatildeo ou conexatildeo das partiacuteculas (aacutetomos) com o resto do agregado (corpo)
συμφόρησις symphoacuteresis (sf)- 59 69
Agrupar reunir O primeiro a utilizar este termo foi Epicu-ro
συμφυλία symphyliacutea (sf)- 115
Da mesma tribo ou raccedila apropriado apto Neste caso o termo refere-se agrave compatibilidade existente entre os aacutetomos na formaccedilatildeo de um composto (agregadocorpo) O termo tambeacutem pode ser usado por Epicuro e entendido metafo-ricamente no sentido das relaccedilotildees humanas praticadas na comunidade do Jardim
συνφωνία symphoniacutea (sf)- 86 87 98
Acordo concordacircncia consonacircncia
σύντονος syacutentonos(ad)- 102 XXX SV 4
Intenso tenso veemente
σύστασις syacutestasis (sf)- 48 99 107
Combinaccedilatildeo uniatildeo
σύστημα siacutestema (sn)- 66
Complexo associaccedilatildeo
Primeira parte
62 63
συστροφή systropheacute (sf)- 73 77 XXXIII
Concentraccedilatildeo amontoado
σχῆμα schecircma(sn)- 42 44 54 55 68 74
Forma figura Uma das propriedades dos aacutetomos
σχηματισμός schematismoacutes(sm)- 54 74 94 101 102 109
Configuraccedilatildeo maneira forma
σῶμα socircma (sn)- 39 40 41 42 47 48 55 56 63 66 68 69 70 71 86 94 101 127 128 131 SV 73 221 Us
Corpo Socircma traduz tanto a ideia de um aacutetomo isolado quan-to a de compostos atocircmicosEpicuro tambeacutem denomina os compostos de athroiacutesmaou syacutenkrisis(Vide supra nesta mesma parte) O que diferencia fundamentalmente o corpo atocircmico singular do corpo composto eacute a presenccedila de vazio entre os aacutetomos reunidos em composiccedilatildeo Um corpo composto se diferencia tambeacutem da unidade atocircmica pela emissatildeo de simu-lacros (Vide supra leptomereacutes λεπτομερής nesta mesma parte) fina camada de aacutetomos que se desprende dos corpos compos-tos permitindo assim o processo perceptivo De acordo com Morel ldquoa categoria fundamental da fiacutesica epicurista eacute a de lsquocorporsquo antes mesmo que a de aacutetomordquo (2013 p 57) Dioacutegenes Laeacutercio nos informa que os corpos compostos eram objeto de estudo de trecircs livros do Perigrave Phyacuteseos (Sobre a natureza) e tam-beacutem do seu Megaacutele Epitomeacute (Grande Compecircndio)
τάγμα taacutegma (sn)- 71
Status classe
Physiologiacutea
62 63
τάξις taacutexis (sf)- 48 97
Ordem disposiccedilatildeo regularidade
τάχος taacutechos (sn)- 46 102
Rapidez velocidade
ταχύς tachyacutes (ad)- 62 98
Veloz raacutepido
τελείωσις teleiacuteosis (sf)- 89
Cumprimento realizaccedilatildeo conclusatildeo
τελεσιουργέω telesiurgeacuteo (v)- 36
Realizar acabar perfazer
τομή tomeacute (sf)- 43 56
Divisatildeo
τροπή tropeacute (sf)- 76 79 93
Revoluccedilatildeo solstiacutecio
ὑδατοιειδής hydatoeideacutes (ad) - 106 107 109
Aquoso
φορά phoraacute (sf)- 46 47 49 60 61 62 70 76 101 107 115
Movimento deslocamento translado
Primeira parte
64 65
φυσικός physikoacutes (ad)- 86 90 127 130 134 XXIX XXX SV 21
Natural fiacutesico
φυσιολογία physiologiacutea (sf)- 37 78 85 XI XII SV 45
Investigaccedilatildeo da natureza A physiologiacutea eacute descrita por Epi-curo como o procedimento de investigaccedilatildeo da natureza ou de toda realidade fenomecircnica que se nos apresenta Mantendo-se fiel a uma tradiccedilatildeo que remonta aos primeiros pensadores da Jocircnia Epicuro define a physiologiacutea como um exerciacutecio constante de compreensatildeo dessa realidade que eacute para ele a phyacutesis Eis a razatildeo de fazer derivar a eacutetica de um saber para a vida que deve se constituir necessariamente num modo de ser de acordo com a natureza Deste modo o exerciacutecio de pensar a phyacutesis configura o modo de ser do filoacutesofo que percebe neste aprendizado o sentido proacuteprio da sua situaccedilatildeo no mundo enquanto ser dotado da capacidade do logismoacutes(vide infra λογισμός na segunda parte) ou seja de ser capaz de utilizar-se do pensamento para escolher e recusar tudo o que necessita ou natildeo respectivamente Mas este exerciacutecio de pensar a phyacutesis soacute seraacute possiacutevel porque para Epicuro a natureza eacute a fonte ou o princiacutepio da vida fiacutesica psiacutequica e eacutetica Pois ele revela ao pensamento em si indiacutecios que tornam possiacutevel a medida de realizaccedilatildeo de cada coisa e dentre elas do proacuteprio homem que emerge em seu proacuteprio seio e tem a necessidade de viver de acordo com ela (katagrave phyacutesin)
φύσις phyacutesis (sf)- 35 40 45 48 49 54 68 69 70 71 75 78 79 82 83 86 90 91 97 113 115 129 133 VI VII
Physiologiacutea
64 65
IX XII XV XXV XXX XXXI XXXVII SV 21 SV 24 SV 25 SV 37
Natureza A Carta a Heroacutedoto apresenta proposiccedilotildees fun-damentais acerca dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis Nela articulam-se aacutetomos corpos compostos mundos e o todo a fimde possibilitar a compreensatildeo da natureza das coisas desde a microestrutura do aacutetomo ateacute a noccedilatildeo de infinito Percebe-se que nesta carta Epicuro buscou tornar clara e ob-jetiva a possibilidade de conhecimento da realidade como podemos ver no primeiro momento que revelou a primeira questatildeo ou seja ldquocomo as coisas se realizamrdquo Neste sentido podemos afirmar metafisicamente que na Carta a Heroacutedo-to o olhar tornou-se indagaccedilatildeo e o pensamento estendeu a dimensatildeo deste olhar ao mais minuacutesculo dos limites e ao mesmo tempo ao absoluto ilimitado
Agrave busca desta compreensatildeo Epicuro chamou de physiologiacutea definindo com isso o procedimento reflexivo que enseja a filosofia Eis a razatildeo de ser phyacutesis o germe de seu pensamento pois a origem do filosofar coincide com a origem da phy-siologiacutea Ele faz emergir desta maneira no cerne do pen-samento helecircnico o problema originaacuterio da filosofia Mais que isso o expotildee como propedecircutico ao desenvolvimento de uma ldquovisatildeo de mundordquo ou realidade Assim ele sugere que a construccedilatildeo de um pensamento filosoacutefico tem um princiacutepio sendo este princiacutepio a phyacutesis
Para alcanccedilar estes objetivos voltou-se entatildeo para a estru-turaccedilatildeo dos modos de compreensatildeo dos fenocircmenos natu-rais elaborando explicaccedilotildees que evidenciassem o sentido fiacutesico e material das geraccedilotildees dos desenvolvimentos das corrupccedilotildees enfim das mutaccedilotildees ocorridas na natureza enfatizando a possibilidade mesma de compreensatildeo de tudo
Primeira parte
66 67
isso Com isso buscou desestruturar completamente as ex-plicaccedilotildees fundadas em imaginaacuterias causas sobrenaturais insurgindo-se contra a arrogacircncia das insistentes ldquoopiniotildees vaziasrdquo que as postulavam como origem da realidade Por-que sua ocupaccedilatildeo era a realizaccedilatildeo efetiva de pensar o sublime vir-a-ser e fazecirc-lo aparecer apenas como sublime e natildeo mais como misterioso17
Eacute verdade que nem tudo que pocircde compreender sobre a natureza das coisas coube na epiacutestola que escreveu ao dis-ciacutepulo Heroacutedoto Contudo guardadas as limitaccedilotildees de um compecircndio encontra-se ali a autecircntica e genuiacutena disposiccedilatildeo do conhecimento que insiste em ver o filoacutesofo como um descobridor Natildeo de uma parte mas do ldquotodordquo cuja inquie-taccedilatildeo inicial jaacute eacute a finalidade do conhecimento ou seja a compreensatildeo da realidade
Phyacutesis eacute segundo a etimologia da palavra o processo de cres-cimento ou gecircnese de alguma coisa e neste sentido Epicuro somente a utiliza quando se refere aos corpos compostos e aos mundos Num segundo sentido phyacutesis eacute princiacutepio (ar-cheacute) porque eacute aacutetomos e vazio e num terceiro sentido phyacutesis eacute o modo de ser do todo ilimitado
χρόνος chroacutenos (sm)- 47 62 7273 75 93 106 111 124 126 129 130 133 III IV IX XVI XIX XX XXXVII SV 4 SV 42 SV 46 Pap Herc 1418
Tempo duraccedilatildeo Quando percebido numa relaccedilatildeo sensiacutevel o tempo aparece associado agraves manifestaccedilotildees de movimento Haacute o tempo de transformaccedilatildeo do dia em noite do quente
17 Lucreacutecio no livro I do seu poema De Rerum Natura (62-80) diz que Epicuro buscou explicar ldquocientiacuteficamenterdquo as coisas da natureza e com isso tem livrado a humanidade das falsas crenccedilas e temores
Physiologiacutea
66 67
em frio do crescimento e das degeneraccedilotildees dos seres vivos etc A compreensatildeo da natureza do tempo definida por Epi-curo como ldquoo acidente dos acidentesrdquo (syacutemptoma symptoacutema-tos) (vide infra σύμπτωμα na segunda parte) pressupotildee uma relaccedilatildeo de acontecimentos diversos e sucessivos que podem ser identificados somente na constataccedilatildeo das alteraccedilotildees so-fridas pelos corpos O tempo eacute compreendido numa relaccedilatildeo entre o acidente ou a mudanccedila de propriedades de um corpo e o movimento geral de transformaccedilatildeo das coisas O tempo do todo e de cada aacutetomo eacute um tempo infinito o tempo soacute eacute quantificaacutevel em relaccedilatildeo aos corpos passiacuteveis de observaccedilatildeo cujas alteraccedilotildees de posiccedilatildeo peso tamanho e forma satildeo evi-dentes aos sentidos Atraveacutes da analogia estabelecida entre as mudanccedilas observadas e a projeccedilatildeo do pensamento ao niacutevel macroscoacutepico podem-se criar hipoacuteteses acerca da duraccedilatildeo dos seres
Devemos refletir atentamente nas percepccedilotildees elementares a partir das quais constituiacutemos essa essecircncia (tempo) no que ela tem de proacuteprio e de que partimos para medir o tempo De fato natildeo haacute necessidade de demonstrar pois a reflexatildeo nos basta para compreender que compomos o tempo com os dias e as noites com os nossos estados de paixatildeo ou impassi-bilidade com os movimentos e os repousos concebendo em tudo isso certo acidente comum que nos leva a pronunciar a palavra tempo (DL X 73)
O tempo natildeo tem existecircncia proacutepria como o espaccedilo ou a mateacuteria ele eacute intuiacutedo apreendido percebido nas modifi-caccedilotildees das coisas por isso a Epicuro bastou a reflexatildeo de tempo sendo desnecessaacuterio demonstraacute-la ou defini-la apenas pareceu-lhe importante apresentaacute-la articulada ao movimento Lucreacutecio sintetiza de modo brilhante o que seu
68 69
Primeira parte
68 69
mestre grego pensou sobre o tempo
O tempo natildeo existe em si mesmo mas eacute das proacuteprias coisas que proveacutem o sentimento do que se passou do que eacute pre-sente daquilo que viraacute Ningueacutem pode sentir o tempo em si exteriormente ao movimento ou ao repouso das coisas (DRN I 459 - 463)
Assim a compreensatildeo epicuacuterea de tempo apresenta-o como unidade de medida de duraccedilatildeo Esta duraccedilatildeo pode ser a de um corpo ou do estado de um determinado corpo por exemplo a duraccedilatildeo da dor pode ser percebida e dessa per-cepccedilatildeo infere-se uma medida que quantifica sua duraccedilatildeo Se a dor eacute um acidente do corpo a duraccedilatildeo da dor eacute um acidente do acidente que eacute a dor E aleacutem da dor o prazer e todas as coisas que ora permanecem ora se modificam satildeo experiecircncias que possibilitam a apreensatildeo do tempo como unidade de medida de duraccedilatildeo
Ao considerar o tempo desta maneira Epicuro admite que as noccedilotildees de infinito e finito indicam respectivamente a na-tureza imutaacutevel dos aacutetomos e do todo e a natureza mutaacutevel dos corpos e mundos pois soacute estes uacuteltimos possibilitam a percepccedilatildeo do tempo
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
χώρα choacutera (sf) - 40 XXXVI XXXVII
Espaccedilo lugar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
68 6968 69
SegundA PArte
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
70 71
ἄδηλος aacutedelos (ad)- 32 38 39 80 XXXV
Imperceptiacutevel invisiacutevel oculto incerto desconhecido Aacutedelos expressao que natildeo pode ser apreendido por meio dos sentidos mas que natildeo obstante pode ser inferido atraveacutes de analogias que partem dos dados sensoriais Vide infra analogiacutea-ἀναλογία (nesta mesma parte)
αἴσθησις aiacutesthesis (sf)- 31 32 38 39 44 48 55 58 59 62 63 64 65 68 71 82 90 91 124 XXIII XXIV 422 Us
Sensaccedilatildeo sentido sensibilidade percepccedilatildeo A sensaccedilatildeo eacute a base do conhecimento e da opiniatildeo Eacute o efeito imediato da afecccedilatildeo e tambeacutem o que eacute impresso na alma quando se transforma em proleacutepsis (impressatildeo sensiacutevel) Todo pen-samento que opera por analogia agraves coisas sensiacuteveis o faz sempre tendo em vista a sensaccedilatildeo
αἰσθητήριον aistheteacuterion (sn)- 50 53
Oacutergatildeo sensorial sentido
αἰσθετικός aisthetikoacutes (ad)- 64
Sensiacutevel perceptiacutevel
αἰσθητός aisthetoacutes (ad)- 47 244 Us 261 Us
Sensiacutevel perceptiacutevel
ἀκρίβεια akriacutebeia (sf)- 78 80 83
Exatidatildeo precisatildeo rigor
Segunda parte
72 73
ἀκρίβωμα akriacuteboma (sn)- 36 83
Exatidatildeo precisatildeo conhecer exatamente investigar com exatidatildeo Este termo soacute ocorre nos textos de Epicuro
ἀκρισία akrisiacutea (sf)- XXII
Incerteza confusatildeo inseguranccedila do ldquojuiacutezordquo Este termo se justifica pela indeterminaccedilatildeo do acaso com relaccedilatildeo aos aacutetomos que explica a transformaccedilatildeo do mundo sensiacutevel que pelo movimento causa os inuacutemeros juiacutezos E por natildeo conse-guir determinar o que ocorre no mundo eacute preciso manter-se tranquumlilo na busca do necessaacuterio e nas respostas que a razatildeo encontra
ἀλήθεια aleacutetheia (sf)- 31 S54
Verdade realidade Compreensatildeo ou busca desse conheci-mento da phyacutesis Segundo Epicuro tudo eacute sensiacutevel e a sensa-ccedilatildeo sempre eacute verdadeira Os aacutetomos estatildeo em constantes e diferentes configuraccedilotildees e natildeo haacute como imobilizar a verdade de um fenocircmeno porque ela estaacute no todo de acordo com uma resposta subjetiva que pretende natildeo se amedrontar diante do que natildeo sabe
ἀληθής aletheacutes (ad)- 51 62 244 Us
Verdadeiro Aquele que possui o controle dos seus juiacutezos e eacute conduzido pela razatildeo Eacute capaz da philiacutea(vide infra φιλία na terceira parte) pois possui condiccedilotildees de agir com justiccedila em relaccedilatildeo a outros e as suas proacuteprias escolhas natildeo privilegiando apenas a aparecircncia do prazer mas sim o que eacute considerado qualitativamente bom
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
72 73
ἀλογία alogiacutea (sf)-87 SV 62
Irracionalidade desrazatildeo
ἀλογίστως alogiacutestos (adv)- 135
Contra a razatildeo de modo irracional insensato
ἄλογος aacutelogos (ad)- 31 66 81 SV 62
Irracional privado de razatildeo ininteligiacutevel
ἀμφισβήτησις amphisbeacutetesis (sf)- XXIV
Incerteza duacutevida ambiguidade
ἀναγωγή anagogeacute (sf)- XXIII
Referecircncia
ἀναισθησία anaisthesiacutea (sf)- 81
Insensibilidade
ἀναλογία analogiacutea (sf)- 32 58 59
Analogia proporccedilatildeo A analogia se daacute quando o pensamento procede a comparaccedilatildeo entre o que eacute percebido pela sensaccedilatildeo e o que soacute pode ser pensado (ou inteligido) pois ocorre no niacutevel microcoacutesmico ou macrocoacutesmico A analogia torna possiacutevel a expansatildeo maacutexima da physiologiacutea
ἀναλόγως analoacutegos (adv)- 40
Analogamente
Segunda parte
74 75
ἀνεπιλόγιστος anepiloacutegistos (ad) SV 63
Natildeo calculado Este termo estaacute sempre associado a Epicuro nas suas ocorrecircncias
ἀντιμαρτυρέω antimartyreacuteo (v)- 34 47 48 50 51 55 88 92
Infirmar testificar contra receber prova contraacuteria contra-ditar As teorias que natildeo podem ser confirmadas (epimar-tyacuteresis) sensorialmente podem entretanto receber prova contraacuteria A infirmaccedilatildeo ou pelo contraacuterio a confirmaccedilatildeo de uma teoria eacute possiacutevel por meio da comparaccedilatildeo com os fenocircmenos observaacuteveis
ἀνυπέρβλητος anypeacuterbletos (ad)- 47
Insuperaacutevel enorme
ἀξίωμα axiacuteoma (sn)- 86
Axioma enunciado princiacutepio
ἀπάθεια apaacutetheia (sf)- 73
Apatia natildeo-afecccedilatildeo No sentido de que a natildeo-afecccedilatildeo resul-ta para Epicuro na impossibilidade de conhecer
ἀπιστία apistiacutea(sf)- SV 57
Incerteza incredulidade infidelidade Em Epicuro este termo estaacute relacionado agrave incerteza ou falta de confianccedila que resulta na ignoracircncia e na incapacidade de agir Natildeo haacute registro nos textos remanescentes de Epicuro das noccedilotildees de crenccedila (religiosa) ou fidelidade
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
74 75
ἀπόδειξις apoacutedeixis (sf)- 3873
Demonstraccedilatildeo explicaccedilatildeo definiccedilatildeo prova
ἀπόφασις apoacutephasis (sf)- 124
Declaraccedilatildeo afirmaccedilatildeo
ἀσύμβλητος asyacutembletos (ad)- 83
Incomparaacutevel muito superior a Palavra de uso restrito a Aristoacuteteles e Epicuro
βάσις baacutesis (sf)- 46
Cadecircncia ritmo movimento e estrutura Os aacutetomos que se destacam dos corpos e viajam no espaccedilo conservando a mesma cadecircncia (baacutesis) e disposiccedilatildeo (teacutesis)possibilitam as imagens
βλέψις bleacutepsis (sf)- 130
Exame olhar
γνῶσις gnoacutesis (sf)- 78 79 85 123 SV 27
Conhecimento ciecircncia Como Epicuro natildeo utiliza o termo episteacuteme a canocircnica ou teoria do conhecimento pode ser considerada uma gnoseologiacutea Assim todo conhecimento fenomecircnico da realidade que eacute a base da physiologiacutea eacute com-preendido como gnoacutesis
γνωστός gnostoacutes (ad)- 68
Conheciacutevel compreensiacutevel conhecido
Segunda parte
76 77
δήλωσις deacutelosis (sf)- 76
Designaccedilatildeo manifestaccedilatildeo declaraccedilatildeo indicaccedilatildeo prova
διαλαμβάνω dialambaacuteno (v)- 38 58 67 85 123 133
Distinguir compreender apreender
διαληπτός dialeptoacutes (ad)- 57
Dinstinguiacutevel concebiacutevel
διάληψις diaacutelepsis (sf)- 50 51 58 69
Distinccedilatildeo discernimento
διαλογισμός dialogismoacutes (sm)- 2284 138 Us
Consideraccedilatildeo raciociacutenio conversaccedilatildeo caacutelculo argumentaccedilatildeo
διανόησις dianoacuteesis (sf)- 63
Exerciacutecio da inteligecircncia atividade do pensamento
διάνοια diaacutenoia (sf)- 31 38 49 50 51 62 78 X XVIII XX XXIV
Inteligecircncia reflexatildeo pensamento mente
διαπίπτω diapiacutepto (v)- 98
Falhar escapar errar
διαχέω diacheacuteo (v)- XXX
Dissipar dispersar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
76 77
δόξα doacutexa (sf)- 33 34 35 37 52 77 81 123 132 XV XXIV XXIX XXX SV29 SV59 202 Us 247 Us 471 Us
Opiniatildeo doutrina crenccedila teoria convicccedilatildeo Em Epicuro a opiniatildeo concerne ao que pode ser percebido e que resulta da investigaccedilatildeo empiacuterica ou do que eacute imperceptiacutevel isto eacute natildeo suscetiacutevel de investigaccedilatildeo direta
δοξάζω doxaacutedzo (v)-37 38 90 XXII XXIV 247 Us
Opinar crer
δοξαστικός doxastikoacutes (ad)- XXIV
Apto a formar uma opiniatildeo o que conjectura
ἐγκατάλειμμα enkataacuteleimma (sn)- 50
Resiacuteduo resto
εἴδωλον eiacutedolon(sn)- 46 47 48 50 I SV 24 355 Us
Simulacro imagem iacutedolos Epicuro usa diversos termos para caracterizar as imagens Alguns dizem respeito agraves ima-gens como aquilo que emana dos corpos soacutelidos Assim ele chama de simulacros (eiacutedola) as imagens das formas que satildeo similares aos objetos soacutelidos Ele tambeacutem chama de tyacutepoi (reacuteplicas) (Vide infra τύπος nesta mesma parte) as imagens emanadas dos objetos e que atingem os oacutergatildeos da percepccedilatildeo Lecirc-se no passo 46 da Carta a Heroacutedoto
Assim existem as reacuteplicas (tiacutepoi) da mesma maneira que existem os soacutelidos mas que por sua fineza diferenciam-se dos corpos aparentes Com efeito nada impede que se for-mem no envoltoacuterio (meio em torno dos corpos) destacamen-
Segunda parte
78 79
tos que sejam de tal tipo nem que se encontrem as condiccedilotildees proacuteprias que permitam a produccedilatildeo de espaccedilos ocos (cavados) e finos (tecircnues) nem os efluacutevios que conservem exatamente a posiccedilatildeo e a base (estrutura) que eles tinham sucessivamente nos corpos soacutelidos Essas reacuteplicas noacutes as chamamos de iacutedolos ou simulacros (eiacutedola)
Epicuro utiliza o termo tyacutepoi para mostrar que tais imagens imprimem-se na alma atraveacutes dos oacutergatildeos sensiacuteveis e utili-za eiacutedola para estabelecer a diferenccedila entre as imagens que destacam-se dos compostos e os proacuteprios corpos compostos Entretanto os dois termos satildeo utilizados para caracterizar as finas camadas de aacutetomos mais sutis que se destacam dos corpos e atingem os sentidos Epicuro quer dizer ainda que a experiecircncia natildeo pode desmentir sua proposiccedilatildeo pois natildeo eacute possiacutevel discernir essas imagens que natildeo afetaram ainda o oacutergatildeo sensiacutevel O processo eacute muito raacutepido e soacute depois eacute que se pode pensar na maneira como tudo ocorreu O que estaacute posto aqui eacute que o simulacro conserva o mesmo arranjo (theacute-sin) ou disposiccedilatildeo dos aacutetomos tal qual figura nos corpos soacute-lidos (tocircn somaacuteton ti) Os simulacros satildeo caracterizados como efluacutevios (aporroaiacute) ou emanaccedilotildees (reuacutesis) que se destacam dos corpos e atingem os oacutergatildeos sensiacuteveis Aleacutem disso o fluxo pode conservar por algum tempo a disposiccedilatildeo e a ordem dos aacutetomos (theacutesin kaigrave taacutexin tocircn atoacutemon) Sem profundidade ou volume a imagem eacute formalmente idecircntica ao corpo do qual foi emanada poreacutem eacute reduzida agraves duas dimensotildees do plano Os simulacros podem ser entendidos como substitutos das coisas que permitem ao pensamento representaacute-las O que eacute pensado natildeo satildeo as coisas elas mesmas mas seus simulacros que natildeo tecircm realidade plena isto eacute natildeo satildeo corpos soacutelidos como as coisas mas satildeo reais porque satildeo constituiacutedos por
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
78 79
aacutetomos e vazios como qualquer corpo soacutelido A diferenccedila estaacute na sutileza (fineza) dos aacutetomos que os compotildeem
Os simulacros mantecircm a figura (skheacutema) dos corpos dando forma agrave imagem e os aacutetomos que compotildeem esta imagem possuem sutileza (leptoacutetes) (vide infra ληπτότης nesta mesma parte) e ligeireza (kouraacute) Isso explica porque os simulacros tecircm uma sutileza inconcebiacutevel pelo pensamento e inapreen-siacutevel aos sentidos As imagens que se pode perceber resul-tam da afecccedilatildeo dos simulacros sobre os oacutergatildeos sensiacuteveis As sensaccedilotildees satildeo efeitos da penetraccedilatildeo dos aacutetomos arranjados numa imagem-simulacro no corpo que as recebe
Assim as afecccedilotildees geram imediatamente as sensaccedilotildees que a princiacutepio podem ser de dois tipos ou agradaacuteveis ou desa-gradaacuteveis Epicuro usa o termo energeiacuteas(vide infra ἐνέργεια nesta mesma parte)para nomear o processo de produccedilatildeo das imagens e chama de sympatheiacuteas(vide supra συμπαθής na primeira parte) os estados perceptivos dos corpos afetados pelas imagens Continua Epicuro ainda no passo 46
Assim (ocorre) o movimento que se produz atraveacutes do vazio sem que nenhum choque com os corpos imponha resistecircncia aos simulacros que se movem numa velocidade inconcebiacutevel pelo pensamento
Como a emanaccedilatildeo de simulacros dos corpos eacute contiacutenua a imagem que percorre o espaccedilo perde algumas propriedades que satildeo logo supridas com a continuidade das emanaccedilotildees Este processo de regeneraccedilatildeo ou recomposiccedilatildeo compensa-toacuteria eacute chamado de antanaplerosis Epicuro a todo instante alerta para o fato de que os sentidos natildeo podem contradizer sua hipoacutetese explicativa porque trata-se de imagens im-perceptiacuteveis por dois motivos a saber primeiro porque as imagens satildeo compostas por aacutetomos de natureza mais sutil
Segunda parte
80 81
que os aacutetomos dos corpos concretos segundo porque a velocidade do movimento dos simulacros eacute inconcebiacutevel e incomensuraacutevel Toda a realidade compotildee-se de aacutetomos e vazio mas os aacutetomos satildeo qualitativamente diferentes sendo uns mais densos e outros mais sutis Os aacutetomos que formam as imagens satildeo de natureza sutiliacutessima
εἰκών eikoacuten (sf)- 51
Imagem reproduccedilatildeo iacutecone similitude
ἔκθλίψις eacutekthlipsis (sf)- 53 109
Expulsatildeo deslocamento
ἐλάχιστον (τὸ) elaacutechiston (tograve) (ad substantivado)- 58 281 Us
O miacutenimo
ἔμφασις eacutemphasis (sf)- 95
Aparecircncia aspecto
ἐναργής enargeacutes (ad)- 33 123
Evidente claro manifesto Eacute aquilo que se apresenta claramente ao pensamento e que portanto natildeo poder ser contradito nem pela percepccedilatildeo nem pelo pensamento (ou opiniatildeo)
ἐναργῶς enargocircs (adv)- 67
Evidentemente visivelmente claramente
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
80 81
ἔνδηλος eacutendelos (ad)- 52
Manifesto presente
ἐνέργεια eneacutergeia (sf)- 48 136 2 Us 219 Us
Forccedila (em accedilatildeo) atividade energia Haacute uma diferenccedila en-tre a versatildeo do texto grego utilizada por M Conche (1977) (ἐνέργειας) e a utilizada por Hicks (1925) (ἐνάργεια versatildeo de Gassendi) Para ver a definiccedilatildeo de ἐνάργεια vide supra enargocircs-ἐναργῶς (nesta mesma parte)
ἐννόῃμα ennoacuteema (sn)- 38
Noccedilatildeo ideia conceito significaccedilatildeo
ἔννοια eacutennoia (sf)- 33 576977 XXIV
Pensamento noccedilatildeo concepccedilatildeo ideia
ἐνότης enoacutetes (sf)- 52
Unidade
ἔνστημα eacutenstema (sn)- 91
Obstaacuteculo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto e significa aquilo que se interpotildee ao deslocamento dos aacutetomos no vazio
ἐξαιτιολογεῖν exaitiologeicircn (v inf)- 82
Buscar a causa ou explicaccedilatildeo de algo Primeira apariccedilatildeo do termo ocorre na Carta a Heroacutedoto
Segunda parte
82 83
ἐπαίσθησις epaiacutesthesis (sf)- 52 53
Sensaccedilatildeo percepccedilatildeo
ἐπιβλετικῶς epibletikoacutes (adv)-50
Por apreensatildeo (direta) por impressatildeo (direta)
ἐπιβολή epiboleacute (sf)- 31 35 36 38 50 51 62 69 70 83 XXIV
Apreensatildeo (intuitiva) projeccedilatildeo Pode ser traduzido por salto no sentido de alcance promovido pelo pensamento
ἐπιβολή τῆς διανοίας epibolegrave tecircs dianoiacuteas- 31 38 51 XXIV
Projeccedilatildeo (salto) do pensamento Expressatildeo fundamental que indica a operaccedilatildeo do pensamento quando este articula a expo-siccedilatildeo da realidade Epicuro postula que esta operaccedilatildeo eacute ime-diata e por isso ele utiliza a imagem de um ldquosaltordquo ou de uma ldquoprojeccedilatildeordquo do pensamento para caracterizar a formulaccedilatildeo ou apreensatildeo de uma explicaccedilatildeo acerca da realidade sensiacutevel ou no procedimento de pensar por analogia ao sensiacutevel
ἐπίδηλος epiacutedelos (ad)- 48
Perceptiacutevel visiacutevel
ἐπικρίνειν epikriacutenein (v inf)- 37
Distinguir decidir julgar
ἐπιλογίζεσθαι epilogiacutezesthai (v inf)- 72 133 XXII SV 35
Considerar refletir ter em conta
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
82 83
ἐπιλογισμός epilogismoacutes (sm)- 73 XX
Reflexatildeo caacutelculo
ἐπιμαρτυρεῖν epimartyreicircn (v inf)- 34 50 51 XXXVII
Confirmar testemunhar atestar Vide supra antimartyreacuteo -ἀντιμαρτυρέω verbo de sentido oposto (nesta mesma par-te)
ἐπιμαρτύρεσις epimartyacuteresis (sf)- XXIV 247 Us
Confirmaccedilatildeo Termo utilizado pela primeira vez por Epicu-ro
ἐπίνοια epiacutenoia (sf)- 32 45
Concepccedilatildeo noccedilatildeo doutrina
ἐπιπολή epipoleacute (sf) - 48
Superfiacutecie No texto utilizado por Bollack (1971) o termo aparece diferente ἐπὶ πολλή
ἐπίρρυσις epiacuterrysis (sf)- I
Afluxo influxo fluxo
ἐπιτηδειότης epitedeioacutetes (sf)- 46
Condiccedilotildees proacuteprias propriedade materiais
θεωρητός theoretoacutes (ad)- 47 57 62 I 355 Us
Visiacutevel discerniacutevel perceptiacutevel observaacutevel Pelo nuacutemero de
Segunda parte
84 85
ocorrecircncias da expressatildeo ldquoτοὺς διὰ λόγου θεωρητοὺςrdquo vecirc-se a importacircncia da conexatildeo que realccedila a noccedilatildeo de ldquovista pelo pensamentordquo Elas se datildeo principalmente na Carta a Heroacutedoto Quando associada a logos a expressatildeo adquire o sentido de ldquovisatildeo do pensamentordquo isto eacute aquela capaz de perscrutar as coisas invisiacuteveis Portanto o pensamento que estabelece a realidade e a constituiccedilatildeo dos corpos pela aglomeraccedilatildeo dos aacutetomos se remete agrave uma ldquovisatildeordquo dos corpos elementares
θεωρία theoriacutea (sf) - 35 59 86 116 128
Estudo visatildeo contemplaccedilatildeo
ἰδιότης idioacutetes (sf)- 5871
Particularidade caraacuteter proacuteprio singularidade individuali-dade
ἰδιότροπος idioacutetropos (ad)- 52
Caracteriacutestico distintivo especiacutefico Termo usado pela pri-meira vez por Epicuro
ἰδίωμα idiacuteoma (sn)-72 109
Qualidade particular caraacuteter proacuteprio
κανών kanoacuten (sm)-129
Canocircn criteacuterio regras O comentaacuterio feito por Dioacutege-nes Laeacutercio que se inicia no passo 29 do Livro X tem por objetivo expor a doutrina de Epicuro de modo resumido dividindo-a em trecircs partes e caracterizando o que ele con-
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
84 85
sidera elementar para o leitor Para comeccedilar ele jaacute interfere na compreensatildeo que o leitor pode ter do pensamento em questatildeo quando subdivide a filosofia em canocircnica fiacutesica e eacutetica Eacute preciso discordar dessa subdivisatildeo Note-se que em nenhum momento na Carta a Heroacutedoto Epicuro faz menccedilatildeo a esta divisatildeo estabelecida por Dioacutegenes Laeacutercio Ao con-traacuterio eacute este uacuteltimo que afirma no final desse passo que os epicuristas satildeo os autores de tal divisatildeo Ele natildeo diz de quais epicuristas estaacute falando nem que eacute de Epicuro essa divisatildeo Esse eacute um problema tiacutepico da doxografia e mais do que isso das apropriaccedilotildees que foram feitas dos textos da filosofia an-tiga em geral
Na leitura interpretativa aqui pretendida desconfia-se desta triparticcedilatildeo da filosofia de Epicuro e postula-se que a filosofia eacute um todo que integra a physiologiacutea agrave eacutetica e entende os cri-teacuterios para o conhecimento (tograven kaacutenon) como parte introdu-toacuteria da physiologiacutea ou ainda um meacutetodo explicativo acerca do modo como se produz o conhecimento considerando-o como efeito da natureza O homem produz conhecimentos como modo proacuteprio de se realizar e o conhecimento que ele produz eacute efeito da sua relaccedilatildeo afetiva com a natureza Assim Epicuro tenta recuperar aspectos do pensamento grego18 in-tegrando-os ao seu exerciacutecio de pensar a realidade e o modo como se pode conhececirc-la
κατάληψις kataacutelepsis (sf)- 33
Apreensatildeo
18 Notadamente os pensadores ditos ldquopluralistasrdquo do seacutec V aC como Empeacutedocles Anaxaacutegoras e Demoacutecrito Neste sentido acredita-se que Epi-curo manteacutem-se como um physiologoacutes
Segunda parte
86 87
καταμετρέω katametreacuteo (v)- 58 XIX
Medir calcular
κατεργασία katergasiacutea (sf)- 46
Produccedilatildeo confecccedilatildeo
κρίσις kriacutesis (sf)- XXIV
Discriminaccedilatildeo juiacutezo julgamento
κριτήριον kriteacuterion (sn)- 30 31 38 51 52 82 116 XXIV
Criteacuterio padratildeo de julgamento
ληπτότης leptoacutetes (sf)- 46 47
Fineza sutileza
λογισμός logismoacutes (sm)- 32 39 75 76 117 132 144 145 XVI XIX 517 Us
Raciociacutenio caacutelculo O logismoacutes ou caacutelculo raciociacutenio ou ainda ldquomecanismordquo ou ldquoinstrumentordquo do pensar eacute para Epicuro o que torna possiacutevel a elaboraccedilatildeo do pensamen-to (diaacutenoia) Eacute tambeacutem o que possibilita as analogias que conduzem o pensamento desde as impressotildees sensiacuteveis agraves elaboraccedilotildees de explicaccedilotildees sobre tudo o que natildeo eacute percebido pelos sentidos
Trata-se portanto de um conceito fundamental para enten-der o papel do pensamento na deliberaccedilatildeo acerca do modo de vida do homem no mundo uma vez que ele calcula ou mensura o alcance e o limite da accedilatildeo humana ou seja eacute
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
86 87
atraveacutes da reflexatildeo que se daacute a medida do agir
Sempre que Epicuro se refere ao exerciacutecio do pensamento ou reflexatildeo o termo utilizado eacute logismoacutes pois entende o exerciacute-cio como ato de pensamento ou operaccedilatildeo do pensamento Eacute sempre a partir do logismoacutes que se julga ou delibera e a accedilatildeo subsequente expressa uma sabedoria (vide infraphroacutenesis φρόνησις na terceira parte) que eacute na praacutetica capacidade de discernir de escolher e de recusar Podemos identificar em diversas passagens do texto de Epicuro o uso deste termo com efeitos de caacutelculo direcionamento da accedilatildeo operaccedilatildeo com analogias etc As seis passagens a seguir mostram es-tes usos ldquoCom efeito a existecircncia de corpos eacute atestada em toda a ocasiatildeo pelos sentidos e eacute neles que o logismoacutes deve basear-se para conjecturar acerca do sensiacutevelrdquo (DL X 39) ldquoEacute preciso ainda compreender que a natureza tem recebido ainda das realidades mesmas um ensinamento muacuteltiplo e variado e que mais tarde o logismoacutes introduziu precisotildees e acrescentou descobertas ao que a natureza transmitiu em certos casos mais rapidamente em outros mais lentamen-te em certos periacuteodos e momentos alcanccedilando progressos maiores em outros menoresrdquo (DL X 75) ldquoAs causas dos males praticados pelos homens satildeo o oacutedio a inveja e o des-prezo que o saacutebio domina por meio do logismoacutes Aquele que se torna saacutebio uma vez nunca mais assumiraacute nem fingiraacute as-sumir voluntariamente uma atitude contraacuteriardquo (DL X 117) ldquoNatildeo eacute a sucessatildeo ininterrupta de banquetes e festas nem o prazer sexual com meninos e mulheres nem a degustaccedilatildeo de peixes e outras iguarias oferecidas por uma mesa suntuosa que proporciona a vida agradaacutevel e sim o nephroacuten logismoacutes (caacutelculo soacutebrio) que investigue as causas de toda a escolha e de toda a rejeiccedilatildeo e elimine as opiniotildees vatildes por obra das
Segunda parte
88 89
quais um imenso tumulto se apossa das almasrdquo (DL X 132) ldquoRaramente o acaso atinge o saacutebio pois as coisas principais e fundamentais tecircm sido governadas pelo logismoacutes e por todo o curso da vida o governa e o governaraacuterdquo (DL X 144) ldquoO tempo infinito conteacutem o mesmo prazer que o tempo finito se os limites deste prazer satildeo calculados (com o logismoacutes)rdquo (DL X 145)
O uso do termo logismoacutes daacute sentido e linearidade agrave psicologia epicuacuterea na medida em que busca explicitar os agenciamentos das imagens discursivas que representam tanto as realidades aprendidas pelos sentidos quanto agraves apreendidas pelo pensamento A tentativa de mostrar como a alma opera o conhecimento ou o modo como o pensamento eacute elaborado denota a relevacircncia dessas explicaccedilotildees para uma physiologiacutea da alma
λόγος loacutegos (sm)- 32 47 59 62 83 86 I XXV SV 26 36 Us 221 Us 355 Us
Discurso pensamento argumento razatildeo Epicuro utiliza vaacuterias vezes este termo com sentidos diversos por isso ele pode ser traduzido dependendo da ocasiatildeo por todas as palavras aqui elencadas
μαντική mantikeacute (ad)- SV 24
(Arte) Divinatoacuteria profeacutetica
μάθησις maacutethesis (sf)- SV 27
Accedilatildeo de aprender desenvolver instruir conhecimento ins-truccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
88 89
μέγεθος meacutegethos (sn)- 41 43 44 49 54 55 56 57 58 59 68 69 91 III
Grandeza magnitude tamanho
μεταβατός metabatoacutes (ad)- 58
Passiacutevel de ser atravessadas que admite passagem Palavra de uso exclusivo de Epicuro
μῆκος mecirckos (sn)- 46 59 98
Extenccedilatildeo longitude
μνήμη mneacuteme (sf)- 31 35 36 82 83 85 95 255 Us
Memoacuteria Nos textos remanescentes de Epicuro identifi-camos onze ocorrecircncias de termos relacionados agrave memoacuteria (mneacuteme) que evidenciam a importacircncia dada pelo filoacutesofo aos exerciacutecios de memorizaccedilatildeo Exemplo disso eacute o iniacutecio da Carta a Heroacutedoto onde podemos ler
Para os incapazes de estudar acuradamente cada um dos meus escritos sobre a natureza Heroacutedoto ou de percorrer detidamente os tratados mais longos preparei uma epiacutetome de todo o meu sistema a fim de que possa conservar bem gravado na memoacuteria o essencial dos princiacutepios mais impor-tantes e estejam em condiccedilotildees de sustenta-los em quaisquer circunstacircncias desde que se dediquem ao estudo da natureza Aqueles que progredirem suficientemente na contemplaccedilatildeo do universo devem ter na memoacuteria os elementos fundamen-tais de todo o sistema pois necessitamos frequentemente de uma visatildeo de conjunto embora natildeo aconteccedila o mesmo com os detalhes (DL X 35 p 291)
Segunda parte
90 91
Nessa passagem Epicuro utiliza duas vezes a noccedilatildeo de me-moacuteria a primeira quando sugere que os disciacutepulos receacutem iniciados no estudo da phyacutesis devem gravar na memoacuteria (Eacuten te mneacuteme) o essencial dos princiacutepios da physiologiacutea a se-gunda quando adverte que eles devem estar sempre prontos para expor uma visatildeo de conjunto (athroacuteas epiboleacutes) de toda a physiologiacutea e para isso devem guardar na memoacuteria (mnemo-neuein) o sistema
Na passagem seguinte (36) ele utiliza duas vezes o termo memoacuteria para enfatizar que os recursos mnemocircnicos devem ser utilizados em todo momento para evitar as crenccedilas e as opiniotildees vazias (kenoacuten doxai) (vide supradoacutexa δόξα nesta mesma parte) uma vez que quando fixadas na memoacuteria as explicaccedilotildees acerca da natureza das coisas a conduta do saacutebio jamais seraacute perturbada por imagens discursivas fantasiosas imaginativas que apontem para causas sobrenaturais Eacute ne-cessaacuterio lembrarmos sempre que o propoacutesito da filosofia de Epicuro eacute o exerciacutecio da vida feliz (makaacuterios zeacuten) e que como escreveu Jean Salem ldquoo caminho que conduz agrave felicidade leva em conta o aniquilamento das perturbaccedilotildees causadas em noacutes pelas opiniotildees vazias o que soacute eacute possiacutevel quando haacute a memorizaccedilatildeo dos princiacutepios da physiologiacutea19
μοναχῇ monachecirci (ad f)- 94
Uacutenica
μοναχός monachoacutes (ad)- 86 95
Uacutenico
19 SALEM J p 40
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
90 91
μοναχῶς monakhocircs (adv)- 80
Unicamente
μονοειδῶς monoeidocircs (adv)- 109
De um soacute tipo ou aspecto
μῦθος myacutethos (sm)- 81 87 104 116 134 XII
Mito lenda faacutebula
νομοθεσία nomothesiacutea (sf)- 86
Atos ldquolegiferantesrdquo leis impostas leis convenciondas arbitra-riamente princiacutepios arbitraacuterios
νόημα noacuteema (sn)- 48 61 83
Pensamento o que foi inteligido
νόησις noacuteesis (sf)- 33 (255Us) 123
Faculdade de pensar inteligecircncia
ὁμοιομερής homoiomereacutes (ad)- 52
Partes semelhantes partiacuteculas homogecircneas
ὁμοιόμορφος homoioacutemorphos (ad)- 49
Mesma forma contorno similar
ὁμοιοσχήμων homoioscheacutemon (ad)- 46
Com forma semelhante
Segunda parte
92 93
ὁμοιότης homoioacutetes (sf)- 32(36 Us) 51
Semelhanccedila parecenccedila
ὁμοίωμα homoiacuteoma (sn)- 46
Equivalente similar correspondente
ὁμούρησις homuacuteresis (sf)- 64
Contiacuteguidade vizinhanccedila Esta eacute uma versatildeo dialetal do iocircnico-aacutetico correspondendo agrave comum homoacuteresis palavra usada a partir de Epicuro
ὁμόχροος homoacutechroos (ad)- 49
Que tem a mesma cor que tem cor semelhante
ὀξύς oxyacutes (ad)- 48
Raacutepido
ὅρος hoacuteros (sm)- III XI
Limite Epicuro usa dois termos para se referir agrave ideia de limite peacuteras e hoacuteros (vide supra πέρας na primeira parte) Ambos satildeo utilizados indiscriminadamente com o sentido de limite Eles se referem sobretudo aos limites dos desejos e dos prazeres Epicuro deixa claro que o prazer tem por natureza limites determinados
πάθος paacutethos (sn)- 31 34 38 52 55 63 73 75 82 116 129 XXIV SV 18 191 221 241 Us
Afecccedilatildeo sentimento estado paixatildeo Epicuro preconiza que
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
92 93
todo conhecimento sensiacutevel tem iniacutecio na afecccedilatildeo que ocor-re quando o oacutergatildeo sensiente entra em contato com um ob-jeto externo Desta maneira o paacutethos eacute o que gera em noacutes a sensaccedilatildeo (vide supraaiacutesthesis - αἴσθησις nesta mesma parte) que eacute retida na memoacuteria transformando-se em sentimento ou impressatildeo sensiacutevel (Vide infraproleacutepsis πρόληψις nesta mesma parte) O movimento do pensar decorre das impre-esotildees rememoradas e operadas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias (phantastikeacute epiboleacute) do pensamento (tegraves diaacutenoias) (Vide su-pra ἐπιβολή τῆς διανοίας nesta mesma parte)
παρὸν (τό) parograven (toacute) (v substantivado)- XXIV 247 Us
O presente O verbo πάρειμι se substantiva em τὸ παρόν
περὶεχον (τό) perigraveechon (toacute) (v substantivado)- 46 48
O que circunda rodeia envolve cerca
περιληπτός perileptoacutes (ad)- 40 46
O que apreende abarca compreende
περιοιδεία periodeiacutea (sf)- 36 83 85
Percorrer (com o pensamento)
περίοδος periacuteodos (sm)- 75 77 83 97
Periacuteodo revoluccedilatildeo oacuterbita
πιθανολογοὺμενον (τό) pithanologugravemenon (toacute) (v substantivado)- 87
Alegaccedilatildeo plausiacutevel opiniatildeo verossiacutemil ou provaacutevel
Segunda parte
94 95
πίστις piacutestis(sf)- 63 85 SV 7 S34
Crenccedila convicccedilatildeo certeza
πρόληψις proacutelepsis (sf)- 31(35 Us) 33 (255 Us) 72 124 XXXVII XXXVIII
Prenoccedilatildeo antecipaccedilatildeo preconcepccedilatildeo representaccedilatildeo no sentido de impressatildeo na alma As proacutelepsis satildeo as noccedilotildees que estruturam a realidade no pensamento Elas podem representar os objetos que estatildeo fora dos indiviacuteduos e satildeo apreendidos pelos sentidos quando os simulacros neles penetram ou podem ser efeitos dos processos operacionais do pensamento tais como as analogias as compraraccedilotildees e as combinaccedilotildees Elas constituem imagens conceituais que satildeo articuladas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento (phantastikaacutei epibolaigrave tegraves dianoiacuteas) Com isso Epicuro quer explicitar a capacidade do pensamento de pensar o que eacute invisiacutevel (aacutedelon) mediante analogia com o que se tornou visiacutevel pela sensibilidade Mais que isso ele tenta expor os mecanismos internos do pensa-mento quando se produz a opiniatildeo o conhecimento o reconhecimento a articulaccedilatildeo das informaccedilotildees retidas na memoacuteria sob a forma de imaginaccedilatildeo criaccedilatildeo etc O que estaacute sendo construiacutedo eacute um invisiacutevel a partir do visiacutevel e este invisiacutevel conecta associa integra os corpos visiacuteveis numa rede loacutegica ou discursiva Trata-se da representa-ccedilatildeo ou do pensamento como representaccedilatildeo imageacutetica da realidade
προδοξάζω prodoxaacutedzo (v)- 50 62
Pressuposiccedilatildeo presunccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
94 95
προσμένον (τὸ) prosmeacutenon (tograve) (v substantivado)- 34 38 50 XXIV
A espera
ῥεῦμα rheŷma (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo
σημεῖον semeicircon (sn)- 87 97 183 Us
Sinal indiacutecio
στερέμνιον stereacutemnion (ad)- 46 48 50
Soacutelido
συμβεβηκός symbebekoacutes (sn)- 40 50 68 71
Propriedade atributo Em alguns casos pode ser traduzido por ldquoacidenterdquo Epicuro diferencia entre as propriedades permanentes (symbebekoacutes) e as propriedades acidentais (syacutemptoma)20 Todas as qualidades acidentais estatildeo sujeitas agrave mudanccedila poreacutem as propriedades permantes satildeo necessaacuterias e imutaacuteveis Forma tamanho e peso satildeo propriedades per-manentes do aacutetomo (ver supraaacutetomos - ἄτομος na primeira parte)
σύμμετρος syacutemmetros (ad)- 47 50 53 61 91
Simeacutetrico proporcional comensuraacutevel
20 Cf Morel 2013 p 57
Segunda parte
96 97
συμμέτρως symmeacutetros (adv)- 110
Simetricamente proporcionalmente
συμπάθεια sympaacutetheia (sf)- 48 50 52 53 64
Simpatia afinidade correspondecircncia Eacute o modo como os objetos exteriores nos afeta causando uma correspondecircncia entre os objetos neles mesmos e como os sentimos ou perce-bemos A sympaacutetheia ocorre quando haacute uma afinidade entre os aacutetomos do corpo ou de uma imagem que nos afeta e o oacutergatildeo por ele afetado Este acordo gera uma correspondecircn-cia natural entre os corpos que se afetam mutuamente
συμπλήρωμα sympleacuteroma (sn)- 48
Completude inteireza plenitude Palavra rara encontrada somente em Aristoacuteteles e Epicuro
σύμπτωμα syacutemptoma (sn)- 40 64 67 70 71 73
Acidente incidecircncia sintoma
συνεχής synecheacutes (ad)- 36 48 50 62 82 105 I XVI SV67
Contiacutenuo constante incessante
σύνθεσις syacutenthesis (sf)- 32 (36 Us)
Siacutentese composiccedilatildeo uniatildeo
συνθεωρεῖν syntheoreicircn (v inf)- 96 102 116
Considerar em conjunto ter uma visatildeo geral
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
96 97
σύντομος syacutentomos (ad)- 76 84 SV4
Breve conciso
σύστοιχος syacutestoichos (ad)- 76
Que eacute do mesmo tipo
σχηματίζειν schematiacutezein (v inf)- 53
Moldar
τεκμαίρω tekmaiacutero (v)- 39
Inferir formar um juiacutezo
τέλος teacutelos (sn)- 85 128 131 133 XX XXII XXV SV 25 SV 75
Fim finalidade objetivo
τόπος toacutepos (sm)- 47 60 62 75 89 98 103 105 108 111 112 113 115 XXXIII
Lugar regiatildeo
τρόπος troacutepos (sm)- 87 94 95 96 97 99 101 102 104 106 108 112 115 SV 62
Modo maneira meacutetodo
τύπος tyacutepos (sm)- 33(255 Us)35 36 45 46 49 68
Modelo esquema impressatildeo reacuteplica figura imagem Vide supraeiacutedolon-εἴδωλον (nesta mesma parte)
Segunda parte
98 99
ὑπεναναντίος hypenantiacuteos (ad)- 77 81
Contraacuterio incompatiacutevel inconsistente
ὑπεξαίρεσις hypexaiacuteresis (sf)- III
Remoccedilatildeo eliminaccedilatildeo supressatildeo
ὑπόθεσις hypoacutethesis- 95
Hipoacutetese
ὑπόληψις - hypoacutelepsis (sf)- 34 124
Suposiccedilatildeo conjectura O termo hypoacutelepsis eacute equivante ao ter-mo doacutexa Epicuro diz que a crenccedila nos deuses satildeo hipoleacutepseis pseudecircis ie suposiccedilotildees falsas As hypoleacutepseis satildeo suposiccedilotildees que natildeo necessariamente correspondem agrave realidade Diferente de proacutelepsis(vide supra proacutelepsis-πρόληψις nesta mesma par-te) este termo indica uma ideia que natildeo passou pelo crivo da sensibilidade ou pelos outros meios de confirmaccedilatildeo ou natildeo--infirmaccedilatildeo constituintes do meacutetodo gnosioloacutegico de Epicuro
φαινὸμενα (τά) phainogravemena (taacute) (v substantivado) - 32(36 Us) 46 47 54 55 60 71 86 87 88 90 92 93 95 97 98 100 102 104 112 113
Fenocircmenos aparecircncias o que eacute visiacutevel manifesto
φαντασία phantasiacutea (sf)- 50 80 247 Us
Representaccedilatildeo imagem
φάντασμα phaacutentasma (sn)- 32 (36 Us) 75 88 102 110
Visatildeo sonho apariccedilatildeo aparecircncia
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
98 99
φθόγγος phthoacutengos (sm)- 37 38 76 83
Som fala palavra
φωνή phoneacute (sf)- 36 45 53 XXXVII SV 33 SV 41 SV 45 SV 75
Voz expressatildeo palavra
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
ψεῦδος pseucircdos (sn)- 5051
Falsidade erro engano
ψυχή psycheacute (sf)- 63 64 65 66 67 68 77 81 122 128 131 132 SV 69 SV81 812 Us 314 Us 315 Us
Alma A compreensatildeo da alma como um corpo (soacutema) ou ainda como um agregado (aacutethroisma) de aacutetomos mais sutis que os componentes das realidades sensiacuteveis (corpossoacutemata) sefundamenta no pressuposto baacutesico da physiologiacutea atomista segundo o qual tudo o que existe eacute composto de aacutetomos e vazio A materialidade da alma eacute portanto uma consequecircncia loacutegica desse pressuposto Contudo o que ca-racteriza especificamente a mateacuteria da alma permanece um problema no contexto do pensamento atomista antigo de Demoacutecrito a Lucreacutecio uma vez que se manteacutem o caraacuteter metafiacutesico da questatildeo Ainda que a loacutegica seja inabalaacutevel do ponto de vista do discurso a impossibilidade de uma de-monstraccedilatildeo fiacutesica resguarda a alma no cerne da obscuridade Epicuro entretanto tentou agrave sua maneira fugir agraves represen-
Segunda parte
100 101
taccedilotildees miacuteticas e ousou talvez mais que qualquer outro ateacute entatildeo perscrutar a natureza fiacutesica da alma tomando-a num corpo substancialmente ligado ao corpo-carne Tal ligaccedilatildeo enquanto questatildeo constituiraacute doravante um imenso campo de investigaccedilatildeo cujas propriedades e possibilidades chegam ateacute os nossos dias sem entretanto mostrar-se completa e solucionada Apesar de todas as crenccedilas propagadas mun-do a fora sobre a imortalidade da alma e mesmo apesar dos discursos filosoacuteficos ancorados nesta crenccedila Epicuro viu-se capaz de enxergar um caminho para expor a sua physiologiacutea da alma enquanto uma ldquopsicologiardquo que pensa a psycheacute como um princiacutepio corporal energeacutetico unificador do corpo A alma seraacute pensada tambeacutem a partir de Epicuro e ateacute hoje como um corpo dentro do corpo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
100 101
terceirA PArte
ethicaacute
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Ethicaacute
102 103102 103
ἀβέβαιος abeacutebaios (ad)- 134
Inseguro incerto
ἀδέσποτος adeacutespotos (ad)- 133
Sem senhor sem governo Epicuro usa este termo no contex-to da criacutetica agraves teses que desconsideram a liberdade e respon-sabilidade dos homens Adeacutespotos eacute umadjetivo relacionado agrave expressatildeo parrsquo hemacircsVide infra parrsquo hemacircs-παρ᾿ἡμᾶς (nesta mesma parte)
ἀδικία adikiacutea (sf)- XXXIV
Injusticcedila
ἀδιόριστος adioacuteristos (ad)- 81
Natildeo fixo indeterminado indefinido
ἀδροτής adroteacutes (sf)- 83
Vigor forccedila
ἀθανασία athanasiacutea (sf)- 124
Imortalidade Na Carta a Meneceu Epicuro considera que o desejo de imortalidade eacute um desejo vatildeo assim como consi-dera que natildeo haacute nada a temer em relaccedilatildeo a morte
ἀθάνατος athaacutenatos (ad)- 135 SV78
Imortal Epicuro utiliza o termo imortal no sentido de qua-lificar o bem que resulta de uma vida sem perturbaccedilotildees que ele identifica com o bem maior que eacute o prazer
Terceira parte
104 105
ἀθορύβως athoryacutebos (adv)- 87
De modo impassivo tranquilo
αἵρεσις haiacuteresis (sf)- 128129132
Escolha eleiccedilatildeo
αἱρετός hairetoacutes (ad)- 30129
Escolhido
ἀκέραιος akeacuteraios (ad)- XII
Puro natildeo-misturado
ἀλγηδών algedoacuten (sf)- 129 137 XI SV 4 SV 3773
Dor sofrimento Diz-se da dor que antecede ou sucede o prazer ou ainda quando algo que parece prazeiroso acaba resultando em dor pelo uso desmedido que dele se faz E tambeacutem a ausecircncia de felicidade causada por dores do corpo Os desejos encontram-se sem controle e difiacuteceis de serem saciados onde o corpo encontra-se desesperado atraacutes de enormes prazeres e apavorado por fugir do que lhe causa medo
ἀνάπαυσις anaacutepausis (sf)- 125
Cessaccedilatildeo repouso
ἀνυπεύθυνος anypeuacutethynos (ad)- 133
Irresponsaacutevel
Ethicaacute
104 105
ἀόριστος aoacuteristos (ad)- SV 59
Natildeo limitado ilimitado
ἀοχλησία aochlesiacutea (sf)- 127
Tranquumlilidade natildeo interrompida Refere-se a tranquilidade do corpo
ἀόχλητος aoacutechletos (ad)- SV 79
Natildeo agitado tranquumlilo Palavra rara usada a partir de Epicu-ro
ἅπαξ haacutepax(adv)57 128 XVIII 222 Us
Uma vez de uma vez Em Epicuro este adveacuterbio se presta a evidenciar o limite temporal dos prazeres e dores ldquoUma vez (haacutepax) este estado realizado em noacutes (ausecircncia de sofrimento e termor) toda a tempestade da alma desaparecerdquo (DL X 128) Isso significa que eacute impossiacutevel haver simultaneidade de dores e prazeresldquoO prazer na carne natildeo cresce uma vez (haacutepax) suprimida a dor da necessidaderdquo (XVIII) Epicuro tambeacutem critica a opiniatildeo de que o prazer pode se intensifi-car ao infinito No entanto quando o prazer estaacute presente eacute possiacutevel apenas uma variaccedilatildeo do estado de prazer
ἀπογεγεννημένα apogegennemeacutena(sn)-Nat34 21-2 3426-30 (livro XXV)
Desenvolvimentos produtos Este termo aparece apenas no Perigrave phyacuteseos (Sobre a Natureza) Autores como Sedley (1987) Arrighetti (1960) Laursen (1991) e Orsquokeefe (2005) analisaram e propuseram traduccedilotildees para tagrave apogegenemeacutena
Terceira parte
106 107
das quais se destacam ldquodesenvolvimentosrdquo e ldquoprodutosrdquo O livro XXV do Perigrave phyacuteseos cujo tema principal eacute a liberdade aprofunda as resumidas explicaccedilotildees epistolares a respeito da relaccedilatildeo entre necessidade (anaacutenke) e liberdade assegurando que o homem pode desenvolver seu proacuteprio caraacuteter ainda que existam influecircncias necessaacuterias do meio ambiente (peri-eacutechon) Assim o que o homem desenvolve em relaccedilatildeo ao seu modo de ser eacute de sua inteira responsabilidade
ἀπόλαυσις apoacutelaysis (sf)- 131 132 SV 27
Gozo utilidade proveito
ἀπολαυστός apolaustoacutes (ad)- 124
Agradaacutevel Palavra usada a partir de Epicuro
ἀπονία aponiacutea (sf)- 136
Ausecircncia de dor ou sofrimento Assim como a ataraxiacutea eacute a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na alma a aponiacutea eacute ausecircncia de dor no corpo Isto quer dizer que o corpo encontra-se em equiliacutebrio ou experimenta um prazer katastemaacutetico
ἀρετή areteacute (sf)- 124 132 138
Excelecircncia virtude
ἀσεβής asebeacutes (ad)- 123 SV 43
Iacutempio
ἀσείστως aseiacutestos (adv)- 87
Ethicaacute
106 107
Inabalavelmente Adveacuterbio raro usado a partir de Epicuro
ἄστατος aacutestatos (ad)- 133
Instaacutevel inconstante
ἀσύμφορος asyacutemphoros (ad)- 130
Inconveniente desvantajoso
ἀσφάλεια asphaacuteleia (sf)- VIIXIII XIVXXVIII SV 31
Seguranccedila A asphaacuteleia estaacute relacionada agrave tranquumlilidade de uma vida equilibrada livre dos tormentos e dos pesares que resultam dos desejos desmesurados e da ignoracircncia
ἄσωτος aacutesotos (ad)- 131X
Dissoluto
ἀτάκτως ataacutectos (adv)- 134
Desordenadamente
ἀταράκτος ataraacutektos (ad)- XVII
Imperturbado
ἀταραξία ataraxiacutea (sf)- 82 85 96 128 2 Us
Imperturbabilidade equiliacutebrio tranquilidade da alma O termo grego ataraxiacutea pode ser traduzido por imperturbabili-dade equiliacutebrio e tranquilidade da alma Etimologicamente a melhor traduccedilatildeo eacute imperturbabilidade Este termo foi
Terceira parte
108 109
utilizado no sentido que iremos expor primeiramente por Demoacutecrito (Dem ap Estob273) e por Epicuro O que haacute de comum entre diversos pensadores do periacuteodo heleniacutestico eacute a relaccedilatildeo estabelecida por eles entre o ldquomodo de serrdquo (eacutethos) e a imperturbabilidade da alma Isso porque o estado da alma define o caraacuteter do indiviacuteduo e o que passa a interessar neste periacuteodo eacute a salvaguarda do bem estar do indiviacuteduo seja mediante a suspensatildeo do juiacutezo (epocheacute) entre os ceacuteticos seja como ausecircncia de paixotildees (apaacutetheia) entre os estoicos ou com o constante cuidado com a sauacutede (hygiacuteeia) da alma ou com a sua imperturbabilidade (ataraxiacutea) com Epicuro
Uma alma satilde tem o poder de ser princiacutepio de accedilatildeo (archeacute) de um indiviacuteduo dela deriva a sua altivez e simplicidade Este estado de alma caracteriza o que Epicuro chama makaacuterios zecircn (vida feliz) isto eacute ela eacute princiacutepio e fim da realizaccedilatildeo da proacutepria vida Por outro lado uma alma ldquoperturbadardquo que traz em si o peso das doenccedilas aniacutemicas caracteriza um modo de ser enfraquecido cujo poder de determinaccedilatildeo jaacute se esvaiu em meio a temores anguacutestias e desesperos O cuidado com a alma eacute para Epicuro um exerciacutecio constante inerente agrave praacutetica filosoacutefica
ἀτάραχος ataacuterachos (ad)- 80 SV 79
Ataraacutexico imperturbado
αὐτάρκεια autaacuterkeia (sf)- 130 SV 44 SV 77
Autarquia autossuficiecircncia ter o princiacutepio da accedilatildeo em si mesmo Existem diversas possiacuteveis traduccedilotildees do termo gre-go autaacuterkeia utilizado por Epicuro entre as quais as mais frequentes satildeo ldquoindependecircnciardquo ldquoautossuficiecircnciardquo ldquocapaci-
Ethicaacute
108 109
dade de bastar-se a si mesmordquo Estas noccedilotildees aludem a uma noccedilatildeo baacutesica de domiacutenio e princiacutepio- archeacute que estaacute em poder de quem age - autoacute - (a partir de) si mesmo Assim o sophoacutes eacute autaacuterkes porque age a partir de si mesmo Mas em que consiste esta autaacuterkeia e como eacute possiacutevel obtecirc-la Tais questotildees encetam para o princiacutepio da accedilatildeo tal como fora concebido no pensamento em questatildeo que implica em sua raiz a compreensatildeo do sentido de liberdade - eleutheriacutea - que a justifica ao mesmo tempo em que a fundamenta
Literalmente autaacuterkeia eacute uma qualidade de quem se basta a si mesmo Daiacute podermos pensar em algueacutem que exista ou subsista por si mesmo e isto soacute eacute possiacutevel quando sua accedilatildeo tem o princiacutepio nele mesmo ou ainda quando a causa da accedilatildeo esteja nele mesmo Para Epicuro a autaacuterkeia eacute o que caracteriza fundamentalmente a accedilatildeo saacutebia que por defi-niccedilatildeo exclui tanto a inatividade quanto a reatividade bem como a accedilatildeo cujo princiacutepio e o teacutelos natildeo estatildeo nela mesma A sabedoria enquanto accedilatildeo tem o sentido embutido nela isto eacute no seu exerciacutecio que chamamos de accedilatildeo autaacuterquica ou simplesmente autaacuterkeia Sendo assim a autaacuterkeia expressa uma condiccedilatildeo de vida no mundo em que o conjunto das accedilotildees tende naturalmente agrave repleccedilatildeo e portanto ao equiliacute-brio Viver em equiliacutebrio por sua vez natildeo depende senatildeo do modo como o homem vivencia a sua situaccedilatildeo real de existir independente de qualquer outro ldquopoderrdquo que transcenda a sua dyacutenamis de accedilatildeo desde que esse ldquopoderrdquo possa ser per-mitido ou evitado A autaacuterkeia eacute a expressatildeo da vida tornada independente das necessidades que a negam e a fazem re--agir ou sofrer
Para que a autaacuterkeiaseja alcanccedilada e cultivada eacute necessaacuterio agir segundo o logismoacutes e a phroacutenesis Dessa maneira esses
Terceira parte
110 111
trecircs conceitos definem a possibilidade de ponderaccedilatildeo de se estabelecer uma medida para o agir e atraveacutes do exerciacutecio da autaacuterkeia o sophoacutes define por si mesmo o bastante para a realizaccedilatildeo dos seus desejos naturais e necessaacuterios
E noacutes estimamos que a autaacuterkeia eacute um grande bem natildeo para que faccedilamos uso de pouco de um modo geral mas afim de que faccedilamos uso de pouco se natildeo temos a abundacircncia verdadeiramente persuadidos de que gozam a magnificecircncia com mais prazer aqueles que menos necessitam dela e que tudo o que eacute fundado na natureza se adquire facilmente e o que eacute vazio (vatildeo) eacute difiacutecil se obter (DL X 130)
O termo em questatildeo significa nesta passagem ldquocontenta-mentordquo medida exata de repleccedilatildeo suficiecircncia dada pela proacutepria natureza Epicuro recolhe no modo como o sophoacutes interage com a natureza a medida da satisfaccedilatildeo a mesma que nortearaacute a accedilatildeo saacutebia Por isso a accedilatildeo deve corresponder aos desejos naturais e necessaacuterios jaacute que agindo de acordo com a natureza onde o transito eacute imediato torna-se possiacutevel ao sophoacutes evitar desafetos que quase sempre forccedilam a sua rea-ccedilatildeo ou o seu desequiliacutebrio Toda a accedilatildeo contraacuteria agrave natureza eacute difiacutecil e acaba sendo tambeacutem vatilde vazia para quem procura realizaacute-la porque eacute fruto de desejos de diversos matizes que entretanto satildeo oriundos das opiniotildees vazias (kenaigrave doxaacutei) disseminadas entre os insensatos A filosofia eacute para Epicuro o ldquoantiacutedotordquo para essas opiniotildees e por isso mesmo a efetiva-ccedilatildeo da autaacuterkeia
Agir de acordo com a natureza (katagrave phyacutesin) define a relaccedilatildeo entre a physiologiacutea e a eacutetica na medida em que explicita o sentido do proceder filosoacutefico em busca da compreensatildeo necessaacuteria agrave fundamentaccedilatildeo da accedilatildeo saacutebia Este modo de agir revela tambeacutem o sentido real do prazer enquanto repleccedilatildeo
Ethicaacute
110 111
isto eacute da accedilatildeo que engendra serenidade (galenismoacutes) Neste sentido o sophoacutes age de modo prazeiroso e o conjunto das suas accedilotildees perfaz a realizaccedilatildeo plena da vida Trata-se de um estado de contentamento no qual ele se sente inteiramente integrado ao meio natural onde as adversidades existen-tes podem ser em alguns casos previstas e na medida do possiacutevel evitadas A accedilatildeo fundada na natureza eacute fruto da deliberaccedilatildeo do sophoacutes que busca a todo instante realizar os bens que realmente importam agrave sabedoria que se traduz pela manutenccedilatildeo de uma vida equilibrada Esta accedilatildeo eacute modulada pela physiologiacutea que eacute por assim dizer o seu fundamento ontoloacutegico Epicuro opotildee aos desejos difiacuteceis de serem re-alizados e que tecircm origem nas opiniotildees vazias a noccedilatildeo de simplicidade que quer dizer rigorosamente neste contexto a medida dada pela natureza proacutepria de cada um cabendo ao sophoacutes descobrir a sua mediante a economia dos desejos que poderia tambeacutem ser chamada de ldquodieteacuteticardquo dos desejos Esta eacute uma alternativa proposta por Epicuro para responder aos desmesurados valores vigentes em sua eacutepoca
O estudo da natureza prepara natildeo os jactanciosos nem os fazedores de expressotildees nem os exibidores de educaccedilatildeo mui-to valorizada junto agrave maioria mas aacutegeis e autaacuterquicos e que pensam grande sobre os seus proacuteprios bens e natildeo sobre os bens das coisas (SV 45)
Podemos perceber com relativa clareza que a noccedilatildeo de vir-tude (excelecircncia) tal como eacute aqui apresentada natildeo estaacute atre-lada agrave vida repleta de falsos valores e inserida nos domiacutenios puacuteblicos mas ao agir privado particular O saacutebio eacute aquele que age sempre a partir do seu poder de escolha e rejeiccedilatildeo e jamais de sujeiccedilatildeo Sua referecircncia uacutenica eacute a compreensatildeo dos limites e das possibilidades da natureza-realidade na
Terceira parte
112 113
qual vive e exercita-se na realizaccedilatildeo de uma vida apraziacutevel em cada ato ou deliberaccedilatildeo que dele dependa Fundando o eacutethos na phyacutesis ou fazendo que ele derive da physiologiacutea o sophoacutes legitima a autaacuterkeia como condiccedilatildeo para pensar a eacutetica fora do domiacutenio puacuteblico Com isso ele intenta resgatar antigos princiacutepios presentes na natureza para desapropriaacute-los das convenccedilotildees estabelecidas e entatildeovivenclaacute-losno espaccedilo no tempo que satildeo seus e daqueles que lhes satildeo afins (phiacuteloi)
O saacutebio depois de julgar as coisas em funccedilatildeo da necessida-de sabe mais dar em partilha do que tomar em partilha Tatildeo grande tesouro da autarquia ele encontrou(SV 44)
Conseguir o bastante para si mesmo natildeo exclui a possibilida-de de compatilhar o contentamento que expressa a autaacuterkeia-com aqueles que vivem uma muacutetua conveniecircncia (opheacuteleia) Na verdade o homem saacutebio natildeo projeta valores imaginaacuterios sobre as coisas da natureza antes pelo contraacuterio ele asseme-lha o seu modo de agir ao modo como as coisas interagem na natureza A medida mais conveniente eacute aquela que o faz se sentir bem no meio natural e natildeo o excesso de poder sobre as coisas naturais Assim o sophoacutesnatildeo espera receber o que precisa de outro homem porque ele mesmo pode facilmente ter o suficiente para natildeo sentir sede fome ou frio no proacuteprio meio onde vive por conveniecircncia e contentamento O ideal de sabedoria em questatildeo natildeo prevecirc qualquer tipo de sujeiccedilatildeo obrigaccedilatildeo diacutevida ou favor uma vez que entre saacutebios natildeo prevalecem as mesmas convenccedilotildees originadas nas sociedades poliacuteticas O saacutebio se afastaraacute das situaccedilotildees lugares e pessoas que possam constrangecirc-lo a reagir agraves ldquoconvenccedilotildeesrdquo de uma maioria insensata
A fonte mais pura de proteccedilatildeo diante dos homens assegu-rada ateacute certo ponto por uma determinada forccedila de rejeiccedilatildeo
Ethicaacute
112 113
eacute de fato a imunidade resultante de urna vida tranquila e distante da multidatildeo (DL X 143)
Natildeo haacute um objeto poliacutetico expliacutecito nas proposiccedilotildees eacuteticas de Epicuro Existe de uma certa maneira a transposiccedilatildeo do poliacutetico para fundar sobre outras bases uma eacutetica Recusar o conviacutevio com a multidatildeo pode significar compreender a multidatildeo como produto da necessidade e vivendo segundo a necessidade O sophoacutesbuscaraacute entatildeo construir um cami-nho alternativo para seguir Este caminho natildeo constituiraacute um conflito com o mundo poliacutetico mas pelo contraacuterio se formaraacute independentemente dele Epicuro opta pela sabe-doria e agir a partir de si mesmo e em prol de si mesmo Este comportamento eacute plenamente justificaacutevel se levarmos em conta a miserabilidade humana alimentada pelas falsas crenccedilas e pelos falsos valores de sua eacutepoca ldquoA necessidade eacute um mal mas natildeo haacute nenhuma necessidade de viver com a necessidaderdquo (SV 9)
Recolher-se agrave filosofia ao inveacutes de filosofar para a Heacutelade eis o que proclamava Epicuro A frugalidade eacutetica se opotildee ao desperdiacutecio poliacutetico pois natildeo haacute como obter a ataraxiacuteaem meio agrave multidatildeo insensata Aleacutem disso jamais o saacutebio po-deria modificar todo o quadro que a ele se apresentava um mundo corrompido pela miseacuteria e esquecido do bem-viver ldquoO saacutebio natildeo deve pois ocupar-se da poliacuteticardquo ldquoVive obscu-rordquo (3278 Us) Somente na solidatildeo dos seus pensamentos o saacutebio poderia finalmente encontrar o real sentido da liber-dade uma vez que ao menos aos olhos de Epicuro a liber-dade natildeo se coaduna com os valores soacutecio-poliacuteticos em voga A liberdade proveacutem das reflexotildees que satildeo a mateacuteria da filoso-fia Natildeo a encontraremos no meio poliacutetico na dependecircncia de acordos ou convenccedilotildees nutridas de opiniotildees conflitantes
Terceira parte
114 115
e sim nas accedilotildees que tecircm em si o seu proacuteprio princiacutepio pois nascem da solidatildeo reflexiva A vida autaacuterquica talvez tenha sido o posicionamento filosoacutefico por excelecircncia de Epicuro ao ponto de Hermarco seu disciacutepulo e sucessor agrave frente do Jardim tecirc-lo definido assim ldquoA vida de Epicuro comparada a de outros passaria por um mito por sua doccedilura e sua au-tarquiardquo (SV 36 101 Us)
A vida autaacuterquica estaacute totalmente desincompatibilizada da vida puacuteblica dos valores que a sustentam e de vaacuterias ma-neiras a determinam O saacutebio realiza um movimento de descentramento em relaccedilatildeo agrave vida puacuteblica e outro movimen-to de situar-se sempre em direccedilatildeo agraves relaccedilotildees equilibradas privadas lsquomolecularesrdquo Satildeo notoacuterias as diferenccedilas entre Epicuro e as ldquoinstituiccedilotildees poliacuteticasrdquo das quais ele se recusa a participar por compreender a quase impossibilidade de coexistirem harmonicamente sob um mesmo ideal homens de caraacuteter tatildeo distintos O sophoacutes assentiraacute nas discussotildees poliacuteticas apenas agrave medida que estas for em convenientes ou imprescindiacuteveis jaacute que acredita na possibilidade de cultivar a liberdade de conviver com aqueles que tecircm urna natureza realmente semelhante e que comungam as mesmas ideias Natildeo ausentar-se da trajetoacuteria que projeta a vida saacutebia pode significar o exerciacutecio de um modo de ser de um eacutethos filo-soacutefico ao mesmo tempo que a realizaccedilatildeo de um estado de ser physioloacutegico equilibrado Para tanto cumpre escolher o local e a situaccedilatildeo de vida onde se torne possiacutevel o pleno exer-ciacutecio da vida filosoacutefica o que vale dizer ter a autaacuterkeia ou o princiacutepio das suas accedilotildees em si mesmo Soacute daiacute pode emergir o sentido epicuacutereo da liberdade ldquoO mais importante fruto da autaacuterkeia eacute a liberdade (eleutheriacutea)rdquo (SV 77)
Ethicaacute
114 115
αὐτάρκης autaacuterkes(ad)- SV 45
Autaacuterquico aquele que tem o princiacutepio de sua accedilatildeo em si mesmo
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (sf)76 123
Incorruptibilidade imortalidade Palavra utilizada a partir de Epicuro
ἀφοβία aphobiacutea (sf)- 122
Destemor
ἀχάριστος achaacuteristos (ad)- SV 69 SV 75
Ingrato
βίος biacuteos (sm)- 86
Vida
βούλεσις buacutelesis (sf)- 7781
Vontade deliberaccedilatildeo
γαληνισμός galenismoacutes (sm)- 83
Serenidade Palavra rara filosoacutefica Usada por Epicuro num sentido metafoacutericoA imagem utilizada por Epicuro para definir o equiliacutebrio da alma expresso na ataraxiacutea (tranqui-lidade imperturbabilidade) eacute o que o grego denominava galenismoacutes que significa a superfiacutecie do mar quando estaacute tranquilo assim podemos traduzi-la por serenidade
Terceira parte
116 117
δαψίλεια dapsiacuteleia (sf)- SV 67
Abundacircncia
δεινός deinoacutes (ad)- 81 125 XXVIII
Temiacutevel terriacutevel O uso deste termo se daacute sempre no sentido de evitar os temores infundados Os temores satildeo projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento mas podem ser evitados com o exerciacutecio da physiologiacutea
διάθεσις diaacutethesis (sf)- 117 (222 Us)
Disposiccedilatildeo
δίαιτα diacuteaite (sf)- 130131 SV 69
Dieta regime modo de viver
δίκαιος diacutekaios(ad)- 132 XVII XXXI XXXII XXXVI XXXVII XXXVIII SV 43
Justo Para Epicuro natildeo haacute justiccedila independente das conven-ccedilotildees humanas isto eacute natildeo haacute uma justiccedila preacute-legislativa que existiria em si mesmo De acordo com Epicuro ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacute-procas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto (syntheacuteke) no sentido de natildeo prejudicar nem ser prejudicadordquo (MP XXXIII) Sendo assim o que eacute considerado justo num tempo x e num lugar y eacute diferente do que eacute considerado justo num tempo xrsquo e num lugar yrsquo Nas palavras de Epicuro ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) A justiccedila eacute portanto ldquouma invenccedilatildeo humanardquo (OrsquoKEEFE 2010 p 139) e como tal eacute do domiacute-
Ethicaacute
116 117
nio dos homens daquilo que cabe aos homens realizar ou seja eacute do acircmbito do parrsquo hemacircs (o que nos cabe) Em termos da physiologiacutea poderiacuteamos dizer que a justiccedila eacute um acidente (symptoacutema) da agregaccedilatildeo de indiviacuteduos Assim a justiccedila natildeo tem uma realidade independente dos pactos particulares realizados em tempo e espaccedilo determinados Por isso que Epicuro prefere utilizar na grande maioria de seus textos o termo diacutekaios (justo) e natildeo dikaiosyacutene (justiccedila) pois o primeiro remete sempre a um evento singular enquanto o uacuteltimo sugere ldquouma noccedilatildeo abstrata que os filoacutesofos essencia-listas nomeadamente os platocircnicos consideram uma ideia em sirdquo (MORAES 2010 p 55)21 O justo e o injusto satildeo determinados pelos pactos realizados aqui e alhures
No entanto uma das maacuteximas de Epicuro parece agrave primei-ra vista entrar em contradiccedilatildeo com esse caraacuteter convencio-nal da justiccedila ldquoO justo da natureza simboliza (tograve tecircs phyacuteseos diacutekaioacuten estigrave syacutembolon) a vantagem reciacuteproca de impedir os homens de prejudicarem os outros e os livra de serem pre-judicadosrdquo (MP XXXI) A expressatildeo ldquoo justo da naturezardquo parece contradizer a expressatildeo ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) Eacute preciso considerar aqui como diz Morel que essas reflexotildees de Epicuro estatildeo ldquono centro da problemaacutetica tornada claacutessica a partir da expansatildeo do movimento sofiacutestico no seacuteculo V da oposiccedilatildeo entre natureza (phyacutesis) e convenccedilatildeo (noacutemos)rdquo (2011 p 208) Tentar definir a justiccedila como natural ou convencional natildeo foi o caminho
21 De acordo com Bulhotildees ldquoEmbora a expressatildeo lsquoo justorsquo seja um substantivo refere-se ao adjetivo que qualifica por exemplo um acordo uma lei um indiviacuteduo ou um comportamento isto eacute um acordo pode ser dito justo uma lei justa um individuo e um comportamento justos Por outro lado a expressatildeo de gecircnero neutro tograve diacutekaion diferencia-se intencio-nalmente do feminino lsquoa justiccedilarsquo heacute dikaiosyacutene Esta indica uma realidade em sirdquo (Bulhotildees 2009 p 100)
Terceira parte
118 119
escolhido por Epicuro Para ele a justiccedila eacute convencional e natural ao mesmo tempo ldquovariaacutevel em suas manifestaccedilotildees e natural em seu princiacutepiordquo (Morel 2011 p 217) Na Maacutexima XXXVI estaacute escrito que ldquoem seu aspecto geral a justiccedila eacute a mesma para todos pois representa uma espeacutecie de vantagem reciacuteproca nas relaccedilotildees dos homens uns com os outros mas com referecircncia agraves peculiaridades locais e outras circusntacircn-cias quaisquer a mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo O aspecto geral da justiccedila (tograve koinograven) eacute natural e universal enquanto que o justo expresso nas peculiaridades locais (tograve iacutedion choacuteras) eacute convencional Epicuro diz portanto que a justiccedila pode ser identificada (e compreendida) em qualquer lugar como a conveniecircncia (syacutempheron) muacutetua estabelecida sob a forma de um pacto No entanto este mesmo pacto se apresenta de diversas maneiras dependendo das necessida-des que se apresentem na comunidade em que o pacto foi firmado
A justiccedila natildeo eacute a uacutenica noccedilatildeo considerada ao mesmo tempo natural e convencional na filosofia de Epicuro a linguagem humana tambeacutem pode ser qualificada assim Sobre as ori-gens da linguagem diz Epicuro
Por isso os nomes das coisas tambeacutem natildeo foram originaria-mente postos por convenccedilatildeo mas a natureza dos homens de conformidade com as vaacuterias raccedilas os criou () Mais tarde as raccedilas isoladas chegaram a um consenso e deram assim nomes peculiares a cada coisa a fim de que as comunicaccedilotildees entre elas fossem menos ambiacuteguas e as expressotildees fossem mais breves (DL 75-76)22
Assim como a linguagem finca suas raiacutezes na natureza e
22 ldquoQuanto aos vaacuterios sons da linguagem foi a natureza que obrigou a emiti-los e foi a utilidade que levou a dar nomes agraves coisasrdquo (DRN V 103)
Ethicaacute
118 119
depois a conveniecircncia entra em cena desenvolvendo esta ca-pacidade que a natureza legou ao homem da mesma forma pois acontece com a justiccedila porque temos uma preacute-noccedilatildeo desta que eacute passiacutevel de ser desenvolvida pelo uacutetil ou conve-niente (syacutempheron) A justiccedila tem um aspecto geral e outro especiacutefico O primeiro eacute natural e portanto universalmente compreendido de acordo com a preacute-noccedilatildeo que temos da justiccedila o uacuteltimo eacute pelo contraacuterio variaacutevel convencional determinado uacutetil e conveniente em cada comunidade em particular Assim a justiccedila eacute ao mesmo tempo natural e convencional da ordem da phyacutesis e tambeacutem da ordem do noacutemos23
Por proacutelepsin (preacute-noccedilatildeo) eles [os epicuristas]entendem uma espeacutecie de cogniccedilatildeo ou apreensatildeo imediata do real ou uma opiniatildeo correta ou um pensamento ou uma ideia universal iacutensita na mente ou seja a memorizaccedilatildeo de um objeto ex-terno que apareceu frequentemente como quando dizemos ldquoisto aqui eacute um homemrdquo De fato logo que se pronuncia a palavra ldquohomemrdquo sua figura se apresenta imediatamente ao nosso pensamento por via de antecipaccedilatildeo guiada prelimi-narmente pelo sentido (DL X 33)
As preacute-noccedilotildees satildeo a mateacuteria do pensamento As preacute-noccedilotildees satildeo as marcas deixadas nas almas em cada interaccedilatildeo sensiacutevel Eacute por via dessas marcas ou impressotildees que reconhecemos
23 Vemos nessas passagens que a linguagem teve sua origem na natu-reza mas seu desenvolvimento dependeu dos acordos realizados entre os homens Do mesmo modo a justiccedila tem seu ldquoladordquo natural na utilidade na manutenccedilatildeo da vida e do prazer Pois sem pactos para utilidade muacutetua os homens viveriam agrave mercecirc dos piores males Jaacute o caraacuteter convencional da justiccedila reside nas muacuteltiplas formas de se preservar a vida e o prazer Esses satildeo aspectos das agregaccedilotildees humanas inicialmente o processo de agrupamento se deu naturalmente posteriormente as relaccedilotildees se tornaram complexas
Terceira parte
120 121
uma sensaccedilatildeo figura ou atitude uma vez experienciada Haacute um conjunto enorme de proleacutepseis nas almas e elas satildeo ar-ranjadas e rearranjadas pelos mecanismos do pensamento A justiccedila tambeacutem provoca uma preacute-noccedilatildeo pela qual reconhe-cemos e podemos realizar atos justos Na MP XXXVII Epi-curo nos fala de uma proacutelepsis (preacute-noccedilatildeo) da utilidade (syacutem-pheron) inerente agrave justiccedila Sabemos o que eacute justo por termos a preacute-noccedilatildeo da utilidade ou conveniecircncia ou seja porque temos uma representaccedilatildeo imageacutetica do que eacute conveniente ou em outras palavras do que nos impede de prejudicar ou de ser prejudicado pelos outros Mas isso natildeo garante que as leis uma vez promulgadas seratildeo justas em todo o tempo e qualquer lugar pois o que define o justo eacute a conveniecircncia que eacute passiacutevel de variaccedilatildeo
Das disposiccedilotildees codificadas no direito vigente aquelas con-firmadas como uacuteteis nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comu-nitaacuteria apresentam o requisito do justo sejam ou natildeo sejam as mesmas para todos Mas se for promulgada uma lei que natildeo se mostre uacutetil nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comunitaacute-ria essa lei natildeo teraacute mais a natureza do justo E tambeacutem se aquilo que eacute uacutetil de conformidade com o direito vigente vier a cessar embora tenha correspondido durante um certo pe-riacuteodo de tempo agrave preacute-noccedilatildeo24 do justo apesar disso durante aquele periacuteodo foi justo desde que natildeo nos preocupemos com palavras vatildes e tenhamos em vista simplesmente os fatos (MP XXXVII)
Nem toda lei acordada deve ser considerada justa mera-mente por ter resultado de um pacto ou acordo25 pois a
24 G Kury traduz o termo proacutelepsis dessa passagem por ldquonoccedilatildeo pri-mordialrdquo Preferimos traduzir por preacutenoccedilatildeo por manter a unidade desse termo que foi provavelmente cunhado pelo proacuteprio Epicuro
25 ldquoAs accedilotildees natildeo satildeo justas ou injustas meramente porque algueacutem diz
Ethicaacute
120 121
justiccedila da lei eacute determinada pela confirmaccedilatildeo (epimarturouacute-menon) de sua utilidade para a comunidade Assim como vemos uma torre no horizonte e natildeo temos certeza se ela eacute arredondada ou retangular e esperamos pela confirmaccedilatildeo sensorial26 uma lei precisa ser confirmada por sua utilida-de ou conveniecircncia para a comunidade Se uma lei natildeo for uacutetil entatildeo natildeo eacute justa Uma lei portanto confirmada como justa pode entretanto natildeo ser justa em outro contexto A justiccedila se fundamenta na utilidade (syacutempheron) se uma lei deixa de ser uacutetil ela deixa de ser justa e se por exemplo numa comunidade eacute proibido pescar garoupas natildeo significa que em outra comunidade onde esse peixe eacute abundante se deva proibir tambeacutem O justo estaacute delimitado a um tempo e espaccedilo e condicionado pelo que se faz uacutetil nesse mesmo tempo e espaccedilo Natildeo haacute absolutamente no epicurismo a ideia de justiccedila em si Mas o justo depende de um pacto conveniente
O que impede portanto um membro da comunidade de natildeo cometer injusticcedilas eacute a puniccedilatildeo e o castigo Possivelmente cometeria ldquoinjusticcedilasrdquo se considerasse que natildeo seria punido ao cabo de sua accedilatildeo Por outro lado um membro saacutebio natildeo cogita a possibilidade de transgredir o pacto e permanecer impune pois seria punido imediatamente natildeo pelas penas cabiacuteveis acordadas no pacto mas pela perda de sua ataraxiacutea (imperturbabilidade)
δικαιοσύνη dikaiosyacutene (sf)- XXXIII
Justiccedila
que elas satildeordquo (BROWN 2009 p 192) 26 Cf DL X 34
Terceira parte
122 123
δυσπόριστος dyspoacuteristos (ad)- 130 XXVI
Difiacutecil de obter Palavra usada a partir de Epicuro
ἐγγαληνίζω engaleniacutedzo (v)- 37
Viver com tranquilidade Epicuro eacute o uacutenico a utilizar este termo
εἱμαρμένη heimarmeacutene (sf)- 134
Aquela que recebeu por destino
ἐκλόγισις ekloacutegisis (sf)- XVIII
Caacutelculo Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐκχώρησις ekchoacuteresis (sf)- XIV
Distanciamento apartamento
ἐλευθερία eleutheriacutea (sf)- SV 77
Liberdade A noccedilatildeo grega de liberdade natildeo eacute uniacutevoca Desde suas origens o termo eleutheriacutea passou por muitos desdo-bramentos Epicuro apresenta uma noccedilatildeo de liberdade que participa do processo de interiorizaccedilatildeo do homem Devemos a Soacutecrates o raciociacutenio que equipara a liberdade da cidade agrave liberdade interna ao homem expressa sob a noccedilatildeo de auto-domiacutenio e que veio a influenciar toda a filosofia posterior A ideia de liberdade interior eacute comum agraves diferentes escolas de filosofia do periacuteodo heleniacutestico poreacutem o epicurismo a apro-funda fazendo com que o sentido de eleutheriacutea se submeta ao de autaacuterkeia(Vide supra αὐτάρκεια nesta mesma parte)
Ethicaacute
122 123
Segundo Benveniste27 o termo latino liber e o grego eleuacutethe-ros28satildeo derivados da mesma raiz indo-europeia leudh- que significa ldquocrescer se desenvolverrdquo Essa imagem do ldquocresci-mentordquo e de sua completude na formaccedilatildeo de um homem levou agrave compreensatildeo socializada de leudh- como fonte ldquodo conjunto daqueles que satildeo nascidos e desenvolvidos conjun-tamenterdquo (Benveniste 1969 p 323) A ideia de liberdade pois se relaciona com o pertencimento a uma linhagem a um povo ldquoA liberdade do homem grego consiste em se sentir subordinado como membro agrave totalidade da polis e das suas leisrdquo (Jaeger 1995 p 228) Toda a liberdade que os gregos poderiam gozar advinha de seu pertencimento agrave polis natildeo apenas por habitarem a cidade mas por serem cidadatildeos Es-panto agrave parte o sentido original de liberdade natildeo tem a ver com emancipaccedilatildeo mas pelo contraacuterio com pertencimento Nas palavras de Benveniste
O primeiro sentido natildeo eacute como seria tentador imaginar ldquoli-berto de alguma coisardquo e sim eacute este de um pertencimento a uma fonte eacutetnica designada por uma metaacutefora de crescimen-to vegetal Este pertencimento confere um privileacutegio que o estrangeiro e escravo jamais conhecem (Benveniste 1969 p 324)
O exemplo das Guerras Peacutersicas no iniacutecio do seacuteculo V aC representa esta diferenccedila radical entre os gregos e os estrangeiros persas que natildeo gozavam dos privileacutegios da liberdade (eleutheriacutea) Os invasores persas tinham mestres diante dos quais se curvavam e aos quais obedeciam enquanto que os cidadatildeos gregos os eleuacutetheroi ldquonatildeo tinham um chefe uacutenico nem para cada cidade um homem que as
27 Cf 1969 p 322-323 28 Ambos os termos tecircm o significado de ldquolivrerdquo
Terceira parte
124 125
comanderdquo (Romilly 1989 p40) Essa diferenccedila de postura eacute representada na trageacutedia de Eacutesquilo Persas a partir da perspectiva dos baacuterbaros
Rainha Quem eacute o seu senhor Quem comanda o seu exeacuterci-to Corifeu Eles (os gregos) natildeo satildeo escravos (doucircloi) de nin-gueacutem nem satildeo suacuteditos (Eacutesquilo Persas linhas 241 242)29
Essa eacute a diferenccedila poliacutetica fundamental entre os gregos e os baacuterbaros30 Enquanto estes tecircm mestres os gregos devem obediecircncia apenas agrave lei sem a qual natildeo haveria polis nem liberdade Assim a noccedilatildeo de eleutheriacutea enquanto oposta agrave servidatildeo se define a partir da diferenccedila fundamental entre gregos e baacuterbaros Esse sentido que podemos chamar de liberdade poliacutetica depende do regime e se opotildee agrave opressatildeo31
Entretanto no fim do seacuteculo V aC surge um novo aspec-to da eleutheriacutea a liberdade democraacutetica A liberdade e a igualdade (isonomiacutea) se confundem Estaacute aberta a possibili-dade de todos os cidadatildeos intervirem na poliacutetica da cidade Todos tecircm direito de falar (isegoriacutea) e a justiccedila eacute a mesma para todos Poreacutem a influecircncia funesta dos demagogos e as arbitrariedades populares acabaram implodindo a liberdade democraacutetica32 A partir daiacute desponta outra forma de liberda-de a liberdade interior
Eacute atraveacutes das palavras de Soacutecrates que Xenofonte transmite a nova ideia da liberdade interior33
29 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo de David Grene ampRichmond Lattimore The Complete Greek Tragedies of AeschylusThe University of Chicago Press 1959 p 229
30 Cf Romilly 1989 p 4731 Cf Novaes (Org) 2002 p 1632 Cf Ibid p 11733 Eacute importante ressaltar que W Jaeger jaacute identificava a liberdade
interior nos textos de Soacutelon (Cf 1995 p 247)
Ethicaacute
124 125
- Ora diz-me laacute Eutidemo acreditas que haja um bem mais belo e bom para o homem e para a cidade do que a liberdade (eleutheriacutean)
- Natildeo E esse eacute de fato o maior dos bens
- E acreditas que eacute livre (eleuacutetheron) o homem que eacute domi-nado pelos prazeres do corpo e que por causa deles natildeo consegue agir bem
-De modo nenhum (Memoraacuteveis IV 5 2-3)34
Soacutecrates coloca lado a lado a liberdade da cidade e a liberda-de interior Esta se evidencia pelo autodomiacutenio ou domiacutenio das paixotildees Sem o autodomiacutenio (enkraacuteteia) o homem natildeo pode ser considerado realmente livre mesmo que viva sob um regime de liberdade poliacutetica
Essas noccedilotildees de autodomiacutenio e liberdade interior foram fundamentais para o desenvolvimento das filosofias heleniacutes-ticas uma vez que a vida poliacutetica se esfacelara sob o domiacutenio do impeacuterio macedocircnico ldquoA aacutegora apresenta-se agora fechada nos quatro lados como que para proclamar atraveacutes desta simples evocaccedilatildeo arquitetocircnica que a livre movimentaccedilatildeo e reuniatildeo do povo eram coisas do passadordquo (FINLEY 2002 p135) E quando Dioacutegenes o ciacutenico proclamou seu cosmo-politismo condenou o conceito de cidadania agrave falta de sen-tido35 O que interessa a partir de agora eacute o indiviacuteduo e sua busca interior de liberdade sabedoria e virtudes para uma vida bela A sociedade eacute apenas um acidente no percurso de melhoramento do indiviacuteduo E eacute como herdeira das noccedilotildees socraacuteticas de liberdade interior e autodomiacutenio que aparece
34 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Elias Pinheiro Coimbra CECH 2009
35 Cf Finley 2002 p116
Terceira parte
126 127
a noccedilatildeo epicurista de eleutheriacutea36 fruto mais precioso da autarquia e resultado do exerciacutecio da sabedoria
As ocorrecircncias dos termos eleutheriacutea e eleuacutetheros aparecem ambos nas Sentenccedilas Vaticanas
O fruto maior do bastar-se a si mesmo eacute a liberdade(SV 77)
Uma vida livre natildeo pode adquirir bens numerosos pelo fato de a coisa natildeo ser faacutecil fora da sujeiccedilatildeo agraves multidotildees e aos poderosos mas ela adquire tudo por uma abundacircncia contiacute-nua Se por acaso em algum lugar ela encontra muitos bens tambeacutem essas coisas satildeo faacuteceis de distribuir em favor da boa disposiccedilatildeo do proacuteximo (SV 67)
A liberdade de que se trata aqui tem a ver com aquela pro-blematizada por Soacutecrates no citado texto de Xenofonte ou seja aqui tambeacutem se trata de um tipo de liberdade interior No entanto as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia socraacuteticas ainda estatildeo segundo Jaeger ligadas agrave poacutelis ldquoSoacutecrates vive ainda dentro da poacutelisrdquo (JAEGER 1995 p552-553) e suas noccedilotildees de autaacuterkeia e eleutheriacutea natildeo tecircm ainda os traccedilos individualistas que os ciacutenicos primeiro depois estoacuteicos e epicuristas vatildeo lhes dar
A autaacuterkeia eacute condiccedilatildeo para a eleutheriacutea Se pensarmos em qualquer sentido para esta liberdade interior que prescinda da autaacuterkeia estaremos cometendo um erro de interpreta-ccedilatildeo Portanto natildeo podemos subsumir sob a noccedilatildeo de eleu-theriacutea o repertoacuterio de assuntos que se relacionam com o tema da liberdade no Epicurismo o pareacutenklisis ou clinamen(vide supra παρέγκλισις na primeira parte) a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs a criacutetica aos fiacutesicos da necessidade a criacutetica agraves supersticcedilotildees
36 ldquoAleacutem de fundar sua filosofia escavando o antes de Soacutecrates a dou-trina epicurista edificou sua arquitetocircnica a partir de Soacutecratesrdquo (Spinelli 2009 p51)
Ethicaacute
126 127
fatalistas e agrave ideia de destino etc pois todos esses assuntos excedem o sentido de eleutheriacutea Por isso falamos em um sentido de liberdade geral que passa por todos os objetos de estudo do epicurismo e um sentido de liberdade especiacutefica que por sua vez se identifica com a noccedilatildeo de eleutheriacutea Esta eacute a noccedilatildeo de liberdade em seu sentido positivo natildeo mais apenas o reconhecimento de um espaccedilo para a liberdade mas uma tomada de posiccedilatildeo diante da vida
Propomos que o sentido de eleutheriacutea estaacute para aquele de aacutetomo assim como o sentido de parrsquo hemacircs estaacute para aquele de vazio O aacutetomo natildeo existiria sem o vazio mas a existecircncia do vazio por si soacute natildeo garante a existecircncia do aacutetomo Do mesmo modo o espaccedilo para construccedilatildeo dos homens ou o acircmbito das accedilotildees livres natildeo garante a existecircncia efetiva des-sas mesmas accedilotildees A eacutetica de Epicuro tem por isso a esco-lha e a recusa como tema principal Agir com eleutheriacutea eacute construir no espaccedilo deixado vago pela natureza eacute escolher e recusar sem indiferenccedila eacute sentir prazer e sentir a dor quando convier
Epicuro segundo Secircneca diz que ldquoa liberdade consiste pre-cisamente em servir a filosofiardquo e ainda ldquoaquele que se lhe submete e a ela se entrega jaacute natildeo tem que esperar eacute ime-diatamente emancipadordquo (Epistolae ad Lucilium VIII 7 Us 199) O sentido do termo latino libertas corresponde ao de eleutheriacutea empregado por Epicuro nas Sentenccedilas Vaticanas A eleutheriacutea soacute eacute alcanccedilada por quem uma vez dedicado ao serviccedilo da filosofia e agrave compreensatildeo da natureza potildee-se ao exerciacutecio da autaacuterkeia A vida livre natildeo eacute uma vida de oacutecio e sim de exerciacutecio filosoacutefico de praacutette kaigrave meleacuteta (praacutetica e reflexatildeo) O homem autaacuterquico e livre natildeo depende de ri-quezas fama ou honrarias para ser feliz pois entendeu que o
Terceira parte
128 129
bem primordial o prazer lhe eacute congecircnito e que basta calcu-lar por si mesmo os limites dos prazeres e das dores para que seus objetivos mais importantes que satildeo ao mesmo tempo os mais simples e naturais sejam alcanccedilados A filosofia epi-curista eacute libertadora
ἐλεύθερος eleuacutetheros (ad)- SV 67
Livre
ἐλπίς elpiacutes (sf)- 84 134
Esperanccedila expectativa
ἔνδεια eacutendeia (sf)- 53 130 XVIII XXI
Falta necessidade
ἔνδοξος eacutendoxos (ad)- VII
Ceacutelebre famoso renomado
ἐνοχλέω enochleacuteo (v)- 125 XI
Desassossegar
ἐξαγωγή exagogeacute (sf)- XX SV 38
Abandono afastamento
ἐπιθυμία epithymiacutea(sf)- 127 X XI XXVI XXIX XXX SV 21 SV 35 SV 71 SV 80
Desejo apetite Os desejos satildeo fenocircmenos do corpo Neste
Ethicaacute
128 129
sentido Epicuro os classifica em trecircs categorias que definem o que importa agrave aquisiccedilatildeo do bem-estar e agrave manutenccedilatildeo de um corpo bem disposto (eusthaacutetes) e o que pode ser nocivo ou causa o seu desequiliacutebrio 1) desejos naturais e neces-saacuterios 2) desejos naturais e desnecessaacuterios 3) desejos nem naturais e nem necessaacuterios
ἐργαστικός ergastikoacutes (ad)- SV 45
Trabalhador laborioso
ἔργον eacutergon (sn)- 78 XXXVIII
Funccedilatildeo praacutetica tarefa obra
ἐτεροφρονεῖν heterophroneicircn (v inf)- SV 17
Estar em demecircncia Verbo de uso exclusivo de Epicuro
εὐδαιμονία eudaimoniacutea (sf)- 116122 127 SV 33
Felicidade
εὐδιάχυτος eudiaacutekhytos (ad)- XXVI
Facilmente dissipaacutevel
εὐελπιστία euelpistiacutea (sf)- SV 39
Boa expectativa esperanccedila
εὐκαταφρόνητος eukataphroacutenetos (ad)- SV 4
Facilmente despreziacutevel desdenhaacutevel
Terceira parte
130 131
εὐκταῖος euktaicircos (ad)- SV 35
Desejaacutevel
εὐλογίστως eulogiacutestos (adv)- 135
De modo bem pensado
εὔλογος eacuteulogos (ad)- SV 38
Razoaacutevel
εὔνοια eacuteunoia (sf)- SV 67
Benevolecircncia favor
εὐπορία euporiacutea (sf)- XIV
Riqueza abundacircncia prosperidade
εὐπόριστος eupoacuteristos (ad)- 130133 XV XXI
Faacutecil de conseguir
εὐστάθεια eustaacutetheia (sf) 68 Us
Boa disposiccedilatildeo O termo grego eustaacutetheia siginifica literalmen-te boa disposiccedilatildeo e foi definido por J Brun por ldquoequiliacutebrio das diversas partes do corpo vivordquo37 Este termo natildeo foi encontrado dentre as proposiccedilotildees das Cartas nem tampouco nas Maacuteximas Encontramo-lo citado por H Usener no fragmento de nuacutemero 68 da sua obra Epicurea Nela o autor revela sua fonte trata-se de Plutarco38 que atribui a Epicuro a seguinte proposiccedilatildeo
37 BrunJ Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978 p 16838 Plutarco Contra Epic Beat 1089d
Ethicaacute
130 131
() O gozo mais alto e mais soacutelido resulta da condiccedilatildeo de equiliacutebrio (boa disposiccedilatildeo) da carne e a esperanccedila fundada de a conservar para quem saiba consideraacute-la proporciona (conteacutem) a mais alta e segura alegria () (Us 68 p 185)
G Arrighetti traduz o termo em questatildeo por benessere que facilmente pode ser traduzido por bem estar Contudo vi-mos na expressatildeo ldquoboa disposiccedilatildeordquo a melhor traduccedilatildeo para o termo eustatheiacutea tendo em vista o fato de que se tomado literalmente encontramos imediatamente a ideia de um es-tado equilibrado no sentido fiacutesico do posicionamento deste corpo em relaccedilatildeo ao meio em que se encontra Queremos com isso chamar a atenccedilatildeo para as constantes relaccedilotildees esta-belecidas entre o corpo que age e sofre e as coisas sobre as quais age e sofre afecccedilotildees A boa proporccedilatildeo a harmonia e a estabilidade fiacutesica do corpo satildeo definiccedilotildees anaacutelogas do termo equiliacutebrio Este termo entretanto eacute pensado pela Fiacutesica par-ticularmente pela Mecacircnica- como o estado de um corpo em repouso em que as forccedilas que o solicitam se contrabalanccedilam exatamente Podemos entatildeo pensar tais forccedilas como expres-sotildees da natureza que podem ou natildeo afetar o corpo e neste sentido eacute igualmente possiacutevel pensar que este equiliacutebrio natildeo eacute absoluto mas oscilatoacuterio uma vez que afetos e desafetos ocorrem casualmente na natureza ainda que a nossa con-duta disponha-se ao exerciacutecio da phroacutenesis e da autaacuterkeia Eacute preciso que se esclareccedila que na natureza o movimento de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos eacute constante e inevitaacutevel mas no que diz respeito agrave conduta do homem esta tambeacutem depende da sua vontade ou deliberaccedilatildeo
εὐσυμπλήρωτος eusympleacuterotos (ad)- 133
Plenamente atingido Palavra de uso exclusivo de Epicuro
Terceira parte
132 133
εὐφροσύνη euphrosyacutene (sf)- 2Us
Deleite
ἡδονή hedoneacute (sf)- 128 129 130 131 136 137 138 III VIII IX X XII XVIII XIX XX XXIX SV 37 2 Us 116 Us 181 Us
Prazer gozo O prazer eacute o que nos realiza e nos faz bem Escolhemos de preferecircncia aquilo que nos agrada ou o que eacute prazeiroso e fugimos (de) ou evitamos aquilo que nos agride ou nos deixa vulneraacuteveis agrave dor
Escolher o prazer como o bem eacute viver intensamente os sentidos mas o que eacute intenso natildeo precisa ser imoderado Epicuro naturaliza o prazer mas natildeo o neutraliza Acredita numa medida natural de realizaccedilatildeo do prazer como estado de equiliacutebrio ou bem-estar O prazer tem um fim em si mesmo isto eacute no ato prazeiroso a finalidade eacute imanente agrave accedilatildeo Natildeo deve ser passiacutevel de censura aquele que admitir e propagar que o que eacute agradaacutevel eacute bom e o que eacute desagradaacutevel eacute ruim A sabedoria estaacute em natildeo ter opiniotildees vatildes sobre o que eacute agradaacutevel pois nesse caso natildeo se sabe o prazer pois deixar-se mover pela opiniatildeo vatilde eacute agir ignorando a natureza do objeto da accedilatildeo O problema reside na ignoracircncia pois o prazer obtido a partir do discernimento eacute o maior dos bens ou o bem por excelecircncia As criacuteticas epicuacutereas aos cirenaicos estatildeo centradas na desmesura com que estes buscavam e idealizavam o prazer Mais uma vez a phroacutenesis(Vide infra φρόνησις) eacute moderadora dos apetites (desejos) e esclarece-dora das medidas de realizaccedilatildeo plena dos prazeres A phroacutene-sis se opotildee a hamartiacutea e a hyacutebris assim como o prazer se opotildee agraves opiniotildees falsas sobre o que eacute agradaacutevel Diz Epicuro
Ethicaacute
132 133
E assim como em seu alimento (o saacutebio) natildeo escolhe o maior quantitativamente mas o mais agradaacutevel assim tambeacutem do tempo (de viver) natildeo escolhe o maior fruto mas o mais prazeroso O prazer eacute o princiacutepio e o fim da vida feliz O prazer eacute o nosso bem primordial e congecircnito e partindo dele movemo-nos para qualquer escolha e qualquer rejeiccedilatildeo e a ele voltamos usando como criteacuterio de discriminaccedilatildeo de todos os bens as sensaccedilotildees de prazer e de dor (DL X 128-29)
O que fez Epicuro quando elegeu o prazer como o Bem por excelecircncia foi atribuir agrave sensaccedilatildeo o primado sobre a com-preensatildeo da realidade e mais ainda definir o prazer como medida plena de realizaccedilatildeo do homem no mundo poreacutem eacute preciso explicitar como se daacute esta compreensatildeo e a que medida o prazer responde positivamente
Em primeiro lugar o pensamento eacute um efeito das relaccedilotildees sensiacuteveis e das analogias que nos fazem perscrutar o que eacute aacutedelon (invisiacutevel) mas pode ser inteligiacutevel Epicuro nos fala de he phantastikegrave epiboleacute tecircs dianoiacuteas que satildeo projeccedilotildees (saltos) imaginativa(o)s do pensamento Elas se datildeo por analogia agraves operaccedilotildees com os dados sensiacuteveis mas nos remetem a pensar nos niacuteveis microfiacutesicos e macrofiacutesicos Haacute uma relaccedilatildeo direta entre sentir pensar e agir que estabelece a continuidade en-tre a physiologiacuteae a eacutetica nos textos aqui examinados Assim as sensaccedilotildees datildeo origem ao pensamento que por sua vez eacute o princiacutepio do agir isso faz pensar que as deliberaccedilotildees mo-vidas pelo pensamento objetivam a realizaccedilatildeo do bem-estar experimentado pelos sentidos Epicuro natildeo distingue bem--estar (eustaacutetheia) de estado de prazer duradouro (hedonegrave ka-tastematikeacute) A manutenccedilatildeo do equiliacutebrio interno e externo do homem estaacute diretamente relacionada agrave deliberaccedilatildeo e agrave
Terceira parte
134 135
consequente accedilatildeo realizada por cada um Tendo em vista o prazer Epicuro busca um modo de vida no qual os desejos e apetites que movem natural e necessariamente os indiviacuteduos tenham uma medida que realize a vida de modo satisfatoacuterio e equilibrado Ele considera desejaacutevel e exequiacutevel este estado sem perturbaccedilatildeo e sem sofrimento Este estado eacute buscado como modo de realizaccedilatildeo do prazer o que faz com que a vida filosoacutefica seja a via preferencial para a realizaccedilatildeo dos desejos naturais e necessaacuterios e para a obtenccedilatildeo de prazeres que natildeo tecircm como consequecircncia a dor Para tal parte do princiacutepio segundo o qual prazer e dor se excluem e mais que isso natildeo haacute estado intermediaacuterio entre eles ou estado neutro no qual natildeo se sente prazer nem dor
O prazer e o movimento que o realiza fez com que Epicuro estabelecesse uma diferenccedila em relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo cirenai-ca de hedoneacute Para eles nem a ausecircncia de dor a aponiacutea nem a imperturbabilidade da alma a ataraxia podem ser considerados estados de prazer O prazer eacute um estado que se opotildee agrave dor e difere da neutralidade Dioacutegenes Laeacutercio comenta ldquoNo que concerne agrave ausecircncia de dor pleiteada por Epicuro eles (os cirenaicos) declaram que isto natildeo eacute prazer assim como a ausecircncia de prazer natildeo pode ser considerada dorrdquo (DL II 89)
Outro ponto de discordacircncia de Epicuro em relaccedilatildeo agrave Aristi-po eacute a admissatildeo da diferenccedila entre os prazeres pela distinccedilatildeo que faz entre opiniotildees vatildes sobre o prazer e o pensamento em que se sabe discernir ponderar e moderar o prazer para que ele natildeo tenha como consequecircncia a dor esta tambeacutem ignorada quando se age a partir das kenaigrave doacutexai
Epicuro centraraacute a sua criacutetica na demonstraccedilatildeo de que o prazer eacute constitutivo isto eacute que se inicia como movimento
Ethicaacute
134 135
mas a sua finalidade eacute tornar-se estaacutevel Hedonegrave kinetikeacute e hedonegrave Katastematikeacute configuram um mesmo movimento de prazer que tende naturalmente a uma espeacutecie de sere-nidade de apaziguamento das voliccedilotildees Quando inicia o movimento de suplantar a dor o corpo produz o seu proacuteprio prazer que depois seraacute rememorado pela alma Eacute o prazer em movimento que depois de saciado o desejo torna-se se-reno alcanccedilando a eustaacutetheia o bem-estar ao mesmo tempo no corpo e na alma contudo a alma guardaraacute as sensaccedilotildees prazeirosas transformando-as em sentimentos (proleacutepseis) ou impressotildees sensiacuteveis A rememoraccedilatildeo dos prazeres vividos produz um estado de alegria de seguranccedila e de bem-estar Dizemos nestes momentos que estamos bem e que tudo eacute muito agradaacutevel Satildeo os prazeres da alma Aleacutem disso esses prazeres jaacute sentidos e agora rememorados invadem a imagi-naccedilatildeo e projetam os prazeres vindouros tornados possiacuteveis pela memoacuteria Eacute uma maneira afirmativa de viver esperar (projetar) gozar no futuro
ἡσυχία hesychiacutea (sf)- XIV
Quietude
θάνατος thaacutenatos (sm)- 124125 133 II X XI SV 31
Morte
ldquoa morte nada eacute para noacutes pois o que se decompotildee eacute insensiacute-vel e o que eacute insensiacutevel nada eacute para noacutesrdquo (Maacuteximas Princi-pais II)
θαρρεῖν tharrecircin(v inf)- VIXXVIII XXXIX XL 207 Us
Confianccedila seguranccedila
Terceira parte
136 137
θεός theoacutes (sm)- 123 124 133 134 135 I SV 65 355 Us
Divindade deus A crenccedila vulgar nos deuses eacute formada por ldquosuposiccedilotildees falsasrdquo (hypoleacutepseis pseudeicircs) (DL X 124) Epi-curo afirma que essas crenccedilas natildeo satildeo baseadas em proleacutepseis (impressotildees) mas apenas em hypoleacutepseis (suposiccedilotildees)Vide suprahypoacutelepsis - ὑπόληψις etproacutelepsis πρόληψις (na segunda parte) A diferenccedila acentuada entre proacutelepsis e hypoacutelepsis nesse contexto demarca que embora Epicuro admita a existecircncia dos deuses a crenccedila vulgar natildeo condiz com a vida corpoacuterea e feliz das divindades
As hypoleacutepseis da religiatildeo grega tecircm o poder de produzir como consequecircncia da opiniatildeo de que eacute possiacutevel interagir com as divindadesa suposiccedilatildeo de que ldquodos deuses deri-vam os maiores males e bensrdquo (DL X 124) O culto dos tempos de Epicuro de acordo com Salem (1994 p 181) se expressava de uma maneira quase mercantil Acreditava-se que oferendas e sacrifiacutecios podiam aplacar a ira e alcanccedilar o favor dos deuses bem como maacutes oferendas ou a negligecircncia delas podiam suscitar penas e castigos Epicuro natildeo preten-de persuadir as pessoas que os deuses natildeo existem antes quer demonstrar que suas crenccedilas satildeo contraditoacuterias com a noccedilatildeo de divindade que expressam ldquoSe um deus obedece agraves preces dos homens muito rapidamente todos os homens teriam perecido continuamente eles pedem muitas coisas prejudi-ciais uns aos outrosrdquo (Us 388) Deuses satildeo seres imortais e sumamente felizes e enquanto tais natildeo se envolvem com a vida humana Epicuro evidencia a contradiccedilatildeo entre a noccedilatildeo de divindade e a expectativa de ser beneficiado ou castigado por um deus
Esperar por favores divinos torna o homem indolente esperar por castigos o torna temeroso O temor perturba e impede a
Ethicaacute
136 137
felicidade dos homens A imagem de deuses castigadores in-troduz nos espiacuteritos o medo do futuro e da morte O homem cultua por sacrifiacutecios e oferendas esperando que deuses guiem sua vida mas esses seres em contrapartida satildeo indiferentes ldquoEacute estuacutepido pedir aos deuses o que se pode procurar por si mesmordquo (SV 65) diz Epicuro Supor que seres indiferentes governam e guiam a vida humana nada mais eacute que se deixar ao acaso resignando-se aos desiacutegnios de pretensas divindades Pior que ser escravo de senhores reais eacute ser escravo de senhores inexistentes Esses homens vivem ao sabor da sorte levados pela inconstacircncia do acaso negligenciando seu poder de es-colha e decisatildeo A estes Epicuro convoca a tomar as reacutedeas da vida nas matildeos incitando-os agrave autarquia e a exercer ativamente sua liberdade ldquoO infortuacutenio do saacutebio eacute melhor que a prospe-ridade do insensato pois acha melhor numa accedilatildeo humana o fracasso daquilo que eacute bem escolhido que o sucesso por obra do acaso daquilo que eacute mal escolhidordquo (DL X 135)
O primeiro componente do ldquoquaacutedruplo remeacutediordquo (tetra-phaacutermakos) diz respeito aos deuses ldquosua opiniatildeo [do saacutebio] em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosardquo (DL X 133) Uma opiniatildeo piedosa segundo Epicuro eacute a de quem rejeita os deuses acei-tos pela maioria Esta opiniatildeo segundo a noccedilatildeo impressa (noacuteesis hypegraacutefe) em noacutes pela natureza considera a divin-dade ldquoum ser vivo e felizrdquo (DL X 123) Sobretudo natildeo se deve atribuir agrave divindade qualquer atributo que contradiga sua imortalidade e felicidade
ldquoOs deuses realmente existem e o conhecimento de sua exis-tecircncia eacute manifestordquo (DL X 123) Essa afirmaccedilatildeo inviabiliza a caracterizaccedilatildeo de Epicuro como ateu Lactacircncio39 em seu
39 Lactacircncio viveu entre 240-320 dC e seu comentaacuterio sobre Epicuro foi catalogado por H Usener em Epicurea (1887)
Terceira parte
138 139
De Ira Dei (A Ira de Deus) certamente desejava acentuar ainda mais as diferenccedilas entre o epicurismo e o cristianismo quando atribuiu a Epicuro o famoso argumento
Ou bem diz Epicuro Deus quer suprimir o mal e natildeo pode ou ele pode e natildeo quer ou ele nem quer e nem pode ou ele quer e pode Se ele quer e natildeo pode entatildeo eacute impotente e isso natildeo convecircm agrave Deus se ele pode e natildeo quer ele eacute invejoso mas isso natildeo pode conferir vantagem a Deus se ele nem quer nem pode ele eacute de uma soacute vez invejoso e impotente sendo assim ele natildeo pode ser Deus se ele quer e pode so-mente o que convecircm agrave Deus entatildeo de onde vem o mal Ou porque Deus natildeo o suprime (Us 374)
No entanto o texto da Carta a Meneceu natildeo sugere que Epicuro se referisse a um deus singular nem tampouco a um deus de que se esperasse a expurgaccedilatildeo do mal do mundo Pelo contraacuterio Epicuro se refere a muacuteltiplas divindades que a despeito dos problemas humanos sossegadamente habitam os intermundos (metakoacutesmion) Desse modo que esperar que a prova da existecircncia de Deus seja derivada da intervenccedilatildeo do mesmo no mundo vai totalmente de encontro com os textos de Epicuro que nos restaram
Os deuses de Epicuro natildeo se preocupam com bens ou males A perfeita felicidade desses seres se compreende exatamente na medida em que natildeo se preocupam com os afazeres dos homens Satildeo livres autossuficientes felizes imortais e por isso satildeo modelo para o saacutebio epicurista ldquoSeraacutes como um deus entre os homensrdquo (DL X 135) diz Epicuro a seu dis-ciacutepulo Meneceu O epicurista natildeo espera dos deuses nada aleacutem de um exemplo perfeito pelo qual moldar sua vida Os deuses expressam ideais de liberdade e autarquia eles tecircm tudo o que desejam e realizam sua vontade como querem Se
Ethicaacute
138 139
aos homens natildeo cabe ter tudo que desejam podem no en-tanto administrar-se com vistas a desejar somente o que po-dem realizar independentemente das circunstacircncias Eacute com este fim que Epicuro adverte ldquoA pobreza medida segundo o fim da natureza eacute uma grande riqueza a riqueza sem limite eacute grande pobrezardquo (SV 25) Eacute este tambeacutem o grande bem da autaacuterkeia pois o saacutebio autaacuterquico natildeo depende de ban-quetes sofisticados nem precisa variar seus prazeres cons-tantemente tampouco considera que o fim da vida eacute a soma irrestrita de prazeres nem cultiva riquezas pois encontrou na autaacuterkeia um grande tesouro Ter deuses como modelo de autossuficiecircncia natildeo significa desejar espraiar nosso domiacutenio para aleacutem das fronteiras de nosso ser antes eacute ter o domiacutenio irrestrito daquilo que nos compete Natildeo eacute desejar ardente-mente a Lua e os astros inalcanccedilaacuteveis mas eacute querer apenas o limite da satisfaccedilatildeo da carne
θητεία theteiacutea (sf)- SV 67
Serviccedilo
θόρυβος thoacuterybos (sm)- 132
Tumulto
ἰατρεία iatreiacutea (sf)- S64
Cura cuidado
ἰατρική iatrikeacute (teacutechne) (sf)- 138 221 Us
Medicina
Eacute o impeacuterio exclusivo (monarchiacutee) de uma soacute forccedila no orga-
Terceira parte
140 141
nismo a causa das doenccedilas e o equiliacutebrio (isonomiacutee) das for-ccedilas a causa da sauacutede (Alcmeacuteon de Croacutetona frag 4 - Diels)
A possiacutevel compreensatildeo epicuacuterea acerca da medicina de sua eacutepoca pode ser ldquointuiacutedardquo em algumas raras passagens dos seus textos mas natildeo se encontram nelas elementos que venham a demonstrar suficientemente um saber meacutedico ine-rente aos discursos epicuacutereos nem tampouco temos notiacutecias de algum disciacutepulo de sua eacutepoca que tivesse sido meacutedico Entretanto pelo que vimos ateacute aqui a anaacutelise de saacuterx envolve um conjunto de reflexotildees em torno do cuidado com o corpo
Sabemos de diversas interseccedilotildees entre medicina e filosofia no pensamento antigo desde Alcmeacuteon de Croacutetona e Em-peacutedocles de Agrigento passando por Soacutecrates ateacute Platatildeo e Aristoacuteteles em cujos textos encontramos as mais numerosas referecircncias as analogias que tomam ora a medicina ora o meacutedico como um dos termos e do outro lado encontramos agraves vezes a poacutelis agraves vezes o poliacutetico agraves vezes o filoacutesofo Neste sentido podemos estabelecer analogias entre a medida do agir e a medida do cuidar ambas tendendo sempre a um equiliacutebrio seja como ldquojusta medidardquo seja como ldquomeio--termordquo
Quando afirmamos a pertinecircncia dessas analogias temos presente que tanto a filosofia quanto a medicina buscam ex-plicitar o cuidado de si tendo em vista que a accedilatildeo de cuidar eacute proacutepria do ser do homem ldquoA medicina eacute a arte de curar as enfermidades por seus contraacuterios A arte de curar e de seguir o caminho pelo qual cura espontaneamente a nature-zardquo (Hip Afor 2 p 1 8) Compreendemos aqui o sentido real de agir conforme a natureza ou seja de agirmos de um modo tal que os nossos atos coincidam com o modo proacuteprio da natureza se realizar Neste sentido podemos entender a
Ethicaacute
140 141
teacutechne como complemento da natureza
Epicuro concebe a filosofia como o exerciacutecio de uma sabedo-ria para a vida e pensa ser este o caminho para a realizaccedilatildeo da natureza do sophoacutes com vigor e potecircncia Ora o saber meacutedico parece tambeacutem buscar auxiliar o corpo a realizar--se plenamente de acordo com o modo de ser da proacutepria natureza A cura auxiliada pelo saber eacute para a medicina um modo de accedilatildeo do meacutedico de acordo com a natureza o que quer dizer que em uacuteltima anaacutelise eacute a natureza que cura pois eacute ela mesma que se restabelece e a partir de si mesma Vemos aqui que a medicina em consonacircncia com a filosofia compotildee um saber acerca da natureza que Epicuro chamou Physiologiacutea Mediante isto percebemos que tanto para a fi-losofia epicuacuterea quanto para a medicina antiga a phyacutesis eacute a questatildeo fundamental que enseja toda e qualquer busca pelo conhecimento sendo por isso ao mesmo tempo princiacutepio e finalidade do conhecimento meacutedico e do conhecimento filosoacutefico E eacute desde a compreensatildeo da phyacutesis que se pode estruturar a accedilatildeo do meacutedico ou filoacutesofo Esta accedilatildeo traduz o sentido de um agir ldquode acordo com a naturezardquo que significa ter a sua archeacute mdash que eacute princiacutepio e comando mdash na natureza ao mesmo tempo que o teacutelos mdash que eacute a finalidade da accedilatildeo do homem no mundo e especificamente finalidade do conhe-cer tambeacutem na natureza
ἱκανός hikanoacutes (ad)- 45 55 59 SV 65 SV 68
Suficiente capaz
ἰσονομία isonomiacutea (sf)- 352 Us
Igualdade perante a lei
Terceira parte
142 143
καθαριότης katharioacutetes (sf)- SV 63
Pureza simplicidade frugalidade
καιρός kairoacutes (sm)- 35 98 115 XXV
Circunstacircncia tempo ocasiatildeo
καταπυκνόω katapyknoacuteo (v)- IX
Tornar-se espesso ganhar espessura
καταστηματικός katastematikoacutes (ad)- 136 2 Us
Repousante estaacutevel Adjetivo aplicado a certos prazeres
καταστροφή katastropheacute (sf)- 126 XX XXXV
Fim (da vida) ruiacutena desaparecimento
κενοσοξία kenodoxiacutea (sf)- XXX
Opiniatildeo vazia
κοινωνία koinoniacutea (sf)- XXXVI XXXVII XXXVIII
Comunidade vida em comum
μακάριος makaacuterios (ad)- 78 79 80 81 84 123 134 I
Feliz bem aventurado
μακαριότης makarioacutetes (sf)- 76 77 97 123 XXVII
Bem aventuranccedila felicidade
Ethicaacute
142 143
μακαρισμός makarismoacutes (sm)- SV 52
Accedilatildeo de louvar ou de invejar a felicidade alheia
μακαριστός makaristoacutes (ad)- SV 17
Considerado feliz
μελέτη meleacutete (sf)- 126
Meditaccedilatildeo
νόμος noacutemos (sm)- XXXVII
Lei
οἰκειότης oikeioacutetes (sf)- XL
Familiaridade amizade
ὁμόφυλος homoacutephylos (ad)- XXXIX
Aliado da mesma tribo Vide supra alloacutephylos-ἀλλόφυλος (na primeira parte)
ὄρεξις oacuterexis (sf)- XXVI 202 422 Us
Apetite
ὄχλησις oacutechlesis (sf)- VIII
Aborrecimento perturbaccedilatildeo
παιδεία paideiacutea (sf)- SV 45 117 163 Us
Cultura educaccedilatildeo
Terceira parte
144 145
παράστασις paraacutestasis (sf)- 81 138 Us
Deliacuterio
παρ᾿ἡμᾶς parrsquo hemacircs (prep παρά + 1ordf pessoa pl ἡμᾶς) - 133 27 Us (135)
Cabe-nos (cabe a noacutes) Parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo grega composta por dois vocaacutebulos unidos por elisatildeo paraacute e he-macircs Segundo Murarcho (2007 p 532) ldquoparaacute significa exa-tamente ao lado derdquo Por sua vez hemacircs eacute o pronome plural da primeira pessoa no acusativo traduzido pelo pronome obliacutequo aacutetono ldquonosrdquo Assim sendo a expressatildeo parrsquo hemacircsse descreve como a junccedilatildeo da preposiccedilatildeo paraacute (ao lado de) e do pronome hemacircs (nos) A expressatildeo tem sentido conotativo significando o que estaacute em poder do homem
Gama Kury (2008 p 314) traduz a expressatildeo parrsquo hemacircs por ldquodepende de noacutesrdquo diferente de Hicks (1925 p659) que traduz por ldquoour own action40rdquo Por sua vez Bollack (1975 p 81) traduz parrsquo hemacircs por ldquoce que tient agrave nous41rdquo Apesar das diferentes traduccedilotildees disponiacuteveis a melhor maneira de entender a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute pelo contexto do passo 133 da Carta a Meneceu
Crecirc entatildeo Meneceu que ningueacutem eacute superior a tal homem Sua opiniatildeo em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosa e ele se mostra sempre destemeroso diante da morte Ele reflete intensa-mente sobre a finalidade da natureza e tem uma concepccedilatildeo clara de que o bem supremo pode ser facilmente atingido e facilmente conquistado e que o mau supremo dura pouco e causa sofrimentos passageiros Finalmente ele proclama
40 ldquonossa proacutepria accedilatildeordquo41 ldquoo que nos concernerdquo
Ethicaacute
144 145
que o destino introduzido por alguns filoacutesofos como se-nhor de tudo eacute uma crenccedila vatilde e afirma que algumas coisas acontecem necessariamente outras por acaso e outras nos cabe fazer porque para ele eacute evidente que a necessidade gera a irresponsabilidade e que o acaso eacute inconstante e as coisas que cabe-nos fazer satildeo livremente escolhidas e satildeo naturalmente acompanhadas de censura e louvor (DL X 133)
Nessa passagem da carta haacute uma descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do homem que assimilou os preceitos baacutesicos do epicurismo Nela estaacute resumido aquilo que os epicuristas chamaram de tetraphaacutermakos (o quaacutedruplo remeacutedio42) O homem modelo como ldquoum deus entre os homensrdquo (DL X 135) natildeo teme a morte eacute feliz e traccedila seus proacuteprios caminhos Desdenha qualquer possibilidade de intervenccedilatildeo divina e defende que noacutes somos livres Investigou a natureza (phyacutesis) conhece seus princiacutepios e encontrou no prazer o fim (teacutelos) de todo homem
Epicuro natildeo diz expressamente a quem se refere ao afir-mar ldquoningueacutem eacute superior a tal homemrdquo ou como traduz Conche ldquoQuem estimas tu superior agravequelerdquo No entanto a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do saacutebio e do que se deve fazer para ter uma vida saacutebia comeccedila no passo 126 que diz ldquoo saacutebio (hoacute degrave sophoacutes) natildeo renuncia agrave vida nem teme a cessaccedilatildeo da vidardquo O saacutebio considera vatilde a crenccedila dos que apresentam o destino como um tirano Esta uacuteltima carac-teriacutestica do sophoacutes eacute determinante para a compreensatildeo de parrsquo hemacircs pois negar a crenccedila no domiacutenio irrestrito do destino (heimarmeacutene) implica em considerar a liberdade da accedilatildeo humana Segue-se pois na ordem do texto a afirma-
42 Cf MP II
Terceira parte
146 147
ccedilatildeo que anuncia o poder do homem expresso sob a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs ldquoalgumas coisas acontecem necessariamente (anaacutenke) outras por acaso (tyacuteche) e outras nos cabe fazerrdquo (parrsquo hemacircs)
A natureza eacute portanto neutra naquilo que cabe aos homens realizar O acaso (vide supra τύχη tyacuteche na pri-meira parte) limita a extensatildeo da necessidade (vide supra ἀνάγκη anaacutenke na primeira parte) e abre as portas para novas cadeias causais serem iniciadas A tradiccedilatildeo epicu-rista relaciona parrsquo hemacircs ao pareacutenklisis ou clinamen (Vide supra παρέγκλισις na primeira parte) Embora Epicuro natildeo tenha mencionado nada a respeito do desvio aleatoacuterio dos aacutetomos (pelo menos natildeo em seus textos remanescen-tes) percebe-se que a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute possibilitada pelo acaso sob a forma dos desvios bem como sua vigecircncia envolve a vontade deliberaccedilatildeo autarquia e escolha dos viventes Enfim parrsquo hemacircs se relaciona com a noccedilatildeo de li-berdade em sentido amplo Jaacute Filodemo aproxima a noccedilatildeo de pareacutenklisis da noccedilatildeo de parrsquo hemaacutes
Natildeo eacute suficiente admitir iacutenfimas declinaccedilotildees dos aacutetomos por causa do acaso e da liberdade (tograve tycherograven kaigrave tograve parrsquo hemacircs) mas eacute necessaacuterio provar que esta declinaccedilatildeo natildeo combate nenhum fato evidente (enargoacuten) (De Signis XXXVI 7-17 apud SALEM 1997 p 68)
Apesar do problema epistemoloacutegico levantado por Filodemo em relaccedilatildeo a natildeo-contradiccedilatildeo do clinamen ou pareacutenklisis fica claro que parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo utilizada para falar de liberdade de maneira geral ou seja de todas as possibilida-des abertas pelo desvio aleatoacuterio dos aacutetomos A expressatildeo parrsquo hemacircs abrange um conjunto de coisas que se relacionam com o agir livre do homem
Ethicaacute
146 147
περίβλεπτος periacutebletos (ad)- VII
Renomado famoso
περίβλεψις periacuteblepsis (sf)- SV 81
Observaccedilatildeo vigilacircncia
περίπτωσις periacuteptosis (sf)- 36 Us
Acaso desgraccedila
πίστωμα piacutestoma (sn)- XL
Garantia
πλήρωμα pleacuteroma (sn)- SV 59
Repleccedilatildeo satisfaccedilatildeo plenitude
ποιητικός poietikoacutes (ad)- VIIIX
Produtivo
ποικίλλειν poikiacutellein(v inf)- XVIIIXXIX
Variar diversificar Este termo se refere agrave possibilidade de variaccedilatildeo dos prazeres O prazer natildeo aumenta infinitamente apenas variaVide supra haacutepax-ἄπαξ (nessa mesma parte)
ποίκιλμα poiacutekilma(sn)- SV 69
Variedade
πολιτικός politikoacutes (ad)- SV 58
Puacuteblico
Terceira parte
148 149
πολυτελεία politeleiacutea (sf)- 130 181 Us
Despesa extravagacircncia
πόνος poacutenos (sm)- 133 137 (66 Us) SV 4
Sofrimento afliccedilatildeo
πρᾶγμα praacutegma (sn)- 36 39 49 53 75 76 IXX XXI XXXVII XXXVIII SV 45 SV 67
Coisa acontecimento fato circunstacircncia realidade
πραγματεία pragmateiacutea (sf)- 35 7783
Sistema doutrina
πρᾶξις praacutexis (sf)-81135 XXV
Accedilatildeo ato
προκαταστροφή prokatastropheacute (sf)- XL
Morte prematura
σεβασμός sebasmoacutes (sm)-SV 32
Adoraccedilatildeo veneraccedilatildeo
σοβαρός sobaroacutes (ad)- SV 45
Destemido
σοφία sophia(sf)-117XXVII SV 78
Sabedoriacutea
Ethicaacute
148 149
σοφός sophoacutes (ad)-117 125 XVI SV 32 S44 SV56
Saacutebio
σπουδή spudeacute (sf)- 84XXX SV 61
Esforccedilo ardor
στέρησις steacuteresis (sf)- 124
Privaccedilatildeo
συζήτησις syzeacutetesis (sf)- SV74
Discussatildeo disputa pesquisa em conjunto Termo utilizado pela primeira vez por Epicuro
σύμβολον syacutembolon (sn)- XXXI
Garantia contrapartida
συμμέτρησις symmeacutetresis (sf)-130
Comparaccedilatildeo
σύνφυτος syacutemphytos (ad)- 129
Inato
συναναστροφή synanastropheacute (sf)- SV 18
Convivecircncia
συνήθεια syneacutetheia (sf)- SV 46
Haacutebito
Terceira parte
150 151
συνθήκη syntheacuteke (sf)- XXXIIXXXIII
Acordo pacto contrato
σωτηρία soteriacutea (sf) SV 80
Salvaccedilatildeo
ταραχή taracheacute (sf)- 81 XVII XXII SV 81
Perturbaccedilatildeo
ταραχώδης tarachoacutedes (ad)- 116 Us
Perturbado
τιμή timeacute (sf) (- 134 SV 81
Honra
τύχη tyacuteche (sf)- 120 (584 Us) 131 133 134 XVI SV 17
Acaso sorte fortuna As noccedilotildees de acaso (tyacuteche) e necessida-de (anaacutenke) satildeo compatibilizadas por Epicuro em sua visatildeo geral da phyacutesis Nela alguns axiomas satildeo apresentados como necessaacuterios por exemplo todos os aacutetomos estatildeo em cons-tante movimento Esta afirmaccedilatildeo eacute axiomaacutetica por revelar o que necessariamente eacute intuiacutedo na anaacutelise dos modos de ser de phyacutesis Em consequecircncia disso o constante movimento dos aacutetomos supotildee a declinaccedilatildeo casuiacutestica de alguns aacutetomos pois soacute assim eacute possiacutevel explicar a diversidade dos corpos e as muacuteltiplas configuraccedilotildees pelas quais eles passam no decorrer de suas existecircncias individuais enquanto corpos Visto de outro modo a totalidade dos aacutetomos e do vazio existentes
Ethicaacute
150 151
permanece a mesma ainda que os aacutetomos e o vazio sejam ilimitados Entretanto quando analisados os mundos e os demais corpos particularizados no interior do todo se mos-tram vulneraacuteveis agraves mudanccedilas e acabam por expressar en-quanto existecircncias dissemelhantes a atuaccedilatildeo do acaso como elemento diferenciador
Portanto os diversos niacuteveis de alteraccedilatildeo dos corpos que ocorrem necessariamente satildeo consequecircncias dos desloca-mentos dos aacutetomos portadores do princiacutepio de movimento expresso nas trajetoacuterias oriundas dos deslocamentos e nas casuiacutesticas declinaccedilotildees que sofrem quando desviam O acaso pode ser concebido tendo em vista a pluralidade dos corpos e a indeterminaccedilatildeo absoluta do todo Poreacutem uma anaacutelise mais detalhada das implicaccedilotildees entre os termos aca-so e necessidade nos textos de Epicuro sobretudo do modo em que coexistem em seu sistema requer a explicitaccedilatildeo do sentido fiacutesico da concepccedilatildeo de necessidade
Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem fi-nalidade (teacutelos)rdquo E somente o termo anaacutenke pode significar necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo proacutenoia para designar necessidade de qualquer ma-neira a necessidade nunca foi enunciada por Epicuro num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
No mesmo contexto o termo tyacuteche traz em si a negaccedilatildeo de toda a finalidade que poderia existir no movimento necessaacute-rio de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos e mundos
Terceira parte
152 153
ou seja natildeo eacute cabiacutevel falar de teleologia no pensamento de Epicuro porque ele evidencia a presenccedila do acaso na realizaccedilatildeo do movimento como ausecircncia de finalidade na explicaccedilatildeo dos corpos e mundos Dessa maneira tudo o que acontece a geraccedilatildeo o desenvolvimento e a corrupccedilatildeo dos corpos acontece por necessidade poreacutem a diversificaccedilatildeo dos acontecimentos eacute resultado da interferecircncia do acaso ou dos desvios nas trajetoacuterias dos aacutetomos Contudo ldquoEacute neces-saacuterio que algo de imutaacutevel subsista para que as coisas natildeo recaiam totalmente no nadardquo (DRN II 751 752) Como eacute necessaacuterio pela proacutepria natureza do acaso que os corpos e mundo sejam diferentes e sujeitos agrave geraccedilatildeo e agrave corrupccedilatildeo bem como as modificaccedilotildees ocorridas durante o periacuteodo de desenvolvimento isto eacute durante o movimento ininterrupto de suas existecircncias A compreensatildeo de phyacutesis nos seus diver-sos modos de realizaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel para um sistema de pensamento que trabalha positivamente as noccedilotildees de tyacuteche e anaacutenke
ὑγιαίνειν hyguiaiacutenein (v inf)- SV 54
Ter sauacutede
ὑγίεια hyguiacuteeia (sf)- 128 131 138 (504 Us)
Sauacutede
φιλία philiacutea (sf)- 120 XXVIIXXVIII SV 23 S28S34 S39 S52 S78
Amizade A philiacutea eacute uma forma voluntaacuteria e prazeirosa de se relacionar com os outros Cada indiviacuteduo busca agrupar--se num conjunto ou seja agregar-se segundo a natureza
Ethicaacute
152 153
Mas o saacutebio busca o conviacutevio com afins por natureza mas tambeacutem por conveniecircncia (opheacuteleia) O que conveacutem a todos eacute natildeo sofrer danos mas para o saacutebio eacute preciso tambeacutem livrar--se da ignoracircncia e das crenccedilas vazias que levam os homens a cometerem injusticcedilas uns aos outros Desse modo a amiza-de filosoacutefica eacute diferente das relaccedilotildees que comportam atitudes que levam ao desconforto e produzem o desequiliacutebrio O que eacute conveniente (syacutempheron) eacute semelhante na atitude e na reflexatildeo Haacute uma medida um caacutelculo um sentido de harmonia para realizar a amizade A amizade eacute na praacutetica a sabedoria de viver em conjunto A amizade resulta do equi-liacutebrio de interesses daqueles implicados na relaccedilatildeo Ela nasce de maneira espontacircnea mas se consolida pela reflexatildeo acerca da naturalidade da vida em conjunto e do comedimento que equilibra os modos de agir esta eacute uma possiacutevel interpretaccedilatildeo do que Demoacutecrito pensou sobre a amizade ldquoAcordo no pen-sar engendra a amizaderdquo (DK B II 33 9)
A philia supotildee uma afinidade de pensamento e tambeacutem de accedilatildeo uma vez que as relaccedilotildees se efetivam na busca em conjunto da physiologiacutea da compreensatildeo da realidade Neste sentido a praacutetica de vida eacute saacutebia e o saber se faz em torno da vida Epicuro manteacutem a naturalidade da amizade e faz dela a base do movimento de agregaccedilatildeo social Sendo possiacutevel a amizade tambeacutem seraacute o direito e a poliacutetica O direito eacute fruto da relaccedilatildeo entre phyacutesis e noacutemos e a poliacutetica se realizaraacute no acordo entre semelhantes Na praacutetica Epicuro pensou em comunidades de pensamento e accedilatildeo De alguma manei-ra ele buscou tornar possiacutevel uma comunidade de amigos estabelecendo uma descontinuidade com o espaccedilo puacuteblico das cidades A philiacutea que eacute a base das relaccedilotildees existentes na comunidade natildeo eacute a priori fruto de um contrato uma vez
Terceira parte
154 155
que eacute imanente agrave natureza O contrato eacute uma consequecircn-cia eacute um acordo entre modos de pensar Mas o que move o pensamento na realizaccedilatildeo do acordo eacute o sentimento de equi-liacutebrio seguranccedila e a tranquilidade que a amizade produz Portanto a amizade brota de desejos naturais e necessaacuterios e se expressa no loacutegos sob a forma de acordos que satildeo estabe-lecidos segundo a conveniecircncia muacutetua (opheacuteleia) Pensar-se a si proacuteprio e ter o princiacutepio de suas accedilotildees em si mesmo qua-lifica o homem para a aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo da amizade De outra maneira no vazio das reflexotildees satildeo projetadas as falsas opiniotildees ou opiniotildees vazias que alimentam crenccedilas e desejos imoderados agraves vezes naturais agraves vezes natildeo mas quase sempre desnecessaacuterios Esses desejos crenccedilas e falsas opiniotildees cumulam em injustas agressotildees disputas pelo po-der desconfianccedila insensatez e anguacutestia ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacuteprocas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto no sentido de natildeo prejudicar nem de ser prejudicadordquo (DL X 150) E tambeacutem ldquoPara todos os seres vivos incapazes de estabelecer pactos com o intuito de natildeo prejudicar os outros e de natildeo ser prejudicados nada era justo ou injusto Acontece o mesmo em relaccedilatildeo aos povos que natildeo podiam ou natildeo queriam estabelecer pactos destinados a natildeo prejudicar e natildeo ser prejudicadosrdquo (DL X 150)
Eacute preciso entretanto atentar para o que assevera Epicuro que natildeo foi nem pretendeu ser um pensador poliacutetico Ele orientou o modo de vida filosoacutefico pela philiacutea A conveni-ecircncia muacutetua aleacutem de propiciar o pacto de natildeo sofrer nem cometer danos uns aos outros daacute sentido agrave uniatildeo entre os homens que se caracteriza pela afinidade e natildeo pela simples contenccedilatildeo das diferenccedilas ldquoToda a amizade deve ser buscada
Ethicaacute
154 155
por ela mesma mesmo que ela tenha sua origem na necessi-dade de uma ajudardquo (SV 23)
Epicuro mais uma vez marcando uma diferenccedila em relaccedilatildeo aos cirenaicos natildeo reduz a amizade ao seu caraacuteter utilitaacuterio mas afirma a conveniecircncia inerente agrave busca e manutenccedilatildeo da amizade Para ele que concorda com Aristoacuteteles o saacutebio pode proporcionar ao outro homem uma amizade digna dos me-lhores homens ou daqueles dotados de logismoacutes e de phroacutenesis pois a amizade que nasce da conveniecircncia tambeacutem se ali-menta dela ou seja ela produz acordo entre ideias e atitudes Tambeacutem para Epicuro o propoacutesito da amizade eacute o de ser na praacutetica a comunhatildeo de uma mesma filosofia Neste sentido eacute iacutentima a relaccedilatildeo entre a amizade e o bem que eacute o prazer pois dentre outras coisas a amizade mostra-se isenta de pai-xotildees tais como o oacutedio o rancor e a veneraccedilatildeo Aleacutem disso a amizade natildeo cumula em reaccedilatildeo pois eacute a expressatildeo de uniatildeo e equiliacutebrio entre aqueles que se afinam mutuamente pela natureza de caraacuteter e sabedoria ldquoAquele que eacute bem-nascido se dedica principalmente agrave sabedoria e agrave amizade dois bens dos quais um eacute mortal e o outro imortalrdquo (SV 78)
φιλόλογος philoacutelogos (ad)- S74
Aquele que busca argumentos ou raciociacutenios
φιλοσοφία philosophiacutea (sf) 22(138 Us) 132 SV 27 S41 117 Us219 Us 221 Us
Filosofia Na maacutexima 41 Epicuro utiliza este termo associa-do agrave oacuterthes (reta) com a intenccedilatildeo clara de mostrar que esta ldquoreta filosofiardquo deve ser praticada em todo momento para que a vida se torne justa bela e saacutebia A filosofia eacute definida
Terceira parte
156 157
como um saber em torno da vida no sentido de ser um exer-ciacutecio de bem viver
φιλόσοφος philoacutesophos (sm)- 221 Us
Filoacutesofo
φρόνησις phroacutenesis (sf)- 132
Sensatez sabedoria praacutetica Epicuro utiliza o termo phroacutenesis num sentido muito similar agravequele desenvolvido por Aristoacuteteles ou seja como sabedoria praacutetica Ele atribui agrave phroacutenesis a prima-zia na realizaccedilatildeo da vida filosoacutefica ou saacutebia A teacutechne eacute o modo de accedilatildeo e a filosofia eacute o exerciacutecio desse saber em torno da vida (techne tis perigrave tograven biacuteon) Assim a phroacutenesis eacute o exerciacutecio praacutetico da sabedoria (epigrave degrave philosophiacuteas) e num sentido abrangente da atividade filosoacutefica coincide com a proacutepria filosofia
Haacute uma passagem na Carta a Meneceu (DL X 132) onde Epicuro utiliza o termo phroacutenimos para significar aquele que deteacutem uma sabedoria no agir Eacute um momento em que fica clara a influecircncia socraacutetico-platocircnica pois aproxima e faz co--pertencer a um mesmo acorde phroacutenimos kaloacutes ediacutekaios (o saacutebio o bom e o justo)(vide supra δίκαιος nesta mesma parte) Tais noccedilotildees fundam uma seacuterie de relaccedilotildees no pensamento antigo e se mantecircm coesas no texto de Epicuro Eacute ao mesmo tempo uma dyacutenamis e uma possibilidade do pensamento quando este exerce o seu poder de escolha e de recusa Epi-curo considera que se pode escolher o que eacute ponderadamente refletido e recusar o que natildeo eacute necessaacuterio nem conveniente (syacutempheron) A condiccedilatildeo da autaacuterkeia eacute agir aliando o logismoacutes e a phroacutenesis pois a phroacutenesis age na triagem dos desejos que se quer e que se pode realizar na medida em que confere uma
Ethicaacute
156 157
medida natural para o bem-estar e para o prazer A phroacutenesis eacute moduladora das accedilotildees e dos desejos naturais e necessaacuterios que nos conduzem aos prazeres
Outra consequecircncia da primazia da phroacutenesis no exerciacutecio da sabedoria eacute que o esforccedilo para pensar a phyacutesis e o equiliacutebrio sereno diante do que pode causar temores provoca a agradaacute-vel ataraxiacutea um bem-estar (eustaacutetheiavide supra εὐστάθεια nesta mesma parte) Epicuro traccedila a imagem da vida filosoacutefica como vida autaacuterquica e daacute ao pensamento uma dyacutenamis a realizaccedilatildeo da conduta de acordo com a natureza ou do que se adquire com a physiologiacutea O que perturba enfraquece escraviza eacute a ignoracircncia que gera temores e opiniotildees vazias Viver segundo a natureza aqui quer dizer viver segundo a compreensatildeo que se pode ter da phyacutesis A physiologiacutea eacute um exerciacutecio para escapar agrave ignoracircncia e natildeo a substantivaccedilatildeo da natureza como uma noccedilatildeo estaacutetica cientificista ldquoEacute pela ignoracircncia dos bens e dos males que a vida dos homens eacute em grande escala perturbada e por causa desta erracircncia eles frequentemente se privam dos prazeres e se torturam com as mais crueacuteis dores da almardquo43 ldquoUm entendimento correto dessa teoria permitir-nos-aacute dirigir toda a escolha e toda a rejeiccedilatildeo com vistas agrave sauacutede do corpo e agrave tranquumlilidade da alma pois isso eacute o que se pode supremamente realizar na vidardquo (DL X 128) ldquoQuando entatildeo dizemos que o prazer eacute o fim () por prazer ltentendemosgt a ausecircncia de sofrimentos no corpo e a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na almardquo (DL X 131)
φρονίμως phroniacutemos (adv)- 132 V
Sabiamente sensatamente
43 Ciacutecero De Finibus I 13 42
158 159
Terceira parte
158 159
φυγή phygeacute (sf) - 128 129 132 XXV
Rejeiccedilatildeo recusa fuga
χαρά charaacute (sf)- 66 SV 81 2 Us
Gozo alegria
χάρις charis (sf)- 77 122 I SV 17 SV39 SV55
Benevolecircncia graccedila
χρεία chreiacutea (sf)- 120 87 128 XXXVII SV 34
Necessidade precisatildeo uacutetil
χρῆσις chreacutesis (sf)- 131
Ocupaccedilatildeo
χυλός chyloacutes (sm) 130
Frugal
ὠφέλεια opheacuteleia (sf)- 124 SV 23
Conveniecircncia muacutetua benefiacutecio utilidade No pensamento de Epicuro este termo estaacute relacionado agrave philiacutea (amizade) (vide supra φιλία nesta mesma parte) e pode ser traduzido em determinadas passagens por ldquoconveniecircncia muacutetuardquo Por outro lado pode ser traduzido por ldquoutilidaderdquo no sentido de algo que devas ser buscado ou praticado com a finalidade de viver
Referecircncias Bibliograacuteficas
158 159158 159
referecircnciAS BiBliograacuteficAS
Textos de Epicuro
Arrighetti G Epicuro Opere Torino Giulio Einaude 1960
Bignone E Opere frammenti testimonianze sulla sua vita Roma LrsquoEr-ma di Bretscheider 1964
Bollack J amp Wismann H La lettre d`Eacutepicure Paris Les Editions de Minuit 1971
mdashmdashmdash amp Laks A Eacutepicure agrave Pythoclegraves Cahiers de Philologie Paris Les Editions de Minuit 1975
mdashmdashmdash La penseeacute du plaisir Eacutepicure textes moraux commentaires Paris Les Editions de Minuit 1975
Conche M Epicure lettres et maximes Paris eacuted De Megare1977
Epicuro Antologia de textos In Epicuro et al Satildeo Paulo Abril Cul-tural1980
mdashmdashmdash The works of Epicurus The extant remains of the greek text trans-lated by Cyril Bailey with an introduction by Irwin Edman Nova Iorque The Limited Edition 1947
mdashmdashmdash Obras Completas 2ordf ed Trad Joseacute Vara Madri Ediccedilotildees Caacutet-edra 1996
Laursen S The summary of Epicurus On Nature Book 25 Papyrologia Lupiensia Lecce 1 1991 142-154
Parente M I Opere di Epicuro Torino Unione Tipografico-Editrice Torinese 1974
Salem J laquo Commentaire de la lettre drsquoEpicure agrave Heacuterodote raquoCahiers de Philosophie ancienne nordm9 Bruxelles Editions Ousia 1993
Solovine M Epicure doctrine et maxims Paris 1965
Wotke K amp Usener H Epikureische Spruchsammlung Wierner Stu-dien fuumlr Klassiche philologie 10 1888 p 175-201
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Outros autores antigos
Aristoacuteteles De anima Trad Maria Ceciacutelia Gomes dos Reis Satildeo Paulo Editora 34 2006
mdashmdashmdash De la geacuteneacuteration des animauxTrad P Louis Paris Les Belles Lesttres 1901
mdashmdashmdash Eacutethique agrave Nicomaque Trad J Voilquin Paris Garnier 1961
mdashmdashmdash Nicomachean Ethics Londres Ed Willian Meinemann Har-vard University Press 1939
mdashmdashmdash Histoire des Animaux Trad P Louis Paris Les Belles Lettres 1964
mdashmdashmdash Petits traiteacutes drsquohistoire naturelle Trad R Mugnier Paris Les Belles Lettres 1953
Lucreacutecio Da Natureza In Epicuro et al Trad Agostinho da Silva Satildeo Paulo Abril Cultural1980
Cicero De finibus bonorum et malorum Trad H Rackham MA Lon-dresNova Iorque William HeinemannThe Macmillan CO 1914
Ciceacuteron De La Natura des Dieux Trad Nouv notes par C Appuhn Paris Garniersd
mdashmdashmdash Lrsquoamitieacute Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 1952
mdashmdashmdash Les Devoirs Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 196570
Diocircgenes Laecircrtios Vidas e doutrinas dos filoacutesofos ilustresTrad Gama Kury Brasiacutelia UNB 1988
Diogenes Laertius Lives of eminent philosophers Vol 2 Trad R Hicks Cambridge Havard University Press1925
Filodemo Agli amici di scuola Naacutepoles Bibliopolis 1988
mdashmdashmdash Memorie Epicuree Naacutepolis Bibliopolis 1997
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Hippocrates Works (I VII) London Harvard University Press 1988
Lucreacutece De la Nature Paris Garnier 1954
Grene D amp Lattimore R The Complete Greek Tragedies of Aeschylus The University of Chicago Press 1959
Philodemus On the frank criticism Trad David Konstan et al Atlanta Society of Biblical Literature 1998
mdashmdashmdash On the methods of inference Naacutepoles Bibliopolis 1978
Platatildeo As Leis ou da legislaccedilatildeo e Epinomis Trad de Edson Bini 2ordf ediccedilatildeo Bauru SP Edipro 2010
Plutarque Du stoicisme et lrsquoepicurisme Trad Ricard Didier Apresenta-ccedilatildeo e notas Jean Salem Paris Eacuteditions Sand 1996
mdashmdashmdash Contre Colotes In Ouvres morales et ouvres diverses IV Paris Manchete 1970
Sextus Empiricus Contre les professeurs Editions du Seuil 2002
Seneca AD Lucilium Epistulae Morales Trad Richard M Gummere LondresNova Iorque William Heinemann G P Putnamrsquos sons 1925
Smith MF Fragments of Diogenes of Oenoanda Discovered and Redis-covered American Journal of Archaeology Vol 74 nordm1 (Jan 1970) p 51-72
Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Ellias Pinheiro Coimbra CECH 2009
Estudos modernos
Baudry J Le problem de lrsquoorigine et de lrsquoeterniteacute du monde dans la philo-sophie grecque de Platon agrave lrsquoegravere chreacutetienne Paris Les Belle Lettres 1931
Bayley C Epicurus the extant remains Oxford 1926
mdashmdashmdash The Greek atomists and Epicurus Oxford 1928
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Bignone H LrsquoAristotele perdugraveto e la formazione filosofica di Epicuro Flo-renccedila 1936
Bergson H L Extraits de Lucreacutece avec notes et une eacutetude sur la poeacutesie la philosophie la physique le texte et la langue de Lucregravece 10 ed Paris De La Grave sd
Bnobzie S Did Epicurus discover the free will problem In Sedley D (Org) Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Oxford University Press 19 287-337 2000
Boyanceacute P Lucregravece et lrsquoeacutepicurisme Collection ldquoLes grands penseursrdquo (dirigeacutee par P-M Schuhl) Paris PUF 1963
Brown E Politcs and society In WARREN J (Org) The Cambridge companion to epicureanism Cambridge Cambrigde University Press 2009
Brun J O Epicurismo Lisboa 70 1989
mdashmdashmdash Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Conche M La mort et la penseacutee Editons de Meacutegare 1973
Dewitt N St Paul and Epicurus Mineaacutepolis University of Minnesota Press 1954
mdashmdashmdash Epicurus and his philosophy Mineaacutepolis University of Minne-sota Press 1954
Diogini I Lucrezio le parole e le cose Bolonha Ed Paacutetron 1988
Duvernoy J-F O Epicurismo e sua tradiccedilatildeo antiga Satildeo Paulo Zahar 1990
Etienne A Dominic O La philosophie eacutepicurienne sur Pierre Fribur-goParisEacutedition Universitaires Fribourg Suisse Eacutedition du Cerf Paris 1996
Farrington B A doutrina de Epicuro Trad de Edmond JorgeRio de Janeiro Zahar Editores 1967
mdashmdashmdash The faith of Epicurus Londres Weidenfeld and Nicholson 1967
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Festugieacutere A-J Eacutepicure et ses dieux Paris Presses Universitaires de France 1946
Finley M I Os Gregos antigos Trad Artur Mouratildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2002
Furley D J Two studies in greek atomists Princeton University Press 1967
Gigandet A Morel P-M (Orgs) Ler Epicuro e os epicuristas Satildeo Paulo Loyola 2011
Gigante M Studisull`epicureismo greco-romano Naacutepoles 1983
mdashmdashmdash La bibliothegraveque de Philodegraveme et lrsquoepicurisme romain Paris Soci-eacuteteacute DrsquoEacutedition Les Belle Lettres 1987
Goldschmidt V La Doctrine drsquoEpicure et le droit Paris Vrin 1977
Gual C G Epicuro Madrid Alianza Editorial 1981
Guyau J -M La morale drsquoEacutepicure et ses rapports avec les doctrines con-temporaines Paris Librairie Feacutelix Alcan 1927
Jaeger W Paideacuteia a Formaccedilatildeo do Homem Grego Trad Artur M Par-reira Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
Long A A Sedley D N The Hellenistic philosophers v1 Cambridge Cambridge University Press 1987
Konstan D Some aspects of Epicurean psychology Leiden Brill 1973
Laks A Edition critique et commenteacutee de la ldquoVierdquo drsquoEpicure das Diogegravene Laerce Cahiers de Philologie 1 Eacutetudes sur lrsquoepicurisme AntiquePublications de lrsquoUniversiteacute de Lille III 1976
Marx K Diferenccedila entre as filosofias da Natureza em Demoacutecrito e Epicuro Satildeo Paulo Globalsd
Masi F G Epicuro e la filosofia della mente il XXV libro dellrsquoopera Sulla Natura Sankt Augustin Academia Verlag 2006
Mewaldt J O Pensamento de Epicuro Satildeo Paulo Iacuteris 1960
Mondolfo R O homem na cultura antiga a compreensatildeo do sujeito humano na cultura antiga Trad Luiz Caruso Satildeo Paulo Edi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
tora Mestre Jou 1968
mdashmdashmdash O infinito no pensamento da antiguidade claacutessica Trad Luiz Da-roacutes Satildeo Paulo Editora Mestre Jou 1968
Morel P-M Deacutemocrite et la recherche des causes Langres Klincksieck 1996
mdashmdashmdash Eacutepicure Paris Librarie philosophique J Vrin 2013
mdashmdashmdash Atome et neacutecessiteacute Deacutemocrite Eacutepicure Lucregravece Paris Presses Universitaires de France 2000
Nizan P Les Mateacuterialistes de lrsquoAntiquiteacute Deacutemocriteacute Eacutepicure Lucregravece Paris Eacuted Sociales Internationales 1938
Nussbaum M The therapy of desire theory and practice in hellenistic ethics Princeton Princeton University Press 1994
Orsquokeefe T Epicurus on Freedom Nova Iorque Cambridge University Press 2005
mdashmdashmdash Epicurianism Durham Acumen 2010
Paratore E Lrsquoepicureismo e la sua diffusione nel mondo latino Roma Ed dellrsquoAteneo 1960
Pessanha J A M As deliacutecias do jardim In Eacutetica Satildeo Paulo Cia Le-tras 1992 pag 57-85
Pesce D Introduzione a Epicuro Bari Editori Laterza 1981
mdashmdashmdash Saggio su Epicuro Bari Editori Laterza 1974
Pigeuad J La Maladie de Lrsquoame Paris Les Belles Lettres 1989
Quevedo F Defesa de Epicuro contra la comuacuten opinioacuten Madrid Tec-nos1986
Ridder A Lrsquoideacutee de la mort en Gregravece a lrsquoepoque classique Paris Librarie Thorin et Fils 1897
Risst John Epicurus an introduction Cambridge University Press 1972
Robin Leon La penseacutee grecque Paris Eacuteditions Albin Michel 1948
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
(Livre IV chapitre II Lrsquoeacutepicurism p 387-408)
Romilly J La Gregravece antique a La deacutecouverte de la liberteacute Paris LGF Livre de Poche 1989
Salem J Lucregravece et lrsquoeacutethique la mort nrsquoest rien pour nous Paris J Vrin 1997
mdashmdashmdash Deacutemocrite EacutepicureLucreacutece la veacuteriteacute du minuscule Paris Encre Marine 1998
mdashmdashmdash Tel un dieu parmi les hommes Lrsquoethique drsquoEacutepicure Paris Librai-rie Philosophique J Vrin 1994
Santayana G Three philosophical poets Cambridge Harvard University Press 1947
Silva M F Epicuro Sabedoria e Jardim Rio de Janeiro Relume Du-maraacute 1998
mdashmdashmdash Pensamento e imagem na Carta a Heroacutedoto de Epicuro In Pimenta MTeorias da Imagem na Antiguidade Satildeo Paulo Paulus 2012
mdashmdashmdash Prazer e vida feliz em Epicuro In Costa A A Hadad A B Azar Filho C M (Org) Filosofia e Prazer diaacutelogos com a tradiccedilatildeo hedonista 1ed Seropedica Edur 2012 v 01 p 87-92
mdashmdashmdash Sensaccedilotildees impressotildees projeccedilotildees as afecccedilotildees do pensamento In Conte J Bauchwitz O F (Org) O que eacute Metafiacutesica atas do III Coloacutequio internacional de metafiacutesica 1ordf ed Natal Edufrn 2011 v 01 p 261-266
mdashmdashmdash Lathe Biacuteosas autaacutekeia libertagrave e amicizia in Epicuro In Cor-nelli G Casertano G (Org) Pensare la cittagrave antica categorie e representazioni 1ordf ed Naacutepoles Loffredo Editore 2010 v 1 p 163-174
mdashmdashmdash O atomismo antigo e o legado de Parmecircnides In Santoro F Cairus H F Ribeiro T O (Org) Parmecircnides 1 acerca do poema de Parmecircnides 1edRio de Janeiro Azougue 2009 v
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
1 p 165-174
mdashmdashmdash Sabedoria e sauacutede do corpo em Epicuro In Peixoto M C D (Org) A sauacutede dos antigos reflexotildees gregas e romanas 1ordf ed Satildeo Paulo Loyola 2009 v 1 p 153-162
mdashmdashmdash Do equiliacutebrio do corpo ou de como o corpo eacute pensado enquanto questatildeo filosoacutefica In Peixoto M C D (Org) Sauacutede do ho-mem e da cidade na antiguidade grecoromana 1ordf ed Belo Ho-rizonte UFMG 2007 v 01 p 189-198
mdashmdashmdash Demoacutecrito Esquecido In Bezerra C C (Org) Anais do I En-contro Nacional de Estudos Neoplatocircnicos- Ontologia e Liber-dade 1ordf ed Aracaju UFS 2006 v 1 p 74-80
mdashmdashmdash Epicuro e a physiologiacutea In Bonaccini J A Medeiros M P N Silva M F Bauchwits O F (Org) Metafisica Histoacuteria e Problemas 1ordf ed Natal EDUFRN 2006 v 01 p 219-230
mdashmdashmdash Acerca de uma Eacutetica do Agradaacutevel In Silva MF(Org) Cafeacute Filosoacutefico 1ordf ed Natal EDUFRN 2005 v 3 p 47-64
mdashmdashmdash Amizade Prazer e Filosofia In Bauchwitz O F (Org) Cafeacute Filosoacutefico Natal Argos 2001 v 1 p 131-136
Silvestre M L Democrito e Epicuro il senso di una polemica Napoli Lofredo Editore 1985
Stirner Max LrsquoUnique et sa proprieteacute Paris 1900
Strozier RM Epicurus and Hellenistic philosophy Lanham Md Ed University Press of America 1985
Ullmann R Epicuro O filoacutesofo da alegria Porto Alegre Epipucrs 1966
Usener H Glossarium Epicureum Cura de M Gigante e W Schmid Roma Edizioni DellrsquoAteneo e Bizarr 1977
Voelke A-J La Philosophie comme theacuterapie de lrsquoame FriburgoEditions Universitaires de Fribourg 1993
Warren J (Org) The Cambridge Companion to Epicureanism Nova Iorque Cambridge University Press 2009
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
Usener H Epicurea Estugarda E G Teubner 1966
Teses e dissertaccedilotildees
Barbosa RS A relaccedilatildeo entre as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia na filosofia de Epicuro 2014 117 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2014
Braatz J O pensamento eacutetico em Epicuro 2007 113 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2007
Freire A J G A natureza da alma e o clinamen accedilatildeo e liberdade em Lucreacutecio 2014 191 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal-RN 2014
Nascimento R V O corpo no pensamento de Epicuro limites e possi-bilidades 2011 154f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rocha E S A morte pode ser conhecida percurso em torno da compre-ensatildeo da mortalidade na filosofia de Epicuro 2011 162 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rovaris T R O projeto epicurista antiaristoteacutelico de Pierre Gassendi Sal-vador Universidade Federal da Bahia 2007
Artigos
Arrighetti Graziano - Filodemo Περὶ θεῶν III fr 74-82 Pap Herc 157 Sul problema dei tipi divini nellrsquoepicureismo La Parola del Passato 10 (1955) p 322-356 et 404-415
Bastide G Lrsquoestheacutetisme de Lucregravece Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 143-161
Bulhotildees I C Tograve Dikaioacuten Epicuro acerca do justo Hypnos Satildeo Paulo nuacutemero 22 1ordm semestre 2009 p 98-119
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
Breacutescia C Contributo allo studio linguistico dei testi epicurei Athenaeum NS 27 (1949) 281-298
Caujolle-Zaslawsky F Le temps eacutepicurien est-il atomiqueLes Eacutetudes Phi-losophiques 3 julho-setembro de 1980 pag 285-306
Clay D A lost Epicurean Community Greek Roman and Byzantine Studies volume 30 nordm 2 1989 313-335
Diano C Epicuri Ethica Aedibius Sansionanis Florenccedila 1966
mdashmdashmdash Epiacutecure la philosophie du plaisir et la socieacuteteacute des amis Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril-junho de 1967 pag173-186
DI Vona P Per una storia dellrsquo epicureismo La parola del passato 34 (1979) 313-320
Escoubas E Asceacutetisme eacutepicurien Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 163-172
Fernaacutendez E M Acerca de una eacutetica epicuacutereo-sartriana Pensamiento 169 vol 43 1987 37-51
Flaceliegravere R Les Eacutepicuriens et lrsquoamour Revue des Eacutetudes Grecques tome 67 fascicule 314-315 Janvier-juin 1954 pp 69-81
Gabaude J-M Sur Epicure et lrsquoepicurisme (l) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 4 abril-maio de 1975 pag 11-17
mdashmdashmdash Le jeune Karl Marx lecteur drsquoEpicure (ll) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 5 junho-julho de 1975 pag 01-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 6 agosto-setembro de 1975 pag 23-29
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lV) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 1 outubro-novembro de 1975 pag 10-20
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (V) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 2 dezembro de 1975 - janeiro de 1976 pag 03-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vl) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 3 fevereiro-marccedilo de 1976 pag 03-10
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
losophique 4 abril-maio de 1976 pag 19-37
Giesecke A L Beyond the garden of Epicurus the utopics of the ideal roman village Utopian Studies Vol 12 (2) 2001 pag 13-32
Gobry I La sagesse drsquoEpicure Les Eacutetudes Philosophiques 1 janeiro-mar-ccedilo de 1976 pag 79-90
Kleve K The Epicurean Isonomia and its Sceptical Refutation Symbolae Osloenses Vol LIV 1979 pp 27-35
mdashmdashmdash Empiricism and Theology in Epicureanism Symbolae Osloenses 52 no 1 (1977) 39-51
Maurice P Epicureanism and the atomic swerve Symbolae Osloenses 50 LXI 1986 77-98
Mazzeo J A Dante e Epicuro Comparative Literature vol 10 2 pri-mavera de 1958 pag 106-120
Moreau J Le meacutecanisme eacutepicurien et lrsquoordre de la nature Les Eacutetudes Phi-losophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 467-486
Renault A Eacutepicure et le probleacuteme de lrsquoecirctre Les Eacutetudes Philosophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 435-465
Rodis-Lewis G Nature et civilization das lrsquoepicurisme Les Eacutetudes Philo-sophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 415-433
Rosenbaun S Epicurus and anihilation The philosophical Quartely vol39 154 janeiro de 1989pag 81-90
Salem J Commentaire de la lettre drsquoEpicure a Meacuteneacuteceacutee Revue philosophi-que 3 julho-setembro 1993 pag 513-549
Sedley D Epicurus refutation of determinism SydzetesisStudi sullrsquo epicu-reiacutesmo greco e romano offerti a Marcello Gigante Naacutepoles 1983 11-51
mdashmdashmdash Lrsquoanti-reacuteductionnisme eacutepicurien Trad Dao A amp Morant CLes Cahiers Philosophiques de Strasbourg Paris Librarie J Vrin phi-losophique 2003 321-359
Silva M F A morte como perda da subjetividade Revista Princiacutepios
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
UFRN 3 julho-dezembro de 1995 140-146
mdashmdashmdash Um Banquete Frugal a Influecircncia Socraacutetico-Platocircnica em Epi-curo Revista ARCHAI As origens do pensamento ocidental v 9 p 117-122 2012
mdashmdashmdash Alma e movimento ou sobre a physiologia da alma Perspectiva Filosoacutefica (UFPE) v II p 167-176 2010
mdashmdashmdash Seduccedilatildeo e persuasatildeo os ldquodeliciososrdquo perigos da sofiacutestica Ca-dernos do CEDES (UNICAMP) Campinas v 64 2004
mdashmdashmdashLoacutegos peri hedoneacute Hodos Estudos de Cultura Claacutessica v 1 n 1 p 9-25 2000
mdashmdashmdash A noccedilatildeo Epicuacuterea de Eustatheacuteia e a tegravechne heacute ietrikeacute Revista Princiacutepios UFRN v 5 n 6 p 14-154 1998
mdashmdashmdash A Compreensatildeo de Physis no Pensamento de Epicuro Iacutetaca Cadernos de Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
mdashmdashmdash Epicuro e a morte como perda da subjetividade Revista Prin-ciacutepios UFRN v 2 n 3 p 140-146 1995 116
mdashmdashmdash O eacutethos do equiliacutebrio ou do exerciacutecio da sabedoria Kleos-Re-vista de Filosofia Antiga 1ordf ed Rio de Janeiro 2000 v 4 p 183-188
Silveira P F A medicina da alma de Epicuro a medicina como forma de terapia Psykhecirc Satildeo Paulo 10 200521-27 Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
Spinelli M De Narciso a Epicuro do emergir ao resgate da individua-lidade Hypnos nordm 25 Satildeo Paulo 2010 p 194-210
Surtz E L Epicurus in utopia ELH vol 16 2 junho de 1949 pag 89-103
Ullmann R A teologia de Epicuro Textos de cultura claacutessica 2 1987
Vander Waerdt P The Justice of the Epicurean Wise Man Classical Quar-terly ns 1987 37 40222
Vianna S Sobre o epicurismo e suas origens Kriterion 65 janeiro-
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
-dezembro 1965 pag 47-64
Waggle L J Epicurus phisichological or ethical hedonistRevista de Filo-sofiacutea vol 25 57 dezembro de 2007
Dicionaacuterios e Manuais
Balaudeacute J-F Le vocabulaire des Preacutesocratiques Paris Ellipses 2011
mdashmdashmdash Le vocabulaire drsquoEacutepicure Paris Ellipses 2012
Benveniste Le vocabulaire des instituitions indo-europeacuteenes I Economie parenteacute socieacuteteacute II pouvoir droit religion Paris Les Eacuteditions de Minuit 1969
Chantraine P Dictionnaire Eacutetymologique de la langue grecque Paris Klincksieck 1999
Gobry I Vocabulaacuterio grego da filosofia Trad Ivone C Benedetti Satildeo Paulo WMFMartins Fontes 2007
Isidro Pereira SJ Dicionaacuterio grego-portuguecircs e portuguecircs-grego Bra-ga Livraria AI 1998
Lidell HG amp Scott R Greek-english lexicon with a revised supplement Oxford Clarendon Express 1996
Murachco H Liacutengua grega visatildeo semacircntica loacutegica orgacircnica e funcional 3ordf ediccedilatildeo Satildeo PauloPetroacutepolis Discurso EditorialEditora Vo-zes 2007
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
172 173172 173
coleccedilatildeo autores gregos e latinos ndash seacuterie ensaios
1 Carmen Soares Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Eacutetica e Paideia em Plutarco (Coimbra CECH 2008)
2 Joaquim Pinheiro Joseacute Ribeiro Ferreira e Rita Marnoto Caminhos de Plutarco na Europa (Coimbra CECH 2008)
3 Claacuteudia Teixeira Delfim F Leatildeo and Paulo Seacutergio Ferreira The Satyricon of Petronius Genre Wandering and Style (Coimbra CECH 2008)
4 Teresa Carvalho Carlos A Martins de Jesus Fragmentos de um Fasciacutenio Sete ensaios sobre a poesia de Joseacute Jorge Letria (Coimbra CECH 2009)
5 Delfim Ferreira Leatildeo Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Cidadania e Paideia na Greacutecia Antiga (Coimbra CECH 2010)
6 Maria de Faacutetima Silva and Susana Hora Marques Tragic Heroines on Ancient and Modern Stage (Coimbra CECH 2010)
7 Aacutelia Rosa Rodrigues Carlos A Martins de Jesus Rodolfo Lopes Intervenientes Discussatildeo e Entretenimento No Banquete de Plutarco (Coimbra CECH 2010)
8 Luiacutesa de Nazareacute Ferreira Paulo Simotildees Rodrigues e Nuno Simotildees Rodrigues Plutarco e as Artes Pintura Cinema e Artes Decorativas (Coimbra CECH 2010)
9 Nair Castro Soares Margarida Miranda Carlota Miranda Urbano (Coord) Homo eloquens homo politicus A retoacuterica e a construccedilatildeo da cidade na Idade Meacutedia e no Renascimento (Coimbra CECH 2011)
10 Claacuteudia Teixeira Estrutura personagens e enganos introduccedilatildeo agrave leitura de As Baacutequides de Plauto (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2016)
11 Gregory Nagy O Heroacutei Eacutepico (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2017)
174 PB
12 Markus Figueira da Silva Termos Filosoacuteficos de Epicuro (Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 2018)
O livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais importantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
OBRA PUBLICADA COM A COORDENACcedilAtildeO CIENTIacuteFICA
bull
- Termos Filosoacuteficos de Epicuro
-
- Sumaacuterio
- Prefaacutecio
- Apresentaccedilatildeo
- Introduccedilatildeo
- Auxiacutelio ao leitor
- Primeira parte - Physiologiacutea
- Segunda parte - Physiologiacutea
- Terceira parte - Ethicaacute
- Referecircncias bibliograacuteficas
-
Autores Gregos e Latinos ndash Seacuterie Ensaios
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRACOIMBRA UNIVERSITY PRESS
Markus Figueira da Silva
Seacuterie Autores Gregos e Latinos - Ensaios
Trabalho publicado ao abrigo da Licenccedila This work is licensed underCreative Commons CC-BY (httpcreativecommonsorglicensesby30ptlegalcode)
POCI2010
Tiacutetulo Title Termos Filosoacuteficos de EpicuroPhilosophical Terms in Epicurus
Autor AuthorMarkus Figueira da Silva
Orcidhttpsorcidorg0000-0003-3036-6575
Editores PublishersImprensa da Universidade de CoimbraCoimbra University Press
wwwucptimprensa_uc
Contacto Contact imprensaucpt
Vendas online Online Saleshttplivrariadaimprensaucpt
Coordenaccedilatildeo Editorial Editorial CoordinationImprensa da Universidade de Coimbra
Conceccedilatildeo Graacutefica GraphicsRodolfo Lopes
Infografia InfographicsNelson Ferreira
Impressatildeo e Acabamento Printed byKDP
ISBN978-989-26-1611-7
ISBN Digital978-989-26-1612-4
DOIhttpsdoiorg1014195978-989-26-1612-4
Depoacutesito Legal Legal Deposit44659618
Imprensa da Universidade de CoimbraClassica Digitalia Vniversitatis Conimbrigensis httpclassicadigitaliaucptCentro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra
copy setembro 2018
Obra publicada no acircmbito do projeto - UIDELT001962013
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
Philosophical Terms in Epicurus
Markus Figueira da SilvaFiliaccedilatildeo AffiliationUniversidade Federal do Rio Grande do Norte
ResumoO livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais im-portantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanes-centes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Palavras-chaveEpicuro terminologia grega filosofia antiga eacutetica conhecimento natureza
Abstract The book ldquoPhilosophical Terms in Epicurusrdquo brings together all major concepts found in the works of this Greek thinker of the end of the IV century and beginning of the III century BC Taken from the surviving texts of Epicurus the terms were grouped in three sections those being physiology gnosiology and physiology and ethics The glossary of terms will be a valuable research tool to aid in the approach to the surviving texts of the works of Epicurus a Hellenistic philosopher not much studied in the Portuguese language despite the fact that he is one of the fundamental ancient Greek philosophers
KeywordsEpicurus Greek terminology ancient Greek philosophy ethics knowledge nature
Autor
Professor titular de Histoacuteria da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia (PPGFIL) da UFRN Pesquisador do PRAGMAUFRJ
Author
Full Professor of History of Ancient Philosophy at Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Faculty member of the Graduate Program in Philoso-phy (PPGFIL) at UFRN Member of the Research Program in Ancient Philosophy - PRAGMAUFRJ
Sumaacuterio
Prefaacutecio 9
Apresentaccedilatildeo 11
Introduccedilatildeo 15
Auxiacutelio ao leitor 26
Primeira parte 29Physiologiacutea
Segunda parte 69Physiologiacutea
Terceira parte 101Ethicaacute
Referecircncias bibliograacuteficas 159
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Prefaacutecio
8 9
Prefaacutecio
A elaboraccedilatildeo de um vocabulaacuterio comentado sobre a termi-nologia filosoacutefica de Epicuro eacute para a comunidade cientiacutefica tarefa de reconhecido meacuterito e utilidade Embora ela assente de forma inevitaacutevel na consulta dos melhores dicionaacuterios de grego disponiacuteveis permite por um lado uma visatildeo sistemaacutetica de conjunto sobre uma terminologia especiacutefica e por outro uma reflexatildeo sobre os pressupostos que justificam as traduccedilotildees que os diversos dicionaacuterios propotildeem Natildeo se limita portanto a fornecer sinoacutenimos precisos mdash o que em si mesmo jaacute seria um meacuterito apreciaacutevel mdash mas comenta ou historia o percurso de determinados vocaacutebulos o que ultrapassa a convenccedilatildeo de um di-cionaacuterio A esta perspetiva de base o autor do volume propocircs-se acrescentar comentaacuterios elucidativos sobre a sinoniacutemia estabele-cida Para isso foi tida tambeacutem em conta a informaccedilatildeo fornecida por inuacutemeras publicaccedilotildees sob forma de livros ou perioacutedicos que tecircm dedicado ao pensamento de Epicuro e sobretudo ao estudo de aacutereas semacircnticas particulares da liacutengua grega como eacute o caso da filosoacutefica a sua atenccedilatildeo Destes materiais o presente estudo eacute tambeacutem devedor e transmissor na listagem bibliograacutefica que integra Eacute portanto como um elemento de seleccedilatildeo e de precisatildeo de um certo campo semacircntico a linguagem filosoacutefica centrado num autor especiacutefico Epicuro que este volume se apresenta
Natildeo eacute talvez Epicuro pela proacutepria fragilidade e dimensatildeo pequena do corpus que o representa aos olhos da contempora-neidade um autor sobre que a bibliografia disponiacutevel seja mais ampla Aleacutem de muito reduzido esse corpus eacute na sua maioria transmitido de forma indireta o que condiciona de modo
10 11
Prefaacutecio
10 11
evidente o acesso agrave terminologia que poderiacuteamos atribuir a Epicuro Apesar dessas limitaccedilotildees este vocabulaacuterio reuacutene um nuacutemero significativo de termos em parte vindos numa linha de continuidade em relaccedilatildeo a uma terminologia que a filosofia grega foi sedimentando ao longo dos seacuteculos Neste caso o comentaacuterio a incluir valoriza a perspetiva diacroacutenica e procura sobretudo em relaccedilatildeo aos vocaacutebulos com tradiccedilatildeo reconhecida definir nuances inovadoras que testemunhem o proacuteprio fluir do pensamento filosoacutefico Mas sem duacutevida mais expressivos satildeo os casos de haacutepax mdash palavras de ocorrecircncia uacutenica nos textos em anaacutelise mdash ainda que condicionados pela magreza dos testemunhos Estes termos conferem a Epicuro e ao seu pensamento uma identidade proacutepria e destacam nele a capacidade de contribuir para o voca-bulaacuterio especiacutefico da filosofia com palavras novas
Um manual desta natureza seraacute sempre uma proposta em aber-to a ser retocada ou ampliada agrave medida que a proacutepria discussatildeo fi-losoacutefica for prosseguindo ou na hipoacutetese de que novos testemunhos se possam vir a juntar aos atualmente disponiacuteveis Mas o resultado a que neste momento se chegou resulta de anos de recolha e de investigaccedilatildeo e constitui jaacute uma contribuiccedilatildeo a ser publicitada com utilidade entre os especialistas e acadeacutemicos em geral
Deste lsquoVocabulaacuterio filosoacutefico de Epicurorsquo poderatildeo tirar provei-to evidente todos os que se dedicam natildeo apenas ao estudo deste autor concreto mas ao da evoluccedilatildeo do pensamento filosoacutefico e respetiva terminologia investigadores docentes e estudantes Por-que sem pretender ser exaustiva no que respeita ao comentaacuterio dos termos alistados esta proposta eacute mesmo assim um documento de valor inestimaacutevel para a clarificaccedilatildeo das nuances subjacentes a um vocabulaacuterio tatildeo lsquosensiacutevelrsquo como eacute o filosoacutefico
Maria de Faacutetima SilvaUniversidade de Coimbra
Apresentaccedilatildeo
10 1110 11
APreSentAccedilatildeo
Os ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo satildeo o resultado de um projeto de pesquisa que desenvolvi ao longo de vaacuterios anos como atividade paralela a outras produccedilotildees acadecircmicas por mim realizadas no acircm-bito do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Pude contar nesta pesquisa com a colaboraccedilatildeo de quatro bolsistas de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica um bolsista de Mestrado e um outro de Doutorado Devo mencionar os no-mes de Everton da Silva Rocha e Renato dos Santos Barbosa que participaram efetivamente do resultado final deste trabalho Everton colaborou na organizaccedilatildeo e digitaccedilatildeo dos verbetes em grego e Rena-to colaborou na organizaccedilatildeo do livro e na redaccedilatildeo de alguns verbetes a partir da sua pesquisa de mestrado por mim orientada Eles fazem parte deste percurso e do produto final que vem agora a puacuteblico No nome deles eu agradeccedilo os demais alunos que se iniciaram no estu-do da Filosofia de Epicuro mediante a participaccedilatildeo nesta pesquisa
Foi um longo aacuterduo mas prazeiroso caminho que culminou com um estaacutegio de pesquisa que realizei no Centro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra em setembro e outubro de 2016 sob a supervisatildeo da Doutora Maria de Faacutetima Sousa e Silva
O conjunto dos verbetes que aqui se encontra foi dividido em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Reuni desta maneira os termos mais importantes1 para
1 Considero que haacute um grupo de termos que satildeo os conceitos mais traba-lhados no pensamento de Epicuro e os verbetes que lhes satildeo correspondentes apresentam um estudo resumido do papel que desempenham para a originali-dade da sua Filosofia os demais termos satildeo tambeacutem relevantes no que toca ao uso que deles se pode fazer para a traduccedilatildeo direta dos textos gregos
Apresentaccedilatildeo
12 13
um estudo interpretativo de cada uma das partes respeitando a ordem dos textos apresentados no livro X da obra Vidas e Doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres de Dioacutegenes Laeacutercio bem como as Sentenccedilas Vaticanas que foram descobertas posteriormente por Karl Votke em 1888 no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Papiro 1950 Aleacutem destas fontes aproveitei alguns vocaacutebulos extraiacutedos da doxografia antiga e acrescentados por Hermman Usener na sua obra Epicurea Basicamente satildeo estes os textos que constituem a espinha dorsal do pensamento de Epicuro que se mantiveram ao longo dos seacuteculos e satildeo o cerne de toda a pesquisa realizada pelos estudiosos ateacute hoje No seacuteculo XIX com as escavaccedilotildees feitas na Vila dos Papiros em Herculano no Sul da Itaacutelia um conjunto de textos fragmentados a maioria atribuiacuteda a Filodemo de Gadara e outros atribuiacutedos a Epicuro tecircm sido objeto de estudo de diversos especialistas em filologia mas que para o objetivo deste trabalho natildeo acrescentariam muito agrave base sobre a qual se define a filosofia de Epicuro
Eacute sempre difiacutecil reconstituir o todo de um pensamento mantendo a sua clareza e a sua coerecircncia quando a imensa maioria dos textos que foram escritos submergiu agraves vicissitudes do tempo e agraves armadilhas da histoacuteria Entretanto eacute preciso ter apreccedilo pelo teor deste pensamento e pela influecircncia que teve Epicuro sobre as geraccedilotildees que o sucederam ateacute agrave nossa eacutepoca A grande voz latina que fez ecoar a filosofia epicurista por mais de dois milecircnios foi sem duacutevida a do poeta romano Tito Lucreacutecio Caro que escreveu o De Rerum Natura ou Da natureza das Coisas poema em seis livros inacabado Este poema eacute uma fonte preciosa para o estudo do epicurismoPor isso quando existir correspondecircncia entre o termo grego utilizado por Epicuro e o termo latino utilizado por Lucreacutecio ressaltarei sobretudo nos verbetes expandidos esta correspondecircncia Outro fator importante num manual desta natureza eacute fornecer ao leitor a
Apresentaccedilatildeo
12 13
localizaccedilatildeo exata das ocorrecircncias de cada termo nos textos de Epicuro Aleacutem disso ele encontraraacute o termo grafado em carac-teres gregos seguido da transliteraccedilatildeo para caracteres latinos e a sua definiccedilatildeo ou significado Nos termos considerados de maior relevacircncia a definiccedilatildeo seraacute expandida na forma de um pequeno artigo acerca daquela noccedilatildeo Ocorreraacute tambeacutem em alguns termos a observaccedilatildeo ou informaccedilatildeo complementar que indica quando o termo eacute de uso exclusivo em Epicuro ou quando o termo passa a ser utilizado a partir de Epicuro ou quando eacute um termo de uso filosoacutefico apenas ou quando eacute de uso comum a Aristoacuteteles e a Epicuro ou ainda quando recebe um significado metafoacuterico para realccedilar o sentido inovador do seu pensamento Satildeo caracte-riacutesticas da linguagem grega utilizada por Epicuro o que tambeacutem o diferencia dos demais pensadores e inaugura muitas vezes um novo vocaacutebulo ou linha conceitual no acircmbito da filosofia antiga
Achei por bem elencar os termos mais importantes de cada um dos trecircs assuntos da sua obra na parte que lhe eacute correspon-dente Assim na Physiologiacutea estatildeo dispostos os termos referentes ao estudo da phyacutesis Na Gnoseologiacutea e Physiologiacutea pode-se en-contrar os termos que aparecem no iacuteniacutecio da Carta a Heroacutedoto e que correspondem agrave canocircnica ou teoria do conhecimento Na Eacutethica aqueles que correspondem agrave Carta a Meneceu agraves Maacutexi-mas Principais e agraves Sentenccedilas Vaticanas Contudo devo advertir de que muitos termos apareceratildeo repetidamente em mais de uma parte isto porque apresentam um sentido diferente que corresponde agrave funccedilatildeo desempenhada no contexto das frases onde aparecem A minha intenccedilatildeo ao propor esta divisatildeo eacute facilitar o manuseio deste breviaacuterio de termos Assim o usuaacuterio que estiver estudando a Carta a Heroacutedoto por exemplo encontraraacute na parte dedicada agrave Physiologiacutea eou na parte dedicada agrave Gnoseologiacutea e Physiologiacutea (se for o caso da canocircnica) os termos que interessam agrave sua anaacutelise
14 15
Apresentaccedilatildeo
14 15
Espero sinceramente que este vocabulaacuterio de termos filosoacuteficos gregos de Epicuro possa contribuir para a instrumen-talizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra deste pensador que pode ser considerado ainda pouco estudado sobretudo nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Introduccedilatildeo
14 1514 15
introduccedilatildeo
Epicuro filoacutesofo da natureza em busca do equiliacute-brio da liberdade e do prazer
O interesse que me moveu e que certamente move um estu-dante para se aprofundar na leitura dos textos de Epicuro eacute o de esclarecer o sentido maior deste pensamento isto eacute separar o que eacute genuiacuteno de tudo o que foi dito ao longo da histoacuteria em termos de opiniatildeo com forte matiz ideoloacutegico acerca da sua visatildeo de mundo e do seu modo de vida Natildeo haacute como fugir da polecircmica em torno da figura de Epicuro e do que a sua filosofia representou e ainda representa para o desenvolvimento da filosofia ocidental Quem estiver de fato interessado em interpretar para compreender o pensamento em questatildeo precisaraacute ir aos textos gregos originais e a partir daiacute comparar as inuacutemeras traduccedilotildees em diversas liacutenguas que se fizeram e ainda se fazem dos escritos deste pensador Tendo em vista as trecircs cartas as maacuteximas e as sentenccedilas que constituem o cerne da obra epicuacuterea trabalhada pela maioria dos especialistas uma interpretaccedilatildeo criteriosa destes textos produziraacute uma visatildeo sistecircmica do seu pensamento Soma-se a isso os fragmentos dos Papiros Herculaneses a Escrita Sobre Pedra de Dioacutegenes de Enoan-da e o poema De Rerum Natura de Lucreacutecio
Todos estes elementos satildeo imprescindiacuteveis para se obter uma visatildeo orgacircnica do conjunto do pensamento de Epicuro a fim de tornar exequumliacutevel a tarefa do pesquisador que eacute a de produzir uma coerente associaccedilatildeo destes conteuacutedos
Antes de apresentar um comentaacuterio geral dos textos aqui utilizados urge reproduzir um resumo cronoloacutegico da vida de
Markus Figueira da Silva
16 17
Epicuro para que se possa situaacute-lo no contexto do pensamento grego antigo
Cronologia
Epicuro filho de famiacutelia ateniense que pertencia ao demos de Gargeto nasceu em 341 aC em Samos e laacute viveu desde a infacircn-cia ateacute os 18 anos quando em 323 vai a Atenas prestar o serviccedilo militar Quando retornou de Atenas em 322 sua famiacutelia havia sido expulsa de Samos e Epicuro vai encontraacute-la em Coacutelofon Nos anos seguintes parece ter seguido as liccedilotildees de Praxiacutefanes um filoacutesofo peripateacutetico em Rodes Depois estudou com Nausiacute-fanes disciacutepulo de Demoacutecrito de Abdera e possivelmente aluno de Pirro de Eacutelis2 que ensinava em Teacuteos proacuteximo a Coacutelofon3
Em 311 Epicuro comeccedila a ensinar Filosofia em Mitilene na ilha de Lesbos No ano seguinte transfere-se para Lacircmpsa-co onde reuacutene alguns dos mais importantes disciacutepulos que o acompanharatildeo ao longo da sua trajetoacuteria ateacute que em 306 com a idade de 35 anos volta a Atenas e funda o Kecircpos o Jardim que daraacute nome a sua escola e caracterizaraacute a sua filosofia naturalista Em 270 a C Epicuro morre aos 72 anos de idade Cerca de quatorze escolarcas sucederam a Epicuro na direccedilatildeo do Jardim ateacute 44 a C4
A filosofia de Epicuro
Epicuro desenvolveu o seu pensamento a partir de influecircncias que marcaram a sua formaccedilatildeo e moldaram o seu ideal de vida Em primeiro lugar a Physiologiacutea ou a sua compreensatildeo da phyacutesis
2 Filoacutesofo grego do seacutec IV aC contemporacircneo de Epicuro e conside-rado o precursor do Ceticismo
3 Estas cidades satildeo ilhas proacuteximas a Samos na costa da Aacutesia menor4 Brun J Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Introduccedilatildeo
16 17
que teve no atomismo de Demoacutecrito de Abdera5 o seu ponto de partida Apesar de tecirc-lo modificado em determinados pontos em linhas gerais a constituiccedilatildeo da phyacutesis permaneceu inalterada ou seja toda a natureza eacute constituiacuteda de aacutetomos e vazio Na Carta a Heroacutedoto pode-se ver um resumo desta physiologiacutea Tambeacutem nesta Carta logo no iniacutecio encontra-se uma teoria do conhecimento que define os criteacuterios da percepccedilatildeo sensiacutevel que define a sua Gnoseologiacutea Por outro lado Epicuro voltou o seu pensamento para a investigaccedilatildeo do eacutethos do homem grego da sua eacutepoca e buscou tecer uma compreensatildeo do agir humano com a perspectiva de oferecer com a sua filosofia uma praacutetica de vida alternativa aos modelos que se apresentavam naquela altura do iniacutecio do seacuteculo III aC A sua investigaccedilatildeo permitiu que ele assimilasse traccedilos importantes do pensamento eacutetico grego dos seus antecessores A comeccedilar pelo modelo filosoacutefico socraacutetico e o seu desdobramento no pensamento de Platatildeo e Aristoacuteteles mas tambeacutem no confronto da criacutetica platocircnica e aristoteacutelica com a eacutetica de Demoacutecrito de Abdera Aristipo de Cirene e Pirro de Eacutelis os dois primeiros contemporacircneos de Soacutecrates e este uacuteltimo de Epicuro Partindo do entendimento de que toda a filosofia eacute de certo modo tributaacuteria das suas influecircncias e de que todo o pensamento traz em seu bojo elementos daquilo que jaacute fora pensado por outros filoacutesofos Epicuro manteacutem esta dinacircmica de refletir sobre as ideacuteias marcantes dos seus predecessores
Qual eacute entatildeo a originalidade de Epicuro e o que o torna um pensador singular da Histoacuteria da Filosofia
Para responder a isso indico a coerecircncia e a originalidade que se mostra nos textos remanescentes da sua obra Em outras
5 Filoacutesofo grego do seacutec V a C considerado um preacute-socraacutetico pela tradicional divisatildeo da Histoacuteria da Filosofia embora tenha sido contem-poracircneo de Soacutecrates Eacute considerado juntamente com Leucipo de Eleacuteia o precursor do atomismo grego
Markus Figueira da Silva
18 19
palavras a inteireza ou a inseparabilidade entre a physiologiacutea e a eacutethica Mais que isso o seu modus vivendi filosoacutefico Epicuro foi um pensador que procurou a todo o instante viver de acordo com o que pensava ou seja a partir do que inteligia quando pensava a phyacutesis sendo o estudo da natureza a base da sua conduta e a compreensatildeo de si mesmo como natureza o modelo para o exer-ciacutecio da sua filosofia e a expressatildeo dos seus atos Conhecer a vida e viver este conhecimento eacute um todo contiacutenuo que caracteriza a sua relevacircncia e a sua originalidade como physiologoacutes e pensador eacutetico concomitantemente
Neste sentido apresento a Filosofia de Epicuro em dois toacutepi-cos distintos e complementares a saber a physiologiacutea e aethicaacute
Physiologiacutea
No livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio encontram-se duas cartas de Epicuro que satildeo epiacutetomes ou resumos de temas li-gados agrave natureza (phyacutesis) Na Carta a Heroacutedoto estatildeo contidas as proposiccedilotildees fundamentais da sua filosofia da natureza e que tratam dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis O objetivo desta carta eacute apresentar aos que se iniciam na Filosofia os conceitos fundamentais sobre a natureza do todo dos mundos dos cor-pos compostos dos aacutetomos e do vazio bem como mostrar o processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo das coisas na natureza Epicuro deixa claro logo no iniacutecio que o estudo destes funda-mentos serve tambeacutem agravequeles jaacute instruiacutedos pois eles o podem utilizar para exercitarem-se nas discussotildees sobre as questotildees da natureza e como forma de aprimorarem a memoacuteria Ele cuida especialmente da linguagem que emprega a fim de facilitar a aprendizagem e promover uma faacutecil memorizaccedilatildeo Afirma que a clareza a objetividade e a simplicidade devem caracterizar o estilo e a linguagem filosoacutefica
Introduccedilatildeo
18 19
A canocircnica como meacutetodo gnosioloacutegico
A partir do passo 37 da Carta a Heroacutedoto Epicuro inicia a exposiccedilatildeo dos criteacuterios para o conhecimento da natureza des-de os fenocircmenos sensiacuteveis ou seja aqueles que satildeo objetos da percepccedilatildeo ateacute onde pode alcanccedilar o pensamento quando este procede por analogia isto eacute por contiguumlidade ou comparaccedilatildeo Para ele o pensamento pode conjecturar acerca dos fenocircmenos microcoacutesmicos e tambeacutem macrocoacutesmicos o que justifica as suas assertivas sobre o comportamento dos aacutetomos e noutro plano dos corpos celestes Epicuro utiliza este meacutetodo para expor a noccedilatildeo de aacutetomo e o seu movimento no vazio e em decorrecircncia disso explica o processo de agregaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo dos corpos sensiacuteveis a formaccedilatildeo e dissoluccedilatildeo dos mundos e a proacutepria noccedilatildeo de infinitude
Em seguida apresenta a sua teoria sobre o processo de conhe-cimento a formaccedilatildeo do pensamento e da imaginaccedilatildeo a partir do delineamento de quatro noccedilotildees capitais do sensualismo que ele inaugura a saber a sensaccedilatildeo (aiacutesthesis) a afecccedilatildeo (paacutethos) a impressatildeo sensiacutevel ou preacute-noccedilatildeo (proacutelepsis) e a projeccedilatildeo imaginaacute-ria do pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) Tais noccedilotildees visam explicar o processo gnoseoloacutegico desde que o oacutergatildeo sen-siacutevel eacute afetado gerando a sensaccedilatildeo que por sua vez se imprime na alma (psycheacute) gerando a memoacuteria (mneacuteme) sensitiva que eacute a fonte das imagens articuladas pelo pensamento quando as reuacutene e daacute sentido e representaccedilatildeo agrave realidade fenomecircnica Satildeo estas imagens sensiacuteveis que seratildeo usadas quando o pensamento por analogia a elas constroacutei explicaccedilotildees para os objetos natildeo perceptiacute-veis aos sentidos mas imaginados pelo pensamento em projeccedilatildeo
Nos passos 46 a 53 Epicuro investiga os mecanismos de produccedilatildeo das imagens (eiacutedola) e como se produz a imaginaccedilatildeo (phantasiacutea) como parte do movimento de transformaccedilatildeo das
Markus Figueira da Silva
20 21
sensaccedilotildees em sentimentos (impressotildees sensiacuteveis) e destes em memoacuteria operada pelo pensamento Esta eacute de fato uma das mais inovadoras teorias de Epicuro e que influenciaraacute diversos teoacutericos do conhecimento na modernidade
A partir do passo 54 tecircm-se analisadas as caracteriacutesticas do aacutetomo isto eacute a forma a figura o tamanho e o peso que por sua vez estatildeo intimamente relacionados agraves qualidades dos corpos sensiacuteveis (soacutemata) A anaacutelise do vazio e espaccedilo (kenograven kaigrave choacuteran) ocorre jaacute no passo 61 Sobre a importacircncia destas noccedilotildees Epicuro defende que sem o vazio eou espaccedilo natildeo pode haver movimento
A alma (psycheacute) que eacute corpoacuterea ou seja um corpo consti-tuiacutedo por aacutetomos mais sutis que os da carne (saacuterx) eacute objeto de investigaccedilatildeo no passo 67 Epicuro a define como sendo princiacutepio de movimento e sede do pensamento Na continuaccedilatildeo da Carta (passo 68) daacute-se iniacutecio agrave explicaccedilatildeo dos corpos compostos e do processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo dos corpos a partir da agregaccedilatildeo dos aacutetomos
Haacute tambeacutem uma breve anaacutelise sobre o tempo (khroacutenos) nos passos 72 e 73 e em seguida a teoria sobre os mega corpos ou os mundos (koacutesmoi) que tambeacutem satildeo formados pela agregaccedilatildeo dos aacutetomos e tecircm duraccedilatildeo limitada
Epicuro acena para uma breve histoacuteria antropoloacutegica apre-sentada na anaacutelise do conceito de praacutegmata que diz respeito a uma teoria da accedilatildeo humana e tem lugar no passo 75 e se pro-longa no passo 76 onde ele apresenta indiacutecios de uma teoria da linguagem bastante original No final da Carta a Heroacutedoto isto eacute nos passos 80 e 81 haacute uma apresentaccedilatildeo sumaacuteria do tema dos corpos celestes que seraacute desenvolvido na Carta a Piacutetocles Os passos 82 e 83 trazem as consideraccedilotildees finais da Carta onde Epicuro exorta os seus alunos a exercitarem-se sempre no estudo da natureza para que deste modo possam fugir da ignoracircncia
Introduccedilatildeo
20 21
A Carta a Piacutetocles se inicia com a afirmaccedilatildeo de que o conhe-cimento dos fenocircmenos celestes (meteacuteora) quer sejam conside-rados em conexatildeo com outros fenocircmenos ou neles mesmos tem como finalidade a tranquumlilidade da alma bem como afirmar a confianccedila nas explicaccedilotildees ldquofisioloacutegicasrdquo Em seguida passase ao meacutetodo de investigaccedilatildeo dos fenocircmenos celestes evidenciando o pluralismo da explicaccedilatildeo onde se aceita para um determinado fenocircmeno mais de uma causa desde que nenhuma delas possa ser contraditada pela evidecircncia da sensaccedilatildeo ou seja enquanto natildeo for refutada a explicaccedilatildeo se manteacutem vaacutelida Assim eacute pre-feriacutevel manter a pluralidade das causas em vez de ater-se a uma crenccedila que remeta a uma explicaccedilatildeo sobrenatural baseada por exemplo nos desiacutegnios dos deuses
Tem-se na continuaccedilatildeo uma definiccedilatildeo de mundo (koacutesmos) bem como dos meteacuteora os mais variados que leva a uma especulaccedilatildeo acerca do movimento dos astros das nuvens da chuva das tormentas dos raios e trovotildees das tempestades dos ciclones dos terremotos dos ventos das geleiras da neve do arco-iacuteris da lua dos cometas das estrelas cadentes e das mudanccedilas dos ventos
A ethicaacute
Ao longo de toda a Histoacuteria da Filosofia Epicuro seraacute lem-brado muito mais pelas suas proposiccedilotildees eacuteticas do que pelas fiacutesicas o que tem a sua explicaccedilatildeo com o desenvolvimento das ciecircncias o atomismo e as demais teorias desenvolvidas pelos filoacutesofos gregos antigos sofreram muitas variaccedilotildees atualizaccedilotildees e ateacute inovaccedilotildees graccedilas ao aprimoramento tecnoloacutegico das pesqui-sas contudo a eacutetica seguiu um outro percurso e o conteuacutedo do pensamento eacutetico epicuacutereo foi alvo das apropriaccedilotildees tiacutepicas da fi-losofia daqueles que buscaram construir uma eacutetica do bem viver
Markus Figueira da Silva
22 23
Neste caso especiacutefico uma eacutetica ao mesmo tempo naturalista e sensualista Por outro lado haacute os criacuteticos deste pensamento que na maioria das vezes o detrataram Como consequumlecircncia disso uma enorme controveacutersia interpretativa acerca da eacutetica de Epicuro tem sido frequumlente nos meios acadecircmicos e nos escritos publicados a este respeito Entretanto o que interessa agravequeles que desejam estudar o epicurismo seraacute entender como eacute possiacute-vel pensar uma eacutetica desvinculada tanto da poliacutetica quanto da religiatildeo Em outras palavras seraacute que a eacutetica epicurista eacute uma eacutetica sem matrizes ideoloacutegicas Penso que este foi o objetivo de Epicuro ao afastar-se da poliacutetica e da religiatildeo
Em Epicuro encontra-se a definiccedilatildeo da Filosofia como um saber em torno da vida cujo uso praacutetico se realiza constan-temente como um conhecimento que edifica a proacutepria vida como um exerciacutecio filosoacutefico cotidiano A fundamentaccedilatildeo do agir filosoacutefico eacute pois o conhecimento adquirido no processo de investigaccedilatildeo da natureza que prima pela desmistificaccedilatildeo da phyacutesis e daacute ao indiviacuteduo as reacutedeas da sua proacutepria vida e a autonomia para agir a partir de si mesmo Eacute neste sentido que Epicuro se distingue de outros pensadores da sua eacutepoca isto eacute o seu pensamento natildeo eacute tributaacuterio de nenhuma ideologia seja poliacutetica ou religiosa
Dioacutegenes Laeacutercio tambeacutem publicou em sua obra a Carta a Meneceu e quarenta Maacuteximas Principais de Epicuro Estes satildeo os textos eacuteticos por ele preservados e sobre os quais tecircm se debruccedilado os estudiosos Contudo haacute tambeacutem um conjunto de oitenta e uma sentenccedilas que foram descobertas muito mais tarde em 1888 por Karl Wotke no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Manuscrito 1950 ou GnomologioVaticano6 A maioria das sentenccedilas satildeo reflexotildees eacuteticas de Epicuro Outros textos
6 Gual CG 1981 p 133
Introduccedilatildeo
22 23
muito fragmentados e com muitas lacunas foram descobertos nas escavaccedilotildees de Herculano uma vila no Sul da Itaacutelia que foi soterrada pelas lavas do vulcatildeo Vesuacutevio no seacutec I aC como jaacute havia assinalado Este material tem sido objeto de pesquisa e poderaacute vir a acrescentar novas informaccedilotildees sobre o pensamento epicurista tanto quanto a chamada ldquoescrita sobre pedrardquo des-coberta nas escavaccedilotildees em Enoanda onde existiu uma extensa muralha construiacuteda por um adepto do epicurismo de nome Dioacutegenes que mandou talhar sobre ela diversos ensinamentos eacuteticos de Epicuro para que fossem lidos e servissem agrave reflexatildeo daqueles que por laacute passassem Felizmente estes textos foram em parte reconstituiacutedos e corroboram os publicados no livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio
Os inteacuterpretes da filosofia de Epicuro trabalham efetivamen-te sobre estes textos na busca de explicitar cada vez mais este pensamento que influenciou inuacutemeros pensadores e ainda hoje influencia tais como Giordano Bruno Michel de Montaigne Pierre Gassendi Baruch Espinoza Thomas Hobbes John Stuart Mill Karl Marx Michel Foucault entre outros
Assim para que sirva de referecircncia para o leitor indico os te-mas principais apresentados na Carta a Meneceu e nas Maacuteximas Principais
A Carta comeccedila com um protreacuteptico ou uma exortaccedilatildeo ao filosofar no passo 122 Em seguida estaacute o tetraphaacutermakon ou quaacutedruplo remeacutedio que reflete acerca dos deuses (passos 123 e 124) sobre a morte e os verdadeiros males da vida (entre os passos 124 e 127) sobreo futuro ou porvir (ainda no 127) sobre o prazer e os desejos (do 127 ao 132) e sobre a necessidade e o acaso (passos 132 a 135) Na conclusatildeo da Carta Epicuro convida o destinataacuterio e os seus amigos a refletirem sobre os pre-ceitos nela contidos pois estes ensinamentos conduzem a uma praacutetica de vida feliz ou bem aventurada
Markus Figueira da Silva
24 25
Com relaccedilatildeo agraves Maacuteximas Principais as primeiras (I a IV) tratam tambeacutem do tetraphaacutermakon em seguida haacute uma seacuterie de consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees necessaacuterias suficientes para se realizar uma vida feliz (makaacuterioszecircn) bem como sobre a relaccedilatildeo entre prazeres e virtudes (V a XXI) Haacute depois uma ilaccedilatildeo en-tre os criteacuterios para o conhecimento e o agir filosoacutefico (XXII a XXVI) sobre a amizade (philiacutea) e a classificaccedilatildeo dos desejos (XXVII a XXX) e finalmente sobre a justiccedila (dikaiosyacutene) e o modo como o saacutebio (sophoacutes) se relaciona com ela (XXXI a XL) Estas uacuteltimas ensejam uma reflexatildeo antropoloacutegica em torno das relaccedilotildees juriacutedico-sociais
Embora as Sentenccedilas Vaticanas natildeo faccedilam parte da obra laerciana tecircm o seu conteuacutedo associado ao das Maacuteximas Prin-cipais pois trazem reflexotildees em torno da conduta humana e em diversos aspectos aprofundam ou vecircm corroborar o sentido inerente agraves Maacuteximas
No conjunto das 81 sentenccedilas sobressaem aquelas dedicadas agrave amizade Pode-se dizer que Epicuro confere agrave amizade um papel fundamental na sua concepccedilatildeo de sabedoria ou filosofia A amizade gera confianccedila solidifica as relaccedilotildees sociais estimula a praacutetica das virtudes eacute responsaacutevel pelo bem estar dos indiviacuteduos e engendra a liberdade no agir Em Epicuro a amizade difere das praacuteticas comuns de relaccedilotildees sociais dos homens atrelados agraves cidades decadentes da sua eacutepoca Trata-se portanto de outro modelo de conduta privado molecular afastado da multidatildeo insensata Ela fundamenta a accedilatildeo e a liberta da dependecircncia e da cumplicidade que forccedila o indiviacuteduo a suportar o mal estar em sociedade A amizade simboliza o poder inerente a cada um de escolher o que lhe aprouver e evitar o que o perturba e o enfra-quece em seu iacutentimo em uma palavra o que o despotencializa Viver entre amigos eacute alcanccedilar e exercer a filosofia em toda a sua plenitude A amizade existe porque eacute natural mas a sua praacutetica
Introduccedilatildeo
24 25
exige o discernimento e a liberdade de poder escolher e poder evitar
Satildeo estas em linhas gerais as informaccedilotildees referentes aos textos de Epicuro aqui utilizados cujo vocabulaacuterio serviraacute de instrumento de leitura agravequeles que se interessarem pela Filosofia da Natureza e pela Eacutetica do Jardim
Markus Figueira da Silva
26 27
Auxiacutelio Ao leitor
A) lista de abreviaturas
DL - Dioacutegenes Laeacutercio Vidas e doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres SV - Sentenccedilas Vaticanas EpicuroMP - Maacuteximas Principais EpicuroDRN - De Rerum Natura LucreacutecioUs - USENER EpicureaNatSobre a Natureza Perigrave phyacuteseos Epicuro Pap HercPapiros Herculanesesm - masculinof - femininoad - adjetivoadv - adveacuterbioinf - infinitivolat latimpl - pluralprep - preposiccedilatildeosf - substantivo femininosm - substantivo masculinosn - substantivo neutrov - verbo
B) meacutetodos de referecircncia
Os algarismos araacutebicos agrave direita dos termos gregos trans-literados se referem aos paraacutegrafos em que cada termo ocorre no livro X de Dioacutegenes Laeacutercio por exemplo ldquoἀδιάλυτος adiaacutelytos- 54rdquo eacute uma palavra que estaacute localizada na passagem
Auxiacutelio ao leitor
26 27
de nuacutemero 54 do deacutecimo livro das Vidas e doutrinas dos Filoacute-sofos Ilustres obra escrita pelo doxoacutegrafo Dioacutegenes Laeacutercio que dedicou o deacutecimo livro agrave exposiccedilatildeo da vida e obra de Epicuro No entanto quando os algarismos araacutebicos estiverem precedidos pela abreviaccedilatildeo ldquoSVrdquo significa que eles remetem agraves Sentenccedilas Vaticanas por exemplo ldquoεὐδαιμονία eudaimoniacutea - 116 122 127 SV 33rdquo esta uacuteltima ocorrecircncia estaacute indicando que o termo eudaimoniacutea aparece na sentenccedila de nuacutemero 33 Por sua vez esses algarismos seguidos de ldquoUsrdquo fazem referecircncia aos fragmentos compilados por Usener em sua obra intitulada Epicurea como no termo ldquoἀκατονόμαστον akatonoacutemaston- 314 Us 315 Usrdquo Os algarismos romanos foram reservados agraves Maacuteximas Principais de Epicuro como em ldquoπαντελής panteleacutes- 116 XX XXIrdquo cujas duas uacuteltimas ocorrecircncias se referem agraves maacuteximas 20 e 21 dentre as Maacuteximas Principais
C) alfabeto grego
Αα- aacutelpha Bβ - beacutetaΓγ - gaacutemaΔδ - deacuteltaΕε - e psiloacuten7
Ζζ - dzeacutetaΗη - eacutetaΘθ - theacutetaΙι - ioacutetaΚκ - kaacutepaΛλ - laacutembdaΜμ - mucirc
7 Cf Murachco 2007 p 36 para compreender o modo de nomear as letras ε ο υ ω
Markus Figueira da Silva
28 29
Νν - nucircΞξ - ksicircΟο - o mikroacutenΠπ - piΡρ - rhocircΣσς- sicircgma sicircgma finalΤτ - tauΥυ - y psilonΦφ - phicircΧχ - khicircΨψ -psicircΩω - o meacutega
Auxiacutelio ao leitor
28 29
PrimeirA PArte
Physiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea
30 3130 31
ἀδιάλυτος adiaacutelytos (ad)- 54
Indissoluacutevel indestrutiacutevel
ἀθροίσμα athroiacutesma (sn)- 62 63 64 65 69 100 108 IX
Agregado organismo acumulaccedilatildeo Athroiacutesma eacute o termo que nomeia o agregado de aacutetomos que constitui o organismo humano No interior deste agregado se disseminam os aacuteto-mos da alma Athroiacutesma tambeacutem pode significar qualquer agregaccedilatildeo de aacutetomos existente na natureza
ἀθρόος athroacuteos (ad)- 35 56 69 70 104
Reuniatildeo concentraccedilatildeo inteireza
αἴδιος aiacutedios (ad)- 69 70 71
Eterno permanente
αἰτιολογεῖν aitiologeacutein (vinf) - 80 82
Processo de inferecircncia ou investigaccedilatildeo das causas Segundo o Greek-english lexicon de Liddell-Scott (1996) eacute a primeira ocorrecircncia deste termo nos textos gregos
αἰτιολογία aitiologiacutea (sf)- 97
Estudo ou investigaccedilatildeo das causas
ακατονόμαστον akatonoacutemaston (ad)- 314 Us 315 Us
O que natildeo eacute nomeado Trata-se de uma parte ou elemento da alma Epicuro distingue duas partes no corpo alma o aacutelogon que eacute geralmente traduzido por ldquoparte irracionalrdquo e
Primeira parte
32 33
que se encontra espalhada por todo corpo (organismo) e o logikoacuten cuja traduccedilatildeo eacute ldquoparte racionalrdquo e se concentra no peito Tanto em Epicuro quanto em Lucreacutecio estas duas partes estatildeo intimamente ligadas pois haacute uma ldquocontinui-daderdquo entre os aacutetomos concentrados no peito e os demais disseminados atraveacutes do corpo Esta continuidade se expli-ca pelo movimento voluntaacuterio que a alma imprime a todo organismo movimento este que daacute origem agraves sensaccedilotildees e agraves voliccedilotildees O problema reside entatildeo na impossibilidade de explicar os movimento da sensibilidade e os movimentos do pensamento que satildeo os mais ligeiros pois envolvem aacutetomos menores e mais redondos segundo o raciociacutenio de Epicuro
A dificuldade do problema que se impotildee estaacute na caracte-rizaccedilatildeo deste quarto elemento ou elemento sem nome (akatonoacutemaston) ou ainda como nomeou o poeta Lucreacutecio (DRN III241 e III275) a quarta natura que natildeo se pode comparar ou mesmo aproximar de nada do que encontra-mos no universo fiacutesico da natureza estudada ou seja natildeo existe termos de comparaccedilatildeo para justificar a tenacidade e a velocidade do pensamento nem a mobilidade da alma na ldquoprojeccedilatildeordquo ou ldquosaltordquo do pensamento (vide infra ἐπιβολή τῆς διανοίας -epiboleacute tegraves diaacutenoias na segunda parte) natildeo que possamos negar por isso a existecircncia de tal elemento contu-do natildeo podemos aferi-lo mediante o poder de percepccedilatildeo dos sentidos
ἄκρον aacutekron (sn)- 41 57 107
Extremidade altura
Physiologiacutea
32 33
ἀλειτούργητος aleituacutergetos (ad)- 97
Livre de isento Palavra de uso corrente que Epicuro usa metaforicamente no sentido de isentar os fenocircmenos de toda e qualquer causalidade divina
ἀλλόφυλος alloacutephylos (ad)- 106
Estrangeiro de outra tribo ou lugarVide infra Homoacutephylos - ὁμόφυλος (na terceira parte)
ἀμερής amereacutes (ad)- 59
Impartiacutevel indivisiacutevel Este eacute um termo utilizado apenas pelos filoacutesofos atomistas gregos
ἀμετάβατος ametaacutebatos (ad)- 59
Que natildeo admite passagem que natildeo muda de lugar estacio-nado Em sua ocorrecircncia as versotildees do texto grego apresen-tam uma diferenccedila Na versatildeo de Hicks (1925) a palavra eacute ἀμετάβολα ametaacutebola (ad) que significa imutaacutevel
ἀμετάβλητος ametaacutebletos (ad)- 41
Imutaacutevel A imutabilidade eacute caracteriacutestica apenas do corpo do aacutetomo e do Todo
ἀμύθητος amyacutethetos (ad)- 115
Que natildeo recorre ao mito Indiziacutevel Neste sentido mythos signi-fica a expressatildeo isto eacute a capacidade de dizer algo por palavras
Primeira parte
34 35
ἀνάγκη anaacutenke (sf)-74 77 90 92 115 133 134 SV 9 SV 40
Necessidade Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem finalidade (teacutelos)rdquo (vide infra τέλος na segunda parte) E somente o termo anaacutenke pode signifi-car necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo pronoacuteia para designar necessidade de qual-quer maneira a necessidade nuca foi enunciada por Epi-curo num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
ἀνακοπή anakopeacute (sf)- 42
Impedimento suspensatildeo parada resistecircncia Neste caso impedimento devido agrave colisatildeo com outro corpo O Greek--english lexicondaacute como primeira ocorrecircncia deste termo a Carta a Heroacutedoto de Epicuro
ἀναφής anapheacutes (ad)- 40 86
Intangiacutevel impalpaacutevel Termo de uso exclusivo da physiolo-giacutea grega
ἀνταναπλήρωσις antanapleacuterosis (sf)- 48
Reposicionamento substituiccedilatildeo compensaccedilatildeo A uacutenica ocor-recircncia deste termo se daacute na carta a Heroacutedoto de Epicuro
Physiologiacutea
34 35
ἀντικοπή antikopeacute (sf)- 46 47
Resistecircncia A primeira ocorrecircncia deste termo se daacute em Epicuro
ἀπάντησις apaacutentesis (sf)- 46
Encontro choque
ἀπειρία apeiriacutea (sf)- 45 116
Infinidade ilimitabilidade Palavra proacutepria da physiologiacutea grega
ἀπεὶρων (τό) apeigraveron (toacute) (ad) 47 60 73 75 88 XIII XV
Ilimitado infinito
ἀπερίληπτος aperiacuteleptos (ad)- 42
Incompreensiacutevel inacessiacutevel (ao pensamento)
ἀπερινόητος aperinoacuteetos (ad)- 46
Inconcebiacutevel Segundo Liddell-Scott (1996) Epicuro daacute a este termo um sentido diferente de outros usos da palavra
ἀποκατάστασις apokataacutestasis (sf)- 44
Retorno ao movimento ou posiccedilatildeo inicial
ἀποπαλμός apopalmoacutes (sm)- 44 280 Us
Aquele que ressalta e repercute Termo de uso exclusivo de Epicuro
Primeira parte
36 37
ἀπόπαλσις apoacutepalsis (sf)- 108
Choque impacto
ἀπόρροια apoacuterroia (sf)- 46
Efluacutevio fluxo corrente emanaccedilatildeo
ἀπόστασις apoacutestasis (sf)- 46
Afastamento distanciamento
ἀρχή archeacute (sf)- 30 41 44 116 128 132 134 138 SV 23
Princiacutepio origem comeccedilo fundamento A questatildeo do princiacutepio de realidade (archeacute) eacute explicitada pelo axioma baacute-sico do atomismo segundo o qual o todo eacute composto de aacutetomos e vazio Os aacutetomos satildeo elementos constitutivos de todas as coisas gecircnese dos corpos compostos e fundamento do atomismo cujo princiacutepio eacute assim formulado na Carta a Heroacutedoto
Primeiramente nada nasce do nada (natildeo-ser) Se natildeo fosse assim tudo nasceria de tudo e nada teria necessidade de seu proacuteprio germe (DL X 38)
ldquoNada nasce do nadardquo eacute um princiacutepio que surge jaacute no pensamento de Demoacutecrito (DL IX 44) e mais tarde no pensamento de Epicuro como ponto de partida para o co-nhecimento sensiacutevel Contudo foi Lucreacutecio (DRN I 174-224) quem traduziu este princiacutepio em imagens que podem ser comprovadas pela experiecircncia e assim manifestados para cada coisa animal ou planta faz-se necessaacuteria a sua proacutepria semente em condiccedilotildees favoraacuteveis a sua germinaccedilatildeo Em razatildeo disso eacute plausiacutevel dizer que a Carta a Heroacutedoto
Physiologiacutea
36 37
comeccedila indicando que o pensamento brota da experiecircncia mediante a qual surge a possibilidade de se estabelecer as analogias que levam ao ldquosaltordquo do pensamento Este salto se caracteriza por efetuar analogias entre a realidade apre-endida imediatamente pelas sensaccedilotildees as microestruturas corpoacutereas e o macrocosmos permitindo a inteligibilidade dos niacuteveis que escapam ao alcance da sensibilidade Desse modo o pensamento pode postular que na natureza os cor-pos vecircm a ser a partir dos aacutetomos e se dissolvem espalhando os elementos que os constituem dado que a todo instante os corpos se formam e se decompotildeem no universo infinito sem nada acrescentar ou subtrair ao todo A consequecircncia loacutegica deste princiacutepio revela que a constituiccedilatildeo total do ser ou do todo permanece a mesma
ἀσθένεια astheacuteneia (sf)- 77
Fraqueza debilidade
ἀστρολογία astrologiacutea (sf)- 113
Astronomia
ἀστρολόγος astroloacutegos (sm)- 93
Astrocircnomo
ἀσχολία askholiacutea (sf)- 85
Ocupaccedilatildeo empenho
ἀσώματος asoacutematos (ad)- 67 69 70
Incorpoacutereo Termo exclusivamente filosoacutefico
Primeira parte
38 39
ἄτομος aacutetomos (ad substantivadolatatomus)- 4142 43 44 45 48 50 54 55 56 58 59 61 62 65 86 99 102 110 115
Aacutetomo indivisiacutevel Os termos gregos aacutetomos (nominativo singular) aacutetomoi (nominativovocativo pl) ou aacutetomon (acusativo singular) constam em vinte passagens dos textos de Epicuro Na maioriadas vezes os tradutores optam por aacutetomo em suas traduccedilotildees embora em alguns casos tambeacutem se traduza por indivisiacutevel
O adjetivoaacute-tomosse substantiva em aacutetomos ldquoque quer dizer natildeo-cortado indivisiacutevelrdquo (GOBRY 2007 p 115) Os aacuteto-mos satildeo literalmente partiacuteculas indivisiacuteveis que por serem assim satildeo razatildeo explicativa da realidade Eacute a ideia que deu origem ao atomismo assim como foi teorizado inicialmente por Leucipo e Demoacutecrito8 e depois por Epicuro Este legado foi espalhado pelo mundo romano entatildeo recebendo a deno-minaccedilatildeo latina de atomus (aacutetomo) ou indivisum (indivisiacutevel) como traduz Ciacutecero ou ainda semina (sementes) na lingua-gem poeacutetica do epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro Os aacutetomos satildeo elementos (stoicheiacuteon)em quantidade infini-ta que constituem os corpos compostos (synkriacuteseis) Satildeo ca-racterizados na Carta a Heroacutedoto9como partiacuteculas corpoacutereas maciccedilas indissoluacuteveis imutaacuteveis indivisiacuteveis e impenetraacute-veis portanto resistindo agrave corrupccedilatildeo dos corpos compostos desde a eternidade
Esses elementos satildeo os aacutetomos indivisiacuteveis e imutaacuteveis se eacute verdade que nem todas as coisas poderatildeo perecer e resolver--se no natildeo-ser Com efeito os aacutetomos satildeo dotados da forccedila necessaacuteria para permanecerem intactos e para resistirem enquanto os compostos se dissolvem pois satildeo impenetraacuteveis
8 Cf DL IX 449 Cf DL X 35-83
Physiologiacutea
38 39
por sua proacutepria natureza e natildeo estatildeo sujeitos a uma eventual dissoluccedilatildeo Consequentemente os princiacutepios das coisas satildeo indivisiacuteveis e de natureza corpoacuterea (DL X 41)
O objetivo de Epicuro e seus disciacutepulos nunca fora o de explorar detidamente ou ldquocientificamenterdquo as caracteriacutesticas dos aacutetomos antes operavam analogias inferecircncias induti-vas e deduccedilotildees atribuindo aos aacutetomos propriedades neces-saacuterias para a explicaccedilatildeo da realidade sensiacutevel Nas palavras de Gigandet ldquoo aacutetomo eacute princiacutepio de inteligibilidade natildeo objeto de estudo mas pelo contraacuterio eacute o ponto de partida da explicaccedilatildeordquo (2001 p40) Sementes eternas de toda a rea-lidade os aacutetomos satildeo naturezas inteiras (hoacutelas phyacuteseis)10 sem qualidades acidentais (symptoacutemata)(vide infra σύμπτωμα na segunda parte) passiacuteveis de mudanccedila no entanto pos-suindo propriedades (symbebekoacuteta)(vide infra συμβεβηκός na segunda parte) ou qualidades (poioacutetes) necessariamente permanentes (anankaiacuteon hipomeacutenein) Constituintes de to-dos os corpos compostos (visiacuteveis e invisiacuteveis) os aacutetomos natildeo tecircm outras propriedades aleacutem da formafigura (schematoacutes) do tamanho (megeacutethous) e do peso (baacuterous)11
αὔξησις ayacutexesis (sf)- 90
Crescimento desenvolvimento
10 Cf DL X 4011 Neste ponto haacute uma diferenccedila do atomismo de Demoacutecrito e Leucipo
tal como Aristoacuteteles o apresenta na Metafiacutesica A 985b e o atomismo de Epicuro pois este acrescenta o peso (baacuteros) como uma das propriedades atocircmicas aleacutem de aglutinar a propriedade da ordem (taacutexis) agrave formafigura (schecircma) J Salem cita o doxoacutegrafo Aeacutecio para documentar este acreacutescimo da filosofia epicurista ldquoDemoacutecrito pensou que existe duas propriedades do aacutetomo a grandeza e a figura enquanto que Epicuro acrescentava uma ter-ceira o peso (baacuteros) de fato declara este uacuteltimo eacute necessaacuterio que os corpos recebam a impulsatildeo do peso para se moverrdquo (Cf SALEM 1997 p 28)
Primeira parte
40 41
αὐτοθελός autotheloacutes (ad)- 85
O que tem fim em si mesmo independente completo
ἀφανής aphaneacutes (ad)- 104
Inaparente obscuro
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (ad)- 76 123
Incorruptibilidade imortalidade
ἄφοδος aacutephodos (sf)- 54
Partida retirada
βάρος baacuteros (sn)- 4454 61 68
PesoDemoacutecrito natildeo havia introduzido o peso entre as qua-lidades dos aacutetomos poreacutem Epicuro contrariamente a ele conferiu ao peso a propriedade de ser causa do movimento dos aacutetomos no vazio movimento esse que por ser constante explica a mecacircnica do devir nos diversos niacuteveis de realizaccedilatildeo da phyacutesis O peso sendo causa primeira do movimento de transformaccedilatildeo das coisas eacute necessaacuterio para a coerecircncia do sistema de exposiccedilatildeo da phyacutesis embora natildeo determine de maneira alguma as afecccedilotildees entre os corpos
βέβαιος beacutebaios (ad)- 6385 XL
Seguro soacutelido firme
βράδος braacutedos (sn)- 46
Lentidatildeo lerdeza morosidade Palavra muito rara Soacute apare-ce em Xenofonte e Epicuro
Physiologiacutea
40 41
γένεσις geacutenesis (sf)- 48 77 86 SV 42
Nascimento origem produccedilatildeo gecircnese geraccedilatildeo
διάκρισις (sf)diaacutekrisis- 78
Conflito divergecircncia divisatildeo Estes soacute podem ocorrer no niacute-vel dos fenocircmenos fiacutesicos sejam eles celestes ou subterracircneos Contudo assevera Epicuro isso deve ser evitado Por outro lado natildeo se deve em nenhuma hipoacutetese atribuir agrave natureza divina a causa do conflito da divergecircncia ou da divisatildeo
διαλύω dialyacuteo (v)- 39 41 42 73 91 II SV 37
Dissolver
διάλυσις diaacutelysis (sf)- 4154
Dissoluccedilatildeo
διαμονή diamoneacute (sf)- 89
Estabilidade continuidade
διάρθρωσις diaacuterthrosis (sf)- 89
Articulaccedilatildeo
διάστημα diaacutestema (sn)- 89 91 110
Distacircncia intervalo Palavra oriunda da linguagem musical grega Provavelmente de origem pitagoacuterica
διαφορά diaforaacute (sf)- 42 55 56 75
Diferenccedila diversidade variedade
Primeira parte
42 43
δίνη diacutene (sf)- 92 93 112 113 114
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo
δίνησις diacutenesis (sf)- 90
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo Esta outra forma da palavra diacutene eacute mais teacutecnica e eacute de uso restrito de Aristoacuteteles e Epicuro
δυνατόν (τὸ) dynatoacuten (tograve) (ad substantivado)- 93
O possiacutevel
εἰλικρινής eilikrineacutes- (ad) 89 XIV
Puro absoluto completo
ἐκπύρωσις ekpyacuterosis (sf)- 101 103 115
Conflagraccedilatildeo combustatildeo
ἐμπεριλαμβάνω emperilambaacuteno (v)- 90 105
Captar englobar apreender compreender
ἔμπτωσις eacutemptosis (sf)- 102 SV 24
Incidecircncia impacto cair sobre
ἐναπόλεψις enapoacutelepsis (sf)- 77
Intercepccedilatildeo aprisionamento Este termo eacute usado por Epicu-ro num sentido inovador que diz respeito agrave teoria epicuacuterea do nascimento dos mundos
Physiologiacutea
42 43
ἐνδέχεσθαι endeacutechesthai (v)- 78 80 87 88 90 93 94 97 100 103 104105 107 108 113
Ser possiacutevel haver a possibilidade de
ἐνέργημα eneacutergema (sn)- 37
Exerciacutecio atividade
ἐξακριβοῦν exakribucircn (v)- 35 36 68 78 83
Precisar fazer com exatidatildeo detalhar Palavra de uso filosoacute-fico apenas
ἐπάρδευσις epaacuterdeysis (sf)- 89 100
Torrente corrente Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐπίβλεψις epiacuteblepsis (sf)- 35
Visatildeo consideraccedilatildeo
ἐπισημασία episemasiacutea (sf)- 98 115
Prognoacutestico sinal indiacutecio
ἐπιτήδειος epiteacutedeios (ad)- 93 99 100 107 111 112
Adequado adaptado apropriado
εὐκινησία eukinesiacutea (sf)- 63
Mobilidade facilidade de movimento
Primeira parte
44 45
θάμβος thaacutembos (sn)- 79
Perplexidade espanto admiraccedilatildeo
θεῖος theicircos (ad)- 97 113 115 SV 24
Divino
θέσις theacutesis (sf)- 44 46 48 75 30 Us
Posiccedilatildeo
ἰσοταχής isotacheacutes (ad)- 61 62
O que possui velocidade equivalente ou a mesma rapidez Os aacutetomos de acordo com o passo 61 da Carta a Heroacutedoto ldquotecircm necessariamente a mesma velocidaderdquo Aacutetomos pesa-dos grandes pequenos ou leves em movimento ascendente obliacutequo ou descendente percorrem o espaccedilo com a mesma rapidez12 Epicuro assemelha ainda a rapidez do aacutetomo agravequela do pensamento ou seja os aacutetomos se movem com a mesma rapidez com que operamos com o loacutegos na apreensatildeo de sentidos Para que a natureza se expresse da maneira que se apresenta aos homens eacute preciso que os aacutetomos natildeo apenas se movimentem mas que se movimentem com celeridade pois os elementos que se desprendem dos corpos devem ser imediatamente repostos para que a continuidade provisoacuteria dos compostos possa ser explicada pelo atomismo de manei-ra coerente Tendo em vista que os elementos que compotildeem
12 Cf DRN II 225-229 A sensibilidade parece atestar o contraacuterio quando se trata da rapidez dos corpos em queda mas eacute preciso considerar que a trajetoacuteria dos aacutetomos se daacute no vazio onde natildeo haacute resistecircncia nem por parte do ar nem da aacutegua meios em que vemos corpos mais pesados serem mais raacutepidos que corpos leves
Physiologiacutea
44 45
os corpos tecircm figuras diversas um aacutetomo com figura ldquoZrdquo natildeo pode ser substituiacutedo por um aacutetomo de figura ldquoOrdquo mas apenas por aacutetomos de figura ldquoZrdquo13 Isso significa que algu-mas reposiccedilotildees satildeo efetuadas por aacutetomos que se encontravam a grandes distacircncias mas que por possuiacuterem uma ligeireza comparaacutevel agravequela do pensamento alcanccedilam aglutinar-se ao corpo agregado que deles precisava para persistir na confi-guraccedilatildeo corpoacuterea que assumia A velocidade uniforme dos aacutetomos tambeacutem propicia a formaccedilatildeo das imagens pois estas guardam a posiccedilatildeo e estrutura que os aacutetomos componentes assuniam no corpo do qual se desprenderam tornando pos-siacutevel o ato perceptivo Eacute necessaacuterio agrave fiacutesica epicurista que os aacutetomos percorram espaccedilos vazios de modo igualmente veloz
ἱστορία historiacutea (sf)- 79
Investigaccedilatildeo estudo Epicuro critica o tipo de erudiccedilatildeo daqueles que fazem a historiacutea isto eacute a investigaccedilatildeo dos fenocirc-menos fiacutesicos mas natildeo demonstram o valor ou a utilidade deste conhecimento para a vida praacutetica
κάθαρσις kaacutetharsis (sf)- 86
Soluccedilatildeo Diz respeito ao modo proacuteprio de Epicuro pensar a natureza segundo o qual a physiologiacutea deve encontrar uma
13 Lucreacutecio (DRN I 167-172) explica que cada corpo tem sementes especiacuteficas ou seja os corpos compostos satildeo formados por aacutetomos de figuras particulares sem os quais o corpo composto natildeo se apresentaria da mesma maneira e aleacutem disso qualquer coisa poderia gerar-se de qualquer coisa um absurdo que natildeo constatamos ocorrer na natureza Nas palavras do poeta epicurista ldquoMas como todos (os seres e as coisas) se formam por sementes certas soacute nascem e chegam agraves margens da luz no lugar em que existam a mateacuteria e os corpos elementares que lhe satildeo proacuteprios por isso natildeo pode tudo nascer de tudo cada ser determinado tem em si possibili-dades proacutepriasrdquo
Primeira parte
46 47
soluccedilatildeo para os problemas fiacutesicos sem no entanto recorrer agrave sobrenaturalidade (explicaccedilotildees miacuteticas)
κατάστημα kataacutestema (sn)- 68 Us
Condiccedilatildeo estaacutevel
κενόν (τὸ) kenoacuten (tograve) (ad substantivado)- 40 41 42 44 46 67 89 90 74 Us 75 Us
O Vazio
Se aquilo que chamamos vazio e espaccedilo ou aquilo que por natureza eacute intangiacutevel natildeo tivesse uma existecircncia real nada haveria em que os corpos pudessem estar e nada atraveacutes de que eles pudessem se mover como parece que se movem (DL X 40)
O vazio eacute definido em primeiro lugar de modo simples e fundamental como aquilo que por natureza eacute intangiacutevel e dotado de uma existecircncia real em segundo lugar ele eacute apresentado como a condiccedilatildeo necessaacuteria aos movimentos dos corpos Com relaccedilatildeo aos corpos o vazio possui carac-teriacutesticas essencialmente opostas como por exemplo os corpos satildeo passiacuteveis de afecccedilatildeo o vazio natildeo os aacutetomos tecircm o limite delineado pela figura e podem ser comparados uns aos outros devido sobretudo ao fato de serem muacuteltiplos e diversos ao passo que o vazio eacute somente vazio ou algo anaacute-logo ao natildeo-ser Entretanto a sua existecircncia possibilita quer a compreensatildeo do vir-a-ser ou agregaccedilatildeo que a do movimen-to ou devir dos corpos Na afirmaccedilatildeo acima o vazio eacute ainda por definiccedilatildeo espaccedilo de livre constituiccedilatildeo e deslocamento dos corpos sendo o meio no qual emergem os agregados atocircmicos e onde se formam desenvolvem e corrompem as
Physiologiacutea
46 47
muacuteltiplas coisas da natureza Por estas razotildees parece justifi-car-se o caraacuteter fundamental atribuiacutedo por Epicuro ao vazio uma vez que eacute tatildeo necessaacuterio quanto os aacutetomos e o infinito para seu sistema de compreensatildeo da realidade
O vazio eacute tambeacutem aquilo que diferencia essencialmente um aacutetomo de um corpo composto Podemos recorrer aos atomis-tas para justificar esta diferenccedila Para eles o aacutetomo eacute imutaacutevel por ser pleno o corpo ao contraacuterio eacute passiacutevel de mudanccedilas visto que eacute um misto de aacutetomos e vazio a diferenccedila entatildeo explica-se pelo fato mesmo de se conceber os aacutetomos em cons-tante movimento e de se admitir que a existecircncia do vazio viabiliza os deslocamentos dos aacutetomos no interior dos corpos
κίνησις kiacutenesis (sf)- 50 51 59 64 66 67 73 77 92 98 101 105 106 111 112 115 136 2 Us 191 Us 280 Us
Movimento O termo grego kiacutenesis pode ser compreendido num sentido geral e num sentido estrito sendo todavia necessaacuterio concebecirc-lo inicialmente como expressatildeo dos pro-cessos de geraccedilatildeo e corrupccedilatildeo o que soacute eacute possiacutevel nas esferas dos corpos e dos mundos Num sentido geral kiacutenesis eacute presu-posto na realizaccedilatildeo de phyacutesis pois dele resultam as afecccedilotildees que datildeo origem aos agregados e aquelas que satildeo responsaacuteveis pela desagregaccedilatildeo dos compostos
Em virtude de os aacutetomos terem em si o princiacutepio do movimen-to a mudanccedila apresenta-se como uma necessidade Destarte cabe afirmar que compreender kiacutenesis como mudanccedila signifi-ca estabelecer que a realidade (fiacutesica) dos corpos compostos soacute eacute alterada em funccedilatildeo do movimento dos aacutetomos
Num sentido estrito eacute possiacutevel o emprego de kiacutenesis para designar apenas o deslocamento dos aacutetomos no vazio
Primeira parte
48 49
κοίλωμα koiacuteloma (sn)- 46 100 106
Cavidade profundidade concavidade
κόσμος koacutesmos (sm)- 45 73 74 77 88 89 90 112
Mundo Epicuro compreende que os mundos satildeo infinitos em nuacutemero e estatildeo espalhados por todo o universo que eacute tambeacutem infinito Alguns satildeo esfeacutericos outros podem ter outras formas Um mundo como um megacorpo recebe elementos que vem de fora e tambeacutem perdem elementos Na Carta a Heroacutedoto podemos ler as seguintes definiccedilotildees
Aleacutem disso existe um nuacutemero infinito de mundos tanto semelhantes ao nosso como diferntes dele pois os aacutetomos cujo nuacutemero eacute infinito como acabamos de demonstrar satildeo levados em seu curso a uma distacircncia cada vez maior E os aacutetomos dos quais poderia se formar um mundo natildeo foram todos consumidos na formaccedilatildeo de um mundo soacute nem de um nuacutemero limitado de mundos nem de quantos mundos sejam semelhantes a este ou diferentes deste Nada impede que se admita um nuacutemero infinito de mundos (DL X 42)
Um mundo eacute uma porccedilatildeo circunscrita do universo compre-endendo astros e terra e todas as coisas visiacuteveis destacado do infinito () cuja dissoluccedilatildeo levaraacute aacute ruiacutena tudo que estaacute nele (DL X 88)
κοῦφος kucircphos (ad)- 43 61
Leve ligeiro
κρᾶσις kraacutesis (sf)- 63
Mistura uniatildeo
Physiologiacutea
48 49
κροῦσις kruacutesis (sf)- 61
Choque golpe colisatildeo
κυριώτατος kyrioacutetatos (ad)- 35 36 78 79 81 82 83 IX XII XVI
Fundamental capital o mais importante
λειτουργέω leiturgeacuteo (v)- 76
Desempenhar uma funccedilatildeo cargo serviccedilo
λειτουργία leiturgiacutea (sf)- 113
Funccedilatildeo cargo serviccedilo
λεπτομέρεια leptomeacutereia (sf)- 63 355 Us
Um composto de partiacuteculas sutis A sutileza eacute caracteriacutestica dos aacutetomos do composto aniacutemico
λεπτομερής leptomereacutes (ad)- 63 90101
Composto de partiacuteculas sutis A alma eacute para Epicuro um corpo dentro do corpo-carne A diferenccedila estaacute na sutileza dos aacutetomos que compotildeem a alma
λόξωσις loacutexosis (sf)- 93
Inclinaccedilatildeo obliquidade Palavra utilizada na explicaccedilatildeo do movimento dos astros
λύσις lyacutesis (sf)- 79
Soluccedilatildeo liberaccedilatildeo
Primeira parte
50 51
μεστός mestoacutes (ad)- 42
Pleno cheio
μετάβασις metaacutebasis (sf)- 56 58
Passagem dum lugar a outro extensatildeo percorriacutevel
μεταβολή metaboleacute (sf)- 39 54 98
Mudanccedila transformaccedilatildeo Um dos tipos de movimento uti-lizados por Epicuro Neste caso significa o movimento de transformaccedilatildeo de um corpo
μετάθεσις metaacutethesis (sf)- 54
Transposiccedilatildeo deslocamento Outro tipo de movimento Neste caso significa a mudanccedila de lugar ou o deslocamento de um aacutetomo ou de um corpo composto (agregado)
μετακόσμιον metakoacutesmion (sn)- 89
Intermuacutendio Espaccedilo entre os mundos onde Epicuro situa os deuses
μετάστασις metaacutestasis (sf)- 89
Mundanccedila de posiccedilatildeo Termo que define o movimento dos aacutetomos no interior dos corpos
μετέωρα meteacuteora (ad) - 76 78 80 82 84 85 86 87 95 96 97 98 111 X XI
Qualificativo de fenocircmenos ou corpos celestes
Physiologiacutea
50 51
μορφή morpheacute (sf)-33 (255 Us) 49 50
Forma figura aspecto Relativo agrave forma dos objetos perce-bidos pelos sentidos ou imaginados pelo pensamento
ὅγκος hoacutenkos (sm)- 52 53 54 56 57 69 105
Corpuacutesculo partiacutecula massa
οἰκονομία oikonomiacutea (sf)- 79
Gestatildeo ordenamento
ὅλος hoacutelos (ad)- 36 70 71 82 IX XXI XXVII
Todo inteiro universal Epicuro usa este adjetivo para des-crever a totalidade de um corpo ou de sensaccedilotildees ou ainda a completude da vida Natildeo confundir com τό πᾶν toacute pacircn - O todo
ὁλοσχερής holoschereacutes (ad)- 35 36
Geral completo
ὁμογενές homogeneacutes (ad)- 32 (36 Us) 53 116 XVIII
Mesmo gecircnero (tipo espeacutecie) homogecircneo congecircnere
ὀξυγώνιος oksygoacutenios (ad)- 109
Anguloso acircngulos agudos
ὁπηλίκος hopeliacutekos (ad)- 56 57
Grandeza tamanho
Primeira parte
52 53
ὁρμή hormeacute (sf)- 115
Impulso
οὐρανός uranoacutes (sm)- 88 92 93 96 111
Ceacuteu
οὐσία usiacutea (sf)- 72 86
Essecircncia O uso deste termo diz respeito agrave investigaccedilatildeo acerca do tempo na Carta a Heroacutedoto (72) e agraves causas dos fenocircmenos celestes na Carta a Piacutetocles (86)
παλμός palmoacutes (sm)- 43
Vibraccedilatildeo pulsaccedilatildeo Os aacutetomos estatildeo em movimento cons-tante e palmoacutes eacute o termo que define o movimento vibratoacuterio (oscilatoacuterio) dos aacutetomos no interior dos corpos
πᾶν (τό) pacircn (toacute) (ad substantivado)- 39
O todo
παντελής panteleacutes (ad)- 116 XX XXI
Perfeito completo
παραλλαγή parallageacute (sf)- 55 63 95 113
Variaccedilatildeo diferenccedila
παρέγκλισις pareacutenklisis (sf lat clinamen)- 280 Us 351 Us
Declinaccedilatildeo Pareacutenklisis eacute um termo que natildeo consta nos tex-
Physiologiacutea
52 53
tos atribuiacutedos agrave Epicuro no entantoeacute possiacutevel lecirc-lo nas ins-criccedilotildees em perdra do epicurista Dioacutegenes de Enoanda(frg 54 II 3 III 14 Smith)Este termo tambeacutem aparece em Aeacute-cio I 12 5 (280 Us) em texto cujo autor enumera os tipos de movimento dos aacutetomos A versatildeo latina deste termo eacute mais conhecida clinamen14 As teorias a respeito da declinaccedilatildeo dos aacutetomos foram anunciadaspelo epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro no segundo canto de seu poema De Rerum Natura
Quando os corpos satildeo levados em linha reta atraveacutes do vazio e de cima para baixo pelo seu proacuteprio peso afastam-se um pouco (depellere paulum) da sua trajetoacuteria em altura incerta e em incerto lugar e tatildeo somente o necessaacuterio para que se possa dizer que se mudou o movimento (DRN II 216-220)
A declinaccedilatildeo se coloca como mais uma causa do movi-mento dos aacutetomos aleacutem das causas puramente mecacircnicas colisotildees ausecircncia de resistecircncia do vazio ou o proacuteprio peso dos aacutetomos15 A declinaccedilatildeo natildeo tem causa externa mas eacute um princiacutepio interno assim como o peso mas que diferente deste natildeo promove o percurso dos aacutetomos em uma direccedilatildeo constante antes luta contra toda determinaccedilatildeo introduzin-do na phyacutesis o acaso como causa de ser O elemento casual se encontra nas ocasiotildees em que os aacutetomos tendem a desviar de sua trajetoacuteria descendente ldquoem altura incerta e em incerto
14 Lucreacutecio tambeacutem usa outros termos para designar o des-vio do aacutetomo tais quais depellere declinare inclinare (DRN II 219221250253259243) O termo clinamen aparece apenas uma vez no verso 292 do livro II (Cf GIGANDET 2001 p 24 n3) ldquoClinamen parece ter sido criado por Lucreacutecio para evitar clinatio que natildeo podia entrar em seus versos hexacircmetros (SALEM 1997 p 67)
15 O doxoacutegrafo Aeacutecio afirma que ldquoOs aacutetomos se movem ora segundo a reta ora segundo o desvio (katagrave pareacutenklisin) os movimentos para cima ocorrem segundo o choque e a rebatidardquo (280 Us) cf DRN II 285-286
Primeira parte
54 55
lugarrdquo somente ldquoum poucordquo (paulum) sem causa aparente sem choques que constranjam seu deslocamento e indo de encontro agraves determinaccedilotildees do peso
Satildeo dois os argumentos usados por Lucreacutecio para defender a tese do clinamen (nos versos II 216-293) 1) Se natildeo ocor-ressem desvios atocircmicos a natureza permaneceria esteacuteril ldquoo mundo natildeo poderia nascer a necessidade seria infecundardquo (GUYAU 1927 p 77) uma vez que natildeo haveria colisotildees atocircmicas nem consequentemente corpos compostos mun-dos seres etc 2) Somos livres e para tanto eacute necessaacuterio que as ldquocausas natildeo se sigam perpetuamente agraves causasrdquo (DRN II 255) antes deve haver movimentos atocircmicos que natildeo podem ser remetidos agrave causas exteriores ldquoA existecircncia desta curiosa propriedade dos corpos primevos pode ser deduzida da ob-servaccedilatildeo dos fenocircmenos imputaacuteveis agrave vontade dos seres vi-vosrdquo (SALEM 1997 p 167) Lucreacutecio para justificar o mo-vimento de declinaccedilatildeo dos aacutetomos propotildee primeiramente imaginar um ldquomomentordquo hipoteacutetico da eternidade em que nenhum agregado atocircmico existisse mas apenas aacutetomos iso-lados percorressem seu trajeto descendente ldquocomo gotas de chuvardquo16 Se assim fosse jamais um aacutetomo se encontraria ou colidiria com outro natildeo haveria corpos compostos mundos ou seres viventes
πέρας peacuteras (sn)- 41 59 88 133 X XVIII XIX XX XXI SV 48
Limite termo
16 Como esclarece Gigandet ldquoa queda primitiva e esteacuteril eacute colocada como uma ficccedilatildeo um simples momento abstrato permitindo reconstruir o movimento caoacutetico efetivordquo (2001 p 29)
Physiologiacutea
54 55
περιαίρεσις periaiacuteresis (sf)- 55
Suprimir retirar remover
περίληψις periacutelepsis (sf)- 56
Circunscriccedilatildeo
περιοχή periocheacute (sf)- 88
Envoltoacuterio invoacutelucro
περιπλοχή periplocheacute (sf)- 43 44 99
Entrelaccedilamento
περίστασις periacutestasis (sf)- 92 102 104 106 107 109 111
Estado disposiccedilatildeo circunstacircncia entorno
περιφέρεια peripheacutereia (sf)- 107 110
Periferia circunferecircncia forma circular
περιφερής periphereacutes (ad)- 109
Redondo circular
πηλίκος peliacutekos (ad)- 57
De uma certa grandeza
πύκνωμα pyacuteknoma (sn)- 36 50 105 115
Densidade compacidade consistecircncia
Primeira parte
56 57
πλεκτικός plektikoacutes (ad)- 43
Entrelaccedilado
πλεοναχός pleonachoacutes (ad)- 86 87 95
Diverso muacuteltiplo
πληγή plegeacute (sf)- 53 103102 280 Us
Golpe choque impacto Eacute o termo utilizado por Epicuro para nomear o choque entre os aacutetomos e os oacutergatildeos sensiacuteveis Eacute o modo de explicar como se produz a audiccedilatildeo o olfato e a visatildeo por exemplo
πλῆθος plecircthos (sn)- 41 65 89
Nuacutemero quantidade
πλήρης pleacuteres (ad)- 41 XL
Pleno compacto
πνεῦμα pneucircma (sn)- 63 100 101 102 103 104 105 106 107 115
Sopro vento respiraccedilatildeo focirclego
πνευματώδης pneumatoacutedes (ad)- 53 106 107
Semelhante agrave respiraccedilatildeo anaacutelogo ao vento
ποιότης poioacutetes (sf)- 43 44 54 55 56
Qualidade
Physiologiacutea
56 57
πόρος poacuteros (sm)- 47 61 107 111
Passagem
πρόβλημα proacuteblema (sn)- 86
Problema
προσδοχή prosdocheacute (sf)- 89
Recepccedilatildeo
προσκατανόησις proskatanoacuteesis (sf)- 79
Conhecimento adicional consideraccedilatildeo aprofundada
πρόσκρισιςproacuteskrisis(sf)- 90 109
Acrescento agregaccedilatildeo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto
πύκνωμαpyacuteknoma(sn)- 3650 105 115
Massa densa concentraccedilatildeo
πυκνῶς pyknocircs(adv)- 73
De modo compacto forte constante
ῥεῦμα rheyacutema (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo Termo utilizado para nomear o deslocamento dos aacutetomos atraveacutes do espaccedilo para afetar os oacutergatildeos sensiacuteveis e produzir as sensaccedilotildees
Primeira parte
58 59
ῥύσις rhyacutesis (sf)- 104
Fluxo
σάρξ saacuterx (sf)- 137 IV XVIII XX SV 4 SV 33
Carne corpo Na physiologia o corpo eacute pensado como um agregado (vide supraathroiacutesma- ἀθροίσμα) constituiacutedo de aacutetomos e vazio ou seja como um ente fiacutesico (soacutema) Num segundo sentido o corpo eacute pensado como uma estrutura orgacircnica viva o que tambeacutem quer dizer phyacutesis O saber acerca do corpo humano se faz atraveacutes do contato corpomundo e chamamos mundo o conjunto de coisas que satildeo fenocircmenos manifestos no mundo-realidade Segundo Epi-curo conhecemos as coisas quando sentimos sua expressatildeo em noacutes E neste sentido buscamos naturalmente afec-ccedilotildees que produzam sensaccedilotildees constitutivas e agradaacuteveis De certa maneira o corpo se comunica com as coisas do mundo provando-as e tendo como criteacuterio de escolha e rejeiccedilatildeo das afecccedilotildees possiacuteveis o prazer e a dor O corpo eacute um modo do conhecimento Epicuro pensa neste mesmo corpo a alma que eacute tambeacutem corpo mas distingue-se da carne por suas propriedades fiacutesicas e por sua funccedilatildeo ra-cional e imaginativa que articula as impressotildees sensiacuteveis e projeta-as enquanto pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) A perfeita interaccedilatildeo entre carne e alma transfor-ma as sensaccedilotildees em sentimentos ou ainda o que afeta a carne em compreensatildeo ou pensamento Neste contexto carne e alma natildeo podem ser pensados separadamente pois satildeo apenas um e as afecccedilotildees (paacutethe) (vide infra πάθος na segunda parte) soacute se expressam como prazer ou dor na in-teraccedilatildeo carnealma
Physiologiacutea
58 59
σέμνωμα seacutemnoma (sn)- 77
Majestade Palavra encontrada nos textos de Epicuro e de poucas ocorrecircncias depois dele
σκαληνός skalenoacutes (ad)- 109
Irregular
σπέρμα speacuterma (sn)- 38 66 74 89
Semente esperma Este eacute um termo importante da physio-logiacutea que ressalta a ideacuteia de que para cada coisa animal ou planta eacute necessaacuterio a sua semente (esperma) proacutepria e das condiccedilotildees favoraacuteveis agrave sua germinaccedilatildeo
στάσις staacutesis (sf)- 73 88 92
Repouso imoacutevel
στεγάζωstegaacutedzo (v)- 43 64 65 66
Recobrir proteger
στερεότης stereoacutetes (ad)- 44
Solidez firmeza
στοιχεῖον stoicheiacuteon(sn)- 36 37 44 47 86 128
Elemento princiacutepio
συγγενής syngeneacutes(ad)- 78 79 98 116 135
Congecircnere similar afim
60 61
Primeira parte
60 61
συγγένησις syngeacutenesis (sf)- SV 61
Reuniatildeo
συγγενικός syngenikoacutes (ad)- 129
Congecircnito Este termo caracteriza a relaccedilatildeo do homem com o prazer (vide infrahedoneacute-ἡδονή na terceira parte)ldquoO pra-zer eacute nosso bem primordial e congecircnito (syngenikoacutes)rdquo (DL X 129) O prazer possibilita ao epicurista uma vida de acordo com a natureza constituindo-se como uma evidecircncia praacuteti-ca a guiar o homem para a felicidade
σύγκρισις syacutenkrisis(sf)- 40 41 42 54 55 62 66 73 110
Composiccedilatildeo condensaccedilatildeo
σύγκρουσις syacutenkrusis(sf)-44 101
Colisatildeo choque Este termo ocorre pela primeira vez em Epicuro
συγκύρησις synkyacuteresis (sf)- 96 98115
Concurso coincidecircncia
σύγκυσις syacutenchysis (sf)- 88
Ruiacutena mistura
συλλογή syllogeacute (sf)- 99 103 106 115
Reuniatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
60 6160 61
συμπαθής sympatheacutes (ad)- 63
Co-afecccedilatildeo Palavra que explica a ligaccedilatildeo ou conexatildeo das partiacuteculas (aacutetomos) com o resto do agregado (corpo)
συμφόρησις symphoacuteresis (sf)- 59 69
Agrupar reunir O primeiro a utilizar este termo foi Epicu-ro
συμφυλία symphyliacutea (sf)- 115
Da mesma tribo ou raccedila apropriado apto Neste caso o termo refere-se agrave compatibilidade existente entre os aacutetomos na formaccedilatildeo de um composto (agregadocorpo) O termo tambeacutem pode ser usado por Epicuro e entendido metafo-ricamente no sentido das relaccedilotildees humanas praticadas na comunidade do Jardim
συνφωνία symphoniacutea (sf)- 86 87 98
Acordo concordacircncia consonacircncia
σύντονος syacutentonos(ad)- 102 XXX SV 4
Intenso tenso veemente
σύστασις syacutestasis (sf)- 48 99 107
Combinaccedilatildeo uniatildeo
σύστημα siacutestema (sn)- 66
Complexo associaccedilatildeo
Primeira parte
62 63
συστροφή systropheacute (sf)- 73 77 XXXIII
Concentraccedilatildeo amontoado
σχῆμα schecircma(sn)- 42 44 54 55 68 74
Forma figura Uma das propriedades dos aacutetomos
σχηματισμός schematismoacutes(sm)- 54 74 94 101 102 109
Configuraccedilatildeo maneira forma
σῶμα socircma (sn)- 39 40 41 42 47 48 55 56 63 66 68 69 70 71 86 94 101 127 128 131 SV 73 221 Us
Corpo Socircma traduz tanto a ideia de um aacutetomo isolado quan-to a de compostos atocircmicosEpicuro tambeacutem denomina os compostos de athroiacutesmaou syacutenkrisis(Vide supra nesta mesma parte) O que diferencia fundamentalmente o corpo atocircmico singular do corpo composto eacute a presenccedila de vazio entre os aacutetomos reunidos em composiccedilatildeo Um corpo composto se diferencia tambeacutem da unidade atocircmica pela emissatildeo de simu-lacros (Vide supra leptomereacutes λεπτομερής nesta mesma parte) fina camada de aacutetomos que se desprende dos corpos compos-tos permitindo assim o processo perceptivo De acordo com Morel ldquoa categoria fundamental da fiacutesica epicurista eacute a de lsquocorporsquo antes mesmo que a de aacutetomordquo (2013 p 57) Dioacutegenes Laeacutercio nos informa que os corpos compostos eram objeto de estudo de trecircs livros do Perigrave Phyacuteseos (Sobre a natureza) e tam-beacutem do seu Megaacutele Epitomeacute (Grande Compecircndio)
τάγμα taacutegma (sn)- 71
Status classe
Physiologiacutea
62 63
τάξις taacutexis (sf)- 48 97
Ordem disposiccedilatildeo regularidade
τάχος taacutechos (sn)- 46 102
Rapidez velocidade
ταχύς tachyacutes (ad)- 62 98
Veloz raacutepido
τελείωσις teleiacuteosis (sf)- 89
Cumprimento realizaccedilatildeo conclusatildeo
τελεσιουργέω telesiurgeacuteo (v)- 36
Realizar acabar perfazer
τομή tomeacute (sf)- 43 56
Divisatildeo
τροπή tropeacute (sf)- 76 79 93
Revoluccedilatildeo solstiacutecio
ὑδατοιειδής hydatoeideacutes (ad) - 106 107 109
Aquoso
φορά phoraacute (sf)- 46 47 49 60 61 62 70 76 101 107 115
Movimento deslocamento translado
Primeira parte
64 65
φυσικός physikoacutes (ad)- 86 90 127 130 134 XXIX XXX SV 21
Natural fiacutesico
φυσιολογία physiologiacutea (sf)- 37 78 85 XI XII SV 45
Investigaccedilatildeo da natureza A physiologiacutea eacute descrita por Epi-curo como o procedimento de investigaccedilatildeo da natureza ou de toda realidade fenomecircnica que se nos apresenta Mantendo-se fiel a uma tradiccedilatildeo que remonta aos primeiros pensadores da Jocircnia Epicuro define a physiologiacutea como um exerciacutecio constante de compreensatildeo dessa realidade que eacute para ele a phyacutesis Eis a razatildeo de fazer derivar a eacutetica de um saber para a vida que deve se constituir necessariamente num modo de ser de acordo com a natureza Deste modo o exerciacutecio de pensar a phyacutesis configura o modo de ser do filoacutesofo que percebe neste aprendizado o sentido proacuteprio da sua situaccedilatildeo no mundo enquanto ser dotado da capacidade do logismoacutes(vide infra λογισμός na segunda parte) ou seja de ser capaz de utilizar-se do pensamento para escolher e recusar tudo o que necessita ou natildeo respectivamente Mas este exerciacutecio de pensar a phyacutesis soacute seraacute possiacutevel porque para Epicuro a natureza eacute a fonte ou o princiacutepio da vida fiacutesica psiacutequica e eacutetica Pois ele revela ao pensamento em si indiacutecios que tornam possiacutevel a medida de realizaccedilatildeo de cada coisa e dentre elas do proacuteprio homem que emerge em seu proacuteprio seio e tem a necessidade de viver de acordo com ela (katagrave phyacutesin)
φύσις phyacutesis (sf)- 35 40 45 48 49 54 68 69 70 71 75 78 79 82 83 86 90 91 97 113 115 129 133 VI VII
Physiologiacutea
64 65
IX XII XV XXV XXX XXXI XXXVII SV 21 SV 24 SV 25 SV 37
Natureza A Carta a Heroacutedoto apresenta proposiccedilotildees fun-damentais acerca dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis Nela articulam-se aacutetomos corpos compostos mundos e o todo a fimde possibilitar a compreensatildeo da natureza das coisas desde a microestrutura do aacutetomo ateacute a noccedilatildeo de infinito Percebe-se que nesta carta Epicuro buscou tornar clara e ob-jetiva a possibilidade de conhecimento da realidade como podemos ver no primeiro momento que revelou a primeira questatildeo ou seja ldquocomo as coisas se realizamrdquo Neste sentido podemos afirmar metafisicamente que na Carta a Heroacutedo-to o olhar tornou-se indagaccedilatildeo e o pensamento estendeu a dimensatildeo deste olhar ao mais minuacutesculo dos limites e ao mesmo tempo ao absoluto ilimitado
Agrave busca desta compreensatildeo Epicuro chamou de physiologiacutea definindo com isso o procedimento reflexivo que enseja a filosofia Eis a razatildeo de ser phyacutesis o germe de seu pensamento pois a origem do filosofar coincide com a origem da phy-siologiacutea Ele faz emergir desta maneira no cerne do pen-samento helecircnico o problema originaacuterio da filosofia Mais que isso o expotildee como propedecircutico ao desenvolvimento de uma ldquovisatildeo de mundordquo ou realidade Assim ele sugere que a construccedilatildeo de um pensamento filosoacutefico tem um princiacutepio sendo este princiacutepio a phyacutesis
Para alcanccedilar estes objetivos voltou-se entatildeo para a estru-turaccedilatildeo dos modos de compreensatildeo dos fenocircmenos natu-rais elaborando explicaccedilotildees que evidenciassem o sentido fiacutesico e material das geraccedilotildees dos desenvolvimentos das corrupccedilotildees enfim das mutaccedilotildees ocorridas na natureza enfatizando a possibilidade mesma de compreensatildeo de tudo
Primeira parte
66 67
isso Com isso buscou desestruturar completamente as ex-plicaccedilotildees fundadas em imaginaacuterias causas sobrenaturais insurgindo-se contra a arrogacircncia das insistentes ldquoopiniotildees vaziasrdquo que as postulavam como origem da realidade Por-que sua ocupaccedilatildeo era a realizaccedilatildeo efetiva de pensar o sublime vir-a-ser e fazecirc-lo aparecer apenas como sublime e natildeo mais como misterioso17
Eacute verdade que nem tudo que pocircde compreender sobre a natureza das coisas coube na epiacutestola que escreveu ao dis-ciacutepulo Heroacutedoto Contudo guardadas as limitaccedilotildees de um compecircndio encontra-se ali a autecircntica e genuiacutena disposiccedilatildeo do conhecimento que insiste em ver o filoacutesofo como um descobridor Natildeo de uma parte mas do ldquotodordquo cuja inquie-taccedilatildeo inicial jaacute eacute a finalidade do conhecimento ou seja a compreensatildeo da realidade
Phyacutesis eacute segundo a etimologia da palavra o processo de cres-cimento ou gecircnese de alguma coisa e neste sentido Epicuro somente a utiliza quando se refere aos corpos compostos e aos mundos Num segundo sentido phyacutesis eacute princiacutepio (ar-cheacute) porque eacute aacutetomos e vazio e num terceiro sentido phyacutesis eacute o modo de ser do todo ilimitado
χρόνος chroacutenos (sm)- 47 62 7273 75 93 106 111 124 126 129 130 133 III IV IX XVI XIX XX XXXVII SV 4 SV 42 SV 46 Pap Herc 1418
Tempo duraccedilatildeo Quando percebido numa relaccedilatildeo sensiacutevel o tempo aparece associado agraves manifestaccedilotildees de movimento Haacute o tempo de transformaccedilatildeo do dia em noite do quente
17 Lucreacutecio no livro I do seu poema De Rerum Natura (62-80) diz que Epicuro buscou explicar ldquocientiacuteficamenterdquo as coisas da natureza e com isso tem livrado a humanidade das falsas crenccedilas e temores
Physiologiacutea
66 67
em frio do crescimento e das degeneraccedilotildees dos seres vivos etc A compreensatildeo da natureza do tempo definida por Epi-curo como ldquoo acidente dos acidentesrdquo (syacutemptoma symptoacutema-tos) (vide infra σύμπτωμα na segunda parte) pressupotildee uma relaccedilatildeo de acontecimentos diversos e sucessivos que podem ser identificados somente na constataccedilatildeo das alteraccedilotildees so-fridas pelos corpos O tempo eacute compreendido numa relaccedilatildeo entre o acidente ou a mudanccedila de propriedades de um corpo e o movimento geral de transformaccedilatildeo das coisas O tempo do todo e de cada aacutetomo eacute um tempo infinito o tempo soacute eacute quantificaacutevel em relaccedilatildeo aos corpos passiacuteveis de observaccedilatildeo cujas alteraccedilotildees de posiccedilatildeo peso tamanho e forma satildeo evi-dentes aos sentidos Atraveacutes da analogia estabelecida entre as mudanccedilas observadas e a projeccedilatildeo do pensamento ao niacutevel macroscoacutepico podem-se criar hipoacuteteses acerca da duraccedilatildeo dos seres
Devemos refletir atentamente nas percepccedilotildees elementares a partir das quais constituiacutemos essa essecircncia (tempo) no que ela tem de proacuteprio e de que partimos para medir o tempo De fato natildeo haacute necessidade de demonstrar pois a reflexatildeo nos basta para compreender que compomos o tempo com os dias e as noites com os nossos estados de paixatildeo ou impassi-bilidade com os movimentos e os repousos concebendo em tudo isso certo acidente comum que nos leva a pronunciar a palavra tempo (DL X 73)
O tempo natildeo tem existecircncia proacutepria como o espaccedilo ou a mateacuteria ele eacute intuiacutedo apreendido percebido nas modifi-caccedilotildees das coisas por isso a Epicuro bastou a reflexatildeo de tempo sendo desnecessaacuterio demonstraacute-la ou defini-la apenas pareceu-lhe importante apresentaacute-la articulada ao movimento Lucreacutecio sintetiza de modo brilhante o que seu
68 69
Primeira parte
68 69
mestre grego pensou sobre o tempo
O tempo natildeo existe em si mesmo mas eacute das proacuteprias coisas que proveacutem o sentimento do que se passou do que eacute pre-sente daquilo que viraacute Ningueacutem pode sentir o tempo em si exteriormente ao movimento ou ao repouso das coisas (DRN I 459 - 463)
Assim a compreensatildeo epicuacuterea de tempo apresenta-o como unidade de medida de duraccedilatildeo Esta duraccedilatildeo pode ser a de um corpo ou do estado de um determinado corpo por exemplo a duraccedilatildeo da dor pode ser percebida e dessa per-cepccedilatildeo infere-se uma medida que quantifica sua duraccedilatildeo Se a dor eacute um acidente do corpo a duraccedilatildeo da dor eacute um acidente do acidente que eacute a dor E aleacutem da dor o prazer e todas as coisas que ora permanecem ora se modificam satildeo experiecircncias que possibilitam a apreensatildeo do tempo como unidade de medida de duraccedilatildeo
Ao considerar o tempo desta maneira Epicuro admite que as noccedilotildees de infinito e finito indicam respectivamente a na-tureza imutaacutevel dos aacutetomos e do todo e a natureza mutaacutevel dos corpos e mundos pois soacute estes uacuteltimos possibilitam a percepccedilatildeo do tempo
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
χώρα choacutera (sf) - 40 XXXVI XXXVII
Espaccedilo lugar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
68 6968 69
SegundA PArte
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
70 71
ἄδηλος aacutedelos (ad)- 32 38 39 80 XXXV
Imperceptiacutevel invisiacutevel oculto incerto desconhecido Aacutedelos expressao que natildeo pode ser apreendido por meio dos sentidos mas que natildeo obstante pode ser inferido atraveacutes de analogias que partem dos dados sensoriais Vide infra analogiacutea-ἀναλογία (nesta mesma parte)
αἴσθησις aiacutesthesis (sf)- 31 32 38 39 44 48 55 58 59 62 63 64 65 68 71 82 90 91 124 XXIII XXIV 422 Us
Sensaccedilatildeo sentido sensibilidade percepccedilatildeo A sensaccedilatildeo eacute a base do conhecimento e da opiniatildeo Eacute o efeito imediato da afecccedilatildeo e tambeacutem o que eacute impresso na alma quando se transforma em proleacutepsis (impressatildeo sensiacutevel) Todo pen-samento que opera por analogia agraves coisas sensiacuteveis o faz sempre tendo em vista a sensaccedilatildeo
αἰσθητήριον aistheteacuterion (sn)- 50 53
Oacutergatildeo sensorial sentido
αἰσθετικός aisthetikoacutes (ad)- 64
Sensiacutevel perceptiacutevel
αἰσθητός aisthetoacutes (ad)- 47 244 Us 261 Us
Sensiacutevel perceptiacutevel
ἀκρίβεια akriacutebeia (sf)- 78 80 83
Exatidatildeo precisatildeo rigor
Segunda parte
72 73
ἀκρίβωμα akriacuteboma (sn)- 36 83
Exatidatildeo precisatildeo conhecer exatamente investigar com exatidatildeo Este termo soacute ocorre nos textos de Epicuro
ἀκρισία akrisiacutea (sf)- XXII
Incerteza confusatildeo inseguranccedila do ldquojuiacutezordquo Este termo se justifica pela indeterminaccedilatildeo do acaso com relaccedilatildeo aos aacutetomos que explica a transformaccedilatildeo do mundo sensiacutevel que pelo movimento causa os inuacutemeros juiacutezos E por natildeo conse-guir determinar o que ocorre no mundo eacute preciso manter-se tranquumlilo na busca do necessaacuterio e nas respostas que a razatildeo encontra
ἀλήθεια aleacutetheia (sf)- 31 S54
Verdade realidade Compreensatildeo ou busca desse conheci-mento da phyacutesis Segundo Epicuro tudo eacute sensiacutevel e a sensa-ccedilatildeo sempre eacute verdadeira Os aacutetomos estatildeo em constantes e diferentes configuraccedilotildees e natildeo haacute como imobilizar a verdade de um fenocircmeno porque ela estaacute no todo de acordo com uma resposta subjetiva que pretende natildeo se amedrontar diante do que natildeo sabe
ἀληθής aletheacutes (ad)- 51 62 244 Us
Verdadeiro Aquele que possui o controle dos seus juiacutezos e eacute conduzido pela razatildeo Eacute capaz da philiacutea(vide infra φιλία na terceira parte) pois possui condiccedilotildees de agir com justiccedila em relaccedilatildeo a outros e as suas proacuteprias escolhas natildeo privilegiando apenas a aparecircncia do prazer mas sim o que eacute considerado qualitativamente bom
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
72 73
ἀλογία alogiacutea (sf)-87 SV 62
Irracionalidade desrazatildeo
ἀλογίστως alogiacutestos (adv)- 135
Contra a razatildeo de modo irracional insensato
ἄλογος aacutelogos (ad)- 31 66 81 SV 62
Irracional privado de razatildeo ininteligiacutevel
ἀμφισβήτησις amphisbeacutetesis (sf)- XXIV
Incerteza duacutevida ambiguidade
ἀναγωγή anagogeacute (sf)- XXIII
Referecircncia
ἀναισθησία anaisthesiacutea (sf)- 81
Insensibilidade
ἀναλογία analogiacutea (sf)- 32 58 59
Analogia proporccedilatildeo A analogia se daacute quando o pensamento procede a comparaccedilatildeo entre o que eacute percebido pela sensaccedilatildeo e o que soacute pode ser pensado (ou inteligido) pois ocorre no niacutevel microcoacutesmico ou macrocoacutesmico A analogia torna possiacutevel a expansatildeo maacutexima da physiologiacutea
ἀναλόγως analoacutegos (adv)- 40
Analogamente
Segunda parte
74 75
ἀνεπιλόγιστος anepiloacutegistos (ad) SV 63
Natildeo calculado Este termo estaacute sempre associado a Epicuro nas suas ocorrecircncias
ἀντιμαρτυρέω antimartyreacuteo (v)- 34 47 48 50 51 55 88 92
Infirmar testificar contra receber prova contraacuteria contra-ditar As teorias que natildeo podem ser confirmadas (epimar-tyacuteresis) sensorialmente podem entretanto receber prova contraacuteria A infirmaccedilatildeo ou pelo contraacuterio a confirmaccedilatildeo de uma teoria eacute possiacutevel por meio da comparaccedilatildeo com os fenocircmenos observaacuteveis
ἀνυπέρβλητος anypeacuterbletos (ad)- 47
Insuperaacutevel enorme
ἀξίωμα axiacuteoma (sn)- 86
Axioma enunciado princiacutepio
ἀπάθεια apaacutetheia (sf)- 73
Apatia natildeo-afecccedilatildeo No sentido de que a natildeo-afecccedilatildeo resul-ta para Epicuro na impossibilidade de conhecer
ἀπιστία apistiacutea(sf)- SV 57
Incerteza incredulidade infidelidade Em Epicuro este termo estaacute relacionado agrave incerteza ou falta de confianccedila que resulta na ignoracircncia e na incapacidade de agir Natildeo haacute registro nos textos remanescentes de Epicuro das noccedilotildees de crenccedila (religiosa) ou fidelidade
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
74 75
ἀπόδειξις apoacutedeixis (sf)- 3873
Demonstraccedilatildeo explicaccedilatildeo definiccedilatildeo prova
ἀπόφασις apoacutephasis (sf)- 124
Declaraccedilatildeo afirmaccedilatildeo
ἀσύμβλητος asyacutembletos (ad)- 83
Incomparaacutevel muito superior a Palavra de uso restrito a Aristoacuteteles e Epicuro
βάσις baacutesis (sf)- 46
Cadecircncia ritmo movimento e estrutura Os aacutetomos que se destacam dos corpos e viajam no espaccedilo conservando a mesma cadecircncia (baacutesis) e disposiccedilatildeo (teacutesis)possibilitam as imagens
βλέψις bleacutepsis (sf)- 130
Exame olhar
γνῶσις gnoacutesis (sf)- 78 79 85 123 SV 27
Conhecimento ciecircncia Como Epicuro natildeo utiliza o termo episteacuteme a canocircnica ou teoria do conhecimento pode ser considerada uma gnoseologiacutea Assim todo conhecimento fenomecircnico da realidade que eacute a base da physiologiacutea eacute com-preendido como gnoacutesis
γνωστός gnostoacutes (ad)- 68
Conheciacutevel compreensiacutevel conhecido
Segunda parte
76 77
δήλωσις deacutelosis (sf)- 76
Designaccedilatildeo manifestaccedilatildeo declaraccedilatildeo indicaccedilatildeo prova
διαλαμβάνω dialambaacuteno (v)- 38 58 67 85 123 133
Distinguir compreender apreender
διαληπτός dialeptoacutes (ad)- 57
Dinstinguiacutevel concebiacutevel
διάληψις diaacutelepsis (sf)- 50 51 58 69
Distinccedilatildeo discernimento
διαλογισμός dialogismoacutes (sm)- 2284 138 Us
Consideraccedilatildeo raciociacutenio conversaccedilatildeo caacutelculo argumentaccedilatildeo
διανόησις dianoacuteesis (sf)- 63
Exerciacutecio da inteligecircncia atividade do pensamento
διάνοια diaacutenoia (sf)- 31 38 49 50 51 62 78 X XVIII XX XXIV
Inteligecircncia reflexatildeo pensamento mente
διαπίπτω diapiacutepto (v)- 98
Falhar escapar errar
διαχέω diacheacuteo (v)- XXX
Dissipar dispersar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
76 77
δόξα doacutexa (sf)- 33 34 35 37 52 77 81 123 132 XV XXIV XXIX XXX SV29 SV59 202 Us 247 Us 471 Us
Opiniatildeo doutrina crenccedila teoria convicccedilatildeo Em Epicuro a opiniatildeo concerne ao que pode ser percebido e que resulta da investigaccedilatildeo empiacuterica ou do que eacute imperceptiacutevel isto eacute natildeo suscetiacutevel de investigaccedilatildeo direta
δοξάζω doxaacutedzo (v)-37 38 90 XXII XXIV 247 Us
Opinar crer
δοξαστικός doxastikoacutes (ad)- XXIV
Apto a formar uma opiniatildeo o que conjectura
ἐγκατάλειμμα enkataacuteleimma (sn)- 50
Resiacuteduo resto
εἴδωλον eiacutedolon(sn)- 46 47 48 50 I SV 24 355 Us
Simulacro imagem iacutedolos Epicuro usa diversos termos para caracterizar as imagens Alguns dizem respeito agraves ima-gens como aquilo que emana dos corpos soacutelidos Assim ele chama de simulacros (eiacutedola) as imagens das formas que satildeo similares aos objetos soacutelidos Ele tambeacutem chama de tyacutepoi (reacuteplicas) (Vide infra τύπος nesta mesma parte) as imagens emanadas dos objetos e que atingem os oacutergatildeos da percepccedilatildeo Lecirc-se no passo 46 da Carta a Heroacutedoto
Assim existem as reacuteplicas (tiacutepoi) da mesma maneira que existem os soacutelidos mas que por sua fineza diferenciam-se dos corpos aparentes Com efeito nada impede que se for-mem no envoltoacuterio (meio em torno dos corpos) destacamen-
Segunda parte
78 79
tos que sejam de tal tipo nem que se encontrem as condiccedilotildees proacuteprias que permitam a produccedilatildeo de espaccedilos ocos (cavados) e finos (tecircnues) nem os efluacutevios que conservem exatamente a posiccedilatildeo e a base (estrutura) que eles tinham sucessivamente nos corpos soacutelidos Essas reacuteplicas noacutes as chamamos de iacutedolos ou simulacros (eiacutedola)
Epicuro utiliza o termo tyacutepoi para mostrar que tais imagens imprimem-se na alma atraveacutes dos oacutergatildeos sensiacuteveis e utili-za eiacutedola para estabelecer a diferenccedila entre as imagens que destacam-se dos compostos e os proacuteprios corpos compostos Entretanto os dois termos satildeo utilizados para caracterizar as finas camadas de aacutetomos mais sutis que se destacam dos corpos e atingem os sentidos Epicuro quer dizer ainda que a experiecircncia natildeo pode desmentir sua proposiccedilatildeo pois natildeo eacute possiacutevel discernir essas imagens que natildeo afetaram ainda o oacutergatildeo sensiacutevel O processo eacute muito raacutepido e soacute depois eacute que se pode pensar na maneira como tudo ocorreu O que estaacute posto aqui eacute que o simulacro conserva o mesmo arranjo (theacute-sin) ou disposiccedilatildeo dos aacutetomos tal qual figura nos corpos soacute-lidos (tocircn somaacuteton ti) Os simulacros satildeo caracterizados como efluacutevios (aporroaiacute) ou emanaccedilotildees (reuacutesis) que se destacam dos corpos e atingem os oacutergatildeos sensiacuteveis Aleacutem disso o fluxo pode conservar por algum tempo a disposiccedilatildeo e a ordem dos aacutetomos (theacutesin kaigrave taacutexin tocircn atoacutemon) Sem profundidade ou volume a imagem eacute formalmente idecircntica ao corpo do qual foi emanada poreacutem eacute reduzida agraves duas dimensotildees do plano Os simulacros podem ser entendidos como substitutos das coisas que permitem ao pensamento representaacute-las O que eacute pensado natildeo satildeo as coisas elas mesmas mas seus simulacros que natildeo tecircm realidade plena isto eacute natildeo satildeo corpos soacutelidos como as coisas mas satildeo reais porque satildeo constituiacutedos por
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
78 79
aacutetomos e vazios como qualquer corpo soacutelido A diferenccedila estaacute na sutileza (fineza) dos aacutetomos que os compotildeem
Os simulacros mantecircm a figura (skheacutema) dos corpos dando forma agrave imagem e os aacutetomos que compotildeem esta imagem possuem sutileza (leptoacutetes) (vide infra ληπτότης nesta mesma parte) e ligeireza (kouraacute) Isso explica porque os simulacros tecircm uma sutileza inconcebiacutevel pelo pensamento e inapreen-siacutevel aos sentidos As imagens que se pode perceber resul-tam da afecccedilatildeo dos simulacros sobre os oacutergatildeos sensiacuteveis As sensaccedilotildees satildeo efeitos da penetraccedilatildeo dos aacutetomos arranjados numa imagem-simulacro no corpo que as recebe
Assim as afecccedilotildees geram imediatamente as sensaccedilotildees que a princiacutepio podem ser de dois tipos ou agradaacuteveis ou desa-gradaacuteveis Epicuro usa o termo energeiacuteas(vide infra ἐνέργεια nesta mesma parte)para nomear o processo de produccedilatildeo das imagens e chama de sympatheiacuteas(vide supra συμπαθής na primeira parte) os estados perceptivos dos corpos afetados pelas imagens Continua Epicuro ainda no passo 46
Assim (ocorre) o movimento que se produz atraveacutes do vazio sem que nenhum choque com os corpos imponha resistecircncia aos simulacros que se movem numa velocidade inconcebiacutevel pelo pensamento
Como a emanaccedilatildeo de simulacros dos corpos eacute contiacutenua a imagem que percorre o espaccedilo perde algumas propriedades que satildeo logo supridas com a continuidade das emanaccedilotildees Este processo de regeneraccedilatildeo ou recomposiccedilatildeo compensa-toacuteria eacute chamado de antanaplerosis Epicuro a todo instante alerta para o fato de que os sentidos natildeo podem contradizer sua hipoacutetese explicativa porque trata-se de imagens im-perceptiacuteveis por dois motivos a saber primeiro porque as imagens satildeo compostas por aacutetomos de natureza mais sutil
Segunda parte
80 81
que os aacutetomos dos corpos concretos segundo porque a velocidade do movimento dos simulacros eacute inconcebiacutevel e incomensuraacutevel Toda a realidade compotildee-se de aacutetomos e vazio mas os aacutetomos satildeo qualitativamente diferentes sendo uns mais densos e outros mais sutis Os aacutetomos que formam as imagens satildeo de natureza sutiliacutessima
εἰκών eikoacuten (sf)- 51
Imagem reproduccedilatildeo iacutecone similitude
ἔκθλίψις eacutekthlipsis (sf)- 53 109
Expulsatildeo deslocamento
ἐλάχιστον (τὸ) elaacutechiston (tograve) (ad substantivado)- 58 281 Us
O miacutenimo
ἔμφασις eacutemphasis (sf)- 95
Aparecircncia aspecto
ἐναργής enargeacutes (ad)- 33 123
Evidente claro manifesto Eacute aquilo que se apresenta claramente ao pensamento e que portanto natildeo poder ser contradito nem pela percepccedilatildeo nem pelo pensamento (ou opiniatildeo)
ἐναργῶς enargocircs (adv)- 67
Evidentemente visivelmente claramente
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
80 81
ἔνδηλος eacutendelos (ad)- 52
Manifesto presente
ἐνέργεια eneacutergeia (sf)- 48 136 2 Us 219 Us
Forccedila (em accedilatildeo) atividade energia Haacute uma diferenccedila en-tre a versatildeo do texto grego utilizada por M Conche (1977) (ἐνέργειας) e a utilizada por Hicks (1925) (ἐνάργεια versatildeo de Gassendi) Para ver a definiccedilatildeo de ἐνάργεια vide supra enargocircs-ἐναργῶς (nesta mesma parte)
ἐννόῃμα ennoacuteema (sn)- 38
Noccedilatildeo ideia conceito significaccedilatildeo
ἔννοια eacutennoia (sf)- 33 576977 XXIV
Pensamento noccedilatildeo concepccedilatildeo ideia
ἐνότης enoacutetes (sf)- 52
Unidade
ἔνστημα eacutenstema (sn)- 91
Obstaacuteculo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto e significa aquilo que se interpotildee ao deslocamento dos aacutetomos no vazio
ἐξαιτιολογεῖν exaitiologeicircn (v inf)- 82
Buscar a causa ou explicaccedilatildeo de algo Primeira apariccedilatildeo do termo ocorre na Carta a Heroacutedoto
Segunda parte
82 83
ἐπαίσθησις epaiacutesthesis (sf)- 52 53
Sensaccedilatildeo percepccedilatildeo
ἐπιβλετικῶς epibletikoacutes (adv)-50
Por apreensatildeo (direta) por impressatildeo (direta)
ἐπιβολή epiboleacute (sf)- 31 35 36 38 50 51 62 69 70 83 XXIV
Apreensatildeo (intuitiva) projeccedilatildeo Pode ser traduzido por salto no sentido de alcance promovido pelo pensamento
ἐπιβολή τῆς διανοίας epibolegrave tecircs dianoiacuteas- 31 38 51 XXIV
Projeccedilatildeo (salto) do pensamento Expressatildeo fundamental que indica a operaccedilatildeo do pensamento quando este articula a expo-siccedilatildeo da realidade Epicuro postula que esta operaccedilatildeo eacute ime-diata e por isso ele utiliza a imagem de um ldquosaltordquo ou de uma ldquoprojeccedilatildeordquo do pensamento para caracterizar a formulaccedilatildeo ou apreensatildeo de uma explicaccedilatildeo acerca da realidade sensiacutevel ou no procedimento de pensar por analogia ao sensiacutevel
ἐπίδηλος epiacutedelos (ad)- 48
Perceptiacutevel visiacutevel
ἐπικρίνειν epikriacutenein (v inf)- 37
Distinguir decidir julgar
ἐπιλογίζεσθαι epilogiacutezesthai (v inf)- 72 133 XXII SV 35
Considerar refletir ter em conta
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
82 83
ἐπιλογισμός epilogismoacutes (sm)- 73 XX
Reflexatildeo caacutelculo
ἐπιμαρτυρεῖν epimartyreicircn (v inf)- 34 50 51 XXXVII
Confirmar testemunhar atestar Vide supra antimartyreacuteo -ἀντιμαρτυρέω verbo de sentido oposto (nesta mesma par-te)
ἐπιμαρτύρεσις epimartyacuteresis (sf)- XXIV 247 Us
Confirmaccedilatildeo Termo utilizado pela primeira vez por Epicu-ro
ἐπίνοια epiacutenoia (sf)- 32 45
Concepccedilatildeo noccedilatildeo doutrina
ἐπιπολή epipoleacute (sf) - 48
Superfiacutecie No texto utilizado por Bollack (1971) o termo aparece diferente ἐπὶ πολλή
ἐπίρρυσις epiacuterrysis (sf)- I
Afluxo influxo fluxo
ἐπιτηδειότης epitedeioacutetes (sf)- 46
Condiccedilotildees proacuteprias propriedade materiais
θεωρητός theoretoacutes (ad)- 47 57 62 I 355 Us
Visiacutevel discerniacutevel perceptiacutevel observaacutevel Pelo nuacutemero de
Segunda parte
84 85
ocorrecircncias da expressatildeo ldquoτοὺς διὰ λόγου θεωρητοὺςrdquo vecirc-se a importacircncia da conexatildeo que realccedila a noccedilatildeo de ldquovista pelo pensamentordquo Elas se datildeo principalmente na Carta a Heroacutedoto Quando associada a logos a expressatildeo adquire o sentido de ldquovisatildeo do pensamentordquo isto eacute aquela capaz de perscrutar as coisas invisiacuteveis Portanto o pensamento que estabelece a realidade e a constituiccedilatildeo dos corpos pela aglomeraccedilatildeo dos aacutetomos se remete agrave uma ldquovisatildeordquo dos corpos elementares
θεωρία theoriacutea (sf) - 35 59 86 116 128
Estudo visatildeo contemplaccedilatildeo
ἰδιότης idioacutetes (sf)- 5871
Particularidade caraacuteter proacuteprio singularidade individuali-dade
ἰδιότροπος idioacutetropos (ad)- 52
Caracteriacutestico distintivo especiacutefico Termo usado pela pri-meira vez por Epicuro
ἰδίωμα idiacuteoma (sn)-72 109
Qualidade particular caraacuteter proacuteprio
κανών kanoacuten (sm)-129
Canocircn criteacuterio regras O comentaacuterio feito por Dioacutege-nes Laeacutercio que se inicia no passo 29 do Livro X tem por objetivo expor a doutrina de Epicuro de modo resumido dividindo-a em trecircs partes e caracterizando o que ele con-
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
84 85
sidera elementar para o leitor Para comeccedilar ele jaacute interfere na compreensatildeo que o leitor pode ter do pensamento em questatildeo quando subdivide a filosofia em canocircnica fiacutesica e eacutetica Eacute preciso discordar dessa subdivisatildeo Note-se que em nenhum momento na Carta a Heroacutedoto Epicuro faz menccedilatildeo a esta divisatildeo estabelecida por Dioacutegenes Laeacutercio Ao con-traacuterio eacute este uacuteltimo que afirma no final desse passo que os epicuristas satildeo os autores de tal divisatildeo Ele natildeo diz de quais epicuristas estaacute falando nem que eacute de Epicuro essa divisatildeo Esse eacute um problema tiacutepico da doxografia e mais do que isso das apropriaccedilotildees que foram feitas dos textos da filosofia an-tiga em geral
Na leitura interpretativa aqui pretendida desconfia-se desta triparticcedilatildeo da filosofia de Epicuro e postula-se que a filosofia eacute um todo que integra a physiologiacutea agrave eacutetica e entende os cri-teacuterios para o conhecimento (tograven kaacutenon) como parte introdu-toacuteria da physiologiacutea ou ainda um meacutetodo explicativo acerca do modo como se produz o conhecimento considerando-o como efeito da natureza O homem produz conhecimentos como modo proacuteprio de se realizar e o conhecimento que ele produz eacute efeito da sua relaccedilatildeo afetiva com a natureza Assim Epicuro tenta recuperar aspectos do pensamento grego18 in-tegrando-os ao seu exerciacutecio de pensar a realidade e o modo como se pode conhececirc-la
κατάληψις kataacutelepsis (sf)- 33
Apreensatildeo
18 Notadamente os pensadores ditos ldquopluralistasrdquo do seacutec V aC como Empeacutedocles Anaxaacutegoras e Demoacutecrito Neste sentido acredita-se que Epi-curo manteacutem-se como um physiologoacutes
Segunda parte
86 87
καταμετρέω katametreacuteo (v)- 58 XIX
Medir calcular
κατεργασία katergasiacutea (sf)- 46
Produccedilatildeo confecccedilatildeo
κρίσις kriacutesis (sf)- XXIV
Discriminaccedilatildeo juiacutezo julgamento
κριτήριον kriteacuterion (sn)- 30 31 38 51 52 82 116 XXIV
Criteacuterio padratildeo de julgamento
ληπτότης leptoacutetes (sf)- 46 47
Fineza sutileza
λογισμός logismoacutes (sm)- 32 39 75 76 117 132 144 145 XVI XIX 517 Us
Raciociacutenio caacutelculo O logismoacutes ou caacutelculo raciociacutenio ou ainda ldquomecanismordquo ou ldquoinstrumentordquo do pensar eacute para Epicuro o que torna possiacutevel a elaboraccedilatildeo do pensamen-to (diaacutenoia) Eacute tambeacutem o que possibilita as analogias que conduzem o pensamento desde as impressotildees sensiacuteveis agraves elaboraccedilotildees de explicaccedilotildees sobre tudo o que natildeo eacute percebido pelos sentidos
Trata-se portanto de um conceito fundamental para enten-der o papel do pensamento na deliberaccedilatildeo acerca do modo de vida do homem no mundo uma vez que ele calcula ou mensura o alcance e o limite da accedilatildeo humana ou seja eacute
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
86 87
atraveacutes da reflexatildeo que se daacute a medida do agir
Sempre que Epicuro se refere ao exerciacutecio do pensamento ou reflexatildeo o termo utilizado eacute logismoacutes pois entende o exerciacute-cio como ato de pensamento ou operaccedilatildeo do pensamento Eacute sempre a partir do logismoacutes que se julga ou delibera e a accedilatildeo subsequente expressa uma sabedoria (vide infraphroacutenesis φρόνησις na terceira parte) que eacute na praacutetica capacidade de discernir de escolher e de recusar Podemos identificar em diversas passagens do texto de Epicuro o uso deste termo com efeitos de caacutelculo direcionamento da accedilatildeo operaccedilatildeo com analogias etc As seis passagens a seguir mostram es-tes usos ldquoCom efeito a existecircncia de corpos eacute atestada em toda a ocasiatildeo pelos sentidos e eacute neles que o logismoacutes deve basear-se para conjecturar acerca do sensiacutevelrdquo (DL X 39) ldquoEacute preciso ainda compreender que a natureza tem recebido ainda das realidades mesmas um ensinamento muacuteltiplo e variado e que mais tarde o logismoacutes introduziu precisotildees e acrescentou descobertas ao que a natureza transmitiu em certos casos mais rapidamente em outros mais lentamen-te em certos periacuteodos e momentos alcanccedilando progressos maiores em outros menoresrdquo (DL X 75) ldquoAs causas dos males praticados pelos homens satildeo o oacutedio a inveja e o des-prezo que o saacutebio domina por meio do logismoacutes Aquele que se torna saacutebio uma vez nunca mais assumiraacute nem fingiraacute as-sumir voluntariamente uma atitude contraacuteriardquo (DL X 117) ldquoNatildeo eacute a sucessatildeo ininterrupta de banquetes e festas nem o prazer sexual com meninos e mulheres nem a degustaccedilatildeo de peixes e outras iguarias oferecidas por uma mesa suntuosa que proporciona a vida agradaacutevel e sim o nephroacuten logismoacutes (caacutelculo soacutebrio) que investigue as causas de toda a escolha e de toda a rejeiccedilatildeo e elimine as opiniotildees vatildes por obra das
Segunda parte
88 89
quais um imenso tumulto se apossa das almasrdquo (DL X 132) ldquoRaramente o acaso atinge o saacutebio pois as coisas principais e fundamentais tecircm sido governadas pelo logismoacutes e por todo o curso da vida o governa e o governaraacuterdquo (DL X 144) ldquoO tempo infinito conteacutem o mesmo prazer que o tempo finito se os limites deste prazer satildeo calculados (com o logismoacutes)rdquo (DL X 145)
O uso do termo logismoacutes daacute sentido e linearidade agrave psicologia epicuacuterea na medida em que busca explicitar os agenciamentos das imagens discursivas que representam tanto as realidades aprendidas pelos sentidos quanto agraves apreendidas pelo pensamento A tentativa de mostrar como a alma opera o conhecimento ou o modo como o pensamento eacute elaborado denota a relevacircncia dessas explicaccedilotildees para uma physiologiacutea da alma
λόγος loacutegos (sm)- 32 47 59 62 83 86 I XXV SV 26 36 Us 221 Us 355 Us
Discurso pensamento argumento razatildeo Epicuro utiliza vaacuterias vezes este termo com sentidos diversos por isso ele pode ser traduzido dependendo da ocasiatildeo por todas as palavras aqui elencadas
μαντική mantikeacute (ad)- SV 24
(Arte) Divinatoacuteria profeacutetica
μάθησις maacutethesis (sf)- SV 27
Accedilatildeo de aprender desenvolver instruir conhecimento ins-truccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
88 89
μέγεθος meacutegethos (sn)- 41 43 44 49 54 55 56 57 58 59 68 69 91 III
Grandeza magnitude tamanho
μεταβατός metabatoacutes (ad)- 58
Passiacutevel de ser atravessadas que admite passagem Palavra de uso exclusivo de Epicuro
μῆκος mecirckos (sn)- 46 59 98
Extenccedilatildeo longitude
μνήμη mneacuteme (sf)- 31 35 36 82 83 85 95 255 Us
Memoacuteria Nos textos remanescentes de Epicuro identifi-camos onze ocorrecircncias de termos relacionados agrave memoacuteria (mneacuteme) que evidenciam a importacircncia dada pelo filoacutesofo aos exerciacutecios de memorizaccedilatildeo Exemplo disso eacute o iniacutecio da Carta a Heroacutedoto onde podemos ler
Para os incapazes de estudar acuradamente cada um dos meus escritos sobre a natureza Heroacutedoto ou de percorrer detidamente os tratados mais longos preparei uma epiacutetome de todo o meu sistema a fim de que possa conservar bem gravado na memoacuteria o essencial dos princiacutepios mais impor-tantes e estejam em condiccedilotildees de sustenta-los em quaisquer circunstacircncias desde que se dediquem ao estudo da natureza Aqueles que progredirem suficientemente na contemplaccedilatildeo do universo devem ter na memoacuteria os elementos fundamen-tais de todo o sistema pois necessitamos frequentemente de uma visatildeo de conjunto embora natildeo aconteccedila o mesmo com os detalhes (DL X 35 p 291)
Segunda parte
90 91
Nessa passagem Epicuro utiliza duas vezes a noccedilatildeo de me-moacuteria a primeira quando sugere que os disciacutepulos receacutem iniciados no estudo da phyacutesis devem gravar na memoacuteria (Eacuten te mneacuteme) o essencial dos princiacutepios da physiologiacutea a se-gunda quando adverte que eles devem estar sempre prontos para expor uma visatildeo de conjunto (athroacuteas epiboleacutes) de toda a physiologiacutea e para isso devem guardar na memoacuteria (mnemo-neuein) o sistema
Na passagem seguinte (36) ele utiliza duas vezes o termo memoacuteria para enfatizar que os recursos mnemocircnicos devem ser utilizados em todo momento para evitar as crenccedilas e as opiniotildees vazias (kenoacuten doxai) (vide supradoacutexa δόξα nesta mesma parte) uma vez que quando fixadas na memoacuteria as explicaccedilotildees acerca da natureza das coisas a conduta do saacutebio jamais seraacute perturbada por imagens discursivas fantasiosas imaginativas que apontem para causas sobrenaturais Eacute ne-cessaacuterio lembrarmos sempre que o propoacutesito da filosofia de Epicuro eacute o exerciacutecio da vida feliz (makaacuterios zeacuten) e que como escreveu Jean Salem ldquoo caminho que conduz agrave felicidade leva em conta o aniquilamento das perturbaccedilotildees causadas em noacutes pelas opiniotildees vazias o que soacute eacute possiacutevel quando haacute a memorizaccedilatildeo dos princiacutepios da physiologiacutea19
μοναχῇ monachecirci (ad f)- 94
Uacutenica
μοναχός monachoacutes (ad)- 86 95
Uacutenico
19 SALEM J p 40
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
90 91
μοναχῶς monakhocircs (adv)- 80
Unicamente
μονοειδῶς monoeidocircs (adv)- 109
De um soacute tipo ou aspecto
μῦθος myacutethos (sm)- 81 87 104 116 134 XII
Mito lenda faacutebula
νομοθεσία nomothesiacutea (sf)- 86
Atos ldquolegiferantesrdquo leis impostas leis convenciondas arbitra-riamente princiacutepios arbitraacuterios
νόημα noacuteema (sn)- 48 61 83
Pensamento o que foi inteligido
νόησις noacuteesis (sf)- 33 (255Us) 123
Faculdade de pensar inteligecircncia
ὁμοιομερής homoiomereacutes (ad)- 52
Partes semelhantes partiacuteculas homogecircneas
ὁμοιόμορφος homoioacutemorphos (ad)- 49
Mesma forma contorno similar
ὁμοιοσχήμων homoioscheacutemon (ad)- 46
Com forma semelhante
Segunda parte
92 93
ὁμοιότης homoioacutetes (sf)- 32(36 Us) 51
Semelhanccedila parecenccedila
ὁμοίωμα homoiacuteoma (sn)- 46
Equivalente similar correspondente
ὁμούρησις homuacuteresis (sf)- 64
Contiacuteguidade vizinhanccedila Esta eacute uma versatildeo dialetal do iocircnico-aacutetico correspondendo agrave comum homoacuteresis palavra usada a partir de Epicuro
ὁμόχροος homoacutechroos (ad)- 49
Que tem a mesma cor que tem cor semelhante
ὀξύς oxyacutes (ad)- 48
Raacutepido
ὅρος hoacuteros (sm)- III XI
Limite Epicuro usa dois termos para se referir agrave ideia de limite peacuteras e hoacuteros (vide supra πέρας na primeira parte) Ambos satildeo utilizados indiscriminadamente com o sentido de limite Eles se referem sobretudo aos limites dos desejos e dos prazeres Epicuro deixa claro que o prazer tem por natureza limites determinados
πάθος paacutethos (sn)- 31 34 38 52 55 63 73 75 82 116 129 XXIV SV 18 191 221 241 Us
Afecccedilatildeo sentimento estado paixatildeo Epicuro preconiza que
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
92 93
todo conhecimento sensiacutevel tem iniacutecio na afecccedilatildeo que ocor-re quando o oacutergatildeo sensiente entra em contato com um ob-jeto externo Desta maneira o paacutethos eacute o que gera em noacutes a sensaccedilatildeo (vide supraaiacutesthesis - αἴσθησις nesta mesma parte) que eacute retida na memoacuteria transformando-se em sentimento ou impressatildeo sensiacutevel (Vide infraproleacutepsis πρόληψις nesta mesma parte) O movimento do pensar decorre das impre-esotildees rememoradas e operadas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias (phantastikeacute epiboleacute) do pensamento (tegraves diaacutenoias) (Vide su-pra ἐπιβολή τῆς διανοίας nesta mesma parte)
παρὸν (τό) parograven (toacute) (v substantivado)- XXIV 247 Us
O presente O verbo πάρειμι se substantiva em τὸ παρόν
περὶεχον (τό) perigraveechon (toacute) (v substantivado)- 46 48
O que circunda rodeia envolve cerca
περιληπτός perileptoacutes (ad)- 40 46
O que apreende abarca compreende
περιοιδεία periodeiacutea (sf)- 36 83 85
Percorrer (com o pensamento)
περίοδος periacuteodos (sm)- 75 77 83 97
Periacuteodo revoluccedilatildeo oacuterbita
πιθανολογοὺμενον (τό) pithanologugravemenon (toacute) (v substantivado)- 87
Alegaccedilatildeo plausiacutevel opiniatildeo verossiacutemil ou provaacutevel
Segunda parte
94 95
πίστις piacutestis(sf)- 63 85 SV 7 S34
Crenccedila convicccedilatildeo certeza
πρόληψις proacutelepsis (sf)- 31(35 Us) 33 (255 Us) 72 124 XXXVII XXXVIII
Prenoccedilatildeo antecipaccedilatildeo preconcepccedilatildeo representaccedilatildeo no sentido de impressatildeo na alma As proacutelepsis satildeo as noccedilotildees que estruturam a realidade no pensamento Elas podem representar os objetos que estatildeo fora dos indiviacuteduos e satildeo apreendidos pelos sentidos quando os simulacros neles penetram ou podem ser efeitos dos processos operacionais do pensamento tais como as analogias as compraraccedilotildees e as combinaccedilotildees Elas constituem imagens conceituais que satildeo articuladas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento (phantastikaacutei epibolaigrave tegraves dianoiacuteas) Com isso Epicuro quer explicitar a capacidade do pensamento de pensar o que eacute invisiacutevel (aacutedelon) mediante analogia com o que se tornou visiacutevel pela sensibilidade Mais que isso ele tenta expor os mecanismos internos do pensa-mento quando se produz a opiniatildeo o conhecimento o reconhecimento a articulaccedilatildeo das informaccedilotildees retidas na memoacuteria sob a forma de imaginaccedilatildeo criaccedilatildeo etc O que estaacute sendo construiacutedo eacute um invisiacutevel a partir do visiacutevel e este invisiacutevel conecta associa integra os corpos visiacuteveis numa rede loacutegica ou discursiva Trata-se da representa-ccedilatildeo ou do pensamento como representaccedilatildeo imageacutetica da realidade
προδοξάζω prodoxaacutedzo (v)- 50 62
Pressuposiccedilatildeo presunccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
94 95
προσμένον (τὸ) prosmeacutenon (tograve) (v substantivado)- 34 38 50 XXIV
A espera
ῥεῦμα rheŷma (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo
σημεῖον semeicircon (sn)- 87 97 183 Us
Sinal indiacutecio
στερέμνιον stereacutemnion (ad)- 46 48 50
Soacutelido
συμβεβηκός symbebekoacutes (sn)- 40 50 68 71
Propriedade atributo Em alguns casos pode ser traduzido por ldquoacidenterdquo Epicuro diferencia entre as propriedades permanentes (symbebekoacutes) e as propriedades acidentais (syacutemptoma)20 Todas as qualidades acidentais estatildeo sujeitas agrave mudanccedila poreacutem as propriedades permantes satildeo necessaacuterias e imutaacuteveis Forma tamanho e peso satildeo propriedades per-manentes do aacutetomo (ver supraaacutetomos - ἄτομος na primeira parte)
σύμμετρος syacutemmetros (ad)- 47 50 53 61 91
Simeacutetrico proporcional comensuraacutevel
20 Cf Morel 2013 p 57
Segunda parte
96 97
συμμέτρως symmeacutetros (adv)- 110
Simetricamente proporcionalmente
συμπάθεια sympaacutetheia (sf)- 48 50 52 53 64
Simpatia afinidade correspondecircncia Eacute o modo como os objetos exteriores nos afeta causando uma correspondecircncia entre os objetos neles mesmos e como os sentimos ou perce-bemos A sympaacutetheia ocorre quando haacute uma afinidade entre os aacutetomos do corpo ou de uma imagem que nos afeta e o oacutergatildeo por ele afetado Este acordo gera uma correspondecircn-cia natural entre os corpos que se afetam mutuamente
συμπλήρωμα sympleacuteroma (sn)- 48
Completude inteireza plenitude Palavra rara encontrada somente em Aristoacuteteles e Epicuro
σύμπτωμα syacutemptoma (sn)- 40 64 67 70 71 73
Acidente incidecircncia sintoma
συνεχής synecheacutes (ad)- 36 48 50 62 82 105 I XVI SV67
Contiacutenuo constante incessante
σύνθεσις syacutenthesis (sf)- 32 (36 Us)
Siacutentese composiccedilatildeo uniatildeo
συνθεωρεῖν syntheoreicircn (v inf)- 96 102 116
Considerar em conjunto ter uma visatildeo geral
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
96 97
σύντομος syacutentomos (ad)- 76 84 SV4
Breve conciso
σύστοιχος syacutestoichos (ad)- 76
Que eacute do mesmo tipo
σχηματίζειν schematiacutezein (v inf)- 53
Moldar
τεκμαίρω tekmaiacutero (v)- 39
Inferir formar um juiacutezo
τέλος teacutelos (sn)- 85 128 131 133 XX XXII XXV SV 25 SV 75
Fim finalidade objetivo
τόπος toacutepos (sm)- 47 60 62 75 89 98 103 105 108 111 112 113 115 XXXIII
Lugar regiatildeo
τρόπος troacutepos (sm)- 87 94 95 96 97 99 101 102 104 106 108 112 115 SV 62
Modo maneira meacutetodo
τύπος tyacutepos (sm)- 33(255 Us)35 36 45 46 49 68
Modelo esquema impressatildeo reacuteplica figura imagem Vide supraeiacutedolon-εἴδωλον (nesta mesma parte)
Segunda parte
98 99
ὑπεναναντίος hypenantiacuteos (ad)- 77 81
Contraacuterio incompatiacutevel inconsistente
ὑπεξαίρεσις hypexaiacuteresis (sf)- III
Remoccedilatildeo eliminaccedilatildeo supressatildeo
ὑπόθεσις hypoacutethesis- 95
Hipoacutetese
ὑπόληψις - hypoacutelepsis (sf)- 34 124
Suposiccedilatildeo conjectura O termo hypoacutelepsis eacute equivante ao ter-mo doacutexa Epicuro diz que a crenccedila nos deuses satildeo hipoleacutepseis pseudecircis ie suposiccedilotildees falsas As hypoleacutepseis satildeo suposiccedilotildees que natildeo necessariamente correspondem agrave realidade Diferente de proacutelepsis(vide supra proacutelepsis-πρόληψις nesta mesma par-te) este termo indica uma ideia que natildeo passou pelo crivo da sensibilidade ou pelos outros meios de confirmaccedilatildeo ou natildeo--infirmaccedilatildeo constituintes do meacutetodo gnosioloacutegico de Epicuro
φαινὸμενα (τά) phainogravemena (taacute) (v substantivado) - 32(36 Us) 46 47 54 55 60 71 86 87 88 90 92 93 95 97 98 100 102 104 112 113
Fenocircmenos aparecircncias o que eacute visiacutevel manifesto
φαντασία phantasiacutea (sf)- 50 80 247 Us
Representaccedilatildeo imagem
φάντασμα phaacutentasma (sn)- 32 (36 Us) 75 88 102 110
Visatildeo sonho apariccedilatildeo aparecircncia
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
98 99
φθόγγος phthoacutengos (sm)- 37 38 76 83
Som fala palavra
φωνή phoneacute (sf)- 36 45 53 XXXVII SV 33 SV 41 SV 45 SV 75
Voz expressatildeo palavra
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
ψεῦδος pseucircdos (sn)- 5051
Falsidade erro engano
ψυχή psycheacute (sf)- 63 64 65 66 67 68 77 81 122 128 131 132 SV 69 SV81 812 Us 314 Us 315 Us
Alma A compreensatildeo da alma como um corpo (soacutema) ou ainda como um agregado (aacutethroisma) de aacutetomos mais sutis que os componentes das realidades sensiacuteveis (corpossoacutemata) sefundamenta no pressuposto baacutesico da physiologiacutea atomista segundo o qual tudo o que existe eacute composto de aacutetomos e vazio A materialidade da alma eacute portanto uma consequecircncia loacutegica desse pressuposto Contudo o que ca-racteriza especificamente a mateacuteria da alma permanece um problema no contexto do pensamento atomista antigo de Demoacutecrito a Lucreacutecio uma vez que se manteacutem o caraacuteter metafiacutesico da questatildeo Ainda que a loacutegica seja inabalaacutevel do ponto de vista do discurso a impossibilidade de uma de-monstraccedilatildeo fiacutesica resguarda a alma no cerne da obscuridade Epicuro entretanto tentou agrave sua maneira fugir agraves represen-
Segunda parte
100 101
taccedilotildees miacuteticas e ousou talvez mais que qualquer outro ateacute entatildeo perscrutar a natureza fiacutesica da alma tomando-a num corpo substancialmente ligado ao corpo-carne Tal ligaccedilatildeo enquanto questatildeo constituiraacute doravante um imenso campo de investigaccedilatildeo cujas propriedades e possibilidades chegam ateacute os nossos dias sem entretanto mostrar-se completa e solucionada Apesar de todas as crenccedilas propagadas mun-do a fora sobre a imortalidade da alma e mesmo apesar dos discursos filosoacuteficos ancorados nesta crenccedila Epicuro viu-se capaz de enxergar um caminho para expor a sua physiologiacutea da alma enquanto uma ldquopsicologiardquo que pensa a psycheacute como um princiacutepio corporal energeacutetico unificador do corpo A alma seraacute pensada tambeacutem a partir de Epicuro e ateacute hoje como um corpo dentro do corpo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
100 101
terceirA PArte
ethicaacute
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Ethicaacute
102 103102 103
ἀβέβαιος abeacutebaios (ad)- 134
Inseguro incerto
ἀδέσποτος adeacutespotos (ad)- 133
Sem senhor sem governo Epicuro usa este termo no contex-to da criacutetica agraves teses que desconsideram a liberdade e respon-sabilidade dos homens Adeacutespotos eacute umadjetivo relacionado agrave expressatildeo parrsquo hemacircsVide infra parrsquo hemacircs-παρ᾿ἡμᾶς (nesta mesma parte)
ἀδικία adikiacutea (sf)- XXXIV
Injusticcedila
ἀδιόριστος adioacuteristos (ad)- 81
Natildeo fixo indeterminado indefinido
ἀδροτής adroteacutes (sf)- 83
Vigor forccedila
ἀθανασία athanasiacutea (sf)- 124
Imortalidade Na Carta a Meneceu Epicuro considera que o desejo de imortalidade eacute um desejo vatildeo assim como consi-dera que natildeo haacute nada a temer em relaccedilatildeo a morte
ἀθάνατος athaacutenatos (ad)- 135 SV78
Imortal Epicuro utiliza o termo imortal no sentido de qua-lificar o bem que resulta de uma vida sem perturbaccedilotildees que ele identifica com o bem maior que eacute o prazer
Terceira parte
104 105
ἀθορύβως athoryacutebos (adv)- 87
De modo impassivo tranquilo
αἵρεσις haiacuteresis (sf)- 128129132
Escolha eleiccedilatildeo
αἱρετός hairetoacutes (ad)- 30129
Escolhido
ἀκέραιος akeacuteraios (ad)- XII
Puro natildeo-misturado
ἀλγηδών algedoacuten (sf)- 129 137 XI SV 4 SV 3773
Dor sofrimento Diz-se da dor que antecede ou sucede o prazer ou ainda quando algo que parece prazeiroso acaba resultando em dor pelo uso desmedido que dele se faz E tambeacutem a ausecircncia de felicidade causada por dores do corpo Os desejos encontram-se sem controle e difiacuteceis de serem saciados onde o corpo encontra-se desesperado atraacutes de enormes prazeres e apavorado por fugir do que lhe causa medo
ἀνάπαυσις anaacutepausis (sf)- 125
Cessaccedilatildeo repouso
ἀνυπεύθυνος anypeuacutethynos (ad)- 133
Irresponsaacutevel
Ethicaacute
104 105
ἀόριστος aoacuteristos (ad)- SV 59
Natildeo limitado ilimitado
ἀοχλησία aochlesiacutea (sf)- 127
Tranquumlilidade natildeo interrompida Refere-se a tranquilidade do corpo
ἀόχλητος aoacutechletos (ad)- SV 79
Natildeo agitado tranquumlilo Palavra rara usada a partir de Epicu-ro
ἅπαξ haacutepax(adv)57 128 XVIII 222 Us
Uma vez de uma vez Em Epicuro este adveacuterbio se presta a evidenciar o limite temporal dos prazeres e dores ldquoUma vez (haacutepax) este estado realizado em noacutes (ausecircncia de sofrimento e termor) toda a tempestade da alma desaparecerdquo (DL X 128) Isso significa que eacute impossiacutevel haver simultaneidade de dores e prazeresldquoO prazer na carne natildeo cresce uma vez (haacutepax) suprimida a dor da necessidaderdquo (XVIII) Epicuro tambeacutem critica a opiniatildeo de que o prazer pode se intensifi-car ao infinito No entanto quando o prazer estaacute presente eacute possiacutevel apenas uma variaccedilatildeo do estado de prazer
ἀπογεγεννημένα apogegennemeacutena(sn)-Nat34 21-2 3426-30 (livro XXV)
Desenvolvimentos produtos Este termo aparece apenas no Perigrave phyacuteseos (Sobre a Natureza) Autores como Sedley (1987) Arrighetti (1960) Laursen (1991) e Orsquokeefe (2005) analisaram e propuseram traduccedilotildees para tagrave apogegenemeacutena
Terceira parte
106 107
das quais se destacam ldquodesenvolvimentosrdquo e ldquoprodutosrdquo O livro XXV do Perigrave phyacuteseos cujo tema principal eacute a liberdade aprofunda as resumidas explicaccedilotildees epistolares a respeito da relaccedilatildeo entre necessidade (anaacutenke) e liberdade assegurando que o homem pode desenvolver seu proacuteprio caraacuteter ainda que existam influecircncias necessaacuterias do meio ambiente (peri-eacutechon) Assim o que o homem desenvolve em relaccedilatildeo ao seu modo de ser eacute de sua inteira responsabilidade
ἀπόλαυσις apoacutelaysis (sf)- 131 132 SV 27
Gozo utilidade proveito
ἀπολαυστός apolaustoacutes (ad)- 124
Agradaacutevel Palavra usada a partir de Epicuro
ἀπονία aponiacutea (sf)- 136
Ausecircncia de dor ou sofrimento Assim como a ataraxiacutea eacute a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na alma a aponiacutea eacute ausecircncia de dor no corpo Isto quer dizer que o corpo encontra-se em equiliacutebrio ou experimenta um prazer katastemaacutetico
ἀρετή areteacute (sf)- 124 132 138
Excelecircncia virtude
ἀσεβής asebeacutes (ad)- 123 SV 43
Iacutempio
ἀσείστως aseiacutestos (adv)- 87
Ethicaacute
106 107
Inabalavelmente Adveacuterbio raro usado a partir de Epicuro
ἄστατος aacutestatos (ad)- 133
Instaacutevel inconstante
ἀσύμφορος asyacutemphoros (ad)- 130
Inconveniente desvantajoso
ἀσφάλεια asphaacuteleia (sf)- VIIXIII XIVXXVIII SV 31
Seguranccedila A asphaacuteleia estaacute relacionada agrave tranquumlilidade de uma vida equilibrada livre dos tormentos e dos pesares que resultam dos desejos desmesurados e da ignoracircncia
ἄσωτος aacutesotos (ad)- 131X
Dissoluto
ἀτάκτως ataacutectos (adv)- 134
Desordenadamente
ἀταράκτος ataraacutektos (ad)- XVII
Imperturbado
ἀταραξία ataraxiacutea (sf)- 82 85 96 128 2 Us
Imperturbabilidade equiliacutebrio tranquilidade da alma O termo grego ataraxiacutea pode ser traduzido por imperturbabili-dade equiliacutebrio e tranquilidade da alma Etimologicamente a melhor traduccedilatildeo eacute imperturbabilidade Este termo foi
Terceira parte
108 109
utilizado no sentido que iremos expor primeiramente por Demoacutecrito (Dem ap Estob273) e por Epicuro O que haacute de comum entre diversos pensadores do periacuteodo heleniacutestico eacute a relaccedilatildeo estabelecida por eles entre o ldquomodo de serrdquo (eacutethos) e a imperturbabilidade da alma Isso porque o estado da alma define o caraacuteter do indiviacuteduo e o que passa a interessar neste periacuteodo eacute a salvaguarda do bem estar do indiviacuteduo seja mediante a suspensatildeo do juiacutezo (epocheacute) entre os ceacuteticos seja como ausecircncia de paixotildees (apaacutetheia) entre os estoicos ou com o constante cuidado com a sauacutede (hygiacuteeia) da alma ou com a sua imperturbabilidade (ataraxiacutea) com Epicuro
Uma alma satilde tem o poder de ser princiacutepio de accedilatildeo (archeacute) de um indiviacuteduo dela deriva a sua altivez e simplicidade Este estado de alma caracteriza o que Epicuro chama makaacuterios zecircn (vida feliz) isto eacute ela eacute princiacutepio e fim da realizaccedilatildeo da proacutepria vida Por outro lado uma alma ldquoperturbadardquo que traz em si o peso das doenccedilas aniacutemicas caracteriza um modo de ser enfraquecido cujo poder de determinaccedilatildeo jaacute se esvaiu em meio a temores anguacutestias e desesperos O cuidado com a alma eacute para Epicuro um exerciacutecio constante inerente agrave praacutetica filosoacutefica
ἀτάραχος ataacuterachos (ad)- 80 SV 79
Ataraacutexico imperturbado
αὐτάρκεια autaacuterkeia (sf)- 130 SV 44 SV 77
Autarquia autossuficiecircncia ter o princiacutepio da accedilatildeo em si mesmo Existem diversas possiacuteveis traduccedilotildees do termo gre-go autaacuterkeia utilizado por Epicuro entre as quais as mais frequentes satildeo ldquoindependecircnciardquo ldquoautossuficiecircnciardquo ldquocapaci-
Ethicaacute
108 109
dade de bastar-se a si mesmordquo Estas noccedilotildees aludem a uma noccedilatildeo baacutesica de domiacutenio e princiacutepio- archeacute que estaacute em poder de quem age - autoacute - (a partir de) si mesmo Assim o sophoacutes eacute autaacuterkes porque age a partir de si mesmo Mas em que consiste esta autaacuterkeia e como eacute possiacutevel obtecirc-la Tais questotildees encetam para o princiacutepio da accedilatildeo tal como fora concebido no pensamento em questatildeo que implica em sua raiz a compreensatildeo do sentido de liberdade - eleutheriacutea - que a justifica ao mesmo tempo em que a fundamenta
Literalmente autaacuterkeia eacute uma qualidade de quem se basta a si mesmo Daiacute podermos pensar em algueacutem que exista ou subsista por si mesmo e isto soacute eacute possiacutevel quando sua accedilatildeo tem o princiacutepio nele mesmo ou ainda quando a causa da accedilatildeo esteja nele mesmo Para Epicuro a autaacuterkeia eacute o que caracteriza fundamentalmente a accedilatildeo saacutebia que por defi-niccedilatildeo exclui tanto a inatividade quanto a reatividade bem como a accedilatildeo cujo princiacutepio e o teacutelos natildeo estatildeo nela mesma A sabedoria enquanto accedilatildeo tem o sentido embutido nela isto eacute no seu exerciacutecio que chamamos de accedilatildeo autaacuterquica ou simplesmente autaacuterkeia Sendo assim a autaacuterkeia expressa uma condiccedilatildeo de vida no mundo em que o conjunto das accedilotildees tende naturalmente agrave repleccedilatildeo e portanto ao equiliacute-brio Viver em equiliacutebrio por sua vez natildeo depende senatildeo do modo como o homem vivencia a sua situaccedilatildeo real de existir independente de qualquer outro ldquopoderrdquo que transcenda a sua dyacutenamis de accedilatildeo desde que esse ldquopoderrdquo possa ser per-mitido ou evitado A autaacuterkeia eacute a expressatildeo da vida tornada independente das necessidades que a negam e a fazem re--agir ou sofrer
Para que a autaacuterkeiaseja alcanccedilada e cultivada eacute necessaacuterio agir segundo o logismoacutes e a phroacutenesis Dessa maneira esses
Terceira parte
110 111
trecircs conceitos definem a possibilidade de ponderaccedilatildeo de se estabelecer uma medida para o agir e atraveacutes do exerciacutecio da autaacuterkeia o sophoacutes define por si mesmo o bastante para a realizaccedilatildeo dos seus desejos naturais e necessaacuterios
E noacutes estimamos que a autaacuterkeia eacute um grande bem natildeo para que faccedilamos uso de pouco de um modo geral mas afim de que faccedilamos uso de pouco se natildeo temos a abundacircncia verdadeiramente persuadidos de que gozam a magnificecircncia com mais prazer aqueles que menos necessitam dela e que tudo o que eacute fundado na natureza se adquire facilmente e o que eacute vazio (vatildeo) eacute difiacutecil se obter (DL X 130)
O termo em questatildeo significa nesta passagem ldquocontenta-mentordquo medida exata de repleccedilatildeo suficiecircncia dada pela proacutepria natureza Epicuro recolhe no modo como o sophoacutes interage com a natureza a medida da satisfaccedilatildeo a mesma que nortearaacute a accedilatildeo saacutebia Por isso a accedilatildeo deve corresponder aos desejos naturais e necessaacuterios jaacute que agindo de acordo com a natureza onde o transito eacute imediato torna-se possiacutevel ao sophoacutes evitar desafetos que quase sempre forccedilam a sua rea-ccedilatildeo ou o seu desequiliacutebrio Toda a accedilatildeo contraacuteria agrave natureza eacute difiacutecil e acaba sendo tambeacutem vatilde vazia para quem procura realizaacute-la porque eacute fruto de desejos de diversos matizes que entretanto satildeo oriundos das opiniotildees vazias (kenaigrave doxaacutei) disseminadas entre os insensatos A filosofia eacute para Epicuro o ldquoantiacutedotordquo para essas opiniotildees e por isso mesmo a efetiva-ccedilatildeo da autaacuterkeia
Agir de acordo com a natureza (katagrave phyacutesin) define a relaccedilatildeo entre a physiologiacutea e a eacutetica na medida em que explicita o sentido do proceder filosoacutefico em busca da compreensatildeo necessaacuteria agrave fundamentaccedilatildeo da accedilatildeo saacutebia Este modo de agir revela tambeacutem o sentido real do prazer enquanto repleccedilatildeo
Ethicaacute
110 111
isto eacute da accedilatildeo que engendra serenidade (galenismoacutes) Neste sentido o sophoacutes age de modo prazeiroso e o conjunto das suas accedilotildees perfaz a realizaccedilatildeo plena da vida Trata-se de um estado de contentamento no qual ele se sente inteiramente integrado ao meio natural onde as adversidades existen-tes podem ser em alguns casos previstas e na medida do possiacutevel evitadas A accedilatildeo fundada na natureza eacute fruto da deliberaccedilatildeo do sophoacutes que busca a todo instante realizar os bens que realmente importam agrave sabedoria que se traduz pela manutenccedilatildeo de uma vida equilibrada Esta accedilatildeo eacute modulada pela physiologiacutea que eacute por assim dizer o seu fundamento ontoloacutegico Epicuro opotildee aos desejos difiacuteceis de serem re-alizados e que tecircm origem nas opiniotildees vazias a noccedilatildeo de simplicidade que quer dizer rigorosamente neste contexto a medida dada pela natureza proacutepria de cada um cabendo ao sophoacutes descobrir a sua mediante a economia dos desejos que poderia tambeacutem ser chamada de ldquodieteacuteticardquo dos desejos Esta eacute uma alternativa proposta por Epicuro para responder aos desmesurados valores vigentes em sua eacutepoca
O estudo da natureza prepara natildeo os jactanciosos nem os fazedores de expressotildees nem os exibidores de educaccedilatildeo mui-to valorizada junto agrave maioria mas aacutegeis e autaacuterquicos e que pensam grande sobre os seus proacuteprios bens e natildeo sobre os bens das coisas (SV 45)
Podemos perceber com relativa clareza que a noccedilatildeo de vir-tude (excelecircncia) tal como eacute aqui apresentada natildeo estaacute atre-lada agrave vida repleta de falsos valores e inserida nos domiacutenios puacuteblicos mas ao agir privado particular O saacutebio eacute aquele que age sempre a partir do seu poder de escolha e rejeiccedilatildeo e jamais de sujeiccedilatildeo Sua referecircncia uacutenica eacute a compreensatildeo dos limites e das possibilidades da natureza-realidade na
Terceira parte
112 113
qual vive e exercita-se na realizaccedilatildeo de uma vida apraziacutevel em cada ato ou deliberaccedilatildeo que dele dependa Fundando o eacutethos na phyacutesis ou fazendo que ele derive da physiologiacutea o sophoacutes legitima a autaacuterkeia como condiccedilatildeo para pensar a eacutetica fora do domiacutenio puacuteblico Com isso ele intenta resgatar antigos princiacutepios presentes na natureza para desapropriaacute-los das convenccedilotildees estabelecidas e entatildeovivenclaacute-losno espaccedilo no tempo que satildeo seus e daqueles que lhes satildeo afins (phiacuteloi)
O saacutebio depois de julgar as coisas em funccedilatildeo da necessida-de sabe mais dar em partilha do que tomar em partilha Tatildeo grande tesouro da autarquia ele encontrou(SV 44)
Conseguir o bastante para si mesmo natildeo exclui a possibilida-de de compatilhar o contentamento que expressa a autaacuterkeia-com aqueles que vivem uma muacutetua conveniecircncia (opheacuteleia) Na verdade o homem saacutebio natildeo projeta valores imaginaacuterios sobre as coisas da natureza antes pelo contraacuterio ele asseme-lha o seu modo de agir ao modo como as coisas interagem na natureza A medida mais conveniente eacute aquela que o faz se sentir bem no meio natural e natildeo o excesso de poder sobre as coisas naturais Assim o sophoacutesnatildeo espera receber o que precisa de outro homem porque ele mesmo pode facilmente ter o suficiente para natildeo sentir sede fome ou frio no proacuteprio meio onde vive por conveniecircncia e contentamento O ideal de sabedoria em questatildeo natildeo prevecirc qualquer tipo de sujeiccedilatildeo obrigaccedilatildeo diacutevida ou favor uma vez que entre saacutebios natildeo prevalecem as mesmas convenccedilotildees originadas nas sociedades poliacuteticas O saacutebio se afastaraacute das situaccedilotildees lugares e pessoas que possam constrangecirc-lo a reagir agraves ldquoconvenccedilotildeesrdquo de uma maioria insensata
A fonte mais pura de proteccedilatildeo diante dos homens assegu-rada ateacute certo ponto por uma determinada forccedila de rejeiccedilatildeo
Ethicaacute
112 113
eacute de fato a imunidade resultante de urna vida tranquila e distante da multidatildeo (DL X 143)
Natildeo haacute um objeto poliacutetico expliacutecito nas proposiccedilotildees eacuteticas de Epicuro Existe de uma certa maneira a transposiccedilatildeo do poliacutetico para fundar sobre outras bases uma eacutetica Recusar o conviacutevio com a multidatildeo pode significar compreender a multidatildeo como produto da necessidade e vivendo segundo a necessidade O sophoacutesbuscaraacute entatildeo construir um cami-nho alternativo para seguir Este caminho natildeo constituiraacute um conflito com o mundo poliacutetico mas pelo contraacuterio se formaraacute independentemente dele Epicuro opta pela sabe-doria e agir a partir de si mesmo e em prol de si mesmo Este comportamento eacute plenamente justificaacutevel se levarmos em conta a miserabilidade humana alimentada pelas falsas crenccedilas e pelos falsos valores de sua eacutepoca ldquoA necessidade eacute um mal mas natildeo haacute nenhuma necessidade de viver com a necessidaderdquo (SV 9)
Recolher-se agrave filosofia ao inveacutes de filosofar para a Heacutelade eis o que proclamava Epicuro A frugalidade eacutetica se opotildee ao desperdiacutecio poliacutetico pois natildeo haacute como obter a ataraxiacuteaem meio agrave multidatildeo insensata Aleacutem disso jamais o saacutebio po-deria modificar todo o quadro que a ele se apresentava um mundo corrompido pela miseacuteria e esquecido do bem-viver ldquoO saacutebio natildeo deve pois ocupar-se da poliacuteticardquo ldquoVive obscu-rordquo (3278 Us) Somente na solidatildeo dos seus pensamentos o saacutebio poderia finalmente encontrar o real sentido da liber-dade uma vez que ao menos aos olhos de Epicuro a liber-dade natildeo se coaduna com os valores soacutecio-poliacuteticos em voga A liberdade proveacutem das reflexotildees que satildeo a mateacuteria da filoso-fia Natildeo a encontraremos no meio poliacutetico na dependecircncia de acordos ou convenccedilotildees nutridas de opiniotildees conflitantes
Terceira parte
114 115
e sim nas accedilotildees que tecircm em si o seu proacuteprio princiacutepio pois nascem da solidatildeo reflexiva A vida autaacuterquica talvez tenha sido o posicionamento filosoacutefico por excelecircncia de Epicuro ao ponto de Hermarco seu disciacutepulo e sucessor agrave frente do Jardim tecirc-lo definido assim ldquoA vida de Epicuro comparada a de outros passaria por um mito por sua doccedilura e sua au-tarquiardquo (SV 36 101 Us)
A vida autaacuterquica estaacute totalmente desincompatibilizada da vida puacuteblica dos valores que a sustentam e de vaacuterias ma-neiras a determinam O saacutebio realiza um movimento de descentramento em relaccedilatildeo agrave vida puacuteblica e outro movimen-to de situar-se sempre em direccedilatildeo agraves relaccedilotildees equilibradas privadas lsquomolecularesrdquo Satildeo notoacuterias as diferenccedilas entre Epicuro e as ldquoinstituiccedilotildees poliacuteticasrdquo das quais ele se recusa a participar por compreender a quase impossibilidade de coexistirem harmonicamente sob um mesmo ideal homens de caraacuteter tatildeo distintos O sophoacutes assentiraacute nas discussotildees poliacuteticas apenas agrave medida que estas for em convenientes ou imprescindiacuteveis jaacute que acredita na possibilidade de cultivar a liberdade de conviver com aqueles que tecircm urna natureza realmente semelhante e que comungam as mesmas ideias Natildeo ausentar-se da trajetoacuteria que projeta a vida saacutebia pode significar o exerciacutecio de um modo de ser de um eacutethos filo-soacutefico ao mesmo tempo que a realizaccedilatildeo de um estado de ser physioloacutegico equilibrado Para tanto cumpre escolher o local e a situaccedilatildeo de vida onde se torne possiacutevel o pleno exer-ciacutecio da vida filosoacutefica o que vale dizer ter a autaacuterkeia ou o princiacutepio das suas accedilotildees em si mesmo Soacute daiacute pode emergir o sentido epicuacutereo da liberdade ldquoO mais importante fruto da autaacuterkeia eacute a liberdade (eleutheriacutea)rdquo (SV 77)
Ethicaacute
114 115
αὐτάρκης autaacuterkes(ad)- SV 45
Autaacuterquico aquele que tem o princiacutepio de sua accedilatildeo em si mesmo
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (sf)76 123
Incorruptibilidade imortalidade Palavra utilizada a partir de Epicuro
ἀφοβία aphobiacutea (sf)- 122
Destemor
ἀχάριστος achaacuteristos (ad)- SV 69 SV 75
Ingrato
βίος biacuteos (sm)- 86
Vida
βούλεσις buacutelesis (sf)- 7781
Vontade deliberaccedilatildeo
γαληνισμός galenismoacutes (sm)- 83
Serenidade Palavra rara filosoacutefica Usada por Epicuro num sentido metafoacutericoA imagem utilizada por Epicuro para definir o equiliacutebrio da alma expresso na ataraxiacutea (tranqui-lidade imperturbabilidade) eacute o que o grego denominava galenismoacutes que significa a superfiacutecie do mar quando estaacute tranquilo assim podemos traduzi-la por serenidade
Terceira parte
116 117
δαψίλεια dapsiacuteleia (sf)- SV 67
Abundacircncia
δεινός deinoacutes (ad)- 81 125 XXVIII
Temiacutevel terriacutevel O uso deste termo se daacute sempre no sentido de evitar os temores infundados Os temores satildeo projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento mas podem ser evitados com o exerciacutecio da physiologiacutea
διάθεσις diaacutethesis (sf)- 117 (222 Us)
Disposiccedilatildeo
δίαιτα diacuteaite (sf)- 130131 SV 69
Dieta regime modo de viver
δίκαιος diacutekaios(ad)- 132 XVII XXXI XXXII XXXVI XXXVII XXXVIII SV 43
Justo Para Epicuro natildeo haacute justiccedila independente das conven-ccedilotildees humanas isto eacute natildeo haacute uma justiccedila preacute-legislativa que existiria em si mesmo De acordo com Epicuro ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacute-procas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto (syntheacuteke) no sentido de natildeo prejudicar nem ser prejudicadordquo (MP XXXIII) Sendo assim o que eacute considerado justo num tempo x e num lugar y eacute diferente do que eacute considerado justo num tempo xrsquo e num lugar yrsquo Nas palavras de Epicuro ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) A justiccedila eacute portanto ldquouma invenccedilatildeo humanardquo (OrsquoKEEFE 2010 p 139) e como tal eacute do domiacute-
Ethicaacute
116 117
nio dos homens daquilo que cabe aos homens realizar ou seja eacute do acircmbito do parrsquo hemacircs (o que nos cabe) Em termos da physiologiacutea poderiacuteamos dizer que a justiccedila eacute um acidente (symptoacutema) da agregaccedilatildeo de indiviacuteduos Assim a justiccedila natildeo tem uma realidade independente dos pactos particulares realizados em tempo e espaccedilo determinados Por isso que Epicuro prefere utilizar na grande maioria de seus textos o termo diacutekaios (justo) e natildeo dikaiosyacutene (justiccedila) pois o primeiro remete sempre a um evento singular enquanto o uacuteltimo sugere ldquouma noccedilatildeo abstrata que os filoacutesofos essencia-listas nomeadamente os platocircnicos consideram uma ideia em sirdquo (MORAES 2010 p 55)21 O justo e o injusto satildeo determinados pelos pactos realizados aqui e alhures
No entanto uma das maacuteximas de Epicuro parece agrave primei-ra vista entrar em contradiccedilatildeo com esse caraacuteter convencio-nal da justiccedila ldquoO justo da natureza simboliza (tograve tecircs phyacuteseos diacutekaioacuten estigrave syacutembolon) a vantagem reciacuteproca de impedir os homens de prejudicarem os outros e os livra de serem pre-judicadosrdquo (MP XXXI) A expressatildeo ldquoo justo da naturezardquo parece contradizer a expressatildeo ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) Eacute preciso considerar aqui como diz Morel que essas reflexotildees de Epicuro estatildeo ldquono centro da problemaacutetica tornada claacutessica a partir da expansatildeo do movimento sofiacutestico no seacuteculo V da oposiccedilatildeo entre natureza (phyacutesis) e convenccedilatildeo (noacutemos)rdquo (2011 p 208) Tentar definir a justiccedila como natural ou convencional natildeo foi o caminho
21 De acordo com Bulhotildees ldquoEmbora a expressatildeo lsquoo justorsquo seja um substantivo refere-se ao adjetivo que qualifica por exemplo um acordo uma lei um indiviacuteduo ou um comportamento isto eacute um acordo pode ser dito justo uma lei justa um individuo e um comportamento justos Por outro lado a expressatildeo de gecircnero neutro tograve diacutekaion diferencia-se intencio-nalmente do feminino lsquoa justiccedilarsquo heacute dikaiosyacutene Esta indica uma realidade em sirdquo (Bulhotildees 2009 p 100)
Terceira parte
118 119
escolhido por Epicuro Para ele a justiccedila eacute convencional e natural ao mesmo tempo ldquovariaacutevel em suas manifestaccedilotildees e natural em seu princiacutepiordquo (Morel 2011 p 217) Na Maacutexima XXXVI estaacute escrito que ldquoem seu aspecto geral a justiccedila eacute a mesma para todos pois representa uma espeacutecie de vantagem reciacuteproca nas relaccedilotildees dos homens uns com os outros mas com referecircncia agraves peculiaridades locais e outras circusntacircn-cias quaisquer a mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo O aspecto geral da justiccedila (tograve koinograven) eacute natural e universal enquanto que o justo expresso nas peculiaridades locais (tograve iacutedion choacuteras) eacute convencional Epicuro diz portanto que a justiccedila pode ser identificada (e compreendida) em qualquer lugar como a conveniecircncia (syacutempheron) muacutetua estabelecida sob a forma de um pacto No entanto este mesmo pacto se apresenta de diversas maneiras dependendo das necessida-des que se apresentem na comunidade em que o pacto foi firmado
A justiccedila natildeo eacute a uacutenica noccedilatildeo considerada ao mesmo tempo natural e convencional na filosofia de Epicuro a linguagem humana tambeacutem pode ser qualificada assim Sobre as ori-gens da linguagem diz Epicuro
Por isso os nomes das coisas tambeacutem natildeo foram originaria-mente postos por convenccedilatildeo mas a natureza dos homens de conformidade com as vaacuterias raccedilas os criou () Mais tarde as raccedilas isoladas chegaram a um consenso e deram assim nomes peculiares a cada coisa a fim de que as comunicaccedilotildees entre elas fossem menos ambiacuteguas e as expressotildees fossem mais breves (DL 75-76)22
Assim como a linguagem finca suas raiacutezes na natureza e
22 ldquoQuanto aos vaacuterios sons da linguagem foi a natureza que obrigou a emiti-los e foi a utilidade que levou a dar nomes agraves coisasrdquo (DRN V 103)
Ethicaacute
118 119
depois a conveniecircncia entra em cena desenvolvendo esta ca-pacidade que a natureza legou ao homem da mesma forma pois acontece com a justiccedila porque temos uma preacute-noccedilatildeo desta que eacute passiacutevel de ser desenvolvida pelo uacutetil ou conve-niente (syacutempheron) A justiccedila tem um aspecto geral e outro especiacutefico O primeiro eacute natural e portanto universalmente compreendido de acordo com a preacute-noccedilatildeo que temos da justiccedila o uacuteltimo eacute pelo contraacuterio variaacutevel convencional determinado uacutetil e conveniente em cada comunidade em particular Assim a justiccedila eacute ao mesmo tempo natural e convencional da ordem da phyacutesis e tambeacutem da ordem do noacutemos23
Por proacutelepsin (preacute-noccedilatildeo) eles [os epicuristas]entendem uma espeacutecie de cogniccedilatildeo ou apreensatildeo imediata do real ou uma opiniatildeo correta ou um pensamento ou uma ideia universal iacutensita na mente ou seja a memorizaccedilatildeo de um objeto ex-terno que apareceu frequentemente como quando dizemos ldquoisto aqui eacute um homemrdquo De fato logo que se pronuncia a palavra ldquohomemrdquo sua figura se apresenta imediatamente ao nosso pensamento por via de antecipaccedilatildeo guiada prelimi-narmente pelo sentido (DL X 33)
As preacute-noccedilotildees satildeo a mateacuteria do pensamento As preacute-noccedilotildees satildeo as marcas deixadas nas almas em cada interaccedilatildeo sensiacutevel Eacute por via dessas marcas ou impressotildees que reconhecemos
23 Vemos nessas passagens que a linguagem teve sua origem na natu-reza mas seu desenvolvimento dependeu dos acordos realizados entre os homens Do mesmo modo a justiccedila tem seu ldquoladordquo natural na utilidade na manutenccedilatildeo da vida e do prazer Pois sem pactos para utilidade muacutetua os homens viveriam agrave mercecirc dos piores males Jaacute o caraacuteter convencional da justiccedila reside nas muacuteltiplas formas de se preservar a vida e o prazer Esses satildeo aspectos das agregaccedilotildees humanas inicialmente o processo de agrupamento se deu naturalmente posteriormente as relaccedilotildees se tornaram complexas
Terceira parte
120 121
uma sensaccedilatildeo figura ou atitude uma vez experienciada Haacute um conjunto enorme de proleacutepseis nas almas e elas satildeo ar-ranjadas e rearranjadas pelos mecanismos do pensamento A justiccedila tambeacutem provoca uma preacute-noccedilatildeo pela qual reconhe-cemos e podemos realizar atos justos Na MP XXXVII Epi-curo nos fala de uma proacutelepsis (preacute-noccedilatildeo) da utilidade (syacutem-pheron) inerente agrave justiccedila Sabemos o que eacute justo por termos a preacute-noccedilatildeo da utilidade ou conveniecircncia ou seja porque temos uma representaccedilatildeo imageacutetica do que eacute conveniente ou em outras palavras do que nos impede de prejudicar ou de ser prejudicado pelos outros Mas isso natildeo garante que as leis uma vez promulgadas seratildeo justas em todo o tempo e qualquer lugar pois o que define o justo eacute a conveniecircncia que eacute passiacutevel de variaccedilatildeo
Das disposiccedilotildees codificadas no direito vigente aquelas con-firmadas como uacuteteis nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comu-nitaacuteria apresentam o requisito do justo sejam ou natildeo sejam as mesmas para todos Mas se for promulgada uma lei que natildeo se mostre uacutetil nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comunitaacute-ria essa lei natildeo teraacute mais a natureza do justo E tambeacutem se aquilo que eacute uacutetil de conformidade com o direito vigente vier a cessar embora tenha correspondido durante um certo pe-riacuteodo de tempo agrave preacute-noccedilatildeo24 do justo apesar disso durante aquele periacuteodo foi justo desde que natildeo nos preocupemos com palavras vatildes e tenhamos em vista simplesmente os fatos (MP XXXVII)
Nem toda lei acordada deve ser considerada justa mera-mente por ter resultado de um pacto ou acordo25 pois a
24 G Kury traduz o termo proacutelepsis dessa passagem por ldquonoccedilatildeo pri-mordialrdquo Preferimos traduzir por preacutenoccedilatildeo por manter a unidade desse termo que foi provavelmente cunhado pelo proacuteprio Epicuro
25 ldquoAs accedilotildees natildeo satildeo justas ou injustas meramente porque algueacutem diz
Ethicaacute
120 121
justiccedila da lei eacute determinada pela confirmaccedilatildeo (epimarturouacute-menon) de sua utilidade para a comunidade Assim como vemos uma torre no horizonte e natildeo temos certeza se ela eacute arredondada ou retangular e esperamos pela confirmaccedilatildeo sensorial26 uma lei precisa ser confirmada por sua utilida-de ou conveniecircncia para a comunidade Se uma lei natildeo for uacutetil entatildeo natildeo eacute justa Uma lei portanto confirmada como justa pode entretanto natildeo ser justa em outro contexto A justiccedila se fundamenta na utilidade (syacutempheron) se uma lei deixa de ser uacutetil ela deixa de ser justa e se por exemplo numa comunidade eacute proibido pescar garoupas natildeo significa que em outra comunidade onde esse peixe eacute abundante se deva proibir tambeacutem O justo estaacute delimitado a um tempo e espaccedilo e condicionado pelo que se faz uacutetil nesse mesmo tempo e espaccedilo Natildeo haacute absolutamente no epicurismo a ideia de justiccedila em si Mas o justo depende de um pacto conveniente
O que impede portanto um membro da comunidade de natildeo cometer injusticcedilas eacute a puniccedilatildeo e o castigo Possivelmente cometeria ldquoinjusticcedilasrdquo se considerasse que natildeo seria punido ao cabo de sua accedilatildeo Por outro lado um membro saacutebio natildeo cogita a possibilidade de transgredir o pacto e permanecer impune pois seria punido imediatamente natildeo pelas penas cabiacuteveis acordadas no pacto mas pela perda de sua ataraxiacutea (imperturbabilidade)
δικαιοσύνη dikaiosyacutene (sf)- XXXIII
Justiccedila
que elas satildeordquo (BROWN 2009 p 192) 26 Cf DL X 34
Terceira parte
122 123
δυσπόριστος dyspoacuteristos (ad)- 130 XXVI
Difiacutecil de obter Palavra usada a partir de Epicuro
ἐγγαληνίζω engaleniacutedzo (v)- 37
Viver com tranquilidade Epicuro eacute o uacutenico a utilizar este termo
εἱμαρμένη heimarmeacutene (sf)- 134
Aquela que recebeu por destino
ἐκλόγισις ekloacutegisis (sf)- XVIII
Caacutelculo Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐκχώρησις ekchoacuteresis (sf)- XIV
Distanciamento apartamento
ἐλευθερία eleutheriacutea (sf)- SV 77
Liberdade A noccedilatildeo grega de liberdade natildeo eacute uniacutevoca Desde suas origens o termo eleutheriacutea passou por muitos desdo-bramentos Epicuro apresenta uma noccedilatildeo de liberdade que participa do processo de interiorizaccedilatildeo do homem Devemos a Soacutecrates o raciociacutenio que equipara a liberdade da cidade agrave liberdade interna ao homem expressa sob a noccedilatildeo de auto-domiacutenio e que veio a influenciar toda a filosofia posterior A ideia de liberdade interior eacute comum agraves diferentes escolas de filosofia do periacuteodo heleniacutestico poreacutem o epicurismo a apro-funda fazendo com que o sentido de eleutheriacutea se submeta ao de autaacuterkeia(Vide supra αὐτάρκεια nesta mesma parte)
Ethicaacute
122 123
Segundo Benveniste27 o termo latino liber e o grego eleuacutethe-ros28satildeo derivados da mesma raiz indo-europeia leudh- que significa ldquocrescer se desenvolverrdquo Essa imagem do ldquocresci-mentordquo e de sua completude na formaccedilatildeo de um homem levou agrave compreensatildeo socializada de leudh- como fonte ldquodo conjunto daqueles que satildeo nascidos e desenvolvidos conjun-tamenterdquo (Benveniste 1969 p 323) A ideia de liberdade pois se relaciona com o pertencimento a uma linhagem a um povo ldquoA liberdade do homem grego consiste em se sentir subordinado como membro agrave totalidade da polis e das suas leisrdquo (Jaeger 1995 p 228) Toda a liberdade que os gregos poderiam gozar advinha de seu pertencimento agrave polis natildeo apenas por habitarem a cidade mas por serem cidadatildeos Es-panto agrave parte o sentido original de liberdade natildeo tem a ver com emancipaccedilatildeo mas pelo contraacuterio com pertencimento Nas palavras de Benveniste
O primeiro sentido natildeo eacute como seria tentador imaginar ldquoli-berto de alguma coisardquo e sim eacute este de um pertencimento a uma fonte eacutetnica designada por uma metaacutefora de crescimen-to vegetal Este pertencimento confere um privileacutegio que o estrangeiro e escravo jamais conhecem (Benveniste 1969 p 324)
O exemplo das Guerras Peacutersicas no iniacutecio do seacuteculo V aC representa esta diferenccedila radical entre os gregos e os estrangeiros persas que natildeo gozavam dos privileacutegios da liberdade (eleutheriacutea) Os invasores persas tinham mestres diante dos quais se curvavam e aos quais obedeciam enquanto que os cidadatildeos gregos os eleuacutetheroi ldquonatildeo tinham um chefe uacutenico nem para cada cidade um homem que as
27 Cf 1969 p 322-323 28 Ambos os termos tecircm o significado de ldquolivrerdquo
Terceira parte
124 125
comanderdquo (Romilly 1989 p40) Essa diferenccedila de postura eacute representada na trageacutedia de Eacutesquilo Persas a partir da perspectiva dos baacuterbaros
Rainha Quem eacute o seu senhor Quem comanda o seu exeacuterci-to Corifeu Eles (os gregos) natildeo satildeo escravos (doucircloi) de nin-gueacutem nem satildeo suacuteditos (Eacutesquilo Persas linhas 241 242)29
Essa eacute a diferenccedila poliacutetica fundamental entre os gregos e os baacuterbaros30 Enquanto estes tecircm mestres os gregos devem obediecircncia apenas agrave lei sem a qual natildeo haveria polis nem liberdade Assim a noccedilatildeo de eleutheriacutea enquanto oposta agrave servidatildeo se define a partir da diferenccedila fundamental entre gregos e baacuterbaros Esse sentido que podemos chamar de liberdade poliacutetica depende do regime e se opotildee agrave opressatildeo31
Entretanto no fim do seacuteculo V aC surge um novo aspec-to da eleutheriacutea a liberdade democraacutetica A liberdade e a igualdade (isonomiacutea) se confundem Estaacute aberta a possibili-dade de todos os cidadatildeos intervirem na poliacutetica da cidade Todos tecircm direito de falar (isegoriacutea) e a justiccedila eacute a mesma para todos Poreacutem a influecircncia funesta dos demagogos e as arbitrariedades populares acabaram implodindo a liberdade democraacutetica32 A partir daiacute desponta outra forma de liberda-de a liberdade interior
Eacute atraveacutes das palavras de Soacutecrates que Xenofonte transmite a nova ideia da liberdade interior33
29 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo de David Grene ampRichmond Lattimore The Complete Greek Tragedies of AeschylusThe University of Chicago Press 1959 p 229
30 Cf Romilly 1989 p 4731 Cf Novaes (Org) 2002 p 1632 Cf Ibid p 11733 Eacute importante ressaltar que W Jaeger jaacute identificava a liberdade
interior nos textos de Soacutelon (Cf 1995 p 247)
Ethicaacute
124 125
- Ora diz-me laacute Eutidemo acreditas que haja um bem mais belo e bom para o homem e para a cidade do que a liberdade (eleutheriacutean)
- Natildeo E esse eacute de fato o maior dos bens
- E acreditas que eacute livre (eleuacutetheron) o homem que eacute domi-nado pelos prazeres do corpo e que por causa deles natildeo consegue agir bem
-De modo nenhum (Memoraacuteveis IV 5 2-3)34
Soacutecrates coloca lado a lado a liberdade da cidade e a liberda-de interior Esta se evidencia pelo autodomiacutenio ou domiacutenio das paixotildees Sem o autodomiacutenio (enkraacuteteia) o homem natildeo pode ser considerado realmente livre mesmo que viva sob um regime de liberdade poliacutetica
Essas noccedilotildees de autodomiacutenio e liberdade interior foram fundamentais para o desenvolvimento das filosofias heleniacutes-ticas uma vez que a vida poliacutetica se esfacelara sob o domiacutenio do impeacuterio macedocircnico ldquoA aacutegora apresenta-se agora fechada nos quatro lados como que para proclamar atraveacutes desta simples evocaccedilatildeo arquitetocircnica que a livre movimentaccedilatildeo e reuniatildeo do povo eram coisas do passadordquo (FINLEY 2002 p135) E quando Dioacutegenes o ciacutenico proclamou seu cosmo-politismo condenou o conceito de cidadania agrave falta de sen-tido35 O que interessa a partir de agora eacute o indiviacuteduo e sua busca interior de liberdade sabedoria e virtudes para uma vida bela A sociedade eacute apenas um acidente no percurso de melhoramento do indiviacuteduo E eacute como herdeira das noccedilotildees socraacuteticas de liberdade interior e autodomiacutenio que aparece
34 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Elias Pinheiro Coimbra CECH 2009
35 Cf Finley 2002 p116
Terceira parte
126 127
a noccedilatildeo epicurista de eleutheriacutea36 fruto mais precioso da autarquia e resultado do exerciacutecio da sabedoria
As ocorrecircncias dos termos eleutheriacutea e eleuacutetheros aparecem ambos nas Sentenccedilas Vaticanas
O fruto maior do bastar-se a si mesmo eacute a liberdade(SV 77)
Uma vida livre natildeo pode adquirir bens numerosos pelo fato de a coisa natildeo ser faacutecil fora da sujeiccedilatildeo agraves multidotildees e aos poderosos mas ela adquire tudo por uma abundacircncia contiacute-nua Se por acaso em algum lugar ela encontra muitos bens tambeacutem essas coisas satildeo faacuteceis de distribuir em favor da boa disposiccedilatildeo do proacuteximo (SV 67)
A liberdade de que se trata aqui tem a ver com aquela pro-blematizada por Soacutecrates no citado texto de Xenofonte ou seja aqui tambeacutem se trata de um tipo de liberdade interior No entanto as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia socraacuteticas ainda estatildeo segundo Jaeger ligadas agrave poacutelis ldquoSoacutecrates vive ainda dentro da poacutelisrdquo (JAEGER 1995 p552-553) e suas noccedilotildees de autaacuterkeia e eleutheriacutea natildeo tecircm ainda os traccedilos individualistas que os ciacutenicos primeiro depois estoacuteicos e epicuristas vatildeo lhes dar
A autaacuterkeia eacute condiccedilatildeo para a eleutheriacutea Se pensarmos em qualquer sentido para esta liberdade interior que prescinda da autaacuterkeia estaremos cometendo um erro de interpreta-ccedilatildeo Portanto natildeo podemos subsumir sob a noccedilatildeo de eleu-theriacutea o repertoacuterio de assuntos que se relacionam com o tema da liberdade no Epicurismo o pareacutenklisis ou clinamen(vide supra παρέγκλισις na primeira parte) a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs a criacutetica aos fiacutesicos da necessidade a criacutetica agraves supersticcedilotildees
36 ldquoAleacutem de fundar sua filosofia escavando o antes de Soacutecrates a dou-trina epicurista edificou sua arquitetocircnica a partir de Soacutecratesrdquo (Spinelli 2009 p51)
Ethicaacute
126 127
fatalistas e agrave ideia de destino etc pois todos esses assuntos excedem o sentido de eleutheriacutea Por isso falamos em um sentido de liberdade geral que passa por todos os objetos de estudo do epicurismo e um sentido de liberdade especiacutefica que por sua vez se identifica com a noccedilatildeo de eleutheriacutea Esta eacute a noccedilatildeo de liberdade em seu sentido positivo natildeo mais apenas o reconhecimento de um espaccedilo para a liberdade mas uma tomada de posiccedilatildeo diante da vida
Propomos que o sentido de eleutheriacutea estaacute para aquele de aacutetomo assim como o sentido de parrsquo hemacircs estaacute para aquele de vazio O aacutetomo natildeo existiria sem o vazio mas a existecircncia do vazio por si soacute natildeo garante a existecircncia do aacutetomo Do mesmo modo o espaccedilo para construccedilatildeo dos homens ou o acircmbito das accedilotildees livres natildeo garante a existecircncia efetiva des-sas mesmas accedilotildees A eacutetica de Epicuro tem por isso a esco-lha e a recusa como tema principal Agir com eleutheriacutea eacute construir no espaccedilo deixado vago pela natureza eacute escolher e recusar sem indiferenccedila eacute sentir prazer e sentir a dor quando convier
Epicuro segundo Secircneca diz que ldquoa liberdade consiste pre-cisamente em servir a filosofiardquo e ainda ldquoaquele que se lhe submete e a ela se entrega jaacute natildeo tem que esperar eacute ime-diatamente emancipadordquo (Epistolae ad Lucilium VIII 7 Us 199) O sentido do termo latino libertas corresponde ao de eleutheriacutea empregado por Epicuro nas Sentenccedilas Vaticanas A eleutheriacutea soacute eacute alcanccedilada por quem uma vez dedicado ao serviccedilo da filosofia e agrave compreensatildeo da natureza potildee-se ao exerciacutecio da autaacuterkeia A vida livre natildeo eacute uma vida de oacutecio e sim de exerciacutecio filosoacutefico de praacutette kaigrave meleacuteta (praacutetica e reflexatildeo) O homem autaacuterquico e livre natildeo depende de ri-quezas fama ou honrarias para ser feliz pois entendeu que o
Terceira parte
128 129
bem primordial o prazer lhe eacute congecircnito e que basta calcu-lar por si mesmo os limites dos prazeres e das dores para que seus objetivos mais importantes que satildeo ao mesmo tempo os mais simples e naturais sejam alcanccedilados A filosofia epi-curista eacute libertadora
ἐλεύθερος eleuacutetheros (ad)- SV 67
Livre
ἐλπίς elpiacutes (sf)- 84 134
Esperanccedila expectativa
ἔνδεια eacutendeia (sf)- 53 130 XVIII XXI
Falta necessidade
ἔνδοξος eacutendoxos (ad)- VII
Ceacutelebre famoso renomado
ἐνοχλέω enochleacuteo (v)- 125 XI
Desassossegar
ἐξαγωγή exagogeacute (sf)- XX SV 38
Abandono afastamento
ἐπιθυμία epithymiacutea(sf)- 127 X XI XXVI XXIX XXX SV 21 SV 35 SV 71 SV 80
Desejo apetite Os desejos satildeo fenocircmenos do corpo Neste
Ethicaacute
128 129
sentido Epicuro os classifica em trecircs categorias que definem o que importa agrave aquisiccedilatildeo do bem-estar e agrave manutenccedilatildeo de um corpo bem disposto (eusthaacutetes) e o que pode ser nocivo ou causa o seu desequiliacutebrio 1) desejos naturais e neces-saacuterios 2) desejos naturais e desnecessaacuterios 3) desejos nem naturais e nem necessaacuterios
ἐργαστικός ergastikoacutes (ad)- SV 45
Trabalhador laborioso
ἔργον eacutergon (sn)- 78 XXXVIII
Funccedilatildeo praacutetica tarefa obra
ἐτεροφρονεῖν heterophroneicircn (v inf)- SV 17
Estar em demecircncia Verbo de uso exclusivo de Epicuro
εὐδαιμονία eudaimoniacutea (sf)- 116122 127 SV 33
Felicidade
εὐδιάχυτος eudiaacutekhytos (ad)- XXVI
Facilmente dissipaacutevel
εὐελπιστία euelpistiacutea (sf)- SV 39
Boa expectativa esperanccedila
εὐκαταφρόνητος eukataphroacutenetos (ad)- SV 4
Facilmente despreziacutevel desdenhaacutevel
Terceira parte
130 131
εὐκταῖος euktaicircos (ad)- SV 35
Desejaacutevel
εὐλογίστως eulogiacutestos (adv)- 135
De modo bem pensado
εὔλογος eacuteulogos (ad)- SV 38
Razoaacutevel
εὔνοια eacuteunoia (sf)- SV 67
Benevolecircncia favor
εὐπορία euporiacutea (sf)- XIV
Riqueza abundacircncia prosperidade
εὐπόριστος eupoacuteristos (ad)- 130133 XV XXI
Faacutecil de conseguir
εὐστάθεια eustaacutetheia (sf) 68 Us
Boa disposiccedilatildeo O termo grego eustaacutetheia siginifica literalmen-te boa disposiccedilatildeo e foi definido por J Brun por ldquoequiliacutebrio das diversas partes do corpo vivordquo37 Este termo natildeo foi encontrado dentre as proposiccedilotildees das Cartas nem tampouco nas Maacuteximas Encontramo-lo citado por H Usener no fragmento de nuacutemero 68 da sua obra Epicurea Nela o autor revela sua fonte trata-se de Plutarco38 que atribui a Epicuro a seguinte proposiccedilatildeo
37 BrunJ Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978 p 16838 Plutarco Contra Epic Beat 1089d
Ethicaacute
130 131
() O gozo mais alto e mais soacutelido resulta da condiccedilatildeo de equiliacutebrio (boa disposiccedilatildeo) da carne e a esperanccedila fundada de a conservar para quem saiba consideraacute-la proporciona (conteacutem) a mais alta e segura alegria () (Us 68 p 185)
G Arrighetti traduz o termo em questatildeo por benessere que facilmente pode ser traduzido por bem estar Contudo vi-mos na expressatildeo ldquoboa disposiccedilatildeordquo a melhor traduccedilatildeo para o termo eustatheiacutea tendo em vista o fato de que se tomado literalmente encontramos imediatamente a ideia de um es-tado equilibrado no sentido fiacutesico do posicionamento deste corpo em relaccedilatildeo ao meio em que se encontra Queremos com isso chamar a atenccedilatildeo para as constantes relaccedilotildees esta-belecidas entre o corpo que age e sofre e as coisas sobre as quais age e sofre afecccedilotildees A boa proporccedilatildeo a harmonia e a estabilidade fiacutesica do corpo satildeo definiccedilotildees anaacutelogas do termo equiliacutebrio Este termo entretanto eacute pensado pela Fiacutesica par-ticularmente pela Mecacircnica- como o estado de um corpo em repouso em que as forccedilas que o solicitam se contrabalanccedilam exatamente Podemos entatildeo pensar tais forccedilas como expres-sotildees da natureza que podem ou natildeo afetar o corpo e neste sentido eacute igualmente possiacutevel pensar que este equiliacutebrio natildeo eacute absoluto mas oscilatoacuterio uma vez que afetos e desafetos ocorrem casualmente na natureza ainda que a nossa con-duta disponha-se ao exerciacutecio da phroacutenesis e da autaacuterkeia Eacute preciso que se esclareccedila que na natureza o movimento de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos eacute constante e inevitaacutevel mas no que diz respeito agrave conduta do homem esta tambeacutem depende da sua vontade ou deliberaccedilatildeo
εὐσυμπλήρωτος eusympleacuterotos (ad)- 133
Plenamente atingido Palavra de uso exclusivo de Epicuro
Terceira parte
132 133
εὐφροσύνη euphrosyacutene (sf)- 2Us
Deleite
ἡδονή hedoneacute (sf)- 128 129 130 131 136 137 138 III VIII IX X XII XVIII XIX XX XXIX SV 37 2 Us 116 Us 181 Us
Prazer gozo O prazer eacute o que nos realiza e nos faz bem Escolhemos de preferecircncia aquilo que nos agrada ou o que eacute prazeiroso e fugimos (de) ou evitamos aquilo que nos agride ou nos deixa vulneraacuteveis agrave dor
Escolher o prazer como o bem eacute viver intensamente os sentidos mas o que eacute intenso natildeo precisa ser imoderado Epicuro naturaliza o prazer mas natildeo o neutraliza Acredita numa medida natural de realizaccedilatildeo do prazer como estado de equiliacutebrio ou bem-estar O prazer tem um fim em si mesmo isto eacute no ato prazeiroso a finalidade eacute imanente agrave accedilatildeo Natildeo deve ser passiacutevel de censura aquele que admitir e propagar que o que eacute agradaacutevel eacute bom e o que eacute desagradaacutevel eacute ruim A sabedoria estaacute em natildeo ter opiniotildees vatildes sobre o que eacute agradaacutevel pois nesse caso natildeo se sabe o prazer pois deixar-se mover pela opiniatildeo vatilde eacute agir ignorando a natureza do objeto da accedilatildeo O problema reside na ignoracircncia pois o prazer obtido a partir do discernimento eacute o maior dos bens ou o bem por excelecircncia As criacuteticas epicuacutereas aos cirenaicos estatildeo centradas na desmesura com que estes buscavam e idealizavam o prazer Mais uma vez a phroacutenesis(Vide infra φρόνησις) eacute moderadora dos apetites (desejos) e esclarece-dora das medidas de realizaccedilatildeo plena dos prazeres A phroacutene-sis se opotildee a hamartiacutea e a hyacutebris assim como o prazer se opotildee agraves opiniotildees falsas sobre o que eacute agradaacutevel Diz Epicuro
Ethicaacute
132 133
E assim como em seu alimento (o saacutebio) natildeo escolhe o maior quantitativamente mas o mais agradaacutevel assim tambeacutem do tempo (de viver) natildeo escolhe o maior fruto mas o mais prazeroso O prazer eacute o princiacutepio e o fim da vida feliz O prazer eacute o nosso bem primordial e congecircnito e partindo dele movemo-nos para qualquer escolha e qualquer rejeiccedilatildeo e a ele voltamos usando como criteacuterio de discriminaccedilatildeo de todos os bens as sensaccedilotildees de prazer e de dor (DL X 128-29)
O que fez Epicuro quando elegeu o prazer como o Bem por excelecircncia foi atribuir agrave sensaccedilatildeo o primado sobre a com-preensatildeo da realidade e mais ainda definir o prazer como medida plena de realizaccedilatildeo do homem no mundo poreacutem eacute preciso explicitar como se daacute esta compreensatildeo e a que medida o prazer responde positivamente
Em primeiro lugar o pensamento eacute um efeito das relaccedilotildees sensiacuteveis e das analogias que nos fazem perscrutar o que eacute aacutedelon (invisiacutevel) mas pode ser inteligiacutevel Epicuro nos fala de he phantastikegrave epiboleacute tecircs dianoiacuteas que satildeo projeccedilotildees (saltos) imaginativa(o)s do pensamento Elas se datildeo por analogia agraves operaccedilotildees com os dados sensiacuteveis mas nos remetem a pensar nos niacuteveis microfiacutesicos e macrofiacutesicos Haacute uma relaccedilatildeo direta entre sentir pensar e agir que estabelece a continuidade en-tre a physiologiacuteae a eacutetica nos textos aqui examinados Assim as sensaccedilotildees datildeo origem ao pensamento que por sua vez eacute o princiacutepio do agir isso faz pensar que as deliberaccedilotildees mo-vidas pelo pensamento objetivam a realizaccedilatildeo do bem-estar experimentado pelos sentidos Epicuro natildeo distingue bem--estar (eustaacutetheia) de estado de prazer duradouro (hedonegrave ka-tastematikeacute) A manutenccedilatildeo do equiliacutebrio interno e externo do homem estaacute diretamente relacionada agrave deliberaccedilatildeo e agrave
Terceira parte
134 135
consequente accedilatildeo realizada por cada um Tendo em vista o prazer Epicuro busca um modo de vida no qual os desejos e apetites que movem natural e necessariamente os indiviacuteduos tenham uma medida que realize a vida de modo satisfatoacuterio e equilibrado Ele considera desejaacutevel e exequiacutevel este estado sem perturbaccedilatildeo e sem sofrimento Este estado eacute buscado como modo de realizaccedilatildeo do prazer o que faz com que a vida filosoacutefica seja a via preferencial para a realizaccedilatildeo dos desejos naturais e necessaacuterios e para a obtenccedilatildeo de prazeres que natildeo tecircm como consequecircncia a dor Para tal parte do princiacutepio segundo o qual prazer e dor se excluem e mais que isso natildeo haacute estado intermediaacuterio entre eles ou estado neutro no qual natildeo se sente prazer nem dor
O prazer e o movimento que o realiza fez com que Epicuro estabelecesse uma diferenccedila em relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo cirenai-ca de hedoneacute Para eles nem a ausecircncia de dor a aponiacutea nem a imperturbabilidade da alma a ataraxia podem ser considerados estados de prazer O prazer eacute um estado que se opotildee agrave dor e difere da neutralidade Dioacutegenes Laeacutercio comenta ldquoNo que concerne agrave ausecircncia de dor pleiteada por Epicuro eles (os cirenaicos) declaram que isto natildeo eacute prazer assim como a ausecircncia de prazer natildeo pode ser considerada dorrdquo (DL II 89)
Outro ponto de discordacircncia de Epicuro em relaccedilatildeo agrave Aristi-po eacute a admissatildeo da diferenccedila entre os prazeres pela distinccedilatildeo que faz entre opiniotildees vatildes sobre o prazer e o pensamento em que se sabe discernir ponderar e moderar o prazer para que ele natildeo tenha como consequecircncia a dor esta tambeacutem ignorada quando se age a partir das kenaigrave doacutexai
Epicuro centraraacute a sua criacutetica na demonstraccedilatildeo de que o prazer eacute constitutivo isto eacute que se inicia como movimento
Ethicaacute
134 135
mas a sua finalidade eacute tornar-se estaacutevel Hedonegrave kinetikeacute e hedonegrave Katastematikeacute configuram um mesmo movimento de prazer que tende naturalmente a uma espeacutecie de sere-nidade de apaziguamento das voliccedilotildees Quando inicia o movimento de suplantar a dor o corpo produz o seu proacuteprio prazer que depois seraacute rememorado pela alma Eacute o prazer em movimento que depois de saciado o desejo torna-se se-reno alcanccedilando a eustaacutetheia o bem-estar ao mesmo tempo no corpo e na alma contudo a alma guardaraacute as sensaccedilotildees prazeirosas transformando-as em sentimentos (proleacutepseis) ou impressotildees sensiacuteveis A rememoraccedilatildeo dos prazeres vividos produz um estado de alegria de seguranccedila e de bem-estar Dizemos nestes momentos que estamos bem e que tudo eacute muito agradaacutevel Satildeo os prazeres da alma Aleacutem disso esses prazeres jaacute sentidos e agora rememorados invadem a imagi-naccedilatildeo e projetam os prazeres vindouros tornados possiacuteveis pela memoacuteria Eacute uma maneira afirmativa de viver esperar (projetar) gozar no futuro
ἡσυχία hesychiacutea (sf)- XIV
Quietude
θάνατος thaacutenatos (sm)- 124125 133 II X XI SV 31
Morte
ldquoa morte nada eacute para noacutes pois o que se decompotildee eacute insensiacute-vel e o que eacute insensiacutevel nada eacute para noacutesrdquo (Maacuteximas Princi-pais II)
θαρρεῖν tharrecircin(v inf)- VIXXVIII XXXIX XL 207 Us
Confianccedila seguranccedila
Terceira parte
136 137
θεός theoacutes (sm)- 123 124 133 134 135 I SV 65 355 Us
Divindade deus A crenccedila vulgar nos deuses eacute formada por ldquosuposiccedilotildees falsasrdquo (hypoleacutepseis pseudeicircs) (DL X 124) Epi-curo afirma que essas crenccedilas natildeo satildeo baseadas em proleacutepseis (impressotildees) mas apenas em hypoleacutepseis (suposiccedilotildees)Vide suprahypoacutelepsis - ὑπόληψις etproacutelepsis πρόληψις (na segunda parte) A diferenccedila acentuada entre proacutelepsis e hypoacutelepsis nesse contexto demarca que embora Epicuro admita a existecircncia dos deuses a crenccedila vulgar natildeo condiz com a vida corpoacuterea e feliz das divindades
As hypoleacutepseis da religiatildeo grega tecircm o poder de produzir como consequecircncia da opiniatildeo de que eacute possiacutevel interagir com as divindadesa suposiccedilatildeo de que ldquodos deuses deri-vam os maiores males e bensrdquo (DL X 124) O culto dos tempos de Epicuro de acordo com Salem (1994 p 181) se expressava de uma maneira quase mercantil Acreditava-se que oferendas e sacrifiacutecios podiam aplacar a ira e alcanccedilar o favor dos deuses bem como maacutes oferendas ou a negligecircncia delas podiam suscitar penas e castigos Epicuro natildeo preten-de persuadir as pessoas que os deuses natildeo existem antes quer demonstrar que suas crenccedilas satildeo contraditoacuterias com a noccedilatildeo de divindade que expressam ldquoSe um deus obedece agraves preces dos homens muito rapidamente todos os homens teriam perecido continuamente eles pedem muitas coisas prejudi-ciais uns aos outrosrdquo (Us 388) Deuses satildeo seres imortais e sumamente felizes e enquanto tais natildeo se envolvem com a vida humana Epicuro evidencia a contradiccedilatildeo entre a noccedilatildeo de divindade e a expectativa de ser beneficiado ou castigado por um deus
Esperar por favores divinos torna o homem indolente esperar por castigos o torna temeroso O temor perturba e impede a
Ethicaacute
136 137
felicidade dos homens A imagem de deuses castigadores in-troduz nos espiacuteritos o medo do futuro e da morte O homem cultua por sacrifiacutecios e oferendas esperando que deuses guiem sua vida mas esses seres em contrapartida satildeo indiferentes ldquoEacute estuacutepido pedir aos deuses o que se pode procurar por si mesmordquo (SV 65) diz Epicuro Supor que seres indiferentes governam e guiam a vida humana nada mais eacute que se deixar ao acaso resignando-se aos desiacutegnios de pretensas divindades Pior que ser escravo de senhores reais eacute ser escravo de senhores inexistentes Esses homens vivem ao sabor da sorte levados pela inconstacircncia do acaso negligenciando seu poder de es-colha e decisatildeo A estes Epicuro convoca a tomar as reacutedeas da vida nas matildeos incitando-os agrave autarquia e a exercer ativamente sua liberdade ldquoO infortuacutenio do saacutebio eacute melhor que a prospe-ridade do insensato pois acha melhor numa accedilatildeo humana o fracasso daquilo que eacute bem escolhido que o sucesso por obra do acaso daquilo que eacute mal escolhidordquo (DL X 135)
O primeiro componente do ldquoquaacutedruplo remeacutediordquo (tetra-phaacutermakos) diz respeito aos deuses ldquosua opiniatildeo [do saacutebio] em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosardquo (DL X 133) Uma opiniatildeo piedosa segundo Epicuro eacute a de quem rejeita os deuses acei-tos pela maioria Esta opiniatildeo segundo a noccedilatildeo impressa (noacuteesis hypegraacutefe) em noacutes pela natureza considera a divin-dade ldquoum ser vivo e felizrdquo (DL X 123) Sobretudo natildeo se deve atribuir agrave divindade qualquer atributo que contradiga sua imortalidade e felicidade
ldquoOs deuses realmente existem e o conhecimento de sua exis-tecircncia eacute manifestordquo (DL X 123) Essa afirmaccedilatildeo inviabiliza a caracterizaccedilatildeo de Epicuro como ateu Lactacircncio39 em seu
39 Lactacircncio viveu entre 240-320 dC e seu comentaacuterio sobre Epicuro foi catalogado por H Usener em Epicurea (1887)
Terceira parte
138 139
De Ira Dei (A Ira de Deus) certamente desejava acentuar ainda mais as diferenccedilas entre o epicurismo e o cristianismo quando atribuiu a Epicuro o famoso argumento
Ou bem diz Epicuro Deus quer suprimir o mal e natildeo pode ou ele pode e natildeo quer ou ele nem quer e nem pode ou ele quer e pode Se ele quer e natildeo pode entatildeo eacute impotente e isso natildeo convecircm agrave Deus se ele pode e natildeo quer ele eacute invejoso mas isso natildeo pode conferir vantagem a Deus se ele nem quer nem pode ele eacute de uma soacute vez invejoso e impotente sendo assim ele natildeo pode ser Deus se ele quer e pode so-mente o que convecircm agrave Deus entatildeo de onde vem o mal Ou porque Deus natildeo o suprime (Us 374)
No entanto o texto da Carta a Meneceu natildeo sugere que Epicuro se referisse a um deus singular nem tampouco a um deus de que se esperasse a expurgaccedilatildeo do mal do mundo Pelo contraacuterio Epicuro se refere a muacuteltiplas divindades que a despeito dos problemas humanos sossegadamente habitam os intermundos (metakoacutesmion) Desse modo que esperar que a prova da existecircncia de Deus seja derivada da intervenccedilatildeo do mesmo no mundo vai totalmente de encontro com os textos de Epicuro que nos restaram
Os deuses de Epicuro natildeo se preocupam com bens ou males A perfeita felicidade desses seres se compreende exatamente na medida em que natildeo se preocupam com os afazeres dos homens Satildeo livres autossuficientes felizes imortais e por isso satildeo modelo para o saacutebio epicurista ldquoSeraacutes como um deus entre os homensrdquo (DL X 135) diz Epicuro a seu dis-ciacutepulo Meneceu O epicurista natildeo espera dos deuses nada aleacutem de um exemplo perfeito pelo qual moldar sua vida Os deuses expressam ideais de liberdade e autarquia eles tecircm tudo o que desejam e realizam sua vontade como querem Se
Ethicaacute
138 139
aos homens natildeo cabe ter tudo que desejam podem no en-tanto administrar-se com vistas a desejar somente o que po-dem realizar independentemente das circunstacircncias Eacute com este fim que Epicuro adverte ldquoA pobreza medida segundo o fim da natureza eacute uma grande riqueza a riqueza sem limite eacute grande pobrezardquo (SV 25) Eacute este tambeacutem o grande bem da autaacuterkeia pois o saacutebio autaacuterquico natildeo depende de ban-quetes sofisticados nem precisa variar seus prazeres cons-tantemente tampouco considera que o fim da vida eacute a soma irrestrita de prazeres nem cultiva riquezas pois encontrou na autaacuterkeia um grande tesouro Ter deuses como modelo de autossuficiecircncia natildeo significa desejar espraiar nosso domiacutenio para aleacutem das fronteiras de nosso ser antes eacute ter o domiacutenio irrestrito daquilo que nos compete Natildeo eacute desejar ardente-mente a Lua e os astros inalcanccedilaacuteveis mas eacute querer apenas o limite da satisfaccedilatildeo da carne
θητεία theteiacutea (sf)- SV 67
Serviccedilo
θόρυβος thoacuterybos (sm)- 132
Tumulto
ἰατρεία iatreiacutea (sf)- S64
Cura cuidado
ἰατρική iatrikeacute (teacutechne) (sf)- 138 221 Us
Medicina
Eacute o impeacuterio exclusivo (monarchiacutee) de uma soacute forccedila no orga-
Terceira parte
140 141
nismo a causa das doenccedilas e o equiliacutebrio (isonomiacutee) das for-ccedilas a causa da sauacutede (Alcmeacuteon de Croacutetona frag 4 - Diels)
A possiacutevel compreensatildeo epicuacuterea acerca da medicina de sua eacutepoca pode ser ldquointuiacutedardquo em algumas raras passagens dos seus textos mas natildeo se encontram nelas elementos que venham a demonstrar suficientemente um saber meacutedico ine-rente aos discursos epicuacutereos nem tampouco temos notiacutecias de algum disciacutepulo de sua eacutepoca que tivesse sido meacutedico Entretanto pelo que vimos ateacute aqui a anaacutelise de saacuterx envolve um conjunto de reflexotildees em torno do cuidado com o corpo
Sabemos de diversas interseccedilotildees entre medicina e filosofia no pensamento antigo desde Alcmeacuteon de Croacutetona e Em-peacutedocles de Agrigento passando por Soacutecrates ateacute Platatildeo e Aristoacuteteles em cujos textos encontramos as mais numerosas referecircncias as analogias que tomam ora a medicina ora o meacutedico como um dos termos e do outro lado encontramos agraves vezes a poacutelis agraves vezes o poliacutetico agraves vezes o filoacutesofo Neste sentido podemos estabelecer analogias entre a medida do agir e a medida do cuidar ambas tendendo sempre a um equiliacutebrio seja como ldquojusta medidardquo seja como ldquomeio--termordquo
Quando afirmamos a pertinecircncia dessas analogias temos presente que tanto a filosofia quanto a medicina buscam ex-plicitar o cuidado de si tendo em vista que a accedilatildeo de cuidar eacute proacutepria do ser do homem ldquoA medicina eacute a arte de curar as enfermidades por seus contraacuterios A arte de curar e de seguir o caminho pelo qual cura espontaneamente a nature-zardquo (Hip Afor 2 p 1 8) Compreendemos aqui o sentido real de agir conforme a natureza ou seja de agirmos de um modo tal que os nossos atos coincidam com o modo proacuteprio da natureza se realizar Neste sentido podemos entender a
Ethicaacute
140 141
teacutechne como complemento da natureza
Epicuro concebe a filosofia como o exerciacutecio de uma sabedo-ria para a vida e pensa ser este o caminho para a realizaccedilatildeo da natureza do sophoacutes com vigor e potecircncia Ora o saber meacutedico parece tambeacutem buscar auxiliar o corpo a realizar--se plenamente de acordo com o modo de ser da proacutepria natureza A cura auxiliada pelo saber eacute para a medicina um modo de accedilatildeo do meacutedico de acordo com a natureza o que quer dizer que em uacuteltima anaacutelise eacute a natureza que cura pois eacute ela mesma que se restabelece e a partir de si mesma Vemos aqui que a medicina em consonacircncia com a filosofia compotildee um saber acerca da natureza que Epicuro chamou Physiologiacutea Mediante isto percebemos que tanto para a fi-losofia epicuacuterea quanto para a medicina antiga a phyacutesis eacute a questatildeo fundamental que enseja toda e qualquer busca pelo conhecimento sendo por isso ao mesmo tempo princiacutepio e finalidade do conhecimento meacutedico e do conhecimento filosoacutefico E eacute desde a compreensatildeo da phyacutesis que se pode estruturar a accedilatildeo do meacutedico ou filoacutesofo Esta accedilatildeo traduz o sentido de um agir ldquode acordo com a naturezardquo que significa ter a sua archeacute mdash que eacute princiacutepio e comando mdash na natureza ao mesmo tempo que o teacutelos mdash que eacute a finalidade da accedilatildeo do homem no mundo e especificamente finalidade do conhe-cer tambeacutem na natureza
ἱκανός hikanoacutes (ad)- 45 55 59 SV 65 SV 68
Suficiente capaz
ἰσονομία isonomiacutea (sf)- 352 Us
Igualdade perante a lei
Terceira parte
142 143
καθαριότης katharioacutetes (sf)- SV 63
Pureza simplicidade frugalidade
καιρός kairoacutes (sm)- 35 98 115 XXV
Circunstacircncia tempo ocasiatildeo
καταπυκνόω katapyknoacuteo (v)- IX
Tornar-se espesso ganhar espessura
καταστηματικός katastematikoacutes (ad)- 136 2 Us
Repousante estaacutevel Adjetivo aplicado a certos prazeres
καταστροφή katastropheacute (sf)- 126 XX XXXV
Fim (da vida) ruiacutena desaparecimento
κενοσοξία kenodoxiacutea (sf)- XXX
Opiniatildeo vazia
κοινωνία koinoniacutea (sf)- XXXVI XXXVII XXXVIII
Comunidade vida em comum
μακάριος makaacuterios (ad)- 78 79 80 81 84 123 134 I
Feliz bem aventurado
μακαριότης makarioacutetes (sf)- 76 77 97 123 XXVII
Bem aventuranccedila felicidade
Ethicaacute
142 143
μακαρισμός makarismoacutes (sm)- SV 52
Accedilatildeo de louvar ou de invejar a felicidade alheia
μακαριστός makaristoacutes (ad)- SV 17
Considerado feliz
μελέτη meleacutete (sf)- 126
Meditaccedilatildeo
νόμος noacutemos (sm)- XXXVII
Lei
οἰκειότης oikeioacutetes (sf)- XL
Familiaridade amizade
ὁμόφυλος homoacutephylos (ad)- XXXIX
Aliado da mesma tribo Vide supra alloacutephylos-ἀλλόφυλος (na primeira parte)
ὄρεξις oacuterexis (sf)- XXVI 202 422 Us
Apetite
ὄχλησις oacutechlesis (sf)- VIII
Aborrecimento perturbaccedilatildeo
παιδεία paideiacutea (sf)- SV 45 117 163 Us
Cultura educaccedilatildeo
Terceira parte
144 145
παράστασις paraacutestasis (sf)- 81 138 Us
Deliacuterio
παρ᾿ἡμᾶς parrsquo hemacircs (prep παρά + 1ordf pessoa pl ἡμᾶς) - 133 27 Us (135)
Cabe-nos (cabe a noacutes) Parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo grega composta por dois vocaacutebulos unidos por elisatildeo paraacute e he-macircs Segundo Murarcho (2007 p 532) ldquoparaacute significa exa-tamente ao lado derdquo Por sua vez hemacircs eacute o pronome plural da primeira pessoa no acusativo traduzido pelo pronome obliacutequo aacutetono ldquonosrdquo Assim sendo a expressatildeo parrsquo hemacircsse descreve como a junccedilatildeo da preposiccedilatildeo paraacute (ao lado de) e do pronome hemacircs (nos) A expressatildeo tem sentido conotativo significando o que estaacute em poder do homem
Gama Kury (2008 p 314) traduz a expressatildeo parrsquo hemacircs por ldquodepende de noacutesrdquo diferente de Hicks (1925 p659) que traduz por ldquoour own action40rdquo Por sua vez Bollack (1975 p 81) traduz parrsquo hemacircs por ldquoce que tient agrave nous41rdquo Apesar das diferentes traduccedilotildees disponiacuteveis a melhor maneira de entender a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute pelo contexto do passo 133 da Carta a Meneceu
Crecirc entatildeo Meneceu que ningueacutem eacute superior a tal homem Sua opiniatildeo em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosa e ele se mostra sempre destemeroso diante da morte Ele reflete intensa-mente sobre a finalidade da natureza e tem uma concepccedilatildeo clara de que o bem supremo pode ser facilmente atingido e facilmente conquistado e que o mau supremo dura pouco e causa sofrimentos passageiros Finalmente ele proclama
40 ldquonossa proacutepria accedilatildeordquo41 ldquoo que nos concernerdquo
Ethicaacute
144 145
que o destino introduzido por alguns filoacutesofos como se-nhor de tudo eacute uma crenccedila vatilde e afirma que algumas coisas acontecem necessariamente outras por acaso e outras nos cabe fazer porque para ele eacute evidente que a necessidade gera a irresponsabilidade e que o acaso eacute inconstante e as coisas que cabe-nos fazer satildeo livremente escolhidas e satildeo naturalmente acompanhadas de censura e louvor (DL X 133)
Nessa passagem da carta haacute uma descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do homem que assimilou os preceitos baacutesicos do epicurismo Nela estaacute resumido aquilo que os epicuristas chamaram de tetraphaacutermakos (o quaacutedruplo remeacutedio42) O homem modelo como ldquoum deus entre os homensrdquo (DL X 135) natildeo teme a morte eacute feliz e traccedila seus proacuteprios caminhos Desdenha qualquer possibilidade de intervenccedilatildeo divina e defende que noacutes somos livres Investigou a natureza (phyacutesis) conhece seus princiacutepios e encontrou no prazer o fim (teacutelos) de todo homem
Epicuro natildeo diz expressamente a quem se refere ao afir-mar ldquoningueacutem eacute superior a tal homemrdquo ou como traduz Conche ldquoQuem estimas tu superior agravequelerdquo No entanto a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do saacutebio e do que se deve fazer para ter uma vida saacutebia comeccedila no passo 126 que diz ldquoo saacutebio (hoacute degrave sophoacutes) natildeo renuncia agrave vida nem teme a cessaccedilatildeo da vidardquo O saacutebio considera vatilde a crenccedila dos que apresentam o destino como um tirano Esta uacuteltima carac-teriacutestica do sophoacutes eacute determinante para a compreensatildeo de parrsquo hemacircs pois negar a crenccedila no domiacutenio irrestrito do destino (heimarmeacutene) implica em considerar a liberdade da accedilatildeo humana Segue-se pois na ordem do texto a afirma-
42 Cf MP II
Terceira parte
146 147
ccedilatildeo que anuncia o poder do homem expresso sob a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs ldquoalgumas coisas acontecem necessariamente (anaacutenke) outras por acaso (tyacuteche) e outras nos cabe fazerrdquo (parrsquo hemacircs)
A natureza eacute portanto neutra naquilo que cabe aos homens realizar O acaso (vide supra τύχη tyacuteche na pri-meira parte) limita a extensatildeo da necessidade (vide supra ἀνάγκη anaacutenke na primeira parte) e abre as portas para novas cadeias causais serem iniciadas A tradiccedilatildeo epicu-rista relaciona parrsquo hemacircs ao pareacutenklisis ou clinamen (Vide supra παρέγκλισις na primeira parte) Embora Epicuro natildeo tenha mencionado nada a respeito do desvio aleatoacuterio dos aacutetomos (pelo menos natildeo em seus textos remanescen-tes) percebe-se que a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute possibilitada pelo acaso sob a forma dos desvios bem como sua vigecircncia envolve a vontade deliberaccedilatildeo autarquia e escolha dos viventes Enfim parrsquo hemacircs se relaciona com a noccedilatildeo de li-berdade em sentido amplo Jaacute Filodemo aproxima a noccedilatildeo de pareacutenklisis da noccedilatildeo de parrsquo hemaacutes
Natildeo eacute suficiente admitir iacutenfimas declinaccedilotildees dos aacutetomos por causa do acaso e da liberdade (tograve tycherograven kaigrave tograve parrsquo hemacircs) mas eacute necessaacuterio provar que esta declinaccedilatildeo natildeo combate nenhum fato evidente (enargoacuten) (De Signis XXXVI 7-17 apud SALEM 1997 p 68)
Apesar do problema epistemoloacutegico levantado por Filodemo em relaccedilatildeo a natildeo-contradiccedilatildeo do clinamen ou pareacutenklisis fica claro que parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo utilizada para falar de liberdade de maneira geral ou seja de todas as possibilida-des abertas pelo desvio aleatoacuterio dos aacutetomos A expressatildeo parrsquo hemacircs abrange um conjunto de coisas que se relacionam com o agir livre do homem
Ethicaacute
146 147
περίβλεπτος periacutebletos (ad)- VII
Renomado famoso
περίβλεψις periacuteblepsis (sf)- SV 81
Observaccedilatildeo vigilacircncia
περίπτωσις periacuteptosis (sf)- 36 Us
Acaso desgraccedila
πίστωμα piacutestoma (sn)- XL
Garantia
πλήρωμα pleacuteroma (sn)- SV 59
Repleccedilatildeo satisfaccedilatildeo plenitude
ποιητικός poietikoacutes (ad)- VIIIX
Produtivo
ποικίλλειν poikiacutellein(v inf)- XVIIIXXIX
Variar diversificar Este termo se refere agrave possibilidade de variaccedilatildeo dos prazeres O prazer natildeo aumenta infinitamente apenas variaVide supra haacutepax-ἄπαξ (nessa mesma parte)
ποίκιλμα poiacutekilma(sn)- SV 69
Variedade
πολιτικός politikoacutes (ad)- SV 58
Puacuteblico
Terceira parte
148 149
πολυτελεία politeleiacutea (sf)- 130 181 Us
Despesa extravagacircncia
πόνος poacutenos (sm)- 133 137 (66 Us) SV 4
Sofrimento afliccedilatildeo
πρᾶγμα praacutegma (sn)- 36 39 49 53 75 76 IXX XXI XXXVII XXXVIII SV 45 SV 67
Coisa acontecimento fato circunstacircncia realidade
πραγματεία pragmateiacutea (sf)- 35 7783
Sistema doutrina
πρᾶξις praacutexis (sf)-81135 XXV
Accedilatildeo ato
προκαταστροφή prokatastropheacute (sf)- XL
Morte prematura
σεβασμός sebasmoacutes (sm)-SV 32
Adoraccedilatildeo veneraccedilatildeo
σοβαρός sobaroacutes (ad)- SV 45
Destemido
σοφία sophia(sf)-117XXVII SV 78
Sabedoriacutea
Ethicaacute
148 149
σοφός sophoacutes (ad)-117 125 XVI SV 32 S44 SV56
Saacutebio
σπουδή spudeacute (sf)- 84XXX SV 61
Esforccedilo ardor
στέρησις steacuteresis (sf)- 124
Privaccedilatildeo
συζήτησις syzeacutetesis (sf)- SV74
Discussatildeo disputa pesquisa em conjunto Termo utilizado pela primeira vez por Epicuro
σύμβολον syacutembolon (sn)- XXXI
Garantia contrapartida
συμμέτρησις symmeacutetresis (sf)-130
Comparaccedilatildeo
σύνφυτος syacutemphytos (ad)- 129
Inato
συναναστροφή synanastropheacute (sf)- SV 18
Convivecircncia
συνήθεια syneacutetheia (sf)- SV 46
Haacutebito
Terceira parte
150 151
συνθήκη syntheacuteke (sf)- XXXIIXXXIII
Acordo pacto contrato
σωτηρία soteriacutea (sf) SV 80
Salvaccedilatildeo
ταραχή taracheacute (sf)- 81 XVII XXII SV 81
Perturbaccedilatildeo
ταραχώδης tarachoacutedes (ad)- 116 Us
Perturbado
τιμή timeacute (sf) (- 134 SV 81
Honra
τύχη tyacuteche (sf)- 120 (584 Us) 131 133 134 XVI SV 17
Acaso sorte fortuna As noccedilotildees de acaso (tyacuteche) e necessida-de (anaacutenke) satildeo compatibilizadas por Epicuro em sua visatildeo geral da phyacutesis Nela alguns axiomas satildeo apresentados como necessaacuterios por exemplo todos os aacutetomos estatildeo em cons-tante movimento Esta afirmaccedilatildeo eacute axiomaacutetica por revelar o que necessariamente eacute intuiacutedo na anaacutelise dos modos de ser de phyacutesis Em consequecircncia disso o constante movimento dos aacutetomos supotildee a declinaccedilatildeo casuiacutestica de alguns aacutetomos pois soacute assim eacute possiacutevel explicar a diversidade dos corpos e as muacuteltiplas configuraccedilotildees pelas quais eles passam no decorrer de suas existecircncias individuais enquanto corpos Visto de outro modo a totalidade dos aacutetomos e do vazio existentes
Ethicaacute
150 151
permanece a mesma ainda que os aacutetomos e o vazio sejam ilimitados Entretanto quando analisados os mundos e os demais corpos particularizados no interior do todo se mos-tram vulneraacuteveis agraves mudanccedilas e acabam por expressar en-quanto existecircncias dissemelhantes a atuaccedilatildeo do acaso como elemento diferenciador
Portanto os diversos niacuteveis de alteraccedilatildeo dos corpos que ocorrem necessariamente satildeo consequecircncias dos desloca-mentos dos aacutetomos portadores do princiacutepio de movimento expresso nas trajetoacuterias oriundas dos deslocamentos e nas casuiacutesticas declinaccedilotildees que sofrem quando desviam O acaso pode ser concebido tendo em vista a pluralidade dos corpos e a indeterminaccedilatildeo absoluta do todo Poreacutem uma anaacutelise mais detalhada das implicaccedilotildees entre os termos aca-so e necessidade nos textos de Epicuro sobretudo do modo em que coexistem em seu sistema requer a explicitaccedilatildeo do sentido fiacutesico da concepccedilatildeo de necessidade
Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem fi-nalidade (teacutelos)rdquo E somente o termo anaacutenke pode significar necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo proacutenoia para designar necessidade de qualquer ma-neira a necessidade nunca foi enunciada por Epicuro num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
No mesmo contexto o termo tyacuteche traz em si a negaccedilatildeo de toda a finalidade que poderia existir no movimento necessaacute-rio de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos e mundos
Terceira parte
152 153
ou seja natildeo eacute cabiacutevel falar de teleologia no pensamento de Epicuro porque ele evidencia a presenccedila do acaso na realizaccedilatildeo do movimento como ausecircncia de finalidade na explicaccedilatildeo dos corpos e mundos Dessa maneira tudo o que acontece a geraccedilatildeo o desenvolvimento e a corrupccedilatildeo dos corpos acontece por necessidade poreacutem a diversificaccedilatildeo dos acontecimentos eacute resultado da interferecircncia do acaso ou dos desvios nas trajetoacuterias dos aacutetomos Contudo ldquoEacute neces-saacuterio que algo de imutaacutevel subsista para que as coisas natildeo recaiam totalmente no nadardquo (DRN II 751 752) Como eacute necessaacuterio pela proacutepria natureza do acaso que os corpos e mundo sejam diferentes e sujeitos agrave geraccedilatildeo e agrave corrupccedilatildeo bem como as modificaccedilotildees ocorridas durante o periacuteodo de desenvolvimento isto eacute durante o movimento ininterrupto de suas existecircncias A compreensatildeo de phyacutesis nos seus diver-sos modos de realizaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel para um sistema de pensamento que trabalha positivamente as noccedilotildees de tyacuteche e anaacutenke
ὑγιαίνειν hyguiaiacutenein (v inf)- SV 54
Ter sauacutede
ὑγίεια hyguiacuteeia (sf)- 128 131 138 (504 Us)
Sauacutede
φιλία philiacutea (sf)- 120 XXVIIXXVIII SV 23 S28S34 S39 S52 S78
Amizade A philiacutea eacute uma forma voluntaacuteria e prazeirosa de se relacionar com os outros Cada indiviacuteduo busca agrupar--se num conjunto ou seja agregar-se segundo a natureza
Ethicaacute
152 153
Mas o saacutebio busca o conviacutevio com afins por natureza mas tambeacutem por conveniecircncia (opheacuteleia) O que conveacutem a todos eacute natildeo sofrer danos mas para o saacutebio eacute preciso tambeacutem livrar--se da ignoracircncia e das crenccedilas vazias que levam os homens a cometerem injusticcedilas uns aos outros Desse modo a amiza-de filosoacutefica eacute diferente das relaccedilotildees que comportam atitudes que levam ao desconforto e produzem o desequiliacutebrio O que eacute conveniente (syacutempheron) eacute semelhante na atitude e na reflexatildeo Haacute uma medida um caacutelculo um sentido de harmonia para realizar a amizade A amizade eacute na praacutetica a sabedoria de viver em conjunto A amizade resulta do equi-liacutebrio de interesses daqueles implicados na relaccedilatildeo Ela nasce de maneira espontacircnea mas se consolida pela reflexatildeo acerca da naturalidade da vida em conjunto e do comedimento que equilibra os modos de agir esta eacute uma possiacutevel interpretaccedilatildeo do que Demoacutecrito pensou sobre a amizade ldquoAcordo no pen-sar engendra a amizaderdquo (DK B II 33 9)
A philia supotildee uma afinidade de pensamento e tambeacutem de accedilatildeo uma vez que as relaccedilotildees se efetivam na busca em conjunto da physiologiacutea da compreensatildeo da realidade Neste sentido a praacutetica de vida eacute saacutebia e o saber se faz em torno da vida Epicuro manteacutem a naturalidade da amizade e faz dela a base do movimento de agregaccedilatildeo social Sendo possiacutevel a amizade tambeacutem seraacute o direito e a poliacutetica O direito eacute fruto da relaccedilatildeo entre phyacutesis e noacutemos e a poliacutetica se realizaraacute no acordo entre semelhantes Na praacutetica Epicuro pensou em comunidades de pensamento e accedilatildeo De alguma manei-ra ele buscou tornar possiacutevel uma comunidade de amigos estabelecendo uma descontinuidade com o espaccedilo puacuteblico das cidades A philiacutea que eacute a base das relaccedilotildees existentes na comunidade natildeo eacute a priori fruto de um contrato uma vez
Terceira parte
154 155
que eacute imanente agrave natureza O contrato eacute uma consequecircn-cia eacute um acordo entre modos de pensar Mas o que move o pensamento na realizaccedilatildeo do acordo eacute o sentimento de equi-liacutebrio seguranccedila e a tranquilidade que a amizade produz Portanto a amizade brota de desejos naturais e necessaacuterios e se expressa no loacutegos sob a forma de acordos que satildeo estabe-lecidos segundo a conveniecircncia muacutetua (opheacuteleia) Pensar-se a si proacuteprio e ter o princiacutepio de suas accedilotildees em si mesmo qua-lifica o homem para a aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo da amizade De outra maneira no vazio das reflexotildees satildeo projetadas as falsas opiniotildees ou opiniotildees vazias que alimentam crenccedilas e desejos imoderados agraves vezes naturais agraves vezes natildeo mas quase sempre desnecessaacuterios Esses desejos crenccedilas e falsas opiniotildees cumulam em injustas agressotildees disputas pelo po-der desconfianccedila insensatez e anguacutestia ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacuteprocas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto no sentido de natildeo prejudicar nem de ser prejudicadordquo (DL X 150) E tambeacutem ldquoPara todos os seres vivos incapazes de estabelecer pactos com o intuito de natildeo prejudicar os outros e de natildeo ser prejudicados nada era justo ou injusto Acontece o mesmo em relaccedilatildeo aos povos que natildeo podiam ou natildeo queriam estabelecer pactos destinados a natildeo prejudicar e natildeo ser prejudicadosrdquo (DL X 150)
Eacute preciso entretanto atentar para o que assevera Epicuro que natildeo foi nem pretendeu ser um pensador poliacutetico Ele orientou o modo de vida filosoacutefico pela philiacutea A conveni-ecircncia muacutetua aleacutem de propiciar o pacto de natildeo sofrer nem cometer danos uns aos outros daacute sentido agrave uniatildeo entre os homens que se caracteriza pela afinidade e natildeo pela simples contenccedilatildeo das diferenccedilas ldquoToda a amizade deve ser buscada
Ethicaacute
154 155
por ela mesma mesmo que ela tenha sua origem na necessi-dade de uma ajudardquo (SV 23)
Epicuro mais uma vez marcando uma diferenccedila em relaccedilatildeo aos cirenaicos natildeo reduz a amizade ao seu caraacuteter utilitaacuterio mas afirma a conveniecircncia inerente agrave busca e manutenccedilatildeo da amizade Para ele que concorda com Aristoacuteteles o saacutebio pode proporcionar ao outro homem uma amizade digna dos me-lhores homens ou daqueles dotados de logismoacutes e de phroacutenesis pois a amizade que nasce da conveniecircncia tambeacutem se ali-menta dela ou seja ela produz acordo entre ideias e atitudes Tambeacutem para Epicuro o propoacutesito da amizade eacute o de ser na praacutetica a comunhatildeo de uma mesma filosofia Neste sentido eacute iacutentima a relaccedilatildeo entre a amizade e o bem que eacute o prazer pois dentre outras coisas a amizade mostra-se isenta de pai-xotildees tais como o oacutedio o rancor e a veneraccedilatildeo Aleacutem disso a amizade natildeo cumula em reaccedilatildeo pois eacute a expressatildeo de uniatildeo e equiliacutebrio entre aqueles que se afinam mutuamente pela natureza de caraacuteter e sabedoria ldquoAquele que eacute bem-nascido se dedica principalmente agrave sabedoria e agrave amizade dois bens dos quais um eacute mortal e o outro imortalrdquo (SV 78)
φιλόλογος philoacutelogos (ad)- S74
Aquele que busca argumentos ou raciociacutenios
φιλοσοφία philosophiacutea (sf) 22(138 Us) 132 SV 27 S41 117 Us219 Us 221 Us
Filosofia Na maacutexima 41 Epicuro utiliza este termo associa-do agrave oacuterthes (reta) com a intenccedilatildeo clara de mostrar que esta ldquoreta filosofiardquo deve ser praticada em todo momento para que a vida se torne justa bela e saacutebia A filosofia eacute definida
Terceira parte
156 157
como um saber em torno da vida no sentido de ser um exer-ciacutecio de bem viver
φιλόσοφος philoacutesophos (sm)- 221 Us
Filoacutesofo
φρόνησις phroacutenesis (sf)- 132
Sensatez sabedoria praacutetica Epicuro utiliza o termo phroacutenesis num sentido muito similar agravequele desenvolvido por Aristoacuteteles ou seja como sabedoria praacutetica Ele atribui agrave phroacutenesis a prima-zia na realizaccedilatildeo da vida filosoacutefica ou saacutebia A teacutechne eacute o modo de accedilatildeo e a filosofia eacute o exerciacutecio desse saber em torno da vida (techne tis perigrave tograven biacuteon) Assim a phroacutenesis eacute o exerciacutecio praacutetico da sabedoria (epigrave degrave philosophiacuteas) e num sentido abrangente da atividade filosoacutefica coincide com a proacutepria filosofia
Haacute uma passagem na Carta a Meneceu (DL X 132) onde Epicuro utiliza o termo phroacutenimos para significar aquele que deteacutem uma sabedoria no agir Eacute um momento em que fica clara a influecircncia socraacutetico-platocircnica pois aproxima e faz co--pertencer a um mesmo acorde phroacutenimos kaloacutes ediacutekaios (o saacutebio o bom e o justo)(vide supra δίκαιος nesta mesma parte) Tais noccedilotildees fundam uma seacuterie de relaccedilotildees no pensamento antigo e se mantecircm coesas no texto de Epicuro Eacute ao mesmo tempo uma dyacutenamis e uma possibilidade do pensamento quando este exerce o seu poder de escolha e de recusa Epi-curo considera que se pode escolher o que eacute ponderadamente refletido e recusar o que natildeo eacute necessaacuterio nem conveniente (syacutempheron) A condiccedilatildeo da autaacuterkeia eacute agir aliando o logismoacutes e a phroacutenesis pois a phroacutenesis age na triagem dos desejos que se quer e que se pode realizar na medida em que confere uma
Ethicaacute
156 157
medida natural para o bem-estar e para o prazer A phroacutenesis eacute moduladora das accedilotildees e dos desejos naturais e necessaacuterios que nos conduzem aos prazeres
Outra consequecircncia da primazia da phroacutenesis no exerciacutecio da sabedoria eacute que o esforccedilo para pensar a phyacutesis e o equiliacutebrio sereno diante do que pode causar temores provoca a agradaacute-vel ataraxiacutea um bem-estar (eustaacutetheiavide supra εὐστάθεια nesta mesma parte) Epicuro traccedila a imagem da vida filosoacutefica como vida autaacuterquica e daacute ao pensamento uma dyacutenamis a realizaccedilatildeo da conduta de acordo com a natureza ou do que se adquire com a physiologiacutea O que perturba enfraquece escraviza eacute a ignoracircncia que gera temores e opiniotildees vazias Viver segundo a natureza aqui quer dizer viver segundo a compreensatildeo que se pode ter da phyacutesis A physiologiacutea eacute um exerciacutecio para escapar agrave ignoracircncia e natildeo a substantivaccedilatildeo da natureza como uma noccedilatildeo estaacutetica cientificista ldquoEacute pela ignoracircncia dos bens e dos males que a vida dos homens eacute em grande escala perturbada e por causa desta erracircncia eles frequentemente se privam dos prazeres e se torturam com as mais crueacuteis dores da almardquo43 ldquoUm entendimento correto dessa teoria permitir-nos-aacute dirigir toda a escolha e toda a rejeiccedilatildeo com vistas agrave sauacutede do corpo e agrave tranquumlilidade da alma pois isso eacute o que se pode supremamente realizar na vidardquo (DL X 128) ldquoQuando entatildeo dizemos que o prazer eacute o fim () por prazer ltentendemosgt a ausecircncia de sofrimentos no corpo e a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na almardquo (DL X 131)
φρονίμως phroniacutemos (adv)- 132 V
Sabiamente sensatamente
43 Ciacutecero De Finibus I 13 42
158 159
Terceira parte
158 159
φυγή phygeacute (sf) - 128 129 132 XXV
Rejeiccedilatildeo recusa fuga
χαρά charaacute (sf)- 66 SV 81 2 Us
Gozo alegria
χάρις charis (sf)- 77 122 I SV 17 SV39 SV55
Benevolecircncia graccedila
χρεία chreiacutea (sf)- 120 87 128 XXXVII SV 34
Necessidade precisatildeo uacutetil
χρῆσις chreacutesis (sf)- 131
Ocupaccedilatildeo
χυλός chyloacutes (sm) 130
Frugal
ὠφέλεια opheacuteleia (sf)- 124 SV 23
Conveniecircncia muacutetua benefiacutecio utilidade No pensamento de Epicuro este termo estaacute relacionado agrave philiacutea (amizade) (vide supra φιλία nesta mesma parte) e pode ser traduzido em determinadas passagens por ldquoconveniecircncia muacutetuardquo Por outro lado pode ser traduzido por ldquoutilidaderdquo no sentido de algo que devas ser buscado ou praticado com a finalidade de viver
Referecircncias Bibliograacuteficas
158 159158 159
referecircnciAS BiBliograacuteficAS
Textos de Epicuro
Arrighetti G Epicuro Opere Torino Giulio Einaude 1960
Bignone E Opere frammenti testimonianze sulla sua vita Roma LrsquoEr-ma di Bretscheider 1964
Bollack J amp Wismann H La lettre d`Eacutepicure Paris Les Editions de Minuit 1971
mdashmdashmdash amp Laks A Eacutepicure agrave Pythoclegraves Cahiers de Philologie Paris Les Editions de Minuit 1975
mdashmdashmdash La penseeacute du plaisir Eacutepicure textes moraux commentaires Paris Les Editions de Minuit 1975
Conche M Epicure lettres et maximes Paris eacuted De Megare1977
Epicuro Antologia de textos In Epicuro et al Satildeo Paulo Abril Cul-tural1980
mdashmdashmdash The works of Epicurus The extant remains of the greek text trans-lated by Cyril Bailey with an introduction by Irwin Edman Nova Iorque The Limited Edition 1947
mdashmdashmdash Obras Completas 2ordf ed Trad Joseacute Vara Madri Ediccedilotildees Caacutet-edra 1996
Laursen S The summary of Epicurus On Nature Book 25 Papyrologia Lupiensia Lecce 1 1991 142-154
Parente M I Opere di Epicuro Torino Unione Tipografico-Editrice Torinese 1974
Salem J laquo Commentaire de la lettre drsquoEpicure agrave Heacuterodote raquoCahiers de Philosophie ancienne nordm9 Bruxelles Editions Ousia 1993
Solovine M Epicure doctrine et maxims Paris 1965
Wotke K amp Usener H Epikureische Spruchsammlung Wierner Stu-dien fuumlr Klassiche philologie 10 1888 p 175-201
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Outros autores antigos
Aristoacuteteles De anima Trad Maria Ceciacutelia Gomes dos Reis Satildeo Paulo Editora 34 2006
mdashmdashmdash De la geacuteneacuteration des animauxTrad P Louis Paris Les Belles Lesttres 1901
mdashmdashmdash Eacutethique agrave Nicomaque Trad J Voilquin Paris Garnier 1961
mdashmdashmdash Nicomachean Ethics Londres Ed Willian Meinemann Har-vard University Press 1939
mdashmdashmdash Histoire des Animaux Trad P Louis Paris Les Belles Lettres 1964
mdashmdashmdash Petits traiteacutes drsquohistoire naturelle Trad R Mugnier Paris Les Belles Lettres 1953
Lucreacutecio Da Natureza In Epicuro et al Trad Agostinho da Silva Satildeo Paulo Abril Cultural1980
Cicero De finibus bonorum et malorum Trad H Rackham MA Lon-dresNova Iorque William HeinemannThe Macmillan CO 1914
Ciceacuteron De La Natura des Dieux Trad Nouv notes par C Appuhn Paris Garniersd
mdashmdashmdash Lrsquoamitieacute Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 1952
mdashmdashmdash Les Devoirs Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 196570
Diocircgenes Laecircrtios Vidas e doutrinas dos filoacutesofos ilustresTrad Gama Kury Brasiacutelia UNB 1988
Diogenes Laertius Lives of eminent philosophers Vol 2 Trad R Hicks Cambridge Havard University Press1925
Filodemo Agli amici di scuola Naacutepoles Bibliopolis 1988
mdashmdashmdash Memorie Epicuree Naacutepolis Bibliopolis 1997
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Hippocrates Works (I VII) London Harvard University Press 1988
Lucreacutece De la Nature Paris Garnier 1954
Grene D amp Lattimore R The Complete Greek Tragedies of Aeschylus The University of Chicago Press 1959
Philodemus On the frank criticism Trad David Konstan et al Atlanta Society of Biblical Literature 1998
mdashmdashmdash On the methods of inference Naacutepoles Bibliopolis 1978
Platatildeo As Leis ou da legislaccedilatildeo e Epinomis Trad de Edson Bini 2ordf ediccedilatildeo Bauru SP Edipro 2010
Plutarque Du stoicisme et lrsquoepicurisme Trad Ricard Didier Apresenta-ccedilatildeo e notas Jean Salem Paris Eacuteditions Sand 1996
mdashmdashmdash Contre Colotes In Ouvres morales et ouvres diverses IV Paris Manchete 1970
Sextus Empiricus Contre les professeurs Editions du Seuil 2002
Seneca AD Lucilium Epistulae Morales Trad Richard M Gummere LondresNova Iorque William Heinemann G P Putnamrsquos sons 1925
Smith MF Fragments of Diogenes of Oenoanda Discovered and Redis-covered American Journal of Archaeology Vol 74 nordm1 (Jan 1970) p 51-72
Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Ellias Pinheiro Coimbra CECH 2009
Estudos modernos
Baudry J Le problem de lrsquoorigine et de lrsquoeterniteacute du monde dans la philo-sophie grecque de Platon agrave lrsquoegravere chreacutetienne Paris Les Belle Lettres 1931
Bayley C Epicurus the extant remains Oxford 1926
mdashmdashmdash The Greek atomists and Epicurus Oxford 1928
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Bignone H LrsquoAristotele perdugraveto e la formazione filosofica di Epicuro Flo-renccedila 1936
Bergson H L Extraits de Lucreacutece avec notes et une eacutetude sur la poeacutesie la philosophie la physique le texte et la langue de Lucregravece 10 ed Paris De La Grave sd
Bnobzie S Did Epicurus discover the free will problem In Sedley D (Org) Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Oxford University Press 19 287-337 2000
Boyanceacute P Lucregravece et lrsquoeacutepicurisme Collection ldquoLes grands penseursrdquo (dirigeacutee par P-M Schuhl) Paris PUF 1963
Brown E Politcs and society In WARREN J (Org) The Cambridge companion to epicureanism Cambridge Cambrigde University Press 2009
Brun J O Epicurismo Lisboa 70 1989
mdashmdashmdash Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Conche M La mort et la penseacutee Editons de Meacutegare 1973
Dewitt N St Paul and Epicurus Mineaacutepolis University of Minnesota Press 1954
mdashmdashmdash Epicurus and his philosophy Mineaacutepolis University of Minne-sota Press 1954
Diogini I Lucrezio le parole e le cose Bolonha Ed Paacutetron 1988
Duvernoy J-F O Epicurismo e sua tradiccedilatildeo antiga Satildeo Paulo Zahar 1990
Etienne A Dominic O La philosophie eacutepicurienne sur Pierre Fribur-goParisEacutedition Universitaires Fribourg Suisse Eacutedition du Cerf Paris 1996
Farrington B A doutrina de Epicuro Trad de Edmond JorgeRio de Janeiro Zahar Editores 1967
mdashmdashmdash The faith of Epicurus Londres Weidenfeld and Nicholson 1967
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Festugieacutere A-J Eacutepicure et ses dieux Paris Presses Universitaires de France 1946
Finley M I Os Gregos antigos Trad Artur Mouratildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2002
Furley D J Two studies in greek atomists Princeton University Press 1967
Gigandet A Morel P-M (Orgs) Ler Epicuro e os epicuristas Satildeo Paulo Loyola 2011
Gigante M Studisull`epicureismo greco-romano Naacutepoles 1983
mdashmdashmdash La bibliothegraveque de Philodegraveme et lrsquoepicurisme romain Paris Soci-eacuteteacute DrsquoEacutedition Les Belle Lettres 1987
Goldschmidt V La Doctrine drsquoEpicure et le droit Paris Vrin 1977
Gual C G Epicuro Madrid Alianza Editorial 1981
Guyau J -M La morale drsquoEacutepicure et ses rapports avec les doctrines con-temporaines Paris Librairie Feacutelix Alcan 1927
Jaeger W Paideacuteia a Formaccedilatildeo do Homem Grego Trad Artur M Par-reira Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
Long A A Sedley D N The Hellenistic philosophers v1 Cambridge Cambridge University Press 1987
Konstan D Some aspects of Epicurean psychology Leiden Brill 1973
Laks A Edition critique et commenteacutee de la ldquoVierdquo drsquoEpicure das Diogegravene Laerce Cahiers de Philologie 1 Eacutetudes sur lrsquoepicurisme AntiquePublications de lrsquoUniversiteacute de Lille III 1976
Marx K Diferenccedila entre as filosofias da Natureza em Demoacutecrito e Epicuro Satildeo Paulo Globalsd
Masi F G Epicuro e la filosofia della mente il XXV libro dellrsquoopera Sulla Natura Sankt Augustin Academia Verlag 2006
Mewaldt J O Pensamento de Epicuro Satildeo Paulo Iacuteris 1960
Mondolfo R O homem na cultura antiga a compreensatildeo do sujeito humano na cultura antiga Trad Luiz Caruso Satildeo Paulo Edi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
tora Mestre Jou 1968
mdashmdashmdash O infinito no pensamento da antiguidade claacutessica Trad Luiz Da-roacutes Satildeo Paulo Editora Mestre Jou 1968
Morel P-M Deacutemocrite et la recherche des causes Langres Klincksieck 1996
mdashmdashmdash Eacutepicure Paris Librarie philosophique J Vrin 2013
mdashmdashmdash Atome et neacutecessiteacute Deacutemocrite Eacutepicure Lucregravece Paris Presses Universitaires de France 2000
Nizan P Les Mateacuterialistes de lrsquoAntiquiteacute Deacutemocriteacute Eacutepicure Lucregravece Paris Eacuted Sociales Internationales 1938
Nussbaum M The therapy of desire theory and practice in hellenistic ethics Princeton Princeton University Press 1994
Orsquokeefe T Epicurus on Freedom Nova Iorque Cambridge University Press 2005
mdashmdashmdash Epicurianism Durham Acumen 2010
Paratore E Lrsquoepicureismo e la sua diffusione nel mondo latino Roma Ed dellrsquoAteneo 1960
Pessanha J A M As deliacutecias do jardim In Eacutetica Satildeo Paulo Cia Le-tras 1992 pag 57-85
Pesce D Introduzione a Epicuro Bari Editori Laterza 1981
mdashmdashmdash Saggio su Epicuro Bari Editori Laterza 1974
Pigeuad J La Maladie de Lrsquoame Paris Les Belles Lettres 1989
Quevedo F Defesa de Epicuro contra la comuacuten opinioacuten Madrid Tec-nos1986
Ridder A Lrsquoideacutee de la mort en Gregravece a lrsquoepoque classique Paris Librarie Thorin et Fils 1897
Risst John Epicurus an introduction Cambridge University Press 1972
Robin Leon La penseacutee grecque Paris Eacuteditions Albin Michel 1948
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
(Livre IV chapitre II Lrsquoeacutepicurism p 387-408)
Romilly J La Gregravece antique a La deacutecouverte de la liberteacute Paris LGF Livre de Poche 1989
Salem J Lucregravece et lrsquoeacutethique la mort nrsquoest rien pour nous Paris J Vrin 1997
mdashmdashmdash Deacutemocrite EacutepicureLucreacutece la veacuteriteacute du minuscule Paris Encre Marine 1998
mdashmdashmdash Tel un dieu parmi les hommes Lrsquoethique drsquoEacutepicure Paris Librai-rie Philosophique J Vrin 1994
Santayana G Three philosophical poets Cambridge Harvard University Press 1947
Silva M F Epicuro Sabedoria e Jardim Rio de Janeiro Relume Du-maraacute 1998
mdashmdashmdash Pensamento e imagem na Carta a Heroacutedoto de Epicuro In Pimenta MTeorias da Imagem na Antiguidade Satildeo Paulo Paulus 2012
mdashmdashmdash Prazer e vida feliz em Epicuro In Costa A A Hadad A B Azar Filho C M (Org) Filosofia e Prazer diaacutelogos com a tradiccedilatildeo hedonista 1ed Seropedica Edur 2012 v 01 p 87-92
mdashmdashmdash Sensaccedilotildees impressotildees projeccedilotildees as afecccedilotildees do pensamento In Conte J Bauchwitz O F (Org) O que eacute Metafiacutesica atas do III Coloacutequio internacional de metafiacutesica 1ordf ed Natal Edufrn 2011 v 01 p 261-266
mdashmdashmdash Lathe Biacuteosas autaacutekeia libertagrave e amicizia in Epicuro In Cor-nelli G Casertano G (Org) Pensare la cittagrave antica categorie e representazioni 1ordf ed Naacutepoles Loffredo Editore 2010 v 1 p 163-174
mdashmdashmdash O atomismo antigo e o legado de Parmecircnides In Santoro F Cairus H F Ribeiro T O (Org) Parmecircnides 1 acerca do poema de Parmecircnides 1edRio de Janeiro Azougue 2009 v
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
1 p 165-174
mdashmdashmdash Sabedoria e sauacutede do corpo em Epicuro In Peixoto M C D (Org) A sauacutede dos antigos reflexotildees gregas e romanas 1ordf ed Satildeo Paulo Loyola 2009 v 1 p 153-162
mdashmdashmdash Do equiliacutebrio do corpo ou de como o corpo eacute pensado enquanto questatildeo filosoacutefica In Peixoto M C D (Org) Sauacutede do ho-mem e da cidade na antiguidade grecoromana 1ordf ed Belo Ho-rizonte UFMG 2007 v 01 p 189-198
mdashmdashmdash Demoacutecrito Esquecido In Bezerra C C (Org) Anais do I En-contro Nacional de Estudos Neoplatocircnicos- Ontologia e Liber-dade 1ordf ed Aracaju UFS 2006 v 1 p 74-80
mdashmdashmdash Epicuro e a physiologiacutea In Bonaccini J A Medeiros M P N Silva M F Bauchwits O F (Org) Metafisica Histoacuteria e Problemas 1ordf ed Natal EDUFRN 2006 v 01 p 219-230
mdashmdashmdash Acerca de uma Eacutetica do Agradaacutevel In Silva MF(Org) Cafeacute Filosoacutefico 1ordf ed Natal EDUFRN 2005 v 3 p 47-64
mdashmdashmdash Amizade Prazer e Filosofia In Bauchwitz O F (Org) Cafeacute Filosoacutefico Natal Argos 2001 v 1 p 131-136
Silvestre M L Democrito e Epicuro il senso di una polemica Napoli Lofredo Editore 1985
Stirner Max LrsquoUnique et sa proprieteacute Paris 1900
Strozier RM Epicurus and Hellenistic philosophy Lanham Md Ed University Press of America 1985
Ullmann R Epicuro O filoacutesofo da alegria Porto Alegre Epipucrs 1966
Usener H Glossarium Epicureum Cura de M Gigante e W Schmid Roma Edizioni DellrsquoAteneo e Bizarr 1977
Voelke A-J La Philosophie comme theacuterapie de lrsquoame FriburgoEditions Universitaires de Fribourg 1993
Warren J (Org) The Cambridge Companion to Epicureanism Nova Iorque Cambridge University Press 2009
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
Usener H Epicurea Estugarda E G Teubner 1966
Teses e dissertaccedilotildees
Barbosa RS A relaccedilatildeo entre as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia na filosofia de Epicuro 2014 117 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2014
Braatz J O pensamento eacutetico em Epicuro 2007 113 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2007
Freire A J G A natureza da alma e o clinamen accedilatildeo e liberdade em Lucreacutecio 2014 191 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal-RN 2014
Nascimento R V O corpo no pensamento de Epicuro limites e possi-bilidades 2011 154f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rocha E S A morte pode ser conhecida percurso em torno da compre-ensatildeo da mortalidade na filosofia de Epicuro 2011 162 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rovaris T R O projeto epicurista antiaristoteacutelico de Pierre Gassendi Sal-vador Universidade Federal da Bahia 2007
Artigos
Arrighetti Graziano - Filodemo Περὶ θεῶν III fr 74-82 Pap Herc 157 Sul problema dei tipi divini nellrsquoepicureismo La Parola del Passato 10 (1955) p 322-356 et 404-415
Bastide G Lrsquoestheacutetisme de Lucregravece Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 143-161
Bulhotildees I C Tograve Dikaioacuten Epicuro acerca do justo Hypnos Satildeo Paulo nuacutemero 22 1ordm semestre 2009 p 98-119
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
Breacutescia C Contributo allo studio linguistico dei testi epicurei Athenaeum NS 27 (1949) 281-298
Caujolle-Zaslawsky F Le temps eacutepicurien est-il atomiqueLes Eacutetudes Phi-losophiques 3 julho-setembro de 1980 pag 285-306
Clay D A lost Epicurean Community Greek Roman and Byzantine Studies volume 30 nordm 2 1989 313-335
Diano C Epicuri Ethica Aedibius Sansionanis Florenccedila 1966
mdashmdashmdash Epiacutecure la philosophie du plaisir et la socieacuteteacute des amis Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril-junho de 1967 pag173-186
DI Vona P Per una storia dellrsquo epicureismo La parola del passato 34 (1979) 313-320
Escoubas E Asceacutetisme eacutepicurien Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 163-172
Fernaacutendez E M Acerca de una eacutetica epicuacutereo-sartriana Pensamiento 169 vol 43 1987 37-51
Flaceliegravere R Les Eacutepicuriens et lrsquoamour Revue des Eacutetudes Grecques tome 67 fascicule 314-315 Janvier-juin 1954 pp 69-81
Gabaude J-M Sur Epicure et lrsquoepicurisme (l) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 4 abril-maio de 1975 pag 11-17
mdashmdashmdash Le jeune Karl Marx lecteur drsquoEpicure (ll) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 5 junho-julho de 1975 pag 01-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 6 agosto-setembro de 1975 pag 23-29
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lV) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 1 outubro-novembro de 1975 pag 10-20
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (V) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 2 dezembro de 1975 - janeiro de 1976 pag 03-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vl) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 3 fevereiro-marccedilo de 1976 pag 03-10
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
losophique 4 abril-maio de 1976 pag 19-37
Giesecke A L Beyond the garden of Epicurus the utopics of the ideal roman village Utopian Studies Vol 12 (2) 2001 pag 13-32
Gobry I La sagesse drsquoEpicure Les Eacutetudes Philosophiques 1 janeiro-mar-ccedilo de 1976 pag 79-90
Kleve K The Epicurean Isonomia and its Sceptical Refutation Symbolae Osloenses Vol LIV 1979 pp 27-35
mdashmdashmdash Empiricism and Theology in Epicureanism Symbolae Osloenses 52 no 1 (1977) 39-51
Maurice P Epicureanism and the atomic swerve Symbolae Osloenses 50 LXI 1986 77-98
Mazzeo J A Dante e Epicuro Comparative Literature vol 10 2 pri-mavera de 1958 pag 106-120
Moreau J Le meacutecanisme eacutepicurien et lrsquoordre de la nature Les Eacutetudes Phi-losophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 467-486
Renault A Eacutepicure et le probleacuteme de lrsquoecirctre Les Eacutetudes Philosophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 435-465
Rodis-Lewis G Nature et civilization das lrsquoepicurisme Les Eacutetudes Philo-sophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 415-433
Rosenbaun S Epicurus and anihilation The philosophical Quartely vol39 154 janeiro de 1989pag 81-90
Salem J Commentaire de la lettre drsquoEpicure a Meacuteneacuteceacutee Revue philosophi-que 3 julho-setembro 1993 pag 513-549
Sedley D Epicurus refutation of determinism SydzetesisStudi sullrsquo epicu-reiacutesmo greco e romano offerti a Marcello Gigante Naacutepoles 1983 11-51
mdashmdashmdash Lrsquoanti-reacuteductionnisme eacutepicurien Trad Dao A amp Morant CLes Cahiers Philosophiques de Strasbourg Paris Librarie J Vrin phi-losophique 2003 321-359
Silva M F A morte como perda da subjetividade Revista Princiacutepios
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
UFRN 3 julho-dezembro de 1995 140-146
mdashmdashmdash Um Banquete Frugal a Influecircncia Socraacutetico-Platocircnica em Epi-curo Revista ARCHAI As origens do pensamento ocidental v 9 p 117-122 2012
mdashmdashmdash Alma e movimento ou sobre a physiologia da alma Perspectiva Filosoacutefica (UFPE) v II p 167-176 2010
mdashmdashmdash Seduccedilatildeo e persuasatildeo os ldquodeliciososrdquo perigos da sofiacutestica Ca-dernos do CEDES (UNICAMP) Campinas v 64 2004
mdashmdashmdashLoacutegos peri hedoneacute Hodos Estudos de Cultura Claacutessica v 1 n 1 p 9-25 2000
mdashmdashmdash A noccedilatildeo Epicuacuterea de Eustatheacuteia e a tegravechne heacute ietrikeacute Revista Princiacutepios UFRN v 5 n 6 p 14-154 1998
mdashmdashmdash A Compreensatildeo de Physis no Pensamento de Epicuro Iacutetaca Cadernos de Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
mdashmdashmdash Epicuro e a morte como perda da subjetividade Revista Prin-ciacutepios UFRN v 2 n 3 p 140-146 1995 116
mdashmdashmdash O eacutethos do equiliacutebrio ou do exerciacutecio da sabedoria Kleos-Re-vista de Filosofia Antiga 1ordf ed Rio de Janeiro 2000 v 4 p 183-188
Silveira P F A medicina da alma de Epicuro a medicina como forma de terapia Psykhecirc Satildeo Paulo 10 200521-27 Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
Spinelli M De Narciso a Epicuro do emergir ao resgate da individua-lidade Hypnos nordm 25 Satildeo Paulo 2010 p 194-210
Surtz E L Epicurus in utopia ELH vol 16 2 junho de 1949 pag 89-103
Ullmann R A teologia de Epicuro Textos de cultura claacutessica 2 1987
Vander Waerdt P The Justice of the Epicurean Wise Man Classical Quar-terly ns 1987 37 40222
Vianna S Sobre o epicurismo e suas origens Kriterion 65 janeiro-
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
-dezembro 1965 pag 47-64
Waggle L J Epicurus phisichological or ethical hedonistRevista de Filo-sofiacutea vol 25 57 dezembro de 2007
Dicionaacuterios e Manuais
Balaudeacute J-F Le vocabulaire des Preacutesocratiques Paris Ellipses 2011
mdashmdashmdash Le vocabulaire drsquoEacutepicure Paris Ellipses 2012
Benveniste Le vocabulaire des instituitions indo-europeacuteenes I Economie parenteacute socieacuteteacute II pouvoir droit religion Paris Les Eacuteditions de Minuit 1969
Chantraine P Dictionnaire Eacutetymologique de la langue grecque Paris Klincksieck 1999
Gobry I Vocabulaacuterio grego da filosofia Trad Ivone C Benedetti Satildeo Paulo WMFMartins Fontes 2007
Isidro Pereira SJ Dicionaacuterio grego-portuguecircs e portuguecircs-grego Bra-ga Livraria AI 1998
Lidell HG amp Scott R Greek-english lexicon with a revised supplement Oxford Clarendon Express 1996
Murachco H Liacutengua grega visatildeo semacircntica loacutegica orgacircnica e funcional 3ordf ediccedilatildeo Satildeo PauloPetroacutepolis Discurso EditorialEditora Vo-zes 2007
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
172 173172 173
coleccedilatildeo autores gregos e latinos ndash seacuterie ensaios
1 Carmen Soares Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Eacutetica e Paideia em Plutarco (Coimbra CECH 2008)
2 Joaquim Pinheiro Joseacute Ribeiro Ferreira e Rita Marnoto Caminhos de Plutarco na Europa (Coimbra CECH 2008)
3 Claacuteudia Teixeira Delfim F Leatildeo and Paulo Seacutergio Ferreira The Satyricon of Petronius Genre Wandering and Style (Coimbra CECH 2008)
4 Teresa Carvalho Carlos A Martins de Jesus Fragmentos de um Fasciacutenio Sete ensaios sobre a poesia de Joseacute Jorge Letria (Coimbra CECH 2009)
5 Delfim Ferreira Leatildeo Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Cidadania e Paideia na Greacutecia Antiga (Coimbra CECH 2010)
6 Maria de Faacutetima Silva and Susana Hora Marques Tragic Heroines on Ancient and Modern Stage (Coimbra CECH 2010)
7 Aacutelia Rosa Rodrigues Carlos A Martins de Jesus Rodolfo Lopes Intervenientes Discussatildeo e Entretenimento No Banquete de Plutarco (Coimbra CECH 2010)
8 Luiacutesa de Nazareacute Ferreira Paulo Simotildees Rodrigues e Nuno Simotildees Rodrigues Plutarco e as Artes Pintura Cinema e Artes Decorativas (Coimbra CECH 2010)
9 Nair Castro Soares Margarida Miranda Carlota Miranda Urbano (Coord) Homo eloquens homo politicus A retoacuterica e a construccedilatildeo da cidade na Idade Meacutedia e no Renascimento (Coimbra CECH 2011)
10 Claacuteudia Teixeira Estrutura personagens e enganos introduccedilatildeo agrave leitura de As Baacutequides de Plauto (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2016)
11 Gregory Nagy O Heroacutei Eacutepico (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2017)
174 PB
12 Markus Figueira da Silva Termos Filosoacuteficos de Epicuro (Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 2018)
O livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais importantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
OBRA PUBLICADA COM A COORDENACcedilAtildeO CIENTIacuteFICA
bull
- Termos Filosoacuteficos de Epicuro
-
- Sumaacuterio
- Prefaacutecio
- Apresentaccedilatildeo
- Introduccedilatildeo
- Auxiacutelio ao leitor
- Primeira parte - Physiologiacutea
- Segunda parte - Physiologiacutea
- Terceira parte - Ethicaacute
- Referecircncias bibliograacuteficas
-
Seacuterie Autores Gregos e Latinos - Ensaios
Trabalho publicado ao abrigo da Licenccedila This work is licensed underCreative Commons CC-BY (httpcreativecommonsorglicensesby30ptlegalcode)
POCI2010
Tiacutetulo Title Termos Filosoacuteficos de EpicuroPhilosophical Terms in Epicurus
Autor AuthorMarkus Figueira da Silva
Orcidhttpsorcidorg0000-0003-3036-6575
Editores PublishersImprensa da Universidade de CoimbraCoimbra University Press
wwwucptimprensa_uc
Contacto Contact imprensaucpt
Vendas online Online Saleshttplivrariadaimprensaucpt
Coordenaccedilatildeo Editorial Editorial CoordinationImprensa da Universidade de Coimbra
Conceccedilatildeo Graacutefica GraphicsRodolfo Lopes
Infografia InfographicsNelson Ferreira
Impressatildeo e Acabamento Printed byKDP
ISBN978-989-26-1611-7
ISBN Digital978-989-26-1612-4
DOIhttpsdoiorg1014195978-989-26-1612-4
Depoacutesito Legal Legal Deposit44659618
Imprensa da Universidade de CoimbraClassica Digitalia Vniversitatis Conimbrigensis httpclassicadigitaliaucptCentro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra
copy setembro 2018
Obra publicada no acircmbito do projeto - UIDELT001962013
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
Philosophical Terms in Epicurus
Markus Figueira da SilvaFiliaccedilatildeo AffiliationUniversidade Federal do Rio Grande do Norte
ResumoO livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais im-portantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanes-centes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Palavras-chaveEpicuro terminologia grega filosofia antiga eacutetica conhecimento natureza
Abstract The book ldquoPhilosophical Terms in Epicurusrdquo brings together all major concepts found in the works of this Greek thinker of the end of the IV century and beginning of the III century BC Taken from the surviving texts of Epicurus the terms were grouped in three sections those being physiology gnosiology and physiology and ethics The glossary of terms will be a valuable research tool to aid in the approach to the surviving texts of the works of Epicurus a Hellenistic philosopher not much studied in the Portuguese language despite the fact that he is one of the fundamental ancient Greek philosophers
KeywordsEpicurus Greek terminology ancient Greek philosophy ethics knowledge nature
Autor
Professor titular de Histoacuteria da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia (PPGFIL) da UFRN Pesquisador do PRAGMAUFRJ
Author
Full Professor of History of Ancient Philosophy at Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Faculty member of the Graduate Program in Philoso-phy (PPGFIL) at UFRN Member of the Research Program in Ancient Philosophy - PRAGMAUFRJ
Sumaacuterio
Prefaacutecio 9
Apresentaccedilatildeo 11
Introduccedilatildeo 15
Auxiacutelio ao leitor 26
Primeira parte 29Physiologiacutea
Segunda parte 69Physiologiacutea
Terceira parte 101Ethicaacute
Referecircncias bibliograacuteficas 159
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Prefaacutecio
8 9
Prefaacutecio
A elaboraccedilatildeo de um vocabulaacuterio comentado sobre a termi-nologia filosoacutefica de Epicuro eacute para a comunidade cientiacutefica tarefa de reconhecido meacuterito e utilidade Embora ela assente de forma inevitaacutevel na consulta dos melhores dicionaacuterios de grego disponiacuteveis permite por um lado uma visatildeo sistemaacutetica de conjunto sobre uma terminologia especiacutefica e por outro uma reflexatildeo sobre os pressupostos que justificam as traduccedilotildees que os diversos dicionaacuterios propotildeem Natildeo se limita portanto a fornecer sinoacutenimos precisos mdash o que em si mesmo jaacute seria um meacuterito apreciaacutevel mdash mas comenta ou historia o percurso de determinados vocaacutebulos o que ultrapassa a convenccedilatildeo de um di-cionaacuterio A esta perspetiva de base o autor do volume propocircs-se acrescentar comentaacuterios elucidativos sobre a sinoniacutemia estabele-cida Para isso foi tida tambeacutem em conta a informaccedilatildeo fornecida por inuacutemeras publicaccedilotildees sob forma de livros ou perioacutedicos que tecircm dedicado ao pensamento de Epicuro e sobretudo ao estudo de aacutereas semacircnticas particulares da liacutengua grega como eacute o caso da filosoacutefica a sua atenccedilatildeo Destes materiais o presente estudo eacute tambeacutem devedor e transmissor na listagem bibliograacutefica que integra Eacute portanto como um elemento de seleccedilatildeo e de precisatildeo de um certo campo semacircntico a linguagem filosoacutefica centrado num autor especiacutefico Epicuro que este volume se apresenta
Natildeo eacute talvez Epicuro pela proacutepria fragilidade e dimensatildeo pequena do corpus que o representa aos olhos da contempora-neidade um autor sobre que a bibliografia disponiacutevel seja mais ampla Aleacutem de muito reduzido esse corpus eacute na sua maioria transmitido de forma indireta o que condiciona de modo
10 11
Prefaacutecio
10 11
evidente o acesso agrave terminologia que poderiacuteamos atribuir a Epicuro Apesar dessas limitaccedilotildees este vocabulaacuterio reuacutene um nuacutemero significativo de termos em parte vindos numa linha de continuidade em relaccedilatildeo a uma terminologia que a filosofia grega foi sedimentando ao longo dos seacuteculos Neste caso o comentaacuterio a incluir valoriza a perspetiva diacroacutenica e procura sobretudo em relaccedilatildeo aos vocaacutebulos com tradiccedilatildeo reconhecida definir nuances inovadoras que testemunhem o proacuteprio fluir do pensamento filosoacutefico Mas sem duacutevida mais expressivos satildeo os casos de haacutepax mdash palavras de ocorrecircncia uacutenica nos textos em anaacutelise mdash ainda que condicionados pela magreza dos testemunhos Estes termos conferem a Epicuro e ao seu pensamento uma identidade proacutepria e destacam nele a capacidade de contribuir para o voca-bulaacuterio especiacutefico da filosofia com palavras novas
Um manual desta natureza seraacute sempre uma proposta em aber-to a ser retocada ou ampliada agrave medida que a proacutepria discussatildeo fi-losoacutefica for prosseguindo ou na hipoacutetese de que novos testemunhos se possam vir a juntar aos atualmente disponiacuteveis Mas o resultado a que neste momento se chegou resulta de anos de recolha e de investigaccedilatildeo e constitui jaacute uma contribuiccedilatildeo a ser publicitada com utilidade entre os especialistas e acadeacutemicos em geral
Deste lsquoVocabulaacuterio filosoacutefico de Epicurorsquo poderatildeo tirar provei-to evidente todos os que se dedicam natildeo apenas ao estudo deste autor concreto mas ao da evoluccedilatildeo do pensamento filosoacutefico e respetiva terminologia investigadores docentes e estudantes Por-que sem pretender ser exaustiva no que respeita ao comentaacuterio dos termos alistados esta proposta eacute mesmo assim um documento de valor inestimaacutevel para a clarificaccedilatildeo das nuances subjacentes a um vocabulaacuterio tatildeo lsquosensiacutevelrsquo como eacute o filosoacutefico
Maria de Faacutetima SilvaUniversidade de Coimbra
Apresentaccedilatildeo
10 1110 11
APreSentAccedilatildeo
Os ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo satildeo o resultado de um projeto de pesquisa que desenvolvi ao longo de vaacuterios anos como atividade paralela a outras produccedilotildees acadecircmicas por mim realizadas no acircm-bito do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Pude contar nesta pesquisa com a colaboraccedilatildeo de quatro bolsistas de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica um bolsista de Mestrado e um outro de Doutorado Devo mencionar os no-mes de Everton da Silva Rocha e Renato dos Santos Barbosa que participaram efetivamente do resultado final deste trabalho Everton colaborou na organizaccedilatildeo e digitaccedilatildeo dos verbetes em grego e Rena-to colaborou na organizaccedilatildeo do livro e na redaccedilatildeo de alguns verbetes a partir da sua pesquisa de mestrado por mim orientada Eles fazem parte deste percurso e do produto final que vem agora a puacuteblico No nome deles eu agradeccedilo os demais alunos que se iniciaram no estu-do da Filosofia de Epicuro mediante a participaccedilatildeo nesta pesquisa
Foi um longo aacuterduo mas prazeiroso caminho que culminou com um estaacutegio de pesquisa que realizei no Centro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra em setembro e outubro de 2016 sob a supervisatildeo da Doutora Maria de Faacutetima Sousa e Silva
O conjunto dos verbetes que aqui se encontra foi dividido em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Reuni desta maneira os termos mais importantes1 para
1 Considero que haacute um grupo de termos que satildeo os conceitos mais traba-lhados no pensamento de Epicuro e os verbetes que lhes satildeo correspondentes apresentam um estudo resumido do papel que desempenham para a originali-dade da sua Filosofia os demais termos satildeo tambeacutem relevantes no que toca ao uso que deles se pode fazer para a traduccedilatildeo direta dos textos gregos
Apresentaccedilatildeo
12 13
um estudo interpretativo de cada uma das partes respeitando a ordem dos textos apresentados no livro X da obra Vidas e Doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres de Dioacutegenes Laeacutercio bem como as Sentenccedilas Vaticanas que foram descobertas posteriormente por Karl Votke em 1888 no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Papiro 1950 Aleacutem destas fontes aproveitei alguns vocaacutebulos extraiacutedos da doxografia antiga e acrescentados por Hermman Usener na sua obra Epicurea Basicamente satildeo estes os textos que constituem a espinha dorsal do pensamento de Epicuro que se mantiveram ao longo dos seacuteculos e satildeo o cerne de toda a pesquisa realizada pelos estudiosos ateacute hoje No seacuteculo XIX com as escavaccedilotildees feitas na Vila dos Papiros em Herculano no Sul da Itaacutelia um conjunto de textos fragmentados a maioria atribuiacuteda a Filodemo de Gadara e outros atribuiacutedos a Epicuro tecircm sido objeto de estudo de diversos especialistas em filologia mas que para o objetivo deste trabalho natildeo acrescentariam muito agrave base sobre a qual se define a filosofia de Epicuro
Eacute sempre difiacutecil reconstituir o todo de um pensamento mantendo a sua clareza e a sua coerecircncia quando a imensa maioria dos textos que foram escritos submergiu agraves vicissitudes do tempo e agraves armadilhas da histoacuteria Entretanto eacute preciso ter apreccedilo pelo teor deste pensamento e pela influecircncia que teve Epicuro sobre as geraccedilotildees que o sucederam ateacute agrave nossa eacutepoca A grande voz latina que fez ecoar a filosofia epicurista por mais de dois milecircnios foi sem duacutevida a do poeta romano Tito Lucreacutecio Caro que escreveu o De Rerum Natura ou Da natureza das Coisas poema em seis livros inacabado Este poema eacute uma fonte preciosa para o estudo do epicurismoPor isso quando existir correspondecircncia entre o termo grego utilizado por Epicuro e o termo latino utilizado por Lucreacutecio ressaltarei sobretudo nos verbetes expandidos esta correspondecircncia Outro fator importante num manual desta natureza eacute fornecer ao leitor a
Apresentaccedilatildeo
12 13
localizaccedilatildeo exata das ocorrecircncias de cada termo nos textos de Epicuro Aleacutem disso ele encontraraacute o termo grafado em carac-teres gregos seguido da transliteraccedilatildeo para caracteres latinos e a sua definiccedilatildeo ou significado Nos termos considerados de maior relevacircncia a definiccedilatildeo seraacute expandida na forma de um pequeno artigo acerca daquela noccedilatildeo Ocorreraacute tambeacutem em alguns termos a observaccedilatildeo ou informaccedilatildeo complementar que indica quando o termo eacute de uso exclusivo em Epicuro ou quando o termo passa a ser utilizado a partir de Epicuro ou quando eacute um termo de uso filosoacutefico apenas ou quando eacute de uso comum a Aristoacuteteles e a Epicuro ou ainda quando recebe um significado metafoacuterico para realccedilar o sentido inovador do seu pensamento Satildeo caracte-riacutesticas da linguagem grega utilizada por Epicuro o que tambeacutem o diferencia dos demais pensadores e inaugura muitas vezes um novo vocaacutebulo ou linha conceitual no acircmbito da filosofia antiga
Achei por bem elencar os termos mais importantes de cada um dos trecircs assuntos da sua obra na parte que lhe eacute correspon-dente Assim na Physiologiacutea estatildeo dispostos os termos referentes ao estudo da phyacutesis Na Gnoseologiacutea e Physiologiacutea pode-se en-contrar os termos que aparecem no iacuteniacutecio da Carta a Heroacutedoto e que correspondem agrave canocircnica ou teoria do conhecimento Na Eacutethica aqueles que correspondem agrave Carta a Meneceu agraves Maacutexi-mas Principais e agraves Sentenccedilas Vaticanas Contudo devo advertir de que muitos termos apareceratildeo repetidamente em mais de uma parte isto porque apresentam um sentido diferente que corresponde agrave funccedilatildeo desempenhada no contexto das frases onde aparecem A minha intenccedilatildeo ao propor esta divisatildeo eacute facilitar o manuseio deste breviaacuterio de termos Assim o usuaacuterio que estiver estudando a Carta a Heroacutedoto por exemplo encontraraacute na parte dedicada agrave Physiologiacutea eou na parte dedicada agrave Gnoseologiacutea e Physiologiacutea (se for o caso da canocircnica) os termos que interessam agrave sua anaacutelise
14 15
Apresentaccedilatildeo
14 15
Espero sinceramente que este vocabulaacuterio de termos filosoacuteficos gregos de Epicuro possa contribuir para a instrumen-talizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra deste pensador que pode ser considerado ainda pouco estudado sobretudo nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Introduccedilatildeo
14 1514 15
introduccedilatildeo
Epicuro filoacutesofo da natureza em busca do equiliacute-brio da liberdade e do prazer
O interesse que me moveu e que certamente move um estu-dante para se aprofundar na leitura dos textos de Epicuro eacute o de esclarecer o sentido maior deste pensamento isto eacute separar o que eacute genuiacuteno de tudo o que foi dito ao longo da histoacuteria em termos de opiniatildeo com forte matiz ideoloacutegico acerca da sua visatildeo de mundo e do seu modo de vida Natildeo haacute como fugir da polecircmica em torno da figura de Epicuro e do que a sua filosofia representou e ainda representa para o desenvolvimento da filosofia ocidental Quem estiver de fato interessado em interpretar para compreender o pensamento em questatildeo precisaraacute ir aos textos gregos originais e a partir daiacute comparar as inuacutemeras traduccedilotildees em diversas liacutenguas que se fizeram e ainda se fazem dos escritos deste pensador Tendo em vista as trecircs cartas as maacuteximas e as sentenccedilas que constituem o cerne da obra epicuacuterea trabalhada pela maioria dos especialistas uma interpretaccedilatildeo criteriosa destes textos produziraacute uma visatildeo sistecircmica do seu pensamento Soma-se a isso os fragmentos dos Papiros Herculaneses a Escrita Sobre Pedra de Dioacutegenes de Enoan-da e o poema De Rerum Natura de Lucreacutecio
Todos estes elementos satildeo imprescindiacuteveis para se obter uma visatildeo orgacircnica do conjunto do pensamento de Epicuro a fim de tornar exequumliacutevel a tarefa do pesquisador que eacute a de produzir uma coerente associaccedilatildeo destes conteuacutedos
Antes de apresentar um comentaacuterio geral dos textos aqui utilizados urge reproduzir um resumo cronoloacutegico da vida de
Markus Figueira da Silva
16 17
Epicuro para que se possa situaacute-lo no contexto do pensamento grego antigo
Cronologia
Epicuro filho de famiacutelia ateniense que pertencia ao demos de Gargeto nasceu em 341 aC em Samos e laacute viveu desde a infacircn-cia ateacute os 18 anos quando em 323 vai a Atenas prestar o serviccedilo militar Quando retornou de Atenas em 322 sua famiacutelia havia sido expulsa de Samos e Epicuro vai encontraacute-la em Coacutelofon Nos anos seguintes parece ter seguido as liccedilotildees de Praxiacutefanes um filoacutesofo peripateacutetico em Rodes Depois estudou com Nausiacute-fanes disciacutepulo de Demoacutecrito de Abdera e possivelmente aluno de Pirro de Eacutelis2 que ensinava em Teacuteos proacuteximo a Coacutelofon3
Em 311 Epicuro comeccedila a ensinar Filosofia em Mitilene na ilha de Lesbos No ano seguinte transfere-se para Lacircmpsa-co onde reuacutene alguns dos mais importantes disciacutepulos que o acompanharatildeo ao longo da sua trajetoacuteria ateacute que em 306 com a idade de 35 anos volta a Atenas e funda o Kecircpos o Jardim que daraacute nome a sua escola e caracterizaraacute a sua filosofia naturalista Em 270 a C Epicuro morre aos 72 anos de idade Cerca de quatorze escolarcas sucederam a Epicuro na direccedilatildeo do Jardim ateacute 44 a C4
A filosofia de Epicuro
Epicuro desenvolveu o seu pensamento a partir de influecircncias que marcaram a sua formaccedilatildeo e moldaram o seu ideal de vida Em primeiro lugar a Physiologiacutea ou a sua compreensatildeo da phyacutesis
2 Filoacutesofo grego do seacutec IV aC contemporacircneo de Epicuro e conside-rado o precursor do Ceticismo
3 Estas cidades satildeo ilhas proacuteximas a Samos na costa da Aacutesia menor4 Brun J Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Introduccedilatildeo
16 17
que teve no atomismo de Demoacutecrito de Abdera5 o seu ponto de partida Apesar de tecirc-lo modificado em determinados pontos em linhas gerais a constituiccedilatildeo da phyacutesis permaneceu inalterada ou seja toda a natureza eacute constituiacuteda de aacutetomos e vazio Na Carta a Heroacutedoto pode-se ver um resumo desta physiologiacutea Tambeacutem nesta Carta logo no iniacutecio encontra-se uma teoria do conhecimento que define os criteacuterios da percepccedilatildeo sensiacutevel que define a sua Gnoseologiacutea Por outro lado Epicuro voltou o seu pensamento para a investigaccedilatildeo do eacutethos do homem grego da sua eacutepoca e buscou tecer uma compreensatildeo do agir humano com a perspectiva de oferecer com a sua filosofia uma praacutetica de vida alternativa aos modelos que se apresentavam naquela altura do iniacutecio do seacuteculo III aC A sua investigaccedilatildeo permitiu que ele assimilasse traccedilos importantes do pensamento eacutetico grego dos seus antecessores A comeccedilar pelo modelo filosoacutefico socraacutetico e o seu desdobramento no pensamento de Platatildeo e Aristoacuteteles mas tambeacutem no confronto da criacutetica platocircnica e aristoteacutelica com a eacutetica de Demoacutecrito de Abdera Aristipo de Cirene e Pirro de Eacutelis os dois primeiros contemporacircneos de Soacutecrates e este uacuteltimo de Epicuro Partindo do entendimento de que toda a filosofia eacute de certo modo tributaacuteria das suas influecircncias e de que todo o pensamento traz em seu bojo elementos daquilo que jaacute fora pensado por outros filoacutesofos Epicuro manteacutem esta dinacircmica de refletir sobre as ideacuteias marcantes dos seus predecessores
Qual eacute entatildeo a originalidade de Epicuro e o que o torna um pensador singular da Histoacuteria da Filosofia
Para responder a isso indico a coerecircncia e a originalidade que se mostra nos textos remanescentes da sua obra Em outras
5 Filoacutesofo grego do seacutec V a C considerado um preacute-socraacutetico pela tradicional divisatildeo da Histoacuteria da Filosofia embora tenha sido contem-poracircneo de Soacutecrates Eacute considerado juntamente com Leucipo de Eleacuteia o precursor do atomismo grego
Markus Figueira da Silva
18 19
palavras a inteireza ou a inseparabilidade entre a physiologiacutea e a eacutethica Mais que isso o seu modus vivendi filosoacutefico Epicuro foi um pensador que procurou a todo o instante viver de acordo com o que pensava ou seja a partir do que inteligia quando pensava a phyacutesis sendo o estudo da natureza a base da sua conduta e a compreensatildeo de si mesmo como natureza o modelo para o exer-ciacutecio da sua filosofia e a expressatildeo dos seus atos Conhecer a vida e viver este conhecimento eacute um todo contiacutenuo que caracteriza a sua relevacircncia e a sua originalidade como physiologoacutes e pensador eacutetico concomitantemente
Neste sentido apresento a Filosofia de Epicuro em dois toacutepi-cos distintos e complementares a saber a physiologiacutea e aethicaacute
Physiologiacutea
No livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio encontram-se duas cartas de Epicuro que satildeo epiacutetomes ou resumos de temas li-gados agrave natureza (phyacutesis) Na Carta a Heroacutedoto estatildeo contidas as proposiccedilotildees fundamentais da sua filosofia da natureza e que tratam dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis O objetivo desta carta eacute apresentar aos que se iniciam na Filosofia os conceitos fundamentais sobre a natureza do todo dos mundos dos cor-pos compostos dos aacutetomos e do vazio bem como mostrar o processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo das coisas na natureza Epicuro deixa claro logo no iniacutecio que o estudo destes funda-mentos serve tambeacutem agravequeles jaacute instruiacutedos pois eles o podem utilizar para exercitarem-se nas discussotildees sobre as questotildees da natureza e como forma de aprimorarem a memoacuteria Ele cuida especialmente da linguagem que emprega a fim de facilitar a aprendizagem e promover uma faacutecil memorizaccedilatildeo Afirma que a clareza a objetividade e a simplicidade devem caracterizar o estilo e a linguagem filosoacutefica
Introduccedilatildeo
18 19
A canocircnica como meacutetodo gnosioloacutegico
A partir do passo 37 da Carta a Heroacutedoto Epicuro inicia a exposiccedilatildeo dos criteacuterios para o conhecimento da natureza des-de os fenocircmenos sensiacuteveis ou seja aqueles que satildeo objetos da percepccedilatildeo ateacute onde pode alcanccedilar o pensamento quando este procede por analogia isto eacute por contiguumlidade ou comparaccedilatildeo Para ele o pensamento pode conjecturar acerca dos fenocircmenos microcoacutesmicos e tambeacutem macrocoacutesmicos o que justifica as suas assertivas sobre o comportamento dos aacutetomos e noutro plano dos corpos celestes Epicuro utiliza este meacutetodo para expor a noccedilatildeo de aacutetomo e o seu movimento no vazio e em decorrecircncia disso explica o processo de agregaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo dos corpos sensiacuteveis a formaccedilatildeo e dissoluccedilatildeo dos mundos e a proacutepria noccedilatildeo de infinitude
Em seguida apresenta a sua teoria sobre o processo de conhe-cimento a formaccedilatildeo do pensamento e da imaginaccedilatildeo a partir do delineamento de quatro noccedilotildees capitais do sensualismo que ele inaugura a saber a sensaccedilatildeo (aiacutesthesis) a afecccedilatildeo (paacutethos) a impressatildeo sensiacutevel ou preacute-noccedilatildeo (proacutelepsis) e a projeccedilatildeo imaginaacute-ria do pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) Tais noccedilotildees visam explicar o processo gnoseoloacutegico desde que o oacutergatildeo sen-siacutevel eacute afetado gerando a sensaccedilatildeo que por sua vez se imprime na alma (psycheacute) gerando a memoacuteria (mneacuteme) sensitiva que eacute a fonte das imagens articuladas pelo pensamento quando as reuacutene e daacute sentido e representaccedilatildeo agrave realidade fenomecircnica Satildeo estas imagens sensiacuteveis que seratildeo usadas quando o pensamento por analogia a elas constroacutei explicaccedilotildees para os objetos natildeo perceptiacute-veis aos sentidos mas imaginados pelo pensamento em projeccedilatildeo
Nos passos 46 a 53 Epicuro investiga os mecanismos de produccedilatildeo das imagens (eiacutedola) e como se produz a imaginaccedilatildeo (phantasiacutea) como parte do movimento de transformaccedilatildeo das
Markus Figueira da Silva
20 21
sensaccedilotildees em sentimentos (impressotildees sensiacuteveis) e destes em memoacuteria operada pelo pensamento Esta eacute de fato uma das mais inovadoras teorias de Epicuro e que influenciaraacute diversos teoacutericos do conhecimento na modernidade
A partir do passo 54 tecircm-se analisadas as caracteriacutesticas do aacutetomo isto eacute a forma a figura o tamanho e o peso que por sua vez estatildeo intimamente relacionados agraves qualidades dos corpos sensiacuteveis (soacutemata) A anaacutelise do vazio e espaccedilo (kenograven kaigrave choacuteran) ocorre jaacute no passo 61 Sobre a importacircncia destas noccedilotildees Epicuro defende que sem o vazio eou espaccedilo natildeo pode haver movimento
A alma (psycheacute) que eacute corpoacuterea ou seja um corpo consti-tuiacutedo por aacutetomos mais sutis que os da carne (saacuterx) eacute objeto de investigaccedilatildeo no passo 67 Epicuro a define como sendo princiacutepio de movimento e sede do pensamento Na continuaccedilatildeo da Carta (passo 68) daacute-se iniacutecio agrave explicaccedilatildeo dos corpos compostos e do processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo dos corpos a partir da agregaccedilatildeo dos aacutetomos
Haacute tambeacutem uma breve anaacutelise sobre o tempo (khroacutenos) nos passos 72 e 73 e em seguida a teoria sobre os mega corpos ou os mundos (koacutesmoi) que tambeacutem satildeo formados pela agregaccedilatildeo dos aacutetomos e tecircm duraccedilatildeo limitada
Epicuro acena para uma breve histoacuteria antropoloacutegica apre-sentada na anaacutelise do conceito de praacutegmata que diz respeito a uma teoria da accedilatildeo humana e tem lugar no passo 75 e se pro-longa no passo 76 onde ele apresenta indiacutecios de uma teoria da linguagem bastante original No final da Carta a Heroacutedoto isto eacute nos passos 80 e 81 haacute uma apresentaccedilatildeo sumaacuteria do tema dos corpos celestes que seraacute desenvolvido na Carta a Piacutetocles Os passos 82 e 83 trazem as consideraccedilotildees finais da Carta onde Epicuro exorta os seus alunos a exercitarem-se sempre no estudo da natureza para que deste modo possam fugir da ignoracircncia
Introduccedilatildeo
20 21
A Carta a Piacutetocles se inicia com a afirmaccedilatildeo de que o conhe-cimento dos fenocircmenos celestes (meteacuteora) quer sejam conside-rados em conexatildeo com outros fenocircmenos ou neles mesmos tem como finalidade a tranquumlilidade da alma bem como afirmar a confianccedila nas explicaccedilotildees ldquofisioloacutegicasrdquo Em seguida passase ao meacutetodo de investigaccedilatildeo dos fenocircmenos celestes evidenciando o pluralismo da explicaccedilatildeo onde se aceita para um determinado fenocircmeno mais de uma causa desde que nenhuma delas possa ser contraditada pela evidecircncia da sensaccedilatildeo ou seja enquanto natildeo for refutada a explicaccedilatildeo se manteacutem vaacutelida Assim eacute pre-feriacutevel manter a pluralidade das causas em vez de ater-se a uma crenccedila que remeta a uma explicaccedilatildeo sobrenatural baseada por exemplo nos desiacutegnios dos deuses
Tem-se na continuaccedilatildeo uma definiccedilatildeo de mundo (koacutesmos) bem como dos meteacuteora os mais variados que leva a uma especulaccedilatildeo acerca do movimento dos astros das nuvens da chuva das tormentas dos raios e trovotildees das tempestades dos ciclones dos terremotos dos ventos das geleiras da neve do arco-iacuteris da lua dos cometas das estrelas cadentes e das mudanccedilas dos ventos
A ethicaacute
Ao longo de toda a Histoacuteria da Filosofia Epicuro seraacute lem-brado muito mais pelas suas proposiccedilotildees eacuteticas do que pelas fiacutesicas o que tem a sua explicaccedilatildeo com o desenvolvimento das ciecircncias o atomismo e as demais teorias desenvolvidas pelos filoacutesofos gregos antigos sofreram muitas variaccedilotildees atualizaccedilotildees e ateacute inovaccedilotildees graccedilas ao aprimoramento tecnoloacutegico das pesqui-sas contudo a eacutetica seguiu um outro percurso e o conteuacutedo do pensamento eacutetico epicuacutereo foi alvo das apropriaccedilotildees tiacutepicas da fi-losofia daqueles que buscaram construir uma eacutetica do bem viver
Markus Figueira da Silva
22 23
Neste caso especiacutefico uma eacutetica ao mesmo tempo naturalista e sensualista Por outro lado haacute os criacuteticos deste pensamento que na maioria das vezes o detrataram Como consequumlecircncia disso uma enorme controveacutersia interpretativa acerca da eacutetica de Epicuro tem sido frequumlente nos meios acadecircmicos e nos escritos publicados a este respeito Entretanto o que interessa agravequeles que desejam estudar o epicurismo seraacute entender como eacute possiacute-vel pensar uma eacutetica desvinculada tanto da poliacutetica quanto da religiatildeo Em outras palavras seraacute que a eacutetica epicurista eacute uma eacutetica sem matrizes ideoloacutegicas Penso que este foi o objetivo de Epicuro ao afastar-se da poliacutetica e da religiatildeo
Em Epicuro encontra-se a definiccedilatildeo da Filosofia como um saber em torno da vida cujo uso praacutetico se realiza constan-temente como um conhecimento que edifica a proacutepria vida como um exerciacutecio filosoacutefico cotidiano A fundamentaccedilatildeo do agir filosoacutefico eacute pois o conhecimento adquirido no processo de investigaccedilatildeo da natureza que prima pela desmistificaccedilatildeo da phyacutesis e daacute ao indiviacuteduo as reacutedeas da sua proacutepria vida e a autonomia para agir a partir de si mesmo Eacute neste sentido que Epicuro se distingue de outros pensadores da sua eacutepoca isto eacute o seu pensamento natildeo eacute tributaacuterio de nenhuma ideologia seja poliacutetica ou religiosa
Dioacutegenes Laeacutercio tambeacutem publicou em sua obra a Carta a Meneceu e quarenta Maacuteximas Principais de Epicuro Estes satildeo os textos eacuteticos por ele preservados e sobre os quais tecircm se debruccedilado os estudiosos Contudo haacute tambeacutem um conjunto de oitenta e uma sentenccedilas que foram descobertas muito mais tarde em 1888 por Karl Wotke no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Manuscrito 1950 ou GnomologioVaticano6 A maioria das sentenccedilas satildeo reflexotildees eacuteticas de Epicuro Outros textos
6 Gual CG 1981 p 133
Introduccedilatildeo
22 23
muito fragmentados e com muitas lacunas foram descobertos nas escavaccedilotildees de Herculano uma vila no Sul da Itaacutelia que foi soterrada pelas lavas do vulcatildeo Vesuacutevio no seacutec I aC como jaacute havia assinalado Este material tem sido objeto de pesquisa e poderaacute vir a acrescentar novas informaccedilotildees sobre o pensamento epicurista tanto quanto a chamada ldquoescrita sobre pedrardquo des-coberta nas escavaccedilotildees em Enoanda onde existiu uma extensa muralha construiacuteda por um adepto do epicurismo de nome Dioacutegenes que mandou talhar sobre ela diversos ensinamentos eacuteticos de Epicuro para que fossem lidos e servissem agrave reflexatildeo daqueles que por laacute passassem Felizmente estes textos foram em parte reconstituiacutedos e corroboram os publicados no livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio
Os inteacuterpretes da filosofia de Epicuro trabalham efetivamen-te sobre estes textos na busca de explicitar cada vez mais este pensamento que influenciou inuacutemeros pensadores e ainda hoje influencia tais como Giordano Bruno Michel de Montaigne Pierre Gassendi Baruch Espinoza Thomas Hobbes John Stuart Mill Karl Marx Michel Foucault entre outros
Assim para que sirva de referecircncia para o leitor indico os te-mas principais apresentados na Carta a Meneceu e nas Maacuteximas Principais
A Carta comeccedila com um protreacuteptico ou uma exortaccedilatildeo ao filosofar no passo 122 Em seguida estaacute o tetraphaacutermakon ou quaacutedruplo remeacutedio que reflete acerca dos deuses (passos 123 e 124) sobre a morte e os verdadeiros males da vida (entre os passos 124 e 127) sobreo futuro ou porvir (ainda no 127) sobre o prazer e os desejos (do 127 ao 132) e sobre a necessidade e o acaso (passos 132 a 135) Na conclusatildeo da Carta Epicuro convida o destinataacuterio e os seus amigos a refletirem sobre os pre-ceitos nela contidos pois estes ensinamentos conduzem a uma praacutetica de vida feliz ou bem aventurada
Markus Figueira da Silva
24 25
Com relaccedilatildeo agraves Maacuteximas Principais as primeiras (I a IV) tratam tambeacutem do tetraphaacutermakon em seguida haacute uma seacuterie de consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees necessaacuterias suficientes para se realizar uma vida feliz (makaacuterioszecircn) bem como sobre a relaccedilatildeo entre prazeres e virtudes (V a XXI) Haacute depois uma ilaccedilatildeo en-tre os criteacuterios para o conhecimento e o agir filosoacutefico (XXII a XXVI) sobre a amizade (philiacutea) e a classificaccedilatildeo dos desejos (XXVII a XXX) e finalmente sobre a justiccedila (dikaiosyacutene) e o modo como o saacutebio (sophoacutes) se relaciona com ela (XXXI a XL) Estas uacuteltimas ensejam uma reflexatildeo antropoloacutegica em torno das relaccedilotildees juriacutedico-sociais
Embora as Sentenccedilas Vaticanas natildeo faccedilam parte da obra laerciana tecircm o seu conteuacutedo associado ao das Maacuteximas Prin-cipais pois trazem reflexotildees em torno da conduta humana e em diversos aspectos aprofundam ou vecircm corroborar o sentido inerente agraves Maacuteximas
No conjunto das 81 sentenccedilas sobressaem aquelas dedicadas agrave amizade Pode-se dizer que Epicuro confere agrave amizade um papel fundamental na sua concepccedilatildeo de sabedoria ou filosofia A amizade gera confianccedila solidifica as relaccedilotildees sociais estimula a praacutetica das virtudes eacute responsaacutevel pelo bem estar dos indiviacuteduos e engendra a liberdade no agir Em Epicuro a amizade difere das praacuteticas comuns de relaccedilotildees sociais dos homens atrelados agraves cidades decadentes da sua eacutepoca Trata-se portanto de outro modelo de conduta privado molecular afastado da multidatildeo insensata Ela fundamenta a accedilatildeo e a liberta da dependecircncia e da cumplicidade que forccedila o indiviacuteduo a suportar o mal estar em sociedade A amizade simboliza o poder inerente a cada um de escolher o que lhe aprouver e evitar o que o perturba e o enfra-quece em seu iacutentimo em uma palavra o que o despotencializa Viver entre amigos eacute alcanccedilar e exercer a filosofia em toda a sua plenitude A amizade existe porque eacute natural mas a sua praacutetica
Introduccedilatildeo
24 25
exige o discernimento e a liberdade de poder escolher e poder evitar
Satildeo estas em linhas gerais as informaccedilotildees referentes aos textos de Epicuro aqui utilizados cujo vocabulaacuterio serviraacute de instrumento de leitura agravequeles que se interessarem pela Filosofia da Natureza e pela Eacutetica do Jardim
Markus Figueira da Silva
26 27
Auxiacutelio Ao leitor
A) lista de abreviaturas
DL - Dioacutegenes Laeacutercio Vidas e doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres SV - Sentenccedilas Vaticanas EpicuroMP - Maacuteximas Principais EpicuroDRN - De Rerum Natura LucreacutecioUs - USENER EpicureaNatSobre a Natureza Perigrave phyacuteseos Epicuro Pap HercPapiros Herculanesesm - masculinof - femininoad - adjetivoadv - adveacuterbioinf - infinitivolat latimpl - pluralprep - preposiccedilatildeosf - substantivo femininosm - substantivo masculinosn - substantivo neutrov - verbo
B) meacutetodos de referecircncia
Os algarismos araacutebicos agrave direita dos termos gregos trans-literados se referem aos paraacutegrafos em que cada termo ocorre no livro X de Dioacutegenes Laeacutercio por exemplo ldquoἀδιάλυτος adiaacutelytos- 54rdquo eacute uma palavra que estaacute localizada na passagem
Auxiacutelio ao leitor
26 27
de nuacutemero 54 do deacutecimo livro das Vidas e doutrinas dos Filoacute-sofos Ilustres obra escrita pelo doxoacutegrafo Dioacutegenes Laeacutercio que dedicou o deacutecimo livro agrave exposiccedilatildeo da vida e obra de Epicuro No entanto quando os algarismos araacutebicos estiverem precedidos pela abreviaccedilatildeo ldquoSVrdquo significa que eles remetem agraves Sentenccedilas Vaticanas por exemplo ldquoεὐδαιμονία eudaimoniacutea - 116 122 127 SV 33rdquo esta uacuteltima ocorrecircncia estaacute indicando que o termo eudaimoniacutea aparece na sentenccedila de nuacutemero 33 Por sua vez esses algarismos seguidos de ldquoUsrdquo fazem referecircncia aos fragmentos compilados por Usener em sua obra intitulada Epicurea como no termo ldquoἀκατονόμαστον akatonoacutemaston- 314 Us 315 Usrdquo Os algarismos romanos foram reservados agraves Maacuteximas Principais de Epicuro como em ldquoπαντελής panteleacutes- 116 XX XXIrdquo cujas duas uacuteltimas ocorrecircncias se referem agraves maacuteximas 20 e 21 dentre as Maacuteximas Principais
C) alfabeto grego
Αα- aacutelpha Bβ - beacutetaΓγ - gaacutemaΔδ - deacuteltaΕε - e psiloacuten7
Ζζ - dzeacutetaΗη - eacutetaΘθ - theacutetaΙι - ioacutetaΚκ - kaacutepaΛλ - laacutembdaΜμ - mucirc
7 Cf Murachco 2007 p 36 para compreender o modo de nomear as letras ε ο υ ω
Markus Figueira da Silva
28 29
Νν - nucircΞξ - ksicircΟο - o mikroacutenΠπ - piΡρ - rhocircΣσς- sicircgma sicircgma finalΤτ - tauΥυ - y psilonΦφ - phicircΧχ - khicircΨψ -psicircΩω - o meacutega
Auxiacutelio ao leitor
28 29
PrimeirA PArte
Physiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea
30 3130 31
ἀδιάλυτος adiaacutelytos (ad)- 54
Indissoluacutevel indestrutiacutevel
ἀθροίσμα athroiacutesma (sn)- 62 63 64 65 69 100 108 IX
Agregado organismo acumulaccedilatildeo Athroiacutesma eacute o termo que nomeia o agregado de aacutetomos que constitui o organismo humano No interior deste agregado se disseminam os aacuteto-mos da alma Athroiacutesma tambeacutem pode significar qualquer agregaccedilatildeo de aacutetomos existente na natureza
ἀθρόος athroacuteos (ad)- 35 56 69 70 104
Reuniatildeo concentraccedilatildeo inteireza
αἴδιος aiacutedios (ad)- 69 70 71
Eterno permanente
αἰτιολογεῖν aitiologeacutein (vinf) - 80 82
Processo de inferecircncia ou investigaccedilatildeo das causas Segundo o Greek-english lexicon de Liddell-Scott (1996) eacute a primeira ocorrecircncia deste termo nos textos gregos
αἰτιολογία aitiologiacutea (sf)- 97
Estudo ou investigaccedilatildeo das causas
ακατονόμαστον akatonoacutemaston (ad)- 314 Us 315 Us
O que natildeo eacute nomeado Trata-se de uma parte ou elemento da alma Epicuro distingue duas partes no corpo alma o aacutelogon que eacute geralmente traduzido por ldquoparte irracionalrdquo e
Primeira parte
32 33
que se encontra espalhada por todo corpo (organismo) e o logikoacuten cuja traduccedilatildeo eacute ldquoparte racionalrdquo e se concentra no peito Tanto em Epicuro quanto em Lucreacutecio estas duas partes estatildeo intimamente ligadas pois haacute uma ldquocontinui-daderdquo entre os aacutetomos concentrados no peito e os demais disseminados atraveacutes do corpo Esta continuidade se expli-ca pelo movimento voluntaacuterio que a alma imprime a todo organismo movimento este que daacute origem agraves sensaccedilotildees e agraves voliccedilotildees O problema reside entatildeo na impossibilidade de explicar os movimento da sensibilidade e os movimentos do pensamento que satildeo os mais ligeiros pois envolvem aacutetomos menores e mais redondos segundo o raciociacutenio de Epicuro
A dificuldade do problema que se impotildee estaacute na caracte-rizaccedilatildeo deste quarto elemento ou elemento sem nome (akatonoacutemaston) ou ainda como nomeou o poeta Lucreacutecio (DRN III241 e III275) a quarta natura que natildeo se pode comparar ou mesmo aproximar de nada do que encontra-mos no universo fiacutesico da natureza estudada ou seja natildeo existe termos de comparaccedilatildeo para justificar a tenacidade e a velocidade do pensamento nem a mobilidade da alma na ldquoprojeccedilatildeordquo ou ldquosaltordquo do pensamento (vide infra ἐπιβολή τῆς διανοίας -epiboleacute tegraves diaacutenoias na segunda parte) natildeo que possamos negar por isso a existecircncia de tal elemento contu-do natildeo podemos aferi-lo mediante o poder de percepccedilatildeo dos sentidos
ἄκρον aacutekron (sn)- 41 57 107
Extremidade altura
Physiologiacutea
32 33
ἀλειτούργητος aleituacutergetos (ad)- 97
Livre de isento Palavra de uso corrente que Epicuro usa metaforicamente no sentido de isentar os fenocircmenos de toda e qualquer causalidade divina
ἀλλόφυλος alloacutephylos (ad)- 106
Estrangeiro de outra tribo ou lugarVide infra Homoacutephylos - ὁμόφυλος (na terceira parte)
ἀμερής amereacutes (ad)- 59
Impartiacutevel indivisiacutevel Este eacute um termo utilizado apenas pelos filoacutesofos atomistas gregos
ἀμετάβατος ametaacutebatos (ad)- 59
Que natildeo admite passagem que natildeo muda de lugar estacio-nado Em sua ocorrecircncia as versotildees do texto grego apresen-tam uma diferenccedila Na versatildeo de Hicks (1925) a palavra eacute ἀμετάβολα ametaacutebola (ad) que significa imutaacutevel
ἀμετάβλητος ametaacutebletos (ad)- 41
Imutaacutevel A imutabilidade eacute caracteriacutestica apenas do corpo do aacutetomo e do Todo
ἀμύθητος amyacutethetos (ad)- 115
Que natildeo recorre ao mito Indiziacutevel Neste sentido mythos signi-fica a expressatildeo isto eacute a capacidade de dizer algo por palavras
Primeira parte
34 35
ἀνάγκη anaacutenke (sf)-74 77 90 92 115 133 134 SV 9 SV 40
Necessidade Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem finalidade (teacutelos)rdquo (vide infra τέλος na segunda parte) E somente o termo anaacutenke pode signifi-car necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo pronoacuteia para designar necessidade de qual-quer maneira a necessidade nuca foi enunciada por Epi-curo num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
ἀνακοπή anakopeacute (sf)- 42
Impedimento suspensatildeo parada resistecircncia Neste caso impedimento devido agrave colisatildeo com outro corpo O Greek--english lexicondaacute como primeira ocorrecircncia deste termo a Carta a Heroacutedoto de Epicuro
ἀναφής anapheacutes (ad)- 40 86
Intangiacutevel impalpaacutevel Termo de uso exclusivo da physiolo-giacutea grega
ἀνταναπλήρωσις antanapleacuterosis (sf)- 48
Reposicionamento substituiccedilatildeo compensaccedilatildeo A uacutenica ocor-recircncia deste termo se daacute na carta a Heroacutedoto de Epicuro
Physiologiacutea
34 35
ἀντικοπή antikopeacute (sf)- 46 47
Resistecircncia A primeira ocorrecircncia deste termo se daacute em Epicuro
ἀπάντησις apaacutentesis (sf)- 46
Encontro choque
ἀπειρία apeiriacutea (sf)- 45 116
Infinidade ilimitabilidade Palavra proacutepria da physiologiacutea grega
ἀπεὶρων (τό) apeigraveron (toacute) (ad) 47 60 73 75 88 XIII XV
Ilimitado infinito
ἀπερίληπτος aperiacuteleptos (ad)- 42
Incompreensiacutevel inacessiacutevel (ao pensamento)
ἀπερινόητος aperinoacuteetos (ad)- 46
Inconcebiacutevel Segundo Liddell-Scott (1996) Epicuro daacute a este termo um sentido diferente de outros usos da palavra
ἀποκατάστασις apokataacutestasis (sf)- 44
Retorno ao movimento ou posiccedilatildeo inicial
ἀποπαλμός apopalmoacutes (sm)- 44 280 Us
Aquele que ressalta e repercute Termo de uso exclusivo de Epicuro
Primeira parte
36 37
ἀπόπαλσις apoacutepalsis (sf)- 108
Choque impacto
ἀπόρροια apoacuterroia (sf)- 46
Efluacutevio fluxo corrente emanaccedilatildeo
ἀπόστασις apoacutestasis (sf)- 46
Afastamento distanciamento
ἀρχή archeacute (sf)- 30 41 44 116 128 132 134 138 SV 23
Princiacutepio origem comeccedilo fundamento A questatildeo do princiacutepio de realidade (archeacute) eacute explicitada pelo axioma baacute-sico do atomismo segundo o qual o todo eacute composto de aacutetomos e vazio Os aacutetomos satildeo elementos constitutivos de todas as coisas gecircnese dos corpos compostos e fundamento do atomismo cujo princiacutepio eacute assim formulado na Carta a Heroacutedoto
Primeiramente nada nasce do nada (natildeo-ser) Se natildeo fosse assim tudo nasceria de tudo e nada teria necessidade de seu proacuteprio germe (DL X 38)
ldquoNada nasce do nadardquo eacute um princiacutepio que surge jaacute no pensamento de Demoacutecrito (DL IX 44) e mais tarde no pensamento de Epicuro como ponto de partida para o co-nhecimento sensiacutevel Contudo foi Lucreacutecio (DRN I 174-224) quem traduziu este princiacutepio em imagens que podem ser comprovadas pela experiecircncia e assim manifestados para cada coisa animal ou planta faz-se necessaacuteria a sua proacutepria semente em condiccedilotildees favoraacuteveis a sua germinaccedilatildeo Em razatildeo disso eacute plausiacutevel dizer que a Carta a Heroacutedoto
Physiologiacutea
36 37
comeccedila indicando que o pensamento brota da experiecircncia mediante a qual surge a possibilidade de se estabelecer as analogias que levam ao ldquosaltordquo do pensamento Este salto se caracteriza por efetuar analogias entre a realidade apre-endida imediatamente pelas sensaccedilotildees as microestruturas corpoacutereas e o macrocosmos permitindo a inteligibilidade dos niacuteveis que escapam ao alcance da sensibilidade Desse modo o pensamento pode postular que na natureza os cor-pos vecircm a ser a partir dos aacutetomos e se dissolvem espalhando os elementos que os constituem dado que a todo instante os corpos se formam e se decompotildeem no universo infinito sem nada acrescentar ou subtrair ao todo A consequecircncia loacutegica deste princiacutepio revela que a constituiccedilatildeo total do ser ou do todo permanece a mesma
ἀσθένεια astheacuteneia (sf)- 77
Fraqueza debilidade
ἀστρολογία astrologiacutea (sf)- 113
Astronomia
ἀστρολόγος astroloacutegos (sm)- 93
Astrocircnomo
ἀσχολία askholiacutea (sf)- 85
Ocupaccedilatildeo empenho
ἀσώματος asoacutematos (ad)- 67 69 70
Incorpoacutereo Termo exclusivamente filosoacutefico
Primeira parte
38 39
ἄτομος aacutetomos (ad substantivadolatatomus)- 4142 43 44 45 48 50 54 55 56 58 59 61 62 65 86 99 102 110 115
Aacutetomo indivisiacutevel Os termos gregos aacutetomos (nominativo singular) aacutetomoi (nominativovocativo pl) ou aacutetomon (acusativo singular) constam em vinte passagens dos textos de Epicuro Na maioriadas vezes os tradutores optam por aacutetomo em suas traduccedilotildees embora em alguns casos tambeacutem se traduza por indivisiacutevel
O adjetivoaacute-tomosse substantiva em aacutetomos ldquoque quer dizer natildeo-cortado indivisiacutevelrdquo (GOBRY 2007 p 115) Os aacuteto-mos satildeo literalmente partiacuteculas indivisiacuteveis que por serem assim satildeo razatildeo explicativa da realidade Eacute a ideia que deu origem ao atomismo assim como foi teorizado inicialmente por Leucipo e Demoacutecrito8 e depois por Epicuro Este legado foi espalhado pelo mundo romano entatildeo recebendo a deno-minaccedilatildeo latina de atomus (aacutetomo) ou indivisum (indivisiacutevel) como traduz Ciacutecero ou ainda semina (sementes) na lingua-gem poeacutetica do epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro Os aacutetomos satildeo elementos (stoicheiacuteon)em quantidade infini-ta que constituem os corpos compostos (synkriacuteseis) Satildeo ca-racterizados na Carta a Heroacutedoto9como partiacuteculas corpoacutereas maciccedilas indissoluacuteveis imutaacuteveis indivisiacuteveis e impenetraacute-veis portanto resistindo agrave corrupccedilatildeo dos corpos compostos desde a eternidade
Esses elementos satildeo os aacutetomos indivisiacuteveis e imutaacuteveis se eacute verdade que nem todas as coisas poderatildeo perecer e resolver--se no natildeo-ser Com efeito os aacutetomos satildeo dotados da forccedila necessaacuteria para permanecerem intactos e para resistirem enquanto os compostos se dissolvem pois satildeo impenetraacuteveis
8 Cf DL IX 449 Cf DL X 35-83
Physiologiacutea
38 39
por sua proacutepria natureza e natildeo estatildeo sujeitos a uma eventual dissoluccedilatildeo Consequentemente os princiacutepios das coisas satildeo indivisiacuteveis e de natureza corpoacuterea (DL X 41)
O objetivo de Epicuro e seus disciacutepulos nunca fora o de explorar detidamente ou ldquocientificamenterdquo as caracteriacutesticas dos aacutetomos antes operavam analogias inferecircncias induti-vas e deduccedilotildees atribuindo aos aacutetomos propriedades neces-saacuterias para a explicaccedilatildeo da realidade sensiacutevel Nas palavras de Gigandet ldquoo aacutetomo eacute princiacutepio de inteligibilidade natildeo objeto de estudo mas pelo contraacuterio eacute o ponto de partida da explicaccedilatildeordquo (2001 p40) Sementes eternas de toda a rea-lidade os aacutetomos satildeo naturezas inteiras (hoacutelas phyacuteseis)10 sem qualidades acidentais (symptoacutemata)(vide infra σύμπτωμα na segunda parte) passiacuteveis de mudanccedila no entanto pos-suindo propriedades (symbebekoacuteta)(vide infra συμβεβηκός na segunda parte) ou qualidades (poioacutetes) necessariamente permanentes (anankaiacuteon hipomeacutenein) Constituintes de to-dos os corpos compostos (visiacuteveis e invisiacuteveis) os aacutetomos natildeo tecircm outras propriedades aleacutem da formafigura (schematoacutes) do tamanho (megeacutethous) e do peso (baacuterous)11
αὔξησις ayacutexesis (sf)- 90
Crescimento desenvolvimento
10 Cf DL X 4011 Neste ponto haacute uma diferenccedila do atomismo de Demoacutecrito e Leucipo
tal como Aristoacuteteles o apresenta na Metafiacutesica A 985b e o atomismo de Epicuro pois este acrescenta o peso (baacuteros) como uma das propriedades atocircmicas aleacutem de aglutinar a propriedade da ordem (taacutexis) agrave formafigura (schecircma) J Salem cita o doxoacutegrafo Aeacutecio para documentar este acreacutescimo da filosofia epicurista ldquoDemoacutecrito pensou que existe duas propriedades do aacutetomo a grandeza e a figura enquanto que Epicuro acrescentava uma ter-ceira o peso (baacuteros) de fato declara este uacuteltimo eacute necessaacuterio que os corpos recebam a impulsatildeo do peso para se moverrdquo (Cf SALEM 1997 p 28)
Primeira parte
40 41
αὐτοθελός autotheloacutes (ad)- 85
O que tem fim em si mesmo independente completo
ἀφανής aphaneacutes (ad)- 104
Inaparente obscuro
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (ad)- 76 123
Incorruptibilidade imortalidade
ἄφοδος aacutephodos (sf)- 54
Partida retirada
βάρος baacuteros (sn)- 4454 61 68
PesoDemoacutecrito natildeo havia introduzido o peso entre as qua-lidades dos aacutetomos poreacutem Epicuro contrariamente a ele conferiu ao peso a propriedade de ser causa do movimento dos aacutetomos no vazio movimento esse que por ser constante explica a mecacircnica do devir nos diversos niacuteveis de realizaccedilatildeo da phyacutesis O peso sendo causa primeira do movimento de transformaccedilatildeo das coisas eacute necessaacuterio para a coerecircncia do sistema de exposiccedilatildeo da phyacutesis embora natildeo determine de maneira alguma as afecccedilotildees entre os corpos
βέβαιος beacutebaios (ad)- 6385 XL
Seguro soacutelido firme
βράδος braacutedos (sn)- 46
Lentidatildeo lerdeza morosidade Palavra muito rara Soacute apare-ce em Xenofonte e Epicuro
Physiologiacutea
40 41
γένεσις geacutenesis (sf)- 48 77 86 SV 42
Nascimento origem produccedilatildeo gecircnese geraccedilatildeo
διάκρισις (sf)diaacutekrisis- 78
Conflito divergecircncia divisatildeo Estes soacute podem ocorrer no niacute-vel dos fenocircmenos fiacutesicos sejam eles celestes ou subterracircneos Contudo assevera Epicuro isso deve ser evitado Por outro lado natildeo se deve em nenhuma hipoacutetese atribuir agrave natureza divina a causa do conflito da divergecircncia ou da divisatildeo
διαλύω dialyacuteo (v)- 39 41 42 73 91 II SV 37
Dissolver
διάλυσις diaacutelysis (sf)- 4154
Dissoluccedilatildeo
διαμονή diamoneacute (sf)- 89
Estabilidade continuidade
διάρθρωσις diaacuterthrosis (sf)- 89
Articulaccedilatildeo
διάστημα diaacutestema (sn)- 89 91 110
Distacircncia intervalo Palavra oriunda da linguagem musical grega Provavelmente de origem pitagoacuterica
διαφορά diaforaacute (sf)- 42 55 56 75
Diferenccedila diversidade variedade
Primeira parte
42 43
δίνη diacutene (sf)- 92 93 112 113 114
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo
δίνησις diacutenesis (sf)- 90
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo Esta outra forma da palavra diacutene eacute mais teacutecnica e eacute de uso restrito de Aristoacuteteles e Epicuro
δυνατόν (τὸ) dynatoacuten (tograve) (ad substantivado)- 93
O possiacutevel
εἰλικρινής eilikrineacutes- (ad) 89 XIV
Puro absoluto completo
ἐκπύρωσις ekpyacuterosis (sf)- 101 103 115
Conflagraccedilatildeo combustatildeo
ἐμπεριλαμβάνω emperilambaacuteno (v)- 90 105
Captar englobar apreender compreender
ἔμπτωσις eacutemptosis (sf)- 102 SV 24
Incidecircncia impacto cair sobre
ἐναπόλεψις enapoacutelepsis (sf)- 77
Intercepccedilatildeo aprisionamento Este termo eacute usado por Epicu-ro num sentido inovador que diz respeito agrave teoria epicuacuterea do nascimento dos mundos
Physiologiacutea
42 43
ἐνδέχεσθαι endeacutechesthai (v)- 78 80 87 88 90 93 94 97 100 103 104105 107 108 113
Ser possiacutevel haver a possibilidade de
ἐνέργημα eneacutergema (sn)- 37
Exerciacutecio atividade
ἐξακριβοῦν exakribucircn (v)- 35 36 68 78 83
Precisar fazer com exatidatildeo detalhar Palavra de uso filosoacute-fico apenas
ἐπάρδευσις epaacuterdeysis (sf)- 89 100
Torrente corrente Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐπίβλεψις epiacuteblepsis (sf)- 35
Visatildeo consideraccedilatildeo
ἐπισημασία episemasiacutea (sf)- 98 115
Prognoacutestico sinal indiacutecio
ἐπιτήδειος epiteacutedeios (ad)- 93 99 100 107 111 112
Adequado adaptado apropriado
εὐκινησία eukinesiacutea (sf)- 63
Mobilidade facilidade de movimento
Primeira parte
44 45
θάμβος thaacutembos (sn)- 79
Perplexidade espanto admiraccedilatildeo
θεῖος theicircos (ad)- 97 113 115 SV 24
Divino
θέσις theacutesis (sf)- 44 46 48 75 30 Us
Posiccedilatildeo
ἰσοταχής isotacheacutes (ad)- 61 62
O que possui velocidade equivalente ou a mesma rapidez Os aacutetomos de acordo com o passo 61 da Carta a Heroacutedoto ldquotecircm necessariamente a mesma velocidaderdquo Aacutetomos pesa-dos grandes pequenos ou leves em movimento ascendente obliacutequo ou descendente percorrem o espaccedilo com a mesma rapidez12 Epicuro assemelha ainda a rapidez do aacutetomo agravequela do pensamento ou seja os aacutetomos se movem com a mesma rapidez com que operamos com o loacutegos na apreensatildeo de sentidos Para que a natureza se expresse da maneira que se apresenta aos homens eacute preciso que os aacutetomos natildeo apenas se movimentem mas que se movimentem com celeridade pois os elementos que se desprendem dos corpos devem ser imediatamente repostos para que a continuidade provisoacuteria dos compostos possa ser explicada pelo atomismo de manei-ra coerente Tendo em vista que os elementos que compotildeem
12 Cf DRN II 225-229 A sensibilidade parece atestar o contraacuterio quando se trata da rapidez dos corpos em queda mas eacute preciso considerar que a trajetoacuteria dos aacutetomos se daacute no vazio onde natildeo haacute resistecircncia nem por parte do ar nem da aacutegua meios em que vemos corpos mais pesados serem mais raacutepidos que corpos leves
Physiologiacutea
44 45
os corpos tecircm figuras diversas um aacutetomo com figura ldquoZrdquo natildeo pode ser substituiacutedo por um aacutetomo de figura ldquoOrdquo mas apenas por aacutetomos de figura ldquoZrdquo13 Isso significa que algu-mas reposiccedilotildees satildeo efetuadas por aacutetomos que se encontravam a grandes distacircncias mas que por possuiacuterem uma ligeireza comparaacutevel agravequela do pensamento alcanccedilam aglutinar-se ao corpo agregado que deles precisava para persistir na confi-guraccedilatildeo corpoacuterea que assumia A velocidade uniforme dos aacutetomos tambeacutem propicia a formaccedilatildeo das imagens pois estas guardam a posiccedilatildeo e estrutura que os aacutetomos componentes assuniam no corpo do qual se desprenderam tornando pos-siacutevel o ato perceptivo Eacute necessaacuterio agrave fiacutesica epicurista que os aacutetomos percorram espaccedilos vazios de modo igualmente veloz
ἱστορία historiacutea (sf)- 79
Investigaccedilatildeo estudo Epicuro critica o tipo de erudiccedilatildeo daqueles que fazem a historiacutea isto eacute a investigaccedilatildeo dos fenocirc-menos fiacutesicos mas natildeo demonstram o valor ou a utilidade deste conhecimento para a vida praacutetica
κάθαρσις kaacutetharsis (sf)- 86
Soluccedilatildeo Diz respeito ao modo proacuteprio de Epicuro pensar a natureza segundo o qual a physiologiacutea deve encontrar uma
13 Lucreacutecio (DRN I 167-172) explica que cada corpo tem sementes especiacuteficas ou seja os corpos compostos satildeo formados por aacutetomos de figuras particulares sem os quais o corpo composto natildeo se apresentaria da mesma maneira e aleacutem disso qualquer coisa poderia gerar-se de qualquer coisa um absurdo que natildeo constatamos ocorrer na natureza Nas palavras do poeta epicurista ldquoMas como todos (os seres e as coisas) se formam por sementes certas soacute nascem e chegam agraves margens da luz no lugar em que existam a mateacuteria e os corpos elementares que lhe satildeo proacuteprios por isso natildeo pode tudo nascer de tudo cada ser determinado tem em si possibili-dades proacutepriasrdquo
Primeira parte
46 47
soluccedilatildeo para os problemas fiacutesicos sem no entanto recorrer agrave sobrenaturalidade (explicaccedilotildees miacuteticas)
κατάστημα kataacutestema (sn)- 68 Us
Condiccedilatildeo estaacutevel
κενόν (τὸ) kenoacuten (tograve) (ad substantivado)- 40 41 42 44 46 67 89 90 74 Us 75 Us
O Vazio
Se aquilo que chamamos vazio e espaccedilo ou aquilo que por natureza eacute intangiacutevel natildeo tivesse uma existecircncia real nada haveria em que os corpos pudessem estar e nada atraveacutes de que eles pudessem se mover como parece que se movem (DL X 40)
O vazio eacute definido em primeiro lugar de modo simples e fundamental como aquilo que por natureza eacute intangiacutevel e dotado de uma existecircncia real em segundo lugar ele eacute apresentado como a condiccedilatildeo necessaacuteria aos movimentos dos corpos Com relaccedilatildeo aos corpos o vazio possui carac-teriacutesticas essencialmente opostas como por exemplo os corpos satildeo passiacuteveis de afecccedilatildeo o vazio natildeo os aacutetomos tecircm o limite delineado pela figura e podem ser comparados uns aos outros devido sobretudo ao fato de serem muacuteltiplos e diversos ao passo que o vazio eacute somente vazio ou algo anaacute-logo ao natildeo-ser Entretanto a sua existecircncia possibilita quer a compreensatildeo do vir-a-ser ou agregaccedilatildeo que a do movimen-to ou devir dos corpos Na afirmaccedilatildeo acima o vazio eacute ainda por definiccedilatildeo espaccedilo de livre constituiccedilatildeo e deslocamento dos corpos sendo o meio no qual emergem os agregados atocircmicos e onde se formam desenvolvem e corrompem as
Physiologiacutea
46 47
muacuteltiplas coisas da natureza Por estas razotildees parece justifi-car-se o caraacuteter fundamental atribuiacutedo por Epicuro ao vazio uma vez que eacute tatildeo necessaacuterio quanto os aacutetomos e o infinito para seu sistema de compreensatildeo da realidade
O vazio eacute tambeacutem aquilo que diferencia essencialmente um aacutetomo de um corpo composto Podemos recorrer aos atomis-tas para justificar esta diferenccedila Para eles o aacutetomo eacute imutaacutevel por ser pleno o corpo ao contraacuterio eacute passiacutevel de mudanccedilas visto que eacute um misto de aacutetomos e vazio a diferenccedila entatildeo explica-se pelo fato mesmo de se conceber os aacutetomos em cons-tante movimento e de se admitir que a existecircncia do vazio viabiliza os deslocamentos dos aacutetomos no interior dos corpos
κίνησις kiacutenesis (sf)- 50 51 59 64 66 67 73 77 92 98 101 105 106 111 112 115 136 2 Us 191 Us 280 Us
Movimento O termo grego kiacutenesis pode ser compreendido num sentido geral e num sentido estrito sendo todavia necessaacuterio concebecirc-lo inicialmente como expressatildeo dos pro-cessos de geraccedilatildeo e corrupccedilatildeo o que soacute eacute possiacutevel nas esferas dos corpos e dos mundos Num sentido geral kiacutenesis eacute presu-posto na realizaccedilatildeo de phyacutesis pois dele resultam as afecccedilotildees que datildeo origem aos agregados e aquelas que satildeo responsaacuteveis pela desagregaccedilatildeo dos compostos
Em virtude de os aacutetomos terem em si o princiacutepio do movimen-to a mudanccedila apresenta-se como uma necessidade Destarte cabe afirmar que compreender kiacutenesis como mudanccedila signifi-ca estabelecer que a realidade (fiacutesica) dos corpos compostos soacute eacute alterada em funccedilatildeo do movimento dos aacutetomos
Num sentido estrito eacute possiacutevel o emprego de kiacutenesis para designar apenas o deslocamento dos aacutetomos no vazio
Primeira parte
48 49
κοίλωμα koiacuteloma (sn)- 46 100 106
Cavidade profundidade concavidade
κόσμος koacutesmos (sm)- 45 73 74 77 88 89 90 112
Mundo Epicuro compreende que os mundos satildeo infinitos em nuacutemero e estatildeo espalhados por todo o universo que eacute tambeacutem infinito Alguns satildeo esfeacutericos outros podem ter outras formas Um mundo como um megacorpo recebe elementos que vem de fora e tambeacutem perdem elementos Na Carta a Heroacutedoto podemos ler as seguintes definiccedilotildees
Aleacutem disso existe um nuacutemero infinito de mundos tanto semelhantes ao nosso como diferntes dele pois os aacutetomos cujo nuacutemero eacute infinito como acabamos de demonstrar satildeo levados em seu curso a uma distacircncia cada vez maior E os aacutetomos dos quais poderia se formar um mundo natildeo foram todos consumidos na formaccedilatildeo de um mundo soacute nem de um nuacutemero limitado de mundos nem de quantos mundos sejam semelhantes a este ou diferentes deste Nada impede que se admita um nuacutemero infinito de mundos (DL X 42)
Um mundo eacute uma porccedilatildeo circunscrita do universo compre-endendo astros e terra e todas as coisas visiacuteveis destacado do infinito () cuja dissoluccedilatildeo levaraacute aacute ruiacutena tudo que estaacute nele (DL X 88)
κοῦφος kucircphos (ad)- 43 61
Leve ligeiro
κρᾶσις kraacutesis (sf)- 63
Mistura uniatildeo
Physiologiacutea
48 49
κροῦσις kruacutesis (sf)- 61
Choque golpe colisatildeo
κυριώτατος kyrioacutetatos (ad)- 35 36 78 79 81 82 83 IX XII XVI
Fundamental capital o mais importante
λειτουργέω leiturgeacuteo (v)- 76
Desempenhar uma funccedilatildeo cargo serviccedilo
λειτουργία leiturgiacutea (sf)- 113
Funccedilatildeo cargo serviccedilo
λεπτομέρεια leptomeacutereia (sf)- 63 355 Us
Um composto de partiacuteculas sutis A sutileza eacute caracteriacutestica dos aacutetomos do composto aniacutemico
λεπτομερής leptomereacutes (ad)- 63 90101
Composto de partiacuteculas sutis A alma eacute para Epicuro um corpo dentro do corpo-carne A diferenccedila estaacute na sutileza dos aacutetomos que compotildeem a alma
λόξωσις loacutexosis (sf)- 93
Inclinaccedilatildeo obliquidade Palavra utilizada na explicaccedilatildeo do movimento dos astros
λύσις lyacutesis (sf)- 79
Soluccedilatildeo liberaccedilatildeo
Primeira parte
50 51
μεστός mestoacutes (ad)- 42
Pleno cheio
μετάβασις metaacutebasis (sf)- 56 58
Passagem dum lugar a outro extensatildeo percorriacutevel
μεταβολή metaboleacute (sf)- 39 54 98
Mudanccedila transformaccedilatildeo Um dos tipos de movimento uti-lizados por Epicuro Neste caso significa o movimento de transformaccedilatildeo de um corpo
μετάθεσις metaacutethesis (sf)- 54
Transposiccedilatildeo deslocamento Outro tipo de movimento Neste caso significa a mudanccedila de lugar ou o deslocamento de um aacutetomo ou de um corpo composto (agregado)
μετακόσμιον metakoacutesmion (sn)- 89
Intermuacutendio Espaccedilo entre os mundos onde Epicuro situa os deuses
μετάστασις metaacutestasis (sf)- 89
Mundanccedila de posiccedilatildeo Termo que define o movimento dos aacutetomos no interior dos corpos
μετέωρα meteacuteora (ad) - 76 78 80 82 84 85 86 87 95 96 97 98 111 X XI
Qualificativo de fenocircmenos ou corpos celestes
Physiologiacutea
50 51
μορφή morpheacute (sf)-33 (255 Us) 49 50
Forma figura aspecto Relativo agrave forma dos objetos perce-bidos pelos sentidos ou imaginados pelo pensamento
ὅγκος hoacutenkos (sm)- 52 53 54 56 57 69 105
Corpuacutesculo partiacutecula massa
οἰκονομία oikonomiacutea (sf)- 79
Gestatildeo ordenamento
ὅλος hoacutelos (ad)- 36 70 71 82 IX XXI XXVII
Todo inteiro universal Epicuro usa este adjetivo para des-crever a totalidade de um corpo ou de sensaccedilotildees ou ainda a completude da vida Natildeo confundir com τό πᾶν toacute pacircn - O todo
ὁλοσχερής holoschereacutes (ad)- 35 36
Geral completo
ὁμογενές homogeneacutes (ad)- 32 (36 Us) 53 116 XVIII
Mesmo gecircnero (tipo espeacutecie) homogecircneo congecircnere
ὀξυγώνιος oksygoacutenios (ad)- 109
Anguloso acircngulos agudos
ὁπηλίκος hopeliacutekos (ad)- 56 57
Grandeza tamanho
Primeira parte
52 53
ὁρμή hormeacute (sf)- 115
Impulso
οὐρανός uranoacutes (sm)- 88 92 93 96 111
Ceacuteu
οὐσία usiacutea (sf)- 72 86
Essecircncia O uso deste termo diz respeito agrave investigaccedilatildeo acerca do tempo na Carta a Heroacutedoto (72) e agraves causas dos fenocircmenos celestes na Carta a Piacutetocles (86)
παλμός palmoacutes (sm)- 43
Vibraccedilatildeo pulsaccedilatildeo Os aacutetomos estatildeo em movimento cons-tante e palmoacutes eacute o termo que define o movimento vibratoacuterio (oscilatoacuterio) dos aacutetomos no interior dos corpos
πᾶν (τό) pacircn (toacute) (ad substantivado)- 39
O todo
παντελής panteleacutes (ad)- 116 XX XXI
Perfeito completo
παραλλαγή parallageacute (sf)- 55 63 95 113
Variaccedilatildeo diferenccedila
παρέγκλισις pareacutenklisis (sf lat clinamen)- 280 Us 351 Us
Declinaccedilatildeo Pareacutenklisis eacute um termo que natildeo consta nos tex-
Physiologiacutea
52 53
tos atribuiacutedos agrave Epicuro no entantoeacute possiacutevel lecirc-lo nas ins-criccedilotildees em perdra do epicurista Dioacutegenes de Enoanda(frg 54 II 3 III 14 Smith)Este termo tambeacutem aparece em Aeacute-cio I 12 5 (280 Us) em texto cujo autor enumera os tipos de movimento dos aacutetomos A versatildeo latina deste termo eacute mais conhecida clinamen14 As teorias a respeito da declinaccedilatildeo dos aacutetomos foram anunciadaspelo epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro no segundo canto de seu poema De Rerum Natura
Quando os corpos satildeo levados em linha reta atraveacutes do vazio e de cima para baixo pelo seu proacuteprio peso afastam-se um pouco (depellere paulum) da sua trajetoacuteria em altura incerta e em incerto lugar e tatildeo somente o necessaacuterio para que se possa dizer que se mudou o movimento (DRN II 216-220)
A declinaccedilatildeo se coloca como mais uma causa do movi-mento dos aacutetomos aleacutem das causas puramente mecacircnicas colisotildees ausecircncia de resistecircncia do vazio ou o proacuteprio peso dos aacutetomos15 A declinaccedilatildeo natildeo tem causa externa mas eacute um princiacutepio interno assim como o peso mas que diferente deste natildeo promove o percurso dos aacutetomos em uma direccedilatildeo constante antes luta contra toda determinaccedilatildeo introduzin-do na phyacutesis o acaso como causa de ser O elemento casual se encontra nas ocasiotildees em que os aacutetomos tendem a desviar de sua trajetoacuteria descendente ldquoem altura incerta e em incerto
14 Lucreacutecio tambeacutem usa outros termos para designar o des-vio do aacutetomo tais quais depellere declinare inclinare (DRN II 219221250253259243) O termo clinamen aparece apenas uma vez no verso 292 do livro II (Cf GIGANDET 2001 p 24 n3) ldquoClinamen parece ter sido criado por Lucreacutecio para evitar clinatio que natildeo podia entrar em seus versos hexacircmetros (SALEM 1997 p 67)
15 O doxoacutegrafo Aeacutecio afirma que ldquoOs aacutetomos se movem ora segundo a reta ora segundo o desvio (katagrave pareacutenklisin) os movimentos para cima ocorrem segundo o choque e a rebatidardquo (280 Us) cf DRN II 285-286
Primeira parte
54 55
lugarrdquo somente ldquoum poucordquo (paulum) sem causa aparente sem choques que constranjam seu deslocamento e indo de encontro agraves determinaccedilotildees do peso
Satildeo dois os argumentos usados por Lucreacutecio para defender a tese do clinamen (nos versos II 216-293) 1) Se natildeo ocor-ressem desvios atocircmicos a natureza permaneceria esteacuteril ldquoo mundo natildeo poderia nascer a necessidade seria infecundardquo (GUYAU 1927 p 77) uma vez que natildeo haveria colisotildees atocircmicas nem consequentemente corpos compostos mun-dos seres etc 2) Somos livres e para tanto eacute necessaacuterio que as ldquocausas natildeo se sigam perpetuamente agraves causasrdquo (DRN II 255) antes deve haver movimentos atocircmicos que natildeo podem ser remetidos agrave causas exteriores ldquoA existecircncia desta curiosa propriedade dos corpos primevos pode ser deduzida da ob-servaccedilatildeo dos fenocircmenos imputaacuteveis agrave vontade dos seres vi-vosrdquo (SALEM 1997 p 167) Lucreacutecio para justificar o mo-vimento de declinaccedilatildeo dos aacutetomos propotildee primeiramente imaginar um ldquomomentordquo hipoteacutetico da eternidade em que nenhum agregado atocircmico existisse mas apenas aacutetomos iso-lados percorressem seu trajeto descendente ldquocomo gotas de chuvardquo16 Se assim fosse jamais um aacutetomo se encontraria ou colidiria com outro natildeo haveria corpos compostos mundos ou seres viventes
πέρας peacuteras (sn)- 41 59 88 133 X XVIII XIX XX XXI SV 48
Limite termo
16 Como esclarece Gigandet ldquoa queda primitiva e esteacuteril eacute colocada como uma ficccedilatildeo um simples momento abstrato permitindo reconstruir o movimento caoacutetico efetivordquo (2001 p 29)
Physiologiacutea
54 55
περιαίρεσις periaiacuteresis (sf)- 55
Suprimir retirar remover
περίληψις periacutelepsis (sf)- 56
Circunscriccedilatildeo
περιοχή periocheacute (sf)- 88
Envoltoacuterio invoacutelucro
περιπλοχή periplocheacute (sf)- 43 44 99
Entrelaccedilamento
περίστασις periacutestasis (sf)- 92 102 104 106 107 109 111
Estado disposiccedilatildeo circunstacircncia entorno
περιφέρεια peripheacutereia (sf)- 107 110
Periferia circunferecircncia forma circular
περιφερής periphereacutes (ad)- 109
Redondo circular
πηλίκος peliacutekos (ad)- 57
De uma certa grandeza
πύκνωμα pyacuteknoma (sn)- 36 50 105 115
Densidade compacidade consistecircncia
Primeira parte
56 57
πλεκτικός plektikoacutes (ad)- 43
Entrelaccedilado
πλεοναχός pleonachoacutes (ad)- 86 87 95
Diverso muacuteltiplo
πληγή plegeacute (sf)- 53 103102 280 Us
Golpe choque impacto Eacute o termo utilizado por Epicuro para nomear o choque entre os aacutetomos e os oacutergatildeos sensiacuteveis Eacute o modo de explicar como se produz a audiccedilatildeo o olfato e a visatildeo por exemplo
πλῆθος plecircthos (sn)- 41 65 89
Nuacutemero quantidade
πλήρης pleacuteres (ad)- 41 XL
Pleno compacto
πνεῦμα pneucircma (sn)- 63 100 101 102 103 104 105 106 107 115
Sopro vento respiraccedilatildeo focirclego
πνευματώδης pneumatoacutedes (ad)- 53 106 107
Semelhante agrave respiraccedilatildeo anaacutelogo ao vento
ποιότης poioacutetes (sf)- 43 44 54 55 56
Qualidade
Physiologiacutea
56 57
πόρος poacuteros (sm)- 47 61 107 111
Passagem
πρόβλημα proacuteblema (sn)- 86
Problema
προσδοχή prosdocheacute (sf)- 89
Recepccedilatildeo
προσκατανόησις proskatanoacuteesis (sf)- 79
Conhecimento adicional consideraccedilatildeo aprofundada
πρόσκρισιςproacuteskrisis(sf)- 90 109
Acrescento agregaccedilatildeo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto
πύκνωμαpyacuteknoma(sn)- 3650 105 115
Massa densa concentraccedilatildeo
πυκνῶς pyknocircs(adv)- 73
De modo compacto forte constante
ῥεῦμα rheyacutema (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo Termo utilizado para nomear o deslocamento dos aacutetomos atraveacutes do espaccedilo para afetar os oacutergatildeos sensiacuteveis e produzir as sensaccedilotildees
Primeira parte
58 59
ῥύσις rhyacutesis (sf)- 104
Fluxo
σάρξ saacuterx (sf)- 137 IV XVIII XX SV 4 SV 33
Carne corpo Na physiologia o corpo eacute pensado como um agregado (vide supraathroiacutesma- ἀθροίσμα) constituiacutedo de aacutetomos e vazio ou seja como um ente fiacutesico (soacutema) Num segundo sentido o corpo eacute pensado como uma estrutura orgacircnica viva o que tambeacutem quer dizer phyacutesis O saber acerca do corpo humano se faz atraveacutes do contato corpomundo e chamamos mundo o conjunto de coisas que satildeo fenocircmenos manifestos no mundo-realidade Segundo Epi-curo conhecemos as coisas quando sentimos sua expressatildeo em noacutes E neste sentido buscamos naturalmente afec-ccedilotildees que produzam sensaccedilotildees constitutivas e agradaacuteveis De certa maneira o corpo se comunica com as coisas do mundo provando-as e tendo como criteacuterio de escolha e rejeiccedilatildeo das afecccedilotildees possiacuteveis o prazer e a dor O corpo eacute um modo do conhecimento Epicuro pensa neste mesmo corpo a alma que eacute tambeacutem corpo mas distingue-se da carne por suas propriedades fiacutesicas e por sua funccedilatildeo ra-cional e imaginativa que articula as impressotildees sensiacuteveis e projeta-as enquanto pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) A perfeita interaccedilatildeo entre carne e alma transfor-ma as sensaccedilotildees em sentimentos ou ainda o que afeta a carne em compreensatildeo ou pensamento Neste contexto carne e alma natildeo podem ser pensados separadamente pois satildeo apenas um e as afecccedilotildees (paacutethe) (vide infra πάθος na segunda parte) soacute se expressam como prazer ou dor na in-teraccedilatildeo carnealma
Physiologiacutea
58 59
σέμνωμα seacutemnoma (sn)- 77
Majestade Palavra encontrada nos textos de Epicuro e de poucas ocorrecircncias depois dele
σκαληνός skalenoacutes (ad)- 109
Irregular
σπέρμα speacuterma (sn)- 38 66 74 89
Semente esperma Este eacute um termo importante da physio-logiacutea que ressalta a ideacuteia de que para cada coisa animal ou planta eacute necessaacuterio a sua semente (esperma) proacutepria e das condiccedilotildees favoraacuteveis agrave sua germinaccedilatildeo
στάσις staacutesis (sf)- 73 88 92
Repouso imoacutevel
στεγάζωstegaacutedzo (v)- 43 64 65 66
Recobrir proteger
στερεότης stereoacutetes (ad)- 44
Solidez firmeza
στοιχεῖον stoicheiacuteon(sn)- 36 37 44 47 86 128
Elemento princiacutepio
συγγενής syngeneacutes(ad)- 78 79 98 116 135
Congecircnere similar afim
60 61
Primeira parte
60 61
συγγένησις syngeacutenesis (sf)- SV 61
Reuniatildeo
συγγενικός syngenikoacutes (ad)- 129
Congecircnito Este termo caracteriza a relaccedilatildeo do homem com o prazer (vide infrahedoneacute-ἡδονή na terceira parte)ldquoO pra-zer eacute nosso bem primordial e congecircnito (syngenikoacutes)rdquo (DL X 129) O prazer possibilita ao epicurista uma vida de acordo com a natureza constituindo-se como uma evidecircncia praacuteti-ca a guiar o homem para a felicidade
σύγκρισις syacutenkrisis(sf)- 40 41 42 54 55 62 66 73 110
Composiccedilatildeo condensaccedilatildeo
σύγκρουσις syacutenkrusis(sf)-44 101
Colisatildeo choque Este termo ocorre pela primeira vez em Epicuro
συγκύρησις synkyacuteresis (sf)- 96 98115
Concurso coincidecircncia
σύγκυσις syacutenchysis (sf)- 88
Ruiacutena mistura
συλλογή syllogeacute (sf)- 99 103 106 115
Reuniatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
60 6160 61
συμπαθής sympatheacutes (ad)- 63
Co-afecccedilatildeo Palavra que explica a ligaccedilatildeo ou conexatildeo das partiacuteculas (aacutetomos) com o resto do agregado (corpo)
συμφόρησις symphoacuteresis (sf)- 59 69
Agrupar reunir O primeiro a utilizar este termo foi Epicu-ro
συμφυλία symphyliacutea (sf)- 115
Da mesma tribo ou raccedila apropriado apto Neste caso o termo refere-se agrave compatibilidade existente entre os aacutetomos na formaccedilatildeo de um composto (agregadocorpo) O termo tambeacutem pode ser usado por Epicuro e entendido metafo-ricamente no sentido das relaccedilotildees humanas praticadas na comunidade do Jardim
συνφωνία symphoniacutea (sf)- 86 87 98
Acordo concordacircncia consonacircncia
σύντονος syacutentonos(ad)- 102 XXX SV 4
Intenso tenso veemente
σύστασις syacutestasis (sf)- 48 99 107
Combinaccedilatildeo uniatildeo
σύστημα siacutestema (sn)- 66
Complexo associaccedilatildeo
Primeira parte
62 63
συστροφή systropheacute (sf)- 73 77 XXXIII
Concentraccedilatildeo amontoado
σχῆμα schecircma(sn)- 42 44 54 55 68 74
Forma figura Uma das propriedades dos aacutetomos
σχηματισμός schematismoacutes(sm)- 54 74 94 101 102 109
Configuraccedilatildeo maneira forma
σῶμα socircma (sn)- 39 40 41 42 47 48 55 56 63 66 68 69 70 71 86 94 101 127 128 131 SV 73 221 Us
Corpo Socircma traduz tanto a ideia de um aacutetomo isolado quan-to a de compostos atocircmicosEpicuro tambeacutem denomina os compostos de athroiacutesmaou syacutenkrisis(Vide supra nesta mesma parte) O que diferencia fundamentalmente o corpo atocircmico singular do corpo composto eacute a presenccedila de vazio entre os aacutetomos reunidos em composiccedilatildeo Um corpo composto se diferencia tambeacutem da unidade atocircmica pela emissatildeo de simu-lacros (Vide supra leptomereacutes λεπτομερής nesta mesma parte) fina camada de aacutetomos que se desprende dos corpos compos-tos permitindo assim o processo perceptivo De acordo com Morel ldquoa categoria fundamental da fiacutesica epicurista eacute a de lsquocorporsquo antes mesmo que a de aacutetomordquo (2013 p 57) Dioacutegenes Laeacutercio nos informa que os corpos compostos eram objeto de estudo de trecircs livros do Perigrave Phyacuteseos (Sobre a natureza) e tam-beacutem do seu Megaacutele Epitomeacute (Grande Compecircndio)
τάγμα taacutegma (sn)- 71
Status classe
Physiologiacutea
62 63
τάξις taacutexis (sf)- 48 97
Ordem disposiccedilatildeo regularidade
τάχος taacutechos (sn)- 46 102
Rapidez velocidade
ταχύς tachyacutes (ad)- 62 98
Veloz raacutepido
τελείωσις teleiacuteosis (sf)- 89
Cumprimento realizaccedilatildeo conclusatildeo
τελεσιουργέω telesiurgeacuteo (v)- 36
Realizar acabar perfazer
τομή tomeacute (sf)- 43 56
Divisatildeo
τροπή tropeacute (sf)- 76 79 93
Revoluccedilatildeo solstiacutecio
ὑδατοιειδής hydatoeideacutes (ad) - 106 107 109
Aquoso
φορά phoraacute (sf)- 46 47 49 60 61 62 70 76 101 107 115
Movimento deslocamento translado
Primeira parte
64 65
φυσικός physikoacutes (ad)- 86 90 127 130 134 XXIX XXX SV 21
Natural fiacutesico
φυσιολογία physiologiacutea (sf)- 37 78 85 XI XII SV 45
Investigaccedilatildeo da natureza A physiologiacutea eacute descrita por Epi-curo como o procedimento de investigaccedilatildeo da natureza ou de toda realidade fenomecircnica que se nos apresenta Mantendo-se fiel a uma tradiccedilatildeo que remonta aos primeiros pensadores da Jocircnia Epicuro define a physiologiacutea como um exerciacutecio constante de compreensatildeo dessa realidade que eacute para ele a phyacutesis Eis a razatildeo de fazer derivar a eacutetica de um saber para a vida que deve se constituir necessariamente num modo de ser de acordo com a natureza Deste modo o exerciacutecio de pensar a phyacutesis configura o modo de ser do filoacutesofo que percebe neste aprendizado o sentido proacuteprio da sua situaccedilatildeo no mundo enquanto ser dotado da capacidade do logismoacutes(vide infra λογισμός na segunda parte) ou seja de ser capaz de utilizar-se do pensamento para escolher e recusar tudo o que necessita ou natildeo respectivamente Mas este exerciacutecio de pensar a phyacutesis soacute seraacute possiacutevel porque para Epicuro a natureza eacute a fonte ou o princiacutepio da vida fiacutesica psiacutequica e eacutetica Pois ele revela ao pensamento em si indiacutecios que tornam possiacutevel a medida de realizaccedilatildeo de cada coisa e dentre elas do proacuteprio homem que emerge em seu proacuteprio seio e tem a necessidade de viver de acordo com ela (katagrave phyacutesin)
φύσις phyacutesis (sf)- 35 40 45 48 49 54 68 69 70 71 75 78 79 82 83 86 90 91 97 113 115 129 133 VI VII
Physiologiacutea
64 65
IX XII XV XXV XXX XXXI XXXVII SV 21 SV 24 SV 25 SV 37
Natureza A Carta a Heroacutedoto apresenta proposiccedilotildees fun-damentais acerca dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis Nela articulam-se aacutetomos corpos compostos mundos e o todo a fimde possibilitar a compreensatildeo da natureza das coisas desde a microestrutura do aacutetomo ateacute a noccedilatildeo de infinito Percebe-se que nesta carta Epicuro buscou tornar clara e ob-jetiva a possibilidade de conhecimento da realidade como podemos ver no primeiro momento que revelou a primeira questatildeo ou seja ldquocomo as coisas se realizamrdquo Neste sentido podemos afirmar metafisicamente que na Carta a Heroacutedo-to o olhar tornou-se indagaccedilatildeo e o pensamento estendeu a dimensatildeo deste olhar ao mais minuacutesculo dos limites e ao mesmo tempo ao absoluto ilimitado
Agrave busca desta compreensatildeo Epicuro chamou de physiologiacutea definindo com isso o procedimento reflexivo que enseja a filosofia Eis a razatildeo de ser phyacutesis o germe de seu pensamento pois a origem do filosofar coincide com a origem da phy-siologiacutea Ele faz emergir desta maneira no cerne do pen-samento helecircnico o problema originaacuterio da filosofia Mais que isso o expotildee como propedecircutico ao desenvolvimento de uma ldquovisatildeo de mundordquo ou realidade Assim ele sugere que a construccedilatildeo de um pensamento filosoacutefico tem um princiacutepio sendo este princiacutepio a phyacutesis
Para alcanccedilar estes objetivos voltou-se entatildeo para a estru-turaccedilatildeo dos modos de compreensatildeo dos fenocircmenos natu-rais elaborando explicaccedilotildees que evidenciassem o sentido fiacutesico e material das geraccedilotildees dos desenvolvimentos das corrupccedilotildees enfim das mutaccedilotildees ocorridas na natureza enfatizando a possibilidade mesma de compreensatildeo de tudo
Primeira parte
66 67
isso Com isso buscou desestruturar completamente as ex-plicaccedilotildees fundadas em imaginaacuterias causas sobrenaturais insurgindo-se contra a arrogacircncia das insistentes ldquoopiniotildees vaziasrdquo que as postulavam como origem da realidade Por-que sua ocupaccedilatildeo era a realizaccedilatildeo efetiva de pensar o sublime vir-a-ser e fazecirc-lo aparecer apenas como sublime e natildeo mais como misterioso17
Eacute verdade que nem tudo que pocircde compreender sobre a natureza das coisas coube na epiacutestola que escreveu ao dis-ciacutepulo Heroacutedoto Contudo guardadas as limitaccedilotildees de um compecircndio encontra-se ali a autecircntica e genuiacutena disposiccedilatildeo do conhecimento que insiste em ver o filoacutesofo como um descobridor Natildeo de uma parte mas do ldquotodordquo cuja inquie-taccedilatildeo inicial jaacute eacute a finalidade do conhecimento ou seja a compreensatildeo da realidade
Phyacutesis eacute segundo a etimologia da palavra o processo de cres-cimento ou gecircnese de alguma coisa e neste sentido Epicuro somente a utiliza quando se refere aos corpos compostos e aos mundos Num segundo sentido phyacutesis eacute princiacutepio (ar-cheacute) porque eacute aacutetomos e vazio e num terceiro sentido phyacutesis eacute o modo de ser do todo ilimitado
χρόνος chroacutenos (sm)- 47 62 7273 75 93 106 111 124 126 129 130 133 III IV IX XVI XIX XX XXXVII SV 4 SV 42 SV 46 Pap Herc 1418
Tempo duraccedilatildeo Quando percebido numa relaccedilatildeo sensiacutevel o tempo aparece associado agraves manifestaccedilotildees de movimento Haacute o tempo de transformaccedilatildeo do dia em noite do quente
17 Lucreacutecio no livro I do seu poema De Rerum Natura (62-80) diz que Epicuro buscou explicar ldquocientiacuteficamenterdquo as coisas da natureza e com isso tem livrado a humanidade das falsas crenccedilas e temores
Physiologiacutea
66 67
em frio do crescimento e das degeneraccedilotildees dos seres vivos etc A compreensatildeo da natureza do tempo definida por Epi-curo como ldquoo acidente dos acidentesrdquo (syacutemptoma symptoacutema-tos) (vide infra σύμπτωμα na segunda parte) pressupotildee uma relaccedilatildeo de acontecimentos diversos e sucessivos que podem ser identificados somente na constataccedilatildeo das alteraccedilotildees so-fridas pelos corpos O tempo eacute compreendido numa relaccedilatildeo entre o acidente ou a mudanccedila de propriedades de um corpo e o movimento geral de transformaccedilatildeo das coisas O tempo do todo e de cada aacutetomo eacute um tempo infinito o tempo soacute eacute quantificaacutevel em relaccedilatildeo aos corpos passiacuteveis de observaccedilatildeo cujas alteraccedilotildees de posiccedilatildeo peso tamanho e forma satildeo evi-dentes aos sentidos Atraveacutes da analogia estabelecida entre as mudanccedilas observadas e a projeccedilatildeo do pensamento ao niacutevel macroscoacutepico podem-se criar hipoacuteteses acerca da duraccedilatildeo dos seres
Devemos refletir atentamente nas percepccedilotildees elementares a partir das quais constituiacutemos essa essecircncia (tempo) no que ela tem de proacuteprio e de que partimos para medir o tempo De fato natildeo haacute necessidade de demonstrar pois a reflexatildeo nos basta para compreender que compomos o tempo com os dias e as noites com os nossos estados de paixatildeo ou impassi-bilidade com os movimentos e os repousos concebendo em tudo isso certo acidente comum que nos leva a pronunciar a palavra tempo (DL X 73)
O tempo natildeo tem existecircncia proacutepria como o espaccedilo ou a mateacuteria ele eacute intuiacutedo apreendido percebido nas modifi-caccedilotildees das coisas por isso a Epicuro bastou a reflexatildeo de tempo sendo desnecessaacuterio demonstraacute-la ou defini-la apenas pareceu-lhe importante apresentaacute-la articulada ao movimento Lucreacutecio sintetiza de modo brilhante o que seu
68 69
Primeira parte
68 69
mestre grego pensou sobre o tempo
O tempo natildeo existe em si mesmo mas eacute das proacuteprias coisas que proveacutem o sentimento do que se passou do que eacute pre-sente daquilo que viraacute Ningueacutem pode sentir o tempo em si exteriormente ao movimento ou ao repouso das coisas (DRN I 459 - 463)
Assim a compreensatildeo epicuacuterea de tempo apresenta-o como unidade de medida de duraccedilatildeo Esta duraccedilatildeo pode ser a de um corpo ou do estado de um determinado corpo por exemplo a duraccedilatildeo da dor pode ser percebida e dessa per-cepccedilatildeo infere-se uma medida que quantifica sua duraccedilatildeo Se a dor eacute um acidente do corpo a duraccedilatildeo da dor eacute um acidente do acidente que eacute a dor E aleacutem da dor o prazer e todas as coisas que ora permanecem ora se modificam satildeo experiecircncias que possibilitam a apreensatildeo do tempo como unidade de medida de duraccedilatildeo
Ao considerar o tempo desta maneira Epicuro admite que as noccedilotildees de infinito e finito indicam respectivamente a na-tureza imutaacutevel dos aacutetomos e do todo e a natureza mutaacutevel dos corpos e mundos pois soacute estes uacuteltimos possibilitam a percepccedilatildeo do tempo
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
χώρα choacutera (sf) - 40 XXXVI XXXVII
Espaccedilo lugar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
68 6968 69
SegundA PArte
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
70 71
ἄδηλος aacutedelos (ad)- 32 38 39 80 XXXV
Imperceptiacutevel invisiacutevel oculto incerto desconhecido Aacutedelos expressao que natildeo pode ser apreendido por meio dos sentidos mas que natildeo obstante pode ser inferido atraveacutes de analogias que partem dos dados sensoriais Vide infra analogiacutea-ἀναλογία (nesta mesma parte)
αἴσθησις aiacutesthesis (sf)- 31 32 38 39 44 48 55 58 59 62 63 64 65 68 71 82 90 91 124 XXIII XXIV 422 Us
Sensaccedilatildeo sentido sensibilidade percepccedilatildeo A sensaccedilatildeo eacute a base do conhecimento e da opiniatildeo Eacute o efeito imediato da afecccedilatildeo e tambeacutem o que eacute impresso na alma quando se transforma em proleacutepsis (impressatildeo sensiacutevel) Todo pen-samento que opera por analogia agraves coisas sensiacuteveis o faz sempre tendo em vista a sensaccedilatildeo
αἰσθητήριον aistheteacuterion (sn)- 50 53
Oacutergatildeo sensorial sentido
αἰσθετικός aisthetikoacutes (ad)- 64
Sensiacutevel perceptiacutevel
αἰσθητός aisthetoacutes (ad)- 47 244 Us 261 Us
Sensiacutevel perceptiacutevel
ἀκρίβεια akriacutebeia (sf)- 78 80 83
Exatidatildeo precisatildeo rigor
Segunda parte
72 73
ἀκρίβωμα akriacuteboma (sn)- 36 83
Exatidatildeo precisatildeo conhecer exatamente investigar com exatidatildeo Este termo soacute ocorre nos textos de Epicuro
ἀκρισία akrisiacutea (sf)- XXII
Incerteza confusatildeo inseguranccedila do ldquojuiacutezordquo Este termo se justifica pela indeterminaccedilatildeo do acaso com relaccedilatildeo aos aacutetomos que explica a transformaccedilatildeo do mundo sensiacutevel que pelo movimento causa os inuacutemeros juiacutezos E por natildeo conse-guir determinar o que ocorre no mundo eacute preciso manter-se tranquumlilo na busca do necessaacuterio e nas respostas que a razatildeo encontra
ἀλήθεια aleacutetheia (sf)- 31 S54
Verdade realidade Compreensatildeo ou busca desse conheci-mento da phyacutesis Segundo Epicuro tudo eacute sensiacutevel e a sensa-ccedilatildeo sempre eacute verdadeira Os aacutetomos estatildeo em constantes e diferentes configuraccedilotildees e natildeo haacute como imobilizar a verdade de um fenocircmeno porque ela estaacute no todo de acordo com uma resposta subjetiva que pretende natildeo se amedrontar diante do que natildeo sabe
ἀληθής aletheacutes (ad)- 51 62 244 Us
Verdadeiro Aquele que possui o controle dos seus juiacutezos e eacute conduzido pela razatildeo Eacute capaz da philiacutea(vide infra φιλία na terceira parte) pois possui condiccedilotildees de agir com justiccedila em relaccedilatildeo a outros e as suas proacuteprias escolhas natildeo privilegiando apenas a aparecircncia do prazer mas sim o que eacute considerado qualitativamente bom
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
72 73
ἀλογία alogiacutea (sf)-87 SV 62
Irracionalidade desrazatildeo
ἀλογίστως alogiacutestos (adv)- 135
Contra a razatildeo de modo irracional insensato
ἄλογος aacutelogos (ad)- 31 66 81 SV 62
Irracional privado de razatildeo ininteligiacutevel
ἀμφισβήτησις amphisbeacutetesis (sf)- XXIV
Incerteza duacutevida ambiguidade
ἀναγωγή anagogeacute (sf)- XXIII
Referecircncia
ἀναισθησία anaisthesiacutea (sf)- 81
Insensibilidade
ἀναλογία analogiacutea (sf)- 32 58 59
Analogia proporccedilatildeo A analogia se daacute quando o pensamento procede a comparaccedilatildeo entre o que eacute percebido pela sensaccedilatildeo e o que soacute pode ser pensado (ou inteligido) pois ocorre no niacutevel microcoacutesmico ou macrocoacutesmico A analogia torna possiacutevel a expansatildeo maacutexima da physiologiacutea
ἀναλόγως analoacutegos (adv)- 40
Analogamente
Segunda parte
74 75
ἀνεπιλόγιστος anepiloacutegistos (ad) SV 63
Natildeo calculado Este termo estaacute sempre associado a Epicuro nas suas ocorrecircncias
ἀντιμαρτυρέω antimartyreacuteo (v)- 34 47 48 50 51 55 88 92
Infirmar testificar contra receber prova contraacuteria contra-ditar As teorias que natildeo podem ser confirmadas (epimar-tyacuteresis) sensorialmente podem entretanto receber prova contraacuteria A infirmaccedilatildeo ou pelo contraacuterio a confirmaccedilatildeo de uma teoria eacute possiacutevel por meio da comparaccedilatildeo com os fenocircmenos observaacuteveis
ἀνυπέρβλητος anypeacuterbletos (ad)- 47
Insuperaacutevel enorme
ἀξίωμα axiacuteoma (sn)- 86
Axioma enunciado princiacutepio
ἀπάθεια apaacutetheia (sf)- 73
Apatia natildeo-afecccedilatildeo No sentido de que a natildeo-afecccedilatildeo resul-ta para Epicuro na impossibilidade de conhecer
ἀπιστία apistiacutea(sf)- SV 57
Incerteza incredulidade infidelidade Em Epicuro este termo estaacute relacionado agrave incerteza ou falta de confianccedila que resulta na ignoracircncia e na incapacidade de agir Natildeo haacute registro nos textos remanescentes de Epicuro das noccedilotildees de crenccedila (religiosa) ou fidelidade
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
74 75
ἀπόδειξις apoacutedeixis (sf)- 3873
Demonstraccedilatildeo explicaccedilatildeo definiccedilatildeo prova
ἀπόφασις apoacutephasis (sf)- 124
Declaraccedilatildeo afirmaccedilatildeo
ἀσύμβλητος asyacutembletos (ad)- 83
Incomparaacutevel muito superior a Palavra de uso restrito a Aristoacuteteles e Epicuro
βάσις baacutesis (sf)- 46
Cadecircncia ritmo movimento e estrutura Os aacutetomos que se destacam dos corpos e viajam no espaccedilo conservando a mesma cadecircncia (baacutesis) e disposiccedilatildeo (teacutesis)possibilitam as imagens
βλέψις bleacutepsis (sf)- 130
Exame olhar
γνῶσις gnoacutesis (sf)- 78 79 85 123 SV 27
Conhecimento ciecircncia Como Epicuro natildeo utiliza o termo episteacuteme a canocircnica ou teoria do conhecimento pode ser considerada uma gnoseologiacutea Assim todo conhecimento fenomecircnico da realidade que eacute a base da physiologiacutea eacute com-preendido como gnoacutesis
γνωστός gnostoacutes (ad)- 68
Conheciacutevel compreensiacutevel conhecido
Segunda parte
76 77
δήλωσις deacutelosis (sf)- 76
Designaccedilatildeo manifestaccedilatildeo declaraccedilatildeo indicaccedilatildeo prova
διαλαμβάνω dialambaacuteno (v)- 38 58 67 85 123 133
Distinguir compreender apreender
διαληπτός dialeptoacutes (ad)- 57
Dinstinguiacutevel concebiacutevel
διάληψις diaacutelepsis (sf)- 50 51 58 69
Distinccedilatildeo discernimento
διαλογισμός dialogismoacutes (sm)- 2284 138 Us
Consideraccedilatildeo raciociacutenio conversaccedilatildeo caacutelculo argumentaccedilatildeo
διανόησις dianoacuteesis (sf)- 63
Exerciacutecio da inteligecircncia atividade do pensamento
διάνοια diaacutenoia (sf)- 31 38 49 50 51 62 78 X XVIII XX XXIV
Inteligecircncia reflexatildeo pensamento mente
διαπίπτω diapiacutepto (v)- 98
Falhar escapar errar
διαχέω diacheacuteo (v)- XXX
Dissipar dispersar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
76 77
δόξα doacutexa (sf)- 33 34 35 37 52 77 81 123 132 XV XXIV XXIX XXX SV29 SV59 202 Us 247 Us 471 Us
Opiniatildeo doutrina crenccedila teoria convicccedilatildeo Em Epicuro a opiniatildeo concerne ao que pode ser percebido e que resulta da investigaccedilatildeo empiacuterica ou do que eacute imperceptiacutevel isto eacute natildeo suscetiacutevel de investigaccedilatildeo direta
δοξάζω doxaacutedzo (v)-37 38 90 XXII XXIV 247 Us
Opinar crer
δοξαστικός doxastikoacutes (ad)- XXIV
Apto a formar uma opiniatildeo o que conjectura
ἐγκατάλειμμα enkataacuteleimma (sn)- 50
Resiacuteduo resto
εἴδωλον eiacutedolon(sn)- 46 47 48 50 I SV 24 355 Us
Simulacro imagem iacutedolos Epicuro usa diversos termos para caracterizar as imagens Alguns dizem respeito agraves ima-gens como aquilo que emana dos corpos soacutelidos Assim ele chama de simulacros (eiacutedola) as imagens das formas que satildeo similares aos objetos soacutelidos Ele tambeacutem chama de tyacutepoi (reacuteplicas) (Vide infra τύπος nesta mesma parte) as imagens emanadas dos objetos e que atingem os oacutergatildeos da percepccedilatildeo Lecirc-se no passo 46 da Carta a Heroacutedoto
Assim existem as reacuteplicas (tiacutepoi) da mesma maneira que existem os soacutelidos mas que por sua fineza diferenciam-se dos corpos aparentes Com efeito nada impede que se for-mem no envoltoacuterio (meio em torno dos corpos) destacamen-
Segunda parte
78 79
tos que sejam de tal tipo nem que se encontrem as condiccedilotildees proacuteprias que permitam a produccedilatildeo de espaccedilos ocos (cavados) e finos (tecircnues) nem os efluacutevios que conservem exatamente a posiccedilatildeo e a base (estrutura) que eles tinham sucessivamente nos corpos soacutelidos Essas reacuteplicas noacutes as chamamos de iacutedolos ou simulacros (eiacutedola)
Epicuro utiliza o termo tyacutepoi para mostrar que tais imagens imprimem-se na alma atraveacutes dos oacutergatildeos sensiacuteveis e utili-za eiacutedola para estabelecer a diferenccedila entre as imagens que destacam-se dos compostos e os proacuteprios corpos compostos Entretanto os dois termos satildeo utilizados para caracterizar as finas camadas de aacutetomos mais sutis que se destacam dos corpos e atingem os sentidos Epicuro quer dizer ainda que a experiecircncia natildeo pode desmentir sua proposiccedilatildeo pois natildeo eacute possiacutevel discernir essas imagens que natildeo afetaram ainda o oacutergatildeo sensiacutevel O processo eacute muito raacutepido e soacute depois eacute que se pode pensar na maneira como tudo ocorreu O que estaacute posto aqui eacute que o simulacro conserva o mesmo arranjo (theacute-sin) ou disposiccedilatildeo dos aacutetomos tal qual figura nos corpos soacute-lidos (tocircn somaacuteton ti) Os simulacros satildeo caracterizados como efluacutevios (aporroaiacute) ou emanaccedilotildees (reuacutesis) que se destacam dos corpos e atingem os oacutergatildeos sensiacuteveis Aleacutem disso o fluxo pode conservar por algum tempo a disposiccedilatildeo e a ordem dos aacutetomos (theacutesin kaigrave taacutexin tocircn atoacutemon) Sem profundidade ou volume a imagem eacute formalmente idecircntica ao corpo do qual foi emanada poreacutem eacute reduzida agraves duas dimensotildees do plano Os simulacros podem ser entendidos como substitutos das coisas que permitem ao pensamento representaacute-las O que eacute pensado natildeo satildeo as coisas elas mesmas mas seus simulacros que natildeo tecircm realidade plena isto eacute natildeo satildeo corpos soacutelidos como as coisas mas satildeo reais porque satildeo constituiacutedos por
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
78 79
aacutetomos e vazios como qualquer corpo soacutelido A diferenccedila estaacute na sutileza (fineza) dos aacutetomos que os compotildeem
Os simulacros mantecircm a figura (skheacutema) dos corpos dando forma agrave imagem e os aacutetomos que compotildeem esta imagem possuem sutileza (leptoacutetes) (vide infra ληπτότης nesta mesma parte) e ligeireza (kouraacute) Isso explica porque os simulacros tecircm uma sutileza inconcebiacutevel pelo pensamento e inapreen-siacutevel aos sentidos As imagens que se pode perceber resul-tam da afecccedilatildeo dos simulacros sobre os oacutergatildeos sensiacuteveis As sensaccedilotildees satildeo efeitos da penetraccedilatildeo dos aacutetomos arranjados numa imagem-simulacro no corpo que as recebe
Assim as afecccedilotildees geram imediatamente as sensaccedilotildees que a princiacutepio podem ser de dois tipos ou agradaacuteveis ou desa-gradaacuteveis Epicuro usa o termo energeiacuteas(vide infra ἐνέργεια nesta mesma parte)para nomear o processo de produccedilatildeo das imagens e chama de sympatheiacuteas(vide supra συμπαθής na primeira parte) os estados perceptivos dos corpos afetados pelas imagens Continua Epicuro ainda no passo 46
Assim (ocorre) o movimento que se produz atraveacutes do vazio sem que nenhum choque com os corpos imponha resistecircncia aos simulacros que se movem numa velocidade inconcebiacutevel pelo pensamento
Como a emanaccedilatildeo de simulacros dos corpos eacute contiacutenua a imagem que percorre o espaccedilo perde algumas propriedades que satildeo logo supridas com a continuidade das emanaccedilotildees Este processo de regeneraccedilatildeo ou recomposiccedilatildeo compensa-toacuteria eacute chamado de antanaplerosis Epicuro a todo instante alerta para o fato de que os sentidos natildeo podem contradizer sua hipoacutetese explicativa porque trata-se de imagens im-perceptiacuteveis por dois motivos a saber primeiro porque as imagens satildeo compostas por aacutetomos de natureza mais sutil
Segunda parte
80 81
que os aacutetomos dos corpos concretos segundo porque a velocidade do movimento dos simulacros eacute inconcebiacutevel e incomensuraacutevel Toda a realidade compotildee-se de aacutetomos e vazio mas os aacutetomos satildeo qualitativamente diferentes sendo uns mais densos e outros mais sutis Os aacutetomos que formam as imagens satildeo de natureza sutiliacutessima
εἰκών eikoacuten (sf)- 51
Imagem reproduccedilatildeo iacutecone similitude
ἔκθλίψις eacutekthlipsis (sf)- 53 109
Expulsatildeo deslocamento
ἐλάχιστον (τὸ) elaacutechiston (tograve) (ad substantivado)- 58 281 Us
O miacutenimo
ἔμφασις eacutemphasis (sf)- 95
Aparecircncia aspecto
ἐναργής enargeacutes (ad)- 33 123
Evidente claro manifesto Eacute aquilo que se apresenta claramente ao pensamento e que portanto natildeo poder ser contradito nem pela percepccedilatildeo nem pelo pensamento (ou opiniatildeo)
ἐναργῶς enargocircs (adv)- 67
Evidentemente visivelmente claramente
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
80 81
ἔνδηλος eacutendelos (ad)- 52
Manifesto presente
ἐνέργεια eneacutergeia (sf)- 48 136 2 Us 219 Us
Forccedila (em accedilatildeo) atividade energia Haacute uma diferenccedila en-tre a versatildeo do texto grego utilizada por M Conche (1977) (ἐνέργειας) e a utilizada por Hicks (1925) (ἐνάργεια versatildeo de Gassendi) Para ver a definiccedilatildeo de ἐνάργεια vide supra enargocircs-ἐναργῶς (nesta mesma parte)
ἐννόῃμα ennoacuteema (sn)- 38
Noccedilatildeo ideia conceito significaccedilatildeo
ἔννοια eacutennoia (sf)- 33 576977 XXIV
Pensamento noccedilatildeo concepccedilatildeo ideia
ἐνότης enoacutetes (sf)- 52
Unidade
ἔνστημα eacutenstema (sn)- 91
Obstaacuteculo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto e significa aquilo que se interpotildee ao deslocamento dos aacutetomos no vazio
ἐξαιτιολογεῖν exaitiologeicircn (v inf)- 82
Buscar a causa ou explicaccedilatildeo de algo Primeira apariccedilatildeo do termo ocorre na Carta a Heroacutedoto
Segunda parte
82 83
ἐπαίσθησις epaiacutesthesis (sf)- 52 53
Sensaccedilatildeo percepccedilatildeo
ἐπιβλετικῶς epibletikoacutes (adv)-50
Por apreensatildeo (direta) por impressatildeo (direta)
ἐπιβολή epiboleacute (sf)- 31 35 36 38 50 51 62 69 70 83 XXIV
Apreensatildeo (intuitiva) projeccedilatildeo Pode ser traduzido por salto no sentido de alcance promovido pelo pensamento
ἐπιβολή τῆς διανοίας epibolegrave tecircs dianoiacuteas- 31 38 51 XXIV
Projeccedilatildeo (salto) do pensamento Expressatildeo fundamental que indica a operaccedilatildeo do pensamento quando este articula a expo-siccedilatildeo da realidade Epicuro postula que esta operaccedilatildeo eacute ime-diata e por isso ele utiliza a imagem de um ldquosaltordquo ou de uma ldquoprojeccedilatildeordquo do pensamento para caracterizar a formulaccedilatildeo ou apreensatildeo de uma explicaccedilatildeo acerca da realidade sensiacutevel ou no procedimento de pensar por analogia ao sensiacutevel
ἐπίδηλος epiacutedelos (ad)- 48
Perceptiacutevel visiacutevel
ἐπικρίνειν epikriacutenein (v inf)- 37
Distinguir decidir julgar
ἐπιλογίζεσθαι epilogiacutezesthai (v inf)- 72 133 XXII SV 35
Considerar refletir ter em conta
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
82 83
ἐπιλογισμός epilogismoacutes (sm)- 73 XX
Reflexatildeo caacutelculo
ἐπιμαρτυρεῖν epimartyreicircn (v inf)- 34 50 51 XXXVII
Confirmar testemunhar atestar Vide supra antimartyreacuteo -ἀντιμαρτυρέω verbo de sentido oposto (nesta mesma par-te)
ἐπιμαρτύρεσις epimartyacuteresis (sf)- XXIV 247 Us
Confirmaccedilatildeo Termo utilizado pela primeira vez por Epicu-ro
ἐπίνοια epiacutenoia (sf)- 32 45
Concepccedilatildeo noccedilatildeo doutrina
ἐπιπολή epipoleacute (sf) - 48
Superfiacutecie No texto utilizado por Bollack (1971) o termo aparece diferente ἐπὶ πολλή
ἐπίρρυσις epiacuterrysis (sf)- I
Afluxo influxo fluxo
ἐπιτηδειότης epitedeioacutetes (sf)- 46
Condiccedilotildees proacuteprias propriedade materiais
θεωρητός theoretoacutes (ad)- 47 57 62 I 355 Us
Visiacutevel discerniacutevel perceptiacutevel observaacutevel Pelo nuacutemero de
Segunda parte
84 85
ocorrecircncias da expressatildeo ldquoτοὺς διὰ λόγου θεωρητοὺςrdquo vecirc-se a importacircncia da conexatildeo que realccedila a noccedilatildeo de ldquovista pelo pensamentordquo Elas se datildeo principalmente na Carta a Heroacutedoto Quando associada a logos a expressatildeo adquire o sentido de ldquovisatildeo do pensamentordquo isto eacute aquela capaz de perscrutar as coisas invisiacuteveis Portanto o pensamento que estabelece a realidade e a constituiccedilatildeo dos corpos pela aglomeraccedilatildeo dos aacutetomos se remete agrave uma ldquovisatildeordquo dos corpos elementares
θεωρία theoriacutea (sf) - 35 59 86 116 128
Estudo visatildeo contemplaccedilatildeo
ἰδιότης idioacutetes (sf)- 5871
Particularidade caraacuteter proacuteprio singularidade individuali-dade
ἰδιότροπος idioacutetropos (ad)- 52
Caracteriacutestico distintivo especiacutefico Termo usado pela pri-meira vez por Epicuro
ἰδίωμα idiacuteoma (sn)-72 109
Qualidade particular caraacuteter proacuteprio
κανών kanoacuten (sm)-129
Canocircn criteacuterio regras O comentaacuterio feito por Dioacutege-nes Laeacutercio que se inicia no passo 29 do Livro X tem por objetivo expor a doutrina de Epicuro de modo resumido dividindo-a em trecircs partes e caracterizando o que ele con-
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
84 85
sidera elementar para o leitor Para comeccedilar ele jaacute interfere na compreensatildeo que o leitor pode ter do pensamento em questatildeo quando subdivide a filosofia em canocircnica fiacutesica e eacutetica Eacute preciso discordar dessa subdivisatildeo Note-se que em nenhum momento na Carta a Heroacutedoto Epicuro faz menccedilatildeo a esta divisatildeo estabelecida por Dioacutegenes Laeacutercio Ao con-traacuterio eacute este uacuteltimo que afirma no final desse passo que os epicuristas satildeo os autores de tal divisatildeo Ele natildeo diz de quais epicuristas estaacute falando nem que eacute de Epicuro essa divisatildeo Esse eacute um problema tiacutepico da doxografia e mais do que isso das apropriaccedilotildees que foram feitas dos textos da filosofia an-tiga em geral
Na leitura interpretativa aqui pretendida desconfia-se desta triparticcedilatildeo da filosofia de Epicuro e postula-se que a filosofia eacute um todo que integra a physiologiacutea agrave eacutetica e entende os cri-teacuterios para o conhecimento (tograven kaacutenon) como parte introdu-toacuteria da physiologiacutea ou ainda um meacutetodo explicativo acerca do modo como se produz o conhecimento considerando-o como efeito da natureza O homem produz conhecimentos como modo proacuteprio de se realizar e o conhecimento que ele produz eacute efeito da sua relaccedilatildeo afetiva com a natureza Assim Epicuro tenta recuperar aspectos do pensamento grego18 in-tegrando-os ao seu exerciacutecio de pensar a realidade e o modo como se pode conhececirc-la
κατάληψις kataacutelepsis (sf)- 33
Apreensatildeo
18 Notadamente os pensadores ditos ldquopluralistasrdquo do seacutec V aC como Empeacutedocles Anaxaacutegoras e Demoacutecrito Neste sentido acredita-se que Epi-curo manteacutem-se como um physiologoacutes
Segunda parte
86 87
καταμετρέω katametreacuteo (v)- 58 XIX
Medir calcular
κατεργασία katergasiacutea (sf)- 46
Produccedilatildeo confecccedilatildeo
κρίσις kriacutesis (sf)- XXIV
Discriminaccedilatildeo juiacutezo julgamento
κριτήριον kriteacuterion (sn)- 30 31 38 51 52 82 116 XXIV
Criteacuterio padratildeo de julgamento
ληπτότης leptoacutetes (sf)- 46 47
Fineza sutileza
λογισμός logismoacutes (sm)- 32 39 75 76 117 132 144 145 XVI XIX 517 Us
Raciociacutenio caacutelculo O logismoacutes ou caacutelculo raciociacutenio ou ainda ldquomecanismordquo ou ldquoinstrumentordquo do pensar eacute para Epicuro o que torna possiacutevel a elaboraccedilatildeo do pensamen-to (diaacutenoia) Eacute tambeacutem o que possibilita as analogias que conduzem o pensamento desde as impressotildees sensiacuteveis agraves elaboraccedilotildees de explicaccedilotildees sobre tudo o que natildeo eacute percebido pelos sentidos
Trata-se portanto de um conceito fundamental para enten-der o papel do pensamento na deliberaccedilatildeo acerca do modo de vida do homem no mundo uma vez que ele calcula ou mensura o alcance e o limite da accedilatildeo humana ou seja eacute
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
86 87
atraveacutes da reflexatildeo que se daacute a medida do agir
Sempre que Epicuro se refere ao exerciacutecio do pensamento ou reflexatildeo o termo utilizado eacute logismoacutes pois entende o exerciacute-cio como ato de pensamento ou operaccedilatildeo do pensamento Eacute sempre a partir do logismoacutes que se julga ou delibera e a accedilatildeo subsequente expressa uma sabedoria (vide infraphroacutenesis φρόνησις na terceira parte) que eacute na praacutetica capacidade de discernir de escolher e de recusar Podemos identificar em diversas passagens do texto de Epicuro o uso deste termo com efeitos de caacutelculo direcionamento da accedilatildeo operaccedilatildeo com analogias etc As seis passagens a seguir mostram es-tes usos ldquoCom efeito a existecircncia de corpos eacute atestada em toda a ocasiatildeo pelos sentidos e eacute neles que o logismoacutes deve basear-se para conjecturar acerca do sensiacutevelrdquo (DL X 39) ldquoEacute preciso ainda compreender que a natureza tem recebido ainda das realidades mesmas um ensinamento muacuteltiplo e variado e que mais tarde o logismoacutes introduziu precisotildees e acrescentou descobertas ao que a natureza transmitiu em certos casos mais rapidamente em outros mais lentamen-te em certos periacuteodos e momentos alcanccedilando progressos maiores em outros menoresrdquo (DL X 75) ldquoAs causas dos males praticados pelos homens satildeo o oacutedio a inveja e o des-prezo que o saacutebio domina por meio do logismoacutes Aquele que se torna saacutebio uma vez nunca mais assumiraacute nem fingiraacute as-sumir voluntariamente uma atitude contraacuteriardquo (DL X 117) ldquoNatildeo eacute a sucessatildeo ininterrupta de banquetes e festas nem o prazer sexual com meninos e mulheres nem a degustaccedilatildeo de peixes e outras iguarias oferecidas por uma mesa suntuosa que proporciona a vida agradaacutevel e sim o nephroacuten logismoacutes (caacutelculo soacutebrio) que investigue as causas de toda a escolha e de toda a rejeiccedilatildeo e elimine as opiniotildees vatildes por obra das
Segunda parte
88 89
quais um imenso tumulto se apossa das almasrdquo (DL X 132) ldquoRaramente o acaso atinge o saacutebio pois as coisas principais e fundamentais tecircm sido governadas pelo logismoacutes e por todo o curso da vida o governa e o governaraacuterdquo (DL X 144) ldquoO tempo infinito conteacutem o mesmo prazer que o tempo finito se os limites deste prazer satildeo calculados (com o logismoacutes)rdquo (DL X 145)
O uso do termo logismoacutes daacute sentido e linearidade agrave psicologia epicuacuterea na medida em que busca explicitar os agenciamentos das imagens discursivas que representam tanto as realidades aprendidas pelos sentidos quanto agraves apreendidas pelo pensamento A tentativa de mostrar como a alma opera o conhecimento ou o modo como o pensamento eacute elaborado denota a relevacircncia dessas explicaccedilotildees para uma physiologiacutea da alma
λόγος loacutegos (sm)- 32 47 59 62 83 86 I XXV SV 26 36 Us 221 Us 355 Us
Discurso pensamento argumento razatildeo Epicuro utiliza vaacuterias vezes este termo com sentidos diversos por isso ele pode ser traduzido dependendo da ocasiatildeo por todas as palavras aqui elencadas
μαντική mantikeacute (ad)- SV 24
(Arte) Divinatoacuteria profeacutetica
μάθησις maacutethesis (sf)- SV 27
Accedilatildeo de aprender desenvolver instruir conhecimento ins-truccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
88 89
μέγεθος meacutegethos (sn)- 41 43 44 49 54 55 56 57 58 59 68 69 91 III
Grandeza magnitude tamanho
μεταβατός metabatoacutes (ad)- 58
Passiacutevel de ser atravessadas que admite passagem Palavra de uso exclusivo de Epicuro
μῆκος mecirckos (sn)- 46 59 98
Extenccedilatildeo longitude
μνήμη mneacuteme (sf)- 31 35 36 82 83 85 95 255 Us
Memoacuteria Nos textos remanescentes de Epicuro identifi-camos onze ocorrecircncias de termos relacionados agrave memoacuteria (mneacuteme) que evidenciam a importacircncia dada pelo filoacutesofo aos exerciacutecios de memorizaccedilatildeo Exemplo disso eacute o iniacutecio da Carta a Heroacutedoto onde podemos ler
Para os incapazes de estudar acuradamente cada um dos meus escritos sobre a natureza Heroacutedoto ou de percorrer detidamente os tratados mais longos preparei uma epiacutetome de todo o meu sistema a fim de que possa conservar bem gravado na memoacuteria o essencial dos princiacutepios mais impor-tantes e estejam em condiccedilotildees de sustenta-los em quaisquer circunstacircncias desde que se dediquem ao estudo da natureza Aqueles que progredirem suficientemente na contemplaccedilatildeo do universo devem ter na memoacuteria os elementos fundamen-tais de todo o sistema pois necessitamos frequentemente de uma visatildeo de conjunto embora natildeo aconteccedila o mesmo com os detalhes (DL X 35 p 291)
Segunda parte
90 91
Nessa passagem Epicuro utiliza duas vezes a noccedilatildeo de me-moacuteria a primeira quando sugere que os disciacutepulos receacutem iniciados no estudo da phyacutesis devem gravar na memoacuteria (Eacuten te mneacuteme) o essencial dos princiacutepios da physiologiacutea a se-gunda quando adverte que eles devem estar sempre prontos para expor uma visatildeo de conjunto (athroacuteas epiboleacutes) de toda a physiologiacutea e para isso devem guardar na memoacuteria (mnemo-neuein) o sistema
Na passagem seguinte (36) ele utiliza duas vezes o termo memoacuteria para enfatizar que os recursos mnemocircnicos devem ser utilizados em todo momento para evitar as crenccedilas e as opiniotildees vazias (kenoacuten doxai) (vide supradoacutexa δόξα nesta mesma parte) uma vez que quando fixadas na memoacuteria as explicaccedilotildees acerca da natureza das coisas a conduta do saacutebio jamais seraacute perturbada por imagens discursivas fantasiosas imaginativas que apontem para causas sobrenaturais Eacute ne-cessaacuterio lembrarmos sempre que o propoacutesito da filosofia de Epicuro eacute o exerciacutecio da vida feliz (makaacuterios zeacuten) e que como escreveu Jean Salem ldquoo caminho que conduz agrave felicidade leva em conta o aniquilamento das perturbaccedilotildees causadas em noacutes pelas opiniotildees vazias o que soacute eacute possiacutevel quando haacute a memorizaccedilatildeo dos princiacutepios da physiologiacutea19
μοναχῇ monachecirci (ad f)- 94
Uacutenica
μοναχός monachoacutes (ad)- 86 95
Uacutenico
19 SALEM J p 40
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
90 91
μοναχῶς monakhocircs (adv)- 80
Unicamente
μονοειδῶς monoeidocircs (adv)- 109
De um soacute tipo ou aspecto
μῦθος myacutethos (sm)- 81 87 104 116 134 XII
Mito lenda faacutebula
νομοθεσία nomothesiacutea (sf)- 86
Atos ldquolegiferantesrdquo leis impostas leis convenciondas arbitra-riamente princiacutepios arbitraacuterios
νόημα noacuteema (sn)- 48 61 83
Pensamento o que foi inteligido
νόησις noacuteesis (sf)- 33 (255Us) 123
Faculdade de pensar inteligecircncia
ὁμοιομερής homoiomereacutes (ad)- 52
Partes semelhantes partiacuteculas homogecircneas
ὁμοιόμορφος homoioacutemorphos (ad)- 49
Mesma forma contorno similar
ὁμοιοσχήμων homoioscheacutemon (ad)- 46
Com forma semelhante
Segunda parte
92 93
ὁμοιότης homoioacutetes (sf)- 32(36 Us) 51
Semelhanccedila parecenccedila
ὁμοίωμα homoiacuteoma (sn)- 46
Equivalente similar correspondente
ὁμούρησις homuacuteresis (sf)- 64
Contiacuteguidade vizinhanccedila Esta eacute uma versatildeo dialetal do iocircnico-aacutetico correspondendo agrave comum homoacuteresis palavra usada a partir de Epicuro
ὁμόχροος homoacutechroos (ad)- 49
Que tem a mesma cor que tem cor semelhante
ὀξύς oxyacutes (ad)- 48
Raacutepido
ὅρος hoacuteros (sm)- III XI
Limite Epicuro usa dois termos para se referir agrave ideia de limite peacuteras e hoacuteros (vide supra πέρας na primeira parte) Ambos satildeo utilizados indiscriminadamente com o sentido de limite Eles se referem sobretudo aos limites dos desejos e dos prazeres Epicuro deixa claro que o prazer tem por natureza limites determinados
πάθος paacutethos (sn)- 31 34 38 52 55 63 73 75 82 116 129 XXIV SV 18 191 221 241 Us
Afecccedilatildeo sentimento estado paixatildeo Epicuro preconiza que
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
92 93
todo conhecimento sensiacutevel tem iniacutecio na afecccedilatildeo que ocor-re quando o oacutergatildeo sensiente entra em contato com um ob-jeto externo Desta maneira o paacutethos eacute o que gera em noacutes a sensaccedilatildeo (vide supraaiacutesthesis - αἴσθησις nesta mesma parte) que eacute retida na memoacuteria transformando-se em sentimento ou impressatildeo sensiacutevel (Vide infraproleacutepsis πρόληψις nesta mesma parte) O movimento do pensar decorre das impre-esotildees rememoradas e operadas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias (phantastikeacute epiboleacute) do pensamento (tegraves diaacutenoias) (Vide su-pra ἐπιβολή τῆς διανοίας nesta mesma parte)
παρὸν (τό) parograven (toacute) (v substantivado)- XXIV 247 Us
O presente O verbo πάρειμι se substantiva em τὸ παρόν
περὶεχον (τό) perigraveechon (toacute) (v substantivado)- 46 48
O que circunda rodeia envolve cerca
περιληπτός perileptoacutes (ad)- 40 46
O que apreende abarca compreende
περιοιδεία periodeiacutea (sf)- 36 83 85
Percorrer (com o pensamento)
περίοδος periacuteodos (sm)- 75 77 83 97
Periacuteodo revoluccedilatildeo oacuterbita
πιθανολογοὺμενον (τό) pithanologugravemenon (toacute) (v substantivado)- 87
Alegaccedilatildeo plausiacutevel opiniatildeo verossiacutemil ou provaacutevel
Segunda parte
94 95
πίστις piacutestis(sf)- 63 85 SV 7 S34
Crenccedila convicccedilatildeo certeza
πρόληψις proacutelepsis (sf)- 31(35 Us) 33 (255 Us) 72 124 XXXVII XXXVIII
Prenoccedilatildeo antecipaccedilatildeo preconcepccedilatildeo representaccedilatildeo no sentido de impressatildeo na alma As proacutelepsis satildeo as noccedilotildees que estruturam a realidade no pensamento Elas podem representar os objetos que estatildeo fora dos indiviacuteduos e satildeo apreendidos pelos sentidos quando os simulacros neles penetram ou podem ser efeitos dos processos operacionais do pensamento tais como as analogias as compraraccedilotildees e as combinaccedilotildees Elas constituem imagens conceituais que satildeo articuladas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento (phantastikaacutei epibolaigrave tegraves dianoiacuteas) Com isso Epicuro quer explicitar a capacidade do pensamento de pensar o que eacute invisiacutevel (aacutedelon) mediante analogia com o que se tornou visiacutevel pela sensibilidade Mais que isso ele tenta expor os mecanismos internos do pensa-mento quando se produz a opiniatildeo o conhecimento o reconhecimento a articulaccedilatildeo das informaccedilotildees retidas na memoacuteria sob a forma de imaginaccedilatildeo criaccedilatildeo etc O que estaacute sendo construiacutedo eacute um invisiacutevel a partir do visiacutevel e este invisiacutevel conecta associa integra os corpos visiacuteveis numa rede loacutegica ou discursiva Trata-se da representa-ccedilatildeo ou do pensamento como representaccedilatildeo imageacutetica da realidade
προδοξάζω prodoxaacutedzo (v)- 50 62
Pressuposiccedilatildeo presunccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
94 95
προσμένον (τὸ) prosmeacutenon (tograve) (v substantivado)- 34 38 50 XXIV
A espera
ῥεῦμα rheŷma (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo
σημεῖον semeicircon (sn)- 87 97 183 Us
Sinal indiacutecio
στερέμνιον stereacutemnion (ad)- 46 48 50
Soacutelido
συμβεβηκός symbebekoacutes (sn)- 40 50 68 71
Propriedade atributo Em alguns casos pode ser traduzido por ldquoacidenterdquo Epicuro diferencia entre as propriedades permanentes (symbebekoacutes) e as propriedades acidentais (syacutemptoma)20 Todas as qualidades acidentais estatildeo sujeitas agrave mudanccedila poreacutem as propriedades permantes satildeo necessaacuterias e imutaacuteveis Forma tamanho e peso satildeo propriedades per-manentes do aacutetomo (ver supraaacutetomos - ἄτομος na primeira parte)
σύμμετρος syacutemmetros (ad)- 47 50 53 61 91
Simeacutetrico proporcional comensuraacutevel
20 Cf Morel 2013 p 57
Segunda parte
96 97
συμμέτρως symmeacutetros (adv)- 110
Simetricamente proporcionalmente
συμπάθεια sympaacutetheia (sf)- 48 50 52 53 64
Simpatia afinidade correspondecircncia Eacute o modo como os objetos exteriores nos afeta causando uma correspondecircncia entre os objetos neles mesmos e como os sentimos ou perce-bemos A sympaacutetheia ocorre quando haacute uma afinidade entre os aacutetomos do corpo ou de uma imagem que nos afeta e o oacutergatildeo por ele afetado Este acordo gera uma correspondecircn-cia natural entre os corpos que se afetam mutuamente
συμπλήρωμα sympleacuteroma (sn)- 48
Completude inteireza plenitude Palavra rara encontrada somente em Aristoacuteteles e Epicuro
σύμπτωμα syacutemptoma (sn)- 40 64 67 70 71 73
Acidente incidecircncia sintoma
συνεχής synecheacutes (ad)- 36 48 50 62 82 105 I XVI SV67
Contiacutenuo constante incessante
σύνθεσις syacutenthesis (sf)- 32 (36 Us)
Siacutentese composiccedilatildeo uniatildeo
συνθεωρεῖν syntheoreicircn (v inf)- 96 102 116
Considerar em conjunto ter uma visatildeo geral
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
96 97
σύντομος syacutentomos (ad)- 76 84 SV4
Breve conciso
σύστοιχος syacutestoichos (ad)- 76
Que eacute do mesmo tipo
σχηματίζειν schematiacutezein (v inf)- 53
Moldar
τεκμαίρω tekmaiacutero (v)- 39
Inferir formar um juiacutezo
τέλος teacutelos (sn)- 85 128 131 133 XX XXII XXV SV 25 SV 75
Fim finalidade objetivo
τόπος toacutepos (sm)- 47 60 62 75 89 98 103 105 108 111 112 113 115 XXXIII
Lugar regiatildeo
τρόπος troacutepos (sm)- 87 94 95 96 97 99 101 102 104 106 108 112 115 SV 62
Modo maneira meacutetodo
τύπος tyacutepos (sm)- 33(255 Us)35 36 45 46 49 68
Modelo esquema impressatildeo reacuteplica figura imagem Vide supraeiacutedolon-εἴδωλον (nesta mesma parte)
Segunda parte
98 99
ὑπεναναντίος hypenantiacuteos (ad)- 77 81
Contraacuterio incompatiacutevel inconsistente
ὑπεξαίρεσις hypexaiacuteresis (sf)- III
Remoccedilatildeo eliminaccedilatildeo supressatildeo
ὑπόθεσις hypoacutethesis- 95
Hipoacutetese
ὑπόληψις - hypoacutelepsis (sf)- 34 124
Suposiccedilatildeo conjectura O termo hypoacutelepsis eacute equivante ao ter-mo doacutexa Epicuro diz que a crenccedila nos deuses satildeo hipoleacutepseis pseudecircis ie suposiccedilotildees falsas As hypoleacutepseis satildeo suposiccedilotildees que natildeo necessariamente correspondem agrave realidade Diferente de proacutelepsis(vide supra proacutelepsis-πρόληψις nesta mesma par-te) este termo indica uma ideia que natildeo passou pelo crivo da sensibilidade ou pelos outros meios de confirmaccedilatildeo ou natildeo--infirmaccedilatildeo constituintes do meacutetodo gnosioloacutegico de Epicuro
φαινὸμενα (τά) phainogravemena (taacute) (v substantivado) - 32(36 Us) 46 47 54 55 60 71 86 87 88 90 92 93 95 97 98 100 102 104 112 113
Fenocircmenos aparecircncias o que eacute visiacutevel manifesto
φαντασία phantasiacutea (sf)- 50 80 247 Us
Representaccedilatildeo imagem
φάντασμα phaacutentasma (sn)- 32 (36 Us) 75 88 102 110
Visatildeo sonho apariccedilatildeo aparecircncia
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
98 99
φθόγγος phthoacutengos (sm)- 37 38 76 83
Som fala palavra
φωνή phoneacute (sf)- 36 45 53 XXXVII SV 33 SV 41 SV 45 SV 75
Voz expressatildeo palavra
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
ψεῦδος pseucircdos (sn)- 5051
Falsidade erro engano
ψυχή psycheacute (sf)- 63 64 65 66 67 68 77 81 122 128 131 132 SV 69 SV81 812 Us 314 Us 315 Us
Alma A compreensatildeo da alma como um corpo (soacutema) ou ainda como um agregado (aacutethroisma) de aacutetomos mais sutis que os componentes das realidades sensiacuteveis (corpossoacutemata) sefundamenta no pressuposto baacutesico da physiologiacutea atomista segundo o qual tudo o que existe eacute composto de aacutetomos e vazio A materialidade da alma eacute portanto uma consequecircncia loacutegica desse pressuposto Contudo o que ca-racteriza especificamente a mateacuteria da alma permanece um problema no contexto do pensamento atomista antigo de Demoacutecrito a Lucreacutecio uma vez que se manteacutem o caraacuteter metafiacutesico da questatildeo Ainda que a loacutegica seja inabalaacutevel do ponto de vista do discurso a impossibilidade de uma de-monstraccedilatildeo fiacutesica resguarda a alma no cerne da obscuridade Epicuro entretanto tentou agrave sua maneira fugir agraves represen-
Segunda parte
100 101
taccedilotildees miacuteticas e ousou talvez mais que qualquer outro ateacute entatildeo perscrutar a natureza fiacutesica da alma tomando-a num corpo substancialmente ligado ao corpo-carne Tal ligaccedilatildeo enquanto questatildeo constituiraacute doravante um imenso campo de investigaccedilatildeo cujas propriedades e possibilidades chegam ateacute os nossos dias sem entretanto mostrar-se completa e solucionada Apesar de todas as crenccedilas propagadas mun-do a fora sobre a imortalidade da alma e mesmo apesar dos discursos filosoacuteficos ancorados nesta crenccedila Epicuro viu-se capaz de enxergar um caminho para expor a sua physiologiacutea da alma enquanto uma ldquopsicologiardquo que pensa a psycheacute como um princiacutepio corporal energeacutetico unificador do corpo A alma seraacute pensada tambeacutem a partir de Epicuro e ateacute hoje como um corpo dentro do corpo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
100 101
terceirA PArte
ethicaacute
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Ethicaacute
102 103102 103
ἀβέβαιος abeacutebaios (ad)- 134
Inseguro incerto
ἀδέσποτος adeacutespotos (ad)- 133
Sem senhor sem governo Epicuro usa este termo no contex-to da criacutetica agraves teses que desconsideram a liberdade e respon-sabilidade dos homens Adeacutespotos eacute umadjetivo relacionado agrave expressatildeo parrsquo hemacircsVide infra parrsquo hemacircs-παρ᾿ἡμᾶς (nesta mesma parte)
ἀδικία adikiacutea (sf)- XXXIV
Injusticcedila
ἀδιόριστος adioacuteristos (ad)- 81
Natildeo fixo indeterminado indefinido
ἀδροτής adroteacutes (sf)- 83
Vigor forccedila
ἀθανασία athanasiacutea (sf)- 124
Imortalidade Na Carta a Meneceu Epicuro considera que o desejo de imortalidade eacute um desejo vatildeo assim como consi-dera que natildeo haacute nada a temer em relaccedilatildeo a morte
ἀθάνατος athaacutenatos (ad)- 135 SV78
Imortal Epicuro utiliza o termo imortal no sentido de qua-lificar o bem que resulta de uma vida sem perturbaccedilotildees que ele identifica com o bem maior que eacute o prazer
Terceira parte
104 105
ἀθορύβως athoryacutebos (adv)- 87
De modo impassivo tranquilo
αἵρεσις haiacuteresis (sf)- 128129132
Escolha eleiccedilatildeo
αἱρετός hairetoacutes (ad)- 30129
Escolhido
ἀκέραιος akeacuteraios (ad)- XII
Puro natildeo-misturado
ἀλγηδών algedoacuten (sf)- 129 137 XI SV 4 SV 3773
Dor sofrimento Diz-se da dor que antecede ou sucede o prazer ou ainda quando algo que parece prazeiroso acaba resultando em dor pelo uso desmedido que dele se faz E tambeacutem a ausecircncia de felicidade causada por dores do corpo Os desejos encontram-se sem controle e difiacuteceis de serem saciados onde o corpo encontra-se desesperado atraacutes de enormes prazeres e apavorado por fugir do que lhe causa medo
ἀνάπαυσις anaacutepausis (sf)- 125
Cessaccedilatildeo repouso
ἀνυπεύθυνος anypeuacutethynos (ad)- 133
Irresponsaacutevel
Ethicaacute
104 105
ἀόριστος aoacuteristos (ad)- SV 59
Natildeo limitado ilimitado
ἀοχλησία aochlesiacutea (sf)- 127
Tranquumlilidade natildeo interrompida Refere-se a tranquilidade do corpo
ἀόχλητος aoacutechletos (ad)- SV 79
Natildeo agitado tranquumlilo Palavra rara usada a partir de Epicu-ro
ἅπαξ haacutepax(adv)57 128 XVIII 222 Us
Uma vez de uma vez Em Epicuro este adveacuterbio se presta a evidenciar o limite temporal dos prazeres e dores ldquoUma vez (haacutepax) este estado realizado em noacutes (ausecircncia de sofrimento e termor) toda a tempestade da alma desaparecerdquo (DL X 128) Isso significa que eacute impossiacutevel haver simultaneidade de dores e prazeresldquoO prazer na carne natildeo cresce uma vez (haacutepax) suprimida a dor da necessidaderdquo (XVIII) Epicuro tambeacutem critica a opiniatildeo de que o prazer pode se intensifi-car ao infinito No entanto quando o prazer estaacute presente eacute possiacutevel apenas uma variaccedilatildeo do estado de prazer
ἀπογεγεννημένα apogegennemeacutena(sn)-Nat34 21-2 3426-30 (livro XXV)
Desenvolvimentos produtos Este termo aparece apenas no Perigrave phyacuteseos (Sobre a Natureza) Autores como Sedley (1987) Arrighetti (1960) Laursen (1991) e Orsquokeefe (2005) analisaram e propuseram traduccedilotildees para tagrave apogegenemeacutena
Terceira parte
106 107
das quais se destacam ldquodesenvolvimentosrdquo e ldquoprodutosrdquo O livro XXV do Perigrave phyacuteseos cujo tema principal eacute a liberdade aprofunda as resumidas explicaccedilotildees epistolares a respeito da relaccedilatildeo entre necessidade (anaacutenke) e liberdade assegurando que o homem pode desenvolver seu proacuteprio caraacuteter ainda que existam influecircncias necessaacuterias do meio ambiente (peri-eacutechon) Assim o que o homem desenvolve em relaccedilatildeo ao seu modo de ser eacute de sua inteira responsabilidade
ἀπόλαυσις apoacutelaysis (sf)- 131 132 SV 27
Gozo utilidade proveito
ἀπολαυστός apolaustoacutes (ad)- 124
Agradaacutevel Palavra usada a partir de Epicuro
ἀπονία aponiacutea (sf)- 136
Ausecircncia de dor ou sofrimento Assim como a ataraxiacutea eacute a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na alma a aponiacutea eacute ausecircncia de dor no corpo Isto quer dizer que o corpo encontra-se em equiliacutebrio ou experimenta um prazer katastemaacutetico
ἀρετή areteacute (sf)- 124 132 138
Excelecircncia virtude
ἀσεβής asebeacutes (ad)- 123 SV 43
Iacutempio
ἀσείστως aseiacutestos (adv)- 87
Ethicaacute
106 107
Inabalavelmente Adveacuterbio raro usado a partir de Epicuro
ἄστατος aacutestatos (ad)- 133
Instaacutevel inconstante
ἀσύμφορος asyacutemphoros (ad)- 130
Inconveniente desvantajoso
ἀσφάλεια asphaacuteleia (sf)- VIIXIII XIVXXVIII SV 31
Seguranccedila A asphaacuteleia estaacute relacionada agrave tranquumlilidade de uma vida equilibrada livre dos tormentos e dos pesares que resultam dos desejos desmesurados e da ignoracircncia
ἄσωτος aacutesotos (ad)- 131X
Dissoluto
ἀτάκτως ataacutectos (adv)- 134
Desordenadamente
ἀταράκτος ataraacutektos (ad)- XVII
Imperturbado
ἀταραξία ataraxiacutea (sf)- 82 85 96 128 2 Us
Imperturbabilidade equiliacutebrio tranquilidade da alma O termo grego ataraxiacutea pode ser traduzido por imperturbabili-dade equiliacutebrio e tranquilidade da alma Etimologicamente a melhor traduccedilatildeo eacute imperturbabilidade Este termo foi
Terceira parte
108 109
utilizado no sentido que iremos expor primeiramente por Demoacutecrito (Dem ap Estob273) e por Epicuro O que haacute de comum entre diversos pensadores do periacuteodo heleniacutestico eacute a relaccedilatildeo estabelecida por eles entre o ldquomodo de serrdquo (eacutethos) e a imperturbabilidade da alma Isso porque o estado da alma define o caraacuteter do indiviacuteduo e o que passa a interessar neste periacuteodo eacute a salvaguarda do bem estar do indiviacuteduo seja mediante a suspensatildeo do juiacutezo (epocheacute) entre os ceacuteticos seja como ausecircncia de paixotildees (apaacutetheia) entre os estoicos ou com o constante cuidado com a sauacutede (hygiacuteeia) da alma ou com a sua imperturbabilidade (ataraxiacutea) com Epicuro
Uma alma satilde tem o poder de ser princiacutepio de accedilatildeo (archeacute) de um indiviacuteduo dela deriva a sua altivez e simplicidade Este estado de alma caracteriza o que Epicuro chama makaacuterios zecircn (vida feliz) isto eacute ela eacute princiacutepio e fim da realizaccedilatildeo da proacutepria vida Por outro lado uma alma ldquoperturbadardquo que traz em si o peso das doenccedilas aniacutemicas caracteriza um modo de ser enfraquecido cujo poder de determinaccedilatildeo jaacute se esvaiu em meio a temores anguacutestias e desesperos O cuidado com a alma eacute para Epicuro um exerciacutecio constante inerente agrave praacutetica filosoacutefica
ἀτάραχος ataacuterachos (ad)- 80 SV 79
Ataraacutexico imperturbado
αὐτάρκεια autaacuterkeia (sf)- 130 SV 44 SV 77
Autarquia autossuficiecircncia ter o princiacutepio da accedilatildeo em si mesmo Existem diversas possiacuteveis traduccedilotildees do termo gre-go autaacuterkeia utilizado por Epicuro entre as quais as mais frequentes satildeo ldquoindependecircnciardquo ldquoautossuficiecircnciardquo ldquocapaci-
Ethicaacute
108 109
dade de bastar-se a si mesmordquo Estas noccedilotildees aludem a uma noccedilatildeo baacutesica de domiacutenio e princiacutepio- archeacute que estaacute em poder de quem age - autoacute - (a partir de) si mesmo Assim o sophoacutes eacute autaacuterkes porque age a partir de si mesmo Mas em que consiste esta autaacuterkeia e como eacute possiacutevel obtecirc-la Tais questotildees encetam para o princiacutepio da accedilatildeo tal como fora concebido no pensamento em questatildeo que implica em sua raiz a compreensatildeo do sentido de liberdade - eleutheriacutea - que a justifica ao mesmo tempo em que a fundamenta
Literalmente autaacuterkeia eacute uma qualidade de quem se basta a si mesmo Daiacute podermos pensar em algueacutem que exista ou subsista por si mesmo e isto soacute eacute possiacutevel quando sua accedilatildeo tem o princiacutepio nele mesmo ou ainda quando a causa da accedilatildeo esteja nele mesmo Para Epicuro a autaacuterkeia eacute o que caracteriza fundamentalmente a accedilatildeo saacutebia que por defi-niccedilatildeo exclui tanto a inatividade quanto a reatividade bem como a accedilatildeo cujo princiacutepio e o teacutelos natildeo estatildeo nela mesma A sabedoria enquanto accedilatildeo tem o sentido embutido nela isto eacute no seu exerciacutecio que chamamos de accedilatildeo autaacuterquica ou simplesmente autaacuterkeia Sendo assim a autaacuterkeia expressa uma condiccedilatildeo de vida no mundo em que o conjunto das accedilotildees tende naturalmente agrave repleccedilatildeo e portanto ao equiliacute-brio Viver em equiliacutebrio por sua vez natildeo depende senatildeo do modo como o homem vivencia a sua situaccedilatildeo real de existir independente de qualquer outro ldquopoderrdquo que transcenda a sua dyacutenamis de accedilatildeo desde que esse ldquopoderrdquo possa ser per-mitido ou evitado A autaacuterkeia eacute a expressatildeo da vida tornada independente das necessidades que a negam e a fazem re--agir ou sofrer
Para que a autaacuterkeiaseja alcanccedilada e cultivada eacute necessaacuterio agir segundo o logismoacutes e a phroacutenesis Dessa maneira esses
Terceira parte
110 111
trecircs conceitos definem a possibilidade de ponderaccedilatildeo de se estabelecer uma medida para o agir e atraveacutes do exerciacutecio da autaacuterkeia o sophoacutes define por si mesmo o bastante para a realizaccedilatildeo dos seus desejos naturais e necessaacuterios
E noacutes estimamos que a autaacuterkeia eacute um grande bem natildeo para que faccedilamos uso de pouco de um modo geral mas afim de que faccedilamos uso de pouco se natildeo temos a abundacircncia verdadeiramente persuadidos de que gozam a magnificecircncia com mais prazer aqueles que menos necessitam dela e que tudo o que eacute fundado na natureza se adquire facilmente e o que eacute vazio (vatildeo) eacute difiacutecil se obter (DL X 130)
O termo em questatildeo significa nesta passagem ldquocontenta-mentordquo medida exata de repleccedilatildeo suficiecircncia dada pela proacutepria natureza Epicuro recolhe no modo como o sophoacutes interage com a natureza a medida da satisfaccedilatildeo a mesma que nortearaacute a accedilatildeo saacutebia Por isso a accedilatildeo deve corresponder aos desejos naturais e necessaacuterios jaacute que agindo de acordo com a natureza onde o transito eacute imediato torna-se possiacutevel ao sophoacutes evitar desafetos que quase sempre forccedilam a sua rea-ccedilatildeo ou o seu desequiliacutebrio Toda a accedilatildeo contraacuteria agrave natureza eacute difiacutecil e acaba sendo tambeacutem vatilde vazia para quem procura realizaacute-la porque eacute fruto de desejos de diversos matizes que entretanto satildeo oriundos das opiniotildees vazias (kenaigrave doxaacutei) disseminadas entre os insensatos A filosofia eacute para Epicuro o ldquoantiacutedotordquo para essas opiniotildees e por isso mesmo a efetiva-ccedilatildeo da autaacuterkeia
Agir de acordo com a natureza (katagrave phyacutesin) define a relaccedilatildeo entre a physiologiacutea e a eacutetica na medida em que explicita o sentido do proceder filosoacutefico em busca da compreensatildeo necessaacuteria agrave fundamentaccedilatildeo da accedilatildeo saacutebia Este modo de agir revela tambeacutem o sentido real do prazer enquanto repleccedilatildeo
Ethicaacute
110 111
isto eacute da accedilatildeo que engendra serenidade (galenismoacutes) Neste sentido o sophoacutes age de modo prazeiroso e o conjunto das suas accedilotildees perfaz a realizaccedilatildeo plena da vida Trata-se de um estado de contentamento no qual ele se sente inteiramente integrado ao meio natural onde as adversidades existen-tes podem ser em alguns casos previstas e na medida do possiacutevel evitadas A accedilatildeo fundada na natureza eacute fruto da deliberaccedilatildeo do sophoacutes que busca a todo instante realizar os bens que realmente importam agrave sabedoria que se traduz pela manutenccedilatildeo de uma vida equilibrada Esta accedilatildeo eacute modulada pela physiologiacutea que eacute por assim dizer o seu fundamento ontoloacutegico Epicuro opotildee aos desejos difiacuteceis de serem re-alizados e que tecircm origem nas opiniotildees vazias a noccedilatildeo de simplicidade que quer dizer rigorosamente neste contexto a medida dada pela natureza proacutepria de cada um cabendo ao sophoacutes descobrir a sua mediante a economia dos desejos que poderia tambeacutem ser chamada de ldquodieteacuteticardquo dos desejos Esta eacute uma alternativa proposta por Epicuro para responder aos desmesurados valores vigentes em sua eacutepoca
O estudo da natureza prepara natildeo os jactanciosos nem os fazedores de expressotildees nem os exibidores de educaccedilatildeo mui-to valorizada junto agrave maioria mas aacutegeis e autaacuterquicos e que pensam grande sobre os seus proacuteprios bens e natildeo sobre os bens das coisas (SV 45)
Podemos perceber com relativa clareza que a noccedilatildeo de vir-tude (excelecircncia) tal como eacute aqui apresentada natildeo estaacute atre-lada agrave vida repleta de falsos valores e inserida nos domiacutenios puacuteblicos mas ao agir privado particular O saacutebio eacute aquele que age sempre a partir do seu poder de escolha e rejeiccedilatildeo e jamais de sujeiccedilatildeo Sua referecircncia uacutenica eacute a compreensatildeo dos limites e das possibilidades da natureza-realidade na
Terceira parte
112 113
qual vive e exercita-se na realizaccedilatildeo de uma vida apraziacutevel em cada ato ou deliberaccedilatildeo que dele dependa Fundando o eacutethos na phyacutesis ou fazendo que ele derive da physiologiacutea o sophoacutes legitima a autaacuterkeia como condiccedilatildeo para pensar a eacutetica fora do domiacutenio puacuteblico Com isso ele intenta resgatar antigos princiacutepios presentes na natureza para desapropriaacute-los das convenccedilotildees estabelecidas e entatildeovivenclaacute-losno espaccedilo no tempo que satildeo seus e daqueles que lhes satildeo afins (phiacuteloi)
O saacutebio depois de julgar as coisas em funccedilatildeo da necessida-de sabe mais dar em partilha do que tomar em partilha Tatildeo grande tesouro da autarquia ele encontrou(SV 44)
Conseguir o bastante para si mesmo natildeo exclui a possibilida-de de compatilhar o contentamento que expressa a autaacuterkeia-com aqueles que vivem uma muacutetua conveniecircncia (opheacuteleia) Na verdade o homem saacutebio natildeo projeta valores imaginaacuterios sobre as coisas da natureza antes pelo contraacuterio ele asseme-lha o seu modo de agir ao modo como as coisas interagem na natureza A medida mais conveniente eacute aquela que o faz se sentir bem no meio natural e natildeo o excesso de poder sobre as coisas naturais Assim o sophoacutesnatildeo espera receber o que precisa de outro homem porque ele mesmo pode facilmente ter o suficiente para natildeo sentir sede fome ou frio no proacuteprio meio onde vive por conveniecircncia e contentamento O ideal de sabedoria em questatildeo natildeo prevecirc qualquer tipo de sujeiccedilatildeo obrigaccedilatildeo diacutevida ou favor uma vez que entre saacutebios natildeo prevalecem as mesmas convenccedilotildees originadas nas sociedades poliacuteticas O saacutebio se afastaraacute das situaccedilotildees lugares e pessoas que possam constrangecirc-lo a reagir agraves ldquoconvenccedilotildeesrdquo de uma maioria insensata
A fonte mais pura de proteccedilatildeo diante dos homens assegu-rada ateacute certo ponto por uma determinada forccedila de rejeiccedilatildeo
Ethicaacute
112 113
eacute de fato a imunidade resultante de urna vida tranquila e distante da multidatildeo (DL X 143)
Natildeo haacute um objeto poliacutetico expliacutecito nas proposiccedilotildees eacuteticas de Epicuro Existe de uma certa maneira a transposiccedilatildeo do poliacutetico para fundar sobre outras bases uma eacutetica Recusar o conviacutevio com a multidatildeo pode significar compreender a multidatildeo como produto da necessidade e vivendo segundo a necessidade O sophoacutesbuscaraacute entatildeo construir um cami-nho alternativo para seguir Este caminho natildeo constituiraacute um conflito com o mundo poliacutetico mas pelo contraacuterio se formaraacute independentemente dele Epicuro opta pela sabe-doria e agir a partir de si mesmo e em prol de si mesmo Este comportamento eacute plenamente justificaacutevel se levarmos em conta a miserabilidade humana alimentada pelas falsas crenccedilas e pelos falsos valores de sua eacutepoca ldquoA necessidade eacute um mal mas natildeo haacute nenhuma necessidade de viver com a necessidaderdquo (SV 9)
Recolher-se agrave filosofia ao inveacutes de filosofar para a Heacutelade eis o que proclamava Epicuro A frugalidade eacutetica se opotildee ao desperdiacutecio poliacutetico pois natildeo haacute como obter a ataraxiacuteaem meio agrave multidatildeo insensata Aleacutem disso jamais o saacutebio po-deria modificar todo o quadro que a ele se apresentava um mundo corrompido pela miseacuteria e esquecido do bem-viver ldquoO saacutebio natildeo deve pois ocupar-se da poliacuteticardquo ldquoVive obscu-rordquo (3278 Us) Somente na solidatildeo dos seus pensamentos o saacutebio poderia finalmente encontrar o real sentido da liber-dade uma vez que ao menos aos olhos de Epicuro a liber-dade natildeo se coaduna com os valores soacutecio-poliacuteticos em voga A liberdade proveacutem das reflexotildees que satildeo a mateacuteria da filoso-fia Natildeo a encontraremos no meio poliacutetico na dependecircncia de acordos ou convenccedilotildees nutridas de opiniotildees conflitantes
Terceira parte
114 115
e sim nas accedilotildees que tecircm em si o seu proacuteprio princiacutepio pois nascem da solidatildeo reflexiva A vida autaacuterquica talvez tenha sido o posicionamento filosoacutefico por excelecircncia de Epicuro ao ponto de Hermarco seu disciacutepulo e sucessor agrave frente do Jardim tecirc-lo definido assim ldquoA vida de Epicuro comparada a de outros passaria por um mito por sua doccedilura e sua au-tarquiardquo (SV 36 101 Us)
A vida autaacuterquica estaacute totalmente desincompatibilizada da vida puacuteblica dos valores que a sustentam e de vaacuterias ma-neiras a determinam O saacutebio realiza um movimento de descentramento em relaccedilatildeo agrave vida puacuteblica e outro movimen-to de situar-se sempre em direccedilatildeo agraves relaccedilotildees equilibradas privadas lsquomolecularesrdquo Satildeo notoacuterias as diferenccedilas entre Epicuro e as ldquoinstituiccedilotildees poliacuteticasrdquo das quais ele se recusa a participar por compreender a quase impossibilidade de coexistirem harmonicamente sob um mesmo ideal homens de caraacuteter tatildeo distintos O sophoacutes assentiraacute nas discussotildees poliacuteticas apenas agrave medida que estas for em convenientes ou imprescindiacuteveis jaacute que acredita na possibilidade de cultivar a liberdade de conviver com aqueles que tecircm urna natureza realmente semelhante e que comungam as mesmas ideias Natildeo ausentar-se da trajetoacuteria que projeta a vida saacutebia pode significar o exerciacutecio de um modo de ser de um eacutethos filo-soacutefico ao mesmo tempo que a realizaccedilatildeo de um estado de ser physioloacutegico equilibrado Para tanto cumpre escolher o local e a situaccedilatildeo de vida onde se torne possiacutevel o pleno exer-ciacutecio da vida filosoacutefica o que vale dizer ter a autaacuterkeia ou o princiacutepio das suas accedilotildees em si mesmo Soacute daiacute pode emergir o sentido epicuacutereo da liberdade ldquoO mais importante fruto da autaacuterkeia eacute a liberdade (eleutheriacutea)rdquo (SV 77)
Ethicaacute
114 115
αὐτάρκης autaacuterkes(ad)- SV 45
Autaacuterquico aquele que tem o princiacutepio de sua accedilatildeo em si mesmo
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (sf)76 123
Incorruptibilidade imortalidade Palavra utilizada a partir de Epicuro
ἀφοβία aphobiacutea (sf)- 122
Destemor
ἀχάριστος achaacuteristos (ad)- SV 69 SV 75
Ingrato
βίος biacuteos (sm)- 86
Vida
βούλεσις buacutelesis (sf)- 7781
Vontade deliberaccedilatildeo
γαληνισμός galenismoacutes (sm)- 83
Serenidade Palavra rara filosoacutefica Usada por Epicuro num sentido metafoacutericoA imagem utilizada por Epicuro para definir o equiliacutebrio da alma expresso na ataraxiacutea (tranqui-lidade imperturbabilidade) eacute o que o grego denominava galenismoacutes que significa a superfiacutecie do mar quando estaacute tranquilo assim podemos traduzi-la por serenidade
Terceira parte
116 117
δαψίλεια dapsiacuteleia (sf)- SV 67
Abundacircncia
δεινός deinoacutes (ad)- 81 125 XXVIII
Temiacutevel terriacutevel O uso deste termo se daacute sempre no sentido de evitar os temores infundados Os temores satildeo projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento mas podem ser evitados com o exerciacutecio da physiologiacutea
διάθεσις diaacutethesis (sf)- 117 (222 Us)
Disposiccedilatildeo
δίαιτα diacuteaite (sf)- 130131 SV 69
Dieta regime modo de viver
δίκαιος diacutekaios(ad)- 132 XVII XXXI XXXII XXXVI XXXVII XXXVIII SV 43
Justo Para Epicuro natildeo haacute justiccedila independente das conven-ccedilotildees humanas isto eacute natildeo haacute uma justiccedila preacute-legislativa que existiria em si mesmo De acordo com Epicuro ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacute-procas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto (syntheacuteke) no sentido de natildeo prejudicar nem ser prejudicadordquo (MP XXXIII) Sendo assim o que eacute considerado justo num tempo x e num lugar y eacute diferente do que eacute considerado justo num tempo xrsquo e num lugar yrsquo Nas palavras de Epicuro ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) A justiccedila eacute portanto ldquouma invenccedilatildeo humanardquo (OrsquoKEEFE 2010 p 139) e como tal eacute do domiacute-
Ethicaacute
116 117
nio dos homens daquilo que cabe aos homens realizar ou seja eacute do acircmbito do parrsquo hemacircs (o que nos cabe) Em termos da physiologiacutea poderiacuteamos dizer que a justiccedila eacute um acidente (symptoacutema) da agregaccedilatildeo de indiviacuteduos Assim a justiccedila natildeo tem uma realidade independente dos pactos particulares realizados em tempo e espaccedilo determinados Por isso que Epicuro prefere utilizar na grande maioria de seus textos o termo diacutekaios (justo) e natildeo dikaiosyacutene (justiccedila) pois o primeiro remete sempre a um evento singular enquanto o uacuteltimo sugere ldquouma noccedilatildeo abstrata que os filoacutesofos essencia-listas nomeadamente os platocircnicos consideram uma ideia em sirdquo (MORAES 2010 p 55)21 O justo e o injusto satildeo determinados pelos pactos realizados aqui e alhures
No entanto uma das maacuteximas de Epicuro parece agrave primei-ra vista entrar em contradiccedilatildeo com esse caraacuteter convencio-nal da justiccedila ldquoO justo da natureza simboliza (tograve tecircs phyacuteseos diacutekaioacuten estigrave syacutembolon) a vantagem reciacuteproca de impedir os homens de prejudicarem os outros e os livra de serem pre-judicadosrdquo (MP XXXI) A expressatildeo ldquoo justo da naturezardquo parece contradizer a expressatildeo ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) Eacute preciso considerar aqui como diz Morel que essas reflexotildees de Epicuro estatildeo ldquono centro da problemaacutetica tornada claacutessica a partir da expansatildeo do movimento sofiacutestico no seacuteculo V da oposiccedilatildeo entre natureza (phyacutesis) e convenccedilatildeo (noacutemos)rdquo (2011 p 208) Tentar definir a justiccedila como natural ou convencional natildeo foi o caminho
21 De acordo com Bulhotildees ldquoEmbora a expressatildeo lsquoo justorsquo seja um substantivo refere-se ao adjetivo que qualifica por exemplo um acordo uma lei um indiviacuteduo ou um comportamento isto eacute um acordo pode ser dito justo uma lei justa um individuo e um comportamento justos Por outro lado a expressatildeo de gecircnero neutro tograve diacutekaion diferencia-se intencio-nalmente do feminino lsquoa justiccedilarsquo heacute dikaiosyacutene Esta indica uma realidade em sirdquo (Bulhotildees 2009 p 100)
Terceira parte
118 119
escolhido por Epicuro Para ele a justiccedila eacute convencional e natural ao mesmo tempo ldquovariaacutevel em suas manifestaccedilotildees e natural em seu princiacutepiordquo (Morel 2011 p 217) Na Maacutexima XXXVI estaacute escrito que ldquoem seu aspecto geral a justiccedila eacute a mesma para todos pois representa uma espeacutecie de vantagem reciacuteproca nas relaccedilotildees dos homens uns com os outros mas com referecircncia agraves peculiaridades locais e outras circusntacircn-cias quaisquer a mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo O aspecto geral da justiccedila (tograve koinograven) eacute natural e universal enquanto que o justo expresso nas peculiaridades locais (tograve iacutedion choacuteras) eacute convencional Epicuro diz portanto que a justiccedila pode ser identificada (e compreendida) em qualquer lugar como a conveniecircncia (syacutempheron) muacutetua estabelecida sob a forma de um pacto No entanto este mesmo pacto se apresenta de diversas maneiras dependendo das necessida-des que se apresentem na comunidade em que o pacto foi firmado
A justiccedila natildeo eacute a uacutenica noccedilatildeo considerada ao mesmo tempo natural e convencional na filosofia de Epicuro a linguagem humana tambeacutem pode ser qualificada assim Sobre as ori-gens da linguagem diz Epicuro
Por isso os nomes das coisas tambeacutem natildeo foram originaria-mente postos por convenccedilatildeo mas a natureza dos homens de conformidade com as vaacuterias raccedilas os criou () Mais tarde as raccedilas isoladas chegaram a um consenso e deram assim nomes peculiares a cada coisa a fim de que as comunicaccedilotildees entre elas fossem menos ambiacuteguas e as expressotildees fossem mais breves (DL 75-76)22
Assim como a linguagem finca suas raiacutezes na natureza e
22 ldquoQuanto aos vaacuterios sons da linguagem foi a natureza que obrigou a emiti-los e foi a utilidade que levou a dar nomes agraves coisasrdquo (DRN V 103)
Ethicaacute
118 119
depois a conveniecircncia entra em cena desenvolvendo esta ca-pacidade que a natureza legou ao homem da mesma forma pois acontece com a justiccedila porque temos uma preacute-noccedilatildeo desta que eacute passiacutevel de ser desenvolvida pelo uacutetil ou conve-niente (syacutempheron) A justiccedila tem um aspecto geral e outro especiacutefico O primeiro eacute natural e portanto universalmente compreendido de acordo com a preacute-noccedilatildeo que temos da justiccedila o uacuteltimo eacute pelo contraacuterio variaacutevel convencional determinado uacutetil e conveniente em cada comunidade em particular Assim a justiccedila eacute ao mesmo tempo natural e convencional da ordem da phyacutesis e tambeacutem da ordem do noacutemos23
Por proacutelepsin (preacute-noccedilatildeo) eles [os epicuristas]entendem uma espeacutecie de cogniccedilatildeo ou apreensatildeo imediata do real ou uma opiniatildeo correta ou um pensamento ou uma ideia universal iacutensita na mente ou seja a memorizaccedilatildeo de um objeto ex-terno que apareceu frequentemente como quando dizemos ldquoisto aqui eacute um homemrdquo De fato logo que se pronuncia a palavra ldquohomemrdquo sua figura se apresenta imediatamente ao nosso pensamento por via de antecipaccedilatildeo guiada prelimi-narmente pelo sentido (DL X 33)
As preacute-noccedilotildees satildeo a mateacuteria do pensamento As preacute-noccedilotildees satildeo as marcas deixadas nas almas em cada interaccedilatildeo sensiacutevel Eacute por via dessas marcas ou impressotildees que reconhecemos
23 Vemos nessas passagens que a linguagem teve sua origem na natu-reza mas seu desenvolvimento dependeu dos acordos realizados entre os homens Do mesmo modo a justiccedila tem seu ldquoladordquo natural na utilidade na manutenccedilatildeo da vida e do prazer Pois sem pactos para utilidade muacutetua os homens viveriam agrave mercecirc dos piores males Jaacute o caraacuteter convencional da justiccedila reside nas muacuteltiplas formas de se preservar a vida e o prazer Esses satildeo aspectos das agregaccedilotildees humanas inicialmente o processo de agrupamento se deu naturalmente posteriormente as relaccedilotildees se tornaram complexas
Terceira parte
120 121
uma sensaccedilatildeo figura ou atitude uma vez experienciada Haacute um conjunto enorme de proleacutepseis nas almas e elas satildeo ar-ranjadas e rearranjadas pelos mecanismos do pensamento A justiccedila tambeacutem provoca uma preacute-noccedilatildeo pela qual reconhe-cemos e podemos realizar atos justos Na MP XXXVII Epi-curo nos fala de uma proacutelepsis (preacute-noccedilatildeo) da utilidade (syacutem-pheron) inerente agrave justiccedila Sabemos o que eacute justo por termos a preacute-noccedilatildeo da utilidade ou conveniecircncia ou seja porque temos uma representaccedilatildeo imageacutetica do que eacute conveniente ou em outras palavras do que nos impede de prejudicar ou de ser prejudicado pelos outros Mas isso natildeo garante que as leis uma vez promulgadas seratildeo justas em todo o tempo e qualquer lugar pois o que define o justo eacute a conveniecircncia que eacute passiacutevel de variaccedilatildeo
Das disposiccedilotildees codificadas no direito vigente aquelas con-firmadas como uacuteteis nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comu-nitaacuteria apresentam o requisito do justo sejam ou natildeo sejam as mesmas para todos Mas se for promulgada uma lei que natildeo se mostre uacutetil nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comunitaacute-ria essa lei natildeo teraacute mais a natureza do justo E tambeacutem se aquilo que eacute uacutetil de conformidade com o direito vigente vier a cessar embora tenha correspondido durante um certo pe-riacuteodo de tempo agrave preacute-noccedilatildeo24 do justo apesar disso durante aquele periacuteodo foi justo desde que natildeo nos preocupemos com palavras vatildes e tenhamos em vista simplesmente os fatos (MP XXXVII)
Nem toda lei acordada deve ser considerada justa mera-mente por ter resultado de um pacto ou acordo25 pois a
24 G Kury traduz o termo proacutelepsis dessa passagem por ldquonoccedilatildeo pri-mordialrdquo Preferimos traduzir por preacutenoccedilatildeo por manter a unidade desse termo que foi provavelmente cunhado pelo proacuteprio Epicuro
25 ldquoAs accedilotildees natildeo satildeo justas ou injustas meramente porque algueacutem diz
Ethicaacute
120 121
justiccedila da lei eacute determinada pela confirmaccedilatildeo (epimarturouacute-menon) de sua utilidade para a comunidade Assim como vemos uma torre no horizonte e natildeo temos certeza se ela eacute arredondada ou retangular e esperamos pela confirmaccedilatildeo sensorial26 uma lei precisa ser confirmada por sua utilida-de ou conveniecircncia para a comunidade Se uma lei natildeo for uacutetil entatildeo natildeo eacute justa Uma lei portanto confirmada como justa pode entretanto natildeo ser justa em outro contexto A justiccedila se fundamenta na utilidade (syacutempheron) se uma lei deixa de ser uacutetil ela deixa de ser justa e se por exemplo numa comunidade eacute proibido pescar garoupas natildeo significa que em outra comunidade onde esse peixe eacute abundante se deva proibir tambeacutem O justo estaacute delimitado a um tempo e espaccedilo e condicionado pelo que se faz uacutetil nesse mesmo tempo e espaccedilo Natildeo haacute absolutamente no epicurismo a ideia de justiccedila em si Mas o justo depende de um pacto conveniente
O que impede portanto um membro da comunidade de natildeo cometer injusticcedilas eacute a puniccedilatildeo e o castigo Possivelmente cometeria ldquoinjusticcedilasrdquo se considerasse que natildeo seria punido ao cabo de sua accedilatildeo Por outro lado um membro saacutebio natildeo cogita a possibilidade de transgredir o pacto e permanecer impune pois seria punido imediatamente natildeo pelas penas cabiacuteveis acordadas no pacto mas pela perda de sua ataraxiacutea (imperturbabilidade)
δικαιοσύνη dikaiosyacutene (sf)- XXXIII
Justiccedila
que elas satildeordquo (BROWN 2009 p 192) 26 Cf DL X 34
Terceira parte
122 123
δυσπόριστος dyspoacuteristos (ad)- 130 XXVI
Difiacutecil de obter Palavra usada a partir de Epicuro
ἐγγαληνίζω engaleniacutedzo (v)- 37
Viver com tranquilidade Epicuro eacute o uacutenico a utilizar este termo
εἱμαρμένη heimarmeacutene (sf)- 134
Aquela que recebeu por destino
ἐκλόγισις ekloacutegisis (sf)- XVIII
Caacutelculo Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐκχώρησις ekchoacuteresis (sf)- XIV
Distanciamento apartamento
ἐλευθερία eleutheriacutea (sf)- SV 77
Liberdade A noccedilatildeo grega de liberdade natildeo eacute uniacutevoca Desde suas origens o termo eleutheriacutea passou por muitos desdo-bramentos Epicuro apresenta uma noccedilatildeo de liberdade que participa do processo de interiorizaccedilatildeo do homem Devemos a Soacutecrates o raciociacutenio que equipara a liberdade da cidade agrave liberdade interna ao homem expressa sob a noccedilatildeo de auto-domiacutenio e que veio a influenciar toda a filosofia posterior A ideia de liberdade interior eacute comum agraves diferentes escolas de filosofia do periacuteodo heleniacutestico poreacutem o epicurismo a apro-funda fazendo com que o sentido de eleutheriacutea se submeta ao de autaacuterkeia(Vide supra αὐτάρκεια nesta mesma parte)
Ethicaacute
122 123
Segundo Benveniste27 o termo latino liber e o grego eleuacutethe-ros28satildeo derivados da mesma raiz indo-europeia leudh- que significa ldquocrescer se desenvolverrdquo Essa imagem do ldquocresci-mentordquo e de sua completude na formaccedilatildeo de um homem levou agrave compreensatildeo socializada de leudh- como fonte ldquodo conjunto daqueles que satildeo nascidos e desenvolvidos conjun-tamenterdquo (Benveniste 1969 p 323) A ideia de liberdade pois se relaciona com o pertencimento a uma linhagem a um povo ldquoA liberdade do homem grego consiste em se sentir subordinado como membro agrave totalidade da polis e das suas leisrdquo (Jaeger 1995 p 228) Toda a liberdade que os gregos poderiam gozar advinha de seu pertencimento agrave polis natildeo apenas por habitarem a cidade mas por serem cidadatildeos Es-panto agrave parte o sentido original de liberdade natildeo tem a ver com emancipaccedilatildeo mas pelo contraacuterio com pertencimento Nas palavras de Benveniste
O primeiro sentido natildeo eacute como seria tentador imaginar ldquoli-berto de alguma coisardquo e sim eacute este de um pertencimento a uma fonte eacutetnica designada por uma metaacutefora de crescimen-to vegetal Este pertencimento confere um privileacutegio que o estrangeiro e escravo jamais conhecem (Benveniste 1969 p 324)
O exemplo das Guerras Peacutersicas no iniacutecio do seacuteculo V aC representa esta diferenccedila radical entre os gregos e os estrangeiros persas que natildeo gozavam dos privileacutegios da liberdade (eleutheriacutea) Os invasores persas tinham mestres diante dos quais se curvavam e aos quais obedeciam enquanto que os cidadatildeos gregos os eleuacutetheroi ldquonatildeo tinham um chefe uacutenico nem para cada cidade um homem que as
27 Cf 1969 p 322-323 28 Ambos os termos tecircm o significado de ldquolivrerdquo
Terceira parte
124 125
comanderdquo (Romilly 1989 p40) Essa diferenccedila de postura eacute representada na trageacutedia de Eacutesquilo Persas a partir da perspectiva dos baacuterbaros
Rainha Quem eacute o seu senhor Quem comanda o seu exeacuterci-to Corifeu Eles (os gregos) natildeo satildeo escravos (doucircloi) de nin-gueacutem nem satildeo suacuteditos (Eacutesquilo Persas linhas 241 242)29
Essa eacute a diferenccedila poliacutetica fundamental entre os gregos e os baacuterbaros30 Enquanto estes tecircm mestres os gregos devem obediecircncia apenas agrave lei sem a qual natildeo haveria polis nem liberdade Assim a noccedilatildeo de eleutheriacutea enquanto oposta agrave servidatildeo se define a partir da diferenccedila fundamental entre gregos e baacuterbaros Esse sentido que podemos chamar de liberdade poliacutetica depende do regime e se opotildee agrave opressatildeo31
Entretanto no fim do seacuteculo V aC surge um novo aspec-to da eleutheriacutea a liberdade democraacutetica A liberdade e a igualdade (isonomiacutea) se confundem Estaacute aberta a possibili-dade de todos os cidadatildeos intervirem na poliacutetica da cidade Todos tecircm direito de falar (isegoriacutea) e a justiccedila eacute a mesma para todos Poreacutem a influecircncia funesta dos demagogos e as arbitrariedades populares acabaram implodindo a liberdade democraacutetica32 A partir daiacute desponta outra forma de liberda-de a liberdade interior
Eacute atraveacutes das palavras de Soacutecrates que Xenofonte transmite a nova ideia da liberdade interior33
29 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo de David Grene ampRichmond Lattimore The Complete Greek Tragedies of AeschylusThe University of Chicago Press 1959 p 229
30 Cf Romilly 1989 p 4731 Cf Novaes (Org) 2002 p 1632 Cf Ibid p 11733 Eacute importante ressaltar que W Jaeger jaacute identificava a liberdade
interior nos textos de Soacutelon (Cf 1995 p 247)
Ethicaacute
124 125
- Ora diz-me laacute Eutidemo acreditas que haja um bem mais belo e bom para o homem e para a cidade do que a liberdade (eleutheriacutean)
- Natildeo E esse eacute de fato o maior dos bens
- E acreditas que eacute livre (eleuacutetheron) o homem que eacute domi-nado pelos prazeres do corpo e que por causa deles natildeo consegue agir bem
-De modo nenhum (Memoraacuteveis IV 5 2-3)34
Soacutecrates coloca lado a lado a liberdade da cidade e a liberda-de interior Esta se evidencia pelo autodomiacutenio ou domiacutenio das paixotildees Sem o autodomiacutenio (enkraacuteteia) o homem natildeo pode ser considerado realmente livre mesmo que viva sob um regime de liberdade poliacutetica
Essas noccedilotildees de autodomiacutenio e liberdade interior foram fundamentais para o desenvolvimento das filosofias heleniacutes-ticas uma vez que a vida poliacutetica se esfacelara sob o domiacutenio do impeacuterio macedocircnico ldquoA aacutegora apresenta-se agora fechada nos quatro lados como que para proclamar atraveacutes desta simples evocaccedilatildeo arquitetocircnica que a livre movimentaccedilatildeo e reuniatildeo do povo eram coisas do passadordquo (FINLEY 2002 p135) E quando Dioacutegenes o ciacutenico proclamou seu cosmo-politismo condenou o conceito de cidadania agrave falta de sen-tido35 O que interessa a partir de agora eacute o indiviacuteduo e sua busca interior de liberdade sabedoria e virtudes para uma vida bela A sociedade eacute apenas um acidente no percurso de melhoramento do indiviacuteduo E eacute como herdeira das noccedilotildees socraacuteticas de liberdade interior e autodomiacutenio que aparece
34 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Elias Pinheiro Coimbra CECH 2009
35 Cf Finley 2002 p116
Terceira parte
126 127
a noccedilatildeo epicurista de eleutheriacutea36 fruto mais precioso da autarquia e resultado do exerciacutecio da sabedoria
As ocorrecircncias dos termos eleutheriacutea e eleuacutetheros aparecem ambos nas Sentenccedilas Vaticanas
O fruto maior do bastar-se a si mesmo eacute a liberdade(SV 77)
Uma vida livre natildeo pode adquirir bens numerosos pelo fato de a coisa natildeo ser faacutecil fora da sujeiccedilatildeo agraves multidotildees e aos poderosos mas ela adquire tudo por uma abundacircncia contiacute-nua Se por acaso em algum lugar ela encontra muitos bens tambeacutem essas coisas satildeo faacuteceis de distribuir em favor da boa disposiccedilatildeo do proacuteximo (SV 67)
A liberdade de que se trata aqui tem a ver com aquela pro-blematizada por Soacutecrates no citado texto de Xenofonte ou seja aqui tambeacutem se trata de um tipo de liberdade interior No entanto as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia socraacuteticas ainda estatildeo segundo Jaeger ligadas agrave poacutelis ldquoSoacutecrates vive ainda dentro da poacutelisrdquo (JAEGER 1995 p552-553) e suas noccedilotildees de autaacuterkeia e eleutheriacutea natildeo tecircm ainda os traccedilos individualistas que os ciacutenicos primeiro depois estoacuteicos e epicuristas vatildeo lhes dar
A autaacuterkeia eacute condiccedilatildeo para a eleutheriacutea Se pensarmos em qualquer sentido para esta liberdade interior que prescinda da autaacuterkeia estaremos cometendo um erro de interpreta-ccedilatildeo Portanto natildeo podemos subsumir sob a noccedilatildeo de eleu-theriacutea o repertoacuterio de assuntos que se relacionam com o tema da liberdade no Epicurismo o pareacutenklisis ou clinamen(vide supra παρέγκλισις na primeira parte) a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs a criacutetica aos fiacutesicos da necessidade a criacutetica agraves supersticcedilotildees
36 ldquoAleacutem de fundar sua filosofia escavando o antes de Soacutecrates a dou-trina epicurista edificou sua arquitetocircnica a partir de Soacutecratesrdquo (Spinelli 2009 p51)
Ethicaacute
126 127
fatalistas e agrave ideia de destino etc pois todos esses assuntos excedem o sentido de eleutheriacutea Por isso falamos em um sentido de liberdade geral que passa por todos os objetos de estudo do epicurismo e um sentido de liberdade especiacutefica que por sua vez se identifica com a noccedilatildeo de eleutheriacutea Esta eacute a noccedilatildeo de liberdade em seu sentido positivo natildeo mais apenas o reconhecimento de um espaccedilo para a liberdade mas uma tomada de posiccedilatildeo diante da vida
Propomos que o sentido de eleutheriacutea estaacute para aquele de aacutetomo assim como o sentido de parrsquo hemacircs estaacute para aquele de vazio O aacutetomo natildeo existiria sem o vazio mas a existecircncia do vazio por si soacute natildeo garante a existecircncia do aacutetomo Do mesmo modo o espaccedilo para construccedilatildeo dos homens ou o acircmbito das accedilotildees livres natildeo garante a existecircncia efetiva des-sas mesmas accedilotildees A eacutetica de Epicuro tem por isso a esco-lha e a recusa como tema principal Agir com eleutheriacutea eacute construir no espaccedilo deixado vago pela natureza eacute escolher e recusar sem indiferenccedila eacute sentir prazer e sentir a dor quando convier
Epicuro segundo Secircneca diz que ldquoa liberdade consiste pre-cisamente em servir a filosofiardquo e ainda ldquoaquele que se lhe submete e a ela se entrega jaacute natildeo tem que esperar eacute ime-diatamente emancipadordquo (Epistolae ad Lucilium VIII 7 Us 199) O sentido do termo latino libertas corresponde ao de eleutheriacutea empregado por Epicuro nas Sentenccedilas Vaticanas A eleutheriacutea soacute eacute alcanccedilada por quem uma vez dedicado ao serviccedilo da filosofia e agrave compreensatildeo da natureza potildee-se ao exerciacutecio da autaacuterkeia A vida livre natildeo eacute uma vida de oacutecio e sim de exerciacutecio filosoacutefico de praacutette kaigrave meleacuteta (praacutetica e reflexatildeo) O homem autaacuterquico e livre natildeo depende de ri-quezas fama ou honrarias para ser feliz pois entendeu que o
Terceira parte
128 129
bem primordial o prazer lhe eacute congecircnito e que basta calcu-lar por si mesmo os limites dos prazeres e das dores para que seus objetivos mais importantes que satildeo ao mesmo tempo os mais simples e naturais sejam alcanccedilados A filosofia epi-curista eacute libertadora
ἐλεύθερος eleuacutetheros (ad)- SV 67
Livre
ἐλπίς elpiacutes (sf)- 84 134
Esperanccedila expectativa
ἔνδεια eacutendeia (sf)- 53 130 XVIII XXI
Falta necessidade
ἔνδοξος eacutendoxos (ad)- VII
Ceacutelebre famoso renomado
ἐνοχλέω enochleacuteo (v)- 125 XI
Desassossegar
ἐξαγωγή exagogeacute (sf)- XX SV 38
Abandono afastamento
ἐπιθυμία epithymiacutea(sf)- 127 X XI XXVI XXIX XXX SV 21 SV 35 SV 71 SV 80
Desejo apetite Os desejos satildeo fenocircmenos do corpo Neste
Ethicaacute
128 129
sentido Epicuro os classifica em trecircs categorias que definem o que importa agrave aquisiccedilatildeo do bem-estar e agrave manutenccedilatildeo de um corpo bem disposto (eusthaacutetes) e o que pode ser nocivo ou causa o seu desequiliacutebrio 1) desejos naturais e neces-saacuterios 2) desejos naturais e desnecessaacuterios 3) desejos nem naturais e nem necessaacuterios
ἐργαστικός ergastikoacutes (ad)- SV 45
Trabalhador laborioso
ἔργον eacutergon (sn)- 78 XXXVIII
Funccedilatildeo praacutetica tarefa obra
ἐτεροφρονεῖν heterophroneicircn (v inf)- SV 17
Estar em demecircncia Verbo de uso exclusivo de Epicuro
εὐδαιμονία eudaimoniacutea (sf)- 116122 127 SV 33
Felicidade
εὐδιάχυτος eudiaacutekhytos (ad)- XXVI
Facilmente dissipaacutevel
εὐελπιστία euelpistiacutea (sf)- SV 39
Boa expectativa esperanccedila
εὐκαταφρόνητος eukataphroacutenetos (ad)- SV 4
Facilmente despreziacutevel desdenhaacutevel
Terceira parte
130 131
εὐκταῖος euktaicircos (ad)- SV 35
Desejaacutevel
εὐλογίστως eulogiacutestos (adv)- 135
De modo bem pensado
εὔλογος eacuteulogos (ad)- SV 38
Razoaacutevel
εὔνοια eacuteunoia (sf)- SV 67
Benevolecircncia favor
εὐπορία euporiacutea (sf)- XIV
Riqueza abundacircncia prosperidade
εὐπόριστος eupoacuteristos (ad)- 130133 XV XXI
Faacutecil de conseguir
εὐστάθεια eustaacutetheia (sf) 68 Us
Boa disposiccedilatildeo O termo grego eustaacutetheia siginifica literalmen-te boa disposiccedilatildeo e foi definido por J Brun por ldquoequiliacutebrio das diversas partes do corpo vivordquo37 Este termo natildeo foi encontrado dentre as proposiccedilotildees das Cartas nem tampouco nas Maacuteximas Encontramo-lo citado por H Usener no fragmento de nuacutemero 68 da sua obra Epicurea Nela o autor revela sua fonte trata-se de Plutarco38 que atribui a Epicuro a seguinte proposiccedilatildeo
37 BrunJ Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978 p 16838 Plutarco Contra Epic Beat 1089d
Ethicaacute
130 131
() O gozo mais alto e mais soacutelido resulta da condiccedilatildeo de equiliacutebrio (boa disposiccedilatildeo) da carne e a esperanccedila fundada de a conservar para quem saiba consideraacute-la proporciona (conteacutem) a mais alta e segura alegria () (Us 68 p 185)
G Arrighetti traduz o termo em questatildeo por benessere que facilmente pode ser traduzido por bem estar Contudo vi-mos na expressatildeo ldquoboa disposiccedilatildeordquo a melhor traduccedilatildeo para o termo eustatheiacutea tendo em vista o fato de que se tomado literalmente encontramos imediatamente a ideia de um es-tado equilibrado no sentido fiacutesico do posicionamento deste corpo em relaccedilatildeo ao meio em que se encontra Queremos com isso chamar a atenccedilatildeo para as constantes relaccedilotildees esta-belecidas entre o corpo que age e sofre e as coisas sobre as quais age e sofre afecccedilotildees A boa proporccedilatildeo a harmonia e a estabilidade fiacutesica do corpo satildeo definiccedilotildees anaacutelogas do termo equiliacutebrio Este termo entretanto eacute pensado pela Fiacutesica par-ticularmente pela Mecacircnica- como o estado de um corpo em repouso em que as forccedilas que o solicitam se contrabalanccedilam exatamente Podemos entatildeo pensar tais forccedilas como expres-sotildees da natureza que podem ou natildeo afetar o corpo e neste sentido eacute igualmente possiacutevel pensar que este equiliacutebrio natildeo eacute absoluto mas oscilatoacuterio uma vez que afetos e desafetos ocorrem casualmente na natureza ainda que a nossa con-duta disponha-se ao exerciacutecio da phroacutenesis e da autaacuterkeia Eacute preciso que se esclareccedila que na natureza o movimento de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos eacute constante e inevitaacutevel mas no que diz respeito agrave conduta do homem esta tambeacutem depende da sua vontade ou deliberaccedilatildeo
εὐσυμπλήρωτος eusympleacuterotos (ad)- 133
Plenamente atingido Palavra de uso exclusivo de Epicuro
Terceira parte
132 133
εὐφροσύνη euphrosyacutene (sf)- 2Us
Deleite
ἡδονή hedoneacute (sf)- 128 129 130 131 136 137 138 III VIII IX X XII XVIII XIX XX XXIX SV 37 2 Us 116 Us 181 Us
Prazer gozo O prazer eacute o que nos realiza e nos faz bem Escolhemos de preferecircncia aquilo que nos agrada ou o que eacute prazeiroso e fugimos (de) ou evitamos aquilo que nos agride ou nos deixa vulneraacuteveis agrave dor
Escolher o prazer como o bem eacute viver intensamente os sentidos mas o que eacute intenso natildeo precisa ser imoderado Epicuro naturaliza o prazer mas natildeo o neutraliza Acredita numa medida natural de realizaccedilatildeo do prazer como estado de equiliacutebrio ou bem-estar O prazer tem um fim em si mesmo isto eacute no ato prazeiroso a finalidade eacute imanente agrave accedilatildeo Natildeo deve ser passiacutevel de censura aquele que admitir e propagar que o que eacute agradaacutevel eacute bom e o que eacute desagradaacutevel eacute ruim A sabedoria estaacute em natildeo ter opiniotildees vatildes sobre o que eacute agradaacutevel pois nesse caso natildeo se sabe o prazer pois deixar-se mover pela opiniatildeo vatilde eacute agir ignorando a natureza do objeto da accedilatildeo O problema reside na ignoracircncia pois o prazer obtido a partir do discernimento eacute o maior dos bens ou o bem por excelecircncia As criacuteticas epicuacutereas aos cirenaicos estatildeo centradas na desmesura com que estes buscavam e idealizavam o prazer Mais uma vez a phroacutenesis(Vide infra φρόνησις) eacute moderadora dos apetites (desejos) e esclarece-dora das medidas de realizaccedilatildeo plena dos prazeres A phroacutene-sis se opotildee a hamartiacutea e a hyacutebris assim como o prazer se opotildee agraves opiniotildees falsas sobre o que eacute agradaacutevel Diz Epicuro
Ethicaacute
132 133
E assim como em seu alimento (o saacutebio) natildeo escolhe o maior quantitativamente mas o mais agradaacutevel assim tambeacutem do tempo (de viver) natildeo escolhe o maior fruto mas o mais prazeroso O prazer eacute o princiacutepio e o fim da vida feliz O prazer eacute o nosso bem primordial e congecircnito e partindo dele movemo-nos para qualquer escolha e qualquer rejeiccedilatildeo e a ele voltamos usando como criteacuterio de discriminaccedilatildeo de todos os bens as sensaccedilotildees de prazer e de dor (DL X 128-29)
O que fez Epicuro quando elegeu o prazer como o Bem por excelecircncia foi atribuir agrave sensaccedilatildeo o primado sobre a com-preensatildeo da realidade e mais ainda definir o prazer como medida plena de realizaccedilatildeo do homem no mundo poreacutem eacute preciso explicitar como se daacute esta compreensatildeo e a que medida o prazer responde positivamente
Em primeiro lugar o pensamento eacute um efeito das relaccedilotildees sensiacuteveis e das analogias que nos fazem perscrutar o que eacute aacutedelon (invisiacutevel) mas pode ser inteligiacutevel Epicuro nos fala de he phantastikegrave epiboleacute tecircs dianoiacuteas que satildeo projeccedilotildees (saltos) imaginativa(o)s do pensamento Elas se datildeo por analogia agraves operaccedilotildees com os dados sensiacuteveis mas nos remetem a pensar nos niacuteveis microfiacutesicos e macrofiacutesicos Haacute uma relaccedilatildeo direta entre sentir pensar e agir que estabelece a continuidade en-tre a physiologiacuteae a eacutetica nos textos aqui examinados Assim as sensaccedilotildees datildeo origem ao pensamento que por sua vez eacute o princiacutepio do agir isso faz pensar que as deliberaccedilotildees mo-vidas pelo pensamento objetivam a realizaccedilatildeo do bem-estar experimentado pelos sentidos Epicuro natildeo distingue bem--estar (eustaacutetheia) de estado de prazer duradouro (hedonegrave ka-tastematikeacute) A manutenccedilatildeo do equiliacutebrio interno e externo do homem estaacute diretamente relacionada agrave deliberaccedilatildeo e agrave
Terceira parte
134 135
consequente accedilatildeo realizada por cada um Tendo em vista o prazer Epicuro busca um modo de vida no qual os desejos e apetites que movem natural e necessariamente os indiviacuteduos tenham uma medida que realize a vida de modo satisfatoacuterio e equilibrado Ele considera desejaacutevel e exequiacutevel este estado sem perturbaccedilatildeo e sem sofrimento Este estado eacute buscado como modo de realizaccedilatildeo do prazer o que faz com que a vida filosoacutefica seja a via preferencial para a realizaccedilatildeo dos desejos naturais e necessaacuterios e para a obtenccedilatildeo de prazeres que natildeo tecircm como consequecircncia a dor Para tal parte do princiacutepio segundo o qual prazer e dor se excluem e mais que isso natildeo haacute estado intermediaacuterio entre eles ou estado neutro no qual natildeo se sente prazer nem dor
O prazer e o movimento que o realiza fez com que Epicuro estabelecesse uma diferenccedila em relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo cirenai-ca de hedoneacute Para eles nem a ausecircncia de dor a aponiacutea nem a imperturbabilidade da alma a ataraxia podem ser considerados estados de prazer O prazer eacute um estado que se opotildee agrave dor e difere da neutralidade Dioacutegenes Laeacutercio comenta ldquoNo que concerne agrave ausecircncia de dor pleiteada por Epicuro eles (os cirenaicos) declaram que isto natildeo eacute prazer assim como a ausecircncia de prazer natildeo pode ser considerada dorrdquo (DL II 89)
Outro ponto de discordacircncia de Epicuro em relaccedilatildeo agrave Aristi-po eacute a admissatildeo da diferenccedila entre os prazeres pela distinccedilatildeo que faz entre opiniotildees vatildes sobre o prazer e o pensamento em que se sabe discernir ponderar e moderar o prazer para que ele natildeo tenha como consequecircncia a dor esta tambeacutem ignorada quando se age a partir das kenaigrave doacutexai
Epicuro centraraacute a sua criacutetica na demonstraccedilatildeo de que o prazer eacute constitutivo isto eacute que se inicia como movimento
Ethicaacute
134 135
mas a sua finalidade eacute tornar-se estaacutevel Hedonegrave kinetikeacute e hedonegrave Katastematikeacute configuram um mesmo movimento de prazer que tende naturalmente a uma espeacutecie de sere-nidade de apaziguamento das voliccedilotildees Quando inicia o movimento de suplantar a dor o corpo produz o seu proacuteprio prazer que depois seraacute rememorado pela alma Eacute o prazer em movimento que depois de saciado o desejo torna-se se-reno alcanccedilando a eustaacutetheia o bem-estar ao mesmo tempo no corpo e na alma contudo a alma guardaraacute as sensaccedilotildees prazeirosas transformando-as em sentimentos (proleacutepseis) ou impressotildees sensiacuteveis A rememoraccedilatildeo dos prazeres vividos produz um estado de alegria de seguranccedila e de bem-estar Dizemos nestes momentos que estamos bem e que tudo eacute muito agradaacutevel Satildeo os prazeres da alma Aleacutem disso esses prazeres jaacute sentidos e agora rememorados invadem a imagi-naccedilatildeo e projetam os prazeres vindouros tornados possiacuteveis pela memoacuteria Eacute uma maneira afirmativa de viver esperar (projetar) gozar no futuro
ἡσυχία hesychiacutea (sf)- XIV
Quietude
θάνατος thaacutenatos (sm)- 124125 133 II X XI SV 31
Morte
ldquoa morte nada eacute para noacutes pois o que se decompotildee eacute insensiacute-vel e o que eacute insensiacutevel nada eacute para noacutesrdquo (Maacuteximas Princi-pais II)
θαρρεῖν tharrecircin(v inf)- VIXXVIII XXXIX XL 207 Us
Confianccedila seguranccedila
Terceira parte
136 137
θεός theoacutes (sm)- 123 124 133 134 135 I SV 65 355 Us
Divindade deus A crenccedila vulgar nos deuses eacute formada por ldquosuposiccedilotildees falsasrdquo (hypoleacutepseis pseudeicircs) (DL X 124) Epi-curo afirma que essas crenccedilas natildeo satildeo baseadas em proleacutepseis (impressotildees) mas apenas em hypoleacutepseis (suposiccedilotildees)Vide suprahypoacutelepsis - ὑπόληψις etproacutelepsis πρόληψις (na segunda parte) A diferenccedila acentuada entre proacutelepsis e hypoacutelepsis nesse contexto demarca que embora Epicuro admita a existecircncia dos deuses a crenccedila vulgar natildeo condiz com a vida corpoacuterea e feliz das divindades
As hypoleacutepseis da religiatildeo grega tecircm o poder de produzir como consequecircncia da opiniatildeo de que eacute possiacutevel interagir com as divindadesa suposiccedilatildeo de que ldquodos deuses deri-vam os maiores males e bensrdquo (DL X 124) O culto dos tempos de Epicuro de acordo com Salem (1994 p 181) se expressava de uma maneira quase mercantil Acreditava-se que oferendas e sacrifiacutecios podiam aplacar a ira e alcanccedilar o favor dos deuses bem como maacutes oferendas ou a negligecircncia delas podiam suscitar penas e castigos Epicuro natildeo preten-de persuadir as pessoas que os deuses natildeo existem antes quer demonstrar que suas crenccedilas satildeo contraditoacuterias com a noccedilatildeo de divindade que expressam ldquoSe um deus obedece agraves preces dos homens muito rapidamente todos os homens teriam perecido continuamente eles pedem muitas coisas prejudi-ciais uns aos outrosrdquo (Us 388) Deuses satildeo seres imortais e sumamente felizes e enquanto tais natildeo se envolvem com a vida humana Epicuro evidencia a contradiccedilatildeo entre a noccedilatildeo de divindade e a expectativa de ser beneficiado ou castigado por um deus
Esperar por favores divinos torna o homem indolente esperar por castigos o torna temeroso O temor perturba e impede a
Ethicaacute
136 137
felicidade dos homens A imagem de deuses castigadores in-troduz nos espiacuteritos o medo do futuro e da morte O homem cultua por sacrifiacutecios e oferendas esperando que deuses guiem sua vida mas esses seres em contrapartida satildeo indiferentes ldquoEacute estuacutepido pedir aos deuses o que se pode procurar por si mesmordquo (SV 65) diz Epicuro Supor que seres indiferentes governam e guiam a vida humana nada mais eacute que se deixar ao acaso resignando-se aos desiacutegnios de pretensas divindades Pior que ser escravo de senhores reais eacute ser escravo de senhores inexistentes Esses homens vivem ao sabor da sorte levados pela inconstacircncia do acaso negligenciando seu poder de es-colha e decisatildeo A estes Epicuro convoca a tomar as reacutedeas da vida nas matildeos incitando-os agrave autarquia e a exercer ativamente sua liberdade ldquoO infortuacutenio do saacutebio eacute melhor que a prospe-ridade do insensato pois acha melhor numa accedilatildeo humana o fracasso daquilo que eacute bem escolhido que o sucesso por obra do acaso daquilo que eacute mal escolhidordquo (DL X 135)
O primeiro componente do ldquoquaacutedruplo remeacutediordquo (tetra-phaacutermakos) diz respeito aos deuses ldquosua opiniatildeo [do saacutebio] em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosardquo (DL X 133) Uma opiniatildeo piedosa segundo Epicuro eacute a de quem rejeita os deuses acei-tos pela maioria Esta opiniatildeo segundo a noccedilatildeo impressa (noacuteesis hypegraacutefe) em noacutes pela natureza considera a divin-dade ldquoum ser vivo e felizrdquo (DL X 123) Sobretudo natildeo se deve atribuir agrave divindade qualquer atributo que contradiga sua imortalidade e felicidade
ldquoOs deuses realmente existem e o conhecimento de sua exis-tecircncia eacute manifestordquo (DL X 123) Essa afirmaccedilatildeo inviabiliza a caracterizaccedilatildeo de Epicuro como ateu Lactacircncio39 em seu
39 Lactacircncio viveu entre 240-320 dC e seu comentaacuterio sobre Epicuro foi catalogado por H Usener em Epicurea (1887)
Terceira parte
138 139
De Ira Dei (A Ira de Deus) certamente desejava acentuar ainda mais as diferenccedilas entre o epicurismo e o cristianismo quando atribuiu a Epicuro o famoso argumento
Ou bem diz Epicuro Deus quer suprimir o mal e natildeo pode ou ele pode e natildeo quer ou ele nem quer e nem pode ou ele quer e pode Se ele quer e natildeo pode entatildeo eacute impotente e isso natildeo convecircm agrave Deus se ele pode e natildeo quer ele eacute invejoso mas isso natildeo pode conferir vantagem a Deus se ele nem quer nem pode ele eacute de uma soacute vez invejoso e impotente sendo assim ele natildeo pode ser Deus se ele quer e pode so-mente o que convecircm agrave Deus entatildeo de onde vem o mal Ou porque Deus natildeo o suprime (Us 374)
No entanto o texto da Carta a Meneceu natildeo sugere que Epicuro se referisse a um deus singular nem tampouco a um deus de que se esperasse a expurgaccedilatildeo do mal do mundo Pelo contraacuterio Epicuro se refere a muacuteltiplas divindades que a despeito dos problemas humanos sossegadamente habitam os intermundos (metakoacutesmion) Desse modo que esperar que a prova da existecircncia de Deus seja derivada da intervenccedilatildeo do mesmo no mundo vai totalmente de encontro com os textos de Epicuro que nos restaram
Os deuses de Epicuro natildeo se preocupam com bens ou males A perfeita felicidade desses seres se compreende exatamente na medida em que natildeo se preocupam com os afazeres dos homens Satildeo livres autossuficientes felizes imortais e por isso satildeo modelo para o saacutebio epicurista ldquoSeraacutes como um deus entre os homensrdquo (DL X 135) diz Epicuro a seu dis-ciacutepulo Meneceu O epicurista natildeo espera dos deuses nada aleacutem de um exemplo perfeito pelo qual moldar sua vida Os deuses expressam ideais de liberdade e autarquia eles tecircm tudo o que desejam e realizam sua vontade como querem Se
Ethicaacute
138 139
aos homens natildeo cabe ter tudo que desejam podem no en-tanto administrar-se com vistas a desejar somente o que po-dem realizar independentemente das circunstacircncias Eacute com este fim que Epicuro adverte ldquoA pobreza medida segundo o fim da natureza eacute uma grande riqueza a riqueza sem limite eacute grande pobrezardquo (SV 25) Eacute este tambeacutem o grande bem da autaacuterkeia pois o saacutebio autaacuterquico natildeo depende de ban-quetes sofisticados nem precisa variar seus prazeres cons-tantemente tampouco considera que o fim da vida eacute a soma irrestrita de prazeres nem cultiva riquezas pois encontrou na autaacuterkeia um grande tesouro Ter deuses como modelo de autossuficiecircncia natildeo significa desejar espraiar nosso domiacutenio para aleacutem das fronteiras de nosso ser antes eacute ter o domiacutenio irrestrito daquilo que nos compete Natildeo eacute desejar ardente-mente a Lua e os astros inalcanccedilaacuteveis mas eacute querer apenas o limite da satisfaccedilatildeo da carne
θητεία theteiacutea (sf)- SV 67
Serviccedilo
θόρυβος thoacuterybos (sm)- 132
Tumulto
ἰατρεία iatreiacutea (sf)- S64
Cura cuidado
ἰατρική iatrikeacute (teacutechne) (sf)- 138 221 Us
Medicina
Eacute o impeacuterio exclusivo (monarchiacutee) de uma soacute forccedila no orga-
Terceira parte
140 141
nismo a causa das doenccedilas e o equiliacutebrio (isonomiacutee) das for-ccedilas a causa da sauacutede (Alcmeacuteon de Croacutetona frag 4 - Diels)
A possiacutevel compreensatildeo epicuacuterea acerca da medicina de sua eacutepoca pode ser ldquointuiacutedardquo em algumas raras passagens dos seus textos mas natildeo se encontram nelas elementos que venham a demonstrar suficientemente um saber meacutedico ine-rente aos discursos epicuacutereos nem tampouco temos notiacutecias de algum disciacutepulo de sua eacutepoca que tivesse sido meacutedico Entretanto pelo que vimos ateacute aqui a anaacutelise de saacuterx envolve um conjunto de reflexotildees em torno do cuidado com o corpo
Sabemos de diversas interseccedilotildees entre medicina e filosofia no pensamento antigo desde Alcmeacuteon de Croacutetona e Em-peacutedocles de Agrigento passando por Soacutecrates ateacute Platatildeo e Aristoacuteteles em cujos textos encontramos as mais numerosas referecircncias as analogias que tomam ora a medicina ora o meacutedico como um dos termos e do outro lado encontramos agraves vezes a poacutelis agraves vezes o poliacutetico agraves vezes o filoacutesofo Neste sentido podemos estabelecer analogias entre a medida do agir e a medida do cuidar ambas tendendo sempre a um equiliacutebrio seja como ldquojusta medidardquo seja como ldquomeio--termordquo
Quando afirmamos a pertinecircncia dessas analogias temos presente que tanto a filosofia quanto a medicina buscam ex-plicitar o cuidado de si tendo em vista que a accedilatildeo de cuidar eacute proacutepria do ser do homem ldquoA medicina eacute a arte de curar as enfermidades por seus contraacuterios A arte de curar e de seguir o caminho pelo qual cura espontaneamente a nature-zardquo (Hip Afor 2 p 1 8) Compreendemos aqui o sentido real de agir conforme a natureza ou seja de agirmos de um modo tal que os nossos atos coincidam com o modo proacuteprio da natureza se realizar Neste sentido podemos entender a
Ethicaacute
140 141
teacutechne como complemento da natureza
Epicuro concebe a filosofia como o exerciacutecio de uma sabedo-ria para a vida e pensa ser este o caminho para a realizaccedilatildeo da natureza do sophoacutes com vigor e potecircncia Ora o saber meacutedico parece tambeacutem buscar auxiliar o corpo a realizar--se plenamente de acordo com o modo de ser da proacutepria natureza A cura auxiliada pelo saber eacute para a medicina um modo de accedilatildeo do meacutedico de acordo com a natureza o que quer dizer que em uacuteltima anaacutelise eacute a natureza que cura pois eacute ela mesma que se restabelece e a partir de si mesma Vemos aqui que a medicina em consonacircncia com a filosofia compotildee um saber acerca da natureza que Epicuro chamou Physiologiacutea Mediante isto percebemos que tanto para a fi-losofia epicuacuterea quanto para a medicina antiga a phyacutesis eacute a questatildeo fundamental que enseja toda e qualquer busca pelo conhecimento sendo por isso ao mesmo tempo princiacutepio e finalidade do conhecimento meacutedico e do conhecimento filosoacutefico E eacute desde a compreensatildeo da phyacutesis que se pode estruturar a accedilatildeo do meacutedico ou filoacutesofo Esta accedilatildeo traduz o sentido de um agir ldquode acordo com a naturezardquo que significa ter a sua archeacute mdash que eacute princiacutepio e comando mdash na natureza ao mesmo tempo que o teacutelos mdash que eacute a finalidade da accedilatildeo do homem no mundo e especificamente finalidade do conhe-cer tambeacutem na natureza
ἱκανός hikanoacutes (ad)- 45 55 59 SV 65 SV 68
Suficiente capaz
ἰσονομία isonomiacutea (sf)- 352 Us
Igualdade perante a lei
Terceira parte
142 143
καθαριότης katharioacutetes (sf)- SV 63
Pureza simplicidade frugalidade
καιρός kairoacutes (sm)- 35 98 115 XXV
Circunstacircncia tempo ocasiatildeo
καταπυκνόω katapyknoacuteo (v)- IX
Tornar-se espesso ganhar espessura
καταστηματικός katastematikoacutes (ad)- 136 2 Us
Repousante estaacutevel Adjetivo aplicado a certos prazeres
καταστροφή katastropheacute (sf)- 126 XX XXXV
Fim (da vida) ruiacutena desaparecimento
κενοσοξία kenodoxiacutea (sf)- XXX
Opiniatildeo vazia
κοινωνία koinoniacutea (sf)- XXXVI XXXVII XXXVIII
Comunidade vida em comum
μακάριος makaacuterios (ad)- 78 79 80 81 84 123 134 I
Feliz bem aventurado
μακαριότης makarioacutetes (sf)- 76 77 97 123 XXVII
Bem aventuranccedila felicidade
Ethicaacute
142 143
μακαρισμός makarismoacutes (sm)- SV 52
Accedilatildeo de louvar ou de invejar a felicidade alheia
μακαριστός makaristoacutes (ad)- SV 17
Considerado feliz
μελέτη meleacutete (sf)- 126
Meditaccedilatildeo
νόμος noacutemos (sm)- XXXVII
Lei
οἰκειότης oikeioacutetes (sf)- XL
Familiaridade amizade
ὁμόφυλος homoacutephylos (ad)- XXXIX
Aliado da mesma tribo Vide supra alloacutephylos-ἀλλόφυλος (na primeira parte)
ὄρεξις oacuterexis (sf)- XXVI 202 422 Us
Apetite
ὄχλησις oacutechlesis (sf)- VIII
Aborrecimento perturbaccedilatildeo
παιδεία paideiacutea (sf)- SV 45 117 163 Us
Cultura educaccedilatildeo
Terceira parte
144 145
παράστασις paraacutestasis (sf)- 81 138 Us
Deliacuterio
παρ᾿ἡμᾶς parrsquo hemacircs (prep παρά + 1ordf pessoa pl ἡμᾶς) - 133 27 Us (135)
Cabe-nos (cabe a noacutes) Parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo grega composta por dois vocaacutebulos unidos por elisatildeo paraacute e he-macircs Segundo Murarcho (2007 p 532) ldquoparaacute significa exa-tamente ao lado derdquo Por sua vez hemacircs eacute o pronome plural da primeira pessoa no acusativo traduzido pelo pronome obliacutequo aacutetono ldquonosrdquo Assim sendo a expressatildeo parrsquo hemacircsse descreve como a junccedilatildeo da preposiccedilatildeo paraacute (ao lado de) e do pronome hemacircs (nos) A expressatildeo tem sentido conotativo significando o que estaacute em poder do homem
Gama Kury (2008 p 314) traduz a expressatildeo parrsquo hemacircs por ldquodepende de noacutesrdquo diferente de Hicks (1925 p659) que traduz por ldquoour own action40rdquo Por sua vez Bollack (1975 p 81) traduz parrsquo hemacircs por ldquoce que tient agrave nous41rdquo Apesar das diferentes traduccedilotildees disponiacuteveis a melhor maneira de entender a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute pelo contexto do passo 133 da Carta a Meneceu
Crecirc entatildeo Meneceu que ningueacutem eacute superior a tal homem Sua opiniatildeo em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosa e ele se mostra sempre destemeroso diante da morte Ele reflete intensa-mente sobre a finalidade da natureza e tem uma concepccedilatildeo clara de que o bem supremo pode ser facilmente atingido e facilmente conquistado e que o mau supremo dura pouco e causa sofrimentos passageiros Finalmente ele proclama
40 ldquonossa proacutepria accedilatildeordquo41 ldquoo que nos concernerdquo
Ethicaacute
144 145
que o destino introduzido por alguns filoacutesofos como se-nhor de tudo eacute uma crenccedila vatilde e afirma que algumas coisas acontecem necessariamente outras por acaso e outras nos cabe fazer porque para ele eacute evidente que a necessidade gera a irresponsabilidade e que o acaso eacute inconstante e as coisas que cabe-nos fazer satildeo livremente escolhidas e satildeo naturalmente acompanhadas de censura e louvor (DL X 133)
Nessa passagem da carta haacute uma descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do homem que assimilou os preceitos baacutesicos do epicurismo Nela estaacute resumido aquilo que os epicuristas chamaram de tetraphaacutermakos (o quaacutedruplo remeacutedio42) O homem modelo como ldquoum deus entre os homensrdquo (DL X 135) natildeo teme a morte eacute feliz e traccedila seus proacuteprios caminhos Desdenha qualquer possibilidade de intervenccedilatildeo divina e defende que noacutes somos livres Investigou a natureza (phyacutesis) conhece seus princiacutepios e encontrou no prazer o fim (teacutelos) de todo homem
Epicuro natildeo diz expressamente a quem se refere ao afir-mar ldquoningueacutem eacute superior a tal homemrdquo ou como traduz Conche ldquoQuem estimas tu superior agravequelerdquo No entanto a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do saacutebio e do que se deve fazer para ter uma vida saacutebia comeccedila no passo 126 que diz ldquoo saacutebio (hoacute degrave sophoacutes) natildeo renuncia agrave vida nem teme a cessaccedilatildeo da vidardquo O saacutebio considera vatilde a crenccedila dos que apresentam o destino como um tirano Esta uacuteltima carac-teriacutestica do sophoacutes eacute determinante para a compreensatildeo de parrsquo hemacircs pois negar a crenccedila no domiacutenio irrestrito do destino (heimarmeacutene) implica em considerar a liberdade da accedilatildeo humana Segue-se pois na ordem do texto a afirma-
42 Cf MP II
Terceira parte
146 147
ccedilatildeo que anuncia o poder do homem expresso sob a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs ldquoalgumas coisas acontecem necessariamente (anaacutenke) outras por acaso (tyacuteche) e outras nos cabe fazerrdquo (parrsquo hemacircs)
A natureza eacute portanto neutra naquilo que cabe aos homens realizar O acaso (vide supra τύχη tyacuteche na pri-meira parte) limita a extensatildeo da necessidade (vide supra ἀνάγκη anaacutenke na primeira parte) e abre as portas para novas cadeias causais serem iniciadas A tradiccedilatildeo epicu-rista relaciona parrsquo hemacircs ao pareacutenklisis ou clinamen (Vide supra παρέγκλισις na primeira parte) Embora Epicuro natildeo tenha mencionado nada a respeito do desvio aleatoacuterio dos aacutetomos (pelo menos natildeo em seus textos remanescen-tes) percebe-se que a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute possibilitada pelo acaso sob a forma dos desvios bem como sua vigecircncia envolve a vontade deliberaccedilatildeo autarquia e escolha dos viventes Enfim parrsquo hemacircs se relaciona com a noccedilatildeo de li-berdade em sentido amplo Jaacute Filodemo aproxima a noccedilatildeo de pareacutenklisis da noccedilatildeo de parrsquo hemaacutes
Natildeo eacute suficiente admitir iacutenfimas declinaccedilotildees dos aacutetomos por causa do acaso e da liberdade (tograve tycherograven kaigrave tograve parrsquo hemacircs) mas eacute necessaacuterio provar que esta declinaccedilatildeo natildeo combate nenhum fato evidente (enargoacuten) (De Signis XXXVI 7-17 apud SALEM 1997 p 68)
Apesar do problema epistemoloacutegico levantado por Filodemo em relaccedilatildeo a natildeo-contradiccedilatildeo do clinamen ou pareacutenklisis fica claro que parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo utilizada para falar de liberdade de maneira geral ou seja de todas as possibilida-des abertas pelo desvio aleatoacuterio dos aacutetomos A expressatildeo parrsquo hemacircs abrange um conjunto de coisas que se relacionam com o agir livre do homem
Ethicaacute
146 147
περίβλεπτος periacutebletos (ad)- VII
Renomado famoso
περίβλεψις periacuteblepsis (sf)- SV 81
Observaccedilatildeo vigilacircncia
περίπτωσις periacuteptosis (sf)- 36 Us
Acaso desgraccedila
πίστωμα piacutestoma (sn)- XL
Garantia
πλήρωμα pleacuteroma (sn)- SV 59
Repleccedilatildeo satisfaccedilatildeo plenitude
ποιητικός poietikoacutes (ad)- VIIIX
Produtivo
ποικίλλειν poikiacutellein(v inf)- XVIIIXXIX
Variar diversificar Este termo se refere agrave possibilidade de variaccedilatildeo dos prazeres O prazer natildeo aumenta infinitamente apenas variaVide supra haacutepax-ἄπαξ (nessa mesma parte)
ποίκιλμα poiacutekilma(sn)- SV 69
Variedade
πολιτικός politikoacutes (ad)- SV 58
Puacuteblico
Terceira parte
148 149
πολυτελεία politeleiacutea (sf)- 130 181 Us
Despesa extravagacircncia
πόνος poacutenos (sm)- 133 137 (66 Us) SV 4
Sofrimento afliccedilatildeo
πρᾶγμα praacutegma (sn)- 36 39 49 53 75 76 IXX XXI XXXVII XXXVIII SV 45 SV 67
Coisa acontecimento fato circunstacircncia realidade
πραγματεία pragmateiacutea (sf)- 35 7783
Sistema doutrina
πρᾶξις praacutexis (sf)-81135 XXV
Accedilatildeo ato
προκαταστροφή prokatastropheacute (sf)- XL
Morte prematura
σεβασμός sebasmoacutes (sm)-SV 32
Adoraccedilatildeo veneraccedilatildeo
σοβαρός sobaroacutes (ad)- SV 45
Destemido
σοφία sophia(sf)-117XXVII SV 78
Sabedoriacutea
Ethicaacute
148 149
σοφός sophoacutes (ad)-117 125 XVI SV 32 S44 SV56
Saacutebio
σπουδή spudeacute (sf)- 84XXX SV 61
Esforccedilo ardor
στέρησις steacuteresis (sf)- 124
Privaccedilatildeo
συζήτησις syzeacutetesis (sf)- SV74
Discussatildeo disputa pesquisa em conjunto Termo utilizado pela primeira vez por Epicuro
σύμβολον syacutembolon (sn)- XXXI
Garantia contrapartida
συμμέτρησις symmeacutetresis (sf)-130
Comparaccedilatildeo
σύνφυτος syacutemphytos (ad)- 129
Inato
συναναστροφή synanastropheacute (sf)- SV 18
Convivecircncia
συνήθεια syneacutetheia (sf)- SV 46
Haacutebito
Terceira parte
150 151
συνθήκη syntheacuteke (sf)- XXXIIXXXIII
Acordo pacto contrato
σωτηρία soteriacutea (sf) SV 80
Salvaccedilatildeo
ταραχή taracheacute (sf)- 81 XVII XXII SV 81
Perturbaccedilatildeo
ταραχώδης tarachoacutedes (ad)- 116 Us
Perturbado
τιμή timeacute (sf) (- 134 SV 81
Honra
τύχη tyacuteche (sf)- 120 (584 Us) 131 133 134 XVI SV 17
Acaso sorte fortuna As noccedilotildees de acaso (tyacuteche) e necessida-de (anaacutenke) satildeo compatibilizadas por Epicuro em sua visatildeo geral da phyacutesis Nela alguns axiomas satildeo apresentados como necessaacuterios por exemplo todos os aacutetomos estatildeo em cons-tante movimento Esta afirmaccedilatildeo eacute axiomaacutetica por revelar o que necessariamente eacute intuiacutedo na anaacutelise dos modos de ser de phyacutesis Em consequecircncia disso o constante movimento dos aacutetomos supotildee a declinaccedilatildeo casuiacutestica de alguns aacutetomos pois soacute assim eacute possiacutevel explicar a diversidade dos corpos e as muacuteltiplas configuraccedilotildees pelas quais eles passam no decorrer de suas existecircncias individuais enquanto corpos Visto de outro modo a totalidade dos aacutetomos e do vazio existentes
Ethicaacute
150 151
permanece a mesma ainda que os aacutetomos e o vazio sejam ilimitados Entretanto quando analisados os mundos e os demais corpos particularizados no interior do todo se mos-tram vulneraacuteveis agraves mudanccedilas e acabam por expressar en-quanto existecircncias dissemelhantes a atuaccedilatildeo do acaso como elemento diferenciador
Portanto os diversos niacuteveis de alteraccedilatildeo dos corpos que ocorrem necessariamente satildeo consequecircncias dos desloca-mentos dos aacutetomos portadores do princiacutepio de movimento expresso nas trajetoacuterias oriundas dos deslocamentos e nas casuiacutesticas declinaccedilotildees que sofrem quando desviam O acaso pode ser concebido tendo em vista a pluralidade dos corpos e a indeterminaccedilatildeo absoluta do todo Poreacutem uma anaacutelise mais detalhada das implicaccedilotildees entre os termos aca-so e necessidade nos textos de Epicuro sobretudo do modo em que coexistem em seu sistema requer a explicitaccedilatildeo do sentido fiacutesico da concepccedilatildeo de necessidade
Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem fi-nalidade (teacutelos)rdquo E somente o termo anaacutenke pode significar necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo proacutenoia para designar necessidade de qualquer ma-neira a necessidade nunca foi enunciada por Epicuro num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
No mesmo contexto o termo tyacuteche traz em si a negaccedilatildeo de toda a finalidade que poderia existir no movimento necessaacute-rio de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos e mundos
Terceira parte
152 153
ou seja natildeo eacute cabiacutevel falar de teleologia no pensamento de Epicuro porque ele evidencia a presenccedila do acaso na realizaccedilatildeo do movimento como ausecircncia de finalidade na explicaccedilatildeo dos corpos e mundos Dessa maneira tudo o que acontece a geraccedilatildeo o desenvolvimento e a corrupccedilatildeo dos corpos acontece por necessidade poreacutem a diversificaccedilatildeo dos acontecimentos eacute resultado da interferecircncia do acaso ou dos desvios nas trajetoacuterias dos aacutetomos Contudo ldquoEacute neces-saacuterio que algo de imutaacutevel subsista para que as coisas natildeo recaiam totalmente no nadardquo (DRN II 751 752) Como eacute necessaacuterio pela proacutepria natureza do acaso que os corpos e mundo sejam diferentes e sujeitos agrave geraccedilatildeo e agrave corrupccedilatildeo bem como as modificaccedilotildees ocorridas durante o periacuteodo de desenvolvimento isto eacute durante o movimento ininterrupto de suas existecircncias A compreensatildeo de phyacutesis nos seus diver-sos modos de realizaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel para um sistema de pensamento que trabalha positivamente as noccedilotildees de tyacuteche e anaacutenke
ὑγιαίνειν hyguiaiacutenein (v inf)- SV 54
Ter sauacutede
ὑγίεια hyguiacuteeia (sf)- 128 131 138 (504 Us)
Sauacutede
φιλία philiacutea (sf)- 120 XXVIIXXVIII SV 23 S28S34 S39 S52 S78
Amizade A philiacutea eacute uma forma voluntaacuteria e prazeirosa de se relacionar com os outros Cada indiviacuteduo busca agrupar--se num conjunto ou seja agregar-se segundo a natureza
Ethicaacute
152 153
Mas o saacutebio busca o conviacutevio com afins por natureza mas tambeacutem por conveniecircncia (opheacuteleia) O que conveacutem a todos eacute natildeo sofrer danos mas para o saacutebio eacute preciso tambeacutem livrar--se da ignoracircncia e das crenccedilas vazias que levam os homens a cometerem injusticcedilas uns aos outros Desse modo a amiza-de filosoacutefica eacute diferente das relaccedilotildees que comportam atitudes que levam ao desconforto e produzem o desequiliacutebrio O que eacute conveniente (syacutempheron) eacute semelhante na atitude e na reflexatildeo Haacute uma medida um caacutelculo um sentido de harmonia para realizar a amizade A amizade eacute na praacutetica a sabedoria de viver em conjunto A amizade resulta do equi-liacutebrio de interesses daqueles implicados na relaccedilatildeo Ela nasce de maneira espontacircnea mas se consolida pela reflexatildeo acerca da naturalidade da vida em conjunto e do comedimento que equilibra os modos de agir esta eacute uma possiacutevel interpretaccedilatildeo do que Demoacutecrito pensou sobre a amizade ldquoAcordo no pen-sar engendra a amizaderdquo (DK B II 33 9)
A philia supotildee uma afinidade de pensamento e tambeacutem de accedilatildeo uma vez que as relaccedilotildees se efetivam na busca em conjunto da physiologiacutea da compreensatildeo da realidade Neste sentido a praacutetica de vida eacute saacutebia e o saber se faz em torno da vida Epicuro manteacutem a naturalidade da amizade e faz dela a base do movimento de agregaccedilatildeo social Sendo possiacutevel a amizade tambeacutem seraacute o direito e a poliacutetica O direito eacute fruto da relaccedilatildeo entre phyacutesis e noacutemos e a poliacutetica se realizaraacute no acordo entre semelhantes Na praacutetica Epicuro pensou em comunidades de pensamento e accedilatildeo De alguma manei-ra ele buscou tornar possiacutevel uma comunidade de amigos estabelecendo uma descontinuidade com o espaccedilo puacuteblico das cidades A philiacutea que eacute a base das relaccedilotildees existentes na comunidade natildeo eacute a priori fruto de um contrato uma vez
Terceira parte
154 155
que eacute imanente agrave natureza O contrato eacute uma consequecircn-cia eacute um acordo entre modos de pensar Mas o que move o pensamento na realizaccedilatildeo do acordo eacute o sentimento de equi-liacutebrio seguranccedila e a tranquilidade que a amizade produz Portanto a amizade brota de desejos naturais e necessaacuterios e se expressa no loacutegos sob a forma de acordos que satildeo estabe-lecidos segundo a conveniecircncia muacutetua (opheacuteleia) Pensar-se a si proacuteprio e ter o princiacutepio de suas accedilotildees em si mesmo qua-lifica o homem para a aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo da amizade De outra maneira no vazio das reflexotildees satildeo projetadas as falsas opiniotildees ou opiniotildees vazias que alimentam crenccedilas e desejos imoderados agraves vezes naturais agraves vezes natildeo mas quase sempre desnecessaacuterios Esses desejos crenccedilas e falsas opiniotildees cumulam em injustas agressotildees disputas pelo po-der desconfianccedila insensatez e anguacutestia ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacuteprocas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto no sentido de natildeo prejudicar nem de ser prejudicadordquo (DL X 150) E tambeacutem ldquoPara todos os seres vivos incapazes de estabelecer pactos com o intuito de natildeo prejudicar os outros e de natildeo ser prejudicados nada era justo ou injusto Acontece o mesmo em relaccedilatildeo aos povos que natildeo podiam ou natildeo queriam estabelecer pactos destinados a natildeo prejudicar e natildeo ser prejudicadosrdquo (DL X 150)
Eacute preciso entretanto atentar para o que assevera Epicuro que natildeo foi nem pretendeu ser um pensador poliacutetico Ele orientou o modo de vida filosoacutefico pela philiacutea A conveni-ecircncia muacutetua aleacutem de propiciar o pacto de natildeo sofrer nem cometer danos uns aos outros daacute sentido agrave uniatildeo entre os homens que se caracteriza pela afinidade e natildeo pela simples contenccedilatildeo das diferenccedilas ldquoToda a amizade deve ser buscada
Ethicaacute
154 155
por ela mesma mesmo que ela tenha sua origem na necessi-dade de uma ajudardquo (SV 23)
Epicuro mais uma vez marcando uma diferenccedila em relaccedilatildeo aos cirenaicos natildeo reduz a amizade ao seu caraacuteter utilitaacuterio mas afirma a conveniecircncia inerente agrave busca e manutenccedilatildeo da amizade Para ele que concorda com Aristoacuteteles o saacutebio pode proporcionar ao outro homem uma amizade digna dos me-lhores homens ou daqueles dotados de logismoacutes e de phroacutenesis pois a amizade que nasce da conveniecircncia tambeacutem se ali-menta dela ou seja ela produz acordo entre ideias e atitudes Tambeacutem para Epicuro o propoacutesito da amizade eacute o de ser na praacutetica a comunhatildeo de uma mesma filosofia Neste sentido eacute iacutentima a relaccedilatildeo entre a amizade e o bem que eacute o prazer pois dentre outras coisas a amizade mostra-se isenta de pai-xotildees tais como o oacutedio o rancor e a veneraccedilatildeo Aleacutem disso a amizade natildeo cumula em reaccedilatildeo pois eacute a expressatildeo de uniatildeo e equiliacutebrio entre aqueles que se afinam mutuamente pela natureza de caraacuteter e sabedoria ldquoAquele que eacute bem-nascido se dedica principalmente agrave sabedoria e agrave amizade dois bens dos quais um eacute mortal e o outro imortalrdquo (SV 78)
φιλόλογος philoacutelogos (ad)- S74
Aquele que busca argumentos ou raciociacutenios
φιλοσοφία philosophiacutea (sf) 22(138 Us) 132 SV 27 S41 117 Us219 Us 221 Us
Filosofia Na maacutexima 41 Epicuro utiliza este termo associa-do agrave oacuterthes (reta) com a intenccedilatildeo clara de mostrar que esta ldquoreta filosofiardquo deve ser praticada em todo momento para que a vida se torne justa bela e saacutebia A filosofia eacute definida
Terceira parte
156 157
como um saber em torno da vida no sentido de ser um exer-ciacutecio de bem viver
φιλόσοφος philoacutesophos (sm)- 221 Us
Filoacutesofo
φρόνησις phroacutenesis (sf)- 132
Sensatez sabedoria praacutetica Epicuro utiliza o termo phroacutenesis num sentido muito similar agravequele desenvolvido por Aristoacuteteles ou seja como sabedoria praacutetica Ele atribui agrave phroacutenesis a prima-zia na realizaccedilatildeo da vida filosoacutefica ou saacutebia A teacutechne eacute o modo de accedilatildeo e a filosofia eacute o exerciacutecio desse saber em torno da vida (techne tis perigrave tograven biacuteon) Assim a phroacutenesis eacute o exerciacutecio praacutetico da sabedoria (epigrave degrave philosophiacuteas) e num sentido abrangente da atividade filosoacutefica coincide com a proacutepria filosofia
Haacute uma passagem na Carta a Meneceu (DL X 132) onde Epicuro utiliza o termo phroacutenimos para significar aquele que deteacutem uma sabedoria no agir Eacute um momento em que fica clara a influecircncia socraacutetico-platocircnica pois aproxima e faz co--pertencer a um mesmo acorde phroacutenimos kaloacutes ediacutekaios (o saacutebio o bom e o justo)(vide supra δίκαιος nesta mesma parte) Tais noccedilotildees fundam uma seacuterie de relaccedilotildees no pensamento antigo e se mantecircm coesas no texto de Epicuro Eacute ao mesmo tempo uma dyacutenamis e uma possibilidade do pensamento quando este exerce o seu poder de escolha e de recusa Epi-curo considera que se pode escolher o que eacute ponderadamente refletido e recusar o que natildeo eacute necessaacuterio nem conveniente (syacutempheron) A condiccedilatildeo da autaacuterkeia eacute agir aliando o logismoacutes e a phroacutenesis pois a phroacutenesis age na triagem dos desejos que se quer e que se pode realizar na medida em que confere uma
Ethicaacute
156 157
medida natural para o bem-estar e para o prazer A phroacutenesis eacute moduladora das accedilotildees e dos desejos naturais e necessaacuterios que nos conduzem aos prazeres
Outra consequecircncia da primazia da phroacutenesis no exerciacutecio da sabedoria eacute que o esforccedilo para pensar a phyacutesis e o equiliacutebrio sereno diante do que pode causar temores provoca a agradaacute-vel ataraxiacutea um bem-estar (eustaacutetheiavide supra εὐστάθεια nesta mesma parte) Epicuro traccedila a imagem da vida filosoacutefica como vida autaacuterquica e daacute ao pensamento uma dyacutenamis a realizaccedilatildeo da conduta de acordo com a natureza ou do que se adquire com a physiologiacutea O que perturba enfraquece escraviza eacute a ignoracircncia que gera temores e opiniotildees vazias Viver segundo a natureza aqui quer dizer viver segundo a compreensatildeo que se pode ter da phyacutesis A physiologiacutea eacute um exerciacutecio para escapar agrave ignoracircncia e natildeo a substantivaccedilatildeo da natureza como uma noccedilatildeo estaacutetica cientificista ldquoEacute pela ignoracircncia dos bens e dos males que a vida dos homens eacute em grande escala perturbada e por causa desta erracircncia eles frequentemente se privam dos prazeres e se torturam com as mais crueacuteis dores da almardquo43 ldquoUm entendimento correto dessa teoria permitir-nos-aacute dirigir toda a escolha e toda a rejeiccedilatildeo com vistas agrave sauacutede do corpo e agrave tranquumlilidade da alma pois isso eacute o que se pode supremamente realizar na vidardquo (DL X 128) ldquoQuando entatildeo dizemos que o prazer eacute o fim () por prazer ltentendemosgt a ausecircncia de sofrimentos no corpo e a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na almardquo (DL X 131)
φρονίμως phroniacutemos (adv)- 132 V
Sabiamente sensatamente
43 Ciacutecero De Finibus I 13 42
158 159
Terceira parte
158 159
φυγή phygeacute (sf) - 128 129 132 XXV
Rejeiccedilatildeo recusa fuga
χαρά charaacute (sf)- 66 SV 81 2 Us
Gozo alegria
χάρις charis (sf)- 77 122 I SV 17 SV39 SV55
Benevolecircncia graccedila
χρεία chreiacutea (sf)- 120 87 128 XXXVII SV 34
Necessidade precisatildeo uacutetil
χρῆσις chreacutesis (sf)- 131
Ocupaccedilatildeo
χυλός chyloacutes (sm) 130
Frugal
ὠφέλεια opheacuteleia (sf)- 124 SV 23
Conveniecircncia muacutetua benefiacutecio utilidade No pensamento de Epicuro este termo estaacute relacionado agrave philiacutea (amizade) (vide supra φιλία nesta mesma parte) e pode ser traduzido em determinadas passagens por ldquoconveniecircncia muacutetuardquo Por outro lado pode ser traduzido por ldquoutilidaderdquo no sentido de algo que devas ser buscado ou praticado com a finalidade de viver
Referecircncias Bibliograacuteficas
158 159158 159
referecircnciAS BiBliograacuteficAS
Textos de Epicuro
Arrighetti G Epicuro Opere Torino Giulio Einaude 1960
Bignone E Opere frammenti testimonianze sulla sua vita Roma LrsquoEr-ma di Bretscheider 1964
Bollack J amp Wismann H La lettre d`Eacutepicure Paris Les Editions de Minuit 1971
mdashmdashmdash amp Laks A Eacutepicure agrave Pythoclegraves Cahiers de Philologie Paris Les Editions de Minuit 1975
mdashmdashmdash La penseeacute du plaisir Eacutepicure textes moraux commentaires Paris Les Editions de Minuit 1975
Conche M Epicure lettres et maximes Paris eacuted De Megare1977
Epicuro Antologia de textos In Epicuro et al Satildeo Paulo Abril Cul-tural1980
mdashmdashmdash The works of Epicurus The extant remains of the greek text trans-lated by Cyril Bailey with an introduction by Irwin Edman Nova Iorque The Limited Edition 1947
mdashmdashmdash Obras Completas 2ordf ed Trad Joseacute Vara Madri Ediccedilotildees Caacutet-edra 1996
Laursen S The summary of Epicurus On Nature Book 25 Papyrologia Lupiensia Lecce 1 1991 142-154
Parente M I Opere di Epicuro Torino Unione Tipografico-Editrice Torinese 1974
Salem J laquo Commentaire de la lettre drsquoEpicure agrave Heacuterodote raquoCahiers de Philosophie ancienne nordm9 Bruxelles Editions Ousia 1993
Solovine M Epicure doctrine et maxims Paris 1965
Wotke K amp Usener H Epikureische Spruchsammlung Wierner Stu-dien fuumlr Klassiche philologie 10 1888 p 175-201
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Outros autores antigos
Aristoacuteteles De anima Trad Maria Ceciacutelia Gomes dos Reis Satildeo Paulo Editora 34 2006
mdashmdashmdash De la geacuteneacuteration des animauxTrad P Louis Paris Les Belles Lesttres 1901
mdashmdashmdash Eacutethique agrave Nicomaque Trad J Voilquin Paris Garnier 1961
mdashmdashmdash Nicomachean Ethics Londres Ed Willian Meinemann Har-vard University Press 1939
mdashmdashmdash Histoire des Animaux Trad P Louis Paris Les Belles Lettres 1964
mdashmdashmdash Petits traiteacutes drsquohistoire naturelle Trad R Mugnier Paris Les Belles Lettres 1953
Lucreacutecio Da Natureza In Epicuro et al Trad Agostinho da Silva Satildeo Paulo Abril Cultural1980
Cicero De finibus bonorum et malorum Trad H Rackham MA Lon-dresNova Iorque William HeinemannThe Macmillan CO 1914
Ciceacuteron De La Natura des Dieux Trad Nouv notes par C Appuhn Paris Garniersd
mdashmdashmdash Lrsquoamitieacute Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 1952
mdashmdashmdash Les Devoirs Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 196570
Diocircgenes Laecircrtios Vidas e doutrinas dos filoacutesofos ilustresTrad Gama Kury Brasiacutelia UNB 1988
Diogenes Laertius Lives of eminent philosophers Vol 2 Trad R Hicks Cambridge Havard University Press1925
Filodemo Agli amici di scuola Naacutepoles Bibliopolis 1988
mdashmdashmdash Memorie Epicuree Naacutepolis Bibliopolis 1997
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Hippocrates Works (I VII) London Harvard University Press 1988
Lucreacutece De la Nature Paris Garnier 1954
Grene D amp Lattimore R The Complete Greek Tragedies of Aeschylus The University of Chicago Press 1959
Philodemus On the frank criticism Trad David Konstan et al Atlanta Society of Biblical Literature 1998
mdashmdashmdash On the methods of inference Naacutepoles Bibliopolis 1978
Platatildeo As Leis ou da legislaccedilatildeo e Epinomis Trad de Edson Bini 2ordf ediccedilatildeo Bauru SP Edipro 2010
Plutarque Du stoicisme et lrsquoepicurisme Trad Ricard Didier Apresenta-ccedilatildeo e notas Jean Salem Paris Eacuteditions Sand 1996
mdashmdashmdash Contre Colotes In Ouvres morales et ouvres diverses IV Paris Manchete 1970
Sextus Empiricus Contre les professeurs Editions du Seuil 2002
Seneca AD Lucilium Epistulae Morales Trad Richard M Gummere LondresNova Iorque William Heinemann G P Putnamrsquos sons 1925
Smith MF Fragments of Diogenes of Oenoanda Discovered and Redis-covered American Journal of Archaeology Vol 74 nordm1 (Jan 1970) p 51-72
Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Ellias Pinheiro Coimbra CECH 2009
Estudos modernos
Baudry J Le problem de lrsquoorigine et de lrsquoeterniteacute du monde dans la philo-sophie grecque de Platon agrave lrsquoegravere chreacutetienne Paris Les Belle Lettres 1931
Bayley C Epicurus the extant remains Oxford 1926
mdashmdashmdash The Greek atomists and Epicurus Oxford 1928
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Bignone H LrsquoAristotele perdugraveto e la formazione filosofica di Epicuro Flo-renccedila 1936
Bergson H L Extraits de Lucreacutece avec notes et une eacutetude sur la poeacutesie la philosophie la physique le texte et la langue de Lucregravece 10 ed Paris De La Grave sd
Bnobzie S Did Epicurus discover the free will problem In Sedley D (Org) Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Oxford University Press 19 287-337 2000
Boyanceacute P Lucregravece et lrsquoeacutepicurisme Collection ldquoLes grands penseursrdquo (dirigeacutee par P-M Schuhl) Paris PUF 1963
Brown E Politcs and society In WARREN J (Org) The Cambridge companion to epicureanism Cambridge Cambrigde University Press 2009
Brun J O Epicurismo Lisboa 70 1989
mdashmdashmdash Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Conche M La mort et la penseacutee Editons de Meacutegare 1973
Dewitt N St Paul and Epicurus Mineaacutepolis University of Minnesota Press 1954
mdashmdashmdash Epicurus and his philosophy Mineaacutepolis University of Minne-sota Press 1954
Diogini I Lucrezio le parole e le cose Bolonha Ed Paacutetron 1988
Duvernoy J-F O Epicurismo e sua tradiccedilatildeo antiga Satildeo Paulo Zahar 1990
Etienne A Dominic O La philosophie eacutepicurienne sur Pierre Fribur-goParisEacutedition Universitaires Fribourg Suisse Eacutedition du Cerf Paris 1996
Farrington B A doutrina de Epicuro Trad de Edmond JorgeRio de Janeiro Zahar Editores 1967
mdashmdashmdash The faith of Epicurus Londres Weidenfeld and Nicholson 1967
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Festugieacutere A-J Eacutepicure et ses dieux Paris Presses Universitaires de France 1946
Finley M I Os Gregos antigos Trad Artur Mouratildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2002
Furley D J Two studies in greek atomists Princeton University Press 1967
Gigandet A Morel P-M (Orgs) Ler Epicuro e os epicuristas Satildeo Paulo Loyola 2011
Gigante M Studisull`epicureismo greco-romano Naacutepoles 1983
mdashmdashmdash La bibliothegraveque de Philodegraveme et lrsquoepicurisme romain Paris Soci-eacuteteacute DrsquoEacutedition Les Belle Lettres 1987
Goldschmidt V La Doctrine drsquoEpicure et le droit Paris Vrin 1977
Gual C G Epicuro Madrid Alianza Editorial 1981
Guyau J -M La morale drsquoEacutepicure et ses rapports avec les doctrines con-temporaines Paris Librairie Feacutelix Alcan 1927
Jaeger W Paideacuteia a Formaccedilatildeo do Homem Grego Trad Artur M Par-reira Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
Long A A Sedley D N The Hellenistic philosophers v1 Cambridge Cambridge University Press 1987
Konstan D Some aspects of Epicurean psychology Leiden Brill 1973
Laks A Edition critique et commenteacutee de la ldquoVierdquo drsquoEpicure das Diogegravene Laerce Cahiers de Philologie 1 Eacutetudes sur lrsquoepicurisme AntiquePublications de lrsquoUniversiteacute de Lille III 1976
Marx K Diferenccedila entre as filosofias da Natureza em Demoacutecrito e Epicuro Satildeo Paulo Globalsd
Masi F G Epicuro e la filosofia della mente il XXV libro dellrsquoopera Sulla Natura Sankt Augustin Academia Verlag 2006
Mewaldt J O Pensamento de Epicuro Satildeo Paulo Iacuteris 1960
Mondolfo R O homem na cultura antiga a compreensatildeo do sujeito humano na cultura antiga Trad Luiz Caruso Satildeo Paulo Edi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
tora Mestre Jou 1968
mdashmdashmdash O infinito no pensamento da antiguidade claacutessica Trad Luiz Da-roacutes Satildeo Paulo Editora Mestre Jou 1968
Morel P-M Deacutemocrite et la recherche des causes Langres Klincksieck 1996
mdashmdashmdash Eacutepicure Paris Librarie philosophique J Vrin 2013
mdashmdashmdash Atome et neacutecessiteacute Deacutemocrite Eacutepicure Lucregravece Paris Presses Universitaires de France 2000
Nizan P Les Mateacuterialistes de lrsquoAntiquiteacute Deacutemocriteacute Eacutepicure Lucregravece Paris Eacuted Sociales Internationales 1938
Nussbaum M The therapy of desire theory and practice in hellenistic ethics Princeton Princeton University Press 1994
Orsquokeefe T Epicurus on Freedom Nova Iorque Cambridge University Press 2005
mdashmdashmdash Epicurianism Durham Acumen 2010
Paratore E Lrsquoepicureismo e la sua diffusione nel mondo latino Roma Ed dellrsquoAteneo 1960
Pessanha J A M As deliacutecias do jardim In Eacutetica Satildeo Paulo Cia Le-tras 1992 pag 57-85
Pesce D Introduzione a Epicuro Bari Editori Laterza 1981
mdashmdashmdash Saggio su Epicuro Bari Editori Laterza 1974
Pigeuad J La Maladie de Lrsquoame Paris Les Belles Lettres 1989
Quevedo F Defesa de Epicuro contra la comuacuten opinioacuten Madrid Tec-nos1986
Ridder A Lrsquoideacutee de la mort en Gregravece a lrsquoepoque classique Paris Librarie Thorin et Fils 1897
Risst John Epicurus an introduction Cambridge University Press 1972
Robin Leon La penseacutee grecque Paris Eacuteditions Albin Michel 1948
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
(Livre IV chapitre II Lrsquoeacutepicurism p 387-408)
Romilly J La Gregravece antique a La deacutecouverte de la liberteacute Paris LGF Livre de Poche 1989
Salem J Lucregravece et lrsquoeacutethique la mort nrsquoest rien pour nous Paris J Vrin 1997
mdashmdashmdash Deacutemocrite EacutepicureLucreacutece la veacuteriteacute du minuscule Paris Encre Marine 1998
mdashmdashmdash Tel un dieu parmi les hommes Lrsquoethique drsquoEacutepicure Paris Librai-rie Philosophique J Vrin 1994
Santayana G Three philosophical poets Cambridge Harvard University Press 1947
Silva M F Epicuro Sabedoria e Jardim Rio de Janeiro Relume Du-maraacute 1998
mdashmdashmdash Pensamento e imagem na Carta a Heroacutedoto de Epicuro In Pimenta MTeorias da Imagem na Antiguidade Satildeo Paulo Paulus 2012
mdashmdashmdash Prazer e vida feliz em Epicuro In Costa A A Hadad A B Azar Filho C M (Org) Filosofia e Prazer diaacutelogos com a tradiccedilatildeo hedonista 1ed Seropedica Edur 2012 v 01 p 87-92
mdashmdashmdash Sensaccedilotildees impressotildees projeccedilotildees as afecccedilotildees do pensamento In Conte J Bauchwitz O F (Org) O que eacute Metafiacutesica atas do III Coloacutequio internacional de metafiacutesica 1ordf ed Natal Edufrn 2011 v 01 p 261-266
mdashmdashmdash Lathe Biacuteosas autaacutekeia libertagrave e amicizia in Epicuro In Cor-nelli G Casertano G (Org) Pensare la cittagrave antica categorie e representazioni 1ordf ed Naacutepoles Loffredo Editore 2010 v 1 p 163-174
mdashmdashmdash O atomismo antigo e o legado de Parmecircnides In Santoro F Cairus H F Ribeiro T O (Org) Parmecircnides 1 acerca do poema de Parmecircnides 1edRio de Janeiro Azougue 2009 v
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
1 p 165-174
mdashmdashmdash Sabedoria e sauacutede do corpo em Epicuro In Peixoto M C D (Org) A sauacutede dos antigos reflexotildees gregas e romanas 1ordf ed Satildeo Paulo Loyola 2009 v 1 p 153-162
mdashmdashmdash Do equiliacutebrio do corpo ou de como o corpo eacute pensado enquanto questatildeo filosoacutefica In Peixoto M C D (Org) Sauacutede do ho-mem e da cidade na antiguidade grecoromana 1ordf ed Belo Ho-rizonte UFMG 2007 v 01 p 189-198
mdashmdashmdash Demoacutecrito Esquecido In Bezerra C C (Org) Anais do I En-contro Nacional de Estudos Neoplatocircnicos- Ontologia e Liber-dade 1ordf ed Aracaju UFS 2006 v 1 p 74-80
mdashmdashmdash Epicuro e a physiologiacutea In Bonaccini J A Medeiros M P N Silva M F Bauchwits O F (Org) Metafisica Histoacuteria e Problemas 1ordf ed Natal EDUFRN 2006 v 01 p 219-230
mdashmdashmdash Acerca de uma Eacutetica do Agradaacutevel In Silva MF(Org) Cafeacute Filosoacutefico 1ordf ed Natal EDUFRN 2005 v 3 p 47-64
mdashmdashmdash Amizade Prazer e Filosofia In Bauchwitz O F (Org) Cafeacute Filosoacutefico Natal Argos 2001 v 1 p 131-136
Silvestre M L Democrito e Epicuro il senso di una polemica Napoli Lofredo Editore 1985
Stirner Max LrsquoUnique et sa proprieteacute Paris 1900
Strozier RM Epicurus and Hellenistic philosophy Lanham Md Ed University Press of America 1985
Ullmann R Epicuro O filoacutesofo da alegria Porto Alegre Epipucrs 1966
Usener H Glossarium Epicureum Cura de M Gigante e W Schmid Roma Edizioni DellrsquoAteneo e Bizarr 1977
Voelke A-J La Philosophie comme theacuterapie de lrsquoame FriburgoEditions Universitaires de Fribourg 1993
Warren J (Org) The Cambridge Companion to Epicureanism Nova Iorque Cambridge University Press 2009
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
Usener H Epicurea Estugarda E G Teubner 1966
Teses e dissertaccedilotildees
Barbosa RS A relaccedilatildeo entre as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia na filosofia de Epicuro 2014 117 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2014
Braatz J O pensamento eacutetico em Epicuro 2007 113 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2007
Freire A J G A natureza da alma e o clinamen accedilatildeo e liberdade em Lucreacutecio 2014 191 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal-RN 2014
Nascimento R V O corpo no pensamento de Epicuro limites e possi-bilidades 2011 154f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rocha E S A morte pode ser conhecida percurso em torno da compre-ensatildeo da mortalidade na filosofia de Epicuro 2011 162 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rovaris T R O projeto epicurista antiaristoteacutelico de Pierre Gassendi Sal-vador Universidade Federal da Bahia 2007
Artigos
Arrighetti Graziano - Filodemo Περὶ θεῶν III fr 74-82 Pap Herc 157 Sul problema dei tipi divini nellrsquoepicureismo La Parola del Passato 10 (1955) p 322-356 et 404-415
Bastide G Lrsquoestheacutetisme de Lucregravece Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 143-161
Bulhotildees I C Tograve Dikaioacuten Epicuro acerca do justo Hypnos Satildeo Paulo nuacutemero 22 1ordm semestre 2009 p 98-119
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
Breacutescia C Contributo allo studio linguistico dei testi epicurei Athenaeum NS 27 (1949) 281-298
Caujolle-Zaslawsky F Le temps eacutepicurien est-il atomiqueLes Eacutetudes Phi-losophiques 3 julho-setembro de 1980 pag 285-306
Clay D A lost Epicurean Community Greek Roman and Byzantine Studies volume 30 nordm 2 1989 313-335
Diano C Epicuri Ethica Aedibius Sansionanis Florenccedila 1966
mdashmdashmdash Epiacutecure la philosophie du plaisir et la socieacuteteacute des amis Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril-junho de 1967 pag173-186
DI Vona P Per una storia dellrsquo epicureismo La parola del passato 34 (1979) 313-320
Escoubas E Asceacutetisme eacutepicurien Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 163-172
Fernaacutendez E M Acerca de una eacutetica epicuacutereo-sartriana Pensamiento 169 vol 43 1987 37-51
Flaceliegravere R Les Eacutepicuriens et lrsquoamour Revue des Eacutetudes Grecques tome 67 fascicule 314-315 Janvier-juin 1954 pp 69-81
Gabaude J-M Sur Epicure et lrsquoepicurisme (l) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 4 abril-maio de 1975 pag 11-17
mdashmdashmdash Le jeune Karl Marx lecteur drsquoEpicure (ll) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 5 junho-julho de 1975 pag 01-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 6 agosto-setembro de 1975 pag 23-29
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lV) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 1 outubro-novembro de 1975 pag 10-20
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (V) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 2 dezembro de 1975 - janeiro de 1976 pag 03-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vl) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 3 fevereiro-marccedilo de 1976 pag 03-10
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
losophique 4 abril-maio de 1976 pag 19-37
Giesecke A L Beyond the garden of Epicurus the utopics of the ideal roman village Utopian Studies Vol 12 (2) 2001 pag 13-32
Gobry I La sagesse drsquoEpicure Les Eacutetudes Philosophiques 1 janeiro-mar-ccedilo de 1976 pag 79-90
Kleve K The Epicurean Isonomia and its Sceptical Refutation Symbolae Osloenses Vol LIV 1979 pp 27-35
mdashmdashmdash Empiricism and Theology in Epicureanism Symbolae Osloenses 52 no 1 (1977) 39-51
Maurice P Epicureanism and the atomic swerve Symbolae Osloenses 50 LXI 1986 77-98
Mazzeo J A Dante e Epicuro Comparative Literature vol 10 2 pri-mavera de 1958 pag 106-120
Moreau J Le meacutecanisme eacutepicurien et lrsquoordre de la nature Les Eacutetudes Phi-losophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 467-486
Renault A Eacutepicure et le probleacuteme de lrsquoecirctre Les Eacutetudes Philosophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 435-465
Rodis-Lewis G Nature et civilization das lrsquoepicurisme Les Eacutetudes Philo-sophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 415-433
Rosenbaun S Epicurus and anihilation The philosophical Quartely vol39 154 janeiro de 1989pag 81-90
Salem J Commentaire de la lettre drsquoEpicure a Meacuteneacuteceacutee Revue philosophi-que 3 julho-setembro 1993 pag 513-549
Sedley D Epicurus refutation of determinism SydzetesisStudi sullrsquo epicu-reiacutesmo greco e romano offerti a Marcello Gigante Naacutepoles 1983 11-51
mdashmdashmdash Lrsquoanti-reacuteductionnisme eacutepicurien Trad Dao A amp Morant CLes Cahiers Philosophiques de Strasbourg Paris Librarie J Vrin phi-losophique 2003 321-359
Silva M F A morte como perda da subjetividade Revista Princiacutepios
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
UFRN 3 julho-dezembro de 1995 140-146
mdashmdashmdash Um Banquete Frugal a Influecircncia Socraacutetico-Platocircnica em Epi-curo Revista ARCHAI As origens do pensamento ocidental v 9 p 117-122 2012
mdashmdashmdash Alma e movimento ou sobre a physiologia da alma Perspectiva Filosoacutefica (UFPE) v II p 167-176 2010
mdashmdashmdash Seduccedilatildeo e persuasatildeo os ldquodeliciososrdquo perigos da sofiacutestica Ca-dernos do CEDES (UNICAMP) Campinas v 64 2004
mdashmdashmdashLoacutegos peri hedoneacute Hodos Estudos de Cultura Claacutessica v 1 n 1 p 9-25 2000
mdashmdashmdash A noccedilatildeo Epicuacuterea de Eustatheacuteia e a tegravechne heacute ietrikeacute Revista Princiacutepios UFRN v 5 n 6 p 14-154 1998
mdashmdashmdash A Compreensatildeo de Physis no Pensamento de Epicuro Iacutetaca Cadernos de Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
mdashmdashmdash Epicuro e a morte como perda da subjetividade Revista Prin-ciacutepios UFRN v 2 n 3 p 140-146 1995 116
mdashmdashmdash O eacutethos do equiliacutebrio ou do exerciacutecio da sabedoria Kleos-Re-vista de Filosofia Antiga 1ordf ed Rio de Janeiro 2000 v 4 p 183-188
Silveira P F A medicina da alma de Epicuro a medicina como forma de terapia Psykhecirc Satildeo Paulo 10 200521-27 Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
Spinelli M De Narciso a Epicuro do emergir ao resgate da individua-lidade Hypnos nordm 25 Satildeo Paulo 2010 p 194-210
Surtz E L Epicurus in utopia ELH vol 16 2 junho de 1949 pag 89-103
Ullmann R A teologia de Epicuro Textos de cultura claacutessica 2 1987
Vander Waerdt P The Justice of the Epicurean Wise Man Classical Quar-terly ns 1987 37 40222
Vianna S Sobre o epicurismo e suas origens Kriterion 65 janeiro-
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
-dezembro 1965 pag 47-64
Waggle L J Epicurus phisichological or ethical hedonistRevista de Filo-sofiacutea vol 25 57 dezembro de 2007
Dicionaacuterios e Manuais
Balaudeacute J-F Le vocabulaire des Preacutesocratiques Paris Ellipses 2011
mdashmdashmdash Le vocabulaire drsquoEacutepicure Paris Ellipses 2012
Benveniste Le vocabulaire des instituitions indo-europeacuteenes I Economie parenteacute socieacuteteacute II pouvoir droit religion Paris Les Eacuteditions de Minuit 1969
Chantraine P Dictionnaire Eacutetymologique de la langue grecque Paris Klincksieck 1999
Gobry I Vocabulaacuterio grego da filosofia Trad Ivone C Benedetti Satildeo Paulo WMFMartins Fontes 2007
Isidro Pereira SJ Dicionaacuterio grego-portuguecircs e portuguecircs-grego Bra-ga Livraria AI 1998
Lidell HG amp Scott R Greek-english lexicon with a revised supplement Oxford Clarendon Express 1996
Murachco H Liacutengua grega visatildeo semacircntica loacutegica orgacircnica e funcional 3ordf ediccedilatildeo Satildeo PauloPetroacutepolis Discurso EditorialEditora Vo-zes 2007
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
172 173172 173
coleccedilatildeo autores gregos e latinos ndash seacuterie ensaios
1 Carmen Soares Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Eacutetica e Paideia em Plutarco (Coimbra CECH 2008)
2 Joaquim Pinheiro Joseacute Ribeiro Ferreira e Rita Marnoto Caminhos de Plutarco na Europa (Coimbra CECH 2008)
3 Claacuteudia Teixeira Delfim F Leatildeo and Paulo Seacutergio Ferreira The Satyricon of Petronius Genre Wandering and Style (Coimbra CECH 2008)
4 Teresa Carvalho Carlos A Martins de Jesus Fragmentos de um Fasciacutenio Sete ensaios sobre a poesia de Joseacute Jorge Letria (Coimbra CECH 2009)
5 Delfim Ferreira Leatildeo Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Cidadania e Paideia na Greacutecia Antiga (Coimbra CECH 2010)
6 Maria de Faacutetima Silva and Susana Hora Marques Tragic Heroines on Ancient and Modern Stage (Coimbra CECH 2010)
7 Aacutelia Rosa Rodrigues Carlos A Martins de Jesus Rodolfo Lopes Intervenientes Discussatildeo e Entretenimento No Banquete de Plutarco (Coimbra CECH 2010)
8 Luiacutesa de Nazareacute Ferreira Paulo Simotildees Rodrigues e Nuno Simotildees Rodrigues Plutarco e as Artes Pintura Cinema e Artes Decorativas (Coimbra CECH 2010)
9 Nair Castro Soares Margarida Miranda Carlota Miranda Urbano (Coord) Homo eloquens homo politicus A retoacuterica e a construccedilatildeo da cidade na Idade Meacutedia e no Renascimento (Coimbra CECH 2011)
10 Claacuteudia Teixeira Estrutura personagens e enganos introduccedilatildeo agrave leitura de As Baacutequides de Plauto (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2016)
11 Gregory Nagy O Heroacutei Eacutepico (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2017)
174 PB
12 Markus Figueira da Silva Termos Filosoacuteficos de Epicuro (Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 2018)
O livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais importantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
OBRA PUBLICADA COM A COORDENACcedilAtildeO CIENTIacuteFICA
bull
- Termos Filosoacuteficos de Epicuro
-
- Sumaacuterio
- Prefaacutecio
- Apresentaccedilatildeo
- Introduccedilatildeo
- Auxiacutelio ao leitor
- Primeira parte - Physiologiacutea
- Segunda parte - Physiologiacutea
- Terceira parte - Ethicaacute
- Referecircncias bibliograacuteficas
-
Termos Filosoacuteficos de Epicuro
Philosophical Terms in Epicurus
Markus Figueira da SilvaFiliaccedilatildeo AffiliationUniversidade Federal do Rio Grande do Norte
ResumoO livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais im-portantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanes-centes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Palavras-chaveEpicuro terminologia grega filosofia antiga eacutetica conhecimento natureza
Abstract The book ldquoPhilosophical Terms in Epicurusrdquo brings together all major concepts found in the works of this Greek thinker of the end of the IV century and beginning of the III century BC Taken from the surviving texts of Epicurus the terms were grouped in three sections those being physiology gnosiology and physiology and ethics The glossary of terms will be a valuable research tool to aid in the approach to the surviving texts of the works of Epicurus a Hellenistic philosopher not much studied in the Portuguese language despite the fact that he is one of the fundamental ancient Greek philosophers
KeywordsEpicurus Greek terminology ancient Greek philosophy ethics knowledge nature
Autor
Professor titular de Histoacuteria da Filosofia Antiga da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Membro do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia (PPGFIL) da UFRN Pesquisador do PRAGMAUFRJ
Author
Full Professor of History of Ancient Philosophy at Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Faculty member of the Graduate Program in Philoso-phy (PPGFIL) at UFRN Member of the Research Program in Ancient Philosophy - PRAGMAUFRJ
Sumaacuterio
Prefaacutecio 9
Apresentaccedilatildeo 11
Introduccedilatildeo 15
Auxiacutelio ao leitor 26
Primeira parte 29Physiologiacutea
Segunda parte 69Physiologiacutea
Terceira parte 101Ethicaacute
Referecircncias bibliograacuteficas 159
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Prefaacutecio
8 9
Prefaacutecio
A elaboraccedilatildeo de um vocabulaacuterio comentado sobre a termi-nologia filosoacutefica de Epicuro eacute para a comunidade cientiacutefica tarefa de reconhecido meacuterito e utilidade Embora ela assente de forma inevitaacutevel na consulta dos melhores dicionaacuterios de grego disponiacuteveis permite por um lado uma visatildeo sistemaacutetica de conjunto sobre uma terminologia especiacutefica e por outro uma reflexatildeo sobre os pressupostos que justificam as traduccedilotildees que os diversos dicionaacuterios propotildeem Natildeo se limita portanto a fornecer sinoacutenimos precisos mdash o que em si mesmo jaacute seria um meacuterito apreciaacutevel mdash mas comenta ou historia o percurso de determinados vocaacutebulos o que ultrapassa a convenccedilatildeo de um di-cionaacuterio A esta perspetiva de base o autor do volume propocircs-se acrescentar comentaacuterios elucidativos sobre a sinoniacutemia estabele-cida Para isso foi tida tambeacutem em conta a informaccedilatildeo fornecida por inuacutemeras publicaccedilotildees sob forma de livros ou perioacutedicos que tecircm dedicado ao pensamento de Epicuro e sobretudo ao estudo de aacutereas semacircnticas particulares da liacutengua grega como eacute o caso da filosoacutefica a sua atenccedilatildeo Destes materiais o presente estudo eacute tambeacutem devedor e transmissor na listagem bibliograacutefica que integra Eacute portanto como um elemento de seleccedilatildeo e de precisatildeo de um certo campo semacircntico a linguagem filosoacutefica centrado num autor especiacutefico Epicuro que este volume se apresenta
Natildeo eacute talvez Epicuro pela proacutepria fragilidade e dimensatildeo pequena do corpus que o representa aos olhos da contempora-neidade um autor sobre que a bibliografia disponiacutevel seja mais ampla Aleacutem de muito reduzido esse corpus eacute na sua maioria transmitido de forma indireta o que condiciona de modo
10 11
Prefaacutecio
10 11
evidente o acesso agrave terminologia que poderiacuteamos atribuir a Epicuro Apesar dessas limitaccedilotildees este vocabulaacuterio reuacutene um nuacutemero significativo de termos em parte vindos numa linha de continuidade em relaccedilatildeo a uma terminologia que a filosofia grega foi sedimentando ao longo dos seacuteculos Neste caso o comentaacuterio a incluir valoriza a perspetiva diacroacutenica e procura sobretudo em relaccedilatildeo aos vocaacutebulos com tradiccedilatildeo reconhecida definir nuances inovadoras que testemunhem o proacuteprio fluir do pensamento filosoacutefico Mas sem duacutevida mais expressivos satildeo os casos de haacutepax mdash palavras de ocorrecircncia uacutenica nos textos em anaacutelise mdash ainda que condicionados pela magreza dos testemunhos Estes termos conferem a Epicuro e ao seu pensamento uma identidade proacutepria e destacam nele a capacidade de contribuir para o voca-bulaacuterio especiacutefico da filosofia com palavras novas
Um manual desta natureza seraacute sempre uma proposta em aber-to a ser retocada ou ampliada agrave medida que a proacutepria discussatildeo fi-losoacutefica for prosseguindo ou na hipoacutetese de que novos testemunhos se possam vir a juntar aos atualmente disponiacuteveis Mas o resultado a que neste momento se chegou resulta de anos de recolha e de investigaccedilatildeo e constitui jaacute uma contribuiccedilatildeo a ser publicitada com utilidade entre os especialistas e acadeacutemicos em geral
Deste lsquoVocabulaacuterio filosoacutefico de Epicurorsquo poderatildeo tirar provei-to evidente todos os que se dedicam natildeo apenas ao estudo deste autor concreto mas ao da evoluccedilatildeo do pensamento filosoacutefico e respetiva terminologia investigadores docentes e estudantes Por-que sem pretender ser exaustiva no que respeita ao comentaacuterio dos termos alistados esta proposta eacute mesmo assim um documento de valor inestimaacutevel para a clarificaccedilatildeo das nuances subjacentes a um vocabulaacuterio tatildeo lsquosensiacutevelrsquo como eacute o filosoacutefico
Maria de Faacutetima SilvaUniversidade de Coimbra
Apresentaccedilatildeo
10 1110 11
APreSentAccedilatildeo
Os ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo satildeo o resultado de um projeto de pesquisa que desenvolvi ao longo de vaacuterios anos como atividade paralela a outras produccedilotildees acadecircmicas por mim realizadas no acircm-bito do Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Pude contar nesta pesquisa com a colaboraccedilatildeo de quatro bolsistas de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica um bolsista de Mestrado e um outro de Doutorado Devo mencionar os no-mes de Everton da Silva Rocha e Renato dos Santos Barbosa que participaram efetivamente do resultado final deste trabalho Everton colaborou na organizaccedilatildeo e digitaccedilatildeo dos verbetes em grego e Rena-to colaborou na organizaccedilatildeo do livro e na redaccedilatildeo de alguns verbetes a partir da sua pesquisa de mestrado por mim orientada Eles fazem parte deste percurso e do produto final que vem agora a puacuteblico No nome deles eu agradeccedilo os demais alunos que se iniciaram no estu-do da Filosofia de Epicuro mediante a participaccedilatildeo nesta pesquisa
Foi um longo aacuterduo mas prazeiroso caminho que culminou com um estaacutegio de pesquisa que realizei no Centro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos da Universidade de Coimbra em setembro e outubro de 2016 sob a supervisatildeo da Doutora Maria de Faacutetima Sousa e Silva
O conjunto dos verbetes que aqui se encontra foi dividido em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Reuni desta maneira os termos mais importantes1 para
1 Considero que haacute um grupo de termos que satildeo os conceitos mais traba-lhados no pensamento de Epicuro e os verbetes que lhes satildeo correspondentes apresentam um estudo resumido do papel que desempenham para a originali-dade da sua Filosofia os demais termos satildeo tambeacutem relevantes no que toca ao uso que deles se pode fazer para a traduccedilatildeo direta dos textos gregos
Apresentaccedilatildeo
12 13
um estudo interpretativo de cada uma das partes respeitando a ordem dos textos apresentados no livro X da obra Vidas e Doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres de Dioacutegenes Laeacutercio bem como as Sentenccedilas Vaticanas que foram descobertas posteriormente por Karl Votke em 1888 no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Papiro 1950 Aleacutem destas fontes aproveitei alguns vocaacutebulos extraiacutedos da doxografia antiga e acrescentados por Hermman Usener na sua obra Epicurea Basicamente satildeo estes os textos que constituem a espinha dorsal do pensamento de Epicuro que se mantiveram ao longo dos seacuteculos e satildeo o cerne de toda a pesquisa realizada pelos estudiosos ateacute hoje No seacuteculo XIX com as escavaccedilotildees feitas na Vila dos Papiros em Herculano no Sul da Itaacutelia um conjunto de textos fragmentados a maioria atribuiacuteda a Filodemo de Gadara e outros atribuiacutedos a Epicuro tecircm sido objeto de estudo de diversos especialistas em filologia mas que para o objetivo deste trabalho natildeo acrescentariam muito agrave base sobre a qual se define a filosofia de Epicuro
Eacute sempre difiacutecil reconstituir o todo de um pensamento mantendo a sua clareza e a sua coerecircncia quando a imensa maioria dos textos que foram escritos submergiu agraves vicissitudes do tempo e agraves armadilhas da histoacuteria Entretanto eacute preciso ter apreccedilo pelo teor deste pensamento e pela influecircncia que teve Epicuro sobre as geraccedilotildees que o sucederam ateacute agrave nossa eacutepoca A grande voz latina que fez ecoar a filosofia epicurista por mais de dois milecircnios foi sem duacutevida a do poeta romano Tito Lucreacutecio Caro que escreveu o De Rerum Natura ou Da natureza das Coisas poema em seis livros inacabado Este poema eacute uma fonte preciosa para o estudo do epicurismoPor isso quando existir correspondecircncia entre o termo grego utilizado por Epicuro e o termo latino utilizado por Lucreacutecio ressaltarei sobretudo nos verbetes expandidos esta correspondecircncia Outro fator importante num manual desta natureza eacute fornecer ao leitor a
Apresentaccedilatildeo
12 13
localizaccedilatildeo exata das ocorrecircncias de cada termo nos textos de Epicuro Aleacutem disso ele encontraraacute o termo grafado em carac-teres gregos seguido da transliteraccedilatildeo para caracteres latinos e a sua definiccedilatildeo ou significado Nos termos considerados de maior relevacircncia a definiccedilatildeo seraacute expandida na forma de um pequeno artigo acerca daquela noccedilatildeo Ocorreraacute tambeacutem em alguns termos a observaccedilatildeo ou informaccedilatildeo complementar que indica quando o termo eacute de uso exclusivo em Epicuro ou quando o termo passa a ser utilizado a partir de Epicuro ou quando eacute um termo de uso filosoacutefico apenas ou quando eacute de uso comum a Aristoacuteteles e a Epicuro ou ainda quando recebe um significado metafoacuterico para realccedilar o sentido inovador do seu pensamento Satildeo caracte-riacutesticas da linguagem grega utilizada por Epicuro o que tambeacutem o diferencia dos demais pensadores e inaugura muitas vezes um novo vocaacutebulo ou linha conceitual no acircmbito da filosofia antiga
Achei por bem elencar os termos mais importantes de cada um dos trecircs assuntos da sua obra na parte que lhe eacute correspon-dente Assim na Physiologiacutea estatildeo dispostos os termos referentes ao estudo da phyacutesis Na Gnoseologiacutea e Physiologiacutea pode-se en-contrar os termos que aparecem no iacuteniacutecio da Carta a Heroacutedoto e que correspondem agrave canocircnica ou teoria do conhecimento Na Eacutethica aqueles que correspondem agrave Carta a Meneceu agraves Maacutexi-mas Principais e agraves Sentenccedilas Vaticanas Contudo devo advertir de que muitos termos apareceratildeo repetidamente em mais de uma parte isto porque apresentam um sentido diferente que corresponde agrave funccedilatildeo desempenhada no contexto das frases onde aparecem A minha intenccedilatildeo ao propor esta divisatildeo eacute facilitar o manuseio deste breviaacuterio de termos Assim o usuaacuterio que estiver estudando a Carta a Heroacutedoto por exemplo encontraraacute na parte dedicada agrave Physiologiacutea eou na parte dedicada agrave Gnoseologiacutea e Physiologiacutea (se for o caso da canocircnica) os termos que interessam agrave sua anaacutelise
14 15
Apresentaccedilatildeo
14 15
Espero sinceramente que este vocabulaacuterio de termos filosoacuteficos gregos de Epicuro possa contribuir para a instrumen-talizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra deste pensador que pode ser considerado ainda pouco estudado sobretudo nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
Introduccedilatildeo
14 1514 15
introduccedilatildeo
Epicuro filoacutesofo da natureza em busca do equiliacute-brio da liberdade e do prazer
O interesse que me moveu e que certamente move um estu-dante para se aprofundar na leitura dos textos de Epicuro eacute o de esclarecer o sentido maior deste pensamento isto eacute separar o que eacute genuiacuteno de tudo o que foi dito ao longo da histoacuteria em termos de opiniatildeo com forte matiz ideoloacutegico acerca da sua visatildeo de mundo e do seu modo de vida Natildeo haacute como fugir da polecircmica em torno da figura de Epicuro e do que a sua filosofia representou e ainda representa para o desenvolvimento da filosofia ocidental Quem estiver de fato interessado em interpretar para compreender o pensamento em questatildeo precisaraacute ir aos textos gregos originais e a partir daiacute comparar as inuacutemeras traduccedilotildees em diversas liacutenguas que se fizeram e ainda se fazem dos escritos deste pensador Tendo em vista as trecircs cartas as maacuteximas e as sentenccedilas que constituem o cerne da obra epicuacuterea trabalhada pela maioria dos especialistas uma interpretaccedilatildeo criteriosa destes textos produziraacute uma visatildeo sistecircmica do seu pensamento Soma-se a isso os fragmentos dos Papiros Herculaneses a Escrita Sobre Pedra de Dioacutegenes de Enoan-da e o poema De Rerum Natura de Lucreacutecio
Todos estes elementos satildeo imprescindiacuteveis para se obter uma visatildeo orgacircnica do conjunto do pensamento de Epicuro a fim de tornar exequumliacutevel a tarefa do pesquisador que eacute a de produzir uma coerente associaccedilatildeo destes conteuacutedos
Antes de apresentar um comentaacuterio geral dos textos aqui utilizados urge reproduzir um resumo cronoloacutegico da vida de
Markus Figueira da Silva
16 17
Epicuro para que se possa situaacute-lo no contexto do pensamento grego antigo
Cronologia
Epicuro filho de famiacutelia ateniense que pertencia ao demos de Gargeto nasceu em 341 aC em Samos e laacute viveu desde a infacircn-cia ateacute os 18 anos quando em 323 vai a Atenas prestar o serviccedilo militar Quando retornou de Atenas em 322 sua famiacutelia havia sido expulsa de Samos e Epicuro vai encontraacute-la em Coacutelofon Nos anos seguintes parece ter seguido as liccedilotildees de Praxiacutefanes um filoacutesofo peripateacutetico em Rodes Depois estudou com Nausiacute-fanes disciacutepulo de Demoacutecrito de Abdera e possivelmente aluno de Pirro de Eacutelis2 que ensinava em Teacuteos proacuteximo a Coacutelofon3
Em 311 Epicuro comeccedila a ensinar Filosofia em Mitilene na ilha de Lesbos No ano seguinte transfere-se para Lacircmpsa-co onde reuacutene alguns dos mais importantes disciacutepulos que o acompanharatildeo ao longo da sua trajetoacuteria ateacute que em 306 com a idade de 35 anos volta a Atenas e funda o Kecircpos o Jardim que daraacute nome a sua escola e caracterizaraacute a sua filosofia naturalista Em 270 a C Epicuro morre aos 72 anos de idade Cerca de quatorze escolarcas sucederam a Epicuro na direccedilatildeo do Jardim ateacute 44 a C4
A filosofia de Epicuro
Epicuro desenvolveu o seu pensamento a partir de influecircncias que marcaram a sua formaccedilatildeo e moldaram o seu ideal de vida Em primeiro lugar a Physiologiacutea ou a sua compreensatildeo da phyacutesis
2 Filoacutesofo grego do seacutec IV aC contemporacircneo de Epicuro e conside-rado o precursor do Ceticismo
3 Estas cidades satildeo ilhas proacuteximas a Samos na costa da Aacutesia menor4 Brun J Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Introduccedilatildeo
16 17
que teve no atomismo de Demoacutecrito de Abdera5 o seu ponto de partida Apesar de tecirc-lo modificado em determinados pontos em linhas gerais a constituiccedilatildeo da phyacutesis permaneceu inalterada ou seja toda a natureza eacute constituiacuteda de aacutetomos e vazio Na Carta a Heroacutedoto pode-se ver um resumo desta physiologiacutea Tambeacutem nesta Carta logo no iniacutecio encontra-se uma teoria do conhecimento que define os criteacuterios da percepccedilatildeo sensiacutevel que define a sua Gnoseologiacutea Por outro lado Epicuro voltou o seu pensamento para a investigaccedilatildeo do eacutethos do homem grego da sua eacutepoca e buscou tecer uma compreensatildeo do agir humano com a perspectiva de oferecer com a sua filosofia uma praacutetica de vida alternativa aos modelos que se apresentavam naquela altura do iniacutecio do seacuteculo III aC A sua investigaccedilatildeo permitiu que ele assimilasse traccedilos importantes do pensamento eacutetico grego dos seus antecessores A comeccedilar pelo modelo filosoacutefico socraacutetico e o seu desdobramento no pensamento de Platatildeo e Aristoacuteteles mas tambeacutem no confronto da criacutetica platocircnica e aristoteacutelica com a eacutetica de Demoacutecrito de Abdera Aristipo de Cirene e Pirro de Eacutelis os dois primeiros contemporacircneos de Soacutecrates e este uacuteltimo de Epicuro Partindo do entendimento de que toda a filosofia eacute de certo modo tributaacuteria das suas influecircncias e de que todo o pensamento traz em seu bojo elementos daquilo que jaacute fora pensado por outros filoacutesofos Epicuro manteacutem esta dinacircmica de refletir sobre as ideacuteias marcantes dos seus predecessores
Qual eacute entatildeo a originalidade de Epicuro e o que o torna um pensador singular da Histoacuteria da Filosofia
Para responder a isso indico a coerecircncia e a originalidade que se mostra nos textos remanescentes da sua obra Em outras
5 Filoacutesofo grego do seacutec V a C considerado um preacute-socraacutetico pela tradicional divisatildeo da Histoacuteria da Filosofia embora tenha sido contem-poracircneo de Soacutecrates Eacute considerado juntamente com Leucipo de Eleacuteia o precursor do atomismo grego
Markus Figueira da Silva
18 19
palavras a inteireza ou a inseparabilidade entre a physiologiacutea e a eacutethica Mais que isso o seu modus vivendi filosoacutefico Epicuro foi um pensador que procurou a todo o instante viver de acordo com o que pensava ou seja a partir do que inteligia quando pensava a phyacutesis sendo o estudo da natureza a base da sua conduta e a compreensatildeo de si mesmo como natureza o modelo para o exer-ciacutecio da sua filosofia e a expressatildeo dos seus atos Conhecer a vida e viver este conhecimento eacute um todo contiacutenuo que caracteriza a sua relevacircncia e a sua originalidade como physiologoacutes e pensador eacutetico concomitantemente
Neste sentido apresento a Filosofia de Epicuro em dois toacutepi-cos distintos e complementares a saber a physiologiacutea e aethicaacute
Physiologiacutea
No livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio encontram-se duas cartas de Epicuro que satildeo epiacutetomes ou resumos de temas li-gados agrave natureza (phyacutesis) Na Carta a Heroacutedoto estatildeo contidas as proposiccedilotildees fundamentais da sua filosofia da natureza e que tratam dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis O objetivo desta carta eacute apresentar aos que se iniciam na Filosofia os conceitos fundamentais sobre a natureza do todo dos mundos dos cor-pos compostos dos aacutetomos e do vazio bem como mostrar o processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo das coisas na natureza Epicuro deixa claro logo no iniacutecio que o estudo destes funda-mentos serve tambeacutem agravequeles jaacute instruiacutedos pois eles o podem utilizar para exercitarem-se nas discussotildees sobre as questotildees da natureza e como forma de aprimorarem a memoacuteria Ele cuida especialmente da linguagem que emprega a fim de facilitar a aprendizagem e promover uma faacutecil memorizaccedilatildeo Afirma que a clareza a objetividade e a simplicidade devem caracterizar o estilo e a linguagem filosoacutefica
Introduccedilatildeo
18 19
A canocircnica como meacutetodo gnosioloacutegico
A partir do passo 37 da Carta a Heroacutedoto Epicuro inicia a exposiccedilatildeo dos criteacuterios para o conhecimento da natureza des-de os fenocircmenos sensiacuteveis ou seja aqueles que satildeo objetos da percepccedilatildeo ateacute onde pode alcanccedilar o pensamento quando este procede por analogia isto eacute por contiguumlidade ou comparaccedilatildeo Para ele o pensamento pode conjecturar acerca dos fenocircmenos microcoacutesmicos e tambeacutem macrocoacutesmicos o que justifica as suas assertivas sobre o comportamento dos aacutetomos e noutro plano dos corpos celestes Epicuro utiliza este meacutetodo para expor a noccedilatildeo de aacutetomo e o seu movimento no vazio e em decorrecircncia disso explica o processo de agregaccedilatildeo e desagregaccedilatildeo dos corpos sensiacuteveis a formaccedilatildeo e dissoluccedilatildeo dos mundos e a proacutepria noccedilatildeo de infinitude
Em seguida apresenta a sua teoria sobre o processo de conhe-cimento a formaccedilatildeo do pensamento e da imaginaccedilatildeo a partir do delineamento de quatro noccedilotildees capitais do sensualismo que ele inaugura a saber a sensaccedilatildeo (aiacutesthesis) a afecccedilatildeo (paacutethos) a impressatildeo sensiacutevel ou preacute-noccedilatildeo (proacutelepsis) e a projeccedilatildeo imaginaacute-ria do pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) Tais noccedilotildees visam explicar o processo gnoseoloacutegico desde que o oacutergatildeo sen-siacutevel eacute afetado gerando a sensaccedilatildeo que por sua vez se imprime na alma (psycheacute) gerando a memoacuteria (mneacuteme) sensitiva que eacute a fonte das imagens articuladas pelo pensamento quando as reuacutene e daacute sentido e representaccedilatildeo agrave realidade fenomecircnica Satildeo estas imagens sensiacuteveis que seratildeo usadas quando o pensamento por analogia a elas constroacutei explicaccedilotildees para os objetos natildeo perceptiacute-veis aos sentidos mas imaginados pelo pensamento em projeccedilatildeo
Nos passos 46 a 53 Epicuro investiga os mecanismos de produccedilatildeo das imagens (eiacutedola) e como se produz a imaginaccedilatildeo (phantasiacutea) como parte do movimento de transformaccedilatildeo das
Markus Figueira da Silva
20 21
sensaccedilotildees em sentimentos (impressotildees sensiacuteveis) e destes em memoacuteria operada pelo pensamento Esta eacute de fato uma das mais inovadoras teorias de Epicuro e que influenciaraacute diversos teoacutericos do conhecimento na modernidade
A partir do passo 54 tecircm-se analisadas as caracteriacutesticas do aacutetomo isto eacute a forma a figura o tamanho e o peso que por sua vez estatildeo intimamente relacionados agraves qualidades dos corpos sensiacuteveis (soacutemata) A anaacutelise do vazio e espaccedilo (kenograven kaigrave choacuteran) ocorre jaacute no passo 61 Sobre a importacircncia destas noccedilotildees Epicuro defende que sem o vazio eou espaccedilo natildeo pode haver movimento
A alma (psycheacute) que eacute corpoacuterea ou seja um corpo consti-tuiacutedo por aacutetomos mais sutis que os da carne (saacuterx) eacute objeto de investigaccedilatildeo no passo 67 Epicuro a define como sendo princiacutepio de movimento e sede do pensamento Na continuaccedilatildeo da Carta (passo 68) daacute-se iniacutecio agrave explicaccedilatildeo dos corpos compostos e do processo de composiccedilatildeo e decomposiccedilatildeo dos corpos a partir da agregaccedilatildeo dos aacutetomos
Haacute tambeacutem uma breve anaacutelise sobre o tempo (khroacutenos) nos passos 72 e 73 e em seguida a teoria sobre os mega corpos ou os mundos (koacutesmoi) que tambeacutem satildeo formados pela agregaccedilatildeo dos aacutetomos e tecircm duraccedilatildeo limitada
Epicuro acena para uma breve histoacuteria antropoloacutegica apre-sentada na anaacutelise do conceito de praacutegmata que diz respeito a uma teoria da accedilatildeo humana e tem lugar no passo 75 e se pro-longa no passo 76 onde ele apresenta indiacutecios de uma teoria da linguagem bastante original No final da Carta a Heroacutedoto isto eacute nos passos 80 e 81 haacute uma apresentaccedilatildeo sumaacuteria do tema dos corpos celestes que seraacute desenvolvido na Carta a Piacutetocles Os passos 82 e 83 trazem as consideraccedilotildees finais da Carta onde Epicuro exorta os seus alunos a exercitarem-se sempre no estudo da natureza para que deste modo possam fugir da ignoracircncia
Introduccedilatildeo
20 21
A Carta a Piacutetocles se inicia com a afirmaccedilatildeo de que o conhe-cimento dos fenocircmenos celestes (meteacuteora) quer sejam conside-rados em conexatildeo com outros fenocircmenos ou neles mesmos tem como finalidade a tranquumlilidade da alma bem como afirmar a confianccedila nas explicaccedilotildees ldquofisioloacutegicasrdquo Em seguida passase ao meacutetodo de investigaccedilatildeo dos fenocircmenos celestes evidenciando o pluralismo da explicaccedilatildeo onde se aceita para um determinado fenocircmeno mais de uma causa desde que nenhuma delas possa ser contraditada pela evidecircncia da sensaccedilatildeo ou seja enquanto natildeo for refutada a explicaccedilatildeo se manteacutem vaacutelida Assim eacute pre-feriacutevel manter a pluralidade das causas em vez de ater-se a uma crenccedila que remeta a uma explicaccedilatildeo sobrenatural baseada por exemplo nos desiacutegnios dos deuses
Tem-se na continuaccedilatildeo uma definiccedilatildeo de mundo (koacutesmos) bem como dos meteacuteora os mais variados que leva a uma especulaccedilatildeo acerca do movimento dos astros das nuvens da chuva das tormentas dos raios e trovotildees das tempestades dos ciclones dos terremotos dos ventos das geleiras da neve do arco-iacuteris da lua dos cometas das estrelas cadentes e das mudanccedilas dos ventos
A ethicaacute
Ao longo de toda a Histoacuteria da Filosofia Epicuro seraacute lem-brado muito mais pelas suas proposiccedilotildees eacuteticas do que pelas fiacutesicas o que tem a sua explicaccedilatildeo com o desenvolvimento das ciecircncias o atomismo e as demais teorias desenvolvidas pelos filoacutesofos gregos antigos sofreram muitas variaccedilotildees atualizaccedilotildees e ateacute inovaccedilotildees graccedilas ao aprimoramento tecnoloacutegico das pesqui-sas contudo a eacutetica seguiu um outro percurso e o conteuacutedo do pensamento eacutetico epicuacutereo foi alvo das apropriaccedilotildees tiacutepicas da fi-losofia daqueles que buscaram construir uma eacutetica do bem viver
Markus Figueira da Silva
22 23
Neste caso especiacutefico uma eacutetica ao mesmo tempo naturalista e sensualista Por outro lado haacute os criacuteticos deste pensamento que na maioria das vezes o detrataram Como consequumlecircncia disso uma enorme controveacutersia interpretativa acerca da eacutetica de Epicuro tem sido frequumlente nos meios acadecircmicos e nos escritos publicados a este respeito Entretanto o que interessa agravequeles que desejam estudar o epicurismo seraacute entender como eacute possiacute-vel pensar uma eacutetica desvinculada tanto da poliacutetica quanto da religiatildeo Em outras palavras seraacute que a eacutetica epicurista eacute uma eacutetica sem matrizes ideoloacutegicas Penso que este foi o objetivo de Epicuro ao afastar-se da poliacutetica e da religiatildeo
Em Epicuro encontra-se a definiccedilatildeo da Filosofia como um saber em torno da vida cujo uso praacutetico se realiza constan-temente como um conhecimento que edifica a proacutepria vida como um exerciacutecio filosoacutefico cotidiano A fundamentaccedilatildeo do agir filosoacutefico eacute pois o conhecimento adquirido no processo de investigaccedilatildeo da natureza que prima pela desmistificaccedilatildeo da phyacutesis e daacute ao indiviacuteduo as reacutedeas da sua proacutepria vida e a autonomia para agir a partir de si mesmo Eacute neste sentido que Epicuro se distingue de outros pensadores da sua eacutepoca isto eacute o seu pensamento natildeo eacute tributaacuterio de nenhuma ideologia seja poliacutetica ou religiosa
Dioacutegenes Laeacutercio tambeacutem publicou em sua obra a Carta a Meneceu e quarenta Maacuteximas Principais de Epicuro Estes satildeo os textos eacuteticos por ele preservados e sobre os quais tecircm se debruccedilado os estudiosos Contudo haacute tambeacutem um conjunto de oitenta e uma sentenccedilas que foram descobertas muito mais tarde em 1888 por Karl Wotke no Coacutedice do Vaticano sob o nome de Manuscrito 1950 ou GnomologioVaticano6 A maioria das sentenccedilas satildeo reflexotildees eacuteticas de Epicuro Outros textos
6 Gual CG 1981 p 133
Introduccedilatildeo
22 23
muito fragmentados e com muitas lacunas foram descobertos nas escavaccedilotildees de Herculano uma vila no Sul da Itaacutelia que foi soterrada pelas lavas do vulcatildeo Vesuacutevio no seacutec I aC como jaacute havia assinalado Este material tem sido objeto de pesquisa e poderaacute vir a acrescentar novas informaccedilotildees sobre o pensamento epicurista tanto quanto a chamada ldquoescrita sobre pedrardquo des-coberta nas escavaccedilotildees em Enoanda onde existiu uma extensa muralha construiacuteda por um adepto do epicurismo de nome Dioacutegenes que mandou talhar sobre ela diversos ensinamentos eacuteticos de Epicuro para que fossem lidos e servissem agrave reflexatildeo daqueles que por laacute passassem Felizmente estes textos foram em parte reconstituiacutedos e corroboram os publicados no livro X da obra de Dioacutegenes Laeacutercio
Os inteacuterpretes da filosofia de Epicuro trabalham efetivamen-te sobre estes textos na busca de explicitar cada vez mais este pensamento que influenciou inuacutemeros pensadores e ainda hoje influencia tais como Giordano Bruno Michel de Montaigne Pierre Gassendi Baruch Espinoza Thomas Hobbes John Stuart Mill Karl Marx Michel Foucault entre outros
Assim para que sirva de referecircncia para o leitor indico os te-mas principais apresentados na Carta a Meneceu e nas Maacuteximas Principais
A Carta comeccedila com um protreacuteptico ou uma exortaccedilatildeo ao filosofar no passo 122 Em seguida estaacute o tetraphaacutermakon ou quaacutedruplo remeacutedio que reflete acerca dos deuses (passos 123 e 124) sobre a morte e os verdadeiros males da vida (entre os passos 124 e 127) sobreo futuro ou porvir (ainda no 127) sobre o prazer e os desejos (do 127 ao 132) e sobre a necessidade e o acaso (passos 132 a 135) Na conclusatildeo da Carta Epicuro convida o destinataacuterio e os seus amigos a refletirem sobre os pre-ceitos nela contidos pois estes ensinamentos conduzem a uma praacutetica de vida feliz ou bem aventurada
Markus Figueira da Silva
24 25
Com relaccedilatildeo agraves Maacuteximas Principais as primeiras (I a IV) tratam tambeacutem do tetraphaacutermakon em seguida haacute uma seacuterie de consideraccedilotildees sobre as condiccedilotildees necessaacuterias suficientes para se realizar uma vida feliz (makaacuterioszecircn) bem como sobre a relaccedilatildeo entre prazeres e virtudes (V a XXI) Haacute depois uma ilaccedilatildeo en-tre os criteacuterios para o conhecimento e o agir filosoacutefico (XXII a XXVI) sobre a amizade (philiacutea) e a classificaccedilatildeo dos desejos (XXVII a XXX) e finalmente sobre a justiccedila (dikaiosyacutene) e o modo como o saacutebio (sophoacutes) se relaciona com ela (XXXI a XL) Estas uacuteltimas ensejam uma reflexatildeo antropoloacutegica em torno das relaccedilotildees juriacutedico-sociais
Embora as Sentenccedilas Vaticanas natildeo faccedilam parte da obra laerciana tecircm o seu conteuacutedo associado ao das Maacuteximas Prin-cipais pois trazem reflexotildees em torno da conduta humana e em diversos aspectos aprofundam ou vecircm corroborar o sentido inerente agraves Maacuteximas
No conjunto das 81 sentenccedilas sobressaem aquelas dedicadas agrave amizade Pode-se dizer que Epicuro confere agrave amizade um papel fundamental na sua concepccedilatildeo de sabedoria ou filosofia A amizade gera confianccedila solidifica as relaccedilotildees sociais estimula a praacutetica das virtudes eacute responsaacutevel pelo bem estar dos indiviacuteduos e engendra a liberdade no agir Em Epicuro a amizade difere das praacuteticas comuns de relaccedilotildees sociais dos homens atrelados agraves cidades decadentes da sua eacutepoca Trata-se portanto de outro modelo de conduta privado molecular afastado da multidatildeo insensata Ela fundamenta a accedilatildeo e a liberta da dependecircncia e da cumplicidade que forccedila o indiviacuteduo a suportar o mal estar em sociedade A amizade simboliza o poder inerente a cada um de escolher o que lhe aprouver e evitar o que o perturba e o enfra-quece em seu iacutentimo em uma palavra o que o despotencializa Viver entre amigos eacute alcanccedilar e exercer a filosofia em toda a sua plenitude A amizade existe porque eacute natural mas a sua praacutetica
Introduccedilatildeo
24 25
exige o discernimento e a liberdade de poder escolher e poder evitar
Satildeo estas em linhas gerais as informaccedilotildees referentes aos textos de Epicuro aqui utilizados cujo vocabulaacuterio serviraacute de instrumento de leitura agravequeles que se interessarem pela Filosofia da Natureza e pela Eacutetica do Jardim
Markus Figueira da Silva
26 27
Auxiacutelio Ao leitor
A) lista de abreviaturas
DL - Dioacutegenes Laeacutercio Vidas e doutrinas dos Filoacutesofos Ilustres SV - Sentenccedilas Vaticanas EpicuroMP - Maacuteximas Principais EpicuroDRN - De Rerum Natura LucreacutecioUs - USENER EpicureaNatSobre a Natureza Perigrave phyacuteseos Epicuro Pap HercPapiros Herculanesesm - masculinof - femininoad - adjetivoadv - adveacuterbioinf - infinitivolat latimpl - pluralprep - preposiccedilatildeosf - substantivo femininosm - substantivo masculinosn - substantivo neutrov - verbo
B) meacutetodos de referecircncia
Os algarismos araacutebicos agrave direita dos termos gregos trans-literados se referem aos paraacutegrafos em que cada termo ocorre no livro X de Dioacutegenes Laeacutercio por exemplo ldquoἀδιάλυτος adiaacutelytos- 54rdquo eacute uma palavra que estaacute localizada na passagem
Auxiacutelio ao leitor
26 27
de nuacutemero 54 do deacutecimo livro das Vidas e doutrinas dos Filoacute-sofos Ilustres obra escrita pelo doxoacutegrafo Dioacutegenes Laeacutercio que dedicou o deacutecimo livro agrave exposiccedilatildeo da vida e obra de Epicuro No entanto quando os algarismos araacutebicos estiverem precedidos pela abreviaccedilatildeo ldquoSVrdquo significa que eles remetem agraves Sentenccedilas Vaticanas por exemplo ldquoεὐδαιμονία eudaimoniacutea - 116 122 127 SV 33rdquo esta uacuteltima ocorrecircncia estaacute indicando que o termo eudaimoniacutea aparece na sentenccedila de nuacutemero 33 Por sua vez esses algarismos seguidos de ldquoUsrdquo fazem referecircncia aos fragmentos compilados por Usener em sua obra intitulada Epicurea como no termo ldquoἀκατονόμαστον akatonoacutemaston- 314 Us 315 Usrdquo Os algarismos romanos foram reservados agraves Maacuteximas Principais de Epicuro como em ldquoπαντελής panteleacutes- 116 XX XXIrdquo cujas duas uacuteltimas ocorrecircncias se referem agraves maacuteximas 20 e 21 dentre as Maacuteximas Principais
C) alfabeto grego
Αα- aacutelpha Bβ - beacutetaΓγ - gaacutemaΔδ - deacuteltaΕε - e psiloacuten7
Ζζ - dzeacutetaΗη - eacutetaΘθ - theacutetaΙι - ioacutetaΚκ - kaacutepaΛλ - laacutembdaΜμ - mucirc
7 Cf Murachco 2007 p 36 para compreender o modo de nomear as letras ε ο υ ω
Markus Figueira da Silva
28 29
Νν - nucircΞξ - ksicircΟο - o mikroacutenΠπ - piΡρ - rhocircΣσς- sicircgma sicircgma finalΤτ - tauΥυ - y psilonΦφ - phicircΧχ - khicircΨψ -psicircΩω - o meacutega
Auxiacutelio ao leitor
28 29
PrimeirA PArte
Physiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea
30 3130 31
ἀδιάλυτος adiaacutelytos (ad)- 54
Indissoluacutevel indestrutiacutevel
ἀθροίσμα athroiacutesma (sn)- 62 63 64 65 69 100 108 IX
Agregado organismo acumulaccedilatildeo Athroiacutesma eacute o termo que nomeia o agregado de aacutetomos que constitui o organismo humano No interior deste agregado se disseminam os aacuteto-mos da alma Athroiacutesma tambeacutem pode significar qualquer agregaccedilatildeo de aacutetomos existente na natureza
ἀθρόος athroacuteos (ad)- 35 56 69 70 104
Reuniatildeo concentraccedilatildeo inteireza
αἴδιος aiacutedios (ad)- 69 70 71
Eterno permanente
αἰτιολογεῖν aitiologeacutein (vinf) - 80 82
Processo de inferecircncia ou investigaccedilatildeo das causas Segundo o Greek-english lexicon de Liddell-Scott (1996) eacute a primeira ocorrecircncia deste termo nos textos gregos
αἰτιολογία aitiologiacutea (sf)- 97
Estudo ou investigaccedilatildeo das causas
ακατονόμαστον akatonoacutemaston (ad)- 314 Us 315 Us
O que natildeo eacute nomeado Trata-se de uma parte ou elemento da alma Epicuro distingue duas partes no corpo alma o aacutelogon que eacute geralmente traduzido por ldquoparte irracionalrdquo e
Primeira parte
32 33
que se encontra espalhada por todo corpo (organismo) e o logikoacuten cuja traduccedilatildeo eacute ldquoparte racionalrdquo e se concentra no peito Tanto em Epicuro quanto em Lucreacutecio estas duas partes estatildeo intimamente ligadas pois haacute uma ldquocontinui-daderdquo entre os aacutetomos concentrados no peito e os demais disseminados atraveacutes do corpo Esta continuidade se expli-ca pelo movimento voluntaacuterio que a alma imprime a todo organismo movimento este que daacute origem agraves sensaccedilotildees e agraves voliccedilotildees O problema reside entatildeo na impossibilidade de explicar os movimento da sensibilidade e os movimentos do pensamento que satildeo os mais ligeiros pois envolvem aacutetomos menores e mais redondos segundo o raciociacutenio de Epicuro
A dificuldade do problema que se impotildee estaacute na caracte-rizaccedilatildeo deste quarto elemento ou elemento sem nome (akatonoacutemaston) ou ainda como nomeou o poeta Lucreacutecio (DRN III241 e III275) a quarta natura que natildeo se pode comparar ou mesmo aproximar de nada do que encontra-mos no universo fiacutesico da natureza estudada ou seja natildeo existe termos de comparaccedilatildeo para justificar a tenacidade e a velocidade do pensamento nem a mobilidade da alma na ldquoprojeccedilatildeordquo ou ldquosaltordquo do pensamento (vide infra ἐπιβολή τῆς διανοίας -epiboleacute tegraves diaacutenoias na segunda parte) natildeo que possamos negar por isso a existecircncia de tal elemento contu-do natildeo podemos aferi-lo mediante o poder de percepccedilatildeo dos sentidos
ἄκρον aacutekron (sn)- 41 57 107
Extremidade altura
Physiologiacutea
32 33
ἀλειτούργητος aleituacutergetos (ad)- 97
Livre de isento Palavra de uso corrente que Epicuro usa metaforicamente no sentido de isentar os fenocircmenos de toda e qualquer causalidade divina
ἀλλόφυλος alloacutephylos (ad)- 106
Estrangeiro de outra tribo ou lugarVide infra Homoacutephylos - ὁμόφυλος (na terceira parte)
ἀμερής amereacutes (ad)- 59
Impartiacutevel indivisiacutevel Este eacute um termo utilizado apenas pelos filoacutesofos atomistas gregos
ἀμετάβατος ametaacutebatos (ad)- 59
Que natildeo admite passagem que natildeo muda de lugar estacio-nado Em sua ocorrecircncia as versotildees do texto grego apresen-tam uma diferenccedila Na versatildeo de Hicks (1925) a palavra eacute ἀμετάβολα ametaacutebola (ad) que significa imutaacutevel
ἀμετάβλητος ametaacutebletos (ad)- 41
Imutaacutevel A imutabilidade eacute caracteriacutestica apenas do corpo do aacutetomo e do Todo
ἀμύθητος amyacutethetos (ad)- 115
Que natildeo recorre ao mito Indiziacutevel Neste sentido mythos signi-fica a expressatildeo isto eacute a capacidade de dizer algo por palavras
Primeira parte
34 35
ἀνάγκη anaacutenke (sf)-74 77 90 92 115 133 134 SV 9 SV 40
Necessidade Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem finalidade (teacutelos)rdquo (vide infra τέλος na segunda parte) E somente o termo anaacutenke pode signifi-car necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo pronoacuteia para designar necessidade de qual-quer maneira a necessidade nuca foi enunciada por Epi-curo num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
ἀνακοπή anakopeacute (sf)- 42
Impedimento suspensatildeo parada resistecircncia Neste caso impedimento devido agrave colisatildeo com outro corpo O Greek--english lexicondaacute como primeira ocorrecircncia deste termo a Carta a Heroacutedoto de Epicuro
ἀναφής anapheacutes (ad)- 40 86
Intangiacutevel impalpaacutevel Termo de uso exclusivo da physiolo-giacutea grega
ἀνταναπλήρωσις antanapleacuterosis (sf)- 48
Reposicionamento substituiccedilatildeo compensaccedilatildeo A uacutenica ocor-recircncia deste termo se daacute na carta a Heroacutedoto de Epicuro
Physiologiacutea
34 35
ἀντικοπή antikopeacute (sf)- 46 47
Resistecircncia A primeira ocorrecircncia deste termo se daacute em Epicuro
ἀπάντησις apaacutentesis (sf)- 46
Encontro choque
ἀπειρία apeiriacutea (sf)- 45 116
Infinidade ilimitabilidade Palavra proacutepria da physiologiacutea grega
ἀπεὶρων (τό) apeigraveron (toacute) (ad) 47 60 73 75 88 XIII XV
Ilimitado infinito
ἀπερίληπτος aperiacuteleptos (ad)- 42
Incompreensiacutevel inacessiacutevel (ao pensamento)
ἀπερινόητος aperinoacuteetos (ad)- 46
Inconcebiacutevel Segundo Liddell-Scott (1996) Epicuro daacute a este termo um sentido diferente de outros usos da palavra
ἀποκατάστασις apokataacutestasis (sf)- 44
Retorno ao movimento ou posiccedilatildeo inicial
ἀποπαλμός apopalmoacutes (sm)- 44 280 Us
Aquele que ressalta e repercute Termo de uso exclusivo de Epicuro
Primeira parte
36 37
ἀπόπαλσις apoacutepalsis (sf)- 108
Choque impacto
ἀπόρροια apoacuterroia (sf)- 46
Efluacutevio fluxo corrente emanaccedilatildeo
ἀπόστασις apoacutestasis (sf)- 46
Afastamento distanciamento
ἀρχή archeacute (sf)- 30 41 44 116 128 132 134 138 SV 23
Princiacutepio origem comeccedilo fundamento A questatildeo do princiacutepio de realidade (archeacute) eacute explicitada pelo axioma baacute-sico do atomismo segundo o qual o todo eacute composto de aacutetomos e vazio Os aacutetomos satildeo elementos constitutivos de todas as coisas gecircnese dos corpos compostos e fundamento do atomismo cujo princiacutepio eacute assim formulado na Carta a Heroacutedoto
Primeiramente nada nasce do nada (natildeo-ser) Se natildeo fosse assim tudo nasceria de tudo e nada teria necessidade de seu proacuteprio germe (DL X 38)
ldquoNada nasce do nadardquo eacute um princiacutepio que surge jaacute no pensamento de Demoacutecrito (DL IX 44) e mais tarde no pensamento de Epicuro como ponto de partida para o co-nhecimento sensiacutevel Contudo foi Lucreacutecio (DRN I 174-224) quem traduziu este princiacutepio em imagens que podem ser comprovadas pela experiecircncia e assim manifestados para cada coisa animal ou planta faz-se necessaacuteria a sua proacutepria semente em condiccedilotildees favoraacuteveis a sua germinaccedilatildeo Em razatildeo disso eacute plausiacutevel dizer que a Carta a Heroacutedoto
Physiologiacutea
36 37
comeccedila indicando que o pensamento brota da experiecircncia mediante a qual surge a possibilidade de se estabelecer as analogias que levam ao ldquosaltordquo do pensamento Este salto se caracteriza por efetuar analogias entre a realidade apre-endida imediatamente pelas sensaccedilotildees as microestruturas corpoacutereas e o macrocosmos permitindo a inteligibilidade dos niacuteveis que escapam ao alcance da sensibilidade Desse modo o pensamento pode postular que na natureza os cor-pos vecircm a ser a partir dos aacutetomos e se dissolvem espalhando os elementos que os constituem dado que a todo instante os corpos se formam e se decompotildeem no universo infinito sem nada acrescentar ou subtrair ao todo A consequecircncia loacutegica deste princiacutepio revela que a constituiccedilatildeo total do ser ou do todo permanece a mesma
ἀσθένεια astheacuteneia (sf)- 77
Fraqueza debilidade
ἀστρολογία astrologiacutea (sf)- 113
Astronomia
ἀστρολόγος astroloacutegos (sm)- 93
Astrocircnomo
ἀσχολία askholiacutea (sf)- 85
Ocupaccedilatildeo empenho
ἀσώματος asoacutematos (ad)- 67 69 70
Incorpoacutereo Termo exclusivamente filosoacutefico
Primeira parte
38 39
ἄτομος aacutetomos (ad substantivadolatatomus)- 4142 43 44 45 48 50 54 55 56 58 59 61 62 65 86 99 102 110 115
Aacutetomo indivisiacutevel Os termos gregos aacutetomos (nominativo singular) aacutetomoi (nominativovocativo pl) ou aacutetomon (acusativo singular) constam em vinte passagens dos textos de Epicuro Na maioriadas vezes os tradutores optam por aacutetomo em suas traduccedilotildees embora em alguns casos tambeacutem se traduza por indivisiacutevel
O adjetivoaacute-tomosse substantiva em aacutetomos ldquoque quer dizer natildeo-cortado indivisiacutevelrdquo (GOBRY 2007 p 115) Os aacuteto-mos satildeo literalmente partiacuteculas indivisiacuteveis que por serem assim satildeo razatildeo explicativa da realidade Eacute a ideia que deu origem ao atomismo assim como foi teorizado inicialmente por Leucipo e Demoacutecrito8 e depois por Epicuro Este legado foi espalhado pelo mundo romano entatildeo recebendo a deno-minaccedilatildeo latina de atomus (aacutetomo) ou indivisum (indivisiacutevel) como traduz Ciacutecero ou ainda semina (sementes) na lingua-gem poeacutetica do epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro Os aacutetomos satildeo elementos (stoicheiacuteon)em quantidade infini-ta que constituem os corpos compostos (synkriacuteseis) Satildeo ca-racterizados na Carta a Heroacutedoto9como partiacuteculas corpoacutereas maciccedilas indissoluacuteveis imutaacuteveis indivisiacuteveis e impenetraacute-veis portanto resistindo agrave corrupccedilatildeo dos corpos compostos desde a eternidade
Esses elementos satildeo os aacutetomos indivisiacuteveis e imutaacuteveis se eacute verdade que nem todas as coisas poderatildeo perecer e resolver--se no natildeo-ser Com efeito os aacutetomos satildeo dotados da forccedila necessaacuteria para permanecerem intactos e para resistirem enquanto os compostos se dissolvem pois satildeo impenetraacuteveis
8 Cf DL IX 449 Cf DL X 35-83
Physiologiacutea
38 39
por sua proacutepria natureza e natildeo estatildeo sujeitos a uma eventual dissoluccedilatildeo Consequentemente os princiacutepios das coisas satildeo indivisiacuteveis e de natureza corpoacuterea (DL X 41)
O objetivo de Epicuro e seus disciacutepulos nunca fora o de explorar detidamente ou ldquocientificamenterdquo as caracteriacutesticas dos aacutetomos antes operavam analogias inferecircncias induti-vas e deduccedilotildees atribuindo aos aacutetomos propriedades neces-saacuterias para a explicaccedilatildeo da realidade sensiacutevel Nas palavras de Gigandet ldquoo aacutetomo eacute princiacutepio de inteligibilidade natildeo objeto de estudo mas pelo contraacuterio eacute o ponto de partida da explicaccedilatildeordquo (2001 p40) Sementes eternas de toda a rea-lidade os aacutetomos satildeo naturezas inteiras (hoacutelas phyacuteseis)10 sem qualidades acidentais (symptoacutemata)(vide infra σύμπτωμα na segunda parte) passiacuteveis de mudanccedila no entanto pos-suindo propriedades (symbebekoacuteta)(vide infra συμβεβηκός na segunda parte) ou qualidades (poioacutetes) necessariamente permanentes (anankaiacuteon hipomeacutenein) Constituintes de to-dos os corpos compostos (visiacuteveis e invisiacuteveis) os aacutetomos natildeo tecircm outras propriedades aleacutem da formafigura (schematoacutes) do tamanho (megeacutethous) e do peso (baacuterous)11
αὔξησις ayacutexesis (sf)- 90
Crescimento desenvolvimento
10 Cf DL X 4011 Neste ponto haacute uma diferenccedila do atomismo de Demoacutecrito e Leucipo
tal como Aristoacuteteles o apresenta na Metafiacutesica A 985b e o atomismo de Epicuro pois este acrescenta o peso (baacuteros) como uma das propriedades atocircmicas aleacutem de aglutinar a propriedade da ordem (taacutexis) agrave formafigura (schecircma) J Salem cita o doxoacutegrafo Aeacutecio para documentar este acreacutescimo da filosofia epicurista ldquoDemoacutecrito pensou que existe duas propriedades do aacutetomo a grandeza e a figura enquanto que Epicuro acrescentava uma ter-ceira o peso (baacuteros) de fato declara este uacuteltimo eacute necessaacuterio que os corpos recebam a impulsatildeo do peso para se moverrdquo (Cf SALEM 1997 p 28)
Primeira parte
40 41
αὐτοθελός autotheloacutes (ad)- 85
O que tem fim em si mesmo independente completo
ἀφανής aphaneacutes (ad)- 104
Inaparente obscuro
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (ad)- 76 123
Incorruptibilidade imortalidade
ἄφοδος aacutephodos (sf)- 54
Partida retirada
βάρος baacuteros (sn)- 4454 61 68
PesoDemoacutecrito natildeo havia introduzido o peso entre as qua-lidades dos aacutetomos poreacutem Epicuro contrariamente a ele conferiu ao peso a propriedade de ser causa do movimento dos aacutetomos no vazio movimento esse que por ser constante explica a mecacircnica do devir nos diversos niacuteveis de realizaccedilatildeo da phyacutesis O peso sendo causa primeira do movimento de transformaccedilatildeo das coisas eacute necessaacuterio para a coerecircncia do sistema de exposiccedilatildeo da phyacutesis embora natildeo determine de maneira alguma as afecccedilotildees entre os corpos
βέβαιος beacutebaios (ad)- 6385 XL
Seguro soacutelido firme
βράδος braacutedos (sn)- 46
Lentidatildeo lerdeza morosidade Palavra muito rara Soacute apare-ce em Xenofonte e Epicuro
Physiologiacutea
40 41
γένεσις geacutenesis (sf)- 48 77 86 SV 42
Nascimento origem produccedilatildeo gecircnese geraccedilatildeo
διάκρισις (sf)diaacutekrisis- 78
Conflito divergecircncia divisatildeo Estes soacute podem ocorrer no niacute-vel dos fenocircmenos fiacutesicos sejam eles celestes ou subterracircneos Contudo assevera Epicuro isso deve ser evitado Por outro lado natildeo se deve em nenhuma hipoacutetese atribuir agrave natureza divina a causa do conflito da divergecircncia ou da divisatildeo
διαλύω dialyacuteo (v)- 39 41 42 73 91 II SV 37
Dissolver
διάλυσις diaacutelysis (sf)- 4154
Dissoluccedilatildeo
διαμονή diamoneacute (sf)- 89
Estabilidade continuidade
διάρθρωσις diaacuterthrosis (sf)- 89
Articulaccedilatildeo
διάστημα diaacutestema (sn)- 89 91 110
Distacircncia intervalo Palavra oriunda da linguagem musical grega Provavelmente de origem pitagoacuterica
διαφορά diaforaacute (sf)- 42 55 56 75
Diferenccedila diversidade variedade
Primeira parte
42 43
δίνη diacutene (sf)- 92 93 112 113 114
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo
δίνησις diacutenesis (sf)- 90
Voacutertice turbilhatildeo rotaccedilatildeo Esta outra forma da palavra diacutene eacute mais teacutecnica e eacute de uso restrito de Aristoacuteteles e Epicuro
δυνατόν (τὸ) dynatoacuten (tograve) (ad substantivado)- 93
O possiacutevel
εἰλικρινής eilikrineacutes- (ad) 89 XIV
Puro absoluto completo
ἐκπύρωσις ekpyacuterosis (sf)- 101 103 115
Conflagraccedilatildeo combustatildeo
ἐμπεριλαμβάνω emperilambaacuteno (v)- 90 105
Captar englobar apreender compreender
ἔμπτωσις eacutemptosis (sf)- 102 SV 24
Incidecircncia impacto cair sobre
ἐναπόλεψις enapoacutelepsis (sf)- 77
Intercepccedilatildeo aprisionamento Este termo eacute usado por Epicu-ro num sentido inovador que diz respeito agrave teoria epicuacuterea do nascimento dos mundos
Physiologiacutea
42 43
ἐνδέχεσθαι endeacutechesthai (v)- 78 80 87 88 90 93 94 97 100 103 104105 107 108 113
Ser possiacutevel haver a possibilidade de
ἐνέργημα eneacutergema (sn)- 37
Exerciacutecio atividade
ἐξακριβοῦν exakribucircn (v)- 35 36 68 78 83
Precisar fazer com exatidatildeo detalhar Palavra de uso filosoacute-fico apenas
ἐπάρδευσις epaacuterdeysis (sf)- 89 100
Torrente corrente Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐπίβλεψις epiacuteblepsis (sf)- 35
Visatildeo consideraccedilatildeo
ἐπισημασία episemasiacutea (sf)- 98 115
Prognoacutestico sinal indiacutecio
ἐπιτήδειος epiteacutedeios (ad)- 93 99 100 107 111 112
Adequado adaptado apropriado
εὐκινησία eukinesiacutea (sf)- 63
Mobilidade facilidade de movimento
Primeira parte
44 45
θάμβος thaacutembos (sn)- 79
Perplexidade espanto admiraccedilatildeo
θεῖος theicircos (ad)- 97 113 115 SV 24
Divino
θέσις theacutesis (sf)- 44 46 48 75 30 Us
Posiccedilatildeo
ἰσοταχής isotacheacutes (ad)- 61 62
O que possui velocidade equivalente ou a mesma rapidez Os aacutetomos de acordo com o passo 61 da Carta a Heroacutedoto ldquotecircm necessariamente a mesma velocidaderdquo Aacutetomos pesa-dos grandes pequenos ou leves em movimento ascendente obliacutequo ou descendente percorrem o espaccedilo com a mesma rapidez12 Epicuro assemelha ainda a rapidez do aacutetomo agravequela do pensamento ou seja os aacutetomos se movem com a mesma rapidez com que operamos com o loacutegos na apreensatildeo de sentidos Para que a natureza se expresse da maneira que se apresenta aos homens eacute preciso que os aacutetomos natildeo apenas se movimentem mas que se movimentem com celeridade pois os elementos que se desprendem dos corpos devem ser imediatamente repostos para que a continuidade provisoacuteria dos compostos possa ser explicada pelo atomismo de manei-ra coerente Tendo em vista que os elementos que compotildeem
12 Cf DRN II 225-229 A sensibilidade parece atestar o contraacuterio quando se trata da rapidez dos corpos em queda mas eacute preciso considerar que a trajetoacuteria dos aacutetomos se daacute no vazio onde natildeo haacute resistecircncia nem por parte do ar nem da aacutegua meios em que vemos corpos mais pesados serem mais raacutepidos que corpos leves
Physiologiacutea
44 45
os corpos tecircm figuras diversas um aacutetomo com figura ldquoZrdquo natildeo pode ser substituiacutedo por um aacutetomo de figura ldquoOrdquo mas apenas por aacutetomos de figura ldquoZrdquo13 Isso significa que algu-mas reposiccedilotildees satildeo efetuadas por aacutetomos que se encontravam a grandes distacircncias mas que por possuiacuterem uma ligeireza comparaacutevel agravequela do pensamento alcanccedilam aglutinar-se ao corpo agregado que deles precisava para persistir na confi-guraccedilatildeo corpoacuterea que assumia A velocidade uniforme dos aacutetomos tambeacutem propicia a formaccedilatildeo das imagens pois estas guardam a posiccedilatildeo e estrutura que os aacutetomos componentes assuniam no corpo do qual se desprenderam tornando pos-siacutevel o ato perceptivo Eacute necessaacuterio agrave fiacutesica epicurista que os aacutetomos percorram espaccedilos vazios de modo igualmente veloz
ἱστορία historiacutea (sf)- 79
Investigaccedilatildeo estudo Epicuro critica o tipo de erudiccedilatildeo daqueles que fazem a historiacutea isto eacute a investigaccedilatildeo dos fenocirc-menos fiacutesicos mas natildeo demonstram o valor ou a utilidade deste conhecimento para a vida praacutetica
κάθαρσις kaacutetharsis (sf)- 86
Soluccedilatildeo Diz respeito ao modo proacuteprio de Epicuro pensar a natureza segundo o qual a physiologiacutea deve encontrar uma
13 Lucreacutecio (DRN I 167-172) explica que cada corpo tem sementes especiacuteficas ou seja os corpos compostos satildeo formados por aacutetomos de figuras particulares sem os quais o corpo composto natildeo se apresentaria da mesma maneira e aleacutem disso qualquer coisa poderia gerar-se de qualquer coisa um absurdo que natildeo constatamos ocorrer na natureza Nas palavras do poeta epicurista ldquoMas como todos (os seres e as coisas) se formam por sementes certas soacute nascem e chegam agraves margens da luz no lugar em que existam a mateacuteria e os corpos elementares que lhe satildeo proacuteprios por isso natildeo pode tudo nascer de tudo cada ser determinado tem em si possibili-dades proacutepriasrdquo
Primeira parte
46 47
soluccedilatildeo para os problemas fiacutesicos sem no entanto recorrer agrave sobrenaturalidade (explicaccedilotildees miacuteticas)
κατάστημα kataacutestema (sn)- 68 Us
Condiccedilatildeo estaacutevel
κενόν (τὸ) kenoacuten (tograve) (ad substantivado)- 40 41 42 44 46 67 89 90 74 Us 75 Us
O Vazio
Se aquilo que chamamos vazio e espaccedilo ou aquilo que por natureza eacute intangiacutevel natildeo tivesse uma existecircncia real nada haveria em que os corpos pudessem estar e nada atraveacutes de que eles pudessem se mover como parece que se movem (DL X 40)
O vazio eacute definido em primeiro lugar de modo simples e fundamental como aquilo que por natureza eacute intangiacutevel e dotado de uma existecircncia real em segundo lugar ele eacute apresentado como a condiccedilatildeo necessaacuteria aos movimentos dos corpos Com relaccedilatildeo aos corpos o vazio possui carac-teriacutesticas essencialmente opostas como por exemplo os corpos satildeo passiacuteveis de afecccedilatildeo o vazio natildeo os aacutetomos tecircm o limite delineado pela figura e podem ser comparados uns aos outros devido sobretudo ao fato de serem muacuteltiplos e diversos ao passo que o vazio eacute somente vazio ou algo anaacute-logo ao natildeo-ser Entretanto a sua existecircncia possibilita quer a compreensatildeo do vir-a-ser ou agregaccedilatildeo que a do movimen-to ou devir dos corpos Na afirmaccedilatildeo acima o vazio eacute ainda por definiccedilatildeo espaccedilo de livre constituiccedilatildeo e deslocamento dos corpos sendo o meio no qual emergem os agregados atocircmicos e onde se formam desenvolvem e corrompem as
Physiologiacutea
46 47
muacuteltiplas coisas da natureza Por estas razotildees parece justifi-car-se o caraacuteter fundamental atribuiacutedo por Epicuro ao vazio uma vez que eacute tatildeo necessaacuterio quanto os aacutetomos e o infinito para seu sistema de compreensatildeo da realidade
O vazio eacute tambeacutem aquilo que diferencia essencialmente um aacutetomo de um corpo composto Podemos recorrer aos atomis-tas para justificar esta diferenccedila Para eles o aacutetomo eacute imutaacutevel por ser pleno o corpo ao contraacuterio eacute passiacutevel de mudanccedilas visto que eacute um misto de aacutetomos e vazio a diferenccedila entatildeo explica-se pelo fato mesmo de se conceber os aacutetomos em cons-tante movimento e de se admitir que a existecircncia do vazio viabiliza os deslocamentos dos aacutetomos no interior dos corpos
κίνησις kiacutenesis (sf)- 50 51 59 64 66 67 73 77 92 98 101 105 106 111 112 115 136 2 Us 191 Us 280 Us
Movimento O termo grego kiacutenesis pode ser compreendido num sentido geral e num sentido estrito sendo todavia necessaacuterio concebecirc-lo inicialmente como expressatildeo dos pro-cessos de geraccedilatildeo e corrupccedilatildeo o que soacute eacute possiacutevel nas esferas dos corpos e dos mundos Num sentido geral kiacutenesis eacute presu-posto na realizaccedilatildeo de phyacutesis pois dele resultam as afecccedilotildees que datildeo origem aos agregados e aquelas que satildeo responsaacuteveis pela desagregaccedilatildeo dos compostos
Em virtude de os aacutetomos terem em si o princiacutepio do movimen-to a mudanccedila apresenta-se como uma necessidade Destarte cabe afirmar que compreender kiacutenesis como mudanccedila signifi-ca estabelecer que a realidade (fiacutesica) dos corpos compostos soacute eacute alterada em funccedilatildeo do movimento dos aacutetomos
Num sentido estrito eacute possiacutevel o emprego de kiacutenesis para designar apenas o deslocamento dos aacutetomos no vazio
Primeira parte
48 49
κοίλωμα koiacuteloma (sn)- 46 100 106
Cavidade profundidade concavidade
κόσμος koacutesmos (sm)- 45 73 74 77 88 89 90 112
Mundo Epicuro compreende que os mundos satildeo infinitos em nuacutemero e estatildeo espalhados por todo o universo que eacute tambeacutem infinito Alguns satildeo esfeacutericos outros podem ter outras formas Um mundo como um megacorpo recebe elementos que vem de fora e tambeacutem perdem elementos Na Carta a Heroacutedoto podemos ler as seguintes definiccedilotildees
Aleacutem disso existe um nuacutemero infinito de mundos tanto semelhantes ao nosso como diferntes dele pois os aacutetomos cujo nuacutemero eacute infinito como acabamos de demonstrar satildeo levados em seu curso a uma distacircncia cada vez maior E os aacutetomos dos quais poderia se formar um mundo natildeo foram todos consumidos na formaccedilatildeo de um mundo soacute nem de um nuacutemero limitado de mundos nem de quantos mundos sejam semelhantes a este ou diferentes deste Nada impede que se admita um nuacutemero infinito de mundos (DL X 42)
Um mundo eacute uma porccedilatildeo circunscrita do universo compre-endendo astros e terra e todas as coisas visiacuteveis destacado do infinito () cuja dissoluccedilatildeo levaraacute aacute ruiacutena tudo que estaacute nele (DL X 88)
κοῦφος kucircphos (ad)- 43 61
Leve ligeiro
κρᾶσις kraacutesis (sf)- 63
Mistura uniatildeo
Physiologiacutea
48 49
κροῦσις kruacutesis (sf)- 61
Choque golpe colisatildeo
κυριώτατος kyrioacutetatos (ad)- 35 36 78 79 81 82 83 IX XII XVI
Fundamental capital o mais importante
λειτουργέω leiturgeacuteo (v)- 76
Desempenhar uma funccedilatildeo cargo serviccedilo
λειτουργία leiturgiacutea (sf)- 113
Funccedilatildeo cargo serviccedilo
λεπτομέρεια leptomeacutereia (sf)- 63 355 Us
Um composto de partiacuteculas sutis A sutileza eacute caracteriacutestica dos aacutetomos do composto aniacutemico
λεπτομερής leptomereacutes (ad)- 63 90101
Composto de partiacuteculas sutis A alma eacute para Epicuro um corpo dentro do corpo-carne A diferenccedila estaacute na sutileza dos aacutetomos que compotildeem a alma
λόξωσις loacutexosis (sf)- 93
Inclinaccedilatildeo obliquidade Palavra utilizada na explicaccedilatildeo do movimento dos astros
λύσις lyacutesis (sf)- 79
Soluccedilatildeo liberaccedilatildeo
Primeira parte
50 51
μεστός mestoacutes (ad)- 42
Pleno cheio
μετάβασις metaacutebasis (sf)- 56 58
Passagem dum lugar a outro extensatildeo percorriacutevel
μεταβολή metaboleacute (sf)- 39 54 98
Mudanccedila transformaccedilatildeo Um dos tipos de movimento uti-lizados por Epicuro Neste caso significa o movimento de transformaccedilatildeo de um corpo
μετάθεσις metaacutethesis (sf)- 54
Transposiccedilatildeo deslocamento Outro tipo de movimento Neste caso significa a mudanccedila de lugar ou o deslocamento de um aacutetomo ou de um corpo composto (agregado)
μετακόσμιον metakoacutesmion (sn)- 89
Intermuacutendio Espaccedilo entre os mundos onde Epicuro situa os deuses
μετάστασις metaacutestasis (sf)- 89
Mundanccedila de posiccedilatildeo Termo que define o movimento dos aacutetomos no interior dos corpos
μετέωρα meteacuteora (ad) - 76 78 80 82 84 85 86 87 95 96 97 98 111 X XI
Qualificativo de fenocircmenos ou corpos celestes
Physiologiacutea
50 51
μορφή morpheacute (sf)-33 (255 Us) 49 50
Forma figura aspecto Relativo agrave forma dos objetos perce-bidos pelos sentidos ou imaginados pelo pensamento
ὅγκος hoacutenkos (sm)- 52 53 54 56 57 69 105
Corpuacutesculo partiacutecula massa
οἰκονομία oikonomiacutea (sf)- 79
Gestatildeo ordenamento
ὅλος hoacutelos (ad)- 36 70 71 82 IX XXI XXVII
Todo inteiro universal Epicuro usa este adjetivo para des-crever a totalidade de um corpo ou de sensaccedilotildees ou ainda a completude da vida Natildeo confundir com τό πᾶν toacute pacircn - O todo
ὁλοσχερής holoschereacutes (ad)- 35 36
Geral completo
ὁμογενές homogeneacutes (ad)- 32 (36 Us) 53 116 XVIII
Mesmo gecircnero (tipo espeacutecie) homogecircneo congecircnere
ὀξυγώνιος oksygoacutenios (ad)- 109
Anguloso acircngulos agudos
ὁπηλίκος hopeliacutekos (ad)- 56 57
Grandeza tamanho
Primeira parte
52 53
ὁρμή hormeacute (sf)- 115
Impulso
οὐρανός uranoacutes (sm)- 88 92 93 96 111
Ceacuteu
οὐσία usiacutea (sf)- 72 86
Essecircncia O uso deste termo diz respeito agrave investigaccedilatildeo acerca do tempo na Carta a Heroacutedoto (72) e agraves causas dos fenocircmenos celestes na Carta a Piacutetocles (86)
παλμός palmoacutes (sm)- 43
Vibraccedilatildeo pulsaccedilatildeo Os aacutetomos estatildeo em movimento cons-tante e palmoacutes eacute o termo que define o movimento vibratoacuterio (oscilatoacuterio) dos aacutetomos no interior dos corpos
πᾶν (τό) pacircn (toacute) (ad substantivado)- 39
O todo
παντελής panteleacutes (ad)- 116 XX XXI
Perfeito completo
παραλλαγή parallageacute (sf)- 55 63 95 113
Variaccedilatildeo diferenccedila
παρέγκλισις pareacutenklisis (sf lat clinamen)- 280 Us 351 Us
Declinaccedilatildeo Pareacutenklisis eacute um termo que natildeo consta nos tex-
Physiologiacutea
52 53
tos atribuiacutedos agrave Epicuro no entantoeacute possiacutevel lecirc-lo nas ins-criccedilotildees em perdra do epicurista Dioacutegenes de Enoanda(frg 54 II 3 III 14 Smith)Este termo tambeacutem aparece em Aeacute-cio I 12 5 (280 Us) em texto cujo autor enumera os tipos de movimento dos aacutetomos A versatildeo latina deste termo eacute mais conhecida clinamen14 As teorias a respeito da declinaccedilatildeo dos aacutetomos foram anunciadaspelo epicurista romano Tito Lucreacutecio Caro no segundo canto de seu poema De Rerum Natura
Quando os corpos satildeo levados em linha reta atraveacutes do vazio e de cima para baixo pelo seu proacuteprio peso afastam-se um pouco (depellere paulum) da sua trajetoacuteria em altura incerta e em incerto lugar e tatildeo somente o necessaacuterio para que se possa dizer que se mudou o movimento (DRN II 216-220)
A declinaccedilatildeo se coloca como mais uma causa do movi-mento dos aacutetomos aleacutem das causas puramente mecacircnicas colisotildees ausecircncia de resistecircncia do vazio ou o proacuteprio peso dos aacutetomos15 A declinaccedilatildeo natildeo tem causa externa mas eacute um princiacutepio interno assim como o peso mas que diferente deste natildeo promove o percurso dos aacutetomos em uma direccedilatildeo constante antes luta contra toda determinaccedilatildeo introduzin-do na phyacutesis o acaso como causa de ser O elemento casual se encontra nas ocasiotildees em que os aacutetomos tendem a desviar de sua trajetoacuteria descendente ldquoem altura incerta e em incerto
14 Lucreacutecio tambeacutem usa outros termos para designar o des-vio do aacutetomo tais quais depellere declinare inclinare (DRN II 219221250253259243) O termo clinamen aparece apenas uma vez no verso 292 do livro II (Cf GIGANDET 2001 p 24 n3) ldquoClinamen parece ter sido criado por Lucreacutecio para evitar clinatio que natildeo podia entrar em seus versos hexacircmetros (SALEM 1997 p 67)
15 O doxoacutegrafo Aeacutecio afirma que ldquoOs aacutetomos se movem ora segundo a reta ora segundo o desvio (katagrave pareacutenklisin) os movimentos para cima ocorrem segundo o choque e a rebatidardquo (280 Us) cf DRN II 285-286
Primeira parte
54 55
lugarrdquo somente ldquoum poucordquo (paulum) sem causa aparente sem choques que constranjam seu deslocamento e indo de encontro agraves determinaccedilotildees do peso
Satildeo dois os argumentos usados por Lucreacutecio para defender a tese do clinamen (nos versos II 216-293) 1) Se natildeo ocor-ressem desvios atocircmicos a natureza permaneceria esteacuteril ldquoo mundo natildeo poderia nascer a necessidade seria infecundardquo (GUYAU 1927 p 77) uma vez que natildeo haveria colisotildees atocircmicas nem consequentemente corpos compostos mun-dos seres etc 2) Somos livres e para tanto eacute necessaacuterio que as ldquocausas natildeo se sigam perpetuamente agraves causasrdquo (DRN II 255) antes deve haver movimentos atocircmicos que natildeo podem ser remetidos agrave causas exteriores ldquoA existecircncia desta curiosa propriedade dos corpos primevos pode ser deduzida da ob-servaccedilatildeo dos fenocircmenos imputaacuteveis agrave vontade dos seres vi-vosrdquo (SALEM 1997 p 167) Lucreacutecio para justificar o mo-vimento de declinaccedilatildeo dos aacutetomos propotildee primeiramente imaginar um ldquomomentordquo hipoteacutetico da eternidade em que nenhum agregado atocircmico existisse mas apenas aacutetomos iso-lados percorressem seu trajeto descendente ldquocomo gotas de chuvardquo16 Se assim fosse jamais um aacutetomo se encontraria ou colidiria com outro natildeo haveria corpos compostos mundos ou seres viventes
πέρας peacuteras (sn)- 41 59 88 133 X XVIII XIX XX XXI SV 48
Limite termo
16 Como esclarece Gigandet ldquoa queda primitiva e esteacuteril eacute colocada como uma ficccedilatildeo um simples momento abstrato permitindo reconstruir o movimento caoacutetico efetivordquo (2001 p 29)
Physiologiacutea
54 55
περιαίρεσις periaiacuteresis (sf)- 55
Suprimir retirar remover
περίληψις periacutelepsis (sf)- 56
Circunscriccedilatildeo
περιοχή periocheacute (sf)- 88
Envoltoacuterio invoacutelucro
περιπλοχή periplocheacute (sf)- 43 44 99
Entrelaccedilamento
περίστασις periacutestasis (sf)- 92 102 104 106 107 109 111
Estado disposiccedilatildeo circunstacircncia entorno
περιφέρεια peripheacutereia (sf)- 107 110
Periferia circunferecircncia forma circular
περιφερής periphereacutes (ad)- 109
Redondo circular
πηλίκος peliacutekos (ad)- 57
De uma certa grandeza
πύκνωμα pyacuteknoma (sn)- 36 50 105 115
Densidade compacidade consistecircncia
Primeira parte
56 57
πλεκτικός plektikoacutes (ad)- 43
Entrelaccedilado
πλεοναχός pleonachoacutes (ad)- 86 87 95
Diverso muacuteltiplo
πληγή plegeacute (sf)- 53 103102 280 Us
Golpe choque impacto Eacute o termo utilizado por Epicuro para nomear o choque entre os aacutetomos e os oacutergatildeos sensiacuteveis Eacute o modo de explicar como se produz a audiccedilatildeo o olfato e a visatildeo por exemplo
πλῆθος plecircthos (sn)- 41 65 89
Nuacutemero quantidade
πλήρης pleacuteres (ad)- 41 XL
Pleno compacto
πνεῦμα pneucircma (sn)- 63 100 101 102 103 104 105 106 107 115
Sopro vento respiraccedilatildeo focirclego
πνευματώδης pneumatoacutedes (ad)- 53 106 107
Semelhante agrave respiraccedilatildeo anaacutelogo ao vento
ποιότης poioacutetes (sf)- 43 44 54 55 56
Qualidade
Physiologiacutea
56 57
πόρος poacuteros (sm)- 47 61 107 111
Passagem
πρόβλημα proacuteblema (sn)- 86
Problema
προσδοχή prosdocheacute (sf)- 89
Recepccedilatildeo
προσκατανόησις proskatanoacuteesis (sf)- 79
Conhecimento adicional consideraccedilatildeo aprofundada
πρόσκρισιςproacuteskrisis(sf)- 90 109
Acrescento agregaccedilatildeo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto
πύκνωμαpyacuteknoma(sn)- 3650 105 115
Massa densa concentraccedilatildeo
πυκνῶς pyknocircs(adv)- 73
De modo compacto forte constante
ῥεῦμα rheyacutema (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo Termo utilizado para nomear o deslocamento dos aacutetomos atraveacutes do espaccedilo para afetar os oacutergatildeos sensiacuteveis e produzir as sensaccedilotildees
Primeira parte
58 59
ῥύσις rhyacutesis (sf)- 104
Fluxo
σάρξ saacuterx (sf)- 137 IV XVIII XX SV 4 SV 33
Carne corpo Na physiologia o corpo eacute pensado como um agregado (vide supraathroiacutesma- ἀθροίσμα) constituiacutedo de aacutetomos e vazio ou seja como um ente fiacutesico (soacutema) Num segundo sentido o corpo eacute pensado como uma estrutura orgacircnica viva o que tambeacutem quer dizer phyacutesis O saber acerca do corpo humano se faz atraveacutes do contato corpomundo e chamamos mundo o conjunto de coisas que satildeo fenocircmenos manifestos no mundo-realidade Segundo Epi-curo conhecemos as coisas quando sentimos sua expressatildeo em noacutes E neste sentido buscamos naturalmente afec-ccedilotildees que produzam sensaccedilotildees constitutivas e agradaacuteveis De certa maneira o corpo se comunica com as coisas do mundo provando-as e tendo como criteacuterio de escolha e rejeiccedilatildeo das afecccedilotildees possiacuteveis o prazer e a dor O corpo eacute um modo do conhecimento Epicuro pensa neste mesmo corpo a alma que eacute tambeacutem corpo mas distingue-se da carne por suas propriedades fiacutesicas e por sua funccedilatildeo ra-cional e imaginativa que articula as impressotildees sensiacuteveis e projeta-as enquanto pensamento (phantastikegrave epibolegrave tecircs dianoiacuteas) A perfeita interaccedilatildeo entre carne e alma transfor-ma as sensaccedilotildees em sentimentos ou ainda o que afeta a carne em compreensatildeo ou pensamento Neste contexto carne e alma natildeo podem ser pensados separadamente pois satildeo apenas um e as afecccedilotildees (paacutethe) (vide infra πάθος na segunda parte) soacute se expressam como prazer ou dor na in-teraccedilatildeo carnealma
Physiologiacutea
58 59
σέμνωμα seacutemnoma (sn)- 77
Majestade Palavra encontrada nos textos de Epicuro e de poucas ocorrecircncias depois dele
σκαληνός skalenoacutes (ad)- 109
Irregular
σπέρμα speacuterma (sn)- 38 66 74 89
Semente esperma Este eacute um termo importante da physio-logiacutea que ressalta a ideacuteia de que para cada coisa animal ou planta eacute necessaacuterio a sua semente (esperma) proacutepria e das condiccedilotildees favoraacuteveis agrave sua germinaccedilatildeo
στάσις staacutesis (sf)- 73 88 92
Repouso imoacutevel
στεγάζωstegaacutedzo (v)- 43 64 65 66
Recobrir proteger
στερεότης stereoacutetes (ad)- 44
Solidez firmeza
στοιχεῖον stoicheiacuteon(sn)- 36 37 44 47 86 128
Elemento princiacutepio
συγγενής syngeneacutes(ad)- 78 79 98 116 135
Congecircnere similar afim
60 61
Primeira parte
60 61
συγγένησις syngeacutenesis (sf)- SV 61
Reuniatildeo
συγγενικός syngenikoacutes (ad)- 129
Congecircnito Este termo caracteriza a relaccedilatildeo do homem com o prazer (vide infrahedoneacute-ἡδονή na terceira parte)ldquoO pra-zer eacute nosso bem primordial e congecircnito (syngenikoacutes)rdquo (DL X 129) O prazer possibilita ao epicurista uma vida de acordo com a natureza constituindo-se como uma evidecircncia praacuteti-ca a guiar o homem para a felicidade
σύγκρισις syacutenkrisis(sf)- 40 41 42 54 55 62 66 73 110
Composiccedilatildeo condensaccedilatildeo
σύγκρουσις syacutenkrusis(sf)-44 101
Colisatildeo choque Este termo ocorre pela primeira vez em Epicuro
συγκύρησις synkyacuteresis (sf)- 96 98115
Concurso coincidecircncia
σύγκυσις syacutenchysis (sf)- 88
Ruiacutena mistura
συλλογή syllogeacute (sf)- 99 103 106 115
Reuniatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
60 6160 61
συμπαθής sympatheacutes (ad)- 63
Co-afecccedilatildeo Palavra que explica a ligaccedilatildeo ou conexatildeo das partiacuteculas (aacutetomos) com o resto do agregado (corpo)
συμφόρησις symphoacuteresis (sf)- 59 69
Agrupar reunir O primeiro a utilizar este termo foi Epicu-ro
συμφυλία symphyliacutea (sf)- 115
Da mesma tribo ou raccedila apropriado apto Neste caso o termo refere-se agrave compatibilidade existente entre os aacutetomos na formaccedilatildeo de um composto (agregadocorpo) O termo tambeacutem pode ser usado por Epicuro e entendido metafo-ricamente no sentido das relaccedilotildees humanas praticadas na comunidade do Jardim
συνφωνία symphoniacutea (sf)- 86 87 98
Acordo concordacircncia consonacircncia
σύντονος syacutentonos(ad)- 102 XXX SV 4
Intenso tenso veemente
σύστασις syacutestasis (sf)- 48 99 107
Combinaccedilatildeo uniatildeo
σύστημα siacutestema (sn)- 66
Complexo associaccedilatildeo
Primeira parte
62 63
συστροφή systropheacute (sf)- 73 77 XXXIII
Concentraccedilatildeo amontoado
σχῆμα schecircma(sn)- 42 44 54 55 68 74
Forma figura Uma das propriedades dos aacutetomos
σχηματισμός schematismoacutes(sm)- 54 74 94 101 102 109
Configuraccedilatildeo maneira forma
σῶμα socircma (sn)- 39 40 41 42 47 48 55 56 63 66 68 69 70 71 86 94 101 127 128 131 SV 73 221 Us
Corpo Socircma traduz tanto a ideia de um aacutetomo isolado quan-to a de compostos atocircmicosEpicuro tambeacutem denomina os compostos de athroiacutesmaou syacutenkrisis(Vide supra nesta mesma parte) O que diferencia fundamentalmente o corpo atocircmico singular do corpo composto eacute a presenccedila de vazio entre os aacutetomos reunidos em composiccedilatildeo Um corpo composto se diferencia tambeacutem da unidade atocircmica pela emissatildeo de simu-lacros (Vide supra leptomereacutes λεπτομερής nesta mesma parte) fina camada de aacutetomos que se desprende dos corpos compos-tos permitindo assim o processo perceptivo De acordo com Morel ldquoa categoria fundamental da fiacutesica epicurista eacute a de lsquocorporsquo antes mesmo que a de aacutetomordquo (2013 p 57) Dioacutegenes Laeacutercio nos informa que os corpos compostos eram objeto de estudo de trecircs livros do Perigrave Phyacuteseos (Sobre a natureza) e tam-beacutem do seu Megaacutele Epitomeacute (Grande Compecircndio)
τάγμα taacutegma (sn)- 71
Status classe
Physiologiacutea
62 63
τάξις taacutexis (sf)- 48 97
Ordem disposiccedilatildeo regularidade
τάχος taacutechos (sn)- 46 102
Rapidez velocidade
ταχύς tachyacutes (ad)- 62 98
Veloz raacutepido
τελείωσις teleiacuteosis (sf)- 89
Cumprimento realizaccedilatildeo conclusatildeo
τελεσιουργέω telesiurgeacuteo (v)- 36
Realizar acabar perfazer
τομή tomeacute (sf)- 43 56
Divisatildeo
τροπή tropeacute (sf)- 76 79 93
Revoluccedilatildeo solstiacutecio
ὑδατοιειδής hydatoeideacutes (ad) - 106 107 109
Aquoso
φορά phoraacute (sf)- 46 47 49 60 61 62 70 76 101 107 115
Movimento deslocamento translado
Primeira parte
64 65
φυσικός physikoacutes (ad)- 86 90 127 130 134 XXIX XXX SV 21
Natural fiacutesico
φυσιολογία physiologiacutea (sf)- 37 78 85 XI XII SV 45
Investigaccedilatildeo da natureza A physiologiacutea eacute descrita por Epi-curo como o procedimento de investigaccedilatildeo da natureza ou de toda realidade fenomecircnica que se nos apresenta Mantendo-se fiel a uma tradiccedilatildeo que remonta aos primeiros pensadores da Jocircnia Epicuro define a physiologiacutea como um exerciacutecio constante de compreensatildeo dessa realidade que eacute para ele a phyacutesis Eis a razatildeo de fazer derivar a eacutetica de um saber para a vida que deve se constituir necessariamente num modo de ser de acordo com a natureza Deste modo o exerciacutecio de pensar a phyacutesis configura o modo de ser do filoacutesofo que percebe neste aprendizado o sentido proacuteprio da sua situaccedilatildeo no mundo enquanto ser dotado da capacidade do logismoacutes(vide infra λογισμός na segunda parte) ou seja de ser capaz de utilizar-se do pensamento para escolher e recusar tudo o que necessita ou natildeo respectivamente Mas este exerciacutecio de pensar a phyacutesis soacute seraacute possiacutevel porque para Epicuro a natureza eacute a fonte ou o princiacutepio da vida fiacutesica psiacutequica e eacutetica Pois ele revela ao pensamento em si indiacutecios que tornam possiacutevel a medida de realizaccedilatildeo de cada coisa e dentre elas do proacuteprio homem que emerge em seu proacuteprio seio e tem a necessidade de viver de acordo com ela (katagrave phyacutesin)
φύσις phyacutesis (sf)- 35 40 45 48 49 54 68 69 70 71 75 78 79 82 83 86 90 91 97 113 115 129 133 VI VII
Physiologiacutea
64 65
IX XII XV XXV XXX XXXI XXXVII SV 21 SV 24 SV 25 SV 37
Natureza A Carta a Heroacutedoto apresenta proposiccedilotildees fun-damentais acerca dos modos de realizaccedilatildeo da phyacutesis Nela articulam-se aacutetomos corpos compostos mundos e o todo a fimde possibilitar a compreensatildeo da natureza das coisas desde a microestrutura do aacutetomo ateacute a noccedilatildeo de infinito Percebe-se que nesta carta Epicuro buscou tornar clara e ob-jetiva a possibilidade de conhecimento da realidade como podemos ver no primeiro momento que revelou a primeira questatildeo ou seja ldquocomo as coisas se realizamrdquo Neste sentido podemos afirmar metafisicamente que na Carta a Heroacutedo-to o olhar tornou-se indagaccedilatildeo e o pensamento estendeu a dimensatildeo deste olhar ao mais minuacutesculo dos limites e ao mesmo tempo ao absoluto ilimitado
Agrave busca desta compreensatildeo Epicuro chamou de physiologiacutea definindo com isso o procedimento reflexivo que enseja a filosofia Eis a razatildeo de ser phyacutesis o germe de seu pensamento pois a origem do filosofar coincide com a origem da phy-siologiacutea Ele faz emergir desta maneira no cerne do pen-samento helecircnico o problema originaacuterio da filosofia Mais que isso o expotildee como propedecircutico ao desenvolvimento de uma ldquovisatildeo de mundordquo ou realidade Assim ele sugere que a construccedilatildeo de um pensamento filosoacutefico tem um princiacutepio sendo este princiacutepio a phyacutesis
Para alcanccedilar estes objetivos voltou-se entatildeo para a estru-turaccedilatildeo dos modos de compreensatildeo dos fenocircmenos natu-rais elaborando explicaccedilotildees que evidenciassem o sentido fiacutesico e material das geraccedilotildees dos desenvolvimentos das corrupccedilotildees enfim das mutaccedilotildees ocorridas na natureza enfatizando a possibilidade mesma de compreensatildeo de tudo
Primeira parte
66 67
isso Com isso buscou desestruturar completamente as ex-plicaccedilotildees fundadas em imaginaacuterias causas sobrenaturais insurgindo-se contra a arrogacircncia das insistentes ldquoopiniotildees vaziasrdquo que as postulavam como origem da realidade Por-que sua ocupaccedilatildeo era a realizaccedilatildeo efetiva de pensar o sublime vir-a-ser e fazecirc-lo aparecer apenas como sublime e natildeo mais como misterioso17
Eacute verdade que nem tudo que pocircde compreender sobre a natureza das coisas coube na epiacutestola que escreveu ao dis-ciacutepulo Heroacutedoto Contudo guardadas as limitaccedilotildees de um compecircndio encontra-se ali a autecircntica e genuiacutena disposiccedilatildeo do conhecimento que insiste em ver o filoacutesofo como um descobridor Natildeo de uma parte mas do ldquotodordquo cuja inquie-taccedilatildeo inicial jaacute eacute a finalidade do conhecimento ou seja a compreensatildeo da realidade
Phyacutesis eacute segundo a etimologia da palavra o processo de cres-cimento ou gecircnese de alguma coisa e neste sentido Epicuro somente a utiliza quando se refere aos corpos compostos e aos mundos Num segundo sentido phyacutesis eacute princiacutepio (ar-cheacute) porque eacute aacutetomos e vazio e num terceiro sentido phyacutesis eacute o modo de ser do todo ilimitado
χρόνος chroacutenos (sm)- 47 62 7273 75 93 106 111 124 126 129 130 133 III IV IX XVI XIX XX XXXVII SV 4 SV 42 SV 46 Pap Herc 1418
Tempo duraccedilatildeo Quando percebido numa relaccedilatildeo sensiacutevel o tempo aparece associado agraves manifestaccedilotildees de movimento Haacute o tempo de transformaccedilatildeo do dia em noite do quente
17 Lucreacutecio no livro I do seu poema De Rerum Natura (62-80) diz que Epicuro buscou explicar ldquocientiacuteficamenterdquo as coisas da natureza e com isso tem livrado a humanidade das falsas crenccedilas e temores
Physiologiacutea
66 67
em frio do crescimento e das degeneraccedilotildees dos seres vivos etc A compreensatildeo da natureza do tempo definida por Epi-curo como ldquoo acidente dos acidentesrdquo (syacutemptoma symptoacutema-tos) (vide infra σύμπτωμα na segunda parte) pressupotildee uma relaccedilatildeo de acontecimentos diversos e sucessivos que podem ser identificados somente na constataccedilatildeo das alteraccedilotildees so-fridas pelos corpos O tempo eacute compreendido numa relaccedilatildeo entre o acidente ou a mudanccedila de propriedades de um corpo e o movimento geral de transformaccedilatildeo das coisas O tempo do todo e de cada aacutetomo eacute um tempo infinito o tempo soacute eacute quantificaacutevel em relaccedilatildeo aos corpos passiacuteveis de observaccedilatildeo cujas alteraccedilotildees de posiccedilatildeo peso tamanho e forma satildeo evi-dentes aos sentidos Atraveacutes da analogia estabelecida entre as mudanccedilas observadas e a projeccedilatildeo do pensamento ao niacutevel macroscoacutepico podem-se criar hipoacuteteses acerca da duraccedilatildeo dos seres
Devemos refletir atentamente nas percepccedilotildees elementares a partir das quais constituiacutemos essa essecircncia (tempo) no que ela tem de proacuteprio e de que partimos para medir o tempo De fato natildeo haacute necessidade de demonstrar pois a reflexatildeo nos basta para compreender que compomos o tempo com os dias e as noites com os nossos estados de paixatildeo ou impassi-bilidade com os movimentos e os repousos concebendo em tudo isso certo acidente comum que nos leva a pronunciar a palavra tempo (DL X 73)
O tempo natildeo tem existecircncia proacutepria como o espaccedilo ou a mateacuteria ele eacute intuiacutedo apreendido percebido nas modifi-caccedilotildees das coisas por isso a Epicuro bastou a reflexatildeo de tempo sendo desnecessaacuterio demonstraacute-la ou defini-la apenas pareceu-lhe importante apresentaacute-la articulada ao movimento Lucreacutecio sintetiza de modo brilhante o que seu
68 69
Primeira parte
68 69
mestre grego pensou sobre o tempo
O tempo natildeo existe em si mesmo mas eacute das proacuteprias coisas que proveacutem o sentimento do que se passou do que eacute pre-sente daquilo que viraacute Ningueacutem pode sentir o tempo em si exteriormente ao movimento ou ao repouso das coisas (DRN I 459 - 463)
Assim a compreensatildeo epicuacuterea de tempo apresenta-o como unidade de medida de duraccedilatildeo Esta duraccedilatildeo pode ser a de um corpo ou do estado de um determinado corpo por exemplo a duraccedilatildeo da dor pode ser percebida e dessa per-cepccedilatildeo infere-se uma medida que quantifica sua duraccedilatildeo Se a dor eacute um acidente do corpo a duraccedilatildeo da dor eacute um acidente do acidente que eacute a dor E aleacutem da dor o prazer e todas as coisas que ora permanecem ora se modificam satildeo experiecircncias que possibilitam a apreensatildeo do tempo como unidade de medida de duraccedilatildeo
Ao considerar o tempo desta maneira Epicuro admite que as noccedilotildees de infinito e finito indicam respectivamente a na-tureza imutaacutevel dos aacutetomos e do todo e a natureza mutaacutevel dos corpos e mundos pois soacute estes uacuteltimos possibilitam a percepccedilatildeo do tempo
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
χώρα choacutera (sf) - 40 XXXVI XXXVII
Espaccedilo lugar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
68 6968 69
SegundA PArte
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
70 71
ἄδηλος aacutedelos (ad)- 32 38 39 80 XXXV
Imperceptiacutevel invisiacutevel oculto incerto desconhecido Aacutedelos expressao que natildeo pode ser apreendido por meio dos sentidos mas que natildeo obstante pode ser inferido atraveacutes de analogias que partem dos dados sensoriais Vide infra analogiacutea-ἀναλογία (nesta mesma parte)
αἴσθησις aiacutesthesis (sf)- 31 32 38 39 44 48 55 58 59 62 63 64 65 68 71 82 90 91 124 XXIII XXIV 422 Us
Sensaccedilatildeo sentido sensibilidade percepccedilatildeo A sensaccedilatildeo eacute a base do conhecimento e da opiniatildeo Eacute o efeito imediato da afecccedilatildeo e tambeacutem o que eacute impresso na alma quando se transforma em proleacutepsis (impressatildeo sensiacutevel) Todo pen-samento que opera por analogia agraves coisas sensiacuteveis o faz sempre tendo em vista a sensaccedilatildeo
αἰσθητήριον aistheteacuterion (sn)- 50 53
Oacutergatildeo sensorial sentido
αἰσθετικός aisthetikoacutes (ad)- 64
Sensiacutevel perceptiacutevel
αἰσθητός aisthetoacutes (ad)- 47 244 Us 261 Us
Sensiacutevel perceptiacutevel
ἀκρίβεια akriacutebeia (sf)- 78 80 83
Exatidatildeo precisatildeo rigor
Segunda parte
72 73
ἀκρίβωμα akriacuteboma (sn)- 36 83
Exatidatildeo precisatildeo conhecer exatamente investigar com exatidatildeo Este termo soacute ocorre nos textos de Epicuro
ἀκρισία akrisiacutea (sf)- XXII
Incerteza confusatildeo inseguranccedila do ldquojuiacutezordquo Este termo se justifica pela indeterminaccedilatildeo do acaso com relaccedilatildeo aos aacutetomos que explica a transformaccedilatildeo do mundo sensiacutevel que pelo movimento causa os inuacutemeros juiacutezos E por natildeo conse-guir determinar o que ocorre no mundo eacute preciso manter-se tranquumlilo na busca do necessaacuterio e nas respostas que a razatildeo encontra
ἀλήθεια aleacutetheia (sf)- 31 S54
Verdade realidade Compreensatildeo ou busca desse conheci-mento da phyacutesis Segundo Epicuro tudo eacute sensiacutevel e a sensa-ccedilatildeo sempre eacute verdadeira Os aacutetomos estatildeo em constantes e diferentes configuraccedilotildees e natildeo haacute como imobilizar a verdade de um fenocircmeno porque ela estaacute no todo de acordo com uma resposta subjetiva que pretende natildeo se amedrontar diante do que natildeo sabe
ἀληθής aletheacutes (ad)- 51 62 244 Us
Verdadeiro Aquele que possui o controle dos seus juiacutezos e eacute conduzido pela razatildeo Eacute capaz da philiacutea(vide infra φιλία na terceira parte) pois possui condiccedilotildees de agir com justiccedila em relaccedilatildeo a outros e as suas proacuteprias escolhas natildeo privilegiando apenas a aparecircncia do prazer mas sim o que eacute considerado qualitativamente bom
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
72 73
ἀλογία alogiacutea (sf)-87 SV 62
Irracionalidade desrazatildeo
ἀλογίστως alogiacutestos (adv)- 135
Contra a razatildeo de modo irracional insensato
ἄλογος aacutelogos (ad)- 31 66 81 SV 62
Irracional privado de razatildeo ininteligiacutevel
ἀμφισβήτησις amphisbeacutetesis (sf)- XXIV
Incerteza duacutevida ambiguidade
ἀναγωγή anagogeacute (sf)- XXIII
Referecircncia
ἀναισθησία anaisthesiacutea (sf)- 81
Insensibilidade
ἀναλογία analogiacutea (sf)- 32 58 59
Analogia proporccedilatildeo A analogia se daacute quando o pensamento procede a comparaccedilatildeo entre o que eacute percebido pela sensaccedilatildeo e o que soacute pode ser pensado (ou inteligido) pois ocorre no niacutevel microcoacutesmico ou macrocoacutesmico A analogia torna possiacutevel a expansatildeo maacutexima da physiologiacutea
ἀναλόγως analoacutegos (adv)- 40
Analogamente
Segunda parte
74 75
ἀνεπιλόγιστος anepiloacutegistos (ad) SV 63
Natildeo calculado Este termo estaacute sempre associado a Epicuro nas suas ocorrecircncias
ἀντιμαρτυρέω antimartyreacuteo (v)- 34 47 48 50 51 55 88 92
Infirmar testificar contra receber prova contraacuteria contra-ditar As teorias que natildeo podem ser confirmadas (epimar-tyacuteresis) sensorialmente podem entretanto receber prova contraacuteria A infirmaccedilatildeo ou pelo contraacuterio a confirmaccedilatildeo de uma teoria eacute possiacutevel por meio da comparaccedilatildeo com os fenocircmenos observaacuteveis
ἀνυπέρβλητος anypeacuterbletos (ad)- 47
Insuperaacutevel enorme
ἀξίωμα axiacuteoma (sn)- 86
Axioma enunciado princiacutepio
ἀπάθεια apaacutetheia (sf)- 73
Apatia natildeo-afecccedilatildeo No sentido de que a natildeo-afecccedilatildeo resul-ta para Epicuro na impossibilidade de conhecer
ἀπιστία apistiacutea(sf)- SV 57
Incerteza incredulidade infidelidade Em Epicuro este termo estaacute relacionado agrave incerteza ou falta de confianccedila que resulta na ignoracircncia e na incapacidade de agir Natildeo haacute registro nos textos remanescentes de Epicuro das noccedilotildees de crenccedila (religiosa) ou fidelidade
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
74 75
ἀπόδειξις apoacutedeixis (sf)- 3873
Demonstraccedilatildeo explicaccedilatildeo definiccedilatildeo prova
ἀπόφασις apoacutephasis (sf)- 124
Declaraccedilatildeo afirmaccedilatildeo
ἀσύμβλητος asyacutembletos (ad)- 83
Incomparaacutevel muito superior a Palavra de uso restrito a Aristoacuteteles e Epicuro
βάσις baacutesis (sf)- 46
Cadecircncia ritmo movimento e estrutura Os aacutetomos que se destacam dos corpos e viajam no espaccedilo conservando a mesma cadecircncia (baacutesis) e disposiccedilatildeo (teacutesis)possibilitam as imagens
βλέψις bleacutepsis (sf)- 130
Exame olhar
γνῶσις gnoacutesis (sf)- 78 79 85 123 SV 27
Conhecimento ciecircncia Como Epicuro natildeo utiliza o termo episteacuteme a canocircnica ou teoria do conhecimento pode ser considerada uma gnoseologiacutea Assim todo conhecimento fenomecircnico da realidade que eacute a base da physiologiacutea eacute com-preendido como gnoacutesis
γνωστός gnostoacutes (ad)- 68
Conheciacutevel compreensiacutevel conhecido
Segunda parte
76 77
δήλωσις deacutelosis (sf)- 76
Designaccedilatildeo manifestaccedilatildeo declaraccedilatildeo indicaccedilatildeo prova
διαλαμβάνω dialambaacuteno (v)- 38 58 67 85 123 133
Distinguir compreender apreender
διαληπτός dialeptoacutes (ad)- 57
Dinstinguiacutevel concebiacutevel
διάληψις diaacutelepsis (sf)- 50 51 58 69
Distinccedilatildeo discernimento
διαλογισμός dialogismoacutes (sm)- 2284 138 Us
Consideraccedilatildeo raciociacutenio conversaccedilatildeo caacutelculo argumentaccedilatildeo
διανόησις dianoacuteesis (sf)- 63
Exerciacutecio da inteligecircncia atividade do pensamento
διάνοια diaacutenoia (sf)- 31 38 49 50 51 62 78 X XVIII XX XXIV
Inteligecircncia reflexatildeo pensamento mente
διαπίπτω diapiacutepto (v)- 98
Falhar escapar errar
διαχέω diacheacuteo (v)- XXX
Dissipar dispersar
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
76 77
δόξα doacutexa (sf)- 33 34 35 37 52 77 81 123 132 XV XXIV XXIX XXX SV29 SV59 202 Us 247 Us 471 Us
Opiniatildeo doutrina crenccedila teoria convicccedilatildeo Em Epicuro a opiniatildeo concerne ao que pode ser percebido e que resulta da investigaccedilatildeo empiacuterica ou do que eacute imperceptiacutevel isto eacute natildeo suscetiacutevel de investigaccedilatildeo direta
δοξάζω doxaacutedzo (v)-37 38 90 XXII XXIV 247 Us
Opinar crer
δοξαστικός doxastikoacutes (ad)- XXIV
Apto a formar uma opiniatildeo o que conjectura
ἐγκατάλειμμα enkataacuteleimma (sn)- 50
Resiacuteduo resto
εἴδωλον eiacutedolon(sn)- 46 47 48 50 I SV 24 355 Us
Simulacro imagem iacutedolos Epicuro usa diversos termos para caracterizar as imagens Alguns dizem respeito agraves ima-gens como aquilo que emana dos corpos soacutelidos Assim ele chama de simulacros (eiacutedola) as imagens das formas que satildeo similares aos objetos soacutelidos Ele tambeacutem chama de tyacutepoi (reacuteplicas) (Vide infra τύπος nesta mesma parte) as imagens emanadas dos objetos e que atingem os oacutergatildeos da percepccedilatildeo Lecirc-se no passo 46 da Carta a Heroacutedoto
Assim existem as reacuteplicas (tiacutepoi) da mesma maneira que existem os soacutelidos mas que por sua fineza diferenciam-se dos corpos aparentes Com efeito nada impede que se for-mem no envoltoacuterio (meio em torno dos corpos) destacamen-
Segunda parte
78 79
tos que sejam de tal tipo nem que se encontrem as condiccedilotildees proacuteprias que permitam a produccedilatildeo de espaccedilos ocos (cavados) e finos (tecircnues) nem os efluacutevios que conservem exatamente a posiccedilatildeo e a base (estrutura) que eles tinham sucessivamente nos corpos soacutelidos Essas reacuteplicas noacutes as chamamos de iacutedolos ou simulacros (eiacutedola)
Epicuro utiliza o termo tyacutepoi para mostrar que tais imagens imprimem-se na alma atraveacutes dos oacutergatildeos sensiacuteveis e utili-za eiacutedola para estabelecer a diferenccedila entre as imagens que destacam-se dos compostos e os proacuteprios corpos compostos Entretanto os dois termos satildeo utilizados para caracterizar as finas camadas de aacutetomos mais sutis que se destacam dos corpos e atingem os sentidos Epicuro quer dizer ainda que a experiecircncia natildeo pode desmentir sua proposiccedilatildeo pois natildeo eacute possiacutevel discernir essas imagens que natildeo afetaram ainda o oacutergatildeo sensiacutevel O processo eacute muito raacutepido e soacute depois eacute que se pode pensar na maneira como tudo ocorreu O que estaacute posto aqui eacute que o simulacro conserva o mesmo arranjo (theacute-sin) ou disposiccedilatildeo dos aacutetomos tal qual figura nos corpos soacute-lidos (tocircn somaacuteton ti) Os simulacros satildeo caracterizados como efluacutevios (aporroaiacute) ou emanaccedilotildees (reuacutesis) que se destacam dos corpos e atingem os oacutergatildeos sensiacuteveis Aleacutem disso o fluxo pode conservar por algum tempo a disposiccedilatildeo e a ordem dos aacutetomos (theacutesin kaigrave taacutexin tocircn atoacutemon) Sem profundidade ou volume a imagem eacute formalmente idecircntica ao corpo do qual foi emanada poreacutem eacute reduzida agraves duas dimensotildees do plano Os simulacros podem ser entendidos como substitutos das coisas que permitem ao pensamento representaacute-las O que eacute pensado natildeo satildeo as coisas elas mesmas mas seus simulacros que natildeo tecircm realidade plena isto eacute natildeo satildeo corpos soacutelidos como as coisas mas satildeo reais porque satildeo constituiacutedos por
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
78 79
aacutetomos e vazios como qualquer corpo soacutelido A diferenccedila estaacute na sutileza (fineza) dos aacutetomos que os compotildeem
Os simulacros mantecircm a figura (skheacutema) dos corpos dando forma agrave imagem e os aacutetomos que compotildeem esta imagem possuem sutileza (leptoacutetes) (vide infra ληπτότης nesta mesma parte) e ligeireza (kouraacute) Isso explica porque os simulacros tecircm uma sutileza inconcebiacutevel pelo pensamento e inapreen-siacutevel aos sentidos As imagens que se pode perceber resul-tam da afecccedilatildeo dos simulacros sobre os oacutergatildeos sensiacuteveis As sensaccedilotildees satildeo efeitos da penetraccedilatildeo dos aacutetomos arranjados numa imagem-simulacro no corpo que as recebe
Assim as afecccedilotildees geram imediatamente as sensaccedilotildees que a princiacutepio podem ser de dois tipos ou agradaacuteveis ou desa-gradaacuteveis Epicuro usa o termo energeiacuteas(vide infra ἐνέργεια nesta mesma parte)para nomear o processo de produccedilatildeo das imagens e chama de sympatheiacuteas(vide supra συμπαθής na primeira parte) os estados perceptivos dos corpos afetados pelas imagens Continua Epicuro ainda no passo 46
Assim (ocorre) o movimento que se produz atraveacutes do vazio sem que nenhum choque com os corpos imponha resistecircncia aos simulacros que se movem numa velocidade inconcebiacutevel pelo pensamento
Como a emanaccedilatildeo de simulacros dos corpos eacute contiacutenua a imagem que percorre o espaccedilo perde algumas propriedades que satildeo logo supridas com a continuidade das emanaccedilotildees Este processo de regeneraccedilatildeo ou recomposiccedilatildeo compensa-toacuteria eacute chamado de antanaplerosis Epicuro a todo instante alerta para o fato de que os sentidos natildeo podem contradizer sua hipoacutetese explicativa porque trata-se de imagens im-perceptiacuteveis por dois motivos a saber primeiro porque as imagens satildeo compostas por aacutetomos de natureza mais sutil
Segunda parte
80 81
que os aacutetomos dos corpos concretos segundo porque a velocidade do movimento dos simulacros eacute inconcebiacutevel e incomensuraacutevel Toda a realidade compotildee-se de aacutetomos e vazio mas os aacutetomos satildeo qualitativamente diferentes sendo uns mais densos e outros mais sutis Os aacutetomos que formam as imagens satildeo de natureza sutiliacutessima
εἰκών eikoacuten (sf)- 51
Imagem reproduccedilatildeo iacutecone similitude
ἔκθλίψις eacutekthlipsis (sf)- 53 109
Expulsatildeo deslocamento
ἐλάχιστον (τὸ) elaacutechiston (tograve) (ad substantivado)- 58 281 Us
O miacutenimo
ἔμφασις eacutemphasis (sf)- 95
Aparecircncia aspecto
ἐναργής enargeacutes (ad)- 33 123
Evidente claro manifesto Eacute aquilo que se apresenta claramente ao pensamento e que portanto natildeo poder ser contradito nem pela percepccedilatildeo nem pelo pensamento (ou opiniatildeo)
ἐναργῶς enargocircs (adv)- 67
Evidentemente visivelmente claramente
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
80 81
ἔνδηλος eacutendelos (ad)- 52
Manifesto presente
ἐνέργεια eneacutergeia (sf)- 48 136 2 Us 219 Us
Forccedila (em accedilatildeo) atividade energia Haacute uma diferenccedila en-tre a versatildeo do texto grego utilizada por M Conche (1977) (ἐνέργειας) e a utilizada por Hicks (1925) (ἐνάργεια versatildeo de Gassendi) Para ver a definiccedilatildeo de ἐνάργεια vide supra enargocircs-ἐναργῶς (nesta mesma parte)
ἐννόῃμα ennoacuteema (sn)- 38
Noccedilatildeo ideia conceito significaccedilatildeo
ἔννοια eacutennoia (sf)- 33 576977 XXIV
Pensamento noccedilatildeo concepccedilatildeo ideia
ἐνότης enoacutetes (sf)- 52
Unidade
ἔνστημα eacutenstema (sn)- 91
Obstaacuteculo Este termo ocorre pela primeira vez na Carta a Heroacutedoto e significa aquilo que se interpotildee ao deslocamento dos aacutetomos no vazio
ἐξαιτιολογεῖν exaitiologeicircn (v inf)- 82
Buscar a causa ou explicaccedilatildeo de algo Primeira apariccedilatildeo do termo ocorre na Carta a Heroacutedoto
Segunda parte
82 83
ἐπαίσθησις epaiacutesthesis (sf)- 52 53
Sensaccedilatildeo percepccedilatildeo
ἐπιβλετικῶς epibletikoacutes (adv)-50
Por apreensatildeo (direta) por impressatildeo (direta)
ἐπιβολή epiboleacute (sf)- 31 35 36 38 50 51 62 69 70 83 XXIV
Apreensatildeo (intuitiva) projeccedilatildeo Pode ser traduzido por salto no sentido de alcance promovido pelo pensamento
ἐπιβολή τῆς διανοίας epibolegrave tecircs dianoiacuteas- 31 38 51 XXIV
Projeccedilatildeo (salto) do pensamento Expressatildeo fundamental que indica a operaccedilatildeo do pensamento quando este articula a expo-siccedilatildeo da realidade Epicuro postula que esta operaccedilatildeo eacute ime-diata e por isso ele utiliza a imagem de um ldquosaltordquo ou de uma ldquoprojeccedilatildeordquo do pensamento para caracterizar a formulaccedilatildeo ou apreensatildeo de uma explicaccedilatildeo acerca da realidade sensiacutevel ou no procedimento de pensar por analogia ao sensiacutevel
ἐπίδηλος epiacutedelos (ad)- 48
Perceptiacutevel visiacutevel
ἐπικρίνειν epikriacutenein (v inf)- 37
Distinguir decidir julgar
ἐπιλογίζεσθαι epilogiacutezesthai (v inf)- 72 133 XXII SV 35
Considerar refletir ter em conta
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
82 83
ἐπιλογισμός epilogismoacutes (sm)- 73 XX
Reflexatildeo caacutelculo
ἐπιμαρτυρεῖν epimartyreicircn (v inf)- 34 50 51 XXXVII
Confirmar testemunhar atestar Vide supra antimartyreacuteo -ἀντιμαρτυρέω verbo de sentido oposto (nesta mesma par-te)
ἐπιμαρτύρεσις epimartyacuteresis (sf)- XXIV 247 Us
Confirmaccedilatildeo Termo utilizado pela primeira vez por Epicu-ro
ἐπίνοια epiacutenoia (sf)- 32 45
Concepccedilatildeo noccedilatildeo doutrina
ἐπιπολή epipoleacute (sf) - 48
Superfiacutecie No texto utilizado por Bollack (1971) o termo aparece diferente ἐπὶ πολλή
ἐπίρρυσις epiacuterrysis (sf)- I
Afluxo influxo fluxo
ἐπιτηδειότης epitedeioacutetes (sf)- 46
Condiccedilotildees proacuteprias propriedade materiais
θεωρητός theoretoacutes (ad)- 47 57 62 I 355 Us
Visiacutevel discerniacutevel perceptiacutevel observaacutevel Pelo nuacutemero de
Segunda parte
84 85
ocorrecircncias da expressatildeo ldquoτοὺς διὰ λόγου θεωρητοὺςrdquo vecirc-se a importacircncia da conexatildeo que realccedila a noccedilatildeo de ldquovista pelo pensamentordquo Elas se datildeo principalmente na Carta a Heroacutedoto Quando associada a logos a expressatildeo adquire o sentido de ldquovisatildeo do pensamentordquo isto eacute aquela capaz de perscrutar as coisas invisiacuteveis Portanto o pensamento que estabelece a realidade e a constituiccedilatildeo dos corpos pela aglomeraccedilatildeo dos aacutetomos se remete agrave uma ldquovisatildeordquo dos corpos elementares
θεωρία theoriacutea (sf) - 35 59 86 116 128
Estudo visatildeo contemplaccedilatildeo
ἰδιότης idioacutetes (sf)- 5871
Particularidade caraacuteter proacuteprio singularidade individuali-dade
ἰδιότροπος idioacutetropos (ad)- 52
Caracteriacutestico distintivo especiacutefico Termo usado pela pri-meira vez por Epicuro
ἰδίωμα idiacuteoma (sn)-72 109
Qualidade particular caraacuteter proacuteprio
κανών kanoacuten (sm)-129
Canocircn criteacuterio regras O comentaacuterio feito por Dioacutege-nes Laeacutercio que se inicia no passo 29 do Livro X tem por objetivo expor a doutrina de Epicuro de modo resumido dividindo-a em trecircs partes e caracterizando o que ele con-
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
84 85
sidera elementar para o leitor Para comeccedilar ele jaacute interfere na compreensatildeo que o leitor pode ter do pensamento em questatildeo quando subdivide a filosofia em canocircnica fiacutesica e eacutetica Eacute preciso discordar dessa subdivisatildeo Note-se que em nenhum momento na Carta a Heroacutedoto Epicuro faz menccedilatildeo a esta divisatildeo estabelecida por Dioacutegenes Laeacutercio Ao con-traacuterio eacute este uacuteltimo que afirma no final desse passo que os epicuristas satildeo os autores de tal divisatildeo Ele natildeo diz de quais epicuristas estaacute falando nem que eacute de Epicuro essa divisatildeo Esse eacute um problema tiacutepico da doxografia e mais do que isso das apropriaccedilotildees que foram feitas dos textos da filosofia an-tiga em geral
Na leitura interpretativa aqui pretendida desconfia-se desta triparticcedilatildeo da filosofia de Epicuro e postula-se que a filosofia eacute um todo que integra a physiologiacutea agrave eacutetica e entende os cri-teacuterios para o conhecimento (tograven kaacutenon) como parte introdu-toacuteria da physiologiacutea ou ainda um meacutetodo explicativo acerca do modo como se produz o conhecimento considerando-o como efeito da natureza O homem produz conhecimentos como modo proacuteprio de se realizar e o conhecimento que ele produz eacute efeito da sua relaccedilatildeo afetiva com a natureza Assim Epicuro tenta recuperar aspectos do pensamento grego18 in-tegrando-os ao seu exerciacutecio de pensar a realidade e o modo como se pode conhececirc-la
κατάληψις kataacutelepsis (sf)- 33
Apreensatildeo
18 Notadamente os pensadores ditos ldquopluralistasrdquo do seacutec V aC como Empeacutedocles Anaxaacutegoras e Demoacutecrito Neste sentido acredita-se que Epi-curo manteacutem-se como um physiologoacutes
Segunda parte
86 87
καταμετρέω katametreacuteo (v)- 58 XIX
Medir calcular
κατεργασία katergasiacutea (sf)- 46
Produccedilatildeo confecccedilatildeo
κρίσις kriacutesis (sf)- XXIV
Discriminaccedilatildeo juiacutezo julgamento
κριτήριον kriteacuterion (sn)- 30 31 38 51 52 82 116 XXIV
Criteacuterio padratildeo de julgamento
ληπτότης leptoacutetes (sf)- 46 47
Fineza sutileza
λογισμός logismoacutes (sm)- 32 39 75 76 117 132 144 145 XVI XIX 517 Us
Raciociacutenio caacutelculo O logismoacutes ou caacutelculo raciociacutenio ou ainda ldquomecanismordquo ou ldquoinstrumentordquo do pensar eacute para Epicuro o que torna possiacutevel a elaboraccedilatildeo do pensamen-to (diaacutenoia) Eacute tambeacutem o que possibilita as analogias que conduzem o pensamento desde as impressotildees sensiacuteveis agraves elaboraccedilotildees de explicaccedilotildees sobre tudo o que natildeo eacute percebido pelos sentidos
Trata-se portanto de um conceito fundamental para enten-der o papel do pensamento na deliberaccedilatildeo acerca do modo de vida do homem no mundo uma vez que ele calcula ou mensura o alcance e o limite da accedilatildeo humana ou seja eacute
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
86 87
atraveacutes da reflexatildeo que se daacute a medida do agir
Sempre que Epicuro se refere ao exerciacutecio do pensamento ou reflexatildeo o termo utilizado eacute logismoacutes pois entende o exerciacute-cio como ato de pensamento ou operaccedilatildeo do pensamento Eacute sempre a partir do logismoacutes que se julga ou delibera e a accedilatildeo subsequente expressa uma sabedoria (vide infraphroacutenesis φρόνησις na terceira parte) que eacute na praacutetica capacidade de discernir de escolher e de recusar Podemos identificar em diversas passagens do texto de Epicuro o uso deste termo com efeitos de caacutelculo direcionamento da accedilatildeo operaccedilatildeo com analogias etc As seis passagens a seguir mostram es-tes usos ldquoCom efeito a existecircncia de corpos eacute atestada em toda a ocasiatildeo pelos sentidos e eacute neles que o logismoacutes deve basear-se para conjecturar acerca do sensiacutevelrdquo (DL X 39) ldquoEacute preciso ainda compreender que a natureza tem recebido ainda das realidades mesmas um ensinamento muacuteltiplo e variado e que mais tarde o logismoacutes introduziu precisotildees e acrescentou descobertas ao que a natureza transmitiu em certos casos mais rapidamente em outros mais lentamen-te em certos periacuteodos e momentos alcanccedilando progressos maiores em outros menoresrdquo (DL X 75) ldquoAs causas dos males praticados pelos homens satildeo o oacutedio a inveja e o des-prezo que o saacutebio domina por meio do logismoacutes Aquele que se torna saacutebio uma vez nunca mais assumiraacute nem fingiraacute as-sumir voluntariamente uma atitude contraacuteriardquo (DL X 117) ldquoNatildeo eacute a sucessatildeo ininterrupta de banquetes e festas nem o prazer sexual com meninos e mulheres nem a degustaccedilatildeo de peixes e outras iguarias oferecidas por uma mesa suntuosa que proporciona a vida agradaacutevel e sim o nephroacuten logismoacutes (caacutelculo soacutebrio) que investigue as causas de toda a escolha e de toda a rejeiccedilatildeo e elimine as opiniotildees vatildes por obra das
Segunda parte
88 89
quais um imenso tumulto se apossa das almasrdquo (DL X 132) ldquoRaramente o acaso atinge o saacutebio pois as coisas principais e fundamentais tecircm sido governadas pelo logismoacutes e por todo o curso da vida o governa e o governaraacuterdquo (DL X 144) ldquoO tempo infinito conteacutem o mesmo prazer que o tempo finito se os limites deste prazer satildeo calculados (com o logismoacutes)rdquo (DL X 145)
O uso do termo logismoacutes daacute sentido e linearidade agrave psicologia epicuacuterea na medida em que busca explicitar os agenciamentos das imagens discursivas que representam tanto as realidades aprendidas pelos sentidos quanto agraves apreendidas pelo pensamento A tentativa de mostrar como a alma opera o conhecimento ou o modo como o pensamento eacute elaborado denota a relevacircncia dessas explicaccedilotildees para uma physiologiacutea da alma
λόγος loacutegos (sm)- 32 47 59 62 83 86 I XXV SV 26 36 Us 221 Us 355 Us
Discurso pensamento argumento razatildeo Epicuro utiliza vaacuterias vezes este termo com sentidos diversos por isso ele pode ser traduzido dependendo da ocasiatildeo por todas as palavras aqui elencadas
μαντική mantikeacute (ad)- SV 24
(Arte) Divinatoacuteria profeacutetica
μάθησις maacutethesis (sf)- SV 27
Accedilatildeo de aprender desenvolver instruir conhecimento ins-truccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
88 89
μέγεθος meacutegethos (sn)- 41 43 44 49 54 55 56 57 58 59 68 69 91 III
Grandeza magnitude tamanho
μεταβατός metabatoacutes (ad)- 58
Passiacutevel de ser atravessadas que admite passagem Palavra de uso exclusivo de Epicuro
μῆκος mecirckos (sn)- 46 59 98
Extenccedilatildeo longitude
μνήμη mneacuteme (sf)- 31 35 36 82 83 85 95 255 Us
Memoacuteria Nos textos remanescentes de Epicuro identifi-camos onze ocorrecircncias de termos relacionados agrave memoacuteria (mneacuteme) que evidenciam a importacircncia dada pelo filoacutesofo aos exerciacutecios de memorizaccedilatildeo Exemplo disso eacute o iniacutecio da Carta a Heroacutedoto onde podemos ler
Para os incapazes de estudar acuradamente cada um dos meus escritos sobre a natureza Heroacutedoto ou de percorrer detidamente os tratados mais longos preparei uma epiacutetome de todo o meu sistema a fim de que possa conservar bem gravado na memoacuteria o essencial dos princiacutepios mais impor-tantes e estejam em condiccedilotildees de sustenta-los em quaisquer circunstacircncias desde que se dediquem ao estudo da natureza Aqueles que progredirem suficientemente na contemplaccedilatildeo do universo devem ter na memoacuteria os elementos fundamen-tais de todo o sistema pois necessitamos frequentemente de uma visatildeo de conjunto embora natildeo aconteccedila o mesmo com os detalhes (DL X 35 p 291)
Segunda parte
90 91
Nessa passagem Epicuro utiliza duas vezes a noccedilatildeo de me-moacuteria a primeira quando sugere que os disciacutepulos receacutem iniciados no estudo da phyacutesis devem gravar na memoacuteria (Eacuten te mneacuteme) o essencial dos princiacutepios da physiologiacutea a se-gunda quando adverte que eles devem estar sempre prontos para expor uma visatildeo de conjunto (athroacuteas epiboleacutes) de toda a physiologiacutea e para isso devem guardar na memoacuteria (mnemo-neuein) o sistema
Na passagem seguinte (36) ele utiliza duas vezes o termo memoacuteria para enfatizar que os recursos mnemocircnicos devem ser utilizados em todo momento para evitar as crenccedilas e as opiniotildees vazias (kenoacuten doxai) (vide supradoacutexa δόξα nesta mesma parte) uma vez que quando fixadas na memoacuteria as explicaccedilotildees acerca da natureza das coisas a conduta do saacutebio jamais seraacute perturbada por imagens discursivas fantasiosas imaginativas que apontem para causas sobrenaturais Eacute ne-cessaacuterio lembrarmos sempre que o propoacutesito da filosofia de Epicuro eacute o exerciacutecio da vida feliz (makaacuterios zeacuten) e que como escreveu Jean Salem ldquoo caminho que conduz agrave felicidade leva em conta o aniquilamento das perturbaccedilotildees causadas em noacutes pelas opiniotildees vazias o que soacute eacute possiacutevel quando haacute a memorizaccedilatildeo dos princiacutepios da physiologiacutea19
μοναχῇ monachecirci (ad f)- 94
Uacutenica
μοναχός monachoacutes (ad)- 86 95
Uacutenico
19 SALEM J p 40
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
90 91
μοναχῶς monakhocircs (adv)- 80
Unicamente
μονοειδῶς monoeidocircs (adv)- 109
De um soacute tipo ou aspecto
μῦθος myacutethos (sm)- 81 87 104 116 134 XII
Mito lenda faacutebula
νομοθεσία nomothesiacutea (sf)- 86
Atos ldquolegiferantesrdquo leis impostas leis convenciondas arbitra-riamente princiacutepios arbitraacuterios
νόημα noacuteema (sn)- 48 61 83
Pensamento o que foi inteligido
νόησις noacuteesis (sf)- 33 (255Us) 123
Faculdade de pensar inteligecircncia
ὁμοιομερής homoiomereacutes (ad)- 52
Partes semelhantes partiacuteculas homogecircneas
ὁμοιόμορφος homoioacutemorphos (ad)- 49
Mesma forma contorno similar
ὁμοιοσχήμων homoioscheacutemon (ad)- 46
Com forma semelhante
Segunda parte
92 93
ὁμοιότης homoioacutetes (sf)- 32(36 Us) 51
Semelhanccedila parecenccedila
ὁμοίωμα homoiacuteoma (sn)- 46
Equivalente similar correspondente
ὁμούρησις homuacuteresis (sf)- 64
Contiacuteguidade vizinhanccedila Esta eacute uma versatildeo dialetal do iocircnico-aacutetico correspondendo agrave comum homoacuteresis palavra usada a partir de Epicuro
ὁμόχροος homoacutechroos (ad)- 49
Que tem a mesma cor que tem cor semelhante
ὀξύς oxyacutes (ad)- 48
Raacutepido
ὅρος hoacuteros (sm)- III XI
Limite Epicuro usa dois termos para se referir agrave ideia de limite peacuteras e hoacuteros (vide supra πέρας na primeira parte) Ambos satildeo utilizados indiscriminadamente com o sentido de limite Eles se referem sobretudo aos limites dos desejos e dos prazeres Epicuro deixa claro que o prazer tem por natureza limites determinados
πάθος paacutethos (sn)- 31 34 38 52 55 63 73 75 82 116 129 XXIV SV 18 191 221 241 Us
Afecccedilatildeo sentimento estado paixatildeo Epicuro preconiza que
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
92 93
todo conhecimento sensiacutevel tem iniacutecio na afecccedilatildeo que ocor-re quando o oacutergatildeo sensiente entra em contato com um ob-jeto externo Desta maneira o paacutethos eacute o que gera em noacutes a sensaccedilatildeo (vide supraaiacutesthesis - αἴσθησις nesta mesma parte) que eacute retida na memoacuteria transformando-se em sentimento ou impressatildeo sensiacutevel (Vide infraproleacutepsis πρόληψις nesta mesma parte) O movimento do pensar decorre das impre-esotildees rememoradas e operadas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias (phantastikeacute epiboleacute) do pensamento (tegraves diaacutenoias) (Vide su-pra ἐπιβολή τῆς διανοίας nesta mesma parte)
παρὸν (τό) parograven (toacute) (v substantivado)- XXIV 247 Us
O presente O verbo πάρειμι se substantiva em τὸ παρόν
περὶεχον (τό) perigraveechon (toacute) (v substantivado)- 46 48
O que circunda rodeia envolve cerca
περιληπτός perileptoacutes (ad)- 40 46
O que apreende abarca compreende
περιοιδεία periodeiacutea (sf)- 36 83 85
Percorrer (com o pensamento)
περίοδος periacuteodos (sm)- 75 77 83 97
Periacuteodo revoluccedilatildeo oacuterbita
πιθανολογοὺμενον (τό) pithanologugravemenon (toacute) (v substantivado)- 87
Alegaccedilatildeo plausiacutevel opiniatildeo verossiacutemil ou provaacutevel
Segunda parte
94 95
πίστις piacutestis(sf)- 63 85 SV 7 S34
Crenccedila convicccedilatildeo certeza
πρόληψις proacutelepsis (sf)- 31(35 Us) 33 (255 Us) 72 124 XXXVII XXXVIII
Prenoccedilatildeo antecipaccedilatildeo preconcepccedilatildeo representaccedilatildeo no sentido de impressatildeo na alma As proacutelepsis satildeo as noccedilotildees que estruturam a realidade no pensamento Elas podem representar os objetos que estatildeo fora dos indiviacuteduos e satildeo apreendidos pelos sentidos quando os simulacros neles penetram ou podem ser efeitos dos processos operacionais do pensamento tais como as analogias as compraraccedilotildees e as combinaccedilotildees Elas constituem imagens conceituais que satildeo articuladas pelas projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento (phantastikaacutei epibolaigrave tegraves dianoiacuteas) Com isso Epicuro quer explicitar a capacidade do pensamento de pensar o que eacute invisiacutevel (aacutedelon) mediante analogia com o que se tornou visiacutevel pela sensibilidade Mais que isso ele tenta expor os mecanismos internos do pensa-mento quando se produz a opiniatildeo o conhecimento o reconhecimento a articulaccedilatildeo das informaccedilotildees retidas na memoacuteria sob a forma de imaginaccedilatildeo criaccedilatildeo etc O que estaacute sendo construiacutedo eacute um invisiacutevel a partir do visiacutevel e este invisiacutevel conecta associa integra os corpos visiacuteveis numa rede loacutegica ou discursiva Trata-se da representa-ccedilatildeo ou do pensamento como representaccedilatildeo imageacutetica da realidade
προδοξάζω prodoxaacutedzo (v)- 50 62
Pressuposiccedilatildeo presunccedilatildeo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
94 95
προσμένον (τὸ) prosmeacutenon (tograve) (v substantivado)- 34 38 50 XXIV
A espera
ῥεῦμα rheŷma (sn)- 49 52 53 99 110 111
Fluxo corrente emanaccedilatildeo
σημεῖον semeicircon (sn)- 87 97 183 Us
Sinal indiacutecio
στερέμνιον stereacutemnion (ad)- 46 48 50
Soacutelido
συμβεβηκός symbebekoacutes (sn)- 40 50 68 71
Propriedade atributo Em alguns casos pode ser traduzido por ldquoacidenterdquo Epicuro diferencia entre as propriedades permanentes (symbebekoacutes) e as propriedades acidentais (syacutemptoma)20 Todas as qualidades acidentais estatildeo sujeitas agrave mudanccedila poreacutem as propriedades permantes satildeo necessaacuterias e imutaacuteveis Forma tamanho e peso satildeo propriedades per-manentes do aacutetomo (ver supraaacutetomos - ἄτομος na primeira parte)
σύμμετρος syacutemmetros (ad)- 47 50 53 61 91
Simeacutetrico proporcional comensuraacutevel
20 Cf Morel 2013 p 57
Segunda parte
96 97
συμμέτρως symmeacutetros (adv)- 110
Simetricamente proporcionalmente
συμπάθεια sympaacutetheia (sf)- 48 50 52 53 64
Simpatia afinidade correspondecircncia Eacute o modo como os objetos exteriores nos afeta causando uma correspondecircncia entre os objetos neles mesmos e como os sentimos ou perce-bemos A sympaacutetheia ocorre quando haacute uma afinidade entre os aacutetomos do corpo ou de uma imagem que nos afeta e o oacutergatildeo por ele afetado Este acordo gera uma correspondecircn-cia natural entre os corpos que se afetam mutuamente
συμπλήρωμα sympleacuteroma (sn)- 48
Completude inteireza plenitude Palavra rara encontrada somente em Aristoacuteteles e Epicuro
σύμπτωμα syacutemptoma (sn)- 40 64 67 70 71 73
Acidente incidecircncia sintoma
συνεχής synecheacutes (ad)- 36 48 50 62 82 105 I XVI SV67
Contiacutenuo constante incessante
σύνθεσις syacutenthesis (sf)- 32 (36 Us)
Siacutentese composiccedilatildeo uniatildeo
συνθεωρεῖν syntheoreicircn (v inf)- 96 102 116
Considerar em conjunto ter uma visatildeo geral
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
96 97
σύντομος syacutentomos (ad)- 76 84 SV4
Breve conciso
σύστοιχος syacutestoichos (ad)- 76
Que eacute do mesmo tipo
σχηματίζειν schematiacutezein (v inf)- 53
Moldar
τεκμαίρω tekmaiacutero (v)- 39
Inferir formar um juiacutezo
τέλος teacutelos (sn)- 85 128 131 133 XX XXII XXV SV 25 SV 75
Fim finalidade objetivo
τόπος toacutepos (sm)- 47 60 62 75 89 98 103 105 108 111 112 113 115 XXXIII
Lugar regiatildeo
τρόπος troacutepos (sm)- 87 94 95 96 97 99 101 102 104 106 108 112 115 SV 62
Modo maneira meacutetodo
τύπος tyacutepos (sm)- 33(255 Us)35 36 45 46 49 68
Modelo esquema impressatildeo reacuteplica figura imagem Vide supraeiacutedolon-εἴδωλον (nesta mesma parte)
Segunda parte
98 99
ὑπεναναντίος hypenantiacuteos (ad)- 77 81
Contraacuterio incompatiacutevel inconsistente
ὑπεξαίρεσις hypexaiacuteresis (sf)- III
Remoccedilatildeo eliminaccedilatildeo supressatildeo
ὑπόθεσις hypoacutethesis- 95
Hipoacutetese
ὑπόληψις - hypoacutelepsis (sf)- 34 124
Suposiccedilatildeo conjectura O termo hypoacutelepsis eacute equivante ao ter-mo doacutexa Epicuro diz que a crenccedila nos deuses satildeo hipoleacutepseis pseudecircis ie suposiccedilotildees falsas As hypoleacutepseis satildeo suposiccedilotildees que natildeo necessariamente correspondem agrave realidade Diferente de proacutelepsis(vide supra proacutelepsis-πρόληψις nesta mesma par-te) este termo indica uma ideia que natildeo passou pelo crivo da sensibilidade ou pelos outros meios de confirmaccedilatildeo ou natildeo--infirmaccedilatildeo constituintes do meacutetodo gnosioloacutegico de Epicuro
φαινὸμενα (τά) phainogravemena (taacute) (v substantivado) - 32(36 Us) 46 47 54 55 60 71 86 87 88 90 92 93 95 97 98 100 102 104 112 113
Fenocircmenos aparecircncias o que eacute visiacutevel manifesto
φαντασία phantasiacutea (sf)- 50 80 247 Us
Representaccedilatildeo imagem
φάντασμα phaacutentasma (sn)- 32 (36 Us) 75 88 102 110
Visatildeo sonho apariccedilatildeo aparecircncia
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
98 99
φθόγγος phthoacutengos (sm)- 37 38 76 83
Som fala palavra
φωνή phoneacute (sf)- 36 45 53 XXXVII SV 33 SV 41 SV 45 SV 75
Voz expressatildeo palavra
χρῶμα chrocircma (sn)- 44 49 68 109
Cor
ψεῦδος pseucircdos (sn)- 5051
Falsidade erro engano
ψυχή psycheacute (sf)- 63 64 65 66 67 68 77 81 122 128 131 132 SV 69 SV81 812 Us 314 Us 315 Us
Alma A compreensatildeo da alma como um corpo (soacutema) ou ainda como um agregado (aacutethroisma) de aacutetomos mais sutis que os componentes das realidades sensiacuteveis (corpossoacutemata) sefundamenta no pressuposto baacutesico da physiologiacutea atomista segundo o qual tudo o que existe eacute composto de aacutetomos e vazio A materialidade da alma eacute portanto uma consequecircncia loacutegica desse pressuposto Contudo o que ca-racteriza especificamente a mateacuteria da alma permanece um problema no contexto do pensamento atomista antigo de Demoacutecrito a Lucreacutecio uma vez que se manteacutem o caraacuteter metafiacutesico da questatildeo Ainda que a loacutegica seja inabalaacutevel do ponto de vista do discurso a impossibilidade de uma de-monstraccedilatildeo fiacutesica resguarda a alma no cerne da obscuridade Epicuro entretanto tentou agrave sua maneira fugir agraves represen-
Segunda parte
100 101
taccedilotildees miacuteticas e ousou talvez mais que qualquer outro ateacute entatildeo perscrutar a natureza fiacutesica da alma tomando-a num corpo substancialmente ligado ao corpo-carne Tal ligaccedilatildeo enquanto questatildeo constituiraacute doravante um imenso campo de investigaccedilatildeo cujas propriedades e possibilidades chegam ateacute os nossos dias sem entretanto mostrar-se completa e solucionada Apesar de todas as crenccedilas propagadas mun-do a fora sobre a imortalidade da alma e mesmo apesar dos discursos filosoacuteficos ancorados nesta crenccedila Epicuro viu-se capaz de enxergar um caminho para expor a sua physiologiacutea da alma enquanto uma ldquopsicologiardquo que pensa a psycheacute como um princiacutepio corporal energeacutetico unificador do corpo A alma seraacute pensada tambeacutem a partir de Epicuro e ateacute hoje como um corpo dentro do corpo
Physiologiacutea e gnosiologiacutea
100 101
terceirA PArte
ethicaacute
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
Ethicaacute
102 103102 103
ἀβέβαιος abeacutebaios (ad)- 134
Inseguro incerto
ἀδέσποτος adeacutespotos (ad)- 133
Sem senhor sem governo Epicuro usa este termo no contex-to da criacutetica agraves teses que desconsideram a liberdade e respon-sabilidade dos homens Adeacutespotos eacute umadjetivo relacionado agrave expressatildeo parrsquo hemacircsVide infra parrsquo hemacircs-παρ᾿ἡμᾶς (nesta mesma parte)
ἀδικία adikiacutea (sf)- XXXIV
Injusticcedila
ἀδιόριστος adioacuteristos (ad)- 81
Natildeo fixo indeterminado indefinido
ἀδροτής adroteacutes (sf)- 83
Vigor forccedila
ἀθανασία athanasiacutea (sf)- 124
Imortalidade Na Carta a Meneceu Epicuro considera que o desejo de imortalidade eacute um desejo vatildeo assim como consi-dera que natildeo haacute nada a temer em relaccedilatildeo a morte
ἀθάνατος athaacutenatos (ad)- 135 SV78
Imortal Epicuro utiliza o termo imortal no sentido de qua-lificar o bem que resulta de uma vida sem perturbaccedilotildees que ele identifica com o bem maior que eacute o prazer
Terceira parte
104 105
ἀθορύβως athoryacutebos (adv)- 87
De modo impassivo tranquilo
αἵρεσις haiacuteresis (sf)- 128129132
Escolha eleiccedilatildeo
αἱρετός hairetoacutes (ad)- 30129
Escolhido
ἀκέραιος akeacuteraios (ad)- XII
Puro natildeo-misturado
ἀλγηδών algedoacuten (sf)- 129 137 XI SV 4 SV 3773
Dor sofrimento Diz-se da dor que antecede ou sucede o prazer ou ainda quando algo que parece prazeiroso acaba resultando em dor pelo uso desmedido que dele se faz E tambeacutem a ausecircncia de felicidade causada por dores do corpo Os desejos encontram-se sem controle e difiacuteceis de serem saciados onde o corpo encontra-se desesperado atraacutes de enormes prazeres e apavorado por fugir do que lhe causa medo
ἀνάπαυσις anaacutepausis (sf)- 125
Cessaccedilatildeo repouso
ἀνυπεύθυνος anypeuacutethynos (ad)- 133
Irresponsaacutevel
Ethicaacute
104 105
ἀόριστος aoacuteristos (ad)- SV 59
Natildeo limitado ilimitado
ἀοχλησία aochlesiacutea (sf)- 127
Tranquumlilidade natildeo interrompida Refere-se a tranquilidade do corpo
ἀόχλητος aoacutechletos (ad)- SV 79
Natildeo agitado tranquumlilo Palavra rara usada a partir de Epicu-ro
ἅπαξ haacutepax(adv)57 128 XVIII 222 Us
Uma vez de uma vez Em Epicuro este adveacuterbio se presta a evidenciar o limite temporal dos prazeres e dores ldquoUma vez (haacutepax) este estado realizado em noacutes (ausecircncia de sofrimento e termor) toda a tempestade da alma desaparecerdquo (DL X 128) Isso significa que eacute impossiacutevel haver simultaneidade de dores e prazeresldquoO prazer na carne natildeo cresce uma vez (haacutepax) suprimida a dor da necessidaderdquo (XVIII) Epicuro tambeacutem critica a opiniatildeo de que o prazer pode se intensifi-car ao infinito No entanto quando o prazer estaacute presente eacute possiacutevel apenas uma variaccedilatildeo do estado de prazer
ἀπογεγεννημένα apogegennemeacutena(sn)-Nat34 21-2 3426-30 (livro XXV)
Desenvolvimentos produtos Este termo aparece apenas no Perigrave phyacuteseos (Sobre a Natureza) Autores como Sedley (1987) Arrighetti (1960) Laursen (1991) e Orsquokeefe (2005) analisaram e propuseram traduccedilotildees para tagrave apogegenemeacutena
Terceira parte
106 107
das quais se destacam ldquodesenvolvimentosrdquo e ldquoprodutosrdquo O livro XXV do Perigrave phyacuteseos cujo tema principal eacute a liberdade aprofunda as resumidas explicaccedilotildees epistolares a respeito da relaccedilatildeo entre necessidade (anaacutenke) e liberdade assegurando que o homem pode desenvolver seu proacuteprio caraacuteter ainda que existam influecircncias necessaacuterias do meio ambiente (peri-eacutechon) Assim o que o homem desenvolve em relaccedilatildeo ao seu modo de ser eacute de sua inteira responsabilidade
ἀπόλαυσις apoacutelaysis (sf)- 131 132 SV 27
Gozo utilidade proveito
ἀπολαυστός apolaustoacutes (ad)- 124
Agradaacutevel Palavra usada a partir de Epicuro
ἀπονία aponiacutea (sf)- 136
Ausecircncia de dor ou sofrimento Assim como a ataraxiacutea eacute a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na alma a aponiacutea eacute ausecircncia de dor no corpo Isto quer dizer que o corpo encontra-se em equiliacutebrio ou experimenta um prazer katastemaacutetico
ἀρετή areteacute (sf)- 124 132 138
Excelecircncia virtude
ἀσεβής asebeacutes (ad)- 123 SV 43
Iacutempio
ἀσείστως aseiacutestos (adv)- 87
Ethicaacute
106 107
Inabalavelmente Adveacuterbio raro usado a partir de Epicuro
ἄστατος aacutestatos (ad)- 133
Instaacutevel inconstante
ἀσύμφορος asyacutemphoros (ad)- 130
Inconveniente desvantajoso
ἀσφάλεια asphaacuteleia (sf)- VIIXIII XIVXXVIII SV 31
Seguranccedila A asphaacuteleia estaacute relacionada agrave tranquumlilidade de uma vida equilibrada livre dos tormentos e dos pesares que resultam dos desejos desmesurados e da ignoracircncia
ἄσωτος aacutesotos (ad)- 131X
Dissoluto
ἀτάκτως ataacutectos (adv)- 134
Desordenadamente
ἀταράκτος ataraacutektos (ad)- XVII
Imperturbado
ἀταραξία ataraxiacutea (sf)- 82 85 96 128 2 Us
Imperturbabilidade equiliacutebrio tranquilidade da alma O termo grego ataraxiacutea pode ser traduzido por imperturbabili-dade equiliacutebrio e tranquilidade da alma Etimologicamente a melhor traduccedilatildeo eacute imperturbabilidade Este termo foi
Terceira parte
108 109
utilizado no sentido que iremos expor primeiramente por Demoacutecrito (Dem ap Estob273) e por Epicuro O que haacute de comum entre diversos pensadores do periacuteodo heleniacutestico eacute a relaccedilatildeo estabelecida por eles entre o ldquomodo de serrdquo (eacutethos) e a imperturbabilidade da alma Isso porque o estado da alma define o caraacuteter do indiviacuteduo e o que passa a interessar neste periacuteodo eacute a salvaguarda do bem estar do indiviacuteduo seja mediante a suspensatildeo do juiacutezo (epocheacute) entre os ceacuteticos seja como ausecircncia de paixotildees (apaacutetheia) entre os estoicos ou com o constante cuidado com a sauacutede (hygiacuteeia) da alma ou com a sua imperturbabilidade (ataraxiacutea) com Epicuro
Uma alma satilde tem o poder de ser princiacutepio de accedilatildeo (archeacute) de um indiviacuteduo dela deriva a sua altivez e simplicidade Este estado de alma caracteriza o que Epicuro chama makaacuterios zecircn (vida feliz) isto eacute ela eacute princiacutepio e fim da realizaccedilatildeo da proacutepria vida Por outro lado uma alma ldquoperturbadardquo que traz em si o peso das doenccedilas aniacutemicas caracteriza um modo de ser enfraquecido cujo poder de determinaccedilatildeo jaacute se esvaiu em meio a temores anguacutestias e desesperos O cuidado com a alma eacute para Epicuro um exerciacutecio constante inerente agrave praacutetica filosoacutefica
ἀτάραχος ataacuterachos (ad)- 80 SV 79
Ataraacutexico imperturbado
αὐτάρκεια autaacuterkeia (sf)- 130 SV 44 SV 77
Autarquia autossuficiecircncia ter o princiacutepio da accedilatildeo em si mesmo Existem diversas possiacuteveis traduccedilotildees do termo gre-go autaacuterkeia utilizado por Epicuro entre as quais as mais frequentes satildeo ldquoindependecircnciardquo ldquoautossuficiecircnciardquo ldquocapaci-
Ethicaacute
108 109
dade de bastar-se a si mesmordquo Estas noccedilotildees aludem a uma noccedilatildeo baacutesica de domiacutenio e princiacutepio- archeacute que estaacute em poder de quem age - autoacute - (a partir de) si mesmo Assim o sophoacutes eacute autaacuterkes porque age a partir de si mesmo Mas em que consiste esta autaacuterkeia e como eacute possiacutevel obtecirc-la Tais questotildees encetam para o princiacutepio da accedilatildeo tal como fora concebido no pensamento em questatildeo que implica em sua raiz a compreensatildeo do sentido de liberdade - eleutheriacutea - que a justifica ao mesmo tempo em que a fundamenta
Literalmente autaacuterkeia eacute uma qualidade de quem se basta a si mesmo Daiacute podermos pensar em algueacutem que exista ou subsista por si mesmo e isto soacute eacute possiacutevel quando sua accedilatildeo tem o princiacutepio nele mesmo ou ainda quando a causa da accedilatildeo esteja nele mesmo Para Epicuro a autaacuterkeia eacute o que caracteriza fundamentalmente a accedilatildeo saacutebia que por defi-niccedilatildeo exclui tanto a inatividade quanto a reatividade bem como a accedilatildeo cujo princiacutepio e o teacutelos natildeo estatildeo nela mesma A sabedoria enquanto accedilatildeo tem o sentido embutido nela isto eacute no seu exerciacutecio que chamamos de accedilatildeo autaacuterquica ou simplesmente autaacuterkeia Sendo assim a autaacuterkeia expressa uma condiccedilatildeo de vida no mundo em que o conjunto das accedilotildees tende naturalmente agrave repleccedilatildeo e portanto ao equiliacute-brio Viver em equiliacutebrio por sua vez natildeo depende senatildeo do modo como o homem vivencia a sua situaccedilatildeo real de existir independente de qualquer outro ldquopoderrdquo que transcenda a sua dyacutenamis de accedilatildeo desde que esse ldquopoderrdquo possa ser per-mitido ou evitado A autaacuterkeia eacute a expressatildeo da vida tornada independente das necessidades que a negam e a fazem re--agir ou sofrer
Para que a autaacuterkeiaseja alcanccedilada e cultivada eacute necessaacuterio agir segundo o logismoacutes e a phroacutenesis Dessa maneira esses
Terceira parte
110 111
trecircs conceitos definem a possibilidade de ponderaccedilatildeo de se estabelecer uma medida para o agir e atraveacutes do exerciacutecio da autaacuterkeia o sophoacutes define por si mesmo o bastante para a realizaccedilatildeo dos seus desejos naturais e necessaacuterios
E noacutes estimamos que a autaacuterkeia eacute um grande bem natildeo para que faccedilamos uso de pouco de um modo geral mas afim de que faccedilamos uso de pouco se natildeo temos a abundacircncia verdadeiramente persuadidos de que gozam a magnificecircncia com mais prazer aqueles que menos necessitam dela e que tudo o que eacute fundado na natureza se adquire facilmente e o que eacute vazio (vatildeo) eacute difiacutecil se obter (DL X 130)
O termo em questatildeo significa nesta passagem ldquocontenta-mentordquo medida exata de repleccedilatildeo suficiecircncia dada pela proacutepria natureza Epicuro recolhe no modo como o sophoacutes interage com a natureza a medida da satisfaccedilatildeo a mesma que nortearaacute a accedilatildeo saacutebia Por isso a accedilatildeo deve corresponder aos desejos naturais e necessaacuterios jaacute que agindo de acordo com a natureza onde o transito eacute imediato torna-se possiacutevel ao sophoacutes evitar desafetos que quase sempre forccedilam a sua rea-ccedilatildeo ou o seu desequiliacutebrio Toda a accedilatildeo contraacuteria agrave natureza eacute difiacutecil e acaba sendo tambeacutem vatilde vazia para quem procura realizaacute-la porque eacute fruto de desejos de diversos matizes que entretanto satildeo oriundos das opiniotildees vazias (kenaigrave doxaacutei) disseminadas entre os insensatos A filosofia eacute para Epicuro o ldquoantiacutedotordquo para essas opiniotildees e por isso mesmo a efetiva-ccedilatildeo da autaacuterkeia
Agir de acordo com a natureza (katagrave phyacutesin) define a relaccedilatildeo entre a physiologiacutea e a eacutetica na medida em que explicita o sentido do proceder filosoacutefico em busca da compreensatildeo necessaacuteria agrave fundamentaccedilatildeo da accedilatildeo saacutebia Este modo de agir revela tambeacutem o sentido real do prazer enquanto repleccedilatildeo
Ethicaacute
110 111
isto eacute da accedilatildeo que engendra serenidade (galenismoacutes) Neste sentido o sophoacutes age de modo prazeiroso e o conjunto das suas accedilotildees perfaz a realizaccedilatildeo plena da vida Trata-se de um estado de contentamento no qual ele se sente inteiramente integrado ao meio natural onde as adversidades existen-tes podem ser em alguns casos previstas e na medida do possiacutevel evitadas A accedilatildeo fundada na natureza eacute fruto da deliberaccedilatildeo do sophoacutes que busca a todo instante realizar os bens que realmente importam agrave sabedoria que se traduz pela manutenccedilatildeo de uma vida equilibrada Esta accedilatildeo eacute modulada pela physiologiacutea que eacute por assim dizer o seu fundamento ontoloacutegico Epicuro opotildee aos desejos difiacuteceis de serem re-alizados e que tecircm origem nas opiniotildees vazias a noccedilatildeo de simplicidade que quer dizer rigorosamente neste contexto a medida dada pela natureza proacutepria de cada um cabendo ao sophoacutes descobrir a sua mediante a economia dos desejos que poderia tambeacutem ser chamada de ldquodieteacuteticardquo dos desejos Esta eacute uma alternativa proposta por Epicuro para responder aos desmesurados valores vigentes em sua eacutepoca
O estudo da natureza prepara natildeo os jactanciosos nem os fazedores de expressotildees nem os exibidores de educaccedilatildeo mui-to valorizada junto agrave maioria mas aacutegeis e autaacuterquicos e que pensam grande sobre os seus proacuteprios bens e natildeo sobre os bens das coisas (SV 45)
Podemos perceber com relativa clareza que a noccedilatildeo de vir-tude (excelecircncia) tal como eacute aqui apresentada natildeo estaacute atre-lada agrave vida repleta de falsos valores e inserida nos domiacutenios puacuteblicos mas ao agir privado particular O saacutebio eacute aquele que age sempre a partir do seu poder de escolha e rejeiccedilatildeo e jamais de sujeiccedilatildeo Sua referecircncia uacutenica eacute a compreensatildeo dos limites e das possibilidades da natureza-realidade na
Terceira parte
112 113
qual vive e exercita-se na realizaccedilatildeo de uma vida apraziacutevel em cada ato ou deliberaccedilatildeo que dele dependa Fundando o eacutethos na phyacutesis ou fazendo que ele derive da physiologiacutea o sophoacutes legitima a autaacuterkeia como condiccedilatildeo para pensar a eacutetica fora do domiacutenio puacuteblico Com isso ele intenta resgatar antigos princiacutepios presentes na natureza para desapropriaacute-los das convenccedilotildees estabelecidas e entatildeovivenclaacute-losno espaccedilo no tempo que satildeo seus e daqueles que lhes satildeo afins (phiacuteloi)
O saacutebio depois de julgar as coisas em funccedilatildeo da necessida-de sabe mais dar em partilha do que tomar em partilha Tatildeo grande tesouro da autarquia ele encontrou(SV 44)
Conseguir o bastante para si mesmo natildeo exclui a possibilida-de de compatilhar o contentamento que expressa a autaacuterkeia-com aqueles que vivem uma muacutetua conveniecircncia (opheacuteleia) Na verdade o homem saacutebio natildeo projeta valores imaginaacuterios sobre as coisas da natureza antes pelo contraacuterio ele asseme-lha o seu modo de agir ao modo como as coisas interagem na natureza A medida mais conveniente eacute aquela que o faz se sentir bem no meio natural e natildeo o excesso de poder sobre as coisas naturais Assim o sophoacutesnatildeo espera receber o que precisa de outro homem porque ele mesmo pode facilmente ter o suficiente para natildeo sentir sede fome ou frio no proacuteprio meio onde vive por conveniecircncia e contentamento O ideal de sabedoria em questatildeo natildeo prevecirc qualquer tipo de sujeiccedilatildeo obrigaccedilatildeo diacutevida ou favor uma vez que entre saacutebios natildeo prevalecem as mesmas convenccedilotildees originadas nas sociedades poliacuteticas O saacutebio se afastaraacute das situaccedilotildees lugares e pessoas que possam constrangecirc-lo a reagir agraves ldquoconvenccedilotildeesrdquo de uma maioria insensata
A fonte mais pura de proteccedilatildeo diante dos homens assegu-rada ateacute certo ponto por uma determinada forccedila de rejeiccedilatildeo
Ethicaacute
112 113
eacute de fato a imunidade resultante de urna vida tranquila e distante da multidatildeo (DL X 143)
Natildeo haacute um objeto poliacutetico expliacutecito nas proposiccedilotildees eacuteticas de Epicuro Existe de uma certa maneira a transposiccedilatildeo do poliacutetico para fundar sobre outras bases uma eacutetica Recusar o conviacutevio com a multidatildeo pode significar compreender a multidatildeo como produto da necessidade e vivendo segundo a necessidade O sophoacutesbuscaraacute entatildeo construir um cami-nho alternativo para seguir Este caminho natildeo constituiraacute um conflito com o mundo poliacutetico mas pelo contraacuterio se formaraacute independentemente dele Epicuro opta pela sabe-doria e agir a partir de si mesmo e em prol de si mesmo Este comportamento eacute plenamente justificaacutevel se levarmos em conta a miserabilidade humana alimentada pelas falsas crenccedilas e pelos falsos valores de sua eacutepoca ldquoA necessidade eacute um mal mas natildeo haacute nenhuma necessidade de viver com a necessidaderdquo (SV 9)
Recolher-se agrave filosofia ao inveacutes de filosofar para a Heacutelade eis o que proclamava Epicuro A frugalidade eacutetica se opotildee ao desperdiacutecio poliacutetico pois natildeo haacute como obter a ataraxiacuteaem meio agrave multidatildeo insensata Aleacutem disso jamais o saacutebio po-deria modificar todo o quadro que a ele se apresentava um mundo corrompido pela miseacuteria e esquecido do bem-viver ldquoO saacutebio natildeo deve pois ocupar-se da poliacuteticardquo ldquoVive obscu-rordquo (3278 Us) Somente na solidatildeo dos seus pensamentos o saacutebio poderia finalmente encontrar o real sentido da liber-dade uma vez que ao menos aos olhos de Epicuro a liber-dade natildeo se coaduna com os valores soacutecio-poliacuteticos em voga A liberdade proveacutem das reflexotildees que satildeo a mateacuteria da filoso-fia Natildeo a encontraremos no meio poliacutetico na dependecircncia de acordos ou convenccedilotildees nutridas de opiniotildees conflitantes
Terceira parte
114 115
e sim nas accedilotildees que tecircm em si o seu proacuteprio princiacutepio pois nascem da solidatildeo reflexiva A vida autaacuterquica talvez tenha sido o posicionamento filosoacutefico por excelecircncia de Epicuro ao ponto de Hermarco seu disciacutepulo e sucessor agrave frente do Jardim tecirc-lo definido assim ldquoA vida de Epicuro comparada a de outros passaria por um mito por sua doccedilura e sua au-tarquiardquo (SV 36 101 Us)
A vida autaacuterquica estaacute totalmente desincompatibilizada da vida puacuteblica dos valores que a sustentam e de vaacuterias ma-neiras a determinam O saacutebio realiza um movimento de descentramento em relaccedilatildeo agrave vida puacuteblica e outro movimen-to de situar-se sempre em direccedilatildeo agraves relaccedilotildees equilibradas privadas lsquomolecularesrdquo Satildeo notoacuterias as diferenccedilas entre Epicuro e as ldquoinstituiccedilotildees poliacuteticasrdquo das quais ele se recusa a participar por compreender a quase impossibilidade de coexistirem harmonicamente sob um mesmo ideal homens de caraacuteter tatildeo distintos O sophoacutes assentiraacute nas discussotildees poliacuteticas apenas agrave medida que estas for em convenientes ou imprescindiacuteveis jaacute que acredita na possibilidade de cultivar a liberdade de conviver com aqueles que tecircm urna natureza realmente semelhante e que comungam as mesmas ideias Natildeo ausentar-se da trajetoacuteria que projeta a vida saacutebia pode significar o exerciacutecio de um modo de ser de um eacutethos filo-soacutefico ao mesmo tempo que a realizaccedilatildeo de um estado de ser physioloacutegico equilibrado Para tanto cumpre escolher o local e a situaccedilatildeo de vida onde se torne possiacutevel o pleno exer-ciacutecio da vida filosoacutefica o que vale dizer ter a autaacuterkeia ou o princiacutepio das suas accedilotildees em si mesmo Soacute daiacute pode emergir o sentido epicuacutereo da liberdade ldquoO mais importante fruto da autaacuterkeia eacute a liberdade (eleutheriacutea)rdquo (SV 77)
Ethicaacute
114 115
αὐτάρκης autaacuterkes(ad)- SV 45
Autaacuterquico aquele que tem o princiacutepio de sua accedilatildeo em si mesmo
ἀφθαρσία aphtharsiacutea (sf)76 123
Incorruptibilidade imortalidade Palavra utilizada a partir de Epicuro
ἀφοβία aphobiacutea (sf)- 122
Destemor
ἀχάριστος achaacuteristos (ad)- SV 69 SV 75
Ingrato
βίος biacuteos (sm)- 86
Vida
βούλεσις buacutelesis (sf)- 7781
Vontade deliberaccedilatildeo
γαληνισμός galenismoacutes (sm)- 83
Serenidade Palavra rara filosoacutefica Usada por Epicuro num sentido metafoacutericoA imagem utilizada por Epicuro para definir o equiliacutebrio da alma expresso na ataraxiacutea (tranqui-lidade imperturbabilidade) eacute o que o grego denominava galenismoacutes que significa a superfiacutecie do mar quando estaacute tranquilo assim podemos traduzi-la por serenidade
Terceira parte
116 117
δαψίλεια dapsiacuteleia (sf)- SV 67
Abundacircncia
δεινός deinoacutes (ad)- 81 125 XXVIII
Temiacutevel terriacutevel O uso deste termo se daacute sempre no sentido de evitar os temores infundados Os temores satildeo projeccedilotildees imaginaacuterias do pensamento mas podem ser evitados com o exerciacutecio da physiologiacutea
διάθεσις diaacutethesis (sf)- 117 (222 Us)
Disposiccedilatildeo
δίαιτα diacuteaite (sf)- 130131 SV 69
Dieta regime modo de viver
δίκαιος diacutekaios(ad)- 132 XVII XXXI XXXII XXXVI XXXVII XXXVIII SV 43
Justo Para Epicuro natildeo haacute justiccedila independente das conven-ccedilotildees humanas isto eacute natildeo haacute uma justiccedila preacute-legislativa que existiria em si mesmo De acordo com Epicuro ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacute-procas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto (syntheacuteke) no sentido de natildeo prejudicar nem ser prejudicadordquo (MP XXXIII) Sendo assim o que eacute considerado justo num tempo x e num lugar y eacute diferente do que eacute considerado justo num tempo xrsquo e num lugar yrsquo Nas palavras de Epicuro ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) A justiccedila eacute portanto ldquouma invenccedilatildeo humanardquo (OrsquoKEEFE 2010 p 139) e como tal eacute do domiacute-
Ethicaacute
116 117
nio dos homens daquilo que cabe aos homens realizar ou seja eacute do acircmbito do parrsquo hemacircs (o que nos cabe) Em termos da physiologiacutea poderiacuteamos dizer que a justiccedila eacute um acidente (symptoacutema) da agregaccedilatildeo de indiviacuteduos Assim a justiccedila natildeo tem uma realidade independente dos pactos particulares realizados em tempo e espaccedilo determinados Por isso que Epicuro prefere utilizar na grande maioria de seus textos o termo diacutekaios (justo) e natildeo dikaiosyacutene (justiccedila) pois o primeiro remete sempre a um evento singular enquanto o uacuteltimo sugere ldquouma noccedilatildeo abstrata que os filoacutesofos essencia-listas nomeadamente os platocircnicos consideram uma ideia em sirdquo (MORAES 2010 p 55)21 O justo e o injusto satildeo determinados pelos pactos realizados aqui e alhures
No entanto uma das maacuteximas de Epicuro parece agrave primei-ra vista entrar em contradiccedilatildeo com esse caraacuteter convencio-nal da justiccedila ldquoO justo da natureza simboliza (tograve tecircs phyacuteseos diacutekaioacuten estigrave syacutembolon) a vantagem reciacuteproca de impedir os homens de prejudicarem os outros e os livra de serem pre-judicadosrdquo (MP XXXI) A expressatildeo ldquoo justo da naturezardquo parece contradizer a expressatildeo ldquoa mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo (MP XXXVI) Eacute preciso considerar aqui como diz Morel que essas reflexotildees de Epicuro estatildeo ldquono centro da problemaacutetica tornada claacutessica a partir da expansatildeo do movimento sofiacutestico no seacuteculo V da oposiccedilatildeo entre natureza (phyacutesis) e convenccedilatildeo (noacutemos)rdquo (2011 p 208) Tentar definir a justiccedila como natural ou convencional natildeo foi o caminho
21 De acordo com Bulhotildees ldquoEmbora a expressatildeo lsquoo justorsquo seja um substantivo refere-se ao adjetivo que qualifica por exemplo um acordo uma lei um indiviacuteduo ou um comportamento isto eacute um acordo pode ser dito justo uma lei justa um individuo e um comportamento justos Por outro lado a expressatildeo de gecircnero neutro tograve diacutekaion diferencia-se intencio-nalmente do feminino lsquoa justiccedilarsquo heacute dikaiosyacutene Esta indica uma realidade em sirdquo (Bulhotildees 2009 p 100)
Terceira parte
118 119
escolhido por Epicuro Para ele a justiccedila eacute convencional e natural ao mesmo tempo ldquovariaacutevel em suas manifestaccedilotildees e natural em seu princiacutepiordquo (Morel 2011 p 217) Na Maacutexima XXXVI estaacute escrito que ldquoem seu aspecto geral a justiccedila eacute a mesma para todos pois representa uma espeacutecie de vantagem reciacuteproca nas relaccedilotildees dos homens uns com os outros mas com referecircncia agraves peculiaridades locais e outras circusntacircn-cias quaisquer a mesma coisa natildeo eacute justa para todosrdquo O aspecto geral da justiccedila (tograve koinograven) eacute natural e universal enquanto que o justo expresso nas peculiaridades locais (tograve iacutedion choacuteras) eacute convencional Epicuro diz portanto que a justiccedila pode ser identificada (e compreendida) em qualquer lugar como a conveniecircncia (syacutempheron) muacutetua estabelecida sob a forma de um pacto No entanto este mesmo pacto se apresenta de diversas maneiras dependendo das necessida-des que se apresentem na comunidade em que o pacto foi firmado
A justiccedila natildeo eacute a uacutenica noccedilatildeo considerada ao mesmo tempo natural e convencional na filosofia de Epicuro a linguagem humana tambeacutem pode ser qualificada assim Sobre as ori-gens da linguagem diz Epicuro
Por isso os nomes das coisas tambeacutem natildeo foram originaria-mente postos por convenccedilatildeo mas a natureza dos homens de conformidade com as vaacuterias raccedilas os criou () Mais tarde as raccedilas isoladas chegaram a um consenso e deram assim nomes peculiares a cada coisa a fim de que as comunicaccedilotildees entre elas fossem menos ambiacuteguas e as expressotildees fossem mais breves (DL 75-76)22
Assim como a linguagem finca suas raiacutezes na natureza e
22 ldquoQuanto aos vaacuterios sons da linguagem foi a natureza que obrigou a emiti-los e foi a utilidade que levou a dar nomes agraves coisasrdquo (DRN V 103)
Ethicaacute
118 119
depois a conveniecircncia entra em cena desenvolvendo esta ca-pacidade que a natureza legou ao homem da mesma forma pois acontece com a justiccedila porque temos uma preacute-noccedilatildeo desta que eacute passiacutevel de ser desenvolvida pelo uacutetil ou conve-niente (syacutempheron) A justiccedila tem um aspecto geral e outro especiacutefico O primeiro eacute natural e portanto universalmente compreendido de acordo com a preacute-noccedilatildeo que temos da justiccedila o uacuteltimo eacute pelo contraacuterio variaacutevel convencional determinado uacutetil e conveniente em cada comunidade em particular Assim a justiccedila eacute ao mesmo tempo natural e convencional da ordem da phyacutesis e tambeacutem da ordem do noacutemos23
Por proacutelepsin (preacute-noccedilatildeo) eles [os epicuristas]entendem uma espeacutecie de cogniccedilatildeo ou apreensatildeo imediata do real ou uma opiniatildeo correta ou um pensamento ou uma ideia universal iacutensita na mente ou seja a memorizaccedilatildeo de um objeto ex-terno que apareceu frequentemente como quando dizemos ldquoisto aqui eacute um homemrdquo De fato logo que se pronuncia a palavra ldquohomemrdquo sua figura se apresenta imediatamente ao nosso pensamento por via de antecipaccedilatildeo guiada prelimi-narmente pelo sentido (DL X 33)
As preacute-noccedilotildees satildeo a mateacuteria do pensamento As preacute-noccedilotildees satildeo as marcas deixadas nas almas em cada interaccedilatildeo sensiacutevel Eacute por via dessas marcas ou impressotildees que reconhecemos
23 Vemos nessas passagens que a linguagem teve sua origem na natu-reza mas seu desenvolvimento dependeu dos acordos realizados entre os homens Do mesmo modo a justiccedila tem seu ldquoladordquo natural na utilidade na manutenccedilatildeo da vida e do prazer Pois sem pactos para utilidade muacutetua os homens viveriam agrave mercecirc dos piores males Jaacute o caraacuteter convencional da justiccedila reside nas muacuteltiplas formas de se preservar a vida e o prazer Esses satildeo aspectos das agregaccedilotildees humanas inicialmente o processo de agrupamento se deu naturalmente posteriormente as relaccedilotildees se tornaram complexas
Terceira parte
120 121
uma sensaccedilatildeo figura ou atitude uma vez experienciada Haacute um conjunto enorme de proleacutepseis nas almas e elas satildeo ar-ranjadas e rearranjadas pelos mecanismos do pensamento A justiccedila tambeacutem provoca uma preacute-noccedilatildeo pela qual reconhe-cemos e podemos realizar atos justos Na MP XXXVII Epi-curo nos fala de uma proacutelepsis (preacute-noccedilatildeo) da utilidade (syacutem-pheron) inerente agrave justiccedila Sabemos o que eacute justo por termos a preacute-noccedilatildeo da utilidade ou conveniecircncia ou seja porque temos uma representaccedilatildeo imageacutetica do que eacute conveniente ou em outras palavras do que nos impede de prejudicar ou de ser prejudicado pelos outros Mas isso natildeo garante que as leis uma vez promulgadas seratildeo justas em todo o tempo e qualquer lugar pois o que define o justo eacute a conveniecircncia que eacute passiacutevel de variaccedilatildeo
Das disposiccedilotildees codificadas no direito vigente aquelas con-firmadas como uacuteteis nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comu-nitaacuteria apresentam o requisito do justo sejam ou natildeo sejam as mesmas para todos Mas se for promulgada uma lei que natildeo se mostre uacutetil nas relaccedilotildees reciacuteprocas da vida comunitaacute-ria essa lei natildeo teraacute mais a natureza do justo E tambeacutem se aquilo que eacute uacutetil de conformidade com o direito vigente vier a cessar embora tenha correspondido durante um certo pe-riacuteodo de tempo agrave preacute-noccedilatildeo24 do justo apesar disso durante aquele periacuteodo foi justo desde que natildeo nos preocupemos com palavras vatildes e tenhamos em vista simplesmente os fatos (MP XXXVII)
Nem toda lei acordada deve ser considerada justa mera-mente por ter resultado de um pacto ou acordo25 pois a
24 G Kury traduz o termo proacutelepsis dessa passagem por ldquonoccedilatildeo pri-mordialrdquo Preferimos traduzir por preacutenoccedilatildeo por manter a unidade desse termo que foi provavelmente cunhado pelo proacuteprio Epicuro
25 ldquoAs accedilotildees natildeo satildeo justas ou injustas meramente porque algueacutem diz
Ethicaacute
120 121
justiccedila da lei eacute determinada pela confirmaccedilatildeo (epimarturouacute-menon) de sua utilidade para a comunidade Assim como vemos uma torre no horizonte e natildeo temos certeza se ela eacute arredondada ou retangular e esperamos pela confirmaccedilatildeo sensorial26 uma lei precisa ser confirmada por sua utilida-de ou conveniecircncia para a comunidade Se uma lei natildeo for uacutetil entatildeo natildeo eacute justa Uma lei portanto confirmada como justa pode entretanto natildeo ser justa em outro contexto A justiccedila se fundamenta na utilidade (syacutempheron) se uma lei deixa de ser uacutetil ela deixa de ser justa e se por exemplo numa comunidade eacute proibido pescar garoupas natildeo significa que em outra comunidade onde esse peixe eacute abundante se deva proibir tambeacutem O justo estaacute delimitado a um tempo e espaccedilo e condicionado pelo que se faz uacutetil nesse mesmo tempo e espaccedilo Natildeo haacute absolutamente no epicurismo a ideia de justiccedila em si Mas o justo depende de um pacto conveniente
O que impede portanto um membro da comunidade de natildeo cometer injusticcedilas eacute a puniccedilatildeo e o castigo Possivelmente cometeria ldquoinjusticcedilasrdquo se considerasse que natildeo seria punido ao cabo de sua accedilatildeo Por outro lado um membro saacutebio natildeo cogita a possibilidade de transgredir o pacto e permanecer impune pois seria punido imediatamente natildeo pelas penas cabiacuteveis acordadas no pacto mas pela perda de sua ataraxiacutea (imperturbabilidade)
δικαιοσύνη dikaiosyacutene (sf)- XXXIII
Justiccedila
que elas satildeordquo (BROWN 2009 p 192) 26 Cf DL X 34
Terceira parte
122 123
δυσπόριστος dyspoacuteristos (ad)- 130 XXVI
Difiacutecil de obter Palavra usada a partir de Epicuro
ἐγγαληνίζω engaleniacutedzo (v)- 37
Viver com tranquilidade Epicuro eacute o uacutenico a utilizar este termo
εἱμαρμένη heimarmeacutene (sf)- 134
Aquela que recebeu por destino
ἐκλόγισις ekloacutegisis (sf)- XVIII
Caacutelculo Palavra de uso exclusivo de Epicuro
ἐκχώρησις ekchoacuteresis (sf)- XIV
Distanciamento apartamento
ἐλευθερία eleutheriacutea (sf)- SV 77
Liberdade A noccedilatildeo grega de liberdade natildeo eacute uniacutevoca Desde suas origens o termo eleutheriacutea passou por muitos desdo-bramentos Epicuro apresenta uma noccedilatildeo de liberdade que participa do processo de interiorizaccedilatildeo do homem Devemos a Soacutecrates o raciociacutenio que equipara a liberdade da cidade agrave liberdade interna ao homem expressa sob a noccedilatildeo de auto-domiacutenio e que veio a influenciar toda a filosofia posterior A ideia de liberdade interior eacute comum agraves diferentes escolas de filosofia do periacuteodo heleniacutestico poreacutem o epicurismo a apro-funda fazendo com que o sentido de eleutheriacutea se submeta ao de autaacuterkeia(Vide supra αὐτάρκεια nesta mesma parte)
Ethicaacute
122 123
Segundo Benveniste27 o termo latino liber e o grego eleuacutethe-ros28satildeo derivados da mesma raiz indo-europeia leudh- que significa ldquocrescer se desenvolverrdquo Essa imagem do ldquocresci-mentordquo e de sua completude na formaccedilatildeo de um homem levou agrave compreensatildeo socializada de leudh- como fonte ldquodo conjunto daqueles que satildeo nascidos e desenvolvidos conjun-tamenterdquo (Benveniste 1969 p 323) A ideia de liberdade pois se relaciona com o pertencimento a uma linhagem a um povo ldquoA liberdade do homem grego consiste em se sentir subordinado como membro agrave totalidade da polis e das suas leisrdquo (Jaeger 1995 p 228) Toda a liberdade que os gregos poderiam gozar advinha de seu pertencimento agrave polis natildeo apenas por habitarem a cidade mas por serem cidadatildeos Es-panto agrave parte o sentido original de liberdade natildeo tem a ver com emancipaccedilatildeo mas pelo contraacuterio com pertencimento Nas palavras de Benveniste
O primeiro sentido natildeo eacute como seria tentador imaginar ldquoli-berto de alguma coisardquo e sim eacute este de um pertencimento a uma fonte eacutetnica designada por uma metaacutefora de crescimen-to vegetal Este pertencimento confere um privileacutegio que o estrangeiro e escravo jamais conhecem (Benveniste 1969 p 324)
O exemplo das Guerras Peacutersicas no iniacutecio do seacuteculo V aC representa esta diferenccedila radical entre os gregos e os estrangeiros persas que natildeo gozavam dos privileacutegios da liberdade (eleutheriacutea) Os invasores persas tinham mestres diante dos quais se curvavam e aos quais obedeciam enquanto que os cidadatildeos gregos os eleuacutetheroi ldquonatildeo tinham um chefe uacutenico nem para cada cidade um homem que as
27 Cf 1969 p 322-323 28 Ambos os termos tecircm o significado de ldquolivrerdquo
Terceira parte
124 125
comanderdquo (Romilly 1989 p40) Essa diferenccedila de postura eacute representada na trageacutedia de Eacutesquilo Persas a partir da perspectiva dos baacuterbaros
Rainha Quem eacute o seu senhor Quem comanda o seu exeacuterci-to Corifeu Eles (os gregos) natildeo satildeo escravos (doucircloi) de nin-gueacutem nem satildeo suacuteditos (Eacutesquilo Persas linhas 241 242)29
Essa eacute a diferenccedila poliacutetica fundamental entre os gregos e os baacuterbaros30 Enquanto estes tecircm mestres os gregos devem obediecircncia apenas agrave lei sem a qual natildeo haveria polis nem liberdade Assim a noccedilatildeo de eleutheriacutea enquanto oposta agrave servidatildeo se define a partir da diferenccedila fundamental entre gregos e baacuterbaros Esse sentido que podemos chamar de liberdade poliacutetica depende do regime e se opotildee agrave opressatildeo31
Entretanto no fim do seacuteculo V aC surge um novo aspec-to da eleutheriacutea a liberdade democraacutetica A liberdade e a igualdade (isonomiacutea) se confundem Estaacute aberta a possibili-dade de todos os cidadatildeos intervirem na poliacutetica da cidade Todos tecircm direito de falar (isegoriacutea) e a justiccedila eacute a mesma para todos Poreacutem a influecircncia funesta dos demagogos e as arbitrariedades populares acabaram implodindo a liberdade democraacutetica32 A partir daiacute desponta outra forma de liberda-de a liberdade interior
Eacute atraveacutes das palavras de Soacutecrates que Xenofonte transmite a nova ideia da liberdade interior33
29 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo de David Grene ampRichmond Lattimore The Complete Greek Tragedies of AeschylusThe University of Chicago Press 1959 p 229
30 Cf Romilly 1989 p 4731 Cf Novaes (Org) 2002 p 1632 Cf Ibid p 11733 Eacute importante ressaltar que W Jaeger jaacute identificava a liberdade
interior nos textos de Soacutelon (Cf 1995 p 247)
Ethicaacute
124 125
- Ora diz-me laacute Eutidemo acreditas que haja um bem mais belo e bom para o homem e para a cidade do que a liberdade (eleutheriacutean)
- Natildeo E esse eacute de fato o maior dos bens
- E acreditas que eacute livre (eleuacutetheron) o homem que eacute domi-nado pelos prazeres do corpo e que por causa deles natildeo consegue agir bem
-De modo nenhum (Memoraacuteveis IV 5 2-3)34
Soacutecrates coloca lado a lado a liberdade da cidade e a liberda-de interior Esta se evidencia pelo autodomiacutenio ou domiacutenio das paixotildees Sem o autodomiacutenio (enkraacuteteia) o homem natildeo pode ser considerado realmente livre mesmo que viva sob um regime de liberdade poliacutetica
Essas noccedilotildees de autodomiacutenio e liberdade interior foram fundamentais para o desenvolvimento das filosofias heleniacutes-ticas uma vez que a vida poliacutetica se esfacelara sob o domiacutenio do impeacuterio macedocircnico ldquoA aacutegora apresenta-se agora fechada nos quatro lados como que para proclamar atraveacutes desta simples evocaccedilatildeo arquitetocircnica que a livre movimentaccedilatildeo e reuniatildeo do povo eram coisas do passadordquo (FINLEY 2002 p135) E quando Dioacutegenes o ciacutenico proclamou seu cosmo-politismo condenou o conceito de cidadania agrave falta de sen-tido35 O que interessa a partir de agora eacute o indiviacuteduo e sua busca interior de liberdade sabedoria e virtudes para uma vida bela A sociedade eacute apenas um acidente no percurso de melhoramento do indiviacuteduo E eacute como herdeira das noccedilotildees socraacuteticas de liberdade interior e autodomiacutenio que aparece
34 Para esta obra utilizamos a ediccedilatildeo Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Elias Pinheiro Coimbra CECH 2009
35 Cf Finley 2002 p116
Terceira parte
126 127
a noccedilatildeo epicurista de eleutheriacutea36 fruto mais precioso da autarquia e resultado do exerciacutecio da sabedoria
As ocorrecircncias dos termos eleutheriacutea e eleuacutetheros aparecem ambos nas Sentenccedilas Vaticanas
O fruto maior do bastar-se a si mesmo eacute a liberdade(SV 77)
Uma vida livre natildeo pode adquirir bens numerosos pelo fato de a coisa natildeo ser faacutecil fora da sujeiccedilatildeo agraves multidotildees e aos poderosos mas ela adquire tudo por uma abundacircncia contiacute-nua Se por acaso em algum lugar ela encontra muitos bens tambeacutem essas coisas satildeo faacuteceis de distribuir em favor da boa disposiccedilatildeo do proacuteximo (SV 67)
A liberdade de que se trata aqui tem a ver com aquela pro-blematizada por Soacutecrates no citado texto de Xenofonte ou seja aqui tambeacutem se trata de um tipo de liberdade interior No entanto as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia socraacuteticas ainda estatildeo segundo Jaeger ligadas agrave poacutelis ldquoSoacutecrates vive ainda dentro da poacutelisrdquo (JAEGER 1995 p552-553) e suas noccedilotildees de autaacuterkeia e eleutheriacutea natildeo tecircm ainda os traccedilos individualistas que os ciacutenicos primeiro depois estoacuteicos e epicuristas vatildeo lhes dar
A autaacuterkeia eacute condiccedilatildeo para a eleutheriacutea Se pensarmos em qualquer sentido para esta liberdade interior que prescinda da autaacuterkeia estaremos cometendo um erro de interpreta-ccedilatildeo Portanto natildeo podemos subsumir sob a noccedilatildeo de eleu-theriacutea o repertoacuterio de assuntos que se relacionam com o tema da liberdade no Epicurismo o pareacutenklisis ou clinamen(vide supra παρέγκλισις na primeira parte) a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs a criacutetica aos fiacutesicos da necessidade a criacutetica agraves supersticcedilotildees
36 ldquoAleacutem de fundar sua filosofia escavando o antes de Soacutecrates a dou-trina epicurista edificou sua arquitetocircnica a partir de Soacutecratesrdquo (Spinelli 2009 p51)
Ethicaacute
126 127
fatalistas e agrave ideia de destino etc pois todos esses assuntos excedem o sentido de eleutheriacutea Por isso falamos em um sentido de liberdade geral que passa por todos os objetos de estudo do epicurismo e um sentido de liberdade especiacutefica que por sua vez se identifica com a noccedilatildeo de eleutheriacutea Esta eacute a noccedilatildeo de liberdade em seu sentido positivo natildeo mais apenas o reconhecimento de um espaccedilo para a liberdade mas uma tomada de posiccedilatildeo diante da vida
Propomos que o sentido de eleutheriacutea estaacute para aquele de aacutetomo assim como o sentido de parrsquo hemacircs estaacute para aquele de vazio O aacutetomo natildeo existiria sem o vazio mas a existecircncia do vazio por si soacute natildeo garante a existecircncia do aacutetomo Do mesmo modo o espaccedilo para construccedilatildeo dos homens ou o acircmbito das accedilotildees livres natildeo garante a existecircncia efetiva des-sas mesmas accedilotildees A eacutetica de Epicuro tem por isso a esco-lha e a recusa como tema principal Agir com eleutheriacutea eacute construir no espaccedilo deixado vago pela natureza eacute escolher e recusar sem indiferenccedila eacute sentir prazer e sentir a dor quando convier
Epicuro segundo Secircneca diz que ldquoa liberdade consiste pre-cisamente em servir a filosofiardquo e ainda ldquoaquele que se lhe submete e a ela se entrega jaacute natildeo tem que esperar eacute ime-diatamente emancipadordquo (Epistolae ad Lucilium VIII 7 Us 199) O sentido do termo latino libertas corresponde ao de eleutheriacutea empregado por Epicuro nas Sentenccedilas Vaticanas A eleutheriacutea soacute eacute alcanccedilada por quem uma vez dedicado ao serviccedilo da filosofia e agrave compreensatildeo da natureza potildee-se ao exerciacutecio da autaacuterkeia A vida livre natildeo eacute uma vida de oacutecio e sim de exerciacutecio filosoacutefico de praacutette kaigrave meleacuteta (praacutetica e reflexatildeo) O homem autaacuterquico e livre natildeo depende de ri-quezas fama ou honrarias para ser feliz pois entendeu que o
Terceira parte
128 129
bem primordial o prazer lhe eacute congecircnito e que basta calcu-lar por si mesmo os limites dos prazeres e das dores para que seus objetivos mais importantes que satildeo ao mesmo tempo os mais simples e naturais sejam alcanccedilados A filosofia epi-curista eacute libertadora
ἐλεύθερος eleuacutetheros (ad)- SV 67
Livre
ἐλπίς elpiacutes (sf)- 84 134
Esperanccedila expectativa
ἔνδεια eacutendeia (sf)- 53 130 XVIII XXI
Falta necessidade
ἔνδοξος eacutendoxos (ad)- VII
Ceacutelebre famoso renomado
ἐνοχλέω enochleacuteo (v)- 125 XI
Desassossegar
ἐξαγωγή exagogeacute (sf)- XX SV 38
Abandono afastamento
ἐπιθυμία epithymiacutea(sf)- 127 X XI XXVI XXIX XXX SV 21 SV 35 SV 71 SV 80
Desejo apetite Os desejos satildeo fenocircmenos do corpo Neste
Ethicaacute
128 129
sentido Epicuro os classifica em trecircs categorias que definem o que importa agrave aquisiccedilatildeo do bem-estar e agrave manutenccedilatildeo de um corpo bem disposto (eusthaacutetes) e o que pode ser nocivo ou causa o seu desequiliacutebrio 1) desejos naturais e neces-saacuterios 2) desejos naturais e desnecessaacuterios 3) desejos nem naturais e nem necessaacuterios
ἐργαστικός ergastikoacutes (ad)- SV 45
Trabalhador laborioso
ἔργον eacutergon (sn)- 78 XXXVIII
Funccedilatildeo praacutetica tarefa obra
ἐτεροφρονεῖν heterophroneicircn (v inf)- SV 17
Estar em demecircncia Verbo de uso exclusivo de Epicuro
εὐδαιμονία eudaimoniacutea (sf)- 116122 127 SV 33
Felicidade
εὐδιάχυτος eudiaacutekhytos (ad)- XXVI
Facilmente dissipaacutevel
εὐελπιστία euelpistiacutea (sf)- SV 39
Boa expectativa esperanccedila
εὐκαταφρόνητος eukataphroacutenetos (ad)- SV 4
Facilmente despreziacutevel desdenhaacutevel
Terceira parte
130 131
εὐκταῖος euktaicircos (ad)- SV 35
Desejaacutevel
εὐλογίστως eulogiacutestos (adv)- 135
De modo bem pensado
εὔλογος eacuteulogos (ad)- SV 38
Razoaacutevel
εὔνοια eacuteunoia (sf)- SV 67
Benevolecircncia favor
εὐπορία euporiacutea (sf)- XIV
Riqueza abundacircncia prosperidade
εὐπόριστος eupoacuteristos (ad)- 130133 XV XXI
Faacutecil de conseguir
εὐστάθεια eustaacutetheia (sf) 68 Us
Boa disposiccedilatildeo O termo grego eustaacutetheia siginifica literalmen-te boa disposiccedilatildeo e foi definido por J Brun por ldquoequiliacutebrio das diversas partes do corpo vivordquo37 Este termo natildeo foi encontrado dentre as proposiccedilotildees das Cartas nem tampouco nas Maacuteximas Encontramo-lo citado por H Usener no fragmento de nuacutemero 68 da sua obra Epicurea Nela o autor revela sua fonte trata-se de Plutarco38 que atribui a Epicuro a seguinte proposiccedilatildeo
37 BrunJ Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978 p 16838 Plutarco Contra Epic Beat 1089d
Ethicaacute
130 131
() O gozo mais alto e mais soacutelido resulta da condiccedilatildeo de equiliacutebrio (boa disposiccedilatildeo) da carne e a esperanccedila fundada de a conservar para quem saiba consideraacute-la proporciona (conteacutem) a mais alta e segura alegria () (Us 68 p 185)
G Arrighetti traduz o termo em questatildeo por benessere que facilmente pode ser traduzido por bem estar Contudo vi-mos na expressatildeo ldquoboa disposiccedilatildeordquo a melhor traduccedilatildeo para o termo eustatheiacutea tendo em vista o fato de que se tomado literalmente encontramos imediatamente a ideia de um es-tado equilibrado no sentido fiacutesico do posicionamento deste corpo em relaccedilatildeo ao meio em que se encontra Queremos com isso chamar a atenccedilatildeo para as constantes relaccedilotildees esta-belecidas entre o corpo que age e sofre e as coisas sobre as quais age e sofre afecccedilotildees A boa proporccedilatildeo a harmonia e a estabilidade fiacutesica do corpo satildeo definiccedilotildees anaacutelogas do termo equiliacutebrio Este termo entretanto eacute pensado pela Fiacutesica par-ticularmente pela Mecacircnica- como o estado de um corpo em repouso em que as forccedilas que o solicitam se contrabalanccedilam exatamente Podemos entatildeo pensar tais forccedilas como expres-sotildees da natureza que podem ou natildeo afetar o corpo e neste sentido eacute igualmente possiacutevel pensar que este equiliacutebrio natildeo eacute absoluto mas oscilatoacuterio uma vez que afetos e desafetos ocorrem casualmente na natureza ainda que a nossa con-duta disponha-se ao exerciacutecio da phroacutenesis e da autaacuterkeia Eacute preciso que se esclareccedila que na natureza o movimento de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos eacute constante e inevitaacutevel mas no que diz respeito agrave conduta do homem esta tambeacutem depende da sua vontade ou deliberaccedilatildeo
εὐσυμπλήρωτος eusympleacuterotos (ad)- 133
Plenamente atingido Palavra de uso exclusivo de Epicuro
Terceira parte
132 133
εὐφροσύνη euphrosyacutene (sf)- 2Us
Deleite
ἡδονή hedoneacute (sf)- 128 129 130 131 136 137 138 III VIII IX X XII XVIII XIX XX XXIX SV 37 2 Us 116 Us 181 Us
Prazer gozo O prazer eacute o que nos realiza e nos faz bem Escolhemos de preferecircncia aquilo que nos agrada ou o que eacute prazeiroso e fugimos (de) ou evitamos aquilo que nos agride ou nos deixa vulneraacuteveis agrave dor
Escolher o prazer como o bem eacute viver intensamente os sentidos mas o que eacute intenso natildeo precisa ser imoderado Epicuro naturaliza o prazer mas natildeo o neutraliza Acredita numa medida natural de realizaccedilatildeo do prazer como estado de equiliacutebrio ou bem-estar O prazer tem um fim em si mesmo isto eacute no ato prazeiroso a finalidade eacute imanente agrave accedilatildeo Natildeo deve ser passiacutevel de censura aquele que admitir e propagar que o que eacute agradaacutevel eacute bom e o que eacute desagradaacutevel eacute ruim A sabedoria estaacute em natildeo ter opiniotildees vatildes sobre o que eacute agradaacutevel pois nesse caso natildeo se sabe o prazer pois deixar-se mover pela opiniatildeo vatilde eacute agir ignorando a natureza do objeto da accedilatildeo O problema reside na ignoracircncia pois o prazer obtido a partir do discernimento eacute o maior dos bens ou o bem por excelecircncia As criacuteticas epicuacutereas aos cirenaicos estatildeo centradas na desmesura com que estes buscavam e idealizavam o prazer Mais uma vez a phroacutenesis(Vide infra φρόνησις) eacute moderadora dos apetites (desejos) e esclarece-dora das medidas de realizaccedilatildeo plena dos prazeres A phroacutene-sis se opotildee a hamartiacutea e a hyacutebris assim como o prazer se opotildee agraves opiniotildees falsas sobre o que eacute agradaacutevel Diz Epicuro
Ethicaacute
132 133
E assim como em seu alimento (o saacutebio) natildeo escolhe o maior quantitativamente mas o mais agradaacutevel assim tambeacutem do tempo (de viver) natildeo escolhe o maior fruto mas o mais prazeroso O prazer eacute o princiacutepio e o fim da vida feliz O prazer eacute o nosso bem primordial e congecircnito e partindo dele movemo-nos para qualquer escolha e qualquer rejeiccedilatildeo e a ele voltamos usando como criteacuterio de discriminaccedilatildeo de todos os bens as sensaccedilotildees de prazer e de dor (DL X 128-29)
O que fez Epicuro quando elegeu o prazer como o Bem por excelecircncia foi atribuir agrave sensaccedilatildeo o primado sobre a com-preensatildeo da realidade e mais ainda definir o prazer como medida plena de realizaccedilatildeo do homem no mundo poreacutem eacute preciso explicitar como se daacute esta compreensatildeo e a que medida o prazer responde positivamente
Em primeiro lugar o pensamento eacute um efeito das relaccedilotildees sensiacuteveis e das analogias que nos fazem perscrutar o que eacute aacutedelon (invisiacutevel) mas pode ser inteligiacutevel Epicuro nos fala de he phantastikegrave epiboleacute tecircs dianoiacuteas que satildeo projeccedilotildees (saltos) imaginativa(o)s do pensamento Elas se datildeo por analogia agraves operaccedilotildees com os dados sensiacuteveis mas nos remetem a pensar nos niacuteveis microfiacutesicos e macrofiacutesicos Haacute uma relaccedilatildeo direta entre sentir pensar e agir que estabelece a continuidade en-tre a physiologiacuteae a eacutetica nos textos aqui examinados Assim as sensaccedilotildees datildeo origem ao pensamento que por sua vez eacute o princiacutepio do agir isso faz pensar que as deliberaccedilotildees mo-vidas pelo pensamento objetivam a realizaccedilatildeo do bem-estar experimentado pelos sentidos Epicuro natildeo distingue bem--estar (eustaacutetheia) de estado de prazer duradouro (hedonegrave ka-tastematikeacute) A manutenccedilatildeo do equiliacutebrio interno e externo do homem estaacute diretamente relacionada agrave deliberaccedilatildeo e agrave
Terceira parte
134 135
consequente accedilatildeo realizada por cada um Tendo em vista o prazer Epicuro busca um modo de vida no qual os desejos e apetites que movem natural e necessariamente os indiviacuteduos tenham uma medida que realize a vida de modo satisfatoacuterio e equilibrado Ele considera desejaacutevel e exequiacutevel este estado sem perturbaccedilatildeo e sem sofrimento Este estado eacute buscado como modo de realizaccedilatildeo do prazer o que faz com que a vida filosoacutefica seja a via preferencial para a realizaccedilatildeo dos desejos naturais e necessaacuterios e para a obtenccedilatildeo de prazeres que natildeo tecircm como consequecircncia a dor Para tal parte do princiacutepio segundo o qual prazer e dor se excluem e mais que isso natildeo haacute estado intermediaacuterio entre eles ou estado neutro no qual natildeo se sente prazer nem dor
O prazer e o movimento que o realiza fez com que Epicuro estabelecesse uma diferenccedila em relaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo cirenai-ca de hedoneacute Para eles nem a ausecircncia de dor a aponiacutea nem a imperturbabilidade da alma a ataraxia podem ser considerados estados de prazer O prazer eacute um estado que se opotildee agrave dor e difere da neutralidade Dioacutegenes Laeacutercio comenta ldquoNo que concerne agrave ausecircncia de dor pleiteada por Epicuro eles (os cirenaicos) declaram que isto natildeo eacute prazer assim como a ausecircncia de prazer natildeo pode ser considerada dorrdquo (DL II 89)
Outro ponto de discordacircncia de Epicuro em relaccedilatildeo agrave Aristi-po eacute a admissatildeo da diferenccedila entre os prazeres pela distinccedilatildeo que faz entre opiniotildees vatildes sobre o prazer e o pensamento em que se sabe discernir ponderar e moderar o prazer para que ele natildeo tenha como consequecircncia a dor esta tambeacutem ignorada quando se age a partir das kenaigrave doacutexai
Epicuro centraraacute a sua criacutetica na demonstraccedilatildeo de que o prazer eacute constitutivo isto eacute que se inicia como movimento
Ethicaacute
134 135
mas a sua finalidade eacute tornar-se estaacutevel Hedonegrave kinetikeacute e hedonegrave Katastematikeacute configuram um mesmo movimento de prazer que tende naturalmente a uma espeacutecie de sere-nidade de apaziguamento das voliccedilotildees Quando inicia o movimento de suplantar a dor o corpo produz o seu proacuteprio prazer que depois seraacute rememorado pela alma Eacute o prazer em movimento que depois de saciado o desejo torna-se se-reno alcanccedilando a eustaacutetheia o bem-estar ao mesmo tempo no corpo e na alma contudo a alma guardaraacute as sensaccedilotildees prazeirosas transformando-as em sentimentos (proleacutepseis) ou impressotildees sensiacuteveis A rememoraccedilatildeo dos prazeres vividos produz um estado de alegria de seguranccedila e de bem-estar Dizemos nestes momentos que estamos bem e que tudo eacute muito agradaacutevel Satildeo os prazeres da alma Aleacutem disso esses prazeres jaacute sentidos e agora rememorados invadem a imagi-naccedilatildeo e projetam os prazeres vindouros tornados possiacuteveis pela memoacuteria Eacute uma maneira afirmativa de viver esperar (projetar) gozar no futuro
ἡσυχία hesychiacutea (sf)- XIV
Quietude
θάνατος thaacutenatos (sm)- 124125 133 II X XI SV 31
Morte
ldquoa morte nada eacute para noacutes pois o que se decompotildee eacute insensiacute-vel e o que eacute insensiacutevel nada eacute para noacutesrdquo (Maacuteximas Princi-pais II)
θαρρεῖν tharrecircin(v inf)- VIXXVIII XXXIX XL 207 Us
Confianccedila seguranccedila
Terceira parte
136 137
θεός theoacutes (sm)- 123 124 133 134 135 I SV 65 355 Us
Divindade deus A crenccedila vulgar nos deuses eacute formada por ldquosuposiccedilotildees falsasrdquo (hypoleacutepseis pseudeicircs) (DL X 124) Epi-curo afirma que essas crenccedilas natildeo satildeo baseadas em proleacutepseis (impressotildees) mas apenas em hypoleacutepseis (suposiccedilotildees)Vide suprahypoacutelepsis - ὑπόληψις etproacutelepsis πρόληψις (na segunda parte) A diferenccedila acentuada entre proacutelepsis e hypoacutelepsis nesse contexto demarca que embora Epicuro admita a existecircncia dos deuses a crenccedila vulgar natildeo condiz com a vida corpoacuterea e feliz das divindades
As hypoleacutepseis da religiatildeo grega tecircm o poder de produzir como consequecircncia da opiniatildeo de que eacute possiacutevel interagir com as divindadesa suposiccedilatildeo de que ldquodos deuses deri-vam os maiores males e bensrdquo (DL X 124) O culto dos tempos de Epicuro de acordo com Salem (1994 p 181) se expressava de uma maneira quase mercantil Acreditava-se que oferendas e sacrifiacutecios podiam aplacar a ira e alcanccedilar o favor dos deuses bem como maacutes oferendas ou a negligecircncia delas podiam suscitar penas e castigos Epicuro natildeo preten-de persuadir as pessoas que os deuses natildeo existem antes quer demonstrar que suas crenccedilas satildeo contraditoacuterias com a noccedilatildeo de divindade que expressam ldquoSe um deus obedece agraves preces dos homens muito rapidamente todos os homens teriam perecido continuamente eles pedem muitas coisas prejudi-ciais uns aos outrosrdquo (Us 388) Deuses satildeo seres imortais e sumamente felizes e enquanto tais natildeo se envolvem com a vida humana Epicuro evidencia a contradiccedilatildeo entre a noccedilatildeo de divindade e a expectativa de ser beneficiado ou castigado por um deus
Esperar por favores divinos torna o homem indolente esperar por castigos o torna temeroso O temor perturba e impede a
Ethicaacute
136 137
felicidade dos homens A imagem de deuses castigadores in-troduz nos espiacuteritos o medo do futuro e da morte O homem cultua por sacrifiacutecios e oferendas esperando que deuses guiem sua vida mas esses seres em contrapartida satildeo indiferentes ldquoEacute estuacutepido pedir aos deuses o que se pode procurar por si mesmordquo (SV 65) diz Epicuro Supor que seres indiferentes governam e guiam a vida humana nada mais eacute que se deixar ao acaso resignando-se aos desiacutegnios de pretensas divindades Pior que ser escravo de senhores reais eacute ser escravo de senhores inexistentes Esses homens vivem ao sabor da sorte levados pela inconstacircncia do acaso negligenciando seu poder de es-colha e decisatildeo A estes Epicuro convoca a tomar as reacutedeas da vida nas matildeos incitando-os agrave autarquia e a exercer ativamente sua liberdade ldquoO infortuacutenio do saacutebio eacute melhor que a prospe-ridade do insensato pois acha melhor numa accedilatildeo humana o fracasso daquilo que eacute bem escolhido que o sucesso por obra do acaso daquilo que eacute mal escolhidordquo (DL X 135)
O primeiro componente do ldquoquaacutedruplo remeacutediordquo (tetra-phaacutermakos) diz respeito aos deuses ldquosua opiniatildeo [do saacutebio] em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosardquo (DL X 133) Uma opiniatildeo piedosa segundo Epicuro eacute a de quem rejeita os deuses acei-tos pela maioria Esta opiniatildeo segundo a noccedilatildeo impressa (noacuteesis hypegraacutefe) em noacutes pela natureza considera a divin-dade ldquoum ser vivo e felizrdquo (DL X 123) Sobretudo natildeo se deve atribuir agrave divindade qualquer atributo que contradiga sua imortalidade e felicidade
ldquoOs deuses realmente existem e o conhecimento de sua exis-tecircncia eacute manifestordquo (DL X 123) Essa afirmaccedilatildeo inviabiliza a caracterizaccedilatildeo de Epicuro como ateu Lactacircncio39 em seu
39 Lactacircncio viveu entre 240-320 dC e seu comentaacuterio sobre Epicuro foi catalogado por H Usener em Epicurea (1887)
Terceira parte
138 139
De Ira Dei (A Ira de Deus) certamente desejava acentuar ainda mais as diferenccedilas entre o epicurismo e o cristianismo quando atribuiu a Epicuro o famoso argumento
Ou bem diz Epicuro Deus quer suprimir o mal e natildeo pode ou ele pode e natildeo quer ou ele nem quer e nem pode ou ele quer e pode Se ele quer e natildeo pode entatildeo eacute impotente e isso natildeo convecircm agrave Deus se ele pode e natildeo quer ele eacute invejoso mas isso natildeo pode conferir vantagem a Deus se ele nem quer nem pode ele eacute de uma soacute vez invejoso e impotente sendo assim ele natildeo pode ser Deus se ele quer e pode so-mente o que convecircm agrave Deus entatildeo de onde vem o mal Ou porque Deus natildeo o suprime (Us 374)
No entanto o texto da Carta a Meneceu natildeo sugere que Epicuro se referisse a um deus singular nem tampouco a um deus de que se esperasse a expurgaccedilatildeo do mal do mundo Pelo contraacuterio Epicuro se refere a muacuteltiplas divindades que a despeito dos problemas humanos sossegadamente habitam os intermundos (metakoacutesmion) Desse modo que esperar que a prova da existecircncia de Deus seja derivada da intervenccedilatildeo do mesmo no mundo vai totalmente de encontro com os textos de Epicuro que nos restaram
Os deuses de Epicuro natildeo se preocupam com bens ou males A perfeita felicidade desses seres se compreende exatamente na medida em que natildeo se preocupam com os afazeres dos homens Satildeo livres autossuficientes felizes imortais e por isso satildeo modelo para o saacutebio epicurista ldquoSeraacutes como um deus entre os homensrdquo (DL X 135) diz Epicuro a seu dis-ciacutepulo Meneceu O epicurista natildeo espera dos deuses nada aleacutem de um exemplo perfeito pelo qual moldar sua vida Os deuses expressam ideais de liberdade e autarquia eles tecircm tudo o que desejam e realizam sua vontade como querem Se
Ethicaacute
138 139
aos homens natildeo cabe ter tudo que desejam podem no en-tanto administrar-se com vistas a desejar somente o que po-dem realizar independentemente das circunstacircncias Eacute com este fim que Epicuro adverte ldquoA pobreza medida segundo o fim da natureza eacute uma grande riqueza a riqueza sem limite eacute grande pobrezardquo (SV 25) Eacute este tambeacutem o grande bem da autaacuterkeia pois o saacutebio autaacuterquico natildeo depende de ban-quetes sofisticados nem precisa variar seus prazeres cons-tantemente tampouco considera que o fim da vida eacute a soma irrestrita de prazeres nem cultiva riquezas pois encontrou na autaacuterkeia um grande tesouro Ter deuses como modelo de autossuficiecircncia natildeo significa desejar espraiar nosso domiacutenio para aleacutem das fronteiras de nosso ser antes eacute ter o domiacutenio irrestrito daquilo que nos compete Natildeo eacute desejar ardente-mente a Lua e os astros inalcanccedilaacuteveis mas eacute querer apenas o limite da satisfaccedilatildeo da carne
θητεία theteiacutea (sf)- SV 67
Serviccedilo
θόρυβος thoacuterybos (sm)- 132
Tumulto
ἰατρεία iatreiacutea (sf)- S64
Cura cuidado
ἰατρική iatrikeacute (teacutechne) (sf)- 138 221 Us
Medicina
Eacute o impeacuterio exclusivo (monarchiacutee) de uma soacute forccedila no orga-
Terceira parte
140 141
nismo a causa das doenccedilas e o equiliacutebrio (isonomiacutee) das for-ccedilas a causa da sauacutede (Alcmeacuteon de Croacutetona frag 4 - Diels)
A possiacutevel compreensatildeo epicuacuterea acerca da medicina de sua eacutepoca pode ser ldquointuiacutedardquo em algumas raras passagens dos seus textos mas natildeo se encontram nelas elementos que venham a demonstrar suficientemente um saber meacutedico ine-rente aos discursos epicuacutereos nem tampouco temos notiacutecias de algum disciacutepulo de sua eacutepoca que tivesse sido meacutedico Entretanto pelo que vimos ateacute aqui a anaacutelise de saacuterx envolve um conjunto de reflexotildees em torno do cuidado com o corpo
Sabemos de diversas interseccedilotildees entre medicina e filosofia no pensamento antigo desde Alcmeacuteon de Croacutetona e Em-peacutedocles de Agrigento passando por Soacutecrates ateacute Platatildeo e Aristoacuteteles em cujos textos encontramos as mais numerosas referecircncias as analogias que tomam ora a medicina ora o meacutedico como um dos termos e do outro lado encontramos agraves vezes a poacutelis agraves vezes o poliacutetico agraves vezes o filoacutesofo Neste sentido podemos estabelecer analogias entre a medida do agir e a medida do cuidar ambas tendendo sempre a um equiliacutebrio seja como ldquojusta medidardquo seja como ldquomeio--termordquo
Quando afirmamos a pertinecircncia dessas analogias temos presente que tanto a filosofia quanto a medicina buscam ex-plicitar o cuidado de si tendo em vista que a accedilatildeo de cuidar eacute proacutepria do ser do homem ldquoA medicina eacute a arte de curar as enfermidades por seus contraacuterios A arte de curar e de seguir o caminho pelo qual cura espontaneamente a nature-zardquo (Hip Afor 2 p 1 8) Compreendemos aqui o sentido real de agir conforme a natureza ou seja de agirmos de um modo tal que os nossos atos coincidam com o modo proacuteprio da natureza se realizar Neste sentido podemos entender a
Ethicaacute
140 141
teacutechne como complemento da natureza
Epicuro concebe a filosofia como o exerciacutecio de uma sabedo-ria para a vida e pensa ser este o caminho para a realizaccedilatildeo da natureza do sophoacutes com vigor e potecircncia Ora o saber meacutedico parece tambeacutem buscar auxiliar o corpo a realizar--se plenamente de acordo com o modo de ser da proacutepria natureza A cura auxiliada pelo saber eacute para a medicina um modo de accedilatildeo do meacutedico de acordo com a natureza o que quer dizer que em uacuteltima anaacutelise eacute a natureza que cura pois eacute ela mesma que se restabelece e a partir de si mesma Vemos aqui que a medicina em consonacircncia com a filosofia compotildee um saber acerca da natureza que Epicuro chamou Physiologiacutea Mediante isto percebemos que tanto para a fi-losofia epicuacuterea quanto para a medicina antiga a phyacutesis eacute a questatildeo fundamental que enseja toda e qualquer busca pelo conhecimento sendo por isso ao mesmo tempo princiacutepio e finalidade do conhecimento meacutedico e do conhecimento filosoacutefico E eacute desde a compreensatildeo da phyacutesis que se pode estruturar a accedilatildeo do meacutedico ou filoacutesofo Esta accedilatildeo traduz o sentido de um agir ldquode acordo com a naturezardquo que significa ter a sua archeacute mdash que eacute princiacutepio e comando mdash na natureza ao mesmo tempo que o teacutelos mdash que eacute a finalidade da accedilatildeo do homem no mundo e especificamente finalidade do conhe-cer tambeacutem na natureza
ἱκανός hikanoacutes (ad)- 45 55 59 SV 65 SV 68
Suficiente capaz
ἰσονομία isonomiacutea (sf)- 352 Us
Igualdade perante a lei
Terceira parte
142 143
καθαριότης katharioacutetes (sf)- SV 63
Pureza simplicidade frugalidade
καιρός kairoacutes (sm)- 35 98 115 XXV
Circunstacircncia tempo ocasiatildeo
καταπυκνόω katapyknoacuteo (v)- IX
Tornar-se espesso ganhar espessura
καταστηματικός katastematikoacutes (ad)- 136 2 Us
Repousante estaacutevel Adjetivo aplicado a certos prazeres
καταστροφή katastropheacute (sf)- 126 XX XXXV
Fim (da vida) ruiacutena desaparecimento
κενοσοξία kenodoxiacutea (sf)- XXX
Opiniatildeo vazia
κοινωνία koinoniacutea (sf)- XXXVI XXXVII XXXVIII
Comunidade vida em comum
μακάριος makaacuterios (ad)- 78 79 80 81 84 123 134 I
Feliz bem aventurado
μακαριότης makarioacutetes (sf)- 76 77 97 123 XXVII
Bem aventuranccedila felicidade
Ethicaacute
142 143
μακαρισμός makarismoacutes (sm)- SV 52
Accedilatildeo de louvar ou de invejar a felicidade alheia
μακαριστός makaristoacutes (ad)- SV 17
Considerado feliz
μελέτη meleacutete (sf)- 126
Meditaccedilatildeo
νόμος noacutemos (sm)- XXXVII
Lei
οἰκειότης oikeioacutetes (sf)- XL
Familiaridade amizade
ὁμόφυλος homoacutephylos (ad)- XXXIX
Aliado da mesma tribo Vide supra alloacutephylos-ἀλλόφυλος (na primeira parte)
ὄρεξις oacuterexis (sf)- XXVI 202 422 Us
Apetite
ὄχλησις oacutechlesis (sf)- VIII
Aborrecimento perturbaccedilatildeo
παιδεία paideiacutea (sf)- SV 45 117 163 Us
Cultura educaccedilatildeo
Terceira parte
144 145
παράστασις paraacutestasis (sf)- 81 138 Us
Deliacuterio
παρ᾿ἡμᾶς parrsquo hemacircs (prep παρά + 1ordf pessoa pl ἡμᾶς) - 133 27 Us (135)
Cabe-nos (cabe a noacutes) Parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo grega composta por dois vocaacutebulos unidos por elisatildeo paraacute e he-macircs Segundo Murarcho (2007 p 532) ldquoparaacute significa exa-tamente ao lado derdquo Por sua vez hemacircs eacute o pronome plural da primeira pessoa no acusativo traduzido pelo pronome obliacutequo aacutetono ldquonosrdquo Assim sendo a expressatildeo parrsquo hemacircsse descreve como a junccedilatildeo da preposiccedilatildeo paraacute (ao lado de) e do pronome hemacircs (nos) A expressatildeo tem sentido conotativo significando o que estaacute em poder do homem
Gama Kury (2008 p 314) traduz a expressatildeo parrsquo hemacircs por ldquodepende de noacutesrdquo diferente de Hicks (1925 p659) que traduz por ldquoour own action40rdquo Por sua vez Bollack (1975 p 81) traduz parrsquo hemacircs por ldquoce que tient agrave nous41rdquo Apesar das diferentes traduccedilotildees disponiacuteveis a melhor maneira de entender a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute pelo contexto do passo 133 da Carta a Meneceu
Crecirc entatildeo Meneceu que ningueacutem eacute superior a tal homem Sua opiniatildeo em relaccedilatildeo aos deuses eacute piedosa e ele se mostra sempre destemeroso diante da morte Ele reflete intensa-mente sobre a finalidade da natureza e tem uma concepccedilatildeo clara de que o bem supremo pode ser facilmente atingido e facilmente conquistado e que o mau supremo dura pouco e causa sofrimentos passageiros Finalmente ele proclama
40 ldquonossa proacutepria accedilatildeordquo41 ldquoo que nos concernerdquo
Ethicaacute
144 145
que o destino introduzido por alguns filoacutesofos como se-nhor de tudo eacute uma crenccedila vatilde e afirma que algumas coisas acontecem necessariamente outras por acaso e outras nos cabe fazer porque para ele eacute evidente que a necessidade gera a irresponsabilidade e que o acaso eacute inconstante e as coisas que cabe-nos fazer satildeo livremente escolhidas e satildeo naturalmente acompanhadas de censura e louvor (DL X 133)
Nessa passagem da carta haacute uma descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do homem que assimilou os preceitos baacutesicos do epicurismo Nela estaacute resumido aquilo que os epicuristas chamaram de tetraphaacutermakos (o quaacutedruplo remeacutedio42) O homem modelo como ldquoum deus entre os homensrdquo (DL X 135) natildeo teme a morte eacute feliz e traccedila seus proacuteprios caminhos Desdenha qualquer possibilidade de intervenccedilatildeo divina e defende que noacutes somos livres Investigou a natureza (phyacutesis) conhece seus princiacutepios e encontrou no prazer o fim (teacutelos) de todo homem
Epicuro natildeo diz expressamente a quem se refere ao afir-mar ldquoningueacutem eacute superior a tal homemrdquo ou como traduz Conche ldquoQuem estimas tu superior agravequelerdquo No entanto a descriccedilatildeo das caracteriacutesticas do saacutebio e do que se deve fazer para ter uma vida saacutebia comeccedila no passo 126 que diz ldquoo saacutebio (hoacute degrave sophoacutes) natildeo renuncia agrave vida nem teme a cessaccedilatildeo da vidardquo O saacutebio considera vatilde a crenccedila dos que apresentam o destino como um tirano Esta uacuteltima carac-teriacutestica do sophoacutes eacute determinante para a compreensatildeo de parrsquo hemacircs pois negar a crenccedila no domiacutenio irrestrito do destino (heimarmeacutene) implica em considerar a liberdade da accedilatildeo humana Segue-se pois na ordem do texto a afirma-
42 Cf MP II
Terceira parte
146 147
ccedilatildeo que anuncia o poder do homem expresso sob a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs ldquoalgumas coisas acontecem necessariamente (anaacutenke) outras por acaso (tyacuteche) e outras nos cabe fazerrdquo (parrsquo hemacircs)
A natureza eacute portanto neutra naquilo que cabe aos homens realizar O acaso (vide supra τύχη tyacuteche na pri-meira parte) limita a extensatildeo da necessidade (vide supra ἀνάγκη anaacutenke na primeira parte) e abre as portas para novas cadeias causais serem iniciadas A tradiccedilatildeo epicu-rista relaciona parrsquo hemacircs ao pareacutenklisis ou clinamen (Vide supra παρέγκλισις na primeira parte) Embora Epicuro natildeo tenha mencionado nada a respeito do desvio aleatoacuterio dos aacutetomos (pelo menos natildeo em seus textos remanescen-tes) percebe-se que a noccedilatildeo de parrsquo hemacircs eacute possibilitada pelo acaso sob a forma dos desvios bem como sua vigecircncia envolve a vontade deliberaccedilatildeo autarquia e escolha dos viventes Enfim parrsquo hemacircs se relaciona com a noccedilatildeo de li-berdade em sentido amplo Jaacute Filodemo aproxima a noccedilatildeo de pareacutenklisis da noccedilatildeo de parrsquo hemaacutes
Natildeo eacute suficiente admitir iacutenfimas declinaccedilotildees dos aacutetomos por causa do acaso e da liberdade (tograve tycherograven kaigrave tograve parrsquo hemacircs) mas eacute necessaacuterio provar que esta declinaccedilatildeo natildeo combate nenhum fato evidente (enargoacuten) (De Signis XXXVI 7-17 apud SALEM 1997 p 68)
Apesar do problema epistemoloacutegico levantado por Filodemo em relaccedilatildeo a natildeo-contradiccedilatildeo do clinamen ou pareacutenklisis fica claro que parrsquo hemacircs eacute uma expressatildeo utilizada para falar de liberdade de maneira geral ou seja de todas as possibilida-des abertas pelo desvio aleatoacuterio dos aacutetomos A expressatildeo parrsquo hemacircs abrange um conjunto de coisas que se relacionam com o agir livre do homem
Ethicaacute
146 147
περίβλεπτος periacutebletos (ad)- VII
Renomado famoso
περίβλεψις periacuteblepsis (sf)- SV 81
Observaccedilatildeo vigilacircncia
περίπτωσις periacuteptosis (sf)- 36 Us
Acaso desgraccedila
πίστωμα piacutestoma (sn)- XL
Garantia
πλήρωμα pleacuteroma (sn)- SV 59
Repleccedilatildeo satisfaccedilatildeo plenitude
ποιητικός poietikoacutes (ad)- VIIIX
Produtivo
ποικίλλειν poikiacutellein(v inf)- XVIIIXXIX
Variar diversificar Este termo se refere agrave possibilidade de variaccedilatildeo dos prazeres O prazer natildeo aumenta infinitamente apenas variaVide supra haacutepax-ἄπαξ (nessa mesma parte)
ποίκιλμα poiacutekilma(sn)- SV 69
Variedade
πολιτικός politikoacutes (ad)- SV 58
Puacuteblico
Terceira parte
148 149
πολυτελεία politeleiacutea (sf)- 130 181 Us
Despesa extravagacircncia
πόνος poacutenos (sm)- 133 137 (66 Us) SV 4
Sofrimento afliccedilatildeo
πρᾶγμα praacutegma (sn)- 36 39 49 53 75 76 IXX XXI XXXVII XXXVIII SV 45 SV 67
Coisa acontecimento fato circunstacircncia realidade
πραγματεία pragmateiacutea (sf)- 35 7783
Sistema doutrina
πρᾶξις praacutexis (sf)-81135 XXV
Accedilatildeo ato
προκαταστροφή prokatastropheacute (sf)- XL
Morte prematura
σεβασμός sebasmoacutes (sm)-SV 32
Adoraccedilatildeo veneraccedilatildeo
σοβαρός sobaroacutes (ad)- SV 45
Destemido
σοφία sophia(sf)-117XXVII SV 78
Sabedoriacutea
Ethicaacute
148 149
σοφός sophoacutes (ad)-117 125 XVI SV 32 S44 SV56
Saacutebio
σπουδή spudeacute (sf)- 84XXX SV 61
Esforccedilo ardor
στέρησις steacuteresis (sf)- 124
Privaccedilatildeo
συζήτησις syzeacutetesis (sf)- SV74
Discussatildeo disputa pesquisa em conjunto Termo utilizado pela primeira vez por Epicuro
σύμβολον syacutembolon (sn)- XXXI
Garantia contrapartida
συμμέτρησις symmeacutetresis (sf)-130
Comparaccedilatildeo
σύνφυτος syacutemphytos (ad)- 129
Inato
συναναστροφή synanastropheacute (sf)- SV 18
Convivecircncia
συνήθεια syneacutetheia (sf)- SV 46
Haacutebito
Terceira parte
150 151
συνθήκη syntheacuteke (sf)- XXXIIXXXIII
Acordo pacto contrato
σωτηρία soteriacutea (sf) SV 80
Salvaccedilatildeo
ταραχή taracheacute (sf)- 81 XVII XXII SV 81
Perturbaccedilatildeo
ταραχώδης tarachoacutedes (ad)- 116 Us
Perturbado
τιμή timeacute (sf) (- 134 SV 81
Honra
τύχη tyacuteche (sf)- 120 (584 Us) 131 133 134 XVI SV 17
Acaso sorte fortuna As noccedilotildees de acaso (tyacuteche) e necessida-de (anaacutenke) satildeo compatibilizadas por Epicuro em sua visatildeo geral da phyacutesis Nela alguns axiomas satildeo apresentados como necessaacuterios por exemplo todos os aacutetomos estatildeo em cons-tante movimento Esta afirmaccedilatildeo eacute axiomaacutetica por revelar o que necessariamente eacute intuiacutedo na anaacutelise dos modos de ser de phyacutesis Em consequecircncia disso o constante movimento dos aacutetomos supotildee a declinaccedilatildeo casuiacutestica de alguns aacutetomos pois soacute assim eacute possiacutevel explicar a diversidade dos corpos e as muacuteltiplas configuraccedilotildees pelas quais eles passam no decorrer de suas existecircncias individuais enquanto corpos Visto de outro modo a totalidade dos aacutetomos e do vazio existentes
Ethicaacute
150 151
permanece a mesma ainda que os aacutetomos e o vazio sejam ilimitados Entretanto quando analisados os mundos e os demais corpos particularizados no interior do todo se mos-tram vulneraacuteveis agraves mudanccedilas e acabam por expressar en-quanto existecircncias dissemelhantes a atuaccedilatildeo do acaso como elemento diferenciador
Portanto os diversos niacuteveis de alteraccedilatildeo dos corpos que ocorrem necessariamente satildeo consequecircncias dos desloca-mentos dos aacutetomos portadores do princiacutepio de movimento expresso nas trajetoacuterias oriundas dos deslocamentos e nas casuiacutesticas declinaccedilotildees que sofrem quando desviam O acaso pode ser concebido tendo em vista a pluralidade dos corpos e a indeterminaccedilatildeo absoluta do todo Poreacutem uma anaacutelise mais detalhada das implicaccedilotildees entre os termos aca-so e necessidade nos textos de Epicuro sobretudo do modo em que coexistem em seu sistema requer a explicitaccedilatildeo do sentido fiacutesico da concepccedilatildeo de necessidade
Anaacutenke eacute compreendida pelo atomismo como ldquonecessidade mecacircnica das causas puramente fiacutesicas que operam sem fi-nalidade (teacutelos)rdquo E somente o termo anaacutenke pode significar necessidade pois nenhum pensador atomista jamais usou o termo proacutenoia para designar necessidade de qualquer ma-neira a necessidade nunca foi enunciada por Epicuro num sentido providencial ou determinista Assim soacute eacute possiacutevel interpretar-se a noccedilatildeo de necessidade exposta no texto de Epicuro como necessidade de realizaccedilatildeo de uma natureza particular (corpo ou mundo) segundo o seu modo proacuteprio de ser isto eacute ser por natureza eacute ser por necessidade
No mesmo contexto o termo tyacuteche traz em si a negaccedilatildeo de toda a finalidade que poderia existir no movimento necessaacute-rio de constituiccedilatildeo e desconstituiccedilatildeo dos corpos e mundos
Terceira parte
152 153
ou seja natildeo eacute cabiacutevel falar de teleologia no pensamento de Epicuro porque ele evidencia a presenccedila do acaso na realizaccedilatildeo do movimento como ausecircncia de finalidade na explicaccedilatildeo dos corpos e mundos Dessa maneira tudo o que acontece a geraccedilatildeo o desenvolvimento e a corrupccedilatildeo dos corpos acontece por necessidade poreacutem a diversificaccedilatildeo dos acontecimentos eacute resultado da interferecircncia do acaso ou dos desvios nas trajetoacuterias dos aacutetomos Contudo ldquoEacute neces-saacuterio que algo de imutaacutevel subsista para que as coisas natildeo recaiam totalmente no nadardquo (DRN II 751 752) Como eacute necessaacuterio pela proacutepria natureza do acaso que os corpos e mundo sejam diferentes e sujeitos agrave geraccedilatildeo e agrave corrupccedilatildeo bem como as modificaccedilotildees ocorridas durante o periacuteodo de desenvolvimento isto eacute durante o movimento ininterrupto de suas existecircncias A compreensatildeo de phyacutesis nos seus diver-sos modos de realizaccedilatildeo soacute eacute possiacutevel para um sistema de pensamento que trabalha positivamente as noccedilotildees de tyacuteche e anaacutenke
ὑγιαίνειν hyguiaiacutenein (v inf)- SV 54
Ter sauacutede
ὑγίεια hyguiacuteeia (sf)- 128 131 138 (504 Us)
Sauacutede
φιλία philiacutea (sf)- 120 XXVIIXXVIII SV 23 S28S34 S39 S52 S78
Amizade A philiacutea eacute uma forma voluntaacuteria e prazeirosa de se relacionar com os outros Cada indiviacuteduo busca agrupar--se num conjunto ou seja agregar-se segundo a natureza
Ethicaacute
152 153
Mas o saacutebio busca o conviacutevio com afins por natureza mas tambeacutem por conveniecircncia (opheacuteleia) O que conveacutem a todos eacute natildeo sofrer danos mas para o saacutebio eacute preciso tambeacutem livrar--se da ignoracircncia e das crenccedilas vazias que levam os homens a cometerem injusticcedilas uns aos outros Desse modo a amiza-de filosoacutefica eacute diferente das relaccedilotildees que comportam atitudes que levam ao desconforto e produzem o desequiliacutebrio O que eacute conveniente (syacutempheron) eacute semelhante na atitude e na reflexatildeo Haacute uma medida um caacutelculo um sentido de harmonia para realizar a amizade A amizade eacute na praacutetica a sabedoria de viver em conjunto A amizade resulta do equi-liacutebrio de interesses daqueles implicados na relaccedilatildeo Ela nasce de maneira espontacircnea mas se consolida pela reflexatildeo acerca da naturalidade da vida em conjunto e do comedimento que equilibra os modos de agir esta eacute uma possiacutevel interpretaccedilatildeo do que Demoacutecrito pensou sobre a amizade ldquoAcordo no pen-sar engendra a amizaderdquo (DK B II 33 9)
A philia supotildee uma afinidade de pensamento e tambeacutem de accedilatildeo uma vez que as relaccedilotildees se efetivam na busca em conjunto da physiologiacutea da compreensatildeo da realidade Neste sentido a praacutetica de vida eacute saacutebia e o saber se faz em torno da vida Epicuro manteacutem a naturalidade da amizade e faz dela a base do movimento de agregaccedilatildeo social Sendo possiacutevel a amizade tambeacutem seraacute o direito e a poliacutetica O direito eacute fruto da relaccedilatildeo entre phyacutesis e noacutemos e a poliacutetica se realizaraacute no acordo entre semelhantes Na praacutetica Epicuro pensou em comunidades de pensamento e accedilatildeo De alguma manei-ra ele buscou tornar possiacutevel uma comunidade de amigos estabelecendo uma descontinuidade com o espaccedilo puacuteblico das cidades A philiacutea que eacute a base das relaccedilotildees existentes na comunidade natildeo eacute a priori fruto de um contrato uma vez
Terceira parte
154 155
que eacute imanente agrave natureza O contrato eacute uma consequecircn-cia eacute um acordo entre modos de pensar Mas o que move o pensamento na realizaccedilatildeo do acordo eacute o sentimento de equi-liacutebrio seguranccedila e a tranquilidade que a amizade produz Portanto a amizade brota de desejos naturais e necessaacuterios e se expressa no loacutegos sob a forma de acordos que satildeo estabe-lecidos segundo a conveniecircncia muacutetua (opheacuteleia) Pensar-se a si proacuteprio e ter o princiacutepio de suas accedilotildees em si mesmo qua-lifica o homem para a aquisiccedilatildeo e manutenccedilatildeo da amizade De outra maneira no vazio das reflexotildees satildeo projetadas as falsas opiniotildees ou opiniotildees vazias que alimentam crenccedilas e desejos imoderados agraves vezes naturais agraves vezes natildeo mas quase sempre desnecessaacuterios Esses desejos crenccedilas e falsas opiniotildees cumulam em injustas agressotildees disputas pelo po-der desconfianccedila insensatez e anguacutestia ldquoA justiccedila natildeo era a princiacutepio algo em si e por si mas nas relaccedilotildees reciacuteprocas dos homens em qualquer lugar e a qualquer tempo eacute uma espeacutecie de pacto no sentido de natildeo prejudicar nem de ser prejudicadordquo (DL X 150) E tambeacutem ldquoPara todos os seres vivos incapazes de estabelecer pactos com o intuito de natildeo prejudicar os outros e de natildeo ser prejudicados nada era justo ou injusto Acontece o mesmo em relaccedilatildeo aos povos que natildeo podiam ou natildeo queriam estabelecer pactos destinados a natildeo prejudicar e natildeo ser prejudicadosrdquo (DL X 150)
Eacute preciso entretanto atentar para o que assevera Epicuro que natildeo foi nem pretendeu ser um pensador poliacutetico Ele orientou o modo de vida filosoacutefico pela philiacutea A conveni-ecircncia muacutetua aleacutem de propiciar o pacto de natildeo sofrer nem cometer danos uns aos outros daacute sentido agrave uniatildeo entre os homens que se caracteriza pela afinidade e natildeo pela simples contenccedilatildeo das diferenccedilas ldquoToda a amizade deve ser buscada
Ethicaacute
154 155
por ela mesma mesmo que ela tenha sua origem na necessi-dade de uma ajudardquo (SV 23)
Epicuro mais uma vez marcando uma diferenccedila em relaccedilatildeo aos cirenaicos natildeo reduz a amizade ao seu caraacuteter utilitaacuterio mas afirma a conveniecircncia inerente agrave busca e manutenccedilatildeo da amizade Para ele que concorda com Aristoacuteteles o saacutebio pode proporcionar ao outro homem uma amizade digna dos me-lhores homens ou daqueles dotados de logismoacutes e de phroacutenesis pois a amizade que nasce da conveniecircncia tambeacutem se ali-menta dela ou seja ela produz acordo entre ideias e atitudes Tambeacutem para Epicuro o propoacutesito da amizade eacute o de ser na praacutetica a comunhatildeo de uma mesma filosofia Neste sentido eacute iacutentima a relaccedilatildeo entre a amizade e o bem que eacute o prazer pois dentre outras coisas a amizade mostra-se isenta de pai-xotildees tais como o oacutedio o rancor e a veneraccedilatildeo Aleacutem disso a amizade natildeo cumula em reaccedilatildeo pois eacute a expressatildeo de uniatildeo e equiliacutebrio entre aqueles que se afinam mutuamente pela natureza de caraacuteter e sabedoria ldquoAquele que eacute bem-nascido se dedica principalmente agrave sabedoria e agrave amizade dois bens dos quais um eacute mortal e o outro imortalrdquo (SV 78)
φιλόλογος philoacutelogos (ad)- S74
Aquele que busca argumentos ou raciociacutenios
φιλοσοφία philosophiacutea (sf) 22(138 Us) 132 SV 27 S41 117 Us219 Us 221 Us
Filosofia Na maacutexima 41 Epicuro utiliza este termo associa-do agrave oacuterthes (reta) com a intenccedilatildeo clara de mostrar que esta ldquoreta filosofiardquo deve ser praticada em todo momento para que a vida se torne justa bela e saacutebia A filosofia eacute definida
Terceira parte
156 157
como um saber em torno da vida no sentido de ser um exer-ciacutecio de bem viver
φιλόσοφος philoacutesophos (sm)- 221 Us
Filoacutesofo
φρόνησις phroacutenesis (sf)- 132
Sensatez sabedoria praacutetica Epicuro utiliza o termo phroacutenesis num sentido muito similar agravequele desenvolvido por Aristoacuteteles ou seja como sabedoria praacutetica Ele atribui agrave phroacutenesis a prima-zia na realizaccedilatildeo da vida filosoacutefica ou saacutebia A teacutechne eacute o modo de accedilatildeo e a filosofia eacute o exerciacutecio desse saber em torno da vida (techne tis perigrave tograven biacuteon) Assim a phroacutenesis eacute o exerciacutecio praacutetico da sabedoria (epigrave degrave philosophiacuteas) e num sentido abrangente da atividade filosoacutefica coincide com a proacutepria filosofia
Haacute uma passagem na Carta a Meneceu (DL X 132) onde Epicuro utiliza o termo phroacutenimos para significar aquele que deteacutem uma sabedoria no agir Eacute um momento em que fica clara a influecircncia socraacutetico-platocircnica pois aproxima e faz co--pertencer a um mesmo acorde phroacutenimos kaloacutes ediacutekaios (o saacutebio o bom e o justo)(vide supra δίκαιος nesta mesma parte) Tais noccedilotildees fundam uma seacuterie de relaccedilotildees no pensamento antigo e se mantecircm coesas no texto de Epicuro Eacute ao mesmo tempo uma dyacutenamis e uma possibilidade do pensamento quando este exerce o seu poder de escolha e de recusa Epi-curo considera que se pode escolher o que eacute ponderadamente refletido e recusar o que natildeo eacute necessaacuterio nem conveniente (syacutempheron) A condiccedilatildeo da autaacuterkeia eacute agir aliando o logismoacutes e a phroacutenesis pois a phroacutenesis age na triagem dos desejos que se quer e que se pode realizar na medida em que confere uma
Ethicaacute
156 157
medida natural para o bem-estar e para o prazer A phroacutenesis eacute moduladora das accedilotildees e dos desejos naturais e necessaacuterios que nos conduzem aos prazeres
Outra consequecircncia da primazia da phroacutenesis no exerciacutecio da sabedoria eacute que o esforccedilo para pensar a phyacutesis e o equiliacutebrio sereno diante do que pode causar temores provoca a agradaacute-vel ataraxiacutea um bem-estar (eustaacutetheiavide supra εὐστάθεια nesta mesma parte) Epicuro traccedila a imagem da vida filosoacutefica como vida autaacuterquica e daacute ao pensamento uma dyacutenamis a realizaccedilatildeo da conduta de acordo com a natureza ou do que se adquire com a physiologiacutea O que perturba enfraquece escraviza eacute a ignoracircncia que gera temores e opiniotildees vazias Viver segundo a natureza aqui quer dizer viver segundo a compreensatildeo que se pode ter da phyacutesis A physiologiacutea eacute um exerciacutecio para escapar agrave ignoracircncia e natildeo a substantivaccedilatildeo da natureza como uma noccedilatildeo estaacutetica cientificista ldquoEacute pela ignoracircncia dos bens e dos males que a vida dos homens eacute em grande escala perturbada e por causa desta erracircncia eles frequentemente se privam dos prazeres e se torturam com as mais crueacuteis dores da almardquo43 ldquoUm entendimento correto dessa teoria permitir-nos-aacute dirigir toda a escolha e toda a rejeiccedilatildeo com vistas agrave sauacutede do corpo e agrave tranquumlilidade da alma pois isso eacute o que se pode supremamente realizar na vidardquo (DL X 128) ldquoQuando entatildeo dizemos que o prazer eacute o fim () por prazer ltentendemosgt a ausecircncia de sofrimentos no corpo e a ausecircncia de perturbaccedilatildeo na almardquo (DL X 131)
φρονίμως phroniacutemos (adv)- 132 V
Sabiamente sensatamente
43 Ciacutecero De Finibus I 13 42
158 159
Terceira parte
158 159
φυγή phygeacute (sf) - 128 129 132 XXV
Rejeiccedilatildeo recusa fuga
χαρά charaacute (sf)- 66 SV 81 2 Us
Gozo alegria
χάρις charis (sf)- 77 122 I SV 17 SV39 SV55
Benevolecircncia graccedila
χρεία chreiacutea (sf)- 120 87 128 XXXVII SV 34
Necessidade precisatildeo uacutetil
χρῆσις chreacutesis (sf)- 131
Ocupaccedilatildeo
χυλός chyloacutes (sm) 130
Frugal
ὠφέλεια opheacuteleia (sf)- 124 SV 23
Conveniecircncia muacutetua benefiacutecio utilidade No pensamento de Epicuro este termo estaacute relacionado agrave philiacutea (amizade) (vide supra φιλία nesta mesma parte) e pode ser traduzido em determinadas passagens por ldquoconveniecircncia muacutetuardquo Por outro lado pode ser traduzido por ldquoutilidaderdquo no sentido de algo que devas ser buscado ou praticado com a finalidade de viver
Referecircncias Bibliograacuteficas
158 159158 159
referecircnciAS BiBliograacuteficAS
Textos de Epicuro
Arrighetti G Epicuro Opere Torino Giulio Einaude 1960
Bignone E Opere frammenti testimonianze sulla sua vita Roma LrsquoEr-ma di Bretscheider 1964
Bollack J amp Wismann H La lettre d`Eacutepicure Paris Les Editions de Minuit 1971
mdashmdashmdash amp Laks A Eacutepicure agrave Pythoclegraves Cahiers de Philologie Paris Les Editions de Minuit 1975
mdashmdashmdash La penseeacute du plaisir Eacutepicure textes moraux commentaires Paris Les Editions de Minuit 1975
Conche M Epicure lettres et maximes Paris eacuted De Megare1977
Epicuro Antologia de textos In Epicuro et al Satildeo Paulo Abril Cul-tural1980
mdashmdashmdash The works of Epicurus The extant remains of the greek text trans-lated by Cyril Bailey with an introduction by Irwin Edman Nova Iorque The Limited Edition 1947
mdashmdashmdash Obras Completas 2ordf ed Trad Joseacute Vara Madri Ediccedilotildees Caacutet-edra 1996
Laursen S The summary of Epicurus On Nature Book 25 Papyrologia Lupiensia Lecce 1 1991 142-154
Parente M I Opere di Epicuro Torino Unione Tipografico-Editrice Torinese 1974
Salem J laquo Commentaire de la lettre drsquoEpicure agrave Heacuterodote raquoCahiers de Philosophie ancienne nordm9 Bruxelles Editions Ousia 1993
Solovine M Epicure doctrine et maxims Paris 1965
Wotke K amp Usener H Epikureische Spruchsammlung Wierner Stu-dien fuumlr Klassiche philologie 10 1888 p 175-201
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Outros autores antigos
Aristoacuteteles De anima Trad Maria Ceciacutelia Gomes dos Reis Satildeo Paulo Editora 34 2006
mdashmdashmdash De la geacuteneacuteration des animauxTrad P Louis Paris Les Belles Lesttres 1901
mdashmdashmdash Eacutethique agrave Nicomaque Trad J Voilquin Paris Garnier 1961
mdashmdashmdash Nicomachean Ethics Londres Ed Willian Meinemann Har-vard University Press 1939
mdashmdashmdash Histoire des Animaux Trad P Louis Paris Les Belles Lettres 1964
mdashmdashmdash Petits traiteacutes drsquohistoire naturelle Trad R Mugnier Paris Les Belles Lettres 1953
Lucreacutecio Da Natureza In Epicuro et al Trad Agostinho da Silva Satildeo Paulo Abril Cultural1980
Cicero De finibus bonorum et malorum Trad H Rackham MA Lon-dresNova Iorque William HeinemannThe Macmillan CO 1914
Ciceacuteron De La Natura des Dieux Trad Nouv notes par C Appuhn Paris Garniersd
mdashmdashmdash Lrsquoamitieacute Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 1952
mdashmdashmdash Les Devoirs Texte et trad M Testard Paris Les Belles Lettres 196570
Diocircgenes Laecircrtios Vidas e doutrinas dos filoacutesofos ilustresTrad Gama Kury Brasiacutelia UNB 1988
Diogenes Laertius Lives of eminent philosophers Vol 2 Trad R Hicks Cambridge Havard University Press1925
Filodemo Agli amici di scuola Naacutepoles Bibliopolis 1988
mdashmdashmdash Memorie Epicuree Naacutepolis Bibliopolis 1997
Referecircncias Bibliograacuteficas
160 161
Hippocrates Works (I VII) London Harvard University Press 1988
Lucreacutece De la Nature Paris Garnier 1954
Grene D amp Lattimore R The Complete Greek Tragedies of Aeschylus The University of Chicago Press 1959
Philodemus On the frank criticism Trad David Konstan et al Atlanta Society of Biblical Literature 1998
mdashmdashmdash On the methods of inference Naacutepoles Bibliopolis 1978
Platatildeo As Leis ou da legislaccedilatildeo e Epinomis Trad de Edson Bini 2ordf ediccedilatildeo Bauru SP Edipro 2010
Plutarque Du stoicisme et lrsquoepicurisme Trad Ricard Didier Apresenta-ccedilatildeo e notas Jean Salem Paris Eacuteditions Sand 1996
mdashmdashmdash Contre Colotes In Ouvres morales et ouvres diverses IV Paris Manchete 1970
Sextus Empiricus Contre les professeurs Editions du Seuil 2002
Seneca AD Lucilium Epistulae Morales Trad Richard M Gummere LondresNova Iorque William Heinemann G P Putnamrsquos sons 1925
Smith MF Fragments of Diogenes of Oenoanda Discovered and Redis-covered American Journal of Archaeology Vol 74 nordm1 (Jan 1970) p 51-72
Xenofonte Memoraacuteveis Trad Ana Ellias Pinheiro Coimbra CECH 2009
Estudos modernos
Baudry J Le problem de lrsquoorigine et de lrsquoeterniteacute du monde dans la philo-sophie grecque de Platon agrave lrsquoegravere chreacutetienne Paris Les Belle Lettres 1931
Bayley C Epicurus the extant remains Oxford 1926
mdashmdashmdash The Greek atomists and Epicurus Oxford 1928
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Bignone H LrsquoAristotele perdugraveto e la formazione filosofica di Epicuro Flo-renccedila 1936
Bergson H L Extraits de Lucreacutece avec notes et une eacutetude sur la poeacutesie la philosophie la physique le texte et la langue de Lucregravece 10 ed Paris De La Grave sd
Bnobzie S Did Epicurus discover the free will problem In Sedley D (Org) Oxford Studies in Ancient Philosophy Oxford Oxford University Press 19 287-337 2000
Boyanceacute P Lucregravece et lrsquoeacutepicurisme Collection ldquoLes grands penseursrdquo (dirigeacutee par P-M Schuhl) Paris PUF 1963
Brown E Politcs and society In WARREN J (Org) The Cambridge companion to epicureanism Cambridge Cambrigde University Press 2009
Brun J O Epicurismo Lisboa 70 1989
mdashmdashmdash Epicure et les eacutepicuriens PUF Paris 1978
Conche M La mort et la penseacutee Editons de Meacutegare 1973
Dewitt N St Paul and Epicurus Mineaacutepolis University of Minnesota Press 1954
mdashmdashmdash Epicurus and his philosophy Mineaacutepolis University of Minne-sota Press 1954
Diogini I Lucrezio le parole e le cose Bolonha Ed Paacutetron 1988
Duvernoy J-F O Epicurismo e sua tradiccedilatildeo antiga Satildeo Paulo Zahar 1990
Etienne A Dominic O La philosophie eacutepicurienne sur Pierre Fribur-goParisEacutedition Universitaires Fribourg Suisse Eacutedition du Cerf Paris 1996
Farrington B A doutrina de Epicuro Trad de Edmond JorgeRio de Janeiro Zahar Editores 1967
mdashmdashmdash The faith of Epicurus Londres Weidenfeld and Nicholson 1967
Referecircncias Bibliograacuteficas
162 163
Festugieacutere A-J Eacutepicure et ses dieux Paris Presses Universitaires de France 1946
Finley M I Os Gregos antigos Trad Artur Mouratildeo Lisboa Ediccedilotildees 70 2002
Furley D J Two studies in greek atomists Princeton University Press 1967
Gigandet A Morel P-M (Orgs) Ler Epicuro e os epicuristas Satildeo Paulo Loyola 2011
Gigante M Studisull`epicureismo greco-romano Naacutepoles 1983
mdashmdashmdash La bibliothegraveque de Philodegraveme et lrsquoepicurisme romain Paris Soci-eacuteteacute DrsquoEacutedition Les Belle Lettres 1987
Goldschmidt V La Doctrine drsquoEpicure et le droit Paris Vrin 1977
Gual C G Epicuro Madrid Alianza Editorial 1981
Guyau J -M La morale drsquoEacutepicure et ses rapports avec les doctrines con-temporaines Paris Librairie Feacutelix Alcan 1927
Jaeger W Paideacuteia a Formaccedilatildeo do Homem Grego Trad Artur M Par-reira Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
Long A A Sedley D N The Hellenistic philosophers v1 Cambridge Cambridge University Press 1987
Konstan D Some aspects of Epicurean psychology Leiden Brill 1973
Laks A Edition critique et commenteacutee de la ldquoVierdquo drsquoEpicure das Diogegravene Laerce Cahiers de Philologie 1 Eacutetudes sur lrsquoepicurisme AntiquePublications de lrsquoUniversiteacute de Lille III 1976
Marx K Diferenccedila entre as filosofias da Natureza em Demoacutecrito e Epicuro Satildeo Paulo Globalsd
Masi F G Epicuro e la filosofia della mente il XXV libro dellrsquoopera Sulla Natura Sankt Augustin Academia Verlag 2006
Mewaldt J O Pensamento de Epicuro Satildeo Paulo Iacuteris 1960
Mondolfo R O homem na cultura antiga a compreensatildeo do sujeito humano na cultura antiga Trad Luiz Caruso Satildeo Paulo Edi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
tora Mestre Jou 1968
mdashmdashmdash O infinito no pensamento da antiguidade claacutessica Trad Luiz Da-roacutes Satildeo Paulo Editora Mestre Jou 1968
Morel P-M Deacutemocrite et la recherche des causes Langres Klincksieck 1996
mdashmdashmdash Eacutepicure Paris Librarie philosophique J Vrin 2013
mdashmdashmdash Atome et neacutecessiteacute Deacutemocrite Eacutepicure Lucregravece Paris Presses Universitaires de France 2000
Nizan P Les Mateacuterialistes de lrsquoAntiquiteacute Deacutemocriteacute Eacutepicure Lucregravece Paris Eacuted Sociales Internationales 1938
Nussbaum M The therapy of desire theory and practice in hellenistic ethics Princeton Princeton University Press 1994
Orsquokeefe T Epicurus on Freedom Nova Iorque Cambridge University Press 2005
mdashmdashmdash Epicurianism Durham Acumen 2010
Paratore E Lrsquoepicureismo e la sua diffusione nel mondo latino Roma Ed dellrsquoAteneo 1960
Pessanha J A M As deliacutecias do jardim In Eacutetica Satildeo Paulo Cia Le-tras 1992 pag 57-85
Pesce D Introduzione a Epicuro Bari Editori Laterza 1981
mdashmdashmdash Saggio su Epicuro Bari Editori Laterza 1974
Pigeuad J La Maladie de Lrsquoame Paris Les Belles Lettres 1989
Quevedo F Defesa de Epicuro contra la comuacuten opinioacuten Madrid Tec-nos1986
Ridder A Lrsquoideacutee de la mort en Gregravece a lrsquoepoque classique Paris Librarie Thorin et Fils 1897
Risst John Epicurus an introduction Cambridge University Press 1972
Robin Leon La penseacutee grecque Paris Eacuteditions Albin Michel 1948
Referecircncias Bibliograacuteficas
164 165
(Livre IV chapitre II Lrsquoeacutepicurism p 387-408)
Romilly J La Gregravece antique a La deacutecouverte de la liberteacute Paris LGF Livre de Poche 1989
Salem J Lucregravece et lrsquoeacutethique la mort nrsquoest rien pour nous Paris J Vrin 1997
mdashmdashmdash Deacutemocrite EacutepicureLucreacutece la veacuteriteacute du minuscule Paris Encre Marine 1998
mdashmdashmdash Tel un dieu parmi les hommes Lrsquoethique drsquoEacutepicure Paris Librai-rie Philosophique J Vrin 1994
Santayana G Three philosophical poets Cambridge Harvard University Press 1947
Silva M F Epicuro Sabedoria e Jardim Rio de Janeiro Relume Du-maraacute 1998
mdashmdashmdash Pensamento e imagem na Carta a Heroacutedoto de Epicuro In Pimenta MTeorias da Imagem na Antiguidade Satildeo Paulo Paulus 2012
mdashmdashmdash Prazer e vida feliz em Epicuro In Costa A A Hadad A B Azar Filho C M (Org) Filosofia e Prazer diaacutelogos com a tradiccedilatildeo hedonista 1ed Seropedica Edur 2012 v 01 p 87-92
mdashmdashmdash Sensaccedilotildees impressotildees projeccedilotildees as afecccedilotildees do pensamento In Conte J Bauchwitz O F (Org) O que eacute Metafiacutesica atas do III Coloacutequio internacional de metafiacutesica 1ordf ed Natal Edufrn 2011 v 01 p 261-266
mdashmdashmdash Lathe Biacuteosas autaacutekeia libertagrave e amicizia in Epicuro In Cor-nelli G Casertano G (Org) Pensare la cittagrave antica categorie e representazioni 1ordf ed Naacutepoles Loffredo Editore 2010 v 1 p 163-174
mdashmdashmdash O atomismo antigo e o legado de Parmecircnides In Santoro F Cairus H F Ribeiro T O (Org) Parmecircnides 1 acerca do poema de Parmecircnides 1edRio de Janeiro Azougue 2009 v
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
1 p 165-174
mdashmdashmdash Sabedoria e sauacutede do corpo em Epicuro In Peixoto M C D (Org) A sauacutede dos antigos reflexotildees gregas e romanas 1ordf ed Satildeo Paulo Loyola 2009 v 1 p 153-162
mdashmdashmdash Do equiliacutebrio do corpo ou de como o corpo eacute pensado enquanto questatildeo filosoacutefica In Peixoto M C D (Org) Sauacutede do ho-mem e da cidade na antiguidade grecoromana 1ordf ed Belo Ho-rizonte UFMG 2007 v 01 p 189-198
mdashmdashmdash Demoacutecrito Esquecido In Bezerra C C (Org) Anais do I En-contro Nacional de Estudos Neoplatocircnicos- Ontologia e Liber-dade 1ordf ed Aracaju UFS 2006 v 1 p 74-80
mdashmdashmdash Epicuro e a physiologiacutea In Bonaccini J A Medeiros M P N Silva M F Bauchwits O F (Org) Metafisica Histoacuteria e Problemas 1ordf ed Natal EDUFRN 2006 v 01 p 219-230
mdashmdashmdash Acerca de uma Eacutetica do Agradaacutevel In Silva MF(Org) Cafeacute Filosoacutefico 1ordf ed Natal EDUFRN 2005 v 3 p 47-64
mdashmdashmdash Amizade Prazer e Filosofia In Bauchwitz O F (Org) Cafeacute Filosoacutefico Natal Argos 2001 v 1 p 131-136
Silvestre M L Democrito e Epicuro il senso di una polemica Napoli Lofredo Editore 1985
Stirner Max LrsquoUnique et sa proprieteacute Paris 1900
Strozier RM Epicurus and Hellenistic philosophy Lanham Md Ed University Press of America 1985
Ullmann R Epicuro O filoacutesofo da alegria Porto Alegre Epipucrs 1966
Usener H Glossarium Epicureum Cura de M Gigante e W Schmid Roma Edizioni DellrsquoAteneo e Bizarr 1977
Voelke A-J La Philosophie comme theacuterapie de lrsquoame FriburgoEditions Universitaires de Fribourg 1993
Warren J (Org) The Cambridge Companion to Epicureanism Nova Iorque Cambridge University Press 2009
Referecircncias Bibliograacuteficas
166 167
Usener H Epicurea Estugarda E G Teubner 1966
Teses e dissertaccedilotildees
Barbosa RS A relaccedilatildeo entre as noccedilotildees de eleutheriacutea e autaacuterkeia na filosofia de Epicuro 2014 117 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2014
Braatz J O pensamento eacutetico em Epicuro 2007 113 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em filosofia) Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Paranaacute Curitiba 2007
Freire A J G A natureza da alma e o clinamen accedilatildeo e liberdade em Lucreacutecio 2014 191 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal-RN 2014
Nascimento R V O corpo no pensamento de Epicuro limites e possi-bilidades 2011 154f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rocha E S A morte pode ser conhecida percurso em torno da compre-ensatildeo da mortalidade na filosofia de Epicuro 2011 162 f Tese (Doutorado em Filosofia) UFRN CCHLA PPGFIL Natal 2011
Rovaris T R O projeto epicurista antiaristoteacutelico de Pierre Gassendi Sal-vador Universidade Federal da Bahia 2007
Artigos
Arrighetti Graziano - Filodemo Περὶ θεῶν III fr 74-82 Pap Herc 157 Sul problema dei tipi divini nellrsquoepicureismo La Parola del Passato 10 (1955) p 322-356 et 404-415
Bastide G Lrsquoestheacutetisme de Lucregravece Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 143-161
Bulhotildees I C Tograve Dikaioacuten Epicuro acerca do justo Hypnos Satildeo Paulo nuacutemero 22 1ordm semestre 2009 p 98-119
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
Breacutescia C Contributo allo studio linguistico dei testi epicurei Athenaeum NS 27 (1949) 281-298
Caujolle-Zaslawsky F Le temps eacutepicurien est-il atomiqueLes Eacutetudes Phi-losophiques 3 julho-setembro de 1980 pag 285-306
Clay D A lost Epicurean Community Greek Roman and Byzantine Studies volume 30 nordm 2 1989 313-335
Diano C Epicuri Ethica Aedibius Sansionanis Florenccedila 1966
mdashmdashmdash Epiacutecure la philosophie du plaisir et la socieacuteteacute des amis Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril-junho de 1967 pag173-186
DI Vona P Per una storia dellrsquo epicureismo La parola del passato 34 (1979) 313-320
Escoubas E Asceacutetisme eacutepicurien Les Eacutetudes Philosophiques 2 abril--junho de 1967 pag 163-172
Fernaacutendez E M Acerca de una eacutetica epicuacutereo-sartriana Pensamiento 169 vol 43 1987 37-51
Flaceliegravere R Les Eacutepicuriens et lrsquoamour Revue des Eacutetudes Grecques tome 67 fascicule 314-315 Janvier-juin 1954 pp 69-81
Gabaude J-M Sur Epicure et lrsquoepicurisme (l) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 4 abril-maio de 1975 pag 11-17
mdashmdashmdash Le jeune Karl Marx lecteur drsquoEpicure (ll) Revue de lrsquoEnseignement de Philosophique 5 junho-julho de 1975 pag 01-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 6 agosto-setembro de 1975 pag 23-29
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (lV) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 1 outubro-novembro de 1975 pag 10-20
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (V) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 2 dezembro de 1975 - janeiro de 1976 pag 03-11
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vl) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-losophique 3 fevereiro-marccedilo de 1976 pag 03-10
mdashmdashmdash Sur Epicure et lrsquoepicurisme (Vll) Revue de lrsquoEnseignement de Phi-
Referecircncias Bibliograacuteficas
168 169
losophique 4 abril-maio de 1976 pag 19-37
Giesecke A L Beyond the garden of Epicurus the utopics of the ideal roman village Utopian Studies Vol 12 (2) 2001 pag 13-32
Gobry I La sagesse drsquoEpicure Les Eacutetudes Philosophiques 1 janeiro-mar-ccedilo de 1976 pag 79-90
Kleve K The Epicurean Isonomia and its Sceptical Refutation Symbolae Osloenses Vol LIV 1979 pp 27-35
mdashmdashmdash Empiricism and Theology in Epicureanism Symbolae Osloenses 52 no 1 (1977) 39-51
Maurice P Epicureanism and the atomic swerve Symbolae Osloenses 50 LXI 1986 77-98
Mazzeo J A Dante e Epicuro Comparative Literature vol 10 2 pri-mavera de 1958 pag 106-120
Moreau J Le meacutecanisme eacutepicurien et lrsquoordre de la nature Les Eacutetudes Phi-losophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 467-486
Renault A Eacutepicure et le probleacuteme de lrsquoecirctre Les Eacutetudes Philosophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 435-465
Rodis-Lewis G Nature et civilization das lrsquoepicurisme Les Eacutetudes Philo-sophiques 4 octobre-deacutecembre de 1975 pag 415-433
Rosenbaun S Epicurus and anihilation The philosophical Quartely vol39 154 janeiro de 1989pag 81-90
Salem J Commentaire de la lettre drsquoEpicure a Meacuteneacuteceacutee Revue philosophi-que 3 julho-setembro 1993 pag 513-549
Sedley D Epicurus refutation of determinism SydzetesisStudi sullrsquo epicu-reiacutesmo greco e romano offerti a Marcello Gigante Naacutepoles 1983 11-51
mdashmdashmdash Lrsquoanti-reacuteductionnisme eacutepicurien Trad Dao A amp Morant CLes Cahiers Philosophiques de Strasbourg Paris Librarie J Vrin phi-losophique 2003 321-359
Silva M F A morte como perda da subjetividade Revista Princiacutepios
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
UFRN 3 julho-dezembro de 1995 140-146
mdashmdashmdash Um Banquete Frugal a Influecircncia Socraacutetico-Platocircnica em Epi-curo Revista ARCHAI As origens do pensamento ocidental v 9 p 117-122 2012
mdashmdashmdash Alma e movimento ou sobre a physiologia da alma Perspectiva Filosoacutefica (UFPE) v II p 167-176 2010
mdashmdashmdash Seduccedilatildeo e persuasatildeo os ldquodeliciososrdquo perigos da sofiacutestica Ca-dernos do CEDES (UNICAMP) Campinas v 64 2004
mdashmdashmdashLoacutegos peri hedoneacute Hodos Estudos de Cultura Claacutessica v 1 n 1 p 9-25 2000
mdashmdashmdash A noccedilatildeo Epicuacuterea de Eustatheacuteia e a tegravechne heacute ietrikeacute Revista Princiacutepios UFRN v 5 n 6 p 14-154 1998
mdashmdashmdash A Compreensatildeo de Physis no Pensamento de Epicuro Iacutetaca Cadernos de Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
mdashmdashmdash Epicuro e a morte como perda da subjetividade Revista Prin-ciacutepios UFRN v 2 n 3 p 140-146 1995 116
mdashmdashmdash O eacutethos do equiliacutebrio ou do exerciacutecio da sabedoria Kleos-Re-vista de Filosofia Antiga 1ordf ed Rio de Janeiro 2000 v 4 p 183-188
Silveira P F A medicina da alma de Epicuro a medicina como forma de terapia Psykhecirc Satildeo Paulo 10 200521-27 Poacutes Graduaccedilatildeo v 1 n1 p 109-116 1995
Spinelli M De Narciso a Epicuro do emergir ao resgate da individua-lidade Hypnos nordm 25 Satildeo Paulo 2010 p 194-210
Surtz E L Epicurus in utopia ELH vol 16 2 junho de 1949 pag 89-103
Ullmann R A teologia de Epicuro Textos de cultura claacutessica 2 1987
Vander Waerdt P The Justice of the Epicurean Wise Man Classical Quar-terly ns 1987 37 40222
Vianna S Sobre o epicurismo e suas origens Kriterion 65 janeiro-
Referecircncias Bibliograacuteficas
170 171
-dezembro 1965 pag 47-64
Waggle L J Epicurus phisichological or ethical hedonistRevista de Filo-sofiacutea vol 25 57 dezembro de 2007
Dicionaacuterios e Manuais
Balaudeacute J-F Le vocabulaire des Preacutesocratiques Paris Ellipses 2011
mdashmdashmdash Le vocabulaire drsquoEacutepicure Paris Ellipses 2012
Benveniste Le vocabulaire des instituitions indo-europeacuteenes I Economie parenteacute socieacuteteacute II pouvoir droit religion Paris Les Eacuteditions de Minuit 1969
Chantraine P Dictionnaire Eacutetymologique de la langue grecque Paris Klincksieck 1999
Gobry I Vocabulaacuterio grego da filosofia Trad Ivone C Benedetti Satildeo Paulo WMFMartins Fontes 2007
Isidro Pereira SJ Dicionaacuterio grego-portuguecircs e portuguecircs-grego Bra-ga Livraria AI 1998
Lidell HG amp Scott R Greek-english lexicon with a revised supplement Oxford Clarendon Express 1996
Murachco H Liacutengua grega visatildeo semacircntica loacutegica orgacircnica e funcional 3ordf ediccedilatildeo Satildeo PauloPetroacutepolis Discurso EditorialEditora Vo-zes 2007
(Paacutegina deixada propositadamente em branco)
172 173172 173
coleccedilatildeo autores gregos e latinos ndash seacuterie ensaios
1 Carmen Soares Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Eacutetica e Paideia em Plutarco (Coimbra CECH 2008)
2 Joaquim Pinheiro Joseacute Ribeiro Ferreira e Rita Marnoto Caminhos de Plutarco na Europa (Coimbra CECH 2008)
3 Claacuteudia Teixeira Delfim F Leatildeo and Paulo Seacutergio Ferreira The Satyricon of Petronius Genre Wandering and Style (Coimbra CECH 2008)
4 Teresa Carvalho Carlos A Martins de Jesus Fragmentos de um Fasciacutenio Sete ensaios sobre a poesia de Joseacute Jorge Letria (Coimbra CECH 2009)
5 Delfim Ferreira Leatildeo Joseacute Ribeiro Ferreira e Maria do Ceacuteu Fialho Cidadania e Paideia na Greacutecia Antiga (Coimbra CECH 2010)
6 Maria de Faacutetima Silva and Susana Hora Marques Tragic Heroines on Ancient and Modern Stage (Coimbra CECH 2010)
7 Aacutelia Rosa Rodrigues Carlos A Martins de Jesus Rodolfo Lopes Intervenientes Discussatildeo e Entretenimento No Banquete de Plutarco (Coimbra CECH 2010)
8 Luiacutesa de Nazareacute Ferreira Paulo Simotildees Rodrigues e Nuno Simotildees Rodrigues Plutarco e as Artes Pintura Cinema e Artes Decorativas (Coimbra CECH 2010)
9 Nair Castro Soares Margarida Miranda Carlota Miranda Urbano (Coord) Homo eloquens homo politicus A retoacuterica e a construccedilatildeo da cidade na Idade Meacutedia e no Renascimento (Coimbra CECH 2011)
10 Claacuteudia Teixeira Estrutura personagens e enganos introduccedilatildeo agrave leitura de As Baacutequides de Plauto (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2016)
11 Gregory Nagy O Heroacutei Eacutepico (Coimbra e Satildeo Paulo Imprensa da Universidade de Coimbra e Annablume 2017)
174 PB
12 Markus Figueira da Silva Termos Filosoacuteficos de Epicuro (Coimbra Imprensa da Universidade de Coimbra 2018)
O livro ldquoTermos Filosoacuteficos de Epicurordquo eacute um conjunto dos conceitos mais importantes recolhidos na obra deste pensador grego do final do seacutec IV e iniacutecio do seacutec III aC Dividimos os termos em trecircs partes de acordo com os textos remanescentes da obra de Epicuro a saber physiologiacutea gnoseologiacutea e physiologiacutea e eacutethica Este vocabulaacuterio visa contribuir para a instrumentalizaccedilatildeo da pesquisa acerca dos textos remanescentes da obra de Epicuro filoacutesofo heleniacutestico ainda pouco estudado nos paiacuteses de liacutengua portuguesa mas que desempenha um papel fundamental na Histoacuteria da Filosofia Antiga
OBRA PUBLICADA COM A COORDENACcedilAtildeO CIENTIacuteFICA
bull
- Termos Filosoacuteficos de Epicuro
-
- Sumaacuterio
- Prefaacutecio
- Apresentaccedilatildeo
- Introduccedilatildeo
- Auxiacutelio ao leitor
- Primeira parte - Physiologiacutea
- Segunda parte - Physiologiacutea
- Terceira parte - Ethicaacute
- Referecircncias bibliograacuteficas
-