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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E ZOOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA VEGETAL Leonardo Kleba Lisboa Dinâmica da vegetação ripária em riachos de Mata Atlântica subtropical: composição da matéria orgânica alóctone e interação com invertebrados aquáticos Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal da Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Biologia Vegetal Orientador: Mauricio Mello Petrucio Florianópolis 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E ZOOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA VEGETAL

Leonardo Kleba Lisboa

Dinâmica da vegetação ripária em riachos de Mata Atlântica

subtropical: composição da matéria orgânica alóctone e

interação com invertebrados aquáticos

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Biologia Vegetal da

Universidade Federal de Santa Catarina

como parte dos requisitos para obtenção do

título de Mestre em Biologia Vegetal

Orientador: Mauricio Mello Petrucio

Florianópolis

2012

À VIDA

"Toda interpretação feita por um cientista é

uma hipótese, e todas as hipóteses são

tentativas. Elas devem sempre ser testadas e

sempre revisadas quando insatisfatórias.

Portanto, uma mudança na mente de um

cientista, particularmente na mente de um

grande cientista, não é um sinal de fraqueza,

mas sim uma evidência da atenção contínua

para o respectivo problema e da habilidade

de testar a hipótese de novo, e de novo..."

Ernst Mayr

“O que me preocupa não é o grito dos

maus, mas sim o silêncio dos bons.”

Martin Luther King

Agradecimentos

Primeiramente gostaria de agradecer aos meus pais, Armando Lisboa e Teresa

Kleba, pelo incondicional apoio aos estudos, por acreditarem em mim e apoiarem

minhas decisões sempre e por incentivarem a busca pela qualidade do trabalho

acadêmico como professores universitários. Dedico este trabalho a eles!

Agradeço também aos meus irmãos, João e Cristiane, exemplos de caráter e

atitudes no trabalho e na vida, a quem sempre segui e busquei me espelhar como irmão

mais novo. Também aos tios, primos, vós e toda família pelo suporte conferido e

confiança gerada.

Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal (PPGBVE) da

Universidade Federal de Santa Catarina, e à Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de estudos concedida.

Agradeço ao professor Mauricio Mello Petrucio, por ter me aceitado como aluno

de mestrado e acreditado no meu potencial, pelas orientações, suporte fornecido e

trabalho agradável. Também ao professor José Francisco Gonçalves Júnior, da UNB,

pelo apoio, correções pertinentes, agradável recepção em Brasília e ideias para

metodologias experimentais, análises e referências da presente dissertação.

Agradeço à pós-doc Ana Emília e à doutoranda Áurea Lemes pelo

imprescindível apoio nas coletas, nas análises estatísticas, identificação dos

macroinvertebrados e companheirismo. A todos os companheiros do Laboratório de

Ecologia de Águas Continentais que ajudaram nas coletas direta ou indiretamente,

análises de água, e foram essenciais para descontração do ambiente de trabalho: Jéssica,

Denise, Natália, Mônica, Rafael, Guto, Eduardo... Agradeço ao Cássio do PPGBVE

pela identificação das espécies vegetais, auxílio em campo e ensinamentos botânicos.

Agradeço ao LAPAD (UFSC) pelo suporte fornecido essencial para realização

das coletas, através de equipamentos e pessoal de campo, principalmente ao Pedrão,

Mauricio, Ronaldo, Cézinha e Davi. Também ao Parque Municipal da Lagoa do Peri

por aceitar a pesquisa e disponibilizar equipamento e pessoal para realização das

coletas, em nome de Danilo, Mauro, Rafael, Vado, entre outros.

Ao Departamento de Ecologia e Zoologia (ECZ) da UFSC, pelo apoio fornecido

pelos funcionários Carla, Walter, Félix, Rogério entre outros. Também ao pessoal do

DMSG da UFSC pela disponibilização do transporte.

Aos colegas dos programas de Pós-Graduação em Biologia Vegetal e em

Ecologia pelo companheirismo, trocas de ideias e festas frequentadas. À secretária

Verinha pela agilidade e momentos de conversa sobre a família, e ao secretário Roberto.

Agradeço aos amigos de sempre pelos momentos de abstração à vida acadêmica,

das rodas de samba às empurradas de Kombi: Henrique, Pietro, Lucas, Muraro, Vitor,

Mateus, Bernardo, Aita, entre tantos outros...

5

Sumário

Resumo ......................................................................................................................... 6

Abstract ........................................................................................................................ 7

Lista de Tabelas ............................................................................................................ 8

Lista de Figuras............................................................................................................. 9

Introdução Geral ......................................................................................................... 11

Material e Métodos ..................................................................................................... 17

Área de estudo ......................................................................................................... 17

Mata Atlântica ..................................................................................................... 17

Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri .................................................................... 18

Delineamento amostral ............................................................................................ 20

Experimento de dinâmica da vegetação ripária ..................................................... 20

Interação entre a vegetação ripária e invertebrados aquáticos ............................... 22

Análise estatística dos dados .................................................................................... 23

Capítulo 1 ................................................................................................................... 26

Dinâmica e composição da matéria orgânica alóctone em um riacho de Mata

Atlântica subtropical

Capítulo 2 ................................................................................................................... 54

Relação entre a estrutura da comunidade de invertebrados aquáticos com a

composição e biomassa de detritos foliares em riachos preservado e impactado

Considerações Finais................................................................................................... 84

Referências Gerais ...................................................................................................... 86

6

Resumo

O aporte de detritos vegetais alóctones é de suma importância para a dinâmica

energética de riachos florestados de cabeceira, influenciando na estruturação das

comunidades aquáticas. Padrões de aporte e composição desse material estão

diretamente relacionados com o tipo e a integridade da vegetação ripária, e são

influenciados pelo clima e geomorfologia local. Poucos estudos sobre o tema têm sido

feitos em riachos de Mata Atlântica, e são ainda mais raros em ambiente subtropical. O

objetivo da presente dissertação foi avaliar padrões temporais de aporte e composição

da matéria orgânica (MO) vegetal alóctone em um riacho de Floresta Ombrófila Densa

preservada (capítulo 1), e determinar a influência da composição e biomassa dos

detritos foliares do estoque bêntico na estruturação espaço-temporal das comunidades

de invertebrados aquáticos associados em riachos com diferentes graus de integridade

da vegetação ripária (capítulo 2). Foram realizados experimentos entre agosto de 2010 a

agosto de 2011 no riacho Cachoeira Grande (preservado), e até junho de 2011 no riacho

Ribeirão Grande (impactado), ambos localizados na mesma bacia, coberta por Floresta

Ombrófila Densa subtropical. O experimento de dinâmica da vegetação ripária

evidenciou uma participação muito maior do aporte lateral, em detrimento ao vertical,

na incorporação direta de MO ao riacho, superando também os valores do aporte

terrestre e estoque bêntico. Houve grande variação temporal na quantidade e na

composição do detrito vegetal ao longo do ano, influenciada principalmente pela

precipitação e padrões fenológicos. As principais espécies na dinâmica da MO do riacho

foram Schizolobium parahyba, Ficus eximia, Virola bicuhyba, Ficus adhatodifolia,

Cupania vernalis e Tetrorchidium rubrivenium. Para comunidade de invertebrados

aquáticos, a riqueza de espécies do detrito, assim como temperatura da água , biomassa

de galhos e condutividade foram responsáveis pela variação espacial entre os riachos. A

variação temporal na distribuição da comunidade em ambos ocorreu em função da

temperatura da água e precipitação, mas apenas para o preservado a quantidade de

folhas foi importante. A variação no riacho impactado foi mais pronunciada. Os

resultados descrevem um padrão de aporte diferente dos encontrados na literatura, e

demonstram a importância da integridade da vegetação ripária no fornecimento de

subsídios e estabilidade da comunidade de invertebrados aquáticos em riachos de

cabeceira. Assim, se evidencia a importância da integridade das zonas ripárias para os

sistemas aquáticos, enfatizando a necessidade de conservação e recuperação dessas

áreas.

Palavras chave: serapilheira, composição do detrito foliar, mata ciliar

7

Abstract

Input of allochthonous leaf litter is extremely important for energetic dynamics

of forested headwater streams, influencing the aquatic communities’ structures. Patterns

of input and composition of this material are directly related to riparian vegetation type

and integrity, and respond to local climate and geomorphology. Little attention to this

issue has been paid for Atlantic Forest streams, and studies are even rarer in subtropical

environments. The objectives of the present dissertation were to evaluate temporal

patterns of input and composition of vegetable allochthonous organic matter (OM) in a

preserved Atlantic Rain Forest stream (chapter 1), and determine the influence of

benthic leaf litter biomass and composition on aquatic invertebrate communities’

temporal-space structure in streams with different riparian vegetation integrity states

(chapter 2). Experiments were undertaken between August/2010 and August/2011 for

Cachoeira Grande (preserved) stream, and until June/2011 in Ribeirão Grande

(impacted) stream, both situated in the same watershed covered by subtropical Atlantic

Rain Forest vegetation. Riparian vegetation dynamics experiment showed a higher

contribution of lateral input, when compared with vertical input, in direct OM entry into

the stream, exceeding values of terrestrial input and benthic stocks. There was a

temporal variation in quantity and composition of vegetable litter during the year,

controlled mainly by precipitation and phenological factors. The main species of OM

dynamics were Schizolobium parahyba, Ficus eximia, Virola bicuhyba, Ficus

adhatodifolia, Cupania vernalis e Tetrorchidium rubrivenium. For aquatic invertebrate

community, leaf litter species richness, as well as water temperature, branch biomass

and conductivity were responsible for spatial variations between the streams. Temporal

variation in the distributions of communities of both streams occurred in function of

water temperature and precipitation, but just for the preserved one leaf biomass was

important. Variation in the impacted stream was more pronounced. The results describe

an input pattern distinct from those found in literature, and demonstrate the importance

of riparian vegetation integrity on providing subsidies and stability of aquatic

invertebrate community in headwater streams. Thus, the importance of riparian zone

integrity is shown for aquatic systems, which highlights the necessity for conservation

and restoration of these areas.

Key-words: litterfall, leaf litter composition, allochthonous input

8

Lista de Tabelas

Capítulo 1

Tabela 1. Valores de correlação de Pearson entre a biomassa vegetal incorporada das

categorias de aporte e principais espécies com as variáveis ambientais mensuradas no

rio Cachoeira Grande entre ago/10 e ago/11. Valores em vermelho significativos ( p <

0,01) ............................................................................................................................... 35

Tabela 2. Resumo de dados do aporte médio de MO (g.m-2

.mês-1

) vegetal em riachos e

rios de ambientes tropicais e temperados. AV = aporte vertical; AL = aporte lateral; AT

= aporte terrestre; EB = estoque bêntico; % F = porcentagem de folhas. * dados do

presente artigo. **foram feitos experimentos de 48h, o que acaba por não demonstrar a

variabilidade representativa de um mês. ........................................................................ 41

Apêndice. Médias mensais (g.m-2

.mês-1

± erro padrão) do aporte de MO vegetal por

espécie nos compartimentos vertical (n = 90), lateral (n = 10), terrestre (n = 10) assim

como do estoque bêntico (n = 15), mensurados no rio Cachoeira Grande entre agosto de

2010 e agosto de 2011. ............................................................................................. 50-53

Capítulo 2

Tabela 1. Principais famílias de invertebrados aquáticos em valores de abundância

média (Abu méd), percentual de contribuição da abundância total (Contrib %) e

contribuição acumulativa (Cum %) observados entre agosto de 2010 e junho de 2011

nos riachos preservado (Cachoeira Grande) e impactado (Ribeirão Grande). As famílias

foram escolhidas a partir da análise de SIMPER, desconsiderando-se aquelas que juntas

representaram menos de 10% da abundância da comunidade. ...................................... 64

Apêndice. Composição das folhas do estoque bêntico nos riachos preservado (CG) e

impactado (ST) mensuradas de agosto de 2010 a junho de 2011, especificando-se as

médias mensais (g.m-2

) e a porcentagem de cada táxon no total mensurado. * representa

espécies exóticas. ..................................................................................................... 81-83

9

Lista de Figuras

Introdução Geral

Figura 1. Localização geográfica da Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri na cidade de

Florianópolis, SC, Brasil, e seus principais tributários, os rios Cachoeira Grande e

Ribeirão Grande. ............................................................................................................ 20

Figura 2. Desenho esquemático do delineamento amostral realizado no capítulo 1 –

experimento de dinâmica da vegetação ripária – mostrando os coletores verticais,

laterais e terrestres nos 5 pontos amostrais em um trecho de 100 m do riacho. ............ 22

Capítulo 1

Figura 1. Média e erro-padrão da biomassa de MO vegetal dos diferentes

compartimentos para o riacho Cachoeira Grande entre ago/2010 e ago/2011. ............. 36

Figura 2. Percentual de folhas, galhos, frutos e restos vegetais na formação dos

diferentes compartimentos de aporte de detritos para o riacho Cachoeira Grande

medidos entre ago/2010 a ago/2011. ............................................................................. 36

Figura 3. Variação mensal do aporte de biomassa vegetal seca dos diferentes

compartimentos estudados no riacho Cachoeira Grande entre ago/2010 e ago/2011.

Barras representam o erro padrão. ................................................................................. 37

Figura 4. Porcentagem das cinco principais famílias botânicas no aporte de MO vegetal

ao riacho Cachoeira Grande no período de ago/2010 a ago/2011. ................................ 38

Figura 5. Contribuição média e erro padrão da biomassa foliar das 6 principais espécies

vegetais nos 4 compartimentos do riacho Cachoeira Grande entre ago/2010 e ago/2011.

........................................................................................................................................ 38

Figura 6. Médias e erros-padrão das principais espécies do aporte vertical (a), aporte

lateral (b), aporte terrestre (c) e estoque bêntico (d) mensurados entre agosto de 2010 e

agosto de 2011 no riacho Cachoeira Grande. ................................................................ 40

Capítulo 2

Figura 1. Valores médios de precipitação acumulada (PA), pH, oxigênio dissolvido

(OD), condutividade elétrica (CE) e temperaturas (Temp) da água e do ar medidos entre

agosto de 2010 e junho de 2011 nos riachos preservado (CG) e impactado (ST) ......... 63

10

Figura 2. Curva de acumulação de espécies baseada no índice de “MaoTau” utilizando

o número de famílias de invertebrados aquáticos encontradas por amostragens, nos

ambientes preservado (círculos) e impactado (triângulos), amostrados entre agosto de

2010 a junho de 2011 na Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri, SC. Pontilhados

representam intervalo de confiança de 95%. ................................................................. 65

Figura 3. Ordenação de escalonamento multidimensional (MDS) obtida pela

similaridade de Bray Curtis dos dados de abundância da comunidade de invertebrados

aquáticos transformada por log(x+1) dos riachos preservado (CG) e impactado (ST),

coletados entre agosto de 2010 e junho de 2011 na Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri,

SC. ................................................................................................................................. 66

Figura 4. Ordenação de escalonamento multidimensional (MDS) dos dados de

composição específica dos detritos foliares feita através da similaridade de distância

Euclidiana da matriz de presença/ausência de espécies vegetais dos riachos preservado

(CG) e impactado (ST) coletados entre agosto de 2010 e junho de 2011 na Bacia

Hidrográfica da Lagoa do Peri, SC. ............................................................................... 66

Figura 5. Quantidade de detritos vegetais do estoque bêntico representados em

biomassa total de recursos (MO, matéria orgânica), e riqueza de espécies vegetais do

folhiço coletado, observadas entre agosto de 2010 e junho de 2011 nos riachos

preservado (CG) e impactado (ST). Barras quadriculadas representam a quantidade de

biomassa de folhas referentes a espécies exóticas – encontradas apenas no rio ST. ..... 67

Figura 6. Análise de Correspondência Canônica (CCA) entre as matrizes de abundância

da comunidade de invertebrados aquáticos (transformada em log(x)) e das variáveis

ambientais mensuradas entre agosto de 2010 e junho de 2011 nos rios Cachoeira Grande

(CG, preservado, círculos cinzas) e Ribeirão Grande (ST, impactado, círculos brancos).

Triângulos representam a ordenação das famílias de invertebrados. Consideraram-se só

as variáveis ambientais significativas (Monte Carlo, p < 0,05); Condut = condutividade

da água, Temp = temperatura da água (°C), Riqueza = número de espécies vegetais do

detrito, Galhos = biomassa de galhos. O eixo 1 representou 25,7% da variação da

comunidade, e o eixo 2 representou 9,2% dessa variação. Correspondências entre as

variáveis bióticas e abióticas foram significativas (Monte Carlo, p < 0,05) ................. 68

Figura 7. Abundância média mensal das principais famílias de invertebrados aquáticos

nos riachos preservado (CG) e impactado (ST) medidas entre agosto de 2010 e junho de

2011. Para o gráfico foram utilizadas apenas famílias que em algum mês apresentaram

abundância maior que 10 % da comunidade. ................................................................ 69

11

Introdução Geral

Zonas ripárias podem ser entendidas como um mosaico surpreendentemente

diverso de acidentes geográficos, comunidades e ambientes compreendidos dentro de

uma paisagem maior, e funcionam como estrutura básica conceitual a fim de se

compreender a organização, diversidade e dinâmica das comunidades associadas aos

sistemas fluviais (Naiman & Décamps, 1997). Estendendo esse conceito no tempo e

espaço, essas zonas podem ser vistas em termos de padrões espaço-temporais levando

em consideração a relação entre processos hidrológicos e geomorfológicos, sucessão de

plantas terrestres e processos ecossistêmicos aquáticos (Gregory et al., 1991).

Especificamente, essas áreas estão localizadas ao longo de rios e no entrono de

nascentes, lagos e reservatórios (Rodrigues & Nave, 2000). O delineamento preciso de

uma zona ripária se mostra muitas vezes difícil de ser determinado. Segundo Naiman &

Décamps (1997), sua área abrange o canal do riacho entre o nível mais alto e o mais

baixo de água, e aquela porção da paisagem terrestre que vai desde a marca de água

mais alta até onde a vegetação é influenciada por cheias e o solo tem alta capacidade de

reter água. Já segundo Gregory et al. (1991), a zona ripária se estende horizontalmente

além dos limites das cheias, e verticalmente compreendendo o dossel da vegetação

adjacente.

As formações florestais localizadas nestas áreas recebem diversas

denominações: vegetação ripária, mata ciliar, mata de galeria, florestas ribeirinhas, entre

muitas outras como bem discutido por Rodrigues (2009). A despeito de denominações

generalistas, fica claro que essas formações não se constituem como um tipo

vegetacional único, pois mesmo possuindo estrutura e função ecossistêmicas similares,

elas diferem fundamentalmente em composição taxonômica conforme o domínio

morfoclimático e fitogeográfico do País (Ab’Sáber, 2009). A vegetação ripária ocupa

uma das áreas mais dinâmicas de uma paisagem, sendo que a distribuição e composição

dessa comunidade refletem tanto influências do ambiente fluvial na forma de cheias e

vazantes, quanto influências das áreas terrestres adjacentes como fogo, vento, doenças e

herbivoria (Gregory et al., 1991). Além disso, essas formações vegetais apresentam um

elevado grau de complexidade estrutural e heterogeneidade ambiental devido

principalmente às variações edáficas, topográficas e às características hidrológicas da

bacia e do curso d’água (Rodrigues & Shepherd, 2009).

12

As florestas ripárias atuam na manutenção da integridade de uma bacia

hidrográfica pela ação direta que têm em uma série de processos importantes para

estabilidade da microbacia, para manutenção da qualidade e quantidade de água

presente, assim como para manutenção da saúde ecológica dos próprios ecossistemas

aquáticos (Lima & Zakia, 2009). Elas também são chamadas de zona tampão,

justamente pelo fato de amortecerem os impactos provenientes das áreas que circundam

o ecossistema aquático (Ferraz, 2001), representando um importante link de transição

aquático-terrestre (Wallace et a.l, 1997; Naiman & Décamps, 1997). Além disso, esses

ambientes têm grande importância ambiental e social, sendo inclusive considerados

áreas de preservação permanente (APPs) pela legislação ambiental brasileira segundo o

Código Florestal (Lei n° 4777/65), que limita sua ocupação e proíbe sua supressão.

Dentre as muitas funções ecológicas importantes, está o funcionamento da vegetação

ripária como corredores ecológicos para fauna e flora silvestres, sua atuação como filtro

natural de sedimento e água, no controle de erosão das margens, da incidência luminosa

e um papel chave na ciclagem de nutrientes de riachos florestais (Gregory et al., 1991;

Naiman & Décamps, 1997; Lima & Zakia, 2009).

Esse papel chave da vegetação ripária na ciclagem de nutrientes está diretamente

relacionado com a dinâmica de energia dos ecossistemas aquáticos, principalmente de

rios sombreados de pequenas ordens, que são sistemas predominantemente

heterotróficos (Cummins et al, 1973; Vannote et al., 1980). Estudos vêm demonstrando

que riachos de cabeceira têm o suprimento de energia dependente da incorporação da

matéria orgânica (MO) produzida nos sistemas terrestres adjacentes, onde muitos dos

organismos aquáticos utilizam essa MO vegetal (Cummins & Klug, 1979; Vannote et

al., 1980; Naiman & Décamps, 1997; Wallace et al., 1997; Graça, 2001; Tank et al.,

2010), e inclusive animal (Kawaguchi et al., 2003) como recurso nutricional. Segundo

Wallace et al. (1997), a supressão deste aporte alóctone pode afetar diretamente a teia

dos detritívoros reduzindo drasticamente a comunidade de invertebrados aquáticos de

um rio.

Vannote et al. (1980) observaram que as comunidades de produtores e

consumidores características de um determinado trecho de rio são estabelecidas em

harmonia com a dinâmica das condições físicas do canal. Os autores evidenciaram a

importância da geomorfologia do rio no estabelecimento da relação produção/respiração

dentro d’água, e propuseram o “Conceito do Rio Contínuo” (RCC). Esse conceito

propõe que, de acordo com a ordem do rio, se tem uma mudança na importância do

13

aporte vegetal alóctone para o suprimento energético do sistema, e consequentemente há

uma mudança conjunta na predominância dos grupos tróficos das comunidades

presentes, sendo que o aumento da ordem do rio coincide com a diminuição da

importância do aporte de MO terrestre.

Na proposta do RCC, riachos de cabeceira e sua vegetação ripária associada

influenciam fortemente o fluxo de materiais da nascente para o ecossistema à jusante,

onde o material vegetal produzido nas cabeceiras afeta as cadeias alimentares de

diversos organismos ao longo do curso do rio e nas regiões de borda (Vannote et al.,

1980; Begon et al., 2007; Binckley et al., 2010). Apesar da grande aceitação do RCC,

existem outras propostas de funcionamento da dinâmica de ecossistemas lóticos que

levam em conta especificidades hidro-geológicas e climáticas, como o Conceito da

Série Descontínua, o Conceito do Pulso de Inundações e o Conceito do Corredor

Hiporreico (Poole, 2002). A ecologia de paisagem também tem mostrado a importância

em se considerar um rio como um mosaico de paisagens e manchas heterogêneas, onde

padrões espaciais locais assim como padrões temporais influenciam os processos

ecológicos, enfatizando a importância de se considerar o contexto, geomorfologia,

estrutura e metaestrutura na determinação da dinâmica e funções de um ecossistema

lótico (Poole, 2002; Wiens, 2002).

A MO de ambientes lóticos provém de duas principais fontes: (1) autóctone,

produzida pelos organismos fotossintetizantes dentro do próprio rio; e (2) alóctone, de

origem terrestre proveniente da vegetação do entorno (Dobson & Frid, 1998). Ecólogos

de rios têm classificado a MO através de seu tamanho em: particulada grossa (MOPG;

>1 mm), particulada fina (MOPF; 0,45 µm - 1 mm) e matéria orgânica dissolvida

(MOD, <0,45 µm) (Tank et al., 2010). Evidências sugerem que a MOD, representada na

forma de carbono orgânico dissolvido (COD), é um grande estoque de matéria orgânica

nos ecossistemas de águas correntes, e provém predominantemente dos solos e de folhas

da vegetação ripária (Tank et al., 2010).

A MOPG alóctone, por sua vez pode atingir os cursos de água através de

movimentos verticais, que seria a queda da serapilheira diretamente sobre o curso de

água, ou movimentos laterais, que consiste no carreamento da MO depositada no

entorno para dentro do rio (Benfield, 1997; Webster & Meyer, 1997). Dados na

literatura indicam uma participação muito maior (80-90%) do aporte vertical quando

comparado com o lateral (Conners & Naiman, 1984; Benson & Person, 1993; Benfield,

1997). Porém, há estudos em sistemas Neotropicais controversos, demonstrando não

14

haver diferença entre as duas fontes (Gonçalves et al., 2006), ou mesmo que o aporte

lateral é maior (França et al., 2009). É válido considerar também, que a maioria dos

estudos sobre o aporte da serapilheira em rios não consideram o aporte lateral (Abelho,

2001). A MOPG pode conter folhas, flores, sementes, galhos, cascas, frutos e outras

partes vegetais (Beinfield, 1997), sendo constituída principalmente por folhas em ambos

ambientes temperados e tropicais, que podem representar de 41 a 98% da MO presente

(Abelho & Graça, 1998; Benson, & Pearson, 1993; França et al., 2009).

Um fator determinante da importância e quantidade dessas influências é o

padrão do fluxo e vazão da água, onde os períodos de vazão máxima e consequentes

inundações têm o potencial de carrear uma grande quantidade de nutrientes para dentro

do ecossistema (Townsend, 1996; Acuña et al., 2007). A estrutura da vegetação ripária e

o grau de preservação da mesma também são fatores determinantes deste processo.

Comparando o aporte de MO proveniente da zona ripária entre um rio de vegetação

preservada com outro de vegetação em regeneração, por exemplo, Carvalho & Uieda

(2010) encontraram uma quantidade do aporte lateral 10 vezes maior no rio preservado.

Outra problemática é a substituição de espécies nativas por exóticas, que pode afetar a

qualidade dos detritos que entram no ecossistema aquático assim como o ciclo de

nutrientes e a estrutura da comunidade do rio (Alonso et al., 2010). Comparando

plantações de eucalipto com florestas nativas em zonas ripárias na Espanha, Pozo et al.

(1997) observaram uma drástica redução na qualidade do aporte de MO aos rios com

vegetação da espécie exótica, com uma redução de 67% do conteúdo de nitrogênio e

65% do conteúdo de fósforo nas folhas incorporadas ao ambiente aquático.

A queda de serapilheira tem forte influência sazonal em ambientes temperados,

onde o grande aporte desse material se dá principalmente no outono, que marca a época

característica de abscisão foliar (Benfield, 1997; Pozo et al., 1997). A queda de

serapilheira em ambientes tropicais pode também ser sazonal, principalmente quando

existe a presença de estações bem definidas. No Cerrado, por exemplo, o maior aporte

de MO vegetal se dá justamente no fim da estação seca (Gonçalves et al., 2006;

Carvalho & Uieda, 2010). Diferentemente, Rezende & Mazzoni (2005) encontraram o

pico de aporte de serapilheira na estação úmida trabalhando em um rio de Mata

Atlântica. Como esclarece Abelho (2001), é provável que o clima regional associado às

características decíduas da floresta sejam os fatores determinantes desse padrão sazonal

de queda de serapilheira.

15

A composição do material alóctone dentro do rio afeta diretamente a estrutura da

comunidade e a dieta da fauna aquática, e consequentemente, o ecossistema aquático

como um todo (Carvalho & Uieda, 2010). Dentro do ecossistema aquático as folhas são

decompostas por uma combinação de fatores físicos, químicos e biológicos, incluindo

as etapas de lixiviação, que seria a dissolução de compostos solúveis em água, o

condicionamento, que é representado pela colonização por micro-organismos, e a

fragmentação pela abrasão física e por invertebrados (Cummins, 1974; Kirby et al.;

1983; Gessner et al., 1999).

Estudos na literatura também diferem sobre o valor de taxas de decomposição da

MO entre rios temperados e tropicais, e a importância da participação dos

macroinvertebrados aquáticos nesse processo, sugerindo que invertebrados

fragmentadores tendem a ser menos importantes em rios tropicais por causa da

colonização e processamento mais rápidos dos microorganismos devido às temperaturas

mais altas (Abelho, 2001; Gonçalves et al., 2004; Moretti et al., 2007; Carvalho &

Uieda, 2010). Avaliando a colonização de detritos foliares por macroinvertebrados

dentro de rios tropicais, Moretti et al. (2007) encontraram poucos fragmentadores, e

Gonçalves et al. (2007) assim como Rezende et al. (2010) não encontraram sequer

organismos desse grupo, concluindo que a decomposição se dá principalmente por

processos microbiológicos e físicos. Em contrapartida, Landeiro et al. (2010)

observaram uma significativa participação de invertebrados fragmentadores no processo

de decomposição de folhas em um rio tropical na Floresta Amazônica, o que pode

indicar uma diferença nos padrões deste processo entre os biomas Cerrado e Floresta

Amazônica. Para Mata Atlântica, o componente microbiano é provavelmente o mais

importante na decomposição (Moulton & Magalhães, 2003), e a participação de macro-

consumidores onívoros, como camarões e caranguejos, parece ser mais importante que

insetos e outros grupos de fragmentadores especialistas nesse processo (Moulton et al.,

2010).

É importante lembrar que a composição química e fatores físicos são variáveis

intrinsecamente ligadas à taxa de decaimento da massa das folhas e seu consumo por

detritívoros, e consequentemente à colonização pela comunidade de invertebrados

aquáticos. Particularmente a composição de nutrientes como o nitrogênio, compostos

estruturais como lignina e celulose, e as defesas químicas como os polifenóis, assim

como fatores físicos como o revestimento por cutícula e a dureza, são os fatores internos

determinantes da taxa de decomposição (Graça & Zimmer, 2005).

16

O processo de decomposição da MO alóctone, além de liberar nutrientes e MOD

para o ambiente, também produz CO2 e CH4, gases causadores do efeito estufa (Prast &

Pinho, 2008). É importante ressaltar que os ecossistemas de água doce representam um

componente relevante no balanço continental desses gases (Batsviken et al., 2011) e,

apesar da pequena área que ocupam, podem afetar o balanço regional do carbono em

uma bacia (Cole et al., 2007). Por serem subsidiados pelo aporte alóctone terrestre,

ecossistemas aquáticos continentais funcionam tanto como fontes de emissão quanto

como sumidouros de CO2 atmosférico (Cole et al., 2007). De acordo com Cole et al.

(2007), de todo aporte de carbono que as águas interiores recebem, 40% retorna para

atmosfera como CO2, 12% é sequestrado nos sedimentos, e por volta dos 48% restantes

são transportados para os oceanos.

Está claro que diferentes biomas podem ter padrões de comportamento e

dinâmica das formações florestais muito distintos em virtude de condições

geomorfológicas e climáticas específicas. Segundo Naiman & Décamps (1997),

Webster & Meyer (1997) e Tank et al. (2010), a estrutura e a composição da vegetação

ripária parecem ser os principais fatores determinantes da entrada de material alóctone

em riachos, onde a fenologia particular de cada espécie ripária irá determinar

ultimamente os padrões de input de MO ao rio. Nesse sentido, Binckley et al. (2010)

observaram que o modo como a vegetação ripária é manejada influencia diretamente o

sedimento, quantidade de detritos e a quantidade de presas disponíveis aos

consumidores de topo em um rio, alertando que previsões das consequências de um

manejo dessa vegetação requerem um conhecimento de ambos fatores locais e

regionais, e enfatizando a importância da ecorregião e do tempo na dinâmica dos

nutrientes no sistema aquático. Como enfatizam Carvalho & Uieda (2010), mudanças na

composição da vegetação ripária afetam a estrutura e os processos nos rios na medida

em que se altera a qualidade e a quantidade dos detritos que são incorporados na cadeia

alimentar.

Dentro disso, estudos específicos por região fitogeográfica se fazem necessários

para determinarmos padrões de dinâmica da vegetação ripária a nível inter-regional,

avaliarmos espécies-chave da vegetação na manutenção da integridade dos ecossistemas

e fornecermos subsídios para conservação e restauração das cadeias tróficas de sistemas

fluviais, assim como para cálculos de balanço do carbono incluindo a produção alóctone

nos sistemas hídricos continentais. Sendo assim, o objetivo da presente dissertação foi

avaliar o padrão temporal de aporte e a composição da MO vegetal alóctone em um

17

riacho de Floresta Ombrófila Densa preservada (capítulo 1), e determinar a influência

da composição e biomassa dos detritos foliares do estoque bêntico na estruturação

espaço-temporal das comunidades de invertebrados aquáticos associados a riachos com

diferentes graus de integridade da vegetação ripária (capítulo 2).

Material e Métodos

Área de estudo

Mata Atlântica

A Mata Atlântica é a floresta mais rica do mundo em diversidade de árvores, tem

proporcionalmente maior diversidade biológica quando comparada com a Floresta

Amazônica, e representa o segundo bioma com o maior risco de extinção do mundo

(Campanili & Prochnow, 2006). Hoje ela se encontra reduzida a apenas 7,2% de sua

área original, e foi considerada pela International Union for Conservation of Nature

(IUCN) como um hot-spot de biodiversidade mundial por ter sua grande diversidade

biológica e alto grau de endemismo sob perigo imediato de extinções de espécies e

destruição de habitats (Primack & Rodrigues, 2001).

Inserida no domínio da Mata Atlântica está a formação da Floresta Ombrófila

Densa, ou Mata Pluvial da Encosta Atlântica. Segundo Klein (1984), no sul do Brasil

essa formação se estende desde o Vale do Ribeira (SP) até a Lagoa dos Barros (RS),

ocupando planícies quaternárias do pleistoceno e as encostas orientais da Serra do Mar e

ramificações da Serra Geral. De acordo com Campanili & Prochnow (2006) a Floresta

Oombrófila Densa tem característica perenifólia, com dossel de até 15 m e árvores

emergentes até 40 m, densa vegetação arbustiva de samambaias arborescentes,

bromélias, palmeiras e abundantes trepadeiras. Na região sul predominam espécies das

famílias das mirtáceas, leguminosas, rutáceas, lauráceas, meliáceas, apocináceas,

palmeiras, entre outras (Wettstein, 1970).

No sul do Brasil, grande parte da floresta é dominada por Ocotea catharinensis

Mez (canela preta), o que gera uma uniformidade fitofisionômica não igualada por

nenhuma outra floresta latifoliada brasileira (Klein, 1980). Outras arbóreas frequentes

são Sloanea guianensis (Aubl.) Benth. (laranjeira-do-mato), Copaifera trapezifolia

18

Hayne (pau-óleo), Cryptocarya aschersoniana Mez (canela-fogo ou canela-pururuca),

Aspidosperma olivaceum Müll.Arg. (peroba-vermelha), Guapira opposita (Vell.) Reitz

(maria-mole), Matayba guianensis Aubl. (camboatá-branco), Ocotea odorifera (Vell.)

Rohwer (canela-sassafrás), Virola bicuhyba (Schott ex Spreng.) Warb. (bicuíba),

Hieronyma alchorneoides Allemão (licurana), Calyptranthes strigipes O.Berg

(guamirim-chorão), Inga sellowiana Benth. (ingá-mirim), Marlierea silvatica (O.Berg)

Kiaersk. (guamirim-chorão), Myrcia pubipetala Miq. (guamirim-araçá), Buchenavia

kleinii Exell (garajuva) entre outras (Klein, 1984).

No estrato médio há uma grande dominância de Euterpe edulis Mart.

(palmiteiro), onde também se encontram Garcinia gardneriana (Planch. & Triana)

Zappi (bacupari), Marlierea eugeniopsoides (Kausel & D.Legrand) D.Legrand

(guamirim-branco), Ocotea teleiandra (Meisn.) Mez (canela-pimenta), Sorocea

bonplandii (Baill.) W.C.Burger et al. (soroca), Actinostemon concolor (Spreng.)

Müll.Arg. (pau-rainha), Maytenus alaternoides Reissek. (coração-de-bugre) e Pera

glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. (seca-ligeiro) (Klein, 1984).

Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri

O município de Florianópolis está localizado em zona subtropical, e, segundo a

classificação climática de Köeppen, tem clima do tipo Cfa, que representa a ausência de

estação seca, com chuvas distribuídas uniformemente durante o ano e verões rigorosos

(Nascimento, 2002). A vegetação da Ilha de Santa Catarina pode ser apresentada sob

três aspectos distintos: Áreas de Formação Pioneiras, de constituição herbáceo-

arbustiva, raramente arbórea e solos pedologicamente instáveis; Vegetação Secundária,

caracterizada por sucessivos estágios de regeneração que tendem a reconstituir a

vegetação original, ocorrendo após devastação ou abandono do terreno cultivado; e

Floresta Primária, restringida apenas a pequenos focos no alto das encostas do morros

do Ribeirão e da Costa da Lagoa (Neto & Klein, 1991).

A Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri possui 20,3 Km2 (CECCA, 1996), e tem

os mesmos limites do Parque Municipal da Lagoa do Peri, criado pela Lei Municipal n°

1.828/81, situado ao sul da parte insular de Florianópolis (Prefeitura Municipal de

Florianópolis, 2009) (Figura 1). A região é de extrema importância para a cidade na

medida em que na Lagoa do Peri funciona um sistema de captação de água com vazão

19

média captada de 200 l/s (CASAN, 2009), que abastece cinco distritos do município:

Pântano do Sul, Campeche, Ribeirão da Ilha, Lagoa da Conceição e Barra da Lagoa

(GGE-UFSC, 2006).

Aproximadamente 75% da bacia é constituída pelo complexo cristalino pré-

cambriano, com relevo acidentado representado na forma de altos morros como o Morro

da Chapada (440 m), da Tapera (371 m), da Boa Vista (350 m) e do Peri (320 m)

(Santos et al., 1989). A maior parte desses terrenos cristalinos é coberta por vegetação

de Floresta Ombrófila Densa em estádios de regeneração avançado. Segundo Caruso

(1990), as regiões noroeste e sudeste da Lagoa do Peri possuem um dos estádios mais

desenvolvidos de vegetação secundária na Ilha de Santa Catarina, e algumas dessas

áreas apresentam aspecto fisionômico muito semelhante à floresta primária.

A parte leste da bacia é constituída geologicamente por terrenos de sedimentação

quaternária, que separam a lagoa do Oceano Atlântico através de uma estreita faixa de

250 m de largura (Santos et al., 1989). Essa região é coberta principalmente por

vegetação litorânea característica de restinga, com algumas áreas ocupadas por casas e

pequenos trechos de plantação de Eucalipto.

Dentre os dois principais tributários da bacia, o rio Cachoeira Grande drena uma

área de 1,66 km2, tem suas nascentes situadas na cota de 280 m de altitude e percorre

1,17 km até desaguar na Lagoa do Peri. Já o rio Ribeirão Grande drena uma área de 6,98

km2, tem suas nascentes por volta de 285 m de altitude e percorre 4,6 km até desaguar

na lagoa (Santos et al., 1989) (Figura 1).

20

Figura 1. Localização geográfica da Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri na cidade de

Florianópolis, SC, Brasil, e seus principais tributários, os rios Cachoeira Grande e Ribeirão

Grande.

Delineamento amostral

A presente dissertação foi subdividida em dois capítulos que representaram

experimentos distintos, porém complementares. Para o primeiro capítulo, foi realizado

um experimento sobre dinâmica da vegetação ripária a fim de se estimar o padrão

temporal e a composição do aporte de detritos vegetais alóctones no rio Cachoeira

Grande ao longo de um ano. Já no segundo capítulo, foi analisada a relação da biomassa

e riqueza do estoque bêntico de detritos vegetais depositados no leito dos rios Cachoeira

Grande e Ribeirão Grande com a variação espacial e temporal da estrutura das

comunidades de invertebrados aquáticos dos dois ambientes durante onze meses.

Experimento de dinâmica da vegetação ripária

Para avaliar a dinâmica de incorporação do material vegetal alóctone no

ecossistema lótico, o experimento foi realizado em um trecho de 100 m do rio

Ribeirão Grande

Cachoeira Grande

21

Cachoeira Grande, representando um sistema lótico de 3ª ordem, com densa cobertura

de dossel e vegetação ripária em estádio médio–avançado de regeneração. Esse trecho

do rio foi dividido em cinco pontos amostrais separados a uma distância média de 20 m.

Em cada ponto amostral a quantificação do aporte de MO vegetal alóctone foi realizada

em quatro frentes distintas, que correspondem aos quatro compartimentos diferentes:

Aporte vertical: para mensuração da MO vegetal alóctone que cai diretamente

sobre o curso de água, três fileiras foram penduradas sobre o rio a uma altura de 2 m da

lâmina de água. Cada fileira continha seis coletores, representados por baldes de 26 cm

de diâmetro com pequenos furos no fundo para impedir o acúmulo de água.

Aporte lateral: o aporte de MO que escoa do solo para o riacho foi mensurado

através de coletores com 0,5 m de comprimento e 0,2 m de altura (0,1 m2), com

profundidade de 30 cm e abertura de malha de 5 mm. Os coletores foram armados no

limite entre a água e o solo da margem do rio, de modo a capturar toda MO que se

movimenta do solo para água, um na margem direita e outro na margem esquerda de

cada ponto.

Aporte terrestre: considerado como um estoque potencial de MO que pode

chegar ao leito do rio, o aporte terrestre foi mensurado através de coletores de 1 m2

armados dentro da vegetação ripária, com profundidade de 10 cm e 5 mm de malha. Em

cada ponto de coleta foi armado um coletor na margem direita e outro na margem

esquerda do rio a uma distância de 10 m do curso d’água.

Estoque bêntico: a MO vegetal depositada no leito do rio foi mensurada com

auxílio de um coletor tipo Surber, tamanho 0,3 x 0,3 m e abertura de malha de 0,25 mm.

Em cada ponto de coleta foram realizadas aleatoriamente três amostras feitas em regiões

do rio onde se encontrava depósito de folhiço.

Coletas foram feitas a cada trinta dias durante treze meses, compreendendo o

período de agosto de 2010 a agosto de 2011. Todo material coletado foi seco em estufa

a 60ºC até a estabilização do peso, separado qualitativamente em folhas, galhos, partes

reprodutivas e miscelânea, e pesado em balança analítica para determinação do peso

seco. As folhas foram identificadas até o menor grupo taxonômico possível com auxílio

de bibliografia adequada (Sobral et al., 2006), auxílio de especialista e através de

comparações morfológicas com exsicatas previamente identificadas provenientes de

outro projeto que fez a fitossociologia da área de estudo. Pluviosidade, intensidade e

direção de ventos e temperatura média do ar de cada mês estudado foram obtidas na

22

estação meteorológica da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa

Catarina (EPAGRI).

Figura 2. Desenho esquemático do delineamento amostral realizado no capítulo 1 –

experimento de dinâmica da vegetação ripária – mostrando os coletores verticais, laterais e terrestres dispostos nos 5 pontos amostrais em um trecho de 100 m do riacho.

Interação entre a vegetação ripária e invertebrados aquáticos

O experimento foi realizado nos dois principais tributários da Bacia Hidrográfica

da Lagoa do Peri. Os riachos foram classificados como “preservado” e “impactado” de

acordo com o grau de preservação da vegetação ripária. O rio Cachoeira Grande

representou o ambiente preservado por se encontrar em local de ótimo estado de

conservação, com densa vegetação ripária nativa e forte cobertura do dossel. Já o rio

Ribeirão Grande foi considerado como ambiente impactado, pois atravessa áreas de

pequenas propriedades rurais, e teve parte de sua vegetação ripária transformada em

pasto e em plantação de espécies exóticas, havendo também a presença de algumas

espécies nativas esparsas ao longo do curso de água.

Foram escolhidos cinco pontos de coleta em cada riacho, separados por uma

distância de 20 m entre si. Os detritos vegetais depositados no leito do riacho (estoque

23

bêntico) foram coletados com auxílio de um amostrador de Surber, tamanho 0,3 x 0,3 m

e abertura de malha de 0,25 mm. Em cada ponto de coleta foram realizadas três

amostragens onde se encontrava depósito de folhiço, totalizando 15 amostras mensais

por riacho. As coletas foram realizadas ao longo de onze meses, compreendendo o

período de agosto de 2010 a junho de 2011.

Todo material coletado foi levado a laboratório e lavado em peneiras de 0,25

mm para retenção de macroinvertebrados aquáticos. Após a lavagem, o material vegetal

foi seco em estufa a 60ºC até a estabilização do peso, e então determinado o peso seco

através de balança analítica de precisão 0,01 g. Os detritos vegetais foram separados

qualitativamente entre folhas, galhos, partes reprodutivas e miscelânea. As folhas foram

identificadas até o menor grupo taxonômico possível com bibliografia adequada (Sobral

et al., 2006) e com auxílio de observações externas realizadas por especialista. Os

animais retidos na peneira foram triados, acondicionados em frascos com álcool 70% e

posteriormente identificados até o menor nível taxonômico possível utilizando-se

chaves de identificação disponíveis (Fernández & Domínguez, 2001; Mugnai et al.,

2010) e auxílio de especialistas.

Simultaneamente às coletas de estoque bêntico nos riachos, foram medidas in

situ variáveis ambientais da água como oxigênio dissolvido (mg.l-1

), pH, temperatura

(°C) e condutividade (μS.cm-1

) com a sonda específica WTW-Multi350i. A velocidade

da água (m.s-1

) foi obtida através do método do flutuador, com cinco réplicas por ponto,

a profundidade (m) medida com metro em 10 réplicas por ponto, e a temperatura do ar

medida com termômetro. Dados de precipitação referentes ao município foram

fornecidos pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

(EPAGRI).

Análise estatística dos dados

Para o primeiro capítulo, cálculos dos percentuais da participação qualitativa do

aporte e da contribuição por compartimento foram feitos a partir da matriz de dados

brutos com o total de peso seco (g) de MO vegetal observado no período de estudo. O

percentual da contribuição específica dos táxons e das famílias foi calculado a partir do

peso seco total das folhas. A partir da matriz de dados brutos foi feita a padronização da

área de cada coletor para 1 m2, assim como a padronização de todos os meses coletados

24

para períodos de 30 dias. Com a matriz de dados padronizada, calculou-se a média

mensal em gramas de peso seco (g.m-2

.mês-1

) dos diferentes compartimentos, assim

como das espécies e táxons. A fim de se verificarem variações na quantidade de

biomassa vegetal aportada entre os pontos amostrais, entre os compartimentos de

aporte, assim como entre os meses, foram realizadas ANOVAs one-way a partir da

matriz de biomassa padronizada (g.m-2

.mês-1

). Para verificar a influência das variáveis

ambientais no padrão de aporte vegetal ao rio, foi feita uma análise de correlação de

Pearson com a matriz padronizada de biomassa e as relativas médias mensais das

variáveis mensuradas. As análises estatísticas foram realizadas com auxílio do programa

Statistica 7.

Já para o segundo capítulo, variações dos parâmetros ambientais entre os pontos

amostrais e entre os meses foram verificadas a partir do teste de Kruskal-Wallis, feito

com a matriz bruta de amostragem de dados para cada rio em separado. A fim de se

verificar variações das variáveis da água entre os dois ambientes estudados foi realizado

o teste de Mann-Whitney, também com a matriz de dados abióticos brutos.

A riqueza da comunidade aquática e o esforço amostral foram avaliados através

da curva de acumulação de espécies referente a todo período de estudo, calculada a

partir da matriz bruta de abundância de indivíduos com auxílio do programa EstimateS

8.2.0, e plotada utilizando-se o método de Mao Tau. Variações espaciais na estrutura da

comunidade entre os dois rios foram verificadas através da análise de escalonamento

multidimensional (MDS), obtida a partir da matriz de similaridade de Bray Curtis dos

dados médios de abundância de todo período transformados em log (x+1).

Similaridades foram testadas estatisticamente através de uma análise de similaridade

(ANOSIM), tendo como fatores as duas áreas. Quando diferenças significativas foram

detectadas, a análise de porcentagem de similaridade (SIMPER) foi utilizada para

identificar os táxons responsáveis pela diferença observada nas comunidades (Clarke &

Warwick, 2001). A análise SIMPER não é um teste estatístico, mas uma análise

exploratória que gera um ranking de porcentagem de contribuição dos táxons mais

importantes para determinar a diferença entre os grupos de amostras, i.e., neste caso,

riachos com diferente complexidade da vegetação ripária (Clarke & Warwick, 2001).

A variação espacial da composição dos detritos foliares foi analisada através de

um MDS, calculado a partir das matrizes de distância Euclidiana dos dados de presença

e ausência das espécies vegetais dos dois riachos. Similaridades entre os riachos foram

testadas através de uma ANOSIM, tendo como fatores as duas áreas.

25

Para verificar a influência das variáveis ambientais na variação espacial da

comunidade, foi feita uma Análise de Correspondência Canônica (CCA), calculada

através da matriz de médias mensais de abundância da comunidade, transformada em

log (x+1), e da matriz de variáveis ambientais, analisando-se conjuntamente os dois

ambientes estudados. As variáveis foram incluídas na análise através de seleção manual,

excluindo-se aquelas não significativas (Monte Carlo, p > 0,05) na análise, e

representando-se as amostragens por ambiente e por mês de coleta. A significância foi

verificada com o teste de Monte Carlo (p < 0,05). A CCA foi feita com auxílio do

programa Canoco for Windows.

Variações temporais da comunidade e da composição dos detritos foliares foram

analisadas em separado para cada riacho, e testadas a partir de ANOSIMs utilizando-se

as mesmas matrizes do MDS, e considerando como fatores os meses estudados. A fim

de se evidenciar os principais fatores ambientais responsáveis pela variação temporal da

comunidade, foi feita uma análise de BIOENV para cada riacho em separado

relacionando-se a matriz de similaridade de Bray Curtis das médias de abundância

transformada (log x + 1), com a matriz de distância Euclidiana dos dados abióticos

transformados (log x + 1) e padronizados. Para análises multivariadas, além dos

parâmetros físico-químicos da água e variáveis meteorológicas, foram considerados

fatores ambientais as categorias do estoque bêntico vegetal como “folhas”, “galhos”,

“reprodutivos”, “miscelânea” e “total de matéria orgânica” medidas em biomassa média

(g), e “riqueza” de espécies na composição do detrito. Todas as análises de MDS,

ANOSIM, SIMPER e BIOENV foram feitas com auxilio do programa estatístico Primer

6.

26

Capítulo 1

Dinâmica e composição da matéria orgânica alóctone em um riacho de

Mata Atlântica subtropical

Composition and dynamics of allochthonous organic matter in a

subtropical Atlantic Rain Forest stream

Leonardo Kleba Lisboa1,3

, Aurea Luiza Lemes da Silva2,4

, Ana Emilia Siegloch3,

José Francisco Gonçalves Júnior2 e Mauricio Mello Petrucio

1,3

1Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal, Universidade Federal de

Santa Catarina - Trindade, Florianópolis, CEP 88010-970, Santa Catarina, Brasil

E-mail: [email protected]

2Laboratório de Limnologia, Departamento de Ecologia, Universidade de

Brasília, Darcy Ribeiro, Brasília- DF - CEP 70910-900. E-mail: [email protected]

3Laboratório de Ecologia de Águas Continentais, Universidade Federal de Santa

Catarina - Trindade, Florianópolis, CEP 88010-970, Santa Catarina, Brasil

E-mail: [email protected]

4Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Universidade de Brasília, Darcy

Ribeiro, Brasília – DF – CEP 70910-900

27

Resumo

O aporte de matéria orgânica (MO) vegetal alóctone tem grande importância no

fluxo de energia de riachos de cabeceira, e a maneira com que esse material entra no

ecossistema têm sido bastante estudada, particularmente em ambientes temperados.

Estudos desse tipo em Mata Atlântica subtropical são raros. O presente estudo teve

como objetivo quantificar e qualificar o aporte de MO da vegetação ripária em um

riacho de 3ª ordem de Mata Atlântica subtropical. O estudo se baseou nas hipóteses de

que (1) o aporte vertical é maior que o lateral, e (2) não há variação temporal no aporte

de detritos do riacho. Os aportes vertical, lateral, terrestre e o estoque bêntico foram

mensurados a cada 30 dias durante treze meses. O material coletado foi qualificado em

folhas, galhos, partes reprodutivas, e restos, e as folhas identificadas. O aporte lateral foi

o que mais contribuiu com a incorporação direta de MO ao riacho, com média de 175,5

g.m-2

.mês-1

, contra apenas 32,4 g.m-2

.mês-1

observado no aporte vertical. O estoque

bêntico superou em termos de biomassa o aporte do estoque potencial terrestre. As

folhas representaram 57,5 % de todo material coletado, sendo predominantes no aporte

vertical, lateral, terrestre e estoque bêntico. Um total de 122 táxons foram identificados,

separados em 45 famílias. Myrtaceae, Lauraceae, Annonaceae e Euphorbiaceae foram

as famílias mais ricas, porém, Fabaceae e Moraceae foram as famílias que mais

contribuíram com o aporte de folhas. Seis espécies representaram 52,9 % do aporte total

de folhas para o riacho, sendo Schizolobium parahyba a principal com 25 % desse total.

A quantidade média de MO mensurada ao longo do período de estudo variou

significativamente entre os compartimentos assim como entre os meses. A partir dos

resultados foram rejeitadas as duas hipóteses: o aporte lateral foi muito superior ao

vertical, e houve variação temporal nos padrões de aporte de detritos ao riacho,

principalmente regulada através da precipitação.

Palavras chave: aporte vegetal, serapilheira, vegetação ripária

28

Abstract

Allochthonous organic matter (OM) input has great importance in headwater

stream energy flows, and the way these materials enter the ecosystem has been long

studied, particularly in temperate environments. Such studies are rare in subtropical

Atlantic Rain Forest. The objective of this study was to quantify and identify the OM

input of riparian vegetation in an Atlantic Rain Forest 3rd

order stream. The study had

two hypotheses: (1) vertical input is higher than lateral input, and (2) there is no

temporal variation in litter input to the stream. The vertical and lateral inputs, and the

terrestrial and benthic stocks were measured along 13 months. All collected material

was quantified as leaves, branches, reproductive and others, and the leaves were

identified into species. Lateral input was the highest compartment in direct litter input to

the stream, with mean of 175.5 g.m-2

.month-1

, compared to 32.4 g.m-2

.month-1

observed

in vertical input. Benthic stocks exceeded in terms of biomass the terrestrial stocks.

Leaves represented 57.5 % of all collected material, prevailing in vertical, lateral,

terrestrial and benthic stocks inputs. A total of 122 taxa were identified, classified into

45 families. Myrtaceae, Lauraceae, Annonaceae and Euphorbiaceae were the richest

families, although Fabaceae and Moraceae were the most important in leaves inputs. Six

species represented 52.9 % of total leaves input; Schizolobium parahyba was the main

species with 25 % of this amount. The mean value of OM measured in the study period

varied significantly between the compartments as well as between the months. Given

the results, the two hypotheses were rejected. Lateral input surpassed greatly the vertical

input, and temporal variation was observed in litter input patterns to the stream. Organic

matter dynamics in the stream was principally driven by precipitation.

Key-words: organic input, litterfall, riparian vegetation

29

Introdução

Estudos sobre o balanço de matéria orgânica (MO) em riachos (quantificação do

input e output de energia) auxiliam na compreensão da importância relativa dos recursos

alimentares como ferramentas para avaliação da integridade e comparação dos

ecossistemas (Tank et al., 2010). Para maioria dos riachos florestais, o entendimento de

tal balanço energético está intimamente ligado à dinâmica de MO proveniente da

vegetação ripária, que exerce um papel chave na dinâmica energética destes ambientes

(Gregory et al., 1991; Naiman & Décamps, 1997; Lima & Zakia, 2009). Por serem

sombreados, riachos de cabeceira são na maioria das vezes heterotróficos (Cummins et

al, 1973; Vannote et al., 1980), e suas comunidades dependem da incorporação alóctone

de MO vegetal (Cummins & Klug, 1979; Wallace et al., 1997) e inclusive animal

(Kawaguchi et al., 2003) provenientes da zona ripária. Assim, esta região representa

uma importante ligação aquático-terrestre essencial para manutenção da produtividade

de pequenos riachos florestais (Wallace et al., 1997; Naiman & Décamps, 1997;

Wallace et al., 1999; Magana, 2001).

Diversos fatores influenciam na maneira com que se dá a incorporação de

energia alóctone em riachos. A nível global, a dinâmica da matéria orgânica nesses

sistemas é controlada primariamente pelo clima através de seu efeito na vegetação

terrestre (Webster & Meyer, 1997). Segundo Wantzen et al. (2008), variações temporais

no aporte alóctone podem ocorrer de acordo com a fenologia da vegetação, com os

mecanismos de retenção na zona de transição aquático-terrestre, e com o clima local. A

estrutura e composição da vegetação ripária determina padrões de queda de serapilheira

(Tank et al., 2010), e a composição específica dos detritos varia de acordo com a

vegetação, estrutura física (Conners & Naiman, 1984) e biodiversidade do ecossistema

ripário (Wantzen et al., 2008). Apesar de certas generalizações, a quantidade e o tipo de

detrito, assim como a variação espacial e temporal do aporte de MO é extremamente

variável (Tank et al., 2010).

A precipitação também se mostra muito importante para o entendimento da

incorporação da MO alóctone. Períodos de intensas chuvas influenciam drasticamente o

aporte de detritos através das consequentes inundações, aumento da vazão, e

carreamento de detritos, mostrando serem eventos determinantes da dinâmica de

matéria orgânica em riachos (Acuña et al., 2007). Segundo Benfield et al. (1997), existe

uma correlação direta entre o aporte de detritos vegetais para os sistemas e a

30

precipitação anual das localidades onde eles se encontram. Não obstante, a vazão de

água afeta diretamente a capacidade de retenção de um rio, e pode influenciar

fortemente os estoques de matéria orgânica presentes no ecossistema aquático (Pozo et

al., 1997a; Acuña et al., 2007).

Outro fator relacionado a esse processo é o tamanho do corpo d’água. Estudos

demonstram que o aporte de serapilheira por unidade de área da superfície de um rio

decai exponencialmente com o aumento de sua ordem (Conners & Naiman, 1984;

Benfield, 1997; Richardson, 2005). Conners & Naiman (1984) demonstraram

experimentalmente que riachos de 1ª a 2ª ordem chegam a ter mais de 80% da produção

alóctone, enquanto rios de 5ª a 6ª ordem mais de 80% autóctone, indo de encontro aos

processos descritos e bem fundamentados no Conceito do Rio Contínuo (RCC)

(Vannote et al., 1980).

O aporte, processamento e exportação da matéria orgânica em sistemas lóticos

são fortemente influenciados por perturbações, sejam elas naturais ou antrópicas

(Richardson, 2005). Mudanças no uso da terra reduzem a área recoberta com vegetação

e alteram a quantidade, composição e retenção do aporte de detritos em rios e riachos

(Kominoski & Rosemond, 2012). Estudos indicam que a quantidade de matéria

orgânica aportada em rios reduz drasticamente de áreas de vegetação preservada para

áreas abertas por influência antrópica (Afonso et al., 2000; Magana, 2001; Carvalho &

Uieda, 2010; Kiffney & Richardson, 2010). A urbanização reduz drasticamente a

disponibilidade desse material através da diminuição significativa do input, e do

aumento da frequência e magnitude das cheias que acabam por controlar ultimamente os

padrões de retenção de matéria orgânica nos sistemas (Imberger et al., 2011). Além

disso, espécies exóticas também podem reduzir a quantidade e diversidade de detritos e

consequentemente diminuir o input de nutrientes para riachos (Pozo et al., 1997b).

A composição do material alóctone dentro do rio afeta diretamente a estrutura da

comunidade e a dieta da fauna aquática, e consequentemente, o ecossistema aquático

como um todo (Carvalho & Uieda, 2010). A matéria orgânica particulada grossa

(MOPG) vegetal pode atingir os cursos de água através de movimentos verticais, que

seria a queda da serapilheira diretamente sobre o curso de água, ou movimentos laterais,

que consiste no carreamento da matéria orgânica depositada no entorno para dentro do

rio (Benfield, 1997). Dados na literatura indicam uma participação muito maior (80-

90%) do aporte vertical quando comparado com o lateral (Conners & Naiman; 1984;

Benson & Person, 1993; Benfield, 1997). Esse material é representado por folhas,

31

flores, sementes, galhos, cascas, frutos e outras partes vegetais (Beinfield, 1997), sendo

constituído principalmente por folhas, que podem representar de 41 a 98% da matéria

orgânica presente (Abelho & Graça, 1998; Benson & Pearson, 1993; França et al.,

2009). Dentro do ecossistema aquático as folhas são decompostas por uma combinação

de fatores físicos, químicos e biológicos, incluindo as etapas de lixiviação,

condicionamento, e fragmentação pela abrasão física e por invertebrados (Cummins,

1974; Kirby et al.; 1983; Gessner et al., 1999). O processo de decomposição da MO

alóctone, além de liberar nutrientes e matéria orgânica dissolvida (MOD) para o

ambiente, também produz CO2 e CH4, gases causadores do efeito estufa (Prast & Pinho,

2008).

Comparando-se sistemas temperados com tropicais, observa-se que os

temperados têm um período de grande queda de folhas no outono e inverno, e

consequente maior incorporação de detritos aos rios (Fisher & Likens, 1973; Benfield,

1997; Pozo et al., 1997a). Os rios tropicais que possuem duas estações climáticas

marcantes (chuvosa e seca), apresentam um aporte de detritos muito maior no final da

estação seca (Gonçalves et al., 2006; Selva et al., 2007; França et al., 2009; Carvalho &

Uieda, 2010). Está claro que diferentes biomas podem ter padrões próprios na dinâmica

das formações florestais devido às condições fenológicas, geomorfológicas e climáticas

específicas. No entanto, o funcionamento dos ecossistemas aquáticos ainda não está

bem descrito devido à escassez de estudos de dinâmica da matéria orgânica em riachos

de regiões subtropicais.

Diante da discussão observada em literatura e baseado no fato de que no clima

subtropical não há uma estação seca marcante, este estudo propõem duas hipóteses a

serem testadas: (1) o aporte vertical é a principal via de entrada de material alóctone, e

(2) que não há variação temporal no aporte de detritos vegetais ao rio. O objetivo deste

trabalho foi determinar a composição e dinâmica da matéria orgânica vegetal alóctone

em um riacho de cabeceira de Mata Atlântica subtropical.

Métodos

Área de estudo

A pesquisa foi realizada no riacho Cachoeira Grande, um riacho de 3ª ordem

segundo a classificação de Strahler (1957), localizado na Bacia Hidrográfica da Lagoa

do Peri (27° 44’ S e 48° 31’ W), situada ao sul da parte insular de Florianópolis, região

32

sul do Brasil. O riacho tem suas nascentes situadas na cota de 280 m, se estende por

1,17 km até desaguar na Lagoa do Peri, drena uma área de 1,66 km², e apresenta uma

declividade que varia entre 0,26 e 0,24 m.m-1

nos cursos superior e médio, até 0,1 m.m-1

no baixo curso (Santos et al., 1989). A área está localizada em zona subtropical, que

segundo a classificação climática de Köppen tem clima do tipo Cfa, com ausência de

estação seca, chuvas distribuídas uniformemente durante o ano e verões rigorosos

(Nascimento, 2002). A bacia hidrográfica tem 20,3 km2 e está inteiramente

compreendida em uma unidade de conservação, o Parque Municipal da Lagoa do Peri,

criado em 1981. A região é de extrema importância para a cidade na medida em que na

lagoa funciona um sistema de captação de água com vazão média captada de 200 L.s-1

.

A região da área de estudo é recoberta por Floresta Ombrófila Densa em estádio

avançado de regeneração, possuindo um dos fragmentos vegetais mais desenvolvidos da

Ilha de Santa Catarina (Caruso, 1990), podendo inclusive abrigar focos de floresta

primária restritos ao alto das encostas nas regiões de nascentes (Neto & Klein, 1991).

Isso faz com que a área tenha grande relevância para conservação, visto que a Mata

Atlântica se encontra reduzida a apenas 7,2% de sua área original, e foi considerada pela

International Union for Conservation of Nature (IUCN) como um hot-spot de

biodiversidade mundial (Myers et al., 2000). De acordo com Campanili & Prochnow

(2006), a Floresta Ombrófila Densa tem característica perenifólia, com dossel de até 15

m e árvores emergentes até 40 m, densa vegetação arbustiva de samambaias

arborescentes, bromélias, palmeiras e abundantes trepadeiras. No sul do Brasil

predominam espécies das famílias Myrtaceae, Fabaceae, Rutaceae, Lauraceae,

Meliaceae, Apocynaceae, Palmae entre outras (Wettstein, 1970).

Delineamento amostral e metodologia de campo

O experimento para se avaliar a dinâmica de material orgânico (MO) vegetal no

ambiente lótico foi realizado em um trecho de 100 m do riacho Cachoeira Grande.

Foram escolhidos cinco pontos amostrais neste trecho separados a uma distância média

de 20 m, e em cada ponto amostral a quantificação do aporte de MO vegetal alóctone

foi realizada em quatro compartimentos do ecossistema:

Aporte vertical: para mensuração da MO vegetal alóctone que cai diretamente

sobre o curso de água, três cordas foram penduradas sobre o riacho a uma altura de 2 m

da água. Cada corda continha seis coletores, representados por baldes de 26 cm de

diâmetro (0,053 m2) com pequenos furos no fundo para impedir o acúmulo de água.

33

Aporte lateral: o aporte de MO que escoa do solo para o riacho foi mensurado

através de coletores com 0,5 m de comprimento e 0,2 m de altura (0,1 m2), com

profundidade de 30 cm e abertura de malha de 5 mm. Os coletores foram armados no

limite entre a água e o solo da margem do riacho, de modo a capturar a MO que se

movimenta do solo para água, um na margem direita e outro na margem esquerda de

cada ponto.

Aporte terrestre: considerado como um estoque potencial de MO que pode

chegar ao leito do rio, o aporte terrestre foi mensurado através de coletores de 1 m2

armados dentro da vegetação ripária, com profundidade de 10 cm e 5 mm de malha. Em

cada ponto de coleta foi armado um coletor na margem direita e outro na margem

esquerda do rio a uma distância de 10 m do curso d’água.

Estoque bêntico: a MO vegetal depositada no leito do riacho foi mensurada com

auxílio de um coletor tipo Surber, tamanho 0,32 x 0,32 m (0,1024 m2) e abertura de

malha de 0,25 mm. Em cada ponto de coleta foram realizadas aleatoriamente três

amostras feitas em regiões onde se encontrava depósito de folhiço.

Coletas do material retido nos coletores e do estoque bêntico foram feitas a cada

trinta dias durante treze meses, compreendendo o período de agosto de 2010 a agosto de

2011. Todo material coletado foi seco em estufa a 60ºC por no mínimo três dias até a

estabilização do peso, separado qualitativamente entre folhas, galhos e partes

reprodutivas, e pesado em balança analítica para determinação do peso seco. As folhas

foram identificadas até o menor grupo taxonômico possível com auxílio de bibliografia

adequada (Sobral et al., 2006), e através de comparações morfológicas com exsicatas

previamente identificadas provenientes de outra pesquisa do mesmo projeto que fez a

fitossociologia da área de estudo. Dados de pluviosidade, intensidade e direção de

ventos e temperatura média do ar ao longo do período de estudo foram fornecidos pela

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI). Para

análises foram consideradas as médias de temperatura, de ventos e o acumulado de

precipitação dos 30 dias antecedentes às coletas. Os valores de fotoperíodo considerado

foram os previsíveis para o 15º dia de cada mês na latitude 27°.

Cálculos dos percentuais da participação qualitativa do aporte e da contribuição

por compartimento foram feitos a partir da matriz de dados brutos com peso seco (g)

total de MO vegetal observado no período de estudo. O percentual da contribuição

específica dos táxons e das famílias foi calculado a partir do peso seco total das folhas.

A partir da matriz de dados brutos foi feita a padronização da área de cada coletor para

34

1 m2, assim como a padronização de todos os meses coletados para períodos de 30 dias.

Com a matriz de dados padronizada, calculou-se a média mensal em gramas de peso

seco (g.m-2

.mês-1

) dos diferentes compartimentos, assim como das espécies e táxons.

Tratamento estatístico

A fim de se verificarem variações na quantidade de biomassa vegetal aportada

entre os pontos amostrais, entre os compartimentos de aporte, assim como entre os

meses, foram realizadas ANOVAs one-way a partir da matriz de biomassa padronizada,

utilizando-se como variável dependente a biomassa total vegetal, e variável

independente, separadamente, os pontos, meses e compartimentos. Para verificar a

influência das variáveis ambientais no padrão de aporte vegetal foi feita uma análise de

correlação de Pearson com a matriz padronizada de biomassa e as relativas médias

mensais das variáveis mensuradas. Os dados para análises foram checados para

normalidade (Shapiro-Wilk) e homogeneidade de variâncias (Levene’s) (Zar, 1996). As

análises estatísticas foram realizadas com auxílio do programa Statistica 7.

Resultados

Dinâmica x fatores climáticos

Relacionando a incorporação de biomassa vegetal no riacho com as variáveis

ambientais, pode-se constatar uma correlação direta entre a pluviosidade com o aporte

total de MO (Pearson, r = 0,59; p < 0,05), assim como com o aporte lateral (Pearson, r =

0,43; p < 0,05) (Tabela 1). Os aportes vertical e terrestre, assim como o estoque bêntico,

não estiveram relacionados a nenhuma variável mensurada. Para biomassa de folhas em

específico, considerando-se as seis principais espécies, as médias de temperatura e o

fotoperíodo foram os principais fatores relacionados à queda de folhas. A incorporação

vegetal de Schizolobium parahyba (Vell.) Blake esteve negativamente relacionada às

médias de temperaturas máximas e mínimas do ar (Pearson, r = -0,22 e r = -0,3; p <

0,05) e ao fotoperíodo (Pearson, r = -0,2; p < 0,05), mesmo comportamento observado

na espécie Ficus eximia Schott (Pearson, r = -0,19, r = -0,22 e r = -0,18,

respectivamente; p < 0,05), o que indica que ambas as espécies tem um padrão de queda

foliar acentuado no inverno. Já as espécies Cupania vernalis Cambess. e Virola

bicuhyba (Schott ex Spreng.) Warb. tiveram um padrão de queda foliar relacionado

35

positivamente às médias de temperaturas do ar e ao fotoperíodo (Tabela 1), ou seja, um

padrão de queda foliar acentuada no verão.

Tabela 1. Valores de correlação de Pearson entre a biomassa vegetal incorporada das categorias

de aporte e principais espécies com as variáveis ambientais mensuradas no rio Cachoeira Grande entre ago/10 e ago/11. Representados apenas valores significativos ( p < 0,05)

Dinâmica de MO

A quantidade média de MO mensurada ao longo do período de estudo variou

significativamente entre os compartimentos (ANOVA, F3,625 = 23,18; p < 0,05), apesar

de não ter sido observada variação entre os pontos amostrais (ANOVA, F4,624 = 1,8; p >

0,05). O aporte lateral foi o compartimento que mais contribuiu com a incorporação

direta de MO vegetal para o riacho, com uma média mensal de 175,5 g.m-2

.mês-1

,

superando largamente o aporte vertical, que apresentou uma média de 32,4 g.m-2

.mês-1

.

O estoque bêntico apresentou uma média de 115,4 g.m-2

.mês-1

, superando o aporte do

estoque potencial terrestre de apenas 69,1 g.m-2

.mês-1

(Fig. 1).

Na composição qualitativa do input vegetal observado, as folhas representaram a

maior parte do aporte, com 57,5 % de todo material coletado no período de estudo.

Galhos representaram 25,2 %, partes reprodutivas apenas 5,1 % e restos 12 % desse

total. As folhas formaram a principal parte da MO em todos os compartimentos,

representando 77,8 % do aporte vertical, 58,5 % do aporte terrestre, 43,6 % do aporte

lateral e 45,6 % do estoque bêntico (Fig. 2).

pluviosidade vento temp. mín temp. máx fotoperíodo

MO total 0,59 0,27

vertical

terrestre

lateral 0,43

bêntico

miscelânia 0,21 0,15

galhos 0,17

Cupania vernalis 0,25 0,25 0,27

Ficus adhatodifolia 0,13 0,13

Ficus eximia -0,19 -0,23 -0,18

Schizolobium parahyba -0,22 -0,3 -0,2

Tetrorchidium rubrivenium -0,02

Virola bicuhyba 0,19 0,18 0,21

36

Figura 1. Média e erro-padrão da biomassa de MO vegetal dos diferentes compartimentos para

o riacho Cachoeira Grande entre ago/2010 e ago/2011.

Figura 2. Percentual de folhas, galhos, frutos e restos vegetais na formação dos diferentes compartimentos de aporte de detritos para o riacho Cachoeira Grande medidos entre ago/2010 a

ago/2011.

Foi observada uma variação significativa entre os meses (ANOVA, F12,616 =

2,99, p < 0,05) na quantidade total do MO aportada ao riacho durante o período do

estudo. No mês de fevereiro foi verificada o maior aporte de biomassa vegetal com

média total de 227,8 g.m-2

, seguido pelos meses de setembro e outubro (154,9 g.m-2

e

114,6 g.m-2

, respectivamente). As menores quantidades foram observadas nos meses de

abril e maio (53 g.m-2

e 56,3 g.m-2

, respectivamente). Analisando-se cada

0

50

100

150

200

250

vertical lateral bêntico terrestre

g.m

-2.m

ês-1

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

vertical lateral bêntico terrestre

%

Folhas

Restos

Galhos

Frutos

37

compartimento em separado ao longo do ano, pode-se observar que foram mais

constantes os valores dos aportes vertical (variou de 19,8 g.m-2

em ago/2010 a 57,8 g.m-

2 em ago/2011) e terrestre (variou de 42,2 g.m

-2 em março a 136,9 g.m

-2 em ago/2011).

A variação temporal foi mais marcante no aporte lateral (variou de 697,5 g.m-2

em

fevereiro, a 51,2 g.m-2

em ago/2010) e no estoque bêntico (variou de 392,7 g.m-2

em

setembro a 42,5 g.m-2

em ago/2011). (Fig. 3).

Figura 3. Variação mensal do aporte de matéria orgânica (MO) vegetal seca nos diferentes

compartimentos estudados no riacho Cachoeira Grande entre ago/2010 e ago/2011. Barras

representam o erro padrão.

Composição de espécies

As folhas dos aportes foram identificadas em 122 taxa de traqueófitas

subdivididos em 45 famílias botânicas (Apêndice). As famílias com o maior número de

taxa foram Myrtaceae, Lauraceae, Annonaceae, Euphorbiaceae e Sapindaceae, com 12,

10, 8, 8 e 7 taxa, respectivamente. As cinco principais famílias em termos de

incorporação de biomassa foliar ao rio foram responsáveis por 71,9% do aporte total.

Fabaceae foi a família mais representativa contando com 30% desse total, seguida de

Moraceae (17,4%), Euphorbiaceae (11,6%), Sapindaceae (7,5%) e Myristicaceae (5,3%)

(Fig. 4).

38

Figura 4. Porcentagem das cinco principais famílias botânicas no aporte de MO vegetal ao

riacho Cachoeira Grande no período de ago/2010 a ago/2011.

Figura 5. Contribuição média e erro padrão da biomassa foliar das 6 principais espécies

vegetais nos 4 compartimentos do riacho Cachoeira Grande entre ago/2010 e ago/2011.

0

5

10

15

20

25

30

35

% d

o a

po

rte

to

tal d

e f

olh

as

Euphorbiaceae

Fabaceae

Moraceae

Myristicaceae

Sapindaceae

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

vertical lateral bêntico terrestre

g.m

-2.m

ês-1

Cupania vernalis

Ficus adhatodifolia

Ficus eximia

Schizolobium parahyba

Tetrorchidium rubrivenium

Virola bicuhyba

39

A principal espécie ripária na dinâmica de MO do rio foi S. parahyba, que

representou mais de 25% da biomassa total de folhas nos compartimentos. Essa espécie

apresentou uma média de aporte de 8,1 g.m-2

.mês-1

, sendo predominante em todos os

quatro compartimentos estudados. Outras espécies foram representativas, como: F.

eximia (3,5 g.m-2

.mês-1

), V. bicuhyba (2,7 g.m-2

.mês-1

), Ficus adhatodifolia Schott ex

Spreng. (2,3 g.m-2

.mês-1

), C. vernalis (2 g.m-2

.mês-1

) e Tetrorchidium rubrivenium

Poepp. (1,3 g.m-2

.mês-1

) (Fig. 5). Estas espécies foram responsáveis por 52,9% da

biomassa total de folhas encontradas, e representativas em todos os compartimentos na

dinâmica de energia do riacho.

As principais espécies variaram quanto a representatividade da biomassa total

nos compartimentos e quanto aos padrões temporais de aporte. Somente S. parahyba e

F. eximia estiveram entre as quatro espécies mais representativas de todos

compartimentos. S. parahyba apresentou picos de queda de folhas nos meses de agosto

e setembro de 2010, e novamente entre maio e agosto de 2011 para o aporte vertical

(Fig. 6, a) e o terrestre (Fig. 6, c). No estoque bêntico, essa espécie mostrou um

acúmulo máximo em setembro de 2010 que superou largamente todas outras medições

feitas para o compartimento (Fig. 6, d). A espécie F. eximia apresentou picos de queda

em setembro e outubro de 2010 e entre junho a agosto de 2011 para os aportes vertical e

terrestre, padrão similar ao observado para o aporte lateral e o estoque bêntico (Fig. 6).

C. vernalis mostrou maiores taxas de aporte tanto vertical quanto lateral entre outubro

de 2010 e fevereiro de 2011. F. adhatodifolia apresentou maior aporte de biomassa

foliar entre novembro e dezembro de 2010 no aporte terrestre (Fig. 6, c), e máximos de

acumulação em agosto e novembro de 2010 no estoque bêntico (Fig. 6, d). A espécie V.

bicuhyba apresentou um aumento na biomassa incorporada entre novembro e dezembro

de 2010 para o aporte vertical (Fig. 6, a), e entre outubro de 2010 e janeiro de 2011 para

o aporte lateral (Fig. 6, b). T. rubrivenium apresentou picos de incorporação de

biomassa foliar entre setembro e novembro de 2010 no aporte terrestre (Fig. 6, c).

40

Figura 6. Médias e erros-padrão da biomassa foliar das principais espécies do aporte vertical (a), aporte lateral (b), aporte terrestre (c) e estoque bêntico (d) mensurados entre agosto de 2010

e agosto de 2011 no riacho Cachoeira Grande.

Discussão

Dinâmica de MO

O aporte vegetal alóctone teve tendência a ser constante ao longo deste trecho de

100 m do riacho em termos de entrada de biomassa total. Apesar disso, foi observada

grande diferença na forma com que os recursos são incorporados ao ecossistema. A

grande biomassa de MO vegetal aportada é proveniente do aporte lateral, através do

carreamento de material pelo solo da zona ripária para dentro do rio, o que chegou a ser

mais de cinco vezes maior que a queda direta de MO sobre o curso de água. Esse é um

resultado conspícuo, tendo em vista que a maioria dos estudos sobre dinâmica de MO

41

em riachos demonstram uma maior contribuição do aporte vertical quando comparado

com o lateral, tanto para ambientes tropicais (Afonso et al., 2000; Gonçalves et al.,

2006; Selva et al., 2007; Carvalho & Uieda, 2010) como para ambientes temperados

(Fisher & Likens, 1979; Stewart & Davis, 1990; Pozo et al., 1997b; Webster et al.,

1997; Acunña et al., 2007) (Tabela 2). Apenas França et al. (2009) observaram uma

maior participação do aporte lateral comparando-se com o aporte vertical em um riacho

de transição Cerrado/Mata Atlântica, porém, os valores entre o aporte vertical e lateral

foram próximos, e a média de entrada de biomassa lateralmente foi cinco vezes menor

que o observado neste estudo. Essas raras observações de estudos com maior

participação do aporte lateral provavelmente estão relacionadas ao fato de existirem

poucas pesquisas desse gênero em riachos de Mata Atlântica, assim como à falta de

dados como topografia e declividade da área de drenagem dos ecossistemas estudados.

Como evidenciaram Selva et al. (2007) e Wantzen et al. (2008), a declividade da

margem assim como características do solo e superfície de escoamento estão

intimamente relacionadas ao transporte lateral de biomassa vegetal em riachos.

Tabela 2. Resumo de dados do aporte médio de MO (g.m-2

.mês-1

) vegetal em riachos e rios de

ambientes tropicais e temperados. AV = aporte vertical; AL = aporte lateral; AT = aporte terrestre; EB = estoque bêntico; % F = porcentagem de folhas. * dados do presente artigo.

**foram feitos experimentos de 48h, o que acaba por não demonstrar a variabilidade

representativa de um mês.

A grande incorporação lateral observada esteve fortemente relacionada com

períodos de intensa precipitação, que acabaram por criar pequenos fluxos laterais

Rio Clima (bioma) Conservação Ordem AV AL AT EB % F Referência

Cachoeira Grande, SC (BR) Subtropical (Mata Atlântica) preservado 3ª 32 175 69 115 57 Lisboa et al., 2012*

Doné, MG (BR) Tropical (Cerrado / Mata Atlântica) preservado 3ª 28 31 59 138 77,5 Franca et al., 2009

Itaúna, SP (BR) Tropical (Cerrado / Mata Atlântica) preservado 3ª 59 35 94 - 73 Afonso et al., 2000

área aberta 3ª 7 10 17 - 79 Afonso et al., 2000

Ribeirão da Quinta, SP (BR) Tropical (Cerrado / Mata Atlântica) preservado 3ª 102 64 166 - 71 Carvalho & Uieda, 2010

área aberta 3ª 0 6 6 - 71 Carvalho & Uieda, 2010

Indaiá, MG (BR) Tropical (Cerrado) preservado 3ª 24 15 39 316 >50 Gonçalves et al., 2006

Juruena, MT (BR) Tropical (Amazônia) preservado 1ª 98 34 - - 50 Selva et al., 2007

vários (BR) Tropical (Amazônia) preservado 1-3ª 58 12 - - - McClain & Richey, 1996

Andorinha, RJ (BR) Tropical (Mata Atlântica) preservado 3ª 9** - - - - Rezende & Mazzoni, 2005

Nojoro (KE) Tropical preservado - 96 - 175 168 40 Magana, 2001

área aberta - 42 - 86 91 35 Magana, 2001

Fuirosos (ES) Temperado (Mediterrâneo) preservado 3ª 55 16 71 - 65 Acuña et al., 2007

Window (SA) Temperado (Fynbos / Mediterrâneo) preservado 1ª - - 35 41 62 Stewart & Davis, 1990

Saiderrey (ES) Temperado (Floresta Decídua) preservado 1ª 32 9 41 18 77 Pozo et al., 1997b

Jerguerón (ES) Temperado (Eucalipto) preservado 1ª 24 2 26 37 92 Pozo et al., 1997b

Bear Brook (US) Temperado (Conifera) preservado 2ª 46 - 55 95 66 Fisher & Likens, 1973

Hugh Withe Creek (US) Temperado (Floresta Decídua) preservado 2ª 42 8 - 494 82 Webster et al., 1997

42

intermitentes facilitando o carreamento do material vegetal acumulado no solo da zona

ripária para dentro do riacho. Segundo Acuña et al. (2007), a precipitação é um dos

principais fatores que controlam a dinâmica da MO de riachos através dos distúrbios

causados por suas consequentes inundações. Outras pesquisas em riachos tropicais de

Mata Atlântica também evidenciaram uma relação direta entre o aporte total de MO

com períodos chuvosos (Rezende & Mazzoni, 2005; Nin, 2007). Dentro disso, a Mata

Atlântica se diferencia daqueles ambientes tropicais que apresentam sazonalidade

fortemente marcada em estações chuvosa e seca. Pesquisas vêm demonstrando que é na

estação seca, mais especificamente no fim deste período, onde ocorre a maior parte do

aporte de biomassa vegetal em riachos tropicais tanto do Cerrado (Gonçalves et al.,

2006; França et al., 2009; Carvalho & Uieda, 2010), como da Floresta Amazônica

(Selva et al., 2007). Esse padrão está diretamente relacionado ao estresse hídrico

causado por um período de pouca pluviosidade, que força a abscisão foliar de muitas

das espécies de árvores presentes (Campanili & Prochnow 2006). Além disso, a alta

taxa de acúmulo de material na estação seca também influencia o balanço do transporte

final da MO vegetal no riacho (Gonçalves et al., 2006). Entretanto, essa sazonalidade

em ambientes tropicais é diferente e muitas vezes menos marcada que o comportamento

típico de riachos em ambientes temperados (Wantzen et al., 2008), cuja maior parte da

produção de MO se dá no outono (Benfield, 1997; Pozo et al., 1997a), e esse período

pode representar até 90 % da queda de folhas total anual e cerca de 54 % do aporte total

de MO (Fisher & Likens, 1973).

No presente estudo, apesar da variação nas taxas de aporte mensais, não foi

observado um padrão sazonal na incorporação direta de MO para o riacho. Essa

variação se deu principalmente por causa de um evento de cheias causado por altas

taxas de precipitação observadas no mês de fevereiro, que apresentou um pico máximo

de aporte lateral, e acabou por representar um outlier se comparado com os outros

meses. Por ser uma floresta de copa sempre-verde perenifólia (Campanili & Prochnow

2006), para Mata Atlântica propriamente dita é esperada uma queda constante de

serapilheira entre os meses, e, desconsiderando-se eventos de inundações, a entrada de

material alóctone nos riachos ocorre quase que constantemente ao longo do ano (Nin,

2007).

Composição da MO

43

A composição específica de folhas variou ao longo do ano, apesar do caráter

perenifólio da vegetação. A principal espécie para dinâmica da MO do riacho em termos

de biomassa incorporada, S. parahyba, apresentou uma queda de folhas bastante

acentuada no inverno, com pico máximo nos meses de julho e agosto de 2011. Com o

começo da primavera a queda de folhas da espécie teve uma redução brusca, chegando a

zerar no mês de janeiro, e apresentou novamente um pequeno pico no mês de fevereiro

(verão). A espécie F. eximia também apresentou uma queda de folhas acentuada nos

meses de inverno, e uma redução brusca no verão chegando a zerar em janeiro. Essa

diminuição do aporte de duas das principais espécies nos meses mais quentes parece ter

sido compensada por um aumento na queda de folhas de outras espécies, principalmente

C. vernalis, V. bichyba e F. adhatodifolia, que apresentaram picos de aporte de folhas

nos meses quentes.

É provável que a grande diversidade de plantas contribuindo com incorporação

de folhas para o ecossistema esteja influenciando na dinâmica final de MO de maneira a

resultar em um padrão de aporte vertical total constante ao longo do ano, tendo em vista

os diferentes comportamentos ecológicos e fenológicos de cada espécie. Esse é um

padrão que foi observado também por Gonçalves et al. (2006), onde existem diferenças

na contribuição específica porque as espécies de plantas perdem as folhas em épocas

diferentes do ano. Em ecossistemas temperados, cuja sazonalidade é bem marcada, a

vegetação ripária é normalmente pobre em diversidade. Na Europa central, por

exemplo, é comum não se achar mais que dez espécies contribuindo com o aporte

vegetal de determinado riacho (Wantzen et al., 2008). Dessa forma, os mais de 122

táxons de plantas encontrados aqui superam largamente o que se encontra normalmente

em ambientes temperados, inclusive supera outras observações para ambientes tropicais

(França et al., 2009). Esse fato era de certa forma esperado, na medida em que a Mata

Atlântica é uma das florestas mais ricas do mundo em diversidade de árvores

(Campanili & Prochnow 2006).

As folhas formaram a principal fração do aporte total de MO para o riacho,

assim como o observado em outros estudos relacionados, tanto de ecossistemas

tropicais como temperados (Tabela 2). Certas espécies de árvores contribuem com a

maioria desse total, e acabam por ser determinantes e reguladoras dessa ligação

aquático-terrestre presente nesses sistemas. De acordo com o observado aqui, pode-se

sugerir algumas espécies-chave na dinâmica de matéria orgânica de riachos de Mata

Atlântica subtropical em estádio médio-avançado de regeneração, cujas presenças em

44

matas ripárias se faz de extrema importância tanto pela incorporação de energia como

para manutenção da saúde ecológica dos próprios ecossistemas aquáticos (Lima e Zakia,

2009). São elas as espécies S. parahyba, F. eximia, V. bicuhyba, F. adhatodifolia, C.

vernalis e T. rubrivenium.

Considerando-se os resultados encontrados, foram rejeitadas as duas hipóteses

formuladas inicialmente. Ao contrário do que é normalmente encontrado na literatura, o

aporte lateral no riacho em questão foi muito superior ao aporte vertical, e teve uma

forte ligação com a precipitação acumulada, provavelmente associada à declividade do

terreno. Houve variação temporal no aporte de detritos ao rio, mas, diferentemente dos

padrões de Cerrado e Floresta Amazônica, essa temporalidade não é baseada em

estações bem definidas de “chuva” e “seca”, mas sim relacionada diretamente com

períodos pontuais de intensa precipitação distribuídos imprevisivelmente ao longo do

ano. É evidente a falta de estudos sobre dinâmica e composição do aporte da vegetação

ripária em riachos de Mata Atlântica, sobretudo em clima subtropical, sendo que mais

estudos são necessários para comparações relativas a padrões gerais de aporte e

identificação de espécies-chave da dinâmica de MO nas zonas ripárias.

Agradecimentos

Os autores gostariam de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de estudos concedida durante o período

de estudo. Agradecemos também ao suporte estrutural fornecido através da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), do Laboratório de Biologia e Cultivo

de Peixes de Água Doce (LAPAD) da UFSC, do Parque Municipal da Lagoa do Peri e

do departamento de Ecologia e Zoologia (ECZ) da UFSC. Agradecemos também à

EPAGRI pelos dados fornecidos. Agradecemos por último a toda equipe do Laboratório

de Ecologia de Águas Continentais (LIMNOS) da UFSC.

Referências capítulo 1

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50

Apêndice Capítulo 1

Médias mensais (g.m-2

.mês-1

± erro padrão) da biomassa foliar do aporte de MO vegetal por espécie nos compartimentos vertical (n = 90), lateral (n = 10), terrestre (n = 10) assim como do

estoque bêntico (n = 15), mensurados no rio Cachoeira Grande entre agosto de 2010 e agosto de

2011.

Espécie vertical lateral bêntico terrestre

Aegiphila sp. 0,01 ± 0,01 0,03 ± 0,03 0,02 ± 0,02 0,10 ± 0,06

Alchornea glandulosaPoepp. & Endl. 0,26 ± 0,11 1,13 ± 0,85 0,70 ± 0,36 0,34 ± 0,25

Alchornea triplinervia(Spreng.)

Müll.Arg. 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Allophylus cf. guaraniticus 0,04 ± 0,02 0,26 ± 0,23 0,11 ± 0,08 0,02 ± 0,01

Allophylus edulis(A.St.-Hil. et al.)

Hieron. ex Niederl. 0,05 ± 0,03 0,25 ± 0,20 0,28 ± 0,16 0,03 ± 0,02

Amaioua intermediaMart. ex Schult. &

Schult.f. 0,00 ± 0,00 0,03 ± 0,03 0,04 ± 0,04 0,00 ± 0,00

Annona sericea Dunal 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,03 ± 0,03

Annona sp. 0,00 ± 0,00 0,06 ± 0,06 0,00 ± 0,00 0,04 ± 0,02

Annona sylvatica A.St.-Hil. 0,03 ± 0,03 2,06 ± 1,41 0,93 ± 0,35 0,37 ± 0,25

Annona cacans Warm. 0,01 ± 0,00 0,07 ± 0,07 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Aspidosperma sp. 0,00 ± 0,00 0,03 ± 0,03 0,00 ± 0,00 0,11 ± 0,11

Adiantumsp. 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Bauhinia cf. forficata 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Boehmeria caudata Sw. 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01

Bromeliaceae 0,02 ± 0,02 0,21 ± 0,19 0,12 ± 0,11 0,03 ± 0,03

Cabralea canjerana (Vell.) Mart. 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02 0,00 ± 0,00

Calypthranthes lucida Mart. ex DC. 0,08 ± 0,05 1,26 ± 0,81 0,17 ± 0,12 0,30 ± 0,21

Campomanesia cf. reitziana 0,02 ± 0,01 0,02 ± 0,02 0,13 ± 0,09 0,02 ± 0,02

Campomanesia cf. xanthocarpa 0,00 ± 0,00 0,32 ± 0,24 0,18 ± 0,47 0,38 ± 0,29

Casearia obliqua Spreng. 0,29 ± 0,08 0,12 ± 0,12 0,02 ± 0,02 0,02 ± 0,02

Casearia sylvestris Sw. 0,33 ± 0,12 0,02 ± 0,02 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02

Cedrella fissilis Vell. 0,06 ± 0,03 1,33 ± 0,87 1,25 ± 0,35 0,69 ± 0,40

Chrysophyllum sp. 0,01 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Chrysophyllum viride Mart. & Eichler 0,23 ± 0,09 0,42 ± 0,33 0,37 ± 0,19 0,22 ± 0,14

Clethra scabra Pers. 0,07 ± 0,04 0,61 ± 0,41 0,10 ± 0,07 0,43 ± 0,21

Colubrina glandulosa Perkins 0,10 ± 0,04 0,17 ± 0,15 0,00 ± 0,00 0,69 ± 0,94

Coussapoa microcarpa (Schott)

Rizzini 0,04 ± 0,03 0,18 ± 0,17 0,51 ± 0,27 0,25 ± 0,04

Cupania vernalis Cambess. 0,89 ± 0,16 3,84 ± 2,26 1,50 ± 0,52 1,66 ± 0,89

Dahlstedtia sp. 0,00 ± 0,00 0,11 ± 0,09 0,16 ± 0,10 0,11 ± 0,08

Dalechampia sp. 0,03 ± 0,03 1,08 ± 0,91 0,56 ± 0,07 0,53 ± 0,40

Diatenopteryx sorbifolia Radlk. 0,18 ± 0,07 0,33 ± 0,27 0,05 ± 0,03 0,49 ± 0,33

Dioscorea scabra Humb. & Bonpl. ex

Willd. 0,02 ± 0,01 0,12 ± 0,09 0,08 ± 0,05 0,37 ± 0,34

Dioscorea sp. 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,03 ± 0,02

Duguetia sp. 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00

Endlicheria paniculata (Spreng.)

J.F.Macbr.

0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02

51

Erythroxylum argentinum O.E.Schulz 0,14 ± 0,04 0,11 ± 0,10 0,00 ± 0,00 1,17 ± 0,74

Erythroxylum sp.1 0,02 ± 0,02 0,02 ± 0,02 0,07 ± 0,06 0,06 ± 0,05

Erythroxylum sp.2 0,01 ± 0,01 0,08 ± 0,08 0,04 ± 0,04 0,37 ± 0,31

Eugenia bacopari D.Legrand 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Eugenia stigmatosa DC. 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,04 ± 0,02 0,00 ± 0,00

Ficus adhatodifolia Schott ex Spreng. 0,15 ± 0,07 4,07 ± 3,05 1,70 ± 1,10 1,84 ± 1,20

Ficus cestrifolia Schott ex Spreng. 0,89 ± 0,18 6,80 ± 4,94 3,76 ± 1,88 1,25 ± 1,01

Ficus eximia Schott 1,28 ± 0,38 0,57 ± 0,50 1,22 ± 0,49 0,61 ± 0,28

Guatteria australis A.St.-Hil. 0,00 ± 0,00 0,74 ± 0,44 0,30 ± 0,21 0,08 ± 0,06

Guatteria sp. 0,01 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Handroanthus heptaphyllus (Vell.)

Mattos 0,14 ± 0,05 0,93 ± 0,93 0,48 ± 0,28 0,06 ± 0,06

Hieronyma alchorneoides Allemão 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02 0,00 ± 0,00

Hirtella hebeclada Moric. ex DC. 0,04 ± 0,03 0,09 ± 0,09 0,00 ± 0,00 0,03 ± 0,03

Ilex cf. brevicuspis 0,08 ± 0,03 0,03 ± 0,03 0,01 ± 0,01 0,03 ± 0,03

Ilex sp. 0,00 ± 0,00 0,12 ± 0,11 0,02 ± 0,01 0,03 ± 0,02

Inga cf. vera 0,04 ± 0,03 0,03 ± 0,03 0,00 ± 0,00 0,07 ± 0,07

Inga marginata Willd. 0,49 ± 0,14 0,02 ± 0,02 0,06 ± 0,05 0,00 ± 0,00

Lauraceae 0,03 ± 0,01 0,13 ± 0,06 0,01 ± 0,01 0,02 ± 0,02

Leandra sp. 0,01 ± 0,01 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01

Luehea divaricata Mart. & Zucc. 0,05 ± 0,02 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,08 0,02 ± 0,01

Machaerium stipitatum (DC.) Vogel 0,16 ± 0,05 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01

Maclura tinctoria (L.) D.Don ex

Steud. 0,07 ± 0,04 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Magnolia ovata (A.St.-Hil.) Spreng. 0,01 ± 0,01 2,91 ± 2,78 0,90 ± 0,67 0,19 ± 0,19

Marliera sp. 0,00 ± 0,00 0,07 ± 0,05 0,04 ± 0,03 0,06 ± 0,06

Matayba elaeagnoides Radlk. 0,00 ± 0,00 0,07 ± 0,07 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01

Matayba guianensis Aubl. 0,12 ± 0,05 0,20 ± 0,20 0,03 ± 0,03 0,19 ± 0,12

Miconia cabucu Hoehne 0,00 ± 0,00 0,03 ± 0,03 0,00 ± 0,00 0,09 ± 0,09

Miconia cf. cinerascens 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,01 0,00 ± 0,00

Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin 0,00 ± 0,00 0,32 ± 0,24 0,06 ± 0,06 0,38 ± 0,38

Microgramma cf. vacinifolia 0,06 ± 0,04 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Mikania campanulata Gardner 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,05 ± 0,05

Mikania sp. 0,01 ± 0,01 0,15 ± 0,15 0,80 ± 0,41 0,02 ± 0,02

Molinedia cf. calodonta 0,00 ± 0,00 0,08 ± 0,06 0,32 ± 0,20 0,01 ± 0,01

Mollinedia schottiana (Spreng.)

Perkins 0,00 ± 0,00 0,42 ± 0,42 0,13 ± 0,08 0,24 ± 0,18

Myrcia sp. 0,00 ± 0,00 0,30 ± 0,27 0,24 ± 0,13 0,16 ± 0,12

Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Myrsine sp. 0,00 ± 0,00 0,05 ± 0,04 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01

Myrtaceae 3 0,03 ± 0,02 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02

Myrtaceae 4 0,05 ± 0,03 0,02 ± 0,02 0,00 ± 0,00 0,03 ± 0,03

Myrtaceae 5 0,00 ± 0,00 0,08 ± 0,08 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02

Myrtaceae 6 0,00 ± 0,00 1,66 ± 1,63 0,24 ± 0,17 0,11 ± 0,11

Nectandra lanceolata Nees 0,03 ± 0,02 0,02 ± 0,02 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Nectandra oppositifolia Ness 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Ocotea cf. pulchella 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02 0,01 ± 0,01

Ocotea cf. silvestris 0,00 ± 0,00 0,88 ± 0,79 0,73 ± 0,33 0,53 ± 0,27

Ocotea mandioccana A.Quinet 0,17 ± 0,07 0,05 ± 0,05 0,05 ± 0,05 0,03 ± 0,02

52

Ocotea sp.1 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Ocotea sp.2 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01

Ouratea parviflora (A.DC.) Baill. 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02

Passiflora sp. 0,00 ± 0,00 0,13 ± 0,08 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01

Pausandra morisiana (Casar.) Radlk. 0,37 ± 0,14 0,30 ± 0,26 0,07 ± 0,01 0,02 ± 0,01

Pouteria salicifolia (Spreng.) Radlk. 0,00 ± 0,00 0,47 ± 0,26 0,14 ± 0,07 0,23 ± 0,10

Pera glabrata (Schott) Poepp. ex

Baill. 0,15 ± 0,07 0,02 ± 0,02 0,03 ± 0,03 0,00 ± 0,00

Persea sp. 0,01 ± 0,01 0,20 ± 0,17 0,05 ± 0,05 0,04 ± 0,03

Piper aduncum L. 0,00 ± 0,00 0,15 ± 0,11 0,02 ± 0,02 0,11 ± 0,07

Piptocarpha cf. tomentosa 0,00 ± 0,00 0,26 ± 0,22 0,00 ± 0,00 0,10 ± 0,07

Poaceae 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Posoqueria latifolia (Rudge) Schult. 0,06 ± 0,03 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,21 ± 0,13

Prunus myrtifolia (L.) Urb. 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02

Psidium cattleianum Sabine 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01 0,01 ± 0,01

Roupala brasiliensis (Klotzsch) 0,02 ± 0,01 0,91 ± 0,43 0,33 ± 0,29 0,49 ± 0,21

Rubiaceae 0,00 ± 0,00 0,03 ± 0,02 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02

Rudgea sp.1 0,00 ± 0,00 0,33 ± 0,27 0,05 ± 0,03 0,49 ± 0,33

Rudgea sp.2 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,05 ± 0,05 0,00 ± 0,00

Sapium glandulosum (L.) Morong 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01

Schizolobium parahyba (Vell.) Blake 6,79 ± 1,04 7,69 ± 5,61 1,65 ± 9,80 11,0 ± 6,85

Sebastiana sp.2 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,07 ± 0,06 0,03 ± 0,03

Sebastiania sp.1 0,17 ± 0,06 0,03 ± 0,03 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01

Serjania sp. 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,02 0,05 ± 0,04 0,01 ± 0,01

Sloanea guianensis (Aubl.) Benth. 0,00 ± 0,00 0,19 ± 0,16 0,33 ± 0,20 0,09 ± 0,07

Smilax sp. 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,04 ± 0,04 0,02 ± 0,02

Solanacea 0,00 ± 0,00 0,84 ± 0,73 0,04 ± 0,04 0,40 ± 0,18

Solanum cf. mauritianum 0,10 ± 0,05 0,08 ± 0,08 0,08 ± 0,07 0,05 ± 0,02

Solanum sp. 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,16 0,00 ± 0,00

Sorocea bonplandii (Baill.)

W.C.Burger et al. 0,00 ± 0,00 0,04 ± 0,04 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Strychnus trinervis (Vell.) Mart. 0,01 ± 0,01 0,08 ± 0,08 0,08 ± 0,07 0,05 ± 0,02

Symplocos sp. 0,00 ± 0,00 0,10 ± 0,09 0,07 ± 0,05 0,03 ± 0,03

Tetrorchidium rubrivenium Poepp. 0,23 ± 0,10 2,08 ± 1,22 0,26 ± 1,08 2,03 ± 0,89

Tillandsia sp. 0,00 ± 0,00 1,68 ± 1,20 1,21 ± 0,52 0,66 ± 0,42

Trema micrantha (L.) Blume 0,08 ± 0,04 0,39 ± 0,32 0,15 ± 0,08 0,22 ± 0,13

Trichilia cf. clausseni 0,03 ± 0,02 0,67 ± 0,58 0,18 ± 0,13 0,46 ± 0,34

Vernonanthura discolor (Spreng.)

H.Rob. 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Virola bicuhyba (Schott ex Spreng.)

Warb. 0,51 ± 0,17 6,93 ± 5,49 1,65 ± 0,74 1,49 ± 1,34

Vriesea sp. 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Xylopia brasiliensis Spreng. 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,08 ± 0,07

Xylosma sp. 0,01 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Zanthoxylum sp. 0,00 ± 0,00 0,19 ± 0,19 0,00 ± 0,00 0,06 ± 0,05

Indeterminada 1 0,06 ± 0,04 0,04 ± 0,03 0,00 ± 0,00 0,02 ± 0,01

Indeterminada 2 0,02 ± 0,01 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00

Indeterminada 3 0,00 ± 0,00 0,68 ± 0,65 0,49 ± 0,25 0,18 ± 0,15

indeterminada 4 0,20 ± 0,08 0,10 ± 0,10 0,04 ± 0,04 0,00 ± 0,00

Indeterminada 5 0,00 ± 0,00 0,01 ± 0,01 0,05 ± 0,04 0,03 ± 0,02

53

Indeterminada 6 0,05 ± 0,03 0,19 ± 0,12 0,93 ± 0,48 0,02 ± 0,02

Indeterminada 7 0,00 ± 0,00 0,13 ± 0,11 0,03 ± 0,10 0,84 ± 0,41

Indeterminada 8 0,01 ± 0,01 0,41 ± 0,29 0,08 ± 0,05 0,51 ± 0,28

Indeterminada 9 0,01 ± 0,01 2,91 ± 2,78 0,90 ± 0,67 0,19 ± 0,19

Indeterminada 10 0,03 ± 0,03 0,12 ± 0,12 0,03 ± 0,04 0,18 ± 0,13

Indeterminada 11 0,04 ± 0,03 0,45 ± 0,32 0,30 ± 0,14 0,23 ± 0,17

Indeterminada 12 0,00 ± 0,00 0,00 ± 0,00 0,32 ± 0,41 0,00 ± 0,00

Indeterminada 13 0,01 ± 0,00 0,44 ± 0,44 0,13 ± 0,11 0,03 ± 0,02

Indeterminada 14 0,00 ± 0,00 0,25 ± 0,24 0,01 ± 0,01 0,22 ± 0,19

Indeterminada 15 0,00 ± 0,00 0,08 ± 0,08 0,00 ± 0,00 0,10 ± 0,09

54

Capítulo 2

Relação entre a estrutura da comunidade de invertebrados

aquáticos com a composição e biomassa de detritos foliares em riachos

preservado e impactado

Relationship of aquatic invertebrate community structure to the

composition and biomass of leaf litter in preserved and impacted

streams

Leonardo Kleba Lisboa1,3

, Aurea Luiza Lemes da Silva2,3

, Ana Emília Siegloch3,

e Mauricio Mello Petrucio1,3

1Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal, Universidade Federal de

Santa Catarina - Trindade, Florianópolis, CEP 88010-970, Santa Catarina, Brasil

Email: [email protected]

2Programa de Pós-graduação em Ecologia, Universidade de Brasília, Darcy

Ribeiro, Brasília- DF - CEP 70910-900.

3Laboratório de Ecologia de Águas Continentais, Universidade Federal de Santa

Catarina - Trindade, Florianópolis, CEP 88010-970, Santa Catarina, Brasil

55

Resumo

Detritos vegetais alóctones depositados no estoque bêntico formam um dos

principais recursos energéticos de riachos florestados, mas pouca atenção tem sido dada

para a composição de folhas em riachos tropicais e sua relação com a comunidade de

invertebrados aquáticos. O presente trabalho avaliou a relação entre a estrutura da

comunidade de invertebrados aquáticos e a composição e biomassa de folhas do estoque

bêntico em dois riachos de Mata Atlântica com diferentes graus de conservação da

vegetação ripária ao longo de um ano. O estudo se baseou nas hipóteses de que (1) a

comunidade de invertebrados varia espacialmente de acordo com a composição e

quantidade dos recursos, e (2) as comunidades variam temporalmente em função da

variabilidade dos recursos. O riacho preservado apresentou maior riqueza tanto na

comunidade de invertebrados como na composição das folhas do estoque bêntico.

Chironomidae e Simuliidae foram as famílias mais abundantes nos dois ambientes. A

estrutura das comunidades e a composição do detrito foram significativamente

diferentes entre os dois riachos, e em ambas variaram temporalmente. A variação

espacial da comunidade de invertebrados foi influenciada pela riqueza de espécies

vegetais e quantidade de recursos, além de temperatura da água e condutividade.

Variações temporais foram influenciadas principalmente pela temperatura da água e

precipitação nos dois riachos, sendo que a biomassa de folhas foi uma variável

importante apenas para o riacho preservado. A variação temporal na comunidade do

riacho impactado foi mais pronunciada, provavelmente relacionada à menor integridade

da vegetação ripária. Sugerimos ainda, que a riqueza de espécies do detrito influenciou

a variação espacial das comunidades, mas parece não influenciar variações temporais. A

primeira hipótese foi acatada, e a segunda apenas em parte para o riacho preservado.

Palavras chave: variação espacial e temporal, estoque bêntico, Mata Atlântica,

integridade da vegetação ripária

56

Abstract

Allochtonous leaf litter in benthic stock is one of the main energetic resources in

forested streams, but little attention has been paid to leaf composition in tropical

streams and its relation with the aquatic invertebrate community. The present study

evaluated the relation between aquatic invertebrate community structure to the benthic

leaf litter composition and biomass in two Atlantic Rain Forest streams with different

riparian vegetation integrity states during a year. We hypothesized that (1) the

invertebrate community changes spatially according to the quantity and composition of

resources, and (2) communities change temporally in function of resource variability.

The preserved stream showed higher richness in invertebrate community and in benthic

leaf litter composition. Chironomidae and Simuliidae were the dominant families in

both streams. Community structure and leaf composition were significantly different

between the streams, and both showed temporal variation. Spatial invertebrate

communities variation was influenced by leaf species richness and resources quantity,

and also by water temperature and conductivity. Temporal variations were influenced

mainly by water temperature and precipitation in both streams, but just for the preserved

one the biomass of leaves was also important. Temporal variation was more pronounced

in the impacted stream, possibly related to the worse riparian vegetation integrity state.

We suggest that leaf litter richness influences community spatial variation, but seems to

not influence temporal variations. The first hypothesis was accepted, and the second

accepted just in part for the preserved stream.

Key-words: Spatio-temporal variation, benthic stock, Atlantic Forest, riparian

vegetation integrity

57

Introdução

Detritos vegetais alóctones representam uma das principais fontes de energia

para riachos de cabeceira, e têm papel crucial no suporte e estruturação das

comunidades aquáticas (Cummins et al, 1973; Cummins & Klug, 1979; Vannote et al.,

1980; Wallace et al., 1997). Ao entrarem nos riachos, esses detritos são agregados de

acordo com mecanismos de retenção do ecossistema (Richardson et al., 2005), e

acumulados de acordo com o regime do fluxo de água (Acuña et al., 2007) e taxas de

incorporação e processamento da matéria orgânica (Gonçalves. et al., 2006). A

composição do detrito alóctone está diretamente relacionada à composição da vegetação

ripária (Swan & Palmer, 2006; Kominoski et al., 2011), que por sua vez irá determinar a

qualidade e quantidade de subsídios de detritos que entram nos ecossistemas

(Kominoski et al., 2012). Assim, a vegetação ripária tem influência direta na

disponibilidade alimentar aos invertebrados aquáticos (Ardón & Pringle, 2008;

Kominoski et al., 2012), fornecendo folhas de diferentes qualidades que acabam por

representar diferentes tipos de recursos para insetos e micro consumidores (Ardón &

Pringle, 2008). Além disso, as comunidades aquáticas também utilizam indiretamente o

material vegetal depositado no leito de riachos (Carvalho & Uieda, 2010), que podem

servir como locais de refúgio e forrageio (Taniguchi & Tokeshi, 2004).

Estudos demonstram que a estrutura da comunidade de invertebrados aquáticos é

influenciada pela abundância de recursos (Burdett & Watts, 2009), tempo de exposição

dos detritos (Abelho, 2008), diversidade do substrato (Boyero, 2003) e heterogeneidade

do habitat (Taniguchi & Tokeshi, 2004; Brown, 2007). Segundo Swan & Palmer

(2006), misturas de folhas apresentam fatores tanto positivos (nutrientes disponíveis)

como negativos (compostos secundários), que direcionam a preferência e performance

de alimentação dos consumidores. Muitos invertebrados, principalmente pertencentes ao

grupo trófico dos fragmentadores (ex: Calamoceratidae, Trichoptera), obtêm energia e

nutrientes necessários colonizando e ingerindo preferencialmente folhas de maior

qualidade nutricional (Bastian et al., 2007; Janke & Trivinho-Strixino, 2007; Abelho,

2008; Graça & Cressa, 2010), em especial aquelas já previamente condicionadas pela

colonização por microrganismos (Bastian et al., 2007; Graça & Cressa, 2010).

De acordo com Wantzen et al. (2008), a diminuição da diversidade de plantas

vasculares em latitudes mais elevadas faz com que a composição do aporte de matéria

orgânica alóctone em riachos tenha variações substanciais entre ambientes temperados e

58

tropicais. Assim, a riqueza na composição de folhas do estoque bêntico tende a ser

muito maior em ambientes preservados tropicais (Wantzen et al., 2008; Boyero et al.,

2011), fazendo com que invertebrados neotropicais colonizem uma gama de espécies de

folhas muito maior (Bastian et al., 2007). Apesar disso, a diversidade de fragmentadores

é maior em ambientes temperados (Boyero et al., 2011), pois a qualidade dos detritos

tende a ser maior (Graça & Cressa, 2010), e a participação de microrganismos no

processo de decomposição menor (Abelho et al., 2005). Além disso, a dinâmica da

vegetação ripária e consequentemente padrões de acumulação de detritos vegetais no

leito de riachos são extremamente variáveis entre ambientes tropicais e temperados,

principalmente em função do clima e fenologia da vegetação (Webster & Meyer, 1997;

Wantzen et al., 2008). Em latitudes elevadas, as poucas espécies presentes tendem a

perder as folhas no outono, ocasionando grande incorporação de biomassa vegetal no

ambiente aquático em um mesmo período (Fisher & Likens, 1973; Pozo et al., 1997).

Em muitos ambientes tropicais, entretanto, a distribuição dos detritos vegetais tende a

ser fragmentada e imprevisível durante o ano (Bastian et al., 2007). Estudos sobre a

composição de espécies dos detritos foliares depositados no leito de riachos são

virtualmente inexistentes para sistemas lóticos tropicais (Bastian et al., 2007). O

consumo de detritos foliares por invertebrados aquáticos de pequenos riachos tem sido

bastante estudado, mas muitos estudos têm sido feitos experimentalmente com pacotes

de folhas de espécies abundantes do local (Yanoviak, 1999; Janke e Trivinho-Strixino,

2007; Burdett & Watts, 2009; Neiff et al., 2009), não contemplando a diversidade da

composição do material do estoque bêntico, e pouca atenção vem sendo dada para a

influência da diversidade de folhas nesse processo (Bastian et al., 2007).

A composição e retenção do aporte de detritos em rios e riachos também é

fortemente influenciada por mudanças no uso da terra (Kominoski & Rosemond, 2012),

sendo que a quantidade de matéria orgânica diminui drasticamente de áreas com

vegetação preservada para áreas abertas por influência antrópica (Afonso et al., 2000;

Carvalho & Uieda, 2010; Kiffney & Richardson, 2010). Neste contexto, Áreas de

Preservação Permanente (APPs) conseguem manter o fluxo energético em riachos de

cabeceira através da preservação da vegetação ripária (Kiffney & Richardson, 2010).

Como mudanças na composição dessa vegetação podem afetar os ecossistemas

aquáticos através de alterações na dinâmica de matéria orgânica (Kominoski &

Rosemond, 2012), diferentes graus de preservação da vegetação tendem a propiciar

mosaicos de folhiço com comunidades de invertebrados dissimilares, possivelmente

59

influenciada pela variação na quantidade e composição do detrito vegetal acumulado.

Nesse sentido, diferentes estágios sucessionais da vegetação ripária parecem influenciar

a distribuição dos invertebrados aquáticos (Bastian et al., 2007).

Partindo do princípio que a comunidade de invertebrados aquáticos está

diretamente associada às características dos recursos, e de que existe variação temporal

no aporte desses recursos, este estudo se baseou nas seguintes hipóteses: (1) há variação

na estrutura da comunidade de invertebrados entre riachos de vegetação ripária

preservada e impactada em função de diferenças na composição e quantidade do detrito

no estoque bêntico, e (2) a distribuição dos invertebrados aquáticos varia temporalmente

de acordo com a variabilidade na riqueza e biomassa dos recursos do estoque bêntico.

Material e métodos

Área de estudo

O município de Florianópolis está localizado em zona subtropical, e segundo a

classificação climática de Köeppen, o clima é do tipo Cfa, com ausência de estação

seca, chuvas distribuídas uniformemente durante o ano e verões rigorosos (Nascimento,

2002). A Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri (27° 43' 30” S e 48° 32' 18” W) possui

20,3 km2, e tem os mesmos limites do Parque Municipal da Lagoa do Peri, criado pela

Lei Municipal n° 1.828/81, situado ao sul da parte insular de Florianópolis (CECCA,

1996). Aproximadamente 75% da bacia é constituída pelo complexo cristalino pré-

cambriano, com relevo acidentado representado na forma de altos morros como o Morro

da Chapada (440 m), da Tapera (371 m), da Boa Vista (350 m) e do Peri (320 m)

(Santos et al., 1989). A maior parte desses terrenos cristalinos, situados no norte, oeste e

sul da bacia, são cobertos por densa vegetação de Mata Atlântica (Floresta Ombrófila

Densa) em estádios de regeneração avançado. A parte leste da bacia é constituída

geologicamente por terrenos de sedimentação quaternária, que separam a lagoa do

Oceano Atlântico através de uma estreita faixa de 250 m de largura. Essa região é

coberta principalmente por vegetação litorânea característica de restinga e de praia, com

algumas áreas ocupadas por casas e pequenos trechos de plantação de Eucalipto.

Representando um dos dois principais tributários da bacia hidrográfica, o rio

Cachoeira Grande drena uma área de 1,66 km2, tem suas nascentes situadas na cota de

280 m de altitude e percorre 1,17 km até desaguar na Lagoa do Peri (Santos et al.,

1989). Esse rio possui densa vegetação ripária justamente por se estender através de um

60

dos estádios mais desenvolvidos de vegetação secundária da ilha, podendo até mesmo

abrigar áreas de floresta primária (Caruso, 1990). O experimento foi realizado perto da

foz do rio, em um trecho de 3ª ordem, com densa cobertura de dossel. Em virtude disso,

esse ambiente foi considerado como preservado.

Já o rio Ribeirão Grande drena uma área de 6,98 km2, tem suas nascentes por

volta de 285 m de altitude e percorre 4,6 km até desaguar na lagoa (Santos et al., 1989).

Esse rio atravessa uma área de pequenas propriedades rurais, cujos agricultores

transformaram parte da vegetação ripária com o plantio de espécies nativas (Manihot

esculenta) e exóticas (Saccharum sp., Musa sp. e Bambusa sp.), e em determinados

trechos com a supressão para pecuária. No trecho estudado deste rio, também de 3ª

ordem, também ocorrem espécies nativas remanescentes na vegetação, sendo que estas

não são representativas e têm abundância muito menor que as espécies exóticas. Para o

presente estudo esse ambiente foi considerado como impactado.

Metodologia experimental

O experimento foi realizado nos dois principais tributários da Bacia Hidrográfica

da Lagoa do Peri, os quais foram classificados como “preservado” e “impactado” de

acordo com o grau de preservação da vegetação ripária. Foram escolhidos cinco pontos

de coleta em cada rio, separados por uma distância média de 20 m entre si. Os detritos

vegetais depositados no leito do rio (estoque bêntico) foram coletados com auxílio de

um amostrador tipo Surber, tamanho 0,3 x 0,3 m e abertura de malha de 0,25 mm. Em

cada ponto de coleta foram realizadas três amostragens aleatórias onde se encontrava

depósito de folhiço, totalizando 15 amostras mensais por rio. As coletas foram

realizadas ao longo de onze meses, compreendendo o período de agosto de 2010 a junho

de 2011.

Todas as amostras foram levadas a laboratório e lavadas em peneiras de 0,25

mm para retenção de invertebrados aquáticos. Após a lavagem, o material vegetal foi

seco em estufa a 60ºC até a estabilização do peso, e então determinado o peso seco

através de balança analítica de precisão 0,01 g. Os detritos vegetais foram separados

qualitativamente entre folhas, galhos e partes reprodutivas. As folhas foram

identificadas até o menor grupo taxonômico possível com bibliografia adequada (Sobral

et al., 2006) e com auxílio de especialista. Os animais retidos na peneira foram triados,

acondicionados em frascos com álcool 70% e posteriormente identificados até o menor

61

nível taxonômico possível utilizando-se chaves de identificação disponíveis (Fernández

& Domínguez, 2001; Mugnai et al., 2010) e ajuda de especialistas.

Simultaneamente às coletas de estoque bêntico foram medidas in situ variáveis

ambientais da água como oxigênio dissolvido (mg.l-1

), temperatura (°C), condutividade

(μS.cm-1

) e pH com auxílio de sonda específica WTW-Multi350i. A velocidade da água

(m.s-1

) foi obtida através do método do flutuador com cinco réplicas por ponto,

profundidade (m) medida com trena em dez réplicas por ponto, e a temperatura do ar

medida com termômetro. Dados de precipitação referentes ao município foram

fornecidos pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

(EPAGRI).

Análise dos dados

A fim de se verificar a existência de diferenças entre os dois rios nos parâmetros

da água, foi realizado o teste de Mann-Whitney com as matrizes de dados abióticos

brutos. Para verificar a existência de variação espacial entre os pontos amostrais dentro

de cada rio, e de variação temporal entre os meses quanto aos parâmetros ambientais,

foi realizado o teste de Kruskal-Wallis com os parâmetros individuais brutos para cada

ambiente. Foram utilizados testes não-paramétricos pois as variáveis da água não se

encaixaram na distribuição normal de acordo com o teste de Shapiro-Wilk. Os testes

acima citados foram realizados com auxílio do programa estatístico Statistica 7.

A riqueza da comunidade aquática e o esforço amostral foram avaliados através

da curva de acumulação de espécies referente a todo período de estudo, calculada a

partir da matriz bruta de abundância de indivíduos com auxílio do programa EstimateS

8.2.0, e plotada utilizando-se o método de Mao Tau. Variações na estrutura da

comunidade entre os dois rios foram verificadas através da análise de escalonamento

multidimensional (MDS), obtida a partir da matriz de similaridade de Bray Curtis das

médias de abundância de todo período transformados em log (x+1). Similaridades entre

as comunidades foram testadas estatisticamente através de uma análise de similaridade

(ANOSIM), tendo como fatores as duas áreas. Quando diferenças significativas foram

detectadas (a partir da ANOSIM), a análise de porcentagem de similaridade (SIMPER)

foi utilizada para identificar os táxons responsáveis pela diferença observada nas

comunidades (Clarke & Warwick, 2001). A análise SIMPER não é um teste estatístico,

mas uma análise exploratória que gera um ranking de porcentagem de contribuição dos

62

táxons mais importantes para determinar a diferença entre os grupos de amostras, i.e.,

neste caso, riachos com diferente complexidade da vegetação ripária.

A variação espacial da composição dos detritos foliares foi analisada através de

um MDS, calculado a partir das matrizes de distância Euclidiana dos dados de presença

e ausência das espécies vegetais dos dois riachos. Similaridades entre os riachos foram

testadas através de uma ANOSIM, tendo como fatores as duas áreas.

Para verificar a influência das variáveis ambientais na estrutura da comunidade

entre as duas áreas, foi feita uma Análise de Correspondência Canônica (CCA),

calculada através das médias mensais de abundância e das médias mensais de variáveis

ambientais transformadas em log (x+1), analisando-se conjuntamente os dois ambientes

estudados. As variáveis foram incluídas na análise através de seleção manual,

excluindo-se aquelas não significativas (Monte Carlo, p > 0,05), representando-se as

amostragens por ambiente e por mês de coleta. A significância foi verificada com o

teste de Monte Carlo (p < 0,05). A CCA foi feita com auxílio do programa Canoco for

Windows 4.5.

Variações temporais da comunidade e da composição dos detritos foliares foram

analisadas em separado para cada riacho, e testadas a partir de ANOSIMs utilizando-se

as mesmas matrizes do MDS, e considerando como fatores os meses. A fim de se

evidenciar os principais fatores ambientais responsáveis pela variação temporal da

comunidade, foi feita uma análise de BIOENV para cada riacho em separado

relacionando-se a matriz de similaridade de Bray Curtis das médias de abundância

transformada (log x + 1), com a matriz de distância Euclidiana dos dados abióticos

transformados (log x + 1) e padronizados. Para análises multivariadas, além dos

parâmetros físico-químicos da água e variáveis meteorológicas, foram considerados

como fatores ambientais as categorias do estoque bêntico vegetal como “folhas”,

“galhos”, “reprodutivos”, “miscelânea” e “total de matéria orgânica” medidas em

biomassa média (g), e “riqueza” de espécies na composição do detrito. Todas as análises

de MDS, ANOSIM, SIMPER e BIOENV foram feitas com auxilio do programa

estatístico Primer 6 (Clarke & Gorley, 2006).

Resultados

Variação espacial

63

Não foi observada diferença nos parâmetros físico-químicos da água (Kruskal-

Wallis, p > 0,01) entre os pontos de coleta tanto para o riacho preservado (Figura 1, CG)

como para o riacho impactado (Figura 1, ST). Comparando-se as variáveis físico-

químicas da água entre os dois rios, as médias de pH, oxigênio dissolvido, temperatura e

velocidade da água não foram significativamente diferentes (Mann-Whitney, p > 0,01).

Apenas condutividade da água e a profundidade diferiram entre os dois ambientes (Z = -

5,6 p < 0,01 e Z = 2,6, p < 0,01; respectivamente), a primeira com médias maiores no

riacho impactado, e a segunda com médias maiores no preservado (Figura 1).

Figura 1. Valores médios de precipitação mensal (PA), pH, condutividade elétrica (CE),

oxigênio dissolvido (OD) e temperaturas (Temp) da água e do ar medidos entre agosto de 2010

e junho de 2011 nos riachos preservado (CG) e impactado (ST).

Na comunidade bentônica foi identificado um total de 17.445 indivíduos no

riacho preservado, e 13.704 no impactado, classificados em 56 táxons de invertebrados.

Os insetos formaram o grupo mais representativo tanto em termos de abundância como

de riqueza. Para ambos os rios, as famílias de dípteros Chironomidae (5.125 indivíduos

no riacho preservado e 6.390 no riacho impactado) e Simuliidae (1.973 e 1.550,

respectivamente) foram as mais importantes em termos de abundância da comunidade

64

(Tablea 1). Trichoptera foi a ordem mais diversa no riacho preservado apresentando 9

famílias, enquanto Diptera apresentou o maior número (8 famílias) no impactado.

Algumas famílias consideradas bioindicadores de integridade ambiental só ocorreram

no ambiente preservado, como Hydroptilidae, Leptohyphidae, Polycentropodidae e

Philopotamidae (Tablea 1).

Tabela 1. Análise de SIMPER com os táxons que representaram mais de 90% da abundância da comunidade em valores de similaridade (Sim/SD), abundância média (Abu méd), percentual de

contribuição da abundância total (Contrib %) e contribuição acumulativa (Cum %) observados

entre agosto de 2010 e junho de 2011 nos riachos preservado (Cachoeira Grande) e impactado (Ribeirão Grande).

Através da curva de acumulação de espécies foi observada uma maior riqueza no

riacho preservado, que demonstrou atingir 56 táxons com a estabilização da curva. O

riacho impactado não apresentou clara estabilização da curva de acumulação, atingindo

Taxa

Sim/SD Abu méd Contrib % Cum % Sim/SD Abu méd Contrib % Cum %

Chironomidae 4,06 3,46 12,81 12,81 4,18 3,64 23,75 23,75

Simuliidae 2,07 2,33 7,13 19,94 1,91 2,24 11,91 35,66

Hydroptilidae 3,25 1,5 5,14 25,08 - - - 35,66

Leptophlebiidae 2,13 1,67 5,14 30,22 0.88 0,67 2,27 37,93

Calamoceratidae 3,7 1,48 5,01 35,23 1,31 0,85 3,94 41,87

Hidropsychidae 3,21 1,35 4,73 39,97 1,42 1,18 5,57 47,44

Elmidae 2,32 1,33 4,27 44,24 1,31 1,17 5,23 52,67

Oligochaeta 2,08 1,31 3,98 48,22 0,83 1,01 3,51 56,18

Leptoceridae 1,67 1,33 3,95 52,17 1,51 0,86 4,17 60,35

Leptohyphidae 2,22 1,03 3,28 55,46 - - - 60,35

Collembola 1,48 1,18 3,26 58,71 0,84 0,78 2,96 63,31

Acari 1,29 1,05 2,83 61,54 0,6 0,81 2,16 65,47

Hydrophilidae 1,56 0,99 2,74 64,28 - - - 65,47

Polycentropodidae 1,3 0,94 2,52 66,8 - - - 65,47

Gerridae 1,45 0,83 2,24 69,04 - - - 65,47

Muscidae 0,91 1,06 2,2 71,24 - - - 65,47

Calopterygidae 1,34 0,78 2,08 73,32 0,87 0,59 2,15 67,62

Tipulidae 0,98 0,86 2,02 75,34 0,94 0,75 2,95 70,57

Megapodagrionidae 1,24 0,77 1,99 77,34 - - - 70,57

Ceratopogonidae 1,3 0,78 1,94 79,27 1,19 0,82 3,56 74,13

Hydrobiidae 1,01 0,84 1,85 81,13 1,69 1,3 6,29 80,42

Hyalidae 0,87 0,82 1,76 82,88 - - - 80,42

Hirudinea 0,91 0,75 1,72 84,6 0,95 0,79 3,04 83,46

Coenagrionidae 0,83 0,63 1,3 85,91 - - - 83,46

Veliidae 0,83 0,58 1,22 87,12 - - - 83,46

Trichodactylidae 0,72 0,61 1,14 88,27 - - - 83,46

Libellulidae 0,82 0,56 1,11 89,38 - - - 83,46

Philopotamidae 0,8 0,51 1 90,38 - - - 83,46

Empididae - - - 90,38 1,4 0,94 4,52 87,98

Tabanidae - - - 90,38 0,8 0,88 3,15 91,13

PRESERVADO IMPACTADO

65

44 táxons de invertebrados (Figura 2). Os ambientes preservado e impactado

demonstraram significativa diferenciação quanto à estrutura da comunidade de

invertebrados aquáticos (ANOSIM, R = 0,69, p < 0,001). A ordenação de

escalonamento multidimensional dos dados de abundância demonstrou claramente essa

separação dos ambientes (Figura 3), com um valor de “stress” relativamente baixo, de

0,18, indicando que o MDS foi uma representação bidimensional aceitável das

distâncias multivariadas entre os dados da matriz de similaridade (Benstead & Huryn,

2011).

Figura 2. Curva de acumulação de

espécies baseada no índice de

“MaoTau”, utilizando o número de famílias de invertebrados aquáticos

por amostragens, nos riachos

preservado (círculos) e impactado (triângulos), amostradas entre

agosto de 2010 a junho de 2011 na

Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri, SC. Pontilhados representam

intervalo de confiança de 95%.

Comparando a composição taxonômica foliar do estoque bêntico entre os dois

riachos, foi observada uma diferenciação significativa (ANOSIM, R = 0,6, p < 0,001),

representada através da ordenação do MDS (Figura 4). Além da composição, essa

diferenciação também se deu na riqueza e biomassa vegetal (Figura 5). A presença de

espécies exóticas foi observada apenas no rio impactado, e, apesar de representarem

uma fração pequena da quantidade total de matéria orgânica, formaram uma fração

significativa da biomassa total de folhas presentes no estoque bêntico (Figura 5).

66

Figura 3. Ordenação de escalonamento multidimensional (MDS) obtida pela matriz de

similaridade de Bray Curtis dos dados de abundância da comunidade de invertebrados aquáticos, transformada por log(x+1), dos riachos preservado (CG) e impactado (ST), coletados

mensalmente entre agosto de 2010 e junho de 2011 na Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri, SC.

Figura 4. Ordenação de escalonamento multidimensional (MDS) dos dados de composição

específica dos detritos foliares feita através da similaridade de distância Euclidiana da matriz de presença/ausência de espécies vegetais dos riachos preservado (CG) e impactado (ST) coletados

entre agosto de 2010 e junho de 2011 na Bacia Hidrográfica da Lagoa do Peri, SC.

67

Figura 5. Quantidade de detritos vegetais do estoque bêntico

representados em biomassa total de

recursos (MO, matéria orgânica), e

riqueza de espécies vegetais do folhiço coletado, observadas entre

agosto de 2010 e junho de 2011

nos riachos preservado (CG) e impactado (ST). Barras

quadriculadas representam a

quantidade de biomassa de folhas referentes a espécies exóticas –

encontradas apenas no rio ST.

De acordo com a CCA, as principais variáveis ambientais responsáveis por

diferenças na estruturação das comunidades de invertebrados entre os riachos foram

riqueza de espécies do estoque bêntico, biomassa de galhos e a condutividade elétrica,

enquanto a temperatura parece explicar diferenças entre os meses, tendo em vista que

esteve positivamente relacionada com os meses quentes de ambos os riachos (Figura 6).

Apesar da explicação dos eixos da CCA na estruturação da comunidade ter sido

relativamente baixa (eixo 1 = 25,7%; eixo 2 = 9,2%), a análise mostrou significativa

correspondência (Monte Carlo, p < 0,05) entre as variáveis ambientais e a estrutura da

comunidade. A partir da CCA pode-se observar primeiramente uma separação entre os

dois ambientes através do eixo 1. Os vetores de riqueza de espécies do detrito e de

biomassa de galhos foram positivamente relacionados às amostragens do riacho

preservado, enquanto que a temperatura da água se mostrou positivamente relacionada

aos meses quentes do riacho impactado, assim como a condutividade mais relacionada

às amostragens desse ambiente (Figura 6).

68

Figura 6. Análise de Correspondência Canônica (CCA) entre as matrizes de abundância da comunidade de invertebrados aquáticos e das variáveis ambientais transformadas em log (x +1),

mensuradas entre agosto de 2010 e junho de 2011 nos riachos Cachoeira Grande (CG,

preservado, círculos cinzas) e Ribeirão Grande (ST, impactado, círculos brancos). Triângulos

representam a ordenação das famílias de invertebrados. Consideraram-se só as variáveis ambientais significativas (Monte Carlo, p < 0,05); Condut = condutividade da água, Temp =

temperatura da água (°C), Riqueza = número de espécies vegetais do detrito, Galhos = biomassa

de galhos. O eixo 1 representou 25,7% da variação da comunidade, e o eixo 2 representou 9,2% dessa variação. Correspondências entre as variáveis bióticas e abióticas foram significativas

(Monte Carlo, p < 0,05).

Variação temporal

A maioria das variáveis físico-químicas mensuradas apresentou uma variação

temporal significativa (Kruskal-Wallis, p < 0,01) ao longo dos meses, tanto para o rio

preservado como para o impactado (Figura 1). Apenas a profundidade não apresentou

variação temporal entre os meses (Kruskal-Wallis, p > 0,01). Para ambos os rios, a

temperatura da água foi maior nos meses de janeiro e fevereiro, atingindo 23°C no

riacho preservado, e 26°C no impactado, e apresentou os menores valores no mês de

junho, com 13°C para o riacho preservado e 11,8°C no impactado. O oxigênio

dissolvido na água apresentou um padrão inverso ao da temperatura da água, com

69

maiores valores nos meses de agosto e julho, para os riachos preservado e impactado

respectivamente, e menores valores em dezembro. A condutividade apresentou

tendência clara a ser maior nos meses quentes, atingindo picos no mês de dezembro. O

pH e velocidade da água variaram temporalmente sem apresentarem padrões claros

entre os meses. A precipitação anual apresentou um pico em fevereiro atingindo 522

mm acumulados, com segundo maior valor registrado em janeiro (265 mm).

Foi observada variação temporal na estrutura da comunidade de invertebrados

entre os meses tanto para o riacho preservado (ANOSIM, R = 0,46, p < 0,001) como

para o impactado (ANOSIM, R = 0,8, p < 0,001). Chironomidae, a família mais

importante em termos de abundância, apresentou grande variação nos dois ambientes,

com um pico de abundância em agosto, e outro de janeiro a março no riacho preservado.

Para o impactado, Chironomidae apresentou picos de abundância de dezembro a

fevereiro, e outro em setembro. A segunda família mais abundante, Simuliidae,

apresentou pico máximo de abundância para os dois ambientes em outubro, com

variações grandes entre os meses (Figura 7).

Figura 7. Abundância média mensal das principais famílias de invertebrados aquáticos nos ambientes preservado (CG) e impactado (ST) medidas entre agosto de 2010 e junho de 2011.

Para o gráfico foram utilizadas apenas famílias que em algum mês apresentaram abundância

maior que 10 % da comunidade.

Foi constatada uma variação temporal na composição dos detritos foliares tanto

para o rio preservado (ANOSIM, R = 0,31, p < 0,001) como para o impactado

(ANOSIM, R = 0,2, p < 0,001). O riacho preservado, com exceção dos meses de agosto

de 2010 e maio de 2011, apresentou maior quantidade de recursos vegetais (matéria

0

10

20

30

40

50

60

70

80

ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun

Ab

un

dân

cia

méd

ia

Muscidae

Leptophlebiidae

Simuliidae

Chironomidae

OUTROS

CG

ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun

Hidrobiidae

Elmidae

OUTROS

Simullidae

Chironomidae

ST

70

orgânica) disponíveis se comparado com o impactado, além de apresentar uma maior

riqueza média de espécies na composição de folhas do estoque bêntico (Figura 5). O

riacho preservado apresentou um total de 93 espécies identificadas ao longo do período

de estudo, contra apenas 62 espécies no impactado (apêndice).

A partir da CCA, pode se observar secundariamente uma separação temporal

através do eixo 2, com a agregação entre os meses quentes de dezembro, janeiro e

fevereiro na parte inferior relacionados positivamente à temperatura da água, em

oposição aos meses frios de junho, agosto e setembro na parte superior (Figura 6). A

análise de BIOENV mostrou uma correlação significativa (Rho = 0,529; p < 0,01) entre

as variáveis ambientais de temperatura da água, velocidade da corrente, precipitação e

biomassa de folhas com a matriz temporal da estrutura da comunidade do riacho

preservado. Para o riacho impactado, a BIOENV demonstrou que as variáveis de

condutividade, temperatura da água e a precipitação foram as mais relacionadas (Rho =

0,556; p < 0,01) à matriz temporal da comunidade.

Discussão

Variação espacial

A evidente diferenciação na estrutura da comunidade de invertebrados e na

composição dos detritos foliares do estoque bêntico entre os riachos preservado e

impactado, aliada à correlação significativa da mesma com riqueza e biomassa do

detrito, sugere que tais variáveis foram preditoras importantes da variação espacial da

comunidade de invertebrados na área de estudo. Corroborando com Afonso et al.

(2000), o riacho com vegetação ripária preservada apresentou maior quantidade e

riqueza de recursos. Estudos mostram que uma maior diversidade de detritos foliares

suporta uma comunidade de invertebrados colonizadores mais diversa (Boyero, 2003).

Ainda, Swan & Palmer (2006) observaram que a mistura de folhas influencia

diretamente o crescimento de consumidores, afetando taxas de decomposição e

consumo e consequentemente a comunidade como um todo. A partir disso, os

resultados apresentados na CCA nos levam a crer que ambientes com vegetação ripária

em bom estado de conservação têm a estrutura da comunidade de invertebrados

aquáticos primariamente influenciada pela riqueza de folhas e quantidade de recursos

disponíveis no estoque bêntico, enquanto que a perda de espécies e redução na

71

quantidade de detritos podem fazer com que a comunidade seja regulada por fatores

ambientais como temperatura e condutividade da água.

Para abundância de grupos funcionais específicos (detritívoros), a palatabilidade

das folhas se mostra mais importante que a diversidade de recursos (Janke & Trivinho-

Strixino, 2007; Abelho, 2008; Shah, 2010). Como evidenciou Bastian et al. (2007),

fragmentadores de rios tropicais colonizam uma ampla gama de espécies, priorizando a

qualidade das mesmas em detrimento à composição específica. Como a qualidade das

folhas muda de acordo com as espécies, a diferenciação na composição dos detritos

foliares entre os dois ambientes tratados aqui tende a representar detritos de diferentes

qualidades, influenciando na estruturação das comunidades de invertebrados. Outro

fator que aponta para influência das características do recurso na diferenciação espacial

das comunidades, se dá devido ao fato de que as variáveis ambientais pouco diferiram

entre os dois ambientes.

Os dois riachos apresentaram uma homogeneidade nas características da água

dos trechos estudados, e se mostraram bastante similares quanto a esses parâmetros

físico-químicos, com diferenças observadas apenas na condutividade e profundidade. A

condutividade apresentou valores maiores no rio impactado, provavelmente por se tratar

de um ambiente com alguma influência antrópica, cujas pequenas propriedades rurais

devem ter participação na incorporação pontual de efluentes na água e consequente

aumento de íons. Concentrações de oxigênio e valores de pH encontrados aqui não

foram limitantes para a comunidade de invertebrados aquáticos.

A alta abundância, principalmente da família Chironomidae, provavelmente

esteve associada a altos níveis de abundância de recurso, corroborando com o

encontrado por Burdett & Watts (2009). Essa família é frequentemente dominante nos

sistemas lóticos de Mata Atlântica (Moulton & Magalhães, 2003; Milesi et al., 2009;

Oliveira & Nessimian, 2010; Rosa et al., 2011). Apesar do predomínio de

Chironomidae nos dois ambientes, pode-se observar maior dominância dessa família no

ambiente impactado, corroborando com o encontrado por Moulton & Magalhães

(2003). Como esclarece Roque et al. (2007), a família Chironomidae inclui a maioria

dos grupos funcionais de invertebrados e é capaz de colonizar inúmeros habitats. Nesse

sentido, a maior riqueza encontrada na comunidade do riacho preservado, assim como a

presença de táxons bioindicadores sensíveis (Bispo & Oliveira, 2007), provavelmente

estão relacionadas às características de substrato, já que um substrato mais diverso

promove a ausência de táxons dominantes em uma comunidade (Boyero, 2003; Shah,

72

2010). Em pequenos riachos de Mata atlântica, a riqueza de grupos sensíveis tende a

aumentar com a disponibilidade de habitats, estando diretamente relacionada à

integridade da vegetação ripária (Milesi et al., 2009). Já para segunda família mais

abundante, Simuliidae, a quantidade de recursos parece ser menos importante que

fatores estruturais (tamanho do rio, largura, velocidade da água, descarga, estabilidade

do substrato e regime de chuvas) para estruturação da comunidade em nascentes

Neotropicais (Grillet & Barrera, 1997).

Variação temporal

A variação temporal da comunidade de invertebrados foi influenciada por

variáveis distintas em cada ambiente. Os resultados sugerem que a precipitação e a

temperatura da água têm forte influência na variação temporal da comunidade para

ambos ambientes. De fato, a distribuição temporal de insetos aquáticos em riachos

subtropicais é influenciada por variações na temperatura da água (Yan & Li, 2007;

Tejerina & Malizia, 2012), e períodos de intensa precipitação alteram drasticamente a

dinâmica de riachos (Acuña et al., 2007). Para o riacho preservado, porém, a quantidade

de folhas também foi responsável por parte dessa variação, o que não ocorreu para o

ambiente impactado, que por sua vez mostrou influência significativa da condutividade.

Isso sugere que a comunidade de invertebrados aquáticos de ambientes com vegetação

ripária preservada varia temporalmente, entre outros fatores, em conjunto com a

quantidade de folhas presentes no estoque bêntico. É sabido que a abundância de

recursos alimentares e de refúgio é um dos principais fatores determinantes da

estruturação da comunidade (Burdett & Watts, 2009), e que riachos preservados de

Mata Atlântica subtropical têm grande variação temporal na quantidade e composição

do detrito do estoque bêntico ao longo do ano, resultado em parte da forte influência da

precipitação na incorporação desse material ao ecossistema (Lisboa et al., 2012 –

Capítulo 1). Já a comunidade de invertebrados do riacho impactado variou

temporalmente devido a fatores climáticos (temperatura, precipitação e condutividade).

De fato, a precipitação teve uma variação temporal muito grande no presente

estudo, marcada com picos de chuva imprevisíveis. Os valores de temperatura da água

tiveram padrões esperados para ambientes subtropicais, com variação temporal

condizente com as tendências de meses quentes no verão e frios no inverno

(Hennemann & Petrucio, 2011). A amplitude de variação da temperatura da água

também se mostrou maior no rio impactado, provavelmente devido à supressão de parte

73

de sua vegetação ripária e consequente maior exposição à incidência solar. Assim, a

principal diferença dos parâmetros ambientais entre os dois riachos se dá nas

características de integridade das matas ciliares.

A variação temporal mais pronunciada na comunidade de invertebrados do rio

impactado possivelmente se deu devido ao menor número de espécies vegetais no

detrito do estoque bêntico. É sabido que a heterogeneidade espacial do habitat reduz a

variabilidade temporal na comunidade de insetos de riachos (Brown, 2003). Apesar da

maioria dos estudos com heterogeneidade em riachos utilizarem como critérios

diferentes categorias de substrato, sugerimos aqui que as mais de 93 espécies vegetais

encontradas no estoque bêntico do riacho preservado representam maior

heterogeneidade no substrato, relativa às variações morfológicas e possivelmente

nutricionais das folhas. Dessa forma, os dados apresentados aqui corroboram com

Boyero (2003), onde a diversidade do substrato está positivamente relacionada à

abundância e riqueza da comunidade de invertebrados de um rio. É claro que outros

fatores são determinantes na estruturação e distribuição temporal dos invertebrados

aquáticos em riachos, como o ciclo de vida dos táxons (Johnson et al., 2012), a

complexidade do habitat (Taniguchi & Tokeshi, 2004) e mesmo a heterogeneidade

espacial ligada à conectividade (Neiff et al. 2009).

Em resumo, a estrutura da comunidade de invertebrados aquáticos variou de

acordo com diferentes graus de integridade da vegetação ripária, principalmente através

da influência da composição e quantidade do detrito foliar depositado no estoque

bêntico, e da proteção conferida pela vegetação ripária à variação de temperatura da

água. Assim, a hipótese de que a estrutura da comunidade de invertebrados difere entre

riachos preservado e impactado em função de diferenças na composição, riqueza e

quantidade do detrito no estoque bêntico foi corroborada. Enquanto que a estrutura da

comunidade variou ao longo do tempo de forma diferente ao se considerar sistemas com

distintos graus de integridade da vegetação ripária. No riacho preservado, a estrutura da

comunidade variou temporalmente em função da variabilidade na quantidade de detritos

foliares no estoque bêntico, e de variáveis ambientais como temperatura e precipitação.

No riacho impactado, a variação temporal da comunidade se deu em decorrência da

maior instabilidade ocasionada pela retirada da vegetação ripária, que acentuou o efeito

das chuvas e da temperatura sobre a comunidade. Além disso, a comunidade de

invertebrados aquáticos variou temporalmente de forma mais acentuada no riacho de

vegetação impactada. Esse estudo sugere experimentações específicas em campo sobre

74

influencia da riqueza de folhas do estoque bêntico na comunidade de invertebrados,

assim como análises da qualidade do detrito para um melhor detalhamento e discussão

aprofundada.

Agradecimentos

À bolsa de estudos concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior (CAPES) que possibilitou o desenvolvimento da pesquisa.

Gostaríamos de agradecer em especial ao professor José Francisco Gonçalves Júnior

pelas considerações pertinentes e críticas construtivas ao manuscrito. Ao suporte

estrutural fornecido através da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), do

Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce (LAPAD) da UFSC, do

Parque Municipal da Lagoa do Peri e do departamento de Ecologia e Zoologia (ECZ) da

UFSC. À EPAGRI pelos dados fornecidos.

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81

Apêndice capítulo 2

Composição das folhas do estoque bêntico nos rios preservado (CG) e impactado (ST)

mensuradas de agosto de 2010 a junho de 2011, especificando-se as médias mensais (g.m-2

) e a

porcentagem de cada táxon no total mensurado. * representa espécies exóticas.

Família Espécie

CG ST

média % média %

Annonaceae Annona sylvatica A.St.-Hil. 1,10 2,49 0,23 0,69

Annona sericea Dunal 0,00 0,01 - -

Guatteria australis A.St.-Hil. 0,01 0,02 - -

Guatteria sp. 0,02 0,05 - -

Aquifoliaceae Ilex cf. brevicuspis 0,01 0,02 0,00 0,00

Asteraceae Mikania campanulata Gardner 0,02 0,04 0,02 0,05

Piptocarpha cf. tomentosa - - 1,33 3,98

Vernonia discolor (Spreng.) H.Rob. - - 0,38 1,15

Bignoniacceae Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos 0,64 1,44 - -

Bromeliaceae Bromeliaceae 0,08 0,19 0,02 0,07

Cannabaceae Trema micrantha (L.) Blume 0,07 0,16 0,01 0,03

Chrysobalanaceae Hirtella hebeclada Moric. ex DC. 0,07 0,16 0,03 0,08

Clethraceae Clethra scabra Pers. 0,22 0,50 - -

Dilleniaceae Davila cf. rugosa 0,10 0,22 0,15 0,46

Dioscoreaceae Dioscorea scabra Humb. & Bonpl. ex Willd. 0,07 0,15 0,05 0,14

Elaeocarpaceae Sloanea guianensis (Aubl.) Benth. 0,08 0,19 - -

Erythroxylaceae Erythroxylum argentinum O.E.Schulz 0,08 0,19 - -

Erythroxylum sp.1 0,08 0,19 - -

Erythroxylum sp.2 0,05 0,10 - -

Erythroxylum sp.3 0,06 0,13 - -

Euphorbiaceae Alchornea glandulosa Poepp. & Endl. 1,67 3,76 4,81 14,41

Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg. 0,01 0,01 - -

Dalechampia sp. 0,07 0,17 0,01 0,02

Pausandra morisiana (Casar.) Radlk. 0,28 0,63 0,01 0,04

Sapium glandulosum (L.) Morong 0,01 0,02 - -

Sebastiania sp. 0,40 0,89 0,03 0,10

Tetrorchidium rubrivenium Poepp. 0,36 0,82 0,17 0,51

Fabaceae Bauhinia cf. forficata - - 0,12 0,36

Dahlstedtia sp. 0,21 0,47 - -

Inga cf. vera 0,08 0,18 - -

Inga marginata Willd. 1,12 2,52 - -

Machaerium stipitatum (DC.) Vogel 0,04 0,09 - -

Schyzolobium parabyba (Vell.) Blake 8,38 18,93 - -

Lamiaceae Aegephila sp. 0,02 0,04 - -

Lauraceae Lauraceae 0,18 0,41 0,06 0,18

Nectandra lanceolata Ness 0,95 2,15 0,14 0,43

Nectandra opositifolia Ness 0,33 0,74 0,03 0,10

Ocotea cf. silvestris 0,14 0,32 1,99 5,95

Ocotea mandioccana A.Quinet 0,26 0,59 0,03 0,08

82

Ocotea cf. pulchella 0,02 0,05 - -

Endlicheria paniculata (Spreng.) J.F.Macbr. 0,00 0,01 - -

Persea sp. 0,03 0,07 0,15 0,44

Loganiaceae Strychnus trinervis (Vell.) Mart. 0,18 0,40 - -

Magnoliaceae Magnolia ovata (A.St.-Hil.) Spreng. 0,95 2,16 - -

Malvaceae Luhea divaricata Mart. & Zucc. 2,57 5,80 - -

Melastomataceae Leandra sp. 0,04 0,09 - -

Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin 0,03 0,07 1,59 4,77

Miconia cf. cinerascens - - 0,08 0,24

Meliaceae Cabralea canjerana (Vell.) Mart. 0,02 0,05 0,00 0,01

Cedrella fissilis Vell. 1,50 3,39 2,79 8,36

Trichilia cf. clausseni 0,34 0,77 0,11 0,32

Monimiaceae Mollinedia schottiana (Spreng.) Perkins 0,02 0,04 0,06 0,18

Mollinedia cf. calodonta 0,06 0,13 0,02 0,05

Moraceae Ficus adhatodifolia Schott ex Spreng. 3,36 7,59 1,54 4,61

Ficus eximia Schott 4,20 9,48 0,03 0,10

Ficus cestrifolia Schott ex Spreng. 1,63 3,69 0,07 0,21

Maclura tinctoria (L.) D.Don ex Steud. 0,02 0,05 - -

Sorocea bonplandii (Baill.) W.C.Burger et al. 0,05 0,11 - -

Musaceae Musa sp.* - - 0,82 2,44

Myristicaceae Virola bicuhyba (Schott ex Spreng.) Warb. 2,04 4,60 0,09 0,28

Myrtaceae Calypthranthes lucida Mart. ex DC. 0,21 0,49 0,24 0,71

Campomanesia cf. xanthocarpa 0,02 0,05 0,03 0,08

Marliera sp. 0,05 0,10 - -

Myrtaceae sp.1 0,03 0,06 0,11 0,32

Myrtaceae sp.2 0,09 0,19 - -

Peraceae Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. 0,75 1,69 0,85 2,54

Phyllanthaceae Hieronyma alchorneoides Allemão 0,33 0,75 1,84 5,50

Poaceae Bambusa sp.* - - 7,77 23,26

Polypodiaceae Microgramma cf. vacinifolia 0,07 0,16 - -

Primulaceae Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze 0,04 0,09 0,02 0,06

Proteaceae Roupala brasiliensis Klotzsch 0,00 0,01 - -

Rhamnaceae Colubrina glandulosa Perkins 0,09 0,20 - -

Rosaceae Prunus myrtifolia (L.) Urb. 0,07 0,16 0,07 0,21

Rubiaceae Amaioua intermedia Mart. ex Schult. & Schult.f. 0,03 0,06 - -

Bathysa australis (A.St.-Hil.) K.Schum. - - 1,45 4,36

Posoqueria latifolia (Rudge) Schult. 0,16 0,35 - -

Rubiaceae - - 0,12 0,36

Rudgea sp. - - 0,02 0,07

Salicaceae Casearia obliqua Spreng. 0,45 1,02 - -

Caesaria silvestres Sw. 0,09 0,19 0,07 0,20

Xilosma sp. 0,00 0,00 - -

Sapindaceae Allophylus edulis (A.St.-Hil. et al.) Hieron. ex

Niederl. 0,12 0,28 0,05 0,14

Allophylus cf. guaraniticus 0,30 0,67 0,05 0,15

Cupania vernalis Cambess. 1,96 4,43 0,10 0,31

Matayba guianensis Aubl. 0,37 0,83 0,03 0,08

Diatenopteryx sorbifolia Radlk. 0,06 0,14 0,04 0,12

83

Serjania sp. 0,06 0,14 - -

Sapotaceae Chrysophyllum cf. viride 0,41 0,93 0,01 0,02

Pouteria salicifolia (Spreng.) Radlk. 0,01 0,01 - -

Smilacaceae Smilax sp. 0,00 0,01 - -

Solanaceae Solanaceae 0,05 0,11 - -

Solanum cf. mauritianum 0,57 1,29 - -

Solanum sp. 0,30 0,67 0,05 0,15

Urticaceae Boehmeria caudata Sw. - - 0,01 0,02

Coussapoa microcarpa (Schott) Rizzini 0,62 1,39 1,72 5,15

Pteridófita Pteridófita 0,03 - - -

Indeterminada 1 0,66 1,50 0,04 0,13

Indeterminada 2 0,37 0,84 1,37 4,10

Indeterminada 3 0,02 0,04 0,17 0,50

Indeterminada 4 0,02 0,05 - -

Indeterminada 5 0,02 0,04 0,06 0,17

Indeterminada 6 1,34 3,02 0,02 0,05

Indeterminada 7 0,17 0,38 0,01 0,02

Indeterminada 8 - - 0,01 0,03

84

Considerações Finais

A dinâmica da vegetação ripária exerce uma forte influência sobre os

ecossistemas de riachos florestados de cabeceira, sendo essencial na incorporação de

recursos alimentares, que também funcionam como locais de forrageio e refúgio para

fauna de invertebrados aquáticos. Desse modo, ela tem um papel determinante na

estruturação das comunidades aquáticas e na manutenção da integridade funcional

desses ecossistemas. Entretanto, há uma carência de estudos abordando esses assuntos

em riachos de Mata Atlântica, principalmente em ambientes subtropicais. Em se

tratando de um bioma considerado um Hot-Spot de biodiversidade, é necessário um

aprofundamento e melhor descrição dessas relações para o melhor entendimento da

funcionalidade desses sistemas, assim como auxiliar em esforços de conservação e

recuperação desse ambiente.

Os resultados deste trabalho demostram que a dinâmica da matéria orgânica

(MO) em riachos de cabeceira de Mata Atlântica subtropical é controlada

primariamente por períodos de intensa precipitação, que ocasionam picos de aporte de

detritos para os sistemas lóticos através do carreamento lateral. Por ser tratar de uma

formação sem sazonalidade bem marcada, a Mata Atlântica propriamente dita (Floresta

Ombrófila Densa) não apresenta períodos definidos de estação “chuvosa” e “seca”,

como em sistemas tropicais do Cerrado e Floresta Amazônica, fazendo com que a

dinâmica da MO fique sujeita à imprevisibilidade das chuvas.

No riacho Cachoeira Grande, foi observada uma taxa de aporte lateral maior que

todas as outras encontradas em literatura. Duas hipóteses foram levantadas para explicar

tal fato. Primeiro, existe uma real carência de estudos desse tipo em riachos de Mata

Atlântica, que podem ter padrões de dinâmica da MO distintos da maioria dos biomas já

estudados, assim como muitos estudos não consideram o grau de declividade da

margem e a geomorfologia do leito dos ambientes. Segundo, o período estudado

compreendeu um mês de fevereiro atípico, com 522 mm de chuva acumulados, e

consequentemente um pico de aporte lateral que acabou aumentando significativamente

a média mensal desse compartimento. Os resultados também sugerem possíveis

espécies-chave na dinâmica da MO de riachos de Mata Atlântica propriamente dita para

ambientes subtropicais, como Schizolobium parahyba, Ficus eximia, Virola bicuhyba,

Ficus adhatodifolia, Cupania vernalis e Tetrorchidium rubrivenium.

85

Quando comparamos dois riachos com diferentes graus de integridade da

vegetação ripária, constatamos que a riqueza na comunidade de invertebrados aquáticos,

e na composição de folhas do estoque bêntico é significativamente maior em riachos de

vegetação preservada. A integridade da vegetação ripária foi fundamental para

estruturação das comunidades através da diversidade, quantidade e composição de

detritos incorporados, assim como através da proteção fornecida contra variações na

temperatura da água dos ecossistemas. De fato, o riacho impactado apresentou maior

variação na temperatura de água ao longo do ano, e maior variação temporal na

distribuição da comunidade de invertebrados.

Através das lacunas observadas aqui, e para uma discussão mais aprofundada do

assunto, sugerimos estudos que congreguem a comunidade de invertebrados aquáticos e

a riqueza de folhas na composição do detrito em experimentações em campo. Além

disso, se faz necessário um melhor detalhamento sobre a relação entre qualidade e

riqueza de espécies do detrito para ambientes tropicais, assim como estudos sobre

preferência alimentar a partir de análises de isótopos estáveis de carbono.

Medições de matéria orgânica dissolvida (MOD) também se fazem necessárias

na medida em que esse recurso representa o principal estoque de MO em águas

correntes (Fisher & Likens, 1973) e contribui com uma porção significativa do aporte

total em riachos (Webster & Meyer, 1997), derivado principalmente do solo da

vegetação ripária (Tank et al., 2010). Apesar dos avanços no entendimento dos

processos ecológicos com matéria orgânica em riachos, muitas das diferenças entre

ambientes e dúvidas refletem omissões de importantes componentes na dinâmica de

MO, especialmente medidas acuradas da área do leito do rio, respiração heterotrófica,

estoque bêntico de MOPF e aporte de MOD através de água subterrânea (Webster e

Meyer, 1997).

Impactos antrópicos vêm causando a degradação das zonas ripárias ao redor do

mundo, alterando desse modo a dinâmica de aporte de folhas para ecossistemas de

riachos (Wallace et al., 1997). Não obstante, segundo Kominosky & Rosemond, (2012),

as mudanças globais vão influenciar a dinâmica de MO dos ecossistemas de rios e

riachos alterando a quantidade e qualidade de MO, fenologia da vegetação ripária, e as

taxas de produção heterotróficas e autotróficas. Manter e restaurar esse aporte de

detritos ripários se torna essencial para conservação e restauração das cadeias tróficas de

riachos (Wallace et al., 1997).

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