discipulado e missão na américa latina - maria c. bingemer

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  • 8/17/2019 Discipulado e missão na América Latina - Maria C. Bingemer

    1/9

      ITAICI - Revista

    de

    Espiritualidade Inaciana é

    uma

    publicação

    de

    Edições Loyola,

    sob

    a responsabilidade do CEI-ITAICI.

    ISSN

    1517-7807

    EQUIPE DO CEI-ITAICI

    (CENTRO DE ESPIRITUALIDADE INACIANA DE ITAICI):

    Pe. Álvaro Barreiro Luafia,

    SJ

    -

    Diretor

    Pe. Francisco Rinaldo Romanelli,

    SJ

    Pe. José Marcos

    de

    Faria, SJ

    Ir.

    Judite

    Delmassa, MM

    Pe. Luís González-Quevedo,

    SJ

    -

    Redator

    Ir.

    Maria

    Fátima

    Carvalho,

    ASCJ

    Ir. Maria Fátima Maldaner, SND

    Ir.

    Maria Inez de

    Oliveira, PGap

    Ir.

    Odette

    Bechara, FI

    Pe.

    Raniéri de

    Araújo Gonçalves, SJ - Administrador

    Pe. Raul Pache de Paiva,

    SJ

    -

    Vice Diretor

    Ir.

    Teresa

    Cristina Patrick, ISJ

    EXPEDIENTE e

    DIAGRAMAÇÃO

    Robson Pranstreter

    CAPA

    Noite estrelada, Vincent

    Van

    Gogh (detalhe)

    PROJETO GRÁFICO

    Maurélio Barbosa

    COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO:

    Edições Loyola

    Rua 1822 nº 347

    04216-000 -

    São P aulo - SP - Bras il

    Cx. P. 42.335 - 04299-970 São Paulo - SP

    e-mail: [email protected] http:/ /www.loyola.com.br

    CENTRO DE ESPIRITUALIDADE INACIANA DE ITAICI:

    Rodovia José Boldrini, 170 • Itaici • CEP 13.341-700 •

    Indaiatuba

    • SP ·Brasil

    Tel.: (0__ 19) 3894-8555 / FAX (0

    __

    19) 3894-8866

    e-mail: [email protected] http: / /www.vilakostkaitaici.org.br

    Assinatura

    para

    o Ano 2007

    (4

    números):

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    Europa: € 40,00

    Outros continentes: U$ 40,00

    PAGAMENTO EM NOME DE:

    Números avulsos

    R 11,50

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    U$ 10,00

    ANEAS

    - Associação

    Nóbrega

    de

    Educação

    e Assistência S oc ia l - V il a Kostka

    Rodovia José Boldrini, 170 • Itaici

    CEP 13.341-700 • Indaiatuba • SP ·Brasil

    JUNHO

    2007

    NO 17

    IT I 1

    REVISTA E

    ESPIRITVALIDADE INACIANA

    Sumário

    EDlTORlAL

    3 ........................................................................................................ Para alcançar Amor

    TEXTO

    5 .......................................................................................... Uma Mensagem Alentadora

    ERNESTO CAVASSA,

    SJ

    PERFlL

    9 ............................................................................. O Pe. Arrupe que vou conhecendo . .

    IGNACIO IGLESIAS,

    SJ

    ARTlGOS

    9

    ............................... Praticar na vida cotidiana a dinâmica dos Exercícios Espirituais:

    o fruto da Contemplação para Alcançar Amor

    ALFREDO SAMPAIO COSTA,

    SJ

    43 ........................................................................................................... Am or e Cuidado

    Luís GoNZÁLEz-QuEvrno,

    SJ

    57 ........................................................................... Contemplação para alcançar Humor

    FLORÊNCIO SEGURA,

    SJ

    ITAICI - REVISTA DE

    ESPIRITUALIDADE

    INACIANA Junho/2007)

  • 8/17/2019 Discipulado e missão na América Latina - Maria C. Bingemer

    2/9

      u

    s

    noite

    está passando, o

    dia

    vem chegando ... (Rm 13,12)

    Que nova vida

    é esta que

    agora começamos? (Autobiografia de

    Santo Inácio, 21,3)

    Ao

    terminar os Exercícios Espirituais,

    tu

    te sentes livre e

    feliz.

    Retornas à

    tua

    vida cotidiana

    com os

    mesmos problemas que

    te fizeram sofrer

    no

    passado, mas agora aprendeste a

    olhar

    o

    mundo com olhos novos.

    O passado

    passou, está morto. Só o presente está vivo,

    convidando-te para

    uma

    vida nova.

    O discípulo perguntou

    ao mestre:

    Em que consiste

    a

    iluminação?". Ele respondeu: "Primeiro

    tinha

    dor; agora, continuo

    com

    a mesma dor, mas a dor

    não

    me

    faz sofrer".

    A dor existe na realidade; o sofrimento só existe em ti. Ele

    surge

    na

    tua mente, quando resistes à dor. Se

    tu

    aceitasses a dor,

    o sofrimento deixaria de existir.

    A

    Contemplação para alcançar

    o

    mor

    te

    ensinou a

    ver

    o que

    por trás de todas

    as

    coisas:

    um

    imenso amor, bondade,

    ternura

    e compaixão por tudo o que existe.

    O mundo está cheio de pesadelos, mas agora

    tu

    despertaste

    do sono (Rm 13,11-14). Tu experimentaste: Deus é bom e te

    ama

    lTAICl.,, REVISTA DE ESPIRJJUALIDAD.E

    INACIANA

    (Junbo/2007)

    d

    L

    Texto da

    nossa

    redação inspirado

    e

    Anthony de

    Mello

    SJ

    Ilustração:

    Mural

    da

    Capela

    do

    Noviciado

    de

    Campinas

    José

    Maria Fernandes SJ

    A

    utora

    é eóloga

    professora

    e

    decana

    do Centro de Teologia

    eCiências Humanas

    da PUC-Rio e

    colaboradora

    desta revista.

    1.Documento

    de síntese,

    Introdução

    n.

    1.

    2.

    Id.

    ib.

    s

    Discipulado e Missão na

    América

    Latina

    (convocação

    à

    espiritualidade inaciana)

    M RI CL R LUCCHETTI BINGEMER

    Igreja do continente se prepara para a V Conferência

    do Episcopado latino-americano em Aparecida, Brasil,

    em

    2007.

    A

    vinda

    do Papa instiga a mídia e a opinião

    pública, mas a comunidade eclesial volt a os olhos para a chegada

    do Pontífice

    às

    suas terras no

    contexto

    da V Conferência, evento

    de importância maior para a Igreja local, já que reunirá repre

    sentantes do episcopado de todos os países.

    O

    tema

    da Conferência, Discípulos e missionários

    de

    Jesus

    Cristo hoje, para

    que

    nele nossos

    povos

    tenham

    vida , tem uma

    clara

    impostação cristocêntrica.

    O

    objetivo explícito da V Conferência,

    exposto

    na

    introdução ao documento de síntese, consiste

    em

    dar

    especial destaque,

    na

    história da Igreja latino-americana, à "pre

    sença viva de Jesus Cristo,

    Senhor

    da história, que

    se

    aproxima

    de todos, especialmente dos pobres e dos extraviados."

    1

    O

    lema da

    conferência, "Cristo

    Caminho,

    Verdade e Vida", é garantia

    da autêntica renovação da comunidade eclesial.2

    Neste artigo pretendemos oferecer

    uma

    reflexão teológico

    espiritual sobre o

    tema

    da Conferênc ia: o discipulado e a missão

    dos cristãos latino-americanos. Nosso método será primeiramente

    percorrer de forma sintética pontos nucleares do texto bíblico

    que descrevem o discipulado e a missão, começando pelo Antigo

    Testamento e chegando à novidade de Jesus Cristo e sua Boa

    Notícia. Aí deter-nos-emos brevemente, procurando perceber

    os delicados e ao mesmo tempo exigentes matizes que implicam

    o ser discípulo e missionário a partir do Novo Testamento.

    Em seguida, procuraremos ver como o

    caminho

    em direção

    ao discipulado e, - por meio dele - para a missão pode ser

    ITAICl-,,REVISTA DEESPIR TUALIDADEJNACIANA {Junho/2001)·.

    73

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    3/9

  • 8/17/2019 Discipulado e missão na América Latina - Maria C. Bingemer

    4/9

    Segundo o Antigo Testamento, existia em Israel uma im

    portante corrente de pensamento segundo a qual se desejava a

    vinda de um rei que por fim iria implantar na terra o ideal da

    verdadeira justiça

    6

    • Isso para os israelitas era o característico do

    rei: estabelecer e implantar a justiça no rp.undo, tal como se

    descreve no retrato do rei ideal dos salmos 45 e 72. Em conse

    qüência, o significado do rei estava determinado, entre outras

    coisas, pelo sentido que ajustiç a tinha para o povo.

    Não

    se tratava

    de justiça no sentido do direito romano: dar a cada

    um

    o que é

    seu, emitir um julgamento imparcial. A justiça do rei, segundo

    as

    concepções dos povos do oriente e também segundo

    as

    con

    cepções de Israel, desde os tempos mais antigos, consistia em

    defender eficazmente aquele que por si mesmo

    não

    pode defen

    der-se. Daí decorre que a justiça consistia, para Israel, no amparo

    que o rei prestava

    ou

    devia

    prestar-

    aos necessitados, aos fracos

    e aos pobres, às viúvas e aos órfãos.

    Jesus retoma fielmente essa linha, mas declara agir assim porque

    o Reino de Deus é a boa notícia já presente. Concretamente, é

    boa notícia para os pobres e todos aqueles que sofrem, perseguidos

    e marginalizados. E é claro que a única boa notícia que se pode

    dar a tais pessoas é que vão deixar de ser pobres, vão deixar de

    sofrer e vão sair de sua situação desesperada. Suas lágrimas vão ser

    enxugadas, sua vida vai ter sentido. V ão se sentir acompanhados e

    amparados.

    Não

    serão mais humilhados

    nem

    viverão expostos a

    toda classe de perseguições e perigos. Aí está a significação mais

    profunda do Reino de Deus

    na

    pregação de Jesus e em seu sentido

    histórico, concreto e teológico para nós.

    Se o Reino de Deus é dom e graça e deve ser acolhido e

    recebido

    na

    pessoa de Jesus, também é missão e tarefa. Jesus em

    penhou

    todas as suas forças neste projeto e ensinou àqueles e

    àquelas que o seguiam a fazer o mesmo. Esse grupo a quem Jesus

    preparou de mane ira especial para impla ntar seu projeto e assumir

    sua missão são os discípulos que aparecem no Evangelho seguin

    do-o mais de perto e recebendo todos os seus ensinamentos, mes

    mo os

    mais radicais e exigentes. Em repetidas ocasiões,

    os

    evan

    gelhos distinguem nitidamente este grupo do povo em geraF.

    Tratava-se, portanto, de

    um

    grupo de pessoas, diferenciadas do

    resto das multidões, com vínculos que as uniam muito estreita

    mente, afetiva e efetivamente. Pode-se, por conseguinte, afirmar

    que constituíam uma comunidade

    TAICl.:c REVISJADEESPIRITUAUDADE INAC ANA(Junho/2007)

    6.

    Sl

    44; 72;

    s

    11 3-5; 32 l.

    3.15.18.

    7. Cf. Mt 9 10; 14 22;

    2 15;

    3 9; 5 31;

    6 45;

    9 14; 10 46.

    Seguir a Jesus, portanto, segundo os evangelhos,

    não

    é uma

    estratégia pa ra assegurar a salvação das almas em outra

    vida após

    O

    seguimento

    de Jesus

    implica uma

    total

    disponibilidade

    para

    a

    missão

    a morte, entendendo-s e que a alma é a parte su

    perior

    do

    ser humano devendo o corpo estar

    relegado a segundo plano ou até mesmo despres

    tigiado e esquecido. O seguimento de Jesus e a

    pertença à sua comunidade como discípulo im

    plica uma extrema atenção e uma disponibilidade

    incondicional para servir

    às

    necessidades básicas,

    materiais e corpóreas dos seres humanos: dar pão aos que têm

    fome, água aos que têm sede, vestir os nus, evangelizar os pobres

    e libertar os cativos. E também para consolar os aflitos, enxugar

    as

    lágrimas aos tristes e ajudar os infelizes e desvalidos. Implica,

    portanto, u ma tota l disponibilidade para a missão que é a de Jesus

    e é igual e inseparavelmente à do discípulo.

    Hoje como ontem,

    no

    tempo de Jesus, apenas umdiscipulado

    apaixonado e radical resultará na missão que constitui a Igreja e

    lhe dá razão de ser frente ao mundo e

    no

    meio dele. Hoje como

    ontem a Igreja da América Latina, se quiser impulsionar os cris

    tãos do continente a serem discípulos e missionários de Jesus

    Crist; a fim de que nele nossos povos tenham vida, deverá en

    cont rar estratégias pedagógico-pastorais que lhe possibilitem ofe

    recer a seus fiéis uma formação adequada para isso.

    Parece-nos que os Exercícios Espirituais de

    Santo

    Inácio de

    Loyola podem dar preciosa contribuição a esse desejo e a esse

    esforço pedagógico-pastoral da Igreja do continente. Carregando

    em seu bojo

    uma

    comprovada e secular metodologia de conheci

    mento, identificação e seguimento de Jesus e

    tendo

    como obje

    tivo central formar apóstolos que sejam

    no

    mundo servidores da

    missão do mesmo Jesus, são

    hoje um

    instrumento

    extremamente

    adequado que pode, se utilizado como convém, converter-se em

    meio de muita eficácia para colocar

    em

    prática a consigna que

    propõe o tema da Conferência de Aparecida.

    OS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS

    ESCOLA DE DISCIPULADO

    CRISTÃO

    Os elementos distintivos da identidade do discípulo cristão

    são acima de tudo: a escuta à chamada de Jesus, a resposta de fé,

    pronta e amorosa, a seu chamado, a vinculação a uma comunidade

    de fé e a missão que a comunhão de vida e destino

    com

    Jesus vai

    ITAlCl.:-: REVISTA DEESR[RITUALlD,t\DEINAClt\NA.(Juilho/2007)

  • 8/17/2019 Discipulado e missão na América Latina - Maria C. Bingemer

    5/9

    levá-lo a desempenhar. A verificação da autenticidade do disci

    pulado poderá ser percebida nos frutos que daí brotarão.

    O ponto de partida do discipulado cristão é, portanto, um

    encontro com a pessoa viva de Jesus, que pode dar-se

    em

    muitos

    lugares e circunstâncias:

    na

    escuta da Palavra,

    na

    mesa da comu

    nhão,

    em

    situações vitais onde a

    mente

    e o coração humanos são

    postos em xeque e muito especialmente

    no

    rosto do outro. Do

    outro pobre, carente, infeliz, cuja revelação é

    uma

    epifania

    da

    presença divina.

    8

    As meditações e contemplações da Segunda Semana dos

    Exercícios propõem

    um

    itinerário que

    tem

    como único objetivo

    conduzir a essa experiência.

    À

    força de contemplar a pessoa de

    Jesus Cristo, Inácio deseja e espera que

    entre

    o

    Senhor

    e o exer

    citante

    vá se criando um amor cada vez mais profundo, uma inti

    midade cada vez mais amorosa e apaixonada que resultará numa

    identificação sempre maior. O resultado esperado será que, ao

    terminar

    os Exercícios, o exercitante poderá sentir e agir não

    apenas com Jesus, mas como ele e por ele,

    em

    todas

    as

    circuns

    tâncias

    da

    sua vida.

    O processo mistagógico inaciano, portanto,

    aponta

    para o

    espiritual objetivo de fazer acontecer

    no

    mundo outros Cristas,

    ao procurar formar discípulos e missionários que estejam tão

    unidos e identificados com Jesus, seu sentir e seu agir, que repro

    duzam no mundo, em todas as situações, suas palavras, seus gestos,

    critérios e atitudes. E a expectativa é que

    da

    vida e a tuação desses

    e dessas que, através dos Exercícios, foram configurados a Jesus

    Cristo possam brotar frutos de vida em abundância para todos,

    sobretudo para aqueles que mais necessitam.

    A

    Segunda

    Semana

    dos Exercícios

    tem como pórtico

    a

    meditação do Reino, parábola de intr odução ao seguimento de

    Jesus que vai tomar o centro do percurso até seu final. Apresen

    tando

    o Senhor Ressuscitado que chama para estar

    com

    ele'',9

    Santo Inácio vai propor como composição de lugar as vilas; sina

    gogas e aldeias onde Cristo Nosso

    Senhor

    pregava

    10

    A petição

    chama especialmente a atenção, já que se trata de uma petição

    que envolve em si mesma atit ude e coração de discípulo: pedir

    a graça que quero. Será aqui

    pedir

    graça a nosso Senhor

    para

    que não

    seja surdo ao seu

    chamamento,

    mas pronto

    e

    diligente em cumprir

    sua santíssima vontade.

    ITAICl .. REVISTA DE

    ESPIRJTUALIDADE

    INACIANA (Junho/2007)

    8. Cf. João Paulo II.

    Novo

    Millenio

    Ineunte n. 49 : O

    século

    e o milênio que c

    0

    meçam terão que ver

    ainda

    e é

    de

    desejar que o

    vejarr:

    de modo evidente, a que

    grau

    de

    entrega pode chegar

    a caridade para os

    mais

    po

    bres. Se

    verdadeiramente

    houvermos partido

    da

    con

    templação de Cristo, temos

    que saber d escobri-lo

    sobre

    tudo no rosto

    daqueles

    com

    os que ele mesmo quis iden

    tificar-se: «tive fome e me

    destes de comer, tive

    sede

    e

    me hão dado de beber; fui

    forasteiro

    e

    me

    hospedastes;

    nu e

    me

    vestistes, doente

    e

    me visitastes,

    encarcerado

    e viestes para ver-me» (Mt

    25,35-36).

    9. Vir comigo .

    10.

    .

    11. .

    12.

    Cf. os

    livros

    de

    Isaías,

    Jeremias, Ezequiel e Da·

    niel, assim como os

    dos

    profetas

    menores.

    13.

    .

    14.

    Cf.

    sobre

    a

    vida de Jesus

    como

    horizonte epigenético

    da vida do exercitante o

    belo texto

    de Ulpiano

    VAZ·

    QUEZ MORO,

    A

    orien-

    tafão espiritual: mistagogia

    e

    t:eografia São Paulo: Edições

    Loyola,

    2001. 86

    p. ( Leitu·

    ras

    Releituras ,

    3).

    Claras ressonâncias bíblicas se fazem aí presentes, referindo

    se ao ouvido, esse órgão pelo qual, para o povo

    da

    Bíblia, pene

    trava

    na

    vida humana a Palavra de Deus,

    com

    seu chamado e

    convite. Essa atitude de escuta que, posta

    em

    prática, se torna

    obediência pronta e diligente , vivida às vezes com grande dor

    e paixão pelos profetas,

    2

    à qual tantas vezes se refere o próprio

    Jesus como atitude sua diante do Pai e como atitude que espera

    de seus discípulos, é o que o exercitante suplica ao preparar-se

    para contemplar o

    Senhor

    e seu chamado fascinante e exigente.

    O Senhor

    me abriu

    o ouvido e

    eu não

    resisti nem

    recuei.

    (Is 50,

    4 ). Esta docilidade que escuta no desejo de amar e responder ao

    amor com todo o afeto possível é a atitude própria do discípulo.

    Aquilo que foi recebido

    na

    amorosa obediência que escuta o

    Senhor e se dispõe a colocar

    em

    prática sua vontade transbordará

    na língua de discípulo... para que

    saiba

    sustentar com minha palavra

    ao

    cansado

    (Is 50,4). A continuação dos exercícios da Segunda

    Semana não serão mais do que a exercitação e o aprendizado dessa

    escuta e dessa conduta.

    No

    final da meditação do Reino, o ex ercitante será conduzido

    a fazer uma oblação de maior estima e momento,

    não

    apenas

    oferecendo-se inteiramente ao traba lho missionário que o aguar

    da,

    em

    companhia de Jesus, mas oferecendo toda a sua pessoa

    para comungar em tudo da vida e do destino d' Aquele que o

    chama, junto a quem deseja estar e a quem deseja seguir

    bem

    de

    perto, imitando-o

    em

    passar

    todas as injúrias

    e

    todo

    o desprezo e

    toda a

    pobreza assim

    atual como

    espiritual

    se assim for do desejo

    e da vontade do

    Senhor

    que o

    chama

    e o escolhe e que é o único

    que

    tem

    poder sobre sua vida e sua pessoa por inteiro.

    13

    Já se

    faz

    presente aí, antes de iniciar

    as

    contemplações

    da

    vida de Cristo, um desejo

    tomado

    explícito por parte do exerci

    tante, movido pelo Espírito Santo, de uma identificação pessoal

    e radical com Jesus, paradigma no qual buscará a referência de

    seu caminho de discípulo e missionário. Jesus Cristo passará a ser

    então o horizonte epigenético a partir do qual ele compreenderá

    sua vida e seu destino.

    14

    Em seguida, iniciam-se

    as

    contemplações, a partir da Encar

    nação. Desde aí e sempre da mesma forma, o exercitante feito

    discípulo por sua oblação anterior, pedirá uma só graça: conhe-

    cimento interno do Senhor que, por mim,

    se

    fez homem, para que

  • 8/17/2019 Discipulado e missão na América Latina - Maria C. Bingemer

    6/9

  • 8/17/2019 Discipulado e missão na América Latina - Maria C. Bingemer

    7/9

    de Deus, mas

    também anunciá-lo

    a

    toda criatura. Ser

    cristão é,

    portanto,

    viver

    em missão.

    Isso que é dado a cada cristão no momento mesmo de seu

    Batismo,

    como

    dom e tarefa, Inácio sabe por lhe ter sido ensinado

    1

    D

    1 . 21

    pessoa

    mente por

    eus,

    como um

    mestre esco a a

    um menmo

    .

    Depois, o

    comprovou

    por sua

    própria experiência

    de peregrino e

    incansável buscador da vontade de Deus. O ardente convertido

    que

    sonhava em

    levar

    vida penitente

    em

    Jerusalém vai

    enten

    dendo ao longo de seu caminho que não se J?Ode servir ao Deus

    de Jesus

    Cristo sem

    a mediação de sua Igreja. E ao

    compor

    seus

    Exercícios, narrativa existencial e sistematização metodológica

    de seu itinerário espiritual,

    vai

    conduzir seus exercit antes

    à con

    firmação da eleição e do

    discernimento

    espiritual que se deu

    na

    contemplação

    do mistério de Jesus, na realidade santa e pecadora

    da

    comunidade

    eclesial.

    O discipulado se dá na Igreja e se converte em missão por

    mediação da mesma Igreja. ela que efetiva o envio

    do

    e ~ h o r

    recebido como carisma e

    dom

    e realizado como missão. E na

    comunidade

    que a missão

    vai

    se fazer verda de,

    quando

    todos são

    enviados enquanto comunidade missionária ao mundo, para

    anunciar a Boa Notícia. Éaos discípulos reunidos

    em

    comunidade

    que o Ressuscitado aparece e derrama o dom de sua alegria,

    exercendo simultaneamente seu ofício de consolador, a fim de

    que a missão seja

    intrépida

    e gozosa e enfrente

    todo

    e qualquer

    perigo e risco.

    Pensando em

    todos os colóquios realizados ao final de cada

    exercício

    do

    livrinho de

    Inácio

    de Loyola,

    não

    podemos

    menos

    que afirmar que este vai desdobrando, diante do exercitante, todo

    um lento

    e longo processo de amizade

    com

    Jesus, que se vai afir

    mando

    e reafirmando, consolidando e reconfigurando para, final

    mente,

    culminar

    na

    Quarta Semana, quando o

    exercitante,

    ha

    vendo passado pelas consolações e desolações da contemplação

    e pela dor da Cruz, é

    convidado

    a entrar plenamente

    na

    alegria

    do Crucificado, agora Ressuscitado e vivo, que se dedica a

    con

    solá-lo,

    como

    amigo que é.

    Essa amizade,

    íntima

    e profunda, é

    para

    o

    exercitante,

    que

    andou todo este caminho, sua única

    fonte

    de alegria.

    Alegria

    gratuita e descentrada, alegria que tem como

    fonte

    o Amigo

    sem

    outro

    ofício senão o de consolar.

    Alegria

    que não

    pode

    perma

    necer

    somente

    em termos de gozo íntimo e subjetivo, mas que

    ITAICL-::

    REVISTADE

    ESPIBITUALIDADE lNACJANA Junho/2007)

    21. Cf. Autobiografian.

    27

    22.

    Nesse

    sentido, não

    pode

    deixar

    de chamar-nos a

    atenção

    a

    escassez

    de refe-

    rências

    que traz o documen-

    to de síntese do

    CELAM

    com vistas a Aparecida so-

    bre a questão da

    vida

    espi-

    ritual propriamente dita.

    Palavras como oração ,

    contemplação ,

    mística

    não aparecem no documen-

    to. A palavra ascética

    aparece duas

    vezes. A pala-

    vra

    espiritualidade apare-

    ce

    mais.

    Não impede que

    nos

    pareça ainda insufi

    ciente.

    Esperemos

    que a

    Conferência propriamente

    dita

    possa

    sanar

    esse

    estado

    de

    coisas, já

    que

    a experiên-

    cia

    de Deus parece

    ser

    o

    único ponto de partida pos-

    sível para a finalidade da

    Conferência, qual

    seja, for-

    mar

    discípulos e missioná-

    rios

    de

    Jesus

    Cristo, para

    que

    sejam agentes

    de

    vida

    em abundância

    para

    os po-

    vos

    do

    continente.

    abre

    para

    a alteridade ferida e necessitada do irmão,

    para

    a urgên

    cia evangelizadora da missão da Igreja,

    para

    o vasto e imenso

    campo

    do

    mundo,

    com

    suas prioridades e necessidades,

    no

    qual é

    necessário

    implantar

    e fazer crescer o

    projeto

    do Reino de Deus.

    O Ressuscitado Consolador, em Seu Espírito,

    vai

    delicada e

    lentamente

    facilitando a passagem do exercitante da moção à

    missão. A missão, vivida em

    comunidade no meio

    do mundo,

    será o lugar

    onde

    daqui

    em diante experimentará

    a consolação

    alegre, selo do Espírito de Vida, marca do Ressuscitado.

    CONCLUSÃO EXPERIÊNCIA DO

    DEUS

    DE JESUS

    COMO FONTE DO DISCIPULADO E DA MISSÃO

    Nos tempos que correm, a razão

    potente

    da

    modernidade

    entrou definitivamente em crise e o discurso eclesial encontra

    difícil ancorag em em corações e mentes pós-modernos, que se

    regem mais pelas sensações

    do

    que pelo pensar. Em meio a esse

    estado de coisas, a

    experiência

    passou a ser o

    ponto

    de partida

    obrigatório

    para

    qualquer tentativa vigorosa e

    consistente

    de

    mobilização do mundo cristão. Se for intenção da V

    Conferência

    do

    episcopado

    latino-americano lançar

    todo o

    povo

    de Deus que

    se encontra

    no

    continente

    em

    ardent e impulso missionário, tendo

    como base

    um

    discipulado que leve em seu centro a pessoa e o

    mistério de Jesus Cristo, parece-me

    não haver

    outro caminho

    senão o da experiência de Deus.

    2

    As

    normas morais e os

    enunciados

    dogmáticos

    já não

    são

    mobilizadores, a menos que aterrissem

    em

    solo fecundado

    pela

    experiência de Deus que abre corações e espíritos, de modo que

    estes possam abraçar, amorosa e alegremente, o que lhes é pro

    posto como caminho de

    vida

    e de adesão. E como o caminho do

    discipulado é de escuta,

    obediência

    e identificação sempre

    maior

    e mais total com a pessoa de Jesus, miste r se faz que esse caminho

    aconteça a

    partir

    de uma experiência

    profunda

    do De us de Jesus,

    única capaz de configurar os cristãos ao Senhor e dispô-los a serem

    por Ele mesmo, em sua Igreja, enviados em missão.

    Toda

    a convivência de Jesus com seus discípulos foi um pro

    cesso progressivo e paulatino de formação.

    Os

    quatro evangelhos

    são itinerários que descrevem as etapas, os destinatários, os espa

    ços, os meios,

    as

    formas didáticas e

    as

    finalidades

    para

    as quais

    desejava formá-los. A formação do discípulo tem como primeira

    finalidade ajudar a desenvolver a assimilação a Jesus, o processo

    ITAICI .:- REVISTA DE

    ESPlRIIUAUDADE

    JNACIANA Juoho/2007)

  • 8/17/2019 Discipulado e missão na América Latina - Maria C. Bingemer

    8/9

    pelo qual o discípulo poderá chegar a

    ter

    os mesmos sentimentos

    de Jesus Cristo .

    23

    No

    interior desta progressiva e radical identi-

    23.

    Cf. Fil

    2 4.

    ficação, o discípulo compre ende a missão de Jesus, deixando-se

    amar por Ele, e fortalece sua própria identidade, que

    não

    é outra

    senão a do Mestre mesmo.

    O

    discípulo

    bem

    formado será como

    seu mestre .

    24

    A formação é, pois, um verdadeiro processo de 24. Cf. Lc

    6

    40.

    cristificação que determinará um novo estilo de viver.

    Este estilo de vida suporá, para o discípulo, a tomada de

    consciência

    constante

    das formas concret.as pelas quais Jesus o

    ama e continua amando. Assim, será chamado a redescobrir cada

    dia o sentido de sua vocação e missão,

    tendo em conta

    que foi

    chamado por Jesus

    com nome

    próprio, a fim de permanecer

    em

    seu amor e dar frutos de justi ça e santidade. A resposta do discí

    pulo será, então, a prá tica obedie nte ao amoroso desejo d' Aquele

    que o amou primeiro, seguindo-o

    com

    fidelidade e coerência.

    Esse seguimento o levará a dar ao amor de Jesus resposta seme

    lhante

    à

    que o mesmo Jesus deu ao amor do Pai.

    Formado pela identificação total a seu

    Senhor

    e pela pertença

    a

    uma

    comunida de de amigos nesse mesmo Senhor, o discípulo é

    enviado ao

    mundo

    para ali construir e fazer crescer o Reino de

    Deus, já presente na mesma pessoa de Jesus. Sua missão, entre

    tanto, ele a viverá em profunda união

    com

    sua comunidade, onde

    é chamado a compartilhar suas angústias e esperanças e amoro

    samente convidado a viver a

    comunhão

    que deverá partilhar

    gratuitamente

    com

    outros. Na vida comun itária desenvolver

    se-ão as diversas lideranças, ministérios e serviços, nos quais o

    discípulo entregará e perderá

    com

    gosto sua vida, a exemplo do

    Mestre e identificando-se com Ele, até a paixão e a cruz,

    com

    a

    esperança firme

    na

    Ressurreição.

    Parece-nos que

    os

    Exercícios Espirituais de

    Santo

    Inácio são

    um

    meio adequado e

    pertinente

    para que a conteça essa formação

    de discípulos e missionários de Jesus Cristo na América Latina de

    hoje, a fim de que n'Ele

    os

    povos do continente tenham vida.

    Facilitando a experiência do Deus de Jesus, através

    da

    contem

    plação dos mistérios da vida do mesmo Jesus, o método inaci ano

    desdobra diante daquele

    ou

    daquela que se dispõe a segui-lo

    em

    busca do rosto de Deus, a possibilidade de

    uma

    identificação

    sempre mais

    íntima com

    Jesus. Identificação que se mostra

    em

    seu caminho humano até a morte e em sua ressurreição pela ação

    poderosa de Deus Pai no Espírito.

    lTAiCI . :c

    BEVlSTADE ESE IBITUAUDADE INACIANA (Juril:io/2007)

    25. .

    Ao mesmo tempo

    em

    que pede a graça de conhecer, amar e

    seguir a Jesus, o exercitante inaciano é movido pelo Espírito do

    mesmo Jesus. Qual discípulo humilde e atento , auxiliado po r seu

    acompanhante

    espiritual, vai aprender, através da leitura e do

    discernimento das moções de consolação e/ou de desolação que

    experimenta, por onde passa o caminho de Jesus a quem tanto

    deseja seguir.

    Assim

    também

    experimentará a graça de ser enviado em

    missão

    com

    e como Jesus.

    Sendo

    admitido

    dentro

    do universo

    das testemunhas do

    Senhor

    vivo, mor to e ressuscitado, o exerci

    tante faz a experiência de um Deus que aparece em sua vida

    pelos santíssimos efeitos que trasformam e iluminam o mundo

    a seu redor, revelando-lhe sua divina transparência. Mas que ao

    mesmo tempo desaparece e se subtrai, deixando -o

    com

    a prova e

    o sabor da aparição , em um

    mundo

    ainda não reconciliado.

    Essa experiência pedida e procurada

    não

    pode ser desvin

    culada do compartilhar

    com

    Jesus a paixão dos crucificados da

    história, nos quais o

    Senhor

    ainda vive sua agonia e Paixão.

    No

    fundo, são dois momentos de uma mesma e profunda experiência:

    ser companheiro e seguidor de Jesus, compartilhar seu serviço

    até o fracasso e também seu triunfo, segui-lo

    na pena

    e

    na

    glória.

    25

    Sofrer

    com

    sua Paixão, alegrar-se intensamente

    com

    sua Ressur

    reição. Viver a graça e a realidade de ser, desde já, hoje e para

    sempre, discípulos e missionários de Jesus Cristo para que todos

    tenham

    vida

    em

    abundância.

    E

    porque a conformação a Jesus Cristo

    ainda não

    se mani

    festou

    em

    plenitude

    na

    vida dos discípulos, a missão deve dar-se

    em difícil dialética de já e ainda não . O mesmo ofício de

    consolador do Ressuscitado e de seu

    Santo

    Espírito é dado como

    missão e serviço aos discípulos que devem fazer aparecer no

    mundo, por seu serviço amoroso e consolador, a vida

    em

    abun

    dância que lhes é dado experimentar já por pura graça. Enquanto

    a plenitude

    não

    acontece inteiramente, é preciso exercitar-se

    no

    aprofundamento da experiênci a e na dedicação integral à missão.

    O

    tema

    do discipulado e da missão pode ser

    uma

    excelente

    oportunidade para que a Igreja latino-americana mostre um rosto

    de discípula mais que de mestra. Tudo o que se dirá do discípulo

    e do discipulado terá forte impacto sobre uma Igreja que é convi

    dada a ser discípula ela também, inclusive a nível hierárquico.

    Uma

    Igreja que, portanto, sem fugir da sua missão de ensinar e

    JTAICJ,::.BEVISTA DE ESE IRITUALIDADEINACIANA

    Junl:io/200])

  • 8/17/2019 Discipulado e missão na América Latina - Maria C. Bingemer

    9/9

    transmitir, é chamada igualmente a aprender: aprender dos pobres

    como servi-los; aprender dos jovens como falar-lhes e ser com

    preendida; a prender das outras religiões como dialogar

    com

    elas;

    aprender dos intelectuais e formadores de opiniã o quais

    as

    novas

    idéias e os novos elementos que vão forjando

    hoje uma

    nova

    cultura; aprender daqueles que dão suas vidas pela paz, cons truin

    do o perdão e a reconciliação, as vias para a erradicação da violên

    cia e

    da

    morte. A V Conferência pode ser

    uma

    ocasião de ouro

    para dizer à América Lati na e ao mundo que. a Igreja quer anunciar

    Jesus Cristo e suscitar seus discípulos, mostrando-se ela mesma

    como primeira discípula, confessando-se ela mesma ignorante,

    pecadora e necessitada de ouvir, escutar, aprender muitíssimas

    coisas, a fim de poder falar realmente como fiel porta voz do

    Mestre e

    não

    como anunciadora de si mesma.

    Os

    Exercícios Espirituais de

    Santo

    Inácio, pérola de grande

    valor do patrimônio eclesial,

    podem

    ser um eficaz instrumento

    de formação pessoal e comunitária que configure a Igreja como

    discípula e missionária hoje.

    t

    O

    autor

    é

    ormado

    em

    Ciências

    sociais e,

    atualmente,

    estuda

    Filosofia

    na

    Faculdade

    jesuíta

    de Filosofia

    e

    Teologia

    FAJE),

    em

    Belo

    Horizonte

    1

    GIDDENS A. Sociolo-

    gia Porto Alegre: Artmed

    2005. p.

    42.

    Dante Alighieri

    (1265-1321)

    s

    Dante

    Alighieri

    e Inácio

    de Loyola:

    a justa medida do

    amor

    JULIANO TADEU DOS ANJOS ÜLJVEIRA,

    S

    comum, nos mais diversos ambientes, ouvir-se a expressão:

    o

    homem

    é fruto do meio

    em

    que vive . Mais do que

    ser uma afirmação do senso comum, esta assertiva en

    contra

    eco nas ciências humanas, sobretudo

    na

    Sociologia e

    na

    Antropologia.

    Enquanto ser social, nascido num

    contexto

    sócio-cultural

    específico, o ser

    humano

    é, sem dúvida, determinado por experiên

    cias e visões de mundo próprias de seu tempo e do ambiente que o

    cercam. Apr endendo o modo de vida de sua sociedade, a pessoa

    passa pelo que os estudiosos denominam

    processo

    de

    socialização

    Segundo o sociólogo A. Giddens, o processo pelo qual as

    crianças, ou outros novos membros da sociedade, aprendem o

    modo de vida de sua sociedade é chamado de

    socialização

    A

    socialização é o principal canal para transmissão da cultura através

    do tempo e das gerações.

    1

    A Baixa Idade Média, época

    em

    que viveu Dante Alighieri,

    foi marcada por um forte domínio da Igreja Católica que extra

    polou o âmbito religioso e permeou toda a vida da Europa Me

    dieval. Em prol da ma nutenção de

    um

    poder acumulado durante

    séculos, mais especificamente desde que o Cristianismo

    tomou-

    se religião oficial do Império Romano, a Igreja exerceu

    um

    rígido

    contro le dos aspectos morais e sociais e, dada sua influência, dis

    seminou e consolidou

    uma

    mentalidade

    da

    qual encontramos

    resquícios até mesmo nestes tempos pós-modernos.

    Apesar de ser considerado uma figura à frente de seu tempo,

    até mesmo um precursor do Renascimento, e criador de

    uma

    obra

    original e genial,

    Dante não

    escapou da influência do catolicismo

    medieval e incorporou

    em

    sua principal obra, A

    Divina

    IIAICJ '

    REVISJ

    A DEESPIBffUALIDADETNAOIANA(Junlio/2001)