dissertaÇÃo de mestrado em ciÊncias econÓmicas e empresariais

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UNIVERSIDADE DOS AÇORES DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÃO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS ECONÓMICAS E EMPRESARIAIS GESTÃO ORÇAMENTAL ESTUDO DE CASO NO SETOR RETALHO Aldo Luís Pacheco Medeiros Orientador: Professor Doutor Gualter Manuel Medeiros do Couto Coorientador: Professor Doutor Pedro Miguel Silva Gonçalves Pimentel Ponta Delgada, Setembro de 2013

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  • UNIVERSIDADE DOS AORES

    DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTO

    DISSERTAO DE MESTRADO EM CINCIAS ECONMICAS E EMPRESARIAIS

    GESTO ORAMENTAL ESTUDO DE CASO NO SETOR RETALHO

    Aldo Lus Pacheco Medeiros

    Orientador: Professor Doutor Gualter Manuel Medeiros do Couto

    Coorientador: Professor Doutor Pedro Miguel Silva Gonalves Pimentel

    Ponta Delgada, Setembro de 2013

  • I

    Resumo:

    Neste trabalho, pretende-se investigar como se efetua e qual o impacto do processo

    oramental numa empresa do setor do retalho. A abordagem ao tema sob a forma de

    case study permite compreender com profundidade as interaes e os comportamentos

    dos diversos intervenientes na empresa medida que o processo decorre.

    A utilizao do oramento como ferramenta de controlo de gesto, dentro de uma

    empresa, permite uma maior orientao, acompanhamento e planeamento da atividade e

    garante maior eficincia no funcionamento da mesma, pois direcciona a empresa para se

    adaptar ao mercado e para a minimizao de custos.

    Compreender o processo de gesto oramental de uma empresa envolve a obteno de

    conhecimento sobre a forma como o oramento concebido, implementado e utilizado

    na organizao. Alm da redao do sistema de gesto oramental, conclui-se sobre o

    comportamento organizacional, explorando deste modo as atividades como a

    comunicao dos resultados, os fluxos de informao entre departamentos e a definio

    de objetivos.

    Palavras-chave:

    Gesto Oramental, Oramento, Controlo de Gesto, Planeamento, Comportamento

    Organizacional.

  • II

    Abstract

    In this work, we intend to study how to create a budget and what is the impact of its

    process in a company in the retail sector. The case study approach to the subject allows

    us to deeply understand the interactions and behaviors of many of the company

    intervenients as the process proceeds.

    The use of the budget as a tool of management control within an enterprise allows a

    greater activity guidance, monitoring and planning and ensures greater efficiency in its

    operation, once it directs the company to adapt itself to the market and to minimize

    costs.

    Understanding the process of budget management in a company requires obtaining

    information on how the budget is designed, implemented and used in the organization.

    Besides the writing of the budget management system, we infer about the organizational

    behavior, exploring, thereby, the activities related to the communication of results, the

    flows of information between departments and goals setting.

    Keywords:

    Budget control, Budget, Management Control, Planning, Organizational Behavior

  • III

    Agradecimentos

    Quando uma pessoa produz algo, no a produz sozinha, tem uma gratido com um

    grande nmero de pessoas pela pacincia, assistncia na pesquisa, ideias, reviso,

    publicao e motivao.

    A minha maior alegria foi a disposio e disponibilidade de tantas pessoas que

    entenderam, apoiaram e me incentivaram neste periodo de trabalho intenso.

    Aos meus orientadores Professor Doutor Gualter e Professor Doutor Pedro o meu

    obrigado pela paciencia e pela amizade que sempre demonstraram, sem os quais a

    concluso deste trabalho no seria possvel.

    Um agradecimento a todos os professores, que deste do incio da minha formao

    acadmica sempre demonstraram ateno e me acompanharam, no trabalho

    desenvolvido, procurando transmitir-me os seus conhecimentos, quer a nvel tcnico ou

    pessoal.

    Um agradecimento especial ao Dr. Paulo Neves, que sempre me incentivou nesta

    caminhada. gratificante aprender com algum da sua competncia e valor.

    Um agradecimento a todas as pessoas, que responderam s minhas questes, pois s

    assim foi possvel o desenvolvimento deste estudo.

    Aos meus pais e irms um enorme obrigado, pois so incansveis incentivadores.

    Por fim, um enorme agradecimento Suzi pela pacincia, amizade, compreenso, por

    vibrar com as minhas descobertas e apoio nos momentos de dvidas e ansiedades.

  • IV

    ndice

    Captulo I Introduo ................................................................................................ 1

    Captulo II Reviso da Literatura ............................................................................... 4

    2.1. Planeamento ....................................................................................................... 4

    2.2. Oramento .......................................................................................................... 7

    2.3. Tipologia de Oramentos .................................................................................... 9

    2.3.1. Anual Tradicional ........................................................................................ 9

    2.3.2. Incremental ................................................................................................ 10

    2.3.3. Base Zero .................................................................................................. 11

    2.3.4. Contnuo .................................................................................................... 12

    2.3.5. Baseado nas Atividades (ABB) .................................................................. 12

    2.3.6. Oramento flexvel .................................................................................... 12

    2.4. O papel do Oramento na Gesto ...................................................................... 13

    2.5. Implementao da Gesto Oramental .............................................................. 16

    2.6. Etapas do Processo Oramental ........................................................................ 18

    2.7. Dificuldades de Implementao ........................................................................ 22

    2.8. O Controlo Oramental .................................................................................... 24

    2.9. Criticas ao Oramento ...................................................................................... 25

    2.10. Mtodos Alternativos ao Oramento Tradicional ............................................ 27

    2.10.1. Key Performance Indicators (KPIs).......................................................... 27

    2.10.2. Balanced Scorecard (BSC) ....................................................................... 29

    2.10.3. Rolling Financial Forecast ....................................................................... 31

    2.10.4. Beyond Budget ........................................................................................ 31

    Capitulo III Metodologia de investigao .................................................................33

    3.1. Planeamento do Case Study .............................................................................. 34

    3.2. Preparao para a Recolha de Evidncia ........................................................... 34

    3.3. Recolha de Evidncia ....................................................................................... 34

    3.3.1 Participao-observao ............................................................................. 34

    3.3.2. Entrevistas ................................................................................................. 35

    3.3.3. Documentao ........................................................................................... 37

    3.4. Anlise da Evidncia Recolhida no Case Study................................................. 38

  • V

    3.5. Desenvolvimento e Redao do Case Study ...................................................... 38

    Capitulo IV Estudo do Sistema Oramental da Empresa INSCO ..............................39

    4.1. Breve Apresentao da Empresa ....................................................................... 39

    4.1.1. A Empresa ................................................................................................. 39

    4.1.2. Misso e Estratgia .................................................................................... 39

    4.1.3. Estrutura Organizacional ........................................................................... 40

    4.2. Breve Apresentao das Atividades e Produtos ................................................. 41

    4.3. Planeamento e Estratgia .................................................................................. 41

    4.4. O Oramento .................................................................................................... 43

    4.5. Etapas do Processo Oramental ........................................................................ 44

    4.5.1. Preparao e comunicao das linhas de orientao ................................... 44

    4.5.2. Reunio de preparao do oramento ......................................................... 45

    4.5.3. Preparao da informao por departamentos ............................................ 45

    4.5.4. Negociao e coordenao do oramento com os superiores ...................... 46

    4.5.5. Apresentao do oramento Direo ....................................................... 46

    4.5.6. Reviso com as orientaes da direo e aceitao final do oramento ....... 47

    4.5.7. Apresentao do oramento Administrao ............................................. 47

    4.5.8. Apresentao aos colaboradores ................................................................ 47

    4.6. Processo de construo do Oramento .............................................................. 48

    4.6.1. Projeo de Vendas e Margens do ltimo trimestre do ano N ..................... 48

    4.6.2. Oramento de Vendas e Margens de N+1 .................................................. 50

    4.6.3. Consolidao de Vendas e Margens ........................................................... 50

    4.6.4. Oramento de todas as rubricas da contribuio total ................................. 51

    4.6.5. Oramento de Encargos ............................................................................. 52

    4.6.5.1 Encargos de Pessoal ............................................................................. 52

    4.6.5.2 Encargos de Funcionamento ................................................................ 53

    4.6.5.3 Encargos de Imobilizado ...................................................................... 53

    4.6.5.4 Outros Encargos de Atividade .............................................................. 54

    4.6.5.5 Amortizaes ....................................................................................... 54

    4.6.5.6 Provises e Imparidades ....................................................................... 55

    4.6.5.7 Resultados Financeiros ........................................................................ 55

    4.6.6. Consolidao da Conta de Explorao ....................................................... 55

    4.6.7. Balano Previsional ................................................................................... 56

    4.6.8 Consolidao do Oramento ....................................................................... 56

  • VI

    4.6.9. Preparao de dados para DW ................................................................... 56

    4.7. Implementao da Gesto Oramental .............................................................. 57

    4.7.1. Sistema de Informao............................................................................... 57

    4.7.2. rgo Orientador do Oramento ................................................................ 57

    4.7.3. Envolvimento da Direo Geral ................................................................. 58

    4.7.4. Comunicao Interdepartamental ............................................................... 58

    4.7.5. Cultura Organizacional .............................................................................. 59

    4.8. Implicaes da Gesto Oramental ................................................................... 59

    4.8.1. Relevncia da Gesto Oramental .............................................................. 59

    4.8.2. Avaliao de Desempenho ......................................................................... 60

    4.9. Controlo Oramental ........................................................................................ 61

    4.9.1. Anlise de Desvios .................................................................................... 61

    4.9.2. Revises Oramentais ................................................................................ 62

    4.10. Dificuldades no Processo Oramental ............................................................. 63

    Capitulo V Concluses .............................................................................................65

    Referncias Bibliogrficas ..........................................................................................69

    Anexos........................................................................................................................72

    Anexo 1 - Guio de Entrevista ................................................................................. 72

    Anexo 2 - Plano de Entrevistas ................................................................................ 75

    Anexo 3 - Etapas do processo de construo do oramento da empresa ................... 76

  • VII

    Lista de Tabelas

    Tabela 1: Frmula de clculo dos desvios. .................................................................. 24

    Tabela 2: Frmula para oramento de amortizaes .................................................... 54

  • VIII

    Lista de Figuras

    Figura 1: Hierarquia de Planos. ..................................................................................... 7

    Figura 2: Perspetivas do Balanced Scorecard. ............................................................. 29

    Figura 3: Organigrama ................................................................................................ 41

    Figura 4: Hierarquia de planos na empresa Insco. ........................................................ 42

    Figura 5: Exemplo de mapa de consolidao de vendas. .............................................. 51

    Figura 6: Exemplo de mapa de oramento de Encargos de Pessoal. ............................. 52

  • IX

    ndice de anexos

    Anexo 1 - Guio de Entrevista .................................................................................... 72

    Anexo 2 - Plano de Entrevistas.................................................................................... 75

    Anexo 3 - Etapas do processo de construo do oramento da empresa ....................... 76

  • X

    Lista de Abreviaturas

    ABC Activity Based Costing

    BSC Balanced Scorecard

    DPCG Direo de Planeamento e Controlo de Gesto

    DG Direo Geral

    DOP Direo de Operaes

    DC Direo Comercial

    DLOG Direo de Logstica

    DW Data Wharehouse

    EBITDA Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization

    FTE Full-Time Equivalent (tempo inteiro = 40 horas semanais)

    KPI Key Performance Indicators

    OBIEE Oracle Business Intelligence Enterprise Edition

    RAA Regio Autnoma dos Aores

  • CAPTULO I INTRODUO

    Neste captulo descrito a organizao do presente trabalho, seguida da

    contextualizao do mesmo. elaborada uma breve introduo ao tema de gesto

    oramental, seguida da indicao do objetivo deste estudo e do mtodo de investigao

    adotado.

    Embora de reconhecido interesse para a gesto, a elaborao dos oramentos no uma

    tarefa fcil, se quiserem refletir, duma forma adequada, os objetivos de cada gestor e os

    seus meios de ao.

    A gesto oramental pode ser definida como o tipo de gesto das organizaes que se

    caracteriza pelo planeamento sistemtico das atividades da organizao, em que o

    planeamento se traduz por oramentos que so planos de ao que fixam a cada gestor

    em quantidades, valores e prazos os meios a utilizar e os proveitos ou operaes a

    realizar, comparando-se periodicamente aqueles objetivos com as realizaes (Pereira e

    Franco, 1994).

    O oramento assume assim, um papel fundamental de planeamento tendo em conta que

    coordena os objetivos e os valores a atingir pelas atividades da empresa, estimando os

    seus gastos e rditos.

    A gesto de uma empresa moderna implica decises rpidas, contnuas, precisas e

    eficazes. Muitas das variveis so bastantes imprevisveis, outras alteram-se com grande

    facilidade, como por exemplo a constante alterao no mundo da tecnologia, da

    legislao ou das relaes internacionais. Construir um oramento numa economia

    aberta em que a mudana contnua, exige uma grande ateno dos gestores e uma

    constante atualizao das informaes de suporte. Outras vezes, o prprio processo de

    gesto que poder dificultar o envolvimento dos gestores no processo previsional.

  • 2

    Na Insco Insular de Hipercados, SA, empresa do setor da distribuio e de dimenso

    relevante, a gesto oramental e o oramento encontram-se implementados, pois servem

    como sistema de gesto estratgica de controlo na empresa. A utilizao do oramento

    na empresa sob estudo um processo complexo e claramente vantajoso.

    O principal objetivo deste estudo melhorar o conhecimento sobre o processo

    oramental em empresas de retalho (grande distribuio), as quais tm sido

    frequentemente preteridas em detrimento das empresas industriais, no mundo

    acadmico e na literatura sobre a temtica.

    O setor retalho inclui a atividades de venda de bens e servios a consumidores finais,

    dividindo grandes quantidades de produtos em quantidades unitariamente adequadas

    satisfao das necessidades dos consumidores finais (Rousseau, 2008).

    Compreender o processo de gesto oramental de uma empresa envolve a obteno de

    conhecimento sobre a forma como o oramento concebido, implementado e utilizado

    na organizao. Assim, este estudo inclui a descrio do contedo do oramento e

    enfatiza a importncia do mesmo no contexto empresarial, focando aspetos

    fundamentais para a sua realizao. Alm da redao do sistema de gesto oramental,

    so efetuadas algumas reflexes ao nvel dos comportamentos humanos na organizao,

    explorando deste modo as atividades como a comunicao dos resultados, os fluxos de

    informao entre departamentos e a definio de objetivos.

    Este trabalho visa a descrio da elaborao do oramento, investigando como

    elaborado. Assim, o mtodo adotado ser um case study descritivo (Yin, 2003).

    Aps efetuada uma reviso de literatura sobre o tema da gesto oramental procedeu-se

    formulao das research questions:

    1. Como se efetua o processo oramental numa empresa do setor do retalho?

  • 3

    2. Qual o impacto da gesto oramental na empresa?

    Para responder a estas questes, foram recolhidas vrias evidncias:

    1. Relatrios internos da empresa, outputs do sistema de controlo de gesto,

    normas e cronogramas de elaborao do oramento; e

    2. Entrevistas aps o perodo de oramento da empresa.

    Alm da evidncia recolhida, tambm foi consultada literatura considerada mais

    relevante sobre o processo de oramentao e a funo planeamento.

    De seguida procedeu-se interao da literatura com as evidncias recolhidas, analise

    das descobertas e iniciada a escrita da dissertao.

    Esta dissertao encontra-se organizada em cinco captulos, o primeiro captulo a

    presente introduo, onde apresentado o enquadramento ao estudo realizado. No

    captulo 2 elaborada a reviso da literatura, referente funo planeamento e ao

    processo oramental, seguido da discrio da metodologia utilizada neste case study

    (Capitulo 3). O captulo 4 apresenta o case study, atravs da contextualizao da

    empresa, descrio do processo oramental e indicao das principais implicaes da

    gesto oramental na organizao. Este estudo termina com a apresentao das

    concluses, limitaes e sugestes para futuras investigaes (Capitulo 5).

  • CAPTULO II REVISO DA LITERATURA

    Este captulo descreve os conceitos tericos referentes ao tema da dissertao, de todo o

    processo de gesto oramental.

    A gesto oramental refere-se a um conjunto de tarefas que procuram garantir a

    afetao eficaz de todos os recursos disponibilizados nos oramentos a fim de serem

    atingidos os objetivos que fazem parte destes, otimizando a organizao para irem de

    encontro s metas oramentais. As empresas seguem estratgias, polticas,

    procedimentos e regras que podem ser representadas por planos, atravs, por exemplo,

    dos oramentos. Estes permitem transmitir a informao sobre os recursos necessrios

    para atingir os objetivos definidos. A fase de elaborao de oramentos implica funes

    de planeamento e controlo destes e so de elevada importncia para o bom

    funcionamento da gesto global das empresas (Caiado, 2008).

    2.1. Planeamento

    O processo de planeamento envolve a fixao de objetivos e linhas gerais de gesto que

    servem de base definio da estratgia.

    Segundo Blocher et al. (2001), a estratgia deve ser definida com base numa anlise de

    fatores externos (atravs do estudo do meio envolvente, dos mercados, da concorrncia

    e dos agentes econmicos, polticos, sociais e meios legais, com o intuito de identificar

    novas oportunidades e possveis ameaas) e de fatores internos (cultura e estrutura

    organizacional e recursos existentes, devendo identificar as foras e fraquezas, bem

    como as vantagens competitivas da organizao).

  • 5

    Aps a seleo da estratgia devem ser criados planos a mdio/longo prazo com a

    finalidade de implementar a estratgia e estabelecer as atividades, meios e recursos

    necessrios para alcanar os objetivos.

    Pereira e Franco (1994) indicam que as instituies com nveis de gesto mais evoludos

    devem possuir uma determinada estrutura base, com planos de ao definidos (plano

    estratgico, plano a mdio/longo prazo e plano a curto prazo), que sejam uma referncia

    para a elaborao das suas atividades. O planeamento uma etapa fundamental para

    uma oramentao dinmica, eficaz, bem elaborada e consequentemente para uma

    gesto de qualidade. Cada gestor deve investigar e conhecer a metodologia e a

    funcionalidade dos diversos planos de ao que o compem. O plano estratgico tem

    como desafio a escolha da estratgia para o desenvolvimento da organizao e que o

    mesmo deve apresentar um grau reduzido de complexidade. O plano ideal deve ser

    sustentvel, exequvel e aceite pelos membros da organizao, ou seja, deve basear-se

    num conjunto de objetivos e ideias simples e passveis de atingir.

    De acordo com Caiado (2008), o planeamento e programao a curto prazo devem

    enquadrar-se no planeamento e programao a mdio ou a longo prazo, com os

    ajustamentos que o grau de realizao das previses destes, imponham ou aconselhem

    face conjuntura e ao eventual aparecimento de novos fatores. O rpido

    desenvolvimento econmico que tem caracterizado as ltimas dcadas exige que as

    empresas e outros agentes econmicos faam uma permanente previso do futuro, com

    vista a minimizarem os riscos dos investimentos a efetuar e a permitirem a tomada de

    decises atempada. O planeamento a longo prazo indica o rumo ou a orientao geral a

    observar, enquanto que o planeamento a curto prazo visa a elaborao de um programa

    de ao que permita a coordenao e o controlo das atividades da empresa, tendo este

    programa que respeitar a orientao geral fixada.

  • 6

    Enquanto que os objetivos considerados no plano a longo prazo no so apenas o lucro,

    mas o crescimento de capital e o aumento da quota de mercado, no planeamento a curto

    prazo a estrutura da empresa um dado (o capital imobilizado e a capacidade de

    produo so fixos). O que varia so as variveis de produo e de venda (preo de

    venda; volume de vendas; volume de produo; gastos de produo).

    Embora existam 2 horizontes de previso diferentes (obviamente que o planeamento a

    curto prazo tem que se inserir nos objetivos globais definidos no plano a longo prazo),

    no deixa de constituir uma realidade o possvel desequilbrio financeiro da empresa.

    fundamental assegurar que o endividamento no ponha em causa a solvabilidade e

    sobrevivncia da empresa, ou seja, os recebimentos devero ser suficientes para

    satisfao dos pagamentos.

    Todos os planos de ao tm as suas caractersticas bem definidas e individualizadas,

    contudo, deve-se ter especial ateno para que todos estes planos se relacionem entre si,

    estabelecendo um fio condutor e uma hierarquia de planos, que se inicia pelos objetivos

    mais genricos, e que se desenvolve com sentido para a ao. O resultado prtico da

    referida hierarquia o oramento anual (Pereira e Franco, 1994).

  • 7

    Figura 1: Hierarquia de Planos.

    Fonte: Adaptado de Pereira e Franco (1994, p. 456)

    2.2. Oramento

    O oramento um mtodo formal de planeamento financeiro detalhado que engloba a

    coordenao e controle de cada rubrica significativa no balano e na demonstrao de

    resultados, ou seja, um documento formalmente escrito, constitudo por planos de

    gesto a desenvolver no futuro, expressos em termos fsicos e financeiros, que indica o

    curso da aco futura. Permite estabelecer objetivos especficos para as operaes

    futuras e comparar periodicamente os resultados atuais com os objetivos estabelecidos

    (Hansen e Mowen 2007; Caiado, 2008 e VanDerbeck 2010).

    Caiado (2008), refora a ideia do oramento, defendendo que o mesmo serve as

    principais funes da gesto, do mesmo modo que os desenhos do arquiteto ajudam o

    construtor e o plano de voo auxilia o piloto de um avio.

    Hansen e Mowen (2007) acrescentam que o oramento deve integrar objetivos srios e

    atingveis, o que determina que o planeamento deve ser baseado em estudos cuidados.

  • 8

    Jordan et al. (1993) defendem que o oramento mais do que uma simples previso,

    uma vez que este corresponde a uma atitude voluntria do gestor, para atingir

    compromissos, que so traduzidos monetariamente nos planos de ao.

    Para Jensen (2003), os sistemas de oramento so onipresentes e so considerados desde

    h muito tempo como necessrios para a gesto de uma empresa, consumindo cerca de

    6 meses do tempo de gesto das empresas, em planeamento, negociaes e definio de

    objetivos. O mesmo autor defende, que os oramentos so destinados a coordenar as

    atividades da empresa, embora tambm sirvam como elemento de motivao dos

    gestores.

    Se os princpios da oramentao forem realizados de uma forma adequada, a empresa

    pode ficar mais segura que vai utilizar de forma eficiente todos os seus recursos e

    alcanar os resultados mais favorveis, a longo prazo.

    O planeamento e controlo atravs da utilizao do oramento so essenciais para

    alcanar o objetivo principal de qualquer organizao com fins lucrativos (maximizar a

    rendibilidade atingindo o maior volume de vendas ao menor custo possvel).

    O oramento torna-se, ento, um mapa que orienta os gestores ao longo do caminho e

    permite que os mesmos saibam quando a empresa desviada da rota planeada.

    Tendo em conta a reflexo feita pelos referidos autores, pode-se concluir que os

    objetivos do oramento devem satisfazer algumas caractersticas fundamentais:

    1. Estabelecer objetivos especficos para as operaes futuras;

    2. Os objetivos devem ser realistas e alcanveis;

    3. Comparar periodicamente os resultados atuais com aqueles objetivos;

    4. O processo de oramentao envolve olhar para o futuro, logo o oramento deve

    considerar cuidadosamente a conjuntura macroeconmica, as condies

  • 9

    particulares do setor, mudanas e tendncias que podem influenciar as vendas e

    os custos (os dados histricos devem ser usados apenas como um ponto de

    stepping-off para as projees para o futuro);

    5. O oramento deve ser suficientemente flexvel de modo a que possa ser

    modificado, tendo em conta as variaes das condies;

    6. A responsabilidade pelos custos de previso devem ser claramente definidas e a

    responsabilidade pelos resultados reais devem ser garantidas. Este princpio

    garante e encoraja uma anlise cuidadosa e uma avaliao precisa na

    oramentao.

    Em suma, o oramento assume um papel crucial no processo de gesto de uma

    organizao. a expresso quantitativa do plano anual agindo como previso da gesto

    econmica e administrativa, sendo limitado pelos recursos que a empresa dispe e pelo

    ambiente externo.

    2.3. Tipologia de Oramentos

    Walther (2012), refere que os oramentos envolvem uma boa dose de prospetiva,

    situao que por si s, envolve uma quantidade de erro inevitvel, independentemente

    da tipologia de oramento utilizada.

    Este ponto faz uma abordagem aos diversos tipos de oramento, defendidos por

    diversos autores com Vanderbeck, Needle, Caiado, Edwards, Horngren e Lunkes.

    2.3.1. Anual Tradicional

    VanDerbeck (2010, p. 338) refere que o oramento anual tradicional preparado com

    um ano de antecedncia face ao ano fiscal da empresa. O mesmo autor refere tambm

  • 10

    que este tipo de oramento normalmente dividido em quadrimestres e detalhado por

    meses.

    Needle (2010, p. 256) refere que um oramento tradicional composto por um conjunto

    de oramentos operacionais e financeiros que detalham o planeamento financeiro de

    uma organizao por um perodo contabilstico especfico. Os oramentos operacionais

    servem de base aos oramentos financeiros. Os oramentos operacionais de uma

    empresa de retalho incluem normalmente oramentos de vendas, compras, custos

    comerciais, despesas administrativas e custo dos produtos vendidos.

    2.3.2. Incremental

    Oramento incremental um oramento com base em pequenas alteraes de resultados

    orados no perodo anterior, por comparao com base nos resultados reais. Esta uma

    abordagem comum em empresas onde a gesto no pretende gastar uma grande

    quantidade de tempo com a formulao de oramentos, ou no tem grande necessidade

    de realizar uma avaliao criteriosa do negcio.

    A principal vantagem desta tipologia oramental o facto de ser simples de utilizar,

    baseando-se resultados recentes que podem ser facilmente verificados.

    O oramento incremental historicamente a forma mais comum de construir

    oramentos, porque um modelo que assume de forma simples que os resultados do

    ano atual servem de base para o prximo ano. O nome oramento incremental deriva

    do facto de assumir que cada rubrica do oramento varia positivamente ou

    negativamente na mesma percentagem, no perodo seguinte (Thompson et al. ,2008).

    Para Thompson et al. (2008), o oramento incremental apela ao senso comum, pois

    tenta simplificar a complexidade da realidade econmica do mundo. O oramento

  • 11

    incremental normalmente utiliza tendncias agregadas (mais generalistas) e falha na

    anlise mais detalhada das receitas e despesas.

    2.3.3. Base Zero

    O oramento de base zero, traduo da sigla americana z.b.b. (zero base budgeting),

    constitui um processo de planeamento e oramentao que exige que cada sector

    justifique todas as despesas e que a unidade organizacional ou unidade de deciso opere

    eficiente e eficazmente com um dado nvel de recursos (Caiado, 2008, p. 482).

    Para Edwards et al. (1993) e Needle (2010), o oramento base zero uma alternativa ao

    oramento tradicional e determina que os responsveis operacionais tenham de justificar

    detalhadamente todos os recursos solicitados e todas as despesas que preveem efetuar,

    sempre que elaboram um novo oramento.

    De acordo com Caiado (2008), as etapas que integram os procedimentos do oramento

    de base-zero so as seguintes:

    1. Identificao das unidades de deciso;

    2. Fixao das hipteses de base do planeamento e dos pacotes oramentais;

    3. Anlise das unidades de deciso e proposta das verses-base e aditamentos;

    4. Classificao das verses-base e dos aditamentos;

    5. Preparao dos oramentos definitivos; e

    6. Controlo de resultados.

    Este tipo de oramento parte do zero. A elaborao do oramento para cada ano um

    exerccio de previso e planeamento independente, que identifica as atividades

    essenciais, possibilitando uma alocao de recursos mais eficiente (Edwards et al.,

    1993).

  • 12

    2.3.4. Contnuo

    O oramento contnuo um oramento que constantemente atualizado, acrescentando-

    se um novo perodo medida que o tempo vai decorrendo, no sendo elaborado

    somente uma vez por ano. Na medida em que se adapta constantemente realidade,

    assegura que o planeamento seja mais flexvel e realista. Em contrapartida, tambm

    exige mais recursos e mais tempo para a sua elaborao (Horngren et al., 1999).

    VanDerbeck (2010), refere que muitas empresas utilizam o oramento contnuo, pois

    este confere uma perspetiva mais de longo prazo, em vez de se concentrarem apenas no

    prximo ms ou trimestre.

    2.3.5. Baseado nas Atividades (ABB)

    Para Lunkes (2003, p. 124), o oramento por atividade mais amplo e conecta-se com

    outras funes da gesto. Alm de ser parte do sistema de custos, parte do processo de

    planeamento estratgico global e parte do sistema de controlo que monitoriza as

    operaes de um perodo especfico.

    O oramento por atividades proporciona informao s empresas e um maior controlo

    de recursos, o que permite aos gestores direcionar recursos para as atividades que sero

    oradas no futuro.

    Quando se planeia uma atividade em que necessrio reduzir os custos este mtodo de

    oramento torna-se eficiente no que se refere aplicao de recursos, pois capaz

    disciplinar e controlar mais eficientemente o uso dos recursos financeiros.

    2.3.6. Oramento flexvel

    O oramento flexvel surgiu para resolver o problema do oramento tradicional. Tendo

    em conta que o oramento tradicional elaborado para um nvel de atividade, o

  • 13

    oramento flexvel elaborado para um conjunto de atividades que a empresa poder

    desenvolver. Para a implementao de um oramento flexvel a empresa tem de decidir

    como vai responder a uma srie de condies (Vanderbeck, 2010, p. 351).

    A base para elaborao do oramento flexvel a perfeita distino entre custos fixos e

    custos variveis, pois estes ltimos seguiro o volume de atividade da empresa.

    O conceito de oramento flexvel dificulta a continuidade do processo oramental, uma

    vez que as principais variveis de nvel de atividade no so fixadas partida. A

    aplicao deste tipo de oramento importante em ambientes de grande volatilidade,

    onde difcil prever o que vai acontecer.

    2.4. O papel do Oramento na Gesto

    A realizao do oramento nas empresas resulta em vantagens no planeamento e

    controlo das mesmas. Com uma gesto baseada num oramento possvel criar hbitos

    de previso, de cumprimento de prazos, de organizao e contribuir para a definio

    concreta de responsabilidades, para que os responsveis por determinadas funes

    tenham conscincia das consequncias possveis provenientes de determinadas tomadas

    de deciso (Caiado, 2008).

    Vrios autores como Jordan et al. (1993), Pereira e Franco (1994), Horngren et al.

    (2005), Anthony e Govindarajan (2007), Mortal (2007), Needles (2010), apresentam as

    principais funes do oramento numa organizao:

    1. Planeamento das operaes: os gestores ao elaborarem as propostas de

    oramento esto a prever as atividades a desenvolver, os meios a utilizar, os

    recursos necessrios e principalmente os resultados e objetivos a atingir.

    2. Coordenao das atividades: permite a reconciliao dos diferentes objetivos,

    promovendo a equidade entre departamentos. De acordo com Jordan et al.

  • 14

    (1993) o processo oramental exige uma coordenao vertical (articulao na

    estrutura hierrquica) e horizontal (alinhamento dos objetivos e dos planos de

    ao entre departamentos).

    3. Comunicao dos planos aos vrios centros de atividades: o oramento deve,

    por outro lado, assegurar a comunicao dos planos atuais aos responsveis dos

    vrios centros de responsabilidade e, por outro, deve promover a troca de

    informao na organizao de forma descendente, por parte dos quadros

    superiores, relativa aos objetivos e prioridades da empresa, e de forma

    ascendente atravs da identificao de oportunidades, ameaas e recursos

    necessrios, por parte dos nveis hierrquicos mais baixos da organizao.

    4. Motivao dos gestores para atingir os objetivos da organizao: o oramento

    deve ser uma ferramenta til, uma vez que influencia o comportamento e a

    motivao dos gestores para alcanar bons resultados. De acordo com Mortal

    (2007), esta motivao sentida com maior intensidade quando os gestores

    atingem os objetivos determinados pelo oramento.

    5. Controlo das atividades: o oramento ao ser elaborado permite, posteriormente,

    o controlo das atividades atravs da comparao dos resultados atuais com os

    valores orados, numa tentativa de assegurar que os objetivos esto a ser

    alcanados.

    6. Avaliao da performance: os oramentos auxiliam a gesto definindo pontos

    de referncia que podem ser utilizados para posteriores avaliaes de

    desempenho. A avaliao constitui um processo essencial para justificar a

    elaborao do oramento, visto que a sua preparao pressupe a existncia de

    objetivos globais e individuais a atingir.

  • 15

    Jordan et al. (2005) acrescentam que o oramento um instrumento de

    descentralizao, uma vez que a administrao define os objetivos globais da empresa e

    participa na fixao dos objetivos dos centros de responsabilidade, mas delega a

    execuo e o controlo das tarefas aos responsveis.

    Para Edwards et al. (1993) quanto maior for a incerteza acerca do futuro de uma

    organizao, maior a necessidade da elaborao de um oramento, no podendo o

    contexto de incerteza ser motivo para o no cumprimento dos objetivos traados: In

    fact, the less stable the condition, the more necessary and desirable it is to budget,

    although the process becomes more difficult (Edwards et al., 1993).

    O oramento potencia a funo de controlo pois permite detetar eventuais constries

    em determinadas reas antes que estas ocorram (Mortal, 2007).

    O oramento tambm tem um papel importante no processo e facilitao das relaes

    interpessoais numa organizao, dado que obriga a uma maior comunicao entre os

    intervenientes, uma vez que a sua elaborao necessita da interveno dos gestores

    (responsveis por perceber os objetivos) e do estabelecimento de polticas que definem

    a prpria organizao.

    De acordo com os pargrafos anteriores, conclui-se que a elaborao de um oramento

    em todas as reas de uma organizao, permite:

    1. Coordenar as operaes entre todas as reas da empresa (que tm oramento);

    2. Sincronizar atividades operacionais departamentais, atingindo assim melhores

    resultados; e

    3. Para alm da coordenao, a oramentao permite a comunicao entre as

    subunidades da organizao para garantir o cumprimento das metas pretendidas.

  • 16

    2.5. Implementao da Gesto Oramental

    Needle (2010), defende que a execuo oramental bem-sucedida depende de dois

    fatores: i) comunicao clara; ii) apoio da gesto de topo.

    As diretrizes para a implementao dos oramentos incluem a identificao da

    finalidade do oramento, o grupo de utilizadores e necessidades de informao, as

    fontes de informao para oramento, a criao de um formato claro de oramento e a

    utilizao de frmulas e clculos adequados para obter a informao quantitativa

    (Needle, 2010).

    O mesmo autor refere que de forma a garantir a cooperao e a execuo do oramento,

    todas as pessoas chave envolvidas devem estar identificadas e devem conhecer o seu

    papel no processo oramental. Assim, o controller e os outros membros do

    departamento de coordenao do oramento devem ser muito claros na comunicao

    das expectativas de desempenho e objetivos oramentais. De igual foram, a gesto de

    topo (Administrao ou Direo) deve mostrar apoio para o oramento e incentivar a

    sua implementao.

    A elaborao oramental decorre geralmente no quarto trimestre, sendo normalmente

    planeado para doze meses ou trimestralmente. A sua execuo inicia-se no comeo do

    ano civil, efetuando-se as revises e controlos oramentais no decorrer desse ano

    (Merchant, 1997; e Pereira e Franco, 1994).

    Na implementao do oramento uma das questes importantes o nvel de

    participao dos gestores no processo oramental. Edwards et al. (1993) indicam dois

    tipos de oramento quanto ao grau de participao: oramentos impostos (top-down

    budgeting) e oramentos participativos (bottom-up budgeting). Assim, verifica-se a

    existncia de um oramento imposto quando a maioria dos desenvolvimentos da gesto

  • 17

    oramental est a cargo dos gestores de topo, sendo que o oramento imposto aos

    colaboradores de nveis hierrquicos inferiores (Solomon et al., 1993). Por outro lado,

    Horngren et al. (1999) referem que um oramento participativo implica a formulao do

    oramento com a participao ativa de todos os colaboradores afetados.

    Segundo Merchant (1997) deve ser preparado um manual do oramento que descreva os

    elementos mais permanentes do processo de planeamento.

    Pereira e Franco (1994), apresentam alguns pontos que podem constar deste manual:

    1. A definio dos programas e oramentos e a sua interligao;

    2. Os procedimentos gerais da elaborao, aprovao, execuo e as orientaes da

    direo;

    3. Os objetivos e princpios a seguir no oramento.

    4. A informao que deve ser enviada pela rea de coordenao do oramento aos

    centros de responsabilidade no incio do processo;

    5. Os mapas a elaborar por cada rea de responsabilidade;

    6. Os mapas finais de apresentao do oramento.

    Este manual deve ser comunicado por todos os indivduos responsveis pela preparao

    do oramento.

    Anthony e Govindarajan (2007), indicam-nos a importncia do departamento de

    coordenao do oramento (budget department) no processo oramental, enumerando as

    suas principais tarefas:

    1. Publicao dos procedimentos do oramento;

    2. Calendarizao das tarefas;

    3. Assistncia na preparao do oramento;

    4. Incitao para a interligao e a comunicao entre departamentos;

  • 18

    5. Coordenao e atribuio de responsabilidades;

    6. Fornecimento de informao base para preparao do oramento;

    7. Anlise e interpretao dos resultados aquando da execuo do oramento.

    Na implementao da gesto oramental um fator fundamental de sucesso so os

    sistemas de informao utilizados. Muitas organizaes continuam a utilizar somente

    folhas de clculo para o planeamento e controlo de gesto, uma vez que no passado

    eram ferramentas adequadas para as tarefas tradicionais de planeamento e controlo. No

    entanto, estes modelos de oramento apresentam-se desajustados ao novo contexto

    empresarial pela sua morosidade, falta de fiabilidade dos dados e disperso da

    informao.

    Assim, antes de avanar com o processo oramental importante analisar a estrutura de

    sistemas da empresa e, caso seja necessrio, fundamental dotar as empresas com

    ferramentas e sistemas que automatizem a recolha e formatao de dados, libertando os

    gestores para tarefas de maior valor acrescentado.

    2.6. Etapas do Processo Oramental

    Relativamente s etapas do processo oramental, Caiado (2008), apresenta 3 fases:

    1. Elaborao dos oramentos para o perodo de gesto;

    2. Medio e registo da atividade real e sua comparao com os oramentos

    definidos anteriormente;

    3. Apurar os desvios e analisar as causas para tomar decises corretivas com vista a

    eliminar futuros desvios resultantes do mesmo tipo de causas.

    Borges et al. (2002), tambm apresentam 3 fases para o processo de oramentao:

  • 19

    1. Fixao dos objetivos: importante que os gestores sejam orientados, pois os

    resultados so quantificados de forma que no futuro seja medido o grau de

    realizao dos objetivos, por parte dos gestores.

    2. Definio de programas: nesta fase identifica-se e quantifica-se (fsica e

    monetariamente) os meios e recursos.

    3. Traduo financeira: nesta ltima fase, os autores indicam que os objetivos iro

    traduzir-se em receitas, vendas, prestao de servios, resultados lquidos

    esperados, ou ento em quantificaes no financeiras como a qualidade,

    cumprimento de prazos de entrega e execuo e satisfao do cliente.

    Contrariamente a Borges et al. (2002) e Caiado (2008), Drury (2008) apresenta um

    processo de oramentao mais complexo e detalhado, defendendo que o mesmo deve

    ser constitudo por oito fases. Segundo a literatura recolhida e analisada, considera-se

    que se trata da melhor diviso do processo oramental.

    1. Preparao e comunicao das linhas de orientao

    A gesto de topo deve comunicar as polticas que resultaram de uma reflexo de longo

    prazo aos colaboradores que estaro envolvidas na preparao do oramento do ano

    corrente. Essas polticas podem incluir alteraes nas vendas ou na expanso ou

    concentrao das atividades e no estabelecimento de preos ou mesmo alteraes na

    produtividade.

    2. Determinao dos fatores decisivos para a empresa

    Antes de preparar o oramento necessrio que a administrao determine a varivel

    decisiva, pois esta determina o ponto de partida para o oramento anual.

    Por exemplo, o fator vendas, quando uma empresa no tem capacidade de produo

    para fazer face procura (Drury, 2008). Desta forma, tendo em conta o desempenho

  • 20

    passado, os gestores podem antecipar as mudanas que sero necessrias (Horngren et

    al., 2005).

    3. Preparao do oramento de vendas

    O volume de vendas determina o nvel de produo necessria para evitar que as vendas

    sejam consideradas um fator de restrio da performance. Por esta razo, o oramento

    das vendas o plano mais importante no processo de oramentao anual (Drury,

    2008).

    Needle (2010), refere que para projetar vendas, os gestores tm em conta fatores

    externos e internos.

    Os fatores externos incluem: i) a situao econmica local, nacional e internacional; ii)

    a situao econmica do setor; e iii) o nvel de concorrncia previsto.

    Os fatores internos incluem: i) o histrico de vendas em perodos anteriores; ii) as

    polticas de crdito na empresa; iii) as polticas de preos; iv) novos produtos que a

    organizao planeia apresentar ao mercado; e v) a capacidade produtiva da empresa.

    4. Preparao inicial dos oramentos por centros de responsabilidade

    A preparao do oramento deve ser um processo bottom-up, ou seja, o oramento

    deve ter origem nos nveis mais baixos da hierarquia e deve ser ajustado e coordenado

    pelos nveis superiores. Desta forma, os gestores ficam aptos para participar na

    preparao do oramento, para alm de aumentar a probabilidade de aceitao dos

    objetivos apresentados. Os dados histricos podero ser um ponto de partida para a

    produo do oramento. No entanto, as mudanas devem ser levadas em considerao

    (Drury, 2008).

    5. Negociao do oramento com os superiores

  • 21

    Cada responsvel de departamento deve participar ativamente na elaborao do

    oramento final. O superior hierrquico deve ter em ateno as argumentaes dos

    subordinados para a incluso de dados no oramento, de modo a promover a motivao.

    Ao longo da linha hierrquica os oramentos por centro de responsabilidade devem ser

    negociados entre os responsveis de departamento e respetivos diretores para a

    conciliao de ideias (Drury, 2008).

    6. Coordenao e reviso dos oramentos

    Aps a consolidao dos oramentos individuais, elaborados ao longo da hierarquia

    organizacional, devem ser examinadas as relaes entre os vrios oramentos para que

    estes sejam coerentes entre si. Caso contrrio, deve-se proceder s modificaes

    necessrias. Esta reviso pode aferir que alguns oramentos no so compatveis entre

    si, devendo ser modificados de forma a se tornarem coadunveis com as condies,

    planos de controlo e orientaes dos gestores (Horrngren et al., 2005).

    7. Aceitao final do oramento

    Quando os oramentos esto todos em harmonia so sintetizados no oramento global,

    master Budget, nos balanos e nos cash-flows. Aps a aprovao do oramento global

    so distribudas responsabilidades para garantir que os objetivos que fazem parte do

    oramento sejam atingidos (Drury, 2008).

    8. Revises contnuas dos oramentos

    O processo oramental no termina com a aceitao do oramento. Este deve ser revisto

    durante todo o ano, num processo contnuo e dinmico Periodicamente os resultados

    atuais devem ser comparados com os resultados do oramento. Este procedimento

    permitir gesto verificar diferenas, procurar razes que as justifiquem e tomar aes

    corretivas que solucionem as mesmas (Drury, 2008).

  • 22

    Horngren et al. (2005) referem que se as condies atuais forem muito diferentes das

    antecipadas, o oramento deve ser revisto e ajustado. O processo de oramentao deve

    ser um processo dinmico e contnuo.

    2.7. Dificuldades de Implementao

    A gesto oramental enfrenta obstculos na sua implementao, realizao e execuo,

    alguns mais difceis de ultrapassar do que outros.

    Jordan et al. (2005) apresentam dois tipos de obstculos ao processo oramental: as

    dificuldades de forma e de fundo.

    As dificuldades de forma incluem situaes relativas ao calendrio, aos formulrios e

    processo oramental, que se podem refletir em atrasos e desorganizao entre

    departamentos.

    Conseguir gerir o calendrio uma das dificuldades apresentadas. Deve-se tentar evitar

    a elevada antecipao da realizao do oramento, pois ainda no esto bem

    fundamentados os resultados que podero ser obtidos. No entanto, iniciar o processo

    oramental muito tarde pode fazer com que os gestores no tenham tempo suficiente

    para elaborar as suas projees (Borges et al., 2002).

    O excesso de burocracia nos formulrios pode prejudicar a preciso da previso. O

    contedo dos formulrios deve ser adaptado s necessidades de cada gestor, mantendo

    sempre uma harmonia de linguagem (Borges et al., 2002).

    A organizao e troca de informao pode ser um forte obstculo no processo

    oramental, conforme refere Pereira e Franco (1994), sobretudo quando a estrutura

    orgnica e os sistemas de informao apresentam fragilidades. A estrutura orgnica

    deve estar definida e identificar claramente os diversos centros de responsabilidade. Os

  • 23

    sistemas de informao devem fornecer informao atempada para que seja possvel o

    controlo oramental.

    As dificuldades de fundo resultam de hbitos enraizados nos processos de trabalho:

    ausncia de objetivos, de planos de ao; ausncia de negociao entre gestores na

    elaborao do oramento; a existncia de almofadas oramentais; e existncia de

    detalhe excessivo no oramento. Estas dificuldades complicam todo o processo,

    tornando-o num mero exerccio contabilstico, ao invs de promover o planeamento da

    atividade e a motivao dos gestores (Jordan et al. 2005).

    Os gestores, ao realizarem os oramentos, podem sobrevalorizar os custos, originando

    almofadas. Se estes no ocorrerem na totalidade, este facto poder ser interpretado

    como bom desempenho, constituindo-se como um instrumento de proteo (Borges et

    al., 2002).

    Caiado (2008), refere dois aspetos importantes que podem dificultar a implementao

    da gesto oramental: i) normalmente as pessoas no gostam de prever o futuro, pois

    entendem que as previses nem sempre coincidem com a realidade, utilizando esta

    razo para justificar a no realizao dos oramentos; e ii) por vezes as pessoas

    visualizam os oramentos como uma forma de controlo por parte dos superiores

    hierrquicos, no acreditando nos benefcios da realizao de oramentos.

    Needle (2010), refere que os fatores mais citados pelos responsveis financeiros das

    empresas so: i) uma estratgia inadequadamente definida; ii) falta de ligao clara

    entre a estratgia e a operao; iii) falta de responsabilidade individual para resultados;

    iv) falta de medidas de desempenho significativas; v) pagamento inadequado para o

    desempenho; e vi) a falta de dados adequados.

  • 24

    2.8. O Controlo Oramental

    Aps a definio dos oramentos pelos colaboradores necessrio apurar se os prazos

    destes so cumpridos e adequados.

    O controlo oramental a metodologia utilizada nas organizaes, para acompanhar ao

    longo do tempo, a evoluo do oramento anual e a forma como est a ser executado.

    Permite medir a performance atravs da comparao dos resultados reais com aqueles

    que se indicaram no oramento anual, informando a gesto para a devida correo. O

    controlo oramental funciona assim como um instrumento de acompanhamento dos

    objetivos e dos meios definidos no plano e no oramento, assumindo um papel muito

    ativo no processo da gesto oramental (Jordan et al., 2005, p. 183).

    Comparando os valores reais apurados na contabilidade, com as previses do

    oramento, surgem os denominados desvios. Estes podem ser favorveis ou

    desfavorveis, de acordo com o sinal obtido das diferenas entre os valores reais e os

    valores que constam no oramento.

    Segundo Caiado (2008), os desvios podem ser calculados em duas formas diferentes,

    conforme apresentado na tabela seguinte.

    Tabela 1: Frmula de clculo dos desvios.

    O sinal positivo ou negativo depende da parcela que se escolher como aditivo e o

    significado depender da sua natureza. Por exemplo, um desvio negativo nos rditos

    ter um significado inverso nos gastos. Desta forma, quanto menor o desvio, mais

    adequado o oramento. Quando se verificam desvios significativos as

    responsabilidades so reportadas rea responsvel (Caiado, 2008).

    Desvios = valores orados valores reais

    Desvios = valores reais valores orados

  • 25

    Autores como Pereira e Franco (1994) abordam a questo dos desvios indicando que

    estes so fixados em intervalos de controlo, com o objetivo de serem analisados

    somente os desvios significativos. Esta abordagem denominada de gesto por exceo.

    Desta forma, os gestores apenas analisam os maiores desvios, com a finalidade de

    desenvolver medidas corretivas.

    A impossibilidade de efetuar anlises de controlo oramental, com a rapidez suficiente

    para suportar a tomada de deciso e atuar em tempo til com aes corretivas, origina a

    que sejam tomadas decises baseadas em informao insuficiente ou desatualizada.

    Segundo Drury (2008), para um controlo oramental mais eficaz importante o grau de

    controlo que o gestor tem. Esse controlo depende de fatores controlveis e no

    controlveis. Os fatores controlveis so aqueles que o gestor pode e deve exercer

    influncia, de forma a conseguir o mximo de eficincia. Os fatores no controlveis

    caracterizam-se pelo facto da influncia e da responsabilidade j no serem diretamente

    do gestor. Se a quantidade de fatores no controlveis for superior quantidade de

    fatores controlveis pode dificultar a avaliao da performance, pois os gestores podem

    no estar preparados para o erro e consequentes efeitos.

    2.9. Criticas ao Oramento

    Para Jensen (2001) e Hope e Fraser (2003), o oramento agrega pouco valor para a

    empresa, uma vez que esta ferramenta surge para controlar o comportamento dos

    gestores e funcionrios, ao invs de contribuir para as vantagens competitivas da

    empresa.

    Jensen (2001), Traditional budgeting processes waste time, distort decisions, and turn

    honest managers into schemers. Um oramento de uma organizao uma tarefa

    difcil, que consome recursos (humanos e financeiros) s organizaes. Desta forma,

  • 26

    muitos autores consideram que a gesto baseada no oramento um processo

    antiquado, baseado em atividades time-consuming, com enfoque no trabalho de dados

    ao invs da anlise de informao e na simulao de cenrios.

    J para Hope e Fraser (2003), as empresas modernas rejeitam a centralizao, o

    planeamento inflexvel e o controle absoluto. Estes autores enumeram uma srie de

    desvantagens ou problemas proporcionados pelo processo oramental, dos quais se

    destacam:

    1. O processo oramental comea pelo menos quatro meses antes do incio do ano

    fiscal, ou seja, um processo demorado e com nfase no curto prazo

    (geralmente um ano);

    2. Apesar da capacidade de processamento dos computadores de trabalhar os

    nmeros, o processo oramental continua a ser lento e oneroso, absorvendo at

    30% do tempo da gesto;

    3. Num sistema tradicional de processo oramental, as metas de custo inflexveis

    podem ter o efeito de limitar o volume de negcios assumido por uma rea da

    empresa;

    4. Os oramentos e as revises oramentais convencionais envolvem

    recompilaes detalhadas de dados e exigem vrios escales de aprovao;

    5. O uso do oramento, em casos extremos, no intuito de alcanar um melhor

    desempenho, pode levar ao colapso da tica corporativa, porque em situaes

    extremas os gestores podem falsificar os resultados pela manipulao de dados

    de forma atingirem as metas. Ao agirem desta forma os gestores acabam por

    prejudicar os resultados reais da empresa. Esta quebra dos valores ticos leva

    desconfiana dentro da organizao.

  • 27

    6. O oramento desautoriza a linha de frente, desencoraja a partilha de informaes

    e retarda a resposta evoluo do mercado at que seja tarde demais. As

    condies de mercado alteram-se de forma to radical que o plano construdo no

    ano anterior pode ser esquecido por no ser o mais adequado.

    Assim, evidente que o modelo de gesto baseado no oramento pode acarretar alguns

    problemas, nomeadamente financeiros, estratgicos (modelo esttico e centralizado) e

    comportamentais. No entanto, como refere Horngren (2004) budgets are inanimate

    tools. They can be used wisely or stupidly.

    2.10. Mtodos Alternativos ao Oramento Tradicional

    Assumindo que o oramento uma forma de controlo e um processo pouco

    participativo, existem atualmente novas tcnicas de gesto sem oramento que tendem a

    descentralizar responsabilidades, adotando uma nova postura de gesto em que os

    colaboradores passam a contribuir para a definio de objetivos que melhorem o

    desempenho geral da organizao. A gesto sem oramento no procura suprimir as

    metas, mas antes identificar os objetivos de desempenho mais relevantes e exequveis.

    De seguida identificam-se algumas das novas tcnicas referidas na literatura.

    2.10.1. Key Performance Indicators (KPIs)

    Segundo Parmenter (2007), os KPIs representam um conjunto de medidas centradas nos

    aspetos de desempenho organizacional, que so os mais crticos para o sucesso presente

    e futuro da organizao.

    Neste contexto, a introduo de KPIs deve ser realizada de uma forma que suporte e

    englobe a ideia de uma parceria (cooperao) no local de trabalho, nomeadamente entre

  • 28

    os funcionrios, a gesto, os fornecedores, os clientes e a comunidade nas quais a

    organizao desenvolve as suas atividades (Parmenter, 2007).

    De acordo com Peterson (2006), os KPIs so sempre taxas, propores, mdias ou

    percentagens, nunca so simples nmeros. Os KPIs so projetados para resumir dados

    comparados de forma significativa e para transmitir sucintamente o mximo de

    informao possvel.

    Se os KPIs forem bem definidos e bem apresentados, criam expectativas e conduzem

    tomada de aes.

    Apesar da aceitao generalizada do uso de um conjunto de KPIs para avaliar o

    desempenho de uma empresa, existem algumas limitaes associadas sua utilizao.

    Dado que um indicador analisa apenas uma parte da atividade da empresa, necessrio

    analisar diversos indicadores para que se consiga proceder avaliao do desempenho

    global.

    Segundo Horta et al. (2010), pode ser difcil obter uma viso global do desempenho,

    pois o nmero de indicadores necessrios para se ter essa viso pode revelar-se de

    gesto inexequvel do ponto de vista de gesto.

    importante no s utilizar as medidas corretas para medir as coisas certas, mas

    tambm para mostrar as relaes entre as diferentes medidas, uma vez que esta uma

    forma de identificar potenciais mecanismos de melhoria.

    As principais dificuldades de todo o processo de KPIs so a disponibilidade e a validade

    dos dados.

  • 29

    2.10.2. Balanced Scorecard (BSC)

    Needle (2010) refere que durante a fase de planeamento, o BSC fornece um quadro de

    trabalho que permite que os gestores possam traduzir a viso e estratgia da sua

    organizao em termos operacionais. A gesto avalia a viso da empresa a partir da

    perspetiva de cada grupo de interessados e procura responder a uma questo-chave para

    cada grupo:

    Figura 2: Perspetivas do Balanced Scorecard.

    Fonte: Adaptado de Robert Kaplan e David Norton, The Strategy-focused Organization, 2001

    Estas questes-chave procuram alinhar a estratgia da organizao a partir de todas as

    perspetivas. As respostas s perguntas resultam em objetivos de desempenho que sejam

    mutuamente benficas a todos os interessados. Uma vez que os objetivos da

  • 30

    organizao so definidos, os gestores podem selecionar medidas e metas de

    desempenho definidas para traduzir os objetivos em um plano de ao (Needle, 2010).

    Para Caiado (2008), o BSC faz uma ligao dos indicadores de desempenho

    estratgia, permitindo aos decisores uma perspetiva integrada. Liga o controlo

    operacional de curto prazo com a viso e a estratgia de longo prazo, identifica as

    relaes de causa-efeito e concentra a ateno dos gestores nos fatores crticos.

    Caiado (2008) refere um conjunto de etapas sequenciais, para o sucesso da

    implementao do BSC:

    1. Delinear e listar as medidas que avaliem os fatores crticos de sucesso;

    2. Desenvolver as medidas que se enquadrem nas relaes de causa efeito para

    conseguir uma lgica concreta de criao de valor;

    3. Definido o BSC, necessrio estende-lo aos nveis inferiores da pirmide de

    gesto;

    4. Recompensar os colaboradores pela concretizao dos objetivos;

    5. Organizar a produo dos dados e o seu reporte dentro de um sistema integrado;

    e

    6. Organizar o sistema de retroao mediante avaliaes e reunies peridicas, de

    modo a apoiar a melhoria do sistema.

    Caiado (2008), tambm refere que a implementao da estratgia atravs do BCS

    depara-se com algumas dificuldades: o ambiente de mudana rpida, as alteraes

    frequentes na tecnologia e a falta de recursos humanos qualificados e estveis.

  • 31

    2.10.3. Rolling Financial Forecast

    Ao contrrio do oramento, que desenvolvido para o perodo de um ano, o Rolling

    Financial Forecast tem uma viso mais realista do mercado, que est em constante

    mudana e, por isso, visa estimular a ao contnua e flexvel.

    Para Garlapati e Durga (2011), este modelo permite que uma organizao consiga

    prever melhor os riscos e as oportunidades, rever a sua estratgia luz de novos

    cenrios de negcio e alinhar recursos / atividades para obter vantagem competitiva.

    2.10.4. Beyond Budget

    semelhana do BSC, o Beyond Budget tambm desenvolvido de forma a

    descentralizar o planeamento da gesto de topo, expandindo-o a nveis operacionais.

    Alm disso, o Beyond Budget define objetivos de benchmark, procurando direcionar a

    organizao para os acontecimentos exteriores, comparando-a, assim, com a

    concorrncia (Hope e Fraser, 2003a).

    Comparativamente ao oramento tradicional, o Beyond Budgeting permite uma gesto

    mais flexvel. Em vez de planos fixos anualmente, os objetivos so flexveis e revistos

    com frequncia, tendo por base a concorrncia os benchmarks de excelncia, durante

    perodos mais curtos e utilizando indicadores chave.

    Neste modelo deixa de ser necessrio realizar-se um oramento. Logo, poupa-se tempo

    e recursos, libertando dinheiro e mo-de-obra para outras tarefas mais importantes e

    com maior impacto para o futuro da empresa. Para alm disto, existe uma grande

    probabilidade das ferramentas utilizadas para a substituio do oramento serem mais

    eficientes, pois deixa de fora aspetos importantes como a satisfao dos clientes ou os

    indicadores de qualidade.

  • 32

    A implementao de modelos deste tipo implica que se efetue uma forte

    descentralizao dentro da empresa, permitindo que a tomada de deciso e o

    compromisso de desempenho estejam a cargo dos gestores operacionais.

  • CAPITULO III METODOLOGIA DE INVESTIGAO

    Neste captulo ser abordado o mtodo de investigao case study e metodologia

    adotada na conduo da presente investigao.

    O principal objetivo deste case study compreender o processo oramental em

    empresas de retalho, as quais tm sido frequentemente preteridas em detrimento das

    empresas industriais quer no mundo acadmico quer na literatura sobre a temtica.

    Um case study uma de vrias formas de fazer pesquisas em cincias sociais,

    permitindo estudar os fenmenos inseridos na complexidade e riqueza dos seus

    contextos (Yin, 2003).

    Como referido anteriormente, aps ter sido efetuada uma reviso de literatura sobre o

    tema da gesto oramental procedeu-se formulao das research questions (abaixo

    indicadas), as quais procuram explicar o processo oramental da empresa em estudo,

    utilizando o mtodo case study explanatrio:

    1. Como se efetua o processo oramental numa empresa do setor da distribuio?

    2. Qual o impacto da gesto oramental na empresa?

    As principais etapas seguidas na realizao do case study conduzido foram:

    1. Planeamento do case study;

    2. Preparao para a recolha de evidncia;

    3. Recolha de evidncia;

    4. Anlise da evidncia recolhida no case study; e

    5. Desenvolvimento e redao do case study.

    De seguida sero abordadas com maior detalhe cada etapa.

  • 34

    3.1. Planeamento do Case Study

    O planeamento do presente case study foi efetuado na face inicial desta estudo com a

    finalidade de organizar e estruturar a investigao a desenvolver com vista a garantir

    coerncia das aes a serem desenvolvidas.

    Nesta face foi efetuada uma primeira reviso de literatura, com o intuito de perceber

    qual a metodologia de investigao em cincias sociais mais adequada para abordar o

    tema em estudo - a gesto oramental no retalho.

    3.2. Preparao para a Recolha de Evidncia

    Esta etapa teve incio com a autorizao do Diretor Geral da empresa em estudo, o que

    tornou possvel o plano de recolha de informaes.

    A escolha da empresa em questo deveu-se ao facto de existir a possibilidade de acesso

    facilitado informao e pelo conhecimento prtico do processo oramental que o autor

    detm nesta empresa.

    3.3. Recolha de Evidncia

    Para a elaborao do presente estudo foram efetuadas recolhas em diversas fontes de

    informao, para evitar resultados/informaes enviesados. Assim, alm da

    participao-observao, procedeu-se realizao de entrevistas e recolha e consulta

    de vrios documentos de apoio.

    3.3.1 Participao-observao

    A investigao deste case study teve por base a participao-observao por parte do

    autor, uma vez que o mesmo participante ativo nos eventos que esto a ser estudados.

    O autor teve total acesso a todas as fases do processo oramental.

  • 35

    Os fatos recolhidos tm origem no processo de elaborao do oramento (entre

    Setembro e Dezembro de 2012) e nos meses seguinte, durante a fase de implementao

    e revises oramentais que se seguiram.

    Segundo Yin (2003), este tipo de metodologia apresenta vantagens e desvantagens.

    Uma das principais vantagens o facto de podermos compreender com maior

    profundidade as interaes e os comportamentos dos diversos intervenientes medida

    que os processos decorrem.

    Por outro lado, a principal desvantagem deste mtodo reside no facto do investigador

    poder ser influenciado pelos seus pontos de vista e, deste modo, ter uma postura menos

    objetiva face ao objeto em estudo, ou seja, pode trazer eventuais problemas de

    objetividade quer na recolha, quer no processo de anlise da evidncia.

    No entanto, estes riscos foram minimizados com a utilizao de outras fontes de

    evidncia.

    3.3.2. Entrevistas

    O processo de entrevista foi uma fonte de evidncia fundamental para a compreenso do

    processo oramental e o respetivo impacto na atividade da empresa. Alm disso

    permitiu perceber as diferentes perspetivas de cada entrevistado.

    Para a realizao das entrevistas foi definido o universo de colaboradores a entrevistar,

    assim como definido o guio de questes a seguir. A empresa em estudo aprovou o

    guio de entrevista e a lista de entrevistados, (ver Anexo 1 e 2).

    As entrevistas foram realizadas de forma presencial, individual sem suporte audiovisual.

    Ao longo das entrevistas foram apontadas as respostas de cada entrevistado. Aps o

  • 36

    processo de entrevistas individual foram analisadas as respostas de forma a organizar as

    mesmas e facilitar a comparabilidade da anlise.

    A escolha dos entrevistados procurou captar diferentes perspetivas das vrias reas da

    empresa e de diversos nveis de responsabilidade e hierarquia.

    Procurou-se minimizar um possvel enviesamento provocado pela participao-

    observao, utilizando as entrevistas como fonte de evidncia.

    As entrevistas foram orientadas com 44 questes abertas, devidamente separadas em 4

    temas: i) caracterizao breve do entrevistado; ii) participao no oramento; iii)

    adequao do oramento; e iv) comprometimento organizacional.

    Foram estudados alguns dos construtos identificados no estudo de Paiva (2011). Aps

    anlise, verifica-se que os referidos construtos utilizados baseiam-se em estudos

    validados de vrios autores. De seguida procedeu-se escolha, com pequenas

    adaptaes, dos construtos para utilizar neste estudo.

    Assim, no primeiro grupo de questes, procura-se obter informao sobre

    responsabilidade, funes e antiguidade na empresa dos colaboradores.

    No grupo de questes sobre a participao no oramento, utilizou-se 17 questes, que

    visam obter vrias informaes, entre as quais, organizao, envolvimento e influncia

    do entrevistado no processo oramental. Os itens utilizados esto presentes nos

    trabalhos de Milani (1975), Maiga e Jacobs (2007), Leach-Lpez, Starmmerjohan e

    McNair (2008) e Teixeira (2010).

    Relativamente adequao do oramento, foram colocadas 15 questes que visam

    obter vrias evidncias, na sua maioria de mbito tcnico. So abordadas questes

    relacionadas com os recursos utilizados, informao existente, troca de informao,

    formulao de objectivos, abordando tambm as vantagens e desvantagens sentidas com

  • 37

    o processo oramental. Os itens utilizados esto presentes nos trabalhos de Dunk

    (1993), Nouri e Parker (1998), Maiga e Jacobs (2007) e Teixeira (2010).

    No ltimo grupo relativo ao comprometimento organizacional, so abordadas 8

    questes que visam obter evidncia sobre o compromisso existente com o processo

    oramental. Foram considerados itens de estudos de vrios autores, nomeadamente

    de Nouri e Parker (1998); Rego e Souto (2004); Rego, Cunha e Souto (2007); e Maiga e

    Jacobs (2007).

    3.3.3. Documentao

    Durante e aps o perodo da elaborao do oramento foram recolhidos diferentes tipos

    de documentao, de origem externa e interna.

    Os documentos externos consistiram, essencialmente, em relatrios e documentos dos

    parceiros de negcio.

    Foram recolhidos diversos relatrios e contas da empresa, assim como diversas

    informaes sobre a mesma na comunicao social

    Internamente recolheu-se diversas informaes, tais como:

    1. Relatrios contabilsticos e do controlo de gesto;

    2. Informao diversa sobre o oramento, nomeadamente, normas e planos de

    elaborao do oramento, calendrio de atividade do oramento;

    3. Plano estratgico da empresa;

    4. Emails internos trocados decorrentes da elaborao do oramento;

    5. Organogramas de toda a empresa;

    6. Oramentos e revises oramentais de anos anteriores; e

    7. Diversos ficheiros com anlises de desvios para cada rea da empresa;

  • 38

    A utilizao de todas estas fontes de evidncia teve por objetivo compreender o

    contexto da empresa em estudo, as suas atividades de negcio e analisar o processo de

    elaborao do oramento. Alm disso, a utilizao de vrias fontes de evidncia

    permitiu validar e confirmar a informao obtida e fazer uma melhor triangulao da

    informao.

    3.4. Anlise da Evidncia Recolhida no Case Study

    No desenvolvimento deste case study procurou-se adotar mtodos apropriados e

    credveis (Ryan et al. 2002, p. 155), tendo sido desenvolvido um plano de investigao

    detalhado.

    Ao longo da investigao procurou-se recorrer a fontes de evidncia que fossem de

    encontro ao objetivo do estudo, sendo as informaes recolhidas devidamente

    organizadas e arquivadas.

    Alm da recolha de informao, foi feita uma validao da informao obtida, de forma

    a avaliar e analisar a evidncia de forma integrada. Esta validao permitia tambm

    detetar se existe alguma inconsistncia entre as diversas fontes de informao.

    Aps recolhida a evidncia e conduzidas as entrevistas, o autor procedeu sua anlise,

    de forma a obter repeties e padres que pudessem indicar procedimentos e

    comportamentos habituais na empresa. Aps identificados esses padres, o autor

    avanou para a resposta s questes de investigao formuladas anteriormente.

    3.5. Desenvolvimento e Redao do Case Study

    Embora seja considerada a ltima etapa, este case study foi redigido ao longo de todo o

    processo de investigao. Sendo um case study explanatrio, na redao das concluses

    foi utilizada a reviso de literatura como suporte explicao das concluses obtidas.

  • CAPITULO IV ESTUDO DO SISTEMA ORAMENTAL DA EMPRESA INSCO

    Este case study foca-se no estudo do processo oramental de uma empresa de retalho de

    dimenso relevante no mercado, que foi eleita pela revista Exame a melhor empresa

    de distribuio alimentar a atuar em Portugal em 2010.

    4.1. Breve Apresentao da Empresa

    4.1.1. A Empresa

    A empresa de distribuio Insco Insular de Hipermercados, SA, (INSCO) resultou de

    uma parceria com a Sonae Distribuio em 1991.

    A 13 de Maio de 1993, abriu a sua primeira loja e a partir de 2001, at ao presente

    momento, tornou-se a maior empresa dos Aores com capitais privados e posiciona-se

    entre as 150 maiores empresas do pas.

    A empresa emprega, atualmente 1083 colaboradores.

    4.1.2. Misso e Estratgia

    A empresa tem como misso atuar no sector da distribuio, na RAA, gerando valor de

    forma sustentada para Acionistas, Clientes, Colaboradores, Fornecedores e na

    Comunidade onde se insere.

    Esta empresa tem como viso, liderar e ser reconhecida como a melhor nos segmentos

    onde atua.

    Todas as empresas tm valores intrnsecos sua atividade como fatores fundamentais

    para suportar a sua misso e viso. No caso da empresa em estudo os valores so:

    Honestidade, Sustentabilidade, Orientao para o Cliente, Ambio, Humildade e

    Emoo.

  • 40

    A estratgia de atuao da empresa no mercado reflete-se:

    1. No aumento do valor da empresa de forma sustentvel;

    2. Na projeo de uma imagem de confiana no mercado, constituindo a melhor

    oferta de valor para os clientes;

    3. Na operacionalizao com processos internos otimizados, focados na eficincia

    e satisfao do cliente; e

    4. Na poltica de recursos humanos adequada, onde se recrutam colaboradores

    competentes e motivados para uma efetiva prossecuo dos objetivos definidos.

    4.1.3. Estrutura Organizacional

    O organograma da empresa (Fig.3) permite-nos verificar que existem quatro direes

    (Operaes, Logstica, Comercial e Planeamento e Controlo de Gesto), coordenadas

    pelo Diretor Geral.

    Potenciando sinergias e auxiliando a direo da empresa, existem algumas reas que

    esto includas no grupo onde a empresa est inserida. A direo de Recursos Humanos,

    a direo Sistemas de Informao, a direo Administrativa e a direo Financeira,

    garantem empresa, atravs do grupo, todas as tarefas de suporte das respetivas reas.

  • 41

    Figura 3: Organigrama

    Fonte: Disponibilizado pela empresa.

    4.2. Breve Apresentao das Atividades e Produtos

    A Insco lder no mercado regional, no retalho alimentar, com um conjunto de formatos

    distintos que oferecem uma variada gama de produtos de qualidade superior aos

    melhores preos: Continente Modelo (hipermercados), Bom Bocado

    (cafetaria), Book.it (livraria/papelaria) e Wells (parafarmcias).

    A Insco tambm responsvel pela rea de retalho no-alimentar, atravs das marcas

    Worten (eletrodomsticos, eletrnica de consumo), SportZone (equipamento e

    vesturio desportivo) e Modalfa (txtil).

    4.3. Planeamento e Estratgia

    Tendo em conta que a empresa est inserida num grupo econmico e tem uma parceria

    com um grupo multinacional, os seus objetivos e a sua estratgia incorporam as

    orientaes e indicaes do grupo e do parceiro de negcio.

  • 42

    Os principais objetivos da organizao so definidos pela direo da empresa, bem

    como os planos de ao da estratgia a longo prazo, conforme se pode verificar na

    Figura 4.

    Figura 4: Hierarquia de planos na empresa Insco.

    Fonte: Entrevistas.

    Para a definio da estratgia, a empresa tem em considerao as condies internas (o

    nvel de maturidade de cada atividade, o potencial de crescimento e ambies e

    restries para cada rea de negcio), bem como condies externas (evoluo do

    consumo, fatores macro e socioeconmicos e polticas de concorrncia).

    O plano de longo prazo, que abrange um horizonte temporal de 3 a 4 anos, est

    quantificado em indicadores, que abrangem a quota de mercado, rendibilidade e

    sustentabilidade do negcio.

    A escolha destes indicadores e a quantificao dos mesmos, so definidos pela direo

    da empresa e segue as indicaes e perspetivas do grupo e parceiro de negcio para os

    prximos anos.

    Controlo Oramental

    Oramento Anual

    Objetivos Gerais de curto prazo

    Estratgica de curto prazo

    Objetivos Longo Prazo

    Estratgia Longo Prazo

  • 43

    A estratgia de curto prazo est fortemente ligada ao plano de longo prazo, pois garante

    a convergncia para os objetivos de longo prazo.

    Cada direo e departamento da empresa refletem sobre os desafios e ambies

    esperadas no curto prazo, no sentido de cada rea construir o seu plano de atividades, de

    forma a contribuir para a prossecuo do objetivo global da empresa.

    O plano a curto prazo est quantificado no oramento anual da empresa.

    4.4. O Oramento

    Atravs das entrevistas verifica-se que o oramento essencial e fundamental, uma vez

    que para alm de servir de bssola para a gesto corrente, obriga a uma reflexo interna

    e orienta o trabalho de forma a conjugar os objetivos globais da empresa com os

    compromissos interdepartamentais.

    O sistema oramental da empresa complexo, pois alm de seguir a estrutura e mtodo

    do parceiro de negcio, contm um grande nvel de detalhe, fator fundamental para

    garantir a coerncia na consolidao e benchmarking entre centros de responsabilidade

    de outras empresas ou tipologias de negcio.

    O oramento da empresa em estudo elaborado no ltimo quadrimestre do ano, com

    inicio a meados de Setembro. No oramento existem valores orados para todas as

    rubricas, em todos os centros de responsabilidade numa base mensal. Desta forma

    facilitada a comparao com o real e aproxima mais o oramento realidade, pois os

    efeitos sazonais so refletidos no oramento.

    Em resultado das vrias alteraes orgnicas e do aumento do nvel de conhecimento

    por parte dos gestores, verifica-se que a empresa tem vindo a adotar um oramento mais

  • 44

    participativo, tornando o processo oramental mais dinmico e sustentado no nvel de

    responsabilizao de cada participante.

    A utilizao de um estilo de oramento mais participativo resulta em benefcios para o

    processo oramental, uma vez que, com planos de ao traados pelos vrios gestores

    para atingir os resultados das suas reas, o oramento aproxima-se cada vez mais da

    situao real da empresa. Maior participao no oramento tambm proporciona maior

    troca de ideias e aumenta o maior nmero solues para os desafios que se esperam.

    4.5. Etapas do Processo Oramental

    Tendo em conta a grande variedade de negcios e complexidade dos mesmos, o

    processo oramental da empresa complexo, apresentando vrios nveis de elaborao e

    deciso. Assim, torna-se fundamental segmentar o processo oramental em vrias etapas

    para que se possa compreender melhor cada parte, e por conseguinte, compreender o

    todo.

    4.5.1. Preparao e comunicao das linhas de orientao

    Na empresa em estudo, a poltica estratgica de certa forma condicionada pelo grupo e

    pelo parceiro de negcio.

    Para a preparao do plano oramental, a Direo de Planeamento e Controlo de Gesto

    (DPCG), alm das indicaes estratgicas do Grupo e do parceiro de negcio, envia

    informao sobre:

    1. Indicadores macroeconmicos (evoluo das taxas de juro, nvel de inflao,

    evoluo do crescimento econmico, com maior destaque para o consumo

    privado); e

  • 45

    2. Informaes especficas para o oramento (diversas anlises sobre tendncias de

    consumo/poupana, evoluo esperada de custos ex.: energia).

    A DPCG tambm envia o cronograma do processo oramental com indicao das

    principais datas de envio e receo de informao, assim como as datas para discusso e

    aprovao e divulgao do oramento.

    Em conjunto com as informaes anteriores, so enviadas informaes sobre as

    principais rubricas de gesto do negcio (dados de perodos anteriores e atuais).

    4.5.2. Reunio de preparao do oramento

    Conforme referido na entrevista ao Diretor Geral, so os responsveis de cada unidade,

    rea de negcio ou processo que tm maior conhecimento das suas reas de

    envolvncia, o que permite promover um debate com novas ideias e um compromisso

    para a organizao.

    Em setembro de cada ano efetuada uma reunio com vrios colaboradores da

    organizao cuja funo tenha uma relao forte com o oramento. Nessa reunio so

    comunicadas as linhas orientadoras para a construo do oramento do ano seguinte,

    devidamente enquadrados no cenrio conjuntural.

    Nesta fase normalmente comunicado pela direo um valor objetivo de referncia,

    como por exemplo o EBITDA em percentagem das vendas.

    4.5.3. Preparao da informao por departamentos

    A empresa est organizada por direes e sequencialmente por reas de

    negcio/processo e por unidades operacionais (lojas, entrepostos e centros de fabrico).

    Neste sentido existe a necessidade de ter um oramento detalhado por centros de

    responsabilidade.

  • 46

    Aps a reunio de preparao, a DPCG prepara os ficheiros que compem o oramento

    global e envia os mesmos para cada rea/unidade para que possam analisar as

    informaes e indicar valores de modo a que, posteriormente, possam ser incorporados

    e consolidados, dando origem ao master budget.

    4.5.4. Negociao e coordenao do oramento com os superiores

    Cada responsvel de departamento ou centro de responsabilidade analisa a informao

    relativa sua rea de forma a indicar a sua sugesto de oramento.

    De seguida e ainda nesta fase, so realizadas vrias reunies, entre os responsveis de

    departamento ou centros de responsabilidade e o diretor respetivo. Nessas reunies so

    efetuadas anlises crticas aos valores, com vista sua aprovao ou alterao.

    4.5.5. Apresentao do oramento Direo

    A apresentao do oramento ao rgo mximo de deciso fundamental. No caso da

    empresa em estudo, o oramento apresentado e discutido em reunio de direo. Cada

    elemento da direo apresenta os pontos-chave e principais linhas de ao do oramento

    da sua rea. Desta forma, so abordados e discutidos os indicadores principais, sendo da

    competncia de cada diretor explicar e argumentar sobre os dados referentes sua

    direo.

    Cabe ao conjunto dos elementos da direo a deciso final e formulao das propostas

    de alteraes/melhoria, em sintonia com as diretrizes do conselho de administrao.

    Uma das vantagens da apresentao dos oramentos direo que todos os elementos

    da mesma passam a conhecer o contedo do oramento na ntegra, passando este a ser

    um oramento global.

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    4.5.6. Reviso com as orientaes da direo e aceitao final do oramento

    Aps apresentao do oramento direo, cabe aos responsveis de departamento ou

    centros de responsabilidade, em conjunto com os diretores, efetuarem as modificaes

    indicadas pela direo. Aps as alteraes, so novamente discutidos os valores, sendo

    por vezes necessrio outras alteraes.

    O oramento considerado terminado quando os objetivos iniciais propostos foram

    atingidos e existe consenso na direo.

    4.5.7. Apresentao do oramento Administrao

    O oramento apresentado ao conselho de administrao, onde formalmente aceite.

    Em janeiro do ano civil subsequente inicia-se a sua execuo.

    4.5.8. Apresentao aos colaboradores

    Sendo uma empresa de retalho, com vrias centenas de funcionrios, e com elevada

    disperso geogrfica, a comunicao do oramento anual feita em forma de cascata,

    ou seja, a informao transmitida de forma