dissertaÇao fatima

126
CURSO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO Fátima Maria Campêlo Noronha A INFLUÊNCIA DAS ESTRATÉGIAS LÚDICAS NA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Upload: ftimanoronha1733

Post on 18-Jun-2015

3.042 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: DISSERTAÇAO FATIMA

CURSO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

Fátima Maria Campêlo Noronha

A INFLUÊNCIA DAS ESTRATÉGIAS LÚDICAS NA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS DA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Assunção

2010

Page 2: DISSERTAÇAO FATIMA

Fátima Maria Campêlo Noronha

A INFLUÊNCIA DAS ESTRATÉGIAS LÚDICAS NA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS DA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Ciências da Educação da Universidad Americana, como um dos requisitos para obtenção do título de Mestre.

Orientador: Dr. Carlos  Ibáñez Morino

Assunção2010

Page 3: DISSERTAÇAO FATIMA

UNIVERSIDADE AMERICANA – PYMestrado em Ciências da Educação

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Titulo da dissertação: A influência das estratégias lúdicas na aprendizagem de crianças da Educação InfantilNome do Mestrando: Fátima Maria Campêlo NoronhaNome da Orientador: Dr. Carlos  Ibáñez Morino

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Ciências da Educação, da Universidade Americana – UA, como requisito parcial para obtenção do titulo de Mestre em Educação.

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________Prof. Dr, Carlos  Ibáñez Morino

Orientador

________________________________________1º Membro

________________________________________2º Membro

_____________________________________________________3º Membro

Data da Defesa _______ / ________ / ________

Page 4: DISSERTAÇAO FATIMA

Dedico este trabalho:

Aos meus pais, meus primeiros orientadores, que souberam me encaminhar dignamente na direção da cidadania.

Page 5: DISSERTAÇAO FATIMA

AGRADECIMENTOS

A Deus, que me sustentou para que eu pudesse chegar ao final deste trabalho, realizando um sonho.

À minha mãe Conceição, por ser o que é e, ao longo de minha existência, ter me encorajado a ser o que sou. Ao meu pai Osvaldo, pela forma silenciosa e constante que tem de me incentivar.

Ao meu esposo, José M. G. Noronha, pela aceitação das minhas ausência, durante o curso.

Aos meus filhos, Fernando, Marcelo, Juliana e Jorge e os meus netos Victória e Jorge Vitor, com todo o meu amor.

Ao professor Dr. Raul Sallas (in memoriam), pela sua competência e grande amizade que cultivou em todos os seus alunos.

Ao meu orientador, Dr, Carlos  Ibáñez Morino, pelos conhecimentos compartilhados e pela sábia orientação a este trabalho.

À professora Ivanice Montezuma, pelo que aprendi de sua admirável competência, pela inesgotável paciência com minhas limitações, pela rica convivência, preciosa amizade e por seu profissionalismo.

Aos professores maravilhosos que tivemos ao decorrer do curso.

Com especial carinho à minha família, que suportou com paciência e amor as muitas horas de estudo e entrega ao trabalho.

Aos colegas que deram força e coragem para a chegada ao sonho.

Aos que, de alguma forma, colaboraram e me ajudaram, direta ou indiretamente, para que eu chegasse até aqui.

Page 6: DISSERTAÇAO FATIMA

Uma criança é sempre uma criança onde quer que possa estar. Mas uma criança só é criança por uma vez... E alguns dizem que se ela não for criança que é ajudada a crescer, então ela poderá não ser o adulto que poderia ter sido.

Flinchum.

Page 7: DISSERTAÇAO FATIMA

RESUMO

O presente trabalho tem como tema, ‘a influência das estratégias lúdicas na aprendizagem de crianças da Educação Infantil. Como especialista em Psicopedagogia e conhecedora da importância das atividades lúdicas na educação infantil, como agente de socialização e principalmente da aprendizagem, como um processo global que envolve todo o corpo e mente, sentiu-se a necessidade de pesquisar a utilização de atividades lúdicas na aprendizagem infantil, em busca de estimular a construção do raciocínio lógico das crianças. O objetivo geral do trabalho foi mostrar a importância do lúdico para a socialização, desenvolvimento e aprimoramento do pensamento da criança, em busca de sua formação plena, na perspectiva da construção da sua cidadania. Nessa perspectiva, os objetivos específicos foram: mostrar como os professores de Educação Infantil podem recorrer ao lúdico, como instrumento essencial ao desenvolvimento das crianças; analisar as brincadeiras e jogos como fatores favoráveis à construção do conhecimento, da socialização e do desenvolvimento físico e mental das crianças; analisar os currículos dos Cursos de Formação de Professores para conhecer até que ponto os futuros educadores estão sendo preparados para utilizar o lúdico em sala de aula; conhecer as diferentes modalidades dos jogos existentes e a função dos mesmos na Educação Infantil; identificar como a escola Pública Frei Tito trabalha com o jogo. Para alcançar esses objetivos, realizou-se pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. O respaldo teórico foi buscado para a sustentação das ideias e reflexões pretendidas em conceitos elaborados por autores que abordam esta temática, tais como: Freire (1997), Leontiev (1998), Machado (1966), Masseto (1992), Negrine (1994) Nóvoa (1995), Piaget (1990, 1993), Rojas (1998), Santos (1997), Vygotsky (1988; 1998; 2001) e outros. Paralelamente, foi realizada uma pesquisa de campo na Escola de Educação Infantil Frei Tito, situada em Fortaleza - CE, com a intenção de conhecer como é realizada a incorporação das atividades lúdicas ao currículo escolar da Educação Infantil, como essas atividades são desenvolvidas em sala de aula e fora dela e se os educadores as consideram essenciais ao desenvolvimento mental das crianças e à construção do conhecimento, bem como à socialização das crianças.

Palavras-chave: Atividades lúdicas. Educação Infantil. Aprendizagem.

Page 8: DISSERTAÇAO FATIMA

RESUMEN

El actual trabajo tiene como tema, ‘la influencia de las estrategias juguetonas en aprender de niños de la educación infantil.’ Como especialista en Psicopedagogía y experto de la impor-tancia de las actividades juguetonas en la educación infantil, como agente de la socialización y principalmente de aprenderlo, como proceso global que implica el cuerpo todo y ha menti-do, estaba la necesidad del fieltro para buscar el uso de actividades juguetonas en aprender in-fantil, en búsqueda estimular la construcción del razonamiento lógico ellas los niños. El obje-tivo general del trabajo era demostrar la importancia de la juguetona para la socialización, de-sarrollo y mejora del pensamiento del niño, en busca de su formación completa, la perspectiva de la construcción de su ciudadanía. En esta perspectiva, los objetivos específicos habían esta-do: para demostrar como los profesores de la educación infantil que pueden abrogar la jugue-tona, como instrumento esencial al desarrollo de los niños; para analizar los trucos y los jue-gos como factores favorables a la construcción del conocimiento, de la socialización y del de -sarrollo físico y mental de los niños; para analizar los currículos vitae de los cursos de la for-mación de profesores para saber hasta punto los educadores futuros están siendo preparados para utilizar el juguetón en sala de clase; para saber las diversas modalidades de los juegos existentes y la función los mismos en la educación infantil; para identificar como la escuela publica los trabajos de Frei Tito con el juego. Para alcanzar estos objetivos, se convirtió la in-vestigación bibliográfica y la investigación del campo. El endoso teórico fue buscado para la sustentación de las ideas y las reflexiones previstas en conceptos elaboraron para los autores que acercan éste temático, por ejemplo: Freire (1997), Leontiev (1998), Machado (1966), Masseto (1992), Negrine (1994) Novoa (1995), Piaget (1990, 1993), Rojas (1998), Santos (1997), Vygotsky (1988; 1998; 2001) y otros. El paralelo, una investigación del campo en la escuela de la educación infantil Frei fue llevado a través de Tito, situado en Fortaleza - CE, con la intención de saber como la incorporación de las actividades juguetonas a referente al currículo vitae de la escuela de la educación infantil se lleva a través, pues estas actividades se desarrollan en sala de clase y están de ella y si los educadores lo consideran esencial al desa-rrollo mental de los niños y a la construcción del conocimiento, así como la socialización de los niños.

Palabra-llave: Actividades juguetonas. Educación infantil. El aprender.

Page 9: DISSERTAÇAO FATIMA

ABSTRACT

Page 10: DISSERTAÇAO FATIMA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...............................................................................................................

1 O LUDICO COMO FATOR ESTIMULANTE DA INTELIGÊNCIA INFANTIL.......1.1 A relação da criança, com o brinquedo e o adulto...................................................

.2. A ORINGEM DA EDUCAÇÃO LUDICA...................................................................2.1 A ludicidade como instrumento pedagógico................................................................2.2 Brincadeiras e atividades lúdicas na escola....................................................................2.3 A classificação dos jogos e brincadeiras na visão de alguns autores..............................2.4 Diferenças entre as concepções de Vygotsky e Piaget ..................................................2.5 Tipos de jogos e brincadeiras.........................................................................................

3 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA TRABALHAR O LÚDICO....................3.1 Como auxiliar os alunos a superar suas dificuldades..................................................

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL FREI TITO............................................

4.1 Análise das respostas dos professores na Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Frei Tito................................................................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................

APÊNDICE......................................................................................................................

10

1416

202432353843

4853

58

59

67

69

71

Page 11: DISSERTAÇAO FATIMA

10

INTRODUÇÃO

No desenvolvimento deste trabalho, mostrou-se a grande importância dos jogos,

como instrumento estimulante do processo de construção do conhecimento infantil. Nessa

perspectiva, foram apontados alguns subsídios capazes de auxiliar os professores a encontrar

espaço na escola para o lúdico, o jogo, a brincadeira, em sala de aula ou fora dela, como meio

de aprendizagem, o que tem sido um desafio e um compromisso para os educadores,

considerando que, em nome da educação formal, as crianças são conduzidas, cada vez mais

cedo, à prática de atividades pouco criativas e não estimulantes do desenvolvimento mental.

Os jogos têm o poder de valorizar uma área um pouco esquecida pela escola: a

intuição. Os cursos de formação do magistério e pedagogia não estimulam, suficientemente,

os futuros professores a trabalhar de forma lúdica. Os professores admitem que não sabem

utilizar os recursos lúdicos em sala de aula e que, por isso, não recorrem a eles como

instrumentos de aprendizagem. Esse é um aspecto que precisa mudar urgentemente, na escola.

Além disso, as atividades lúdicas não são definidas no Plano que define a Gestão Integrada e

Democrática da Escola (GIDE), no qual são descritas todas as metas, estratégias, ações e

recursos avaliativos que norteiam o processo de ensino-aprendizagem, numa integração com o

Projeto Político-Pedagógico (PPP) e o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

O brinquedo é uma oportunidade de desenvolvimento. Brincando, a criança

experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades, além de estimular a

curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do

pensamento e da concentração e atenção.

Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança e

contribui, com a eficiência e o equilíbrio do adulto no futuro. É, também, um momento de

Page 12: DISSERTAÇAO FATIMA

11

auto-expressão e autorrealização. As atividades livres com blocos e peças de encaixe, as

dramatizações, a música e as construções desenvolvem a criatividade, pois exigem que a

fantasia entre em jogo. Já o brinquedo organizado, que tem uma proposta e requer

desempenho, como os jogos (quebra-cabeça, dominó e outros) constitui um desafio que

promove a motivação e facilita escolhas e decisões à criança.

Considera-se que o lúdico na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino

Fundamental pode incentivar o prazer de sonhar e aprender. São muitos os fatores que

contribuem para o bloqueio à aprendizagem: o medo e despreparo do professor, a estrutura

conservadora da escola e a falta de estimulantes da aprendizagem. Nesse contexto, os jogos

ganharam espaço na educação brasileira impulsionados pelos ideais da Escola Nova e,

atualmente, conquistam inúmeros adeptos, pelo estímulo dos pressupostos teóricos da

pedagogia sociointeracionista.

Diversas pesquisas e estudos têm sido realizados sobre esse tema, pois não há

mais dúvida de que os jogos têm importância fundamental para o desenvolvimento físico e

mental da criança, auxiliando na construção do conhecimento e na socialização, englobando

aspectos cognitivos e afetivos. É um importante instrumento pedagógico, porém, nem sempre

é valorizado e aceito nas escolas atuais e, quando utilizado, não conta com objetivos bem

definidos.

Considera-se de suma importância a abordagem das ideias de vários autores que

analisam a importância do lúdico para o desenvolvimento físico, mental e intelectual das

crianças, bem como a analise da postura e aceitação dos professores da Educação Infantil em

relação à adoção de atividades lúdicas no âmbito da sala de aula, por reconhecer que, pela

ludicidade, as crianças criam, imitam, têm o ‘poder’, esquecendo o distanciamento entre elas e

os adultos. Dessa forma, vão construindo sua inteligência e o próprio amadurecimento social.

Page 13: DISSERTAÇAO FATIMA

12

Mesmo procurando fazer sua parte, o professor e a escola, muitas vezes, não

respeitam a possibilidade de que outra coisa aconteça, de que o aluno seja visto como ser

autônomo e criativo, portanto, colocado no centro do processo educativo. Dessa forma,

brincar na sala de aula é uma aposta.

Portanto os resultados desse trabalho poderão ser muito úteis à escola, às crianças

e à comunidade em geral. Diante da inquietação apresentada, o estudo partiu da seguinte

pergunta de investigação: - “como o lúdico influencia no desenvolvimento e na aprendizagem

das crianças?”

O objetivo geral do trabalho foi mostrar a importância do lúdico para a

socialização, desenvolvimento e aprimoramento do pensamento da criança, em busca de sua

formação plena, na perspectiva da construção da sua cidadania. Nessa perspectiva, os

objetivos específicos foram: mostrar como os professores de Educação Infantil podem

recorrer ao lúdico, como instrumento essencial ao desenvolvimento das crianças; analisar as

brincadeiras e jogos como fatores favoráveis à construção do conhecimento, da socialização e

do desenvolvimento físico e mental das crianças; analisar os currículos dos Cursos de

Formação de Professores para conhecer até que ponto os futuros educadores estão sendo

preparados para utilizar o lúdico em sala de aula; conhecer as diferentes modalidades dos

jogos existentes e a função dos mesmos na Educação Infantil; identificar como a escola

Publica Frei Tito trabalha com o jogo.

Para atender ao objetivo Geral, realizou-se pesquisa bibliográfica em autores

diversos que abordam este tema e pesquisa de campo, através da observação, com alunos

submetidos, ou não, a atividades lúdicas em sala de aula e entrevistas com professores da

Escola de Educação Infantil Frei Tito, que utilizam o lúdico, em suas aulas.

O respaldo teórico foi buscado para a sustentação das ideias e reflexões

Page 14: DISSERTAÇAO FATIMA

13

pretendidas em conceitos elaborados por autores que abordam esta temática, tais como: Freire

(1997), Leontiev (1998), Machado (1966), Masseto (1992), Negrine (1994) Novoa (1995),

Piaget (1990, 1993), Rojas (1998), Santos (1997), (1988; 1998; 2001), e outros.

A pesquisa de campo na Escola de Educação Infantil Frei Tito, situada em

Fortaleza - CE, teve a intenção de conhecer como é realizada a incorporação das atividades

lúdicas ao currículo escolar da Educação Infantil, como essas atividades são desenvolvidas em

sala de aula e fora dela e se os educadores as consideram essenciais ao desenvolvimento

mental das crianças e à construção do conhecimento, bem como à socialização das crianças.

Trata-se, portanto, de uma pesquisa exploratória, cujos dados e informações serão

coletados por meio de entrevistas com professores da Educação Infantil e, posteriormente,

submetidos a uma abordagem qualitativa.

O trabalho está organizado em quatro capítulos, iniciando-se, no primeiro deles

com uma abordagem sobre o lúdico como fator estimulante da inteligência infantil, fazendo,

também uma análise da relação da criança, com o brinquedo e o adulto.

No segundo capítulo, faz-se um estudo evolutivo do surgimento da educação

lúdica, analisando a ludicidade como instrumento pedagógico, as brincadeiras e atividades

lúdicas na escola, a classificação dos jogos e brincadeiras na visão de alguns autores, as

diferenças entre as concepções de Vygotsky e Piaget e os tipos de jogos e brincadeiras.

O terceiro capítulo traz uma discussão sobre a formação do professor para

trabalhar o lúdico e das formas como este pode auxiliar os alunos a superar suas dificuldades.

O quarto capítulo consiste em um relato dos resultados da pesquisa e da análise

das respostas dos professores da Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Frei Tito.

Page 15: DISSERTAÇAO FATIMA

1 O LUDICO COMO FATOR ESTIMULANTE DA INTELIGENCIA INFANTIL

As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições

que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade. Entretanto, o brincar é

importante não apenas para o desenvolvimento cognitivo, como também para o

desenvolvimento da linguagem e socialização. Nesse sentido, Vygotsky (2001 p.26) refere

que o lúdico influencia bastante o desenvolvimento da criança. É através do jogo que a

criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança,

proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração. Para este

autor, o brinquedo cria na criança uma nova forma de desejos, relacionando-se a um “eu”

fictício, ao seu papel no jogo e suas regras.

O tema ludicidade tem sido, nos últimos tempos, foco de estudos e discussões em

diferentes espaços e instituições, surgindo, como decorrência, implicações deste no campo do

lazer, da saúde, recreação, cultura e educação. O lúdico é uma categoria geral de todas as

atividades que tem características de jogo, brinquedo e brincadeira.

O lúdico tem seu início, desde o nascimento da criança, mediante reações

espontâneas e prazerosas. Assim o bebê vai respondendo ao movimento de um objeto

próximo de sua vista, seguindo-o com o olhar cujo comportamento pode revelar expressão de

prazer e de distração. A partir desses primeiros sinais, o brincar vai se configurando ao longo,

da infância, incluindo a dramatização, como uma das fases de maior significação no

comportamento lúdico.

O início das relações entre a criança e o mundo se dá através do brincar.

Brincando a criança se descobre, experimenta, cria, relaciona, compreende e transforma,

Page 16: DISSERTAÇAO FATIMA

15

começa lentamente a construir sua história.

No comportamento diário das crianças o brincar é algo que se destaca como

essencial para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Dessa forma, se quisermos conhecer

bem as crianças, devemos conhecer seus brinquedos e brincadeiras.

Segundo Benjamin???? Precisa do ano?, acreditava-se erroneamente que o

conteúdo imaginário do brinquedo é que determinava as brincadeiras infantis, quando na

verdade quem faz isso é a criança; por essa razão, quanto mais atraentes forem os brinquedos,

mais distantes estarão do seu valor como instrumentos do brincar.

A essência do brincar não é fazer como se, mas fazer sempre de novo. É nesse

momento que há a aquisição de um saber fazer, capaz de transformar a experiência em habito.

É portanto, através do brincar que a criança se encontra com o mundo de corpo e

alma, o percebe como ele é e dele recebe elementos importantes para sua vida, desde os mais

insignificantes hábitos até fatores determinantes da cultura de seu tempo.

Alem da relevância que a brincadeira assume do ponto de vista cultural e social,

ela também possui um importante papel do ponto de vista psicológico. É através do brincar

que a criança vê e constrói o mundo, expressa aquilo que tem dificuldade de colocar em

palavras. Sua escolha é motivada por processos e desejos íntimos, pelos seus problemas e

ansiedades. É brincando que a criança aprende que, quando perde o jogo o mundo não se

acaba.

Do ponto de vista psicológico, a obra de Vygotsky (1984), entre outras, assume

um papel fundamental. Para ele definir o brinquedo como atividade que dá prazer é

insuficiente porque existem outras experiências que podem ser mais agradáveis á criança.

Page 17: DISSERTAÇAO FATIMA

16

O que atribui ao brinquedo um papel importante é o fato de ele preencher uma

atividade básica da criança, ou seja ele é um motivo para a ação.

A criança pequena, para ele por exemplo, tem uma necessidade muito grande de

satisfazer os seus desejos imediatamente. Quanto mais jovem é a criança, menor será o espaço

entre o desejo e a satisfação. No pré-escolar há uma grande quantidade de tendências e

desejos não possíveis de ser realizados imediatamente e é nesse momento que os brinquedos

são inventados, justamente para que a criança possa experimentar tendências irrealizáveis. A

impossibilidade de realização imediata dos desejos cria tensão e a criança se envolve com o

ilusório e o imaginário, onde seus desejos podem ser realizados.

É o mundo dos brinquedos.

1.1 A relação da criança com o brinquedo e o adulto

O jogo pressupõe uma regra, o brinquedo é o objeto manipulável e a brincadeira,

nada mais que o ato de brincar com o brinquedo ou mesmo com o jogo. Jogar também é

brincar com o jogo. O jogo pode existir por meio do brinquedo, se os ‘brincantes’ lhe

impuserem regras. Percebe-se, pois, que jogo, brinquedo e brincadeira tem conceitos distintos,

todavia estão imbricados; ao passo que o lúdico abarca todas eles (MIRANDA, 2001).

O importante é aprender a observar a criança brincando, experimentar a vivência

lúdica para poder compartilhá-la e buscar qualificar-se de forma teórica e vivencial através de

cursos, encontros, grupos de estudo e outros. Considerando que a promoção do brinquedo se

dá naturalmente, no mundo infantil, o desafio do adulto reside em construir uma relação que

permita à criança ser agente de sua própria brincadeira, tendo na figura dele um parceiro de

Page 18: DISSERTAÇAO FATIMA

17

jogo que a respeita e a estimula a ampliar cada vez mais seus horizontes.

O adulto, ao brincar com a criança, deve partir do pressuposto de que a mesma

necessita compreender que o mundo tem a sua organização. Assim, ao realizar alguma

brincadeira os pais devem respeitar as regras e não podem permitir que a criança tire alguma

vantagem enganosa num jogo apropriado para a sua idade, pois a mesma precisa aprender a

perder como parte do jogo.

O brinquedo estimula a representação, a expressão de imagens que evocam

aspectos da realidade. Ao brincar de que é a mãe da boneca, por exemplo, a menina não

apenas imita e se identifica com a figura materna, mas realmente vive intensamente a situação

de poder gerar filhos, e de ser uma mãe boa, forte e confiável.

O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções de tudo o que existe no

cotidiano, na natureza e nas construções humanas. Assim, pode-se dizer que um dos objetivos

do brinquedo é dar à criança representações dos objetos reais, para que possa manipulá-los.

Tipos de brinquedos e brincadeiras e suas funções no desenvolvimento infantil. Se

considerarmos que a criança aprende de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em

processos interativos, envolvendo o ser humano por inteiro nas suas cognições, afetividade,

corpo e interações sociais, os brinquedos e brincadeiras desempenham um papel de grande

relevância para desenvolvê-la.

Existem vários tipos de brinquedos e brincadeiras, hoje agrupados de acordo com

sua função no desenvolvimento infantil, ou seja, onde ele contribui mais especificamente na

área que a criança deve ser trabalhada em determinado momento. Enfatizamos assim, as

brincadeira tradicionais e as brincadeiras de faz-de-conta.

Page 19: DISSERTAÇAO FATIMA

18

A brincadeira tradicional infantil, filiada ao folclore, incorporada à mentalidade

popular, expressando-se sobre tudo, pela oralidade. Considerada como parte da cultura

popular, essa modalidade de brincadeira guarda a produção espiritual de um povo em certo

período histórico. A cultura não oficial, desenvolvida especialmente de modo oral, não fica

cristalizada. Está sempre em transformação incorporando criações anônimas das gerações que

vão se sucedendo. Por ser um elemento folclórico a brincadeira tradicional infantil assume

características de anonimato, tradicionalidade, transmissão oral, conservação, mudança e

universalidade.

Não se conhece a origem das brincadeiras de rodas, amarelinha, lambança, pião,

pipas, e tantas brincadeiras conhecidas por todos nós. Sabe-se apenas, que provêm de práticas

abandonadas por adultos.

A tradicional idade e universalidade das brincadeiras assentam-se no fato e que povos distintos e antigos, como os da Grécia e do Oriente, brincavam de amarelinha, empinavam pipas, jogam pedrinhas e até hoje as crianças o fazem quase da mesma maneira. Tais brincadeiras foram transmitidas de geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil (OLIVEIRA, 2000, p.47).

A brincadeira para a criança não representa o mesmo que o jogo e o divertimento

para o adulto, recreação, ocupação do tempo livre, afastamento da realidade. Brincar não é

ficar sem fazer nada, como pensam alguns adultos. O brincar das crianças “é feito de um fazer

com o corpo, principalmente com seu movimento e com seu prazer” (GOMES 1993 p. 28).

O ato de brincar tem para a criança um caráter sério porque é o seu trabalho, é por

meio de suas conquistas no jogo, que ela afirma seu ser, proclama seu poder e sua autonomia,

explora o mundo, faz pequenos ensaios, compreende e assimila gradativamente suas regras e

padrões, absorve esse mundo em doses pequenas e toleráveis. atividade através da qual ela

desenvolve talentos naturais, descobre papéis sociais, limites, experimenta novas habilidades,

Page 20: DISSERTAÇAO FATIMA

19

forma um novo conceito de si mesma, aprende a viver e avança para novas etapas de domínio

do mundo que a cerca.

A criança se empenha durante as suas atividades do brincar da mesma maneira

que se esforça para aprender a andar, a falar, a comer etc. Brincar de faz de conta, de

amarelinha, de roda, de esconde-esconde, de dominó, de jogo de câmbio são situações que

vão sendo gradativamente substituídas por outras, à medida que o interesse é transferido para

diferentes tipos de jogos.

No desenvolvimento das crianças está evidente a transição, de uma fase para

outra, que é a imaginação em ação. Ela precisa de tempo e de espaço para trabalhar a

construção do real pelo exercício da fantasia (KISHIMOTO, 2000 p. 21)

Dessa forma, nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua escolha é

motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com

a mente da criança determina sua atividade lúdica; brincar é sua linguagem secreta, que deve

ser respeitada mesmo quando for difícil apreender o seu sentido.

O adulto tem por vezes dificuldade de apreender o significado da brincadeira tal

qual a criança a vê e embora ela seja tida como uma atividade espontânea e livre pelos

teóricos, na prática das escolas e de órgãos educacionais responsáveis às opiniões quanto a

forma que o lúdico deva estar inserido, como por exemplo, nas horas do recreio, se dividem

entre os que acham que deve haver monitorado e os que não.

Quando o adulto observa a criança e interage no jogo simbólico pode perceber

como ela vai construindo sua visão no mundo, como lida com seus problemas, quais são os

seus ideais e preocupações, podendo ajudá-la a vencer suas dificuldades.

Page 21: DISSERTAÇAO FATIMA

20

2 A ORIGEM DA EDUCAÇÃO LÚDICA

Durante todo o trajeto da Humanidade, os jogos e competições sempre atraíram o

ser humano, como objeto de competição esportiva ou como diversão. Entre os povos

primitivos, já se tem conhecimento da existência de atividades como dança, caça, pesca e

lutas que, muitas vezes, eram consideradas condições para sobrevivência.

A participação das crianças em atividades lúdicas sempre foi efetiva. Os jogos,

para Piaget (1997), não são apenas uma forma de entretenimento para gastar energias das

crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual, sendo para

a criança, um fim em si mesmo, e ele deve ser para nós um meio de educar, de onde seu nome

jogo educativo que toma cada vez mais lugar na linguagem da pedagogia maternal.

Na busca de aprofundar seus conhecimentos, os estudantes se valem de atividades

que incentivam a participação, a indagação, a criação, a reflexão, a socialização, instigando o

prazer no convívio com outras pessoas, o que representa a essência psicológica da educação

lúdica, cujo objetivo é favorecer as relações múltiplas do ser humano em seu contexto

histórico, social, cultural e psicológico.

Nos primórdios da civilização, a educação era pensada nas ideia dos filósofos,

como Platão e Aristóteles, que registravam a utilização do brinquedo na educação, onde

estudar estava associado ao prazer dentro das diversas formas de brincar. Na Antiguidade, a

alimentação das crianças, geralmente apresentava-se como informação, ou seja, os doces e

guloseimas eram de forma de letras e números, estimulando assim, uma aprendizagem

sensorial.

Somente a partir dos trabalhos de Comenius (1593), Rousseau (1712) e Pestalozzi

Page 22: DISSERTAÇAO FATIMA

21

(1746), apud por Wajskop, (1999: p 19), é que surgiu um novo sentimento da infância que

protege as crianças e que auxilia este grupo etário a conquistar um lugar enquanto categoria

social. A partir da filosofia citada anteriormente, surgem os primeiros métodos educacionais

voltados para a educação infantil numa concepção idealista e protetora da infância,

valorizando o uso de brinquedos educativos e centrados no divertimento.

Na mesma visão, Braugére (1989) apud por Wajskop (1999, p 20), coloca que: A

valorização da brincadeira e jogos infantis apóia-se, portanto, no mito da criança portadora de

verdade e natural, por excelência, é o seu brincar, desprovido de razão e desvinculado do

contexto social.

Com a valorização constante da criança no seio da família, ora em

desenvolvimento, assim como as necessidades educacionais, seu controle e orientação, cria-se

um vinculo preciso entre o brincar e a educação, que só foi possível, após o século XVII, a

partir dos pedagogos humanistas, com a preocupação centrada na moral, na saúde e no bem

comum, tendo como alvo primordial a infância.

Nesta perspectiva, o brincar era visto como uma fuga, divertimento ou recreação,

também considerado como elemento cultural, que representava a vida infantil como modelo

em miniatura da história do adulto, e que este não aceitava um comportamento infantil

espontâneo e individualizado em criança

[...] A criança passou a ser a partir dessa época, cidadão com imagem social contraditória, uma vez que ela era, ao mesmo tempo o reflexo do que o adulto e a sociedade queriam que ela fosse e do que temiam que ela se tornasse (WAJSKOP, 1999, p 21).

Somente com o surgimento da sociedade industrial e da sociedade burguesa veio a

valorização da criança e esta, enquanto grupo social, conquistou lugar separado da vida dos

adultos e nas instituições especificas para educação, onde eram elaborados métodos próprios,

Page 23: DISSERTAÇAO FATIMA

22

com jogos e atividades lúdicas para levarem as crianças a aprendizagem.

Os pedagogos Froebel (1782-1852), Montessori (1870-1909) e Decroly (1871-

1932), foram os primeiros da educação infantil a romper com a educação tradicional,

propondo uma educação sensorial, baseada na utilização de jogos e materiais didáticos,

devendo transmitir a crença em uma aprendizagem natural dos instintos infantis.

A partir de então, a criança passou a ser respeitada e compreendida enquanto ser

vivo. Mas, devem-se frisar as limitações do uso de suas ideais nos dias atuais marcadas por

uma concepção cumulativa e progressional de conhecimento, partindo de uma exploração

empírica da realidade que parte do simples ao complexo e do concreto ao abstrato, como

mostram os estudos piagetianos. Esta atitude de brincar transformou-se no trabalho infantil,

tomando a infância educável, já que o objetivo, tanto dos pedagogos como da família, era

criar um novo homem.

Diante dessa nova perspectiva, pode-se comprovar a necessidade da socialização,

que é tão fundamental no desenvolvimento infantil, e que para Vygotsky (1998), esta forma

de interagir é decisiva para acontecer uma aprendizagem significativa, gerando uma zona de

desenvolvimento proximal na criança. Concordando com o estudioso citado: Velasco, afirma

que:

A criança que convive com uma comunidade ou instituição vai, progressivamente, atrás das trocas com os outros, interiorizando os valores e ideais daquele grupo. Como a criança virá a incorporar esses elementos na sua personalidade dependerá do caráter dessas interações sociais, assim como da natureza e variedade de trocas sociais disponíveis a ele (VELASCO, 1996, P 41).

Com o progresso das cidades das transformações dos hábitos que ocorreram por

conta da evolução da civilização, no decorrer dos séculos, o brincar e os jogos também,

acompanharam e sofreram várias mudanças. Essas mudanças fizeram reduzir o espaço físico,

gerando insegurança para as crianças no ato de brincar, provocado pelo ritmo acelerado da

Page 24: DISSERTAÇAO FATIMA

23

vida moderna, diminuindo o tempo destinado em casa para as atividades lúdicas.

Outro ponto defensivo para esta atividade foi o espaço tecnológico, limitando a

criança a criar, passando as horas vagas diante da TV, do Vídeo Game, do Computador. Tudo

isso sem contar com a industria de brinquedos prontos e estáticos, feitos a partir dos mais

diversos materiais que foram sendo incorporados na história de vida da criança, modificando

sua relação com o brincar, que de certa forma vai direcionando sua ação, pois a criança fica

apenas na expectativa de receber as instruções contidas nos brinquedos passivamente,

tolhendo-lhe a oportunidade de criar, indagar, testar e descobrir suas funções ou maneiras de

brincar.

Sendo assim a criança deixa de exercitar suas ações do próprio ato de brincar,

deixando de refletir, de exercitar seu corpo para o desenvolvimento da imagem corporal de

sua personalidade, de experimentar sua emoção, por fim, deixa de exercitar a aprendizagem

através da troca com o outro. Contrariamente a estes novos paradigmas de brincar, Rodrigues

(2000, p 27) sugere que: Quando toda criança, indiscriminadamente, puder brincar em

espaços alternativos, com equipamentos diversificados, jogar com outras crianças de varias

faixas etárias, descobrir de novo, manipular e construir brinquedos, desabafar seus limites “

(...) ”estará atingindo o principal objetivo que é fazer com que ela incorpore a sua essência e

constitua-se num sujeito mais inteligente e social.

Piaget apud por Negrine (1994), vê a criança como ativa e que deve estar

diretamente envolvida na construção do seu conhecimento assim como na aprendizagem e é

onde entra a figura do professor que pode favorecer o uso de jogos e brincadeiras de maneira

a proporcionar às crianças as experiências necessárias para ajudá-las a pensar e com isso se

desenvolvam.

Houve um período em que os jogos eram proibidos, mas a partir do século XIX,

Page 25: DISSERTAÇAO FATIMA

24

retornaram seu lugar e foram incorporados aos programas educacionais. Segundo Silva (1999,

p.43), Froebel foi o primeiro a colocar o valor educativo do jogo como parte essencial do

trabalho pedagógico ao criar o jardim da infância.

No entanto, muitos currículos escolares ainda não incorporam a importância de

certos veículos como TV, música, revista, jogos etc. na construção do conhecimento e por

conseguinte não dão o seu devido valor, dando maior ênfase na alfabetização e nos números

(escolarização) que ocupam lugar de destaque nos currículos. Nicolau (1995, p. 33) cita as

concepções de Froebel que envolvem, dentre outras coisas o jogo e o currículo adequado para

a pré-escola:

a) A educação deve se basear na evolução natural das atividades da criança;b) Todo desenvolvimento verdadeiro provém de atividades espontâneas;c) O brinquedo é um processo essencial na educação inicial;d) A atividade construtiva é o principal meio para integrar o crescimento de todos

os poderes: físico, mental e moral;e) Só ela pode harmonizar a espontaneidade com o controle social;f) Os currículos das escolas devem estar baseados nas atividades e interesses

nascentes em cada fase da vida infantil;g) A humanidade ainda está em processo de desenvolvimento e a educação é o

meio essencial para a evolução futura.

Alem disso, no currículo escolar deve-se privilegiar as características de seus

alunos, ter a criança como centro, buscando sua autonomia, levando em conta as dimensões

cognitivas, sócio-afetivas e psicomotoras do desenvolvimento infantil e é nesse contexto que

o jogo e as brincadeiras aparecem como figura expoente no currículo, uma vez que possui um

caráter motivador e possibilita uma ação espontânea por parte da criança.

2.1 A ludicidade como instrumento pedagógico

O Jogo e os brinquedos educativos utilizados com fins pedagógicos têm seu início

nos tempos renascentistas, mas ganha força a partir do século XX, é entendido como mais um

recurso para ensinar, desenvolver e educar de forma prazerosa, de início o quebra-cabeça

Page 26: DISSERTAÇAO FATIMA

25

destinado a ensinar formas e cores, os brinquedos de tabuleiro que exigem a compreensão dos

números e das operações matemáticas, os brinquedos de encaixe, que trabalham noções de

sequência, de tamanho e de forma, enfim nos múltiplos brinquedos e brincadeiras cuja

concepção exigiu um olhar para o desenvolvimento infantil e a materialização da função

pedagógica.

Os móbiles destinados a percepção visual, sonora e motora, carrinhos munidos de

pinos que se encaixam para desenvolver a coordenação motora, parlendas para a expressão da

linguagem, brincadeiras envolvendo músicas, danças e expressão motora, gráfica e simbólica.

Os brinquedos e jogos educativos com fins pedagógicos foram tomando seu

espaço como instrumentos que auxiliam em situações de ensino-aprendizagem beneficiando

as crianças em seus acessos cognitivos.

Considerando-se que a criança pré escolar aprende de modo intuitivo, adquire

noções espontaneamente, brincando em um processo interativo, onde o ser humano se

envolve como um todo em sua cognição, afetividade, interações sociais, seu corpo o seu

brinquedo desenvolve um papel mediando a ação de aprendizagem.

O brinquedo favorece a construção de representações mentais (cognição), a

manipulação de objetos desenvolve as ações sensório-motoras (físico) e as trocas nas

interações sociais, contemplando várias formas de representação da criança e suas múltiplas

inteligências.

Quanto essas situações lúdicas são intencionalmente criadas para estimular certos

tipos de aprendizagem assim surgindo a dimensão educativa, onde o educador estará

potencializando as situações de aprendizagens. É importante que seja mantida a expressão ou

ação intencional da criança para brincar. O educador irá agir como o incentivador e motivador

Page 27: DISSERTAÇAO FATIMA

26

que irá criar condições prazerosas e lúdicas para maximizar a construção do conhecimento.

O brinquedo e sua função lúdico educativa propiciam as seguintes condições:

* Função Lúdica: propicia diversão, prazer ou desprazer;

* Função Educativa: completa o indivíduo no seu saber, seus conhecimentos e

sua apreensão no mundo.

A utilização do lúdico potencializa a exploração e a construção do conhecimento,

pois está presente a motivação interna da criança, mas há a necessidade dos estímulos

externos e a influencia dos parceiros, nesse sentido o objeto suporte da brincadeira necessita

de uma sistematização para estimular essa construção do conhecimento.

As brincadeiras tradicionais infantis estão incorporadas às tradições populares,

fazendo parte da cultura popular, são muitas vezes universais como: a amarelinha, o pião,

empinar papagaio, parlendas, jogar pedrinhas, sabe-se que os povos antigos da Grécia e do

Oriente faziam suas brincadeiras quase da mesma forma de hoje. Tais brincadeiras foram

transmitidas de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na

memória infantil.

Por ser um elemento folclórico a brincadeira tradicional infantil assume

características de anonimato, tradição da transmissão oral, conservação, mudança e

universalidade.

Os jogos de construção são de grande importância para o enriquecimento das

experiências sensoriais, estimula a criatividade, desenvolve habilidades, construindo e

transformando a criança que expressa o seu imaginário ou eventuais problemas permitindo ao

educador detectar alguma dificuldade que esteja ocorrendo.

Manipulando esses objetos de construção a criança expressa suas representações

Page 28: DISSERTAÇAO FATIMA

27

mentais, além de desenvolver os lados afetivo, intelectual e sensório motor. No jogo de

empilhar tijolinhos a criança constrói cenários, monta casas para suas brincadeiras simbólicas.

As brincadeiras tendem a ter a complexidade e o desenvolvimento de acordo com a idade da

criança.

Brincadeiras de faz de conta também chamadas simbólicas, sócio-drama ou

representação de papeis é a que mais favorece as situações imaginárias. O Faz de conta surge

em torno dos dois a três anos de idade, com a linguagem já desenvolvida a criança começa a

alterar o nome dos objetos e a expressar seus sonhos e fantasias e assumir papéis que imita do

seu contexto social. O conteúdo das brincadeiras vem de experiências adquiridas em

diferentes situações do contexto social. Por exemplo, ela pode brincar de professora com suas

bonecas trazendo o contexto escolar, pode brincar de médico, imitando o trabalho do adulto

ou uma situação vivenciada no social. Os temas e conteúdos das brincadeiras dependem

essencialmente das situações familiares e do contexto social.

A importância dessa modalidade de brincadeira justifica-se pela aquisição do

símbolo, pois é alterando o significado dos objetos e das situações e criando novos

significados que se desenvolve a função simbólica. Nesses jogos de papeis a criança é livre

para escolher e desempenhar papeis, definindo suas regras. Seu funcionamento é um processo

onde a criança vivencia o prazer de brincar, ela toma iniciativa, organiza ações, planeja, re-

significa objetos, para reproduzir relações e fenômenos observados por ela. Essas brincadeiras

ajudam a entender os sentimentos, os aspectos morais e sociais da comunidade

(VYGOTSKY, apud ELKONIN, 1971, p.63).

Entre os séculos XVIII e XIX surge um novo conceito de infância na Europa,

nessa época a infância passa a ser encarada como uma fase da vida com particularidades bem

marcantes e com duração longa, é dessa época também o conceito de adolescência. Pouco

Page 29: DISSERTAÇAO FATIMA

28

antes era comum meninos europeus de sete anos entrarem para as forças armadas. A

mortalidade infantil era tanta que a infância não passava de um “teste” para candidatos a

adultos. Na idade média a idéia de infância simplesmente não existia: as crianças eram adultos

a espera de adquirir a estatura “normal”, era comum os pintores retratarem crianças com

feições de adultos.

Outra tendência histórica marcante do período foi o “individualismo burguês”,

simbolizado pela figura de Napoleão, que encarnava o ideal do homem que se fez sozinho e se

tornou imperador da França.

O pedagogo Alemão Friedrich Froebel (1782-1852) foi um dos primeiros a

considerar o inicio da infância como uma fase de importância decisiva na formação das

pessoas, as técnicas utilizadas até hoje em educação infantil devem muito a ele. Para ele as

brincadeiras são o primeiro recurso no caminho rumo a aprendizagem. As brincadeiras não

são apenas diversão, mas um modo de criar representações do mundo concreto com a

finalidade de entendê-lo, o caminho para isso seria deixar a criança livre para expressar seu

interior e perseguir seus interesses. Com base na observação das atividades dos pequenos

jogos e brinquedos, Froebel foi um dos primeiros pedagogos a falar em auto-educação, um

conceito que só se difundiria no inicio do século XX, graças ao movimento Escola Nova, de

Maria Montessori (1870-1952) e Célestin Frainet (1896-1966), entre outros. Considerando o

criador dos jardins-de-infância defendia uma educação sem obrigações para as crianças, que

para ele, aprendiam conforme seus interesses e por meio da prática. Para Froebel, a educação

infantil é significativamente necessária à formação plena da criança, ideia bastante aceita e

difundida pelos teóricos da educação posteriores.

Antes, o objetivo primordial das atividades desenvolvidas na Educação Infantil era

possibilitar brincadeiras criativas ás crianças sendo que, nas atividades, o material escolar era

Page 30: DISSERTAÇAO FATIMA

29

predefinido, com a intenção de criar inúmeras oportunidades e tirar proveitos educativos da

atividade lúdica, eram feitos círculos, esferas, cubos e outros objetos que tinham como

objetivo estimular a aprendizagem, eles eram feitos com materiais macios e manipuláveis,

geralmente em partes desmontáveis. Nas brincadeiras, utilizavam-se versos e músicas para

desenvolver danças.

Froebel apud Silva (1999) utilizava objetos, nas brincadeiras, definindo regras

para o seu uso, como instrumentos pedagógicos. Essas brincadeiras geralmente, eram

realizadas ao ar livre promovendo a interação entre as crianças e o meio.. Esses jogos se

iniciavam colocando as crianças em círculos, movimentando-se e cantando, até que

alcançassem uma unidade perfeita.

Além disso, as crianças executavam trabalhos manuais, com a intenção de

estimular os sentidos e desenvolver o corpo, procurando preparar para o trabalho que,

segundo o educador Froebel apud Silva (1999), seria uma imitação da criação do universo por

Deus. Este autor, referido por Silva (op. cit.), defendia a educação sem imposição às crianças,

porque, segundo sua teoria, elas passam por diferentes estágios de capacidade de aprendizado,

com características especificas, antecipando as ideias de Piaget (1980) apud Oliveira (1994,

p.78).

Como falar em educação e brinquedos sem falar em Maria Montessori, antes da

era Montessori, educar as crianças era discipliná-las, enquadrá-las e ponto final. A escola

montessoriana revolucionou o ensino ainda no século XIX, como característica dessa escola

temos os respeito a individualidade de cada criança, uma outra característica é criar na escola

um ambiente sob medida para as crianças, levando em conta inclusive a decoração dos

espaços e materiais adequados ao desenvolvimento infantil, ela acreditava que era

fundamental educar antes os sentidos e depois o intelecto. Defendia a tese de que os

Page 31: DISSERTAÇAO FATIMA

30

“pequenos” deviam ter a liberdade de escolher o que desejavam fazer.

Outro desafio e ponto relevante de seu trabalho era lidar com vítimas do

preconceito, crianças excepcionais na época eram excluídas da sociedade, eram motivos de

vergonha para as famílias que praticamente as escondiam em casa. Seus primeiros trabalhos a

levaram a conhecer de perto asilos para loucos, onde eram também internadas as crianças

consideradas “anormais”. Observando os pequenos pacientes, tratados pela instituição como

incapazes, a doutora Montessori fez duas constatações: que eles queriam e eram capazes sim

de aprender o que ela queria e poderia sim ajudá-los. Quanto mais se dedicava e ensinava,

mais se convencia de que o ambiente fazia toda a diferença, passou a defender a seguinte tese:

Os deficientes precisavam mais de um bom método pedagógico do que da medicina. Suas

ideia começaram chamar a atenção, principalmente depois que seus alunos especiais

demonstraram aprender a ler e escrever até melhor e mais depressa do que as crianças

“normais”. Diante disso não havia duvidas de que Montessori estava certa ao afirmar que o

problema da educação eram as próprias escolas. Em 1906, Maria Montessori trocou um

prestigioso cargo de professora de antropologia na Universidade de Roma por uma sala em

um conjunto residencial operário. A escola era mantida por uma empresa e atendia a sessenta

filhos de operários (entre três e sete anos), as crianças passavam o dia inteiro sozinhas

enquanto os pais trabalhavam. Essa seria o embrião das Casas das Crianças, creches

montessorianas que se espalhariam pelo mundo. Fora essa sala que Maria Montessori testou

seu método de ensino baseado num conceito inteiramente novo, dar as crianças mais liberdade

e oportunidade de crescer em um ambiente capaz de estimular a curiosidade, arejado,

colorido, cheio de brinquedos didáticos, assim elas aprendiam sozinhas, estudando e

brincando, desenvolviam senso de responsabilidade e cooperavam umas com as outras em vez

de competir. Em 1912 seu método foi publicado tornando-se um best-seller e no ano seguinte

se espalharia por todo o mundo. (Lobo, Maria, Mulheres a frente do seu tempo (REVISTA

Page 32: DISSERTAÇAO FATIMA

31

CLÁUDIA, 2005).

O que nos leva a tratar de jogo com tamanha insistência são as importantes

funções que ele propicia, capazes de auxiliar o ser humano no desenvolvimento, na

aprendizagem e na integração com o ambiente. Tais razões nos levaram a identificar na

atividade lúdica três importantes funções: a socializadora, a psicológica e a pedagógica. Do

ponto de vista cultural e social, o lúdico tende a inserir as crianças no seu meio, ensinando-as

diversos aspectos de sua cultura. Entre os indígenas, por exemplo, são comuns as atividades

desenvolvidas pelas crianças, realizadas sob a forma de jogos, que se assemelham às dos

adultos. Os ritos de iniciação são uma prova dessa realidade.

A brincadeira de pegador, comum entre as crianças, também é possível que se

tenha originado de historias de bruxas, oriundas do folclore português e que estimularam a

criação da personagem “bruxa” nos contos infantis.

Nesse sentido, é importante notar que as rosas cantadas tem uma importante

função no processo de integração entre as crianças em idade pré-escolar. Elas preservam

elementos próprio da cultura popular, como musicas e danças, alem de desenvolverem noções

de coletividade, cooperação, participação, através de algumas de suas regras. Em algumas

brincadeiras o brincar fornece aos participantes a possibilidade de estabelecerem uma rede de

relações onde são implicados valores e costumes.

Diante do exposto vimos que mesmo procurando fazer sua parte, o professor e a

escola, muitas vezes, não respeitam a possibilidade de que outra coisa aconteça, de que o

aluno seja visto como ser autônomo e criativo, portanto, colocado no centro do processo

educativo. Dessa forma, brincar na sala de aula é uma aposta.

2.2 Brincadeiras e atividades lúdicas na escola

Page 33: DISSERTAÇAO FATIMA

32

Os conceitos de jogos e brincadeiras em geral, acabam sendo utilizados como

sinônimos, embora o primeiro pareça diferir do segundo em alguns aspectos. Enquanto a

brincadeira aparenta ser mais livre, possui um fim em si mesma e realiza-se apenas com um

elemento, o jogo possui regras, pode ser utilizado como meio para chegar-se a um fim e,

geralmente, envolve dois ou mais participantes. Nessa situação até mesmo o adversário torna-

se parceiro. Apesar das diferenças apresentadas, a maioria dos autores acabam usando os

termos como sinônimos.

O lúdico é um novo aliado da Educação e precisa ser estudado, visto que muitos

professores preconizam somente o brincar livre, sem objetivos educacionais, com certeza, o

brincar livre é importante e todos os educandos precisam de tempo para realizar atividades

assim, pois brincando os mesmos estarão conhecendo o mundo, o brincar somente por brincar

deve acontecer no recreio, em horários livres para descansar das atividades escolares.

A criança envolve-se com o jogo, com a brincadeira de forma prazerosa. Quando

se pronuncia a palavra jogo cada um pode entendê-la de uma forma. Pode-se estar falando de

jogos políticos, de adultos, crianças, animais ou amarelinhas, xadrez, adivinhas, contar

histórias, brincar de mamãe papai e filhinho, futebol, dominó, quebra cabeça, construir

brinquedos, brincar na areia e uma infinidade de outros. Tais jogos, embora recebam a mesma

denominação tem suas especificidades.

Segundo Vygotsky (1988, p. 11),

O brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal da criança. No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento.

Vygotsky (1988 p.24), em seus estudos falam da importância da participação ativa

Page 34: DISSERTAÇAO FATIMA

33

do sujeito na aprendizagem. As crianças em interação com o meio constroem conhecimento,

desse jeito as atividades lúdicas vão permitir a manipulação dos dados da realidade

reelaborando-os e transformando-os.

O brinquedo e a brincadeira constituem uma questão lúdica da maior relevância,

como fator de desenvolvimento da criança. Neste sentido o brincar tem um papel fundamental

e contribui decisivamente na construção da autonomia infantil e de sua convivência autentica.

Na verdade, o brincar na educação infantil, representa um desafio para os profissionais de

educação, a fim de tornar esse nível de ensino, um momento promotor de dignidade, do

respeito e da cidadania.

Ressalta-se, a ideia de que os professores reconheçam o real significado do

lúdico, para aplicá-lo adequadamente, estabelecendo a relação entre o brinquedo, brincar e

aprender, como práticas articuladas da organização do trabalho pedagógico, pois brincar não

pode ficar reduzido apenas ao dia do brinquedo, ele deve fazer parte do processo de ensino e

aprendizagem. A sala de aula é também um espaço para atividades lúdicas, brincando também

se aprende é na Educação Infantil que a brincadeira é o mais importante, nas atividades

físicas, por meio de tarefas lúdicas, os pequenos experimentam diferentes maneiras de andar,

correr, pular e se esticar, aprendendo inclusive a interagir com os colegas.

A palavra Jogo provém de jocu, substantivo masculino de origem latina que

significa gracejo, é uma atividade que tem valor educacional intrínseco. Leif (????, p. ) diz

que "jogar educa, assim como viver educa: sempre sobra alguma coisa". A utilização de jogos

educativos no ambiente escolar traz muitas vantagens para o processo de ensino e

aprendizagem, entre elas: O jogo é um impulso natural da criança funcionando assim como

um grande motivador. A criança através do jogo obtém prazer e realiza um esforço

espontâneo e voluntário para atingir o objetivo do jogo. O jogo mobiliza esquemas mentais:

Page 35: DISSERTAÇAO FATIMA

34

estimula o pensamento, a ordenação de tempo e espaço. O jogo integra várias dimensões da

personalidade: afetiva, social, motora e cognitiva.

O jogo favorece a aquisição de condutas cognitivas e desenvolvimento de

habilidades como coordenação, destreza, rapidez, força, concentração, etc. A participação em

jogos contribui para a formação de atitudes sociais: respeito mútuo, cooperação, obediência às

regras, senso de responsabilidade, senso de justiça, iniciativa pessoal e grupal. O jogo é uma

forma de vínculo que une a vontade e o prazer durante a realização de uma atividade. O

ensino utilizando meios lúdicos cria ambiente gratificantes e atraentes servindo como

estímulo para o desenvolvimento integral da criança.

Acredita-se que na faixa etária, na pré escola, deve ser dada a criança liberdade

para vivenciar os mais diversificados jogos e atividades de maneira que ela possa

gradativamente conhecer, modificar e utilizar ou não as regras já existentes. Novas atividades

geram sentimento de desafio nas crianças, que se mostram estimuladas e empenhadas a

participarem para descobrirem tudo que envolve o processo, da nova brincadeira ou do novo

jogo.

2.3 A classificação dos jogos e brincadeiras na visão de alguns autores

As teorias que discutem os processos internos relacionados com o comportamento

lúdico focalizam o jogo como representação de um objetivo. Entre seus representantes estão

Vigotsky, Piaget, Freud, Caillois, Huizinga e outros. Tais estudos, ao considerarem a

realidade interna (representação), e o ambiente externo (papeis, objetos, valores, pressões,

movimentos, etc), permitem uma determinação teórica mais completa (KISHIMOTO, 1992,

p. 134).

Page 36: DISSERTAÇAO FATIMA

35

Segundo Vygotsky ( 1989, p. ) a aprendizagem precede o desenvolvimento. Posto

isso, tem-se idéia antagônica à outrora difundida de que a criança precisa, primeiramente

adquirir determinada capacidade para aprender determinado conteúdo, o que equivale a dizer

que as habilidades não precedem ao conhecimento, mas que é no processo de elaboração do

conhecimento que se constroem também as habilidades, quanto a imaginação é um processo

novo para a criança, pois constitui uma característica típica humana consciente. É certo

porem, que a imaginação surge da ação e é a primeira manifestação da emancipação da

criança em relação às restrições situacionais. Isso não significa necessariamente que todos os

desejos não-satisfeitos dão origem aos brinquedos.

Para Kishimoto (2001, p.28), antes da revolução romântica, três concepções

estabeleciam as relações entre o jogo infantil e a educação; (1) recreação; (2) uso do jogo para

favorecer o ensino de conteúdos escolares e (3) diagnostico da personalidade infantil e recurso

para ajustar o ensino às necessidades infantis.

O jogo é visto como recreação desde a antiguidade greco-romana. Era uma atividade de relaxamento às que exigiam esforço físico e intelectual. Atualmente a prática de jogos-brincadeiras, preenchem também a necessidade do relaxamento após um dia de trabalho estafante e rotineiro. Durante a Idade Média, o jogo foi considerado não sério, por sua associação ao jogo de azar, bastante divulgado na época. Foi a partir do Renascimento que o jogo foi enfatizado com conduta livre que divulgava princípios morais, éticos, históricos e geográficos.

Para Piaget (1997, p. 64), “O brincar representa uma fase no desenvolvimento da

inteligência que culmina num equilíbrio entre assimilação a acomodação. Uma vez que a

imitação prolonga esta ultima por si mesma, é possível afirmar que o jogo é essencialmente

assimilação, que prima sobre acomodação. A inteligência só é expressa quando em ação,

raciocínio sobre o objeto ou experimento.

A teoria psicogenética de Piaget (1990) considera o brincar como uma atividade

que ajuda a criança a se apropriar da realidade em que está inserida, transformando-a por

meio de hábitos e habilidades motores. Nessa perspectiva Piaget (1990, p. 146) afirma que:

Page 37: DISSERTAÇAO FATIMA

36

O jogo, ou a atividade lúdica, conduz da ação à representação, na medida em que evolui do exercício sensório-motor para o jogo simbólico. Partindo deste pressuposto o autor propõe uma classificação genética dos jogos baseados na evolução das estruturas mentais, classificando-os em três tipos: jogos de exercício (0 a 1 ano), jogos simbólicos (2 a 7 anos) e jogos de regras (ápice aos 7 anos). A principal característica do jogo exercício é a busca pelo prazer, a ação está diretamente ligada a ele. Tem como finalidade o divertimento, fazendo funcionar e exercitando estruturas já aprendidas pelo indivíduo, portanto, como a prática deste jogo não está relacionada a aquisição de um novo conhecimento, satura-se logo. [...]. Esse jogo de simples exercício, sem a intervenção de símbolos ou ficções nem regras, caracteriza especialmente as condutas animais [...] (PIAGET, 1990, p.146).

Na perspectiva de Piaget (1990), a competição, como habilidade necessária

durante os jogos em grupos, é construída de acordo com o nível de maturidade das crianças,

não considerando-a, apenas como uma característica genética ou da personalidade, nem como

produto do meio. As competições atraem bastante as crianças notando-se grande alegria no

momento de se organizarem em equipes para realizarem disputas. Entretanto, percebe-se que

em crianças menores, não há grande interesse por sair vencedora, valendo, apenas, o fato de

participar e de competir.

Dando continuidade a obra de Vygotsky, Elkonin (1980) nos diz que os termos

jogo e atividade lúdica não devem ser empregados como sinônimo do mesmo tipo de

atividade, sendo o jogo protagonizado ou jogo de papeis, visto como uma forma de

desenvolvimento da atividade lúdica. Ele define jogo protagonizado como sendo “Uma

atividade na qual se reconstroem, sem fins utilitários diretos, as relações sociais...” “Nem toda

reconstrução nem a construção de qualquer fenômeno da vida é jogo. No homem é jogo a

reconstrução de uma atividade que destaque seu conteúdo social, humano, suas tarefas e as

normas das relações sociais”.

O significado dos jogos infantis também foi esclarecido pelos trabalhos de Klein

(1948) sobre as fantasias. Ela afirma que brincar com bonecas revela a necessidade que a

criança tem de ser consolada e tranquilizada. Alimentar e vestir as bonecas, com as quais se

identifica, funciona como uma prova de que sua ‘mãe’ a ama e isso diminui o medo de ser

Page 38: DISSERTAÇAO FATIMA

37

abandonada e de ficar ao desamparo, sem lar e sem mãe. Já Ana Freud (1954) mostrou o

sentido defensivo do jogo (LEBOVICI & DIATKINE, 1996, p. 43)

Os jogos ou atividades dirigidas para situações concretas são de extrema utilidade

na obtenção da construção do conhecimento, principalmente nas primeiras fases do

desenvolvimento cognitivo.

No pensamento concreto a criança é desprovida de capacidade hipotética e de

operar de forma abstrata. Sua lógica prende-se às modificações dos objetos palpáveis. Dessa

forma o ensino principalmente da matemática deve ser repassado através de atividades

manipuláveis e prazerosas, a fim de que a criança alcance o desenvolvimento das estruturas

que lhe permitiram alcançar a fase das abstrações, ou seja. Operatório Formal para

compreender a Matemática.

O homem é um ser simbólico, ou seja, constantemente cria ou utiliza-se de

símbolos para a comunicação consigo e com os outros. Nos jogos expressa suas necessidades,

seus conflitos, seus desejos, assim como amplia suas estratégias de relacionamento. Assim, o

homem vai desenvolvendo sua autonomia e sua capacidade de se integrar criativamente no

mundo.

Para Freire (1980, p. 52)

O importante é que o jogo seja uma proposta da pessoa, da família ou do grupo e quando proposto pelo educador tenha por base os pedidos alunos ou filhos, por meio de palavras, metáforas, gestos, movimentos, objetos, jogo espontâneo criativo da oportunidade para que o individuo ou a família seja sujeito da sua ação e não objeto da ação do outro, ampliando as oportunidades de interação de criatividade.

Kamii (1996, p. 76), diz que “muitos jogos em grupo proporcionam um contexto

excelente para o pensamento em geral e para a comparação de quantidades... exemplos de

jogos com alvos, jogos de esconder, corridas e jogos de pegar, adivinhações, jogos de

tabuleiro e baralho.”

Page 39: DISSERTAÇAO FATIMA

38

Além das abordagens dos teóricos, referidas atividades encontram-se consolidadas

nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1998, p. 48), conforme citação:

... Por meio de jogos as crianças não apenas vivenciam situações que se repetem, mas aprendem a lidar com símbolos e pensar por analogia (jogos simbólicos): os significados das coisas passam a ser imaginados por elas. Ao criarem essas analogias, tornam-se produtoras de linguagens, criadoras de convenções, capacitando-se para se submeterem as regras e dar explicações.

Todos esses teóricos são unânimes em dizer que o jogo infantil tem um papel

muito importante na vida da criança. A brincadeira e o jogo reúnem experiências, de forma

que o processo de repetir, imitar, representar e inventar é mais do que um ato de brincar.

Através dele, a criança revela uma parte de si mesma, o que ela pensa e como o faz, como se

vê e aos outros.

2.4 Diferenças entre as concepções de Vygotsky e Piaget

Tanto Vygotsky (2001), quanto Piaget (1990) falam numa transformação do real

por exigência das necessidades da criança, mas enquanto que para Piaget a imaginação da

criança não é mais do que atividade deformante da realidade, para  Vygotsky (1998), a criança

cria (desenvolve o comportamento combinatório) a partir do que conhece, das oportunidades

do meio e em função das suas necessidades e preferências. Piaget e Vygotsky possuem uma

abordagem diferente, embora os dois se situem numa posição construtivista.

Como afirma Palangana (1994), as concepções de Vigostky e Piaget quanto ao

papel do jogo no desenvolvimento cognitivo diferem radicalmente. Para Piaget (1990) no jogo

prepondera a assimilação, ou seja, a criança assimila no jogo o que percebe da realidade às

estruturas que já construiu e neste sentido o jogo não  é  determinante nas modificações das

estruturas. Para Vygotsky (1998) o jogo proporciona alteração das estruturas.

Page 40: DISSERTAÇAO FATIMA

39

Como afirma Palangana (1994), Vygotsky e Piaget em suas concepções diferem

do uso do jogo no desenvolvimento cognitivo da criança. Na concepção piagentiana, no jogo

prevalece a assimilação sobre a acomodação, ele afirma que a criança assimila no jogo o que

percebe da sua realidade das estruturas já construídas, ou seja num exercício das ações

individuais já aprendidas, tendo como função consolidar a experiência passada, sendo assim,

o jogo não  define as modificações operadas nas estruturas cognitivas.

Segundo Piaget (1967, p.32) “o jogo não pode ser visto apenas como

divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento

físico, cognitivo, social e moral”. Através dele se processa a construção do conhecimento,

principalmente nos períodos sensório-motor pré-operatório. Agindo sobre os objetos, as

crianças desde pequenas, estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvem a noção de

causualidade, chegando a representação e, finalmente à lógica. As crianças ficam mais

motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem, esforçam-se para superar

obstáculos como emocionais. E, estando mais motivadas, ficam mais ativas durante o jogo.

De acordo com as concepções de Vygotsky (1998), uma prática pedagógica

adequada perpassa não somente por deixar as crianças brincarem, mas, fundamentalmente por

ajudar as crianças a brincar, por brincar com as crianças e até mesmo por ensinar as crianças a

brincar. Considera o jogo como uma atividade que completa as necessidades da criança. Fala

que o desenvolvimento da criança se da através de estímulos e inclinações.

Vygotsky (1998) Defende a tese de que, nos primeiros anos de vida, a brincadeira

é a atividade predominante e constitui fonte de desenvolvimento ao criar zonas de

desenvolvimento proximal (região de domínio psicológico em constante transformação,

representado pela distancia entre o nível de desenvolvimento real e potencial, pois na

brincadeira a criança comporta-se num nível que ultrapassa o que esta acostumada a fazer,

Page 41: DISSERTAÇAO FATIMA

40

funcionando como se fosse maior do que é.

O jogo traz oportunidade para o preenchimento de necessidades irrealizáveis e

também a possibilidade de exercitar-se no domínio do simbolismo. Quando a criança é

pequena o jogo é o objeto que determina sua ação. Na medida em que cresce, a criança impõe

ao objeto um significado. O exercício do simbolismo ocorre justamente quando o significado

fica em primeiro plano. Do ponto do desenvolvimento da criança a brincadeira trás vantagens

sociais, cognitivas e afetivas (VYGOTSKY, 1991).

A zona de desenvolvimento proximal refere-se ao caminho que a aprendizagem

irá percorrer para se desenvolver, ou seja o que o individuo recebe hoje, amanhã poderá fazer

sozinho.

A aprendizagem, para os vygotskianos, tem uma ligação forte entre os processos

de desenvolvimento e a relação do individuo com seu ambiente sócio-cultural e com a

valorização do fator social. O jogo propriamente dito começa aos três anos com o jogo de

papeis onde as crianças criam situações imaginárias e incorporam elementos culturais que são

adquiridos através da interação e da comunicação.

Vygotsky em oposição à teoria de Piaget, o critica pela falta de estudos quanto a

questão de aprendizado e desenvolvimento, e também de clareza teórica das teorias do

desenvolvimento aplicado na educação. Acredita que os processos de desenvolvimento da

criança são independentes do aprendizado. Considera o aprendizado um processo externo e

independente e que não se envolve ativamente no desenvolvimento da criança.

Andrade (1996, p. 62) comenta que:

De 0 a 1 ano de idade, a criança usa a imitação para se adaptar à realidade, aprender novas ações ou satisfazer uma necessidade, então, é muito importante que a criança tenha espaço e liberdade, com segurança, para se movimentar e outras pessoas com quem se relacionar.

Page 42: DISSERTAÇAO FATIMA

41

Aos 2 anos de idade a criança já é capaz de fazer representações, ou seja, pensar

no objeto ausente, inicia-se então a fase do jogo simbólico ou do faz-de-conta, onde uma coisa

simboliza a outra.

As características deste jogo são: liberdade de regras; envolvimento da fantasia;

fim em si mesmo, isto é, o prazer está no processo e não no resultado; muitas vezes não

relacionasse com a realidade e não tem uma sequência lógica para acontecer, são conduzidos

pelas fantasias das crianças. É através deste jogo que a criança busca o equilíbrio entre os

mundos interno e externo, modificando a realidade para poder assimilá-la; suas fantasias são

modificadas de acordo com as limitações da realidade. Desta forma a criança pode vivenciar,

analisar e criticar, sem os riscos da realidade, pois tudo é fictício, um faz-de-conta.

Algumas características deste jogo vão se modificando com o desenvolvimento da

criança. Num primeiro momento ela é quem realiza as ações, em seguida transforma

simbolicamente um objeto em outro, fazendo com que eles realizem a ação em seu lugar.

Dos 4 aos 7 anos de idade este jogo vai perdendo o caráter de deformação lúdica

da realidade se tornando cada vez mais uma imitação representativa da realidade, dando lugar,

aos poucos ao jogo de regras e às construções adaptadas à realidade. O jogo de regras é

considerado por Piaget (1978), como atividade lúdica do ser socializado, pois as regras

supõem relações sociais entre, pelo menos, dois indivíduos. Neste tipo de jogo o espaço e o

tempo são limitados, porém o lúdico, o prazer e o símbolo continuam existindo.

Para ser eficiente as regras do jogo devem especificar os objetivos deste e o papel

que cada indivíduo deve desempenhar no decorrer da atividade, estes papéis podem ser

interdependentes, opostos ou cooperativos, dependendo do jogo.

Os adultos, inclusive os professores, devem estimular a participação das crianças

Page 43: DISSERTAÇAO FATIMA

42

na elaboração e cumprimento das regras em jogos competitivos, pois, de Acordo com

Andrade (1996, p.64) isto ajudará

[...] no desenvolvimento da capacidade de pensar de modo ativo; a serem cada vez mais capazes de elaborar regras justas e eficientes para si mesmas, a se comandarem bem em grupo , desenvolvendo-se socialmente e intelectualmente, lidando com aspectos sociais, políticos, morais e emocionais (ANDRADE,1996, p. 64).

Para ser considerado um jogo de regras, este necessita ter um objetivo claro ser

alcançado, regras, intenções opostas e possibilidades de se levantar estratégias. O

levantamento de estratégias; a análise das jogadas, dos erros e acertos e o replanejamento são

características deste tipo de jogo e excelentes instrumentos de desenvolvimento da

inteligência na resolução de problemas.

Esse tipo de jogo também proporciona às crianças momentos de vivência em

grupo, ao jogarem em grupos as crianças têm a oportunidade de conhecer o modo e pensar e

agir dos outros, de trocar opiniões, de entrar em confronto e em acordo. A troca de ideias

propicia o desenvolvimento da autonomia e da lógica na criança, e o conflito provoca o

raciocínio. Desta forma, a função destes jogos

[...] é então muito maior do que ser um instrumento para motivar o aprendizado de conteúdos curriculares; ele desenvolve as habilidades de pensamento como a observação, a comparação, a dedução e principalmente,o raciocínio necessários para o ato de aprender, de aprender qualquer coisa na vida, inclusive valores como respeito, cooperação, fidelidade, justiça,etc (ANDRADE, 1996, p. 65).

Para que a competição seja saudável, é necessário que se trabalhe desde cedo com

as crianças atitudes de naturalidade em relação à vitória e à derrota. Winnicott (1975) diz que

é no brincar, e somente no brincar que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e

utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu.

Macedo defende os jogos especialmente os de regra porque criam um contexto de

observação e diálogo sobre os processos de pensar e construir o conhecimento de acordo com

Page 44: DISSERTAÇAO FATIMA

43

os limites da criança. A técnica do jogo em psicanálise foi elaborada por Melanie Klein, Ana

Freud e outros que aprofundaram o simbolismo inconsciente do jogo. Para Klein (1977),

brincando a criança expressa de modo simbólico suas ‘phantasias’, seus desejos e suas

experiências vividas.

2.5 Tipos de jogos e brincadeiras

Criação inventado pela escola e esta não pode se apropriar dele. Deve utulizá-lo

com o respeito que ele merece enquanto criação e patrimonio de toda humanidade. Ele

perpassa todas as fases da evolução do homem e, em cada uma delas, apresenta caracteristicas

próprias. Há uma estreita relação entre o amadurecimento neuro-psicofisiológico do sujeito e

o tipo de jogo que lhe interessa e lhe estimula” (LOPES, 2001, p. 12).

Piaget (1896-1980), o grande teórico do construtivismo, dedicou-se a estudar os

jogos classidicando-os de acordo com sua adequação ao diferentes estágios das estuturas

mentais. Para o autor todos os jogos podem ser estruturados, basicamente, segundo tres

forma: exercicio, simbolo ou regra, começando-se a descrevê-las a seguir, a partir do primeiro

modelo, que estrutura as ações como jogos de exercicios.

Os Jogos de exercício

De 0 a 2 anos – sensorio-motor – a principal caracteristica da ação exercida pela

criança no período sensório-motor é a satisfação de suas necessidades. Pouco a pouco, porem,

ela vai ampliando seus esquemas, adquirindo cada vez mais a possibilidade de garantir prazer

em troca do que faz. Passa a agir para conseguir prazer. Porque é o prazer que determina

significado as ações.

Por isso o ato de sugar é tão significativo, porque a medida que satisfaz sua fome

Page 45: DISSERTAÇAO FATIMA

44

o bebê sente prazer em manar. Outras sensações de agrado ele experimenta quando vai

realizando novas descobertas como engatinhar, andar, falar. Isto o vai estimulando a

prosseguir num verdadeiro jogo de descoberta corporal. Piaget depreendeu que havia um

objetivo na repetição dessas condutas: divertir e servir como instrumento de prazer em fazer

trabalhar estruturas ja aprendidas. Esse tipo de jogo (exercício) dá a criança uma satisfação de

eficacia e poder. O jogo de exercício é então defenido por ele como caracteristico desta fase

sensório-motora (LOPES, 2001).

Porém não deixamos de jogá-lo quando crescemos e nos tornamos adultos. A cada

nova aprendizagem, ele pode ser utilizado para formar esquemas de ação necessários ao bom

desempenho. “o jogo de exercício não objetiva a aprendizagem em si, mas a formação de

esquema de ação, de condutas, de automatismo. Por isso, jogá-lo só é necessário para este

fim, pois fica cansativa e enfadonha a repetição de ações já interiorizadas” (LOPES, 2001, p

13).

Os jogos simbólicos

No processo de desenvolvimento da criança, os jogos simbolicos, como estrutura,

vêm depois dos jogos de exercícios. E caracterizam-se por seu valor analogico, ou seja por se

poder tratar ‘A’ como se fosse ‘B’, ou vice-versa. Trata-se portanto de repetir, como

conteúdo, o que a criança assimilou como forma nos jogos de exercício. Agir em uma

brincadeira de boneca, como a mãe, por exemplo, significa repetir, por analogia, o que a mãe

tanta vezes fez com ela em seu primeiro ano de vida, significa tambem poder aplicar, agora

como conteudo as formas dos esquemas de ação o que assimilou em seus jogos de exercício.

Começa aos 2 até 7 anos aproximadamente. Pré-operatório – no jogo simbolico a

criança é capaz de encontrar o mesmo prazer que sentia anteriormente com os jogos de

exercício, lidando agora com símbolos. “É a época do faz-de-conta da representção, do teatro,

Page 46: DISSERTAÇAO FATIMA

45

(capa transforma um super-homem; representar o papel de mãe ao brincar de bonecas”

(LOPES, 2001, p. 31).

Conforme a autora, a criança está apta para esse jogo porque já estruturou sua

função simbolica, ou seja produz imagens mentais e domina a lingua falada que lhe possibilita

rma seguintes caracteristicas:

1. Liberdade total de regras criadas pela própria criança;

2. Desenvolvimento da imaginação e da fantasia;

3. Ausência do objetivo (brincar pelo prazer de brincar);

4. Ausência de uma lógica da realidade;

5. Assimilaçãoda realidade que é adaptada a seus desejos. Por os pais, vai brincar

de casinha e resolve o conflito por meio dos bonecos.

Lopes (2001) afirma que, utilizando os jogos simbolicos, a criança tem a

possibilidade de vivenciar aspectos reais muitas vezes dificeis de elaborar a vinda de um

irmãozinho, a perda de um genitor, a mudança de escola. Pode lidar com fantasias (ser um

super-homem), fatos dolorosos (separação dos pais) com situações do passado: enfrentar

problemas do presente e antecipar consequencias de ações futuras. Ela pode fazer tudo isso

sem riscos, porque estas circunstâncias ocorrem ao nivel de ficção.

O adulto que observa a criança e interage no jogo simbolico pode perceber como

ela vai construindo sua visão de mundo, como lida com seus problemas, quais são os seus

ideais e preocupações. Por isso o jogo simbolico é usado por psicologos para diagnostico e

tratamento. Como a fase pré-operátoria se estende dos dois aos sete anos, tendo portanto, uma

duração mais longa, ela sofre modificações conforme a criança for progredindo em seu

Page 47: DISSERTAÇAO FATIMA

46

desenvolvimento, rumo a intuição e a operação. É o que Lopes (2001) denomina de evolução

dos Jogos Simbolicos.

Os Jogos de regras

Os jogos de regras contém, como proppriedades fundamentais de seu sistema, as

duas caracteristicas herdadas das estruturas dos jogos anteriores. Neles como ja foi dito, a

repetição dos jogos de exercicio corresponde à regularidade, graças a qual esses jogos se

constituem em formas democraticas de intercambio social entre crianças ou adultos.

Regulardade porque o “como fazer o jogo” é sempre o mesmo, até que se modifiquem as

regras. Na condição de invariante do sistema, pede consideração reciproca de todos os

participantes do jogo, sendo a trangressão das regras uma falta grave, que pertuba o sentido do

jogo (Macedo, 1994). Os jogos de regras herdam dos jogos simbolicos as convenções, ou seja

a idéia de que as regras são combinados arbritários que o inventor do jogo ou seus

proponentes fazem e que os jogadores aceitam por sua vontade.

Com os progressos da socialização da criança e o desenvolvimento de suas

estruturas intelectuais, o jogo egocêntrico é abandonado. O convívio social é mais

interessante. As obrigações são impostas por intermédio das relações de reciprocidade e

cooperação do grupo. O jogo de regras é necessário para que as convenções sociais e os

valores morais de uma cultura sejam transmitidos. As estratégias de ação, a tomada de

decisão, a análise dos erros, lidar com perdas e ganhos, replanejar jogadas em função dos

movimentos dos adversários, tudo isso é importante para o desenvolvimento das estruturas

cognitivas de cada pessoa. O jogo provoca conflitos internos, a necessidade de buscar uma

saída, e é desses conflitos que o pensamento sai enriquecido, reestruturado e apto para lidar

com novas transformações.

Page 48: DISSERTAÇAO FATIMA

47

Jogos na escola

Na escola, a brincadeira ou jogo ensina alguma coisa que irá completar a criança

em relação ao seu saber, conhecimento e a visão que ela tem do mundo. O jogo e o brinquedo

como atividade livre é uma atividade voluntária do ser humano, quando sujeito as ordens

deixa de ser brincadeira. Só é jogo quando a ação voluntária do ser humano esta presente.

Quando brinca a criança stá tomando uma certa distancia a vida cotidiana, voltando-se a vida

do imaginário.

O jogo quando mediado, será coersivo e os jogadores não terão liberdade de ação,

imaginação e prazer. Mas quando a finalidade é estimular a aprendizagem, o que está em jogo

é a função educativa do brinquedo. O professor está criando condições para que o

desenvolvimento das estruturas das crianças, abrindo espaço para que elas possam através do

ludico, ter a capacidade de iniciação, ação organizada e conceituada.

Brincar é a ludicidade do aprender. A criança aprende enquanto brinca. No brincar

com outras pessoas na escola a criança aprende a viver socialmente, respeitando regras,

cumprindo normas, esperando sua vez e interagindo de uma forma organizada.

Page 49: DISSERTAÇAO FATIMA

48

3 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA TRABALHAR O LÚDICO

Para Kishimoto (1997) a função pedagógica será garantida pela organização do

espaço, pela disponibilidade de materiais e muitas vezes pela proporia parceria do professor

nas brincadeiras.

O jogo como promotor da aprendizagem e do desenvolvimento, passou a ser considerado nas práticas escolares como importante aliado para o ensino, já que colocar o aluno diante de situação de jogo pode ser uma boa estratégia para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem veiculados na escola, além de poder estar promovendo o desenvolvimento de novas estruturas cognitivas (KISHIMOTO, 1997, p 80).

Ao permitir a manifestação do imaginário infantil, por meio de objetos simbólicos

dispostos intencionalmente, a função pedagógica subsidia o desenvolvimento integral da

criança. Nesse sentido qualquer jogo empregado pela escola, desde que respeite a natureza do

ato lúdico imprime o caráter educativo e pode receber também a denominação geral do jogo

educativo.

Mas o que eram então os brinquedos, jogos e materiais pedagógicos?

Segundo KISHIMOTO (1997, p. 128)

1º. Os brinquedos, jogos e materiais pedagógicos não são objetos que trazem em seu bojo um saber pronto e acabado. Ao contrário, eles são objetos que trazem um saber em potencial. Este saber pode ou não ser ativado pelo aluno.

2º. O material pedagógico não deve ser visto como um objeto estático sempre igual para todos os sujeitos. O material pedagógico é um objeto dinâmico que se altera em função da cadeia simbólica e imaginária do aluno.

3º. O material pedagógico traz em seu bojo um potencial relacional, que pode ou não desencadear relações entre as pessoas. Assim, o mesmo objeto que desencadeou relações muito positivas em uma classe pode ser o mesmo que paralise uma outra.

4º. Os materiais pedagógicos são objetos que trazem em seu bojo uma historicidade própria. Alem de portar a historicidade de cada aluno e professor que paralise uma outra.

Page 50: DISSERTAÇAO FATIMA

49

Ser professor é uma constituição singular que vai tomando forma no processo da

própria existência, sobretudo porque a ação de ensinar suscita uma aprendizagem permanente,

contínua, marcada pela descontinuidade da passagem de aluno a professor. Construir um novo

profissional requer do mesmo, revisão de propósitos, valores e procedimentos vigentes,

constituídos ao longo da história de sua formação pessoal e profissional.

Na medida em que os professores problematizam, analisam e refletem sobre o

percurso vivido, sentem-se mais responsáveis pela sua formação profissional e passam a

concebê-la como uma formação continua, que se desenha junto à história individual e social

de cada um, ao longo da profissão (NÓVOA , 1991).

O verdadeiro papel da escola e dos educadores deveria ser o de contribuir para

uma vida melhor, mais saudável e respeitável, em todos os segmentos da sociedade. A

educação assim pensada e compreendida desencadeia um processo refletido das relações entre

a ética e o agir pedagógico, através de uma prática educativa que interfira em nosso

conhecimento, em nossas possibilidades, como aprendizes e investigadores. No seu trabalho o

docente precisa ter clareza quanto ao tipo de sociedade ele ajuda a construir, ao conjunto de

valores que aspira. É preciso que o docente esteja comprometido com a ética e com a estética.

O professor nesta relação de amor com o conhecimento pode passar a viver uma

relação sadia com os seus semelhantes e com o mundo que o rodeia. Educar nos tempos

atuais, mais do que nunca, não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um

caminho, aquele caminho que o professor considera o mais correto, mas é contribuir com o

educando para que o mesmo possa tomar consciência de si mesmo, dos outros e da sociedade.

É saber aceitar-se como pessoa e saber aceitar os outros. É oferecer várias ferramentas para

que a pessoa possa escolher entre muitos caminhos, aquele que for compatível com seus

valores, sua visão de mundo e com circunstâncias adversas que cada um irá encontrar.

Page 51: DISSERTAÇAO FATIMA

50

Saber ser, saber fazer, aprender a aprender e aprender a viver juntos são os

sustentáculos para a educação no século XXI conforme colocado pelo relatório da UNESCO

intitulado: Educação: Um tesouro a descobrir (UNESCO, 2003). Sendo assim, a educação que

pode formar o homem autônomo é aquela que ensina o diálogo investigativo coletivo.

Este tipo de educação é um exercício de prática verdadeiramente democrática e

ajuda na construção do pensamento criterioso, criador e responsável. Para que esta proposta

possa se tornar realidade uma das possibilidades é o trabalho dentro dos espaços de educação

com o lúdico.

O Lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana.

Assim, na idade infantil e na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. A

criança e mesmo o jovem opõe uma resistência à escola e ao ensino, porque acima de tudo ela

não é lúdica, não é prazerosa.

Snyders (1988) defende a alegria na escola, vendo-a não só como necessária, mas

como possível. “A maior parte das crianças em situação de fracasso são as de classe popular e

elas precisam ter prazer em estudar; do contrário, desistirão, abandonarão a escola, se

puderem [...]

Quanto mais os alunos enfrentam dificuldades de ordem física e econômica, mais

a Escola deve ser um local que lhes traga outras coisas. Essa alegria, não pode ser uma alegria

que os desvie da luta, mas eles precisam ter o estímulo ao prazer. A alegria deve ser

prioridade para aqueles que sofrem mais fora da escola. Estudos demonstram que através de

atividades lúdicas, o educando explora muito mais sua criatividade, melhora sua conduta no

processo de ensino-aprendizagem e sua autoestima.

O indivíduo criativo é um elemento importante para o funcionamento efetivo da

Page 52: DISSERTAÇAO FATIMA

51

sociedade, pois é ele quem faz descobertas, inventa e promove mudanças.

Pensar a ludicidade de forma complexa é adotar estratégias de intervenções

pedagógica que nos possibilite não apenas oferecer e oportunizar momentos lúdicos, mas

extrair deste tempo substrato que permita interpretar o valor que as pessoas atribuem a estes

momentos.

Quando se fala daquilo que se apresenta como novidade, é que a novidade é

sempre algo que quebra a rotina, cria novas expectativas e possibilita experiências novas.

Inovar a prática pedagógica é o desafio que deveria impulsionar os professores no fazer

cotidiano, para buscar forças interiores, que no dia-a-dia justifiquem a função social que

exercemos. Um professor não precisa ser um recreador, porém, se tiver ou desenvolver esta

capacidade, com certeza, amplia consideravelmente seu repertório de ação.

O lúdico permite também ao professor pensar nas implicações éticas e estéticas

que envolvem a sua formação. O homem, desde que nasce, entra num processo de

humanização dentro da sua cultura, que o torna homem, e esse processo nunca acaba. A

consciência que podemos ter de nós mesmos e do mundo vai sendo criada ao longo de nossas

vidas, sempre podendo ser renovada, pois a cada momento o homem pode comparar-se com

os outros, pode perceber as semelhanças, as diferenças e igualdades que há entre cada um,

desde bebê até sua morte.

Brincar hoje nas escolas poderia ser o instrumento principal da proposta

pedagógica; e talvez ainda hoje isso não ocorra devido à própria formação profissional do

professor que não contempla informações nem vivências a respeito da relevância do brincar

no desenvolvimento infantil.

Para Pires (2006) é preciso que os profissionais da Educação reconheçam o real

Page 53: DISSERTAÇAO FATIMA

52

significado do lúdico para aplicá-lo adequadamente, estabelecendo a relação entre o brincar e

o aprender.

Negrine (1994, p.20) afirma que, em estudos realizados sobre aprendizagem e

desenvolvimento infantil, "quando a criança chega à escola, traz consigo toda uma pré-

história, construída a partir de suas vivências, grande parte delas através da atividade lúdica."

Segundo o autor citado, é fundamental que os professores tenham conhecimento do saber que

a criança construiu na interação com o ambiente familiar e sociocultural, para formular sua

proposta pedagógica.

Entende-se, a partir dos princípios aqui expostos, que o professor deverá

contemplar a brincadeira como princípio norteador das atividades didático-pedagógicas,

possibilitando às manifestações corporais encontrarem significado pela  ludicidade presente

na relação que as crianças mantêm com o mundo.

É necessária uma reflexão sobre a formação docente onde a ética e a estética

compõe estilos de identidade profissional, promovendo uma prática de ensino com

possibilidade de aproveitamento do lúdico na metodologia do fazer docente, dando ênfase,

portanto à formação lúdica que este sujeito possa desenvolver junto às crianças, permitindo

assim um trabalho pedagógico mais envolvente onde “Aprender é apropriar-se da linguagem,

é historiar-se, recordar o passado para despertar-se ao futuro; é deixar-se surpreender pelo já

conhecido. É reconhecer-se, admitir-se. Crê e criar. Arriscar-se a fazer dos sonhos textos

visíveis e possíveis...” e isto “Só será possível quando os professores puderem gerar espaços

de brincar-aprender para seus alunos ao simultaneamente os construírem para si mesmos”

(FERNÁNDEZ 2001).

A adoção de atividades que façam parte da cultura infantil como conteúdo

pedagógico, serão com certeza significativo para a criança. È tornando o movimento

Page 54: DISSERTAÇAO FATIMA

53

significativo, que o professor realizará um trabalho verdadeiramente educativo fazendo com

que a criança tome consciência de sua individualidade, corporeidade e integridade social.

A verdade é que grande maioria das escolas, principalmente às publicas a cada dia

estão mais passivas não cobrando de seus professores que explorem o mundo de

conhecimentos que a criança traz de casa para a escola, estão deixando de desenvolver e

envolver a criança dentro e fora da sala de aula.

É preciso que a escola altere suas formas de conceber o processo de ensino-

aprendizagem, formando e capacitando, permanentemente, os seus professores. Esse não é um

processo linear e continuo que se encaminha a uma única direção, mais um caminho

multifacetado, apresentando paradas, saltos e transformações.

3.1 Como auxiliar os alunos a superar suas dificuldades

O jogo como recurso pedagógico é uma atividade que tem valor educacional

intrínseco, é jogando que o aluno está se educando em todos os setores da vida, a utilização

de jogos educativos no ambiente escolar traz muitas vantagens para o processo de ensino e

aprendizagem, entre elas: O jogo é um impulso natural da criança funcionando assim como

um grande motivador. A criança através do jogo obtém prazer e realiza um esforço

espontâneo e voluntário para atingir o objetivo do jogo.

O jogo mobiliza esquemas mentais: estimula o pensamento, a ordenação de tempo

e espaço, integra várias dimensões da personalidade: afetiva, social, motora e cognitiva,

favorece a aquisição de condutas cognitivas e desenvolvimento de habilidades como

coordenação, destreza, rapidez, força, concentração e outras.

A participação em jogos contribui para a formação de atitudes sociais: respeito

Page 55: DISSERTAÇAO FATIMA

54

mútuo, cooperação, obediência às regras, senso de responsabilidade, senso de justiça,

iniciativa pessoal e grupal. O jogo é uma forma de vínculo que une a vontade e o prazer

durante a realização de uma atividade. O ensino utilizando meios lúdicos cria ambientes

gratificantes e atraentes servindo como estímulo para o desenvolvimento integral da criança

ajudando a superar suas dificuldades.

Além disso, ao brincar, a criança está favorecendo a sua auto-estima, auxiliando

na superação progressiva de suas possíveis frustrações, medos e traumas que as mesmas

possam trazer de acontecimentos do passado.

Ao brincar a criança penetra no mundo dos adultos e passa a vivenciar

experiências que permitem a elas se tornarem aptas a enfrentar situações do seu cotidiano,

construindo e reconstruindo a realidade.

O ser humano é um ser lúdico, e por isso tem necessidade de brincar. O papel da

escola e do educador é proporcionar através do lúdico e do ‘ficcionar’, jogos linguísticos que

ampliem o interesse do aluno à leitura do texto literário, pois o jogo pode auxiliar no ensino

da literatura ajudando-o na sua dificuldade existente. Os jogos possibilitam à criança com

dificuldades de aprendizagem aprender de forma lúdica, num contexto desvinculado da

situação de aprendizagem formal. Facilitam, também, o vínculo terapêutico, fundamental para

que qualquer processo tenha êxito.

É também por meio da aprendizagem do próprio jogo, do domínio das habilidades

e raciocínios utilizados, a criança tem a possibilidade de redimensionar sua relação com as

situações de aprendizagem, com seu desejo de buscar novos conhecimentos. Tem, igualmente,

a oportunidade de lidar com a frustração do não saber, com a alternância entre vitórias e

derrotas. Essas mudanças na percepção de si mesmo e do objeto de conhecimento podem ser

estendidas às situações de aprendizagem formal na medida em que se restabelecem o desejo e

Page 56: DISSERTAÇAO FATIMA

55

a confiança da criança em sua capacidade de aprender.

A escolha dos jogos será definida pelas dificuldades específicas de cada criança e

é nesse momento que se pode lidar com tais dificuldades. Existem jogos que trabalham a

linguagem, como, por exemplo, o ‘jogo da forca’ e ‘palavras cruzadas’. Outros trabalham com

números, como ‘compre bem’ e ‘banco imobiliário’. Outros trazem informações sobre

diversos temas, como ‘perfil’’. Existe, ainda, uma variedade de jogos que exigem estratégia,

domínio espacial, verificação de hipóteses e tomadas de decisões. Os jogos de computador

são muito bons, e a diversidade de temas é inesgotável, variando de jogos de linguagem,

raciocínio, até simulações de realidade.

O lúdico em sala de aula pode ser trabalhado em todas as atividades, pois é uma

maneira de aprender/ensinar que desperta prazer e, dessa forma, a aprendizagem se realiza.

No entanto, o verdadeiro sentido da educação lúdica só estará garantido se o professor estiver

preparado para realizá-lo, tendo conhecimento sobre os fundamentos da mesma. No processo

da educação infantil, o papel do professor é primordial, pois é ele quem cria espaços, oferece

os materiais e participa das brincadeiras, ou seja, media a construção do conhecimento. O

professor é mediador, possibilitando, assim, a aprendizagem de maneira mais criativa e social

possível. Para que o ensino seja possível, é necessário que aluno e professor estejam

engajados no processo, pois ações como dar aulas deveriam ser substituídas por orientar a

aprendizagem do aluno na construção do seu próprio conhecer, como preconiza o

construtivismo, o sociointeracionismo.

O professor, como mediador do processo de aprendizagem, precisa ter consciência

da importância da sua formação permanente, de estar sempre inovando seu fazer pedagógico e

de ter senso crítico e atitude investigativa. Assim, ao inserir a brincadeira em seu projeto

educativo, o professor deve ter claros seus objetivos e consciência da importância de sua ação

Page 57: DISSERTAÇAO FATIMA

56

em relação ao desenvolvimento e à aprendizagem infantil. Cabe ressaltar que, ciente da

importância do brincar para a criança, cabe ao professor oferecer inúmeras oportunidades para

que se torne prazerosa a aprendizagem por meio das brincadeiras. De acordo com Rosamilha

(1979, p. 77),

A criança é, antes de tudo, um ser feito para brincar. O jogo, eis aí um artifício que a natureza encontrou para levar a criança a empregar uma atividade útil ao seu desenvolvimento físico e mental. Usemos um pouco mais esse artifício, coloquemos o ensino mais ao nível da criança, fazendo de seus instintos naturais, aliados e não inimigos.

É importante lembrar que o brincar, na educação infantil, precisa estar

constantemente nas inquietações e reflexões dos educadores. É sempre muito bom que se

auto-avaliem perguntando: Quais os objetivos de tais brincadeiras? Como elas estão sendo

apresentadas às crianças? O que queremos? As crianças estão sendo ouvidas?

Cabe ressaltar que só é possível o educador reconhecer uma criança se nela ele

reconhecer um pouco da criança que já foi e que, de certa forma, ainda existe em si.

Assim, o educador conseguirá redescobrir e reconstruir em si mesmo o gosto pelo

fazer lúdico, buscando em sua bagagem, recente ou não, contribuições para uma

aprendizagem lúdica, prazerosa e significativa. Compete ao profissional da educação infantil

proporcionar aos seus educandos um ambiente rico em atividades lúdicas, já que estas são

responsáveis por um desenvolvimento sadio e harmonioso.

O trabalho a partir da ludicidade abre caminhos para envolver todos numa

proposta interacionista, oportunizando o resgate de cada potencial. A partir daí, cada um pode

desencadear estratégias lúdicas para dinamizar seu trabalho que, certamente, será mais

produtivo, prazeroso e significativo. Para atingir esse fim, é preciso que os educadores

repensem o conteúdo e a sua prática pedagógica, substituindo a rigidez e a passividade pela

vida, pela alegria e pelo entusiasmo de aprender. É muito importante aprender com alegria,

Page 58: DISSERTAÇAO FATIMA

57

com vontade. Snyders (1996, p.36) comenta que “educar é ir em direção à alegria.” A escola

deve ser um lugar gostoso e feliz, para onde a criança tenha vontade de ir.

Sabe-se que a experiência lúdica não pode mudar o mundo, mas é provável que

possa contribuir para as mudança da consciência e impulsos dos homens que podem mudar o

mundo. Se o jogo possui uma certa autonomia em relação a sociedade, esta autonomia se dá a

partir da contradição. E se há autonomia no jogo, em qualquer medida, esta reflete a ausência

de liberdade dos indivíduos numa sociedade com pouca liberdade. A ludicidade é o risco no

mundo “sério”.

Toda pessoa que brinca bem tem clareza de visão, sensibilidade, são entusiastas,

adaptáveis, alegres e encantadoras. São tudo, menos pessoas fragmentadas, e aprender é seu

principal prazer na vida.

Propõe-se, portanto, aos educadores, principalmente, aos de Educação Infantil,

transformar o brincar em trabalho pedagógico para que experimentem, como mediadores, o

verdadeiro significado da aprendizagem com desejo e prazer, pois dentro do trabalho

pedagógico é fundamental a ludicidade, é mais uma possibilidade de compreender o

funcionamento dos processos cognitivos e afetivo sociais da criança e torná-lo um adulto

capaz.

Page 59: DISSERTAÇAO FATIMA

58

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL E ENSINO FUNDAMENTAL FREI TITO

Para a elaboração deste trabalho de pesquisa buscou-se respaldo teórico para a

sustentação das ideias e reflexões desenvolvidas em conceitos elaborados por autores que

abordam esta temática, tais como: Freire (1997), Leontiev (1998), Machado (1966), Masseto

(1992), Negrine (1994) Nóvoa (1995), Piaget (1990, 1993), Rojas (1998), Santos (1997),

Vygotsky (1998; 2001), e outros.

Paralelamente, realizou-se uma pesquisa de campo na Escola de Educação Infantil

e Ensino Fundamental Frei Tito em Fortaleza – CE – Brasil, com a intenção de conhecer

como é realizada a incorporação das atividades lúdicas ao currículo escolar da Educação

Infantil, como essas atividades são desenvolvidas em sala de aula e fora dela e se os

educadores as consideram essenciais ao desenvolvimento mental das crianças e à construção

do conhecimento, bem como à socialização das crianças.

Trata-se de uma pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, cujos dados e

informações serão coletados por meio de entrevistas com professores da Educação Infantil e,

posteriormente, submetidos a uma análise interpretativa, à luz dos autores pesquisados para a

revisão bibliográfica.

Os sujeitos pesquisa foram cinco professoras que atuam nas séries iniciais do

Ensino Fundamental em escola da rede pública de Fortaleza – CE, escola que foi escolhida

por se localizar na área de baixa renda da cidade e atender a um grande número de alunos

desse bairro. A seleção das professoras foi feita a partir de conversa com a coordenadora

pedagógica da escola, momento em que se enfatizou a necessidade de selecionar docentes que

atuassem nos primeiros anos do Ensino fundamental e que realizassem um trabalho

Page 60: DISSERTAÇAO FATIMA

59

diferenciado em sala de aula. Dessa forma, a coordenadora apontou profissionais que realizam

trabalhos dinâmicos e diferenciados, inclusive envolvendo jogos, que concordaram em

colaborar com a pesquisa.

4.1 Análise das respostas dos professores na Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental Frei Tito

A escola pesquisada, instituição pública cuja instituição mantenedora é a

Prefeitura Municipal de Fortaleza, está localizada na Regional II e atende a crianças

residentes em bairros periféricos da cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, as quais

proveem de famílias de baixa renda, com pais, em sua maioria, desescolarizados,

sobrevivendo com rendas familiares quase insignificantes, sendo muitos desempregados com

ganhos eventuais, quando são contratados informalmente para um trabalho esporádico. Assim,

a escola tem acrescidas as suas responsabilidades de educar, instruir e formar, às quais se

soma a tarefa de ajudar a sobreviver.

Apresentam-se, aqui, as respostas das professoras que colaboraram com a

pesquisa, as quais atuam, na Educação Infantil ou Ensino Fundamental do primeira ao quarto

ano, cuja experiência com o trabalho nesses níveis do ensino varia entre nove e vinte e três

anos.

ENTREVISTA 1

A primeira professora entrevistada, identificada aqui como P1, trabalha na escola

pública pesquisada, é formada em Pedagogia, tem curso de especialização nessa área e atua

no magistério há onze anos.

Ao ser indagada sobre qual a importância que atribui às atividades lúdicas para o

desenvolvimento do raciocínio lógico das crianças, respondeu:

Page 61: DISSERTAÇAO FATIMA

60

O lúdico contribui, não só, para o desenvolvimento das crianças, mas também para pessoas em qualquer etapa da vida: crianças, adolescentes e adultos, pois em todas elas as brincadeiras devem estar presentes. Brincar não é coisa apenas de crianças pequenas. A escola erra ao fragmentar sua ação, dividindo o mundo em lados opostos: de um lado o jogo da brincadeira, do sonho, da fantasia e do outro, o mundo sério do trabalho e do estudo. Independente do tipo de vida que se leve, todos adultos, jovens e crianças precisam da brincadeira e, de alguma forma, do jogo, do sonho e da fantasia, para viver. Eu atribuo a importância as atividades lúdicas enquanto fator de desenvolvimento da criança. Entre alguns desses fatores destaca-se: facilitador da aprendizagem; colabora para uma boa saúde mental; desenvolve processos sociais de comunicação de expressão e construção do conhecimento; explorar a criatividade; melhora a conduta e a auto-estima; permite extravasar angústias e paixões, alegrias e tristezas, agressividade e passividade.

Com essas palavras, a professora entrevistada se posicionou contrária à ideia de

que o lúdico seja direcionado, somente, para as crianças, concordando com o recente e tímido

movimento pelo ‘ócio criativo’, que defende a necessidade do adulto trabalhador ter mais

oportunidades e formação para o uso criativo do tempo livre e do lazer, como um direito

social, tal como o adquirido teoricamente pela criança (PRADO, 2008).

Sobre as atividades lúdicas que considera mais contribuírem com a elevação dos

níveis de aprendizagem, a entrevistada referiu:

De inicio tem-se o jogo de exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado seus efeitos em torno dos 2-3 anos e dos 5-6 nota-se a ocorrência dos jogos simbólicos, que satisfazem a necessidade da criança e por consequência vão aumentando de importância de acordo com o progresso do seu desenvolvimento social.Todas as atividades lúdicas criativas ou não contribuem com a aprendizagem, por exemplo: música, poesia com rimas, jogos e brinquedos dos mais variados tipos, historinhas, contos, filmes, recortes, colagens, desenhos, pinturas, dramatização e outros tipos de artes, informática. Como ressaltamos, vale a criatividade.

Por essa resposta, a educadora entrevistada concorda com Almeida (1990), que

propõe repensar a educação lúdica de maneira prazerosa fazendo-se imperiosa a construção

progressiva de estratégias metodológicas.

As atividades realizadas pela professora P1, em sala de aula, para despertar o

interesse e a motivação dos seus alunos por aprender são várias, dentre as quais estão: bingo

de palavras, boliche, quebra-cabeça, dominó com sinônimos e antônimos, alfabeto móvel,

Page 62: DISSERTAÇAO FATIMA

61

trilha, dado, jogo de memória, jogo da velha, forca, fantoches e na quadra: brincadeira de

rosa, amarelinha, esconde-esconde, passa-anel, pega-pega queimada, vôlei, futebol, pular

corda e outras. Todas essas atividades propiciam cooperação, estabelecimento e cumprimento

de regras. Os jogos são interdisciplinares desde que atendam à faixa etária e à necessidade do

aluno.

Indagada se a utilização de brincadeiras em suas aulas tem, realmente,

contribuindo com a melhoria da aprendizagem de seus alunos, P1 respondeu que sempre é

muito satisfatório, porque a criança relaxa, aprende e se interessa, passando a ter mais vontade

e disposição. Para essa entrevistada, as atividades lúdicas estimulam e contribuem com o

desenvolvimento da criança, despertando o espírito de competição levando-os assim a pensar.

ENTREVISTA 2

A professora P2 trabalha em duas escolas da rede pública de ensino, é formada em

Pedagogia com especialização em Orientação Escolar e tem quatorze anos de experiência de

experiência nesse nível do ensino.

Em relação à importância que atribui às atividades lúdicas para o desenvolvimento

do raciocínio lógico das crianças, P2 afirmou que as brincadeiras, aparentemente simples, são

fontes de estímulo ao desenvolvimento cognitivo, social e afetivo da criança, sendo também

uma forma de autoexpressão. Com o faz de conta, a criança pode imaginar, imitar, criar.

Assim, pouco a pouco, elas vão ampliando seu mundo e seu raciocínio lógico.

Essa resposta se adéqua ao pensamento de Almeida (1990, p. 22), segundo o qual:

[...] a educação lúdica integra, na sua essência, uma concepção teórica profunda e uma concepção prática atuante e concreta. Seus objetivos são a estimulação das relações cognitivas, afetivas, verbais, psicomotoras, sociais, a mediação socializadora do conhecimento e a provocação para uma reação ativa, crítica, criativa dos alunos. Eles fazem do ato de educar um compromisso consciente, intencional e modificador da sociedade.

Para P2, as atividades lúdicas que mais contribuem com a elevação dos níveis de

Page 63: DISSERTAÇAO FATIMA

62

aprendizagem são: xadrez, jogo de damas, gincana cultural, brincadeiras como boliche, onde

cada garrafa que ele derrubar responderá uma pergunta, bingo de letras e outras, que são

fatores facilitadores para o aprendizado, pois sentirá prazer em estar participando ao mesmo

tempo que estará se desenvolvendo nas diferentes áreas da Educação.

As atividades que P2 mais realiza em sala de aula para despertar o interesse e a

motivação dos seus alunos por aprender são aquelas que podem ser utilizadas em sala de aula

como:, bingo de palavras, boliche, quebra-cabeça, dominó com sinônimos e antônimos,

alfabeto móvel, trilha, dado, jogo de memória, jogo da velha, forca, fantoches e na quadra:

brincadeira de rosa, amarelinha, esconde-esconde, passa-anel, pega-pega queimada, vôlei,

futebol, pular corda e outra, todas elas propiciam cooperação, estabelecimento e

cumprimento de regras . Entendo que os jogos são interdisciplinares desde que atendam a

faixa etária e a necessidade do aluno.

Na opinião da entrevistada P2, a utilização de brincadeiras em suas aulas tem,

realmente, contribuindo com a melhoria da aprendizagem de seus alunos, pois quando as

crianças jogam ou brincam, passam a ter uma compreensão maior de como o mundo funciona

e de como poderão lidar com ele à sua maneira e possibilidade. As atividades lúdicas

transformam-se em afirmações do que está acontecendo e passam a representar o que as

crianças entendem.

Isso coincide com o pensamento de Benito e Rojas (2009,) segundo o qual, a

prática artística é vivenciada pela criança como atividade lúdica, em que o brincar facilita a

compreensão do mundo cultural e estético.

ENTREVISTA 3

Page 64: DISSERTAÇAO FATIMA

63

A entrevistada P3 é formada em Pedagogia, com de experiência como professora

e, atualmente, atua, também, em uma turma de 2º. ano do Ensino Fundamental em uma

instituição privada e, em outro período, ministra a disciplina Artes para crianças de 2º ao 5º

anos, em outra escola da rede pública.

Sobre a importância das atividades lúdicas para o desenvolvimento do raciocínio

lógico das crianças a entrevistada P3 referiu que, com as atividades lúdicas, as crianças ficam

mais interessadas e aprendem com mais facilidade, pois depositam toda a sua atenção na

atividade. É, por meio da ludicidade, que a criança aprende a conviver, a ganhar e a perder, a

saber esperar sua vez de se manifestar.

As atividades lúdicas que mais contribuem com a elevação dos níveis de

aprendizagem, apontadas por P3, foram: jogos de exercícios, jogos de regras e jogos

simbólicos, pois nos jogos pode-se encontrar respostas, ainda que provisórias para perguntas

que não se sabe responder.

P3 referiu que utiliza, em suas aulas, atividades voltadas a despertar o interesse e a

motivação dos seus alunos por aprender, dentre as quais: jogo da torre, jogo da forca (buga-

buga), dominó com números, baralho de letrinhas e outros.

A entrevistada (P3) referiu que a utilização de brincadeiras em suas aulas tem,

realmente, contribuindo com a melhoria da aprendizagem de seus alunos, pois é pelos jogos e

brincadeiras que a criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e

autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da

concentração, brincar é muito importante, porque enquanto estimula o desenvolvimento

intelectual da criança, também ensina, sem que ela perceba, os hábitos mais necessários a esse

crescimento, como a persistência, tão relevante em todo aprendizado.

Page 65: DISSERTAÇAO FATIMA

64

O pensamento de P3 confirma o que Benito e Rojas (2009), quando referem que,

os educadores devem considerar as novas possibilidades que hoje se impõem ao mundo da

cultura e do conhecimento, que estão exigindo mudanças na forma de ensinar as crianças, que

estão sendo criadas num mundo de realidade virtual e educadas no mundo indiferente às

transformações culturais. É necessário repensar o papel da escola frente a essas novas formas

de relação social e novos hábitos humanos e culturais. Disso decorre a importância do lúdico

na aprendizagem, pois brincar significa aprender a viver, utilizando e brincando com imagens

e símbolos, pois estes levam a pensar. A presença das atividades lúdicas no espaço educativo,

como proposta metodológica, possibilita o entendimento de que a educação não trabalha só

com a racionalidade e que a emoção proporciona à criança um encontro consigo mesma, bem

como uma melhor adaptação com o seu entorno e com todos que, de alguma forma, fazem

parte de seu mundo escolar, social e familiar.

ENTREVISTA 4

A professora P4 exerce essa profissão há nove anos, é formada em Pedagogia com

Especialização em Pedagogia Institucional/Educação Infantil; trabalha, em um período, em

uma 2ª série de escola particular e, no outro, com turmas de 1ª e 4ª séries na rede pública de

ensino.

Essa entrevistada referiu que a importância das atividades lúdicas para o

desenvolvimento do raciocínio lógico das crianças está em fazer acreditar que elas possuem

um grande potencial como fator de aprendizagem, na medida em que, ao desenvolvê-las, a

criança exercita sua plenitude, conforme afirma Luckesi (2000) ao afirmar que a maior

característica da ludicidade é a experiência de plenitude que ela possibilita a quem a vivencia

em seus atos. E argumenta ainda, o autor citado, que isso significa dizer que, na vivência de

uma atividade lúdica, cada pessoa está plena, inteira, utilizando a atenção plena, como

Page 66: DISSERTAÇAO FATIMA

65

definem as tradições sagradas orientais.

Na participação efetiva em uma atividade lúdica, não há lugar, para qualquer outra

coisa além dessa própria atividade. Não há divisão. Nela os participantes apresentam-se

inteiros, plenos, flexíveis, alegres, saudáveis (LUCKESI, 2000). A preocupação do autor

citado é evidenciar a importância que tem para o sujeito, sua formação e desenvolvimento

integrais a realização de atividades lúdicas, não importa a sua idade, meio social ou outras

variáveis.

As atividades lúdicas que mais contribuem com a elevação dos níveis de

aprendizagem, segundo P4, são: jogo gramatical, jogo de expressão oral, parlenda animada,

ditado divertido, boliche matemático e outros.

A entrevistada afirmou que, em suas aulas, sempre utiliza atividades com a

intenção de despertar o interesse e a motivação dos seus alunos por aprender. Nesse sentido,

as mais utilizadas por ela são: jogos, pinturas, desenhos, trabalhos em grupo, colagens,

músicas, dramatizações, brincadeiras de roda e outros.

A entrevistada P4 disse sentir que a utilização de brincadeiras em suas aulas tem,

realmente, contribuindo com a melhoria da aprendizagem de seus alunos, uma vez que, tanto

o jogo como a brincadeira, em si, constituem uma forma de vínculo que une a vontade e o

prazer durante a realização de uma atividade.

ENTREVISTA 5

P5 é professora há vinte e três anos, é licenciada para o magistério do Ensino

Médio e está terminando, atualmente, um curso de Pedagogia. Trabalha, ainda, com duas

turmas, uma de 2º ano e outra de 3º, em outra escola da rede pública.

Page 67: DISSERTAÇAO FATIMA

66

Referindo-se à importância que atribui às atividades lúdicas para o

desenvolvimento do raciocínio lógico das crianças, a entrevistada P5 afirmou que é por meio

das atividades lúdicas que as crianças podem se desenvolver em um ritmo próprio, o

conhecimento e conteúdo, trabalhando de maneira integrada e sistematizada nas diferentes

áreas do conhecimento, de forma prazerosa, ativa e desafiadora.

As atividades lúdicas apontadas pela entrevistada P5, como que mais contribuem

com a elevação dos níveis de aprendizagem dos alunos são todas aquelas em que estiverem

dentro do contexto das disciplinas e forem bem aceitas e entendidas pelos alunos.

A entrevistada aqui referida afirmou que realiza, em sala de aula, atividades

lúdicas que possam despertar o interesse e a motivação dos seus alunos por aprender, como

bingos de palavras, caça-palavras, ditados divertidos, gincanas e outras.

A professora P5 referiu que a utilização de brincadeiras, em suas aulas, tem,

realmente, contribuindo com a melhoria da aprendizagem de seus alunos, até porque é enorme

a influência do brinquedo no desenvolvimento de uma criança, conforme o pensamento de

Piaget (1978) que considera a infância como a fase do brinquedo, do brincar e da brincadeira,

sendo que isso representa, para a criança, o mesmo que o trabalho é para o adulto,

caracterizando-se, dessa forma, como sua principal atividade nessa fase de sua vida. Também

é correto afirmar, que toda criança brinca, independentemente de sua cultura, época, meio ou

classe social.

Constatou-se, pelas entrevistas, que todas as educadoras participantes deste estudo

consideram o lúdico de suma importância para o aprendizado, socialização e formação da

personalidade das crianças, devendo ser utilizado em todos os níveis da Educação Básica,

como instrumento de motivação e estimulação da aprendizagem como um todo.

Page 68: DISSERTAÇAO FATIMA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embasada nos estudos realizados chegou-se à conclusão de que, aprendendo com

a utilização do lúdico, a criança vai construindo uma infinita abertura de possibilidades que

lhe permita se relacionar e conhecer, com legitimidade, o mundo em que vive. Nessa

perspectiva transformadora, aponta-se a necessidade e importância da ação lúdica na escola,

apor se acreditar que todos os alunos, de acordo com suas individualidades e potencialidades,

são criativos, imaginativos. Assim, constatou-se, com a ajuda dos teóricos consultados na

pesquisa bibliográfica, que é possível conquistar o que, muitas vezes, se pensa ser

impossível, utilizando uma linguagem mágica, única e universal que é a linguagem da

brincadeira.

Este trabalho foi desenvolvido com a intenção de mostrar a importância do lúdico

para a socialização, para desenvolver e aprimorar o pensamento da criança, em busca de sua

formação plena, na perspectiva da construção da sua cidadania. Vê-se que o objetivo geral

definido no início desta pesquisa foi alcançado, pelo aprofundamento realizado, a partir da

revisão bibliográfica em autores que tratam do tema abordado.

No desenvolvimento deste estudo teve-se, ainda, a intenção de oferecer aos

professores de Educação Infantil uma melhor visão a respeito do valor dos jogos e

brincadeiras como instrumento facilitador da aprendizagem, essencial ao desenvolvimento das

crianças. Nesse sentido, as brincadeiras e jogos foram referidos, durante todo o percurso da

pesquisa, como fatores favoráveis à construção do conhecimento, da socialização e do

desenvolvimento físico e mental das crianças. Isso comprova que os objetivos específicos

propostos foram plenamente alcançados.

Considera-se que, para uma maior conscientização dos professores, os Cursos de

Page 69: DISSERTAÇAO FATIMA

68

Formação de Professores devem fornecer, aos futuros educadores, conteúdos capazes de

prepará-los para utilizar, habilmente, o lúdico em sala de aula. Para isso, eles precisam

conhecer as diferentes modalidades dos jogos existentes e a suas funções, na Educação

Infantil.

A pesquisa de campo, com professores da escola Publica Frei Tito, comprovou

que nessa escola são realizadas, com as crianças da Educação Infantil, atividades lúdicas no

sentido de despertar o interesse e a motivação dos seus alunos por aprender, recorrendo a

bingos de palavras, caça-palavras, ditados divertidos, gincanas e outras brincadeiras.

A utilização de brincadeiras, nas aulas da escola pesquisada, tem contribuído

significativamente com a melhoria da aprendizagem dos alunos, dada a grande influência do

brinquedo no desenvolvimento pleno da criança, de acordo com as sugestões de Piaget

(1978).

Dada a permanente mutação do mundo e dos modos de conceber o

desenvolvimento da criança e seu processo de construção do conhecimento, considera-se que

o trabalho aqui apresentado não apresenta conceitos prontos, sugerindo aprofundamentos

futuros, em outros níveis de estudo, a fim de que se possa dar uma contribuição mais

significativa à Educação Infantil.

Conclui-se que o papel do pedagogo e do professor é fundamentalmente

importante, na difusão e aplicação dos recursos lúdicos. O professor, ao se conscientizar das

vantagens do lúdico, deverá adequá-lo a determinadas situações de ensino, utilizando-o de

acordo com as necessidades e características das crianças. O pedagogo, como pesquisador,

deverá estar, permanentemente, em busca de ações educativas eficazes, de forma a preparar

plenamente os estudantes.

Page 70: DISSERTAÇAO FATIMA

69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Altamirando Matos. Transferência e Contratransferência erótica. Revista Brasileira de Psicologia, v.30, n.o 4, 1996.

ALMEIDA, W.A. A dicotomia escola-trabalho no contexto de vida do aluno-trabalhador rural precoce. 1990. Tese (Mestrado)–Faculdade de Educação. Universidade Federal do Espírito Santo, Espírito Santo, 1990.

APAES. Ação Pedagógica. Educação Precoce. Pré – escola e escolaridade. O Mundo do Trabalho. 1993 (Col. Educação Especial)

BRASIL. Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil – RCNEIs. Brasília: MEC, 1998.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs. Brasília: MEC, 1997.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº. 9394/96. Brasília: MEC, 1996.

DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. 8ª ed. Tradução: José Carlos Eufrásio São Paulo: Cortez: Brasília, DF: MEC: UNESCO. 2003. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre educação para o século XXI. .

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.

FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 1980.

GOMES, Angela Cristina G. Pré escola e Escolaridade. In: Federação Nacional das

WAJSKOP, Gisela. Brincar na Escola. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1999. 48 v.

KISHIMOTO, T.M. Jogo, brinquedo e a educação. São Paulo: Cortez, 1996.

KISHIMOTO, T. M. O jogo, a criança e a educação. 254 f. Tese (Livre Docência em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992.

KISHIMOTO, Tizuko. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Pualo: Cortez, 1997.

KISHIMOTO, T. M. (Org). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2000

KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 2001.

Page 71: DISSERTAÇAO FATIMA

70

................................ O jogo e a Educação Infantil. In Kishimoto, T. M. (Org). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003, p. 13-43.

LEONTIEV, A.N. Os princípios psicológicos da brincadeira pré-escolar. In: VYGOTSKY, L.S. et al. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1998.

LOPES, Maria da Gloria. Jogos na Educação: Criar, Fazer, Jogar. 4 ed. São Paulo, Cortez, 2001.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Educação, ludicidade e prevenção das neuroses futuras: uma proposta pedagógica a partir da Biossíntese. In: LUCKESI, Cipriano Carlos (org.) Ludopedagogia - Ensaios 1: Educação e Ludicidade. Salvador: Gepel, 2000.

MACEDO, Lino. Ensaios Construtivistas. São Paulo: Casa do psicólogo, 1994.

MIRANDA, Simão de. Do fascínio do jogo à alegria do aprender nas séries inicias. São Paulo: Papirus, 2001.

NEGRINE, A. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Simbolismo e Jogo. Porto Alegre:1994.

NICOLAU, M. L. M. Textos básicos de educação pré-escola. São Paulo: Ática, 1990.

NICOLAU, M. L. M. A educação pré-escolar, fundamentos e didática. 8. Ed. .São Paulo: Ática, 1995.

NÓVOA, Antônio et al. Profissão professor. Coleção ciências da educação. 2. ed. Porto: Porto, 1995.

OLIVEIRA, V. B. (org). O brincar e a criança do nascimento aos 6 anos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

PALANGANA, I. C. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vygotsky: a relevância do social. São Paulo: Plexus, 1994.

PIAGET, Jean. O raciocínio na criança. Rio de Janeiro: Real, 1967.

PIAGET, J. Fazer e compreender. São Paulo: Melhoramentos 1978.

PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. 2. ed., Rio de Janeiro: Zahar, 1990.

PIAGET, J. A Construção do Real na Criança. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1993.

Page 72: DISSERTAÇAO FATIMA

71

PIRES, Sandra Regina de Abreu. Serviço Social: função educativa e abordagem individual. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP, São Paulo, 2003.

RODRIGUES, Rejane. Brincalhão: uma brinquedoteca itinerante. (Org). Petrópolis: Vozes, 2000.

ROJAS, J. A Interdisciplinaridade na ação didática: momento de arte/magia do SER professor. São Paulo: 1998.

SILVA, L. S. P. Os jogos infantis no currículo da pré-escola e seus aspectos culturais. Revista Psicopedagogia. V. 18. 1999.

SNYDERS, Georges. Alunos felizes: reflexão sobre a alegria na escola a partir de textos literários. 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

SNYDERS, George. A Alegria na escola. São Paulo: Editora Manole LDTA, 1988.

VELASCO, Cacilda Gonçalves. Brincar, o despertar psicomotor. Rio de Janeiro: Sprint Editora, 1996.

VYGOTSKY, Lev Semenovich (Vigotski). A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. M. Cole e outros (Orgs.). São Paulo: Martins Fontes, 1984.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. 6. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1988.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 3ª.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 168p. (Coleção Psicologia e Pedagogia. Nova Série).

VIGOTSKI, L.S. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. VYGOTSKY, L.S. Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

WAJSKOP, Gisela. Brincar na pré-escola. 3 edição. São Paulo: Editora Cortez, V. 48, 1999.

WINNICOTT, Donald Woods. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

Page 73: DISSERTAÇAO FATIMA

72

APÊNDICE

Page 74: DISSERTAÇAO FATIMA

73

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM

PROFESSORES DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL FREI TITO

Escola:_ ____________________________________________________

Professor: ___________________________________________________

1º - Qual a sua formação?

____________________________________________________________

2º - Qual a importância que você atribui às atividades lúdicas para o desenvolvimento do

raciocínio lógico das crianças?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3º - Que atividades lúdicas você acha que mais contribuem com a elevação dos níveis de

aprendizagem?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4º - Quais as atividades que você realiza em sala de aula para despertar o interesse e a

motivação dos seus alunos por aprender?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

5º - Que sugestões você oferece aos demais professores de Educação infantil para melhorar os

índices de atenção e motivação dos alunos?

___________________________________________________________________________

Page 75: DISSERTAÇAO FATIMA

74

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6º - Você sente que a utilização de brincadeiras em suas aulas tem, realmente, contribuindo

com a melhoria da aprendizagem de seus alunos?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________