dissertacao giuliano hippertt

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO MESTRADO PROFISSIONAL DE SISTEMA DE GESTÃO GIULIANO ORLANDO HIPPERTT PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA IDENTIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIAS COM FOCO NA MELHORIA DO DESEMPENHO AMBIENTAL. O CASO DO SEGMENTO DE REFINO E TRANSPORTE DE PETRÓLEO E DERIVADOS Niterói 2011

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Page 1: Dissertacao Giuliano Hippertt

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO

MESTRADO PROFISSIONAL DE SISTEMA DE GESTÃO

GIULIANO ORLANDO HIPPERTT

PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA IDENTIFICAÇÃO DE COMPET ÊNCIAS COM FOCO NA MELHORIA DO DESEMPENHO AMBIENTAL. O CASO DO

SEGMENTO DE REFINO E TRANSPORTE DE PETRÓLEO E DERIV ADOS

Niterói 2011

Page 2: Dissertacao Giuliano Hippertt

GIULIANO ORLANDO HIPPERTT

PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA IDENTIFICAÇÃO DE COMPET ÊNCIAS COM FOCO NA MELHORIA DO DESEMPENHO AMBIENTAL. O CASO DO

SEGMENTO DE REFINO E TRANSPORTE DE PETRÓLEO E DERIV ADOS

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Universidade Federal Fluminense - UFF, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sistemas de Gestão.

Orientador: Prof. Osvaldo L. G. Quelhas, D. Sc.

Niterói 2011

Page 3: Dissertacao Giuliano Hippertt

GIULIANO ORLANDO HIPPERTT

PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA IDENTIFICAÇÃO DE COMPET ÊNCIAS COM FOCO NA MELHORIA DO DESEMPENHO AMBIENTAL. O CASO DO

SEGMENTO DE REFINO E TRANSPORTE DE PETRÓLEO E DERIV ADOS

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Universidade Federal Fluminense - UFF, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sistemas de Gestão.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Prof. Osvaldo L. G. Quelhas, D. Sc. Universidade Federal Fluminense – UFF

___________________________________________

Universidade

___________________________________________ .

Universidade

Page 4: Dissertacao Giuliano Hippertt

Dedico este trabalho

Às grandes patrocinadoras desta iniciativa na companhia pesquisada, Cintia, Lucia e

Venina, e aos amigos da competente equipe de Desenvolvimento de Recursos Humanos.

Dedico esta conquista aos meus pais Antonia e Joseph, pelo apoio e dedicação incondicionais,

ao meu irmão Whalton, eterno companheiro e, à Christelle, grande fonte de inspiração.

Page 5: Dissertacao Giuliano Hippertt

AGRADECIMENTOS

Às instituições e pessoas que colaboraram de alguma maneira para a realização deste

curso:

Á Petrobras, pelo patrocínio a esta pesquisa.

Ao Programa de Pós-graduação em Sistemas de Gestão da UFF que, através de seus

professores e funcionários, contribuiu para a transformação da minha carreira.

Ao Prof. Osvaldo Quelhas, pelas relevantes orientações.

Page 6: Dissertacao Giuliano Hippertt

RESUMO

O objetivo desta pesquisa é desenvolver proposta de diretrizes para identificação de

competências organizacionais com foco na melhoria do desempenho ambiental, dado que os

fatores humanos têm sido cada vez mais reconhecidos como base de sustentação deste

desempenho. O caso analisado é o do segmento de refino e transporte de petróleo e derivados.

O método utilizado é essencialmente constituído por revisão bibliográfica e pesquisa de

campo, incluindo a aplicação de questionário junto a 18 especialistas com experiência e

qualificação em gestão ambiental voltada especificamente para o refino e transporte de

petróleo e derivados no Brasil. Por meio da revisão bibliográfica foram confirmadas as

hipóteses formuladas, indicando que determinadas competências sustentam o desempenho

ambiental. A partir da identificação de 29 competências para o caso estudado, a pesquisa de

campo respondeu à questão central estabelecida, atendendo aos objetivos da pesquisa por

meio da proposição de diretrizes gerais para tal. As competências foram validadas e

hierarquizadas considerando-se as frequências e as médias das respostas obtidas. Estas

competências estão dispersas transversalmente ao longo de diversos setores da organização.

No nível tático está a maior parte das competências (51,7%). A maior média de importância

(8,89) foi verificada em "Otimizar desempenho e eficiência do parque de refino", diretamente

relacionada aos principais indicadores ambientais do refino e transporte, que tendem a

influenciar a percepção da importância das competências na organização estudada. Com

exceção das competências de gestão ligadas ao estabelecimento de políticas, ao licenciamento

e às certificações ambientais, as dez competências consideradas mais importantes estão

relacionadas às operações e tecnologias destinadas ao processo-fim da empresa pesquisada.

Apesar da representatividade desta empresa no segmento pesquisado, o fato de apenas uma

organização ter sido estudada caracteriza uma limitação desta pesquisa. Espera-se fornecer

referenciais para o desenvolvimento de programas de educação ambiental voltados para esta

indústria em acelerada expansão no Brasil.

Palavras-chave: Engenharia da Sustentabilidade. Gestão Ambiental. Desenvolvimento de

Competências. Educação Ambiental.

Page 7: Dissertacao Giuliano Hippertt

ABSTRACT

The objective of this research is to develop proposed guidelines for identifying organizational

competences with a focus on improving environmental performance, given that human factors

has been increasingly recognized as a basis for sustaining this performance. The case

analyzed is the segment of the refining and transportation of oil and derivatives. The method

used is essentially constituted by literature review and field research, including the application

of questionnaires to 18 experts with experience and expertise in environmental management

geared specifically for the refining and transportation of oil products in Brazil. Through the

literature review hypotheses were confirmed, indicating that some skills underpin the

environmental performance. From the identification of 29 competencies for this case, a field

research was established answering the research question, accomplishing the research

objectives by proposing expected general guidelines. The competencies were validated and

prioritized considering the frequencies and mean responses. These competences are spread

across various sectors throughout the organization. At the tactical level are most of the

competences (51.7%). The highest average importance (8.89) was seen in "Optimizing

performance and efficiency of refining capacity", directly related to key environmental

indicators from the refining and transportation, which tend to influence the perception of

which competences are most important in the organization studied. With the exception of

management competences related to the establishment of policies, licensing and

environmental certifications, the ten most important competences considered are related to the

operations and technologies aimed at the process-end of the company surveyed. Although the

representative of this company in the segment studied, the fact that only one organization has

been studied limits this research. It is expected that the results of this work could provide

references for the development of environmental education programs for this rapidly

expanding industry in Brazil.

Keywords: Sustainability Engineering. Environmental Management. Capacity Development.

Environmental Education.

Page 8: Dissertacao Giuliano Hippertt

LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Classificação das principais pesquisas de medição do desempenho ambiental ....22 Tabela 02: Tabela de desempenho ambiental..........................................................................58

Page 9: Dissertacao Giuliano Hippertt

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Produção acadêmica sobre “desenvolvimento de competências”...........................18

Figura 02: Produção acadêmica sobre “educação ambiental”..................................................18

Figura 03: Relação objetivo/questão da pesquisa/ tópicos do capítulo ....................................21

Figura 04: Comparação Gscore com o GRI e ISO 14031 ........................................................23

Figura 05: Ciclo para o desenvolvimento de capacidades........................................................38

Figura 06: Fluxo da estratégia de pesquisa...............................................................................48

Figura 07: Funções dos participantes na organização..............................................................53

Figura 08: Áreas de formação acadêmica dos participantes da pesquisa .................................54

Figura 09: Percentual de participantes da pesquisa com pós-graduação..................................54

Figura 10: Experiência em gestão ambiental dos participantes da pesquisa ............................55

Figura 11: Macroprocessos de negócio com seleção do segmento estudado...........................57

Figura 12: Macroprocessos de suporte .....................................................................................57

Figura 13: Macroprocessos de gestão.......................................................................................57

Page 10: Dissertacao Giuliano Hippertt

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Frequências de respostas por competências consolidadas por nível .....................65

Gráfico 02: Médias e erros padrão dos níveis de importância por nível organizacional..........67

Gráfico 03: Ranking geral de importância das competências...................................................69

Page 11: Dissertacao Giuliano Hippertt

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BS 7750 British Standards Institution – BSI – Sistemas de Gestão Ambiental

FIESP Federação das Indústrias do Estado de SãoPaulo

GRI

GRH

Global Reporting Initiative

Gestão de Recursos Humanos

ISO International Organization for Standardization

ISO 14001 International Organization for Standardization – Sistemas de Gestão

Ambiental

ONU Organização das Nações Unidas

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PNUD

RH

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

Recursos Humanos

SGA Sistema de Gestão Ambiental

SMS Segurança, Meio Ambiente e Saúde

T&D Treinamento e Desenvolvimento

Page 12: Dissertacao Giuliano Hippertt

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO: demanda por sustentabilidade organizacional ...................................13

1.1 CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS PARA MELHORIA

DO DESEMPENHO AMBIENTAL..................................................................................13

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA: fatores humanos no desempenho ambiental ...........15

1.3 OBJETIVO.........................................................................................................................16

1.3.1 Objetivos específicos......................................................................................................16

1.4 DELIMITAÇÃO ................................................................................................................16

1.5 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO .......................................................................................17

1.6 QUESTÕES DE PESQUISA .............................................................................................19

1.7 HIPÓTESES DE PESQUISA.............................................................................................19

1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO .......................................................................................20

2 REVISÃO DA LITERATURA ..........................................................................................21

2.1 DESEMPENHO AMBIENTAL EMPRESARIAL............................................................21

2.2 INFLUÊNCIA DOS FATORES HUMANOS NO DESEMPENHO AMBIENTAL........27

2.3 DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS...............................................................35

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA REVISÃO DE LITERATURA....................................43

3 MÉTODO DE PESQUISA .................................................................................................47

3.1 ESTRUTURA METODOLÓGICA ...................................................................................47

3.2 PROCESSO DE ANÁLISE DOS RESULTADOS ...........................................................48

3.2.1 Etapa da Revisão da Literatura ...................................................................................48

3.2.2 Etapa da Análise Documental ......................................................................................48

3.2.3 Etapa da Pesquisa de Campo .......................................................................................49

3.3 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DA PESQUISA .................................................52

4 PESQUISA DE CAMPO ....................................................................................................56

4.1 A ORGANIZAÇÃO ESTUDADA ....................................................................................56

4.2 DADOS OBTIDOS: COMPETÊNCIAS QUE SUSTENTAM O DESEMPENHO

AMBIENTAL DO REFINO E TRANSPORTE DE PETRÓLEO E DERIVADOS.........61

4.3 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................................700

Page 13: Dissertacao Giuliano Hippertt

4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA PESQUISA DE CAMPO.............................................75

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................77

5.1 CONCLUSÃO....................................................................................................................77

5.2 SUGESTOES DE NOVAS PESQUISAS ..........................................................................80

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................81

APÊNDICE ..........................................................................................................................88

ANEXOS ..............................................................................................................................91

Page 14: Dissertacao Giuliano Hippertt

13

1. INTRODUÇÃO: demanda por sustentabilidade organizacional

1.1 CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS PARA MELHORIA

DO DESEMPENHO AMBIENTAL

Marques, Brey e Elliott (2009) afirmam que uma preocupação geral com o meio

ambiente deu origem, há aproximadamente duas décadas, ao surgimento da ideia de

desenvolvimento sustentável.

Uma definição de desenvolvimento sustentável amplamente disseminada é: “o

desenvolvimento que satisfaz necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de as

gerações futuras satisfazerem as suas” (BRUNDTLAND, 1987).

No campo empresarial, Brunacci e Philippi Jr. (2005) argumentam que a era de

conquistar o desenvolvimento econômico sem qualquer restrição e à custa de prejuízos

ambientais já não permanece. Entretanto, persiste em algumas culturas organizacionais.

O relatório da comissão de Brundtland (1987) menciona que a “organização social”

juntamente com a tecnologia são duas áreas-chave para se alcançar uma forma de

desenvolvimento sustentável.

Nesta linha, a produção mais limpa requer novas atitudes, conhecimentos e

habilidades para todos os profissionais, a fim de garantir que estratégias de prevenção

ambiental sejam integradas ao planejamento e desenvolvimento de atividades em toda a

sociedade (UNNIKRISHNAN E HEDGE, 2007).

Assim, a capacidade de um país para seguir caminhos rumo ao desenvolvimento

sustentável é determinada em grande medida pela capacidade do seu povo e suas instituições,

bem como por suas condições ecológicas e geográficas (AGENDA 21, 1992).

A construção de capacidades de um país inclui as capacidades humanas, científicas,

tecnológicas, organizacionais, institucionais e de recursos (AGENDA 21, 1992).

Segundo Javidan (1998), o termo “capacidade” refere-se às habilidades da organização

para explorar os seus recursos físicos, humanos e organizacionais, consistindo de um conjunto

de processos e rotinas que gerenciam as interações entre eles.

A “capacidade” muitas vezes é compreendida como habilidade, formação ou uma

etapa anterior à da competência (BITENCOURT, 2009) e, a “competência” é tida como o

Page 15: Dissertacao Giuliano Hippertt

14

desdobramento dessas capacidades em ações práticas nas atividades organizacionais

(BITENCOURT, 2009).

O “desenvolvimento de capacidades” é definido como um processo pelo qual

indivíduos, organizações e sociedades obtêm, fortalecem e mantêm a capacidade de definir e

atingir os seus próprios objetivos de desenvolvimento ao longo do tempo (PNUD, 2009).

Como parte integrante deste desenvolvimento, Perron, Raymond e Duffy (2006)

destacam que a importância da educação ambiental e das ações de sensibilização nas

organizações tem sido bem estabelecida na literatura. Os funcionários devem ser levados a

compreender como eles podem contribuir para os esforços de sustentabilidade aprovados pela

organização.

Uma estratégia eficaz, para um melhor desempenho ambiental, exige que todos os

empregados de uma organização tenham conhecimento dos sistemas naturais e seu

funcionamento, bem como compreender os seus efeitos sobre o desempenho do negócio. Essa

compreensão permite aos funcionários participar e melhorar o desempenho da gestão

ambiental (PERRON, RAYMOND E DUFFY, 2006).

Para especificar um recorte deste cenário para o caso a ser estudado neste trabalho, são

analisadas atividades da indústria do petróleo, em função de sua relevância para a questão

ambiental. Estas atividades envolvem etapas de exploração, perfuração, produção, transporte,

refino e distribuição, com potenciais de causar uma série de impactos ao meio ambiente

(SILVA, 1996), sejam estes diretos ou indiretos. O objeto deste trabalho é o refino e

transporte de petróleo e derivados e o foco é a identificação de competências para melhoria do

desempenho ambiental.

Mariano (2001) afirma que a indústria de refino de petróleo pode ser e, muitas vezes, é

uma grande degradadora do meio ambiente, pois tem potencial para afetá-lo em todos os

níveis: ar, água, solo e, consequentemente, a todos os seres vivos que habitam o planeta. Além

do refino, o transporte de petróleo e derivados no Brasil, essencialmente marítimo, pode

causar sérios impactos ambientais (SILVA, 2004).

Neste contexto, este trabalho se fundamenta em pesquisa bibliográfica e de campo

para relacionar o desenvolvimento de competências à melhoria do desempenho ambiental do

refino e transporte de petróleo e derivados, buscando identificar estas competências e suas

importâncias relativas.

Page 16: Dissertacao Giuliano Hippertt

15

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Apesar do grande número de empresas que introduziram vários sistemas de gestão

ambiental, objetivando melhorar o desempenho ambiental, o sucesso não tem sido universal

(PERRON; RAYMOND; DUFFY, 2006).

A história recente da gestão ambiental demonstra forte concentração nos fatores mais

processuais e tecnológicos, enquanto, constata-se uma lacuna na gestão dos fatores humanos

correlacionados (WEHRMEYER, 1996).

A interação entre as práticas de gestão de recursos humanos em geral e a gestão

ambiental não é apenas teórica; entretanto, é escassa no contexto organizacional (JABBOUR;

SANTOS, NAGANO, 2008).

A aplicação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) não pode ser suficiente para

garantir a melhoria do desempenho ambiental de uma organização. Uma nova filosofia deve

ser estabelecida na capacidade de identificar e analisar os elementos críticos da gestão, definir

ações corretivas adequadas e realizar efetivamente o que está planejado (IRALDO; TESTA;

FREY, 2009).

Os fatores humanos, dentre eles o desenvolvimento de competências, o treinamento e

a conscientização dos empregados são parte integrante do processo de implantação de

sistemas de gestão ambiental, instrumento diretamente relacionado ao desempenho ambiental.

Os funcionários devem ser levados a compreender como eles podem contribuir para os

esforços de sustentabilidade aprovados pela organização (PERRON; RAYMOND; DUFFY,

2006).

Neste contexto, o estabelecimento de diretrizes para a identificação de competências,

particularmente relacionadas ao desempenho ambiental das organizações, constitui o

problema central desta pesquisa.

Page 17: Dissertacao Giuliano Hippertt

16

1.3 OBJETIVO

O objetivo geral desta pesquisa é desenvolver diretrizes para a identificação de competências

com foco na melhoria do desempenho ambiental do refino e transporte de petróleo e

derivados.

1.3.1 Objetivos específicos

• Analisar conceitos e fundamentos teóricos inerentes ao desenvolvimento de

competências para a melhoria do desempenho ambiental.

• Hierarquizar as competências identificadas pelo nível de importância para o

desempenho ambiental no segmento pesquisado.

• Disponibilizar referenciais para o desenvolvimento de programas de educação

ambiental no segmento pesquisado.

1.4 DELIMITAÇÃO

O levantamento de dados para a pesquisa, tanto para a etapa de análise documental

quanto para a etapa de pesquisa de campo, ocorre no período de 01/06/2009 a 15/08/2011, no

Brasil. A análise de documentos é complementada por relatórios internos de 2009/2010

disponibilizados ao pesquisador pela organização abordada no estudo de caso, que atua no

refino e transporte de petróleo e derivados no Brasil.

Page 18: Dissertacao Giuliano Hippertt

17

1.5 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

O presente trabalho pretende trazer contribuições para o debate relacionado às

competências que impactam o desempenho ambiental das organizações que atuam no refino e

transporte de petróleo e derivados, setor com alto potencial de risco e de impacto no meio

ambiente (MARIANO, 2001).

A pesquisa justifica-se pela baixa interatividade existente entre a gestão ambiental e a

gestão de pessoas na realidade das organizações (JABBOUR; SANTOS, 2006).

Como principal resultado desta pesquisa, pretende-se disponibilizar uma visão

integrada das competências que sustentam a melhoria do desempenho ambiental do segmento

pesquisado.

Espera-se que as análises provenientes deste trabalho disponibilizem diretrizes para a

identificação de competências com esta finalidade e referências para a pesquisa acadêmica

neste campo. Espera-se que estes insumos possam contribuir para a estruturação ou adaptação

de programas de treinamento e formação de profissionais para a indústria de petróleo, com

foco na melhoria do desempenho ambiental, dentre outras aplicações profissionais.

Uma pesquisa exploratória realizada na Internet em dezembro de 2010, na base de

dados Scopus, permitiu identificar o volume da produção de conhecimento acadêmico sobre

“desenvolvimento de competências” e “educação ambiental”, bem como verificar a baixa

quantidade de produções específicas para a indústria do petróleo.

Na consulta foram utilizados os termos em inglês para aumentar a amplitude da

pesquisa para outros países.

O termo “educação ambiental” foi pesquisado por sua relevância para o

desenvolvimento de competências com foco na questão ambiental (UNNIKRISHNAN E

HEDGE, 2007).

Identifica-se, na base Scopus, o registro de 590 artigos para o tema “competence

development”, com 24 (4%) relacionados ao termo “ambiental” e apenas 8 (1,3%)

relacionados a “petróleo”. Para educação ambiental, o cadastro é de 2.889 artigos, com apenas

21 (0,7%) relacionados a “petróleo”.

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18

Produção acadêmica sobre "Desenvolvimento de Compet ências" na Base de Dados Scopus

2 2 2 1 2 14

1 2 0 2 1 30 1 2 1 30

4 58

48 7 8

16 131415

2530

2227

3234

4459 5760

68

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1970

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

2010

Ano

Pub

licaç

ões

Figura 01: Produção acadêmica sobre “desenvolvimento de competências” Fonte: Elaborada pelo autor a partir de dados consultados no na base Scopus em 20/12/2010

Produção acadêmica sobre "Educação Ambiental" na Ba se de Dados Scopus

307317

177171

124132

177108105

111111

8779908975

454530312324272924

3946384143313525

6751213

3421

0

50

100

150

200

250

300

350

2009

2007

2005

2003

2001

1999

1997

1995

1993

1991

1989

1987

1985

1983

1981

1979

1977

1975

1973

1971

1968

Ano

Pub

licaç

ões

Figura 02: Produção acadêmica sobre “educação ambiental”

Fonte: Elaborada pelo autor a partir de dados consultados no na base Scopus em 20/12/2010

Este levantamento específico indica, portanto, a crescente relevância dos estudos

relacionados ao desenvolvimento de competências e à educação ambiental, ao mesmo tempo

em que aponta uma escassez de literatura específica destes temas, para o segmento

pesquisado, nesta base de dados. Isto reforça a necessidade de ampliação da produção

acadêmica nesta área.

Page 20: Dissertacao Giuliano Hippertt

19

1.6 QUESTÕES DE PESQUISA

A questão central desta pesquisa é responder à seguinte questão:

Quais competências sustentam a melhoria do desempenho ambiental organizacional

do refino e transporte de petróleo e derivados?

Neste estudo a questão central pode ser desdobrada em:

• Quais as competências que sustentam a melhoria do desempenho ambiental do

refino e transporte de petróleo e derivados?

• Quais são relativamente mais importantes para o desempenho ambiental do

segmento pesquisado?

1.7 HIPÓTESES DE PESQUISA

Definido o problema, o passo seguinte é a formulação de hipóteses que poderiam

resolvê-lo e que, ainda, sirvam para orientar as etapas subsequentes do projeto de pesquisa

(LEEDY, 2000). Sendo assim, duas hipóteses foram formuladas para responder à questão

central da pesquisa e alcançar os objetivos propostos.

• Hipótese 1: considera-se estratégico, para a organização contemporânea, o alcance

de níveis excelentes de desempenho ambiental, favorecendo o atendimento a

requisitos legais e à competitividade.

• Hipótese 2: o desempenho ambiental organizacional é sustentado por

competências organizacionais, individuais e coletivas.

Page 21: Dissertacao Giuliano Hippertt

20

1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Este trabalho está estruturado em cinco capítulos apresentados conforme descrição a

seguir:

Introdução: Contextualiza o debate sobre desenvolvimento sustentável, apresentando a

relevância do desenvolvimento de competências para o avanço deste tema. São apresentados,

ainda, a situação-problema, os objetivos, as questões da pesquisa, as hipóteses, a delimitação

e a justificativa do estudo

Capítulo 1 - Revisão da Literatura: Apresenta uma revisão da literatura sobre

desempenho ambiental, apresentando sua inter-relação com a gestão ambiental; sobre os

fatores humanos que influenciam o desempenho ambiental, relacionando-os com a gestão de

recursos humanos; e finalmente, sobre desenvolvimento de competências.

Capítulo 2 - Metodologia da Pesquisa: Apresenta a forma e o método utilizado na

pesquisa, descrevendo os meios utilizados para obtenção dos resultados, os métodos e

instrumentos da pesquisa, o tamanho e o tratamento das amostras.

Capítulo 3 - Análise dos dados: Apresenta a análise dos dados oriundos do trabalho de

campo, apresentando as competências identificadas e trazendo contribuições para o debate

atual relacionado ao desempenho ambiental do segmento pesquisado, além dos métodos e

premissas adotadas.

Conclusão: Apresenta conclusões com base nas análises realizadas e sugere caminhos

para novas pesquisas na área.

Page 22: Dissertacao Giuliano Hippertt

21

2 REVISÃO DA LITERATURA

A seguir é apresentado um fluxo que estabelece uma relação entre o objetivo, a

questão de pesquisa e os principais tópicos abordados neste capitulo:

Figura 03: Relação objetivo/questão da pesquisa/ tópicos do capítulo

2.1 DESEMPENHO AMBIENTAL EMPRESARIAL

Jung et al. (2001) afirmam que o desempenho ambiental empresarial é dado pela

relação entre a organização e o meio ambiente. Pode ser medido por meio da qualidade de seu

sistema de gestão ambiental, da gestão dos insumos e saídas (desejáveis e não desejáveis) dos

processos, do nível de inovação das operações para torná-las mais limpas, associados aos

resultados financeiros e não financeiros.

Page 23: Dissertacao Giuliano Hippertt

22

O desempenho ambiental de uma indústria não pode ser quantificado de forma

absoluta, tendo em vista a diversificada relação que existe entre a atividade industrial e o meio

ambiente. Este é, simultaneamente, fonte de matéria-prima, energia, água e outros insumos,

além de ser o depositário dos resíduos e efluentes que dela saem e onde ocorrem os impactos,

positivos ou negativos, sobre os diversos fatores ambientais (FIESP, 2011).

De acordo com o relatório Supply chain decarbonization, elaborado pelo World

Economic Fórum (2009), a atividade humana gera anualmente gases de efeito estufa na ordem

de cerca de 50.000 toneladas de CO2. Estima-se que cerca de 2.800 mega toneladas – ou 5,5%

deste total – sejam provenientes do setor de logística e transporte.

Jung et al. (2001) verificam inconsistências metodológicas entre medições e

avaliações de desempenho ambiental, alertando para o risco de inibição do progresso de

pesquisas e comparações objetivas que isso representa.

O desempenho ambiental è verificado não no nível departamental, mas no

organizacional, o que permite o controle do progresso, mas ainda deixa em aberto o desafio da

responsabilização (WEHRMEYER, 1996).

Segundo Jung et al. (2001) existem cinco abordagens principais para avaliação do

desempenho ambiental. São elas:

• responsabilidade social / prestação de contas;

• viabilidade dos negócios;

• gestão, contabilidade / medição de desempenho;

• mudança organizacional; e

• outras.

Jung et al. (2001) apresentam, ainda, uma classificação das principais pesquisas

relacionadas à mensuração do desempenho ambiental e propõem um quadro agregado de

desempenho denominado Gscore, comparando-o com os modelos GRI e ISO 14031.

Pesquisa Classificação

JAMES Impacto, risco, emissões / resíduos, entrada de recursos, eficiência, cliente, medidas financeiras.

NRTEE (1) Índice de produtividade dos recursos, (2) índice de liberação de tóxicos; (3) Custos de produtos e eliminação com relação à durabilidade.

DITZ e RANGANATHAN

(1) Utilização de material, (2) Consumo de energia, (3) Saída de não-produtos; (4) liberação de poluentes.

ILINITCH et al. (1) Sistemas organizacionais, (2) relações com partes interessadas, (3) conformidade regulatória; (4) impactos ambientais.

Page 24: Dissertacao Giuliano Hippertt

23

WELLS et al. Melhoria do processo, resultados ambientais, satisfação do cliente.

ISO 14031 Indicador de Desempenho Ambiental (IDA), indicador da condição ambiental (ICA): o IDA é dividido novamente no indicador de gestão de desempenho (IDG) e indicador de desempenho operacional (IDO).

KPMG Medida do impacto, medida do contribuinte.

GRI Energia, materiais, água, emissões / efluentes / resíduos, transporte, fornecedores, produtos e serviços, uso do solo / biodiversidade, cumprimento.

Tabela 01: Classificação das principais pesquisas de medição do desempenho ambiental Fonte: Jung et al. (2001)

Figura 04: Comparação Gscore com o GRI e ISO 14031 Fonte: Adaptado de Jung et al. (2001)

As diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI, 2011) definem que os indicadores

essenciais para a elaboração de um relatório de sustentabilidade são aqueles de interesse da

maior parte dos stakeholders. Estes indicadores são agrupados por categorias, contemplando

diferentes aspectos do desempenho e sua divulgação destina-se a demonstrar a abordagem da

Page 25: Dissertacao Giuliano Hippertt

24

organização para gerir os temas de sustentabilidade, associados com seus riscos e

oportunidades.

As categorias propostas pelo GRI (2011) são: Ambiental, Direitos Humanos, Práticas

Trabalhistas e Trabalho Decente, Sociedade, Responsabilidade pelo produto e Econômica.

Os aspectos e respectivos indicadores essenciais da categoria ambiental são: Materiais

(Materiais usados por peso ou volume), Energia (Consumo de energia), Água (Retirada de

água por fonte), Biodiversidade (Área possuída; Impactos significativos na biodiversidade),

Emissões, Efluentes e Resíduos (Emissões de gases nocivos; qualidade dos descartes;

derramamentos; disposição dos resíduos), Produtos e Serviços (iniciativas para mitigar

impactos e a extensão da redução; recuperação de produtos e embalagens), Conformidade

(Valor monetário de multas e sanções não monetárias resultantes da não conformidade com

leis e regulamentos) (GRI, 2011).

Analisando-se cadeias de suprimento inteiras, empresas focais das cadeias de

suprimento podem ser consideradas responsáveis pelo desempenho ambiental e social de seus

fornecedores. Responsáveis pelas operações, compras e gestão da cadeia de suprimento têm

visto a integração das questões ambientais e sociais, em suas tarefas diárias (SEURING;

MÜLLER, 2008).

A análise do ciclo de vida deve ser realizada sobre os materiais de entrada e produtos.

Mudanças nos insumos podem reduzir resíduos do processo, mas também podem

aumentar ou diminuir impactos ambientais associados à produção e à entrega de materiais de

entrada. Uma abordagem equilibrada e integrada do processo industrial deve ser empregada

(UNNIKRISHNAN E HEDGE, 2007).

Para Handfield et al. (2004 apud DARNALL; HENRIQUES; SADORSKY, 2008),

ações de gestão ambiental, estendidas à cadeia de suprimentos, têm o potencial para reduzir os

impactos ambientais diretos (resíduos do armazenamento, processamento, transporte,

utilização ou eliminação) e indiretos (resíduos gerados por fornecedores a montante que

produzem os insumos utilizados no processo de produção) do produto final de uma

organização.

As práticas de gestão sustentável da cadeia de suprimentos podem também se estender

à cadeia de valor (do fornecedor ao consumidor), quando as organizações informam aos

consumidores maneiras de reduzir seus impactos no ambiente natural (HANDFIELD et al.,

2004 apud DARNALL; HENRIQUES; SADORSKY, 2008).

Darnall, Henriques e Sadorsky (2008) afirmam que diversos pesquisadores estudaram

a relação entre o SGA e a melhoria do desempenho ambiental (KHANNA, ANTON, 2002;

Page 26: Dissertacao Giuliano Hippertt

25

POTOSKI, PRAKASH, 2005; KING et al., 2005) e avaliaram as motivações para a adoção do

Sistema de Gestão Ambiental (por exemplo, POTOSKI, PRAKAHS, 2005 b; KING et al.,

2005; DARNALL, 2003; MELNYK et al., 2003; COGLIANESE, NASH, 2001; ANTON et

al., 2004).

Segundo Jabbour, Santos e Nagano (2008), o SGA é a ferramenta de gestão mais

usada nas empresas para este fim.

De acordo com Peglau (2006 apud SAMMALISTO; BRORSON, 2006), o atual

número de certificados ISO 14001 que foram emitidos no mundo chega a mais de 100.000.

Muitas das certificações ISO 14001 são encontradas em ambientes industriais.

O SGA é composto por cinco fases principais:

1. definição dos objetivos da gestão ambiental (política ambiental);

2. entendimento dos meios pelos quais estes objetivos podem ser alcançados

(planejamento);

3. mobilização dos recursos organizacionais (implantação e operação);

4. aplicação dos mecanismos de controle (controle); e

5. análise da alta direção.

Coglianese e Nash (2001) descrevem o SGA como um conjunto de políticas internas,

avaliações, planos e execução de ações, afetando toda a unidade organizacional e sua relação

com o ambiente natural.

Um SGA inclui a documentação do compromisso e da política ambiental,

planejamento, execução, medição e avaliação, revisão e melhoria (UNNIKRISHNAN E

HEDGE, 2007).

Do ponto de vista empresarial, Darnall, Henriques e Sadorsky (2008) afirmam que

estudos que avaliam a influência entre as estratégias ambientais e os resultados para o negócio

oferecem conclusões variadas.

Como tal, o argumento da existência ou não de atividades ambientais pró-ativas

levando a empresa a melhores desempenhos está longe de ser resolvido.

Darnall, Henriques, Sadorsky (2008) destacam que as instalações que são motivadas a

adotar SGA por motivos mais abrangentes, tais como orientação para a exportação,

comprometimento do empregado e P&D ambiental (como oposição às que o fazem apenas

por pressões institucionais) observam melhor desempenho empresarial global e no nível das

instalações.

Page 27: Dissertacao Giuliano Hippertt

26

Iraldo, Testa e Frey (2009) corroboram este diagnóstico afirmando que o SGA, a

despeito de sua aplicação em muitos anos, não tem atingido um elevado grau de maturidade

na sua execução.

Além disso, eles não estão plenamente integrados nas empresas (por exemplo: P&D,

gestão da cadeia de suprimento etc), o que pode influenciar negativamente sua eficácia.

Isto implica também que o “novo” SGA, se bem concebido e implantado (bem como

devidamente apoiado por investimentos), pode fornecer importantes vantagens competitivas.

Page 28: Dissertacao Giuliano Hippertt

27

2.2 INFLUÊNCIA DOS FATORES HUMANOS NO DESEMPENHO AMBIENTAL

Experiências práticas e uma série de estudos demonstram que o compromisso de

gerentes e funcionários é essencial durante a implantação e manutenção do SGA

(SAMMALISTO, BRORSON, 2006).

Perron, Raymond e Duffy (2006) destacam que os limites e restrições de uma

abordagem empresarial e atitudes mais sustentáveis estão sendo descobertos. Algumas dessas

limitações estão relacionadas aos aspectos humanos da organização e ao processo de mudança

que uma organização precisa desempenhar para incorporar comportamentos ambientalmente

responsáveis.

O otimismo e a abordagem estritamente tecnológica, que suportam o desempenho

econômico das organizações, podem não ser suficientes para criar o caminho para o

desenvolvimento sustentável, pois não endereçam as mudanças éticas e atitudinais

(WEHRMEYER, 1996).

Perron, Raymond e Duffy (2006) afirmam que, além da simples mudança, para se

tornar mais sustentável, a organização deve adotar uma cultura ambiental, onde toda a

organização deve reorientar as suas atitudes e comportamentos e estar empenhada em

alcançar novas metas. (PERRON; RAYMOND; DUFFY, 2006) aponta para a participação

como um dos principais passos para motivar a mudança.

Unnikrishnan e Hegde (2007) afirma que a norma ISO 14001 tem feito as empresas

darem mais importância à formação ambiental. Empresas não podem mais simplesmente usar

cumprimento de planos para lidar com as preocupações ambientais. Isto exige eficiência

operacional e estratégias de longo prazo e sustentáveis.

A Agenda 21(1992) definiu que deve existir uma reorientação na educação no sentido

do desenvolvimento sustentável, aliada à ampliação da conscientização pública e do incentivo

ao treinamento.

Wehrmeyer (1996) afirma que a história recente da gestão ambiental demonstra

concentração nos fatores mais processuais e tecnológicos da gestão e da organização. Os

fatores humanos geralmente são tratados por meio da criação de procedimentos rotineiros, não

considerando os benefícios emergentes da gestão do comprometimento, da participação dos

empregados e da educação / treinamento.

Iraldo, Testa e Frey (2009) afirmam que, para uma empresa, a capacidade de

planejamento é fator crucial para a implantação de um SGA realmente eficaz. A adoção de

Page 29: Dissertacao Giuliano Hippertt

28

atividades e ferramentas mais inovadoras, que são muitas vezes relacionadas à adoção do

SGA, pode ser interpretada como uma evidência da capacidade de planejamento e,

conseguintemente, como forma de fortalecer a eficácia do SGA (IRALDO; TESTA; FREY,

2009).

Wehrmeyer (1996) destaca que um comportamento ambientalmente responsável vem

sendo definido como as ações individuais que têm um efeito positivo no ambiente natural.

Conscientização ambiental tem sido definida como a atitude acerca do meio ambiente, seja ela

atual ou pretendida. Participação é definida como a influência que os empregados têm nas

tomadas de decisão corporativas relacionadas à política ambiental.

A literatura especializada indica que o suporte das práticas de recursos humanos nas

empresas é crucial para uma efetiva gestão ambiental (JABBOUR; SANTOS, NAGANO,

2008).

A área de recursos humanos tem de ser incluída e estar comprometida com a gestão

ambiental nas empresas, usando a sua posição central para estimular a dimensão ecológica na

organização e nas atividades dos empregados, o que inclui a inovação. Além disso, a área de

RH é a que apresenta maior legitimidade para difundir os valores éticos em toda a

organização, como os pressupostos da gestão ambiental (JABBOUR; SANTOS, 2006).

Fatores ligados aos recursos humanos, tais como: apoio à alta gestão, à formação

ambiental, empowerment, trabalho em equipe e sistemas de recompensas têm sido

identificados como elementos-chave para o processo de implementação de um SGA

(UNNIKRISHNAN E HEDGE, 2007).

De acordo com Schuler (2000), hoje, as forças da concorrência global, a

disponibilidade de trabalho em todo o mundo, a ética empresarial e o meio ambiente estão

ganhando a atenção da Gestão de Recursos Humanos (GRH). Há mais preocupação agora

para o meio ambiente, incluindo as questões ecológicas, de saúde e do analfabetismo

organizacional.

De forma geral, as vantagens das empresas, que têm uma força de trabalho totalmente

desenvolvida, altamente motivada e recompensada pela criatividade e inovação, são

amplamente compreendidas. As questões de recursos humanos são do domínio de todos os

gestores e não apenas de especialistas de RH (SCHULER, 2000).

As disciplinas de GRH incluem disciplinas de diversos temas relevantes da psicologia

do trabalho, economia do trabalho e da sociologia industrial. Durante a década de 70, a GRH

assumiu um enfoque que passou a incluir preocupações com a segurança e a saúde do

Page 30: Dissertacao Giuliano Hippertt

29

trabalhador, bem como a satisfação individual e desempenho. Relações laborais e

planejamento de pessoal também foram inseridos neste domínio (SCHULER, 2000).

No final dos anos 1970 e 1980, características como estrutura, estratégia, cultura

organizacionais, antes ligadas ao ciclo de vida do produto, começaram a ser incorporadas ao

trabalho sob o rótulo de GRH (SCHULER, 2000).

Para contextualizar a GRH, Brewster (2004) afirma que o estudo da gestão de pessoal,

que era em parte o trabalho de um arquivista e de um assistente social, com forte cunho

reativo, de atendimento e manutenção da ordem, especialmente evitando problemas com o

sindicato, foi substituído pela nova ciência da gestão de recursos humanos.

Durante a década de 80, outros estudos foram realizados alegando que os

trabalhadores não são um recurso como qualquer outro, a compreensão e o compromisso da

estratégia, por parte destes, são críticos para sua respectiva implantação (BREWSTER, 2004).

Lawler (2008) aponta três papéis fundamentais para a GRH: melhorar a liderança

(ensinando-os a melhorar habilidades de comunicação, a definir expectativas e motivar

equipes); subsidiar a alta direção (informando o estado e a utilização da força de trabalho);

avaliar a força de trabalho (desenvolvendo sistemas de informação de capital humano para

medir competências, desempenho e custo da força de trabalho).

Jabbour e Santos (2008) apresentam quadro, contendo as definições e contribuições

das outras práticas de recursos humanos para o sistema de gestão ambiental, complementares

à conscientização e ao treinamento (Anexo A).

Ao mesmo tempo em que propõem uma abordagem integrada, Jabbour, Santos e

Nagano (2008) suscitam o questionamento do nível de preparação das áreas de gestão de

recursos humanos para atuar com este nível de interação e abrangência.

Wehrmeyer (1996) ressalta que como a implementação de políticas ambientais

depende significativamente de atitudes, culturas e práticas, a gestão de RH deve ser uma parte

integrante deste desafio. Isto implica na necessidade de revisão de suas práticas e propósitos.

Incentivos para o treinamento e avaliação estão entre os aspectos mais importantes de

um programa de gestão ambiental efetivo, especialmente como uma ferramenta para a

comunicação das expectativas acerca de integridade, comportamento ético e competências

(WEHRMEYER, 1996)

Schonberger (1994) resumiu as principais alterações na gestão de recursos humanos

demandada pela gestão da qualidade total: mudança nas atribuições das pessoas (incluindo:

empowerment, trabalho em equipe e reconhecimento de campeões da qualidade); mudanças

nas expectativas e gestão do desempenho individual; novos objetivos e práticas para os

Page 31: Dissertacao Giuliano Hippertt

30

departamentos de RH; novos princípios para tomadas de decisão e desenvolvimento

estratégico.

Wehrmeyer (1996) introduz a discussão realizada no Reino Unido acerca da

ampliação das atribuições dos representantes dos empregados para a segurança industrial nas

empresas no sentido de que deveriam também incluir direitos ambientais, tais como: conhecer

os impactos do trabalho, participar das decisões e estratégias, receber treinamento especifico e

se recusar, sem recriminação, a realizar trabalhos potencialmente danosos ao meio ambiente.

Para se desenvolver de forma sustentável, todas as sociedades precisam de acesso à

educação e treinamento no uso de tecnologias mais limpas e mais eficientes para o

aproveitamento dos recursos naturais (UNNIKRISHNAN E HEDGE, 2007).

A UNESCO (1975), na Carta de Belgrado, propôs que as ações de preservação

ambiental deveriam passar por uma etapa preliminar que consistiria em um programa de

educação ambiental.

Os objetivos a serem atingidos com este programa eram os seguintes:

1. conscientizar os cidadãos de todo o mundo sobre o problema ambiental;

2. disponibilizar acesso aos conhecimentos específicos sobre o meio ambiente;

3. promover atitudes para a preservação do meio ambiente;

4. desenvolver habilidades específicas para ações ambientais;

5. criar uma capacidade de avaliação das ações e programas implantados; e

6. promover a participação de todos na solução dos problemas (UNESCO, 1975).

A UNESCO (1975) apresenta na carta de Belgrado princípios que os programas de

educação ambiental devem considerar, tais como:

• O meio ambiente em sua totalidade (natural, ecológico, político, econômico,

tecnológico, social, legislativo, cultural e estético).

• A continuidade do processo na escola e fora dela.

• A interdisciplinaridade no enfoque.

• A prevenção e a solução de problemas.

• As principais questões ambientais do ponto de vista mundial com atenção às

diferenças regionais.

• As situações ambientais presentes e futuras.

Page 32: Dissertacao Giuliano Hippertt

31

• O desenvolvimento sob uma perspectiva ambiental.

• A cooperação local, nacional e internacional.

No contexto empresarial, o treinamento é uma das ferramentas mais importantes para

permitir que os funcionários aprendam e adotem estes novos conhecimentos, habilidades e

atitudes (PERRON; RAYMOND; DUFFY, 2006). Este aspecto do processo de mudança é

muitas vezes ignorado. Supõe-se que nem todos os membros da organização precisam

entender a nova situação (PERRON; RAYMOND; DUFFY, 2006).

Para Perron, Raymond e Duffy (2006), a importância da educação ambiental e das

ações de sensibilização nas organizações tem sido bem estabelecida na literatura. Os

funcionários devem ser levados a compreender como eles podem contribuir para os esforços

de sustentabilidade aprovados pela organização.

Perron, Raymond e Duffy (2006) afirmam que não apenas os conhecimentos e

habilidades devem ser considerados, mas também as crenças, prioridades e com o que se

comprometem é importante. Os empregados é que vão implantar as mudanças de

comportamento e rotinas que são requeridos para que se atinjam os objetivos. Mudanças de

procedimento e de operações são apenas o primeiro passo em um processo contínuo.

Os empregados são uma importante fonte de conhecimento e criatividade para a

companhia, seus procedimentos e equipamentos (PERRON; RAYMOND; DUFFY, 2006).

Sammalisto e Brorson (2006) descrevem pesquisa de Brorson (2004) que apresenta

como resultados do treinamento relatos de gerentes que indicam como efeitos positivos uma

maior sensibilização e um melhor desempenho ambiental.

Unnikrishnan e Hedge (2007) destaca que o compromisso da alta gestão, agente-chave

na mudança, com o treinamento, pode melhorar a implantação de tecnologias mais limpas. A

alta gestão deve ser informada e estar consciente dos benefícios da formação ambiental.

De forma complementar, fornecedores de tecnologias mais limpas podem ser

encorajados a desempenhar um papel mais ativo em termos de formação ambiental e da

implantação de tecnologias mais limpas. A formação deve abranger também as recentes

mudanças de tecnologia e diversas técnicas de gestão ambiental (UNNIKRISHNAN E

HEDGE, 2007).

Como exemplo, na União Europeia descobriu-se que programas de formação de

motoristas podem gerar uma média de economia de combustível de 9% (WORLD

ECONOMIC FORUM, 2009).

Page 33: Dissertacao Giuliano Hippertt

32

A liderança possui papel de alta relevância neste contexto. O executivo ambiental de

sucesso é alguém que, pela sua formação educacional e experiência na indústria, desperta

respeito entre os demais gerentes, possui as habilidades interpessoais e contatos para ganhar a

aceitação voluntária deles para a mensagem ambiental, mas também o respaldo pessoal e

organizacional para vencer batalhas (WEHRMEYER, 1996).

WEHRMEYER (1996) enumera quatro elementos da competência ecológica, definida

como a habilidade de endereçar questões ecológicas por meio de:

1. fazer uso de base de conhecimentos científicos interdisciplinares;

2. gerir relações interorganizacionais;

3. integrar tecnologias ecológicas em operações multitecnológicas ;

4. criar e manter um discurso baseado em valor.

Friedman (1992) destaca cinco características semelhantes a estas:

1. possuir entendimento técnico do meio ambiente;

2. ser um advogado para ideias;

3. apreciar o entendimento ético do meio ambiente;

4. ter credibilidade, conhecer as leis.

Segundo James e Stewart (apud WEHRMEYER, 1996), o típico executivo ambiental

europeu é homem, tem qualificação científica ou técnica – não ambiental, foi transferido de

outras áreas (pesquisa ou produção particularmente) e tem em média 18 anos de empresa.

James e Stewart (apud WEHRMEYER, 1996) definem que as principais atribuições

dos executivos de gestão ambiental estão relacionadas à elaboração de políticas, coordenação,

comunicação, controle, consultoria, agente de mudança e estratégia. Os autores os

categorizam de acordo com sua formação, consciência e competência ambiental, em:

generalistas, generalistas ambientais, especialistas ambientais e especialistas não ambientais.

O instituto do Reino Unido para gestão ambiental (1993) identificou competências-

chave para seus processos de acreditação profissional: visão estratégica, conhecimento do

negócio, motivação/treinamento/liderança, comunicação externa, planejamento de

contingência, habilidades de gestão.

James e Stewart (apud WEHRMEYER, 1996) apontam que estas competências

somadas ao suporte da alta direção estão entre os principais aspectos relacionados ao sucesso

Page 34: Dissertacao Giuliano Hippertt

33

da gestão ambiental. A estes, os autores adicionam: trabalho em equipe, visão ambiental de

longo prazo e capacidade de quantificação dos resultados ambientais. Ainda ressaltam que,

como o executivo de gestão ambiental muitas vezes não tem autoridade formal sobre os

demais gerentes, a liderança, networking e comunicação possuem relevância ainda maior. Os

autores concluem a descrição reforçando a relevância da gestão de conflitos, orientação para o

negócio e visão de futuro.

Bird (apud WEHRMEYER, 1996) aponta conhecimentos requeridos para tomadores

de decisões de gestão ambiental: a forma como as questões ambientais impactam o negócio e

os principais efeitos deste no meio ambiente; principais tendências da questão ambiental;

como incorporar a questão ambiental nas decisões e planejamento da organização; o papel dos

indivíduos na proteção do meio ambiente e as competências requeridas para tal; avaliação de

risco etc.

Para a força de trabalho, o autor enumera: como a questão ambiental afeta a eles e seus

trabalhos; seus atuais e potenciais impactos no meio ambiente; o que eles podem fazer para

minimizar este impacto.

Para os responsáveis por tarefas relacionadas especificamente à questão ambiental: o

que deve ser feito em condições normais e anormais de operação e por quê; os impactos de

falhas em suas atividades para a organização e para o meio ambiente; os impactos legais do

ponto de vista individual e corporativo; como suas atividades se inserem nas atividades

políticas e objetivos da organização.

Para o gerente de gestão ambiental, além das enumeradas acima: técnicas para controle

dos efeitos da operação da organização no meio ambiente; tendências da gestão ambiental e

sua relevância para a organização; como disseminar as questões ambientais na organização;

como manter-se e mantê-la informada; princípios e práticas de gestão ambiental

(WEHRMEYER, 1996).

A quebra de barreiras departamentais internas coincide com a fragmentação externa

das linhas de carreiras e o declínio da educação universitária unidisciplinar (WEHRMEYER,

1996).

Elementos típicos da formação geral para os trabalhadores incluem a política

ambiental, aspectos ambientais da empresa, procedimentos, instruções e relatórios de não

conformidade (SAMMALISTO; BRORSON, 2008).

Para os funcionários com alta influência nos impactos ambientais e no SGA, a

formação deve ser mais detalhada. A formação e a comunicação servem a dois propósitos:

ensinar as pessoas sobre as políticas da empresa e procedimentos rotineiros e mudar as

Page 35: Dissertacao Giuliano Hippertt

34

atitudes dos indivíduos, criando uma consciência maior sobre questões ambientais

(SAMMALISTO, BRORSON, 2008).

North e Daig (apud WEHRMEYER, 1996) descrevem o ciclo de planejamento e

implementação do treinamento ambiental: definir as metas ambientais; analisar necessidades

de treinamento; identificar grupos-alvo; desenvolver conteúdo do treinamento; desenhar

programa de treinamento, realizar os treinamentos; revisar e ajustar metas. Os autores

adicionam ainda a importância da definição dos mecanismos de entrega, métodos e

ferramentas do treinamento.

Milliman e Clair (apud WEHRMEYER, 1996) apresentam os principais tipos de

programas de treinamento ambiental em organizações norte-americanas. São eles:

• Requisitos regulatórios: regulamentos ambientais federais, estaduais ou locais

relacionados a emissões atmosféricas, hídricas ou sólidas e instruções para

procedimentos de emergência.

• Conscientização dos empregados: em questões e políticas ambientais para

trabalharem de forma mais pró-ativa e responsável ambientalmente.

• Gestão da qualidade total ambiental: inclui instrução em técnicas de gestão da

qualidade (foco no cliente, avaliação de processos, resolução de problemas,

mensuração, planos de ação corretivos, trabalho em equipe, prevenção de defeitos

e ferramentas estatísticas, comunicação interpessoal, liderança etc).

Baseados em experimentos, os autores afirmam ainda que os empregados estão

preocupados com o meio ambiente; o efeito de campanhas de conscientização é limitado, mas

válido; campanhas que implicam codecisão têm mais efeito.

Bird (apud WEHRMEYER, 1996) afirma que o treinamento ambiental permite ao

indivíduo desempenhar seu trabalho minimizando os impactos no meio embiente. Isto

geralmente ocorre por meio do aumento da motivação e conscientização acerca da relevância

e importância das questões do meio ambiente ou por meio do desenvolvimento das

habilidades e conhecimentos necessários os quais permitem que as atividades e decisões

tomadas tenham menos impacto no meio ambiente.

Bird (apud WEHRMEYER, 1996) assevera que a forma mais eficaz de promover este

desenvolvimento è integrando a questão ambiental a treinamentos existentes.

Page 36: Dissertacao Giuliano Hippertt

35

O autor aponta que a simplicidade, o foco no que é relevante, adoção de grupos

pequenos, de uma mensagem consistente, do melhor momento para realização e a constância

dos treinamentos, não apenas formais, são boas práticas neste campo.

Ele destaca, ainda, outras boas práticas: utilize pessoas-chave para realizar o

treinamento; faça com que as pessoas pensem criticamente; antecipe-se a desculpas e

ceticismos; use tecnologia; jogue com a competição; use reuniões formais e informais; use

mecanismos já estabelecidos e utilizados para complementar o treinamento; use expertise

externa gratuita; use fotografias; use as auditorias; use drama; faca do treinamento algo

dinâmico; use os principais direcionadores de cada público; customize; use facilitadores de

treinamento e instrutores internos; use formadores de opinião; descubra quem está motivado;

evite fazer da questão ambiental algo externo; use o ethos dominante; promova o sentimento

comum de responsabilidade; foque no que pode ser entregue; conheça o resultado final;

procure sucessos e fracassos; consiga patrocínio; use treinamentos antigos como base; use

testes ao final do treinamento.

2.3 DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS

Como alternativas para a gestão dos fatores humanos que impactam o desempenho

ambiental, apresentam-se a conscientização, a participação, a educação ambiental e o

treinamento, fatores que se integram no campo de estudo e de práticas de gestão empresarial

denominado desenvolvimento de competências.

Bitencourt (2009) afirma que o termo “capacidade” é usualmente tratado pelo termo

“competência”, mas ressalta que existem autores que fazem uso dos dois termos com

conceitos distintos. No campo empresarial, o termo competência prevalece.

A “capacidade” muitas vezes é compreendida como habilidade, formação ou uma

etapa anterior à da competência (BITENCOURT, 2009), e a “competência” é tida como o

desdobramento dessas capacidades em ações práticas nas atividades organizacionais

(BITENCOURT, 2009).

Acerca do conceito de competência, Le Boterf (2003) afirma que o saber agir não se

reduz ao “savoir-faire” ou ao saber operar. O profissional deve não somente executar o que é

prescrito, mas deve saber ir além do prescrito. Neste conceito, se a competência se revela

Page 37: Dissertacao Giuliano Hippertt

36

mais no saber agir do que no ‘saber fazer’, é porque ela existe verdadeiramente quando sabe

encarar o acontecimento, o imprevisto.

Conforme verificado em Fleury e Fleury (2001), os autores norte-americanos limitam

o conceito de competência ao conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, classificados

pelos autores como um conjunto de capacidades humanas, que justificam um alto

desempenho, fundamentado na inteligência e na personalidade das pessoas.

Segundo Javidan (1998), o termo “capacidade” refere-se às habilidades da organização

para explorar os seus recursos físicos, humanos e organizacionais, consistindo de um conjunto

de processos e rotinas que gerenciam as interações entre eles, enquanto a competência trata da

integração e coordenação das habilidades, ou seja, é o conjunto de habilidades e

conhecimentos de uma unidade ou organização.

Os conceitos de construção ou desenvolvimento de capacidades como tais foram

amplamente estudados e disseminados por organizações sem fins lucrativos e, especialmente,

pela ONU. Por esta razão, a pesquisa destes temas baseia-se com frequência nestas fontes.

Entretanto, a aplicação destes conceitos tem sido estendida também ao contexto

empresarial. Conforme destacam Sobeck e Agius (2007), a construção de capacidades é usada

para modificar os elementos da organização do ambiente, que. por sua vez, deve melhorar o

conhecimento pessoal e a produtividade. Em última análise, isso deve reforçar a capacidade

da organização para atender às necessidades de seus clientes e melhorar o desempenho

organizacional.

O PNUD (2009) define “capacidade” como “a capacidade de indivíduos, instituições e

sociedades para desempenhar funções, resolver problemas, estabelecer e alcançar objetivos de

forma sustentável". O conceito de capacity building ou construção de capacidades é descrito

como “um processo que suporta apenas a fase inicial de construção ou de criação de

capacidades, assumindo que não existem capacidades existentes para começar”.

Para Mengers (2000), o conceito de construção de capacidades, bem como de

participação na comunidade, de desenvolvimento de recursos humanos e treinamento/

formação, são estratégias entre a formulação de um objetivo e alcançá-lo.

O autor ressalta que estes não podem ser objetivos em si mesmos. A realização de tal

meta não pode ser realizada através do desenvolvimento de recursos humanos ou treinamento

sozinho. Isso vai exigir desenvolvimento institucional, organizacional e "reformas

financeiras” também.

Page 38: Dissertacao Giuliano Hippertt

37

O “desenvolvimento de capacidades” é definido como um processo pelo qual

indivíduos, organizações e sociedades obtêm, fortalecem e mantêm a capacidade de definir e

atingir os seus próprios objetivos de desenvolvimento ao longo do tempo (PNUD, 2009).

Como ressaltam Maconick e Morgan (2009), o conceito de construção de capacidades

não é novo e foi desenvolvido por séculos em áreas militares, comerciais, arquitetura, religião,

ciência, cultura e educação. Mesmo com a maior amplitude do termo “desenvolvimento de

capacidades”, os autores ressaltam que este termo ainda é utilizado dado ser comumente

usado nas assembleias gerais da ONU.

Mengers (2000) afirma que, quando as economias estão sendo liberalizadas em termos

de importações, exportações, tecnologias e investimentos estrangeiros, e quando ex-empresas

estatais são privatizadas, ocorre um forte processo de mudança.

Neste contexto, tudo precisa ser resolvido: os deveres sociais fundamentais do

governo, sua orientação para o público, o desempenho dos serviços públicos, administrativo,

das operações financeiras, a delegação de funções etc. Neste momento, veio o conceito de

“construção de capacidades”, uma palavra metafórica para dizer tudo isso (MENGERS,

2000).

A capacidade de um país de seguir caminhos do desenvolvimento sustentável é

determinada, em grande medida, pela capacidade do seu povo e suas instituições, bem como

por suas condições ecológicas e geográficas. Especificamente, a construção de capacidades de

um país inclui as capacidades humanas, científicas, tecnológicas, organizacionais,

institucionais e de recursos. Um objetivo fundamental da construção de capacidades é

melhorar a capacidade de avaliar e abordar questões cruciais relacionadas com as escolhas

políticas e as modalidades de implantação entre as opções de desenvolvimento, baseada na

compreensão dos potenciais e limites do ambiente e das necessidades como são percebidas

pelo povo do país em questão (AGENDA 21, 1992).

O PNUD (2010) identificou quatro temas principais que parecem ter maior influência

no desenvolvimento de capacidades, bem como o que são os principais produtos do

desenvolvimento:

1. Arranjos Institucionais: clareza funcional; gestão eficaz de recursos humanos;

mecanismos robustos de coordenação; sistemas de monitoramento e avaliação;

parcerias para a prestação de serviços.

Page 39: Dissertacao Giuliano Hippertt

38

2. Liderança: clareza de visão; coalizões para a gestão dos serviços; habilidades de

gerenciamento de risco e serviços; sistemas e mecanismos para atração e retenção

da liderança.

3. Conhecimento: estratégia para reforma da educação; metodologias para a

aprendizagem contínua; soluções de aprendizagem feitas pela área em

desenvolvimento para a própria área; serviços internos e redes de conhecimento e

mecanismo de gestão do conhecimento.

4. Responsabilização: clareza dos sistemas de prestação de contas; mecanismos e

sistemas de feedback às partes interessadas; mecanismos de voz e expressão.

De forma complementar, o PNUD (2010) identifica cinco capacidades funcionais de

alta relevância para determinar o resultado dos esforços de desenvolvimento. São eles:

1. capacidade para envolver as partes interessadas;

2. capacidade para avaliar a situação e definir uma visão;

3. capacidade de formular políticas e estratégias;

4. capacidade para orçar, gerir e executar;

5. capacidade para avaliar.

Figura 05: Ciclo para o desenvolvimento de capacidades Fonte: Adaptado de PNUD (2009)

Page 40: Dissertacao Giuliano Hippertt

39

O conceito de competência, que começa a ganhar relevância a partir da década de 70, é

estudado por uma linha de origem americana, centrada no alinhamento dos comportamentos

às políticas organizacionais, objetivando a melhoria do desempenho individual e global

(SÉGAL, 2009).

A linha de origem latino-europeia está centrada na noção do saber apropriado e

aplicado, partindo da organização para chegar ao indivíduo, objetivando o aumento do

desempenho global por meio do melhor desempenho das equipes (GEFFROY, TIJOU, 2002

apud SÉGAL, 2009)

Medef (1998 apud ZARIFIAN, 2001) define:

a competência profissional é uma combinação de conhecimentos, de saber-fazer, de experiências e comportamentos que se exerce em um contexto preciso. Ela é constatada quando de sua utilização em situação profissional, a partir da qual é passível de validação. Compete então à empresa identificá-la, avaliá-la, validá-la e fazê-la evoluir.

Le Boterf (2003) generaliza: “a competência é uma disposição para agir de modo

pertinente em relação a uma situação específica” ou, ainda, um conjunto de aprendizagens

sociais e comunicacionais nutridas a montante pela aprendizagem e formação.

Complementando esta linha, Le Boterf (1995 apud FLEURY, FLEURY, 2001) situa a

competência em três eixos formados pela pessoa (sua biografia e socialização), pela sua

formação educacional e pela sua experiência profissional.

Bem característico da linha americana, insere-se o conceito de competência definido

por Parry (1996 apud DUTRA 2004) como:

[...] um grupamento de conhecimentos, habilidades e atitudes relacionados que afeta a maior parte de um trabalho (papel ou responsabilidade), se correlacionando com o desempenho, podendo ser medido contra parâmetros bem aceitos e ser melhorado através de treinamento e desenvolvimento.

Dutra (2007) desenvolve o conceito de competências por meio das fases a seguir:

1. competência como base para a seleção e o desenvolvimento de pessoas;

2. competência diferenciada por nível de complexidade;

3. competência como conceito integrador da gestão de pessoas e destas com os

objetivos estratégicos da empresa;

4. apropriação pelas pessoas dos conceitos de competência.

Page 41: Dissertacao Giuliano Hippertt

40

De acordo com esse autor, a maior parte das organizações encontra-se na primeira ou

na segunda fase.

Para fundamentação deste modelo, Zarifian (2001) propõe três etapas:

1. uma fase de identificação das competências necessárias;

2. uma fase de comunicação, para criar uma linguagem comum em torno das

competências identificadas, resultando na elaboração de um dicionário de

competências;

3. uma fase de utilização dessas descrições nos diversos campos da gestão de

recursos humanos, assegurando, desse modo, a coerência do todo.

Sobre a estruturação do que denominam administração das competências, Prahalad e

Hamel (1995) apontam cinco etapas:

1. identificar as competências essenciais existentes;

2. definir uma agenda de aquisição de competências essenciais;

3. desenvolver as competências essenciais;

4. distribuir as competências; e

5. proteger e defender a liderança das competências essenciais.

Verifica-se um alinhamento conceitual destas fases com as fases propostas pela PNUD

(2010) para o desenvolvimento de capacidades:

1. envolver as partes interessadas;

2. avaliar capacidades instaladas e necessidades;

3. formular um programa de desenvolvimento;

4. implantar as ações de desenvolvimento; e

5. avaliar o desenvolvimento das capacidades.

Fleury e Fleury (2001) constatam ainda que, neste caso, a referência que baliza o

conceito de competência é a tarefa e o conjunto de tarefas pertinentes a um cargo. Nesta linha,

afirmam: “a gestão por competência é apenas um rótulo mais moderno para administrar uma

realidade organizacional ainda fundada nos princípios do taylorismo-fordismo”.

Page 42: Dissertacao Giuliano Hippertt

41

Como contraponto, os próprios autores citam outros que defendem que trabalhar com

o conjunto de habilidades e requisitos definidos a partir do desenho do cargo, próprios do

Modelo taylorista, não atende às demandas de uma organização complexa, mutável em um

mundo globalizado.

Caracterizando uma visão integrada, Dutra (2004) afirma que, atualmente, adota-se o

somatório dessas duas linhas, ou seja, como a entrega e as características da pessoa podem

ajudá-la a entregar resultados com maior facilidade (McLAGAN, 1997; PARRY, 1996).

Nesta linha as definições de competências podem ser complementares.

Mclagan (1997) afirma que existem seis tipos de competências. Três focados no

trabalho: competências como tarefas e atividades; competências como resultados; e

competências como entregas. E outros dois focados na pessoa: competência como

conhecimentos, habilidades a atitudes (valores e orientação também); e competências

diferenciadoras do desempenho.

Mclagan (1997) cita ainda um último tipo de competência, denominado conjunto de

atributos, como uma coleção de conhecimentos, habilidades e atitudes e/ou tarefas, entregas e

resultados, sendo, portanto, um tipo híbrido.

Ampliando ainda mais o conceito de competência, Resende (2000 apud BREGA

2006) define: “competência é a transformação de conhecimentos, aptidões, habilidades,

interesse, vontade etc. em resultados práticos. Ter conhecimento e experiência e não saber

aplicá-los em favor de um objetivo, de uma necessidade, de um compromisso, significa não

ser competente, no sentido aqui destacado.

Neste caso, a competência é, portanto, resultante da combinação de conhecimentos

com comportamentos. Conhecimentos que incluem formação, treinamento, experiência,

autodesenvolvimento. Comportamentos que englobam habilidades, interesse, vontade

(RESENDE, 2000 apud BREGA, 2006).

Nesta linha, Resende (2000 apud BREGA, 2006) classifica as competências em nove

categorias, que são:

1. técnicas;

2. intelectuais: de aptidões mentais;

3. cognitivas (misto de capacidade intelectual com domínio de conhecimento);

4. relacionais;

5. sociais e políticas;

6. didático-pedagógicas;

Page 43: Dissertacao Giuliano Hippertt

42

7. metodológicas (aplicação de técnicas e meios de organização de trabalhos e

atividades);

8. de liderança;

9. empresariais e organizacionais.

Independente das utilidades históricas é crescente a evidência de que pode ser a hora

para muitas organizações retirarem o foco dos cargos e movê-lo para os indivíduos e suas

competências (LAWLER, LEDFORD, 1992 apud DUTRA, 2001). Esta ideia está associada a

novas propostas de organização do trabalho, associadas às ideias de autonomia, múltiplas

funções e polivalência de equipes e indivíduos (DUTRA, 2001).

Neste contexto emerge o que se convencionou chamar de “Modelo da competência”,

enquanto Modelo de Gestão de Recursos Humanos (ZARIFIAN, 2001).

Segundo Zarifian (2001), a lógica “competência” leva a revisitar o conjunto de

práticas de gestão de recursos humanos, como por exemplo: recrutamento; entrevistas de

avaliação; políticas de formação; identificação dos potenciais; mobilidade; construção dos

projetos individuais; condições das mudanças da organização do trabalho.

Segundo Colin e Grasser (2003), existem maneiras diferentes de implantação da

gestão de competências, algumas das quais são limitadas à esfera de gestão e administração de

recursos humanos da instituição, levando à individualização da relação de emprego e outras,

ainda incipientes, que buscam articular gestão de recursos humanos e gestão da produção,

levando à dimensão coletiva da competência e desempenho.

Zarifian (2003) ressalta que muitos supostos sistemas de gestão das competências

ainda são apenas formas modernizadas do modelo de posto de trabalho. Ou seja, modelo das

descrições e classificações de emprego, associado a requisitos de capacidade e

comportamentos (“saber ser”), ou seja, que utilizam um referencial de competências.

Colin e Grasser (2003), ao destacarem o caráter emergente e experimental das práticas

de gestão de competências, apontam que é difícil concluir que estas impliquem no

fortalecimento da coerência da estratégia com as escolhas de organização do trabalho e gestão

da mão de obra, embora apresentem certa propensão ao fomento da inovação e ao

desenvolvimento da qualidade, fatores que usualmente justificam sua implantação.

Page 44: Dissertacao Giuliano Hippertt

43

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA REVISÃO DE LITERATURA

A literatura estudada permite a verificação das hipóteses de que a excelência no

desempenho ambiental favorece o atendimento a requisitos legais e à competitividade, e de

que competências específicas sustentam o desempenho ambiental organizacional.

Entretanto, esta etapa não permite que a questão da pesquisa seja respondida, pois a

literatura apresenta apenas competências gerais que sustentam a melhoria do desempenho

ambiental organizacional, independente de um segmento específico, conforme o caso

estudado.

Abaixo são agrupadas estas competências gerais identificadas nesta etapa:

• PNUD (2009, 2010) - desempenhar funções, resolver problemas; estabelecer e

alcançar objetivos de forma sustentável; gerir arranjos Institucionais; capacidades

de liderança; de gestão do conhecimento; de prestação de contas; de envolver as

partes interessadas; de avaliar a situação e definir uma visão; de formular políticas

e estratégias; de orçar, gerir e executar.

• AGENDA 21 (1992) - avaliar escolhas políticas e suas modalidades de

implantação.

• UNESCO (1975), Carta de Belgrado - conscientizar as pessoas sobre o problema

ambiental; de disponibilizar acesso a conhecimentos específicos sobre o meio

ambiente; de promover atitudes para a preservação do meio ambiente; de

desenvolver habilidades específicas para ações ambientais; de avaliar as ações e

programas implantados; de desenvolver a cooperação local, nacional e

internacional; e de promover a participação de todos na solução dos problemas.

• Sammalisto e Brorson (2008) - formular e gerir políticas, aspectos ambientais,

procedimentos, instruções e relatórios de não conformidade da empresa.

• Unnikrishnan e Hegde (2007) - desenvolver eficiência operacional, novas

tecnologias e técnicas de gestão ambiental e estratégias de longo prazo e

sustentáveis.

• Biondi (2000) - Capacidade de planejamento.

• Marie et al. (2001) - usar tecnologias mais limpas e mais eficientes para o

aproveitamento dos recursos naturais.

Page 45: Dissertacao Giuliano Hippertt

44

• Wehrmeyer (1996) - habilidades interpessoais e contatos para ganhar a aceitação

voluntária deles para a mensagem ambiental, mas também o respaldo pessoal e

organizacional para vencer batalhas.

• Dobers e Wolff (1996) - habilidade de endereçar questões ecológicas por meio de:

fazer uso de base de conhecimentos cientificos interdisciplinares; gerir relações

interorganizacionais; integrar tecnologias ecológicas em operações

multitecnológicas; criar e manter um discurso baseado em valor.

• Friedman (1992) - possuir entendimento técnico do meio ambiente; ser um

advogado para ideias; apreciar o entendimento ético do meio ambiente; ter

credibilidade; conhecer as leis.

• James e Stewart (1996) - elaborar políticas, coordenar, comunicar, controlar,

prover consultoria, gerir mudanças e estratégias, trabalho em equipe, visao

ambiental de longo prazo e capacidade de quantificação dos resultados ambientais,

lideranca, networking, gestão de conflitos, orientação para o negócio e visão de

futuro.

• Instituto do Reino Unido para gestão ambiental (1993) – possuir visão estratégica,

conhecimento do negócio, motivação/treinamento/liderança, comunicação externa,

planejamento de contingência, habilidades de gestão.

• Bird (1996) - conhecer a forma como as questões ambientais impactam o negócio

e os principais efeitos deste no meio ambiente; as principais tendências da questão

ambiental; como incorporar a questão ambiental nas decisões e planejamento da

organização; o papel dos indivíduos na proteção do meio ambiente e as

competências requeridas para tal; avaliação de risco; como a questão ambiental

afeta a eles e seus trabalhos; seus atuais e potenciais impactos no meio ambiente; o

que eles podem fazer para minimizar este impacto; o que deve ser feito em

condições normais e anormais de operação e por quê; os impactos de falhas em

suas atividades para a organizacao e para o meio ambiente; os impactos legais do

ponto de vista individual e corporativo; como suas atividades se inserem nas

atividades, políticas e objetivos da organização; técnicas para controle dos efeitos

da operação da organização no meio ambiente; tendências da gestão ambiental e

sua relevância para a organização; como disseminar as questões ambientais na

organização; como manter-se e mantê-la informada; princípios e práticas de gestão

ambiental.

Page 46: Dissertacao Giuliano Hippertt

45

• Brorson (2008), Almgren e Strachan - Conhecer a política ambiental, aspectos

ambientais da empresa, procedimentos, instruções e relatórios de não

conformidade.

• Rondinelli e Vastag (2000); Beard (2000); Lozano, 1996 (apud SAMMALISTO,

BRORSON, 2008) - Conhecer as políticas da empresa e procedimentos rotineiros

e mudar as atitudes dos indivíduos, criando uma consciência maior sobre questões

ambientais.

Enquanto parte dos autores estudados defende a contribuição direta das competências

e de seu desenvolvimento para a sustentação da melhoria do desempenho ambiental, outros o

fazem por meio da tese de que as competências sustentam os sistemas de gestão, que por sua

vez sustentam o desempenho ambiental. Entretanto, não há consenso quanto às evidências

destas contribuições.

Com base nos textos estudados, pode-se inferir que as capacidades científicas,

tecnológicas, organizacionais, institucionais e de recursos (AGENDA 21, 1992) dependem do

desenvolvimento das capacidades humanas, que são pré-requisitos para o desenvolvimento

das demais.

Apesar de frequentemente utilizados em contextos diferentes (comunidades e

organizações), verificou-se uma interação entre “desenvolvimento de capacidades”, “gestão

de competências” e “gestão de Recursos Humanos”, em Lawler (2008), PNUD (2010) e

Agenda 21 (1992). Desta forma, os conhecimentos disponíveis nestes campos podem ser

articulados em conjunto, potencializando a aplicação de conceitos de ambas as temáticas em

organizações, comunidades ou países.

A gestão ambiental apresenta um caráter nitidamente processual e formal

(WEHRMEYER, 1996), ao passo que a gestão de recursos humanos tem tido seu

posicionamento e sua capacidade de integração estratégica e organizacional debatidos no

meio acadêmico (SCHULER, 2000), oscilando entre uma atuação excessivamente operacional

(BREWSTER, 2004) e filosófica. Há uma lacuna significante entre estas duas formas de

gestão (JABBOUR; SOUZA, 2008), com características que dificultam seu inter-

relacionamento.

Deste modo, independente da gestão ambiental abordar gradativamente cada vez mais

o “fator humano” de forma mais ampla e contextualizada, para que esta interface tenha êxito,

os responsáveis pela gestão de recursos humanos devem estar preparados para atuar de forma

mais processual e estruturada, em consonância com os sistemas de gestão ambiental.

Page 47: Dissertacao Giuliano Hippertt

46

A conscientização dos empregados, a educação e o treinamento são as práticas de

gestão de RH que têm sido mais estudadas e difundidas nas organizações como forma de

contribuição para a questão ambiental. Estes aspectos são integrados pelo que se denomina

desenvolvimento de competências, ao mesmo tempo em que são os pilares desta prática de

gestão em sua função de promover a melhoria do desempenho ambiental.

Page 48: Dissertacao Giuliano Hippertt

47

3 MÉTODO DE PESQUISA

Para identificar as competências que impactam a melhoria do desempenho ambiental

da indústria brasileira de refino e transporte de petróleo e derivados, e propor diretrizes para

tal finalidade, foram selecionadas três vertentes metodológicas de forma conjunta e

complementar. Apesar da representatividade da empresa selecionada no segmento pesquisado,

o fato de apenas uma organização ter sido estudada caracteriza uma limitação desta pesquisa.

3.1 ESTRUTURA METODOLÓGICA

• Um estudo exploratório, em literaturas específicas, para estabelecer um quadro

teórico do contexto de “desenvolvimento sustentável” em que o tema esta inserido,

do “desempenho ambiental”, dos fatores humanos de influência neste desempenho

e do “desenvolvimento de competências”.

• Análise documental de relatórios internos da organização estudada para

identificação das competências específicas relacionadas aos processos de refino e

transporte de petróleo e derivados, bem como de gestão ambiental. Dentre estes

documentos constam o “Relatório descritivo de competências individuais

específicas” e os “Padrões de processo”, elaborados por meio de entrevistas junto a

especialistas e gestores da organização; e “Programas de formação e educação

continuada para profissionais da área ambiental”, material elaborado por

especialistas e professores da universidade corporativa; e o “Balanço social”,

documento público, elaborado por consultoria e especialistas da organização

pesquisada.

• Uma pesquisa de campo, utilizando a técnica de coleta de dados por meio de

questionário, aplicado a gestores e especialistas da área de gestão ambiental da

organização pesquisada, definidos por conveniência. Esta etapa visou avaliar e

validar, por meio da percepção dos entrevistados, as competências específicas que

sustentam a melhoria do desempenho ambiental identificadas nas etapas anteriores.

Page 49: Dissertacao Giuliano Hippertt

48

Figura 06: Fluxo da estratégia de pesquisa

3.2 PROCESSO DE ANÁLISE DOS RESULTADOS

A análise dos resultados é composta por etapas de revisão da literatura, análise documental e

pesquisa de campo, conforme descrito abaixo:

3.2.1 Etapa da Revisão da Literatura

Nesta etapa foi utilizada a base científica de consulta Scopus para identificar

periódicos adequados à fundamentação teórica da pesquisa.

Das 71 publicações selecionadas, cerca de 60% são artigos, periódicos ou dissertações

de mestrado ou doutorado (com média de 6 anos de publicação); 40% são relatórios ou

publicações internas de organizações pesquisadas; e. 20% são materiais publicados nos

últimos 4 anos.

Verificou-se que a literatura disponível relacionada ao “desenvolvimento de

competências” é predominantemente geral, de forma que, para a identificação das

competências especificas para refino e transporte de petróleo e derivados, foram necessárias a

análise documental e a aplicação de questionários em pesquisa de campo.

3.2.2 Etapa da Análise Documental

Esta etapa concentrou-se em quatro documentos-base conforme descritos a seguir:

1. “Relatório descritivo de competências individuais específicas” - descreve

competências / capacidades, conhecimentos, habilidades e atitudes requeridos para

Aplicação de questionário, em servidor eletrônico, para avaliação das capacidades humanas específicas mais importantes para a sustentação do desempenho ambiental do refino e transporte

Pesquisa bibliográfica e análise documental para identificação de competências relacionadas aos processos de refino, transporte e gestão ambiental

Análise dos resultados obtidos a partir da aplicação do questionário

Page 50: Dissertacao Giuliano Hippertt

49

o desempenho de cada processo da organização. Este material foi produzido por

meio de entrevistas com 75 especialistas e gestores da própria organização,

indicados pelo corpo diretivo pela experiência, formação acadêmica e funções

exercidas. Os especialistas foram divididos em grupos de foco de cerca de 15

pessoas, de acordo com seus processos de atuação, para mapearem as

competências requeridas por processo. Este trabalho foi coordenado pelo autor

desta pesquisa no período de abril a dezembro de 2008.

2. “Padrões de processo” – descrevem os processos da organização, apontando os

objetivos, responsáveis, indicadores etc. Documento também elaborado por meio

de entrevistas junto a especialistas e gestores da organização.

3. “Programas de formação e educação continuada para profissionais da área

ambiental”- apresentam as ementas e conteúdos programáticos definidos para

cursos de formação de engenheiros e técnicos ambientais e para educação

continuada destes e de outros profissionais que atuam na área ambiental. Material

elaborado por especialistas e professores da universidade corporativa.

4. “Balanço social” – apresenta as principais realizações e resultados da organização

pesquisada nos campos econômico, social e ambiental, apresentando projetos e

indicadores relacionados ao desempenho nestas áreas.

O objetivo desta análise foi identificar competências requeridas para os processos de

refino, transporte e gestão ambiental da organização pesquisada.

3.2.3 Etapa da Pesquisa de Campo

Esta etapa foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, como forma de

identificar as opiniões de gestores e especialistas da área de Gestão Ambiental acerca das

competências que sustentam a melhoria do desempenho ambiental do segmento de refino e

transporte de petróleo e derivados.

Para a realização desta etapa foi enviado aos entrevistados um questionário eletrônico,

elaborado no software de pesquisa EncuestaFacil, que permite a realização de pesquisas

Online com anonimato, bem como a organização dos dados e tratamento estatístico

eletronicamente. (Apêndice A).

Page 51: Dissertacao Giuliano Hippertt

50

Para validar o formato final do questionário, foi realizado um pré-teste junto a oito

especialistas em gestão ambiental, com representantes da Sede e de Refinarias da área de

negócios pesquisada. Estes especialistas foram indicados pela alta gerência da empresa por

sua experiência e conhecimento em gestão ambiental para o refino e transporte, e atendiam

aos requisitos qualitativos e quantitativos da amostra desejada.

Estes especialistas exercem função de confiança na organização em que atuam, sendo

gestores ou consultores de negócios, com mais de 20 anos de experiência profissional

relacionada à gestão ambiental na indústria de petróleo, com formações acadêmicas

diversificadas em áreas de engenharia, de ciências sociais, química e biológica, todos com

pós-graduação em gestão ambiental.

Com base neste teste, foram realizados os ajustes necessários para a versão final do

questionário.

Como insumos para a elaboração do questionário, foram utilizadas competências

gerais identificadas na pesquisa bibliográfica e na análise documental realizada para o caso

estudado.

A documentação analisada no estudo de caso contém 604 competências, das quais

foram extraídas as que estão correlacionadas aos processos de Refino, Transporte, de Gestão e

de Suporte, conforme mapeamento prévio realizado pelos especialistas da organização,

conforme item 3.2.2.

A partir deste novo extrato, e demais documentos citados no item 3.2.2., foi solicitado

aos especialistas que realizassem uma pré-seleção de competências que poderiam

potencialmente sustentar a melhoria do desempenho ambiental (GRI, 2011), por sua relação

com a gestão ambiental ou por seu potencial degradador ao meio ambiente (MARIANO,

2001; SILVA, 2004). A partir daí, foram selecionadas 29 competências.

Neste processo de seleção foram realizadas fusões de determinadas competências.

Adicionalmente foi solicitado aos especialistas que classificassem estas competências

em níveis, conforme Oliveira (1993): estratégico, tático e operacional. De acordo com esse

autor, o nível estratégico do planejamento deve considerar a empresa como um todo; o

planejamento tático envolve as partes de uma empresa; e o planejamento operacional é a

subdivisão do plano tático em quantas partes forem necessárias para executar ou adequar os

processos da empresa.

Com o intuito de validar de forma mais representativa esta seleção de 29 competências

e hierarquizá-las por seu grau de importância, formatou-se o questionário para coleta de dados

final.

Page 52: Dissertacao Giuliano Hippertt

51

Na apresentação do questionário foram disponibilizadas informações sobre a pesquisa

e o caráter confidencial e agregado das respostas, agradecimentos à participação do

respondente e instruções para resposta.

Nas páginas seguintes, foram listadas as competências, agrupadas por níveis

(estratégico, tático e operacional), para as quais os respondentes deveriam assinalar o nível de

importância para o desempenho ambiental.

Como insumo aos respondentes do questionário, foi disponibilizado o conceito de

desempenho ambiental, segundo o GRI (2011).

O objetivo do questionário final foi identificar, dentre as competências selecionadas

nas etapas anteriores, o nível de importância relativa de cada uma para o desempenho

ambiental do segmento pesquisado, o qual seria definido pela resposta dos participantes à

seguinte questão:

� Quais são as competências mais importantes para o desempenho ambiental do

refino e transporte de petróleo e derivados em cada nível (estratégico, tático e

operacional)?

No questionário foi utilizada a escala com âncoras de significados opostos em

extremos do tipo Osgood (GIL, 1999), constituída de 10 pontos, variando de 1 (pouco

importante) a 10 (muito importante).

Este tipo de escala também foi utilizado por Monteiro e Costa (2009), em pesquisa

semelhante, com objetivo de identificação das lacunas de competências requeridas para

avaliadores, e por Brandão et al. (2010) em pesquisa sobre o desenvolvimento de uma escala

de desenvolvimento gerencial.

Adicionalmente, foi incluída questão opcional com campo aberto para identificação de

outra(s) competência(s) que impacta(m) o desempenho ambiental do refino e transporte de

petróleo não contida(s) no questionário.

Considerando a frequência de respostas, as médias e os erros-padrão das respostas,

foram identificadas as competências mais importantes para a sustentação do desempenho

ambiental do refino e transporte de petróleo e derivados. Desta forma, o inventário de

competências foco para o desenvolvimento e formação foi validado, segundo a percepção de

gestores e especialistas.

Ao final do questionário são coletados os dados biográficos do respondente, conforme

a seguir: área de atuação profissional predominante, função na organização em que atua,

Page 53: Dissertacao Giuliano Hippertt

52

quantos anos possui de experiência profissional relacionada à gestão ambiental, linha de sua

graduação acadêmica, se possui pós-graduação e se a mesma é em gestão ambiental.

3.3 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DA PESQUISA

A indústria de petróleo e derivados no Brasil é o objeto deste estudo, especificamente

o segmento de refino e transporte.

A análise documental se baseou nos relatórios internos da área de negócios da

Petrobras, denominada “Abastecimento”, responsável pelo refino e transporte de petróleo,

conforme descrito no item 3.2.3.

A seleção desta área de negócios e da organização estudada foi realizada conforme o

conceito estatístico de Amostragem Não aleatória por Conveniência, em que a seleção dos

elementos da população depende do julgamento do pesquisador (RIZZINI, 1999),

considerando que o segmento pesquisado é operado majoritariamente por uma organização

especifica (PETROBRAS, 2010).

Neste caso, foi considerado ainda o potencial poluidor dessa indústria nos diferentes

meios (MARIANO, 2001) e a conveniência de contato do autor com os especialistas.

Na etapa de pesquisa de campo, para a definição dos especialistas para os quais seria

aplicado o questionário, foi utilizado também o conceito estatístico de Amostragem Não

aleatória por Conveniência (RIZZINI, 1999), considerando a experiência em gestão ambiental

voltada especificamente para o refino e transporte de petróleo e derivados.

Para responderem ao questionário, foram convidados gestores e especialistas

responsáveis pela gestão ambiental do segmento pesquisado neste trabalho. Em comum, todos

os participantes possuíam experiência prévia e atuavam na gestão ambiental voltada

especificamente para o refino e transporte de petróleo e derivados.

Foi adotada amostragem não probabilística, por conveniência. Para o cálculo da

amostra, adotou-se medida descrita por Richardson (1999), o nível de confiança expresso em

quantidade de desvio-padrão, a proporção do universo que possui e que não possui

propriedade pesquisada, o tamanho da população e o erro de estimativa permitido em valor

percentual.

Page 54: Dissertacao Giuliano Hippertt

53

Como a população do efetivo próprio correspondente ao perfil desejado, entre Sede e

Unidades de Operações da área de negócios pesquisada, é da ordem de 37 empregados, a

amostra obtida, nesta pesquisa, foi de 18 participantes, representando cerca de 48,6% do total.

Com base nas respostas dos participantes aos 29 itens a serem avaliados, extraiu-se

correlações entre as variáveis para verificar se estas eram favoráveis. A análise das

correlações sugerem a fatorabilidade dos dados.

Adicionalmente, não foram identificados valores fora da amplitude normal da escala

de avaliação (1 a 10 pontos), com intervalo de 1 unidade, sendo 1 menos importante e 10 mais

importante. As médias e erros-padrão mostraram-se coerentes com a variação aceitável.

O perfil da amostra se caracteriza pela representatividade das funções exercidas da

indústria, sendo majoritariamente composta pelo corpo gerencial e consultivo da empresa

pesquisada (50%), complementada pelo corpo técnico e acadêmico, conforme demonstrado na

figura 7.

Figura 07: Funções dos participantes na organização

Com relação à área de atuação da amostra, 93,3% atuam na própria indústria

diretamente com gestão ambiental; 6,3% atuam como professor em temas ligados a gestão

ambiental para o refino e transporte na Universidade Corporativa da organização pesquisada.

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54

Em termos de formação acadêmica, a área da Engenharia representa 86,67% das

formações no nível de graduação universitária, seguida por outras formações na área de

Exatas e Biológicas, com 6,67% cada uma; 66,67% dos respondentes possuem Pós-graduação

Stricto Sensu; e 6,67%, Lato Sensu.

Figura 08: Áreas de formação acadêmica dos participantes da pesquisa

Figura 09: Percentual de participantes da pesquisa com pós-graduação

Quanto à experiência profissional dos participantes da amostra, 33,33% possuem mais de 15

anos de experiência em gestão ambiental; e 40% mais de 10 anos.

Page 56: Dissertacao Giuliano Hippertt

55

.

Figura 10: Experiência em gestão ambiental dos participantes da pesquisa

Page 57: Dissertacao Giuliano Hippertt

56

4 PESQUISA DE CAMPO

4.1 A ORGANIZAÇÃO ESTUDADA

Em outubro de 1953, com a edição da Lei 2.004, foi constituída a Petrobras, com o

objetivo de executar as atividades do setor petróleo de no Brasil, em nome da União. As

operações das atividades ligadas a este setor, à exceção da distribuição atacadista e da revenda

no varejo, foram monopólio conduzido pela Petrobras de 1954 a 1997 (PETROBRAS, 2010).

Em 6 de agosto de 1997, foi sancionada a Lei n º 9.478, que abriu as atividades da

indústria petrolífera no Brasil à iniciativa privada (PETROBRAS, 2010).

A Petrobras é uma sociedade anônima de capital aberto, cujo acionista majoritário é o

Governo do Brasil, detentora da maior parte do mercado e das operações do setor petrolífero

brasileiro, atua como uma empresa de energia nos seguintes setores: exploração e produção,

refino, comercialização e transporte de óleo e gás natural, petroquímica, distribuição de

derivados, energia elétrica, biocombustíveis e outras fontes renováveis de energia

(PETROBRAS, 2010).

Na Petrobras, as atividades de refino, logística, transporte e comercialização de

derivados, petróleo e alcoóis são realizadas essencialmente pela área de negócios denominada

Abastecimento (PETROBRAS, 2009).

A Petrobras abastece quase toda a demanda do mercado brasileiro por derivados de

petróleo - cerca de 1.847 mil barris por dia - bpd de petróleo e LGN 370 mil barris de gás

natural. O termo downstream, na Petrobras, inclui onze refinarias no Brasil com capacidade

de produzir 1.986 mil bpd, uma fábrica de Xisto, uma extensão total de dutos de 31.089km,

44 terminais, bases e 50 navios (frota própria) (PETROBRAS, 2010).

As figuras 11, 12 e 13 a seguir apresentam o fluxo da cadeia de valor da Petrobras,

com os processos que compõem o segmento de refino e transporte, foco desta pesquisa, em

destaque, e os demais processos de suporte e de gestão, também incluídos no escopo desta

pesquisa.

Page 58: Dissertacao Giuliano Hippertt

57

Figura 11: Macroprocessos de negócio com seleção do segmento estudado Fonte: PETROBRAS (2010)

Figura 12: Macroprocessos de suporte

Fonte: PETROBRAS (2010)

Figura 13: Macroprocessos de gestão Fonte: PETROBRAS (2010)

O Plano Estratégico da Petrobras 2020 estabelece como objetivo atingir patamares de

excelência na indústria de energia quanto à intensidade de emissões de GEE nos processos e

Gerir Ativos

Gerir Infraestrutura

Suprir Bens e Serviços

Gerir Tecnologia de Processos, Produtos e Equipamentos

Comerc. Comerc. Comerc. Comerc. OxigenadosOxigenadosOxigenadosOxigenados

e Outrose Outrose Outrose Outros

Compra e Venda dePetróleo

Compra e Venda deDerivadose Outros

Receb. e entregaDerivados e Outros

Receb. e entregaPetróleo

Segmento selecionado

Recebimento e entrega petróleo

Produção derivados petróleo

Comerc. Comerc. Comerc. Comerc. OxigenadosOxigenadosOxigenadosOxigenados

e Outrose Outrose Outrose Outros

Compra e Venda dePetróleo

Compra e Venda deDerivadose Outros

Receb. e entregaDerivados e Outros

Receb. e entregaPetróleo

Segmento selecionado

Recebimento e entrega petróleo

Produção derivados petróleo

Gerir SMES

Gerir RH

Gerir Processos Corporativos

Gerir Confiabilidade Operacional

Gerir Estratégia e Desempenho

Gerir Projetos de Investimento

Page 59: Dissertacao Giuliano Hippertt

58

produtos. O Plano de Negócios 2009-2013 prevê evitar a emissão de 4,5 milhões de toneladas

de dióxido de carbono equivalente (CO2e) em 2013 (PETROBRAS, 2009).

A Petrobras conduz seus negócios de acordo com os princípios do Pacto Global da

ONU, desde 2003, iniciativa por meio da qual as organizações se comprometem

voluntariamente a cumprir e comunicar seu desempenho em relação a dez princípios

relacionados a Trabalho, Direitos Humanos, Meio Ambiente e Transparência (PETROBRAS,

2009).

A elaboração do relatório de sustentabilidade da Petrobras segue a versão mais recente

(G3) das diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI). Ele se enquadra no nível de

aplicação A+, por apresentar informações sobre todos os indicadores essenciais das diretrizes

e cujo conteúdo é submetido à verificação externa. Os temas dos indicadores essenciais e

adicionais da vertente ambiental, contidos no relatório, são apresentados na tabela 01 com as

palavras-chave de cada tema destacadas em itálico (PETROBRAS, 2009).

Tabela 02: Tabela de desempenho ambiental

2005 2006 2007 2008 2009 Vazamentos de óleo e derivados (m3) 269 293 386 436 254

Consumo de energia (terajoule - TJ) 521.61 576.76 574.14 604.33

3 531.374

Emissões de gases de efeito estufa (milhões de toneladas de CO2 equivalente)

51,57 50,43 49,88 58,08 63,09

Emissões de dióxido de carbono - CO2 (milhões de toneladas)

46,59 46,13 45,37 53,54 52,92

Emissões de metano - CH4 (mil toneladas) 222,97 189,82 206,02 185,33 465,95

Emissões de óxido nitroso - N2O (toneladas) 981 997,23 919,5 1.22 1.240

Emissões atmosféricas - NOx (mil toneladas) 223,12 233,54 222,65 244,5 222,04

Emissões atmosféricas - SOx (mil toneladas) 151,65 151,96 150,9 141,79 135,39

Outras emissões atmosféricas - inclui material particulado (mil toneladas)

17,24 17,11 15,22 16,71 19,3

Retirada de água doce (milhões de m3) 158,5 178,8 216,49 195,18 176

Descartes de efluentes hídricos (milhões de m3)

159 164,3 172,8 181,14 197,2

Fonte: Relatório de Sustentabilidade Petrobras (2009)

O refino possui sua importância para toda a cadeia produtiva do petróleo, do ponto de

vista estratégico e ambiental. As refinarias são grandes geradoras de poluição. Elas consomem

grandes quantidades de água e de energia, produzem grandes quantidades de despejos

líquidos, liberam diversos gases nocivos para a atmosfera e produzem resíduos sólidos de

difícil tratamento e disposição (MARIANO, 2001).

Page 60: Dissertacao Giuliano Hippertt

59

Mariano (2001) afirma que a indústria de refino de petróleo pode ser e, muitas vezes, é

uma grande degradadora do meio ambiente, pois tem potencial para afetá-lo em todos os

níveis: ar, água, solo e, consequentemente, a todos os seres vivos que habitam o planeta.

Faz-se necessária a integração da variável ambiental no planejamento, na concepção,

e, acima de tudo, na operação das refinarias. A solução para o problema da poluição

certamente não é fechar as refinarias ou reduzir os níveis de produção, um pensamento

totalmente inviável do ponto de vista prático (MARIANO, 2001).

Na maior parte dos casos, apenas uma boa gestão operacional das plantas já é

suficiente para a redução dos níveis de poluição emitidos pelas refinarias. As chamadas “boas

práticas de operação” também reduzem os consumos de água e energia, além dos desperdícios

de matérias-primas e de produtos acabados, o que se reflete positivamente nos custos

variáveis das refinarias (MARIANO, 2001).

Mariano (2001) destaca que os controles internos têm papel ativo na redução da

poluição, pois incluem a recuperação de substâncias que não reagiram para reciclagem, a

recuperação de subprodutos dos processos, para utilização na própria planta ou mesmo ser

vendidos a terceiros, a recirculação das águas e a redução de vazamentos e respingos. A

redução das quantidades de despejos e das emissões evidentemente reduz as despesas que

seriam necessárias para o seu tratamento.

Mariano (2001) salienta que parte dos custos necessários para o tratamento dos

resíduos pode ser absorvida, com vantagens, por meio do uso de melhores e mais modernas

tecnologias de processo e com o uso de unidades de produção mais eficientes.

Mariano (2001) sugere que a conscientização ambiental nasça na base do processo de

planejamento e concepção das ampliações e/ou da construção de novas unidades, de modo

que seja levada em consideração a escolha de processos produtivos mais modernos, eficientes

e menos agressivos ao meio ambiente, e de que sejam feitos os investimentos necessários com

equipamentos e medidas de controle de poluição.

Além do refino, o transporte de petróleo e derivados pode causar descargas de portes

variáveis, desde as maiores proporcionadas por acidentes com petroleiros até as relativamente

pequenas, mas frequentes, descargas operacionais (WALKER et al., 2003 apud SILVA,

2004).

Conforme Oliveira (1993 apud SILVA, 2004), o transporte de petróleo e derivados no

Brasil utiliza os modais rodoviário, ferroviário, dutoviário, aquaviário, alem dos terminais.

No Brasil, o transporte marítimo constitui-se no principal modal, atuando tanto na navegação

Page 61: Dissertacao Giuliano Hippertt

60

de longo curso como na navegação de cabotagem, ao longo de toda a costa brasileira, por

meio dos terminais marítimos (SILVA, 2004).

Hoje os navios petroleiros têm capacidade para transportar mais de 500.000 tpb

(INTERTANKO, 2004; SILVA, 2004), como é o caso dos chamados Ultra-Large Crude

Carrier (ULCC) (SILVA, 2004).

A principal transportadora brasileira, Transpetro, subsidiária da Petrobras, opera 11

mil km de oleodutos e gasodutos, 48 terminais e 52 navios-petroleiros. A frota atual de

petroleiros opera com a capacidade de 2,9 milhões de toneladas de porte bruto. Está em curso

um Programa de Modernização e Expansão da Frota que prevê a construção de mais 49

petroleiros, sendo 26 deles na primeira fase (TRANSPETRO, 2010).

Sendo assim, a poluição marinha por hidrocarbonetos de petróleo ocorre de forma

crônica, como resultado de uma ação rotineira de manutenção dos navios e constantes

descargas nos portos e terminais, e de forma aguda, como resultado de eventuais derrames no

meio ambiente em função de acidentes com petroleiros (SILVA, 2004).

Mundialmente este transporte lança no ambiente cerca de 100.000 toneladas de

hidrocarbonetos por ano. Comparando-o a outras fontes de hidrocarbonetos e apenas às fontes

antropogênicas, este volume representa 7,7% e 14,3%, respectivamente, do total de

hidrocarbonetos lançados anualmente no meio ambiente (WALKER et al., 2003 apud SILVA,

2004).

Ao transporte marítimo pode-se atribuir uma série de impactos, tais como: emissões

atmosféricas, geração de resíduos, utilização de tintas tóxicas e transferência de espécies

exóticas por meio da água de lastro (IMO, 2004 apud SILVA, 2004).

A poluição por óleo, por seu aspecto destruidor, destaca-se como sendo uma das mais

agressivas à sociedade, mesmo diante de atividades rotineiras que geram efeitos a longo prazo

sobre o meio ambiente e a economia, como o desenvolvimento desestruturado em áreas

costeiras e a pesca comercial (WHITE; MOLLOY, 2001 apud SILVA, 2004).

Page 62: Dissertacao Giuliano Hippertt

61

4.2 DADOS OBTIDOS: COMPETÊNCIAS QUE SUSTENTAM O DESEMPENHO

AMBIENTAL DO REFINO E TRANSPORTE DE PETRÓLEO E DERIVADOS

Conforme descrito no item 3.2.3., que apresenta a etapa da Pesquisa de Campo, uma

lista de competências, que potencialmente sustentam a melhoria do desempenho ambiental do

refino e transporte de petróleo e derivados, foi identificada. Esta lista é apresentada a seguir,

de forma relacionada com seus processos originários:

� Gerir Segurança, Meio Ambiente, Eficiência Energética e Saúde:

1. Gerir políticas, diretrizes, procedimentos e indicadores de SMES.

2. Gerir riscos operacionais e ambientais.

3. Gerir certificações, auditorias e atendimento aos requisitos e legislações

ambientais.

4. Gerir licenciamentos, outorgas, autorizações de SMES, Estudos e Relatórios de

Impactos Ambientais.

5. Desenvolver Análise Preliminar de Perigos (APP) do processo e análise de

segurança, planos de contingências, de emergências ambientais, de prevenção de

incêndio e de remediação da contaminação.

6. Gerir o ciclo de vida dos produtos, incluindo a compilação e avaliação das

entradas, saídas e dos potenciais impactos ambientais ao longo do ciclo.

7. Gerir áreas impactadas.

8. Gerir ações de preservação da biodiversidade em áreas de influência.

9. Gerir ações de monitoramento costeiro e oceânico.

10. Gerir relacionamento com a sociedade e ações de responsabilidade

socioambientais.

� Gerir projetos de investimento:

11. Desenvolver projetos preliminares, definitivos e planos de execução para

construção, montagem e pré-operação, com critérios para alta performance de

unidades de processo e sistemas operacionais.

� Gerir RH:

Page 63: Dissertacao Giuliano Hippertt

62

12. Gerir programas de educação e conscientização ambiental.

13. Liderar pessoas e gerir processos de recrutamento e seleção, desempenho,

reconhecimento e recompensa de empregados.

� Gerir Aquisição e Suprimento de Bens e Serviços:

14. Gerir processos de contratação de produtos e serviços e desempenho dos

fornecedores.

� Gerir Tecnologia de Processos, Produtos e Equipamentos:

15. Gerir adequação, otimização e melhoria da qualidade dos produtos

16. Monitorar e desenvolver soluções para aperfeiçoamento dos processos de

tratamento de águas, efluentes e resíduos.

17. Desenvolver soluções de otimização do consumo de água.

18. Monitorar e desenvolver soluções para aprimorar sistemas térmicos combustíveis e

emissões atmosféricas.

19. Desenvolver soluções de eficiência energética.

� Produzir derivados:

20. Otimizar desempenho e eficiência do parque do refino.

21. Operar processos de tratamento de resíduos sólidos e oleosos.

22. Operar processos de tratamento de efluentes hídricos.

23. Operar processos de refino de petróleo, incluindo recuperação de enxofre e de

outras substâncias nocivas no refino.

24. Controlar emergências operacionais.

� Gerir ativos e confiabilidade operacional:

25 Gerir manutenção, inspeção de equipamentos e paradas operacionais programadas

e não programadas.

Page 64: Dissertacao Giuliano Hippertt

63

� Suprir mercado de petróleo e derivados:

26. Gerir sistema de controle de vazamentos, transbordamentos e derrames.

27. Gerir otimização do desempenho da logística de petróleo e derivados e de

emissões atmosféricas no transporte.

28. Gerir redução, movimentação e disposição de resíduos de insumos, produtos e

embalagens desde o ponto de consumo até o ponto de origem.

29. Gerir movimentação, armazenagem, estoques, registros e rastreamento de petróleo,

derivados e produtos químicos ou perigosos.

Os gráficos 01, 02 e 03 apresentam os níveis de importância das competências para o

desempenho ambiental do refino e transporte de petróleo e derivados, apuradas a partir da

avaliação dos especialistas.

Nos gráficos 01 e 02, são apresentadas, respectivamente, a frequência das respostas e

médias aritméticas com os erros-padrão.

O gráfico 03, caracteriza um ranking hipotético das competências independente do

nível organizacional.

Page 65: Dissertacao Giuliano Hippertt

64

Gráfico 01: Frequências de respostas por competências consolidadas por nível NÍVEL ESTRATÉGICO

5,6 11,1 27,8 16,7 38,9

5,6 11,1 16,7 11,1 11,1 44,4

5,6 5,6 11,1 22,2 22,2 11,1 22,2

5,6 16,7 16,7 16,7 16,7 27,8

5,6 11,1 5,6 11,1 11,1 22,2 22,2 11,1

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Nível de importância (1 a 10)

Fre

quên

cia

de r

espo

stas

(%

)

Gerir políticas, diretrizes, procedimentos e indicadores de SMES

Gerir certificações, auditorias e atendimento a legislações ambientais

Gerir o ciclo de vida dos produtos

Gerir relacionamento com a sociedade e ações de responsabilidade sócio ambientais

Gerir programas de educação e conscientização ambiental

Page 66: Dissertacao Giuliano Hippertt

65

NÍVEL TÁTICO

11,1 5,6 16,7 16,7 50,0

5,6 27,8 33,3 33,3

11,1 27,8 27,8 33,3

11,1 44,4 16,7 27,8

11,1 5,6 5,6 27,8 27,8 22,2

5,6 16,7 22,2 22,2 33,3

5,6 22,2 22,2 16,7 33,3

16,7 11,1 22,2 5,6 44,4

5,6 11,1 11,1 22,2 22,2 27,8

16,7 5,6 16,7 22,2 16,7 22,2

11,1 16,7 38,9 27,8 5,6

11,1 16,7 16,7 16,7 16,7 22,2

5,6 5,6 16,7 22,2 22,2 5,6 22,2

5,6 5,6 16,7 16,7 27,8 16,7 11,1

5,6 11,1 22,2 5,6 16,7 27,8 11,1

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Nível de importância (1 a 10)

Fre

quên

cia

de r

espo

stas

(%

)

Otimizar desempenho e eficiência do parque do refino

Monitorar e desenvolver soluções para sistemas térmicos combustíveis e emissões

Monitorar e desenvolver soluções para tratamento de águas, efluentes e resíduos

Desenvolver soluções de otimização do consumo de água

Gerir adequação, otimização e melhoria da qualidade dos produtos

Gerir licenciamentos, outorgas, Estudos e Relatórios de Impactos Ambientais

Desenvolver soluções de eficiência energética

Gerir riscos operacionais e ambientais

Desenvolver projetos preliminares, definitivos e planos de execução

Desenvolver APP e Planos de contingências e de emergências ambientais

Gerir áreas impactadas

Liderar pessoas e gerir recrutamento, desempenho e reconhecimento

Gerir processos de contratação e desempenho dos fornecedores

Gerir ações de preservação da biodiversidade em áreas de influência

Gerir otimização da logística e de emissões atmosféricas no transporte

Page 67: Dissertacao Giuliano Hippertt

66

NÍVEL OPERACIONAL

5,6 5,6 11,1 22,2 22,2 33,3

11,1 16,7 16,7 16,7 38,9

5,6 5,6 5,6 33,3 11,1 38,9

5,6 5,6 16,7 27,8 11,1 33,3

5,6 5,6 11,1 27,8 16,7 33,3

5,6 5,6 5,6 5,6 33,3 22,2 22,2

5,6 5,6 5,6 5,6 5,6 11,1 27,8 33,3

11,1 11,1 16,7 11,1 11,1 33,3 5,6

5,6 11,1 11,1 16,7 27,8 22,2 5,6

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Nível de importância (1 a 10)

Fre

quên

cia

de r

espo

stas

(%

)

Operar processos de tratamento de efluentes hídricos no refino

Controlar emergências operacionais

Gerir sistema de controle de Vazamentos, Transbordamentos e Derrames

Operar processo de recuperação de enxofre e de outras substâncias nocivas

Gerir a redução, movimentação e disposição de resíduos

Gerir manutenção, inspeção de equipamentos e paradas operacionais

Operar processos de tratamento de resíduos sólidos e oleosos no refino

Gerir movimentação, armazenagem, estoques, registros e rastreamento

Gerir ações de monitoramento costeiro e oceânico

Page 68: Dissertacao Giuliano Hippertt

67

Gráfico 02: Médias e erros padrão dos níveis de importância por nível organizacional

8,67 8,447,44

8,067,22

0

2

4

6

8

10

Gerir políticas, diretrizes,procedimentos e indicadores de

SMES

Gerir certificações, auditorias eatendimento a legislações

ambientais

Gerir o ciclo de vida dos produtos Gerir relacionamento com asociedade e ações de

responsabilidade sócio ambientais

Gerir programas de educação econscientização ambiental

Questão

Nív

el d

e im

port

ânci

a (m

édia

s e

erro

s-pa

drão

)

8,89 8,78 8,72 8,61 8,22 8,56 8,44 8,50 8,28 7,83 7,89 7,78 7,56 7,44 7,44

0

2

4

6

8

10

Otim

izar

des

empe

nho

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Mon

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spor

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Questão

Nív

el d

e im

port

ânci

a (m

édia

s e

erro

s-pa

drão

)

Page 69: Dissertacao Giuliano Hippertt

68

8,39 8,56 8,39 8,28 8,227,67 7,67 7,22 7,11

0

2

4

6

8

10

Operar processosde tratamento deefluentes hídricos

no refino

Controlaremergênciasoperacionais

Gerir sistema decontrole de

Vazamentos,Transbordamentos

e Derrames

Operar processode recuperação deenxofre e de outras

substânciasnocivas

Gerir a redução,movimentação e

disposição deresíduos

Gerir manutenção,inspeção de

equipamentos eparadas

operacionais

Operar processosde tratamento deresíduos sólidos eoleosos no refino

Gerirmovimentação,armazenagem,

estoques, registrose rastreamento

Gerir ações demonitoramento

costeiro e oceânico

Questão

Nív

el d

e im

port

ânci

a (m

édia

s e

erro

s-pa

drão

)

Page 70: Dissertacao Giuliano Hippertt

69

Gráfico 03: Ranking geral de importância das competências

MédiaNível

Organizacional

1 Otimizar desempenho e eficiência do parque do refino 8.89 Tático

2Monitorar e desenvolver soluções para aperfeiçoamento dos sistemas térmicos combustíveis e emissões atmosféricas

8.78 Tático

3Monitorar e desenvolver soluções para aperfeiçoamento dos processos de tratamento de águas, efluentes e resíduos

8.72 Tático

4 Gerir políticas, diretrizes, procedimentos e indicadores de SMES 8.67 Estratégico

5 Desenvolver soluções de otimização do consumo de água 8.61 Tático

6 Controlar emergências operacionais 8.56 Operacional

7Gerir licenciamentos, outorgas, autorizações de SMES, Estudos e Relatórios de Impactos Ambientais

8.56 Tático

8 Gerir riscos operacionais e ambientais 8.50 Tático

9 Gerir certificações, auditorias e atendimento aos requisitos e legislações ambientais 8.44 Estratégico

10 Desenvolver soluções de eficiência energética 8.44 Tático

11 Operar processos de tratamento de efluentes hídricos no refino 8.39 Operacional

12 Gerir sistema de controle de Vazamentos, Transbordamentos e Derrames 8.39 Operacional

13 Operar processo de recuperação de enxofre e de outras substâncias nocivas no refino 8.28 Operacional

14Desenvolver projetos preliminares, definitivos e planos de execução para construção, montagem e pré-operação, com critérios para alta performance de unidades de processo e sistemas operacionais

8.28 Tático

15 Gerir adequação, otimização e melhoria da qualidade dos produtos 8.22 Tático

16Gerir a redução, movimentação e disposição de resíduos de insumos, produtos e embalagens desde o ponto de consumo até o ponto de origem

8.22 Operacional

17 Gerir relacionamento com a sociedade e ações de responsabilidade socioambientais 8.06 Estratégico

18 Gerir áreas impactadas 7.89 Tático

19Desenvolver Análise Preliminar de Perigos (APP) do processo e de segurança e planos de contingências, de emergências ambientais, de prevenção de incêndio e de remediação da contaminação

7.83 Tático

20Liderar pessoas e gerir processos de recrutamento e seleção, desempenho, reconhecimento e recompensa de empregados

7.78 Tático

21Gerir manutenção, inspeção de equipamentos e paradas operacionais programadas e não programadas

7.67 Operacional

22 Operar processos de tratamento de resíduos sólidos e oleosos no refino 7.67 Operacional

23 Gerir processos de contratação de produtos e serviços e desempenho dos fornecedores 7.56 Tático

24 Gerir ações de preservação da biodiversidade em áreas de influência 7.44 Tático

25Gerir otimização do desempenho da logística de petróleo e derivados e de emissões atmosféricas no transporte

7.44 Tático

26 Gerir o ciclo de vida dos produtos 7.44 Estratégico

27Gerir movimentação, armazenagem, estoques, registros e rastreamento de petróleo, derivados e produtos químicos ou perigosos

7.22 Operacional

28 Gerir programas de educação e conscientização ambiental 7.22 Estratégico

29 Gerir ações de monitoramento costeiro e oceânico 7.11 Operacional

Page 71: Dissertacao Giuliano Hippertt

70

Nos campos abertos de resposta para inserção de competências adicionais foram

cadastradas as seguintes competências ou complementos:

• Gerir o desenvolvimento de tecnologias para reduzir custo e aumentar a

efetividade das tecnologias ambientais.

• Utilizar tecnologias de ponta e seguras.

• Estabelecer objetivos estratégicos em SMES, metas, desdobramento e

monitoramento de resultados.

• Integrar plano de investimentos de negócios com carteira de projetos em SMES

(eficiência energética, reuso, sistemas de abatimento de emissões, biodiversidade,

área impactada, fontes alternativas de energia etc.).

• Fomentar a transparência e o profissionalismo no tratamento das questões

ambientais.

• Gerir o relacionamento com fornecedores de serviços ambientais.

• Reter talentos e desenvolver competências.

4.3 ANÁLISE DOS DADOS

Para analisar as avaliações de cada competência foi estabelecida uma relação entre os

resultados da pesquisa de campo com a revisão bibliográfica e análise documental realizadas

em etapas anteriores.

Na classificação dos graus de importância de cada competência no nível estratégico, a

“Gestão das políticas, diretrizes, procedimentos e indicadores de SMES” e a “Gestão das

certificações, auditorias e atendimento aos requisitos e legislações ambientais” ocupam as

duas primeiras posições, com significativa diferença de importância para os demais itens. Esta

colocação tende a corroborar a caracterização destes dois itens como pilares dos sistemas de

gestão ambiental e, consequentemente, do desempenho ambiental, conforme verificado na

revisão da literatura.

Considerando o perfil da amostra, essencialmente da linha de engenharia, destaca-se a

alta média de importância da competência “Gerir relacionamento com a sociedade e ações de

responsabilidade socioambientais”, pois se trata de temática mais ligada às ciências humanas.

Page 72: Dissertacao Giuliano Hippertt

71

De fato, na pesquisa bibliográfica nota-se a gradual e intensa disseminação deste tema nas

pesquisas e práticas organizacionais de gestão ambiental.

Por outro lado, a média mais baixa, se comparada às outras competências, e o erro-

padrão mais alto que a média, apresentado pela competência “Gerir o ciclo de vida dos

produtos”, suscita o questionamento do nível de disseminação deste tema no contexto

organizacional da empresa pesquisada, dado que a produção acadêmica relacionada ao ciclo

de vida dos produtos e sua importância para a questão ambiental tem sido crescente.

Independentemente de sua posição relativa no ranking, o reconhecimento de que a

competência “Gerir programas de educação conscientização ambiental” é importante (7,22)

para o desempenho ambiental do segmento pesquisado corrobora o que foi verificado na

revisão da literatura realizada, cujos resultados posicionam esta competência como base de

sustentação para a mudança de atitudes, engajamento na questão ambiental e desenvolvimento

técnico de competências ambientais nas empresas.

Dada a diversidade das respostas, observa-se que a percepção do nível de importância

desta competência varia mais que as demais pesquisadas neste nível, com exceção da

competência ligada ao ciclo de vida dos produtos citada anteriormente.

No nível tático está posicionada a maior parte das competências que potencialmente

impactam o desempenho ambiental (51,7 %).

Com a maior média de importância deste nível e geral (8,89), a competência "Otimizar

desempenho e eficiência do parque de refino" está diretamente relacionada aos principais

indicadores ambientais do refino e inter-relacionada com a maior parte das demais

competências dos níveis tático e operacional, com exceção das ligadas ao transporte. Esta

competência possui ainda um nível de abrangência mais amplo que as demais, podendo ser,

inclusive, interpretada como sendo o resultado da aplicação de parte das demais competências

relacionadas ao refino.

Esta competência foi a única em que 50% das pessoas selecionaram o nível de

importância máximo, 10.

Na segunda e na terceira posições, estão as competências relacionadas ao

monitoramento e desenvolvimento de tecnologias para aperfeiçoamento dos processos de

tratamento de emissões atmosféricas e de águas, efluentes e resíduos, diretamente ligadas a

dois dos mais controlados indicadores ambientais deste segmento da indústria. Este controle é

ainda mais restrito no caso das emissões, o que pode ter influência na maior percepção de

importância e menor erro-padrão aferidos pelas respostas dos participantes.

Page 73: Dissertacao Giuliano Hippertt

72

O desenvolvimento de soluções para otimização do consumo de água aparece na 4ª

posição neste nível, denotando a crescente importância desta abordagem nesta indústria

altamente consumidora de água e de energia. No caso da competência em eficiência

energética, na 7ª posição, mas com alta média, 8,44, a preocupação com eficiência na

utilização dos recursos também se faz presente. Segundo análise documental, o

desenvolvimento deste tema está sendo intensificado nas atividades de SMS da organização

pesquisa, que alterou a sigla da função para SMES.

Esta competência em eficiência energética esta posicionada após as relacionadas a

licenciamentos ambientais, em quinto, e a gestão de riscos operacionais, em sexto.

Esta primeira é base e requisito para o planejamento do desempenho ambiental de

novos empreendimentos, aspecto altamente relevante no atual contexto desta indústria, dado o

volume de investimentos da ordem de 70 bilhões de dólares, com projetos classificados como

de alto impacto, em diferentes regiões do Brasil, conforme verificado no plano de negócios da

organização pesquisada.

Esta mesma análise se aplica às competências relacionadas ao desenvolvimento de

projetos de implantação de empreendimentos, na oitava posição, que, conforme descrito por

Mariano (2001), são decisivos no desempenho ambiental obtidos pelas futuras unidades de

operação, e às relacionadas a análises de segurança e planos de prevenção, contingência e

emergência, que se caracterizam como referenciais para o controle e remediação dos impactos

ambientais.

“Gerir riscos operacionais e ambientais”, na 6ª posição, com 8,50 de importância,

permite a mitigação e prevenção de riscos ambientais e a definição de parâmetros para o

estabelecimento de objetivos e indicadores ambientais que, fundamentalmente, quantificarão

o desempenho ambiental. Isto pode estar relacionado ao alto nível de importância definido

pelos participantes.

Na 9ª posição, a competência relacionada a adequação da qualidade dos produtos,

impacta diretamente nas emissões indiretas desta indústria, após utilização pelos

consumidores finais e, de acordo com documentos internos, possui metas crescentes de

redução da presença de substâncias nocivas, dentre elas enxofre, no curto prazo.

"Gerir áreas impactadas" situa-se na 10ª posição, com 7,89 de média, com diferença

relativamente relevante para com as primeiras nove competências. Um dos fatores que podem

contribuir para esta percepção é o fato de esta caracterizar uma ação de um impacto já

consumado, que pode ser minimizado e, em alguns casos, recuperado.

Page 74: Dissertacao Giuliano Hippertt

73

Liderar pessoas e gerir contratação e desempenho de fornecedores possuem médias

próximas (acima de 7,5) e caracterizam o reconhecimento por parte dos especialistas da

importância destas competências, não especificas da gestão ambiental, da área tecnológica ou

operacional, para o desempenho. Isto corrobora as referências bibliográficas que defendem a

maior participação de outras funções e áreas da organização na questão ambiental, neste caso,

do RH e da área de compras.

As ações de preservação da biodiversidade aparecem com valor acima de 7; entretanto,

na penúltima posição. Uma das hipóteses, para explicar este fato, pode estar relacionada a

uma teórica menor magnitude relativa dos impactos desta competência se comparada com as

demais.

Por fim, na mesma linha de análise anterior, a otimização da logística e das emissões

associadas ocupa a última posição, com 7,30. Neste contexto, cabe salientar o fato de os

processos de logística na organização pesquisada estarem ainda em processo de inclusão no

escopo formal do monitoramento da gestão de SMES.

No nível operacional, as competências relacionadas a controlar emergências

operacionais e controlar vazamentos, transbordamentos e derrames possuem o mesmo

conceito de impedir o impacto e estancá-lo, aparecendo na primeira e segunda posições. De

fato, este último poderia ser considerado como um caso específico do primeiro.

Com nível de importância idêntico ao controle de vazamentos, com 8,39, está a

competência "Operar processos de tratamento de efluentes hídricos”, apresentando coerência

com o posicionamento de sua equivalente no nível tático. O mesmo ocorre com "operar

processo de recuperação de enxofre...", em quarto. Em ambos os níveis estas duas temáticas

estão entre as quatro primeiras posições.

Estas operações, se efetuadas em níveis ótimos, podem otimizar ainda mais o potencial

das tecnologias, ao passo que falhas podem comprometer seriamente o desempenho ambiental

e impactar gravemente o meio ambiente.

A operação do processo de tratamento de resíduos sólidos e oleosos não possui o

mesmo patamar de nível de importância, com (7,67), segundo a percepção dos participantes.

Isto pode também estar relacionado à maior relevância dos indicadores referentes às outras

duas operações, em detrimento dos relacionados a esta.

A competência relacionada à redução, movimentação e disposição de resíduos, em

quinto, é também classificada com alto nível de importância, em consonância com a

relevância que este tema tem tido no Brasil, conforme verificado na analise documental, em

que pese a política nacional de resíduos sólidos.

Page 75: Dissertacao Giuliano Hippertt

74

A manutenção e inspeção de equipamentos apesar de não estar posicionada dentre as 5

mais importantes, também são avaliadas como importantes, especialmente se considerado o

fato de não tratar-se diretamente de competência de operação, o que reforça outro aspecto

verificado na literatura. As emissões fugitivas são um problema concreto para o desempenho

ambiental desta indústria e a manutenção e a inspeção possuem papel de destaque na

resolução deste problema, por exemplo.

Por fim, talvez por sua especificidade e caráter mais passivo que ativo no desempenho,

o monitoramento costeiro e oceânico situa-se na última posição. Entretanto, também com

média acima de 7.

Mesmo considerando-se a ressalva de que os níveis de importância são dados de forma

relativa às demais competências de um mesmo nível, para complementar as análises cabe

abstrair-se o agrupamento em níveis e analisar o ranking geral de importância de todas as

competências entre si.

Neste caso, observa-se que, com exceção das competências ligadas às Políticas, ao

Licenciamento e às Certificações, as dez competências consideradas mais importantes estão

relacionadas às operações, técnicas e tecnologias destinadas ao processo-fim das empresas de

Refino, não sendo competências gerais de gestão ambiental, mas sim, competências

específicas do negócio em questão.

Dentre as competências adicionais, provenientes dos registros dos respondentes nos

campos abertos do questionário, cabe ressaltar, como atributos complementares das

competências de desenvolvimento de tecnologia previamente identificadas, a questão da

redução de custos, aumento da efetividade e segurança das tecnologias ambientais, fator de

relevância também corroborado na literatura.

Nesta linha, na competência “Gerir políticas, diretrizes, procedimentos e indicadores

de SMES”, caberia substituir a palavra indicadores por “desempenho integrado” de SMES,

alinhado aos requisitos das sugestões registradas nos campos abertos do questionário,

relacionadas a inserção de objetivos estratégicos, metas, desdobramento e monitoramento de

resultados e integração com o plano de negócios.

As questões da transparência e profissionalismo, no tratamento das questões

ambientais e do desenvolvimento de competências, poderiam ser evidenciadas como um dos

objetivos da competência “Gerir programas de educação e conscientização ambiental”.

Na competência “Gerir processos de contratação de produtos e serviços e desempenho

dos fornecedores” cabe ressaltar que os fornecedores de serviços ambientais estão incluídos

no escopo.

Page 76: Dissertacao Giuliano Hippertt

75

4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA PESQUISA DE CAMPO

Após terem sido identificadas as competências que potencialmente sustentam a

melhoria do desempenho ambiental do refino e transporte de petróleo e derivados, foi possível

validá-las e hierarquizá-las utilizando-se o questionário, considerando-se as frequências e as

médias das respostas obtidas.

Desta forma, além da validação do quadro de competências previamente identificado,

foram hierarquizadas as competências mais importantes para o desempenho ambiental.

Para validar e hierarquizar estas competências, foram definidos os critérios de

agrupamento, considerando que níveis semelhantes de abrangência podem ser mais facilmente

comparados entre si. Analisando-se os baixos erros-padrão obtidos na maior parte das

questões, pode-se supor que a decisão de se agrupar as competências em três níveis distintos

foi acertada.

Como métricas para validação das competências e análise comparativa entre elas, a

utilização das frequências e médias das respostas dos especialistas foram suficientes para

identificar o nível de importância de cada competência para o desempenho ambiental do

segmento pesquisado.

Organizando de forma decrescente as maiores médias de importância, foi definido o

ranking das competências mais importantes para a sustentação do desempenho ambiental do

refino e transporte de petróleo e derivados.

Considerando-se que a escala de importância adotada varia de 1 a 10 e a média de

avaliação, consolidada dos três níveis e individual de todas as competências, foi acima de 7,

pode-se inferir que as competências identificadas nas etapas anteriores são importantes para o

desempenho ambiental do refino e transporte de petróleo e derivados, segundo a percepção

dos participantes.

Corroborando esta conclusão, outro aspecto importante a ser analisado é o de que as

competências adicionais ou observações registradas pelos respondentes apenas

complementam competências já previamente identificadas, não trazendo diretamente um

elemento novo ao inventário. Isto reforça o nível de abrangência das competências contidas

no quadro do questionário.

Analisando as médias aritméticas do nível de importância consolidadas em cada nível,

observa-se que as competências classificadas no nível tático, ou seja, que representam

Page 77: Dissertacao Giuliano Hippertt

76

desdobramentos do planejamento estratégico, apresentam a maior média consolidada de

importância, ao mesmo tempo em que apresentam o menor erro-padrão.

Uma das hipóteses que pode ser considerada para se explicar estes resultados pode ser

a de que, no nível tático, o planejamento estratégico transcreve-se em planos práticos,

tornando mais fácil a correlação direta de importância para o desempenho ambiental. As

competências deste nível possuem, na quase totalidade dos casos, um caráter de prevenção ou

redução dos riscos e impactos ambientais, o que tenderia a favorecer ainda mais esta

correlação.

Ainda no nível tático, analisando-se a composição das competências frente à revisão

da literatura, observam-se características comuns relacionadas à criação das condições para

que os objetivos relacionados ao desempenho ambiental possam ser atingidos.

No nível operacional, as competências possuem caráter mais contencioso e

relacionado às operações de refino e transporte. Embora não possuam caráter preventivo e não

sejam executadas pelas áreas de gestão ambiental, mas sim pela operação, estas competências

estão diretamente relacionadas ao desempenho ambiental, de forma altamente impactante,

seja por meio de otimização ou de falhas. Falhas nestas competências podem implicar graves

impactos ambientais.

Tendo sido neste nível o mais elevado erro-padrão, pode ser suscitada uma discussão

acerca do nível de disseminação e consenso dos gestores e especialistas em meio ambiente

acerca da participação direta dos responsáveis pela operação e manutenção dos processos da

indústria no desempenho ambiental.

Finalmente, no nível estratégico, apesar de as competências também poderem

contribuir para a prevenção de riscos e impactos, a classificação da média do nível de

importância mais baixo pode estar relacionada ao nível de abrangência das competências,

mais amplo e distante dos processos-fim.

Nestes casos, o impacto no desempenho ambiental pode caracterizar-se de forma

menos evidente e mais no longo prazo. Isto poderia contribuir para uma percepção de impacto

mais indireta e uma avaliação de importância mais branda.

Em suma, a pesquisa de campo atendeu aos requisitos esperados desta etapa,

fornecendo os insumos finais para a conclusão acerca da hipótese formulada e objetivos geral

e específicos da pesquisa.

Page 78: Dissertacao Giuliano Hippertt

77

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1. CONCLUSÃO

O desenvolvimento de competências e o desempenho ambiental no Refino e

Transporte de petróleo e derivados foram estudados de forma relacionada buscando-se

responder a questão da pesquisa e atender aos objetivos propostos.

Por meio da revisão bibliográfica foram confirmadas as hipóteses de que a excelência

no desempenho ambiental favorece o atendimento a requisitos legais e à competitividade e de

que determinadas competências organizacionais, individuais e coletivas sustentam o

desempenho ambiental. A pesquisa de campo corroborou esta conclusão sob a ótica especifica

do caso estudado.

Com base na análise dos resultados obtidos, pode-se afirmar que a questão central

desta pesquisa foi respondida a partir da apresentação de quais competências sustentam a

melhoria do desempenho ambiental do refino e transporte de petróleo e derivados, segundo as

premissas metodológicas adotadas.

Para atender aos objetivos propostos, além da análise dos conceitos e fundamentos

teóricos, para se estabelecer as diretrizes pretendidas, foram identificadas, validadas e

priorizadas as competências pretendidas, estabelecendo-se quais são relativamente mais

importantes para o desempenho ambiental e para programas de educação ambiental.

A partir daí, utilizando análises estatísticas da percepção de especialistas, foi possível

validar a hipótese de que existem competências específicas que sustentam o desempenho

ambiental do segmento pesquisado.

A partir da análise da relação dos fundamentos teóricos inerentes ao desempenho

ambiental, com os dados obtidos na pesquisa de campo, tornou-se viável a análise da

importância relativa de cada competência identificada ao desempenho ambiental do refino e

transporte de petróleo e derivados.

Desta forma, utilizando-se o caso estudado como referência, foram estabelecidas

diretrizes para a identificação de competências com foco na melhoria do desempenho

ambiental.

De forma complementar, foram disponibilizados referenciais para o desenvolvimento

de programas de educação ambiental no segmento pesquisado, caracterizando o atendimento

integral aos objetivos geral e específicos da pesquisa.

Page 79: Dissertacao Giuliano Hippertt

78

Analisando-se o quadro de competências obtido frente aos seus processos de origem,

observa-se que, segundo a percepção dos gestores e especialistas da indústria pesquisada, as

competências que sustentam a melhoria do desempenho ambiental do refino e transporte estão

dispersas ao longo de diversos setores da organização e não concentradas na função ou setor

de gestão ambiental.

A partir daí, buscando-se detalhar o objetivo geral da pesquisa, com base no caso

estudado, pode-se concluir que é conveniente o estabelecimento de um grupo de trabalho,

envolvendo representantes de diversas áreas da organização ou segmento trabalhado, com a

finalidade de identificar as competências que sustentam o desempenho ambiental.

Neste grupo, destacam-se representantes da área de gestão ambiental e do RH,

coordenadores da iniciativa, da área responsável pela gestão de processos organizacionais

(base para a identificação das competências – caso esta base de processos mapeados não

exista, pode ser proposta a criação de uma ação para fazê-lo em conjunto com o mapeamento

das competências) e das demais áreas da organização.

Estes representantes técnicos podem ser indicados pela alta liderança das diversas

áreas da organização, considerando-se a experiência profissional, a qualificação e o notório

conhecimento dos processos em que atuam e do sistema ambiental no qual a organização está

inserida.

É importante, também, definir-se, previamente e com clareza, a base conceitual a ser

adotada a definição de “competência”, facilitando a compreensão dos especialistas no

momento da identificação. No caso estudado, utilizou-se como base o conceito híbrido

descrito por Mclagan (1997), em que a competência é um conjunto de atributos, como uma

coleção de conhecimentos, habilidades e atitudes e/ou tarefas, entregas e resultados.

Além da identificação das competências, foco deste trabalho, verificou-se, no caso

estudado, a realização das seguintes etapas subsequentes: diagnóstico (percepção do nível de

proficiência) das competências, priorização das competências para desenvolvimento,

planejamento de ações de desenvolvimento das competências e realização destas ações.

Especificamente, na etapa de identificação (mapeamento) das competências, pode ser

realizado seminário, contando com a participação dos representantes das áreas e especialistas

em conjunto, de forma que as competências possam ser analisadas de forma transversal.

Caso disponíveis, como insumo para a realização deste seminário e análise dos

especialistas, podem ser fornecidos relatórios descritivos de competências previamente

mapeadas, mapas ou padrões de processos, ementas e conteúdos programáticos de programas

de formação e educação continuada ligados a questão ambiental, bem como o balanço social

Page 80: Dissertacao Giuliano Hippertt

79

com as principais realizações e resultados da organização trabalhada nos campos econômico,

social e ambiental e referencial teórico relacionado a desempenho ambiental, se possível, no

segmento da empresa trabalhada.

A partir daí, para cada grupo de especialistas, pode ser adotada a seguinte sequência de

questões para a identificação das competências que suportam o desempenho ambiental:

• Quais são os processos e atividades relacionados à sua área?

• Quais destes possuem interface direta ou indireta com o desempenho ambiental da

organização?

• Que competências são necessárias para que cada um destes processos seja

desempenhado?

• Destas, quais são as competências mais importantes para o desempenho ambiental da

organização ou segmento trabalhado?

• Para responder a esta ultima pergunta, as competências podem ser agrupadas por nível,

estratégico, tático ou operacional.

O resultado deste mapeamento pode ser armazenado em um banco de dados ou

sistema informatizado, para facilitar a realização de etapas posteriores no desenvolvimento de

competências, e a posterior gestão das informações.

Observa-se também que, a correlação do nível percebido de importância das

competências com o nível de relevância e controle dos indicadores na organização estudada

deve, também, ser ressaltado. Pode-se inferir que quanto maior a relevância dada a um

indicador maior tende a ser a importância percebida da competência relacionada como, por

exemplo, nos casos das emissões atmosféricas e de efluentes hídricos observados no caso

estudado.

Considerando-se os resultados obtidos, torna-se factível o estabelecimento de uma

correlação entre a hierarquização da importância das competências e uma priorização para a

formação e o desenvolvimento de pessoal. Isto, portanto, pode ser uma base para a elaboração

de planos corporativos e individuais de desenvolvimento de competências.

Além disto, com este inventário, torna-se possível a definição de um escopo do que

pode e deve ser treinado para que o desempenho ambiental possa ser sustentado ou

melhorado. Com a hierarquização pode ser realizada a priorização do que deve ser treinado

primeiro e com maior investimento, e onde deverá estar a ênfase no acompanhamento e

controle das realizações.

Page 81: Dissertacao Giuliano Hippertt

80

Independentemente de ser direta ou indireta, a contribuição das competências

organizacionais para a melhoria e sustentação do desempenho ambiental, seja por meio da

sustentação dos sistemas de gestão ambiental ou por meio da sustentação direta do

desempenho, este trabalho reuniu evidências que indicam que é relevante o investimento na

pesquisa e aplicação de práticas de desenvolvimento de competências para a melhoria do

desempenho ambiental.

Desta forma, os profissionais de RH devem se preparar para desenvolver atividades

integradas e suportar as equipes de gestão ambiental, fortalecendo este novo campo de

pesquisa e de atuação.

Embora a pesquisa de campo tenha sido mais voltada para as competências científicas,

tecnológicas e organizacionais, ressaltou-se neste trabalho que, estas, dependem da aplicação

de competências comportamentais e atitudinais para que possam se desenvolver, sendo,

portanto, pré-requisitos para as demais. A decisão de não detalhar na pesquisa de campo estes

tipos de competências se deveu ao fato de estas estarem mais disseminadas e desenvolvidas

na literatura.

5.2 SUGESTOES DE NOVAS PESQUISAS

Sugere-se que sejam pesquisados em novos trabalhos métodos e soluções a serem

adotados para o desenvolvimento destas competências identificadas e de outras que sustentam

a melhoria do desempenho ambiental. Adicionalmente, sugere-se a pesquisa de métodos para

avaliação dos níveis de proficiência de uma organização ou de indivíduos nestas

competências, bem como para avaliação da correlação do desenvolvimento destas com os

resultados de indicadores ambientais ao decorrer do tempo.

Page 82: Dissertacao Giuliano Hippertt

81

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APÊNDICE

APÊNDICE A: EXEMPLO DE TELA DO QUESTIONÁRIO

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ANEXOS

ANEXO A - DEFINIÇÃO E CONTRIBUIÇÕES DAS PRÁTICAS DE RECURSOS

HUMANOS PARA O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL

Práticas de gestão de recursos humanos

Definição Suporte ao sistema de gestão

ambiental

Recrutamento O objetivo desta atividade é localizar e

estimular os potenciais candidatos a aplicar-se para as vagas atuais ou futuras. Assim, o recrutamento pretende aumentar a quantidade e a diversidade de candidatos a uma certa vaga

As atividades de recrutamento, interno ou externo, mostram a preferência da empresa para os candidatos comprometidos com o meio ambiente

Seleção Enquanto o recrutamento visa aumentar a quantidade de candidatos, a seleção visa reduzir esta quantidade, escolhendo o candidato que melhor atende aos critérios da vaga disponível

Seleção de pessoas comprometidas e sensíveis à questão ambiental, com uma contribuição potencial para a gestão ambiental de uma empresa

Treinamento O treinamento pode ser entendido como o processo sistemático de orientar o comportamento dos trabalhadores para a consecução dos objetivos organizacionais

Formação ambiental de todos os empregados de qualquer empresa ou empresas terceirizadas, com ênfase sobre os aspectos ambientais de cada posto de trabalho

Avaliação de desempenho

A avaliação de desempenho é utilizada para analisar o desempenho dos funcionários relacionados com as suas incumbências, comparando metas e resultados

Avaliação e registro de desempenho ambiental dos trabalhadores ao longo de toda a sua carreira em uma empresa

Recompensa A política de premiar visa atrair, reter e motivar os melhores colaboradores, bem como incentivá-los a desenvolver os conhecimentos, habilidades e atitudes que apoiam a realização dos objetivos de uma empresa

Implementação de um sistema de recompensas financeiras e não-financeiras para os empregados com potencial diferenciado para contribuir com a gestão ambiental

Trabalho em equipe Equipe significa um pequeno grupo de pessoas com conhecimentos complementares que visam atingir metas e objetivos comuns

Agrupamento funcional e / ou equipes interdisciplinares, a fim de tratar e resolver os problemas ambientais e apresentar melhorias ambientais

Gestão da cultura organizacional

A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um determinado grupo apresenta, descobre ou desenvolve em seu processo de aprendizagem para lidar com problemas de adaptação, quer externa ou integração interna

A questão ambiental é tratada como valor na cultura organizacional de uma empresa

Gestão da aprendizagem organizacional

A aprendizagem organizacional é o processo que compreende a aquisição, interpretação e distribuição da informação

Estímulo à aquisição, interpretação, a partilha de informações e ideias relacionadas com a gestão ambiental

Fonte: Jabbour e Santos (2008)

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ANEXO B - TEMAS DOS INDICADORES ESSENCIAIS E ADICIONAIS DA VERTENTE AMBIENTAL

Desempenho ambiental

Informações sobre a forma de gestão.

Materiais

Materiais usados por peso ou volume.

Percentual dos materiais usados provenientes de reciclagem.

Energia

Consumo de energia direta discriminado por fonte de energia primária.

Consumo de energia indireta discriminado por fonte primária.

Energia economizada devido a melhorias em conservação e eficiência.

Iniciativas para fornecer produtos e serviços com baixo consumo de energia, ou que usem energia gerada por recursos renováveis, e a redução na necessidade de energia resultante dessas iniciativas.

Iniciativas para reduzir o consumo de energia indireta e as reduções obtidas.

Água

Total de retirada de água por fonte.

Fontes hídricas significativamente afetadas por retirada de água.

Percentual e volume total de água reciclada e reutilizada.

Biodiversidade

Localização e tamanho da área possuída, arrendada ou administrada dentro de áreas protegidas, ou adjacentes a elas, e áreas de alto índice de biodiversidade fora das áreas protegidas.

Descrição de impactos significativos na biodiversidade de atividades, produtos e serviços em áreas protegidas e em áreas de alto índice de biodiversidade fora das áreas protegidas.

Habitats protegidos ou restaurados.

Estratégias, medidas em vigor e planos futuros para a gestão de impactos na biodiversidade.

Número de espécies na Lista Vermelha da IUCN e em listas nacionais de conservação com habitats em áreas afetadas por operações, discriminadas pelo nível de risco de extinção.

Emissões, Efluentes e Resíduos

Total de emissões diretas e indiretas de gases de efeito estufa, por peso.

Outras emissões indiretas relevantes de gases de efeito estufa, por peso.

Iniciativas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e as reduções obtidas.

Emissões de substâncias destruidoras da camada de ozônio, por peso.

NOx, SOx e outras emissões atmosféricas significativas, por tipo e peso.

Descarte total de água, por qualidade e destinação.

Peso total de resíduos, por tipo e método de disposição.

Número e volume total de derramamentos significativos.

Peso de resíduos transportados, importados, exportados ou tratados considerados perigosos nos termos da Convenção da Basileia - Anexos I, II, III e VIII, e percentual de carregamentos de resíduos transportados internacionalmente.

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Identificação, tamanho, status de proteção e índice de biodiversidade de corpos d’água e habitats relacionados significativamente afetados por descartes de água e drenagem realizados pela organização relatora.

Produtos e Serviços

Iniciativas para mitigar os impactos ambientais de produtos e serviços e a extensão da redução desses impactos.

Percentual de produtos e suas embalagens recuperados em relação ao total de produtos vendidos, por categoria de produto.

Conformidade

Valor monetário de multas significativas e número total de sanções não-monetárias resultantes da não-conformidade com leis e regulamentos ambientais.

Transporte

Impactos ambientais significativos do transporte de produtos e outros bens e materiais utilizados nas operações da organização, bem como do transporte de trabalhadores.

Geral

Total de investimentos e gastos em proteção ambiental, por tipo. Fonte: Adaptado pelo autor do Relatório de Sustentabilidade Petrobras (2009)

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ANEXO C - IMPACTOS AMBIENTAIS POTENCIAIS DA INDÚSTRIA QUÍMICA

Impactos Ambientais Potenciais

Medidas Atenuantes

1) Contaminação hídrica devido ao lançamento de efluentes, águas de lavagem, águas de resfriamento e lixiviação das áreas de depósitos de materiais ou rejeitos.

• Não deve ser lançada nenhuma água residuária, sem o tratamento necessário para sua depuração, nos rios ou em locais onde possa ocorrer infiltração.

• Os efluentes hídricos podem ser tratados por meio de: neutralização. evaporação, aeração, floculação, separação de óleos e graxas, absorção por carbono, osmose reversa, troca iônica, tratamento biológico etc. dependendo do tipo de carga contaminante que se quer remover.

• Para lançamento de efluentes líquidos nos corpos hídricos receptores, devem ser observados os padrões para emissão de efluentes constantes da resolução do CONAMA 020/86.

• Os depósitos de materiais que possam ser lixiviados através das águas de chuva devem ser cobertos e possuir sistema de drenagem, de forma a evitar a contaminação das águas pluviais.

• As áreas de armazenamento e manuseio de matérias-primas e produtos devem ser impermeabilizadas e contar com sistema de canaletas ou ralos coletores, de forma que os derrames eventuais sejam conduzidos ao tratamento, assim como as águas de lavagem destas áreas.

2) Emissões de partículas para a atmosfera, provenientes de todas as operações da planta.

• As emissões de partículas podem ser controladas pelo uso de equipamentos como ciclones, filtros de manga, precipitadores eletrostáticos e lavadores, entre outros.

• A emissão de poeira dos pátios e áreas externas, onde não haja contaminantes químicos, pode ser controlada através de pulverização de água.

3) Emissões gasosas de óxidos de enxofre e nitrogênio, amoníaco, névoas ácidas e compostos de flúor.

• O controle das emissões de gases pode ser feito pelo uso de lavadores de gases, ou absorção com carvão ativado, entre outras técnicas.

4) Liberação casual de solventes e materiais ácidos ou alcalinos, potencialmente perigosos.

• Manutenção preventiva de equipamentos e áreas de armazenamento, para se evitar fugas casuais.

• Instalação de diques e bacias de contenção ao redor ou a jusante dos tanques de armazenamento de produtos perigosos ou que possam apresentar riscos para o meio ambiente.

5) Contaminação do solo e/ou de águas superficiais ou subterrâneas pela disposição inadequada de resíduos sólidos resultantes dos processos da indústria química, nos quais se incluem também os lodos de tratamento de efluentes hídricos e gasosos e partículas sólidas dos coletores de poeira.

• Os resíduos sólidos que não possam ser recuperados e reaproveitados devem ser tratados adequadamente antes da disposição final.

• Para escolha do tratamento adequado, dever ser observada a classificação do resíduo, de acordo com a norma da ABNT – NBR 10004.

• De acordo com a natureza do resíduo, as possibilidades de tratamento incluem: incineração, disposição em aterro industrial controlado, inertização e solidificação química, encapsulamento, queima em fornos de produção de cimento etc.

• Não havendo possibilidade de tratamento na área da indústria, o resíduo pode ser tratado em outra planta que disponha de instalações adequadas para tratamento; neste caso, deve-se ter cuidado especial com o transporte.

• No caso de o resíduo não ser tratado imediatamente após a sua geração, deve-se prever, na área da indústria, locais adequados para seu armazenamento.

6) Alterações no trânsito local, decorrentes da circulação de caminhões de transporte de carga(inclusive cargas perigosas).

• Devem ser avaliadas as condições de acesso e sistema viário durante o estudo de viabilidade do empreendimento, selecionando-se as melhores rotas, de forma a reduzir os impactos e riscos de acidentes.

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Impactos Ambientais Potenciais

Medidas Atenuantes

7) Poluição sonora causada pelo uso de equipamentos e operações que geram ruídos elevados.

• Tratamento acústico por meio do enclausuramento de equipamentos ou de proteção acústica nas edificações onde estão instalados os equipamentos ruidosos e/ou nas unidades cujas operações gerem níveis de ruídos significativos.

Fonte: Banco do Nordeste, 1999 (In: Mariano, 2001)