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DISTRIBUIÇÃO E VARIAÇÃO TEMPORAL DE ASSEMBLÉIAS DE ANFÍPODES CAPRELÍDEOS DO FITAL DE SARGASSUM (FUCALES) NO LITORAL NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. Raquel Costa e Silva 1 , Nayara Ferreira Carvalho 1 , Bruna Alves de Brito 1 , Karin Cristine Baldauf 1 , Luisa Miglio 1 , Isabela Corsini Pereira Garcia 1 , Karla Vanessa Souza Cunha 1 , Eduardo de Freitas Sousa 2 , Giuliano Buzá Jacobucci 3 . 1 Graduação em Ciências Biológicas – Instituto de Biologia – Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia- MG. 2 Mestrado em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais – Instituto de Biologia – Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia- MG. 3 Instituto de Biologia – Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia- MG. METODOLOGIA Foram realizadas coletas nos meses de dezembro de 2009 e março de 2010 em cinco praias do município de Ubatuba (Fortaleza, Lamberto, Lázaro, Perequê- Mirim e Ubatumirim) (Figura 2) e duas do município de São Sebastião (Preta e Cigarras) (Figura 3). Através de mergulho livre (snorkeling), foram coletadas dez frondes de Sargassum em cada praia e levadas ao laboratório para lavagem e remoção dos organismos. O material resultante das lavagens foi triado e identificado ao nível de espécie. As frondes foram secas em estufa a 60 o C, por 48 horas. Para cada local de coleta, foram obtidos a densidade média de cada espécie (dividindo-se o número de indivíduos pela biomassa seca de Sargassum), a riqueza de espécies e o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’). INTRODUÇÃO Os anfípodes são crustáceos que apresentam elevada representatividade em comunidades associadas a macrófitas marinhas e a outros substratos biológicos. A estruturação das assembléias de anfípodes caprelídeos associados a algas pode se relacionar a uma série de fatores ambientais e interações bióticas, os quais podem provocar efeitos importantes nos padrões de riqueza, diversidade e abundância dessas assembléias em locais e períodos distintos. Alguns estudos acerca da presença de anfípodes caprelídeos, especialmente no litoral das regiões sul e sudeste do Brasil já foram realizados, no entanto, há muito poucos trabalhos que abordam a ocorrência desses peracáridos em diferentes escalas de espaço e tempo no país. OBJETIVOS Este trabalho teve como objetivo avaliar as variações espaço-temporais de assembléias de anfípodes caprelídeos associados a bancos da alga parda Sargassum (Fucales), no litoral norte do Estado de São Paulo (Figura 1). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram coletados 2370 indivíduos no período de dezembro de 2009 e 284 no período de março de 2010. Em dezembro foram registradas as espécies Caprella danilevskii, C. scaura, C. dilatata, C. equilibra, C. penantis, Paracaprella tenuis, P. pusilla, Deutella aspiducha e Pseudoaginella montoucheti . Em março, foram encontradas as espécies Caprella danilevskii , C. scaura, C. dilatata, C. equilibra, Paracaprella tenuis, Deutella aspiducha, Pseudoaginella montoucheti e Orthoprotella meloi (Figura 4). A maior riqueza de espécies foi registrada na praia do Lázaro (7 espécies) e a menor em Ubatumirim (1 espécie) em março de 2010. Não houve variação na riqueza entre períodos de coleta, apenas nas praias da Fortaleza e Lázaro. Em todas as praias houve variação temporal na diversidade de espécies. Os maiores índices de diversidade de espécies foram registrados em março, na praia do Lázaro (H’= 0,691) e na praia Preta (H’= 0,595) (Figura 5). Os maiores valores de densidade foram registrados em dezembro, na praia Preta, para a espécie Caprella scaura (45,25+ 40,38 ind./g), enquanto a menor densidade foi encontrada para P. tenuis (0,004+ 0,01 ind./g) na praia de Perequê-Mirim (Figura 6). Figura 4: Algumas espécies de caprelídeos encontradas nas amostras: A- Caprella danilevskii Czerniavski, 1868; B- C. scaura Templeton, 1836; C- C. dilatata Kroyer, 1843; D- C. penantis Leach, 1814 ; E- Paracaprella tenuis Mayer, 1903; F- Deutella aspiducha Gable & Lazo- Wasem, 1987 ; G- Pseudoaginella montoucheti Quitete, 1971; H - P. pusilla Mayer, 1890 A C Figura 2: Praias de Ubatuba. A- Fortaleza; B- Lamberto; C- Lázaro; D- Perequê-Mirim; E- Ubatumirim. Figura 3: Praias de São Sebastião: F- Preta e G- Cigarras. Figura 1: Mapa do litoral norte do Estado de São Paulo e a localização das praias. Figura 5: Representação gráfica dos índices de diversidade de espécies. D Os dados obtidos evidenciam diferenças nas comunidades entre os dois períodos, bem como entre as praias estudadas. Diversos fatores bióticos e abióticos podem influenciar os padrões de distribuição e variação temporal dos anfípodes caprelídeos, como a variação no crescimento das algas e do hidrodinamismo. A praia do Lázaro apresenta condições hidrodinâmicas mais intensas que as demais praias, havendo maior disponibilidade de material em suspensão, o que favorece a alimentação dos caprelídeos. Além disso, nessa praia a epibiose por hidrozoários é alta, favorecendo a fixação dos caprelídeos. A disponibilidade de frondes de Sargassum também pode ser um fator importante para explicar a distribuição e a variação temporal dos caprelídeos. Diferenças na qualidade ambiental, na disponibilidade de recursos, na intensidade das interações competitivas e predação, bem como na ocorrência de picos de reprodução em períodos distintos, também são fatores reguladores importantes em comunidades fitais e que podem afetar a dinâmica de assembléias de anfípodes caprelídeos A B C E F G A B C D E F G D H Figura 6: Representação gráfica dos valores de densidade de indivíduos registrados por praia.

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Page 1: DISTRIBUIÇÃO E VARIAÇÃO TEMPORAL DE ASSEMBLÉIAS DE ANFÍPODES CAPRELÍDEOS DO FITAL DE SARGASSUM (FUCALES) NO LITORAL NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. Raquel

DISTRIBUIÇÃO E VARIAÇÃO TEMPORAL DE ASSEMBLÉIAS DE ANFÍPODES CAPRELÍDEOS DO FITAL DE SARGASSUM (FUCALES) NO

LITORAL NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO.Raquel Costa e Silva1, Nayara Ferreira Carvalho1, Bruna Alves de Brito1, Karin Cristine Baldauf1, Luisa Miglio1, Isabela

Corsini Pereira Garcia1, Karla Vanessa Souza Cunha1, Eduardo de Freitas Sousa2, Giuliano Buzá Jacobucci3.

1 Graduação em Ciências Biológicas – Instituto de Biologia – Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia- MG. 2 Mestrado em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais – Instituto de Biologia – Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia- MG.

3 Instituto de Biologia – Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia- MG.

 

METODOLOGIAForam realizadas coletas nos meses de dezembro de 2009 e março de 2010 em cinco praias

do município de Ubatuba (Fortaleza, Lamberto, Lázaro, Perequê-Mirim e Ubatumirim) (Figura

2) e duas do município de São Sebastião (Preta e Cigarras) (Figura 3). Através de mergulho

livre (snorkeling), foram coletadas dez frondes de Sargassum em cada praia e levadas ao

laboratório para lavagem e remoção dos organismos. O material resultante das lavagens foi

triado e identificado ao nível de espécie. As frondes foram secas em estufa a 60oC, por 48

horas. Para cada local de coleta, foram obtidos a densidade média de cada espécie

(dividindo-se o número de indivíduos pela biomassa seca de Sargassum), a riqueza de

espécies e o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’).

INTRODUÇÃOOs anfípodes são crustáceos que apresentam elevada representatividade em comunidades

associadas a macrófitas marinhas e a outros substratos biológicos. A estruturação das

assembléias de anfípodes caprelídeos associados a algas pode se relacionar a uma série de

fatores ambientais e interações bióticas, os quais podem provocar efeitos importantes nos

padrões de riqueza, diversidade e abundância dessas assembléias em locais e períodos

distintos. Alguns estudos acerca da presença de anfípodes caprelídeos, especialmente no

litoral das regiões sul e sudeste do Brasil já foram realizados, no entanto, há muito poucos

trabalhos que abordam a ocorrência desses peracáridos em diferentes escalas de espaço e

tempo no país.

OBJETIVOSEste trabalho teve como objetivo avaliar as variações espaço-temporais de assembléias de

anfípodes caprelídeos associados a bancos da alga parda Sargassum (Fucales), no litoral

norte do Estado de São Paulo (Figura 1).

RESULTADOS E DISCUSSÃOForam coletados 2370 indivíduos no período de dezembro de 2009 e 284 no período de

março de 2010. Em dezembro foram registradas as espécies Caprella danilevskii, C.

scaura, C. dilatata, C. equilibra, C. penantis, Paracaprella tenuis, P. pusilla, Deutella

aspiducha e Pseudoaginella montoucheti. Em março, foram encontradas as espécies

Caprella danilevskii, C. scaura, C. dilatata, C. equilibra, Paracaprella tenuis, Deutella

aspiducha, Pseudoaginella montoucheti e Orthoprotella meloi (Figura 4). A maior riqueza

de espécies foi registrada na praia do Lázaro (7 espécies) e a menor em Ubatumirim (1

espécie) em março de 2010. Não houve variação na riqueza entre períodos de coleta,

apenas nas praias da Fortaleza e Lázaro. Em todas as praias houve variação temporal na

diversidade de espécies. Os maiores índices de diversidade de espécies foram registrados

em março, na praia do Lázaro (H’= 0,691) e na praia Preta (H’= 0,595) (Figura 5). Os

maiores valores de densidade foram registrados em dezembro, na praia Preta, para a

espécie Caprella scaura (45,25+40,38 ind./g), enquanto a menor densidade foi encontrada

para P. tenuis (0,004+0,01 ind./g) na praia de Perequê-Mirim (Figura 6).

 

Figura 4: Algumas espécies de caprelídeos encontradas nas amostras: A- Caprella danilevskii Czerniavski, 1868; B- C. scaura Templeton, 1836; C- C. dilatata Kroyer, 1843; D- C. penantis Leach, 1814 ; E- Paracaprella tenuis Mayer, 1903; F- Deutella aspiducha Gable & Lazo-Wasem, 1987 ; G- Pseudoaginella montoucheti Quitete, 1971; H - P. pusilla Mayer, 1890

A C

Figura 2: Praias de Ubatuba. A- Fortaleza; B- Lamberto; C- Lázaro; D- Perequê-Mirim; E- Ubatumirim.

Figura 3: Praias de São Sebastião: F- Preta e G- Cigarras.

Figura 1: Mapa do litoral norte do Estado de São Paulo e a localização das praias.Figura 5: Representação gráfica dos índices de diversidade de espécies.

D

Os dados obtidos evidenciam diferenças nas comunidades entre os dois períodos, bem como

entre as praias estudadas. Diversos fatores bióticos e abióticos podem influenciar os padrões

de distribuição e variação temporal dos anfípodes caprelídeos, como a variação no

crescimento das algas e do hidrodinamismo. A praia do Lázaro apresenta condições

hidrodinâmicas mais intensas que as demais praias, havendo maior disponibilidade de

material em suspensão, o que favorece a alimentação dos caprelídeos. Além disso, nessa

praia a epibiose por hidrozoários é alta, favorecendo a fixação dos caprelídeos. A

disponibilidade de frondes de Sargassum também pode ser um fator importante para

explicar a distribuição e a variação temporal dos caprelídeos. Diferenças na qualidade

ambiental, na disponibilidade de recursos, na intensidade das interações competitivas e

predação, bem como na ocorrência de picos de reprodução em períodos distintos, também

são fatores reguladores importantes em comunidades fitais e que podem afetar a dinâmica

de assembléias de anfípodes caprelídeos associados a Sargassum.

A B C

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F G

A B C D

E F G

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Figura 6: Representação gráfica dos valores de densidade de indivíduos registrados por praia.