diversidade religiosa · lhante porque ele pensa diferente, ou faz suas preces de maneira...
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Diversidade religiosa e direitos humanos
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”
(Nelson Mandela)
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Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Secretário Especial dos Direitos Humanos Nilmário Miranda Subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos Perly Cipriano Presidência da República Secretaria Especial dos Direitos Humanos Esplanada dos Ministérios, Bl. T, Edifício Sede, 4º andar, 700064-900 Brasilia, DF [email protected] www.presidencia.gov.br/sedh Copyright: Secretaria Especial dos Direitos Humanos É permitida a reprodução total ou parcial da publicação devendo citar menção expressa na fonte de referência. Reimpresso no Rio de Janeiro em agosto de 2006 Distribuição Gratuita Convênio: Centro Popular de Formação da Juventude (Vida & Juventude) Tiragem: 25 mil exemplares Texto: José Rezende Jr. Coordenação: Fernando de La Rocque Couto e Daniel Seidel Consultores: Antônio Olímpio de Sant`Ana, Carlos Alberto Silva, Carlos Moura e César Bastos. Colaboração: Célia Gonçalves Souza, Elianildo Nascimento, César Fernandes e Roberto Costa Araújo. Projeto Gráfico: Eduardo Carvalho de Almeida Filho Apoio: Comissão Ecumênica Nacional de Combate ao Racismo (Cenacora) Centro Nacional de Africanidade e Resistência (Cenarab) Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) Interpaz - Centro de Referência à Discriminação Religiosa (CRDR) Iniciativa das religiões Unidas (URI) Movimento Inter-Religioso do Rio de Janeiro (MIR/RJ) Conselho Nacional de Ensino Religioso (Conar) Graça Duarte – Jornalista Agradecimentos: Ministério das Relações Exteriores (MRE) e Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Sepir)
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apresentação
O Estado Brasileiro é laico. Isso significa que ele não deve ter, e não tem
religião. Tem, sim, o dever de garantir a liberdade religiosa. Diz o artigo 5o,
inciso VI, da Constituição: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma
da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.” A liberdade religiosa é
um dos direitos fundamentais da humanidade, como afirma a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, da qual somos signatários.
A pluralidade, construída por várias raças, culturas, religiões, permite que
todos sejam iguais, cada um com suas diferenças. É o que faz do Brasil, Brasil.
Certamente, deveríamos, pela diversidade de nossa origem, pela convivência
entre os diferentes, servir de exemplo para o mundo. No Brasil de hoje, a
intolerância religiosa não produz guerras, nem matanças.
Entretanto, muitas vezes, o preconceito existe e se manifesta pela
humilhação imposta àquele que é “diferente”. Outras vezes o preconceito se
manifesta pela violência. No momento em que alguém é humilhado,
discriminado, agredido devido à sua cor ou à sua crença, ele tem seus direitos
constitucionais, seus direitos humanos violados; este alguém é vítima de um
crime – e o Código Penal Brasileiro prevê punição para os criminosos.
Invadir terreiros de umbanda e candomblé, que, além de locais sagrados
de culto, são também guardiães da memória de povos arrancados da África e
escravizados no Brasil; desrespeitar a espiritualidade dos povos indígenas, ou
tentar impor a eles a visão de que sua religião é falsa; agredir os ciganos devido
à sua etnia ou crença, mesmo motivo que os levou ao quase extermínio na
Europa, durante a Segunda Guerra Mundial: tudo isto é intolerância, é
discriminação contra religiões. É o contrário do que pretende o Programa
Nacional dos Direitos Humanos.
O Programa Nacional dos Direitos Humanos pretende incentivar o diálogo
entre os movimentos religiosos, para a construção de uma sociedade
verdadeiramente pluralista, com base no reconhecimento e no respeito às
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diferenças.
A presente cartilha, Diversidade Religiosa e Direitos Humanos, é o
resultado de quase um ano e meio de um trabalho que contou com a
participação de várias religiões, e que não se esgota aqui (outras colaborações
podem ser conferidas no site (www.presidencia.gov.br/sedh). Esta cartilha é a
continuidade das muitas ações de homens e mulheres de boa vontade e
diferentes crenças, que, com suas palavras e seus atos, pretendem construir um
país, um mundo melhor. Um país e um mundo em que ninguém sofra ou
pratique injustiça contra seu semelhante. Um mundo e um país de todos.
Ministro Nilmário Miranda (Secretaria Especial dos Direitos Humanos)
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Deus quer que seus filhos e filhas vivam em Paz, como irmãos e irmãs. Ou:
Alá quer que seus filhos e filhas vivam em Paz,
como irmãos e irmãs. Ou então: Javé quer que seus
filhos e filhas vivam em Paz, como irmãos e irmãs.
Ou ainda: Olorum quer que seus filhos e filhas
vivam em Paz, como irmãos e irmãs.
Deus, Alá, Javé, Olorum, O Grande Espírito,
A Deusa, Brahman… São muitos os nomes pelos
quais os seres humanos chamam o Criador. Mas a
vontade dEle é uma só: que seus filhos e filhas vivam em Paz, como irmãos e
irmãs.
O Supremo Senhor do universo, que tem diferentes nomes em
diferentes culturas, ama a todos. Dele emana
toda a liberdade de pensamento, religião ou
de consciência.
Igreja Metodista
Se é esta a vontade do Criador, quem somos nós para desafiá-la? E, no
entanto, nós a desafiamos. Todas as vezes que discriminamos nosso seme-
lhante porque ele pensa diferente, ou faz suas preces de maneira diferente, ou
chama o Criador por um nome diferente, nós desafiamos a Sua vontade.
Porque Ele deu a seus filhos e filhas a maior de
todas as graças: a capacidade de pensar. De
pensar livre. De pensar diferente.
Quem somos nós, então, para desafiar a von-
tade do Criador? E, no entanto, nós a desa-
fiamos. Discriminamos, ofendemos, praticamos
atos de violência contra nosso semelhante,
com a desculpa de que ele é “diferente”. Foi
assim no princípio dos tempos. É assim nos
dias de hoje, neste milênio que mal começou.
Às vésperas do início deste século XXI, em
agosto do ano 2000, atendendo ao chamado da
Organização das Nações Unidas (ONU), centenas
de representantes das diferentes religiões do
planeta entenderam que a chegada do novo milênio era uma boa
Em cada indivíduo, em cada povo, em cada cultura, em cada credo, existe algo que é relevante para os demais, por mais diferentes que sejam entre si. Enquanto cada grupo pretender ser o dono exclusivo da verdade, o ideal da fraternidade universal permanecerá inatingível. Judaísmo
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oportunidade, mais uma, para nos amarmos como irmãos e irmãs. E de
darmos as mãos pela Paz na Terra.
Reunidos em Nova York, no Encontro de Cúpula Mundial de Lide-
res Religiosos e Espirituais pela Paz Mundial, lideranças evangélicas,
católicas, budistas, judaicas, islâmicas, espíritas, hinduístas, taoístas,
bahá’ís, esotéricas e de tantas outras religiões antigas e modernas
firmaram um compromisso. O Compromisso com a Paz Global.
O documento começa com uma série de
considerações, sobre as quais vale a pena
refletirmos:
• as religiões têm contribuído para a Paz no mundo,
mas também têm sido usadas para criar divisão e
alimentar hostilidades;
• o nosso mundo está assolado pela violência,
guerra e destruição, por vezes perpetradas em
nome da religião;
• não haverá Paz verdadeira até que todos os
grupos e comunidades reconheçam a diversidade
de culturas e religiões da família humana, dentro de
um espírito de respeito mútuo e compreensão.
A partir dessas considerações, os líderes
religiosos e espirituais do mundo inteiro se
comprometeram, entre outras medidas, a:
A regra de ouro consiste
em sermos amigos do mundo e em
considerarmos toda a família humana como uma só família. Quem faz distinção entre os
fiéis da própria religião e os de outra,
deseduca os membros da sua
religião e abre caminho
para o abandono, a irreligião.
Mahatma Gandhi
• condenar toda violência cometida em nome da religião, buscando remover as
raízes da violência;
• apelar a todas comunidades e grupos étnicos e nacionais a respeitarem o direito
à liberdade religiosa, procurando a reconciliação, e a se engajarem no perdão e
no auxílio mútuos; • despertar em todos os indivíduos e comunidades o senso de responsabilidade,
compartilhada entre todos, pelo bem-estar da família humana como um todo, e o
reconhecimento de que todos os seres humanos – independentemente de
religião, raça, sexo e origem étnica – têm o direito à educação, à saúde e à
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oportunidade de obter uma subsistência segura e sustentável.
O Compromisso com a Paz Global não é, portanto, apenas de nossos
padres, pastores, rabinos, imãs, monges, mestres,
sacerdotes e sacerdotisas, ialorixás e babalorixás,
pajés… Ele é de todos nós. O compromisso pela
Paz não diz respeito somente aos grandes
conflitos religiosos, às guerras, às matanças em
geral, à violência entre católicos e protestantes na
Irlanda, entre muçulmanos e judeus no Oriente
Médio, entre hindus e muçulmanos na Caxemira
(fronteira da Índia com o Paquistão).
O compromisso pela Paz tampouco diz
respeito apenas às tragédias de um passado
antigo: o sangue derramado por cristãos e
muçulmanos durante as Cruzadas; os negros
escravizados, torturados e assassinados no Brasil
Colonial, sob a falsa acusação, também feita aos
índios, de que não possuíam alma; os seguidores da Fé Bahá’í trucidados
na antiga Pérsia (atual Irã); os judeus mortos ou convertidos pela força
durante a Inquisição; as mulheres queimadas vivas pelo “crime” de
“bruxaria”, simplesmente por cultuarem as sagradas forças da natureza; os
índios, dizimados, escravizados e catequizados, sem que o catequizador
entendesse e respeitasse a sua espiritualidade diferente.
A beleza do nosso país reside
justamente na diversidade cultural e
religiosa de seu povo. (…) Temos que
quebrar as barreiras que nos impedem de
dialogar com aqueles e aquelas que pensam e que agem de forma
diferente, mas que têm o mesmo objetivo: a valorização da VIDA
Igreja Presbiteriana
Independente do Brasil
A intolerância religiosa não está distante de
nós, no tempo e no espaço. Não podemos
simplesmente fechar os olhos e lavar as mãos.
Nosso compromisso com a Paz na Terra começa
no nosso dia-dia. Dentro de nossa própria casa.
Ao nosso redor. No relacionamento com nosso
próximo. Na maneira como respeitamos ou deixamos de respeitar aquele
nosso semelhante que, graças à infinita sabedoria do Criador, nasceu com
Se eles se inclinam `A Paz, inclina-te tu também a ela e encomenda-te a Deus... Maomé
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a capacidade de pensar livremente. E, portanto, de pensar diferente.
Quantos de nós já não sofreram algum tipo de preconceito simples-
mente por professar ou não uma fé? O preconceito sempre existe, ele vive
à espreita, ele se manifesta às vezes pela humilhação, às vezes pela
violência. Contra qualquer um de nós. Por isso, é
tão necessário seguirmos todos a regra de ouro
da fraternidade, comum a quase todas as
religiões: Não façamos ao outro o que não
queremos que seja feito a nós mesmos.
Nosso compromisso com a Paz na Terra diz respeito a seguir ou não
a vontade do Criador, a amar ou não amar nosso próximo. E amar nosso
próximo, ainda que ele pense diferente de nós, significa antes de tudo
respeitá-lo, e trabalhar para que esse nosso próximo tenha garantidos seus
direitos à saúde, à educação, ao trabalho, à liberdade de ir e vir e de
pensar. Enfim, nosso compromisso com a Paz na Terra significa zelar para
que todos tenham direito à grande obra do Criador: a VIDA!
Toda crença é respeitável, quando
sincera e conducente à prática do bem.
Allan Kardec
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Por que temos religião? Ora, temos religião porque somos seres humanos, e
porque respiramos. Ou então: Temos religião porque
o Criador determinou que tivéssemos, e é nosso
dever seguir a Sua vontade. Ou ainda: Temos religião
porque é ela quem nos liga de novo e sempre ao
Criador, e é por isso que se chama religião. Ou
porque acreditamos que a religião é o maior de todos
os meios para a Paz no mundo e o contentamento
para todos os que nele habitam.
Ou, simplificando: Temos religião porque assim
decidimos, porque está entre os nossos direitos
sagrados e humanos ter ou não ter religião, e não
cabe aos homens, nem aos governos exigirem que
tenhamos esta ou aquela, ou que não tenhamos
nenhuma.
Somos Humanidade.
Desde o princípio das eras, temos
indissolúvel ligação neste mundo. Somos,
portanto, muçulmanos, xintoístas, católicos,
bramanistas, budistas, protestantes, judeus, espíritas, esotéricos,
agnósticos, umbandistas, ateus...
Somos, por fim, Seres Humanos!
Legião da Boa
Vontade Este é um assunto meu, entre a minha consciência, entre o meu espírito e o
Criador. O que cabe aos outros seres humanos, aos
meus irmãos e irmãs, é respeitar a minha escolha. O
que cabe aos governos é garantir a minha liberdade
de escolha.
A liberdade religiosa é tão importante para
todos nós que está entre os direitos fundamentais do
homem, merecendo referência específica tanto na
Declaração Universal dos Direitos Humanos (artigo
XVIII), assinada em 1948, quanto na Constituição
Brasileira (artigo 5º, inciso VI), promulgada em 1988.
É fundamental, mas, ao mesmo tempo, tão
desrespeitada a liberdade religiosa no mundo inteiro
que em vários momentos da história os líderes espirituais e religiosos se reúnem
para firmar um compromisso pela Paz, como fizeram no ano 2000, em Nova York.
A meta última da religião é o amor. Todas as religiões e crenças são conseqüentemente válidas, e sua aceitação tem de ser baseada na liberdade e numa opção consciente e espontânea. De outra forma, a religião não teria como meta o amor. Hinduísmo
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Mas o primeiro evento inter-religioso oficial aconteceu ainda no século XIX, em
1893, em Chicago, com a participação de líderes de apenas 16 religiões. Em
2004, em Barcelona, já eram centenas as religiões
presentes ao encontro promovido pelo Parlamento
das Religiões do Mundo. Além do Parlamento,
também a Iniciativa das Religiões Unidas (URI) se
dedica ao diálogo inter-religioso no mundo, aos
Direitos Humanos e à cultura da Paz, reunindo 88
tradições espirituais.
No Brasil, a liberdade religiosa também é tão
fundamental e desrespeitada que há sempre homens
e mulheres de boa vontade e diferentes crenças
trabalhando juntos como agora, nesta cartilha sobre
Diversidade Religiosa e Direitos Humanos. Ou em
tantos outros movimentos que reúnem católicos,
evangélicos, representantes indígenas e das religiões
afro-brasileiras, muçulmanos, judeus, taoístas,
espiritualistas, budistas, hinduístas, xintoístas, esotéricos… Todos unidos por uma
causa justa: combater a discriminação e a intolerância e lutar por melhores
condições de vida para todos.
Ter liberdade de religião, de
pensamento é um dos pressupostos
básicos (…) Como luteranos, entendemos
os malefícios da discriminação,
tendo em vista que Martinho Lutero, que
iniciou a Reforma da igreja na Alemanha,
foi severamente discriminado devido às suas convicções.
Igreja Evangélica
Luterana do Brasil
Ao final da IX Conferência Nacional de Direitos
Humanos (Brasília, 2004), representantes dos
diversos setores religiosos do Brasil assinaram o
seguinte documento: “Declaramos a necessidade de
se buscar, por meio do diálogo inter-religioso, a
valorização do ser enquanto sujeito de sua própria
história, independente de credo religioso. Somos unânimes em repudiar qualquer
ato de perseguição e intolerância religiosa.”
O sol que veio à Terra para todos iluminar / não tem bonito e nem feio / ele ilumina todos iguais Santo Daime
É fundamental que o diálogo entre as religiões, em defesa dos Direitos
Humanos, no Brasil e no mundo, seja sempre ampliado. Porque no exato
momento em que você lê esta cartilha, há um ser humano sofrendo algum tipo de
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discriminação, perseguição ou até mesmo violência física, no Brasil e no mundo,
numa pequena cidade do interior, numa aldeia ou numa metrópole – pelo simples
fato de pensar e agir de acordo com sua crença.
E aqueles que discriminam, perseguem e praticam violência contra seu
semelhante dirão agir assim em nome do Ser em que acreditam. Quando, na
verdade, o Criador quer exatamente o contrário: que seus filhos e filhas vivam em
Paz, como irmãos e irmãs.
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Diferentes religiões ensinam que o homem foi criado à imagem e semelhança do
Criador. Algumas tradições afirmam que o Criador fez esse primeiro homem com
punhados de terra de todas as cores, a fim de nos
ensinar que todas as raças são, na verdade, uma
só, e todos os seres humanos são iguais em valor,
independentemente da cor de sua pele. “Sou
negro, branco, amarelo, vermelho, mestiço...”,
dizia Gandhi, o grande líder que pregava a Paz e
a igualdade entre os seres humanos e se valeu da
não-violência na luta vitoriosa pela independência
da Índia.
Um dos maiores líderes pacifistas da história
da humanidade, Mahatma (“Grande Alma”)
Gandhi era hinduísta, mas, como bom exemplo do
diálogo entre as religiões, amava o Sermão da
Montanha, no qual Jesus anunciou: bem-
aventurados os misericordiosos, os obreiros da
Paz, os justos, os que fazem o bem, os que sofrem perseguição.
Ele próprio, Mahatma Gandhi, por sua vez, nos ensinou: “Uma civilização é
julgada pelo tratamento que dispensa às minorias”. Seremos dignos das bem-
aventuranças? nossos atos para com os humildes, os que sofrem perseguição, as
minorias?
É sagrada a liberdade
de pensamento, de consciência e de
religião. É sagrado o direito de entrar neste
ou naquele templo, neste ou naquele terreiro,
nesta ou naquela tenda. É o sagrado direito de
adorar e deixar adorar. É o direito humano e divino
de pensar e deixar pensar, de dizer e de ouvir.
Comissão Ecumênica
Nacional de Combate ao
Racismo (Cenacora)
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A desproporção entre cristãos (maioria da população brasileira) e seguidores
de religiões tidas como “minoritárias” é tão grande que a proposta 110 do
Programa Nacional dos Direitos Humanos, implantado
em 1996, é exatamente “prevenir e combater a
intolerância religiosa, inclusive no que diz respeito a
religiões minoritárias e a cultos afro-brasileiros”.
Além da vontade do Criador e das leis terrenas, o
respeito pelas minorias é, também, uma questão de
bom senso. Até porque quem é maioria aqui pode virar
a minoria logo ali, na próxima esquina. Maioria no
Brasil, os cristãos são minoria em países como a
Indonésia, por exemplo. Mais uma vez, a regra de
ouro da fraternidade: não façamos ao outro o que não
queremos que seja feito a nós mesmos.
Preocupada com os constantes conflitos
religiosos no mundo, a Organização das Nações
Unidas (ONU) proclamou, em 1981, a Declaração sobre a eliminação de todas as
formas de intolerância e discriminação fundadas em religião ou crença.
“Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e
de religião. Este direito inclui a liberdade de ter uma religião ou qualquer crença
de sua escolha, assim como a liberdade de manifestar sua religião ou crença,
individual ou coletivamente, tanto em público quanto em particular”, diz o primeiro
artigo da Declaração da ONU, para, mais adiante, advertir:
“A discriminação entre seres humanos por motivos de religião ou crença
constitui uma ofensa à dignidade humana (…) e deve ser condenada como uma
violação dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais, proclamados na
Declaração Universal dos Direitos Humanos.”
Nenhum segmento religioso pode coagir alguém pela força ou ameaça a aceitar ou mudar de crença religiosa. (…) Todos os segmentos religiosos devem promover uma cultura de Paz e ordem, trazendo benefícios à população em geral, especialmente aos menos favorecidos. Igreja Pentecostal
O Brasil para Cristo
No Brasil, o artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
prevista no texto da Constituição de 1988, determina que a educação religiosa
nas escolas públicas assegure “o respeito à diversidade cultural religiosa do
Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”. Ou seja: é obrigatório respeitar
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a liberdade religiosa do aluno; é proibido tentar convertê-lo para esta ou aquela
religião.
O Código Penal Brasileiro, por sua vez, considera crime (punível com multa
e até detenção) zombar publicamente de alguém por motivo de crença religiosa,
impedir ou perturbar cerimônia ou culto, e ofender publicamente imagens e outros
objetos de culto religioso.
Mas a intolerância está aí, a desafiar a lei dos hoens e a vontade do Criador.
E as religiões afro-brasieiras têm sido as principais vítimas dessa intolerância.
Terreiros de umbanda e candomblé são os locais de culto das religiões de
matriz africana. São, portanto, tão sagrados quanto qualquer outro templo, de
qualquer religião. E, no entanto, esses terreiros têm
sofrido constantes ataques, em diversos pontos do Brasil.
Objetos de cultos são destruídos, seguidores de
umbanda e candomlé chamados de “adoradores do
diabo” e suas celebrações e festas religiosas
interrompidas, de forma desrespeitosa, por pessoas de outras religiões.
Não terás nenhum pensamento de ódio
contra teu irmão.
Moisés
Para os seguidores da umbanda e do candomblé, é bom repetir, o terreiro é
um templo sagrado. Ninguém, de nenhuma religião, gostaria que tal violência
fosse cometida contra seu próprio templo. Quem discrimina assim o seu
semelhante comete, além de intolerância religiosa, outro crime e pecado chamado
racismo. Racismo é crime porque assim diz a lei. E é pecado porque o Criador,
conforme nos ensinam várias religiões, fez o homem e a
mulher à Sua imagem e semelhança; usou até areia de
todas as cores, como afirmam algumas tradições, para
deixar bem claro que todas as cores, que todos os seres
humanos são iguais.
Quando foram arrancados de sua terra natal, jogados
em navios negreiros e escravizados no Brasil, mulheres e
homens africanos perderam quase tudo. Mas resistiram,
mantendo sua religião, sua fé em Olorum (o Criador) e em
outras divindades. Perderam quase tudo, mas não suas
Cada ser humano possui o direito de escolher a sua própria maneira de servir o sagrado e deve fazê-lo sem perseguições e/ou discriminações, com liberdade. Encantaria Cigana
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raízes, firmemente fincadas na ancestralidade. Além de território sagrado, os
terreiros de umbanda e candomblé são, portanto, locais de resistência e
preservação cultural, guardiães da memória de um povo.
Mas, para aqueles que discriminam e desrespeitam uma religiosidade
simplesmente por achá-la diferente da sua, parece difícil entender essa verdade.
A propósito, conta uma tradição oral de matriz
africana que no principio havia uma única verdade no
mundo. Entre o Orun (mundo invisível, espiritual) e o Aiyê
(mundo natural) existia um grande espelho. Assim tudo
que estava no Orun se materializava e se mostrava no
Aiyê. Ou seja, tudo que estava no mundo espiritual se
refletia exatamente no mundo material. Ninguém tinha a
menor dúvida em considerar todos os acontecimentos
como verdades. E todo cuidado era pouco para não se
quebrar o espelho da Verdade, que ficava bem perto do
Orun e bem perto do Aiyê.
Neste tempo, vivia no Aiyê uma jovem chamava Mahura, que trabalhava
muito, ajudando sua mãe. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. Um dia,
inadvertidamente, perdendo o controle do movimento ritmado que repetia sem
parar, a mão do pilão tocou forte no espelho, que se espatifou pelo mundo.
Mahura correu desesperada para se desculpar com Olorum (o Deus Supremo).
Se você critica a fé dos demais,
sua devoção é falsa. Se você fosse
sincero, apreciaria a sinceridade dos
outros. Você vê erros nos outros
porque você mesmo os tem, não os
outros.
Sathya Sai Baba
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Qual não foi a surpresa da jovem quando encontrou Olorum calmamente
deitado à sombra de um iroko (planta sagrada,
guardiã dos terreiros). Olorum ouviu as desculpas
de Mahura com toda a atenção, e declarou que,
devido à quebra do espelho, a partir daquele dia
não existiria mais uma verdade única. E concluiu
Olorum: “De hoje em diante, quem encontrar um
pedaço de espelho em qualquer parte do mundo já
pode saber que está encontrando apenas uma
parte da verdade, porque o espelho espelha
sempre a imagem do lugar onde ele se encontra”.
Portanto, para seguirmos a vontade do
Criador, é preciso, antes de tudo, aceitar que
somos todos iguais, apesar de nossas diferenças. E
que a Verdade não pertence a ninguém. Há um
pedacinho dela em cada lugar, em cada crença, dentro de cada um de nós.
Jesus Cristo disse: “Porque faz que o Seu sol se levante sobre os bons e os maus, e a chuva desça sobre os justos e os injustos”. Jesus deixou claro que todos somos participantes das mesmas oportunidades da vida e da graça da criação de Deus, independente de qualquer convicção. Ministério Sara
Nossa Terra
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No momento em que o grupo de trabalho encerrava, em Brasília, a produção
desta cartilha sobre Diversidade Religiosa e Direitos
Humanos, a capital do Brasil assistia a mais um ato
explícito de intolerância religiosa. Cerca de 3 mil católicos
participavam de uma celebração na Catedral Militar
Rainha da Paz, em Brasília, quando um homem subiu no
altar, ergueu e jogou no chão a imagem de Nossa
Senhora da Paz, quebrando-a em pedaços. O homem
acreditava que seu gesto era bom, porque combatia o
pecado da idolatria. “É o dia mais feliz da minha vida.
Deus está contente porque eu quebrei a imagem!”, disse
ele, depois de ser preso.
Existem muitos povos, de muitas
raças, falando várias línguas. Mas, para eles, só existe um
sol, uma lua e uma mãe terra. Somos parte um do outro,
pela vontade do Grande Espírito.
cosmovisão
indígena
Quem terá ensinado a esse homem que o Criador fica contente quando seus
filhos brigam, se desrespeitam, ofendem uns aos outros? Quem terá ensinado a
esse homem que Deus, em vez de Amor, é Intolerância e Ódio?
O acontecimento foi amplamente noticiado
pelo jornal, rádio, televisão. E fez lembrar fato
semelhante, ocorrido há alguns anos. No dia 12 de
outubro de 1995, diante das câmeras de um
programa de televisão, um pastor chutou a imagem
de Nossa Senhora da Aparecida, para mostrar que
a santa de devoção de milhões de brasileiros não
passava de um “falso ídolo”, de uma “boneca de
barro”. O pastor, cuja atitude foi reprovada até
pelos outros pastores e pela maioria do povo
evangélico, acabou condenado a dois anos e dois
meses de prisão, pelos crimes de discriminação
religiosa e vilipêndio (ofensa) de imagem e objeto
de culto religioso. E o episódio também mereceu
grande cobertura da imprensa.
Não pode haver dúvida alguma de que os povos do mundo, de qualquer raça ou religião que sejam, derivam sua inspiração de uma só Fonte Celestial e são súditos de um só Deus. A diferença entre os preceitos sob os quais vivem deve ser atribuída aos vários requisitos e exigências da época em que foram revelados. Bahá´u´lláh
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O trabalho de produção desta cartilha demorou, ao todo, um ano e cinco
meses. Neste meio tempo, quantos terreiros de
umbanda e candomblé terão sido invadidos?
Quantos rituais de praticantes da Wicca, que
celebram a divindade da natureza e não desejam o
mal a ninguém, terão sido desrespeitados e
chamados de “satânicos”? Quantos índios forçados
a adotar uma religião imposta pelos catequizadores
atuais, que até hoje, 500 anos depois, ainda não
foram capazes de entender que a espiritualidade
indígena, assim como a dos ciganos, tem
características próprias e precisa ser respeitada em
sua diversidade? Quantos ciganos terão sido
perseguidos e agredidos por causa de sua etnia e
de sua religião, mesmo motivo que os condenou ao
quase extermínio
na Segunda Guerra
Mundial, juntamente
com os judeus e outras vítimas da intolerância?
Quantos seres humanos terão sofrido algum
tipo de violência, cometida por alguém que
acredita que Deus (ou qualquer outro nome que
tenha o Criador) fica contente com a sua
intolerância? Com certeza, muitos seres
humanos. E sem que o resto do Brasil ficasse
sabendo, porque tais acontecimentos quase
nunca são noticiados pelo jornal, rádio, televisão.
Mas a imprensa está coberta de razão
quando dá o merecido destaque a violências
praticadas contra os católicos. A imprensa peca é
por omissão, quando não dá o mesmo merecido
Todo ser humano
tem direito à liberdade
de pesquisa da verdade e, dentro
dos limite da ordem moral e do bem
comum, à liberdade na manifestação e
difusão do pensamento… Pertence igualmente
aos direitos da pessoa a liberdade de prestar
culto a Deus, de acordo com os retos
ditames da própria consciência.
Encíclica Pacem
in Terris
Prevenir a intolerância é assumir que nenhuma verdade é única. É reconhecer que o outro tem livre arbítrio (...) Esse reconhecimento pressupõe garantir-lhe o direito de pensar, de crer; de amar, de doar, de rezar, de ser gente religiosa. Gente que exercita a missão sagrada de reconhecer no outro a imagem e semelhança de Deus, Olorum ou Javé.”
religiões afro-
brasileiras
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destaque a violências praticadas diariamente contra religiões ditas “minoritárias”.
Porque intolerância religiosa não é “apenas” pecado contra a vontade do Criador.
Intolerância religiosa é, também, desrespeito aos Direitos Humanos. E é crime,
previsto no Código Penal Brasileiro.
Mas no momento em que o grupo de trabalho
encerrava a produção desta cartilha sobre Diversidade
Religiosa e Direitos Humanos, uma boa notícia
chegava, também de Brasília, também trazida pela
imprensa. A boa notícia é que, bem pertinho da capital
do Brasil, numa vila de pouco mais de mil moradores
chamada Área Alfa, católicos e evangélicos dividem o
mesmo templo.
Em verdade, jamais se destrói o ódio
pelo ódio. O ódio só é destruído pelo Amor.
Este é um preceito eterno.
Buda
No princípio, a Capela Sagrado Coração de Jesus e Maria era só dos
católicos. Os evangélicos faziam seus cultos numa pequena casa desocupada,
mas tiveram que abandoná-la. Ficaram sem templo. Mas por pouco tempo.
Logo, a fé dos evangélicos acabou acolhida pela capela dos católicos. Há
três anos, todo domingo é assim: primeiro vem a missa, e os católicos rezam;
terminada a missa, é a hora do culto, e os evangélicos oram, no mesmo lugar
onde antes se celebrara a missa. Mas e as imagens dos santos católicos, que
tantas manifestações de intolerância têm causado? Ah, os evangélicos recolhem
cuidadosamente as imagens do Sagrado Coração de Jesus, Imaculada
Conceição de Maria, Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora do Rosário,
guardam com todo cuidado num quartinho, e começam o culto.
Os católicos dizem que compartilhar o mesmo teto com os evangélicos é um
bom fruto do diálogo religioso, e que todos são cristãos, e que o templo é de
todos. Os evangélicos agradecem – e contam: quando os católicos têm proble-
mas, pedem aos evangélicos que orem por eles; e os católicos retribuem, rezando
pelos evangélicos.
Em Pancas, no Espírito Santo, católicos e luteranos se uniram para cons-
truir, com as próprias mãos, um mesmo teto para suas crenças. No Rio de
Janeiro, seguidores das religiões de matriz africana e grupos católicos
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desenvolvem, em conjunto, ações sociais na área da saúde.
Em São Paulo, representantes indígenas e das religiões de matriz africana,
zen-budistas, judeus, muçulmanos, metodistas,
católicos, luteranos, presbiterianos e espiritualistas,
entre outros, se mobilizam em iniciativas como a
Campanha em defesa da liberdade de crença e contra a
intolerância religiosa, com o objetivo de incluir o tema
na agenda brasileira dos Direitos Humanos.
Pelo Brasil afora, diferentes igrejas cristãs,
reunidas em entidades como o Conselho Nacional de
Igrejas Cristãs (Conic), lutam juntas pelos Direitos
Humanos, como na Campanha da Fraternidade de
2005 – Ecumênica: Solidariedade e Paz (Felizes os que
promovem a Paz).
Experiências como essas, e tantas outras, de
convivência e respeito mútuo entre religiões diferentes,
refletem a pluralidade e a diversidade do Brasil e dos
brasileiros. Experiências como essas, e tantas outras,
deixam contente o Criador.
Porque para isso foi criada a Humanidade: para que sejamos todos irmãos e
irmãs, para que vivamos em paz e harmonia, para que nos amemos uns aos
outros.
Bem- aventurados os
que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados. Bem-aventurados os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-
aventurados os puros de coração,
porque verão a Deus. Bem-aventurados
os que promovem a Paz, porque serão
chamados filhos de Deus.
Jesus Cristo
Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Brasil – Um País de Todos – Governo Federal
Vida & Juventude
Centro Popular de Formação da Juventude - [email protected]
texto fornecido por César Bastos (CRDR),
diagramado por Gonçalo Medeiros (Mir-RJ e Instituto Sathya Sai de Educação) .