docol armazém gourmet

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01 ARMAZÉM GOURMET Os alimentos orgânicos ainda podem gerar dúvidas, mas uma coisa é certa: eles cumprem seu papel em prol da sustentabilidade e são fontes de nutrientes para o organismo TEXTO Sílvia Dalpicolo no prato SAÚDE ACIMA, SALADA COM ABOBRINHA: UM DOS DESTAQUES DO RESTAURANTE CHáCARA ITAí. ABAIXO, O MINIMERCADO LOCALIZADO DENTRO DO SíTIO DO MOINHO, EM ITAIPAVA, RJ: PRODUTOS ORGâNICOS COLHIDOS NA HORA. NA PáGINA AO LADO, FACHADA DO ESPAçO E LEGUMES CULTIVADOS SEM AGROTóXICOS foto TADEU BRUNELLI foto ISMAR INGBER fotos ISMAR INGBER Os produtos orgânicos ganharam espaço na mesa do brasi- leiro. De acordo com dados da Associação Brasileira de Super- mercados (Abras), o comércio desses alimentos cresceu 8% em 2011, representando R$ 1,12 bilhão das vendas somente em su- permercados (sem contar as feiras e lojas especializadas). Essa mudança na maneira de selecionar o que entra no carrinho é reflexo de um dado alarmante da Agência Nacional de Vigi- lância Sanitária (Anvisa) que aponta que 22,17% dos vegetais à venda (frutas, legumes e verduras) têm agrotóxicos em exces- so. Entre os itens que mais apresentam resíduos de produtos químicos estão banana, alface, tomate, morango, mamão e ce- noura. “O orgânico aparece como uma boa opção de consumo, pois dispensa o uso de pesticidas. Naturalmente, as plantas produzem substâncias que as protegem das agressões dos fe- nômenos climáticos”, explica a nutricionista Adriana Piccioni Nalon, da Prosalutis Atividades Físicas.

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Page 1: Docol Armazém Gourmet

01 ARMAZÉM GOURMET

Os alimentos orgânicos ainda podem gerar dúvidas, mas uma

coisa é certa: eles cumprem seu papel em prol da sustentabilidade

e são fontes de nutrientes para o organismo

TEXTO Sílvia Dalpicolo

no pratoSAÚDE acima, salada com abobrinha: um dos destaques do restaurante

chácara itaí. abaixo, o minimercado localizado dentro do sítio do moinho, em itaipava, rj: produtos orgânicos colhidos na hora. na

página ao lado, fachada do espaço e legumes cultivados sem agrotóxicos

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Os produtos orgânicos ganharam espaço na mesa do brasi-

leiro. De acordo com dados da Associação Brasileira de Super-

mercados (Abras), o comércio desses alimentos cresceu 8% em

2011, representando R$ 1,12 bilhão das vendas somente em su-

permercados (sem contar as feiras e lojas especializadas). Essa

mudança na maneira de selecionar o que entra no carrinho é

reflexo de um dado alarmante da Agência Nacional de Vigi-

lância Sanitária (Anvisa) que aponta que 22,17% dos vegetais à

venda (frutas, legumes e verduras) têm agrotóxicos em exces-

so. Entre os itens que mais apresentam resíduos de produtos

químicos estão banana, alface, tomate, morango, mamão e ce-

noura. “O orgânico aparece como uma boa opção de consumo,

pois dispensa o uso de pesticidas. Naturalmente, as plantas

produzem substâncias que as protegem das agressões dos fe-

nômenos climáticos”, explica a nutricionista Adriana Piccioni

Nalon, da Prosalutis Atividades Físicas.

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Do ponto de vista ambiental, Nardi Davidson, proprietário do

Quintal dos Orgânicos, que produz e comercializa esse tipo de ali-

mento, esclarece que a forma de cultivo é menos agressiva à natureza,

pois impede a infiltração de veneno na terra e, consequentemente, a

contaminação do lençol freático. “Outro ponto positivo é que a pro-

dução demanda mais mão de obra, o que contribui para o social, já

que emprega mais pessoas”, aponta.

vale a pedida?Uma pesquisa polêmica encomendada pela The Food Standards

Agency e publicada no American Journal of Clinical Nutrition em

2009 colocou em xeque os benefícios dos alimentos orgânicos. O

estudo dizia que, do ponto de vista nutricional, os itens cultivados

sem agrotóxicos não podem ser considerados mais saudáveis do que

os convencionais. Ao todo, 162 tipos de alimentos foram estudados,

sendo que apenas 55 apresentaram uma pequena diferença na quan-

tidade de nutrientes. Segundo a pesquisa, essa diferença ainda seria

insuficiente para provar que os orgânicos são opções mais benéficas à

saúde. O estudo gerou polêmica e foi questionado por diversas asso-

ciações, que alegaram que a agência não levou em conta o uso de pes-

ticidas e o impacto ambiental resultante das práticas agrícolas. Para

a nutricionista Adriana, a alimentação orgânica pode, sim, ser con-

siderada uma boa opção para quem deseja levar uma vida saudável.

“Os orgânicos proporcionam melhor aproveitamento de vitaminas,

minerais e fitoquímicos, importantes para o funcionamento organis-

mo. Além disso, têm sabor mais puro por não carregarem traços de

produtos químicos usados na lavoura”, explica.

o começo de tudo

A produção (que pode ser em estufa ou ao ar livre, método mais

comum) é feita em áreas sem resíduos de produtos químicos, com

adubo também orgânico e práticas de manejo agroecológicas, como

rotação de culturas, adubação verde, consórcio de plantas e outras

técnicas. “O cultivo respeita o meio ambiente e o trabalhador rural,

os protegendo de práticas destrutivas”, defende Ângela Thompson,

proprietária do Sítio do Moinho.

Segundo ela, antes de iniciar o plantio o dono da área deve conhecer

bem o solo para manejá-lo de forma adequada. “Manter a biodiversi-

dade, promover o controle de insetos que possam virar pragas, pre-

servar as fontes de água para uso na irrigação e conhecer os produtos

a serem cultivados são alguns dos cuidados necessários”, aconselha.

acima, o mercadinho do quintal dos orgânicos, em são paulo: geleias, grãos e até produtos de limpeza são podem ser encontrados no local. abaixo, o

carro-chefe do restaurante anna prem, na capital paulista: o estrogonofe de banana da terra. na página ao lado, as plantações do sítio do moinho

Orgânicos são menos agressivos à natureza, pois dispensam o uso de aditivos químicos

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prontos para consumo

Depois de realizada a colheita, os alimentos chegam às gôndolas

de mercados e lojas especializadas. Muitos vão direto das prateleiras

para o cardápio de restaurantes renomados. Apenas em São Paulo, al-

guns dos estabelecimentos que adotaram os orgânicos em propostas

de refeições mais saudáveis são o Le Manjue Bistrô, Maní, Vegethus,

Chácara Itaí, Anna Prem, Chácara Itaí e o restaurante do hotel Emi-

liano. “Nosso objetivo é servir uma comida saborosa, saudável e que

esteja de acordo com a política de preservação ambiental que adota-

mos”, afirma Felipe Di Pietro, gerente do Anna Prem Bistrô. O prato

mais pedido pela clientela, segundo ele, é o estrogonofe de banana da

terra, que chama a atenção à primeira vista pela inusitada composição

de banana, molho de tomate, cogumelos e temperos (cheiro verde,

alho-poró e cebolinha).

A crescente preocupação dos clientes em ter uma alimentação

saudável e um estilo de vida natural foi o ponto de partida para o

Chácara Itaí, da chef Dayse Paparoto, investir pesado nos ingre-

dientes orgânicos. No variado menu, o campeão de pedidos é o pas-

acima, pastel de forno recheado com maminha: sucesso entre os clientes do restaurante chácara itaí. abaixo, a chef dayse paparoto, responsável pelo prato. na página ao lado (acima), ingredientes fresquinhos usados para compor os pratos do quintal dos orgânicos e, embaixo, o chef da casa, leandro tadeu, com uma de suas criações: o risoto de tomate seco

tel de maminha. “É uma opção saudável de alimentação rápida. Além

disso, é bem menos calórico”, aponta.

Os orgânicos não se tornaram queridinhos apenas dos chefs, tam-

bém ganharam lugar de destaque na linha de produtos de gigantes do

varejo, como o Pão de Açúcar, que iniciou as vendas destes itens há

20 anos e, em 2011, reforçou sua oferta nas lojas. “Há uma década,

somente verduras e legumes estavam disponíveis. Hoje, além dos pro-

dutos in natura, temos carne, massas, molhos e todos os componentes

para uma refeição completa e saborosa”, diz Sandra Caires, gerente de

Orgânicos do Grupo Pão de Açúcar.

o valor da saúde

As cifras mais altas, comuns em alimentos orgânicos, ainda são barrei-

ras para a compra dos orgânicos. Mas, para a nutricionista Adriana, esse

obstáculo pode ser vencido caso a população se conscientize de seus reais

benefícios. “A falta de informação é determinante”, diz. Esse cenário, po-

rém, deve mudar com o passar do tempo. “O preço vem caindo muito.

Além dos produtos in natura, carne, massas e molhos já estão disponíveis nos mercados

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Há cinco anos, a diferença era de 70% em relação aos convencio-

nais, enquanto em 2011 era de apenas 30%”, aponta Felipe Guer-

ra, proprietário da loja virtual Vida Saudável Orgânicos. Além

disso, o processo produtivo é artesanal e demanda mais mão de

obra, que ainda deve seguir padrões e recomendações do Ministé-

rio da Agricultura para receber um selo de certificação sério, que

comprove a originalidade da produção. “Todo esse processo gera

um custo a mais”, afirma.

palavra de quem consome

Apesar dos preços mais altos, quem decidiu investir nestes pro-

dutos não se arrepende. A preservação ambiental e a eliminação de

pesticidas no plantio foram os motivos que levaram a analista de

Relações Internacionais, Agatha Rahal, de 24 anos, a iniciar o con-

sumo. “A indústria de alimentos usa uma grande quantidade de agro-

tóxicos e conservantes. A consequência disso é que estamos cada vez

mais doentes”, ressalta.

Para a jornalista Carolina Salles, 38 anos, os benefícios ao meio

ambiente também falaram mais alto na hora de fazer as compras.

“Não quero ingerir essas substâncias tóxicas que só fazem mal. Além

disso, comer orgânico significa escolher alimentos sazonais (que são

mais frescos) cultivados em esquema de comércio justo e próximos

de quem os consome”, relata.

O produtor executivo de cinema Rodrigo Furuta, 28 anos, cos-

tuma comprar os itens em uma feira especializada no bairro Paraíso,

em São Paulo. Na lista de compras estão tomates, cenouras, banana

e abobrinha. “A banana é o produto que mais gosto, pois as que são

vendidas em supermercado quase não têm gosto”, analisa.

Para ter a certeza de estarem comprando orgânicos legítimos, chefs e co-

merciantes não costumam visitar os locais de produção. O único recurso

que consumidores e comerciantes podem ter para garantir a compra de

produtos confiáveis é o Selo de Certificação do Instituto de Desenvolvi-

mento Rural (IBD). O selo é concedido para agricultores e produtores do

Brasil e da América do Sul após uma extensa inspeção no processo de cul-

tivo dos alimentos, que avalia periodicamente as condições de trabalho,

a ausência de pesticidas nas plantações, as condições do solo e a maneira

como é feita a entrega destes itens. Com as legislações trabalhista, sani-

tária e ambiental, de acordo com as normas estabelecidas, o local está

oficialmente liberado para a comercialização dos produtos.

Como os orgânicos são certificados?

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nesta página, legumes e verduras à venda no quintal dos orgânicos: há uma extensa variedade de opções. na página ao lado (acima), a certificação que assegura a qualidade dos itens vendidos e consumidos no estabelecimento e, embaixo, muitos dos produtos comercializados no sítio do moinho são feitos com matéria-prima colhida no local

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Serviço

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Anna PremTel. 11 3208-7552www.annaprem.com.br

Chácara ItaíTel. 3842-0782www.chacaraitai.com

Quintal dos Orgânicoswww.quintaldosorganicos.com.br

Pão de Açúcarwww.paodeacucar.com.br

Sítio do MoinhoTel. 24 2291-9150www.sitiodomoinho.com

Vida Saudável Orgânicoswww.vidasaudavelorganicos.com.br