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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A CONECTIVIDADE CEREBRAL E O ESPECTRO AUTISTA: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO Por: Cristiane Mendes de Souza Orientador Prof. Marta Relvas Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEsse grupo foco na análise funcional de várias áreas e, segundo o pesquisador, desenvolveram a divisão do córtex cerebral em cinco

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A CONECTIVIDADE CEREBRAL E O ESPECTRO AUTISTA:

UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

Por: Cristiane Mendes de Souza

Orientador

Prof. Marta Relvas

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

Page 2: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORALEsse grupo foco na análise funcional de várias áreas e, segundo o pesquisador, desenvolveram a divisão do córtex cerebral em cinco

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A CONECTIVIDADE CEREBRAL E O ESPECTRO AUTISTA: UM

ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada

como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Neurociência Pedagógica

Por: . Cristiane Mendes de Souza

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais e irmão e namorado por me

apoiarem em todas as minhas realizações e

vitórias. Agradeço especialmente às

professoras Simone Ferreira e Marta Relvas,

que me ajudaram muito, e me mostraram

como a Neurociência é um universo

encantador e desafiador.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos os docentes que

têm amor à profissão, e que dedicam parte da

sua vida a busca de melhorar e estar

atualizado, seja por meio de pós-graduação, ou

cursos de extensão.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica acerca de pesquisas

relacionadas à conectividade cerebral e relacionar esses estudos com os estudos

atuais sobre o espectro autista. A conectividade cerebral tem sido muito discutida

entre os estudiosos de neurociências, porque a partir dela, é possível encontrar

repostas sobre como o cérebro atua durante os momentos de ativação. Além disso,

a neuroplasticidade tem sido considerada como um dos grandes avanços do

cérebro, reconhecendo as mudanças do corpo a partir de lesões. No caso de

pessoas com o espectro autista, descobriu-se que o cérebro tem um nível baixo de

conexões, acarretando os sintomas já conhecidos pela literatura que prejudicam o

desenvolvimento social e cognitivo do indivíduo. Assim, objetiva-se em um primeiro

momento, apresentar definições e pesquisas sobre conectividade cerebral. Em um

segundo momento, apresentar o fenômeno da plasticidade cerebral, e, por fim,

relacionar a conectividade cerebral a indivíduos com o espectro autista,

apresentando pesquisas sobre áreas específicas do cérebro, que comprometidas

em sua funcionalidade, dificultam o desenvolvimento das pessoas, além de mostrar

pesquisas atuais que procuram desenvolver métodos para diminuir os traços de

indivíduos com o espectro autista.

PALAVRAS-CHAVE: autismo, plasticidade cerebral, conectividade cerebral,

cérebro, tálamo.

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METODOLOGIA

Este trabalho de cunho bibliográfico teve como objetivo dissertar sobre

descobertas e estudos que falam sobre conectividade cerebral e autismo.

Pesquisou-se, em um primeiro momento, artigos cujo foco era a conectividade

cerebral de autistas. A fim de dar suporte e conseguir compreender o que é a

conectividade cerebral, foram pesquisados artigos e textos que explicam processos

de conectividade presentes no cérebro humano. Percebeu-se que há conectividades

que ocorrem dentro de uma mesma região, assim como em regiões distintas.

Um elemento importante da conectividade, que não poderia deixar de ser

explicado é o fenômeno da plasticidade. Para apresentar este assunto, este trabalho

usa Roberto Lent e o seu capítulo sobre Neuroplasticidade, presente no livro Cem

bilhões de neurônios? O trabalho desde estudioso revela descritivamente os tipos de

plasticidade cerebral existente.

Por fim, o terceiro capítulo tem como assunto central pesquisas sobre a

conectividade cerebral de indivíduos que sobre de transtorno do espectro autista,

revelando estudos a respeito da conectividade cerebral desses indivíduos e estudos

atuais que buscam tratamento.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I -Conectividade cerebral 10

1.1 Neuroanatomia e conectividade cerebral 11

1.2 A substância branca 15 CAPÍTULO II - Neuroplasticidade 19

2.1 Classificação da plasticidade cerebral 20

CAPÍTULO III - O transtorno do espectro autista 27

CONCLUSÃO 35

ANEXO 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ÍNDICE 41

FOLHA DE AVALIAÇÃO 42

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INTRODUÇÃO

O corpo humano é um sistema refinado, cheio de especificidades, complexo

e, ao mesmo tempo, desafiador. É possível fazer uma analogia do mesmo a um

computador, repleto de hardwares, que combinados, compõem uma máquina capaz

de realizar diversas atividades e comandos. Para que o indivíduo consiga falar,

andar, pensar e adaptar-se a diferentes situações e ambientes, é necessário que

comandos sejam dados para que cada estímulo recebido possa ser um meio de

aprendizagem e um canal de resposta. Assim, o cérebro seria a placa mãe do corpo,

cheia de componentes capazes de enviar as informações necessárias para que

cada sistema, dispositivo e programa funcionem da maneira esperada.

O cérebro, entretanto, difere-se da placa mãe no momento de possíveis

reprogramações. Ou seja, em computadores, é importante que todos os

componentes e fiações precisem estar em perfeito funcionando para que o aparelho

ligue e seja utilizado. No momento em que algo não está de acordo, a máquina para

de funcionar. O cérebro, por sua vez, quando encontra determinadas mudanças no

padrão da conectividade entre as áreas cerebrais, busca uma forma de criar novas

conexões capazes de manter o sistema humano em pleno funcionamento.

Atualmente, pesquisas, com resonância magnética e outros aparelhos, têm

destinado tempo para estudar como funciona a conectividade cerebral do ser

humano. Isso acontece porque estudiosos descobriram que ambos os hemisférios

são acionados no momento em que o indivíduo responde a estímulos. Ao colocar

grupos realizando testes, foi possível perceber a frequência de conectividade entre

áreas, sejam entre o mesmo hemisfério ou não.

Em grupos com pessoas que possuem espectro autista percebeu-se que

níveis de conectividade cerebral são menores em algumas regiões, quando

comparadas ao grupo de controle, chegando a compreender que determinados

sintomas presentes nos indivíduos são oriundos do baixo nível de conectividade

entre algumas áreas.

Assim, o objetiva-se com essa pesquisa apresentar autores que, a partir de

recursos como neuroimagem, estudam a conectividade cerebral humana. Além

disso, apresentar a relação entre a conectividade cerebral e a neuroplasticidade. Por

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fim, apresentar pesquisas que revelam a conectividade cerebral de indivíduos com

espectro autista.

Essa pesquisa tem como justificativa possíveis indagações referentes ao

processo da conectividade cerebral. O assunto, apesar de muito discutido na mídia,

apresenta pouca descrição. Por essa razão, decidiu-se fazer uma pesquisa para

caracterizar a conectividade cerebral e suas classificações. Responder como a

plasticidade cerebral está associada à conectividade cerebral e por fim revelar como

isso acontece em um cérebro autista.

Este trabalho é dividido em três capítulos. O primeiro capítulo tem como

assunto principal a conectividade cerebral. Será analisado como a conectividade

cerebral acontece dentro do cérebro e quais são as regiões que costumam se

conectar e apresentar alguns tipos de conexões presentes no cérebro. No segundo

capítulo, a plasticidade, um fenômeno necessário para a existência do indivíduo,

será o assunto central. Lent (2010) será o teórico que norteará todas as definições e

classificações referentes à plasticidade. No terceiro capítulo, a conectividade

cerebral e a neuroplasticidade são delimitados para o foco do espectro autista,

sendo analisadas as regiões nas quais há ausência ou excesso de conectividade

cerebral.

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CAPÍTULO I

A CONECTIVIDADE CEREBRAL

A conectividade cerebral é um fenômeno muito importante, pois é capaz de

transformar, adaptar e aumentar a aptidão e o grau de sobrevivência dos indivíduos.

Essas conexões são geradas pelos neurônios, que, ao conectarem-se criam

sinapses. Este capítulo, portanto, tem como função apresentar conexões cerebrais,

explicando possíveis regiões que costumam se conectar, além de mostrar a

importância da substância branca para a efetivação delas.

De acordo com Bear et al. (2002), o estudo sobre a conectividade teve início

no século XIX, pois anterior a isso, não existia tecnologia capaz de analisar

pequenas unidades celulares. Nissl e Golgi foram alguns dos pesquisadores que

registraram as primeiras observações sobre células nervosas. Contudo, Cajal 1(1887) foi o precursor da doutrina neuronal. O histologista conseguiu, a partir da

coloração de Golgi, observar e identificar que os neurônios comunicavam-se entre

si, por meio de um contato.

Herculano-Houzel2 afirma que:

“Cajal observou que não há continuidade, mas sim contiguidade entre células cerebrais, ao contrário do que defendia Golgi. Seus contatos são organizados: as fibras nervosas terminam sobre o corpo celular e os dendritos celulares, formando caminhos de condução, bem delimitados, coerentemente com as evidências que a neurofisiologia começava a descobrir.”(HERCULANO-HOUZEL. p.81)

Sendo o neurônio parte integrante e essencial para a conexão entre regiões

cerebrais, Bear et al. (2002) caracteriza o neurônio da seguinte forma:

1 “O espanhol Santiago Ramón y Cajal se ocupava de desenhar cérebros. Sua obra lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina de 1906. Ele fazia gravuras com base na observação, ao microscópio, de finíssimas fatias do tecido cerebral. Apesar das limitações de seu instrumento, ele elaborou hipóteses sobre o funcionamento cerebral que posteriormente se mostraram válidas. Uma de suas ideias é a ginástica cerebral. Cajal acreditava que a estimulação repetida dos neurônios seria capaz de promover mudanças estruturais em seus prolongamentos, os axônios e os dendritos.” LOUZADA, Fernando. Neurociência e Educação: um diálogo possível? . In: Revista Mente-cérebro.Julho,2011. 2 Apud, LENT, Roberto Cem Bilhões de Neurônios?Conceitos Fundamentais de Neurociência - 2ª edição. Atheneu, 2010.

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“O neurônio consiste de várias partes: o soma, os dendritos e o axônio. O conteúdo interno de um neurônio é separado do meio externo por uma membrana limitante, a membrana neural, que recobre o neurônio como uma tenda de circo sustentada por uma intrincada rede interna, dando a cada parte da célula sua aparência tridimensional característica.”(BEAR at al. 2002 p.26)

Quando um neurônio transmite informação a outro chama-se transmissão

sináptica. A sinapse ocorre por dois caminhos: o pós e o pré-sináptico. O caminho

pré-sináptico acontece com um axônio-terminal, enquanto o pós-sináptico acontece

com um dendrito ou soma de outro neurônio. A informação é transmitida por meio de

impulsos elétrico, que é transforma-se um sinal químico e atravessa a fenda

sináptica. Segundo Bear et al.(2002) essa transmissão de informação elétrico-

química-elétrico é responsável por várias funções cerebrais que envolvem a

aprendizagem, memória, assim como os transtornos mentais.

Friston (1994) estrutura a conectividade em dois tipos: funcional e efetiva.

Enquanto a funcional diz respeito à correlação existente entre as partes do cérebro,

a efetiva está relacionada à influência do sistema neural nas conexões feitas pelas

áreas cerebrais. A conectividade funcional, portanto, está relacionada ao padrão

existente entre as correlações, sem dar importância à mediação feita para que haja

uma relação entre as áreas. Sato (2008) exemplifica conectividade efetiva como

mecanismos de indução e inibição de atividades entre as áreas cerebrais de

interesse, enquanto a funcional refere-se apenas à ocorrência de correção de

atividade neural entre pares de estruturas cerebrais espacialmente remotas. Sato

diz:

“Assim, a conectividade funcional não permite a realização de inferências sobre relações de causa-efeito entre as áreas cerebrais envolvidas. Por outro lado, a análise de conectividade efetiva almeja ao menos sugerir possíveis relações dessa natureza.”(SATO et al. 2008. p. 77)

1.1 – Neuroanatomia e Conectividade Cerebral

Assim como um processador de computador, o cérebro executa função a

partir de chamados (que, no caso do cérebro, podemos chamar de estímulos). A fim

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de responder da forma mais eficiente, computadores e cérebros combinam

dispositivos capazes de formular a resposta adequada. O cérebro, especificamente,

tende a criar conexões dentro de uma mesma região ou entre áreas de regiões

distintas, a fim de que seja possível responder ao estímulo. Mesulam (2000) faz um

estudo baseado na organização cortical e a conectividade existente entre as regiões

cerebrais.

O autor explica que o interesse por estudar o cérebro, fez com que muitas

pesquisas fossem desenvolvidas. Chegou-se à conclusão de que os estudos

deveriam ser divididos em dois tipos. Há um grupo que teve como foco de análise e

pesquisa os elementos arquitetônicos. Essa escola desenvolveu diversos mapas

corticais, que delimitavam as áreas cerebrais, das mais simples as mais complexas,

tal como o mapa de Brodmann. O segundo grupo teve como principal foco a

funcionalidade entre as partes cerebrais. Esse grupo foco na análise funcional de

várias áreas e, segundo o pesquisador, desenvolveram a divisão do córtex cerebral

em cinco subtipos que são: límbico, paralímbico, associação heretomodal,

associação unimodal, sensório-motor primário.

A área límbica (formação corticoide e alocortical) Essa região está localizada

na superfície medial e ventral dos hemisférios cerebrais. É possível encontrar nessa

região: região septal, substância inominata, e o complexo amigdaloide. A zona

paralímbica (mesocórtex) tem como principais áreas: córtex obitofrontal, ínsula, polo

temporal, córtex parahipocampal e córtex cingulado.

Mesulam (2000) afirma que o isocórtex (área heteromodal e unimodal) é

subdividido em seis camadas, que podem ser classificados em dois tipos: unimodal

e heteromodal. As áreas associativas sensórias unimodais possuem três

características essenciais: os neurônios respondem quase que exclusivamente a

estimulações em uma unidade sensória única; a informação sensória predominante

é oriunda do córtex sensório primário e de outras regiões unimodais com a mesma

modalidade; e as lesões levam a deficiências apenas na função guiada pela

modalidade.

O córtex associativo visual unimodal tem como área temporal inferior e giro

temporal. A área de associação auditiva é representada pelo giro temporal superior.

O córtex somatossensorial de associação unimodal inclui o lobo parietal. As regiões

pré-motores compõem a as áreas de associação motora.Para o autor, lesões nesta

área podem acarretar déficit na percepção seletiva e agnosia.

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As áreas associativas heteromodais têm como características: as repostas

neuronais não são limitadas a uma modalidade sensória única. As entradas

sensitivas são oriundas das áreas heteromodais e unimodais em várias

modalidades; e as lesões causadas nessa área não são restritas a uma única

modalidade. Fazem parte desta área: córtex polimodal, córtex multimodal, áreas

polissensórias e o córtex supramodal. Assim, compõem as regiões de associação

heteromodal: córtex pré-frontal, córtex parietal superior, córtex parietal, córtex

temporal e partes do giro hipocampal.

As áreas sensório-motoras primárias são compostas pelas zonas visual,

auditiva e somatossensorial primárias. O córtex visual primário contem as fissuras

calcarinas. No córtex auditivo primário, localiza-se o giro de Heschl. No córtex

somatossensorial é possível encontrar o giro pós-central e o córtex motor primário.

A seguir, serão apresentadas, de maneira simplificada algumas conexões

que acontecem entre uma mesma região e em regiões distintas, a partir da análise

de Mesulam (2000).

O hipotálamo, segundo o autor, controla o equilíbrio de eletrólitos, níveis de

glucose, temperatura basal, taxa metabólica, estado hormonal, regulações

circadianas, regulação imunológica, regulação da fome, agressividade, medo, cede

e libido. Essa área tem um alto nível de conexão com o sistema límbico, enquanto o

hipocampo é a região que mais possui conexão recíproca com o hipotálamo.

A área paralímbica, por sua vez, possui maior fonte de conexão do sistema

límbico (regula a memória, a motivação, equilíbrio hormonal, funções autônomas,

entre outros) com outras regiões. Áreas como a paralímbica, sistema límbico e

córtex de associação heteromodal também fazem conexões dentro da própria região

com a mesma atribuição de funções.

A amígdala recebe uma das mais abrangentes conexões vindas da ínsula,

enquanto o hipocampo recebe da região hipocampal. A ínsula e o córtex orbitofrontal

posterior também possuem interconexões entre si. O córtex sensório primário possui

o portal de entrada das informações oriundas do ambiente, enquanto o córtex motor

primário serve como um caminho final para a coordenação dos atos motores.

Para Mesulam (2000) Os córtices paralímbico, unimodal e heteromodal são

intercalados entre dois polos, pois os mesmos são responsáveis por fazer conexões

neurais entre o corpo e o mundo externo, realizando associações de informação e

relacionando estratégias motoras a experiências relacionadas à emoção, funções

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autônomas entre outros. Por essa razão, as regiões paralímbicas possuem um

número extensivo de conexões com áreas de associação heteromodal, participando

nesses casos a ínsula, formação hipocampal, polo temporal, córtex cingulado e o

córtex orbitofrontal posterior.Em contrapartida, a maior quantidade de conexões das

áreas de associação heteromodal ocorrem tanto com a região paralímbica quanto

com as áreas unimodais. As áreas unimodais, além de fazerem conexões com as

áreas primárias, ela também realiza com o mundo externo.

“Pathways to the somatosensory, visual, and auditory association areas. Connections between cortical areas represent stages

of information processing. At each stage progressively more abstract information is extracted from the sensory stimulus.

Sensory information flows from the primary sensory areas (orange = primary somatosensory cortex; purple = primary visual

cortex; yellow = primary auditory cortex) to adjacent unimodal association cortex. (From Jones EG, Powell TPS. 1970. Brain

93:793-820)” Tradução: trajetória para as áreas de associação visual, auditiva e somatossensorial. Conexões entre as áreas

corticais representam os estágios do processamento de informação. A cada estágio, mais informações abstratas são extraídas

dos estímulos sensoriais. As informações sensoriais fluem das áreas sensoriais primárias para o córtex unimodal

adjacente(laranja = córtex somatossensorial; lilás = córtex visual primário; amarelo = córtex auditivo primário) EG, Jones.

Powell TPS. 1970. Brain 93:793-820. In: SAPER Clifford; IVERSEN, Susan; FRACKOWIAK, Richard. Integration of Sensory

and Motor Function: The Association Areas of the Cerebral Cortex and the Cognitive Capabilities of the Brain.

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1.2 - A substância Branca

Engelhardt e Moreira (2008) consideram a substância branca do sistema

nervoso central como um dos elementos cerebrais mais importantes na constituição

das conexões cerebrais, pois a mesma é composta por fibras nervosas,

correspondendo à metade do volume do cérebro, que interconectam as variadas

áreas corticais, estruturas subcorticais. O trajeto realizado pela substância branca

pode ser dividido em três diferentes sistemas: projeção, associação e comissurais.

“(i) de projeção, que conectam áreas corticais com as partes mais caudais do encéfalo e a medula, sendo eferentes (coroa radiada [córtico-talâmicos] e cápsula interna [como os feixes córtico-nucleares e córtico- espinhais, córtico-pontinos]) e aferentes (coroa radiada [como os tálamo-corticais]),

(ii) de associação, que conectam diferentes estruturas no mesmo hemisfério, sendo curtas (entre giros adjacentes [fibras em U ou arciformes]) e longas (entre áreas distantes [como os feixes longitudinal superior e inferior, occipito-frontais, uncinado, cíngulo, fórnix]) e (iii) comissurais, que interconectam os 2 hemisférios (corpo caloso, comissura anterior, fórnix). (ENGELHARDT e MOREIRA, 2008. p. 26)”

Engelhardt e Moreira (2008) detalham cada um desses sistemas. A seguir,

serão apresentadas as principais definições e informações sobre cada um dos

sistemas, a partir da visão e pesquisa dos autores mencionados.

O sistema de projeção é composto pela coroa radiada, cápsula interna e os

feixes que passam por essas áreas. A coroa radiada é dividia em três partes:

anterior, superior e posterior. Essa divisão foi feita a partir do joelho e do esplênio do

corpo caloso. Ela é constituída por fibras relacionadas às conexões aferentes e

eferentes do córtex cerebral, compreendendo partes do tálamo e córtex cerebral. A

cápsula interna é uma faixa de fibras que se localizam entre o núcleo lentiforme

lateralmente e o caudado e tálamo. Ela é composta por anterior e posterior,

separados pelo joelho.

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O sistema de associação são os feixes longitudinais superior e inferior e os

feixes fronto-occipitais superior e inferior, o fascículo uncinado, as cápsulas externa

e extrema, o feixe do cíngulo, fórnix e a estria terminal. O feixe longitudinal superior

conecta a parte anterior do lobo frontal com os lobos occipital e temporal. Passa pelo

núcleo lentiforme e ínsula. Tem ramificações nos lobos temporal, frontal e parietal.

O feixe fronto-occipital superior tem suas fibras percorrendo o lobo frontal, o

bordo lateral do núcleo caudado, indo em direção aos lobos occipital e temporal. O

fascículo uncinado possui uma maior conexão fronto-temporal. O feixe fronto-

occipital inferior localiza-se profundamente na cauda do núcleo caudado,

conectando os lobos frontal, temporal e occipital. O feixe longitudinal inferior compõe

os principais elementos da substância branca dos lobos occipital e temporal. A

capsula externa é uma “lâmina de substância branca” (ENGELHARDT E MOREIRA

2008,p.31) localizada no núcleo lentiforme, enquanto a cápsula extrema situa-se

entre a ínsula e o claustro. O feixe do cíngulo interconecta as regiões do sistema

límbico. O fórnix liga o hipocampo aos corpos mamilares e núcleos do septo. A estria

terminal está relacionada ao sistema límbico, hipocampo e amígdala.

Os sistemas comissurais compreendem o corpo caloso e a comissura

anterior. O corpo caloso, por exemplo, é um elemento muito importante na

composição da conexão cerebral, pois o mesmo faz a ponte entre os hemisférios

cerebrais, por meio de milhões de fibras nervosas que percorrem todos os lobos. De

acordo com Engelhardt e Moreira (2008), o corpo caloso compreende um amplo

conjunto de fibras, sendo, assim, considerado a maior área da substância branca.

Segundo Andrade (2014) pessoas que nascem sem o corpo caloso, ou

apenas com parte dele, possuem dificuldades para interpretar o mundo, devido à

dificuldade para associar aprendizado e memória em lados opostos do cérebro.

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Zilbovicius et al (2006) relatou que foram feitos muito estudos de ressonância

magnética com indivíduos que sofrem do espectro autista e observou-se que:

“o terço caudal do corpo caloso estava reduzido em indivíduos com autismo em comparação a controles saudáveis.23 Esse resultado foi confirmado por estudos subsequentes, entre eles um estudo no qual o tamanho do corpo caloso foi mensurado em uma amostra de indivíduos autistas e comparado às medidas de indivíduos controle não-autistas com re- tardo mental.” (ZILBOVICIUS et al, 2006. p. s22)

Contudo, pesquisas realizadas por Tovar-Moll et al e publicadas em

Proceeding of the National Acadeny of Sciences (PNAS) em 2014 têm observado

que a plasticidade cerebral tem auxiliado indivíduos que nascem sem esse

importante elemento cerebral. De acordo com os estudiosos, o cérebro cria circuitos

alternativos que formam novas conexões capazes de fazer com que o indivíduo

conecte as duas áreas cerebrais. Esse fenômeno é chamado de plasticidade

cerebral.

Ferra, Ferreira et al. (2014) descrevem a conectividade estrutural como uma

ligação entre a substância branca e as demais regiões cerebrais. A métrica da rede

cerebral pode ser observada na figura a seguir:

De acordo com Sato et al (2008), a partir do mapeamento realizado por meio

de da neuroimagem funcional e ressonância magnética, é possível identificar

funções cognitivas e emocionais. Assim, o grupo afirma que os neurônios não se

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estruturam de forma desorganizada. Estes formam agrupamentos que ativam

determinados processos cognitivos, quando o mesmo está em andamento.

Nair et al. (2013) afirmam que o tálamo possui grande importância na

modulação de informação entre as regiões corticais cerebrais, além da função

sensório-motora, destacando também emoção, motivação e cognição. Na pesquisa

de Nair et AL foi identificado que grupos com espectro autista possuem uma

conexão menor para cada região cortical, ocasionando baixa conexão entre o tálamo

e a região parietal-occipital; somatossensorial e regiões temporais de ambos os

hemisférios; pré-frontal e regiões motoras do hemisfério esquerdo, quando

comparados com grupos típicos.

Os pesquisadores concordam que a conectividade funcional de autistas no

córtex pré-frontal apresentou uma baixa representatividade, principalmente no

tálamo direito, enquanto a área temporal teve uma forte representação bilateral. Já a

relação tálamo-temporal teve um excesso de conectividade no hemisfério direito.

É possível chegar à conclusão de que o cérebro funciona por meio de uma

circuitaria neural que cria conexões entre as áreas, sejam elas de uma mesma

região ou de regiões diferentes. Essas conexões fazem uma ligação com o interno

do indivíduo e o mundo exterior. Todas as áreas precisam estar em perfeito

funcionamento para que seja possível realizar todas as funções. Entretanto, o

cérebro é dotado de mecanismos que também auxiliam àqueles que, por alguma

razão, nasceram com alguma lesão ou que a tiveram durante a vida. Neste caso, a

plasticidade cerebral entra como uma forma de rearranjar conexões, criar novas

trajetórias que serão capazes de compor conexões. Esse fenômeno será detalhado

no capítulo II.

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CAPÍTULO II

NEUROPLASTICIDADE

No capítulo anterior, foram apresentados conceitos que norteiam e definem

a conectividade cerebral. Foi possível compreender que as conexões são essenciais

para a sobrevivência do indivíduo, haja vista o fato de que essas, sejam elas entre

uma mesma região ou entre regiões distintas, comandam as respostas a cada

estímulo recebido. Neste capítulo, serão apresentados conceitos sobre a

plasticidade cerebral ou neuroplasticidade, de acordo com as observações de Lent

(2010), assunto que vem sendo abordado diariamente em noticiários e em grupos de

pesquisa ao redor do mundo.

Antes de apresentar conceitos teóricos, é possível exemplificar a

plasticidade cerebral de uma forma simples, a partir de uma experiência pessoal.

Uma amiga que nasceu em 1987 tinha o hábito de beber constantemente. Até que

um dia, começou a sentir dores fortes e a paralisação do lado esquerdo do corpo

dela. Ao chegar ao hospital, a moça de 25 anos foi diagnosticada com AVC

(acidente vascular cerebral). Após ser operada, o médico receitou sessões de

fisioterapia, pois ela permanecia com sequelas, tais como encurtamento do nervo da

perna, fazendo com que ela mancasse, o braço bem pesado e duro, perda dos

movimentos finos dos dedos do pé.

Um pouco mais de um ano e três meses após as sessões de fisioterapia, a

mulher teve melhoras. Foi dado alta e ela começou a malhar. Esses procedimentos

fizeram com que ela diminuísse o encurtamento do nervo, diminuindo o jeito manco

de andar. O braço voltou a se movimentar, tendo a academia ajudado-a a ganhar o

tônus muscular perdido. Atualmente, ela tem o pé ainda um pouco torto, com os

dedos um pouco duros e manca levemente. O retorno desses movimentos

aconteceu graças ao fenômeno da neuroplasticidade.

A plasticidade cerebral é toda mudança que acontece no sistema nervoso,

oriundo do meio ou ambiente onde o indivíduo sobrevive. Para que aconteça a

neuroplasticidade, não há necessidade de que a pessoa sofra um AVC ou alguma

mudança assim. A plasticidade pode acontecer a partir de situações corriqueiras em

que o ambiente interfira e crie processos de adaptação do cérebro. Pessoas que

nasceram antes da década de 1980 com certeza ainda encontram-se em processo

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de adaptação para compreender novos aparelhos tecnológicos como smartphones e

seus sistemas Androind, IOS e Windows 8, por exemplo.

Lent (2010) observa que a plasticidade cerebral é um recurso que varia de

acordo com a idade do indivíduo. Até o período crítico3, o indivíduo apresenta uma

neuroplasticidade maior do que a de adultos. Por essa razão, é sempre

recomendado que as pessoas aprendam uma língua estrangeira antes dos doze

anos, pois terá maior facilidade para aprender do que quando adultos. O

pesquisador observa que o desenvolvimento da linguagem humana acontece até o

período da adolescência. Por essa razão, crianças que sofreram algum tipo de lesão

que afete o campo linguístico possuem mais chances de regeneração do que jovens

ou adultos que sofram a mesma, após a passagem do período crítico.

2.1 Classificação da plasticidade cerebral

A plasticidade, quando relacionada à faixa-etária, pode ser classificada como

ontogenética ou adulta. A neuroplasticidade ontogenética acontece

concomitantemente com o desenvolvimento do indivíduo, readaptando-o e criando

novas conexões. Uma criança que é diagnosticada com epilepsia aos 4 anos,

dependendo do grau da doença, pode chegar à fase adulta sem nenhum diagnóstico

ou crise, por exemplo. A plasticidade adulta, por sua vez, surge a partir de uma

mudança acarretada pelo ambiente.

De acordo com Lent (2010), o fenômeno da plasticidade pode ser

subdividido quanto ao tipo de manifestação: morfológica, capaz de gerar neurônios

em áreas específicas, programar a morte celular de outros não utilizados e criar

novos circuitos neurais; funcional, relacionado a atividades sinápticas sem alteração

morfológica; e comportamental, transformações que modificam o desempenho

psicológico e comportamental do indivíduo.

Esse fenômeno acontece porque há uma regeneração das áreas lesionadas.

Isto é, reestruturam aquele grupo que restou da lesão por meio do crescimento. A

seguir serão apresentados tipos de regenerações axônicas apresentados por Lent

3 “O período crítico do desenvolvimento dos circuitos binoculares, por exemplo, pôde ser determinado para o gato (entre o nascimento e o quarto mês de vida), para o macaco (até o segundo ano de vida do animal) e para o homem (até 10 anos de idade).” (LENT,2010.p.161)

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(2010), além de explicar as classificações das neuroplasticidades quanto ao alvo

lesionado.

A regeneração axônica periférica acontece nos casos em que as fibras

nervosas do SNP sofrem lesões que acarretam o esmagamento delas. Isso pode

acontecer de forma parcial (há um traumatismo, mas não há interrupção completa)

ou completa (fibras são completamente cortadas) No primeiro, caso, a regeneração

acontece, enquanto no segundo há necessidade de uma intervenção cirúrgica. Há

dois elementos que são importantes para o crescimento do axônio. Lent (2010)

explica que o primeiro é o soma, pois somente com este é possível existir o

recrescimento do axônio. O segundo elemento é o microambiente propício

localizado no entorno da fibra nervosa. Assim, o pesquisador explica o processo do

crescimento do axônio:

“A lesão do nervo periférico geralmente envolve fibras mielinízadas e fibras nâo-mielinizadas. A interrupção do axônio separa-o ein dois cotos: o coto distal, situado entre a lesão e o alvo denervado (um músculo, por exemplo), e o coto proximal, que permanece conectado ao corpo celular. O coto distal do axônio degenera, fragmentando-se gradualmente em pedaços menores, talvez pela interrupção do aporte energético proveniente do soma, ou mesmo por ação de fatores intrínsecos ao próprio axônio. A mielina se desorganiza e também se fragmenta. Os produtos da degeneração do coto distal - tanto do axônio quanto da mielina - são então rapidamente removidos por células de Schwann, e por macrófagos provenientes da corrente sanguínea. Ao mesmo tempo, as células de Schwann começam a proliferar em torno das estruturas em degeneração e posteriormente se tomam capazes de fabricar nova mielina Além disso, tanto elas quanto os macrófagos começam a sintetizar fatores neurotróficos e outras moléculas que se difundem nas redondezas, estimulando o crescimento do axônio lesado. Produzem também moléculas que irão compor a matriz extracelular, como a laminina, a fibronectina é outras, todas muito propícias ao crescimento do novo axônio.” (LENT, 2010. P. 151)

A regeneração axônica central, por sua vez, não possui o mesmo processo e

microambientação necessária para que seja possível ter a regeneração. Para que

esse fenômeno aconteça, é necessário que os axônios centrais conectem-se ao

SNP para que consiga regenerar. Isso acontece porque a mielina produzida neste

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local apresenta propriedades inibitórias e antirregeneradoras, sendo necessário,

assim, o contato com o SNP.

Como já mencionado na descrição das regenerações, a plasticidade axônica

pode ocorrer, tanto por meio de lesão, quanto por mudança no ambiente ao qual o

indivíduo está exposto. A plasticidade axônica tem sua classificação quanto a faixa-

etária, sendo dividida em plasticidade ontogenética ou adulta.

A plasticidade axônica ontogenética pode acontecer em indivíduos que

nasceram com algum defeito, como por exemplo a ausência do corpo caloso. Assim,

com o passar do tempo essas fibras nervosas criam novos caminhos, a fim de ligar

os dois lados do cérebro. Esse tipo de plasticidade também foi encontrado no

sistema visual, pois o nervo óptico leva informações para o tálamo e córtex visual,

ao receber estímulos da luminosidade presente no ambiente. Percebeu-se que as

informações que os olhos retém não são misturadas; isto é, as informações do olho

direito não são misturadas com as do olho esquerdo.

Lent (2010) afirma que as análises dos pesquisadores constatam que ao

entrar em contato com a luminosidade do meio, os axônios desenvolvem-se e

conseguem formar bandas, colunas ou domínios de dominância ocular, que são

disputados entre os olhos. Quando mais informação captada, mais grosso será o

nervo. Chegou-se a conclusão também de que crianças com catarata congênita

possuem o olho que não recebe informações luminosas com menos informações do

que o outro, tendo assim uma dominância ocular no olho que recebe informações.

Portanto, identificou-se que a plasticidade ontogenética domina o desenvolvimento

dos axônios pertencentes ao córtex visual. Analise, na imagem abaixo, as

ramificações dos axônios de acordo com cada situação.

“A plasticidade axônica ontogenética pode ser revelada quando se reconstrói a forma das arborizações terminais dos axônios

que projetam ao córtex visual. O recém-nascido apresenta árvores terminais largas, que depois se tornam mais restritas no

adulto. No adulto submetido à sutura monocular precoce (privação visual/, os terminais correspondentes ao olho que

permaneceu aberto são mais largos e densos que os do olho suturado.” LENT, Roberto Cem Bilhões de Neurônios?Conceitos

Fundamentais de Neurociência - 2ª edição. Atheneu, 2010. p. 161. In: Modificado de A. Antonini e M. P. Stryker 1993/ Science,

vol 260: pp. 1819-1821.

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Lent (2010) aborda a plasticidade axônica adulta fazendo ressalvas

com relação à necessidade de mais pesquisas. Os estudos sobre esse tipo

tiveram início comas pesquisas de Merzenich com macacos, na qual se extraía

a sensibilidade do braço do animal no córtex cerebral e identificou-se que

axônios da face ocuparam as regiões cerebrais que eram destinadas ao braço.

Tempos depois, fizeram uma pesquisa com humanos que sofreram

amputação do braço. Identificou-se que axônios de regiões próximas (rosto)

ramificaram-se para as áreas onde até então funcionava a sensibilização dos

braços. Lent (2010) destacou outra hipótese para o fenômeno. Segundo o

autor, haveria conexões “substitutas”, quês estariam inibidas pela falta de

necessidade. Assim, após a amputação, esses axônios adormecidos seriam

liberados e ramificar-se-iam a área vazia.

Os dendritos caracterizam um tipo de plasticidade dendrítica

ontogenética como estrutural e morfológica, pois recebem e transmitem as

sinapses de um neurônio a outro. O dendrito desenvolve-se a partir do

genoma. Este irá dizer se o neurônio será pirâmide, por exemplo. A hipótese

morfológica e estrutural pode ser analisada a partir da pesquisa de Lindem e

Perry, que fizeram cortes com bisturi em retinas de ratos recém-nascidos.

Descobriram que nas áreas onde não havia cortes, as ramificações eram

regulares e harmônicas, em oposição aos locais com cortes, que tinham mais

ramificações no local da lesão do que no local não afetado.

A plasticidade dendrítica adulta está vinculada à quantidade de

estímulos e sinapses. Lent (2010) menciona estudos que identificaram uma

complexidade dendrítica maior na área de Wernickie de pessoas com maior

nível de escolaridade, ou seja, receberam mais estímulos. Assim, chegou-se a

conclusão de que o desenvolvimento do indivíduo está associado à

complexidade dendrítica.

Segundo o autor, a partir da descoberta das espinhas dendríticas

(pequenas protrusões que emergem dos roncos dendríticos) feitas por Cajal,

outros estudos foram realisados. Lent (2010) afirma que as últimas pesquisas

relatam que as espinhas dendríticas são instáveis e móveis. Na citação a

seguir ele diz:

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“as espinhas que se mantêm movem-se ativamente. Essa intensa motilidade é possibilitada pela grande concentração de actina - uma molécula contrátil do citoesqueleto — no interior das espinhas. Não se sabe exatamente qual o significado dessa intensa motilidade, mas é razoável supor que sejam mais instáveis e móveis as espinhas cujas sinapses não se tenham ainda consolidado pelos processos de aprendizagem e memória, e estáveis aquelas que representem memórias de longo prazo. Como as espinhas dendríticas estão sempre ligadas a terminais axônicos aferentes através de sinapses assimétricas (excitatórias), a instabilidade das primeiras resulta em instabilidade das últimas (ou vice-versa, não se sabe). Esse fenômeno das espinhas, assim, reflete a plasticidade sináptica, como veremos adiante.” (LENT,2010. p. 165)

Para Lent (2010) a plasticidade sináptica teve seu grande

reconhecimento por meio do trabalho de Eric Kandel, ao utilizar uma espécie

de caramujo sem concha nos estudos sobre plasticidade sináptica. A escolha

desse animal se deu pelo fato de o mesmo possuir um SN composto por

20.000 neurônios.

O grupo de Kandel realizou três testes distintos: habituação: estímulos

fracos que com o passar das aplicações, os reflexos somem; sensibilização:

um estímulo muito forte causa um reflexo muito forte, fazendo com que haja o

mesmo reflexo com o uso de outros estímulos mais fracos; e sensibilização

duradoura: um estímulo forte aplicado várias vezes por um tempo, reflete em

reflexos duradouros que perduram por semanas, mesmo o animal recebendo

estímulos fracos.

No processo de habituação, os neurônios motores recebem sinapses

dos neurônios sensitivos, seguido de um potencial pós-sináptico excitatório

(PPSE) no neurônio motor. Percebeu-se que o potencial de ação permaneceu

o mesmo, quando reutilizado, mas o PPSE a cada sessão. Lent (2010) explica

que esse tipo de plasticidade representa mecanismos simples da memória de

curta duração. Assim, circuitos sinápticos utilizaram-se desse mecanismo para

armazenar informação durante curtos períodos.

A sensibilização, de acordo com o pesquisador, apresenta uma

complexidade um pouco maior. Por essa razão o processo será simplificado na

descrição deste trabalho. Para aprofundamento é recomendável ler o capítulo

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do autor. Na sensibilização o processo inicia de forma semelhante à

habituação. Ocorre no neurônio motor um PPSE de determinada amplitude.

Aplica-se um choque elétrico que provocam reflexos, seguido de um estímulo

suave que provoca uma forte reação, tal como no primeiro reflexo.

Lent (2010) explica que esse processo ocorre porque o

neurotransmissor do interneurônio é a serotonina, que ao acionar a fofolipase,

liberal diacilglicerol, cujas funções são: fechar os canais de potássio,

prolongando a duração dos potenciais de ação que chegam ao terminal; e

abertura dos canais de cálcio, aumentando a entrada de íons. Esse

procedimento aumenta a quantidade de vesículas sinápticas, que liberam

glutamato nas fendas localizadas entre o axônio sensitivo e o neurônio motor.

“Este tipo de plasticidade sináptica consiste na elevação da eficácia da transmissão, justamente o oposto da habituação. Como em todo tipo de plasticidade, o ambiente (estímulo forte na cauda da aplisia, no exemplo utilizado) é capaz de modificar de algum modo o desempenho ou a morfologia do sistema nervoso (neste caso, a transmissão sináptica que medeia o reflexo de retirada da brânquia). A sensibilização representa também um exemplo de memória de curta duração que pode ocorrer era muitos circuitos neurais inespecíficos.” (LENT,2010. p.169)

O potencial de longa duração (LTP) caracteriza-se pelo curso temporal

comum: curta fase inicial com duração de alguns minutos; fase precoce:

algumas horas; e fase tardia: várias horas, semanas ou a vida inteira. Lent

(2010) relata que este tipo de plasticidade ocorre no hipocampo, região que

aciona a memória, e, por essa razão é necessário compreender a circuitaria

neuronal do hipocampo para, a partir daí, observar o processo do potencial de

longa duração. Como o objetivo desde capítulo é apenas fornecer uma

classificação abrangente, recomenda-se a leitura do capítulo de Lent (2010) na

qual são explicados todos os processos de forma detalhada.

Por fim, a plasticidade somática, que tem sido alvo da mídia

constantemente. Isso se dá pelo fato de as células-troco terem remexido as

cadeiras da comunidade científica. Lent (2010) afirma que foi descoberto a

presença desse tipo de célula em adultos, na região olfatória, primeiramente.

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Até o momento da publicação do livro do autor, já havia pressupostos que

indicavam a presença de células-tronco no hipotálamo, retina e substância

negra.

“Células-tronco são aquelas capazes de autorregeneração e multipotencialidade, isto é, capazes de ciclar continuamente gerando outras células-tronco e tipos celulares maduros diversos. Como se pode supor, há células-tronco em graus diversos, desde aquelas totipotentes, capazes de gerar qualquer tipo celular do organismo e que existem apenas nos embriões mais precoces, até aquelas multipotentes mais restritas, capazes de gerar diversos tipos celulares, mas dentro de um mesmo sistema orgânico. Este é o caso das células-tronco situadas no encéfalo, que se supõe sejam capazes de gerar neurônios e gliócitos de tipos diferentes.” (LENT,2010. p. 176)

A seguir, é possível concluir as reflexões e definições de plasticidade, a

partir do quadro de Lent (2010):

TIPOS E CARACTERÍSTICAS DA NEUROPLASTICIDADE

Segundo a Idade Segundo a

Manifestação

Segundo o

Alvo

Segundo o Fenômeno Observado

Plasticidade

Ontogenética

Morfológica Somática Neurogênese, morte celular programada

Axônica Regeneração de fibras lesadas

Brotamento de fibras íntegras

Regulação da mielinização

Dedrítica Ramificação dendrítica e brotamento de espinhas

Sináptica Sinaptogênese

Funcional Neuronal Parâmetros de atividade neuronal

Sináptica Fortalecimento e consolidação sináptica

Comportamental ___ Aprendizagem, memória

Plasticidade Adulta Morfológica Somática Neurogênese, morte celular

Axônica Regeneração de fibras lesadas apenas no SNP

Brotamento de fibras íntegras

Dedrítica armação e desaparecimento de espinhas

Sináptica Formação de novas sinapses

Funcional Sináptica Habituação, sensibilização, LTR LTD, e outras

Comportamental __ Aprendizagem, memória

Fonte: LENT, Roberto Cem Bilhões de Neurônios?Conceitos Fundamentais de Neurociência - 2ª edição. Atheneu, 2010. p.150

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CAPÍTULO III

O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

O primeiro e o segundo capítulo tiveram como principal função explicar e

apresentar concepções acerca da conectividade cerebral e a neuroplasticidade. Foi

possível ver como o cérebro se comporta, suas relações e conexões. Este capítulo

apresenta pesquisas que relatam a funcionalidade das conexões neurais de pessoas

com espectro autista, a partir de testes realizados com ressonância magnética, Egg

e neuroimagem. Assim como reforça a importância de um tratamento cuidadoso

dentro da sala de aula, a fim de que esses indivíduos consigam aprender e

desenvolver suas habilidades cognitivas e sociais.

O transtorno do espectro autista tem sido pesquisado desde o início do

século XX. Zilbovicius et al. (2006) definem o autismo como um transtorno de

desenvolvimento que afeta a interação social e comunicação verbal e não verbal,

limita atividades e o interesse do interesse do indivíduo, além de estereotipar

comportamentos. As autoras afirmam que esse transtorno é uma disfunção orgânica

e as principais estruturas cerebrais afetadas são: o cerebelo, amígdala, hipocampo,

corpo caloso, e o cíngulo, além de afetar também o sistema límbico.

Como mencionado anteriormente, as pesquisas analisadas neste trabalho

destacaram algumas áreas do cérebro que apresentam disfunção e baixo nível de

conectividade cerebral entre regiões: o cerebelo, amígdala, hipocampo, corpo

caloso, e o cíngulo, e o sistema límbico. Assim, essas áreas serão apresentadas, no

intuito de esclarecer como a ausência de conectividade pode afetar o indivíduo.

O cerebelo, segundo Stigler e McDougle (2013), tem uma função importante

na modulação da linguagem, da emoção e da função executiva. A amígdala integra

a função emocional e o comportamento social. O hipocampo integra informações à

memória associativa. O corpo caloso conecta os dois hemisférios cerebrais, a fim de

que seja possível realizar conexões entre regiões diferentes. O cíngulo pode ser

dividido em anterior, integrando a cognição, emoção e expressão comportamental;

ou posterior, envolvendo a memória e visão espacial. Por fim, o sistema límbico

corresponde à atenção, emoção e memória.

Muszkat et al. (2014) explicam que é necessário observar comportamentos, a

fim de que o indivíduo seja diagnosticado como autista, pois a cognição social, sofre

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prejuízo desde os anos iniciais de vida de uma criança. Os autores definem

cognição social como o processamento de informação realizado pelo indivíduo, a

percepção do outro, e os julgamentos durante a tomada de decisão. Eles

reconhecem dois modelos, que são capazes de explicar a cognição social: modelo

de processamento interativo da percepção social e o modelo conceitual de cognição

social.

No primeiro modelo, proposto por Saptute e Lieberman4 (2006), uma base

neural foi dividida em dois sistemas: reflexivo: evolve processos automáticos

oriundos do sistema límbico e estruturas primitivas (amígdala); e refletivo: envolve

processos voluntários, sendo composto pelas estruturas do lobo pré-frontal e circuito

executivo. O segundo modelo que está relacionado à cognição social, pesquisado

por Couture et al. (2006), fazem a pesquisa a partir de uma situação social,

analisando-a a partir de quatro critérios: percepção emocional, percepção social,

teoria da mente e estilo de atribuição.

De acordo com Klin (2006), para que um indivíduo receba um diagnóstico de

espectro autista, é preciso que sejam observados pelo menos seis critérios

comportamentais:

“Há quatro critérios de definição no grupo “Prejuízo qualitativo nas interações sociais”, incluindo prejuízo mar- cado no uso de formas não-verbais de comunicação e interação social; não desenvolvimento de relacionamentos com colegas; ausência de comportamentos que indiquem compartilhamento de experiências e de comunicação (e.g.,habilidades de “atenção conjunta” - mostrando, trazendo ou apontando objetos de interesse para outras pessoas); e falta de reciprocidade social ou emocional. Quatro critérios definidores de “Prejuízo qualitativo na comunicação” incluem atrasos no desenvolvimento da linguagem verbal, não acompanhados por uma tentativa de compensação por meio de modos alternativos de comunicação, tais como gesticulação em indivíduos não-verbais; prejuízo na capa- cidade de iniciar ou manter uma conversação com os de- mais (em indivíduos que falam); uso estereotipado e repetitivo da linguagem; e falta de brincadeiras de faz-de-conta ou de imitação social (em maior grau do que seria esperado para o nível cognitivo geral daquela criança). Quatro critérios no grupo “Padrões restritivos repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades” incluem preocupações abrangentes, intensas e rígidas com

4 Apud FUENTES, Daniel et al. Neuropsicologia: teoria e prática. 2.ed – Porto Alegre. Artmed, 2014.

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padrões estereotipados e restritos de interesse; adesão inflexí- vel a rotinas ou rituais não-funcionais específicos; maneirismos estereotipados e repetitivos (tais como abanar a mão ou o dedo, balançar todo o corpo); e preocupação persistente com partes de objetos (e.g., a textura de um brinquedo, as rodas de um carro em miniatura).”(KLIN, 2006. p.5)

Kim e Lord (2013) baseados no DCM-V, consideram outras características

comportamentais para o espectro autista, que são: preocupação intensa ou

interesse obsessivo por algo, rotinas não funcionais, repetição de manias motoras, e

preocupações com partes específicas de objetos.

Fernandes et al. (2007) afirmam que autistas possuem atraso no

desenvolvimento da linguagem, principalmente no que diz respeito à compreensão

semântica das palavras e nos aspectos de uso social, sendo caracterizado com o

uso excessivo de detalhes, interesse por assuntos específicos, mudança repentina

de assunto, falta de estratégias para retomar um assunto abruptamente

interrompido.

Em 2005, Christopher Gilberg realizou uma palestra em São Paulo, no

auditório do Incor e afirmou que pessoas com o espectro autista apresentam uma

macrocefalia, que pode estar diretamente relacionada à superprodução de sinapses

e neurônios não funcionais, podendo causar uma rede neural pobre e uma

conectividade cerebral ineficiente. O médico e estudioso diz que há pelo menos três

áreas cerebrais que são responsáveis no desenvolvimento do autismo: o tronco

cerebral, o cerebelo e as regiões fronto-temporais, incluindo amígdala e giro

fusiforme.

Ferra et al (2014) relata que foram descobertas a existência de desconexões

entre o córtex frontal e temporal. Entretanto, pessoas com autismo mostram uma

hiperconectividade no córtex frontal, mas hipoconectividade entre o córtex frontal e o

restante do cérebro.

Zilbovicius et al. (2006) realizaram pesquisas comparando crianças autistas a

grupos de controle e constataram uma hipoperfusão temporal em 77% das crianças

autistas. Os pesquisadores fizeram uma análise mais aprofundada dos dados e

perceberam que há uma correlação entre e giro temporal superior esquerdo e o

escore da ADI-R. Elas destacaram que quanto maior o escore, mais grave será a

síndrome autística e menor será o fluxo sanguíneo cerebral (FSC) na região

temporal esquerda. As autoras concluem que:

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“As disfunções das regiões temporais podem explicar grande parte dos sintomas clínicos (déficits perceptivo, emocional e cognitivo) observados no autismo. Além disso, as regiões associativas temporais estão estreitamente conectadas aos sis- temas sensoriais associativos frontais, parietais e límbico. Consequentemente, a disfunção do sulco temporal superior (STS) pode explicar também os componentes emocionais e cognitivos do autismo.

Pensa-se que o lobo temporal é central para o processamento de numerosos estímulos ambientais que ingressam no sistema nervoso por meio dos órgãos sensoriais visuais e auditivos. O lobo temporal é também essencial para o processamento desses estímulos em padrões estruturados de atividade neural, constituindo as experiências que dão sentido ao mundo ao nosso redor.”(ZILBOVICIUS, 2006. p. s23-s24)

As autoras afirmam que STS é um elemento de grande relevância para o

cérebro social, pois além de ser responsável pelos movimentos biológicos, tais como

movimento dos olhos, mãos e corpo e boca, é importante também para a percepção

social. Assim sendo, elas mencionam que são características presentes no espectro

autista: déficits na percepção do olhar, contato visual pobre durante a comunicação

e dificuldades para acessar as informações para inferir os estados mentais dos

demais indivíduos.

Outro fator que enfatiza a importância do STS no cérebro social, segundo as

estudiosas, é a questão da imitação e percepção da voz humana. Isto é, pessoas

com o espectro autista demoram ou dificilmente compreendem o porquê das

convenções sociais, tais como cumprimentar pessoas no dia a dia. Além disso, o

fluxo sanguíneo cerebral em autista difere do grupo controle. É importante dizer que

o FSC afeta a atividade sináptica, refletindo na ativação sensorial, cognitiva e

motora. Zilbovicius et al. (2006) destacam que as regiões e os circuitos cerebrais de

autistas também diferem-se caso comparados com o grupo controle.

Ao tratar da estimulação auditiva, Zilbovicius et al. (2006) destacaram que

autistas ativam o córtex associativo posterior direito, enquanto o grupo controle

ativou o esquerdo. As estudiosas reportam na pesquisa que os autistas

demonstraram menor ativação na rede temporal esquerda, responsável pelo

processamento de palavras. As autoras afirmam:

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“Esses achados sugerem que o autismo está associado a um padrão anormal de ativação auditiva do córtex temporal esquerdo. Como a região temporal esquerda está implicada na organização cerebral da linguagem, essa ativação anormal do hemisfério esquerdo poderia estar envolvida nos prejuízos de linguagem e na resposta comportamental inadequada aos sons dos autistas.” (ZILBOVICIUS, 2006. p. s24)

Outro componente que não é ativado pelo cérebro autista, segundo as

pesquisadoras, é a amigdala. De acordo com Garcia e Mosquera (2011), a amígdala

tem uma função significativa na percepção social e emocional, pois essa área

participa na ativação do medo em situações diárias.

Atualmente, pesquisas têm sido realizadas a fim de conseguir aprofundar

mais estudos sobre a conectividade e plasticidade cerebral de autistas, a fim de,

diminuir os sintomas do transtorno. Um exemplo disso é o projeto Fada do Dente,

cuja responsável é a doutora Patrícia Beltrão Braga. Nesse estudo, iniciado em

2008, os pesquisadores coletam dentes de leite de crianças autistas e levam para o

laboratório. Lá, eles usam a polpa do dente, utilizando-a em uma reprogramação

genética com células adultas. O resultado dessa intercessão entre a célula adulta e

a célula da polpa do dente de um autista é a reação de um vírus, proliferando células

embrionárias (células-tronco). Além de compreender a funcionalidade autístisca, a

pesquisa tem feito testes com medicamentos no intuito de conseguir diminuir os

sintomas do autismo.

Enquanto os pesquisadores desvendam o cérebro do autista, há uma

população mundial que tem sido cada vez mais diagnosticada. Assim, há a

possibilidade de recriar ambientes, seja dentro de casa, na escola, no trabalho, ou

em outros espaços, que possam ajudar o indivíduo a se desenvolver e também

atribuir-se do fenômeno da plasticidade cerebral, por meio de tratamentos

farmacológicos, terapia cognitivo-comportamental, Análise Aplicada do

Comportamento (ABA - Applied behavior analysis), entre outros. Segundo a ONG

Autismo e Realidade5, a ABA é uma ciência que funciona como procedimentos de

aprendizagem que visam a aquisição de habilidades sociais e cognitivas. Técnicas

que a ABA utiliza com crianças com espectro autista são:

5 Conheça o trabalho desta organização acessando www.autismoerealidade.org

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• Reforço positivo: uso de prêmio, lanche, comida, brinquedos para aumentar comportamentos desejáveis;

• Moldagem: recompensa por aproximações ou componentes de um comportamento desejável, até que esse comportamento almejado seja alcançado;

• Desvanecimento: redução de instruções para aumentar a independência;

• Extinção: remoção de reforço, mantendo um problema comportamental;

• Punição: aplicação de estímulo indesejável para reduzir problemas comportamentais;

• Reforço diferencial: reforço de uma alternativa socialmente aceitável ou a falta de um comportamento. (autismoerealidade.org)

O manual publicado pela organização Autism Speaks – it’s time to listen,

School Comunity Tool Kit, traduzido e disponibilizado pelo Autismo e Realidade,

reserva uma seção para descrever intervenções educacionais para indivíduos com

TEA (transtorno do espectro autista). São eles: Ensino de Tentativas Discretas (DTT)

ou o Modelo de Lovaas, Floortime, ou Modelo de Diferenças de Relacionamento

(DIR), Sistema de Comunicação por Trocas de Figuras (PECS), Tratamento de

Resposta Pivotal (PRT), Intervenção de Desenvolvimento de Relacionamento (RDI),

Suporte de Comunicação Regulação Emocional Transacional Social (SCERTS),

Treinamento e Educação de Autistas e Comunicação Relacionada de Crianças

Deficientes (TEACCH), e Comportamento Verbal (VB). É possível encontrar a

descrição dessas estratégias no anexo I.

É importante, portanto, que a escola, a família e psicólogos estejam em um

trabalho conjunto, a fim de que a criança consiga trabalhar suas habilidades e

aprender a lidar com as adversidades e diferenças sociais.

Spears e Turner (2011) reserva uma sessão do livro delas para relatar três

estratégias que devem ser utilizadas dentro da sala de aula, a fim de que um aluno

com espectro autista possa sentir conforto e desenvolver as habilidades sociais e

cognitivas. As autoras explicam que muito do insucesso de desenvolvimento de

crianças com autismo está na falta de habilidade de responder quatro perguntas

simples: “Onde eu preciso estar?”, “O que devo fazer?”, “O quanto devo fazer?” e “O

que vem depois?”.

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Uma das estratégias consiste no uso de suportes visuais. Segundo as

autoras, isso faz com que o aluno compreenda melhor e participe mais e desenvolva

a comunicação expressiva. São incluídos nesses suportes visuais: e agendas,

calendários, sistemas de trabalho, histórias sociais, quadros de escolha,

organização de atividades, fotos e símbolos.

É interessante dizer que algumas das estratégias mencionadas podem ser

utilizadas em uma sala de aula com alunos heterogêneos, ou seja, que possuem ou

não autismo e que estudam juntos. Isso faz com que não seja uma mudança

específica para somente ao aluno de inclusão, mas sim em geral.

A partir de uma experiência pessoal, é possível narrar um pouco do

comportamento de um aluno que é espectro autista. O menino tem 11 anos de idade

e foi o primeiro ano dele na escola. Ele cursou o sexto ano do Ensino Fundamental e

não era acompanhado por mediadora. Nas duas primeiras aulas de língua inglesa,

esse aluno costumava cuspir na sala, quando distraía a atenção da aula, pois ficava

nervoso. Outra situação comum nas primeiras aulas era a adaptação para copiar. Ao

pedir que copiasse assuntos do quadro, ele não perguntava sobre o que estava

escrito e acabava por rabiscar caderno inteiro.

Ao começar a criar rotinas “fechadas” em sala, tais como correção de

exercício, matéria nova, participação da turma, vídeos, e a sistematização da

organização do quadro, fizeram com que o aluno se sentisse a vontade. Após

mudanças como essas, o aluno parou de cuspir e passou a copiar todas as

anotações, de maneira correta e sem rabiscos, organizou-se melhor com as

anotações no caderno e livro.

Um elemento importante para o crescimento do menino, foi o constante uso

de recompensas, que o motivaram para melhorar e se dedicar mais. A forma de

recompensa utilizada eram elogios para toda a turma, mostrando como ele se

comportava bem e dizendo “very good!” para as respostas corretas que dava,

quando fazia perguntas para a turma. Assim, ele passou a sempre procurar

participar das aulas.

O uso de elementos visuais para associar o conteúdo também foram

essenciais para o desenvolvimento do aluno, pois a aprendizagem teve uma eficácia

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maior quando foram utilizados vídeos, imagens, e apresentações de teatro dentro da

sala de aula. Músicas, vídeos e apresentações de slide foram muito positivos. Ele

conseguiu associar melhor o conteúdo e mostrou um interesse maior pela língua.

Em conversa com a mãe, ela comentou que o aluno passou a assistir não só os

vídeos que dever de casa, mas também muito outros de língua inglesa que estavam

disponíveis no Youtube. Assim, foi possível trabalhar a habilidade social do aluno a

partir da participação do mesmo.

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CONCLUSÃO

A conectividade cerebral, portanto, tem sido discutida a partir da observação

de ressonância magnética e outros exames. Com essa tecnologia, é possível

observar quais as correlações que o cérebro faz, a fim de que o indivíduo consiga

responder com sucesso a uma determinada ativação após estímulos. Pesquisadores

estão cada vez mais interessados em analisar profundamente cada área cerebral, a

fim de desvendar como esse sofisticado órgão comanda todas as ações humanas.

A plasticidade é um fenômeno presente no desenvolvimento do indivíduo,

pois o mesmo ajuda na adaptação do cérebro após mudanças no ambiente. Esta

adaptação pode ser a partir do interesse do indivíduo ou não. Isso também ocorre a

partir de ações rotineiras que se modificam, não sendo necessário sofrer grandes

lesões. As conexões criam-se e adaptam-se a partir da necessidade de uma pessoa

também.

No caso de pessoas com espectro autista, pesquisas têm mostrado que,

devido à plasticidade cerebral, o cérebro faz diferentes conexões capazes de auxiliar

a pessoa a conseguir se desenvolver, dependendo do grau de alterações. O cérebro

de um autista é dotado de conexões de baixa intensidade, devido a sua disposição

biológica. Ficou comprovado que as partes do cérebro alteradas possuem baixas

conexões cerebrais, afetando, assim, o desenvolvimento desses indivíduos.

Entretanto, isso pode mudar, se o indivíduo recebe estímulos capazes de formar

novas conexões ou caminhos diferentes no normal.

O ambiente escolar é um local que pode ser utilizado para auxiliar na

transformação e na plasticidade de crianças com TEA, pois, ao dar um ambiente

saudável e organizado, ela consegue desenvolver tanto habilidades sociais como

intelectuais.

É possível concluir que todo e qualquer indivíduo pode modificar e criar novas

conexões, aproveitando o fenômeno da neuroplasticidade. Até a fase crítica, o

organismo possui mais chances de modificação do que organismos de jovens e

adultos. Contudo, ainda há maneiras de trabalhar o cérebro. Afinal, todo

computador precisa de um update para que funcione melhor.

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ANEXOS

ANEXO 1

Quais são algumas das Intervenções educacionais especiais geralmente usadas em indivíduos com autismo?

Brief descriptions are included for interventions often used in school settings, home programs and early intervention. É importante para as escolas para avaliar as intervenções prospectivas para o aluno de forma individualizada, bem como manter em mente a necessidade de utilizar evidências baseadas em métodos e estratégias. Para mais informações mais profundas e links relacionados a intervenções terapêuticas, consultara seção Recursos deste kit da Autism Speaks resources page e o National Education Association The Puzzle of Autism .

Ensino de Tentativas Discretas (DTT) ou o Modelo de Lovaas:

Chamado em homenagem ao seu Professor pioneiro (baseado na ABA), DTT

Dirigir as habilidades e comportamentos com base em um currículo estabelecido. Cada habilidade é dividida em pequenos passos, e ensina usando lembretes que são gradualmente eliminados como as etapas são dominadas. São dadas à criança repetidas oportunidades para aprender e praticar cada passo em uma variedade de configurações. Cada vez que a criança atinge o resultado desejado, recebe um reforço positivo, como o elogio verbal ou algo que a criança considera altamente motivador.

Floortime, ou Modelo de Diferenças de Relacionamento (DIR):

A premissa de Floortime é que um adulto pode ajudar a criança a expandir seus círculos de comunicação por conhecê-lo ao seu nível de desenvolvimento e construção de seus pontos fortes. A terapia é, muitas vezes, incorporada às atividades lúdicas – no chão - e concentra-se no desenvolvimento do interesse no mundo, da comunicação e do pensamento emocional, seguindo a liderança da criança.

Sistema de Comunicação por trocas de Figuras (PECS):

Um sistema de aprendizado que permite crianças com pouca ou nenhuma habilidade verbal comunicar-se através de figuras. Um adulto ajuda a criança a construir um vocabulário e articular desejos, observações ou sentimentos pelo uso de figuras e começar por ensinar à criança como trocar a figura por um objeto. Eventualmente, o indivíduo é ensinado como distinguir entre as imagens e símbolos e usá-las para formar frases. Embora o PECS seja baseado em ferramentas visuais, reforço verbal é um componente importante e comunicação verbal é incentivada.

Tratamento de Resposta Pivotal (PRT)

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(Baseado na ABA), a PRT é uma intervenção dirigida à criança que se concentra na crítica, ou comportamentos "pivotais" que afetam uma grande variedade de comportamentos. Os comportamentos pivotais primários são motivações e iniciações da criança de comunicações com os outros. O objetivo da PRT é produzir mudanças positivas nos comportamentos centrais, levando à melhoria na comunicação e nos comportamentos sociais além da capacidade da criança para monitorar seu próprio comportamento. Intervenção Criança-dirigida.

Intervenção de Desenvolvimento de Relacionamento (RDI)

RDI procura melhorar a qualidade do indivíduo em longo prazo da vida, ajudando-o a melhorar as habilidades sociais, adaptabilidade e autoconhecimento através de uma abordagem sistemática para a construção emocional, habilidades sociais e relacionais.

Suporte de Comunicação/Regulação Emocional /Transacional Social

(SCERTS)

O SCERTS utiliza práticas de outras abordagens (PRT, TEACCH, Floortime e RDI), e promove na criança-iniciada comunicação em atividades diárias e a capacidade de aprender e aplicar as habilidades funcionais de forma espontânea e relevante em uma variedade de configurações e com uma variedade de parceiros. O Modelo SCERTS favorece o aprendizado com e de crianças que fornecem bons modelos sociais e de linguagem em contextos inclusivos, tanto quanto possível.

Treinamento e Educação de Autistas e Comunicação Relacionada de Crianças Deficientes (TEACCH)

OTEACCH é um programa de educação especial usando Ensino Estruturado, um processo destinado a capitalizar a força relativa e a preferência pelo processamento da informação visual em indivíduos com autismo, considerando as dificuldades reconhecidas. Avaliação individualizada e planejamento são usados para criar um ambiente altamente estruturado (organizado com apoio visual) para ajudar o mapeamento individual de atividades e trabalhar de forma independente.

Comportamento Verbal (VB)

(Baseado no ABA) O VB emprega pesquisas comportamentais específicas sobre o desenvolvimento da linguagem e é projetado para motivar uma criança a aprender a falar pelo desenvolvimento de uma conexão entre uma palavra e seu valor.

Trecho extraído de: Autismo e Realidade. Manual para as Escolas. Disponível em: http://autismoerealidade.org/ferramentas-de-apoio/downloads/. Acesso em: 20 de Janeiro de 2015

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

(CONECTIVIDADE CEREBRAL) 10

1.1 - Neuroanatomia e conectividade cerebral 11

1.2 - A substância branca 15

CAPÍTULO II

(NEUROPLASTICIDADE) 19

2.1- Classificação da plasticidade cerebral 20

CAPÍTULO III

(O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA) 27

CONCLUSÃO 35

ANEXOS 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ÍNDICE 41

FOLHA DE AVALIAÇÃO 42