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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR A HISTÓRIA LOCAL NAS
UNIVERSIDADES
Autor: Moema Bernardes Pimentel Foizer
Orientador: Professor Vilson Sérgio de Carvalho
BRASíLIA
2010
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MOEMA BERNARDES PIMENTEL FOIZER
A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR A HISTÓRIA LOCAL NAS
UNIVERSIDADES
Monografia apresentada a Universidade Cândido Mendes como exigência do Curso de Docência do Ensino Superior para obtenção do título de Pós-Graduação.
BRASíLIA
Julho / 2010
MOEMA BERNARDES PIMENTEL FOIZER
A IMPORTÂNCIA DE ESTUDAR A HISTÓRIA LOCAL NAS UNIVERSIDADES
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Docência do Ensino Superior da Universidade Candido Mendes, em cumprimento as exigências para obtenção do titulo de Especialista.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ser o criador de todas as coisas e
sentido da minha vida. Aos meus pais, cada qual da
sua forma, me apoiaram e incentivaram na
conclusão de mais uma etapa. À minha família que
teve paciência durante minhas ausências.
EPíGRAFE
Antoine de Saint Exupery
O significado das coisas não está nas coisas em si,
mas sim em nossa atitude com relação a elas.
RESUMO
O objetivo deste estudo é esclarecer a importância do cidadão – aluno e/ou
professor – ter conhecimento do espaço onde vive, onde estudo e/ou trabalha. Para
isso, a metodologia utilizada neste estudo é a revisão crítica de literatura em história,
história local e universidades. Observamos que a importância de se estudar a
história local na universidade vai além de apenas entende a configuração social ali
existente, mas como forma de estabelecer uma relação de mão dupla entre
universidade e comunidade, sendo que a primeira oferece os serviços adequados á
população e este oferece a oportunidade dos estudantes de praticar a teoria.
Concluímos que é de suma importância o estudo da história local na universidade,
pois é a partir deste estudo que os estudantes saberão o que a comunidade
necessita e como a universidade poderá oferecer como ele deverá atender essa
população e, desse modo, poderá praticar de forma qualitativa a teoria que a
aprendeu em sala de aula em prol do desenvolvimento social da região.
Palavras-chave: universidade; história; local.
ABSTRACT
The aim of this study is to clarify the importance of the citizen - the student and / or
teacher - have knowledge of space where you live, where study and / or work. For
this, the methodology used in this study is the critical review of literature in history,
local history and universities. We observed that the importance of studying local
history at the University goes beyond just mean the social configuration that exists
there, but as a way to establish a two-way relationship between university and
community, and the first offer appropriate services to the population and this offers
the opportunity for students to practice the theory. We conclude that it is of utmost
importance to the study of local history at university, because it is from this study that
students will know what the community needs and how the university can offer as it
will serve this population and thus be able to practice so qualitative theory learned in
the classroom to promote social development in the region.
Keywords: university, history, location.
SUMÁRIO
Introdução ..................................................................................................................... 08
Capítulo I – HISTÓRIA GERAL, HISTÓRIA LOCAL E UNIVERSIDADE ................. .....10
1.1 - História Local ............................................................................................. 15
1.2 - A Universidade .......................................................................................... 19
Capítulo II – A UNIVERSIDADE E A COMUNIDADE: INTERAÇÕES E RELAÇÕES ... 22
2.1 - Extensão da Universidade na Comunidade: Além da Filantropia...............22
2.2 - O Conhecimento da História Local pela Universidade e a Qualidade
dos Serviços Prestados.................................................................................. .. 26
Capítulo III - História e Desenvolvimeto Social...............................................................29
CONSIDERAÇÕES FINAISLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL.........34
REFERÊNCIASLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL..36
8
INTRODUÇÃO
Podemos observar atualmente, as modificações que vêm ocorrendo nos
vestibulares nas principais universidades públicas brasileiras. A nova formatação do
Exame Nacional do Ensino Médio, conhecido como ENEM, vem sendo discutida,
principalmente neste ano de 2009, como forma de ingresso nestas universidades
sem a necessidade da prova vestibular aplicadas pelas mesmas.
As reitorias e os departamentos de seleção das universidades, principalmente
as federais, que serão as primeiras afetadas por essa decisão, argumentam que
essa forma de analisar o ingresso dos estudantes na universidade retira o
conhecimento deste sobre a constituição geográfica e história da comunidade,
cidade, enfim, região na qual a universidade está inserida.
O que antes era não somente uma forma de exigir que o candidato se
preparasse para o vestibular daquela dada universidade mas também uma forma de
eliminar candidatos de fora da região, passou a ser nada na existência de uma prova
unificada para todo o território nacional.
Neste sentido, observamos que a questão do conhecimento da história local
vai muito além do plano "vestibular". As universidades federais, públicas, são
conhecidas pelo desenvolvimento de pesquisas e pelo atendimento à comunidade
que está à sua volta. Dessa forma, conhecer essa comunidade é de suma
importância para que os projetos de pesquisa, as pesquisas em si, e os
atendimentos tenham sucesso efetivo.
Entendemos, portanto, que conhecer a história do local no qual a
universidade está instalada por todo seu público, seja ele aluno ou professor é de
suma importância para que o profissional ali formado possa atuar nessa mesma
sociedade.
9
Assim, o objetivo deste estudo é esclarecer a importância do cidadão – aluno
e/ou professor – ter conhecimento do espaço onde vive, onde estuda e/ou trabalha.
Para isso, a metodologia utilizada neste estudo é a revisão crítica de literatura em
história, história local e universidades.
No intuito de atingirmos o objetivo acima traçado, esse estudo foi dividido em
apenas três partes. A primeira trata sobre as definições de história, história local e
universidade. Na segunda parte, se tratará sobre a importância de se estudar a
história local das comunidades nas quais as Universidades estão inseridas. Na
terceira parte, falaremos do conhecimento da história local como desenvolvimento
social da região.
.
10
CAPÍTULO I
HISTÓRIA GERAL, HISTÓRIA LOCAL E UNIVERSIDADE
O objetivo deste capítulo é tratar sobre as definições de história, história local
e universidade para que possamos dialogar sobre a importância do estudo da
história da comunidade local na qual a universidade está inserida, seja por seus
alunos, seja por seus professores.
HISTÓRIA GERAL
Podemos entender a História como sendo uma área, uma ciência, que estuda
o desenvolvimento do homem ao longo do tempo, seu desenvolvimento, as
configurações de suas sociedades, os acontecimentos ao longo do tempo, etc.. Em
suma, a história analisa os processos históricos, personagens, fatos que nos fazem
compreender um determinado período, uma determinada cultura, uma determinada
civilização.
Um dos principais objetivos da história, segundo Vicentino (1997), é resgatar
os aspectos culturais de um determinado povo ou região para o entendimento do
processo de desenvolvimento. Entender o passado também é importante para a
compreensão do presente.
Segundo o autor citado no parágrafo anterior, é no estudo do passado das
sociedades, buscando resgatar e compreender suas realizações, que descobriremos
as motivações e os efeitos das transformações pelas quais passou a humanidade,
reunindo, assim, os elementos que ajudam a explicar a nossa atualidade. Um
mecanismo didático que facilita este trabalho do historiador, do estudando e de
qualquer pessoa interessada na história de sua comunidade, país ou mesmo do
11
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Nascimento de Jesus Cristo
a.C. d.C.
mundo, viabilizando a conquista deste patrimônio humano, é a periodização da
história.
O fluxo histórico, no entanto, é contínuo e sem interrupções, assim a divisão
do tempo em períodos vincula-se ao enfoque e à linha de análise de cada
historiador, originando divergências entre eles. A origem, a formação e as opções
analíticas ao historiador determinam desta forma, diferentes visões do processo
histórico, além da valorização de alguns fatos em detrimento de outros. Mesmo
assim, sem escapar a estas limitações e dada a importância da periodização como
recurso, utilizaremos, da mesma forma que Vicentino (1997), uma de suas formas
bem simplificada e ampla, de uso bastante generalizado. Antes de apresentá-la, é
imprescindível esclarecer alguns elementos ligados à questão do tempo.
Desde o final da Idade Média, utiliza-se, no ocidente a cronologia cristã, que
substituiu outras como a árabe, por exemplo, que conta seus anos a partir da Hégira
(fuga de Maomé para Medina). Nessa cronologia, o ano um dos árabes corresponde
ao ano 622 do calendário cristão.
No calendário cristão, os anos anteriores ao nascimento de Cristo –
obrigatoriamente seguido da sigla a.C. – têm contagem decrescente, enquanto os
posteriores apresentam contagem crescente – seguido da sigla d.C. ou A.D. (Anno
Domini = Ano do Senhor), ou sem qualquer sigla. Segundo Vicentino (1997), é
importante destacar que a contagem parte do ano 1, considerado o ano do
nascimento de Cristo, não existindo o ano zero.
Abaixo é possível observar essa divisão cronológica, de antes e depois do
nascimento de Cristo:
Figura 1: Adaptada de Vicentino (1997), p. 8.
12
Devemos observar também, que como a história lida com longos períodos de
tempo utiliza-se com frequência a unidade de tempo chamada século, equivalente
ao período de cem anos. O mecanismo de contagem dos séculos é similar ao dos
anos. Assim, o ano 2000 pertence ao século XX, enquanto o ano 1500 a.C. ao
século XV a.C., o ano 476 ao século V e o ano 753 a.C. ao século VIII a.C.
Podemos ver essa contagem dos anos, transformados nos séculos:
Figura 2: Adaptada de Vicentino (1997), p. 9.
Segundo Childe (1996), podemos observar que o estudo da história pode ser
tratada a partir da invenção da escrita, que ocorreu por volta de 4000 a.C.,
considerada convencionalmente como o marco divisório entre a Pré-História e a
História. Para analisar a Pré-História, os historiadores e arqueólogos analisam fontes
materiais (ossos, ferramentas, vasos de cerâmica, objetos de pedra e fósseis) e
artísticas (arte rupestre, esculturas, adornos, dentre outros artefatos que sejam
viáveis ao estudo).
A partir da escrita, utiliza-se, conforme Vicentino (1997), a seguinte
periodização:
• Idade Antiga: iniciando-se aproximadamente em 4000 a.C., com o
advento da escrita, e estendendo-se até a queda de Roma em 476.
Século II a.C.
Século I a.C.
Século I Século II Século III
200 a.C. a 101 a.C.
100 a.C. a 1 a.C.
1 a 100 101 a 200 201 a 200
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Durante esta fase, encontramos as estruturas de servidão coletiva,
típicas do Oriente e as estruturas escravistas do ocidente clássico.
• Idade Média: iniciando-se em 476 e estendendo-se até 1453, quando
terminou a Guerra dos Cem Anos, na Europa, e a cidade de
Constantinopla caiu nas mãos dos turcos otomanos. Durante o período
medieval prevaleceu a estrutura socioeconômica feudal no Ocidente.
• Idade Moderna: iniciando-se em 1453 e estendendo-se até 1789,
quando teve início a Revolução Francesa. Durante esta época,
consolidando-se progressivamente uma nova estrutura socioeconômica
que ainda conservava poderosos resquícios da ordem feudal medieval.
Esta estrutura é comumente denominada capitalismo comercial.
• Idade Contemporânea: iniciando-se em 1789 e estendendo-se até os
nossos dias. Em nosso século, o capitalismo atingiu a sua maturidade e
plena dinamização, alcançando progressivamente a sua globalização.
Desse modo, podemos dizer que o estudo da história conta com um conjunto
maior de fontes para serem analisadas pelo historiador. Dentre elas estão livros,
roupagens, imagens, os mais diversos materiais, registros, documentos, moedas,
jornais, etc.. Podemos ainda dizer, segundo Childe (1996), a história conta com
ciências que auxiliam seu estudo e estas podem ser, dentre outras:
• Antropologia: que estuda o fator humano e suas relações;
• Paleontologia: estudo dos fósseis;
• Heráldica: estudo de brasões e emblemas (de famílias, governos, etc..);
• Numismática: estudo de moedas e medalhas;
• Psicologia: estudo do comportamento humano;
14
• Arqueologia: estudo da cultura material de povos antigos;
• Paleografia: estudo das escritas antigas;
• Sociologia: estudo das sociedades.
Assim podemos dentro dos períodos históricos entender diversos
acontecimentos e configurações sociais observando as características de cada
época. A educação é uma das formas de se entender as épocas históricas, pois
desde o seu surgimento ela vem assumindo as características e demandas das
sociedades na qual ela é absorvida.
Desse modo, observar a educação nos evidencia o comportamento de dados
povos, sociedade, bem como observar as instituições que a educação cria: escolas,
institutos, universidades, etc.. Essas nos mostra as demandas da sociedade em
relação à educação, da formação do indivíduo para sua emancipação e para a
participação do mercado de trabalho.
É através da educação, também, que se estuda a história, seja ela dentro da
escola, da universidade, dentre outras instituições educacionais que estimulem o
estudo da história, seja ela geral, do Brasil ou local, ou seja, da cidade ou
comunidade na qual o sujeito está inserido.
Porém, podemos observar que o ensino – o básico que reflete diretamente no
ensino superior – não dá a devida atenção ao estudo da história local o que acaba
por fazer com que os indivíduos não conheçam a própria região na qual ele vive e,
dessa forma, não permitindo que estes possam realizar mudanças efetivas em suas
comunidades, municípios, cidades, etc..
15
1.1 HISTÓRIA LOCAL
A história local, de forma resumida pode ser considerada como o estudo da
comunidade, município, cidade etc., na qual o sujeito está inserido. Ou seja, se o
sujeito mora no Distrito Federal, a história local da cidade refere-se a Capital ou às
RAs( Regiões Administrativas); para quem mora na cidade do Rio de Janeiro, a
história local estará voltada à história de tal cidade.
Segundo Mattos (2008), o estudo da história local vem para aproximar as
pessoas do agente histórico, ou seja, dos indivíduos da comunidade e da própria
comunidade, deixando para trás a história objetiva e tradicional e trazendo uma
história onde pobres, negros, mulheres, deficientes, ou melhor, todas estas pessoas
possam mostrar detalhes onde possamos entender nosso bairro, nossa cidade e
nosso país. Os fatos importantes e narrados como oficiais dão lugar aos relatos
orais, histórias inusitadas, pesquisa de temas até então não abordados, conforme o
autor.
Mattos (2008) nos mostra que a história local se desenvolve com o intuito de
nos trazer uma visão nova e diferenciada, uma diferente perspectiva para o ensino e
aprendizagem da história, para entender sua importância, onde ela atua e sua
relação com a história geral e, dessa forma, entendermos nossa comunidade ou
cidade dentro do contexto do país e do mundo.
Cardoso (2009) cita Jungblut (2008), que falando sobre a história local e sua
importância, conforme podemos ver abaixo:
“[...] a História Local propicia ao pesquisador uma ideia muito mais imediata do passado, permitindo que a memória nacional possa ser encontrada ou reencontrada, ouvida, lida nas esquinas, nas ruas, nos bairros... Fazer história, e mais, fazer História Local é estabelecer relações entre a Micro e a Macro-História; é privilegiar
16
o particular, sem desprezar o geral, numa complementação entre ambas (JUNGBLUT apud CARDOSO, 2009, p. 4).
Cardoso (2009), ainda nos mostra a importância da história local e de seu
estudo, ressaltando que esta deve enfatizar a existência de uma multiplicidade de
"tempos históricos que convivem concomitantemente na realidade de um mesmo
país – ou de uma região". Mattos (2008) vê a história local, como forma de abordar
"muito mais do que os acontecimentos históricos de uma determinada região, muito
mais do que a emancipação do lugar e a vida dos políticos", pois para o autor, a
história local, "aborda a vida de pessoas conhecidas e desconhecidas, patrões e
operários, homens e mulheres, ricos e pobres, todos esses, visto de formas
diferentes da história tradicional".
Neste sentido, concordamos com Cardoso (2009), quando a mesma diz que
quando se trata de história local, o historiador não mais observará pontos e
acontecimentos fixos, pontuais e objetivos, e sim passará a buscar uma história
subjetiva e crítica, que contesta de certa forma, o que a história tradicional ensinava.
Mendes (2008) mostra que o pedagogo Paulo Freire, diz que a história local é
o saber da História como possibilidade e não como determinação. O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito igualmente. No mundo da História, da cultura, da política, constato não para me adaptar,mas para mudar (FREIRE apud MENDES, 2008, p. 12).
Hofling (2003) nos diz que a história local tem sua importância discutida mais
amplamente nos dias atuais. Para a autora, o estímulo na procura pela história local
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deve ser iniciado dentro da sala de aula, ainda no ensino básico, para que o aluno
possa se identificar com o conteúdo estudado tendo um maior interesse pelos
estudos. Desse modo, em conjunto com a referida autora, entendemos que o aluno
também passará participar dos projetos que os professores organizam pois os
mesmos trazem o "dia a dia" dos alunos para a sala de aula, transformando os
mesmos em sujeitos ativos na construção do conhecimento, no processo de ensino
e aprendizagem, fazendo-os pesquisadores e possibilitando à eles desenvolver o
conhecimento sobre sua comunidade, bairro, cidade através do estudo dos mesmos,
da pesquisa na qual ele pode observar "o passado nas ruas de sua cidade, e não
ficar apegado apenas nos grandes nomes de governantes e generais".
Podemos dizer, então, que a história local, conforme Hofling (2003),
“pretende despertar nos alunos a topofilia, o interesse pela história de sua cidade ou da cidade em que moram, a busca de sua identidade e de sua cidadania. Permitirá também reviver o clima de uma época, a saudade de um tempo” (HOFLING, 2003, p. 09).
Com uma participação efetiva no processo de ensino e aprendizagem, na
construção de seu conhecimento, o aluno será estimulado cada vez mais para que
sua passagem pela escola seja repleta de significados positivos que o realmente
emancipe contribuindo para que o mesmo ingresse em uma universidade levando
seu bairro, cidade, etc., consigo.
Trazer a região na qual o aluno faz parte, se torna de suma importância para
que o mesmo possa se interessar aos fatos históricos, pois, para o aluno, muitas
vezes a história local é mais interessante do que a história vivida por outros países
ou mesmo outras cidades, não que seja mais ou menos importante uma ou outra,
mas a significância da história de sua comunidade é maior para o aluno.
Para Hofling (2003, p.33), "produzir História é procurar captar, recuperar
relações que se estabelecem entre os grupos humanos no desenvolvimento de suas
atividades, nos mais diferentes tempo e espaço". Dessa forma, tendo em vista a
18
localidade o indivíduo poderá entender a região onde mora ou onde estuda, ou onde
trabalha e, dessa forma, poder contribuir efetivamente para a melhoria do local.
Essa premissa é validade para a universidade. Se existe um constante
questionamento por parte de Mattos (2008), Cardoso (2009), Hofling (2003), entre
outros da falta do ensino da história local no ensino básico, imagine o que existe
sobre o ensino superior. Podemos responder: não encontramos literatura específica
neste sentido, mas podemos traçar, através do conhecimento por parte das
finalidades e atuações da Universidade bem como as finalidades do ensino de
história local a importância desse tipo de aprendizagem no ensino superior.
Para que possamos entender como o estudo da histórica local terá
importância na Universidade, torna-se necessário entendermos como esta instituição
de ensino se configura e, dessa forma, observar como o estudo da história local
poderá ser inserido no contexto.
19
1.2 - A UNIVERSIDADE
O que viria a ser uma Universidade? Não é tarefa fácil de ser definida.
Wanderley (1998), nos mostra como a instituição "Universidade" é abrangente em
seu significado. Para o autor, a universidade pode ser considerada como
“um lugar - mas não só ela - privilegiado para conhecer a cultura universal e as várias ciências, para criar e divulgar o saber, mas deve buscar uma identidade própria e uma adequação à realidade nacional” (WANDERLEY, 1988, p. 15).
Podemos, ainda, segundo Silva (2001), colocar que a universidade existe
como um dos melhores lugares em que o indivíduo faça uma passagem
enriquecedora entre a adolescência e a juventude e, então, à idade adulta. O autor
ainda nos diz que "a universidade tem ainda o papel de formar a cidadania; cabe-
lhe, e talvez seja essa a sua principal função, desenvolver a inquietude do ser
social".
Para Silva (2006), a universidade é um produto histórico, ou seja, construída
socialmente, conforme a demanda da comunidade na qual ela irá se instalar. Assim,
como outras instituições criadas pelas sociedades as primeiras tomam as
características que as segundas demandam. Numa sociedade capitalista, por
exemplo, o número de universidades privadas tende a crescer como instituições
meramente empresariais, isso dito a grosso modo.
Para Silva (2006), a universidade também pode ser considerada como um
"símbolo" do progresso de um dado país, estado, região, pois, segundo o autor,
geralmente existe uma necessidade na região por uma universidade, seja ela para
atender demanda de estudantes, ou para pesquisas na região. Segundo o autor,
“Quando acreditamos que há um progresso contínuo da civilização, e que as mudanças em todos os aspectos da vida, inclusive no que concerne às instituições, são resultado natural desse progresso, somos levados a entender que a experiência do presente, na medida em que é resultado histórico de um processo
20
que é ao mesmo tempo um progresso, está constituída pelas formas mais aprimoradas da vida individual, coletiva, social, cultural e política. Caso contrário, seria o próprio vetor de civilização que estaria posto em questão” (SILVA, 2006, p.192).
Podemos entender, então, que a universidade existe como um local para o
desenvolvimento intelectual, social e psíquico do ser humano. Atualmente, podemos
acrescentar à universidade outros aspectos como: local de formação dos mais
diferentes profissionais e relacionamento social para com a comunidade na qual a
mesma está inserida.
Atualmente, observamos que as universidades tanto públicas quanto
particulares, vêm assumindo papéis importantes de atendimento à comunidade na
qual está inserida, oferencendo serviços que vão além do educacional. Se a
universidade possui curso de medicina, geralmente possui um Hospital Universitário
e Clínicas que atendem a população da região. O mesmo ocorre com os cursos de
Veterinária, Odontologia, Fisioterapia entre outros.
Na Capital Federal, o HUB – Hospital Universitário de Brasília – junto a
Diretoria Adjunta de Ensino e Pesquisa (DAEP) é a unidade responsável pelo
planejamento e pela execução das atividades de apoio ao ensino e à pesquisa.
Entre outras atividades de alcance acadêmico e social, a DAEP é responsável pela
organização e realização de eventos tradicionais de cunho científico, no âmbito do
Hospital Universitário de Brasília, tais como a Jornada Científica, que tem como
objetivo a divulgação das pesquisas e dos trabalhos desenvolvidos no âmbito do
HUB e a Feira de Saúde que visa à difusão de conhecimentos por meio da
apresentação de atividades que permitem a promoção da saúde, a prevenção e a
identificação de determinadas patologias junto a comunidade.
Outro caso bastante interessante é o da Universidade Municipal de São
Caetano do Sul – USCS. Por ser uma autarquia municipal, sua parceria com a
prefeitura da cidade de São Caetano do Sul, no oferecimento de alguns serviços à
população da cidade é quase que obrigatória. Por esta razão, e em função da
21
melhor qualidade de aprendizagem dos estudantes, a universidade oferece
atendimento em fisioterapia, aconselhamento jurídico, cursos teatros, bem como
fornece os enfermeiros (estagiários) às unidades públicas de saúde da região.
Porém, o mais interessante é a Farmácia Escola da USCS. Em conjunto com
a prefeitura da cidade a universidade uniu seu curso de Farmácia na fabricação de
remédios que são distribuídos gratuitamente para moradores da cidade de São
Caetano do Sul bem como para alunos da universidade. Dessa forma, a
universidade junto com a prefeitura contribui para a sociedade e para a formação
dos futuros farmacêuticos1.
Podemos observar, portanto, uma atuação entre a universidade e a
comunidade, demonstrando que a primeira tem grande influência na segunda. Mas o
que a comunidade pode influenciar na universidade? É neste sentido que trataremos
no próximo capítulo como a comunidade irá influenciar na configuração da
universidade, bem como nos serviços oferecidos à primeira.
1 Dados retirados do site da Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul. Disponível em: http://www.saocaetanodosul.sp.gov.br/. Acesso em 17/06/2009.
22
CAPÍTULO II - A UNIVERSIDADE E A COMUNIDADE: INTERAÇÕES E
RELAÇÕES
O objetivo deste capítulo é falar sobre as relações existentes entre a
universidade com a comunidade na qual a mesma está inserida, entendendo, desse
modo, a importância do estudo da história local da região na universidade.
2.1 EXTENSÃO DA UNIVERSIDADE NA COMUNIDADE: ALÉM DA
FILANTROPIA
Segundo o Ministério da Educação – MEC, para que uma Instituição de
Ensino Superior - IES seja considerada uma Universidade, é necessário que a
mesma atenda diversas exigências, tanto físicas, quanto pedagógicas. Dentre elas,
a IES está o que o MEC chama de "tripé" básico: Pesquisa, Ensino e Extensão.
Tanto a pesquisa quanto o ensino são bastante comentados dentro das IES, pois
são mais fáceis de ser realizados – mesmo com qualidade duvidosa – mas as
terceiras, a Extensão, não tem tanto alargamento nas discussões.
Isso acontece porque por muito tempo, segundo Costa (2005), a extensão
vem sendo considerada como uma ferramenta assistencialista que universidade
tinha com a comunidade. Segundo o autor, essa visão, atualmente, tem mudado e,
cada vez mais, as instituições veem a importância de possuir ações de extensão, já
que são elas que colocam a universidade mais perto da comunidade, e também
contribuem para a formação mais real e qualitativamente melhor dos estudantes de
graduação envolvidos nos projetos realizados pela Universidade.
23
Ainda segundo o autor "a extensão consiste na disponibilização do que a
universidade normalmente faz através dos seus corpos docente e discente para a
comunidade". Assim, podemos entender que a comunidade tem grande influência na
formação e desenvolvimento da própria universidade.
Podemos observar que os serviços disponibilizados pelas Universidades às
comunidades, nas quais as primeiras estavam inseridas eram quase sempre
realizados por instituições públicas de ensino que, teoricamente, tinham que
devolver à sociedade o dinheiro do imposto pago por esta por serviços. Neste
sentido, sempre ouvimos falar no Hospital Universitário- também conhecido como
HU – da USP2, bem como diversos serviços de utilização de seus espaços para a
comunidade da região.
Dentre as IES particulares podemos observar, em São Paulo, a assistência
jurídica da Universidade Mackenzie e a assistência psicológica da PUC-SP.
Podemos observar, no entanto, que estas duas universidades particulares são
bastante antigas e bastante consolidadas não somente no estado do São Paulo,
bem como no Brasil todo.
A partir, principalmente do governo Fernando Henrique Cardoso, houve um
grande aumento na abertura de cursos de ensino superior particulares. A
Universidade Paulista – UNIP é uma grande representante dessa época, que
perdura até hoje, com dezenas de unidades espelhadas por São Paulo. Passaram a
existir, então, muitos centros universitários, porém seus nomes são acompanhados
da palavra universidade.
Segundo o MEC, são considerados centros universitários as “instituições de
ensino superior pluricurriculares, abrangendo uma ou mais áreas do conhecimento,
que se caracterizam pela excelência do ensino oferecido, comprovada pela
qualificação do seu corpo docente e pelas condições de trabalho acadêmico
oferecidas à comunidade escolar".
2 Além do curso de Medicina, outros cursos como enfermagem, farmácia e outros na área de a saúde atuam no INCOR – Instituto do Coração, localizado na cidade de São Paulo.
24
A diferença entre o centro universitário e a universidade está na autonomia,
porém, mais precisamente na pesquisa. Pela Lei de Diretrizes e Bases, uma
universidade possui autonomia plena, não precisando de autorização do MEC para
criar novos cursos, sedes ou, ainda, aumentar ou diminuir o número de vagas,
eliminar cursos ou, ainda, expedir diplomas. Mais do que a formação na graduação,
as universidades oferecem pesquisa e extensão. Além disso, elas precisam ter 70%
do corpo docente formado por professores titulados e oferecer cursos em pelo
menos cinco áreas do conhecimento. Os centros universitários possuem certa
autonomia, mas não são obrigados a realizar pesquisas. Também não precisam
oferecer pós-graduação stricto sensu3.
Assim, observamos nessa época o aumento do número de IES que
simplesmente não estavam compatíveis com a região na qual as mesmas estavam
localizadas e, quando passavam a disponibilizar serviços de atendimento à
população local, eram apenas assistencialistas, ou seja, resolviam apenas o
problema a curto prazo.
Com o passar dos anos, no entanto, a mentalidade vem se modificando e a
extensão universitária vem chegando de forma que seja uma relação de mão dupla,
a universidade serve à população e a população serve à universidade auxiliando na
formação dos estudantes que atende a comunidade.
Segundo o Fórum de Pró-Reitores de Extensão, a extensão universitária é "o
processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma
indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade".
O Fórum ainda continua, dizendo que:
“A Extensão é uma via de mão dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da praxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes
3 Cursos de Mestrado e Doutorado.
25
trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento” (FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO,
Não podemos deixar de observar a importante informação que o mesmo
Fórum no coloca dizendo que é estabelecido um fluxo de relações e trocas, sendo
que este traz saberes sistematizados, acadêmico e popular, tendo como
consequência
[..] a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade. Além de instrumentalizadora deste processo dialético de teoria/prática, a Extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social (FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO). http://www.renex.org.br/.
Dessa forma, podemos observar a importância que a universidade exerce na
comunidade bem como que a comunidade exerce na universidade. Mas como a
universidade saberá o que a comunidade necessita? Como os estudantes e
profissionais atenderão a população local de forma a entender seu histórico social?
Como os projetos serão desenvolvidos pelas universidades, levando-se em
consideração as características sociais, históricas e geográficas da região?
Tudo isso poderá ser feito através do estudo da histórica local, do estudo da
formação da região, características principais, economia, política etc., fazendo com
que os serviços oferecidos efetivamente sejam adequados às demandas daquela
região.
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2.2 O CONHECIMENTO DA HISTÓRIA LOCAL PELA UNIVERSIDADE E A
QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS
Qual é o impacto para a comunidade local, quando uma universidade oferece
projeto de inclusão social no bairro dos Jardins em São Paulo? Conhecendo pouca a
região sabe que tal bairro é considerado de classe média alta, isso quer dizer que,
ali, a grosso modo, ninguém necessita desse tipo de projeto, de serviço. Assim,
respondendo à pergunta colocada no início do parágrafo é: nenhum.
No intuito de ilustrar nossa colocação acerca da importância de se conhecer a
história local da comunidade na qual a universidade está instalada iremos realizar
mais uma questão: qual o impacto de um projeto de inclusão social dentro da USP?
Já respondemos de prontidão: é de grande impacto, enorme.
Agora vamos à explicação. A USP, ou Universidade de São Paulo, se
encontra na região sul de São Paulo, mais precisamente nos bairros chamados
Pinheiros e Butantã. Ao redor da USP, existem grande mansões e o Jóquei Clube de
São Paulo está localizado próximo à cidade universitária. Porém, outras
"comunidades" existem ao redor da USP. As favelas ou como hoje são chamadas,
comunidades carentes.
Próximo à USP, podemos observar ao menos três mais próximas: Jardim São
Remo, Sapé e Jaguaré, entre outras comunidades menores que por ali existem.
Aliás, a comunidade Jardim São Remo, "divide" um muro com a Cidade
Universitária, pois saindo pelo portão 3 da mesma, vocês está dentro da
comunidade. Dessa forma, oferecer serviços de inclusão social, educação, esporte,
saúde, dentre outros é de suma importância para essa região.
Estudar a região na qual se pretende realizar projetos é de suma importância
para a universidade, pois se deve pensar em diversos fatores: como a região está
configurada fisicamente, quais as características da população da região, como os
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moradores são servidos de transporte público para chegar aos serviços, dentre
outros inúmeros fatores que devem ser levados em consideração.
Embora o estudante, universidade, na maioria das vezes não tem a
percepção e não dá a devida valorização para história da comunidade na qual está
estudando, bem como aos traços culturais da mesma, a universidade deve buscar
essa defasagem para que, possa, em sua extensão universitária tenha-se qualidade
e as relações com a comunidade seja sempre se fluxo contínuo e de qualidade.
Desse modo, podemos dizer que estudar a história local se faz necessário
para todo e qualquer projeto de extensão, mas, além disto, para os alunos que estão
nos cursos das universidades. Observa-se, atualmente, principalmente nas
universidades públicas, que estudantes viajam pelo país para cursar universidades
fora de seu local de origem.
Até o ano de 2008 e, pelo menos parte de 2009, as universidades exigiam em
seus vestibulares conhecimentos específicos da região – geralmente aqueles
passados em História do Brasil, pois mesmo as escolas da região não lecionam
história local – e isto servia de certa forma que o aluno proveniente de outra região
estudasse a história local bem como servia como forma de eliminação de candidatos
de outras regiões.
Atualmente essa situação, porém, está mudando. O MEC instituiu um Exame
Nacional do Ensino Médio – ENEM, unificado, ou seja, igual para o país todo e que
as universidades públicas poderão utilizar como forma de ingresso único ao invés do
já conhecido vestibular. Algumas universidades, principalmente federais já
criticaram, pois tira o caráter regional de cada universidade e, muitas vezes, um
estudante no nordeste passa no vestibular de uma universidade localizada no sul do
Brasil, porém sem se quer conhecer nada da região, pois nem para o vestibular teve
que vir até a universidade.
A diversidade cultural será um choque para o candidato, uma vez que este
não terá conhecimento prévio, ou pelo menos não se sentirá estimulado à procurá-
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lo, e dessa forma, aumentará o número de evasão no ensino universitário, uma vez
que o não conhecimento pode levar a não adaptação.
Porém, podemos dizer que a grande importância do estudo da história local
nas universidades se dá pela qualidade dos projetos de extensão universitária,
estabelecendo uma relação de mão dupla entre universidade e comunidade, onde a
primeira contribui para a melhoria dos oferecimentos dos serviços locais e a
segunda possibilita a união da teoria e da prática da graduação de cada estudante.
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CAPITULO III - HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO SOCIAL
O Objetivo do presente capítulo é apresentar como conhecer a história de sua
própria comunidade pode facilitar o processo de desenvolvimento da mesma, seja
social ou econômico, contribuindo para o relacionamento entre instituições -
incluindo as universidades - e a população.
Conhecemos o conceito de desenvolvimento pelo viés econômico. Porém,
Lima et al (2007), faz uma colocação bastante interessante dizendo que com os
efeitos provocados regionalmente pela globalização é necessário que se reflita
acerca do processo e o significado de desenvolvimento, porém, em escala local.
Tais reflexões consideram o conjuntodas necessidades humanas básicas (subsistência, proteção, afeto, entendimento, criação, participação, ócio, identidade e liberdade), para além dos aspectos econômicos. Ora, a memória e a identidade são intermediadores chave para a satisfação de várias dasnecessidades básicas. Por outro lado, as noções de Capital Social e Capital Humano decorrem, de maneira pronunciada, das articulações entre memória e identidade no âmbito das relações intra comunitárias. (LIMA et al, 2007, p. 363).
Quando falamos em desenvolvimento local, não se deve, conforme os autores
acima citados, levar em conta somente os aspectos econômicos, mas também deve-
se considerar o desenvolvimento social, ambiental, cultural e político da determinada
região, ou seja, deve-se considerar o “desenvolvimento em escala humana”, de
acordo com Zapata (2006).
Desse modo, a teoria do desenvolvimento local acaba por integrar essas
diversas dimensões apresentadas pela autora acima citada, tendo em vista a forte
interdependência existente entre as mesmas. De acordo com Lima et al (2007), é
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necessário notar que o amplo acesso da comunidade do local aos bens e
manifestações culturais acaba por refletir em maior consciência ambiental e política,
dentre outras.
Esse amplo acesso, no entanto, pode engendrar múltiplas conseqüência as positivas no plano da saúde da população, tanto a saúde física — por meio dos esportes, prática culturalmente compartilhada — quanto a emocional — por meio das válvulas de escape que são os grandes ritos coletivos, tais como festas e celebrações de natureza religiosa (cultos e práticas cotidianas) ou pagã (carnaval ou outros ritos cíclicos e comemorativos), artística (museus, espetáculos ou exibições em locais ritualísticos consagrados pela comunidade) ou desportiva (torneios e exibições atléticas), política (comícios ou pleitos eleitorais, reuniões sindicais ou comunitárias) ou científica (museus ou feiras de ciências) (LIMA et al, 2007, p. 365).
Tais eventos apresentados na citação acima acabam por, conforme Zapata
(2006), celebrar a cultura e a memória da comunidade. O capital social se
desenvolverá, portanto, dependendo do grau de funcionamento das redes sociais,
sejam elas de parentesco ou amizade, vizinhança ou interesses pessoas, de
trabalho, de estudos, etc. ou qualquer instancia de identificação social.
De acordo com Lima et al (2007), dessas formas de identificação entre as
pessoas bem como dessas redes nasce, em diferentes e variados graus, a
“confiança mútua entre atores sociais” do mesmo como associações, a observação
das normas coletivas , o respeito aos espaços públicos, o fluxo de informações, a
coesão entre grupos distintos, ou seja, surge o capital social.
Essa identificação social decorre de diversos fatores culturais. Desse modo,
Zapata (2006) coloca que nessa perspectiva
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a cultura torna-se um fim em si mesma e apresenta-se como fator indissociável do capital social, com fortes implicações na aplicação do capital natural e de outros capitais. Por tais razões, no plano coletivo, é necessário realizar investimentos em cultura, para muito além do capital unicamente econômico ou financeiro. Não por acaso, programas governamentais de fomento à cultura passaram a adotar a expressão “investimento em cultura” como alternativa lingüística mais apropriada à antiga fórmula “incentivo à cultura” (ZAPATA, 2006)
Podemos ver, portanto, que a participação da população local é que
determina o desenvolvimento local. A participação, portanto, é uma das
necessidades fundamentais do ser humano bem como a chave para o
desenvolvimento local, sendo que sua essência se encontra na tomada de
consciência, na formação do senso crítico, de uma sensibilidade e uma identidade
comunitária. Tal condição, total, resulta do processo de construção social, histórica e
culturalmente definido.
Nessa perspectiva, lancemos um olhar sobre as relações que se articulam entre identidade e história, com base nas idéias de lugar, de resistência a influências exteriores, de relações dicotômicas entre o local e o global, assim como de relatos e mitos recorrentes no âmbito da comunidade do lugar (LIMA et al, 2007, p. 366).
É válido, portanto, entender a construção da identidade - já que é por ela que
as pessoas se relacionam se manifestam etc.. Desse modo, para Castells (2003), as
identidades são culturalmente construídas, ou seja, são organizadas em torno de um
conjunto específico de valores que possuem um significado bem como um uso
compartilhado marcados por “códigos específicos de auto-identificação: a
comunidade de fiéis, os ícones do nacionalismo, a geografia do local” (p. 79).
32
A formação de identidades baseia-se em elementos discursivos fornecidos pela história, geografia, biologia, memória coletiva, por instituições, relações de poder, interesses, relatos e mitos, entre outros aspectos que compõem a cultura de um determinado grupo de pessoas (LIMA et al, 2007, p. 367).
Desse modo, podemos entender que produzir história local implica em
reconhecer os processos de identificação que dependem de sistemas culturais que
articulam relações de vizinhança , território bem como um sentimento de
pertencimento. Assim, vemos que a história acaba por corresponder a uma
“reconstrução consciente do passado com base na memória compartilhada pelo
grupo” (LIMA et al, 2007, p. 368).
Segundo Zapata (2006, p. 80), podemos afirmar que da mesma maneira que
o sujeito acaba por ser definido por seus aspectos biológicos, o meio em que vive,
bem como seu passado, suas influencias acidentais, maneira de ver o mundo, a
história exerce uma papel de extrema importância na construção do sentindo de
“territorialidade e de lugar pelo ser humano”.
É possível, portanto, dizer que se a história resulta de um processo
consciente, a identidade, por sua vez, é construída por meio de processos
inconscientes, ao longo de extensos períodos de tempo, conforme nos coloca Lima
et al (2007). Os autores ainda acrescentam que de acordo com Stuart Hall (apud
Lima et al, 2007, p. 369), é possível dizer que em relação à identidade, que “existe
sempre algo imaginário ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre
incompleta, está sempre sendo formada”.
E os autores ainda completam dizendo que
Para Bárbara Czarniawska Joerges, a identidade, fator resultante de um processo contínuo de reconstrução, é indissociável da noção de narrativa “em que tanto o narrador como a audiência formulam, editam, aplaudem e refutam vários elementos dessa narrativa constantemente produzida”. Nesse sentido, Eric Hobsbawm23 sustenta que o passado é um elemento essencial das
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ideologias totalitaristas, e pode legitimar e fornecer um contraponto glorioso a um presente pouco satisfatório (LIMA et al, 2007, p. 370).
Podemos perceber, portanto, que o conhecimento da história local permite
que possamos estabelecer processos de desenvolvimento de relações e, portanto,
criar identidades influenciando diretamente no processo de desenvolvimento social
não tendo este, portanto, apenas de cunho econômico.
Quando falamos, portanto, que é de suma importância que a Universidade
tenha em consideração conhecer a história local no local onde está sediada é
entender também como a comunidade se forma, como ela de configura, como as
identidades das pessoas foram construídas, como elas se relacionam e, portanto,
como e quanto elas participam da comunidade.
A comunidade, ao conhecer sua história, forma sua identidade de modo a
demonstrar sua importância com a mesma bem como as necessidades que a
parceria com uma Universidade pode trazer de benefícios para a comunidade. Ao
conhecer sua própria história, a comunidade conhecer e reconhece suas
deficiências bem como estabelecer relações que efetivamente levem ao
desenvolvimento social.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste estudo pudemos ver que o estudo da história, de uma forma
geral, é de grande importância não somente para entender o mundo atual, mas para
entender a sociedade e o próprio homem. Assim, observa-se que esta área do
conhecimento é de suma importância na formação do ser humano.
Neste sentido, observamos que a história pode ser dividida basicamente em
dois períodos: pré-histórico – antes da escrita – e História. A História como pôde ver,
é subdividida em idade antiga, média, moderna e contemporânea, tendo cada uma,
características específicas apresentadas neste estudo.
Vimos que a história geral serve para entendermos o mundo como está
configurado hoje, as grandes guerras, como as nações se configuraram da maneira
que estão, os grandes acontecimentos históricos e sociais que alinham o mundo, ou
melhor, a sociedade global como ela está hoje. Daí a história vai caminhando para a
história de cada país, no nosso caso, o Brasil.
Porém, observamos que o as particularidades de cada região são tratadas
muito superficialmente nas escolas e, mesmo a região específica onde escola se
encontra não é estudada, pelo menos não a fundo. Estuda-se um pouco da história
da cidade – geralmente sobre sua fundação – e nada mais é dito. Sabe-se que o Rio
de Janeiro foi capital o Brasil, mas pouco se sabe que as favelas foram construídas
a partir das populações negras – recém abolidas – que foram expulsos dos cortiços,
pois estes foram destruídos - e desta forma construíram suas casas no morros.
Não se sabe isso, porque não é ensinado nas escolas do Rio de Janeiro.
Atualmente sabe-se que o Rio Tietê, em São Paulo, é bastante poluído por causa
das indústrias e das casas que despejam esgoto lá, mas poucos sabem que neste
mesmo rio, no século passado, foram realizadas atividades de regata e nado, tanto
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que existe um clube esportivo chamado de Clube Regatas do Tietê, pois naquele
tempo realizavam-se regatas lá.
Como se pode ver, nas próprias escolas não se ensina a história local, ou
seja, a história da onde as mesmas estão inseridas. Com isso a consequência será
observada também na universidade, pois o estudante, que será profissional que
atuará nessa mesma sociedade, não conhecerá onde se quer estuda e trabalha.
Neste estudo, portanto, observamos que a universidade surge na sociedade
para que o homem faça um transição da adolescência à juventude e, após à vida
adulta da forma mais rica possível; que a universidade serve para o aperfeiçoamento
do conhecimento; que atualmente a universidade serve para a formação dos mais
diversos profissionais que atuarão na sociedade.
Observamos, também, que a universidade, para que assim possa ser
intitulada, deve seguir um tripé básico: ensino, pesquisa e extensão, sendo esta
última que visa à atuação da universidade com a comunidade, exigindo um grande
conhecimento pela primeira da segunda. A extensão trata da atuação da
universidade na comunidade na qual a mesma está inserida, oferecendo serviços à
população local como: assessoria jurídica, serviços médicos, odontológicos,
veterinários, projetos de inclusão social, educação, etc..
Assim, para que os projetos de extensão tenham sucesso, é necessário que a
região seja conhecida, bem como a população local: sua história, sua configuração,
o espaço físico da região, enfim, tudo, para que a comunidade possa ser atendida
de forma plena e tenha suas necessidades atendidas.
Desse modo, concluímos que é de suma importância o estudo da história
local na universidade, pois é a partir deste estudo que os estudantes saberão o que
a comunidade necessita e como a universidade poderá oferecer como ele deverá
atender essa população e, desse modo, poderá praticar de forma qualitativa a teoria
que a aprendeu em sala de aula em prol do desenvolvimento social da região.
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