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Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária- Floresta (iLPF): estudo de caso da Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO 318 ISSN 1517-5111 ISSN online 2176-5081 Agosto, 2013 Documentos

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Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF): estudo de caso da Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO

Apoio

CG

PE 1

1163

318ISSN 1517-5111ISSN online 2176-5081

Agosto, 2013

Documentos

Documentos 318

Priscila de OliveiraRoberto José FreitasJoão KluthcouskiAnábio Aparecido RibeiroLuiz Adriano Maia CordeiroLuciene Pires TeixeiraRaphael Augusto de Castro e MeloLourival VilelaLuiz Carlos Balbino

Embrapa Cerrados

Planaltina, DF

2013

Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF): estudo de caso da Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO

Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaEmbrapa CerradosMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ISSN 1517‑5111 ISSN online 2176‑5081

Agosto, 2013

Exemplar desta publicação disponível gratuitamente no link:http://bbeletronica.cpac.embrapa.br/versaomodelo/html/2013/doc/doc_318.shtml

Embrapa CerradosBR 020, Km 18, Rod. Brasília/FortalezaCaixa Postal 08223, CEP 73310‑970 Planaltina, DFFone: (61) 3388‑9898, Fax: (61) 3388‑9879http://[email protected]

Comitê de Publicações da UnidadePresidente: Claudio Takao KariaSecretária‑Executiva: Marina de Fátima VilelaSecretárias: Maria Edilva Nogueira

Alessandra Gelape Faleiro

Supervisão editorial: Jussara Flores de Oliveira ArbuésEquipe de revisão: Francisca Elijani do Nascimento Jussara Flores de Oliveira ArbuésNormalização bibliográfica: Shirley da Luz Soares AraujoEditoração eletrônica: Wellington CavalcantiCapa: Wellington CavalcantiFoto(s) da capa: Fabiano Bastos

Impressão e acabamento: Divino Batista de SousaAlexandre Moreira Veloso

1a edição1a impressão (2013): tiragem 100 exemplaresEdição online (2013)

Todos os direitos reservadosA reprodução não‑autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui

violação dos direitos autorais (Lei no 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Embrapa Cerrados

Evolução de Sistemas de Integração Lavoura‑Pecuária‑Floresta (iLPF) : estudo de caso da Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO / Priscila de Oliveira ... [et al.] — Planaltina, DF : Embrapa Cerrados, 2013.

50 p. — (Documentos / Embrapa Cerrados, ISSN 1517‑5111, ISSN online 2176‑5081 ; 318).

1. Integração-lavoura-pecuária-floresta. 2. Estudo de caso. 3. Produtividade. I. Oliveira, Priscila. II. Série.

631.58 – CDD 21

© Embrapa 2013

E93

Autores

Priscila de OliveiraEngenheira‑agrônoma, D.Sc. em FitotecniaPesquisadora da Embrapa [email protected]

Roberto José FreitasEngenheiro‑agrônomo, M.Sc. em Solo e ÁguaProfessor da Universidade Estadual de Goiás – Unidade Universitária IpameriRodovia GO‑330, Km 241 Anel ViárioCep: 75780‑000 – Ipameri, GO, (64) 9221‑[email protected]

João KluthcouskiEngenheiro‑agrônomo, D.Sc. em FitotecniaPesquisador da Embrapa Arroz e Feijã[email protected]

Anábio Aparecido RibeiroTécnico em AgropecuáriaGerente de Produção da Fazenda Santa Brí[email protected]

Luiz Adriano Maia CordeiroEngenheiro‑agrônomo, D.Sc. em FitotecniaPesquisador da Embrapa [email protected]

Luciene Pires TeixeiraEconomista, D.Sc. em Ciências EconômicasPesquisadora da Embrapa [email protected]

Raphael Augusto de Castro e MeloEngenheiro‑agrônomo, M.Sc. em Produção VegetalPesquisador da Embrapa Hortaliç[email protected]

Lourival VilelaEngenheiro‑agrônomo, M.Sc. em Ciência do SoloPesquisador da Embrapa [email protected]

Luiz Carlos BalbinoEngenheiro‑agrônomo, D.Sc. em SolosAnalista da Embrapa [email protected]

Agradecimentos

Os autores agradecem à proprietária da Fazenda Santa Brígida, Drª Marize Porto Costa; à empresa John Deere e aos demais parceiros privados pelo apoio incondicional à realização deste trabalho.

À rede de fomento à iLPF, composta pela parceria‑público privada com as empresas Cocamar, John Deere, Syngenta e Embrapa.

Apresentação

O mundo sofreu profundas transformações nas últimas décadas, e uma delas, principalmente nos países em desenvolvimento, foi o êxodo rural. Como consequência, hoje, por exemplo, os centros urbanos são os que mais detêm índices de poluição ambiental.

Mais recentemente, as mudanças climáticas e a emissão de gases de efeito estufa (GEE) tomaram boa parte do espaço na mídia mundial. O setor agropecuário tem participação nesse processo, uma vez que o preparo do solo, o uso de agrotóxicos, o desmatamento, as queimadas em áreas agrícolas, entre outros, são práticas utilizadas para produzir alimento para a crescente população mundial, mas, ao mesmo tempo, promovem a emissão de GEE.

De um total de mais de 800 milhões de hectares, o Brasil dispõe de pouco mais de 300 milhões de hectares para a produção agropecuária, sendo que, destes, dois terços são utilizados para produção pecuária e um terço para produção vegetal.

Na área para a produção pecuária, cerca de 82% está com baixa produtividade, com taxa de lotação menor do que 1,0 unidade animal por hectare, ou seja, está em processo de degradação; contudo essa área representa a grande oportunidade para o país triplicar tanto a

produção animal, quanto a vegetal, para atender a demanda mundial de alimento até, pelo menos, o ano de 2050. Cabe ao setor produtivo, portanto, a tarefa de transformar essas áreas degradadas em áreas produtivas. Nesse contexto a integração Lavoura‑Pecuária‑Floresta (iLPF) é um dos principais caminhos para essa conquista. Além disso, o sistema iLPF contribui decisivamente para a redução de gases de efeito estufa, notadamente, os dióxido de carbono e metano.

A Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, GO, é um exemplo inquestionável de que essas transformações são possíveis. Isso porque adota sistemas de iLPF, desde 2006, com significativos ganhos agronômicos, econômicos, ambientais e sociais. Se o exemplo da Fazenda Santa Brígida fosse adotado em 100 milhões de hectares, isso representaria uma evolução tecnológica e ambiental sem precedentes no País. O que significaria, pelo menos, três vezes mais a produção de grãos e três vezes mais a produção pecuária, sem a necessidade de abertura de novas fronteiras.

Contudo, para que isso aconteça, os produtores rurais precisam ser mais eficientes e adicionar qualidade à produção. E isso depende de vontade política, fomentos, investimentos, pesquisa científica, transferência de tecnologia, determinação e trabalho em defesa do setor rural.

José Roberto Rodrigues PeresChefe‑Geral da Embrapa Cerrados

Sumário

Introdução ................................................................................. 11

Histórico Temporal da Evolução de Sistemas de Integração Lavoura‑Pecuária‑Floresta (iLPF) na Fazenda Santa Brígida ............... 15

Evolução dos sistemas de integração Lavoura‑Pecuária ................. 15

Inserção do componente arbóreo nos sistemas de iLPF na Fazenda Santa Brígida .............................................................. 18

Desenvolvimento de um novo sistema de iLPF com leguminosas – “Sistema Santa Brígida” ........................................................... 24

Benefícios da Adoção de Sistemas de iLPF na Fazenda Santa Brígida 26

Benefícios agronômicos ............................................................ 26Evolução de atributos químicos do solo sob iLPF ...................... 26Evolução da produtividade agrícola nas áreas sob sistemas de iLPF .................................................................................... 28Evolução da produtividade pecuária nas áreas sob sistemas de iLPF .................................................................................... 30Evolução da produtividade agropecuária nas áreas sob sistemas de iLPF ............................................................................... 33

Benefícios sociais .................................................................... 33

Benefícios educacionais e iniciativas de transferência de tecnologias ............................................................................. 34

Benefícios econômicos ............................................................. 37

Referências ............................................................................... 47

Abstract .................................................................................... 50

Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF): estudo de caso da Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GOPriscila de Oliveira; Roberto José Freitas; João Kluthcouski; Anábio Aparecido Ribeiro; Luiz Adriano Maia Cordeiro; Luciene Pires Teixeira; Raphael Augusto de Castro e Melo; Lourival Vilela; Luiz Carlos Balbino

Introdução

O aumento da população mundial e o aumento do poder de compra de parte dessa população certamente acarretarão maior demanda por alimentos em médio e longo prazo. Nesse contexto, o aumento da produtividade agropecuária e a ampliação das áreas cultivadas são as principais ferramentas para atender essa demanda. Por sua vez, o Brasil destaca-se por possuir significativa área disponível para a produção de alimentos, apesar de 61% de seu território ser coberto por florestas, entre nativas e plantadas (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2010).

Contudo, cerca de 355 milhões de hectares pertencem aos estabelecimentos agropecuários, dos quais cerca de 50% são ocupados por pastagens, e os 50% restantes dividem-se em florestas (28%) e áreas de lavoura (22%).

Especificamente, em relação ao Bioma Cerrado, cuja área total é de 204,7 milhões de hectares, cerca de 60,5% de sua área está coberta por vegetação natural (SANO et al., 2008), e, ao considerar que a área de conservação exigida pela legislação vigente nesse bioma é de 20%, entende‑se que existem cerca de 90 milhões de hectares disponíveis para expandir a produção agropecuária apenas no Cerrado. Essa

12 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

divisão do uso da área total do bioma, entretanto, não implica que seja necessária a abertura de novas áreas, pois, conforme será apresentado neste trabalho, isso não se faz necessário no Brasil, se forem utilizados sistemas de produção sustentáveis. Ressalta‑se ainda que o País mantém muito mais da metade de sua área preservada e sem uso para a produção agropecuária.

Atualmente, a produção de grãos no Brasil é realizada em cerca de 50 milhões de hectares e, do total da área com pastagem, estima‑se que cerca de 100 milhões de hectares são de baixa produtividade – dos quais cerca de 80% podem ser utilizados para produzir grãos e carne simultaneamente –, podendo, assim, serem incorporados ao processo produtivo, assim que forem recuperados.

Aidar e Kluthcouski (2003) alertam que um dos mais sérios problemas da pecuária no Cerrado brasileiro é a degradação das pastagens e dos solos, oriundos do manejo animal inadequado, baixa fertilidade química do solo, impedimentos físicos, baixos investimentos tecnológicos, etc., com consequências negativas na sustentabilidade dessa atividade (baixa oferta de forragem, baixa produtividade de carne e de leite por hectare, baixo retorno econômico e ineficiência).

A integração Lavoura‑Pecuária‑Floresta (iLPF) é uma estratégia de produção sustentável que integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais, realizadas na mesma área em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado, buscando efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema, contemplando a adequação ambiental, a valorização do homem e a viabilidade econômica (BALBINO et al., 2011a).

Os sistemas de integração podem ser classificados em quatro modalidades distintas: Integração Lavoura‑Pecuária ou sistema agropastoril; Integração Pecuária‑Floresta ou sistema silvipastoril; Integração Lavoura‑Floresta ou sistema silviagrícola; e Integração Lavoura‑Pecuária‑Floresta ou sistema agrossilvipastoril (BALBINO et al., 2011b). Esses sistemas, pela ação recíproca e simultânea de várias

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atividades integradas (produção agrícola, produção pecuária e produção florestal), produzem efeitos sinérgicos positivos potenciais, com reflexos relevantes em termos de eficiência agronômica, vantagens econômicas, ganhos ambientais e impactos sociais.

O presente trabalho tem o objetivo de apresentar a evolução de sistemas de integração Lavoura‑Pecuária‑Floresta (iLPF) na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO, e, com base em dados reais dessa propriedade rural, também demonstrar o aumento da produção de alimentos por unidade de área de forma sustentável, além de outros benefícios.

A Fazenda Santa Brígida

A Fazenda Santa Brígida está localizada no Município de Ipameri, GO, a 17°39’27’’ de latitude Sul e 48º12’22’’ de longitude Oeste e 800 m de altitude. Segundo a classificação de Köppen, essa localidade apresenta clima Aw, tropical de savana, mesotérmico. A distribuição de chuvas na região é semelhante àquela que ocorre em praticamente toda região do Cerrado, a estação de chuvas começa no mês de outubro e termina no início de abril. Nesse intervalo, ocorre o período de seca, com baixa umidade relativa do ar, principalmente a partir do mês de junho (Figura 1).

Figura 1.

-50

0

50

100

-100

150

200

250

Deficiência Excedente

Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

mm

Extrato do balanço hídrico mensal do Município de Ipameri, GO.

Fonte: Sentelhas et al., 2010.

14 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Os solos da fazenda são classificados, na maioria dos casos, como LatossoloVermelho‑Escuro, naturalmente ácidos e de baixa fertilidade, porém com boa drenagem e textura argilo‑arenosa (com teor de argila em torno de 45%), favorável à exploração agropecuária.

A área total da Fazenda Santa Brígida é de 922 ha, dos quais 184,4 ha (20%) correspondem à área de reserva legal (ARL) (Figura 2) e 27 ha à área de preservação permanente (APP), existindo ainda sete nascentes hídricas na propriedade. A área de uso alternativo (AUA) é de aproximadamente 450 ha. Nessa área, nas safras de verão, são cultivados, em aproximadamente metade da área, soja e milho. Na safra 2011/2012, foram 250 ha e 200 ha, respectivamente. A área de pastagem é de 200 ha, sendo que, nessa modalidade de “pastagem exclusiva”, não se cultivam lavouras em rotação. A área de pastagem consorciada com eucalipto (outrora também consorciada com culturas graníferas) é de 60 ha.

O rebanho atual da fazenda é de cerca de 1.950 animais, dos quais 100 animais – entre vacas, novilhas e bezerros – são para exploração leiteira e 1.850 animais – da raça Nelore e mestiços –, para corte. A capacidade de confinamento é de mil bois, sendo que há possibilidade de realizar três ciclos de acabamento por ano.

Figura 2.

184,4

27

200

60

250 200 450

ARL APP MilhoPastagem exclusiva Pastagem consorciada AUA Soja

Áreas, em hectares, da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, GO (ARL: área de reserva legal; APP: área de preservação permanente; AUA: área de uso alternativo).

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Histórico Temporal da Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) na Fazenda Santa Brígida

Evolução dos sistemas de integração Lavoura-PecuáriaA grande região do Estado de Goiás conhecida como a “região da estrada de ferro”, onde o Município de Ipameri se insere, apresenta dominância de pecuária extrativista, por isso as pastagens encontram‑se em estágio avançado de degradação. Contudo, em razão da altitude, superior a 800 m e dominância de Latossolos de textura argilo‑arenosa, essa região apresenta grande potencial para a produção de grãos, fibras, frutas e madeira.

A Fazenda Santa Brígida, apesar de dispor de solos com ótimas propriedades físicas e topografia plana a suave ondulada, até o ano de 2006 também apresentava apenas pastagens degradadas. Prova disso é que, em toda a propriedade, contabilizou‑se em torno de 500 bovinos, dos quais os de corte eram abatidos entre 4 e 4,5 anos.

Contudo, em 16 de outubro de 2006, foi realizada uma visita por técnicos da Embrapa, os quais realizaram um diagnóstico de toda a propriedade. Concomitantemente, estabeleceu‑se um acordo para a participação da Embrapa no projeto de recuperação da capacidade produtiva da propriedade, desde que fosse possível a realização de dias de campo, tantos quanto fossem necessários; os custos relativos a insumos, serviços e mão de obra fossem assumidos exclusivamente pela fazenda; pudessem ser conduzidos ensaios de validação de outras tecnologias na propriedade e fossem disponibilizadas vagas para estágio para os estudantes da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Unidade Universitária de Ipameri.

Dois fatores foram muito limitantes naquele momento: o primeiro relativo à avançada data no ano, em relação ao calendário agrícola e ao início das chuvas; e o segundo, à deficiência limitante de

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máquinas e implementos agrícolas. Porém, tomou‑se à decisão de que, efetivamente, o processo de recuperação da fazenda se iniciaria naquele momento, cabendo à administração da propriedade a aquisição de todos os insumos e à Embrapa providenciar parceiros para, em comodato, disponibilizar algumas máquinas e implementos agrícolas. Em razão de várias parcerias anteriores, a Embrapa conseguiu parceria com as empresas John Deere e Ikeda Implementos Agrícolas. Com isso, disponibilizou‑se, em comodato com a Embrapa, um trator, uma plantadora, um arado de aiveca e um subsolador. Além dessas, outras empresas, tais como Marchesan Implementos e Máquinas Agrícolas Tatu S.A., Brasmilho Representações Ltda., Minerthal Produtos Agropecuários e Jumil Justino de Morais Irmãos S/A, tornaram‑se parceiros importantes.

No mesmo ano, realizou‑se uma palestra sobre integração Lavoura‑Pecuária (iLP) para toda a comunidade da região de Ipameri. Esse evento gerou uma complexa discussão entre os agentes financeiros, produtores e técnicos, os quais acreditavam que sistemas dessa natureza não dariam certo, pois envolveriam consórcios e, principalmente, com pastagem, alegando que não seria possível colher grãos nessas condições de cultivo. Na última semana de outubro do mesmo ano, foram iniciadas as operações de aplicação de calcário e sua incorporação, também com a utilização de tratores antigos, patrimônio da Fazenda Santa Brígida. Em meados de novembro, iniciou‑se a implantação de um sistema de iLP, notadamente o Sistema Barreirão, conforme recomendações de Oliveira et al. (1996), nas áreas com solo e pastagem degradada, e o Sistema Santa Fé, seguindo recomendações de Kluthcouski et al. (2000), no Sistema Plantio Direto (SPD), nas áreas que anteriormente já tinham sido cultivadas, inclusive com soja, na forma de arrendamento. Nos anos seguintes, outros sistemas de iLP foram aplicados, culminando com a implantação de florestas, no sistema iLPF (ou sistema agrossilvipastoril), no verão da safra 2008/2009, o que será discutido nos tópicos “Inserção do componente arbóreo nos sistemas de iLPF na Fazenda Santa Brígida” e “Benefícios Econômicos”, deste documento.

17Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

No primeiro ano foram escolhidas as culturas do milho e arroz para as áreas com solo e pastagem degradados, utilizando‑se o sistema de consórcio com Brachiaria brizantha cv. Marandu (Figura 3). Dado que todo processo iniciou‑se tardiamente no ano agrícola 2006/2007, a semeadura só pode ser concluída na segunda quinzena de janeiro de 2007. Simultaneamente aos cultivos comerciais, foi implantada uma Unidade de Referência Tecnológica (URT)1 para validação e demonstração de diferentes sistemas de iLP com as culturas do milho, arroz, girassol e braquiárias. O objetivo da implantação dessa URT era apresentar as inúmeras oportunidades de iLP que poderiam ser utilizadas nas propriedades rurais do Cerrado com a finalidade de recuperação de pastagens degradadas.

Cumprindo as etapas planejadas, no mês de março de 2007 foram realizados três dias de campo: um para estudantes e técnicos, outro para produtores rurais e um terceiro para gestores públicos e privados, mídia e políticos.

Figura 3. Palhada de milho com braquiária, que vegeta durante o período seco do ano, formado pelo Sistema Santa Fé, na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

1 Unidade de Referência Tecnológica é um modelo físico de sistemas de produção, implantado em área pública ou privada, visando à validação, demonstração e transferência de tecnologias geradas, adapta‑das e (ou) recomendadas pelo Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA) para a região.

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18 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Nas safras seguintes, outros sistemas de integração foram introduzidos – sob SPD onde já se havia corrigido a acidez do solo – principalmente relacionados à produção de forragem para o período seco, como apresentado na Tabela 1 e Figura 4.

A partir da finalização da primeira safra, foram feitos planejamentos mais adequados com a participação da proprietária, de parceiros privados e da Embrapa para a implementação, cada vez mais sustentável, dos sistemas e culturas a serem utilizados, inclusive com a previsão de eventos técnicos ao público externo.

Inserção do componente arbóreo nos sistemas de iLPF na Fazenda Santa BrígidaA inclusão do componente arbóreo representa um avanço inovador da iLP, com evolução para o conceito de integração lavoura‑pecuária‑floresta (iLPF). Os efeitos sinérgicos entre os componentes incluem a adequação ambiental e a viabilidade econômica da atividade agropecuária. Pode‑se utilizar a iLPF para implantar um sistema agrícola sustentável, com base nos princípios da rotação de culturas e do consórcio entre culturas de grãos, forrageiras e espécies arbóreas, para produzir, na mesma área, grãos, carne ou leite e produtos madeireiros e não madeireiros ao longo de todo ano (BALBINO et al., 2011a).

A primeira experiência com floresta de eucalipto na Fazenda Santa Brígida, configurando o sistema agrossilvipastoril, foi implantada na safra de 2008/2009, em uma área de aproximadamente 4 ha. Em razão do surpreendente desenvolvimento das árvores, como resultado do cultivo de duas safras de grãos nos dois primeiros anos nos entremeios dos renques, na safra 2009/2010 ampliou‑se a área com esse sistema de iLPF em mais 45 ha (Figuras 5 e 6), e na safra 2010/2011 em mais 10 ha (Figura 7), com média de 700 árvores por hectare.

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Evolução de Sistem

as de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Tabela 1. Sistemas de integração Lavoura‑Pecuária‑Floresta (iLPF) utilizados na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, GO, nas safras de verão 2006/2007 a 2011/2012.

Gleba Área (ha) 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12

Pasto 1 22 arroz + braquiária (Sistema Barreirão) soja milho + braquiária

(Sistema Santa Fé)

soja na 1ª safra e sorgo granífero + braquiária na safrinha (Sistema Santa Fé)

soja na 1ª safra e sorgo granífero + braquiária na safrinha (Sistema Santa Fé)

milho + braquiária (Sistema Santa Fé)

Pasto 2 39milho/sorgo silagem + braquiária (Sistema Barreirão)

soja milho + braquiária (Sistema Santa Fé)

soja na 1ª safra e sorgo granífero + braquiária na safrinha (Sistema Santa Fé)

soja na 1ª safra e sorgo granífero + braquiária na safrinha (Sistema Santa Fé)

milho + braquiária (Sistema Santa Fé)

Pasto 3 68milho silagem + braquiária (Sistema Barreirão)

soja milho + braquiária (Sistema Santa Fé)

soja na 1ª safra e sorgo granífero + braquiária na safrinha (Sistema Santa Fé)

soja na 1ª safra e sorgo granífero + braquiária na safrinha (Sistema Santa Fé)

milho + braquiária (Sistema Santa Fé)

Pasto 4 68 pasto degradado soja de 1º ano soja na 1ª safra e milheto na safrinha

soja na 1ª safra e milheto na safrinha. milho + braquiária

(Sistema Santa Fé)

soja na 1ª safra e milho granífero + braquiária na safrinha (Sistema Santa Fé)

Lavoura 1 103 soja

milho + braquiária (Sistema Santa Fé)

soja (90 ha) na 1ª safra e milheto na safrinha milho silagem + braquiária (13 ha)

milho + braquiária 93 ha (Sistema Santa Fé)

pastagem (13 ha)

soja na 1ª safra e sorgo pastejo na safrinha (93 ha).

milho grão + capim + guandu (Sistema Santa Brígida) + eucalipto (13 ha)

milho silagem + capim (43 ha)milho grão + capim

eucalipto + braquiária + guandu (13ha)

Continua...

20

Evolução de Sistem

as de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Gleba Área (ha) 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12

Lavoura 2 40 milho + braquiária (Sistema Santa Fé) pastejo

soja/palhada braquiáriarotação lavoura-pastagemmilheto safrinha

milho + braquiária (Sistema Santa Fé)

soja na 1ª safra e milho na safrinha

milho + braquiária / pasto

Pasto 5 2,5 pasto degradado experimentos + braquiária arroz + eucalipto soja/milho + braquiária +

eucalipto braquiária + eucalipto braquiária + eucalipto

Pasto 6.1 31 pasto degradadoarroz na 1ª safra e sorgo safrinha

soja na 1ª safra e milheto na safrinha milho forrageiro + eucalipto soja + eucalipto

milho forrageiro + braquiária (Sistema Santa Fé) + eucalipto

Pasto 6.2 18 pasto degradado arrozmilho silagem + braquiária (Sistema Santa Fé)

Milho forrageiro + eucalipto soja + eucaliptomilho forrageiro + braquiária (Sistema Santa Fé) + eucalipto

Pasto 7 48 pasto degradado soja de 1º ano milho + braquiária (Sistema Santa Fé) soja milho + braquiária no

verão (Sistema Santa Fé)

soja na 1ª safra e milho + braquiária na safrinha (Sistema Santa Fé)

Pasto 8 42 pasto degradado soja de 1º ano soja na 1ª safra e milheto na safrinha soja milho + braquiária no

verão (Sistema Santa Fé)

soja na 1ª safra e milho + braquiária na safrinha (Sistema Santa Fé)

Pasto 11 25 pasto degradado pasto degradado pasto degradado matabroto + calagem +

gessagem + fosfatagem Pasto recuperado pasto recuperado

Pastos 12 e 13 - Pastos contíguos à

reserva legal - - - - -

Total 481,5 - - - - - -

*Esta é uma propriedade adjacente e não está incluída na descrição do item 2.

Tabela 1. Continuação.

21

Evolução de Sistem

as de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Figura 4.

Pasto 8

Pasto 1

ReservaLegal

Reserva Legal155,14 ha

Ipameri

Gratã

Pasto 2Pasto 3

Pasto 4 Pasto6

Pasto5

Pasto11

Pasto13

Pasto 1264 ha

Pasto 7

Piquete

PiqueteBarracão

Sede

Lavoura2

Lavoura1

Ferrovia

Glebas da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, GO, citadas na Tabela 1.

22 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Figura 5. Eucalipto consorciado com pastagem de braquiária, plantado no verão 2009/2010, na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO, em 2011.

Figura 6. Eucalipto consorciado com pastagem de braquiária, plantado no verão 2009/2010, na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO, em 2012.

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23Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Figura 7. Eucalipto consorciado com pastagem de braquiária e guandu‑anão, plantado no verão 2010/2011, na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO, em 2012.

Hoje são contabilizadas mais de 40 mil árvores de eucalipto em sistemas de iLPF na fazenda, com produtividade média estimada em mais de 27 st2 ha‑1 ano‑1, cujo corte está previsto aos 6 anos ou 7 anos de idade. Tendo em vista que um povoamento de eucalipto (1.666 árvores ha‑1) no seu sexto ano de vida fixa em torno de 70 t ha‑1 de carbono (PAIXÃO et al., 2006), essas mais de 40 mil plantas correspondem a cerca de 1.800 t ha‑1 de carbono. Se essas árvores, desde que plantadas adequadamente, forem colhidas aos 12 anos para a produção de pranchas, além do preço de mercado que pode ser até 20 vezes maior, comparado à venda para energia, obter‑se‑á aquilo que se denomina de sequestro de carbono.

Portanto, os três componentes discutidos, ou seja, fixação de carbono via aumento de Matéria Orgânica do Solo (MOS), a redução na emissão de metano pelos animais (pela redução do ciclo de abate e melhoria da qualidade das pastagens) e a fixação/sequestro de carbono pelas

2 Estéreo (st) corresponde a 0,7 m3 de eucalipto com casca ou 0,61 m3 de eucalipto sem casca. Na forma inversa, m3 de eucalipto corresponde a 1,43 st com casca, e 1,64 st sem casca.

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24 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

árvores contribuem, sobremaneira, para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa.

Desenvolvimento de um novo sistema de iLPF com leguminosas – “Sistema Santa Brígida”A parceria entre a Embrapa, a Fazenda Santa Brígida e demais parceiros da iniciativa privada possibilitou, por meio de inúmeros estudos de validação de práticas/técnicas, o desenvolvimento de um sistema de consórcio de milho, braquiária e leguminosa, preferencialmente, guandu‑anão, denominado “Sistema Santa Brígida” (OLIVEIRA et al., 2010) (Figuras 8 e 9).

Esse sistema tem dois objetivos principais: primeiro é a produção de uma forragem mais rica em proteína; e o segundo, aumentar o aporte de nitrogênio no solo, via fixação biológica do nitrogênio (FBN), podendo, com isso, reduzir a necessidade de fertilizante nitrogenado mineral no cultivo subsequente.

A cultura subsequente pode se beneficiar do nitrogênio proveniente das leguminosas, permitindo a redução no fornecimento de nitrogênio mineral. Ainda, podem‑se citar como vantagens desse sistema a melhoria na qualidade das pastagens, quando no consórcio também se cultivam braquiárias, e a diversificação das palhadas, para o Sistema Plantio Direto.

O diferencial desse sistema é que se trata da primeira oportunidade de inserção das leguminosas nas pastagens por meio do consórcio com a cultura do milho, de modo que a implantação segue, basicamente, as premissas dos sistemas de produção convencional de milho, acrescentando‑se as espécies forrageiras (gramínea e leguminosa).

Ao considerar as áreas que hoje são utilizadas para produção de milho e sorgo, caso fosse adotada a consorciação com leguminosas, em cada hectare, segundo dados observados por Oliveira et al. (2010), seria possível manter, temporariamente, na palhada de cobertura, 90 kg ha‑1 de nitrogênio com guandu‑anão. A decomposição dos resíduos das

25Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

culturas graníferas e das leguminosas eleva o aporte de nitrogênio no solo, de modo que a quantidade de fertilizante nitrogenado no cultivo subsequente pode ser reduzida.

Figura 8. Sistema Santa Brígida: milho consorciado com braquiária e guandu‑anão, Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

Figura 9. Pastagem de braquiária consorciada com guandu‑anão formada pelo Sistema Santa Brígida, na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

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26 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Benefícios da Adoção de Sistemas de iLPF na Fazenda Santa Brígida

Benefícios agronômicosEvolução de atributos químicos do solo sob iLPFOs solos da Fazenda Santa Brígida bem como da maior parte da região do Cerrado e de Ipameri, além de ácidos, apresentam baixa fertilidade natural. As maiores deficiências observadas são, em ordem decrescente, dos macronutrientes: fósforo, cálcio, magnésio, potássio e enxofre. Para os micronutrientes, as deficiências mais agudas observadas são de zinco, boro e cobre, e, quando devidamente corrigidos, pode‑se observar deficiência de manganês.

No caso da Fazenda Santa Brígida, os sistemas de manejo do solo e culturas sob iLPF têm promovido melhorias em praticamente todos os atributos químicos e físicos do solo, muito provavelmente em razão da presença de forrageiras do gênero braquiária (Figura 10).

Figura 10. Plantas e raízes de Brachiaria brizantha cv. Marandu, aos 90 dias após a emergência. Fazenda Santa Brígida.

A evolução das propriedades químicas do solo sob integração lavoura‑pecuária pode ser visualizada nas Figuras 11 e 12. As alterações

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27Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

na saturação por bases e no teor de potássio são apresentadas na Figura 11. Os teores de potássio aumentaram em apenas dois anos (safras 2008/2009 e 2009/2010), passando de 40 mg dm‑3 para mais de 50 mg dm‑3, provavelmente pela reciclagem desse nutriente das camadas mais profundas, devido ao cultivo de pastagens do gênero braquiária.

Figura 11.

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Safra 2006/2007

Safra 2007/2008

Safra 2008/2009

Safra 2009/2010

Safra 2010/2011

Safra 2011/2012

K (mg/dm3) V % (0-20 cm) V% (20-40 cm)

Teores de potássio (K), em mg dm‑3, na profundidade de 0 cm a 20 cm, e saturação por bases (V%), em %, nas profun‑didades de 0 cm a 20 cm e 20 cm a 40 cm, nos solos da Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

Figura 12.

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Safra 2006/2007

Safra 2007/2008

Safra 2008/2009

Safra 2009/2010

Safra 2010/2011

Safra 2011/2012

M. O. % P (mg/dm3)

Teores e matéria orgânica do solo (MOS), em %, e de fósforo (P), em mg dm‑3, na profundidade de 0 cm a 20 cm, nos solos da Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

28 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Mesmo sem reaplicação de calcário, observou‑se um crescimento da saturação por bases (V%) na profundidade de 0 cm a 40 cm, equilibrando‑se em torno de 60%, favorecendo o cultivo de praticamente todas as espécies vegetais. Esse incremento pode ser explicado tanto por reciclagem quanto pelo equilíbrio dos nutrientes no solo em razão da rotação/sucessão grão/pasto de braquiária.

Quanto aos teores de fósforo, observou‑se um aumento exponencial na profundidade de 0 cm a 20 cm, porém ainda não tendo atingido o nível ideal, que, para esse tipo de solo, é superior a 15 mg dm‑3 (Figura 12).

Os teores de matéria orgânica do solo (MOS), na camada de 0 cm a 20 cm, aumentaram em torno 50%, equivalente a 1 ponto percentual de acréscimo, passando de 1,8% para 2,8%, sem considerar a palhada deixada na superfície do solo. Isso equivale à fixação de 11 toneladas de carbono orgânico por hectare nos primeiros 20 centímetros do perfil do solo, no período de 6 anos (Figura 12). A iLPF promove a melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo por aumentar a MOS (BALBINO et al., 2011a). Portanto, além das avaliações dos nutrientes, é fundamental a análise dos teores de MOS, já que, em solos tropicais, as argilas são de baixa atividade e a MOS não só melhora a capacidade de troca de cátions (CTC) desses solos como também favorece a retenção de água, inibe a lixiviação de nutrientes e, sobretudo, contribui para a atividade biológica, concorrendo para uma menor produção de microrganismos patogênicos; ademais representa um reservatório de micronutrientes e nitrogênio. Mais do que isso o aumento da MOS contribui para a fixação de carbono no solo.

Evolução da produtividade agrícola nas áreas sob sistemas de iLPFEm relação à produtividade das culturas na Fazenda Santa Brígida, observou‑se um incremento gradual tanto na produção de milho quanto na de soja (Figura 13). Para o milho, esse aumento foi mais expressivo, de 80 sacas ha‑1 (4.800 kg ha‑1) no primeiro ano (safra 2006/2007) para cerca de 180 sacas ha‑1 (10.800 kg ha‑1) no sexto ano (safra 2011/2012). É importante ressaltar que, devido às condições favoráveis

29Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

de altitude (em torno de 800 m), a produção de milho tem potencial para atingir até 250 sacas ha‑1 (15.000 kg ha‑1).

Em relação à soja, um fato importante é que, desde o primeiro ano de cultivo em áreas anteriormente com pasto e solo degradados, a produção tem sido igual ou superior à média nacional (entre 45 e 50 sacas ha‑1, ou seja, entre 2.700 kg ha‑1 e 3.000 kg ha‑1) em solos sob vários anos de cultivo dessa leguminosa. Nos seis anos avaliados, a produtividade aumentou cerca de 20%, saindo de aproximadamente 40 sacas ha‑1 (2.400 kg ha‑1) na safra 2006/2007 para acima de 50 sacas ha‑1 (3.000 kg ha‑1) na safra 2011/2012 (Figura 13).

Figura 13.

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Safra 2006/2007

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Safra 2010/2011

Safra 2011/2012

kg/ha Soja kg/ha Milho

Produtividades de soja e milho, em kg ha‑1, nas safras de 2006/2007 a 2011/2012, na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

Essas evoluções, tanto na produtividade de milho quanto de soja, podem ser atribuídas às melhorias dos atributos químicos do solo, bem como ao aumento da MOS, que, sem dúvida alguma, é decorrente das gramíneas forrageiras na rotação; isso porque é largamente conhecido que a rotação grão‑grão, por exemplo soja‑milho, reduz o teor de MOS no solo ao longo dos anos, e a rotação lavoura‑pasto aumenta esse teor. As pastagens bem manejadas, em contraste com os cultivos anuais em plantio convencional e até aqueles em plantio direto, têm a capacidade de aumentar o teor de MOS. Um exemplo disso é o estudo realizado por Sousa et al. (1997), em Planaltina, DF, em que, durante 13 anos de

30 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

monocultivo de soja, o teor de matéria orgânica do solo reduziu‑se em 24,4% em relação ao valor original (3,6%). Por sua vez, a inclusão de Brachiaria humidicola, manejada sob cortes, aumentou continuamente o teor MOS durante os nove anos de avaliação (ensaio sob corte manual). Com o retorno da lavoura de grãos (rotação soja‑milho em plantio convencional – aração e gradagem) no sistema, o teor de MOS passou a decrescer, mantendo, contudo, uma diferença em torno de 30% a mais em relação ao sistema de rotação contínua com cultivos anuais até o último ano.

Evolução da produtividade pecuária nas áreas sob sistemas de iLPFA taxa de lotação média anual era de 0,5 UA3 ha‑1 e passou a ser de 2,5 UA ha‑1, com animais em fase de engorda, durante 60 dias, no período de inverno (Figura 14); e, chegou até 4,6 UA ha‑1, com animais em fase de recria, durante 120 dias também no período de inverno.

Figura 14.

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Safra 2006/2007

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Safra 2009/2010

Safra 2010/2011

Safra 2011/2012

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Taxa de lotação animal (em UA ha‑1) e produtividade animal em ganho de peso vivo (em kg PV ha‑1) nas safras de 2006/2007 a 2011/2012, na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

Outro incremento importante foi na produtividade de carne, que passou de 2 @ ha‑1 para 16 @ ha‑1. Ressaltando que as pastagens utilizam

3 UA: Unidade Animal; equivalente a 450 kg de peso vivo animal.

31Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

apenas o residual dos fertilizantes aplicados nas lavouras e que a idade de abate que, antes de 2006, era acima de quatro anos e passou a ser, em média, de três anos, com planejamento para chegar a 24 meses nos próximos anos. Essa redução do ciclo implica em uma redução de pelo menos um quarto na emissão de gás metano (advindo da fermentação entérica de bovinos) por quilo de carne produzida.

Considera‑se, ainda, que os dados obtidos em pecuária referem‑se, basicamente, à produção animal durante o período seco do ano, ou seja, de maio a setembro. Em propriedades rurais com pastagens degradadas, nesse mesmo período do ano os animais, normalmente, perdem peso, podendo perder mais de 200 g dia‑1, enquanto, na Fazenda Santa Brígida, o ganho em peso a pasto, no período de inverno, é da ordem 1,2 kg animal‑1 dia‑1.

Na Fazenda Santa Brígida também se produz milho para silagem, sempre se consorciando a cultura do milho com braquiária (Brachiaria brizantha cv. Marandu), cuja produtividade, nos últimos anos, tem sido sempre acima de 50 t ha‑1, ficando, na área, pastagem verde, de alta qualidade e quantidade para alimentação animal durante toda a estação seca do ano.

Salienta‑se que o manejo animal e das pastagens na Fazenda Santa Brígida, até a safra 2010/2011, foram feitos pelo método tradicional. Nesse ínterim, uma simulação feita pela empresa Minerthal Produtos Agropecuários mostrou que, no primeiro ano de pastejo, em pastagens oriundas da iLPF, não existe a necessidade de suprimento de fósforo no sal. Já, nos segundo e terceiro anos de pastejo, são necessárias suplementações crescentes, porém em pequenas quantidades de fósforo, no sal mineral. Considerando apenas esse nutriente, isso representa uma economia de cerca de R$100.000,00 ao ano, considerando um rebanho bovino de 1.000 cabeças. Uma propriedade que adota manejo convencional e detém pastagens degradadas, como, por exemplo, a Fazenda Inajá Velho, localizada próxima à Fazenda Santa Brígida, com características semelhantes de solo e clima, apresenta um déficit suplementar em torno de 5 g dia‑1 (12 g dia‑1 – 7 g dia‑1), e consequentemente menor ganho de peso de novilhos jovens, ao

32 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

contrário dos índices obtidos em sistemas de iLPF com suplementação mineral na Fazenda Santa Brígida, que variam entre 9 g dia‑1 a 12 g dia‑1, ou seja, mais próximos da necessidade animal (Figuras 15 e 16).

Figura 15.

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0 2 4 6 8 10 12

Convencional

Convencional

iLPF (eucalipto 3 anos)

iLPF (eucalipto 2 anos)

iLPF (eucalipto 1 anos)

Necessidadade animal

g dia-1 de fósforo

Fazenda Santa Brígida (iLPF)

Fazenda Inajá Velho (convencional/degradado)

Demanda animal por fósforo, considerando novilho jovem com 250 kg de peso vivo e ganho de 0,6 kg dia‑1, em diferentes condições de pastagens e sistemas de integração Lavoura‑Pecuária‑Floresta (iLPF), em duas propriedades rurais (Fazenda Santa Brígida e Fazenda Inajá Velho).

Figura 16.

Em 1.000 cabeças são economizados até:R$ 103.404,50 ano-1

Fazenda Inajá Velho(convencional/degradado)

Fazenda SantaBrígida (iLPF)

310 g Supl. Min.Proteico de Águas

R$ 0,3022/animal/dia

47 g Supl. Min. +65 g/kg de P

R$ 0,0608/animal/dia

23 g Supl. Min. +40 g/kg de P

R$ 0,0264/animal/dia

Sal branco + Micro

R$ 0,0189/animal/dia

Fazenda Inajá Velho(convencional/degradado)

+397%

+130%

+40%

+1488%

Custo de suplementação ideal, baseado em fósforo e proteína bruta, considerando novilho jovem com 250 kg de peso vivo e ganho de 0,6 kg dia‑1, em diferentes pastagens e sistemas de integração Lavoura‑Pecuária‑Floresta (iLPF), em duas propriedades rurais.

33Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Evolução da produtividade agropecuária nas áreas sob sistemas de iLPFO objetivo principal na Fazenda Santa Brígida é a intensificação sustentável nos sistemas de produção. Em anos anteriores, na safra de verão, cultivava‑se milho consorciado com forrageiras do gênero braquiária ou soja seguida de pasto anual de milheto ou sorgo pastejo.

Entretanto, na safra 2011/2012, buscou-se um sistema para intensificar ainda mais o uso da área de aproximadamente 140 hectares. Nessa safra, cultivou‑se soja precoce como cultura de verão, cuja colheita ocorreu entre 16 e 22/2/2012 e a produtividade foi de 3.702 kg ha‑1 (61,7 sacas ha‑1).

Imediatamente após a colheita da soja, ou seja, entre 17 e 23/2/2012, foi feita a semeadura do milho para dois propósitos: produção de grãos, caso a distribuição de chuvas fosse suficiente para uma boa produtividade; ou silagem, caso fosse mais compensadora. Como as chuvas ocorreram até a primeira semana de maio do referido ano, a produtividade de grãos foi em média de 110 sacas ha‑1 de milho e a produtividade da parte colhida para silagem, foi de ou acima de 42 t ha‑1. Ressalta‑se que o milho foi consorciado com alta densidade de Brachiaria ruziziensis, a qual ficou pronta para pastejo entre os meses de junho e outubro, com estimativa de produção de até 12 @ ha‑1 nesse período.

Essa tríplice exploração possibilitará uma lucratividade líquida superior a R$3.500,00 ha‑1 no período de 12 meses. Além disso, o solo terá melhores condições de produtividade devido ao período que permanecerá com pastagem, mesmo que o milho seja colhido para silagem. Portanto, haverá um solo mais produtivo na safra 2012/2013, o qual retornará para o cultivo de soja.

Benefícios sociaisA iLPF é uma das alternativas mais baratas de se obter novos postos de trabalho. Por um lado, em uma pecuária convencional, principalmente com pastos de baixa produtividade, é normal observar que, para cada

34 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

1.000 bois, gera‑se um novo posto de trabalho. Mesmo assim, muitas vezes sem qualificação alguma. Na iLPF, por outro lado, devido à incorporação do componente lavoura, tem sido possível gerar até mais de um emprego direto para cada 100 hectares.

No caso da Fazenda Santa Brígida, por exemplo, o quadro de pessoal até 2006 era de três vaqueiros. Hoje, a fazenda conta com 14 funcionários (Figura 17) além dos consultores, gerando, portanto, 1,5 empregos para cada 100 hectares.

Figura 17.

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Safra 2006/2007 Safra 2011/2012

Empregos Diretos Empregos Indiretos

Número de empregos diretos e indiretos gerados entre o período das safras 2006/2007 e 2011/2012.

Benefícios educacionais e iniciativas de transferência de tecnologiasDado ao fato de que o Município de Ipameri conta com uma unidade de ensino superior – a Universidade Estadual de Goiás (UEG), que oferece curso de Agronomia e Engenharia Florestal, incluindo nível mestrado –, a Fazenda Santa Brígida foi também uma unidade de referência para estagiários, tendo sido treinados 60 estudantes até o presente momento (Figura 18), os quais produziram inúmeras monografias sobre o tema iLPF.

Essa contribuição da Santa Brígida está facilitando a nova geração de futuros multiplicadores da iLPF em relação à transferência de tecnologias.

35Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Figura 18.

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Número de estagiários treinados na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

Além disso, desenvolveu‑se um trabalho de pesquisa de pós‑graduação na fazenda, por Oliveira (2010), com objetivo de avaliar o consórcio de milho com adubos verdes e manejo da adubação nitrogenada no cultivo de feijão em sucessão no sistema Integração Lavoura‑Pecuária que culminou o desenvolvimento de uma tese de doutorado.

Nesses sete anos, foram realizados 15 dias de campo, previamente programados, com a presença de 4.560 participantes envolvendo todos os segmentos da sociedade (Figuras 19 e 20), mas principalmente técnicos, estudantes e produtores, incluindo autoridades como os ex‑ministros da agricultura Alysson Paulinelli e Roberto Rodrigues, secretários de agricultura dos estados de Paraná e São Paulo; a Diretoria‑Executiva da Embrapa; prefeitos municipais; deputados; empresários das indústrias de máquinas e insumos agrícolas; entre outros.

Em eventos menores, contando com até 70 participantes, foram realizadas pelo menos sete visitas técnicas com a presença do ex‑ministro Roberto Mangabeira Unger; comitiva do agronegócio de Goiás para gerar o Programa Estadual para Transferência de Tecnologias em iLPF – tendo sido realizado um curso para os extensionistas do estado; diretor‑presidente da Embrapa; comitiva da Cooperativa Agrícola Serra dos Cristais – Coacris (Cristalina, GO); comitiva de estudantes e

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professores da Universidade do Oeste Paulista – Unoeste (Presidente Prudente, SP); comitiva da Cocamar Cooperativa Agroindustrial de Maringá (Maringá, PR), com mais de 70 participantes; vice‑presidente de agronegócios do Banco do Brasil, Osmar Dias, e representantes das secretarias da agricultura dos estados de Goiás, Tocantins, Distrito Federal, Mato Grosso, para ajustes técnicos do Programa ABC; entre outros.

As aparições na mídia foram inúmeras, entre as quais se destacam a matéria no programa Globo Rural (exibido em 14/8/2012); produção de um vídeo técnico pela Embrapa; matéria de capa da revista DBO Rural (edição de 4/2012); programa Marcas e Máquinas; revista Dinheiro Rural; revista Globo Rural (edição de 12/2012); Revista A Granja (edições de 5/2008 e 11/2011); Canal Rural; Jornal da Cocamar; sites diversos como CNA, Vida no Campo Online, Painel Florestal; entre outras.

A Fazenda Santa Brígida auxiliou o embasamento do Plano Setorial de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC) e o Programa ABC, em virtude da visita técnica do então ministro de assuntos estratégicos Roberto Mangabeira Unger e por ter se tornado uma Unidade de Referência nacional em iLPF.

Figura 19.

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2006/07 (3 dias)

2007/08 (2 dias)

2008/09 (2 dias)

2009/10 (2 dias)

2010/11 (2 dias)

2011/12 (2 dias)

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Número de participantes nos dias de campo na Fazenda Santa Brígida no período de 2007 a 2012.

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Figura 20. Dia de campo de integração Lavoura‑Pecuária‑Floresta, em 2009, na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

Benefícios econômicosA partir dos preços e quantidades de insumos, serviços, produtos, fatores de produção, tributos, despesas administrativas, despesas diversas e dos dados técnicos de produção, foi possível calcular o custo total e as receitas bem como apurar os indicadores de eficiência econômica para as atividades componentes do módulo com sistema iLPF na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, GO.

Este módulo foi conduzido em uma área com solo classificado como Latossolo Vermelho distrófico, com área total de 45,6 hectares, sendo dividido em 15,75 ha para o plantio de eucalipto (iniciado em 2009) e, aproximadamente, 30 ha para as culturas anuais de soja (safra 2009/10), milho consorciado com forrageira (safra 2010/11) e pecuária de corte (em sistema de engorda) introduzida no módulo integrado a partir do terceiro ano (2011). A floresta plantada tem finalidade energética, com ciclo de produção de sete anos, conforme informações dispostas na Tabela 2.

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38 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Tabela 2. Características gerais do Módulo de iLPF, na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

Módulo iLPF: Dados gerais

Área total = 45,6 ha Área de eucalipto = 15,75 ha Área das culturas anuais = 29,85 ha Sistema de Plantio Direto (SPD): culturas de soja; milho e forrageiraFloresta com finalidade energética1º ano do sistema = implantação do eucalipto + soja2º ano do sistema = eucalipto + milho + forrageira3º ano do sistema = eucalipto + forrageira + gado de corte4º ano do sistema = eucalipto + forrageira + gado de corte5º ano do sistema = eucalipto + forrageira + gado de corte6º ano do sistema = eucalipto + forrageira + gado de corte7º ano do sistema = eucalipto + gado de corte (corte do eucalipto)

Os detalhamentos técnicos das atividades agrossilvipastoris componentes do módulo em estudo estão descritos na Tabela 3. O componente florestal foi implantado em uma área de 15,75 ha, em espaçamento de 3 m x 1 m e 26 m entre renques com fileiras duplas, totalizando 31,5 mil mudas plantadas e densidade de 689,6 plantas ha‑1 (ocupando 1,9 ha de área). O incremento médio anual (IMA) foi estimado em 15,54 m3 ha‑1 ano‑1, que, usando um fator de conversão (m3- st) de 1,4, significa uma produtividade média esperada de 21,76 st ha‑1 ano‑1.

Tabela 3. Características dos componentes eucalipto, gado de corte, soja e milho do Módulo de iLPF na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, GO.

Módulo iLPF: componente florestal Eucalipto

• Área total do módulo: 45,6 ha • Área de plantio do eucalipto: 34,54% da área total ou 15,75 ha • Espaçamento: 3 m x 1 m e 26 m entre fileiras duplas• Total de mudas: 31.500• Densidade: 689,6 plantas por ha (ocupando 1,9 ha de área) • Incremento Médio Anual – IMA: 15,54 m3 ha‑1 ano‑1

• Fator de conversão (m3 – st): 1,4• Produtividade média esperada: 21,76 st ha‑1 ano‑1

• Ciclo de produção: 7 anos (2009 ‑ 1º ano do ciclo – ano da implantação)• Preços médios (últimos 6 anos): R$ 35,60 st ou R$ 27,38 m3 (floresta em pé)• Preços correntes de 2009

Continua...

39Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Módulo iLPF: componente pecuário – Gado de Corte

• Área de pastagem: 43,7 hectares• Sistema de engorda• Raça: Nelore• Nº de animais: 75 • Duração do pastejo: 77 dias (início:13/10/2011; término: 29/12/2011)• Taxa de lotação: 1,72 UA ha‑1 em 2011 (decrescente no período em 12,21% a.a.)• Preços correntes de 2011

Módulo iLPF: componente cultura anual – Soja

• Área produzida: 29,85 ha • Sistema de produção: plantio direto• Variedade: Monsoy – 7908 • Safra: 2009/2010• Época de Plantio: novembro de 2009• Época de Colheita: março de 2010• Preços correntes de 2009 e 2010

Módulo iLPF: componente cultura anual – Milho

• Área produzida: 29,85 ha • Espaçamento: 50 cm• População total: 62.000 plantas/ha• Sistema de produção: plantio direto• Variedade: Pioneer 30F90• Variedade forrageira: B. brizanta (cv. Marandu) • Época de Plantio: outubro de 2010• Colheita: abril de 2011• Safra: 2010/2011• Preços correntes de 2010 e 2011

As culturas anuais (soja e milho) foram plantadas em área de aproximadamente 30 ha, em sucessão e sob Sistema Plantio Direto. O milho foi plantado em consórcio com Brachiaria brizantha cv. Marandu, no Sistema Santa Fé, em espaçamento de 50 cm, com população de 62 mil plantas. A pecuária de corte, em sistema de engorda, foi introduzida na área de pastagem (43,7 ha – descontados os hectares de ocupação das árvores). Os 75 animais da raça Nelore pastejaram durante 77 dias (entre os meses de outubro e dezembro de 2011), representando uma taxa de lotação de 1,72 UA ha‑1 (Tabela 3).

Tabela 3. Continuação.

40 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Na Tabela 4, mostram‑se os resultados para a cultura da soja, que entrou no primeiro ano do sistema iLPF (ano de implantação do eucalipto), plantada em novembro de 2009. O custo total da cultura ficou em R$ 1.314,00 por hectare, considerado bom para os padrões regionais. A produtividade de 52,5 sacas por hectare (3.150 kg ha‑1) também representou um bom desempenho, ficando acima do rendimento médio da cultura para o Brasil (2.947 kg ha‑1), Centro‑Oeste (3.017 kg ha‑1) e Goiás (2.965 kg ha‑1), para o ano de 2010, segundo dados da Produção Agrícola Municipal (IBGE, 2012). Esse bom desempenho produtivo da cultura no módulo iLPF, associado ao baixo custo de produção, é que explica os indicadores de eficiência econômica favoráveis, uma vez que o preço do produto em 2010 (ano da venda) estava bastante depreciado, considerando que em 2012 o preço da soja em grão esteve próximo de R$ 43,00 por saca. Mesmo com o preço da soja em baixa em 2010, a receita total foi de R$ 1.680,00 por hectare, gerando uma receita líquida de R$ 366,00 por hectare (R$ 10.925,00 no total da área plantada). No módulo em estudo, não houve a utilização de mão de obra familiar, mas as despesas de custeio foram realizadas com capitais próprios, de modo que a renda da família resultou em um patamar acima da renda líquida, pela participação do custo de oportunidade do capital financeiro investido no custeio. A taxa de retorno para o empreendedor foi apurada em 27,85%.

Tabela 4. Custo, receita e indicadores de eficiência econômica da cultura da soja na Fa‑zenda Santa Brígida, em Ipameri, GO.

Discriminação Safra 2009/10

Custo operacional (custeio + remuneração mão de obra + depreciação) – em R$/ha 1.011,82

Custo total (custo operacional + custo de oportunidade) – em R$ ha‑1 1.314,01

Preço da saca (60 kg) – em R$ 32,00

Produtividade (sacas ha‑1) 52,50

Receita total da produção (preço por saca x produtividade) – em R$ ha‑1 1.680,00

Produtividade total dos fatores => Relação B/C 1,28

Ponto de nivelamento (custo total /preço da saca) 41,06

Renda líquida – em R$ ha‑1 365,99

Renda da família (RL + RF +CO)1 – em R$ ha‑1 419,18Taxa de retorno do empreendedor – em % 27,85

1 RL = Renda Líquida; RF = Renda da Família; CO = Custo Operacional.

41Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Os dados computados para a cultura do milho mostraram‑se bem melhores em relação aos da soja em grão (Tabela 5). A semeadura do milho ocorreu em outubro de 2010, em sistema de plantio direto, em consórcio com o capim Marandu. A produtividade obtida pelo grão foi de 174,0 sacas por hectare (10.440 kg ha‑1).

Como no caso da soja, a cultura do milho no módulo iLPF em estudo ficou bem acima do ponto de equilíbrio da produção. O rendimento médio do milho também ficou acima da média apresentada nos municípios da região (Ipamer, GO: 6.894 kg ha‑1 e Catalão, GO: 7.954 kg ha‑1), que sobrepassam a produtividade do grão de primeira safra em Goiás (5.757 kg ha‑1) e no Brasil (4.349 kg ha‑1), conforme dados do IBGE (2012).

Dado que o preço do grão estava favorável em 2011 (R$ 22,00), a receita total obtida (R$ 3.828,00 por ha) mais do que compensou o custo total de produção (R$ 2.287,00 por ha), gerando um excedente por hectare de R$ 1.541,00 (com receita líquida para a área plantada de aproximadamente R$ 46.000,00) e taxa de retorno para o empreendedor de 67,4%.

Tabela 5. Custo, receita e indicadores de eficiência econômica do milho na Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

Discriminação Safra 2010/11

Custo Operacional (custeio + remuneração mão de obra + depreciação) – em R$ ha‑1 1.822,20

Custo total (custo operacional + custo de oportunidade) – em R$ ha‑1 2.287,00

Preço da saca (60 kg) – em R$ 22,00

Produtividade (sacas ha‑1) 174,00

Receita total da produção (preço por saca x produtividade) – em R$ ha‑1 3.828,00

Produtividade total dos fatores => Relação B/C 1,67

Ponto de nivelamento (PN) (custo total /preço da saca) 103,95

Renda líquida – em R$ ha‑1 1.541,00

Renda da família (RL + RF +CO) – em R$ ha‑1 1.645,80

Taxa de retorno (TR) do empreendedor – em % 67,38

42 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

A sensibilidade dos resultados econômicos às variações no preço dos produtos (soja e milho) pode ser observada por meio de exercícios simples de simulação, alterando‑se os valores efetivos de venda. No caso da soja, tomando‑se como referência a cotação média de preço do produto em Goiás, entre 2007 e 2011 (R$ 38,20), os indicadores simulados teriam sido bem melhores: RL = R$ 691,49 ha‑1; TR = 52,62%; PN = 34,4 e B/C = 1,53. Se o milho tivesse sido vendido ao preço médio cotado em Goiás em 2011 (R$ 23,40), os resultados obtidos saltariam para RL = R$ 1.785,00 ha‑1; TR = 78,0%; PN = 97,74 e B/C = 1,78. E o melhor desempenho das receitas no fluxo de caixa teria impactado de maneira ainda mais positiva os indicadores de viabilidade dos investimentos.

Na Tabela 6, são apresentadas as estimativas de retorno econômico para o componente da pecuária de corte (em sistema de engorda), introduzido no sistema iLPF em 2011, após a colheita do milho, e com perspectiva de permanecer no módulo até o sétimo ano. O número de animais manejados na área (75 animais), com período de pastejo de 77 dias, representou um ganho diário de 60 kg. O custo total por cabeça foi de R$ 79,44 (R$ 5.958,00 para o plantel) e, dado o preço de venda da época, gerou uma receita líquida de R$ 287,70 (R$ 21.577,50 para o total do rebanho). Os dados da pecuária representam uma taxa de lotação de 1,72 UA ha‑1 em 2011, considerando uma área de pastagem de 43,7 ha (descontando‑se da área total apenas a área de ocupação das 689,6 árvores plantadas). A taxa de lotação foi considerada decrescente em 12,21% a.a. nos anos seguintes, variando para 1,51 UA ha‑1 no quarto ano, 1,32 UA ha‑1 no quinto ano, 1,16 UA ha‑1 no sexto ano e 1,02 UA ha‑1 no sétimo ano), por não se ter considerado na análise o custo de manutenção anual da pastagem e a diminuição da oferta de forragem ao longo dos anos pelo efeito do sombreamento da floresta e extração pelos animais.

Por fim, foram apurados os custos de produção do componente floresta no módulo iLPF, computando-se o custo de implantação da floresta de eucalipto e o custo anual de sua manutenção, conforme apresentados

43Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

na Tabela 7. O custo total por hectare, incluindo as despesas anuais com manutenção, ficou próximo de R$ 2.188,00.

Tabela 6. Estimativa de resultado econômico do gado de corte em sistema de engorda no módulo iLPF da Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

Quantidade de animais Ganho diário

75 60 kg

Total do custo R$ 5.958,00

Custo por cabeça R$ 79,44

Custo por arroba R$ 24,00

Valor de compra R$ 1.260,00

Valor de venda R$ 1.627,14

Arrobas ganhas 3,31

Receita bruta por cabeça R$ 367,14

Receita Líquida por cabeça R$ 287,70

Tabela 7. Apuração do custo do eucalipto no módulo iLPF da Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

Discriminação Em R$ Em %

Operações (mecanização) 5.510,00 16,40%

Insumos 25.241,00 75,14%

Serviços (mão de obra) 2.840,00 8,45%

Custo total 33.591,00 100,00%

Custo total por hectare 2.132,76

Custo de manutenção anual (por hectare) 55,00

A combinação das informações técnicas de produção e dos indicadores de custos e receitas apurados por atividade componente do sistema iLPF permitiu montar o fluxo de caixa para o empreendimento (Tabela 8), considerando como horizonte de planejamento os sete anos que totalizam o ciclo produtivo (primeira rotação) da floresta.

44

Evolução de Sistem

as de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Tabela 8. Fluxo de caixa e resultados econômicos das atividades agrossilvipastoris no módulo iLPF da Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO.

Discriminação2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7Custo de implantação da floresta (1º ano) R$ 33.591,00 – – – – – –Custo de manutenção da floresta (2º ao 6º ano) – R$ 866,80 R$ 866,80 R$ 866,80 R$ 866,80 R$ 866,80 –

Custo anual da terra (arrendamento) R$ 2.345,14 R$ 2.345,14 R$ 2.345,14 R$ 2.345,14 R$ 2.345,14 R$ 2.345,14 R$ 2.345,14Custo das culturas anuais (soja e milho) (1º e 2º anos) R$ 30.354,60 R$ 54.666,00

Custo com o gado (3º ao 7º ano) – – R$ 5.958,00 R$ 5.243,04 R$ 4.607,52 R$ 4.051,44 R$ 3.495,36Custo Total R$ 66.290,74 R$ 57.877,94 R$ 9.169,94 R$ 8.454,98 R$ 7.819,46 R$ 7.263,38 R$ 5.840,50Receita das culturas anuais (soja e milho) (2º e 3º ano) – R$ 50.400,00 R$ 114.840,00 – – – –

Receitas com o gado (3º ao 7º ano) – – R$ 27.580,50 R$ 24.270,84 R$ 21.328,92 R$ 18.754,74 R$ 16.180,56Receita com a madeira e subprodutos (7º ano) – – – – – – R$ 85.444,34

Receita Total (Anual) R$ 0,00 R$ 50.400,00 R$ 142.420,50 R$ 24.270,84 R$ 21.328,92 R$ 18.754,74 R$ 101.624,90Saldo Líquido Total (Anual) –R$ 66.290,74 –R$ 7.477,94 R$ 133.250,56 R$ 15.815,86 R$ 13.509,46 R$ 11.491,36 R$ 95.784,40Receita Total do empreendimento R$ 358.799,90Custo Total do empreendimento R$ 162.716,96Receita Líquida Total do empreendimento R$ 196.082,94

Resultado líquido médio/ha/ano R$ 614,29VPL R$ 126.919,72VPLA ou VAE R$ 25.006,59B/C 1,86TIR (%) 54,24Índice de lucratividade 2,91

Fonte: dados da Fazenda Santa Brígida.

45Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Souza et al. (2007) ressaltam que, em sistemas integrados agroflorestais para diversos ciclos compostos por eucalipto, culturas anuais e pecuária, a idade ótima de corte do componente florestal foi aos 8 anos para o sítio menos produtivo e aos 6 anos para o sítio mais produtivo. Os sítios mais produtivos proporcionaram maior lucro e menos tempo de imobilização do capital. Neste trabalho, houve aumento significativo na viabilidade econômica do sistema agroflorestal, à medida que se agregou valor aos produtos. O sistema começou a ser viável economicamente a partir do uso de pelo menos 16% da madeira para serraria.

Para a apuração dos indicadores de viabilidade econômica dos investimentos, considerou‑se uma taxa mínima de atratividade de 8,75% a.a. (que é a taxa de juros cobrada em financiamentos de projetos florestais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES) e uma taxa de investimento no mercado de 10% a.a. (que está próxima da taxa de juros básica da economia – Selic). Como esclarecido anteriormente, o custo de oportunidade da terra foi considerado o preço do seu aluguel na região (R$ 360,00 por ha), sendo que, neste valor de arrendamento, já estão computados os itens de despesas com infraestrutura (curral, cercas e instalações hidráulicas requeridas). Considerando o preço médio do estéreo cotado na região nos últimos 6 anos (R$ 35,60) e uma estimativa de produção anual de 21,76 st/ha, pode‑se apurar a receita esperada do componente floresta no final do sétimo ano. Quanto ao componente da pecuária de corte, adotando‑se o pressuposto de uma variação anual de animais decrescente no tempo a uma taxa média de 12,28% a.a., foram usadas taxas de lotação de 1,72 UA ha‑1 no terceiro ano (75 animais), 1,51 UA ha‑1 no quarto ano (66 animais), 1,32 UA ha‑1 no quinto ano (58 animais), 1,16 UA ha‑1 no sexto ano (51 animais) e 1,02 UA ha‑1 no sétimo ano (44 animais). Isso permitiu estimar o custo e a receita anual com o gado ao longo do período de análise. A literatura pertinente é vaga quanto à taxa de variação de animais em sistemas integrados. A estimativa proposta está acima da queda de produção do gado média em pastagem a pleno sol (em torno de 8% a.a.) e foi

46 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

feita considerando‑se que o custo de manutenção anual da pastagem não foi computado e o efeito negativo do sombreamento sobre o capim braquiária (Brachiaria brizantha cv. Marandu).

De acordo com Souza et al. (2007), a viabilidade econômica do sistema depende mais da atividade florestal e da pecuária do que das atividades anuais. No mesmo trabalho, os autores observaram maior tolerância às variações nos preços e nas produtividades da soja e do arroz. Outro estudo conduzido por Coelho Júnior et al. (2008), utilizando o método de Monte Carlo, que vem da Teoria dos Jogos, para fazer uma análise de investimento de um sistema agroflorestal sob situação de risco composto por culturas do arroz e soja, pecuária e floresta de eucalipto, realizou 10 mil interações entre as variáveis que compõem o Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR) e o Benefício Periódico Equivalente (BPE), a fim de montar uma distribuição de probabilidade. Os resultados indicaram que as análises das variáveis de saída apresentaram resultados melhores do que os obtidos pelos métodos determinísticos; os preços do boi gordo e do carvão vegetal foram os componentes do sistema agrossilvipastoril que mais contribuíram para a variação e a instabilidade das variáveis de saída; e o investimento no sistema agrossilvipastoril é de baixo risco.

No estudo de caso apresentado e considerando o cenário postulado, todos os indicadores de viabilidade econômica mostram‑se satisfatórios, conforme demonstram os dados da Tabela 10. O VPL foi positivo e o Valor Presente Líquido Anualizado (VPLA) ou Valor Anual Uniforme Equivalente (VAE) ficou próximo de R$ 25.000,00, o que significa, em caso de opção individual de projeto de investimento, a decisão de aceitação do mesmo. A relação B/C ficou em 1,86, indicando que o projeto produz 1,86 unidades de benefício para cada unidade de custo. Esse indicador é equivalente à decisão anterior de aceitação do projeto por ser economicamente viável. A TIR ficou acima da taxa de investimento de mercado (10% a.a.) em 49,31%, o que representa uma boa rentabilidade econômica para o projeto de investimento. Além disso, o índice de lucratividade foi de 2,91, indicando que, para cada R$ 1,0 investido no empreendimento, o retorno econômico é de R$ 2,91.

47Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

O presente estudo de caso demonstrou a eficiência e a viabilidade econômica do empreendimento, contribuindo para ampliar as informações sobre essa solução tecnológica, especialmente no âmbito de suas vantagens econômicas. Ressalta‑se que a análise realizada foi pontual e num cenário determinístico, com parâmetros medidos e outros estimados (dado que 2012 é o quarto ano do empreendimento), mas que pode ser útil como uma primeira aproximação dos resultados econômicos do empreendimento de iLPF em estudo.

Acrescenta‑se a tudo isso a questão da movimentação da economia local, principalmente em relação à aquisição de insumos e à geração de importantes impostos, tão necessários para o desenvolvimento de cidades interioranas.

Referências

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50 Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF)...

Evolution of Crop-Livestock-Forestry Integrated Systems (CLFI): case study of Santa Brígida Farm, Ipameri, GO

Abstract

The Santa Brígida Farm is a commercial farm and simultaneously a Technological Reference Unit for validation and demonstration of different Crop Livestock Integrated systems (CLI). From 2006, when the partnership with Embrapa and various partners from the private sector began, the crop productivity increased from 4,800 to 10,800 kg ha‑1 in the sixth year for corn and a 20% increase in the yield of soybean. Them eat productivity went from 2 for 16 @ ha‑1 in the same period. Regarding to the chemical properties of the soil under CLI, as example, the levels of soil organic matter, in the 0 cm to 20 cm depth, increased by around 50%, equivalent to 1 percentage point, from 1.8% to 2.8%. The Crop Livestock Forestry Integrated system (CLFI) allowed and increase in new jobs on the farm, from three cowboys to 14 employees, from 2006 to 2012. An analysis of a CLFI 45 hectares module demonstrated that all economic viability indicators were satisfactory.

Index terms: intercropping, Brachiaria, sustainability.

Evolução de Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF): estudo de caso da Fazenda Santa Brígida, Ipameri, GO

Apoio

CG

PE 1

1163

318ISSN 1517-5111ISSN online 2176-5081

Agosto, 2013

Documentos